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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA


FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
UNIVERSIDADE
CAMPUS DE JABOTICABAL ESTADUAL PAULISTA

APOSTILA DE
GEOLOGIA E MINERALOGIA

Prof. Dr. José Marques Júnior

Jaboticabal – SP
2005
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CAPÍTULO 1. O SOLO E O ECOSSISTEMA

1.1. Introdução

A agricultura é a exploração da energia solar possível pelo suprimento


adequado de água e nutrientes para manter o crescimento das plantas (MONTEITH,
1958).
O comportamento das plantas quer sejam pertencentes à vegetação natural
ou as referentes aos ecossistemas agrícolas, depende de uma série de fatores
diretos ou qualidades do ambiente e essas qualidades, por sua vez, dependem de
fatores indiretos .
Tabela 1. Qualidades ecológicas do ambiente agrícola e seus fatores determinantes (RESENDE, 1988).
Qualidade do ambiente quanto Fatores determinantes dessas
a fatores diretos qualidades (indiretos)
Latitude, altitude, exposição,
R - Radiação solar cobertura vegetal, nebulosidade,
unidade atmosférica, poluição
atmosférica
A - Água Precipitação, evapotranspiração,
solo, planta
T - Temperatura Latitude, altitude, exposição e
Abióticos constituição do solo
O - Oxigênio Drenagem e permeabilidade do
solo
G - Gás Carbônico Organismos, latitude, altitude,
exposição e atividade industrial
V - Vento Exposição, latitude, altitude,
relevo, continentalidade
N - Nutrientes Solo, organismos, clima
E - Suscetibilidade á erosão Precipitação, solo (inclui relevo),
Agrícolas cobertura
M - Impedimento à mecanização Relevo, textura, pedregosidade,
drenagem, tipo de argila
P - Pragas
Bióticos D - Doenças
H - Homem
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As qualidades se interdependem fortemente. Os nutrientes constituem uma


destas qualidades. As inter - relações de dependência entre os nutrientes (N) e os
fatores indiretos (solo , organismos , clima), e ainda as inter- relações entre os
nutrientes e outros fatores diretos, tais como radiação solar (R), água (A),
temperatura (T), arejamento do solo (O) e erosão (E), mostram a rede de relações
existente.

(a)
ORGANISMOS R

A T
NUTRIENTES
NUTRIENTES

SOLO CLIMA
E O

Figura 1 - Esquema mostrando nutrientes como dependendo (a) genericamente do solo , clima e
organismos, ( b ) das interações com outras qualidades do ambiente , como radiação
(R) , água (A), temperatura (T), oxigênio (O) e erosão(E) (RESENDE, 1988).

O homem, diante de seus problemas ambientais tem assumido duas atitudes:


ou os enfrenta tentando reduzi-los (práticas de redução), ou busca conviver com os
mesmos (prática de convivência). A adubação e a irrigação são práticas de redução
dos problemas de deficiência de nutrientes e água, respectivamente. O uso de
variedades tolerantes mostra o uso da prática de convivência.
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Tabela 2. Classificação das práticas agrícolas, em práticas de redução e de convivência. Estão


excluídos os deltas biológicos (pragas, doenças, etc), geográficos (localização, transporte etc.) e
sócio-econômicos.

Deltas Práticas de Redução Prática de Convivência


Nutrientes, F Adubação, calagem, aplicação de Espécies e variedades selecionadas;
gesso, adubação verde etc. agricultura nômade com pousio e
queima.
Água, A Irrigação, “mulch”, terraços, Espécies e variedades selecionadas;
sulcos. lavoura seca; plantas de ciclo curto e
época de plantio; culturas em faixas;
“mulch”.
Oxigênio, O Drenagem, enleiramento. Espécies (arroz) e variedades
selecionadas;
Erosão, E Terraceamento, cordões em Semeadura em curvas de nível;
contorno, terraços em patamar, culturas em faixas; cobertura do
banco ou escada; banquetas terraço; cultivos alternados; renques
individuais; enleiramentos de vegetação cerrada; agricultura
permanentes; valetamento; nômade, pequenos talhões;
coveamento e encordoamento do consorciação de culturas.
mato.
Mecanização, M Pouco usadas: nivelamento de Ajuste dos implementos cada vez
terreno; preparo de terraços; mais leves até a tração animal e
retirada de pedras. mesmo implementos manuais,
conforme o agravamento do desvio.
Ajuste do implemento (tamanho de
rodas, por exemplo).
Temperatura, T “Mulch”, sombreamento, combate Espécies e variedades selecionadas;
à geada, estufa, estufim época de plantio; profundidade de
(fermentação de material orgânico plantio.
e cobertura plástica).
Luminosidade, L Estufas, sombreamento, pintar Espécies e variedades selecionadas;
branco. época de plantio; sombreamento.
Gás Carbônico, C Direcionamento, decomposição Espécies, variedades e espaçamento.
biológica.
Vento, V Quebra-vento, alinhamento. Espécies e variedades selecionadas,
tratos conforme hora do dia.
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Poder-se-ia, por exemplo, representar esses problemas em forma de


um tetraedro, onde o homem estaria no topo, e os organismos, clima, solos seriam a
base. Organismos

Influência dos aspectos


sócio-econômicos

Solo Clima

Figura 2. Inter-relações representadas pelo tetraedro (Resende, 1982)

1.2 Os solos nos Ecossistemas

A posição do solo como divisor de ambientes é justificada pela sua posição


peculiar (Pedosfera) .

Atmosfera
Pedosfera

Biosfera

Hidrosfera

Litosfera

Figura 3. O solo (pedosfera) como “interface” entre litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera.
(Resende, 1988).
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Ecossistema é um sistema dinâmico e não há como compreender as relações


solo-planta sem esta atenção para o funcionamento deste sistema. A ecotessela
(fitotessela + pedotessela) engloba todo o ecossistema e permite, por exemplo, o
entendimento da ocorrência de um solo pobre e vegetação rica numa região
pluviosa (Floresta Amazônica) e solo pobre numa região com deficiência de água
(cerrado).

FITOTESSELA

ECOTESSELA
VEGETAÇÃO OU
TESSELA

PEDOTESSELA
c

ROCHA

Figura 4. Esquema mostrando o ecossistema (tessela) formado de fitotessela e pedotessela. A


ecotessela pode ser rica em nutrientes, estando estes praticamente só na fitotessela
(floresta amazônica) ou na pedotessela (caatinga) (Resende, 1988).
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Os solos mais profundos permitem a existência de um ecossistema mais


estável (Figura 5).

OPORTUNISTAS
MATÉRIA ORGÂNICA – BIOMASSA – FLUXO DE NUTRIENTES – DIVERSIDADE - ESTABILIDADE
ROCHA EXPOSTA

ESPÉCIES

ESPÉCIES ESTÁVEIS ESPÉCIES ESTÁVEIS


(MATA ABERTA) (MATA FECHADA )
PIONEIRAS
ESPÉCIES

SOLO

ROCHA-MÃE

Figura 5. Esquema simplificado da sucessão de ambientes. As espécies adaptadas às condições


adversas (à esquerda) apresentam grande capacidade de dispersão e usam a maior parte
de seu suprimento energético na reprodução. À direita, onde a estabilidade é regra,
predominam espécies capazes de vencer a competição por espaço, usando maior
quantidade de energia na especialização de funções. (Modificado de PASCHOAL, 1987)
Além disso, uma variação relativamente pequena no relevo pela ação das
forças bioclimáticas que transformam a rocha em solo, determina grandes variações
no solo.
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CLIMA E ORGANISMOS

PROCESSO

SOLO
S

ROCHA EXPOSTA
TEMPO
Figura 6. Fatores de formação do solo e pedogênese.

Quando as forças bioclimáticas são pouco intensas, como numa região mais
seca, ou a rocha for muito resistente, os solos mais velhos - como os Latossolos -
tendem a não existir e os imediatamente mais novos ocupam as suas posições.
A heterogeneidade de ambientes é, portanto, menor nos solos mais velhos
(Chapadões do Planalto Central) e maior nos solos mais jovens. No Agreste
Pernambucano, por exemplo, numa mesma propriedade existem solos que se
prestam a pastagem (capim-raiz), enquanto a mandioca, muito importante na
fabricação da farinha, só pode ser plantada nos solos mais profundos.
Essas idéias sobre a relação do solo com o ecossistema, foram extraídas da
apostila: Solos Tropicais, de autoria do Prof. Mauro Resende (NEPUT-Viçosa-MG).
Julgamos de extrema importância situar a litosfera no contexto global do
ecossistema. O entendimento da sua interação com as demais esferas permite
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visualizar as complexas fases de evolução do ecossistema sintetizadas nos atributos


do solo.
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CAPÍTULO 2. ESPÉCIE MINERAL

2.1. Introdução

Espécie mineral é qualquer fase cristalina de natureza inorgânica. Essa


definição impõe, de imediato, as 3 condições necessárias e suficientes para definir
espécie mineral: a - caráter inorgânico; b - ocorrência natural; c - estrutura
cristalina. Qualquer parte do universo que preencha essas 3 condições é espécie
mineral.
As rochas e os solos são formados, na sua quase totalidade, de minerais de
diferentes espécies. Todos os minerais têm em comum o fato de possuírem
estrutura cristalina. As propriedades de cada mineral decorrem da sua composição
química e da natureza cristalina, ou seja, da sua condição de cristal. Então, o
conhecimento do estado cristalino é fundamental para o estudo de mineralogia e,
portanto, dos solos.

2.2. Noções de cristalografia

A cristalografia é uma ciência que estuda o estado cristalino e foi


desenvolvida inicialmente como um ramo da mineralogia que estuda a estrutura
interna, a forma externa e as leis que governam o crescimento de cristais.
Todos os minerais tem uma determinada estrutura cristalina, isto é, seus íons
constituem um espaço cristalino próprio e privativo da espécie. Isto equivale a dizer
que cada espécie mineral pertence a um determinado sistema e possui uma cela
unitária específica.

2.2.1. Cristalinidade e Cela Unitária

A característica fundamental do estado cristalino é o arranjo regular dos


átomos, moléculas ou íons nas três direções do espaço. A distância, a partir da
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origem comum, a cada um dos átomos situados nos eixos cristalográficos X, Y e Z


define os parâmetros a0, b0 e c0 da cela unitária (Figura 7). Os eixos cristalográficos
definem os ângulos ,  e , que combinados com os parâmetros caracterizam as
substâncias cristalinas.

c0

 
b0 Y

a0 

X
Figura 7. Eixos cristalográficos X, Y e Z, parâmetros e cela unitária.

Alguns conceitos devem ser entendidos de maneira bastante clara:


- Estrutura cristalina: minerais de arranjo atômicos (e moleculares) regulares
de grande extensão em três dimensões.
- Estrutura não cristalina: não há o padrão anterior e o ordenamento dos
átomos é apenas local ou de pequena extensão. Ex.: Alofana.
- Estrutura para-cristalina: minerais tem ordenamento atômico em pelo menos
uma direção cristalográfica. Ex.:Iwojolita.

- Cela unitária: o arranjo espacial dos átomos de um determinado cristal pode ser
descrito pelo tamanho e forma de uma unidade estrutural tridimensional,
denominada cela unitária, e pelo padrão dos átomos contidos na mesma. A forma e
o tamanho da cela unitária são especificadas pelo comprimento de suas arestas e os
ângulos entre as mesmas (Figura 8).
10

)
b
01

)
10
(0

(0
y
b
(100) c
a a
x

Figura 8. Representação da cela unitária em cristal de goethita.

- Distância interplanar: é a distância entre dois planos paralelos do retículo cristalino,


os quais contêm átomos, moléculas ou íons e podem ser traçados arbitrariamente
(Figura 9). A distância interplanar é representada pela letra d e medida em
ângström, que é igual a 10-8 cm.

Figura 9. Representação do retículo cristalino, assinalando-se algumas famílias de planos possíveis,


com as distâncias interplanares d correspondentes.

- Espaçamento basal - é certo de que separa planos do retículo perpendicular ao


eixo cristalográfico Z, e que nos argilo-minerais é um plano de fraqueza pelo qual o
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mineral se quebra facilmente ao longo de superfícies planas. Esta última


propriedade denomina-se clivagem (Figura 10).

Y
X

Figura 10. Planos de clivagem da mica.

- cristais são onisotrópicos - sem características podem variar nas diferentes


direções cristalográficas.
- Desordem estrutural: a repetição infinita do padrão de átomos representa o cristal
ideal teórico. De fato, o cristal real apresenta desvios em relação ao ideal, que se
expressam como defeitos estruturais, sendo muito comuns em minerais dos solos.
Algumas causas: (a) variação na composição atômica de um cela para outra; (b)
deslocamentos direcionais de camadas que produzem diferentes arranjos no seu
empilhamento; (c) empilhamento de diferentes tipos de camadas formando
estruturas mistas, etc.

2.2.2. Sistemas Cristalinos


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Sistema Cristalino: dividindo-se o espaço em três planos, podemos produzir


celas unitárias de vários tipos, dependendo de como arranjamos esses planos. Por
exemplo, se os planos nas três direções estão espaçados de igual distância e
mutuamente perpendiculares, a cela unitária será cúbica. Neste caso, as dimensões
a, b e c são iguais e os ângulos entre eles são retos, ou a=b=c; e ===90º.
Atribuindo valores especiais ao comprimento dos eixos e ângulos, pode-se produzir
celas unitárias de vários tipos e conseqüentemente vários tipos de redes, desde que
os pontos das redes estejam localizados nas arestas das celas. Utilizando critérios
básicos de simetria, pode-se provar que apenas sete tipos diferentes de celas são
necessárias para abranger todas as redes possíveis. Estas redes correspondem ao
sete sistema cristalino, pelos quais todos os cristais podem ser classificados.
Algumas das 32 classes de cristais possuem características de simetria em
comum com outras o que permite sua transferência para grupos maiores
denominados sistemas cristalinos. Os seis sistemas cristalinos estão relacionados
abaixo com os eixos cristalográficos e a simetria característica de cada um.
Simetria isométrico  todos os cristais deste sistema possuem quatro eixos
ternários de simetria e são referidos aos três eixos perpendiculares entre si, de
comprimentos iguais (Figura 11).
Sistema hexagonal  todos os cristais deste sistema têm um eixo de simetria
único ternário ou senário. Eles são referidos a quatro eixos cristalográficos, três
eixos horizontais, iguais, cortam-se em ângulos de 120 o, o quarto é de comprimento
diferente e perpendicular ao plano dos outros três (Figura 11).
Sistema tetragonal  um único eixo de simetria quaternário caracteriza os
cristais deste sistema. Os cristais são referidos a três eixos mutuamente
perpendiculares; os dois eixos horizontais são de comprimento igual, mas o eixo
vertical é mais curto, ou mais longo, do que os outros dois (Figura 11).
Sistema ortorrômbico  este sistema apresenta três elementos de simetria
binária, isto é, planos de simetria ou eixos de simetria binários. São referidos aos
três eixos perpendiculares entre si, todos de comprimento diferente (Figura 12).
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Sistema monoclínico  estes cristais são caracterizados por um eixo de


simetria único, binário, ou por um plano de simetria único, ou pela combinação de
um eixo binário e um plano de simetria. Os cristais são referidos aos três eixos
desiguais, dois dos quais estão inclinados entre si formando um ângulo oblíquo,
sendo o terceiro perpendicular ao plano dos outros dois (Figura 12).
Sistema triclínico  possui um eixo de simetria unitário como sua única
simetria. Este pode ser um eixo simples rotatório, ou um eixo unitário de inversão
rotatória. Os cristais são referidos aos três eixos desiguais, que se cortam formando
ângulos oblíquos (Figura 12).

Figura 11. Proporção dos comprimentos de eixos e ângulos formados nos sistemas: (A) cúbico ou
isométrico, (B) tetragonal, (C) hexagonal. (a), (b) e (c) correspondem aos comprimentos dos
ângulos. ,  e  correspondem aos ângulos formados entre os eixos. À direita estão representadas
as figuras geométricas correspondentes e a forma mais comum de um mineral que se cristaliza
segundo o sistema (Popp,1988).
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Figura 12. Comprimentos dos eixos e ângulos formados nos sistemas: (D) ortorrômbico, (E) monoclínico ,
(F) triclínico (Popp, 1988).
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2.3. Princípio da coordenação

A formação dos minerais não é casual, obedece certas regras e teorias, das
quais o princípio de coordenação é uma das mais importantes.
Qualquer que seja o processo de gênese (solução, fusão, sublimação, etc.)
ao ser edificada a estrutura cristalina de um mineral, os íons iguais adquirem
vizinhanças iguais, que se repetem ordenadamente. A esse grupamento dá-se o
nome de coordenação - cátions e ânions tendem a grupar ao seu redor o maior
número possível de íons de carga contrária, ligando-se de modo igual a todos eles.
Número de coordenação (NC) de um íon em relação a outro de carga
contrária é o número de íons coordenados ao seu redor, isto é, é o número de
vértices do poliedro de coordenação.
Na caulinita, por exemplo, o NC de Si 4+ em relação a 02- é 4 e o NC de Al 3+ em
relação a OH- é 6 (Figura 13).

Figura 13. Estrutura espacial da caulinita.


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O número de coordenação de um íon em relação ao outro é função dos


tamanhos relativos dos íons coordenador e coordenado. Trata-se, em essência de
se determinar quantas esferas de um dado raio cabem ao redor de outra, de raio
diferente.
Na fluorita, por exemplo, cada íon cálcio está rodeado por 8 íons fluor
(coordenação 8) enquanto que cada íon flúor tem como vizinhos apenas 4 íons
cálcio (coordenação 4). Fica então evidente que essa estrutura possui o dobro de
íons flúor em relação aos íons cálcio, o que está de acordo com a fórmula CaF 2 e
com as valências usuais do Ca e do F.
No estudo de coordenação, não importa o diâmetro das esferas em valor
absoluto, mas sim o tamanho relativo do íon coordenador e dos íons coordenados.
Isto expressa-se pela relação de raios, RC/RA, onde RC é o raio do cátion e RA o
raio do ânion, em unidades “angstron”. Portanto, se o íon coordenador for Si 4+ e os
íons coordenados forem O2-, a relação de raios será RSi4+/RO2- = 0,42 Å/1,40 Å = 0,3.
Sempre que se tiver esferas cujos raios estejam nessa relação, é possível a sua
participação na configuração tetraédrica.
Em resumo, são os seguintes os tipos mais freqüentes de coordenação nos
minerais e seus respectivos limites de estabilidade.

NC TIPO DE COORDENAÇÃO RELAÇÃO DE RAIOS


12 cúbica compactada 1
8 cúbica 1 a 0,73
6 octaédrica 0,73 a 0,41
4 tetraédrica 0,41 a 0,22
3 triangular 0,22 a 0,15
2 linear < 0,15

Na Figura 14 aparecem esquematizados os seis tipos principais de


coordenação.
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COORDENAÇÃO 88
COORDENAÇÃO 12
12

COORDENAÇÃO 4
4

COORDENAÇÃO 66

3
COORDENAÇÃO 2
2 COORDENAÇÃO 3

Figura 14. Esquema dos principais tipos de coordenação.


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A tabela 3, mostra os valores de NC, calculados, observados na estrutura dos


principais minerais, dos cátions mais comuns em relação a O 2- (RO2- =1,40 Å).

Tabela. 3. Número de coordenação dos principais cátions em relação ao O 2- (RO2- = 1,40 Å).
CÁTION RAIO (Å) RC/RO2- NC CALCULADO NC OBSERVADO
Cs+ 1,67 1,19 12 12
Ba 2+
1,34 0,96 8 8 a 12
K +
1,33 0,95 8 8 a 12
Sr+ 1,12 0,80 8 8
Ca 2+
0,99 0,71 6 6a8
Na +
0,97 0,69 6 6a8
Mn2+ 0,80 0,57 6 6
Fe 2+
0,74 0,53 6 6
Li +
0,68 0,49 6 6
Ti4+ 0,68 0,49 6 6
Mg 2+
0,66 0,47 6 6
Fe 3+
0,64 0,46 6 6
Al3+ 0,51 0,36 4 4a6
Si 4+
0,42 0,30 4 4
As diferenças entre o NC calculado e observado pode ser explicado de diversas maneiras.

2.4. Substituição Iônica

Na natureza, as espécies minerais formam-se a partir de sistemas de


composição química muito complexa, de maneira que existe sempre a possibilidade
de um íon ser substituído por outro, durante a formação de uma determinada
espécie mineral. Ocorrem variações em suas composições químicas, podendo
atingir grandes proporções. A análise química de olivinas (Mg, Fe) 2 SiO4, mostra, nos
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diferentes exemplares, grande variação nos teores de Fe e Mg. Conhecem-se


olivinas de composições variando desde Mg 2SiO4 até Fe2SiO4, com todos os teores
intermediários de Mg e Fe. A análise de magnetita, FeFe 2O4 , revela teores variáveis
de Mn, Mg, Zn e Ni. Esses cátions aparentemente estranhos à composição química
do mineral, não são considerados como impurezas, localizadas em interstícios da
grade cristalina, mas fazem parte da estrutura do mineral, ocupando o lugar de outro
cátion. Na olivina, Mg e Fe ocupam posições equivalentes nos centros de octaedros
de coordenação. Na magnetita, Mn, Mg, Zn e Ni ocupam posições iguais às de Fe.
O fenômeno é chamado substituição iônica. Ao contrário do que a palavra
substituição sugere, não se trata da saída de um íon do retículo cristalino e da
entrada de outro no seu lugar. O fenômeno ocorre no momento da formação do
mineral: ao se reunirem cátions e ânions para formar as vizinhanças, cuja repetição
ordenada formará o mineral, um determinado sítio da estrutura pode ser ocupado
por qualquer íon que preencha as condições de tamanho e carga requeridas pelo
edifício cristalino e que esteja disponível no ambiente de formação.
Embora a substituição iônica seja mais freqüente entre os cátions, também é
comum entre ânions. Na apatita Ca5 (F, Cl, OH) (PO4)3, os ânions F-, OH- e Cl-
substituem-se mutuamente em todas as proporções. A predominância de um ânion
sobre os demais caracterizará um fluorapatita, cloroapatita ou hidroxiapatita. Ainda
nos fosfatos, é comum a substituição de (PO 4)3- por (ASO4)3- ou (VO3)3- em qualquer
proporção.
A substituição iônica em minerais leva à formação de soluções sólidas, que
são verdadeiras soluções de um sólido em outro. O cristal é perfeitamente
homogêneo e nele não se reconhecem parte de um sólido ou de outro. É, portanto, a
formação de soluções sólidas e é função principalmente do tamanho dos íons
envolvidos. A presença de um íon na estrutura está condicionada a uma exigência
de espaço, que deve ser suficiente para comportar o seu tamanho.
A substituição iônica entre íons de tamanho diferente é afetada pela
temperatura e é facilitada quando os íons envolvidos têm a mesma carga elétrica
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(valência). Esse fator, entretanto, não é limitante quando a diferença de carga for
igual a 1.
Substituições entre íons de cargas diferentes ocorrem paralelamente a outras
substituições compensatórias.
Geralmente, diferenças de cargas superiores a 1 dificultam ou impedem
substituições, possivelmente por dificuldades no restabelecimento do equilíbrio de
cargas, mesmo quando o tamanho não é fator limitante.
As substituições iônicas de cátions de maior valência por cátions de menor
valência nem sempre são compensadas na estrutura de alguns minerais,
principalmente nos minerais de argila, resultando, como conseqüência um excesso
de cargas negativas.
A quantidade de cargas negativas existentes no solo é medida pela
Capacidade de Troca de Cátions - CTC. É expressa em equivalentes miligrama por
100 gramas de material (meq/100 g) e quando originada devido a substituição iônica
é chamada de CTC permanente.
Na tabela 4. encontram-se valores da CTC permanente de alguns minerais
comuns do solo.

Tabela 4. Capacidade de Troca de Cátions - CTC - permanente de alguns minerais comuns do solo.
Mineral CTC permanente (meq/100 g)
MONTMORILONITA (ESMECTITA) 112
VERMICULITA 85
ILITA 11
CAULINITA 1
GIBBSITA 0
GOETHITA 0

A quantidade e o tipo de carga existente no solo é de extrema importância pois


relaciona-se com inúmeras propriedades químicas e físico-químicas dos solos,
principalmente relacionadas a sua fertilidade.

2.5. Espécie Mineral


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Espécie mineral é qualquer fase cristalina da natureza inorgânica. As


condições desta definição admitem as seguintes considerações:
a) caráter inorgânico. Estão excluídas da definição todas as substâncias
orgânicas.
b) ocorrência natural. Excluem-se da definição todas as substâncias
elaboradas pelo homem. Toda espécie mineral ocorre espontaneamente na
natureza inorgânica.
c) composição química. Toda espécie mineral tem composição química
definida, comum a todos os cristais da espécie.
d) estrutura cristalina. Todos os minerais têm uma determinada estrutura
cristalina, isto é, seus íons constituem um espaço cristalino próprio e privativo da
espécie. Isto equivale a dizer que cada espécie mineral pertence a um determinado
sistema e possui uma cela unitária específica.

PROPRIEDADES ESSENCIAIS

A composição química e a natureza da estrutura cristalina são as


propriedades essenciais de uma espécie mineral, uma vez que é da sua interação
que resulta o conjunto de propriedades da espécie.
Decorrem, então, os princípios básicos da Mineralogia:
1) Cada espécie mineral possui um conjunto de propriedades que a distingue
das demais.
2) Cada cristal de uma mesma espécie mineral exibe o mesmo conjunto de
propriedades, onde quer que se encontre e independentemente do seu tamanho.

2.6. Classificação das espécies minerais

O critério de classificação consiste em pelo menos um atributo comum entre


um dos elementos de uma mesma classe.
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O critério utilizado pode obedecer ao objetivo a que se destina a classificação;


a) Características cristalográficas. Os minerais podem ser classificados dentro
dos 6 sistemas já descritos: minerais isométricos, tetragonais, hexagonais,
ortorrômbicos, monoclínicos e triclinicos .
b) Propriedades físicas. Qualquer propriedade física pode ser usada como
critério de classificação: densidade, cor, dureza, brilho, etc.
c) Elementos presentes. Reúnem-se em uma mesma classe, minerais
contendo o mesmo elemento.
d) Processo genético. Grupa seus minerais de acordo com o seu processo de
gênese: magmático, metamórfico, sedimentar, pneumotolítico, hidroternal, etc.
e) Composição química. As espécies são classificadas de acordo com a
natureza do grupo aniônico, o que confere à classificação uma precisão e coerência
que outros critérios não possuem.
Na tabela 5. estão representados as principais classes de classificação dos
minerais, segundo o critério de composição química.

Tabela 5. Classificação dos principais minerais baseado na composição química (Popp, 1988).
ELEMENTOS
Metais nativos Semimetais nativos
Ouro Au Arsênio As
Prata Ag Bismuto Bi
Cobre Cu Não - metais nativos
Platina Pt Enxofre S
Ferro Fe Diamante C
Grafita C
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ÓXIDOS
Óxidos anídricos Óxidos hidratados
Cuprita Cu2O Diaspóro AIO(OH)
Gelo H2O Goethita FeO(OH)
Cincita ZnO Manganita MnO(OH)
Coríndon Al2O3 Limonita FeO(OH).nH2O
Hematita Fe2O3 Bauxita Hidratados de Alumínio
Ilmenita TiFeO3 Psilomelano BaMnMn8O16(OH)4
Espinélio MgAl2O3
Magnetita Fe3O4
Franklinita (Fe, Zn, Mn) (Fe, Mg)2O3
Cromita FeCr2O4
Crisoberilo BeAl2O4
Cassiterita SnO2
Rutílo TiO2
Pirolusita MnO2
Columbita (Fe, Mn) (Nb, Ta)2O6
Uraninita UO2
SULFETOS
Argentita Ag2 S Covelina CuS
Calcocita Cu2S Cinábrio HgS
Bornita Cu5FeS4 Estibina Sb2 S3
Galena PbS Pirita FeS2
Blenda ZnS Marcasita FeS2
Calcopirita CuFeS2 Arsenopirita AsFeS
Pirrotita Fe1-XS Molibdenita MoS2
Niquelita Ni As
SULFOSSAIS
Polibasita S11Sb2Ag16
SAIS HALÓGENOS
São compostos dos halógenos flúor, cloro, bromo e iodo com metais.
Halita NaCl
Silvita KCl
Fluorita CaF2
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CARBONATOS
Grupo da Calcita Grupo da aragonita
Calcita CaCO3 Aragonita CaCO3
Dolomita CaMg (CO3)2 Witherita BaCO3
Magnesita MgCO3 Estroncianita SrCO3
Siderita FeCO3 Cerusita PbCO3
Rodocrosita MnCO3
Smithsonita ZnCO3 Carbonatos básicos de cobre
Malaquita Cu2CO3 (OH)2
Azurita Cu3(CO3)2 (OH)2
NITRATOS
Nitro de sódio NaNO3
Nitro KNO3
BORATOS
Boracita Mg3 B7O13 Cl
Boráx Na2B4O7.1OH2O
SULFATOS E CROMATOS
Sulfatos anídricos Sulfatos básicos e hidratados
Glauberita Na2Ca (SO4)2 Gipsita CaSO4 . 2H2O
Barita BaSO4
Celestina SrSO4
Anglesita PbSO4
Anidrita CaSO4
Crocoíta PbCrO4
FOSFATOS ARSENIATOS E VANADATOS TUNGSTATOS E MOLIBDATOS
Monazita (Ce, La, Y, Th) PO 4 Wolframita (Fe, Mn) WO 4
Apatita Ca (F, Cl, OH) (PO 4)3 Scheelita Ca WO4
Piromorfita Pb6 Cl (PO4)3 Wulfenita PbMoO4
Turquesa CuAl6 (PO4)4 (OH)8 . 2H2O
(Tectossilicatos)
Grupo do quartzo
Quartzo SiO2
Tridimida SiO2
Cristobalita SiO2
Opala SiO2 . nH2O
25

Grupo dos Feldspatos


Ortoclásio KalSi3O8
Microclínio KalSi3O8
Albita * NaAlSi3O8
Oligoclásio * (Na, Ca) (Al, Si)4O8
Andesina * (Na, Ca) (Al, Si)4O8
Labrodorita * (Na, Ca) (Al, Si)4O8
Bytownita * (Na, Ca) (Al, Si)4O8
Anortita * CaAl2Si2O8
Grupo dos feldspatóides
Leucita KAlSi2O6
Nefelina (K, Na) (AlSiO4)
Sodalita Na4 (AlSiO4)3Cl
Família das zeolitas
Heulandita Ca (Al2Si7O18) . 6 H2O
Estilbita Ca (Al2Si7O18) . 7 H2O
Natrolita Na2 (Al2Si2O10) . 2 H2O
Analcima Na (AlSi2O6) . H2O
Filossilicatos
Caulinita Al4Si4O10 (OH)8
Talco Mg3Si4O10 (OH)2
Serpentina Mg6Si4O10 (OH)8
Clorita ** Mg3Si6O10(OH)2 .Mg3 (OH)6
Moscovita ** KAl2 AlSi3O10 (OH)8
Biotita ** K (Mg, Fe)3 AlSi3O10 (OH)2
Lepidolita ** K2Li3Al3 (AlSi3O10)2 (OH, F)4
Inossilicatos
Anfibólios
Tremolita Ca2Mg5Si8O22
Actinolita Ca2 (Fe, Mg)5SiO8O22
Hornblenda Ca2Na (Mg, Fe)4 (Al, Fe, Ti) (Al, Si)8O22 (O, OH)2
Piroxênios
Diopsídio (Mg, Ca) Si2O6
Augita (Mg, Fe, Ca) Si2O6
Enstatita MgSiO3
Hiperstenio (Mg, Fe)SiO3
26

CICLOSSILICATOS
Berílio Be3Al2 (Si6O18)
Turmalina (Na, Ca) (Al, Fe, Li, Mg)3Al6 (BO3)3 (Si6O16) (OH)4
SOROSSILICATOS
Epidoto Ca2 (Al, Fe)Al2O (SiO4) (Si2O7) (OH)
Idiocrásio Ca10 (Mg, Fe)2 Al2(SiO4) (Si2O7) (OH)4
NESOSSILICATOS
Grupo da olivina (Mg, Fe)2 (SiO4)
Grupo da granada (Mg, Fe, Mn, Ca)3 (Al, Fe, Cr)2 (SiO4)3
* Série do plagioclásios
** Micas

2.7. Minerais das rochas e dos solos

Existem dois grupos de minerais que possuem grande importância no


contexto agronômico como constituintes de rochas e de solos: grupos dos silicatos e
grupo dos óxidos e hidróxidos.
Os principais minerais constituintes de rochas e, portanto, significativos como
material de origem de solos, pertencem ao grupo dos silicatos. Rochas comuns,
extremamente abundantes e disseminadas, como granitos, diabásios, basaltos,
arenitos, quartzitos, gnaisses e outras são quase inteiramente constituídas de
silicatos, conforme se verifica nos exemplos (Figura 15.) de composições
mineralógicas, em que os minerais do grupo dos silicatos estão assinalados com (*).
27

SiO4 -4

-4

0-2
Si+4

Figura 15. Esquema de tetraedros (SiO 4)-4.

Visando ao conhecimento de solo, é essencial uma atenção às classes dos


silicatos, como já foi dito, e dos óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio, estando
estes associados aos silicatos e também apresentam-se comumente em áreas
significativas do território brasileiro.

- Defina com suas palavras a Capacidade de Troca Catiônica (CTC). Em que medida
ela é expressa ?
CTC são cargas negativas presentes no solo. A CTC é expressa em
equivalentes miligrama por 100 g de material.
28

- citar (apenas citar) os 6 sistemas cristalinos.


- sistema isométrico;
hexagonal;
tetragonal;
ortorrômbico;
monoclínico;
triclínico;

- O que você entende por substituição iônica ? Quais os fatores que condicionam a
substituição iônica ?
A substituição iônica seria a troca de íons ou grupos de íons em uma
estrutura cristalina por um outro íon ou grupo iônico. Os fatores que condicionam
são: 20 tamanhos relativos dos íons envolvidos, a temperatura a qual se forma o
mineral e a carga ou valência dos íons.
Quanto mais próximos os raios iônicos dos elementos envolvidos, mais fácil é
a substituição. Quanto mais alta a temperatura , maior a possibilidade de troca. A
substituição é facilitada quando os íons tem a mesma valência, porém, aceita-se
uma diferença de até 1 unidade.
29

CAPÍTULO 3. GRUPO DOS ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS

3.1. Generalidades
Os óxidos e hidróxidos constituem uma extensa classe de minerais em que os
cátions de um ou mais metais estão combinados com O 2- ou OH-, sendo que um dos
cátions pode ser H+.
A maior parte dos óxidos e hidróxidos está localizada na parte superior da
litosfera, em contato com a atmosfera e, portanto, com oxigênio livre. Decorre daí
sua importância, porque é precisamente este o cenário em que se formam os solos.
Os óxidos e hidróxidos são classificados de acordo com o número de íons O 2-
ou agrupamentos OH- e quanto ao(s) cátion(s) acompanhante(s).
Sendo A e B cátions, a classificação dos principais óxidos e hidróxidos é
apresentada na Tabela 6, assinalando-se com maiúsculas os de maior interesse
para solos.
Tabela 6. Classificação dos óxidos e hidróxidos.
ÓXIDOS EXEMPLOS
1- Tipo A2O H2O gelo
Cu2O cuprita
2- Tipo AO ZnO zincita
CuO tenorita
MgO periclasita
3- Tipo AO2 SnO2 cassiterita
TiO2 rutilo
MnO2 manganita
UO2 uraninita
ThO2 thorianita
4- Tipo A2O3 Al2O3 coríndon
Fe2O3 HEMATITA
5- Tipo ABO3 CaTiO3 perowskita
FeTiO3 ILMENITA
6- Tipo ABO2 HAlO2 diásporo
HFeO2 GOETHITA
7- Tipo AOOH AlOOH boemita
FeOOH LEPIDOCROCITA
8- Tipo AB2O4 MgAl2O4 espinélio
FeCr2O4 cromita
BeAl2O4 crisoberilo
FeFe2O4 MAGNETITA
HIDRÓXIDOS
A (OH)n Mg(OH)2 BRUCITA
Al(OH)3 GIBBSITA
30

A maioria dos óxidos de Al, Fe, Mn é uma parte dos de Si e Ti, são
NEOFORMAÇÕES TÍPICAS DA PEDOGÊNESE. Sua extensão de formação
depende das condições de Intemperismo - lixiviação:
- Dessilicatização lenta = predomina formação de argilominerais
acompanhada de óxidos;
- Dessilicatização rápida = concentram-se principalmente os óxidos de Al e
Fe.

