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APRESENTAÇÃO
Antes de falarmos sobre a criação deste material, vejamos o que nos diz o eminente gramático Evanildo Bechara, na apresentação da
coleção “Na ponta da Língua”:

Há duas maneiras de aprender qualquer coisa: uma, leve, suave, com informações corretas mas superficiais, que, pela
incompletude da lição, não indo aos assuntos a ela correlatos, acaba sendo insuficiente para permitir a fixação da aprendizagem.
É um método que pode agradar, e até divertir o leitor menos exigente; mas não lhe garante o sucesso do conhecimento.
A segunda maneira é aquela que procura dar um passo à frente da resposta breve e imediata: estabelece relações entre a
dúvida apresentada e outros assuntos afins, de modo que, aprofundando um pouco mais a lição, amplia o conhecimento e garante
sua permanência, porque não se contenta em ficar na superfície dos problemas e das dúvidas.
Falamos em superfície, e a palavra nos sugere agora uma comparação entre as duas maneiras de aprender das quais
vimos tratando. A primeira ensina a pessoa, no mar de dúvidas, a manter-se à superfície; não afunda, mas não sai do lugar. A
segunda, além de permitir à pessoa permanecer à superfície, ensina-lhe a dar braçadas, ir mais além. Assim, pela primeira
maneira, a pessoa boia; pela segunda, nadando, avança e chega a seu destino.
APRESENTAÇÃO
Analisando, decifrando e buscando entender a mente do estudante (lembrando-me, inclusive, das dificuldades
que eu mesmo tinha com a linguagem na época de colégio e, com base nos meus atuais estudos de hipnoterapia,
psicologia e PNL, investigando como o meu próprio pensamento se modelava), pude perceber algumas falsas crenças
comuns à maioria dos que estudam a língua portuguesa para concursos ou vestibulares.
Essas falsas crenças acabam impedindo o aluno de alcançar a profundidade do estudo, saindo da sua
estrutura superficial. São essas falsas crenças que levam o estudante a passar anos a fio debruçado sobre uma
gramática e, na hora de produzir um texto, falar “eu sei o que eu quero dizer, mas não consigo passar para o papel”.
São essas falsas crenças que levam o candidato a dizer que “nessa prova não caiu nada de gramática, foi só análise de
texto... mas sempre vou mal quando é questão de texto”.

Talvez você conheça o pequeno conto da


Clarice Lispector chamado “O Erudito”:
O ERUDITO
Clarice Lispector
Ele é agora gerente de uma loja de sapatos. Não porque escolheu, mas foi o que lhe restou.
Perguntava-se sempre: onde está o meu erro? O erro em relação a seu destino, queria ele dizer.
Não há grandes motivos a procurar no fato de alguém ser gerente numa loja de sapatos. Mas
uma vez que ele mesmo se pergunta e estende sapatos como se não pertencesse a esse mundo ―
o motivo da indagação aparece. Por que realmente? Fora, por exemplo, o melhor aluno de
História e até por Arqueologia se interessava. Mas o que parecia lhe faltar era cultura histórica ou
arqueológica, ele tinha apenas a erudição, faltava-lhe a compreensão íntima de que fora neste
mundo e com esses mesmos homens que haviam sucedido os fatos, que fora na terra em que ele
pisava que houvera um dia habitantes e que os peixes que se haviam transformado em anfíbios
eram aqueles mesmos que ele comia. E até hoje é como um erudito que ele estende sapatos ―
como se não fosse em contato com esta áspera terra que as solas se gastam.

