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Capítulo 3

ELEMENTOS DE HIDROMETEOROLOGIA

Juan Carlos Bertoni

3.1 A atmosfera terrestre

A atmosfera terrestre é a camada gasosa que envolve a Terra e a


acompanha em seus movimentos. A atmosfera é considerada subdividida em
camadas superpostas. Existem duas camadas principais, denominadas alta e
baixa atmosfera. A divisão entre ambas ocorre aproximadamente aos 20km de
altitude, na interface conhecida como estratopausa.
A alta atmosfera possui particular importância devido à presença no seu
interior de elementos especiais, camadas ionizadas, reações fotoquímicas,
etc., e pelos efeitos que a mesma produz sobre atividades tais como:
exploração do espaço e as comunicações. Para o hidr6logo, entretanto, dado
que esta camada possui apenas influência indireta sobre a distribuição das
águas superficiais, apresenta maior interesse o estudo da baixa atmosfera.
A baixa atmosfera subdivide-se em duas camadas separadas pela
tropopausa:

estratosfera: localiza-se entre a tropopausa e a estratopausa, possui


espessura variável e caracteriza-se por apresentar menor variação vertical da
temperatura do que as camadas mais próximas da terra. Nas regiões elevadas da
estratosfera encontra-se a subcamada de ozônio (03)' responsável pelo
controle da quantidade de radiação ultravioleta de origem solar que atinge a
Terra;

troposfera: compreendida entre a superfície terrestre e a tropopausa, a mesma


apresenta maior espessura no equador (aproximadamente 16000m) e menor nos
p6los (em média 8000m). Esta camada é o principal meio de transporte de massa
(água, partículas sólidas, poluentes, etc.), energia (energia térmica
recebida do sol), e quantidade de movimento (ventos) sobre a superfície da
terra, dando origem assim aos principais fenômenos meteorol6gicos de
interesse na hidrometeorologia.
Por estar em contato direto com fontes de partículas s61idas, a
troposfera possui, com relação às outras camadas, maior conteúdo de material
s6lido. Segundo observações, a concentração de partículas sólidas decai com a
54 Hidrologia

altura, conforme um gradiente exponencial. Este gradiente diminui com a


altura até tomar-se quase nulo. Para a água distribuída na atmosfera pode-se
admitir, como primeira aproximação, um comportamento similar ao das
partículas s6lidas.
Com relação à temperatura, observa-se, em média, valores mais altos nas
camadas pr6ximas à superfide terrestre. Isto indica que a fonte primária de
aquecimento do ar atmosférico é a pr6pria terra. Obviamente, a fonte original
é o Sol, mas, devido aos processos associados com o espectro de absorção da
atmosfera e os diferentes comprimentos de onda entre a energia incidente e a
emitida, s6 uma pequena parte do calor atmosférico provém diretamente do Sol.
As camadas inferiores do ar, por conterem maior quantidade de vapor de
água, gotas e partículas s6lidas, tomam-se mais eficientes para absorver a
radiação terrestre do que as camadas altas. Isto acentua o aquecimento
relativo das camadas mais baixas. Origina-se assim um gradiente vertical de
temperatura que permanece relativamente constante na troposfera. Na
estratosfera, entretanto, as variações de temperatura são menores e dependem,
em muito, da quantidade de ozônio. Esta quantidade varia com a latitude e a
estação do ano.
Quanto à pressão, admite-se que na troposfera a mesma varie com a altura
segundo um comportamento hidrostático (observe-se que no caso do ar a massa
específica varia com a altura). A figura 3.1 ilustra os comportamentos
citados.

Ar atmosférico: o ar atmosférico é uma mistura de gases que se constitui do


ar seco acrescido de vapor de água. A distinção entre gases e vapor de água
tem a ver com o comportamento desses dois tipos de substâncias.
É considerado um gás, qualquer substância gaseiforme que se encontre a
uma temperatura maior que a sua .temperatura crítica; caso contrário é
considerado um vapor. Temperatura crítica é a temperatura acima da qual o gás
não pode ser liquefeito por compressão. Logo, os vapores podem ser
liquefeitos por compressão, os gases não.
Na composição volumétrica do ar destacam-se o nitrogênio (78,08%) e o
oxigênio (20,95%). A proporção destes gases se mantém aproximadamente
constante com a altitude. O vapor de água, entretanto, apresenta porcentagens
altamente variáveis, no espaço e no tempo, (0% a 4%).