Estes minerais ocorrem na forma de cristais muito pequenos, unidos em


microagregados ou depositados na superfície de outros minerais, e assim
disseminados no solo; ou em acumulações localizadas (mosqueados, nódulos,
concreções, ferricretes, lateritas, placas, etc.) o que se destacam no solo ou na
paisagem.

PROPRIEDADE DOS ÓXIDOS

O desenvolvimento de carga variável nos óxidos origina-se de grupos OH


periféricos.
As cargas desenvolvem na superfície hidroxiladas por dissociação ou
adsorção de prótons.
pH no qual, em ausência de adsorção específica, a superfície não tem carga
é denominado ponto isoelétrico (PIE);
pH onde carga superficial líquida é zero - PCZ
pH do PCZ do quartzo < 2; anatásio 6-7
A matéria orgânica, óxido Si, fosfato e argila minerais diminuem PCZ dos
óxidos;

A. Quando o pH é mais ácido que o PCZ, a superfície do óxido gera carga (+),
atraindo ânions (Si e P).
31

B. Quando o pH é mais alcalino que o PCZ, a superfície do óxido gera carga (-),
atraindo cátions.

3.2. Óxidos e Hidróxidos de Ferro

Ferro é um dos principais constituintes da litosfera (5,1%). Nas rochas


magmáticas e metamórficas ocorrem, principalmente nos silicatos
ferromagnesianos, na forma Fe 2+. Nos solos, o teor médio de ferro é da ordem de
4%, podendo chegar até 35% em solos derivados de basaltos e diabásios.
As duas formas de oxidação do Fe: Fe 2+ e Fe3+ e condições ambientais
influem na formação, transformação e características dos diferentes minerais de
ferro.

PRINCIPAIS ÓXIDOS DE FERRO SISTEMA CRISTALINO


Goethita Ortorrômbico
Lepidocrocita Ortorrômbico
Ferrihidrita Hexagonal
Hematita Hexagonal
Maghemita Cúbico
Magnetita Cúbico

 Goethita:  - FeOOH - isoestrutural do diásporo  - AlOOH. Planos de


átomos de oxigênio em empacotamento hexagonal denso. Os Fe 3+ ocupam posições
octaedrais. Ocorre em quase todos os tipos de solos e de regiões climáticas. Pode
ocorrer associada à hematita.
 Lepidocrocita:  - FeOOH - é um polimorfo da goethita e isoestrutural com a
boehmita  - AlOOH, consistindo em uma modificação cúbica do FeOOH. Os átomos
Fe+3 ocupam posições octaedrais e arranjados em fitas duplas de octaedros como
na goethita. A lepidocrocita é menos freqüente nos solos do que a goethita e
hematita. As condições hidromórficas, nas quais a falta de oxigênio favorece a
32

formação e precipitação de formas de ferro bivalente, são aquelas onde sua


presença é mais marcante.
 Ferrihidrita: óxido de Fe3+ com elevado grau de desordem estrutural - 5
Fe2O3 - 9 H2O. É uma hematita semelhante a ferrugem, rico em água adsorvida e
muitas vezes associado à matéria orgânica. Sua ocorrência em canais de drenagem
ou junto a fontes de água é muito freqüente.
 Hematita:  Fe2O3 é isoestrutural do corindon  - Al2O3, Fe3+ ocupa 2/3 das
posições octaedrais. Cada Fe 3+ é rodeado por 6 oxigênios e cada oxigênio
compartilhado por 4 íons Fe 3+. É um mineral característico de climas quentes e
úmidos, estando ausente em solos de clima temperado. Sua capacidade de
pigmentação (cor vermelha) é maior que a goetita, cujo efeito mascara,
particularmente nas formas finamente dispersas.
 Maghemita:  Fe2O3 - quimicamente igual à hematita e estrutura similar a
magnetita. Sua origem está associada, em ambientes mal drenados, à presença de
hidróxidos de Fe 2+ e Fe3+ que, por oxidação e desidratação, dariam origem a
maghemita, tendo magnetita como mineral intermediário. é mineral especialmente
comum em solos altamente intemperizados de climas tropicais, embora ocorra
também em regiões temperadas.
 Magnetita: litogênica de rochas ígneas, metamórficas e sedimentares.
Pode ser formada na solução durante oxidação do Fe 2+. Pode estar na fração
pesada (areia) dos solos. É óxido Ferroso - Férrico, mas vários elementos traços
(Co, Ni, Zn, Cu, Mn e Cr) podem substituir Fe (< 1%) na estrutura. Sua presença é
facilmente detectada por imã, devido ao seu caráter fortemente magnético.
Um resumo das principais propriedades dos óxidos de ferro de ocorrência
comum nos solos é vista na tabela 7.
33

Tabela 7. Propriedade dos óxidos de ferro de ocorrência comum nos solos.


Propriedade Nome do Mineral
Hematita Maghemita Magnetita Goethita Lepidocrocita Ferrihidrita
Fórmula =Fe2O3  = Fe2O3 FeFe2O4 HFeO2  - FeOOH Fe5HO8 .
4H2O
Fe5 (O4 . H3)
Sistema Hexagonal Cúbico Cúbico Ortorrômbico Ortorrômbico Hexagonal
Cristalino
Dimensão da a=5,04 a=8,34 a=8,39 a=4,65 a=3,88 a=5,08
cela c=13,77 b=10,02 b=12,54 b=9,49
c=3,04 c=3,07
Densidade 5,26 4,87 5,18 4,37 4,09 3,96
AGºkcal/mol -177,7 163,6 -243,1 -117,0 -114,0 -166,5
Cor Vermelho Bruno Preto Bruno Vermelho Bruno
(Munsell) Escuro Avermelhado Avermelhado Avermelhado
Forma dos Hexagonal Cubos Cubos Acicular Folhas Esférico
cristais Chato Alongadas
(Comum)

Os óxidos de ferro são responsáveis, junto com a matéria orgânica pela cor
do solo, participam de uma série de reações químicas importantes relacionadas à
fertilidade do solo.

Preciptação (mm)

T ( ºC )

[Óxidos no Solo]

INTERIOR LITORAL
Hematita ( Fe2O3 ) Goethita ( Fe2O3 )
Figura 16 – Ambiente de formação dos óxidos de ferro.
34

3.3. Óxidos e Hidróxidos de Alumínio

Alumínio é um dos mais abundantes elementos da litosfera (8,1%) e dos solos


(média de 7%). Constitui, com oxigênio e silício, 82,5% da crosta (93% em volume),
formando o arcabouço dos silicatos, o mais importante grupo de minerais.
Os principais óxidos e hidróxidos de alumínio estão agrupados na tabela 8.

Tabela 8. Principais óxidos e hidróxidos de alumínio.

NOME FÓRMULA
Diásporo  - AlOOH
Boehmita - AlOOH
Bayerita  - Al (OH)3
Gibbsita - Al (OH)3
Norstrandita Al (OH)3
Coríndon  - Al2O3

Os mais comuns em solos Gibbsita e Boehmita.


Gibbsita, Bayerita e Norstrandita são constituídos pela mesma estrutura
fundamental: dois planos de íons OH em empacotamento hexagonal denso C/Al 3+
entre eles.
O óxido de alumínio A2O3 corindon, é isoestrutural com a hematita; é um
mineral primário formado em altas temperaturas (> 450 oC) achado em rochas ígneas
e metamórficas e é pouco comum em solos.
Gibbsita é a mais comum das modificações polimórficas de Al(OH) 3 e é
mineral comum em muitos solos. É comum, também, em depósitos bauxíticos.
Experimentos de síntese mostram que à temperatura ambiente a gibsita
forma-se em soluções ácidas (pH < 6), onde a hidrólise é mais lenta.
O diásporo é encontrado em bauxitas lateríticas, e em condições de síntese
em condições ambiente.
35

3.3.1. Propriedades Químicas e Físicas

Óxidos de Al possuem baixa CTC e alta capacidade de adsorção P e Si,


sulfato de nitrato.
Alta capacidade de agregação, até maior que óxidos de Fe com aumento dos
teores de óxidos de Fe e Al nos latossolos, a estrutura revela-se maior e mais
arredondada (microestrutura granular); aumento da taxa de infiltração de água e
porosidade, e diminuição nos valores de densidade do solo.
36

CAPÍTULO 4. GRUPO DOS SILICATOS

4.1 Generalidades

Os minerais podem ser divididos e agrupados de diversas formas, sendo uma


das mais empregadas, didaticamente, aquela que o faz em dois grandes grupos: os
minerais silicatados e os não-silicatados. Os minerais silicatados, como o próprio
nome diz, são aqueles em cuja estrutura é fundamental o elemento silício, que está
presente em 93% dos minerais que constituem as rochas da crosta terrestre. Os
minerais não silicatados, não tem o silício como seu constituinte, representam,
aproximadamente 7% dos minerais da crosta terrestre, uma presença bastante
reduzida. Pode-se concluir, dessa maneira, a relevância do grupo dos silicatos na
constituição das rochas.
A interpretação dos silicatos ficou definitivamente elucidada através do
conhecimento da sua estrutura. O principal fator influente na composição da
estrutura é o raio iônico dos elementos que constituem essa estrutura, isto é, a
relação dos raios iônicos (raio do cátion / raio do ânion) é que determina a
configuração dos diferentes poliedros de coordenação (tetraedros, triângulo,
octaedros, cubo, etc). Essa configuração é fundamentada no número de
coordenação (2,4,6,8,etc) que é definido pelo número de ânions que circundam o
cátion central.Os ânions, com raio maior distribuem-se em torno do cátion, sendo
que certo cátion só se combinará com um certo arranjo de ânions se o seu raio
iônico não for superior ao espaço livre deixado por eles. Sendo RSi = 0,42 e RO =
1,40, tem-se RSi / RO = 0,30, e indica que o número de coordenação do silício em
relação ao oxigênio é 4, ou seja, o silício está igualmente ligado a quatro oxigênios,
em coordenação tetraédrica. Esse tetraedro pode ser considerado a peça
fundamental das estruturas dos silicatos (Figura 17).
37

Figura 17. Um tetraedro isolado.

Através de cargas livres, o oxigênio pode estabelecer ligações com outros


cátions, inclusive o próprio silício, de outro tetraedro, resultando na formação de
grupos de tetraedros (SiO4)4-, que compartilham entre si um ânion O 2-. Este
compartilhamento pode ocorrer com até os quatro oxigênios de um tetraedro (Figura
18).

Figura 18. Dois tetraedros compartilhando um oxigênio.

O termo polimerização é empregado para indicar essa capacidade de


compartilhar oxigênios, que os tetraedros (SiO 4)4- apresentam.
38

Nesse tetraedro fundamental pode ocorrer a substituição do silício pelo


alumínio, o que é chamado de substituição isomórfica, que é a substituição de um
íon por outro na estrutura do mineral. È um fenômeno que ocorre na natureza,
porque esses íons ocupam as mesmas posições e não há, portanto, modificação na
estrutura. Esse fenômeno é controlado por meio do raio iônico dos elementos
envolvidos e pela neutralidade elétrica que deve ser mantida. Na ocorrência da
substituição do Si pelo Al haverá a necessidade da presença de íons metálicos
adicionais para manter a neutralidade elétrica do sistema.

4.2 Classificação

A polimerização resulta em cadeias estruturais com diferentes tipos de


agrupamento. A classificação dos silicatos baseia-se no tipo de cadeia e, portanto,
no grau de polimerização. Essa classificação é a seguinte:

a) Estrutura com tetraedros independentes

a.1.) Nesossilicato:

Na estrutura dos minerais pertencentes a esse grupo, os tetraedros


ocorrem isolados, sem nenhum contato direto uns com os outros. As
ligações tetraedro/tetraedro se fazem através de metais, fazendo com que
os tetraedros pareçam estar ilhados entre metais. O radical ou a fórmula
básica característica do grupo é o (SiO 4)4- (Figura 19)
39

Figura 19. Estrutura dos nesossilicatos.

b) Estruturas com grupos finitos de tetraedros

b.1.) Sorossilicato:

Nesse grupo, os minerais têm as unidades tetraédricas ligadas aos


pares entre si. Esses pares se ligam a outros através de metais. Cada
tetraedro compartilha um oxigênio com outro tetraedro, mostrando
grupamentos (Si2O7)6- (Figura 20).

Figura 20. Estrutura dos Sorossilicatos.

b.2.) Ciclossilicato:

Nesse grupo, os minerais têm suas unidades tetraédricas arranjadas


em forma de anéis ou cadeias fechadas, sendo que cada tetraedro
compartilha dois oxigênios com os tetraedros vizinhos (dois oxigênios
comuns aos tetraedros adjacentes). Os anéis ou cadeias fechadas podem
ser formados por 3, 4 ou 6 unidades tetraédricas, geralmente. Os anéis
que constituem as cadeias podem ser:
40

b.2.1.) Triangulares: grupamentos (Si 3O9)6- (Figura 21).


Exemplo: Benitoita Ba TiSi3O9

Figura 21. Estrutura dos ciclossilicatos com anéis triangulares.

b.2.2.) Quadrado: grupamentos (Si4O12)8- (Figura 22).


Exemplo: Neptunita (Na, K)2 (Fe, Mn) TiSi4O12

Figura 22. Estrutura dos ciclossilicatos com anéis quadrados.

b.2.3.) Hexagonais: grupamentos (Si 6O18)12- (Figura 23).


Exemplo: Berilo Al2Be3Si6O18
41

Figura 23. Estrutura dos ciclossilicatos com anéis hexagonais.

c) Estruturas com grupos infinitos de tetraedros

c.1.) Inossilicato:
Estrutura em fios, com grupos de cadeias abertas que podem ser de dois
tipos.

c.1.1.) Cadeia simples: dois oxigênios de cada tetraedro são


compartilhados, constituindo uma corrente simples; grupamento (SiO 3)2-
(Figura 24).
Exemplo: Diopsídio CaMg (SiO3)2

Figura 24. Estrutura dos inossilicatos de cadeias simples.

c.1.2.) Cadeia Dupla: os tetraedros compartilham, alternadamente, 2 e 3


oxigênios, formando grupamentos (SiO411)6- (Figura 25).
Exemplo: Tremolita Ca2Mg5 (OH)2 (Si4O11)2
42

Figura 25. Estrutura dos inossilicatos de cadeia dupla.

c.2.) Filossilicato:
Na estrutura desses minerais os tetraedros formam verdadeiras lâminas,
com a característica de que cada tetraedro compartilhe 3 oxigênios com
os tetraedros vizinhos, formando grupamentos (Si 2O5)2- (Figura 26)
Exemplo: Caulinita Al2(OH)4 Si2O5.
Os minerais desse grupo sofrem clivagem em folhas finas.

Figura 26. Estrutura dos filossilicatos.


43

c.3.) Tectossilicato:

Nesses minerais, a estrutura se caracteriza por algo semelhante a um


engradamento de tetraedros. Os quatros oxigênios de um tetraedro são
compartilhados pelos tetraedros adjacentes, formando um verdadeiro
retículo tridimensional, formando grupamentos (SiO 2)0.

Figura 27. Estrutura dos tectossilicatos.

A ocorrência de substituições iônicas de Si4+ por Al3+ gera cargas


negativas, que permitem a entrada de outros cátions (Figura 27).
Exemplo: Ortoclásio KalSi3O8
44

EXEMPLOS E IMPORTÂNCIA

Serão relacionados alguns minerais de importância sob vários pontos de vista:


minerais de importância no estudo dos solos, tanto sob o ponto de vista da gênese
quanto do seu emprego como fertilizantes e corretivos; minerais importantes
industrialmente e até mesmo os que servem caracterizar alguns grupos de minerais
silicatados.

4.2.1. NESOSSILICATOS

São constituídos por unidades isoladas, isto é, os íons de oxigênio não se


ligam a nenhum outro silício; toda a carga da unidade é balanceada por cátions
independentes.

Si

Figura 28. Tetraedro Isolado

Os principais minerais são:

Olivina – (Mg, Fe)2 SiO4

É um dos representantes típicos dos minerais máficos ou ferromagnesianos.


É componente de algumas rochas básicas e ultrabásicas de importância na
formação dos solos. È um mineral de fácil decomposição pelo intemperismo,
liberando elementos nutrientes para o solo.

Zirconita – ZrSiO4
45

Importante minério de zircônio é mineral de rochas magmáticas ricas em


sílica. Devido a sua alta resistência à decomposição, sua ocorrência na fração areia
dos solos é extremamente comum.

Estaurolita – FeAl4O2 (OH)2 (SiO4)2


Mineral de rochas metamórficas é também de ocorrência na fração areia dos
solos.

Outros: granada, (Ca, Mg, Fe 2+, Mn)3 (Al, Fe3+)2 (SiO4)3, topázio, Al2 (F, OH)2
SiO4, cianita, silimanita e andaluzita, formas polimórficas de composição Al (AlO)
SiO4.

4.2.2. SOROSSILICATOS

As estruturas mostram grupos independentes de dois tetraedros ligados por


um oxigênio comum. O grupamento é (Si 2O7)6-. Apesar de serem silicatos de
condensação mais simples, são bastante incomuns, sendo conhecidos poucos
exemplos e, esses poucos, sem importância marcante.
Hemimorfita – Zn4(OH)2 Si2O7.

Figura 29. Dois tetraedros ligados por um oxigênio comum.

4.2.3. CICLOSSILICATOS
46

Nesse caso, três, quatro ou seis tetraedros se ligam através de oxigênios para
formar anéis triangulares, quadrados ou hexagonais. Restam, portanto, em cada
grupo (SiO4)4- apenas duas cargas elétricas, que são neutralizads por cátions
independentes.Os ciclossilicatos de maior importância possuem grupamento
(Si6O18)12- e o mais importante é a Turmalina, (Na, Ca) (Al, Fé, Li, Mg) 3 Al6 (BO3)3
(OH)4 Si6O18. É freqüente em rochas metamórficas que contém Boro, e bastante
resistente ao intemperismo, sendo por isso, comum em sedimentos detríticos ou na
fração areia dos solos. É, também, uma fonte natural de boro, nutriente essencial
para as plantas e de grande importância para algumas culturas.

4.2.4. INOSSILICATOS

Os tetraedros fundamentais ligam-se, através de oxigênios comuns, formando


longas cadeias. Distribuem-se em dois casos:

a) Cadeia Simples

Possuem grupos (SiO4) 4- ligados através de oxigênios comuns. Todos os


minerais do grupo dos piroxênios possuem esse tipo de estrutura.

Figura 30. Cadeia simples de tetraedros ligados.

GRUPO DOS PIROXÊNIOS


47

Enstatita Mg2(SiO3)2
Hiperstenita (Fe, Mg)2 (SiO3)2
Diopsídio CaMg (SiO3)2
Hedenbergita Ca Fe(SiO3)2
Espodumênio LiAl(SiO3)2
Aegirita NaFe(SiO3)2
Augita (Ca, Na) (Mg, Fe2+, Fe3+, Al) / (Si, Al)2 O6

A Augita é o piroxênio de maior ocorrência pelo fato de ser um mineral


constituinte essencial de rochas de grande importância, como basaltos e diabásios,
onde chegam a constituir até 40% da rocha.

b) Cadeia Dupla

A estrutura básica desses silicatos pode ser interpretada como resultado da


associação de duas cadeias simples, unidas através de pontes de oxigênio. Desse
tipo mais complexo de cadeia resulta o radical (Si4O11) 6-. Todos os minerais do
grupo dos anfibólios possuem esse tipo de estrutura.

Figura 31. Cadeia dupla de tetraedros ligados.

GRUPO DOS ANFIBÓLIOS

Antofilita (Mg, Fé)7 (Si4O11)2 (OH)2


Tremolita Ca2Mg5 (Si4O11)2 (OH)2
48

Actinolita Ca2 (Mg, Fe) (Si4O11)2 (OH)2


Glaucofanita Na2 (Mg, Fe)3 Al2 (Si4O11)2 (OH)2
Hornblenda Ca Na (Mg, Fe)4, (Al, Fe, Ti)3 (Si4O11)2 (OH)2

O anfibólio de maior importância é a hornblenda, mineral comum em rochas


magmáticas e metamórficas de grande ocorrência.
Os anfibólios e os piroxênios podem ser enquadrados no grupo dos minerais
de fácil intemperização e são ricos em elementos essenciais às plantas,
principalmente Ca e Mg, que aparecem na sua composição. De modo geral, são
classificados como minerais máficos e estão presentes em rochas ígneas básicas,
que são importantes na formação de solos utilizados com maior intensidade na
agricultura.
Por terem íons metálicos ligando suas cadeias longitudinais, eles sofrem
clivagem relativamente fácil no sentido de cadeia e são, muitas vezes, fibrosos. A
actinolita e a tremolita são utilizados industrialmente como tecidos à prova de fogo,
telhas para construção, isoladores de calor e eletricidade, etc. O nome vulgar (mais
conhecido) da tremolita é amianto.

4.2.5. FILOSSILICATOS

O nome filossilicato (do grego phyllon = folha) indica o tipo de estrutura que os
minerais desse grupo apresentam, ou seja, estrutura em folhas sobrepostas.
A folha fundamental, presente em todos os filossilicatos, é a folha de siloxana,
constituída de tetraedros (SiO4) 4-, onde cada tetraedro reparte com os tetraedros
vizinhos, três de seus oxigênios, deixando um oxigênio apical, com uma valência
livre (Figura 26). Como os oxigênios apicais estão voltados para o mesmo lado, a
camada de tetraedros está disposta em forma de uma lâmina ou folha, com todos os
tetraedros em um mesmo plano (Figura 33).
49

Figura 32. Estrutura dos filossilicatos.

Figura 33. Folha de siloxana mostrando a distribuição de tetraedros (SiO4) 4-.

A folha de siloxana não é eletricamente neutra, não constituindo, por si, um


mineral. Liga-se a dois outros tipos de folhas, que são:

a) Folha de Bauxita: é constituída de Mg 2+ e (OH)- ligados em coordenação 6, de


modo que o Mg ocupa o centro de um octaedro, nos vértices dos quais encontram-
se as hidroxilas (Figura 34). Estas folhas em que o Mg 2+ ocupa o centro dos
octaedros formam a estrutura Mg 3(OH)6 da bauxita e, ainda, dessa ocupação de Mg
no centro de todos os octaedros originará folhas trioctaédricas, pelo fato de ter cada
(OH)- ligado a Mg2+ de 3 octaedros (Figura 35).
50

Figura 34. Folha de brucita e gibbsita mostrando distribuição de octaedros.

Figura 35. Estruturas da folha trioctaédrica de brucita.

b) Folha de Gibbsita: semelhante a folha de brucita, da qual se diferencia por ter Al 3+


no lugar do Mg2+. Como o Al3+ possui valência maior, apenas 2/3 das posições
octaédricas são ocupadas pelo cátion, resultando na existência de 1/3 de octaedros
vazios, isto é, sem Al3+ na posição central (Figura 36). Quando o Al 3+ ocupa o centro
dos octaedros formam a estrutura Al2(OH)6 da gibbsita. È também chamada de folha
dioctaédrica, por ter cada (OH)- ligado a Al3 de 2 octaedros.
51

Figura 36. Estruturas de folha dioctaédrica de gibbsita.

Das combinações de folhas de siloxana com folhas de brucita ou de gibbsita


resultam as estruturas dos minerais desse grupo.

Talco – Mg3 (OH)2 Si4O10


Na agricultura, pode ser usado como veículo para inseticidas, dentre os quais o
DDT, o BHC, etc.
Industrialmente é utilizado na indústria têxtil, na fabricação de giz, etc.

I) Grupo das Micas

A substituição de cerca de ¼ dos silícios, através de substituição iônica,


provoca o aparecimento de carga suficiente para admitir a presença de cátions
monovalentes de tamanho grande e que vão se alojar entre as camadas. O cátion
de ocorrência mais comum é o K+, seguido pelo Na+ e as estruturas podem ser
assim deduzidas: Si2O5 + Al2(OH)6 + AlSiO5 + K+ - 4(OH)-  KAl2(OH)2AlSi3O10
52

(muscovita) Si2O5 + Mg3(OH)6 + AlSiO5 + K+ - 4(OH)-  KMg3 (OH)2 AlSi3O10


(flogopita)
Si2O5 + Al2 (OH)6 + AlSiO5 + Na+ - 4(OH)-  NaAl2 (OH)2 AlSi3O10 (paragonita).

Os cátions K+ e Na+ prendem mais fortemente que as ligações de Van der


Walls. Conseqüentemente, a estrutura torna-se mais rígida, desaparece o
deslizamento entre as camadas, fazendo com que a dureza do mineral aumente.
Existem as micas quebradiças, sendo as representantes principais a
margarita (CaAl2(OH)2Al2Si2O10) e xantofilita (CaMg 3 (OH)2 Al2Si2O10).
As micas estão entre os minerais mais disseminados da natureza, estão
presentes em praticamente todos os grupos de rochas mais importantes.

Muscovita – Kal2 (AlSi3O10) (OH)2

É a mica mais comum, a mais empregada comercialmente e é chamada mica


branca ou malacacheta. Quando presente na rocha de origem, é comum a sua
presença na fração areia do solo formado, devido a sua grande dificuldade de
decomposição pelo intemperismo.

Biotita – K(Mg, Fe)3 (OH), F)2 Si3AlO10

É chamada de mica preta ou mica ferromagnesiana. Apresenta grande


importância na formação dos solos, pois, devido à presença de Fe, facilmente
oxidável na sua estrutura, ela se decompõe facilmente, liberando seus constituintes.
Assim, os solos que se originam de rochas ricas em biotita, raramente são
deficientes em potássio.

Pode ser utilizada industrialmente na fabricação de lubrificantes.


Flogopita – KMg3 (OH, F)2 SiAlO10
53

É chamada de mica magnesiana e sob ação do intemperismo dá origem à


vermiculita.

Ii) Minerais de Argila

O termo argila é empregado em dois sentidos:

-granulometricamente: fração mais fina dos sedimentos (diâmetro inferior a 2);


-mineralogicamente: grupo de minerais que são silicatos hidratados de alumínio.

São minerais secundários, resultantes de decomposição de outros silicatos,


principalmente feldspatos e feldspatóides.
Apresentam hábito terroso, cor branca, mas usualmente coloridas por
impurezas, principalmente óxidos de ferro, são infusíveis e insolúveis.
Como todos os filossilicatos, os argilominerais apresentam estruturas
semelhantes, laminares, constituídas por associações de camadas tetraédricas de
silício com camadas octaédricas de alumínio ou magnésio.
Esses minerais são da mais alta importância no estudo da Pedologia
por serem componentes da fração argila, que afeta todo comportamento físico-
químico do solo. Embora na fração argila dos solos estejam presentes todos os
minerais que possuem dimensão inferior a 0,002 mm de diâmetro, o número
daqueles que são chamados minerais argilosos ou argilominerais se restringe
apenas aos minerais silicatados como caulinita, montmorilonita, etc.
Segue-se uma classificação dos principais argilominerais:

I.i.1.) Grupo das Caulinitas

Os minerais desse grupo têm estrutura 1:1, cada camada constituída de uma
folha de siloxana ligada a uma de gibbsita (Figura 37).
54

A estrutura é rígida e o espaçamento entre as camadas (7,2 A) é


suficientemente pequeno para impedir a entrada de água, que fica apenas adsorvida
à superfície externa das partículas.
Pertencem a este grupo os seguintes argilominerais:

Figura 37. Estruturas de caulinita.

 Caulinita: principal representante do grupo e de ocorrência geral nos


solos brasileiros. Al2Si2O5(OH)4.
 Dickita: mesma composição química da caulinita, apenas com
diferenças estruturais. Pode apresentar tamanho de partícula acima do limite da
fração argila.
 Nacrita: mesma composição química das anteriores, das quais difere
apenas estruturalmente.
 Anauxita: apresenta maior teor de sílica, que ocorre como camadas
extras de SiO2, entre as camadas 1:1 do mineral.
 Haloisita: mesma composição química da caulinita, apenas com
diferenças estruturais; Al2Si2O5(OH)4 2H2 (mais hidratada).

I.i.2.) Grupo das Esmectitas


55

Os minerais deste grupo possuem estrutura 2:1, onde 2 folhas de siloxana


estão intercaladas por 1 folha de gibbsita (esmectitas diostaédricas) ou 1 folha de
brucita (esmectitas trioctaédricas) (Figura 38).
Esses argilominerais apresentam propriedade de expansão quando úmidos e
de contração quando secos, provocando movimentação do solo, facilmente
observável em solos ricos nesses minerais.
Apresentam, como característica importante, grande quantidade de
substituições iônicas, tanto nas folhas de siloxana como nas folhas octaédricas. Os
principais minerais desse grupo são:
 Montmorilonita: é o principal representante do grupo. A substituição de Al 3+
por Mg2+ permite distinguir as montmorilonitas dioctaédricas, onde predomina o Al 3+,
das montmorilonitas trioctaédricas, cuja predominância é de Mg 2+. Possui partículas
de menor tamanho, o que lhe dá uma grande superfície de adsorção.

Figura 38. Estruturas de montmorilonita.


56

 Beidelita: é o argilomineral mais aluminoso do grupo, em conseqüência da


grande quantidade de Si4+ substituído por Al 3+. Sua capacidade de expansão é
menor que das demais esmectitas.
 Nontronita: ocorre substituição parcial de Al3+ por Fe3+ nas folhas
octaédricas. De acordo com a extensão dessa substituição, pode-se distinguir as
nontronitas comuns da aluminosas.
 Saponita: é a representante magnesiana do grupo, contendo folhas de
brucita em lugar das de gibbsita.
 Sauconita: contém Zn2+ substituindo Mg2+, em quantidades variáveis,
nas folhas octaédricas.
 Hectorita: contém Li+ substituindo Mg 3+. Pode conter, também, F-
substituindo (OH)-.

I.i.3) Grupo das Hidromicas

Os minerais deste grupo situam-se estruturalmente entre as micas e as


esmectitas. A substituição do Si4+ por Al3+ nas folhas de siloxana é menor que nas
micas, acarretando a entrada de menor quantidade de K + entre as camadas.
A estrutura é do tipo 2:1, com camada intermediária de K +, semelhante a
muscovita (Figura 38). A presença de K+ entre as camadas impede a entrada de
água nesse espaços tornando a estrutura não expansiva.
O único mineral de importância no grupo é a ilita, de ocorrência comum em
alguns solos, embora raramente seja argilomineral predominante.
57

Figura 39. Estrutura da ilita.

I.i.4.) Vermiculita

Apresenta estrutura 2:1, tendo as camadas separadas por lâminas


bimoleculares de água (Figura 40). A folha octaédrica é de brucita, ocorrendo
substituição de Mg2+ por Fe2+, em proporções variadas.
A vermiculita é incluída no grupo dos argilominerais quando ocorre em solos,
no tamanho da fração argila. Esta vermiculita é derivada de alteração intempérica de
outros filossilicatos, como as micas e cloritas. Existe a macrovermiculita, proveniente
da alteração metassomática de minerais ferromagnesianos, que ocorre em jazidas.
É característica, nesse mineral, a expansão de sua estrutura, quando
aquecido a temperaturas entre 300 e 900º C.

Figura 40. Estrutura da vermiculita.

I.i.5.) Clorita

Sua estrutura é semelhante à da vermiculita, contendo uma camada de


brucita entre as das 2:1, em lugar da camada de água que ocorre na vermiculita.
Essa estrutura é também considerada como 2:2 ou 2:1 (Figura 41).
58

Semelhante a vermiculita, é considerada argilomineral quando ocorre em


solos e sedimentos, resultante da alteração intempérica. Quando resulta da
alteração metassomática, seu tamanho é maior que o dos argilominerais.

I.i.6.) Minerais Interestratificados

O termo, geralmente, se aplica a todos os minerais que apresentam num


único cristal, celas unitárias ou camadas de dois ou mais tipos. A interestratificação
mais comum em solos é a interação de camadas 2:1 com camadas 2:1:1 (cloritas).
Dessa maneira pode-se distinguir os interestratificados mica-clorita, vermiculita-
clorita, montmorilonita-clorita ou ainda mica-montmorilonita-clorita.
A ocorrência desses minerais em solos, principalmente em solos tropicais, é
bastante comum. As características desses minerais dependem sobremaneira, do
tipo e da intensidade de interestratificação (Figura 42).

Figura 41 – Estrutura da clorita


59

Figura 42. Esquema da estrutura da vermiculita, clorita e o mineral interestratificado


intermediário.

4.2.6. TECTOSSILICATOS

Reúnem as espécies minerais mais abundantes na litosfera da qual


constituem cerca de 75%. Ocorrem em praticamente todas as rochas e em todos os
solos. São constituintes essenciais da fração areia dos sedimentos, onde chegam a
constituir a sua quase totalidade. Representam o mais elevado grau de
polimerização. Os tetraedros (SiO4)4- ligam-se tridimensionalmente, onde cada
tetraedro tem seus íons oxigênio compartilhados com os adjacentes. Portanto, a
estrutura tem uma relação Si:O de 1:2 e conseqüentemente pertencem ao grupo da
sílica.
Os minerais desse grupo são classificados de acordo com a intensidade de
substituição de Si por Al e de acordo com o cátion existente para o equilíbrio do
excesso de cargas negativas.
Desta forma, distinguem-se o quartzo e seus polimorfos, os feldspatos,
feldspatóides e as zeólitas.
60

I)Quartzo e Formas Polimorfas

O quartzo (SiO2) é a variedade cristalina da sílica. A sílica pode cristalizar-se


em várias formas polimórficas (mesma substância química que existe sob duas ou
mais formas fisicamente distintas): quartzo, tridimita e cristobalita, incluindo cada
uma das modificações  de baixa temperatura e  de alta temperatura.
O quartzo é um dos minerais mais abundantes da crosta terrestre, sendo
constituinte principal de muitas rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares.
Sua importância agrícola não se deve à sua qualidade como fornecedor de
nutrientes às plantas e sim como constituinte dos solos. A estrutura espacial do
quartzo pode ser vista na Figura 43.

Figura 43. Estrutura espacial do quartzo  (SiO2).

O quartzo é muito resistente ao intemperismo ou alterações nas condições


normais dos solos, portanto, não se decompõe, apenas se fragmenta, sofrendo
61

desgaste físico sem alterar-se quimicamente. Devido a isso, é encontrado


principalmente nas frações mais grosseiras dos solos (cascalho, areia e silte). Seus
cristais, individualmente, são primáticos, sua dureza é elevada e sua densidade é de
2,65.

I.i.) Feldspatos

Os feldspatos são tectossilicatos que aparecem devido à substituição


isomórfica do Si pelo Al no retículo dos tetraedros. Sendo assim, eles são, por
definição, aluminossilicatos que apresentam metais alcalinos ou alcalinos terrosos
como Na, K e Ca, que aparecem para manter a neutralidade elétrica do sistema
após a substituição isomórfica. Nos feldspatos potássicos e sódicos,
aproximadamente 25% do silício é substituído por alumínio; nos feldspatos cálcicos,
a substituição chega a 50% (Figura 44).

Figura 44. Esquema da estrutura de um feldspato.

Quimicamente, os feldspatos se dividem em três grupos: feldspatos


potássicos, calcossódicos (plagioclásios) e báricos, que são de ocorrência restrita
nos solos (tabela 9).
62

Tabela 9
Ortoclásio
POTÁSSICOS
Microlina K Al Si3 O8

Albita Na Al Si3 O8
Oligoclásio
CALCOSSÓDICOS Andesina
FELDSPATOS
(PLAGIOCLÁSIOS) Labradorita
Bytownita
Anortita Ca Al2 Si2 O8

Celsiana Ba Al2 Si2 O8


BÁRICOS
Hialofana (K, Na, Ba) Al Si3 O8

Os feldspatos potássicos e os plagioclásios são muito comuns em rochas


magmáticas, sendo também freqüente em rochas sedimentares e metamórficas.
São fonte primária de K e Ca para plantas e organismos do solo, devendo-se
sempre considerar a sua presença ao avaliar a fertilidade natural dos solos.

