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APROFUNDAR
'Se Deus existe porque é que a minha vida é tão difícil?'
Esta pode ser uma pergunta que de vez em quando nos
vem à cabeça. E que, à partida, parece fazer algum
sentido. Mas é também uma pergunta que parece talvez
assentar num pressuposto: que Deus devia tornar-nos a
vida fácil... Ou pelo menos não permitir nunca que ela
nos fosse difícil. Mas será que deveria ser exactamente
assim?

É verdade que ‘fácil’ e ‘difícil’ são conceitos um pouco


relativos, dependendo de quem os vive – ou da forma de
como os vivemos. Mas é importante notar, antes de mais,
que aquilo que nas nossas cabeças achamos que Deus
‘deveria’ ou ‘não deveria’ fazer está muito ligado à
imagem que temos d'Ele. Pode de facto acontecer por
vezes que a ideia que temos de Deus é a de Alguém que
deveria pôr em prática os planos que temos nas nossas mentes (“seja feita a nossa vontade”). Quando isso
acontece, não é então de admirar que, cedo ou tarde, tenhamos depois decepções ou desilusões com esse
‘deus’ criado por nós, à nossa imagem e semelhança.

E como conhecer, então, o Deus que existe verdadeiramente?


Como saber o que Ele quer, quais os seus planos, a sua vontade?
Para um cristão a resposta a esta pergunta é clara: na pessoa de
Jesus podemos encontrar a revelação perfeita de Deus – tanto
quanto seres humanos O podem compreender.

Desde o início até ao final da sua vida pública, vemos Jesus


totalmente empenhado na “construção do Reino de Deus”. O que,
por si só, é bem sinal de que o nosso mundo ainda não está
acabado, de que a criação não terminou ainda (Jo 5,17). Ora num mundo inacabado, numa “obra-
em-construção” (da qual também nós fazemos parte), é natural que haja desencontros, peças que não
pareçam encaixar, aspectos que não pareçam fazer sentido... E é por isso natural poderem também por
vezes surgir algumas dores de crescimento, ou dores de parto de uma realidade maior que está ainda para
nascer (Rom 8,22; Mc 8,34-35).

Por outro lado, em Jesus vemos também como Ele convida, desafia, propõe... mas nunca Se impõe. E
inclusivamente permite que sigamos outros caminhos, divergentes ou mesmo opostos aos seus caminhos.
Se por vezes a vida é pesada ou difícil, é porque muitas vezes nós mesmos a tornamos difícil – uns aos
outros e a nós próprios. Ou pelo menos não aliviamos as dificuldades dos outros, quando até o poderíamos
fazer. O mal que fazemos – ou o bem que deixamos de fazer – é testemunho de como a liberdade humana
é uma dimensão que tem de ser tida em conta, no processo de criação da realidade deste mundo.

E de facto uma das linhas mestras do nosso universo parece mesmo ser a sua dimensão de autonomia (a
partir da qual a própria liberdade humana depois deriva). Para dar espaço a que outras realidades sejam,
Deus parece então querer ocultar-Se, retirar-Se (Mt 21,33). Não que Deus abandone a sua criação: nunca
o faz. Se o fizesse, o mundo simplesmente deixaria de ser. De algum modo, Deus está sempre presente, em
nós e em tudo aquilo que nos rodeia, dando-lhe a existência. Mas ao mesmo tempo parece estar na
vontade de Deus que o mundo se faça também a si mesmo, que a Natureza faça parte do processo da sua
própria criação, ainda que muito venha a ser por tentativa-erro. E na Natureza, de uma forma muito
especial, os seres humanos. O que não deixa de ser algo de paradoxal: nós, que ainda não estamos
totalmente acabados, que ainda “não somos” propriamente (estamos entre a não-existência e a existência
daquilo em que nos iremos transformar), participarmos apesar disso no processo de geração ou criação do
nosso próprio ser.

1 de 2 03-05-2011 10:00
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Um pouco por tudo isto a realidade pode por vezes aparecer-nos como algo distorcida, tal como acontecia
com os espelhos antigos (1ªCor 13,12). Ou um pouco como num sonho, ainda algo informe, confuso,
indefinido... mas que, a pouco e pouco, irá assumindo contornos mais definidos. Então, ao longo desta
caminhada onde nem tudo se vê claro, é a fé que nos pode guiar para aquilo que há-de ser, à imagem e
semelhança de Jesus que nos convida a segui-Lo dizendo: “vem... e então verás” (Gen 1,26-27; Jo 1,39).

Sugestões de aprofundamento:

- François Varillon, S.J. - "O Sofrimento de Deus"

- Pe. Vasco Pinto Magalhães - "O Olhar e o Ver" e "Pensar a Morte - 8 Palavras"

- John F. Haught, Cristianismo e Evolucionismo em 101 perguntas e respostas, Ed. Gradiva,


2009

Luís Ferreira do Amaral sj Comentários (1)


15.11.2010 Imprimir

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