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ROGÉRIO PAZ LIMA

OAB/GO N. 18.575

EXMO. SR. DR. MINISTRO LUIZ FUX, PRESIDENTE DO


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

ELIAS VAZ DE ANDRADE, brasileiro, divorciado, agente


político, portador da Carteira de Identidade RG n° 1345642 SSP/GO, devidamente
inscrito no C.P.F. sob o n° 422.894.401-91, título de eleitor n.º 000750421058 Seção
011, zona 001, encontradiço no Gabinete 303 - Anexo IV - Câmara dos Deputados,
Palácio do Congresso Nacional, Praça dos Três Poderes, Brasília, DF, CEP 70160-900;
e, JORGE KAJURU REIS DA COSTA NASSER, brasileiro, divorciado, radialista,
atualmente exercendo o cargo eletivo de Senador da República pelo Estado de Goiás,
inscrito no CPF nº 218.405.711- 87, portador da carteira de identidade nº 39.421.421-3
SSP-SP, título de eleitor nº 037777141090 127ª zona seção 162, encontradiço no
Senado Federal Anexo 2 Ala Teotônio Vilela Gabinete 16, Brasília, DF, vêm, por seus
advogados infra-assinados, Dr. Rogério Paz Lima, advogado devidamente inscrito na
OAB/GO sob o n. 18.575 que recebe as intimações de praxe em seu escritório
profissional sito no endereço indicado no rodapé da página, endereço eletrônico
rogerioplima@zipmail.com.br, propor perante Vossa Excelência propor

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO


LIMINAR

com fulcro na Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009, e ainda,


nos dispositivos constitucionais art. 49, XVI, e 231, § 3º, contra ato conjunto do

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Presidente da República, Exmo. Sr. JAIR MESSIAS BOLSONARO, brasileiro,


casado, Presidente da República, inscrito no CPF sob o nº 453.178.287-91, com
domicílio legal em Brasília/DF, na Praça dos Três Poderes, Palácio do Planalto,
Gabinete da Presidência;
Da Secretária Executiva do Ministério de Minas e Energia, Sra.
MARISETE FÁTIMA DADALD PEREIRA, brasileira, casada, engenheira,
portadora da Carteira de Identidade nº 51103613, expedida pela SSP/RS, devidamente
inscrita no CPF sob o nº 409.905.160-91, encontradiça no Ministério de Minas e
Energia, sito na Esplanada dos Ministérios - Bloco U - Brasília/DF
CEP: 70.065-900; e,
Do Ministro do Meio Ambiente JOAQUIM ÁLVARO
PEREIRA LEITE, brasileiro, administrador de empresas, portador da Carteira de
Identidade RG nº 171995454 SSP/SP, devidamente inscrito no C.P.F./M.F. sob o nº
144.002.098-14, com domicílio profissional sito na Esplanada dos Ministérios, Bloco B,
5º andar, Brasília, DF, CEP 70068-900; que o faz em face dos fatos e fundamentos
adiante expostos:

I – SÍNTESE DOS FATOS E DO ATO ARBITRÁRIO E


ILEGAL
As autoridades coatoras, em decreto publicado no dia
12.01.2022, DOU – Edição Extra – editaram conjuntamente o Decreto Executivo nº
10.935 que revogou integralmente o Decreto anterior sob o nº 99.556 de 1º de outubro
de 1990.
O ato executivo em questão dispõe sobre a proteção das
cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional conhecidos como
caverna, gruta, lapa, toca, abismo, furna ou buraco, incluídos o seu ambiente, o
conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora presentes e o corpo rochoso onde se
inserem, desde que tenham se formado por processos naturais, independentemente de
suas dimensões ou tipo de rocha encaixante (art. 1º, parágrafo único, Decreto
10.935/2022).
A alteração imposta pela normativa em questão produz efeitos
prejudiciais e perigosos a toda a sociedade mundial, uma vez que reduz a proteção das
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cavernas do Brasil, permitindo que empreendimentos impactem de forma "irreversível"