I.i.i.) Feldspatóides

Os feldspatóides possuem teor de silício mais baixo que os feldspatos – 30 a


40%; conseqüentemente a substituição de Si por Al é maior. Formam-se em
ambientes pobres em silício e ricos em íons alcalinos.
A nefelina é mais comum nesse grupo, caracterizada pela composição (Na, K)
AlSiO4. Está associada normalmente às rochas alcalinas, sendo comum em
fonolitos, sienitos e alguns basaltos. A leucita (K Al Si2O6) é um feldspatóide rico em
potássio. A sodalita (Na4AlSiO4Cl) é rica em sódio e cloro. Geralmente, este grupo é
pouco estável e muito sujeito à alteração por intemperismo.

I.v.) Zeólicas
63

De ocorrência restrita nos solos, as zeólitas formam-se na fase hidrotermal de


resfriamento magmático, sendo comumente encontrada preenchendo fendas,
cavidades ou fissuras de rochas magmáticas básicas. Possuem grande capacidade
de adsorção de água e capacidade de troca catiônica (CTC). São tectossilicatos de
estrutura aberta e sua origem é, normalmente, secundária.
64

CAPÍTULO 5. INTEMPERISMO

5.1. Considerações Gerais

Intemperismo é o processo geológico mais importante e próximo da vida do


homem. Todos os dias o homem necessita comer para viver, se o alimento que ele
ingere se cria ou no solo agrícola, ou nas águas de superfície da terra, ambos dos
quais, obtém seu conteúdo de nutrientes inorgânicos por meio do processo de
intemperismo. Por isto, a vida do homem e sua energia biológica são possíveis,
somente por causa do intemperismo das rochas e minerais.
Mas a energia biológica que o homem obtém do alimento criado sobre os
produtos do intemperismo é excessivamente pequena quando comparada a outras
energias, que ele também usa, e que devem sua origem ao intemperismo como um
estágio intermediário. Assim é o caso da produção de carvão, petróleo, gás natural,
minerais radioativos, etc.
Neste capítulo abordaremos um dos aspectos mais importantes relacionados
a mineralogia e formação dos solos.
Por intemperismo entende-se, segundo BESOAIN (1985), a alteração, tanto
em composição como em tamanho dos minerais e rochas da superfície terrestre,
que se encontram em contato com agentes da atmosfera, hidrosfera e biosfera.
MILOVSKI e KANONOV (1985) definem intemperismo acrescentando o
conceito de estabilidade: “O intemperismo é a soma de todos os processos, que
atuam na destruição mecânica e decomposição química de rochas e minerais, que
não são estáveis em condições superficiais.
Sempre que falamos em estabilidade ou instabilidade estamos nos referindo,
na realidade, com condições de equilíbrio ou não equilíbrio.
Tomando essas 2 definições como ponto de partida e lançando mão da idéia
de equilíbrio poderíamos entender intemperismo da seguinte maneira.
65

- O intemperismo é resultante da interação de rochas, minerais, biosfera,


hidrosfera, etc. Cada um desses componentes será designado de fase: fase água,
fase mineral, fase ar, etc. O conjunto de todas as fases recebe o nome de sistema.
- Quando existe desequilíbrio entre as fases do sistema, estas se modificam
através de reações que ocorrem entre elas. As reações ocorrem seguindo certos
procedimentos ou processos.
- O meio ambiente típico do intemperismo se localiza próximo à superfície,
apresenta temperatura e pressão baixa (próximo a 25 o C e 1 atm). Conta com
presença de soluções aquosas e gases atmosféricos e, invariavelmente, está
associado a menor ou maior atividade biótica.
- As reações de intemperismo são termodinamicamente espontâneas
(catalisadas ou não), se processam num sistema aberto e necessariamente
envolvem perda de energia livre.
O estudo do intemperismo é sempre muito complexo pois envolve grande
número de fases do sistema e exige um determinado tempo cronológico.
Para se avaliar resultados de pesquisas sobre intemperismo, deve-se antes
de mais nada considerar a metodologia utilizada e depois fazer afirmações acerca
deste. A análise à esmo e a não observância de procedência e limite de validade
levam à generalizações indevidas, errôneas e, perigosas, que são muito comuns
quando se fala em intemperismo.
A seguir serão apresentados 2 trabalhos realizados em diferentes épocas por
diferentes autores sobre o intemperismo. O primeiro é o clássico trabalho de
Goldich, publicado em 1938.

5.1.1. O Trabalho de Goldich (1938)

O autor define seu trabalho como uma tentativa de analisar as modificações


químicas e mineralógicas que ocorrem durante o intemperismo de certas rochas de
alguns locais diferentes que foram selecionados devido à facilidade de acesso pelo
autor ou pela disponibilidade de amostras.
66

GOLDICH analisou amostras de algumas rochas (granito-gnaisse, diabásio e


anfibólio) química e mineralogicamente e seus respectivos produtos de alteração.
Para a época, as análises foram muito completas e detalhadas e lançando mão das
mais avançadas técnicas. Através de artifícios matemáticos simples e considerando
o teor de Al2O3 constante durante o intemperismo, GOLDICH determinou as
mudanças químicas que ocorrem durante o intemperismo (Figura 45 e Figura 46).
H2O CO2
Fe2O3 +1470
+196
GANHO 200
%

150

TiO2
100
+62

50

Al2O3
0,0
0

-17 -16
FeO MnO -27
-35
-50 SiO2 S
-52 -49
-61 P2O5
MgO K2O
PERDA
-100 -96 -97
%
CaO Na O
2

Figura 45. Ganhos e perdas de um granito/gnaisse durante o intemperismo (composição


mineralógicas inicial - ortoclásio, microclina, quartzo, biotita e hornblenda). Adaptado da
Tabela 1 de GOLDICH (1938).
67

GANHO P2O5
% +144
150

Fe2O3 H2O
100 +94 +80

50

Al2O3
0,0
0,0
-12 -7
SiO2 -29 -19 Na2O
MgO CaO -40 -33
-50 -46 K2O MnO
PERDA
FeO
%

Figura 46. Ganhos e perdas de um diabásio durante o intemperismo (composição mineralógica inicial -
plagioclásio, augita, magnetita, biotita, apatita e hornblenda). Adaptado da Tabela B, amostras
5 e 6 de GOLDICH (1938).

Pelos gráficos percebe-se que durante o intemperismo há a perda de certos


elementos e o ganho de outros. Em geral, o número e a quantidade de elementos
perdidos, isto é, elementos que saíram das estruturas cristalinas dos minerais e
foram removidos do sistema é bastante elevada. As bases Ca, Mg, K, Na e Mn são
removidas em grande quantidade. Outros como o S e o P também diminuíram. Para
o aumento acentuado de P2O5 (Figura 46) não houve explicações. O Fe das rochas
magmáticas se encontra principalmente na forma Fe +2. Durante o intemperismo essa
forma se oxida a Fe +3, explicando-se dessa maneira o aumento de Fe 2O3. A
quantidade de água e CO 2 também aumentou durante o intemperismo de forma
bastante acentuada. As perdas em ordem decrescente para o granito-gnaisse foram:
Na < Ca < Mg > K > P > Si > S > Fe 2+ > Mn.
No caso do diabásio, as perdas em ordem decrescente foram: Fe 2+ > K > Mn
> Mg > Ca > Si > Na.
Observa-se que a ordem não é a mesma, mas que há tendências em comum
entre as 2 rochas.
68

Fato semelhante observa-se em relação ao anfibólio (Figura 47).


Ganho Al2O3 Perda

DIABÁSIO (POUCO
INTEMPERIZADO)

DIABÁSIO (MUITO
INTEMPERIZADO)
ANFIBÓLITO

Figura 47. Ganhos e perdas durante o intemperismo de algumas rochas básicas GOLDICH (1938).

Além da composição química, GOLDICH estudou e quantificou


mineralogicamente as rochas e seus produtos de alteração (Tabela 10).
Tabela 10. Composição mineralógica do granito-gnaisse e seu produto de alteração. Adaptado da
Tabela 6 de GOLDICH (1938).

Rocha Fresca Rocha Intemperizada Variação*


Espécie (%) (%) (%)
Quartzo 30 34 0
Feldspato – K 19 14 -34
Plagioclásio 40 1 -98
Biotita 7.0 0.9 -88
Hornblenda 1.0 0.02 -98
Óxidos de Fe 1.5 4.3 +155
Apatita 0.2 0.0 -100
Caulinita 0.0 44 -
* Variação % normalizada pelo Quartzo.

Considerando o teor de quartzo constante, percebe-se que todos os minerais


primários encontrados na rocha - feldspato-K, plagioclásio, biotita, hornblenda e
apatita - apresentou apreciável diminuição, formando-se em seu lugar minerais
69

secundários, de tamanho muito pequeno (fração argila) como a caulinita, que não
existia no material original, e os óxidos de Fe.
Uma outra maneira de representar esses dados é através de diagramas de
variação (Figura 48).

QUANTIDADE
%
60

50

TA
INI
OL
CA
40

QU
AR
30 TZ
O

20
PL

FE
A

LD
G
IO

SP
CL

A
TO
Á
SI

-K

10
O

14 16 18 20 22 24
INTENSIDADE DE INTEMPERISMO % (AL2O3)

Figura 48. Diagrama de variação da alteração do granito-gnaisse GOLDICH.


70

Baseado nesses dados, na literatura existente na época e em observações e


experiências pessoais, GOLDICH sugeriu uma série de estabilidade dos minerais
mais comuns formadores de rochas magmáticas (Figura 49).

OLIVINA PLAGIOCLÁSIO Ca

PIROXÊNIO
Ca Na
maior resistência ao intemperismo

ANFIBÓLIO

BIOTITA PLAGIOCLÁSIO Na

FELDSPATO-K

MUSCOVITA

QUARTZO

Figura 49. Série de estabilidade dos minerais em relação ao intemperismo (GOLDICH, 1938).
71

O autor tece os seguintes comentários com relação á série de estabilidade: “O


arranjamento dos minerais nessa série de estabilidade é o mesmo da série de
cristalização magmática apresentada por BOWEN*. Essa série no entanto, não deve
ser interpretada como uma série de reações. Não deve ser inferido que a olivina se
intemperiza a piroxênio, mas que, numa rocha magmática normal contendo olivina e
piroxênio, a taxa de decomposição da olivina deve ser maior do que a do piroxênio.
Analogicamente, permanecendo todas as condições iguais, a taxa de decomposição
do gabro é maior do que a do granito.
A série de BOWEN* reflete a estabilidade dos minerais sob condições de
equilíbrio (composição, pressão e temperatura) de seu ambiente de formação. Estas
condições são drasticamente diferentes das condições da superfície, onde ocorrem
as reações de intemperismo. É por essa razão que os minerais se intemperizam.
Talvez a diferença entre as condições de equilíbrio na hora da formação dos
minerais e as existentes na superfície governem a seqüência de estabilidade.
O princípio da série de estabilidade apresentada é uma generalização de
informações acumuladas.
A série de GOLDICH é claramente empírica, no sentido de ter sido elaborada
a partir de dados experimentais, não existindo base ou explicação científica acerca
dos princípios envolvidos.
Não é possível, a partir da série de GOLDICH, compreender porque o quartzo
é mais estável do que o plagioclásio-Ca ou a olivina, sabe-se apenas que tal
comportamento é esperado nas condições normais de intemperismo.
Ambos autores referem-se a série de GOLDICH como a série de estabilidade
dos minerais da fração areia e silte, talvez pelo fato desses minerais serem
normalmente encontrados na fração areia ou silte.
* BOWEN (1922) apresentou uma série de cristalização ou solidificação das rochas
magmáticas, a partir do magma no estado fluído, em ordem decrescente de
temperatura. Essa série é a mesma encontrada por GOLDICH. Na série de BOWEN
72

a olivina se solidifica nas temperaturas mais elevadas e o quartzo nas temperatura


mais baixas.

5.1.2. O Trabalho de Chesworth (1973)

CHESWORTH (1973) utilizou como dados básicos para seu trabalho a


composição média do granito de uma certa região e a composição das águas
subterrâneas onde predomina esse granito.
Foi assumido que as águas subterrâneas continham os componentes
provenientes do intemperismo das rochas e dos solos dessa região. Essa água
atuaria com um meio de mobilização ou remoção desses componentes do sistema.

Tabela 11. Média de análise parcial de granito e águas subterrâneas de regiões graníticas (% peso).

GRANITO ÁGUA SUBTERRÂNEAS


MÉDIA NORMALIZADO*
Si O2 70.2 27.6 65.7
Al2 O3 14.5 0.4 1.0
Fe (total) Fe2 O3 2.6 0.6 1.4
MgO 1.1 9.2 21.0
Cão 2.1 27.3 65.1
Na2O 3.3 13.0 31.0
K2O 4.0 4.8 11.4
* Normalizado com relação ao Al2 O3 . Os valores expressos são relativos a uma taxa
de lixiviação do Al2 O3 = 1,0

Um simples diagrama de subtração pode ser calculado, utilizando-se os


valores normalizados como indicadores do coeficiente angular das retas, para
demonstrar que vão permanecer após um período prolongado de intemperismo /
lixiviação são SiO2, Al2O3 e Fe2O3 (Figura 50).
73

ÓXIDO 70
%

60

SiO2
50

40

30
SISTEMA
RESIDUAL DE
INTEMPERISMO
20
Al2O3

10
Fe2O3

CaO MgO Na2O K2O TEMPO

Figura 50. Perda de componentes de um granito em função do tempo.

O SiO2, apesar de apresentar uma taxa de perda muito elevada aparece


como produto final do intemperismo, devido a grande quantidade encontrada no
material de origem (granito).
74

Se a tendência do intemperismo é a perda total das bases (Ca, Mg, Na e K)


resultando um sistema composto unicamente por Si, Al e Fe - chamado pelo autor
de sistema residual de intemperismo - os minerais encontrados nesse sistema vão
poder apresentar apenas Si, Al e Fe como cátions. Os minerais mais comuns que
apresentam tal composição química seriam:
- quartzo (SiO2) e as variações opala e calcedônea;
- gibsita (Al (OH)3); - boemita (Al (OH));
- goethita (FeO (OH)); - hematita (Fe 2O3)
- caulinita (Al4/Si4O10/(OH)) - haloisita (Al4Si4 (OH)8 O10, 8 H2O) e mais alguns outros
de menor ocorrência.
Anteriormente à perda de todas as bases, minerais diferentes dos que se
enquadram no sistema residual podem ser formados apesar de terem existência
apenas transitória (esse termo refere-se ao tempo geológico e não cronológico!). O
esquema que o autor apresenta é bem geral, não podendo ser utilizado para
explicar casos específicos, mas a abordagem e interessante e possibilita um bom
entendimento do processo geral de intemperismo.

5.2. Mecanismos e Processos de Intemperismo

O intemperismo é dividido normalmente em intemperismo físico e químico. No


intemperismo físico a rocha original desintegra-se em material de granulométrica
menor, sem que ocorram contudo, mudanças químicas ou mineralógicas
significativas. No intemperismo químico há, além das alterações granulométricas,
alterações químicas ou mineralógicas. Alguns consideram ainda o intemperismo
biológico, o qual atua pela ação de organismos vivos e de produtor orgânicos sobre
rochas e minerais. Como estas ações se dão através de processos físicos e de
reações químicas, muitos o incluem nos 2 primeiros.

Na natureza o intemperismo físico e químico ocorrem associados e é quase


sempre difícil isolar o efeito de um ou de outro.
75

5.2.1. Intemperismo Físico

O mecanismo comum a todos os processos de intemperismo físico é o


surgimento de tensões internas nas rochas suficientemente fortes para fraturá-las.
Tais mecanismos visam reduzir o tamanho dos minerais, não interferindo na
composição química.
Os processos mais comuns do intemperismo físico são:
a) alívio de pressão devido à erosão;
b) expansão de água congelando ou sais cristalizando em fendas vazias entre
grânulos;
c) expansão e contração devido a variações térmicas;
d) ação mecânica das raízes e outros organismos vivos.

a) Alívio de pressão devido à erosão


Com a erosão do material depositado acima da rocha há um alívio de pressão
fazendo com que a rocha possa se expandir (Figura 51).
Esse tipo de expansão causa normalmente fraturamento em ângulos retos em
relação ao sentido do alívio de pressão, desenvolvendo em fendilhamento paralelo à
superfície.
76

Figura 51. Alívio de pressão e fraturamento de uma rocha.

b) Expansão de água ou sais


A água ao se converter em gelo, tem seu efeito expansivo ao redor de 10%. O
máximo de pressão em que a água não consegue mais se congelar é de 2.130 atm
a -22 oC e 678 atm a -10 oC.
Quando a pressão for acima desses valores, há transformação da água em
gelo e conseqüentemente ocorre a expansão de 10% (Figura 52).
Para que haja ruptura de fraturamento de rochas devido à esse mecanismo,
as temperaturas mais eficazes variam entre -15 e -22 oC.
A eficiência do efeito do congelamento vai depender do ambiente, onde a
temperatura ambiente flutue nos 0 oC.
O mesmo efeito ocorre quando há cristalização de sais a partir de soluções
supersaturadas em fendas ou outros espaços vazios da rocha.
77

Os sais normalmente apresentam um coeficiente de expansão térmico maior


do que o das rochas comuns. O fraturamento devido a maior expansão dos sais é
um processo importante de desintegração física em deserto onde a oscilação
térmica é acentuada.

Figura 52. Fendilhamento provocado pelo gelo.

c) Variações Térmicas
Cada mineral possui um coeficiente de dilatação térmica diferente. Tomemos
como exemplo o quartzo e o feldspato que sob mesma temperatura tem diferença no
aumento de volume. Em grandes amplitudes térmicas muito repetitivas, pode ocorrer
devido às dilatações diferenciadas, um enfraquecimento dos pontos de união na
periferia dos cristais isolados. Com isso, haverá o desprendimento desses cristais.
Tal mecanismo atua na parte mais externa das rochas, principalmente em
partes angulosas, levando a um arredondamento das mesmas.
Um exemplo desse tipo de ação do intemperismo seriam os matacões de
exfoliação da era Pré-Cambriana no Estado de São Paulo, que são grandes rochas
graníticas arredondadas de ocorrência comum (Figura 53).
78

Em locais onde a queima de vegetação é constante, a ação do fogo pode


acelerar sobremaneira a exfoliação das rochas.

Figura 53. Formação de um matação de exfoliação.

d) Ação mecânica das raízes e outros organismos vivos


As ações de expansão radicular dentro de fendas ou poros da rocha podem
levá-las a um acentuado fraturamento. Em muitos solos rasos é notável o
desenvolvimento de raízes em camadas mais profundas onde praticamente só
encontramos rochas. A ação presente de formigas térmitas (cupins) e outros seres
vivos maiores pode, em alguns casos, também exercer certa ação mecânica sobre
as rochas.
Como vimos, os processos físicos de intemperismo tendem a diminuir o
tamanho das partículas. Diminuindo-se o tamanho, aumenta-se a superfície
específica das partículas, acelerando e facilitando dessa maneira as reações
químicas de intemperismo (quanto menor o tamanho, maior é a reatividade de uma
substância sólida).
79

5.2.2. Intemperismo Químico

O intemperismo químico consiste na modificação da composição química e


mineralógica do material. Os produtos são novos minerais ou acumulações residuais
de alguns minerais primários pouco solúveis.
O intemperismo químico ocorre porque rochas e minerais raramente estão em
equilíbrio (físico químico) com a composição da água, temperatura e pressão da
superfície da terra. Os produtos que se formam a partir desse intemperismo são
mais estáveis no meio ambiente da superfície. Se o meio ambiente do solo sofre
novas ou contínuas alterações, assim também o farão os produtos iniciais do
intemperismo. Existem vários processos pelos quais as rochas minerais comuns se
intemperizam quimicamente.

5.2.2.1. Processos de Intemperismo Químico


a) Hidrólise
A hidrólise é o processo de intemperismo mais importante para a maioria dos
silicatos.
No caso de minerais, a hidrólise se refere especificamente à reação entre
íons H+ e OH- da água e elementos ou íons do mineral de rocha. A água, ou melhor,
a solução do solo, contém sempre além do H + e OH- da dissociação da água, grande
quantidade de outros íons que podem também, participar das reações. A hidrólise
ocorre pela substituição dos íons da superfície dos minerais por íons H + ou OH-.
Com isso, há a liberação desses íons para a fase líquida e um aumento do pH da
solução. Para os feldspatos, pode-se representar esquematicamente a seguinte
reação.
K Al Si O4 + 4 H2 O  Al SiO4 (OH)4 + KOH
Feldspato + água Feldspato + hidróxido de potássio
Para um aluminosilicato a equação geral seria:

Aluminosilicato + H2O + H2CO3  mineral + cátions + OH- + HCO-3 + H4SiO4


80

de argila
c l aq c aq aq aq aq
c = espécie cristalina
l = líquido
aq = espécie aquosa
O ácido mostrado aqui é o H2CO3, mas outros ácidos, tais como os ácidos
originados da decomposição da matéria orgânica, são também importantes fontes
de H.
Equações mais detalhada sobre hidrólise são apresentadas a seguir:

2 K AlSi3O8 + 2H+ + 9H2O  H4Al2Si2O9 + 4H4SiO4 + 2K+


c aq l (caulinita) aq aq
(ortoclásio) c

3 K AlSi3O8 + 2H+ + 12H2O  K Al3Si3O10 (OH)2 + 6H4SiO4 + 2K+


c aq l (ilita) aq aq
(ortoclásio) c

2 Na AlSi3O + 2H+ + 9H2O  H4Al2Si2O9 + 4H4SiO4 + 2Na+


c aq l (caulinita) aq aq
(albita) c

8 Na AlSi3O8 + 6H+ + 28H2O  3Na0,66 Al2,66 Si3,33 O10 (OH)2 + 14H4SiO4 + 6Na+
c aq l (montmorilonita) aq aq
(albita) c

Os cátions podem permanecer no solo como integrante da grade cristalina do


mineral de argila ou como íon adsorvido na superfície dos colóides do solo. Alguns
cátions podem ser absorvidos pelo vegetal e retornar ao solo por um processo
81

cíclico. Por outro lado alguns cátions podem ser removidos do sistema solo-planta
juntamente com o HCO-3 através da água de percolação (Figura 54).

BIOSFERA

CICLAGEM
MINERAL
PRIMÁRIO
INTEMPERISMO R ESTRUTURA CRISTALINA
AD
SO

TR ÃO
OC
ÁV
EL R

LIXIVIAÇÃO (PERDA)
ÁGUAS
SUBTERRÂNEAS

R - Cátion em solução resultante do intemperismo do mineral primário.

- Mineral secundário da fração argila.

Figura 54. Destinos dos cátions liberados pelo intemperismo.

Fato interessante a ser observado é o seguinte: os íons OH - juntamente com


os cátions metálicos se concentram no oceano, que tem reação alcalina. Os íons H +
por sua vez, se combinam com silicato, dando origem entre outros aos minerais de
argila, os quais são pouco solúveis e somente se dissociam ligeiramente em ácidos
fracos. Na terra portanto fica a reação ácida enquanto que no mar a reação alcalina.

FATORES QUE INFLUEM NA HIDRÓLISE


82

Para se ter uma razoável noção da intensidade da formação dos solos é


interessante, antes de mais nada, saber algo a respeito dos fatores que favorecem
ou não a reação de hidrólise.

a) Natureza da água
Experimentos afirmam que uma rocha em presença de água tende a se
intemperizar. Se a água saturada com sais não for removida e substituída por outra
com concentração de sais menor, a hidrólise tende a paralisar. Nestas condições o
solo não se desenvolve. (Figura 55).
Figura 55. Esquema ilustrando a influência da remoção da água de hidrólise no desenvolvimento do
H2O feldspato K+
feldspato K+

H2O + produto de
hidrólise

A H2O + produto de
hidrólise B

H2O+ produto de
hidrólise

lençol
freático
v v v v v v v v v v v v v v v v
basalto
v v v v v v v v v v v v v v v v

solo. (A) Devido a remoção de água + produtos de hidrólise, o intemperismo é maior,


conseqüentemente o solo é mais profundo. A remoção da água no solo é devido a sua boa
drenagem; (B) Nesta posição do relevo a drenagem do solo é impedida,
conseqüentemente vai haver concentração dos produtos da hidrólise e o desenvolvimento
do solo é bem menor.

A remoção dos sais pode ser feita por precipitação intensa com uma grande
lixiviação. Nestas condições o intemperismo tende a aumentar consideravelmente.
83

b) Efeito do pH sobre as solubilidades do Al2O3, SiO2 e Fe2O3


Quando da hidrólise de minerais silicatados, o pH de suas suspensões é
geralmente 7 ou maior que 7. O quartzo pulverizado, em água hidroliza-se para um
pH de 6 e 7, mas os feldspatos hidrolizam-se para produzir pH 8 e 10, os piroxênios
8 a 11 e os anfibólios e feldspatos 10 e 11. Esta variação de pH é muitíssimo
importante, devido aos seus efeitos sobre a solubilidades relativas do SiO 2 e Al2O3,
os quais são também produtos de reação de hidrólise.
O efeito do pH sobre a solubilidade do Al 2O3, SiO2 e Fe2O3 é apresentado na
Figura 56.

Figura 56. Solubilidade da sílica, alumina e óxido de ferro em função do pH. A um pH 5 vai haver no
sistema presença de SiO 2 e Al2O3 (este em maior quantidade). Dependente do tipo de
cátion existente no meio (H+ neste caso) haverá formação de caulinita.

Quando o pH é 10 - Tanto o Al2O3 como o SiO2, são relativamente solúveis e


portanto as pequenas quantidades deles que são liberados durante a hidrólise são
arrastados em soluções, podendo formar depósitos de bauxita e calcedônea.
Em pH 8 - A solubilidade do Al2 O3 é reduzida praticamente a zero, mas a do
SiO2 é reduzida apenas para ¼ daquela que era a pH 10. Espera-se portanto, que
84

em pH 8 o Al2O3 hidratado irá precipitar-se, provavelmente, na forma de gibsita,


enquanto que a maior parte do SiO2 será removida.

Grave bem ! - Suponha que uma rocha que está sofrendo hidrólise seja
banhada em água com pH 5 a 6 (valor comum de pH para água subterrânea). A
solubilidade, tanto do Al2O3 como o SiO2, derivados da rocha, será então
relativamente baixa, uma condição que pode conduzir a combinação deles para a
formação da caulinita.

Geralmente a sílica é relativamente solúvel na faixa normal de pH de solos e


está quase sempre presente no material de origem em elevado teor, suficiente para
tomar parte na maioria dos minerais de argila. Parte da sílica é removida em
solução. O alumínio não é muito solúvel nesta mesma faixa de pH, portanto
permanece próximo a área de intemperismo, tomando parte na formação de
minerais de argila ou gibsita. O ferro também permanece próximo à área de
intemperismo para a maioria dos solos dando a estes ou ao material intemperizado a
cor característica.
A um pH 8 e aliado a uma precipitação escassa e a uma evaporação anual
que excede a precipitação, os íons de SiO 2, Al2O3 e M (alcali e alcalinos terrosos)
permanecem em solução os quais se combinam para formar minerais de grande
atividade, por exemplo, montmorilonita.

c) Ação das plantas


As plantas vivas fornecem íons H + para a argila em contato com suas raízes,
e tendem portanto, a criar condições de argila ácida, a qual, por sua vez, intemperiza
as rochas e minerais presentes.
85

Diversos autores demonstraram que as radicelas das plantas conduzem


cargas negativas sobre sua superfície e são rodeadas, no solo, por uma atmosfera
iônica a qual é composta principalmente de íons H +. O pH das raízes das plantas,
tais como milho, algodão, amendoim varia de 2,0 a 3,85 e a CTC dessas raízes está
em torno de 14 meq/100 g (Figura 57).

raiz
+H +H
+ +

+H +H -
+ + -
H+
Mineral de -
+H +H +K K Feldspato
+ + -
argila -
+H
- -
+H +H -
+ +

Figura 57. Esquema ilustrando a ação das raízes na hidrólise. A raiz no caso fornece íons H + ao
mineral de argila (troca com o K + ou outro íon) e este H+ entra na hidrólise atacando um
mineral rico em K+ (feldspato) ou um outro mineral qualquer.

b) Oxidação e Redução
A oxidação é o processo pelo qual o elemento perde elétrons. Essa perda
resulta num aumento da valência positiva. O ferro é o elemento que mais sofre esse
tipo de processo nos ambientes de intemperismo.
Nos minerais formadores de rochas o ferro se encontra predominantemente
na forma reduzida Fe 2+. Quando esse ferro se oxida o Fe 3+ dentro da estrutura
cristalina dos minerais há distúrbios na neutralidade eletrostática do mineral. Esse
distúrbio leva normalmente à saída de outros cátions da estrutura a fim de
compensar o aumento de carga positiva. Surgem dessa maneira falhas na rede
cristalina que podem levar a um colapso total da estrutura anterior ou deixar o
mineral mais susceptível a outros processos químicos como a hidrólise. A alteração
de biotita para vermiculita é um exemplo desse conjunto de processos.
Sempre que uma substância se oxida (perde elétrons) outra reduz (recebe os
elétrons perdidos). O receptor de elétrons no solo normalmente é o O 2 gasoso. A
reação pode ser simplificada conforme equação abaixo:
2FeO + H2 O 2  FeO3
86

Fe++  Fe+++ + é
A direção e a intensidade dessa reação depende do potencial de oxi-redução
do meio.
Para que a reação ocorra da esquerda para a direita, isto é, oxidação do ferro
e conseqüente redução do O 2, é necessário uma boa aeração do solo. Solos bem
drenados e porosos facilitam as reações de oxidação, ocorrendo redução apenas
em solos freqüentemente encharcados.
As micas, biotita e muscovita, apresentam estrutura cristalina muito
semelhantes, porém diferem no comportamento ante o intemperismo. A biotita
apresenta Fe2+, que tende a oxidar e desestabilizar a estrutura desta, o que não
ocorre com a muscovita, que por não possuir Fe 2+ é mais resistente ao
intemperismo.
Outros elementos que também sofrem mudanças de valência são Cr, Ti, Cu,
Mo, N e outros. Esses elementos ocorrem em menor quantidade nos minerais
formadores de rochas, portanto, de menor importância.
Qualquer mudança de valência de um elemento que faz parte da estrutura
cristalina de um mineral vai desequilibrá-la e conseqüentemente destruí-la ou torná-
la mais suscetível a outros processos de alteração química.

c) Hidratação e Desidratação

Hidratação e desidratação são os processos pelos quais moléculas de água


são adicionadas ou removidas do mineral. O resultado é a formação de um novo
mineral de estrutura bastante semelhante ao anterior. Esses processos não são
muito importantes no intemperismo químico uma vez que apenas alguns poucos
minerais são afetados por esses processos.
A reação mais comum entretanto, é a que envolve óxido e hidróxido de ferro.

Fe2O3 + H2O  2 FeOH


Hematita Goethita
87

Essa reação pode se processar nas duas direções, mas em solos, bem
drenados a tendência é a estabilização da hematita. Em muitos casos a hidratação
precede as reações de hidrólise.

d) Quelação
Estudos tem demonstrado que agentes quelantes são responsáveis por uma
considerável quantidade de material intemperizado, e que algumas situações pode
exceder a própria hidrólise. Agentes quelantes são formados por processos
biológicos normalmente excretados por líquens que crescem nas superfícies das
rochas. A estrutura do agente quelante é variada e complexa. O EDTA (Ácido
Cetilenordiaminotetracetico) é um dos agentes quelantes mais conhecidos e sua
estrutura pode ser esquematizada da seguinte forma:
CH2 CH2

CH2 N COO COO

Fe

CH2 N COO COO

CH2 CH2

A maioria dos íons metálicos pode ligar-se ao EDTA formando compostos


bastante estáveis, ficando o íon metálico aprisionado na estrutura cíclica.
A flora microbiana do solo bem como as raízes das plantas são capazes de
produzir e exudar substâncias quelantes. O húmus do solo é composto de grande
quantidade desses agentes. Há fortes evidências que alguns quelantes podem ter
expressiva ação sobre o quartzo, que é muito resistente a outros processos de
88

intemperismo químico. Quelatos estáveis, também são formados a partir de outros


cátions polivalentes como o Al, Fe e Ti. A perda de ferro devido a quelatização já foi
observada para o epídoto, goethita, hematita, magnetita, augita e biotita.

e) Capacidade de troca de íons


O intemperismo de um mineral pode ocorrer através da troca de íons entre a
solução e o mineral. Durante a troca, a estrutura básica do mineral não é alterada,
mas o espaçamento entre as camadas pode variar de acordo com cátions
específicos. A transformação da biotita em vermiculita é em parte atribuída a troca
do K+ da biotita por íons de Ca2+ e Mg2+ da solução.

5.3. Intemperismo Químico de Minerais e Rochas

O material liberado pelo intemperismo ou é removido do sistema por


percolação profunda ou permanece no sistema formando através de diferentes
reações uma série de produtos cristalinos ou amorfos.
Os minerais de argila, considerados por muitos como produtos finais do
intemperismo, na realidade apenas fazem parte de um sistema em equilíbrio
dinâmico. As argilas também se degradam originando resíduos óxidos e hidróxidos
que pedologicamente são considerados mais estáveis.

5.3.1. Alguns exemplos

a) Olivina (Mg, Fe)2 SiO4


A estrutura cristalina da olivina consiste de tetraedros isolados unidos por
cátions Fe2+, Ca2+ e principalmente Mg 2+. A olivina é o silicato mais suscetível à
erosão. Em condições de drenagem moderada, com pequena lixiviação de cátions, a
89

olivina se transforma principalmente em montmorilonita, graças à elevada


concentração de Mg. Em ambientes de drenagem forte, onde a remoção de bases é
maior, a olivina se altera, formando principalmente, a caulinita.
Olivinas mais ricas em ferro podem também formar nontronita.

b) Piroxênios e Anfibólios
A formação de minerais de argila a partir de piroxênios e anfibólios depende
das condições de drenagem e da precipitação. Como tendência geral há a formação
de esmectitas ou cloritas nas primeiras fases do intemperismo. O ferro se oxida
formando goethita ou hematita e o titânio origina anatase. Com o aumento da
intensidade de intemperismo formam-se minerais cauliníticos e o meio se enriquece
de ácidos de ferro e titânio.

c) Micas
Há uma grande diferença de resistência ao intemperismo entre as micas
muscovita (KAl3Si3O10 (OH)2) e a biotita (K (Mg, Fe 2+) AlSi3O10 (OH)2). A diferença é
explicada pela tendência do ferro ferroso (Fe 2+) da biotita oxidar-se a ferro férrico
(Fe3+) nos ambientes de intemperismo desequilibrando-a eletricamente. Os produtos
finais do intemperismo são semelhantes, porém a muscovita altera-se mais
lentamente que a biotita. Na etapa inicial as micas perdem potássio e durante a
pedogênese podem entrar em seu lugar íons Mg e Al, determinando a formação de
filossilicatos, particularmente a vermiculita, clorita, ilita, montmorilonita e vários
interestratificados. As condições ambientais é que determinarão o tipo específico de
mineral a ser formado.

d) Quartzo
A estrutura do quartzo não favorece as reações de hidrólise ou oxidação,
sendo seu intemperismo provocado por dissolução, um processo mais lento,
fazendo do quartzo um mineral resistente ao intemperismo. O quartzo não se altera
diretamente em outras fases cristalinas. Ele entra lentamente em solução, e pela
90

combinação com outros produtos origina novos silicatos. A energia de ativação para
romper as ligações Si-O-Si é bastante elevada. Dessa forma catalisadores orgânicos
como o ácido algínico e alguns aminoácidos tem papel decisivo na solubilização do
quartzo.

e) Feldspatos
Seu intemperismo é quantitativamente mais importante pois há predomínio
dos feldspatos entre os minerais das rochas na litosfera.
O intemperismo do feldspato ocorre em 2 etapas: uma lenta e outra rápida.
Etapa rápida: há uma perda muito grande de potássio em relação a Si e Al.
Etapa lenta: as perdas de K, Al e Si tendem a se igualar.

