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Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História

HO177 - HISTÓRIA DAS


INSTITUIÇÕES
POLÍTICAS IV
As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à actualidade

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância
CED
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Moçambique-Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passivel a
processos judiciais.

Elaborado Por: dr. Micas Rodrigues Baulene e dra Augusta Filomena Assumane
Licenciados em Ensino de História pela UP-Beira

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa·
Moçambique-Beira
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Cel: 82 50 18 44 0

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E-mail: ced @ ucm.ac.mz
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Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique-Centro de Ensino à Distância e os autores do presente
manual, dr.Micas Rodrigues Baulene e dra Augusta Filomena Assumane, gostariam de agradecer a
colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaborção deste manual:

Concepção e produção dr. Micas Rodrigues Baulene

Pela maquetização dra Augusta Filomena Assumane

Pela Coordenação e edição dra Georgina Nicolau

Pela Revisão dr. James Gabinete


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade i

Índice
Visão geral 1
Benvindo a História das Instituições Políticas IV. ........................................................................ 1
As Instituições Políticas da Segunda Metade do século XX à actualidade ................................... 1
Objectivos da cadeira ................................................................................................................ 1
Quem deveria estudar este módulo ............................................................................................ 2
Como está estruturado este módulo ........................................................................................... 2
Ícones de actividade .................................................................................................................. 3
Acerca dos ícones ................................................................................................. 3
Habilidades de estudo ............................................................................................................... 3
Precisa de apoio? ...................................................................................................................... 3
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .......................................................................................... 4
Avaliação .................................................................................................................................. 4

Unidade I 7
A descolonização na Ásia .......................................................................................................... 7
Introdução ....................................................................................................................... 7
1.1Conceito de Descolonização ....................................................................................... 8
1.3 O Processo de Libertação na Ásia ............................................................................ 10
1.5 A Independência da Indochina ................................................................................. 12
Sumário .................................................................................................................................. 14
Exercícios ............................................................................................................................... 15

Unidade II 16
Processo de independência na América Latina ........................................................................ 16
Introdução ..................................................................................................................... 16
2.1. O Processo da Independência na América Latina .................................................... 17
Independência da América Latina (1808-1826) ............................................................... 17

O Movimento de Libertação 26

Unidade III 33
A REVOLUÇÃO CUBANA ....................................................................................................... 33
3.1. Cuba sob Controlo Norte-Americano ....................................................................... 34
3.3 A Era de Gerardo Machado ...................................................................................... 36
3.4 A Era de Flugêncio Baptista ..................................................................................... 38
3.5 A Insurreição Armada............................................................................................... 40
3.6 A Radicalização ...................................................................................................... 42
3.7 A Roptura com a Ordem Capitalista.......................................................................... 43
8.8 O Socialismo Cubano............................................................................................... 44
2.9 O Foquismo – Singularidade do Modelo Cubano...................................................... 46
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade ii

Unidade III 49
A REVOLUÇÃO Mexicana ............................................................................................. 49
Revolução Mexicana...................................................................................................... 49

Unidade V 55
A guerra fria ........................................................................................................................... 55
Introdução ..................................................................................................................... 55
5.1Conceitualização....................................................................................................... 56
5.2 Desenrolar da guerra- fria ........................................................................................ 57
5.3. As Principais Ocorrências ....................................................................................... 61

Unidade IV 63
A Guerra Fria: ......................................................................................................................... 63
A Corrida armementista ................................................................................................. 63
6.1 O Destino da Alemanha ........................................................................................... 63
6.3 A Corrida Espacial ................................................................................................... 69

Unidade VII 74
A guerra-fria e o processo de desanuviamento ......................................................................... 74
O processo de desanuviamento e os seus factores ........................................................ 74
7.2. O Primeiro Desanuviamento (1953 à decada de 60) ................................................ 83
7.3 O Segundo Desanuviamento (decada de 60 à 80) .................................................... 85
7.4 Ameaças ao processo de desanuviamento ............................................................... 87
Exercícios ............................................................................................................................... 91

Unidade VIII 91
O Fim da Guerra Fria ..................................................................................................... 91
8.2 O Impacto da Guerra Fria......................................................................................... 92
Exercícios ............................................................................................................................... 95

Unidade IX 95
O Movimento dos Não - Alinhados. .......................................................................................... 95
Introdução ..................................................................................................................... 95
4.1-Conceito do Movimento ..................................................................................................... 96
9.2 A criação do Movimento dos Paises não alinhados ................................................... 97
Secretários-Gerais ................................................................................................................... 98

Unidade X 100
A Conferência de Bandung .......................................................................................... 100
10.1 Os Dez Princípios de Bandung ............................................................................. 101
Os Objectivos Princiapais do Movimento dos Países Não alinhados ............................. 104
Os Países Membros do Movimento Não Alinhado ........................................................ 105
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade iii

10.2 A Neutralidade Positiva ........................................................................................ 106


10.3 As Conferências dos Países Não Alinhados......................................................... 107
10.3.1. A Conferência de Lusaka.............................................................................. 108
10.3.2 A Conferência de Argel...................................................................................... 109
10.4 O Impacto e Panorama Actual do Movimento dos Países Não –Alinhados ............. 110
Sumário ................................................................................................................................ 113
Exercícios ............................................................................................................................. 114

Unidade XI 115
O Pan – Africanismo .............................................................................................................. 115
Introdução ................................................................................................................... 115
11.1 conceito de Pan - Africanismo ............................................................................. 116
11.2. Contexto Histórico do seu Surgimento ................................................................. 116
11.3 Desenvolvimento do Pan – Africanismo ................................................................ 117
11.3.1. Objectivos ........................................................................................................ 117
Suas manifestações..................................................................................................... 117
11.3.2 Impacto do Pan – africanismo ............................................................................ 119
Sumário ................................................................................................................................ 119
Exercícios ............................................................................................................................. 119

Unidade XII 121


O Nacionalismo ..................................................................................................................... 121
12.1Conceito de nacionalismo...................................................................................... 122
12.2 Ideologias ............................................................................................................ 123
8.1. Conceitos ............................................................................................................. 125
8.1.1. Ideologia ............................................................................................................ 125
8.1.2. Nação ................................................................................................................ 126

Unidade XIII 130


O NACIONALISMO EM MOÇAMBIQUE (1950-1960) ............................................................. 130
Introdução ................................................................................................................... 130
13.1 Causas do nacionalismo em Moçambique e grupos motores ................................. 131
13.2 As primeiras manifestações do nacionalismo moçambicano ................................. 133
Sumário ................................................................................................................................ 137
Exercícios ............................................................................................................................. 138

Unidade XIV 139


A Construção da Nação Moçambicana antes da independência (1950-1960). ......................... 139
Introdução ................................................................................................................... 139
14. 1 Contexto histórico da formação da Nação Moçambicana ...................................... 139
14.2 O processo da formação da Nação Moçambicana ................................................ 148
14.3 Antes da independência nas zonas libertadas ....................................................... 148

Unidade XV 154
A constituiçaão da Nação moçambicana ...................................................................... 154
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade iv

no pós- independência ................................................................................................. 154


8.4. Do monopartidarismo ao multipartidarismo ............................................................ 160
Sumário ................................................................................................................................ 164
Exercícios ............................................................................................................................. 165

Unidade XVI 166


Partidos Únicos em................................................................................................................ 166
África .................................................................................................................................... 166
16.1 A construção das Nações africanas e os partidos únicos....................................... 166

Unidade XVII 171


Defensores do monopartidarismo em África ........................................................................... 171
Teóricos Africanos Defensores do Monopartidarismo.................................................... 171
9.3.1. Nkrumah ............................................................................................................ 171
9.3.2. Nyerere .............................................................................................................. 172
9.3.3. Kennet Kaunda ................................................................................................. 173
16.3 Características Principais do Monopartidarismo ................................................... 174
9.3. Teóricos Africanos Defensores do Monopartidarismo ............................................. 176
9.3.1. Nkrumah ............................................................................................................ 177
9.3.2. Nyerere .............................................................................................................. 177
9.3.3. Kennet Kaunda ................................................................................................. 179

Unidade XVIII 179


Críticos do Monopartidarismo: Awolowo, Azikiwé, Enahoro ........................................... 179
Sumário ................................................................................................................................ 180
Exercícios ............................................................................................................................. 181

Unidade XX 182
A Transição do Mono ao Multi - partidarísmo em África: Pacífica e Conflituosa. ...................... 182
Introdução ............................................................................................................................. 182

Unidade XIX 185


O multipartidarismo................................................................................................................ 185
19.1 conceito do sistema Multi-partidário ...................................................................... 185
19.2 Características Principais do Multi-partidarismo ................................................... 185

Unidade XIX 186


A transição do monopartidarismo ao monopartidarismo em África: Pacífica e Conflituosa. ....... 186
20.1 A transição do do monopartidarismo ao Multi-partidarísmo em África .............................. 186
20.2 Exemplo de Transição Conflituosa: caso de Moçambique .................................... 195
20.3 Exemplo de transição pacifica: Caso de Tanzânia ................................................ 197
Impacto da Transição do Sistema Politico .................................................................... 200
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade v

Exercícios ............................................................................................................................. 202

Unidade XXI 202


A OUA................................................................................................................................... 202

Unidade XXII 209


O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DA OUA PARA UA.............................................................. 209
22.1 A Transição da OUA para União Africana (UA). .................................................... 209

Unidade XXIII 222


A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA UA ........................................................................................ 222
23.1 A institucionalização da UA .................................................................................. 222
23.2 Os objectivos da UA ............................................................................................. 222
23.3 O papel da União para África................................................................................ 223

Unidade XXIV 227


OS PROCESSOS POLÍTICOS DOS PALOPS ....................................................................... 227
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 227
Moçambique é um dos países com histórias recentes similares e que caminha, após o fim da
sua guerra de independência e guerra civil, para regimes de presidencialismo forte, destinando
ao poder legislativo papel secundário nas decisões políticas. ................................................. 227
EXERCÍCIOS ........................................................................................................................ 252
Referência Bibliográfica ......................................................................................................... 252
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 1

Visão geral
Benvindo a História das
Instituições Políticas IV.

As Instituições Políticas da
Segunda Metade do século XX à
actualidade
Este modulo apresenta aspectos ligados aos modos de organização social-
económico e politico das sociedades da Segunda Metade do século XX à
actualidade, e incide nos movimentos de libertação Nacional , a
formação de estados africanos e a construção da nacção Moçambicana, a
dinamica de ideologias politicas no mundo e o seu reflexo para Africa e
por fim a questao da globalização e o seu reflexo em África.

Objectivos da cadeira
Quando terminar o estudo da História das Instituições Políticas IV - As
Instituições Políticas da Segunda Metade do século XX à actualidade; o
cursante será capaz de:

 Compreender os Movimentos de Libertação Nacional na Ásia,


América Latina em África e em Moçambique;
 Compriender como se manifestou a Guerra Fria e o processo de
Desanuviamento;
Objectivos  Analizar o papel do Movimento dos Não - Alinhados na
construção dos Estados africanos;
 Compreender o processo de construção da nação Moçambicana
 compreender as razões que estão por detrás da transição do
mono ao multipartidarismo
 Reconhecer o Papel das Ideologias no Processo de construção
das Nacções;
 Compreender o processo transitório da OUA à UA;
 Compreender as razões da transição do mono ao
multipartidarismo ;
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 2

Quem deveria estudar este


módulo
Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser
professores da disciplina de História, que estão a frequentar o curso de
Licenciatura em Ensino de História, do Centro de Ensino a Distancia.
Estendese a todos que queiram consolidar os seus conhecimentos sobre
as Instituições Políticas Políticas da Segunda Metade do século XX à
actualidade.

Como está estruturado este


módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Católica de
Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados
da seguinte maneira:

Páginas introdutórias
Um índice completo.
Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-
chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo


O curso está estruturado em unidades. Cada unidade ncluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summary da unidade e uma ou
mais actividades para auto-avaliação.

Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista
de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação


Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de cada
unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para
desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes
elementos encontram-se no final do modulo.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 3

Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários
sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo.

Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes icones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones


Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada
um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao
longo deste curso / módulo.

Habilidades de estudo
Caro estudante, procure reservar no mínimo 2(duas) horas de estudo por
dia e use ao máximo o tempo disponível nos finais de semana. Lembre-te
que é necessário elaborar um plano de estudo individual, que inclui, a
data, o dia, a hora, o que estudar, como estudar e com quem estudar
(sozinho, com colegas, outros).

Lembre-te que o teu sucesso depende da tua entrega, tu és o responsável


pela tua própria aprendizagem e cabe a ti planificar, organizar, gerir,
controlar e avaliar o teu próprio progresso.
Evite plágio.

Precisa de apoio?
Caro estudante:
Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o tutor,
usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação. Em caso de


problemas específicos, ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 4

fase posterior contacte o coordenador do curso e se o problema for da


natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo número 825018440.

Os contactos so se podem efectuar nos dias úteis e nas horas normais de


expediente.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-
avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante
que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues antes do período
presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante
As trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor/docentes.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os
mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor

Avaliação
Tu serás avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o
período presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com
base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos , durante o estudo individual,
concorrem para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem para
os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60% , o que adicionado aos 40% da média
de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a
cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: 2 (dois) trabalhos; 1 (um) teste
e 1 (um) exame.

Algumas actividades praticas, relatórios e reflexões serão utilizadas como


ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 5

os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência


textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referencias utilizadas, o respeito pelos
direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação estão
indicados no manual. consulteos.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 7

Unidade I
A descolonização na Ásia

Introdução
A 1ª Guerra Mundial, a Grande Depressão e, sobretudo a 2ª Guerra
Mundial, contribuíram para a desintegração do império colonial pois, a
crise das metrópoles abriu espaço para um desenvolvimento das colónias.

A presente unidade aborda sobre o processo de descolonização na Ásia.


Para tal, serão estudados menunciosamente os factores da emancipação,
as lutas armadas de libertação dos povos oprimidos da Ásia, bem como o
impacto da referida descolonização.

Mahatma na Grande Marcha rumo à independência.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 8

 Dar o conceito de descolonização;


 Indicar os Factores de Descolonização;
 Explicar o Processo de Libertação na Ásia (Índia e Indochina);
Objectivos

1.1Conceito de Descolonização
Descolonização-Processo de emancipação das nações afro-asiáticas
pós 2ª Guerra Mundial, devido à perda da hegemonia Européia em
1945. A descolonização pode ainda ser definida como um termo
recente, da segunda metade do século XX, que exprime a
independência ou auto-determinação reconhecida pelas potências
colonizadoras às suas colónias, sobretudo entre os anos 50 e 70
deste século, embora já antes nos séculos XVIII e XIX tivessem
ascendido à independência as colónias americanas.

1.2 Factores de Descolonização

 Perda da hegemonia Européia;


 Utilização da tecnologia do dominante sendo
dominado;
 Tem o fim o mito da inferioridade asiática

 Intervenção dos EUA e da URSS tentando nortear


os conflitos e conseguir
 Um maior número de países sob suas áreas de
influência.

 Avanço da doutrina socialista no pós 2ª Guerra.

 As contradições inerentes ao próprio processo de


colonizar;

 O confronto das condições materiais de vida entre


colonos e colonizadores;

 A influência da doutrina socialista;


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 9

 A posição das superpotências (EUA e URSS) em


relação à questão;

 O enfraquecimento das potências coloniais;

 O fim do mito da inferioridade afro – asiática.

Fatores da descolonização afro-asiática

África e Ásia, desde o século XV, tornaram-se alvos de disputa


entre as nações européias.

Com o advento do capitalismo comercial, na Era Moderna, a


América tornou-se a área onde a exploração colonial foi mais
intensa. Mas nem por isso os europeus abandonaram as relações
comerciais e o domínio político sobre a África e a Ásia.

Na segunda metade do século XIX, em razão das necessidades de


mercado geradas pela segunda Revolução Industrial e em face das
independências das colônias americanas, a Europa volta-se
novamente à África e à Ásia, impondo o neocolonialismo.

As disputas entre as potências européias pelos territórios afro-


asiáticos desencadearam a Primeira Guerra Mundial. A Europa saiu
enfraquecida da guerra, perdendo sua hegemonia para os Estados
Unidos.

A crise do pós-Primeira Guerra na Europa foi acentuada ainda mais


pela crise de 1929, que repercutiu nas áreas coloniais com o
agravamento das condições de vida dos colonos, que iniciaram
greves e revoltas contra as metrópoles européias. Esses
movimentos coloniais foram contidos à força, mas acabaram
resultando no nascimento de um forte sentimento nacionalista que
se traduzia no desejo de independência.

Após a Segunda Guerra Mundial, a Europa declinou


completamente, sendo dividida em áreas de influência entre EUA e
URSS. O enfraquecimento da Europa significou o fortalecimento
do nacionalismo e o crescimento do desejo de independência.
Desejo esse que passou a se apoiar na Carta da ONU, que
reconhecia o direito à autodeterminação dos povos colonizados e
que fora assinada pelos países europeus (os colonizadores).

Em 1955, vinte e nove países recém-independentes reuniram-se na


Conferência de Bandung, capital da Indonésia, estabelecendo seu
apoio à luta contra o colonialismo. A Conferência de Bandung
estimulou as lutas por independência na África e Ásia.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 10

Terminada a Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União


Soviética passaram a liderar os dois grandes blocos, capitalista e
comunista. Dentro do contexto da Guerra Fria, buscaram a
expansão de suas áreas de influência. Nesse sentido, passam a ver
nos movimentos de independência afro-asiática a possibilidade de
ampliar sua influência política nas novas nações.

1.3 O Processo de Libertação na Ásia


As vias da descolonização

A descolonização afro-asiática não foi um processo homogêneo,


ocorrendo de duas maneiras: a pacífica e a violenta.

No caso da via pacífica, a independência da colônia era realizada


progressivamente pela metrópole, com a concessão da autonomia
político-administrativa, mantendo-se o controle econômico do novo
país, criando, dessa forma, um novo tipo de dependência.

As independências que ocorreram pela via da violência resultaram


da intransigência das metrópoles em conceder a autonomia às
colônias. Surgiam as lutas de emancipação, geralmente vinculadas
ao socialismo, que levaram a cabo as independências.

O fim do domínio inglês na Índia

A Revolta dos Cípaios, 1858, colocou a Índia na esfera do domínio


britânico, que culminou com a sagração da rainha Vitória corno
imperatriz dos indianos.

A dominação da Índia não foi uma tarefa difícil, pois a ausência de


um governo centralizado, a diversidade de religiões e a existência
de uma sociedade de castas facilitaram a penetração inglesa.

A partir da década de 1920, Mahatma Gandhi e Jawarharlal Nerhu,


através do Partido do Congresso, com apoio da burguesia, passaram
a liderar o movimento de independência da Índia.

Gandhi pregava a desobediência civil e a não-violência como meios


de rejeição à dominação inglesa, transformando-se na principal
figura do movimento indiano pela independência.

A perda do poder econômico e militar pela Inglaterra após a


Segunda Guerra Mundial retirou-lhe as condições para continuar a
dominação na Índia.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 11

Em 1947, os ingleses reconheceram a independência indiana, que


levou — em função das rivalidades religiosas — à formação da
União Indiana, governada por Nerhu, do Partido do Congresso,
com maioria hinduísta, e do Paquistão (Ocidental e Oriental),
governado por Ali Jinnah, da Liga Muçulmana, com maioria
islamita. O Ceilão também se tornava independente, passando a
ilha a se denominar Sri-Lanka, com maioria budista.

A independência da Índia resultava de um longo processo de lutas


nacionalistas, permeadas pelas divergências religiosas entre
hinduístas e muçulmanos, o que levou, em 1949, ao assassinato de
Gandhi.
O Paquistão Oriental, em 1971, sob liderança da Liga Auami,
separa-se do Paquistão Ocidental, constituindo a República de
Bangladesh.

A independência da Indonésia

A Indonésia é formada por cerca de dezessete mil ilhas das quais


seis mil são habitáveis, as que se destacam são Java e Sumatra.
Desde o século XVII até 1941, o arquipélago esteve sob domínio
holandês.

Em 1941, durante as ofensivas da Segunda Guerra, o Japão passou


a dominar a Indonésia, o que levou à formação de um movimento
nacionalista de resistência liderado por Alimed Sukarno.

Com a derrota japonesa, em 1945, o movimento de resistência


proclama a independência do país, que não foi aceita pela Holanda,
que iniciou uma tentativa de recolonização da Indonésia.

Sukarno, aglutinando os nacionalistas, lidera a guerrilha contra a


Holanda que, em 1949, reconhece a independência da Indonésia.

Nações surgidas no processo de descolonizaçã da Ásia

As Filipinas, que desde o século XVI passava pelo domínio da


Espanha, EUA e Japão, em 1946 é retomada pelos norte-
americanos, que lhe concedem a independência.

A Birmânia, em 1948, tornou-se independente da Inglaterra.

A Malásia, em 1957, tornou-se independente da Inglaterra e


integrante da Comunidade Britânica, a Commonwealth.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 12

1.5 A Independência da Indochina


As lutas pela independência e a divisão da Indochina

Em 1887, a Indochina foi conquistada e submetida ao colonialismo


francês. A França, em 1940, foi ocupada pelos alemães, cessando
seu domínio sobre a região. No ano seguinte, 1941, os japoneses
ocuparam toda a Indochina, com o consentimento do general
Pétain, o que levou à formação do movimento de resistência
nacionalista, comandado pelo Vietminh Liga Revolucionária para
a Independência do Vietnã.

O Vietminh era liderado por Ho Chi Minh, dirigente comunista,


que após a derrota do Japão na Segunda Guerra proclamou a
independência da República Democrática do Vietnã (parte norte).

Terminada a Segunda Guerra, os franceses não reconheceram o


governo de Ho Chi Minh e tentaram, a partir de 1946, recolonizar a
Indochina, ocupando as regiões do Laos, Camboja e o Vietnã do
Sul, desencadeando a Guerra da Indochina, que se estendeu até
1954, quando os franceses foram derrotados na Batalha de Dien
Bien Phu.

No mesmo ano, realizou-se a Conferência de Genebra, na qual a


França retirava suas tropas e reconhecia a independência da
Indochina, dividida em Laos, Camboja, Vietnã do Norte e Vietnã
do Sul.

Laos e Camboja ficaram proibidos de manter bases militares


estrangeiras em seu território, e no Vietnã deveriam se realizar
eleições num prazo de dois anos para decidir a reunificação.

A Guerra do Vietnã

Pela Conferência de Genebra, o paralelo 17 estabelecia a divisão


entre Vietnã do Norte — governado pelo líder comunista Ho Chi
Minh — e Vietnã do Sul governado pelo rei Bao Dai, que colocou
Ngo Dinh Diem como primeiro-ministro.

Em 1955, Ngo Dinh Diem, com um golpe de Estado, proclama a


República, depondo o rei Bao Dai. Passa a receber o apoio dos
EUA.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 13

No Vietnã do Sul estabeleceu-se um governo de caráter impopular,


marcado pelo autoritarismo de Ngo Dinh Diem que, em 1956,
suspende as eleições estabelecidas oela Conferência de Genebra.

Em oposição ao seu governo, formou-se a Frente de Libertação


Nacional, em 1960, que contava com um exército guerrilheiro, o
Vietcong. O objetivo da Frente era depor Ngo Dinh Diem e unir o
Vietnã do Sul ao Vietnã do Norte.

Ngo Dinh Diem, em 1960, cancela as eleições, o que desencadeou


o início da Guerra do Vietnã.

O Vietcong passou a contar com o apoio do Vietnã do Norte e Ngo


Dinh Diem era apoiado pelos Estados Unidos, que, em 1961,
enviam ajuda militar ao Sul. Em 1963, os vietcongs dominavam
boa parte do território do Vietnã do Sul. Neste mesmo ano morria o
presidente norte-americano, John Kennedy, e o vice, Lyndon
Johnson, assumia a presidência do país.

No mês de agosto de 1964, dois comandantes norte- americanos


deram o pretexto para o início dos bombardeios sobre o Vietnã do
Norte, alegando que seus navios haviam sido atacados em
Tonquim.

Os bombardeios norte-americanos sobre o Norte prolongaram-se


até 1968, quando foram suspensos com o início das conversações
de paz, em Paris, entre norte-americanos e norte-vietnamitas. Como
nos encontros de Paris não se chegou a uma solução, os combates
prosseguiram.

Em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon, autoriza a invasão


do Camboja e, em 1971, tropas sul-vietnamitas e norte-americanas
invadem o Laos.

Os bombardeios sobre o Vietnã do Norte por aviões dos EUA


recomeçaram em 1972.

Desde 1968, a opinião pública norte-americana, perplexa diante dos


horrores produzidos pela guerra, colocava-se contrária à
permanência dos EUA no conflito, exercendo uma forte pressão
sobre o governo, que iniciou a retirada gradual dos soldados. Em
1961, eram 184.300 soldados norte-americanos em combate; em
1965, esse número se elevou para 536.100 soldados; e, em 1971, o
número caía para 156.800 soldados.

Em 27 de janeiro de 1973 era assinado o Acordo de Paris, segundo


o qual as tropas norte-americanas se retirariam do conffito; haveria
a troca de prisioneiros de guerra e a realização de eleições no
Vietnã do Sul.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 14

Com a retirada das tropas norte-americanas, os norte-vietnaniitas e


o Vietcong deram início a uma fulminante ofensiva sobre o Sul,
que resultou, em abril de 1975, na vitória do Norte.

Em 1976, o Vietnã se reunificava, adotando o regime comunista,


sob influência soviética.

Em 1975, os movimentos de resistência no Laos e no Camboja


também tomaram o poder, adotando o regime comunista, sob
influência chinesa.

Os soldados cambojanos com apoio vietnamita, em 1979,


derrubaram o governo pró-chinês do Khmer Vermelho.

Tal como na Índia, o povo da Indochina, trilhou um caminho cheio de


padecimentos e vicissitudes de impiedosa opressão e exploração
imperialistas encetadas, primeiro, pelo Japão e depois pela França.

Sumário
Terminado o estudo da unidade I, referir que maior parte dos países da
Ásia, no final da 1ª e 2ª Guerras Mundiais principalmente pela esta
última, atravessaram uma série de crises económica, social, política, entre
outros problemas incluindo os países que já tinham alcançado suas
idependências. Como se não bastasse, os países que já haviam alcançado
suas independências, paralelo com os que ainda careciam da sua
emancipação ( Índia na Ásia ), ainda manifestavam uma forte
dependência económica em relação a certas potências ocidentais caso
concreto dos Estados Unidos da América, França e Inglaterra.

Foi em função desta enorme conjuntura de factores que no seio destes


países nasceu o espírito de luta pela sua emancipação visando
providenciar a sua auto-determinação e sobretudo levar avante o seu
desenvolvimento dentro dos seus países. Nesta perspectiva, para o caso
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 15

da Índia, o grande líder Mahatma Ghandi em comunhão com os seus


apoiantes pautou pelo uso de campanhas pacíficas, incitando o povo
indiano a não aderir `as ideologias dos ingleses, para além de não
acederem ao uso de tecidos fabricados na Inglaterra em detrimento dos
manufacturados na Índia.

Exercícios

1. Define a Descolonização;
2. Contextualize a Descolonização.
3. Apresente 5 factores da Descolonização;
4. Explica os processos de luta pela Independência na Índia e no
Cambodja.

Resolver os exercícios 2 e 3;
No máximo de 4 páginas, sintetize a unidade em estudo.

Auto-avaliação
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 16

Unidade II
Processo de independência na
América Latina

Introdução +
Como foi referido na Unidade I, a 1ª Guerra Mundial, a Grande
Depressão e, sobretudo a 2ª Guerra Mundial, contribuíram para a
desintegração do império colonial pois, a crise das metrópoles abriu
espaço para um desenvolvimento das colónias. Porém, parte dos países
colonizados ( América Latina ) conhecem sua independência em pleno
século XIX, não obstante continuarem sob dependência económica de
certas potências ocidentais.

A presente unidade aborda sobre o processo de descolonização na


América Latina. Para tal, serão estudados menunciosamente os factores
da emancipação, as lutas armadas de libertação dos povos oprimidos, e
também o impacto da referida descolonização.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever a Revolução Cubana;


 Explicar o Processo de Libertação em Cuba;
 Distinguir ao socialismo cubano dos restantes do Mundo;
Objectivos
 Explicar o Impacto da Revolução cubana
 Descrever o Processo da Independência no Mexico.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 17

2.1. O Processo da Independência na América Latina


Independência da América Latina (1808-1826)
Foi o processo político e militar que afetou todas as regiões
situadas entre os vice-reinados da Nova Espanha e do Rio da Prata,
cujo resultado foi o nascimento dos modernos estados
independentes da América Latina.

Pode ser dividida em duas grandes fases: a primeira caracterizada


pela atuação das Juntas constituídas nas principais cidades
americanas e que começaram pelo reconhecimento da autoridade
real, porém propiciaram o início do processo de independência, e a
segunda pela guerra aberta e generalizada em todos os territórios
entre patriotas e realistas.

O sistema de colonização mantido pelos países europeus no


continente americano durou mais de três séculos. Entre os países
europeus, Portugal e Espanha dominaram os territórios mais vastos
da América, e também os mais ricos para a economia daquela
época.
Embora houvesse diferenças entre eles, as relações entre as
metrópoles ibéricas e suas colónias americanas seguiam mais ou
menos a mesma forma de funcionamento: as colónias deveriam
produzir mercadorias rentáveis no mercado europeu
(principalmente géneros agrícolas tropicais e metais preciosos) que
seriam exportados para a metrópole e de lá reexportados para
outros países; as colónias não poderiam fabricar produtos
manufacturados, tendo que comprá-los da metrópole.

Embora Portugal e Espanha utilizassem vários métodos para


controlar essas relações, nunca conseguiram garantir o comércio
colonial apenas para si. Muitos produtos eram manufacturados nas
colónias, mesmo que clandestinamente; era muito intenso o
contrabando, tanto de mercadorias europeias quanto de metais
preciosos (ouro e prata).

Aqueles dois países, não tendo desenvolvido indústrias, eram


obrigados a se abastecer em países mais fortes economicamente,
como a Inglaterra e a França, tornando-se dependentes deles.
Além disso, os incentivos dados ao incremento da produção de
géneros tropicais e de metais preciosos e ao comércio, acabaram
promovendo um certo crescimento económico das áreas coloniais,
fazendo com que, pouco a pouco, as elites coloniais começassem a
perceber a necessidade de se separarem das metrópoles.

As relações entre os países ibéricos e suas colónias envolviam


também outras nações europeias. Por isso, os acontecimentos que
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 18

atingiam os países europeus acabavam tendo repercussões nas


colónias espanholas e também no Brasil.

Assim, as transformações sociais e económicas pelas quais passava


a Europa no início do século XIX, bem como os conflitos daquele
continente afectaram a vida dos domínios espanhóis e portugueses
na América, acelerando o processo de crise do sistema colonial,
que resultaria na independência dos territórios americanos.

As Guerras de Independência foram, por sua relativamente curta


duração e pelos positivos resultados obtidos, um fato histórico de
grande ressonância. Em dez anos se libertou um continente de uma
dominação que havia durado três séculos. Em um ano se
declararam contra a Espanha Estados e cidades separados por
milhares de quilómetros e quase sem contradição. O grito da
Independência se propagou como por contágio, sem resistência
visível.

O processo de luta pelo fim do sistema colonial e pela


independência política da América foi resultado da acção de grupos
numericamente pequenos, mas fortes e poderosos, que se
organizaram e, dessa forma, estruturaram os novos países de acordo
com seus interesses.

Veremos a seguir, como se efectivou esse processo, primeiro, das


colónias espanholas, e depois, do Brasil, colónia portuguesa.

Durante as três primeiras décadas do século XIX, as colónias


espanholas lutaram pela independência em relação à metrópole.
Não se tratou de um movimento único, mas de vários processos
distintos. Entretanto, podemos dizer que alguns elementos comuns
contribuíram para as luta pela independência.

O pensamento liberal do Iluminismo, que influenciou a


independência dos Estados Unidos (1776) e os grupos da
Revolução Francês (1789), também se difundiu entre sectores da
elite colonial espanhola. Muitos dos ideais anti-absolutistas
defendidos pelo liberalismo serviram de justificativa filosófica para
a luta contra o domínio colonial espanhol.

Assim, as criticas contra o absolutismo europeu se transformaram


em anticolonialismo na América.
Além das ideias liberais, as lutas pela independência foram
impulsionadas pela consciência das elites coloniais de que os laços
com o governo espanhol dificultavam seu domínio mais pleno
sobre as áreas da América. Essa elite era constituída, sobretudo,
pelos crioulos (filhos de espanhóis nascidos na América).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 19

A metrópole espanhola era responsável por várias medidas que


prejudicavam a elite crioula:

a) dificultava o acesso dos crioulos aos altos cargos do governo e


administração colonial. A maioria desses cargos era ocupada por
pessoas nascidas na Espanha.
b) cobrava elevados tributos sobre produtos de exportação.
c) restringia o desenvolvimento de produtos manufacturados que
concorressem com a produção metropolitana.

As elites coloniais formavam um conjunto diversificado no qual


encontramos grupos de latifundiários (produtores de géneros de
exportação como cacau, açúcar etc.), comerciantes urbanos,
proprietários de minas etc. Não tinham o mesmo pensamento
político ou económico, mas, em geral, concordavam em querer
ampliar seus poderes locais e desejavam conquistar direito ao livre
comércio.

Por meio de várias revoltas emancipacionistas, que abrangeram o


período de 1810 a 1828, diversas áreas da América espanhola
foram conquistando sua independência política.

Na América do Sul, as lutas pela independência contaram com a


liderança de homens como José San Martín e Simón Bolívar.
San Martín comandou um poderoso exército contra as forças
espanholas, obtendo importantes vitórias nas regiões sul e central
da América do Sul. É considerado libertador da Argentina, Chile e
Peru.

Simón Bolívar destacou-se como líder militar e político nas lutas


pela independência travadas mais ao norte da América do Sul.
É considerado libertador da Venezuela, da Colômbia, do Equador,
da Bolívia e também do Peru.
O facto de a chamada elite crioula ter sido a promotora da
independência determinou simultaneamente, as finalidades e os
limites desta. Constituindo-se em classe dominante, não tinha, é
claro, nenhum interesse em alterar a ordem social vigente. A
estrutura interna latino-americana estava montada em função da
articulação com os mercados europeus, para onde iam as matérias-
primas e de onde vinham as manufacturas.

O monopólio exercido por Espanha e Portugal, tornando


insuportável o pacto colonial, motivou, a partir de certo momento, a
rebelião de independência. Por trás de um discurso de liberdade, o
que houve foi a oposição aos seculares privilégios gerados no
mercantilismo: a cobrança de impostos, a proibição de produzir e
negociar livremente e a obrigação de os navios, que vinham ou
saíam do Novo Mundo, de passarem, obrigatoriamente, por portos
ibéricos”.4
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 20

A Revolução Francesa e o Império Napoleónico também


exerceram influência na independência das colónias. A Revolução
foi uma luta contra o absolutismo e o mercantilismo (que era
também a luta dos colonos). E Napoleão, ao invadir a Península
Ibérica, acabou acelerando o processo da independência. A
ocupação francesa desorganizou completamente o sistema colonial
na América e possibilitou o aparecimento de circunstâncias
favoráveis ao movimento libertador.

Impedida de reagir, a metrópole apenas assistiu às sucessivas


manifestações de rompimento político por parte dos povos da
América. Quando, finalmente, se libertou do domínio francês, em
1815, a Coroa espanhola tentou, por meio de violenta repressão,
impedir novos movimentos. Mas já não havia a menor
possibilidade de sucesso. O imenso Império espanhol desmoronou
em menos de vinte anos.

Quando Napoleão Bonaparte dominou a Espanha e depôs o rei, as


colónias se recusaram a obedecer aos franceses, organizando Juntas
Governativas, que iriam cuidar da administração até que a situação
internacional se definisse.

Numa primeira etapa (1810-1815), que corresponde ao período em


que a Espanha estava ocupada pelos franceses, deu-se a
independência da Argentina, do Paraguai, da Venezuela, do
Equador e do Chile. O México também tentou, mas foi dominado.
A Venezuela e o Equador foram reconquistados pelos espanhóis.

Na segunda fase (1816-1828), quando o rei Fernando VII já havia


reassumido o trono espanhol, ocorreram as independências da
Bolívia, do México, do Peru e da América Central. O Uruguai, que
naquela época havia sido anexado ao Brasil, iniciou a luta pela
libertação em 1825, conseguindo-a, em 1828.

Por que se insurgem as colónias da Espanha? Será por que os


grandes latifundiários (habitualmente produtores para a
exportação), os proprietários de minas, os donos de milhões de
índios e os poderosos mercadores de além-mar forma seduzidos
pelos filósofos franceses e alguns liberais pensadores espanhóis?

É claro que houve excepções (e Bolívar foi uma delas), mas a


imensa maioria moveu-se por motivos mais prosaicos. Havia
chegado o momento de afastar um sócio incómodo: o poder da
Coroa espanhola...”5

O nascimento dos Estados Nacionais na América Latina ficou


marcado por uma dupla limitação: economicamente, pela inserção
na nova divisão internacional do trabalho, na condição de área
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 21

periférica, o que garantia a manutenção do latifúndio e do trabalho


escravo; politicamente, pelas limitações democráticas, que
excluíam a maior parte da população até mesmo do elementar
direito ao voto.

A independência que acabou se efectivando na América espanhola,


na prática, promoveu o rompimento das relações entre colónias e
metrópole advindas do pacto colonial, mas manteve estruturas
sociais herdadas do antigo sistema colonial. Para isso,
contribuíram diversos factores, especialmente o controle que as
elites crioulas e locais assumiram nas lutas pela independência.

A independência política, contudo, se por um lado permitiu o


rompimento do pacto colonial, favorecendo as transacções
comerciais entre as nações recém-emancipadas e os centros de
desenvolvimento capitalista, por outro, impôs a dependência
económica latino-americana às grandes potências capitalistas do
século XIX.

As nações latino-americanas permaneciam desempenhando o papel


de fornecedoras de matérias-primas e consumidoras de artigos
industrializados. As elites locais, defendendo seus próprios
interesses, aliaram-se às potências hegemónicas (primeiramente
Inglaterra, e, depois,Estados Unidos), colaborando para perpetuar a
situação de dependência em que se achava a América do Sul, desde
o século XVI.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 22

para aqueles que não dispunham de recursos, quer económicos,


quer culturais, os novos tempos não trouxeram benesses ou
regalias. Reformas sociais de peso, terra, salários dignos,
participação política, educação popular, cidadania, respeito cultural
às diferenças, tudo isso iria ter de esperar.

As acções de governos autoritários cobririam e deixariam suas


marcas registradas na América Latina durante a maior parte do
século XIX. Os de baixo teriam de se organizar, lutar, sofrer e
morrer para alcançar seus objectivos. Não foram as lutas de
independência que mudaram sua vida”.

Embora os pobres tivessem, em muitas oportunidades, lutado ao


lado de seus senhores, a independência não lhes trouxe alterações
definitivas. Permaneceram à margem dos benefícios, garantindo o
poder económico e político dos caudilhos, os chefes políticos dos
novos países do continente.

“A ausência de um poder político institucionalizado na fase


posterior à independência abriu espaço às múltiplas manifestações
autonomistas do latifúndio e foi assim que surgiram os caudilhos,
lideres locais que funcionaram como porta-vozes das diferentes
fracções da classe dominante em variados momentos, valendo-se
do amplo espaço que lhes permitia a falta de Estados juridicamente
organizados.

Com os caudilhos, fortaleceu-se uma tradição que se perpetuaria


mesmo depois de a América espanhola ter definido seus Estados e
fronteiras:

Acima de leis ou instituições, com seu discurso ideológico, há o


capricho de um chefe, com seu arbítrio e sua capacidade de
arregimentar forças”.7

Os capitais estrangeiros entravam na América Latina sob a forma


de empréstimos, que eram aplicados em ferrovias, portos,
electrificação, melhorias urbanas, telégrafos, etc. O pagamento de
tais empréstimos representava um lucro extraordinário para os
credores estrangeiros e provocava o escoamento do dinheiro para
fora dos países devedores.

Banqueiros e comerciantes europeus e norte-americanos instalaram


filiais de suas empresas nas principais cidades da América do Sul
de onde controlavam os negócios. É verdade que essas aplicações
de capital trouxeram uma certa modernização para algumas cidades
do continente, mas pagava-se um preço muito alto por ela. Além
disso, ela não significava benefícios para toda a população, e como
ocorrera na Europa, uma minoria de privilegiados usufruía dos
novos investimentos.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 23

A independência política não significou autonomia económica e,


tampouco, a superação de algumas características coloniais. A base
da riqueza continuou sendo o extracção mineral e vegetal, a
agricultura de monocultura e latifundiária, voltados para o mercado
externo.

Investimentos no estrangeiro, especialmente os na América Latina,


cresceram rapidamente na ultima metade do século XIX. Ainda que
o total do capital britânico na América Latina, em 1850, fosse
pequeno, ele aumentou em ritmo constante durante as décadas de
1850 e 1860”.8

O Paraguai manteve, até 1865, uma política fortemente nacionalista


e de busca de sua independência económica.
OS governos paraguaios do pós-independência procuravam manter
o país menos dependente dos estrangeiros. Mesmo com poucos
recursos, o país contava com algumas fábricas que produziam de
tecidos a navios, com matérias-primas e técnica desenvolvidas no
próprio país.

Por ser um país afastado do mar, era muito importante para o


Paraguai manter a livre navegação no estuário do rio da Prata, pois
era sua única saída para o Oceano Atlântico. A passagem dos
navios paraguaios pelo Prata dependia, pois, de suas relações com
os países que controlavam o estuário, sobretudo a Argentina e o
Uruguai.

Os brasileiros também utilizavam a bacia do Prata para atingir as


vastas regiões do centro-oeste do império, dadas as dificuldades de
acesso por via terrestre. Essa situação fazia com que fosse
necessário, para todos esses países, manter estáveis as relações
entre eles e evitar o fechamento do Rio da Prata.
Mas as relações entre esses países nem sempre foram tranquilas, e
desde o período colonial, a região era alvo de acirradas disputas.
Após as independências, fortes hostilidades marcavam as relações
entre o Paraguai, de um lado, Argentina e Brasil, de outro. A
Inglaterra aproveitou a tensão local, estimulando a formação de
uma aliança contra o Paraguai, formada pelo Brasil, a Argentina e o
Uruguai.

Alegando problemas de invasão de território, a Tríplice Aliança


envolveu-se numa guerra contra a nação guarani, iniciada em 1865
e terminada em 1870. Terminada a guerra, o Paraguai, derrotado,
sucumbiu aos interesses externos e à dependência económica.

Embora a imensa maioria dos países houvesse se organizado sob a


forma republicana (as únicas excepções foram o México e o Brasil,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 24

que viveram experiências monárquicas), eles se caracterizaram pela


instabilidade política.

Tal instabilidade pode ser explicada, pelo menos, em parte, porque


o poder, quase sempre, era tomado à força por grupos rivais. Um
caudilho (dono de terras e chefe de exércitos particulares), por meio
de um golpe, desaloja o outro do poder, com o auxílio de suas
tropas particulares e de outros donos de terra que lhe davam apoio.

A história do Paraguai esteve intimamente ligada à do Brasil e à da


Argentina, principais pólos do subsistema de relações
internacionais na região do Rio da Prata. O isolamento paraguaio,
até a década de 1840, bem como sua abertura e inserção
internacional se explicam, em grande parte, pela situação política
platina.
Nos anos seguintes a essa abertura, o Paraguai teve boas relações
com o Império do Brasil e manteve-se afastado da Confederação
Argentina, da qual se aproximara nos anos de 1850, ao mesmo
tempo que vivia momentos de tensão com o Rio de Janeiro.

Na primeira metade da década de 1860, o governo paraguaio,


presidido por Francisco Solano López, buscou ter participação
activa nos acontecimentos platinos, apoiando o governo uruguaio
hostilizado pela Argentina e pelo Império. Desse modo, o Paraguai
entrou em rota de colisão com seus dois maiores vizinhos e Solano
López acabou por ordenar a invasão de Mato Grosso e Corrientes e
iniciou uma guerra que se estenderia por cinco anos”

Durante o século XIX, a América Latina sob o governo da coroa da


Espanha iniciou o processo de independência dos diversos
territórios.

Para as elites da América espanhola, representada pelos criollos


(descedentes de espanhois nascidos na América), o importante era
acabar com a metrópole monopolista, que lhes dificultava as
transações mercantis, sobretudo com a Inglaterra.

O governo da Inglaterra foi decisivo para a emancipação latino-


americana, interessada na ampliação de mercados para seus
produtos industrializados. Também foi pela influência da doutrina
Monroe, instituída pelos Estados Unidos, que se definiu na seguinte
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 25

frase América para os americanos, ajudou a consolidar a


independência latino-americana, ao apoiar a guerra de libertação
dos criollos.

Foi entre 1817 e 1825 que se processou a revolução vitoriosa que


libertou a maioria dos países latino-americanos. Seus líderes foram
Simon Bolivar e José de San Martin, que percorreram quase toda a
América Latina.

Na imagem, Bolivar no monumento de Praça do


Congresso-Perú 1859.

Bolivar, o Libertador, era um exemplo da elite criolla. A partir da


Venezuela, partiu para o Peru e daí para o Sul, comandando a
libertação da América Latina.

A Argentina proclamou sua independência em 1816, concretizando


o processo com os êxitos militares de San Martín. A partir da
Argentina, San Martín, comandando 5 mil homens no chamado
exército dos Andes, marchou para o Norte, libertando o Chile.
Dirigindo-se para o Peru, principal centro de resistência espanhola,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 26

acompanhado pelo mercenário inglês Lord Cochrane, San Martín


alcançou e libertou Lima.

O Movimento de Libertação

Embora acabassem com o pacto colonial e obtivessem sua


liberdade política, os novos Estados latinos assumiam uma nova
forma de dependência econômica, agora com os interesses do
desenvolvimento capitalista, sobretudo o inglês, fornecendo
matérias-primas à Inglaterra e consumindo seus produtos
manufaturados. blogs

De acordo com Páginas da Internet, diferentemente dos países


africanos e asiáticos, os países da América Latina em sua maior
parte, proclamaram a independência estatal muito mais cedo, a
partir da primeira metade do séc. XIX, em decorrência das guerras
de libertação dos povos do continente contra os colonizadores
espanhóis e portugueses. Estes países teriam avançado muito mais,
se não tivessem caído, logo após a supressão do jugo colonial
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 27

espanhol e português, sob um outro jugo, semi-colonial, do capital


estrangeiro, francês, inglês, alemão, norte-americano, etc.www.
brasilescola. com

Até ao início do séc. XX, o continente americano era dominado


pelos ingleses, que pilhavam aí, quantidades colossais de matérias
primas, construíam portos, ferrovias, centrais eléctricas
exclusivamente ao serviço das suas empresas concessionárias e
comerciavam com artigos industriais produzidos na Grã-Bretanha.

Porém. Com a penetração dos E.U.A., então em sua fase de


desenvolvimento imperialista, essa situação mudou, mas não em
favor dos povos latino- americanos, pois o imperialismo dos E.U.A.
empregou o slogan “ A América para os americanos”, encarnado na
doutrina Monroe, para instaurar seu domínio exclusivo em todo o
hemisfério ocidental, segundo sustentação da Internet.

Ainda sobre a América Latina, Vicentino ( 2002, p. 468 ),


fundamenta: “os países da América Latina, embora politicamente
independentes desde o séc. XIX, mantiveram laços de dependência
económica com as grandes potências imperialistas mundiais,
inicialmente a inglaterra e posteriormente os EUA.” Entretanto, a
penetração norte-americana processou-se, tanto através da força
militar e da chantagem polítca, como também da diplomacia do
dólar, por meio de purett e do engano.

Assim, os E.U.A. tornaram-se os verdadeiros donos da economia


dessa parte do globo. Seus grandes monopólios se apoderaram dos
sectores-chave da economia latino-americana e os países do
continente se integraram no império invisível do imperialismo
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 28

norte-americano, que começou a fazer leis em todas elas, a instalar


e a destituir Chefes de Estado e de Governo e ditar-lhes sua política
económica e mlitar, iterna e externa.

No entanto como resultado da dependência económica e da


interferência directa do imperialimo, criou-se na América Latina
uma Oligarquia, uma grande burguesia monopolista, bastante
poderosa, que controla o poder com os grandes senhores de terra e,
sempre com o apoio do imperialismo norte-americano e juntamente
com ele, oprime e explora impiedosamente a classe operária, o
campesianato e as demais camadas trabalhadoras.

Esse desenvolvimento industrial também criou um proletariado


industrial bastante numeroso, que juntamente com o proletariado
rural, com os operários da construção e dos serviços, representam
cerca da metade da população, distintamente da maioria dos países
da África e da Ásia, onde a classe operária é muito reduzida. Este
factor, aliado à questão de que o campesinato e a classe operária
surgida das fileiras deste, possuir ricas tradições de combate
revolucionário, conquistadas em lutas incessantes pela liberdade ,
pela terra, por trabaho e pão, estimularam o povo latino-americano
nas batalhas contra a oligarquia interna, os monopólios
estrangeiros, e precisamente contra o imperialismo norte-
americano.

Desta maneira, a ira revolucionária do proletariado ganha vulto


quando os capitalistas e latifundiários manifestam a incapacidade
de desenvolver suas economias sem a tutela e o apoio norte-
americano, que pautam pela intensificação da exploração do povo.

De com o Site da Internet, para refrear a crescente consciência


revolucionária do proletariado, os imperialistas norte-americanos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 29

usam duas vias principais, nomeadamente: a instauração de regimes


militares fascistas, por meio de um “pronunciamento militar”,
quando vêm suas posições sob ameaça, como fizeram no Brasil, no
Chile, no Uruguai, na Bolívia, etc; a organização de regimes
democrático-burgueses, com acentuadas limitaçoes e grande
lacunas nas liberdades fundamentais, como na Venezuela e
México.

Deveu-se também, ao despertar, por parte desses partidos, da consciência


da necessidade de manter os mais estreitos vínculos e consultar-se
permanentemente, para poder aproveitar ao máximo a experiência, uns
dos outros, e para coordenar suas atitudes e acções quanto às questões
comuns de luta contra a burguesia reacionária e o imperialismo.

2. Brasil na posse de portugal

Enquanto maior território latino encontrava-se nas mãos dos


espanhóis, o brasil estava com os portugueses.

Nessa época, Portugal era governado pelo príncipe D. João, que


não podia cumprir as ordens de Napoleão e aderir ao Bloqueio
Continental, pois os comerciantes de Portugal tinham importantes
relações com o mercado inglês. D. João pretendia manter-se neutro
no conflito entre franceses e ingleses. Os exércitos franceses não
aceitaram essa indefinição e invadiram Portugal, com o apoio de
tropas espanholas.