3.2 Umidade Atmosférica

A umidade atmosférica é um elemento essencial do ciclo hidrol6gico. Ela


é a fonte de todas as precipitações e controla enormemente a taxa de
evaporação do solo e reservat6rios, como também a transpiração dos vegetais.
A umidade do ar refere-se unicamente ao vapor de água contido na atmosfera,
não levando em consideração a água nos estados líquido e s6lido.
Elementos de Hidrometereologia 55

Tanto o ar seco como o vapor de água nas condições de pressão e de


temperatura observadas na troposfera comportam-se como gases perfeitos. São
ditos gases perfeitos aqueles que cumprem com a relação

p Vmo 1= aT (3.1)

onde p =a pressão absoluta do gas; VmoI = ao seu volume molar; T =a sua


temperatura absoluta; e a= a constante universal dos gases que, conforme a
lei de Avogrado, pode-se expressar por

a=MR (3.2)

onde M = a massa de um moI de gás (massa molar) e R = a constante


característica de cada gás Gá não mais universal).
Uma expressão alternativa para a equação 3.1 é

pv=RT (3.3)

onde v = o volume específico da substância, definido como a relação

Pressão, psia
-.i:20 -
<li -c::J
<l:
J286 o
JO
2 4 6 8 10 12 14 J6
Estratopau,a
18 20

42J8
E ~614

E, tra tosfera
Pre •• ãa ltrpica)

- - - - Tropopau,a- - - -----

Temperatura (Hpica)

Concentra~ão de
vapor d'água e
parHculo, su'pensa,
(qualitativa)

o
-70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 O 10
Temperatura (OC)

Figura 3.1. Perfil físico típico da atmosfera (Eagleson,1970)


56 Hidrologia

v=V mo 11M (3.4)

Pode-se observar que a relação 3.4 é a inversa da massa específica da


substância, p.
Para uma mistura de gases perfeitos, a lei de Dalton estabelece que, num
dado volume, cada um deles exerce uma pressão parcial, independente da dos
outros gases, igual à pressão que exerceria se fosse o único gás a ocupar o
volume. Sendo p a pressão atmosférica e Pa a pressão do ar seco, o vapor de
água exerce na atmosfera uma pressão "e"

e = p - Pa (3.5)

A pressão "e" é dita pressão parcial do vapor de água, ou simplesmente


pressão de vapor. A pressão do vapor de água é considerada uma medida da
quantidade de vapor de água presente no ar. As unidades usuais de "e" são:
milibar (mb), milímetro de mercúrio (mm Hg) ou Pascal (pa).

3.2.1 Relação entre o vapor de água e a temperatura do ar

Dado que nos movimentos habituais das massas atmosféricas as variações


de temperatura são mais significativas que as de pressão, pode-se considerar
que a quantidade de vapor de água que um certo volume de ar pode conter
depende, basicamente, da temperatura relativa do ar e aumenta com o aumento
desta última. Esta relação segue um comportamento aproximadamente exponencial
(figura 3.2).
Para uma dada temperatura existe uma quantidade máxima de vapor de água,
es, que o ar pode conter. Quando um certo volume de ar, a uma dada
temperatura, encerrar essa quantidade máxima, diz-se que o vapor é saturante
ou que a porcentagem de saturação é de 100%. Conforme observa-se na figura
3.2, à medida que a porcentagem de saturação aumenta, há um incremento no
gradiente de es.
Quando o ar possui uma pressão de vapor es é impossível comprimir o
vapor de água sob a forma gaseiforme, isto é, aproximar mais suas moléculas.
Portanto, quando o seu volume é reduzido (experiência de laboratorio) o vapor
saturante se liquefaz, condensa-se. Este efeito de condensação também ocorre
ao resfriar-se a massa de ar, pois tanto um como o outro processo tendem a
aumentar as forças de atração molecular e enfraquecer as forças de repulsão.
Na figura 3.3 são indicados três processos isobáricos naturais através dos
quais uma massa de ar com temperatura "T" e pressão de vapor "e" pode atingir
o estado de saturação, es.
Elementos de Hidrometereologia 57

2,6

2,4

2,2

•.
~""
2,0

: 1,8
o
•..
1,6

1,4 .•
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Il..
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1,2
~ E
LIJ
o 1,0
o

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fi)
LIJ
li:
Il..

0,4

0,2

o 10 20 30

Figura 3.2. Relação típica entre a temperatura relativa do ar e a pressão de


vapor

Quando por resfriamento, em temperaturas positivas, o ponto de saturação


for atingido, o excesso de vapor passa a condensar-se sob a forma de
minúsculas gotas líquidas que vão constituir, na atmosfera, as nuvens e o
nevoeiro. Esse fenômeno libera calor latente de condensação, sendo
aproximadamente de 600 calorias (2511,3 Joules) por grama de água condensada.
A temperatura à qual uma massa de ar de temperatura T e pressão p
deveria ser isobaricamente resfriada para atingir a condição de saturação do
seu vapor de água é denominada temperatura do ponto de orvalho, Td. Não se
deve confundir ponto de orvalho com orvalho, pois a primeira é uma
temperatura, associada à condição de saturação do ar, enquanto que a segunda
é um tipo de precipitação.
Para temperaturas abaixo do ponto de congelamento a tensão de saturação
58 Hidrologia

sobre o gelo apresenta valores inferiores àqueles sobre a água em estado de


sobrefusão1 (figura 3.4). Esta característica permite a formação de nuvens e
precipitações em regiões frias e é a: base da teoria de Tor Bergeron de
formação de precipitações.
Valores da tensão saturante de vapor es podem ser obtidos em função dos
valores da temperatura do ar T a partir de gráficos, tabelas ou f6rmulas,
como a de Tetens (Occhipinti, 1989):

es = 6,11 . lO(a' T)/(b + T) (3.6)

onde es = a tensão saturante do vapor em mb, T representa a temperatura do ar


em °C e a e b são valores constantes para a água (a=7,5 ; b=237,3) e para o
gelo (a=9,5 ; b=265,5).

