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LANDI: FAUNA E FLORA

DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

O códice
“Descrizione di varie piante, frutti, animali,
passeri, pesci, biscie, rasine, e altre simili cose che
si ritrovano in questa Cappitania del Gran Parà”
de Antonio Giuseppe Landi (ca. 1772)
Museu Paraense Emílio Goeldi
Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira

LANDI: FAUNA E FLORA


DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

O códice
“Descrizione di varie piante, frutti, animali,
passeri, pesci, biscie, rasine, e altre simili cose che
si ritrovano in questa Cappitania del Gran Parà”
de Antonio Giuseppe Landi (ca. 1772)

Nelson Papavero
Dante M. Teixeira
Paulo B. Cavalcante
Horácio Higuchi

Belém, Pará
2002
GOVERNO DO BRASIL
Presidência da República
Presidente Fernando Henrique Cardoso
Ministério da Ciência e Tecnologia
Ministro Ronaldo Mota Sardenberg
Museu Paraense Emílio Goeldi
Diretor Peter Mann de Toledo
Coordenadora de Pesquisa e Pós-Graduação Ima Célia Guimarães Vieira
Coordenador de Comunicação e Expansão Antonio Carlos Lobo Soares
Comissão de Editoração Científica
Presidente Lourdes Gonçalves Furtado
Editora Chefe Iraneide Silva
Editor Assistente Socorro Menezes
Bolsista Andréa Pinheiro

Editoração Eletrônica Andréa Pinheiro


Capa Andréa Pinheiro e Nelson Papavero
Editor Responsável
Nelson Papavero

Impressão
Capa: Gráfica Supercores
Miolo: Ministério da Ciência e Tecnologia/Serviço de Reprografia

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira/Nelson Papavero ... [et al.]. - Belém:
Museu Paraense Emílio Goeldi, 2002.
261p. (Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira)
ISBN 85-7098-097-3
1. Zoologia - Amazônia (Brasil). 2. Botânica - Amazônia (Brasil). 3. Landi,
Antonio Giuseppe, 1713-1792. I. Papavero, Nelson. II. Teixeira, Dante M. III.
Cavalcante, Paulo B. IV. Higuchi, Horácio. V. Série
CDD 581.9811
591.9811
© Direito de Cópia/Copyright 2002
por/by MCT-Museu Paraense Emílio Goeldi
Ao eminente herpetólogo e historiador das
coisas amazônicas, Dr. Oswaldo Rodrigues
Cunha, com a amizade dos autores.
Agradecimentos

Agradecemos ao Prof. Dr. Márcio Meira, às bibliotecárias do Museu


Paraense Emílio Goeldi, aos Profs. Drs. William L. Overal e Ricardo Secco,
e ao pessoal da Editoração da mesma Instituição, pela indispensável
colaboração e por todas as atenções recebidas. Ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa de
Pesquisador-Visitante concedida ao primeiro autor, e pela Bolsa de
Produtividade Científica concedida ao segundo autor.
Sumário

O Códice de História Natural


de Antonio Giuseppe Landi .............................................................................. 11

A datação do Códice de Landi .................................................................. 12

Dados biográficos de Landi, principais


eventos históricos desse período (1713-1792)
e seus outros escritos ....................................................................................... 13

Transcrição do Códice e tradução .................................................................... 63

Notas ........................................................................................................................... 189

Índice dos nomes populares originais


de animais e plantas contidos no Códice ...................................................... 249

Índice dos nomes populares


de animais e plantas utilizados na tradução ................................................... 253

Referências ................................................................................................................. 257


O Códice de História Natural
de Antônio Giuseppe Landi

O primeiro autor a citar o manuscrito de Antonio Giuseppe Landi


sobre a história natural da Amazônia (Códice 542, manuscrito, guardado
na Seção de Manuscritos da Biblioteca Pública Municipal do Porto, em
Portugal, proveniente da biblioteca do 2º visconde de Balsemão [cf.
Mendonça, 2000: 7]), foi Francisco Marques de Souza Viterbo, numa série
de biografias de arquitetos, cartógrafos, desenhadores, engenheiros,
fortificadores e naturalistas, publicada em números sucessivos, e durante
três anos, na Revista Militar (1893-1895). O mesmo historiador português
citá-lo-ia também em seu Dicionário Histórico e Documental dos Arquitetos, vol.
2 (1904), na biografia de Landi.
No Catálogo dos Manuscritos Ultramarinos da Biblioteca Pública Municipal do
Porto, de A. de Magalhães Basto em 1938, o códice de Landi foi novamente
citado e descrito (à p. 275). Seu título é Descrizione di varie Piante, Frutti,
Animali,/ Passeri, Pesci, Biscie, rasine, e altre simili/ cose che si ritrovano in questa
Cappitania del/ Gran Parà, le qualli tutte Antonio Landi de-/dica a sua Eccl:ca il
Sig.e Luiggi Pinto de Souza/ Cavaglier di Malta, e Governatore del Matto Grosso/
il quale con soma fatica e diligenzza investigò/ moltissime cose appartenenti alla storia
natura-/le, e delle quali si potrà formare un grosso/ uolume in vantaggio della Republica
Letteraria, elaborado durante, ou posteriormente a, 1772 (segundo
evidências internas do MS; ver abaixo). Compreende um volume
manuscrito, em papel do século XVIII, medindo 225 x 185 mm. A
encadernação é de carneira inteira, com dourados nas faces da capa e na
lombada. Seu conteúdo abrange uma folha de rosto com o título, 187
páginas de texto, em que Landi descreve animais e plantas, e mais três de
índice, e 67 desenhos a aquarela representativos da fauna e da flora, sendo
que algumas folhas contêm mais de uma espécie ou variantes dela (neste
livro não nos ocuparemos dos desenhos atribuídos a Landi, sobre os quais
paira ainda grande controvérsia [cf. Adonias, 1986; Mendonça, 2000]). Há
três páginas em branco no interior do álbum.
Foi o ilustre historiador paraense Augusto Meira Filho quem, no ano
de 1970, consultou e microfilmou pela primeira vez o precioso códice de
Landi. Meira Filho divulgou a obra, inicialmente, nas edições dominicais
do jornal A Província do Pará, em 1970 e 1971. Anos depois (1976), publicou
um ensaio sobre Landi, intitulado Landi, esse desconhecido (o naturalista), sob o

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 11


patrocínio do Conselho Federal de Cultura e do Departamento de Assuntos
Culturais. Os desenhos reproduzidos no livro de Meira Filho, os mesmos
do códice original, representam 20 plantas (cerca de 31 espécies), 1 raia, 16
répteis (20 espécies) e 30 mamíferos (33 espécies); as plantas foram tratadas,
nessa obra, por Paulo Bezerra Cavalcante, e os animais por Oswaldo
Rodrigues da Cunha, ambos pesquisadores do Museu Paraense Emílio
Goeldi. Não houve, nessa ocasião, possibilidade de transcrever o texto de
Landi, nem de traduzi-lo, sendo apenas reproduzidas as fotografias das
páginas do texto original (faltando, entretanto, as páginas 2 e 3). As
fotografias, que já não eram muito boas (algumas páginas têm trechos de
difícil leitura, outras trechos ilegíveis, particularmente as de número 172 a
174), perderam muito de sua qualidade, ao serem impressas.
O valioso acervo reunido pelo Prof. Meira Filho foi depositado,
após sua morte, na Biblioteca do Museu Paraense Emílio Goeldi. Graças
à generosidade do Prof. Dr. Márcio Meira, que autorizou o acesso às
fotografias do MS de Landi, o primeiro autor deste livro pôde lê-lo (tanto
quanto permitiu a qualidade das fotos) e transcrevê-lo, com a respectiva
tradução, aqui apresentada.

A datação do Códice de Landi

Em seu trabalho “Para a história da história natural do Brasil”, incluído


na revista Brasília (vol.1, 1942), da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra, Luís de Pina dedicou algumas páginas ao trabalho de Landi,
datando sua composição do ano de 1770, equívoco depois repetido por
Meira Filho (1976) e Adonias (1986). O problema é que provavelmente
nenhum desses autores deve ter lido o MS de Landi.
O Códice de Landi deve datar, no mínimo, de 1772, como se pode
concluir de uma evidência interna; pois, à página 115 (erroneamente
numerada 111 no MS), ao terminar de falar sobre a parreira, diz o autor,
claramente, implicando tempo passado: “ In quanto alli altri frutti di
Europpa non si uedono, e/ credo, che sia per il poco gusto di questa
gente, mentre/ in 1771 piantai quatro castagne [ênfase nossa] datemi
da un Capi-/tano di un Navio, e nacquero due, una pianta delle/ qualli
tengo io, e già alta cinque Palmi...” (“Quanto aos outros frutos da Europa,
não se vêm, e/ creio que seja pelo pouco gosto desta gente, pois/ em

12 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


1771 plantei quatro castanheiras que me deu um Capi-/tão de um
navio, e nasceram duas, uma das quais/ plantas tenho eu, já alta de cinco
palmos...”). Mendonça (1999: 56) diz ter sido ele “escrito provavelmente
em 1773”.

Dados biográficos de Landi, principais eventos


históricos desse período (1713-1792)
e seus outros escritos

Dados sobre a época, a vida de Landi, suas atividades como arquiteto


e naturalista estão nos trabalhos de Adonias (1986), Baena (1839, 1964),
Barros (1948), Barata (1999), Del Brenna (1999), Matteucci (1999), Medde
(1999), Meira Filho (1973, 1976, 1980), Mello Júnior (1973, incluindo
bibliografia), Mendonça (1999a-d, 2000), Moreira & Araújo (1999), Oliveira
(1999), Reis (1993), Roversi (1999), Salles (1968), Sousa (1999), Titarelli &
Bondi (1999), Tocantins (1969) e Viterbo (1899-1922, 1962-1964), de onde
compilamos os dados fornecidos na seqüência.

1713 - 30 de outubro. Data de nascimento de Antonio Giuseppe Landi,


filho de Carlo Antonio Landi, doutor em Filosofia e Medicina, e de
Antonia Maria Teresa Guglielmini, em Bolonha, Itália, na freguesia de
S. Leonardo. [Na Itália aparece também referido como Giuseppe
Antonio ou apenas como Antonio; em Portugal e no Brasil será
conhecido sobretudo como Antônio José Landi].
Nada se sabe sobre seus primeiros estudos e sobre o início de sua
atividade artística, depois de formar-se Mestre em Arquitetura e
Perspectiva no Instituto de Ciências e Artes de Bolonha, que freqüentava
desde a década de 30. Foi discípulo dileto de Fernando Galli de Bibiena,
membro de uma família de artistas italianos dos séculos XVII-XVIII,
que foram, principalmente, arquitetos e pintores. Algumas das gravuras
feitas por Landi (fachadas de igrejas e palácios), produzidas poucos
anos antes de deixar a sua terra natal para vir ao Brasil, foram publicadas
por Roversi (1999).
1743 - Landi é eleito membro da Accademia Clementina de Bolonha.
1748 - Landi dirige a construção da igreja dos Agostinhos de Cesena.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 13


Reinado de D. José I (1750-1777)

1750 - A 13 de janeiro de 1750 era celebrado o Tratado de Madri (cf. Reis,


1993; Papavero et al., 2000: 283-286), entre os representantes das duas
monarquias ibéricas, visando dar expressão jurídica à posse efetiva de
terras ocupadas há muito para além dos limites fixados pelo Tratado
de Tordesilhas de 1494.
Segundo Mendonça (1999: 41), “O padre jesuíta Giovanni Battista
Carbone fora encarregado de fazer os primeiros contactos em Itália,
com vista à contratação de astrónomos, geógrafos, engenheiros e
desenhadores para a comissão que deveria passar ao Brasil, para aí, em
conjunto com os técnicos escolhidos pelo Rei de Espanha, remarcarem
a linha fronteiriça entre as terras de Portugal e Espanha”.
Carbone morre a 5 de abril e é substituído nessa missão por João
Álvares de Gusmão, padre carmelita calçado, que, a 11 de abril, recebe
do Secretário de Estado Marco António de Azevedo Coutinho
instruções para procurar, de preferência em Bolonha, os astrônomos,
geógrafos e matemáticos necessários. Em junho, o Pe. Gusmão contrata
em Bolonha Giovanni Angelo Brunelli. Landi (então com 37 anos)
deve ter sido contratado pela mesma altura.
A 18 de julho os técnicos contratados estavam em Gênova,
aguardando a partida para Lisboa. “O grupo dos engenheiros, como era
referido na Gazeta de Lisboa, comportava 16 elementos - cinco haviam
sido recrutados em Itália (Brunelli e Landi em Bolonha, Cavagna em
Milão, Galluzzi em Mântua e Sambucetti em Gênova), nove em Viena
(entre os quais se contavam Sturm, Goetz, Groenfeld, Breuning e
Schwebel), um em Basiléia, e um em Paris” (Mendonça, 1999: 43).
Em agosto a comissão estava em Lisboa. Mas vários
acontecimentos impediram sua partida para o Brasil. A 31 de julho
havia morrido D. João V e assumira o trono português D. José I.
Alexandre de Gusmão, secretário de D. João V e o genial ideólogo do
Tratado de Madri, foi afastado. Sebastião José de Carvalho e Melo, o
futuro Marquês de Pombal, foi nomeado Secretário de Estado e
encarregado da execução do tratado, escolhendo seu irmão, Francisco
Xavier de Mendonça Furtado, para a sua aplicação no Norte do Brasil.
Outros impecilhos fizeram com que a partida da comissão para Belém
fosse postergada até junho de 1753.

14 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


1751 - Francisco Xavier de Mendonça Furtado assume (24 de setembro) o
cargo de (19º) Governador e Capitão-General do Estado do Maranhão
e Grão-Pará.
1752 - O Tratado das Instruções dos Comissários da Parte do Norte,
assinado em Aranjuez a 24 de junho de 1752, e ratificado por Sua
Majestade Fidelíssima em 5 de julho do mesmo ano, dizia em seu artigo
XX: “Nas ordenanças acima estabelecidas se incluirão as advertências
seguintes: que os comissários, geógrafos, e mais pessoas inteligentes
das três tropas, vão tomando por apontamentos os rumos, e distâncias
das derrotas, as qualidades naturais dos países; os habitantes que neles
vivem e os seus costumes; os animais, rios, lagoas, montes, e outras
semelhanças, cousas dignas de se saberem, pondo nomes de comum
acordo a todas as que o não tiverem para que sejam declaradas nos
mapas e relações com toda a distinção, e procurando que as suas
observações, e diligências sejam exatas, não só pelo que pertence a
demarcação da raia e geografia do país, mas também no que pode
servir para o adiantamento das ciências, o progresso que fizerem na
História Natural, e observações físicas e astronômicas” (Adonias, 1986:
29-30).
1753 - Em carta dirigida por el-Rei a Francisco Xavier de Mendonça
Furtado, datada de Lisboa, 30 de abril de 1753, recomendava o soberano
que, além dos limites deviam ser consideradas “também a Geografia e
História Natural desse país, e as observações físicas e astronômicas,
que nele se podem fazer” (Adonias, 1986: 30).
A 2 de junho parte finalmente a comissão de engenheiros,
atrônomos, geógrafos, desenhadores e militares para o Norte do Brasil,
com rumo a Belém do Pará, onde chega a 19 de agosto.
“Chefiava a expedição o sargento-mor Sebastião José da Silva;
participavam na qualidade de astrónomos e matemáticos o doutor
João Ângelo Brunelli e o padre jesuíta Inácio Sanmartone [Meira Filho
(1976: 24) grafa, mais corretamente, Stzentmartonyi]; como oficiais
encontramos os capitães João André Schwebel, Gaspar Gerardo de
Grönfeld e Gregório Rebelo Guerreiro Amaro, os ajudantes Henrique
Antônio Galluzzi, Adão Leopoldo de Breuning e Filipe Sturm, o tenente
Manuel Goetz; do grupo fazem parte dois cirurgiões, Daniel Panck e
Antônio de Matos; Antônio José Landi integra a missão como
desenhador, qualidade na qual fora contratado. O astrônomo Brunelli

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 15


é o membro melhor pago do grupo - 800.000 réis por ano - Landi
recebe apenas 300.000 réis por ano. (...). A partida da comissão para o
interior vai sofrer atrasos relacionados com dificuldades em obter índios
para remarem as embarcações e os mantimentos necessários que a
Corte atempadamente pedira aos superiores das várias missões,
estabelecidas ao longo do percurso” (Mendonça, 1999: 47).
É interessante examinar a lista do material (instrumental científico e
material artístico) e da bibliografia levada pelas companhias da Comissão
(Reis, 1993: 230-235):

“EXPEDIÇÃO DO MARANHÃO

Caixas q’ se hão-de entregar á primr.a Comp.a

Caixa - Nº. 1.o - Contem dous pés de planchetas hum termometro.


Caixa - Nº. 2.o - Contem quatro planchetas de pinho, de q’ os pés vão na
Caixa No. 1.o duas pastas de papelão para desenhar.
Caixa - Nº. 3.o
e 4.o - Contem cada hûa dellas huma Camara escura p.a
desenhar paizes composta de hûa Meza, 4 pés feitos de
dous pedaços cada hum, hum assento, hum pé p.a o
asento, hû espelho com capa de Oleado.
Caixa - Nº. 5.o - Contem hûa peça de pé do quadrante gr.de inglez, q’ vai na
Caixa N.o 11.º.
Caixa - Nº. 6.o - Contem huma regoa de ferro batido, e burnido, em q’ vai
marcada a medida da Tueza de Paris, e de hum pé dividido
para por esta medida se regularem todas as q’ se fizerem.
Caixa - Nº. 7.o - Contem seis cadernos de papel Real p.a tirar dezenhos em
limpo: 30 cadernos de papel da menor marca pa.
Dezenhos: hû resma de papel de escrever: 4 Cadernos de
papel fino transparente p.a lucidar dezenhos: 7 Cadernos
de papel pardo. Dous massos de penas: 5 tinteiros: 12
paus de Lapis, huma boceta com tinta da China com
pinceis: hum papel com [gom]aravia: hûa caixa de diversas
tintas pa. Illuminar: hûa Lata com azougue: 4 buris: hum
estojo pequeno de Mathematica: 2 busolas pequenas de
Latão: hum olivel: 4 regras de latão em sua caixa: hum
oculo de 1 palmo, hûa bussola grande em caixa de Latão:
hum relogio armilar: hûa Chave p.a o quadrante grande;
hûa pedra de Sevar de Inglaterra em sua caixinha..

16 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Caixa - Nº. 8.o - Contem hûa machadinha: hum Serrote: 12 ganchos de
parafuzo: hum torno, hûa bigorna: 3 martelos: 2 tornos
de mão: 2 alicates: hum escoapulo: 2 chaves de parafuzo:
6 Cabos p.a ellas: 5 pessas de arame: 2 pessas de fio de
ferro, huma pessa de corda de viola: 17 pessas de varios
cordeis de barbantes: 2 pessas de bezerro: 2 Covados de
pano verde: 12 limas: huma cadeira de medir: 6 pinceis
grandes p.a grude: hû arratel de grude de Inglaterra: 3
alenternas, hum taxinho.
Caixa - Nº. 9.o - Contem o pé do Quadrante Inglês: hum Quadrante
pequeno em sua caixa com suas pertenças: barometros:
hum termometro: hû copo de vidro p.a meter os tubos
dos barometros.
Caixa - Nº. 10.o - Contem hum relogio de seg.dos de pendulo de Graham.
Caixa - Nº. 11.o - Contem hum quadrante grande Inglez com todas as
suas pertenças, q’ hé o triangulo do pé, o seu Olivel de
Latão, e 2 regoas de páo para pôr os Oliveis, hum páo p.a
dezatarraxar: hum Quadrante p.a observação do mar de...:
hum Teodolete de Inglaterra em seu pé: hum Microscopio
grande: hûa regoa de Latão de dous pés de comprimt.o
graduada: hû estojo grande de Mathematica: huma
plancheta, redonda de metal com sua regoa de asso: o pé
do Quadrante grande Ingles assima vai na Caixa no. - o
[sic].
Caixa - Nº. 12.o - Contem 5 Telescopios de differentes comprimt.os e
hum delles tem Micrometro: hûa regoa de medir de páo:
a chave do oculo de 15 palmos vai no cordel, em q’ vão
atadas todas, e leva p.a sinal o n.o 9.o q’ tambem vai na
Caixa do oculo.
Caixa - Nº. 13.o - Contem hum Quadrante grande francez de 5 palmos
de... com todas as suas pertenças, e tem hûa plancheta de
Inglaterra, e o seu pé triangular vai na Caixa no.o 14.º.
Caixa - Nº. 14. - Contem o pé da plancheta q’ vai na Caixa no.o 13: hum
o

graphometro em sua Caixa com seu pé q’ lhe pertence:


hûa bussola Ingleza em seu estojo, hû nivel de espirito
de Latão.

Companhia 2.a

Caixa - Nº. 1.o - Contem dous pés de planchetas: 2 barometros, 2


termometros.
Caixa - Nº. 2.o - Contem hum quadrante pequeno de Latão com tudo o

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 17


q’ lhe pertence, excepto o seu pé q’ vai na Caixa n.o 10.o:
hûa plancheta de latão com sua regoa de Asso.
Caixa - N.º 3.o - Contem huma Camara escura p.a dezenhar Paizes
composta de huma Meza: 4 pés de dous pedaços cada
hum = hum assento, hû pé p.a o assento, hum espelho
com capa de Oleado.
Caixa - N.º 4.o - Contem 3 Telescopios = hum oculo de 4 palmos; huma
regoa de latão graduada = hûa regoa comprida de páo.
Caixa - N.º 5.o - Contem hû relogio de Seg.dos de pendula.
Caixa - N.º 6.o - Contem hum Quadrante de páo guarnecido de Latão
com seu pé = hum copo de vidro p.a meter os Tubos dos
barometros.
Caixa - N.º 7.o - Contem quatro planchetas de pinho, de q’ os seus pés
vão na caixa n.o ... [sic]; 2 pastas de papelãp p.a dezenhar.
Caixa - N.º 8. - Contem seis cadernos de papel Real p.a tirar dezenhos em
o

limpo = 30 cadernos de papel p.a tirar dezenhos = hûa


resma de papel de escrever = 4 cadernos de papel fino
pardo = 2 massos de penas = 25 páos de Lapis = hûa
boceta de tintas da China com pinceis = hûa caixa de
diversas tintas p.a illuminar = hûa lata com azougue =
hum Olivel de espirito = 2 bussolas pequenas de Latão =
hum estojo pequeno de Mathematica 4 regoas de Latão
graduadas = hum papel com gomaravia.
Caixa - N.º 9.o - Contem huma Machadinha: hum Serrote 12 ganchos de
parafuzo = hum torno. Hûa bigorna = 2 martelos = 2
tornos de mão = 3 alicates = hûa crav.a de rosca; huma
travadoura hûa chave de parafuso; verrumas = 3 cabos
para ellas = huma pinsa = 5 pessas de arame amarelo = 3
pessas de fio de ferro = 17 pessas de varios barbantes =
hum arratel de grade de Inglaterra = hum tachinho = ...
limas = hûa cadea de ferro p.a medir; 2 Covados de pano
verde, seis pinceis grandes.
Caixa - N.º 10.o - Contem o pé do Quadrante q’ vai na Caixa N.o 2 hum
Quadrante de ... p.a observação do mar; hum Microscopio
grande.

Companhia 3.a

Caixa - N.º 1.o - Contem hum pé de plancheta = 2 barometros = 2


termometros.
Caixa - N.º 2.o - Contem 2 planchetas de pinho, dq’ o pé vai na Caixa N.o
1.o = 2 pastas de papel p.a dezenhar = hum Quadrante de

18 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Inglaterra, do qual vai a bola, em q’ gira na Caixa n.o 3.º.
Caixa - N.º 3. - Contem seis quadernos de papel Real p.a tirar dezenhos
o

de Limpo = 30 cadernos de papel p.a tirar dezenhos =


hûa resma de escrever = cadernos de papel fino p.a lucidar
dezenhos = 6 cadernos de papel pardo = 2 massos de
penas = 5 tintr.os = 15 páos de Lapis = hûa boceta de
tinta da China com pinceis = hûa caixa de diversas tintas
= 6 buris = hûa Lata com azougue = hum olivel com
espiritos = 2 busolas de metal = hum estojo pequeno de
Mathematica = hum relogio armilar = huma bola de
bronze sobre a q.al anda o Quadrante q’ vai na Caixa N.o
2.o. = hum papel com gomaravia.
Caixa - N.º 4. - Contem huma Camara escura p.a dezenhar Paizes,
o

composta de hûa Meza = 4 pés feitos de dous pedaços


cada hum = hum assento = hû pé p.a o assento = hû
espelho com capa de Oleado.
Caixa - N.º 5.o - Contem hû relogio de pendulo de seg.dos.
Caixa - N.º 6.o - Contem 3 Telescopios de varios comprim.tos = hum
Oculo pequeno de 4 palmos - hû microscopío = hûa
regoa de páo.
Caixa = N.º 7.o - Contem hûa machadinha = hû serrote = 13 ganchos de
parafuso = hum torno = dois martelos = hû torno de
mão = 3 alicates = hûa craveira de rosca = hûa travadoura
= hûa chave de parafuzo = 5 verrumas = 4 cabos para
limas = hûa pinsa = 6 pessas de arame amarelo = hûa
pessa de fio de ferro = hûa pessa de corda de viola = 17
pessas de varios barbantes = hum arratel de grade de
Inglaterra = hum tachinho = 6 pinceis gr.des p.a elle = 13
limas pequenas, hûa tezoura de cortar arame = hum
escoupulo = hûa cadea de ferro para medir = huma pelle
de bezerro = hum serrote pequeno = 3 alanternas = 2
covados de pano verde.
Numero 33 Caixas de Chaves = Comp.a G.al.
N.º 30 = 31 = 32 Comp.a G.al são as Caixas dos Livros, em q’ se contem
os seguintes:
7 Tomos do Tratado dos Limites da America entre as Coroas de Portugal,
e Espanha.
3 Jogos de viagem, e observações de D. Ant.o Ulhoa e D. Jorge Juan no
Rn.o do Quito e em outras p.tes da America, meridional:
Cada jogo contem 4 tomos de viagem, e hû de observações
Astronomicas [Trata-se da obra de J. J. Ulloa & A. de Ulloa,
1748. Relacion hstorica del viage a la America meridional, hecho

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 19


para medir algunos grados de meridiano terrestre, venir por ellos en
conocimiento de la verdadera figura y magnitud de la Tierra, con
otras varias observaciones astronomicas, em 5 tomos em 2 ou 3
volumes, publicada em Madri. Uma tradução francesa foi
publicada em 1752].
Phisica Gravesandi 2 tom. [Trata-se da obra de s’Gravesande, W. J., 1720.
Physices elementa mathematica experimentia confirmata, sive
introductio ad philosophiam newtoniana, publicada em Haia,
em 2 vols. Uma tradução francesa, por Joncourt, foi
publicada em 1737].
Dechales cursos Mathematicus 4 tom. [Trata-se da obra de De Chales,
Claude-François Milliet, 1694. Cursus mathematicus, seu
mundus mathematicus, publicada em Lyon.. A primeira
edição saiu em 1674, em 3 vols.].
2 Tom de Figure de la Terre par Bouguer. [Trata-se da obra de Bouguer,
Pierre, 1749. Figure de la Terre, déterminée par des observations
de MM. Bouguer e de la Condamine... envoyés au Pérou pour
observer aux environs de l’Equateur... Avec une relation abrégée
de ce voyage, qui contient la description du pays, etc., publicada
pela Academia de Ciências de Paris].
2 Jogos do curso Mathematico de Wolfio athe o anno de 1753. [?].
3 Jogos de Efemerides de Zanotti; contem cada jogo 2 tom. [Trata-se do
livro de Zanotti, Eustachio, 1751. Ephemerides motuum
caelestium ex anno 1751 ad annum 1786].
Elements de Mathematique de Dendier 2 tom. [?].
Oeuvres de Mariotte 2 tom. [Trata-se da obra de Mariotte, Edmé, 1717.
Oeuvres, publicada em Leiden; outra edição foi feita em
Haia em 1740].
2 jogos de Traité des Fluxions de Maiclarin [sic]; contem cada jogo 2 tom.
[Trata-se da obra de Maclaurin, Colin, 1742. A complete
system of fluxions; with their application to the most considerable
problems in geometry and natural philosophy, publicada em
Edimburgo em 2 vols.].
3 Tomos de Astronomie nautique de Maupertuis. [Trata-se da obra de
Maupertuis, Pierre Louis Moreau de, 1743. Astronomie
nautique].
3 Tomos de Traité de Trigonometrie d’Oza[n]am avec les Tables des
sciences. [Trata-se da obra de Ozanam, Jacques, 1698.
Nouvelle trigonométrie].
4 jogos de viagem, e observações de Condamine; contem cada jogo 2
tom. [Charles Marie de la Condamine publicou no ano
de 1745 duas edições do resumo de suas viagens na

20 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


América do Sul: uma em espanhol (Extracto del diario de
observaciones hechas en el viage de la Provincia de Quito al Para,
por el Río de las Amazonas: Y del Para a Cayana, Surinam y
Amsterdam. Destinado para ser leydo en la Assemblea publica de
la Academia Real de las Ciencias de Paris. Por Mons. de la
Condamine, uno de los tres Embiados de la misma Academia a la
Linea Equinoccial, para la medida de los Grados terrestres.
Traducida del Francés en Castellano. En la Emprenta de Joan
Catuffe, Amsterdam) e outra em francês (Rélation abrégée
d’un voyage fait dans l’intérieur de l’Amérique méridionale depuis
la côte de la Mer du Sud, jusqu’aux côtes du Brésil et de la
Guiane, en descendant la rivière des Amazones, lûe à l’Assemblée
publique de l’Académie des Sciences, le 28 avril 1745. Avec une
carte du Maragnon, ou de la rivière des Amazones, levée par le
même. Veuve Pissot, Paris].
Specula Parthenopda de Cianpriamo. [?].
Grammaire geographique de Gordon. [?].
Figure de la terre de Clairon [sic]. [Trata-se da obra de Clairaut, M., 1743.
Théorie de la figure de la Terre, tirée des principes de
l’hydrodostatique. David fils, Paris].
Philosophiae naturalis principia Mathematica... [Trata-se do famosíssimo
livro de Isaac Newton Philosophiae naturalis principia
mathematica, perpetuis commentariis illustrata, communis studio
T. Le Seur et Fr. Jacquier, 4 partes em 3 vols., publicado em
Genebra em 1739-1742].
... des instruments de Mathematique de Bi... [?].
Essai de Phisique de Muschembroek 2 tom. [Trata-se da obra de Peter
van Musschenbroeck Epitome elementorum physico-
mathematicorum in usus academicos, publicada pela primeira
vez em Leiden em 1725; foi posteriormente publicada
em Leiden, em 1762, sob o título Introductio ad philosophiam
naturalem (2 vols.). Foi traduzida duas vezes para o francês,
sob os títulos de Essais de physique (1739), obra esta incluída
no rol de livros levados pela Comissão, e Cours de physique
(1769)].
Decouvertes Philosophiques de Theuiton [sic] par Maclaurin [é a obra de
Colin Maclaurin, Exposition des découvertes philosophiques de
Newton, traduzida para o francês por Laverotte (ano ?); a
primeira edição inglesa saiu em Londres em 1748).
3 jogos astronomia de Cassini [Trata-se do livro de Jacques Cassini,
1740. Eléments d’astronomie].
... Taboas dos Signos Tangentes e Secantes de... 6 tomos. [?].”

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 21


1753 (11 de outubro) a 1754 (6 de abril) - Landi por várias vezes ajuda o
astrônomo Brunelli nas medições que este realizava a partir da
observação da lua. [Defectus lunae observatus die Sexta Aprilis apud Landi in
Pará e Defectus lunae observatus die 30 Septembris 1754 in Pará apud Landi.
Arquivo Histórico Ultramarino, Brasil, Pará, Cx. 14).
1754 - A 20 de setembro, Mendonça Furtado baixava a seguinte “Instrucção
para os Astronomos, e Geographos, que hão de ir daqui para o Rio
Negro” (cf. Reis, 1993: 272):

“Enquanto no Rio Negro não participo a VM.ces as ordens que devem


seguir na Demarcação dos Reaes Dominios de Sua Magestade, para poderem
aproveitar o tempo na Viagem que fizerem daqui para aquelle Arrayal,
observarão as ordens seguintes.
Depois que sahirem dessa Cidade farão todo o possivel por hirem
configurando os Rios perdonde navegarem, os rumos a que correm, os que
acharem que nelles se metem, explicando todos pelos seus nomes, para cujo
effeito levarão Praticos nas Canoas, e na hora do descanço conferirão as
observaçoens que tiverem feito para soltarem alguma duvida que haja, e
formarão hum Mappa exacto debaixo da escalla ou Petipé que no espáço de
huma polegada de Pe del Rey de Pariz, comprehenda a vigesima parte de
hum gráo de circulo do Equador, sem que de forma alguma se possa alterar
o Methodo acima.
Para que possa o sobredito Mappa ser formado com a exactidão possivel,
os Astronomos, e Geographos tomarão ao meyo dia a altura do Sol,
apontando a variação da Agulha e de noite, quando o tempo e as circunstancias
o permittirem, farão as observações Astronomicas que são proprias para
determinar as Longitudes.
Tambem nesta viagem observarão as qualidades naturaes dos paizes e
habitantes que nelles vivem, e os seus costumes; os Animaes, Aves, Plantas,
Rios, Lagoas, Montes e outras similhantes couzas dignas de se saberem;
fazendo todo o possivel porque as suas observações, e deligencias sejão
exactas e para que possão tambem servir para o adiantamento das Sciencias e
progresso que fizerem na Historia, e observaçoens Fizicas, e Astronomicas.
Da forma porque excutarão essas ordens, me darão parte no Arrayal do
Rio Negro, para fazer prezente a Sua Mag.e a actividade, zelo, e prestimo com
que Vom.ces se empregão do Seu Real Serviço. Pará 20 de setembro de 1754 -
Francisco Xavier de Mendonça Furtado.”

A 2 de outubro de 1754, mais de um ano após a chegada a Belém


do Pará, a Expedição, presidida pelo Governador e Comissário

22 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Francisco Xavier de Mendonça Furtado, parte finalmente para Mariuá,
no rio Negro, a futura Vila de Barcelos, povoação onde tinha sido
planejado o encontro com os membros da comissão espanhola, num
total de 1025 pessoas, incluindo 511 índios. O Bispo do Pará, D. Frei
Miguel de Bulhões, acompanhou a frota até a povoação de Igarapé-
Mirim, regressando depois a Belém, onde substituiria o Governador
durante a sua ausência. A frota compunha-se de 23 canoas, duas
destinadas ao Governador, 11 aos astrônomos, engenheiros e oficiais,
levando as dez restantes, que serviam de armazém, os soldados;
integravam-na ainda várias canoas pequenas, destinadas à pesca [Essas
embarcações denominavam-se: Nossa Senhora de Nazaré, Nossa
Senhora das Mercês, Nossa Senhora do Pilar, Nossa Senhora do Porto
Salvo, São Joaquim, São José, São Miguel, Santana, Santa Bárbara, São
Pedro, Nossa Senhora da Misericórdia, Nossa Senhora da Madre de
Deus, São Francisco Xavier, São Rafael, Nossa Senhora da Piedade,
Nossa Senhora do Loreto, Nossa Senhora da Graça, Nossa Senhora
do Livramento, Nossa Senhora da Lampadosa, Nossa Senhora do
Carmo, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Purificação.
Três embarcações pequenas, sendo duas igarités, não tinham nome;
Reis, 1993: 79, nota 54].
A viagem demorou 88 dias (chegaram a Barcelos em 28 de
dezembro, às nove da manhã), pela dificuldade em encontrar remadores
índios para substituir os que fugiam, pelo deficiente abastecimento de
farinha e legumes e pela necessidade de conseguir alimentos alternativos.
Desta viagem temos uma minuciosa relação (Mendonça, 1963
(II): 615-631; Reis, 1993: 276-290):

“Diario de viagem q. O Illm.o e Exm.o Sñor Francisco Xavier de Mendonça


Furtado Gov.or e Cap.m General do est.o do Maranhão fês para o Rio Negro na
Expedição das Demarcações dos Reaes Dominios de S. Mag.e.
A 2 de Outubro de 1754 sahio S. Exa. do seu Palacio acompanhado de
todas as pessoas destintas, e foi a Igreja de N. Snra. das Mercês aonde ouvio
Missa, e comungou, e depois de feita esta Pia, e Catholica deligencia, se
embarcou com o Exm.o e Rem.o Snr. Bispo na sua canoa grande com geral
sentimto e saud.e de todos os q’ o acompanharam a praya, e com elle se
embarcarão as mais pessoas da Expedição nas canoas q’ lhes estavam
destinadas, e logo se puzeram em marcha, dando a Infantr.a da Praça q’ estava
formada na praya tres descargas de mosquetaria, as quaes se seguiram as
Salvas de toda a Artelharia dos Fórtes.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 23


Compunhasse toda á Tropa de 23 canoas grandes a saber duas de S. Exa.
em q’ entrava hua mayor armada a maneira de Hiáte, com hûa camera
bastantem.e espassoza forrada toda de Damasco cramezim com filetes
dourados; era esta camera goarnecida de caxões em toda cubertos de cuxins
do mesmo Demasco, e alem destes trazia mais seis tamboretes, e duas cadeiras
extufadas do mesmo, com hûa meza grande e hûa papeleira de madeira
amarella, e com o Retrato de El Rey no topo; tinha quatro janellas de cada
lado, e duas no paynel da poupa, q’ todo estava goarnecido de talha
primorozamente aberta, e no meyo as Armas Reais, tudo m.to bem dourado,
e o resto da canoa era pintado de incarnado, e azul. Compunha-se a goarnição
desta canoa de 26 Remeiros vestidos todos de camizas brancas, e calções
azues e barretes de veludo azul, e seda côr de ouro, com xapas de prata das
Armas de S. Exa. O Jacumauba, ou Piloto, levava a libré de caza de S. Exa.
com hum Talabarte de veludo e sedas das mesmas cores, com hum bom
xinfarotte e hûa grande xapa de prata com as Armas. A canoa piquena tambem
era pintada como a grande; compunhase sua goarnição de 16 remeiros, e
hum Pilouto, vestidos todos da mesma forma, q’ os outros. As mais canoas
erão onze de todas as pessoas, tanto Officiaes da Fazenda, como Astronomos,
e Engenheiros, e dês q’ serviam de Armazens, e de levarem parte da Infantr.a,
alem de cinco canoas pequenas de pescaria, q’ pela viagem se foram
augmentando de sorte q’ chegaram ao numero de 18.
Saindo desta forma da Cid.e fomos pelo Rio acima buscando o Mujú, com
um vento favoravel, e pela uniformid.e das canoas, e devertid.o dos vestidos dos
Remejros dellas em q’ a maior parte das pesoas da Expediçam se empenharão,
exedendo a todos o Secretario, do Est.o q’ era tãobem das conferencias João
Antonio Pinto da Silva, o Ajudante da Salla João Fer.a Caldas, e o Prov.or da Faz.a
Real Mathias da Costa e Souza, e foi, mais agradavel e hûa vista q’ nunca jamais
vio o Pará, das quaes não faço menção, ou naração expecial, porq’ haverá quem
com milhor estilo, e mais tempo dé conta da forma desta sahida.
Fomos com esta marê ao Rio Mujú adonde se acha hûa Fabrica de madeiras,
e canoas de S. Mag.e e neste lugar hospedou O Illm.o e Exm.o Snr. Gen.al ao
Exm.o e Rm.o Snr. Bispo, com aquella grandeza, e decencia, que permittia o
lugar, e com a mesma continuou athé a Freg.a de Santa Anna do Igarapémirim
em que este Prelado se apartou de nôs. Nesta noute ficamos no d.o Cittio do
Mujú, por cauza de hûas canoas, q’ foi precizo m.dar a Cid.e.
No dia 3 pela manham a horas de marê seguimos a nossa viagem ao
Eng.o de Antonio de Ornelles chamado o Guajarâ, adonde esperamos a
marê, e nesta noute continuamos a nossa derrotta athê o Engenho de
Francisco Xavier de Moraes na boca do Igarapê Mirim.
Neste lugar estivemos no dia 4 áthé haver agoa para passarmos o seco do
Igarapê Mirim, o qual sendo sumam.e enfadonho, por cauza dos muitos

24 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


[ig?]apos, e matto, que embarassa as canoas, nesta occazião se passou com
mt.a suavid.e, e pressa em razão do cuid.o q’ S. Exa. teve, em mandar limpar
pr.o e com admiração de todos chegamos no mesmo dia, e marê a Freg.a de
Santa Anna adonde ficamos o dia seguinte.
Em o dia 5 celevrou ó Exm.o e Rm.o Bispo o Santo Sacrificio da Missa
dando a comunham á S. Exa. e as mais pessoas q’ a quizerão receber das suas
mãos. Neste mesmo Lugar estivemos, áthê q’ de tarde continuamos a nossa
viagem em comp.a do mesmo Prellado, q’ a pouca distancia se apartou de nos,
sendo salvádo com varias descargas de mosquetaria, q’ eram os sold.os das
canoas e desta sorte fomos com a justissima saud.e, da sua estimavel comp.a e
chegamos no dia seis de madrugada a espera da Bahia de Marapatá adonde
estivemos este dia por não dar lugar o m.to vento, e marezia a atravessalla.
No dia 7 pelas duas horas, e meya da madrugada se embarcou S. Exa. na
canoa grande, e chamou p.a ella o Secretariio do Est.do e das comferencias, o
Ajudante da Salla João Per.a Caldas, o d.or João Angelo Brunelli, os Capp.ts
Engenheiros Gaspar João Gerardo Gronfeld, João André Schvvebel, e o
Ajud.e Liopoldo de Breuning. e logo nos fizemos a vella com hum vento
fresco, e bastante marezia. Porem com bom successo atravessamos as duas
Bahias de Marapatá, e Limoeyro, de sorte q’ ao nascer do Sol, chegamos ao
Eng.o de João Roiz Coelho, e pouco depois vierão todas as mais canoas, e
emq.to esperamos occazião de marê, mandou S. Exa. comprar gado, q’ se
mattou, e repartio pelas canoas p.a refresco dos officiaes delas e tanto neste
Engenho, como em todas as mais partes em q’ portamos, observou S. Exa.,
a inimitavel virtude da izençam, e dezenteresse, não aceitando cousa algûa e
com o seu exemplo, o fizerão tãobem as maix pessoas da Expedição, não
sentindo os moradores o mais leve prejuizo, ou detrim.to. No mesmo dia
depoiz de jantar, q’ foram horas de marê, sahimos deste cittio, e continuamos
a nossa viagem pelo rio Japy, q’ hé bastanttem.te comprido, e largo, e pelas 8
horas da noute chegamos a boca da Bahia de Pedro Furtado adonde ficamos.
No dia 8 pelas quatro horas da madrugada chamou S. Exa. p.a a Sua canoa
grande as mesmas pessoas p.a passarmos a Bahia de Pedro Furtado, e por ella
navegamos com m.ta filicid.e, e bom vento, athé q’ pelas outo horas da
manhãm chegamos ao Eng.o deste homem, de q’ a Bahia toma nome. Nelle
estivemos áthê depois de jantar, e mandou S. Exa. mattar mais rezes p.a toda
a comitiva de officiaes, sold.os e Indios, e pelas tres horas da tarde sahimos
deste Eng.o e fomos correndo á Costa de Joanes, athê a boca do rio Samánayé
em que portamos.
Em o dia 9 pela madrugada, seguimos a nossa viagem pela ditta costa ao
rumo da Aldeya de Guaricurú, e ficamos no rio, q’ vay a boca da Bahia da d.a
Aldeya. No dia 10 nos levamos do d.o rio pelas seis horas da manham a
buscar a Aldeya, adonde chegamos pelas onze horas, e a achamos dezerta,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 25


sendo das mais populosas do Certão, pois não estava nella mais q’ o P.
Martinho Schuvari, q’ hê companheiro do P. Miss.o; tres Indios velhos, alguns
rapazes, e poucas Indias mulheres de alguns remeiros, q’ vinhão na Tropa.
Logo que ouvimos Missa mandou S. Exa. receber 285 panejros de farinha
por conta da Derrama, q’ se tinha lançado nas Aldeyas, e p.a se porem
promptos seis Indios p.a esquipação de algûas canoas, q’ hiam mal remadas;
foi preciso hum excessivo trabalho, e vallerse S. Exa. de algûa força mandando
soldados pelas rossas, e pelos mattos adonde todos estavão metidos, e os
poucos, q’ aparecerão, confessaram que toda a gente tinha fugido, por pratica,
e instrução q’ o P. lhes tinha feito. No dia 11 pelas doze horas, e meya da
manham, partimos desta Aldeya, fazendo-nos a vella p.a a de Arucará com
hum vento galerno, e pl.a hûa hora, e meya, chegamos nella adonde achamos
o P. Miss.o Manoel Ribr.o com pouca mais gente q’ na passada, e sendo-nos
precizos alguns Indios em hûas canoas, q’ hiam faltas delles, foi precizo
mandallos buscar pelas rossas, por cuja cauza pernoutamos nesta Aldeya, e
no outro dia pela manham, se juntara, com m.to trabalho dês Indios, e os
Principaes, e algûas mulheres, trouxerão os seus prez.es costumados, a q’
chamão putavas, ao Exmo. Snr. Gen.al, as quaes lhe forão reçarcidas, e satisfeitas,
com pano de algodão, fitas, sal, e outras drogas, q’ elles mt.o estimão. No
seguinte dia, q’ foram doze, quando a marê deo lugar, que foi pela hûa hora
da tarde nos fizemos a vella com hum vento favoravel, e depois de navegarmos
por toda a Bahia desta Aldeya, entramos pelo Igarapêpuca, e por elle fomos
com bom sucesso; porem por cauza da sua grande extenção, não podemos
vencer neste dia, e pelas sette horas da noute paramos nelle.
No dia 13 pelas quatro horas da madrugada, seguimos a nossa viagem
pelo mesmo Igarapê, e pelas dês entramos no rio Tajupurú, e nelle portamos
p.a se dizer Missa por ser Domingo, e jantando no mesmo lugar continuamos
pelas duas horas da tarde a nossa viagem por este rio, pelo qual navegamos os
dias 14, 15 e em 16 entramos pelo Igarapê chamado do Limão, q’ hé tão largo
como o mesmo rio Tajupurú, e bastantemente comprido porq’ navegamos
por elle todo este dia, e no de 17, em q’ pelas onze horas da manham
chegamos a boca do grande rio das Amazonas, e neste lugar pernoutamos,
não tendo em todos estes dias, mayor cuidado, que algûas trovoadas, as
quaes não se fazia mt.o timiveis por serem em rio em q’ podiamos chegar mui
faiclm.e ao matto.
A 18 entramos a navegar pela margem do sul do rio das Amazonas em
demanda da Fortaleza de Gurupá, porem não podendo vencer neste dia mais,
q’ hûa grande Anciada, e pouca parte da outra, portamos na costa, ou margem
do mesmo rio, em hûa Fejtoria q’ foi de cacao, e donde ficamos nesta noute,
dormindo S. Exa. e algûas pessoas mais em terra em hum piqueno Tujupar, q’
tinha servido da tal Fejtoria, mas cõ bastante cuid.o, e sintinellas as Onças, porq’
havia poucos dias, q’ naquelle mesmo Lugar tinhão devorado dous Indios.

26 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


No dia 19 de madrugada continuamos a nossa derotta, e refrescando-nos
o vento, q’ era favoravel, chegamos pelas dês horas da manham a Fortaleza
do Gurupá, vencendo nestas poucas horas, hûa viagem bastantem.e dilatada;
nesta Fortaleza, foi S. Exa., recebido com hûa salva de Artilharia, e com as
mais sirimonias, e politicas Militares, e logo mandou celebrar Missa, pelos
Capelães da Expedição, recolhendo-se as cazas do Com.e da Fortalleza, por
não servir-se do Hospicio dos Religiosos Capuchos da Prov.a da Pied.e pois
não quis em parte algûa dar incommodo aos Regullares, nem tambem aos
moradores.
No dia 20 depois de se dizerem as Missas na Igreja Matriz da Villa de
Santo Ant.o do Curupá em q’ se acha a Fortalleza, mandou S. Exa. destacar o
Cap.ao Miguel de Siqr.a Chaves p.a o rio Xingú ativar alguns Indios daquellas
Aldeyas, para suprirem o lugar de outros q’ tinhão dezertado levando este
cap.ao ordem p.a se ir emcorporar com a Tropa nas Amazonas, na parajem em
q’ nos encontrar. Neste dia deu S. Exa. de jantar a todos os Officiaes, q’
quizerão hir a sua meza, com toda a grandeza, q’ permittio a qualid.e do Pais,
e a noute deu tambem de seyar da mesma maneyra.
Vendo S. Exa. o pouco adiantam.to q’ tinha a Igreja q’ aqui se está fazendo
p.a servir de Matriz, exortou o Vigr.o, e alguns Freguezes, q’ alli se achavão, p.a
q’ com effeito concluissem aquella obra com se achavão logo. S. Exa. lhe
mandou dar de Esmolla 50$000 rz. de sua Igreja, e não só recomendou ao
Vigr.o os adiantamt.os desta obra, mas tambem se encarregou ao Ten.te q’ se
acha destacado na Fortalleza, p.a q’ desse todo o adjutorio possivel.
Na mesma Fortalleza ficamos no dia 21, repetindo S. Exa. a mesma
grandeza, afabilid.e, e mandou dar aos sold.os da Guarnição hûa esmolla, q’
repartindo-se entre elles, e sempre foi sorte, q’ todos remediados, e contentes,
e nestes dias se ocuparam os Engenheiros em tirar o desenho da Fortaleza,
medir a Villa, e tirar o prospecto della da parte do rio, e ao mesmo tempo se
receberem algûas farinhas da Derrama, e se comprou algum peixe seco para
mantimt.o das m.tas pessoas de q’ a Tropa se cõpunha.
Pelas 8 horas da manham do dia 22 embarcamos cõ menos 16 Indios, q’
fugirão das equipaçoens das canoas, não respeitando estes, nem a mesma de S.
Exa., da qual lhe dezertarão sinco da Aldeya do Maracanã, e continuando a
nossa viajem pelo rio das Amazonas acima da parte do Sul, chegamos pelas
onze horas da manham ao Citio de Estevão Cardoso, adonde S. Exa. mandou
parar as canoas p.a receber alguns mantimentos, e nesta noute ficamos em hûa
Anciada abrigados de hûa Ilha, em q’ passamos sem cuid.o nem susto algû.
No dia 23 pelas sette horas da manham, nos fizemos a vella com hum
vento favoravel, e pelas onze chegamos a Aldeya de Arapijó, adonde S. Exa.
saltou em terra com alguns Officiaes, e nesta Aldeya jantou, e ficou áthê o dia
seguinte, recebendo 30 alqueires de farinha por conta da Derrama, e as Indias

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 27


trouxeram as suas costumadas putavas, q’ quase todas constavão de m.ta
quantid.e de bananas, ou pacovas, e depois de S. Exa. as mandar recompensar
com fitas, facas, panno, e sal, as mandou repartir pelos Officiaes da Espedição,
e da Infantaria, na forma que praticou em todas as partes, comettendo esta
dilig.a aos Officaes da Faz.da. Esta Aldeya hê piquena, e administrada pelos
religiosos capuxos da Prov.a da Pied.e: fica em hû alto agradavel, está com
suficiente asseyo p.a a pobreza della, porem tem bastante praga de carapanã, e
muquins de sorte que de noute nos mortificavam bastante.
No dia seguinte q’ foram 24 sahimos desta Aldeya pelas nove horas da
manham com hum vento bastantem.te picado pela hûa hora da tarde chegamos
á Aldeya de Caviana, q’ tambem hê pequena, e administrada pelos mesmos
religiosos, e não tivemos mais demora, q’ emq.to S. Ex. mandou hum Official
a terra, receber 25 alqueires de far.a por conta da Derrama, e chegamos pelas 5
ao Citio chamado do Taparâ, adonde estava aquartellada a Comp.a de
Granadr.os do Mar.ma de q’ hê Cap.m João Telles de Menezes, e Mello, e aqui foi
recebido com tres descargas de mosquetaria da mesma Comp.a, e pernoutamos
no mesmo lugar, q’ não hé desagradavel.
No dia 25 pelas outo horas da manham, depois de S. Exa. mandar dar
hûa pataca de Esmolla a cada hum dos Sold.os da Comp.a continuamos com
a nossa viagem levando daquelle quartel ao Ten.e de Granadeiros Luiz Alves
por estar em dezordem com o Cap.m, e ao mesmo tempo da partida veyo
encorporarse comnosco o P. Ignacio Samartone religioso da Comp.a e
Astronomo da Expedição, q’ vinha de Macapá adonde S. Exa. o tinha man.o,
e proseguindo a nossa viagem chegamos pelas duas horas da tarde a Aldeya
de Maturú, q’ tambem hé administrada pelos religiosos capuxos da Prov.a da
Pied.e adonde pernoutamos, e de tarde se fês hûa gr.de pescaria com as redes,
q’ S. Exa. mandou repartir na forma ordinaria por todas as canoas, não só
pelos Officiaes dellas, como tambem pelos sold.os, e Indios, q’ com esta
providencia, a qual se repetia quaze todos os dias; forão as m.tas pessoas dque
se compunha a Tropa, fartas, e satisfeitas, porque nos lugares, em q’ não era
possivel lançar-se as redes, supriam as canoas de pescaria, e linhas, frechas, e
arpõis. Hé esta Aldeia mayor q’ as duas antecedentes, e está cituada na Fôs do
rio Xingú em hum citio bastantem.e agradavel; porem esta m.to damnificada
e sem Igreja, por se ter deribado a que havia q’ se achava sûmam.e arruynada.
As Indias comcorrerão com as suas costumadas putavas, q’ S. Exa. lhe mandou
comrrespoder na forma das mais, e aqui tambem mandou receber 36 paneiyros
de far.a por conta de Derrama.
A 26 pela manham passando-se mostra aos Indios das canoas se achou
terem dezertado na noute antecedente 36 sendo todos das Aldeyas, q’
administram os religiosos da Comp.a, e como algûas canoas vinhão já faltas
de remejros, se vio S. Exa. precisando a tirar a esquipação da Canoa do Cap.m

28 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Miguel da Siq.a Chaves, q’ aqui se tinha juntado com a Tropa, repartindo os
Indios della com mais seis, q’ tirou da Aldeya, pelas outras canoas, e mandou
o d.o Cap.m em hum Botte pequeno as Aldeyas deste rio a buscar gente,
ficando a sua canoa esperando athe que elle viesse com os remeyros, q’ hia
buscar. Pelas dês horas da manham sahimos da Aldeya, e navegando pouco
tempo pelo rio Xingú entramos p.lo rio Aquiqui, e pelo meyo dia paramos
nele áthê q’ as tres horas da tarde continuamos a nossa viagem pelo mesmo
rio em o qual dormimos esta noite com o incomodo de algûs carapanãs.
No dia 27 fomos navegando pelo mesmo rio, q’ hé todo cheyo de
campinas, e pelas quatro horas e meya, entramos pelo Guapará, que tambem
tem muitas campinas, e navegando athé as outo horas da noute, portamos
em hum citio tam cheyo de praga, q’ poucas, ou nenhûa pessoas poderam
dormir.
A 29 entramos novam.e no gr.e rio das Amazonas, e seguimos a Costa
chamada de Maguary-jurapara, q’ hé bastantamente arriscada por hum gr.e
baixio q’ tem, em q’ batem mt.o os ventos Lestes, porem com hûa felicid.e
grande o passámos, e fomos prenoutar em hûa piquena Anciada entre Ilha
adonde ficamos abrigados de algûa trovoada, q’ podesse vir.
No dia 30 continuamos a nossa viagem com hum vento fresco, e pelas
quatro horas da tarde portamos em hûa praya da mesma Costa do Sul, q’
estava sem abrigo por não haver citio melhor, e plas seis horas da tarde tivemos
hûa intensissima trovoada de Oeste, q’ se não fosse o grande cuid.o, e trabalho
com que os Indios seguravam as canoas, certam.e algûas poderiam perecer
naquella Costa. Durou esta trovoada mais de meya hora, ficando depois a
noute m.to serena, e em consequencia as canoas em tranquilid.e.
Pelas quatro horas da manham do dia 31 nos levamos aquella praya com
hum vento favoravel, más brando, de sorte q’ pelas três e meya da tarde
portamos em hûa Anciada, ou lago, em q’ se fês hûa grande pescaria, q’ se
repartio na forma ordinaria, e p.a q’ houvesse todos os dias peixe fresco, q’
satisfizesse a todas as pessoas da Expediçam, poriço portamos mais sedo do
que custumam os homês, que andavam vadiando estes rios. Neste lugar
passamos a noute com hum excessivo callor e algûa praga de sorte que poucas
pessoas poderam dormir.
No principio de Novembro pelas quatro horas de madrugada
continuamos a nossa viagem, e pelas nove portamos no lugar chamado das
Barreyras adonde disceram Missa os P.es Capelães: logo nos fizemos a vella
athé a boca do rio Coroá adonde ficamos esta noute abrigados do tempo,
ainda que com algûa praga.
A (...) do d.o mês nos levamos deste Citio, e com pouco vento navegamos
athé as quatro horas da tarde, e ficamos abrigados de hûa Ilha em q’ passamos
a noute, e neste dia nos morreu hum Indio na canoa do Hospital.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 29


No dia 3 seguimos a nossa rotta com m.to vagar por falta de vento, e pelas
nove horas da manhãm portamos p.a se dizer Missa, e enterrar outro Indio,
que tambem morreu no Hospital, e pouco mais nos avansamos por cauza de
algûa xuva, q’ houve, e nenhum vento, e pelas cinco horas da tarde ficamos
em hûa Costa, q’ ainda estava algûa couza abrigada de hûa Ilha, sempre nos
daria algum cuidado se a noute não fosse tam serena.
Na madrugada do dia 4 nos fizemos a vella, e refrescando o vento pelas
sette horas da manham chegamos pelas nove e meya a Fortaleza dos Tapajos
adonde S. Exa. foi recebido com salva de Artilharia, e três descargas da Comp.a
de Granadeiros do Cap.m Josê da Silva Delgado: no que que S. Exa. saltou em
terra, foi a Igreja fazer oraçam e depois se aquartelou nas cazas dos Officiaes
da Fortaleza, não querendo sirvirse das do Pe. Missr.o por não dar em parte
algûa este incommodo aos religiosos, hê esta Fortaleza situada na Fôs do
Tapajôs e junto a ella estâ hûa populosa Aldeya da administração dos religiosos
da Comp.a de que hê Missionario o P. Joaquim de Carvalho, a qual hê
bastantem.e aprazivel por ser fundada em hûa formoza praya de areya, e
tambem a achamos com pouca gente, de sorte, q’ sendo precizos Indios por
fugirem aqui 18 foi necessario a S. Exa. mandallos buscar as Aldeyas de
Cumaru, e Borary do mesmo rio. Por esta cauza, e por descançar a gente de
tam dilatada viagem, se demorou S. Exa. neste lugar nos dias 5, 6, 7, 8 e 9
mandando matar algum gado, e dando meza a todos os Officiaes q’ quizerem
hir a ella. Nesta povoação foi S. Exa. tambê vizitar logo a Igreja que se está
fazendo p.a servir de Parochia, e vendo o pouco adiantamento, q’ tinha,
remandou dar seis Indios p.a trabalharem nella, pagos a sua custa, como
tambem deixou ordem p.a se comprarem por sua conta, todos os pregos, e
mais ferragens, q’ fossem precizas, p.a se concluir a d.a Igreja, encarregando a
construção desta obra ao Cap.m Miguel de Faria, q’ alli se achava destacado.
Tambê aqui mandou S. Exa. repartir a mesma propina aos Sold.os, tanto da
Guarnição da Fortaleza, como da Comp.a de Granadr.os que alli se achava
quartellada, e juntamt.e mandou prover de novo todas as canoas dos
Astronomos, e Engenhr.os de tudo o q’ lhe fosse precizo recommendando
aos Officiaes da Faz.da a observancia da ordem, q’ lhe tinha dado na Cid.e, p.a
q’ os socorressem de todos os mantimentos precizos, cuja deligencia repetio
em todos os lugares em q’ tivemos algûa demora. Aqui chegou o Cap.m
Miguel de Siq.a Chaves no dia 6 com os Indios, q’ S. Exa. lhe mandou buscar
as Aldeyas do Xingú, e logo foi as de Vorary, e Comaru, reconduzir outros
em lugar dos 22, que dezertavam nesta Fortaleza.
Chegado, q’ foi o d.o Cap.m partimos no dia dês pelas sette da manham
depois de ouvirmos Missa, e synamdonos [?] hum vento bastanteme fresco,
chegamos pellas sette horas da noute ao Citio de Josê de Souza e S.a em
Paricatuba adonde prenoutamos em hûa piquena praya, mâs abrigada ao
tempo.

30 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


No dia 11 pelas cinco horas da madrugada vento algum, ficamos no
Igarapé Pixuna, ou boca do Lago, q’ vay ter a terra do Comarú adonde
chegamos pelo meyo dia, e de noute tivemos algûa praga.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 12 nos fizemos a vella, com hum
vento tam fresco, q’ a muitas canoas foi precizo arrear parte do pano, e com
basta marezia, atravessamos a Fortaleza dos Paoxios adonde S. Exa. foi
recebido com salva de pouca Artilharia della, e com as mais politicas Militares.
Nesta Fortaleza q’ se acha em hum Citio eminente, e agradavel nos
demoramos no dia 13 em q’ S. Exa. mandou matar duas rezes, q’ se repartiram
pelos Officiaes, e deu meza a todos os q’ a quizerão como tambem mandou
repartir pelos sold.os da goarnição a mesma propina q’ tinha dado aos
Destacamentos antecedentes.
No dia 14 ouvimos Missa, e pelas outo horas da manham, seguimos a
nossa viagem com vento brando athé a boca do rio das Trombetas adonde
chegamos pelo meyo dia, e nelle ficamos pr ser a espera certa das canoas q’ vão
p.a o certam, e aqui encontramos hûa canoa com hum sargento, e quatro
soldados, q’ o Tent.e Diogo Antonio de Castro mandou do Destacam.o do
rio da Madr.a a escoltar huns Mineiros, q’ descerão das Minas de Mato Grosso
dos quaes se tinhão apartado havia quatro dias, por cauza de hûa gr.e trovoada,
q’ os separou e em q’ nunca mais se encontrassem.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 15 continuamos a nossa viagem
pela margem do Norte do Rio das Amazonas por hûa costa bastantem.e
dezabrida, e pelas nove horas encomtramos os Minejros, q’ se tinhão apartado
dos soldad.os q’ os conduziam, e mandandolhe S. Exa. fazer aprehenção do
ouro em pó, que eram quatro mil trezentos e quarenta e três outavas, e meya
comforme as Ordens de S. Mag.e as mandou depositar em poder do
Tezoureiro da Expedição, e representadolhe depois os homês o incomodo,
q’ lhe rezultava de voltarem p.a o Rio Negro, lhes facilitou licença de poderem
hir p.a o Pará, ficando sempre o ouro em poder do Tezoureiro, por não se
arriscarem em hûa ubâ tam mal segura como a em q’ vinhão. Pelas sette horas
da noute atravessamos o rio p.a a parte do Sul, e ficamos entre hûas Ilhas
bastantem.te abrigadas de qualquer tempo. No dia 10 partimos pelas cinco
horas da madrugada sem vento algum, e pelo meyo dia chegamos a hûa Ilha
de areya, q’ neste lugar foi distinta, tanto na qualid.e como na quantid.e.
A 17 pelas quatro horas da madrugada nos levantamos, e não tendo mais
demora q’ em q.to se dice Missa por ser Domingo, continuamos a mesma
margem, navegando com pouco vento, e por não termos abrigo algum nella,
andamos áthê depois das nove horas da noute, em que chegamos a boca de
hum pequeno rio chamado Paraná Mirim, adonde na madrugada tivemos
hûa gr.e trovoada, q’ se não fora o Citio tam amparado, certam.e cauzaria
mayor cuid.º

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 31


No dia 18 pelas seis horas da manham, seguimos o mesmo rumo tambem
sem vento algum, e chegamos pl.o meyo dia a hûa Anciada em que ficamos,
e não continuamos a viagem por ser mt.o distante a espera, q’ se seguia, de
sorte q’ não se poderia vencer se não mt.o tarde.
Nesta noute tivemos mt.as trovoadas de todas as partes, e estiverão as
canoas em bastante dezasusego, e continuando-nos este trabalhozo tempo,
no dia 19 não fizemos viagem, e nos metemos em hum Igarapé adonde
ficamos. Na madrugada do dia 20, continuamos a nossa viagem, e refrescando-
nos o vento, chegamos com bom sucesso pelas quatro horas da tarde a hum
Igarapê bastantem.e largo adonde passamos a noute com m.a tranquilid.e.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 21, nos levamos deste porto, e
seguindo a nossa derrotta com hum vento galerno, navegamos áthê as tres
horas e meya da tarde, em q’ portamos em hum Igarapê bastantem.e abrigado,
tanto por nos acalmar o vento, como por ser o porto, q’ se seguia mt.o
distante, o qual não se poderia vencer, sem andarmos mt.a parte da noute.
A 22 de madrugada sahimos deste porto sem vento algum, porem com
o dia bastantem.e carregado, de manejra, que atravessando as amazonas pelas
onze horas da manham p.a a parte do Norte com hûa trovoada, q’ nos
cauzou cuid.o e algûas canoas, q’ vinhão mais atrazadas lhes o portarão a
mayor força. Estando nos já da parte do Norte abrigados a hûa grande Ilha,
que forma das mesmas Amazonas, como hum diferente rio a q’ os Indios
chamão Paraná Mirim, nos demoramos na boca athé as sette horas da noute
emquanto se fés hûa gr.e pescaria, e pelas sette horas navegamos por elle
asima athê a meya noute.
No dia 23 pelas cinco horas da madrugada entramos a navegar, e neste dia
tivemos algûas trovoadas, q’ não nos deram mt.o cuid.o por irmos abrigados
da d.a Ilha, ao fim da qual chegamos pelas cinco horas da tarde adonde
prenoutamos.
Na madrugada do dia 24 continuamos a nossa viagem pela dita costa do
Norte, e dezendo-se Missa em hûa piquena Anciada; fomos depois della
passar as Correntezas de Cararáucú q’ sendo grandes, tanto na intenção, como
na extençam, ficam em hûa Anciada sumam.e desabrida, e toda esta terra hê
bastantem.e alta, e cheya de barreyras de q’ os Indios tiram tintas de varias
cores. Neste dia fomos ameaçados de algûas trovoadas; porem tivemos a
filicid.e de todas se desfazerem sem chegarem a nôs, e pelas quatro horas e
meya da tarde, chegamos a hûa anciada, passada a ultima correnteza, donde
ficamos bastantem.e abrigados a qualquer tempo.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 23 nos fizemos a vella com hum
vento bastantem.e forte, por causa do qual, querendo os Jacumaubas
aproveitalo porq’ durou áthê depois de noute, avançamos, e porto em que
deveramos ficar, e passamos a noute em hûa bem piquena Anciada, e cheya

32 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


de paos cahidos, e exposta bastante ao tempo, de sorte que se chuvesse algûa
trovoada (q’ esteve desposta) certam.e padeceriamos algum trabalho.
A 26 pelas tres horas da madrugada continuamos a nossa viagem, e
refrescandonos ao nascer do dia, hum vento sumam.te forte, q’ levantou
bastante marezia chegamos pelo meyo dia a boca Occidental do Rio Saracá,
ou Urubú, dedonde S. Exa. mandou as prayas mt.a parte das canoas da
Tropa, carregar innumeraveis Tartarugas, q’ lá estavão viradas por Ordem do
mesmo Snr. q’ se tinha anticipado a mandar a esta dilig.ca, q’ certam.e foi
utilissima, porque fartou a todas as pessoas de q’ se compunha a Tropa, e hé
sustento q’ dura mt.os dias. Para se fazer esta dilig.ca foi precizo demorar-nos
no mesmo porto no dia 27.
No dia 28 pelas sette horas da manham, sahimos do dito Rio Saracá, e
navegando com pouco vento athé as cinco horas da tarde em que portamos
ao abrigo de hûa Ilha.
Na madrugada do dia 29, seguimos a nossa derrotta, tãobem com pouco
vento, e bastantes signais de trovoadas, q’ não chegaram a descarregar, e pelas
quatro horas e meya portamos na Anciada de Itaquatiara, nome q’ deram os
Indios aquelle Citio, por ter hûa ponta de pedras cô alguns riscos a similhança
de caracteres, q’ não dizem, nem significão couza algûa.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 30 nos levamos, e sem mais
demora q’ emqt.o se dice Missa, chegamos pelas quatro da tarde a hûa boa
praya amparada de hûa Ilha da qual tiravão os Indios grande quantid.e de
ovos de Tartarugas, e se fes hûa grande pescaria, toda de excelentes pescados,
que se repartirão na forma ordinaria.
No prymeiro de Dezembro de madrugada entramos a navegar e por ser
Domingo se dice Missa, em o lugar que se achou mais acomodado, estivemos
este dia duas horas só de vento, e bastantes signais de trovoada athé as cinco
horas e meya da tarde em q’ portamos em hûa Anciada pequena, de sorte que
algûas canoas ficarão fora della.
A 2 nos levamos pelas quatro horas da madrugada, e todo este dia
navegamos, com pouco, ou nenhum vento, athé q’ pelas Ave Marias portamos
em hûa Anciada, tambem com pouco abrigo.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 3 seguimos a nossa derotta sem
vento algum, e de tarde tivemos bastantes trovoadas por Citio mt.o baixo, de
sorte q’ a mayor parte das canoas foram tocando, áthê q’ pelas sette horas da
noute portamos em hum rio bastantem.e abrigado, no qual ficamos no dia 4
por amanhecer mt.o carregado, e ameaçando bastãtes trovoadas, que houve.
No dia 5 pelas três horas, e meya, sahimos deste rio continuando a nossa
derrota, e refrescando-nos o vento pelas onze horas do dia, passamos algûas
correntezas por lugares de bastantes pedras, athé que pelas sette horas da

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 33


noute portamos na costa sem amparo algum, junto a hûa correnteza grande
de pedras, q’ fica pouco antes da de Puraquêquara, e nesta noute q’ foi tranquilla,
veyo juntarse a Tropa o R. P. José da Gama, q’ tinha ficado nos Topajós,
curandose de hûa indisposição que padeceo.
No dia 6 ao nascer do sol principiamos a passar a correnteza em que
houve algûa demora, por ser precizo hirem as canoas com distancia hûas das
outras, e tãobem porq’ foi necessario puxarse a corda a canoa grande de S.
Exa. e a do Cap.m João Baptista de Siq.a, e logo nos refrescou o vento, de
manejra q’ passamos sem demora, ou trabalho algum, a corrêteza do
Puraquéquára, e duas mais, q’ se lhe seguem, q’ taõbem são grandes. Nesta
tarde tivemos hûa grande trovoada, q’ por ser de Leste corremos com ella
ainda q’ com cuid.o e pelas cinco horas e meya da tarde, chegamos a correnteza
de Itápéba, q’ hé na boca do Rio Negro adonde ficamos. Pelas seis horas da
manham do dia 7 principiarão as canoas a passar a correnteza, q’ todas o
fizeram a remo, menos a grande de S. Exa., e de João Bapt.a Siqr.a, q’ com
bastante trabalho se puxarão a corda e logo entramos a navegar pelo rio
Negro com vento fresco e pelo meyo dia chegámos a Fortalleza. Depois de
ouvirmos Missa no dia 8 mandou S. Exa. repartir pelos sold.os desta Guarnição
a mesma esmolla, q’ aos das outras, e fazendonos a vella pelas outo horas da
manham com hum vento fresco, navegamos por hûa grande Anciada, passada
a qual ficamos em hum excelente porto adonde chegamos pelas quatro horas,
e meya da tarde, e passamos a noute com tudo o socego. A 9 partimos deste
porto pelas seis horas da manham, por não permitir o rio Negro navegar-se
de noute, e por termos pouco vento ficamos depois de hûa hora da tarde em
hum Lago por ser m.to distante o outro porto, q’ se seguia, e nesta manham
mandou S. Exa. adiantar a canoa do Sargr.o Marçal Cordejro, p.a comprar
algûs viveres pelas Aldeyas. No dia 10 sahimos deste Lago pelas seis horas da
manha, e navegando com pouco vento, tivemos de tarde algûas disposições
de trovoada, q’ não chegarão a descarregar, athé q’ pelas Aves-Marias portamos
em hûa excelente Anciada, q’ a natureza fês a maneira do mais abrigado
Ilhote, junto ao Igarapê chamados das Anavilhanas. Na madrugada do dia
13 atravessamos a piquena parte, q’ nos restava do rio Negro, e navegando
por elle asima da banda do sul, chegamos pelas quatro horas da tarde a hum
bom igarapê adonde passamos a noute. A 14 continuamos a nossa viagem
pela d.a costa q’ hé m.to cheya de pedras, e algûas lanção grandes pontas ao
Largo, e por termos hum vento forte pela proa avanssamos pouco, e
aportamos pelas duas horas em hum Igarapê bastantem.e abrigado. No dia
15 depois de se dizerem as Missas fizemos viagem pelas sette horas da
manham, e presiguindo-nos o mesmo vento rijo, e contrario, por
impertinentes e ariscadas pontas de pedras, tãobem não avansamos mt.o e
ficamos em hum Igarapê bastantemêt.e deffendido do tempo. Pelas sete
horas da manhã do dia 16 principiamos a navegar com vento favoravel, q’

34 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


durou pouco tempo, e passamos o Citio chamado das Igreginhas, q’ hé hûa
ponta de pedras, junto de hûa roxa, na qual se acham algûas concavidades de
diferentes grandezas, e continuando a nossa viagem em calmaria, ficamos
pelas quatro horas em hûa Anciada em q’ passamos a noute. A 17 seguimos
a nossa derotta, e pelas onze horas da manhaã chegamos a Aldeya do Saú, q’
se acha em hum citio alto, e agradavel, mas está quazi dezerta, e nella passamos
o dia trazendo as Indias á S. Exa. as limitadas putavas, ou prezentes, q’ bem
correspondiam a sua grande pobreza, e rusticidade. No dia 18 depois de
ouvirmos Missa sahimos desta Aldeya, e deixando a terra firme fomos
navegando entre Ilhas athé as cinco horas da tarde, e portamos em hum lugar
em q’ hûa coroa de Areia, e terra com o matto, formam hûa Anciada como
hum Ilhote, a qual nos foi sumam.e util, porq’ nesta noute tivemos hûa
tormenta intensissima, q’ durou quatro horas, passadas as quaes se desfês
em hûa copiosa xuva, e algûas canoas, q’ não entraram bem no d.o abrigo,
padecerão grande trabalho e incómodo.
Na madrugada do dia 19 continuamos a nossa viagem por entre Ilhas e
quantid.e de pedras, e passando hum lugar, q’ verdadeiram.e era hûa caxoeyra,
e pelas cinco horas da tarde portamos em hum lago com bastante abrigo,
adonde nos veyo encontrar o sargento mor Gabriel de Souza Felgueiras, e o
P. Fr. José da Magdallena comissr.o das Missões do Carmo.
No dia 20 pelas seis horas da manham sahimos deste lugar, e navegando
sem vento algum portamos pelas cinco horas da tarde em hûa boa praya de
Areya. Pelas cinco horas da madrugada do dia 21 entramos a navegar, e
favoreceu-nos hum vento brando, chegamos pelas dês horas a Aldeya da
Pedreyra e incaminhandonos logo p.a a Igreja cantou Missa o P. Fr. José de
Magdallena, e com as Indias da Aldeya bem.
Nesta tarde concorreram as Indias com as suas custumadas putavas á S.
Exa., e a noute o vieram lisonjear com musicas e bayles a porpuçam da sua
rusticid.e. A 22 depois de ouvirmos Missa sahimos desta Aldeya, e navegando
todo este dia com bastante calma, e por mt.as pedras, portamos pelas cinco
horas da tarde em hûa Anciada em que passamos a noute com bastante xuva.
No dia 23 pelas seis horas da manham continuamos a nossa viagem com
hum vento galerno, que nos favoreceu athê a Aldeya de Aracarý, adonde
chegamos pelas três horas da tarde e nella pernoutamos. No dia 24 pelas sette
horas da manham depois de ouvirmos Missa sahimos desta Aldeya, e
favoravelmente hum vento brando chegamos pelas cinco horas da tarde a
hum lago em que nos recolhemos, por cauza de hûas trovoadas, que estavão
armadas, e descarregaram depois de estarmos abrigados.
No dia 25 pelas quatro horas da madrugada seguimos a nossa viagem, e
pelas sette portamos em hûa boa praya de Areya em que diceram os Capelães
as Missas do Natal, e depois nos levamos athé as sette da noute em q’

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 35


ficamos em hûas Ilhas bastantem.e abrigadas a todo tempo. Pelas cinco horas
da madrugada do dia 26 continuamos a nossa viagem sem mais demora q’
enqt.o ouvimos Missa e navegamos este dia sem vento algum athé q’ pelas
quatro horas da tarde avançamos bastante caminho com hûa intença trovoada
com que corremos por ser em poupa, e pelas onze horas da noute portamos
em hûa boa praya de Areya. No dia 27 pelas quatro horas da madrugada
seguimos a nossa derotta, e pelas outo chegamos a Aldeya de Cumarú adonde
ouvimos Missa depois da qual recebeo S. Exa. as costumadas offertas, ou
putavas das Indias as quaes mandou remunerar, e repartir na forma ordinaria,
e depois de feita esta diligencia, que foi breve, sahimos por proa foi precizo
chegarmo-nos ao matto enquanto passou afora, e ficando depois hûa noute
mt.o serena e clara navegamos athé a meya noute em q’ ficamos em hûa praya
para descançarem os Indios.
Pelas quatro horas da madrugada do dia 28 entramos a navegar e pelas
nove da manham chegamos á de Aldeya de Mariuá em que estava formado o
Arrayal adonde S. Exa. foi recebido com muitas demonstrações de alegria,
saltando da sua canoa em hûa boa escada goarnecida toda de Arcos, e flores
athé chegar ao Citio da Aldeya, q’ hé iminente, no principio do qual estava
formado hum Portico de madejra em forma de Arco de triunfo, e junto delle
repetio hum Indio do Siminario hum soneto em português á S. Exa.
felicitandolhe o bom sucesso da viagem, e logo entramos em hûa piquena
Praça, em q’ estavão formd.os os soldad.os do Destacamento, q’ aqui se achava,
os quais receveram á S. Exa. com três descargas de Mosquetaria, e ao mesmo
tempo salvarão tambem duas Fortalezas formadas de madeira com Artilharia
do mesmo. Logo S. Exa. se emcaminhou p.a a Igreja, adonde se cantou pelas
Indias da Aldeya o Tê Deum laudamos com todo o primor e depois selebrou
Missa com toda a solinid.e o Rm.o P. Comissario cantada pelas mesmas
muzicas admirando-se todos de q’ em País tão remotto da comunicação e
civilid.e das gentes, e tão faltos de proffessores podessem ser tão bem
instruhidas.
Acabado este catholico e santo exercicio subio S. Exa. p.a o Hospicio dos
Padres, adonde lhe estava preparado hum quarto em que se acha acómodado
com toda a decencia, e a sua familia acomodouse pelas Celas dos Religiosos,
mudando-se estes p.a hûas cazas, q’ já tinhão prevenidas para o mesmo fim.
Promptam.e mandou S. Exa. quartellar todos os Officiaes da Expedição
nas cazas, q’ já lhe estavão preparadas, e logo depois vizitou o quartel de cada
hum mand.o fazer a todos os cõmodos, que necessitavão p.a ficarem detrimento.
Não procurou S. Exa. dar por alguns dias descanço ao corpo da dilatáda
e perigosa viagem, q’ tinha feito, porq’ logo no dia segt.e principiou a dar
providencias a expedir canoas a buscar mantimentos p.a este Arrayal não se
esquecendo juntam.e de exercitar a virtude da carid.e, e grandeza, mandando

36 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


vistir a sua custa quantid.e de Indias, que andavão nuas, e expedindo Ordens
pelas Aldeyas, p.a q’ todas as que houvesse na mesma mizeria, e dezamparo
as remettessem logo a este Arrayal para no serviço de S. Mag.e poderem
ganhar com q’ se vestirem.
Passados alguns dias foi S. Exa. por estar rio asima vizitar as Aldeyas delle,
e juntam.e as rossas, q’ estavão feitas por conta de S. Mag.e em cujo trabalho
gastou onze dias, e agora fica aplicando o seu inimitado disvello, e grandecissima
activid.e em lavrar, e conduzir mantimentos p.a fornecer os Armazens de S.
Mag.e, não só p.a sustentação da mt.a gente q’ se acha neste Arrayal más tambem
p.a a q’ se espera na comitiva do Plenipotenciario de Castella.
Compunhase toda esta Tropa de mil, e vince e cinco pessoas em que
entrarão quinhentos e onze Indios, dos quaes nos fugiram cento secenta, e
cinco; cujo numero todos os moradores do Pará julgavão impossivel, q’
podesse ser sustentado em viagem tão dilatada, e por certões tão faltos de
providencias, porem a sua activid.e, grande disvello e imcomparavel trabalho
do Ilm.o e Exm.o Snor. Gen.al poude superar a estas grandissimas dificuldades,
fazendo que todos viessem satisfeitos, e contentes sem embarg.o de faltarem
a mayor parte das Aldeyas, em socorrerem com as providencias, que havia
dous annos lhes tinha recomendado”.