Sem condições de resistir à invasão das tropas franco-espanholas,


D. João e a corte portuguesa fugiram para o Brasil, sob a protecção
naval inglesa.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 30

O governo inglês tratou de tirar o máximo proveito da protecção


militar que deu ao governo português. Interessado na expansão do
mercado para suas indústrias, pressionou D. João a acabar com o
monopólio do comércio colonial.

Em 28 de Janeiro de 1808, seis dias após o desembarque no Brasil,


D. João decretou a abertura dos portos ao comércio internacional,
isto é, às “nações amigas”. Com essa medida, o monopólio
comercial ficava extinto, excepto para alguns poucos produtos,
como sal e pau-brasil.

Os comerciantes da colónia ganhavam liberdade de comércio, e


abria-se o caminho para a emancipação do Brasil.
No Rio de Janeiro, D. João organizou a estrutura administrativa da
monarquia portuguesa: nomeou ministros de Estado, colocou em
funcionamento diversos órgãos públicos, instalou Tribunais de
Justiça e criou o Banco do Brasil. Entre as medidas do governo de
D. João, algumas contribuíram para o processo de emancipação
política brasileira.

Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido de


Portugal e Algarves.
Com essa medida, na prática, o Brasil deixava de ser colónia de
Portugal. Tornava-se Reino Unido e, com isso, adquiria autonomia
administrativa.

Na condição de sede do Reino, a cidade do Rio de Janeiro viu


multiplicarem-se as edificações, os chafarizes, as ruas calçadas – e
também a quantidade de novos e velhos ofícios.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 31

Contratado como pintor da Corte, Debret foi aos poucos desviando


os olhos do interior do palácio e voltando-se noutra direcção, onde
a vida realmente fervilhava: as ruas da cidade.

O que tinham elas de especial? Amontoavam hábeis artífices,


quituteiras, barbeiros ambulantes, vendedores de toda sorte e tantos
outros trabalhadores em frenética atividade, numa mistura de
negros alforriadas, brancos ocupados e escravos urbanos, muitas
vezes semilibertos, que compunham a nova paisagem do Rio de
Janeiro”.11

Em Agosto de 1820, os comerciantes da cidade portuguesa do


Porto lideraram um movimento que ficou conhecido como
Revolução Liberal.
Essa revolução espalhou-se rapidamente por Portugal, encontrando
apoio em diversos sectores da população: camponeses, funcionários
públicos, militares, profissionais liberais. Chegou, inclusive, a
conquistar adeptos no Brasil.

Além de não ter sabido prever nem dominar a revolução


desencadeada em Lisboa, deixaram igualmente os ministros de D.
João VI que ela invadisse, e quase com rapidez do relâmpago, todas
as províncias do Brasil, onde alguns patriotas esclarecidos já
vinham organizando uma revolução cujos objectivos e princípios a
maioria da população brasileira ignorava”. 12
Vitoriosos, os revoltosos conquistaram o poder em Portugal e
decidiram elaborar uma constituição de carácter liberal, limitando
os poderes de D. João VI. Pretendiam também fazer com que o
Brasil voltasse a ser uma colónia de Portugal (recolonização).

Contrariado pelos acontecimentos, o rei queria ficar no Brasil, e


adiou quanto pôde seu regresso à metrópole. Tropas portuguesas no
Rio de Janeiro, porém, obrigaram-no a decidir-se a voltar a
Portugal.
Assim, D. João VI retornou à sua pátria no dia 26 de abril de 1821,
deixando seu filho Pedro como príncipe regente do Brasil.

As Cortes portuguesas, apesar de liberais em relação a Portugal,


mostraram-se bastante reaccionárias com relação ao Brasil, pois
tentaram recolonizá-lo.
A tentativa de recolonização, no entanto, não foi bem aceita pelas
elites coloniais, que optaram por caminhar rumo à independência.

Havia divergências entre os representantes das elites sobre como


deveria se dar a independência. Alguns desejavam que se
proclamasse a Republica, como todos haviam feito na América.
Outros pensavam que a ruptura com Portugal deveria ser da
maneira mais tranquila possível, para evita que surgissem propostas
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 32

radicais, como a de abolir a escravidão ou mudar a estrutura da


posse da terra.

O grupo que apoiava esta última ideia é que tomou a frente do


movimento, conduzindo todas as acções para conseguir uma
independência que tivesse um carácter conservador.
O que se pretendia, e que foi afinal realizado, era uma separação
política em relação a Portugal, mantendo-se as estruturas sociais e
económicas sem qualquer mudança.

Para isso, os representantes das elites entenderam que seria da mais


alta importância contar com o príncipe D. Pedro, mesmo sendo ele
português.
Todas as acções foram encaminhadas para fazer D. Pedro
permanecer no Brasil e, mais do que isso convencê-lo a participar,
activamente, do processo de independência, com a promessa de
tornar-se imperador do Brasil.

O primeiro passo foi “obrigar” D. Pedro a ficar no Brasil, pois as


Cortes estavam exigindo sua volta. Pressionado, ele concordou em
ficar (Janeiro de 1822 – o Dia do Fico). Em seguida, o ministro
José Bonifácio procurou fortalecer a autoridade do príncipe, ao
mesmo tempo em que tentava convencê-lo da independência.

O passo seguinte foi retirar a tropas portuguesas que ficavam no


Rio e que poderiam atrapalhar os planos. José Bonifácio conseguiu
que D. Pedro expulsasse o comandante português.
Chegaram novos navios portugueses, trazendo ordens de prisão
para todos os que desobedecessem às determinações das Cortes. E
insistiam para que D. Pedro regressasse a Portugal.

No dia primeiro de Agosto, José Bonifácio redigiu um manifesto às


varias províncias. Nesse manifesto, assinado por D. Pedro,
comunicava-se que a independência já era realidade e conclamava-
se a todos para lutarem por ela.

Cinco dias depois, um novo manifesto foi enviado, desta vez às


nações amigas. Novamente comunicava-se que o Brasil estava
independente de Portugal e pedia-se o apoio dessas nações, que
poderiam ser beneficiadas com privilégios comerciais.

Finalmente, a sete de Setembro, ocorreu o famoso “Grito do


Ipiranga”. Ali, na realidade, D. Pedro tornou público o seu
rompimento com as Cortes, definindo que iria ficar no Brasil, como
imperador.

o processo de emancipação política do Brasil configurou uma


revolução, uma vez que rompeu com a dominação colonial,
alterando a estrutura do poder político – com a exclusão da
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 33

metrópole portuguesa. Revolução, entretanto, que levaria o Brasil


do Antigo Sistema Colonial português para um novo sistema
mundial de dependências”.13
Porém, a independência só se consolida com o reconhecimento.

O primeiro país a reconhecer a independência do Brasil foi os


Estados Unidos, em 1824.
Em 1825, venceram os tratados que a Inglaterra havia assinado com
Portugal em 1810, por meio dos quais os seus pagavam menos
impostos no Brasil. Querendo renovar esses tratados, a Inglaterra
pressionou o governo português que, finalmente, reconheceu a
independência do Brasil apesar de ter feito algumas exigências para
isso:
- D. João VI teria o título de Imperador do Brasil.
- O Brasil não poderia comercializar com as colónias
portuguesas.
- O Brasil pagaria uma indemnização a Portugal (dois milhões
de libras esterlinas).
Assim, repetia-se no Brasil o que já ocorrera na América
espanhola: a independência fora realizada, mas sem transformações
na estrutura económica e social do país. A exclusão social
continuava a ser uma triste realidade.
A descolonização é um processo lento, difícil e doloroso,
comparável à convalescença de

Unidade III
A REVOLUÇÃO CUBANA
De acordo com Gispert ( S/A ), a independência ilusória aplicável
ao conjunto latino-americano, talvez pareça exagerado quando
aplicado ao caso de Cuba. Enquanto as restantes repúblicas
ascenderam a independência de forma plena, de ponto de vista
teórico, Cuba não se emancipou da sua metrópole espanhol até
1898. O Tratado de París que pôs fim ao confronto entre a Espanha
e E.U.A. não estabeleceu claramente a Independência da Ilha, tendo
a convertido num protectorado, cuja referência legal é a Emenda
Plaat de que facultava aos E.U.A. a possibilidade de intervir nos
assuntos da Ilha quando podessem estar em jogo os seus interesse.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 34

É que, Cuba conseguiu libertar-se da Espanha em 1898, com um


exército comandado por José Marth. Mas apesar de estar
politicamente independente, o país passou a estar quase totalmente
dominado pelos norte-americanos, que compravam a maior parte
do açucar cubano, o principal produto de exportação da Ilha, e se
aproveitavam disso para impor sua tutela.

3.1. Cuba sob Controlo Norte-Americano

A presença norte-americana constituiu grande factor na história de


Cuba. Com a doutrina intervencionista, apoiada pela Emenda Plaat
de 1901, por meio do qual os E.U.A. se reservavam o direito de
instalar bases militares no país e de intervir militarmente todas as
vezes que considerassem seus interesses ameaçados, como defende
Vicentino ( 2002, p. 440 )

Entretato, nota-se que os norte-americanos, para conseguirem


atingir os seus aobjectivos imperialistas em Cuba, tiveram sempre o
cuidado de delinear previamente estratégias que se mostrassem
eficazes para o efeito.

Nesta perspectiva, os primeiros norte-americanos a fazerem a


expansão foram os compradores de hotéis e jardins da Ilha de
Pinos, espaço privilegiados que muitos investidores desejavam que
fosse declarado território norte-americano, apesar de um Tratado de
1904 que reconhecia o seu carácter cubano, mas que só foi
ractificado pelo Senado devido à pressão dos interesses da região.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 35

Segundo Gispert ( S/A ), a influência norte americana no território


cubano é notória na medida em que ¼ do universo populacional da
região passa a ser norte-americana. Do mesmo modo, a presença
maciça de algumas companhias imobiliárias que adquirem zonas
próximas de Havana enormes extensões de terra a baixo preço,
conseguindo enormes lúcros, depois da sua classificação como solo
urbano.

Ainda em torno da acupação norte-americana, segundo refere


Gispert, um Tratado de 1912 estipulou o arrendamernto, por tempo
indefinido da região de Guantânamo, que se transformou numa
importante base militar. Em troca, os E.U.A. deviam pagar uma
renda de 2 mil dólares por ano e renunciar os seus interesses na
baia de Honda.

Desta feita, como resultado do estabelecimento norte-americano


quase toda a riqueza de Cuba ficou nas mãos de poucas famílias
nativas e de empresas norte-americanas instaladas no país, o que
fez com que milhões de cubanos se alimentassem mal, morresem
em buracos e vivessem de empregos temporários ( jornaleiros ).
Portanto, um exemplo claro deste panorama, é dos camponeses que
tinham trabalhos garantidos apenas entre Dezembro e Maio, para
além de que maior parte da população era analfabeta, segundo Pág.
da Internet.

Paralelamente aos interesses económicos pautados pelos norte-


americanos no solo cubano, vai a sua intervenção política visando a
montagem de governos capazes de levar avante os seus interesses
imperialistas.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 36

Nesta perspectiva, os E.U.A. deram seu apoio aos conservadores


mais dóceis e menos tentados a suscitarem reevindicações. Assim
as eleições eram sistematicamente falseadas, os presidentes e
políticos influentes enriqueciam em poucos meses.

Portanto, foi desta forma que a situação política cubana anterior a II


Guerra Mundial foi caracterizada por períodos de ditaduras de
maior duração e influência, podendo-se destacar a era Machado e a
era Baptista que antecederam a grande revolução fideliana,
conforme sustentações de Giapert.

3.3 A Era de Gerardo Machado


Tal como se referiu anteriormente, no âmbito das estratégias de
exploração económica em Cuba, se enquadra a sua intervenção
política com o estabelecimento de governos ditatoriais tendentes à
defesa dos seus interesses imperialistas , dos quais se menciona a
era Machado.

De acordo com Gispert ( S/A ), as origem de Gerardo Machado são


obscuras. Antes da independência contra a Espanha, tinha se
dedicado com o seu pai ao roubo de gado. Ao ser designado
Alcaide ( Governador ) de Santa Clara, registou-se uma misteriosa
queima de documentos comprovativos das suas actividades elicítas.
A sua trajectória de homem de negocios tambem apresenta muitas
irregularidades.

O mesmo autor realça que Gerardo Machado, funcionário e


dirigente da Companhia de Electricidade de Santa Clara, consegue
ingressar mais tarde para o Cuban Electric, filial de outra
companhia norte-americana, onde chegou a vice-presidência. Por
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 37

volta de 1924 consegue controlar a quase totalidade das empresas,


tendo usado o dinheiro da companhia para pagar os encargos da
campanha de 1925 que lhe concedeu a presidência do país como
candidato do Partido Liberal.

Segundo Páginas de Internet, para desviar a atenção das massas e


granjear muita simpatia popular, Machado toma uma série de
medidas: coloca fim à Emenda Plaat, firma um novo tratado mais
moderado com os E.U.A.; faz reformas educativas e concede
autonomia às universidades. www.brasilescola. com.

Na verdade, tratava-se de uma farsa, pois por detrás destas


promessas continuava o império da corrupção, que é evidenciada
por Gispert, salientando que: “o assassinato de Armando André,
jornalista de perfil, deixou pistas que pareciam indicar o
envolvimento de polícias, seguindo instruções do presidente.”

Entretanto, as acções ditatoriais levadas a cabo por Machado


provam-se quando depois de admirador de Moussoline na Itália, a
sua actuação adquire um estilo claramente fascista: os partidos
foram proscritos ( proibidos, banidos ); os deputados não
conformistas eram sistematicamente expulsos dos partidos e
assentos; o exército transformou-se em vigilante da população;
foram instalados supervisores militar nas escolas e comissários,
delegados em todos os departamentos ministeriais, num processo
de militarização da sociedade que culminou com a nomeção do
exército para presidência da câmara. (GISPERT, S/A).

Ainda no pensamento de Gispert, em Abril de 1928, Machado fez


aprovar uma reforma constitucional segundo o qual o presidente
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 38

podia-se manter no cargo sem necessidade de eleições. Como


resposta, a oposicão reagiu com protestos e manifestações nas ruas,
mas o ditador actuou com severidade fechando jornais e
universidades. Nem o título de “ilustre e exemplar cidadão” que
atribuiu-se a si mesmo, não o impediu de assassinar os seus
opositores, entre eles vários estudantes.

A arbitrariedade deste regime dispótico era de tal ordem que


acabou por alarmar os E.U.A., o que fez com que uma seita secreta
começasse a responder com assassinatos de partidários do regime.

Diante deste cenário, segundo refere o site da internet, as eleições


norte-americanas de 1932 que levaram Rosevelt ao poder
determinaram uma política externa muito hostil às ditaduras.
Sumner Wells foi enviado como embaixador com poderes
especiais, manteve contactos com a oposição, num momento em
que as greves paralizavam a vida cubana.http://lainsignia. org-2005

Entretanto, em Agosto de 1933, um golpe de estado conhecido


como Revolução dos Sargentos, comandado por um ex-sargento
promovido de uma hora para outra a coronel e estimulado pelo
embaixador norte-americano, derrubou Gerardo Machado que teve
de abandonar o país.

3.4 A Era de Flugêncio Baptista

Flugêncio Baptista, que imediatamente se tornou o Homem forte,


que iria dirigir a vida cubana, durante ¼ de séculos ( 25 anos ).
Wells desejava travá-lo, mas o secretário de estado Hull resistiu a
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 39

intervenção e preferiu deixar os acontecimentos se desenrolar por si


mesmo.

Em Setembro de 1933, Baptista, embora sem encargo, era já o


responsável pelas decisões políticas. Primeiro promoveu-se a si
mesmo a coronel por mérito de guerra e serviços excepcionais ao
país, enquanto outros sargentos eram promovidos a capitais.

Em relação à governação ditatorial de Flugêncio Baptista, realça-se


que, não obstante ter permanecido durante 7 anos “na sombra,”
notou-se uma completa obediência dos presidentes que se foram
sucedendo, à pessoa do coronel Baptista.

Assim, de acordo com Gispert ( S/A ) os presidentes que


governaram sem parlamento eram “marionetas” de Baptista – foi o
caso de Mendieta que recorria à declaração de Estado de Sítio ao
mínimo movimento de oposição- ou foram destituídos - como
aconteceu com o Miguel Marino Gómez - se atreviam a
desobedecer as instruções que o sargento lhes dava.

Em 1940, na sequência da convocação de uma assembleia


constituinte, e a consequente aprovação de um novo texto
constitucional, sucedidos pela realização de eleições presidenciais,
Baptista chegou à presidência, obedecendo todos os requisitos
democráticos e conservando todo o prestígio que as suas acções
populistas lhe granjeavam, bem como o apoio de muitos sectores
empresariais, operários e até mesmo comunista.

A consolidação da ditadura política de Baptista é corolário da sua


prosperidade económica. Essa prosperidade é consequência da
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 40

simpatia criada com os E.U.A. e da confiscação dos saldos de todas


as contas italianas, alemães e japoneses, feitos conseguidos graças à
sua posição de aliado norte-americano, ao declararem guerra à
Alemanha e Japão na 2ª Guerra Mundial.

A referida prosperidade constituiu, outrossim, um dado adquirido


para o controlo do exercício do poder, mesmo depois das eleições
de 1994 terem sido ganhas por Gran. Porém, em 1952 regressa à
presidência. No seu governo, Baptista, constituiu segundo Gispert (
S/A ), o exemplo vivo de introdução na América Latina, de
fórmulas democráticas profundamente deficientes, uma vez que
nem eleições, nem constituições, nem actividades partidárias eram
permanentes ou definitivos, transformndo a sociedade cubana em
povo governado pelo jogo dos caudilhos ou dos sargentos que
acabam se tornando caudilhos.

Como resposta a estes desmandos, formou-se uma oposição na qual se


evidenciou Fidel Castro, jovem advogado, que em 20 de Julho de 1963
atacou o quartel da Moncada com um grupo de companheiros, iniciando a
grande revolta que ficou conhecida por Revolução Cubana ou
Fideliana.www.brasilescola. com

3.5 A Insurreição Armada


A influência do imperialismo norte-americana em Cuba e o quadro
político que alí se desenhou como consequência directa do mesmo
imperialismo, caracterizando-se pela implementação de governos
com um regime ditatorial, constituíram factor inconstestável para o
surgimento das grandes sublevações militares iniciadas em 1953.

De facto, a concentração de todos os sectores de economia cubana


nas mãos das empreasa monopolistas norte-americanas, eram em
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 41

detrimento dos nacionais, cujo suporte eram os governos ditatoriais


por eles implantados e patrocinados, deu origem ao aparecimento
de movimentos opositores guerrilheros, liderados por Fidel Castro,
Camilo e Ernesto Che-Guevara, que a partir de 1956 obtiveram
sucessivas vitórias e ocuparam várias cidades e povoações.

A primeira tentativa de derrubar o governo do ditador Flugêncio


Baptista deu-se em 26 de Julho de 1953, quando uma oposição
guerrilheira liderado por Fidel Castro e seus companheiros atacou o
quartel de Moncado. Tendo fracassado o ataque, os rebeldes foram
todos presos, mas imediatamente amnistiados. Fidel,
impossibilitado de agir e de preparar novos ataques, dada a
vigilância que sofria por parte da polícia, emigrou para o México,
onde reorganizou suas forças, para depois fazer o regresso à Cuba
no barco Granma, carregado de arma e pronto para reatar o
confronto militar com Baptista.

Como resultado da falha do plano de desembarque, Fidel e seus


compaheiros refugiaram-se para Sierra Maestra, de onde
começaram as operações guerrilheiras, que tiveram facilidade de
alastramento e um desmesurável apoio das massas populares, uma
vez ferverosas de ódio pelo ditador que reprimia-os violenta e
impiedosamente.

De acordo com a Página http:// www. Lainsignia. org-2005, , a


repressão desencadeada por Baptista aumentou a sua
impopularidade interna ( das massas ) e externo ( dos E.U.A. ),
estes últimos que acabaram suspendendo a venda de armas em
1958. Desamparado por aquele que tinha sido o arquitecto
inteligente dos regimes ditatoriais, Baptista foi derrubado em 8 de
Janeiro de 1959, depois de um bem sucedida greve geral,
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actualidade 42

desencadeada pelas tropas de Fidel Castro que conseguiram o


acesso a Havana.

Derrubado o ditador Baptista, Manuel Urritia Manzano, moderador


opositor do regime de Baptista, ocupou a presidência, e Fidel
Castro indicado 1˚ ministro. Outros membros destacados do
movimento 26 de Julho, também ocuparam cargos ministeriais.
Logo a prior, a organização de Fidel desfrutou de uma simpatia
generalizada entre os cubanos, tendo-se mantido equidistante do
capitalismo e do comunismo facto que criou nos cubanos a
esperança de instalação de um governo constitucional um sistema
democrático-representativo nos moldes conhecidos das repúbicas
burguesas.

3.6 A Radicalização
O fuzilamento dos inimigos da revolução ( o Paredón ), as reformas
urbanas que obrigaram a baixar os preços dos alugueres, e a
profunda reforma agrária efectuada, foram manifestações de
radicalismo que começaram a inquietar os moderados, no plano
interno, e os EUA no plano externo.

No entanto, a resistência do presidente Urritia em aceder a


radicalização levou Fidel a dimitir-se em julho de 1959, o que
suscitou grandes manifestações a seu favor. Por conseguinte,
Urritia renuncia o cargo e é subistituido por Osvaldo Dorticós
Torrado, marcando o regresso de Fidel ao cargo de primeiro
ministro, que vai dar continuidade à sua radicalização, segundo
wwwbrasiles
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 43

Sendo assim, os moderados, encarando o radicalismo fideliano como


autoritarismo, afastam-se do poder, o que significava automaticamente
uma perda para a revolução, uma vez que se disvinculavam dela quadros
qualificados, tal é o caso de muitos profissionais especializados. Essa
perda foi compensada pela aproximação e colaboração dos comunistas,
que desde o início da guerra se distanciavam do movimento
revolucionário desde 26 de Junho.

Desta maneira, a adesão dos comunistas à revolução fez com que as


medidas no novo governo fossem interpretadas como sendo de origem e
inspiração comunista, o que de certo modo serviu para a entrada de Cuba
no esquema da Guerra Fria.

3.7 A Roptura com a Ordem Capitalista


A reforma radical implantada pelo novo governo possuia uma profunda
orientação anti-capitalista, dado que a reforma agrária atingira
propriedades açucareiras que pertenciam a capitalistas norte-americanos.

Perante as acções empreendidas pelos radicalistas cubanos, o presidente


Eisenhower, como represália, desencadeia uma dura repressão
económica, cortando fornecimetos, por exemplo de petróleo, e ignorando
as acções de sabotagem à economia cubana.

Em Julho de 1960, como forma de solucionar a sanção imposta pelos


norte-americanos, Cuba passou a importar petróleo da U.R.S.S. Porém,
como as refinarias eram de propriedades norte-americanas e britânicas, os
E.U.A. recusaram-se a refinar o produto, o que fez com que o Governo
Cubano emcapasse as refinarias, e os E.U.A. reagiram suspendendo a
compra do açucar cubano.

Em 1961, com a subida de John Kennedy para o cargo de presidente dos


E.U.A., romperam-se por completo as relações dipliomáticas com Cuba, e
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 44

Kennedy autorizou a invasão militar do país pelos exilados cubanos


treinados por militares norte-americanos. No dia 17 de Abril de 1961,
com o apoio aéreo dos E.U.A., os contra-revolucionários desembarcaram
na Praia de Girón, na Baía dos Porcos, mas foram derrotados em 72
horas.

Portanto, no dia 15 de Abril, em resultado das confrontações políticas


entre os revolucionários e os imperialistas norte-americanos, Fídel
declara pela primeira vez que a revolução cubana era socialista.

8.8 O Socialismo Cubano


Cuba vivia, desde 1952, sob a ditadura de Fulgêncio Batista, que
chegara ao poder através de um golpe militar. Batista era um ex-
sargento, promovido de uma hora para outra a coronel, depois da
chamada “revolução dos sargentos” que depôs o presidente
Gerardo Machado, em 1933. Sete anos depois, em 1940, Batista foi
eleito presidente. Concluído seu mandato, manteve-se distante do
poder durante o governo de seus dois sucessores, para retornar
novamente à ativa em 1952, com um golpe.

De acordo com o wwwbrasiles, em Junho de 1961, o Partido Comunista


Cubano ampliou a sua participação e influência no governo. Contudo, o
ingresso de Cuba na via socialista levou o país a vincular-se cada vez
mais no bloco socialista, enquanto era forçado a se afastar do sistema
pan-americano.

Em 1962, na Conferência de Ponta Del Este ( Uruguai ), Cuba foi


excluída da Organização dos Estados Americanos ( O.E.A.). Com
excepção do México, todos os países romperam as relações diplomáticas
e comerciais com Cuba, sob pretexto de que este estava exportando sua
revolução para toda a América Latina.

Entretanto, o isolamento de Cuba imposto pelos E.U.A. e sua


dependência económica e militar de uma potência distante, a U.R.S.S.,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 45

não deixaram a Fídel outra alternativa, senão tentar resolver esse quadro
opressivo para o país, razão pela qual a partir de 1962 passou a defender,
incansavelmente, a ressurreição armada na América Latina, com
experança de que, com uma revolução à escala continental, Cuba podesse
finalmente romper o isolamento ao qual estava submetida.

Por volta de 1965, devido ao bloqueio económico, Cuba vivia graves


problemas. Para solucioná-los, os revolucionários viram-se diante de um
dilema: ou apelavam para soluções eminentemente técnicas e
económicas, ou reacendiam a chama revolucionária. Ernesto Che
Guevara, argentino de nascimento, mas que se tornara um dos principais
dirigentes da revolução, era favorável à segunda solução. Entretanto, não
havia unanimidade.

De qualquer modo, Cuba não tinha como renunciar a sua liderança


continental, visto que exercia uma grande influência sobre as esquerdas
na América Latina. E como as esquerdas latino-americanas eram seu
único ponto de apoio no continente, seria um suicídio político abrandar
em Cuba a chama revolucionária.

Assim, dentro do espírito revolucionário, realizou-se em Cuba no ano de


1966 o Congresso Tricontinental, reunindo os principais movimento
revolucionários e anti-imperialistas da Ásia, África e América Latina,
num momento que estava no auge a agressão norte-americana no
Vietname, e a heróica resistência vietnamita despertava enorme
admiração em todo o mundo e motivou os revolucionários.

Ainda dentro do mesmo espírito, fundou-se em Havana, de Julho a


Agosto de1967, a Organização Latino-americana de Solidariedade (
O.L.A.S. ), cujo lema era “ o dever de todo o revolucionário é fazer a
revolução”. Esse lema, que criticava implicitamente os partidos
comunistas e outras correntes de esquerda que se haviam acomodado à
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 46

ordem capitalista, retratava igualmente o excesso de optimismo


voluntarista, típico da época. www.brasilescola.com

Entretanto, isso veio a confirmar-se com o reaparecimentop de Guevara


que há muito não participava na política cubana. Guevara reapareceu na
Bolívia, onde procurava repetir a experiência cubana. Dessa vez fracassou
e foi morto pelo exército de Barrientos.

A partir de 1968, os dirigentes cubanos, admitindo outras alternativas


revolucionárias, começaram igualmente a se retrair, muito embora, por
essa mesma época, a guerrilha estivesse se desenvolvendo no Brasil, na
Argentina e no Uruguai. Porém, o império guerrilheiro não ultrapassou o
ano de 1975, e as lutas rurais e urbanas fracassaram.com isso, a tradição
bolchevique abandonada começou a ser retomada, em sua vertente anti-
estalinista.

2.9 O Foquismo – Singularidade do Modelo Cubano


Segundo a teoria tradicional concebida por Lênin - líder da
Revolução Russa de 1917 - e adotada por todos os partidos
comunistas do mundo, a revolução socialista deveria ser conduzida
por uma minoria esclarecida, que se autoproclamava "vanguarda do
proletariado". O modelo cubano, teorizado nos anos 60 pelo jovem
intelectual francês Régis Debray, substituiu a vanguarda política
por uma vanguarda militar.

A ação da vanguarda política do tipo leninista apoiava-se, de início,


nas reivindicações econômicas do operariado e, por isso, começava
com a infiltração comunista nos sindicatos. Os comunistas
procuravam, desse modo, ampliar a luta dos trabalhadores,
objetivando dar-lhes uma consciência política que, supostamente,
não possuíam, mas que lhes pertencia por natureza. Assim, os
comunistas (leninistas) esperavam que os operários passassem da
luta meramente econômica para a política, preparando-se enfim
para o enfrentamento global com a burguesia, através de uma
insurreição armada. Chegava-se, desse modo, à tomada do poder. O
modelo leninista subordinava, pois, a ação armada à estratégia
política.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 47

Segundo Debray(1995), isso foi invertido pelo castrismo, que se


peculiarizava pela prioridade virtualmente absoluta conferida à luta
armada. Esta seria iniciada por um pequeno grupo (vanguarda
militar), cujas ações deveriam criar as condições objetivas para a
tomada do poder. Portanto, o castrismo consistia em começar a
revolução com um foco guerrilheiro que, gradualmente, ampliaria
seu raio de ação. Por isso, o modelo castrista teorizado por Debray
ficou conhecido como "foquismo".

Quem levou mais longe essa concepção, na prática, foi Ernesto Che
Guevara - que devido a sua origem argentina ficou conhecido como
"Che". Guevara separou completamente a ação militar da militância
política e ignorou a realidade econômica e social, apostando tudo,
ao que parece, na vontade (subjetiva) heróica de um punhado de
guerrilheiros determinados a sacrificar a própria vida pela causa
revolucionária. Com essa concepção subjetivista e totalmente irreal,
Guevara iniciou a guerrilha de Nancahuazú na Bolívia, onde
encontrou a morte em 9 de outubro de 1967.

A concepção era irreal, mas muito propicia para a construção de


mitos heróicos. E, de fato, Guevara, com sua boina com uma
pequena estrela, foi o herói revolucionário mais cultuado nos anos
60.

Para tal, começava com a infiltração comunista nos sindicatos, onde


aqueles procuravam ampliar a luta dos trabalhadores, com o objectivo de
dar-lhes uma consciência política, que não possuíam mas lhes pertencia
por natureza. Assim, a revolução comunista-leninista, esperava que os
operários passassem de luta meramente económica para uma luta política,
preparando-se para um enfrentamento global com a burguesia, através de
uma insurreição armada.

Mais radical que o modelo tradicional leninista, adoptado em quase todos


os países socialistas, é o modelo cubano, defendido nos anos 60 pelo
jovem intelectual francês Régis Debray, o qual preconizava a vanguarda
militar em detrimento da vanguarda política.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 48

Segundo Debray, o modelo leninista foi invertido por Fídel Castro, que se
peculiarizava pela prioridade virtualmente absoluta conferida à luta
armada. No entanto, a vanguarda militar iniciaria por um pequeno grupo,
cujas acções deveriam criar condições objectivas para a tomada do poder.

Nesta perspectiva, o castrismo consistia em começar a revolução com o


foco guerrilheiro que, paulatinamente, ampliaria o seu raio de acção, daí
que este modelo ficou conhecido como “ foquismo”.

Entretanto, a concretização mais sublime do modelo castrista foi com


Che-Guevara que separou completamente a acção militar da militância
política e ignorando a realidade económica e social, apostando sempre na
vontade heróica de um punhado de guerrilheiros, decididos a sacrificar a
sua própria vida pela causa revolucionária.

Sendo assim, Guevara, heroi revolucionário mais cultuado nos anos 60,
com sua boina contendo uma pequena estrela, iniciou a guerrilha de
Nancahuazú na Bolívia, onde veio a morrer.

A revolução cubana exerceu, sem dúvida, um enorme fascínio


sobre as esquerdas. Sob sua influência, movimentos guerrilheiros
surgiram em vários países latino-americanos. Com excepção dos
Partidos Comunistas do Brasil, Chile, Uruguai e Argentina, que
eram reformistas, na Venezuela, Colômbia e Guatemala, os
partidos comunistas apoiaram explicitamente a luta armada,
chegando mesmo a organiza-la dentro dos seus países.

No início do século XIX, uma guerra abalou a Europa. Os exércitos


de Napoleão Bonaparte, imperador da França, dominavam diversos
países europeus. Praticamente as únicas forças capazes de resistir
ao exercito francês foram as inglesas, que se protegiam com uma
poderosa marinha de guerra.

Sem conseguir dominar a Inglaterra pela força militar, Bonaparte


tentou vencê-la pela força económica. Para isso, em 1806 decretou
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 49

o Bloqueio Continental, pelo qual os países do continente europeu


deveriam fechar seus portos ao comércio inglês.

1. Fala do Socialismo Cubano.


2. Distingue o modelo Socialista cubano dos de mais
por si conhecido.
3. Explica o Impacto da Revolução cubana.

Unidade III

A REVOLUÇÃO Mexicana

Revolução Mexicana
A Revolução Mexicana foi um conflito armado que teve lugar no
México, com início em 20 de novembro de 1910. Historicamente,
costuma ser descrita como o acontecimento político e social mais
importante do século XX no México.

Os antecedentes do conflito remontam à situação do México


durante o Porfiriato. Desde 1876 o general oaxaquenho Porfírio
Díaz liderou o exercício do poder no país de maneira ditatorial. A
situação prolongou-se por 34 anos, durante os quais o México
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 50

experimentou um notável crescimento económico e estabilidade


política. Estes logros realizaram-se com altos custos económicos e
sociais, pagos pelos estratos menos favorecidos da sociedade e pela
oposição política ao regime de Díaz. Durante o primeiro decénio do
século XX rebentaram várias crises em diversas esferas da vida
nacional, as quais refletiam o crescente descontentamento de alguns
setores com o Porfiriato.

Quando Díaz assegurou numa entrevista que retirar-se-ia no final


do seu mandato sem procurar a reeleição, a situação política
começou a agitar-se. A oposição ao governo tornou-se relevante
dada a postura manifestada por Díaz. Nesse contexto, Francisco I.
Madero realizou várias rondas pelo país com vista a formar um
partido político que elegesse os seus candidatos numa assembleia
nacional e competisse nas eleições. Díaz lançou uma nova
candidatura à presidência e Madero foi detido em San Luis Potosí
por sedição. Durante a sua permanência na cadeia realizaram-se as
eleições que deram o triunfo a Díaz.

Madero conseguiu escapar da prisão estatal e fugiu para os Estados


Unidos. Desde San Antonio proclamou o Plano de San Luis, que
apelava a tomar as armas contra o governo de Díaz em 20 de
novembro de 1910. O conflito armado teve inicialmente lugar no
norte do país estendendo-de posteriormente a outras partes do
território mexicano. Uma vez que os sublevados ocuparam Ciudad
Juárez (Chihuahua), Porfírio Díaz apresentou a sua renúncia e
exilou-se na França.

Em 1911 realizaram-se novas eleições das quais resultou a eleição


de Madero. Desde o começo do seu mandato teve diferenças com
outros líderes revolucionários, as quais provocaram o levantamento
de Emiliano Zapata e Pascual Orozco contra o governo maderista.
Em 1913 um movimento contrarrevolucionário, encabeçado por
Félix Díaz, Bernardo Reyes e Victoriano Huerta, deu um golpe de
estado. O levantamento militar, conhecido como a Decena Trágica,
terminou com o assassinato de Madero, do seu irmão Gustavo e do
vice-presidente Pino Suárez. Huerta assumiu a presidência, o que
ocasionou a reação de vários chefes revolucionários como
Venustiano Carranza e Francisco Villa. Após pouco mais de um
ano de luta, e depois da ocupação estado-unidense de Veracruz,
Huerta renunciou à presidência e fugiu do país.

Depois deste acontecimento aprofundaram-se as diferenças entre as


fações que haviam lutado contra Huerta, o que desencadeou novos
conflitos. Carranza, chefe da Revolução de acordo com o Plano de
Guadalupe, convocou todas as forças à Convenção de
Aguascalientes para nomearem um líder único. Nessa reunião
Eulalio Gutiérrez foi designado presidente do país, mas as
hostilidades reiniciaram-se quando Carranza rejeitou o acordo.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 51

Depois de derrotarem a Convenção, os constitucionalistas puderam


iniciar os trabalhos de redação de uma nova constituição e conduzir
Carranza à presidência em 1917. A luta entre fações estava longe
de terminar. Durante o reajustamento das forças foram assassinados
os principais chefes revolucionários: Zapata em 1919, Carranza em
1920, Villa em 1923 e Obregón em 1928.

Atualmente não existe um consenso sobre quando terminou o


processo revolucionário. Algumas fontes situam-o no ano de 1917,
com a proclamação da Constituição do México,[1][2][3] algumas
outras em 1920 com a presidência de Adolfo de la Huerta[4] ou
1924 com a de Plutarco Elías Calles.[5] Inclusivamente, há algumas
que asseguram que o processo se prolongou até aos anos 1940.[6]

Tal como aconteceu em Cuba, que logo após a independência viu-se


mergulhada numa submissão económica suportada por sucessivos
regimes ditatoriais, o mesmo cenário se repitiu no México, onde pouco
tempo depois da proclamação da independência em 1821, a intervenção
estrangeira na região veio provocar uma enorme desposseção dos
recursos económicos aos nativos.

Em relação à situação vivida no México após a proclamação da


independência, Vicentino ( 2002, p. 468 ), avança que:

“o méxico, após Agustín Itúrbide ter declarado sua


independência em1821, passou a viver um período de
instabilidade política, sob a forma de ditaduras (
caudilhismo ) e de dependência económica, (...). Além
disso, sofreu intervenções estrangeiras sucessivas,
inclusive dos franceses, que de 1861 a 1867, tentaram
instalar na região o governo Habsburgo de
Maximiliàno, um prolongamento do segundo Império
Napoleónico na América”.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 52

Entretanto, as lutas contra os estrangeiros, que desorganizaram o país e as


situações sócio-económicas de profundas instabilidades, que subsistiam
desde a época colonial, proporcionaram a instalação de Porfírio Dias.

Parafraseando Vicentino (2002, p. 468), durante o porfiado que durou


mais de 30 anos, de 1876 a 1911, deu-se uma intensa concentração
fundiária e grande entrada de capitais estrangeiros para a exploração e
controlo dos recurso minerais e produção de artigos de exportação. Dessa
forma, para a população local, na sua maioria concentrada nas áreas
rurais, aumentaram a miséria e a dependência aos grandes senhores.

Concordando com Vicentino, Aquino (1979, p.374), refere que no início


do séc. XX, permanecia no poder a longa ditadura de Porfírio Dias,
durante a qual as terras indígenas foram confiscadas e incorporadas às
grandes propriedades individuais. Muitos indígenas foram praticamente
reduzidas à escravidão, aumentando também a repressão, o analfabetismo
e a miséria popular.

Como se pode ver, o governo de Porfírio Dias foi marcado por uma
exagerada concessão dos sectores-chave da economia do país a capitais
estrangeiros ( E.U.A. ) e a marginalização dos nativos.

Em resultado desta situação, cresce a insatisfação da população, o que


provocou greves operárias nas cidades e revoltas nas zonas rurais. Dessas
lutas surgiram líders populares como Emiliano Zapata e Pancho Villa,
que comandando mlhares de camponeses, mobilizaram-se contra os
latifundiários, a igreja e as elites constituidas, reivindicando uma justa
distribuição de terras por meio de reformas agrárias.

Paralelamente às reivindicações populares, parte da elite burguesa, sob o


comando de Francisco Madero, se insurgia contra a ditadura porfiriana.
Unindo as forças, os exércitos revolucionários depuseram Porfírio em
Maio de 1911.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 53

De acordo com Aquino ( 1979, p. 3785 ), apesar das greves operárias e as


revoltas indígenas, a revolução mexicana de 1910 encabeçada por
Madero, de início não tinha um conteúdo social, era antes, um movimento
político da burguesia liberal contra o imobilismo, o centralismo e o
regime ditatorial do porfirismo, visando a organização de um regime
federalista e democrático.

Em relação ao governo de Madero, Aquino e Vicentino são unánimes em


afirmar que não se preocupou em realizar uma legislação social ou
enfrentar um problema agrário, contentava-se com a mudança política e
não se dispunha a converter em realidade as implicações económicas e
sociais da revolução.

Em 1913, Madero foi assassinado e o general Victoriano Huerta


reinstalou a ditadura ligada aos E.U.A.. Este facto desencadeiou uma
revolução de carácter violento e radical, onde as facções lutavam
desesperadamente. Nessas lutas, voltaram a se destacar Zapata, que sob o
lema “terra e liberdade” pretendia uma radical distribuição de terra aos
camponeses,mesmo que violentando a lei e a ordem, tendo lutado na zona
sul do país, e Villa, que pretendia vingar Madero e entregar terras aos que
não as possuim. As pressões revolucionárias continuaram, o que levou
Huerta a renunciar em 1914 em favor de um governo constitucional
liderado por Venustiano Carranza.

De acordo com Vicentino ( 2002, p. 469 ), em 1917 foi promulgada a


nova constituição do país e Carranza foi eleito presidente. Durante o seu
mandato houve a nacionalização das terras, abolição das ordens religiosas
e expropriação dos bens da igreja. Contudo, insatisfeitos com o não
atendimento pleno das suas reivindicações, especialmente a revisão
fundiária que não foi radical, as forças populares continuaram a lutar,
tendo perdido forças com o assassinato de Zapata em 1919 e o
afastamento de Villa em 1920, seguido do seu assassinato em 1923. Desta
forma a revolução liberal se institucionalizou.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 54

Ainda no pensamento de Vicentino, na década de 30, a reforma agrária,


motivo da revolta de 1910 ainda não fora realizda na sua plenitude pois,
mais de 80% das terras mexicanas estavam em mais de pouco mais de 10
mil mexicanos. Assim, as manifestações nacionalistas e a reivindicações
sociais encontram no presidente Lázaro Cardenas um grande
representante.

Lázaro, no poder, expropriou terras a companhias estrangeiras,


nacionalizou o petróleo e estimulou a formação de sindicatos
camponeses e operários. Com tais medidas de Cardenas, o partido
do governo passou a chamar-se Partido da Revolução Mexicana,
transformado em 1948 no Partido Revolucionário Institucional (
P.R.I. ), que dirigiu e controlou o país até 1990.

O coahuilense Francisco I. Madero


liderou o Partido Nacional Antirreeleccionista e foi o autor do
Plano de San Luis, que convocava a tomar as armas contra o
governo de Díaz.

Portanto, é notório no seio dos povos colonizados da Ásia e


América Latina a conquista das suas independências com base na
união e espírito de luta pelo seu bem estar.

Exercícios
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 55

1. Descreva o processo de Luta Pela Independência no


Mêxico.
2. Resume a unidade em 2páginas.

No máximo de 4 páginas, sintetize a unidade em estudo.


Auto-avaliação

Unidade V
A guerra fria

Introdução
A unidade III do presente módulo, faz uma abordagem acerca da Guerra
Fria ou relações Leste-Oeste no período posterior à segunda Guerra
Mundial (1945- 1990), momento este em que o mundo testemunhou a sua
divisão em dois blocos: capitalista liderado pelos EUA e o socialista
dirigido pela URSS. Divisão esta que fora definida pelo desenrolar de
uma confrontação político-militar e ideológica entre os dois blocos,
envolvendo os seus respectivos aliados.

“se a guerra fria é um confronto político e ideológico entre a


URSS e os EUA, então, não houve a ocorrência de um conflito
militar directo entre os mesmos.”

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 56

 Conceitualize a Guerra Fria e o processo de Desanuviamento;

 Contextualizar a Guerra Fria;


Objectivos  Caracterizar o desenrolar da Guerra Fria;

 Caracterizar o processo de Desanuviamento;

 Explicar o impacto da Guerra Fria.

5.1Conceitualização
Guerra fria, refere-se ao confronto político, militar, económico e
ideológico entre os EUA e a URSS, envolvendo os seus respectivos
aliados. ( AQUINO, 1978, p. 344)

Segundo Freitas (s/d, p. 138), deu-se o nome de Guerra Fria a forte


tensão existente a seguir à 2ª Guerra opuseram-se os dois princípais
vencedores da Alemanha Nazi os (EUA e a URSS); acompanhada de um
poderoso reforço de armamento de ambos países, de crises locais, de
rivalidade diplomáticas e de uma confrontação incessante das
propagandas, sem terem travado uma luta armada directa entre os dois
Estados.

Apoiando-se nas definições acima, a Guerra Fria foi um confronto


político-ideológico entre a URSS - Socialista e a EUA – Capitalista, entre
1947 até 1990, com a adopção da Carta de Paris para uma nova Europa,
pelos 34 estados da CSCE consolidada e consagrada em 1991, com a
extinção da URSS.


Conferência para Segurança e Cooperação na Europa.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 57

Desanuviamento, refere-se a situação de abrandamento até a extinção das


tensões entre os estados desavindos (EUA e a URSS). FREITAS (s/d: 94)

5.2 Desenrolar da guerra- fria


Ao término da Segunda Grande Guerra ou Guerra Mundial, os
EUA eram o país mais rico do mundo, porém eles teriam que
enfrentar um rival, ou seja, o segundo país mais rico do mundo: a
URSS. Tanto os EUA (capitalista) como a URSS (socialista),
tinham idéias contrárias para a reconstrução do equilíbrio mundial,
foi então que começou uma grande rivalidade entre esses dois
países.
Quem era melhor? Esse conflito de interesses que assustou o
mundo ficou conhecido como Guerra Fria. Tanto os EUA
criticavam o socialismo quanto a URSS criticava o capitalismo.

Europa Ocidental, Canadá e Japão se aliaram aos EUA enquanto


que a Tchecoslováquia, Polônia, Hungria, Iugoslávia, Romênia,
Bulgária, Albânia, parte da Alemanha e a China se uniram com a
URSS.

Na década de 50 e 60 houve a chamada corrida armamentista.


Quem seria capaz de produzir tecnologias bélicas mais modernas,
EUA ou URSS? Mesmo assim, esses dois países jamais se
enfrentaram com armas durante a Guerra Fria, embora apoiassem
guerras entre países menores (cada superpotência apoiando um dos
lados rivais), como por exemplo, na Guerra da Coréia entre 1950 e
1953.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 58

Na tentativa de provar que o seu sistema era melhor do que o outro,


cada lado fez as suas investidas, a URSS enviou um homem (Yuri
Gagárin) ao espaço, enquanto os EUA enviaram Neil Armstrong à
Lua.

Estas disputas continuavam para ver quem era o melhor, atingindo


inclusive a área dos esportes. Nas Olimpíadas, por exemplo, os dois
países lutavam para ver quem ganhava mais medalhas de ouro.

No final da Segunda Guerra, a Alemanha foi invadida por todos os


lados; além de ter sido separada da Áustria, ficando assim dividida
em dois países:

- Alemanha Ocidental (ou República Federal da Alemanha –


RFA) – capitalista
- Alemanha Oriental (ou República Democrática Alemã – RDA) –
governada pelos comunistas.

A antiga capital – Berlim, que se localizava no interior da


Alemanha Oriental, também ficou dividida em dois:

- Berlim Oriental (tornou-se a capital da RDA)


- Berlim Ocidental (tornou-se uma ilha capitalista cercada de
socialismo).

A briga continuava. Os EUA resolveram ajudar Berlim Ocidental a


se reerguer e para isso investiram milhões de dólares na
reconstrução da cidade, porém enquanto Berlim Ocidental se
reerguia rapidamente, Berlim Oriental não apresentava o mesmo
progresso.

Berlim Ocidental (organizada e em processo de reconstrução)


representava o capitalismo dentro de uma Alemanha socialista.

Foi então que em 1948, Stálin, dirigente da URSS ordenou que as


comunicações entre a República Federal da Alemanha e Berlim
ocidental fossem cortadas. Ele achava que o isolamento facilitaria a
entrada das tropas soviéticas na outra parte de Berlim. Porém, tal
iniciativa não deu certo, pois uma operação com centenas de aviões
levando mantimentos da RFA para Berlim Ocidental garantiu que
uma continuasse ligada a outra. O Governo não teve outra escolha a
não ser aceitar a situação.

Assim, Berlim Ocidental continuou a crescer e as pessoas


começaram a comparar Berlim Ocidental e Berlim Oriental e viram
que o capitalismo era melhor que o socialismo. Como conseqüência
houve uma emigração de pessoas muito qualificadas para Berlim
Ocidental e com isso Berlim Oriental ficava abandonada. Claro que
o Governo da RDA se irritou e em 1961 ordenou a construção de
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 59

um muro isolando Berlim Ocidental do restante da Alemanha. Era


o Muro de Berlim, que é considerado um dos maiores símbolos da
Guerra Fria.

Na conferência de Yalta, realizada logo após o fim da Guerra ficou


estabelecida a divisão do mundo em áreas de influência, ou seja,
cada parte do planeta ficaria sob o controle de uma das
superpotências e uma não deveria interferir na zona de influência
da outra.

A década de 50 e 60 foi marcada por momentos de tensão e


intolerância, pois os dois sistemas (capitalista e socialista) eram
vistos da forma mais negativa possível.Os dois países possuíam
armas nucleares; porém, os dois lados estavam cientes que uma
guerra naquele momento poderia destruir o mundo. Por esta razão
tentavam influenciar a humanidade tomando o máximo de cuidado
para não provocar uma Guerra Nuclear Internacional, como isso, a
tensão diminuiu.

Ainda nos anos 60, EUA e URSS viveram a época da coexistência


pacífica, ou seja, fizeram a política da boa vizinhança. Na década
seguinte, Nixon e o dirigente soviético Brejnev, iniciaram uma
distensão mundial assinando acordos para diminuir a corrida
armamentista e selaram esse acordo com um encontro simbólico no
espaço entre as naves americanas e soviéticas (1975).

Já nos anos 80 essa cordialidade foi abandonada. Com a eleição de


Ronald Reagan em 1981, iniciou-se novamente o acirramento entre
as potências.

Os americanos investiram alto no setor bélico deflagrando a


chamada “Guerra nas Estrelas”.

Durante o segundo mandato de Reagan (1984 -1988), em 1987, foi


assinado o tratado para eliminação de armas de médio e curto
alcance (nessa época a URSS estava sob o comando de
Gorbachev), causando um alívio aos europeus, já que o acordo
implicava a desativação de grande parte das ogivas voltadas para
aquele lado. As hostilidades entre os dois países estavam quase
acabando.

