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“ Análise pedagógica das


vantagens da prática judoista na
escola para crianças do primeiro
ao quinto ano

Gabriel Gomes da Rocha


UFRRJ

Luis Carlos Feitosa


UFRRJ

Ney Evangelista Junior


UFRRJ

Marília Alves Moreira Pinto


UFRRJ

Lohayne Soares Viturino


UNIVERSO

10.37885/201102244
RESUMO

O presente estudo é uma pesquisa descritiva, que segundo Gil (2006, p.44) “têm como
objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenô-
meno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.” Dessa forma, através de um
questionário fechado e aberto buscou-se verificar análise pedagógica das vantagens
da prática judoista na escola para crianças do primeiro ao quinto ano. Sendo assim,
Identificar o judô promove o desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor, verificar se o judô
promove a interdisciplinaridade e verificar se o judô promove inclusão social. Em virtude
das respostas dos professores entrevistados, sendo 100% deles, o desenvolvimento dos
aspectos cognitivo, afetivo e motor nas aulas é de extrema necessidade e fundamental
importância para o desenvolvimento dos alunos nessa faixa etária, em virtude do esporte
(judô) ser considerado um estilo de vida é notório a inserção da criança ao esporte.

Palavras-chave: Judô, Benefícios, Criança, Escola.


INTRODUÇÃO

Esquecemos muitas vezes é que as lutas não se resumem apenas a técnicas, elas
também ensinam aos seus praticantes a disciplina, valores tais como respeito, cidadania
e ainda buscam o autocontrole emocional, o entendimento da história da humanidade, a
filosofia que geralmente acompanha sua prática e acima de tudo, o mais importante, que é
respeito pelo seu próximo. (JÚNIOR E SANTOS, 2014)
Os PCNs dizem o seguinte: “as lutas são disputas em que os oponentes devem ser
subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão
de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa”. E seus objetivos
nas escolas são de compreensão por parte do educando do ato de lutar (por que lutar, com
quem lutar, contra quem ou contra o que lutar). (BRASIL,1998)
Os efeitos benéficos do judô são admiráveis, sendo ele adaptado a idade e as neces-
sidades do aluno; o mesmo não tendo seu corpo ainda formado irá ser prejudicado se for
exposto a exercícios intensos, mas o judô trabalhado de maneira certa pode trazer muitos
benefícios como: saúde e desenvolvimento. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs), “A construção do gesto nas lutas: vivência de situações que envolvam perceber,
relacionar e desenvolver as capacidades físicas e habilidades motoras presentes nas lutas
praticadas na atualidade (capoeira, caratê, judô etc.). (BRASIL,1998; p. 97)
O judô foi criado por Jigoro Kano no Japão em 1882, baseado na arte milenar deno-
minada Ju Jutsu, e tem por objetivo fortalecer físico, intelecto e o espírito, além de defesa
pessoal utilizando a força do oponente contra a si próprio. O mesmo pode ser introduzido
em qualquer idade, para a criança é uma atividade educativa bem notável e requer questões
não só no âmbito esportivo como no cultural, social e educacional e assim transformando
de forma positiva a criança e a instituição de ensino. (MESQUITA, 2014)
Para Queiroz (2010) os alunos praticantes de judô na escola tem uma melhoria não só
no âmbito escolar mais em sua vida pessoal, o fato do judô se tratar de uma luta totalmente
disciplinar, é notável nos alunos que há melhorias também nos aspectos sociais, os alunos
passam a ser mais participativos, diminui a agressividade, há melhoria no convívio familiar,
a conscientização dos seus deveres, e assim mostra que o judô praticado na escola vira
uma filosofia de vida levada pelo aluno a todos os lugares em que ele frequenta, formando
assim uma melhoria significativa no desenvolvimento do praticante como cidadão.
O judô ajuda na parte cognitiva da criança, pois segundo Jigoro Kano “O judô não é
só um esporte, é uma filosofia de vida”, onde o respeito e a disciplina são essenciais, com
isso podemos unir a história do judô passada para a criança com a teoria e vivencia na pra-
tica, nessa fase entre 6 á 10 anos a criança passa por mudanças e assim começam a fazer
semelhanças dos fundamentos teóricos coma prática. (SALLES, 2010, p.1)