Como primeiros resultados dessa viagem, devemos citar o Mappa


Geographico dos Rios por onde navegou o Ilm.o e Exm.o Snr. Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, sahindo da cidade do Pará para o Arraial do Rio Negro no
dia 2 de Outubro de 1754, com a exata delineação da maior parte do Rio das
Amazonas e Rio Negro por onde o mesmo Senhor continuou a viagem até a Aldeia
do Mariuá; notando-se também a entrada dos mais Rios, que vem comunicar, ou
confundir as suas aguas com os antecedentes, juntamente as Estações, ou lugares de
repouso com o signal de uma estrelinha (hoje no Arquivo Militar), levantado
por Sebastião José, João André Schwebel, Felipe Sturm, Adão Leopoldo
de Breuning e Ignacio Stzentmartony, este último responsável pelas
observações astronômicas, e a Colleçam dos Prospectos das Aldeas e Logares
mais notaveis que se acham em o Mappa que tiraram os Engenheiros da Espediçam
principiando da cidade do Pará athé a Aldeia de Mariuá no Rio Negro, onde se
acha o Arraial, além dos prospectos de outras tres ultimas Aldeas chamadas Camará,
Bararuá, Dari, situadas no mesmo Rio, feitos por ordem do Illustrissimo e
Excellentissimo Senhor Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Gov.or e Cap.m
Gn.al do Estado, Plenipotenciario, e primeiro Comissario das demarcações dos Reaes
Dominios de Sua Magestade Fidelissima, da parte do Norte (cujo original está
na seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro),

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 37


feito por João André Schwebel, a aquarela (Reis, 1993: 82, 83; em
Mendonça, 1963 (II), a folha de rosto da Colleçam e as vistas das vilas
desenhadas por Schwebel encontram-se reproduzidas nas pranchas 614a,
616a, 616b, 616c, 616d, 618a, 618b, 620a, 620b, 622a, 622b, 626a, 628a,
628b e 630a). Diz Reis (1993: 83, nota 60), que, em Lisboa, na casa do
Duque de Palmela, há um grande Atlas do Amazonas e Rio Negro,
bem como uma coleção de prospectos dos lugares visitados pela
expedição Mendonça Furtado, dado como da autoria de Schwebel,
com a data de 1756, conjunto mais perfeito e mais completo que o da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
A comissão espanhola, por sua vez, também fora constituída com
uma aparatosidade espetacular. Seu chefe, na qualidade de primeiro
comissário, era D. Joseph de Iturriaga, chefe de esquadra. Auxiliares
imediatos, o coronel de infantaria D. Eugenio de Alvarado, Cavaleiro
da Ordem de Calatrava, Marquês de Tabuleso, brigadeiro dos exércitos
reais, posteriormente Tenente-General e Capitão-General das Canárias;
o capitão de navio D. Antonio de Urrutia, Cavaleiro da Ordem de
Santiago; o capitão de navio de fragata D. José Solano, primeiro
astrônomo. Respectivamente, segundo, terceiro e quarto comissários.
Compunha-se ainda, além dos técnicos de menor categoria, oficiais,
religiosos e funcionários civis, dos seguintes nomes: primeiro secretário,
D. Juan Ignacio Madariaga, Cavaleiro da Ordem de Santiago; primeiro
geógrafo, D. Juan Sanchez Galan, tenente-coronel de artilharia;
engenheiros, D. José Mourí Paizano e D. Joseph Vir; cosmógrafos,
Padre Francisco Javier Haler, D. Joseph dos Santos Cabreira, D.
Francisco Guillen, D. Apolinario Dias de la Fuente, D. Juan de Arias;
agregados aos astrônomos, D. Ignacio Milhau, D. Vicente Dols, D.
Nicolás Guerrero; botânicos, D. Pehr Loefling [discípulo de Linnaeus,
que faleceria logo depois; cf. Papavero, 1971], D. Bento Palteú, D.
Antonio Condol; cirurgiões, D. Francisco Rodrigues, D. Antonio
Ramires, D. Antonio Alvarez e D. Matias Barcial. Fôra dividida em
quatro grupos ou turmas, cada uma dirigida por um comissário e
integrada por um astrônomo, um geógrafo, um desenhador, um capelão,
um cirurgião, um almoxarife, um carpinteiro, um alfaiate, um sapateiro
e o destacamento militar necessário (Reis, 1993: 102, 103).
1755 - Francisco Xavier de Mendonça Furtado queixa-se a seu irmão,
Sebastião José de Carvalho e Melo, em carta de 8 de janeiro, de
manobras dos padres jesuítas, que teriam levado os índios a não

38 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


acatarem as ordens que a coroa lhes transmitia para cultivarem os
gêneros necessários à expedição.

“Em nenhuma das povoações deste certão se fes caso algum da ordem,
que passey para fazerem cultivar aos indios generos com que me pudessem
socorrer, e não produzio outro effeito do que haver mais esta ocazião de
porem estes regulares em desprezo a ordem que lhes passey em nome de Sua
Magestade na forma do seu inalteravel costume” (Arquivo Histórico
Ultramarino, Brasil, Pará, Cx. 15).

Nessa mesma data de 8 de janeiro, em carta datada de Mariuá,


Mendonça Furtado queixa-se do comportamento de Landi: “O Landi,
ou por orgulho próprio ou por inspiração de seu amigo, foi atacar um
par de vezes o Capitão Chuebel [sic; Schwebel] para que havia de
conservar galinhas na sua capoeira, e não lhes dava consumo, fosse
como fosse, porque o tê-las ali era fazer mal a todos eles”. Parece que
a freqüentação forçada entre os membros da Comissão durante a
penosíssima viagem de Belém a Mariuá, acrescida de todas as privações,
noites mal dormidas, pragas de mosquitos, e outros incômodos, exaltara
os ânimos dos expediionários, criara conluios e facções entre eles,
levando-os a disputas por razões insignificantes, principalmente no
tocante à comida. Isto chegou a exasperar o Governador-general, o
qual, com os nervos à flor da pele, ainda na carta acima aludida,
confidenciava a seu irmão, o futuro Marquês de Pombal, sem rebuços:
“Finalmente, Exmo. Sr., isto é uma congregação de velhacos, e vil canalha
de que nenhuma utilidade pode tirar o serviço de S. Maj., e que fôra
melhor o dinheiro que eles levam empregá-lo em dotes de órfãos, que
era uma obra de misericórdia, se seguia uma grande utilidade ao Reino,
porque a desta turba de gente satisfazia eu com dois Pilotos principiantes,
e com oficiais que executassem exatissimamente as minhas ordens” (cf.
Mendonça, 1963 (II): 648).
A Expedição, uma vez chegada a Mariuá, dá início às atividades
de demarcação, apesar do não comparecimento da missão espanhola,
detida por várias causas em Cumaná, principalmente pela oposição
dos jesuítas. As comissões portuguesa e espanhola nunca chegaram a
encontrar-se.
A 15 de junho, escrevendo para seu irmão, Mendonça Furtado
informa ter encarregado Landi de “alguma cousa de Historia Natural”,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 39


pedindo-lhe que lhe compre o material necessário, incluindo um bom
microscópio (“para examinar algumas plantas miudas, e as suas
sementes”). Em anexo remetia a relação do material pedido, assinada
por Landi, na qual, além de pigmentos vários e instrumentos (um
microscópio, uma lente de aumento, uma pedra para moer as tintas,
um pararelo e um estojo), pedia “hum exemplar de plantas americanas
de bom autor, e de boa emprença”. Landi deve ter iniciado, portanto,
por essa época, sua tarefa de naturalista, ao lado das obras de pintura,
arquitetura e urbanismo, respondendo a solicitações do Governador.
Constrói os altares para a Capela de Santana, em Barcelos.
A 7 de julho, segundo se depreende de carta enviada a seu irmão,
Mendonça Furtado ainda estava ressentido com alguns membros da
expedição: “Devo ultimamente informar a V. Exa. que entre todos os
oficiais que vieram, o ajudante Filipe Sturm se não meteu nunca em
parcialidades, e que tem procedido na forma que em outra aviso a V.
Exa. e que o Capitão [João André Schwebel] ainda que foi atacado
para aquela reunião se retirou dela logo e veio dar parte e tem vivido
neste arraial com quietação e servido com préstimo. O outro, Capitão
Grönfeld, tem também préstimo e como não lidei com ele mais do
que na jornada, porque logo que aqui chegou foi doente para o Pará,
não sei se se emendaria da causa com que fez uma grande desordem
no caminho. O padre Samartoni fica mais na razão e os italianos são os
mais contumazes, sendo o desenhador [Landi] inteiramente protegido
pela Companhia [de Jesus]” (cf. Mendonça, 1963 (II): 721). Seis dias
depois (13 de julho), o Governador-general tece considerações sobre
os préstimos e o caráter dos membros da Comissão (cf. Mendonça,
1963 (II): 764-766):

“Meu irmão do meu coração: Quero dar-lhe uma idéia clara dos oficiais
engenheiros e astrônomos que vieram para esta diligência das demarcações, e
por ela conhecerá o verdadeiro caráter de cada um deles, e, principiando pelos
eclesiásticos, referirei os mais por sua ordem.
O Pe. Inácio Sanmartone tem bondade e simplicidade de coração; veio ao
Pará sem mais idéia do que fazer a sua obrigação, e executar as ordens que lhe
deu o seu Geral, qual foi a de que executasse integralmente as que recebesse
minhas, como o mesmo padre me disse no segundo dia em que chegou
àquela cidade. Nela, porém, foi integralmente corrompido pelo orgulho e
malevolência do Pe. Aleixo Antônio que o revoltou inteiramente contra mim
e contra a diligência em que devia empregar-se, e lhe introduziu idéias soberbas,

40 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


avarentas e sediciosas, achando-lhe para a tal introdução a disposição de
simplicidade de coração que na verdade tem, cujas idéias conservou na jornada
e nos primeiros tempos que aqui chegou; hoje, porém, se acha quase como
no princípio, e totalmente sossegado, cuidando nas suas observações.
O Dr. João Ângelo Brunelli já veio de Lisboa com muito más idéias,
introduzidas não sei por quem, mas é certo que quem fez esta obra nem
amava os interesses do serviço de El-Rei, nem era grande meu amigo; e logo
no princípio se deu a conhecer, como eu avisei V. Exa. naquela mesma frota;
pela viagem fez uma quantidade de despropósitos que continuou aqui bastante
tempo; hoje está em sossego. Deus queira que se não arrependa. É
soberbíssimo e avarento em sumo grau e desconfiado. Dizem que sabe
muito bem da sua profissão.
O Sargento-mor Sebastião José da Silva é um miserável homem, que não
sei por onde lhe pegaram para o mandarem a esta expedição; é totalmente
ignorante da geografia, e tanto que, entre muitos desatinos que me tem dito
querendo falar nela, lhe referirei só um, qual é o de, estando no Gurupá,
perguntar-me mui seriamente se o Macapá ficava naquela costa, ainda muito
mais acima daquela fortaleza; fiquei pasmado olhando para ele, e tive a caridade
de lhe explicar a situação das duas praças; e semelhante a esta me tem dito
outras iguais ignorâncias. Este pobre homem não tem coisa que boa seja; é
tão ignorante como digo; sobre isso é aleivoso, infiel, embrulhador e, em
conseqüência, mentiroso; não tem nem a mais leve aparência de honra; e,
finalmente, este é o celebrado Sebastião das Candeias - de quem não sei se V.
Exa. se lembra, e assaz bem nomeado no nosso tempo naquele bairro,
porque sempre morou a S. Bento, e que, sendo mau aprendiz de pintor,
largou o ofício e veio a parar em sargento-mor - tem feito uma quantidade de
ridicularias, e se me pedir licença para se ir lha hei de dar com muito boa
vontade, porque não serve aqui de nada nem o hei de encarregar de coisa
alguma nesta diliogência, nem é capaz disso.
O Capitão Gregório Rabelo Guerreiro Camacho, que é justamente em
tudo irmão do acima, só tem a diferença de ser mais inconsiderado e de
querer aqui fazer uma união, chamando a si dois rapazes tolos destes novos
oficiais, e sair daquele conchavo histórias que pertubavam o sossego público
e atacando oficiais de honra, até que os mandei separar deste arraial e dei
licença a este capitão para ir para o Reino, que já lha houvera de ter dado no
Pará quando ele me importunou por ela, um dia, na Secretaria, e dizendo-lhe
eu que lha não deveria dar, porque era contra a sua honra, me respondeu que
não tinha nada com a honra, senão com o desamparo da sua casa, e depois
que ele me declarou que imaginava desta forma, logo assentei de não fiar dele
diligência alguma que fosse de conseqüência ainda que leve.
O Capitão João André Schwebel tem bondade e préstimo grande e não o
vejo nunca ocioso. Quiseram metê-lo na conjuração que veio traçada do Pará,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 41


porém ele conheceu aquele grande despropósito e no caminho me veio dizer
que eram loucuras e que ele não tinha nada senão com a sua obrigação.
O outro, Capitão Gaspar Gerardo de Grönfeld, não tive tanto tempo
para tratar com ele como com o Schwebel; parece-me ter sinceridade. Tem
préstimo grande e desembaraço de soldado. Chegou aqui doente e foi logo
para o Pará convalescer. Teve no caminho uma infelicidade, querendo fazer
um brinco na sua canoa, de marear-se com uma pouca de água ardente da
terra, e produziu isto uns maus efeitos e uma desordem grande; porém, creio
que reconheceu o erro, porque, sendo esta história ao princípio da viagem, até
o fim não caiu em outra.
O Tenente Manuel Götz, não sei se é bom ou mau. Tenho toda a
probabilidade de que é um bom homem; é sumamente melancólico. Mete-se
em sua casa, com pouco trato com todos os outros. Dizem os seus camaradas
que é um homem bem nascido e que sabe muito bem.
O Ajudante Filipe Sturm, já disse o conceito que fazia dele e não tenho
visto coisa que me faça mudar de propósito.
O outro Ajudante, Adão Leopoldo Breuning, escuso de lhe fazer o caráter,
porque em Lisboa é muito bem conhecido e na mesma Corte creio que
também é presente a sua conduta.
O Ajudante Henrique Antônio Galluzi, que se acha hoje casado e
estabelecido no Pará, como ainda não veio para este arraial, não tive ocasião de
o conhecer inteiramente para lhe fazer o caráter; pareceu-me de gênio forte e
nimiamente amigo de dinheiro. É bastantemente hábil, como mostrou em
algumas diligências de que o encarreguei.
O desenhador José Antônio Landi risca excelentemente e tem grande notícia
da arquitetura; não lhe chega, porém, ao pensamento outra idéia mais do que o
modo que há de descobrir de ajuntar dinheiro, e em consequência não pode ali
haver imaginação que não seja vil e abominável, e assim o declarou um destes
dias, dizendo aos camaradas que se lhe não oferecia dúvida o levar com um pau,
se lhe dessem 20 moedas, e, contando-me esta história e não lhe podendo dar
crédito, lhe perguntei a ele mesmo se era verdade ou se lhe levantavam aquele
testemunho; me respondeu desembaraçadamente que assim o dissera e que
era a verdade, porque a dor das pancadas passava e o dinheiro ficava na gaveta.
Esta idéia é bem de italiano. Como porém ele não há de ter outra coisa que fazer
do que copiar algum mapa, pouco importa que imagine como quiser. Eu lhe
tenho encarregado alguma coisa de história natural e tem feito já uma boa
coleção de plantas. Deus guarde a V. Exa. muitos anos. Arraial de Mariuá, em
13 de julho de 1755".

Essa opinião do Governador iria sofrer grandes mudanças, e


surgiria uma grande amizade entre Mendonça Furtado e Landi. A 15

42 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


de setembro Landi viaja com Mendonça Furtado e o capitão Henrique
João Wilckens (que em 1785 escreveria o poema heróico “Muhraida”;
cf. Papavero & Teixeira, 2000) para o rio Marié, afluente da margem
esquerda do rio Negro, para o descimento de índios. Essa missão, mal-
sucedida, levou à morte de alguns de seus membros. Mas provavelmente
o comportamento de Landi foi tal, que parece ter alterado o juízo
negativo que dele fizera Mendonça Furtado.
Landi escreveu um diário dessa expedição, em italiano, do qual
um “extracto” foi publicado, traduzido para o português, na Revista do
Institruto Histórico e Geográfioco do Brazil, tomo 48 (Parte I), em 1885,
como segue:

“Extracto do diario de viagem ao rio Marié em setembro de 1755, para o


descimento promettido e contratado pelos dous principaes Manacaçari e
Aduana. Por Antonio José Landi, academico clementino, e professor publico
de architectura e perspectiva no Instituto das Sciencias de Bolonha, architecto
pensionario de S. M. Fidelissima, e um dos que forão testimunha ocular dos
successos adiante expostos, a instancias do Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira,
naturalista empregado nos descobrimentos de historia natural do Rio-negro.
11 DE SETEMBRO. Fui chamado por S. Exa., o Sr. Francisco Xavier de
Mendonça Furtado, então governador e capitão general deste Estado, o qual
dice que tinha determinado mandar-me com o capitão Estevão José da Costa
ao premeditado descimento, com o que mostrei-me muito satisfeito.
Ordenou a Mathias da Costa, que era provedor da real fazenda, que me
désse o mantimento por elle determinado, o qual em verdade foi excellente pela
summa benignidade, que sempre teve para commigo este bondoso senhor.
12. No dia seguinte, depois de praticado o que convêm a um christão,
preparei-me para o embarque, que effectuou-se no dia 13 do corrente Setembro.
O capitão e eu embarcamos em um bote novo, de 6 remos por banda,
com 6 soldados. Em outra canôa fôrão o alferes Manoel da Silva com o cabo
de esquadra Henrique João Wilkens e o capellão, que era o padre Paganini,
carmelita. Esta canôa era assás grande, e o mesmo cabo de esquadra Moniz
reclamára contra isso, dizendo que muitas erão as correntezas, que tinhão de
passar, como tambem os saltos e pedras que havião escondidas á flôr d’agua;
mas esta representação não foi attendida.
As outras canoas erão de quatro remos de cada lado: na primeira ia o
Moniz com dous soldados, na outra Manacaçari e Aduana, os quaes no seu
barco recebêrão de S. Ex. tanta cortezia, quanto receberia qualquer subdito de
merito especial.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 43


Os outros dous principaes, Mabé e Cacuhi, que não erão lá bons amigos,
partirão nas suas respectivas canôas, tendo desenganado o Sr. general com
dizer que elles e sua gente não erão sujeitos á pessoa alguma, e que não
querião experimentar servidão alguma, e de facto os deixou ir sem mais falar-
lhes.
Antes de partir de Caboquena, conferenciamos com Francisco Xavier
Mendes, homem muito pratico d’estes certões, e deu-nos elle varios conselhos,
que nos não fôrão inuteis, e sobretudo dice-nos, que andassemos com cautella,
e não nos fiassemos muito de Manacaçarí, porque era muito inconstante:
presenteou-me com frutas, e entregou-me um bilhete, para que em sua casa
me dessem 3 paneiros de farinha com 6 gallinhas, pr que n’aquellas alturas era
donarivo inestimavel. Aportamos nas 3 aldêas de Caboquena, Bararoá e Deri
para comprar fruta e farinha.
23. Aportamos na Tapéra, propriedade de Portiljo, homem prepotente,
que commerciava com os Indios. S. Ex. conversou com elle e conhecendo
que não podia sugeitar-lhe a vida depravada, tendo contra si tão poderoso
inimigo, deliberou ir demorar-se em Macapá com toda a sua gente. Pouco
adiante aportamos na Tapéra do Braga, na qual ainda se vêm vestigios de
algumas palhoças com arvores frutiferas. Este individuo, ainda peior do que
o supradito Portilho, foi miseravelmente jazer nas prisões de Lisbôa.
Depois de curto prazo proseguimos o nosso caminho lentamente, por
que muitas vezes perdiamos de vista a canôa grande. Em uma d’estas vezes
eu e o sr. Wilkens subimos ao alto d’essas terras; e porque achassemos
caminho desembaraçado, penetramos n’elle por espaço de meia milha; mas
como não levavamos armas, retrocedemos, receiosos de encontrar algum
gentio, ou animaes nocivos.
O terreno era arenoso, e ahi observamos uma planta curiosissima, a qual
formava diversos globos, o maior dos quaes não passava do tamanho da
cabeça de um homem; não tinha ramos, nem folhas de especie alguma, mas
compunha-se de particulas tão delgadas, e de tal fórma entrelaçadas umas ás
outras, que não sei bem descrevel-as.
Sómente sei, que bastava tocal-as levemente para desfazerem-se em
particulas diminutissimas, e não lhes descobri raizes; mas sustentavão-se
não sei como; e nenhum dos indios presentes soube dizer-lhe o nome, por
não terem jamais visto planta similhante.
Chegada a canôa, seguimos a navegação, passando varias correntezas, que
nos retardarão a marcha.
N’este dia encontramos uma canôa com um principal chamado Ambrozio,
ao qual mandamos dous soldados reconhecer; e porque mostrasse amplo
passaporte de S. Ex., que lhe facultava inteira liberdade de andar por onde

44 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


quizesse, quando sahirão os soldados, lhes dice, que dessem graças a Deus,
que os deixava partir com vida.
Os soldados contárão isto ao capitão, o qual fez diligencia para que o
mesmo principal viesse á canôa, para castigal-o; mas elle escafedeo-se, e o
perdemos de vista.
1 DE OUTUBRO. No dia 1 de Outubro nos conveio esperar para o dia
seguinte por terem-se extraviado dous soldados, que fôrão depois achados
por diligencia dos indios.
N’este dia observei dous escolhos, um dos quaes era assás alto, e podia
passar-se por baixo d’elle por ter sufficiente vão.
Aqui foi-nos preciso atravessar uma caxoeira de 3 a 4 palmos de altura, e
observei lindissima perspectiva.
Sobre pedras, que estavão á flôr d’agua, e nos seus contornos nasce certa
herva da altura de 1 palmo, algum tanto grossa, mas tenra e muito bem tecida
e termina como um baculo pastoral [uma Pteridophyta]. Tanto os indios
como os soldados dicerão que era optima para condimento dos manjares, e
comião-na nos lugares, onde não abunda carne, nem peixe: tomamos bôa
fartadella de salada, e por certo acido saboroso que tem, torna-se agradavel ao
paladar.
Sobre aquellas mesmas pedras celebrou-se o santo sacrificio da missa,
durante o qual com grande prazer fui espectador dos contrastes, que fazião as
orgulhosas e espumantes aguas com a força de tantos indios e soldados.
Os dous principais Mabé e Cacuhi vierão á nossa canôa, dizendo que
voltavão pelo seu caminho, e o capitão lhes dice, que dentro de pouco tempo
eu iria vizitar aquellas terras por ordem de Sua Magestade, para fabricar uma
fortaleza, e lhes mostrou o desenho de uma fortificação já entre nós combinada;
ao que não respondêrão uma so palavra, e seguirão o seu destino.
5. Despedio-se de nós Manacaçari, dizendo que ia reunir a sua gente para
fazer-nos alegre encontro, e partio pouco contente com os donativos a elle
feitos, os quaes consistirão em 2 duzias de facas e de tesouras, 12 navalhas e
24 berimbáos, com alguns fios de contas de vidro; e o Moniz, que me ficava
vizinho, dice: Começamos mal!
Ás 2 horas da tarde entramos na boca do Marié, cuja largura não excede de
um quarto de legua no decurso de quasi meia hora de marcha, e depois
estreita até um tiro de espingarda. Aqui vêm-se os cumes de 5 montes, o
maior dos quaes é de fórma conica.
No dia seguinte navegamos por entre ilhotas deliciosas, matizadas de
bellissimas flôres. Findo o jantar, proseguimos na navegação, com a cautella
recommendada por Francisco Xavier Mendes.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 45


Com tudo isso a nossa canôa ficou em perigo sobre uma lage. O capitão
sahio, e foi para a canôa grande, isto é, para a do Moniz, que me entreteve com
a exposição dos usos de tantos indios por elle conhecidos. De noite tivemos
forte temporal com relampagos e trovões.
8. Chegamos ao lugar para nós destinado por Moniz; mas elle ficou
suprehendido, não vendo ahi pessoa alguma; e julgou, que ainda não terião
voltado da festa do irmão, que distava poucas horas da moradia de Manacaçari.
Entrtetanto o Moniz fôra vêr a situação de Manacaçari, na qual não achou
pessoa alguma, e então o Moniz mais suspeitou, porque além d’isto achou
varios signaes, que indicavão abandono definitivo d’aquellas terras.
Depois do jantar o capitão com o alferes e eu, acompanhados por 6
soldados, passamos o rio para vêr o lugar, onde Manacaçari habitava.
Entramos por um furo estreito, que nenhum de nós certamente
reconheceria como lugar transitavel, e o caminho era tão tortuoso, que ora
tinhamos o sol pela frente ora pelas costas, e em muitos lugares passamos
sobre um páo redondo ajudados por alguns dos nossos indios.
Finalmente entramos uma planicie da extensão de 300 passos e de muito
menor largura com 8 palhoças, as quaes erão fechadas com folhas entrançadas
e para penetrar n’ellas preciso era inclinar a cabeça até o chão, sendo assim
construidas essas palhoças, afim de estarem ahi mais livres os seus habitadores.
A casa principal era redonda, e feita de taboinhas, como o são as capoeiras
das gallinhas, e tambem tinha a porta baixa.
Entramos n’estes tugurios, onde só achamos folhas de carajurú, de que
fazem bellissima tinta, e deixárão uma linda canôa de 36 palmos de
comprimento, feita de casca de madeira da grossura de sola.
Entretanto mandámos vizitar Manacaçari pelo Moniz, e pelo principal da
aldêa de Mariuá, os quaes, encontrando uma canôa alagada, e cheia de pedras,
e quebrados varios ramos pelo caminho, voltárão desconfiados e mandárão
em seu logar um indio conhecido, ao qual dicerão, que dentro de 8 dias ali
apparecirião; e entretanto trabalhavão postos em logar optimo para qualquer
surpreza, porque era uma ilhota no meio do rio, e adiante estava uma lingueta
de terra de quasi 4 braças, que começava a levantar-se.
Pelos indios e soldados foi derrubado o mato, e ahi se fizerão os quarteis;
e como não viamos resolução nos indios, e começamos a duvidar da sua
constancia, o capitão mandou cercar os quarteis com bôa palissada, e postar
na entrada uma sentinella. Entretanto começou a escassear farinha; procurárão-
se as roças dos indios, e das que se achárão fizerão-se beijús, com que se
remediasse a necessidade dos soldados, bem como da nossa mesa.
11. Mandámos nova embaixada pelo Moniz, acompanhado por 4 indios
com 3 frascos de aguardente. Estavão 6 destinados para donativos; mas o

46 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


judicioso alferes oppôz-se a isto, dizendo que bastavão 3, porque, mandando
os 6, poderião nascer disturbios, embriagando-se os indios. Depois de meio
dia sobreveio impetuoso vento, que derribou os quarteis dos soldados; mas
em menos de 2 horas fôrão reparados.
Á noite regressou o Moniz, dizendo que estavão fazendo farinha, e que
sabião, que o capitão tinha avizado o general, e que esperavão resposta; mas
o Moniz dice-me, que temia muito da inconstancia dos indios, pois tinha
observado, que elles augmentavão em numero, e que, ao tempo em que
tratavão do modo e occasião da partida, chegou outro principal com 20
indios armados de arco e flechas e mais 4 armados de arcabuz. Finalmente
com esta embaixada nada dse concluio, e entretanto crescia a fome, e os
soldados recorrêrão á maniçoba [sic; maniva].
12. Chegou o pescador com uma grande pirahiba, que bastante nos
alegrou; mas esta alegria depressa desvaneceu-se; porque, depois de tiradas as
visceras, pondo-se ella n’agua para lavar-se, deu um salto, e não a vimos mais,
não obstante fazerem os soldados toda a diligencia para recobral-a, tendo
aliás a agua apenas 4 palmos de profundidade.
20. Mandámos vizitar Manacaçari e Aduana para saber da sua ultima
determinação.
A embaixada, que mandou o alferes Manoel da Silva, era um romance,
porque tudo erão ternuras de amante para com sua amada. A resposta foi,
que o capitão mandava ao porto uma canôa para carregar as mizeraveis alfaias
dos indios e indias; mas fizerão o soldado, que estava na canôa, esperar
durante 2 dias, e porque ninguem apparecia, e a fome o estimulava, regressou.
Enttretanto preparou-se uma canôa para ir ao salto buscar Mabé, conforme
tinha S. Ex. combinado comigo afim de vêr si o poderia tirar d’aquelle logar
com algum artificio. Esta viagem porém não se realizou em consequencia da
morte de Moniz e dos seus companheiros, como adiante direi.
Parti pois de manhan cêdo, accompanhado por um sargento chamado
Agostinho Franco, com 8 soldados, e novamente encostamos no porto dos
indios, onde o Moniz preparou-se para a ultima embaixada. Então senti-me
com disposição de ir vêr aquelle barbaro modo de vida; mas dispersuadiu-
me elle, dizendo que não era viagem para mim, porquanto era preciso andar
3 horas por caminho cheio de incommodo, isto é, de pantanos e talvez passar
lagos a nado; e como eu tinha deixado a minha rede no mato para esperal-o,
n’aquelle logar dice, que passasse para o outro lado do rio, ou o esperasse no
dia seguinte emquanto dava signal para ir embarcar; que aquelle logar, onde
desembarcamos, não nos assegurava contra violencias do gentio.
Partio elle accompanhado pelo principal Jananitari, e por um soldado
com 6 indios; e eu com a minha escolta fomos pousar na ponte da dita ilha.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 47


26. Diverti-me em passear sobre lagedos tão planos e lizos, que parecião
feitos com arte, e de espaço em espaço erão repartidos por uma materia vitrea
disposta ao comprido, como si estivessem ligadas ou betumadas; e esta
juntura teria a largura de um quarto de polegada.
Depois de meio dia, e quando eu estava na minha canoo lendo o 6º livro
da história de Salomão, percebi, que de outro lado nos chamavão; embarquei
com o sargento, o qual bem admirado ficou por não vêr o Moniz, mas eu lhe
dice, que provavelmente elle teria mandado aquelle indio adiante para não
estar esperando a canôa para o embarque.
Chegados porém á ribanceira do rio, de subito occorreu-me, que alguma
desgraça teria acontecido, porque o dito sargento ficou como fóra de si, pondo
as mãos na cabeça, e exclamando, que tinhão morto o Moniz com os demais
que o acampanhárão.
Tornamos a passar o rio, e consultando entre nós ambos o que deviamos
fazer, resolvemos por fim partir, porque não tinhamos meios de defeza; o
sargento, que era homem animoso, e bom soldado, queria esperar até o dia
seguinte na supposição de poder chegar ali um ou outro ferido; mas vendo-
nos privados de ferramenta para poder fortificar-nos com alguma estacada;
não se tendo dado aos soldados sinão duas cargas de polvora, e havendo
apenas 3 espingardas para fazer fogo, determinamos partir. Mas para não
perder de todo a nossa historia, voltemos atrás, e não passemos em silencio
o barbaro attentado d’estes impios homicidas.
Chegando o Moniz com os seus companheiros no dia 25, como dice, foi
recebido por Manacaçari e Aduana e pelos principaes, que estavão ali, com
signaes de distincta amizade, excuzando-se da demora com enganos, e dicerão,
que, terminadas aquellas antigas festas e suas beberronias, partirião. O Moniz
ao vêl-os dispostos em apparencia, e sendo já noite, despedio-se para ir
dormir na sua canôa; mas tantas forão as instancias empregadas paa que
assistisse áquellas suas diabolicas festas, que, por desgraça sua, annuio ao
convite, porém findas as dansas com as costumadas bebedeiras, retirarão-se
para dormir.
Como o Moniz tinha outr’ora vivido com Manacaçari, não desconfiou
d’elle, e foi dormir no corredor da sua casa, e logo pela janella Manacaçari
desfexou-lhe um tiro de espingarda, ferido pelo qual cahio o Moniz da rede
morto, arquejando, e ao mesmo tempo matárão o principal Jananitari, o
soldado, e dous indios; os outros fugirão.
Depois d’este assassinio fizerão as suas dansas acompanhadas das
costumadas vozerias, incendiarão as palhoças e partirão com os seus subditos.
Depois mandárão alguns indios, que fôssem matar Tapuitinga, e trouxerão
a sua canôa; e anoitecendo fôrão á ilha com muitas igarités, mas como a
ninguem achassem, immediatamente se retirárão.

48 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Esta narração foi-nos feita pelo indio, que veio dar-nos aviso, o qual
escondeu-se na densa folhagem de uma arvore; e pouco difere da outra que
fez um indio fugido, que ao passar chamou-nos para o embarcarmos.
Eis o fim desta expedição feita com pouca cautella; e ninguem acertou
mais do que frei José de Magdalena, porque tinha feito a anatomia d’essa
gente.
Entretanto chegamos á boca do Marié na noite de 26, e nas margens d’elle
tomamos porto para não ficarmos sobre as muitas pedras, que ali havia. Á
meia noite presentimos vir para nós uma pequena canôa, e como não sabiamos
quem vinha n’ella, o sargento e eu pozemo-nos em pé com a espingarda ao
rosyo, até que o soldado, que n’ella estava, nos fez saber, que fôra mandado
pelo capitão para trazer a noticia das mortes já descriptas, ao passo que erão
tambem noticiadas por um dos indios fugitivos.
27. Amanhecendo o dia, alegramo-nos por ver-nos livres de todo o temor
da noite passada, pois tão continuos erão os rumores n’aquellas selvas, que
nos fazião crêr estarmos cercados pelos indios, embora nos assegurasse
Jacumaúba ser antas que ali andavão: ás 11 horas da manhan a nossa alegria
converteo-se em temor, porque ao longe avistamos algumas canôas, que
desapparecêrão por de traz de uma lingua de terra, que avança para o rio.
E como tinhamos por certo ser canôas de indios bravios, ficamos a
principio amedrontados; mas, cobrando animo, sahimos das canôas armados
e resolutos a defender-nos em logar tão favoravel, pois estavamos amparados
por algumas pedras de desmezurada grandeza, quasi todas isoladas.
Por fim, ao sahir d’aquella feliz ponta, se renovárão-se [sic] os animos de
todos, porque era o capitão, que tinha abandonado os quarteis, e tal foi o
temor, de que se apoderou, que deixou aos barbaros a real bandeira da canôa.
Aqui ouvirão-se criticas contra o capitão por ter mostrado cobardia, não
indo vingar os companheiros assassinados, e si isto tivesse feito, poderia ser
castigado por desobediente; porquanto nos capitulos consignados pelo
general, o 14.o diza, que, si nos apparecesse alguma alteração qualquer que ella
fôsse, não tomassemos empenho algum e nos retirassemos, e daqui podemos
julgar em que conceito cumpre ter as noticias de um povo, que julga sem
fundamento aquillo que não entende.
Seguimos então a nossa viagem depois de tantos motivo de alegria, pois
correra fama, que tambem me tinhão matado, e esta fama funesta chegou até
os ouvidos de S. Ex.
Passados 8 dias encontramos o soldado, que fôra enviado pelo capitão, e
escreveu S. Ex., que julgar-se-hia bem servido, recebendo as suas ordens, já
tivesse partido, e que em melhores tempos o teria sabido castigar, como assim
aconteceu, mandando-o vizitar pelo capitão Miguel de Siqueira, por ser muito

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 49


temido dos indios em todas aquellas partes, e de facto os destruio com a morte
do mesmo Manacaçari, que servio de troféo ás glorias da gente luzitana.
N’este dia recenbi do soldado um barrilinho de linguas defumadas, de
Hollanda, com outro de biscoutos, dom assás estimavel na presente occasião,
e muito mais ainda pela lembrança que de mim teve S. Ex.
Assim terminou esse descimento, e eu deixei de andar procurando Mabé
e Cacuhi, pois mui provavel era, que n’esses logares perdesse a vida.
A 6 do corrente Novembro chegamos a Mariuá (hoje Barcellos) ao rufo
de tambor, mas observei, que no acto de chegarmos partio de casa S. Ex. para
o passeio, e embarcando nós fomos comprimental-o, e elle acolheu friamente
ao capitão; o que não fez commigo, pois recebeu-me de braços abertos e
convidou-me para cear com elle bom peixe fresco, e bebeu em saudação ao
meu regresso, pelo que não deixei de dar graças a Deus, nosso senhor, por
ter-me livrado das mãos d’aquelles ingratos indios”.

A 22 de novembro, em carta a seu irmão, Mendonça Furtado


refere seu interesse em associar Landi ao povoamento da Vila de Borba
a Nova. Pretendia casá-lo com uma das filhas de João Baptista de
Oliveira, alferes de infantaria e capitão-mor da Vila de Gurupá,
encarregado do governo e estabelecimento da nova vila de S. José de
Macapá, e fixá-lo na recém criada povoação:

“...ver se posso conseguir casar Antônio Landi com a filha que ainda está
solteira de João Batista de Oliveira, e para concluir este negócio estou esperando
que chegue esta família do Pará; e se se efetuar este negócio, parece-me que
temos um bom morador para a vila de Borba.
Eu lhe tenho falado a este respeito, e parece-me que, prometendo-lhe alguns
pequenos meios em nome de S. Maj., se concluirá sem dúvida o negócio.
Este homem tem as qualidades necessárias para se empregar naquele
estabelecimento, porque é sumamente curioso de lavouras, bastantemente
esperto e ativo, e em sumo grau ambicioso e amigo de juntar dinheiro, partes
todas que eu desejava que tivessem todos os moradores destas terras.
Por ocasião de conversação que temos tido a respeito das plantações, e
creio que já com as suas vistas longas, me deu o rol que remeto a V. Exa. para
que lhe mandasse vir estas sementes, e eu peço a V. Exa. me queira remeter
algumas pequenas parcelas de todas elas para ver se produzem nestas terras,
e devem vir em vidros lacrados ou em outras coisas que as defendam
inteiramente do ar.
O tal Landi é bolonhês, e não lhe vejo perigo algum em se por cá
estabelecer...”. (Mendonça, 1963 (III)).

50 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Em dezembro, Mendonça Furtado dirige-se a Borba,
acompanhado por Landi, a fim de institucionalizar a sua elevação a
vila, mandando levantar o pelourinho e passando-lhe carta de foral a 1º
de janeiro de 1756. Durante a estadia, o juiz e comandante da povoação
faz-lhe entrega de casas para Landi e sua futura mulher.
1756 - Devidamente autorizado por D. José e “cansado das provações
inevitáveis em lugar tão ermo, enfermo em razão delas e pelo efeito
do clima”, Mendonça Firtado baixa para Belém a 23 de maio.
1757 - A 1º de março viu-se Landi envolvido em um incidente (graças ao
qual ficamos sabendo que por essa época dedicava-se ele ao comércio
das chamadas ‘drogas do sertão’, principalmente cacau). A tropa
destacada na capitania do rio Negro, composta por 134 soldados,
sublevou-se e fugiu para os domínios de Espanha, argumentando o
não pagamento das fardas e das farinhas para seu sustento. Alguns
desses soldados da guarnição de Mariuá roubaram 1400 e tantos mil
réis dizendo que era um princípio de pagamento do soldo que se lhes
devia, passando depois à casa do desenhador José Antonio Landi a
roubar-lhe mais de 600$000 réis em gêneros, e dando-lhe em pagamento
um escrito ou consignações para a Fazenda Real. Na mesma altura as
canoas carregadas de cacau recolhido pelos índios, que Landi tinha a
seu serviço, foram igualmente levadas pelos revoltosos.
Embora acabando por não se fixar em Borba, Landi casa-se com
a filha de João Baptista de Oliveira. A 25 de abril Mendonça Furtado
lamenta não poder comparecer ao casamento de Landi, oferecendo-
se, entretanto, por carta, para atuar como padrinho quando nascesse o
primeiro filho [ver parágrafo seguinte]. O casamento não durou muito,
pela morte da mulher.
A carta de Mendonça Furtado, referida no parágrafo anterior,
tem o seguinte conteúdo (cf. Viterbo, 1964: 8):

“A Ant.o Landy - Quando desejo a v. m. as mayores fortunas, bem deve


v. m. crer o qto sentiria vellas interrompidas com o grande roubo q’ a v. m.
fizerão esses levantados, porem como N.o S.r Nosso foy servido que lhe
deixassem a vida, tudo o mais tem remedio e pode v. m. estar certo, q’ quanto
couber dentro dos termos da pocebilid.e da justiça e da razão, hey de fazer por
favorecer a v. m., e a sua caza, espero que v. m. recompense o beneficio q’
experimentar rendendo a S. Mag.e todo o serviço q’ puder, concorrendo para
os sollidos Estabelecimentos do Estado a q’ estamos dando principio.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 51


Pellas Reaes ordens q’ aqui chegaram de Lx.a [Lisboa] no principio de
Fevr.º, me he precizo dilatarme algum tempo nesta Cidade, e o maez cedo, q’
poderei chegar a esse aquartelamento, será athe meado de Novembro; e como
não ha razão que a sua função se dilate tanto tempo, mando ordem ao sarg.to
mor Gabriel de Sousa, para q’ em meu nome asista a ella, e já q’ não tive o
gosto de a prezenciar me convido daqui p.a o Baptisado do pr.o filho p.a
contrahirmos parentesco mais conjuncto q’ o da prezença do matrimonio,
cujo Padrinho não passa de hûa Test.ª.
Pello P.e Commissario hirão já algûas providencias, que digão respeito a
poder v. m. reparar em alguma parte a grande perda q’ teve, e irão continuando
em forma a que v. m. se recobre della e fique melhorado.
Sempre a v. m. me tem certo para lhe dar gosto com o mais fiel e sincero
affecto. D.s G.de a v. m. m. m.tos annos. Pará 25 de Abril de 1857. Fr.co X.er de
Mendonça Furtado. - S.or Ant.o Landy -.”

Outras três vezes Mendonça Furtado assegura a Landi o


ressarcimento das perdas sofridas durante a sublevação da guarnição
de Mariuá (cf. Viterbo, 1964: 8-9):

“A Antonio José Landy - Ainda que sem hû instante de meu na occasião


em que me acho de expedir huma embarcação para Lx.a; furto ás obrigações
do officio o pouco tempo q’ basta para segurar a v. m. não só o quanto
estimo que se lhe conserve uma perfeitissima saude mas repitirlhe o q.to sinto
que v. m. tivesse o desgosto de o roubarem esses insolentes, e já sigurei a v.
m.ce que podia estar certo q’ eu havia de concorrer quanto fosse possivel para
v. m.ce se ressarzir daquella perda, e pode v. m.ce estar certo na m.a vontade, e
q’ tudo o que não for perjudicar a terceiro heide fazer para que v. m.ce consiga
aquelle fim.
Por humas canoas q’ daqui hãode partir brevemente escreverei a v. m. com
mais largueza, e sempre dezejo mostrar a v. m.ce o affecto com q’ dezejo
darlhe gosto. D.s G.de a v. m.ce m.os m.s annos. Pará 15 de Mayo de 1757. Fr.co
X.er de Mendonça Furtado - S.r Antonio José Landy.”

“A José Antonio Landy. - Como me não esquece nunca concorrer p.r tudo
que for reparar o damno que v. m.ce teve com a fugida dos soldados e da
mesma sorte para tudo o q’ poder ser fortuna sua, vay a carta incluza p.a o
Sargento mor comand.e dar a v. m.ce huma esquipação boa p.a mandar fazer o
seu neg.o, e estimarei que seja nella bem succedido.
A minha viagem já não poderá ser senão depois da partida da frotta, e se
D.s me conservar a vida terei então o gosto de ver a v. m.ce, e como o susto que

52 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


teve com a deserção dos d.os soldados fica mais distante, já o acharei então
mais succegado.
Estimarei que v. m.ce tenha huma completa saude e q’ me dê repitidas
occasiões de lhe dar gosto, nas quaes me empregarei sempre com a mayor
vontade. D.s g.de a v. m.ce. Pará 5 de julho de 1757. Fr.co X.er de M.ça Furtado -
S.r José Antonio Landy.”

“A Jose Antonio Landi - Apenas tenho tempo na occasião em que me


acho p.a dizer a v. m.ce que tenha tido as perdas que me diz, e como são bens
da fortuna Deos os dá e os tira como he servido, e o q’ posso tornar a sigurar
a v. m.ce hé q’ em tudo que couber no possivel heide concorrer para q’ v. m.ce
restaure aquelle damno.
Aqui tive a noticia de q’ a sua canoa viera a salvam.to com 500 e tantas
arrobas de cacao, e na da Aloca dos Abacaxis lhe vieram tambem a v. m.ce 95
que me dizem que tudo se entregou ao Proc.or do Coll.o que tinha ordem de
v. m.ce p.a o receber com q’ esta ajuda de custo já pode em alguma parte essarsir
aquelle prejuizo.
Como espero em D.s brevem.te ver a v. m. nesse Arrayal não tenho mais
que dizerlhe de que sempre me hade achar para lhe dar gosto com a mayor
vontade. D.s g.de a v. m.ce m.tos annos. Pará 2 de Agosto de 1757 - Fr.co X.er etc
- S.r José Antonio Landi.”

Schwebel regressa a Lisboa.


1758 - A 15 de janeiro Mendonça Furtado deixa Belém, outra vez rumo a
Mariuá, desembarcando no arraial a 24 de abril. A 6 de maio graduava
o arraial em condição de vila, com o nome de Barcelos. Abandona
definitivamente essa vila, para chegar a Belém a 26 de dezembro.
1759 - Francisco Xavier de Mendonça Furtado parte para Lisboa, de Belém,
a 7 de março. Manoel Bernardo de Mello e Castro assume o cargo de
(20º) Governador do Grão-Pará.
A 13 de outubro é dado início ao contrato de arrendamento da
olaria instalada no antigo Hospício de S. José, que pertencera aos religiosos
da Província da Piedade, em Belém. A criação dessa olaria pretendia suprir
a falta de produtos essenciais aos habitantes do Pará, que até aí tinham
apenas sido fabricados e comerciados pelos jesuítas nas suas olarias, a preços
elevados. O contrato é realizado com o alferes João Manuel Rodrigues.
1760 - Chega ao Pará o 4º Bispo de Belém, D. Frei João de S. Joseph
Queiroz (31 de agosto) (cf. Papavero et al., 2000: 273-280). Landi, de

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 53


volta a Belém; carrega em um navio destinado a Lisboa 221 arrobas de
cacau. O alferes João Manuel Rodrigues oferece sociedade de sua olaria
ao capitão Antônio Gonçalves e Antônio José Landi, e acaba por desistir
a favor dos dois sócios. As dificuldades com a laboração da olaria,
sobretudo associadas com a deserção dos índios contratados, que obrigou
à sua substituição por negros, devem ter criado problemas difíceis de
superar, que levaram Landi e o capitão Gonçalves a permanecerem à
frente da olaria por mais um ano, e por especial pedido do Governador.
1761 - A 12 de fevereiro, José da Silva Pessanha, por parte de Portugal, e
D. Ricardo Wall, em nome de Espanha, assinam na cidade do Pardo,
devidamente autorizados pelos respectivos governos, um novo Tratado,
de três artigos, pelo qual o de Madri ficava cancelado, cassado e anulado,
com todos os mais ajustes e obrigações que dele decorriam, como se
nunca houvesse existido ou tivesse sido executado, destarte regressando-
se, no Oriente e no Novo Mundo, à situação anterior de Madri, isto é,
fronteiras indeterminadas. Suspensão dos trabalhos de demarcação,
embora já antes desta data a comissão portuguesa tivesse interrompido
a sua atividade. Mendonça Furtado, então Secretário de Estado adjunto,
em carta dirigida a seu substituto no cargo de Governador, Manuel
Bernardo de Mello e Castro, ordena o retorno de Brunelli e de Landi a
Lisboa, onde se “poderão empregar mais utilmente no Real serviço”.
1762 - Landi dirige ao Rei um requerimento, pedindo autorização para
estabelecer em Belém “huma fabrica de louça vidrada [...], officina
bem preciza para a comodidade de todos os moradores, pois caressem
muito deste genero de louça, e sera muito util o dito estabelecimento
não so pelo interesse deste Estado, mas porque com este exemplo se
animarão muitos a fazer outras similhantes obras com que tanto se
ennobressem as cidades florescendo nellas as Artes Mecanicas”. Não
se sabe se seu pedido foi deferido e se, em caso afirmativo, chegou a
fabricar tal louça.
1763 - Fernando da Costa de Ataíde Teive, o 21º Governador do Grão-
Pará (14 de setembro). Brunelli regressa a Lisboa, onde permanece
pelo menos até 1769, como professor de Geometria Elementar, no
Colégio dos Nobres.
Landi, a pedido do novo Governador, permanece em Belém, já
que estava ocupado “...no Arsenal de Sua Magestade, e em actual
incumbencia de fazer a igreja nova da Freguesia de Nossa Senhora de

54 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Campina, e necessario para a factura do Palacio da residencia dos
Excelentissimos Senhores Generais do Estado, e da obra do Hospital
Real”. Como argumento final é ainda mencionado o casamento de
Landi, já ajustado, com a filha do Sargento-Mor Prático João de Sousa
de Azevedo, proprietário de feitorias de cravo e cacau e de uma fábrica
de anil. Mendonça Furtado aceita o pedido do Governador.
A 27 de agosto, um ofício do Conselho Ultramarino ordena a
suspensão do pagamento aos oficiais contratados para as Demarcações
no Norte do Brasil, à exceção de Landi e de três outras pessoas. Landi
continuará a receber o mesmo salário de 300.000 réis por ano, pagos
mensalmente.
1766 - Por carta régia de 19 de abril, Landi recebe a patente de Capitão de
Infantaria de Ordenança de um dos terços da cidade do Pará. Adquire
a fazenda e o engenho de Murutucu, situado na margem esquerda do
igarapé do mesmo nome, afluente da margem direita do rio Guamá,
formado pela reunião dos igarapés Utinga e Boiacucuara, e pouco
depois a fazenda de Utinga, ambos em Belém. Plantou inicialmente
cana de açúcar e fabricou açúcar, no engenho, com mão-de-obra índia
(70 pessoas no total); a produção chegou, em 1767, a 3500 arrobas,
que enviou a Lisboa.
1768-1772 - Luís Pinto de Sousa Coutinho governador da Capitania de
Mato Grosso e Cuiabá.
1769 - Brunelli deixa Portugal e regressa a Bolonha.
1771 - A 3 de julho D. José I designa Luís de Albuquerque de Melo Pereira e
Cáceres governador e capitão-geral da Capitania de Mato Grosso e Cuiabá.
1772 - João Pereira Caldas, o 22º Governador do Grão-Pará (21 de
novembro). Data mínima provável em que Landi (então com 59 ou
60 anos) escreveu sua Descrizione di varie Piante, Frutti, Animali,/ Passeri,
Pesci, Biscie, rasine, e altre simili/ cose che si ritrovano in questa Cappitania del/
Gran Parà, le qualli tutte Antonio Landi de-/dica a sua Eccl:ca il Sig.e Luiggi
Pinto de Souza/ Cavaglier di Malta, e Governatore del Matto Grosso/ il quale
con soma fatica e diligenzza investigò/ moltissime cose appartenenti alla storia natura-
/le, e delle quali si potrà formare un grosso/ uolume in vantaggio della Republica
Letteraria.
1775 - Landi aparece no inventário realizado após a extinção da Companhia
Geral do Grão Pará e Maranhão com uma dívida de 366$115.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 55


Reinado de Dna. Maria I e Dom Pedro III (1777-1792)

1777 - Falecimento de D. José I. Início do reinado conjunto de D. Maria I


e Dom Pedro III (24 de fevereiro). Tratado de Santo Ildefonso.
1778 - O “Mapa das Famílias da Capitania do Pará”, uma espécie de
censo da população, fornece indicações interessantes sobre a
composição da casa de Landi, o seu agregado, os serviçais e os
escravos, além de informações sobre o emprego, o ofício e a situação
econômica - “Freguesia de Santa Ana - No. 268 - Nome: Antônio José
Lande [sic]. Qualidade: branco. Estado: viúvo. Emprego: capitão auxiliar.
Ofício: desenhador. Pessoas do seu agregado: 1 fêmea menor. Pessoas
efetivas de soldada: 1 macho adulto, 1 fêmea adulta. Escravos: machos - 8
menores, 23 adultos: fêmeas - 3 menores, 13 adultas. Totalidade da família:
51 pessoas. Nota da possibilidade e aplicação dos cabeças das famílias:
remediado com aplicação”. Landi tinha, pois, nessa época, uma filha menor.
Vivia nas proximidades da igreja paroquial de Santana, na atual rua
Padre Prudêncio (que em 1783 era conhecida como rua do Landi).
Essa sua única filha, Ana Teresa de Sousa de Azevedo Landi, viria a
casar com João Antônio Rodrigues Martins, filho do capitão João
Manuel Rodrigues, um abastado proprietário do Pará, que foi
vereador da Câmara de Belém e que tivera sociedade com Landi na
arrematação da olaria da cidade. Do casamento de Ana Teresa com
João Antônio Rodrigues Martins nasceram três filhos - João Marcelino
Rodrigues Martins, que viria ser coronel do 1º Regimento de Milícias
do Pará, brigadeiro e intendente interino da Marinha, Ângela Joana
Pereira Martins, que casou com o tenente-coronel Francisco Marques
d’Elvas Portugal e uma terceira filha, que parece ter morrido jovem.
A filha Ângela viria a herdar a fazenda do Murutucu (Salles, 1968:
19-21).
1779 - As finanças de Landi marcham bem, pois chega a enviar para a
Casa da Moeda da cidade de Lisboa, a 23 de novembro, duas barras
de ouro no valor de 179$568.
1780 - José de Nápoles Tello de Menezes, o 23º Governador do Grão-
Pará (4 de março). Dá posse ao ex-governador José Pereira Caldas do
cargo de Governador e Capitão-General do Mato Grosso e
Plenipotenciário e Comandante Geral da nova Expedição de
Demarcações que, segundo o Tratado de 1777, deveria trabalhar no

56 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


rio Negro e Mato Grosso, sobre os términos das possessões das
monarquias portuguesa e espanhola na América Equinocial.
Em carta dirigida à Corte, em 19 de novembro, Landi diz: “[...] e
fui mandado tratar da plantação de cacao, caffé, e arros, e ainda da
olaria, que tenho feito hum grande numero de tijolos, e alguma telha
para as fabricas que se tem feito nesta cidade, o que he bem constante”.
Sabemos então que em seu engenho de Murutucu tinha também, desde
há certo tempo, uma olaria. Nessa mesma carta dirigida ao Conselho
Ultramarino, tenta justificar a falta de produção de açúcar, pela
dificuldade em encontrar mão-de-obra, disponibilizando-se, contudo,
para o fabricar, desde que a Capitania lhe forrnecesse os meios
necessáerios: “Os cobres e mais preparos, eu os tenho todos, e nada
mais me falta, que a gente perciza para laborar, e formo tenção para o
mês de Mayo do anno vindouro de 1781 fazer um canavial competente,
para o fabrico do asucar, e para isso, espero se me concedão alguns
indios, que bastarão athé vinte por tempo de 4 mezes somente para
ajuda de roçar, e emcoivarar, que a planta com a minha gente a farey. E
tãobem depois para a ocazião de moer então seram dês indios, e dês
indias, só naquelle tempo de moer”.
1783 - Martinho de Souza e Albuquerque, o 24º Governador do Grão
Pará (25 de outubro). Chegada em Belém de Alexandre Rodrigues
Ferreira. Landi é juiz da Irmandade do Santíssimo Sacramento da
Paróquia de Santana. Nesse ano oferece àquela igreja um relicário em
prata com uma partícula de um osso de Santana, que pertencera a
Jacopo Landi e era acompanhado por documento de autenticação
passado pelo arcebispo de Bolonha, e traduzido do latim pelo escrivão
da Câmara de Belém.
1784-1788 - Com 70 anos Landi parte de novo para o rio Negro, onde
chega a 24 de abril de 1784, para apoiar, como desenhador de mapas,
a segunda Comissão de Demarcação de Fronteiras, nomeada a seguir
ao Tratado de Santo Ildefonso, de 1777. A decisão de enviar Landi
para o interior fora tomada a 31 de agosto de 1783, ordenando
Martinho de Mello e Castro ao recém-empossado governador do Pará,
Martinho de Sousa e Albuquerque, que logo que chegasse ao Pará,
fizesse partir Landi.
A 10 de setembro de 1786, provavelmente a instâncias de
Alexandre Rodrigues Ferreira, Landi escreve, em italiano, uma Relacione

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 57


del principio, che ebbe la capella di Santa Anna, con li successi accaduti fino al
presente. 10 Settemb. 1786 (“Relação do princípio que teve a capela de
Santana, com os sucessos acontecidos até o presente”) (cf. Ferreira, s/
d: 317-322), cujo teor é o seguinte:

“Nell’anno 1744 in circa, tempo nel quale governava questa Villa, allora
ditta Mariuá, Frai Giuseppe Magdalena, Missionario Carmelitano, stando
esso in città tratando delli suoi negocii, venero in contesa li due Principali
Ouyana, e Gianauitary, e tanto da una, quanto dall’altra parte, vi ebbero
alcune morti, e si non fossi accorso il Principale comandri [?], che qui era il piu
rispettato, le cose sarebbero andate piu avanti: Con tutto cio, il principale
Ouyana usci dalla Villa, e condussi con se tutta la sua gente.
Arrivato che fu il Missionario Magdalena, molto senti li passati disturbi.
Diede inconbenza al Principale comandri, per che fosse a praticarlo per parte
sua; e in fatti fu felice nella sua Ambasciata, perche placò Ouyana, che condusse,
con se, con tutti li suoi suditi, e fece pace con Gianauitary.
Fratanto, nel tempo che si stava trattando lo aggiusto delle principali, il
Missionario fece promessa a S. Anna di dedicarli una Capella á suo onore, e
cosi fece dopo il ristabilimento del dito Principale.
Finita che fu, si celebrò il Santo Sacrificio della Messa; e fu il tempo, che
questo populo unito alli medesimi Indij, presero divoccione a questa Gloriosa
Santa.
Questa Capella, al dire di Francesco Xavier di Andrada, fu di poca durata;
perche essendo stata edificata di ligname assai molle, era necessario avervi
sempre le mani sopra; onde stanco il Missionario di vederla de continuo rato
pare diede incombenza al sopraditto Andrada, perche la redificasse in maniera,
che le ingiurie delli tempi non li potessero nuocere; e cosi fece; ma l’errore
grande fu lasciarla nel medesimo luogo da prima, per essere molto vicina a
questo fiume, non mai sacio di distrugere le inimiche sue sponde.
Nell’anno 1755 dopo di averli fatto un sepolchro nella chiesa, che
rapresentava un Tempio di Ordine Dorico, con colone striate, e fasciate di
rose misturate con spine, tanto piacque al Magdalena, che il giorno venturo fu
a ritrovarmi, e pregò a volerli dipingere la facciata esteriore, che introduce
all’Altare di Santa Anna. Qui non ebbe molto che dire; perche sino dalla piu
tenera mia età, mi gloriai di servire questa mia venerata Prottetrice. Di subito
mandai a far li ponti, e diedi principio a dissegnare la sopraditta facciata, ma
essendo io solo mi conveniva afaticare, piu del costumato.
Poche settimane dopo, mi convene tralasciare per molto tempo il
principiato lavoro, perche fui destinato da Sua Eccelenza, il signore Francesco
Xavier Mendonça Furtado, di andare al descimento di Macanacassary; dopo

58 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


di essersi perduto quasi due mesi, e al mio ritorno nulla potè fare, perche Sua
Eccelenza mi condusse con se alla fondacione della Villa di Borba, posta nel
Rio Madeira.
Nel principio di Genaro de 1756 ritornassimo a Mariuà, e il giorno dopo
intrapesi il lavoro, e finito che ebbi di dissegnare il Prospetto, mandai a fare li
ponti allo intorno della capella, e senza altro dire al Magdalena, incominciai a
dissegnare tutto allo intorno, perche li due Pittori Francesco Xavier de Andrada,
e il Soldato Thomazo non sapevano mettere a suo luogo il chiaro-oscuro, e
mi convene sbbozare io tutta l’opera, e ad essi lasciai li ornamenti, e li festoni
di fiori, e frutta al naturale, che fecero assai piu che passabilmente, e davano
molto rissalto al chiaro e oscuro. Si pensò poi a celebrare la Festa di detta
Santa; e fra tanto, si prese Andrada sopra di se l’impegno di eseguire tutto
quello, che pensato aveva, e vi riusci con molto suo onore e ricevè dalli divoti
della Santa in dono tutte quelle cose, che erano necessarie all’abellimento della
capella.
Il primo fu Sua Eccellenza il Signore Francesco Xavier Mendonça Furtado,
che allora si ritrovava in questa villa, per assistere come capo alle Demarcacioni
fra Sua Maestà Fidellissima, e il re di Spagna. Questo lasciò in dono un calice
di argento dorato, e da una pezza di Papagallo [?] fece tagliare quello, che era
necessario per coprire il pavimento del Presbyterio. Altri divoti si unirono, e
fecero le coltri di damasco cremesino alle quatro finestre, e alle due porte, che
introducevano l’una alla Sagristia, e l’altra al corridore. Un altro poi vi fu, che
preggiandosse di essere assai divoto di questa gloriosa Santa, e non contento
di avere affaticato non poco per suo amore, chiamò a sua casa un Sartore, e da
una pezza de settino di matizes [sic] che in Italia si chiama stoffa ricamata a
fiori, fece il cortinato della nichia dove stava collocata la statua di Santa Anna,
e dalla medesima pezza fece tagliare una pianeta, e per accompagnamento suo
si fece ancora il frontale. E perche non li parve conveniente che detto
ornamento avesse a servire li giorni feriali, d’altra pezza di rigato di varii colori
di seta, e filo, fece ancora una seconda pianeta, per li sudetti giorni. Diedi
ancora una croce di madreperla, con il crocefisso Signore di metallo dorato, e
varie reliquie nel vacuo della croce, con dieci candelieri di mensa di stagno. Li
altri Governatori, che seguitarono, diedero essi ancora li suoi doni: il Tinoco
diede sei candellieri di stagno di tre palmi e mezo, lavorati a uso di argento, e
vi lasciò le gagliete di argento, con tagliere, e altrro diede ancor esso sei candellieri
di legno, ottimamente intagliati, e in parte dorati, e in fine nulla mancava a
questa capella, che non potesse avere il merito di stare in una riguardevole
Capitania.
Arrivò finalmente il giorno di Santa Anna del anno 1756, che si celebrò
con una magnificenza grandissima, perche qui si ritrovavano tutti Missionarij
del Rio Negro e Solimões, che sembrava di avere qui un Monisterio di Religiosi.
La notte della vigilia vi fu una particolare allegrezza, non solo per la vaga

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 59


illuminacione di tutta questa Villa, mà molto piu per quella che si vedeva per
acqua, ma ancora nella selva opposta. La grande Giangada di quatro piramidi
nel mezo, e il torrione di mezo, richi di molti centanarie di lumi, che riflectevano
nell’acqua, con assieme la grande canoua, che la governava con un concerto di
sinfonie, diedero un piacere non ordinario; e le manobre, che fecero avanti
dell’abitacione di Sua Eccelenza, con le salve date a tempo, fecero onore alli
condotiere: la matina si celebrò la Messa solemne, e vi assistì Sua Eccelenza in
gala, con il numeroso accompagnamento di tutta la Officialità e terminò con
un lauto pranso dato dal Magdalena, nel quale intervene Sua Eccellenza, al
dopo pranso vi fu la Processione con il sudetto accompagnamento. Dopo
finita la Funcione, fu consegnata la capella a Francesco Xavier de Andrada, che
con molta pacienza la conservò sino alla sua caduta, nell’essere, in cui li fu
consegnata.
Essendo io ativato sulla fine de Aprile dell1anno 1784, e accostandosse la
Festa di Santa Anna, fui informato che, lamentandosse alcuni divoti della
perduta capella, avevano già, ad instanza del Andrada, racolto alcun denaro, e
che si erano dati diessi Indij a fine di rifabricare la capella, e il tutto ascendeva
a dugento mile réis, mà che sino ad ora di nulla piu si era parlato, ne quasi si
sapeva in quale mani fosse caduta il sopradetto denaro. In questo anno
nacquero discordie fra li confratelli; si celebrò la Festa, mà non aparvi il Giudice.
Non si fece la eleccione per la Mesa; e perche non andasse in disuso una si
pia solemnità, la fece il Vicario Generale, e sicome si prese per Prottectore
questo Eccellentissimo Signore Giovanni Pereira Caldas... conticueres omnes...
In questa eleccione fui nominato Giudice: onde valendomi di questa
occasione feci sucitare la reccione della Capella. Ad instanza di alcuni delli
antichi divoti, ne parlai a Sua Eccellenza, e come questo Signore mai andò
schivo delle cose appartenenti al culto Divino, non solo aprovò la meditata
idea, ma promise aiuto, e socorso, e il primo fu di dodici Indij, che dipoi
acrebbe sino a venti, e nel giorno, che su procurarono l’elemosine, offerce
cinquanta mila reis: il Vicario Generale diede altre cinquanta mila; venti mila
ne diede il commandante Dominico Franco, Sarg. Maggiore; dieci mila
furonoofferti e dati da Antonio Giuseppe Siqueira. Antonio Giuseppe Landi
diede otto mila reis, e dugento quaranta alquiere di calce di pietra del Regno,
che mandò a venire in tre volte nella sua canoua, e promise li suoi due schiavi
Maestri muratori, con li suoi aprendici, per un anno, e subito mandò ordine,
che li fossero transmessi, ma il Potere Episcopale ebbe maggior potere che
l’ordine del suo Signore. Sino al presente sta la capella terminata delli legnami,
che abbisognava, e sarebbe coperta di tegole, si le due ollarie, che qui abbiamo,
non stassero dormiliose, e senza lavoranti.
Il dissegno era di fare una capella rotonda, di diametro di quaranta palmi;
ma come mi avide, che con il concorso dell’elemosine non si sarebbe poputo
condurla a fine, la ridussi in un parellelogramo di ... palmi in lungo, e 30 in

60 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


largo, con altre tanto per la capella, che è per la metà del suo corpo. Questa
dovrebbe essere assistita della Camera stessa, perche la chiesa Matrice, che stà
con le parete torte, e già fatta la reggia del - cupim - non aurá molti anni di vita,
e in tale caso potrà servire questa per Matrice”.