A Guerra Fria terminou por completo com a ruína do mundo


socialista (a URSS estava destruída economicamente devido aos
gastos com armamentos) e com a queda do Muro de Berlim em 9
de novembro de 1989
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 60

A “grande aliança” que se formara durante a guerra entre União


Soviética, os Estados Unidos e o Reino Unido fora fruto das
circunstâncias. Os antagonismos não podiam deixar de reaparecer assim
que a guerra acabasse. (...) na Conferência de Ialta realizada entre 4 à 11
de Feverreiro de 1945, os “três grandes” − Estaline, Roosevelt e
Churchil − haviam tentado chegar a um acordo sobre o destino do
mundo e, em primeiro lugar da Europa. Havia com efeito dois
problemas princípais: determinar os regimes políticos dos países
libertados ou vencidos e traçar as suas fronteiras. (CARPINTIER e
LEBRUN, 2002, p. 421)

No entanto, mal encerrou o tiroteiro, as duas superpotências passaram a


desentender-se. Esta roptura tem obviamente causas ideológicas,
desacordos doutrinais que se prende com os meios: os vencedores estão
divididos sobre a finalidade da ordem política e os meios a adoptar, em
que cada um tinha como meta, difundir seu sistema político e cultural
pelo resto do mundo. Os EUA defendiam que o capitalismo era o garante
da democracia e da liberdade, enquanto que a URSS defendia que o
socialismo era a solução dos problemas sociais.

A oposição entre os dois grandes teve por consequência acentuar as


divisões no interior de cada país: partidários e adversários das duas
concepções do mundo se opoem mobilizando todas as forças
disponiveis numa luta sem tréguas, exigindo a participação de todos,
sem deixar a ninguém a possibilidade de ser neutro. (…) cada campo
procura estender a sua influência e consolidar suas posições, de maneira
que, por toda a parte, surgem conflitos. (AQUINO, 1978: 344)

No dia 12 de Março de 1947, o presidente Truman proferiu um discurso


no qual expunha a determinação do seu governo de deter a expansão do
comunismo no mundo. Em Junho, o secretário de Estado Norte
Americano, G. Marshall, anunciou a implementação de um extenso plano
de ajuda à Europa, em grave situação económica desde a guerra.

A maioria dos paises ocidentais e vários orientais, como a


Checoslováquia, aceitaram este plano. Com tudo, a URSS, temendo
ficar isolada, rejeitou o auxílio estado unidense e obrigou todas as
nações sob o seu ascendente (checoslováquia, Polónia, Roménia,
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actualidade 61

Hungria, Bulgaria e Albania) a agruparem-se no Kominform


(HOFSTATTER e PIXA, 1987, p. 138)

Em Julho de 1947, formulou-se difinitivamente em Moscovo, o conceito


de contenção, assinalando os objectivos expansionistas Sóvieticos e a
necessidade de uma irredutível política norte americana em defeça do
mundo livre. Já em Dezembro, A. Idamov, em nome da URSS,
contestava a tese de Kennan com um acerbo discurso que consagrava a
divisão do mundo em dois blocos opostos: o bloco comunista e o
capitalista. Estes blocos organizaram alianças defensivas militares.

Em 1949, é fundada a organização de Tratados do Atlântico Norte


(OTAN) formada pelos EUA e por países da Europa Ocidental, em
resposta em 1955, a URSS, funda o Pacto de Varsóvia, composto pelas
democrácias populares da Europa do Leste; que servia para manter a
únidade dentro de uma esfera de influência Sóvietica, que valeu para
intervir na Hungria (1956) e na Tchecoslováquia (1968).

5.3. As Principais Ocorrências .

As discusões sobre o destino da Alemanha e do resto do traçado das


fronteiras haviam sido mais vagas, se bem que a pedido dos norte
americanos, se tivesse anulado em teória, o acordo de reparação de
influências na Europa balcánica elaborado por Churchil e esta teve
aquando do seu encontro em Moscovo, em Outubro de 1944, e que
poderia assemelhar-se a uma verdadeira partilha.

Neste contexto, para Carpintier e Lebrun (2002, p. 422), “a questão


central era a da Polónia porque punha em causa as fronteiras da URSS e
as da Alemanha.”


Organismoi de Cooperação dos Partidos Comunistas criado por Morotov em
1947.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 62

De facto a União Sóvietica exigia a recuperação das fronteiras que o


Pacto Germamo-Sóvietico lhe havia porporcionado e exigia em particular
que a fronteira oriental da Polónia correspondesse a linha Curzon, uma
linha definida em 1920, para delimitar os territórios puramente Pólacos
daqueles cujas populações eram Ucranianas ou Bielorussas. Ora a linha
Curzon sempre foi contestada pelos Polácos, pois segundo eles, muito dos
seus compatriótas estariam fora do seu país e amputaria o seu país de
zonas historicamente polacas.

Em contra partida, Estaline admitia que a Polónia recebesse


compensações a Oeste em detrimento da Alemanha (na Pomerânia,
Poznâmia e na Silézia); a Polónia vir-se-ia deslocada para o Oeste, o que
permitiria, por acrescimo, fazer desaparecer a província Alema da Prússia
Oriental, partilhada segundo a linha curson entre a URSS e a Polónia.

Os aliados resignaram-se a uma solução que fazia do Oder a fronteira


entre a Alemanha e a Polónia, mas a confusão reacendeu-se quando se
tratou do prolongamento para o sul dessa fronteira. Há dois afluentes do
Oder com o mesmo nome, o Neisse Ocidental e o Neisse Oriental.
Optando por colocar a fronteira no Neisse Ocidental, os Sóvieticos davam
toda a Silésia à nova Polónia que tencionava colocar na sua dependência,
mas os anglo-americamos dificilmente poderiam aceitar que essa velha
zona Alemã, fosse assim concedida à outro país.

No entanto, os Sóvieticos e os Polácos, expulsando da Sílesia a maior


parte da sua população Alemã, depresa colocaram os seus ex-aliados
perante um facto cunsomado.

De acordo com o autor já citado, na conferência de Potsdam de 17 de


Julho à 2 de Agosto de 1945, Harry Truman, novo presindente dos EUA a
seguir a morte de Roosevelt, em Abril de 1945 e Clement Attlee que
havia subistituido Churchill durante a conferência não aceitaram, a
situação como definitiva, mas admitiram que aquelas regiões fossem
provisóriamente administradas pelos Polacos, o que tornava a situação
práticamente irreversível.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 63

Unidade IV
A Guerra Fria:
A Corrida armementista
6.1 O Destino da Alemanha
Em maio de 1945, nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, os
exércitos nazistas foram finalmente derrotados pelos países aliados.
A Alemanha, que ocupa posição geográfica privilegiada entre o
leste e o oeste da Europa, vivia um imenso vazio ideológico e
político. A trágica e aliviadora saída de Adolf Hitler do poder era
seguida pela urgente necessidade de se pensar quais os paradigmas
seriam responsáveis pela reconstrução daquela incógnita nação.

Os grandes centros urbanos industriais estavam completamente


arrasados e uma parcela considerável da população alemã
experimentava uma evidente sensação de incerteza. Deveras, a
perda de cinco milhões de vidas durante a Segunda Guerra era
somente um dos graves traumas a serem superados. Ao mesmo
tempo, os países vitoriosos tornavam públicos os crimes hediondos
cometidos pelos remanescentes da alta cúpula do Estado Nazista.

Afinal de contas, quem reconduziria o processo de reconstrução da


Alemanha? Buscando dar uma primeira resposta à questão, as
zonas administradas pelas nações capitalistas se fundiram, dando os
primeiros passos para a criação da República Federal da Alemanha
(RFA). A agilidade das negociações visava barrar a expansão da
ideologia socialista pela Europa, que tinha a porção leste e metade
do território alemão politicamente influenciado pela União
Soviética.

Em junho de 1948, sentindo-se visivelmente pressionados para


entregar o restante da Alemanha, os soviéticos bloquearam todo o
trânsito ferroviário e rodoviário que davam acesso à cidade de
Berlim. Em resposta, britânicos e estadunidenses formaram um
corredor aéreo que conseguiu furar essa barreira e fornecer
alimentos e outros gêneros básicos para a população da área
ocidental da cidade. Em poucos meses, a manutenção do impasse
se tornou insustentável para ambos os lados.

Finalmente, em outubro de 1949, os soviéticos conduziram os


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 64

trâmites que deram origem à República Democrática da Alemanha


(RDA). Para reafirmar a legitimidade de sua nova empreitada e
barrar uma possível invasão ocidental, os soviéticos também
promoveram a detonação experimental de sua primeira bomba
nuclear. Dessa forma, o território alemão ficava dividido e o mundo
enxergava com mais clareza a construção da ordem bipolar.

Graças à ajuda norte-americana, a RFA conseguiu organizar uma


reforma econômica que apresentou resultados positivos desde os
primeiros anos da década de 1950. A criação de uma nova moeda,
o marco alemão, e a inserção do país na economia de mercado
simbolizavam o trunfo do projeto capitalista. Em troca dos
incentivos do bloco capitalista, a Alemanha Ocidental organizou
grandes e eficientes projetos de assistência social que trouxeram
conforto à população.

No lado oriental, a RDA passou por maiores dificuldades tendo em


vista que, sob o ponto de vista histórico e econômico, essa sempre
fora a parte menos desenvolvida da Alemanha. Além desses
problemas, os comunistas locais pretendiam constituir uma nação
livre da interferência soviética e guiada pelo regime
pluripartidarista. Contudo, a necessidade de recursos e a sistemática
pressão soviética garantiram a hegemonia comunista,
principalmente após a assinatura do Pacto de Varsóvia, em 1955.

Ao longo de toda a Guerra Fria, não existiram chances mínimas


que permitissem a reunificação do território alemão. No ano de
1961, essa possibilidade foi completamente anulada quando a
construção de um muro marcou as zonas de influência capitalista e
comunista. Construído pelas iniciativas da RDA, o Muro de Berlim
impediria a fuga de seus cidadãos para áreas de influência
capitalista. Contudo, esse muro acabou também servindo para
apartar as duas ideologias que tomaram o mundo no resto do século XX

Na verdade, os soviéticos empenharam-se na rápida sovietização da sua


zona, pois de acordo com a explicação de Aquino (1978, p. 346), entre
1948 e 1949, a Alemanha surgiu como área de tensão internacional. Em
resposta à uniformização administrativa e monetária, reunindo as três
zonas capitalistas (norte-americanas, francesas e inglesas), os soviéticos
estabeleceram o bloqueio de Berlim cortando as comunicações fluvias e
terrestres dos seus antigos aliados com as zonas que possuíam naquela
cidade; restam aos ocidentais estabelecer uma ponte aérea para abastecer
sua zona, mantida até a suspensão do bloqueio em 1949, em que o bloco
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 65

capitalista criou a RFA, com a capital em Bona, beneficiando-se do plano


Marshall. Em resposta, os soviéticos transformaram a sua zona na RDA
com a capital em Berlim, integrada ao mundo socialista, beneficiando-se
do COMECON.

Os aliados constituídos pelos EUA, França e Reino Unido, em 1948


criaram uma trizona entre suas zonas de influência para controlar a
inflação da moeda alemã ( Marco); consequentemente, a criação da ponte
aérea visava em não dar vitória a URSS.

Alemanha era a chave. As zonas temporárias de ocupação gradualmente


se formaram linhas permanentes de divisão. Ignorando o acordo de
Potsdam, de que o país seria tratado como uma unidade económica, os
EUA e o Reino Unido em 1946 não permitiriam que a União Soviética
cobrasse reparações de guerra das zonas industrias da Alemanha
Ocidental. Os dois países fundiram as suas zonas e defenderam a ideia
da unificação da Alemanha. A Rússia temendo a ressurreição da
Alemanha como potência militar, reagiu intensificando a imunização da
sua zona incluindo Berlim cidade ocupada conjuntamente. DIVINE
(1992, p. 612)

A intensa guerra diplomática, que se moveu entre as duas Alemanhas


irmãs e vizinhas, fez com que numerosos alemães do leste, abandonassem
o seu território em direcção à Alemanha Ocidental, pondo em causa o
prestígio do comunismo. Em resposta a esta atitude, Kruchev ordenou a
construção do murro de Berlim em 1950, para além de impossibilitar a
passagem de uma região para outra, servia de marco para a Guerra Fria
em tão em curso.

O surgimento da bomba atômica teve sérias implicações


históricas, políticas e culturais. Durante o período da Guerra
Fria, o pesadelo da chamada "hecatombe nuclear" rondou a
vida dos habitantes do planeta. Acreditava-se que o ataque
de um dos lados, num momento qualquer, desencadearia
uma guerra que poria fim à vida humana na Terra.Nós
vamos ver de que modo a bomba atômica surgiu e se
transformou num dos elementos principais do jogo de poder
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 66

entre Estados Unidos e União Soviética. Um jogo macabro


conhecido como "o equilíbrio do terror".

Einstein e a bomba atômica

O início da corrida armamentista nuclear foi marcado por um


apelo de Albert Einstein ao presidente dos Estados Unidos,
Franklin Roosevelt, numa carta enviada em 1939. O físico
alemão mostrava-se preocupado com a possibilidade de
Hitler ter acesso à tecnologia nuclear antes dos americanos.
Roosevelt decidiu ampliar os investimentos em pesquisas e
determinou, em 1942, o início do Projeto Manhattan, voltado
ao desenvolvimento da bomba atômica.

Três anos depois, em julho de 45, a equipe de Robert


Oppenheimer fez o primeiro teste bem sucedido de explosão
nuclear no deserto de Alamogordo, no estado americano do
Novo México.Na mesma ocasião, realizou-se na Alemanha a
Conferência de Potsdam.

O presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, negociou


com Josef Stalin, da União Soviética, e Winston Churchill, da
Grã-Bretanha, a nova divisão do mundo após a Segunda
Guerra. Informado do sucesso dos testes no Novo México,
Truman endureceu sua posição na conferência e tentou
limitar a influência soviética na Europa.

O propósito dos Estados Unidos, para esses historiadores,


foi de intimidar Moscou e conter o avanço do comunismo.Em
fevereiro de 47, Truman fez no Congresso americano um
discurso que mais tarde ficaria conhecido como "Doutrina
Truman". O presidente prometia acabar com a chamada
"ameaça comunista" em qualquer parte do mundo onde ela
surgisse. Era apenas o início de uma longa temporada de
tensões internacionais que caracterizariam a Guerra Fria.

A Europa se divide

Em abril de 1949, diversos países ocidentais, sob a liderança dos


Estados Unidos, criaram a OTAN, Organização do Tratado do
Atlântico Norte. A aliança consagrava, no aspecto militar, a
divisão da Europa em dois blocos antagônicos.

Os primeiros países a integrar a OTAN foram Estados Unidos,


França, Grã-Bretanha, Canadá, Bélgica, Dinamarca, Islândia, Itália,
Luxemburgo, Holanda, Noruega e Portugal. Em 52, entraram a
Grécia e a Turquia. Em 55, a Alemanha, e em 82, a Espanha.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 67

A situação esquentaria ainda mais em agosto de 49, quando a


União Soviética faria seu primeiro teste nuclear bem sucedido.O
antagonismo na Europa ficou mais evidenciado com a divisão da
Alemanha em dois países, ainda em 49.

A área ocupada pelo Exército soviético tornou-se a República


Democrática da Alemanha e passou a integrar o bloco socialista.
Sua capital era a parte oriental da cidade de Berlim, também
dividida em duas.

A Guerra Fria na Ásia

O ano de 1949 foi conturbado também no continente asiático. Em


outubro, o Partido Comunista Chinês, liderado por Mao Tse-tung,
tomou o poder e proclamou o nascimento de mais um país
socialista, a República Popular da China. Um gigante continental
com uma população, na época, de mais de 500 milhões de
habitantes.

Os americanos, com a Doutrina Truman, não estavam alheios ao


avanço da esquerda na Ásia e reforçaram a presença militar na
bacia do Pacífico, procurando preservar sua influência no sudeste
asiático.

Dessa forma, a revolução chinesa levou para a Ásia as fronteiras da


Guerra Fria. Havia o receio de que o Japão, pela proximidade com
a União Soviética e a China, fosse engolido pelo bloco socialista.

Após a formação dos dois blocos no mundo, instalou-se um clima de


competição tecnológica − a corrida armamentista; cujos blocos
procuravam suplantar-se um do outro, tentando neutralizar-se
mutuamente. Os EUA combatiam o avanço do comunismo e a URSS
procurou travar a expansão norte-americana.

De salientar que, em 1949, dois factores deram maior força ao bloco


soviético e elevaram ainda mais, a tensão internacional. Nesse ano, os
Soviéticos detonaram a sua primeira bomba atómica. Isso significou o
fim do nomopólio americano sobre os artefactos nucleares. A partir dai, a
URSS passou a ter o poder de aniquilar rapidamente qualquer país.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 68

O facto de as duas superpotências estarem do ponto de vista militar em


igualdade de condições não satisfez a nenhuma delas. O que se viu dai
para frente foi uma desenfreada corrida armamentista. Todavia, os paises
se armavam cada vez mais, alegando que só desta maneira estariam
adequadamente defendidos.

Embora houvesse a aparente igualdade entre as superpotências, a corrida


armamentista prosseguiu sem precedentes. Nesta fase, o presidente norte
americano e o seu congresso aprovaram verbas para força aérea, que era a
mais importante na era atómica.

Os planejadores militares americanos receberam um grande incentivo


quando a URSS explodiu a sua primeira bomba atómica em 1949. o
presidente Truman nomeiou uma comissão de alto nível para explorar
a possibilidade de um grande esforço para construir a bomba de
Hidrogenio e manter a supermacia americana. (DIVINE, 1992, p.
621)

Em 1950, Acheson − secretário americano em subistituição de


Marshall, apresentou um relatório favorável da comissão ao
presidente Truman, que aprovou o projecto da nova bomba. De
igual modo Acheson ordenou ao grupo de planejamento político
para preparar a nova política de defesa nacional que partia da
premissa de que a União Soviética procurava a sua supermacia
sobre o mundo, e assim representava um desafio para os EUA.

A partir de então, quer os EUA, quer a URSS dedicaram largas


percentagens dos seus orçamentos e do produto nacional bruto para
a produção de armamentos cada vez mais sofisticado, o que iria
acentuar a desconfiança entre as superpotências e a insegurança pela
ameaça à paz.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 69

6.3 A Corrida Espacial


A Guerra Fria revolucionou a tecnológia no mundo, visto que a
rivalidade entre os EUA e a URSS em que cada um procurava
superar o outro, levando a melhoria tecnológica dos seus arsenais
militares. A consequência dessa concorrência tecnológica é notória
hoje em vários cantos, como é o caso da produção dos tecidos
sintéticos. A corrida espacial esta neste contexto, virada a
tecnologia de lançamento de mísseis e de foguetões.

Portanto, os dois países investiram pesadamente na tecnologia


espacial, como assinala Droz e Rowley (1991, p. 159), o
lançamento bem sucedido de um satélite soviético no espaço
(Sputnik), a 4 de Outubro de 1957, não provocou somente um
imenso efeito de surpresa no ocidente, mas também, colocou
também em evidência a superioridade potencial da URSS na
construção de mísseis internacionais.

Em Novembro do mesmo ano os Russos lançam o Sputnik II, uma


nave que levava abordo o primeiro ser vivo − uma cadela Laika de
nome Kudriavka, que morreu na reentrada da atmosfera devido ao
calor.

Entre tanto, a invulmerabilidade do território americano é posto em


causa, e com ela a credibilidade, já bastante debilitada, da doutrina
das represálhas maciças. O atraso americano no domínio de mísseis
de longo alcance, é rapidamente recuperado sem aumento sensível
do orçamento militar. Além disso, no sentido de criar um equilíbrio
com os mísseis soviéticos de médio alcance, três paises europeus −
Grã-Bretanha, Itália e Turquia aceitam receber em 1958, mísseis
Thor e Júpiter. Referir que, os EUA entraram na corrida em 1958,
lançando Explor I.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 70

Os Russos na dianteira da corrida, em 1961 lançaram o Vostok I,


tripulado por Yuri Gagarin − primeiro Homem a ir ao espaço e
voltar são e vivo. Em 1968, os Russos enviam missões não
tripuladas Zond V e Zond VI. Por seu lado, os EUA enviaram uma
missão tripulada − Apolo VIII, em Natal de 1968, à uma órbita
lunar. O passo seguinte naturalmente seria o de pousar na lua, o que
foi realizado com sucesso pelo Apolo XI, tripulado por Neil
Armstrong e Adwin Alderian tornando-se estes os primeiros seres
humanos a caminhar em outro corpo celestre.

Uma das primeiras conseqüências dos acontecimentos na China foi


a invasão da Coréia do Sul pelos vizinhos norte-coreanos, de
governo pró-soviético. Eles queriam reunificar o país sob a
bandeira do socialismo.

Invasão da Correia.

A ofensiva, em junho de 1950, desencadeou uma ação enérgica dos


Estados Unidos, que aprovaram na ONU uma ajuda multinacional à
Coréia do Sul. Era tudo o que os americanos queriam. Em algumas
semanas, sua indústria bélica produzia uma quantidade expressiva
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 71

de armamentos para uso na Guerra da Coréia. Além disso,


Washington estimulou a participação do Japão no chamado
"esforço de guerra".

A indústria japonesa passou a produzir o material de apoio aos


soldados no front, como roupas, remédios e alimentos sintéticos.
Com isso, o Japão tentou resolver o problema do desemprego por
meio de compromissos econômicos com o bloco capitalista. No
final do conflito, em 53, a rígida divisão entre capitalistas e
socialistas na bacia do Pacífico estava cristalizada.

Essa batalha estratégica pelo controle do sudeste asiático teria


desdobramentos dramáticos nos anos 60, com o envolvimento
direto dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.

Desde 1945,a Coreia aparece como um foco do potencial conflito entre os


EUA e a URSS. Inicialmente em Yalta e Potsdam tinha predominado a
tese americana de uma tutela internacional, o que quer dizer que, a Coreia
dominada pelo Japão durante a Primeira Guerra Mundial, foi após a
derrota do eixo em 1945, dividida entre os norte-americanos e soviéticos,
através do paralelo 38 norte. Formaram-se dois estados coreanos sub
ocupação de cada uma das potências.

Em 1948 ocorreu uma situação semelhante a da Alemanha: a crição de


dois estados coreanos, a República da Coreia, ao sul, sob domínio dos
norte-americanos, e a República Popular Democrática da Coreia do norte,
sob ocupação Soviética.

Estas divergências político-ideológico e a tensão gerada pela Guerra Fria


desencadearam o confronto entre os dois estados, culminando na invasão
e sua capitulação do sul pelos do norte.

Na falta de acordo bilateral e apesar da posição da URSS que vê nisso


uma violência do acordo de Moscovo, o general Marshall decide a 17


a Conferência de Moscovo em Dezembro de 1945, tinha instituído uma
comissão mista na perspectiva de resolver as dificuldades, particularmente
económicas proveniente de uma linha de demarcação, cuja rigidez se traduzia
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 72

de Setembro de 1947, submeter a questão coreana à ponderação das


Nações Unidas. É criada, em Novembro uma comissão ad-hoc de oito
menbros presidida pela India, mais que não pôde dirigir-se à Coreia do
norte, se revela de uma absoluta ineficáfia. (DROZ e ROWLEY
1991, p.142)

É neste contexto que a ONU e os EUA e os seus aliados, considerando a


Coreia do norte agressora intervém para conter o avanço do outro lado, a
China e a URSS dão apoio aos norte-coreanos, deixando assim evidente a
bipolarização na região.

A transposição do paralelo 38 pelas tropas norte-coreanas, pretendendo


unificar todo o país, numerosas e bem equipadas, e a surpresa absoluta
que ela suscita tanto em Seul como em Washington não deixam qualquer
dúvida em relação à iniciativa do ataque. Porém, já não acontece o
mesmo, no que toca à responsabilidade real do desencadear da guerra.
Diante do risco de uma guerra indesejada, as potências envolvidas
promoveram iníciativas para a obtenção de um acordo de paz.

Entretanto, o presidente norte-americano convocou o conselho da


segurança da ONU e apoiando-se de um boicote temporário dos
soviéticos, conseguiu aprovar uma resolução condenando a Coreia do
norte pela agressão, e convocando os estados membros para adoptar
acções de segurança colectiva.

O poderio militar americano infligiu duras derrotas às tropas do norte.


Não contente em libertar o sul, invadiram a Coreia do norte, dispostos a
depor os comunistas. Diante da presença americana junto as suas
fronteiras os Chineses fizeram grandes investidas, mas foram rechaçados
e obrigados a recuar. A ofensiva passou para as mãos dos americanos.

numa partilha de facto. As reacções unanimamente desfavoráveis da opinião


pública coreana salientaram imediatamente a necessidade da reunificação do país
embora as duas grandes potências tivessem uma perspectiva diferente.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 73

As potências envolvidas foram percebendo que qualquer tentativa de


derrotar totalmente o adversário poderia culminar numa Terceira Guerra
Mundial. Assim, em 1953 chegou-se a uma solução negociada a partir da
assinatura do armistício de Pan-Mun-Jon, pelo qual o paralelo 38 seria o
limite definitivo entre as duas Coreias, continuando dividida como antes,
pervalecendo assim até aos nossos dias. Assim sendo uma guerra
horrivelmente dispendiosa, que marcara o auge da Guerra Fria, conclui-se
com um resultado nulo.

A relação entre a EUA e a URSS tornou-se menos agressiva, porque


acentuaram a divisão do mundo feita por eles próprios e com o passar do
tempo, a unidade de cada um dos blocos começou a sofrer fracturas
internas.

De qualquer modo, a tensão permaneceu, a corrida armamentista cresceu


e a ameaça de uma guerra continuou aterrorizando a todos.
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actualidade 74

Unidade VII
A guerra-fria e o processo de
desanuviamento
O processo de desanuviamento e os seus factores

De acordo com Aquino (1978, p. 349), a expressão Desanuviamento é


empregada para designar a política de distensão, entendimento e
cooperação adoptada progressivamente pelos EUA e pela URSS, afim de
aliviar as tensões e conflitos provocados pela Guerra Fria”

A vontade de aproximação entre as duas potências, havia quase que um


dever de os dois estados cooperarem um com o outro, facto que veio a ser
possível com a morte de Estaline e com a política americana do
presidente Eisenhower para a paz de Pan-Mun-Jon, na Coreia. Isto veio
instaurar um período de aproximação entre a URSS e os EUA, conhecido
por “desanuviamento e/ou coexistência pacífica.”

Este período iniciou-se com uma série de cimeiras entre as cúpulas das
duas superpotências, com vista à manutenção da paz e seguranca,
cooperação económica, social, cultural, política, técnica; à igualdade
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 75

soberana dos estados; à igualdade de direito dos povos, a resolver os


problemas por meios pacíficos; a abster-se das suas relações
internacionais baseadas no recurso a armas e ameaçãs; a limitação do
crescimento dos armamentos considerados “ameaça permanente” contra a
humanidade.

O desanuviamento é ainda a procura do monolítismo dos blocos, ou seja,


o alinhamento férreo à URSS e aos EUA, possibilitando uma
multiplicação internacional. Foi neste novo clima de relações
internacionais que se seguiu deste então até a queda do murro de Berlim e
consequente desmoronamento do bloco socialista.

A URSS Após II Guerra Mundial


No fim da Segunda Guerra Mundial a ocupação efectiva das tropas
soviéticas, que se encontram entre os vencedores, estendia-se a
todo o Leste da Europa e à região dos Balcãs, detendo ainda o
controlo político de países seus aliados, como a Polónia,a Hungria
e Bulgária.
A defesa de políticas de carácter popular e da reforma agrária,
acompanhada por campanhas de propaganda e repressão
concertadas, permitiu à União Soviética dominar diversos povos
extremamente debilitados pelos anos da guerra em que se
encontravam, nesta fase, profundamente esperançados em relação
ao seu tempo futuro.

Criou-se assim um bloco, territorialmente alargado, cujo regime


político já tinha resistido à guerra civil, à morte de Lenine, ao pacto
Germano-Soviético, à ocupação nazi, à Segunda Grande Guerra, e
que sobreviveu ainda às perseguições estalinistas, à fome, ao terror,
aos campos de concentração e às tentativas de autodeterminação
dos povos nas suas zonas de influência.

O Bloco Soviético abrangia uma enorme extensão territorial - da


qual estava no entanto excluída a Jugoslávia, que tinha cortado
relações com Moscovo em 1948 - fechado ao resto da Europa e ao
Ocidente, encontrando-se a Velha Europa e o Mundo divididos pela
denominada "cortina de ferro".
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 76

À semelhança do Pacto do Atlântico Norte no Ocidente, a União


Soviética celebrou, em 1955, o Pacto de Varsóvia, uma aliança
militar com os seus estados satélites, pacto este que englobava
determinadas posturas de carácter económico, que acabaram por
beneficiar bastante a URSS e prejudicar gravemente os restantes
países aderentes.

Estes estados satélites dispunham de regimes democráticos


populares, que mais não eram que ditaduras de partido único,
fechadas ao Ocidente, e sob a vigilância atenta do exército
soviético que, de imediato e com extrema eficácia, reprimia toda e
qualquer tentativa de liberalização ou autodeterminação.
Foi o que se passou na Hungria em 1956, na Checoslováquia em
1968 - durante a chamada "Primavera de Praga" - e na Polónia em
1981.

A União Soviética constituiu ainda uma larga rede de alianças na


sua oposição ao capitalismo ocidental.
No âmbito destas alianças, a URSS apoiou a Revolução Socialista
Cubana em 1959, e a Revolução Islâmica no Irão, mantendo
também relações de aliança com países de regime comunista no
Oriente: caso da Coreia do Norte, Vietname, Camboja, Laos e
China que, pela mão de Mao Tsé-Tung, se tornara comunista em
1949.
A União Soviética mantinha ainda o seu plano de expansão do
comunismo, principalmente nos países seus vizinhos, o que se
comprova pela invasão do Afeganistão em 1979, bem como pelo
alargamento das influências nos paises da África.

A URSS empenhou-se numa política de reforço milistar, dedicando


um terço do seu orçamento ao armamento, equiparando-se ao
poderio bélico dos Estados Unidos, logo em 1949, com o fabrico da
sua primeira bomba atómica, aproximando-se, nesta fase, do auge
as tensões da Guerra Fria. O programa espacial é outra área em que
a URSS se lançou em forte e directa competição com os Estados
Unidos da América, processo que culminou em 1957 com o
lançamento do Sputnik que leva a bordo Yuri Gagarine.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 77

Por outro lado, nos restantes sectores da economia e nas condições


reais de vida, o Império Soviético foi entrando num profundo atraso
e decadência.
Apesar da produção industrial se poder equiparar a outros países da
Europa, os bens de consumo continuavam a ser racionados, e a
agricultura era deficitária apesar da variedade de recursos.
Toda a engrenagem económica e comercial se encontrava
profundamente limitada por um enorme centralismo. A informação
não circulava e a informatização, que no mundo ocidental dava já
importantes passos, era ainda incipiente.
Após a morte de Estaline, em 1953, e a subida ao poder de Nikita
Krushchev, houve um desanuviamento interno, bem como um
acalmar das relações com o Ocidente, no âmbito daquilo que era,
nas palavras de Krushchev, uma "coexistência pacífica".
Esta fase marcou uma importante viragem após a opressão e o
terror que marcaram a liderança de Estaline.
Foi o próprio Krushchev que, em 1956, apresentou um relatório no
XX Congresso do Partido Comunista, expondo os excessos do
sistema policial, atitude que levou à libertação de muitos presos
políticos e à reabilitação de diversas pessoas perseguidas
anteriormente.
Foi neste contexto, e após a chamada "Crise dos mísseis" de 1962,
que se deu a visita do presidente Nixon a Moscovo em 1972, por
ocasião de uma exposição que se realizava nessa cidade, e que
colocava os moscovitas em contacto com o mundo ocidental. Foi
também nesta ocasião que se falou pela primeira vez em
"congelação" dos arsenais estratégicos.

Esta nova política de "coexistência pacífica" com o Ocidente foi


uma prova difícil para a União Soviética, que tentou controlar a
introdução de algumas novidades ocidentais com a sua adaptação
ao mundo comunista, mantendo a imagem de decadência que
sempre se difunde em relação ao capitalismo, e uma propaganda de
sucesso - só boas notícias - em relação à "Mãe Rússia".

Apesar destas mudanças permaneceu na União Soviética uma


política dirigista, de obediência às posturas do Partido, bem como
se manteve a perseguição e o silenciar das oposições. A era
Bresnev foi sobretudo marcada pela estagnação e pelo início do
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 78

declínio.

Quando em 1985 M. Gorbachev assumiu a liderança (sucedendo a


Brezhnev), a URSS contava já com 20 anos de estagnação
económica, pobreza social e repressão cultural.
Os anos seguintes foram marcados por uma forte tentativa de
mudança, de melhoramento das relações com o Ocidente, de
reformas políticas e económicas e introdução de algumas
liberdades pessoais, num projecto amplo de abertura, que se veio a
denominar de Perestroika - reestruturação social e política - ou
Glasnost - abertura.

Gorbachev apresentava um discurso franco e de algum modo


crítico das realidades da União Soviética: "Os nossos foguetes
podem encontrar o cometa Halley e chegar a Vénus, mas os nossos
frigoríficos não trabalham", afirmou.
Esta "lufada de ar fresco" revelava-se numa dinâmica incontrolável,
tanto no interior da União Soviética como nos seus países-satélites.
Uma vez iniciado este processo as consequências foram enormes.

No vasto conjunto da países sob a influência da União Soviética as


agitações sucediam-se. Os estados da região dos Balcãs foram
abalados por lutas pela autodeterminação e vários outros países -
como o Casaquistão, a Arménia, e o Usbequistão - envolveram-se
em profundos conflitos inter-étnicos.
Estas mudanças não foram pacíficas, tendo havido uma clara
oposição das facções conservadoras do regime soviético, tanto no
seu território como da parte dos seus aliados. Deu-se, em 1991,
uma tentativa de golpe de Estado com o objectivo de impedir as
reformas e fazer a URSS voltar ao status quo dos anos 70.

Esta operação fracassou, sendo os jovens soldados os primeiros a


desobedecer aos seus comandantes e recusando-se a atacar as
pessoas que se manifestavam nas ruas. Apesar do insucesso o golpe
arrastou Gorbachev na derrocada, surgindo um novo herói que
materializou as pretensões da população. Boris Ieltsin assumiu em
1991, não a liderança da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas mas da Federação Russa, e, pela primeira vez em 70
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 79

anos, a bandeira russa foi desfraldada no Kremlin. Iniciou-se assim


o longo e complexo processo de transição democrática, ainda em
curso.

Por toda a União Soviética as pessoas destruíram os símbolos do


comunismo. O atraso social, económico e cultural da URSS tornou-
se visível aos olhos do mundo, mas, mais importante, tornou-se
visível aos seus próprios olhos, em profundo contraste com as
condições de vida dos países ocidentais. Aspirava-se à construção
de uma sociedade moderna, exigindo para isso a liberdade
necessária, e iniciaram-se os processos de autodeterminação de
diversos povos que faziam parte da União Soviética.
Alguns destes processos decorreram pacificamente, outros
despoletaram graves conflitos perante a recusa por parte de Rússia
de reconhecer a autonomia a determinados territórios. Foi o que se
passou em 1994 com a Guerra da Tchetchénia.

Factores do desanuviamento

O desanuviamento foi a solução encontrada pela União Soviética


para conseguir um acordo de conciliação com os seus rivais
externos. Os dissidentes demonstravam a existência de problemas
internos. Em 1974, como nos anos anteriores, era a relação entre
estas duas forças que definia a visão exterior sobre a Rússia e os
seu Império.

Inevitavelmente, esta visão restringia-se aos aspectos mais óbvios


do comportamento dos soviéticos; escapando-lhe o
desenvolvimento, gradual e imperfeito mas sustentado, da
economia soviética, e o aumento do bem-estar de milhões de
russos, passando muito superficialmente pelo desentendimento
permanente entre os dirigentes soviéticos, que era cuidadosamente
ocultado. De qualquer maneira, factores de análise como a política
externa soviética e as vozes incómodas vindas do interior eram uma
quadro demasiado simplista para se poder identificar padrões de
mudanças na União Soviética.

No campo diplomático, 1974 foi um ano de mudança no


relacionamento com os Estados Unidos. Durante algum tempo,
pareceu que todas os esforços que Moscovo despendia na tentativa
de diminuir as tensões produziam mais calor do que de luz.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 80

Durante uma Primavera de descontentamento, os soviéticos viram


dois dos seus mais decididos aliados - o Presidente Georges
Pompidou de França e o Chanceler Willy Brandt da Alemanha -
desaparecerem repentinamente, dando lugar a sucessores cujas
posições sobre a aproximação entre o Leste e o Oeste pareciam
bastante diferentes, e por isso suspeitas.

E as negociações com os Estados Unidos começaram a enredar-se


na questão do prolongamento do acordo sobre a limitação de armas
estratégicas (SALT), logo no momento em que o principal defensor
do desanuviamento nos Estados Unidos, o Presidente Nixon, ficou
politicamente paralisado devido ao caso Watergate.

diminuição da influência soviética no Médio Oriente, devido à


diplomacia incisiva dos Estados Unidos e verdadeiramente
preocupado com a capacidade de sobrevivência política do seu
interlocutor, o governante soviético recebeu Nixon com pompa,
quando este visitou Moscovo em finais de Junho, e mostrou-se
muito optimista em público.

A reunião produziu rapidamente pequenos acordos sobre


cooperação no urbanismo, energia e investigação médica. Outros
acordos se seguiram sem grandes consequências práticas, como a
limitação dos ensaios nucleares no interior da crosta terrestre e do
desenvolvimento de mísseis anti-balistícos. Mas o que a discussão
sobre o SALT mostrou, foi que o havia uma grande separação de
pontos de vista, entre a URSS e os EUA, sobre os objectivos finais
das conversações.

Os EUA não queriam que a sua força fosse ultrapassada no futuro


pelos soviéticos, o que poria em causa o equilíbrio do terror. Os
soviéticos, conhecedores da sua inferioridade tecnológica, queriam
aproximar-se claramente dos valores dos americanos.

Quando a cimeira acabou, o secretário de estado americano, Henry


Kissinger, afirmou angustiantemente, tentando convencer os
cépticos dos dois lados, que o que punha em causa o equilíbrio não
eram as supostas disparidades no número de mísseis, mas a
permanente ameaça de desenvolvimento e disponibilização de
novos armamentos cada vez mais destrutivos: «O que é, de facto, a
superioridade estratégica?», perguntou. «Qual é a importância
dessa superioridade, do ponto de vista político, militar,
internacional, tendo em conta os enormes números já existentes? O
que é que se pode fazer de concreto, com essa superioridade?»

Durante quatro longos meses a pergunta não teve resposta.


Enquanto o caso Watergate se concluía, o Kremlin decidiu estudar
novamente as suas opções diplomáticas. Mais uma vez, Brezhnev e
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 81

os defensores da conciliação ganharam o debate e tiveram


autorização para realizar mais uma ronda de conversações.

Em Outubro, Kissinger regressou então para a nova ronda, que se


apresentava mais promissora do que a anterior, sobre a limitação
das armas estratégicas. Antes, o novo chanceler alemão visitou
Moscovo e, após a promessa da aprovação de novos empréstimos
conseguiu concessões dos soviéticos a propósito das relações do
governo de Bona com Berlim Ocidental.

Posteriormente, para apoiar as novas iniciativas para a paz,


Brezhnev voou para Se o pacto era ou não, como Brezhnev afirmou
«um bom resultado, pelo qual os povos do mundo nos ficarão
agradecidos», a ele e a Ford, era difícil de prever naquele momento,
mas tinha sido uma vitória importante para o dirigente soviético. A
possibilidade de Brezhnev chegar a um acordo desta complexidade
sozinho, provava o seu domínio do aparelho dirigente da URSS.

E de facto, em Dezembro, em Paris, ao renovar vários acordos que


tinham dado origem à política de desanuviamento com o Ocidente,
Brezhnev apareceu como o representante da vontade de Moscovo
em sair do seu isolamento beligerante e começar uma época de
contactos normais com o resto do mundo.

Mas, de tempos a tempos, o preço desta transformação pareceu


muito alto, aos colegas de Brezhnev no governo soviético. E para
os ideólogos mais puristas, a pior consequência dos acordos era o
relaxamento da disciplina interna, imposto pela necessidade de dar
resposta às preocupações do Mundo Ocidental.

Os Dissidentes

No começo do ano, a prisão e subsequente expulsão do Prémio


Nobel da Literatura Aleksandr Solzhenitsyn, o mais conhecido dos
dissidentes russos, revelou de novo que uma única voz crítica,
mesmo que atentamente ouvida, era uma voz crítica a mais. Mas a
decisão de exilar Solzhenitsyn em vez de o prender - e, mais tarde,
de dar vistos de saída a outros dissidentes bem conhecidos - teve o
efeito de, pelo menos em parte, desarmar o Ocidente, revoltado
pela falta de respeito dos soviéticos pelos direitos humanos.

Ao mesmo tempo, negando a existência de qualquer


«entendimento» com os E.U.A. para não dificultar a vida aos
judeus que quisessem emigra, em troca de concessões comerciais, a
emigração judaica manteve-se em níveis elevados. Moscovo
mostrou também uma nova sensibilidade no tratamento dos artistas
não-conformistas.
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actualidade 82

presos e colocados em manicómios. E para alguns presos políticos,


como o ucraniano Valentyn Moroz, a situação pareceu mesmo ter
piorado.

Mas, pelo menos em Moscovo, os dissidentes foram conseguindo


informar do desenvolvimento da repressão. Mas quanto mais longe
da capital, mais a dureza do regime se fazia sentir, e menos
informação havia.

Nos países da Europa oriental, o Kremlin tornou claro que a


melhoria do relacionamento com o Ocidente não implicaria um
relaxamento das ligações, que mantinham esses países na
dependência da URSS. Por isso mesmo, Leonid Brezhnev foi à
Polónia e à Alemanha oriental para confirmar se a mensagem tinha
sido bem compreendida, ao mesmo tempo que os responsáveis pelo
planeamento económico soviético defenderam mais uma vez - mas
novamente sem sucesso - uma maior integração económica dos
países da Europa oriental com a URSS.

Outros factores que contribuíram para essa mudança, segundo Aquino


(1978, p. 349), foram os seguintes:

 O resultado da guerra da Coreia que demonstrou o equilíbrio de


forças dos blocos liderados pelas duas super potências;

 a recuperação da Europa, onde a Inglaterra e a França reagiram à


condição de meros satélites dos EUA adoptando condições cada
vez mais independentes e mostrando que uma nova Guerra
Mundial não só poderia causar ruinas inreparáveis.e destruir no
sentido mais completo do termo, nações inteiras, como os paises
da Europa Ocidental, onde existiam bases aéreas e forças
militares norte-americanas;

 o rompimento da unidade de bloco Socialista, onde o conflito


entre a China e a URSS provocou divisões nos partidos
comunistas existentes no mundo, evidenciando Pequim como
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actualidade 83

novo centro da multipolarização e retirou à URSS a condição de


centro dirigente do movimento comunista internacional;

 a Descolonização, projectando o Terceiro Mundo no centro da


política internacional e reforçando o movimento neutralista
como se patenteou na Conferência de Badung em 1955. Para os
novos paises independentes, a questão comunismo e ante-
comunismo era secundária, sendo a coexistência pacífica o único
meio capaz de evitar uma guerra destruidora;

 a morte de Estaline em 1953 e a ascensão de Krutschev em 1955


na URSS, bem como o esmagamento do movimento
ultradireitista do senador Mc Carthy pelo presidente Eisenhower
e a eleição de John Kennedy (1960), nos EUA facilitaram “o
esfriamento da Guerra Fria”.

7.2. O Primeiro Desanuviamento (1953 à decada de 60)


Tanto Droz e Rowley (1991, p. 153) como Hosftatter e Pixa (1978, p.
141), afirmam que a morte de Estaline, a 5 de Março de 1953, abre
inegavelmente um período de desanuviamento nas relações Leste-Oeste
entre ambos blocos por iniciativa da URSS.

Os novos dirigentes da URSS, Malenkov, Bulgarine e, em particular


Nikita Kructhev, sucessores de Estaline liberalizaram a política soviética,
tanto a relação dos seus satélites como ao bloco adverso, embora dentro
de estreito limite, devido a incerteza em que se encontravam em relação
ao seu destino, isto é, por uma atitude tranquilizadora e pela solução
negociada nos conflitos em curso.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 84

A prova mais evidente dessa nova flexibilidade foi o tratado de paz com a
Aústria (1955), país que os soviéticos abandonavam em troca de uma
estreita neutralidade; e, o reconhecimento da República Federal da
Alemanha pela URSS (1955).

Manifestou-se também na Asia Oriental, onde a boa vontade soviética


contribuiu para o cessar fogo na Coreia em 1953 e para o sucesso da
Conferência de Genebra em 1954, que marcou o fim do colonialismo
francês na Indochina.

O desanuviamento asiatico não se limita aos casos coreanos e


indochinês. Também é necessário resgistar uma normalização das
realções entre a URSS e o Japão. Sem dúvida que o contencioso
territorial sobre as Ilhas Curilas e o sul de Sacalina torna impossível, por
muito tempo a assinatura de qualquer tratado de paz. Mas os dois
governos publicam a 19 de Outubro de 1956, a declaração comum
Bulgarine-Hatoyama que põe fim ao estado de guerra e estabelece as
relações diplomáticas. No mesmo ano o Japão entra na ONU com o
consentimento soviético. (DROZ e ROWLEY 1991, p.157)

Em 1959, Krutchev visita os EUA, onde manteve conversações com


Eisenhower, afirmando ao regresso ao Moscovo que o presidente norte-
americano havia espirado sinceramente como eles, a acabar com a Guerra
Fria. Após o fracasso de uma conferência de cúpula em París (1960) por
causa do incidente do U-2 (abatido sobre território soviético), Krutchev e
Kennedy se encontraram em Viena, onde fixaram os ternos da
neutralização de Laos (1962).

De acordo com o Droz e Rowley (1991, p. 155), o desanuviamento não


operou nenhuma ruptura essencial com a Guerra Fria. Do mesmo modo a
Guerra Fria admite como postulado a recusa do confronto directo, o
desanuviamento não suprime as crises localizadas nem as tensões. As
probabilidades da paz mundial não são substancialmente modificadas
mesmo se não reforçadas as da regularização dos conflitos locais. Novas


em que as posições também eram inicialmente incompativeis sendo a tese
soviética a de adiar o fim do regime até a conclusào do tratado de paz com a
Alemanha.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 85

tensões surgem, que não vão encontrar a sua reabsorção numa solução
negociada, mas na ameaça da prova de forças.

7.3 O Segundo Desanuviamento (decada de 60 à 80)


Após intensas conversações entre as duas potências levadas a cabo por
Richard Nixon e Leonid Brejnev, iniciou-se um período de aproximação
em busca da redução dos riscos de um guerra nuclear e o melhoramento
das relações Leste-Oeste.

Segundo Droz e Rowley (1993, p. 271), o desanuviamento Leste-Oeste,


iniciado nos anos 60, conheceu a primeira idade de ouro nos anos de
1970-1973, com os progressos políticos e a multiplicação dos acordos
bilaterais entre as duas potências americana e soviética. Paralelamente
estes tinham adoptado um comportamento suficientemente responsável
para que nenhum dos grandes conflitos em curso quer no Vietname, quer
no Próximo Oriente, degenerassem em confrontação entre blocos.

É desta feita em que, em 1963, os EUA e a URSS chegam a um acordo


para diminuir o risco de uma guerra nuclear. Entre 1972 a 1979, as duas
potências militares assinaram vários tratados tendentes a reduzir a sua
crescente militarização, tratados esses que receberam o nome de SALT.
Em 1972, assinam-se os tratados para limitação dos sistemas de mísseis e
em 1974, para a limitação de experiências subterrâneas com armas
nucleares. No mesmo ano (Junho), os dois blocos assinam um acordo
comercial no montante de 200 milhões de dólares com vista a cooperação
de duas economias diferentes.


Em Agosto de 1970, assinou-se o tratado de não agressão e amizade entre a
URSS e a RFA. E em 1973 Brejnev, presidente soviético visitou em Julho os
EUA e a França com vista a impulsionar os tratados bilaterais na pacificação do
mundo.

Strategic Arms Limitation Treaty − Tratados Sobre Limitação de Armas
Estratégicas..
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actualidade 86

De salientar que, as duas superpotências procuraram firmar tratados


multilaterais fixando impotantes medidas para o control de armamento,
citando-se o tratado de Moscovo (1963), ratificado por 106 países que
proibia a execusão de explosões que afectassem outros paises que não
realizavam as experiências nucleares.

Em 1967, ratificou-se o tratado do espaço exterior que visava a proibição


de qualquer tipo de armas nucleares em torno da terra. E em 1968 o
tratado de não proliferação de armas nucleares, em que os signatários se
comprometeram a não transferir armas ou artefactos explosivos nucleares
para outro país qualquer.

Posteriormente, as duas superpotências estabeleceram planos conjuntos


de conquista do espaço sideral e utilização de energia nuclear em que
cada superpotência tem sua área de influência e deve mante-la coesa, para
isso contando com a não-intromissão da outra.

Em 1975, assiste-se a extensão do comunismo e ao progresso da


influência soviética em África, enquanto o congresso inviabiliza o ao
executivo norte-americano toda a capacidade de retaliação a esperança de
uma perpetuação de desanuviamento. A ideia de uma conferência sobre a
segurança na Europa vê-se ultrapassada, pois o comportamento soviético
desde Outubro de 1973 foi considerado em Washington como
perigosamente marcado pelo unilateralismo. Tornou-se claro que longe
de estabilizar os esforços de armamento, tratado de Moscovo deixava
toda a liberdade a URSS para realizar espectaculares progressos
qualitativos, contradizendo a “destruição mútua assegurada.”

Entretanto, falhado o compromisso de Moscovo, deixa em suspenso todos


os problemas levantados pela competição estratégica das duas potências e
conserva-lhes a faculdade de prosseguir o melhoramento dos seus
arsenais: submarino Trident, bombardeiro B1 e missíl Cruise para os
EUA, fuguetão gigante SS19 e bombardeiro Backfire para a URSS.
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actualidade 87

os progressos da Ostpolitik e a assinatura do acordo quadrepartido sobre


Berlim permitiram aplanar as divergências (...) além dos princípios
básicos de soberânia, independência, não-ingerência e não-recurso a
força, este texto oficializa as fronteiras herdadas do imediato pós-
guerra. As diversas formas de cooperação económica e tecnológica, o
respeito pelas liberdades democráicas, a livre circulação das pessoas e
das idéias são igualmente aprovadas. Por detrás da aparente simetria dos
três princípais temas (princípios internacionais, cooperação, direitos do
Homem), dissimula-se não o desiquilíbrio entre os benefícios tangiveis
de que pode usufruir a União Soviética e as boas intensões com que têm
de contentar-se os paises ocidentais que irão rapidamente confirmar as
infracções repetidas aos direitos do Homem e à e a livre informação.
(DROZ e ROWLEY 1993, p. 272)

Referir que, quanto à vertente militar do desanuviamento europeu, isto é,


a redução mútua das forças militares, os seus resultados não foram mais
conclusivos. Rapidamente se verificou que os dois blocos não se
entenderam sobre nenhum aspecto; os EUA privilegiaram as forças
terrestres e as forças estrangeiras estacionadas na Europa enquanto a
URSS procurou tomar em consideração as forças aéreas e nucluares,
apenas cedendo reduções por percentagens iguais que manteriam a sua
superioridade. Estes tratados constituiram testemunhos de uma profunda
vontade de fazer uma política de abertura e diálogo entre os blocos
(capitalista e socialista).

