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Ética e Deontologia em C. Biológicas, 4º Ano, I Semestre. 2021-2022.

Ecofeminismo ou
Feminismo Ecológico: “conexões entre a dominação das mulheres e a dominação da natureza”.

1. “É tempo de demonstrar que o fracasso do socialismo em fundar um novo humanismo (para evitar, portanto,
essa destruição do meio ambiente e essa inflação demográfica) passa diretamente pela recusa em questionar o
sexismo que mantém tanto, em formas diferentes, o campo socialista quanto o bloco capitalista (...) E que não é a
libertação das mulheres que passa pela construção do socialismo, mas a emergência de um socialismo
inteiramente novo, transformador, que passa por tomar o controlo das mulheres e do seu próprio destino e a
destruição irreversível do patriarcado (...) Finalmente, em conclusão, é urgente sublinhar a sentença de morte,
por este sistema em agonia convulsiva, de todo o planeta e da sua espécie humana, se o feminismo, ao libertar as
mulheres, não libertar toda a humanidade, ou seja, não arrancar o mundo do homem de hoje para transmiti-lo à
humanidade de amanhã”. in D'EAUBONNE, Françoise. (1974). Le Féminism ou La Mort. Femmes en
Mouvement, Pierre Horay, pp. 10-11.

2. “O termo "feminismo ambiental" abrange uma variedade de perspectivas multiculturais sobre a natureza das
relações dentro dos sistemas sociais de dominação entre os seres humanos em posições subordinadas ou
subdomínio, particularmente as mulheres, e a dominação da natureza não humana. Introduzido pela primeira
vez, por Françoise d'Eaubonne em 1974 para descrever o potencial das mulheres para provocar uma revolução
ecológica (D'Eaubonne, 1974, pp. 213-252), o termo "ecofeminismo" é usado para se referir a uma variedade das
chamadas "relações entre a mulher e a natureza" - relações históricas, empíricas, conceptuais, religiosas,
literárias, políticas, éticas, epistemológicas, metodológicas e teóricas sobre o modo como nos referimos às
mulheres e à terra - Cf. WARREN, K. Ecological Feminism [...] As análises ecofeministas das paralelas dominações
das mulheres e da natureza incluem considerações sobre a dominação dos negros, meninos, meninas e pobres (...) O
feminismo ambiental (i.e, ecológico) é feminismo por causa do seu duplo compromisso de reconhecer e eliminar os
preconceitos dos homens com preconceitos de género onde e quando eles ocorrem e de desenvolver práticas,
políticas e teorias que sejam neutras em termos de género.
O feminismo ecológico é ecológico (ambiental) porque entende a importância de valorizar e preservar os
ecossistemas (entendendo este termo como organismos, indivíduos, populações, comunidades e suas interações, ou
como fluxos de nutrientes entre entidades "numa rede biosférica de relações") e o compromisso que a disciplina
tem com essas práticas. Assim, inclui o reconhecimento de que os seres humanos são seres ecológicos (como
"seres relacionados e ecológicos"), e a necessidade de uma dimensão ambiental para qualquer filosofia feminista
ou qualquer feminismo. De acordo com o feminismo ambiental, qualquer feminismo que não se baseie no
conhecimento ecológico, especialmente o das mulheres e da natureza, e qualquer filosofia ambiental que não se
baseie em abordagens ecofeministas, é simplesmente inadequada. O termo "ecofeminismo" refere-se a uma
pluralidade de posições, ou seja, não há um único ecofeminismo, da mesma forma que não há um único feminismo.
As posições que adota são tão diversas quanto os feminismos, dos quais deriva sua força e significado (...) Como
não há um único ecofeminismo, também não há uma única filosofia ecofeminista. As posições filosóficas
ecofeministas são tão diversas quanto as filosofias feministas que as compõem. O que caracteriza uma posição
como uma posição filosófica feminista e ecológica é que ela surge, e reflete, claramente, abordagens filosóficas
das relações entre as mulheres e a natureza. A diversidade dos ensaios nesta Antologia (WARREN, K. Ecological
Feminism, Routledge, 1996) explica essa variedade. Concluirei discutindo brevemente o que é que torna esses
ensaios distintamente filosóficos”. WARREN, Karen J. (1996), Introdução ao Ecological Feminism in MIES e
SHIVA. El Ecofeminismo. Exponentes y Posturas Críticas, pp. 63-65.