A velocidade e o tipo de alteração são afetados sensivelmente pelas


condições do meio e pelo tamanho do mineral.
Os produtos de alteração dos feldspatos são argilas residuais e óxidos de
alumínio hidratados.
Em condições normais, os feldspatos gerarão a caulinita, mas pode ocorrer a
formação de minerais 2:1 ou micas como a sericita.
Os feldspatóides, componentes de rochas básicas e ultrabásicas tem menor
resistência ao intemperismo do que os feldspatos.
91

CAPITULO 6. ROCHAS MAGMÁTICAS

6.1. Introdução

As rochas magmáticas ou ígneas são aquelas formadas a partir do


resfriamento do magma e conseqüente consolidação do magma, no interior ou na
superfície da crosta terrestre. O magma é um fluido natural muito quente
predominantemente constituído por uma fusão de silicatos e mostrando proporções
variadas de água, elementos voláteis ou de cristais em processo de crescimento. A
composição do magma pode ser obtida pelo estudo das lavas, ou seja, do magma
que extravasa pelos vulcões, embora se considere que uma grande perda de
elementos voláteis ocorra neste caso, pois no seu caminho até o local de
resfriamento, funde ou dissolve materiais pelo qual vai passando incorporando-os à
sua composição original e chegando ao seu destino com composição distinta.

A B

Figura 58. Lavas consolidadas com estruturas tipo corda ( A ) e tipo almofadada ( B ).

Do ponto de vista físico-químico, os componentes essenciais do magma são:


92

a) uma fase líquida: mantida em fusão pela temperatura elevada, constituída


essencialmente por uma solução mútua e altamente complexa de um grande
número de componentes, a maior parte dos quais de natureza silicática;
b) uma fase gasosa: mantida em solução por pressão, constituída
predominantemente por H2O e quantidades menores de CO2, HCI, HF, SO2, etc.;
c) uma fase sólida: formada por cristais de decomposição essencialmente silicática,
em fase de crescimento ou de natureza residual, assim como de fragmentos de
rochas.
A composição química essencial dos magmas é, em termos de óxidos, algo
situado dentro das proporções da tabela a seguir:

%
SiO2...................................30-80
Al2O3....................................3-25
FeO-Fe2O3...........................0-13
MgO.....................................0-25
CaO.....................................0-16
Na2O....................................0-11
K2O.....................................0-10

6.2 Origens e tipos fundamentais de magmas

De modo geral, considera-se que existem apenas dois tipos fundamentais de


magmas primários, ou seja, de magmas a partir dos quais se podem formar outros
tipos, por diferenciação:
(a) os magmas graníticos;
(b) os magmas basálticos.
Os primeiros formam 95% das rochas intrusivas, plutônicas, e os segundos
constituem 98% das rochas vulcânicas, efusivas.
A origem destes magmas e das rochas correspondentes constitui ponto de controvérsia.
93

Fig. 59 O granito observado ao microscópio. Os minerais claros são quartzos, os


pretos representam a biotita, e os intermediários são feldspatos
(extraído de Popp, 1998).

Pode-se dizer, entretanto, que o magma granítico está sempre relacionado


com áreas em que houve formação de extensas cadeias de montanhas, como por
exemplo os Andes e os Alpes, zonas em que a crosta sofreu fenômenos de
compressão, dobramento e afundamento, com evidências de que esse magma é
produzido por fusão parcial de rochas preexistentes (anatéxis) a profundidades da
ordem de 7 a 75 km.
Nessas regiões, as rochas originadas ocorrem sob a forma de corpos
intrusivos muito grandes, intimamente relacionados com as cadeias de montanhas,
e, em muitos casos, a sua formação parece não ter exigido a refusão total,
associando-se a fenômenos complexos.
Já o magma basáltico parece originar-se em profundidades maiores—90 a
100 km, ou seja, na porção superior do manto — tal como evidenciado pelos sismos
associados a derrames basálticos cujas origens geralmente estão 45 a 60 km abaixo
da superfície, onde o magma basáltico seria originado pela fusão de rochas básicas
preexistentes, através de quedas bruscas de pressão, em regiões onde a crosta
parece afetada por movimentos de afastamento e onde o manto parece foco de
correntes convectivas ascendentes.
94

Os magmas graníticos caracterizam-se, entre outros fatores, por uma


composição mais rica em SiO 2 (da ordem de 70%), e os basálticos, por uma
proporção menor de SiO2 inferior a 50%.
Viscosidade. Os magmas graníticos são mais viscosos do que os basálticos,
já que a viscosidade parece aumentar com e teor de SiO 2. Isto se reflete
caracteristicamente na maneira pela qual ocorrem os fenômenos de vulcanismo
associados a essas rochas.
Além disso, a viscosidade depende da temperatura e da pressão, diminuindo
com o aumento destes fatores.
O magma pode se resfriar em profundidade, isto é, nas profundezas da
crosta, abaixo de grande quantidade de rochas. Ele se solidifica vagarosamente
porque a perda de calor é lenta. Além disso, esse resfriamento se dá sob a presença
de substâncias voláteis aprisionadas, o que leva a uma cristalização mais perfeita
dos minerais. Tem-se dessa forma, o aparecimento de cristais maiores, formando-se
dessa maneira as rochas holocristalinas de estrutura granular. Quando o magma se
resfria na superfície da crosta através do extravazamento, a temperatura e a
pressão caem rapidamente, não são aprisionados voláteis e não existem então
condições favoráveis à cristalização total dos minerais e formação de cristais
grandes. Assim, originam-se as rochas de granulação muito pequena .
De acordo com o local em que se dá a consolidação há dois tipos básicos de
atividade ígnea:
a) Plutonismo: a consolidação ocorre no interior da crosta, originando as rochas
plutônicas ou intrusivas.
b) Vulcanismo: o magma irrompe e derrama-se à superfície para formar rochas
vulcânicas ou extrusivas.
95

Figura 60. Bloco diagrama de alguns corpos magmáticos, onde:

BATÓLITO = grande corpo magmático continuo, formado em profundidade.


STOCK = semelhante ao batólito, só que menor.
LACÓLITO = intrusão magmática em forma de domo.
DIQUE = corpos magmáticos, tabelares mais ou menos
verticais, semelhante a paredes.
SILL = intrusões devido à penetração do magma em extratos pre-existentes sem
quebrá-los.
XENOLITO = fragmento de rocha pré-existente, incluso uma rocha magmática.

Formas concordantes. Neste caso, a intrusão magmática intromete-se entre


os planos de estratificação da rocha encaixante em concordância com eles. Entre as
formas concordantes temos:
(a) Sil. São corpos extensos, pouco espessos e de forma tabular quando
vistos em corte. O magma deve ser pouco viscoso para poder intrometer-se entre os
planos de estratificação da rocha encaixante (Fig. 61). Na bacia do Maranhão há
grande ocorrência de sils de diabásio.
(b) Lacólito. O magma, neste caso, é mais viscoso, formando massas
intrusivas de forma lenticular, plano-convexas. A rocha situada acima do corpo
intrusivo (capa) é dobrada, e as rochas situadas na parte inferior (lapa) não são
afetadas. Um lacólito (Fig. 62) pode ter 300 m de espessura e 5 km de comprimento.
96

(c) Lapólito. Como o nome indica, tem a forma de uma bacia, de grandes
dimensões e ocorre sempre no fundo de dobras do tipo sinclinal (Fig 63).

Figura 61. Sil. Formado quando o magma se aloja entre os estratos das rochas
sedimentares. No exemplo, os estratos estão inclinados (extraído de Popp, 1998).

Fig. 62 Lacólito. Forma-se quando o magma é introduzido entre as camadas, produzindo


uma convexidade nas camadas superiores (extraído de Popp, 1998).
97

Fig. 63 Lapólito. A intrusão resulta numa bacia, geralmente preenchendo


asdepressões dos siclinais (extraído de Popp, 1998).

(d) Facólito. É o nome dado a um corpo intrusivo concordante, confinado nas


cristas dos anticlinais ou no fundo de sinclinais. Tem a forma de crescente porque
está comumente associado a dobras mergulhantes (Fig. 64).
Formas discordantes. Esses corpos intrusivos independem da estratificação
da rocha encaixaste, pois a cortam discordantemente. São mais freqüentes perto da
superfície da Terra, onde as pressões a serem vencidas são menores.
Entre as formas discordantes temos:

Fig. 64 Facólito. É uma intrusão concordante,


com as camadas dobradas geralmente
assumindo a forma crescente (extraído de
Popp, 1998).

A
98

B
Fig. 65 Diques. (A) Massa magnética que preenche fendas ou falhas cortando
discordantemente os estratos. (B) Pequenos diques de diabásio cortando migmatitos
(extraído de Popp, 1998).

(a) Dique. É uma massa magmática que preenche uma fenda em rocha preexistente
(Fig. 3.8). Os diques podem ser classificados em radiais, em anel (ring dikes) ou
circulares, conforme se apresente em conjunto na superfície após a erosão. Muitas
vezes os diques se formam a partir de um corpo intrusivo maior. Nas bacias do
Maranhão e do Paraná há grande incidência de diques de diabásico.
(b) Veios. São massas produzidas pela injeção de magma em fraturas menores e
menos regulares do que diques.
(c) Neck. São corpos discordantes, cilíndricos, verticais, que cortam as rochas
preexistentes (Fig. 3.9). Pelo estudo da litologia formadora dos necks, vê-se que
eles são condutos de antigos vulcões cuja parte superior foi erodida.
(d) Batólitos e stocks. Os batólitos são massas enormes de material magmático
(granítico) que afloram numa extensão de, pelo menos, 100 km 2 na superfície
terrestre. Se o afloramento tiver menos de 100 km 2, temos o stock. Os batólitos não
têm, aparentemente, delimitação em profundidade, passando gradualmente à zona
das rochas fundidas. Os batólitos formam grande parte dos escudos ditos Escudo
Nordestino e Escudo Brasileiro, entre outros.
Eles são, normalmente, de composição granítica, e sua origem é ainda
bastante discutível (Fig. 1.10).
Deve-se notar, com respeito aos corpos acima referidos, sejam eles
concordantes ou discordantes, o seguinte:
(1) a classificação adotada diz respeito somente à forma geométrica do corpo, e não
à litologia formadora;
(2) normalmente, os corpos intrusivos são mais resistentes à erosão do que a rocha
encaixante, donde o fato de estes corpos sobressaírem-se na topografia com
respeito à rocha encaixante.
99

6.3. Composição e Classificação das Rochas Magmáticas

Aproximadamente 99% da massa das rochas magmáticas é formada por oito


elementos - oxigênio, silicio, alumínio, ferro, cálcio, sódio, potássio e magnésio,
sendo a maioria, parte da estrutura cristalina dos silicatos formadores das rochas
como feldspatos, olivinas, piroxênios, anfibólios, quartzo e micas. Estes seis
minerais constituem 95% do volume de todas as rochas magmáticas comuns.
Magmas, chamados de máficos, são ricos em ferro, magnésio e cálcio e
produzem grande quantidade de olivina, piroxênio, anfibólio e plagioclásio cálcico.
Possuem coloração escura.
Magmas, chamados de siálicos, são ricos em silicio e alumínio e produzem
grande quantidade de quartzo, feldspatos potássico e plagioclásio sódico. Possuem
coloração clara.
Alguns caracteres macroscópicos para as rochas ígneas.
1. São em geral duras.
2. Os cristais se dispõem por justaposição.
3. Não apresentam estruturas segundo faixas ou camadas.
4. São maciças, quebram-se de forma irregular.
5. Apresentam uma textura cristalina, vítrea ou vesicular.
6. Não apresentam fósseis.
7. Apresentam alto teor em feldspatos.
Os principais critérios de classificação são os seguintes:
A – Modo de ocorrência.
B – Texturas.
C – Estruturas.
D – Composição Mineralógica e Química.

A - O modo de ocorrência é um critério de campo, ou seja, uma vez formado,


o magma pode apresentar grande mobilidade, tendendo a ascender ao longo de
fissuras da crosta, deslocando ou englobando rochas vizinhas, podendo,
100

eventualmente, extravasar à superfície ou então solidificar-se no interior mesmo da


crosta.
B - A textura refere-se a fenômenos de escala extremamente pequena e, em
geral, seu estudo é feito com auxilio de lupa e microscópio (ver item 6.3).
C - As estruturas são aspectos megascópicos que podem ser observados em
amostras grandes ou no campo. As mais comuns são as que seguem:
a) Estruturas vesiculares e amigdalóides - apresentam pequenas cavidades
esféricas. Podem se apresentar vazias (vesículas) ou preenchidas por minerais
secundários (amígdalas) (Figura 66).
101

Figura 66. Basalto com estrutura amigdalóide e vesicular caracterizado pelo preenchimento de
minerais (branco) e orifícios (vazios), respectivamente (Popp, 1988).

b) Estruturas em bioco (biock lava) e brechas de fluxo (floro breccias) -apresenta-se


com a forma de biocos envoltos por lava ou por materiais secundário (arenito,
calcita, etc.). Rochas com tais estruturas geralmente são chamadas brechas
basálticas. Lavas muito fluidas se solidificam formando superfícies e crostas mais
lisas, ou então com rugas e sinais de fluxo iguais aos que se pode observar em pixe
derretido derramado chamados estrutura cordadas (Figura 58).
c) Estruturas fluidas - são estruturas bandeadas, originadas de diversas maneiras
em lavas viscosas.
d) Estruturas de fraturação primária - fraturas que se originam quando da
solidificação de rochas ígneas.

D - O principal parâmetro químico é o relacionado com a quantidade total de sílica


da rocha. Podem ser de acordo com a Tabela 12:
102

Teor em SiO2 Exemplo Exemplo Teor médio


Rocha (acidez) (%) Intrusiva Extrusiva em SiO2 (%)
Acida > 65 Granito Riolito 70
Intermediária 65 - 52 Diorito Tinguaito 60
Básica 52 - 45 Gabro Basalto 50
Ultrabásica < 45 Peridotito Picrito 40

Tabela 12. Acidez de uma rocha magmática.

Na composição mineralógica, os minerais mais importantes para este fim são


o quartzo, os feldspatos (alcalinos e plagioclásios); minerais claros (félsicos) e os
minerais ferro-magnesianos anfibólios, piroxênios e a biotita; minerais escuros
(máficos).

6.4. Resfriamento do Magma

A cristalização de minerais, a partir do magma, ocorre entre 1200 e 600°C. No


resfriamento do magma distinguem-se três estágios sucessivos.

6.4.1. Estágios de Resfriamento

Cristalizam-se os minerais que formem a massa rochosa propriamente dita. A


seguir cristalizam-se a maior parte dos silicatos, obedecendo ao grau crescente de
polimerização (primeiro os nesossilicatos e por último os tectossilicatos).
Nesta fase, os constituintes voláteis praticamente não interferem a neo ser
para manter a fluidez do magma.

6.4.1.1. Estágio Pneumatólitico (ou Pegmatítico)

Nesta fase, os gases aumentam em proporção e devido às altas temperaturas


e pressões em que se encontram, têm sua ação dissolvente aumentada, provocando
percolação através das rochas, acarretando a formação de novos minerais como a
turmalina e o topázio, além de modificações estruturais nas rochas já formadas.
103

6.4.1.2. Estágio Hidrotermal

Com resfriamento já avançado, restam no magma soluções residuais


contendo água, sílica e grande números de elementos metálicos, que vão se
depositando ou reagindo com as rochas presentes, dando origem às jazidas
minerais de cobre, ouro, zinco, chumbo e outros elementos metálicos.

6.4.2. Textura das Rochas Magmáticas

A textura refere-se ao tamanho, forma e arranjamento dos minerais dentro


das rochas. A textura das rochas magmáticas relaciona-se principalmente com a
composição e velocidade de resfriamento do magma.

A textura é definida por, pelo menos, três parâmetros principais:

1° - O grau de cristalização, pelo qual a rocha classifica-se em:


a) rochas holocristalinas ou cristalinas: constituídas exclusivamente por material
cristalino. Ex::granitos, diabásico;
b) rochas holovítreas ou vítreas: exclusivamente por material vítreo. Ex:
Obsidiana;
c) rochas hipocristalinas ou hipovitreas: mesma rocha encontra-se material
cristalizado e vítreo. Ex: basalto.

2° - O tamanho dos cristais, pelo qual a rocha classifica-se em:


a) fanerítica, quando os minerais constituintes podem ser percebidos a olho nu;
b) afanítica, quando os minerais formam partículas tão pequenas que não podem ser
percebidos a olho nu. Neste caso, a rocha apresenta um aspecto maciço.

3° - O tamanho e relação mútua dos cristais, que permite classificar as rochas em:
a) equigranulares - quando os cristais têm aproximadamente o mesmo tamanho;
104

b) inequigranulares - quando as partículas constituintes apresentam dimensões bem


diferentes, caso em que existe um tipo particular de textura bastante comum,
chamada porfirítica, na qual existem cristais maiores e mais bem-formados envoltos
por um aglomerado, freqüentemente afanítico, ou de minerais menores.

6.5. Seqüência de Cristalização

A série de cristalização de BOWEN é bastante genérica, não sendo


possível através dela prever ou analisar todos os casos, existindo várias exceções a
ela. Entretanto, a composição das rochas mais comuns pode ser entendida ou
inferida através dela. A série de BOWEN é válida para a fase ortomagmática de
resfriamento, e pode ser ilustrada por meio de um diagrama.
105

Evidentemente há gradação e tipos intermediários de textura em relação às apresentadas.

Os minerais máficos (olivinas, piroxênio, hornblenda e biotita), formam na


terminologia de BOWEN uma série de reações descontínuas. Isto significa que cada
substância mineral reage com o fundente formado um mineral subseqüente e a
relação se dá a temperatura determinada ou num intervalo estreito de temperaturas.
Tem-se, portanto, a formação da olivina que, conforme a temperatura abaixa, com o
magma, ainda fundido, reagiria formando um piroxênio. Este por sua vez, passaria
da mesma forma em hornblenda, e a hornblenda em biotita.
Em contraste, os feldspatos plagioclásios da série continua de reações,
reagem continuamente com o líquido até a completa solidificação. A cristalização de
ambas as séries ocorre simultaneamente e pode se iniciar numa série ou na outra,
mas ocorrendo formação simultânea de dois tipos de cristais.
Os minerais ortoclásio, moscovita e quartzo, não se relacionam como os
demais. Formam-se preferencialmente do fundente residual, o chamado líquido
residual do magma.
Uma outra maneira de apresentar essa seqüência de cristalização, aparece
na Figura 67.
106

Figura 67. Seqüência de cristalização e as principais rochas magmáticas.

6.6. Principais Rochas Magmáticas

As rochas magmáticas são classificadas normalmente tomando-se como


critério distintivos a composição mineralógica e a textura (item 6.2).
Um resumo da composição, textura e origem das principais rochas magmáticas
aparece na Figura 68.
107

Fonte: www.geo.unimib.ib.it/photo/

Fonte: www.ut.ee/BGGMminer/

Fonte: www.ut.ee/BGGMminer/

Figura 68. Principais rochas magmáticas, sua composição mineralógica e as principais


estruturas

Distinguem-se ainda as seguintes rochas magmáticas:

- obsidiana - vidro vulcânico maciço. Textura vítrea e normalmente de

coloração escura.

- pomito - vidro vulcânico na forma de fibras e muito poroso.

- tufo - rocha formada a partir da consolidação de cinzas vulcânicas.


108

6.5.1. Família Granito – Riolito

A família granito - riolito é caracterizada pela seguinte composição


mineralógica:
Quartzo 10-40%
Feldspato K 30-60%
Plagioclásio 0-30%
Biotita e Anfibólio 10-30%

A cor clara dos granitos e dos riólitos deve-se a sua composição, ou seja, são
formados a partir de magmas ricos em potássio, silicio e sódio e pobres em ferro,
magnésio e cálcio.
Riólito- formado na ou próximo a superfície, possui coloração típica branca, cinza ou
rósea e normalmente apresenta alguns fenocristais de quartzo ou feldspatos.
Os magmas dos quais os riólitos se originam são mais viscosos e de movimentação
bastante lento. Textura afanítica.
Granito - mais comum dentre as rochas magmáticas, apresenta textura fanerítica e
possuem coloração cinza, mas quando predomina o feldspato K podem ter cores
róseas ou avermelhadas.

6.6.2. Família Diorito - Andesito

A família diorito - andesito tem composição intermediária entre a família


granito - riólito e gabro - basalto. Pode ser caracterizada pela seguinte composição:

Plagioclásio 55-70%
Anfibólio e Biotita 25-40%

O plagioclásio é normalmente, 50% cálcio e 50% sódio, possuindo pequenas


quantidades de feldspato potássico e quartzo.
109

Diorito - de textura igual ao granito, diferem apenas na composição, ou seja, o


diorito é composto por plagioclásio Ca-Na e minerais ferro-magnesianos. Muitas
vezes, o diorito aparece associado a granitos.
Andesito - a variedade mais comum é o andesito pórfiro (fenocristais formam
mais de 10% do volume da rocha) e, em geral, possuem coloração cinza,
esverdeada ou avermelhada. Os fenocristais são compostos de plagioclásio,
anfibólio ou biotita, inseridos numa matriz afanítica de plagioclásios e algum vidro.

Figura 69. Basaltos na região de Saltos do Iguaçu, Paraná (Popp, 1998).

6.6.3. Família Gabro-Basalto

A composição dessa família é a seguinte:


Plagioclásio (maioria Ca) 45-70%
Minerais ferro-magnesianos (olivina, piroxênios e anfibólio) 25-60%

Com coloração preta ou verde escura, essas rochas cristalizam-se a partir de


magmas ricos em ferro, magnésio e cálcio e pobres em sílica.
Gabro - equivalentes intrusivos do basalto, os gabros possuem granulação de
média a grosseira. Não possui quartzo, sendo formada predominantemente por
plagioclásio Ca e piroxênio. O diabásio é uma rocha intermediária entre o basalto e o
gabro.
110

Basalto - é a variedade extrusiva do diabásio e recobre extensas áreas da


Região Sul do Brasil, onde representa a rocha ígnea mais importante. Apresenta
cristalização fina a afanítica e cores escuras que podem variar do vermelho -escuro
ao preto (Figura 69). os cristais individuais só podem ser vistos através do
microscópio. Apresentam vesículas, e amígdalas preenchidas, onde, os que
apresentam grande quantidade destas ultimas chama-se basalto amigdaloidal. As
variedades de basalto pórfiro são comuns, sendo os fenocristais formados por
piroxênios e olivinas, normalmente.
São essencialmente construídas de minerais ferro-magnesianos, desprovidas
de quartzo e feldspato.
Possuem, geralmente, granulação média a grosseira, às vezes porfirítica. As
variedades mais comuns são os piroxenitos, dunitos e serpentinitos. Ocorrem no sul
do Paraná e litoral de Santa Catarina. Em Goiás, ocorrem associados os minérios de
cromo, níquel, cobalto e platina.
A chave para classificação das principais rochas magmáticas estão na Figura
70.
111

Figura 70. Classificação das Rochas Magmáticas ou Ígneas.


112

CAPÍTULO 7. ROCHAS SEDIMENTARES

7.1. Introdução

As rochas sedimentares são originadas a partir dos detritos de outras rochas


e acumulam-se na superfície da terra em condições normais de temperatura e
pressão. Sua formação tem origem no momento em que fragmentos dessas rochas
primitivas são desalojados por algum processo de desagregação, passando pelas
seguintes fases: intemperismo - erosão - transporte - deposição - diagênese
(consolidação). Essas fases formam um processo denominado ciclo sedimentar e a
sucessão de eventos é contínua e interdependente (FIGURA 71).

ROCHA PREEXISTENTE
(ÍGNEA, SEDIMENTAR OU METAMÓRFICA
DE
CA ÃO

C
SI Ç

O
)
FÍ A

Q MP
O GR

UÍ O
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(A IN

A ÃO
S

METEORIZAÇÃO
DE

Fragmentos de todos os tamanhos Soluções de Ca, Na, Mg, K, SiO2


coloidal, argilas e óxidos de Ferro.

DETRITOS SOLUÇÕES

TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO
(por gravidade, geleiras, vento, água, organismos, rios etc...)

ROCHAS SEDIMENTARES

Sedimentos clásticos ou detríticos


Precipitados químicos e orgânicos
(arenitos conglomerados, folhelhos (calcários dolomitos, sal, carvão etc...)
etc...)

Figura 71. A formação de rochas sedimentares (Popp, 1988).


113

O intemperismo consiste da transformação das rochas em materiais mais


estáveis em condições físico-químicas diferentes daquelas em que se originaram.
Esta transformação ou alteração pode ser física (desgaste e/ou desagregação da
rocha) ou química (decomposição química da rocha).
Durante o intemperismo, os minerais sofrem transformações químicas
importantes: (a) parte de seus constituintes é dissolvida e carregada pelas águas de
infiltração (Ca, Mg, K, Na e Fe, principalmente), de modo que esses minerais só vão
reprecipitar-se sob a forma de sedimentos químicos; (b) parte dos minerais, como os
feldspatos, anfibólios, micas etc. é transformada em argilo-minerais, ou seja,
minerais moles, terrosos, formados por cristais ínfimos; (c) o quartzo e uns poucos
minerais, colilo a ilmenita, granada e monazita, não se alteram e permanecem nos
solos sob a forma de grânulos duros e areia; (d) quando o intemperismo é
incompleto, restam ainda no solo fragmentos mais resistentes de rocha. Assim, o
intemperismo transforma as rochas em solos residuais formados por uma mistura de
argila, areia e fragmentos de rocha. Ao longo dos processos de transportes e
deposição há uma expressiva seleção física e química de materiais. Sendo que,
materiais de tamanho semelhante acumulam-se em ambientes de deposição
específicos e os materiais mais solúveis tendem a se perder na solução.
Os materiais transportados pelas chuvas, rios, ventos etc., são redepositados
formando depósitos denominados sedimentos clásticos ou detriticos.
Durante o transporte esses materiais são separados uns dos outros pelos
agentes de transporte em função do tamanho e da dureza das partículas, de sorte
que os sedimentos formados são constituídos (mais ou menos separadamente) por
argila, areia ou cascalho.
Dessa forma, os dois tipos principais de sedimentos que resultam do ciclo
exógeno são os sedimentos químicos e os sedimentos clásticos.
Uma terceira categoria de sedimentos pode será adicionada às duas
primeiras: os sedimentos orgânicos, os quais, em princípio, também são sedimentos
químicos ou clásticos, mas apresentam a particularidade de terem sido originados
114

da intervenção ou da acumulação de restos de esqueletos e carcaças de seres


vivos.
O fato das rochas sedimentares serem formadas por agentes da superfície da
terra (água, vento, gelo) e em condições de temperatura e pressões baixas, confere-
lhes um estado de equilíbrio físico-química-mineralógico maior em relação ao meio
ambiente da superfície da terra quando comparadas às rochas magmáticas ou
metamórficas que, em seu processo de formação, sofrem a influência de elevadas
pressões e temperaturas. Uma distinção deve ser feita entre rocha sedimentar e
sedimento. Sedimento é considerado um depósito de material sólido na superfície da
terra, formado por algum meio natural (água, vento, geleira), sob condições normais
de temperatura e pressão. Rocha sedimentar é por sua vez, o sedimento
consolidado, endurecido por processos físicos (compactação) e/ou químicos
(cimentação).
Segundo POPP (1998) os principais processos de litificação ou diagênese.
são os seguintes:
Compactação: Redução volumétrica causada principalmente pelo peso das
camadas superpostas e relacionada com a diminuição dos vazios, expulsão de
líquidos e aumento da densidade da rocha. É o fenômeno típico dos sedimentos
finos, argilosos.
Cimentação. Deposição de minerais nos interstícios do sedimento, produzindo
a colagem das partículas constituintes. É o processo de agregação mais comum nos
sedimentos grosseiros e arenosos.
Recristalização. Mudanças na textura por interferência de fenômenos de
crescimento dos cristais menores ou fragmentos de minerais até a formação de um
agregado de cristais maiores. E um fenômeno mais comum nos sedimentos
químicos.
Os sedimentos argilosos, por exemplo, litificam-se por compactação, ou seja,
as partículas de argila que no início da sedimentação se dispõem segundo uma
estrutura cheia de vazios, sob a ação do peso das camadas superiores, são
compactadas umas contra as outras, de modo a formarem uma rocha dura como o
tijolo prensado. Já a areia de praia endurece principalmente pela introdução de
substâncias cimentantes: carbonato de cálcio, óxidos de ferro, sílica etc.
Os sedimentos químicos, por sua vez, ao precipitarem, sofrem fenômenos de
cristalização que dão origem a rochas muito duras.
115

Figura 72– Representação de uma rocha sedimentar (modificado de http://www.rc.unesp.br )

7.2. Ciclo Sedimentar

O processo de formação das rochas sedimentares - ciclo sedimentar - pode


ser esquematizado conforme a Figura 73.
116

Figura 73. Esquema simplificado do ciclo sedimentar.

O intemperismo resulta de um conjunto de processos que, agindo sobre


minerais de rochas da superfície terrestre, ocasionam sua degradação graças à
ação de agentes atmosféricos e biológicos. É, pois, o fenômeno pelo qual a rocha se
desagrega sob a ação de agentes físicos, químicos e biológicos, fornecendo material
para o sedimento. Em resumo, o intemperismo causa a troca de um estado maciço
por um estado clástico, com a conseqüente formação do sedimento.
É importante observar que a desintegração física e a decomposição química
não são processos isolados, ao contrário, ocorrem sempre conjuntamente, um
complementando a ação do outro.
A erosão refere-se à remoção de detritos que serão transportados do local e
posteriormente depositados numa bacia sedimentar. É causada por quatro agentes
principais: gravidade, ação glacial, água corrente e vento.
A gravidade envolve tanto o lento e gradual rastejo de partículas
sedimentares e fragmentos de rochas pelas encostas montanhosas, como as
avalanches. A erosão glacial ocorre onde geleiras causam abrasão na superfície
terrestre. A água corrente é um poderoso agente de erosão em várias situações
117

geomorfológicas (geomorfologia é a ciência que se ocupa com o estudo das formas


do relevo e paisagem). A ação erosiva do vento é muito pequena, mas quando o
vento carrega partículas, como acontece em regiões desérticas, torna-se um
poderoso agente erosivo.
Os produtos de intemperismo removido pela erosão são constituídos de
solutos e resíduos sólidos. Os solutos são a fração solúvel em água e por este meio
são carregados. Os resíduos insolúveis tem dimensões que vão desde matacões
(250 mm) a partículas coloidais (< 0,002 mm). Serão transportados e segregados
pelos diferentes meios de transporte de acordo com a competência ou seletividade
desses meios.
A competência se refere ao tamanho de partículas que um determinado meio
de transporte consegue transportar, isto é, um meio de transporte qualquer pode ser
capaz de transportar apenas partículas muito pequenas, outro já pode ser
competente para transportar desde partículas muito grandes até muito pequenas.
A seletividade indica a maneira com que é feito o transporte. Por exemplo, um
meio de transporte competente para transportar partículas grandes e pequenas
pode fazei-lo de maneira seletiva, transportando ou só as pequenas ou só as
grandes.
A gravidade e o gelo são meios de transporte muito competentes, podem
transportar desde partículas da fração argila (< 0,002 mm) até seixos e matacões de
vários metros de diâmetro. Sua seletividade é pequena e os depósitos por eles
formados tem partículas de composição e tamanho bastante variados.
A competência da água corrente é bem menor em relação aos dos anteriores,
porém transporta desde partículas em suspensão ou solução até partículas de
alguns centímetros de diâmetro. A seletividade é bastante elevada. Os depósitos
formados teriam granulometria variável de pequenos seixos até partículas coloidais,
mas de grande uniformidade de tamanho.
O vento é o mais seletivo e menos competente meio de transporte e sua ação
marcante sempre está associada a climas mais áridos.
118

Tanto a água corrente como o vento levam as partículas maiores a um


crescente arredondamento durante o transporte (figura 74).

Grau crescente de arredondamento

Figura 74. Grau crescente de arredondamento durante o transporte .

Com o aumento da esfericidade há também, em ambos os casos, um


polimento maior das superfícies.
O material intemperizado, transportado ou não por qualquer dos meios
mencionados é depositado em algum local, que recebe o nome genérico de bacia de
sedimentação, das quais o oceano é a principal, recebendo cerca de 90% do
material. Estes depósitos são marcados pelos meios de transporte e apresentam
características próprias de cada um, objetos de estudo da geomorfologia.
A diagênese ou litificação refere-se às mudanças que ocorrem no material
após este ter sido depositado. Normalmente a diagênese implica numa maior
organização dos materiais levando-os a uma maior estabilidade no novo meio.
Os depósitos sedimentares recentes são constituídos de minerais e
fragmentos de rochas que, sob ação continua de agentes geológicos, tendem a
sofrer consolidação, transformando-se em rochas sedimentares, como por exemplo,
a consolidação de areias formando arenitos, de argilas formando folhelhos.
O endurecimento e a aglutinação desses minerais e fragmentos podem ser
devidos a vários fatores, tendo maior destaque a ação de agentes cimentantes,
depositados durante ou posteriormente a formação do sedimento. Estes agentes
adquirem particular importância nos sedimentos detríticos, sendo freqüentemente de
natureza diversa do material intemperizado. Nos sedimentos resultantes de
precipitação química ou orgânica o cimento é geralmente de mesma natureza dos
119

minerais formados, como por exemplo, nos calcários, onde os minerais (calcita,
dolomita, etc.) são cimentados pelo próprio carbonato.
Algumas características das rochas sedimentares, como dureza, cor, são
conseqüências do cimento presente, que pode ser de diversos tipos. Os mais
freqüentes são:
a) Sílica - confere cor branca e alta dureza à rocha; geralmente é colorido por
óxidos de ferro.
b) Carbonato - calcítico ou dolomítico, de cor branca e facilmente reconhecido
pela reação com ácidos, provocando efervescência.
c) Óxidos de ferro - freqüentemente atuam como cimento, conferindo cor
vermelha ou amarela à rocha, conforme seu grau de hidratação.
d) Matéria orgânica - de cor escura (cinza a preto), é facilmente destruída por
água oxigenada.
Além destes mais comuns, outros também são freqüentes, como cimento
cloritoso, micaceo, piritoso, feldspático, etc.
É importante observar que a diagênese é um processo superficial de
endurecimento de sedimentos, realizado em condições normais de temperatura e
pressão.
O levantamento, que pode ou não fazer parte do ciclo, é a exposição à
superfície do material litificado ficando assim novamente sujeito ao intemperismo,
erosão, transporte, fechando assim o ciclo sedimentar. O levantamento é suprimido
caso a rocha sedimentar esteja se formando diretamente sobre a superfície.
Deve-se lembrar que o ciclo sedimentar é um processo ativo e contínuo,
estando suas diferentes fases interligadas e podendo estar ocorrendo
concomitantemente.
120

Figura 75 – Ciclo da Rochas ou Ciclo Petrogénico (extraído de http://www.rc.unesp.br )

7.3. Composição

Sendo as rochas sedimentares são derivadas de um material preexistente,


poderíamos esperar que sua composição fosse extremamente variável e complexa.
Isso de fato ocorre quando o sedimento é depositado próximo a área de origem, mas
quando o intemperismo e a erosão são prolongados. A diferenciação sedimentar vai
concentrar materiais semelhante em tamanho, forma e composição em depósitos
distintos.
121

Figura 76. Seleção de material durante o transporte.