Em 1788 Landi foi vitimado por uma “grave e perigoza molestia


de um estupor”, conforme é comunicado ao Governador do Pará
por João Pereira Caldas, a 28 de abril, provavelmente um acidente
vascular cerebral. Gozando Landi eventualmente de um período de
leves melhoras, o comissário aproveitou o ensejo para fazê-lo recolher
à cidade de Belém.
1788 - A 11 de fevereiro, Brunelli termina de escrever De Flumine Amazonum
[Códice B-2730, Gabinetto Manoscritti, Biblioteca Comunale
dell’Archiginnasio di Bologna], com notas sobre a fauna e a flora do
Brasil, onde segue a classificação de Linnaeus. Não se sabe a data de
sua morte. Segundo Viterbo (1962: 66), “Em 1818 a Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro comprou ao arquitecto José da Costa e Silva a sua
[de Brunelli] colecção de desenhos, pinturas, estampas, camafeus, moldes
e livros, impressos e manuscritos. Entre estes, uns 20, quase todos em
língua italiana, de letra de Brunelli. (Vide Annaes da Bibliotheca, vol. IV, fl.
IX)”.
1790 - Francisco de Souza Coutinho, o 25º Governador do Grão-Pará (15
de junho).
1791 - Landi tornado membro da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco
da Penitência, que tinha a sua sede na capela anexa ao Convento de São
Francisco.
Morre Landi, a 22 de junho, na sua fazenda de Murutucu, com
quase 78 anos de idade. O seu funeral foi acompanhado por uma salva
de “78 cartuxos sem balla e 60 pederneiras [...] honra devida pelo cargo
de capitão auxiliar de artilharia”. Foi sepultado na igrega de Santana,
em Belém, onde não existem mais evidências de seu túmulo.
Como bem diz Meira Filho (1976: 26): “A ele e a seu gênio criador,
Belém ficou a dever seus mais belos monumentos religiosos: a conclusão
das obras da Catedral, a reconstrução quase total da Igreja do Carmo
(ele deixaria o altar-mor da construção anterior - 1708/1721), a igreja
das Mercês, o templo do Rosário dos Homens Pretos, a Igreja de
Santana, a Capela de São João Batista, a Capela do Murutucu, o Palácio

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 61


dos Governadores, o Palacinho de Souza de Azevedo (sogro do artista,
à esquina da Rua da Cadeia com a do Pacinho, hoje João Alfredo e
Campos Sales, respectivamente [cf. também Cruz, s/d]), a residência
de Alves da Cunha (esquina da rua da Cadeia com a rua do Laranjal,
hoje João Alfredo com Frutuoso Guimarães, respectivamente [cf.
também Cruz, s/d]) e outras. Muitos projetos e construções no interior,
no rio Negro e em vários pontos onde sua arte foi chamada e
proclamada”.
1792 - Dna. Maria I afastada do governo. Dom João III assume o poder.
Através de um requerimento enviado à Corte, pedindo justiça contra
as arbitrariedades do Juiz de Fora, o Dr. Joaquim Rodrigues Milagres,
sabemos que a viúva de Landi (seu terceiro casamento, em data
desconhecida) era Francisca Margarida Roza da Fonseca.

62 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Transcrição do Códice Tradução

Descrizione di varie Piante, Frutti, Descrição de várias Plantas, Frutas,


Animali,/Passeri, Pesci, Biscie, rasine, e Animais,/ Aves, Peixes, Cobras, raízes,
altre simili/ cose che si ritrovano in questa e outras coisas/ semelhantes que se acham
Cappitania del/Gran Parà, le qualli tutte nesta Capitania do/ Grão Pará, as quais
Antonio Landi de-/dica a sua Eccl:ca il todas Antonio Landi de-/dica a sua
Sig.e Luiggi Pinto de Souza/Cavaglier di Exclcia o Sr. Luiz Pinto de Souza,/
Malta, e Governatore del Matto Grosso/ Cavaleiro de Malta, e Governador do
il quale con soma fatica e diligenzza Mato Grosso,/ o qual com muita fadiga e
investigò/ moltissime cose appartenenti alla diligência investigou/ muitíssimas coisas
storia natura-/le, e delle quali si potrà pertencentes à história natural/ e das quais
formare un grosso/ uolume in vantaggio se poderia formar um grosso/ volume com
della Republica Letteraria.// vantagem para a República Literária.//

P. 1 P. 1

N. 1. Caggiù N. 1. Caju

È arbore frutifera, e hà di due qualità:/ É árvore frutífera, e tem duas qualidades:


il primo cresce alla altezza delli Arbori/ a primeira cresce da altura das árvores/
comuni e il secondo è Arbusto e di ques- comuns e a segunda é arbusto e des-/tas
/ti se ne ritrouano selue ripiene. li frutti/ encontram-se bosques repletos. Os frutos/
sono ugualli senon che questi ultimi sono/ são iguais, a não ser que estes últimos são/
più picoli, e più dolci delli altri. Le foglie/ menores, e mais doces do que os outros. As
di queste piante sono lar ghe, e si folhas/destas plantas são largas, e
acostano/ alla figura ouale, e nelle aproximam-se/da forma oval, e nas
estremità, sono al-/cun poco diuise, e extremidades são um/ pouco divididas, e
grosse. Li fiorellini, cres-/cono a grossas. As florzinhas cres-/cem em
mazzetti nelle estremità de’ rami -/ sono macinhos nas extremidades dos ramos; são
molti, picoli, e mischiati di uarj collori,/ muitas, pequenas, e matizadas de várias
a dove bianco, giallo, e rosso, mà non cores, branco, amarelo, e vermelho, mas não
fano di/ se buona figura. il loro odore se fazem em/ si boa figura; seu odor, se não
non è gra-/to, non è disprezabile, quando é agradá-/vel, não é desprezível; quando
allignano le/ frutta, lasciono prima produzem os/ frutos, fazem primeiro ver
uedere il suo seme che/ nel fondo sta sua semente, que/ no fundo está pendente,
pendente, e attaccato al frutto/ il qualle e aderida ao fruto,/o qual será do
sarà lungo da due sino a tre po-// comprimento de 2 a 3 po-//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 63


P. 2 [Falta na col. Meira Filho] P. 2 [Falta na col. Meira Filho]

P. 3 [Ginipapo. Falta na col. Meira P. 3 [Jenipapo. Falta na col. Meira


Filho] Filho]

P. 4 P. 4

assai ingrato. con tutto ciò se ne seruono/ assaz ingrato: com tudo isto, muitos [dele]
molti per conforto, e essendo alcuno debili- se/ servem para [seu] conforto, e estando
/tato per alcuna malatia. lo ammassano alguém debili-/tado por alguma moléstia,
con/ uino, e canella; dipoi lo mettono sopra amassam-no com/ vinho e canela, metem-
il/ uentre dello Infermo, e dicono, che è no depois sobre o/ ventre do enfermo, e
un/ grande confortativo. Il suo legno è di dizem que é um/ grande reconfortante. Seu
ra-/za bianca come il figo, cresce alto e lenho é de cor/ branca, como o do figo,
diritto/ e è quasi del colore del argento, cresce alto e reto/ e é quase da cor da
mà molto fino./ il suo prestimo è per lauori prata, mas muito fino./ Seu préstimo é
fini, per inta-/gli, per imbutitture, e per para trabalhos finos, para enta-/lhes, para
Corrogne da Spingarde.// aplicações, e coronhas de espingardas.//

N. 3. Caffè N. 3. Café

Non è Arbore grande, ne molto dura, mà/ Não é árvore grande nem muito dura,
però fa bella pompa di sè stesso. Il suo/ mas/ entretanto faz bela figura em si
tronco sarà per lo più della grossezza di mesma. Seu/ tronco terá no máximo a
un/ bracio umano, e non sorpassa li grossura de um/ braço humano, e não
quindici/ palmi in altezza. È assai ultrapassa uns quinze/ palmos de altura.
frondoso, e le fo-/glie sono poco differenti É muito frondoso, e as fo-/lhas são pouco
dal nostro Alloro// diferentes do nosso loureiro,//

P. 5 P. 5

ma di uerde più chiaro. Buttano li fiori mas de um verde mais claro. Deitam as
di/ Marzo, e questi fra le foglie, che crescono flores em/ março, e estas entre as folhas,
a/ due a due, ma in grande copia, e que crescem/ duas a duas, mas em grande
solamente/ di Agosto si uedono finiti. La número, e somente/ em agosto se vêm
sua figura è si-/mile a’ nostri gelsomini completas: o seu aspecto é se-/ melhante
seluatici, mà più pico-/lini e di più non aos nossos jasmins silvestres, mais peque-/
tengono che quatro filla, le qua-/li le stano ninas e além disso só têm quatro fileiras,

64 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


nel mezo, onde fioriti che sieno, sembra/ que/ ficam no meio, onde, assim que estão
che sparssi sieno di neue le foglie. Questi floridos, as/ folhas parecem cobertas de neve.
fio-/ri durano pochi giorni, e rendono poco Estas flo-/res duram poucos dias, e emitem
odore./ Fra tanto che allignano li frutti, pouco odor./ Assim que medram os frutos,
tornano da/ un Mese, o più a buttare tornam em/ um mês, ou mais, a deitar
nuoui fiori anche/ fra mezo alle crescenti novas flores, mesmo/ em meio aos frutos
frutta, onde ne aviene/ che sempre sono que crescem, de onde sucede/ que sempre
carichi, o di fiori o frutti, li/ qualli poi estão carregados, ou de flores ou de frutos,/
maturano con forza in Marzo,/ e la sua os quais depois amadurecem com força em
grossezza è come un grano di uua/ del março,/ e seu tamanho é como o de um
colore chiamato Carmino, onde da uicino/ grão de uva/ da cor chamada carmim, e
e da lontano, fano bellissima vista. Ogni portanto de perto/ e de longe apresentam
uno/ di questi grani sta chiuso in una poca uma belíssima vista. Cada um/ destes grãos
di/ massa di un dolce assai grato e resta está encerrado em um pouco de/ uma massa
di-// de uma doçura muito grata e fica di-//

P. 6 P. 6

viso in due parti chiuse cadauna da un gus- vidido em duas partes fechadas cada uma por
/cio assai sottile. A perfecionarlo, si cas-/ca muito fina. Para prepará-lo, colhe-
racoglie/ a mano quando è assai incarnato, se/ com a mão quando está bastante
si mette/ in monte, ui si lascia stare alcun encarnado, põe-se/ num monte, e ali se deixa
giorno,/ perchè marcisca la pelle, di poi si estar por um dia,/para que se desfaça a pele,
dimena/ con le mani e con li piedi, e questo depois se agita/com as mãos e com os pés, e
fatto/ si uà lauando sino a tanto che sia isto feito/vai-se lavando até que fique limpo
neto dalla/ sopradetta pele. Dipoi si mete da/supradita pele. Depois põe-se ao sol ou
al Sole o ui/ si lascia sino a tanto che sia deixa-/se estar até que esteja muito bem se-
molto bene se-/cato, dipoi si custodisce ne’ /co, depois se guarda em sacos com a segunda/
sachi con il secondo/ guscio, e ad ogni Mese, pele, e a cada mês é bom dar-lhe um pouco/
buono è darli un poco/ di Sole perchè lo de sol para que a umidade não o faça tornar-
umido non lo faccia uenire/negro. Quando se/ negro. Quando então vem o tempo de
poi è tempo di caricarlo per/Lisbona, si mandá-lo a/ Lisboa, põe-se pouco a pouco
mete a poco a poco in Pilloni di/legno e con em pilões de/madeira e com uma mão de
bastoni si pesta tanto, che si/spezzi quel pilão se mói tanto, até que/se esmague aquela
tenero guscio, che è quello, che lo/ costudise tenra pele, que é a que/o guarda, e assim está
e così stà preparato. Il legno è/ molto fragile, preparado. A madeira é/ muito frágil, e para
e a nulla serue. Quando poi/ tiene dieci o nada serve. Quando então/ tem de dez a
dodici Anni, si recida uicino// doze anos, corta-se-o próximo//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 65


P. 7 P. 7
al Piede, e cosi rinuoua dando subito il ao pé, e assim ele se renova, logo dando o
fru-/tto ma’ seminandolo, da dentro al fru-/to sem jamais semeá-lo, dentro do
termine/ di tre Anni. E è Pianta che dà termo/ de três anos. E é planta que dá
bene en/ ogni terreno asciuto.// bem em/ qualquer terreno seco.//

N. 4. Iggiò [+ Scipò-una] N. 4. “Iggiò” [?] [+ Cipó-una]

Questa è Pianta che non la ritrouo col-/ Esta é uma planta que não encontro cul-/
tiuata, e la disegnai, perchè assaggian-/ tivada, e desenhei-a, porque, experimen-/
done il frutto, non era disgustoso. L’/altra tando o fruto, não era desagradável. A/
Pianta che stà nel detto foglio, è/ di un outra planta que está na mesma prancha,
Scipò, chi le stava auitichiato/ allo intorno, é/um cipó, que lhe estava grudado/em torno,
e intendesi per nome di Scipò-/una, o uarie e conhecido pelo nome de Cipó-/una, ou
piante che noi chiamiamo Vi-/dalpa, o várias plantas que chamamos Vi-/talba,
altre simile che si arrampicano.// ou outras semelhantes que trepam.//

N. 5. Atta N. 5. Ata

Questa non è di quelle Piante, che cres-/ Esta não é daquelas plantas que cres-/cem
chino molto in altezza o grossezza, ne tam- muito em altura ou largura, nem tam-/pouco
/poco é fro[.. ]. Le sue foglie, sono assai// é [frondosa?]. As suas folhas são bastante//

P. 8 P. 8

appuntate, e liscie, mà non aprono bene. aguçadas, e lisas, mas não se abrem bem.
Il/ fiore non è facile da intendersi ancor A/ flor não é fácil de entender, mesmo que
che fosse/ bene descrito, mentre nasce da fosse/ bem descrita, pois nasce de um
un gambo un/ ochio con tre foglie assai pedúnculo um/ olho com três pétalas
grosse da formare/ un triangolo, e sono bastante grandes formando/ um triângulo,
poco meno da di colore/ del Solfo, non e têm mais ou menos a cor/ do enxofre, não
rendono odore, e non hano gracia./ Il emitem odor, e não têm graça./ O fruto
frutto è grande como una Cipola ordina- tem o tamanho de uma cebola ordiná-/ria,
/ria mà è diuiso quasi come le pigne, mas é dividido quase como as pinhas, se bem
abbenchè/ la sua scorza vesti sempre que/ sua casca sempre se vista de verde, e
uerde, e quando/ è maturo è assai tenera, quando/ está madura é muito tenra, e se
e se dall’arbore/ non si lecca per tempo, das árvores/ não se o colhe em tempo, parte-
si parte in più pa-/rti, e cade per terra. se em várias par-/tes, e cai por terra. Seu

66 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


il suo midolo è bianco/ come il fiore di miolo é branco/ como a flor de copo-de-leite
Late, e ripieno di semi/ grandi come un [?], e cheio de sementes/ do tamanho de um
pignuolo con il guscio; sono/ lustri, neri e pinhão com a casca; são/ lustrosas, negras
duri. Il detto frutto si asciupa/ o si mangia e duras. O dito fruto chupa-se/ ou come-se
col cuchiaio. È dolce, gustoso,/ e lascia di com colher. É doce, gostoso,/ e deixa além
più un grato odore come di/ rosa, e sono disso um grato odor como de/ rosa, e sou
di parere che questo frutto/ sarebbe assai da opinião que esta fruta/ seria muito
preggieuole in Europa. Ho// apreciada na Europa. Tenho//

P. 9 P. 9

osservato, che nelle foglie di questa sola observado que apenas nas folhas desta
Pianta/ ui fano il nido certi picolissimi planta/fazem seu ninho certas pequeníssimas
muschini, li quali/ ui formano un mosquinhas, que/ ali formam um labirinto
laberinto come di capeli bianchi-/ssimi, e como que de cabelos bran-/quíssimos, e de
talmente intrecciati, che é una merauiglia/ tal forma entrelaçados, que é uma
e stritolati con le deta, se riducono in minu- maravilha/ e que esmagadas com os dedos,
/tissima polvere. Il legno non è atto ai reduzem-se a dimi-/nutíssima poeira. A
lauori.// madeira não serve para obras.//

N. 6. Giniparana N. 6. Jenipaparana

È questa una aruore assai grande, le sue/ Esta é uma árvore muito grande, suas/ folhas
foglie sono lunghe un palmo, e sono diuise/ têm o comprimento de um palmo, e estão
in quatro parti per mezo di tre gamboncini, divididas/ em quatro partes por meio de três
che/cominciano dal fondo della foglia, e si pedunculinhos, que/começam no fundo da
uniscono/nella estremità. Li fiori non folha, e se unem/ na extremidade. As flores,
ostante che si-/ano priui di odore sono assai não obtante serem/privadas de odor, são
belli e parti-/colari. Sono composti di sei bastante belas e parti-/culares. São compostas
foglie bianche, i/ qualli stano gallantemente de seis pétalas brancas, as/ quais estão
roversiate nelle/loro estremità participando galantemente reviradas em/sua extremidade,
di alcun collore/giallastro. E ogni una delle participando de uma cor/ amarelada. E
sudette foglie// cada uma das supraditas pétalas//

P. 10 P. 10

tiene un pezzeto della medesima separato tem um pedacinho da mesma separado e/


e/ come se fosse straciato, e lo rende como se fosse rasgado, tornando-a diferente/

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 67


differente/ da tutti. Nel mezo poi tiene un de todas [as outras]. No meio tem então
circolo com-/posto di fini nodi a uso di um círculo/ composto de finos nódulos, como
fibre, e la una è/ colore giallo, e l’altra fibras, e uma é/ de cor amarela, e outra
morello, e nel mezo resta/ uacuo per dare murzela, e no meio fica/ vazio para dar
luogo ad altri fiorellini che es-/chino fuori lugar às outras florzinhas que/ saem para
e tutto il fiore sarà largo poco/ più di un fora e a flor inteira terá de largura/ pouco
Filipo. Il frutto non differisse mol-/to dalle mais de um filipe. O fruto não difere mui-
Nespole, mà non si mangia. Il le-/gno è /to das nêsperas, mas não se come. O le-/
forte, e serue per molti lauori.// nho é forte, e serve para muitas obras.//

N. 7. Guiaua N. 7. Goiaba

È uno dei frutti stimati in queste parti,/ É um dos frutos apreciados nestas partes,/
mà è tanto abbondante, che si lascia per/ mas é tão abundante que se deixa de/ pasto
pasto a Buoui, e a Porci. Questa arbore/ è a bois e porcos. Esta árvore/ é grosseira,
sgarbrita, perchè cresce quasi sempre torta./ porque cresce quase sempre torta./ Suas folhas
Le sue foglie sono quasi ouali, non aprono/ são quase ovais, não abrem/ bem também
anch’esse bene, e sono di uerde scuro, mà// elas, e são de um verde escuro, mas//

P. 11 P. 11

grosse, e assai aspre. La sua prima grossas, e bastante ásperas. Sua primeira
cortecia/ è sottilissima e del colore, che sono casca/ é finíssima, e da cor que têm os
le carna-/ggioni scure. Sotto alla detta cravos/ escuros. Sob a dita casca existe/
scorza una/ altra ui stà uerde, attacata uma outra verde, pegada à terceira
alla terza bianca./ Li fiori poco differiscono branca./ As flores pouco diferem daquelas
da quelli de’ nostri/ spini. Il frutto è das nossas/ sarças. O fruto é redondo com
rottondo con scorza glo-/bosa mà assai casca glo-/bosa, mas bastante fina, e sua
fina, e la sua generale grosse-/zza è come espessura geral/ é como a de uma laranja
di un aranzzo ordinario, mà/ nel fondo ordinária, mas/ no fundo conserva quatro
conserua quatro foglietine, che/ sono grosse, folhinhas, que/ são grossas, e que ali
e li formano corona. Questi è/ tenero, formam uma coroa. Estes/ são tenros,
quando maturo e si mangia a trauersso/ quando maduros, e se comem ás bocadas/
como li persici, o le bicoche. Al didentro, como os pêssegos, ou como o abricô. Dentro
è/ bello, perchè di collore porpurino. In é/ belo, porque de cor púrpura. Quanto/
quanto/ al suo gusto è assai acido abbenchè ao seu gosto, é bastante ácido, se bem que
altri non/ lo sieno tanto. Io però lo trouo outros/ não sejam tanto. Porém eu acho
fastidioso al/ mangiarlo, non tanto perchè aborrecido/ comê-los, não tanto porque faz

68 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


fa diguignire/ li denti, quanto per le loro embotar/ os dentes, quanto por suas
sementi, che sono/ inumerabili, della sementes, que são/ inumeráveis, do tamanho
grandezza di un grosso gra-/no di arrena, de um grande/ grão de areia, e duras como
e duri come si fossero di pietra.// se fossem de pedra.//

P. 12 P. 12

onde ne aviene che mettendosi fra denti, ui/ Donde sucede que, metendo-se entre os
si conseruano fastidiosi per molto tempo, dentes, ali/ se consevam importunas por
e/ queste frutta sono assai uerminose. muito tempo, e/ estas frutas são muito
Dalle/ medesime poi si fà un dolce bichadas. Delas/ pode-se fazer um doce
squisitissimo/ a uso di una sodda excelentíssimo/ para usar como geléia
codognata, che sarebbe/ stimatissimo in [goiabada], que seria/ estimadíssimo em
qualunqe parte di Europa./ E in fine deuo qualquer parte da Europa./ Enfim, devo
dire, che il fiore non rende/ odore ma lo dizer que a flor não emite/ odor mas o
rende il frutto, e non disprezzabile./ Il fruto sim, e não desprezível./ Sua madeira
suo legno dura molto, ma a poco serue/ dura muito, mas para pouco serve/ por
per essere assai nodoso, e torto.// ser muito nodosa e torta.//

N. 7 [bis] [Anon.] N. 7 [bis] [Anon.]

Questa arvore non hà nome proprio, ne Esta árvore não tem nome próprio, nem
la/ ritrouo coltiuata; e anzi é la piu-/ma a/ encontro cultivada, e nem a pai-/na
da mé osservata. Nel dissegno,/ non si por mim observada. No desenho/ não se
uede il fiore perche non lo aue-/ua quando vêem as flores porque não as ti-/nha
mandai a tirare le frutta,/ che dall’arbore quando mandei retirar os frutos,/ que
pendeuano assai alte, ne/ il suo sapori lo pendiam da árvore, muito altos, e nem/ o
ritrouai disgustoso.// seu sabor encontrei desagradável.//

P. 13 P. 13

N. 8. Cupuassú N. 8. Cupuaçu

Tra li arbori, è uno di mediana grandezza, Entre as árvores, tem mediana altura, e/
e hà/ le foglie lunghe un palmo, e mezo, e as folhas de um palmo de comprimento, e
larghe/ la terza parte della lunghezza, de largura/ um terço do comprimento, na
nel dirito sono/ uerdi e dall’altra parte face superior são/ verdes e na outra parte
lanuginose, e di colore/ ciniricio. Nel fine lanuginosas e de cor/ cinzenta. No ápice

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 69


terminano con punta assai ri-/uolta e acute; terminam com ponta bastante/ virada e
il fiore hà cinqe foglie, vialtre/ al basso aguda; a flor tem cinco pétalas, por vezes/
assai picole, mà simili a quelle del Tulli-/ em baixo muito pequenas, mas semelhantes
pano a segno, che accopiono il gambo nella às da tulipa/ na forma, que se emparelham
par-/te doue stano attaccate. Le dete foglie no pedúnculo na par-/te em que se
sono bi-/anche nelle punte e rosse nel prendem. As ditas pétalas são bran-/cas
restante. Allo in-/torno delle descritte uissi nas pontas e vermelhas no restante. Ao re-
[sic] uedono cinqe globini,/ al uso di Cuore /dor das descritas, vêem-se cinco glóbulos,/
non più grossi di un grano di/ miglio em forma de coração, não maiores do que
Casserino, e ogni uno nelle sue estremità/ um grão de/ painço, e cada um deles, em
fà uedere altra foglia convessa del colo-/re sua extremidade,/ mostra outra pétala
della viola mamola, e sopra si uedono al-/ convexa da cor/ da violeta roxa, e acima
tre cinqe foglietine, che si assomigliano nel vêm-se ou-/tras cinco petalazinhas, que se
colore/ e fattura ad un Giacinto, e tutto assemelham na cor/ à forma de um jacinto,
sarà lungo// e o todo terá o comprimento//

P. 14 P. 14

una polegada. Il frutto è lungo un pa-/lmo de uma polegada. O fruto tem tamanho de
e rottondo, e termina con punta. Il suo/ um pal-/mo e é redondo, e termina em
casco è tanto grosso, che per batterlo ponta. Sua/ casca é bastante grossa, tanto
bisogna/ adoprare il martello, o batterlo que para batê-la precisa-se/ adotar um
in alcuna pi-/etra. Al didentro è composto martelo, ou batê-lo em uma pe-/dra.
di quatro or-/dini di sementi inuilupati nella Dentro, é composto de quatro fi-/leiras de
sua massa/ e formano un quarto di circolo. sementes envoltas em sua massa/ e formam
La suddet-/ta massa è bianca, mole, e um quarto de círculo. A supradi-/ta massa
lagunosa, onde/ non si mangia, mà si é branca, mole, e lacunosa, e por isto/ não
asciupa, e da nulla/ seruono le sementi, che se come, mas se chupa, e para nada/ servem
sono più grosse di una/ amendola. Da questo as sementes, que são maiores do que uma/
frutto se fà una be-/uanda, la quale si qui amêndoa. Deste fruto faz-se uma be-/bida,
si potesse gellare al/ uso de sorbetti, sarebbe que se aqui se pudesse gelar,/ como um
deliciosissima, mentre/ partecipa di un agro sorvete, seria deliciosíssima, pois/ possui um
gustoso, il quale, cor-/retto con il zuchero azedo gostoso, que, corri-/gido com açúcar,
riesce ottima, non os-/tante al acido odore torna-a ótima, não obs-/tante o odor ácido
che tramanda, e ent-/rando in una Casa que emana, e entran-/do em uma casa onde
doue alcuno ue ne sia,/ si sente da lontano, se encontrem alguns,/ sente-se de longe, e
e per questo non poteua/ io tolerarlo di por isto eu não os podia/ tolerar à noite.
notte. Quando è maturo,// Quando está maduro,//

70 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 15 P. 15

cade da sè stesso, e allora incomincia a tra- cai por si só, e então começa a ema-/nar
/mandare quel grato, e acuto odore, e non aquele grato e agudo odor, e não es-/tando
es-/sendo maturo, marcise, e non lo maduro, murcha, e não o emana. A/
tramanda. Il/ legno non serue a cosa madeira não serve para coisa alguma, digo,
alcuna, dico, che al diffuori/ il frutto è que por fora./ o fruto é coberto por um pó
coperto di una poluere minuta,/ che sembra diminuto,/ que parece ferrugem, e tanto
ferugine, e sino a tanto che du-/ra, dura quanto du-/ra, dura ainda o dito odor
ancora il detto acuto odore.// agudo.//

N. 9. Biribas N. 9. Biribá

Questa sorta di Arbore, in pochi/ Anni, Esta espécie de árvore, em poucos/anos,


cresce assai alta. La sua scor-/za tira al cresce bastante alta. Sua cas-/ca tende ao
bianco, e il legno è assai/ fragile. Il fiore, è branco, e a madeira é muito/ frágil. A
similissimo a quello/ dell’Atta descrita, flor é semelhantíssima à/da ata [já]
come lo sono ancora/ le sementi. Il frutto, descrita, como o são ainda/as sementes. O
è però diuerso/ perche al diffuori è pieno di fruto, porém, é diferente,/porque por fora
punte/ assai rileuate, è grande come una está cheio de pontas/ muito levantadas, é
pigna.// grande como uma pinha.//

P. 16 P. 16

quando è maturo, si fà giallastro con/ Quando está maduro torna-se amarelado


machie nere, e stritolandosi con le de-/ta, com/ manchas negras, e esmagando-se com
si apre; tiene dentro molta mas-/sa os de-/dos se abre; tem dentro muita mas-
lagunosa, che si mangia con il co-/chiaio, /sa lacunosa, que se come com uma co-/
ma a dire il uero, mi nausea./ Il suo gusto lher, mas para dizer a verdade, nauseia-
è dolce insipido, e per/essere molto me./ Seu gosto é doce insípido, e por/ser
abbondante, non è stimato.// muito abundante, não é estimado.//

N. 10. Abbacati N. 10. Abacate

Non è Arbore molto frondosa per/ auere Não é árvore muito frondosa para/ ter ramos
li rami larghi, mà però cresce/ in altezza, grandes, mas cresce/ em altura e largura.
e grossezza. Li fiori sono/ minuti, a segno As flores são/ diminutas, de modo que de
che di basso poco si ue-/dono. Li frutti baixo pouco se/ vêem. Os frutos exteriormente

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 71


esteriormente sono si-/milissimi alle nostre são se-/melhantíssimos às nossas peras,
pere, chiama-/te battochie, e il suo seme è chama-/das ‘badalo’, e sua semente tem o
grande/ come un uouo di gallina. Il mi-/ tamanho/ de um ovo de galinha. A pol-/pa
dolo, è poco meno che grande, e pare// é pouco menos que grande, e parece//

P. 17 P. 17

un buttiro ancora mangiandolo, tanto/ è manteiga, mesmo comendo-a, [e] de tal


buono, che li Gatti adoprano tutta/ la modo/ é boa, que os gatos empregam toda/
loro industria per rubarli. Amma-/ssando sua indústria para roubá-la. Amas-/sando
poi quella massa con zuccaro,/ e canella, pois aquela massa com açúcar/e canela,
riesce precioso, e [...]/ ogni uolta, che posso torna-se preciosa, e [...]/ cada vez que os
avverli, li mangio/ con buon gusto, ma tanto possa ter, como-os/ com bom gosto, mas
saziano,/che più di due non posso saciam tanto/ que não posso experimentar
assagiarne,/ onde serue di molto utile alla mais que dois,/ e por isto é muito útil para
po-/uera gente. Il legno di questa Pi-/ as pes-/soas pobres. A madeira desta plan-
anta è molto fragile, e non tiene uso.// /ta é muito frágil, e não tem utilidade.//

N. 11. Sabonetas N. 11. Sabonete

Questa pianta, si annouera fra le/ Esta planta situa-se entre as/ maiores e
maggiori e molto tonde le suoi ra-/mi muito redondas, os seus ra-/mos copiosos
douiciosi di foglie di ordinaria/ grandezza. de folhas de tamanho/ ordinário. Suas
Li suoi fiori non li hò/ ueduti, e per essere flores não as/ vi, e por estarem muito no
molto alti, non// alto, não//

P. 18 P. 18

si distinguono. Il suo frutto non/ si mangia, se distinguem. Seu fruto não/ se come, e
e consiste in bache rotton-/de più grosse di consiste em bagas redon-/das maiores que
una Auellana con/ il guscio, la sua pelle è uma avelã com/ a casca; sua pele é como
come qu-/ella carta con la quale si legano aque-/le cartão com o qual se encadernam/
li/ libri e fra questa, e il seme stà un/ livros, e entre esta e a semente existe um/
sumo spumoso che inuischia molto./ Si sumo espumante que é muito pegajoso./
aprono, e battute con acqua seruono/ ad Abertos e batidos em água servem/ como
uno di sapone. Doue stano attaca-/te si sabão. Onde estão pre-/sos vêem-se ramos
uedono rami che formano una/ lunga e que formam uma/ longa e aguda ponta
accuta punta senza foglie./ Il seme, è negro, sem folhas./ A semente é negra, dura e

72 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


duro, e rotondo,/ e serue a fare Rosarj redonda,/ e serve para fazer rosários sem
senza torno./ Il legno non tiene uso.// torno./ A madeira não tem utilidade.//

N. 12. Pimenta saluatica, e/ cosi chiamata N. 12. Pimenta silvestre, e/ assim


per assomigliarsi alle/ altre che qui nascono, chamada por assemelhar-se às/ outras que
ma questa/ non si mangia. aqui nascem, mas esta/ não se come.//

P. 19 P. 19

N. 13. Caragiurù N. 13. Carajuru

Di questa Pianta, non hò ueduto il/ frutto; Desta planta não vi o/ fruto, [....]; não
e se lo nutre[?], non é qui di alcun/ prestimo, tem neste caso nenhum/ préstimo, como têm
come sono le foglie, le qua-/lli lasciano un as folhas, as quais/ largam uma cor que
colore, che saria molto/ stimabile in ogni seria muito/ apreciada em qualquer parte
parte di Europpa/ se non fosse trascurato da Europa/ se não fosse descurado pela pre-
dalla pigri-/cia di costoro, e se alcuna /guiça dessas pessoas, e se alguma planta/
pianta/ si ritroua, è per acaso, ma niuno se acha, é por acaso, mas ninguém a/ cultiva.
la/ coltiva. Il modo di farlo, è questi:/ A maneira de proceder é esta:/ deixa-se
lasciono, che le foglie sieno mature,/ e dopo que as folhas estejam maduras,/ e depois de
di auerle leuate dall’arbore/ le lasciono secare tê-las arrancado da árvore/ deixam-se
al ombra, diuen-/tano di colore, come il lapis secar à sombra, [onde] se tor-/nam da cor
rosso./ Dipoi le lasciono un giorno, o meno/ do lápis vermelho./ Depois deixam-se por
inffusa in acqa, e le fano bolire/ nella um dia, ou menos,/ em infusão em água, e
medesima, onde ne auiene,/ che manda fuori fervem-se/ na mesma, de onde acontece/ que
il suo colore, che è// largam sua cor, que é//

P. 20 P. 20

come una finissima terra, leuata che/ sia dal como uma finíssima terra, depois de levada/
fuoco, e rafredata, si tirano le/ foglie, che si ao fogo, e esfriada, retiram-se as/ folhas, que
lauano assai bene nella/ medesima acqua, se lavam muito bem na/ mesma água, depois
dipoi si lascia de-/pore, e quella deposizione è deixa-se de-/cantar, e essa decantação é a
la dessi-/derata tinta. La qualle è di dese-/jada tinta. A qual é de uma cor vivíssi-
uiuissimo/ colore, e assai più scura del carmino, /ma, e muito mais escura que o carmim, e/
a/ dopo di questo, è certamente la più/ depois desta é certamente a mais/ estimável, e
stimabile, e più volte la hò esperime-/ntata in muitas vezes a experimen-/tei, com têmpera
tempra, e a olio, e mi riuscì/ belissima. Si e com óleo, e resultou-me/ belíssima. Cuide-

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 73


accerta però, che auanti di/ metterla in se, porém que, antes de/ pô-las em infusão,
infusione, si deue lauare/ perchè non resti devem-se lavar/ para que não reste pó, ou
poluore, o terra nella/ deposizione. Li fiori terra, na/ decantação. As flores que estão
che stano nella/ pianta disegnata, li feci della na/ planta desenhada foram feitas com sua
sua me-/desima tinta, che è la propria, e mes-/ma tinta, que é a sua própria, e não/
non/ la macinai per imitare il suo colore./ a reduzi a pó para imitar sua cor./ Tira-se-
Si tira questa da arberi, e altra da’/ Scipò a das árvores, e outra dos/ cipós, como se vê
come si uede nel estesso foglio.// na mesma estampa.//

P. 21 P. 21

N. 14. Cottone N. 14. Algodão

Questa Pianta è qui abbondante, e molto/ Esta planta é aqui abundante, e muito/
più lo sarebbe, se dalla medesima se ne sapes- mais seria, se da mesma se soubesse/ extrair
/se ricauare maggiore Vantaggio mentre maior vantagem, pois aqui/só se fabricam
qui/ non si fabricano Pani grossissimi, che panos grosseiríssimos, que entre nós/para
da noi a/ nulla altro servirebbero che a nada mais serviriam se não para fazer sacos
fare Sachi e Pa-/gliaci. Vero è, che alcun e/ sacos para colchões de palha. É verdade
poco se ne tesse migli-/ore, mà non equiuale que um pouco se tece me-/lhor, mas não
al pano lino più ordinario./ Io poi non sò equivale ao pano de linho mais ordinário./
se questa Pianta si deua mete-/re nel Não sei ademais se esta planta se deve meter/
numero delli Arbori o de Arbusti, per-/ no número das árvores ou dos arbustos, por-
chè piantandosi le sementi in Genaio, di /que plantando-se as sementes em janeiro,
Agosto/ dano il frutto. Vero è che fano em agosto/ dão fruto. É verdade que formam
rami e li stendo-/no sino alla altezza di ramos e estendem-/nos até a altura de
diccioto palmi, mà uero è/ ancora, che ad dezoito palmos, mas mais verdadeiro/é
ogni due Anni, si taglia il suo tron-/co ainda, que a cada dois anos se corta seu
sino a terra, perchè dia con maggiore abbon- tron-/co até o chão, para que dê com maior
/danza, mà ciò non si fa che due o tre abun-/dância, mas isto se faz só duas ou
uolte per-/chè poi si reputa vechio, e di três vezes, por-/que depois se o reputa velho,
niun conto. Il/ modo di coltiuarlo è questo: e de nenhum valor. O/ modo de cultivá-lo é
ad ogni otto o dieci// este: a cada oito ou dez//

P. 22 P. 22

palmi si apre un buco con un legno palmos abre-se um buraco com um pau
appuntato,/ con la Zappa, e non ui si aguçado,/ com a pá, e ali não se metem

74 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


mettono più di qua-/tro sementi, le qualli mais de qua-/tro sementes, as quais são
sono similissime allo sterco/ delle Pecore; semelhantíssimas ao esterco/ das ovelhas;
dopo due Mesi, che sarà cresciuto/ alla depois de dois meses, quando cresceu/ até
altezza di tre palmi incirca, si castra, o a altura de aproximadamente três palmos,
ui/ si tira il germeglio di mezo perchè lancij castra-se, ou se/ lhe tira o germe do meio
molti/ ramusselli. Quando é maturo, si para que lance muitos/ raminhos. Quando
apre il frutto,/ e ui si tirano tre inuoltini está maduro, abre-se o fruto,/ e retiram-
di cottoni, e ogni uno/ peserà meza ottaua se três envoltórios de algodão, e cada um/
compreseui le otto sementi/ che nel centro, pesará meia oitava, compreendidas ali as
giunte, stano collocate. La Causa/ ancora oito sementes/ que juntas, no centro, estão
per la quale si taglia il suo tronco, è/ perchè colocadas. A causa/ainda pela qual se
estendendo i fiachi rami all’alto, più dif-/ corta o tronco, é/ porque estendendo os
ficile ne è la racolta, perchè ad ogni pianta/ fracos ramos para o alto, mais/ difícil é a
forza si schianta, e non matura il frutto colheita, porque cada planta/ [assim] se
non sta-/gionato. Nel disegno si uedono rompe, e não amadurece o fruto não/
con tutta la esa-/tezza le parti della pianta, sazonado. No desenho vêm-se com toda a
che sono la foglia,/ il fiore non del tutto exa-/ tidão as partes da planta, que são a
aperto, il calice, che dentro/ del medesimo folha,/ a flor não de todo aberta, o cálice,
forma il frutto segnato, il detto quando/ è que dentro/ dele forma o fruto assinalado, o
seco, è uno delli inuoltini con li semi mesmo quando/seco, e um dos involucrozinhos
scoperti.// com as sementes descobertas.//

P. 23 P. 23

N. 15. Cottone detto di Pirichito N. 15. O chamado algodão-de-periquito

Questa arbore è assai alta, e non sò che il Esta árvore é bastante alta, e não sei se
suo/ Legno sia atto a cosa alcuna. Dal seu/ lenho é útil para alguma coisa. No
dissegno si/ uedono li fiori, le foglie, il frutto desenho/ vêm-se as flores, as folhas, o fruto
uerde, e seco,/ il quale in nisun conto si verde, e o seco,/ o qual de maneira alguma
mangia. Si chiama/ Cottone di Piriquito, se come. Chama-se/ algodão-de-periquito,
perchè aprendose il suo fru-/tto lascia porque abrindo-se seu fru-/to deixa cair
cadere una finissima lanugine della/quale uma finíssima lanugem a qual/ qualquer
ogni più lieue aura la trasporta oue più/ aura por mais leve transporta-a onde quer/
li piace, e questa essendo piena di dure, que queira, e esta, estando cheia de
ma pi-/cole sementi, ui concorono sementes/ duras, mas pequenas, atrai uma
quantità di Pirichitos,/ Passeri belissimi, quantidade de periquitos, aves belíssimas,
a mangiarla.// para comê-las.//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 75


N. 16. Puciris N. 16. Puxiri

Dicono, che la aruore è grandi, mà non dà Dizem que a árvore é grande, mas não dá
in qu-/este parti, mà nel Sertone, o sia nes-/tas partes, mas no sertão, ou seja, na
Bosco del Rio Bian-/co che boca nel Rio floresta do Rio Bran-/co que desemboca
Negro, luogo lungi da questa/ Città del no Rio Negro, lugar distante desta/ cidade
Gran Parà più de quaranta giorni// do Grão Pará mais de quarenta dias//

P. 24 P. 24

di continua nauigazione. Io non potei de contínua navegação. Não pude ver/ essa
uedere/ la Pianta da che non potei andare planta porque não pude ir por terra/ ao
per terra/ fra quelle intricate Selue. Con meio daquelas intrincadas selvas. Apesar
tutto ciò, mi feci/ portare un ramicino che de tudo, fiz/ trazerem-me um raminho
è lo stesso dissegnato./ Sò che questo frutto que é o mesmo desenhado./ Sei que este
si può anouerare fra le/ ghiande, perchè fruto se pode incluir entre as/ bolotas,
tirato dal suo capucio, lascia la/ pelle che porque tirado de seu capuz, larga a/ pele
le cuopre, e resta diuiso come le dete./ Questi que o cobre, e fica dividido como as ditas./
era una uolta ricercato, e particolarmente/ Este era uma vez procurado,
dalli Inglesi, li quali lo ralauano, e lo mescla- particularmente/ pelos ingleses, que o
/uano in certa beuanda detta Ponci, a loro ralavam, e mistura-/vam em certa bebida
co-/mune, mà al presente nulla si cura, chamada ponche, comum entre/ eles, mas
osia per la/ grande abbondanza che li no presente ninguém o procura, seja pela/
abbia fatti decadere del/ suo prezzo, o dal grande abundância, que o tenha feito cair
suo prestimo. Sò che si possono/ annouerare de/ preço, ou de seu emprego. Sei que se
fra le speciarie, e poco differiscono dal-/la podem/ incluir entre as especiarias, e pouco
noce moscata, e anzi molti li riducino in/ diferem da/ noz moscada, e muito os
poluere, e assaliti che sieno da punture, ne reduzem a/ pó, e se são assaltados por
pren-/dono una porcione in Vino, o in pontadas, tomam/ uma porção em vinho,
acqa ardente,/ e asseriscono, che fa lo estesso ou em aguardente,/ e garantem que faz o
effetto delle noci/ moscate, e lo prendono mesmo efeito da noz/ moscada, e tomam-
ancora per i Flati.// no ainda para os flatos.//

P. 25 P. 25

N. 17. Giuà [?] N. 17. Juá

Questa Pianta spinosa ne abbonda per Esta planta espinhosa abunda em todo/

76 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


ogni/ luogo, tanto nella Città, quanto fuori. lugar, tanto na cidade quanto fora. Seus/
Li suoi/ frutti, che sono bache incarnate, frutos, que são bagas incarnadas, não
a nulla si consi-/derano. Pure non sono servem/ para nada. Entretanto não são
disprezabili, perchè il lo-/ro acido, è desprezíveis, porque/ seu ácido é temperado
temperato da un dolce non nauseante.// por uma doçura não nauseante.//

N. 18. Cipola Braba, o sia Saluatica N. 18. Cebola brava, ou seja, selvagem

Le Foglie di questa Arbore, sono differenti As folhas desta árvore são bastante
as-/sai dalle altre, como si uede dal diferentes/ das outras, como se vê no
dissegno./ Ma il loro frutto non è buono desenho./ Mas seu fruto não serve para
da nulla, me-/ntre non si mangia nepure nada, por-/que não é comido nem pelas
da’ Passeri. Il fiore/ se non rende odore, è aves. A flor,/ se não tem odor, é bela de
però bello da uedersi,/ e nisuno lo ver-se,/ e nenhuma se lhe assemelha, e
assomiglia, e pare a mè, che/ questa Pianta parece-me que/ esta planta, por ser
per essere assai ombrosa, e/ per la belezza bastante umbrosa, e/ pela beleza de suas
de suoi fiori, farebbe grata co-/mpagnia flores, faria grata com-/panhia às plantas
alle Piante Europee.// européias.//

P. 26 P. 26

N. 19. Continas [sic] N. 19. Continhas

Questa Pianta é una erba, mà per la Esta planta é uma erva, mas pela beleza/
bellezza/ delle sue foglie, e per la uiuezza de suas folhas, e pela vivacidade de suas co-
de’ suoi col-/lori meritarebbe di essere /res mereceria ser incluída entre as
mesclata fra le Itali-/ane Piante: si chiama plantas/ italianas: é chamada pelo nome
con il nome di Conti-/nas perchè essendo de conti-/nhas, porque sendo suas sementes
le sue sementi, negri, dure/ e rottonde, si negras, duras/ e redondas, delas se fazem
fano rosarij, mà niuno però le/ semina, rosários, mas ninguém entretanto/ as
ma nascono al uso delle erbe saluatiche./ semeia, mas nascem como as ervas
Non rendono odore, e per questo, sono selvagens./ Não têm odor, e por isto, são
neglete.// desprezadas.//

N. 20. Cubbio N. 20. Cubio

Anch’essa è Pianta Spinosa, e nelle foglie/ Também esta é planta espinhosa, e nas
simile al Giuà, mà non nel fiore, e nel folhas/ semelhante ao juá, mas não na flor

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 77


frutto./ Questi abbonda di un summo assai nem no fruto./ Abunda este de um sumo
acido,/ mà se ne fà un dolce siropato, che bastante ácido,/ mas dele se faz um doce
se non/ supera li altri tutti, almeno lo xaroposo, que, se não/ supera todos os
uguaglia, e/ non da pochi si dessidera a outros, pelo menos os iguala, e/ não por
Lisbona.// poucos é desejado em Lisboa.//

P. 27 P. 27

N. 21. Sumauma Incarnata N. 21. Sumaúma encarnada

In varij luoghi si ritroua questa Pianta, Em vários lugares se encontra esta planta,
ma do-/ue abbonda, è sù le Spiaggie delle mas on-/de abunda é nas praias do
Amazoni./ Li arbori, che la producono, Amazonas./ As árvores que a produzem
sono grandi e quando/ portano li frutti, são grandes e quando/ têm frutos têm
fano di se bella comparsa per/ la loro bela presença por/ sua abundância. As
abbondanza. Li fiori sono anch’essi curio- flores são também elas curio-/síssimas
/sissimi come si uede del dissegno, e oltre le como se vê no desenho, e além das cin-/co
cin-/que foglie incarnate, al difuori, e uerdi pétalas encarnadas por fora, e verdes por
al didentro,/ sono pieni di certi ranoncini dentro,/ cheias de certos estames do
lunghi una polegada/ e meza del colore comprimento de uma polegada/ e meia
dello auorio vechio, e non più gr-/ossi di da cor de marfim velho, e não maiores/
un vermicello ordinario, mà tanto bene as- do que um vermículo ordinário, mas tão
/setati che in un giro ne contai sopra bem or-/denados que em um círculo contei
trecento, e/ quando si aprono, sembrano acima de trezentos, e/ quando se abrem,
fiochi; per dare la pol-/uere, dipoi si parecem flocos, para dar o pó,/ depois se
conuertono come si uede nel picolo/ frusto, convertem, como se vê, no pequeno/
de conseruar per alcun tempo quel gambo- bocado, de conservar por algum tempo
/ncino uerde. Quando è già maturo diuenta aquele/ pedúnculo verde [?]. Quando já
come/ si uede nel disegno, mà con rosso più está maduro fica/ como no desenho, mas
scuro; di/ poi si apre da sè stesso, e lascia com vermelho mais escuro,/ depois abre-
cadere una// se por si só, e deixa cair uma//

P. 28 P. 28

lanugine, che tira anch’essa ad un rosso lanugem, que puxa também ela a um
molto palido,/ mà, è ripiena di moltissimi, vermelho muito pálido,/ mas que está
e minute sementi, le/ qualli non si ponno repleta de muitíssimas e diminutas sementes,
tirare per essere attacate a/ quella fina as/ quais não podem ser retiradas, por

78 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


lanugine della quale ne empiono sachi/ o estarem presas/ àquela fina lanugem, com
cesti, e serue per imbottire materazzi, e a qual se enchem sacos/ ou cestos, e serve
Cus-/sini tanto qui, quanto in Lisbona, para encher colchões e tra-/vesseiros, tanto
mà tanto ris/-calda, che in Italia, e altri aqui como em Lisboa, mas aquece/ tanto
Paesi fredi sarebbe/ in grandissimo que na Itália e em outros países frios seria/
preggio.// de grandíssimo valor.//

N. 22. Sumauma Bianca N. 22. Sumaúma branca

Questa è in ogni parte differente dal altra./ Esta é em todas suas partes diferente da
L’Arbore di questa, è la Maggiore di tutte, outra./ A árvore desta é a maior de todas,
tan-/to in altezza, quanto in grossezza. tan-/to em altura quando em largura. Os
Li rami si esten-/dono anch’essi più di ramos se esten-/ dem estes também mais
ogni altra pianta, e nella/ sua circonferenza do que em qualquer outra planta, e/ sob
ui si potrebbe fabricare sotto/ una Casa sua circunferência poder-se-ia fabricar/ uma
di sopra cento Palmi, e non è da/ casa de mais de cem palmos, e não é para/
meraviglarsi, perchè li rami principali, sono maravilhar-se, porque os ramos principais
gr-/ossi quanto lo può essere il piede di são tão/ largos quanto pode ser o pé de
qualunqe// qualquer//

P. 29 P. 29

maggiore ancora. Questa poi per la sua uma ainda maior. Esta, portanto, por sua
altezza/ si fà distinguere fra tutte perchè altura,/ faz-se distinguir de todas as outras,
oltre ad/ essere frondosa, o rotonda, sembra porque além de/ ser frondosa, ou redonda,
un cattino di/ un zimborio al difuori. La parece a taça de/ um zimbório por fora.
sua Sapupema, inco-/mincia da terra, e Sua sapopema come-/ça no solo e trepa
si alza trenta palmi, poco più/ meno. por trinta palmos, pouco mais/ ou menos.
Questo nome de Sapupema altro non uo- Este nome de sapopema não significa/
/le dire che una especie di radici le qualli outra coisa senão uma espécie de raízes que
in/ più diuisoni risaltono allo intorno em/ várias divisões avultam em torno da
dall’arbore, e/ si nascondono in terra, e árvore, e/se escondem na terra, e isto só sucede
questo non fano se non di-/poi alcuni Anni, depois de/alguns anos depois de terem sido
che sono piantate, alcune di/ queste si plantadas; algumas/ delas se prolongam tanto,
allongano tanto, che si può tirare una/ tavola que delas se pode tirar uma/ tábua não muito
non molto lunga, mà larga dodici o quator- longa, mas da largura de doze ou ca-/torze
/dici palmi. Mà il suo legno non è durabile, palmos. Mas sua madeira não é durável, e/
e/ forse perche molto crescono in pochi Anni, talvez por que cresçam em poucos anos, e

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 79


e fra/ le molti, che tengo di straordinaria entre/as várias que tenho, de extraordinária
grandezza,/ una ne tengo vicino a Casa grandeza,/ há uma que tenho perto de casa,
che hà più di/ sei Anni, fà figura di un que tem mais de/ seis anos, e que tem o porte
arbore de’ Maggiori./ Il suo tronco è das maiores árvores./Seu tronco é cinzento,
cinzento, e sino alli quatro Anni/ resta di e até os quatro anos/fica com a casca verde,
scorza uerde, ma ripieno di grossissimi// mas cheia de grandíssimos//

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spini, li qualli impediscono a qualunqe sia espinhos, que impedem a quem quer que
di tentare/ la salita sopra del medesimo. seja tentar/ subir nele. As folhas são
Le foglie sono uerdi/ mà chiaro, e di verdes/ mas claras, e de tamanho
ordinaria grandezza. Il frutto/ è come si ordinário. O fruto/ é tal como se vê no
uede nel dissegno. Di uerde, si seca,/ dipoi desenho. De verde, seca,/ depois se abre,
si apre, e lascia uedere la Sumauma, che/ e deixa ver a sumaúma, que/ está
stà attacata come ad un groso filo sino a ligada como por um grande fio até
tanto/ che il uento se la porta doue uole. quando/ o vento a transporte onde queira.
Questa/ è finissima, e bianca come la Esta/ é finíssima e branca como a prata.
argento. Le sue/ semente sono nere e grosse Suas/ sementes são negras e grandes como
come una nociuola/ senza guscio mà presto uma avelã/ sem casca, mas rápido podem
si separano per essere/ poche. La ser separadas por serem/ poucas. A
medesima sarebbe in grande stima/ nelle sumaúma teria grande estima/ nas nossas
nostre parti, perchè oltre ad essere assai/ partes, porque além de ser muito/ mais
più fina della seta stessa, sarebbe ottima fina que a própria seda, seria ótima para/
per/ imbuttire coperte, e uesti di seta, e forrar cobertas e vestes de seda, e um
un cesto/ assai grande, non peserà una cesto/ muito grande não pesa uma
ruba, che sono/ trantadue libre, e cosi arroba, que são/ trinta e duas libras, e
poco meno si fano due/ materazzi. assim com pouco menos fazem-se dois/
Quando per lungo tempo resta annodata/ colchões. Quando por muito tempo fica
assieme, si mete al Sole, e si apre da se enodada,/ mete-se-a ao sol, e abre-se por
stessa,/ ma se tira qualunqe aura leggiera, si mesma,/ mas se sopra qualquer brisa
se la porta seco.// ligeira, leva-a consigo.//

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Il motiuo per il quale non ariua in nostre O motivo pelo qual não chega em nossas
parti/ è perchè di questa poca si racoglie, partes/ é porque dela pouco se colhe, e
mentre/ non si pianta, e nasce come li altri ademais/ não se planta, e nasce como as

80 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


arbori silues-/tri, e per tirarla, non bisogna outras árvores silves-/tres, e para obtê-la
solamente cercarla/ per quelle siluestre é preciso não só buscá-la/ pelas selvas
Selue, ora passando laghi, ora/ rompendo silvestres, ora passando lagos, ora/
quelli acutti e intricati spini, ma bisogna/ rompendo agudos e intrincados espinhos,
poi tagliare quelle grosse Piante per mas é preciso/ depois cortar essas grandes
racoglierla/ dopo cadere, mà se fosse plantas para colhê-la/ depois de cair; mas
colviuata, questa nazione/ ne riceuerebbe se fosse cultivada, esta nação/ receberia
molto profitto, e ne’ luoghi fredi sa-/rebe muitos proveitos, e nos lugares frios se-/
assai ricercata.// ria muito procurada.//

N. 23. Cacao N. 23. Cacau

Questa Pianta, non è delle Maggiori nel Esta planta não é das maiores entre o
numero/ delle Arbori. Crescono por lo più número/ das árvores. Crescem em sua
imperfetti, cioè/ torti. La sua scorza è maioria imperfeitas, isto é,/ tortas. A sua
ruuida, e scura, e raspa-/ndola, è disotto casca é áspera, e escura, e raspan-/do-a, é
incarnata. Dalla terra, alla/ cima buta encarnada embaixo. Desde o solo até/ o
fiorelini in grande copia mà allignano/ cume deita florzinhas em grande número
solamente quelli, che nel aprire del fiori mas vingam/ somente aquelas que no abrir
lasciano/ uedere il frutticino, e li altri da flor deixam/ ver o frutinho, e as outras
cadono tutti. Li fiori// caem todas. As flores//

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si assomigliano molto alli fiori di/ buragine, se assemelham muito às flores da/ borragem,
ma sono picollini, e poco me-/no che bianchi. mas são pequeníssimas, e pouco me-/nos que
Il frutto per lo comune, è/ grande come un brancas. O fruto, comumente, é/ grande como
Cedro, mà tengono [sic] le diuisioni/ come uma cidra, mas têm [sic] as divisões/ como
li melloni, con la scorza ondeggiata, e os melões, com a casca ondulada, e esta/ é
questa/ è molto grossa, e bisogna baterla muito grossa, e é preciso batê-la na terra, ou
in terra, o in al-/cun legno per romperla. em/ alguma madeira para rompê-la. Os grãos
Li grani sono posti per/ordine in quatro estão postos em/ ordem em quatro fileiras de
file per lungo, chiedendosi tutte/ el centro comprido, exigindo todos/ o centro do fruto.
del frutto. Questi stano inuilupati in una/ Estes estão embrulhados em uma/ massa
mole e bianchissima massa, che rinchiude il mole e branquíssima, que encerra a se-/mente
se-/me in forma di un quarto di circolo. em forma de um quarto de círculo. A
La sudetta/ Massa, si asciupa e riesce supradita/massa se chupa e sabe gratíssimo,
gratissima, perche è/ composta di un dolce, porque é/ composta de uma doçura, e de um

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 81


e di un acido assai gus-/toso. Le foglie di ácido muito/ gostoso. As folhas desta planta
questa Pianta, sono lunghe/ un palmo e têm um palmo e/ meio de comprimento, e
mezo, e terminano con una punta/ assai terminam em uma ponta/ muito aguda, e
acuta, e sono ruuide. Il modo di lauorare/ são ásperas. O modo de trabalhar/ o cacau
il cacao, è il presente, si tira dalla Pianta é o seguinte: tira-se-o da planta quan-/do
qu-/ando comincia a diuentare Giallo, dipoi começa a ficar amarelo, depois abrem-se/ os
si aprono/ li frutti battendoli l’uno contro frutos batendo-os um contra o outro, ou em
l’altro, o in pietre.// pedras.//

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si tirano fuori le sementi inuilupati in quella/ Tiram-se fora as sementes envolvidas naquela/
sua massa, e si lasciano in monte per otto/ sua massa, e se deixam num monte por cerca
giorni incirca, ne’ qualli tanto se riscalda, de/ oito dias, durante os quais se aquece
che/ non ui si possono sofrire le mani. Finito tanto, que/ não se podem aguentar com as
questo/ tempo, si ua mettendo al Sole sino mãos. Terminado este/ tempo, vai-se metendo
a tanto che/ è secato, e cosi può ariuare ao sol até que/ sequem, e assim podem chegar
nelle nostre parti/ di Europpa e farne la até nossas partes/ da Europa para fazer o
Ciocolata. La figura del/ Cacao è come chocolate. A forma do/ cacau é como a de
una amendola, mà più rotonda,/ e negra. uma amêndoa, mas mais redonda/ e negra.
dal sudetto Cacao, si estrae ancora una/ Do sobredito cacau se extrai ainda uma/
bevanda molto buona nel seguente modo. bebida muito boa do seguinte modo. Depois/
Dopo/ di auere tirato dal guscio il Cacao de haver tirado da casca o cacau, amontoa-
lo amontano/ in cesti coperti allo intorno e se-o/ em cestos cobertos dentro e fora de
nel fondo di foglie./ Con il peso, che da se folhas./ Com o peso que exerce por si só, sai
stesso si fà, ne esce un/ sumo que trasmette um/ sumo que é transmitido por aquela
quella massa. Dipoi si fà/ bolire, e rafredato, massa. Faz-se depois/ ferver, e, assim que é
che sia, è in tutto simile al/ nostro mosto di resfriado, é em tudo semelhante ao/ nosso
Vua, ridoto, come noi diciamo/ in Lughi. mosto de uva, reduzido, como dizemos nós/
Questa Pianta quando è ariuata alli/ em Lughi. Esta planta, quando chega aos/
cinquanta Anni, si tiene per Vechia, e pianta- cinquenta anos, é considerada velha, e mesmo
/ta che sia, non dà il frutto, che dopo sei que seja/ plantada, só dá frutos depois de
Anni.// seis anos.//

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Non voglio lasciare di dire che da questa Não quero deixar de dizer desta plan-/
Pian-/ta, e o sia dal frutto si estrae una ta, que do fruto se extrai uma gordura,

82 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


gordura, che/ qui si chiama butiro, che è que/ se chama manteiga [de cacau], que é
buono per essere/ rinfrescante, e è molto boa por ser/ refrescante, e que é muito
ricercato per le Emeroidi.// procurada para as hemorróidas.//

N. 24. Ingas N. 24. Ingás

Questa arbore, è abbondante nelle Selue, Esta árvore é abundante nas selvas, e/ não
e/ non si coltiuano [sic], è bella da uedersi se cultivam [sic], é bela de ver-se por-/que
per-/chè assai frondosa perchè estende molto assaz frondosa porque estende muito/ seus
li/ suoi rami. Li fiori nascono a mazeti, e ramos. As flores nascem em macinhos, e pare-
sembra-/no di filo. La notte particolarmente /cem de linho. À noite particularmente
tramontano un/ odore tanto grato, e acuto, rescendem/ um odor tão grato, e agudo, que
che ancora da lonta-/no si fà sentire, e non ainda de lon-/ge se faz sentir, e não dá dor
offende il Capo. Le/ foglie crescono a due a de cabeça. As/ folhas crescem duas a duas,
due, e dalle une alle/ altre per lungo de’ e de umas às/ outras ao longo dos ramos
rami vengono altre foglie pr/ trauerso che existem outras folhas na/ transversal, que
tocano le altre, onde ne sono riues-/titi tutti tocam as outras, de onde são reves-/tidos
i suoi ramicini senza che si ueda/ il legno e todos seus raminhos sem que se veja/ o lenho;
quando nascono le dette foglie, sono// e quando nascem, as ditas folhas são//

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incarnate. Li suoi frutti sono per cosi dire encarnadas. Seus frutos são, por assim dizer,
una/ faua, per essere lunghi sino a tre palmi, uma/ fava, por serem do comprimento de
roton-/di e grossi più di un deto, mà fatti três palmos, redon-/dos, e da grossura de
a coclea;/ si aprono torcendoli con le mani, um dedo, mas feitos parafuso;/ abrem-se
e tengono le se-/menti con lo istesso ordine torcendo-se com as mãos, e têm as se-/mentes
delle nostre faue/ e sono grossi al doppio, com a mesma ordem de nossas favas/ e o
mà negri e lustri quan-/to lo ebano. Ciò dobro do tamanho, mas negras e lustrosas
che si asciupa è una massa,/ che tengono co-/mo o ébano. O que se chupa é uma
allo interno, che sembra una folta neue,/ massa/ que têm no interior, que parece uma
di gusto, dolce, mà non nauseante, e questi neve compacta,/ de gosto doce mas não
Ameri-/cani sono affecionati a mangiarli, nauseante, e estes ameri-/canos são afeitos a
osia asciupandi-/ne ne sia di un altra sorte, comê-los, ou seja, chupando-/os, ou seja de
le dicui foglie, sono/ picole, e le faue piane, outras sortes, cujas folhas são/ pequenas, e
mà ne’ fiori, e nello odo-/re pocho [sic] as favas chatas, mas nas flores e no/ odor
diuersse, e queste sono piú acuminate/ delle pouco diversas, e estas são mais acuminadas/
altre: la Scorza di questa pianta è bian-/ que as outras. A casca desta planta é esbran-

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 83


castra, e liscia, ma del suo legno non si fà/ /quiçada e lisa; mas de seu lenho não se
nesun caso, fuori di tagliarlo per il fuoco faz/ nenhum caso, além de cortá-lo para o
pr/ essere fiaco, e per fenderssi, e quando fogo por/ ser brando, e por rachar, e
ne/ tirano li frutti per lo più li gettano in/ quando/ lhe retiram os frutos muitas vezes
terra, come qui fano di altre Piante più derrrubam-no por/ terra, como aqui se faz
stimabili.// com outras plantas mais estimadas.//

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N. 25. Gialappa N. 25. Jalapa

Questi è un Sipò, che uà serpendo, e Este é um cipó, que vai serpeando e


ocupando/ molta terra, e dalla medesima ocupando/ muita terra, e da mesma se
si estrae con/ facilità, perchè non profonda. extrai com/ facilidade, porque não se
Per alora,/ non è tenuta per buona, ne si aprofunda. Até agora/ não é tido por útil,
fà caso della/ medesima, e la ritrouai nel nem se faz caso/ do mesmo, e achei-o no
Rio Negro.// Rio Negro.//

N. 26. Fava di Impicio N. 26. Fava-de-impigem

L’arbore è anch’essa delle Maggiori e non/ Esta árvore é também uma das maiores, e
tiene altra particolarità che quella del não/ tem outra paricularidade se não
frutto,/ che si uede tagliato nel mezo tra aquela do fruto,/ que se vê talhado no meio
guscio, e/ guscio, il quale è molto grosso; e entre casca e/ casca, e que é muito grande;
lo chiama-/no Faua di Impicio, perchè e chamam-/no fava-de-impigem porque
raspandone la par-/te superiore la tengono raspando-se a par-/te superior têm-na por
per ottimo rimedio/ dos Impicios [sic]. E ótimo remédio/ das impigens. E estas não
questi altro non sono che Vo-/latiche, le são senão as/ erupções cutâneas, que são
qualli sono comuni alla maggior par-/te di comuns à maior parte/ de nós, e que
noi, e infastidiscono molto por la com-// importunam muito pela comi-//

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missione che fano. Mà questo rimedio non chão que causam. Mas este remédio não a
le dis-/truge affatto e per le mie non adopro destrói/ de fato e para as minhas não adoto
altro che/ le Vnggie perchè rinserandossi, outra coisa/ se não as unhas, porque
sono di Maggiore/ pregiudicio alla Salute, fechando-se, são de maior/ dano à saúde,
come le é da noi la Grogna.// como entre nós a sarna.//

84 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


N. 27. Cuia N. 27. Cuia

È questa Arbore delle più imperfete di qu- Esta árvore é das mais imperfeitas destas/
/ueste Americane Terre perchè cresce terras americanas, porque cresce sempre/
sempre/ torta nel Caude e ne’ rami. Di torta no caule e nos ramos. Não é tão
foglie non é/ tanto frondosa ne alta come frondosa/ de folhas nem alta como as
le grandi, il suo/ legno è al difuori assai grandes, seu/ lenho é por fora assaz rugoso,
rugoso, e a nulla buono./ Li fiori sono e não serve para nada./ As flores são como
come si uedono nel dissegno cioè/ nulla se vê no desenho, isto é,/ nada vistosas, e
uistosi, e tristi. Il suo frutto non si/ mangia, tristes. Seu fruto não se/ come, e ao vê-lo,
e a uederlo, sembra una Cucumera parece uma abóbora redonda/ de um verde-
rotonda/ di uerde chiaro, mesclato con claro, mesclado com muitíssimos ponti-/
moltissime punti-/ ne del istesso colore. Le nhos da mesma cor. As ditas frutas são
dette frutta si lasci-/ ano nell’Arbore sino deixadas/ na árvore até que sua casca/
a tanto che il suo guscio/ non riceua la não receba a impressão das unhas.
Impressione delle Vnggie. Dipoi// Depois,//

P. 38 P. 38

tirate dall’arbore si taglia in due parti tiradas da árvore, são cortadas em duas
uguali,/ si tira quella densa massa bianca, partes iguais,/ tira-se aquela densa massa
che sentendo/ l’aria diuenta negra, e rende branca, que ao sentir/ o ar se torna negra,
un catiuo odore./ Tirata questa, si rapa e emite um mau odor./ Tirada esta, raspa-
bene, tanto al didentro,/ quanto al difuori, se bem, tanto por dentro,/ como por fora,
e poi si lascia secare all’om-/ bra; secata, e depois se deixa secar à som-/bra; quando
che sia resta della grossezza di un/ sotile seca, fica da espessura de uma/ fina
cartoncino. Dopo si tinge di negro e si liscia,/ cartolina. Depois tinge-se de negro e lixa-
dipoi si dipingono a colori secondo l’uso se,/ depois pintam-se com cores segundo o
della/ terra, e dipinte che sieno, ui si dà uso da/ terra, e assim pintadas, passa-se
una uernice/ chiamata Gomatí [sic], che um verniz/ chamado cumati, que as torne
le renda lustre come il/ marmo, e le migliori lustrosas como o/ mármore, e as melhores
in ogni parte, sono quelle/ che si fabricano de todas as partes são aquelas/ que se
nella Villa di Gurupatuba. Qu-/ esto fabricam na vila de Gurupatuba. Este/
Gumatí altro non è que la scorza di un cumati não é outra coisa senão a casca de
ar-/ bore, la quale fata in pezetti si infonde uma/ árvore, a qual reduzida a pedacinhos
in ac-/qua, dipoi si fà bolire, e senza altra se infunde em/ água, depois faz-se ferver, e
cerimo-/nia si replica sopra il dipinto e sem mais cerimô-/nia se aplica sobre a
nulla più./ Alcune di queste si fano a uso pintura e nada mais./ Algumas destas são

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 85


de conchiglie, e/ cosi le fano crescere feitas em forma de conchas, e/ assim as fazem
nell’arbore a forza di/ legature, e sono le crescer na árvore a força de/ ligaduras, e
più stimabili, perchè le// são as mais estimadas, porque as//

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Femine se ne seruono per varij usi come per mulheres delas se sevem para vários usos como
te-/nerui la loro poluere, i lauori, o altre para/ guardar seu pó, seus trabalhos, ou
simili cose,/ mà l’uso comune è di bere, outras coisas semelhantes,/ mas o uso comum
acqua, Tacaca,/ Assaí, Garauas, e altre é para beber água, tacacá,/ açaí, garapa, e
diuerse beuande. Dalle/ sudette Cuie, se outras diversas bebidas. As/ supraditas
ne mandono fuori assai, e/ molto più se ne cuias são muito enviadas para fora,/ e muitas
manderebbero, se la pigricia di/ costoro mais se enviariam, se a preguiça da-/quela
non fosse molta.// gente não fosse tanta.//

N. 28. Siringa N. 28. Seringa

Meravigliosa è in uero questa Pianta, che É na verdade maravilhosa esta planta, que
si/ deue annoverare fra le grandi. La se/ deve incluir entre as grandes. A
meraviglia/ di questa Pianta consiste dalla maravilha/ desta planta consiste na
abbondanza del/ suo latte, del quale se ne abundância de/ seu leite, do qual se fazem
fano infiniti lauori,/ che resistono all’acqua, infinitos trabalhos,/ que resistem à água,
como Scarpe, Capelli,/ fiaschi, e altre como sapatos, chapéus,/ frascos, e outros
gallanterie, che qui si chiamano/ [...] mimos, que aqui se chamam/ [...] grandes
grandi e picole, e li dano figura di/ Fruti, e pequenas, e dão-lhes figuras/ de frutos,
cauallini, tartaruche, Passeri, o di ogni sor- cavalinhos, tartarugas, aves, ou qualquer/
/ ta; alle qualli figura lasciano in fondo outro tipo, nas quais figuras deixam no
una// fundo uma//

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apertura per poterui poi mettere un canudo, abertura para ali depois meter um canudo,
che/ poi serve per mettere lauatiui, e non que/ depois serve para meter clisteres, e
hà Casa/ che non sia prouista. Il modo di não há casa/ que não esteja provida. O
fare ogni/ una delle sopradete figura, è il modo de fazer cada/ uma das supraditas
seguente: si fà/ prima un semplice molde figuras é o seguinte: faz-se/ primeiro um
di terra non cotta, di-/ poi si pica l’arbore, simples molde de terra não cozida, de-/
dalle cui ferite ne esce/ quel latte, con il pois pica-se a árvore, de cujas feridas sai/

86 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


qualle, si uà contornando la figu-/ra aquele leite, com o qual se vai contornando
dessiderata, e sicome subito si conglutina; a figu-/ra desejada, e como rapidamente
cosi/ ui si uà sopra sino a tanto, che la se aglutina, assim/ se vai fazendo até que
detta, si uede/ grossa. Allora poi si lascia a dita se veja/ grossa. Então depois deixa-
secare, e si fumano/ al fuoco perchè non se secar, e defuma-se/ ao fogo para que
inuischijno le mani. Dipoi/ seche, si rompe não melem as mãos. Depois de/ secas,
il modello, e se tira per il detto/ bucco la rompe-se o modelo, e tira-se pelo dito/
terra, e nulla più si fà di queste; ne/ uano buraco a terra, e nada mais se faz destas;
molte per il Regno, che poi seruono di/ vão/ muitas para o Reino, que depois
spasso alla Gente nel Carnouale, e si servem de/ divertimento para a gente no
spruzzano/ l’acqua li uni con li altri. carnaval, e se borrifam/ água uns nos
Questo late esce/ ancora dalla Pianta outros. Este leite sai/ ainda da planta
senza ferirle, e io ne tengo in/ Casa un sem feri-las, e tenho em/ casa um pedaço
pezzo già conglutinato, e tremolente, che já aglutinado, e trêmulo, que difi-/cilmente
diffi-/cilmente si lascia tagliare, e arde come se deixa cortar, e que arde como uma
una candella.// vela.//

P. 41 P. 41

N. 29. Mamone Vrana N. 29. Mamorana

È arbore Siluestre, che ama di stare/ É árvore silvestre, que gosta de ficar/
ne’ luoghi umidi, e sù le riuiere/ de’ fiumi, nos lugares/úmidos, e nas margens/ dos
e ancora nell’acqua stes-/ sa. Le foglie rios, e ainda na própria água./ As folhas
sono lunghe, e assai/ appuntate. Il fiore são longas, e assaz/ pontudas. A flor é
è gallante, ab-/benchè non renda nesun galante, se/ bem que não emita nenhum
odore. Quando/ è chiuso è lungo poco odor. Quando/ está fechada tem o
più o poco me-/no di un Palmo, e il suo comprimento de pouco me-/ nos de um
collore, è/ rosso scuro. La sua figura è palmo, e sua cor é/ vermelho-escura. A
come uno/ di quei chiodi che più uolte si sua forma é como um/ daqueles pregos
rapre-/sentano nella Passione. Quando que se apre-/sentam na Paixão. Quando
si apre/ mostra foglie lunghe politi/ e il se abre,/ mostra pétalas longas, polidas,/
suo colore è come lapis rosso, nel me-/zo e sua cor é como a do lápis vermelho, no
tiene un mazetto di filla, che meio/ tem um macinho de filetes, que
rapresentano/ un [...], e non sono meno representam/ um [...] e não são menos
di [...]/ e dal suo nascimento sino alla de [...]/ e desde sua origem até sua metade
metà sono/ incarnati, e seguitando più são/ encarnados, e continuando mais
minuti sino// estreitos até//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 87


P. 42 P. 42

sino [sic] alla cima sono bianchi, e ogni sua ponta são brancos, e cada um/ destes
uno/ di quei filli resta atrauerssato da filetes termina atravessado por uma/
un/ seme in tutto simile a quelli delle semente [sic: antera] em tudo semelhante à
rose./ E il colore è di zafferano, onde das rosas,/ e a cor é de açafrão, de modo
aperto/ che sia fà una bellissima uista. Il que, quando está/ aberta, faz uma
fru-/tto è più lungo di mezo palmo, e la belíssima visão. O fru-/to é mais comprido
sua/ figura è di un Cuore, mà di colore do que meio palmo, e sua/ forma é de um
feru-/ginoso, e a nulla seruono le sue coração, mas de cor ferru-/ginosa, e para
grandi sem-/menti.// nada servem suas grandes se-/mentes.//

