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Kervegan - Hegel e o Hegelianismo (Parcial)
Kervegan - Hegel e o Hegelianismo (Parcial)
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Títu1o original:
Hegel et I'hégélianisme
@ Éresses Universitaires de France, 2005
ISBN: 2-13-053405-8
CoNspl-rio EnttontaL
Ivan Domingues (UFMG)
Juvenal Savian GINIFESP)
Marcelo Perine (PtiC-SP)
Mario A. G. Porta (PUC-SP)
Rogério Miranda de Almeida (PUC-PR)
Edições LoYola
Rua 1822 n'347 - IPiranga
04216-000 São Paulo, SP
Caixa Postal 42.335 - 04218-9'70 São Paulo' SP
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Para Bernard Bourgeors
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PFOLB60 ........9
I
FRIMEIHH PRRïE
Em direçáo as Eistema
capítulo I
HL6UN5 LU6HFE5 COMUNs... ............19
capítulo ll
ENTFE TÜB|NGEN E IENH .................. 33
capílulo lll
O SISTEMH
sEEUNDH PRHTE
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capítulo I
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H L06|CF ........73
trapítulo lll
t]H NRTUHEZA ÃA EsPíRITO
PRBLO6O
r9
zìndo e anorando os aurores gregos e lacinos. É d,irecionad.o à a história, não as beLezas da natureza. Da estadia enr Berna
carreira eclesiástica: um caminho seguro em wurcemberg, ond.e
data um primeiro escriro publicado: a rradução (anônima) das
os pastores são formados e pagos pelo Estado. Assim, em lzg8
Lettres confdenüelles de um revolucionírìo da região
d,o vaud,
Hegel é admiddo no Süft de Tübingen, uma espécie d.e grand.e
J-J. Cart. Redige cambém um conjunto de fragmenros sobre a
seminário onde são formados os futuros pasrores. Recebe aí
"positividade" da religião cristã, bem como uma vid.a d.e
uma formação filosófica e reológica convencional conrra a Jesus,
na qual este parece reiacar aos discípulos a críüca da raz^ão prá-
qual seus primeiros escriros reagem com vigor. É assim que tica; esses escritos não serão concluídos nem publicados. No
reflete, no "Fragmento de Tübingen,,, sobre t q,r" seria uma verão de I796,Hegel deixa a Suíça e assume um novo posro
religião popular, que adaptasse ao dogma cristáo as práticas de
precepror, dessa vez em Frankfurt; reenconrra Hõlde;lin, que
litúrgicas das religiões cívicas da Antiguid.ade. com seus cole- lhe arranjou esse emprego, e aí permanece aré o fim de 1800.
gas de classe schelling e Hôlderlin, acompanha com paixão os
Sabemos pouce coisa sobre esse período. Ele mantém com uma
acontecimenros na França -- díz a lenda que eles plantaram amiga de infânciq Nanette Endel, uma correspondência que não
juntos uma árvore da liberdade. o rerror esfriará o entusiarmo
tem nada em comum com as tórridas carras de Hôlderrin e sua
desses j.vens sem dúvida girondinos: dentre as carras d.e Hegel
Diocima, Suzette Gontard; freqüenta assiduamenre Isaac von
que se conservaraln, a primeira censura "a ignornínia dos ro- sinclair, amigo e proreror de Holderlin. passa por um episódio
bespierristas" (corresp., 1, 18). Mas, contrariamente a olrrros depressivo que, se não tem nada em comum com o cohplo
(dentre os quais schelling), nâo reverâjamais sua adesão aos
psíquico de Hôlderlin, deixará marcas. Não obstanËe, a estadia
princípios da Revolução, que para ele se confundem com os ,l.a frankfurriana é fecunda no plano intelectual. É verdade que
modernidade política e social. nada publica além da tradução comenrada d.o libero de cart,
Ao fim de seus esrudos, Hegel se conveÍrce de não ter sid.o preparada em Berna; desisre de publicar urn panflero em rom
feito para a carreíra de pastor: será portanto precepror. Chega repubiicano sobre a situação polírica de v/urcemberg. Além
a Berna. Por quase três anos ensina rudimentos às crianças disso, começa a redigir o que deveria ser um rivro sobre a sirua-
da aristocrâtica fanília von steiger, da quar aproveita a'ríca
ção do Império, se o espíriro do cempo (encarnad.o por aquele
biblioteca paÍe expendir sua cultura. Descobre a economia que é a seus olhos o protótipo do herói moderno, Bonaparre)