A maioria das rochas sedimentares é composta de materiais que são


abundantes em outras rochas ou seus respectivos produtor de intemperismo, e que
são estáveis sob condições de pressão de temperatura da superfície. A grande parte
das rochas sedimentares é na sua maior parte composta de apenas quatro
constituintes: quartzo, calcita, argila e fragmentos de rochas.
Quartzo (SiO2) - o quartzo é o mineral clástico mais abundante em rochas
sedimentares. A razão para isso é a grande abundância do quartzo na maioria das
rochas e sua elevada dureza, resistência ao intemperismo e estabilidade química
nos mais diversos ambientes. Os processos do ciclo sedimentar tendem a
desintegrar, e decompor, os minerais menos estáveis concentrando o quartzo nos
depósitos de areia. A sílica amorfa em solução ou do tamanho coloidal também é um
produto de intemperismo de várias rochas magmáticas e pode se precipitar em
depósitos de granulação mais grosseira.
Calcita (CaCO3) - a calcita é constituinte principal das rochas calcárias e é o
agente cimentante mais freqüente de depósitos arenosos ou argilosos. O cálcio é
122

originado a partir do intemperismo de rochas magmáticas que contém minerais


como os plagioclásios cálcicos. O carbonato é derivado da água e do ar atmosférico.
O cálcio é precipitado diretamente na forma de CaCO 3 (calcita) ou extraído da água
do mar por organismos e concentrado em conchas. Quando esses organismos
morrem, as conchas e seus fragmentos acumulam-se como material clástico,
formando assim a maioria das rochas calcárias.
Argilas - os minerais de argila se originam do intemperismo dos silicatos,
principalmente dos feldspatos. A granulometria desses minerais é muito pequena e
eles se concentram em argilitos e folhelhos. A abundância dos feldspatos na crosta
terrestre, associado ao fato de que eles se decompõe com facilidade sob condições
atmosféricas, explicam a ocorrência generalizada desses minerais nos sedimentos.
Fragmentos de Rocha - fragmentos de rocha, nos quais os constituintes
minerais não estão decompostos ou desagregados são de ocorrência comum nas
rochas clásticas de granulação mais grosseira. Os fragmentos de rocha também
podem ser parte predominante de rochas arenosas.

OUTROS MINERAIS

Depósitos de quartzo, calcita e argila isolados ou em várias combinações


representam o maior volume das rochas sedimentares, outros minerais no entanto,
muitas vezes aparecem em quantidade suficiente para formar extratos isolados. A
dolomita, CaMg(CO3)2 pode substituir a calcita nos calcários. O feldspato e a mica
podem aparecer em grande quantidade em rochas arenosas se o intemperismo
químico for pouco intenso. A halita e o gipso precipitou-se por evaporação de águas
marinhas e podem acumular grossas camadas em certos ambientes. Os óxidos de
ferro podem se precipitar de soluções formando depósitos ou cimentando materiais
elásticos mais grosseiros. A matéria orgânica geralmente de pequena ocorrência em
123

rochas sedimentares, mas seu acúmulo, na forma de material vegetal, pode em


alguns casos originar grandes depósitos.

7.4. Estrutura e Textura das Rochas Sedimentares

Existem estruturas que são típicas das rochas sedimentares e são feições
importantes na sua identificação.
A mais importante é a estratificação, que é o desenvolvimento de camadas
que ocorre nas rochas sedimentares produzido por mudanças físico-químicas
durante o transporte e deposição do ciclo sedimentar que os origina. A espessura
dessas camadas varia de alguns milímetros à vários metros, por ter desenvolvido
horizontalmente ou inclinado e é um forte indicativo do tipo de ambiente de
sedimentação e da direção do transporte.
A textura das rochas sedimentares relaciona-se de maneira muito estreita
com a distância e o tipo de transporte das partículas e com o ambiente de
deposição.
Temos basicamente dois grandes grupos de sedimentos: os detríticos
(fragmentos) e os químicos (compostos químicos solúveis), que originam dois tipos
básicos de textura: textura clástica constituída de fragmentos e detritos de rochas e
a textura cristalina composta de cristais que cresceram a partir de soluções . A
textura clástica origina as rochas sedimentares clásticas (fragmentárias ou detríticas)
enquanto que a textura cristalina origina rochas sedimentares químicas e orgânicas.
Textura clástica - o critério básico para classificar texturas clásticas é o
tamanho das partículas. As duas escalas mais seguidas estão representadas na
Tabela 13.
As classes de tamanho podem posteriormente ser subdivididas de acordo
com arredondamento e esfericidade (Figura 74) e tipo de cimentação. As partículas
transportadas menos arredondadas do que as transportadas por água corrente ou
vento.
124

O grau de seleção do material é também um critério importante. Materiais


bem selecionados tem pouca variação granulométrica e homogeneidade
mineralógica.

Tabela 13. Escalas de tamanho de partículas.


WENTWORTH ATTERBERG
DIÂMETRO (mm) DIÂMETRO (mm)
Argila < 1/256 < 0,002
Silte 1/256 - 1/16 0,002 - 0,02
Areia fina 1/16 - 1/14 0,02 - 0,2
Areia Grossa 1/14 - 2 0,2 – 2
Cascalho fino 2 - 64 2 – 20
Cascalho grosso 64 - 256 20 - 200
Matacão > 256 > 200

TEXTURA CRISTALINA

Os minerais precipitados a partir de águas marinhas ou lagos desenvolvem


uma textura semelhante a uma rede emaranhada de cristais. Essa textura é
semelhante a de algumas rochas magmáticas, mas geralmente é composto por um
único mineral dominante. Os cristais individuais tem aproximadamente o mesmo
tamanho e formam um denso empacotamento.

7.5. Ambientes Deposicionais e Formação da Paisagem

Em regiões tropicais, o melhor ambiente de deposição de sedimentos é o


fluvial. Os ambientes desértico, lacustre e glacial também são ou foram importantes
em nossas condições.
125

7.5.1. Ambientes Deposicionais

I. Ambiente Fluvial

Em áreas continentais, os rios são os principais meios de transporte de


sedimentos formados pelo intemperismo. Os materiais sólidos transportados pelos
rios podem ser divididos em 2 grupos: carga do fundo, que é o material que se move
ao longo do leito por processos de saltação e rolamentos, e a carga de suspensão.
Além disso, os rios carregam grande quantidade de materiais inorgânicos e
orgânicos dissolvidos.
Na Figura 77 vemos os principais depósitos formados pela ação fluvial.

Figura 77. Depósitos formados pela ação fluvial.

Os depósitos de canal constituem o maior volume depositado pelos rios. Os


depósitos marginais são originados nas margens dos canais durante as enchentes e
compreendem os depósitos de diques marginais ou diques naturais e de rompimento
de diques. Os depósitos de planície de inundação são constituídos essencialmente
126

por sedimentos finos depositados durante grandes enchentes, quando as águas


ultrapassam os diques naturais e inundam as planícies. Muitas vezes esses
depósitos são responsáveis pela alta fertilidade de algumas várzeas.
O depósito residual de canal, formado por seixos grandes que o rio teve
pouca competência para carregar, constitui forte evidência do tipo de transporte
sofrido pelos sedimentos.
Os depósitos formados por ação fluvial geralmente são bem relacionados e
tem boa estratificação.

II. Ambiente Desértico

Deserto é uma área onde a taxa de evaporação potencial excede a taxa de


precipitação pluviométrica e o vento é o agente geológico mais importante nos
processos de erosão e sedimentação. Nos ambientes desérticos predominam o
intemperismo físico das rochas envolvendo processos de fraturamento e exfoliação.
O arenito da Formação Botucatu na Bacia do Paraná foi originada de um
ambiente com depósitos grosseiros de areia ou arenitos com estratificação cruzada
bem desenvolvida e fortes ângulos de mergulho apresentando localmente camadas
horizontais. Isso há 135 milhões de anos aproximadamente.

III. Ambiente Lacustre

Refere-se à deposição em lagos, que são corpos de água parada, em geral


água doce. Seus sedimentos tem normalmente um aumento de granulometria rumo
ao topo, sendo os sedimentos mais profundos argilosos.
São também característicos do ambiente a estratificação perfeitamente
paralela e de espessura muito pequena.

IV. Ambiente Glacial


127

Estão praticamente limitados aos pólos norte e sul e às altas montanhas. As


geleiras são os agentes principais nos processos geológicos que atuam nesse
ambiente. Os depósitos não estratificados ou tilitos, originados pela atividade das
geleiras, possuem materiais de granulometria bastante variável, contendo siltes,
argilas, seixos e matacões de diversos materiais encontrados no caminho percorrido
pela geleira. No Brasil, o Grupo Tubarão contém fortes evidências de períodos
glaciais.

7.5.2. Formação da Paisagem

A ciência que se ocupa da formação de paisagens é a geomorfologia. A


formação da paisagem está fortemente relacionada com o material geológico
superficial e com os agentes erosivos e transporte que atuam em determinada
região. Portanto, feições de paisagem onde predomina uma intensa atividade glacial,
será totalmente diferente daquela devido à ação fluvial. Os mesmos agentes
formarão paisagens diferentes dependendo das rochas ou material geológico
encontrado.
As formas e formação da paisagem tem por isso estreita ligação com a
geologia e com os processos dinâmicos que atuam num local, consequentemente
tem excelente correlação com o tipo de solo formado nas diferentes feições ou
posições da paisagem.
A paisagem é o retrato ou reflexo de todas as características e processos
dinâmicos que atuam durante o tempo numa área e deve sempre ser estudada ou
analisada quando interferências ou observações da geologia de superfície ou
referentes aos solos (pedológicas) forem feitos.
Na Figura 78 vemos a evolução da paisagem considerando agentes e
materiais geológicos distintos.
128

A = Paisagem formada em região de atividade vulcânica.


B = Formação da paisagem devido à ação glacial.
C = Ação fluvial na formação da paisagem.

Figura 78. Evolução da paisagem.

7.6. Classificação

As rochas sedimentares clásticas resultam de processos completamente


diferentes daquelas formadas por precipitação química ou sedimentação de
compostos orgânicos. Por isso, as rochas sedimentares são divididas em 2 grupos:
rochas clásticas e de origem químico-orgânica. A subdivisão de cada um dos grupos
é feita com base na textura, composição ou outra característica relevante. Cerca de
90% das rochas sedimentares podem ser classificadas como variedade de argilito,
siltito ou arenito.
129

As rochas clásticas são classificadas de acordo com o tamanho das partículas


com posterior subdivisão por composição.
As rochas de origem química são primeiramente subdivididas de acordo com
sua composição. As subdivisões seguintes baseiam-se em feições específicas.

Tabela 14. Classificação das rochas clásticas, químicas e orgânicas.


Residuais Psefitos
Psamitos
CLÁSTICAS Epiclásticas Pelitos

Piroclásticas Brecha Vulcânica


Tufo Vulcânico

QUÍMICAS Evaporitos
De Atividade Bioquímica

Caustobiólitos
ORGÂNICAS Carbonatadas
Acaustobiólitos Silicosas
Fosfatadas

7.6.1. Rochas Clásticas

As rochas clásticas são compostas principalmente de fragmentos ou detritos


de outros materiais rochosos. Tais depósitos são denominados de cascalhos, areias
ou argilas, quando não estão consolidados e conglomerados, arenitos ou argilitos
quando consolidados e endurecidos. A maior parte do material é selecionado,
estratificado e mostra sinais de abrasão. A classificação das rochas clásticas é
baseada na textura e composição (Tabela 15).
130

Tabela 15. Classificação das rochas clásticas ( Popp,1998).

Nomes dos sedimentos ou rochas


Granulometria
Grupos sedimentares
(Wentworth) Outras características
Principais Sedimentos não Rochas sedimentares
(mm)
consolidados correspondentes
256 MATACÕES São geralmente
Blocos ou formados por
64-256 CASCALHO fragmentos de rocha
SEDIMENTOS GROSSO ou matriz arenosa ou
DE Seixos ou síltica. As variedades
CONGLOMERADO
GRANULAÇÃ 4-64 CASCALHO com partículas
S E BRECHA
O GROSSEIRA FINO arredondadas são os
OU PSEFITOS CONGLOMERADOS
. Quando as partículas
2-4 GRÂNULOS são irregulares, tem-se
a brecha.
As areias são
AREIA ARENITOS predominantemente
1/4-2
SEDIMENTOS GROSSA GROSSEIROS formadas por quartzo.
DE Por cimentação,
GRANULAÇÃ formam os arenitos.
O MÉDIA OU Arenitos com 25% ou
PSAMITOS 1/16-1/4 AREIA FINA ARENITOS FINOS mais de feldspato
denominam-se
arcósios.
Os siltes são formados
por minerais
SILTITOS E finalmente moídos
1/256-1/16 SILTE
FOLHELHOS (pode de rocha) e a
compactação forma os
SEDIMENTOS siltitos.
DE As argilas são
GRANULAÇÃ predominantemente
O FINA OU composta por argilo
PELITOS minerais e são
ARGILITOS E
1/256 ARGILA plásticas. Os argilitos
FOLHELHOS
são mais maciços e os
folhelhos apresentam
foliação
131

I. Conglomerado

Os clastos são pouco


arredondados, e a matriz
granodecrescência (gradação no
tamanho do grão diminuindo para
o topo).

CLASTO

Fonte: POPP, 1998

Consistem de fragmentos de rochas grandes (> 2 mm), os chamados clastos.


Quando os clastos são angulosos, a rocha denomina-se brecha, podendo indicar
pouco ou nenhum transporte. Quando os clastos sofrem arredondamento, em geral
estão associados a uma matriz arenosa, e o depósito constitui um
ortoconglomerado.
Os fragmentos que formam o conglomerado são unidos por matriz arenosa,
argilosa e agentes cimentantes (sílica, óxidos de ferro, carbonatos). Os seixos
individuais são bem selecionados e arredondados. Os seixos do conglomerado
podem ser de qualquer mineral ou rocha, sendo mais comum serem constituídos de
materiais resistentes como o quartzo ou fragmentos de quartzito. Fragmentos de
calcários ou granitos podem predominar em alguns casos.
Águas correntes muito fortes, gelo ou a gravidade são os únicos agentes
competentes para o transporte de seixos grandes. Os ambientes comuns de
ocorrência de conglomerados são terraços aluvionares, canais de rios ou praias.
132

FOTO – CONGLOMERADO EM MATRIZ DE ARENITO GROSSO


Fonte: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/ )

II. Brecha
BRECHA ( 20 X )

FRAGMENTOS DE
ROCHA

FRAGMENTOS DE
ROCHA

Brechas são rochas clásticas de granulação grosseira nas quais os


fragmentos são angulares e apresentam poucas evidências de abrasão. O material
normalmente é pouco selecionado e apresenta matriz fina. As brechas mais comuns
se originam da atividade glacial ou outros fenômenos de movimento de massas.
III. Arcósio
ARCÓSIO ( 20 X )

FELDSPATO

QUARTZO
133

Fonte : http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

São rochas clásticas que contém no mínimo 25% de feldspatos. O quartzo é o


outro constituinte principal. A rocha tem geralmente coloração rósea e lembra muito
o granito. Normalmente tem granulação grosseira, pouco arredondamento e seleção
moderada.

IV. Arenitos
ARENITO ( 20 X )

QUARTZO

Fonte: POPP,1998.

Sedimentos clásticos nos quais a maioria das partículas tem diâmetro entre
1/6 a 2 mm. Os grãos individuais são geralmente arredondados e mostram
claramente os efeitos da abrasão. O quartzo normalmente é o mineral dominante,
mas, feldspatos, granadas, micas e outros minerais podem estar presentes em
quantidades variáveis.
Arenitos pouco selecionados e com grande quantidade de argila associada
(mais que 20%) são chamados de grauvacas.
134

Os agentes cimentantes comuns são carbonatos, sílica e óxidos de ferro. Os


arenitos normalmente são estratificados e de coloração variável dependendo do
cimentante. A sua distribuição é generalizada, sendo encontrados nos mais diversos
ambientes.

V. Siltitos

FOTO – AFLORAMENTO DE FILITO, EXIBINDO


LAMINAÇÃO PLANO-PARALELA.
Fonte : http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/
Os siltitos são rochas clásticas de granulação fina com mais da metade de
suas partículas com diâmetro entre 1/16 a 1/256 mm. A estratificação é bem
evidente e sua composição mineralógica comum é o quartzo associado em menor
quantidade com micas e minerais de argila.
Aparecem nos deltas ou planícies de inundação dos rios. Dificilmente formam
depósitos espessos, ocorrendo normalmente estratos intercalando argilitos ou
arenitos.
135

VI. Argilitos

FOTO – AMOSTRA DE ARGILITO, ASPECTO


UNTUOSO E COLORAÇÃO CLARA.
Fonte: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

Rochas clásticas de granulação fina cujas partículas são menores que 1/256
mm. Apresentam estratificação muito fina recebendo a denominação de folhelho.
Os minerais de argila, micas e algumas vezes o quartzo constituem a maioria
das rochas. A calcita pode estar presente atuando como cimentante.

VII. Pelitos

Como pelitos são englobados todos os sedimentos eu inferiores a 0,062 mm


de diâmetro (escala de Wentworth).
Quando os pelitos possuem muita mica, esta se dispõe segundo laminas
plano paralelas entre os grãos finos, o que confere à rocha grande fissilidade, ou
seja, a propriedade de esfoliar-se segundo planos paralelos. Neste caso, o
sedimento é denominado folhelho. Os pelitos encontram-se comumente em
ambientes subaquáticos de águas calmas tais como lagos, zonas abissais marinhas,
pântanos etc.
136

FOTO EXTRAÍDA DE POPP (1998).

7.6.2. ROCHAS SEDIMENTARES QUIMICAS E ORGÂNICAS

As rochas sedimentares químicas são formadas a partir de minerais


precipitados, como a calcita e dolomita , a sílica , a halita e silvita , já as rochas
sedimentares orgânicas são originadas pela precipitação e/ou acúmulo de materiais
orgânicos animais ou vegetais, como esqueletos (diatomito), conchas, carapaças
(recifes de corais), restos vegetais (carvão).

7.6.2.1. ROCHAS SEDIMENTARES QUIMICAS


137

I. Calcários

Fonte: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

São rochas sedimentares que contém mais de 50% de carbonato de cálcio.


Podem aparecer algumas impurezas tais como argilas, quartzo, óxidos de ferro e
fragmentos de rocha. A calcita e o CaCO 3 podem ter origem de precipitação química,
orgânica ou ser formados por detritos. São classificados com base em sua textura
ou outras propriedades relevante. Todos os calcários são semelhantes em
composição e apresentam efervescência em HCl a frio. A calcita pode aparecer
associadas à dolomita CaMg(CO 3)2.

II. Laterita
138

A laterita é formada pelo acúmulo secundário de óxidos de ferro como a


hematita e a goetita. Apresenta coloração vermelha ou bruna intensa, dureza
elevada e alta densidade. Forma-se normalmente na região de oscilação do lençol
freático próximo à superfície. A fase pouco endurecida da laterita é chamada de
plintita, que ora secando, ora umedecendo, sofre endurecimento irreversível e
transforma-se em laterita.

III. Evaporitos

São depósitos de cloreto de sódio, potássio, sulfatos, carbonatos, boratos e


outros sais comumente relacionados com a evaporação exagerada do solvente.
Formam-se em braços de mar, mares interiores, lagos salgados etc. É exemplo o sal
em Cotiguiba, Sergipe e Nova Olinda, Amazonas.

7.6.2.2. ROCHAS SEDIMENTARES ORGÂNICAS

De acordo com POPP (1998), são sedimentos formados pela acumulação


bioquímica de carbonatos, sílica e outras substâncias, ou então pela deposição e
transformação da própria matéria orgânica. O acúmulo de carbonato ou sedimentos
acaustobiolitos, ou seja, não-combustíveis, merecem destaque os calcários
formados pela acumulação de conchas, corais etc. ou originados pela intervenção
de certas algas, assim como sedimentos formados pela acumulação de estruturas
silicosas de foraminíferos e diatomáceas (diatomitos). A sílica e outras substâncias
são denominados caustobiolitos, ou seja, biolitos combustíveis, e se formam pela
acumulação de maior ou menor quantidade de matéria orgânica juntamente com
uma certa porção dos sedimentos argilosos ou calcários.
O tipo de material acumulado é predominantemente formado por restos
orgânicos com um dado teor de carbono . Esses sedimentos (acumulo de restos
vegetais, por exemplo ) se formam em um ambiente redutor (anaeróbico) com maior
139

ou menor teor de argila. O sedimento assim formado chama-se turfa. Com a


evolução diagenética (incrementação de carbono), a turfa passa a outras formas
cada vez mais ricas em carbono chamadas linhito, hulha e antracito.
Quando a matéria orgânica que se acumula é predominantemente constituída
por seres aquáticos como algas, plâncton, e a deposição ocorre em lagunas
costeiras ou mares rasos semifechados como o Mar Negro, por exemplo, os
sedimentos que se formam são denomina sapropélicos, e de sua diagênese e
evolução se formam os folhelhos betuminosos, os folhelhos orgânicos e o petróleo.

I. Fosforitos

São rochas de origem orgânica resultante do acúmulo de detritos de peixes,


répteis e mamíferos. Também são conhecidos por fosfatos de rocha. Sua
constituição principal é fosfato e carbonato de cálcio. O aspecto e textura dessas
rochas é muito variável.
140

CAPÍTULO 8. ROCHAS METAMÓRFICAS

8.1. Introdução

As rochas sedimentares são formadas, de modo geral, pela desintegração


e/ou decomposição de rochas pré-existentes, com posterior transporte dos detritos
ou fragmentos, culminando o processo com a deposição ou sedimentação dos
produtos da erosão, perto ou longe da área fonte que forneceu o material.
Desse modo, as condições de pressão e temperatura em que se formam as
rochas sedimentares conseqüentemente aproximam-se ou são idênticas às da
superfície terrestre.
Por outro lado, as rochas ígneas derivam-se da solidificação de um magma e
se cristalizam a temperaturas no geral desde 1100º C até 600º C, sob condições de
pressão variando desde atmosféricas (caso das lavas) até alguns milhares de bárias
(condições de profundidades de até 20 km; caso das rochas plutônicas).
As rochas sedimentares bem como as magmáticas, quando soterradas a
profundidades de 3 a 20 km em determinados ambientes geológicos onde atuam
altas pressões (dos tipos hidrostáticos e cisalhantes) e temperaturas (que oscilam
desde 100 até 600º C), tornam-se instáveis, transformando-se e constituindo assim
uma rocha metamórfica. Tais transformações são mineralógicas e/ou texturais, de
modo que a rocha passa a ter uma nova composição mineralógica e novas texturas
e estruturas.
141

Figura 79. Metamorfismo regional em área da crosta instável, sujeita a fortes compressões. A
intensidade do metamorfismo decresce nas rochas no sentido de (C) para (A); ( Extraído
de Popp, 1998).

A classificação das rochas metamórficas não obedece a critérios


determinados como nos casos anteriores, dada a sua grande variabilidade. Os mais
diversos tipos de rochas são passíveis de se metamorfizarem, de modo que não
existem parâmetros distintivos de aplicação ampla.
As rochas metamórficas são aquelas que sofreram fundamentais
modificações devido à ação do calor, pressão e ação química de fluídos e gases.
Essas novas rochas, consequentemente, chamadas de metamórficas formaram-se a
partir do fenômeno metamorfismo, ou seja, transformação.
As fontes de calor durante os processos metamórficos são corpos
magmáticos em resfriamento, desintegração radioativa de elementos e devido ao
142

gradiente geotérmico. Os fluídos e gases podem vir da porção volátil do magma ou


da atmosfera e hidrosfera superficiais.

Os principais efeitos do metamorfismo são:


i) recombinação química e crescimento de novos minerais com ou sem a
adição de elementos de fluídos ou gases percolantes;
ii) deformação e rotação dos grãos minerais constituintes;
iii) recristalizações de minerais em grãos maiores.

O resultado final é uma rocha de maior cristalinidade e dureza, adquirindo


novas feições estruturais como dobras ou outras expressões de deformação (Tabela 16).
MATERIAL DE ORIGEM CLASSES QUÍMICAS
Granitos, Arenitos, quartzitos etc. Rochas Quartzo-feldspáticas
Argilitos, Folhelhos Rochas Aluminosas
Calcários e Dolomitos Rochas Carbonatadas
Rochas de Magma Gábrico, Dioritos Rochas Básicas
Peridotitos e Serpentinitos Rochas Magnesianas
Sedimentos Ferruginosos Rochas Ferruginosas

Cada uma destas classes químicas mencionadas anteriormente possui exemplos característicos
como:

CLASSES QUÍMICAS EXEMPLOS

Rochas Quartzo-feldspáticas Gnaisses e Quartzito


Rochas Aluminosas Ardósia, Filito e Micaxisto
Rochas Carbonatadas Mármore e Escarmito
Rochas Básicas Anfibolitos e Metabasitos
Rochas Magnesianas Talcoxisto e Talcito
Rochas Ferruginosas Itabiritos
Tabela 16. Exemplos de rochas metamórficas de acordo com as classes químicas.
8.2. Tipos de Metamorfismo

8.2.1. Metamorfismo de Contato


143

Desenvolve-se ao redor de corpos ígneos intrusivos (como batólitos), que


cedem parte de sua energia térmica às rochas vizinhas encaixantes (Figura 80). Em
conseqüência, as rochas assim metamorfisadas apresentam-se em auréolas
envolvendo o corpo ígneo. Essas auréolas possuem no máximo algumas centenas
de metros de espessura. O fator dominante na sua formação é a temperatura e as
soluções gasosas que emanam do corpo ígneo, enquanto a pressão tem um papel
secundário.

CALOR

CALOR

CALOR

Figura 80. Metamorfismo de contato provocado pela intrusão de um batólito.


As rochas sofrem diferentes graus de metamorfismo, sendo muito alto em (C),
médio em (B) e baixo em (A).
144

Figura 81. Metamorfismo de contato provocado pela intrusão de um batólito. As rochas sofrem
diferentes graus de metamorfismo, sendo muito alto em (C), médio em (B) e baixo em (A); (Extraído
de Popp, 1998).

8.2.2. Metamorfismo Regional

Desenvolve-se em regiões que sofrem tecnonismo intensivo, isto é,


compressões e dobramentos de extensas áreas da crosta com atuação de pressões
orientadas e temperaturas muito elevadas (Figura 82). Em geral, as rochas que
sofreram este tipo de metamorfismo ocorrem em áreas onde existem ou existiram
grandes cadeias montanhosas, fazendo parte dos chamados escudos cristalinos.

PRESSÃO
PRESSÃO

Figura 82. Metamorfismo regional em área da costa instável, sujeita a fortes compressões.
145

8.3. Foliação

Foliação - habilidade da rocha de se separar ao longo de superfícies


aproximadamente paralelas, devido à distribuição paralela das camadas ou linhas de
um ou vários minerais na rocha. Pode ser expressa por: fratura paralela de pequena
espessura (ardósias), arranjamento paralelo de minerais alongados (xistosidade) ou
por camadas alternadas de composição mineralógica distinta (gnaisse).
A foliação desenvolve-se durante o metamorfismo por stress orientado e,
como característica fundamental das rochas metamórficas, serve como critério de
classificação.
Rochas metamórficas que não apresentam foliação são, aparentemente,
disprovidas de estrutura e constituídas de apenas um mineral.

8.4. Classificação das Rochas Metamórficas

A identificação das rochas metamórficas é muito complexa e é difícil formular


um sistema de classificação satisfatório na sua composição mineralógica ou modo
de origem. O modo mais conveniente de classificar as rochas metamórficas é
agrupá-las de acordo com suas feições estruturais com posterior subdivisão , de
acordo com sua composição .Dessa forma , dividem-se as rochas naquelas que
apresentam foliação e naquelas que não apresentam foliação .As que apresentam
foliação são posteriormente agrupadas de acordo com o tipo de foliação. Os tipos
mais importantes são os da relação que segue na Tabela 17.

Tabela 17. Classificação das rochas metamórficas.

COM FOLIAÇÃO
146

TEXTURA COMPOSIÇÃO NOME

GRANULAÇÃO
MUITO FINA ARDÓSIA
sem camadas

CLORITA
GRANULAÇÃO
FILITO
ORIENTAÇÃO

FINA

GRANULAÇÃO
GROSSA XISTO

GRANULAÇÃO GNAISSE
GROSSA

QUARTZO
MICA

ANFIBÓLIO

PIROXÊNIO
FELDSPATO
camadas

SEM FOLIAÇÃO
TEXTURA COMPOSIÇÃO NOME

GRANULAÇÃO FRAGMENTOS DE ROCHA METACONGLOMER


GROSSA DEFORMADOS ADO
147

GRANULAÇÃO QUARTZO QUARTZITO

FINA A GROSSA
CALCITA E/OU DOLOMITA MÁRMORE

8.4.1. Ardósias

São rochas de granulação muito fina de minerais praticamente imperceptíveis


a olho nu e apresentam foliação na forma de fraturas paralelas de pequena

FOTO – ARDÓSIA EXIBINDO FOLIAÇÃO E FOTOMICROGRAFIA – ARDÓSIA RICA EM MICAS E


DESPLACAMENTO TABULAR PERFEITO. QUARTZO; AUMENTADO 40 X.

FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

espessura e excelente xistosidade. As ardósias são densas, de coloração escura,


cinza, vermelha, verde ou preta rochas de baixo grau metamórfico, (incipiente),
derivadas de rochas do tipo argilito/siltito.

8.4.2. Filitos
148

São rochas xistosas, de granulação fina, apresentam um brilho sedoso típico


devido à presença de pequenos cristais de serecita. As cores são variadas, sendo
comuns os tons castanha claro, esverdeado, cinza, esbranquiçado, etc. São rochas
com boa xistosidade e os planos de xistosidade metamórfico (fraco) originados de
argilito/siltito.

FOTOMICROGRAFIA – FILITO RICO EM CRISTAIS


FOTO – FILITO EXIBINDO GRANULAÇÃO FINA E OPACOS DE GRAFITA E QUARTZO; AUMENTO DE 20
FOLIAÇÃO CRENULADA. X.

FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/
8.4.3. Xistos
149

São rochas de xistosidade bastante acentuada onde os cristais constituintes


são bem visíveis e apresentam-se em folhas ou placas delgadas. A composição
predominante é de biotita, moscovita, clorita, quartzo, etc. (Figura 83).

Figura 83. Estrutura metamórfica do tipo xistosa vista ao microscópio (Popp, 1988).

8.4.4. Gnaisses
FOTO – TEXTURA NEMATOBLÁTICA EM XISTO
FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/
150

Figura 84. Camadas mineralogicamente distintas do gnaisse (Popp, 1988).

Os gnaisses apresentam granulação mais grosseira e foliação resultando em


camadas de constituição mineralógica distinta (minerais agrupam formando bandas
ou faixas alternadas em tons claros e escuros).(Figura 84)
Essa rocha origina-se do metamorfismo intenso de rochas da família dos
granitos - riólitos ou a partir de rochas sedimentares arenosas ou metamórficas de
pequena intensidade. São rochas constituídas por micas, anfibólios, quartzo e
feldspato.

8.4.5. METACONGLOMERADOS

FOTO - GNAISSE

FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

O metaconglomerado é um conglomerado que foi alterado pelo calor e


pressão de uma forma que os seixos estão deformados, quebrados e fundidos uns
aos outros. Os seixos podem apresentar uma certa orientação dentro da rocha. São
rochas normalmente muito endurecidas. A matriz areno-siltosa também apresenta
deformações estruturais.
151

8.4.6. Quartzito

Os quartzitos puros são originados de arenitos quartzíferos, os menos puros


normalmente apresentam micas associadas, compostas por mais de 80% de
quartzo. Possuem em geral coloração clara, dureza muito elevada e aspecto maciço.
Não apresentam foliação.

8.4.7. Mármore
FOTO - QUARTZITO FOTOMOCROGRAFIA – RICO EM ANHEDRAIS DE
QUARTZO; AUMENTADO 40 X
FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

8.4.7. Mármore

Fonte: http://WWW.dct.uminho.pt/rpmic/mt4_maohtml
152

Rocha metamórfica sem foliação, o mármore é constituído principalmente de


calcita e dolomita. As cores variam do branco, róseo ao cinza, marrom e preto.
Apresentam dureza baixa, alta compacidade e efervescência com ácido clorídrico a
frio.

8.4.8. Anfibolitos
Rochas compostas de anfibólios e feldspatos (plagioclásios). Apresentam
orientação de minerais e provêm de rochas ígneas básicas.
I

FOTO – ANFIBOLITO LISTRADO FOTOMICROGRAFIA – CRISTAIS DE HORBLENDA ( NO


CENTRO ) EM ANFIBOLITO, CERCADO POR CRISTAIS
ESVERDIADOS DE CLORITA; AUMENTO 20 X.

FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/
8.4.9. Tabiritos
São um tipo especial de quartzito, proveniente de uma rocha sedimentar
química, que se caracteriza por uma alternância de bandas de quartzo e bandas de
hematita (geralmente especularita).
153

FOTO – ITABIRITO RICO EM QUARTZO ( PARTE CLARA ) FOTOMICROGRAFIA – ITABITRITO COM BANDAS
INTERCALADO COM HEMATITA. DE QUARTZO ( PARTE ESCURA) E DE MINERAIS
CLAROS ( HEMATITA / MARTITA); AUMENTO 25 X.

FONTE: http://www.rc.unesp.br/museudpm/rochas/

8.4.10. Esteatitos (pedra-sabão)


Rochas compostas essencialmente por talco e clorita com xistosidade pouco
pronunciada, originadas do metamorfismo de rochas ígneas ultrabásicas.

Fonte: http://WWW.dct.uminho.pt/rpmic/mt4_maohtml

Tabela 18. Identificação das rochas metamórficas

MINERAIS CARACTERES FOLIAÇÃO NOMENCLATURA


154

PRESENTES
Quartzo
Migmativos
Feldspatos Homogêneas; bandeamento irregular; apresenta
(ou gnaisses granitizados)
Biotita porfiroblastos Presente
(a) Embrechitos
Hornblenda
Quartzo
Heterogêneas, as faixas escuras (máficas) Migmatitos
Feldspatos
alternam muito bem com as faixas claras heterogêneos
Biotita Presentes
(félsicas) (b) Epibolitos
Hornblenda
Quartzo
Feldspatos Fenoblastos (cristais ocelares de ortoclásio) Presente (c) Gnaisse
Biotita
Moscovita
Leucocrática, macro e micro-granular;
Sericita Xistos ou
xistosidade e divisibilidade boas Presente
Quartzo Micaxistos
Biotita
Clorita
Biotita-Xisto
Biotita-Hornblenda
Meso ou melonocráticas; xistosidade boa Hornblenda-Xisto
Clorita Presente
Clorita-Xisto
Quartzo
Biotita
Sericita Cor cinza-escura, rósea; xistosidade boa; sedoso
Clorita ao tato Presente Filito
Quartzo

Quartzo (às vezes inclui


Cores claras; xistosidade fraca ou ausente Ausente Quartzito
cloritas ou sericitas)
Calcita (dolomita)
Cores claras, cinza, verde, rosa etc.; reação com
(matéria orgânica, óxido
HCl a quente ou triturando a amostra (cristalina) Ausente Mármore
de ferro).
Calcita (matéria orgânica Calcário
Cor escura; xistoso
carbonosa) Metamórfico
Quartzo e Mica Cor clara; xistosidade friável e flexível Itacolomito
Cinza escura a preta metálica; minerais bem
Quartzo e Hematita Itabirito
orientados; boa xistosidade.
Cores claras, branco, esverdeado rosado,
Talco e Sílica Talco-xisto
untuoso ao tato Presente
Microclina, cinza a preta; boa xistosidade; forma
Serecita
placas ou lousas Presente Ardósia
155

CAPÍTULO 9. MINERALOGIA DE SOLOS

9.1. Introdução

As rochas são o substrato do qual se originam praticamente todos os solos.