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Aproveitando a mensagem APRESENTAÇÃO
do conto, eu diria que esse
“erudito” estudaria as E por que essas crenças são comuns a tantas pessoas (eu diria, inclusive, à
estruturas gramaticais maioria das pessoas)? Principalmente porque elas se originam na forma
como, geralmente, aprendemos (ou desaprendemos) a estudar. Assim
“como se não fossem elas
como o erudito da Clarice não entendia que “os peixes que se haviam
as ferramentas básicas de transformado em anfíbios eram aqueles mesmos que ele comia”, um
sua comunicação diária, paulistano é capaz de passar todos os dias em frente ao Museu do
como se não fossem com Ipiranga sem conseguir imaginar que foi ali, naquele chão, que ocorreu a
essas estruturas e com essa cena que ele tão bem descreveu na prova de História (e até tirou 10!). Do
lógica que ele se comunica mesmo modo, falamos o dia todo sem pensar que os tempos verbais, os
diariamente, falando e pronomes, os substantivos e adjetivos que usamos são os mesmos que
vimos na aula de Gramática do colégio e, durante a explicação
escrevendo, com sua mãe,
descontextualizada do professor, pensamos: “para que eu preciso saber
sua filha, seu chefe... e até disso?”
em seus próprios
pensamentos e
autorreflexões”.
APRESENTAÇÃO
Costumo dizer que, muitas vezes, preciso ficar mais tempo dizendo o que a gramática não é do que o que ela é.
Porque é esse apego ao que ela não é que gera tanta repulsa aos estudantes... e abandonar uma crença indesejada
requer abertura, disponibilidade e disposição para a mudança!

Pensando nisso tudo, separei 3 dessas principais falsas crenças para ajudar você a mudar a sua visão do estudo
da Gramática. Talvez (e provavelmente) isso vá contra aquilo que você sempre viu na época de escola (e até lhe
rendia boas notas), mas acredite: é isso que faz com que você não consiga lidar com as questões das provas ou sinta
dificuldades em se expressar verbalmente na redação.

Está pronto para começar a mudança? Então vamos ver as primeiras

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Lição 1 ESQUEÇA
A
FRAGMENTAÇÃO
Lição 1: Esqueça a fragmentação
Imagine um aluno de ensino Ao final do ano, começa aquele sufoco: Tenta, então, o recurso pelo MEC.
médio na seguinte situação: no não foi aprovado nas provas do Infelizmente, parece que nada conseguirá
primeiro colegial, não se dedica bimestre e não alcançou a nota na salvá-lo, até que o pai se lembra daquele
muito aos estudos. Ainda não recuperação. O Grande Teatro, digo, o amigo advogado... e um recurso judicial
está com a perspectiva de Conselho de Classe não o aprovou, mas entrega ao nosso personagem, já em sua
vestibular, não há cobrança dos lhe deu uma oportunidade de fazer a última gota de esperança, o passaporte
pais, enfim... ele sente que Recuperação Final, na qual ele também para o ano letivo seguinte!
existem atividades muito mais não passou... mas o colégio criou a “Esse ano vai ser diferente”, diz o nosso
interessantes do que as classes Recuperação de Verão, em janeiro (sim, herói. “Agora eu vou estudar para valer!”
de palavras e se dedica à rotina isso existe em alguns colégios). Mas o
da adolescência. nosso adolescente fictício também não Então ele, de fato, dedica-se. Nas provas,
estudou muito e não recuperou a nota vai bem em história, biologia, geografia,
– nem com o famoso “trabalhinho para mas em português... “está vendo? Eu não
ajudar na nota”, que o professor fora sei Português! Essa matéria não é para
obrigado pela direção a criar. mim!” E pronto, dali para frente, está
criada a crença de que não adianta
estudar: português é difícil!
Lição 1: Esqueça a fragmentação
Claro que essa é uma história 100% fictícia (99% vai...), porém, independentemente dos motivos que levam um estudante a
não acompanhar as matérias escolares (e são tantos!), sabe por que nosso aluno melhorou nas notas das outras matérias,
mas não viu melhora nas notas de Gramática? Simplesmente porque, ao iniciar o segundo ano, ele não voltou para a matéria
do ano anterior.

Funciona assim: imagine que você tenha perdido os primeiros 40


minutos de um filme e, consequentemente, não esteja entendendo a
história. No dia seguinte, você está determinado a entendê-la e começa a
assistir do mesmo ponto, aos 40 minutos. Faz isso duas, três, quatro
vezes, sempre começando do 40º minuto. Como nunca entende, você
chega à conclusão de que aquele filme não é para você. Você nunca o
entenderá!