política lendo e traduzindo o mercantilista escocês James não tivesse abreviado sua agonia; dará continuidade à reàaçao
sceuart; é eí tafvez que lê a Nqueza. das nações d.e Adam smith,
desse manuscriro, que abandonetâ no início da escadia em
que cita e comeÌLta em seus manuscritos de Iena. Lê também Iena. Descoberto um século mais carde , A consütuição d.o império
Hume, Gibbon, Montesquieu, Rousseau (seu ..herói,,, segundo aletnão é texto marcado por um republicanismo de inspiração
um colega do Süft) e, claro, Kanc (o de A rekgião. maioi refe_ maquiavélica. Mas o essencial do rrabalho de Heger gira sempre
i
Iì rência encre os escriros da juve'cude). Aproveita também o em torno de problemas f,losófico-religiosos. Menos kanriano que
verão para fazer uma viagem aos Alpes, mas, manifestamenËe,
fi em Bernq invenca uma conceítualízação original para pensar
#
não parrilha da paixão romândca pelas sublimes paisagens da
* o que escapa à linguagem comum. Se se volta então conrra a
montanha! o que the inreressa são os homens, os farosiociais, filosofia, é sua própria filosofia que está assim send.o elaborada.
10 I Hesel e a hegelianisms
próloso i ll
L
Doravante) trata-se de uitrapassar a "separaçío" qiJe catacterrza da.Lógica (18L2-I8L6). É também em Nuremberg que se casa,
a vida dos povos modernos, mâs assumindo-a e afroncando-a; em 1811, com Marie von Tucher, provenierrte da aristocracia
é. dialeücamente qve é necessário chegar à "coincidência com o local, com quem tem dois filhos, Karl e Emmanuel.
tempo" (Frankfurt, 377). Hegel busca uma posição acadêmica conforme à sua notorie-
De 1801 ao começo de 1807, Hegel Permenece em Iena, dade. Aguarda uma cátedra na Universidade de Erlangen, mas é
onde se enconcra com Schelling; graças antes de tudo a Fichte finalmente a cÍeHeidelberg que o recruta; ele tem quarenta e seis
(afascado da câtedra em L799 em razáo da querela do ateís- anos. passa aí dois anos, duranre os quais publica aEnciclopédia,
mo), a cidadezinha ê entío o centro da vida intelectual alemi das ciências flosófcas (18i7), compêndio do sistema finalmente
junramente com Weimar (de Goethe e Schiller). Nesse período, exposto em. sua totalidade. Doravante, é baseado nesse manual'
cujo fruto tardio ê aFenomenologia do Espírito, é que se fixa sua (do qual duas outras edições são publicadas em 1827 e 1830)
oriencação filosófica definitiva, graças a Schelling, e depois que ensina, desenvolvendo em aula tal ou qual segmento do
contra ele. Hegel faz suas primeiras incursões no ensino uni- conjunco. Publica também seu escrito político mais liberal, urn
versicário como Priuatdozent (docente universitário remunerado estudo dos Áros dos Estados do reino dc'Wurtemberg ern 1815-181'6,
conforme a quantidade de estudantes inscritos; e eles não são em que analisa o confiito entre o novo rei, que deseja outorgaÍ
numerosos). Publica seus primeiros texcos: inicialmente, em uma Constituição ao seu Povo, e os Estados convocados Para
IB}L, aDiferença dos sistemasflosóf.cos dc Ficbte e de Schellingem que ratificar esse projeto, os quais, em nome do "bom velho direito",
é po*a-voz de seu amigo, mas já exibindo uma tonalidade que na prâtíca o arruínam. Nessa oportunidade desenvolve uma
lhe é própria. A partir deJ.8O2, publica com Schellíng o Jarnal convicção: no contexto da Europa pós-revolucionáriE o mo-
crítico da flosof.a, em que escreve alguns artigos importantes e mento não é o da Restaunçáo daquilo que não tem mais lugar
dificeis. Além disso, redige cadernos para seus cursos, que são para ser - acreditam nisso somente os reacionários que "nada
o início de uma filosofia em elaboração. Esses escritos são tam- esqueceram e nada aprenderam" -, mas o de uma política de
bém o laboratório da grande obra que assinala Para o púbiico reformas impulsionadas do alto e Postas em prática Por uma
seu nascimento como filósofo original (e ao mesmo cemPo sua burocracia competente e dedicada.ao bem público.