7.4 Ameaças ao processo de desanuviamento


De acordo com Droz e Rowley (1993, p. 273), Chegado ao seu ponto
culminante em 1973, o desanuviamento Leste-Oeste degradou-se
consideravelmente, a ponto de passar a ser banido dos discursos ofíciais
americanos. A idéia de uma convergência dos sistemas, muito difundido
nos anos 60, perdera a actualidade, foram igualmente desmentidas as
teorias e postulados mais recentes sobre uma alteração do sistema
soviético por integração num sistema estável de relações diplomáticas e
comerciais.

Para o Leste, o desanuviamento significou o reconhecimento tão desejado


de uma grande potência respeitável, dos fluxos comerciais, dos creditos e
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das transferências das tecnológias, o que não evidenciou ao Ocidente


averbar ganhos semelhantes . Moscovo semper considerou que a
coexistência pacífica não sgnificava em caso algum a estabilização do
equilíbrio internacional, mas sim que deveria seguir a par de uma
modificação continua da relação de forças em favor do socialismo.

Em 1975, a URSS instaurada no Vietname e reorganiza o exército


vietinamita, financiando a reconstrução do país que era um preludio a
uma integração mais clara da entrada do Vietname no CAEM (Junho de
1978) e assinatura de um tratado de amizade, cujas claúsulas secretas
colocam à disposição da URSS as bases militares de Cam Ranh e de
Danang. Por intermédio de Vietname opera-se a sujeição do Laos e do
Camboja. E, a implantação da URSS em Africa foi mais surpriendente,
tratando de um continente que, desde a descolonização permanecia
coutada do ocidente.

A ameaça ao desanuviamento é marcada também pela crise de Cuba, que


deu a precistência ao antagonismo entre a URSS e os EUA.

Segundo Hofstatter e Pixa (1978, p. 146), “a ruptura entre o regime


castrista de Cuba e os EUA colocou a ilha antilhana nas mãos da URSS
(...), que aproveiteram a ocasião para transformar a ilha numa ameaçadora
base de mísseis nucleares mesmo às portas dos EUA.”

Em resposta, presidente Kennedy declarou, a 22 de Outubro de 1962, o


bloqueio militar de cuba e exigiu o desmantelamento das bases soviéticas,
o que leva a URSS a ceder, exigindo aos EUA em compensação a
integridade cubana.

A instalação de mísseis soviéticos em Cuba, visava contrapor a instalação


de mísseis Júpter II pelos estadonidenses na cidade de Esmirna na


Conselho de Assistência Economica Mútua
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actualidade 89

Turquia que poderiam ser usados para bombardear o sudoeste soviético.


Esta medida defensiva tendia ainda evitar que os EUA tentassem uma
nova investida para os cubanos.

A crise de Cuba induziu ambos os políticos a reatar a coexistência


pacífica, que já não voltariam a abandonar; mesmo que as superpotências
lhes destinem finalidades diferentes. Entretanto a realização em 1972 de
uma viagem do presidente Nixon a Moscovo indicava o grau de
aproximação das duas potências, mais outros problemas surgiram no
Horizonte, tais como a situação afro-asiatica, o Próximo Oriente, a
Indochina e a Americda Latina.

Depois do referido imobilismo, o presidente Jimmy Carter em 1977,


procurou basear os prosseguimentos da relação Leste-Oeste numa
perspectiva original. O novo presidente pretende reintroduzir a
diplomácia aberta e a inspiração moral das decisõesoes que se inscrevem
na tradição democrática. Carter aspira libertar América da obseção da
ameaça soviértica que contrariamente as relações com Moscovo não são
forçosamente prioritarias e o desanuviamento já não consistia o fulcro da
política americana. Este continuava a ser um anseio, mais só poderia ser
aprofundada em troca de garantias tangiveis fornecidas pela URSS
quanto a reforma do seu sistema interno.

Neste clima morno, onde proliferam as acusações mútuas de “fautor de


Guerra Fria” Ronald Reagan que assumiu a presidência dos EUA em
1982, não consegue melhorar as relações repudiando qualquer esquema,
abstração e qualquer projecto civilizado, procura basear a sua política
externa em dois termos: uma América forte e respeitada. Cético
relactivamente aos direito do Homem, pouco aberto aos problemas do
Terceiro Mundo, a administração Reagan empreendeu-se intransigente
na denuncia do comunismo portador de servidão e apoiante do
terrorismo no inter nacional. Mas é com o que se convencionou chamar
a batalha do euromísseis e a determinação americana, e mais Ocidental,
aplica ao desanuviamento o seu mais rude golpe. (DROZ e ROWLEY
1993, p. 274)

A batalha dos euromísseis terminou com um inegável fracasso da


diplomacia soviética. Mais esta demostrou frequentemente a sua aptidão
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actualidade 90

para ultrapassar este tipo de dissabores. Desde o início de 1984, o fio do


diálogo é retomado. Considerado ter restaurado o prestígio e a confiança
da America a um diálogo “construtivo e realista” com Moscovo, os
encontro Reagan-Schultz em Genebra de 1985, permitiram reencaminhar
as negociações sobre os armamentos estratégicos.

A chegada de Mikhail Gorbatchov ao poder em 1985, abre caminho a


uma revisão substancial das opções exteriores da URSS, pois a
modernizaçào da economia soviética passou a ser o objecto prioritario, o
que implicou simultaneamente o retrocesso da corrida aos armamentos e
uma abertura relativamente aos ocidentais. É neste contexto que se regista
o afastamento dos focos de tensão, menor apoio aos aliados longínquos,
abandono implícito da doutrina Brejnev, fim da corrida aos armamentos.
Gorbatchov aceita retirar totalmente os euromísseis da Europa do Leste e
reduzir a 100 os implantados na Asia. Uma redução de 50% dos
armamentos em cinco anos é avalizada por ambas as partes.

Prosseguindo com o pensamento do autor acima citado, é de salientar


que, após uma fase de incredibilidade, o Ocidente acertou o
compromisso pelo novo pensamento soviético. A cimeira de Washington
fora prolongada pela de Moscovo, em finais de Maio de 1988, onde se
assistiu a troca dos instrumentos de ratificação de tratados e à afirmação
de um acordo de princípios sobre a redução de 50% das armas
estratégicas, que abriu um novo horizonte de desanuviamento entre as
duas potências com prosseguimento e os progressos de diversas
negociações: como as desenvolvidas em Viena, sobre a redução de forças
convencionais na Europa, em Genebra sobre a redução dos arsenais
centrais no espaço.

Do tratado de Washington à crescente adopção da Carta de París, três


anos bastou para anular a maior parte dos contenciosos e para que fosse
proclamado o fim da Guerra Fria.


O dilemma é delicado para Reagan, na medida em que tudo recuzar equivalia a
expor-se ao isolamento e à impopularidade, e tudo aceitar significaria reconhecer
à URSS uma paridade e uma legitimidade que sempre lhe foram negadas.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 91

Exercícios
1. Conceitualize a Guerra Fria.

2. Explique o contexto hisórico em que surge a Guerra Fria.

Unidade VIII

O Fim da Guerra Fria


Droz e Rowley (1993, p. 153) espelham em sua abordagem, que em 1985
Gorbatchov e Reagan, que no começo da década haviam iniciado um
novo plano de desanuviamento armamentístico, decidiram reduzir sua
presença na Europa.

O murro de Berlim derrubado em 9 de Novembro de 1989, que reunificou


a Alemanha em 3 de Outubro de 1990. Este facto só foi possivel no
culminar de um longo processo iniciado com a subida de Gorbatchov ao
poder, que a partir do estabelecimento da Perestróika e da Glasnost e
de uma política externa que privilegiava o processo de desanuviamento e
o fim das tensões Leste-Oeste, que precipitou a derrucada do regime
soviético na Rússia e o fim do comunismo no Leste da Europa. A queda
do murro de Berlim marcou o fim da Guerra Fria que opunha o Leste-
Oeste. Ao nível da política externa alemã, este facto conduziu ao fim do
próprio regime comunista na RDA.


abertura que visava reorganizar a económia, o partido e a vida cultural
apostando na iniciativa privada e individual.

transparência que tinha por objectivo que os cidadãos tivessem acesso a
informação e os órgãos de informação tivessem a liberdade de expressão,
retirando a forte censura que o governo comunista impunha.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 92

A dissolução, no início dos anos 90, do Pacto de Varsóvia e da própria


URSS, alternava significativamente a geo-política mundial. Os EUA
passaram a ser os senhores do mundo, detiveram a hegemonia político-
militar que lhes possibilitava uma espécie de paz a seu contento no
mundo. Esta espécie de “paz” não excluiu o uso da força em várias partes
do mundo quando assim estes o entenderem, como é o caso da guerra do
Golfo (1991), as questões actuais do Afeganistão e do Iraque.

Em Maio de 1997, foi assinado um acordo histórico entre a Rússia,


representada pelo presidente Boris Yeltsin e a NATO represemtada pelo
seu secretário geral Javier Solana, este acordo postulava a actuação da
NATO nos países do antigo bloco soviético e foi reconhecido pela sua
acta de fundação no que diz respeito às relações mútuas e de cooperação
entre ambas potências. As duas partes deixavam de se considerar
adversárias.

8.2 O Impacto da Guerra Fria


A queda do murro de Berlim marcou o fim da Guerra Fria que
opunha o Leste-Oeste. Ao nível da política externa alemã, este
facto conduziu ao fim do próprio regime comunista na RDA. E
consequentimente este fim, pós termo a divisão do mundo;

A Guerra Fria fez com que os paises do Terceiro Mundo


optassem pela política de neutralidade positiva (não-
alinhamento);

A dissolução do Pacto de Varsóvia e da propria URSS, no início


dos anos 90, alternava significativamente a geo-política mundial.
Os EUA passaram a ser os senhores do mundo, detiveram a
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 93

hegemonia político-militar que lhes possibilitava uma espécie de


paz a seu contento no mundo;

A Guerra Fria revolucionou a tecnológia no mundo. O que é


notória hoje em vários cantos no mundo, como é o caso da
produção dos tecidos sintéticos, do lançamento de satélites,
mísseis e de foguetões. Como nota conclusiva desta unidade
refere-se que a Guerra Fria significou um período “especial” na
História da humanidade em que o mundo esteve bipolarizado
com ideologias bem distintas: uma liderada pelos EUA, que
defendiam o sistema capitalista e a outra liderada pela URSS que
defendia o socialismo; em que cada um tinha como meta difundir
o seu sistema político e cultural pelo resto do mundo.

Embora não tenha ocorrida um conflito bélico entre as duas


superpotências, o clima de animozidade entre elas era cada vez mais
agravado pela propaganda e espionagem, fabrico e domínio de armas
atómicas pelos blocos, o que representava riscos de um confronto directo.
Todavia quer os EUA, quer a URSS, após a 2ª Guerra Mundial quizeram
implantar-se no mundo, aderindo a política armamentista exuberante.

Divergências desta ordem levaram a divisão da Alemanha em quatro


partes e posteriormente em duas zonas: a capitalista e a socialista,
marcada pela construção do murro de Berlim em 1950. Episódios de
oposição ideológica, foram ainda marcados pela guerra da Coreia, que
culminou com a criação de dois estados coreanos.

As tensões ideológicas foram crescendo e o mundo não se via fresco o


que forçou a necessidade de ratificações de acordos diplomáticos que
levariam o mundo a uma coexistência pacífica. A morte de Estaline
instaurou o período de aproximação entre a URSS e os EUA. Entretanto,
as tentativas de soluções pacíficas e tendentes a criação de um clima de
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 94

paz e segurança no mundo, é operacionalizado por Krutchev que


liberalizou a política soviética.

Sucessivos acordos foram ratificados entre os presidentes da URSS e dos


EUA, para aliviar o conflito existente. Salienta-se os acordos SALT de
redução de armamentos; mas foi com Gorbatchov ao poder na URSS, que
se abriu caminho para a coexistência dos dois blocos. A queda do murro
de Berlim em 1989, simbolizou a marco final de Guerra Fria, que opunha
o Leste e o Oeste.

Entretanto a Guerra Fria fez os países do terceiro mundo , sobretudo os


africanos, disputarem favores de ambos blocos com incalculadas
insinuações de que poderiam inclinar-se tanto para um lado como para o
outro dependendo das vantagens oferecidas.

Registro da unificação das Alemanhas com a queda do Muro de


Berlim

Foi em nove de novembro de 1989 que o Muro de Berlim começou


a ser derrubado. Após os vinte e oito anos em que ele, além ddividir
a cidade de Berlim ao
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 95

Exercícios
1. Explique o impacto da Guerra Fria para o mundo.

2. Fale do papel de gorbachev no processo de desanuviamento.

3. Diz o que significou a queda do Murro de Berlim para o mundo.

Resolva o exercício 3;
Faça a síntese da Unidade III.

Auto-avaliação

Unidade IX
O Movimento dos Não -
Alinhados.

Introdução
A presente unidade, o movimento dos paíse não alinhados, apresenta o
panorama geopolítico depois da 2ª guerra mundial caracterizado
essencialmente pelo confronto ideológico entre os EUA e a URSS.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 96

A conferência de Bandung, lançou as bases deste movimento que ao


longo da história procurou remediar o antagonismo entre os dois blocos
em confronto.

A análise deste tema circunscreve-se sobretudo no processo de criação do


movimento, os seus principais objectivos, a política de neutralidade
positiva bem como o impacto e a actualidade do movimento.

A pertinência do tema reside no facto de permitir uma inte

ração melhor da situação política em virtude da eclosão da guerra fria e o


posicionamento adoptado por alguns países considerados do 3º mundo
para fazer face a este problema que tinha uma implicação nas políticas
nacionais e internacionais.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Dar o conceito do Movimento dos Não - Alinhados;


 Explicar o contexto Histórico do Surgimento dos Países Não -
Alinhados;
Objectivos  Apontar os objectivos da Conferência de Bandung;
 Enuciar os dez Principios de Bandung;
 Explicar a criação do Movimento dos Países Não - Alinhados;
 Descrever o decurso das Conferências dos Paises - Não
Alinhados;
 Falar da Neutralidade Positiva;
 Referir se ao impacto e o panorama actual dos Países Não -
Alinhados.

4.1-Conceito do Movimento

9.1 Conceito do Movimento dos países não alinhados


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 97

É uma associação de países formada com o aparecimento dos dois


grandes blocos opostos durante a Guerra Fria liderados pelas
superpotências de então EUA e URSS. Seu objetivo era manter
uma posição neutra e não associada a nenhum dos grandes
blocos.

Nesse sentido, o Movimento está intrinsecamente ligado ao


confronto ideológico Leste-Oeste da Guerra Fria no século XX e,
portanto, tem encontrado dificuldades em manter-se relevante no
século XXI, após a queda do muro de Berlim.

Os principais temas de que trata o Movimento são as lutas


nacionais pela independência, o combate à pobreza, o
desenvolvimento econômico e a oposição ao colonialismo, ao
imperialismo e ao neocolonialismo. Os seus membros
representam 55% da população do planeta e quase dois terços dos
países-membros da ONU. Tem por objectivo evitar uma nova
guerra mundial, e portanto, suspender os preparativos de guerra
criados pelos 2 blocos mundias da Guerra Fria os EUA e a URSS.
Pretende negociar para alcançar o desarmamento total e uma paz
duradora.

São membros importantes o Egito, a Índia e a África do Sul. China


e Iugoslávia já tiveram papel de relevo no passado.

O Movimento Não-Alinhado também foi, em larga medida,


responsável pela campanha mundial em favor da NOMIC.

9.2 A criação do Movimento dos Paises não alinhados


A origem do Movimento pode ser encontrada na Conferência Ásia-
África realizada em Bandung, Indonésia, em 1955. A convite dos
primeiros-ministros da Birmânia (hoje Mianmar), do Ceilão (hoje
Sri Lanka), da Índia, da Indonésia e do Paquistão, dirigentes de 29
países, quase todos ex-colônias dos dois continentes, reuniram-se
para debater preocupações comuns e coordenar posições no
campo das relações internacionais.

O primeiro-ministro indiano Jawaharlal Nehru, juntamente com os


primeiros-ministros Sukarno (da Indonésia) e Gamal Abdel Nasser
(Egito), presidiu a sessão. No encontro, líderes do então assim
chamado Terceiro Mundo puderam compartilhar as suas
dificuldades em resistir às pressões das grandes potências, em
manter a sua independência e em opor-se ao colonialismo e ao
neocolonialismo.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 98

Após um encontro preparatório no Cairo, delegações de 25 países


reuniram-se em Belgrado de 1 a 6 de setembro de 1961, na
Primeira Conferência dos Chefes de Estado e de Governo Não-
Alinhados, em grande medida por iniciativa do presidente
jugoslavo Josip Broz Tito e mais Nasser, Sukarno, Chu En-Lai e
Nehru.

Um dos principais temas da conferência foi a corrida armamenti


entre os EUA e a União Soviética. Nessa Conferência de Cúpula foi
estabelecido oficialmente o Movimento de Países Não-Alinhados,
sobre uma base geográfica mais ampla, principalmente novos
estados independentes.

Da América Latina, o único país participante como membro na


primeira conferência foi Cuba.

A mais recente conferência do MNA foi realizada em Havana,


Cuba, em setembro de 2006.

Embora nunca tenha sido membro, o Brasil acompanha os


trabalhos do Movimento na qualidade de observador.

Secretários-Gerais
Secretários-Gerais do Movimento Não-Alinhado

Nome País Início Fim

Josip Broz Tito Iugoslávia 1961 1964

Gamal Abdel Nasser Egito 1964 1970

Kenneth Kaunda Zâmbia 1970 1973

Houari Boumédienne Argélia 1973 1976

William Gopallawa Sri Lanka 1976 1978


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 99

Junius Richard Jayawardene Sri Lanka 1978 1979

Fidel Castro Cuba 1979 1983

N. Sanjiva Reddy India 1983 1982

Zail Singh India 1982 1986

Robert Mugabe Zimbabwe 1986 1989

Janez Drnovšek Iugoslávia 1989 1990

Stipe Mesić Iugoslávia 1991 1991

Branko Kostić Iugoslávia 1991 1992

Dobrica Ćosić Iugoslávia 1992 1992

Suharto Indonésia 1992 1995

Ernesto Samper Pizano Colômbia 1995 1998

Andrés Pastrana Arango Colômbia 1998 1998

Nelson Mandela África do Sul 1998 1999

Thabo Mbeki África do Sul 1999 2003

Datuk Seri Mahathir bin Mohammad Malásia 2003 2003

Datuk Seri Abdullah Ahmad Badawi Malásia 2003 2006

Fidel Castro Cuba 2006

Raúl Castro Cuba 2006 2009

Hosni Mubarak

anti-militarista e anti-colonialista. Com a actual correlação de força de


classes a nível mundial, os países não alinhados, podem perfeitamente
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 100

opor-se ao imperialista e pugnar por relações económicas, em condições


de igualdade de direito.

Unidade X

A Conferência de Bandung

A organização da conferência de Bandung nasceu de acções institucionais


no interior da ONU e na organização de inúmeros encontros de lideres
políticos da região afro-asiática em busca da paz e estabilidade política no
decurso da guerra fria.

De 18 a 24 de Abril de 1955 em Bandung na Indonésia, realizou-se a


conferência Ásia África com objectivos de debater e avançar com uma
estratégia concertada em relação ao não alinhamento. Esta conferência,
foi ao convite do primeiro ministro da Birmânia (Mianmar), do Ceilão,
(Sir Lanka), da Índia, Indonésia e do Paquistão. Reuniu vinte e nove
países da Ásia e da África para debater preocupações comuns e coordenar
posições no campo das relações internacionais.

Os países asiáticos que participaram nesta conferência foram‫ ׃‬Indonésia,


Afeganistão, Arábia Saudita, Birmânia, Camboja, Laos, Líbano, Leilão,
Rep. popular da China, Filipinas, Japão, Índia, Jordânia, Paquistão,
Turquia, Tailândia, Síria, Rep. democrática do Vietname do norte, Rep.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 101

Vietname do Sul, Irão, Iraque, Nepal, Iémen do norte e os países


africanos‫ ׃‬Etiópia, Líbia, Libéria, Egipto Ghana e Sudão.

Ainda que os líderes asiáticos e africanos reunidos em Bandung,


pudessem ter tendências políticas e ideológicas diferentes sobre as
sociedades que desejavam construir ou reconstruir, existia um projecto
comum que os unia e dava sentido a uma concertação mais estreita de
posições. O seu programa incluía a descolonização politica da Ásia e da
África e todos estavam de acordo, que a independência política recém
recuperadas era um meio para conseguirem o fim da liberdade económica
e sócio-cultural e procurou preservar a paz no mundo.

A conferência de Bandung depois de ter


proclamado a necessidade de se pôr termo ao
colonialismo sob todas as suas formas, tinha
também definido uma linha de política
internacional, havendo concluído ser
imperioso e salvaguardar a paz no mundo,
reclamavam, para atingir esse objectivo, a
redução de armamentos, eliminação das
armas nucleares sob um controle
internacional eficaz. (BENOT 1981,
p.105)

Na conferência de Bandung foram enunciados dez princípios que


deveriam orientar as relações entre as nações.

10.1 Os Dez Princípios de Bandung

Os dez princípios de Bandung são:

1. Respeito aos direitos humanos fundamentais e aos


objectivos de princípios da carta da ONU;
2. Respeito a soberania e integridade territorial de todas as
nações;
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 102

3. Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações


grandes e pequenas;
4. Não intervenção e não-interferência nos assuntos internos
de outros países (autodeterminação dos povos);
5. Respeito pelo direito de cada nação, defender-se
individualmente e colectivamente de acordo com as cartas
das Nações Unidas;
6. Recusa na participação dos preparativos da defesa colectiva
destinada a servir aos interesses particulares das
superpotencias;
7. A abstenção de todo acto ou ameaça de agressão, ou de
emprego de força, contra a integridade territorial ou a
independência política de outros países;
8. Soluções de todos os conflitos internacionais por meios
pacíficos (negociações e conciliações arbitragens por
tribunais internacionais) de acordo com a carta da ONU;
9. Estimulo ao interesses mútuos de cooperação;
10. Respeito pela Justiça e obrigações internacionais.

Em Bandung a paz estava ligada a liberdade, independência e a


soberania dos povos. Lá não se tomou partido a favor do socialismo
ou do capitalismo, pois o princípio de autodeterminação dos povos
incluía o direito de cada nação definir livremente seu sistema
politico e social, aspecto este expresso em 1961 em Belgrado, pelos
países não alinhados.

Entretanto aquando da conferência de Bandung, os EUA e os seus


aliados ocidentais impunham alianças militares no médio oriente
através de pacto de Bagdad e da OTASE no sudoeste asiático.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 103

Estas alianças visavam impedir o avanço do comunismo sobretudo


depois da vitória do Vietname. Contudo, a declaração de Bandung
optou pela não aliança a estes pactos e uma recusa às guerras de
reconquista colonial.

De salientar que os princípios de Bandung nem sempre foram


eficazes na medida em que para a região de África em particular,
foi marcante a influência da URSS no processo das lutas pelas
independências nacionais consequentemente na sua consolidação
como afirma BENOT (1981:107) “ eficazes no tempo de guerra
fria, os princípios de Bandung não forneceram, contudo, uma forma
de diplomacia válida para todas as circunstâncias. Na África
independente no período Kruchteviano da coexistência pacífica é
de esperar que tais princípios se revelem inadequados e
insuficientemente positivos.”

De 01 à 06 de Setembro de 1961, delegacoes de 25 países


reuniram-se em Belgrado na Juguslávia na primeira conferência de
chefes de estado e de governo não alinhados por iniciativa dos
presidentes Tito ( Juguslávia), Nasser (Egipto), Surkano
(Indonésia), Nero (Índia) e do primeiro ministro da China Chou en
Lau.

Um dos principais temas da conferência foi a corrida armamentista


entre os EUA e a URSS. Nesta conferência foi estabelecido
oficialmente o movimento dos países não alinhados sob uma base
geográfica mais larga principalmente incluindo novos estados
independentes.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 104

Os principais temas com que o movimento se preocupava eram as lutas


nacionais pelas independências, o colonialismo, o imperialismo, o
neocolonialismo, o combate a pobreza, o desiquilíbrio no
desenvolvimento económico. O movimento procurava evitar uma nova
guerra mundial e portanto suspender os preparativos da guerra criados
pelos dois blocos, pretentendo negociar para alcançar o desarmamento
total e uma paz duradoura.

Os Objectivos Princiapais do Movimento dos Países Não alinhados


Os objectivos principais do movimento dos países não alinhados
centravam-se em:

 Apoiar a autodeterminação, a independência nacional e a


integridade territorial dos estados;
 Oposição ao apartheid;
 Não adesão à pactos militares multilaterais e manter os
países não alinhados independentes das influências ou
rivalidades de grandes potências ou blocos;
 A luta contra o imperialismo em todas as suas formas e
manifestações;
 A luta contra o colonialismo, neocolonialismo, racismo,
ocupação e dominação estarangeira;
 Não influência nos assuntos internos dos estados e a
coexistência pacífica entre todas nações;
 Rejeição do uso de ameaça de força nas relações
internacionais;
 Fortalecimento da ONU;
 Democratização das relações internacionais;
 Desenvolvimento socio-económico e restruturação do
sitema económico internacional;
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 105

 Cooperação internacional em pé de igualdade.

Os Países Membros do Movimento Não Alinhado

Países membros (azul escuro) e observadores (azul claro) do


Movimento Não-Alinhado (2005).

Movimento dos Países Não Alinhados

Actualmente são 118 os países membros deste movimento a saber:


Afeganistão, Argélia, Angola, Bahamas, Barém, Bangladesh,
Barbados, Bielorussia, Belize, Benin, Butão, Bolívia, Botswana,
Brunei, Burkina, Burundi, Cambodja, Camrões, Cabo Verde, Rep.
Centro Africana, Chade, Chile, Colombia, Comores, Cuba, Congo,
Costa do Marfim, Chipre, Djibuti, Rep. Dominicana, Equador,
Egipto, Guiné Equatorial, Eritreia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Ghana,
Granada, Guatemala, Guiné, Guiné Bissau, Guyana, Honduras,
India, Indonésia, Irão, Iraque, Jamaica, Jordânia, Quénia, Coreia,
Kuwait, Rep. Democrática do Laos, Líbano, Lesotho, Libéria,
Madagáscar, Maui, Malásia, Maldivas, Mali, Malta, Mauritânia,
Mongólia, Marrocos, Moçambique, Namíbia, Nepal, Nicarágua,
Níger, Nigéria, Omar, Paquistão, Palestina, Panamá, Pápua Nova
Guiné, Perú, Filipinas, Qatar, Ruanda, Santa Luzia, Arábia Saudita,
S. Tomé e Principe, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Singapura,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 106

Somália, África do Sul, Sir Lanka, Sudão, Surinami, Swazilândia,


Síria, Tanzania Tunísia, Tailândia, Turquemenistão, Uganda,
Emiratos Arabes Unidos, Uzbequistão, Venezuela, Vietname,
Iemen, Juguslávia, Zâmbia e Zimbabwe.

10.2 A Neutralidade Positiva

Em princípio os países no movimento não alinhados defendiam


uma neutralidade na qual não permitiriam uma imposição a priori
dos dois blocos antagónicos o capitalismo e o socialismo e que no
entanto, estabeleceriam relações diplomáticas e económicas com
ambos grupos. De acordo com Benot (1981, p. 111) “ Inicialmente
era ponto bem assente a recusa de toda e qualquer descriminação:
relações pacíficas com todos os países.”

Todavia, devido a situação geopolítica de momento sobretudo com


a evolução de conflitos em algumas regiões, a neutralidade tomou
contornos específicos e o seu objectivo inicial foi colocado em
causa como foi no contexto africano. Esta situação conduziu a
chamada neutralidade positiva. Enaltecendo esta problemática
Benot (1981, p. 111) afirma que:

...embora, em princípio os
neutralistas estabeleçam relações
com todos países, portanto com os
dois blocos, tem um critério para
apreciar a política das grandes
potências: a posição destes quanto a
luta nacional africana. Não se trata de
opôr a quem quer que seja exigências
preconcebidas quanto ao regime ou
as ideologias mas de distinguir quem
se opõe a libertação dos países
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 107

africanos colonizados e quem apoia


as reivendicações africanas.

Numa visão mais ampla e transcontinental, a neutralidade positiva


debateu-se ainda com outros problemas de ordem internacional de
dimensão mundial, como foi o caso do armamento atómico e as
experiências nucleares, a crise de Berlim, a crise de Cuba de 1961
e 1962, o conflito sino-Indiano em 1962 e a guerra do Vietname
que ameaçava a eclosão de uma eventual guerra mundial.

Diante destas tensões no mundo, os países do movimento não


alinhado apesar de pautarem por uma diplomacia de equidistância
das superpotências, não poderia estar alheio aos conflitos de
momento, sendo deste modo tentados a tomarem partido. Foi neste
contexto que a maior parte dos países deste movimento declararam-
se socialistas defendendo que não sofreriam influências socialistas.
A fragilidade na política da neutralidade era evidente porque o
cenário internacional da guerra fria conduzia claramente para uma
tomada de posição por parte dos não alinhados.

10.3 As Conferências dos Países Não Alinhados

 I Cúpula: 1961, Belgrado, na Jugoslávia


 II Cúpula: 1964, Cairo, Egipto.
 III Cúpula: 1970, Lusaka, Zâmbia.
 IV Cúpula: 1973, Argel, Argélia.
 V Cúpula, 1976, Colômbia, Sri Lanka.
 VI Cúpula, 1979, Havana, Cuba.
 VII Cúpula, 1983,Nova Deli, Índia.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 108

 VIII Cúpula, 1986, Harare, Zimbabué


 IX Cúpula, 1989, Belgrado, Jugoslávia.
 X Cúpula, 1992, Jacarta, Indonésia.
 XI Cúpula, 1995, Cartagena das Índias, Colômbia.
 XII Cúpula, 1998, Durban, África do Sul.
 XIII Cúpula, 2003 KualaL Malásia.
 XIV Cúpula, 2004, Durban, África do Sul.
 XV Cúpula, 2005, Lumpur Malásia.
 XVI Cúpula, 2006,Havana, Cuba

10.3.1. A Conferência de Lusaka


De 08 - 10 de Setembro de 1970, realizou-se em Lusaka na
Zâmbia, a 3ª conferência de chefes de estados dos países não
alinhados. Assistiram a esta conferência 54 membros de pleno
direito e no final foi aprovada a declaração de Lusaka sobre a paz, a
independência, o desenvolvimento, a cooperação, a democratização
das relações internacionais.

Assim, na adicional declaração de Lusaka sobre o não-alinhamento


esteve em causa o progresso económico, os inevitáveis problemas
permanentes do próximo oriente, a Indonésia, o apartheid, a
descolonização das possessões portuguesas (Angola, Moçambique,
Guiné Bissau) bem como o Zimbabué e a Namíbia.

Esta conferência teve uma certa relevância porque nela decidiu-se


para o futuro a convivência dos temas políticos e económicos nas
agendas e trabalhos do movimento.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 109

Desta forma, os países subdesenvolvidos começaram a partir dos anos


60/70 a conjugar esforços técnicos e científicos do estudo da
problemática do subdesenvolvimento em conjunto com a acção política
dos próprios países na procura de solução.

10.3.2 A Conferência de Argel


De 05 a 09 de Setembro de 1963, realizou-se em Argel na Argélia a
4 ª conferência do movimento dos países não alinhados. Esta
conferência foi considerada como sendo a mais significativa de
todas as que foram celebradas naquele tempo, não somente pelo
grande número de participantes (75 países membros de pleno
direito) entre estes a Argentina e o Péru pela primeira vez, 8 países
como observadores e 3 como convidados: a Áustria, Finlândia e
Suécia e por último 12 movimentos de libertação.

Debateu-se temas de grande importância como foi o caso da análise


pela primeira vez do papel dos países socialistas em relação ao não
alinhamento.

Foi nesta conferência que os países não alinhados decidiram


oficialmente aderirem ao socialismo através da cooperação
científica e técnica em particular, através de convénios
intergovernamentais.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 110

10.4 O Impacto e Panorama Actual do Movimento dos Países Não –


Alinhados
Distante dos tempos da guerra fria, hoje os países não Alinhados
estão mais preocupados com razões económicas. O grupo, na sua
cimeira de Sheik no Egipto definiu como tema principal

o debater a criação de uma nova ordem económica e monetária


mundial, conta com a participação de mais de uma centena de
chefes de Estado e de Governo.

Uma semana após a cimeira do G8, a crise económica domina a


agenda do encontro, marcado pelas críticas aos países ricos,
acusados das derivas do sistema financeiro. O chefe de estado
cubano, Raul Castro, que assume a presidência rotativa do grupo,
lembrou que, “os países pobres são os mais afectados pela crise,
que se soma ao analfabetismo, desemprego, pobreza e fome que
atinge 100 milhões de pessoas”. A questão do terrorismo e a
situação política no Irão deverão marcar os debates, assim como a
reforma do conselho de segurança da ONU. htt
:pt.Euronews.net2010-12-03
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 111

Na década 60 à 70, o movimento desempenhou um importante


apoio as nações que então lutavam pelas independências no 3º
mundo e ofereceu a sua estreita solidariedade às aspirações mais
justas da humanidade. Contribuiu de uma forma inegável para o
triunfo pelas independências nacionais bem como a identidade
nacional através da descolonização o que permitiu um importante
prestígio diplomático.

Ao finalizar a década 80, o movimento enfrentou o grande repto


que representou o derrube do campo socialista. O fim do
enfrentamento entre os dois blocos antagónicos que deram origem
ao movimento e essência, foi visto por alguns como o fim do
movimento dos países não alinhados.

O desaparecimento de um dos blocos não eliminou os agudos


problemas do mundo, antes pelo contrário outros interesses
estratégicos de dominação surgiram adquirindo novas e mais
perigosas dimensões de ataque aos países subdesenvolvidos.

Após mais de 40 anos da sua criação, com o fim da guerra fria, o


mundo enfrenta outras dificuldades com o prevalecente
unilateralismo. De facto o mundo é radicalmente diferente daquele
que existia aquando da 1ª conferência de Bandung e apesar da não
existência da URSS, a ONU debate-se com a crescente
agressividade dos EUA.

Em contrapartida, a América Latina, hoje projecta-se mais


independente contra os princípios dos EUA. Na Ásia, países como
a China, Índia, Indonésia, Irão, Malásia, Vietname entre outros,
mostram uma capacidade vital e nacional bastante considerável. Na
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 112

África, um grupo de estados, fundados outrora sob ruínas do


império colonial projectam-se na esfera internacional com
dignidade e independência.

Por um lado o movimento foi adaptando os seus objectivos


forçados pelas circunstâncias de momento tais como: a fome, a
dívida externa, a pobreza, entre outros. Assim mos últimos anos a
organização tem vindo a apontar os objectivos de acordo com o
panorama internacional de que são exemplos a luta contra o
terrorismo internacional e a defesa de um mundo mais justo em
termos económicos e sociais no âmbito da polítca da globalização.

Por outro lado os principais objectivos deste movimento continuam


sem se materializar como a paz, o desarmamento, a desigual
cooperação económica, a democratização das relações
internacionais que constituem algumas metas antigas que ainda não
foram possíveis de concretizar.

Em suma, a situação internacional é cada vez mais preocupante


para os países não alinhados pois que os problemas actuais tendem
a se enfatizar cada vez mais. Se a 45 anos atrás, quando a guerra
fria polarisou uma parte considerável da humanidade em dois
blocos antagónicos hoje o processo de globalização neoliberal
obriga ao fortalecimento e ao esforço dos países do sul para
potenciar sua união, a sua solidariedade e coesão com vista a dar
respostas conjuntas aos acontecimentos internacionais e os desafios
do milénio.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 113

Sumário
Com esta unidade pode-se concluir que o movimento dos países
não alinhados apareceu no contexto específico da guerra fria na
qual se confrontavam duas ideologias: o capitalismo e o socialismo.

Esta crise política do pós 2ª guerra mundial poderia conduzir a uma


catástrofe mundial pois que impeliam para a eclosão de uma nova
guerra. Entretanto a postura adoptada pelos países do 3º mundo
assente no movimento não alinhado contribuiu para atenuar esta
política internacional na medida em que apresentava princípios e
objectivos para tentar colmatar esta situação de crise política.

A coferência de Bandung de 1955 serviu de base para lançar o


projeto dos países não alinhados expressos através dos seus 10
princípios. A conferência de Belgrado em 1961 ratificando os
princípios de Bandung delineou as linhas mestres de acção do
movimento dos países não alinhados. O impacto deste movimento
pode medir-se através das lutas incansáveis pelas independências, a
tentativa de combater a neocolonização procurando erradicar todas
formas de exploração, submissão entre os povos no mundo,
defendendo o princípio de autodeterminação de acordo com a carta
da ONU.

Todavia é imperioso recordar que apesar do não alinhamento, os


países do movimento acabaram alinhando-se ao bloco socialista
adoptando o socialismo como a ideologia política.

Com o desmoronamento da URSS e a consequente queda do murro


de Berlim, o movimento continuou actualizando os seus propósitos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 114

colocando como preocupações: fome, a pobreza, o terrorismo, a


crescente disparidade entre os países ricos e pobres, entre outros
problemas.

De cimeira em cimeira, os países não alinhados procuram até hoje a


emancipação e o melhoramento da situção politíca, económica e
socio-cultural dos países do sul.

Exercícios
1. O que entende por Movimento dos Países Não - Alinhados?

2. Explica o contexto Histórico do Surgimento do Movimento


dos Países Não - Alinhados.

3. Aponta os objectivos da Conferência de Bandung.

4. Enuncia os dez Princípios de Bandung.

5. O que significa Neutralidade Positiva?

4. Refira se ao impacto e o panorama actual dos Países Não -


Alinhados.

Resolva os exercícios números 2, 3, 6 e 7.


Fassa a síntese da Unidade III, em 5 páginas.

Auto-avaliação
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 115

Unidade XI
O Pan – Africanismo

Introdução
A Unidade IV, irá cingir-se ao Pan-africanismo, que teve o seu início nas
Américas, como reflexo da escravatura, e da descriminação racial. A
mesma tem como suporte bibliográfico, os seguintes autores:
CARRILHO (1975); HEDGES (1995); RECAMA (2006) E KI-ZERBO
(1991).

Quanto a estruturação, o mesmo, aborda o contexto histórico do seu


surgimento, os objectivos e suas manifestações.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Dar o conceito do Pan - Africanismo;


 Contextualizar o Pan - Africanismo;
 Explicar as causas do Pan – Africanismo;
Objectivos
 Indentificar os precursores do Pan – Africanismo;
 Analisar o impacto do Pan – Africanismo.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 116

11.1 conceito de Pan - Africanismo


O Pan – africanismo, tal como a negritude é uma orientação filosófica,
política e sócio cultural dos afro – americanos dentro da luta pelas
liberdades africanas, versando fazer face às barreiras raciais, sociais e
políticas que eles enfrentavam. (RECAMA 2006, p. 80).

11.2. Contexto Histórico do seu Surgimento


No âmbito do comércio de escravos (século XVI – XVIII) muitos
africanos foram traficados para as americas, onde foram submetidos a
trabalhos forçados. Neste contexto, uma mentalidade europeia racista
preside ao comercio de escravos. Entretanto, a rebelião do africano, numa
primeira fase, nasce como resposta a condição de escravo e mais tarde
pela discriminação racial, pois estes começaram a ver-se invariavelmente
na situação de negro e escravo ao mesmo tempo, o que provocou sem
dúvida o nascimento de uma situação colectiva de mal estar dos negros
americanos e mais tarde (com a colonização em África), (CARRIHLO,
1975, p. 62).

Terminada a escravatura a massa dos trabalhadores negros foi relegada


para o papel de subclasse, destinada a fazerem-se sentir inferiores,
mesmo as classers brancas subordinadas ou numa classe abaixo dos
negros, espezinhando o Homem de raça negra.

Perante o racismo da sociedade, a primeira necessidade dos negros


americanos foi de eliminar a exploração, as brutalidades e cruelidades,
bem como as discriminações raciais.

Portanto, são destacadas como figuras principais: Sylvestre William, de


Trindade, W. E. B. Du Bois (que é considerado o pai do Pan –
africanismo), dos E.U.A e Marcus Garvey, natural da Jamaica.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 117

11.3 Desenvolvimento do Pan – Africanismo


11.3.1. Objectivos

O Pan – Africanismo visava eliminar a exploração, as brutalidades, as


cruelidades e as discriminações raciais, a união de todos africanos num só
Estado, alcançar as independênciais de todoso os Estados africanos.

Suas manifestações
Vários autores afirmam que, este movimento nasceu nas Antilhas, nos
princípios do século XX, sendo uma manifestação de solidariedade entre
os negros das Ilhas inglesas e negros do sul dos EUA. Neste âmbito,
Sylvestre William, numa reunião em Londres defendeu a necessidade de
proteger as terras livres de África (Etiópia e Libéria).

Du Bois, foi fundador da National Association for the Advancemente for


Colourede People N.A.A.C.P (Associação Nacional para o Progresso da
População de Cor), faz parte dos mais entusiastas adeptos do regresso dos
negros americanos nas suas “origens” e portanto, do “repatriamento” da
população negra norte americana para a África. (já no século XIXI se
tinha feito uma tentativa nesse sentido e de que resultou na criação da
Libéria).

A terceira personalidade, Marcus Garvey, que ficou célebre por arrastar


multidões nas suas iniciativas, que iam desde os grandes comícios em
enormes estádios, até à fundação de seitas religiosas (com anjos negros e
um satanás branco) e de companhias de navegação. No entanto, a sua
importância está no vigor que imprimiu ao movimento e no modo como o
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 118

divulgou em contacto directo com as massas de negros norte americanos.


(História de Moçambique, s/d, p. 282:284).

Recama, (2006, p. 80), refere que foram realizados cinco congressos. O


primeiro realizado em 1919, em París, foi orientado por Du Bois e
debateu a questão internacional das antigas colónias alemãs.

O segundo, realizou-se em 1921, em Londres, sob direcção de Du Bois,


onde se fez apelo a igualdade das raças.

Os terceiros e quatro congressos realizaram-se, respectivamente, em


Londres e Lisboa (1923) e em Nova Iorque (1927). Neste último as
reivindicações, embora sem consequências imediatas, incidiram mais
concretamente sobre o direito dos africanos às suas terras e recursos
naturais, direito à justiça tradicional, extensão da educação gratuita dos
colonizados, participação política e económica, proibição do tráfico do
alcóol e de escravos.

O quinto congresso, realizado em 1945, em Manchester. Nele apareciam


novas lideranças ao lado de Du Bois onde pode-se destacar os nomes de
Kwame Nkruman, George Padmore e Peter Abraham. Novamente
insistiam na luta contra a exploração económica colonial e reclamavam o
apoio a independência da Argélia, de Marrocos e outras possessões
coloniais da África ocidental.

Concordando com o raciocínio apresentado por Recama (op. Cit),


História de Moçambique (s/d, p. 282 – 284), frisa que, o principal teórico
do Pan – africanismo foi o jornalista George Padmore (1903 – 1969),
tornou-se o principal conselheiro de Nkruman e escreveu uma obra
intitulada pan – africansmo ou comunismo? (1995), onde, expôs os
objectyivos do movimento: o governo dos africanos, para os africanos,
respeitando as minorias sociais e religiosas.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 119

11.3.2 Impacto do Pan – africanismo


Portanto, o Pan – africanismo criou raízes para o nacionalismo africano,
que de seguida iremos tratar.

O Pan – africanismo lutou contra a exploração, as brutalidades e a


crueldade bem como as discriminações raciais.

O Pan – africanismo, permitiu o desenvolvimento do espírito de


solidariedade entre os negros americanos e do mundo inteiro.

Pode-se também, referir que o Pan – africanismo serviu de base para o


surgimento do nacionalismo afircano e este por sua vez, impulsionou o
surto do nacionalismo moçambicano.

Sumário
O Pan – africanismo lutou contra a exploração, as brutalidades e a
crueldade bem como as discriminações raciais. Permitiu o
desenvolvimento do espírito de solidariedade entre os negros americanos
e do mundo inteiro

Pode-se também, referir que o Pan – africanismo serviu de base para o


surgimento do nacionalismo afircano e este por sua vez, impulsionou o
surto do nacionalismo moçambicano.

Exercícios
1. O que entende por Pan - Africanismo?
2. Explique o contexto histórico do surgimento do Pan - Africanismo.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 120

3. Aponte as causas do Pan – Africanismo.


4. Indentifique os precursores do Pan – Africanismo.
5. Explique o impacto do Pan – Africanismo.

Resolva os exercícios 2, 3 e 5.

Auto-avaliação
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 121

Unidade XII
O Nacionalismo

O nacionalismo é uma tese. Em sentido estrito, seria um


sentimento de valorização marcado pela aproximação e
identificação com uma nação, mais precisamente com o ponto de
vista ideológico. Segundo ERNEST Gellne (1983) o nacionalismo
é a ideologia fundamental da terceira fase da história da
humanidade, a fase industrial, quando os estados nação se tornam a
forma de organização político cultural que substitui o império ].

Costuma diferenciar-se do patriotismo devido à sua definição mais


estreita. O patriotismo é considerado mais uma manifestação de
amor aos símbolos do Estado, como o Hino, a Bandeira, suas
instituições ou representantes. Já o nacionalismo apresenta uma
definição política mais abrangente Por exemplo: da defesa dos
interesses da nação antes de quaisquer outros e, sobretudo da sua
preservação enquanto entidade, nos campos linguístico, cultural,
etc., contra processos de destruição identitária ou transformação.

São vários os movimentos dentro do espectro político-ideológico


que se apropriam do nacionalismo, ora como elemento
programático, ora como forma de propaganda.

O nacionalismo Africano é fruto do Pan - Africanismo, e reflexo da


situação vivida no Mundo pós Segunda Guerra Mundial, que temos
vindo a referir
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 122

Depois de lida a unidade deverás ser capaz de:

 Conceitualizar o nacionalismo;
 Contextualizar o surgimento do nacionalismo africano;
 Explicar as causas do nacionalismo africano;
Objectivos
 Indicar os grupos motores do nacionalismo africano.

12.1Conceito de nacionalismo
O nacionalismo, num sentido estrito, seria um sentimento de
valorização marcado pela aproximação e identificação com uma
nação, mais precisamente com o ponto de vista ideológico.

Nacionalismo, pode ser definido como sendo reivindicação política


de nacionalidades oprimidas; Bragança (1978) citado por Reclama,
(2006, p. 43), considera o nacionalismo como sendo “a tomada de
consciência por parte dos indivíduos ou grupos de indivíduos numa
nação ou desejo de desenvolver a força, a liberdade ou
prosperidade dessa nação”.

Falar de nacionalismo africano é falar de um despertar nacional, é


falar da tentativa sofrida de ressurgimento de uma personalidade há
um século negada; é falar da tentativa de opor-se ao poder opressor
estrangeiro forçosamente estabelecido no continente. Daí que se
torna importante sublinhar que:

O nacionalismo só é justificável quando um povo se encontra oprimido,


ele concentra então numa aspiração bruta as diversas forças sociais;
igualmente humilhadas e que vivem na esperança. Mas, uma vez liberto
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 123

esse povo, já o nacionalismo não pode fornecer respostas séria aos


problemas reais. Não passa de excitação estéreis e de contradições
indefinidas. Toma-se o álibi dos privilegiados, que recorrem ao mito da
totabilidade para fazerem esquecerem as desigual idade reais”.(KI-
ZERBO, 1991, p. 157)

12.2 Ideologias
A história dos séculos XIX e XX, foi marcada pela opressão
colonial. A situação colonial era de exploração económica aliada á
discriminação racial, muitos africanos foram atingidos por esta
presença opressora, e, como resultado desta situação, estabeleceu-
se uma unidade entre os povos explorados, dando inicio ao
nacionalismo em África. Portanto, o nacionalismo em África
surgiram como contestação a esta situação colonial.

Recama, ( 2006, p. 43) apresenta três fases das manifestações


nacionalistas africanas: a imitação da cultura europeia; a
redescoberta dos valores tradicionais; a procura de uma síntese. Isto
quer dizer que a África colonizada usou inicialmente os próprios
meios do colonizador ( a sua língua, a sua técnica, a sua religião,
as suas ideias ) para acabar com o sistema de opressão colonial.

É por isso que o nacionalismo em África se realiza nas cidades,


onde não só estão os intelectuais; como também a presença colonial
é mais constante é próxima. Assim, os escritores e poetas
exprimiram a sua revolta na língua colonial; e ainda recorreram a
noções como irmandade, democracia e igualdade. E mais tarde
encontraram no socialismo as armas para a luta contra a
exploração, a miséria e o desemprego.

Portanto em áfrica foi só entre uma minoria diminuta que, a


principio, se desenvoleu a ideia de acção nacional em
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 124

contraposição com a acção local, minoria essa predominantemente


urbana, composta de intelectuais e assalariados, individuos
essecilmente desenralizados do sistema tribal, na sua maioria
africana assimilados e mulatos. O seu nacionalismo manifestou-se,
principalmente ao nivel das associações, da imprensa e da poesia.
(idem).

Quanto a origem, ki-Zerbo, ( 19991, p. 157-58 ) explica que, o


despertar do nacionalismo em áfrica pricipiou com os primeiros
antagonismos com os estrageiros e o periodo colonial constituiu
apenas uma fase histórica durante qual o nascimento se exprimiu
sob forma de reviolta, e as novas circostâncias histórica
conferiram-lhe a estrutura de uma revolução. Estes factos levaram a
que, em 1963, 29 paises africanos conhecessem a independêcia, por
oposição ao ano de 1940, em que somente a Libia se encontrava
livre do jogo colonial.

12.3 Nação

Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas,


geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e
tendo os mesmos costumes, formando assim, um povo, cujos
elementos componentes trazem consigo as mesmas características
étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua
e consciência nacional.

Moçambicana”, insere-se na operacionalização do programa de


estudos da cadeira de História das Instituições Política IV.