N. 30. Pichià N. 30. Piquiá

Questa arbore, entra nel numero delle più/ Esta árvore entra no número das mais/ altas
alte e grosse, e poche la superano. Li sue/ foglie e grandes, e poucas a superam. Suas/ folhas
sono larghe, e quasi rottonde. Li fiori/ immitano são largas, e quase redondas. As flores/ imitam
quelli del gelsomino. Il frutto è/ grande come as do jasmim. O fruto é/ grande como uma
una cipola, ma ouale, e stà attaca-/to per cebola, mas oval, e está pre-/so transversalmente
trauerso al suo gamboncino. Il suo gu-/ scio, è a seu pedúnculo. Sua cas-/ca é muito grossa e
molto grosso, e durissimo, onde bisogna/ aprirlo duríssima, e daí é preciso/ abri-lo com uma
com una pietra, o con legno. Dentro stà// pedra, ou com um pau. Dentro está//

P. 43 P. 43

diuiso in due parti di massa bianca, e du- dividido em duas partes de massa branca e
/ra, sichè per mangiarli, bisogna bullirli du-/ra, de modo que, para comê-lo, precisa-
in/ acqua, mà per essere insipidi, e per se fervê-lo/ em água, mas por ser insípido, e
auere/ un odore alquanto nauseante, non por ter/ um odor um tanto nauseante, não
mi pia-/cquero, ne da molti sono ricercati. me ape-/teceam, nem são por muitos
Ogni uno/ de’ detti due pezzi tiene un procurados. Cada um/ dos dois pedaços
seme rotton-/ do della grossezza di quello ditos tem uma semente redon-/da da
di un persico, e/ tutto è pieno di grossura daquela de um pêssego, e/ está todo
acuttissimi spini, e tanto fi-/ni che cheio de agudíssimos espinhos, e tão fi-/nos
penetrando nella carne, a stento si/ ponno que, penetrando na carne, com dificuldade
tirare. Il suo legno è di inolta du-/rata, e se/ podem tirar. Seu lenho é de grande du-
atto ad ogni lauoro di Navi, di/ canoue, /ração, e adaptado para qualquer obra de
e tauole.// navios,/ canoas e tábuas.//

88 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


N. 31. Guaranà N. 31. Guaraná

Celebre e renomata è questa Pianta per/ Célebre e renomada é esta planta, pelo/
l’uso, chi qui, o altroue, si fà. Non è ar-/ uso que dela, aqui e alhures, se faz. Não é
bore, mà un Sipò, e dal dissegno, si uede/ ár-/vore, mas um cipó, e, pelo desenho, vê-
ciò che sia quando è matturo. Dipoi// se/ como é quando maduro. Depois//

P. 44 P. 44

si mette a tosttare [sic] al fuoco, e ui si põe-se a torrar ao fogo, e daí se tira a/


tira il/ guscio, che è sottile, dipoi si mette casca, que é fina, depois põe-se no pi-/lão
nel pillo-/ne a pestare sino a tanto che sia para socar até que seja capaz de/ passar
capace di/ passare spolverizato per pulverizado por uma jurupema, que é
giuripema, che è una/ specie de retaccio uma/ espécie de peneira feita de uma
fatto di una finissima ra-/za di guruma finíssima es-/pécie de [?], que à vista parece
[?], che a uederlo sembra una ca-/nna uma ca-/na da índia. Depois de ser passado,
d’India. dipoi che è passato, si torna/ al torna-se/ ao pilão, e ao socá-lo, acrescenta-
pillone, e nel pestarlo, ui si aggiunge po-/ se pou-/quíssima água, para reduzi-lo a
chisima acqua per ridurlo in pasta, e poi/ uma pasta, e depois/ a pedacinhos de cerca
in pezzeti di sei oncie incirca, e si lascia/ de seis onças, e deixa-se/ endurecer ao sol,
indurire al sole, o si stuffa al fumo del/ ou se aquece ao fumo do/ fogo. Quando então
fuoco. Quando poi si uole bere, se ne ra-/ se o quer beber, ras-/pa-se um pouco mais
pa poco più di due presa di tabaco, e si/ que duas pitadas de tabaco, e/ se infunde
infonde in un bichiere di acqua, e si beue/ em um copo d’água, e bebe-se/ com algum
con alcun zucaro. dicono, che è molto diore- açúcar. Dizem que é muito diuré-/tico, e
/tico, e che fa orinare più del douere, mà/ que faz urinar mais do que se deve, mas/
sia la uerità o nò, sò [?] che si ricerca e se/ seja verdade ou não, sei [?] que se procura e
ne manda al Regno per essere ricercato./ e que/ se manda ao Reino por ser desejado./
io ancora mi sono costumato, e ogni// E eu agora acostumei-me, e todo//

P. 45 P. 45

giorno lo beuo mà però non bisogna metter- dia o bebo, mas não se deve colo-/car no
/ne nel bichiere inoltra quantità perchè tira/ copo uma grande quantidade, porque tira/
il sonno e io lo sò per esperienza perchè/ non o sono, e eu o sei por experiência, porque/
sapendo ciò ne presi buona parte, e ste-/ti são sabendo isto, tomei uma boa porção, e
un giorno e mezo senza dormire. Il modo/ fi-/quei um dia e meio sem dormir. O
di raparlo, o sia grattando è con una modo/ de raspá-lo, ou seja, ralá-lo, é com

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 89


cartillagine/ che stà sotto alla lingua de un uma cartilagem/ que existe sob a língua
Pesce detto/ Pararirucú [sic], che è molto de um peixe dito/ pirarucu, que é muito
aspra. E questo gua-/ranà si uende dieci áspera. E este gua-/raná se vende a dez
paoli la libra mà/ il buono è quello, che si paulos por uma libra, mas/ o bom é aquele
fà degli Indij/ Gentilli di Magues, che stano feito pelos índios/ gentios de Maués, que
lungi dal/ Parà un Mese, e mezo di camino, estão distantes do/ Pará um mês e meio de
mà qu-/ello che si fà en queste parti à poca caminho, mas aque-/le que se faz nestas
stima.// partes tem pouca estima.//

N. 32. Cummandaassù N. 32. Cumandá-açu

Ancor questa è arbore molto grande, e ab-/ Ainda esta é árvore muito grande, e abun-/
bonda di quelle faue, che si uedono dissegna-/ da daquelas favas que se vêm desenha-/das,
te mà non tiene ueruno uso, nè si stima.// mas não tem nenhum uso, nem se estima.//

P. 46 P. 46

N. 33. Aquittí N. 33. Aquiti [?]

Quest’arbore si fà conoscere da lungi, per/ Esta árvore deixa-se reconhecer de longe,


essere alto, e per portare le sue minute foglie/ por/ ser alta, e por trazer suas diminutas
sopra la cima, e forma come un corpo rotto- folhas/ sobre o cimo, e forma como um
/ndo. Il suo frutto è curiosissimo, come si corpo redon-/do. Seu fruto é curiosíssimo,
uede/ nel mezo del suo dissegno, perchè tiene como se vê/ no meio de seu desenho, porque
un/ ordine di sementi appuntate, che stano tem uma/ série de sementes agudas, que
diritte/ come una sega, e li altri restano ficam retas/ como uma serra, e as outras
poi coperti/ per mezo di una pelle, che ficam então cobertas/ por meio de uma
sembra come pe-/cora. E secato che sia si pele, que parece como de/ ovelha. E quando
apre che pare una/ cassa da occhiali, está seco, abre-se e parece uma/ caixa de
essendo tutta sagrinata al/ difuori. Li óculos, sendo todo lixento por/ fora. Os
frutti stano elleuati sopra la/ cima delle frutos ficam elevados acima do/ ápice das
foglie, mà tanto questi quanto/ il suo legno folhas, mas tanto estes quanto/ seu lenho
non tiene uso.// não têm utilidade.//

N. 34 [Anon.] N. 34 [Anon.]

Di questa incognita Pianta, benchè sia gra- Desta planta desconhecida, apesar de ser gran-
/nde, e molto alta, nulla si può dire.// /de e muito alta, nada se pode dizer.//

90 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 47 P. 47

N. 35 [Anon.] N. 35 [Anon.]

Disegnai questa Pianta per la Desenhei esta planta pela estravangan-


strauagan-/za della sua faua, la quale /ça das suas favas, as quais de verdes
di uerde, si fà/ poi negra quando è seca. se tornam/ então negras quando secas.
Il fiore è gallante/ e particolarmente A flor é galante e/ particularmente
quando si apre, e non sola-/mente per quando se abre, e não so-/mente por
crescere a ramagliette, ma perchè/ crescer em ramalhetes, mas porque/
sembrano tanti bottoni di rose. Con parecem com botões de rosa. Com
tutto/ questo si ignora il suo uallore, e tudo/ isto, ignora-se seu valor, e seu
il suo no-/me. Le fogliettine che le stanno nome;/ as folhinhas que lhe estão ao
apresso/ sono di un Scipò, che le staua lado/ são de um cipó, que lhe estava
avvitichiato.// grudado.//

N. 36 [Anon.] N. 36 [Anon.]

È una Palma, che uidi nata nell’acqua, É uma palmeira, que vi nascer na água,
e non/ era più alta di cinq e Palmi mà e não/ era mais alta de que cinco palmos,
a dire il uero,/ per la bellezza delle mas a dizer a verdade,/ pela beleza de
sue foglie, e per la uiuacità/ de’ suoi suas folhas, e pela vivacidade de/ suas
collori, tanto acerbi che matturi,/ mi cores, tanto imaturas quanto maduras,/
parea degna di essere collocata a parecia-me digna de ser colocada num
libro.// livro.//

P. 48 P. 48

N. 37 [Anon.] N. 37 [Anon.]

Il ueduto ramoscelo feci tirare da un Fiz tirar esse raminho que se vê de uma
arbore/ assai grande che poi abbonda árvore/ assaz grande que ademais
de’ frutti che/ qui si uedono, li qualli abunda de frutos que/ aqui se vêm, os
quando sono matturi,/ escono del suo quais, quando estão maduros, produzem/
guscio come fagiuli, e stano at-/tacati na sua casca como que feijões, e estão pre-
alla metà del medesimo per un punto,/ /sos à metade do mesmo por um ponto,/
o per dirito, o per trauersso, e non àno ou retos, ou atravessados, e não têm
nome.// nome.//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 91


N. 38 [Anon.] N. 38 [Anon.]

È un Scipò con foglie fine, e frutto, mà/ É um cipó com folhas finas, mas/ detestável
fuor di modo abborrito per il suo fettore, fora do comum por seu fedor, o/ qual me
il/ quale mi inturbidò la vista dopo di turvou a vista depois de havê-lo/ cortado.
auerlo/ tagliato. Era pieno di una massa Estava repleto de uma massa lacunosa,
lagunosa, che/ subito si fece nera, e perciò que/ subitamente se tornou negra, e por
lo butai fuori.// isto joguei-o fora.//

N. 39 [Anon.] N. 39 [Anon.]

Fiore di una erba di Campo, il dicui fiore/ Flores de uma erva do campo, cuja flor/ é
è tanto uiuo, che non si può immitare.// tão viva que não se a pode imitar.//

P. 49 P. 49

N. 40 [Anon.] N. 40 [Anon.]

Il ueduto ramoscelo lo feci straiciare di O raminho que se vê fi-lo podar de certa/


certo/ arbore assai grande, e la ritrouai árvore assaz grande, e achei-a diferente
differente dal-/le già uedute piante, non das/ plantas já vistas, não só pelos frutos
solo per la frutta che/ il detto porta, per que a/ dita porta, por nascerem todos
nascere tutte uicine del mede-/simo. Questo vizinhos do mes-/mo. Este fruto não se
frutto, non si può mangiare, perchè è/ pode comer, porque é/ composto de fibras
composto di fibre lignee, e niun Indio sapeua lenhosas, e nenhum índio sabia dizer-lhe o
dir-/le nome.// nome.//

N. 41 [Anon.] N. 41 [Anon.]

Sono due Piante, l’una di un arbore anch’es- São duas plantas, uma é uma árvore
/so siluestre, e l’altra di una erba barbuta, também es-/ta silvestre, e a outra uma
la/ quale a mio parere sarebbe stimata erva barbuda, a/ qual me pareceu que
da’ Bottanici.// seria apreciada pelos botânicos.//

N. 42 [Anon.] N. 42 [Anon.]

È un Scipò con fiori, e frutti, e anch’esso É um cipó com flores e frutos, e esse também,
per/ non seruire, non à nome.// por/ não ser util, não tem nome.//

92 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 50 P. 50

N. 43 [Anon.] N. 43 [Anon.]

Questa Pianta è di una erba che nas-/ce Esta planta é uma erva que nas-/ce à
all’ombra di queste Selue. Il fiore è/ sombra destas selvas. A flor é/ galante,
gallante, mà tiene il diffetto, che quasi tut- mas tem o defeito que quase to-/das têm
/ti àno in queste parti, che non rendono nestas partes – o de não emitir odor;/ e os
odo-/re , e quei globetti di mezo sono di un globinhos no meio são de um belís-/simo
bel-/lissimo azuro celeste.// azul celeste.//

N. 44 [Anon.] N. 44 [Anon.]

Ritrouai in una Selua questa mostruosa/ Achei numa selva esta monstruosa/
Pianta, che partorisse faue cotanto planta, que pare favas talmente grandes./
grandi./ Il fiore altro non è che una A flor não é senão uma superfície de/
superficie di/ una sola foglia come si uede. uma só pétala como se vê. As sementes/
Le sementi/ della detta faua, sono poche da dita fava são poucas, mas bastante,/
mà assai/ dure. L’arbore è grande, e molto duras. A árvore é grande, e muito
grosso/ con scorza più tosto liscia. grossa,/ com casca antes lisa. Também
Anch’esso, è/ siluestre, e niuno sà darle il esta é/ silvestre, e ninguém sabe dar-lhe
nome.// nome.//

P. 51 P. 51

N. 45 [Anon.] N. 45 [Anon.]

La presente é una erba, che produce ques- A presente erva, que produz esta/ forma
/ta figura composta tutta di globetti toda composta de globinhos elevados/ como
rileuati/ come a punta di diamante, e poi pontas de diamante, e então cada um des-
ogni uno di/ questi si apre, e butta fuori /tes se abre, e brota aqueles filetes já/
quei fillettini giá/ disegnati.// desenhados.//

N. 46 [Anon.] N. 46 [Anon.]

La presente mostruosa faua é di uno A monstruosa fava presente é de um cipó/


Scipò/ che si arampica sopra qualunqe que trepa a qualquer altura, e também/
altezza, e anch’/essa é senza nome.// esta não tem nome.//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 93


N. 47 [Anon.] N. 47 [Anon.]

Dissegnai il frutto di questa Pianta erborea/ Desenhei o fruto desta planta erbácea/ porque
perche mi parue curiosa. Aprij il frutto, e/ pareceu-me curiosa. Abri o fruto, e/ achei-o
lo ritrouai pieno de caselle, e in ogni una/ di cheio de caixinhas, e em cada uma/ daquelas
quelle staua nuotando nel suo summi il// estava nadando no seu sumo a//

P. 52 P. 52

seme. Il suo colore é ingrato, e molto uisco- sua semente. Sua cor é feia, e muito viscoso/
/so é il detto summo, e anch’essa è priua é o dito sumo, e esta também está privada
di/ virtù, e di nome proprio.// de/ virtude e de nome próprio.//

N. 48 [Anon.] N. 48 [Anon.]

Da un arbore siluestre, e sconosciuto, ne/ De uma árvore silvestre e desconhecida/


deriua questo frutto. Li fiori sono ordinarij/ deriva este fruto. As flores são ordinárias/
e rugosa è la scorza dell’arbore.// e rugosa é a casca da árvore.//

N. 49 [Anon.] N. 49 [Anon.]

Da certo arbore siluestre uengono erecti/ De certa árvore silvestre erguem-se/ com
con abbondanza li presenti frutti, che/ a abundância os presentes frutos, que/ para
nulla seruono sino ad ora, má peró so-/no nada servem até agora, mas fi-/quei curioso
curiosi perche oltre ad essere corona-/ti, porque além de serem coroa-/dos, são na
sono al disopra coperti con una du-/ra parte superior cobertos por uma du-/ra
corteccia molto liscia a uso de tim-/balli. casca muito lisa em forma de tím-/balo.
Li rami tengono ne’ nodi le barbe, che// Os ramos têm nos nós as barbas que//

P. 53 P. 53

quí, si uedono, il tronco, e la cortecia, che/ aqui se vêm; o tronco e a casca, que/ não é
non é rugosa, ma appuntata, e con quelle/ rugosa, mas aguçada, e com aquelas/
linee, che si uedono nel dissegno.// linhas que se vêm no desenho.//

N. 50 [Anon.] N. 50 [Anon.]

Strauagantissima in uero é questa É em verdade estravagantíssima esta desco-

94 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sconosci-/uta Pianta e in ogni sua parte. /nhecida planta e em todas as suas partes.
Nasce/ questa da un arbusto, che Nasce/ esta de um arbusto, que produz
produce frutti/ tanto strauaganti, frutos/ muito estravagantes, pois tanto estes,
mentre tanto questi, qua-/nto le foglie, quan-/to as folhas e as flores são voltados
e li fiori sono uoltati uerso/ terra, perché para/ a terra, e porque as ditas flores são
li detti fiori sono uuoti, e/ come di carta vazias, e/ como de pergaminho. A cada
pecora. Ad ogni picola aura/ di vento, pequena brisa/ de vento, ouvem-se
si odono ciacagliare alquanto lungi,/ e chacoalhar mesmo ao longe,/ e se têm
sé aurano seme, sará una minutissima/ semente, deve ser um pó diminutíssimo/
poluere, che tiene nella estremitá uicino que tem na extremidade vizinha ao/ ramo
al/ gambo doue stano attacati, e siccome onde estão presas, e como nenhum/ índio
niun/ Indio sá il nome, cosí mi conuince sabe o nome, assim convenci-me crer/ que
credere/ che altro non faccia, che não faça outra coisa se não entulhar o
ingombrare il terreno.// terreno.//

P. 54 P. 54

N. 51 [Anon.] N. 51 [Anon.]

Dissegnai questo incognito ramoscelo per Desenhei este raminho desconhecido por
ri-/trouare nelle foglie quelle pallotine, en-/contrar nas folhas algumas bolinhas,
che/ sembrauano frutticini; mentre erano que/ pareciam frutinhos, que eram
solidi,/ e aueuano nel mezo un grano assai sólidos,/ e tinham no meio um grão assaz
picolo,/ e l’arbore nullo altro aueua, che pequeno,/ e a árvore não tinha nada mais
foglie.// que folhas.//

N. 52 [Anon.] N. 52 [Anon.]

Sono due Scipò, che si attacano alli São dois cipós, que se prendiam nos troncos/
tronchi/delli arbori, quello che stá con li das árvores, aquele que está com flores
fiori gialli/ é danoso alle Piante per le tante amarelas/ é danoso às plantas pelas muitas
barbichie/ che penetrano la scorza, e forma radicelas/ que penetram na casca, e forma
come un limo./ L’altro cresce anch’esso sino como um limo./ O outro também cresce até
alla estremi-/tá e non só di piú. a extremi-/dade e não sei nada mais.//

N. 53 [Anon.] N. 53 [Anon.]

É questo un altro Scipò, e bello fra li im-// Este é um outro cipó, e belo entre os imen-//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 95


P. 55 P. 55

mensi, che si ritrouano. Il fiore è parti-/ sos que se encontram. A flor é parti-/cular,
colare, e bello è il frutto, mà perchè non si/ e belo é o fruto, mas como não se/ come,
mangia, ne è medicinale, nulla si stima. nem é medicinal, para nada se estima. Es-
Qu-/esto Scipò è differente dalli altri /te cipó é diferente dos outros porque/ brota
perchè/ butta rami, e per auere ancora la ramos, e por ter ainda a casca/ com as
scorza/ con le diuise tanto ugualli a quelle divisões tão iguais a aquelas orelhas/ que
orechie/ che sono sparse per il tronco, sono se espalham pelo tronco, são assim por/
come a/ dire funghi, e tengono il medesimo dizer fungos e têm a mesma cor, mas/ são
colore, mà/ sono come di cartone.// como de cartão.//

N. 54 [Anon.] N. 54 [Anon.]

Per curiositá disegnai questo altro Scipò,/ il Por curiosidade desenhei este outro cipó,/ cuja
dicui fiore é de’ piú sgarbati che sino/ al flor é das mais grosseiras que até/ o presente
presente abbia ueduto, má il frutto é poi/ haja visto, mas o fruto é muito/ diferente de
diuerso da tanti giá dissegnati, e qualle de-/ tantos já desenhados, e aquelas den-/taduras,
ntature, che si uedono escono fuori del frutto/ que se vêm sair fora do fruto/ são como
sono come cartillaggini. Al didentro pieno/ di cartilagens. Dentro [está] cheio/ de sementes
dure semente inuolte in una massa assai// duras envoltas em uma massa assaz//

P. 56 P. 56

spongosa e asciuta, che non sá di odore,/ esponjosa e enxuta, que não tem cheiro,/
non puzza, ne é buona da nulla.// não fede, nem serve para coisa alguma.//

N. 55 [Anon.] N. 55 [Anon.]

Questo Scipò quantunque inutile, e scono- Este cipó, apesar de inútil e desconhe-/
/sciuto, merita di essere anouerato fra le/ cido, merece ser incluído entre as/ plantas,
Piante, e grato sarebbe alle nostre parti e ainda seria apreciado em nossas partes/
an-/cora, tanto piu che il suo collore è principalmente porque sua cor é muito/
assai/ più uiuo di quello che qui è. Li nodi mais viva daquela que aqui está. Os nós
cosi/ bene disposti con assieme le spine lo tão/ bem dispostos conjuntamente com os
rendono piú/ amirabile, e sino le foglie, espinhos tornam-no mais/ admirável, e até
sono/ differenti assai dalle inoltre, che si as folhas são/ assaz diferentes das outras
uedono.// que se vêm.//

96 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


N. 56 [Anon.] N. 56 [Anon.]

Qui si uede un altro Scipò, non meno curio-/ Aqui se vê um outro cipó, não menos curio-/
so dell’altro, e se non é stimabile, per li fi-/ori so do que o outro, e se é estimável pelas flo-/res,
sará per li frutti, e per li nodi del tronco.// se-lo-á pelos frutos e pelos nós do tronco.//

P. 57 P. 57

N. 57 [Anon.] N. 57 [Anon.]

Sono due Scipò auitichiate assieme, e le/ São dois cipós grudados juntos, e as/ folhas
foglie nascenti del Maggiore, sono di colo-/ que nascem do maior são de cor/ muito
re assai piú uiuo dal presente.// mais viva do que a presente.//

N. 58 [Anon.] N. 58 [Anon.]

Questa Arbore, é uguale a’ Maggiori. Il/ Esta árvore é igual às maiores. A/ flor é
fiore é curioso, e le foglie sono simili a/ curiosa, e as folhas são semelhantes às/ da
quelle della Cipolla braba: li frutti sono/ cebola-brava. Os frutos são/ semelhantes
similli al Cacao, má niuno li conosce.// ao cacau, mas ninguém os conhece.//

N. 59 [Taigià-de-cobras] N. 59 [Tajá-de-cobra]

Questa Pianta é una erba. Non consis-/ Esta planta é uma erva. Não consis-/te
te in altro che in un Piede alto cinq e in/ em outra coisa senão num pé alto de cinco
sei Palmi tutto sagrinato, e di uarij ou/ seis palmos todo lixento, e de várias
collori,/ che immitano alcune biscie, che cores/ que imitam algumas serpentes, que
qui si di-// aqui se di-//

P. 58 P. 58

cono Cobras, e per questo si chiama Taigiá/ zem cobras, e por isto se chama tajá-/
de Cobras, il qual piede tiene tre foglie/ de-cobra, cujo pé tem três folhas/
simili a quelle che qui si uede dissegnata,/ semelhantes àquelas que aqui se vêm
e sono orizontalli alla terra, e certamente/ desenhadas,/ e são horizontais à terra, e
sarebbe una bella Pianta per ornare Giar- certamente/ seria uma bela planta para
/dini. Il piede é spungoso come quello di/ ornar jar-/dins. O pé é esponjoso como
un fongo, má quello che lo rende consiste-/ aquele de/ um fungo, mas o que o torna

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 97


nte é una scorza che tiene allo intorno gros- consisten-/te é uma casca que tem ao redor,
/sa come un cartoncino.// gros-/sa como uma cartolina.//

N. 60 [Anon.] N. 60 [Anon.]

Non mi ricordo il nome di questa Não me recordo o nome desta planta/ que
Pianta,/ che staua in una Selua il dicui estava em uma selva, e cujo fruto/
frutto/ lo assagiai perche uidi che li Indij experimentei porque vi que os índios o/
lo/ mangiauano, e non era di ingrato comiam, e não era de sabor desagradável,/
sapore/ má non si coltiua. Abbenche qui mas não se cultiva. Se bem que aqui abun-
abbon-/dano altri frutti assai piú inferiori /dam outros frutos assaz inferiores a/
a/ questo.// este.//

P. 59 P. 59

N. 61. Pimentas N. 61. Pimentas

Pimentas sono quelle che noi Pimentas são aquelas que chamamos/
chiamamo/ Peperoni, de’ qualli qui peperoni, dos quais aqui existem
sono di uarie sorta,/ cioé di colore del várias espécies,/ ou seja, de cor
carmino, giallo, morelli,/ negri, e di carmim, amarela, murzela,/ negras,
colore del uerde rame. Tutti sono/ e cor de verde-cobre. São todas/ fortes,
forti, ma le piccolline che si chiamano mas as pequeninas que se chamam ma-
ma-/lleghetas, sono fuor di modo /laguetas são picantes fora do comum,
picanti, e li nazi-/onali se ne seruono e os nacio-/nais delas se servem como
per condimento di ogni ui-/uanda. Le condimento de cada pra-/to. Usam-
usano per uarie mallatie, e parti-/ nas para várias doenças, e parti-/
colarmente per le correuizioni dandone cular mente para os cor rimentos,
a uno/ di lauatiui, e non pochi li dano dando-se a alguém/ como clister, e não
a [...] ai/ schiavi per castigo. Questa poucos dão-nas como [...] aos/
Pianta si/ deue mettere nel numero escravos por castigo. Esta planta deve-
delli arbusti/ non ostante di durare se/ pôr no número dos arbustos,/ não
molti Anni, e in/ questi moltiplicare obstante durar muitos anos, e nestes/
li intricati suoi ra-/li qualli però non multiplicar seus intrincados ra-/mos.
passano in altezza/ di dodici Palmi Os quais porém não passam da
incirca. Li frutti uari-/ano in altura/ de cerca de doze palmos. Os
grandezza , e ancora tengono uarie/ frutos variam/ de tamanho, e têm
forme.// ainda várias/ formas.//

98 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 60 P. 60

N. 62 [Anon.] N. 62 [Anon.]

Questo Scipò á figura di un fagiuolo, e/ cresce Este cipó tem a forma de um feijão, e/ cresce
sino a tocare la cima degl’arbori/ piú alti, e até tocar o ápice das árvores/mais altas, e como
perche non si mangia, nulla/ li stima. Il seme não se come, ninguém/o aprecia. A semente
anch’esse é un faggiuolo/ con uene scure.// também é um feijão/ com veias escuras.//

N. 63 [Anon.] N. 63 [Anon.]

In questo luogo si uede un altro gagiuo-/lo Neste lugar vê-se um outro [?]/ selvagem,
seluatico, assai differente da ogni altro,/ per assaz diferente de qualquer outro,/ por
essere molto peloso, e particolare. Corre-/ ser muito peludo, e particular. Corre/
ndo esso assai lontano, e serpeggiando.// muito longe e serpeando.//

N. 64. Giassitara N. 64. Jacitara

Ancor questa Pianta é saluatica, má/ Ainda esta planta é selvagem, mas/ apesar
ancorché il frutto, non sia buono, sempre/ de que o fruto não seja bom, sempre/ é bela de
è bello de uederssi. Questo Scipò nasce// ver-se. Este cipó [sic; é palmeira] nasce//

P. 61 P. 61

molto intricato, e uicino alle sponde di alcun/ muito intrincado, e vizinho das margens de
[...]. non é del tutto in dizuso, perchè/ lo algum/ [...], e não está em desuso total,
raspano, e ne fano picole uotte rittorte/ e porque/ raspam-no, e fazem pequenos atilhos
serue per insegna de’ Ministri, li qualli poi/ vazios/ que servem de insígnia aos ministros,
lo portano arollate nel braccio sopra il ues- os quais então/ os portam enrolados no braço
/tito e os meirinhos [sic], che sono come li sobre a roupa,/ e os meirinhos, que são como
Messi/ da noi le portano attacate ad un os mensageiros/ entre nós portam-nos presos
bottone/ della sinistra bisaca, e non é piu a um botão/ da lapela esquerda, e não é
grosso di/ una penna da scriuere.// mais grosso que/ uma pena de escrever.//

N. 65. Morrera Braba N. 65. Amoreira-brava

Cosi é chiamata per buttare quei fiori,/ É assim chamada por produzir flores/
che qui li cadono alcun poco similli al-/le que aqui acham um pouco semelhantes às/

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 99


nostre more. L’Arbore è fra gran-/di, ma das nossas amoreiras. A árvore é algo
di niun uso.// grande,/ mas de nenhuma utilidade.//

N. 66 [Anon.] N. 66 [Anon.]

Di questa incognita Pianta, dico, che// Desta planta desconhecida, digo que//

P. 62 P. 62

curiosissimo è il suo frutto, perchè il di-/ é curiosíssimo o seu fruto, porque o/ globo
ssegnato globo, oltre di essere uoto, è sotti-/le desenhado, além de ser vazio, é fino/ como
come la carta, e per conseguenza è tras-/ papel, e por conseguinte é trans-/parente como
parente como un uetro, e di collore di solfo/ um vidro, e de cor de enxofre/ no fundo. Achei
nel fondo. Poi ui ritrouai il suo frutto isso-/ então seu fruto iso-/lado de todas as partes
lato per ogni parte una prugna seca, mà/ como uma ameixa seca, mas/ assaz dura.
assai dura. Li fiorellini si uedono nel dissegno,/ As florzinhas se vêm no desenho,/ e nada
e nulla più ò che dire di questa.// mais tenho a dizer desta.//

N. 67. Vrrapari N. 67. Arapari [?]

Questa Pianta quantunqe non si coltiui, Esta planta, apesar de não se cultivar, e/
e/ si ritroui acaso, il suo frutto mi pia-/ de se achar por acaso, tem um fruto que me
que perche dolce, e non nauseante.// agra-/dou por ser doce e não nauseante.//

N. 68 [Anon.] N. 68 [Anon.]

Tra li arbori, che di sé fanno bella vista, Entre as árvores que de si fazem boa figura,
questi// esta//

P. 63 P. 63

é certamente uno di quelli, e si conosce ancor é certamente uma delas, e se conhece ainda
da/ lontano per essere assai frondoso, alto, de/ longe, por ser assaz frondosa, alta e de
e di uerde/ assai chiaro, le foglie, sono minute, verde/ assaz claro, as folhas são diminutas,
e allo intorno/ intagliate. Il fiore é belissimo, e ao redor/ entalhadas. A flor é belíssima,
perché composto/ di moltiplicate filla, le une porque composta/ de fios multiplicados, uns
sopra le altre, e sem-/bra per lo apunto un sobre os outros, e pare-/ce por isso mesmo
fioco di seta, ma incarnato/ come lo é il um floco de seda, mas encarnado/ como o

100 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


carmino. Dopo secato si trasforma/ como si carmim. Depois de seca se transforma,/
uede in uarie guise, poi si empi di mas-/ como se vê, em várias maneiras, depois de
zetti di quelle faue, che sono del colore del enche de mas-/sinhos daquelas favas que são
lapis/ rosso. Questa Pianta, non á nome da cor do lápis/ vermelho. Esta planta não
proprio, perché non/ é coltiuata, e solamente tem nome próprio, porque não/ é cultivada
lo é ueduta nel Rio Negro,/ má se auessero e somente a vi no Rio Negro,/ mas se tivesse
luogo ne’ nostri Giardini, só che acre-/ lugar em nossos jardins, sei que acres-/
scerébbero ornamento alli medesimi, e belli centariam ornamento aos mesmos, e seriam
sarebbero/ per formare Vialli in luogo de’ belas/ para formar alamedas em lugar de
olmi, perche i suoi/ rami formano un corpo olmos, porque/ seus ramos formam um
quasi rottondo, e assai folto.// corpo quase redondo e assaz espesso.//

N. 69 [Anon.] N. 69 [Anon.]

Il fiore di questa Pianta colorea, lo ritrovai Encontrei a flor desta planta colorida
in// na//

P. 64 P. 64

tempo che staua nel Rio Negro, e la rit-/ época em que estava no Rio Negro, e achei-/
rouai in un tronco di un arbore gia seco, e/ a num tronco de árvore já seco, e/ quem
chi mai potrà indouinare fra Filosoffi come/ jamais poderá adivinhar, entre os Filósofos,/
in qual deserto luogo si portasse la cipolla/ como naquele deserto foi levada a cebola/ da
dalla quale nacque - in fine queste fiore,/ qual nasceu? Em fim, esta flor/ não lança
non rende alcuno odore, mà sempre sarà/ odor algum, mas sempre será/ apreciável.
stimabile. Moltiplica al’uso delle angeli-/che Multiplica-se ao modo da angéli-/ca, e suas
e le sue foglie, sono assai più larghe,/ e alte folhas são bastante mais largas/ e altas do
di queste, e mi pare che si potrebbe/ portare que estas, e parece-me que se poderia/ levar
con molta facilità in Europpa. De-/uo ancor com muita facilidade à Europa. De-/vo dizer
dire che in tutti i luoghi non è dell’/istesso ainda que em todos os lugares não tem/ a
collore, perche poi ne ò ueduta altri di/ color mesma cor, porque depois vi outras de cor/
pauarazzo, che qui si chiama rosso.// [...], que aqui se chama roxo.//

N. 71, 72, 73 [sic: 70, 71, 72] N. 71, 72, 73 [sic: 70, 71, 72]
[Pacoue-sororoche] [Pacova-sororoca]

Sono piante erboree, mà crescono però sino São plantas erbáceas, mas crescem até
a dodici/ palmi. Qui non tengono alcun doze/ palmos. Aqui não têm nenhuma

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 101


uso, senon è di ser-/uirsi tal uolta delle utilidade, se não/ de servirem às vezes as
foglie della prima per al-/cun uso, e tutte folhas da primeira para al-/gum uso, e
si chiamano Pacoue Sororoche.// todas se chamam pacova-sororoca.//

P. 65 P. 65

N. 73. Maracugiá N. 73. Maracujá

In questo medesimo foglio, si ritroua un altra/ Nesta mesma folha acha-se uma outra/
Pianta detta Maracugiá, má questa non é planta dita maracujá, mas esta não é/
di/ quelle, che si mangiano perché il suo frutto das que se comem, porque seu fruto é le-/
é le-/gerissimo, e al di dentro é tutto foffo, e víssimo, e por dentro todo fofo, e só tem al-
non á che al-/cune poche sementine.// /gumas poucas sementinhas.//

N. 74 [Maracujá, outra espécie] N. 74 [Maracujá, outra espécie]

É un altra sorte delle medesime, má É uma outra espécie da mesma, mas


saluatica, e/ che a nulla serue // selvagem, e/ que não serve para nada.//

N. 75 [Outra espécie de Maracujá] N. 75 [Outra espécie de Maracujá]

Questa sorte de Maracugiá, la abbiamo Esta espécie de maracujá, temo-la nós


ancor noi/ in Bologna, má dá solamente il ainda/ em Bolonha, mas dá somente a
fiore, e non il frutto,/ e é quella che chiamiamo flor e não o fruto,/ e é a que chamamos
Martirio. In questo fio-/re si uede di piú il martírio. Nesta flor/ se vê ademais seu
suo calice dal qualle ne nasce// cálice, do qual nasce//

P. 66 P. 66

il frutto, con una semente del medesimo a o fruto, com uma semente do mesmo à parte
parte che/ é quella che il uolgo dice, ui sia que/ é aquela que o vulgo diz ser a impressão
impressa la corona/ di spine con le chiodi, e da coroa/ de espinhos com os cravos, e é
certo é, che non del tutto si/ inganna. Il certo que não de todo/ se engana. A
fioretto é al difuori liscio, e se questo ti-/ene florzinha é por fora lisa, e se esta tem/
quelle prominenze é perche lo ritrouai unico aquela preeminência é porque a achei única
fra/ le tante, che mi furono date; al didentro entre/ tantas que me foram dadas; por
poi é ri-/pieno di semi, e ogni uno stá chiuso dentro então é/ cheia de sementes, e cada
come in una ue-/sica formata d’una uma está encerrada em uma/ bexiga

102 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sottilissima pelle, che é ripiena di/ sumo. formada de uma finíssma pele, que está cheia
Tutte queste sementi nuotano poi anch’esse de/ sumo. Todas estas sementes nadam então
intor-/no alla sua massa che è quella che também elas ao/ redor da sua massa, que é
empie il frutto/ má é anch’essa separata a que enche o fruto/ mas é também essa
dal guscio a segno che sen-/za fatica se staca separada da casca de modo que/ sem esforço
e resta tutta intiera e cosi si/ mangia in se destaca e fica toda inteira e assim se/
anima, e in corpo, e le sementi per essere/ come de alma e de corpo, e as sementes, por
misturate in quella massa liquida si ingolano estarem/ misturadas naquela massa líquida
senza que-/dersene. Il gusto é soavissimo se engolem sem/que peçam. O gosto é
perche agro e dolce, ma tan-/to bene suavíssimo pois é acre e doce, mas tão/ bem
temperato, che a tutti piace, e le migliori temperado, que a todos agrada, e as melhores
furono/ quelli che si mangiano in Mariuuá foram/ as que se comem em Mariuá no Rio
nel Rio Negro e/ in altri luoghi sono più Negro e/ em outros lugares são mais ácidas.
acide. Il detto frutto non nuo-/ce ad alcuno, A dita fruta não/ causa dano a ninguém, e
e só che una uolta ne mangiai sopra// de uma só vez comi mais//

P. 67 P. 67

cinquanta, e non mi fecero pregiudicio. Una de cinquenta, e não me causaram prejuízo.


ue-/ne á poi fra le sauatiche che dá un fiore/ Uma/ existe ainda entre as selvagens que dá
fatto a stella grande al doppio di un Narciso,/ uma flor/ feito uma estrela duplamente maior
má di collore tanto uiuo, che uguaglia il car-/ que um narciso,/ mas de cor tão viva que iguala
mino, e ouunque sia, si lascia uedere assai lon- o car-/mim, e onde quer que esteja, faz-se ver
/tano. Il suo frutto é in tutto simile al giá/ de muito/ longe. Seu fruto é em tudo semelhante
descrito, ma resta sempre uerde, e talmente é ao descrito, mas fica sempre verde, e é de tal
ac-/ido, che non si puó tollerare.// modo áci-/do, que não se pode tolerar.//

Fine delle descrizioni di quelle Piante/ che Fim das descrições daquelas plantas/ que
sono dissegnate nel Libro. Al pre-/sente estão desenhadas no livro. Seguirão/ agora
seguirano le altre da me uiste,/ e con alcuna as outras vistas por mim,/ e consideradas
attenzione considerate.// com alguma atenção.//

P. 68 P. 68

[76] Bacurí [76] Bacuri

É arbore assai grande e tali sono le sue fo- É árvore bastante grande e tais são suas
/glie. Non posso formare idea del suo fiore/ fo-/lhas. Não posso formar uma idéia da

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 103


perche nisuno lo à considerato, mentre nas- sua flor/ porque ninguém a considerou,
/cono nelle Selue, e quantunq e sieno porque nas-/cem nas selvas, e apesar de
stimabili/ le sue Piante, qui non si coltiuano serem apreciadas/ as suas plantas, aqui
in partico-/lare. Il frutto, è liscio, e não se cultivam em particu-/lar. O fruto
solamente il gus-/cio, lascia uedere machie é liso, e somente a cas-/ca deixa ver
negre quando è più/ che matturo. Questi è manchas negras quando está mais/ que
grande come un Cotto-/gno ordinario, e maduro. É grande como um marmelo/
dello stesso colore è quando/ si stà per ordinário, e da mesma cor é quando/ está
mangiarlo. Il guscio è grosso co-/me il deto para ser comido. A casca tem a grossura
picolo di una mano, mà con tutto/ ciò si de/ um dedo mindinho da mão, mas com
taglia facilmente, e con poco di forza,/ si tudo/ isto se corta facilmente, e com pouca
apre battendolo. Aperto che sia resta di-/ força,/ abre-se batendo-o. Uma vez aberto,
uiso in due pezzi ogni uno de qualli tiene/ fica di-/vidido em dois pedaços cada um
il seme inuilupato in certa massa grossa dos quais tem/ a semente envolta em certa
la/ quale si asciupa, mà la parte fibrosa massa grossa, a/ qual se chupa, mas a
resta/ sempre attacata al detto seme che parte fibrosa fica/ sempre ligada à dita
sarà del// semente, que terá o//

P. 69 P. 69

uolume di una prugna ordinaria, e volume de uma ameixa ordinária, e cortando-


tagliandolo/ butta fuori inoltre e finissime a/ solta além disso finíssimas lácrimas
lacrime uiscose./ Ogni uno de’ sudetti pezzi viscosas./ Cada um dos supraditos pedaços
tiene a lato una/ porcione di massa separata tem ao lado uma/ porção de massa separada
da quella che rin-/chiude li semi, e quella è daquela que en-/cerra as sementes, e é essa
che si mangia con/ maggior gusto perchè que se come com/ maior gosto, porque não
non si sciupa, e si possono/ preparare Piatti se chupa, e podem-se/ preparar pratos
intieri, le qualli poi essen-/do spoluerizati inteiros, que depois sendo/ pulverizados de
di zucaro, si rendono grati a/ qualunqe açúcar tornam-se gratos a/ qualquer
pallato per delicato che sia, perchè/ oltre al paladar por mais delicado que seja, porque/
suo dolce misturato con un agro pi-/cante além de seu doce misturado com acre pi-/
lascia in boca un gratissimo odore, che/ dura cante deixa na boca um gratíssimo odor que/
più ore. Il tempo che dà questo frutto,/ è in dura várias horas. O tempo em que dá este
Marzo e Aprile, mà però non si può/ fruto/ é março e abril, mas não se pode/
mangiare da mani delicate perchè qualu-/ comer com mãos delicadas, porque qual-/
nqe ferita che abbia nel guscio tramanda/ quer ferida que tenha a casca transuda/
una rasina, che inuischia inoltro le mani. uma resina que mela portanto as mãos. Seu/
Il/ suo legno è buonissimo per ogni uso, lenho é boníssimo para qualquer uso,

104 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


perchè/ oltre ad essere forte resiste ai lauori porque/ além de ser forte resiste aos
di Cano-/ue e di Naui.// trabalhos de [fazer]/ canoas e naves.//

P. 70 P. 70

[77] Andirobba [77] Andiroba

Questa é una Pianta che cresce assai alta,/ Esta é planta que cresce bastante alta,/ é
è frondosa, e pare che ami i luoghi umidi,/ frondosa, e parece gostar de lugares
perchè in quelli nasce, e si nutre. Li fiori/ úmidos,/ porque neles nasce e se nutre. As
non li ò ueduti, mà mi dicono che nascono flores/ não as vi, mas dizem-me que nascem
as-/saissime uniti, che sono picoli, e di muitís-/simo unidas, que são pequenas e
colore del solfo./ Le foglie, sono da cor do enxofre./ As folhas são
comunemente larghe tra polici/ e dodici comumente largas, entre uma polegada/ e
lunghe, ma forti, e lustrose. Ogni/ [?] de comprimento, mas fortes e lustrosas.
ramoscello ne porta quatordici, e sono equi- Cada/ raminho transporta catorze, e são
/distanti l’una dall’altra due polici. I equi-/distantes uma da outra duas
loro/ frutti, si allimentano dentro di un polegadas. Seus/ frutos se alimentam [?]
guscio che/ é quadrato, e tanto é grosso dentro de uma casca que/ é quadrada, e
che difficilmente/ si può impugnare con tão grandes que dificilmente/ se podem
una mano. Ne’ quatro/ canti esteriori agarrar com uma mão. Nos quatro/
del guscio uiene fortificato da/ un cordone, cantos exteriores da casca ela é fortalecida
che si uà a unire nel fondo con li/ altri, por/ um cordão, que se une no fundo com
che poi formano una punta, e matturi, os/ outros, que depois formam uma ponta,
che/ sono, sono del colore che è la e, quando maduros,/ são da cor da
ferrugine. Dipoi/ si aprono da sè stessi, e ferrugem. Depois/ abrem-se por si sós e
lasciano cadere le// deixam cair as//

P. 71 P. 71

castagne, che rinchiuse, ritrouai essere noue castanhas que encerram, e [que] achei serem
o di-/eci unite in quatro colonne, e tanto nove ou/ dez unidas em quatro colunas, e
bene, che dopo/ di essere coscite, a grande tão bem, que depois/ de serem cozidas, com
stento si tornerebbero ad/ unire nel estesso grande dificuldade voltariam/ a unir-se no
luogo, e pare che quella massa/ bianca, mesmo lugar, e parece que essa massa/
nella qualle staua collocate sia come cale, branca na qual estão colocadas é como cal,
che/ le tenga unite, e sotto a quella massa que/ as tem unidas, e sob essa massa existe
ui stà una/ pellicola bianca, che sembra di uma/ película branca, que parece aquela de

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 105


quella, che si fanno li/ guanti fini. Le que se/ fazem luvas finas. As supraditas
sudette castagne sono triangolari,/ e quella castanhas são triangulares/ e a parte que
parte che toca il guscio, è circolare. Il/ toca a casca é circular. A/ casca é forte e é
guscio è forte e bisogna romperlo con pietra necessário rompê-la com pedra ou/ com
o con/ alcun legno. Il descritto frutto tutto algum ferro. O fruto descrito todo junto está/
assieme stà/ pendente da un gambo lungo pendente de um galho de um palmo de
un palmo. Le cas-/tagne non si mangiano, comprido. As cas-/tanhas não se comem,
mà sono di grandissima ut-/tilità tanto mas são de grandíssima uti-/lidade tanto
nelle case, quanto nelle lampade/ della nas casas, quanto nas lamparinas/ da igreja.
Chiesa. Questo olio cosi si fà, amassa-/te Este óleo se faz assim: depois de/ amassadas
che sono le castagne, si feruono in acqua, as castanhas, são fervidas em água; de-/
di-/poi si mettono in monte coperte con pois põem-se num monte coberto com folhas,
foglie, e si/ lasciano marcire per il tempo e se/ deixam putrefazer pelo tempo de cerca
di dodici giorni incirca// de doze dias;//

P. 72 P. 72

dipoi si rompono le medesime, e con un depois rompe-se-as, e com uma colherzinha/


cochiarino/ di legno, si uà tirando, e de pau, vai-se tirando e juntando aquela
aggiuntando quella massa/ la quale poi si massa/ a qual então se mexe como a pasta
dimena come la pasta, e poi si/ ua metendo [do macarrão], e depois se/ vai pondo em
in uarie tauole cavue esposte al so-/le il quale várias mesas côncavas expostas ao/ sol, o
con il suo calore lo separa dalla mas-/sa e lo qual, com seu calor, o separa da mas-/sa e
lascia cadere ne’ vasi che le stano sotto,/ fá-lo cair nos vasos que lhes estão debaixo,/
auertendo, che le tauole deuono stare assai desde que as mesas estejam bastante curvas,/
curve,/ e non orizontali. La notte poi si e não horizontais. Depois à noite põe-se ao
mette al coper-/to, e ogni notte che si mette cober-/to, e cada noite que se põe para fora,
fuori, bisogna di-/menarlo. Egli è certo che è é preciso/ mexê-lo. É certo que é trabalhoso,
trauaglioso, mà è/ perchè non se uogliono, o mas é/ porque não querem, ou não se servem,
non sono servissi di/ machini, perchè si de/ máquinas, porque poder-se-ia fazer como
potrebbe fare come noi fa-/ciamo l’olio di nós fa-/zemos o óleo de nozes. Depois de
noce. Dopo un Anno indu-/risse, ma non si um ano endu-/rece, mas não se perde, porque
perde, perche serue poi a fa-/re il sapone. serve para fa-/zer sabão. Esta planta não
Questa Pianta non si semina/ come si se semeia/ como se deveria fazer, e pelo
dovrebbe fare, e anzi ogni uno doue/ la ritroua contrário, cada qual,/ onde a encontra, corta
ne toglie li arbori per fare legno, e/ per questo a árvore para fazer lenha, e/ por isto escasseia
scarsseggia molte uolte abbenchè/ suplisca in muitas vezes, se bem que/ supra dez vezes
due uece la manteca di Tartaruga.// a manteiga de tartaruga.//

106 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 73 P. 73

[78] Sorbas [78] Sorvas

Di questa Pianta ne ò ueduto di due Desta planta, vi duas espécies,/ ou seja,


sorta,/ cioè l’una non più grossa di una uma não maior que um damasco, e/ a
albicoca, e/ l’altra come una laranggia. outra como uma laranja. Mas a primeira
Mà la prima è mi-/gliore. Il frutto è é me-/lhor. O fruto é redondo como as
rottondo come la noce uerde,/ ma il uerde nozes verdes,/ mas o verde desta espécie é
di questa sorte, è oscuro, e pieno di/ escuro, e cheio de/ manchas negras, que o
machie nere, che lo fanno ingrato alla tornam desagradável à vista./ Quando
vista./Quando è maturo, si apre maduro, abre-se esmagando-o com dois/
strittolandolo con due/ deta, e dentro ui dedos, e dentro encontra-se uma massa de
si troua una massa di un bia-/nco che um bran-/co que tem um pouco de
alcun poco tiene di giallo, e la detta mas- amarelo, e a dita mas-/sa está cheia de
/as è ripiena di sementi che sembrano grani sementes que parecem grãos de a-/reia,
di ar-/rena, mà non infastidiscono a mas não atrapalham comê-la, porque/
mangiarla perchè/ più tosto si ingolle, e se engolem facilmente, e é certo que a meu
certo è che a parer mio, e/ di molti ancora, ver, e/ de muitos mais, é o mais agradável
è il più grato frutto che abbi/ la America fruto que tem/ a América nesta parte.
in questa parte. Il suo dolce, è gra-/ Sua doçura é agradabi-/líssima e para
tissimo, e per maggior preggio rende un seu maior valor emite um odor/ tão suave
odore/ tanto soaue, che pare apunto que parece produzido de propósito para/
somministrato per/ imbalsammare il perfumar o hálito, e não se constatou que
respiro, e non si sa che faccia// faça//

P. 74 P. 74

male ad alcuno. Questa Pianta non si uede/ mal a alguém. Esta planta não se vê/ nestas
in queste parti, mà bensi nel Rio Negro partes, mas sim no Rio Negro, onde/ a
doue/ ne ò gustate assai, e non sò se sia experimentei bastante, e não sei se é porque
perche qui/ non dà, o per la poca cura di aqui/ não dá, ou pelo pouco cuidado desta
questa mole gen-/te, che a tutto altro, penso, gente mole,/ que por outra coisa, penso, que
che alla cultura io/ sò bene, che se mandai a ao cultivo. Sei/ bem que, quando mandei
leuare alcune pian-/te, le qualli ariuate che trazer algumas plan-/tas, assim que
furono, si secarono do-/po pochi Mesi, mà chegaram, secaram de-/pois de poucos meses,
fù perche non stando io/ nella mia Chinta, mas foi porque não estando eu/ na minha
e essendo picoline, e in uasi/ le lasciarono quinta, e sendo pequeninas, e em vasos,/

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 107


morire per mancanza d’acqua./ Le deixaram-nas morrer por falta de água./
maggiori sono in tutto simili, mà alcune po- As maiores são em tudo semelhantes, mas
/co insipide. Li suoi semi sono poi come algum pou-/co insípidas. Suas sementes são
quelli/ delle nostre sorbo. Nula dico delle como as/ da nossa sorveira. Nada digo das
foglie, de’/ fiori, ne del suo legno perche niuno folhas, das/ flores nem de seu lenho, porque
mi sà dire/ ció, che sinno.// ninguém sabe/ dizer-me como são.//

Ingas [cf. N. 24] Ingá [cf. N. 24]

Ancor questa Pianta, è deuisa in uarie, Também esta planta está dividida em
e/ quella che molto è da ammirare, sono várias, e/ a que é muito de admirar, são
nell’// [sic] no//

P. 75 P. 75

esteriuore assai differenti, e benchè le abbia/ exterior assaz diferentes, e se bem que já
già descrite al N. 24: deuo dire che non as/ haja descrito no N. 24, devo dizer
os-/tante al grande diuario, que ui à nella que não obs-/tante a grande variação que
forma/ de’ frutti, e delle foglie, il fiore, e il existe na forma/ dos frutos e das folhas,
frutto/interiore con il gusto, sono sempre li as flores e o fruto/ interiormente, com seu
medesimi.// gosto, são sempre os mesmos.//

[79] Tapiribas [79] Taperebá

L’arbore fra Maggiori, è nel numero de’ A árvore, entre as maiores, está no número
pri-/mi, e particolarmente nella das pri-/meiras, e particularmente na
estensione de’ rami./ Li fiorellini sono extensão dos ramos./ As florzinhas são
picollini, e sono del collore che/ è il pequeninas, e da cor que/ tem o jasmim
gelsomino detto Gemè. Le foglie sono più- dito “gemè”. As folhas são antes/
/tosto picole, mà molto appuntate. Il pequenas, mas muito agudas. O fruto é/
frutto è/ oblungo, ma poco maggiore di oblongo, mas pouco maior que nosso sorvo,/
una nostra sorba/ mà è tutto giallo. mas é inteiramente amarelo. Muitos o
Molti ne fano caso, ma a/ dir uero è apreciam, mas/ para dizer a verdade é
agro abbenche abbia anc’esso un/ certo acre, se bem tenha também um/ certo odor
odore non ingrato. Si asciupa, e non si não desagradável. Chupa-se, e não se co-/
man-/gia, perche è tutto ligneo. La me, porque é inteiramente lenhoso. A casca
scorza del arbore/ è talmente rugosa e da árvore/ é totalmente rugosa e aguda,
apuntata, che niuno ne// tal que ninguém//

108 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 76 P. 76

tenta la salita per andarne sopra. Nel tenta subi-la para ir-lhe acima. No mês/
mese/ di Febraio lasciano cadere le frutte, de fevereiro deixam cair os frutos, que/ são
le qualli/ sono tante, che ui si passa sotto tantos, que se lhes passa por cima chutando-
calpestandoli./ Li Indij però, e ancora os./ Os índios, porém, e ainda alguns
alcuni nazionali, ne fano/racogliere, le nacionais, fazem-nos/ colher, deixam-nos
lasciano fermentare, e ne estragono/ una fermentar, e deles extraem/ uma bebida,
beuanda, che li ubriaca a perfetione.// que os embriaga à perfeição.//

[80] Cuttutirubà [80] Cutitiribá

Questa arbore nasce alta, mà poi non Esta árvore nasce alta, mas depois não se
impone/ molto, e la sua cortecia è rugosa e impõe/ muito, e sua casca é rugosa e tende
tende al scu-/ro, o sia negra, le foglie sono ao es-/curo, ou seja, é negra, as folhas são
picole, e i frutti/ non sono maggiori di una pequenas, e os frutos/ não são maiores do
galla, che noi diciamo/ Pancuca, mà sono que uma galha a que chamamos/ “pancuca”,
totalmente rottondi, e uerdi quan-/do sono mas são totalmente redondos, e verdes quan-
acerbi e matturi gialli. Tirata poi che/ sia /do são imaturos e amarelos quando
la pelle, che é sottillissima, è in tutto/ simile maduros. Tirada/então a pele, que é finíssima,
ad una gema d’ouo cotta dura. Il suo/ é em tudo/ semelhante à gema de um ovo
dolce è alcun poco nauseante però mi cozido duro. Sua/ doçura é um tanto
piaciono./ Il seme è curioso fuor di modo, è nauseante, mas me agradam./ A semente é
più grande// curiosa fora do comum, é maior//

P. 77 P. 77

di un seme di olliua, e da una parte, è do que um caroço de azeitona, e por um


rugo-/so, mà dall’altra è tanto liscio e negro lado é/ rugosa, mas do outro é tão lisa e
quanto/ lo è l’Ebano.// negra quanto/ o ébano.//

[81] Castagno [+ Assapucaia] [81] Castanha[-do-pará & Sapucaia]

Quest’arbore in altezza garreggia con lo/ Esta árvore, em altura, compete com o/
Angellino. Cresce diritto, e ariua com angelim. Cresce reta, e chega depois de
molti/ Anni ad una grossezza fuori del muitos/ anos a um tamanho fora do comum.
comune. Le/ foglie sono appuntate, e più As/ folhas são agudas, e antes grandes.
tosto grandi. In/ luogo di fiori, butta [.....]. Em/ lugar de flores, brota [...]. O fruto

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 109


il frutto è/ grande come una grossa cipola, é/ grande como uma grande cebola, mas
mà ancor/ più alto, e la cortecia di questi ainda/ mais alto, e a casca deles é tão gros-
è tanto gro-/ssa, e dura, che si rompe con / sa e dura, que se quebra com um machado,
la manaia, e/ se uno de’ detti frutti cadesse e/ se um desses frutos caísse em alguém na/
ad alcuno nel/ capo, indubitatamente gli cabeça, indubitavelmente lha fenderia ao
la fende al mezo,/ e quando ne racolgono meio,/ e quando se colhe a castanha, deitam
la castagna, buttano l’/arbore nel suolo. a/ árvore ao solo. Quando então estão as
Quando poi sono li guscij/ del tutto sechi, cascas/ totalmente secas, deixam cair uma
lasciano cadere un coperchino// tampinha//

P. 78 P. 78

che stà nel fondo, e da quello ne escono le/ que têm no fundo, e daquele saem as/
castagne in numero di quindici sino a dicioto./ castanhas em número de quinze até dezoito./
Sono queste triangolari, rugose e di guscio duro/ São estas triangulares, rugosas, e de casca
come quello delle nostre noci. La castagna é dura/ como as de nossas nozes. A castanha
bianca, mà/ uiene circondata da una pelle é branca, mas/ vem envolta em uma pele
collor di tabaco, la qua-/le difficilmente se li cor de tabaco, a qual/ dificilmente se lhe
puole leuare senza coltello./ Il gusto della pode tirar sem faca./ O gosto da mesma é
medesima è buono, mà abbonda di olio./ Della bom, mas abunda em óleo./ Da mesma
medesima si fanno buonissimi dolci, e in manca- fazem-se boníssimos doces, e na fal-/ta de
/nza di latte, si pestano, e se ne estrae il leite, são piladas, e delas se extrai o sumo,
summo, che/ si chiama latte di castagna, e que/ se chama leite de castanha, e com este
con questo si fanno/ torte. Il suo legno é molto fazem-se/ bolos. Sua madeira é muito boa
buono per varij lauori, e/ [...] la sua scorza para várias obras,/ e [...] sua casca é de
è di una grandissima uttilità/ in queste parti, uma grandíssima utilidade/ nestas partes,
mentre si tira tutta quella del tronco/ sia porque se tira toda aquela do tronco/ até o
piede, e dopo di auerle tirato la scorza rugosa,/ pé, e depois de haver tirado a casca rugosa,/
ne fano pezzi della grandezza che uogliono, di fazem pedaços do tamanho que querem,
poi/ la tattono, e lauano assai bene, fatto depois/ a alisam e lavam muito bem, feito
questo la espongo-/no al Sole per asciugarsi, isto expõem-/na ao sol para secar, e assim
e cosi ano la stoppa per/ callaffetare le Canoue, têm a estopa para/ calafetar as canoas, não
non auendone di altre sorte. Ui// tendo de outro tipo.//

P. 79 P. 79

a dipiù un altra castagna detta Há além disso outra castanha dita


Assapucaia, nella/ quale non ritrouo altra Sapucaia, na/ qual não encontro outra

110 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


differenza, se non che li gus-/cij delle diferença se não que as cas-/cas da mesma
medesime sono assai maggiori dalle são muito maiores do que as descritas./ E
descritte./ E sono ricercati da Lisbona são buscadas em Lisboa para fazer [?],
per fare sendelline, bi-/chiere, e altre simili co-/pos e outras coisas semelhantes. A casca
cose. Il guscio d’una qu-/anto dal’altro è de uma/ e outra é por fora muito rugosa e
al difuori molto rugoso e rilleuato./ Le saliente./ As castanhas são da mesma
castagne sono della stessa fattura, mà più feitura, mas menores,/ e são mais gostosas
picole,/ e sono piè gustose delle altre.// que as outras.//

[82] Vmari [82] Umari

È arbore bello quanto ogni altro di molte É árvore tão bela quanto qualquer outra,
frondi/ ornato, perche oltre ad essere queste ornada/ de muitas frondes, porque além
grandi, sono/ folte, perchè nascono a de serem estas grandes, são/ densas, porque
mazzetti. Li fiori non li/ ò veduti, mà nascem em macinhos. As flores não as/ vi,
bensi le frutta, che consistono, in poca/ mas sim os frutos, que consistem em uma
parte che si mangi, perche non è altro che pouca/ parte comestível, porque nada mais
una su-/perficie, per cosi dire, che si asciupa, é que uma su-/perfície, por assim dizer,
mà certo è che/ sembra una delicata que se chupa, mas é certo que/ parece uma
manteca, o sia buttiro, che/ uiene ad essere delicada manteiga, que/ chega a ser mais
più gustoso per il delicato odore che// gostosa pelo delicado odor que//

P. 80 P. 80

lascia sulla boca. La sua grandezza è come deixa na boca. Seu tamanho é como o de
una grossa/ prugna, mà uguale in ogni uma grande/ ameixa, mas igual em cada
parte, e matturo che sta, res-/ta giallo. Il parte, e quando está maduro, fi-/ca
suo guscio è sottilissimo, e per questo non/ amarelo. A casca é finíssima, e por isto
si monda. Il restante che forma la não/ se tira. O restante que forma o volume
grandezza del fru-/tto, altro non è, che do fru-/to não é outra coisa se não um
un masso di fibre condensate assie-/me che maço de fibras condensadas/ em que nem
nepure li denti ui fanno empressione.// os dentes fazem uma impressão.//

[83] Anningas [83] Aninga

Si puo considerare questa pianta fra/ le Pode-se considerar esta planta entre/ as
erbe acquatiche perche nele acque/ nasce, e ervas aquáticas, porque nasce nas/ águas,
si nutre. Consiste questa en un/ piede alto e ali se nutre. Esta consiste em um/ pé de

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 111


sino a dodici palmi, comuneme-/nte grosso até doze palmos de altura, comumen-/te
in basso come il bracio di un uomo/ e assai grosso embaixo como o braço de um
più sottile, mà resta sempre uerde/ homem/ e muito mais delicado, mas fica
solamente nella sommita tiene otto o dieci/ sempre verde;/ somente no ápice tem oito
foglie assai piu larghe di un foglio di carta/ ou dez/ folhas bastante mais largas que
imperiale, e sempre stano con la punta uma folha de papel/ almaço, e estão sempre
uolta/ allo insú, e le altre due in basso com a ponta virada/ para cima, e as outras
cuoprono// duas em baixo cobrem//

P. 81 P. 81

una parte del gambo che è lungo un palmo./ uma parte do pedúnculo, que tem o comprimento
Il frutto sembra una pigna delle maggiori, de um palmo./ O fruto parece uma pinha
ma/ non serue a cosa alcuna. Il suo fiore è das maiores, mas/ não serve para coisa
curio-/sissimo, mà trombuto, bianco e alguma. Sua flor é curio-/síssima, mas
mesclato alcun/ poco con striscie incarnate trombuda, branca, e mesclada um/ pouco com
allo intorno, mà non/ tiene gracia. Il detto estrias encarnadas em volta, mas não/ tem
piede è assai mole, e/ per quanto grosso graça. O dito pé é assaz mole, e/ por mais
sia, si taglia con un coltelo,/ in uno ò due grosso que seja, corta-se com uma faca,/ com
colpi, mà tanto abbonda, che se/ ne um ou dois golpes, mas é tão abundante, que/
formano Isolette, e non picole.// dele se formam ilhotas, e não pequenas.//

[84] Vmiri [84] Umiri

L’arbore che fui osseruare com molto mio A árvore que fui observar com muito
incomodo/ dentro una Selua era grossa desconforto meu,/ dentro de uma selva,
fuori del commune. Il/ piede era era grande fora do comum. O/ pé era
perfettamente diritto, e tanto alto che/ non perfeitamente reto, e tão alto que/ não
potei distinguere li frutti, e delle foglie/ pude distinguir os frutos, e das folhas/
cadute uidi che erano ordinarie nulla aueua- caídas vi que eram ordinárias e que nada
/no di particolare. Dal Piede di questa tinham/ de particular. Do pé desta ce-/
ce-/lebratissima Pianta si tira il celebre lebradíssima planta tira-se o célebre óleo
olio deto// dito//

P. 82 P. 82

di Vmiri; e si fà in questo modo. Si fende/ de umiri, e faz-se deste modo. Fende-se/ a


la cortecia, e nella ferita fatta ui si mete/ casca, e na ferida feita mete-se/ um pouco

112 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


alcun poco di Cottone, e questi deue uscire/ de algodão, e este deve ficar fora/ da ferida
dalla detta ferita alcun poco, tanto che insci- um pouco, de modo que embe-/bendo-se do
/upandosi del medesimo olio, incomincij a mesmo óleo, comece a des-/tilá-lo, e por
stil-/lare, e sotto ui si lascia raccomodato baixo deixa-se acomodado algum/ vasinho
alcun/ uasaccio ui cada quel liquore, e al onde caia aquele licor, e por cima/ da ferida
disopra/ della ferita ui si fà un piede coperto faz-se um pedestal coberto com/ folhas ou
di/ foglie o altro, il quale stà bene outra coisa, que deve ficar bem encostado/
accostato/ alla scorza dell’arbore, e allo à casca da árvore, e ao redor da/ casca
intorno della/ cortecia si chiude assai bene fecha-se muito bem a juntura com/ terra
la giuntura con/ terra assai bene battuta, muito bem batida, e isto faz-se para que/
e questo si fà perche/ la pioggia non si a chuva não se misture com o algodão que/
mescli con il cottone che/ conduce l’olio nel conduz o óleo para o vaso, e feito isto dei-/
uaso, e fatto questo si las-/cia cosi per molto xa-se assim por muito tempo, para que vá
tempo perchè uà lacrima-/ndo a poco a lacri-/mejando pouco a pouco, pois não dá
poco e non dà continuamente,/ e credo che continuamente,/ e creio que isto acontece
sarà questo allora quando le radi-/ci tirano porque as raí-/zes puxam para si o humor
a sè l’umore della Pianta. Questo/ a dir da planta. Este,/ em verdade, é o chamado
uero, è chiamato olio del insano Volgo,// óleo, pelo insano vulgo,//

P. 83 P. 83

mà è balsamo perfetissimo, e non galleggia/ mas é bálsamo perfeitíssimo, e não flutua/


nell’acqua, mà subito uà al fondo. Il suo/ na água, mas depressa vai ao fundo. Sua/
collore è simile all’oro puro, e chiaro quanto/ cor é semelhante ao ouro puro, e clara tanto
può essere la ambra più perffetta. Il suo quanto/ pode ser a do âmbar mais perfeito.
odo-/re è acutissimo, e doue sono le Piante, Seu odor/ é agudíssimo, e onde existem as
non/ si può ignorare, da che molto lungi si plantas, não/ se o pode ignorar, pois desde
sen-/te il suo odore. La cortecia si fà in muito longe sen-/te-se seu odor. A casca é
pezzetti,/ e in occasione di feste si abruggia, reduzida a pedaços,/ e em ocasiões de festa se
e spande/ per ogni parte il medesimo odore queima, e espalha/ por todas partes o mesmo
del balsa-/mo. Osservai che questa arbore odor de bálsa-/mo. Observei que esta árvore
aueua ua-/rie incisioni, e tutto allo intorno tinha vá-/rias incisões, e toda em volta estava
era unto./ Dicono, che abbia molte virtù, e untada./ Dizem que tem muitas virtudes, e
che si assomi-/glie all ollio di oro, e certo è que se asse-/melha ao óleo de ouro, e é certo
che li Inglesi/ lo procurauano. Mà sicome que os ingleses/ o procuram. Mas como se
ui uuole molto/ tempo a tirarlo, e perche exige muito/ tempo para tirá-lo, e como é
bisogna affaticare/ molto a ritrouarlo nelle preciso cansar-se/ muito para achá-lo nas
selue nisuno al/ presente lo procura, e se selvas ninguém o/ procura atualmente, e se

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 113


alcuno lo porta/ a Lisbona è del Maragnone, alguém o leva/ a Lisboa é do Maranhão,
doue lo tirano/ più facilmente.// onde o extraem/ mais facilmente.//

P. 84 P. 84

[85] Angellino [+ turru, angellino di coco, [85] Angelim [-do-pará, + turu,


angellino di pietra] angelim-coco, angelim-pedra]

Questa arbore è fra tutti la maggiore in/ Esta árvore é entre todas a maior em/
altezza, e grossezza, e si chiama arbore altura e largura, e se chama árvore re-/
Re-/ale perchè entra nel numero di qualle al porque entra no número daquelas que
che in/ qualunque luogo sieno, sono del em/ qualquer lugar que estejam, são do
Reale Sourano/ abbisognandone. E non Real Soberano/ se for preciso. E não só é
solo è maggiore nella/ grandezza, mà nel maior no/ tamanho, mas ainda em seu
suo ualore ancora perche/ di questo legno valor, porque/ desta madeira fazem os
si fano li fusti delle Canoue,/ che durano mastros das canoas,/ que duram muito
assai più di qualunqe altro legno,/ e alcune mais do que qualquer outra madeira,/ e
ne ò uedute di sopra cento Palmi/ di vi algumas com mais de cem palmos/ de
lunghezza, e dicciotto di larghezza. Mà/ altura e dezoito de largura. Mas/ parece
pare questo stimabile legno, e più di ogni/ que este estimável lenho, e mais do que
altro, sog getto ad essere perduto, e qualquer/ outro, está sujeito a perder-se,
diuorato/ dal Turrú. Che cosa sia questo devorado/ pelo turu. O que é esse turu?
turrú, altro/ non è che un uerme poco più Nada/ mais que um verme longo pouco
o meno lun-/go di un dito picolo, e più mais que um/ dedo mínimo, e mais fino,
sottile mà tanto/ mole, e lagunoso come la mas tão/ mole, e lagunoso como a lesma,
lumaca, mà però/ tiene costui sopra li ochij mas/ tem este sobre os olhos uma
una cartillagine// cartilagem//

P. 85 P. 85

cotanto dura, e aguzza, che della tão dura e aguçada, que se serve dela/
medesima/ si serue come di una triuella, como de uma verruma, e estando as/
e stando le/ Canoue in acqua, o nella canoas n’água, ou na mata, entra dentro/
matta entra dentro/ a poco a poco, e le pouco a pouco e as destrói, mas o que faz/
distruge, mà quello che fà/ meravigliare, maravilha, é que entra por um buraco tão
entra per un buco tanto sottile, che/ a pequeno, que/ a olhos nus dificilmente se
occhij nudi difficilmente si può uede-/re. pode ver./ Uma vez entrado, não fura
Entrato che sia, non fora dirito, ma atra- reto, mas atra-/vessado, furando em tantas

114 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


/uerso i buchi in tante parti, che il legno partes, que a madeira che-/ga a ficar como
ari-/ua ad essere come una sponga, e uma esponja, e observando/ eu
osseruando/ io minutamente le stragge, minuciosamente os estragos que fizeram
che fecero in/ una mia Canoua grande, numa/ minha canoa grande, fiquei
restai sorpreso, e a/ nulla più serui. surpreso, e para/ nada mais ela serviu.
L’ùnico rimedio que si à/ ritrouato per O único remédio que se/ achou para poupá-
guardarle da questo canaglia,/ é di la deste canalha,/ é tostá-la com fogo a
tostarla col fuoco ad ogni due o tre/ mesi, cada dois ou três/ meses, mas isto porém
mà questo però non si può fare ne’/ legni não se pode fazer com/ as madeiras que
che stano fissi in acqua. Vi sono poi/ estão fixas n’água. Existem ainda/ outros
altri Angellini detti di Coco, e di Pietra,/ angelins, ditos angelim-coco, e angelim-
mà sono questi bastardi, e di poca dura- pedra,/ mas estes são bastardos, e de
/ta in acqua, e non durano più di pouca dura-/ção na água, e não duram
quatr’anni.// mais de quatro anos.//

P. 86 P. 86

[86] Loiro [bianco e incarnato] [86] Louro [branco e encarnado]

Di questa pianta ue ne à di due sorta./ Desta planta há dois tipos./ Ou seja,


Cioè bianco e incarnato, e il primo che/ branco e encarnado, e o primeiro, que/
altri lo chiamano giallo, perche parteci- outros chamam amarelo, porque parti-/
/pa del uno, e altro collore, è il più du- cipa de uma e outra cor, é o mais du-/
/rabile. Questa sorta di legno è molto rável. Este tipo de madeira tem muito/
in/ uso per picole Canoue, e per tauolle, uso para pequenas canoas, e para tábuas,
o sie-/no Asse, le qualli certamente sono ou se-/jam [em italiano] asse, as quais
durabili, mà però/ àno un diffetto, che certamente são duráveis, mas/ têm um
è quello di non/ stare bene unite, e per defeito, que é o de não/ ficarem bem unidas,
quanto sieno seche/ di più anni, e e por mais que estejam secas/ por vários
diligentemente conggiunte, in/ pochi anos, e diligentemente juntadas, em/ poucos
mesi si uedono allontanate le une del-/ meses se vêm afastadas umas das/ outras,
le altre onde per lauori pulliti non sono e daí para trabalhos limpos não são de/
de/ mettersi in opera. Il secondo che si meter-se em obra. O segundo, que se
chiama/ incarnato, è stimato meno chama/ encarnado, é estimado menos
durabile parti-/colarmente in acqua, durável, parti-/cularmente na água, mas
ma per lauori toschi/ per armature, para trabalhos toscos/ para estruturas,
osia per cambottare fabriche/ è ou seja, para andaimes de construções,/ é
buonissimo.// boníssimo.//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 115


P. 87 P. 87

[87] Accapù [87] Acapu

Queste arbori, quantunque creschino alte Estas árvores, ainda que cresçam altas e
diritte,/ e grosse, sempre esteriormente si retas,/ e grandes, sempre se reconhecem
conoscono, non sola-/mente per certe exteriormente, não só/ por certas
prominenze che tengono esteri-/ormente, proeminências que têm exte-/riormente, mas
mà ancora per la cortecia, che è liscia,/ e ainda pela casca, que é lisa,/ de cor clara,
collor chiaro senza rughe. Egli è certo, che sem rugas. É certo que têm,/ nestas partes,
sono/ in questi parti di grandissima uttilità, grande utilidade, são de uma/ natureza
sono di una/ natura pesanti, ma durabili, pesada, mas durável, tanto em água quan-
tanto in acqua quan-/to fuori. Li Tetti /to fora. Os tetos das casas, as portas e as
delle Case, le Porte, e le Fines-/tre sono jane-/las são todos desta madeira, e em
tutte di questo legno, e in nissun luogo/ si nenhum lugar/ se vêm emendados, ou
uede corrette, o dalle tignolle diuorate, e devorados por traças, e então/ dá nestas
allor/ da in queste circonuicine Terre, e in terras circunvizinhas, e em outros entanto
altre poi non/ si ritroua. Nella costruzione não/ se encontra. Na construção das casas
delle Case è di/ grandissima durata, mà é de/ grandíssima duração, mas é preciso
però bisogna auertire di/ non lasciare advertir de/ não deixar cair o reboque das
cadere il riboco della parede a fiore/ di paredes à flor/ da terra, porque se estiver
terra perchè scoperto che sia in pochi Anni/ descoberto, mesmo em/ poucos anos,
marcise, mà quella parte che resta poi tanto apodrece, mas a parte que fica no entanto
nella/ parede, quanto l’altra, che stà sotto na/ parede, quanto a outra, que fica sob a
terra, restano// terra, permanecem//

P. 88 P. 88

senza lesione, onde non sò io ritrouare la ilesas, e não consigo achar a causa/ desse
causa/ di questo fenomeno.// fenômeno.//

[88] Cedro [bianco e incarnato] [88] Cedro [branco e encarnado]

Molto stimabile è questo legno per le telle Muito estimada é esta madeira pelas
pre-/rogatiue che in se tiene a beneficio de’ prerrogati-/vas tais que tem em benefício
Popoli, me-/ntre del medesimo, si fano dos povos, pois/ da mesma fazem-se
moltissimi lauori. E oltre/ ad essere chiaro, muitíssimas obras. E além de/ ser claro, é
e di uera dirito è durabile, tanto/ in acqua verdadeiramente reto e durável, tanto/ em

116 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


quanto fuori della medesima. Ancora/ nel água quando fora da mesma. Mesmo/ para
lauorarlo è assai dolce, e per questa sua trabalhar-se é bastante doce, e por essa
dol-/ cezza, si fano cornici, e ogni sorta di sua/ doçura fazem-se cornichos, e toda a
intagli tanto/ grossi, come fini. Questo sorte de entalhes, tanto/ grosseiros, como
Cedro è di due sorta./ L’uno si chiama finos. Este cedro tem dois tipos./ Um
bianco, l’altro incarnato, e questo/ è in chama-se branco, e o outro vermelho, e este/
maggiore stima, perche è più durabile per tem mais estima, porque é mais durável,
non/ dire eterno. L’uso migliore di questo por não/ dizer eterno. O melhor uso desta
legno è di/ ridurlo in tauole di qualunque madeira é/ reduzi-la a tábuas de qualquer
lunghezza, e ne tengo/ in Casa alcune comprimento, e tenho/ em casa algumas
lunghe quatro Palmi. La sua radice/ è longas de quatro palmos. A sua raiz/ é
fortissima, e dura in acqua più di ogni altro fortíssima, e dura n’água mais do que
legno.// qualquer outra madeira.//

P. 89 P. 89

e si fano Canoue le qualli per la loro E fazem-se canoas, que por sua leveza
leggerezza nuo-/tano sopra l’acqua na-/dam sobre a água mesmo que estejam
ancorchè sieno allagate, e se non/ si alagadas, e se não são/ usadas por todos
costumano da tutti è perche non si pono é porque não se podem manter/ os pregos,
assicu-/rare li chiodi, li qualli allargano i que alargam o buraco por ser/ tenro. É
buchi per essere/ tenero. Egli è certo, che certo que esta madeira não é daquela/
questo legno, non è di quelle/ specie, che espécie que nasce no Líbano, porque suas
nasce nel Libano, perchè le loro foglie e li/ folhas e/ seus frutos são diferentes
loro frutti sono differenti da quelli, che des- daquele, que o Sr./ Salimon [?] descreve
/criue il Sig. Salimon [?] nel sesto tomo a no sexto tomo, às páginas/ 220 e 221.
car-/te 220: e 221: Il tronco di questo O tronco desta cresce/ alto e quase reto,
cresce/ alto e per lo più diritto, e ò ueduto e vi canoas/ de oitenta palmos. A sua
Canoue/ di ottanta palmi. La sua scorza casca é das/ mais rugosas por mim
è delle/ più rugose da mè osseruate, e li observadas, e seus ra-/mos não são tão
suoi ra-/mi non sono poi tanto intricati. intrincados. Sua flor/ não a pude ver,
Il suo fio-/re non ò potuto uederlo mà bensi mas sim o fruto,/ que é um pouco mais
il frutto/ che è alcun poco più lungo di una longo que uma bolota,/ mas não
gianda [sic]/ mà non appuntato. Il suo acuminado. Seu fundo é de cor de/ tabaco
fondo è color di/ tabaco scuro, sparso di escura, esparz ido de pontinhos
puntine giallette./ Seco que sia, si apre, e amarelados./ Uma vez seco, abre-se, e
forma come un fio-/re di quatro foglie, e forma como uma flor/ de quatro pétalas,
dentro altro non uidi// e dentro não vi outra coisa//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 117


P. 90 P. 90

che una massa scura in croce, e non/ potei senão uma massa escura, em cruz, e não/
distinguere le semente. Li migliori Cedri/ pude distinguir as sementes. Os melhores
sono quelli che nascono lungo il Rio di Ma- cedros/ são os que nascem ao longo do Rio
/dera, li qualli poi quando le acque sono Ma-/deira, os quais, quando as águas
alte,/ uengono strassinati dalle medesime estão altas,/ são levados pelas mesmas até
per il gra-/nde Rio dell Amazoni, e tutti o gran-/de rio das Amazonas, e todos
si fermano/ in uarie riuolte lungi da questa param/ em certas curvas, longe desta
Citta sei gi-/orni incirca di camino, onde cidade cerca de seis/ dias de caminho, onde
chi li uuole se/ li uà a prendere. Qui allo quem quer vai/ lá para pegá-los. Aqui
intorno della/ Citta non mancano, mà pelos arredores da/ cidade não faltam, mas
bisogna procurarli/ alla cieca perche qui é preciso procurá-los/ às cegas, porque aqui
si tende solamente/ a buttarli in terra, e a tende-se somente/ a pô-los por terra, e não
non coltiuarli, come/ si usa di ogni pianta a cultivá-los, como/ se usa com todas as
ancorche fruttifera.// plantas, mesmo frutíferas.//

[89] Massaranduba [89] Maçaranduba

Molto duro, e fino è questo legno, atto Muito dura e fina é esta madeira, apta
anch’/ esso a uarij lauori, mà também/ esta a várias obras, mais
particolarmente di/ ballaustrate, cornici, particularmente de/ balaustradas,
e altre similli cose. Il// cornichos, e outras coisas semelhantes.//

P. 91 P. 91

suo collore è lionato, mà tinto che sia, pare/ Sua cor é leonada, mas se tingida parece/
ebano, perche riceue ottimamente il lustro./ ébano, porque recebe otimamente o lustro./
Per tingirlo, lo sepoltano al fango, e dopo Para tingi-la, sepultam-na na lama, e depois
otto/ quindici giorni, lo tirano fuori, lo de oito/ a quinze dias, tiram-na fora, lavam-
lauano, e/ asciuto che sia, li dano la cera, na, e/ assim que seca, passam-lhe cera, e
e poi lo lus-/trano, e già si deue intendere depois lus-/tram-na, e deve-se já entender
che si sepolta-/no le opere dopo che sono que se sepul-/tam as obras depois de estarem
torniate e intagliate./ Ò però osseruato torneadas e entalhadas./ Mas observei que
che esposto all’aria apre/ moltissime scissure exposto ao ar abre/ muitíssimas fissuras,
come di capeli intersecati/ li uni come li como cabelos entrecruzados/ uns com os
altri, mà poi dopo alcuni pochi/ mesi outros, mas depos de alguns poucos/ meses
spariscono, e tornano a unirsersi.// desaparecem e tornam a unir-se.//

118 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


[90] Marapautà [90] Marapautá [?]