ruptura com Schelling): a "ciência da experiência da consciência" É essa imagem de um Estado moderno e reformador que
que se transforma afinal na Fenornenologia do Espírito. atrai Hegel a Berlim,. para onde o ministro Altenstein o chama
Sofrendo pela precariedade de sua situação, Hegel busca em 1818. O prestígio da nova Universidade (criada em 1810
uma posição mais estável. Após parêntese de um ano e meio, por Humboldt) também contribui para isso; alguns dos gran-
quando exerce o jornalismo em Bamberg) encontra-a graças a des nomes da época aí se ilustram: Humboldt, Fichte (a quem
Friedrich Niechammer, alto funcionário bâvaro que lhe consegue Hegel vai suceder), o jurista Savigny, Schleiermacher. Até sua
o posto de direcor e professor de filosofia no liceu protestante de morte,:Hegel aí ensinará as "ciências filosóficas": seus cursos
Nuremberg. Hegel aifrcacercade oito anos (1808-1816), durante acraem centerÌas de ouvintes, guÊ, como Feuerbach, podem vir
os quais redige pa.ralelamente à docência (da qaal a-Propeüuüca de muito longe. Cerca-se de uma equipe de fiéis discípulos que
fiIosófca é o reflexo sucinto) seu segundo grande iivro, a Ciêncin' formam um verdadeiro partido hegelia.no; entre eles, o jurista
I
desagrada, e ele conclui sua Enciclopédia
com uma citação da
desenharam
Urtítrrno. Sua obra é, em tod'o caso, dessas que
Uma convrcçao
a paisagem d.o pensamento contemporâneo'
h"Ult" J"pr"r..r.ução que dela é dada aqui: a fi'losofraheg:1t"":
(PhE' I-50)' E
ordena-se unicamente à "tensão do conceito"
aí pouco esPaço' Hegel tem
;;;;" que o "prezadoeu" ocupa
horroraíúatd'esi.Eentretanto)comotodosessesheróisda
a explicá-
razío pensante que são os filósofos) nos "condena
apatur
lo" (tV 11,574) - ou a nos explicarmos nós próprios
dele. gm razío desses princípios ("é tolo
imaginar que uma
106-107])'
fi.losofia qualquer ultrapassa seu mundo" IPFD'
nosso mundo'
não se pod"ria esPerar ãe Hegel que fale de
que ele é' portanto
Entretanto, que Possa nos ajudar a Pensar o
é essa a
a ser filósofos (de outro modo que ele sem dúvida);
convicção que se gostaria de partilhar'
PRIMEIHH PHHTE
Em direção ao sistema
16 I Hesel e o hegelianismo
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rapítuln I
l. "Tese-antítese-síntese"
A dialética, isro é sabido, comporra crês tempos: a rese) a
antítese e a sínrese. Manifestação inconrestável. de certo vício da
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I 119
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ro e formal" se perfaz em "negatividade absoiuta" (ibid') e Seta
forma cernária que levará Hegel a violenrar o real para subme-
uma síntese especuiativa que é muico mais do que a simples
tê-lo à força a esse esquema"' Surpreendemo-nos Portanto justaposição da primeira tese e de sua antítese: ela é, na ver-
ao constataÍ que o próprio Hegel critica essa mania entre
os
res- dade, "tanto imediacidade quanto mediação" (ibid.) enquanto
filósofos danatureza de tendência schellingiana e adverte a
denomina o processo do qual tese e antítese são os lrÌomentos
peito d,o absurdo que consiste em aplicar um esquema triádico
isolados. O esquema cernário ca-mbém aPresenta "o modelo do
r trrdo o que é. Quando o índice dessas obras é examinado' ritmo do conhecimento" (HP,7,1'894), mas não Passa de um'
.orrrrt múldplas infrações à suposta regra ternária' apesar
"--re modeio ou esquema, e semPre incorre no risco de congelar o
de freqüencemente respeitada: assim, na Lógica, o capítulo "A
movimento do pensamento, sua característica Processual' Don-
idéia d.t conhecer" tem aPenas duas subdivisões, enguanto "O
de a invocação, no fim da Lógica, de um modelo quaternário
julgamento" possui quatro; a história universal divide-se em
e mesmo) tta Filosofa da Naturezt', de uma quinruplicidade do
qrrãrro "reinos" sucessivos. Em Hegel encontram-se explícitas
ricmo do conhecimento (Enclcl',2,5 248 A, 351).
