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RADIOLOGIA FORENSE

APLICADA E TÉCNICAS DE
NECRÓPSIA MÉDICO LEGAL

Aldeir José
Andréa Abreu
Leonardo Vianna
Lucas Moacir
Marcelo Mari

ORGANIZADOR: Leanderson Luiz


ESCOLA TÉCNICA NOVO RUMO
2019
AGRADECIMENTOS

Este curso, apesar de um projeto pessoal de longa data, contou com a


dedicação e esforço de muitas pessoas. Estes colegas e amigos apostaram
comigo nesta proposta e colocaram, cada um a sua maneira, uma
pincelada de conhecimento a ser dividida e contemplada. Agradeço ao
amigo José Aldeir, fonte inicial de motivação deste trabalho, e colega de já
longa caminhada no Instituto Médico Legal. A professora Andréa pela
parceria no primeiro Simpósio com a temática “Radiologia Forense”,
abraçamos esse desafio juntos e com alunos do curso técnico em
Radiologia e conseguimos um resultado admirável. Ao Wagner e a escola
Novo Rumo por ter confiado e apostado em nosso trabalho. Mas,
sobretudo, agradeço a todos os estudantes, estagiários e profissionais que
de algum modo e por alguma circunstancia se interessaram pela
Radiologia Forense e contribuíram, mesmo que pelo incentivo, para a
realização deste curso.

Muito Obrigado!

Leanderson Luiz de Sá
Técnico em Radiologia Forense

BELO HORIZONTE

Março de 2019
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO A RADIOLOGIA FORENSE

1.1 Radiologia Forense – Marco Histórico-Legal;


1.2 Aplicação em Regiões de Fronteiras;
1.3 Controle de Tráfico de Drogas;
1.4 Combate a Falsificação de Obras de Arte;
1.5 Avanços tecnológicos na Radiologia Forense aplicados a Medicina Legal.

2 FUNDAMENTOS DE MEDICINA LEGAL E TÉCNICAS DE NECRÓPSIA


2.1 Necrópsia;
2.2 Técnicas de Necrópsia Médico Legal;
2.3 Fundamentos de Medicina Legal.

3 FUNDAMENTOS DE BIOSSEGURANÇA E RADIOPROTEÇÃO


3.1 Biossegurança;
3.2 Radioproteção.

4 Exames Radiológicos em Vitimas de Homicídio e Identificação


Forense
4.1 Rastreamento Radiológico – Localização de projéteis;
4.2 Sistema Convencional X Sistema Digital – Impacto no Rastreamento
Radiológico;
4.3 Posicionamento, Incidências e Fatores de Exposição;
4.4 Métodos de Identificação Forense – Radiologia .

5 FUNDAMENTOS DE DIREITO PENAL


5.1 Princípios do Direito Penal;
5.2 Aplicação da lei penal;
5.3 Teoria do Crime;
5.4 Homicídio;
5.5 Tráfico de Drogas.
1 INTRODUÇÃO A RADIOLOGIA FORENSE

Leanderson Luiz de Sá1

Este capítulo tem por objetivo apresentar um sobrevoo histórico lançando luz
sobre o surgimento e desenvolvimento da Radiologia Forense, sobretudo no contexto
Médico Legal. Apresentamos de modo resumido alguns segmentos deste campo da
Radiologia, com finalidade de instigar os profissionais das técnicas radiológicas à
pesquisa e desenvolvimento de práticas neste campo. Antes vale uma provocação.

É preciso reconhecer a relevância da produção acadêmica, pois é através dela


que se pode ampliar e difundir o conhecimento sobre uma ciência. Contudo, grande
parte dessa produção, no que concerne à Radiologia, tem sido elaborada e publicada
majoritariamente por profissionais médicos. Os técnicos, tecnólogos e auxiliares, que
aqui chamaremos de Radiologistas, têm figurado como pano de fundo em seu próprio
campo de saber. Um dos objetivos deste trabalho é motivar os colegas profissionais da
Radiologia a mostrarem seu conhecimento e valor.

1.1 Radiologia Forense – Marco Histórico-Legal

O estudo da história da Radiologia nos mostra a importância de diversos


pesquisadores e cientistas como Marie Curie, Nikola Tesla, Godfrey Hounsfield e tantos
outros que de um modo ou de outro contribuíram para o surgimento e desenvolvimento
desta ciência. Talvez um dos pioneiros mais importantes no campo do Radiodiagnóstico
seja realmente Wilhelm Conrad Roentgen, que em dezembro de 1895, após diversos
estudos envolvendo descargas elétricas em ampolas de Crookes, conseguiu
acidentalmente produzir a primeira radiografia utilizando energia eletromagnética.
(BONTRAGER; LAMPIGNANO, 2015). O novo método passa a ser aplicado por
diversos outros pesquisadores com finalidades distintas.

Ainda em 1895, Professor A. W. Wright da universidade de Yale, radiografou


um coelho que havia sido perseguido em um mercado local foi encontrado morto. Após
uma hora de exposição aos raios-x observou-se várias áreas circulares opacas. Projéteis
de uma arma de fogo (BROGDON, 2011). Não se sabia a causa da morte até o
momento. Seria este o primeiro vislumbre da aplicação da radiologia em ciências
1
Radiologista Forense, Professor de Técnicas Radiológicas e Chefe do Serviço de Radiologia Médico
Legal do IML/BH
forenses? Difícil traçar com exatidão o início da Radiologia Forense, mas o fato a seguir
nos parece um marco importante.

Na véspera de Natal de 1895 na cidade de Montreal. Tolson Cunning foi


ferido a bala na perna por George Holder. Não foi localizada nenhum elemento
balístico no local para provar o fato. A ferida logo cicatrizou. O professor de física da
universidade de Macgill, Jonh Cox foi chamado e em 7 de fevereiro de 1896, no
laboratório de física daquela universidade, após 45 minutos de exposição conseguiu
uma imagem que mostrava o projétil. Exame foi levado em corte durante o julgamento
de George Holder que posteriormente foi condenado a 14 anos (BROGDON, 2011).

Em Abril de 1896, conforme aponta Brogdon (2011) no condado de


Lancashire nordeste Inglaterra Hargreaves Harley disparou quatro vezes contra a
cabeça da esposa, que ainda sim permaneceu vida por alguns meses. O médico
responsável leu um artigo do professor de física Arthur Schuster (universidade de
Manchester) sobre a potencialidade e importância das descobertas de Rontgen. Em 29
de Abril o professor enviou dois assistentes e toneladas de equipamento ao médico para
que pudessem radiografar e tentar localizar os projéteis. As duas primeiras radiografias
que demoraram 60 e 70 minutos demonstraram 3 dos quatro projéteis. Está
consagrada a utilização da Radiologia como ferramenta forense.

1.2 Aplicação em Regiões de Fronteira

Em Maio de 1896 o artigo do pesquisador T. Bordas da faculdade de Paris


sugeriu que os novos raios também fossem usados para investigar pacotes suspeitos
enviados via correio para oficiais de alto escalão Franceses, e consequentemente logo a
prática foi aplicada em regiões de fronteiras como pode ser visto nas imagens abaixo.
Oficiais da Alfandega Francesa foram os pioneiros no controle de contrabando que em
1896 envolvia joias e cigarros (BROGDON, 2011). Somente na década de 70 a
preocupação de voltou ao tráfico de drogas.

A esquerda oficiais alfandegários franceses inspecionando bagagens de mão com equipamentos de raios-x. A
direita imagem radiográfica de um envelope com dispositivo explosivo dentro. Fonte: BROGDON, 2011
Com o surgimento dos carteis de droga e a grande expansão de entorpecentes,
houve uma crescente preocupação de alguns países no controle e fiscalização de
fronteiras. Logo surgem as chamadas “mulas humanas”, pessoas que transportam
drogas dentro do corpo, por ingestão oral ou via retal.

1.3 Controle de Tráfico de Drogas

Os primeiros casos de mulas humanas começam a chamar atenção quando


alguns indivíduos carregando drogas empacotadas que haviam engolido, passavam mal
chegando a óbito nas regiões de fronteira após o rompimento das embalagens o que
conduzia a uma overdose rápida. (Brogdon, 2011). Durante o acondicionamento da
droga, que pode ser feito de diversas formas e com diversos materiais, ar geralmente
fica contido na embalagem, radiograficamente na detecção procura-se corpos estranhos
arredondados com finas camadas de ar circundando. O formato pode variar de acordo
com as embalagens.

A esquerda imagem radiográfica de região pélvica evidenciando diversos pacotes de


entorpecentes de tamanhos diferentes. A direita observa-se vários tipos de forma de
acondicionamento de drogas.

Fonte: BROGDON, 2011.


1.4 Combate a Falsificação de Obras de Arte

A Radiologia Forense também pode ser aplicada a arte. Tendo em vista os altos
valores que podem atingir um quadro ou escultura de artistas famosos, sobretudo
produções de séculos passados, era de se esperar que museus de todo o mundo e
também colecionadores demandassem novas estratégias de validar a autenticidade das
obras. Poucos meses após a descoberta dos raios-x W.Konig de Frankfurt utilizava a
técnica para tentar determinar alterações em pinturas a óleo. Na figura abaixo quadro
do pintor americano da virada do século Ralph Blakelock. As telas deste artista tem
usualmente “rachaduras” singulares, fruto do método que utilizava. Qualquer pintura
supostamente de Ralph Blakelock - diga-se de passagem é um dos mais falsificados -
sem essa aparência radiográfica será uma falsificação.

Obra do famoso estadunidense Ralph Blakelock especialista em pinturas de paisagens seguido de


imagem radiográfica ampliada que mostra diversas “trincas” na base da tinta, fenômeno típico das
pinturas deste autor.

Fonte: BROGDON, 2011.

.É importante ressaltar que podemos fazer uma divisão sistemática desta área em
atuação ante crimes violentos e crimes não violentos, ou também, quando se propõe a
estudos ante-mortem ou post-mortem. De certo modo qualquer exame realizado com
fins de embasamento jurídico pode ser compreendido como uma prática forense.

Inúmeras outras aplicações da Radiologia no contexto forense poderiam ser


citadas aqui. Contudo o foco deste curso é a pratica dentro dos IML’s. Vale ainda
ressaltar que no Brasil O Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia dispõe sobre
atuação do Radiologista Forense na Resolução n2 de 04 de maio de 2012 incluindo essa
modalidade no campo de Radiodiagnóstico conforme o texto:

“Art. 3 – Os procedimentos na área de diagnóstico por imagem na


radiologia veterinária, radiologia odontológica e radiologia
forense, ficam também definidos como radiodiagnóstico.”
(CONTER, 2012)

Os estudos realizados dentro dos IML’s são, de modo geral, considerados pela
literatura como estudos post-mortem.. Apesar de ser elencada como Radiodiagnóstico,
a Radiologia Forense no âmbito do IML segue parâmetros muito específicos que a
diferencia do contexto clinico geral. Em medicina legal, os exames radiológicos podem
ser realizados para embasamento de perícias em vivos e em cadáveres vitimas de morte
violenta ou mortes suspeitas. Os exames realizados em cadáveres podem ter interesse
médico-legal diversificado, entretanto destacaremos dois principais objetivos: o exame
radiológico como instrumento de identificação forense e o rastreamento
radiográfico para localização de projéteis de arma de fogo. Os equipamentos
utilizados são diversos conforme a disponibilidade de recursos dos Estados direcionados
a seus respectivos IMLs, contudo mesmo equipamentos de baixo custo podem oferecer
diversos benefícios nos dois objetivos destacados. Em outro capítulo essas práticas
serão descritas em detalhes.

1.5 Avanços tecnológicos na Radiologia Forense aplicados a Medicina Legal

A proposta deste capítulo foi demonstrar a aplicação da radiologia na medicina


legal pela utilização de equipamentos de baixo custo. Os avanços da Radiologia Forense
estão associados, em certa medida, à utilização de equipamentos mais caros e de
tecnologia mais avançada como os tomógrafos. Em países de desenvolvimento sócio-
econômico melhor que o Brasil, a inclusão de novos métodos de imagem com
tecnologia avançada já faz parte da realidade como aponta Oliveira e colaboradores
(2005). Entretanto, no Brasil, ainda há grande dificuldade em instrumentalizar os
Institutos Médicos Legais com recursos humanos e equipamentos básicos à condução de
necropsias de vitimas de morte violenta. Mesmo assim é importante destacar o
desenvolvimento daquilo que tem sido denominado “Virtópsia”, ainda muito incipiente
no Brasil, mas já consolidada em outros países. Uma revisão da literatura sobre o tema é
feita por Santos e colaboradores (2017). Os autores explicam que a autópsia tradicional
– na qual o cadáver é aberto através de técnicas de necropsia – traz implicações éticas,
sobretudo do ponto de vista de alguns grupos religiosos. “Na grande maioria dos países
as necropsias apenas são feitas com a permissão da família (SCHOLING, et. al., citado
por SANTOS et. al 2017). Junior e colaboradores (2012) destacam ainda o fato de que
na necropsia tradicional microfraturas acabam não sendo visualizadas o que pode
impactar no laudo final. Estes e outros impasses são superados pela Virtópsia.

Na década de 70 a especulação sobre a substituição da necropsia tradicional por


métodos de imagem avançados é lançada na comunidade cientifica através do artigo
“The autopsy: Do we still need it?” de Edwards JE. Nos anos 90 o Instituto de
Medicina Forense da universidade de Berna na Suíça passa a documentar diversas
características de corpos humanos de modo não invasivo resultando na criação da
denominada Virtópsia. (JUNIOR et. al. 2012). O percursor destes estudos foi Dr.
Richard Dirnhofer, diretor do Instituto Médico Legal de Berna. Estes estudos iniciais
eram baseados em imagens de tomografia e ressonância magnética, surge então a
proposta de uma autopsia virtual com apoio centros de pesquisa de vários países como
Japão, Dinamarca, Austrália e Estados Unidos. (JUNIOR et. al., 2012). Em síntese “este
novo método baseia-se em analisar internamente o corpo humano sem a necessidade de
abri-lo, utilizando Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética e admitindo,
ainda, uma reconstrução 3D do cadáver analisado” (JUNIOR et. al., 2012). Além destas
vantagens, o estudo radiológico por estes meios permite o re-exame do cadáver, mesmo
depois de décadas do enterro do mesmo. A literatura atual sobre Virtópsia aponta que
apesar das diversas vantagens do método, a adesão deste procedimento não substituirá a
necropsia tradicional tendo em vista algumas limitações. Como exemplo, a coloração a
densidade e mesmo o odor de alguns tecidos, aspectos importantes a serem observados
pelo perito, só podem ser relatados ao exame tradicional. Portanto, a Virtópsia se
apresenta como um recurso complementar à perícia. Nesta lógica a Radiologia Forense
se mostra novamente como uma poderosa ferramenta na solução de casos que envolva a
justiça. É preciso caminhar muito no sentido da inclusão de recursos técnicos mais
avançados nos IMLs do Brasil e também de recursos humanos devidamente
qualificados em Radiologia Forense. O que podemos oferecer através deste capítulo, é
justamente ampliar o leque de conhecimento daqueles que se interessam por essa
belíssima ciência da Radiologia. Esperamos ter contribuído.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROGDON, Gil. Forensic Radiology. 2ed. CRC Press, 2011

BONTRAGER, Kenneth Lampignano. Tratado de Técnica Radiológica e Base Anatômica. Guanabara,


5ed. Rio de Janeiro, 2003.