É a partir da desagregação destas, que o clima, relevo, organismos e tempo (fatores
de formação) exercem sua influência no processo de evolução dos solos.
As características das rochas, principalmente a composição química e
mineralógica, sua resistência mecânica e a sua textura vão influir sobre o teor de
elementos químicos colocados em disponibilidade para as plantas, sobre as
reservas minerais do solo, sobre a coloração que o solo pode apresentar, sobre a
textura e também sobre a profundidade do perfil do solo.
Como as rochas são formadas de minerais, é indispensável o conhecimento das
propriedades dos minerais que entram na composição das principais rochas. Da
análise desses minerais obtém-se muitas informações como a da capacidade
potencial do solo de fornecer elementos nutrientes às plantas apesar disso, a
simples presença do elemento na composição do mineral não será um indicativo da
sua presença no solo. Isso dependerá, também, da maior ou menor facilidade com
que esse elemento é liberado para o solo, o que é função da sua maior ou menor
susceptibilidade à decomposição química provocada pelo intemperismo.
Muitos minerais têm sua composição química definida. Outros têm uma série
de compostos onde um elemento metálico pode ser total ou parcialmente substituído
por outro. Assim, têm-se dois minerais muito similares quimicamente e em muitas de
suas propriedades físicas, mas diferentes na cor e em outras propriedades físicas.
Raramente, uma propriedade física ou química identifica um mineral, em geral
necessita-se de muitas características como clivagem, fratura, cor, etc.
156

IN
TE
M
PE
RI
SM
O
ROCHA
} } SOLO

} ROCHA

Figura 85. Formação do solo a partir de uma rocha.

TEMPO

Com essas observações conclui-se que é de bastante relevância o


conhecimento básico dos minerais dentro do estudo da origem e formação dos
solos. Entretanto, o solo não é apenas função do seu material de origem. Sendo
assim ,a análise da influência dos fatores de formação do solo não poderá ser feita
de maneira isolada , mas de forma conjunta.

COMPOSIÇÃO DO SOLO

Os solos minerais contém 4 componentes principais:


- substâncias minerais
- matéria orgânica
- água
- ar

Estes encontram-se geralmente em estado adiantado de subdivisão e muito


bem misturados, sendo então difícil de serem separados. A Figura 86, já
apresentada em outro tópico, representa a composição em volume de um solo.
Neste capítulo, será abordado a porção inorgânica da fase sólida do solo.
157

AR
20-30 %
MINERAIS SÓLIDOS
ESPAÇOS 45 % DO SOLO
DOS POROS
ÁGUA
20-30 % MAT. ORG.
5%

Figura 86. Composição volumétrica de um solo, quando apresenta boas condições para o crescimento
vegetal. O aumento de água no solo são extremamente variáveis e suas proporções
determinam em grau elevado sua adequabilidade para o crescimento vegetal.

9.2. Minerais do Solo

A parcela inorgânica da fase sólida do solo é variável em tamanho e


composição, sendo composta geralmente de pequenos fragmentos de rocha e de
minerais de várias espécies.
Os fragmentos de rocha são remanescentes de rochas maciças, da qual se
formam por intemperismo, no regolito (manto de alteração) e por sua vez no solo
apresentado geralmente granulação grosseira (Tabela 18). Os minerais, pelo
contrário, são extremamente variáveis em tamanho. Alguns são tão grandes como
os fragmentos menores de rochas; outros, como as partículas coloidais da argila,
158

são tão pequenos que apenas podem ser vistos com o auxílio de um microscópio
eletrônico.

GRAVE BEM !
Minerais primários - são aqueles herdados de rochas metamórficas ou
magmáticas e que não sofreram alteração em sua estrutura e composição. Ex.:
quartzo.
Minerais secundários - são aqueles formados pela desintegração de minerais
menos resistentes, à medida que se desenvolve a alteração da rocha (regolito) e
progrediu a formação do solo. Ex.: argilas silicatadas (filossilicatos) e os óxidos de
ferro e alumínio.
Geralmente os minerais primários dominam as frações maiores do solo,
especialmente nas areias.

Tabela 19. Quatro classes de tamanhos principais de partículas inorgânicas.

Tamanho da Diâmetro das Nome Meios de Composição


Fração Partículas (mm) comum Observação dominante
Muito grosso > 2,0 Seixos e Olho nú Fragmentos de
Cascalho rocha
Grosso 0,02 a 2,0 Areia Olho nú Minerais primários
Fino 0,002 a 0,02 Silte Microscópio Minerais primários
e secundários
Muito fino < 0,002 Argila Microscópio Minerais secun-
Eletrônico dários na sua
maioria

As partículas mais grossas de areia são com freqüência, fragmentos de rocha


e minerais. Concreções e nódulos são de ocorrência comum nas frações grosseiras
de solos tropicais.
Há geralmente, predominância de quartzo nas granulações mais finas de
areia, como também nas frações granulométricas de silte (Figura 87).
159

Min Outro minerais


prim erais secundários
ário silic
s ata
dos

Minerais silicatados
secundários

Quartzo

Areia Silte Argila

Figura 87. Relações gerais entre o tamanho da partícula e os tipos de minerais presentes. Quartzo
predomina sobre frações grosseiras. Silicatos primários, como feldspatos, hornblenda e
micas, acham-se presentes nas areias, porém tendem a desaparecer à medida que se
caminha para as frações mais finas. Silicatos secundários predominam na fração argila.
160

Outros minerais secundários, como óxidos de ferro e de alumínio predominam nas


frações silte fino e argila grossa.

9.2.1. Cascalho, Areia

Os fatores formadores do solo determinam ações físicas, químicas e


biológicas que transformam a rocha original. As primeiras, desintegram o material,
dando origem às frações grosseiras do solo chamados cascalho e areia. Tais
partículas possuem tamanho maior que 0,05 mm de diâmetro e mantém as
características da rocha mãe.
A areia grossa é constituída por fragmentos de rochas nos quais persistem
uma boa parte dos minerais originais. A areia fina, por sofrer ação mais intensa do
intemperismo, apresenta os constituintes separados ou individualizados da rocha
mãe.
Com o prosseguimento da ação do intemperismo físico e químico, surgem
partículas cada vez menores como o silte e a argila (Figura 88).

AÇÃO DO INTEMPERISMO

CASCALHO AREIA GROSSA AREIA FINA

Mineral primário resistente ao intemperismo químico.

Minerais primários pouco resistentes ao intemperismo químico.


161

Figura 88. Ação do intemperismo físico e químico.

9.2.2. Silte

Na mineralogia, a fração silte é a menos definida que a areia e a argila, pois


constitui-se de produtos provenientes da desintegração física e da alteração
química. Encontra-se então, no silte minerais primários médios a altamente
resistentes ao intemperismo e uma quantidade significativa de minerais secundários,
porém em menor proporção. Também encontramos freqüentemente produtos
intermediários de alteração dos minerais primários originais.
O fato de existir minerais primários, produtos intermediários e minerais
secundários na fração silte, demonstra a instabilidade destas partículas no solo e
seu caráter dinâmico no que tange à alteração dos minerais do solo.
Façamos uma analogia entre a fração silte e as prateleiras de um
supermercado. A fração silte seria o depósito do supermercado, de onde são
retirados os produtos para serem expostos na prateleira, sendo desenfardados e
individualizados. A retirada dos produtos nas prateleiras é responsabilidade do
intemperismo, e a parte dos produtos do intemperismo serão formados os minerais
da fração argila e serão liberados elementos nutrientes essenciais ao
desenvolvimento da vida vegetal, assim como outros elementos que em níveis
elevados na solução do solo, podem ser tóxicos às plantas como o Al e o Mn.

Mineralogicamente, areia e silte representam a reserva mineral de um solo se


neles existirem minerais facilmente decomponíveis. O intemperismo, através de
reações de hidrólise principalmente, será capaz de liberar elementos que poderão
servir de nutrientes para as plantas, poderão se recombinar com outros
162

componentes de meio, dando origem a minerais secundários na fração argila do


solo, e também poderão ser perdidos por lixiviação.

9.2.3. Argila

Na fração argila há um predomínio absoluto de minerais secundários


enquanto que nas frações mais grosseiros encontramos minerais primários
dominando. As partículas mais grossas da fração argila (2,0 a 0,2 ) comumente
apresentou alguns minerais primários.
Alguns minerais contidos na fração argila poderão ser herdados diretamente
da rocha, como é o caso de solos desenvolvidos de rochas sedimentares, havendo
pequenas alterações apenas.
As partículas de argila tem alta “atividade” nas propriedades químicas, físicas
e também biológicas do solo. A areia e o silte possuem muito pouca atividade de
superfície e pouco contribuem no balanço total das propriedades do solo. Havendo
uma redução no tamanho das partículas, maior é a superfície específica provocando
na expressão das propriedades. A argila é muito mais ativa que a areia e o silte,
mais ativo que a areia.
Nas próximas disciplinas oferecidas pelo Departamento de Solos (Solos,
Fertilidade do Solo, Pedologia e Conservação do Solo) você terá a exata proporção
e função específica de cada fração no solo.

9.3. Relembrando outros capítulos...


163

Até agora você já aprendeu o que são minerais e sua classificação, o que é
uma rocha e os critérios para caracterizá-las como Magmáticas, Metamórficas e
Sedimentares e Intemperismo.
Veremos agora como relacionar material de origem (rocha) com a
composição mineralógicas das frações areia e silte, onde encontramos os minerais
primários.

9.4. Minerais Primários do Solo

Minerais primários são aqueles que originalmente formaram parte de uma


rocha magmática ou metamórfica e não sofreram alteração química, o que não as
excluídas rochas sedimentares. Sua proporção no solo varia de acordo com o
conteúdo no material de origem, resistência ao intemperismo, intensidade de
intemperismo do meio, ação de agentes biológicos e outros fatores que poderiam
afetá-los.
Os minerais primários constituem grande parte das frações grosseiras do solo
(silte, areia e cascalho). Podemos afirmar então que a soma dos conteúdos de areia
e silte em um solo determina, ainda que a grosso modo, seu conteúdo em minerais
primários. Todavia uma pequena proporção destes minerais podem ser encontrada
na fração argila grossa (partículas entre 2 a 0,2  um de diâmetro), especialmente
em solos jovens pouco intemperizados.
A nível mundial os principais minerais primários do solo são o quartzo (SiO 2) e
os feldspatos (x Al3SiO8), sendo x o cátion básico (Na, Ca, K, Ba). Esses mesmos
minerais são os dominantes nas rochas que constituem a crosta terrestre. Outros
minerais como anfibólios, piroxênios e olivina se encontram em proporção muito
menor.
Considerando que o intemperismo não cessa no solo com o passar do tempo
os minerais mais susceptíveis a este irão se alterar enquanto que os mais
resistentes tendem a se acumular no solo. A este acúmulo relativo é dado o nome
de acumulação residual, e é através deste processo que minerais resistentes como
164

o quartzo, óxidos de ferro, de alumínio e de titânio se acumulam no solo. Lembre-se


que a resistência ao intemperismo também é função do tamanho das partículas.
Assim o conteúdo destes minerais será maior nas frações grosseiras, que tem
superfície específica muito menor.
Os minerais podem ser agrupados de diversas maneiras, sendo uma delas
aquela que o faz em dois grandes grupos: minerais silicatados, são aqueles em que
o elemento silício está presente em 93% dos minerais que constituem as rochas da
crosta terrestre e os não silicatados que não possuem o silício como seu
constituinte.

9.4.1. Silicatos do Solo

Nesossilicatos

a) Grupo de olivina: (Mg, Fe) 2SiO4 - mineral constituinte de rochas básicas e


ultrabásicas. A elevada quantidade de cátions bivalentes (Mg, Fe) nas posições
externas estimula o ataque químico deste mineral sendo altamente susceptível ao
intemperismo. Dada esta elevada reatividade não é encontrada no solo.
b) Granada : (Fe 3+, Al3+, Cr3+) . (Ca2+, Mg2+, Fe2+, Mg2+) (SiO4)3 mineral
tipicamente metamórfico. É mais resistente ao intemperismo que a olivina. O Al 3+ e o
Fe3+ octaédricos da granada reagem mais lentamente que os Mg 2+ e Fe2+ da olivina.
As granadas mais ricas em Ca 2+ são mais rapidamente intemperizadas do que as
terramagnésicas e aluminomagnésicas.
A granada é componente comum de rochas metamórficas e de sedimentos
derivadas destas. É de ocorrência comum na fração areia de solos derivados destes
materiais, porém em pequenas quantidades.
c) Zircão ou Zirconita (ZrSiO4 ) - componente acessório comum de rochas
magmáticas e metamórficas. É considerado o mais resistente dos minerais. Sua
susceptibilidade ao ataque por soluções ácidas é mínima. a elevada valência do Zr
(+4) cria um campo elétrico intenso que atrai fortemente os oxigênios.
165

O zircão é um dos minerais pesados mais comuns da fração areia de solos


dada sua resistência elevadíssima ao intemperismo.

Ciclossilicatos

Turmalina: (Na, Ca) (Li, Al)3 (Fe, Mn, Al)6 (BO3)3 (Si6O18)

Mineral característico de contato pneumatolítico, é acessório de pegmatitos e


granitos. É encontrado também em rochas sedimentares com contribuição destas
magmáticas. Contém elevada quantidade de boro, ao redor de 105 na forma B 2O3 e
esta é, provavelmente a única fonte de boro no solo, que é nutriente essencial para
o desenvolvimento das plantas. É muito resistente ao intemperismo e está
freqüentemente na fração areia de solos, porém em pequenas quantidades.

Inossilicatos

a) Piroxênio (Mg, Fe, Ca) 2 Si2O6 - Minerais comuns em rochas magmáticas


intermediárias e básicas. São altamente susceptíveis ao intemperismo e sua
permanência no solo é precária, não sendo encontrada na fração areia. São muito
ricos em Ca, Mg e Fe, sendo responsáveis por boa parte do suprimento destes
elementos ao meio.
b) Anfibólios (Si, Al)8 O22 X2Y5 (OH, F)2 onde
Y = Mg, Fe, Al, Mn e X = Ca, Na, K
Dentro do anfibólios, hornblenda é o mineral mais importante. Está associada
à rochas magmáticas (basalto, granitos, tufos vulcânicos), e metamórficas (gnaisse e
anfibólitos principalmente).
Quimicamente anfibólios e piroxênios são similares, e igualmente susceptíveis
ao intemperismo. Solos derivados de rochas ricas em piroxênios e anfibólios terão
teores elevados de ferro, e um suprimento grande de Ca 2+ e Mg2+.

Filossilicatos
166

Existem filossilicatos primários e secundários. Os primários originam-se sob


as condições de formação das rochas magmáticas e metamórficas, como as micas,
cloritas, talco. Os secundários são formados por intemperismo e posterior síntese,
ou por transformação dos minerais primários ou secundários pré-existentes nas
condições de alteração que existem na superfície da terra.
a) Micas - são importantes minerais constituintes de rochas metamórficas,
magmáticas e sedimentares. Cerca de 4% da crosta terrestre são formados por
mica. Por intemperismo das micas são originados diversos minerais de argila
(filossilicatos secundários), tais como vermiculita, illita e esmectitas, importantes nos
solos agrícolas. Existem numerosas espécies de micas com diversas formas
dioctaédricas e trioctaédricas, e com diferentes graus de substituição iônica.
As principais micas são a biotita e a muscovita.
a.i.) Muscovita - são as chamadas micas claras ou potássicas. Ocorrem em
rochas magmáticas, especialmente em granitos e sienitos. São também constituintes
da fração areia de sedimentos (solos). Pela seqüência de resistência ao
intemperismo proposta por GOLDICH para os minerais primários a mica (muscovita)
é mais resistente do que a biotita e feldspatos.
Sua presença é facilmente notada dada sua cor clara e brilho intenso. Em
solos altamente intemperizados não deve-se esperar a presença de muscovita. Sob
o ponto de vista de nutrição de plantas, a muscovita libera principalmente potássio, e
juntamente com os feldspatos potássicos, representa a reserva mineral deste
nutriente no solo.
a.i.i.) Biotita - mica escura ou ferromagnesiana. A biotita é a mica mais
freqüente na litosfera. É componente principal ou acessório de numerosas rochas
magmáticas e metamórficas.
É facilmente alterável no solo, dando lugar a minerais hidratados
intermediários até chegar por alteração a vermiculita ou esmectita. A biotita que
porventura venha a ser identificada nas frações grosseiras do solo, estará sempre
em alteração, sendo muito difícil encontrar biotita pura, o que não ocorre com a
muscovita.
167

b) Cloritas (minerais 2:1:1) - Sendo minerais primários, são amplamente


encontradas em rochas metamórficas, e ocasionalmente são encontradas nas
rochas magmáticas, nas quais se originam por alteração hidrotermal de minerais
ferromagnesianos como biotita, piroxênios, anfibólios, granada e olivina. Cloritas
alumínicas persistem no solo e são comuns.

Tectossilicatos

a) Grupo da Sílica - todas as formas de sílica (cristalinas e não cristalinas)


podem ser encontradas no solo. A forma mais comum é o quartzo e sua abundância
depende da riqueza do material de origem, invariavelmente se encontra quartzo nas
diferentes camadas dos solos. O quartzo se concentra nas frações grosseiras (areia
e silte), chegando a concentrações de 50 a 90%, sendo também encontrado em
pequena quantidade na fração argila grossa de muitos solos.
b) Feldspatos - são os tectossilicatos mais abundantes e importantes da
crosta terrestre, compondo 60% (em massa) nas rochas magmáticas, exceção feita
às ultrabásicas. São também importantes constituintes de rochas metamórficas e
sedimentares.
Deste grupo participam os plagioclásios e os feldspatos potássico. Os
feldspatos são importantes como minerais primários na composição do solo,
principalmente minerais de argila durante os ciclos do intemperismo. Os feldspatos
constituem também uma fonte potencial de nutrientes (K e Ca) para a plantas. Os
feldspatos potássicos são encontrados em pequena quantidade nas frações
grosseiras do solo (silte e areia).
Como as micas potássicas, os feldspatos K não são encontrados na areia de
solos altamente intemperizados como o são muitos de nossos solos tropicais.
Os plagioclásios são mais rapidamente alterados que os feldspatos
potássicos e dificilmente permanecem na fração areia e silte dos solos bem
desenvolvidos. Entretanto sua presença é comum no caso de solos muito pouco
168

intemperizados ou nas camadas de alteração inicial de rochas ricas em plagioclásios


(ex. basalto).
Feldspatos potássicos: KAl2Si3O8
Plagioclásios: (Na, Ca) Al2Si2O8

9.4.2. Minerais não silicatados do solo

Carbonatos

De todos, os de cálcio e magnésio são muito freqüentes em solos,


especialmente o de cálcio. Podem ser encontrados isolados ou combinados com
sais solúveis. Apresentam elevada capacidade de dissolução, fazendo com que
tenham rápida distribuição no solo. Em climas áridos e semi-áridos há uma
tendência de acúmulo de carbonatos, podendo formar no solo camadas muito ricas
em carbonatos, que poderá endurecer e formar um impedimento ao
desenvolvimento radicular. Tal camada endurecida é chamada de horizonte
petrocálcio.
A calcita (CaCO3) é uma fonte de Ca 2+ no solo e tem alta solubilidade, o que
facilita a dissociação do Ca2+ que é aproveitado pelas plantas. Assim, a dolomita
(Ca, Mg) CO3, juntamente com a calcita (calcários), são aplicadas nos solos como
fertilizantes (Ca2+ e Mg2+) e corretivo da acidez do solo.

Sultatos

Gesso ou Gipso CaSO4 2H2O - forma mais estável do sulfato de cálcio no


solo. Tem solubilidade maior que a calcita e consequentemente é mais móvel. É
pouco comum nos solos, sendo somente encontrados em solos de ambientes áridos
e semi-áridos, onde poderá formar horizonte “gípsico” e petrogípsico, impedindo o
169

desenvolvimento radicular. O gesso resultante da fabricação de fertilizantes


fosfatados, também é utilizado como corretivo de solos.

Fosfatos

Apatita - é o mineral mais importante dos fosfatos. A apatita Ca 5 (PO4)3 (OH,


F, Cl), forma um grupo muito freqüente em rochas magmáticas, sendo encontradas
em rochas metamórficas e sedimentares. Nunca aparece como constituinte principal
das rochas, exceção feita aos minérios fosfáticos.
O mais comum destes minerais é fluorapatita Ca 5 (PO4)3 F.
A fonte natural inicial do fósforo é a apatita, principalmente em solos pouco
intemperizados.
A hidroxiapatita (Ca5 (PO4)3 OH é constituinte de osso e dentes animais
(rochas sedimentares ricas em esqueletos animais).

Óxidos

São minerais formados a partir de produtos da alteração de minerais pré-


existentes. Entretanto, alguns óxidos de Fe e Ti formados originalmente da rocha
mãe, permanecem em solos sem sofrerem grandes alterações químicas e
estruturais, por serem muito resistentes ao intemperismo, e que por conseguinte se
acumulam no solo em suas frações grosseiras (areia e silte).
a) Óxidos de Titânio - a ilmenita (FeTiO3) ocorre em rochas magmáticas e em
massas lenticulares em gnaisses e outras rochas metamórficas. É um dos
constituintes da fração areia dos sedimentos (solos). Não é um minério de Fe, mas é
utilizada na fabricação de aços especiais. É a principal fonte de Ti. Calcula-se que
90% dos compostos titoníferos das rochas magmáticas são formadas por ilmenita. É
170

caracterizada pela sua coloração negra e brilho metálico. Infusível, torna-se


magnética após aquecimento. Pode ser confundida com hematita e magnetita,
distingue-se da primeira pelo traço e da segunda por não ter magnetismo.
O rutilo (TiO2) é trimorfo: rutilo (quadrático), anatasio ou anatase (quadrático)
e bruquita (rômbico). O rutilo pode ser encontrado em rochas sedimentares,
metamórficas ou magmáticas. É de brilho metálico ou adamantino, pardo, vermelho
ou preto. Traço pardo pálido ou amarelo.
Os óxidos de titânio são altamente resistentes ao intemperismo e são
comumente identificados nas frações grosseiras do solo. As areias de solos
derivados de diabásios e basalto sempre apresentam ilmenita.
Óxidos de Ferro - a magnetita (Fe 3O4) é o único óxido de ferro que não pode
ser formado no solo, isto é, é herdado do material de origem. Rochas basálticas
apresentam maiores proporções de magnetita, em relação a outras magmáticas. É
muito resistente ao intemperismo e se acumula nas frações grosseiras (areia e silte).
Solos derivados de basaltos e diabásios tem grande quantidade de magnetita
em sua fração areia, sendo seu componente principal junto a ilmenita.
A atração magnética deste mineral é utilizada como critério de campo para
identificação preliminar de solos ricos em óxidos de Fe.
Na magnetita pode ocorrer trocas parciais por substituições iônicas, do Fe 2+
por Ni, Co, Zn, Mg, Mn e Ca. Embora esta seja considerada muito resistente no solo,
existem evidências de que ela se altera em condições de intenso intemperismo, e
consequentemente irá liberar alguns micronutrientes das plantas como Zn, Mn e Co.

9.5. MINERAIS SECUNDÁRIOS NO SOLO

Dentre os minerais presentes no solo destacam-se os filossilicatos, os óxidos


e hidróxidos de ferro e alumínio e os minerais mal cristalizados chamados de
“amorfos”.
171

O mineral secundário é aquele formado a partir de outro que formou-se


originalmente na gênese de uma rocha magmática ou metamórfica.

9.5.1. Condições de formação e persistência de alguns minerais de argila


(Filossilicatos Secundários)

a) Caulinita
A precipitação abundante associada a drenagem livre do meio, provoca a
lixiviação intensa de bases e sílica. Isto associado a valores de pH baixo favorece a
formação de caulinita no solo. A proporção de Si e Al devem ser semelhantes.

b) Haloisita
Necessita de concentrações aproximadamente iguais de Si e Al e é formado a
partir da organização de um aluminossilicato com a alofana. A formação de haloisita
exige elevadas concentrações de H (meio ácido) e concentração de bases baixa.

c) Esmectitas
Para formar as esmectitas é necessário uma concentração relativamente alta
de Si e Mg. A concentração elevada de Si é mantida devido a um movimento lento
da solução do solo, ou numa situação de drenagem impedida. A montmorilonita é
instável sob condições de pH baixo e lixiviação acentuada.

d) Vermiculita
É formado sob condições de acidez moderada, uma vez que o K e o Mg já
foram completamente removidos do espaço entre as folhas. As micas tem que estar
172

presentes no material de origem. A concentração de Si deve ser elevada. A


concentração de Al na solução deve ser baixa ou serão formados minerais
interestratificados.

e) Illita
Forma-se quando a mica está presente no material de origem, sob condições
de média a baixa concentração de hidrogênio. Concentrações moderadas a
relativamente elevadas de Si e Al são necessárias para sua estabilidade. Sob
condições de elevada concentração de hidrogênio, a illita tende a se alterar para
vermiculita.

f) Interestratificados de Vermiculita - Al
Esses minerais são sintetizados sob condições de concentração de H, Al e Si
moderada a alta. A interestratificação da vermiculita pelo Al da solução atua como
fator antigibsítico, uma vez que a gibsita necessita de altas concentrações de Al.
Mica ou minerais 2:1 tem que estar presentes no material de origem e atuam como
precursores.

g) Alofana
A alofana é material silicatado muito mal cristalizado, e normalmente
denominada de amorfos de sílica. É formada, normalmente, em meios ácidos e com
elevada umidade, do intemperismo rápido de cinzas vulcânicas ou em alguns casos
de feldspatos.

9.5.2. Os óxidos secundários no solo

I. Óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos de alumínio


173

Diversos óxidos, hidróxidos e oxihidróxidos de alumínio são encontrados nos


solos, sendo mais comuns as formas hidroxiladas.
Entenda que hidróxidos [Al(OH) 3] é diferente de óxido hidratado (AlOOH). Não
existem moléculas de água livre na estrutura destes, e sim hidroxilas (OH), sendo
conveniente chamá-los de oxi-hidróxidos ou oxidróxidos de Al.
Os oxidróxidos estão representados pelos 2 polimorfos AlOOH: boemita e
diásporo. Já os óxidos anidros são de ocorrência ocasional em solos, enquanto que
nos hidróxidos há a gibsita, que é o mineral óxido de alumínio mais comum em
solos.

a) Gibsita Al(OH)3

É o hidróxido de alumínio mais comum em solos, particularmente em solos


tropicais submetidos a processos intensos de intemperismo. É originário da
alteração de materiais que contém Al, como feldspatos, minerais de argila, micas,
etc., sob condições de intensa lixiviação de bases e sílica. As condições de
formação da gibsita implicam em pH ácido, ainda que não excessivamente ácido, e
que não coexistam minerais 2:1. Teores muito elevados de matéria orgânica no solo
inibem a formação de gibsita pela complexação do Al. Tais condições ocorrem
freqüentemente em ambiente tropical, onde são encontrados muitos solos com
presença de gibsita na fração argila.

b) Óxidos de Alumínio Amorfos

Os óxidos amorfos tendem a ser mais reativos do que seus homólogos


cristalinos e isso provém principalmente duas causas:
- maior superfície específica (conseqüência do pequeno tamanho das
partículas).
- maior número de grupos OH, que como se verá mais adiante são
responsáveis pela origem de cargas na superfície.
174

Em alguns solos existem quantidades importantes de hidróxidos e óxidos não


cristalinos de alumínio, com importante participação nas propriedades destes.
Os teores de alumina amorfa podem chegar a 5-10% em solos que
apresentam gibsita, como muitos dos solos altamente intemperizados que ocorrem
nas regiões tropicais úmidas.

II. Óxidos de Ferro no Solo

Os óxidos de ferro tem um papel muito importante nos solos devido às


propriedades específicas do metal e seus íons e, especialmente à facilidade com
que muda de valência e capacidade para formar complexos com numerosos
produtos orgânicos e minerais.
São fontes de Fe no solo os diferentes minerais ferromagnesianos,
destacando-se os piroxênios, anfibólios, algumas granadas, epidoto, biotitas e
olivinas. Ao contrário do alumínio, somente uma pequena parte do ferro é
incorporado em alguns minerais 2:1. Este ferro liberado por intemperismo de
minerais primários, também poderá formar complexos com a matéria orgânica,
porém a maior parte se destina à formação dos óxidos de ferro no solo.
Os óxidos de Fe influenciam grandemente as propriedades do solo.
Juntamente com a matéria orgânica contribui para sua pigmentação (cor do solo), o
tipo de óxido de Fe determina a cor do solo. Fenômenos como a formação de
agregados do solo, cimentação entre partículas, formação de camadas endurecidas
que não permitem o desenvolvimento das raízes, estão diretamente relacionados à
presença de óxidos de ferro.
A elevada superfície específica dos óxidos de ferro, sua natureza e o fato de
que em muitos casos estes óxidos formam um recobrimento em torno das partículas,
implica em que muitas propriedades de superfície dos solos sejam altamente
175

influenciados pela presença destes minerais. Assim ocorre com alguns ânions e
microelementos que podem ser adsorvidos na superfície dos óxidos de ferro.

a) Formas dos óxidos de ferro no solo

A Tabela 20 apresenta os óxidos mais freqüentes do solo incluindo algumas


de suas propriedades. Exceção feita à magnetita todos podem ser pedogenéticos,
isto é, são formados no solo a partir de processos internos deste, e fazem parte da
fração argila.
A ferrihidrita era até pouco tempo considerada um óxido amorfo, ou seja, não
cristalino. Atualmente sabe-se que este material apresenta-se malcristalizadio, e não
amorfo, razão pela qual é denominado de paracristalino.

Tabela 20. Forma a presença dos óxidos de ferro cristalinos e paracristalinos.

Grupo Fórmula Nome Sistema Cor Presença mais comum


Cristalino em solos
Fe2O3 Hematita Hexagonal Vermelho Principalmente solos de

Óxidos zonas tropicais em


ambientes de boa
drenagem
Anidros Fe2O3 Maghemita Tetragonal Bruno- Solos de clima quente
avermelhado tropical ou subtropical
Fe3O4 Magnetita Cúbico Preto Mineral primário
constituínte da fração
areia do solos.
FeOOH Goethita Ortorrômbico Bruno- Solos de clima úmido

Oxi-hidróxidos avermelhado temperado, tropical e


sub-tropical
FeOOH Lepidocrocita ortorrômbico Alaranjado Solos com má
drenagem
176

(hidromorfico) principal-
mente
Óxidos Fe5(O4H3)3 Ferrihidrita Romboédrico Bruno- Ambientes com má
paracristalinos (ou ferridrita) avermelhado drenagem
a ocre (hidromórficos)

Dentre os óxidos de ferro, a goethita e a hematita são os mais comuns e de


maior importância nos solos.

b) Goethita (FeOOH)

É o óxido de maior difusão nos solos e praticamente é encontrado na maioria


destes sob condições climáticas as mais variadas. A goethita tem alta estabilidade
nos solos.

c) Hematita (Fe2O3)

A hematita é formada em ambientes de boa drenagem em climas quentes,


tropicais e subtropicais principalmente.
A formação da hematita se dá por desidratação e rearranjamento da ferridrita.
Encontra-se solos com predominância de hematita nas condições climáticas
citadas, porém pode-se encontrar solos hematíticos ladeados por solos goetíticos,
sendo originados do mesmo material de origem. O fato não ocorre ao acaso na
natureza, mas está relacionado à posição do solo. Desta forma, os solos que não
apresentam hematita estão nas baixadas e depressões que são mais úmidas, ou em
áreas de altitude maior, com clima mais frio e úmido. Estas relações com a
paisagem estão ilustradas na Figura 89.
Climas mais frios e/ou úmidos favorecem a concentração maior de compostos
orgânicos no solo. Alguns atribuem a esta condição a não formação da hematita,
pois esta se forma predominantemente a partir da ferridrita que, por sua vez,
177

formaria complexos com os componentes orgânicos, deixando de haver portanto, o


precursor para a formação da hematita.

DESIDRATAÇÃO
FERRIDRITA ----------------------- HEMATITA
MATÉRIA ORGÂNICA

FERRIDRITA ------- ------ ------------ HEMATITA


COMPLEXO
ORGANO-MINERAL

Clima mais frio úmido


solo com goetita

Clima tropical e sobtropical quente


solo bem drenado +
Hematita > goetita + + + +
+ + +
+ + + +
+ + + +
+ + + + +
+ + +
+ + + + +
+
+ +
+ + + +
Baixada * (ambiente mais +
+ + + + + + +
úmido) solo goetítico
+ + + + + + +
+ + +
+ + + + +
+ + + +
+
+ + + +
+ + + + + + +
+ + + + + +
+ + +
+ + + +
+ + + + + + + + + +

Figura 89. As relações com clima e relevo são muito importantes na compreensão da distribuição dos
diferentes tipos de óxidos de Fe no solo. Importante, a figura representa um exemplo do
que pode ocorrer na natureza. Você não deve tomá-la como padrão a ser repetido
invariavelmente. Outros fatores de formação do solo poderão interferir.
178

Nas áreas onde o Fe liberado não é complexado pela matéria orgânica,


poderia formar-se a ferridrita e posteriormente a hematita. Isto está associado a uma
rápida decomposição da matéria orgânica (temperaturas elevadas e boa aeração do
solo são imprescindíveis para a rápida digestão microbiana da matéria orgânica).

* Alteração: Hematita  Goethita

Devido a alta estabilidade da hematita e da goethita seria difícil conceber a


transformação direta no solo de hematita em goethita por rehidrolisação:
Hematita Goethita
Fe2O3 -------------- FeOOH
Esta transformação ocorre na natureza, porém, é necessário que haja
dissolução da hematita com posterior precipitação da goethita. Alguns sugerem que
esta “dissolução” da hematita se daria por redução ou complexação do Fe, sob ação
da matéria orgânica. Sob influência de climas frios e úmidos solos vermelho antigos
que contém hematita passam a solos bruno-amarelados.

III. Óxidos de Manganês no Solo

Os óxidos de manganês são importantes constituintes do solo, especialmente


por se tratar de um nutriente essencial na nutrição vegetal. A oxidação e a redução
do manganês são determinantes no que diz respeito à sua solubilidade, ou seja, sua
estabilidade no solo.
Os óxidos de manganês do solo são formados a partir dos produtos do
intemperismo de silicatos primários que contém Mn como alguns piroxênios,
anfibólios e micas.
A mineralogia do manganês é complicada pela quantidade de valências que
pode apresentar, com substituição de íons Mn em diferentes de oxidação Mn 2+, Mn3+,
Mn4+.
179

O manganês é liberado dos minerais primários na forma do íon Mn 2+, o qual,


em condições aeróbicas se oxida formando óxidos pouco solúveis de cor negra, do
tipo MnO2.
*Dentre os óxidos cristalinos, o mais conhecido é a pirolusita (MnO2). A
Hausmanita Mn3O4, é um óxido raro, porém já encontrado em solos. As formas mais
estáveis de hidróxidos conhecidas nos solos são a manganita (MnOOH) e a grutita
(MnOOH), embora sejam pouco freqüentes.
A solubilidade dos óxidos de manganês aumenta com o aumento de íons H +
na solução, isto é, com um abaixamento do pH. Em condições anaeróbicas, as
formas altamente oxidadas do manganês (Mn 3+ e Mn4+) , reduzem com facilidade a
Mn2+ que é a forma absorvida pelas plantas. Porém, é nesta forma também que o
manganês se movimenta no solo e é perdido por lixiviação.
Além do pH, o material redox do solo afeta altamente o manganês no solo.

(Mn +2) MnO


+4
(Mn )

Mn2O3 . X Al2O
(Mn+3)
Semelhante ao ferro, a solubilidade do manganês, aumenta ou diminui o pH e
o potencial redox. O manganês dissolvido está na forma Mn 2+, e se forma por
redução microbiana a partir de óxidos de alta valência (+3 e +4). Em tais condições o
Mn2+ não só estará disponível às plantas, mas também, como o ferro, pode ser
translocado no perfil. Os íons Mn 2+ poderão então ser “lavados” do solo ou, se
chegarem a algum lugar com maior potencial redox, ser novamente oxidados e
separados como óxido. Este fenômeno é comum em solos e é a origem de manchas
180

bruno-escuras a pretas que se formam em regiões de acúmulo de óxido de


manganês, muito freqüentes em solos tropicais ácidos mal drenados.
Solos mal drenados  aeração deficiente  potencial redox negativo
O2
Solos bem drenados  bem arejados  potencial redox positivo

9.6. Algumas relações entre “Dessilicatização” e a Mineralogia de Solos

No capítulo de intemperismo, alguns processos foram apresentados, tais


como a hidrólise, a oxidação-redução e a lixiviação.
Outro processo importante é a dessilicalização, que seria a remoção de silício
do meio. O grau de dessilicatização é responsável pela estabilidade dos minerais de
argila presentes.

