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DEBAIXO DOS NOSSOS PÉS,

A COMPLEXIDADE DO SOLO

Adélia Varela
11.12.2017
Solo
 Composição
 Horizontes
 Classificação e taxonomia
 Carta de solos de Portugal
 Degradação e consequências
AH
 Contaminação
AH

AH
Caso de estudo
 Projecto NATO sfp FER

o Pentaclorofenol
o Montados FER

o Fungos
RR
o Floresta de Tabarka, Tunísia
RR
O solo é a camada mais superficial da crosta terrestre, é
composto por sais minerais dissolvidos na água intersticial, seres
vivos e rochas em decomposição.

Produto do intemperismo sobre um material de origem, cuja


transformação se desenvolve num determinado relevo, clima,
bioma e ao longo do tempo.

Engenheiro agrónomo
solo é a camada na qual se pode desenvolver vida (vegetal e animal).

Engenheiro civil, sob o ponto de vista da mecânica dos solos,


solo é um corpo passível de ser escavado, sendo utilizado dessa forma
como suporte para construções ou material de construção.

Biólogo, através da ecologia e da pedologia,


solo infere sobre a ciclagem biogeoquímica dos nutrientes minerais e
determina os diferentes ecossistemas e habitats dos seres vivos.
Os solos são constituídos por 3 fases

Sólida (minerais e matéria orgânica)


Líquida (solução do solo)
Gasosa (ar)

partículas minerais, matéria orgânica


e espaço poroso (espaço vazio entre
as partículas do solo).

Os espaços porosos podem ser


preenchidos por ar ou água, o que
depende da disponibilidade de água.
O grau de preenchimento dos poros
com água é o que determina as
condições de humidade do solo.

Programa COMET faz parte da Universidade de Pesquisa Atmosférica


Camadas paralelas à superfície do solo

O - Camada de restos de plantas e animais na superfície do solo.

A - Primeiro horizonte mineral do solo, mais escuro, por conter


mais húmus que os horizontes B e C.

B - Horizonte formado por partes bastante desagregadas da


rocha-mãe, estando abaixo do horizonte A.

C - Horizonte formado por partes pouco desagregadas da rocha-


mãe, com presença de materiais que ainda se estão a
transformar no solo.

R - Rocha-mãe que, submetida ao intemperismo, se desagrega e


se decompõe, dando origem ao solo.
Classificação e taxonomia do solo
Unidades pedológicas
segundo o esquema da
FAO. FAO
Food and Agriculture Organization /
Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura)

SROA
Serviço de Reconhecimento e
Ordenamento Agrário

USDA
United States Department of Agriculture /
Departamento de Agricultura dos EU
Principais causas

Lixiviação Esgotamento
Assoreamento de rios dos solos

Erosão Laterização

Salinização
Voçorocas
Consequências

A degradação do solo pode deixá-lo infértil ou com baixas concentrações


de nutrientes, dificultando ou inviabilizando a prática da agricultura.

Aceleração do processo de desertificação em determinadas áreas.

Desfiguração de paisagens naturais.

Bloqueio de estradas e rodovias, provocados pelo deslizamento de


encostas.
Poluição atmosférica

Poluição de água /solo

Poluição de efluentes domésticos / industriais

Todos os
ecosistemas
estão ligados
entre si
“Preservação
“Os solos precisam dos solos é
de nós para os essencial para
proteger” a segurança
da produção
de alimentos
Land Life e para um
futuro
sustentável”

“Solos são
para uma
produção “Solos sãos para
de uma vida sã”
alimentos
sãos”

FAO, Ano Internacional dos Solos, 2015


Amostragem
Crivar a amostra de solo
Textura – Granulometria Métodos Analíticos

pH
Matéria orgânica
Azoto total
Capacidade de retenção de água

Macronutrientes
Cálcio (Ca)
Magnésio (Mg)
Potássio (K)
Sódio (Na)

Micronutrientes (ex.)
Cobre (Cu)
Chumbo (Pb)
Zinco (Zn)
Manganês (Mn)
Areia (%)

Triângulo de classificação textural de solos


(Lemos & Santos, 1984)
O impacto do pentaclorofenol em
comunidade de fungos isolados
de solos de Montado
Adélia Varela, Celso Martins e Cristina Silva Pereira
ISEL, 11.12.2017
Projecto NATOsfp

Desenvolver estratégias de prevenção e de


remediação para a eliminação contínua de
compostos fenólicos aromáticos de solos de
florestas e de águas residuais

Estudo de (bio)indicadores para a monitorização do risco provocado


por perturbações ambientais contínuas que afectam a biodiversidade
do solo. Em particular, focando a diversidade taxonómica e funcional
dos fungos colonizadores de solos florestais durante a exposição a
poluentes atmosfericamente relevantes.
Estratégia da Investigação

A estratégia de investigação foi desenvolvida com base na capacidade de ligação


entre o risco de contaminação do PCP com a contaminação frequente do composto
tricloroanisole (TCA - que é muito volátil) em “pranchas “de cortiça extraídas das
florestas. Uma das possíveis vias de formação de TCA é a degradação de PCP
através de estirpes de fungos. Não é o único motivo, mas sugere fortemente a
presença de PCP no local.