Questo legno si usa a fare tauole, o sieno/ Esta madeira se usa para fazer tábuas,
Asse, le qualli seruendo per uolte, o per/ ou seja [em italiano],/ asse, as quais
altri usi dura interiormente, mà esposto servindo às vezes, ou para/ outros usos
al-/le ingiurie de’ tempi, in pochissimo dura interiormente, mas exposta às/
tempo/ marcise, il suo collore é injúrias dos tempos, em pouquíssimo tempo/
bianchicio.// apodrece; sua cor é esbranquiçada.//

P. 92 P. 92

[91] Annanì [91] Anani

É arbore, che serue per trauamenta, per É árvore que serve para vigamento, para
re-/mi da uogare, e per molti altri lauori re-/mos de navegar, e para muitas outras
per-/che dura molto al coperto, mà obras, por-/que dura muito ao coberto, mas
esteriorme-/nte, e massimamente in luoghi exteriormen-/te, e especialmente em lugares
umidi è di/ pochissima durata.// úmidos, é de/ pouquíssima duração.//

[92] Pàu d’Arco [92] Pau-d’arco

Fortissimo, e pesantissimo è questo legno, Fortíssima e pesadíssima é esta madeira,/


il/ quale è fino, ma stanca le bracia de’ que é fina, mas cansa o braço dos mes-/
maes-/tri, che lo trauagliano, e per ogni tres que a trabalham, e para qualquer obra,
lauoro credo,/ che sia eterno. Cresce alto e creio/ que seja eterna. Cresce alto e grande
grosso quanto/ ogni altro de’ maggiori. como/ qualquer outra das maiores. Desta
Di questo legno man-/daí a lauorare una madeira man-/dei trabalhar uma coluna
collona Dorica, con Pie-/distallo, Canua, dórica, com pe-/destal, friso, e arquetrave
Freggio, et Architraue per il/ Pelleurino para o/ pelourinho desta cidade, e ao
di questa Citta, e nel lauorarlo ui-/di che trabalhá-la vi/ que se ria dos ferros, e de
si rideua de’ ferri, mentre di continuo// contínuo//

P. 93 P. 93

bisognaua arrottarli. In quanto alla belleza/ precisava-se amolá-los. Quanto à beleza/ desta
di questa Pianta ui abbisognaua un Petrarca/ planta, seria preciso um Petrarca/ para
per descriuerla. Cresce dirita, e la cortecia è/ descrevê-la. Cresce reta, e a casca é/ pouco
poco meno che bianca, e senza rughe. Le foglie/ menos que branca, e sem rugas. As folhas/

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 119


stano tutte nella cima, e da lontano estão todas no cimo, e de longe apresentam/ à
rapresentano/ agli occhij un corpo assai rottondo. vista um corpo assaz redondo. Em Janeiro fica/
In Genaro resta/ del tutto spogliato di sue toda despojada de suas folhas e em abril ou/
foglie e in Aprile o/ in Maggio si ueste tutto di maio veste-se toda de flores amarelas, que a/
fiori gialli, che lo/ cuoprono nel istesso modo, cobrem da mesma maneira que as folhas
che le foglie cuprono/ ogni altro arbore, e per cobrem/ qualquer outra árvore, e por isto se
questo si uedono tanto da/ lontano quanto vêm tão de/ longe, tanto quanto se pode ver a
puosi uedere a occhio nudo, e/ à dir uero senza olho nu, e/ para dizer a verdade sem adulação,
adullare è questa una pi-/nta che in Europa esta é uma plan-/ta que na Europa seria
sarebbe molto grata, e/ particolarmente perche muito apreciada, e/ particularmente porque
dura cosi bella quasi due/ mesi, e in questo dura assim bela quase dois/ meses, e neste tempo
tempo non si uede nepure/ una foglia. Le não se vê nem/ uma folha. Os varais de
stanghe delle Carrozze sono/ molto ricercate, carruagens são/ muito procurados, se alguns
se alcune ne portano a Lisbo-/na in occasione são levados a Lisboa/ por ocasião das naves
delle Naui, che sono di ritorno// que estão de retorno.//

P. 94 P. 94

[93] Pau Rosa [93] Pau-rosa

Questa sorte di legno si dessidera molto/ Esta espécie de madeira é muito desejada/
per foderare Cassete di commode, di men-/ para forrar gavetas de cômodas, de me-/
se, e di armarij, perchè fuori di preseruar-/ sas e de armários, porque além de se preser-
ssi dalle tignuole comunica il suo grato od-/ /var das traças comunica seu grato odor/
ore a tutti quelle cose, che dentro ui si met-/ a todas as coisas que lá dentro se põem,/ e
tono, e è trattabile per questi lauori.// é maleável para essas obras.//

[94] Maraquattiara [94] Muiraquatiara

Molti lauori gentilli si fano di questo le-/ Muitos trabalhos delicados são feitos com esta
gno, como di Tamburetti, Commode, ma-/deira, como tamboretes, cômodas,
Scrittorij,/ Canterani, corniciamenti, e escrivaninhas,/ camiseiros, cornijas, e outras
altretante simili cose/ e questo per essere tantas coisas semelhantes,/ e isto por ser de
di collore quasi bianco,/ mà poi ondeggiato cor quase branca,/ mas ainda ondulada, com
com uaghe uene assai più/ curiose di qualle vagas veias bastante mais/ curiosas do que
sieno le nostre di noce, e/ tanto crescono, são as nossas de nogueira, e/ crescem tanto
che dano tauole di quatro palmi,/ mà non que dão tábuas de quatro palmos,/ mas não
è poi tuto uguale, ne in ogni lugo [sic].// é de todo igual, nem em todo lugar.//

120 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 95 P. 95

[95] Mairagiuba [+ Parica] [95] Muirajuba [+ Paricá]

Questi dal uolgo è conosciuto per Páu/ Estas, pelo vulgo, são conhecidas como pau-
amarello, o siai Giallo. Questo legno è /amarelo. Esta madeira é boa/ para
atto/ ai nostri lauori, mà per essere assai nossas obras, mas por ser muito fina, e/
fino, e/ per imitare nel colore il burro, se por imitar na cor a manteiga, serve-se dela/
ne serue/ per fare di esso ancora para fazer ainda tamboretes, cômodas, en-
tamburetti, comode, in-/tagli, e in fine / talhes, e enfim qualquer tipo de obras
ogni sorta di lauori per ornare/ le Case. para ornar/ as casas. Além desta existe
Fuori di questo ui à il Parica,/ quale o Paricá,/ que também é amarelo. As
anch’esso è giallo. Li arbori crescono ass- árvores crescem bas-/tante altas e grandes,
/ai alti e grossi, e ne è ueduto più uolte e vi muitas vezes tá-/buas de quatro
ta-/uole di quatro Palmi.// palmos.//

[96] Pau Rosso [96] Pau-roxo

Cosi è chiamato questo legno, il quale qu- Assim é chamada esta madeira, a qual
/ando si lauora, o che esce dalle mani del/ quan-/do se trabalha, ou quando sai das
Maestro fabricante, è totalmente di colore/ mãos do/ mestre fabricante, é totalmente
Pauonazzo, e assai uiuo; mà in questo de cor/ violácea, e muito viva, mas neste
stato// estado//

P. 96 P. 96

dura poco tempo, perche poi si uà sempre/ dura pouco tempo, porque depois vai sempre/
più oscurando, mà resta però sempre bello/ escurecendo, mas fica porém sempre bela/ e
e riesce ancor più uago imbutito que sia/ torna-se ainda mais gracioso se é imbutido/
nel giallo, come qui si costuma; è di na-/ no amarelo, como aqui se costuma, é de na-
tura assai fino e anch’esso à atto alli stes- /tureza muito fina e também serve para as
/si lauori del giallo.// mes-/mas obras do que o amarelo.//

[97] Pau Incarnato [97] Pau-encarnado

Questo anch’esso à un bellissimo legno/ atto Também esta tem uma belíssima madeira
a qualunqe lauoro di Casa como hò/ detto que/ serve para qualquer obra de casa, como
del Pau amarelo, e del Rosso. Il/ fondo del já/ disse do pau-amarelo e do roxo. O/ fundo

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 121


deto Pau Rosso è giallo, e le ue-/ne sono do dito pau-roxo é amarelo, e as ve-/ias são
rosse, e quando è lauorato di nuouo/ è roxas, e quando é trabalhado de novo/ é tão
tanto lustro, che sembra ui dia el Sole.// lustroso que parece que lhe bata o sol.//

[98] Mangas [sic], e Acapuranas [98] Mangue e acapurana

Sono due Piante le dicui foglie seruono/ São duas plantas cujas folhas servem/ para
per curtire la Sola, e sono le più usate.// curtir o couro, e são as mais usadas.//

P. 97 P. 97

[99] Cumarù [99] Cumaru

É anche esso legno Reale, e duro. Cresce/ Também esta é madeira real, e dura. Cresce/
moltissimo, e qui è di molta utilità, e fra/ le muitíssimo, e aqui é de muita utilidade, e
molte cose, che si fano, sono le moende/ per entre/ as muitas coisas que se fazem, estão
macinare la canna, che è segno certo/ della as moendas/ para moer as canas, o que é
sua durabilità. Il frutto non si man-/gia e sinal certo/ de sua durabilidade. O fruto
sembra una gianda, la quale matura/ che não se co-/me e parece uma bolota, o qual,
sia, si apre e resta mole, per essere/ assai quando amadurece,/ abre-se e fica mole, por
oleoso, e il dicui olio resta poi di un/ odore ser/ muito oleoso,e cujo óleo fica com um/
tanto acuto, che a tal uno offende il/ capo. odor tão agudo, que a alguns faz doer a/
Dicono però che é medicinale, mà chi/ possa cabeça. Dizem porém que é medicinal, mas
fare fede di ciò, non lo ritrouo.// não/ encontro ninguém que bote fé nisso.//

[100] Paricà [100] Paricá

É un arbore diuerso del Paricà, che dà É uma árvore diferente da do Paricá que
il/ legno amarelo. Questi è molto dá a/ madeira amarela. Esta é muito
fronzuto,/ perche dilata molto li rami frondosa,/ porque dilata muito seus ramos
suoi e le sue// e as suas//

P. 98 P. 98

foglie sono picole, e ouali. Il suo frutto, è/ folhas são pequenas e ovais. Seu fruto é/
come una cornachia di luppini, qui detti/ como a vagem dos lupinos, aqui chamados/
Estremós [sic], mà sono più schiaciati. Li tremoços, mas são mais achatadas. Os
Indij ri-/ducono in poluere li detti frutti a Índios re-/duzem a pó os ditos frutos à

122 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


forza di fuo-/co lento e poi portando con força de fo-/go lento, e depois, trazendo
sè due ossa delle/ gambe di alcun passaro consigo dois ossos das/ pernas de alguma
congiunte assieme,/ le empiono di quella ave, ligados juntos,/ enchem-nos desse pó,
poluere che resta co-/me un tabaco, e que fica co-/mo tabaco, e encostando os
acostando le dette ossa con/ la punta alcun ditos ossos com/ a ponta um pouco dentro
poco dentro i buchi della/ narici, li uni con dos buracos do/ nariz, uns com os outros,
li altri se la soffiano con/ tutta la forza sopram-no com/ toda a força que podem,
che pono, e restano poi per/ alcun tempo e ficam depois por/ algum tempo como
come ubriachi, o conuulsi, come/ io uidi. embriagados, o convulsionados,/ como vi.
Presi un poco di quella poluere/ a uso di Tomei um pouco desse pó/ como se fosse
tabaco, e in uero è assai irritante.// tabaco, e deveras é muito irritante.//

[101] Suppupira [101] Sucupira

Si anouera questo legno tra li Reali, per-/ Inclui-se esta madeira entre as reais, por-/
chè è forte, e serue per le imbarcazzioni.// que é forte, e serve para as embarcações.//

P. 99 P. 99

[102] Cuppauba [102] Copaíba

Questa Pianta cresce quanto le altre,/ che Esta planta cresce tanto quanto as outras,/
qui sono communi, e credo che abbasta-/ que aqui são comuns, e creio que bastan-/te
nza sia notta a tutto il Mondo, per il/ suo conhecidas em todo o mundo, por/ seu óleo.
olio. Per tirarlo cosi si fà, fendessi/ il piede Para tirá-lo faz-se assim: corta-se/ o pé com
con una manaia sino al midolo,/ dipoi si um machado até o miolo,/ depois enche-se a
empie la fenditura con qualunqe/ pano acciò fenda com qualquer/ pano a fim de que,
cadendo l’olio per li suoi me-/ati si empiano caindo o óleo por seus me-/andros se encham
li uasi che sotto ui si met-/tono, e quando os vasos que se metem/ embaixo, e quando
l’arbore abbonda darà un/ sechio, e purgato a árvore [dele] abunda, dá um/ balde, e se
che sia da alcuna fecia/ resta chiaro, e come é purgado de alguma borra/ fica claro, e
il colore del’oro. Il suo/ odore è acutissimo, e como da cor do ouro. Seu/ odor é agudíssimo,
a molti offende il Capo./ Qui se ne seruono e a muitos faz doer a cabeça./ Aqui servem-
per dare la uernice a/ Porte, e Finestre, e se dele para envernizar/ portas e janelas, e
ancora per dipingere, mà/ non si adoperebbe também para pintar, mas/ não seria adotado
da un mezano Pittore/ della nostra Ittalia, nem por um pintor medíocre/ na nossa Itália,
perche in progresso di/ pochi Anni, inscurisse porque no decorrer de/ poucos anos escurece
le tinta, e di più si// a tinta, e além disso//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 123


P. 100 P. 100

disuniscono a segno che paiono crepate in/ quebram-se de modo a parecer rachados
moltissimi luoghi. Delle sue uirtù non pos-/ em/ muitos lugares. Das suas virtudes não
so auanzarmi a parlarne, da chè li medici/ pos-/so abalançar-me a falar, pois os
lo àno già conosciuto da molto tempo, e so-/ médicos/ já o conheceram há muito tempo,
lamente sò, che mio Padre lo riputasse per/ e só/ sei que meu pai o reputava como/
balsamo, e che più uolte se ne è seruito pr/ bálsamo, e que muitas vezes dele se serviu
la cura di graui ferite. Il suo legno è/ assai para/ a cura de graves feridas. Sua
fino, e ondeggiato, ma a nulla serue/ per madeira é/ muito fina, e ondulada, mas
essere lontano dalla Citta quasi un/ Mese para nada serve/ por achar-se distante
di camino, e si ritroua dentro del/ Rio da cidade quase um/ mês de caminho, e
Cappino, Trombettas, Tucantins, e altri./ encontra-se nos/ Rios Capim, Trombetas,
In questa sola parte di America abbonda/ Tocantins, e outros./ Só nesta parte da
a tanto che nel 1764 ne fù tanto in/ América abunda/ tanto, que em 1764
Lisbona, che sino al presente poco o nulla/ dela tanto havia em/ Lisboa, que até o
si è mandato, perche abbassò di prezzo./ presente pouco ou nada/ se enviou, porque
Di più si deue sapere, che non si può/ tirare baixou de preço./ Ademais deve-se saber
in tutto il tempo dell’Anno, mà/ solamente que não se pode/ extraí-la todo o tempo
quando maggiori sono le piog-/gie, e questo do ano, mas/ só quando as chuvas são
è per Marzo, e Aprile.// maiores,/ e isto é em março e abril.//

P. 101 P. 101

[103] Crauo [103] Cravo

Benedetta sarà sempre per tutte le età qu- Bendita seja por todos os tempos es-/ta
/esta Pianta per essere un arromato tanto/ planta, por ser um aroma tão/ desejado
dessiderato per la Europpa tutta. Da qu- em toda a Europa. Des-/ta mesma tira-
/esta medesima si tira tanto il grosso qua- se tanto o grosso co-/mo o fino, e é aquela
/ nto il fino, e è quella che in nostre parti/ que nas nossas partes/ se chama canela
si chiama Canella garoffanata. Il modo/ condimentada. O modo/ de tirá-la é fácil.
di tirarla è facile. Aprono la scorza per/ Abrem a casca ao/ longo do pé, e cortam-
lungo del piede, e la fendono ancora allo/ na ainda no/ interior do comprimento dos
interno alla altezza dos canudos [sic] che canudos que querem/ fazer, depois
uogliono/ fare, dipoi la stacano, la sfregano destacam-na, esfregam-na com as mãos, /
con le mani,/ li lasciano secare all’ombra, e deixam-na secar à sombra, e assim está
cosi è fatto./ La scorza delli arbori che feito./ A casca das árvores que dão a

124 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


dano la cannella/ garoffanata non sono più canela/ condimentada não são mais grossas
grossi del colo di/ un uomo magro. Qualli que o pescoço/ de um homem magro. As
che dano la cannella/ garoffanata fina que dão a canela/ condimentada fina são
sarano come il polsso della/ mano, e nelle como o pulso da/ mão, e nas selvas são
selue sono abbondantissime le/ Piante, mà abundantíssimas essas/ plantas, mas não
non in tutti i luoghi.// em todos os lugares.//

P. 102 P. 102

[104] Mangani [104] Mangues

A mio credere è questa una pianta delle A meu ver, esta é uma planta das mais/
più/ strauaganti del Brasile, e non ostante, estravagantes do Brasil, e não obstante ser
che sia sil-/uestre e di niun conto, sempre è sil-/vestre e de nenhuma utilidade, sempre
particolare fra tu-/te le Piante. Cresce é particular entre to-/das as plantas. Cresce
questa a non ordinaria altezza/ e perche até altura não ordinária/ e como suas
folte e grandi sono le sue foglie, fa molta/ folhas são densas e grandes, fazem muita/
ombra. Dalla sommita de’ suoi rami, lascia sombra. Do ápice de seus ramos, deixa
cadere a/ poco a poco certe bacchette a uso cair/ pouco a pouco certas varetas como
di corde, e queste per-/pendicolari, le qualli cordas, e estas per-/pendiculares, as quais
auanti di ariuare a terra, e alla al-/tezza antes de chegar à terra, e na al-/tura de
di dodici Palmi, e sai più o meno, buttano doze palmos, mais ou menos, produzem
altri ra-/mi li qualli poi si uano outros ra-/mos os quais se vão
moltiplicando sino a profondar-/si nel piano, multiplicando até aprofundar-/se no plano,
e ne auiene, che nella parte di basso del/ e sucede que na parte de baixo do/ tronco
tronco formano un laberinto de radici le formam um labirinto de raízes, as quais/
qualli bastano/ a tenere per sospeso l’arbore bastam para manter suspensa a árvore
quantunque aggitta o sia/ dalle acque di por mais agitada que/ seja pelas águas de
qualunque Rio doue nasce, e non è in/ ogni qualquer rio onde nasça, e não existe em/
parte. Li fiori... [texto incompleto qualquer parte. As flores.... [texto
no original].// incompleto no original].//

P. 103 P. 103

[105] Giuttaì [105] Jutaí

Il legno di questa arbore, è de primiera O lenho desta árvore é de primeira altura


altezza, e/ grossezza, e oltre a questo, è e/ grossura, e além disto, serve para

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 125


atto ad ogni lauoro di/ molta durata. Di qualquer obra de/ muita duração. Além
più è degno da farne memoria pr/ la disto, é digno de memória pela/ sua
abbondante sua goma, la quale nasce sotto abundante resina, que nasce quando se
serra, e/ fra le radici in pezzi grossi, e serra, e/ entre as raízes em pedaços grossos
sottili, e tragono sem-/pre con sè una certa e finos, e trazem sem-/pre consigo uma
crosta di terra, la quale poi si/ tira certa crosta de terra, a qual se/ tira
picandola col coltello. La detta goma, é picando-a com um facão. A dita resina é
dura/ e de varij gradi di collori, cioè chiara dura/ e de vários graus de cor, isto é, clara
come il uetro,/ o pure, oppaca; altra è como o vidro,/ ou então opaca; outra é
gialla, ma anch’essa, come/ la prima, e io amarela, mas esta também, como/ a
ne ebbi un pezzo lungo sei pollegate/ e primeira, e eu tive um pedaço longo de seis
grosso come una mano chiusa, ma tanto polegadas/ e grosso como uma mão fechada,
giallo, e/ risplendente, che non lo inuidiaua mas tão amarelo,/ e resplandescente, que
alla più fina/ ambra, e questa si lauora, e fazia inveja ao mais fino/ âmbar, e esta
si tornia ancora e uidi/ una lente di quatro se trabalha, e ainda se torneia, e vi/ uma
polici, ma poi non faceua l’effetto,/ che fà lente de quadro polegadas, mas não fazia
il uetro. Questa cinque anni adietro ad al- o efeito/ que faz o vidro. Esta, faz cinco
/ro non seruiua, che a inueruicare alcuni anos, para nada/ servia, se não para
piatti, mà/ al presente si ricerca per envernizar alguns pratos, mas/ atualmente
mandarla a Lisbona, e// se busca para enviar a Lisboa, e//

P. 104 P. 104

sento dire, che ne faciano molto uso. Sò che ouço dizer que dela fazem muito uso. Sei
met-/tendola al fuoco con olio si liquefà, e que pon-/do-a ao fogo com óleo se liquefaz,
cosi sola abru-/ggia come la cera. E certo e assim só quei-/ma como a cera. É certo
è che ella è una delle/ belle gome, che possano que é uma das/ belas resinas que se podem
uederssi sino al giorno pre-/sente. Li pratici ver até o dia pre-/sente. Os práticos destas
di queste terre dicono che ridotta/ in terras dizem que reduzida/ a pó, é boa
poluere, é buona per i sbochi di sangue.// para os jorros de sangue.//

Cagiu [Cf. N. 1] Caju [Cf. N. 1]

Hò scritto di questa pianta, má poi non Já escrevi sobre esta planta, mas não me/
mi/ ricordai di fare menzione della sua lembrei de fazer menção da sua re-/sina,
go-/ma, la quale è assai migliore di quelle a qual é muito melhor do que as da /
di/ Europpa per inquadernare i libri, e Europa para encadernar os livros, e para
per al-/tri simili cose, perche ariuati che ou-/tras coisas semelhantes, porque assim

126 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sieno i lib-/ri in questa parte, le tignuole, e que chegam/ os livros a estas partes, as
la umidità li/ mandano in totale ruina, traças e a umidade/ reduzem-nos à total
onde bisogna legarli/ un altra uolta, e con ruína, e daí é preciso encaderná-los/ uma
questa ottima goma du-/rano, e restano outra vez, e com esta ótima resina du-/
diffesi delle tignuole, e ciò posso/ dire anch’io, ram e ficam defendidos das traças, e isto
perche mi conuene fare lo stesso de’ miei/ posso/ dizer também eu, porque me conviu
libri.// fazer o mesmo com meus/ livros.//

P. 105 P. 105

[106] Vaniglia [106] Baunilha

É un scipó grosso un deto incirca con/ le É um cipó com cerca de um dedo de grossura
foglie lunghe e appuntate, ma grosse come com/ as folhas longas e pontudas, mas
qu-/elle della faua grossa, nel suo gambo grandes como as/ da fava grande, no seu
non si incon-/trano le une con le altre, e ramo não se encon-/tram umas com as
sono distanti quasi me-/zo palmo. Il fiore outras, e estão distantes quase me-/io palmo.
non lo ò ueduto, ma bensi il fr-/utto, che A flor não a vi, mas sim o fruto,/ que são
sono cornachie quase simili alle nostre fa-/ favas quase semelhantes às nossas fa-/vas, e
ue, e crescono a mazzetti, cioè a cinque, e sei, crescem em massos, isto é, a cinco ou seis, ou
o più/ o meno, e stano pendenti, per il suo mais,/ ou menos, e estão pendentes de seu
gambo. Il piede/ si auitichia sopra li arbori, ramo. O pé/ se engavinha sobre as árvores,
e per mezo di barbichi/ ne sta attacato alla e por meio de radicelas/ está preso à casca.
scorza. Quando le faue sono/ gialle, si tirano, Quando as favas estão/ amarelas são
e si pendono a filli, che si tirano den-/tro in retiradas, dependuradas em fios estendidos
casa. Dipoi ogni giorno si uano delicatamente den-/tro de casa. Depois, a cada dia se vão
ti-/rando a quella guisa, che da una Vaca, delicadamente/ mungindo, do modo com que
si tira il late,/ e questo per leuarli un certo das vacas se tira leite,/ e isto para tirar-
amido amaro che a poco/ a poco trasmettono, lhes um certo amido amargo que pouco/ a
quando poi sono del tutto seche, le/ assettano pouco produzem; quando estão de todo
in alcuna cassettina, o barillino, e a piano secas,/ assentam-nas numa caixinha, ou
per/ piano le spoluerizano di zucaro, e cosi barrilzinho, e pouco/ a pouco se as polvilha
si lasciano sino// com açúcar, e assim se deixam até//

P. 106 P. 106

a tanto, che se ne uuole fare uso. Le dette que se queira fazer uso. As ditas favas,
faue al /di dentro tengono una massa por/ dentro, têm uma massa consistente e

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 127


consistente, e mellata, mà è/ piena di un melada, mas que está/ cheia de um
numero grandissimo di sementi non più grandíssimo número de sementes não
grosse/ di un grano di poluere da spingarda maiores/ do que um grão de pólvora fina
fina, e tutto è del/ colore del tabaco. Ne de espingarda, e o todo é da/ cor do tabaco.
gustai alcune, mà si conosce che/ non furono Experimentei algumas, mas sabe-se que/
create ad altro che per acrescere il gusto/ foram criadas apenas para aumentar o
alla ciocolata con quel suo gratissimo odore. gosto/ do chocolate com aquele seu
Questo/ frutto tanto stimato qui non si gratíssimo odor. Este/ fruto tão estimado
coltiua, mà si ritroua/ acaso nelle Selue, aqui não se cultiva, mas acha-se/ por acaso
come io stesso in più luoghi lo hò/ ueduto e nas selvas, como eu mesmo em vários lugares
questa è la raggione per la quale pochissi- o/ vi, e é esta a razão pela qual pouquís-
/ma se ne estraccia, e al presente, quasi si /simo se extrai, e, no presente, quase se
à perduto la/ memoria di essa.// perdeu a/ sua memória.//

[107] Murapenim [107] Muirapinima

É quel legno assai fino, che noi Euro-/pei É aquela madeira bastante fina, que nós
chiamiamo Gattiado, e del qualle/ poco Euro-/peus chamamos gateado, e do qual/
ne è portato in Italia, oltre ad/ essere pouco se levou para a Itália; além de/ ser
finissimo, tiene certe machie negre// finíssima, tem certas manchas negras//

P. 107 P. 107

che in alcuna parte sono assai minute, e in que em algumas partes são bastante
al-/tre larghe, ma non è cosi per tutto, diminutas, e em ou-/tras grandes, mas não
perche qu-/anto più si alza uà perdendo é assim no todo, porque/ quanto mais se
le machie, mà però/ resta sempre fino, mà alça vai perdendo as manchas, mas/ sempre
quello non lo curano, e lasciano/ marcirlo. fica fina, mas não cuidam dela, e deixam-
Li arbori di questo legno non sono molto na/ apodrecer. As árvores desta madeira
grossi,/ e il maggiore che uidi era della não são muito grandes,/ e a maior que vi
grossezza di una testa/ di uomo, e di tinha a grossura da cabeça/ de um homem,
questo, ne tengo un pezzo.// e desta tenho um pedaço.//

[108] Pau Ferro [108] Pau-ferro

Durissimo è questo legno, e fà rompere molte É duríssima esta madeira, e faz romper
manaie/ e perciò non à molto uso, perche muitos machados/ e por isso não tem muito
stanca ancora le/ mani dalli artefici. La uso, porque cansa ainda as/ mãos dos

128 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sua scorza è sottilissima/ molto liscia, e artífices. Sua casca é finíssima,/ muito lisa,
colore sbianchiciato. Si chiama ancora/ e de cor esbranquiçada. Chama-se ainda/
mullatto, perche il suo negro è molto inferiore mulato, porque seu negro é muito inferior
all’/ebano, ma non nel lustro. È poi ao/ do ébano, mas não no brilho. É ainda
particolare per/ alcune parti doue stà uicino particular por/ algumas partes que estão
alla scorza, perchè/ è machiato di giallo, vizinhas à casca, porque/ é manchado de
mà che molto non profonda, e/ si ponno amarelo, porém que não se aprofunda
fare cornici, casse da tabaco, e altre gal-/ muito,/ e podem-se fazer cornijas, bocetas
lanterie.// de tabaco, e outros mi-/mos.//

P. 108 P. 108

lanterie. Una di questo legno la tengo assai lanterias [sic]. Tenho um deste lenho muito
cara, perchè/ sò, che in ogni tempo, e in caro, porque/ sei que a qualquer tempo e
ogni parte sarà rara.// em qualquer lugar será raro.//

[109] Quacingùa [sic] [109] Guaxinguba [sic]

Quest’arbore spande molto i grossi suoi/ Esta árvore expande muito seus grandes/
rami. É siluestre, e non ui si conosce ua-/ ramos. É silvestre, e não se lhe conhece va-
lore alcuno. Però è particolare nelle sue/ /lor algum. Mas é particular por suas/
radici che per più parti serpeggiano fuori/ raízes, que por muitas partes serpenteiam
di terra, nel loro principio sono grosse come/ fora/ da terra, e em seu começo são grossas
una Piopa delle nostre, ma ordinarie, e io/ como/ uma raiz dos nossos choupos, mas
caminai sopra di una di questi radici ses-/ ordinárias, e eu/ caminhei sobre uma destas
santa sei passi.// raízes ses-/senta e seis passos.//

[110] Quaxinga [?] [sic] [110] Guaxinga [sic; i. e., guaxinguba]

Sono due arbori cosi chiamati, l’uno/ cresce São duas árvores assim chamadas, uma/
assai grande, e a nulla serue. Dal’/altro cresce muito grande, e para nada serve. Da/
che poco cresce, ne picano la scorza// outra que pouco cresce, picam a casca//

P. 109 P. 109

ne racogliono quel latte, e lo dano in picola/ e recolhem um leite, e dão-no em pequena/


proporcione per uccidere i uermi, e dicono/ proporção para matar os vermes, e dizem/
che fa maggior effetto della triaca, mà/se que faz maior efeito que a triaga, mas/ se

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 129


si dasse fuori di misura farebbe uuomitare/ se der além da medida, faria vomitar/ as
lo interiore.// tripas.//

[111] Appui [+ Massarandubba, [111] Apuí [+ Maçaranduba,


Gianauua] e Janaúba]

É questi un curiosissimo Scipò il quale/ si É este um curiosíssimo cipó, que/se junta


congiunge cosi fortemente, e si strana-/mente tão fortemente, e tão estranha-/mente com
con li arbori, che li sono uicini, che/ non si as árvores que lhe estão vizinhas, que/ não
può dare una uera idea se non col/ disegno, se pode dar uma idéia verdadeira se não
mentre tanto si inalza, che confonde/ le com/o desenho, e tanto se alça, que confunde/
sue foglie con li altre, onde paiono/ due suas folhas com as outras, e daí parecem/
arbori insertati in uno. Da questo sci-/pò duas árvores inseridas em uma. Deste ci-/
si tira un late, che aplicato alle rottu-/re pó extrai-se um leite, que aplicado nas fra-
dell’ossa, o sia alla parte offesa an-/cora /turas ósseas, ou seja, na parte ofendida ou
da alcuna percossa, le consolida mi-/ ain-/da em alguma batida, consolida-a ad-/
rabilmente. Si ensciupa il cottone nel// miravelmente. Embebe-se um algodão no//

P. 110 P. 110

medesimo latti, si mette sopra la parte mesmo leite, mete-se sobre a parte ofendida,/
offesa,/ ui si lascia stare sino che cade il e ali se deixa ficar até que caia o algodão,
cottone e/ questo rimedio è aprouato da e/ este remédio é aprovado por todos os
ogni medico/ che qui assiste. Il latte di médicos/ que aqui trabalham. O leite da
Massarandubba/ tiene la medesima Maçaranduba/ tem a mesma
proprieta, e quello/ di un altra Pianta propriedade, e o/ de uma outra planta
detta Gianauua, fà/ uenire a soporazione chamada Janaúba faz/ vir à supuração
le posteme esteriori/ con prestezza.// os apostemas exteriores/ com presteza.//

[112] Gingias [112] Ginja

Non è arbore che molto creschi, è spinoso, Não é árvore que cresça muito, é espinhosa, e
e le/ sue foglie sono assai minute, e li fiori as/ suas folhas são assaz diminutas, e as
picolini./ Sono bianchi, mà sparssi di colore flores pequeninas./ São brancas, mas
di rosa. Li frutti/ sono similissimi a’ nostri esparzidas de cor de rosa. Os frutos/ são
lazarioli, come lo sono ancora/ nelle sementi. semelhantíssimos às nossas acerolas, como
Nel gusto però sono diuersi, alorche/ questi também são/ nas sementes. No gosto, porém,
ancora non sono gustosi per essere con acido/ são diferentes, pois/ estes não são gostosos por

130 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


più aspro de’ nostri. L’arbore è però bello ter uma acidez/ mais áspera que as nossas.
con li/ fiori, e ancora con le frutte delle A árvore é porém bela com as/ flores, e ainda
qualli fano dolci.// com os frutos, dos quais fazem doces.//

P. 111 [sic] [A página de no. 111 P. 111 [sic] [A página de no. 111
do MS de Landi está fora de do MS de Landi está fora de
ordem e é na realidade a página ordem e é na realidade a página
115, q. v.] 115, q. v.]

P. 112 [sic] [A página de no. 112 P. 112 [sic] [A página de no. 112
do MS de Landi está fora de do MS de Landi está fora de
ordem e é na realidade a página ordem e é na realidade a página
116, q. v.] 116, q. v.]

P. 113 P. 113

[113] Fichi [113] Figos

Questa é l’unica Pianta di Arbore, che Esta é a única planta das árvores que
qui dà/ frutti di Europpa, e quello che é aqui dá/ frutos da Europa, e o que melhor,
stimabile, dà tutto/ l’Anno, e quelli che si dá todo/ o ano, e os que tiram das árvores
tirano dall’arbore dal Mese/ di Giugno no mês/ de junho, até outubro, são assaz
sino a Ottobre sono assai dolci, quelli poi/ doces, os que depois/ se comem, de janeiro
che si mangiano di Genaro, e Febraro sono a fevereiro, são insípidos, pois/ nesta estação
insipidi qu-/ando in questa staggione abundam as águas. É/ verdade porém,
abbondano le acque. Egli é/ pero uero, que não crescem tão grandes como os
che non uengono tanto grossi come li nostri,/ nossos,/ e vi pouquísssimos dos brancos,
e pochissimi ne ho ueduto de’ bianchi, mà mas isto é/ pela pouca curiosidade das
questo è/ per la poca curiosità di costoro, pessoas, que não se deleitam/ em cultivar
che non si diletano/ di coltiuare le frutta, e as frutas, e destas plantas já tenho/ trinta,
di queste Piante ne ò già/ trenta, quando enquanto que os outros se gloriam por ter
li altri si gloriano per ancore due.// duas.//

[114] Parera, osia Vite [114] Parreira, ou seja, Videira


[+ moscatello] [+ moscatel]

Io sono di opinione, che qui si potrebbero Sou da opinião que aqui poder-se-iam
mangiare/ uua quanto in altri luoghi perche comer/ uvas como em quaisquer outros

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 131


dano tre uolte/ all’Anno, mà pochissimi lugares porque dão três vezes/ ao ano, mas
sono che si diletino di// pouquíssimos são os que se deleitam em//

P. 116 [sic; 114] P. 116 [sic; 114]

piantarle, opure ne piantavano sei, o otto plantá-las, ou então plantavam seis, ou oito
piedi, e ciò/ li basta. Li Padri della Mercede pés, e isto/ lhes basta. Os Padres
sono quelli , che sino/ ad’ora ne abbiano Mercedários são os que até/ agora as
coltivate in Maragios, e non ostante/ che cultivaram em Marajó, e não obstante/ delas
di queste ne facciano molti presenti e alle fazerem muitos presentes, e para as pessoas/
Persone/ anche più illustri, a mè ancora ainda mais ilustres, a mim, como pessoa que
come Persona che più/ oltre li à seruito, mais/ que qualquer outra os serviu, tocou-
mi è tocato un canestro assai basta-/nte me um canastro suficiente-/mente grande
per gustarla a mio piacere. Dico poi que para degustá-las a meu bel-prazer. Digo
l’Vua/ non è da uguagliarssi alle que as/ uvas não se igualam às
pregiadissime di Lisbona,/ ma sono apreciadíssimas de Lisboa, /mas são
tollerabili, e migliori sarebbero ancora se toleráveis, e seriam melhores ainda se se/
si/ procurasse terra, che abraciase questa obtivesse terra que favorecesse esta generosa
generosa pianta./ Di più non la lasciono planta./ Além disto, não as deixam
matturare bene perche uengo-/no perseguite amadurecer bem, porque são/ atacadas
da passeri, delle formiche, e altri inse-/tti, pelas aves, pelas formigas, e outros inse-/
e per questo restano uerdi, e sono priue di tos, e por isto ficam verdes, e privadas
quel/ bel”ollore, che inuita noi Europei a daquele/ odor que a nós, Europeus, nos
mangiarle. Di più/ pochi sono che sappiano convida a comê-las. E/ poucos são ainda os
pottarle, perchè in questa reg-/gione, non que sabem podá-las, porque nesta re-/gião
bisogna lasciarli molte cattene, e ò notato,/ não se podem deixar-lhes muitas cadeias, e
che in ogni luogo doue tengono nodi, buttano notei/ que em cada lugar onde têm nós,
fuori certe/ radici, che da noi non si uedono, emitem certas/ raízes, que entre nós não se
e questo è per tutte/ le cattene sparsse sopra vêm, e isto por causa de/ todas as cadeias
de’ [...]. Il moscatello, si// esparsas sobre os [?]. A moscatel//

P. 111 [sic; 115] P. 111 [sic, 115]

é qui mangiato, ma degenera poi, e non è é aqui comida, mas depois degenera, e nada
altro che/ uua. Li ceppi delle Vitti crescono é se não/ uva. Os cepos das videiras crescem
grossi come da noi./ In quanto alli altri frutti tão grandes como entre nós./ Quanto aos
di Europpa non si uedono, e/ credo, che sia outros frutos da Europa, não se vêm, e/
per il poco gusto di questa gente, mentre/ in creio que seja pelo pouco gosto desta gente,

132 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


1771 piantai quatro castagne datemi da un pois/ em 1771 plantei quatro castanheiras
Capi-/tano di un Navio, e nacquero due, que me deu um Capi-/tão de um navio, e
una pianta delle/ qualli tengo io, e già alta nasceram duas, uma das quais/ plantas
cinque Palmi, e si aureb-/bero altre se si usase tenho eu, já alta de cinco palmos, e ter-se-
diligenza a procurare li mezi/ per piantarli, /iam outras se se usasse diligência em
mentre qui abbiamo una stagione del/ tutto buscar os meios/ de plantá-las, pois aqui
diuersa da quella della nostra terra. temos uma estação/ totalmente diferente
Solamente/ dubito di quelle Piante, che da nossa terra. Somente/ duvido daquelas
abbisognano di molto freddo.// plantas que necessitam de muito frio.//

[115] [Erbaggi; sem subtítulo [115] [Hortaliças; sem subtítulo


no original] no original]

Li erbaggi di Europpa, che qui dano al As hortaliças da Europa, que aqui dão
presente, so-/no la Cicoria bianca, e no presente, /são a chicória branca, e a
trinciata, e l’altra in Cespi, che/ noi trinchada, e a outra em céspedes, que/ nós
chiamiamo Indiuia, e l’altra cicoria, che chamamos endívia, e uma outra chicória,
noi chia-/miamo radechij, le Tomate, i Pomi que nós cha-/mamos ‘radechi’, os tomates,
d’oro, li Coui ap-/perti, e alcuni ancora as couves aber-/tas, e outras ainda com
col cappucio, o siano chiusi. Da-/no ancora capuz [repolho], ou seja, fechadas. Dão/
li brocoli, ma con pochissimi fiori, e li/ ainda os brócolos, mas com pouquíssimas
altri chiamati brocoli Gemani [?], dano le flores, e os/ outros chamados brócolos [?]
foglie, e non il fiore.// dão as folhas, mas não as flores.//

P. 112 [sic; 116] P. 112 [sic; 116]

dano ancora li Cardi, ma non di quella Dão ainda os cardos, mas não do tamanho
grandezza che/ dano nelle nostre parti, e que/ dão nas nossas partes, e pode ser que
potrebbe essere che seminandoli/ in Marzo semeando-os/ em março dessem melhor. Fui
dassero migliore. E io fui che mandai a eu que mandei deixar-lhes/ as sementes, e
lasciare/ la semente, e niuno sapeua chè qui ninguém sabia que dessem aqui. A salsa/
dassero. Il peterzemo-/lo dà bene, come anche dá bem, como também o alecrim, mas este, a
il rosmarino, mà questo a dir uero/ resta dizer a verdade,/ fica pequeno, e não o vi
picolo, e non ò ueduto che dà fiori. Le cipolle, dando flor. As cebolas e/ os alhos, se dão, é
e/ li agli se dano è solo per schiribicio, mà só por capricho, mas muito pequeninos./
assai picolini/ qui però ui à una cipola Aqui porém existe uma cebola chamada da
chiamata della terra che non/ cresce più di terra, que não/ cresce mais do que uma
una grossa noce, mà è buona e forte./ La grande noz, mas que é boa e forte./ A hortelã

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 133


ortollana, e la mustarda dano come la e a mostarda dão como a grama,/ e não sei
gramigna,/ e non sò come di questa ultima se como esta última tem que ser trazida de
ne porti da Lisbona/ quando qui si potria Lisboa/ quando daqui se poderia enviar em
mandare con quantità in quelle/ parti. La quantidade para aquelas/ partes. A alface,
latuca, che noi chiamiamo porcuollana, e que nós chamamos “porcuollana”, e a erva-
l’erba/ di San Gaetano, che da noi sirue per /de-são-caetano, que entre nós serve para
ornamento de’ giardi-/ni con il nome di ornamento dos jar-/dins com o nome de
Caranzzi, sono qui tanto abbondanti,/ che “caranza”, são aqui tão abundantes,/ que
cuoprono lungo tratto di terreno, e di queste cobrem grandes porções de terreno, e destas
se ne seruo-/no per lauare la biancheria. Li servem-se/ para lavar a roupa. Os feijões
faggiuoli dano bene, mà/ non già di tutte le dão bem, mas/ nem de todos os tipos. As
sorti. Le aruiglie dano erba, e alcu-/na baca, ervilhas dão folhagem, e algu-/mas bagas,
o sia cornachia, mà sono rare. Le faue, le// ou seja, vagens, mas são raras. As favas,//

P. 117 P. 117

seminai in più tempi, e solamente diedero li semeei-as várias vezes, e somente deram as
fiori. Del/ frumento feci l’istesso, diede flores. Com/ o trigo fiz o mesmo, deu muita
molta erba, e non uidi/ le spiche, e questo folhagem, mas não vi/ as espigas, e isto
deriuerà forse del clima sempre/ uguale nel decorre talvez do clima sempre/ igual no
calore. Però quando fui mandato a certo/ calor. Mas quando fui mandado a uma
descimento de Indij dodici giorni sopra certa/ descida de Índios doze dias acima
Mariuuà ariuai/ a certo luogo assai freddo, de Mariuá cheguei/ a certo lugar assaz
e di falta nebbia coperto,/ onde in quelle frio, e coberto de densa neblina,/ e onde
terre dourebbe dare perche sappiamo,/ che nessas terras deveria dar, porque sabemos/
questa pianta ama il freddo a suo tempo. que esta planta ama o frio a seu tempo.
Ui/ sono qui altre piante di fiori Europei Existem/ aqui outras plantas de flores
che fano lo stes-/so, come la uiola, e li européias que fazem o mes-/mo, como a
garoffani, li quali crescono, mà/ inganano, violeta, e os cravos, os quais crescem, mas/
perchè non dano fiore. Mà per ora basta, enganam, porque não dão flor. Mas basta
e/ torniamo ad alcune Piante, che ci por ora, e/ volvamos a algumas plantas,
siammo scordate di/ mettere a suo luogo, e das quais nos esquecemos/ de pôr no lugar,
giunte alle altre.// junto às outras.//

[116] Sponggiettas [116] Esponjeira

Questi sono quei fiori, che noi teniamo Estas são aquelas flores que nós temos com
con tanto riguar-/do nei uasi per ornare tanto cui-/dado nos vasos para ornar

134 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


i nostri Giardini, e li chiamiamo/ Gagie. nossos jardins, e chamamo-las /gagie.
Qui sono arbori assai spinose, e grandi di Aqui são árvores assaz espinhosas, grandes,
minute// de diminutas//

P. 118 P. 118

foglie assai bene ritagliate. Quando sono folhas muito bem retalhadas. Quando estão
ripieni di fiori, fa-/no la loro bella comparsa, cheias de flores fa-/zem bela figura, e parece
e pare incredibile, e strauagante,/ che un incrível, e estravagante,/ que uma florzinha
fiorellino tanto delicato per dare il suo seme,/ tão delicada ao dar sua semente,/ dê uma
dia una faua più grossa di una di arviglie fava maior que uma de ervilhas, quando
quando sono/ seche. L’odore di questi fiori, estão/ secas. O odor destas flores é agudo
é acuto, e disagradabile./ La sudetta faua, e desagradável./ A sobredita fava, quando
quando è uerde, è rasinosa tanto, che/ con verde, é tão resinosa, que/ com esta vi colar
quella uidi incolare un piatto di maiolica. um prato de louça esmaltada. Em/ Lisboa
In/ Lisbona crescono assai queste Piante. crescem muito estas plantas. Outras flores
Altri fiori in/ tutto simili alle Gaggie si em/ tudo semelhantes à esponjeira vêm-se
uedono sparssi per questi Spi-/netti, e ancora esparsas por estes/ espinheirais, e ainda
più belli, perchè di colore Pauonazzo, e/ mais belas, porque de cor violácea, e/ cada
ogni fillettino tiene nella estremità una punta filetinho tem na extremidade uma ponta
bianca.// branca.//

[117] Mamone [117] Mamão

Se fosse uiuo il Mattioli, o l’Aldrouandi, Se fossem vivos Mattioli ou Aldrovandi,


non sò in/ quale numero mettessero questa não sei em/ que classe poriam esta bela
bella Pianta, se fra li/ arbori, o pure fra planta, se entre as/ árvores, ou antes entre
li arbusti, perchè uero è che cre-/sce alla os arbustos, porque se é verdade que/ cresce
altezza di trenta, e più Palmi, ma è poi/ à altura de trinta e mais palmos, é
tanto mole il suo Caude, che si taglia con entretanto/ tão mole o seu caule, que se
un semp-/lice// corta com um sim- ples//

P. 119 P. 119

coltello. Le foglie sono delle più uaghe che facão. As folhas são das mais estranhas que
abbia ueduto./ Il suo gambo è lungo cinque tenha visto./ Seu pedúnculo tem cinco palmos
Palmi, e grosso come un/ deto picolo della de comprido, e a grossura do/ dedo mínimo
mano, e il suo uerde è più chiaro della/ da mão, e seu verde é mais claro do que o

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 135


foglia, la quale è diuisa in sete punte mà da/ folha, a qual é dividida em sete pontas,
tanto bene/ frapate, che sono fuori mas tão bem/ recortadas, que são fora do
dell’ordinario, e uengono a formare/ come comum, e chegam a formar/ como uma
una stella, che da ogni parte uiene a essere estrela, que de cada parte vem a ter quatro/
larga/ quatro Palmi. Li fiori crescono nella palmos de largura. As flores crescem na
estremità fra li gam-/bi nascenti delle foglie, extremidade entre os/ pedúnculos que
e allo intorno più basso restano/ li frutti nascem das folhas, e ao redor mais embaixo/
molto giunti, e li uni alli altri si ficam os frutos muito juntos, sobrepondo-se
soprapongono, mà/ in roda della pianta, uns aos outros, mas/ em volta da planta, e
e dal primo Anno che dano li fru-/tti sino desde o primeiro ano que dá frutos/ até
a quando muore, nepure un sol giorno resta quando morre, nem um só dia fica sem/
senza/ frutti, e fiori, e questi sono grandi, frutos e flores, e estes são grandes, e poderiam
e si potrebbero assomigli-/are a quelli delli parecer/ com os das laranjas, mas suas
aranzi, mà le sue foglie che sono/ e di colore folhas, que são/ de cor [espaço em
[espaço em branco] sempre stano molto branco] sempre estão muito eriçadas sob
arriciate sotto alli/ fiori, si uedono in circolo as/ flores, vêm-se em círculo os mamõezinhos
li mamoncini non più grandi di/ una noce, não maiores do que/ uma noz, sob estes
sotto a quelli si uedono come una larangia,/ vêm-se como uma laranja,/ depois como um
dipoi come un cedro, e li ultimi, che stano cedro, e os últimos, que estão sob/ todos, são
sotto a/ tutti sono li primi a matturarssi, os primeiros a amadurecer, e a causa des-/
e la causa di ques-/to ordine è, perchè ad ta ordem é porque a cada mês dão sua
ogni mese dano la sua porcione.// porção.//

P. 120 P. 120

i detti frutti sono più, o meno grandi, e più Os ditos frutos são mais ou menos grandes,
belli li/ dano doue le terre sono buone, ma e mais /belos onde as terras são boas, mas
li maggiori tal uol-/ta sembrano melloni, os maiores às ve-/zes parecem melões, e os
e li più ordinarij come un cotto-/gno grande, mais ordinários como um mar-/melo
auanti che ariuino alla loro matturità, so- grande, antes que cheguem à sua
/no di color uerde rame, di poi si fano maturidade são/ são de cor verde cobre,
gialli. Nel /principio sono alquanto sottili, depois tornam-se amarelos. No/ princípio
di poi si allargano/ con molta gracia, e são um tanto esguios, mas depois se
sicome vengono cinque cana-/lletti come e’ alargam/ com muita graça, e como surgem
melloni, e tutte se uniscono in parte/ riescono cinco cana-/lículos como nos melões, e todos
belli, e differenti da ogni altro fru-/tto. La se unem em parte/ tornam-se belos, e
sua pelle resta mole quantunque/ grossa diferentes de qualquer outro fru-/to. Sua
più di un cartone e tiene adentro una/ pele fica mole apesar de/ mais grossa que

136 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


massa totalmente gialla, che si mangia con um cartão e tem dentro uma/ massa
/il cuchiaro, e questa è dolce, e nulla nau- totalmente amarela, que se come com/ a
/seante, anzi mangiandola, è freschissima,/ colher, e é doce, e nada nau-/seante, ao
mà sicome sono abbondantissimi non si fà/ contrário, comendo-se-a, é fresquíssima,/ mas
caso di queste belle frutta. Nel mezo ten-/ como são abundantíssimas, não se faz/ caso
gono moltissime sementi negre, e rugose, le/ destas belas frutas. No meio têm/
qualli masticandole picigano, e le dette so- muitíssimas sementes negras e rugosas, as/
/no più piccole di un grano di pimenta quais, mastingando-se, picam, e as ditas são/
di// menores do que um grão de pimenta da//

P. 121 P. 121

India, e ciò che ritrouo di particolare in Índia, e o que acho de particular neste/
questo/ frutto é che ogni uno stà chiuso dentro fruto é que cada um está fechado dentro de
di un/ sachettino di una finissima pele, e um/ saquinho de uma finissima pele, e todos
tutti questi/ riceuono il loro nutrimento da eles/ recebem seu alimento de um filetinho
un filettino che/ stà attacato a quella midola que/ está preso àquela medula que está no
che stà al mezo quasi/ simile a quella de’ meio quase/ semelhante àquela dos melões.
melloni. L’uso maggiore che à/ questo frutto, O maior uso que tem/ este fruto é para
è di farne dolci, canditi, e siropati,/ quando fazer doces, confeitos e compotas,/ quando
sono uerdi. Abbondano molto di latte, e estão verdes. Abundam muito de leite, e
perciò/ auanti di mangiarli si picano al porisso/ antes de comê-los picam-se por
diffuori, si la-/uano, e si mangiano.// fora, la-/vam-se e comem-se.//

P. 122 P. 122

De’ Passeri Das Aves

P. 123 P. 123

[118] Tuccano [118] Tucano

Il corpo di questo Passero é grande quanto O corpo desta ave é tão grande quanto o de
un be-/ca finngo [sic], má é gallante, le um/ papa-figo, mas é galante, as penas como
pene sono negre. Li pie-/di partecipano di negras. Os pés/ participam do branco e do
bianco, e turchino. La testa é tutta/ la sua azul-turquesa. A cabeça é toda/ sua beleza,
bellezza, perche nella metà di quella nasce porque em seu meio nasce o/ bico curvo
il/ bico incuruato assai largo, e lungo un bastante largo, comprido de um palmo, /e

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 137


Palmo, che altre-/tanto non sará lungo il outro tanto terá a ave; alguns têm-no encar-
Passero; alcuni lo àno incar-/nato con striscie /nado com faixas negras em torno feitas
negre allo intorno fatte come un/ spaghetto como um/ barbante de seda, alguns têm-no
di seta, alcuni lo áno negro con alcune stris- negro com algumas fai-/xas amarelas, e
/cie gialle, e altri lo tengono bianco con striscie outros têm-no branco com faixas negras./
negre./ E pare che questo Passero non dovette Parece que esta ave não deve voar com/ tanta
uollare con/ tanta velocità per la velocidade pela desproporção daquele gran-
sproporcione di quel gran-/dioso bico. La /dioso bico. Sua língua é torta, e comprida,
sua lingua é torta, e lunga, má da ogni/ mas em todas as/ partes é feita como uma
parte é fatta a sega come lo é ancora il bico serra, como é ainda o bico na/ parte que se
nella/ parte che si congiunge, e a dir uero la une, e em verdade a dita língua,/ por ser
sudetta lingua/ per essere sottilissima pare delgadíssima, mais parece uma cartilagem./
piu tosto una cartilagine/ sotto al collo tiene Sob o pescoço tem um papo de penas
un papo di pene finissime, con/ due giri di finíssimas, com/ duas voltas de outras penas
altre pene collorite, le qualli si tirano// coloridas, que se tiram//

P. 124 P. 124

per mandarle a Lisbona dove sono para enviar a Lisboa, onde são procuradas/
ricercate/ per fare ornamenti da Donne para fazer ornatos para mulheres, como
come a dire/ Pallatine, fiori e altri similli sejam/ [?], flores e outros ornamentos
ornamenti. Questo/ Passaro si adomestica semelhantes. Esta/ ave domestica-se
facilmente e uà a salti. Qu-/ando poi stá facilmente a anda aos pulinhos./ Quando
fermo guarda uoltando sempre la testa/ fica parada, olha virando sempre a cabeça/
ora a destra e ora a sinistra, e mangia di ora à direita, e ora à esquerda, e come de
tutto/ mà ingollendo, e dicono che digerisse tudo,/ mas engulindo, e dizem que digere
tutto con faci-/lità e alcuni lo mangiano, tudo com faci-/lidade e alguns a comem,
mà à poca carne, e non è/ come delli altri mas tem pouca carne, e não é/ como a dos
animali, mà negra.// outros animais, mas negra.//

[119] Pauone [119] Pavão [Pavãozinho-do-pará]

Non sò perche diano tal nome a questo/ Não sei por que dão tal nome a esta/ ave
Passero da che nulla hà di similitudine con/ que nada tem de semelhante com/ o pavão.
il Pauone. È Passero grande come un po-/ É uma ave do tamanho de um /frango,
llastro, à il collo lungo con testa picola, mà tem o pescoço comprido com cabeça pequena,
ga-/lante. Le sue penne sono scure tanto mas ga-/lante. Suas penas são escuras, e
bene salpi-/cate di bianco, che di più non tão bem salpi-/cadas de branco, que nunca

138 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


si farebbero belle/ da un Pittore. Non si seriam feitas mais belas/ por um pintor.
mangia, e serue per bellezza./ Il suo cibo é Não se come, e serve só pela beleza./ Sua
di pigliare moschini pr aria.// comida é pegar mosquitos pelo ar.//

P. 125 P. 125

[120] Pica Flore [120] Beija-flor

Questo Passero è cosi chiamato perchè come Esta ave é assim chamada porque como
frenetico si/ ragira sempre intorno ai fiori frenética/ gira sempre em torno às flores,
per estrarre da’ medesimi/ il nutrimento para extrair das mesmas/ seu nutrimento
in quella guisa che fano le ingegnose Api./ da maneira que fazem as engenhosas
Non è questi maggiore di una borboletta abelhas./ Não é maior que uma mariposa
da Seta, mà il/ suo bico è sproporcionato da seda, mas o/ seu bico é desproporcional
perchè è più lungo che non è il cor-/po, e porque é mais longo que o/ corpo, e está
stà riuolto alla terra. Di penna è uariabile, virado para a terra. É variável nas suas
perchè/ alcuni sembrano di oro, alcuni le penas, pois/ alguns parecem de ouro, alguns
ano dello stesso co-/lore dello smeraldo, e têm-nas da mesma cor/ da esmeralda, e
altri color di rosso, e sono gallantis-/simi, outros de cor vermelha, e são galantís-/
mà con molta difficoltà si ponno simos, mas só com muita dificuldade podem-
adomesticare/ per non auere con che se domesticar/ por não se ter com que nutri-
nutrirli. Io poi non hò ueduto nas-/cere los. Além disto, nunca vi nas-/cer nenhum,
alcuno, mà mi dicono per cosa certa, che mas dizem-me como coisa certa, que
deriuano/ da una borboleta, e certo derivam/ de uma borboleta, e um certo
Canonico Giuseppe do Bras, mi/ assicurò cônego José de Braz,/ assegurou-me que
che del roverscio di una foglia grande aueua/ por trás de uma folha grande havia/ visto
ueduto il suo nascimento, e sù di questo mi seu nascimento, e nele baseio minha/
rimetto alla/ storia. Solamente dico, che fra história. Só digo que, entre as aves, esta
li Passeri, questo è/ senza dubio il più picolo, é/ sem dúvida a menor, e que na Europa
e che in Europpa questo è/ molto agradito é/ muito apreciada por todos os tipos de
da ogni genere di Perssone.// pessoas.//

P. 126 P. 126

[121] Tein Tein [121] Tem-tem

Di due sorta ui à di questi Passeri, l’uno è Há duas espécies destas aves, uma quase
quasi/ grande come un merlo, e di pene tão/ grande quanto um melro, e de penas

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 139


nere con li incontri/ delle alli gialli, e nel negras com os encontros/ das asas amarelos,
canto, se non supera l’Vsign-/uolo, lo e no canto, se não supera o rou-/xinol,
eguaglia almeno. Il secondo è anche più pelo menos o iguala. A segunda é também
picolo/ del gardellino [sic], le sue penne menor/ que o pintassilgo, suas penas são
sono parimenti nere con/ le alli e parte igualmente negras com/ as asas e parte da
della testa gialle, mà io certamente lo/ cabeça amarelas, mas eu certamente/ acho-
ritrouo del tutto nuouo a cantare, e sicome o totalmente original no cantar, e como
dalle ar-/moniose, e sue delicate uoci entre suas har-/moniosas e delicadas vozes
interrotte da più trilli,/ non lascia mai di interrompidas por muitos trilados/ nunca
fare il basso, ogni uno che lo senti-/sse deixa de cantar como baixo, todos os que
cantare a occhij chiusi, direbbe che sono o ouvem/ cantar com olhos fechados diriam
due.// que são dois.//

[122] Passeri detti dello Spirito Santo [122] Aves ditas do Espírito Santo

Questi sono di molte sorta, e cosi si Estas são de muitas espécies, e assim se
chiamano per-/chè si lasciano uedere in tale chamam por-/que deixam-se ver nesse
tempo, non già per mira-/colo, mà perchè tempo, não já por mila-/gre, mas porque
circa a questi tempi ritrouano il loro/ nessas épocas encontram seu/ alimento
allimento in certe fruttine di arbori, che em certas frutinhas de árvores, que não
non le dano// dão//

P. 127 P. 127

tutto l’Anno. In quanto alla sua belezza, todo o ano. Enquanto à sua beleza, mais
più si do-/ueria credere uedendoli, che se cre-/ria vendo-as que descrevendo-as. As
descriuendoli. Quelli che/ io uidi un giorno que/ vi um dia que fui caçar foram as se-
che andai a caciarli furono li pre-/senti. /guintes. Algumas eram negras, com as
Alcuni erano negri con le alle, e la coda asas e a cauda brancas./ Outras eram
bianche./ Altri erano negri, ma coperti negras, mas todas cobertas de salpicos/
tutti di pichie rottonde, e bi-/anche. Fra redondos e brancos. Entre estas existia uma
questi uno era di un belissimo azzuro salpi- de um belíssimo/ azul salpicado com pontos
/cato con punte nere. Due ne presi tanto negros. Capturei duas tão azuis e/
azzuri e ris-/plendenti come se tutto fosse resplandescentes como se o todo fosse uma
stato una gema, e sotto/ al collo aueua gema, e sob/ o pescoço tinham algumas
alcune penne morelle. Altri erano/ uerdi penas murzelas. Outras /eram verdes com
com striscie pauonazze nella testa e nel listras violáceas na cabeça e no peito/ e
petto, e/ altri del colore del carmino. Non outras da cor do carmim. Não são todas

140 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sono tutti della medesi-/ma grandezza, do mes-/mo tamanho, mas as maiores são
mentre li maggiori sono come un tordo,/ e como um tordo,/ e as menores como um
le più picoli come un cannarino. Mà canário. Mas certamente quem/ louvasse
certamente chi lo-/dasse Iddio per auere a Deus por havê-las formado, ou deixado/
formato, o lasciato formare alla/ natura que a natureza formasse tão belas aves,
si bei Passeri, non lo lodarebbe inda uno, não o louvaria/ ainda suficientemente, se
abben-/che non alletano con il suo canto. bem que não alegrem com seu canto./ Há
Ui sono poi altri/ picolli passeri del tutto ainda outras pequenas aves todas negras
negri con il bico bianco,/ li qualli solamente com o bico/ branco, que só vi saltitar,
ò ueduto saltellare, mà non cantano,/ e di mas não cantam,/ e destas aqui temos
questi qui ne abbiamo molti.// muitas.//

P. 128 P. 128

[123] Cinganá [123] Cigana

Detto Passero, è maggiore alcuna cosa di A dita ave é alguma coisa maior que uma
una galli-/na per auere poca carne, e quella gali-/nha por ter pouca carne, e esta não
non si mangia/ mà quando tiene le alli se come/ mas quando tem as asas abertas,
aperte, è largo sete palmi/ da punta a tem o tamanho de sete palmos/ de ponta a
punta. Le penne sono del collore che é il/ ponta. As penas são da cor que tem o/
tabaco, osia la cannella, e tutto è strisciato tabaco, ou seja, canela, e tudo é listrado de
di bianco.// branco.//

[124] Muttù [124] Mutum [Mutum-pinima e mutum-cavalo]

Belissimo Passero è questo. La sua Esta é uma belíssima ave. Seu tamanho é/
grandezza è/ come un Perù, che noi como o de um peru, que chamamos
chiamiamo Tachino, il maschio/ è di penne “tacchino”. O macho/ tem penas negras
nere quanto essere possono, dalla metà del/ tanto quanto podem ser, na metade do/
collo le dette penne, sono come felpa, il bico è pescoço as ditas penas são como felpa, o bico
grosso, e/ giallo sopra. Alla testa tiene un é grosso, e/ amarelo em cima. Na cabeça
ciuffo gallante di pene/ assai bene composte, tem um tufo galante de penas/ muito bem
e molto arriciate, le qualli si procu-/rano compostas e muito frisadas, muito busca-/
dalle donne per ornare il capo in uece di das pelas senhoras para ornar sua cabeça
piume/ posticie; e certamente è bello, e em lugar de plumas/ postiças, e certamente
gallante. la femina non/ tiene altra differenza, é belo, e galante. A fêmea não/ tem outra
che le sue penne sono del colore// diferença senão que suas penas têm a cor//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 141


P. 129 P. 129

di certo tabaco scuro, e salpicate di bianco. de um certo tabaco escuro, e salpicadas de


La sua/ carne non è tanto gustosa come branco. Sua/ carne não é tão gostosa como
quella del Perù, mà/ si puole mangiare da a do peru, mas/ pode ser comida por
qualunque Perssona di bu-/on gusto. Vn qualquer pessoa de bom/ gosto. Um outro
altro Muttù si uede grande co-/me li altri, mutum pode ser visto, tão grande/ como
e non differisce in altro, che di auere/ in os outros, e não difere em outra coisa, senão
luogo del ciuffo una cartillagine, che si em ter/ em lugar do tufo uma cartilagem,
estende/ una pollegada per la testa e al que se estende por/ uma polegada sobre a
disopra termina/ acuta, e è del collore che cabeça que em cima/ termina aguda, e tem
è l’oro fosco, mà non/ apare cosi bello, e a cor de ouro fosco, mas não/ parece tão
superbo quanto il già descritto./ Questi belo e soberbo quanto o já descrito./ Estas
Passeri tutti si addomesticano come le/ aves todas se domesticam como as/ galinhas,
galline, e mangiano di tutto.// e comem de tudo.//