CONTER, Resolução n 4, 2012. Institui e normatiza atribuições, competências e funções do Profissional


Tecnólogo em Radiologia. Disponível em: < http://conter.gov.br/ site/resolucoes/2012/10>. Acesso em:
04 jan. 2018

JUNIOR, Ademir Franco do Rosário, et. al. Virtual autopsy in forensic sciences na its applications in the
forensic odontology. Revista de Odonto Ciências, vol. 27, n.1. Porto Alegre 2012. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-65232012000100001>. Acesso em: 08
jan. 2018;

OLIVEIRA, Jônathas. Radiologia forense: historia aplicações e mercado. [S.I.]. CONTER, 2014.
Disponível em< http://conter.gov.br/site/noticia/profissao-rx >. Acesso em: 31 de jul.2017

SANTOS, Clotilde Conceição; SANTOS, Ericles Vieira; MOTTA, Rivania. Radiologia Forense
Virtópsia. [S.I.]. Curie&Rontgen, n.1.2017. Disponível em: <http://conter.gov.br/uploads/
trabalhos/p18.pdf>.Acesso em: 08 jan. 2018.
2 FUNDAMENTOS DE MEDICINA LEGAL E TÉCNICAS DE NECRÓPSIA
Marcelo Mari2

Aldeir José Silva3

2.1 NECRÓPSIA

Necrópsia é um termo genérico do qual autópsia é espécie. A palavra autopsia,


etimologicamente, derivada do grego (auto=por si + escopion=ver), e tem inúmeros
sinônimos (autópsia, necrópsia, necropsia, tanatoscopia, autósia), quase todos em
desuso, dando lugar ao termo necrópsia ou necropsia, segundo Zacarias, em sua ilustre
obra Dicionário de Medicina Legal (1991). Ainda segundo este autor, o termo autópsia
significa “exame que se realiza no cadáver, externa e internamente, com a finalidade de
determinar a causa real da morte”.

As primeiras dissecações reais para o estudo da doença foram realizadas cerca de


300 AC pelos médicos alexandrinos Herófilo e Erasístrato , mas foi o médico grego Galeno de
Pérgamo , o primeiro a correlacionar os sintomas do paciente(queixas) e sinais (o que pode
ser visto e sentido) com o que foi encontrado ao examinar a "parte afetada do falecido." Este
foi uma importante avançar que eventualmente elevou à autópsia e quebrou uma barreira
antiga para progredir na medicina (RODRIGUES,2014).
Foi no Renascimento, como exemplificado pelo trabalho de Andreas Vesalius (De
Humani Corporis Fabrica , 1543), que foi, de fato, possível distinguir o anormal, como tal
(por exemplo, um aneurisma), a partir da anatomia normal. Leonardo da Vinci dissecou 30
cadáveres e observou que "anatomia anormal"; Michelangelo, também, realizada uma série de
dissecções. Mais cedo, no século XIII, Frederick II ordenou que os corpos de dois criminosos
executados ser entregue a cada dois anos para as escolas de medicina, um dos quais estava em
Salerno, para uma "Anatômica Pública", que cada médico foi obrigado a comparecer. A
primeira autópsia forense ou legal, no qual a morte foi investigada para determinar a presença
de "culpa", é dito ter sido solicitado por um magistrado em Bolonha em 1302. Antonio
Benivieni, um médico florentino do século XV, realizou 15 autópsias explicitamente para
determinar a "causa da morte" e significativamente correlacionada algumas de suas
descobertas com sintomas prévios do falecido. Théophile Bonet de Genebra (1620-1689)

2
Médico Legista e Professor de Medicina Legal na Academia de Polícia Civil de Minas Gerais.
3
Graduado em Gestão Hospitalar. Especialista em Saúde Pública e de Meio Ambiente.Técnico em
Anatomia e Necrópsia. Técnico em Papiloscopia Forense e Professor de Tanatopraxia.
recolhidos a partir da literatura as observações feitas em 3000 autópsias. Muitas entidades
clínicas e patológicas específicas foram definidas por vários observadores, abrindo assim a
porta para a prática moderna (RODRIGUES,2014).
Em 1761, Giovanni Morgagni, o pai da moderna Patologia , descreveu o que poderia
ser visto no corpo com a olho nu. Em sua obra volumosa Nos assentos e Causas das doenças
Como Investigado Pela Anatomia , ele comparou os sintomas e as observações em cerca de
700 pacientes com os achados anatômicos sobre o exame de seus corpos. Assim, no trabalho
de Morgagni o estudo do paciente substituiu o estudo de livros e comparação dos comentários
(SALES FILHO, 2014).
Com Karl Von Rokitansky de Viena (1804-1878), o (olho nu) autópsia bruta atingiu
seu apogeu. Início da utilização de microscópios. O anatomista e fisiologista francês Marie
FX Bichart (1771-1802) enfatizou o papel dos diferentes sistemas generalizados e tecidos no
estudo da doença. Foi o patologista alemão Rudolf Virchow (1821-1902), no entanto, que
introduziu a doutrina que as células são a base da compreensão da doença em patologia e na
autópsia. Ele alertou contra a dominação de anatomia patológica, o estudo da estrutura do
tecido doente, como tal, e sublinhou que o futuro da patologia seria o estudo fisiológico do
funcionamento do organismo na investigação da doença (SALES FILHO, 2014).
A necropsia moderna tem sido expandida para incluir a aplicação de todo o
conhecimento e todos os instrumentos das modernas ciências básicas especializadas. O exame
foi estendido para estruturas muito pequenas para ser visto, exceto com o microscópio
eletrônico, e biologia molecular para incluir tudo o que pode ser visto, bem como o que ainda
permanece invisível. (Rodrigues, 2014). Segundo Espinosa (2008,) a necropsia é toda a série
de observações e intervenções efetuadas no cadáver com objetivo de esclarecer a causa da
morte (causa mortis). Pode ser subdividida em basicamente dois tipos: A Necropsia
anatomopatológica ou ainda não jurídica e Necropsia Forense, Médico Legal ou Judicial. A
necropsia não judicial é realizada por um médico anatomopatologista auxiliado por um
técnico, e tem como principal finalidade estudar as alterações morfológicas dos órgãos e
tecidos a fim de se obter informações sobre a natureza, extensão, as complicações da
patologia e suas consequências. Constitui também a maior fonte de ensino em patologia,
contribuindo para um eficaz controle de qualidade de diagnostico e de tratamento, apontando
possíveis erros em suas causas e realizando sua correção.

A necropsia médico legal é componente primordial na investigação criminal. Esta é


realizada por um médico legista, auxiliado por um técnico, que se concentram em determinar
a causa, o tempo e como ocorreu a morte. Incluem-se, ainda as circunstâncias que precederam
e circundaram a morte, além da inspeção e coleta de provas no local onde o cadáver foi
encontrado. Tem por finalidade determinação de causa mortis de relevância jurídica,
embasado em evidências nos casos de causa externa como homicídios, suicídios, acidentes em
geral, com descrição minuciosa de todos os detalhes do cadáver, bem como vestes, pertences,
identificação da vítima, tempo estimado de morte, sinais evidentes de morte. Está descrita do
Código de Processo Penal:

Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os
peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele
prazo, o que declararão no auto.
Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do
cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas
permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para
a verificação de alguma circunstância relevante.

A necropsia médico legal visa atender aos quesitos formulados no laudo de exame
cadavérico sendo esse: (1) Houve morte? (2) Qual a causa da morte? (3) Quais os
instrumentos ou meio que produziu a morte? (4) Se foi produzida com o emprego de
veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura outro meio insidioso ou cruel? A necropsia
médico legal pode ser requisitada por delegados de polícia, promotores de justiça e juízes de
direito, e é realizado por médicos legistas, habilitados em cursos de formação geralmente após
aprovação em concurso público, que aqui no Brasil varia de estado a estado, em Minas Gerais
o Curso de Formação Policial (Médico Legista) tem duração total de 720 horas, e uma
pequena parcela direcionada a matérias de medicina legal (Edital n 01/13 lei n 5.406-1969).

Diante dos estudos e pesquisas fundamentados às necropsias em âmbito geral,


podemos descrever as variações mais comuns das técnicas empregadas aos exames que
basicamente são quatro: Técnica de VIRCHOW, GHON, LETULLE e ROKITANSKY, e em
alguns casos são associadas às diversas técnicas para a realização de um exame necroscópico,
em necropsia médico legal e necropsia anatomopatológico (FINKBEINER, 2006). Antes,
porém, vale uma revisão em alguns conceitos anatômicos fundamentais.

Anatomia Humana:

ANATOME, do grego ana= em partes, tomein = cortar, ou seja cortar em partes,


dissecar.
Divisão da anatomia:

- Citologia – estudo das células;


- Histologia – estudo dos tecidos;
- Embriologia – estudo do desenvolvimento do indivíduo;
- Anatomia Antropológica – considera diferenças dos aspectos entre os diferentes
povos.

Considerações a cerca da variação anatômica:

A simples observação de um grupamento humano evidencia de imediato


diferenças morfológicas entre elementos que compõem o grupo. Estas diferenças
morfológicas são denominadas variações anatômicas e podem apresentar-se
externamente ou em qualquer dos sistemas do organismo, sem que isto traga prejuízo
funcional para indivíduo.

Anomalia e Monstruosidade
Na variação anatômica não há prejuízo da função. Entretanto, podem ocorrer
variações morfológicas que determinam perturbação funcional. Ex. agenesia de
membros, etc. Quando o desvio do padrão anatômico perturba a função, diz-se que se
trata de uma anormalidade e não uma variação. Se essas alterações são acentuadas de
modo a deformar profundamente a construção do corpo do indivíduo, denomina-se
monstruosidade, sendo em geral, incompatível com a vida. Ex :anencefalia, etc.

Divisão do Corpo Humano


O corpo humano divide-se em cabeça, pescoço, tronco (tórax e abdome) e
membros (superiores e inferiores). A cabeça corresponde à extremidade superior do
corpo e está unida ao tronco por uma porção estreitada, o pescoço. O tronco
compreende o tórax e o abdome. Dos membros, dois são superiores e dois inferiores.
Cada membro apresenta uma raiz, pela qual está ligado ao tronco, e uma parte livre. Na
transição entre o braço e o antebraço há o cotovelo; entre o antebraço e a mão, o punho;
entre a coxa e a perna, o joelho, entre a perna e o pé, o tornozelo.

Posição anatômica
 Posição ortostática (em pé);
 Corpo ereto;
 Cabeça com a face voltada anteriormente com o olhar na linha do horizonte;
 Braços e antebraços ao lado do tronco e palmas das mãos voltadas
anteriormente;
Coxas e pernas unidas com os pés apontados anteriormente

Planos de delimitação e secção do corpo humano

 Plano mediano ou sagital mediano: plano vertical que passa longitudinalmente


através do corpo, dividindo-o em metades iguais, direita e esquerda.
 Planos paras sagitais: planos verticais que passam através do corpo, paralelos
ao plano mediano.
 Planos frontais (coronal): planos verticais que atravessam o corpo formando
ângulos retos com o plano mediano, dividindo-o em partes anterior (frontal) e
posterior (dorsal).
 Planos transversos (axial): planos horizontais que dividem o corpo em partes
superior e inferior. Observe a figura:
2.2 TÉCNICAS DE NECRÓPSIA MÉDICO LEGAL

Segundo Avelar (2013), as técnicas são descritas da seguinte maneira: Técnica


Virchow: Nesta técnica, a incisão do crânio é bimastóidea vertical e a do tórax-abdome bi-
acrômio-esterno-pubiana, com a retirada individual de cada órgão que, posteriormente, são
pesados e examinados um a um. Após o exame, os órgãos são recolocados no corpo do
periciado. Técnica de Ghon: Ghon preconizava o exame com evisceração através de
monoblocos de órgãos anatomicamente e/ou de acordo com suas funções. Técnica de
Letulle: O autor descreveu sua técnica, defendendo a retirada dos órgãos através de um
monobloco único, da seguinte maneira: rebate-se a pele da região mentoniana, juntamente
com os planos musculares. Faz-se uma incisão nos músculos abaixo da língua para
posteriormente tracioná-la, o que facilita a dissecação da retro faringe para liberação da
traqueia e do esôfago neste bloco. A dissecção continuará pelo mediastino posterior,
descolando-se o “bloco torácico” da coluna vertebral. Nessa fase, os pulmões deverão ser
liberados. Incisa-se a porção superior do diafragma para a liberação do fígado, pâncreas e
estômago. Os intestinos delgado e grosso são descolados da parede abdominal mediante
secção do mesentério, após ligadura distal com nó duplo (evitando extravasando de conteúdo
fecal). Os rins sairão à medida que o intestino for descolado (PRESTES Jr., 2009). Técnica
de Rokitansky: Carl Rokitansky preconizava a avaliação dos órgãos periciados in citu, um a
um. Desse modo eram realizados inúmeros cortes, em todos os órgãos, ainda dentro do corpo,
e somente depois eram retirados e avaliados separadamente (PRESTES JR., 2009).
As técnicas atuais nada mais são que uma derivação de suas percussoras, com cada
serviço adota que mais lhe convém (AVELAR, 2013). Cabe ressaltar que de acordo com a
necessidade do exame e exposição do periciado utiliza-se um pouco de cada técnica e suas
variações. De modo geral, primeiramente é necessário a conferência da compatibilidade da
solicitação do exame e o cadáver, após este procedimento, realiza-se uma avaliação das vestes
e pertences. Faz-se a higienização do cadáver, limpeza com água, descreve-se sinais de morte,
inspeciona-se a parte externa em procura de sinais particulares, alguns vestígios ou mesmo
ausência, punções, drenos e cateteres e sinais de violência. Após esta etapa inicia-se as
incisões da caixa craniana, torácica e abdominal (AVELAR, 2013). Procede-se incisão
bimastóidea; feito rebatimento do couro cabeludo, com escalpelamento anterior e posterior;
incisa-se os músculos temporais em seu contorno; usa-se a rugina para limpeza do periósteo
para melhor visualização e facilitação no procedimento de serragem da calota, que utiliza-se
de preferencia serra manual, por ser mais pratica e menor desprendimento de fragmentos
ósseo. Após abertura da caixa craniana avalia-se todas as estruturas internas, se necessário
coleta de fragmentos de estrutura anatômica para exame (CARVALHO,1950). Na abertura
toracoabdominal são utilizadas algumas incisões de pele variadas para a exposição interna, a
mais comum é a submentoxifopúbica, com o auxilio de biturís e ou facas afiadas. Após a
exposição do gradil costal e cavidade abdominal retira-se o plastrão costocondral , que tem
por opção o corte a nível de cartilagem dos arcos costais, com auxilio de uma faca, ou com
uso do costóstomo cortes na linha média axilar bilateral; após exposição interna do tórax
avalia-se todas as estruturas minunciosamente dos órgãos in situ ou não, em bloco ou
isoladamente. Após a abertura do abdome, deve-se realizar uma avaliação panorâmica, em
seguida detalhadamente órgão a órgão, do mesmo modo que foi feito no tórax, e se necessário
coleta de algum material biológico para exames complementar, tais como: sangue, urina,
fragmentos de víscera, para serem avaliados pelo laboratório de anatomia clinica ou
toxicológico. Não se pode esquecer que também deve-se avaliar as estruturas cervicais. Após
a execução completa do exame necroscópico procede-se a síntese completa, em uso de uma
agulha alinhavada de preferencia por linha de algodão cru, inicia-se com um nó, e mais
comum o chuleio simples com bastante firmeza, nas três cavidades, finalizado com a limpeza
mecânica com água, deixando-o pronto para conservação em câmara fria ou entrega para os
familiares através dos serviços funerários (ESPINOSA, 2008).
Avelar (2013) cita que a maior parte do instrumental utilizado nos exames de
necropsia é também se aplicação cirúrgica. A seguir, são listados os materiais mais
comumente utilizados no procedimento:

 Agulha para sutura (triangular reta e semirreta) com tamanho aproximado 10 cm, balança de
taras variadas (corpo e órgãos), Cabo de bisturi números 3 e 4 ( lâminas 15 e 20,
respectivamente, chaira; concha em aço inoxidável (cuba e cabo em peça única) de cabo
longo, costótomo, enterótomo, escopro, faca de amputação de Collin, faca de Virchow,
martelo de Hajek; osteótomo, paquímetro,pinças de Backaus,Lornae Benhard pinça de Collin,
pinça de dissecção anatômica e dente de rato de 20 cm de comprimento, pinça para osso,
raquiótomo, rugina, serra de arco, serra vibratória, tesoura de Mayo curva de 22 cm de
comprimento e pontas rombas, tesoura de Mayo reta de 17 cm de comprimento e pontas
rombas, trena em aço inoxidável.
A necropsia médico legal é dividida em dois tempos, avaliação externa e interna: No
primeiro tempo é realizado a avaliação das vestes e exposição completa da vítima e tudo
aquilo de pertence que o acompanha. Inicia-se então a identificação do cadáver, cor de pele,
estatura, cor dos olhos, idade, sexo, sinais particulares como: tatuagens, punções, variações
anatômicas, cicatrizes, e também lesões que forem visualizadas em toda extensão corporal,
inclusive orifícios naturais e genitálias. Deve-se observar também sinais de morte,
resfriamento, rigidez, hipóstase. Em seguida começa o segundo tempo da necropsia, o exame
interno do cadáver, iniciando por incisão do couro cabeludo, abertura da caixa torácica e por
fim o abdome, fazendo-se toda uma inspeção analítica dos órgãos e achados de interesse
jurídico, e em alguns casos é necessário a coleta de material para exames complementares,
sangue, urina, fragmentos de órgãos para avaliação laboratorial toxicológico, teor de
alcoolemia, DNA e ou anatomopatológico, esperma, swab oral, vagina, anal, fragmentos
ungueais ou subungueais, pelos, projeteis de arma de fogo ( para possível comparação
balística). Não podendo esquecer que as vias de acesso, maneira de examinar o periciado
segue modelo das quatro técnicas básicas, Técnica de Virchow, Ghon, Letulle e Rokitansky
(FRANÇA, 2008).
2.3 FUNDAMENTOS DE MEDICINA LEGAL

Tanatologia Forense

A palavra Thanatos etimologicamente de erigem grega significa morte, pela


mitologia era o nome dado ao deus grego da morte, então tanatologia forense é a prática
e estudo da morte e suas transformações subsidiando informações de cunho jurídico-
social.

"Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo dessa morte". (São Paulo
Epístola 7:24).

A Tanatologia Forense é o ramo das ciências forenses que partindo do exame do


local, da informação acerca das circunstâncias da morte, e atendendo aos dados do
exame necrópsico, procura estabelecer a identificação do cadáver, o mecanismo da
morte, a causa da morte e o diagnóstico diferencial médico-legal (acidente, suicídio,
homicídio ou morte de causa natural), fundamentado em um serviço especializado
técnico-científico, subsidiando informações de cunho jurídico-social aos inquéritos e
processos pertinentes.(Croce,Croce Junior,1998).

Modalidade do evento da morte

Morte anatômica - É o cessamento total e permanente de todas as grandes funções do


organismo entre si e com o meio ambiente.
Morte histolôgica - Não sendo a morte um momento, compreende-se ser a morte
histológica um processo decorrente da anterior, em que os tecidos e as células dos
órgãos e sistemas morrem paulatinamente.
Morte aparente - estados patológicos do organismo simulam a morte, podendo durar
horas, sendo possível a recuperação pelo emprego imediato e adequado de socorro
médico. O adjetivo "aparente" nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o
indivíduo assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil persistência da
circulação. O estado de morte aparente poderá durar horas. É possível a recuperação de
indivíduo em estado de morte aparente pelo emprego de socorro médico imediato e
adequado.
Morte relativa – estado em que ocorre parada efetiva e duradora das funções
circulatórias, respiratórias e nervosas, associada à cianose e palidez marmórea, porém
acontecendo a reanimação com manobras terapêuticas Morte intermédia - É admitida
apenas por alguns autores. é a que precede absoluta e sucede a relativa, como verdadeiro
estágio inicial da morte definitiva. Experiências fora do corpo são relatadas neste tipo de
morte.
Morte absoluta ou morte real – estado que se caracteriza pelo desaparecimento
definitivo de toda atividade biológica do organismo, podendo-se dizer que parece uma
decomposição. Fim da vida inicio da decomposição. .(Croce,Croce Junior,1998).

Fenômenos abióticos ou imediatos ou avitais ou vitais negativos


Segundo (França.2008), os fenômenos abióticos, também chamados de avitais, ou vitais
negativos, se dividem em : imediatos (devido à cessação das funções vitais) e
consecutivos (devido à instalação dos fenômenos cadavéricos, de ordem química, física
e estrutural).
Tais fenômenos são considerados de probabilidade, ou seja, indicam a possibilidade de
morte e são denominados por alguns autores como período de morte aparente, por
outros são chamados de morte intermediária.
1. perda da consciência;
2. abolição do tônus muscular com imobilidade;
3. perda da sensibilidade;
4. relaxamento dos esfíncteres;
5. cessação da respiração;
6. cessação dos batimentos cardíacos;
7. ausência de pulso;
8. fácies hipocrática;
9. pálpebras parcialmente cerradas.

Fenômenos abióticos consecutivos


Algum tempo depois aparecem os sinais abióticos mediatos, tardios ou
consecutivos, indicativos de certeza da morte. Estes sinais constituem umatríade – livor,
rigor e algor –, ou seja, alterações de coloração, rigidez e de temperatura, indicativos de
certeza da morte (morte real).
1. resfriamento paulatino do corpo;
2. rigidez cadavérica;
3. espasmo cadavérico;
4. manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
5. dessecamento: decréscimo de peso, pergarninhamento da pele e das mucosas dos
lábios; modificações dos globos oculares; mancha da esclerótica; turvação da córnea
transparente; perda da tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.

A perda de temperatura corporal, algor mortis, também é considerada. De modo


geral, admite-se em nosso meio (clima temperado – 20 a 30ºC) o abaixamento da
temperatura em 0,5°C nas três primeiras horas, depois 1°C por hora, e que o equilíbrio
térmico com o meio ambiente se faz em torno de 12 horas.
Os livores, alterações de coloração, variam da palidez a manchas vinhosas. São
observados nas regiões de declive, devido ao acúmulo (deposição) sangüíneo por
atração gravitacional. Aparecem entre duas e tres horas após a morte, podendo mudar de
posição quando ocorrer mudança na posição do corpo. Após 12 horas não mudam mais
de posição, fenômeno denominado de fixação.
A rigidez, contratura muscular, tem início geralmente em mandíbula e nuca, uma
hora após a morte, progredindo para o pescoço, tronco e extremidades, ou seja, de cima
para baixo (da cabeça para os pés). O relaxamento se faz no mesmo sentido. Tal
observação é denominada Lei de Nysten. O tempo de evolução é variável.(Croce,Croce
Junior, 1998).

Fenômenos transformativos
Podem ser destrutivos e conservadores. Neste primeiro estão a autólise,
putrefação e maceração. Pertencem aos outros mumificação, saponificação ou
adipocera, calcificação, corificação, congelação e fossilização. (Fávero.1991 e
França,2008).

Fenômenos transformativos destrutivos


Autólise - Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas intracelulares,
determinando lise dos tecidos seguida de acidificação, por aumento da concentração
iônica de hidrogênio e conseqüente diminuição do pH. A vida só é possível em meio
neutro; assim, por diminuta que seja a acidez, será a vida impossível, iniciando-se os
fenômenos intra e extracelulares de decomposição.
Putrefação - É uma forma de transformação cadavérica destrutiva, que se inicia, logo
após a autólise, pela ação de micróbios aeróbios, anaeróbios e facultativos em geral,
sobre o ceco, porção inicial do grosso intestino muito próximo a parede abdominal; o
sinal mais precoce da putrefação é a mancha verde abdominal, a qual, posteriormente,
se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a tonalidade verde-enegrecida
conferindo ao morto aspecto bastante escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem
exceção, neles a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do corpo,
especialmente pelas vias respiratórias.
Na dependência de fatores intrínsecos e de fatores, a marcha da putrefação, se faz em
quatro períodos:

1.º) Período cromático ou de coloração – Geralmente inicia-se pela mancha verde


abdominal, localizada, de preferência na fossa ilíaca direita, tonalidade verde-
enegrecida dos tegumentos, originada pela combinação do hidrogênio sulfurado
nascente com a hemoglobina, formando a sulfometemoglobina, surge, em nosso meio,
entre 20 e 24 horas após a morte, durando, em média, 7 dias.

Observa-se coloração esverdeada difusa em toda a região abdominal.

Fonte: Retirado de Internet.

2.°) Período gasoso ou enfisematoso – Em um primeiro momento os gases fazem


pressão sobre o sangue que foge para a periferia e, pelo destacamento da epiderme,
esboça na derme o desenho vascular nomeado de circulação póstuma de Brouardel. Na
sequencia os gases internos da putrefação migram para a periferia provocando o
aparecimento na superfície corporal de flictenas contendo líquido leucocitário
hemoglobínico. Confere ao cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco,
especialmente na face, no tronco, no pênis ebolsas escrotais. A compressão do útero
grávido produz o parto de putrefação. As órbitas esvaziam-se, a língua exterioriza-se, o
pericrânio fica nu. O ânus se entreabre evertendo a mucosa retal. A força viva dos gases
de putrefação inflando intensamente o cadáver pode fender a parede abdominal com
estalo. O odor característico da putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfidrico.
Esse período dura em média duas semanas.

Fase enfisematosa. O estado de putrefação gera grande produção


de gases deixando o cadáver na conhecida posição de “Gladeador”

Fonte: Retirado de Internet

3.°) Período coliquativo - A coliquação é a dissolução pútrida das partes moles do


cadáver pela ação conjunta das bactérias e da fauna necrófaga. O odor é fétido e o corpo
perde gradativamente a sua forma. Pode durar um ou vários meses, terminando pela
esqueletização.

Observa-se perda abundante de tecidos e ação de fauna cadavérica


nesta fase.

Fonte: Retirado de Internet

4.º) Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e da fauna cadavérica


destrói os resíduos tissulares, inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos e
deixando-os completamente livres de seus próprios ligamentos, os cabelos e os dentes
resistem muito tempo à destruição. Os ossos também resistem anos a fio, porém
terminam por perder progressivamente a sua estrutura habitual, tornando-se mais leves e
frágeis.
Maceração - Ocorre quando os restos mortais ficam imersos em meio líquido, sendo
caracterizada por putrefação atípica, enrugamento tecidual e exsangüinação (saída do
sangue pela pele desnuda).
Conhecidas duas formas:
A - Séptica: mais comum, ocorre geralmente nos corpos que permanecem, após a morte,
em lagos, rios e mares.
B - Asséptica: observada na morte e permanência do feto intra-útero.

Observa-se na imagem efeito de maceração intrauterina.

Fonte: Retirado de Internet

Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está representada pelo


surgimento lento, nos três primeiros dias, de flictenas contendo serosidade
sanguinolenta. No segundo grau, a ruptura das flictenas confere ao líquido amniótico
cor vermelho-pardacenta, e a separação da pele de quase toda a superfície corporal, a
partir do oitavo dia, dá ao feto aspecto sanguinolento. No terceiro grau, destaca-se o
couro cabeludo, à maneira de escalpo, do submerso ou do feto retido intra-uterinamente,
e, em torno do 15.° dia post mortem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns sobre
os outros, os ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral torna-se mais
flexível e, no feto morto, a coluna adquire acentuada cifose, pela pressão
uterina.(Fávero,1991).

Fenômenos transformativos conservadores

Mumificação - É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápida e


acentuada a desidratação. A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em
regiões de clima quente e seco e de arejamento intensivo suficiente para impedir ação
microbiana, provocadora dos fenômenos putrefatívos. Assim podem ser encontradas
múmias naturais, sem caixão. A mumificação por processo artificial foi praticada
historicamente pelos egípcios e pelos incas, por embalsamamento, após intensa
dessecação corporal.
As múmias têm aspecto característico: peso corporal reduzido em até 70%, pele
de tonalidade cinzenta-escura, coriácea, ressoando à percussão, rosto com vagos traços
fisionômicos e unhas e dentes conservados.