declarações conrÍa o fetichismo da triplicidade: mesmo
que
Mas o principal problema que o esquema "tese-antícese-
ele renha permitid.o ao "conceito da ciênci t' se fazet Presente,
um "esquema sem síntese" coloca não é o do número dos momentos' E que
esse modelo pode facilmente ser rebaixado a
(PhE' esse esquema leva a uma repfesenração errônea da dialética.
vida'' quand.ã s"r, "significado absoluto" é desconhecído
Primeiro, é preciso lembrar que o terÍrÌo "dialética'' designa a
l-+Z). Nías. é em Kant, autor da "filosofia da tazáo pura" (e a
assim dizeg em esquemas)' rigor apenas um momento) certamente capital, do processo
r azáo o rganiza- s e naturalmente, P o r
de lógico: o momento mediano, que se desdobra em mediatízado
que U"g-"Ibaseia "o esquema - verdadeiramente despojado
e rnedíatizance (SI, 3, 81), e que é o "púncípio motor do con-
espírito - d"a triplicid. ade"; for Kant, e não Hegel, que "afirmou
e a síntese" (HP,7, L894)' ceito" (PPD, S 31, 140). Esse momento dialético (negativamente
^ codn Parte etese) a antítese
por
racional) tende a ser negado, ou aÍltes a se negar, trazendo à
Reconhecendo que um "mérito infinito" é devido a Kant
luz o momento especulativo (positivamenËe racional) no qual
por essa descoberta, Hegel juiga que esse é somente "o lado
ele se trltrapassa (Enc1cl.,1, S 81"-82, 343-344). Mas o principal
superficial, exterior, do modo de conhecer" (SI, 3, 383-384);
e
t33
l. Berna: a crítica da pssitividade por si-mesmos" (ibil..). A institucionaTização do cristianismo len-
taÍnente faz dessas "sociedades de amigos" que eram as primeiras
Excetuando alguns trabalhos escolares e o Fragmento de
'Iübingen, os escritos redigidos por Hegel duranre seus anos de comunidades um Esrado eclesiáscico que impõe a seus fiéis o que
deveriam escolher para aderir livremente. Mas ela também mina
precepcorado em Bema são os primeiros sinais de sua arividade.
a autoridade do Escado político: argreja tende a se impor sobre
Trata-se de um rexto inacabado, que se intitulou A positiuidade
ele ou a se idenrificar com ele. De faro, opressão política e tirania
da religião trisüã (L795), e de ourros fragmentos mais ou menos
longos. Hegel :ululiza os três pilares de sua cultura inrelectual, religiosa caminharão junras ranro no cesaripapismo bisanrino
colocando-os uns coritra os olrrros: a religião (luterana), a polírica quanto no catolicismo medieval. euando a"rgrejaconsricui um
(antiga e moderna) e a filosofia (kantiana). Seu fio condutor é a Estado" (Poiüuité,65), aí não é mais possível haver verdad.eiramen-
crítica da positividade. Embora enconrre em Kanc a distinção te Estado, e alegalidade e a moralidade igualmenre se decompõem.
entre religião natural (racional) e religião positiva (Posiüuité,109), Em seguida, sua cúcíca se esËende ao protescantismo, o qual é
Hegel se inceressa particularmente por aquilo que faz com que censurado por ser "muito mais subordinado ao Estad.o,, que o
uma religião se torne posiriva. Eis sua definição de positividade: catolicismo (Posiüuité,69). As dificeis relações do jovem seminarisca
"LIma fé positiva é um sisrerna de proposições religiosas que deve de Tübingen com a orrodoxia do Süft a.í ocorrem à roa.
ser verídico para nós, visto nos ser imposto por uma autoridade Como lurar conrra a esclerose da religião (que é no funto
à qual não podemos recusar a subrnissão da nossa fê" (Berne,B!), uma religião situada nos limires da simples razão, uma moral)?