[125] Garza [125] Garça

Questo Passero è come una cicogna, cioè Esta ave é como uma cegonha, isto é, pou-
po-/co corpo, cattiua carne, e tutto collo /co corpo, carne ruim, e toda pescoço com
con bico/ lungo. Il suo cibo è Pesce, e perciò bico/ longo. Seu alimento é peixe, e por
ama di sta-/re sù le sponde di qualche isso gosta de/ ficar nas margens de algum
Rio, le sue penne/ sono del più perfetto rio, suas penas/ são do mais perfeito branco
bianco, che immaginare/ si possa, onde fra que se possa/ imaginar, de onde se pode
bei Passeri, si può agregare.// incluir entre as aves belas.//

P. 130 P. 130

[126] Maguari [126] Maguari

Detto Pasero è grande. Le sue penne A dita ave é grande. Suas penas são
sono cenericie/ e più chiare sono quelle cinzentas/ e mais claras são as do peito,
del petto, con le qualli si fa-/rebbero belle com as quais far-se-/iam belos abafos, belas
manizze, bei fiori, e gallantirie simili. flores, e semelhantes/ mimos. Es-/ta ave
Qu-/esto Passero à il collo assai lungo, tem o pescoço muito longo, e quando tem
e quando à tese le/ alli, è largo otto estendidas/ as asas, tem o comprimento de
palmi. Nel mezo della testa, tiene/ un oito palmos. No meio da cabeça/ tem um
bel ciuffo di penne, e assai rileuato. Il belo tufo de penas e bastante alteado. O

142 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


bico nel/ suo principio è molto grosso, e bico, no seu/ princípio, é muito grosso e
duro, di lunghezza à un/ palmo, e credo, duro, com o comprimento de um/ palmo, e
che auendo egli forza, può dare morte/ creio que tendo ele força, possa dar a morte/
ad un Pesce. La sua carne non è buona, a um peixe. Sua carne não é boa, e tem
e ne tiene ta-/nto poca, che tocandolo, tão/ pouca, que tocando-se-o, quase não se
quasi non si sente. Si adomestica/ come a sente. Domestica-se/ como muitas outras
tanti altri Passeri, e dura in Casa, se aves, e dura em casa, se/ vizinho a esta
uicino a qu-/ella, ui à qualche fiume, existe algum rio, porque se alimenta de
perchè si ciba di Pesce.// peixe.//

[127] Marecas [sic] [127] Marrecas

È una specie di Pattos, o sieno Anitre, mà É uma espécie de patos, ou [em ital.]
più gracio-/se, perchè assai bene machiate “anitre”, mas mais/ graciosas, porque muito
di bianco, negro.// bem manchadas de branco e negro.//

P. 131 P. 131

di queste se ne ritrouano di due sorta. Cioè Destas acham-se duas espécies. Isto é, uma/
le une più/ grandi di una Anitra, e le maior que um pato, e as outras com a
altre grandi per la metà, e/ queste sono le metade do tamanho, e/ estas são as mais
più gallanti. La sua carne è ottima, e può/ galantes. A sua carne é ótima, e pode/
apparire in qualunque pranzo. Più uolte comparecer em qualquer refeição. Muitas
si uedono queste/ passare de una Isola vezes vêem-se estas/ aves de uma ilha a
all’altra, e uano a branchi di molte/ outra, e andam em bandos de muitas/
centinaia.// centenas.//

[128] Vnacuaù [?] [128] Unacuaú

È Passaro da rapina, e quasi simile al É ave de rapina, quase semelhante à coruja-


Barbaggiani./ Li suoi occhij sono grandi branca./ Seus olhos são grandes e redondos,
e rottondi, mà alli intorno mol-/to mas ao redor mui-/encavados. Sobre a
incauati. Sopra alla testa tiene anch’esso cabeça tem ele também um tufo/ de penas
un ciuffo/ di penne strette, e il bico assai estreitas, e o bico é muito voltado para
riuoltato allo inggiù. Le/ sue penne sono baixo./ Suas penas são brancas e
bianche, e machiate con bell’ordine, e di/ manchadas com bela ordem, e/ de cor parda.
colore pardo. Li piedi sono grossi con lunghi Os pés são grandes com longos artelhos./
artigli. Qua-/ndo si fà sentire non disgusta Quando se faz ouvir não desagrada com seu

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 143


con il suo canto. Dicono che/ la sua carne canto. Dizem que/ sua carne é boa, e que
è buona, e che serue da contrauelleno. Mà serve como contraveneno. Mas, para/ dizer
a/ dire il uero poco credo a questa gente a verdade, não creio nessa gente cheia de
piena di oppinio-/oni [sic], e sfornita di opiniões/ e privada de conhecimentos e de
conoscimento, e di ualide esperienze.// válidas experiências.//

P. 132 P. 132

[129] Cujubin [129] Cujubim

È Passero grande come un Faggiano, con collo É ave do tamanho de um faisão, com
lungo,/e la testa uiperina. Le pene sono di pescoço longo/ e cabeça viperina. As penas
color pardo, e tutti/ nel mezo del capo tengono têm cor parda, e todas/ no meio da cebeça
una linea di penne bianche, e/sotto alla golla têm uma linha de penas brancas, e/ sob a
due brizi del colore del zaferanno, che li/ cadono garganta duas barbelas cor de açafrão, que
al basso. La sua carne è buonissima per ficam/ pendentes. Sua carne é bonísima
imban-/dire qualunqe mensa.// para ser posta/ em qualquer mesa.//

[130] Nambù [130] Nhambu

Di questi ne à due sorta, l’uno è picolo co-/ Destes há duas espécies, uma é pequena co-
me una pernice, l’altro è grande come una /mo uma perdiz, a outra é grande como
gal-/lina. Tutti due sono stimati perchè uma ga-/linha. Todas as duas são
ottimi per man-/giare. La sua carne è estimadas porque ótimas para co-/mer. A
bianca, e tenera, e tutta consis-/te nel petto, sua carne é branca, e tenra, e consiste toda/
che à assai rileuato, e rottondo. Più uolte/ em peito, que é bastante alçado e redondo.
ne ò assagiato questa carne, e la ritrouo Muitas/ vezes experimentei esta carne, e
alcun poco/ asciuta, mà lardata che sia, acho-a um pouco/ seca, mas uma vez
può compettere con il/ nostro Faggiano. É lardeada, pode competir com/ nosso faisão.
animale, che si adomestica nelle Case.// É animal que se domestica nas casas.//

P. 133 P. 133

[131] Saracura [131] Saracura

Assai bello è questo Passero, grande come Muito bela é esta ave, do tamanho de um
un Colombo/ e le penne di uarij colori cioè pombo/ e as penas de várias cores, isto é, as
la schiena e le alli quasi/ del colore della costas e as asas quase/ da cor da canela,

144 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


canella, tanto chiaro quanto scuro, il/ collo tanto clara como escura, o/ pescoço até a
sino alla golla è parte di color cinzento, e garganta é parte de cor cinzenta e parte/
parte/ argentino. Li piedi sono incarnati, argêntea. Os pés são encarnados, os olhos
li ochij anch’essi talli,/ e allo intorno àno também esses assim,/ e ao redor têm um
un giro azuro, e il bico uerdicio, onde/ fra círculo azul, e o bico esverdeado, tal/ que
Passeri fa una bella comparsa. Nelle Case entre as aves tem bela presença. Nas casas
si addo-/mestica facilmente, e domestico che do-/mestica-se facilmente, e uma vez
sia pare che non/ sapia uollare. Intorno domesticada parece que não/ sabe voar.
al gusto della sua carne non/ ò sentito Quanto ao gosto da sua carne não/ ouvi
dire che sia stimabile. Dipiù è particolare dizer que seja estimada. Além disso é
nel/ suo idioma perchè ripette quatro uolte particular em/ sua línguagem porque repete
una cantillena/ in un tuono, e la ripete quatro vezes uma cantilena/ em um tom, e
altre tante in altro più alto/ e questo è repete-a outras tantas em outro mais alto/
particularmente sul fin del giorno.// e isto particularmente no fim do dia.//

[132] Annaunà [132] Anu-una

È un Passero negro con coda più lunga del É um pássaro negro com cauda mais longa
usato// que o usual//

P. 134 P. 134

e bico incuruato, è grande come un merlo, e bico curvo, do tamanho de um melro,


ma/ non si mangia perchè la sua carne mas/ não se come porque sua carne exala
rende forte/ odore come quella del Coruo; um forte/ odor como a do corvo. Seu
il suo istinto è di/ accompagnare li Buoui instinto é de/ acompanhar os bois quando
quando pascono, e più uol-/te ò ueduto li pastam, e muitas ve-/zes vi os ditos
detti Passeri tocarli il grugno, qua-/ndo pássaros tocar-lhes o focinho, quan-/do,
mouendosi, uano pascendo.// movendo-se, vão pastando.//

[133]Ciapin [133] Japiim

Mi pare di auere letto alcuna cosa nelle istorie Parece-me haver lido alguma coisa nas
di/ questo Passero, e quello è che forma il histórias/ sobre este pássaro; é aquele que
suo nido nelli/ arbori, e questo è una borssa forma seu ninho nas/ árvores, e este é uma
lunga un palmo e mezo, la/ quale stà bolsa do tamanho de palmo e meio, a/ qual
pendente da un ramo in modo che il Vento está pendente de um ramo de modo que o
non/ può con la sua forza leuarli, perchè vento não/ pode, com sua força, levá-lo, porque

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 145


cedono al medesimo/ per ogni parte che uenga. cedem ao mesmo/ por todas as partes que
Le dette borse sono assai bene/ construite, e venha. As ditas bolsas são muito bem/
non sò come le possino tessere cosi intricate,/ construídas, e não sei como podem tecê-las tão
e sembrano fatte di cauechia, e la sua entrata intrincadas,/ e parecem feitas de cavacos, e a
è sem-/pre fatta da quella parte, che meno sua entrada é sem-/pre feita na parte menos
è esposta alle in-/giurie de’ tempi. Il Passero exposta às in-/tempéries dos tempos. O
è grande come lo è da noi// pássaro tem o tamanho da nossa//

P. 135 P. 135

la Gazza. Le penne sono negre, li incontri pega. As penas são negras, os encontros
delle alle,/ e la coda sono come un das asas/ e a cauda são de como um
bellissimo giallo, e di queste/ si mandano belíssimo amarelo, e estas/ são enviadas
al Regno per fare fiori, il bico del mede-/ ao reino para fazer flores; o bico do mes-/
simo è bianco, onde cosi essendo posso dire mo é branco, e por assim ser posso dizer
che è bello/ e felice, perchè non è perseguitato que é belo/ e feliz, porque não é perseguido
da Caciatori perchè/ la sua Carne, puzza. por caçadores porque/ sua carne fede.
Uano a branchi, e in quella arbore/ doue Ficam em bandos, e na árvore/ onde fazem
fano le borse, se ne contano alle uolte sopra as bolsas, contam-se às vezes mais de cin-/
cinqu-/anta, non cantano, ma pare che quenta; não cantam, mas parece que são
siano inclinati a parlare.// inclinados a falar.//

[134] Guarà [134] Guará

Il Guarà è Passero forse non più uisto/ O guará é uma ave que talvez não seja
che in queste parti. Cresce quanto una/ vista/ senão nestas partes. Cresce tanto
becacia, e a questa è simile il suo bico. Stà/ quanto uma/ narceja, e é semelhante a
un Anno incirca con le penne bianche, di- esta no bico. Fica/ quase um ano com as
/poi le trasmuta in parde mesclate con/ penas brancas, de-/pois transmuda-as a
altre negre. E in due Anni transforma pardas mescladas com/ outras negras e
le/ sue pene nel colore del carmino, e allora, em dois anos transforma as/ suas penas
è/ assai bello da uedersi. Aleuato da na cor de carmim, e então é/ muito bela
picolino// de ver-se. Criada de pequenina,//

P. 136 P. 136

si fa domestico, mà si è osseruato che torna-se doméstica, mas observou-se que


quelli/ che si alleuano nelle Case non as/ que se criam nas casas não conseguem

146 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


riescono/ di collore cotanto focoso quanto ter/ uma cor tão fogosa quanto a dos que/
quelli che/ si cibano di pesce, e soggiornano se alimentam de peixe e vivem vizinhos do/
uicino al/ Mare, uollendo molti, che quelle mar, querendo muitos que aquelas águas
acque salse/ li contribuiscono a formare salgadas/ contribuam para formar-lhe
quel belissimo, e/ focosissimo colore. Di aquela belíssima e/ fogosíssima cor. Desta
questo passero, si tirano/ le pelli intiere ave se retiram/ as peles inteiras para
per mandarle a Lisbona, per/ ridurle in mandá-las a Lisboa, para/ reduzi-las a
fiori.// flores.//

[135] Cugliarera [135] Colhereiro

Ancor questo Passero, è della medesima/ Também esta ave é do mesmo/ tamanho
grandezza del Guarà. Il suo bico do guará. Seu bico tem/ o mesmo
sarebbe/ lo stesso in lunghezza, mà in comprimento, mas em lugar de boca/ tem
luogo di boca/ tiene una grossa uma grande cartilagem, que forma/ uma
cartillaggine, che forma/ una rodella, che rodela, que o torna verdadeiramente
lo rende in uero curioso. Le/ sue penne curioso. As/ suas penas são da cor
sono del collore chiamato rosa/ pallida, e chamada rosa/ pálida, e esse também se
anch’esse si ciba di Pesce.// alimenta de peixe.//

P. 137 P. 137

[136] Giachamin [136] Jacamim

Curioso è questo Passero. Di corpo è gra- É curiosa esta ave, que de corpo tem o
/nde come un capone, mà è più rottondo./ ta-/manho de um capão, mas mais
Le sue penne sono perfettamente negre, redondo./ Suas penas são perfeitamente
mà/ frapate come quelle dello struzzo, negras, mas/ franjadas como as do
quelle/ poi del collo, e della testa sono avestruz, e as/ do pescoço e da cabeça
tante fine,/ che sembra un uelluto. Li são tão finas,/ que parece um veludo. Os
piedi sono più/ tosto alvi, e quando stà pés são quase/ brancos, e quando está
fermo, o che dorme,/ sempre riponsa parado, ou quando dorme,/ sempre
sopra di uno. Non canta/ mà lascia repousa sobre um só. Não canta,/ mas
uscire una certa uoce seguita,/ che dura deixa sair uma certa voz seguida,/ que
un minuto incirca, e quella si sen-/te nel dura cerca de um minuto, e esta ou-/ve-
uentro di detto animale. Costuma di/ se de dentro do ventre do dito animal.
dormire in alto, sopra di un legno, e nel Costuma/ dormir no alto, em um tronco,
coperto/ delle case. È molto domestico, ou no telhado/ das casas. É muito

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 147


si lascia toccare,/ e tiene dietro, o per doméstico, deixa-se tocar,/ e vive atrás,
meglio dire acompagna/ coloro, che li ou melhor dito, acompanha/ aqueles que
fano più caresse. Mà la curio-/sità di lhes fazem mais carícias. Mas a curio-/
questa gente è tanto poca, che al presente/ sidade desta gente é tão pouca, que no
non sò se uno se ne ritrouerà in Cibbo presente/ não sei se se achará um em [?]
[?], e non dà [...].// e não dá [...].//

P. 138 P. 138

[137] Annacan [137] Anacã

Da questo Passero al Pappagallo non ui à Desta ave ao papagaio não existe outra/
altra/ differenza se non le sue penne. Sono diferença senão suas penas. São também
anch’es-/se verdi, ma nelle estremità es-/tas verdes, mas nas extremidades têm
tengono tutte un orlo/ di collore rosso scuro, todas uma orla/ de cor vermelho escura,
e non parla. Quando poi se/ li accosta e não fala. Quando/ algum desconhecido
alcuno non conosciuto, o che mostra di/ se acerca dela, ou que demonstra/ querer
uolerli dare, oricia tutte le pene del collo e bater-lhe, eriça todas as penas do pescoço
della/ testa, e fà li occhij incarnati come se e da/ cabeça e fica com os olhos
si uolesse uen-/dicare, o diffendere. Per altro encarnados, como se quisesse vin-/ gar-
è Passero domesti-/co, e chi si tiene per se, ou defender-se. De resto é uma ave
bellezza. Dicono che/ le sue penne domésti-/ca, que se mantém pela beleza.
abruggiate, sono buone per il male di/ ochij, Dizem que/ suas penas queimadas
e che perdendo egli questi per alcuna servem para o mal dos/ olhos, e que
disgracia/ li torna a ricuperare, mà tal perdendo-os por alguma desgraça/ torna
cosa non si uoleua da/ me credere a recuperá-los, mas nunca quis acreditar/
quantunque detta da soggetto degno di/ nisso, apesar de dito por pessoa digna
stima, e assai noticioso delle cose di questa de/ toda estima e muito conhecedora das
terra. Pu-/re fui disinganato, e mi si coisas desta terra. Mas/ fui desengado,
conceda di uscire fuori del/ mio camino, e que se me conceda desviar-me/ do
per racontare questo mio disingano con qu- caminho para contar esse meu desengano
/uella// com/ aquela//

P. 139 P. 139

uella sincerità, che deue essere adoprata da Aquela sinceridade que deve ser adotada
ogni scrittore/ benchè fiaco, come io lo sono. por todo escritor/ apesar de fraco, como
Uno di questi Passeri as-/sai domestico, sou. Uma destas aves, bas-/tante

148 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


mi fu donato, e in tempo che teneua, in doméstica, foi-me doada, e numa época em
mia/ casa un cuandù, o sia Porco Spino que tinha em minha/ casa um cuandu,
anch’esso adomestica-/to il qualle tentó di ou seja, um porco-espinho, também do-/
leuarli un pezzo di pacoua che sta-/ua mesticado, o qual tentou roubar-lhe um
mangiando onde il detto Annacan li diede pedaço de pacova que/ estava comendo. Daí
un morsso./ Mà scuottendossi il Cuandù, o dito anacã deu-lhe uma mordida./ Mas
li lanciò otto dalle sue/ spine, una delle agitando-se o cuandu, lançou-lhe oito de
qualli andò a piantarssi nella/ pupila di seus/ espinhos, um dos quais foi plantar-
un ochio a segno che dentro pochi/ giorni se na/ pupila de um olho, de maneira que
si putrefece, e a poco a poco se li pre-/ dentro de poucos/ dias se putrefez, e pouco
meua fuori quella putredine bianca, e restò a pouco se lhe/ expremia fora aquela
con/ diforme con una Caua, e perchè podridão branca, e ficou/ disforme com um
sentiua di/ questo mansso animale, andai buraco, e como tinha pena des-/te manso
a ritrouare quello, che/ aueua detto, che animal, fui procurar aquela pessoa, que/
ricuperauono li ochij, e mi assicurò/ che il tinha dito que recuperavam os olhos, e ela
detto passero non sarebbe restato cosi; onde assegurou-me/ que a dita ave não ficaria
per/ finirlo, in termine di quaranta giorni assim, e daí, para/ terminar, no termo de
si ritrouò l’/ochio intiero, e altro non aueua quarenta dias achou-se o/ olho inteiro, e
che una picola nube/ atrauerssata per la só tinha uma pequena nuvem/ atravessada
mettà del ochio. E se questa si/ dileguasse, na metade do olho, e se esta se/ desvaneceu
non sò da che in quel tempo mi conuene// não sei, porque nessa época tive que//

P. 140 P. 140

partire per il Rio Negro con il nostro aman- partir para o Rio Negro, com nosso aman-/
/tissimo e lodeuolissimo Plenipotenciaro che tísimo e louvadíssimo Plenitotenciário, que era
era lo/ Ecmo. Sig. Francisco Xavier Mendoça o/ Exmo. Sr. Francisco Xavier Mendoça
Furtado,/ [fratello] di quel Maestro di Furtado, /[irmão] daquele Mestre de
Politica, e di Scienza il/ Marchese di Pombal Política e Ciência, o/ Marquês de Pombal,
Sebastiano José de Carualho./ E quanto ò Sebastião José de Carvalho./ E tudo o que
detto di questo Passero, è pura ue-/rità, e disse desta ave é pura ver-/dade, e não sei se
non sò si li Sig. Medici presterano fe-/de a os srs. médicos prestarão fé/ naquilo que
ciò chi forsse li sembrerà impossibile.// talvez lhes parecerá impossível.//

[138] Pappagalli [138] Papagaios

Ancor di questi uoglio dire qualche cose da’/ Ainda destes quero dizer alguma coisa,
che sono conosciuti in Europpa, mà però dos/ que são conhecidos na Europa, mas

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 149


non/ ho ueduto quelle tutti che qui si não/ vi todos aqueles que aqui se acham./
ritrouano./ Ogni Pappagallo è di una istessa Cada papagaio é de uma espécie própria,
specie, mà/ differiscono nelle pene, mas/ diferem nas penas, apesar de todos
quantunque tutte siano/ uerdi. Alcuni pero serem/ verdes. Alguns, porém, são
sono differenti, perchè nella/ loro frente diferentes, porque em/ sua fronte têm
tengono alcuna penna incarnata/ che restano alguma pena encarnada,/ que ficam sempre
sempre pochissimo rileuate, altri// pouquíssimo elevadas; outros//

P. 141 P. 141

àno la testa gialla con li encontri delle alli/ têm a cabeça amarela com os encontros das
colore di carmino e questi sono i più asas/ cor de carmim, e estes são os mais
stimati./ Altri poi àno la testa, e le incontre estimados./ Outros ainda têm a cabeça e
delle alli/ con parte del uentre del’istesso os encontros das asas/ com parte do ventre
collore dal de-/to carmino, mà sono rari da mesma cor do di-/to carmim, mas são
perchè si ritrouano/ solamente in certo luogo raros porque se encontram/ somente num
dentro del Rio Soli-/mois doue non passano certo lugar do Rio Soli-/mões onde não
che acaso alcune di/ quelle Canoue che uano passam, senão por acaso, algumas/ das
a negociare salssa o/ Cacao. Vno di questi canoas que vão negociar salsaparrilha ou/
lo ebbi in dono e perchè/ mi fù chiesto da cacau. Um destes tive como presente e
un soggetto degno di ogni/ merito, glie lo como/ me foi pedido por uma pessoa digna
diedi. Un altro poi comprai/ a Borba de todo/ mérito, dei-o para ela. Um outro
ancora per sei scudi, e mi fù neces-/sario comprei depois/ em Borba, ainda por seis
adoprare il Vicario mio Amico perchè/ escudos, e foi-me neces-/sário invocar o
non fosse dato ad altro che aueua offerto/ vigário meu amigo para que/ não fosse
più di me, ma oltre di essere bellissimo,/ dado a outra para que tinha oferecido/
parlaua distintamente, tanto la lingua Por- mais que eu; mas além de ser belíssimo,/
/toghese quanto la Tapuia, e perchè assaissi- falava distintamente, tanto a língua por-/
/mo lo stimaua, ebbi la mala sorte di tuguesa quanto a tapuia, e como muitíssi-
uederlo/ affogato nella Baÿa di /mo o estimava, tive a má sorte de vê-lo/
Marapatà.// afogado na Baía de Marapatá.//

P. 142 P. 142

[139] ARare [sic] [+ Mulleiro] [139] Araras [+ Moleiro]

Sono Passeri anch’essi conosciuti nelle nostre/ São aves também estas conhecidas em nossas/
parti, e se ritrouano di due sorta, cioè delle/ partes, e encontram-se duas espécies, isto é,

150 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


dipinte perchè àno le penne mischiate di as/ pintadas porque têm as penas riscadas
colore/ del carmino, di giallo perfetto, e di de cor/ de carmim, de um perfeito amarelo e
rosicio,/ le altre sono tutte azure, con il Petto de avermelhado,/ as outras são inteiramente
gialas-/tro. Questi passeri si adomesticano, azuis, com o peito amarela-/do. Estas aves
mà biso-/gna tenerli alla cattena, perchè se domesticam, mas é pre-/ciso tê-las
dandoli liber-/tà sono dannosi alle moldure, acorrentadas, porque, dando-lhes liber-/dade,
alle comode, e/ in fine a tutto quanto è di são danosas às molduras, às cômodas, e/ em
legno. Nel/ bico àno tutta la loro forza, e fim a tudo quanto seja de madeira. No/ bico
spezano sino/ una semente di Tucuma che è têm toda a sua força, e partem até/ uma
durissima, mà/ ciò che è da considerare non semente de tucumã, que é duríssima, mas/ o
la possono/ spezare cosi nuda come la que se deve considerar é que não a podem/
ritrouano, mà/ dandoli una piccola paglia quebrar assim nua como a encontram, mas/
glie la anoda-/no in certo modo, che subito dando-se-lhes uma pequena palha atam-/na
la fano in pe-/zzi, e da che auenga questo, de certo modo que logo a fazem em pe-/daços,
si potrebbe far-/se razon’ [?] da alcuna e sobre como isto acontecesse poder-se-ia/ fazer
disertazione Filosofica.// o assunto de alguma dissertação filosófica.//

P. 143 P. 143

àno la testa del tutto gialla e li incontri delle Têm a cabeça totalmente amarela e o encontro
al-/li son di carmino; altri àno la medesima das/ asas são de carmim; outras têm a mesma
testa del detto/ collore di carmino con intorno, cabeça da/ dita cor de carmim com a volta e
e lo incontro delle alli si-/mile, e sono li più o encontro das asas se-/melhante, e são as
belli, mà di questi se ne uedono pochi/ e per mais belas, mas destas vêem-se poucas/ e como
compagno uno mi comprai per sei scudi, ma companhia comprei uma por seis escudos, mas
par-/laua assai bene. Un’altro o uisto fa-/lava muito bem. Vi uma outra chamada
chiamato Mulleiro/ e è il più grande de tutti. moleiro/ e é a maior de todas. Em volta
Allo intorno delli occhij à/ un colore bianco, dos olhos tem/ uma cor branca, mas o verde
mà il uerde delle sue penne non/ è tanto uiuo de suas penas não/ é tão vivo como o das
come quello delli altri e non parla.// outras e não fala.//

[140] Periquitos [140] Periquitos

Di questi se ne trouano di moltissime sorta. Destes acham-se muitíssimas espécies./ De


Di/ [...] sono similissimi al Papagallo, li [...] são semelhantíssimos ao papagaio, os
più comuni/ sono grandi come una delle nostre mais comuns/ têm o tamanho de uma das
[...], mà sono/ tanto gallanti, che da ogni nossas [...], mas são/tão galantes, que
sorta di gente si dourebbero/ amàre. Alcuni qualquer tipo de pessoa deve/ amá-los.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 151


àno la testa color di zafferano, al-/tri Alguns têm a cabeça cor de açafrão, ou-/
incarnata con assieme li incontri delli alli. tros encarnada como também o encontro
Come/ li Papagalli quando uolano, si uedono das asas. Como/ os papagaios, quando
a branchi di più// voam vêem-se em bandos de muitas//

P. 144 P. 144

centinaia, e fano un cicalamento, che centenas, e fazem uma taramelagem que


stordisce. Ui è un/ altra sorte di questi ensurdece. Há uma/ outra espécie destas aves,
Passeri, al doppio maggiori, e so-/no de dobro de tamanho, e/ diferentes nas penas,
differenti di penne, cioè negre, rosse, color que são negras, vermelhas, cor de prata/ e de
di argento/ e di cannella, li quali tutti canela, as quais todas juntas fazem-na parecer
uniti lo fano apparire bello./ Vno di questi, bela./ Uma destas foi-me dada,
mi fù donato, tutto affatto color di oro,/ completamente cor de ouro,/ com os olhos
con li occhij incarnati, e mai più si è ueduto encarnados, e nunca mais se viu uma seme-/
il simi-/le má non uisse che pochi mesi.// lhante, mas não viveu senão poucos meses.//

[141] Colombi [141] Pombas

Di questi ancora è abbondante la terra, mà Destas ainda é abundante a terra, mas


non/ sono tanto grandi come li nostri. Li não/ são tão grandes como as nossas. As
maggiori sono/ belli di penna. Li minori maiores são/ belas de penas. As menores
sono quasi tutti pardi./ Di più ui à un altra são quase todas pardas./ Há ainda uma
sorte non maggiori di un stor-/no, e tutti outra espécie não maior que um estor-/
sono siluestri. Anzi pochi si curano di/ auerli ninho, e todas são silvestres. Poucos cuidam/
per mangiare. Per altro sono assai buoni, e/ de tê-las para comer. São ademais muito
àno il medesimo gusto de’ nostri.// boas, e/ têm o mesmo gosto das nossas.//

[Aqui principia Landi a tratar [Aqui principia Landi a tratar


dos mamíferos, sem intercalar dos mamíferos, sem intercalar
um subcapítulo] um subcapítulo]

P. 145 P. 145

[142] Anta [142] Anta

Una riceuei in dono e sopra di questa feci Recebi doação de uma e dela fiz o seguin-/
il seguen-/te esame non ostante che fosse te exame, não obstante fosse do tamanho

152 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


grande come una Capra./ La pelle era de uma cabra./ A pele era de cor de
color di tabaco con striscie bianche per lun- tabaco, com faixas brancas de compri-/
/go, e queste si perdono quando ella cresce do e estas se perdem quando ela cresce em
in Anni. Aueua/ la testa grossollana con anos. Tinha/ a cabeça grandota com olhos
li occhij piccollini di collore azu-/ro, mà pequeninos de cor azul,/ mas fosco. O
fosco. Il grugno era assai più lungo, e sottile focinho era bastane mais longo e fino do
di que-/lo di un Ceruo, e sempre lo dimana que/ o de um cervo, e sempre o agita de
da una parte, o dall’/altra. Li denti sono um lado e do/ outro. Os dentes são
similli a quelli del Cauallo, e le orechi/ semelhantes aos do cavalo, e as orelhas/
sono larghi, e quasi rottonde. Li piede sono são grandes, e quase redondas. Os pés são
più tosto corti/ mà grossollani, e le unggie bastante curtos/ mas grandotes, e as unhas
erano ripartite come quelle/ delle Capre, são partidas como as/ das cabras, duas
due sono triangolari, e una rottonda. La são triangulares e uma redonda. A cauda/
coda/ è corta, e senza crine, e corte sono é curta e sem crina, e curtas são ainda
quelli ancora del collo./ Quando è delle aquelas do pescoço./ Quando é das maiores,
maggiori, sarà della mole di un Asino, mà/ tem o porte de um asno, mas/ muito mais
assai più grossa. Queste abitano nelle selue, gorda. Estas habitam a selva, e quando/
e quando/ passano, si fano sentire perchè passam deixam-se ouvir, porque rompem
rompono i rami delle pi-/ante per farsi os ramos das plan-/tas para fazer-se
luogo. Ne uide nuotare una che passaua/ espaço. Vi nadar uma que passava/ o Rio
il Rio Negro, e era delle maggiori. La sua Negro, e era das maiores. Sua carne
carne molti// muitos//

P. 146 P. 146

la mangiano, mà è dura, indigesta, e d’un a comem, mas é dura, indigesta e de um odor


odore ingrato,/ e cosi la ritrouai io, desagradável,/e assim a achei, experimentando-
assaggiandone in occasione, che mi/ a numa ocasião em que/ me sobreveio a noite
sopragiunse la notte, doue presi alloggio.// onde fizera acampamento.//

[143] Tamandua [143] Tamanduá [+ tamanduaí]

Questo quadrupede animale, è de’ più Este animal quadrúpede é dos mais
strauaganti che/ sia al Mondo. Il corpo estravagantes que/ exista no mundo. O corpo
di questo è maggiore di un gatto/ mà è dele é maior que o de um gato/ mas é
mostruoso. Il collo è lungo e sproporcionato, monstruoso. O pescoço é comprido e
la testa/ sottile e incuruata, e di tale forma, desproporcionado; a/ cabeça é curvada e de
che a niuno animale/ sò paragonarla. Li tal forma que não pode ser comparada/

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 153


occhij sono picollini e tale è la sua/ sua com nenhum animal. Os olhos são pequeninos
boca tagliata nel grugno rottondo. Il pello e tal é a sua/ boca, talhada no focinho
é irssuto, ne-/gro, e mescolato di grisaglia. redondo. O pelo é hirsuto, ne-/gro, e mesclado
Allo intorno del lungo collo, tie-/ne una de grisalho. Ao redor do longo pescoço tem/
capigliatura composta di crine larghe,/ e uma cabeleira composta de crinas largas,/
non rottonde, mà lunghe mezo palmo, e e não redondas, mas do comprimento de meio
ques-/ta caminando sopra il dorso si palmo, e es-/ta, continuando pelo dorso, une-
unisce alla coda/ che sembra per lo apunto se com a cauda,/ que parece justamente
quella fronte che forma/ un berrettone aquela frente que forma/ um barrete de
da granatiere, perchè composta tutta/ di granadeiro, porque é toda composta/ de
spesissimi peli lunghi due polici, e con espessíssimos pelos de duas polegadas de
quelle// comprimento, e com eles//

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si cuoprono quando dormono. Li piedi se cobrem quando dormem. Os pés são


sono carnosi e/ serpentini, cioè fatti carnosos e/ serpentinos, isto é, feitos
carnosi e senza gracia. Le sue armi/ per carnosos e sem graça. Suas armas,/ com
le qualli si diffende, sono le ungie lunghe as quais se defende, são as unhas, com mais
più di un/ police, ridote, e assai acute, e de uma/ polegada, reduzidas e muito
quando la Tigre uole uci-/derlo, si uolge agudas, e quando a onça quer ma-/tá-lo,
con il uentre allo insù, e abraciandola con/ vira-se com o ventre para cima, e
tutta la forza, muore si, ma quelle però abraçando-a com/ toda a força, morre
stano fisse nel-/la feroce bestia. Il suo cibo sim, mas aquelas porém fixas na/ feroz
sono le formiche e più uolte/ lo ò ueduto besta. Seu alimento são as formigas e
mangiare quando uno di questi mi fù man- muitas vezes/ vi-o comer quando um deles
/dato dal Exmo. Sig. Gouernatore me foi man-/dado pelo Exmo. Sr.
perchè lo uedesi, e dise-/gnassi. Si stende Governador para que o visse, e dese-/
in terra come morto, di poi cacia fuori/ nhasse. Estende-se por terra como morto,
quella stretta, e lunga lingua, e la tiene in depois põe fora/ aquela estreita e longa
terra senza/ muouerla, intanto si uà língua, e deixa-a na terra sem/ movê-la,
caricando di formiche, e quando/ è piena enquanto se vai enchendo de formigas, e
la tira dentro, e cosi si nutre. quando/ está cheia põe-na dentro, e assim
Nell’andare, è/ pigro, e sempre pare se nutre. No andar é/ preguiçoso, e sempre
stolido, e il suo grido, è simile a que-/llo parece parvo, e seu grito é semelhante ao/
di un Bue doloso. Ui à un’altra sorte di de um boi dolente. Há uma outra espécie
questi/ mà tanto picolo, che senza coda destes,/ mas menor, que, sem a cauda,
non passa cinque, o sei/ pollegade. La não passa de cinco ou seis/ polegadas. Sua

154 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sua pelle è colore d’Isabella, o sia più tos- pele é de cor isabelina, ou seja, qua-/se
/to biondo, il pelo é fisso mà delicato, e se loira, o pelo é firme mas delicado, e se se
di questi si/ uendessero, se ne farebbe stima os/ vendessem, seriam estimados como
come di altre meno belle.// outros que são menos belos.//

P. 148 P. 148

[144] Cuttia [144] Cutia

Questo animale tiene alcuna apparenza con Este animal tem alguma semelhança com o
il coniglio,/ ma i pelli sono lunghi a uso di coelho,/ mas os pêlos são longos, como
settole, e molto chiari, e/ di colore biondo setinhas, e muito claros, e/ de cor loira escura,
scuro, o per dire meglio di colore di una/ ou melhor dizendo da cor de uma/ castanha
castagna non del tutto mattura, e la testa, è não de todo madura, e a cabeça é semelhante
simile a qu-/ella di un coniglio, mà è più à/ de um coelho, mas mais longa. No
lunga. Nel numero de’ denti/ ne à due curui, número de dentes/ tem dois curvos, e muito
e molto più lunghi delli altri. Le zam-/pe mais longos que os outros. As per-/nas são
sono alte più del solito delli altri animalli. muito mais altas do que é comum nos outros
Quando man-/gia stà come a sedere, bate animais. Quando/ come fica como sentado,
molto li denti, e sostenta con/ le zampe bate muito os dentes, e segura com/ as pernas
anteriori ciò chi mangia, e con eso riesce anteriores o que come, e com isto resulta
molto/ gracioso, mà poi è timido, e ad ogni muito/ gracioso, mas é tímido, e a cada
picolo motto fuge, e/ se nasconde, e per questo pequeno movimento foge, e/ se esconde, e por
quantunque si adomestichi, sem-/pre fuge isto, apesar de domesticar-se, sem-/pre foge
nelle selue, se ritroua la Porta aperta. para as selvas, se acha a porta aberta. O
L’istin-/to di questo animale è di cauare instin-/to deste animal é de cavar um buraco
una buca doue puole,/ e dentro ui nasconde onde pode,/ e dentro esconde aquilo que
ciò che li auanza; lo cuopre e/ quando sente alcança, cobre-o, e/ quando sente fome, vai
la fame, ua a dissotterare ciò, che à nas-/ desenterrar o que es-/condeu. Sua pele não
costo. La sua pele non si perde perchè serue se perde porque serve nestas/ terras para
in queste/ terre a fare le scarpe.// fazer sapatos.//

P. 149 P. 149

[145] Guariba [145] Guariba

Sono una specie di Macachi, che noi São uma espécie de macacos, que nós
chiamiamo/ Simie [sic], mà con lunga chamamos/ símios, mas com longa cauda,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 155


coda, e molto disformi di facia./ La loro e muito disformes de cara./ Sua pele é
pelle è perfettamente negra con pelli assai/ perfeitamente negra com pelos muito/
folti, e lunghi, e ottime sarebbero per densos e longos, e seriam ótimos para
berrettoni da gon-/tieri, non essendo le dette gorros de al-/feres, não sendo as ditas
pelli inferiori a quelle del/ Orsso. Costoro peles inferiores àquela do/ urso. Estes,
uniti, e particolarmente di notte fano una/ unidos, e particularmente de noite, fazem
griteria che stordisse. Ne ò più uolte ueduto uma/ gritaria que atordoa. Muitas vezes
molte/ giunte, e bello è uederle sopra le vi muitos/ juntos, e é belo vê-los sobre as
frondi delli arbori salta-/re dal’uno copas das árvores sal-/tar de uma a outra
all’altro senza tocare terra, e particolar-/ sem tocar o chão, e particular-/mente as
mente le femine con li suoi figliuoli abraciati. fêmeas com seus filhinhos abraçados.
Di qu-/esta sorte si adomesticano, e sono Esta/ espécie domestica-se, e são
ridicole.// ridículos.//

[146] Macachi [147] Macacos

Di queste se ne ritrouono di uarie specie, Destes acham-se várias espécies, algumas


alcuni gr-/andi, altri mezani, e non gran-/des, outras medianas, e não
pochi picolini. Li comuni sono/ scimie poucas pequeninas. Os comuns são/
con coda, e di colore quasi negro. Altri símios com cauda e de cor quase negra.
sono più// Outros são//

P. 150 P. 150

picoli, mà più chiari, e con barba, altri menores, mas mais claros, e com barba; outros
sono ancor più/ picoli, ma di colore loiro, são ainda/ menores, mas de cor loira, ou seja
o sia biondo con la boca negra./ molti altri [em italiano], ‘biondo’, com a boca negra/
sono rottondi con pelle grisia, e la testa è/ muitos outros são redondos, com pele cinza, e
simile a quella di un Negro, e questi sono a cabeça é/ semelhante à de um negro, e estes
gallanti, e/ pulliti. In fine ui à qui un são galantes, e/ limpos. Enfim há aqui uma
altra sorte, ma sono pico-/lissimi, e del outra espécie, mas são peque-/níssimos e
tutto negro, mà in ogni parte sono inteiramente negros, mas em todas as partes
gallantissi-/mi, e adomesticati che sono, são galantíssimos, e,/ uma vez domesticados,
stano nelle spalle, e nel colo di/ un uomo, o ficam nos ombros e no/ pescoço de/ um
di una donna, se uole sofrirli. Si portano homem, ou de uma mulher, se se quiser
a/ Lisbona doue sono stimati, e con suportá-los. Le-/vam-se a Lisboa, onde são
raggione; mà subito muoiono,/ perchè sono estimados, e com razão, mas morrem logo/
delicatissimi.// porque são delicadíssimos.//

156 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


[147] Coàtti [147] Quati

È un animale, che tiene molta simillianza É um animal que tem muita semelhança
con la/ Fuina, senon chi tiene il grugno com a/ fuinha, apesar de ter o focinho mais
più lungo. La coda/ è assai lunga e felpuda longo. A cauda/ é muito longa e felpuda,
con circoli molto bene for-/mati, a uso di com círculos mui bem for-/mados, à moda
annelli l’uno negro, e l’altro giallastro./ È de anéis, um negro e o outro amarelado./
animale seluatico, mà però si adomestica./ É animal silvestre, mas se domestica.//

P. 151 P. 151

[148] Cuandù [148] Cuandu

È un Porco spino con lunga coda anch’essa É um porco-espinho com longa cauda, também
spinosa,/ e quando questi è offesso, si uendica, ela espinhosa,/ e quando este se ofende, vinga-
lanciando con un/ scuottimento alcune spine se, lançando com uma/ sacudidela alguns
con le qualli ferisse chi lo/ offende, e questo uidi espinhos com os quais fere quem o/ ofende, e
in un Anacàn, che staua mang-/iando Pacoua, isto vi com um anacã, que estava co-/mendo
e udendo egli leuargliela, il detto A-/nacàn li pacova, e ouvindo-o levá-la, o dito a-/nacã bicou-
diede di bico, e egli li uibrò otto spini con/ uno o, e ele lhe vibrou oito espinhos com/ um dos
de’ qualli li leuò un ochio. Questo animale noi quais levou-lhe um olho. Este animal temo-/lo
an-/cora lo abbiamo, e le chiamiamo Rizzo di ainda, e chamamo-lo ‘arroz de porquinho’,
Porcellino, ma/mi pare che sia senza coda.// mas/ parece-me que está sem cauda.//

[149] Capiuuara [149] Capivara

Vno di questi animali, mi fù dato in dono, Um destes animais foi-me dado de presente,
e non essen-/do de’ maggiori, era come un e não sen-/do dos maiores, era como um
Cane ordinario. La testa è/ goffa, e li occhij cão ordinário. A cabeça é/ pesada, e os
sono foschi, osia torbidi, li pelli sono irsuti/ olhos são foscos, ou seja, turvos. Os pêlos
e il colore è come quello della Volpe, e ancor são hirsutos/ e a cor como a da raposa, e
più chiaro./ Questo animale è molto nociuo ainda mais claro./ Este animal é muito
alla mandioca, a’ faggiuoli,// nocivo à mandioca, aos feijões,//

P. 152 P. 152

alla Canna, e in fine a tutto quanto si pianta, à cana, e enfim a tudo quanto se planta,
perchè tu-/tto rode, e particolarmente in porque tu-/do rói, e particularmente em

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 157


Maragios tanto abbondano/ che uano a Marajó abundam tanto/ que andam em
numerose truppe, e non ostante che li abi-/ numerosas tropas, e não obstante os habi-
tanti di quella grandissima Isola, ne facciano /tantes daquela grandíssima Ilha fazerem
stragge/ caciandoli, con tutto questo non matanças/ caçando-os, com tudo isto não
possono distrugerli./ La sua carne si os podem destruir./ Sua carne come-se,
mangia, mà dalli miserabili lauoratori/ per mas só pelos miseráveis trabalhadores,/ por
essere dura e de ingrato odore. Quando grita, ser dura e de desagradável odor. Quando
pare/ più tosto un Passero, che un grita, parece/ mais uma ave que um
Quadrupede.// quadrúpede.//

[150] Mucura – ou [sic] Sariguèia [150] Mucura ou Sarigüéia

Non è bello da uedersi questo animale, che Não é belo de ver-se este animal, que não é
non è mag-/giore di un Gatto, ma le testa maior/ que um gato, mas a cabeça é
è simile a quella di/ un lupo, e porta due semelhante à de/ um lobo, e traz dois
denti fuori delle labra, il pelo/ è scuro, la dentes fora dos lábios, o pêlo/ é escuro, a
coda è lunga, e scarmigliata. Il suo ufficio/ cauda longa e arrufada. Seu ofício/ é
è di rubare le galline, e per questo di souente roubar galinhas, e por isto freqüentemente
si trouano/ nascoste sotto ad alcuno legno. se acham/ escondidos sob algum tronco.
La femina tiene nel uentre/ una diuisione, As fêmeas têm no ventre/ uma divisão, na
nella qualle tiene nascosti li suoi figli, e co- qual têm escondidos os seus filhos, e co-/
/perti, la qual cosa, non si uede in altro bertos, coisa que não se vê em outro animal,
animale, che questo.// senão neste.//

P. 153 P. 153

[151] Tattù [151] Tatu

Questo animale siluestro lo esaminai a mio Este animal silvestre examinei-o a meu bel-
commodo,/ e di grandezza era come un grosso prazer,/ e de tamanho era como um grande
gatto, abbenchè mi dis-/sero, che altri erano gato, se bem que me dis-/seram que outros
al doppio maggiore. La sua testa/ è galante, eram duplamente maiores. Sua cabeça/ é
e a uederla mi ricordai quella del Cauallo, galante, e ao vê-la recordei-me da do cavalo,
se/ non che li occhij erano piccolini, e foschi. se/ bem que os olhos eram pequeninos e foscos.
Le orechie le/ portano sempre drite, e As orelhas/ trazem-nas sempre em pé, e
appuntate. La lingua era gra-/nde fuor del pontudas. A língua era gran-/de, fora do
commune. La schiena era cinta con una/ comum. As costas eram cintadas com uma/
dura cartillagine composta di noue pezzi, li dura cartilagem composta de novas peças, as

158 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


qualli ter-/ minauano nel suo uentre riuolti quais ter-/minavam em seu ventre, elevadas
nelle punte allo insù./ E sembraua per lo nas pontas em baixo./ E parecia juntamente
apunto che auesse una sella da Caua-/llo, e que tivesse uma sela de cava-/lo, e todos esses
tutti quei pezzi si moueuano ugualmente pedaços se moviam igualmente quando o/
quando l’/animale facesse qualunqe motto, animal fazia qualquer movimento, e ao redor
e allo intorno di quei/ pezzi, o sia nelle destes/ pedaços, ou seja, nas juntas dos
giunture delli medesimi aueua alcuni/ lunghi mesmos, havia alguns/ longos pêlos, finos e
peli, fini, e rari, e il collore di quei detti pezzi/ raros, e a cor desses ditos pedaços/ era
erano machiati di scuro e biancastro come il manchada de escuro e esbranquiçado como o
rospo. La/ coda era ueramente artificiosa, sapo. A/ cauda era verdadeiramente
perchè formata di qu-/indice annelli della artificiosa, formada de quin-/ze anéis da
medesima specie già detta, o con// mesma espécie já dita, ou com//

P. 154 P. 154

li stessi peli, e era lunga un palmo. Le os mesmos pêlos, e o comprimento de um


zampe/ non erano sproporcionate, quelle palmo. As/ pernas não eram
d’auanti aueuano quatro/ detta, e cinque desproporcionais, as da frente tinham quatro/
le posteriori, e tanto questa quanto il ca-/ dedos, e cinco as posteriores, e tanto esta quanto
po appariuano negre, e del tutto sagrinate; a ca-/beça pareciam negras, e inteiramente
e sicome era/ femina aueua quatro mamelle, chagrinadas, e como era/ fêmea, tinha quatro
due erano in diritura delle/ due zampe, e mamas, duas em direção às/ duas pernas, e
le altri due poco distanti. Questo animale/ as outras duas pouco distantes. Este animal/
sta sempre nascosto in buchi che egli stesso fica sempre escondido em buracos que ele
si fà, e corre/ uelocissimamente. Dicono mesmo faz, e corre/ velocíssimamente. Dizem
che la carne è di ottimo gusto.// que a carne é de ótimo sabor.//

[152] Pacha [152] Paca

È questo animale maggiore di un gatto, e Este animal é maior que um gato, e também
anch’esso/ stà nascosto in coue, la sua pele è ele/ se esconde em covas. Sua pele é quase
quasi del colo-/re, che è il Tabaco, mà è da cor/ que tem o tabaco, mas é listrada
strisciata a lungo di bianco,/ e sarebbe ao comprido de branco/ e também ela seria
anch’essa seruibile perchè non è di peli/ irsutti. útil porque não tem pêlos/ hirsutos. Aqui
Qui è riputata la miglior carne fra li qu-/ é reputada a melhor carne entre os/
adrupedi, e non si inganano, perchè oltre ad quadrúpedes, e não se enganam, porque
essere/ bianca, e tenera, è gustosissima, e lo além de ser/ branca e tenra é gostosíssima,
sarebbe ancora,/ tra noi Europei.// e seria mesmo/ para nós europeus.//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 159


P. 155 P. 155

[153] Veado [153] Veado

Questo animale non è che un Capricorno Este animal não é senão um capréolo e não/
[sic], e non/ à Corna. Di questi animali ui tem cornos. Destes animais há muita
à abbondanza, e si mangia/ la sua carne, abundância, e come-se/ sua carne, que não é
che non è delle ordinarie. La sua pele/ serue das ordinárias. Sua pele/ serve para vários
per uarij lauori. Li Viadi di Maragios si lavores. Os veados de Marajó podem/ ser
pono/ tenere per cerui come lo sono [...] tidos por cervos, como são [...] de sua [...]/
delle loro [...]/ si conosce. Di più ui ne à se conhece. Além disso há uma espécie que
una sorte che tengono le/ dete corna picoline, tem/ os ditos cornos pequeninos, e mostraram-
e due mi furono mostrate, che non era-/no me dois que não ti-/nham altura de mais de
più alte di un Palmo, e ripiene di rami.// um palmo, e cheios de galhadas.//

[154] Porcos – Taitetù [154] Porcos - Taitetu [+porco doméstico]

la sua carne è ottima quantunque sieno A sua carne é otima, apesar de serem sil-
sil-/uestri, non sono molto grandi, li suoi /vestres, mas são muito grandes, os seus
peli sono negri/ con le punte bianche, e pêlos são negros/ com as pontas brancas, e
nulla di più. Li Porci do-/mestici crescono nada mais. Os porcos do-/mésticos crescem
quanto in Europpa, mà il clima/ non tanto como na Europa, mas o clima/ não
permete, che si faciano salami, Presciuti, e permite que se façam salames, presuntos e
sal-/ciza perchè non durano, ancorchè sal-/chichas porque não duram, apesar de
salati, molto tempo.// salgados, por muito tempo.//

P. 156 P. 156

[155] Onza, osia Tigre [155] Onça, ou seja, Tigre


[machiate, rosse e negre] [pintada, preta + suçuarana]

Questi fieri animali abbondano, e se ne Estes feros animais abundam, e acham-se/


ritrouano/ in tutte queste selue, e sono tanto em todas estas selvas, e são tão petulantes,
pettulanti, che si/ uengono sino alle Porte que/ chegam até as portas das quintas para
delle Chinte a leuarsi li/ Cani de’ qualli levar os/ cães, de que são famintos, mas
sono faminti, mà con tutto questo fugono/ li com tudo isto fogem/ dos homens, e durante
uomini, e in certi Anni che qui stò, non ò os anos que aqui estou, nunca ouvi/ alguém
sentito/ pericolare nisuno; anzi le caciano, e perigar; pelo contrário, caçam-na, e muitos/

160 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


molte ne uado-/no per uenderne le pelli che vão vender as peles, que se mandam a Lisboa.
si mandano a Lisbona. Di/ queste Tigri, Des-/tes tigres há três espécies, isto é, as
ue ne à di tre sorta, cioè delle machiate/ manchadas/ como as africanas, as
come le Africane, delle rosse, che sono più vermelhas, que são mais insolentes/ que as
insolenti/ delle prime, e delle negre, che sono primeiras, e as negras, que são as mais
le più temute, e/ nela pele ano le machie temidas, e/ na pele têm manchas das mesmas
delli stessi collori, e per dis-/tinguerle bene, cores, e para dis-/tingui-las bem, é preciso
bisogna uederli da uicino, o in proffilo./ Io vê-las de perto, ou de perfil./ Vi uma destas
ne ò ueduto una non molto lungi da mè, mà não muito longe de mim, mas quando/ a
quando/ la auistai fugì, e l’Indio che staua avistei, fugiu, e o índio que estava comigo
con mè si auan-/zò con la spingarda, mà avan-/çou com a espingarda, mas de repente
subito la perdì di uista./ Un’altra grande a perdi de vista./ Vi uma outra grande
uidi morta, e in quanto a me mi/ parue il morta; e para mim pa-/receu-me o mais
più bello animale del Mondo.// belo animal do mundo.//

P. 157 P. 157

[156] Maracagià [156] Maracajá

È un’altra sorte di Onza in tutto simile É uma outra espécie de onça, em tudo
alle prime/ e alle altre ancora, auendone semelhante às primeiras/ e ainda às outras,
io uiste diuerse adomes-/ticate. E non mi tendo eu visto diversas domes-/ticadas. E
passa altra differenza senon che ques-/te não me ocorre outra diferença senão que/
non crescono più di un gatto, e non ostante estas não crescem mais que um gato, e não
che si/ facciano domestiche, se uedono galline, obstante faze-/rem-se domésticas, se vêem
ne dano fine.// galinhas, dão-lhes fim.//

[157] Iuarà – ou [sic] jràra [157] Irara

Questa sorte di animali è grande come un Esta espécie de animais é grande como um
Cane ordi-/nario, la sua pele è negra, e si cão ordi-/nário, sua pele é negra, e trepa
arrampica negli arbori/ per cibarssi dal mele. nas árvores/ para alimentar-se de mel.
Di questa sorte pochi se ne/ uedono.// Desta espécie vêem-se/ poucos.//

[158] Auarà – ou [sic] jaguácambeba [158] Aguará – ou jaguacambeba

Costui è di pele bianchicinta, o sia color di Este tem pele brancacenta, ou seja, cor de
cenere./ À le gambe corte e pare che si cinza./ Tem as pernas curtas e parece que

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 161


uada arrastando per/ terra come la vai se arrastando pela/ terra como a
Lontra. Di rado si uede uscire delle/ selue, lontra. De raro vê-se sair das/ selvas, e
e procura altri animallucij o [...] da busca outros animaizinhos e [...] para
mangiare.// comer.//

P. 158 P. 158

[159] Pigricia [159] Preguiça

Fra tutti li animali quadrupedi, il Entre todos os animais quadrúpedes, o


Tamandua, e/ questo sono li più defformi. tamanduá e/ este são os mais disformes.
La sua pele è griggia e/ nella schiena tiene A sua pele é cinza e/ nas costas tem no
in mezo una striscia che é diffe-/rente dal meio uma faixa que é dife-/rente do
restante, per essere giallastra. Il restante restante por ser amarelada. O restante/
poi/ del pelo alle intorno della schiena è do pêlo em torno das costas é tão elevado,/
tanto rileuato,/ che un Frate si potrebbe que um frade poderia fazer um aro, se
fare un girello, se non que-/ste capeli e não ti-/vesse cabelos, e não obstante isto,
non ostante a questo, una pele di questa/ uma pele desta/ espécie seria procurada
sorte sarebbe ricercata per molti usi. La para muitos usos. Sua cabeça é/
sua testa, è/ schiaciata con ochij picoli, e achatada, com olhos pequenos, e parece
pare che non abbia collo. Li/ piedi anch’essi não ter pescoço. Os/ pés também eles são
sono difformi, e tiene le medesime ungie/ disformes e tem as mesmas unhas/ do
del tamanduà. Il suo cibo sono foglie e stà tamanduá. Seu alimento são folhas e está
sempre/ abraciato ad alcun ramo di sempre/ abraçada a algum ramo de
aruore, nel muouersi/ è particolarissimo, árvore; no mover-se/ é particularíssimo,
e fà ridere, perchè alza a poco/ a poco e faz rir, porque alça pouco a/ pouco
una zampa per uolta, e ad ogni una che uma perna de cada vez, e para cada uma
al-/za, si potrebbe recitare un Pater que/ levante, poder-se-ia recidar um Pai
Noster, e in ogni sua/ azione sembra Nosso, e em cada sua/ ação parece lerdo;
stolido. Onde se un Ciarlatano lo potesse/ daí se um charlatão pudesse/ mostrá-la,
mostrare, credo che farebbe fortuna. E per creio que faria fortuna. E por sua
la sua pigricia// própria//

P. 159 P. 159

medesima non poteuano ritrouare nome che preguiça, não poderiam achar nome que
più se/ gli competesse di questo. Io non sò melhor/ lhe conviesse do que este. Não sei
che sia inclinato/ a fare male mà però se se é inclinado/ a fazer mal, mas se chegasse

162 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


ariuasse a mettere qu-/elle delicate unggie a meter aque-/las delicadas unhas na
nella carne di alcuno, quasi/ passerebbe carne de alguém, quase/ passaria um braço
un braccio da parte a parte.// de uma parte a outra.//

[160] Savià [160] Sauiá

Questi animali sono della grandezza di/ Estes animais têm o tamanho de/ um rato,
un toppo, e stano nascosti sotto terra. la e ficam escondidos debaixo da terra. Sua/
sua/ pelle è finissima e tira al rosso. Questi pele é finíssima e puxa para o vermelho.
a/ me sembrano ueri toppi, pure li Indij li Estes/ parecem-me verdadeiros ratos, mas
man-/giano, e dicono, che la loro carne é os índios os co-/mem, e dizem que sua carne
buona. Mà/ certo è che di questa sorte é boa, mas/ é certo que esta espécie não
non appariscono nel-/le Case, ma sempre aparece nas/ casas, mas sempre vivem no
uiuono alla Campagna.// campo.//

[Répteis - Sem subtítulo] [Répteis - Sem subtítulo]

P. 160 P. 160

[161] Giararaca [161] Jararaca

La maggiore da me ueduta poteua essere/ A maior por mim vista podia ter de/
lunga dieci Palmi, e grossa come una laran- comprido dez palmos, e larga como uma
/gia. Di pele oscura con machie negre. laran-/ja. De pele escura com manchas
Questa/ è uelenosissima, e pochi scapano negras. Esta/ é venenosíssima, e poucos
dal suo mor-/so, e particolarmente se subito escapam de sua mor-/dida, e particularmente
non si cura. Cos-/tui altro ad essere se não se trata logo. Es-/ta, além de ser
velenosa, è quasi l’unica/ che inueste chi la venenosa, é quase a única/ que investe a quem
segue. Però l’ardore delli/ Indij, e de’ Negri a persegue. Mas a ousadia dos/ índios e
è tanto grande, che credendole/ qualunqe negros é tão grande que, crendo-lhes,/
sieno le ucidono.// qualquer uma que seja, matam-na.//

[162] Corallo [162] Coral

È biscia bella da uedere perchè la sua pelle/ É cobra bela de ver-se, porque sua pele/
per la maggior parte è del medesimo colore na maior parte é da mesma cor do/ dito
del/ detto corallo. Non cresce molto in coral. Não cresce muito em comprimento
lunghezza, e/ larghezza, mà il suo morso e/ largura, mas sua picada é mortalíssima,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 163


è mortalissimo, e/ dicono che da quel e/ dizem que daquele maligno dente
maligno dente percosso, nisuno// atingido, ninguém//

P. 161 P. 161

scapa. So que ferì in una mano il mio escapa. Sei que feriu numa mão meu mestre/
Maestro/ del’Ingegno e per quanto si fece de engenho e por mais que se fizesse não
non uise che/ mezo giorno senza mai viveu senão/ meio dia, sem jamais proferir
profferire parola alcuna,/ e dentro a due alguma palavra,/ e dentro de duas horas
ore di più della mosicatura si/ fece tutto il depois da mordida/ seu corpo tornou-se todo
corpo conuulsiuo, e cosi morì.// convulso, e assim morreu.//

[163] Surucucù [163] Surucucu

Costui si può anouerare fra le biscie/ Esta pode-se situar entre as cobras/ maiores,
maggiori, auendone io ueduto assai da tendo eu visto uma bastante perto/ com dez
uicino/ uno lungo dieci palmi per lo meno, palmos de comprido pelo menos, e tão/ grossa
e tanto/ grosso quanto il mio braccio. Questi quanto meu braço. Esta estava/
staua/ in una ruota, non so se dormendo, enrodilhada, não sei se dormindo, e não mais/
e non più/ lungi di due palmi dalli miei distante que dois palmos de meus pés; não a
piedi, non auen-/dolo osseruato a caggione haven-/do observado por causa das muitas
delle molte foglie e/ legni sechi, che stauano folhas e/ gravetos secos que estavam no
per il terreno, fui aui-/sato da due ragazzi terreno, fui avi-/sado por dois rapazes que
che conduceua con me,/ e non ostante il conduzia comigo,/ e não obstante o maior
maggiore non passasse li/ dodici anni, não passasse de/ doze anos, tomaram um
presero un legno e lo ucisero.// pau e mataram-na.//

P. 162 P. 162

[164] Biscia detta di due teste [164] Cobra dita de duas cabeças

Ancor di queste abbondano. Quelle da me/ Ainda estas abundam. As por mim/
uedute non erano maggiori di quatro vistas não tinham mais de quatro palmos/
palmi/ e grosse come una anguilla e grossas como uma enguia ordinária, e
ordinaria, e so-/no anch’esse da abborrire, são/ estas também aborrecidas, porque são
perchè uelenose,/ e mortale è il suo morsso. venenosas,/ e mortal sua picada. A pele
La pelle nulla/ diferisce da quella delle nada/ difere daquela das cobras comuns.
biscie comuni. Si/ chiama biscia da due Chama-/se cobra de duas cabeças

164 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


teste, perche in/ luogo della coda, pare che porque em/ lugar de cauda parece ter uma
abbia un altra/ testa simile alla sua outra/ cabeça semelhante à sua própria, e
medesima, e questa/ si conosce solamente esta/ só se conhece quando caminha, e o/
quando camina, e ciò/ che è più da que acontece é que aquela parte/ que parece
arriuare, è che quella parte,/ che pare cabeça tem duas manchas que parecem/
testa, à due machie che sembrano/ li occhij os próprios olhos da cabeça verdadeira, e é
medesimi della uera testa, e per/ questa por/ esta observação, que muitos não
osseruazione, che molti non ano fato/ fizeram,/ que querem fazer crer que a dita
uogliono far credere, che la detta biscia ab- cobra te-/nha duas cabeças, e isto observei
/bia due teste, e questo osseruai bene com bem com uma/ lente depois que uma foi
una/ lente dopo che una fù morta.// morta.//

P. 163 P. 163

[165] Saccaimboÿa – ou Sipò [165] Sacaimbóia – ou Cipó

È cobra, o biscia, molto fina, o sia sottille, É cobra muito fina, ou seja, delgada, e
e lunga tre/ palmi incirca, e costuma stare comprida de cerca de/ três palmos, e
nelli arbori ancor pen-/dente, e auendo costuma ficar nas árvores pen-/dente, e
alcuni Indij creduto che fosse alcun/ scipò, havendo alguns índios crido que fosse
incontrarono la morte nel velenoso suo algum/ cipó, encontraram a morte na sua
morso.// venenosa picada.//

[166] Coattimboÿa [166] Quatimbóia

È altra sorta più grande, e più grossa la É outra espécie maior e mais grossa, a
qua-/le per essere alquanto uerde, non si qual/ por ser bastante verde, não se
distingue mol-/to bene, uà a cacia di zappi distingue mui-/to bem. Vai à caça de sapos,
[sic], o sieno rospi, il suo mor-/so arde ou seja [em italiano], ‘rospi’. Sua pi-/
solamente, mà non è uelenoso.// cada só arde, mas não é venenosa.//

[167] Giboia [167] Jibóia

È una cobra das maÿores [sic], e aurá É uma cobra das maiores, e terá 25
25: palmi di/ lunghezza, e sarà grossa palmos de/ comprimento, e será grossa
come un Cane. Costui auilu-/pa la coda como um cão. Esta enro-/la a cauda
ad alcun tronco di arbore, e stà em algum tronco de árvore, e fica
aspettando// esperando//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 165


P. 164 P. 164

che passino li animali, e particolarmente li que passem os animais, e particularmente


Viadi, su-/bito se li lancia sopra, li stringe, os veados, de/ repente se lança sobre eles,
e cosi li ucide e/ dopo li uà ingollendo. Li envolve-os e assim os mata e/ depois os vai
cacciatori, e altri Indij le/ ucidono a engolindo. Os caçadores e outros índios/
bastonate, e procurano il loro sterco, il/ matam-nas a cacetadas, e buscam seu
quale misturano con le carne, e altro, e esterco, o/ qual misturado com a carne, e
dano a/ mangiare a’ cani che deuono seruire outras coisas, dão a/ comer aos cães que
per cacia. Dicono/ che con questa cura, si devem servir para a caça. Dizem/ que
fano espertissimi, e si allon-/tano da ogni com essa cura tornam-se espertíssimos e se
Cobra. Con tutto questo non è ue-/lenosa, afas-/tam de todas as cobras. Com tudo
ne morde.// isto, não é ve-/nenosa, nem morde.//

[168] Accutinboia [168] Acutimbóia

È cobra grande otto palmi incirca, e grossa É cobra grande, com cerca de oito palmos, e
po-/co meno di un braccio, di colore anch’essa pouco me-/nos grossa que um braço, também
scura/ con machie più chiare, mà non è ela de cor escura/ com manchas mais claras,
uelenosa, e sola-/mente quando può, e che si mas não é venenosa, e so-/mente quando pode,
affronta staffila con/ la coda, è costui esperta e quando afronta, açoita com/ a cauda, é
a mangiare le galline,/ e le uova. E doue sono esta esperta em comer galinhas/ e ovos, e onde
monti di pietre o legni/ bisogna stare con existem montes de pedras ou paus/ deve-se
cautella, non ostante che non daneggi.// ter cautela, não obstante não cause dano.//

P. 165 P. 165

[169] Camalleonte [169] Camaleão

Vno ne uidi lungo sei Palmi, e questo Vi um com o comprimento de seis palmos
secondo il suo/ mouimento sembraua ora e este, segundo seu/ movimento, parecia ora
azuro, ora giallo o pure di/ collore del oro. azul, ora amarelo ou então/ cor de ouro.
Al disotto il petto era liscio o bianco,/ che Por baixo o peito era liso ou branco,/ que
sembraua Auorio. Osseruai di più che parecia marfim. Observei ainda que
andaua pren-/dendo moschiti nel atto che andava pe-/gando mosquitos no ato de
uolauano, onde non uiueua di/ sola aria, voar, e que daí não vivia só/ de ar, como
come uogliono li antichi Filosoffi. Questo querem os antigos filósofos. Este ani-mal/
anima-/le non offende nisuno, e con esso não ofende ninguém, e com ele estava

166 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


staua scherzando un/ fanciulo, che lo brincando um/ garoto, que o tinha preso
teneua legato con un filo.// com uma corda.//

[170] Giacarè, osia Cocodrilo [170] Jacaré, ou seja, Crocodilo

Costui è già conosciuto abastanza, mà in Este já é bastante conhecido, mas nestas


queste parti so-/no abbondantissimi, e tanti partes são/ abundantíssimos, e vi tantos
ne uidi, per il Rio delle Amazo-/ni, che no Rio das Amazo-/nas, que ninguém
niuno ne faceua caso, e fermati che fossimo fazia caso, e assim que paramos num cer-
in cer-/to luogo doue era un lago, li Indij /to lugar onde existia um lago, os Índios
ui entrarono dentro, bate-/rono l’acqua ali entraram, bate-/ram a água com
con schiassazzi, e uno legarono per li piedi,/ estardalhaço, e amarraram um pelos pés,/
e obligarono l’altro a uscire, che ucisero con e obrigaram outro a sair, que mataram
un tiro. Il// com um tiro. O//

P. 166 P. 166

maggiore da me ueduto era largo dieci otto maior por mim visto tinha dezoito palmos.
Palmi. In al-/tra occasione ne contai dodici Em ou-/tra ocasião contei doze e
e costumano di tenere il solo/ capo fuori, costumam ficar só com/ a cabeça fora, sem
senza fare alcun moto, e sembrano per lo fazer movimento algum, e parecem por/
apu-/nto pezzi di legni posti in acqua. Il isso mesmo pedaços de madeira postos
suo grido é la lette-/ra r proferita con uoce n’água. Seu grito é a le-/tra ‘r’ proferida
rauca, o sia nella golla. Questo/ animale è com voz rouca, ou seja, na garganta. Este/
anfibio, perchè più uolte ne ò uisto stesi animal é anfíbio, porque muitas vezes vi-os
sù/ l’arena al Sole. Quando nuota sempre estendidos na/ areia ao sol. Quando nada
stà uicino alla/ superficie, e non fonda. sempre fica próximo da/ superfície, e não
Quando incontra Cani li diuora, e/ lo afunda. Quando encontra cães, devora-os,
stesso fà degli uomini quando puole, e perciò e/ o mesmo faz com os homens, quando
bisogna/ stare con cautella.// pode, e porisso é preciso/ ter cautela.//

[Vertebrados e conchas de [Vertebrados e conchas de


água doce - Sem subtítulo] água doce - Sem subtítulo]

[171] Lontra [171] Lontra

Questo animale, o Pesce che sia, e da noi Este animal, ou peixe que seja, e por nós
non conosciu-/to, è anfibio, la sua não conheci-/do, é anfíbio, e seu tamanho

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 167


grandezza era come di un cane/ ordinario, era como o de um cão/ ordinário, mas não
ma non era delle maggiori. Osseruai che era dos maiores. Observei que tinha/ o
teneua/ il corpo assai basso, per auere le corpo bastante baixo, por ter as pernas
zampe assai corte, e nelle/ estremità non curtas, e nas/ extremidades não difere
differiscono da quelle de’ Cani, con differen- daquelas dos cães, com a diferen-/ça que,
/za che aprendo le deta, per mezo di una abrindo os dedos, por meio de uma pele,
pelle, restauano/ conggiunte come quelle ficavam/ ligados como aqueles dos patos.
delle Anitre. La testa è difforme,// A cabeça é disforme,//

P. 167 P. 167

cioè schiaciata con boca assai larga e il isto é, achatada, com boca muito larga e o
collo grosso. Quan-/do uà per terra pescoço grosso./ Quando anda na terra
ser peg gia, e forse sarà per auere le serpeia, e talvez seja por ter as pernas/
zampe/ corte. La coda, è larga, grossa, curtas. A cauda é larga e curta, mas
e corta, ma termina come/ un dardo. termina como/ um dardo. A pele é mais
La pele è più scura di quella de’ toppi, escura que a dos ratos, mas de pêlo/ um
mà di pelo/ tanto cuanto corto, e lucido, tanto quanto curto, e brilhante, que, ao
che a uerselo, e a maneggiarlo pa-/re un vê-lo, e ao manejá-/lo, parece veludo. Aqui
uelluto. Qui però non fano caso di questa, porém não fazem caso dela. Nem
ne pure/ ano l’arte di pescarle, o caciarle, tampouco/ têm a arte de pescá-la, ou caçá-
e se lo conosessero, ne/ ritrarebbero assai la; se soubessem,/ retirariam algum lucro,
lucro, mentre sarebbero riceuute nelle/ porquanto seriam recebidas em/ nossas
nostre parti come si fa di tante che ci partes como se faz com tantas outras que
uengono da Suesia,/ Moscouia, e altri vêm da Suécia,/ da Moscóvia e de outros
luoghi. Questo animale è anch’esso an-/ lugares. Este animal é ele também an-/
fibio, e una ne uidi domestica data a sua fíbio, e vi uma domesticada dada a Sua
Ecclza il Sig e / Francisco Xavier Excia. o Sr./ Francisco Xavier Mendonça
Mendonsa Furtado, che qui ressideua Furtado, que aqui residia como/
come/ Gouernatore e Plenipotenciario di Governador e Plenipotenciário de Sua
sua Maestà, il quale me ne/ fece dono e Majestade, que mo/ deu de presente e era
tanto era domestica, che mi si arampicaua tão doméstica que me trepava pelas/ pernas,
nelle/ gambe, e la conseruai nel mio orto e conservei-o em meu horto até a época em
sino al tempo che fui/ mandato ad una que fui/ mandado em uma expedição, e
spedizione, e la conseruai dandole tripe conservei-o dando-lhe tripas/ de tartarugas
di/ tartaruche, o di Pesce, quando le ou de peixe, quando tinha. Uma outra
aueua. Un altra molto più/ grande uedi muito/ maior vi em terra no ato de
in terra nel’atto che disimbarcai, mà desembarcar, mas de repente/ se lançou

168 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


subito/ si lanciò in acqua, e molte oltre n’água, e muitas outras vi nadar no
uidi nuotare in Guamà.// Guamá.//

P. 168 P. 168

[172] Pirarrara [172] Pirarara

Questo Pesce era della altezza di un Este peixe tinha a altura de um homem,
uomo non/ compressoui la sua coda, il não/ compreendida sua cauda, seu corpo
suo corpo era coperto/ di machie scure era coberto/ de manchas escuras e incertas,
et incerte, la testa era diforme/ e uicino a cabeça era disforme/ e perto da boca
alla boca aueua le baffij come il Gatto,/ tinha bigodes como de gato,/ mas mais
mà più lunghi, e la testa pare coperta longos, e a cabeça parece coberta de areia/
d’arrena/ grossa, e è forte come un legno. grossa, e é dura como um pau. Ademais, é
Per lo più si man-/gia dalli Indij che comi-/do pelos índios, que sabem digeri-
sano digerirlo.// lo.//

[173] Gurugiuba [173] Gurijuba

È anch’esso buon Pesce, e da taglio, per É também este um bom peixe, e de corte,
essere lungo/ sei a otto palmi. Si sala, si por ter o comprimento/ de seis a oito palmos.
seca, e si manda a uendere./ Dentro di sè Salga-se, seca-se, e manda-se a vender./
tiene due pezzi grossi, che sembrano gras- Dentro de si tem dois grossos pedaços, que
/so, mà sono moscolosi. Questi si parecem gor-/dura, mas que são musculosos.
appartano, e battuti che/ sino, si mettono Estes são/ apartados, e uma vez batidos,
al fuoco, e quando è ridotto in spuma/ si são postos ao fogo, e quando reduzidos a
ingruda, o si incolla qualunque legno; e riesce espuma/ grudam ou colam qualquer
assai miglio-/re di quello di Europpa madeira, e resultam muito me-/lhor que a
perchè le cose incollate che qui/ ariuano si [cola] da Europa, porque as coisas coladas
disuniscono per la molta umidità, ma questo que aqui/ chegam se separam pela muita
ressiste.// umidade, mas esta resiste.//