Com certeza, se você voltar o filme para o início, conhecendo os


personagens e entendendo o enredo, ao chegar ao minuto 40 você
estará acompanhando tudo, pronto para seguir até o fim da história!

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Lição 1: Esqueça a fragmentação
Assim também acontece com o
nosso aluno fictício, que pode
estudar e reestudar diversas vezes
a matéria do segundo ano e
continuará com dificuldade: se ele
não voltar para o “começo do
filme”, não entenderá a história;
mas, se acompanhar atentamente
desde o início, com certeza estará
pronto para a percepção do todo.

Infelizmente, não somos habituados, no colégio, a valorizar a sequência gradativa dos assuntos: a matéria
do primeiro bimestre não pode aparecer na prova do segundo, a do segundo não aparece na prova do
terceiro, e por aí vai... no entanto, quando falamos em linguagem, os assuntos estão intrinsecamente
ligados.

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Lição 1: Esqueça a fragmentação

Suponha, agora, que você resolva estudar romeno (admitindo, claro, que você nunca tenha estudado
esse idioma): assim que você terminar o primeiro semestre do seu curso, pode rasgar o material didático
e comemorar, pois você não precisará mais daquilo, afinal, você passou para o segundo módulo. E assim
vai: a cada módulo avançado, você pode esquecer todas as lições anteriores! Creio que você deva estar
pensando: “claro que não, se eu for estudar uma língua estrangeira, só conseguirei avançar para os
módulos avançados se dominar os iniciais!”

Exato! Lembre-se, então, de que Português nada mais é do que uma


linguagem, uma lógica, uma sequência interligada!

A maioria das dúvidas de Sintaxe, por exemplo, são consequências de falhas conceituais da Morfologia.
Não digo falhas meramente de “classificação” (veja o próximo item), mas o desconhecimento da sua
aplicação. E assim vai: brechas na Morfologia levam a dúvidas na estrutura sintática, dúvidas na
estrutura sintática geram confusões no entendimento de concordância... e segue-se a bagunça
sequencial!

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Você não lembra a diferença entre Morfologia, Sintaxe e
Semântica? Clique na imagem abaixo e relembre:

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Lição 1: Esqueça a fragmentação
E o problema fica maior ainda quando, terminado o colégio, a
pessoa precisa escrever um texto e fica em dúvida, por exemplo,
em uma situação de uso ou não do acento grave indicativo de
crase. Então ela pega uma gramática: “hmmm... crase, está aqui!
Página 327”.

Vai até a página 327 – como quem começa a assistir ao filme já do


final da história – e, não encontrando na gramática exatamente a
mesma sentença da qual precisa para o texto, pensa logo: “puxa,
não estou entendendo nada. Acho que essa situação não está na
gramática, não terei como fazer. Português não é mesmo para
mim!”

Agora você já sabe: comece o filme do começo. Se você dominar, por exemplo, a diferença entre
um artigo, uma preposição e um pronome oblíquo, eu garanto (GARANTO!) que saberá se ocorre
ou não crase em qualquer (QUALQUER!) situação. Sem precisar de “regra” nenhuma!

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Quer tirar a prova? Então assista a este vídeo:

Aliás, esse papo sobre o entendimento da estrutura nos leva direto à segunda lição...

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ESQUEÇA
OS “-INHOS”
Tabelinhas, listinhas, musiquinhas,
macetinhos...
Lição 2

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”

Veja a imagem abaixo:


Acrescente a essa imagem frutas como
abacate, kiwi e melancia. Podemos chegar,
então, à seguinte regra: todas as frutas são
verdes! Sim! Relembre: pera, limão, maçã
verde, uva Itália, abacate, kiwi, melancia...
todas verdes, certo?
Então decore esta regra: todas as
frutas são verdes! Para não esquecer, vamos
cantar uma musiquinha:

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”

Eu queria uma fruta-ta


Mas não sei-ei-ei
Encontrar-ar-ar
(a melodia é do “Atirei Então lembrei-ei-ei
um pau no gato”.
Legal, né?) Que ela é verde-de-de
Desse jeito
Nunca mais eu vou errar!