V. Mazzoleni, et al. 2005. Chemosphere,


C. Silva Pereira, et al. 2000. Critical Reviews in Microbiology
Visão do Estudo

dispersão
poluentes “caso de estudo”
crónicos
comunidade de fungos isolados de solos
de Montado (Quercus suber) que como
hipótese inicial podem estar expostos
dinâmica da ao PCP (pentaclorofenol)
comunidade
de fungos
isolados

O meio ambiente não conhece fronteiras


O que “sobe” para o meio ambiente gira
Funciona-
em torno dele
mento do
solo

A.Varela, C. Martins & C. Silva Pereira. 2017. Current Opinion in Microbiology


Pentaclorofenol (PCP)

Solos de Florestas de Montados

Fungos
Pentachlorophenol considerado POP

• Utilizado desde 30s


 Risco para todos os organismos
• Restricto desde 80s
• Globalmente disperso

PCP

PCP “disperso” no habitat de Montado?


A. Varela, C. Martins, I. Martins, T. M. Martins and C. Silva Pereira, 2017. Book Chapter; A.Varela, C. Martins & C. Silva Pereira. 2017. Current Opinion in Microbiology;
I. McLellan, et al. 2007. Journal of Environmental Monitoring
Montados

Importância económica e crítica em Portugal


Paisagens humanas de imenso valor cultural e valor histórico
Pólos de biodiversidade e asseguram a biodiversidade de uma série de espécies de
referência Lince Ibérico, Águia Imperial, Cegonha Preta
Regulação do ciclo da água, interceptando e promovendo a infiltração da água
Protecção do solo contra a erosão
Fungos

Colonizadores que asseguram uma série de serviços do


ecossistema

75% da biomassa microbiana do solo


Elevada produção de biomassa e dispersão /contacto de área

~ 100,000 espécies estão descritas, mas estão


estimados exitir 2.2 e 3.8 milhões
Organismos ubíquos

Apresentam capacidades catabólicas impressionantes

As comunidades fúngicas no solo constituem uma das maiores


riquezas em termos de biodiversidade
Caso de estudo - Tabarka, Tunisia
Solos de Florestas de Montados
 Paisagens humanas de imenso valor
cultural e valor histórico

A.Varela, C. Martins, et al. 2015. Environmental Microbiology


Diversidade de fungos (cultiváveis)

AH Caracterização taxonómica

0,1%
solução de
peptona

1 g solo : 10 mL
1 h, 90 rpm MEAC & DGC18

Penicillium spp. 68 %
Aspergillus spp. 10 %
77 fungos isolados
Absidia spp. 8% cultiváveis
Cladosporium spp. 5%
Fusarium spp. 4%
Análise Morfológica
Phoma spp. 3%
& Molecular
Trichoderma sp. 1%
Zygorhynchus sp. 1%
91% - Filo Ascomycota
(Predominância de Penicillium)

C.M. Visagie, et al. (2013). Five new Penicillium species in section Sclerotiora: a tribute to the Dutch Royal family. Persoonia 31, 2013: 42–62
Degradação do PCP na
comunidade cultivável de fungos

100 A 25
A A A A A A

N estirpes que degradam


AB

N degrading strains
80 B A 20
A
% degradation

60 15
degradação

40 10

20 5
%

0 0
0.019 0.028 0.038 0.056
A maioria dos fungos
isolados consegue degradar
[PCP] µM
[PCP] mM
AH1 AH2 AH3
substancialmente o PCP até
AH1 AH2 AH3 19 µM, e > 1/3 até 38 µM

A integração das vias de degradação do PCP de cada fungo da


comunidade pode revelar a via de degradação de PCP no solo
Integração da comunidade
cultivável de fungos
PCP
Cl Cl