A positividade designa o devir exrerior da fé, cuja conseqüência. Por meios religiosos e políricos, ranro é verdade que "rerigião e
é o esquecimento do que é "a mete e a essência de toda religião política são consideradas unha e caÍne" para subjugar os espíricos
verdadeirq a moralidade dos homens" (Posiüuité 30). Portanro, ela (Conesp., 1,29). Como posteriormenre o jovem Marx, o jovem
se atém menos aos dogmas de uma religião do que à "norma sob Hegel considera a crícica da religião e a críríca da porírica indis-
a quel constata a verdade de sua doutrina e exige a execução de sociáveis. o trágico desfecho da Revolução francesa seguramenre
seus mandamentos" (Posiüuité,114). Hegel interroga-se sobre essa o convenceu
- e a esse respeito ele não mais mudará _ de que
esclerose (inelutável?) da fê. viva do cristianismo primitivo) como não se pode lutar conrra a alienação simplesmenre por meios
também sobre a da religião cívica da cidade antiga de cuja unidade políticos, que não basta instaurar auroritariamenre o culro à
ela era o fermento. No que conceme à religião cristã, essa degrada- deusa Razío para tornar os homens racionais e virtuosos. Es-
ção começa desde a primeira geração dos discípulos de Cristo, os creverá, mais tarde: "Deve-se julgar uma insensatez dos tempos
quais, ústo "não terem conquistado por si mesmos a verdade e a modemos mudar o sistema de uma eticidade corrompida, sua
liberdade", transformaraÍn esse "mestre de virtude" -.que naVida constituição e legislação, sem a mudança da religìão; rer feiro
d.e Jesw (1795) fala alinguaguem da Críüca da ruzÃ,o prática! -- em
uma revolução sem uma reforma (EnEcl.,3, S S52, 338)1. Mas
"mestre de uma religião positiva" (Posiüuité,45). Conrrasre sur-
preendente em relação aos discípulos de Sócrares: esses, que haviam
1. Tradução, a partir do original alemão, de paulo Meneses, in G. W. F.
"conhecido outros mestres" e üvi.am sobretudo em um Escado HEGEL, Enciclopédia das ciências flosófcas. Em compêndio (i830), São paulo,
"que ainda merecia -seu interesse" (ibì.d..), foram "grandes homens Loyol4 1995, 332, v. III.
69). O único trabalho bernense publicado (quando HegeL jâ Adam Smith (cujos primeiros craços explícitos datam, todavia,
escá em Frankfurt) foi uma tradução anônima e comentada de da estadia em lena), coloca Hegel no caminho de uma de suas
urn libelo do advogado J.-J. Cart denunciando a opressão da maiores criações conceituais: a distinção entre sociedade civil e
Esta.do, que esclarece a dimensão não diretamente política do
região do Vaud pela aristocracia bernense. No início da esta-
viver conjunËamente, apoiada pelos mecanismos do mercado.
dia em Frankfurt, esse opúsculo é acrescido de um panfleto
Logo concluirá daí que "a bela e feliz liberdade dos gregos" é
que Hegel redige sobre a situação poiícica de Wurtemberg. No
incompatível com a afrrmação do interesse particular, conr-
encanto) desiste de publicá-lo; dele só restam algumas páginas'
ponente do " princípio superior dos ternpos rnodernos" (Esprit, 2, 93
Incituiado "Os magiscrados devem ser eleitos pelo povo", defen-
entre tübingen e iena I 37
35 I em direção êo sistemõ
e 95), e que portanto convém invenrar ourro ripo de polírica, (Pol., LL8) que exorta seus compâcriotas a "liberrá-la dos bárba-
diferente da ilustrada peio ídeú da. polis. ros". A história (e Napoleão, esse "grande professor de direito
Hegel não 1ê somente os economistas, mas também obras conscitucional") condenarâ a voz de Hegel, como rambém a
históricas antigas (Tucídides) e modernas (Hume, Gibbon, de Maquiavel, a "ficar sem eco" (Pol., I2I). Para a posteridade
Schiller, Raynal): essas leituras alimenram uma reílexão na resta um escrito de severa acuidade. Alguns dos maiores remas
qual a questão da hisroricidade adquire imporrância definiciva. da filosofia política posterior jâ aparecem aí, mas sem a infra-
Na verdade, alimentam uma refiexão especulativa sobre a uida estrutura que os suportará: necessidade de um Estado que não
histórica do espírito. Esse é um rraço consrance da conscituição seja um "Estado na. idéia" (Po|.,73, 162), recusa da redução do
intelectual de Hegel: ele não quer se arpoiar somenre nas grandes direito público ao direito privado (Po\.,1,03) e da polícica à moral
obras filosóficas, mas tambéÍn nas produções do encendimenro (Pol.,I05), rejeição de um pacifismo que ignora "a verdade que
culto que oferecem acesso priviiegiado à inteligência do real. mora dentro do poder" (PoL.,95).