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”
Vamos fazer um exercício de fixação! Vou te falar quatro palavras e você fala qual delas se refere a uma fruta.
Vamos lá?

céu bisnaguinha elefante atemoia


E aí... qual delas é uma fruta? A atemoia! Muito bem! E ela é verde, né? Viu só? A regra funciona! Vamos
cantar a musiquinha mais uma vez?

O quê? A laranja é fruta e não é EXCEÇÕES:


verde...? Ah sim! Ela é uma exceção!
Vamos decorar agora a nossa lista de
exceções para a nossa verdadeira
regra de que “ toda fruta é verde”!

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”
Se isso não estiver fazendo o menor sentido para você, saiba que para
mim também não está... mas muita gente quer fazer isso com a
gramática: pegam meia dúzia de frases, inventam uma regra absurda,
fazem você decorar uma musiquinha tosca e ignoram tudo o que não
caiba no teatrinho. E, se você ousar perguntar uma estrutura diferente,
receberá como resposta: “ah... isso é exceção!”

Vamos mudar isso?


Há 15 anos lanço um desafio para meus alunos: diga-me qualquer
frasezinha, musiquinha, macetinho, ou qualquer outro “inho” do
“desensino” da gramática, que eu lhe direi um exemplo em que ele
não dá certo. Porque eu decorei muitas exceções? Claro que não!
Porque as ditas regras não são regras!

Só para exemplificar, vamos ver três “inhos” famosos da “macetologia” (RÉU CONFESSO: eu mesmo desaprendi gramática
assim quando estava no Ensino Médio. Eu passei por toda essa enganação barata e pela surpresa de descobrir que o
problema não era comigo! Entendo perfeitamente você...)

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”
Macetinho barato 1
Sempre que eu pergunto “o quê?” para o verbo, o que vier depois é um Objeto Direto.

É mesmo?
a) “Comi batata.” – “Comi o quê? Batata.” Legal, “batata” é Objeto Direto.

b) “Chegou a pizza.” – “Chegou o quê? A pizza” Legal, “a pizza” é... Sujeito?

c) “Sou concurseiro.” – “Sou o quê? Concurseiro.” Legal, “concurseiro” é... Predicativo do Sujeito??

Ué, mas não é tudo o que eu pergunto “o


quê?” que eu chamo de Objeto Direto?

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Quer praticar um pouco como é analisar a Sintaxe pela lógica?
Clique no botão aqui embaixo:

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”
Macetinho barato 2
Listinha de Verbos de Ligação: Vamos aos exemplos?
SECAPPF
a) “As crianças estavam empolgadas!” – Olha lá! O verbo “estar”
Ser, Estar, Continuar, Andar, aparece na lista, então pronto: é só chamá-lo de Verbo de
Parecer, Permanecer, Ficar Ligação e “empolgadas” é o Predicativo do Sujeito.

b) “As crianças estavam em casa!” – Certo, o verbo “estar” está


(SECAPPF, SEPAPEFICO ou qualquer outra
mnemônica que um macetologista tenha
na lista, então ele é... opa! Um verbo Intransitivo? E “em casa” é
criado para o seu desaprendizado.) Adjunto Adverbial?
Se o verbo estiver nessa lista, eu “chamo”
c) “Passada a interrupção, a orquestra continuou a música do
de Verbo de Ligação. E tudo o que vier
depois dele eu “chamo” de Predicativo do ponto em que havia parado.” – “continuar” está na lista, mas é...
Sujeito. Decorou? É só isso! Não precisa ler, Verbo transitivo Direto!
nem considerar o contexto. É só decorar!
Regrinha! Macetinho! Bizu (como dizem os d) “Jurema virou uma linda mulher!” – Nesse contexto, o verbo
macetologistas modernetes)!
“virar” é Verbo de Ligação, mas... ué, não está na lista???

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”
Macetinho barato 3

Uso dos porquês


Por que: na pergunta
Por quê: no fim da frase
Porque: na resposta
Porquê: depois do “o”

Exemplos:
a) Eu não sei por que as pessoas agem assim. E aí? Você seria capaz de explicar os
b) Sem dizer por quê, as pessoas agem assim. quatro exemplos ao lado utilizando
c) Você agiu assim porque estava estressado? somente o
d) Não há porquê para se agir assim... “bizu milagroso”?