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O judô ajuda na parte psicomotora das crianças, por ser um esporte de contato e de
movimentação constante com exercícios pré-determinados, o judô é um dos esportes mais
indicados para as crianças do primeiro ao quinto ano escolar, de acordo com Vygotsky, pois
é nessa faixa etária que o aparelho locomotor da criança está em desenvolvimento, com
atividades lúdicas que tem como objetivo reter a atenção e o interesse das crianças para a
modalidade, e estimular a criança para que ela não perca o interesse pela atividade física,
porém mesmo de forma lúdica essas atividades tem como meta obter a melhoria de esta-
bilidade, equilíbrio entre outros fatores que desenvolve o aparelho locomotor e neurológico
das crianças. (VYGOTSKY, 1935).
Fazer a aplicação das valências físicas de forma lúdica, elevando as qualidades de
cada uma de forma individual.
Para que a criança possa ter sucesso na sua vida escolar, é necessário que durante a
infância, no período caracterizado pela organização psicomotora e estruturação da imagem
corporal, sejam realizados trabalhos em torno de seu desenvolvimento motor, proporcionando
a ela situações nas quais possa ter toda a confiança em seu corpo e em suas potencialida-
des. (LE BOULCH, 1976)
De acordo com Franchini (2001) o Judô é uma luta que exige do praticante tomar de-
cisões em pequenos períodos de tempo, devido a grande quantidade de golpes que podem
ser utilizados, situações em que o judoca precisa observar os movimentos do adversário para
agir e não ser surpreendido, a constante oscilação nos movimentos, entre outros. Desde o
inicio da prática do judô, é importante trabalhar o tempo de reação do aluno, proporcionando
esse estímulo desde novo para que o aluno tenha um desenvolvimento do raciocínio cada vez
melhor, e saiba utilizar esses benefícios em situações cotidianas, principalmente nos estudos,
auxiliando o aluno a adquirir novos conhecimentos e aumentando seu rendimento escolar.
Equilíbrio é o estado de um corpo solicitado por duas ou mais forças que se anulam
entre si. Sustentação através da gravidade, tendo a capacidade de manter posturas e con-
trolo do corpo. O equilíbrio geralmente é classificado como estático, quando um corpo se
mantém estabilizado em uma posição estacionária. E dinâmico, Manter-se em uma posição
quando o corpo se encontra em movimento retilíneo uniforme. O principal objetivo do judô
é desequilibrar o adversário, logo, um dos principais fundamentos da prática é o equilíbrio,
sendo necessário trabalha-lo com frequência. A melhora da postura também é essencial
para um bom equilíbrio, o que também é bastante desenvolvido com a prática do judô.
(PERRIN et al., 2002).
O judô na escola tem o papel significativo na educação, por ser um esporte que de-
termina um padrão de vida que é o do Budô (caminho do guerreiro ou caminho marcial).
Segundo Nakamura (2013) isso faz com que o aluno experimente algo que é diferente do

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que estão acostumados. O judô foi criado em cima dos padrões e códigos de conduta do
estilo Budô de vida. De começo o aluno já se apresenta com um choque cultural com as
saudações, aspectos físicos, fisiológicos, morais e espiritual. Esse intercâmbio na disciplina
escolar fará com que o aluno melhore seu comportamento tanto em casa, como na escola,
pois quem pratica a arte marcial tem que ser um exemplo para a sociedade em que vive,
isso rege o código de conduta feito pelos samurais que o qual o judô é inspirado o Bushido
(código de conduta e modo de vida dos samurais).
O esporte é uma das ferramentas importantes para que possamos atingir um equilíbrio
social, tanto no que se diz respeito a camadas mais pobres da sociedade sendo incluída no
esporte e sendo incluída em uma sociedade através do esporte, judô tem a capacidade de
fazer com que pessoal de alta e baixa renda conviva entre si. No judô o aluno irá aprender a
respeitar o seu corpo e ao seu colega, o qual irá emprestar também seu corpo para que os
dois possam desenvolver um aprendizado. Se não houver respeito entre os dois não con-
seguiram evoluir um aprendizado, pois o judô é um esporte individual em que um precisa do
outro para aprender as técnicas. Essa forma de respeito é expressada pela saudação, que
faz com que diferentes alunos de diferentes realidades e contexto social de unam em motivo
do aprendizado e criem um convívio social em que todos os preconceitos são quebrados
assim que entram no tatame. (NAKAMURA, 2013).