Cadáver mumificado. O processo de mumificação pode ocorrer de


maneira natural dependendo de um conjunto de variáveis

Fonte: Retirado de Internet

Saponificação ou adipocera - É um processo transformativo de conservação em que o


cadáver adquire consistência untuosa, mole, como o sabão ou cera, às vezes quebradiça,
e tonalidade amarelo-escura, exalando odor de queijo rançoso; as condições exigidas
para o surgimento da saponificação cadavérica são: solo argiloso e úmido, que permite a
embebição e dificulta, sobremaneira, a aeração, e um estágio regularmente avançado de
putrefação. A saponificação atinge comumente segmentos limitados do cadáver; pode,
entretanto, raramente, comprometê-lo em sua totalidade. Tal processo, embora factível
de individualidade, habitualmente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente
em valas comuns de grandes dimensões:

Observa-se na imagem um fenômeno conservatório natural


denominado saponificação ou adipocera.

Fonte: Retirado de Internet


Calcificação – Caracteriza-se pela petrificação ou calcificação do corpo. Ocorre mais
frequentemente nos fetos mortos e retidos na cavidade uterina, constituindo-se nos
chamados litopédios (crianças de pedra). Nos cadáveres de menores ou adultos, esse
fenômeno é mais raro, surgindo quando as partes moles do cadáver desintegram-se pela
putrefação rápida, e o esqueleto começa a assimilar uma grande quantidade de sais
calcários, tomando essa parte do corpo uma aparência pétrea.

Corificação - Trata-se de um fenômeno transformativo transformador raríssimo,


descrito em 1985 por Della Volta, sendo encontrado em cadáveres que foram acolhidos
em urnas metálicas fechadas hermeticamente, principalmente de zinco. O cadáver
submetido a tal fenômeno apresenta a pele de cor e aspecto de couro curtido
recentemente.

Fossilização – Tafonomia é um termo usado entre arqueólogos e paleontólogos para


designar o estudo da transição dos restos biológicos a partir da morte até a fossilização.
Fenômeno extremamente raro, e se caracteriza pelo fato de o corpo apenas manter sua
forma, mas não conserva qualquer componente de sua estrutura orgânica, exigindo
muito tempo para sua ocorrência.(França,2008).

Diagnóstico cronológico da morte

Também chamado de tanatocronodiagnose, cronotanatognose o espaço de tempo


verificado em diversas fases do cadáver e o momento em que se verificou o óbito.
Quanto maior é este espaço, mais dificultoso será a perícia.

Esfriamento do cadáver - Em nosso meio é de 0,5°e nas três primeiras horas; a seguir,
o decréscimo de temperatura é de 1°e por hora, até o restabelecimento do equilíbrio
térmico com o meio ambiente.
Rigidez cadavérica - Pode manifestar-se tardiamente ou precocemente. Segundo
Nysten-Sommer, ocorre obedecendo à seguinte ordem: na face, nuca e mandíbula, 1 a 2
horas; nos músculos tóraco-abdominais, 2ª a 4ª horas; nos membros superiores, 4ª a 6ª
horas; nos membros inferiores, 6ª a 8ª horas post mortem nos membros inferiores. A
rigidez cadavérica desapareceprogressivamente seguindo a mesma ordem de seu
aparecimento, cedendo lugar à flacidez muscular, após 36ª-48ª horas de permanência do
óbito.
Livores - Podem surgir 30 minutos após a morte, mas surgem habitualmente entre 2 a 3
horas, fixando-se definitivamente no período de 8 a 12 horas após a morte.

Livores hipostáticos ou simplesmente hipóstases. Fenômeno que ocorre por ação da gravidade que
“fixa” o sangue nas regiões mais mais baixas. Auxilia determinar a posição em que o cadáver
estava no local em que foi encontrado

Fonte: Retirado de Internet

Mancha verde abdominal - Influenciada pela temperatura do meio ambiente, surge


entre 18ª a 24ª horas, estendendo-se progressivainente por todo o corpo do 3.° ao 5.° dia
após a morte
Gases de putrefação - O gás sulfídrico, surge entre 9 e 12 horas após o óbito. Da
mesma forma que a mancha verde abdominal, significa putrefação.
Decréscimo de peso - Tem valor relativo por sofrer importantes variações determinadas
pelo próprio corpo ou pelo meio ambiente. Aceita-se, no entanto, nos recém-natos e nas
crianças uma perda em geral de 8g/kg de peso nas primeiras 24 horas após o
falecimento.
Crioscopia do sangue - O ponto crioscópico ou ponto de congelação do sangue é de -
0,55°C a -0,57°C. A crioscopia tem valor para afirmar a causa jurídica da morte na
asfixia-submersão e indicar a natureza do meio líquido em que ela ocorreu.

Tipos de morte
Morte súbita - A morte súbita é a que ocorre sem ser esperada, tanto em pessoas
doentes como sadias. A morte se dá durante à primeira hora, entre o início dos sintomas
até ser constatado o óbito.
Morte agônica – É aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais processa-
se paulatinamente, com estertores, num tempo relativamente longo.
Morte violenta – É aquela provocada por causas externas, tais como, acidente de
trabalho, automobilístico, homicídio, suicídio, etc.
E para alcançar os objetivos, ter sucesso nos exames cadavéricos, tanto no
campo quanto no necrotério é necessário muita dedicação, empenho ética e amor à
profissão, pois um laudo bem circunstanciado e de linguagem clara e objetiva, facilita a
comunicação dos peritos e magistrados, facilitando assim o desdobrar dos processos
criminais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANÇA, G.V. Medicina Legal. 9 ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan,2011.

AVELAR, Let., BORDONI, LS., Castro, MM. Atlas de Medicina Legal. Ed1, Rio de Janeiro: Medbook,
2014.

Avelar, Luiz Eduardo de Toledo. Atlas de medicina legal /Leonardo Santos Bordoni, Marcelo Mari de
Castro. – Rio de Janeiro: MedBook, 2014.

Carvalho, Hilário Veiga de,1950 – Manual de Técnica Tanatológica/ Hilário Veiga de Carvalho – São
Paulo: Tipografia Rossolillo

DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ed.
São Paulo: Atheneu, 2001.

Espinosa, Benjamím. G. Generalidades sobre las autopsias, REA: EJAautopsy,2008.

Jr.,Luiz Carlos L. Prestes, 2009 – Manual de Técnicas em Necropsia Médico Legal/ Luiz Carlos Prestes
l. Jr./ Roger Ancillotti – Rio de Janeiro : Rúbio

França, Genival Veloso de, 1935 – Medicina Legal / Genival Veloso de França. – 8. Ed. – Rio de Janeiro
: Guanabara Koogan,2008. Il;

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A necropsia clinica – Interfaces epidemiológicas e didáticas / Raimundo Sales Filho. – João Pessoa:
Mídia Gráfica e Editora, 2004.

Zacharias, Manif / Zacharias, Elias. Dicionário de Medicina Legal – Manif Zacharias e Elias Zacharias –
São Paulo: Ibrasa Champagnat,1991.

http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10666144/artigo-162-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-
19412-68, Mar. 2007.
2 FUNDAMENTOS DE BIOSSEGURANÇA E RADIOPROTEÇÃO
Aldeir José Silva

3.1 BIOSSEGURANÇA

A biossegurança é uma área de conhecimento definida pela Agência Nacional


de Vigilância Sanitária (Anvisa) como: “condição de segurança alcançada por um
conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes
às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente”.

Importantes fatores de risco que envolvem as atividades de tanatopraxia e necropsia são:

 Agentes biológicos;
 Agentes químicos;
 Riscos radiológicos;
 Acidente de trabalho com instrumentos perfuro-cortantes, por exemplo: facas,
agulhas, bisturí, vidrarias.

O objetivo principal da biossegurança é criar um ambiente de trabalho onde se


promova a contenção do risco exposição a agentes potencialmente nocivos ao
trabalhador, pacientes e meio ambiente, de modo que este risco seja minimizado ou
eliminado. O termo “contenção” é usado para descrever os métodos de segurança
utilizados na manipulação de materiais infecciosos ou causadores de risco no ambiente
laboratorial, onde estão sendo manipulados ou mantidos.

Conceitos
Assepsia: é o conjunto de medidas adotadas para impedir que determinado meio seja
contaminado.
Anti-sepsia: é a eliminação das formas vegetativas de bactérias patogênicas de um
tecido vivo.
Limpeza: é a remoção da sujidade de qualquer superfície, reduzindo o número de
microrganismos presentes. Esse procedimento deve obrigatoriamente ser realizado antes
da desinfecção e/ou esterilização.
Desinfecção: é um processo que elimina microrganismos patogênicos de seres
inanimados, sem atingir necessariamente os esporos. Pode ser de alto nível,
intermediário ou baixo.
Esterilização: é um processo que elimina todos os microrganismos: esporos, bactérias,
fungos e protozoários. Os meios de esterilização podem ser físicos ou químicos.

Contenção
É usado para descrever os métodos de segurança utilizados na manipulação de
materiais infecciosos em um meio laboratorial onde estão sendo manejados ou
mantidos. O objetivo da contenção é: reduzir ou eliminar a exposição da equipe
laboratorial ou o meio ambiente de agente perigosos.

Contenção primária: Proteção da equipe do laboratório, com equipamentos como:


luvas, jaleco, mascaras. E a proteção pessoal: vacinas.

Contenção secundária: é a proteção ao meio ambiente externo do laboratório, contra a


exposição aos materiais infecciosos. Como: projeto de instalações e das práticas
operacionais; práticas e técnicas laboratorial.

Tipos de precaução
Precaução Padrão: São parte das normas de biossegurança e consistem em atitudes
que devem ser tomadas por todo trabalhador de saúde, necropsistas e tanatopraxistas,
frente a qualquer cliente/cadáver, com o objetivo de reduzir os riscos de transmissão de
agentes infecciosos, principalmente veiculados por sangue e fluidos corpóreos (líquor,
líquido pleural, peritoneal, pericárdico, sinovial, amniótico, secreções e excreções
respiratórias, do trato digestório e geniturinário) ou presentes em lesões de pele,
mucosas, restos de tecidos ou de órgãos.

Precaução Barreira: Higienização das mãos antes e após o contato com cliente/corpo,
antes e depois de calçar luvas, antes e depois de entrar em contato com materiais e
equipamentos presentes nos laboratórios/necrotérios e em outras situações descritas
anteriormente.

Uso de luvas não-estéreis se existir risco de contato com sangue e outros fluídos
corporais, membranas mucosas e pele não-íntegra, e outros itens considerados
contaminados. As luvas devem ser retiradas imediatamente após o uso. A higienização
das mãos após a retirada das luvas é obrigatória. Uso de aventais limpos não-estéreis.
Toda vez que possa ser prevista contaminação por sangue e outros fluídos corporais.
Retirar o avental imediatamente após o uso e lavar as mãos após este procedimento.

Uso de máscara, óculos e protetor facial somente quando possa ser prevista
contaminação de membranas mucosas boca e olhos com sangue e outros fluídos
corporais (jatos ou “sprays” desses fluídos), ou seja, sempre que houver contato com o
cadáver.
Destino adequado de material pérfuro-cortante. Sempre zelar pelo destino
correto de materiais perfuro-cortante e dos cuidados na sua manipulação e transporte.
Imunização efetiva dos trabalhadores. É realizada pela vacinação contra doenças
imunopreveníveis, (hepatite B, tétano) e profilaxia com medicamentos em casos
indicados.

Cuidados ambientais
Zelar pelos equipamentos e materiais utilizados em procedimentos e com no
cadáver e com as superfícies fixas, além de descarte adequado dos resíduos.

Práticas e Técnicas Laboratoriais

É a contenção mais importante. Pessoas que trabalham com agente infecciosos


devem estar aptas as técnicas e práticas para um manuseio seguro dos materiais. Os
funcionários devem estar preparados e ter conhecimento do dos riscos que o material se
encontra, e devem saber o procedimento de segurança a ser usado.
Os diretores do laboratório são os responsáveis pela seleção das práticas
adicionais de segurança que devem estar relacionadas aos riscos associados aos agentes
ou procedimentos. Para manipulação dos microrganismos pertencentes a cada uma das
quatro classes de risco devem ser atendidos alguns requisitos de segurança, conforme o
nível de contenção necessário. Estes níveis de contenção são denominados de níveis de
Biossegurança. Os níveis são designados em ordem crescente, pelo grau de proteção
proporcionado ao pessoal do laboratório, meio ambiente e à comunidade.

O nível de Biossegurança 1 é o nível de contenção laboratorial que se aplica aos


laboratórios de ensino básico, onde são manipulados os microrganismos pertencentes a
classe de risco 1. Não é requerida nenhuma característica de desenho, além de um bom
planejamento espacial e funcional e a adoção de boas práticas laboratoriais.

O nível de Biossegurança 2 diz respeito ao laboratório em contenção, onde são


manipulados microrganismos da classe de risco 2. Se aplica aos laboratórios clínicos ou
hospitalares de níveis primários de diagnóstico, sendo necessário, além da adoção das
boas práticas, o uso de barreiras físicas primárias (cabine de segurança biológica e
equipamentos de proteção individual) e secundárias (desenho e organização do
laboratório).

O nível de Biossegurança 3 é destinado ao trabalho com microrganismos da classe de


risco 3 ou para manipulação de grandes volumes e altas concentrações de
microrganismos da classe de risco 2. Para este nível de contenção são requeridos além
dos itens referidos no nível 2, desenho e construção laboratoriais especiais. Deve ser
mantido controle rígido quanto a operação, inspeção e manutenção das instalações e
equipamentos e o pessoal técnico deve receber treinamento específico sobre
procedimentos de segurança para a manipulação destes microrganismos.

O nível de Biossegurança 4, ou laboratório de contenção máxima, destina-se a


manipulação de microrganismos da classe de risco 4, onde há o mais alto nível de
contenção, além de representar uma unidade geográfica e funcionalmente independente
de outras áreas. Esses laboratórios requerem, além dos requisitos físicos e operacionais
dos níveis de contenção 1, 2 e 3, barreiras de contenção (instalações, desenho
equipamentos de proteção) e procedimentos especiais de segurança.

O equipamento de proteção individual (EPI) deve ser usado quando se prevê


exposição a material biológico, produtos químico tóxicos, raios ionizantes dentre outros,
agentes nocivos ao trabalhador e ao paciente. A adequação do EPI está diretamente
vinculada a atividade desenvolvida. São indicados nas áreas clínicas e de apoio
diagnósticos, necrotérios e laboratórios de tanatopraxia, visando a proteção total quando
se identifica um risco aumentado de exposição.
Tipos de EPI

Máscara e filtro químico – indica-se para quando o profissional necessite manipular


substâncias químicas tóxicas, tais como germicida com emissão de fortes odores ou a
partir da recomendação dos fabricantes.

Máscaras PFF2/N95 - indicada para a proteção de doenças por transmissão aérea


tuberculose, varicela, sarapó, e SARG (síndrome aguda respiratória grave).

Luva de borracha/nitrila – proteção da pele a exposição de materiais biológicos e


produtos químicos. Deve possuir cano longo quando se prevê uma exposição ate
antebraço.