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Você tem dúvidas nesse
assunto e quer ver como
REALMENTE funciona? É
só clicar na imagem ao
lado e assistir ao vídeo:

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”
Macetinho barato 4
(Tudo bem, eu falei que eram 3... mas aqui você sempre tem um bônus!)

MAL – oposto a BEM


MAU – oposto a BOM

MAS ISSO NÃO DÁ SEMPRE CERTO???

Veja os exemplos: Vê-se, facilmente, a oposição: “Bem


a) Mal cheguei, já tive de sair. cheguei, já tive de sair” e “o bem do
b) O mal do brasileiro é a falta de cordialidade. brasileiro é...” opa! Acho que ninguém
falaria assim...

Parece que nesses exemplos “bugou o bizu” (#cacomoderninho)

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Lição 2: Esqueça os “-inhos”

Viu só, Caco? Português tem mais exceção do que regra! Qualquer milagre da macetologia é
Você falou as regras e já deu um monte de exceção! Como seguido de uma manipulação de
eu decoro tudo isso??? exemplos: selecionam-se situações nas
A resposta é simples! Você não vai decorar exceções. quais o “-inho” dá certo e, se alguém
Aliás, nem regras, porque elas NÃO EXISTEM dessa maneira! ousar pensar com a própria cabeça, terá
Falar isso é como falar que toda fruta é verde! de se contentar com um “ah... aí é
Vá à causa, ao início, ao entendimento da estrutura. exceção”.
O que faz com que essa sentença seja de uma maneira, e a
outra seja diferente? Qual o sentido? O que a sentença Decora-se uma tabela
significa? descontextualizada e, se em um texto
Entenda a causa, e todo o resto será somente aparecer de modo diferente do que eu
consequência. Lembra-se da ideia de “ver o filme do decorei... opa, já entrei na próxima
começo”? Pois é... o estudante que fica decorando macetes lição!
é aquele cara que chega atrasado ao cinema e quer que a
pessoa ao lado “explique rapidinho o que aconteceu”.

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ESQUEÇA
O “CERTO”
Lição 3

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Lição 3: Esqueça o “certo”

Você pode explicar para mim o que significa a frase “tem um cachorro no jardim”?

Legal, vamos considerar agora alguns contextos:

a) Você vai me visitar, e eu estou explicando-lhe onde fica a minha


casa. “Você vira à direita na padaria, segunda à esquerda. A minha
casa é a última da rua. Ah, tem um cachorro no jardim.”

b) Ao chegar, você trouxe sua filha de três anos, que adora animais.
Enquanto ainda estamos na sala, cumprimentando-nos, sua filha
corre até o quintal e volta, toda animada: “tem um cachorro no
jardim!”

c) Horas depois, na calada da noite, dois bandidos resolvem pular o


muro da minha casa para um assalto. O primeiro escala a parede e,
ao chegar lá em cima, volta assustado: “tem um cachorro no
jardim.”

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Lição 3: Esqueça o “certo”
E agora, você pode explicar para mim o que significa a frase “tem um
cachorro no jardim”?

Se, no início, você arriscou uma definição, tenho certeza de que agora pensou: “depende do contexto”.

A função da linguagem Em aula, quando um Outras vezes, preciso desse contexto para saber
é, antes de tudo, aluno tem dúvida, em que situação ele está considerando aquilo. Se eu
comunicar, e, como comumente peço-lhe ouvir a estrutura geradora de dúvida, imaginar, para
vimos, a comunicação que crie um contexto mim, uma sentença com ela e responder “sim” ou “não”,
depende do contexto. O em que aquela estarei respondendo apenas parcialmente, pois não sei
que aquela sentença, construção estaria como o aluno contextualizou aquilo na hora da dúvida.
aquela conjunção, aplicada. Normalmente, Imagine então dar uma “regra suprema geral universal
aquela preposição ou ao fazê-lo, ele mesmo já que se aplicará a toda e qualquer situação”? Qualquer
aquele tempo verbal se dá conta da validade tentativa disso será falha...
significam? Não sei! Em ou não daquela
qual contexto eles construção.
estão?