Quando morreu, sua biblioteca continha quase tantas obras Entretanco, o grosso do trabalho realizado em Frankfurt
científicas no sentido amplo quanro esrriramente filosóficas. (e que não viria à luz) díz ainda respeito a remas reológicos:
O interesse pela história se manifesra rambém num rrabalhc, consiste em dois manuscritos, claramente parres de um projeto
que empreende após a parrida de Frankfurr, abandonando-o em comum, que craram de O espírito do judaísmo e de O espírito do
seguidq jâ que a aniquilação dos Esrados alemães pelo exército crisüanismo e seu destino (os tículos não são de Hegel). Há un\a
napoleônico tornou-o ultrapassado: a redação de uma obra que nítida diferença entre o modo peio qual os escriros bernenses
analisa as razões da decadência do Império e propõe os meios de cricicavam as religiões positivas opondo-lhes um kandsmo bem
interrompê-la. O essencial dos fragmentos que se conservaram sumário e uma dinâmica mobilizadora dos cultos cívicos, e o
de A Consütuição da Alemanha (eles foram editados em 1900) modo peio qual os textos frankfurtianos estudam o "descino" do
redigiu-se em Iena em 1801-1802, mas foi em Frankfurt que judaísmo e do cristianismo. O Jesus de Berna era a encarnação
Hegel concebeu o projeto e examinou a abundanre literarura da fé moral, e o que Hegel opunha ao devir positivo da religião
histórica e jurídica que deveria alimentar sua realização. Redigiu era a idéia kantiana da religião racional (simulraneamenre a uma
aí três primeiros esboços, obras de um "coração que abandona religião cívicacom caracceríscicas rosseaunianas). Em Frankfurt,
com pesar a esperança de ver o Estado alemão ser arrancado o pano de fundo kantiano desaparece, assim como o modelo da
de sua insignificância" (Francfort,356; Pol.,25). Ainda náo é a cidade antiga. Para pensar esse destino (essa necessidade vivida,
sentença lapidar: 'A Alemanha não é mais um Estado", com a mas não assumida) que é a positividade, Hegel utílizaconceiros
qual se abre a úlcima redação do manuscrito (P01.,31); mas já anticonceituais2: amor, vida, destino. Por que o recurso a um
percebemos nesses fragrnentos o realismo político, a vontade de vocabulário que pode parecer pouco rigoroso, figurado? Porque
opor a fria análise dos processos hisróricos à "lend.a da liberdade se trata de pensar o que o "conceito" (que posteriormente se
alenrã" (Francfort,357; Pol.,26), que são o traço disrintivo dos chamatâ conceito do entendimento) por oposição ao conceiro
escritos políticos de Hegel. Aqui, seu modelo é Maquiavel, esse
republicano desejoso "de elevar a Irália à categoria de Estado" 2. B. BOURGEOIS, Ia, pensée polìtique de Hegel, Paris, PUF, 1969,49.