9.6.1. Conceito de Dessilicatização

Chama-se dessilicatização a remoção do silício durante o intemperismo das


rochas. Para se compreender melhor esta remoção do silício se faz necessário fazer
uma abordagem sobre lixiviação.

LIXIVIAÇÃO

POLYNOV (1937), em seu trabalho clássico sobre o ciclo do intemperismo,


determinou a mobilidade. Suas conclusões se basearam no estudo das águas de um
rio em relação à composição das rochas de sua bacia hidrográfica. O autor dividiu os
elementos, em quatro fases, de acordo com sua mobilidade relativa, tendo como
181

base de referência o cloro (Cl-), o mais móvel e que recebeu o índice 100, que
recebeu o índice 100, como segue abaixo:

Cl- 100

Fase I

SO4 57

Ca ++ 3,00

Na + 2,40
Fase II
1,30
mobilidade relativa dos
Mg++
elementos
K+ 1,25

Fase III SiO2


0,20

Fe2O3 0,04

Fase IV
Al2O3 0,02
182

Outros estudos foram relatados por CHESWORTH (1973) estabelecendo


seqüências de mobilidade dos elementos, mostrando variações na ordem
estabelecida por POLYNOV, porém apresentam mesmas tendências.
Observa-se que na primeira fase ocorre a remoção intensa dos ânions Cl - e
SO4--. Na fase II, são movidos elementos alcalinos terrosos. Esta fase pode ser
subdividida em 2 estágios; correspondendo a maior mobilidade de íons cálcio e
sódio em relação aos íons magnésio e potássio. Na terceira fase ocorre a remoção
de sílica dos silicatos de alumínio e finalmente na 4 a fase, uma pequena remoção do
produto residual do intemperismo, os sesquióxidos de ferro e alumínio.
Dado o início da fase III, que vem a ser a remoção de sílica, inicia-se a
decomposição dos silicatos de alumínio do solo. Isto pode ser assim representado:
remoção de remoção de
2:1 --------------- 1:1 --------------- Sesquióxidos de alumínio
SiO2 SiO2

Esquema simplificado da dessilicatização nos solos e seus produtos.

Fica claro que a dessilicatização ocorre num estágio onde já ocorreu lixiviação
das bases (Ca2+, Mg2+, K+, Na+) e quanto mais intensa essa remoção de bases, maior
será a perda de sílica.

9.6.2. Conceito de Neossíntese de Minerais do Solo

O que é neossíntese ?
- neo = nova síntese = fusão, composição
Trata-se da formação de um mineral secundário do solo a partir da fusão ou
composição de elementos (Ca, Mg, Fe, Si) e compostos mais simples, como SiO 2,
Al2O3 amorfos.
Estes elementos e compostos simples podem originar-se da alteração de
minerais primários e mesmo da hidrólise de minerais secundários. Portanto, nem
183

todo mineral secundário é, unicamente formado a partir da destruição de um mineral


primário. As condições do meio (item 9.4.1.) em que se encontram é o que
“comanda” a formação dos minerais.
Um resumo dos principais minerais presentes na fração argila, e as condições
gerais do meio de formação estão no quadro a seguir:

GRUPO DE MINERAIS CONDIÇÕES DO MEIO (SOLO)


2:1 Meio alcalino e levemente ácido
Alta concentração de sílica e bases
1:1 Meio ácido
Baixa concentração de sílica e bases
GIBSITA Meio muito ácido
Baixíssima concentração de sílica e
bases

Se numa paisagem, há um fluxo convergente de soluções (contendo sílica e


bases entre outros), haverá acúmulo, sendo provável a reorganização do conteúdo,
originando um mineral secundário (Figura 79). Assim, argilas silicatadas 1:1 e 2:1
principalmente, podem se formar a partir de um acúmulo de produtos de alteração
de outros minerais secundários.
184

Chuvas
H2O
precipitações
Bases
+
SiO2
Bases
+
SiO2
Ba
se
s
+
Si
O Zona de acúmulo de bases,
2
SiO2 e Neossíntese

Figura 90. Mostra como pode acontecer remoção de bases e sílica de um sistema de drenagem
livre onde a lixiviação é fornecida e o posterior acumulo num sistema “fechado” de
drenagem.
Visto os conceitos de dessilicatização, condições de estabilidade dos minerais
da fração argila e neossíntese, tem-se, portanto, os modelos básicos que ajudam a
compreensão da composição mineralógica do solo em diferentes condições de
intemperismo.
Os modelos levam em consideração fundamentalmente o grau de
dessilicatização do material tendo em vista a intensidade do processo e o tempo em
que o material de origem do solo é submetido à dessilicatização. Considere o
material de origem igual para os três casos: basalto (Figura 91).
Para as condições tropicais e subtropicais em que o Brasil se encontra, os modelos
de Jackson se aplicam em muitos casos:
Dessilicatização tênue  solos com mineralogia 2:1 e presença de minerais
interestratificados 2:2 e minerais primários.
Dessilicatização moderada  solos com mineralogia 1:1 e presença de
interestratificados 2:2 e eventualmente minerais primários alterando para 2:1 nos
horizontes próximos à rocha matriz.
Dessilicatização intensa  solos com mineralogia oxídica e presença de
caulinita e eventualmente interestratificados 2:2.
Observação: FATORES QUE AFETAM A FORMAÇÃO DE UM SOLO:
- Material de origem; clima; relevo; organismos (ação biológica) e tempo.
185

Ao analisar o grau de intemperismo e dessilicatização do solo, tem-se a


interação dos cinco fatores que fará a existência de uma enorme variedade de solos
e isto será melhor estudado na disciplina de PEDOLOGIA. Este curso trata-se,
especificamente, do material de origem dos solos.
186

a) Dessilicatilização tênue, baixo grau de intemperismo


(intensidade x tempo)
Figura
+++ minerais 2:1
++ minerais 2:2 e minerais primários

Si Embaciamento

Minerais 2:1

b) Dessilicatilização moderada, grau intermediário de


intemperismo (intensidade x tempo).

+++ minerais 1:1


++ minerais 2:2 e alguns minerais primários
+ óxidos de Fe e Al

Si Embaciamento

Minerais 2:1

c) Dessilicatilização intensa, intemperismo acentuado


(intensidade x tempo).
+++ sesquióxidos Fe e Al
++ minerais 1:1
+ minerais 2:2 eventualmente
Si Embaciamento

Minerais 2:1 e 1:1


LEGENDA
+ presente
++menos abundante
+++ abundante
Intensidade de dessilicatização

91. Graus de lixiviação de Si (dessilicatização) e a formação dos principais grupos de


argila no solo. Adaptado de JACKSON (1964).
187

9.6.3. Valor Ki; uma maneira de se avaliar o estágio de intemperismo do solo

Para analisar a composição mineralógica de um solo, existem vários métodos,


entre eles, difratometria de “raio X” ou ATD (análise térmica diferencial). Porém, são
métodos caros e requerem especialização no uso. Por isso, foram desenvolvidos
métodos de química que apresentam como resultado os teores de componentes
totais do solo, uma vez que é feito um ataque ácido para dissolver os minerais.
A partir deste ataque ácido são obtidas as porcentagens de silício, alumínio e
ferro (%SiO2; %Al2O3 e % Fe2O3).
Sendo os minerais da fração argila, predominantemente, filossilicatos
secundários e óxidos de ferro e alumínio, poderia-se avaliar a composição
mineralógica de um solo a partir da análise química total ?
Veja a composição química destes minerais:
Tabela 21. Composição química de alguns minerais da fração argila.

MINERAIS SiO2 % Al2O3 %


Gibsita Al (OH)3 0 65,40
Caulinita (1:1) 45,80 39,55
Vermiculita (2:1) 34,04 14,37
Montmorilonita (2:1) 51,14 19,76
Illita (2:1) 56,91 18,55

Estabelecendo-se uma relação molecular entre SiO 2 e Al2O3, obtém-se um


número chamado de “razão Ki”, e que serve como índice de intemperismo do solo,
pois é possível avaliar indiretamente a composição mineralógica da fração argila do
solo.
Veja como é: SiO2%
-----------
molSiO2 60 SiO 2%
Ki = ----------- = ---------- = 1,7 . ----------
molAl2O3 Al2O3% Al2O3%
-----------
102
188

A Tabela 22 mostra o teor de sílica e de alumínio e o índice Ki de alguns


minerais de argila.

Tabela 22. Composição química e índice Ki de alguns minerais da fração argila


MINERAIS SiO2 % Al2O3 % Ki
Gibsita Al (OH)3 0 65,40 0
Caulinita (1:1) 45,80 39,55 1,97 = 2
Vermiculita (2:1) 34,04 14,37 3,78 = 4
Montmorilonita (2:1) 51,14 19,76 4,41
Illita (2:1) 56,91 18,55 5,24

Observa-se que a caulinita possui Ki = 2, enquanto que nos minerais de argila 2:1 possuem Ki = 4 a 5.
Com base nesses dados, é que se faz a interpretação do Ki da fração argila do solo, ou seja:

Valor Ki MINERALOGIA DA FRAÇÃO ARGILA DO SOLO


Ki = 2: há predominância de caulinita cujo Ki é 2

Ki < 2: indica que junto à caulinita há presença de gibsita


(hidróxidos de alumínio), que faz baixar o valor do Ki
tanto mais quanto maior for sua quantidade na mistura;
a condição extrema seria Ki = 0, o que indicaria total
ausência de minerais silicatos, como minerais de argila
e presença exclusiva de gibsita.

Ki entre 2 e 4: indica que junto à caulinita há presença de minerais de


argila do tipo 2:1, que fazem elevar o valor de Ki tanto
mais quanto maior for sua participação na mistura.

Ki > 4: há predominância de argila do tipo 2:1.


189

Portanto, o índice Ki revela as quantidades relativas de caulinita, gibsita e


minerais de argila do tipo 2:1 na fração argila do solo, porém não informa presença
de hematita e goethita. Esses óxidos de ferro, encontrados em solos tropicais, é
dado pelo próprio teor de Fe 2O3 provenientes do mesmo ataque sulfúrico
mencionado.

Tabela 23. Índice Ki de alguns solos do Brasil.

Solo Ki Mineralogia da fração Argila

Podzólico Vermelho Amarelo (DF) 2,0 predomina caulita


Latossolo Vermelho Escuro (DF) 1,3 caulinita + sesquióxidos de Al e Fe
Latossolo Vermelho Amarelo (DF) 0,3 gibsítico
Latossolo Roxo (SP) 0,7 gibsita + 1:1
Latossolo Roxo (SP) 1,4 1:1 + óxidos de Fe e Al
Latossolo Amarelo (PA) 1,6 1:1 + óxidos de Fe e Al
Terra Roxa Estruturada (PR) 1,9 1:1 + óxidos de Fe e Al
Podzólico Vermelho Amarelo (SP) 1,9 1:1 + óxidos de Fe e Al
Cambissolo Substrato Basalto (PR) 2,7 1:1 + 2:1
Litossolo Substrato Basalto (SP) 3,0 1:1 e 2:1
Brunizem Avermelhado (PR) 3,2 2:1 + 1:1
Vertissolo (PE) 4,0 2:1

Para simplificar a interpretação dos índices Ki é apresentado a seguinte


tabela:
190

Tabela 24. Interpretação dos valores de índice Ki para mineralogia da fração argila.

Ki Interpretação
0 gibsita
< 0,8 predomina gibsita sobre caulinita (1:1)
0,8 - 1,9 predomina caulinita sobre gibsita
2 caulinita
2,1 - 3,0 predomina caulinita sobre minerais 2:1
>3 predominam 2:1 sobre caulinita
>4 minerais 2:1

Sabendo quais os possíveis constituintes das diferentes frações


granulométricas do solo, silte e argila, isto é, como os minerais primários e
secundários se distribuem no solo, será discutido com um pouco mais de detalhe a
fração argila, ainda não abordada.

9.7. COLÓIDES DO SOLO

9.7.1. Alguns conceitos e definições

“Fração coloidal do solo” ou, simplesmente “colóides do solo” referem-se a


maior parte das partículas de argila e a porção orgânica do solo altamente ''
decomposta chamada “húmus”. Ambos existem em estado coloidal, com partículas
extremamente pequenas, alta superfície específica e presença de cargas elétricas
na superfície que atraem íons e moléculas polares como água.
As partículas coloidais são formadas de um complexo radical negativo ou
“micela” e de uma mistura de íons e moléculas de água 1 adsorvidos.
1
A água, pelo fato de sua molécula ser assimétrica (veja Figura 92), apresenta-se como um dipolo
elétrico e interage com as partículas coloidais, sendo também adsorvida nas superfícies. Também
hidrata íons e outras moléculas em função desta polaridade.
191

Ca++
MICELA H+ M = Na +, K+, NH4+
HÚMUS, ARGILA) Al+++
M

Os colóides agem portanto, como centro de atividade em cujo redor ocorrem


reações químicas e trocas de elementos nutrientes essenciais à vida das plantas.
Muitas propriedades dos solos são governadas pelo tipo e quantidade de
material coloidal.

Região mais negativa


-
Oxigênio

Hidrogênio

+
Região mais positiva

Figura 92. Esquema da molécula de água.


192

Borda do cristal

Ca2+ H+ Mg2+ K+
- - - - - - Ca2+ Superfície
- Externa
- - - - - - H+
+
Ca2+ Na K+ Ca2+
Ca2+ Mg2+ H+ K+ H+ Mg 2+ Ca2+ H+
K+ H+ Ca2+ H+ Ca2+ - - - - - - Ca2+
Na + H+ Ca2+ Mg2+ H+ -
- - - - - - K+
H+ Ca2+ K+ H+ Ca2+ Mg2+ +
2+ H + K Na Ca
+ 2+ H + Superfície
Ca2+ H+ Ca2+ H+ Ca2+ H+ a Ca2+ Mg2+ Ca2+ Interna
+ C
H+ K+ Ca2+ Mg2+ H + - - - - - -
H - Al3+
Ca2+ H+ K+ Ca2+ H+ Ca2+ + - - - - - -
a
Ca2+ H+ Mg2+ H+ Ca2+ K+ N Mg2+ Ca2+ H+ Na+
Ca2+ NH4+ K+ Ca2+
- - - - - - Ca2+
-
- - - - - - K+
Mg 2+ K + Ca 2+ H+

Figura 93. Representação em forma de diagrama de um cristal de argila silicatada , suas inumeráveis

cargas negativas e seu “enxame” de cátions adsorvidos.

Um esquema ampliado da borda do cristal mostra a superfície interna


carregada negativamente, desta partícula específica, a qual são atraídos cátions e
água.

O- Ca++
COO-
O- H+
UNIDADE CENTRAL COO- K+
DE UM
O-
COLÓIDE HÚMICO
(Preponderam C e H) COO- Mg++
O- H+
COO- NH4+
O- H+
COO- Na+
ÍONS ADSORVIDOS
CARGAS NEGATIVAS

Figura 94. Adsorção de cátions pelos colóides húmicos.


193

9.7.2. ORIGEM DE CARGAS NOS CONSTITUINTES NO SOLO

Veja o conceito de CTC ou capacidade de troca catiônica (cap. 2).


CTC  a quantidade de carga negativa de um colóide pode ser geralmente
representada pela capacidade de troca catiônica (CTC ou T), e a maioria dos cátions
adsorvidos na superfície do colóide são trocáveis, isto é, estão fracamente retidos.
CTC é expressa em equivalente miligrama (e.mg) por unidade de peso seco de
material.
Veja na Tabela 25, os valores de CTC para os principais constituintes da
fração argila do solo.
Tabela 25. CTC dos principais componentes do solo.
Componente CTC (1) meq/100g
Gibsita 1a2
Goethita 1a2
Hematita 1a2
Caulinita 3 a 15
Illita 20 a 40
Montmorilonita 80 a 120
Vermiculita 100 a 150
Húmus 200 a 400
(1)
Determinada a pH 7,0
Observa-se que a CTC da caulinita e dos óxidos e hidróxidos de ferro e
alumínio (goethita, hematita e gibsita) é baixa, e é por essa razão que a CTC dos
solos cauliníticos com altos teores de óxidos e com baixo teor de colóides orgânicos,
como são muitos dos solos do Brasil, dificilmente atingem 10 e.mg/100 g de argila.
Estes colóides orgânicos são responsáveis por até 80% da capacidade de troca da
camada superficial, principalmente em solos cauliníticos e com elevados teores de
óxidos Fe e Al. Solos com mineralogia mais ativa, isto é, com presença de minerais
194

2:1 (montmorilonita, vermiculita, illita), terão valores de CTC bem mais elevados e
não tão dependentes da presença de matéria orgânica.
As origens das cargas elétricas negativas de um colóide são as mais variadas
sendo que a quebra na estrutura, as substituições no interior da estrutura e a
dissociação de radicais OH em arestas não quebradas e expostas são as mais
comuns.
Veja isto com detalhe:

i. Quebra na Estrutura
A quebra no redor das arestas da unidade sílica-alumina normalmente
paralela ao eixo c poderá originar cargas elétricas que deverão ser satisfeitas por
cátions adsorvidos. O número de arestas quebradas aumentará a medida que
diminui o tamanho das partículas. As distorções na estrutura cristalina, também,
tenderá a aumentar o número de arestas quebradas e, portanto, a CTC tende a
aumentar a medida que o grau de cristalinidade diminui.
A origem das cargas elétricas devido a quebra da estrutura se deve as
ligações não satisfeitas nas faces do mineral, entre Si-O ou AlOH ou então devido a
dissociação do radical OH de acordo com a equação abaixo:

Al - OH + H 2O  Al - O- + H3O+
representando um octaedro de Al

À medida que o pH da solução aumenta, aumenta dissociação do radical OH


e aumenta CTC, onde denomina-se CTC dependente de pH. Portanto, grande parte
da CTC da caulinita é dependente de pH. Figura 95.
195

OH H+
OH O

Al
Al

O H+
O

Si

H
O

Figura 95. Diagrama da borda quebrada de um cristal de caulinita, mostrando o oxigênio como fonte
de carga negativa. Com valores elevados de pH, os íons hidrogênio tendem a ficar
frouxamente retidos, podendo ser permutados por outros cátions.

i.i. Dissociação de Radical OH- em Arestas não Quebradas e Expostas

Por dissociação de OH, como já foi visto, ocorre a formação de cargas


elétricas que podem ser satisfeitas por cátions os quais podem ser trocados
posteriormente.
A ocorrência de cargas elétricas negativas no material amorfo (alofana) e no
húmus é devida principalmente a dissociação de radicais OH.
No material amorfo a reação pode ser representada:

SiOH + H2O SiO- + H3O+


No caso dos colóides orgânicos os seguintes casos de dissociação são
exemplos típicos de formação de cargas elétricas:
196

+ H2O + H 3 O+

OH O-
(Grupo Fenol)

O O

R C + H2O R C + H 3 O+

OH O-
(Grupo Carboxil)

A matéria orgânica no solo forma complexos com, por exemplo, o alumínio e


o ferro, sendo que da precipitação deste alumínio, motivada pelo aumento de pH
gera também cargas negativas como ilustrado acima.
Em todos os exemplos vistos o aparecimento de cargas negativas por
dissociação do radical OH ou por precipitação do alumínio dos complexos orgânicos
gera cargas dependentes de pH.

CAPACIDADE DE TROCA ANIÔNICA

Em solos muito intemperizados, como nos tropicais, as cargas elétricas


positivas são formadas originando uma capacidade de troca aniônica (CTA).
Veja como as cargas positivas ocorrem nos minerais de argila e no alumínio
livres.
197

a) CTA nos minerais de argila

+3
OH O OH2

M M

OH OH2

O + 3 H3O+ O + 3 H2 O

M M

OH OH2

M = cátion bi ou trivalente A relação de cargas na superfície


em coordenação 6 do mineral é de 3 (três) cargas
ev (M) = 3 / 6 = 1 / 2
198

A relação de cargas na superfície do mineral é de 0 (zero) cargas.

OH O O -3

M M

OH

3 OH- O-
O + O + 3 H2 O

M M

OH O

Através desses esquemas é possível notar que em solo ácido (primeira


reação) aparecem cargas positivas e em solo básico aparecem cargas negativas,
por isso torna-se necessário a calagem para diminuir os efeitos das cargas positivas.
Portanto, os minerais de argila possuem cargas positivas e negativas,
principalmente, solos de clima tropical.

b) CTA devido aos hidróxidos de ferro e de alumínio na Figura 96, tem-se um


octaedro de alumínio circundado por seis moléculas de água. O número total de
cargas positivas neste octaedro é 3.
199

H O H

H
O
H
H H
O Al 3+ O
H H

H O H

Figura 96. Octaedro de alumínio circundado por 6 moléculas de água.

O íon Al é considerado ácido, pois possui prótons que podem ser removidos
(H+), sendo estes removidos das moléculas de água que circundam o alumínio. As
etapas de dissociação deste Al hidratado em água pode ser representado pelas
seguintes equações:
200

[Al (H2O)6]+++ + H2O [Al (H2O)5 OH]++ + H3O+


[Al (H2O)5]++ + H2O [Al (H2O)4 (OH)2]+ + H3O+
[Al(H2O)4 (OH)2]+ + H2O [Al (H2O)3 (OH)3] + H3O+

Existe uma tendência no solo para ligações entre unidades individuais


contendo dois, três ou mais Al com eliminação de água, formando polímeros de
alumínio.
Exemplo:
HOH ++ HOH ++
HOH OH- HOH OH-

201
Al Al

HOH HOH- HOH HOH-


HOH HOH
Al= 3+ Al= 3+
OH= 1 - OH= 1 -
2+ 2+
HOH HOH
++++
HOH OH HOH

Al + 2 H2O
Al

HOH OH HOH

HOH HOH
2 Al= 6+
2 OH= 2 -
4+

Com a formação de polímeros de alumínio, aumenta as cargas positivas, das


quais são totalmente dependente de pH e, portanto, se variar o pH, o sistema pode
ficar tanto com cargas positivas ou negativas ou ainda ausência de cargas. Neste
caso tem-se:
Fe
Fe Fe Fe
OH OH O
OH OH
O O O
Fe
Fe Fe Fe
H+ -
O O + H2O
O OH + OH-
O 3 H3O + HO
+ O O
H+ Fe
Fe Fe
Fe
O
OH O O OH
O HO
HO Fe
Fe Fe Fe

Então, se pH cai, aparecem cargas positivas; se aumenta aparecem cargas


Balanço No
negativas. Positivo
caso de óxidos de FeBalanço Neutroa figura 97.
e Al análise Balanço Negativo
202

+3
OH2

O OH2
O
+ 3 H3O+ + 3 H2O
OH
M
M
OH2

O OH
-3
O
M

+ 3 OH- M
OH + 3 H2O

O O

Figura 97. Representação esquemática da formação de cargas elétricas positivas e negativas em


superfície hidratada de óxido metálico.

A presença de cargas positivas nos colóides irá gerar adsorção de ânions


como fosfato, sulfato molibdato, nitrato, os quais são elementos nutrientes de
plantas. Esta adsorção é importante na disponibilidade destes ânions assim como
sua facilidade de lixiviação no solo.
203

i.i.i. Substituição no interior da estrutura (substituição iônica)

Desde que o Si+4 e Al+3 possam ser substituídos por muitos outros íons, pode-
se esperar um grande número de substituições iônicas na estrutura do mineral de
argila. Uma das mais comuns é a do Al +3 pelo Si+4 na folha de tetraedro e a de íons
de baixa valência na folha de octaedros, resultando cargas elétricas insatisfeitas em
alguns minerais de argila. Essa insatisfação pode ser compensada por diversos
meios, como a substituição de O-- pelo OH- pela introdução de cátions na camada de
octaedros ou ainda, por adsorção de cátions na superfície das camadas.
A substituição iônica gera cargas elétricas que depende do pH do meio, ou
seja, em qualquer pH o número de cargas elétricas originadas por substituição iônica
permanece a mesma (CTC independente do pH).
Na montmorilonita e vermiculita, por exemplo, a substituição iônica é
responsável por 80% do total da CTC.
A Figura 98. mostra a CTC dependente e independente de pH para a
montmorilonita.

pH
A
10

4
P
2

20 40 60 80 100 120
P = carga permanente devido a substituição iônica
A = cargas adicionais desenvolvidas a elevado pH (devido a dissociação de radicais OH -)
Figura 98. Ilustração da CTC dependente e independente de pH para a montmorilonita.

9.7.3. Os Colóides do Solo e os Processos de Troca Iônica


204

A CTC permanente diz respeito à cargas originadas por substituição iônica. Já


que existem materiais no solo com cargas que mudam de acordo com o pH, a CTC
de solos com estes materiais também será variável.
No ambiente tropical, a maioria das cargas são dependentes de pH e é por
isso que a CTC desses solos varia com o pH. Portanto, a capacidade de troca
catiônica não é uma propriedade imutável do solo e sim, uma característica sujeita a
variação como mostra o seguinte exemplo:

Solo 1
CTC

Solo 2

pH do solo

Para comparar solos diferentes deve-se avaliar a CTC sempre a um mesmo valor de
pH. No Brasil, a CTC é determinada a pH 7,0 (CTC 7) e seu valor pode ser
estabelecido diretamente em laboratório ou da seguinte forma:

CTC7 = 5 + Al + H

onde S é a soma de bases, Al o teor de alumínio trocável e H a quantidade de íons


de hidrogênio dissociados do colóide pela elevação do pH até 7,0 (supondo solo
ácido). Em solos neutros, o último termo da equação desaparece.
A desvantagem de determinar a CTC a pH 7,0 é de superestimar a CTC de
solos ácidos e solos alcalinos. Neste caso, tem-se a CTC efetiva que é a CTC do
solo ao seu valor original de pH. É obtida somando-se o teor de bases trocáveis
(soma de bases) ao teor de alumínio trocável.
205

CTCe - S + Al

Nota-se que a CTCe difere da CTC 7 somente quanto aos íons de hidrogênio
que se dissociam devido à mudança de pH. Portanto, solos neutros possuem CTC e
igual a CTC7. Por outro lado, dois solos com a mesma CTC e com valores diferentes
de pH, terão diferentes valores de CTC 7. Os exemplos a seguir ilustram esses dois
casos:

Solo pH CTCe CTC7


1 7,0 13,0 13,0
2 5,0 4,0 9,0
3 6,0 4,0 6,0

OS CÁTIONS TROCÁVEIS

Os principais cátions em colóides do solo, sob a forma trocável, são Ca +2,


Mg+2, K+, Na+ (bases) e Al+3. O hidrogênio trocável (H+) ocorre em solos ácidos sendo
necessária a presença de minerais de argila 2:1 por serem os principais colóides do
solo dotados de cargas permanente. Por formar ligação covalente, o hidrogênio
dissocia-se somente com a elevação do pH do solo pois não possui carga livre (H o).
A Figura 99 mostra o esquema onde um colóide associa-se aos principais
cátions do solo através de cargas permanentes e variáveis, hidrogênio trocável está
associado às cargas permanentes e o não trocável às variáveis. A Figura 86
também mostra a participação dos cátions na CTC e e na CTC7, ou seja, a parte que
se dissocia até o pH 7,0; os hidrogênios restantes seriam dissociados somente com
a elevação ainda maior do pH.
206

- Ca+2
- Mg+2 Bases
Cargas - K+ Trocáveis CTCe
permanentes e - Na+
variáveis Al trocável
- Al 3+
- H+ H trocável CTC7
Carga
permanente - H+

O - Ho
O - Ho
Cargas H não trocável
O - Ho
variáveis
O -H o

O -H
o

O -H
o

Figura 99. Representação esquemática das ligações dos cátions ao colóide e da participação dos
mesmos na CTC efetiva (CTC e) e na CTC a pH 7,0 (CTC7).

PONTO DE CARGA ZERO

Conforme foi visto, as cargas podem aumentar ou diminuir em função do pH.


Deve-se acrescentar, entretanto, dois fatos:
a) Um mesmo colóide pode ter cargas positivas quando o pH do meio é baixo,
e cargas negativas quando os valores de pH são mais altos.
b) Sob um mesmo valor de pH, um colóide poderá apresentar cargas
positivas e negativas ao mesmo tempo.
No entanto, deve existir um valor intermediário de pH onde a carga é nula - a
esse valor dá-se o nome de Ponto de Carga Zero ou PCZ. Diferentes colóides
possuem diferentes valores de PCZ. O esquema a seguir mostra que, com o
aumento do pH ocorre desprotonação na superfície do colóide (carga de +2 para -2)
e no ponto central, a carga zero, portanto se diz que “o colóide está no PCZ”.
207

Enquanto o PCZ de um colóide pode ser definido como o pH no qual a carga elétrica
do colóide é nula, o PCZ de um solo que representa uma mistura de colóides,
deverá ser definido como pH no qual o número de cargas positivas é igual ao de
cargas negativas, dando uma carga líquida igual a zero; isso não significa, portanto,
que o solo no PCZ não apresente cargas.
Tabela 26. Ponto de carga zero de alguns componentes do solo e de alguns grandes grupos de solos.

Material Ponto de Carga Zero


Goethita 6,7
Hematita 5,4
Gibsita 5,0
Caulinita < 4,0
Húmus < 3,0
Solos Horiz. A Horiz. B
Podzólico Vermelho-Amarelo 1,6 4,0
Terra Roxa Estruturada 1,9 2,7
Latossolo Vermelho-Amarelo 3,3 5,5
Latossolo Amarelo 3,1 6,3
Latossolo Roxo 3,5 6,0

Na Tabela 26, encontram-se valores de PCZ de alguns componentes do solo


e de alguns grupos de solos brasileiros. Observa-se que a goethita apresenta
208

elevado PCZ (6,7), onde abaixo deste, há formação de cargas positivas. A caulinita e
o húmus não apresentam cargas positivas (só em pH muito baixo). Os solos que
possuem óxido de ferro e alumínio tendem apresentar maior PCZ.

ADSORÇÃO DE ÂNIONS E TROCA ANIÔNICA: A influência dos óxidos e


hidróxidos de alumínio e ferro

Os colóides responsáveis pela adsorção aniônica são os minerais de argila e


os óxidos de ferro e alumínio (gibsita, hematita e goethita) e podem ser identificados
dois processos de adsorção aniônica no solo:

a) Adsorção não específica


Ocorre através da atração dos ânions pelas cargas positivas existentes na
superfície dos colóides. Neste tipo de adsorção as forças envolvidas são
eletrostáticas e relativamente fracas, permitindo que ocorram trocas aniônicas entre
as fases sólidas e líquidas do solo, à semelhança do que se verifica com os cátions:

Colóide+ . Cl- + NO3- colóide+ . NO3- + Cl-

Em uma adsorção não específica os solos podem apresentar CTA e, como


esta depende da presença de cargas positivas, seu valor é influenciado pelo pH,
portanto as cargas aumentam com a diminuição do pH, ou seja, com a acidificação
do meio. A Figura 100. ilustra a variação da CTC e da CTA em função do pH do
solo, observando-se que o valor de pH onde se dá o cruzamento das curvas
corresponde ao ponto de carga zero do solo.
209

Figura 100. Variação da CTC e da CTA de um solo em função do pH.

meq/100g

pH

b) Adsorção específica
Ocorre através de reação química entre certos ânions do solo e elementos na
superfície dos colóides. Este processo envolve apenas alguns ânions (H 2PO4- -
fosfato, SO4-2 - sulfato, MoO4-2 - molibdato e H2BO-3 - borato), ou seja, há
especificidade de ânions.
As forças envolvidas, neste tipo de adsorção, são muito superiores, sendo
comparáveis às que conduzem à formação de compostos químicos, portanto os
ânions são dificilmente deslocados concluindo-se que a adsorção específica é
praticamente irreversível.
Os colóides que mais respondem por esse fenômeno são os óxidos e
hidróxidos e ferro e alumínio. A reação de adsorção de fosfato por uma dessas
partículas pode ser assim representada.

O fosfato é o ânion mais fortemente retido aos colóides e devido à pouca


reversibilidade da adsorção é necessária a constante adubação, pois deixa de ser
210

disponível às plantas. Essa perda de disponibilidade é também conhecida por


fixação de fósforo.

OH OH

Fe + H2PO4- Fe + H2O
OH OPO3H
ou ou
Al Al
OH OH

9.8. OS SISTEMAS MINERALÓGICOS DE SOLOS

Os solos tropicais podem ser agrupados em três sistemas mineralógicos.


- Sistema silicatado;
- Sistema oxídico;
- Sistema silicatado recoberto por óxidos.

9.8.1. Sistema Silicatado

Ocorre nos solos com pouca quantidade de óxidos de ferro e alumínio e de


alofana e predominância de minerais 2:1. Possui CTC permanente e pequena
quantidade de cargas variáveis devido a matéria orgânica e quebra de arestas de
caulinita.

9.8.2. Sistema Oxídico

Ocorre na predominância de óxidos de ferro e alumínio ou alofana na fração


argila (ou ainda minerais silicatados de argilas recobertos por tais óxidos).
211

Neste sistema as cargas são dependentes de pH e os solos podem possuir


balanço final de cargas negativas (CTC), positivas (CTA) ou neutro e são
considerados os solos mais intemperizados do mundo.

9.8.3. pH e Ponto de Carga Zero

No sistema oxídico, o balanço de cargas pode ser determinado através da


medição de seu pH em água e em solução neutra, tal como o KCl N. A diferença
entre o pH em KCl e o em água define o pH. Se for negativo, o balanço de cargas
será negativo (CTC).
No sistema silicatado o pH é sempre negativo. A reação simplificada abaixo
ilustra este caso:

- H+ + H2O - H+ + H2O

mineral argila

- - K+ + Cl- + H+
H + KCl
+

Portanto o pH em água é mais elevado do que o pH em KCl.


Se o sistema oxídico tem um balanço positivo de carga, a seguinte reação
ocorre quando o pH é medido:

+ OH- + H2O - OH- + H2O

óxido (Fe, Al)

+ + Cl+ + K+ + OH-
OH + KCl
-
212

Estas relações podem ser ilustradas graficamente desde que o total de cargas
do solo seja determinado em uma faixa grande de pH. A Figura 101 mostra este
aspecto.
Campinas Ribeirão Preto
Balanço das cargas de superfície

(Orthox, Latossol (Udalf, Terra Roxa


- 16 Roxo) A Estruturada) A
(e.mg/100 g)

-8
B B

+4
+8
3 4 5 6 7 8 9 3 3 4 5 6 7 8 9

pH em 0,01 N Na Cl

Figura 101. Balanço de cargas na superfície do colóide dos horizontes A e B de dois solos com
elevado teor de óxidos.
OBS: círculo (o) = pH de campo atual destes solos.

Um pH negativo não significa total ausência de cargas positivas, ou seja, há


um pequeno número de cargas positivas ocorrendo mesmo nestas condições.

9.8.4. Sistema silicatado recoberto pelos óxidos

Existem sistemas que representam realmente os solos vermelhos tropicais, ou


seja, solos com predominância de material caulinítico, haloisítico ou mineralogia
mista.
213

As camadas de silicatos são parcialmente cobertas por uma fina camada de


óxidos de ferro e alumínio; sua CTC é considerada baixa, pois algumas cargas
negativas são balanceadas com as cargas positivas dos óxidos.
Em alguns minerais 2:1, o rendimento de óxidos altera drasticamente as
propriedades físicas de certos solos, pois não favorece a expansão e contração
destes minerais.
A figura abaixo ilustra o recobrimento, da camada de silicatos, pelos óxidos.
recobrimento
de óxido

++ + 0
+ OH -
+ OH -
Camada de - -
Silicato

pH 2
pH 4
pH 8
Balanço positivo
Balanço zero
Balanço negativo

Embora a camada de silicato apresente balanço negativo de cargas, o


recobrimento de óxido apresenta um balanço positivo de cargas com pH ácido.
Portanto, a pH igual a 4 o balanço atinge o ponto zero, maior que 4, balanço
negativo e menor que 4, balanço positivo.

9.8.5. Manejo da Capacidade de Troca Catiônica

Uma CTC efetiva de no mínimo 3 emg/100 g é necessário para reter a maioria


dos cátions contra a lixiviação. O aumento da CTC é importante, principalmente, nos
solos tropicais onde há um alto grau de intemperismo dos minerais. Este aumento
da CTC pode ser feito por dois processos: Calagem em solos ácidos e adição de
matéria orgânica.
214

O nível mais indicado para a calagem ser efetuada é a pH 5,5 ou 6,0, valores
superiores (como a pH7) podem ser prejudiciais os efeitos desta.
A matéria orgânica contribui quase que totalmente, para o aumento da CTC,
em solos com sistema oxídico, isto é, a manutenção da matéria orgânica é
praticamente sinônimo da manutenção de CTC.