Quanto a estruturação do trabalho, primeiro são apresentados


alguns conceitos que permitirão a compreensão dos assuntos
abordados, como é o caso, de Ideologia, Nação e Estado. Depois,
apresentar-se-á o contexto histórico da formação da nação.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 125

A Construção da nação é espelhada em três pontos essenciais,


sendo a construção da Nação no período antes da independência,
nas zonas libertadas; no período pós independência e por fim
aborda-se as causas da passagem do monopartidarismo ao
multipartidarismo, para depois analisar-se a construção da nação
neste período da democracia.

Depois de ler esta unidade deverá ser capaz de:

 Explicar o contexto histórico em que surge a Nação

Objectivos moçambicana;
 Descrever o processo da construção da Nação moçambicana
durante a luta armada, nas zonas libertadas;
 Caracterizar o projecto político da construção da Nação
moçambicana no período pós independência.

8.1. Conceitos
8.1.1. Ideologia
Segundo Freitas, (s/d, p. 147), “ ideologia é um conjunto de ideias,
conceitos, princípios, doutrinas, designadamente políticas e sócio –
economicas, próprias de um grupo social/ ou de uma época, traduzindo
uma certa situação histórica”.

Entretanto, passa a ser um conjunto de ideias políticas, sócios –


económicas, levadas a caba por um grupo de indivíduos que detêm o
poder de moldar a sociedade aos seus interesses.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 126

8.1.2. Nação
De acordo com o site http://www.usccb.org Nação é “um conjunto de
indivíduos dotados de liberdades naturais, unidas por interesses e idiomas
comuns, constituindo uma individualidade política com direito á auto –
determinação”.

Todavia, nação é uma unidade e identidade dos povos, onde os valores


morais, a língua, hábitos, costumes e tradição histórica constituem o
alicerce para sua existência.

Na perspectiva africana, o conceito de nação não é representativo da


realidade social, pois, é pouco credível que a formação dos Estados
nacionais em África se processe dos mesmos moldes europeus, visto que,
trata-se de Estados multi – étnicos, nos quais é característica a exigência
de dialogo e de participação inter – étnica no processo de
desenvolvimento nacional.

Como afirma Magode (1996, p. 46) “na maioria dos casos


africanos, a construção da nação esta apenas na sua fase incipiente.
Os jovens Estados do terceiro Mundo em geral, e de África em
particular são Estados sem Nações, pois, nestes países, o conceito
de nação circunscreve-se apenas a um programa político e não a
realidade social”.

Portanto, a construção da nação em Moçambique irá basear-se nos


princípios ideológicos que projectavam a formação de um Estado
nacional soberano, com uma população de composição étnico -
cultural quase homogénea.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 127

Mas, a rigor, os elementos território, língua, religião, costumes e


tradição, por si sós, não constituem o caráter da nação. São
requisitos secundários, que se integram na sua formação. O
elemento dominante, que se mostra condição subjetiva para a
evidência de uma nação assenta no vínculo que une estes
indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver
coletivo. É, assim, a consciência de sua nacionalidade, em virtude
da qual se sentem constituindo um organismo ou um agrupamento,
distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e
necessidades peculiares.

Nesta razão, o sentido de nação não se anula porque seja esta


fracionada esta entre vários Estados, ou porque várias nações se
unam para a formação de um Estado. O Estado é uma forma
política, adotada por um povo com vontade política, que constitui
uma nação, ou por vários povos de nacionalidades distintas, para
que se submetam a um poder público soberano, emanado da sua
própria vontade, que lhes vem dar unidade política. A nação
preexiste sem qualquer espécie de organização legal. E mesmo que,
habitualmente, seja utilizada em sinonímia de Estado, em realidade
significa a substância humana que o forma, atuando aquele em seu
nome e no seu próprio interesse, isto é, pelo seu bem-estar, por sua
honra, por sua independência e por sua prosperidade.

Uma das primeiras obras que lançam luzes sobre este tema é o
livro de Adam Smith publicado em 1776, A Riqueza das Nações,
que apesar de utilizar o termo "nação" para designar as várias
organizações humanas, não se debruça em uma categorização
minuciosa, deixando aberta sua interpretação. A colaboração mais
visível desta obra é a vinculação do termo nação à organização
social necessária para a organização das relações econômicas
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 128

entre as sociedades, ou seja, o Estado. Essa vinculação deu origem


a uma corrente de pensamento teórico que sustenta o
capitalismo.

Neste mesmo período, surgiram duas revoluções interligadas em


vários ideais. A primeira foi a Revolução Americana de 1776 que
em com base na Declaração da Independência dos Estados Unidos
da América a Revolução Francesa lança a sua Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão onde o termo "nação" foi
utilizado para identificar a reunião do povo para legitimar o novo
poder e as novas leis que agora não adivinham de um poder
monárquico legitimado por uma religião, mas sim pelo povo
reunido pela sua autodeterminação. É nesta acepção política que
emergem os Estados-nação na Europa e nas Américas.

Durante o Século XIX, as organizações humanas discutiram vários


modelos de organização em todo o mundo e na Europa se
fortaleceram Estados que mais tarde seriam consideradas as
nações de origem de várias colônias pelo mundo tais como França
e Inglaterra. A Alemanha e a Itália passaram por diversas reformas
e conflitos internos (Unificação Alemã e Risorgimento) que
resultariam em organizações políticas e territóriais com poder
centralizador e uma organização do Estado unido pelo idioma e
pela luta de mercados e unificações monetárias.

Ao final do século XIX e começo do XX, houve a expansão do


Imperialismo que culminou com a Primeira Guerra Mundial. Este
momento foi de grande apreensão sobre o que é o sentimento
nacional, o Nacionalismo que levou a morte tantas pessoas e
vários intelectuais publicaram estudos sobre o tema, tais como
Lord Acton, Ernest Renan e Otto Bauer. Os países vitoriosos da
guerra tentaram criar a Liga das Nações o que futuramente, após
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 129

novo massacre na Segunda Guerra Mundial, resultaria na


Organização das Nações Unidas, a principal organização .

Muitas vezes, o nacionalismo (como sentimento comum de uma


comunidade humana) entra em conflito com os estados formados
institucionalmente, o que leva a lutas políticas, guerrilhas,
terrorismo (consoante o ponto de vista: por exemplo, vários países
- não obstante a dura repressão do governo indonésio -
consideravam a guerrilha timorense como terrorismo, o que em
Portugal - e agora que Timor-Leste se definiu como estado - não
era de forma alguma aceito, tendo em conta o apoio institucional
dado a este movimento de libertação nacional). Isso verifica-se em
várias comunidades, sendo algumas delas os curdos e os bascos.

Uma manifestação diferente do nacionalismo é o irredentismo,


que é a aspiração de um povo a completar a própria unidade
territorial nacional, anexando terras sujeitas ao domínio
estrangeiro ("terras irredentas").
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 130

Unidade XIII
O NACIONALISMO EM
MOÇAMBIQUE (1950-1960)

Introdução
A Unidade que vos é apresentada, com tema “O Nacionalismo em
Moçambique (1950-1960)”, insere-se na operacionalização do programa
de estudos da cadeira de História das Instituições Política IV.

Quanto a estruturação, o mesmo contem a contextualização, as causas do


nacionalismo em Moçambique e a caracterização das acções dos grupos
motores.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 131

 Explicar o Contexto Histórico em que surge o nacionalismo


Moçambicano;
 Descrever as causas do nacionalismo em Moçambique ;
Objectivos  Caracterizar as acções dos grupos motores.

13.1 Causas do nacionalismo em Moçambique e grupos motores


O desencadeamento da luta de libertação em Angola e a independência
do Tanganhica, vieram estimular sentimentos patrióticos. Mas é,
sobretudo, o processo de evolução no interior de Moçambique que vai
desencadear o movimento unificado do centro Associativo dos negros de
Moçambique. Idem.

Embora, numericamente fracos e sujeitos a uma repressão constante,


esses grupos aparecem como expressão do sentimento patriótico a
animar, sobretudo massas urbanas.

Como foi referido anteriormente, Moçambique neste período, sob a


dominação do colonialismo Português, caracterizado por um sistema de
administração directa. Este facto favoreceu a formação de muitos outros
grupos associativos, entre os quais a UDENAMO (União Democrática
Nacional de Moçambique, formada em 1960), a MANU (Mozambican
African National Union, formado em 1959), UNAMI (União Nacional
para Moçambique Independente, fundado em 1961) e outros grupos
associativos.

O amadurecimento destes movimentos teve lugar em Tanzania onde a


situação política, acompanhada pela proclamação da independência em
1961, favoreceu a sua implementação e posterior união. RECAMA, frisa
que “é nesta fase crucial de implementação destes movimentos que
surgem vários esforços associados para a criação de um movimento
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 132

unitário influenciado pelos ideias Pan – africanistas tão preparados por


N´Krumanh, como pela conferencia da CONCP (Conferência das
organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas), que defendia a
representação unitária e pelo contexto político que caracterizava a África
da então” (RECAMA , 2006, p. 45).

O conselho consultivo da CONCP, reunido em sessão extraordinária de


13-15 de Junho de 1962 em Rabat (Marrocos) exprimiu a sua profunda
preocupação quanto à gravidade da situação do povo africano de
Moçambique em relação ao verdadeiro desenvolvimento da luta de
libertação nacional, pois era, um facto que em Angola, na Guiné
(portuguesa) e até nas ilhas de cabo verde e de são Tomé e Príncipe, onde
o isolamento geográfico e político tinha criado dificuldades aos
nacionalistas, a luta pela libertação nacional estava contudo, a
desenvolver-se rapidamente. Entrentanto, em Moçambique, onde 65
milhões de africanos continuavam a ser sujeitos a todos os crimes do jugo
colonialista português, existia um notório atraso. BRAGANÇA, citado
por (RECAMA, idem).

É necessário observar os esforços políticos e diplomáticos de Kwame


N´Krumah, em particular, a influência decisiva do presidente Juluis
Nyerere, que exigiu a unidade e a observância da lei.

A fusão dos movimentos para a formação de uma única frente para a


libertação de Moçambique, constituiu, assim, a única saída necessária,
independentemente de quem fosse o líder. Esse facto, consumou-se a 25
de Junho de 1962, tendo Eduardo Mondlane sido eleito presidente da
Frente. Assim, a unificação dos movimentos independetistas então
existentes (MANU, UDENAMO, UNAMI) resultou na formação da
FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique). Foi esta frente que
desencadeou a luta de libertação nacional que culminou com a
independência nacinal em 1975.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 133

A FRELIMO, passou a desenvolver um objectivo específico, atingir a


autodeterminação e a independência nacional e fazer corresponder a
indentidade política e a identidade nacional. Deste modo, após a
independência, não se podia falar de nações moçambicanas sem se falar
de Estado Moçambicano. A nação e o estado eram realidades indistintas.

De um modo geral, nota-se que o nacionalismo em Moçambique,


enquadra-se na conjuntura política, económica, social e cultural de África
e do mundo em geral, dos finais dos anos 40, depois da segunda guerra
mundia. A acção dos aliados (URSS, EUA, Grã-Bretanha, França, ...)
tinha o objectivo do desenvolvimento e a neutralização total do nazismo e
do facismo. Assim, pondo de lado as divergências ideológicas, todos
lutaram pela liberdade e democracia: a crescente influência mundial da
URSS com uma posição anti – colonial, e pressão dos EUA e Reino
Unido nas reformas sociais.

Essas acções, associadas a criação em 1945 da ONU (organização das


Nações Unidas), uma instituição que exigia aos países colonizadores a
independência dos colonizados, fortaleceu a ideia de descolonização entre
os dominados. Foi assim que, inspirando-se nesses factos o nacionalismo
moçambicano se tornou uma realidade.

13.2 As primeiras manifestações do nacionalismo moçambicano


Estudos sobre o nacionalismo moçambicano, sobretudo, a história
da luta de libertação de Moçambique revelam-se problemática. A
multiplicidade de versões em torno da história da luta de libertação
de Moçambique, a controvérsia, a opacidade e os equívocos que
volteiam o processo de descolonizaçãos de Moçambique,
“diminuem” o valor e peso da independência nacional.

Ao procurar-se saber quem foi o protagonista do nacionalismo


moçambicano, o imediatismo aponta para a frente de libertação de
Moçambique (Frelimo). Até porque a conquista da independência
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 134

nacional e o protagonismo ortodoxo da Frelimo se revela ser face


da mesma moeda; já que a história é dominada por uma
problemática teleológica, auto justificativa, como de Bragança já
havia constatado nos seus estudos (1991:34).

Entretanto, o protagonismo da FRELIMO enquanto uma frente de


libertação nacional encontra eco a partir da união das três principais
organizações nacionalistas: a União Democrática Nacional de
Moçambique (UDENAMO), União Nacional de Moçambique
Independente (UNAMI) e a Mozambican African National Union
(MANU). A ser assim, surge o problema de explicação dos
mecanismos que foram usados para a união destas organizações,
partindo de antemão que estas organizações tinham carácter
etnicista, tribalistas, regionalista e com ideologias e interesses
diferentes. Aliás, nos escritos de Mondlane (1994:106-108) consta
que:

A fusão das três organizações nacionalistas, marcou o primeiro


passo da “união-desunião” e, consequentemente o 1º Congresso do
movimento, no qual se aprovaram os estatutos e programa, elege-se
o Comité Central, definem-se as bases essenciais da política da
frente (Vieira, 1990:32). O 1º Congresso aprovará, por isso mesmo,
o princípio de eliminação do colonialismo por todos os meios
(Ibid).

Entretanto, a eliminação do colonialismo por todos os meios deve


ser entendida no contexto da dinâmica de modus vivendi e modus
operandi da própria África e do Pan-Africanismo.

Pius Okigbo (1993), citado por Picasso (2003:70) identificou 3


fases que conduziu às independências políticas dos países
africanos, na qual Moçambique faz parte:

• 1957-1972: a fase da euforia pelas independências;


• 1973-1982: a fase de crise de desenvolvimento
• 1983-1990: o período de catástrofe;
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 135

Esta euforia pelas independências[5], que ressuscitou a


“consciência da chamada intelligentsia africana” visava por fim às
políticas metropolitanas de dividir para reinar, traçadas na
Conferencia de Berlim (1884-1885); conferência que veio acelerar
a ocupação efectiva.

Face a esta intelligentsia africana, Nkrumah rapidamente tornou-se


um porta-voz contra a dominação colonial e todas as formas de
exploração do Homem pelo Homem quando no seu discurso
repisava que:

Outrossim, nota-se que a política externa do novo Estado


moçambicano é o produto do difuso prolongamento natural da
política externa do Movimento (FRELIMO), que foi transitando,
ganhando outra roupagem nas etapas posteriores, consubstanciada,
especialmente, aquando da realização do III Congresso de 1977.

O contexto histórico em que Moçambique se encontrava dava-lhe


poucas possibilidades de buscar apoio no Ocidente para derrubar o
colonialismo, por simples facto de a metrópole Portugal ser
membro da NATO e estar ligado a certos nichos de influências
ocidentais. De acordo com vários estudos publicados sobre o
nacionalismo moçambicano, o deslizamento de Moçambique para o
Bloco Leste (U.R.S.S. e a China), foi mesmo para eliminar o
colonialismo por todos os meios. Apesar de jogos de influência
entre EUA-NATO, U.R.S.S. e tensão entre esta e a China, a
FRELIMO assumiu seu pragmatismo político-ideológico e
diplomático e, seu apoio limitante a Israel. Estes nichos de
influência ditaram certos apoios estratégicos à FRELIMO (Sitoe,
2000:34-35).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 136

Ainda caminhando com Sitoe (Ibid:37-38) o apoio externo à


FRELIMO veio, para além da U.R.S.S. e a China, de outros
organismos como:

• Apoios da então OUA, sobretudo através do Comité de


Libertação;
• Apoios dos grupos dos Países Não-Alinhados;
• Apoio dos Países Nórdicos, excluindo o apoio militar, e;
• Apoios de Movimentos e Organismos Humanitários;

Entre as primeiras organizações associativas mais importantes, lançadas


por assimilados e mulatos, pode-se destacar o Grémio Africano de
Lourenço Marques, fundado em 1908 e oficializado em 1920, mudando o
seu nome para Associação Africana da Colónia de Moçambique. Teve
como primeiro presidente João Albasine. Uma outra associação a
destacar é a Liga Africana, nascida em 1910. Esta Associação chegou a
patrocinar a segunda parte do congresso Pan – africano, realizado em
Lisboa, em 1923. Merece referência o partido Nacional Africano,
formado por elementos das colónias, que protestou, junto da organização
internacional do trabalho (OIT), acerca das condições de trabalho forçado
na “África Portuguesa”. (RECAMA, 2006, p. 44).

Recama (op. Cit), invoca duas perspectivas, que explicam a origem do


nacionalismo em Moçambique, onde a primeira, a mais globalizante
refere que a gestão do nacionalismo deriva do processo colonial de
restruturaçao social das comunidades autótones e da proletairzação
urbana, das normas de descriminação racial, bem como das influências
através do trabalho forçado e das migrações. Enquanto que, a segunda, é
a mais específica e considera que o nacionalismo Moçambicano está
directamente ligado ao movimento migratório, a opressão, a exploração e
discriminação racial, específica na educação.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 137

Sumário

Em Moçambique, foi uma minoria de assalariados urbanos,


principalmente do sul do país, quem primeiro desenvolveu uma
resistência activa e organizada contra as autoridades portuguesas. O
fenómeno “nacionalista”, que despertara nos finais dos anos 50 nos
diversos territórios, teve como catalisador em Moçambique a greve
dos estivadores de Lourenço Marques, em 1956, e os problemas
com os produtores de algodão, em Mueda, a 16 de Junho de 1960.

Na Metrópole, a Casa dos Estudantes do Império desempenhou


também papel de relevo. Ali, onde passaram inúmeros dirigentes
dos movimentos independentistas, “(...) in closely guarded
discussions nationalist ideas began to crystallise (...)”(26). Além
desta e das associações académicas, foram diversas as instituições
que contribuíram para transformar o pensamento dos estudantes
africanos, como o Clube Marítimo Africano, a Casa de África e o
Centro de Estudos Africanos.

Em Moçambique, o nacionalismo inicia nas cidades, onde os


intelectuais vão criar jornais, e associações. Estes intelectuais são
na sua maioria Áfro Europeus e Áfro- Asiáticos, que procuram
reivindicar o seu espaço no mercado de emprego. Entre os jornais
mais importantes destacam-se: o Africano, fundado e dirigido por
João Albasine (1909 – 1918) e o Brado Africano, criado em 1918
pelos irmãos João e José Albasine. Estes viriam mais tarde a ser
substituídos por Estácio Dias e Karett Pott.

Entre as primeiras organizações associativas mais importantes,


lançadas por assimilados e mulatos, pode-se destacar o Gremio
Africano de Lourenço Marques, fundado em 1908 e oficializado
em 1920, e a Liga Africana, nascida em 1910.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 138

A luta de libertação em Angola e a independência da Tanzania. O


surgimento de associações de estudantes e movimentos políticos
como MANU, UDENAMO, UNAMI, entre outros, constituem os
factores do nacionalismo africano

Entre os jornais mais importantes destacam-se: o Africano,


fundado e dirigido por João Albasine (1909 – 1918) e o Brado
Africano, criado em 1918 pelos irmãos João e José Albasine. Estes
viriam mais tarde a ser substituídos por Estácio Dias e Karett Pott.

Entre as primeiras organizações associativas mais importantes,


lançadas por assimilados e mulatos, pode-se destacar o Gremio
Africano de Lourenço Marques, fundado em 1908 e oficializado
em 1920, e a Liga Africana, nascida em 1910.

A luta de libertação em Angola e a independência da Tanzania. O


surgimento de associações de estudantes e movimentos políticos
como MANU, UDENAMO, UNAMI, entre outros, constituem os
factores do nacionalismo africano.

Exercícios
1. Em que Contexto Histórico surge o nacionalismo
Moçambicano?
2. Refira as causas do nacionalismo em Moçambique.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 139

Unidade XIV
A Construção da Nação
Moçambicana antes da
independência (1950-1960).
Introdução

14. 1 Contexto histórico da formação da Nação Moçambicana


 A Nação moçambicana, surge no contexto da reivindicação
à dominação colonial portuguesa, cujas bases lançam – se
quando três organizações nacionalistas a MANU14,
UDENAMO15 e a UNAMI, decidiram constituir – se numa
única frente de libertação de Moçambique (FRELIMO), a
25 de Junho de 1962, em Dar- es- Salaam (Tanzânia).
(MAZULA, 1995, p. 103).

14
MANU (União Nacional Africana de Moçambique), formada em 1961, na
Tanzânia.
15
UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique), formada em
1960, no Zimbabwe;
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 140

A FRELIMO simbolizava nesse momento o culminar de


resistências seculares do povo moçambicano, conduzidas
isoladamente e localmente contra o colonialismo de 500 anos.

No entanto, por outro lado, marca o inicio de novos desafios, uma


etapa de contradições de outro tipo. Não se tratava, apenas, de
conduzir militarmente a luta pela liquidação total e completa do
colonialismo, mas de iniciar, ao mesmo tempo o processo de
construção e consolidação da unidade nacional, numa dimensão
político - cultural mais abrangente para a edificação de um Estado-
nação.

Todavia, era preciso eliminar as autoridades que coexistiam no


sistema colonial, nomeadamente à dos chefes tradicionais e a
própria administração colonial. No entanto, o poder dos chefes
tradicionais tem a sua origem na sociedade tradicional e no passado
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 141

baseava – se numa concepção popular de legitimidade, e não na


força. Isto, podia criar problemas de tribalismo e regionalismo no
futuro, contrapondo assim a ideia da construção duma sociedade
unitária e igualitária. Para além destes apoios, regista-se uma
solidariedade activa da FRELIMO com a Tanzânia de Julius
Nyerere e a Zâmbia de Kenneth Kaunda, para além da
concentração com o MPLA e o PAIGC por intermédio da
Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias
Portuguesas (CONCP).

Em síntese, pode-se afirmar, que com a conquista da independência


nacional em 1975, e segundo relatórios da FRELIMO de III e IV
Congressos de 1977 e 1983, Moçambique procurava uma inserção
internacional para resolver seu interesse nacional imediato-a luta
pelo subdesenvolvimento e reconhecimento de novo Estado na
arena internacional.

Esta visão é complementada por Sérgio Vieira (1988)[8] que já


havia afirmado que “política externa de Moçambique tem sua raiz
na teoria e na prática na luta armada da FRELIMO pela
independência de Moçambique”. Por outras palavras, a política
externa era mais de abertura e de conquista de amigos, ou seja,
“ganhar mais amigos sem perder os velhos”, ou como diria
Mondlane “amizade com este não deve singificar inimizade para
com outrem”

Assim, nas palavras de Sitoe (Ibid:38), a FRELIMO define uma


política externa (roll conception) assente fundamentalmente, sobre
os seguintes vectores:

• Uma orientação geral do Estado baseado no Não-Alinhamento,


mais exactamente: Não-alinhamento-Activo. Isso encerra, nas
palavras de Weimer (1989:6) tanto a não adesão a qualquer bloco
militar, como renúncia de pôr a disposição de potências
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 142

estrangeiras quaisquer instalações militares (base, ponto de apoio,


etc).
• Conceitualização do papel do Estado assente no anti-imperialismo
e na definição de uma independência activa e da solidariedade
activa/militante para com os movimentos de libertação, sobretudo
ao nível da África Austral e dos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa e;
▪ Anti-racismo;
• Uma enumeração de objectivos que privilegia o combate contra
os vestígios do colonialismo, a dependência neo-colonial e a
redução à escala planetária da influência das forças imperialistas. É
neste âmbito, que os Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa, incluindo Moçambique condenaram veementemente à
Indonésia pela colonização de Timor-Leste e reafirmaram o seu
apoio à FRETILIN (Weimer, 1989:6).

Enfim, a política externa baseia-se, assim, nos princípios do Direito


Internacional contemporâneo e respeita estritamente a carta das
NU.

Estes princípios estão consagrados na então Constituição da RPM.


Até porque os princípios, as prioridades e as características que no
seu conjunto constituem a concepção da política externa da então
RPM, no momento presente, representam o seu lado teórico
(Ibid:9).

Mas a prática continua sendo outra, pois ainda há evidências de


postulados da época de partido único, que prevaleceram no pós-
monopartidarismo. Por exemplo, a subelevação da figura do
Presidente (ultra-presidencialismo) e a excessiva obsessão politica;
isto é, o Presidente é aclamado e tido como Deus todo poderoso;
ele é omnipotente e omnipresente, mesmo em foras específicos,
como demonstraremos depois.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 143

É neste emaranhado que se instala a Primeira República de 1975,


após a assinatura dos Acordos de Lusaka; e sob a égide de Samora
Machel e constrói-se um Governo marcadamente militarista.

A subida de Samora Machel como presidente viera confirmar as


sábias palavras de Vieira (1990:31) que “ estes primeiros anos de
independência e o tempo da luta de libertação estão de tal modo
próximos, que em muitos casos, são os mesmos homens que
dirigiram o primeiro processo, quem comanda o segundo.

Enfim, Moçambique novo parecia estar de regresso ao arbítrio do


colonizador, na medida em que grande parte da sua população
maioritariamente analfabeta e rural (cerca de 90%) não percebia os
novos desafios que a própria independência lhes impunha[9]. Não
“percebiam” onde terminava os ditames de um regime opressor,
bem como onde iniciava a fúria por uma liberdade assustadora;
mesmo sabendo que já eram homens livres.

Os anos que se seguiram as condições de vida para a maioria das


pessoas não melhoraram. Nas palavras de Mosca (1991:125-126 e
60-61) o autoritarismo- centralismo do Estado, obrigou e impôs
uma nova consciencialização a população.
Com as “machambas colectivas” ou “machambas do povo” e
“trabalho voluntário” das populações, o “Partido-Estado”
acreditava que acelaria o desenvolvimento como se previa.
Paralelamente a “trabalho voluntário” o novo “Estado-Patrão”,
através de grande mobilização política foi organizando à sociedade,
politizando-a: criaram-se as “lojas de povo”, “cooperativas do
povo”, “Grupos Dinamizadores”, em volta de slogans como:
“Estado de operários e camponeses”, “poder popular”, “inimigo
externo”, “organizações juvenis e da mulher”, sindicalismo, células
do partido, “Guias de marcha”, “comícios populares” e nas grandes
empresas estatais havia a figura de “Comissário Político” como um
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 144

dos membros do corpo directivo, que tinha como funções, a


estruturação e organização do partido nas empresas, e a difusão da
linha política do Partido-Patrão.
O partido estava/está institucionalizado nos variados sectores do
Estado (Mosca, Ibid.).

O centralismo e o autoritarismo também prevaleciam nas formas e


métodos das burocracias, estabeleceram-se os mecanismos para a
instrumentalização da participação das populações naquilo que se
designava por democracia popular, com objectivo fundamental de
operacionalizar a aplicação das decisões das hierarquias, dai que
existia um controlo administrativo severo sobre a população.
Enfim, a obsessão política exagerada levou a coisificação do povo.

As indústrias, o sector de bens e serviços herdados mostraram-se


sem pernas para andar, mesmo com os discursos de politicamente
correctos, de construamos o futuro com as próprias mãos,
Moçambique independente não conseguira dar muitos avanços
rumo ao desenvolvimento tão almejado. De 1977-1987 o factor
fracasso sempre esteve evidente nas estratégias de
desenvolvimento. Ainda adicionado a este, os decision-makers
cumulativamente convidaram os técnicos do bloco Leste para
implementação de tais estratégias, erros políticos e económicos que
até fora reconhecido por Jacinto Veloso no recente livro
“Memórias em voo rasante.

Mesmo com adesão ao FMI e Banco Mundial, as expectativas do


povo foram renegados ao segundo. Aliás, este período (década de
1980) em que Moçambique decide assinar Acordos de Nkomati
(1984) e rompe o cerco, expressão muito usada pelos políticos do
movimento, as medidas económicas para limpar as nódoas de um
sistema errôneo, não ficaram livre de criticas. Muito recentemente
um Bispo de Nampula afirmara que os “patrões de Moçambique
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 145

são o FMI e Banco Mundial”. As críticas ao FMI e Banco Mundial


não só se devem aos roteiros das suas imposições, como também
em grande medida, deve-se ao pacote de reajustamento estrutural
(Terapia de chove), que primeiro conduziu ao estimulo da
economia, e depois à distorções, declineo em cadeia até falência
generalizada das indústrias que outrora revelava-se incapazes de
andar com próprias pernas. Joseph E. Stiglizt, nobel de economia
afirmara que no programa de ajustamento estrutural o factor
fracasso sempre foi consequente, pois as hipocrisias sócio-politicas,
sub consideração de factores socios-culturais e outros são
apontados por este académico como causas do insucesso.·

Com a revisão da então Constituição de 1975, no limiar da década


de 1990, Moçambique procurava outras muletas para se locomover
das constantes falhas que fora cometendo. A Constituição de 1990
abre espaço para pluralismo político e abertura económica. Já em
1992, com a assinatura do Acordo Geral de Paz que encerra cerca
de 16 anos de luta entre a Renamo e a Frelimo, até então no poder.

Em 1994, como estava previsto no AGP realizavam-se as primeiras


eleições gerais e multipartidárias em Moçambique. Com uma
participação de 87,9% de eleitores registados para votar, a Frelimo
apareceu como maior partido com 44,3% dos votos, seguido pela
Renamo com 37,8%, e a coligação União Democrática (UD) com
5,2% e os restantes doze participantes ganharam 12,7% entre eles.
O candidato a presidente por parte da Frelimo, Joaquim Chissano,
obteve 53,3% dos votos e foi, portanto, eleito. O candidato da
Renamo, Afonso Dhlakama, teve 33,8% dos votos. Nenhum dos
outros dez candidatos às eleições presidenciais conseguiu mais de
3% dos votos (Nilsson, 2001:202).

A despeito desse processo eleitoral, as Nações Unidas e outros


observadores internacionais consideraram-nas de justas (Ibid:202),
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 146

mesmo com muitos problemas manifestados: um ambiente político


tenso e de desconfiança, uma estrutura de recursos económicos e
financeiros fraca, elevada taxa de analfabetismo, movimentos
intensivos de refugiados e de deslocados de regresso a casa e infra-
estruturas de comunicação deficientes (Tollenaere, 2006:8). Mesmo
assim, a natureza das mudanças era inquestionável. Dai que,
Tollenaere (2002:233) considerou que as primeiras eleições foram
mais de um voto pela paz.

As eleições subsequentes (1999, 2003 e até mesmo as de 2009) não


resultaram num ambiente mais inclusivo. As desconfianças, um
ambiente político conturbado, marcaram a corrida ao poder entre os
Big twos (Frelimo e Renamo).

O cenário político moçambicano coabita com existência de


instituições ainda enfraquecidas bem como fraca participação do
eleitorado. Por exemplo, nas eleições autárquicas de 2003, o
cenário de um eleitorado fugaz prevaleceu. Somente 24.16%
decidiu votar- isso deve ser entendido como um sinal de alerta de
um processo de liberalização e transição política conturbada. Esta
“crise” alastra-se para outros actores políticos como as
Organizações da Sociedade Civil, Comunicação Social (Media), e
outros Patridos Políticos (os chamados partidos não armados).

Em poucas palavras pode-se dizer que estes actores no seu conjunto


$$$são subjogados e colocados na posição de reféns da actual força
no poder, mesmo com a emergência dos chamados independentes
(por exemplo, a proliferação da media). Até podemos concordar
com Mazula quando afirma que estes actores até são cooptados
pelo actual sistema. Com efeito, em termos de roll conception da
politica externa de Moçamcique arriscamos a afirmar que devido as
variáveis de dinâmicas internas-externas como corrupção, pobreza,
doenças endémicas, uma democracia em estágio mais ou menos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 147

critico, endividamento externo, uma rede de infra-estruturas ainda


debéis, isso coloca posições um pouco firme de Moçambique no
meio externo, o que nos leva a afirmar categoricamente que
Governo de Guebuza com sua política economicista de de produza
moçambicano, consuma moçambicano e exporte moçambicano
continua a forjar uma política externa de continuidade e com algum
resfriamento. Isso deve ser entendido, não só devido as fraquezas
internas, mas também as imposições externas, que Moçambique é
um Estado-âncora, no sentido de que, vem acomodando a sua
política externa para salvaguardar interesses dos doadores e
granjear maior apoio. Isso equivale dizer que, o Partido-Estado
hipotecou a sua soberania para garantir maiores fluxos de ajudas e
financiamentos externos. A despeito dessa retórica, arriscamos a
afirmar, que Moçambique possui política externa pária e
desajustada a dinâmica de um SI, que requer que os Estados
encontrem muitas chaves para várias portas no mundo cada vez
mais competitivo e globalizado.

Na visão de Mondlane (1995, p. 129), “(...) a sobrevivência dos


tais sistemas, constitui obviamente um impedimento ao avanço da
revolução que tem como objectivo a igualdade social e política
(...)”.

Portanto, pretendia – se a criação de uma sociedade nova e de um


homem novo, com uma mentalidade livre da dependência
estrangeira, constituindo o desafio da construção moçambicana.

Entretanto, não tendo sido possível a eliminação do sistema


colonial por via de acordos, recorreu – se a luta armada, a qual teve
inicio à 25 de Setembro de 1964.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 148

14.2 O processo da formação da Nação Moçambicana


14.3 Antes da independência nas zonas libertadas

A Nação, de acordo com o conceito que finalmente foi consagrado


pela orientação de Willson, no fim da guerra de 1914-1918, era
entendida como uma comunidade na identificação sociológica, e
avaliada como a expressão mais sólida da solidariedade que orienta
a decisão de suportar em comum as adversidades, os desafios, os
projectos, mantendo-se assim na sucessão das gerações, e
ambicionando a suficiência de meios, recursos e determinação para
gerir politicamente, com independência, os seus destinos.

Na conclusão de Lord Acton, de regra foi o Estado que deu origem


à Nação, e não a Nação que antecedeu o Estado, reservando assim
uma intervenção determinante para a variável do poder político e
da relação duradoira entre a dependência da população de uma sede
do poder, e o seu envolvimento longo num projecto estratégico de
governo.

Isto com a necessária reserva de reconhecer que a condição comum


de submissão a um poder alienígena também determinou a decisão
de um poder rebelde lutar pela libertação, independentemente de a
população ter atingido a definição de solidariedade abrangente do
modelo nacional. Por outro lado, é de considerar também que a
realidade nacional não obriga a que a decisão para a escolha do
modelo de governo recuse soluções de soberanias cooperativas, de
serviço, federativas, ou unitárias.

A questão transversal é a de salvaguardar a nação, sempre que este


patamar da evolução foi atingido. Esta importância da nação,
frequentemente acrescida de um projecto nacionalista que tenderá
para reprimir internamente discórdias ou dissidências, e para
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 149

animar expansionismos agressores de outras comunidades com


apelo a uma ideologia de justificação, originou um trânsito
semântico das palavras para as ideologias de libertação dos
territórios coloniais.

Tais movimentos declaravam-se nacionalistas, e chegavam ao


poder acrescentando frequentemente a convicção democrática,
umas vezes assumindo formalmente o modelo das democracias
ocidentais, outras vezes o modelo das democracias populares. Este
percurso de imagem cobriu a formação de Estados que governam
um aglomerado de etnias longe de corresponder a uma comunidade
nacional, e que são Estados autoritários também longe de qualquer
modelo democrático, muito claramente longe dos ocidentais.

O primeiro desvio consolidou-se com a aceitação do critério da


própria ONU relativo às fronteiras geográficas, condicionando as
independências pela definição arbitrária que as potências
colonizadoras tinham estabelecido, e que os estatutos da OUA
declararam definitivas.

No que toca ao segundo desvio, talvez a primeira referência esteja


no facto de que nenhuma das metrópoles colonizadoras, ainda que
sendo democracias estabilizadas como eram a Inglaterra e a França,
organizou qualquer regime de carácter democrático nas respectivas
colónias.

Quer o seu representante se chamasse vice-rei, governador, ou alto-


comissário, era sempre de um poder indiviso que se tratava. Este
modelo era o mais próximo das tradições locais, e os movimentos
de libertação, sobretudo os que adoptaram a luta armada, foi a
apropriação desse poder que tiveram como objectivo estratégico,
um alvo apoiado na experiência da cadeia de comando do período
dos combates.

A medida em que a luta de libertação nacional foi avançando,


foram surgindo territórios fora do controlo da administração
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 150

portuguesa e sendo ocupados pela FRELIMO. Esses territórios


passaram a ser chamados de zonas libertadas, onde e começa a
construir o embrião de uma nova nação, de um novo Estado, com
características populares e democráticas.

A unidade entre o povo e a FRELIMO produziu efeitos positivos


na luta:

“Até 1971, a luta havia atingido toda a província do Niassa, mais


de metade da província de Cabo Delgado, tinha – se alastrado em
toda província de Tete, havia entrado nas províncias de Sofala e
Manica”. NYASENGO, 1986, citado por MAZULA, 1995, p. 104).

Assim, em 10 anos essas zonas estendiam toda a província do


Niassa e Cabo Delgado, aproximadamente entre os paralelos 11,5’
e 14’ e toda a província de Tete. Samora Machel refere – se à elas
como zonas onde administração colonial se retirava, as populações
abandonavam as suas povoações para escapar à repreensão e viver
sobre protecção da FRELIMO:

Progressivamente este processo desenvolvia – se, surgiam as zonas


libertadas e semi libertadas, isto é, zonas onde a totalidade da vida
das massas dependia, da orientação da FRELIMO, onde no
quotidiano se aplicavam “ as nossas palavras de ordem”. Assim, uma
nova situação qualitativa era criada com novas exigências.
(MACHEL, 1980, citado por MAZULA, 1995, p. 105).

É de referir que, o surgimento das primeiras zonas libertadas foi o


ponto de partida ou a materialização do projecto de criação de uma
nação, a nação moçambicana, onde o poder estava nas mãos da
FRELIMO e implementava os seus ideais.

Mas que ideologia política será implementada pela FRELIMO para


a construção da nação moçambicana?
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 151

O projecto de desenvolvimento económico, social e cultural bem


como a base ideológica, adoptados pela FRELIMO, assenta na
seguinte premissa:

Que o colonialismo, sendo uma modalidade do sistema capitalista,


manter este, como o demonstrava já largamente a experiência da
quase totalidade dos países libertados do jugo colonial, era cair
forçosamente na forma neocolonial, portanto, impossibilitar a
realização do objectivo fundamental da luta, libertar a terra e os
homens, objectivo que correspondia, sem dúvida, a vontade da
esmagadora maioria do povo moçambicano, e era uma decisão
democraticamente tomada pelos seus membros.(MENDES, 1994,
p. 14, o sublinhado é nosso).

Desta citação compreende – se logicamente que, para que o país e o


povo fossem completamente livres e estes pudessem dispor do
direito a uma vida digna, se impunha instaurar um sistema político
económico diferente do capitalismo. E, dado o apoio prestado pelos
soviéticos, na luta de libertação, o socialismo aparecia como a
opção mais correcta. A este respeito argumenta Mondlane:

(...) actualmente, contudo, existe uma transformação qualitativa de


pensamento, surgido no decorrer dos últimos anos, que me leva a
concluir que a FRELIMO actual é muito mais socialista,
revolucionaria e progressista do que nunca, e que a linha, a tendência,
é agora cada vez mais em direcção ao socialismo do tipo marxista –
leninista (...) porque as condições de vida em Moçambique, o tipo de
inimigo que temos, não nos deixam outra alternativa (...).
(MONDLANE, citado por EGERÖ, 1992, p. 23).

Porém, a organização das zonas libertadas, a nível da estrutura


política era o partido. O trabalho de educação política, o exemplo e
as explicações dadas pelos “ responsáveis”, ajudavam a criar
condições para o desaparecimento do poder tradicional – tribal e
sua substituição por novas formas de poder. A vida administrativa
baseava – se nos comités populares eleitos por toda a população.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 152

Mas, o vazio deixado pela destruição do estado colonial colocou


um problema prático que não tinha sido claramente previsto pela
direcção: juntamente com a administração portuguesa,
desapareceram uma série de serviços, particularmente de natureza
comercial e social. Assim, logo após as primeiras vitórias da guerra
uma série de responsabilidades administrativas recaíram sobre a
FRELIMO, era preciso apoiar uma população de cerca de 800.000
pessoas que necessitavam de abastecimento adequado de alimentos
e fornecer outros artigos importantes tais como: vestuário, sabão e
fósforo. Também, era preciso criar serviços de saúde, educação e
sistemas judiciais. A propósito dos problemas, Mondlane escreveu:

durante algum tempo os problemas foram graves. Não estávamos


preparados para a amplitude do trabalho que se nos deparava, e
carecíamos de experiência na maioria das áreas onde precisávamos
dela. Nalgumas áreas, as deficiências eram bastante graves. Quando
os camponeses não compreendiam as razões deixavam de apoiar a
luta e nalguns casos abandonavam também a região. Em 1966, a crise
tinha passado e criadas estruturas embrionárias para o comércio,
saúde e educação. O novo Moçambique começava a tomar forma.
(MONDLANE, 1995, p. 131).

Mondlane, permiti – nos perceber que com o surgimento das zonas


libertadas estavam a ser construídas as bases da moçambicanidade,
dando assim a luta da libertação nacional uma dimensão política,
económica e sócio – cultural. No entanto, as zonas libertadas
deixaram de ser espaços restritos a um grupo, a uma categoria
social e a uma comunidade linhageira, para tornar – se espaço
social mais aberto, não sem contradições, caminhando para
relações sociais trans – étnicas e intra – raciais. A propósito,
Mondlane explica que:

a quando da existência das primeiras zonas libertadas, elas iam – se


constituindo em lugar, momento e espaço de perspectivação de um
projecto de uma sociedade nova e de exercício de poder, que por sua
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 153

vez exigia mudança de mentalidade e vida; de aprendizagem de


novos valores para a formação de uma sociedade não baseada no
racismo, tribalismo, regionalismo e outros tipos de preconceitos, mas
sobretudo numa ideologia de unidade nacional apartir de relações
inter - tribais e inter – regionais. (MONDLANE, 1995, citado por
MAZULA, 1995, p. 105, o grifo é nosso).

Entretanto, para a construção da nação moçambicana era necessário


ultrapassar a heterogeneidade cultural, económica e política que
caracterizava os moçambicanos. Em outras palavras era necessário
que as tribos abandonassem a sua coesão, as suas línguas e os seus
usos e costumes e seguirem os ideais de uma sociedade nova e
moderna desenhada pelos dirigentes da FRELIMO. Assim,
começavam a cruzarem – se todos os agrupamentos e camadas
sociais para a construção da “real” identidade cultural
moçambicana e de uma racionalidade colectiva de
desenvolvimento em prol da construção da nação.

É necessário sublinhar que a ideologia da construção da nação


moçambicana, é semeada nas zonas libertadas durante a luta de
libertação nacional principalmente nas escolas da FRELIMO, onde
estas exerceram um papel preponderante na construção da
consciência nacional.

Deste modo, a construção ideológica da nação sustentava – se nos


seguintes princípios políticos: criar, desenvolver e consolidar uma
sociedade para a construção de um Moçambique unitário,
internacionalista, cultural, política e militarmente auto suficiente,
próspero e independente; criar uma consciência de
responsabilidade e solidariedade colectiva livre de todo o
individualismo e corrupção.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 154

Estas ideologias visavam unir as diversas tribos e regiões que


estavam integradas dentro das fronteiras coloniais formando a
actual nação moçambicana.

Unidade XV

A constituiçaão da Nação moçambicana


no pós- independência

A luta de libertação nacional, teve como fruto a independência em


25 de Junho de 1975.

Adquirida a independência, começa outro capítulo da História de


Moçambique. Tal como o indivíduo, ao casar, continua o mesmo,
essa realidade chamada MOÇAMBIQUE ao adquirir a sua
independência, também terá que continuar a ser a mesma realidade,
num estado diferente e com responsabilidades diferentes.

Na sequência do projecto iniciado nas zonas libertadas, foram


elaborados novos desafios para a construção da nação
moçambicana. Foi nesta perspectiva, que o presidente Samora
Machel anuncia o novo desafio e as linhas gerais do projecto:

Criação de uma sociedade nova e de Homem novo, com uma


mentalidade livre da dependência ao estrangeiro; formação de uma
nação e de um Estado novo, situado ao nível das nações modernas;
desenvolvimento de uma economia baseada na agricultura e na
indústria. (MAZULA, 1995, p. 143, o grifo é nosso).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 155

A tomada do poder significava para o povo, assumir a direcção e o


controlo do campo da historicidade, valorização da sua cultura e
construção de um novo mundo.

A revolução perdia o sentido de sublevação popular violenta, de


uma revolta contra o invasor estrangeiro, para significar mais
mudança estrutural de longo prazo que provém do passado e vai
atingir o futuro. Tratava – se de revolução mais no sentido de
processo de mudança social agora com um campo de acção maior,
e estende – se a toda sociedade e não apenas às zonas libertadas. A
FRELIMO estava assumindo o desafio da revolução com uma
dimensão de processo que implica o conhecimento mais profundo
da realidade para torna – lá, ao mesmo tempo, direccionador da
acção.

O carácter revolucionador do projecto estava também no seu


carácter popular ao defini – lo como tal, a FRELIMO, estaria a
definir, pelo menos em teoria a classe dirigente em toda sociedade
como autores participantes directos do processo de construção do
campo da historicidade, ou seja, estava considerando
imprescindível o envolvimento de toda a sociedade na construção
da nação – Estado.

Baseando – se na experiência das zonas libertadas, Machel


estabelece como estratégia, “o contacto directo dos dirigentes com
as massas para o sucesso do projecto (...) e como método o trabalho
colectivo e a solução política dos problemas do país, antes de ser
administrativa, não devendo sobrepor a técnica à política”.
(MAZULA, 1995, p. 145).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 156

Por este projecto político, a FRELIMO já no poder visava instaurar


uma nova ordem social popular no país. A estratégia e o método
definidas ajudariam a manter a população sempre mobilizada e,
sobretudo, a consolidação a postura revolucionaria do partido.

Esta postura, como fruto de uma prática de luta e de superação de


contradições interna, na sua origem traduzia – se na união estreita
do ciclo dirigente com o povo na priorização de soluções políticas
às burocráticas dos problemas das massas, na reflexão dialéctica da
realidade social e na sua extensão dinâmica a toda sociedade. Ela
implicava também uma moral, uma disciplina rigorosa e um
embate energético contra os preconceitos baseadas na cor da pele,
na região de nascimento e na religião. (REIS, 1975, p. 31 – 52).

Em Fevereiro de 1977 realizou – se o III congresso da FRELIMO,


no qual ficou definida formalmente a implementação da linha
socialista.

a FRELIMO desafiava uma revolução socialista, sem


qualquer fase intermediária. Implicitamente estava a
adoptar a tese do partido comunista da união soviética,
que, em nome de Lenin, havia substituído a teoria da
necessidade fase democrática burguesa para a revolução
socialista pela do caminho não capitalista para o
desenvolvimento, graças a existência de um poderoso
bloco socialista no mundo. (MAZULA, 1995, p. 153).

Essas teses constituíam, por sua vez, premissas para o socialismo


sem nenhuma fase intermediária. Assim, os congressistas
preocuparam – se em encontrar instrumentos julgados capazes de,
em menos tempo possível superar o atraso do país e modernizá – lo
de modo a chegar ao socialismo sem alguma transição. Isso,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 157

implicava o escangalhamento das estruturas coloniais e feudais e


introdução de estruturas de novo tipo.

A este respeito o congresso respondeu com a criação de um partido


único, de orientação marxista – Leninista, a organização de um
Estado moderno e uma sociedade, dirigidos, pelo partido único.
(Idem)

O partido único foi apresentado como sendo o instrumento


modernizante, o empreendedor do desenvolvimento em diversos
domínios, com forte intervenção do Estado na planificação da
economia nacional. O estado moderno que é o Estado da
FRELIMO seria a superação dos tipos de Estados clânicos
existentes anteriormente e do Estado colonial português. Um
Estado estruturado a escala de todo País.

Neste conceito, a FRELIMO lança três elementos básicos que são:


Unidade, Trabalho e Vigilância, como forma de efectivar o seu
projecto que era de “emancipar o povo moçambicano”, e, para
responder a esses desafios, são criadas nas zonas rurais as aldeias
comunais, que eram concebidas como o epicentro, a condição
chave da socialização. Elas foram encaradas como a base de
socialização e do desenvolvimento do meio rural. A propósito,
Mendes explica que a população rural foi concentrada para:

Criar as condições de assistência técnico – científica


necessária para o aumento da produtividade, proporcionar
o acesso geral à educação e assistência sanitária, enfim,
promover salto sócio – económico significativo no sector
agrário, como uma das bases para uma transformação
radical da economia da própria sociedade. (MENDES,
1994, p. 17).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 158

Portanto, a aldeia comunal constituía a coluna vertebral do


desenvolvimento das forças produtivas no campo. “ Assim, como
as zonas libertadas serviam para guerra popular até a vitória final
contra o colonialismo português, também as aldeias comunais eram
a base do desenvolvimento da nossa sociedade (...)”. (MACHEL,
citado por EGERO, 1992, p. 129).

Com o mesmo sentido e conteúdo, orientou – se à criação de


movimento cooperativo. Também prevaleceu o método da palavra
de ordem para a mobilização geral que resultou, na prática, em
dirigismo quer das estruturas da FRELIMO, e não, como se
impunha, a partir da participação consciente, com base em
interesses reais e comuns dos interessados. Ao nível das estruturas
dirigentes, quer do governo, quer da FRELIMO, verificou – se de
um lado incapacidade resultante do desconhecimento do que é
corporativismo, de outro lado a sabotagem consciente ao processo.
E o movimento, particularmente na área da produção agrária
verificaram – se sucessos importantes.

Esta decisão apesar de ser bela na sua intenção, não teve em conta a
realidade social, económica e cultural das populações envolvidas e
nem foi posta em causa a existência da real capacidade para sua
aplicação adequada. Após a independência o complexo mosaico
cultural moçambicano reflectiu no processo da construção da
identidade nacional, particularmente no processo educativo para
garantir a integração dos moçambicanos dentro dos 16 grupos
étnicos e 24 línguas existentes16. Estes indicadores permitem
mostrar a magnitude dos desafios actuais na construção da nação
no seu verdadeiro sentido.

16
De acordo com o censo de 1980
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 159

Porém, para difundir os ideias socialista, a FRELIMO vai criar


organismos, como a OMM, OJM, que serviram de elo de ligação
entre o partido, povo e Estado.

(...) após a criação do nosso partido, deverão desenvolver – se as


organizações de massas actualmente existentes e deverão formar – se
novas organizações (...), o partido dinamizara a formação de
sindicatos (...) E criará organizações para a juventude e continuadores
com tarefas grandiosas de realizar a educação socialista das novas
gerações (...). (MACHEL In Grupo de Pesquisa, 1996, p. 30).