Óculos de acrílico – proteção de mucosa ocular. Deve ser de material acrílico que não
interfira com a acuidade visual do profissional e permita uma perfeita adaptação a face.
Deve oferecer proteção lateral e com dispositivo que evite embaçar.

Protetor facial de acrílico – proteção da face. Deve ser de material acrílico que não
interfira com a acuidade visual do profissional e permita uma perfeita adaptação face.
Deve oferecer proteção lateral. Indicado durante a limpeza mecânica de instrumentais
(central de esterilização, expurgos), áreas de necropsia e laboratórios.
Avental impermeável, capote de manga comprida – para a proteção da roupa e pele
do profissional Bota ou sapato fechado impermeável;
– proteção da pele do profissional, em locais úmidos ou com quantidade significativa de
matéria infectante (centros cirúrgicos, expurgos, central de esterilização, área de
necropsia, situações de limpeza ambiental e outro). Apesar de não possuir registro com
EPI, na assistência a saúde a mascara cirúrgica e o gorro são considerados dispositivos
que asseguram, também, a proteção do profissional.
Máscaras cirúrgicas - indicada para proteção da mucosa oro-nasal bem como para a
proteção ambiental de secreções respiratórias do profissional. A máscara deve possuir
gramatura que garanta uma efetiva barreira, tem sido recomendada que seja
confeccionada com no mínimo três camadas.

Gorro – proteção de exposição dos cabelos e couro cabeludo à matéria orgânica ou


produtos químicos, bem como proteção ambiental à escamas do couro cabeludo e
cabelos.

Equipamento de proteção coletiva (EPC) – são dispositivos instalados nas


dependências dos laboratórios objetivando proteger a integridade física e a saúde dos
funcionários, usados para minimizar, isolar ou eliminar a exposição dos trabalhadores
aos riscos, e em caso de acidentes, reduzir suas consequências. Ex: lava-olhos, extintor
de incêndio, autoclave, caixa para perfuro-cortantes, exaustores, dentre outros.

Em caso de acidente com perfuro-cortantes

Se caso ocorra acidente com instrumentos perfurantes ou cortantes, recomenda-


se a lavagem da lesão com água corrente e sabão. Embora ainda não tenha estudos de
que o uso de anti-séptico ou o ato de pressionar o local para a saída de fluido/sangue da
lesão reduzam o risco de transmissão de doenças ( HIV, Hepatites). Após os primeiros
socorros, o acidentado deve ser encaminhado ao serviço de Urgência/Emergência de
acordo com o caso, e tomar as providencias cabíveis em relação a prevenção e
profilaxia de doenças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DÂNGELO, José Geraldo; FATTINI, Carlo Américo. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 2ed. São
Paulo: Atheneu, 2001.
Espinosa, Benjamím. G. Generalidades sobre las autopsias, REA: EJAautopsy,2008.
Jr.,Luiz Carlos L. Prestes, 2009 – Manual de Técnicas em Necropsia Médico Legal/ Luiz Carlos Prestes l. Jr./
Roger Ancillotti – Rio de Janeiro : Rúbio
Finkbeiner, Walter E. Autopsia em Patologia – Atlas e texto / Walter E. Finkbeiner, Philip C. Richard L. Davis; (
tradução Mauro Ajaj Saieeg). – São Paulo: Roca, 2005 il.
França, Genival Veloso de, 1935 – Medicina Legal / Genival Veloso de França. – 8. Ed. – Rio de Janeiro :
Guanabara Koogan,2008. Il;
Manual de Necropsia – UFF. Disponível em http://www.uff.bmpt/manual.htm
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Sales Filho, Raimundo.
A necropsia clinica – Interfaces epidemiológicas e didáticas / Raimundo Sales Filho. – João Pessoa: Mídia
Gráfica e Editora, 2004.
Zacharias, Manif / Zacharias, Elias. Dicionário de Medicina Legal – Manif Zacharias e Elias Zacharias – São
Paulo: Ibrasa Champagnat,1991.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10666144/artigo-162-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-19412-
68, Mar. 2007.
- National Disease Surveillance Centre, 2002. National Guidelines for the
04, p. 1549 a 1575.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10666144/artigo-162-do-decreto-lei-n-3689-de-03-de-outubro-de-
19412-68, Mar. 2007
3.2 RADIOPROTEÇÃO

Lucas Moacir4

Considerando a relevância da ciência radiológica aplicada às ciências forenses,


tal qual descrito no primeiro capítulo. Considerando as pesquisas e estudos
desenvolvidos sobre os efeitos das radiações ionizantes no corpo humano e levando em
consideração os diversos recursos técnicos usados em Radiologia Forense e seus riscos
inerentes à saúde humana. Decidimos por explorar neste ponto aspectos associados a
Radioproteção dos indivíduos ocupacionalmente expostos, sobretudo aqueles que
laboram dentro do IML.

Bases Físicas

O objetivo desse capítulo é abordar os principais conceitos dentro da proteção


radiológica e fundamentar uma cultura de proteção na prática profissional. Serão
destacados conceitos físicos e biológicos associados á exposição das radiações
ionizantes que são de suma importância para a implementação dessa cultura de
radioproteção.

O termo radioproteção refere-se a um conjunto sistemático de ações com o


objetivo de proteger o homem e o ecossistema dos possíveis danos causados por
radiações ionizantes. Trata-se de um conceito amplo que deve ser estudado e aplicado
de acordo com as especificidades de cada local.

Radiação pode ser definida como energia em trânsito. Aquelas que possuem
energia suficiente para ionizar átomos, ou seja, arrancar elétrons são denominadas
radiações ionizantes. O foco principal desse capítulo são as radiações ionizantes. É
importante conhecer os tipos de radiação e sua interação com a matéria para se proteger
da maneira correta.

Uma classificação comumente adotada divide os tipos de radiação em dois


grandes grupos: radiações diretamente ionizantes e radiações indiretamente ionizantes.
Essa divisão se dá em função da existência ou não de carga elétrica total. Radiações
diretamente ionizantes são aquelas que possuem carga, como por exemplos: partículas

4
Técnologo em Radiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestrando em Ciencias das
Radiações pelo Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear. Professor de Radioproteção.
Alfa(α), Beta(β), Elétrons(e-), Prótons(p+), etc. A sua interação com a matéria é regida
pela força Coulombiana devido a existência de um campo elétrico ao seu entorno.

Radiações indiretamente ionizantes são aquelas que não possuem carga, como
por exemplo: Radiações eletromagnéticas (Raios-Gama, Raios-X...), Nêutrons, etc.
Essas radiações interagem por meio de colisões com a matéria, uma vez que o campo
Coulombiano pouco interfere em suas interações.

Radiobiologia

Os efeitos biológicos de uma exposição à radiação são dependentes de inúmeros


fatores, no entanto, podem ser divididos em etapas gerais, a saber: efeitos físicos, efeitos
químicos, efeitos biológicos e efeitos orgânicos.

Quando uma pessoa é exposta á radiação ionizante, os locais atingidos passam


por inúmeras alterações, como por exemplo: produção de elétrons e íons livres, radicais
produzidos na quebra das ligações químicas e excitação do meio através da energia
cedida pela radiação. É possível mensurar os efeitos físicos e fazer uma boa
aproximação com base em grandezas que relacionam a energia depositada na matéria
por unidade de massa.

A fase de efeitos químicos vem logo em seguida e está ligada ao fato de


existirem células com diferentes radiossensibilidades, bem como a presença da
molécula de água que muitas vezes pode sofrer radiólise e se dissociar em um íon e um
radical livre, altamente reativo. Os radicais livres, íons e os agentes oxidantes podem
atacar moléculas importantes da célula, inclusive as substâncias que compõe o
cromossomo.

Os efeitos biológicos podem surgir de minutos a anos após a exposição às


radiações e dependem da dose de radiação recebida, do fracionamento ou não dessa
dose, do tipo de radiação, da radiossensibilidade das células da região afetada, dentre
outros fatores.

É bom salientar que o efeito biológico é uma resposta natural do organismo a um


agente agressor ou modificador. Quando a quantidade de efeitos biológicos é pequena, o
organismo pode recuperar, sem que a pessoa perceba. Por exemplo, numa exposição a
radiação X ou Gama pode ocorrer uma redução de leucócitos, hemácias e plaquetas e,
após algumas semanas, tudo retornar aos níveis normais. Isso significa que houve danos
biológicos, no entanto, estes foram reparados pelo próprio organismo.

Em alguns casos, quando a frequência de efeitos biológicos ocorre em maior


intensidade ou por algum motivo não pode ser reparada, ocorrem alterações que podem
levar ao desenvolvimento de algumas patologias, como, por exemplo, a indução de um
tumor.

Os efeitos para altas doses de radiação são estabelecidos e utilizados em técnicas


como a Radioterapia, no entanto, para baixas doses não é estabelecido nenhum modelo
matemático que represente o comportamento de tais riscos. De forma geral são feitas
extrapolações para estimar esses riscos. Dito isso, os limites de dose em normas e
regulamentos não devem ser considerados como o limite entre o seguro e o perigoso. É
importante ressaltar esse conceito para a exemplificação da importância da cultura de
radioproteção.

RAIOS-X

Os Raios-X são radiações eletromagnéticas, ou seja, energia que é transmitida


através de campos elétricos e magnéticos perpendiculares entre si (Fig.1). São
classificados em dois tipos: Raios-x de Frenagem (ou de Bremsstrahlung) e
Característicos, de acordo com a sua forma de produção.

Figura 1: Esquematização de uma onda eletromagnética


A produção desse tipo de radiação depende de um tubo a vácuo onde são
acelerados elétrons que se chocam com um alvo e produzem os Raios-x. Existem
parâmetros que podem ser controlados em um equipamento que produz raios-x, desde a
diferença de potencial (tensão) a qual os elétrons são expostos até a quantidade de
elétrons a ser acelerados.

Na prática de radiodiagnóstico, esses parâmetros são selecionados de acordo


com a estrutura a ser estudada, uma vez que o espectro de radiação produzido é
altamente dependente desses parâmetros e isso influencia diretamente na qualidade da
imagem gerada.

Os dois parâmetros mais importantes para a prática de radioproteção são: A


tensão de pico (kVp) e o produto da corrente pelo tempo (mA.s). O primeiro parâmetro
influencia na energia do feixe de radiação produzida e por conseqüência o seu poder de
penetração na matéria, dito isso, deve ser levado em consideração no cálculo de
blindagem de uma sala que possui qualquer equipamento produtor de raios-x. O produto
da corrente pelo tempo se relaciona a intensidade de radiação produzida e está
diretamente ligado a dose de radiação depositada na matéria.

O Instituto Médico Legal de Belo Horizonte (IML/BH) conta atualmente com


equipamentos de raios-x que auxiliam em diversas práticas de investigação
post-mortem, dentre as quais se pode citar: localização de projéteis oriundos de armas
de fogo, identificação de indivíduos por meio de radiografias odontológicas ou por
qualquer região anatômica que possua próteses, auxílio imaginológico para necrópsias
em corpos que estão em estado mais avançado de decomposição, dentre outras práticas.

Os Raios-X são radiações ionizantes e faz-se necessário, portanto, a adoção de


técnicas que visem a proteção de todos os indivíduos que possam ser expostos a esse
tipo de radiação. Dentre os princípios de radioproteção adotados na Portaria 453/98 da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) deve ser salientado o princípio da
otimização da prática, que está descrito como:

“O princípio de otimização estabelece que as instalações e as práticas devem


ser planejadas, implantadas e executadas de modo que a magnitude das doses
individuais, o número de pessoas expostas e a probabilidade de exposições
acidentais sejam tão baixos quanto razoavelmente exeqüíveis, levando-se em
conta fatores sociais e econômicos, além das restrições de dose aplicáveis. A
otimização da proteção deve ser aplicada em dois níveis, nos projetos e
construções de equipamentos e instalações, e nos procedimentos de trabalho.”
Noções de calculo de blindagem

O cálculo e construção de uma blindagem para uma instalação devem levar em


consideração a localização das fontes de radiação, as possíveis direções de incidência do
feixe, o fator de uso, a carga de trabalho, os locais e áreas em torno, a planta da
instalação, dentre outros fatores.

Para Raios-X e Gama pode-se considerar a lei da atenuação exponencial (Eq. 1) para
efeito dos cálculos de blindagem.

Equação 1

Onde, I é a intensidade final, após interagir com a barreira que está sendo utilizada
como blindagem. Io é a intensidade inicial, ou seja, antes de interagir com a barreira
física. é o coeficiente de atenuação mássico que representa a probabilidade de

interação da radiação com a matéria (esse coeficiente é dependente do tipo de radiação,


energia, material e densidade do material da blindagem), e o X é a espessura da
blindagem utilizada.

Uma grandeza importante para o cálculo de blindagem é a camada semi-redutora


ou CSR, que representa a espessura necessária para atenuar (blindar) 50% da radiação
incidente em uma barreira primária. Basicamente o cálculo da blindagem é o produto do
valor da CSR pelo número de CSR’s de acordo com o objetivo que se tem de reduzir a
dose de radiação naquele ponto específico. O Fator de Redução (FR) é a grandeza que
representa o quanto se quer reduzir a intensidade da radiação, esse valor é obtido pela
razão da intensidade inicial pela final (Io/I).

Esse cálculo é realizado, na maioria das vezes, por métodos analíticos, no


entanto, atualmente é possível o cálculo com base em modelos estatísticos através de
códigos computacionais baseados na Metodologia de Monte Carlo.

Monitoração individual e de área

Um programa de monitoração de área deve ser implantado para comprovar os


níveis mínimos de radiação, incluindo verificação de blindagem e dos dispositivos de
segurança. As salas onde se realizam os procedimentos radiológicos e a sala de
comando devem ser classificadas como áreas controladas e possuir barreiras físicas com
blindagem suficiente para garantir a manutenção de níveis de dose tão baixos quanto
razoavelmente exequíveis. A grandeza operacional que deve ser usada para verificar a
conformidade com os níveis de restrição de dose em monitoração de área é o
equivalente de dose ambiente, H*(d).

Para fins de planejamento de barreiras físicas de uma instalação e para verificação de


adequação dos níveis de radiação em levantamentos radiométricos, os seguintes níveis
de equivalente de dose ambiente devem ser adotados como restrição de dose:

a) 5 mSv/ano em áreas controladas,

b) 0,5 mSv/ano em áreas livres.

* 1 mSv (milisievert) = 1 J/kg : é uma grandeza que estima risco com base na deposição
de energia na matéria.