3. “Recentemente, o feminismo ecológico (ecofeminismo) começou a receber uma quantidade razoável de


atenção ultimamente como um feminismo alternativo e ética ambiental. Desde que Françoise d'Eaubonne
introduziu o termo ecofeminismo em 1974 para chamar a atenção do potencial das mulheres para provocar uma
revolução ecológica, o termo tem sido usado de diversos modos. Como eu uso o termo neste ensaio, ecofeminismo

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ecológico é a posição de que existem conexões importantes – históricas, experienciais, simbólicas, teóricas –
entre a dominação das mulheres e a dominação da natureza, cuja compreensão é crucial tanto para feminismo e
ética ambiental. Defendo que a promessa e o poder de feminismo ecológico é que ele fornece um marco único
tanto para reconceber o feminismo, como para desenvolver uma ética ambiental que leve a sério as conexões
entre a dominação das mulheres e a dominação da natureza. Faço isso discutindo a natureza de uma feminista
ética e as maneiras pelas quais o ecofeminismo fornece uma ética feminista e ambiental. Concluo que qualquer
teoria feminista e qualquer ética ambiental que não leva a sério a dupla e interligada dominação das mulheres e
da natureza é, na melhor das hipóteses, incompleta e, na pior, simplesmente inadequada (...) A degradação e a
exploração ambiental são assuntos feministas porque entendé-las contribui para compreender a opressão das
mulheres. (...) Um enfoque ecofeminista das mulheres e da natureza supõe a mudança de atitude de “uma
percepção arrogante” para “uma percepção amorosa” do mundo não humano - que celebra a diferença que não
engendra a dominação e recusa a ideia de que os humanos são superiores aos não humanos. (...) Uma ética
ambiental responsável tem, também, que abraçar o feminismo. De outro forma, nem sequer a ética ecológica mais
aparentemente revolucionária, libertadora e holista tomaria a sério as dominações interconectadas da natureza e
das mulheres... O ecofeminismo surge das conexões teorizadas e experimentadas entre a dominação das
mulheres e a dominação da natureza... O poder e a promessa do ecofeminismo consiste, na minha opinião, numa
maneira de re-pensar o feminismo como a ética ambiental”. WARREN, Karen J. (1990). El poder y la Promesa
del Feminismo Ecológico, trad. de Margarita M. Valdés, pp. 233-261, in ZIMMERMAN, Michael E. et al.
(1998). Environmental Philosophy. From Animal Rights to radical Ecology.

4. “O ecofeminismo, «um termo novo para um saber antigo» surgiu a partir de variados movimentos sociais – nos
finais da década de 70, princípios de 80. Embora o termo fosse utilizado pela primeira vez por Françoise
D`Eaubonne (O Feminismo ou Morte, 1974) só se tornou popular no contexto de numerosos protestos e
actividades contra a destruição do ambiente, inicialmente detonados por esporádicos desastres ecológicos. O
derrame em Three Mile Island mobilizou um grande número de mulheres nos Estados Unidos de América e
reuninram-se na primeira conferência feminista - «As Mulheres e a Vida na Terra: Uma Conferência sobre o
Eco-feminismo na década de 80» - em Março de 1980, em Amherst. Nesta Conferência foram exploradas as
ligações entre as feministas, a militarização (i.e., a ameaça do extermínio nuclear pelos guerreiros militares), a
cura e a ecologia. Tal como escreveu uma das organizadoras da Conferência, Ynestra King: «O ecofeminismo
trata da interligação e da abrangência da teoria e da prática. Reivindica força e a integridade especiais de todas
as coisas vivas... Somos um movimento com uma identidade feminina e acreditamos que temos uma tarefa especial
a desempenhar nestes tempos ameaçados. Vemos, como uma preocupação feminista, a devastação da Terra e dos
seus habitantes pelos guerreiros empresariais e a ameaça do extermínio nuclear pelos guerreiros militares. Em
toda a parte onde as mulheres agissem contra a destruição ecológica e / ou a ameaça do extermínio atómico, cedo
se deram conta da relação entre a violência patriarcal contra as mulheres, contra os indivíduos e contra a
natureza. Ao desafiarmos este patriarcado, estamos a ser leais com as futuras gerações, com a vida e com o
próprio planeta (...) O princípio ecofeminista de procurar ligações onde o patriarcado capitalista e a sua ciência
bélica (conquistar a natureza) estejam empenhados em desligar e seccionar o que torna um todo vivo anima de
igual modo este movimento. Assim, as mulheres envolvidas têm em conta não só as implicações destas tecnologias
(biotecnologias que tentam expropriar as mulheres e a natureza das suas capacidades reprodutivas, energia e
potencial plenos) nas mulheres, nos animais, nas plantas, na agricultura no terceiro Mundo, bem como no Norte
industrializado. Elas compreendem que a libertação da mulher não pode ser alcançada isoldamente, mas tão
somente enquanto parte de uma luta mais vasta pela preservação da vida neste planeta»”. in MIES, Maria e
SHIVA, Vandana (1997 [1993]). Ecofeminismo - «Introdução: Porque Escrevemos Este Livro Juntas», trad. de
Fernando Dias Antunes, I. Piaget, pp. 24-27.