3.2.2 Índices da umidade do ar

Além da pressão de vapor de água existem outros índices para avaliar a


umidade do ar. Os mesmos são apresentados a seguir.

es (T)
.Q p = Constante
E
.• I
4l
I
-QJ

C
~
I
o I
-o
•...
::J I
I
Ul " I
o -----------~ (T,e)
'0
Ul
C
~
Td

Temperatura do ar (OC)

Figura 3.3. Representação esquemática dos processos isobáricos


de saturação (Occhipinti,1989)

(1) Sobrefusão é o fenômeno pelo qual o líquido que se resfria, sob certas
condições, pode permanecer no estado líquido abaixo do seu ponto de
solidificação. É um caso de equilíbrio instável.
Elementos de Hidrometereologia 59

l- "O -oo•
10
"O
Q)
~
•a
'oo
c:
OE
.o 6,11
>....o
c:
I)Q)1Il
1Il
•....
Q)
Q)
l.aa

ESTADO
LíQUIDO

ESTADO
SÓL IDO

ESTADO
DE VAPOR

273

Temperatura do ar (OK)

Figura 3.4. Representação entre os diferentes estados de água e


a tensão saturante de vapor (Raudikivi,1979).

Umidade absoluta (Pv): é definida como a relação entre a massa de vapor de


água, ffiy, e o volume de ar que a contém.

(3.7)

Este Índice recebe também outras denominações tais como: massa


específica de vapor, densidade do vapor ou concentração de vapor de água.

Umidade relativa (U): é a relação percentual que expressa a quantidade real


de vapor no ar em termos relativos ao valor da saturação, para a mesma
temperatura.

U (%) = 100 . (eles) (3.8)

Umidade específica (q): é o quociente entre a massa de vapor de água e a


massa de ar úmido de densidade p que a contém
60 Hidrologia

q = mJ(ma+my) = Py/(Pa+Py) = py/p (3.9)

sendo ma a massa de ar seco e Pa a sua massa específica.

Razão ou teor de mistura (w): é a razão entre a massa de vapor de água e a


massa de ar seco com a qual o vapor se mistura.

w = rny/ma = py/Pa (3.10)

3.2.3 Relações entre os diferentes índices de umidade

Aplicando a expressão 3.3 ao ar seco e ao vapor de água obtém-se as


seguintes equações:

Pa = Pa' Ra' T (3.11)

e = py' Ry' T (3.12)

onde Ra e ~ são, respectivamente, as constantes específicas do ar seco e do


vapor de água, e as demais variáveis mantêm o significado dado anteriormente.
Adotando-se o valor 8,314 J/mol °K para r4 (este valor não é realmente
constante, varia ligeiramente para cada gás), e considerando a massa
molecular do ar seco, Ma = 28,98 g/mol, e a massa molecular do vapor de água,
My = 18,01 g/mol, resulta a relação

e = RalRy = 0,622 (3.13)

Substituindo as equações 3.5, 3.11, 3.12 e 3.13 na expressão da razão de


mistura, w, esta resulta

w = ê • e/(p-e) (3.14)

Dado que a pressão de vapor é muito menor que a pressão atmosférica,


pode-se considerar

w = ê . e/p (3.15)

Por sua vez, realizando o mesmo processo de substituição sobre a


Elementos de Hidrometereologia 61

expressão 3.9, a umidade específica, q, resulta

q=(e' e)/[p-(l-e)'e] (3.16)

Admitindo-se novamente e « p, obtém-se

q = e . e/p (3.17)

Portanto, na prática adota-se

q = w (3.18)

De acordo com as equações 3.15 e 3.17 a umidade relativa, U, resulta

U (%) = 100 . w/ws = 100 q/qs (3.19)

onde ws e qs se referem à condição de saturação.

3.2.4 Determinação da pressão de vapor de água

Na prática corrente, a umidade do ar é medida por meio de psicrômetros.


Os psicrõmetros possuem dois termômetros convenientemente ventilados por um
fluxo de ar, a uma velocidade da ordem de 10 m/s. Um destes termômetros é
simples e utiliza-se para determinar a temperatura do ar, T. O outro é
envolto em uma gaze permanentemente umedecida por capilaridade e a sua
leitura determina a temperatura do bulbo úmido, Tw'
Se o ar não está saturado, ao fluir pelo psicrômetro produz evaporação
de água do bulbo úmido. O calor latente necessário para essa evaporação é
retirado do fluxo de ar que ventila o bulbo úmido. Como conseqüência, o ar se
resfria, e o bulbo úmido passa a indicar uma temperatura Tw< T. Se o ar
estiver saturado ter-se-á Tw = T. A diferença (T-Tw) denomina-se depressão
psicrométrica e é proporcional ao déficit de umidade do ar, representado pela
diferença (ws·w).
Para determinar a pressão de vapor de água, e, utilizam-se fórmulas
psicrométricas do tipo:

es - e = A . P . (T - Tw) (3.20)

onde A = uma constante psicrométrica (empírica) obtida de tabelas em função


dos diferentes valores médios de pressão, p, T e Tw são fomecidas pelo
psicrômetros e a tensão de saturação, es, é obtida pela equação 3.2, ou
62 Hidrologia

similares. Conhecido o par de valores (T, e) é possível determinar os demais


índices da umidade do ar.
A temperatura do bulbo úmido, Tw' é sempre maior do que a temperatura do
ponto de orvalho, Td. Dado que as duas são definidas nas condições de
saturação e pressão constante, a razão desta diferença está no processo pelo
qual é resfriado o ar úmido. No ponto de orvalho o resfriamento do ar é
realizado mantendo-se constante o teor de umidade, enquanto que no bulbo
úmido o resfriamento é produzido pela evaporação, que eleva o teor de
umidade. Assim resulta es(Tw) > es(Td) e, portanto, Tw > Td•

3.3 Processos de transporte

Os principais mecanismos de transporte de energia, quantidade de


movimento e massa na atmosfera são os de radiação, condução e convecção.
A importância da radiação é evidente, dado que é o mecanismo mediante o
qual a energia solar ingressa na atmosfera. Seguindo um comportamento
diferente dos outros dois processos, a radiação é proporcional à temperatura
absoluta do corpo radiante. Assim, a baixas temperaturas os mecanismos de
condução e convecção são preponderantes, enquanto que a altas temperaturas a
radiação possui maior importância. Na temperatura do Sol, 6000 °K, a radiação
predomina; entretanto, na superfície da Terra, 278 o K, os três processos são
significativos.
O fenômeno de condução origina-se nos movimentos aleat6rios das
moléculas das substâncias presentes no ar (líquidas ou gasosas). Estes
movimentos dependem da temperatura. O transporte por condução molecular
origina-se com a contínua troca de posição das moléculas de regiões vizinhas.
Este processo pode permitir o transporte de calor, quando regiões vizinhas se
encontram a diferentes temperaturas. Também pode provocar um transporte de
quantidade de movimento, quando as camadas contíguas apresentarem diferentes
velocidades médias. No caso de sistemas fluidos constituídos por diversos
componentes (como é o caso da atmosfera), variações nas concentrações de cada
um deles provocarão, por condução, um transporte de massa, denominado
difusão.
Do ponto de vista hidrol6gíco o processo de difusão molecular mais
importante na atmosfera é devido ao vapor de água.
Os três tipos de transporte molecular citados (condução, convecção e
difusão) apresentam características análogas aos fenômenos de condução de
calor, quantidade de movimento e difusão, e permitem sua representação
mediante leis semelhantes (lei de Fourier relativa à condução de calor, lei
de Newton da viscosidade e primeira lei de Fick da difusão, respectivamente).
Elementos de Hidrometereologia 63

Na atmosfera, entretanto, existe um outro processo responsável por taxas


de transporte muito maiores que a provocada pelas trocas moleculares: a
convecção turbulenta. Dado que o movimento das massas de ar atmosférico s6
apresenta características lamínares em condições de grande calmaria, as taxas
mais importantes de transporte na atmosfera produzem-se por turbulência.
O movimento por turbulência pode ser interpretado de forma siinplificada
como um sistema de vórtices variando em escala e em intensidade, superposto
ao fluxo médio.

Formulação dos processos convectivos

A primeira lei da termodinâmica estabelece que o calor dQo; recebido por


um sistema, é igual ao incremento na energia interna do sistema dI, mais o
trabalho dW, realizado pelo mesmo. Analiticamente pode-se expressar como

dQo = dI + dW (3.21)
onde o sinal de dW é positivo, quando o trabalho é realizado pelo sistema
sobre o meio.
Na ausência de trabalho mecanlCO (bombeamento, compressão, etc) o
trabalho dW é aquele realizado pela superfície do sistema em expansão ou
contração, contra a pressão externa p, portanto resulta

dW = d(p . V) (3.22)

sendo V o volume do sistema. Admitindo que a pressão é praticamente


constante, a expressão 3.22 resulta

dW = P . dV (3.23)

Se o estudo é restringido a sistemas homogêneos é conveniente expressar


3.21 em termos de massa unitária. Portanto, dividindo pela massa do sistema
(e mantendo uma simbologia semelhante) resulta

dqo = di + dw (3.24)

Na ausência de movimento, gravidade e eletricidade, a energia interna


por unidade de massa de uma substância homogênea é função apenas da
temperatura e do volume. Substituindo i por u para referenciar esta
característica, a expressão 3.24 resulta

dqo = du + dw (3.25)
64 Hidrologia

ou
dqo :::;du + p dv (3.26)
onde v :::;o volume específico equação 3.4.
Para gases ideais pode-se demonstrar (Eagleson, 1970) que

(aujav)T :::;T . (apJaT)v (3.27)

sendo T :::;a temperatura e p :::;a pressão, ambas medidas em termos absolutos.