cavidades naturais subterrâneas em todo o país, o que importa para o risco de "destruição"
dessas importantes formações.
Diferentemente do Decreto revogado, a norma impugnada permite
que cavernas consideradas de relevância máxima sofram impactos negativos irreversíveis,
desde que autorizados pelo órgão ambiental licenciador.
O pano de fundo de edição deste decreto é resultado de pressão dos
ministérios do Meio Ambiente, Minas e Energia e o de Infraestrutura, para facilitar o
licenciamento de empreendimentos de impacto, como atividades de mineração, duplicações de
estradas e outras obras.
O Decreto 10.935/2022 retira a proteção das cavernas,
permitindo sua destruição, sem qualquer salvaguarda inclusive das cavernas
testemunho, uma vez que o novo decreto as considera também como de relevância
máxima e, portanto, passíveis de supressão em um licenciamento futuro, mesmo
tendo sido indicadas como compensação para supressão de uma outra cavidade de
relevância máxima ou alta.
Segundo o Política por Inteiro, iniciativa que monitora as políticas
climáticas e ambientais no Brasil:
“(...)
Fora a flexibilização para supressão de cavidades de máxima e
alta relevância, trazida pelo novo decreto, ele estabelece a lógica de tratar as
cavidades como unidades individuais ao desobrigar a conservação de suas áreas de
influência. Devido à complexidade das comunicações entre sistemas de cavernas, os
maciços onde elas ocorrem devem ser considerados importantes elementos da
paisagem e com importante papel na conectividade entre bacias hidrográficas,
funcionando como reservatórios subterrâneos de água, que podem tanto atuar como
bacias de contenção na prevenção em enchentes como na distribuição de água entre
diferentes regiões. Não é raro constatar impactos nas ressurgências de cursos hídricos
a quilômetros de empreendimentos que estão em andamento e seus sumidouros,
resultando em assoreamento de nascentes, como ocorreu nas minerações no município
de Pains (MG) e nascentes do São Francisco.

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A preservação de cavernas também é uma medida de


conservação de água subterrânea, aquíferos, nascentes, a biodiversidade, a geologia, a
cultura e a história.
(...)”
Anteriormente, a norma falava em área que fosse habitat
essencial para preservação de populações geneticamente viáveis de espécies de
troglóbios (animais subterrâneos) endêmicos ou relícto. A nova norma não contém mais
a expressão “geneticamente viáveis”, reduzindo a proteção de locais essenciais para a
reprodução das espécies. A retirada também do termo “troglóbio endêmico e relícto”
diminui a proteção para esse grupo de espécies que vivem somente em uma caverna
específica.
O jornal Estadão traz uma informação extremamente
importante:
“(...)
Para o professor Rodrigo Lopes Ferreira, coordenador do
Centro de Estudos de Biologia Subterrânea da Universidade Federal de Lavras
(UFLA), o decreto representa um retrocesso sem precedentes na história da legislação
espeleológica brasileira. "A possibilidade de suprimir cavernas de máxima relevância
representa aval do governo brasileiro para extinguir espécies raras. A partir do
momento em que se destroem duas dessas cavernas, nada garante que uma espécie
estritamente subterrânea considerada rara vai permanecer, pois ela pode depender
dessas populações para se perpetuar."
Segundo ele, a perda de serviços ecossistêmicos gerados por
morcegos, por exemplo, agrava os riscos de novas doenças e pandemias. "Quanto mais
caverna você destrói, mais você desabriga morcegos que são importantes reservatórios
de vários tipos de vírus, entre eles os coronavírus. Quando se desabriga essa população
silvestre, ela pode buscar áreas urbanas e estará expondo a população brasileira a
novos patógenos, aumentando a possibilidade novas epidemias e pandemias. É uma
canetada muito perigosa. A boiada agora entrou no meio subterrâneo e está passando
em cima das nossas cavernas", disse.
(...)”