P. 169 P. 169

[174] Purarucù [sic] [174] Pirarucu

Vno di questi Pesci lo uidi dopo pescato, e Vi um destes peixes depois de pescado, e
era lungo/ quanto è alto un Vomo, e mi era longo/ quanto a altura de um homem,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 169


disero, che non era de’ mag-/giori, mà la e disseram-me que não/ era dos maiores, e
sua carne senon è buona per tutti, lo è per/ sua carne, se não é boa para todos, é-o
li Indij, che lo sano digerire. Il Pesce per sè para/ os índios, que o sabem digerir. O
stesso è/ bello quanto le può essere. À le peixe em si mesmo é/ tão belo quanto pode
squame grosse, e longhe/ come una pattaca, ser. Tem as escamas grandes e longas/ como
e le dette squame sono del colore che/ è il uma pataca, e em seu meio parecem de ouro,
sangue fresco, e nel suo mezzo sembrano di mas/ uma hora depois de morto,
oro, mà dopo/ una ora che fù morto si fecero tornaram-se escuras. Sua língua/ pousa
scuri. La sua lingua/ possa sopra un osso sobre um osso que é quase do mesmo tama-
che è quasi della medesima grande-/zza di /nho da dita língua, e a parte que está
detta lingua, e quella parte que stà uolta voltada para/ o palato é toda semeada de
al/ pallato, è tutta seminata di minutissimi diminutíssimos dentes,/ que parecem de
denti che sembrano/ di auorio, e questa serue marfim, e esta serve para raspar/ o
per rapare il guaranà,/ il puciri, la noce guaraná, o puxiri, a noz moscada e outras
moscata, e altre simili cose.// coisas/ semelhantes.//

[175] Pirauiua [175] Pirajuba

Essendo queste Pesce uno de’ maggiori, due/ Sendo este peixe um dos maiores, dois/
uomini nerbouiti sentono la carica. Qui è homens musculosos sentem a carga. Aqui
co-/mune// é co-/ mum//

P. 170 P. 170

mune. Non è Pesce da squama, e è assai mum. Não é peixe de escama e é muito bom,/
buono,/ e massimamente quando è picolo.// maximamente quando é pequeno.//

[176] Mamiacù [176] Mamaiacu

È Pesce picolo, e non maggiore di una É peixe pequeno, e não maior que uma
Saraca. La sua/ pelle è machiata di sardinha. Sua/ pele é manchada de branco,
bianco, negro, e pardo a uso di cerch-/ietti negro e pardo na forma de cir-/culozinhos
con spessi porri eleuati a uso di spini, tiene/ com muitos poros elevados como/ espinhos,
quatro denti come le nostri. A questo Pesce, tem quatro dentes como os nossos./
si stringono le/ orechie leggermente con due Apertam-se ligeiramente as orelhas deste
deta, e si torna in acqua./ Subito si muoue peixe com dois dedos, e devolve-se-o à água.
[...]nte, e per alcuni minuti altro non si De/ repente move-se [...]nte, e por alguns
uede che essa perfetta/ balla spinosa, e poi minutos só se vê uma perfeita/ bola

170 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


torna nell’essere di prima, non si mangia/ espinhosa, e depois torna a ser como antes.
da tutti, perchè bisogna tirarli certa pelle Nem/ todos o comem, porque é preciso
che muoue a nausea./ Io suppongo che tirar-lhe certa pele que leva à náusea./
questo possa essere quel Pesce gonffiato-/re Suponho que este deve ser o peixe inchador/
di cui parla il Salmone [?] nella sua do qual fala Salmone [?] em sua
Istoria.// História.//

[177] Aguglia, osia Agochia [177] Agulha

Il detto Pesce, non è più lungo di un palmo, O dito Peixe não tem mais que um palmo
e grosso/ come il deto picolo di una mano, e a grossura/ do dedo mínimo de uma mão,
e è totalmente rottondo,// e é totalmente redondo,//

P. 171 P. 171

sembra di puro argento, e è trasparente parece de pura prata, e é transparente


come un cris-/tallo, e perchè è tanto bello como um cris-/tal, e como é tão belo parece
pare che sia stato destinato/ a non essere estar destinado/ a não ser gostoso, para
gustoso per non darli la morte. Il suo bico que não se lhe dê morte. Seu bico pa-/
pa-/re più tosto di passero, che di Pesce, e rece mais de ave do que de peixe, e é
è lungo.// longo.//

[178] Rodella [178] Rodela

Questo Pesce è grande come una aringa, Este peixe é grande como um arenque, mas
mà più stretto./ Cosi si chiama perchè in mais estreito./ Assim se chama porque em
luogo della boca tiene una/ porzione di lugar de boca tem uma/ porção de um círculo
circolo assai maggiore della metà del detto,/ bastante maior que a metade de um dedo,/
e formata da una cartillaggine, che in uero e formada por uma cartilagem, que em
lo rende/ differente da tutti li altri pesci. verdade torna-o/ diferente de todos os outros
Si mangia e à buon sapore.// peixes. Come-se e tem bom sabor.//

[179] Pesce Bue [179] Peixe-boi

Vno di questi Pesci, mi fù mostrato poco Um destes peixes foi-me mostrado pouco
dopo di essere/ stato preso. Mi disero che depois de ter/ sido pego. Disseram-me que
non era de’ maggiori, mà aueua/ noue palmi não era dos maiores, mas tinha/ nove
di lunghezza senza coda, e era più grosso di palmos de comprimento sem a cauda e era

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 171


un/ buon Porco. Li ochij di questo smisurato maior que um/ bom porco. Os olhos deste
Pesce sono picoli/ il focinho, osia grugno, la desmesurado peixe são pequenos;/ o
lingua, sono del tutto si-/milli a quelli de’ focinho, a língua, são inteiramente se-/
Buoui, e credo che da questa// melhantes aos do boi, e creio que destas//

P. 172 P. 172

ta [sic] parte possa auere tirato la tas [sic] partes possa haver tirado sua
denominazione./ In uederlo pare che non denominação./ Ao vê-lo, parece que não tem
abbia orechie, má in luogo/ di quelle à due orelhas, mas no lugar/ destas tem dois
piccolissimi buchi, che appena si/ uedono, e pequeníssimos furos, que apenas se/ vêem, e
morto che è, ne tirano da ogni bucco un pi-/ uma vez morto, retiram de cada furo um pe-
colo ossetino, che lo portano molti nel collo, o /queno ossinho, que trazem muitos ao pescoço,
infillato/ tra corralli attribuendoli molte ou enfiado/ entre corais, atribuindo-se-lhe
immaginate uirtù. Non/ à piedi mà in luogo muitas virtudes imaginárias. Não/ tem pés,
di quelli à due pina rotonde/ e assai grosse, le mas em lugar destes tem duas nadadeiras
quali unite alla coda pare/ un remo, li redondas/ e muito grandes, as quais [...]
seruono, per maneggiare in acqua/ quel grande parece/ um remo, servem-lhe para manejar
corpacione [...] del/ tutto simili a quella delli n’água/ aquele grande corpanzil. [...] to-/
[...], e sono [...]/ [...] alle dette P[...]. la sua talmente semelhane à dos [...], e são [...]/
pelle è grossisima,/ scura, e tanto lucida [...] aos ditos P[...]. Sua pele é grossíssima,/
quanto l’ebano, e più è [...]/ [...] de peli escura e brilha tanto quanto o ébano, e ademais
alquanto lunghi,[...]/rili, che bisogna [...]. é [...]/ [...] de pêlos algo longos,/[...] relos,
Questo Pes-/ce è fuora di dubio il maggiore, que é preciso [...]. Este pei-/xe é fora de dúvida
che uiua in qu-/este parti, e [...] nostre, e ciò o maior que vive nes-/tas partes, e [...]/ nossas,
che farebbe mera[...] /per [...]// e o que faria maravilhas/ para [...]//

P. 173 P. 173

mpagnato da un Ragazzo; lo pescano, lo mpanhado de um rapaz, pescam-no, pescam-


pescano [sic], lo/ caricano, e lo conducono no sic],/ carregam-no, e conduzem-no onde
oue li piace. A pescarlo,/ cosi fano – il destro lhes apraz. Para pescá-lo,/ fazem assim –
Indio Pescatore, stà in aguanto/ quando, o destro índio pescador espera-o/ quando
per la più corsa di uscire dall’acqua per/ tem pressa de sair da água para/ ir pastar
andare a pascere certe canerie che nascono certas canas que nascem nas mar-/gens do
sù le spon-/de del Rio Sollimòs. Allora lo Rio Solimões. Então o esperto pescador [...]/
esperto Pescatore [...]/ [...] legato ad uno [...] preso a um funicular,/ levanta o dito
funicolare,/ alza il ditto si porta con sè, se traz com ele, para que não escape o dito/

172 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


perchè non scapi il ditto/ Pesce [...]/ [...] peixe [...] ferido [...]/ [...] assegurar-se. O
assicurare. Il secondo/ [...] gallegiare in segundo/ [...] boiar na água,/ [...] não
acqua,/ [...] non fonda per es-/sere di [...]/ afunda por ser/ de [...]/ [...] de uma/
[...] da una/ [...]/ [...] allora, poi en-/ [...]/ [...] então, [...]/ [...]/ [...]/ [...] e
[...]/ [...]/ [...] e è fuor di// é fora de//

P. 174 P. 174

dubio che uno di quei Pesci peserá dúvida que um destes peixes deve pesar
comunemente/ quatrocento libre delle nostre, comumente/ quatrocentas libras das nossas,
e a bene considerare/ la mecanica di questa e considerando/ bem a mecânica desta pesca,
pesca, si deue stimare, en/ molto più perchè deve-se estimar, em/ muito mais, porque
ritrouata [...]/ mai a saputo cosa sia [...].La achada [...]/ mais sabido que coisa seja [...].
carne di qu-/esto pesce è assai desiderata, e A carne des-/te peixe é muito procurada, e
[...] da questi nazionali. A dir uero è di [...] pelos/ nativos. Para dizer a verdade é
molto utile perchè oltre/ a mangiarsi arrostita, muito útil, porque além/ de ser comida assada,
si riduce ancora in pezzi/ fritti, li qualli si reduz-se-a ainda em pedaços/ fritos, os quais
conservano un anno nel suo grasso/ liquefatto, se conservam por um ano em sua gordura/
e lo chiamano miscira [...]/ cizze, che liquefeita, e chamam-na mixira [...]/ [...],
sarebbero [...]/ nostra, mà perchè [...]/ e si que seriam [...]/ nossa, mas como [...]/ e se
conseruano anch’esse [...]/ grasso di questo conservam também [...]/ gordura deste peixe
Pesce, [...]/ no per cogliere [...]/ chiama [...]/ não para colher [...]/ chama manteiga
manteca di pesce Bue, che dicono essere/ de peixe-boi, que dizem ser/ melhor do
migliore di quella delle tartaruche/ quale la que a das tartarugas/ como a carne [...]/
Carne [...]/ in uero è tenera, [...]// em verdade é tenra [...]//

P. 175 P. 175

non solo, per essere freda, mà ancora per não só por ser fria, mais ainda por ter
auere un / certo odore, che non può piacere um/ certo odor, que não pode agradar a
a tutti abbenchè non/ sia [...] todos, se bem que não/ seja [...]
nauseante.// nauseante.//

[180] Tucunarè [180] Tucunaré

Questo è pesce, che se ritroua nelle acque/ del Este é um peixe que se encontra nas águas/
Rio Negro; e la sua grandezza si as-/somiglia do Rio Negro, e seu tamanho se asse-/
a quella di un Luzzo, abbenchè ve/ ne abbia melha ao de um lúcio, se bem que os/ haja

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 173


de’ maggiori. À buon sapore, mà/ la sua maiores. Tem bom sabor, mas/ a sua carne
carne è di un collore, che sembra/ ranza.// tem uma tal cor que parece/ rançosa.//

[181] Piranga [sic; Piragna] [181] Piranha

Ancor questa sorte de Pesce, nasce, o per/ Ainda esta espécie de peixe nasce, ou, para/
dire meglio, si pesca nel Rio Negro, è simile/ melhor dizer, se pesca no Rio Negro, é
alle nostre Vrate, à molte spine, mà gusto- semelhante/ às nossas douradas, tem muitas
/sissima è la sua carne.// espinhas, mas é gosto-/síssima a sua carne.//

P. 176 P. 176

[182] Mappara [182] Mapará

Questo ancora è abbondante nel Rio/ Ainda este é abundante no Rio/ Negro.
Negro. È lungo un palmo e mezo, ma stre- Tem o comprimento de um palmo e meio,
/tto, e sottile. Il gusto di questo Pesce/ è mas é estrei-/to e fino. O gosto deste peixe/
delicatissimo, e nelle nostre parti pot-/rebbe é delicadíssimo, e nas nossas partes po-/deria
pretendere uno de’ primi luoghi fra/Pesci pretender um dos primeiros lugares entre/
squisiti, e particolarmente nella pa-/nela os peixes esquisitos, e particularmente na
dopo di auere tocato il sale poco/ più di un pa-/nela depois de haver tocado o sal pouco/
quarto di ora.// mais de um quarto de hora.//

[183] Sardine [183] Sardinhas

Alcune sono maggiore di due palmi, mà/ Algumas são maiores que dois palmos,
che importa che la sua carne sia/ mas/ que importa que sua carne seja/
gustosissima, quando non si abbia una/ gostosíssima, quando não se tem uma/
pacienza tanto grande da separare le/ paciência tão grande para separar as/
moltissime e finissime spine delle qu-/alli è muitíssimas e finíssimas espinhas de que/
ripiena per tutto il corpo.// tem cheio todo o corpo?//

P. 177 P. 177

[184] Piramutaua [184] Piramutaba

È un pesce comune, che si ritroua in ogni/ É um peixe comum, que se encontra em


Rio uicino alla Città, e lungo un palmo/ cada/ rio vizinho da cidade, de um palmo

174 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


sino a due mezzo, à due bigodi [sic] lunghi, de comprido/ até dois e meio; tem dois
e/ la sua carne è ottima.// bigodes longos, e/ sua carne é ótima.//

[185] Pescada [185] Pescada

Di questa ue ne à di due sorta, cioè/ che Desta existem duas espécies, isto é,/ as
stano in acqua dolce, et altre in acqua/ que existem na água doce, e as outras em
salata, le prime sono bianche, e più in-/ água/ salgada; as primeiras são brancas,
sipide delle salate, e non dano ancora qu- e mais in-/sípidas de que as salgadas, e
/ella massa che si tira dal Pesce già tampouco têm aque-/la massa que se tira
descritto/ Guragiubba come queste ultime. do peixe já descrito/ gurijuba, assim como
Qu-/esto Pesce è ottimo, mà per estas últimas. Es-/te peixe é ótimo, mas
mangiarlo buo-/no, non bisogna che stia para comê-lo ainda bom,/ é preciso que
molto tempo fuori/ di acqua, perchè presto não tenha estado muito tempo fora/ d’água,
prende male odore/ e anch’esso è come la porque logo toma um mau odor/ e também
nostra Vrata.// este é como a nossa dourada.//

P. 178 P. 178

[186] Bacù [186] Bacu

Questo Pesce in queste parti è molto ab-/ Este peixe, nestas partes, é muito abun-/
bondante, mà alli miei ochij non è mai pia- dante, mas aos meus olhos nunca agra-/
/ciuto. Comunemente sono lunghi da due dou. Comumente tem o comprimento de dois
si-/no a tre palmi, la schiena al difuori, a/ três palmos, as costas por fora são/
è/ addentata. Il uentre è assai grosso a denteadas. O ventre é tão gordo que faz
segno/ che sembra grauido; è squamoso, e com/ que pareça grávido; é escamoso, e
al difu-/ori pare sempre insanguentato. por fora/ parece sempre ensanguentado.
Molti lo man-/giano, e molti altri lo Muitos o co-/mem, e muitos outros o
abboriscono. Sò che ul-/timamente mi fù aborrecem. Sei que ul-/timamente foi-me
dato a mangiare senza cono-/scerlo, e mi dado a comer sem conhe-/cê-lo, e agradou-
piacque assai.// me muito.//

[187] Raia [187] Raia

È simile alle nostre se non che la sua/ pele É semelhante às nossas, exceto que sua/ pele
sembra tutta coperta di grossa arrena./ La parece toda coberta de areia grossa./ Sua
sua coda tiene nel fondo una durissi-/ma cauda tem no ápice uma durís-/sima ponta

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 175


punta lunga poco meno di un deto, e [texto comprida pouco menos de um dedo, e [texto
incompleto no original].// incompleto no original].//

P. 179 P. 179

[188] Dourado [188] Dourado

Non è pesce di squama, mà è assai buo-/ Não é peixe de escama, mas é muito bom,/
no, e si conssidera fra Pesci grandi. Nel/ e se considera entre os peixes grandes. No/
fondo della sua coda si uede una machia/ fim de sua cauda vê-se uma mancha/ que
che sembra un ochio, e allo interno ui pare/ parece um olho, e dentro parece/ que se
mesclato oro.// misturou ouro.//

[189] Pirauna [189] Piraúna

Non o ueduto questo Pesce di squama,/ Não vi este peixe de escama,/ que dizem
che dicono lungo più di otto palmi, an-/ ser do comprimento de oito palmos, ain-/
cor questo si mangia mà non è de’ migli-/ da este come-se, mas não é dos melho-/res,
ori, e qui non abbonda.// e aqui não abunda.//

[190] Mandue [190] Mandubé

È grande come una truta di una libra,/ É grande como uma truta de uma libra,/
tiene la testa schiaciata, e non è bello/ da tem a cabeça achatada, e não é belo/ de
uedersi, mà quando è grosso è delicioso// ver-se, mas quando é grande é delicioso//

P. 180 P. 180

e non pochi lo antepongono ad ogni sorta/ e não poucos o antepõem a todas as espécies/
di Pesci sino ad ora descriti, e secondo il/ de peixes até agora descritos, e segundo o/
mio gusto, mi pare di mangiare uentre di meu gosto, parece-me estar comendo
Ton-/nina.// ventrecha de atum.//

[191] Purachi [191] Poraquê

Ancor questo è un Pesce simile alla an-/guila Ainda este é um peixe semelhante à en-/
e alcuni sono maggiori di sei palmi,/ e grossi guia e alguns são maiores de seis palmos,/ e
come un bracio. Questo è quel Pesce/ che grossos como um braço. Este é aquele peixe/

176 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


toccandolo fa il medesimo effetto che fà lo el-/ que, tocado, tem o mesmo efeito que faz o
litrizare, e il dolore è ancor più forte. Alcuni ele-/trizar, e a dor é ainda mais forte.
lo/ mangiano, e dicono che è buono.// Alguns o/ comem e dizem que é bom.//

[192] Ostras, o sieno Ostrie [192] Ostras, ou seja [em italiano] ostrie

Di queste se ne pescariano abbondamente, Destas pescar-se-ia abundantemente, mas


mà non/ ano l’arte de’ Veneciani, che le não/ têm a arte dos venezianos, que as
prendono con legni/ ancorati, ma qui li pegam com madeiras/ ancoradas, mas aqui
Indij si legano al piede un cesto [falta os Índios atam ao pé um cesto [falta
“pieno di” no original]// “cheio de” no original]//

P. 181 P. 181

pietre per andare presto al fondo, e là le pedras para logo descer ao fundo, e lá as
cercano, e le/ tirano fuori, il che è assai buscam, e as/ tiram fora, o que é muito
pericoloso. Non ostante che/ sieno ualentissimi perigoso, não obstante serem/ valentíssimos
nuotatori. Di queste ostre [sic] ne ò più/ nadadores. Destas ostras comi/ muitas
uolte mangiato, e alcune erano assai più vezes, e algumas eram muito maiores do
grandi delle/ nostre, e assai polpute, mà poi que/ as nossas, e bastante polpudas, mas
non ano quel gusto delle/ nostre di Europpa não têm o gosto das/ nossas da Europa, e
e sarà forse a caggione dell’ac-/qua che à será talvez por causa das á-/guas, que
quel luogo doue si pescano, non sono salu-/ nesse lugar onde se as pescam, não são salu-
bri, o si lo sono, sarà assai poco. Ò osseruato, /bres, ou, se são, são muito pouco. Observei
che in tut-/ti li terreni, e in mezzo a queste que em to-/dos os terrenos, e no meio destas
selue si ritrouano/ guscij di ostre, e alcuni selvas acham-se/ cascas de ostras, e algumas
assai grandi, onde non sò/ come possano muito grandes, e não sei/ como se puderam
essere sparssi per tanti luoghi.// espalhar por tantos lugares.//

[193] Tartarughe [193] Tartarugas

Queste le conssidero nel numero de’ Pesci, Estas considero-as no numero dos peixes,
perchè/ quasi sempre stiano in acqua, e porque/ quase sempre estão n’água, e as
altri non sò se li/ metterano in questo outras não sei se as/ meterão nesse
numero la che uiuono in terra, e/ fano in número, pois vivem na terra e/ nesta
questa le loro uoua, mà lasciamo questa/ põem seus ovos, mas deixemos esta/
disputa alli Teòloghi, e passiamo a dire ciò disputa aos teólogos, e passemos a falar
che più// do que muitas//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 177


P. 182 P. 182

uolte abbiamo presenciato per nostra vezes temos presenciado com nossa
curiosità. Le tar-/tarughe adunque àno curiosidade. As tar-/tarugas, portanto,
la loro resssidenza in più luoghi/ mà têm sua residência em muitos lugares,/
abbondano maggiormente nel Rio delle mas abundam maiormente no Rio das
Amazoni,/ in Solimons, e nel Rio di Amazonas,/ no Solimões, e Rio da
Madera, per auere questi/ grandissimi Madeira, por terem estes/ grandíssimas
Praie di arrena per poterui fare le sue/ praias de areia para ali poderem pôr
uoua. In tempo che le acque sono basse, seus/ ovos. Na época em que as águas
che per lo/ più è ne’ Mesi di Ottobre, e estão baixas, que é por/ volta dos meses
Novembre, escono dal-/le acque, e si de outubro e novembro, saem da/ água
portano sù l’arrena doue cauano l’arre- e caminham sobre a areia onde cavam a
/na con le zampe d’auanti, e sino a doue areia/ com as patas anteriores, e até
ariuano, di-/poi fatta la caua, ui onde chegam, de-/pois de feita a cova,
scaricano le sue uoua, che comu-/nemente ali descarregam seus ovos, que comu-/
sono da cinquanta sino a ottanta, e tutte mente vão de cinquenta até oitenta, e
sono/ grosse come un uovo di gallina, ma todos são/ grandes como um ovo de
affatto rottonde, e/ con il guscio molle, galinha, mas mais redondos, e/ com a
come è quello della detta gallina quando/ casca mole, como é o da galinha assim
fà l’uouo. Scaricata che à le sue uova le que faz/ o ovo. Uma vez descarregados
copre di ar-/rena e torna a buscare le seus ovos, cobre-os com/ areia e torna a
acque se puole, mentre li/ Indij le stano buscar as águas, se pode, enquanto os/
in aguato, e le uoltano con la schiena/ índios as estão esperando, e viram-nas
alla terra perchè cosi non ne forza di com as costas/ para a terra, por que
manegiarssi. In/ questo ancora bisogna assim não consegue deslocar-se. // Nisto
essere esperto perchè oltre che cor-/rono precisa-se ser esperto, porque além de
con uelocità sono tante, che facilmente correrem com velocidade,/ são tantas,
ponno offendere// que facilmente podem machucar//

P. 183 P. 183

gambe come più uolte è suceduto, mentre as pernas, como muitas vezes sucedeu, e
una di quella/ è la carica di un uomo desde que uma delas/ é a carga de um
forte. L’interesse degli Indij,/ non è homem forte. O interesse dos índios/ não
solamente quello della carne mà bensi é somente pela carne, mas também pelos/
delle/ uova delle qualli ne fano la ovos, dos quais fazem manteiga, que é a
manteca, che è la reden-/zione di questa reden-/ção desta terra, porquanto serve

178 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


terra, mentre serue per il condimento/ de condimento/ das viandas, e muito mais
delle uiuande, e molto più per illuminare para iluminar as casas, pois/ dá um belo
le Case, men-/tre fà bel lume e non rende lume e não solta um cheiro ingrato, como
odore ingrato, come l’/olio di Andiroba. o/ óleo de andiroba. Passeiam portanto
Passeggiano adunq e li Indij, e altri/ os índios e outros/ caboclos por essas
Paesani per quelle Praie e doue ritrouano praias, e onde acham que a/ areia tem
che la/ arrena tiene alguna parte bassa, alguma parte baixa, nessa cavam e/
in quello cauano e/ ne aggiuntano le uoua juntam os ovos em montes; depois de havê-
in Monte, dipoi di auerle as-/sai bene los mui-/ to bem batido em um fundo de
pestate in alcuno fondo di Canoua, le canoa, põem-nos/ a ferver, espumam-nos,
mettono/ a bullire, le spumano, e cotte e assim que cozidos põem-nos/ em vasos
che sono le mettono/ in uasi di terra cotta, de cerâmica, cada um dos quais é a
ogni uno de’ qualli è una carica/ di un carga/ de um homem, e destas cargas
uomo e di queste cariche se ne metterano meter-se-ão oitocentas/ em uma canoa,
ottocento/ in una Canoua le qualli, as quais, assim que chegam, são/
ariuate che sono le uen-/dono vendidas comumente a dez tostões, e as
comunemente a dieci tostoni, e le tartaruche tartarugas a/ seis, as quais por serem
a/ sei, qualli per essere qui stimate si aqui estimadas se vendem logo;/ de fato,
uendono subito,/ e in fatti la sua carne è a sua carne é desprezível, mas no
disprezabile. Mà poi// entanto//

P. 184 P. 184

le trippe e il lombo delle medesime, as tripas e o lombo das mesmas, preparados


maneggiate da/ una ualente cuciniera, non por/ uma boa cozinheira, não fazem inveja
fano inuidia a quelle di/ uittella.// aos de/ vitela.//

[194] Tracaggiàs [194] Tracajás [+ tartaruga-de-pente]

È questa una especie di tartaruga, ma Esta é uma espécie de tartaruga, mas


son/ più grande di un palmo e assai più são/ maiores de um palmo e muito mais
schia-/ciata della sopradetta, mà pone/ acha-/tadas que as sobreditas, mas
anch’esso le uoue nella sopra acenata ma- põem/ também estas ovos da
/niera. Sono anch’esse molli di guscio, e supramencionada ma-/neira. São
tanto/ queste quanto quelle della também estes moles na casca, e tanto/
tartaruca [sic] non/ ostante che si estes como os da tartaruga, não/
mettono a bullire in acqua/ non obstante serem postos a ferver em água,/
indurisce la clara. Si mangia quella/ não endurecem a clara. Come-se aquela/

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 179


gema che è assai buona con farina e gema que é muito boa com farinha e
zuchero che/ riesce molto gustosa. Le açúcar, que/ fica muito gostosa. As
tartaruchei [sic], che si/ pescano nel tartarugas que se/ pescam no Maranhão,
Maragnone, che sono di acqua sal-/sa, que são de água sal-/gada, não obstante
non ostante che non si mangino, sono não serem comidas, são preciosas,/ porque
preciose,/ perchè dano quella nobilissima fornecem aquela nobilíssima casca da
Casca della quale// qual//

P. 185 P. 185

si fano tante belle gallantarie, e si uende se fazem tão belas galantezas, e vende-se
da/ quindici sino a uenti paoli la libra. por/ quinze até vinte paulos a libra.
Di questa/ si lauorano al torno belissimi Destas/ trabalham-se ao torno belíssimos
rosarij de’ quali/ si farebbe stima in rosários que/ seriam estimados em qualquer
qualunqe nostra Città, e si/ fano di quei de nossas cidades, e/ fazem-se aqueles
pezzi, che si congiungono con il/ uentre. pedaços que se juntam com o/ ventre. Para
A tirarla perfettamente cosi si fà./ Dopo tirá-la perfeitamente, faz-se assim./ Depois
di auerle prese nel1’istesso modo delle/ altre de havê-las capturado do mesmo modo que/
le ucidono, le sotterano, e quando sono/ as outras, matam-se, enterram-se, e quando
del tutto consumate, ne aggiuntano li pez- estão/ de todo consumidas, juntam os peda-
/zi, e li uendono a peso.// /ços, e vendem-nos a peso.//

P. 186 P. 186

[195] Buiuna [195] Boiúna

Cobra di acqua, che è delle maggiori, Cobra d’água, que é das maiores,
particolar-/mente in grossezza, e se li particular-/mente de grossura, e se os
esperti Indij non la fu-/gono non è facile espertos índios não a/ afugentam, não
uscire di pericolo, perchè rover-/sinno é fácil escapar do perigo, porque/ viram
una di quelle piccole canoue con li qualli/ uma daquelas pequenas canoas com as
detti Indij costumano andare uno, o due quais/ os ditos índios costumam andar,
a pescare/ ne’ laghi. di pele è negra um ou dois, a pescar/ nos lagos. È
senza machie, non è/ di quelle che negra de pele, sem manchas, não é/
mordino, mà ingolisse come la Gi-/ daquelas que picam, mas engolem como
bboia. Non serpeggia molto per terra, a ji-/bóia. Não repta muito por terra,
e quando esce/ è sul’arrena per godere e quando sai/ é para a areia, para
del Sole.// gozar do sol.//

180 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


[Serpentes, incluindo a [Serpentes, incluindo a
jaquiranambóia - sem jaquiranambóia - sem
subtítulo] subtítulo]

[196] Tariramboia [196] Tarirambóia

È cobra uerde, e stà quasi sempre sopra li È cobra verde, e fica sempre em cima de
arbori/ in qualli dormono ancora. Non árvores,/nas quais também dormem. Não
sono delle maggiori,/ e aurano quatro o são das maiores,/ e terão quatro ou cinco
cinqe palmi di lunghezza, il suo/ morso è palmos de comprido. Sua/ picada é
mortale; tiene due denti al di sopra incurua- mortal; tem dois dentes em cima, curva-
/ti, e uno al disotto, e ciò che prende non lo /dos, e um em baixo, e o que morde não
lascia.// larga.//

P. 187 P. 187

[197] Arraramboia [197] Ararambóia

É cosi chiamata perche non sibila, ma É assim chamada porque não silva, mas
gritta come/ la Arrara. Anch’essa é di grita como/ a arara. Esta também tem
cinque in sei palmi, e gros-/sa come una cinco ou seis palmos, e a/ grossura de
buona anguila. La sua pele é incar-/ uma boa enguia. Sua pele é encar-/nada
nata e il uentre é all’uso delle altre, cioé e o ventre é como o das outras, isto é,
bianco./ Di questa ancora si deue fugire branco./ Desta também se deve evitar a
il morso.// picada.//

[198] Giachiranamboia [198] Jaquiranambóia

Costui é la piu micidiale di tutte, e buono Esta é a mais mortífera de todas, e é bom/
é/ che non abiti in questi circonuicini luoghi, que não habite nestes lugares circunvizinhos,
pe-/rche ama anch’essa di stare ne’ rami por-/que também ela gosta de ficar nos ramos
delli/ arbori. Non é più lunga di un palmo, das/ árvores. Não é maior que um palmo,
e sot-/tile, ma tiene due pine che le seruono e é del-/gada, mas tem duas barbatanas
come/ alli, e si lancia da un luogo all’altro, que lhe servem de/ asas, e joga-se de um
e mi/ dicono, che essendone una in un lugar a outro, e/ dizem-me que estando uma
arbore doue/ si trouauano molti macachi numa árvore onde/ se encontravam muitos
come costumano, ne/ morse varij, e che al macacos, como costumam,/ mordeu vários e
primo morso cadeuano morti.// que à primeira mordida caíam mortos.//

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 181


[P. 188; em dupla coluna [P. 188; em dupla coluna
no original] no original]

Indice di quanto contiene Índice de quanto contém


il presente libro o presente livro

Atta pag. .............................................. 7 Ata pág. ............................................... 7


Abbacatti pag. ..................................... 16 Abacate ................................................ 16
Aquitti pag. ......................................... 46 Aquiti [?] ............................................. 46
Andiroba pag. ...................................... 70 Andiroba .............................................. 70
Anningas pag. ...................................... 80 Aninga .................................................. 80
Angellino pag. ....................................... 84 Angelim ................................................ 94
Accapú pag. .......................................... 87 Acapu ................................................... 87
Annanì pag. ......................................... 92 Anani ................................................... 92
Accapurana pag. .................................. 96 Acapurana ........................................... 96
Appui pag. ......................................... 109 Apuí ................................................... 109
Annuunà pag. ................................... 133 Anum ................................................. 133
Arrara pg. ......................................... 142 Arara ................................................. 142
Agochia pg. ........................................ 170 Agulha ............................................... 170
Accutimboia........................................ 164 Acutimbóia ......................................... 164

Biribas pag. .......................................... 15 Biribá .................................................... 15


Bacuri pag. ........................................... 68 Bacuri .................................................... 69
Biscia deta di due teste ........................ 162 Cobra-de-duas-cabeças ....................... 162
Bacù pag. ............................................ 178 Bacu .................................................... 178
Buiuna pag. ....................................... 186 Boiúna ................................................ 186

Caggiù pag. .................................. 1,[104] Caju ............................................ 1, [104]


Caffè pag. .............................................. 4 Café ....................................................... 4
Cuppuassù pag. .................................... 13 Cupuaçu ............................................... 13
Carragiurù pag. ................................... 19 Carajuru ............................................... 19
Cottone pag. ......................................... 21 Algodão ................................................ 21
Cottone Perichito .................................. 23 Algodão-de-periquito ............................. 23
Cipola braba pg. .................................. 25 Cebola brava ........................................ 25
Continas pag. ........................................ 26 Continhas ............................................. 26
Cubbio pag. .......................................... 26 Cubio ..................................................... 26
Cacào pag. ............................................ 31 Cacau .................................................... 31
Cuia pag. .............................................. 37 Cuia ...................................................... 37

182 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Cummandaassù .................................... 45 Cumandá-açu ........................................ 45
Cuttutirubá pag. .................................. 76 Cutitiribá .............................................. 76

[P. 189; em dupla coluna [P. 189; em dupla coluna


no original] no original]

Castagno pag. ..................................... 77 Castanha[-do-pará] ............................. 77


Cedro pag. ............................................ 88 Cedro ..................................................... 88
Cumarù pag. ........................................ 97 Cumaru ................................................ 97
Cuppauba pag. ..................................... 99 Copaíba ................................................ 99
Cravo pag. .......................................... 101 Cravo ................................................. 101
Cingana pag. ..................................... 128 Cigana ................................................ 128
Cuggiubim pag. .................................. 132 Cujubim ............................................. 132
Ciapim pag. ........................................ 134 Japiim .................................................. 134
Cugliarera pag. ................................. 136 Colhereiro ........................................... 136
Collombi pag. ...................................... 144 Pombos ............................................... 144
Cuttia pag. ......................................... 148 Cutia ................................................... 148
Coatti pag. ........................................ 150 Quati .................................................. 150
Cuandù pag. ...................................... 151 Cuandu ............................................... 151
Cappiuuara pag. ................................ 151 Capivara ............................................. 151
Corrallo pag. ....................................... 160 Coral ................................................... 160
Coattimboia pag. ................................ 163 Coatimbóia ......................................... 163
Cammaleonte pag. .............................. 165 Camaleão ............................................ 165
Cocodrilo pag. ..................................... 165 Crocodilo {Jacaré] .............................. 165

Birribas pag. [riscado] ........................ 15 Biribas pag. [riscado] .......................... 15


Dourado pag. .................................... 179 Dourado pag. .................................... 179

Erbaggi pag. ..................................... 115 Hortaliças .......................................... 115

Fauas seluaticas pg. ............................. 35 Favas silvestres ...................................... 35


Fauas d’Impicios ................................... 36 Favas-de-impigem ................................. 36
Figos ................................................... 113 Figos ................................................... 113

Ginipapo pag. ....................................... 3 Jenipapo ................................................. 3


Giniparana pag. ................................... 9 Jenipaparana ......................................... 9
Guiava pag. .......................................... 10 Goiaba .................................................. 10
Giuà pag. ........................................... 25 Juá ......................................................... 25

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 183


Gialappa pag. ...................................... 36 Jalapa .................................................... 36
Guaranà pag. ...................................... 43 Guaraná ............................................... 43
Giassitara pag. ..................................... 60 Jacitara .................................................. 60
Giuttai pag. ....................................... 103 Jutaí .................................................... 103
Ginggias pag. ...................................... 110 Ginjas ................................................ 110
[Garza] ............................................. 129 [Garça] ............................................. 129
Guarà pag. ......................................... 135 Guará ................................................ 137
Giacamin pag. ................................... 137 Jacamim .............................................. 137
Guaribà pag. ..................................... 149 Guariba ............................................. 149

[P. 190; em dupla coluna [P. 190; em dupla coluna


no original] no original]

Giararaca pag. .................................. 160 Jararaca .............................................. 160


Giboia pag. ......................................... 163 Jibóia ................................................... 163
Guruggiubba pag. .............................. 168 Gurijuba ............................................. 168
Giachiraramboÿa pg. ......................... 187 Jaquiranambóia .................................. 187

Iggiò pag. .............................................. 7 Iggiò ....................................................... 7


Ingas pag. ...................................... 34: 74 Ingás .............................................. 34, 74
[Iuarà] ............................................... 157 Iuará ................................................... 157
Irará pag. ........................................... 157 Irara ................................................... 157

Loiro pag. ............................................. 86 Louro .................................................... 86


Lontra pag. ........................................ 166 Lontra ................................................ 166

Mamone Vrrana ................................. 41 Mamorana ............................................ 41


Morrera braba .................................... 61 Amoreira-brava ................................... 61
Maracuggià .......................................... 65 Maracujá .............................................. 65
Massaranduba ..................................... 90 Maçaranduba ...................................... 90
Marapautà ........................................... 91 Marapautá [?] ..................................... 91
Maraquitara ........................................ 94 Muiraquatiara ...................................... 94
Mairaggiuba ........................................ 95 Muirajuba ............................................ 95
Mangani ............................................ 102 Mangues ............................................. 102
Murapenim ........................................ 106 Muirapinima ...................................... 106
Mamone .............................................. 118 Mamão ............................................... 118
Muttù .................................................. 128 Mutum ............................................... 128
Maguari ............................................. 130 Maguari ............................................. 130

184 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Marecas .............................................. 130 Marrecas ............................................ 130
Macacos .............................................. 149 Macacos .............................................. 149
Mucura ............................................... 152 Mucura ............................................... 152
Maracaggià ....................................... 157 Maracajá ............................................ 157
Mamiacù ............................................ 170 Mamaiacu ........................................... 170
Mapparas............................................ 176 Maparás ............................................ 176

Nambù ............................................... 132 Nhambu ............................................. 132

Onza .................................................. 156 Onça ................................................... 156


Ostras [Ostrie] .................................. 180 Ostras [Ostrie] .................................. 180

[P. 191; em dupla coluna [P. 191; em dupla coluna


no original] no original]

Pimenta seluatica .................................. 18 Pimenta silvestre ................................... 18


Pucirì ..................................................... 23 Puxiri ................................................... 23
Pichià .................................................... 42 Piquiá .................................................... 42
Paù d’Arco............................................. 92 Pau-d’arco ............................................ 92
Paù Rosa .............................................. 94 Pau-rosa ................................................ 94
Paù Rosso ............................................. 95 Pau-roxo ............................................... 95
Pau Incarnato ...................................... 96 Pau-encarnado ...................................... 96
Paricà .................................................... 97 Paricá .................................................... 97
Paù Ferro ........................................... 107 Pau-ferro ........................................... 107
Pauone ................................................ 124 Pavão .................................................. 124
Pica flore ............................................. 125 Beija-flor ............................................. 125
Passeri del Spirito Santo ................... 126 Aves-do-espírito-santo ........................ 126
Pappagalli ........................................... 140 Papagaios ............................................ 140
Piriquitos ............................................ 143 Periquitos ............................................ 143
Paca .................................................... 154 Paca .................................................... 154
Porcos .................................................. 155 Porcos .................................................. 155
Pigricia ................................................ 158 Preguiça .............................................. 158
Pirrarara .............................................. 18 Pirarara ............................................. 168
Pirarucù .............................................. 169 Pirarucu .............................................. 169
Pirauiua .............................................. 169 Pirajuba .............................................. 169
Pesce Boi ............................................. 171 Peixe-boi ............................................. 171
Piragna .............................................. 175 Piranha .............................................. 175
Piramutaua ....................................... 177 Piramutaba ....................................... 177

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 185


Pescadas .............................................. 177 Pescadas .............................................. 177
Pirauna .............................................. 179 Piraúna .............................................. 179
Purachi ............................................... 180 Poraquê .............................................. 180
Paruamboÿa [Não consta do manuscrito] Paruambóia.[Não consta do manuscrito]
.......................................................... [187] .......................................................... [187]

Quacingùa .......................................... 108 Guaxinguba ...................................... 108


Quaxinga [?] ..................................... 108 Quaxinga [?] ..................................... 108

Raia ...................................................... 18 Raia .................................................... 178


Rodella ............................................... 171 Rodela ................................................ 171

Sabbonettas .......................................... 17 Sabonetes .............................................. 17


Summauma incarnata ......................... 27 Sumaúma encarnada .......................... 27
Sumauma bianca ................................. 28 Sumaúma branca ................................ 28
Siringa .................................................. 39 Seringa ................................................. 39
Sorbas ................................................... 73 Sorvas ................................................... 73

[P. 192; em dupla coluna [P. 192; em dupla coluna


no original] no original]

Suppupira ............................................. 98 Sucupira ................................................ 98


Sabbonettas [sic; Spongiettas] ........... 117 Esponjeiras ......................................... 117
Saracura ............................................. 133 Saracura ............................................. 113
Savià ................................................... 159 Sauiá .................................................. 159
Surucucù ............................................. 161 Surucucu ............................................. 161
Saccamboia ......................................... 163 Sacaimbóia .......................................... 163
Sardine ............................................... 176 Sardinhas ........................................... 176

Tappiribas ............................................. 75 Taperebás ............................................. 75


Tuccano .............................................. 123 Tucano ................................................ 123
Tein Tein ............................................. 126 Tem-tem .............................................. 126
Tamanduà .......................................... 146 Tamanduá ........................................... 146
Tattù .................................................. 153 Tatu .................................................... 153
Tuccunarè ........................................... 175 Tucunaré .............................................. 175
Tartarughe ......................................... 181 Tartarugas ......................................... 181
Tracaggias .......................................... 184 Tracajás .............................................. 184

186 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Vrrapari .............................................. 62 Arapari [?] ........................................ 62
Vmarì ................................................... 79 Umari ................................................... 79
Vmiri ................................................... 81 Umiri .................................................... 81
Vainiglia ............................................ 105 Baunilha ............................................. 105
Vnacuaù ............................................ 131 Unacuau [?] ...................................... 131
Viado ................................................. 155 Veado ................................................. 155

Fine Fim

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 187


Notas
P. 1 (n. 1) e p. 104 . Caju – “Anacardium P. 2. Falta na coleção de fotos do MS de
occidentale, Anacardiácea. O cajueiro é um Landi feita por Meira Filho, depositada
arbusto ou pequena árvore de 3-8 m de no Museu Paraense Emílio Goeldi. Nela
altura e, quando adulto, o tronco torna- consta o fim da descrição do cajueiro.
se inclinado, tortuoso, com os ramos
irregularmente orientados, alguns P. 3 (n. 2). Jenipapo – Nas fotos do MS
chegando mesmo a rastejar e enraizar no de Landi da coleção Meira Filho, no
solo e assim ocupando extensa área, cujo Museu Paraense Emílio Goeldi, falta a
exemplo típico é o célebre cajueiro de página 3, com o início da descrição; essa
Pirangi, no R. G. do Norte. Esse página tampouco consta do livro de
exemplar, sozinho, ocupa uma área de Meira Filho de 1976. Sousa (1999: 262)
mais de 7000 m2, sendo hoje ponto cita uma parte desse texto, da seguinte
turístico obrigatório naquele Estado. As maneira:
folhas são alternas, raro opostas, simples,
coriáceas, em geral obovadas, de 6-25 cm “Ginipapo
de comprimento e 5-15 cm de largura,
com o ápice arredondado e a base É arbore che cresce assai alta. Le sue foglie si
cuneada; nervuras laterais bem distintas, conoscono da lontano, per essere lunghe,
paralelas, formando ângulo em torno de appuntate, e di verde chiaro. Li fiore sono picole
60º com a nervura central. A inflorescência e da niuna apparenza. Li frutte, sono come un
é uma panícula pouco ramificada e os grosso limone, ma liscie, e terminano in punta.
ramos formam ângulo de 90º com o eixo Abbonda di molto, e solamente si mangiano
principal; flores hermafroditas e flores quando cadono... il suo gusto non mi piace
unissexuadas masculinas na mesma nulla, e tiene un odore...”.
inflorescência; cálice com 5 pétalas
triangulares, corola de 5-6 pétalas livres, Em tradução:
linear-lanceoladas, reflexas e brancacentas
na antese, depois avermelhadas, com “Jenipapo
estrias purpúreas longitudinais; estames
7-10, conatos na base e de comprimentos É árvore que cresce bastante alto. Suas folhas
desiguais, tendo um bastante conhecem-se de longe, por serem longas,
desenvolvido e exserto; ovário oblíquo- pontudas, e verde-claras. As flores são pequenas
obovado, unicarpelado, com um estilete e de aparência medíocre. Os frutos são como
robusto, subulado. O fruto (castanha) é um pequeno limão, mas lisos, e terminam em
um aquênio reniforme de 3-5 cm, com ponta. É muito abundante, e só se comem
mesocarpo resinoso, preso a um quando caem... seu gosto não me agrada de
pedúnculo espessado e carnoso maneira alguma, e tem um odor...”.
(pseudofruto) de cor amarela ou
vermelha e tamanho variado” Landi trata aqui da “Genipa
(Cavalcante, 1988: 69). americana, Rubiácea. Pequena árvore, cerca

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 189


de 5-15 m, às vezes até 20 m de altura, cristalizados. O fruto ainda verde fornece
sendo mais comum o porte entre 8-12 um suco amarelado que vai
m; tronco geralmente reto, casca pouco gradativamente escurecendo, até tornar-
espessa, lisa, verde-acinzentada; se azul-escuro ou quase preto, muito
ramificação verticilada, abundante, ramos usado pelos índios para as suas pinturas.
inferiores geralmente horizontais. Folhas A madeira, de cor branco-marfim,
simples, opostas, decussadas, adensadas embora não sendo ‘de lei’, é das melhores
na extremidade dos ramos, com e de múltiplas utilidades e fácil de ser
estípulas interpeciolares largamente trabalhada, servindo para a fabricação de
triangulares; limbo cartáceo, obovado ou formas para sapato, raquetes, colheres-
oblongo-obovado, 10-35 cm de de-pau, tamancos, cabo de ferramentas,
comprimento, base cuneada, face superior coronha de espingarda, para gravuras,
verde-escura e brilhosa. Flores dispostas entalhes e muitos outros objetos de uso
em pequenas inflorescências subcimosas, doméstico” (Cavalcante, 1988: 146-147).
terminais ou subterminais; cálice
tubuloso-campanulado, minuto- Pp. 4-7 (n. 3). Café – Coffea arabica L., da
dentado; corola branca ou amarelada, fam. das Rubiáceas. Sobre a introdução
ligeiramente perfumada, cerca de 2-4 cm do café no Pará por Francisco de Melo
de altura, com 5 pétalas soldadas na Palheta, ver Papavero, Teixeira & Overal
metade basal; estames 5, com filetes (2002).
curtos inseridos no tubo da corola,
anteras lineares biloculares. Fruto, uma P. 7 (n. 4). Iggiò [e Cipó-una] – Não
baga subglobosa ou ovóidea cerca de 10- conseguimos atinar a qual planta Landi
12 cm por 7-9 cm, pesando entre 200- se refere sob “iggiò”. Quanto ao “cipó-
400 g, conservando, no ápice, restos do una”, só conseguimos descobrir uma
tubo do cálice; pericarpo pardo- referência em Le Cointe (1947: 149), que
amarelado, esponjoso, cerca de 1,5 cm de coligiu esse nome na zona de Óbidos,
espessura, polpa sucosa, ácida porém no Pará, dado a uma planta não
doce, envolvendo numerosas sementes identificada, cuja “raiz é um tubérculo
achatadas; o pericarpo e a polpa exalam alongado; serve para preparar uma tinta
um cheiro ativo, bastante característico. preta”.
(...). O fruto do jenipapeiro só deve ser A “vidalpa” citada por Landi, em
consumido bem maduro, quando o italiano moderno “vitalba”, é a Clematis
pericarpo apresenta-se amolecido e vitalba, em português “clêmatis” ou
deformando-se com o manuseio. Para o “clematite”; o gênero Clematis inclui
consumo in natura deve-se adicionar plantas ornamentais da fam. das
açúcar à polpa para suavizar a acidez. Mas Ranunculáceas, por vezes trepadeiras, de
o consumo tradicional do jenipapo é folhas opostas, pecíolos rígidos,
sobretudo na forma de licor, muito caniculados e violáceos na base, com
apreciado, e da famosa jenipapada do grandes e numerosíssimas flores
Nordeste, prestando-se ainda para asteróides, de tom róseo ou violáceo
refrescos, vinhos, xarope e doces (Ferreira, 1999: 485).

190 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Pp. 7-9 (n. 5). Ata – A espécie foi P. 8. “fiori di Late” - traduzimos
identificada por Cavalcante (in Meira, tentativamente por “copo-de-leite”.
1976: 194) como Anona densicoma,
Anonácea. Sobre esta espécie diz P. 9 (n. 6). Jenipaparana – “Árvore da
Cavalcante (1988: 45, sob “araticum-do- família das lecitidáceas (Gustavia augusta).
mato”): “Arbusto de tronco fino, 2-6 m De flor grande, alva e rósea, e cuja
de altura, às vezes chegando a 10 m. madeira, branca e flexível, é us. em
Folhas cartáceas, nervuras laterais marcenaria” (Ferreira, 1999: 1159). Ferreira
delicadas contendo domácias (pequenas (l. c.) também menciona a “jenipaparana-
bolsas) no ângulo com a nervura central. da-mata”, “ár vore da família das
Flores isoladas, de cor ferrugínea (...). lecitidáceas (Gustavia brasiliana), da região
Fruto ovóide, cerca de 10 cm por 6 cm, amazônica, de madeira dura, útil para
polpa doce, de sabor regular, porém vários fins, folhas oblongas, acuminadas,
perfeitamente comestível. (...). De acordo coriáceas e serrilhadas, flores vistosas,
com registros de herbário floresce e alvas, com estames soldados, e cujo fruto
frutifica entre os meses de setembro e é um pixídio globoso e crasso”.
março”.
A observação de Landi (p. 9) de que P. 10 (n. 6) - Filipo (em ital. mod. filippo):
“Tenho observado que nas folhas filipe - Antiga moeda de prata.
desta planta fazem seu ninho certas
pequeníssimas mosquinhas, que ali Pp. 10-12 (n. 7). Goiaba –. “Psidium
formam um labirinto como que guajava, Mirtácea. Pequena árvore
cabelos branquíssimos e de tal forma atingindo 10-12 m na fase adulta quando
entrelaçados que é uma maravilha e estabiliza o crescimento em altura; caule
que esmagadas com os dedos, irregular, tortuoso, esgalhando-se a baixa
reduzem-se a diminutíssima poeira” altura e muito ramificado; ramos jovens
(“Ho osservato, che nelle foglie di verde-claros, quadrangulares, copa
questa Pianta ui fano il nido certi relativamente rala; casca fina, lisa,
picolissimi muschini, li quali ui marrom-esverdeada, freqüentemente se
formano un laberinto come di capelli esfoliando. Folhas simples, opostas,
bianchissimi, e totalmente intrecciati, curtamente pecioladas; limbo
che è una merauiglia e stritolati con subcoriáceo, elíptico, 5-15 cm de
le deta, se riducono in minutissima comprimento, 4-6 cm de largura, ápice
polvere”) é interessantíssima, pois obtuso, agudo ou subacuminado, base
parece tratar-se da mais antiga referência obtuso-arredondada; nervuras laterais
conhecida no Brasil às minas causadas conspícuas, retas e regularmente paralelas.
por lar vas de moscas da fam. Flores axilares, solitárias; hipanto (base
Agromyzidae, que comem o parênquima da flor, formada pelo receptáculo com o
das folhas entre as duas cutículas ovário incluso) tubuloso-intumescido,
(superior e inferior), ocasionando prolongado no alto pelas sépalas,
justamente os desenhos capilariformes espessas e branco-esverdeadas; pétalas 4-
intrincados descritos por Landi. 5, brancas, arredondadas e caducíssimas;

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 191


estames numerosos, delicados e brancos; árvore de 4-8 m (nos indivíduos
ovário ínfero, com 4-5 lóculos cultivados), ou até 18 m de altura (nos
multiovulados. Fruto, uma baga indivíduos silvestres, na mata alta); tronco
arredondada, ovóidea ou piriforme de geralmente reto com a casca marrom-
tamanho variável, casca esverdeada ou escura, fissurada, ramificação tricotômica,
amarela e mesocarpo também variável ramos superiores ascendentes, os
conforme o cultivar; sementes inferiores horizontais, ambos com
numerosas, cremes, tegumento ósseo, ritidoma esfoliando. Folhas simples,
envolvidas pela placenta, carnosa e inteiras, subcoriáceas, 25-35 cm de
também comestível. (...). A goiaba é comprimento por 6-10 cm de largura,
muito apreciada ao natural, e quando com maior amplitude de variação entre
bem madura tem polpa doce, aromática, 15-60 cm por 5-16 cm respectivamente
com regular quantidade de ácidos, (...); lâmina oblonga ou oblongo-
açúcares e pectinas. É uma das mais ricas obovada, atenuada, ápice abrupto-
fontes de vitamina A, B e C. Seu principal acuminado, base obtusa ou arredondada,
emprego é na indústria de doces, glabra, verde e sub-brilhosa na face
compotas, geléias, sucos, sorvetes, etc. superior e verde-glauco ou róseo-pálido
A casca da planta, as folhas e na face inferior, com um delicado
principalmente os brotos, são ricos em revestimento de pêlos entrelaçados;
tanino, tendo emprego na medicina nervuras laterais 9-10 pares,
caseira como antidiarréico e contra a acentuadamente dirigidos para o ápice do
hemoptise. A frutificação da goiabeira limbo, o par inferior em ângulo mais
ocorre em dois períodos do ano: de abril agudo; nervuras terciárias transversais e
a junho ou julho e de novembro a janeiro subparalelas. Inflorescências cimulosas
ou fevereiro, e neste período a produção de 3-5 flores ou mais; pedúnculos curtos,
é menor; nos intervalos desses períodos espessos, com 3 bractéolas estreito-
podem ocorrer pequenas frutificações” lineares; cálice com 5 pétalas espessas,
(Cavalcante, 1988: 108-109). triangulares, livres ou parcialmente
Nesta passagem (p. 12), Landi refere- unidas; corola, 5 pétalas, cada uma com
se aos “bichos-de-goiaba” (“queste sua base em forma de cógula e a parte
frutta sono assai uerminose”), sendo superior laminar, subtrapezoidal ou
esta também a mais antiga referência suborbicular, de cor roxo-escura, ligada à
conhecida no Brasil às larvas de dípteros cógula por uma porção estreitada em
da fam. Tephritidae (principalmente do forma de calha, estaminódios 5,
gênero Anastrepha), que “bicham” as petalóides, triangular-linguiformes,
goiabas e muitas outras frutas. vermelho-escuros; estames 5, localizados
no interior da cógula com três anteras
P. 12 (n. 7[bis]). Anon. [P. 13]. biloculares; ovário pentagonal, obovado,
Impossível de identificar. com 5 lóculos multiovulados. Fruto
drupáceo ou bacáceo (tipo não definido
Pp. 13-15 (n. 8). Cupuaçu – “Theobroma morfologicamente), de forma elipsóidea
grandiflorum, Esterculiácea. Pequena ou oblonga, com as extemidades obtusas

192 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


ou arredondadas, variando de 12-25 cm jovens), ápice acuminado e base obtuso-
de comprimento e 10-12 cm de diâmetro, arredondada; nervuras laterais uniformes
pesando ate 1500 g; epicarpo rígido, paralelas, arqueadas para o ápice. Flores
lenhoso, com epiderme verde, recoberta solitárias ou aos pares, extra-axilares, de
por um indumento ferrugíneo, cor verde-claro e de um cheiro muito
pulverulento, que se vai desprendendo característico; pedúnculo, cerca de 2 cm,
com o manuseio do fruto; meso- engrossado do meio para cima; cálice
endocarpo branco-amarelado cerca de 7 plano, triangular, formado de 3 sépalas
mm de espessura; sementes em número soldadas na extrema base; corola com 6
de 20-50, superpostas em 5 fileiras pétalas, 3 externas espesso-carnosas e
verticais, cada semente envolvida por comprimidas lateralmente ligadas na base
copiosa polpa delicadamente fibrosa onde formam um reduzido tubo anular,
branco-amarelada, de sabor acidulado e alternando-se com outras 3, internas,
cheiro característico, agradável. Na rudimentares e subtriangulares; estames
maturação os frutos caem sem o numerosos, cerca de 1 mm de altura,
pedúnculo, ocasião em que exalam o conectivo peltado acima da antera;
cheiro característico, o que indica a perfeita carpelos numerosos, uniloculares e
maturação dos mesmos. (...). Come-se uniovulados, aderentes uns aos outros
o cupuaçu de várias maneiras, sendo a por um líquido viscoso; estilete denso-
menos preferida o consumo da polpa, piloso, com o estigma volumoso,
diretamente in natura. O uso mais capitado. Fruto, um sincarpo bacáceo,
popular é em forma de refresco, que ovóide ou globoso, formado pelos vários
algumas pessoas preferem misturado carpelos que se tornaram carnosos e se
com farinha de mandioca. Existem ainda soldaram durante o desenvolvimento do
muitas outras formas de utilizar o fruto; casca espessa, amarela, munida de
cupuaçu, como o saboroso sorvete saliências carnosas e escamiformes; polpa
[profetizado pelo guloso Landi...], de branca, abundante e sucosa; sementes
grande preferência local, bem como o numerosas, pardo-oliváceas, oblongo-
picolé, e mais: doce em pasta, doce sólido obovadas, com uma carúncula na base.
tipo salame, balas com recheio de O peso de um fruto alcança até 1.300 g e
cupuaçu, bolos e tortas com sabor de as dimensões a 14 cm de altura e 16 cm
cupuaçu, pudim, creme nevado, suco de diâmetro na parte mais larga. (...). O
concentrado, licor e geléia” (Cavalcante, biribá é uma das fruteiras mais populares
1988: 80-91). e mais cultivadas nos pomares
domésticos de toda a região. Isto deve-se à
Pp. 15-16 (n. 9). Biribá – “Rollinia mucosa, facilidade com que suas sementes germinam
Anonácea. Pequena árvore de 6-10 m, espontaneamente desenvolvendo plantas
com os ramos alongados, os mais finos vigorosas, principalmente nos quintais
nodulosos na região das cicatrizes onde é depositado o lixo doméstico, o
foliares. Folhas alternas, dísticas, em qual se transforma em excelente adubo
forma de calha, elíptico-oblongas, cerca orgânico, o que proporciona ao
de 12-15 cm (maiores nos indivíduos biribazeiro um crescimento rápido,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 193


passando a frutificar por volta dos 4 um óvulo pêndulo. O fruto é uma baga
anos. A polpa do biribá é de sabor suave monospérmica ovóide ou piriforme,
e adocicado, sendo consumida solitário e pendente na ponta dos ramos
essencialmente no estado natural, devido ao seu considerável peso, e muito
embora, ocasionalmente, seja utilizada variável no tamanho e na cor, podendo
na fabricação de sorvete e sucos. (...). alcançar 15 a 20 cm de comprimento e
Floração: de julho a setembro. pesar até 1500 gramas. O tipo regional
Frutificação: de novembro a maio. mais comum, de plantas não
Mudança das folhas: ocorre entre julho e selecionadas, ou de pé franco, é o
setembro. Em Belém os frutos podem chamado ‘abacate de pescoço’, de casca
aparecer esporadicamente nas feiras ao verde, às vezes roxa. A polpa do fruto
longo do ano, porém a safra normal é de maduro é de cor amarelo-esverdeada, ou
janeiro a maio” (Cavalcante, 1988: 57-58). creme, de consistência butirosa e envolve
uma única semente oviforme ou globosa
Pp. 16-17 (n. 10). Abacate – “Persea com dois cotilédones espessos e
americana var. americana, Laurácea. O hemisféricos. (...).
abacateiro é uma árvore de porte médio Parece que o Brasil é o único país
ou pequeno, geralmente de 10-20 metros do mundo onde o abacate é consumido
nos indivíduos espontâneos produzidos essencialmente como sobremesa, à base
de sementes, porém bem menores nas de açúcar e leite, na forma de sorvetes,
variedades selecionadas por enxertia. vitaminas, creme, etc. Em outros países
Tronco fino, casca áspera e copa essa fruta é consumida como um
relativamente pequena. As folhas são alimento (e não como sobremesa)
alternas, pecioladas, de formas variadas e temperado com sal e outros
dimensões entre 10 a 30 cm de ingredientes.” (Cavalcante, 1988: 14-15).
comprimento, geralmente largo ou
estreito-elípticas, cartáceas ou P. 16.”Battochie” - em italiano
subcoriáceas, glabras, com 6 a 9 pares de moderno “battaglio” - badalo (de sino).
nervuras laterais. Flores pequenas, até 8
mm de altura, dispostas em panículas P. 17 (n. 11). Sabonete – [Pp. 17-18].
terminais ou subterminais, fulvo- “Saboeiro”: “Planta da família das
amareladas, cálice e corola amarelo- sapindáceas (Sapindus saponaria), de ampla
esverdeados, indiferenciados, referidos distribuição, com folhas penadas, flores
como um perianto duplo de flor alvas, pequenas, frutos e casca ricos em
homoclamídia; estames em número de saponinas e que espumam intensamente
9 dispostos em quatro verticilos em água, e sementes que contêm 20 a
denominados, de fora para dentro, de 30% de óleo; sabão-de-macaco, sabão-
séries I, II, III e IV, sendo esta última de-soldado, saboneteiro, sabãozinho,
formada de estaminóides largamente salta-martim, jequitiguaçu”” (Ferreira,
sagitados; anteras quadriloculares, de 1999: 1793). Também chamada “sabão”,
deiscência valvar; ovário pubescente, “saboneta”, “saboneteiro” ou
subloboso ou ovóide, unilocular, com “saboaeiro” (A. J. de Sampaio, 1934: 57).

194 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Corrêa (1984(V): 2) assim se refere a esta Pp. 19-20 (n. 13). Carajuru - Arrabidea
mesma espécie: “Árvore pequena. Até chica (Bignoniáceas). Segundo Corrêa
8 m de altura; folhas compostas, (1984(II): 31-32), é “Trepadeira de ramos
pinadas, folíolos oblongos, lanceolados, cylindricos e glabros emquanto jovens,
agudos, inteiros, membranáceos, depois tetragonos, lenticellado-
glabros; flores brancas, dispostas em verrucosos e estriados; folhas pecioladas,
panículas; fruto contendo sementes compostas de 2 ou 3 foliolos com um
esféricas, pretas, duras. América cirrho intermedio simples e terminal;
intertropical. - Árvore elegante e foliolos peciolados, oblongos, oblongo-
decorativa, de crescimento rápido. (...). lanceolados ou ovado-lanceolados,
A madeira é boa e bonita. Os frutos raramente ovados e quasi sempre curto-
servem para lavar roupa, por conterem agudo-acuminados, obtusos na base,
saponina. As sementes são empregadas glabros nas duas paginas, coriaceos,
na indústria caseira, na confecção de reticulado-venosos, discolores ou
rosários, colares, suportes para pratos, concolores; calice densamente
etc. Além disso as crianças usam-nas em pulverulento; flores campanulado-
substituição às bolinhas de vidro, no infundibuliformes, roseas ou violaceas
chamado ‘jogo de gude’. As sementes ou purpureo-brancacentas com fauce
encerram uma amêndoa oleaginosa, branca, avelludadas, dispostas em
com sabor semelhante ao da avelã. Sin.: panicula terminal, pyramidal, frouxa, até
saboeiro, sabão-de-macaco, sabão-de-soldado, 22 cm de comprimento; fructo capsula
saboneteira, saponária, pau-de-sabão, linear, alongada, aguda dos dous lados e
jequitinguaçu (no Rio Grande do Sul), com uma nervura média saliente nas
jequiriti (no Pará), fruta-de-sabão (em valvas, glabra, castaneo-ferruginea;
Minas Gerais).” Le Cointe (1947: 424) sementes ovoides. - As folhas,
acrescenta ser vegetal que medra na submettidas a fermentação e
várzea argilosa do baixo Amazonas, ou manipuladas como as da anileira,
na argila fértil da terras altas (rio Branco fornecem materia corante vermelho-
de Óbidos, Alenquer); que a casca e a escuro ou vermelho-tijolo (‘vermelho
polpa dos frutos contém saponina e carajuru’, ‘vermelho de chica’, ‘vermelhão
são ictiotóxicas; a proporção das americano’), isomero do acido anisico,
saponinas contidas nos frutos é de insoluvel na agua e soluvel no alcool e
66,25% do peso da polpa seca, ou 31,13 no oleo, desde tempos immemoriaes
% do peso do fruto seco inteiro; as usada pelos aborigenes para se pintarem
sementes são oleaginosas: 23-30% do e adornarem, assim como para tingirem
óleo próprio para saponificação; a casca seus enfeites, utensilios e vestuarios, bem
(fruto, haste, raiz), em infusão, é usada como para a tatuagem; durante longos
contra leucorréias e uretrites; cita anos acreditou-se que os indios a
também guiti como sinônimo. misturavam à casca de uma planta
chamada arayana, até hoje desconhecida.
P. 18 (n. 12). Pimenta silvestre – Não Nos tempos coloniaes e mesmo até há
identicável. uns 20 annos atraz, ou pouco mais, a

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 195


exportação desta materia constituiu um firme conhecidas por “algodão-bravo”,
pequeno commercio, que foi decahindo “periquiteira” ou “piriquiteira”,
e hoje é muito restrito ou quasi nullo; é identificadas por A. J. de Sampaio
interessante, porém, que, a despeito da (1934) como Cochlospermum orinocense
larga distribuição geographica da planta, (Cochlospermaceae), Buchenavia oxicarpa
a sua exploração industrial e consequente (Combretaceae) e Bixa arborea (Bixaceae).
exportação do produto, só foi feita pelo O Cochlospermum orinocense,
porto de Manáos. Os bichos de seda também chamado “piriquiteira-da-
alimentados com as suas folhas mata”, “piriquiteira-da-terra-firme” e
produzem seda vermelha. - É planta “pacoté”, de acordo com Corrêa (1984
mellifera e muito ornamental, digna de (V): 504-505), é “Árvore de 15 metros
cultura nos nossos jardins; foi de altura; folhas com 5-7 folíolos,
introduzida nas estufas da Europa há digitada; folíolos lanceolados, ápice
mais de 60 annos. - Diz-se que a materia atenuado-acuminado e mucronado, base
tintorial, applicada topicamente, combate atenuada, margem inteira, face superior
as empingens e outras enfermidades da glabra e inferior pilosa nas nervuras;
pelle, principalmente para a lavagem de panículas terminais de 5-10 flores,
feridas e ulceras de mau caracter; usada pedicelos tomentosos, cálice de 15-18
internamente é util contra as colicas mm de comprimento, tomentoso;
intestinaes, diarrheas sanguineas e entero- pétalas oboval-cuneadas, inciso-
colites, certamente devido à sua emarginadas; estames livres, anteras
adstringencia. (...). Sin.: chica, cipó-cruz, coá- oblongas, ápice biporoso. Amazônia.
piranga, guajuru, guarajuru-piranga, oajuru, Fornece madeira leve, pouco utilizada.
piranga.” Le Cointe (1947: 120) dá ainda Casca útil contra as contusões”. Le Cointe
como sinônimo pariri; diz que “das folhas (1947: 390) também fala desta espécie.
secas extrai-se, por maceração (fermentação Sobre a “periquiteira” (Buchenavia
seguida de ebulição), uma tinta vermelha; oxicarpa) comenta Corrêa (1984 (V): 446-
é um pó encarnado insolúvel em água, 447): “Árvore de 6-9 metros de altura,
solúvel no álcool, no éter e no azeite; com ramos à altura de 2,4-3 metros,
ele e com azeite de andiroba, os índios formando copa hemisférica; râmulos
faziam as suas pinturas nas faces e no delgados, freqüentemente verticais;
corpo; a tinta e as folhas são usadas contra folhas 4-8 nas sumidades dos ramos, 5-
a disenteria e as empingens. 10 cm de comprimento, 2,5-3,7 cm de
largura; pecíolos de 4-12 mm, ora
Pp. 21-22 (n. 14). Algodão – “Cada glanduloso ora dotado de pequeninas
uma das plantas do gênero Gossipium que glândulas pares; inflorescência em
produzem o algodão, e das quais a espécie espigas laxifloras; flores de 3-4 mm de
mais cultivada é o Gossipium herbaceum” diâmetro; estames alternadamente
(Ferreira, 1999: 96; sob algodoeiro) inclusos ou semiexsertos; fruto drupa,
muito pequena. Brasil equatorial
P. 23 (n. 15). Algodão-de-periquito – (Amazônia)”. Correa (p. 447) cita
Talvez seja alguma das espécies de terra também outra espécie, Buchenavia

196 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


ochroprumma, chamada “periquiteira-do- dispostas em fascículos racemosos; fruto
igapó”, caracterizada por “gemas drupa elítica. - Espontânea na região do
rubiginoso-tomentosas; folhas obverso- rio Negro, Amazônia. - A ‘fava’ (semente)
lanceoladas obtusas, atenuadas no fortemente aromática, é usada nas
pecíolo glanduloso, coriáceos na farmácias, tônica e estimulante. Usada na
maturidade, opacas nas duas faces, dispepsia, diarréia, leucorréia e contra o
pálidas na inferior; pedúnculos meteorismo. As sementes são usadas
ferrugíneo-pubescentes; fruto drupa. também como condimento [como já
Pará”. assinalado por Landi]. Fornece madeira
Quanto à Bixa arborea (Bixaceae), de cor amarelo-parda, boa para
conhecida também por “urucu-da- construção naval, marcenaria e carpintaria
mata” ou “urucurana-da-mata”, diz (densidade 0,63). - Sin.: louro-puxuri,
Corrêa (1984 (VI): 359): “Árvore de 10- pixurim, puxurim, puxuri”.
15 metros de altura e 20-30 cm de
diâmetro; folhas longo-pecioladas com P. 25 (n. 17). Giuá - Juá - Na escrita de
o limbo oval, base arredondada e ápice Landi, este nome mais parece ler “girà”
acuminado, glabra; panícula terminal que “giuà”, mas pela curta caracterização
tomentosa com o eixo de 3 mm de da planta, deve ser mesmo “giuà” (juá),
grossura e os ramos de 2-3,5 cm de e provavelmente a espécie Solanum
comprimento, bibracteolados no meio stramonifolium (= S. grandiflorum), da
com 1-2 flores, pedicelos com 1 cm de família das Solanáceas, a espécie mais
comprimento; cálice, corola e estames comum em Belém e arredores. Corrêa
semelhantes à B. orellana; ovário globoso, (1986 (III): 325-326, sob “fruta de
curto, acuminado, densamento coberto lôbo”), assim caracterizou esta espécie:
de escamas ocráceas, estilete de 18 mm “Arbusto lenhoso ou árvore pequena,
de comprimento; cápsula reniforme de até 5 m de altura, caule ereto e cilíndrico,
5,5 cm de largura e 3,5 cm de altura, inerme ou aculeado (principalmente na
rugosa, papilosa, com o ápice curtamente base), ramosíssimo, piloso-tomentoso
apiculado, loculícida e bivalva; sementes ou lanuginoso; acúleos grandes, retos ou
obovais”. curvos; ramos e fôhas aculeados; fôlhas
pecioladas, pecíolo crasso, de 5 cm,
Pp. 23-14 (n. 16). Puxiri – ou Pixurim. alternas, ovadas até ovado-elíticas,
“Árvore da família das lauráceas (Licaria ineqüiláteras na base, oblíquas, reviradas,
puchurymajor), da floresta pluvial, cujos até 20 cm de comprimento e 12 cm de
frutos contêm uma semente que encerra largura, sinuado-angulosas, às vêzes
2,5% de um óleo volátil rico em safrol e inteiras, fulvo-híspidas na página
eugenol, além de gorduras”. O fruto superior (pêlos estreliformes curtos e
dessa árvore é também chamado noz-do- rígidos), lanosas na página inferior e com
pará (Ferreira, 1999: 1581, sob pixurim). as nervuras primárias salientes; flores
Corrêa (1984 (V): 541; sob puchuri-grosso), curto-pediceladas, azuis, com corola
comenta: “Árvore, folhas opostas elíticas angulosa de 10 cm de diâmetro, dispostas
ou oval-oblongas, glabras. Flores em cimeiras racimosas escorpióides,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 197


simples ou bífidas, terminais ou extra- tomentosa. (...). - Amazônia. - Sin.:
foliáceas; cálice 5-partido com lacínias jurubeba-do-campo”. Apesar de este autor
lanceoladas; fruto baga globosa, amarela, não mencionar ser o fruto dests espécie
pêndula, lanuginosa, até 12 cm de comestível, diz Rodrigues (1989: 116, sob
diâmetro. - Os frutos, pelo seu grato “juá”), entretanto: “Tem frutos
aroma de maçã, pelo seu tamanho e pela pequenos, dispostos em cachos como
abundante polpa adocicada que contêm, as uvas, e são adocicados e comestíveis,
sempre interessam os sertanejos, cuja assemelhando-se um pouco ao camapu”.
opinião entretanto diverge, uns
considerando-os comestíveis e P. 25 (n. 18). Cebola-brava – Nome
inofensivos, quando bem maduros, aplicado a duas espécies da fam.
outros suspeitando-os nocivos e até Guttiferae: Clusia insignis e Clusia
venenosos. (...). - Amazonas até S. Paulo, grandiflora (Sampaio, 1934: 20). Corrêa
Minas Gerais e Goiás. - Sin.: fumo-bravo, (1984 (II): 170-171) comenta: “Clusia
jurubeba-grande, no Pará; Loreira, em Minas insignis, da familia das Guttiferaceas. –
Gerais”. Por outro lado, pode ser Planta epiphyta emquanto jovem, depois
também Solanum toxicarium, da mesma terrestre, munida de raízes adventicias,
família, que Corrêa (1986 (IV): 553, sob tornando-se finalmente arvore regular,
“juá”), assim descreve: “Arbusto com até 6 ms. de altura; folhas longo-
ramos mais ou menos crassos, pecioladas, grandes; flores muito
subflexuosos, cilíndricos, tomentosos e grandes, pedunculadas 2-3, aromaticas,
armados de acúleos ora uncinados, ora roseas ou brancas exteriormente e
retos e cônicos; fôlhas superiores vermelho-escuro interiormente; fructo
geminadas, oval-subcordiformes, capsula comestivel, identica na fórma á
lobadas, com lobos mais ou menos cebola commum e no tamanho e na côr
agudos, subtriangulares, tomentosas na a uma laranja. – Fornece madeira, decerto
página dorsal e escabras na página ventral; sem importancia, mas a qual, durante
pilosidade constituída de pêlos algum tempo, foi pelos Franceses
estrelados; nervuras primárias e vênulas considerada como ‘bois de Pacouri’, ou,
providas de acúleos longos, acerosos, melhor dizendo, como uma das especies
comprimidos e retos; pecíolo armado; que forneciam a madeira deste nome. O
cimeira escorpióide multiflora, succo, amarello-avermelhado e resinoso,
tomentosa, congesta, com pedúnculo que a planta exsuda, principalmente das
curto, opositifólio; cálice semigloboso, flores, passa por ter qualidades purgativas
dividido em 5 lobos curtos, arredondados e drasticas, servindo para compôr, com a
e apiculados; corola azul celeste, dividida ‘manteiga de cacáo’, um unguento
profundamente em 5 lacínios oval- vulnerario muito util para tratar as fendas
lanceolados, recurvados, tomentosos no ou rachas dos seios, virtude medicinal
dorso; antera oblongo-lanceolada, glabra; cujo conhecimento parece haver sido
filetes muito curtos; ovário híspido; transmittido pelos aborigenes aos
estilete glabescente; estigma subcapitado, caboclos. – As flores são muito bonitas
pubescente; fruto baga globosa, e a planta é bastante ornamental, sendo