Combinando 3.27 e 3.3 resulta

(au/av)T:::; O
(3.28)

expressão que indica que para gases ideais a energia interna, u, é na


realidade função unicamente da temperatura.
A equação 3.26 pode ser expressa por

dqo :::;Cv . dT + p . dv (3.29)

onde cv :::;o calor específico a volume constante, definido segundo

(aujaT) V
:::;CV (3.30)

Diferenciando e rearranjando os termos da equação 3.3 resulta

p . dv :::;R . dT - v . dp (3.31)

Substituindo 3.31 em 3.29

dqo :::;(cv + R) . dT - v . dp (3.32)

Com base na equação 3.3

dqo :::;(cv + R) . dT - R . T . (dpjp) (3.33)

Definindo o calor específico a pressão constante, c , por


p

cp :::; (auj8T)p + [a(p' v)/B"I1p (3.34)


Elementos de Hidrometereologia 65

resulta

c =c +R (3.35)
p v

Assim a expressão 3.33 pode ser escrita na forma seguinte

(3.36)
dqo = cp . dT - R . T . (dp/p)

3.4 Transformações adiabáticas

A maioria das transformações que se verificam na atmosfera são tão


rápidas que os ganhos e perdas de calor podem ser desprezados. As
transformações de um sistema que ocorrem sem troca de calor com o meio
externo são ditas transformações adiabátícas.
Um gás ou vapor realiza uma transformação adiabática quando a passagem
do estado inicial ao estado final é realizada com base apenas na variação de
sua energia interna, sem receber ou ceder calor. As conseqüências imediatas
das transformações adiabáticas podem ser rapidamente visualizadas
considerando um gás contido num cilindro com paredes impermeáveis ao calor.
Se a expansão se fizer adiabatícamente, a energia necessária para executar
esse trabalho é extraída do próprio gás e ele se resfria. Se, pelo contrário,
ele for comprimido adiabaticamente, sua temperatura aumenta, pois o trabalho
de compressão converter-se-á em calor.
Num processo adiabátíco tem-se dqo = O, e, a partir da equação 3.36

dT/T = (R/cp) (dp/p) (3.37)

Integrando

(3.38)

onde To é a temperatura absoluta à pressão absoluta po, e

1-n=R/c =(c -c)/c ou


p p v p

n = c /c = 1/ 1,41 para o ar seco (3.39)


v p
Quando Po = 1000 mb a equação 3.38 resulta
66 Hidrologia

T/e = (p/1000)1-n (3.40)

onde e é dita temperatura potencial, a qual permanece constante durante


processos adiabáticos. Observa-se que a cada par de valores (T, p)
corresponde um valor de e. Portanto, esta última é utilizada para classificar
uma massa de ar úmida não-saturada, determinar sua estrutura vertical e
definir suas condições de estabilidade (abordadas mais adiante), desde que se
verifiquem transformações adiabáticas e que, ao longo destas, o ar não fique
saturado. O valor Po= 1000 mb geralmente é adotado como referência para
definir o nível da base do perfil atmosférico.
Combinando 3.3 e 3.38 resulta a seguinte relação da termodinâmica

1/n
p . v = constante (3.41)

ou

T . v(l/n - 1)
= constante (3.42)

Para uma parcela de ar seco em movimento vertical do tipo adiabático, a


equação 3.37 fica

1/T . (dT/dz) = (l-n)/p . (dp/dz) (:;.43)

onde z indica a direção vertical.


A pressão atmosférica a qualquer nível de altitude representa o peso
total por unidade de área de toda a coluna vertical de ar úmido (ar seco +
vapor de água) acima do ponto considerado. Sua variação com a altura segue a
lei hidrostática

dp/dz = -p . g (3.44)

Combinando as equações 3.3 e 3.44 resulta

dp/p = -g/(R . T') . dz (3.45)

onde T' é a temperatura absoluta da atmosfera à elevação z. Substituindo 3.45


em 3.43 obtém-se

dT/dz = - g . (l-n)/R . T/T' (3.46)


Este quociente é denominado gradiente vertical térmico correspondente à
adiabática seca, Ya, e tem aproximadamente o valor 9,8°ClKm. Este valor
Elementos de Hidrometereologia 67

independe da altitude e da umidade contida no ar, desde que a saturação não


seja atingida.
Se um volume elementar de ar não-saturado se eleva conservando sua
umidade, com o resfriamento atingirá a temperatura de saturação. A umidade
relativa será então de 100%. Qualquer diminuição subseqüente de temperatura
ocasionará condensação e desprendimento de cerca de 600 calorias para cada
grama de vapor de água condensada. Este calor latente de condensação é
absorvido pelo ar e, portanto, o gradiente adiabático se reduz. A variação de
temperatura de um volume de ar saturado com a altura denomina-se gradiente
vertical de temperatura da adiabática saturada, 15,

O valor de 15não é constante, tendendo até o valor 1a com o aumento de


altura. A explicação física deste fato está na diminuição de e5 à medida que
o ar vai-se resfriando, com o qual diminui também o calor latente de
condensação liberado pelo processo. Para condições médias (p=1000 mb e T=lO
0c), o gradiente 15 tem o valor de 5,3 °C/Km. Verifica-se assim que o
gradiente vertical da adiabática saturada é menor do que aquele da adiabática
seca.