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O projeto Política Por Inteiro elaborou uma tabela com a


comparação entre a nova norma e a revogada, com comentários específicos relativos às
mudanças, cujos pontos que merecem maiores destaque são:
 Atributos para reconhecimento de cavidade natural
subterrânea com grau de relevância máximo: retirados os atributos (i) morfologia
única; (ii) isolamento geográfico; (iii) hábitat essencial para preservação de
populações geneticamente viáveis de espécies de troglóbios endêmicos ou relícto; (iv)
interações ecológicas únicas; (v) cavidade testemunho.
 Diminuição de proteção: Anteriormente havia vedação de
impactos negativos irreversíveis em cavidade natural subterrânea com grau máximo e
sua área de influência. Pela nova redação, os impactos negativos irreversíveis são
permitidos nessas cavidades, desde que autorizados pelo órgão licenciados e quando o
empreendedor cumprir os requisitos (apresentação de informações).
 Competência: para alteração da classificação do grau de
relevância de cavidade natural subterrânea, a competência era anteriormente do
ICMBio, sendo agora do órgão ambiental licenciador. Ainda, o órgão licenciador
poderá considerar proposição do ICMBio ou do empreendedor.

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Suely Araújo, do Observatório do Clima, explicou ao Jornal


Nacional que o decreto “passa a admitir empreendimentos de infraestrutura junto a
essas áreas e passa a admitir mineração, o que é um absurdo minerar, por exemplo,
numa caverna que seja única. Nenhuma compensação vai ser satisfatória no caso das

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cavernas de relevância máxima. Essa é a questão”. A reportagem lembrou que foi


numa caverna que o crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado nas
Américas, foi localizado.
Segundo o Correio Braziliense, a assinatura do decreto pode
repercutir negativamente na imagem do Brasil no exterior. Segundo a matéria, nos
bastidores até mesmo aliados do governo admitem que a questão ambiental é um grande
obstáculo para o Brasil voltar a atrair investimento estrangeiro e voltar a crescer.
A desculpa oficial pode ser encontrada em matérias da CNN e
da Folha: em nota, os ministério do meio ambiente e de minas e energia alegam que as
mudanças “criam a possibilidade de investimentos em projetos estruturantes
fundamentais, geradores de emprego e renda, como rodovias, ferrovias, mineradoras,
linhas de transmissão e energias renováveis”.
Acontece, ao teor do art. 225, § 1º, inciso III, da Constituição
Federal, a alteração e a supressão de espaços territoriais especialmente protegidos
somente são permitidas por intermédio de lei. A finalidade da Carta Magna, ao fixar a
reserva de legalidade, deve ser compreendida dentro do espírito de proteção ao meio
ambiente nela insculpido. Somente a partir da teleologia do dispositivo constitucional é
que se pode apreender seu conteúdo normativo.
Nesse sentido, a exigência de lei faz-se presente quando referida
modificação implicar prejudicialidade ou retrocesso ao status de proteção já constituído,
com o fito de coibir a prática de atos restritivos que não tenham a aquiescência do
Poder Legislativo. É o caso dos autos, onde o Decreto impugnado revela mais um
retrocesso ambiental desenvolvido pelo Governo do primeiro impetrante, cujas ações
diuturnamente são orquestradas para desconstrução da política ambiental brasileira, que
impõe a intervenção dessa Egrégia Corte Constitucional, para que chegue-se ao
resultado constitucionalmente desejado: o fundamental direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado (art. 225 da Constituição), inclusive em sua vertente de
proteção ao devido processo de elaboração normativa (reserva legal), e a proteção ao
patrimônio histórico, arqueológico e paleontológico (art. 216, V, da Constituição).
E, para afastar eventuais argumentações que que a norma é
meramente programática, uma vez que apenas autorizaria que os órgãos ambientais
permitissem a exploração econômica das cavidades de maior proteção e importância,
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registre-se que os direitos fundamentais, sobretudo os de de proteção ambiental, deve-se


adotar os princípios da precaução e proteção.