Com o objetivo de estimar os riscos biológicos de uma exposição ocupacional ás


radiações ionizantes foi necessário criar grandezas específicas. Atualmente é adotada a
grandeza Equivalente de Dose pessoal (Hp). Para a monitoração da dose efetiva, ou
seja, a média da dose para corpo inteiro é adotada o Hp(10), que é o Equivalente de
dose pessoal a 10 milímetros de profundidade. Essa grandeza é comumente adotada
para radiações com alto poder de penetração, como radiação-X e Gama, por exemplo.

Através da utilização de um dosímetro pessoal (detector de radiação) é possível


mensurar a dose recebida pelo IOE (Indivíduo Ocupacionalmente Exposto) e
consequentemente extrapolar esse dado para estimar um possível risco de dano
biológico. A portaria 453/98 da ANVISA estabelece os seguintes limites de dose
individual:
a) As exposições ocupacionais normais de cada indivíduo, decorrentes de todas as
práticas, devem ser controladas de modo que os valores dos limites estabelecidos na
Resolução-CNEN n° 12/88 não sejam excedidos. Nas práticas abrangidas por este
Regulamento, o controle deve ser realizado da seguinte forma:

(i) a dose efetiva média anual não deve exceder 20 mSv em qualquer período de 5 anos
consecutivos, não podendo exceder 50 mSv em nenhum ano.

(ii) a dose equivalente anual não deve exceder 500 mSv para extremidades e 20 mSv
para o cristalino.

b) Para mulheres grávidas devem ser observados os seguintes requisitos adicionais, de


modo a proteger o embrião ou feto:

(i) a gravidez deve ser notificada ao titular do serviço tão logo seja constatada;

(ii) as condições de trabalho devem ser revistas para garantir que a dose na superfície do
abdômen não exceda 2 mSv durante todo o período restante da gravidez, tornando
pouco provável que a dose adicional no embrião ou feto exceda cerca de 1 mSv neste
período.

Vale salientar que doses mensais acima de 1,5 mSv (milisievert) devem ser
investigadas.

CONCLUSÃO

O conceito de radioproteção abrange um processo sistemático pautado em


conhecimentos físicos, biológicos, legais, dentre outros. Dito isso, faz-se necessário o
conhecimento de todo esse processo por parte dos profissionais que lidam diretamente
com fontes de radiações ionizantes e conhecem os seus riscos de forma a garantir a sua
proteção individual e de indivíduos do público.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Vigilância Sanitária. Portaria 453 de 1 de junho de 1998. Disponível em:
<http://www.conter.gov.br/uploads/legislativo/portaria_453.pdf>. Acesso em: 08 de ago. 2017;

BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. CNEN 3.01 de março de 2014. Disponível em: <
http://www.cnen.gov.br/normas-tecnicas>. Acesso em: 15 de Fev. 2019;

Tauhata, Luiz, et al.. Radioproteção e Dosimetria: Fundamentos – 9ª revisão agosto/2013. Rio de Janeiro
IRD/CNEN;

Tubiana, Maurice, et al.. Radiobiologia e Radioproteção – 70ª edição, 1990. Rio de Janeiro.
4 Exames Radiológicos em Vitimas de Homicídio e Identificação
Forense

Leanderson Luiz de Sá

O “Atlas da Violência” de 2016 aponta que 10% dos homicídios do mundo


acontecem em solo brasileiro. Em grande parte destes homicídios são utilizadas armas
de fogo. Só em 2014, 44.861 pessoas foram vitimas de homicídio por arma de fogo no
país o que corresponde a 76% de todos os casos daquele mesmo ano. Diversas são as
peças importantes no quebra cabeças da resolução de um caso de homicídio, dentre elas
as evidências coletadas no cadáver, sobretudo o projétil de arma de fogo. A recuperação
destes projéteis é importante, pois, são periciados podendo auxiliar na identificação da
autoria do crime. Quando um projétil é deflagrado, em sua estrutura ficam impressas
ranhuras, adquiridas durante a passagem pelo cano da arma. Se o conjunto das estrias
existentes no projétil recolhido de um cadáver, quando confrontado, for igual ao
conjunto existente em um projétil disparado por uma arma conhecida, a perícia criminal
estará habilitada a afirmar que o projétil suspeito saiu daquele cano em estudo.
(OLIVEIRA et. al., 2005).

4.1 Rastreamento Radiológico – Localização de projéteis

O Rastreamento Radiográfico tem por objetivo principal a localização do projétil


de arma de fogo em vitimas de PAF (Perfuração por arma de fogo) ou qualquer outro
corpo estranho que possa estar relacionado com a causa da morte. Nos casos de PAF
ocorre que os orifícios de entrada destes projéteis muitas vezes não coincidem com o
sitio exato onde se alojam. Uma vez que penetra no corpo o projétil tende a mudar sua
trajetória dificultando sua localização sem o estudo radiográfico. Eles geram lesões
perfurocontusas, que são aquelas “produzidas por um mecanismo de ação que perfura e
contunde ao mesmo tempo. Na maioria das vezes, esses instrumentos são mais
perfurantes que contundentes” (FRANÇA, 2011, p.262). A recuperação destes projéteis
é importante, pois serão posteriormente periciados permitindo a identificação da arma
que foi utilizada no crime.

A necropsia de um cadáver baleado sem a realização de um Rastreamento


Radiológico e consequente coleta de projéteis torna-se incompleta e passível de futuro
questionamento judicial, o que leva a exumação do cadáver e ônus aos cofres públicos
como aponta Oliveira e colaboradores (2005). Portanto existe um consenso na literatura
forense que aponta para a necessidade do emprego da Radiologia Forense durante o
procedimento de autopsia destes casos. Infelizmente nem todos os Estados brasileiros
dispõe destes recursos ou quando dispõe possuem equipe deficitária e ou equipamentos
sem condições de uso.

O Rastreamento Radiológico deve ocorrer conforme protocolo pré-estabelecido


pelo serviço. No IML/BH, por exemplo, a rotina padrão para o caso de baleados são
incidências de crânio, tórax e abdome, sempre em AP, o que não exclui exames de
membros caso haja lesões compatíveis com arma de fogo. Fala-se em rastreamento,
pois, diferentemente de uma avaliação clínica, o objetivo central é localizar o projétil,
por tanto toda parte óssea e tecidos adjacentes devem estar inclusos no exame.

Duas radiografias do mesmo cadáver. A esquerda um exame de tórax com parâmetros ideais do ponto de vista
da bibliografia clássica sobre posicionamento. Contudo do ponto de vista da Radiologia Forense fracassou
pois não evidenciou dois projéteis em tecidos moles que apareceram na segunda imagem.
Fonte: Arquivo do autor

É importante destacar que muitas vezes os projéteis se fragmentam ao colidir


com as estruturas ósseas ou mesmo tecido, aparecendo na imagem deformados ou em
algumas situações deixando um rastro de pequenos fragmentos. São vários os tipos de
projéteis usados em armas de fogo:
A coleta destes projeteis é importante pois a partir deles é possível fazer o estudo
de confronto balístico que consiste basicamente na comparação das ranhuras deixadas
pelo cano da arma no projétil retirado do cadáver com as ranhuras de um projétil
retirado da arma suspostamente envolvida no homicídio.

Imagem ampliada em microscópio para exame de confronto balístico. A esquerda projétil recolhido
após disparo com arma suspeita no laboratório do instituto de criminalística. A direita projétil
recolhido de uma vítima de homicídio. Note que as ranhuras de ambos são idênticas.
Fonte: Apostila SENASP: Curso de Balística Forense.

Resumindo além da localização exata, métodos radiográficos auxiliam a


determinar a quantidade, tipo e migração dos projéteis e por vezes o ângulo e a
direção. Variáveis especialmente importantes em caso de corpos carbonizados e em
estado de decomposição avançada onde o exame cadavérico externo impossibilita essa
verificação. Importante destacar que a tentativa de determinação do calibre pela imagem
radiológica é uma cilada que deve ser evitada, pois a imagem projetada nunca terá as
dimensões reais.

A) Diversos projéteis de arma de fogo, todos de calibres diferentes. Aparecem na imagem


com a mesma dimensão devido a fatores de ampliação;
B) Um único projétil que deixou rastro de fragmentos, “calda do cometa”. Permite
determinar direção e trajetória do tiro.
Fonte: Imagem A Brogdon,2011 / Imagem B Arquivo do autor.
4.2 Sistema Convencional X Sistema Digital – Impacto no Rastreamento
Radiológico

As vantagens do sistema digital, seja ele qual for, sobre o sistema convencional
de tela e écran já foram exaustivamente explorados por outros autores (BUSHONG,
2010; BONTRAGER, 2003). Em relação Radiologia Forense no contexto médico legal
podemos afirmar que a grande vantagem do sistema digital sobre o convencional se dá
pela eliminação dos artefatos de imagem produzidos no momento do processamento,
sobretudo na realização de exames de cadáveres. Bushong (2010, p.300) define artefato
como “densidades ópticas indesejáveis ou manchas em uma radiografia...”. Em grande
medida o que ocorre no setor de Radiologia Forense do IML/BH é que ao manipular o
cadáver sujo de sangue ou outras secreções o Radiologista adentra a câmara escura para
processar o filme e nesta tarefa encosta no filme ou no écran com as luvas sujas gerando
o artefato na imagem. Na teoria “o filme radiográfico deve ser manuseado em local
seco, longe de qualquer tipo de liquido... e um écran danificado ou sujo determina o
aparecimento de artefatos na radiografia” (BIASOLI, 2006, p.59). O baixo contingente
de profissionais nesta área aliado a falta de investimento público faz com que o
Radiologista neste contexto tenha que realizar tarefas diversas acumulando sobrecarga
de trabalho consequentemente cometendo erros. Durante o processamento do filme, os
artefatos podem ser gerados ainda por sujeira nos rolos da processadora ou manchas nos
écrans como mostram as figuras 8, 9 e 10

A adesão de um sistema digital por parte da instituição elimina os artefatos de


processamento mencionados. Contudo mesmo em sistemas digitais outros artefatos
podem surgir como a presença de brincos, piercings, zíperes, fivelas de cintos etc...
sendo que todos estes podem ocultar áreas de interesse na imagem. Por essa razão
devem ser removidos do cadáver antes do Rastreamento Radiográfico. As questões do
posicionamento e da técnica a ser utilizada também apresentam impacto no resultado
final do estudo.

4.3 Posicionamento, Incidências e Fatores de Exposição

O posicionamento da parte do corpo a ser examinada é um dos principais


desafios de qualquer Radiologista, principalmente em casos de pacientes pouco
colaborativos como idosos com patologias do sistema locomotor, crianças muito
pequenas, pacientes com transtornos mentais graves, politraumas, pacientes entubados
em CTI etc... O que dizer então de técnicas de posicionamento em cadáveres? Sem
sombra de dúvida, o exame de um cadáver impõe um desafio extra.

Rigor Mortis: Estado de rigidez cadavérica após algumas horas de morte. Dificulta qualquer
tentativa de posicionamento
Fonte: Retirado da Internet

Contudo, como mencionado anteriormente, um dos objetivos centrais da


aplicação da Radiologia Forense em casos de homicídio é a localização do projétil de
arma de fogo, sendo assim, o fato de uma pequena rotação ou inclinação inadequada da
área a ser examinada não traz grandes implicações a analise. Não é possível, por
exemplo, posicionar a linha infro-orbito-meatal perpendicular ao receptor de imagem
em incidências básicas de crânio, pois este procedimento demanda uma flexão do
pescoço impossível de ser realizada devido ao estado de rigidez cadavérica. Atualmente
não existem dispositivos específicos a serem utilizados neste contexto como auxilio no
posicionamento “ideal”. A localização de projéteis em membros inferiores e superiores
tem se mostrado tarefa mais simples sendo que apenas uma incidência é suficiente,
independente da posição. No caso de crânio, tórax e abdome, devido à complexidade
dessas regiões incidências em AP e Perfil são necessárias para evidenciar noção de
profundidade do projétil.

No caso de estudos em ossadas, o posicionamento adequado deixa de ser um


problema pela facilidade de manipulação dos ossos. Com apenas algumas peças de
isopor, pode-se colocar um crânio em perfil verdadeiro, por exemplo, sem maiores
problemas.

De modo geral, nos exames com objetivo de localização de projéteis trabalha-se


sempre com imagens panorâmicas que “são radiografias de grandes áreas anatômicas,
utilizando-se da diafragmação ou colimação do feixe de radiação coincidindo com a
maior extensão da película radiográfica” (BOISSON, 2007, p.8). A lógica de usar a
maior extensão do receptor de imagem, mesmo para áreas menores, é justamente para
conduzir um rastreamento evitar que algum projétil não seja visualizado por se
encontrar na adjacência em tecidos moles, por exemplo. Os obstáculos associados à
dificuldade de um correto posicionamento podem ser superados uma vez que o
Radiologista esteja junto com a equipe engajado na localização do projétil, algumas
vezes é necessário repetir o exame e em alguns casos o projétil não é localizado mesmo
com o auxílio da radiologia.

A utilização de fatores de exposição adequados, pico de quilovoltagem (Kvp),


miliamperagem (mA) e tempo, são de extrema importância sobretudo em sistemas
convencionais. Bontrager (2003) descreve como fatores de qualidade da imagem quatro
variáveis sendo: densidade, contraste, detalhe e distorção. Os fatores de exposição estão
associados às duas primeiras. A densidade se refere ao grau de enegrecimento da
imagem que é ajustado principalmente através do mAs. Já o contraste é definido como
“a diferença de densidade nas áreas adjacentes da imagem radiográfico”
(BONTRAGER, 2003), tem também como objetivo tornar detalhes mais visíveis tendo
o KVp como principal fator de controle. As imagens abaixo mostram como um
conjunto de pequenas variáveis podem resultar em imagens de péssima qualidade
prejudicando inclusive a visualização do projétil.
A) Tórax em AP feito em sistema convencional B) Tórax em AP feito em sistema convencional
tela/écran. O Velamento do filme é evidenciado pela tela/écran. Projéteis visualizados com maior nitidez, é
seta. A resolução de contraste (KVp) e a densidade possível ver fratura de arcos costais com fragmento.
mA não evidenciam de forma adequada as áreas de Note a diferença de contraste ao lado esquerdo
interesse. Fonte:. Arquivo do serviço de Radiologia evidenciando pneumotórax (seta). Fonte: Arquivo do
Forense IML/BH autor

Apesar dos obstáculos relacionados ao posicionamento do cadáver para o exame,


as variáveis que mais afetam na qualidade do exame estão associadas à produção de
artefatos e uso incorreto de fatores de exposição. Em sistemas digitais um pós-
processamento mal realizado conduz aos mesmos prejuízos. Avanços tecnológicos
associados à Radiologia Forense só são úteis se os profissionais dominarem as novas
tecnologias e obviamente se o poder público investir em equipamentos e capacitação. A
utilização de Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética na esfera da
Radiologia Médico-legal tem sido fomentada.