5. “Neste trabalho examinaremos, em dois níveis, a ideia de que existe uma sinergia positiva entre os interesses
das mulheres e a conservação ambiental. Em primeiro lugar, discutiremosos dois principais argumentos da
bibliografia das mulheres, meio ambiente e desenvolvimnto (WED, pelas suas siglas em inglês), i.e., que as
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mulheres têm uma relação especial e estreita com a natureza, e que as mulheres são especialmente altruistas e
cuidadosas na sua gestão ambiental (...).
Ecofeminismo, mulheres, meio ambiente e desenvolvimento: os discuros dominantes relativos às mulheres e
ambiente, i.e, a bibliografia ecofeminsita e das mulheres, meio ambiente e desenvolvimento (WED, pelas suas
siglas em inglês) – enfatizam a afinidade das mulheres com o seu meio ambiente; no entanto, a análise de género
oferece uma estrutura conceptual preferível e alternativa para compreender e intervir nas especificidades locais
das relações ambientais de mulheres e homens. Primeiro, apresentarei um breve relato das ideias ecofeministas e
WED, e então discutirei as questões da (suposta) proximidade das mulheres com seu ambiente e seu altruísmo.
Finalmente, examinarei a visão, comum aos dois discursos anteriores, de que as mulheres são o grupo apropriado
a ser atingido para mobilizar a conservação e considerarei como uma análise de género das relações ambientais
pode levar a perspectivas diferentes (...) O ecofeminismo assume diferentes formas, entre as quais podemos
geralmente distinguir o ecofeminismo cultural e o ecofeminismo social (Plumwood, 1992, p. 10); a crítica que
faremos aqui refere-se sobretudo à primeira, embora ambas compartilhem territórios comuns. "Um pressuposto
básico comum a todas as posições ecofeministas é a rejeição da suposta inferioridade das mulheres e da
natureza perante a superioridade da razão, humanidade e cultura" (Plumwood, 1992, p. 13). Ambas as
perspectivas são ecocêntricas, uma vez que a vida não humana é considerada moralmente importante (Eckersley,
1992) e ambas relacionam as mulheres com a natureza.
(...) Nos últimos anos tem havido uma proliferação de livros, relatórios, conferências e atividades que ligam as mulheres e o
meio ambiente, tanto no Ocidente quanto no “terceiro mundo", e organizações internacionais e as ONGs adotaram esse
vínculo. Teóricas efofeminsitas fundamentais não encontraram nenhum problema em estender sua análise para o terceiro
mundo: “O feminismo ecológico... desenvolveu-se de modo especial nos movimentos ecologistas e pacifistas de mulheres. No
terceiro mundo....a conexão entre os interesses das mulheres e a saúde da natureza é especialmente evidente” (Plumwood,
1992, p. 10). [...] Como as ideias ecofeministas são refletidas na literatura e na prática do desenvolvimento? A
exploração das mulheres e do meio ambiente são agora retratadas como andando de mãos dadas, e ambas são
vistas como vítimas do 'desenvolvimento' (Shiva, 1989b). Considera-se evidente que o dano à natureza equivale
ao dano à mulher porque há a convicção de que a mulher está próxima da natureza". JACKSON, Cecile (1993).
Fazendo o Natural? Mulher e Meio Ambiente no Desenvolvimento in MIES, M. e SHIVA,V. in El
Ecofeminismo. Exponentes y Posturas Críticas, pp. 169-171.