II – DA EXIGÊNCIA DE LEI FORMAL PARA A


ALTERAÇÃO OU SUPRESSÃO DE UM ESPAÇO TERRITORIAL
DELIMITADO DE ESPECIAL PROTEÇÃO AMBIENTAL
A proteção do meio ambiente e a preservação dos biomas é
obrigação constitucional comum a todos os entes da Federação (art. 23, VI e VII,
CF/88), estando o Poder Público das respectivas unidades federativas, inclusive,
incumbido da atribuição de definir espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos. É o que se extrai do art. 225, § 1º, inciso III, da Constituição
Federal de 1988, in verbis:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público :
(…)
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços
territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;” (grifei)

Como define José Afonso da Silva,

“espaços territoriais especialmente protegidos são áreas


geográficas públicas ou privadas (porção do território nacional) dotadas de atributos
ambientais que requeiram sua sujeição, pela lei, a um regime jurídico de interesse
público que implique sua relativa imodificabilidade e sua utilização sustentada, tendo
em vista a preservação e proteção da integridade de amostras de toda a diversidade de
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ecossistemas, a proteção ao processo evolutivo das espécies, a preservação e proteção


dos recursos naturais” (Comentário contextual à Constituição. 3. ed. São paulo:
Malheiros, 2007. p. 842).

Dentre esses “espaços territoriais especialmente protegidos”,


encontram-se as cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional
conhecidos como caverna, gruta, lapa, toca, abismo, furna ou buraco, incluídos o seu
ambiente, o conteúdo mineral e hídrico, a fauna e a flora presentes e o corpo rochoso
onde se inserem, desde que tenham se formado por processos naturais,
independentemente de suas dimensões ou tipo de rocha encaixante, como literalmente
defini o art. 1º, parágrafo único do Decreto 10.935/2022, cada qual regulada de acordo
com suas peculiaridades e diferenças quanto ao grau de proteção.
Conforme destacado acima, o dispositivo indicado como
parâmetro do controle de constitucionalidade ora suscitado (CF/88, art. 225, § 3º, inciso
III) prescreve a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
incumbindo o poder público do dever de definir esses espaços territoriais que devem ser
especialmente protegidos, bem como explicitando que somente por lei será permitida a
alteração e a supressão desses espaços.
Em outras palavras, o princípio da reserva legal é preceituado
para os atos de modificação ou supressão de unidade de conservação. Nesse sentido já
decidiu a Suprema Corte:

“[ ] 3. O art. 225, § 1º, III, da Constituição somente exige a


edição de lei para a alteração ou supressão de um espaço territorial delimitado de
especial proteção ambiental, previamente criado por ato do poder público, este
precedido de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a
localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade. [ ]” (ADI nº
4.218/DF-AgR, Rel. Min. Luiz Fux , Tribunal Pleno, DJe de 19/2/2013).

Nesse passo, a figura do decreto como meio de autorizar o


licenciamento ambiental de empreendimentos nas cavidades naturais subterrâneas com

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grau de relevância máximo, ainda que cause impactos negativos irreversíveis, ofende a
ordem constitucional, por agressão ao princípio da legalidade.
Como explicitado, em outra oportunidade, o então Consultor
Jurídico do Ministério do Meio Ambiente, Gustavo de Moraes Trindade, “não só o
legislador ordinário, mas igualmente o administrador têm o dever-poder de
salvaguardar a natureza, aquele com o uso de instrumentos como o decreto”.
Confiram-se os seguintes precedentes específicos nesse sentido:

“MANDADO DE SEGURANÇA. MEIO AMBIENTE.