OBJETIVO

Verificar a visão da prática pedagógica dos profissionais de educação física do primeiro


segmento do ensino fundamental sobre as vantagens do judô na escola para crianças do
primeiro ao quinto ano.

METODOLOGIA

O presente estudo é uma pesquisa descritiva, que segundo Gil (2006, p.44) “têm como
objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno
ou o estabelecimento de relações entre variáveis.” Dessa forma, através de um questioná-
rio fechado e aberto buscou-se verificar os benefícios do judô na escola para crianças do
primeiro segmento do ensino fundamental.

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População e Amostra

O estudo foi composto por professores de Educação Física escolar da rede pública e
particular de ensino da cidade do Rio de Janeiro. Participaram da pesquisa 56 (cinquenta e
seis) professores de Educação Física escolar de ambos os sexos.

Coleta de Dados

Foi utilizado um questionário fechado e aberto com onze questões, validado por dois
doutores e um mestre do curso de Licenciatura em Educação Física do Centro Universitário
Celso Lisboa, aplicados aos professores de Educação Física de escolas públicas e parti-
culares da cidade do Rio de Janeiro, onde os professores receberam todas as orientações
sobre o preenchimento do mesmo.

Resultados

Após a aplicação dos questionários, observou-se os seguintes resultados: As pergun-


tas 1 – Você trabalha com judô na escola?, 2 – De acordo com suas aulas você desenvolve
o aspecto cognitivo nos alunos?, 3 – A partir dos trabalhos cognitivos em suas aulas você
consegue observar a evolução dos alunos?, 4 - De acordo com suas aulas você desenvolve
os aspectos afetivos nos alunos?, 5 - A partir dos trabalhos afetivos em suas aulas você
consegue observar a evolução dos alunos?, 6- De acordo com suas aulas você desenvolve
o aspecto motor nos alunos?, 56 sujeitos da pesquisa responderam sim, ou seja, 100%.
No primeiro momento investigamos se os profissionais conseguem observar melhorias
dos seus alunos no aspecto motor durante suas aulas.
A partir dos trabalhos motores em suas aulas você consegue observar a evo-
luções dos alunos?

Gráfico 1. Relativo à evolução dos alunos em exercícios motores

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Nossa pesquisa aponta que 91,1% disseram que sim e apenas e 8,9%falaram que
não, referente aos profissionais conseguiram observar alguma melhoria dos seus alunos no
aspecto motor durante suas aulas.

Gráfico 2. Durante suas aulas de judô na escola você promove algum momento de interdisciplinaridade?

78,6% disseram que sim e 21,4% disseram que não.


Nossa pesquisa aponta que 78,6% dos profissionais promovem algum momento de
interdisciplinaridade nas suas aulas de judô na escola.

Gráfico 3. Há algum relato significativo dos professores das demais disciplinas em relação ao comportamento dos alunos
a partir do momento em que começaram a prática do judô?

94,7 % disseram que sim e 5,3% disseram que não.


Nossa pesquisa aponta que 94,7% dos profissionais promovem algum momento de
interdisciplinaridade nas suas aulas de judô na escola e veem resultados, uns relatam que

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as matérias que mais usam são matemáticas e ciências, sendo assim auxiliam as crianças
em suas dificuldades e conscientizam sobre o meio ambiente.

Gráfico 4. Há algum relato significativo dos familiares dos alunos referentes a melhoria dos aspectos sociais extra classe
dos mesmos?

91,4% disseram que sim e 8,6% disseram que não.


Podemos constatar segundo 91,4% que o judô é benéfico para a melhoria de aspectos
socais, melhoria no convívio familiar e extraclasse, por ser um esporte em que a disciplina
é cobrada do início ao fim e a quebra dos padrões sociais também segundo nossos relatos
e artigos e relatos de alguns autores nos mostram o embasamento e os resultados para
que isso aconteça.

DISCUSSÃO

Discursão de dados referente às perguntas com 100% respostas positivas.