Transformações pseudo-adiabáticas: no processo de expansão do ar saturado a


transformação só seria adiabática se não ocorresse a perda de alguma
quantidade de calor levada pelas gotas de chuva que poderiam cair assim que
houvesse a condensação. Na realidade, quando ocorre uma precipitação existe
uma pequena perda de calor. Para referenciar esta perda o processo é dito
pseudo-adiabático. A perda de calor é tão pequena que pode-se considerar que
a ascensão de uma parcela de ar saturado segue um gradiente praticamente
igual a 15, No entanto, dado que a perda representa um processo irreversível,
quando a mesma parcela tende a descer segue um gradiente mais próximo ao da
adiabática seca, 1a (Eagleson, 1970). Este mecanismo é responsável pela
elevação da temperatura que se observa em regiões localizadas a sotavento,
após a ocorrência de precipitações orográficas (figura 3.5).

3.5 Estabilidade atmosférica

Considere uma parcela de ar de massa unitária sujeita a seu peso próprio


e ao empuxo de Arquimedes. Orientando a vertical positivamente para cima e.
admitindo que a densidade específica da parcela seja p', e a do ar
circundante seja p, tem-se (Occhipinti, 1989):

peso: W = - g (3.47)

empuxo: E = P • lip' . g (3.48)


68 Hidrologia

A aceleração resultante será:

a = E + W = g . [p/p' - 1] = g . [(p-p')/p] (3.49)

Dado que as densidades específicas são inversamente proporcionais às


temperaturas absolutas, tem-se:

a = g . [(T'-T)m (3.50)

onde T e T' são, respectivamente, as temperaturas absolutas do ar circundante


e da parcela.

Nível de
condensaç;ão

x ou T

Figura 3.5. Processo de aumento da temperatura associado a


chuvas orográficas (Eagleson, 1970)

Condições de estabilidade da parcela

Considere a parcela estável no nível de pressão Po' Para que a partícula


esteja em equilibrio estático, deve-se ter:

a = O com o qual T = T' (3.51)

Elevando a parcela mediante um processo adiabático até um nível de


pressão p 1 < p O e temperatura T 1 , pode-se obter três condições distintas:
Elementos de Hidrometereologia 69

1
(l)T ;:;;T';
> T';
a<O
a;:;;
a>
< O
(2) T
(3)

Na condição (1) a parcela estará mais fria do que o ar circundante e assim


tenderá retomar ao nível Po de equilíbrio. Esta situação é de equilíbrio estável. A
situação (2) representa o caso contrário, portanto uma condição de equilíbrio
instável. No caso (3), a parcela tenderá a permanecer no nível de pressão Pl e,
portanto, é uma condição de equilíbrio indiferente.

Condição de estabilidade de uma curva de sondagem: as sondagens aerológi-


cas realizadas por meio de radiossondas fornecem a distribuição das variáveis p,
TeU ao longo do perfil vertical da atmosfera.
Considere-se uma curva de sondagem de uma camada de ar cujo gradiente
térmico vertical é Ye cujas coordenadas de temperatura e pressão de um ponto
qualquer da mesma são T e p, respectivamente. Admita-se que na base da cama-
da a temperatura do ar seja To e a pressão Po, e no topo da mesma estas variáveis
adotem os valores T1 e Pl . Deslocando-se adiabaticamente uma parcela situada
na base da camada para um nível de pressão p tal que PI < P < Po, pode-se
comparar a temperatura T', alcança da pela parcela no novo nível com a do meio
ambiente T e, assim, determinar a sua condição de equilíbrio na posição inicial
de pressão Po'
Ao comparar-se a curva de sondagem com as curvas adiabáticas seca e
saturada que passam pela posição inicial de coordenadas To e Po, pode-se consi-
derar três casos (figura 3.6).
Caso I: Y < Ys < Ya : equilíbrio absolutamente estável.
Esta condição implica que sempre T' < T e a parcela tenderá a retomar ao
nível Po'
Caso II: Y> Ya > Ys : equilíbrio absolutamente instável.
Neste caso ter-se-á sempre T' > T e a parcela tenderá a continuar subindo.
Caso lII: Ys < Y < Ya : equilíbrio condicionalmente estável.
70 Hidrologia

P + ''''s\
\
P].
I
I
\
,
\
I \
I \
I _
Por-I--
T1 To T T]. To T

CASO I : Y < rs < 'Oa CASO II : 'b> ra > ts


Absolutamente esta'vel Absolutamente instável
T > T' T < T'
P t \ \
,O's \ Os
\ \
\ \
Pj \
\
\
\
Pc \

Po

T1 Tj Te To T

CASO lU: Ys < '{ < Ta


Condicionalmente instável

Figura 3.6. Estabilidade atmosférica (Occhipinti, 1989)