DEFESA. ATRIBUIÇÃO CONFERIDA AO PODER PÚBLICO. ARTIGO 225, § 1º,
III, CB/88. DELIMITAÇÃO DOS ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS.
VALIDADE DO DECRETO. SEGURANÇA DENEGADA. 1. A Constituição do
Brasil atribui ao Poder Público e à coletividade o dever de defender um meio
ambiente ecologicamente equilibrado. [CB/88, art. 225, §1º, III]. 2. A delimitação dos
espaços territoriais protegidos pode ser feita por decreto ou por lei, sendo esta
imprescindível apenas quando se trate de alteração ou supressão desses espaços.
Precedentes. Segurança denegada para manter os efeitos do decreto do Presidente da
República, de 23 de março de 2006” (MS nº 26.064/DF, Rel. Min. Eros Grau,
Tribunal Pleno, DJe de 6/8/2010).
“MEIO AMBIENTE - RESERVA EXTRATIVISTA -
CONFLITO DE INTERESSE - COLETIVO VERSUS INDIVIDUAL. Ante o
estabelecido no artigo 225 da Constituição Federal, conflito entre os interesses
individual e coletivo resolve-se a favor deste último. PROPRIEDADE - MITIGAÇÃO.
O direito de propriedade não se revela absoluto. Está relativizado pela Carta da
República - artigos 5º, incisos XXII, XXIII e XXIV, e 184. ATO ADMINISTRATIVO
- PRESUNÇÃO. Os atos administrativos gozam da presunção de merecimento.
RESERVA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL - CRIAÇÃO - ALTERAÇÃO -
SUPRESSÃO. A criação de reserva ambiental faz-se mediante ato administrativo,
surgindo a lei como exigência formal para a alteração ou a supressão - artigo 225,
inciso III, do Diploma Maior. RESERVA AMBIENTAL - CONSULTA PÚBLICA E
ESTUDOS TÉCNICOS. O disposto no § 2º do artigo 22 da Lei nº 9.985/2000 objetiva
identificar a localização, a dimensão e os limites da área da reserva ambiental.
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RESERVA EXTRATIVISTA - CONSELHO DELIBERATIVO GESTOR -


OPORTUNIDADE. A implementação do conselho deliberativo gestor de reserva
extrativista ocorre após a edição do decreto versando-a. RESERVA EXTRATIVISTA
- REFORMA AGRÁRIA - INCOMPATIBILIDADE. Não coabitam o mesmo teto, sob
o ângulo constitucional, reserva extrativista e reforma agrária. RESERVA
EXTRATIVISTA - DESAPROPRIAÇÃO - ORÇAMENTO. A criação de reserva
extrativista prescinde de previsão orçamentária visando satisfazer indenizações” (MS
25.284/DF, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Marco Aurélio , DJe de 13/8/10).

Não constitui demasia destacar, na linha desse mesmo


entendimento, a precisa observação de Wellington Pacheco Barros:

“A lei nº 9.985/2000, no seu art. 22, estabelece que as unidades


de conservação serão criadas por atos do Poder Público. Como o Poder Público só se
manifesta através de ato administrativo, conclui-se que, por força da própria lei, a
competência de criação de espaços ambientais protegidos é do Poder Executivo. Não
me parece que haja alguma procedência na alegação de inconstitucionalidade do
mencionado art. 22 da Lei nº 9.985/2000, que determinou a criação de espaços
protegidos por ato administrativo, e a regra do art. 225, inciso III, da Constituição
Federal, que, de forma expressa, estabeleceu que somente por lei estes espaços
devam ser extintos. A criação por ato administrativo decorre da determinação por
delegação de competência da próprio Poder Legislativo. Portanto, decorre da lei.
Todavia, essa delegação é subtraída quando o poder que a instituiu pretender
extingui-la ou mesmo reduzi-la. Este aparente conflito se explica pela própria
natureza de proteção do meio ambiente. Proteger de forma rápida através de ato
administrativo criando determinados espaços ambientais atende muito mais à
finalidade que se pretender dar ao meio ambiente do que se esta criação se operar
através de um formal e moroso processo legislativo. De outro lado, desde que
instituído e até em respeito ao princípio da precaução, não se pode desafetar o espaço
ambiental pela simples manifestação do administrador. É preciso que se analise com
mais profundidade este aspecto, circunstância que o legislativo não delegou” (Curso
de Direito Ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 170).
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Portanto, com a devida vênia, me parece indene de dúvidas que


ao autorizar, mediante decreto, que haja supressão ou diminuição da proteção das
cavernas, grutas e congêneres privilegiando a exploração mineral, atividades
econômicas e mesmo a execução de obras de infraestrutura, está-se diante de verdadeira
usurpação de competência do Poder Legislativo, cujos efeitos merecem serem sustados
através de decisão judicial.