Em virtude das respostas dos professores entrevistados, sendo 100% deles, o de-
senvolvimento do aspecto cognitivo nas aulas é de extrema necessidade e fundamental
importância para o desenvolvimento dos alunos nessa faixa etária, em virtude do esporte
(judô) ser considerado um estilo de vida é inserido esse aspecto.
O judô ajuda na parte cognitiva da criança pois segundo Jigoro Kano “O judô não é só
um esporte, é uma filosofia de vida”, onde o respeito e a disciplina são essenciais, com isso
podemos unir a história do judô passada para a criança com a teoria e vivencia na pratica,
nessa fase – entre 6 á 10 anos- a criança passa por mudanças e assim começam a fazer
semelhanças dos fundamentos teóricos coma prática. (SALLES, 2010, p.1).

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Essa evolução é nítida, é comprovadamente positiva, pois, 100% dos nossos professo-
res entrevistados relatam essa mudança. Realmente a disciplina, o comportamento em grupo,
a relação em casa com seus parentes e o próprio comportamento na instituição escolar.
Ao citarmos a prática do Judô através das lutas nas aulas da Educação Física escolar
podemos entender que esta luta pode sim com grande certeza contribuir para o processo de
ensino-aprendizagem assim favorecendo de uma grandeza enorme para o desenvolvimento
global da criança. E esta vivência deve promover também o aumento da capacidade cogniti-
va, possibilitando o aluno a refletir acerca das ações que farão dele um ser humano provido
de valores que os integra de fato na sociedade contemporânea (GOMES; QUEIROZ, s.d.).
Nossa pesquisa aponta que 100% dos profissionais desenvolve o aspecto afetivo com
os alunos, o que não deixa dúvidas da importância de se trabalhar esse aspecto durante o
processo de aprendizagem, não só para uma melhoria do ambiente da aula, como para que
todos os alunos tenham o melhor convívio possível. Todo ser humano tem a necessidade
de afeto, em uma turma, onde os alunos irão aprender coisas novas e fazer descobertas, o
lado afetivo pode ser determinante para a evolução da turma como um todo.
É relevante considerar que o afetivo pode variar de acordo com o estado atual do ser
humano. Obviamente o afeto já é variável de pessoa para pessoa, mas também pode haver
variações em um único ser, dependendo do estado em que o mesmo se encontra. Esse
é o ponto que o professor precisa estar atento, pois, em determinadas situações, o afeto
pode ser trabalho de forma natural e simples, mas poderá encontrar resistências em outros
momentos, mesmo com os alunos que se demonstram ser mais afetivos.
Como já foi dito, o afetivo é de extrema importância para o desenvolvimento da tur-
ma, a falta do afeto pode prejudicar o interesse pela aula, a falta da sensação de prazer
na criança, e a construção dos laços entre os alunos será bem mais complicada. A falta do
aspecto afetivo é oposta ao aprender, não só em relação as aulas de judô, mas também
no desenvolvimento geral da criança, na forma como ela irá se portar perante o mundo e
qual será o papel dela na sociedade. É dever do professor respeitar seus alunos, entender
o contexto social de cada um e procurar a melhor forma de se aproximar e fazer com que
o aluno se sinta amado, faze-lo entender que cada um dos colegas da turma vai ser impor-
tante para ele aprender algo novo, e que é muito mais fácil caminhar quando não se está
sozinho, ainda mais em uma caminhada de aprendizagem, um “novo caminho a se seguir”.
Segundo ROSSINI, o ser humano pensa, sente, age. Ele pode ter um quociente inte-
lectual (QI) altíssimo, porém se o seu SENTIR estiver comprometido ou bloqueado, a sua
ação não será energizante, forte, eficaz, produtiva. (ROSSINI, 2001, p.15).
Afetividade é à base da vida. Se o ser humano não está bem afetivamente, sua
ação como ser social estará comprometido, sem expressão, sem força, sem vitalidade.