Nos estudos de imagem outro fator a destacar é que a imagem projetada no


receptor, nunca possui a dimensão real do objeto devido aos fenômenos de distorção
definida como “a representação equivocada do tamanho do objeto ou da sua forma
quando projetada no meio de registro radiográfico” (BONTRAGER, 2003, p.35). Esta
distorção sofre variações de acordo com a distancia do objeto ao receptor, da angulação
da ampola e também da divergência dos feixes de raios-x. Bontrager (2003, p.35) ensina
que: “os raios x se originam em uma fonte estreita no tubo de raios x e divergem ou se
espalham no filme... quanto maior o campo de colimação e menor a distância foco
filme, maior será o ângulo de divergência nas margens externas, o que aumentara o
potencial de distorção”. Este fenômeno pode levar a equipe a tentar localizar um
projétil e um sítio discretamente distante daquele onde realmente ele está.
4.4 Métodos de Identificação Forense – Radiologia

Os corpos que chegam aos IMLs devido as circunstancias da morte e/ou ao


estado de decomposição, muitas vezes não podem ser reconhecidos por caracteres
visíveis externamente como cor dos olhos, cabelo, cor da pele, tatuagens etc... É de
suma importância atribuir uma identidade a estes cadáveres. A resolução de um possível
crime muitas vezes se inicia pela identificação inequívoca da vitima. O processo de
identificação segue um curso dos aspectos genéricos aos específicos, sendo assim,
primeiro busca-se determinar a espécie, posteriormente sexo seguido de uma idade
aproximada e por fim determinando a identidade da vitima. Atribuir essa identidade não
é tarefa fácil, trata-se de um trabalho que pode incluir diversos conhecimentos técnico-
científicos, e por essa razão falamos em um processo de identificação. O Professor
Genival Veloso França define identificação como “o processo pelo qual se determina a
identidade de uma pessoa ou de uma coisa... identificar uma pessoa é determinar uma
individualidade e estabelecer caracteres ou conjunto de qualidades que a fazem
diferente de todas as outras e igual apenas a si mesma” (FRANÇA, 2011, p136). Nos
casos em que os corpos não podem mais ser reconhecidos, passa a interessar aos
profissionais envolvidos neste trabalho os indicadores biológicos. Estes “se baseiam na
unicidade corporal fornecendo assinaturas biológicas que podem confirmar ou excluir a
identidade com certeza significativa, inclusive após a morte por serem caracteres que
persistem” (THOMPSON; BLACK, 2006). São exemplos destes caracteres de
individualidade ou essas assinaturas biológicas o DNA, as impressões digitais, o tipo
sanguíneo e também a morfologia do sistema esquelético. Por tanto podem também
ser determinados radiologicamente. A possibilidade de identificação por exame
comparativo utilizando o seio frontal, por exemplo, foi proposta inicialmente em 1921
com Schuller (GRUBER; KMEYAMA, 2001). Já os primeiros trabalhos sistematizados
de identificação datam de 1927. Segundo Oliveira e colaboradores (2007), os
pesquisadores Culbert e Law escreveram naquela década um artigo sobre a identificação
de uma pessoa baseada em comparações dos seios nasais acessórios e do processo
mastoide emparelhando radiografias feitas do sujeito em vida e do cadáver suposto..
Para exemplificar as imagens 1 e 2 mostram a singularidade da morfologia do seio
frontal de duas ossadas distintas.
Alterações sistema esquelético, como reclassificações de fraturas antigas,
também servem de indicadores e podem ser utilizados como elementos de análise em
um processo de identificação devido ao tipo de intervenção ortopédica utilizada e a
morfologia do osso recalcificado que será singular.

Como relata Oliveira e colaboradores (2007), em diversas partes do mundo a


comparação radiográfica ante e póst-mortem se apresenta como recurso possível tanto
em exames necroscópicos de peças ósseas quanto em análises de corpos carbonizados
ou putrefeitos nos quais alguns traços ainda possam ainda ser individualizados. Todos
esses casos são recorrentes nos IMLs onde a atuação do Radiologista Forense é
indispensável.

A) Patela de um cadáver parcialmente carbonizada;


B) Radiografia da patela em questão mostrando uma lesão patelar na região superior esquerda;
A) Radiografia do “suposto” em vida. Observa-se a mesma lesão patelar
Fonte: BROGDON, Gil. Forensic Radiology.
Mesmo fenômenos degenerativos associados ao envelhecimento como, por
exemplo, osteopenia, artrose e osteófitos de coluna, não inviabilizam o processo de
identificação, pelo contrário podem até servir de fatores coadjuvantes no
emparelhamento das imagens e na determinação da idade (OLIVEIRA et al, 2007). De
certo modo as áreas anatômicas com maior riqueza de detalhes, como o crânio, por
exemplo, fornecem melhor material para comparação e possível identificação
(OLIVEIRA et al, 2007, p.3).

A- Exame post-mortem evidenciando coleção de osteófitos em vértebras lombares.


B- Exame do mesmo indivíduo em vida evidenciando as mesmas alterações.
Fonte: BROGDON, Gil. Forensic Radiology.

Os peritos podem observar ainda variações anatômicas e malformações


congênitas. Caso a equipe de medicina legal já tenha posse dos exames de um “suposto”
- seja de uma fratura pós intervenção cirúrgica, de seios da face ou outras estruturas - o
objetivo do Radiologista que atua nesta área será tentar reproduzir aquela imagem o
mais próxima possível considerando inclusive erros de posicionamento do exame do
sujeito em vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Atlas da Violência 2016.

CBC. Companhia Brasileira de Cartuchos. Informativo Técnico n45. Munições para treinamento.
Jun.2005. Disponível em:<http://www.cbc.com.br/upload/informativos/4.pdf> . Acesso em: Mar. 2018;

BORRMAN, H,; GRONDAHL, H. Accuracy in establishing identity in edentulous individuals by means


of intraoral radiographs. J Forensic Odontostomatol, v.10, n.1, june 1992.

BROGDON, Gil. Forensic Radiology. 2ed. CRC Press, 2011

BUSHONG, Stewart Carlyle. Ciência Radiológica para Tecnólogos. Física, biologia e proteção.
Tradução: Sandro Martins Dolghi. Wlsevier, 9ed. Rio de Janeiro, 2010.

BIASOLI, Antônio Junior. Técnicas Radiográficas: princípios físicos, anatomia básica,


posicionamento. Rúbio. Rio de Janeiro, 2006.

BOISSON, Luiz Fernando. Técnica Radiológica Médica – Básica e Avançada – Anatomia


Radiológica – 500 Considerações Técnicas. Ed Atheneu. São Paulo, 2007.

SÁ, Leanderson luiz de; KABAD, Mirella Carvalho. Radiologia Forense. Fundamentos e aplicação em
medicina legal. Currie e Roengten. Minas Gerais, 2ed. Fev.2019. Disponível em:
<http://www.conter.gov.br/uploads /trabalhos/p35.pdf>
5 FUNDAMENTO DE DIREITO PENAL

Andréa Abreu5

Conceito de Direito Penal

É um ramo do Direito Público composto por um conjunto de normas jurídicas


que qualificam e tipificam atitudes em crimes. Permite que o Estado, diante da
legalidade jurídica, aplique sanções penais a quem cometer crimes que perturbem a
ordem para garantir maior harmonia social.

O Direito Penal pode ser subdividido em objetivo e subjetivo:

Objetivo: é o conjunto de leis vigentes no País. é o conjunto de normas relativas ao


crime e à respectiva sanção.

Subjetivo: reflete o direito punir, o ius puniendi, sendo atualmente o Estado seu
exclusivo titular. O Estado efetiva a punição do ato criminoso.

Exigências ético-sociais do Direito Penal;

-Plena garantia de defesa;


-Respeito à pessoa do delinquente;
-Caráter estritamente pessoal da pena;
-Adequação da pena à individualidade do criminoso;
-Caráter contraditório da instrução criminal.

5.1 Princípios do Direito Penal

a)Princípio da Dignidade Humana

O Estado e o Direito não são fins e sim meios para a realização da dignidade humana.

b)Princípio da Legalidade e Anterioridade

A lei deve ser anterior ao fato ocorrido, o qual é passível de sanção penal por parte do
Estado.

Conforme inciso XXXIX, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988 (CF): “Não há
crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”.

5
Bacharel em Direito pela UNA e Graduada em Enfermagem e Obstetricia. Especialista em Educação
para Saúde pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora de Anatomia
c)Princípio da Irretroatividade

Proíbe que normas posteriores ao fato em questão causem prejuízos ao acusado.


Decorre do princípio da anterioridade, ou seja, a lei penal não atinge fatos do passado, a
não ser quando for em benefício do agente.

Artigo 2º do Código Penal: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa
de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória”.

d)Princípio da Extra-Atividade da Lei Penal

Em alguns casos, a lei penal, mesmo após sua revogação, continua regulando atos
cometidos durante a sua vigência ou retroage para alcançar acontecimentos anteriores à
sua entrada em vigor para benefíciar o agente.

e)Princípio da Alteridade

O Direito Penal não incriminará aquele que praticar atitude que não ofenda o bem
jurídico.

Por esse princípio, não é possível punir a autolesão, por exemplo, não podendo o agente
cometer crime contra si mesmo.

f)Princípio da Confiança

Parte do pressuposto de que todos os indivíduos ajam de acordo com as regras e normas
existentes.

g)Princípio da Insignificância

O Direito Penal não deve se ocupar com fatos irrisórios ou bagatelas. Não deve ser
acionado por conta de fatos sem relevância jurídica, os chamados fatos atípicos.
Só pode ser punido o ato que causar lesão efetiva e relevante ao bem jurídico.

h)Princípio da Reserva Legal

Só a lei pode determinar quais condutas serão tipificadas como crimes.

i)Princípio da Intervenção Mínima


O direito penal só deve intervir quando nenhum outro ramo do Direito puder dar
resposta efetiva à sociedade, atuando como última instância.

j)Princípio da Fragmentariedade

O Direito Penal somente é chamado a tutelar as lesões de maior gravidade para os bens
jurídicos.

k)Princípio da Ofensividade ou Lesividade

Para que haja crime, é necessário que haja lesão ou ameaça de lesão a bem jurídico.

l)Princípio da Individualização da Pena

A imposição da sanção penal para cada agente deve ser analisada e graduada
individualmente, ainda que todos respondam pela mesma infração.

m)Princípio da Responsabilidade Pessoal

Nenhuma pena passará da pessoa do condenado. Nesse sentido, o pai não pode ser preso
em razão de infração cometida pelo filho.

n)Princípio da Humanidade

É inconstitucional qualquer pena ou consequência que atente contra a dignidade


humana.

Por isso é vedado penas cruéis e infamantes, utilização de tortura e maus-tratos.

o)Princípio tempus regit actum

Aplicável em matéria de eficácia de lei penal no tempo, ou seja, a lei a ser aplicada é a
lei vigente ao tempo do fato.

p)Princípio da Especialidade

A norma especial afasta a aplicação da norma geral.

q)Princípio da Subsidiariedade

A norma mais ampla (primária) absorve a menos ampla (secundária).


A norma será considerada principal quando descreve um grau maior de lesão ao bem
jurídico. A aplicação da subsidiária é usada somente quando a principal não incidir.

r)Princípio da Consunção
O fato mais grave absorve outros menos graves. Isso quando estes funcionam como
meio necessário ou fase normal de preparação ou execução, ou mero exaurimento de
outro crime.

s)Princípio ne bis in idem

Ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. A pena cumprida no estrangeiro
atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas. Ou nela é
computada, quando idênticas.

5.2 Aplicação da Lei Penal

Lei Penal no Tempo

O período compreendido entre a publicação de uma Lei e sua vigência dá-se o


nome de vacatio legis. Na falta de estipulação expressa, a regra é a vacatio legis de 45
(quarenta e cinco) dias.
A lei penal passa a vigorar na data indicada em seu conteúdo. Em caso de
omissão, 45 dias após sua publicação no território nacional e em 03 meses no
estrangeiro.
A Lei penal também pode ser temporária, com prazo de vigência descrito em
seu conteúdo.
Quando leis penais que tratam do mesmo assunto, mas de modo diverso,
sucedem-se no tempo, havendo necessidade de decidir qual é a aplicável temos
um Conflito Intertemporal e a questão será resolvida pela junção de dois princípios: o
da irretroatividade da lei mais severa e o da retroatividade da lei mais benéfica.
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente,
se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”

Crime permanente : é aquele cujo momento consumativo se alonga, perdura no tempo.

Crime continuado é quando o agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie
em condições semelhantes, sendo os crimes subsequentes tidos como uma continuação
do primeiro.

Tempo do Crime e Lugar do Crime

O Código Penal Brasileiro adotou a teoria da atividade, que dispõe:

“Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro


seja o momento do resultado”.

Aos crimes cometidos em território nacional será aplicada a legislação pátria.


O Código Penal prevê a territorialidade por extensão : crimes cometidos no estrangeiro
em alguns locais são considerados extensão do território nacional (CPB – § 1º do artigo
5º). Ocorridos em:

Embarcações e Aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo


brasileiro onde quer que se encontrem.

Aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que


se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

Extraterritorialidade; crime cometido fora do território nacional mas que será punido
pela lei brasileira previsto no artigo 7º do CP.Entre as hipóteses estão os seguintes
crimes:

-Contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;


-Contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia
ou fundação instituída pelo Poder Público;
-De genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

5.3 Teoria do Crime

Infração Penal

De acordo com o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal :

CRIME – é a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa.

CONTRAVENÇÃO – é a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de


prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Sujeito Ativo e Passivo do Crime

Sujeito ativo :é o agente que pratica o comportamento descrito no tipo penal (autor)
(executor direto) ou concorre de qualquer forma para a prática infrativa (partícipe).
(executor indireto)
Crime praticado por mais de um autor: em coautoria.
Crime praticado por mais de um partícipe,: em coparticipação.

Sujeitos passivos podem ser dois:

- O Estado, por ser o responsável pelo ordenamento penal e titular do ius puniendi
- O titular do bem jurídico penalmente protegido (a vítima).
Classificação dos Crimes

Os crimes podem ser classificados em:

Comuns: descritos no CP. podem ser praticados por qualquer pessoa.