III – DA LEGITIMIDADE ATIVA DO IMPETRANTE E


DO CABIMENTO DO PRESENTE MANDAMUS
Consoante disposto no art. 5º, inciso LXIX, da Constituição
Federal e no art. 1º da Lei n. 12.016, de 2009, o mandado de segurança é cabível para
proteção de direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,
sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa sofrer violação ou
houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e
sejam quais forem às funções que exerça.
Conforme jurisprudência sedimentada deste Supremo Tribunal
Federal, o Parlamentar no exercício do mandato possui legitimidade ativa para interpor
mandado de segurança em caso de violação do devido processo legislativo. Em
brilhante lição do Ministro Nelson Jobim, os membros do Congresso Nacional têm
legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com o objetivo de ver
observado o devido processo legislativo constitucional. Com esse entendimento, o
Tribunal reconheceu o direito público subjetivo do congressista à correta observância
das regras da Constituição.
Nesse sentido, entre muitos outros precedentes, o MS 24.667-
AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 23.04.2004; e o MS 24.642, Rel. Min. Carlos
Velloso, DJ de 18.06.2004, nos seguintes termos:

CONSTITUCIONAL – PROCESSO LEGISLATIVO –


CONTROLE JUDICIAL – MANDADO DE SEGURANÇA. I – O parlamentar tem
legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir
atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não
se compatibilizam com o processo legislativo constitucional. Legitimidade ativa do
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parlamentar, apenas. II – Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro Moreira


Alves (leading case), RTJ 99/1031; MS 21.642/DF, Ministro Celso de Mello, RDA
191/200; MS 21.303-AgR/DF, Ministro Octavio Gallotti, RTJ 139/783; MS
24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, "DJ" de 12.09.2003. III – Inocorrência, no
caso, de ofensa ao processo legislativo, C.F., art. 60, § 2º, por isso que, no texto
aprovado em 1º turno, houve, simplesmente, pela Comissão Especial, correção da
redação aprovada, com a supressão da expressão ‘se inferior’, expressão dispensável,
dada a impossibilidade de a remuneração dos Prefeitos ser superior à dos Ministros
do Supremo Tribunal Federal. IV. - Mandado de Segurança indeferido.

Pois bem, a Constituição Federal, em seu art. 225, §1º, inciso


III, estabelece uma regulação específica e protetiva ao meio ambiente, determinando
que apenas mediante a edição de LEI FORMAL é possível a alteração ou supressão das
unidades de conservação, dos espaços territoriais e seus componentes protegidos,
estabelecendo, ainda, que em HIPÓTESE ALGUMA será admitida utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção, o que de certo
está em desacordo com a norma impugnada que admite usos mesmo que sobrevenham
impactos negativos irreversíveis.
Veja-se.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para
as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao
Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e
prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio
genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;

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III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços


territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

Ora, a competência é condição primeira de validade do ato


administrativo, resulta da lei e por ela é delimitada.
Nessa perspectiva, sendo os impetrantes Deputado Federal e
Senador, no regular exercício do mandato, detém plena legitimidade ativa para
questionar, perante esse Supremo Tribunal Federal, atos legislativos que, como ocorre
no presente caso, “não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional”.