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Lição 3: Esqueça o “certo”
Quer outro exemplo? Leia as sentenças abaixo:

a) As estrelas brilhavam como vagalumes.


b) Como choveu muito, acabei cancelando os compromissos do dia.

Esqueça nomes. Esqueça a tabela da Sua vida continuaria tranquila agora, se eu lhe
página 171 do “guia prático de macetologia dissesse que o primeiro “como”, por indicar uma
para concurseiros”... simplesmente leia a comparação, é uma “conjunção comparativa”. E, se o
sentença e veja a diferença de sentido entre os segundo “como” indica uma causa, ele será uma
“comos”. Mesmo que lhe fuja o nome conjunção... causal! Isso mesmo!
“técnico”, pense: o que o primeiro “como” está
indicando? E o segundo? Que sentido eles
têm?

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Lição 3: Esqueça o “certo”
Vamos brincar com outra conjunção?
a) Eu queria sair, mas estava chovendo muito.
b) Jurema não só é inteligente, mas é muito esforçada.

O que eles indicam? Que sentido eles têm? Não estou perguntando se você se lembra dos nomes, estou pedindo que veja o que eles
significam. Só isso.
O primeiro mostra um problema, uma oposição, certo? Diremos que ele indica uma “adversidade”.
E o segundo? Mostra também uma oposição, um problema, uma adversidade? Ela ser esforçada é uma ideia contrária a ela ser
inteligente? Hm... parece que não. Jurema é inteligente e também é esforçada. Temos uma adição de informação, e não uma
adversidade, certo?
Muito bem. No primeiro caso, o “mas” é uma conjunção adversativa; no segundo, uma conjunção aditiva.

- Caco, espera aí! Mas na tabela que eu tenho não consta o “mas” como aditivo...
- E daí? No texto, as duas aplicações estão com o mesmo sentido?
- Não, mas...
- Então pronto. Quem manda no sentido? O texto ou a sua tabela?

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Veja mais dois exemplos práticos de conjunções exercendo relações
semânticas distintas, e da importância de considerarmos o contexto em nossa
análise (basta clicar nos botões abaixo):

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Lição 3: Esqueça o “certo”

E foi nesse sentido que eu dei o título desta


terceira lição: esqueça o “certo”.
Esqueça o que “deve ser”. Entenda que eu
nunca vou forçar o texto a se adequar ao meu
modelo teórico, eu vou usar o meu conhecimento
teórico para ampliar as minhas possibilidades de
produção e entendimento textual.

Quem manda é o TEXTO, não a minha TABELA.

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O entendimento de que “quem manda é o texto” é uma das chaves, por
exemplo, para o entendimento de textos literários. Clique na imagem abaixo e veja
como esta questão trabalhou com a significação do artigo em um poema
simbolista:

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FINALIZANDO...

“Ser alfabetizado é mais do que decodificar palavras, é entender o seu


funcionamento nos processos de leitura e produção textual.”

A partir dessa frase do gramático Sílvio Elia, permito-me ir mais além:

Estudar a linguagem é muito, muito mais do que decorar tabelas, é entender a sua
amplitude, considerar-lhe o contexto de utilização nos processos de leitura e utilizá-la
como ferramenta para expressar-se com precisão nos processos de produção oral e
escrita.

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FINALIZANDO...