6. “«Feminismo ecológico» ou «ecofeminismo» refere uma série de posições teóricas e práticas que trazem a
inspiração feminista para o interior da filosofia ambiental. As teóricas feministas começarama a formular teorias
que tratam das semelhanças e conexões entre o sexismo e os abusos da natureza no princípio dos anos 1970.
Antologias especificamente dedicadas ao tópico como Healing the Wounds: the Promise of Ecological Feminist
– Curando as Feridas: a Promessa do Feminismo Ecológico (Plant, 1989) e Reweaving the World. The
Emergence of Ecofeminism - Reconstruindo o Mundo. A Emergência do Ecofeminismo (Diamond e Orestein,
1990), começaram a ser publicadas no fim dos anos 1980. Apesar de existir uma uma variedade de posições
ecofeministas, as ecofeministas estão de acordo em que existe uma ligação entre dominação das mulheres e
dominação da natureza e que a compreensão de uma é essencial para a compreensão da outra. As ecofeministas
defendem que uma filosofia ambiental que não considera essas importantes ligações será teórica e praticamente
deficiente. Os tipos de conexões commumente estabelecidas pelas feministas ecológicas entre feminismo e
ambiente incluem as históricas, conceptuais, empíricas, epistemológicas, éticas, teóricas e políticas (...) Muitas
feministas ecológicas sustentam que há um dualismo razão/natureza que está subjacente no quadro conceptual
das culturas patriarcais ocidentais. Esse dualismo é considerado como constituindo a base para uma série de
dualismos (masculino/feminino, civilizado/primitivo, mental/manual, humano/natureza...) pares que funcionam
para legitimar um certo número de opressões, incluindo sexo, raça, e opressão da classe, que podem todas ser
vistas como em termos de dualismo central subjacente ao sistema, razão/natureza...levando à construção e
justificação das hierarquias morais (superioridade moral de um grupo).
(...) A construção de identidades dualizadas tem cinco características, segundo Val Plumwood (1993). São elas (i)
como pano de fundo, a criação por parte dos opressores de uma dependência em relação aos oprimidos, e ao
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mesmo tempo, a negação dessa dependência; (ii) exclusão radical, interpretando as supostas diferenças entre
opressores e oprimidos em termos de diferença radical com o intuito de justificar a subordinação dos oprimidos;
(iii) incorporação, a construção dos lados desvalorizados de um par dualizado como carecendo das
características morais relevantes associadas com o outro lado; (iv) instrumentalismo, a construção de grupos que
são vistos como moralmente inferiores, carecendo de quaisquer importantes interesses morais independentes; (v)
homogenização, a negação das diferenças entre os que pertencem ao lado inferior dos pares dualizados (p. ex.,
todas as mulheres ou os todos os escravos são idênticos) [...] Karen J. Warren (1990) explora as conexões
conceptuais (sexismo, naturismo, racismo e outros «ismos») - igualmente, históricas e causais, empíricas e
experienciais, epistemológicas, simbólicas, éticas, teoréticas, políticas/práticas, de maior importância entre a
dominação das mulheres pelos homens e a dominação da natureza pelos humanos. Argumenta que ambas
dependem da «lógica da dominação». (...) O facto de a dominação da natureza pelos seres humanos e a
dominação das mulheres pelos homens se enquadrarem na mesma estrutura geral e o facto de a desvalorização
das mulheres depender da prévia desvalorização da natureza, significa que os projectos para acabar com o
sexismo e com a exploração da natureza estão conceptualmente ligados. Segundo Warren, esta importante
compreensão significa que os ambientalistas e as feminsitas devem ser aliados e torna explícito contra que coisas
devemos trabalhar”. DAVION, Victoria. Ecofeminismo in JAMIELSON, Dale (Coord., 2005). Manuel de
Filosofia do Ambiente, trad. de João C. Duarte. Lisboa: I. Piaget. [1ª ed., 2003], pp. 243;245; 246 .