O partido torna – se o principal foco neste modelo social


introduzido, e através das organizações paramilitares como, os
grupos dinamizadores e os grupos de vigilância, vai controlar todas
as tentativas de contraste ao sistema vigente. Verificou – se
também uma forte centralização política por parte do partido, pois,
este liderava os processos de transformação que se operavam na
sociedade moçambicana e afirmava – se timoneira, fonte de
inspiração, vanguarda e aglutinadora das aspirações do povo.

Importa referir que, os três princípios básicos lançados pela


FRELIMO, que vinha carregado de um forte centralismo só vai
durar até 197717, pois, a população passou a revoltar – se contra os
trabalhos não bem remunerados nas machambas e contra o
impedimento do desenvolvimento individual. Assim, começa – se a
desenhar o fracasso dos projectos da FRELIMO.

Contudo, estes fracassos não se deve atribuir somente as questões


internas, embora se reconheça que estas, foram um catalisador
extremo. Também, não se deve deixar de lado a conjuntura
internacional, em que o modelo seguido pela FRELIMO estava a
ser engolido pelo capitalismo e entrava em decadência.

17
Ano em que inicia a guerra civil, que vai obrigar os dirigentes da FRELIMO a
virar as suas atenções para a eliminação do grupo emergente.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 160

Em Moçambique assistiu – se a aplicação de um vasto plano que


corresponde à prática actual do imperialismo contra os governos
populares (...) combina a agressão, a sublevação, a sabotagem
económica e desorganização geral. O objectivo consistia em, atingir
as condições de vida das massas, criar dificuldades de abastecimento,
fundamentalmente para criar descontentamento no seio do povo.
(EGERO, 1992, p. 91, o sublinhado é nosso).

Não obstante as manobras do capitalismo, o fracasso deveu – se ao


contraste entre as causas que moveram os moçambicanos para a
luta e as realidades verificadas na execução dos projectos, em que a
abolição das formas de exploração que caracterizavam o passado,
foram substituídas por novas formas de exploração, para manter a
disponibilidade e a disciplina da força do trabalho. A ideia de a
FRELIMO vestir os factos único agente da transformação social,
excluindo todos os outros, provocou no país uma condição de
incómodo para partes significativas da sociedade civil, que não
puderam participar, se não com posições marginais ou de mais ou
menos aberta oposição ao regime, à construção do novo
Moçambique.

8.4. Do monopartidarismo ao multipartidarismo


O medo e mudança lenta de mentalidade minam valores
democráticos em Moçambique.

Formalmente, copiámos das leis mais democráticas do mundo, mas


o nosso dia-a-dia não está alinhado com os valores e liberdades
democráticos. Sente-se o medo nas pessoas, um medo infundido
pelo passado monopartidário e pelas características próprias das
sociedades africanas.

Fonte: CORREIO DA MANHÃ in Moçambique para


todos -03.03.2010
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 161

A desconfiança do poder em relação ao debate público também


reflecte o pensamento tradicional africano, em que se “premeia a
hipocrisia da humildade e se combate a ambição e abordar,

Moçambique passou nos últimos 30 anos, da situação de uma


sociedade colonizada, até 1974, com o fim da dominação colonial
portuguesa, para um País independente sob uma orientação
ideológica marxista – leninista do partido FRELIMO no poder, de
1975 à 1990.

Com a constituição de 1990 introduziu - se no País o sistema


multipartidário. Até as vésperas das primeiras eleições gerais
multipartidárias, haviam sido legalizados 18 partidos políticos. O
acordo geral de Paz, assinado em Roma pelo governo da
FRELIMO e pela RENAMO, condicionou a estabilidade político
militar à introdução de um regime de governação democrático,
dentro das normas internacionalmente aceites. (MAZULA, 2000, p.
43)

Do ponto de vista social e cultural, se bem que maioritariamente


seja constituída pela população negra, a sociedade moçambicana
apresenta – se um mosaico de raças, cores e culturas. A pluralidade
social e a diversidade cultural caracterizam a sociedade
moçambicana. Apontam – se cerca de oito línguas nacionais e mais
de 100 dialectos·, sendo no entanto, a língua portuguesa a oficial do
Estado. Cada uma dessas línguas encerra a sua filosofia e uma
cultura.

Nos primeiros 12 anos da independência, como foi referido, o


sistema económico adoptado pela FRELIMO era extremamente
centralizado. Em 1987, começou – se a liberalizar a economia, por
força do programa de reajustamento estrutural desenhado pelo
Banco mundial.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 162

A construção da democracia multipartidária em Moçambique está


ainda em processo. Tendo começado com a constituição d 1990,
veio a se afirmar no acordo geral de paz de 1992 e nas eleições de
1994. A grande novidade e o valor das eleições moçambicanas de
1994 foi ter posto os cidadãos, os partidos políticos, as confissões
religiosas, as organizações não governamentais, os académicos, os
jornalistas, as autoridades tradicionais, os autores externos, a
cultura, tradição e a modernidade, a ciência, em comunicação uns
com os outros. A própria comunidade internacional passou a ser
vista e ela assumiu – se mais como actor participante e responsável
de progresso, do que mero observador externo ou doador
financeiro.

Portanto, a paz, a estabilidade política – militar em Moçambique,


estaria condicionada, cumulativamente ao exercício democrático de
poder, que implica a participação activa e responsável do cidadão e
das forças políticas no ambiente multipartidário de gestos e acções
concretas de reconciliação nacional, à realização regular das
eleições gerais multipartidárias.

Reside aqui o primeiro desafio da democracia: que a democracia


não é somente a tomada legítima do poder a manter – se somente
pela força da lei e ordem, numa perspectiva política da estabilidade
social, mas, sobretudo, consiste no exercício democrático desse
poder.

Mazula (2000, p. 46-47) conceitua a democracia no contexto


moçambicano como, “a capacidade e oportunidade de convivência
social – política – económica, na diversidade de ideias, opiniões e
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 163

cultura, para a realização de um desenvolvimento real em cada


tempo e lugar”.

A primeira observação deste conceito é que a democracia se


caracteriza por ser dialógica numa “sociedade emancipada”.
Portanto a democracia é ela própria um desafio, porque começa a
ser antes de tudo um processo de construção interna. A própria
sociedade moçambicana é chamada a ser capaz de fazer
democracia e ser democrática, tendo em conta a sua cultura e a
experiência de outros povos. Ao mesmo tempo que trabalha a sua
cultura , sublimando – a, vai construindo uma cultura democrática
necessária ao Estado de direito. Na prática significa que vai
configurando política e socialmente a oposição, decorrente do
reconhecimento do valor da diferença de ideias.

Portanto, a construção da nação moçambicana é algo em processo,


começando com a luta de libertação nacional, passando pelo
período do monopartidarismo até a introdução do
pluripartidarismo. Os moçambicanos estão empenhados na
formação da nação em moldes democráticos. Isso, envolve o
empenho de todos, sem distinção da cor, religião, raça, região e
nem filiação partidária. Para uma boa convivência democrática, é
imprescindível que se respeitem as diferenças, que se faça aquilo
que em música chamamos de equalizer18, de formas a haver uma
criação coerente da democracia, em prol da construção da nação.

A construção da nação actualmente passa por criar a convivência


entre as diferenças que a sociedade moçambicana apresenta, pois ,

18
Criar uma harmonização nas diferentes formas de pensamento, não no sentido
de uniformiza-las ou robotiza-las, mas sim, criar uma união na diversidade
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 164

o alcance da paz duradoira passa primeiro pela afirmação plena da


democracia.

Sumário

Sumariamente, pode se afirmar que o processo da construção da


nação moçambicana é o fruto de uma longa caminhada. Ela começa
com a luta de libertação nacional, que culmina com a vitória do
povo moçambicano, dirigido pela FRELIMO.

Com o avanço da luta de libertação, foram surgindo algumas zonas


sob controlo da FRELIMO, as zonas libertadas, que constituíram as
bases para o inicio da implementação da criação da nação, através
do sistema socialista.

A vitória da FRELIMO, , a 25 de Junho de 1975, os dirigente


moçambicanos põe em pratica o modelo socialista, visto como o
mais lógico para o desenvolvimento equitativo, em todo o país.
Assista – se aqui um centralismo político, um dirigismo económico
e uma forte repreensão a qualquer tentativa de empasse ao sistema.

Todavia, são lançados pela FRELIMO três elementos básicos no


modelo da construção da nação: Unidade, Trabalho e Vigilância
para responder a esses desafios, são criadas nas rurais as aldeias
comunais que serviram de epicentro da socialização e do
desenvolvimento do campo.

A construção da nação na vertente do projecto da FRELIMO, “criar


uma nação unitária na ideologia e na cultura, tornando um País
sem diversidade cultural”, fracassou. Pelo facto de a FRELIMO
deixar do lado a respeito pelas culturas, pelas divergências internas
no seio do partido, pois, começava a haver diferenças de ideias e
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 165

luta pela ascensão a cargos de dirigentes. O outro ponto não menos


importante a focar é a conjuntura internacional, em que o sistema
socialista sofria a derrocada do sistema capitalista, daí a
necessidade da viragem do sistema na construção da nação.

Assim, a constituição de 1990 permitiu a existência de outros


partidos, inaugurando a era do multipartidarismo. Porém, para uma
boa convivência democrática é importante que se respeitem as
diferenças, que haja um envolvimento de cada um de nós na
construção da nação.

Exercícios
1. O que entende por ideologia ?
2. Explique o contexto histórico em que surge a nação
moçambicana;
3. Descreva o processo da construção da nação moçambicana
durante a luta armada, nas zonas libertadas;
4. Caracterize o projecto político da construção da nação
moçambicana no período pós independência.

Resolução dos exercícios indicados.(3 e 4).


Faça a sintese da unidade VII

Auto-avaliação
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 166

Unidade XVI
Partidos Únicos em

África

16.1 A construção das Nações africanas e os partidos únicos

Após a independência assistiu-se em Africa o aderir ao sistema politico


Monopartidário ou sistema de partidos únicos, no âmbito do sistema
socialista que em muito ajudou os estados africanos a alcançarem a sua
independência.

Nesta unidade, irá estudar as ideologias usadas pelos teóricos e


defensóres dos partidos únicos, na construção das nações africanas como
é o caso de Nkrumah , Nyerere e Kennet Kaunda, assim como os
Críticos do Monopartidarismo Awolowo, Azikiwé, Enahoro e suas ideias.

Conceito do Sistema Monopartidário.


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 167

Um estado do único-partido ou sistema do um-partido ou


sistema do único-partido é um tipo de sistema do partido governo
em qual um único partido político dá forma ao governo e nenhum
outro partido é permitido para funcionar candidatos para eleição.

Às vezes o termo estado do único-partido de de facto é usado


descrever a sistema do dominante-partido onde unfair as leis ou as
práticas impedem que a oposição comece legalmente o poder.
Alguns únicos estados do partido outlaw somente oposição
partidos, ao permitir que os partidos aliados subordinados existam
como parte de um permanent coalition como a parte
dianteirapopular.

Segundo Bastos (1999:189) “é um sistema em que existe um só


partido e este exerce o poder politico.

Dentro de seus próprios países, os partidos dominantes que


governam estados excedentes do único-partido são consultados
frequentemente a simplesmente como o partido. Por exemplo, na
referência ao União Soviética, o partido significa Partido
comunista da União Soviética; na referência a República de pessoa
de Poland consulta ao partido dos trabalhadores unidos.

Também, os estados do alguém-partido podem permitir que os


membros do non-partido funcionem para assentos legislativos,
como era o caso com Formosa Tangwai movimento no 1970 e
1980s.

Em a maioria de casos, os estados do único-partido levantaram-se


de Leninista, fascist ou nacionalista ideologies, particularmente na
vigília da independência de régua colonial. os sistemas do Um-
partido levantam-se frequentemente do decolonization porque um
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 168

partido teve um papel overwhelmingly dominante no liberation ou


na independência se esforça.

Onde partido governando subscreve a um formulário de Marxism-


Leninism, o sistema do estado do um-partido é chamado
geralmente a estado comunista, embora tais estados não usam esse
termo se descrever, adotando preferivelmente o título de repúblic
de pessoa, república socialist ou república democrática.

Em estados comunistas como Cuba, o papel do Partido comunista


enshrined no constitution, e nenhum partido é permitido para fazer
campanha ou candidatos funcionados para eleição, including o
partido comunista.

Os candidatos são elegidos em um indivíduo referendum base sem


participação formal do partido, embora os conjuntos eleitos
consistem predominantly em membros do partido dominante ao
lado dos candidatos non-affiliated.

Os Supporters de um estado do único-partido apelam


frequentemente a um sentido da unidade, da força e da
comunalidade que um governo do único-partido pode emprestar um
estado. Discutem que os sistemas do multi-partido introduzem
demasiada divisão e são unsuitable para o desenvolvimento
econômico e político. Este argumento era particularmente popular
durante o mid-20o século, tantas como nações tornando-se
procuraram emular União Soviética, que se tinha transformado de
um inverso, agrarian nação em a superpower.

Um counter-argument comum é que os sistemas do um-partido têm


uma tendência se tornar rígidos e unwilling aceitar a mudança, que
os rende incapazes de tratar das situações novas e a pode resultar
em seu colapso. Este counter-argument tornou-se prendido mais
extensamente enquanto o 20o século extraiu a um fim e
UniãoSoviética e os países do Pact de Warsaw desmoronado.
Finalmente, os estados do um-partido foram criticados
frequentemente para seu disrespect para direitas humanas,
entretanto, isto é mais uma reflexão no ideology do partido no
poder, melhor que no sistema próprio.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 169

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conceitualizar o monopartidarismo;

 Indicar as Características Principais do monopartidarismo;


Objectivos
 identificar os principais defensores do monopartidarismo;

 Explicar as principais ideias defendidas pelos defensores do


monopartidarismo;
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 170
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 171

Unidade XVII
Defensores do monopartidarismo em
África

Teóricos Africanos Defensores do Monopartidarismo


Sendo o monopartidarismo um sistema de partidos políticos
advogado por muitos lideres africanos no pós-independência,
muitos deles eram radicais na sua defesa, contudo, existiram alguns
críticos que não viam com bons olhos o monopartidarismo. Dos
defensores do monopartidarismo destacam-se:

9.3.1. Nkrumah
Segundo Benot (1969:12) “a argumentação de Nkrumah é
apresentada numa obra escrita em momento em que o partido único
era o objectivo último do CPP, mas não imediata, embora se baseie
nas mesmas noções, tem mais cambiantes e é uma propriamente de
ordem histórica”.

Nas condições de ex-pais colonizado como os sistemas de


finalidade tribais e de costumes tradicionais perturbados pela
sobreposição de outras obrigações e comportamento, não pode-se
admirar pelo facto de o modelo parlamentar se ter revelado
demasiado rigoroso nuns lugares e demasiado frouxo noutros.

Nkrumah, lamenta porém que não se tenha constituído uma


oposição construtivistas a quando das independências, o que quer
dizer, que se apoiasse num programa claro, em vez de conduzir
confrontos pessoais e de atacar sistematicamente as decisões do
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 172

governo, sem as discutir e criticas, e de recorrer as conspirações e á


acção terrorista. Mas na verdade segundo Nkrumah citado por
Benot “é que o partido que levou o país a independência conserva a
sua popularidade, como o apoio de uma vasta maioria, e o seu
exercício do poder pode assumir a aparência de um regime partido
único: defende ele que o partido maioritário não pode, de qualquer
modo partilhar o mandato que recebeu do povo, e que seria trair a
vontade popular e, portanto, afastar-se da via democrática".

9.3.2. Nyerere
A citação de Julius Nyerere que Nkrumah utiliza em apoio a seu
raciocínio é de resto interessante em si própria:

“O movimento nacional conduz a luta pela independência e a conquista


vai necessariamente formar o governo do novo estado. Seria absurdo
esperar que um país, por sua própria vontade, se dividisse em dois pelo
prazer de se submeter a uma forma particular de democracia e que, alem
disse, o fizesse no decurso de um combate que exige a total unidade do
povo. Mas não se deve daí concluir que semelhante país não seja
democrático ou não vise instaurar a democracia.” Nyerere apud Benot
(1969:14)

Em Nyerere há necessidade de preservar, dentro dos limites que


não ponham em perigo a independência e a unidade nacional,
possibilidades de crítica e de discussão. No Ghana, durante muito
tempo Nkrumah, dissera não as propostas muitas vezes
demagógicas ou mesmo pérfidas que lhe eram feitas, no interior do
seu círculo, de proclamar oficialmente o CPP partido único 19:
segundo Benot, “Nkrumahinsistia na preservação dos direitos de
critica e de expressão".

19
Julgo saber que Adamafio, no tempo em que era Ministro da informação e em
que se fazia passar por homens de esquerda, fez pressão no sentido, em 1961-
1962— até a sua prisão provocada pela sua participação na conspiração do
atentado de Kulungugu. Benot (1969:14)
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 173

Na Tanzânia, Nyerere, no quadro das acções de 1965, um sistema


de candidaturas duplas, experiência até agora única no seu género
em África.

Pretendia-se com este propósito conseguir combinar a disciplina do


partido, cujos candidatos sabem ir observar as directrizes, a politica
do partido, tal com foi definida e adoptada, com a livre escolha dos
candidatos pelo povo. De facto, que procurava-se obter um equilíbrio
entre a selecção operada pelo partido e efectuada pelo povo. E foi isso
que conseguiu-se realizar. Pensava-se que este era talvez o aspecto mais
importante da constituição Tanzâniana. E pensava-se igualmente que, no
caso do partido único, o povo deveria poder eleger com toda a liberdade o
candidato que prefere de entre os apresentados pelo partido.

Deve igualmente notar-se que, tanto Nyerere como Nkrumah a teoria de


partido único parece inflectir-se pouco a pouco, partindo do problema das
classes para acabar no problema de preservação e consolidação das novas
nações.

9.3.3. Kennet Kaunda


A Zâmbia, com efeito, atingiu a independência com um partido
nacionalista largamente maioritário, o UNIP (United National
Independece Party), e com outros partidos africanos minoritários, mas
que não podiam ser negligenciado, em particular o ANC (African
National Congeress) de Nkubula, que fora entre 1948-1949, o principal
partido nacionalista.

Depois este país continuou um pais multipartidário e Kaunda disse que já


não deseja impor uma decisão de cúpula um regime de partido único; em
contrapartida, esperava que esse regime se realiza de facto: “devemos
contar com um reagrupamento diferente do nosso povo, quando a nossa
nação começa a estratificar-se em classes sociais, com o nascimento de
novas elites e a diversificação dos interesses políticos, não que o partido
nacionalista deva necessariamente desaparecer; mas, á medida que as
massas populares se tornarem mais cultas, transformar-se-á certamente
em algo diferente, o que pode acontecer por duas vias distintas: ou o
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 174

partido consegue um apoio popular tão amplo que teremos um partido


único de facto”.20

Posteriormente aponta o exemplo do Congo para mostrar os perigos da


multiplicidade dos partidos.

16.3 Características Principais do Monopartidarismo

Verifica-se que os partidos políticos são corpos dinâmicos, que


estão suscetíveis a diversas mudanças, decorrentes da conjuntura
social vivida no momento.

A idéia de imobilidade ou de manutenção de uma mesma estrutura


partidária deve ser renegada, pois, assim como a vida, a política é
uma coisa dinâmica que se renova a cada dia, modificando dessa
forma os seus conceitos, estruturas e principalmente o modus
operandi.
Essa contínua transformação é verificada através da própria história
nacional, na qual vários partidos foram criados, desfeitos,
aglutinados, em decorrência do momento histórico vivido e dos
avanços que as novas eras trazem ao nosso cotidiano.
Observa-se que a legislação pátria é pacífica, não suscitando
grandes discussões, devido à clareza e objetividade das suas
normas.

Como toda regra há exceções, existem alguns temas que


proporcionam grandes debates doutrinários, tendo como exemplos
a fidelidade partidária, a chamada clausula de barreira, doações aos
partidos políticos e as propagandas eleitorais, temas analisados e

20
Kaunda citado por Benot (1969:16)
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 175

debatidos no presente artigo.

Por fim, é notável que o real estudo dos partidos políticos não deve
ser feito de modo isolado, estudando somente os aspectos sociais,
legais, históricos e políticos separadamente.

Para que haja o devido entendimento da matéria mister se faz que


todas as áreas do saber sejam estudadas conjuntamente, pois a
análise dos aspectos partidários, evidenciam que invariavelmente
um conceito legal só estará completo se houver a participação da
análise social, ocorrendo essa interligação com todas as outras
matérias.
Podem caracterizar-se os partidos de massas a partir dos seguintes
postulados:

a) papel central desempenhado pelos membros do aparelho, com


competências tanto políticas como administrativas;

b) importância crucial do processo de filiação ao partido, com


fortes laços organizativos de tipo vertical, que se dirigem sobretudo
ao eleitorado fiel;

c) posição de proeminência da direcção (colegial) do partido;

d) o financiamento realiza-se através das quotas dos seus membros


e mediante actividades colaterais;

e) tratamento ideológico acentuado.

Características dos Partidos Politicos.

Considerando a predominância das sociedades democráticas no


mundo, pode caracterizar-se partido politico pelos seguintes traços
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 176

fundamentais:

a) ter um programa de governo para o conjunto da sociedade;

b) ter uma certa durabilidade temporal;

c) ser uma associação de carácter voluntário;

d) aspirar a conquistar o poder através da sua participação nos processos


eleitorais.

Parafraseando Mazula (1995:102), acrescenta que o mono


partidarismo afigura-se nas seguintes características:

 Proibição de formação de partidos políticos e repreensão á


oposição,

 Desrespeito a igualdade dos direitos dos cidadãos perante o


referido ma declaração dos Direitos Universais do Homem: a
liberdade de escolha e o direito ao voto;

 Desrespeito a liberdade de expressão, de imprensa, bem como o


direito de reunião em associação;

 Centralização dos poderes típico dos regimes autoritários.

9.3. Teóricos Africanos Defensores do Monopartidarismo


Sendo o monopartidarismo um sistema de partidos políticos
advogado por muitos lideres africanos no pós-independência,
muitos deles eram radicais na sua defesa, contudo, existiram alguns
críticos que não viam com bons olhos o monopartidarismo. Dos
defensores do monopartidarismo destacam-se:
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 177

9.3.1. Nkrumah
Segundo Benot (1969:12) “a argumentação de Nkrumah é
apresentada numa obra escrita em momento em que o partido único
era o objectivo último do CPP, mas não imediata, embora se baseie
nas mesmas noções, tem mais cambiantes e é uma propriamente de
ordem histórica”.

Nas condições de ex-pais colonizado como os sistemas de


finalidade tribais e de costumes tradicionais perturbados pela
sobreposição de outras obrigações e comportamento, não pode-se
admirar pelo facto de o modelo parlamentar se ter revelado
demasiado rigoroso nuns lugares e demasiado frouxo noutros.

Nkrumah, lamenta porém que não se tenha constituído uma


oposição construtivistas a quando das independências, o que quer
dizer, que se apoiasse num programa claro, em vez de conduzir
confrontos pessoais e de atacar sistematicamente as decisões do
governo, sem as discutir e criticas, e de recorrer as conspirações e á
acção terrorista. Mas na verdade segundo Nkrumah citado por
Benot “é que o partido que levou o país a independência conserva a
sua popularidade, como o apoio de uma vasta maioria, e o seu
exercício do poder pode assumir a aparência de um regime partido
único: defende ele que o partido maioritário não pode, de qualquer
modo partilhar o mandato que recebeu do povo, e que seria trair a
vontade popular e, portanto, afastar-se da via democrática".

9.3.2. Nyerere
A citação de Julius Nyerere que Nkrumah utiliza em apoio a seu
raciocínio é de resto interessante em si própria:

“O movimento nacional conduz a luta pela independência e a conquista


vai necessariamente formar o governo do novo estado. Seria absurdo
esperar que um país, por sua própria vontade, se dividisse em dois pelo
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 178

prazer de se submeter a uma forma particular de democracia e que, alem


disse, o fizesse no decurso de um combate que exige a total unidade do
povo. Mas não se deve daí concluir que semelhante país não seja
democrático ou não vise instaurar a democracia.” Nyerere apud Benot
(1969:14)

Em Nyerere há necessidade de preservar, dentro dos limites que


não ponham em perigo a independência e a unidade nacional,
possibilidades de crítica e de discussão. No Ghana, durante muito
tempo Nkrumah, dissera não as propostas muitas vezes
demagógicas ou mesmo pérfidas que lhe eram feitas, no interior do
seu círculo, de proclamar oficialmente o CPP partido único 21:
segundo Benot, “Nkrumahinsistia na preservação dos direitos de
critica e de expressão".

Na Tanzânia, Nyerere, no quadro das acções de 1965, um sistema


de candidaturas duplas, experiência até agora única no seu género
em África.

Pretendia-se com este propósito conseguir combinar a disciplina do


partido, cujos candidatos sabem ir observar as directrizes, a politica
do partido, tal com foi definida e adoptada, com a livre escolha dos
candidatos pelo povo. De facto, que procurava-se obter um equilíbrio
entre a selecção operada pelo partido e efectuada pelo povo. E foi isso
que conseguiu-se realizar. Pensava-se que este era talvez o aspecto mais
importante da constituição Tanzâniana. E pensava-se igualmente que, no
caso do partido único, o povo deveria poder eleger com toda a liberdade o
candidato que prefere de entre os apresentados pelo partido.

Deve igualmente notar-se que, tanto Nyerere como Nkrumah a teoria de


partido único parece inflectir-se pouco a pouco, partindo do problema das
classes para acabar no problema de preservação e consolidação das novas
nações.

21
Julgo saber que Adamafio, no tempo em que era Ministro da informação e em
que se fazia passar por homens de esquerda, fez pressão no sentido, em 1961-
1962— até a sua prisão provocada pela sua participação na conspiração do
atentado de Kulungugu. Benot (1969:14)
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 179

9.3.3. Kennet Kaunda


A Zâmbia, com efeito, atingiu a independência com um partido
nacionalista largamente maioritário, o UNIP (United National
Independece Party), e com outros partidos africanos minoritários, mas
que não podiam ser negligenciado, em particular o ANC (African
National Congeress) de Nkubula, que fora entre 1948-1949, o principal
partido nacionalista.

Depois este país continuou um pais multipartidário e Kaunda disse que já


não deseja impor uma decisão de cúpula um regime de partido único; em
contrapartida, esperava que esse regime se realiza de facto: “devemos
contar com um reagrupamento diferente do nosso povo, quando a nossa
nação começa a estratificar-se em classes sociais, com o nascimento de
novas elites e a diversificação dos interesses políticos, não que o partido
nacionalista deva necessariamente desaparecer; mas, á medida que as
massas populares se tornarem mais cultas, transformar-se-á certamente
em algo diferente, o que pode acontecer por duas vias distintas: ou o
partido consegue um apoio popular tão amplo que teremos um partido
único de facto”.22

Posteriormente aponta o exemplo do Congo para mostrar os perigos da


multiplicidade dos partidos.

Unidade XVIII

Críticos do Monopartidarismo: Awolowo, Azikiwé, Enahoro


Para além de defensores os partidos únicos tem também críticos os que
advogam o multipartidarismo. Awolowo, fundador de Action Group
nigeriano, escreveu simplesmente na sua autobiografia: a democracia de
um sistema de governo assente no partido único, em seu entender
incompatíveis, e o fundador de NCNC Nigeriano Azikiwé reafirmou,

22
Kaunda citado por Benot (1969:16)
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 180

alguns meses depois da independência do seu pais, a necessidade de uma


oposição.

Segundo estes defensores a necessidade de uma oposição se não o


projecto de democracia seria apenas uma ilusão, pois a gestão
governamental deve ter um pouco da opinião pública organizada e a
melhor forma seria o de uma oposição estruturada.

O outro dirigente Enahoro sublinha que a ausência de partido único não


provocou a desintegração da Nigéria; mas antes da crise de 1965 e dos
golpes de estados militares. Levanta-se a questão da utilidade de uma
oposição pública e legal na construção do socialismo, para facilitar a sua
organização, já que muitos países africanos aderiram a este politica.

Sumário
O Monopartidarismo conduz ao centralismo e a um regime
autoritário onde não há um pluralismo político e jurídico e liberdade
de escolha.

Este regime, é fruto do sistema socialista, que foi aderido pelos


dirigentes dos Parridos formados no contexto da luta pelas
independências africanas.

As transformações sofridas no âmbito internacional, com o fim da


guerra fria e a influência dos críticos do monopartidarísmo, este
sistema comessa a entrar em críse e substituido pelo
Multipartidarismo, de forma pacífica ou conflituosa, como iremos
abordar na unidade VIII.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 181

Exercícios
1. O que entendes por monopartidarismo?

2. Indica as Características Principais do monopartidarismo.

3. Quem são os principais defensores do monopartidarismo


em África?

4. Explique as principais ideias defendidas pelos mentores do


monopartidarismo.

5. Identifique os principais críticos do monopartidarismo em


África.

6. Apresente as ideias dos críticos do monopartidarismo em África.

Resolva os exercícios número: 2, 4 e 6.

Auto-avaliação
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 182

Unidade XX
A Transição do Mono ao Multi -
partidarísmo em África: Pacífica e
Conflituosa.

Introdução
Foram as eleições na Namíbia, quer permitiram o fim da
sua subordinação face à República da África do Sul, com a
vitória do movimento pró-marxista SWAPO (Organização
dos Povos do Sudoeste Africano) relegando para segundo
plano a conservadora e pró-sul africana DTA (Aliança
Democrática do Turnhalle). Foram as eleições em Cabo
Verde, onde o MpD (Movimento para a Democracia), quase
fez esquecer o anterior partido único, o PAICV. As
legislativas e presidenciais de São Tomé e Príncipe, onde os
apoiantes do partido no poder, e até então o único desde a
independência, o MLSTP, viram-no ser duramente
derrotado pelo PCD/GR (Partido da Convergência
Democrática/Grupo de Reflexão). As eleições na Zâmbia,
onde o histórico Kenneth Kaunda, o pai da independência e
líder do partido único, foi copiosamente derrotado por
Frederick Chiluba. Tem sido no Congo, no Gana, no Mali e
na Nigéria, entre outros, e vão ser em Setembro, em
Angola, já confirmadas por Eduardo dos Santos, ou ainda,
assim se espera na nova África do Sul, em Moçambique e
na Guiné-Bissau.

Até aqui nada haveria de estranho, principalmente, tendo


em linha de conta as mutações que o Sistema Internacional
vem registando, em particular na antiga Europa do Leste e
na conservadora América Latina. Porém, historicamente,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 183

África tem mostrado ser um Continente onde o pluralismo


ideológico e a democracia pluripartidária de tipo Ocidental
têm estado arredios, excepção feita ao Senegal e à África
Austral, embora segundo parâmetros muito nacionais.

Note-se que este tipo de democracia, também conhecida por


demoliberalismo, hoje em dia tanto em voga nos países do
Leste europeu, mas que, no entanto, não tem conseguido
evitar a proliferação dos sangrentos neo-nacionalismos
como os que, a cada passo, se verificam no Cáucaso e nos
Balcãs, pondo, assim, em causa as eventuais mudanças que
previsivelmente estão a surgir no ancien régime.

Por outro lado, se analisarmos factualmente a História


político-institucional do Continente, constata-se que o
pluripartidarismo é um sistema desconhecido das novas
gerações, mas não das de Léopold Senghor, Houphouet-
Boigny, ou ainda do falecido Sekou Touré.

Daí que, entre os países da África Subsaariana, somente o


Senegal tenha adoptado a pluralidade ideológica, se bem
que contestada nos seus limites pelas correntes políticas
internas. O actual académico e ex-presidente senegalês,
Senghor, fundamentou o sistema político do país na
Constituição francesa de 1958.

Somente o Senegal foi o único a enveredar por esse sistema


político, embora intercalado por períodos de crise
institucional, e a conseguir mantê-lo. Os demais, ou
impuseram o sistema monopartidário aos respectivos
Estados, ou, simplesmente, aboliram o próprio sistema e
implantaram tiranias, normalmente alicerçadas na única
força realmente organizada, o exército.

No entanto, paradoxalmente, quase todos os territórios


coloniais ingleses, franceses ou belgas estiveram imbuídos
do sistema pluripartidário.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 184

Também, nos territórios portugueses, nomeadamente em


Angola, existiram grupos de interesses e movimentos mais
ou menos legalizados, ou, pelo menos, tacitamente aceites,
casos do PRA (Partido Reformista de Angola), a
ramificação colonial do PRP (Partido Republicano
Português), entre 1910 e 1912i[i] ou ainda a FUA (Frente
de Unidade Angolana liderada pelo lobitanga, engº
F.Falcão), esta última a principal apoiante, em Angola, das
teses presidenciais de Humberto Delgado.

Resuma-se, então um pouco, a evolução político-partidária


em África, em especial, o período do pós-guerra.

A presente Unidade, intitulada a transição do mono ao multi-partidarismo


em África: Pacifica ou conflituosa,é de extrema importância na medida
que nos dá a conhecer a evolução politica que o nosso continente
atravessou até ao estágio onde estamos actualmente. Como foi já referido,
após a independência assistiu-se em Africa o aderir ao sistema politico
Monopartidário no âmbito do sistema socialista que em muito ajudou os
estados africanos a alcançarem a sua independência, esse sistema vai
sofrer alteração com o andar do tempo.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conceitualizar o multi-partidário;

 Caracterizar o sistema multi-partidário;

Objectivos  Descrever o processo de transição em Moçambique como


exemplo de transição conflituosa;

 Descrever o processo de transição em Tanzânia como exemplo de


transição pacífica;

 Explicar o Impacto da Transição do Mono ao Multi-partidarísmo.


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 185

Unidade XIX
O multipartidarismo

19.1 conceito do sistema Multi-partidário


Segundo Mazula (op.cit) “é um sistema que integra mais do que
dois partidos relevantes, com total pulverização partidária nos
planos eleitorais e parlamentares, obrigando coligações
sistemáticas e amplas".

19.2 Características Principais do Multi-partidarismo


 Existência de vários partidos políticos;

 Coexistência pacifica entre os partidos;

 O exercício do poder é feito mediante a eleição do partido pelo


povo ou seja o povo é quem decide quem vai governar
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 186

Unidade XIX
A transição do monopartidarismo
ao monopartidarismo em África:
Pacífica e Conflituosa.
20.1 A transição do do monopartidarismo ao
Multi-partidarísmo em África

Até aqui nada haveria de estranho, principalmente, tendo em linha


de conta as mutações que o Sistema Internacional vem registando,
em particular na antiga Europa do Leste e na conservadora América
Latina. Porém, historicamente, África tem mostrado ser um
Continente onde o pluralismo ideológico e a democracia
pluripartidária de tipo Ocidental têm estado arredios, excepção feita
ao Senegal e à África Austral, embora segundo parâmetros muito
nacionais.

Note-se que este tipo de democracia, também conhecida por


demoliberalismo, hoje em dia tanto em voga nos países do
Leste europeu, mas que, no entanto, não tem conseguido
evitar a proliferação dos sangrentos neo-nacionalismos
como os que, a cada passo, se verificam no Cáucaso e nos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 187

Balcãs, pondo, assim, em causa as eventuais mudanças que


previsivelmente estão a surgir no ancien régime.

Por outro lado, se analisarmos factualmente a História


político-institucional do Continente, constata-se que o
pluripartidarismo é um sistema desconhecido das novas
gerações, mas não das de Léopold Senghor, Houphouet-
Boigny, ou ainda do falecido Sekou Touré.

Daí que, entre os países da África Subsaariana, somente o


Senegal tenha adoptado a pluralidade ideológica, se bem
que contestada nos seus limites pelas correntes políticas
internas. O actual académico e ex-presidente senegalês,
Senghor, fundamentou o sistema político do país na
Constituição francesa de 1958.

Somente o Senegal foi o único a enveredar por esse sistema


político, embora intercalado por períodos de crise
institucional, e a conseguir mantê-lo. Os demais, ou
impuseram o sistema monopartidário aos respectivos
Estados, ou, simplesmente, aboliram o próprio sistema e
implantaram tiranias, normalmente alicerçadas na única
força realmente organizada, o exército.

No entanto, paradoxalmente, quase todos os territórios


coloniais ingleses, franceses ou belgas estiveram imbuídos
do sistema pluripartidário.

Também, nos territórios portugueses, nomeadamente em


Angola, existiram grupos de interesses e movimentos mais
ou menos legalizados, ou, pelo menos, tacitamente aceites,
casos do PRA (Partido Reformista de Angola), a
ramificação colonial do PRP (Partido Republicano
Português), entre 1910 e 1912 ou ainda a FUA (Frente de
Unidade Angolana liderada pelo lobitanga, engº F.Falcão),
esta última a principal apoiante, em Angola, das teses
presidenciais de Humberto Delgado.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 188

Resuma-se, então um pouco, a evolução político-partidária


em África, em especial, o período do pós-guerra.

Com o fim da II Guerra Mundial, os partidos franceses


estenderam os seus tentáculos aos territórios ultramarinos,
através de secções regionais, na linha do iniciado em
Angola pelo PRP, em 1910. Mais tarde, a novel consciência
política africana, devemos referir que esses territórios
tinham representantes sus na Assembleia Nacional, levou-
os a criarem organizações políticas africanas, das quais se
destacam o PRA (Partido do Reagrupamento Africano), e a
RDA (Reunificação Democrática Africana). Enquanto o
primeiro era, essencialmente, nacionalista, já a RDA,
definia-se, por excelência, progressista.

Após as independências coloniais, estes agrupamentos


políticos desmembraram-se, transformando-se em grupos e
organizações nacionais, a maioria de características étnicas.
Aos poucos, porém, estas novas e emergentes organizações
acabaram por se fundirem, umas vezes por associação,
outras por integração no partido de maior implantação e,
algumas vezes ainda, por eliminação física dos dirigentes
opositores.

2. Territórios Anglófonos

Se, com a independência dos novos Estados Africanos, estes


adoptaram, ou pelo memos aceitaram manter, o modelo
pluripartidário britânico, progressivamente abandonaram-no
aliciados pelo sistema de partido único consagrado por actuais
dirigentes, onde se destacam Daniel arap Moi, no Quénia, Ali
Mwinyi, da Tanzânia ou ainda, Robert Mugabe, no Zimbabwé.
Vejamos o curso dos acontecimentos num dos pleitos eleitorais retirado
do site http://www.voaneus.portuguese. Redigido por Tomé Mbuia – João
(03/09/2008).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 189

As transformações políticas foram, na maior parte, idênticas


às que se observaram nos países francófonos. Daí que,
citando Lavroff "... compatível com o socialismo africano,
só o partido único. A grande maioria dos dirigentes dos
novos Estados Africanos optaram pelo socialismo..." ─ que
tem tanto de indefenido como de carência de conteúdo.
Todos eles, quando jovens, tinham militado nos
movimentos próximos do partido comunista francês, ou
passado pelas escolas politológicas da Europa do Leste.
Justificavam, assim, a contumácia do monopartidarismo.

Para eles o socialismo tem todos os méritos. Permite


compreender melhor o período colonial e outorga uma
esperança susceptível de mobilizar as classes pobres e
descontentes. Só que o nacionalismo de Nyerere, de Kaunda
ou de NKrumah "... é um sincretismo". Tratava-se de uma
tentativa de conciliação das teorias marxistas, do
Cristianismo e das teorias económicas modernas com o
mito das valores africanos.

Note-se que estes valores são, também, equacionáveis por


notáveis francófonos, como Senghor, Touré ou Modibo
Keita, que sustentavam ser o conceito de lutas de classes
inaplicável à África contemporânea, porque todos os
africanos são igualmente exploradosii.

Nada mais verdadeiro. Porém, quem os explora, ou permite


a sua exploração? Quem permite a entrada de
multinacionais nesses Estados e, em vez de procurarem
desenvolver os países receptores, exploram, por norme sem
um mínimo de critério, a mão de obra barata, deixando
esses Estados quase exangues? Quem lucra com isso?
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 190

Ora, é precisamente a existência desse modelo ideológico e


da inaplicabilidade de qualquer tipo de luta de classes, que
serviu para justificar o aparecimento do monopartidarismo.

Mas, paradoxalmente, face à disparidade de conceitos que


existia entre os socialismos europeu e africano, foi
precisamente a ruptura do sistema socialista na Europa que
conduziu ao movimento político contestatório que tem, de
uma maneira geral, alastrado nos países anglófonos e
francófonos. São exemplos recentes a Zâmbia e o Mali.

3. Territórios Belgas

Devemos realçar os casos do Zaire (ex-Congo Belga) do


Ruanda e do Burundi que, desde sempre, se vincularam a
problemas étinos, ainda hoje, por demais evidente. Veja-se
o problema ruandês que após 20 meses de conflitos entre as
forças governamentais apoiadas na etnia hutu e os rebeldes
da minoria tutsi, registou já a assinatura de um cessar-fogo.
logo seguido de sérias violações ao mesmo.

A situação zairense foi, talvez, nos últimos 30 anos e depois


de Angola, a mais complexa. Assistiu-se, desde o início, a
incidências étnicas no país, dos quais resultaram dois
sangrentos conflitos. O primeiro deles seguiu-se à divisão
do partido ABAKO (Aliança dos Bakongo) em duas
organizações rivais lideradas por Kanza e Kasabuvu que,
simultaneamente, eram opositores do MNC (Movimento
Nacional Congolês) de Patrice Lumbumba, mais tarde
assassinado. O segundo conflito verificou-se quando surgiu
a CONAKAT (Confederação doas Associações do
Katanga), lideradas por Moisés Tchombé e, fazendo fé em
alguns observadores políticos da altura, suportada por
capitalistas belgas e sul-africanos.

Este último conflito, visava a secessão do riquíssimo


Katanga, actual província do Shaba, da então República
Democrática do Congo, já na altura governada pelo hoje
marechal Mobutu Sese Seku, principal líder do MPR
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 191

(Movimento Popular da Revolução), no poder desde 1965.


De notar que em 1977 e 78 houve duas novas tentativas
seccionistas, ambas rechaçadas com auxílio de forças
franco-belgas e marroquinas.

A situação actual do Zaire faz supor um desenvolvimento


positivo na tímida abertura política encetada por Mobutu,
independentemente das divergências políticas ocorridas em
Outubro passado, com o então chefe do governo de
transição, Tshisekedi. O caos económico e social do país
assim o fazem prever.

4. Territórios Lusófonos

Se, desde sempre, Angola teve, quer no período colonial,


quer no período imediato à independência, um proto-
sistema multipartidário, já os restantes PALOP's não
conheceram qualquer modelo de multipartidarismo.

Porém, mesmo em Angola e com o advento da


independência, as organizações políticas existentes, ou
entretanto criadas, reduziram-se aos três movimentos de
libertação, a FNLA (Frente Nacional para a Libertação de
Angola), chefiada por Holden Roberto, o MPLA
(Movimento Popular de Libertação de Angola), liderado por
Agostinho Neto, e a UNITA (União Nacional para a
Independência Total de Angola), dirigida pelo carismático
Jonas Savimbiiii[iv]. Destes só os dois últimos, de conceitos
ideológicos diferentes, se mantiveram activos, com o
consequente sangrento conflito, que quase desvatou o país
durante dezassete anos de conflito.

Dos Acordos de Gbadolite e de Bicesse saíram os genes


que, actualmente, fazem esperar a consolidação da
democracia pluripartidária, já consagrada na Constituição
de Dezembro passado, a qual trouxe de novo à ribalta a
FNLA e permitiu o despontar de diversos partidos políticos.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 192

Face aos movimentos políticos contestatórios por quase


toda a África, é legítimo questionar se se trata de um
sintoma de que o monopartidarismo está em regressão e,
como tal, a ser progressivamente substituído pelo
pluralismo ideológico, e até que ponto esse pluralismo se
conseguirá impor no Continente.

Para responder, recorramos à tese sustentada por


F.Chambinoiv[v], nesse domínio. Segundo ele, e em função
do modelo de implantação talassocrático do colonizador
europeu, existem no que se poderia chamar de duas Áfricas.
Uma, a do contacto e da mudança cultural, geralmente
identificada com o urbanismo litorâneo, onde a pedagogia e
a massificação social superam as condicionantes da
transição, e outra, em que o contacto de culturas foi escasso
ou, mesmo, inexistente, sede do conservadorismo e do
privilégio costumeiro, representado pelos chefes
tradicionais, cujo o poder é suportado pela complexa
questão da legitimidade de origem e que, factualmente, se
opõem aos adeptos da mudança.

Qualquer das duas Áfricas não abdica do direito que


reinvidica da manutenção e do exercício do poder e,
simultaneamente, com a ênfase egocêntrica.

Por sua vez, também Lavroff refere a existência de três


grandes obstáculos para a consagração do pluripartidarismo.
A tentativa dos novos líderes se definirem como dirigentes
de todos os Povos, daí não havendo lugar para outros
partidos políticos, de modo a ser congregado à volta do
partido único todos os que têm qualidades para "bem
governar". Mugabe é um dos principais defensores desta
tese.

O estatismo e o facto do Estado ser, ainda hoje, o principal


patrão, o distribuidor de rendimentos (que na maior parte
dos países não existe) e o garante e fonte de promoções (o
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 193

que ainda hoje se verifica nalguns sectores económicos de


Angola e Zaire).

Por fim, a ainda criação de um verdadeiro nacionalismo.


Não esqueçamos que a maior parte dos países africanos são
uma "amálgama" de etnias, diferentes entre si, que, na
época colonial, foram incentivadas ao etnocentrismo. O
conceito de Nação só em poucos países começa a estar
implantado, como por exemplo em Cabo Verde, Lesotho,
Senegal e Swazilândia. De resto existem, apenas, projectos
nacionais.

Ora este três obstáculos, bem assim como a conjugação com


a tese das duas Áfricas, não são, de "per si", sustentáculos
suficientes que permitam manter o monopartidarismo ou os
regimes totalitários que ainda persistem. Aproveitando uma
tese de Erik Wrightv ─ embora contextualizada para uma
situação diferente, ─ a implantação de um regime realmente
democrático do tipo Ocidental só acontecerá quando existir
uma "sabotagem económica eficaz perpretada pela
burguesia capitalista" de modo que, uma insurreição seja
vitoriosa perante um aparelho repressivo. E esta insurreição
só cobrará dividendos quando "...esse aparelho se dividir ou
se desintegrar...". Ora, é precisamente isso que se verificou
na defunta União Soviética, nos antigos Estados do Leste
europeu, nos países jugoslavos e, é o que se tem verificado,
embora em muito menor escala em Madagáscar, no Benim,
no Burkina-Faso ou, no Zimbabwé.

No pós-independência coube a cada pais definir a linha político-


económica que mais se adequava, ao contexto interno de cada pais.
A aliança politica esteve sempre ligada a escolha do sistema
económico. Entretanto no panorama mundial assiste-se o grande
conflito entre os dois grandes blocos económicos que culminara na
guerra-fria.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 194

Portanto com o colapso da união Soviética, marcando o fim da


guerra-fria, abriu-se ao mundo uma nova era politica, muitos viram
mesmo a oportunidade de instaurar novas ordens a nível global,
fundada nos chamados valores ocidentais.

Por todo o continente, estava aberta para a transformação dos


regimes autoritários de partidos únicos, uma vez que o principal
“patrocinador” encontravam-se em decadência.

Segundo Mazula (1995, p. 81), a desagregação do bloco socialista e


o fim da guerra fria retirou qualquer significado politico –
estratégico do socialismo nos estados africanos, pois levara os
estados africanos a procurar novas parcerias económicas com vista
a se suster, é neste contexto que assiste-se os novos acordos com
Banco Mundial e FMI, com estes vieram as modalidades vividas no
ocidente:

O Multipartidarismo – não fazia sentido a livre escolha se o povo


não tinha opções de escolha,

O capitalismo – uma das condições impostas foi a aderência do


capitalismo para o melhor desenvolvimento da economia.

Segundo Mendes (1994, p. 85), a quando da grande vaga de


independência, nos anos 60, em grande parte dos regimes
instituídos eram submissos ao neo-colonialismo, dir-se-ia que,
perante o evidente desastre económico social que resultou para
todos esses países durante esse período Monopartidário nacional se
avança hoje com a democracia multipartidária como nova receita a
salvadora, tentando fazer esquecer a receita anterior.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 195

É neste contexto que as Nações Unidas ganhou novo relevo, onde


este vão estar ligado a assistência eleitoral sobretudo apoio dado
aos governos autónomos saído da descolonização e do período pós-
independência ao fracasso, nessa nova realidade politica.

Mas de salientar que este processo de transição apesar da influência


acima mencionado, nem sempre foram pacifica, movidas pela
conjuntura politica internacional, em alguns casos foram bastante
conflituosa movidos por grupos rebeldes opositores do sistema de
governação que lutavam para uma mudança democrática a nível da
organização politica interna, uma vez os governos de partido único
já não estavam necessariamente respondendo com as expectativas
havia necessidade de uma mudança.

20.2 Exemplo de Transição Conflituosa: caso de Moçambique


O processo histórico que conduziu a formação da Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO), concretizou-se
precisamente como um período de transição que culminou com o
início da luta armada de libertação nacional, factor que transformou
totalmente a vida do povo moçambicano que consagrou-se livre do
antigo julgo colonial.

Portanto Moçambique aderiu ao socialismo e consagrou-se em


Republica popular de Moçambique assente na constituição
marxista-leninista, apesar da grande repressão contra os sectores
que questionavam a nova ordem politica e social, e não obstante a
existência de uma situação de insegurança militar localizada nas
províncias confinantes com a Rodésia do Sul hoje Zimbabwe – que
sempre foi entendida no quadro do conflito com o regime daquela
colónia rebelde – o resto da década de 70 apresentou-se,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 196

aparentemente, como um período de consolidação da nova ordem


politica, económica e social implantada com a independência.

Além de estar preocupado com a segurança externa assistia-se em


Moçambique o a nível interno o desenrolar da guerra civil ou de
desestabilização como preferem alguns autores entre a FRELIMO e
a RENAMO.

Segundo Mazula (1995, p. 81), a conflitualidade intrínseca do


projecto determinou o seu insucesso, principalmente a partir de
1983/84, deu azo a um novo período de aparente imobilismo com o
país paralisado por uma guerra cruel, absurda e sem solução militar
no entender de Mazula, que se concluiu do ponto de vista politico -
ideológico, com o PRE23.

A desagregação do bloco socialista e o fim da guerra-fria contribui


para uma mudança de ideologia político-económica como já se
referiu ao longo do trabalho. Diante deste panorama é que na
Revisão Constitucional de 1990 que Moçambique vai se tornar
num Estado de Direito, onde se concede a liberdade de exercício
político, isto é, o multipartidarismo.