manusciito conhecido pelo nome de "primeiro sistema"' os temas à redução dã rnetafisica à lógica tal como
tentado por alguns pós-
abordados recobrem os precedentes. Encontramos aí, em parcicular' que "o conhecer
kandanos (ver Dffience, L93'L98), Hegel considera
uma reflexão sobre a linguagem como vetor de universúzação da versad,o na merafísi ca é o suprassumk
(Aufheben) da logica" (Ing'
sobre
relação singular da consciência com o objeto (EsPn41, 68s'), Iéna,LSL).Alógicadequesetrat4bemdiferentedalógicaaris-
o "poder d.ã irrst.om ento" (Esprit,1, 78s'), sobre o craba'lho como reside na economia'
totélica da qual-incorPora alguns elementos'
das
desejo inesgocável, potencialmente alienante, de apropriação fornral da relação. Portanto, "alôglcatermina
ali onde termina a
coisas (Esprtr,1., 80) e, enfim, sobre a constitLrição dialética
do re- enquanto frlosofia
relação" (I'og.Ifua, L49) edá lugar à metafïsica
conhecimenro na,,conrradição absolutd' que é o embate (Espi\1, propriamente especulativa- Somente mais tarde'
renovando o sig-
BBs.). Um terceiro bloco, de l'805-1806, forma a "segunda filosofia nificadodotermo,Hegelfaúdalógica(diatédcaeespeculativa)a
do espírico". Hegel abord.a em conjunto o que mais tarde charnarâ uadaleira merafi sica- Mas muitas características
dessa fucu ralígsca
d. subjerivo (aqui, "o espírito conforme seu conceito") e de já estão Presentes, como Por exemplo a distin@o
enrre infinidade
"siiriro
.spírito objerivo ("o espírito eferivo"). Esse texto não mais utíltzea mï' e infinidade "verdadeira" (I'og' Ima, 5 L ss')3'
ling,r"g.*rchellingiana- É Hegel que fal4 mostra-o ao constituir "'
,rrrr a"-ittio (o do espírito) que ultrapassa a oposição herdada
enrre a subjerividade e a objerividade, e ao fazet convergir temá- 3. Ver abaixo, P. 83.
dade significa que ela só é pensável a partir de seu outro, o positivas - é a garantia de sua fecundidade -, frs porque são
saber absoluto. Portanto, no fim da Fenomenologia, ela ressurge
"sem sistema", ordenadas a um ponto de vista setorial. Isso
como resultado de uma licença que o espírito se concede; essa ainda é rnais verdadeiro a respeito de lilosofias correspondenres
licença é a "liberda.de suprema" do saber que o espírito tem de
a um "princípio limitado"; elas são visões sobre o absoluro, não
si (PLE,II-311). O paraleio é manifesto, até no vocabulário, entre
o saber do absoluco. Só há uma filosofia cujos sistemas parricu-
a passagem do saber absoluto à consciência sensível e a passa-
lares são os momentos em sentido ao mesmo tempo lógicr: e
gem da idéia absoluta à naüÍeza: nesses lugares esffatégicos cronológico do termo. A sistematicidade não é somenre uma
nos quais o sistema parece repousar em uma expressão defini- exigência do tempo presente; Lxprime anatvÍezaatemporal clo
tivá, a circularidade destrói a ilusão de um Ponto de parada. fi.iosofar. De onde a espantosa tese da correspondêncie entre os
Subtraído desse processo (aquele cuja proposição especulativa momentos da idêía lógica e a sucessão dos sistemas reduzid.os
apreende o "ritmo"), o próprio absoluto seria somente "um
a seu princípio: 'A história da filosofia é a mesma coisa que o
pensamento uisto". sistema da filosofia" (HP Introd., 4L-42 e 104-105).
Então, pergunta-se: o sistema de Hegel identifica-se com e.ssa
lV. O diEcuÍso filosófico da totalidade
filosofiaunacujo momento são as filosofias particulares? Dianre
A do programa de um siscema
Enciclopédia é a execução da concepção de sistema, por um lado Hegel deue ídentífrcar seu
que expõe o ponto de vista não de um sujeito singular (isso pensamento (que desde então nío é seu pensamento) à ciência do
setía um sistema), mas do espírito apreendido como dialética absoluto: pois é quando se chega ao ponto de vista da totalidade
da constituição de si: que se pode discernir o verdadeiro significado da sistematização.
Mas tal visão a respeito da completude hegeliana da filosofi.a in-
A ciência dele [do absoluto] é essencialmente sistema, Porque o
verdadeiro, enquárÍÌto co ncreto,s6 é enquanto desdobrando-se em
terromperia o dinamismo processual de :urrrarazío se ex-pondo
si mesmo e recolhendo-se e mancendo-se junto na unidade - isto na hiscória. O sistema, para responder à definição dinâmica que
é, como totalidade l...l.Por sistema entende-se erroneaÍnenre ume Hegel adota, não pode completar-se sem deixar de ser: ele está
filosofia que tem um Princípio limitado, distinto dos outros; ao sempre aberto ao acontecimento do pensamento. Encontra-se
contrário, é princípio de verdadeira filosofia conter em si codos aqui o fecundo dilema do hegelianismo: ele não pode e enrre-
(EnEd.1,
-
os ourros princípios particulares S 14, 180-181)s. tanto só pode - se colocar como última figora da frlosofia.
5? I em direçáo eo sistema
o sistema I 53