7. “O Ecofeminismo, e de uma forma profunda na obra de Shiva e Mies (Ecofeminismo, 1993),submete à revisão conceitos-
chave da nossa cultura: economia, progresso e ciência... mostrando como estas noções hegemónicas são incapazes de
conduzir os povos a uma vida digna, e destacando a urgência de adoptar um novo paradigma que ponha freio a esta guerra
declarada contra a vida. O ecofeminismo denuncia como a imanência da vida humana e os limites ecológicos ficam fora das
preocupações da economia e do desenvolvimento ...sustentável e justo”. HERRERO, Yayo, (2014). Prólogo ao
Ecofeminismo. Teoría, Crítica y Perspectivas, trad. de Mireia Bofill et al. Barcelona: Icaria Editorial, p. 8.

8. “(...) o ecofeminismo é o único marco político capaz de explicar com detalhes os vínculos históricos entre o capitalismo
neoliberal, miliatarismo, ciências empresariais, alienação dos trabalhadores, violência doméstica, tecnologias reprodutivas,
violência sexual, abuso sexual, neocolonialismo, islamofobia, extractivismo, armas nucleares, apropriação de águas e terras,
deflorestação, engenharia genética, mudança climática e o mito do progresso moderno. As soluções eecofeministas são
atambém sinérgicas: a organização da vida quotidiana em torno da subsistência favorece a soberania alimentar, a
democracia partipativa e a reciprocidade com os ecossistemas naturais”. SALLEH, Airel Kay (2013) in Prólogo ao
Ecofeminismo. Teoría, Crítica y Perspectivas, trad. de Mireia Bofill et al. Barcelona: Icaria Editorial, pp. 11-12.

9. “Também compreendemos que, desde o início do patriarcado, as mulheres de todo o mundo foram tratadas como
«natureza», desprovidas da racionalidade, com o seu corpo funcionando da mesma maneira instintiva que os outros
mamíferos. De igual modo que a natureza, podiam ser oprimidas, exploradas e dominadas pelos homens. E os instrumentos
para isso são a ciência, a tecnologia e a violência (...) A destruição da natureza, as novas armas, a engenharia genética, a
agricultura moderna e outras invenções da nossa época são «ocorrências», ideias desta ciência reducionista supostamente
carrente de valores (...) Antes de compreender a profunda conexão entre as mulheres e o meio ambiente, começamos a
combater a violência dos homens contra as mulheres na nossa casa, nossa cidade, no nosso país e no mundo”. SHIVA, V.
(2014). in Prólogo ao Ecofeminismo. Teoría, Crítica y Perspectivas, trad. de Mireia Bofill et al. Barcelona: Icaria Editorial,
pp. 30-31.

10. “O ecofeminismo é um mosaico multiculural de perspectivas (múltiplos estratos contextuais de experiências individuais,
pessoais, culturais, ambientais, sócio-económicas, políticas, etc., que espelham uma «narração bio-regional» segundo Jim
Cheney, ou «teoria de manta de retalhos – quilt theory, segundo K. J. Warren, ou ainda, a rede das formas de opressão e de
subordinação ligadas às estruturas de dominação), que evidenciam as interconexões entre todas as formas de relações
hierarquizantes e subordinadas no interior da estrutura social patriarcal e, mais particularmente, as que afectam conjuntamente
o estatuto da mulher e da natureza (...) O ecofeminismo é uma teoria unificada com contornos nitidamente definidos. É uma
expressão aberta que manifesta, no entanto, conceções recorrentes e, nessa qualidade, fundamentais. O termo «ecofeminismo»
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denuncia uma estrutura dual que reflecte na sua vontade de produzir uma análise que dê conta, nomeadamente, das conexões
entre os interesses feministas e ambientais (...) À semelhança do feminismo, o ecofeminismo é antes de tudo crítico,
denunciador e decifrador de todas as formas de relação de dominação-subordinação relativamente à mulher (práticas, crenças,
teorias, etc.). A denúncia dos preconceitos contra as mulheres (male-gender bias) é uma categoria essencial da análise feminina
(...)” (HOTTOIS e MISSA, 2003: 282).