Este princípio viria a se concretizar com os acordos Geral de Paz


realizado em Roma, á 4 de Outubro de 1992, que punha o fim da
guerra civil em Moçambique.

De forma aparentemente contraditória, foi o fim da violência e a


passagem irreversível a opção por uma solução politica da questão
23
PRE (programa de Reabilitação Económica) foi o nome dado ao
programa de reajustamento estrutural lançado em 1987 como resultado
das negociações com o BM e FMI.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 197

do poder que marcaram a passagem á mutação que presentemente


se vive em Moçambique e do qual resultou as primeira eleições
multipartidárias de 1994, que marcou o inicio de uma era de
reconhecimento da vontade e criação de uma mosaico partidário.

20.3 Exemplo de transição pacifica: Caso de Tanzânia


Segundo Ki-zerbo (1972), a Tanganhica ficou independente da
Grã-Bretenha em 1961, e em 1964 uniu-se a Zanzibar, formando a
República Unida da Tanzânia. Após a união política dos dois
Estados as duas forças policiais também foram unidas e tornou-se
uma questão de união de acordo com o artigo 85º da Constituição
Interina da Tanzânia (Art. nº 43 de 1965).

Acrescenta que “o país desenvolveu uma política socialista,


baseada na auto-suficiência em 1967. Em 1965 a Tanzânia adoptou
monopartidarismo. Existia um único partido CCM24, onde o seu
principal líder era Julius Nyerere.”

Citando Rosemary Jairo (2006, p. 3) as relações entre as


instituições dos sectores civil e de segurança aumentaram através
da Politização. Neste período de monopartidarismo a Tanzânia
passou por situações de agitação política e social que o povo da
Tanzânia jamais viveu: Crimes, perturbação da ordem pública,
corrupção.

24
Chama Cha Mapinduzi
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 198

Diante destas agitações sociais o governo procurou restaurar a lei e


a ordem, assegurar a paz e manter a segurança, desenvolver um
serviço policial eficaz e eficiente, contratar a polícia para ajudar
em alturas de desastres nacionais.

Entretanto, após 1992, nota-se a transição do mono partidarismo ao


multipartidarismo. Assim todos os cidadãos estavam sensibilizados
para estar ao serviço da nação de forma a manter paz e consolidar o
Estado. Actualmente a Tanzânia possui um sistema democrático
multipartidário com mais de 14 partidos políticos registados.

E neste período o governo optou por:

- Estabelecimento de sucursais do Partido /células em todos os


órgãos do estado -Polícia, Exército, e serviço civil.

-Comissários políticos colocados em instituições do sector da


segurança.

- Os cidadãos foram treinados para milícias – Mgambo e Sungu-


sungu.

Os problemas não terminaram por ali, pois, seguiram-se outros


também com a adopção do sistema democrático multipartidário.

A Frente Cívica Unida, de Seif Sharif Hamad, disse aos jornalistas


numa quinta-feira, (27/10/2005), na localidade de Stone Town, que
ele e o seu partido vão aceitar a derrota nas eleições gerais do
domingo se houver provas que as mesmas foram realizadas de
acordo com as práticas e regulamentos eleitorais.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 199

“...esperamos que as restantes fases eleitorais sejam livres e justas.


Se for assim, vamos aceitar os resultados e oferecer a nossa
cooperação ao vencedor das eleições...”

Mas, Sharif Hamad adiantou que se for claramente provado que a


Frente Cívica Unida ganhou a maioria dos votos nas ilhas semi-
autónomas, e se a comissão eleitoral de Zanzibar declarar a vitória
do Partido Chama Cha Mapinduzi, no poder, o seu partido vai
organizar manifestações pacificas de protesto.

O líder oposicionista zanzibarita descreveu aos jornalistas uma


serie de irregularidades que disse terem sido cometidas e que
podem afectar a legitimidade dos resultados eleitorais. Disse que os
lideres políticos locais bloquearam mais de 12 mil pessoas
impedindo-as de se registarem para o voto. Mas Hamad não deu a
sua lista. Afirmou também que o Partido Chama Cha Mapinduzi
estabeleceu campos de educação e preparação dos jovens para
atacarem apoiantes da oposição com armas caseiras.

Quanto ao partido no poder, Chama Cha Mapinduzi, rejeita as


alegações de estar a fomentar a violência em Zanzibar ou noutras
zonas da Tanzânia. Numa entrevista recente o Secretário-adjunto
do Partido Chama Cha Mapinduzi, Moses Nnauye, disse à Voz
da América que o Partido Frente Cívico Unida iria provavelmente
perder as eleições, sendo essa a razão porque os seus lideres se
estão a queixar:
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 200

“...estão à busca de desculpas porque sabem certamente que vão


perder a eleição. Para alguns destes lideres, por exemplo, o
Professor Libumba e Seif Sharif Hamad, esta é a sua terceira
tentativa, e sou de opinião que sabem que se não conseguirem
desta vez, o eleitorado não vai mais necessitar deles. Estão à busca
de desculpas quando dizem que as eleições não foram livres e
justas...”

Por sua vez, Nnauye afirma que a comissão eleitoral do Zanzibar


não está a favorecer o seu partido, 18 partidos políticos em
Zanzibar participam nas próximas eleições de 30 de Outubro, as
terceiras desde a restauração do multipartidarismo na Tanzânia em
1992.

Portanto esta era a situação em que se vivia a Tanzânia, no período


das eleições de 2005 que mostra as relações tensas entre Chama
Cha Mapinduzi e a Frente Cívica Unida, na corrida presidencial.
O Zanzibar tem o seu próprio presidente, e administração própria
nos domínios financeiro, judicial e outros, mas partilha no governo
unido com a Tanzânia, no Continente. O Partido Chama Cha
Mapinduzi e o seu predecessor, tem governado a Tanzânia desde
1964.

Impacto da Transição do Sistema Politico

A transição do sistema Monopartidário ao sistema multipartidário,


quer seja pacífico ou conflituoso arrastaram impacto, a nível
politico certas mudanças em termos conjunturas operaram-se das
quais passa-se a identificar:
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 201

 A primeira transformação é o colapso do sistema socialista nos


Estados africanos;

 Surgimento do direito de escolha livre, através do sufrágio


universal e um leque de opções de escolha;

 Introdução de eleições multipartidárias, nos estados africanos.


A prova é que na década 90 quase todos os países da África
austral vê-se a realizarem-se as primeiras eleições
multipartidárias com excepção da Suazilândia;

 A liberdade de formar partidos políticos;

 A afirmação da democracia nos moldes ocidentais;

 Adesão e reajustamento estrutural do tipo: Bretton Woods


(Banco mundial e FMI).

De uma maneira generalizada, podem ser avansados sumáriamente,


os seguintes pontos:

 O colapso das repúblicas socialistas, que culminou com o


fim da guerra-fria consequentemente a queda do socialismo
foi um dos factores que contribuiu bastante para a mudança
do regime económico que resultou no decair do sistema
monopartidarismo.

 Outra razão que esteve por detrás da transição do mono ao


multipartidarismo foi o fracasso desse sistema ao não
conseguir corresponder as expectativas e os anseios do
povo, consequentemente teve-se de mudar de sistema.

 O sistema multipartidário apresenta largas vantagens no


sentido de que é na realidade o que faz coincidir com o
princípio democrático segundo o qual a soberania reside no
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 202

povo e a maneira deste exercer esse poder é através do


sufrágio universal (voto).

 Para que haja um Estado de direito na realidade é necessário que


haja múltipla escolha, e isso só se verifica no sistema
multipartidário

Exercícios
1. Conceitualize o multi-partidário.

2. Dê as características do sistema multi-partidário.

3. Descreve o processo de transição do Mono ao Multi-partidário em


Moçambique.

4. Descreva o processo de transição do Mono ao Multi-partidário em


Tanzânia.

Explica o Impacto da Transição do Mono ao Multi-partidarísmo


Faça sintese da unidade em 5 páginas
Auto-avaliação

Unidade XXI
A OUA.
21.1 A criação da OU A

A Organização de Unidade Africana (OUA) foi estabelecida em 25


de Maio de 1963, por ocasião da reunião, em Adis-Abeba, Etiópia,
dos Chefes de Estado e de Governos, dos 32 Estados africanos
independentes, à altura.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 203

21.2 Objectivos da criação da OUA

Os seus principais objectivos visavam:


a. promover a Unidade e Solidariedade entre os Estados
Africanos;
b. coordenar e intensificar a cooperação para o
desenvolvimento do bem-estar dos povos de África;
c. defender a soberania, integridade territorial e
independência dos africanos;
d. erradicar todas as formas de colonialismo no Continente
africano;

e. promoção da cooperação internacional no âmbito da Carta da


ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos;
f. equidistância entre os diferentes Blocos políticos
internacionais, uma política de Não-alinhamento;
g. resolução pacífica dos conflitos intra e extra-Estados
africanos;
h. total condenação de todas as formas de assassinatos
políticos e actividades subversivas contra os Estados africanos
provocadas por vizinhos ou outros Estados.

Os líderes africanos, de então, tinham a consciência que a


liberdade, a igualdade, a justiça e a dignidade, em África, não
deveriam ser palavras ocas e vãs, mas aspirações legítimas dos
povos africanos. Po esse facto deveriam estar consagrados na Carta
da OUA, tal como o estavam na Carta de São Francisco.

21.3 Missão da OUA


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 204

Todavia, estes objectivos estiveram sempre longe de ter sido


atingidos. Por um lado, os conflitos que grassaram no Continente
foram, não só inúmeros, como as interferências externas, por
Estados vizinhos, levaram à saída da Organização, em 1984, do
Reino de Marrocos. Por outro lado a subserviência a um dos blocos
políticos, de então, provocaram um estado de semi-coma da OUA –
só se falava na Organização durante as Cimeiras anuais. – Mesmo
as Cimeiras franco-africanas e as reuniões da Commonwealth eram
mais participativas e com maior impacto dos que as Cimeiras da
OUA.

O Movimento africanista só começou a ter uma maior relevância


após a “Pereströika” e a “queda do Muro” e, mais recentemente,
após a reunião de Syrte, Líbia, a 9 de Setembro de 1999.

Talvez por isso que, nos últimos anos, alguns dos novos dirigentes
políticos africanos, inteligentemente secundados por antigos
dirigentes e ditadores africanos, e apoiados em inúmeros artigos de
opinião de académicos e dos media, questionaram a actual Unidade
africana e solicitaram a sua reformulação.

A 35ª Cimeira, em Argel, procurou já avançar com algumas


alterações como o veto e boicote a todos os Estados cujo regime
seja devido a um qualquer Golpe de Estado e a veemente crítica às
intervenções estrangeiras em Estados africanos, reforçando uns dos
princípios da Carta, a resolução pacífica dos conflitos e a
condenação de assassínios políticos e de actividades subversivas.

A última, e talvez a mais importante e consistente, surgiu em Syrte,


com a proposta do presidente líbio Kadhaffi para a reformulação e
revitalização da Carta da OUA, visando a constituição de uma
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 205

efectiva Unidade Africana. O principal objectivo da sua proposta


passava pela criação dos Estados Unidos de África, a sul do Saara.

Numa primeira fase os estados africanos deveriam se juntar num


Mercado Económico Comum, na linha da antiga CEE; na segunda
fase numa União Africana (UA), na criação de um Banco Central
Africano e na de um parlamento pan-africano; e, na fase final, nos
Estados Unidos de África.

Esta proposta líbia conquistou a posição favorável de alguns líderes


africanos, destacando-se, de entre eles, os senegalês e chadiano,
conforme ficou perspectivado na 36ª cimeira anual do Bureau da
OUA, verificada entre 10 e 12 de Julho de 2000, e do Secretário-
Geral da ONU, Kofi Annan, um ganês. Entre os 53 Estados
afiliados na Organização, só cerca de 40 Estados apareceram e,
destes, 25 subscreveram e rubricaram o acto constitutivo da União
Africana, que foi ratificada em 2001, na 37ª. Cimeira, realizada em
Lusaka, Zâmbia, sob a presidência de Frederick Chiluba, o último
presidente, em exercício, da OUA.

Apesar do optimismo que a criação da União Africana colheu junto


de uma grande parte dos líderes e elite africanos, Kofi Annan,
Chiluba, Mandela, Kadhaffi, Eduardo dos Santos, etc., a dúvida
quanto à sua exequibilidade manteve-se entre outra parte
significativa de dirigentes africanos.

De entre eles se destacam os dirigentes nigerianos e o último


Secretário-Geral da OUA, o tanzaniano Salim Ahmed Salim. Este
questionava se a União Africana não seria, somente, uma
Organização de Unidade Africana com um novo nome.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 206

Todavia, no decorrer da 38ª e última cimeira da OUA, que ocorreu


em Durban, a 9.Julho.2002, e sob a presença do Secretário-Geral da
ONU, Kofi Annan, foi formalmente instituída a União Africana.
O presidente sul-africano, Thabo Mbeki, é o primeiro presidente da
Organização, e o antigo Secretariado da OUA manter-se-á em
funções até à II Cimeira Ordinária a realizar em Maputo, em 2003.
Nesta Reunião ficou ainda definido que:
1. A Organização assenta numa estrutura próxima da sua
congénere europeia, a União Europeia, encimada por uma
Assembleia (de chefes de Estado e de Governo), um Conselho
Executivo (nível ministerial), um Comité de Representantes
Permanentes (nível de embaixadores) e uma Comissão;
a) A Comissão, novo órgão será constituída por 2 (dois)
representantes de cada um das 5 (cinco) regiões que farão a gestão
de 8 (oito) pastas. A(s) região(ões) que nomear(em) o presidente e
o vice-presidente só terão direito a uma pasta;
2. A UA terá, ainda, um Conselho de Segurança e Paz (CSP),
análogo ao CS das Nações Unidas (com a diferença de não ter
lugares permanentes), preenchido por três representantes eleitos por
cada uma das regiões africanas;
a) Dez dos membros do Conselho serão eleitos para
mandatos de dois anos e os restantes cinco para um exercício
trienal, de forma a garantir a continuidade e eficácia do órgão
mesmo nos períodos de transição;
b) O CSP terá acesso imediato a contingentes militares que
todos os países se comprometem a manter em estado de prontidão,
para intervenção directa ou destacamento de uma força de paz
continental, em caso de necessidade;
3. O Parlamento Pan-Africano, será constituído por cinco
deputados eleitos em cada Estado-membro da UA para mandatos
de quatro anos. Terá a sede em Tripoli, Líbia.
4. A formação de um exército único pan-africano, o Banco
Central pan-africano (terá por génese o actual BafD), a moeda
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 207

única e o Tribunal Inter-continental, deverão ser analisados numa


das próximas Cimeiras, ou nas reuniões do novo instrumento pan-
africano, o Mecanismo de Revisão por Pares (MRP), o qual põe em
causa a regra número um da extinta OUA, o respeito pela soberania
interna de cada país, mas em nome da solidariedade
pluricontinental.
Veremos até onde irá a União Africana. É que continuam a
coexistir e subsistir organizações regionais tão ou mais importantes
que a UA (a SADC ou a CEDEAO).
Fonte: Jornal Lusófono, 53, 28.05.2004)

Conforme a conjuntura dos objectivos da criação da OUA para África na


década de 60, vimos no século XXI, a África requerente a outros
objectivos de desenvolvimento e integração entre os países. Ressaltar
que, aquando da criação da OUA, os objectivos preponderantes eram de
defender a soberania dos Estados, a sua integridade territorial e sua
indepêndecia e, eliminar da África o colonialismo sob todas as suas
formas. Salientar que, a OUA sendo um órgão mãe de gestão dos
assuntos africanos, ela não geria os assuntos internos de cada Estado-
membro; facto este, levou-a a ficar à margem dos grandes problemas que
iam eclodindo e assolando o continente: guerras civis25, golpes de estado,
conflitos etnicos- tribais e fronteiriças, entre a Somália e os seus vizinhos
(Etiópia e Quénia).

Com esses problemas, que cada vez mais se agudizavam em Africa, a


OUA viu-se incapaz de soluciona-los, obrigada a mudar sua estratégia de
acção face aos problemas, por um lado; finais do século XX e princípios

25
Referimo-nos dos conflitos da Somália, Serra Leoa, Libéria, R.D.C; os
genocídios da região dos Grandes Lagos, Angola, o que suscitava a violação dos
direitos humanos, manutenção dos regimes ditatoriais no poder. Uma outra
ingerência que se verificou no seio da OUA foi o de permitir a intervenção
militar da França no Gabão para depor o presidente Leon N`ba.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 208

do século XXI, a conjuntura internacional oferece outros desafios. Já não


se vive a era da colonização e, a África pretende um desenvolvimento
sustentável entre os países, por outro lado.

Neste contexto, em 1999,os chefes de Estado e do governo dos Estados-


membros da OUA, decidiram estabelecer a UA, em conformidade com os
objectivos fundamentais da carta da OUA e do tratado de criação da
CEA26. Referir que, a decisão foi na declaração adoptada aquando da
quarta sessão extraordinária da conferencia realizada a 9 de Setembro de
1999, na cidade de Sirte (Líbia).

Contudo, o Acto constitutivo da União Africana foi feito entre 10 a 12 de


Julho de 2000, em Lome (Togo).

Após esse evento uma decisão declarando o estabelecimento da


União Africana, com base no desejo unanime dos Estados-
membros foi adoptada pela 5 reunião de cúpula extraordinária
da OUA/CEA, celebrada em Sirte, de 01 a 02 de Marco de
2001.
Na decisão, chefes de Estado e do governo especificaram que
aos requisitos legais para a União estariam concluídos
mediante o objectivo do36 instrumento de ratificação do Acto
constitutivo da União Africana.
(http://www.wipedia,enciclopedia livre, 2008).

Nesta perspectiva, a África do Sul depositou o seu instrumento de


ratificação em 28 de Abril de 2001, e se tornou o 35 Estado-membro a
depositar o seu instrumento de ratificação, complementando desta forma
o requisito de 2/3, e o Acto entrou em vigor em 26 de Maio de 2001.

Portanto, foi na cimeira realizada em Durban, a 09 de Julho de 2002, que


a OUA deixou de existir oficialmente dando lugar a União Africana
(UA);que substituiu a histórica Organização da Unidade Africana, depois
39 anos de existência.

26
Comunidade Económica Africana.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 209

Unidade XXII
O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DA OUA
PARA UA

22.1 A Transição da OUA para União Africana (UA).


Da O.U.A. à União Africana1.

Maio, é o mês de África.

Para lá chegarem os africanos tiveram que passar por muitas


vicissitudes, tais como esclavagismo, convulsões internas, ascensão
e queda de grandes impérios e reinos (Gana, Mali, Gao, Daomé,
Monomotapa ou do Congo, só para citar alguns) e inúmeros, para
não dizer sistemáticos, coup d’état. Mas foi, indiscutivelmente,
com o fim do esclavagismo americano e da 2ª. Guerra Mundial que
o movimento politológico negro se afirmou e levou à criação da
OUA.

No entanto, se foram àqueles dois acontecimentos que se devem a


criação da OUA, a sua principal génese vamos encontrar nos
movimentos Pan-africanistas pré-independentistas do pós-II Guerra
Mundial, nos movimentos pademorianos e garveynianos, nas
campanhas anti-colonialistas e anti-Apartheid e, principalmente, na
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 210

Resolução 1514(XV) da Assembleia-Geral da ONU.

22.2. Causas da transição da OUA à UA

Quarenta anos depois de Jomo Kenyatta, o pai da independência do


Quénia, ter dito que África só seria livre no dia em que se
realizasse uma cimeira da Organização de Unidade Africana
(OUA) na
África do Sul, o país de Nelson Mandela, símbolo da luta anti-
apartheid, acolhe a última cimeira da OUA e a primeira da União
Africana (UA). Reunidos vão estar os chefes de estado ou de
governo
de (quase) todo o continente africano.

Impulsionado pelo dirigente líbio Muhamar Kadhafi, o homem que


ambicionava ver um dia o nascimento dos "Estados Unidos de
África", o
projecto de UA tem hoje como figuras de proa o presidente do país
anfitrião da cimeira, Thabo Mbeki, e o próprio secretário-geral da
OUA, o marfinense Amara Essy. Kadhafi não reunia o consenso
africano
nem o prestígio internacional para credibilizar o lançamento solene
da UA.

Os novos "líderes" da UA serão nomeados na cimeira de Durban,


não
sendo de excluir a recondução do actual secretariado, para um
necessário período de transição. O reforço das instituições e o
maior
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 211

envolvimento dos países na resolução dos problemas do continente


são
vantagens esperadas da transformação da OUA em UA.

Da UA, espera-se ainda que defina o papel da organização no


lançamento da NEPAD, Nova Parceria para o Desenvolvimento de
África,apresentada na recente cimeira do G-8 no Canadá, pelosseus
precursores, os chefes de Estado da Nigéria, Senegal, África do Sul
e Argélia e visto como o melhor instrumento para colocar o
continentena via do desenvolvimento económico, sugerindo, entre
outras coisas, saídas para o problema da dívida externa dos países
africanos.

Do Norte desenvolvido, aos mais pobres países da África negra


sub-sariana, a OUA tinha até há pouco tempo como membros todos
os países africanos, à excepção de Marrocos que se auto-excluiu
em 1984. A organização acaba de suspender o Madagáscar devido
à crise política resultante das eleições de Dezembro para, com isso,
dar um sinal do seu respeito pelos princípios democráticos e de boa
governação. Nunca antes o tinha feito.

A OUA apenas, nalgumas ocasiões, condenou de


forma vaga a tomada de poder pela força, ameaçando de expulsão
os
autores de golpes de estado.

A defesa das instituições democráticas, a boa governação e a


protecção dos direitos humanos são objectivos agora expressos no
acto
constitutivo da UA.

O presidente sul-africano Thabo Mbeki destacou-se


no plano diplomático ao defender a suspensão do Zimbabwe da
Commonwealth no seguimento das recentes violências políticas e
eleições contestadas. Mas o que sobressaiu, segundo observadores,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 212

foram as hesitações africanas relativamente à política de Robert


Mugabe-Zimbabwe, como reflexo de sentimentos contraditórios
quanto
a um verdadeiro compromisso na defesa desses valores.
A OUA foi, ao longo da sua existência, criticada por supostamente
proteger ditadores, sob pretexto do seu princípio de não ingerência.
Na nova filosofia, os estados membros da UA permitem-se agora
intervir em "circunstâncias graves, nomeadamente, genocídio,
crimes
de guerra e contra a humanidade".
Uma das grandes provas a dar pela UA será a da organização poder
contribuir para a resolução dos conflitos que persistem em África,
como os da República Democrática do Congo, Libéria e Sudão. E
se até agora, a OUA se pode felicitar de ter recentemente ajudado a
apaziguar a crise nas Comores, a guerra entre a Etiópia e a Eritreia
e o conflito entre o Chade e a República Centro-Africana, certo é
que a década de 90 ficará para a História, como aquela em que a
organização panafricana assistiu impotente aos conflitos da
Somália, Ruanda, Burundi, ex-Zaire e Angola.

A criação de uma política comum de defesa é outro dos desafios de


uma organização que quer ver avanços no já existente mecanismo
de prevenção de conflitos, com a possibilidade de constituir mais
facilmente forças africanas de manutenção de paz. Foi já aprovada,
no conselho de ministros que antecedeu a cimeira dos chefes de
estado, a criação de um "conselho de paz e de segurança" da UA,
um novo orgão do qual dependeria uma eventual força africana de
manutenção da paz. O objectivo é coordenar esforços com as

Nações Unidas e utilizar


modelos regionais já existentes no continente, e aprender com a
experiência nem sempre gloriosa da ECOMOG, a força de
interposição da Comunidade Económica dos Estados da África
Ocidental (CEDEAO).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 213

Na Guerra de facções na Libéria, por exemplo, a ECOMOG foi


acusada de exceder largamente o seu mandato e a Nigéria (que
comandava a força) de se envolver em apoio a uma das facções.
Pouco tempo depois, não foi óbvio garantir a neutralidade da força
de interposição para a
Guiné-Bissau, em 1998, que recusava a participação de países já
envolvidos no conflito, como o Senegal e a Guiné-Conacri.

A hipótese de um Exército único, embora já colocada, permanece


longínqua, e para alguns "irrealista", bem como a da criação de
uma moeda única, não concretizável antes de 2021, segundo o
conselho de ministros reunido em Durban. A África, porventura
mais "unida",continua porém marcada por grandes problemas
económicos e realidades
políticas muito diferentes.OUA e UA: Quais as Diferenças?
Segunda-feira, 8 de Julho de 2002

A UA ambiciona ser mais do que uma simples remodelação da


OUA.Inspirada em modelos de integração de outros conjuntos
económicos regionais, como a União Europeia, a ASEAN, na Ásia,
ou o Mercosul, na América do Sul, a UA, mais do que uma união
entre os estados, pretende ser uma união entre os povos.A UA
pretende "alcançar uma maior solidariedade entre os países e os
povos de África" e "acelerar a integração política e sócio-
económica do continente",

No seio de uma organização que tem como línguas


oficiais o inglês, o francês, o português e o árabe. As políticas,
até aqui, aprovadas por unanimidade, passarão (algumas delas) a
poder ser decididas por maiorias simples ou de dois terços.

Da vontade política dos Estados membros em transferir para a


União algumas das suas prerrogativas dependerão os avanços e o
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 214

sucesso no funcionamento da UA. A capacidade e o empenhamento


dos países membros em pagar as suas quotas, muitas delas em
atraso, será determinante para que a passagem da OUA a UA
resulte num reforço e numa maior eficácia das instituições da
organização, cujo novo orçamento excederá largamente o
anteriormente previsto para a OUA.

Aos princípios fundadores da OUA, como a igualdade, a soberania,


interdependência dos estados, o respeito pelas fronteiras herdadas
do colonialismo, e a proibição de uso da força, junta-se agora na
nova UA, a possibilidade de intervir em "situações graves de
crimes de guerra ou contra a humanidade", reajustando-se o
existente princípio da não ingerência. Esperam-se políticas comuns
em áreas prioritárias
para o continente, como o reforço da paz e a segurança, a
integração económica, a livre circulação de pessoas, bens e
capitais, a erradicação da pobreza, o comércio e a dívida externa.

Numa primeira fase, a UA prevê a criação de quatro órgãos: a


Assembleia ou Conferência da União, órgão supremo, que reúne
uma vez por ano os chefes de Estado e de governo, com
competências importantes na decisão de políticas comuns; o
Conselho Executivo, dos ministros dos negócios estrangeiros, que
se reunirá pelo menos duas vezes por ano; o Comité dos
representantes permanentes que será umórgão consultivo junto do
Conselho Executivo e da Comissão; a
Comissão, que corresponde ao actual Secretariado, considerada
como o verdadeiro centro executivo, responde perante a
Conferência e o Conselho e mais tarde perante o Parlamento
panafricano. Por fim, numa fase mais avançada, o Parlamento que
reunirá cinco parlamentares de
cada país, e o Tribunal de Justiça, cujo estatuto continua em estudo.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 215

Prevê-se ainda a criação de um Fundo monetário africano, e um


Banco Central a nível continental. Não é de excluir a adopção de
cidadania e passaporte regionais, como um passo para um dia se
chegar à cidadania e ao passaporte africanos, desejo de uma parte
da sociedade civil do continente.

22.3. O Percurso do Processo Transitório

Para uma melhor percepção deste processo há que perceber que, foi
um processo longo, daí que há necessidade de inteirar-se no
seguinte:
Mencionar-se-à, algumas cimeiras e/ou sessões ordinárias e extraordte
inárias que marcaram o percurso transitório:

I. A 35ª Sessão Ordinária dos chefes de Estado e de Governo da OUA,


Argel (Argélia), de 12-14 de Julho de 1999.

Esta cimeira, marcou o início do processo que terminou com o


lançamento da UA em Julho de 2002 em Durban.

...Este evento constituiu um macro particularmente importante


na História do percurso politico da África, pois esta histórica
sessão punha termo a uma era caracterizada pela escravização,
pilhagem, colonização, humilhação, neocolonialismo e da
negação da personalidade africana, inaugurando uma outra
etapa em que a África reaparece firme a reafirmar o seu inteiro
cometimento de redobrar ainda mais os seus esforços na sua
luta prolongada por forma a não permitir que o continente
africano não volte a susjeitar-se aos mais vergonhosos, terríveis
e brutais actos do passado. (PICASSO s/d.p.115).

Diante deste cenário, os países africanos reafirmaram a sua determinação


em liderar o processo de inversão do curso dos acontecimentos em
África. Assim os chefes de Estado do Governo presentes motivados por
estes sentimentos, decidiram adoptar a proposta do líder da revolução Al-
Fatah líbio, o coronel Muhamar Kadhafi, relativa ao acolhimento da 4ª
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 216

Sessão extraordinária da OUA para estudar o curso a seguir pelos


africanos, que se realizou em Setembro do mesmo ano.

II. A 4ª Sessão Extraordinária dos chefes de Estado e de governo da


OUA, Sirty I (Líbia), de 08 – 09 de Setembro de 1999.

A OUA convocou esta Sessão extraordinária para encontrar modalidades


de pôr em prática o novo pensamento africano sobre o futuro incerto que
se avizinhava. A proposta da Líbia apresentada nesta sessão, a África
deveria recuperar o projecto de Kwame Nkrumah sobre a criação dos
Estados Unidos da África – EUA. Apesar do esforço efectuado pela
Líbia, os 43 chefes de Estados e de governo presentes em Sirty chegaram
a um compromisso apontando para a criação de uma União ao invés de
estados Unidos da Africa. Esta sessão adoptou a declaração de Sirty. Na
sequencia disso várias reuniões tiveram lugar com o objectivo da sua
implementação.

III. A reunião do grupo de peritos governamentais e parlamentares,


Addis-Abeba, (Etiópia), 17 – 21 de Abril de 2000.

Esta Sessão foi a 1ª de peritos-juristas parlamentares com objectivo de


discutir:

-- projecto do Acto constitutivo da UA; e projecto de protocolo ao tratado


de Abuja relativo ao estabelecimento do parlamento pan-africano.

IV. A 1ª Conferência ministerial da OUA sobre a criação da UA e do


parlamento pan-africano, Tripoli, (Líbia), 31/05 a 03/06 de 2000.

Esta reunião, teve como pano de fundo o pensamento sobre o tipo de


União27 que se deveria criar, pois alguns países liderados pela Líbia,
entendiam que a África deveria apressar-se na criação da união para ter a
sua defesa face aos EUA, União Europeia e outras frentes. Outro grupo
de países, na sua maioria da região da SADC, defendia passos graduais,

27
Tipo de união e de estruturação que se pretendia criar; a composição;
competências; eleições e os poderes a conferir ao parlamento pan-africano.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 217

consubstanciados na crescente consolidação das organizações


económicas sub-regionais.

Salientar que, durante os 4 dias de trabalho, a reunião não foi capaz de


solucionar o impasse sobre o tipo de união a criar; dai que, se seguiu a
36ª Sessão Ordinária.

V. A 36ª Sessão Ordinária dos chefes de Estados e de governo da OUA,


Lomé (Togo), Julho de 2000.

Esta sessão, teve o mandato de adoptar o Acto Constitutivo. Porém, este


instrumento jurídico estabelece princípios básicos para administração da
justiça no continente, através do tribunal africano de justiça, o parlamento
pan-africano e a comissão sobre os direitos humanos.

VI. A 5ª Sessão Extraordinária dos chefes de Estado e de governo da


OUA, Sirty II, 01 – 02 de Maio de 2001.

Tendo se constatado que, todos os 53 Estados-membros da OUA tinham


assinado o Acto constitutivo da UA, a Assembleia decidiu:

- Declarar com orgulho e solenemente o estabelecimento da UA por


vontade unânime dos Estados-membros. Com isso, este instrumento
jurídico entrou em vigor a 26 de Maio de 2001.

VII. A 37ª Sessão Ordinária dos chefes de Estado e de governo da


OUA, Lusaka (Zâmbia), de 09-11 de Julho de 2001.

Esta sessão marcou o inicio formal da transição da OUA para UA; sob o
lema “a transição da OUA para UA”. Teve também uma agenda que
incluía a análise do relatório sobre a implementação da declaração de
Sirty relativa à UA; a eleição do secretario geral da organização;
lançamento dos órgãos da UA; sobre a comissão; sobre o período de
transição; sobre adopção da iniciativa comum para o desenvolvimento de
África; entre outros aspectos.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 218

VIII. A 1ª reunião de embaixadores e de peritos da OUA sobre a


implementação da decisão da cimeira de Lusaka.

Com vista a operacionalização dos órgãos chaves da União, realizou-se


de 21-25 de Janeiro de 2002 em Addis-Abeba, uma reunião para a
discussão e consideração dos projectos e regulamentos internos dos
órgãos chave da união. No decurso da reunião, vários pontos suscitaram
debates controvérsias, tais como:

- sobre o acolhimento das cimeiras;

- sobre a eleição do presidente da comissão e o seu vice; e

- sobre áreas de cooperação.

IX. A 2ª reunião de embaixadores e de peritos da OUA sobre a


implementação da cimeira de Lusaka.

Teve lugar em Addis-Abeba, de 14 - 21 de Fevereiro de 2002, para dar


continuidade da discussão sobre as questões relativas à apreciação dos
projectos das regras de procedimento interno dos órgãos chaves da UA.
Alguns aspectos que foram objecto de debate, defendeu-se a necessidade
de os comissários serem eleitos pelos conselhos executivos. E, quanto ao
lugar de acolhimento da conferência, decidiu-se que as sessões poderiam-
se realizar na sede da União, a não ser que, um Estado-membro convide a
conferência a reunir-se no seu país.

Além dos aspectos referenciados acima, na reunião verificou-se debates


controversos relacionados com a eleição do presidente da comissão e o
seu vice; assunto que provém da cimeira realizada em Addis-Abeba,
Janeiro de 2002, sobre a implementação da decisão da cimeira de Lusaka.

Uns defendiam que a comissão devia ser composta por


presidente, um vice-presidente e 8 comissários e, as regiões
donde proviessem o presidente e o seu vice teriam direito de
um comissário e, cuja a eleição do presidente e do seu vice
estaria sujeita às condições regionais. E outros defendiam a
ideia de que a comissão seria composta por presidente e seu
vice e 10 comissários e a eleição do presidente e seu vice não
seria sujeita às condições regionais, e que, a eleição dos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 219

comissários deveria ser feita na base de repartição geográfica.


(PICASSO, s/d. p. 132).

Estes assuntos culminaram em impasse e foram relegados ao comité ad-


hoc dos 15 do conselho de ministros.

X. A reunião do comité ministerial ad-hoc dos 15 sobre a UA, Addis-


Abeba, de 13-15 de Março de 2002.

Esta reunião notabilizou-se por duas questões: rotatividade geográfica na


nomeação do presidente da comissão e do seu vice; e, a questão de
portfólios da comissão.

Ficou-se acordado que os princípios da rotatividade e representação


geográfica na nomeação do presidente e do seu vice, deve constar no
relatório do comité ad-hoc e não no regulamento interno da conferência
do estado e de governo da União Africana.

Referir que, sobre os portfólios da comissão foram aceites a sugestão de


8, dos quais destacam-se: paz e segurança (prevenção, gestão e resolução
de conflitos); assuntos políticos (direitos humanos, democracia, boa
governação, instituições eleitorais, organizações de da sociedade civil,
assuntos humanitários e refugiados).

Portanto, a reunião concordou tacitamente que, as considerações


geográficas, embora não estivessem escritas seriam tomadas em conta.

XI. A 75ª Sessão ordinária do conselho de ministros

Esta sessão garantiu que, o regulamento referente à eleição dos


comissários consagrassem, para além da competência, a
representatividade e a rotatividade regional como critérios. De facto, os
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 220

debates ao longo dos trabalhos foram controversos, onde se notou


diversos interesses dos países, bem como a formação de blocos
estratégicos regionais do continente (Ocidental, Oriental e Austral).

É preciso referir que, quanto a eleição dos comissários, consagrou-se nos


regulamentos o critério da competência como relevante para a eleição dos
comissários sem exclusão da observância da rotatividade e representação
regional sob alegação de que, a UA sendo uma organização de carácter
continental e a bem da unidade africana, não deveria ser regionalizada.

No que refere ao número de comissários que iriam constituir a união na


sua 1ª fase, estabeleceu-se 8 em função das pastas existentes. E, após o
término da 75ª sessão ordinária do conselho ministerial da OUA, teve a
tarefa de preparar a cimeira de Durban.

XII. A cimeira de Durban.

Essa cimeira é tida como a 1ª Conferência da União Africana e, teve dois


momentos principais que caracterizaram o programa de lançamento da
organização, a 09 – 10 de Julho de 2002. O tal programa compreendia:

1º. A adopção de textos fundamentais de cinco (5) órgãos da União


(conferência da União, conselho executivo, comité dos representantes
permanentes, a comissão e o protocolo relativo ao conselho de paz e
segurança);

2º. A cerimónia de lançamento oficial e pública da União.

É pertinente referir que, esta 1ª Sessão Ordinária da conferência dos


chefes de Estado e de governo da UA foi precedida pela 38ª Sessão
Ordinária dos chefes de Estado e de governo da OUA, realizada no dia 08
de Julho de 2002 e, a Sessão extraordinária do conselho de ministros da
OUA sobre a UA, realizada de 01 a 02 de Julho do mesmo ano que fez a
última revisão dos textos dos órgãos acima apontados.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 221

Depois da adopção dos textos fundamentais dos órgãos da União, a 1ª


Conferência dos chefes de Estado e de governo da UA procedeu o
lançamento público da União Africana.

É neste contexto que, em 1999, os chefes de Estado e do governo dos


Estados-membros da OUA, decidiram estabelecer a UA, em
conformidade com os objectivos fundamentais da carta da OUA e do
tratado de criação da CEA.

Ao completer esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conceitualizar OUA e UA;

 Contextualizar o processo de transição da OUA para UA;


Objectivos  Explicar as causas da transição da OUA para UA;

 Descrever o percurso do processo transitório;

 Enumerar as instituições da UA;

 Enunciar seus objectivos;

 Descrever o papel da União;

 Explicar os desafios da UA;

 Apresentar as suas limitações.


HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 222

Unidade XXIII
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA UA

23.1 A institucionalização da UA

A Unidade XXIII, consiste numa abordagem acerca da transição da


OUA à UA e da sua institucionalização. Conforme a conjuntura dos
objectivos da criação da OUA para África na década de 60, vimos no
século XXI, a África requerente a outros objectivos de desenvolvimento e
integração entre os países. Final do século XX e princípios do século
XXI, a conjuntura internacional oferece outros desafios; já não se vive a
era da colonização e, a África pretende um desenvolvimento sustentável
entre os países. O processo que culminou com a criação da UA teve suas
fases, que exigiu dos fundadores o sentimento patriótico; quer dizer, uma
profunda vontade política com vista a preservar as aspirações,
expectativas dos povos africanos e dos ideais dos fundadores da OUA, há
muito adiado. Porém, momentos houve em que alguns países e regiões
africanas tiveram que ceder as suas posições e, noutros casos, foi
necessário recorrer a aturadas consultas e negociações, cujos resultados
foram notáveis ao longo deste processo.

23.2 Os objectivos da UA

Antes que se desenvolva de forma exaustiva o tema em estudo, óbvio será


a conceitualização/definição dos termos e/ou siglas “institucionais” OUA
e UA, cujo trabalho se versa em torno dos mesmos.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 223

UA- União Africana, um organismo instituído oficialmente a 9 de Julho


de 2002, em Durban na República Sul Africana. É importante sublinhar
que, a UA surge da necessidade e esperança da actual geração dos lideres
africanos em remediar as insuficiências e alguns fracassos da OUA.

Transição da OUA à UA, foi um processo estratégico de mudança e


acção face aos problemas que a África vive nos últimos tempos.

Tem como objectivos:

 A unidade e solidariedade africana. Defende a eliminação do


colonialismo, a soberania dos Estados africanos e aintegração
económica, alêm da cooperação política e cultural no continente.

23.3 O papel da União para África


A nova organização nasceu da vontade do continente em fortalecer as
politicas democráticas dos Estados signatários face as défices condições
do continente, principalmente no âmbito económico. Deste modo,
aspectos relacionados a boa governação, perspectiva de integração
económica regional, formas de democracia e desenvolvimento do
continente, impulsionaram a transição.

Entretanto, uma outra causa colateral, que visava o enquadramento


da expressão”Africa para os africanos” e o reconhecimento da
sociedade civil como um actor no desenvolvimento do continente
com um papel formal de conselheiros nas instituições da União e
nos processos de ajuda na promoção democracia e económica
especialmente no aumento dos investimentos estrangeiros por meio
do programa Nova parceria para o desenvolvimento.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 224

23.4 Os desafios da União Africana

Não parece haver dúvidas que os Estados e os povos


africanos, numa situação internacional crescentemente
internacionalizada e caminhando para integrações regionais,
têm interesse em tirar partido das suas riquezas, unirem-se
na sua diversidade (aliás com já acontece noutra escala com
SADCC), para melhor poderem responder à política de
globalização capitalista que tem tornado África cada vez
mais pobre e distante dos países do norte.

O desafio é enorme. Como integrar-se sem perder o


essencial da sua soberania, num momento de
desenvolvimento económico e político ( como é o caso dos
países africanos) em que a própria independência não está
ainda estabilizada e os conflitos étnicos e de fronteiras
surgem frequentemente? E quem vai ditar essa integração
no plano económico? Como vão reagir os interesses norte-
americanos que recentemente lançaram a organização
AGOA para apoiar os seus aliados africanos e deixar outros
países de fora? E o FMI? E o BM? E a própria União
Europeia? Só o tempo irá responder a todas estas

questões, mas poderá não cair bem aos interesses imperiais


que os africanos queiram que África lhes pertença .

23.5 Os desafios e ou dificudades da União


Africana

Há depois todo o capítulo político e militar. Sem dúvida que a


promoção dos valores democráticos e dos direitos humanos são
questões que só podem merecer o apoio e em particular dos povos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 225

africanos sujeitos a regimes ditatoriais e, em muitos casos,


corruptos. Mas não deixa de merecer todo o cuidado saber em que
alturas, os organismos supranacionais vão intervir e se chegarão a
intervir. Os artigos da nova Carta são genéricos e só quando
rebentarem as situações é que se poderá ter uma ideia mais
concreta deste novo passo.

Há, contudo, uma situação que poderá marcar o começo da U.A.


que é o seu enfoque quanto à questão do Sahara Ocidental. O OUA
aceitou a Republica Arabe Sahuri no seu seio em Novembro de
1984, tendo Marrocos abandonado a organização. Entretanto o
Conselho de Segurança da ONU avançou com um processo de
consulta ao povo sahuri que Marrocos acabou por impedir.

Ficando de fora da União Africana e contra o processo de consulta


no Sahara Ocidental, como vai a nova U.A. lidar com Marrocos?
Manter tudo na mesma? Ou radicalizar o processo e conseguir fazer
com que se realize o referendum? E em relação aos problemas dos
grandes Lagos? Como vai reagir a U.A. em relação aos países que
põem em causa as actuais fronteiras? E em relação às ingerências e
pressões vindas de Washington, Paris e Londres? Se os estados
africanos se unirem em torno da implementação da democracia, da
paz e do desenvolvimento económico a U.A. poderá ser uma
alavanca. A ver vamos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 226
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 227

Unidade XXIV
OS PROCESSOS POLÍTICOS DOS
PALOPS
INTRODUÇÃO

Moçambique é um dos países com histórias


recentes similares e que caminha, após o fim
da sua guerra de independência e guerra
civil, para regimes de presidencialismo forte,
destinando ao poder legislativo papel
secundário nas decisões políticas.

A Assembléia da República de Moçambique possui contornos


semelhantes ao sistema angolano. Em regime unicameral, a
Assembléia possui 250 membros de um sistema multipartidário
onde três partidos se fazem representados.

A Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), organização


que, desde 1962, lutou pela independência de Moçambique e
atualmente é o maior partido do país, possui 193 cadeiras. A
Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), segundo maior
partido com 49 assentos na Assembléia, organização surgida em
oposição ao regime unipartidário da Frelimo nos anos setenta. O
MDM (Movimento Democrático de Moçambique), por sua vez, é
uma dissidência da própria Renamo, conta com oito cadeiras. Com
este cenário, a governabilidade segue garantida e o governo não
encontra maiores dificuldades com relação à casa legislativa.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 228

O sistema multipartidário foi introduzido no governo do presidente


Joaquim Chissano, que assumiu o cargo em 1986 após a morte do
então chefe do poder executivo Samora Machel, primeiro
presidente após a independência do país.

Ocorreram eleições gerais em 1994, 1999, 2004 e 2009, todas


tendo como resultado a vitória da Frelimo (Frente de Libertação de
Moçambique), organização que, desde 1962, lutou pela
independência de Moçambique e atualmente é uma das maiores
forças políticas do país. As duas últimas votações culminaram com
a eleição e reeleição de Armando Guebuza para a presidência.
Apesar da esmagadora vitória no ano retrasado, com 75% dos
votos, e algumas denúncias de fraudes feitas por observadores
internacionais, analistas reafirmam que Moçambique tem
aperfeiçoado seus instrumentos democráticos.

Se por um lado a continuidade das eleições é um grande avanço em


direção à ampliação e conquista da democracia em Moçambique,
por outro a dificuldade de a Assembléia estabelecer contato com a
sociedade não contribui para esse avanço.

24.1. Sistemas políticos em Angola

Tendo sido criada em conseqüência das primeiras eleições


multipartidárias do país, a Assembléia Nacional de Angola foi
instituída em 26 de novembro de 1992. A única casa legislativa de
Angola conta com 220 assentos, sendo 130 preenchidos por eleição
proporcional direta e 90 pela majoritariedade de cada província
para um mandato de 4 anos.

As reuniões ordinárias ocorrem duas vezes por ano, e as


extraordinárias requerem a convocação do presidente da
Assembléia ou de um terço de seus membros. A composição da
mesa diretora é estabelecida proporcionalmente ao número de
assentos que cada partido conquistou na eleição. Além disso, a
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 229

Assembléia conta com nove comissões permanentes que visam


cuidar dos temas mais importantes do país são elas com a mesa
diretora, que dirigem o funcionamento dos trabalhos nos períodos
de recesso da Assembléia que, em Angola, duram quatro meses por
ano. Para que as matérias sejam aprovadas é necessário dois terços
dos votos dos parlamentares.

A Constituição de 5 de fevereiro de 2010 busca estabelecer uma


relação harmoniosa entre os poderes legislativo e executivo. De
acordo com o jurista angolano Cremildo Paca, o poder legislativo
tem, face à Constituição em vigor, a primazia sobre o processo
legislativo. Entretanto, na prática, o poder executivo também
desempenha funções legislativas por dois caminhos: estabelecendo
os parâmetros de atuação do partido majoritário e definindo o
momento em que as votações deverão ocorrer.

A Constituição prevê a liderança política dos partidos e, como têm


ocorrido, as decisões legislativas se passam principalmente pelas
posições partidárias, o que fortalece o vínculo entre os poderes
executivo e legislativo, visto que os posicionamentos partidários
são quase sempre definidos por ocupantes de cargos de primeiro
escalão do poder executivo. Todavia, destacou Paca, a
complexidade dos Estados modernos, de suas funções e o próprio
aparelho burocrático são elementos que impedem a completa e
absoluta divisão dos poderes. Cabe ao presidente da República de
Angola publicar decretos que cumprem funções legislativas em
situações extraordinárias, o que não impede que o parlamento
aprecie e se posicione frente à questão.

Do ano de independência, 1975, até 1991, Angola viveu sob um


regime de partido único. A partir de então o país se organiza em
regime multipartidário. Desde o fim da guerra civil em 2002, as
forças políticas se concentram em três partidos: MPLA
(Movimento Popular de Libertação de Angola), UNITA (União
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 230

Nacional para a Independência Total de Angola) e FNLA (Frente


Nacional de Libertação de Angola). Nas últimas eleições, ocorridas
em 2008, o MPLA conquistou 80% dos votos e a UNITA 10%,
sendo os 10% restantes divididos entre partidos menores, em que
apenas um conseguiu eleger um parlamentar. Esse cenário garantiu
ao MPLA uma larga vitória frente à UNITA, principal partido de
oposição.

A UNITA reuniu forças para, em 2009, demandar o cumprimento


da promessa do presidente da República, José Eduardo dos Santos,
no sentido da realização de novas eleições executivas. Entretanto, o
debate perdeu o sentido após a aprovação da nova Constituição em
2010 que determina que o presidente e o vice-presidente passam a
ser eleitos como cabeças-de-chapa do partido que tiver a maioria
dos votos, atribuindo, assim, ainda mais força aos partidos
políticos.

O caráter centralizador do sistema político angolano nas mãos do


poder executivo e o crescente fortalecimento dos partidos fazem
com que o governo não tenha muitas dificuldades de garantir
maiorias no parlamento. A pequena atuação, prevista pela
Constituição, da casa legislativa mostra que o poder executivo
ocupa recorrentemente o espaço originalmente pensado para ser
exercido por parlamentares.

24.3. Sistemas políticos em S. Tomé e Principe

A República Democrática de São Tomé e Príncipe, situada no


Golfo da Guiné, ao largo da costa centro-ocidental africana, é
composta pelas ilhas de São Tomé, ao sul, e a ilha do Príncipe, ao
norte, além de pequenos ilhéus. Colonizado pelos portugueses, no
século XVI, São Tomé e Príncipe apenas conquistaria a sua
independência em 1975, sob o comando do Movimento de
Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP), adotando, assim, um
sistema político parlamentar de partido único.

A implantação de um regime de partido único indicava, também,


um alinhamento do movimento de libertação do país com o bloco
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 231

comunista. No inicio dos anos 90, o país passou por alterações,


consolidando um processo que adotaria um sistema
semipresidencialista e multipartidário. A revisão constitucional de
1990 reconheceria, também, as subdivisões administrativas dos sete
distritos municipais, além da autonomia do governo regional do
Príncipe, concretizada com a promulgação do Estatuto Político-
administrativo no início de 2010.

A Carta de 1990, que conduziu uma abertura para a emergência de


novas forças políticas no sistema de representação, permitindo a
criação de novos partidos políticos, determinou, também, a criação
do cargo de primeiro-ministro como chefe de governo, na revisão
conduzida pelo parlamento são-tomense em sua terceira legislatura.
Em relação ao chefe de Estado, a Constituição atual do país
institucionalizou a eleição para presidente por sufrágio universal e
a duração do mandato de cinco anos. Ainda segundo o texto, cabe
ao presidente designar, levando-se em consideração os partidos
representados na Assembléia Nacional, o primeiro-ministro, chefe
do executivo nacional.

O parlamento ou Assembléia Nacional, composto por 55 deputados


atualmente, ao lado do presidente da República, chefe de Estado, e
do primeiro-ministro, configuram o sistema político de São Tomé e
Príncipe no plano nacional. Conduto, no âmbito político-
administrativo, a Constituição promulgada no início dos anos 1990
contemplou a descentralização por meio das autarquias locais.