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Isto vale para qualquer área da atividade humana, independente de idade, sexo, cultura.
(ROSSINI, 2001, p.16).
Todos os profissionais entrevistados afirmaram haver uma notória evolução no aspecto
afetivo dos alunos, o que já era de se esperar. Quando o lado afetivo é trabalhado constan-
temente, o resultado se torna nítido nas situações do cotidiano. Os alunos se sentem mais
à vontade no ambiente de aprendizagem, se aproximam dos colegas de turma, construindo
laços de confiança que só irão ajudar no processo de ensino e aprendizagem.
É de extrema importância que o professor seja próximo dos alunos, não ser visto apenas
como um transmissor de informações, mas como uma figura de confiança que possa auxiliar
de perto esse processo da construção afetiva da turma. “A educação é um processo que se
dá através do relacionamento e do afeto para que possa frutificar.” (CHALITA, 2001, p.154).
O educador não pode ser aquele indivíduo que fala horas a fio a seu aluno, mas aquele
que estabelece uma relação e um diálogo intimo com ele, bem como uma afetividade que
busca mobilizar sua energia interna. É aquele que acredita que o aluno tem essa capacidade
de gerar ideias e colocá-las ao seu serviço. (SALTINI, 2002, p.60).
O desenvolvimento moral do indivíduo, que resulta das relações entre a afetividade
e a racionalidade, encontra no universo da cultura corporal um contexto bastante peculiar,
no qual a intensidade e a qualidade dos estados afetivos experimentados corporalmente
nas práticas da cultura de movimentos literalmente afetam as atitudes e decisões racionais.
(BRASIL, 1998, p.34).
A modernidade exige que o profissional de educação física compreenda o esporte e
a pedagogia de forma mais ampla, transformando-os em facilitadores no processo de edu-
cação de crianças e de jovens. Nesse contexto, é preciso ir além da técnica e promover
a integração dos personagens, o que só será possível se a proposta pedagógica estiver
embasada também por uma filosofia norteadora por princípios essenciais para a educação
dos alunos. (DANTE, 2002, p.91).
Nossa pesquisa aponta que 100% dos profissionais desenvolvem os aspectos motores
em suas aulas, de maneira diversificada e usando muitas vezes da ludicidade como estraté-
gia de atração para uma maior participação quantitativa dos alunos, para que assim consiga
aplicar as aulas e consequentemente consiga o objetivo final, que é desenvolver os alunos
motoramente, não deixando de seguir a progressão do desenvolvimento e respeitando o
princípio da individualidade biológica.
Segundo MAGILL (2000), o desenvolvimento motor ocorre durante toda nossa vida,
tendo seu início no nascimento, passando pela vida adulta, até o envelhecimento, esses
movimentos motores e capacidades coordenativas são adquiridas através de experiência
em realização de tarefas diárias, já habilidades motoras assim como as capacidades físicas

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condicionantes são movimentos voluntários que desenvolvemos através de treinamento para
objetivos específicos, podendo citar, por exemplo, a velocidade de deslocamento em que
precisamos fazer para uma melhor aplicação de das técnicas do judô.
Deve-se levar em consideração a progressividade do desenvolvimento de cada faixa
etária. Cada etapa tem sua importância e significado relativos biologicamente e fisiologica-
mente e deve ser respeitado, para que não ocorra indeferimento negativo no desenvolvi-
mento do indivíduo.
Não é raro que, ao perceber certa aptidão de seus filhos para determinada modalidade,
pais ansiosos os obrigam a cumprir treinos exaustivos. É um tremendo erro. “Praticar um
único esporte na fase que vai de 7 a 12 anos prejudica o desenvolvimento da criança”. Diz
Oswaldo Luiz Ferraz, professor de educação física da USP. Mesmo se ela demonstrar mais
inclinação para um esporte do que para outros. É sempre bom estimulá-la a variar1.
Relativo ao gráfico 1, a pesar de trabalhar com o primeiro segmento do ensino funda-
mental que abrange em média alunos de 7 a 10 anos de idade, muitos alunos chegam nessa
fase com dificuldades em coordenação motora básica e o trabalho é realizado de modo que
consiga atualizar o aspecto motor do aluno para a sua faixa etária de idade, segundo relatos
feitos pelos participantes da pesquisa.
Segundo GALLAHUE (2002), nessa faixa etária de idade as pessoas encontram-se
em uma fase do desenvolvimento motor chamada de (fase motora especializada) espe-
cificamente em seu primeiro período chamado de (período de transição), esse estágio é
caracterizado pelas primeiras tentativas do indivíduo refinar as suas habilidades motoras,
é uma fase de transição das habilidades básicas para o momento de aplicação, como por
exemplo podemos citar a melhoria na qualidade dos golpes, ou de exercícios específicos
para cada modalidade.
Relativo ao gráfico 2, A interdisciplinaridade é um dos caminhos apontados pelos
PCNs (parâmetros curriculares nacionais) para o desenvolvimento de um aprendizado mais
consistente onde nossos alunos poderão compreender a importância dos conteúdos das
disciplinas na sua interação com o mundo.
De acordo com Nakamura, o pensamento complexo é fundamental na construção de uma
educação que privilegie a interdisciplinaridade, para romper a fronteira do sistema fragmen-
tado em disciplinas cada vez mais isoladas, que não dialogam entre si. (NAKAMURA, 2013).
Relativo ao gráfico 3, de acordo com os entrevistados os professores relatam muito
pontos positivos nas atividades propostas e a melhora na disciplina é notável até para os
pais, que retribuem com elogios, e assim indicando para outros pais de alunos para coloca-
rem seus filhos no judô.