Termos-Chave:

Androcentrismo: feminilização desvalorizante e subordinante, i.e., processo de naturização subordinante (dominação da


anatureza não humana), que associa a natureza e a mulher, recusado-lhes o estatuto moral, sua particularidade e diferença.

Conexões – interligações numa espécie de rede entre tudo o que existe, em rede com outras coisas existentes.

Ecofeminilidade – discurso feminista que se limita a acentuar o pólo do feminismo – capacidade de procriar, sentimentos,
preocupação de conservação, cuidados, não violência, compaixão..., dentro de uma sociedade ainda caracterizada por uma
determinação patriarcal do feminino e da natureza, i.e, aceitação acrítica de que a «realidade feminina» resulta da definição
de papéis entre as mulheres e os homens na sociedade patriarcal na qual se predomina uma visão da mulher imposta na e pela
sociedade patriarcal, ou seja, visões e noções ainda «patriarcalmente contaminadas», que menosprezam a liberdade e o
respeito mútuo, que se deve ter pelas mulheres e pela natureza.

Economia de Subsitência – modelo de uma economia e sociedade, que prioriza as múltiplas práticas de economias locais que
lutam pela sobrevivência – trabalhos gratuitos, trabalhos mal remumerados das mulheres do lar, dos camponeses e pequenos
produtores do Sul, face à economia globalizante, os sistemas de consumo face aos sistemas de produção capitalista, visando o
alcance de um trabalho produtivo vital para o ser humano e a preservação da vida em todas as suas formas (riqueza e
diversidades naturais, i.e., biodiversidade), numa clara oposição à actual economia capitalista e neoliberal de mercado, para se
poder satisfazer as necessaidades humanas comuns e fundamentais como alimentação, habitação, dignidade, identidade,
sabedoria das tradições... “Numa economia de subsistência, a interação humana com a natureza baseia-se no respeito, na
cooperação e na reciprocidade. Respeitar a riqueza e diversidades naturais é indispensável para salvaguardar o ambiente em
si e também enquanto condição de sobrevivência para todos os seres vivos”. (HOTTOIS e MISSA, 2003: 286). A economia
de subsitência prioriza as preocupações da comunidade, os sistemas do consumo face aos do produção, o local face ao global,
conceção relacional do ser humano – sua ligação com a natureza, a democracia participativa, os bens comuns, a
responsabilidade colectiva pelos bens comuns, sua preservação e regeneração para “curar as feridas” da economia capitalista e
da ciência bélica (dominadora da natureza) e reducionista, que produzem milhões de “vítimas do Desenvolvimento” moderno
baseado na ciência e na biotecnologias, cada vez mais agressivas da natureza e das formas naturais de vida. Cf. M. Mies e V.
Shiva (1993). Ecofeminismo.

Naturismo: dominação da anatureza não humana, que decorre da determinação patriarcal do feminino.

Naturização: desvalorização, subordinação, opressão e dominação da natureza não humana e da mulher em proveito dos
homens.

Quadro conceptual ecofeminsita: lente socialmente construída de crenças, valores, atitudes e hipóteses teóricas, sugestivas,
para a elaboração de uma teoria ecofeminista. Caracteriza-se, segundo K. Warren, pela recusa do sexismo, androcentrismo,
antropocentrismo, lógica da dominação masculina e humana, opressões e subordinações, ideologias patriarcais, ideologias
universalistas e essencializantes, denúncia da estrutura patriarcal do poder, e pela exaltação de teorias contextuais e
estratificadas, diversidade, abordagens multiculturais e pluralistas, inclusão não homegeneizante de diferenças, concepção
relacional (ecológica) do ser humano, ideal de libertação do patriarcado – teologia, psicologia, pacismo,

Sexismo: falta de controlo da mulher sobre a procriação e a valorização das capacidades reprodutivas do homem.

Sociedade Patriarcal – sociedade baseada nos valores, normas e princípios masculinos, i.e., numa visão do mundo definida
pelos homens em oposição à visão das mulheres, através de uma lógica do poder que esmaga qualquer outro poder seja ele dos
oprimidos, seus defensores – associações feministas e ambientalistas, seus recursos internos ou poderes alternativos. É uma
sociedade baseada no sistema de dominação das mulheres pelos homens.ç

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