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Pra colocar no título>>> Resenha do livro: Há quem prefira urtigas (Tade kuu mushi),

de Junichiro Tanizaki

No corpo do post>>> Foto da capa

Texto em si a ser postado depois da foto da capa>>> Bem, primeiro que este, Há
quem prefira urtigas, era o livro de outubro do clube do livro da Japan House. E eu
consegui terminar a tempo? Não. Nem esse, nem o de novembro, porque a vida de um
ser humano adulto é uma demo de jogo horrível, como já falei, e dizem que a versão
completa que nos entregam sem direito a devolução depois dos sessenta anos de idade é
ainda pior, ainda mais no Brasil e nesse momento em que vivemos. Mas enfim, cá estou
eu para escrever algo sobre o livro e recomendá-los a vocês; na verdade, a Camilla vai
postar pra mim, porque ainda estou numa longa quest para conseguir internet banda
larga no meu novo apartamento. “Delícias” da vida adulta e de se morar no Brasil.
Enfim, vamos ao livro, que as “arengas” e coisas legais do meu tempo sumida eu conto
depois, no meu já típico #myroadsofar (e, enquanto escrevo isso, notei que estou
vestindo a camiseta que customizei de Supernatural hehe)

Há quem prefira urtigas (Tade kuu mushi – literalmente, Cada um tem seu gosto] é um
livro que, a princípio, julguei que não fosse curtir, mas me surpreendi. É relativamente
curto (192 páginas), e, quando finalmente tive tempo para me dedicar à leitura, ela fluiu.

Como estou estudando a literatura e as artes visuais japonesas (inserida na cultura e


visão da época) do século XIX com a bolsa de estudos que ganhei (online) da
Universidade de Tóquio, várias referências ao xogunato e outras que eu já meio que
conhecia pelos meus próprios estudos de cultura e costumes japoneses não me foram
totalmente estranhos, mas vários somaram-se ao meu conhecimento, então, em termos
de aprendizado, foi um ótimo livro.
Ele perpassa várias tradições japonesas – a história se passa no Japão da década de 1920
–, algumas já caindo em desuso, mas também mostra aquela geração dividida entre o
novo (ocidentalização) e o velho, e muitas vezes somos remetidos ao Japão Feudal e à
Era Edo.
Era da história em si que eu temia não gostar. A princípio, um casal enrolar dois anos
para se separar é algo que juro que não entendo, e olha que eu mesma já me separei, não
foi fácil, mas não fiquei dois anos enrolando para fazer isso. Sim, separações, divórcios,
mortes, perdas, tudo isso é doloroso para todos os envolvidos, mas, querendo ou não,
fazem parte desse jogo da vida cuja demo e cujo jogo completo não temos o direito de
devolver. Não podemos permanecer eternamente crianças (embora possamos tentar
manter traços bons infantis conosco, para não mergulharmos em um amargor sem fim).
Uma vez perdida a inocência infantil, ela não tem mais volta – e, infelizmente, muitos a
perdem na própria infância, mas isso seria questão para outro post....
E daí eu falo dos personagens: o foco maior é dado nos adultos – o casal tem um filho,
Haroshi –, mas isso não quer dizer que a criança é um mero adereço ou personagem
jogado ao acaso e não desenvolvido, apenas não é o foco central do livro embora, nas
palavras de Takanatsu: “Os caminhos da vida, afinal, não são todos planos. Meninos
precisam enfrentar problemas para se fortalecer. O próprio Kaname tem levado uma
vida boa demais, está na hora de enfrentar alguns percalços. Talvez assim ele deixe de
agir como uma criança mimada.” e “Crianças têm uma visão crítica incrível e
memória aguçada. Na idade adulta, vão rever os acontecimentos retidos na memória e
dirão: na verdade, as coisas se passaram assim e assim. E julgarão à luz da
maturidade. É por isso que eu digo: nunca subestime a percepção de uma criança, pois
um dia ela chegará à idade adulta.”
E me vejo concordando com Takanatsu nos dois aspectos, ainda mais no contexto do
livro, sem comentar muito mais para não soltar spoilers sobre a história em si e seu
desenvolvimento.
Cheguei a comentar, logo no começo da leitura, com um amigo, que, se o casal não se
separasse ao final do livro, eu só não o jogaria pela janela como acontece com o
personagem do filme O lado bom da vida porque livro já é caro, aliás, no Brasil, até
respirar custa caro, e livro japonês é mais caro ainda, mesmo com desconto. Mas, como
disse antes, me surpreendi, o final é num estilo meio surrealista, o plot twist me
surpreendeu, aliás, há vários matizes impressionistas nas descrições primaveris, outros
tão vívidos como fotografias ou até mesmo filmes, dos locais, das estações, não apenas
da primavera, do luto e dos costumes e das atitudes (antigos e novos) dos japoneses. Há
momentos em que a prosa realmente adquire um ar poético e somos imersos naquele
mundo de personagens que parecem os fantoches dos teatros de bonecos de que o sogro,
pai de Misako, a esposa de Kaname, tanto gosta.
“[...] as províncias a oeste de Kyoto têm um clima abençoado e são menos castigadas
por catástrofes naturais. Eis por que até as telhas e os muros de simples casas rurais
têm essa cor sedutora, capaz de deter os pés do andarilho. Em especial, chama a
atenção um fato: comunidades pequenas ou antigas cidades casteleiras são mais belas
que os grandes centros urbanos. Num mundo em que cidades como Osaka e até as
ribanceiras da avenida Shijo no centro de Kyoto sofrem transformações que as tornam
quase irreconhecíveis, locais como Himeji, Wakayama, Sakai e Nishinomiya conservam
ainda vestígios nítidos da época feudal.”
Esse trecho específico tem traços e nostalgia, de quando a gente se lembra com a
memória afetiva de tempos de outrora, pois a época feudal não era nenhum paraíso e os
que iam contra o xogunato eram exterminados, não diferente de diversas ditaduras por
todo o mundo.
Eu citaria ainda outros trechos especiais, além de outras falas de Takanatsu, um dos
meus personagens prediletos, mas não quero estragar o prazer da leitura de vocês. Sim,
é prazerosa. Basta esquecer o mundo em que vivemos hoje e imergir no mundo bem
delineado por Junichiro Tanizaki, e temos apenas não o drama de uma separação
iminente, mas há momentos de alegria, afinal, para tudo há equilíbrio, mesmo que às
vezes a balança penda mais para um lado ou o outro, até mesmo de fofura, assim como
de dramas e exageros fingidos. Coisas que fazem parte da vida adulta. Não somos mais
crianças, por mais que tentemos manter a chama da infância viva dentro de nós.
Trilhamos em um mundo difícil, em que uns são os infernos dos outros muitas vezes,
mas se pode encontrar algo similar a um paraíso ou oásis vez ou outra.
Para um livro que pensei que só não jogaria pela janela pelos motivos citados acima, eu
acabei gostando muito mais do que pensava, e talvez até o releia no futuro, sem o pré-
conceito que confesso que tive logo que o peguei.
Sim, há quem prefira urtigas. Eu prefiro rosas, mesmo com seus espinhos.
“As cerejeiras podem estar floridas, mas, se você está triste, chora ao vê-las!”
Leitura super recomendada: Nota: 4 banhos de imersão em uma banheira antiga com
cravos (ao lerem, vocês entenderão a referência hehe)

Obs.: Tradução do japonês por Leiko Gotoda

Até a próxima!
Hasta la vista, babies, I’ll be back!
Ana Death
Aqui entra meu avatar

Tags: literatura japonesa, drama, divórcio, costumes, Japão Moderno, Japão Feudal,
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