Neste caso existem duas situações possíveis, conforme a parcela esteja


saturada ou não no nível inicial de pressão PO' Se a parcela estiver
saturada, ela seguirá a adiabática saturada e neste caso, ter-se-á T' > T e a
condição será a de equilíbrio instável. Se a parcela for não-saturada, ela se
eleverá através da adiabática seca até o nível de condensação pc' Deste nível
para cima, a parcela seguirá a adiabática saturada. Nesta situação a condição
de equilíbrio depende do nível atingido pela parcela na sua nova posição.
Se Ti e Pi são as coordenadas do ponto I, em que a adiabática saturada
que passa por Tc e Pc intercepta a curva de sondagem (valores medidos de
Elementos de Hidrometereologia 71

pressão, temperatura e umidade ao longo de uma trajetória percorrida pelo


balão sonda), e a parcela desloca-se apenas até um nível de pressão p > Pi
ter-se-á T' < T e a condição de equilíbrio é estável. Se a parcela tiver·
energia suficiente para alcançar um nível de pressão p < Pi ter-se-á T' > T e
a condição de equilíbrio é dita condicionalmente instável.

3.6 Temperaturas associadas a processos convectivos

Além das temperatura do ponto de orvalho, Td, e do bulbo úmido, Tw'


previamente definidas, existem outras temperaturas utilizadas nos processos
convectivos como referência das condições reinantes.
Denomina-se temperatura do nível de condensação, Tc' a temperatura
correspondente ao nível Pc até o qual é necessário elevar adiabaticamente uma
massa de ar não-saturado, que se encontra nas condições Po' To e wo' para que
atinja a saturação (figura 3.5). Verifica-se que a temperatura do nível de
condensação, Tc' é sempre menor do que a temperatura do ponto de orvalho, Td.
Temperatura pseudo-adiabática potencial do bulbo úmido, 8sw' é a
temperatura alcançada por uma parcela de ar úmido quando a mesma é elevada,
pelo processo adiabático não-saturado, até o nível de condensação e é
retomada ao nível de 1000mb pelo processo adiabático saturado (figura 3.7).
Quando, pelo mesmo processo, ~ parcela de ar úmido retoma ao seu nível
original de pressão, a temperatura é dita temperatura pseudo-adiabática do
bulbo úmido e é designada por Tsw. Na prática Tsw é aproximadamente igual à
temperatura do bulbo úmido, T w.
Da definição de 8sw se deduz que a mesma representa a adiabática
saturada que intercepta o ponto de condensação (figura 3.7). Uma parcela de
ar úmido ou saturado em toda sua evolução na atmosfera tende a guardar sempre
a mesma temperatura, 8sw. Portanto, esta temperatura é uma propriedade
intrínseca de uma massa de ar. A temperatura 8sw é utilizada para se
determinar a máxima água precipitável que pode ser contida em uma massa de ar
saturado.

3.7 Altura de água precipitável ou condensável

Define-se como a altura de lâmina de água equivalente à condensação de


todo o vapor de água contido em uma coluna de ar úmido. A massa de vapor de
água, dfi\., contida em uma coluna vertical elementar com altura dz e seção
transversal de área A, é :
72 Hidrologia

dmv = P
v • A . dz (3.52)

onde Py é a densidade do vapor de água. Conforme a expressão 3.44 a relação


entre a variação de pressão, dp, e a variação de altura, dz, em uma coluna de
ar úmido é

dp = - P • g . dz (3.53)

sendo P a densidade do ar úmido e g a aceleração da gravidade.

PJ p!
,
'W=Ws

Pc Pc

\ ~
, '\
, \
, \
, \
, 'fs
, \
1000
,, \
mb -- ----1- - ----~--
1~~01- 'o
I I I W
••
Tsw T 8sw 8c 8d 8
a-Esquema relativo às tempe- b- Esquema relativo às temperaturas
raturas de saturação potenciais

Figura 3.7. Relações adiabáticas e temperaturas associadas (Raudikivi,1979)

Substituindo-se a equação 3.53 na equação 3.52 resulta

dffiy = - (py • A)/(g . p) • dp (3.54)

e, levando em conta a rlefinição da umidade específica, q, tem-se


dmy = - (A/g)' q . dp (3.55)

Por sua vez, dffiy é


Elementos de Hidrometereologia 73

dmy = dV . Pw (3.56)

onde dV é o volume ocupado pela massa de vapor de água e Pw é a densidade da


água líquida. A altura diferencial de água precipitada, d ur , contida na
coluna elementar pode ser determinada segundo a relação indicadaa seguir

dur= dV/A-= (dilly/Pw) . l/A (3.57)

Substituindo-se a equação 3.55 na equação 3.57, tem-se

dur= - [1/(p w . g)] . q . dp (3.58)

A água precipitável, contida em uma coluna de ar atmosférico


compreendida entre dois níveis de pressão PI e P2' é obtida integrando-se a
equação 3.58, obtendo-se
P2

'fl!= - [1/(p w . g)] (3.59)


J q(p) . dp
PI
3 2
Adotando-se Pw = 1 g/cm ; g = 980 crn/s ; q em g/kg e p em mb resulta a
seguinte expressão de <iR em mm:
P2

(3.60)
<fl!= - 0,01 . J q(p) . dp
PI

A partir dos dados aero16gicos pode-se determinar a distribuição


vertical de q(p) com base:

a) nas equações 3.6, 3.16 e 3.19; ou


b) tabelas hidrometeorol6gicas; ou
c) diagramas termodinâmicos.

