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Trabalho sobre Machado de Assis

Poema escolhido foi


Círculo vicioso
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
“Quem me dera que eu fosse aquela loira
estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna
vela!”
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
“Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e
bela”
Mas a lua, fitando o sol com azedume:
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume”!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
Pesa-me esta brilhante auréola de nume…
Enfara-me esta luz e desmedida umbela…
Por que não nasci eu um simples
vagalume?”
Resumo: Esse soneto, além da já conhecida
estrutura em quatro estrofes (dois
quartetos e dois tercetos), com versos
alexandrinos (com doze sílabas poéticas) e
rimas interpoladas (ABBA), faz com que
cada estrofe retrate um dos personagens,
criando-se um gancho final para o
personagem seguinte, na outra estrofe.
Assim, começando com o vagalume, o
desejo que o inseto fala (“Quem dera”) é
de ser uma “loira estrela”, por notar nela
uma luz mais viva, que arde, associando-a
como uma “eterna vela”. O poeta, então,
encerra a estrofe com um recurso que seria
repetido nos finais das estrofes seguintes:
“Mas”, deslocando-se o foco do vagalume
para a estrela.
Ela, olhando a lua, também externaliza a
sua vontade de ser outra coisa. Por meio
de um hipérbato (ou seja, a inversão da
ordem sintática direta), a estrela comenta
que a luz da lua foi contemplada pela
fronte amada e bela (daquelas que
inspiram poemas ou que suspiram para a
lua) por todos os tempos, indo da
Antiguidade (“coluna grega”) até a Idade
Média (“gótica janela”). Algo que a estrela
ciumenta também queria ter.
Eis que a lua, que, pela visão da estrela,
teria a melhor das vidas, também se
encontra descontente, pois olha para o sol
e sente ciúmes. Toda a luz da lua (desejada
pela estrela e tão distante do vagalume)
não se aproxima da “claridade imortal” do
sol, como resumo de toda a luz.
E o sol, por fim, baixando os olhos – uma
vez que está no mais alto posto, como se
fosse uma das faces de Deus –, queixa-se
que tal luminosidade é um fardo e que
preferia a simplicidade de um vagalume…
O símbolo máximo desse poema é a luz e
sua intensidade. A luz do vagalume é frágil,
mínima. A da estrela arde no azul e
assemelha-se a uma pequena vela. A da
lua, maior que a da estrela, ainda inspira
amores e belezas. E a do sol, grandiosa,
imortal, como auréola divina. A vontade de
ser maior do que se é, inclusive
espelhando-se em alguém, mostra-se, para
Machado, como um “círculo vicioso”, pois
sempre há alguém maior (com mais luz).

Característica: Valorização da objetividade


e dos fatos.
Impessoalidade, apagamento das ideias do
autor.
Descrições de tipos sociais ou situações
típicas.
Aceitação da realidade tal como ela é, em
oposição aos anseios de liberdade dos
românticos.
Esteticismo: linguagem culta e estilizada,
escrita com proporção e elegância.
Tentativa de explicar o real, recorrendo
muitas vezes à ciência ou ao determinismo.
Abordagem psicológica das personagens
como composição da realidade que veem.

Comentário crítico: A ideia do círculo


vicioso é uma sucessão de cenas sem fim,
em que o desfecho é um retorno ao início.
No caso do poema, o vagalume quer ser a
estrela, a estrela quer ser a lua, a lua quer
ser o sol e o sol quer ser o vagalume, ou
seja, cada um quer ser algo diferente do
que é.

Curiosidades sobre o autor:


1. Origem humilde 
O avô de Machado de Assis foi escravo em
uma chácara no morro do Livramento, no
Rio de Janeiro, onde o escritor nasceu e foi
batizado pela dona da casa, Maria José de
Mendonça Barroso. Aliás, foi lá que ele
aprendeu a ler.
2. Livros traduzidos
Machado foi responsável por uma das
primeiras traduções do conto O Corvo, de
Edgar Allan Poe. O autor brasileiro falava
francês — alguns acreditam que ele
aprendeu a língua com um padeiro — e
também traduziu Os Trabalhadores do
Mar, de Victor Hugo.

3. Chefia na ABL
Foi um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras (ABL) e ocupou a
cadeira 23 — na época, a primeira cadeira
foi designada a José de Alencar. Machado
foi o primeiro presidente da instituição.

4. Fama de bruxo
Foi apelidado pelos vizinhos de “Bruxo do
Cosme Velho”, pois teria queimado cartas
em um caldeirão em sua casa que ficava na
Rua Cosme Velho. O apelido, entretanto,
só pegou quando o poeta Carlos
Drummond de Andrade fez o poema A um
bruxo, com amor, que reverencia o
escritor.

5. Diagnóstico precoce
Em seu livro Anjo Rafael, Machado de Assis
previu a existência da doença mental folie
à deux (delírio a dois, em português) antes
de ela ser descrita. A obra conta a história
de uma filha que é “contagiada” pela
loucura do pai, enlouquecendo também.
Anos depois da publicação, o mal foi
descoberto por pesquisadores. Como se
não bastasse, o brasileiro também
descobriu a cura para a doença: afastar a
pessoa saudável de quem tem o problema
mental.

6. Talento no xadrez
O autor era enxadrista e participou do
primeiro campeonato brasileiro do esporte
mental, ficando em terceiro lugar. As peças
que utilizou estão expostas até hoje na
Academia Brasileira de Letras.
7. Amor da vida
Ele foi casado por 35 anos com Carolina
Machado, que era quatro anos mais velha,
mas não tiveram filhos. Alguns
especialistas dizem que Carolina era muito
inteligente e ajudava na revisão dos textos.
Com a morte da mulher, Machado entrou
em profunda depressão e escreveu para o
amigo Joaquim Nabuco: “Foi-se a melhor
parte da minha vida, e aqui estou só no
mundo”.

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