Desse modo, vemos que a linguagem é, Essa aplicação, essa prática verbal oral e escrita, no
antes de tudo, uma ferramenta para a entanto, depende inteiramente do conhecimento técnico do
expressão. Decorar tabelas e macetes, código e nele se fundamenta e se fortalece. Quanto mais
fragmentando o conhecimento e tratando conhecemos as possibilidades gramaticais, dando braçadas,
as supostas “regras” como um ser indo mais além, mais dominamos as suas aplicações, assim
absoluto, independentemente do contexto como um operário se aperfeiçoa em sua atividade à medida
de sua produção, sem focar na sua que conhece as ferramentas que sua profissão lhe dispõe.
aplicação textual é como ter um carro com
as melhores peças e deixá-lo sem motor:
não adianta ter um carro bom, se ele não
anda, não cumpre sua função; não adianta
ter a teoria, se ela não cumpre sua função
prática. Termino esse nosso bate-papo, então, com
estas considerações de Mattoso Câmara Jr:

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Tem-se discutido muito sobre as funções essenciais da linguagem humana e a
hierarquia natural que há entre elas. É fácil observar, por exemplo, que é pela
posse e pelo uso da linguagem, falando oralmente ao próximo ou mentalmente
a nós mesmos, que conseguimos organizar o nosso pensamento e torná-lo
articulado, concatenado e nítido; é assim que, nas crianças, a partir do
momento em que, rigorosamente, adquirem o manejo da língua dos adultos e
deixam para trás o balbucio e a expressão fragmentada e difusa, surge um novo
e repentino vigor de raciocínio, que não só decorre do desenvolvimento do
cérebro, mas também da circunstância de que o indivíduo dispõe agora da
língua materna, a serviço de todo o seu trabalho de atividade mental. Se se
inicia e desenvolve o estudo metódico dos caracteres e aplicações desse novo e
preciso instrumento, vai, concomitantemente, aperfeiçoando-se a capacidade
de pensar, da mesma sorte que se aperfeiçoa o operário com o domínio e o
conhecimento seguro das ferramentas da sua profissão. E é este, e não outro,
antes de tudo, o essencial proveito de tal ensino.
J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita.

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“Afinal, Caco, COMO VOCÊ APRENDEU PORTUGUÊS?”

Bom, essa é uma história que passa por um professor MUITO RUIM, um aluno que não entendia
NADA, textos teatrais, Dostoievsky, Drummond, Cordel de Fogo Encantado, Linguística, Programação
Neurolinguística, Hipnose... foi tanta influência que a saga virou uma LIVE! Se quiser, conhecer um pouco mais
sobre mim, saiba COMO APRENDI PORTUGUÊS E POR QUE TENHO CERTEZA DE QUE VOCÊ TAMBÉM VAI
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- Bacharel e Licenciado com dupla habilitação, em Português e Linguística, pela Universidade
de São Paulo;
- Professor de Língua Portuguesa, Redação e Análise de Textos para concursos públicos de
diversas bancas desde 2005;
- Responsável pelo programa “Prova de Português”, envolvendo: série de vídeos de correção
de questões de concursos públicos (disponível pelo Youtube), artigos sobre temas
relacionados à gramática em provas e concursos e à rotina de estudos, série de vídeos com
dicas rápidas veiculadas pelo Instagram, pelo site e pelo Facebook.
- Pratictioner em Programação Neurolinguística;
- Hipnotista com certificação internacional, estudando e resolvendo, principalmente, as
maiores dificuldades enfrentadas durante as provas (ansiedade, insegurança, falta de
confiança, etc.).
- Ator e locutor (ambas as profissões com registro na DRT), atuando, hoje, como dublador e
CACO PENNA mestre de cerimônias.

Com mais de 12 anos de experiência Ao analisar as estruturas gramaticais sob a luz da Linguística, Caco Penna oferece
em vestibulares e concursos públicos, o uma nova perspectiva do entendimento gramatical, valorizando leitura e conteúdo.
professor Caco Penna desenvolveu um Associando a transmissão da matéria às técnicas de PNL, além de sua experiência de
método de ensino 100% aplicado às mais de 20 anos na área artística, o professor traz uma explicação leve e agradável,
exigências das provas atuais: o sem perder a seriedade.
conhecimento gramatical contextualizado, O resultado é um estudo tranquilo e eficaz, garantindo o seu sucesso na sua
diretamente aplicado aos textos e próxima PROVA DE PORTUGUÊS!
considerando os seus contextos.

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cacopenna@provadeportugues.com.br Caco Penna – Prova de Português
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Grupo: Prova de Português – Concursos e Vestibulares

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