Especiais: descritos nas legislações especiais.
Próprios: exigem qualidade especial do sujeito ativo (sujeito ativo qualificado).
De mão própria: só podem ser cometidos pelo sujeito em pessoa, não havendo coautor.
De dano: para a consumação, é necessária a efetiva lesão do bem jurídico.
De perigo: a consumação se dá com a simples possibilidade do dano.
Materiais: é imprescindível a ocorrência do resultado desejado pelo agente.
Formais: consumam-se independentemente da ocorrência do resultado desejado pelo
agente.
De mera conduta: são aqueles em que não há resultado naturalístico.
Comissivos: praticados mediante ação.
Omissivos: praticados mediante omissão.
Instantâneos: consumam-se em um único momento.
Permanentes: são aqueles em que o momento consumativo prolonga-se, protrai-se no
tempo.
Simples: apresentam tipo penal único.
Complexos: compõem-se de dois ou mais tipos penais.
Culposos: o sujeito dá causa ao resultado (de forma involuntária) por imprudência,
negligência ou imperícia.
Dolosos: quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado.
Simples: é o descrito na forma típica fundamental.
Privilegiados: quanto o legislador agrega ao tipo fundamental circunstâncias que
diminuem a pena.
Qualificados: quando o legislador agrega circunstâncias à figura típica que aumentam a
pena.
Qualificados pelo resultado: são aqueles aos quais o legislador acrescenta um
resultado que aumenta a sanção abstratamente imposta no preceito secundário.

Fato Típico

O Crime é um fato típico que atenta contra a lei moral. É um ato antijurídico passível de
sanções penais previstas em lei.

São elementos do fato típico:

Conduta; : ação que é praticada por ser humano, é um ato voluntário e consciente. É a
maneira do ser humano agir em sociedade, com determinada finalidade. Depende da
voluntariedade, consciência, dolo ou culpa e ação ou omissão.

Resultado; delitos penais geram consequências jurídicas. Portanto, para que haja crime
é necessário que o resultado da conduta esteja previsto em lei.
Nexo causal ou relação de causalidade; é o elo entre a conduta e o resultado
pretendido pelo agente praticante da ação. Estabelecer nexo de causalidade nada mais é
do que identificar qual é a conduta que deve responder por um resultado.

Tipicidade : é o fato praticado que está previsto no CP. Se enquadra plenamente na


descrição penal. Trata-se de estabelecer a ligação fato-tipo (contido na norma penal
incriminadora), ou seja, é ligar a conduta praticada por alguém ao tipo penal.

Trajetória do Crime

São as fases, as etapas , o caminho do crime.

Fase interna (cogitação)


Fase externa (preparação, execução e consumação).

Cogitação: o agente pensa sobre as possibilidades da ação pretendida que culminará no


resultado desejado.
Preparação: nesta o fase, o agente reúne meios necessários para a prática da ação
cogitada.
Execução: momento em que o agente põe em prática as ações que foram pensadas e
preparadas.
Consumação: momento em que o agente atinge seus objetivos, obtendo êxito na sua
conduta. O ato atinge todas as fases previstas e se torna um ato punível penalmente.

Observação: Para o sistema penal brasileiro, só há crime a partir da fase de execução.

A fase de cogitação e os atos meramente preparatórios não são puníveis criminalmente.

O exaurimento do crime ocorre quando atingida a consumação delitiva, o agente


atinge todas as consequências por ele previstas.

Crime Consumado e Crime Tentado

CRIME CONSUMADO: quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição


legal. Ou seja, quando a conduta do agente encontra integral correspondência com o
tipo penal previsto em lei.

CRIME TENTADO: quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias


alheias à vontade do agente.

Excludentes de Ilicitude

Ilicitude (ou antijuridicidade) é a contradição do fato com o ordenamento jurídico,


constituindo a lesão de um interesse penalmente protegido.
As causas legais de exclusão da ilicitude ( artigo 23 do Código Penal). Quando o
agente pratica o fato baseado em cada uma dessas circunstâncias, não há crime.

Estado de Necessidade: considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato


para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se.

Legítima Defesa: entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos


meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Cumprimento do Dever Legal: é toda obrigação direta ou indiretamente derivada de


lei em sentido amplo. E se alguém age cumprindo estritamente esse dever legal, não
poderá responder por crime.

Exercício Regular de Direito: se o ordenamento jurídico atribui determinado direito a


alguém e esse o exerce regularmente, não haverá crime, estando excluída a ilicitude da
conduta.

Das Penas

Privativas de Liberdade: são as penas que decretam a prisão do agente. Podem ser
cumpridas em regime aberto, semi-aberto ou fechado.

Restritivas de Direitos: são a prestação pecuniária, perda de bens e valores, limitação


de final de semana, prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas, bem
como interdição temporária de direitos.

Multa: consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e


calculada em dias-multa, fixados pelo juiz. Será, no mínimo 10 dias-multa e, no
máximo, 360 dias-multa.

A Parte Especial do Código Penal Brasileiro trata das condutas criminais aplicáveis.
Elas estão previstas do artigo 121 ao artigo 361 do CP.

Entre elas, encontram-se os seguintes crimes:

 Homicídio
 Feminicídio
 Infanticídio
 Lesão corporal

5.4 Homicídio

Previsto no código penal artigo . 121 matar alguém.


O Brasil se apresenta como um dos países mais violentos do mundo e os índices de
criminalidade disparam em todo o país, O homicídio é o crime que mais chama a
atenção social

Tipologia de motivação de homicídios

1)Desentendimento

Envolve uma situação de conflito na qual autor e vítima se desentenderam por


questões variadas, desde um acidente de trânsito, passando por divergências de opiniões
sobre temáticas diversas ou mesmo por desacertos comerciais, e esse desentendimento
resultou em homicídio. Pode ocorrer entre conhecidos e desconhecidos, entre vizinhos,
no trânsito, em bares, em situações de lazer e/ou sociabilidade.

2)Rivalidade

Envolve uma situação de conflito que se prolonga ao longo do tempo, por dias,
meses ou anos, com provocações recíprocas entre as partes via injúrias, agressões
verbais e/ou físicas, ameaças. A origem do conflito pode ter matizes diversos, desde
divergências entre sócios de um empreendimento econômico, entre vizinhos que não se
entendem na definição dos limites das respectivas propriedades, entre familiares que
divergem na divisão de uma herança, entre outros. Envolve indivíduos conhecidos.

3)Vingança

Envolve uma situação de conflito na qual o autor mata a vítima como revide por
uma morte de um ente familiar ou amigo perpetrado pela vítima em tempos anteriores.
Pode envolver conhecidos como também desconhecidos.

4) Passional

Envolve uma situação de conflito na qual autor e vítima mantêm ou


mantiveram uma relação marital, sexual ou afetiva (namoro, casamento, noivado, união
estável, etc) com temporalidades momentâneas ou de longa duração e, em função de
ciúme, término do relacionamento, traição ou mesmo em função de desentendimentos
constantes entre eles, acaba gerando o assassinato de uma das partes.Estão incluídas
aqui as relações homoafetivas. Também são considerados os casos em que a vítima é
um terceiro participante da relação, como amante ou um(a) novo(a) parceiro(a).
5) Comércio de drogas ilícitas

Envolve uma situação de conflito na qual autor e vítima têm sua relação
baseada no mercado de drogas ilícitas. Os homicídios abarcados por esta categoria
estão relacionados a conflitos oriundos de situação de negócios (concorrência,
desentendimento entre sócios e/ou parceiros, clientes e vendedores, dívidas, disputas
territoriais de gangues)

6) Ação policial

Envolve uma situação de conflito na qual o policial mata a vítima no exercício


de sua atividade profissional. Aplica-se às Polícias Militar e Civil. Pode envolver
indivíduos desconhecidos ou mesmo conhecidos.

O homicídio é um crime comum, unissubjetivo, material, de forma livre,


comissivo (em regra) ou omissivo impróprio (comissivo por omissão), instantâneo de
feitos permanentes, de dano, progressivo, plurissubsistente (em regra) e unissubsistente.
Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum pois não demanda
nenhum atributo especial do sujeito ativo. É unissubjetivo, pois não exige um número
mínimo de praticantes. Admite o concurso eventual de agentes tanto na coautoria
quanto na participação.

A autoria mediata ocorre quando o agente escolhe pessoa não culpável para
praticar o homicídio. Ele (agente que escolheu) responderá pelo homicídio. Por outro
lado, a autoria colateral ocorre quando dois desconhecidos, sem ajuste prévio, agem
simultaneamente.

É possível que se identifique o autor do disparo fatal. Nessa hipótese, esse


responderá por homicídio consumado, enquanto o outro pela tentativa. O sujeito passivo
é indicado pela elementar “alguém”. É qualquer pessoa. É o ser vivo nascido de mulher.

É absolutamente indispensável a prova da existência da vida, objetividade


jurídica do homicídio, o que se comprova pelos meios postos a disposição pela
Medicina Legal. Demonstrado que a conduta ocorrer quando já não havia mais vida,
não há homicídio, mas crime impossível.
O núcleo do tipo é indicado pelo verbo MATAR, que significa eliminar, ceifar,
tirar a vida de pessoa humana. Tratando-se de crime de forma livre, toda conduta ao
menos relativamente capaz de produzir o resultado morte é suficiente para tipificar o
homicídio. O homicídio admite tanto a forma comissiva (ação) quanto a omissiva
imprópria (ou comissivo por omissão). A primeira ocorre quando o agente efetua
disparos de arma de fogo, enquanto a segunda quando, visando o resultado morte, a mãe
deixa de amamentar o filho, ou quando o agente nega o fornecimento de alimentos,
medicamentos ou socorro.

É crime material, ou seja, deixa vestígios, o resultado é perceptível. É exigido o


exame de corpo de delito, preferencialmente direto (exame necroscópico). A
responsabilização penal por conduta omissiva imprópria exige que o agente tenha se
colocado na posição de garante ou garantidor.

Objeto jurídico: Vida da pessoa.

Objeto Material: A pessoa sobre quem recai a ação ou omissão.

Sujeito Ativo: É qualquer ser humano que pratica a figura típica descrita em lei.

Sujeito Passivo: É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado, ou seja, qualquer


pessoa viva.

Consumação: Como se trata de um crime material, sua consumação se dá com a


produção do resultado naturalístico morte.

Elemento Subjetivo: Dolo e culpa.

Tentativa: Há possibilidade de ser tentado, porquanto trata-se de um crime material e


plurissubsistente. Dessa forma, ocorrerá a tentativa quando o agente na fase de
execução do delito, não o realiza por circunstâncias alheias a sua vontade.

Homicídio simples (artigo 121, caput):


Objeto material: é o ato de suprimir a vida humana, não definindo o modo empregado
para tanto.

A norma admite criminosa qualquer conduta voltada ao término da vida da vítima:


-Disparar arma de fogo,
-Desferir golpes de faca,
-Golpeá-la com pedras ou pedaços de pau,
-Provocar ou libertar animal para que a ataque
-Eletrocutá-la , etc.

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

Casos de diminuição de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,
ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima,
o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Homicídio qualificado

§ 2º Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte


ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

Homicídio culposo

§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)

Pena - detenção, de um a três anos.

Aumento de pena

§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um terço, se o crime resulta de


inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de
prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou
foge para evitar prisão em flagrante.

§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as


conseqüências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção
penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por
milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de
extermínio. (Incluído pela Lei nº 12.720, de 2012)

FEMINICIDIO

Previsto na Lei nº 13.104 de 2015 como circunstância qualificadora do crime de


homicídio, Baseado no artigo 121 inciso VI CP : É a qualificação do homicídio que
tem como vítima a mulher

Crime contra a mulher por razões da condição de sexo feminino quando o crime
envolve:

I - violência doméstica e familiar;


II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher

A pena prevista para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos de reclusão.

A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:

I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;


II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com
deficiência;
III – na presença de descendente ou ascendente à vítima.

A Lei do Feminicídio alterou o inciso I do art. 1° da Lei n. 8.072/1990 (Lei dos Crimes
Hediondos), que passou a vigorar com a seguinte redação:
Art. 1°
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só a gente, e homicídio qualificado (art. 121, §2°, I, II, III,
IV, V e VI)

Por se tratar de um crime doloso contra a vida, o processamento e julgamento do delito


se dão pelo rito especial do Tribunal do Júri (Art. 406 a 497, CPP).

TENTATIVA DE HOMÍCIDIO

ARTIGO 14, INCISO II, DO CÓDIGO PENAL


A tentativa ocorre quando, não obstante praticados os atos de execução para a
ocorrência da morte, ela não advém [...] por circunstâncias alheias à vontade do agente.

LESÃO CORPORAL ART 129 CÓDIGO PENAL

Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;


II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2º Se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho;


II - enfermidade incurável;
III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V – aborto
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Motivação dos homicídios em Belo Horizonte

Comércio de drogas ilícitas 57 29,4%

Rivalidade 54 27,8%
Passional 25 12,9%

Desentendimento 20 10,3%
Vingança 12 6,2%
Ação policial 4 2,1%
Outros motivos 13 6,7%
Indefinida 9 4,6%
Total 194 100%
5.5 Tráfico de Drogas

O comércio das drogas ilícitas se transformou na principal matriz da incidência de


homicídios no Brasil .

Está elencado no Artigo 33 da Lei nº 11.343 de 23 de Agosto de 2006 que dispõe:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor
à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever,
ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) à 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) à


1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-
prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima
para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) à 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa.

§ 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu


relacionamento, para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses à 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) à


1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser


reduzidas de um sexto à dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos,
desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades
criminosas nem integre organização criminosa.
RESOLUÇÃO Nº 5, DE 2012.

O Senado Federal resolve:


Art. 1º É suspensa a execução da expressão "vedada a conversão em penas restritivas de
direitos" do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal nos autos do
Habeas Corpus nº 97.256/RS.

Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.


15 de fevereiro de 2012.

Conclusão

Diante dos conceitos legais dos crimes contra a vida baseados no nosso Direito
Penal pode-se descrever a importância da Radiologia Forense na medicina legal, pois a
mesma é utilizada para fins jurídicos e sociais, onde é possível usar essa ciência na
solução de crimes, para documentar provas que garantam culpabilidade, inocência ou
apenas provar a existência de um fato.

A Radiologia Forense esta relacionada com a criminalística, onde o Radiologista


e demais profissionais da área podem trabalhar no IML ajudando a recuperar provas de
um crime no cadáver após a ocorrência de um homicídio ou feminicidio causados por
PAF: (Projétil de Arma de Fogo ) que agiliza o processo penal contra os agentes
causadores do delito para que cumpram a pena aplicada a cada caso e para oferecer aos
familiares das vitimas pelo menos um conforto colaborando para desvendar as causas e
auxiliar a justiça a desvendar os posteriores culpados.

Referências Bibliográficas

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro, Impetus, 2008.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2007

HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 1955.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal: parte geral e parte especial. 4ª Ed.
rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008;

ESTEFAM, André. Direito penal - v. 1: parte geral (arts. 1 a 120). 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. 572 p. --- Localização: 343.2(81) / Es85d / v.1 / 6.ed
JAKOBS, Günther. Fundamentos do direito penal. Tradução: André Luis
Callegari. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003;

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