As autarquias locais correspondem aos órgãos de governo eleitos,


em cada um dos sete distritos municipais, sendo seis em São Tomé
– Água Grande, Cantagalo, Caué, Lemba, Lobata, Me-Zochi – e
um em Príncipe – Pagué. A organização político-administrativa em
cada distrito se assenta em uma Assembléia Distrital, com
capacidade deliberativa. Cada distrito dispõe, também, de uma
Câmara Distrital, um executivo colegial escolhido entre os
membros eleitos da Assembléia Distrital, composta por um
presidente e vereadores que respondem à Assembléia.

A ilha de Príncipe possui igualmente uma organização distrital,


Pagué, que comporta todo o território. Mas, em 1995, a Assembléia
Nacional concedeu autonomia regional à ilha. Os órgãos de
governo de Príncipe são a Assembléia Regional e o Governo
Regional. O primeiro é um órgão legislativo, composto por
deputados. O segundo é um órgão executivo que responde aos atos
do legislativo. O Governo Regional é formado por um presidente e
secretários regionais, nomeados pelo primeiro-ministro da
República de São Tomé e Príncipe.

Recentemente, a Assembléia Nacional aprovou o Estatuto político-


administrativo da região autônoma do Príncipe. Promulgado pelo
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 232

presidente em abril deste ano, o Estatuto implicará em uma


reestruturação da administração local e de suas formas de
organização econômica, fiscal e política.

O mais pequeno País , de expressão Portuguesa , São Tomé e


Príncipe é composto por duas ilhas vulcânicas -Ilha de São Tomé a
sul e Ilha do Príncipe a norte- e por alguns ilheus.

As ilhas , segundo a história escrita pelos colonizadores


Portugueses foram povoadas apartir da chegada destes no início do
século XV para onde deportavam os seus prisioneiros e traziam
escravos apartir do continente Africano para trabalharem nas
plantações do cana de açúcar.
As ilhas também revistiram-se de grande importância como o inter-
posto de escravos para as diversas partes do mundo principalmente
para o Brazil.

O desejo da independência da população nativa só foi reconhecido


depois do golpe de estado em Portugal em 24 de Abril de 1974
apartir do qual um grupo de Santomenses residentes no exterior e
que formaram uma associação denominado de Movimento para a
libertação de São Tomé e Príncipe ( MLSTP) entraram e lideraram
o País com ajuda do sistema pro-soviético impondo um regime de
partido único comentendo barbaridades e atrocidades contra o seu
próprio povo.
Contudo em 1990 devido o enfraquecimento do sistema soviético e
o vento de mudança que vinha do leste-europeu permitiu a criação
de uma nova constituição para o País baseado num regime
pluralista e multi-partidário.O sistema Multi-Partidário permitia a
criação de outros partidos políticos , o direito a diferença de
opiniões e a semi-Autonomia para a Ilha do Príncipe que por
motivos do seu isolamento geográfico não beneficiava de
vantagens sócio-económicas nacional.

São Tomé e Príncipe enfrenta neste momento o grande desafio da


extração e exportação do petroleo bruto de forma a que sua
economia não dependa unicamente da exportação do cacau.
Segundo os especialistas internacionais , este país em muito curto
espaço de tempo poderá produzir até um milhão de barris de
petroleo anualmente o que o colocaria independente das ajudas
externas em oposição a sua situação actual.

As empresas petrolíferas já iniciaram a perfuração e espera-se que


dentro de dois a três anos o país entre na lista de países produtores
de petróleo e seus derivados.Regime Político : Semi-Presidencial
Mandato do Presidente : 5 anos.
Número máximo dos mandatos 2
Mandato da Assembleia e do Governo : 4 anos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 233

O presidente introduziu junto ao povo o seu projecto de sociedade


onde previa uma sociedade justa para todos os Santomenses e onde
os recursos provenientes da exportação do Petróleo fossem
utilizados no melhoramento dos serviços públicos e
infraestruturas.O Presidente também é defensor de um melhor
relacionamento com os países da costa Africana de forma a reduzir
o isolamento geográfico que está São Tomé e Príncipe.

Fradique de Menezes é o terceiro presidente do país depois do ex-


Presidente Miguel Trovoada ter servido o número máximo
permitido pela continuação .O presidente estudou em Portugal e na
Bélgica e durante o regime do partido único ocupou diversas
posições políticas e diplomatas incluindo Ministro dos Negócios
Estrangeiros e embaixador de São Tomé e Príncipe junto a alguns
países Europeus.

24.4. Sistemas políticos em G.Bissau

INTRODUÇÃO

Quando em Maio de 1991 o regime do então Presidente Nino


Vieira decidiu rever a Constituição de 1984 para, entre outras
alterações, eliminar o artigo IV, que consagrava o PAIGC como "a
força política dirigente da sociedade e do Estado" e, ao mesmo
tempo, aprovou a Lei dos partidos políticos e da liberdade de
imprensa, a Guiné-Bissau passou a ser classificada como um país
em vias de democratização. Efectivamente, nos primeiros anos que
se seguiram a estas alterações formais, nada fazia prever que assim
não fosse.

Entre Dezembro de 1991- data de legalização do primeiro partido e


Dezembro de 2002 foram legalizados cerca de 20 partidos
políticos. Três anos após a introdução das primeiras alterações à
constituição foram realizadas, pela primeira vez na história do país,
eleições legislativas e presidenciais, consideradas pela comunidade
internacional como tendo sido livres e justas. Na sequência destas,
e apesar de não ter havido alternância política, o governo foi
formado tendo em conta o resultado das eleições.

Pela primeira vez o PAIGC, que tinha saído como vencedor das
eleições, formou um governo com base numa legitimidade
conquistada nas urnas.

Cinco anos após a realização destas primeiras eleições o país foi de


novo a votos, apesar do conflito armado que o assolou entre Junho
de 1998 e Maio de 1999. Destas eleições resultaram a substituição
do Presidente Nino Vieira, cujo mandato tinha durado quase 20
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 234

anos e o fim da era do PAIGC, que já governava o país desde a sua


acessão à independência em 1974.

Se por um lado tudo parecia caminhar regularmente, por outro lado


somos tentados a constatar que neste processo houve muitas
contradições, sinuosidades e recuos. A mais significativa análise
destas vicissitudes foi-nos fornecida por Fafali Koudawo no seu
recém publicado trabalho sobre as transições políticas em Cabo
Verde e Guiné-Bissau, reconhecendo o autor que,
comparativamente à transição em Cabo Verde, o caso da Guiné-
Bissau podia ser considerado como o de "transições sobrepostas" e
inacabadas.

A questão central nesta comunicação porém não é insistir num


princípio de tipo teleológico segundo o qual o país teria que
caminhar inexoravelmente e de uma forma linear para a
democracia, mas tentar perceber porque razão o processo político é
marcado por estes enviesamentos, que ao fim e ao cabo resultam
numa confiscação da democracia, consubstanciada, entre outros
fenómenos, nos atropelos sistemáticos às liberdades individuais,
nomeadamente a liberdade de expressão, no não respeito dos
direitos humanos e na perseguição dos opositores ao regime. As
razões que levaram a este estado de coisas são certamente múltiplas
e difíceis de identificar.

Quanto a nós há três variáveis explicativas do fechamento e da


confiscação do processo democrático na Guiné-Bissau: a) o
definhamento do Estado b) a pessoalização do poder político e c) a
concentração do poder nas mãos de uma etnia. Estes três factores
estão de tal forma interligados que podem dar a sensação de se
tratar de um e mesmo fenómeno. É o caso, por exemplo dos
aspectos ligados à fraca institucionalização do Estado e a
personalização do poder.

Antes porém de passarmos a analisar a forma como cada um destes


aspectos condiciona o processo político em geral e a democracia
em particular na Guiné-Bissau vamos esboçar algumas
considerações a propósito da discussão sobre as condições de
realização da democracia em África, uma vez que a escolha destes
aspectos como elementos centrais das mudanças políticas ocorridas
na Guiné-Bissau nos remete para uma discussão deste género.

A nossa análise privilegiará uma abordagem de tipo transicional


(transition approach) isto é, aquela que enfatiza o processo político,
bem como as iniciativas e as opções das elites. É uma abordagem
em que se parte do princípio de que o que guia este processo
histórico é o agenciamento das iniciativas e acções das elites
políticas em conflito. Considera que, enquanto certas acções,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 235

opções e iniciativas são benéficas para a transição para a


democracia, outras não o são.

Além disso, ela admite que, embora a democracia seja produzida


pela acção de seres humanos, ela não se dá num vácuum. Estas
iniciativas são de alguma maneira formatadas, e em grande medida
até, por estruturas e um conjunto de constrangimentos físicos e
sociais, bem como por um conjunto de oportunidades, valores e
normas que são por sua vez também mutáveis.

Inicialmente desenvolvida por Dankwart Rustow, a abordagem


transicional admite quatro fases na transição para a democracia: a
primeira, a da unidade nacional, corresponde à fase de
estabelecimento de unidade nacional na qual se produz um
consenso à volta da identidade política.

A segunda fase é marcada por uma prolongada e inconclusiva luta


política, por conflitos entre grupos opostos. A luta pode ser tão
intensa a ponto de desmantelar a unidade nacional, ou um grupo
pode torna-se tão poderoso que esmaga a oposição e barra o
caminho em direcção à democracia.

A terceira fase corresponde à primeira transição ou fase de decisão,


um momento histórico em que os partidos decidem adoptar
compromissos e adoptar regras e normas democráticas, que
atribuem a cada um alguma participação na vida política. A quarta
fase é a da segunda transição ou de habituação.

Estudos de vários casos no mundo revelaram que a liberalização


política no seio de um regime autoritário começa com a diminuição
da repressão e a criação de liberdades civis, mas que estas
mudanças não conduzem necessariamente à democratização,
podendo esta abortar e a repressão voltar. Autores vários como
Scott Mainwaring, O’Donnell e seu colegas , fazem uma distinção
muito clara entre transição de autoritarismo ou liberalização
política inicial e a consolidação da democracia.

Na sua recente obra, Bratton e van de Walle (1998) analisam as


significativas reformas políticas ocorridas na África subsahariana
nos inícios dos anos 90 e identificam os elementos a partir dos
quais elas podem ser explicadas. Os dois autores entendem a
democracia como uma forma de regime político onde os cidadãos
escolhem, em eleições competitivas, os ocupantes dos lugares mais
altos do Estado. De acordo com esta definição, uma transição para
a democracia ocorre com a instalação de um governo escolhido na
base de uma eleição competitiva, desde o momento em que o
escrutínio seja conduzido de uma forma livre e justa e conduzidas
dentro de uma matriz de liberdades civis, e que todos os
concorrentes aceitem a validade do resultado das eleições. Mas os
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 236

autores analisam igualmente porque é que alguns países


completaram a sua transição, enquanto que outros procederam a
reformas politicas limitadas ou sofreram revés autoritário. Bastante
pertinente para os nossos propósitos parece ser a questão sobre se o
período de transição marca uma "separação das águas" no processo
político africano.

O cepticismo em relação ao carácter irreversível dos processos


democráticos em África domina um bom número dos espíritos
daqueles que se dedicam aos estudos africanos. Chazan chama-nos
a atenção para o facto de que "a recente vaga política não deve ser
confundida com a democratização" (Chazan 1992), enquanto que
Toulabor propõe que as transformações políticas devem ser
interpretadas simplesmente como "uma transição no sentido de
sistemas políticos mais pluralistas" (Toulabor, 1991: 58).
Lemarchand vai mais longe concluindo que a liberalização, que é o
desmantelamento do regime autoritário, pode acontecer sem
democratização (Lemarchand 1992:178).

Os teóricos da transição, por exemplo, constataram que não há um


continuum na terminologia democratização. Ao mover-se, um
regime político não tem que evoluir contínua e linearmente de uma
situação de autoritarismo para a democracia parcial e depois para a
democracia liberal. Muitos regimes podem saltar de autoritarismo
para democracia liberal ou desta para o autoritarismo. Se
aplicarmos esta teoria ao continente africano, constataremos que
abundam casos que a podem ilustrar e confirmar.

Aliás a maior parte dos casos da transição para a democracia é


marcada por avanços e recuos, por momentos de continuidade da
velha ordem (autoritária), bem como por rupturas em relação ao
passado. Cabo Verde, por exemplo, parece ter saltado de um
autoritarismo mitigado para a democracia liberal, enquanto que a
Guiné-Bissau passou de autoritarismo para democracia parcial
(1991-1998) e, desde esta data, este mesmo país parece caminhar
para uma situação de autoritarismo.

Por outro lado, também é sabido que, em muitos casos, há um


desfasamento entre as alterações legais e as mudanças reais.
Normalmente as mudanças começam por uma revisão da Lei
fundamental e demais outras e só depois é que a prática se vai
adaptando às novas leis, que no fundo, numa primeira instância não
passam de uma consagração das vontades e dos desejos dos actores
sociais. Mas fazer estas duas constatações não significa ainda
analisar os constrangimentos que estão por detrás do
"bloqueamento" da democracia e muito menos compreender o
processo em si.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 237

Por isso o objectivo desta comunicação é provocar uma discussão


sobre os factores explicativos deste "falhanço" da democratização
na Guiné-Bissau à luz de algumas teorias da sociologia política,
admitindo à partida que estes factores são de natureza múltipla, e
que as ideias aqui avançadas só podem ser uma parte da explicação.
Pondo em relevo os obstáculos, as vicissitudes e os desafios que se
colocam no campo político e tendo como pano de fundo a questão
da gestão das múltiplas diversidades (étnica, religiosa, cultural,
etc.), ele tenta igualmente pôr em evidência a (s) estratégia (s) da
actual elite política para se manter no poder, procurando
descortinar o seu discurso e modo de actuação.

Algumas análises políticas dos últimos anos têm tentado explicar


este "fechamento" do campo político e a não sustentabilidade das
"conquistas" democráticas, revitalizando e concedendo até alguma
centralidade à questão do modelo de democracia, ao mesmo tempo
em que questionam a adequação da democracia liberal à realidade
social e cultural de África.

Outras partem do pressuposto de que as sociedades de tipo plural,


isto é caracterizadas por diversidade étnica, cultural ou outra, como
é o caso das africanas, contêm em si potencialidades que lhes
permitem edificar sociedades democráticas.

E sendo a África constituída por sociedades diversas ou


segmentadas, em que as divisões políticas se sobrepõem à linhas de
diferenciação social baseadas na religião, língua, cultura, região,
etc, ela reuniria condições para a instauração de uma democracia de
tipo consociacional (consociational democracy) defendida, entre
outros, por Arend Lijphart, que actualiza teorias e quadros de
interpretação que fizeram moda nos anos 50 e 60. Mas esta teoria
não parece ser aplicável à Guiné-Bissau na medida em que, apesar
de ser uma sociedade de tipo plural, carece de união entre as
diferentes facções da classe política, condição essencial para este
tipo de democracia, segundo esta mesma teoria.

Não podendo discutir cabalmente a aplicação da abordagem


transicional acima exposta, basta dizer que a Guiné-Bissau parece
ter feito as três primeiras fases de uma maneira muito atabalhoada,
passando de uma fase a outra sem nunca ter "acabado" nenhuma
delas. E de todas elas a que parece mais inconclusiva isto é, que
continua a marcar mais afincadamente a realidade guineense é a
segunda, parecendo ser a passagem à terceira fase mais uma ilusão.

A quarta continua a ser uma miragem. Mas o que nos interessa


nesta contribuição não é propriamente estabelecer uma teleologia
do que seriam as metas a atingir em termos de construção
democrática, mas mostrar como tem evoluído a sociedade
guineense nos seus aspectos políticos e sobretudo em termos dos
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 238

desafios que tem que enfrentar para atingir o progresso, sendo o da


democratização e da instauração de boa governação apenas duas
dentre os múltiplos.

Os estudiosos da Guiné-Bissau têm sido unânimes em reconhecer


que a existência do Estado constitui um dos mais críticos aspectos
da estruturação e funcionamento do político na Guiné-Bissau. E
antes mesmo de se ter provado a forma da sua existência e
descortinado os mecanismos do seu funcionamento eis que o
mesmo nos remete para uma discussão sobre a realidade da sua
crise, cujos germes não datam de agora.

Ela tem raízes nos primórdios da independência e talvez até antes.


J. Forrest, por exemplo, considera que a fragilidade do Estado está
enraizada numa longa história de constituição frágil de instituições
coloniais, que sempre esteve em claro contraste com instituições
sociais poderosas baseadas localmente e com raízes pré-coloniais
(Forrest, 2002).

À semelhança de uma grande parte dos países africanos, desde


muito cedo o país e a sua classe política tiveram que enfrentar uma
dupla e simultânea exigência de construir um Estado i.e. assegurar
a emancipação desta organização em relação à formação social que
controla, e, ao mesmo tempo, imputar a esse Estado um sem
número de tarefas que noutros contextos são assumidas seja por um
Estado mais desenvolvido, seja por um sector privado mais bem
formado. Como dizia Médard, o Estado, "conformément á l´idee de
l´État démiurge, a prétendu s´occuper de tout, et faire la société
tout en se faisant lui-même " (Médard, 1991: 363).

Mas a crise do Estado tem-se agravado nos últimos anos. Ao seu


desengajamento em relação às suas tarefas básicas, motivado pelas
primeiras medidas de aplicação do Programa de Ajustamento
Estrutural, foram-se agregando e sobrepondo um conjunto de
elementos de carácter material e imaterial, objectivo e subjectivo,
que conduziram à actual situação.

Os legados de uma herança pré-colonial e colonial consubstanciam


um dos factores objectivos que pesam sobre o processo de
institucionalização do Estado. Ficando-se prisioneira destes
legados, o Estado pós-colonial não foi capaz de estender e
consolidar as suas estruturas às populações camponesas.

Lá onde a herança e a dinâmica da luta de libertação nacional


permitiram recuperar o modelo de organização política da época da
luta armada foram criados os comités de tabanca à frente dos quais
foram postos homens de confiança do poder central.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 239

Mas, progressivamente, entalados entre a confiança política do


poder central e as necessidades reais das populações locais que
caucionaram estas nomeações, os responsáveis destas estruturas
locais, foram-se autonomizando em relação às estruturas estatais
centrais. Dos elementos materiais faz parte, por exemplo, a guerra
que assolou o país em 1998/1999.

A ausência crónica de recursos financeiros, mesmo para fazer face


às tarefas elementares tais como o pagamento dos salários, faz
pensar que a crise do Estado se resume à sua dimensão financeira.
Ela encontra na falta de capacidade de pagamento a sua mais
dramática expressão, mas ultrapassa de longe a esta dimensão
financeira.

O não respeito pelas leis e normas de funcionamento das


instituições, a promoção do nepotismo, da corrupção, a
complacência face ao desrespeito pelas hierarquias, são elementos
de ordem imaterial, e alguns deles subjectivos, que contribuíram
para a deliquescência do Estado na Guiné-Bissau.

Mas para lá da discussão sobre a fraca ou forte institucionalização


do Estado, o que importa no nosso caso é o funcionamento do
Estado mínimo. Reconhecido por todos (governo, sociedade civil e
comunidade internacional) como uma condição indispensável ao
desenvolvimento económico e social e à consolidação da
democracia, o funcionamento mínimo das instituições tem-se
transformado no calcanhar de Aquilis dos sucessivos governos do
PRS e do regime de Kumba Yala. Os sucessivos escândalos
financeiros, o não cumprimento de um dos compromissos
elementares do Estado, o não pagamento de salários aos
funcionários públicos, o não pagamento de quotas nos organismos
internacionais, têm revelado uma incapacidade crónica do Estado e
dos governantes em fazer face a este desafio de boa governança.

Em várias ocasiões, tanto o Presidente da República como os vários


Primeiros Ministros denunciaram o desvio de fundos nas contas do
Estado. Por exemplo, em em Julho de 2001, o Presidente da
República acusou um ex-Primeiro Ministro de ter desviado mais de
dois milhões de Euros das caixas do Estado. Em Novembro de
2002 o Presidente da República voltou a referir a tentativa de
desvio de cerca de dezassete milhões de Francos CFA para
despesas sumptuosas dos dirigentes do Estado.

O que nos parece relevante nestas acusações é que 1) elas revelam


uma grande vulnerabilidade do sistema financeiro nacional,
sobretudo na sua vertente de controle e prevenção à fraude; 2) as
instituições judiciais não são capazes de provar as fraudes; 3) estas
acusações são utilizadas como arma de arremesso político contra os
elos mais fracos do regime. Embora estes aspectos sejam mais do
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 240

fórum da boa governação, não deixam de demonstrar a fragilidade


do Estado. Cremos, aliás, que este é um dos exemplos em que as
questões de boa governação se imbricam com a questão do
funcionamento do Estado. E quando num contexto destes o
Presidente da República promete ao seu eleitorado punir o infractor
e não o faz, só pode estar em causa a credibilidade das instituições
do Estado.

Tudo se passa como se para o núcleo duro do actual poder não


houvesse consenso quanto à preservação da integridade do Estado,
a inviolabilidade das liberdades individuais, a igualdade dos
cidadãos perante a lei, e à dedicação ao cumprimento da lei. As
normas e os procedimentos não são respeitados. De um Estado
fraco em termos de administração e gestão da coisa pública o
Estado da Guiné-Bissau tende a cair numa situação de
informalização definitiva dos actos do Estado. Um exemplo
caricato deste estado de coisas é o aparecimento numa televisão
estrangeira da imagem do Presidente da República exibindo uma
mala com dólares americanos que tinham sido oferecidos pelo
Presidente líbio e que, segundo as palavras do próprio Presidente
Kumba Yala, se destinavam ao pagamento dos atrasados da Função
Pública. Por esta mesma ocasião e perante as câmaras da televisão
o Presidente deu ainda instruções aos ministros presentes sobre a
forma como o dinheiro devia ser distribuído. E como se isso não
bastasse, prometeu formar uma comissão de supervisão da
distribuição deste dinheiro liderada por militares da sua confiança,
o que veio a confirma-se dias depois quando o Presidente anunciou,
num encontro informal com feirantes de um dos mercados da
capital, que não fosse a intervenção atenciosa dos militares, uma
parte do dinheiro teria sido desviada para fins não programados.

Num ambiente institucional definido por um Estado fraco e pela


ausência de cumprimento das normas, o faccionalismo interno e a
informalização do poder minaram a emergência de um efectivo
sistema político nacional e o desenvolvimento de ligações
construtivas entre o Estado e a população. No contexto de
pluralismo político e de luta pelo poder este relacionamento é
instrumentalizado para fins eleitoralistas. A unidade nacional
forjada na época da luta contra o colonialismo português tende a
degenerar-se e a construção de grandes consensos nacionais torna-
se extremamente ameaçada. E na ausência deste consenso nacional
mínimo a democracia não passa de uma teatralização.

A história política recente da Guiné-Bissau é aliás rica em lutas


intestinais entre antigos companheiros de armas, o que prova o
resvalar da luta política para uma tentativa sistemática de afirmação
de protagonismos individualistas.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 241

Os vários golpes e tentativas de golpe de Estado que o país


conheceu atestam isso mesmo. Nino Vieira, um carismático e
lendário ex-combatente, chegou à Presidencia da República em
1980 através de um golpe de Estado contra um ex-companheiro de
arma Luís Cabral, o primeiro Presidente da República da Guiné-
Bissau.

Durante o seu mandato foram denunciadas inúmeras tentativas de


golpe de Estado encabeçadas por ex-companheiros de arma, dos
quais destacamos as de Víctor Saúde Maria, então Primeiro
Ministro de Nino Vieira em 1983, de Paulo Correia, ex-
Comandante das Forças Armadas e Ministro da Justiça de Nino
Vieira, em 1985, ou ainda a de João da Costa em 1993.

III. CONCENTRAÇÃO DE PODERES E SOBREVIVÊ

Em termos de distribuição de poderes, o espaço público guineense


apresenta dois fenómenos contraditórios. Ao mesmo tempo em que
assistimos ao que Achile Mbembe designou de refracção da
sociedade, traduzida, entre outros fenómenos (guerras,
recomposições territoriais, deslocações forçadas das populações),
na diversidade das identidades, das submissões, das autoridades e
das jurisdições, verifica-se uma redução das possibilidades de
participação na "construção" de decisões, e/ou a submissão de
determinadas estruturas de decisão a outras do mesmo nível
(Mbembe, 2000). Este factor está de tal forma presente que se pode
dizer que um dos traços marcantes do espaço político guineense e
quiçá mesmo uma das tendências pesadas de todo o seu
desenvolvimento histórico moderno tem a ver com a concentração
de poderes.

Historicamente a concentração de poderes traduziu-se na


hegemonia das autoridades do Estado colonial sobre as autoridades
ditas tradicionais, uma herança que o politólogo Fafali Koudawo
expressa nos seguintes termos: "Quando, a partir de 1940, Bissau
levou a melhor sobre Bolama enquanto capital da Guiné, este
pedaço do "Chão de Papel" passou a monopolizar a autoridade
administrativa, concentrar o poder económico", e assumir a
liderança sócio-cultural no conjunto nacional ainda em vias de
afirmação" (Koudawo, 2000: 7).

Na fase nacionalista a concentração de poderes reflectiu-se na


hegemonia da capital sobre as províncias. Entre a situação colonial
e a pós-colonial não houve rupturas. Carlos Lopes considera que
reutilizando as estruturas instaladas pelo governo da "Província", o
PAIGC cometeu um dos seus mais graves erros políticos e que a
negativa autonomia socio-económica de Bissau era inclusive "uma
ameaça à unificação do povo" (Lopes, 1982:89-92).
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 242

Efectivamente, ao herdar o aparelho de Estado colonial, O PAIGC


agravou a concentração de poderes, quer pela via do unanimismo
político, quer pela hegemonia de Bissau sobre as restantes regiões,
à revelia de todo um projecto político sonhado por Amílcar Cabral.
Este preconizava um papel menos centralizador daquele que foi o
último reduto do poder colonial e, numa perspectiva de
descentralização político-administrativa, punha inclusive em
dúvida a necessidade da existência de uma capital num país como a
Guiné-Bissau. Estas reflexões de Cabral sobre a configuração do
Estado pós-colonial, tal como muitas outras por ele iniciadas, não
foram conduzidas até ao fim, mas pereciam anunciar uma vontade
de afastar os perigos de um desenvolvimento macrocéfalo que
pudesse abafar as energias das regiões administrativas ou
comunidades locais.

No sector dito moderno da sociedade, o novo Estado não só abafou


a vitalidade das estruturas não-centrais, como matou no germe
todas as iniciativas do espaço não-estatal. Tudo que se tentava
definir como não-estatal era considerado anti-estatal.
Contrariamente ao que preconizava o Estado emergente da luta de
libertação, a sociedade nunca foi algo monolítico isto é algo que
representasse um bloco unitário de interesses, mas uma
configuração em que o Estado deixa de ser um elemento redutor,
aglutinador de todos os interesses, e se transforma num entre os
vários e diversos actores sociais e políticos, embora sempre
cobiçado por cada um destes grupos na procura de realização de
interesses parcelares. Resumindo, o estado não permitiu que a
sociedade evoluísse no sentido da pluralização do espaço público.

A não realização das eleições autárquicas continua a retardar a


transmissão de uma dimensão do poder democrático aos segmentos
não estatais da sociedade. Enquanto isso não acontece as
nomeações são feitas de acordo com a vontade do Presidente da
República. Várias organizações não-governamentais nacionais e
estrangeiras têm insistido na necessidade da realização destas
eleições como condição indispensável à assumpção de uma
cidadania mais activa. Recentemente, as mulheres do sector de
Bula foram unânimes em exigir a realização de eleições
autárquicas. Na sua opinião, a descentralização de poderes pode
ajudar bastante no desenvolvimento regional e sectorial e dar alívio
à capital Bissau.

Uma outra dimensão da concentração de poderes tem a haver com


a sua distribuição não-equilibrada pelas diferentes forças políticas.
Neste particular, a concentração e centralização de poderes não se
limita à uma hegemonia do partido que ganhou as eleições
presidenciais e legislativas. Manifesta-se, entre outras, no facto de
o Primeiro Ministro e o Presidente sempre terem pertencido à
mesma sensibilidade política, mas igualmente numa concentração
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 243

de poderes nos órgão executivos (Presidência da República e


Governo) em detrimento do órgão com competências legislativa. A
constituição da República estabelece que o regime é semi-
presidencialista e delimita claramente as competências formais de
cada um dos centros do poder. Mas os sucessivos Presidentes da
República têm-se imiscuído regularmente nos actos de governação.

Reina uma confusão sobre o que são as competências e os limites


de cada órgão, sendo a confusão maior no que respeita à
delimitação de poderes entre o Presidente da República e o
Governo por um lado e entre aquele e o poder judicial por outro.
No que respeita ao primeiro aspecto, a instabilidade institucional
resultante da confusão de poderes entre a Presidência da República
e os restantes órgãos de soberania já fez o país conhecer quatro
Primeiros Ministros e mais de seis governos no espaço de três anos.
E como se isto tudo não bastasse, o Presidente decidiu dissolver a
Assembleia Nacional eleita em Dezembro de 1999, a
aproximadamente um ano das eleições programadas para finais de
2003.

Os órgãos judiciais têm conhecido barreiras na sua actuação. Os


exemplos sobre estas posturas abundam, mas basta citar alguns
deles. Em várias ocasiões o Presidente da República quis substituir-
se aos tribunais e outros órgãos judiciais. O caso mais flagrante foi
a exoneração, em Setembro de 2001, do Presidente do Supremo
Tribunal de Justiça e a nomeação de um novo, quando a Lei
fundamental do país, prevê a eleição deste entre os seus pares.

A liberdade de expressão é exercida intermitentemente sempre que


estiver em causa a crítica ao regime instaurado. Em várias ocasiões
o Procurador Geral da República perseguiu jornalistas e impediu a
estes o livre exercício da sua profissão.

Inclusivamente líderes da oposição são presos e espancados sem


nenhuma culpa formada, enquanto deputados são presos sem que
previamente lhe seja retirada a imunidade parlamentar. Em várias
ocasiões o Procurador Geral da República e o órgão que dirige
agiram em defesa dos interesses e a mando do Presidente da
República, sem que para isso tenham sido respeitados os preceitos
legais. O exemplo deste tipo de actuação é-nos dado pela actuação
da Procuradoria da República em relação expulsão de uma seita
religiosa acusada pelo Presidente de actuações que punham em
causa a unidade do país.

À democratização do sistema político não correspondeu, portanto,


uma descentralização de poderes na Guiné-Bissau. Se por um lado
com a revisão constitucional de 1991 foram criadas estruturas e
órgãos que correspondem a um Estado democrático, por outro lado
a velha elite política e alguns elementos da nova elite política,
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 244

incluindo o Presidente da República, têm dificuldades em se


"libertar" da tradição autoritária.

A Assembleia da República, dominada pelos dois partidos que em


tempos fizeram uma coligação governamental de base alargada
(PRS e RGB-Movimento Bafatá), tem pouca expressão política. A
iniciativa legislativa é fraca e o papel fiscalizador que ela devia
exercer sobre o executivo não é assumido em toda a sua dimensão.

Tendo em conta esta correlação de força resultante das eleições


legislativas de Novembro de 1999, o PRS decidira formar um
governo de Unidade Nacional, integrando no governo quatro
elementos do partido RGB-Movimento Bâfatá. Esta coligação veio
no entanto a dissolver-se em Janeiro de 2001, quando o Movimento
Bafatá decidiu abandonar o governo acusando o PRS de "falta de
visão do desenvolvimento do país, desconhecimento das tarefas de
governação, cegueira política total e animado apenas pelo ódio de
pretenderem fazer ajustes de contas com a franja do anterior
regime".

O carismo granjeado como opositor ao regime de Nino Vieira


permitiu ao líder do PRS não só capitalizar votos para um bom
score nas eleições presidenciais de 1999, como catapultar o seu
partido, o PRS, para um lugar de destaque no cenário político
guineense, fazendo dele o partido do governo.

E tendo chegado ao poder à custa do carisma do seu líder, O PRS


não teve tempo para se preparar para as tarefas de governação. Por
isso o núcleo duro da direcção deste partido desenvolveu uma
atitude de complexo de inferioridade em relação aos restantes
políticos de competência reconhecida, bem como em relação à uma
certa intelectualidade, como veremos mais a frente.

Esta impreparação dos dirigentes do PRS é aliás um dos elementos


que está na base da fissura da actual classe política, opondo-os,
para lá das naturais divergências entre a maioria e a oposição, à
restante elite política. Um analista atento da realidade política
guineense constatou, e bem, que a actuação imprevisível e
desmesurada do Presidente esconde o âmago das causas da
instabilidade política na Guiné-Bissau: a inexistência de uma classe
política capaz de ver mais além do que o seu interesse imediato. Na
verdade, a actuação dos actuais dirigentes é bastante marcada pela
sua situação de precariedade material e pela tendência em se
aproveitar da sua posição no aparelho de Estado para não só tirar
proveito das prerrogativas que a sua posição lhes confere, como
também, e na medida do possível, aproveitar-se das fraquezas dos
mecanismos de controle na gestão do que é público para se
enriquecer.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 245

O que nos parece porém não se poder sustentar é a afirmação de


que estes mesmos estivessem a confundir a tabanca com o Estado.
Na sua generalidade, são indivíduos com alguma vivência
experiência de tabanca, mas cuja socialização é no mínimo híbrida
no sentido em que tanto assimilaram aquilo que são as normas da
tabanca, como o conjunto das normas de uma sociedade moderna e
urbanizada. Muitos deles são indivíduos cujos referenciais se
encontram na sociedade destribalizada, longe dos paradigmas da
tabanca.

O que manifestamente se verifica é um desconhecimento e fraco


domínio daquilo que são as normas de funcionamento de um
Estado moderno, uma notória impreparação técnica e técnico-
política, e ausência de experiência política anterior.

É uma situação que se caracteriza ao mesmo tempo por ausência do


sentido do Estado e por uma opção deliberada pela informalização
do Estado como estratégia para contornar os constrangimentos que
o respeito pelas regras e normas de funcionamento impõem a actos
desviantes, incluindo a corrupção. À luz desta evolução pode-se
dizer que o país sofreu um retrocesso considerável em termos de
consolidação do processo democrático.

Isto quer dizer que se o conflito entre estas duas facções da elite
política é motivado pela diferença de visão no que são as grandes
opções do desenvolvimento económico e social, ele também se
deve à diferença de visão quanto aos desafios de consolidação da
democracia.

O carismo permitiu ainda ao recém eleito Presidente assumir-se


como o Príncipe. A sensação que se tem é de estarmos perante uma
concepção hobbesiana do poder em que o soberano não é
simplesmente o depositário central da força que se necessita para
fazer cumprir os acordos em que se baseiam as regras institucionais
da sociedade; tem também a tarefa de determinar o que está bem no
que se refere às interacções sociais. O conceito de justiça, as regras
da vida social devem estabelecer-se pelo soberano.

O que importa para a organização social não é nem muito menos


que as normas da sociedade sejam correctas, mas sim que estejam
determinadas de forma autoritária. Estas práticas não têm
necessariamente a ver com uma herança cultural do Presidente,
como pretendem alguns. Pois ele é oriundo de uma sociedade onde
à uma sociedade pouco estratificada corresponde um poder pouco
centralizado. São remanescências de uma cultura autoritária e fruto
de uma socialização política feita no quadro do partido único.

Enquanto isso, os restantes membros da elite, com a legitimação


política proveniente das urnas, transformavam-se em leões, para
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 246

usar uma linguagem de Machiavelli. O novo grupo da elite política


corresponde ao ideal-tipo de leões, na medida em que exerce o
poder na base da força e da violência. No governo eles é que
dominam, embora a actual elite governante também integre
raposas. A sua visibilidade tem vindo a crescer desde que o PRS
subiu ao poder.

A posição privilegiada do Presidente no partido durou enquanto


não foi revelada a incompatibilidade entre as suas novas funções e
as de líder do partido. A partir do momento em que outras figuras
do PRS começaram a despontar no horizonte político como
potenciais líderes, começaram as tensões entre o Presidente da
República e os dirigentes do seu próprio partido. Embora com a
balança sempre a pender para o lado do Presidente da República,
esta tensão constitui um dos elementos explicativos da confusão
entre as tarefas governativas e as funções presidenciais.

É neste último aspecto que as divergências têm sido mais gritantes.


O Príncipe insiste em desrespeitar as mais elementares normas e
procedimentos, enquanto que os leões procuram formas de
restringir os poderes do Presidente. E fazem-no tentando construir
um discurso legitimador das suas aspirações de conservar e
consolidar o poder. Dizem defender os interesses dos
desprotegidos, dos camponeses, dos "pés descalços", embora esteja
ainda por provar se e em que medida assim o fazem na prática.

Esta luta pelo poder no seio de uma e a mesma maioria é alargada


de quando em vez ao Parlamento, cujo Presidente é dado como
uma das destacadas figuras do partido.

A agravar o fenómeno da centralização do poder, existe uma


politização excessiva da administração pública, que se traduz na
atribuição de cargos técnicos a elementos do PRS e da etnia
balanta, sendo certo que a base social deste partido é
essencialmente balanta. Neste caso, já não se trata de colocar
homens da confiança política do partido no poder em lugares
considerados de relevância política, como é prática entre os
partidos políticos nos momentos de alternância política, mas da
nomeação de indivíduos para cargos eminentemente técnicos sem a
devida qualificação, tomando como único critério a "fidelidade" e/o
filiação partidária.

Com efeito, pela primeira vez na história da governação moderna


do território, assistimos à uma concentração do poder nas mãos de
uma determinada etnia, contrariamente ao que sucedeu durante os
sucessivos governos do PAIGC, que embora considerado anti-
democráticos, conseguiram manter um equilíbrio étnico na
atribuição de cargos públicos de elevada responsabilidade e,
indirectamente a unidade nacional. No regime de Nino Vieira
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 247

houve por vezes a acusação por parte de alguns populares de que


ele estaria a privilegiar indivíduos da etnia Papel, por ele ser
oriundo desta mesma etnia, embora também houvesse acusações no
sentido contrário isto é, em como o Presidente só privilegiava os
não-Papeis. A verdade é que nunca se tinha chegado a este nível de
concentração de poderes.

Alguns analistas já falam da "balantização" da sociedade


guineense" (Dias, 2000). Do que se trata na realidade não é de uma
balantização da sociedade guineense, mas de uma tendência
dominante na atribuição de cargos públicos que põe em causa o
respeito pelos critérios de meritocracia e outros que devem estar na
base da promoção e implementação das carreiras profissionais.

Houve altura em que para além do Presidente da República e do


Primeiro Ministro, também o Procurador Geral da República e o
seu adjunto, o Presidente do Tribunal de Contas eram da etnia
Balanta. No executivo a situação era semelhante. Há quem veja
neste excesso uma tentativa por parte dos Balantas em se vingarem
do facto de até recentemente os Balantas terem tido uma
participação limitada nos altos cargos da administração do Estado,
o que de longe era desproporcional à activa participação que
tinham tido na luta de libertação nacional. Sabe-se que os
camponeses Balantas, mais do que qualquer outra etnia, tiveram
um peso significativo no sucesso da luta de libertação nacional.

O facto de, em 1995, o regime de Nino Vieira ter reprimido uma


alegada tentativa de golpe de Estado encabeçada pelo então Chefe
de Estado Maior das Forças Armadas, Coronel Paulo Correia, e que
integrava ainda altas patentes da chefia militar, também eles da
etnia balanta, para além do então Procurador Geral da República,
Viriato Pam, igualmente da etnia Balanta, é interpretado como uma
repressão àquilo que para alguns era visto como uma expressão da
aspiração dos Balantas em ascender aos postos mais altos da chefia
do Estado. Os ditos implicados nesta tentativa de golpe de Estado,
alguns deles fuzilados, sempre negaram qualquer interpretação da
sua acção neste sentido.

Nas eleições presidenciais de 1999 Malam Bacai Sanhá, o principal


rival de Kumba Yala nestas eleições, acusava-o de instrumentalizar
a sua proveniência étnica para fins de captação de votos. Contudo,
tanto o PRS como o próprio Kumba Yala acabaram por angariar
uma quantidade significativa de votos a partir de uma parte do
eleitorado era não-balanta. O próprio PRS, tendo obtido uma
maioria relativa nos lugares do parlamento, acabou por formar um
governo de largo consenso, partilhando os postos disponíveis com
o segundo melhor classificado, a RGB-Movimento Bafatá.
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 248

Alguns dados apontam no sentido de não haver uma estratégia


deliberada por parte do Presidente da República e dos outros líderes
do PRS em construir uma espécie de coligação dos Balantas.

E muito menos parece haver alguma intenção do homem comum


balanta no sentido de ereger uma República baseada na subjugação
de uma etnia por outra. Isto contrariaria qualquer experiência do
passado pré-colonial baseada na convivência e cooperação entre as
inúmeras etnias que compõem o mosaico social guineense e
entraria igualmente em contradição com a excelente cooperação
inter-étnica revelada durante a luta de libertação nacional.

Porém, o contexto em que se dá a tendência de "balantização" dos


cargos públicos é marcado igualmente por um sentimento de
acantonamento de dois grupos étnicos e/ou categorias
populacionais: os creoulos, representados sobretudo por
descendentes luso-africanos de cabo-verdianos, e dos muçulmanos
(Mandingas e Fulas).

Os recentes acontecimentos relacionados com a morte do


Brigadeiro Ansumane Mané fizeram vir ao de cimo algumas
apreensões relativamente a um suposto "complot" dos Balantas
contra os Muçulmanos.

Estas apreensões não deixam de suscitar algumas preocupações


quanto à unidade da nação guineense. Um observador atento da
realidade guineense afirmava recentemente que "a sua morte e as
circunstâncias em que ocorreu vão, para além dos aspectos
humanos e morais, e tem consequências políticas negativas no
futuro, com risco de clivagens étnicas e religiosas profundas". A
situação parece ser muito mais complexa. Considerações de ordem
étnicas misturam-se com as de carácter social.

Com a realização das eleições de 1999 subiu ao poder uma elite


mais ou menos organizada em torno do PRS e liderada por Kumba
Yala. Esta ascensão foi facilitada por dois factores: a) o desgaste de
mais de 20 anos de poder de tendência autocrática do PAIGC; b) o
discurso populista do líder do PRS. Este discurso encontrou eco
favorável numa parte dos citadinos, o lumpen-proletariado dos
centros urbanos, constituído essencialmente por jovens sem
emprego, mas também e, sobretudo, entre os camponeses, embora
o processo de "democratização" tenha sido um assunto de
citadinos, das elites de uma forma geral.

Os camponeses, que constituem a maioria esmagadora da


população, a "força física principal" como dizia Cabral,
desempenharam um papel relativamente menor, assumindo-se em
todo este processo como uma força desorganizada e
comparativamente passiva em termos políticos. Durante os anos de
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 249

pós-independência os discursos pro camponeses do PAIGC nunca


se tinha traduzido na prática em melhoria das suas condições de
vida. Mas com o discurso de Kumba Yala julgaram que era
chegado o momento de verem satisfeitas as suas reivindicações e
aspirações. Ora Balantas constituem a maioria da população
camponesa (30%). E a "solidariedade" étnica ajudou a completar a
disponibilidade desta camada em aderir ao discurso de Kumba
Yala.

Desde muito cedo o núcleo duro do PRS constitui-se na vanguarda


dos "desprotegidos", do "pessoal da tabanca" como são designados
na gíria local, e vem desenvolvendo este discurso de protecção
desta camada em contraposição aos citadinos, aos "de praça".

A consolidação deste discurso encontra um terreno fértil na medida


em que o poder anterior não foi capaz de eliminar a clivagem social
herdada da época colonial. No entanto, ao pretender ser
"revolucionário" o novo discurso consolida uma fractura social, que
em vez de ser debelada com um esforço de promoção da justiça
social, é alicerçada com atitudes e práticas discriminatórias,
agravadas pelo facto de, pela primeira vez na história política do
país, esta suposta protecção beneficiar, em grande medida os
membros de uma determinada etnia através da nomeação para
cargos públicos de indivíduos cuja competência e mérito não estão
comprovados.

Com esta prática, a classe política que vinha aprendendo a gerir de


uma forma equilibrada a diversidade étnica e religiosa que
caracteriza o mosaico social guineense cai na ratoeira de instaurar
uma democracia dos vencedores, julgando praticar a democracia da
maioria.

Resumo

À semelhança de uma grande parte de países africanos ao sul do


Sahara, na segunda metade dos anos 80, a Guiné-Bissau iniciou um
processo de liberalização política, que conduziu à introdução do
pluripartidarismo, à revisão constitucional e à adopção de um novo
sistema eleitoral.

Numa primeira análise, podemos dizer que a Guiné-Bissau passou


a fazer parte dos países africanos que aderiram à chamada "terceira
vaga de democratização".

Deixando-se caracterizar como uma transição co-optada, em que o


partido e a elite no poder tentam controlar e influenciar o processo
de transição, o país consegue realizar as suas primeiras eleições
HO177 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS IV As Instituições Políticas da Segunda Metade do Século XX à
actualidade 250

multipartidárias em Julho de 1994, dando início a um processo de


desmantelamento efectivo do sistema monolitista, que vinha
vigorando há duas décadas, desde a ascensão do país à
independência em 1974.

Os juízos que se fizeram até aqui sobre estas transições


precipitaram-se no entanto um pouco na sua caracterização. As
leitura têm pecado por excesso de analogia e pela procura implícita
ou explícita de modelos e de tipologias.

As metateorias têm-se esforçado em, quase em vão, propor


paradigmas. A realidade política africana vivida nos últimos dez
anos convida-nos a colocar algumas questões relevantes do ponto
de vista de conhecimento do que realmente se passa neste
continente. Uma delas tem certamente a ver com a questão de se
estas transformações terão sido suficientemente profundas para nos
permitir falar de novos regimes políticos isto é, democráticos.

Se partirmos do princípio de que o que define os regimes políticos


e acaba por diferenciá-los um do outro é a maneira como se
configura a relação entre os governantes e os governados, bem
como o tipo de representação que estes fazem daqueles, teremos
que reconhecer que estamos perante o desabrochar de novos tipos
de regimes. Mas os elementos constitutivos destas novas formas de
governação são ainda muito frágeis, pouco implantadas e
desenvolvidas, e por isso só com muita limitação e reserva se pode
falar da implantação de novos regimes.

Os exemplos recentes do Níger, Guiné-Bissau e Costa do Marfim,


para citar apenas alguns exemplos, são reveladores das fraquezas e
incertezas da democracia em África. Para o caso que mais nos
interessa que é o da Guiné-Bissau , para além de ter revelado um
fraco funcionamento das instituições, o deflagrar do conflito
armado de 7 de Junho de 1998 pôs em evidência as fraquezas da
jovem democracia guineense. Para além de ter paralisado durante
cerca de um ano o funcionamento do Estado, esta crise enfraqueceu
as instituições democráticas. Ele deixou um legado de instabilidade
que muito tem contribuído para enfraquecer o respeito pelos
direitos humanos.

O enfraquecimento do Estado é aliás um dos factores explicativos


dos retrocessos verificados no processo de transição política na
Guiné-Bissau, ao lado da concentração de poderes. Este
enfraquecimento tem-se traduzido na incapacidade crescente do
Estado em fazer face às suas múltiplas funções e tarefas tais como
garantir o normal e regular funcionamento das suas instituições e
estruturas, administrar o território, proporcionar aos seus cidadãos
um mínimo de condições de vida através de políticas sociais
públicas adequadas, pagar regularmente aos seus funcionários,
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colectar taxas, manter as suas representações diplomáticas no


exterior, fazer-se representar em organismos internacionais, etc.

Por exemplo, a nível da administração das finanças públicas o


Estado não só é incapaz de implementar um sistema eficaz de
arrecadação de receitas, como é incapaz de gerir convenientemente
os fundos postos à sua disposição pela comunidade internacional. A
par disso há, uma manifesta confusão entre aquilo que é a esfera
pública e o que é do domínio privado, entre aquilo que são as
competências e atribuições das estruturas do Estado.

Como que para suprir algumas destas deficiências o Estado tem


recorrido à violência e a repressão para impor as suas leis e o seu
poder. Esta crescente incapacidade tem repercutido na vida
quotidiana dos cidadãos através, por exemplo, da administração de
uma justiça cada vez mais precária, na sonegação de alguns direitos
fundamentais dos cidadãos como é a liberdade de expressão e de
opinião, bem como na perseguição de opositores políticos.

Por isso, se o desenvolvimento e consolidação das estruturas do


Estado não podem ser considerados uma condição suficiente para a
instauração e construção de um Estado democrático, eles parecem
constituir uma condição indispensável ao desenvolvimento e
consolidação de qualquer processo democrático. Só a estabilidade
institucional, que pressupõe o regular funcionamento das
instituições pode garantir a defesa dos direitos dos cidadãos e
permitir a sua plena participação nas decisões que lhes dizem
respeito.

O caso da Guiné-Bissau é paradigmático da caricata situação


africana em que os líderes pertencentes à velha classe política,
enquanto puderem, teimam em em manter-se no poder,
contrariando todas as regras democráticas, a começar pelo
desrespeito do princípio da alternância e da separação de poderes.

Assim aconteceu com o Presidente Nino Vieira. Mesmo tendo


impulsionado as mudanças institucionais, como líder carismático, o
Presidente Nino Vieira imiscuía constantemente na governação do
país, quer através de jogos de influências sobre o governo no seu
todo, quer através de pressões exercidas sobre os membros do
governo individualmente. Paralelamente a esta actuação, o
Presidente consegui criar e recriar um sistema que, combinando a
repressão e a perseguição dos adversários mais directos com a
manutenção de uma rede clientelista.

Esta prática foi continuada e agravada pelo actual Presidente


Kumba Yalá, através, por exemplo, da prática de uma política que
não tem sabido gerir os sentimentos étnicos. A elite política da
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nova geração, relativamente frágil, desunida e pouco organizada


não foi capaz de alterar a situação.

Ela foi incapaz de impor uma nova maneira de fazer a política. A


figura do Presidente da República continuou a ser central,
gravitando tudo à sua volta.

A resistência da elite política de segunda geração em encontrar um


novo modo de fazer a política transformou-se num dos principais
responsáveis pelo retrocesso e atrasos verificados no processo de
democratização do país.

Os acontecimentos de 7 de Junho de 1998 e os de Novembro de


2000 representam um retorno ao condenável velho método de fazer
política através de métodos violentos, realçando um dos dramas dos
processos democráticos em África.

EXERCÍCIOS

1. Faça uma análise crítica da situação polít


Iíca vida pela África nos primeiros anos deste século.
2. Faça o resumo das unidades XVIII-XXI.

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