Cl OH

p-TeCP
comunidade TeC-m-BQ Cl Cl
TeC-p-BQ Cl Cl
TeC-o-BQ
Cl Cl
o-TeCP
Cl Cl

cultivável Cl Cl Cl Cl
OH O O Cl OH

de fungos O O O O
Cl Cl Cl Cl Cl

HO Cl Cl Cl

TeCHQ TeCC TeC-o-G


TeCR TeC-m-G Drosophilin A Cl Cl H3C O Cl

HYDROQUINONE BRANCH
Cl Cl Cl Cl

community soil
Cl O CH3 Cl Cl
Cl OH HO Cl
RESORCINOL BRANCH

Cl OH HO OH
HO Cl HO O
CH3 Cl OH Cl Cl

CATHECOL BRANCH
HO Cl Cl Cl
Cl Cl Cl Cl

Integração TCR
Cl Cl
TCTHB
Cl Cl
TCHQ
Cl Cl
TCTHB
HO Cl
TCC Cl
TCMP
dos derivados OH HO OH HO OH
Cl OH Cl OH S-TCMP
S-TCDHB
de PCP HO Cl HO Cl Cl
Cl OH Cl OH

identificados DCR
Cl Cl
DCTHB
Cl Cl
DCHQ DCTHB
Cl Cl
DCC

nas culturas
Cl Cl
Cl Cl

OH
HO OH HO OH
OH S-DCDHB
individuais
HO OH

HO OH
OH
HO

(HRMS) CR CTHB CHQ CTHB Cl CC


Cl Cl Cl
Cl
OH
OH HO OH HO OH
HO OH
OH
HO HO OH

R THB HQ THB C
OH HO OH OH
HO OH HO OH

HO OH

--- abiótico
HO OH

Degradation pathway of mono


biótico chlorinated aromatics

[ ] compostos previstos
(Martins, T. et al, 2014)
Degradação do PCP na comunidade
PCP
Cl Cl

Cl OH

p-TeCP TeC-o-BQ o-TeCP


TeC-m-BQ Cl Cl
TeC-p-BQ Cl Cl
Cl Cl Cl Cl

comunidade community soil


Cl Cl Cl Cl
OH O O Cl OH

O O O O
Cl Cl Cl Cl Cl

HO Cl Cl Cl

TeCHQ TeCC TeC-o-G


TeCR TeC-m-G Drosophilin A Cl Cl H3C O Cl

HYDROQUINONE BRANCH
Cl Cl Cl Cl
Cl O CH3 Cl Cl
Cl OH HO Cl
RESORCINOL BRANCH

Cl OH HO OH
HO Cl HO O
CH3 Cl OH Cl Cl

CATHECOL BRANCH
HO Cl Cl Cl
Cl Cl Cl Cl

Integração TCR
Cl Cl
TCTHB
Cl Cl
TCHQ
Cl Cl
TCTHB
HO Cl
TCC Cl
TCMP
dos OH HO OH HO OH
Cl OH Cl OH S-TCMP
S-TCDHB
derivados HO Cl HO Cl Cl
Cl OH Cl OH

do PCP na DCR
Cl Cl
DCTHB
Cl Cl
DCHQ DCTHB
Cl Cl
DCC
Cl Cl

comunidade
Cl Cl

OH
HO OH HO OH
OH S-DCDHB
HO OH

HO OH
OH
HO

Cl
CR CTHB CHQ Cl
CTHB Cl CC
Cl
Cl
OH
OH HO OH HO OH
HO OH
OH
HO HO OH

R THB HQ THB C
OH HO OH OH
HO OH HO OH

HO OH OH

--- abiótico
HO

Degradation pathway of mono


biótico chlorinated aromatics
(Martins, T. et al, 2014)
[ ] compostos previstos
Degradação do PCP no solo
PCP
Cl Cl