9.9. De que outras Formas os Minerais Coloidais Influenciam o Solo ?

Existem outras propriedades e características do solo que são influenciadas


pela mineralogia da fração argila, como a cor, estrutura, consistência, capacidade de
reter água e superfície específica.

9.9.1. Óxidos de Fe e sua influência no solo

Ocorrem nos solos os minerais:


- Hematita ( Fe2O3)
- Goethita ( FeOOH)
- Lepidocrocita ( FeOOH)
- Ferridrita [Fe(OH)3 nH2O]
- Maghemita ( Fe2O3)
- Magnetita (Fe3O4)

Hematita e goethita são os minerais mais comuns em nossos solos e são


estes que imprimem cores características aos solos. Hematita livre de goethita -
solos de cores vermelhas intensas. Goethita livre de hematita-solos com coloração
bruno-amarelada. Hematita associada a goethita - domina a cor vermelha da
primeira.
Deve-se considerar outros agentes corantes do solo como matéria orgânica,
óxidos de manganês e formas reduzidas dos óxidos de Fe. A cor originará a partir da
215

combinação dos diversos componentes presentes no solo. Mesmo assim, é possível


estimar o tipo de óxido de Fe dominante. Seguindo as relações com a cor do solo:

COR DOS ÓXIDOS DE FERRO (Seguindo a Tabela de cores de MUNSELL)


Sintético Natural
Cor
Hematita 10R 5, 0R (vermelho)
Goethita 7,5YR 7,5 YR(amarelado
SOLOS COR
Solos com Hematita 2,5 YR (vermelho)
Solos com Hematita e 2,5 YR a 10 YR
Goethita (vermelho-amarelado)
Solos com Goethita 10YR (amarelado)

Em condições de excesso de água no solo o ambiente é de redução (Fe +


++
Fe++) e a coloração tende a ser cinza, que pode misturar-se com ocre
(ferridrita - lepidocrocita), vermelho (hematita) ou amarelo (goethita). Esta mistura de
cores forma um “mosaico”, normalmente, chamado de “mosqueamento”.

9.9.2. Óxidos de Fe e Al e a estrutura do solo

As partículas do solo (argila, silte e areia) encontram-se agrupadas formando


agregados, os quais dão “estrutura” ao solo. Os óxidos de Fe e Al funcionam como
agentes “cimentantes”. Portanto, solos com teores significativos de óxidos de Fe
apresentam estrutura (arranjo dos agregados) do tipo granular pequena, muito
estável. A estabilidade de um agregado refere-se a resistência à sua destruição
quando submetido à agitação em água. Assim, agregado pouco estável, desfaz-se
216

facilmente, o que não ocorre com os pequenos agregados do solo cimentados por
óxidos de Fe e Al, Latossolos Roxos são excelentes exemplos deste tipo de
estrutura.

9.9.3. Óxidos de Fe e Al e adsorção de fosfatos

Os Latossolos, solos tropicais ricos em óxidos de Fe e Al, fixam bastante o


fósforo. É polêmica a questão de qual tipo de óxido de ferro fixa mais P, porém
autores consideram que solos goethíticos tenham maior poder de fixação, devido ao
menor tamanho e conseqüente maior superfície específica.

9.9.4. Filossilicatos do solo e algumas de suas propriedades

A seguir, um resumo sobre as principais propriedades dos minerais de argila


silicatados (filossilicatos) encontrados no solo e que afetam o comportamento deste
(Tabela 27).

Tabela 27. Principais propriedades dos filossilciatos do solo.


Caulinita Illita Minerais Vermiculita Esmectitas Clorita
interestrati- (Montmorilonita)
ficados
Tipo 1:1 2:1 2:1:1 (2:2)
estrutura das Si, Al
Al, Fe, Mg
camadas Si, Al
Al, Fe, Mg
217

Si Si, Al
Al, Fe, Mg
Al Si, Al

Substituição - principalmente nos tetraedros principalmente nos tetras e


isomórfica nos octaedros octaedros
Expansão - - x xx xxx -
Capacidade de
retenção de água x x xx xxx xxxx x
Capacidade de
Adsorção x xx xxx xxxx xxx x
Plasticidade
coesão, x x xx xxx xxx x
pegajosidade
FONTE: SCHROEDER

Observe o quadro acima e responda as seguintes questões grifando a


resposta correta:
Solo: Sistema silicatado, argiloso
- plástico e pegajoso: pouco/muito
- CTC: alta/baixa
- capacidade de reter água: alta/baixa
- agregados: grandes/muito pequenos
- reserva mineral: grande/pequena/inexistente

Procure responder às questões feitas para outras situações mineralógicas,


associando sempre as características dos minerais da fração argila com o
comportamento do solo.

9.10. Considerações Finais


218

Considerando-se que os solos brasileiros podem ter mineralogia 2:1, 1:1,


oxídica e os graus intermediários entre estas, e observando o Tabela 25 concluí-se
que:
a) As características físicas e químicas de um solo são regidas pelo tipo de
mineral de argila predominante.
b) A dinâmica da água do solo é altamente afetada pelo tipo de mineral de
argila predominante.
c) Solos com mineralogia 2:1 deverão ser manejados de forma totalmente
distinta quando ao seu preparo de solo e fertilização em relação a solos cauliníticos
de mineralogia menos “ativa”.
d) O aluno deverá estar sempre atento à importância da mineralogia dos
solos, procurando sempre correlacionar os novos conceitos que serão apresentados
em disciplinas posteriores (solos, fertilidade, pedologia, etc.) à base aqui
apresentada. Física de Solos

Química de Solos
Mineralogia
MANEJ
de
O
Solos
Morfologia de
DO
Solos
SOLO
Classificação de Solos

Biologia de Solos

Figura 102. Interações da composição mineralógica do solo.


219

CAPÍTULO 10. SEQÜÊNCIAS

10.1. Seqüência Cronológica

A seqüência básica de solos de idade (cronoseqüência). Por exemplo (Figura


103):

Litossolos - Cambissolos - Solos com B textural - Latossolos


Os solos são mais novos (menos intemperizados) em (a) e mais velhos (mais
intemperizados) em (d).
Se atividade bioclimática (ação dos organismos e do clima) for menos intensa,
desde que a topografia seja a mesma, o solo será mais novo em cada umas das
posições a, b, c, d, conforme a Tabela 28. O quadro exemplifica as tendências de
ocorrência dos solos nos vários segmentos de paisagem, conforme a intensidade
maior ou menor (em relação ao nível de referência) dos agentes bioclimáticos.
No Nordeste brasileiro, por exemplo, onde a condição bioclimática é menos
ativa, pode inexistir o Latossolo mesmo que, topograficamente, a paisagem seja
suave, favorecendo, neste aspecto, um envelhecimento maior do solo. O grau de
intemperismo aí não é pronunciado em razão da baixa intensidade dos fatores
bioclimáticos, em relação ao intenso processo erosivo.
Da mesma forma que a intensidade da atividade bioclimática pode modificar a
idade relativa ou o grau de intemperismo de um solo, os outros fatores de formação
do solo, como material de origem e tempo, também agem da mesma forma.
220

Neossolos Litólicos

Neossolos Litólicos
Cambissolos
Solos com
B textural Latossolos

a b c d
Fig 103. Ocorrência de solos de diferentes idades, de acordo com o relevo. As setas indicam o
aumento da erosão e da pedogênese.

Tabela 28. Influência da variação da atividade bioclimática na idade relativa do solo.


Bioclima Segmentos da Paisagem
a b c d
Bioclima de Solos com B
referência Litossolos Cambissolos textural Latossolos
Bioclima Afloramento de Solos com B
menos ativo rochas Litossolos Cambissolos textural
Bioclima Cambissolos Solos com B
mais ativo textural Latossolo I Latossolo II

A erosão no sub-árido brasileiro é intensa, e há solos rasos mesmo em áreas


bastante declivosas, não outra conclusão: a pedogênese, mesmo no subárido, pode
ser muito acentuada nos solos rasos; caso contrário, a rocha estaria toda exposta.

WHITESIDE (1953), por exemplo, distingue três parâmetros relativos à rocha


de origem que interessam de perto à intemperização. São eles:
a) composição química ou mineralógica;
b) estrutura ou fábrica;
221

c) granulometria.
As rochas ricas em minerais máficos são, em princípio, mais facilmente
intemperizáveis do que as ricas em minerais félsicos, mas, mesmo aí, a estrutura ou
fábrica pode inverter esta ordem.
Minerais máficos são os minerais mais comuns nas rochas escuras como
baslato, diabásico etc., tais como: olivinas, anfibólios, piroxênios e biotita. Estes
minerais têm altos teores de Fe, Mg e elementos-traços.
Assim, no Planalto de Viçosa e em outras regiões do Brasil, os solos
originados de intrusões máficas (anfibolitos e diabásios) são mais novos (Terra Roxa
Estruturada), apresentando até blocos de rocha, enquanto o gnaisse encaixante
apresenta um profundo manto de intemperismo com material latossólico. A estrutura
gnaissica aparentemente favorece a maior intemperização do gnaisse, apesar de os
teores de minerais máficos serem maiores nas rochas máficas.
Outro exemplo, talvez, mais interessante, é o que envolve o basalto e tufito.
Ambos são rochas ricas em minerais máficos, mas o tufito (originado da
consolidação de cinzas vulcânicas) não apresenta o aspecto massivo do basalto. O
tufito intemperiza-se mais rapidamente. Para a mesma pedoforma, os solos de tufito
são intemperizados que os originados de basalto.

10.2. Seqüência Litológica

A seqüência cronológica é fundamental, é a que explica, por exemplo, as


diferenças mais gerais entre os solos dos vários continentes. A seqüência litológica
vem em seguida, em escala de importância. Em escala local ou regional a seqüência
litológica assume, frequentemente, importância capital. Os arenitos, os basaltos
(como no sul do país, estendendo-se até ao sul do Planalto Central), as ardósias,
filitos e micaxistos (como nas áreas de Brasília e da Serra da Canastra), os
quartizitos (como em muitos trechos do Espinhaço e da Chapada Diamantina), os
calcários (como Irecê-BA, Bodoquena-MS, Apodi-RN, Arcos e Pains-MG etc.)
imprimem características marcantes nos solos que originam.
222

Para fins pedológicos, podem-se agrupar as rochas, segundo a Tabela 28.


Como quase sempre ocorre na natureza, há transições de ma classe para
outra. Assim, as rochas pelíticas (rochas de granulometria muito fina) com maior teor
de clacário, como nas margas, confundem-se pedologicamnete com o calcário.
A Tabela 29, associada aos conhecimentos gerais de pedologia, indica alguns
fenômenos muito interessantes:
1) os elementos químicos existentes nas rochas podem ser removidos com
facilidade, como Ca, MG e K, ou podem ser até concentrados residualmente, como
Fe, P e elementos traços. Assim, os solos originados de rochas máficas tendem a
ser mais ricos em Fe, P, Co, Cu, e Zn; por outro lado, tendem a ser mais ricos em
Fe, P, Co, Cu e Zn; por outro lado, tendem a ser mais pobres em B e Mo;
2) os teores de B tendem a ser maiores nos solos de rochas pelíticas. O B é
mais concentrado nos sedimentos de origem marinha;
3) os solos originados de rochas psmíticas e graníticas tendem a ser os mais
arenosos. Estas são as rochas mais ricas em quartzo (Qz);
4) a associação entre classe de solo e rocha de origem pode servir de
elemento valioso para se predizer, no campo, ainda que de um a forma mais geral,
os teores (ou níveis gerais) dos elementos que tendem a se concentrar
residualmente. Isto, na prática, tem sido verificado, por exemplo, com Latossolo
Roxo, originado de rochas máficas, e facilmente identificável no campo, por ser seu
material atraído por um magneto. Mesmo quando sob cerrado e com baixíssimos
teores de elementos disponíveis, responde muito bem a adubação relativamente
simples. Tal não é o caso, por exemplo, com o Latossolo Vermelho-Escuro,
desenvolvido de rochas pelíticas;
223

Tabela 29. Rochas agrupadas para fins pedológicos gerias, assim como uma idéia de sua composição
química.
Minerais
Rochas principais Fe P K Ca Mg Co Cu Zn B Mn Fonte
Granítica Fp Qz, Bt 2,2 0,08 3,36 1,5 0,6 4 20 50 9 1,2 (a)(2)
Máfica Ca-Fp, Py, 8,7 0,11 0,83 7,6 4,6 48 87 105 5 1,5 (a)
Mt
Pelítica Ms, Fp, Qz 4,4 0,07 2,66 2,2 1,5 19 45 95 100 2,6 (a)
Psamítica Qz+cimento 1,0 0,02 1,07 1,1 0,7 0,3 x(3)
16 35 0,2 (a)
Ferruginos Hm, Mt 49 0,05 0,01 299 24 24 (b)
a
Calcária Cc, Dm, Ms, 0,4 0,04 0,27 30,2 4,7 0,1 4 20 20 0,4 (a)
Fp, Qz
Gnáissica Fp, Qz, Mi, 2,7 0,09 2,45 2,3 1,2 (c)
Hb
(1)
Símbolos: Fp - feldspato (K); Qz - quartzo (SiO 2); Bt - biotita (K, Mg, Fe); Ca-Fp - feldspato
calcosódico (Ca, Na); Py - piroxênio (Ca, Mg); Mt - magnetita (Fe 3+ Fe2+O4); Ms - muscovita, mica
branca ou malacacheta (K); o cimento das rochas psamíticas pode ser calc´rio,óxidos de Fe ou argila;
Hm - hematita (Fe2O3); Cc - calcita (CaCO 3); Dm-dolomita (Mg, CaCO 3); Mi - micas, incluindo biotita e
muscovita; Hb - hornblenda.
(2)
(a) TUREKIAN & WEDEPOHL (1962); (b) Concreções de solos originados de Itabirito, do
Quadrilátero Ferrífero (SOARES, 1980; FONTES et al., 1985; (c) dados compilados por HUANG
(1962).
(3)
X = ordem de magnitude de 1 dígito antes da vírgula.

5. as rochas pelíticas, em relação aos macroelementos de maior interesse,


são ricas apenas em K, sendo pobres em Ca, Mg e P.
Os baixos teores de bases (exceção do K) e a presença de muito Al na
estrutura da muscovita (Ms) e do feldspato (Fp) fazem com que os solos jovens de
rochas pelíticas tenham altos teores de Al trocável.
Nos solos mais velhos de rochas pelíticas, os teores de Al na solução tendem
a ser menores, pois há a formação de gibbsita e a vegetação natural reflete essas
diferenças.
Na área de Brasília, por exemplo, os solos dos topos das chapas são ricos em
gibbsita e, apesar de a vegetação ser cerrado, ela é mais desenvolvida do que os
campos cerrados e campos sujos dos solos mais acidentados.
224

6. dependendo do cimento, os arenitos (rochas psamíticas) podem dar origem


a solos muito ricos. O arenito Bauru, com cimento calcário, no Estado de São Paulo,
origina um de seus melhores solos. No entanto, no Brasil existem áreas gigantescas
de solos muito pobres originados de arenito. O estado do Piauí, por exemplo,
associa, em seu território, grandes áreas de material psamítico, alternado com
material pelítico. Os chamados GERAIS, dos Estados de Minas e da Bahia, são
outro exemplo.

Observações:
Pedoforma - o aplainamento pode horizontalizar a paisagem,
independentemente da rocha.
Cor - O horizonte A é escuro, com grau de desenvolvimento e espessura
variáveis. O excesso de água (falta de oxigênio) tende a favorecer a redução e
retirada do Fe do sistema. Menores teores de Fe e clima mais úmido (mesmo sem
deficiência de oxigênio) favorecem a formação de goethita, dando cor amarela
(hematita ausente).
Textura - solos mais novos são mais siltosos que os solos mais velhos.
Nutrientes - solos de praticamente qualquer rocha pode ser pobre ou rico. Os
mais velhos, tendendo aos Latossolos, são mais pobres.
É importante observar que estas generalizações referem-se mais aos
elementos que se concentram residualmente. Os elementos mais móveis, como Ca,
Mg e K e as formas disponíveis dos que se concentram, são inferidos a partir das
condições relativas à cronoseqüência, isto é, o basalto pode originar um solo pobre
em Ca, no Planalto Central, enquanto no sertão do Seridó (RN), o granito, muito
mais pobre em Ca (Tabela 10, pode originar um solo bastante rico em Ca. O mesmo
basalto, como ocorre no Planalto Central, pode originar Latossolo Roxo sob cerrado
(muito pobre em nutrientes) e, próximo, pode-se ter o Latossolo Roxo sob floresta
(eutrófico, rico em nutrientes) ou mesmo a Terra Roxa Estruturada Eutrófica (relevo
mais acidentado), um dos melhores solos do Brasil.
225

10.3. Modelo de Evolução dos Solos

Parece que os solos, como todas as coisas, modificam-se tendendo a um


eqüilíbrio mais estável. Um solo novo, à semelhança de uma sucessão vegetal
jovem (ecossistema imaturo), tem uma alta taxa de modificação por unidade de
tempo. Os solos mais velhos modificam-se mais vagarosamente até atingirem talvez
um estado de quase equilíbrio.

Tendência à homogeneidade

O solo é originado da rocha que sofreu modificações quando colocada sob


novas condições energéticas - diferentes das presentes quando da sua formação.
Isto é, intemperismo ou pedogênese.
Os minerais que compõem as rochas têm resistência diferente às
modificações. Na série de cristalização de Bowen - que representa também uma
seqüência de resistência ao intemperismo, temos:

Plagioclásio Ca
Olivina
a

Quartzo
226

Este sistema está sendo dividido arbitrariamente em três regiões a, b e c,


representando cada qual um conjunto de minerais com resistência muito semelhante
entre si, para facilitar o entendimento do modelo.
Os minerais do conjunto a são facilmente intemperizáveis. O do b têm
resistência intermediária e os de c são muito resistentes.
A taxa de modificação/tempo ou pedogênese por unidade de tempo, isto é
P/t vai ser variável conforme o conjunto de minerais (a, b ou c) envolvidos. Se for
assumido que cada conjunto se modifica de um só vez, isto é, os minerais de um
conjunto só começam a se intemperizar quando os minerais do conjunto anterior,
menos resistentes já desapareceram, observa-se:

I - ROCHAS MAGMÁTICAS
a)
227

t1, t2 e t3 - solos em 3 tempos de evolução diferentes


Rochas: Diorito, riolito e granito.
a, b, e c - são os três conjuntos de minerais com resistência diferentes ao
intemperismo. Os minerais a, b e c são respectivamente: plasioclásio, biotita e
quartzo.
tx, ty e tz - três observadores em tempos diferentes.
O observador tx observa 2 solos: t1 e t2.
O solo t1 sofreu maior pedogênese que t2 , pois já foi intemperizado todos os
minerais do grupo a, metade do grupo b e o grupo c ainda está na rocha.
t2 - 1/3 a intemperizado, b e c
O observador ty observa três solos - t1, t2 e t3.
Nesta observação em:
t1 -a e b totalmente intemperizados, c - começo do intemperismo.
t2 - a totalmente intemperizado, 1/2 b intemperizado e c na rocha.
t3 - 1/3 a intemperizado, b e c na rocha.
O observador tz observa três solos - t1, t2 e t3.
Nesta observação em:
t1 e t2 - completamente desenvolvidos (intemperizados).
t3 - a totalmente intemperizados, 1/2 b intemperizado e c na rocha.

b) Comparações entre Basalto e Granito:


1) Infiltração de água:
O granito é uma rocha que possui cristais grandes que permitem facilmente
que a água infiltre e atue como agente do intemperismo.
228

O basalto possui cristais muito finos, tornando a rocha compacta e de difícil


infiltração de água, prejudicando o intemperismo físico.
2) Tx= P/T:
O basalto forma solos mais rapidamente do que o granito, pois é uma rocha
extrusiva e portanto fica mais exposta ao intemperismo.
3) Tx= E/T:
O basalto, sendo uma rocha extrusiva deverá sofrer maior erosão do que o
granito que é uma rocha intrusiva e não fica exposta ao intemperismo.
4) Tx= P/E:
O basalto possui uma maior pedogênese porque é constituído por uma
conjunto de minerais que são facilmente intemperizáveis.
O granito é uma rocha que também possui uma maior pedogênese em
comparação à erosão, pois é uma rocha intrusiva possuindo uma cobertura de solo
e sofre intemperismo lentamente.
5) Quanto à declividade o granito é sujeito a uma maior declividade do que o
basalto.
O basalto possui uma maior profundidade do solo do que o granito, porque os
minerais que o constituem são mais facilmente intemperizáveis (rocha extrusiva).
O granito por sofrer intemperismo lentamente, perde menos nutrientes que o
basalto, conferindo uma maior quantidade de biomassa na floresta.

I - ROCHAS SEDIMENTARES E METAMÓRFICAS


a)
229

t1, t2 e t3 - solos em 3 tempos de evolução diferentes,


Rochas: Filito, migmatito e arenito.
a, b, e c - são os três conjuntos de minerais com resistência diferentes ao
intemperismo. Os minerais a, b e c são respectivamente: plasioclásio, biotita e
quartzo.
tx, ty e tz - três observadores em tempos diferentes.
O observador tx observa 2 solos: t1 e t2.
O solo t1 sofreu maior pedogênese que t2 , pois já foi intemperizado todos os
minerais do grupo a, metade do grupo b e o grupo c ainda está na rocha.
230

t2 - 1/3 a intemperizado, b e c
O observador ty observa 3 solos - t1, t2 e t3.
Nesta observação em:
t1 -a e b totalmente intemperizados, c - começo do intemperismo.
t2 - a totalmente intemperizado, 1/2 b intemperizado e c na rocha.
t3 - 1/3 a intemperizado, b e c na rocha.

O observador tz observa três solos - t1, t2 e t3.


Nesta observação em:
t1 e t2 - completamente desenvolvidos (intemperizados).
t3 - a totalmente intemperizados, 1/2 b intemperizado e c na rocha.

b) Comparações entre Arenito e Quartzito:


1) Infiltração de água:
O arenito possui uma maior infiltração de água que o quartzito, pois é uma
rocha psamítica de fragmentos maiores e são facilmente intemperizáveis.
2) Tx= P/T:
O arenito possui uma maior pedogênese em função do tempo do que o
quartzito, pois possue agentes cimentantes que são facilmente intemperizáveis.
3) Tx= E/T:
O quartzito tem maior tendência à erosão do que o arenito, porque possui
grande quantidade de sílica (resistente ao intemperismo).
4) Tx= P/E:
O arenito possui maior pedogênese e é mais fácil intemperizado.
O quartzito possui maior erosão e é uma rocha de difícil intemperismo, não
forma solos e fica muito tempo exposta.
5) Quanto à declividade o arenito é sujeito a uma maior declividade do que o
quartzito, devido a sua mineralogia (agentes cimentantes). O quartzito possui uma
maior profundidade do solo, pois tem maior tendência à erosão e maior quantidade
de pastagem nativa (presença de mais nutrientes).
231
232

CAPÍTULO. 11 – NOÇÕES SOBRE O TEMPO GEOLÓGICO

11.1 O Tempo Geológico

A preocupação com a história da Terra começou no momento em que os cientistas


perceberam que os elementos da paisagem se modificavam lentamente.
No mundo ocidental, até meados do século XVII, acreditava-se que a Terra tivesse
apenas alguns milhares de anos. Só na segunda metade do século XVIII que estudos
geológicos mostraram que em muitos locais existiam camadas sucessivas de rochas
sedimentares que continham cada uma, fósseis característicos. Os princípios de que as
rochas sedimentares se depositavam horizontalmente camada após camada e que as
camadas inferiores eram mais velhas que as superiores foram aceitos no século XIX e
através desses princípios estabeleceu-se uma seqüência das rochas com seus fósseis
desde as mais antigas até as mais modernas (coluna estratigráfica).
O tempo total da coluna geológica conhecida foi quantificado através do uso de
elementos radioativos que se desintegravam perdendo partes do seu núcleo atômico,
transformando-se, desse modo, em outros elementos mais estáveis. Os elementos que se
desintegravam eram denominados de pai e o resultado, filho. O método de datação
radiométrica constituía basicamente em determinar a relação pai e filho em um mineral.
Conhecendo-se a meia-vida era possível calcular a idade do mineral. Os principais métodos
utilizados foram Urânio - Chumbo, Potássio-Argônio e Rubidio-Estrônico, sendo o primeiro o
elemento pai e o segundo o elemento filho.
Atualmente utiliza-se o método do C 14, que mede a quantidade desse isótopo de
carbono contido nos restos orgânicos. A proporção de C 12 e C14 permanece constante no
organismo vivo, mas quando o indivíduo morre o C 14 se desintegra com uma média de vida
de 5730 anos. Com a determinação da proporção de C 14 nos restos orgânicos é possível
estabelecer-se o tempo transcorrido após a morte do indivíduo.
233

11.2 Esboço Geológico do Brasil

Geralmente, reconhecem-se três tipos principais de estruturas geológicas no globo


terrestre:
Escudos cristalinos ou maciços antigos: são compostos por rochas cristalinas (ígneas
ou magmáticas e metamórficas), constituindo estruturas bastante resistentes e rígidas. De
idades geológicas bem antigas, da era Pré-Cambriana (Arqueozóico e Proterozóico) e da
Paleozóica, dão origem a relevos planálticos.
Bacias Sedimentares: são mais recentes que os escudos, datando das eras
Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Constituídas por detritos que aí se acumularam,
compondo-se, assim, de rochas sedimentares, dão origem a planícies ou planaltos
sedimentares.
Dobramentos modernos: são áreas que no período Terciário (era Cenozóica)
sofreram grandes dobramentos (elevações do terreno, em conseqüência de pressões vindas
do interior do planeta). Dão origem a relevo montanhoso, constituindo as grandes cadeias
de montanhas jovens ou terciárias do globo: os Alpes, os Andes, o Himalaia, as Rochosas,
etc.
No Brasil, como não existem os dobramentos modernos, a estrutura geológica é
constituída por escudos cristalinos, que abrangem cerca de 1/3 ou 36% do território
nacional, e por bacias sedimentares, que ocupam cerca de 2/3 ou 64% do total do país.

11.3 Bacias Sedimentares

Origem das bacias: o embasamento consolidado, de estrutura siálica, começou sua


lenta declinação após o ciclo tectônico-orogênico-taconiano (fins de Ordoviciano).
É provável que no Ordoviciano Superior o mar procedente da porção andina tenha
invadido a plataforma, propiciando depósitos com as mesmas características daqueles
existentes na Bolívia e Paraguai. Tais depósitos constituem a Formação Trombetas na
Bacia Amazônica. Na Bacia do Maranhão, o Siluriano é representado por arenitos
continentais caoliníticos e folhelhos esparsos da Formação Serra Grande e, na Bacia do
234

Paraná, está representado pela Formação Vila Maria, constituída de pelitos e arenitos
marinhos, contendo pelecipodas, gasterópodos e branquiópodos entre outros fósseis.
No Devoniano, as três bacias foram invadidas pelo mar, depositando-se arenitos e
folhelhos com fauna marinha características.
Na Bacia do Paraná, a Formação Furnas consiste de arenitos esbranquiçados médios
a grosseiros, quartzo com matriz caulinítica. Sua espessura está entre 200 e 300 m.
No Estado de Goiás, a Formação Vila Maria, passa transicionalmente para os
arenitos da Fromação Furnas, enquanto, no restante da Bacia, este assenta diretamente
sobre o embasamento a partir de um conglomerado basal. É recoberta, na maior parte da
bacia, pela Formação Ponta Grossa, que consiste num folhelho síltico, cinza-escura,
micáceo, com eventuais intercalações arenosas. Enquanto a Formação Furnas é
afossilífera, a Formação Ponta Grossa é rica em branquiópodos, moluscos equinodermes,
trilobitas, e outros invertebrados marinhos.
Na Bacia do Amazonas, o Devoniano está representado pelos folhelhos, siltitos e
arenitos fluviais deltaicos da Formação Maecuru e pelos pelitos cinza esverdeados marinhos
de Fromação Ererê. A Formação Aruá está representada por arenitos, folhelhos e
diamictitos. A Formação Ererê apresenta uma fauna bem diversificada de tribolitas,
branquiópodos, erinóides, gasterópodos, microfósseis e restos vegetais. Os ambientes
depositais são considerados planícies de marés e deltaicos.
A Formação Arurá, com tilitos de textura heterogênea, expressa a galciação
paleozóica naquela área. Os arenitos são de ambientes fluvial e marinho pós-glaciais.
Na Bacia do Maranhão, ocorrem três Formações: Cabeça, Longá e Poti,
representadas por folhelhos, arenitos e siltitos marinhos litorâneos, passando no topo para
deltaicos e, finalmente, para continentais.

Período Carbonífero

Na Bacia do Paraná, o Carbonífero é representado pelo Grupo Tubarão, cujos


principais componentes litológicos são os arenitos, siltitos, folhelhos argilosos e síltico-
arenoso-argilosos, ritmitos, diamictitos e tilitos.
A parte inferior deste grupo é abrangida pelo Subgrupo Itararé que é, em grande
parte, de origem glacial e periglacial.
235

Nas áreas do Baixo e Médio Amazonas depositaram-se durante o Carbonífero Inferior


os arenitos da Formação Faro. No final do Carbonífero originaram-se dolomitos e anidritos
intercolados por folhelhos e arenitos da Formação Itaituba e arenitos cinza-esverdeados da
Formação Monte Alegre.
Na Bacia do Maranhão, a Formação Poti, com arenitos conglomeráticos, anidrita e
folhelhos marinhos, é sobreposta discordantemente por arenitos vermelhos da Formação
Piauí.

Período Permiano

A sedimentação permiana tem caráter predominantemente pelítico com siltitos,


folhelhos e calcários, tectonicamente calma. No final do período começaram a se depositar
camadas vermelhas de origem continental no Sul e evaporitos nas bacias do norte.
A sedimentação do Subgrupo Itararé na Bacia do Paraná prossegue e compõe-se de
arenitos amarelos siltitos e folhelhos intercalados por diamictitos e representa as partes
média e superior da unidade.
Depositou-se na Bacia do Amazonas, durante o Permiano, uma sucessão de
folhelhos, siltitos e calcários intercalados com halita, anidrita e gipsita. O Permiano Superior
compreende siltitos, folhelhos e arenitos intercalados com calcários e sílex
predominantemente vermelhos.
Na Bacia do Maranhão, o Permiano é caracterizado por siltitos folhelhos cinza-
esverdeados com finos níveis de sílex, além de camadas vermelhas e evaporitos.

Mezosóico - Cenozóico

Desde os primórdios do Mezosóico iniciaram-se as atividades ígneas na Bacia do


Amazonas que, descontinuamente, prosseguiram até o fim do Cretáceo, quando recomeça a
deposição clástica.
Na Bacia do Maranhão, deposita-se inicialmente arenitos avermelhados e brancos,
friáveis, com estratificação cruzada. Sobre esta seqüência, ao sul, segue-se uma fase de
atividade ígnea básica com intrusões denominada Formação Mosquito. Esse derrame de
lavas foi coberto por arenitos cinza-esverdeados com argilitos, folhelhos e calcários.
236

A sedimentação foi novamente recoberta por lavas básicas e intrusões generalizadas


da Formação Sardinha. A sedimentação é reiniciada e prossegue com arenitos e
conglomerados basais da Formação Grajaú.
A deposição Mezosóica na Bacia do Paraná é iniciada com sedimentação de natureza
lacustre fluvial no sul - Formação Rosário do Sul, a qual consiste de lamitos e arenitos
vermelhos. Na porção central e norte da Bacia seguem-se arenitos fluviais da Formação
Perambóia superpostos pela Formação Botucatu, esta última já em ambiente eólico. No
início do Jurássico toda a bacia é um imenso deserto, propiciando deposição de arenitos
eólicos e outros depósitos típicos. Já no Jurássico iniciam-se as atividades ígneas básicas
da Formação Serra Geral, com espessos derrames basálticos, perdurando até o final do
Cretáceo. Localmente, sobrepostos aos derrames de basaltos, ocorrem depósitos arenosos
e sílticos-arenosos das Formações Caiuá, Bauru e Tupacipitã.
São geralmente depósitos subaquáticos e parcialmente eólicos, distribuídos no
noroeste do Paraná, sudoeste de São Paulo e Rio Grande do Sul. Durante o Cretáceo
Inferior, com o desenvolvimento dos processos tectônicos que resultariam na separação
entre África e Brasil, foram definidas outras bacias de pequeno porte como Marajó, Potiguar,
Pernambuco, Paraíba, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e outras.

11.4 Geologia do Estado de São Paulo

No entendimento geral da sucessão estratigráfica da geologia do Estado de São


Paulo, sempre foi utilizada uma divisão geral em Embasamento Cristalino Pré-Cambriano
(Proterozóico) e os sedimentos Fanerozóicos da Bacia Sedimentar do Paraná (Figura 76). A
essa sucessão estratigráfica aflorante de leste para oeste, relacionam-se os grandes traços
geomorfológicos do Estado, derivados, primordialmente, por erosão diferencial, onde as
principais divisões representam rochas agrupadas em determinados intervalos do tempo
geológico (Tabela 34). Dessa maneira, verifica-se que o Planalto Atlântico está na área das
rochas cristalinas no Proterozóico, a Depressão Periférica nas rochas sedimentares do
Paleozóico (Carbonífero-Permiano), e início do Mesozóico (Triássico) a Cuesta Basáltica,
nos sedimentos e vulcânicas do Triássico-Cretáceo inferior e o Planalto Ocidental sobre os
sedimentos do Cretáceo superior-Terciário (figura 105).
Cerca de 80% (aproximadamente) do Estado de São Paulo está inserido dentro da
Bacia Sedimentar do Paraná, uma bacia cratônica, que encontra-se preenchida por rochas
237

sedimentares e vulcânicas, perfazendo uma espessura máxima conhecida de 6.000 metros


(na região de Cuiabá Paulista, SP, no Pontal do Paranapanema), cujas idades variam do
Paleozóico Inferior até o Cenozóico. Sua área total no Brasil e países vizinhos do cone sul
abrange 1.700.000 Km2. O Estado de São Paulo ocupa posição vizinha à sua margem
nordeste perfazendo mais da metade da área total do Estado e todo interior do mesmo
(Figura 104).
Os sedimentos e rochas vucânicas associadas da Bacia do Paraná no Estado
ocupam a área de três das cinco divisões geomorfológicas, a saber: Depressão Periférica,
Cuestas Basálticas e Planalto Ocidental (Figura 106).
A área percorrida abrange os Grupos Tubarão (Formação Itararé), Grupo Passa Dois
(Formação Iratí e Corumbataí), Grupo São Bento (Formação Serra Geral) e o Grupo Bauru
(Formação Adamantina e Marília).

Figura 76- Distribuição das unidades litoestratigráficas no Estado de

1981a).

Figura 104 – Distribuição das unidades litoestratigráficas no Estado de São Paulo (Adaptado de IPT, 1981a).
238

Figura 105 – Divisão Geomorfológica do Estado de São Paulo (Adaptado de IPT, 1981b).

Figura 106 – Perfil Geológico-Geomorfológico de E-W do estado de São Paulo (Modificado do IPT, 1981b).
239

Coluna Estratigráfica da Bacia do Paraná


240

MINERAIS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS

HEMATITA GOETHITA MAGNETITA CASSITERITA PIROLUSITA BRUCITA CÓRIDON

BAUXITA BIOTITA DIAMANTE FLUORITA APATITA GESSO MICA

PIRITA QUARTZO GALENA TALCO TURMALINA GRAFITA


MUSCOVITA

BRASILIANITA CIANITA CALCITA DOLOMITA SIDERITA

ANIDRITA ORTOCLÁSIO OLIGOCLÁSIO ANORTITA OLIVINA

AUGITA CAULINITA CLORITA HORBLENDA


241

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