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Dando continuidade à nossa pesquisa, a questão 10 - Você procura trabalhar sociabili-
zação dos alunos através do judô? , Em nosso trabalho de pesquisa em campo, observamos
que 100% profissionais de Judô escolar trabalham aspecto socialização de seus alunos o
resultado foi e tem sido expressivo e é isso que faz o número de adeptos ao esporte au-
mentar cada vez mais, por se tratar de um esporte transformador social. Segundo alguns
autores que comprovam o mesmo, o benefício do judô é notório devido à sua influência em
comportamento social.
Um Japonês chamado Jigoro Kano, também praticante de jiu-jitsu, achava que essa
luta tinha como único objetivo a vitória. Por isso, resolveu criar um esporte que não fosse
violento e que pudesse ser eficaz na educação do indivíduo. A nova luta, além de ser útil
para a defesa pessoal, poderia ser importante também para superar as limitações do ser
humano. Assim, ele pegou as melhores técnicas do jiu-jitsu e criou regras para o confronto
esportivo baseado no espirito do Ippon-Shobu (luta pelo ponto completo).
O Judô (em japonês, caminho suave) é uma luta defesa, que utiliza a força do adver-
sário na execução dos golpes.
Estudos têm apontado que crianças que participam de atividades esportivas vêm apre-
sentando melhorias na sua socialização. Segundo Freire e Soares (2000), além de garantir
o desenvolvimento educacional físico e de cooperação entre os colegas, o esporte propor-
ciona desafios físicos e mentais e contribui para o desenvolvimento social, promovendo a
identidade social e grupal.
A relação entre esporte e bem-estar psicológico foi considerada como positiva para
Weinberg e Gould (2001), e sugere que o aumento da sensação de controle, do sentimento
de competência e da autoeficácia, além do lazer, proporciona interações sociais positivas,
o autoconceito e a autoestima.
Para Machado et al (2007), a ação educativa através do esporte pode servir para as
crianças como um ambiente promotor de saúde e das mais diversas habilidades, sendo
que o esporte, principalmente a educação pelo esporte, pode agir transformando potenciais
em competências.
Relativo ao gráfico 4, já no campo da saúde mental, a prática de exercícios ajuda na
regulação das substâncias relacionadas ao sistema nervoso, melhora o fluxo de sangue para
o cérebro, ajuda na capacidade de lidar com problemas e com o estresse. Além disso, auxilia
também na manutenção da abstinência de drogas e na recuperação da autoestima. Há re-
dução da ansiedade e do estresse, ajudando no tratamento da depressão.
A atividade física pode também exercer efeitos no convívio social do indivíduo, tanto
no ambiente de trabalho quanto no familiar.