Os diagramas termodinâmicos são papéis que apresentam graficamente a


maioria dos processos a que estão sujeitas as massas de ar, tais como:
processos isobáricos, isotérmicos, adiabáticos e pseudo-adiabáticos. Estes
diagramas são um rápido meio de avaliação das mudanças físicas que ocorrem
nos movimentos de ascensão das massas de ar.
Um dos diagramas termodinâmicos mais usual é o emagrama. Nele são
apresentados as seguintes isolinhas:
74 Hidrologia

a) isotermas;
b) isobaras;
c) adiabáticas secas e úmidas;
d) razões de mistura saturantes.

As adiabáticas secas.são traçadas para cada temperatura potencial, a, em


função de T e p por intermédio da equação 3.40. Mediante um processo similar,
as adiabáticas saturadas são traçadas para cada valor de asw'em função de T
e p. P<lxaa razão de mistura saturante considera-se a equação 3.15. Na figura
3.8 é apresentado em detalhe um emagrama típico.
Na prática a integral 3.60 é satisfatoriamente estimada pelo
somat6rio:

0,8 1 2 3 4 5 10 20 gr/ko 400


300

400

zo 600
~
E
E
E o
le
700 III
o III
te 1&1
III a:
III Q.
1&1
a: 600 800
Q.

900
700
1000
1'••.
-40· -30· - 20· -10· O· 10· 20· 30·
TEMPERATURA

Atmosfera adiabática seca


Atmosfera adiaba'tica úmida
Curvas de igual razão de mistura

Figura 3.8. Detalhes do emagrama (Réméniéras, 1971)


Elementos de Hidrometereologia 75

'1IJ= - 0,01 L qi . . ~Pi (3.61)


i=l

onde N = o número de camadas em que se discretiza a sondagem, e qi e ~Pi são,


respectivamente, a umidade específica média (g/kg) e o decréscimo de pressão
em mb entre a base e o topo da camada i. A altura de água assim determinada
recebe a denominação de altura de água precipitável observada.

Máxima água precipitável a partir do ponto de orvalho á superfície: dado que


até o presente não se dispõe no Brasil de uma rede de estações de sondagens
aerol6gicas, as estimativas do potencial pluviométrico das tormentas que
ocorrem em cada área baseiam-se nos dados fornecidos pelas redes
meteorol6gicas de superfície (Occhipinti,1989).
Admite-se, como hip6tese conservadora, que nas ocorrências das tormentas
mais chuvosas, as massas de ar estejam saturadas desde a superfície até a
alta troposfera. Sob esta hip6tese, considera-se que a temperatura do ponto
de orvalho, Td, reduzida ao nível de 1000mb, se aproxima da temperatura
pseudo-adiabática potencial do bulbo úmido, esw' Conseqüentemente, a
distribuição vertical de umidade pode ser representada pelo ponto de orvalho
à superficie, decrescendo com a altitude segundo o processo pseudo-adiabático
saturado correspondente.
Neste caso a máxima água precipitável é obtida pela integral
Pt

'1IJ(Td) = - 0,01 . J qs(esw'p) . dp (3.62)


Po
onde Po e Pt são, respectivamente, as pressões na base e no topo da camada
considerada.
Na prática, a partir das observações meteorol6gicas de superfície,
conhecendo-se a temperatura do ar, T, a temperatura do bulbo úmido, Tw' e a
pressão p, determinam-se os valores de es (equação 3.6), de "e" (equação
3.20) e de Td. Esta última pode ser obtida alternativamente por tabelas, em
função de T e Tw' ou por f6rmulas como a indicada a seguir, deduzida a partir
da equação 3.14.

(3.63)

note-se que '1IJnão aparece explicitamente na equação.


78 Hidrologia

REFERÊNCIAS

1 - EAGLESON, P.S. 1970. Dynamic hydrology, New York: McGraw-Hill.


462p.

2 - OCCHIPINTI, A.G. 1989. Hidrometeorologia. In: Engenharia hidrológica.


Rio de Janeiro: ABRH, Ed. da UFRJ. 404p., p.17-141.

3 - RAUDKIVI, AJ. 1979. Hydrology. Oxford: Pergamon. 479p.

4 - RÉMÉNIÉRAS, G. 1971. Tratado de hidrologfa aplicada. Barcelona:


ETA, 515 p.

5 - SILVElRA, R. L. da. 1974. Hidrometeorologia I: notas de aula. Porto


Alegre: Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS. 2v.

6 - WIESNER, CJ. 1970. Hydrometeorology. London: Chapman and Hall.


232p.

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