IV – PRESENÇA DOS REQUISITOS DO “FUMUS BONIS


IURIS” E “PERICULUM IN MORA” PARA CONCESSÃO DA LIMINAR
A urgência na obtenção da tutela judicial que se pretende
decorre não só da relevância da fundamentação apresentada, a qual sobejamente ampara
a presença de “fumus boni iuris”, fundado em direito constitucionalmente previsto,
como também na existência de “periculum in mora”.
A se manter em vigência o Decreto em testilha, claramente
inconstitucional, está se facilitar o licenciamento de empreendimentos, incluindo
grandes empreendimentos de mineração com impacto em cavernas, duplicações de
estradas e outras obras que deverão “aparecer” em ano eleitoral.
Como se vê, o impetrante, inegavelmente, tem urgência na
apuração dos fatos, não só devido ao interesse público antes explicitado, mas em função
da própria atualidade do assunto.
Restam suficientemente comprovados, portanto, os requisitos
autorizadores da concessão da medida liminar. Por um lado, palpável o “periculum in
mora”, configurado pelo prejuízo que o Impetrante, e consequentemente a própria
sociedade, sofrerá por ter autoridade coatora ter dado a possiblidade de autorizar o
licenciamento ambiental de empreendimentos prejudiciais e de consequências
irreversíveis ao patrimônio histórico, arqueológico e paleontológico nas regiões dessas

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cavidades naturais, sabidamente recintos dos vestígios mais preservados de nossos


antepassados.

V - CONCLUSÃO
Diante do exposto, requer-se, desde logo, seja concedida
medida liminar “inaudita altera pars”, para determinar que seja suspenso o Decreto nº
10.935, de 12 de janeiro de 2022, com a imediata retomada da produção de efeitos do
então revogado Decreto nº 99.556, de 1º de outubro de 1990, com as alterações
promovidas pelo Decreto nº 6.640, de 2008;
Alternativamente, caso não se entenda pela suspensão in totum
do Decreto impugnado, que sejam suspensos os §§ 4º e 9º do art. 2º, o art. 4º na sua
integralidade, o art. 6º, o art. 7º e o art. 8º, com a imediata retomada da produção de
efeitos dos dispositivos correlatos do então revogado Decreto nº 99.556, de 1º de
outubro de 1990, com as alterações promovidas pelo Decreto nº 6.640, de 2008.
Cumprida a liminar, requer-se seja notificada a autoridade
coatora, para, querendo, apresentar as informações pertinentes, bem como seja dada
ciência do presente feito à representação da União Federal, nos termos do art. 7º I e II
da Lei nº 12.016/2009.
Determine as autoridades coatoras que disponibilizem, pelos
órgãos competentes, a íntegra de todos os processos administrativos que levaram à
edição de referido Decreto, com todos os pareceres técnicos elaborados acerca do
assunto, inclusive, e principalmente, o parecer do Centro Nacional de Pesquisa e
Conservação de Cavernas (CECAV), não divulgado publicamente até o momento,
mas essencial para a compreensão do processo de elaboração da norma.
No mérito que seja tornado definitivo os pedidos concedidos em
sede liminar, ou seja:
- determinar que seja suspenso o Decreto nº 10.935, de 12 de
janeiro de 2022, com a imediata retomada da produção de efeitos do então revogado
Decreto nº 99.556, de 1º de outubro de 1990, com as alterações promovidas pelo
Decreto nº 6.640, de 2008;
- alternativamente, caso não se entenda pela suspensão in totum
do Decreto impugnado, que sejam suspensos os §§ 4º e 9º do art. 2º, o art. 4º na sua
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integralidade, o art. 6º, o art. 7º e o art. 8º, com a imediata retomada da produção de
efeitos dos dispositivos correlatos do então revogado Decreto nº 99.556, de 1º de
outubro de 1990, com as alterações promovidas pelo Decreto nº 6.640, de 2008.
Intime-se o ilustre representante do Ministério Público, na forma
da lei.
O advogado signatário da presente peça declara, ainda, por força
legal e para os devidos fins, que todas as cópias de documentos anexadas aos presentes
autos são autênticas.

Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (hum mil reais).

Brasília, DF, 17 de janeiro de 2022.

ROGERIO PAZ LIMA


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