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Para Dell’Aglio, a atividade física em crianças e jovens, além de ser importante na
aquisição de habilidades psicomotoras, a atividade física é importante para o desenvolvi-
mento intelectual, favorecendo um melhor desempenho escolar e também melhor convívio
social. A prática regular de exercícios pode funcionar como uma via de escape para a energia
“extra normal” das crianças, ou seja, sua hiperatividade. (Dell’Aglio, Debora. 2010).
De acordo com Trusz, o desenvolvimento humano acontece através de um conjunto
de relações interdependentes entre o sujeito conhecedor e o objeto a conhecer, envolvendo
aspectos cognitivos, morais e afetivos presentes nas interações. Para Piaget (1932/1994), o
desenvolvimento da moral ocorre por etapas, e acordo com os estágios do desenvolvimento
humano, e abrange três fases: anomia (crianças até cinco anos), em que a moral não se
coloca, ou seja, as regras são seguidas, porém o indivíduo ainda não está mobilizado pelas
relações bem x mal e sim pelo sentido de hábito, de dever; heteronomia (crianças até 9, 10
anos de idade), em que a moral é igual à autoridade, ou seja, as regras não correspondem
a um acordo mútuo firmado entre os indivíduos, mas sim como algo imposto pela tradição
e, portanto, imutável; autonomia, corresponde ao último estágio do desenvolvimento mo-
ral, onde há legitimação das regras e a criança pensa a moral pela reciprocidade, ou seja,
o respeito a regras é entendido como decorrente de acordos mútuos entre os indivíduos,
sendo que cada um consegue conceber a si próprio como possível ‘legislador’ em regime
de cooperação entre todos os membros do grupo. (Trusz, Rodrigo. 2010).
Na medida em que a criança cresce, ela vai percebendo que o mundo tem suas regras.
Ela descobre isso também nas brincadeiras com as crianças maiores, que são úteis para
juda-la a entrar na fase de heteronomia. Segundo (Piaget. 1994), a criança quando vivência
o estágio chamado heterônomo, isto é, onde as regras são estabelecidas e provindas de uma
ordem exterior de maneira determinada e imposta, acaba concebendo a regra como algo
correto que deve ser seguido e obedecido, caso contrário há uma consequência (punição)
que não é agradável.

CONCLUSÃO

Com base na pesquisa realizada observa-se que os benefícios do judô para o primeiro
segmento do ensino fundamental são positivos para a formação motora dos que praticam
o esporte e tendo como elemento validador o nosso questionário em que 100% dos nossos
entrevistados trabalham elementos da motricidade em seus alunos, isto é, o aluno que pratica
judô na escola estará trabalhando elementos da motricidade com esquema corporal, tônus
muscular, lateralidade e equilíbrio.
O judô trabalha também aspectos cognitivos com os alunos que praticam, e de acor-
do com a nossa pesquisa de campo conseguimos comprovar que o judô proporciona essa

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evolução do aspecto cognitivo segundo a totalidade de nossos entrevistados e nesta faixa
etária os alunos não desenvolvem muito a sua linguagem e raciocínio lógico. Ao entrarem
em contato com diversas crianças em um ambiente totalmente diferente com regras e con-
textos diferentes do que há em sala, elas acabam evoluindo a sua comunicação, pois ficam
mais à vontade fora do ambiente formal.
Com base na pesquisa observa-se que em aspectos afetivos e sociais as estatísticas
também são elevadas em quase toda sua totalidade, os alunos ao entrarem em contato com
outras pessoas pelo tato (no toque), a criança aprende que só pode tocar em outra pessoa se
a outra permitir e isso é demonstrado através saudação, o respeito é um dos pilares do judô.
Contudo, afetivamente como em todos os esportes as crianças acabam tendo a pri-
meira relação com o Judô e acabam gostando muito do esporte pela experiência nova, e o
fato de que no judô os alunos acabam tendo contato com crianças diferentes e isto acaba
fornecendo à eles uma afetividade entre si, além de construírem apenas por aspectos lúdicos
os seus primeiros grupos sociais.
Conclui-se que o judô é benéfico para as escolas e para as crianças desta faixa etária,
pois o judô foi projetado em toda a sua origem por seu criador Jigoro Kano, para promo-
ver o bem-estar e saúde dos seus praticantes, desenvolvendo valores como Honestidade,
Respeito, Ética, Disciplina e diversos outros pilares da moralidade infantil.
O Judô (como em japonês se chama caminho suave), para criação de cidadãos com
valores morais e éticos bem fortes e elevados para os nossos padrões da sociedade e é
exatamente o que precisamos hoje em dia, melhorar a nossa sociedade porque se promo-
vemos crianças com esses valores, no futuro serão cidadãos e pessoas exemplares. E é por
isso e outros valores que este trabalho é importante para fortalecimento do caminho suave
(Judô) na educação das crianças do primeiro segmento do ensino fundamental.

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cação Física/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível
em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/fisica.pdf. Acesso em: 14/09/2017.

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