Cl OH

p-TeCP TeC-o-BQ o-TeCP


TeC-m-BQ Cl Cl
TeC-p-BQ Cl Cl
Cl Cl Cl Cl

solo community soil


Cl Cl Cl Cl
OH O O Cl OH

O O O O
Cl Cl Cl Cl Cl

HO Cl Cl Cl

TeCHQ TeCC TeC-o-G


TeCR TeC-m-G Drosophilin A Cl Cl H3C O Cl

HYDROQUINONE BRANCH
Cl Cl Cl Cl
Cl O CH3 Cl Cl
Cl OH HO Cl
RESORCINOL BRANCH

Cl OH HO OH
HO Cl HO O
CH3 Cl OH

CATHECOL BRANCH
Cl Cl
HO Cl Cl Cl
Cl Cl Cl Cl

TCR TCTHB TCHQ TCTHB TCC


Cl Cl Cl Cl Cl Cl
HO Cl Cl
TCMP
S-TCMP
Integração OH HO OH HO OH
Cl OH Cl OH

S-TCDHB
dos
HO Cl Cl OH Cl OH
HO Cl Cl

DCTHB
derivados DCR
Cl Cl
DCTHB
Cl Cl
DCHQ
Cl Cl
Cl Cl
DCC
Cl Cl

do PCP do OH
HO OH
HO OH
HO OH
OH S-DCDHB

solo HO
HO OH
OH

PeCB Cl
CR CTHB CHQ Cl
CTHB Cl CC
Cl
Cl
Cl
OH
OH HO OH HO OH
Cl HO OH
Cl
OH
HO HO OH

Cl Cl R THB HQ THB C
OH HO OH OH
HO OH HO OH

HO OH

--- abiótico
HO OH

Degradation pathway of mono


biótico chlorinated aromatics

[ ] compostos previstos (Martins, T. et al, 2014)


Comunidades de fungos
Perspectivas Futuras
em solos

Identificação de fungos/funções que


desempenham um papel dominador na
mitigação de pentaclorofenol - dinâmica da
comunidade

Estudos com comunidades fúngicas em


meio artificial - Metagenómica, incluí a
comunidade não cultivável.

Amostras da
Estudos com comunidades em matrizes de
comunidade
solo – biodiversidade funcional
do solo AH

entender a resposta da
comunidade como um todo à
presença de tóxicos
atmosfericamente relevantes
(impacto da exposição crónica a
concentrações sub-letais)
Conclusões

 PCP foi detectado em solos de montado em concentrações


consistentes com deposição atmosférica e/ou persistência

 77 fungos foram isolados com uma predominância de Penicillium


(3 novas espécies)

 A maioria dos fungos isolados consegue degradar in vitro substancialmente o PCP até
19 µM, e > 1/3 até 38 µM

 Vários metabolitos de degradação de PCP identificados in vitro estão


presentes no solo
 Drosophilin A foi detectada pela primeira vez durante a degradação de PCP no
filo Ascomycota quer in vitro quer no solo

 Pentaclorobenzeno identificado no solo como possível precursor de PCP

 Proposta uma via de degradação de PCP pela comunidade de fungos do solo


(integração das contribuições individuais de cada fungo)

A. Varela, C. Martins, I. Martins, T. M. Martins and C. Silva Pereira, 2017. Book Chapter; A. Varela, C. Martins & C. Silva Pereira. 2017. Current Opinion in Microbiology;
arela, A, Martins, C, Núñez O, Martins, I, Houbraken, JAMP, Martins, TM, Leitão, CM, McLellan, I, Vetter, W, Galceran, MT, Samson, RA, Hursthouse, A and Pereira CS 2015
I. McLellan, et al. 2007. Journal of Environmental Monitoring
Agradecimentos

Instituto Nacional de
Investigação Agrária e
Veterinária

Departamento de Solo
Mª Lurdes Cravo
Mª Clara Pegado

Microbiologia de Solo

Cristina Silva Pereira Lab. (Applied and Environmental Mycology) Prof. Teresa Galceran
Prof. Oscar Núñez

Dr. Jenny Renaut


Dr. Céline C. Leclercq Dr. Robert Samson
Dr. Jos Houbraken Prof. Andrew Hursthouse
Prof. Iain McLellan
PCP degradation metabolites
from submerged cultures

77 fungal strains

 submerged cultures MMG


1%
 4 ≠ [PCP]
 14 days at 27ºC

 Fast solvent extraction


 PCP quantification by UPLC

> 65 % can degraded PCP


20% were able to degrade PCP up to 15 mgL-1
Potencial de degradação de PCP
CLPP - Community level physiological profiling

95 ≠ carbon sources

• Carboxylic acids
• Carbohydrates
• Aminoacids
• Polymers
• Amine/Amides
• Miscellaneous

[PCP] mM
[PCP] mM

CLPPs of the community showed that PCP increased the richness


(number of substrates used) and the functional diversity (Shannon index, H′)
Potencial de degradação de PCP
3 amostras de solos

Método optimizado para o estudo da presença


de metabolitos nas amostras de solo

5g solo
+
10mL MeOH
Sonicação, Centrifugação
30 min. 3000g, 15 min. Secar e guardar o
2 ciclos sobrenadante
(-20ªC)

I McLellan , A Hursthouse, C Morrison, A Varela & C Silva Pereira (2013). Development of a robust chromatographic method for
the detection of chlorophenols in cork oak forest soils. Environmental monitoring and assessment Volume 186, 1281-1293

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