198 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


por esta única razão cultivada nas estufas ou pretas, unicolores com exceção do hilo
da Europa; as raízes aereas nascem branco. Le Cointe (1947: 460-462)
entrelaçando-se na planta-supporte e também trata dessas várias espécies.
acabando por asphyxial-a - Tem a
variedade hoffmanseggiana (C. flava, C. P. 26 (n. 20). Cubio – “Arbusto da
hoffmanseggiana), de fructos mais crassos família das solanáceas (Solanum
(35 mm). Vegeta de preferencia em sessiliflorum), de cujo fruto se faz doce”
terrenos arenosos e permeaveis. – (Ferreira, 1999: 588). Corrêa (1984 (II),
Amazonia. Syn.: Apuí, Mata-pau (nome sob “cobio-do-pará”, diz: “Planta de
peculiar a varias especies da familia das ramos cylindricos, acinzentado-
Moraceas)”. Le Cointe (1947: 42) cita ferrugineos, tomentosos, inermes ou
também como sinônimos guapoí e cebola- armados de poucos aculeos; folhas curto-
grande-do-mato. pecioladas (peciolo cylindrico e aculeado),
subcordiformes, sinuado-angulosas, até
P. 26 (n. 19). Continhas – Landi refere- 24 cm de comprimento, ciliadas, inermes
se aqui às Leguminosas Papilionáceas do ou quase inermes, reticulado-nervadas,
gênero Ormosia, mais conhecidas como nervuras salientes na pagina inferior,
“tento’, de sementes muito duras e tomentoso-sericeas nas duas paginas,
grandes, geralmente de cores vivas, tendo ainda pêllos sedosos estrellados e
freqüentemente vermelhas e algumas radiados na pagina inferior, ferrugineas
vezes com manchas pretas, que servem emquanto jovens; flores sesseis, extra-
para marcação de jogos carteados e para foliaceas, de corolla tomentoso-sericea,
confecção de colares, rosários e outros dispostas em glomerulos de 3-4; ovario
adornos, no artesanato doméstico. hirsuto; fructo baga. – As folhas
Corrêa (1984 (VI): 218-223) cita, sob (segundo Caminhoá) e os fructos são
“tento”, as espécies Ormosia cuneata, O. comestiveis após cocção, tendo estes
getuliana, O. holoerythra, O. paraensis, O. emprego especial para conservas, doces e
santaremensis, O. stipularis, O. subsimplex e compotas. - Amazonia”. Ver também
O. trifoliolata. Sob “tento-preto” as Le Cointe (1947: 163).
espécies Ormosia excelsa e O. macrocalyx.
A espécie Pithecolobium trapezifolium, das Pp. 27-28 (n. 21). Sumaúma encarnada
Leguminosas-Mimosáceas, constitui o – Corrêa (1984 (VI): 157-158) registra três
“tento-azul”, também conhecido como espécies de Bombacáceas, chamadas
“contas-de-nossa-senhora” (Sampaio, “sumaúma” ou “sumaumeira” [Ver
1934: 23), e “lágrimas-de-nossa- também Le Cointe (1947: 440-441]:
senhora”. A Ormosia nitida é o “tento- 1. Sumaúma - Ceiba sumauma –
grande”, conhecido como “olho-de- “Grande árvore, até 33 m de altura, caule
onça”, “jandu”, “olho-de-cabra” ou fortemente aculeado; folhas digitadas,
“olho-de-pato” no Sul. O ‘tento-grande- com 5-8 folíolos oblongo-lanceolados,
da-várzea” é a espécie Ormosia amazonica. inteiros (serreados no ápice), glabros; flores
Finalmente, temos o “tento-preto”, amareladas, grandes, até 10 cm; fruto
Ormosiopsis flava, de sementes vermelhas cápsula oval-oblonga, escura, glabra,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 199


contendo as sementes envoltas em Pp. 28-31 (n. 22). Sumaúma branca –
abundante paina branca, sedosa e luzidia. Ver nota anterior.
– Habita a região do alto Amazonas. – A
paina é usada no enchimento de colchões, Pp. 31-34 (n. 23). Cacau – “Theobroma
almofadas e na preparação de feltro para cacao, Esterculiácea. Pequena árvore de
chapéus. As sementes são oleaginosas”. ramificação quincotômica, às vezes
2. Sumaumeira - Ceiba pentandra. formando mais de um tronco; no
“Árvore grande, com raízes tabulares ou interior da mata sombria forma um único
sapopemas, ramos verticilados e mais ou tronco, ereto, com ramificação no alto.
menos armados de acúleos fortes, Folhas alternas, simples, cartáceas,
solitários ou geminados; folhas longo- geralmente pendentes, oblongo-
pecioladas (até 28 cm), digitadas; folíolos obovadas ou elíptico-oblongas,
5-7, curto-peciolados ou oblongos, ligeiramente assimétricas; ápice atenuado-
inteiros ou serreados, glabros na parte cuspidado, base obtusa ou arredondada,
superior, pálidos na página inferior; flores pecíolo cerca de 1-3 cm de comprimento,
brancas, campanuladas, com pétalas de 3 espessado nas duas extremidades,
cm, fruto cápsula fusiforme, grande (até ner vuras secundárias filiformes.
30 cm de comprimento por 5 de Inflorescência nos ramos ou no tronco
diâmetro), amarelado-ferrugínea, com sobre pequenas dilatações nodulares.
filamentos sedosos, brancos ou Flores hermafroditas, completas,
pardacentos, envolvendo as sementes pentâmeras; cálice formado de 5 pétalas
(paina). – Brasil equatorial e Guianas”. oblongo-lanceoladas, desde brancacentas
3. Sumaumeira-da-terra-firme – até avermelhadas, ligeiramente unidas na
Bombax globosum. “Árvore pequena ou base, pétalas com a cógula avermelhada e
média, inerme; folhas digitadas, 3-5 limbo branco-amarelado, obovado,
folíolos sésseis ou curto-peciolados, acuminado no ápice, com a base
lanceolado-ovais ou obovais-oblongos; unguiculada; estaminóidios subulados,
flores numerosas, pequenas, com pétalas estames com duas anteras em filetes
pubescentes; fruto cápsula de 4 cm de recurvados; ovário subpentagonal com
diâmetro, globosa, glabra, luzidia, 5 estiletes aderentes. Fruto drupáceo ou
amarelo-ferrugínea, contendo abundante subacáceo, pericarpo (casca) carnoso-
paina amarela. – Habita na terra firme da consistente, variando na forma, tamanho
região amazônica, em campos cerrados e cor, podendo ser anguloso e elipsóideo
ou em mata baixa com solo arenoso. – (...), ou grandes e arroxeados (...); as
Madeira branca e mole. A paina que sementes, de cor roxa, e em número de
envolve as sementes (filamentos muito 20-40, têm forma quase arredondada e
curtos) é de cor avermelhada e ótima para dispõem-se em 5 fileiras, sendo algo
enchimento de colchões e travesseiros.” achatadas pela compressão mútua
Esta última deve ser a “sumaúma vertical; a testa é recoberta por uma polpa
encarnada” de Landi, sendo sua escassa, branca e adocicada e encerra o
“sumaúma branca” provavelmente a embrião, composto de dois cotilédones
segunda espécie vista acima. plicado-enrugados. (...). O cacau é usado

200 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


pelas classes populares como simples [p.126], ingá-cururu [pp. 126, 127], ingá-
‘fruta’, consumindo a polpa in natura de-fogo [p. 128], ingapéua [pp. 128-129],
ou em forma de refresco, licor, ou ainda ingá-turi [p. 129] e ingá-xixica [p. 131]).
preparando, das sementes, e por Ver também Le Cointe (1947: 219-220).
processos rudimentares um chocolate
caseiro”. (Cavalcante, 1988: 62-63). P. 36 (n. 25). Jalapa – “Designação
comum a diversas espécies das famílias
P. 32 (segunda linha) - “Buragine” - em das convolvuláceas e das apocináceas,
italiano moderno “borrana” ou cujas partes aéreas são trepadeiras, tendo
“borraggine”, Borago officinalis. “Qualquer as flores vistosas e coloridas, e com
espécie desse gênero [Borago]. Como, p. tubérculos subterrâneos tidos
ex., a Borago officinalis, nativa da região popularmente como purgativos”
mediterrânea, subespontânea no Brasil, e (Ferreira, 1999: 1152).
cultivada na Europa e América do Norte,
por vezes us. na alimentação como Pp. 36-37 (n. 26). Fava-de-impigem –
verdura, pois tem sabor semelhante ao “Árvore regular e ornamental, da família
do pepino, e tb. us. como medicinal. Tem das Leguminosas (Vatairea guianensis),
flores e frutos insignificantes” (Ferreira, dotada de flores hermafroditas, roxo-
1999: 320, sob borago). azuladas ou róseas, dispostas em grandes
panículas, e cujo fruto é vagem suberosa,
Pp. 34-35 (n. 24). Ingá – “Legumisosa contendo sementes aromáticas. Fornece
Mimosóidea. O gênero Inga é atualmente madeira de cerne amarelo-pardacento, com
representado na Amazônia brasileira por estrias mais claras, de apreciável resistência
aproximadamente 180 espécies e deste à umidade. Var.: fava-de-impingem. Sin.:
número só um pequeno grupo de 4-5 andirá-da-várzea, faveira-amarela, fava-de-
espécies tem expressão como fruta bolacha, lombrigueira, faveira-de impigem”
comestível, cabendo, indiscutivelmente, (Ferreira, 1999: 884). Segundo Le Cointe
o primeiro lugar pela sua maior (1947: 193; sob faveira-de-empigem), por
popularidade, ao ingá-cipó (Inga edulis), incisão da casca obtém-se uma goma
numa forma já melhorada pela cultura. vermelha-escura, pouco solúvel nágua,
O segundo lugar, sem dúvida, pertence adocicada e adstringente; as sementes,
ao Ingá-açu (Inga cinnamomea), seguido piladas com banha, ou vinagre,
das outras espécies aqui descritas. Um constituem uma pomada usada para curar
segundo grupo de ingás é constituído empingens; o suco acre do fruto emprega-
por espécies cujo conteúdo comestível é se contra as efélides (sardas).
escasso e pouco atrativo mas não
desprezado, especialmente pelas crianças; Pp. 37-39 (n. 27). Cuia – Cabaça ou
são os ingás xixica, de macaco, ingaí, etc., porongo (do quíchua porongo, ‘vaso de
valorizados como frutas de sobrevivência” barro com o gargalo estreito e comprido’,
(Cavalcante, 1988: 124; consulte-se pelo esp. plat. porongo). Landi refere-se à
também, neste mesmo autor: ingá-açu [p. Cabaça ou cabaço, coité, cuieté, cuietê ou
124], ingá-cipó [pp. 125-126], ingá-costela cuité, nomes aplicados à “cuia”, o fruto

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 201


da cuieira, árvore baixa, da família das faca sobreposta ao risco, ou atando ao
bignoniáceas (Crescentia cujete), de caule comprido um cordão que determine as
tortuoso, flores solitárias, grandes, metades, e batendo-o também com o
esverdeadas ou amarelo-pálidas, com martelo, até internar-se pelo casco. Este
estrias roxas, a qual fornece madeira último método tem o defeito de o
castanho-amarelada, dura e forte, própria quebrar muitas vezes: por esta razão,
para marcenaria, e cujo fruto, baga, é preferem qualquer dos dois primeiros.
usado como vasilhas, cuias e Divididas as metades, no miolo de cada
instrumentos musicais (Ferreira, 1999: uma delas se faz com a ponta da faca
590, sob cuieira). Sua utilização na uma cruz, e assim raspando-a em roda,
confecção de recipientes para vários usos o separam do casco. Com a mesma faca
é uma tradição herdada dos indígenas, ou com o sepilho se aplanam os lábios e
de origem imemorial. Depois de Landi, com outra faca de ponta curva se
Alexandre Rodrigues Ferreira faria um desbasta a porção do miolo, mais
registro valioso sobre as cuias que faziam arraigada ao casco, donde ainda procede
as índias de Monte Alegre e de Santarém, alguma notável desigualdade de
dizendo: “A matéria de que as índias superfície interior, até que ela fique bem
fazem as cuias é o fruto da árvore que levigada. Enchuga-se ao sol, pelo espaço
elas chamam cuiainha e o portugueses de um dia no verão e pelo de dois no
cuieira. A cuieira quase todo o ano dá inverno. Então é que passam a preparar
fruto; gasta dois meses para amadurcer, a casca exterior” (1974: 36). A descrição
que é quando o recolhem. O sinal de que prossegue até a pintura das cuias com
está madura é quando batido o fundo cumatê, um verniz preto de origem
com as costas de uma faca, ele tine; isto é, vegetal, que adquire maior fixação e
como a casca adquire, pela madurez, uma brilho graças ao vapor alcalino da urina
consistência lenhosa, produz aquele som. salpicada na terra, onde as cuias são
Daqui vem que nas cuieiras se observam colocadas por algumas horas.
muitas vezes os frutos com alguns regos Em seu romance autobiográfico A
cicatrizados na casca mais exterior, Selva, o escritor Ferreira de Castro (1962:
procedidos das tentativas práticas que lhe 60) também falou sobre as cuias de
fizeram. Uma boa cuieira chega a dar por Santarém: “Moleques e adultos, negros
ano 120 até 130 frutos, que vem a ser 260 e caboclos, invadiram o navio, em ruidosa
cuias, partindo cada fruto em duas venda de frutaria e de cuias de todos os
metades”. Mais adiante, continua o tamanhos e feitios. Exposta no conveses
autor: “Tirado o fruto da árvore trata-se a novidade, ou então oferecida lá de
de o dividir ao comprido em duas baixo, das canoas, travaram-se fortes
metades, o mais que a olho se pode regateios, porque os índios, como os
dividir. De três modos o dividem; ou judeus, pediam vinte por aquilo que só
serrando-o com uma pequena serra, que valia dez. As cuias, mais que as
para isto têm de propósito, ou dando- guloseimas, prendiam a atenção de
lhe primeiro um risco com a ponta de Alberto. Já as conhecia de Belém, célebres
uma faca, e com um martelo batendo a por darem frescura e fino sabor à água

202 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


que por elas se sorvia, mas nunca as vira continuam sendo usadas também como
em tanta fantasia e variedade. Fruto vasilhas de uso comum em casa, embora
grande e redondo, de muitos quilos, às já com as limitações apontadas
vezes os nativos serravam-no ao meio, anteriormente. Por outro lado, as cuias
extraíam-lhe a polpa inútil e das duas como peça de artesanato, que, como já
metades da casca, submetidas a vimos, sempre tiveram importância,
tratamento e tingidas de negro, faziam continuam ainda sendo utilizadas como
aqueles primores locais. Por fora, mãos tais. Podemos mesmo afirmar que nesse
pacientes abriam, a branco sobre o fundo aspecto seu uso tem crescido nas últimas
preto, caprichosos arabescos, uns falando décadas, devido à maior comunicação da
de primitivas ingenuidades, outros Região Amazônica com o resto do País e
impondo-se já por uma intenção de arte. o maior incremento do turismo na
Havia também as que não tinham sido região. Santarém, além de seu papel de
serradas: cavara-se os frutos apenas dos importante entreposto comercial no
lados, na parte superior fazendo alça baixo e médio Amazonas, possui uma
garrida a cesto original”. infra-estrutura de serviços considerável.
Antônio Maria de Souza Santos As cuias de Santarém mantêm um
(1982: 29-33) tratou extensamente do destaque especial pela sua longa tradição
assunto, em pesquisa realizada em artesanal, como já foi frisado
Aritapera (Santarém, PA): anteriormente. A partir dos frutos da
“As cenas descritas por Castro cuieiras - baldes - se preparam, além das
ainda se repetem em nossos dias. Na cuias propriamente ditas, também:
beira do cais em Santarém, onde é floreiras, porta-jóias, bolsas, maracás,
intenso o movimento de embarcações, gargantilhas e outros adonos. Estes
há sempre venda de cuias, que também trabalhos se fazem em vários outros
são encontradas nas lojas de artesanato locais do Município, porém as cuias de
da cidade. Quando aportam navios de Aritapera já possuem uma marca de fama
passageiros, os vendedores de cuias se pela qualidade do material e pelo esmero
dirigem para bordo oferecendo tais da preparação. Em Aritapera sempre se
objetos que, nessas circunstâncias, são trabalhou com cuias. Senhoras idosas o
denominadas cuias de carregação. (...). atestam, pois desde a idade infantil já
Devido à larga utilização dos objetos conheciam tal atividade. Todas as pessoas
domésticos de fabricação industrial, o uso de idade avançada por nós entrevistadas,
de cuias se reduziu, como vasilha tanto na cidade de Santarém como em
doméstica, principalmente nos centros Aritapera, foram unânimes em afirmar
urbanos, porém a arte culinária que o uso de cuias é antigo em Santarém.
amazônica e principalmente a paraense O artesanato de cuias em Aritapera é
torna ainda obrigatório o uso de cuias praticado em quase todas as casas e é um
para algumas iguarias regionais, de modo trabalho exclusivamente feminino.
especial o tacacá e, até certo ponto, o açaí Normalmente cada família tem sua
e os mingaus das festas juninas. Nas zonas própria plantação de cuias, variando o
rurais, além dessas circunstâncias, as cuias número de cuieiras entre 5 e 25, embora

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 203


tenhamos encontrado uma casa em cujo adotadas no local. O cumatê é preparado e
quintal havia 46 cuieiras. O modo de aplicado do seguinte modo. As cascas
preparar, segundo os moldes da tradição ficam de molho durante 2 a 5 dias.
indígena, ocorre da seguinte maneira. Amassa-se com as mãos; retira-se o
Corta-se o balde da cuia conforme o que bagaço, ficando apenas o líquido de cor
se pretende fazer: cuias propriamente vermelho-escuro pendendo para o negro.
ditas, porta-jóias, floreiras etc. Retira-se a O cumatê é então aplicado nas cuias, com
massa que se encontra em seu interior, a pena de galinha, repetindo-se a aplicação
que chamam de bucho. Ferve-se para que várias vezes, até a cuia ficar bem negra.
as cuias fiquem mais maleáveis, Para fixar satisfatoriamente a tinta, salpica-
possibilitando que sejam melhor se urina (de pessoas) no chão ou, numa
trabalhadas. Raspa-se bem o que tiver cama com terra (pequena maromba), no
ficado dentro delas, e então coloca-se de período da enchente, e derixa-se as cuias
molho durante 5 a 8 dias. Depois de durante uma noite sobre a terra. Este
retiradas da água, espera-se que sequem processo contribui também para melhor
a contento, o que no verão ocorre lustrá-las. Uma vez tingidas, as cuias são
rapidamente; já na época do inverno, decoradas a canivete, utilizando-se em
pode durar até um dia. Depois de secas, alguns casos um compasso. As
devem ser alisadas; para isso utilizam-se decorações são à base de incisões rasas e
a língua e a escama de pirarucu, que antes raspagens, formando motivos
de serem usadas devem passar três dias predominantemente de frutas e flores,
expostas ao sol. Usa-se também para que depois serão cobertos com tintas
raspar as cuias a folha de embaúba coloridas, tarefa feita já na cidade de
(Cecropia sp.), à guisa de lixa. Às cuias Santarém, onde artesãos também
raspadas apenas chamam de cuia pitinga e pintam paisagens sobre cuias que são
podem ser usadas para alguns serviços adquiridas sem os referidos rascunhos.
domésticos. Uma vez raspadas, tinge-se Há uma família muito conhecida na
então com cumatê, uma tinta preparada cidade que se dedica inteiramente a essa
com a casca de uma árvore: achuá atividade. Essa divisão de trabalho se
(Saccoglotis guyanensis Bth.) [família das explica em parte pela própria natureza
Humiriáceas; “arbusto ou arvore regular, das atividades. Os desenhos a canivete
até 13 m de altura; folhas pecioladas, fazem parte da mesma linha de tarefas
ovadas ou elliptico-oblongas, até 13 cm de preparação das cuias; ao passo que as
de comprimento; flores amarellas pinturas coloridas e a aplicação de
dispostas em corymbos lateraes. - adereços já estão numa outra ordem de
Fornece madeira; é planta considerada atividades. Além do mais, essa divisão
anti-rheumatica e util contra a gotta de trabalho deve ser conveniente para
articular. Amazonas até ao Maranhão e ambas as partes, uma vez que
Goyaz. - Sin.: uachuá, cumatê” (Corrêa, tradicionalmente sempre ocorreu assim.
1984(I): 26)]; essas cascas são adquiridas O trabalho das cuias em Aritapera se
da terra firme, podendo ser compradas em desenvolve diariamente e ao longo de
feixes com quantidades convencionalmente todo o ano. Uma média de 600 dúzias

204 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


de cuias são preparadas mensalmente na O cumati (grafado por Landi
comunidade, segundo levantamento por como “gumati”), o verniz negro que serve
nós realizado durante os anos de 1977 a para pintar as cuias, pode ser extraído de
1978. As tarefas de preparação das cuias várias plantas. Além do achuá (citado por
podem ser feitas a qualquer hora do dia, Silva no texto acima), pode ser obtido
principalmente as decorações a canivete, também dos seguintes vegetais:
realizadas com extrema habilidade e a 1. Myrcia atramentifera, da família das
qualquer momento, mesmo durante Mirtáceas, que, segundo Corrêa (1984(II):
uma conversa. Algumas vezes, quando 478), é “Arvore pequena, até 5 m de altura;
há muitas encomendas de cuias, as ramos cylindricos, acinzentados; folhas
mulheres dedicam um espaço de tempo curto-pecioladas, oblongas, lineares,
maior a essa atividade. Em alguns casos, acuminadas, até 11 cm de comprimento e
as crianças participam executando tarefas 5 cm de largura, vermelhas emquanto
leves. Na época da enchente, as atividades jovens, coriaceas, reticulado-nervadas,
se limitam um pouco, pelas dificuldades pellucido-punctuadas; paniculas erectas,
de espaço adequado, porém a produção axillares e subterminaes, pyramidaes,
não chega a ser afetada significativamente. denso-ramosas, do comprimento das
As mulheres desenvolvem tais atividades folhas maiores; flores de 5 sepalas e 5
no âmbito de sua unidade doméstica, petalas; ovario 4-ovulado, densamente
mas há também alguns casos de trabalho pellucido; fructo baga. - Fornece madeira
em sociedade, isto é, quando mulheres de cerne escuro, rija, propria para
de duas ou mais unidades domésticas construcção civil, marcenaria e carpintaria;
dividem tarefas entre si, repartindo a a casca, rica em tanino, após maceração
produção de acordo com a combinação da serve para calafetar ambarcações e endurecer
parceria. Estes casos são ensejados as linhas de pesca; della se extrahe materia
principalmente quando uma das partes tintorial roxa que, devidamente tratada,
não possui cuieiras em seu terreno. As torna-se preta, servindo para tingir roupas
cuias são vendidas em dúzias. Há na Vila e pintar cuias, remos e outros utensilios
algumas pessoas que negociam com de uso domestico; convém igualmente
cuias, ou seja, compram as mesmas em para mordente quando se pretende dar
certa quantidade e levam para Santarém, quaesquer côres aos mesmos objectos. É
onde também existem pessoas que tambem considerada preservadora do
transacionam com tais artigos. Em caruncho. - Amazônia. - Sin.: araçá-do-
muitos casos, a própria pessoa que campo, cumatê”.
trabalha com as cuias leva-as a Santarém 2. Pariri (Arrabidea chica,
para a comercialização. Ali, uma vez Bignoniáceas), do qual já tratamos na
completada a pintura, serão vendidas nas nota às pp. 19-20 (sob carajuru).
lojas de artigos regionais da idade e por 3. Swartzia polyphylla (Leguminosas
vendedores ambulantes. Há também - Cesalpinioídeas) - a “pitaíca” ou “pitaíca-
remessas para outras praças, como da-terra-firme”, descrita por Corrêa
Belém, Manaus, Macapá e cidades de (1984(V): 508) como segue:”Árvore de
outros Estados brasileiros”. 3-40 m de altura; pecíolo de 15-60 mm

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 205


de comprimento, cilíndrico, com pêlos Madeira muita dura. - Sin.: maracutaca,
malpiguiáceos, caducos; raque paracutaca, paracutaca-da-terra-firme,
pubescente de 5,5-26 cm de pracuíba, tachi-pequeno”.
comprimento; folhas com 2-7 pares de
folíolos, peciólulos de 2-11 mm de Pp. 39-40 (n. 28). Seringa ou
comprimento, caudiculados, com pêlos Seringueira – “Árvore da família das
malpiguiáceos, caducos, limbo de 4,5- euforbiáceas (Hevea brasiliensis), de folhas
15,5 cm de comprimento e 1-7 cm de compostas, flores pequeninas, reunidas
largura, elítico, oval ou lanceolado-elíticos em amplas panículas, fruto que é uma
de base aguda, arredondada ou obtusa, grande cápsula com sementes ricas em
ápice acuminado, glabro; inflorescência óleo, e madeira branca e leve, de cujo látex
racemosa, ramígera, às vezes axilares de se fabrica a borracha. Sin.: árvore-da-
4-25 cm de comprimento, com os ramos borracha” (Ferreira, 1999: 1843, sob
com pêlos malpiguiáceos, brácteas seringueira).
caducas ou persistentes, triangulares;
bractéolas lanceoladas ou ovais; pedicelo Pp. 41-42 (n. 29). Mamorana – “Pachira
de 4-12 mm de comprimento, botão aquatica, Bombacácea. Árvore pequena,
glanduloso ou subgloboso de 5-9 mm de 4-8 m de altura, às vezes com o tronco
de comprimento e 6-8 mm de diâmetro, baixo, inclinado ou tortuoso, casca
lacínios do cálice 4-5 em geral, verrucoso; espessa, levemente rimosa, mole, com
pétalas brancas, glabras, unhas de 3,5-8 um cheiro muito característico. Folhas
mm de comprimento, limbo composto-palmadas agrupadas na
arredondado, truncado ou cordado na extremidade dos râmulos, com 4-6
base, de 9-25 mm de comprimento e folíolos elíptico-lanceolados, pecíolo
10,5-30 mm de largura; 2-5 estames comum 8-24 cm de comprimento,
grandes, glabros, com filetes 15-25 mm fortemente dilatado na base, geralmente
de comprimento e anteras ovais ou inserido perpendicularmente ao ramo.
oblongas de 1-2 mm de comprimento Flores grandes, vistosas, isoladas na
com pólen globoso; os outros estames extremidade dos ramos; cálice inteiro,
menores glabros com filetes 7-15 mm tubular, verde-castanho; corola com 5
de comprimento e anteras quadradas ou pétalas livres, amarelo-creme ou
ovais de 0,6-1,5 mm de comprimento e esverdeadas, em forma de fitas estreitas
pólen elítico; ovário glabro, ou raramente e longas, de 25-30 cm de comprimento,
com pêlos; estigma truncado ou capitado; fortemente reflexo-curvadas na antese;
ginóforo de 6,5-14 mm de comprimento; estames cerca de 180 a 260, concrescidos
fruto glabro, cilíndrico, oval ou suboval, na parte inferior formando um tubo
de 6,5-12 cm de comprimento e 4-5 cm espesso, depois agrupados em feixes de
de largura com 1-2 sementes; sementes várias ordens de grandeza numérica, os
mais ou menos reniformes, de 25-70 mm últimos feixes com apenas dois estames;
de comprimento. - Ocorre nas matas filetes brancacentos na metade inferior e
virgens de terra firme das ilhas de Breves, purpúreos na parte restante; anteras
de Gurupá e do médio Tapajós. - vermiculiformes, atropurpúreas; ovário

206 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


cônico, 5 mm de altura, com 5 lóbulos algumas vezes ultrapassando os 5
multiovulados; estilete 23-25 cm de metros, na base, segundo Le Cointe
comprimento, espessado e brancacento (Ducke, 1925: 135), com enorme copa
na metade basal, delgado e purpúreo na ocasionalmente emergente. Folhas
metade superior, estigma com 5 ramos. alternas trifoliadas, pecíolo 5-15 cm de
Fruto uma volumosa cápsula oblongo- comprimento, folíolos largamente
elipsóidea de 20-30 cm de comprimento, elípticos, 8-20 cm de comprimento, 5-12
e 10-12 cm de diâmetro, pesando 1000- cm de largura, os dois laterais geralmente
1500 g quando madura, externamente menores e ligeiramente assimétricos, face
castanho-ferrugínea; sementes, 10-25, inferior vilosa, base subarredondada e
volumosas e de forma irregular, ápice acuminado, margens serradas ou
constituídas de duas espessas folhas crenadas, nervação bem evidente.
cotiledonares compactadamente plicadas, Inflorescência corimbosa com uma raque
brancas e de consistência semelhante à até 20 cm, sustentando cerca de 20 flores
da batata (Solanum tuberosum). (...). A pediceladas, pedicelos de 2-4 cm; cálice
parte comestível da mamorana são as largo-campanulado, 1,5 cm de altura,
sementes que, cozidas, têm sabor com 5 lobos arredondados; corola
agradável, semelhante ao da castanha amarelada, pétalas 5, oblongas, 2,5 cm
européia (Castanea sativa). Mesmo assim, de comprimento, estames numerosos,
são pouco consumidos pelos habitantes amarelos; ovário com 4 lóculos e 4
da região. Quando o fruto amadurece estiletes. Fruto drupáceo, de formato
abre-se espontaneamente, libertando as variável em função do número de
sementes, em condição de consumo, sementes, que pode ser de 1-3, raro 4;
cozidas com sal, assadas ou fritas em óleo. com uma semente, globoso; com duas,
Le Cointe (1947) informa que as oblongo-transverso; com três subtriangular;
amêndoas assadas sobre brasas são boas com quatro, subquadrangular; o tipo mais
de comer, principalmente quando ainda freqüente é o globoso, com uma semente;
verdes, e delas extrai-se 58% de gordura epicarpo (casca) espesso-carnoso, com a
branca, inodora, de boa qualidade para superfície pardo-cinzenta, multilenticulosa,
usos domésticos. A planta propaga-se destacando-se facilmente do caroço;
por sementes, as quais germinam em mesocarpo pastoso, oleoso, amarelado,
cerca de 8 dias crescendo com rapidez no com a camada mais interna endurecida,
início, atingindo 60 cm em 15 dias. soldando os numerosos espinhos do
Floresce e frutifica durante o ano inteiro, endocarpo; sementes brancas, oleosas,
com mais freqüência no fim da estação formando com o endocarpo e espinhos
seca e início da chuvosa” (Cavalcante, um corpo sub-reniforme, duro, mais
1993: 151-153). conhecido como ‘caroço’. (...). O piquiá é
muito, e mais apreciado pelas classes
Pp. 42-43 (n. 30). Piquiá – “Caryocar populares, que se deliciam com o sabor e
villosum, Cariocarácea. Grande árvore da cheiro incomum de sua polpa, comestível
floresta primária, atingindo 40-50 metros depois de cozida. Separados da casca, os
de altura, tronco até 2,5 m de diâmetro, caroços (e sua polpa) são levados ao fogo

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 207


juntamente com o feijão cozido ou o da antese. [...] uma inflorescência tem
arroz; a polpa é consumida pura ou com sucessivos desabrochamentos que podem
farinha, que pode ser acompanhada de se estender por um mês e mais e cada
café, ou ainda, com o arroz no qual foi desabrochamento poderá ser de flores
cozida. A maioria das pessoas costuma femininas ou de flores masculinas. As
roer diretamente o caroço, o que deverá flores são pequenas, zigomorfas e
ser feito com cautela a fim de não atingir brancacentas, cálice com 5 sépalas de
os finos e rígidos espinhos recobertos tamanhos diferentes e corola geralmente
pelo mesocarpo” (Cavalcante, 1993: 191- com 5 pétalas, munidas de escamas
192). Ver também Le Cointe (1947: 404). internas em forma de crista; estames 8,
raramente 9, pilosos, em três tamanhos
31. Guaraná – [Pp. 43-45]. Parte deste distintos; ovário trilocular com um
texto de Landi, com erros de transcrição, semidisco glanduloso na base. Fruto,
aparece em Sousa (1999: 262). uma cápsula septicida, estipitada, cerca de
Guaraná: “Paulinia cupana, 2-2,5 cm de diâmetro, de cor vermelho-
Sapindácea. Arbusto escandente ou cipó alaranjada quando madura, ocasião em
lenhoso. Em cultura a céu aberto, com que se abre parcialmente, deixando
um tutor, tem porte reduzido, enquanto aparecer uma ou duas, raro três sementes;
no estado espontâneo na mata, cresce estas são de cor negro-brilhosas ou
como um cipó vigoroso até alcançar o levemente esverdeadas, com a metade
extrato superior. Ramificações mais finas inferior recoberta por um arilo branco,
com sulcos longitudinais, escorrendo tomando a aparência de um olho
um látex branco ao corte; gavinhas humano. Um cacho com 30 cm de
formadas na axila das folhas, geralmente comprimento pode conter até 115 frutos
bifurcadas. Folhas alternas compostas de e 150 sementes. (...). O processo
5 folíolos, dois pares e um ímpar, tradicional de beneficiamento do guaraná
terminal, pecíolo comum 15-18 cm de é aquele legado pelos Maués, ainda hoje
comprimento; folíolos subsésseis, limbo em uso, se bem que mais aperfeiçoado.
coriáceo largo, elíptico, 15-26 cm de Tem sido freqüentemente descrito e por
comprimento e 12-19 cm de largura, base isso é aqui apresentado em linhas bem
assimétrica, arredondada ou subcordada, gerais. Após a colheita dos frutos as
ápice curtamente acuminado. sementes são separadas da casca e
Inflorescência em rácemos de 6-15 cm de deixadas em repouso até a fermentação
comprimento, axilares ou nas gavinhas. do arilo, o que facilita a sua remoção. A
[...] a inflorescência é composta de seguir são torradas em forno de chapa e
flores masculinas e femininas removido o tegumento da amêndoa.
(pseudohermafroditas). As femininas Este é o produto vendido no comércio,
tem estames aparentemente normais, conhecido como guaraná em rama. Para
mas as anteras não se abrem, e as confecção dos bastões, as sementes são
masculinas possuem ovário rudimentar socadas em pilão com um pouco d’água,
com óvulos, porém os estiletes e estigmas, até formar uma pasta consistente.
pouco desenvolvidos, caem logo depois Moldados os bastões (com cerca de 15

208 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


cm) são estes levados a um secador de muito chata, coriacea, luzidia. - Fornece
fogo brando (braseiro) por um dia e daí madeira amarello-clara com veios quasi
para o fumeiro, onde fica cerca de 30 dias, pretos e póros longitudinaes muito
quando estão prontos para o comércio. visiveis, duravel, propria para construcção
Com uma pasta refinada do guaraná o civil, esteios, marcenaria, etc., recebendo
artesão costuma moldar certas figuras em bem o verniz; peso especifico 1,088. As
forma de animais ou objetos, geralmente folhas, casca e raiz são febrifugas, tonicas e
daqueles que são mais familiares ao seu excitantes, de grande proveito no
ambiente – peixes, macacos, quelônios, tratamento das febres terçãs, bem como
canoas, etc. Estas figuras são para lavar feridas e ulceras. - É arvore muito
tradicionalmente encontradas no commum nas varzeas humidas do
comércio especializado de artigos Amazonas (...). Quando em flor torna-se
regionais. Antigamente, quando não altamente ornamental. Sin.: acapu-do-igapó,
existia a indústria de refrigerantes, a caacapoc dos aborígenes; manaiara, no Pará”
bebida do guaraná, muito difundida, era (Corrêa, 1984(I): 24). Le Cointe (1947: 152)
preparada de modo bastante simples: cita também como sinônimos acapurana-
guaraná ralado mais água. O pó era comum, comandá-açu, cumandá-capoerana e
obtido a partir de bolas ou bastões, acapurana-vermelha; diz que “a infusão
ralados em pedras ou em língua de concentrada do fruto adicionada a sal e
pirarucu (extremidade do osso hióide vinagre é aplicada sobre as empigens para
desse peixe – Arapaima gigas). Ao que curá-las radicalmente” e que a infusão da
parece, essa tradição ainda não casca é usada contra as feridas.
desapareceu, se bem que muitas pessoas
preferem usar, no lugar da língua do P. 46 (n. 33). “Aquittí” – [P.46]. Não
pirarucu, um instrumento metálico identificada.
conhecido como ‘grosa’. Atualmente o
guaraná é comum no comércio, vendido Pp. 46-47 (n. 34-35). Anônimas – .
na forma de xarope ou de pó, Impossível de identificar.
acondicionado em pequenas latas”
(Cavalcante, 1993: 114-118). Ver também P. 47 (n. 36). Palma, che uidi nata
Le Cointe (1947: 211). nell’acqua – Podemos especular que
Landi trate de um exemplar jovem de
P. 45 (n. 32). Cumandá-açu – ou muriti ou buriti, Mauritia flexuosa, da
Acapurana. Campsiandra laurifolia, da família fam. das Arecáceas. Desta palmeira, diz
das Leguminosas-Cesalpinioídeas. Cavalcante (1988: 168-171); “Palmeira
“Árvore pequena; casca verde; folhas robusta, solitária, uma das maiores da
imparipinnadas, compostas de 9-13 região amazônica, de tronco reto,
foliolos oblongo-ellipticos, curto- cilíndrico, de 30 a 60 cm de diâmetro, às
acuminados, membranosos; flores vezes com um leve engrossamento na
brancas e roseas, curto-pedicelladas, região média, comumente atingindo
numerosas, dispostas em grandes alturas de 20 a 25 metros, podendo chegar
paniculas corymbosas; fructo vagem aos 35 metros ou, ocasionalmente, aos

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 209


50 m nos indivíduos decrépitos, quando onde freqüentemente é encontrado em
então o tronco parece mais fino. O estipe grandes concentrações, com parte do
sustenta, no ápice, um capitel de cerca de tronco imerso na água por longos
20 folhas grandes, flabelado-palmadas períodos, sem que isso lhes cause danos.
com aproximadamente 100 segmentos, É portanto provável que a água concorra
pêndulos nas extremidades; pecíolo até 4 para maior dispersão dos frutos e daí as
m de comprimento, com uma volumosa extensas populações ou buritizais nas
bainha. Palmeira dióica ou polígamo- ilhas do estuário e baixo Tocantins. Na
dióica, isto é, há indivíduos com flores terra firme vegeta nas áreas descampadas,
masculinas e indivíduos com flores em pequenos grupos, ou dispersos. Em
femininas e hermafroditas. Inflorescência todos os seus aspectos o buriti parece
axilar, masculinas e femininas ser extraordinário, seja em populações,
semelhantes, volumosas, de 2,5 a 3 seja no porte ou na frutificação. O
metros de comprimento, pedúnculo cerca número de cachos frutíferos por
de 1 metro, com brácteas tubulares, raque indivíduos varia de 5 a 8. Observou-se
2 metros de comprimento com um buritizeiro cultivado no Horto
numerosos ramos providos de bractéolas Botânico do Museu Goeldi produzindo
tubulares de onde partem pequenos eixos 8 cachos de uma só vez. Contou-se, em
de 1 a 6 cm onde estão inseridas as flores. um dos cachos, 728 frutos, o que dá uma
O fruto é uma drupa oblongo-elipsóidea estimativa de 5700 frutos naquele
ou globosa, de 5 a 7 cm de comprimento, exemplar. Inúmeros produtos úteis do
epicarpo formado de escamas rombóides, burizeiro são aproveitados pelas
córneas, de cor castanho-avermelhada e populações ribeirinhas, na sua
lustrosas; mesocarpo (parte comestível) alimentração ou em outras necessidades
representado por uma camada espessa de diárias: bebida natural ou fermentada,
massa amarelada ou alaranjada; endocarpo óleo e doces dos frutos, fécula e um
esponjoso, semente muito dura com líquido potável e açúcar do estipe, sabão
endosperma homogêneo. Ao lado do açaí, caseiro, material para casas, etc. Do
o miriti é uma das palmeiras mais típicas mesocarpo prepara-se o ‘vinho de buriti’,
da região amazônica, de onde, sem e, para isso, os frutos são previamente
dúvida, é nativa. (...). Sua distribuição amolecidos em água morna, o que poderá
geográfica abrange toda a Amazônia e ser feito, também, abafando-os em folhas
norte da América do Sul e estende-se ao durante 3 a 43 dias, dando-se melhor
nordeste e centro-sul do Brasil, aí numa resultado em termos de sabor, segundo
forma agora considerada apenas uma algumas pessoas. É que esse
variedade ecológica, antes conhecida pelo amolecimento nada mais é do que um
nome de Mauritia vinifera, que os meio de acelerar o amadurecimento dos
modernos autores, estudiosos da família frutos, vistos os mesmos caírem da
das palmeiras, consideram apenas um planta ainda não bem sazonados. O
sinônimo de M. flexuosa. Quanto ao preparo e consumo do vinho é algo
habitat, o buriti parece preferir os semelhante ao do açaí. Da polpa prepara-
alagados, igapós, beira de rios e igarapés, se, também, o tradicional ‘doce de buriti’,

210 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


o qual já é exportado para outros estados. assada é comestível; o suco da raiz é usado
(...). Da polpa pode-se ainda obter óleo interna e externamente contra as
comestível e, como tal, empregado na mordeduras de cobras; o pó da raiz seca é
fritura de peixes. (...). Várias outras recomendado contra a asma, a clorose, a
utilidades, especialmente para o amenorréia e a coqueluche. Sob a
interiorano, tem ainda o buriti. As folhas designação de jararaca, Corrêa (1984(IV):
novas dão cordas resistentes, sendo 447-448) assim discorre sobre esta espécie:
tradicional o seu emprego nas sogas de “Herva tuberosa; fôlha com pecíolo de 3
tabaco. O pecíolo fornece material leve e m de comprimento e 4 cm de diâmatro,
mole usado na fabricação de rolhas e no com manchas largas e longas, esverdeadas,
artesanato regional, principalmente pardacentas e arroxeadas, provido na base
brinquedos, comercializados durante a de pequenas protuberâncias, reunidas em
festa da Padroeira do Pará. É referido que grupos, que se dispõem em longas séries
nos troncos imersos e apodrecidos alternadas; lâmina foliar tripartida, com 1
desenvolvem-se grandes larvas [sic; m de diâmetro; segmentos da fôlha
moluscos], conhecidas pelo nome de bipartidos e essas seções, por sua vez,
‘turu’, que são comidas cruas, tendo um irregularmente pinatipartidas; na axila dos
alto valor proteico. Não raro os troncos, restos das fôlhas mortas, ao redor do
facilmente flutuantes, são utilizados tubérculo, originam-se numerosos
como trapiches e pontes às margens dos bulbilhos com função de multiplicação
rios e igarapés. É lamentável que o buriti, vegetativa; pedúnculo com 10 cm ou mais
com tantas possibilidades econômicas, de comprimento, recoberto por catáfilos
continue ainda quase esquecido. Um lanceolados; espata com 10-25 cm de
manancial quase inesgotável de milhões comprimento, muito encurvada no ápice,
de butizeiros, especialmente na região das coriácea, extremamente castanho-
ilhas, é pobremente explotado pelo acinzentada, granuloso-áspera entre as
caboclo. (...). Os frutos podem ser nervuras, com a parte anterior apical muito
encontrados nas feiras de Belém de dilatada, cuculada, e na parte interna
janeiro a julho, algumas vezes a partir de atroviolácea; espádice com 4-5 cm de
novembro ou dezembro”. comprimento e 1,5-2 cm de diâmatro;
flôres hermafroditas, com perigônio de 5-
Pp. 48-57 (n. 37-58). Anônimos – 9 tépalas; tépalas unguiculado-espatuladas;
Impossível de identificar pelas descrições, estames de 6-9, com filetes dilatados e
ademais desacompanhadas das figuras. anteras deiscentes por meio de rima apical;
ovário 3-4 locular, com óvulos inseridos
Pp. 57-58 (n. 59). Tajá-de-cobra – Le na porção média dos lóculos; estilete maior
Cointe (1947: 448) cita o “tajá-de-cobra” que o ovário, purpúreo; estigma
como sendo a espécie Dracontium asperum, fimbriado, pequeno; baga turbinada, com
da família das Aráceas, também conhecido 12-15 mm de comprimento e 10 mm de
como jararaca, com haste de 0,50-2 m, com espessura, coriada pelo rudimento do
2-4 cm de diâmetro, manchada de preto e estilete, de 2 mm de comprimento;
de branco-esverdeado; a raiz tuberosa sementes reniformes, rugosas, com 7-8

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 211


mm de comprimento. - O tubérculo, do Pimenta-malagueta - “Espécie de
tamanho de uma maçã, e o pecíolo são pimenta muito ardida da família das
usados pelo povo como remédio para Solanáceas (Capsicum fructescens)” (Ferreira,
picada de cobra. São triturados com 1999: 1258).
cachaça, esprimidos, e o suco obtido é
tomado em determinados intervalos de P. 60 (n. 62-63). Anônimos – Não é
tempo. O resíduo ou também o suco possível identificá-las.
fresco de partes da planta são colocados
sôbre a ferida. O índio, porém, só mastiga P. 60 (sob n. 63) - Gagiuolo - de “gaggio”
o tubérculo e usa um envoltório do (?), Mimosa farnesiana.
tubérculo cozido. Peckolt, entretanto,
assinala que durante seus 20 anos de estada Pp. 60-61 (n. 64). Jacitara – “Designação
no interior do Brasil, só tratou de picada comum a várias espécies de palmeira do
de cobra em animais com essa planta e só gênero Desmoncus, ricas em acúleos
observou resultados incertos. O pó do pungentes e compridos, e de caule
tubérculo, em dose de 0,5 g de hora em delgado, alongado e escandente. Sin.:
hora, tem ação favorável nos casos de asma; urubamba” (Ferreira, 1999: 1150). Corrêa
em dose de 0,3 g 4 vêzes ao dia, combate a (1984(IV): 409-414) trata das diversas
amenorréia. O povo usa uma pitada dêsse espécies do gênero Desmoncus. Le Cointe
pó, 3 vêzes ao dia, para combater a (1947: 343-344) diz que é usada como
coqueluche. O suco do tubérculo é usado substituto da palhinha para cadeiras, para
para matar vermes nas feridas dos animais. fabricar pequenos cestos, e como
Friccionando-se os tubérculos êles exalam substituta do junco.
cheiro; o suco preparado da fécula tem ação
neutra e, a princípio, gôsto agradável, mas P. 61 (n. 65). Amoreira-brava – Não
depois torna-se desagradável, levemente identificada.
picante, produzindo sensação de paralisia
da língua, perda de paladar e apertura da Pp. 61-62 (n. 66). Anônimo – Não
glote. O suco tem alto teor de pectina, de identificável.
modo que, cozido com açúcar, forma geléia
que pode ser usada sem dano. O P. 62 (n. 67). Vrrapari – O único nome
cozimento da planta em banhos é que encontramos, que apresenta alguma
empregado na medicina popular no semelhança com o empregado por Landi,
tratamento da gôta. - Amazônica. - Sin.: é “arapari”, mas não podemos ter certeza
erva-jararaca, jararaca-taiá, jararaca-tajá, jarro- de que se trate da mesma espécie. Corrêa
manchado, milho-de-cobra, tajá-de-cobra”. (1984 (I): 145), sob “arapary”, diz:
“Macrolobium acaciaefolium, da familia das
P. 58 (n. 60). Anônima - Não identificável. Legumonosas-Caesalpiniaceas. - Arvore
grande; folhas compostas de foliolos 20-
P. 59 (n. 61). Pimentas – Designação jugos, linear-oblongos, luzidios na
comum a diversas espécies da fam. das pagina superior e pallidos na inferior;
Solanáceas, nativas da América. flores dispostas em racimos; fructo

212 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


vagem ovoide-orbicular, coriacea, de 6 cm Pp. 65-67 (n. 73-75). Maracujá - “Fruto
de comprimento. - Fornece madeira do maracujazeiro, planta da família das
branca, porosa, bastante leve, propria para Passifloráceas, de que há várias espécies”
construcção civil, obras internas, (Ferreira, 1999: 1281). Cavalcante (1988)
carpintaria e caixotaria. - É adstringente; descreve Passiflora edulis var. flavicarpa
suas flores são muito procuradas pelas (‘maracujá’, p. 158), Passiflora
borboletas panápaná (Captosilia statira quadrangularis (‘maracujá-açu’, p. 161) e
Cram. e Erema albula) e os fructos são Passiflora nitida (‘maracujá-suspiro’, p.
alimentares para as tartarugas. - Guyana 163). Ver também Le Cointe (1947: 288-
até ao Maranhão e Goyaz”. 290).

Pp. 62-63 (n. 68). Anônima – Não


identificável. (“Fim das descrições daquelas plantas
que estão desenhadas no livro.
Pp. 63-64 (n. 69). Anônima – Não Seguirão agora as outras vistas por
identificável. mim, e consideradas com alguma
atenção”).
P. 64 (n. 70-72 [71, 72, 73 no MS, erro]).
–Pacova-sororoca - “Planta
arborescente, da família das musáceas Pp. 68ss. A partir da p. 68 (onde trata do
(Phenacosperma guianense), mais conhecida Bacuri), Landi deixa de numerar as
como Ravenala guianensis, que vive na beira espécies tratadas. Continuamos a
dos riachos, dentro da mata, e tem numeração, a partir deste ponto,
enormes folhas dispostas em leque, incluindo o número, entretanto, entre
flores alvas que se reúnem em grandes colchetes.
inflorescências terminais, e sementes com
arilo vermelho-vivo. Muito ornamental, Pp. 68-69 (n. 76). Bacuri – “Platonia
cultiva-se em jardins, mas, por ser insignis, Gutífera. Árvore média até
monocárpica, morre depois de florescer” grande de 15 a 25 m de altura quando
(Ferreira, 1999: 1471). Le Cointe (1974: plenamente adulta, tronco reto, até 1 m
331) dá como sinônimos bananeira-de- de diâmetro, casca espessa, fissurada, às
leque e bananeira-brava, e comenta que esta vezes enegrecida, exsudando um látex
planta vive nos igapós de terra firme e amarelo, quando cortada; copa bicônica
nas beiradas de riachos na mata, com os galhos orientados numa posição
ocorrendo da ilha de Marajó até a entre 50-60º em relação ao tronco. Folhas
cordilheira dos Andes; as folhas dão opostas, simples, elípticas, subcoriáceas,
fibras e são boa matéria prima para a verde-brilhosas na face superior, 8-14 cm
fabricação de papel; as sementes, de comprimento com as margens
numerosas, de cor preta, lustrosas, com onduladas; nervuras laterais copiosas,
arilo vermelho luzidio, são, ainda delicadas, mais ou menos retas. Flores
segundo este autor, utilizadas pelos hermafroditas, grandes, cerca de 7 cm de
indígenas para fazer colares e pulseiras. altura, isoladas e nutantes, com 5 pétalas

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 213


róseas; estames numerosos, agrupados glabros; flores pequenas, amarellas e
em 5 feixes opostos às pétalas; ovário vermelhas, axillares; fructo capsula ovoide
com 5 lóculos uniovulados. O fruto é semi-globosa, lenhosa, pardacenta, 4-
uma baga volumosa, ovóidea ou valvar, contendo numero variavel de
subglobosa, de tamanho variável, até 15 sementes vermelhas, coriaceas e quasi
cm de diâmetro e peso máximo de 1 kg; lenhosas, convexas, angulosas ou
exocarpo (casca) de 1-2 cm de espessura, irregularmente tetraedricas, achatadas
rígido-coriáceo, quebradiço, de cor lateralmente. - Fornece madeira
amarela, amarelo-esverdeada até marrom, vermelho-acinzentada, escura, facil de
exsudando uma resina espessa e fender, pouco resistente às intemperies,
amarelada quando partido; sementes de porém inatacavel por insectos e propria
0-4, raro 5, oblongo-angulosas, de 5-6 para mastros, falcame e bancos de navios,
cm de comprimento; polpa branca, macia, construcção civil, marcenaria, carpintaria,
delicadamente fibroso-mucilaginososa, caixilhos e portas; peso especifico 0,728 a
fortemente aderida à semente, de cheiro 0,769. - A casca é adstringente e encerra o
e sabor muito agradáveis. Em toda a alcaloide ‘carapina’ (‘andirobina’), corpo
Amazônia a área de maior concentração branco-brilhante, amargoso e
do bacurizeiro é o estuário do grande crystalisavel, insoluvel na agua, bem como
rio, com ocorrência mais acentuada na 12% de tanino, um oleo essencial, um
região do Salgado e na ilha de Marajó. outro oleo fixo, etc., etc.; é anti-diarrheica,
(...). O bacuri é uma das frutas mais vermifuga, amarga, tonica e febrifuga,
populares no Pará, o maior produtor. succedanea da ‘quinina’ no combate às
Os frutos são variáveis não somente no febres palustres e util externamente
tamanho e cor do exocarpo, mas também como insectifuga e contra empingens,
ao nível de acidez. Alguns são bastante exanthemas e outras molestias da pelle,
doces, logo, preferidos para o consumo servindo tambem para cortume,
in natura. Há frutos bastante ácidos e, propriedades estas quasi em geral
tanto estes como aqueles, são reconhecidas ou atribuidas às folhas. -
empregados na fabricação de sorvete, As sementes, privadas das cascas,
suco, doce enlatado, pudins, etc., produzem 70% de oleo amargo e
altamente apreciados” (Cavalcante, 1988: concreto, amarello-escuro e muito
48-49). espesso, outr’ora conhecido como ‘azeite
de andiroba’ ou ‘yandiroba-jandy’,
Pp. 70-71 (n. 77). Andiroba – Carapa insectifugo já usado pelos aborigenes
guianensis, da família das Meliáceas. antes do Descobrimento e que entra na
Segundo Corrêa (1984(I): 113): “Arvore conservação das cabeças mumificadas
grande, até 30 m de altura; casca cinzenta (tropheus de guerra dos indios
e grossa; folhas imparipinnadas ou Mundurukús). Contém o mesmo
abrupto-pinnadas, grandes, de 1 m de alcaloide já referido e varias materias
comprimento ou mais, compostas de gordurosas, taes como stearina, oleina e
numerosos foliolos suboppostos, margarina, associadas a materia corante
elliptico-oblongos, inteiros, acuminados, vermelha, com variadas applicações na

214 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


medicina (purgativo, anti-rheumatico, Pp. 73-74 (n. 78). Sorva – “Fruto da
anthelmintico, util nas ulceras atonicas, sorveira, ár vore da família das
picadas de insectos venenosos, tetano, Apocináceas (Couma guianensis), da
hepatites, splenites, parasitas do corpo floresta úmida, que se caracteriza pelos
humano, etc.) e na industria, frutos bacáceos, comestíveis, de pequeno
especialmente para illuminação e fabrico tamanho, e cujo látex é amargo, não
de sabão ordinario, inclusive de sabão servindo para beber” (Ferreira, 1999:
para molestias da pelle. É tambem de 1887). Cavalcante (1988) descreve, além
uso corrente na medicina veterinaria e desta espécie (à p. 213), a ‘sorvinha’
parece que com os mais beneficos (Couma utilis) e a ‘sorva-grande (Couma
resultados. - O povo distingue diversas macrocarpa). Comenta esse mesmo autor
variedades que differem principalmente (pp. 211-212): “Os frutos da sorveira são
na côr do lenho (andiroba-branca, andiroba- muito apreciados, consumidos somente
do-igapó, andiroba-vermelha), o que parece no estado natural, às vezes com a casca e
explicavel pela qualidade do sòlo em que as sementes, o que nem sempre é
se desenvolvem. (...). - Vegeta de aconselhável. É muito comum nas feiras
preferencia nas varzeas proximas ao de Manaus e também postos a venda
leito de rios. - Amazonia até a Bahia. nos locais mais movimentados do centro
Sin.: andiroba-saruba”. Diz Le Cointe comercial, como avenidas, praças e
(1947: 35) que vive nas várzeas e igapós, paradas de coletivos. Assim como as
sendo muito freqüente no litoral norte espécies da família sapotácea, produtoras
do estado do Pará; o fruto, cápsula da matéria prima para a fabricação da
deiscente de 7-8 cm de diâmetro, goma de mascar (chewing gum), as
encerra várias amêndoas oleaginosas; sorveiras são também explotadas com
o óleo (63%) é espesso, amarelado e essa finalidade. As árvores são sangradas
muito amargo, excelente para saboaria de cima abaixo do tronco, em sulcos
e iluminação a óleo; misturado com helicoidais, por onde escorre o látex com
urucu é utilizado em fricções pelos abundância, o qual, após coagulado e
índios para se preservarem das picadas moldado em compactos blocos, é
dos insetos e da penetração do ‘bicho- exportado com o nome de ‘sorva’. (...).
do-pé’; a casca contém 5% de tanino; a Regionalmente, o leite de sorva é
safra das frutas ocorre em fevereiro e empregado na calafetagem de pequenas
de junho a julho; uma árvore pode dar embarcações e, nos lugares mais
de 180 a 200 kg de amêndoas; a casca, afastados costumam misturá-lo com café
muito amarga, é, como as folhas, ou então pode ser utilizado em forma
utilizada em cozimento como de mingau com outros ingredientes. O
febrífug o e antihelmíntico, ou, conhecimento e uso do látex pelos
externamente, para lavagem das úlceras, nativos já é bem antigo, pois Baena (1839:
contra o impetigo e outras moléstias 424) faz referência a uma tradição de que
da pele. ‘as casas assim dos brancos como dos
Um parágrafo deste texto de Landi indianos, eram caiadas com tabatinga
foi reproduzido em Sousa (1999: 263). combinada com a goma da sorveira para

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 215


lhe dar maior perseverança. Adaptada ao do ano, porém com mais freqüência e
meio urbano, a sor veira poderia abundância de dezembro a junho”
constituir um belo atrativo ornamental. (Cavalcante, 1988: 214-215). Ver também
Na época da floração a árvore cobre-se Le Cointe (1947: 453).
toda de róseo-púrpura realmente
admirável”. Ver também Le Cointe Pp. 76-77 (n. 80). Cutitiribá – “Cutite
(1947: 438). [ou Cutitiribá]. Pouteria macrophylla,
Sapotácea. Árvore mediana, em torno de
P. 74 . Ingá - Ver nota à p. 34 (n. 24). 20 m de altura, tronco reto até 50 cm de
diâmetro, casca exsudando abundante
Pp. 75-76 (n. 79) Taperebá – “Spondias látex quando cortada, copa densa, com
mombim, Anacardiácea. Árvore de porte ramos mais novos ascendentes. Folhas
médio, até 25 m de altura, galhos a partir alternas cartáceas obovadas ou
de 3-5 m do solo, formando copa oblanceoladas, 10-18 cm de comprimento,
espraiada até 15 m de diâmetro, tronco 5-9 cm de largura, até 30 cm por 10 cm
revestido de casca espessa, rugosa e nos indivíduos jovens. Inflorescência em
fissurada, com projeções rombudas, fascículos de 3-l0 flores nascidas entre as
espiniformes. Folhas composto- folhas ou nos ramos onde aquelas já
pinadas, cerca de 30-70 cm de caíram; cálice de 4-5 sépalas oblongo-
comprimento; folíolos, 9-15 pares, ovais, pilosas externamente; corola
elípticos, 5-10 cm de comprimento, esverdeada com 4-6 pétalas, estames
acuminados no ápice e assimétricos ou opostos às mesmas; ovário globoso com
truncados na base. Inflorescências em 5 lóculos uniovulados. Fruto, uma baga
panículas terminais, com flores arredondada até 6 cm de diâmetro,
diminutas, polígamas. O fruto é uma sementes ovóides marrom-escuras,
pequena drupa elipsóidea de 3-4 cm de dentro de uma polpa amarela de
comprimento, casca fina, lisa, de cor consistência algo farinácea, semelhante à
amarelo-alaranjada, polpa sucosa, doce- gema de ovo cozido. (...). A consistência
acidulada, de sabor e cheiro muito e a cor da polpa dos frutos são bastante
agradáveis; endocarpo (caroço) espesso, parecidos com a gema do ovo cozido e
súbero-lenhoso, com 5 lóculos tem sabor agradável e cheiro bem
unispermos. (...). O fruto do taperebá é pronunciado, e que, a princípio, parece
um dos mais apreciados na região, enjoativo para algumas pessoas”
principalmente o refresco, o sorvete e o (Cavalcante, 1988: 97-98).
picolé, dele fabricados. É também muito
apreciado na forma de ‘batidas’, em Pp. 77-79 (n. 81). Castanha-do-pará e
moda nas recepções sociais. Quando Sapucaia
maduros, os frutos devem ser logo Castanha-do-pará: “Bertholletia
consumidos porque se deterioram em excelsa, Lecitidácea. Árvore de porte
pouco tempo, além de serem bastante colossal, em torno de 40-50 m de altura
sensíveis ao manuseio. Aparecem nas quando já idosa e cerca de 2 m de
feiras de Belém durante uma boa parte diâmetro quase à base do tronco. Ducke

216 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


(1954: 15) assinala que ‘a famosa imbricadas, espesso-carnosas na base,
castanheira-do-pará pode, só em casos levemente desiguais; andróforo com a
excepcionais, chegar a 50 metros, porém parte superior hemisférica contendo no
seu tronco não ramificado (quando na lado interno numerosas escamas
mata virgem), até a copa pequena, pode (estaminóideos) arqueadas, ocráceas,
medir 3 metros de diâmetro’. acuminadas; parte inferior do andróforo,
Recentemente, o botânico Nilo T. Silva a lígula estaminal, levemente purpúrea;
teve oportunidade de medir uma estames numerosos, dispostos em torno
castanheira derrubada na área do Projeto do orifício da lígula; filetes com uma
Jari, cujo comprimento total foi de 62 pronunciada dilatação no ápice, onde se
metros, e o diâmetro do tronco 4,30 insere a antera por meio de um delicado
metros; uma segunda castanheira (não conectivo filiforme; ovário ínfero,
derrubada), com semelhantes tetralocular, lóculos geralmente com 4-6
proporções, foi encontrada no município óvulos, estilete subulado, deflexo para o
de Marabá. A idade de castanheiras desse lado do andróforo, estigma capitado
porte é estimada entre 800-1200 anos. O multipapiloso. Fruto capsular do tipo
tronco da castanheira é caracteristicamente pixídio incompleto, vulgarmente
cilíndrico, reto, com a casca rígida, espessa denominado de ‘ouriço’, esférico ou
e rimosa e copa pequena em relação à levemente depresso; mesocarpo lenhoso,
altura do tronco. Folhas simples alternas, extremamente duro, constituído de células
pecíolo em forma de calha, de 5-6 cm de pétreas (esclereídeos); parte superior com
comprimento, revestido de um delicado uma região diferenciada, correspondente
tomento; limbo cartáceo-coriáceo, à área do cálice em cujo centro se encontra
oblongo ou elíptico-oblongo, 25-35 cm um orifício de 1 cm de diâmetro, sítio do
de comprimento por 8-12 cm de largura; rudimentar opérculo, imergido no fruto
base aguda e ápice obtuso-arredondado, já bem seco. Um fruto pode pesar entre
ligeiramente acuminado; margens 500-1500 g e medir 10-15 cm de diâmetro;
onduladas, face superior verde-brilhosa; comumente contém 15-24 sementes,
nervura central bem saliente na face angulosas, de 4-7 cm de comprimento,
inferior e de secção retangular; nervuras com a casca (testa) córnea e rugosa”
laterais abundantes, delicadas, retas, em (Cavalcante, 1988: 82-83).
ângulo cerca 60º com a nervura central. Sapucaia: “Lecythis pisonis,
Inflorescência em racimos ou panícula de Lecitidácea. Árvore grande decídua, cerca
racimos na extremidade dos râmulos, de 30 m de altura, tronco reto não muito
raque anguloso, de 12-16 cm de alto, às vezes dividido em grossos galhos
comprimento. Flores curtamente a pouca altura do solo, quando a árvore
pediceladas com 3 bractéolas na base, cresce em lugares mais ou menos abertos;
caducíssimas; cálice a princípio inteiro e ramos alongados, casca fissurada, copa
urceolado, na antese bi- ou tripartido, com bastante larga e densa. Folhas simples,
ápice dos lobos denteados; corola alternas, pecíolos até 1 cm; lâmina
brancacenta ou levemente amarelada, membranácea, elíptica, 6-20 cm de
perfumada, com 6 pétalas lives, comprimento, base arredondada e

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 217


margens minutamente serrilhadas. de altura quando cultivada, podendo
Inflorescência geralmente em pequenos atingir 20-25 m, no estado silvestre na
racimos terminais, com flores grandes mata primária. Folhas simples, alternas,
zigomorfas; cálice com 6 sépalas ovais de curtamente pecioladas, limbo
10 mm por 5 mm; corola de 6 pétalas subcoriáceo, largo-elíptico ou ovalado, 12-
livres, desiguais, ovais, até quase 30 cm de comprimento e 7-15 cm de
arredondadas, cerca de 15 mm por 20 largura, ápice curto acuminado, base
mm, amareladas e enegrecidas logo após arredondada ou obtusa; nervuras
caírem; andróforo em forma de U secundárias 4-6 pares, fortemente
deitado, com estames e estaminódios na inclinadas para o ápice. Inflorescências em
face inferior do braço superior (cúpula) pequenas panículas espiciformes, flores
conectado pela parte curva (lígula) ao pequenas com três brácteas na base, cálice,
braço inferior em cuja extremidade está 5 sépalas carnosas, corola, 5 pétalas
o anel estaminal com minúsculos brancacentas, estames 5, com filetes
estames em torno do orifício do anel; alargados no meio e estreitados nas duas
ovário ínfero, 4-locular, lóculos extremidades. Fruto uma drupa
pluriovulados. Frutos, uma volumosa elipsóidea de 6-8 cm de comprimento,
cápsula lenhosa do tipo pixídio, cerca de casca fina, amarelo-alaranjada, mesocarpo
25 cm de diâmetro, munido de opérculo carnoso-oleoso, cerca de 5 mm de
que se destaca na matuação para liberar as espessura; endocarpo fibroso, delgado,
sementes, permanecendo a cápsula vazia envolvendo uma volumosa semente de
na árvore, por muito tempo. Sementes 6 cm de comprimento. Espécie nativa e
em número de 40-50, irregularmente exclusiva do Pará, comum em todo o
elipsóidea, cerca de 7 cm de comprimento, estuário até o baixo Amazonas,
estriadas, com tegumento flexível. (...). As espontânea ou cultivada. Os frutos são
amêndoas da sapucaia são tão saborosas consumidos ao natural e acompanhados
quanto as da castanha-do-pará e contêm de farinha de mandioca, e assim muito
cerca de 51% de óleo comestível. Contudo, apreciados pelo povo. Têm cheiro e sabor
a deiscência do fruto é considerada um peculiares; para algumas pessoas,
fator negativo na sua comercialização agradáveis, para outras, enjoativos. A
porque, como é sabido, o opérculo se polpa pode fornecer uma boa
desprende espontaneamente do fruto porcentagem de óleo comestível, assim
ainda na árvore, libertando as sementes; como a amêndoa. Frutos encontrados nas
estas se dispersam por entre a vegetação, feiras de Belém, em grande quantidade,
dificultando a sua colheita. Logo a seguir nos meses de janeiro a junho”
são avidamente devoradas pelos animais (Cavalcante, 1988: 225-226). Consulte-se
roedores da floresta” (Cavalcante, 1988: também Le Cointe (1947: 483).
209-210).
Pp. 80-81 (n. 83) Aninga – Montrichardia
Pp. 79-80 (n. 82) Umari – “Poraqueiba arborescens, da família das Aráceas. Corrêa
paraensis, Icacinácea. Árvore pequena ou (1984(I): 134-135) assim discorre sobre
mediana, geralmente em torno de 8 m esta planta, sob aninga-uba: “Planta de

218 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


caule grosso, inerme, ou pseudo-aculeado algumas féras e os jacarés se occultam entre
(protuberancias com fórma de aculeos), as raizes, tornando sobremodo arriscada
até 4 m de altura; folhas longo- para o homem a sua penetração no
pecioladas, sagittadas, com limbo de 20- ‘aningal’. - Guyana e Amazonia. = Sin.:
30 cm de comprimento; flores dispostas aninga-de-espinho, aninga-do-pará, aninga-peré,
em espigas de 10 cm de comprimento, banana-de-macaco, guimberana, imbé-da-praia,
protegidas por espatha carnosa de 12 cm; imberana; siny dos extinctos Arauans”. Ver
fructo composto de numerosas bagas de também Le Cointe (1947: 41).
1 cm ou mais de diâmetro. - Esta especie
é uma das mais caracteristicas da foz do Pp. 81-83 (n. 84) Umiri – “Humiria
Amazonas, ahi vegetando socialmente e balsamifera, Humiriácea. Arbusto, árvore
constituindo a primeira vegetação pequena ou grande, dependendo do
(‘aningal’) nas praias lodosas dos ‘furos’ habitat. Folhas subsésseis, subcoriáceas,
e das ilhas fluctuantes, injustamente de forma e tamanho variáveis, geralmente
considerada ‘praga’, porquanto tem obovadas ou elípticas, alcançando até 18
bastante utilidade. - Certamente a parte cm de comprimento e 7 cm de largura,
mais valiosa consiste nas fibras ou sendo mais freqüente dimensões entre
filamentos rectos e parallelos que o caule 6-7 cm por 3-4 cm, nervuras laterais quase
contém e se prolongam pela raiz, na imperceptíveis. Inflorescências cimoso-
proporção total aproveitavel de 300 g, paniculadas, axilares ou subterminais;
em média, por individuo, os quaes vêm flor branca de 5 mm de altura, com 20
sendo utilisados (Estados Unidos) estames soldados na metade inferior e
talvez na cordoalha e no fabrico de papel ovário com 5 lóculos biovulados. O fruto
e têm mercado franco no Pará; estudos é uma drupa oblongo-elipsóidea cerca de
recentes (Londres) demonstraram que 1,5 cm de comprimento, de cor roxo-
fornece bom papel escuro (por não poder escura quando madura. (...). A casca das
ser sufficientemente branqueado). - A árvores adultas produz um bálsamo
raiz, sêcca e reduzida a pó, é purgativa, resinoso muito agradável, usado na
drastica, diuretica e anti-hydropica, medicina popular como expectorante,
recommendada tambem contra a tenífugo e contra blenorragia. [...] esse
mordedura das cobras; as folhas são bálsamo é produzido somente pelas
acres, anti-rheumaticas e resolutivas, árvores velhas, provavelmente como
entretanto o gado bovino come-as com conseqüência de doença da arvore, pela
prazer, embora em limitada quantidade, ação de uma espécie de bactéria. A época
provavelmente como condimento; a flor da floração varia de um lugar a outro,
é excelente isca para o ‘pacú’ e tanto este sendo mais acentuada entre os meses de
peixe como o ‘bagre’ e o ‘tambaqui’, maio a setembro, seguindo-se, em pouco
assim como os chelonios (tartarugas e tempo, a frutificação” (Cavalcante, 1988:
kagados), alimentam-se com o fructo. 227). Ver também Le Cointe (1947: 484).
Quanto ao succo da planta, é caustico e
hemostatico energico, de uso perigoso. - PP. 84-85 (n. 85) Angelim – [Pp. 84-85].
Parece que em certas épocas do anno Landi trata neste trecho, aparentemente,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 219


de três espécies: o angelim-do-pará, o O ‘louro-branco’ é “Árvore da
angelim-coco e o angelim-pedra. família das Lauráceas (Ocotea guianensis),
‘Angelim-do-pará’ é “designação nativa nas matas da Amazônia, de folhas
comum a espécies do gênero Angelim, da com indumento piloso, alvacento na face
família das Leguminosas Papilionáceas, inferior, flores muito pequenas, cimosas,
cujas árvores são altas, de flores róseo- e cuja madeira, branca e leve, é utilizada
violáceas e rósei-purpúreas” (Ferreira, 1999). sobretudo no fabrico de pasta de
O ‘angelim-coco’ (P. 85) ´é celulose para papel” (Ferreira, 1999: 1236).
“Ár vore pequena da família das O ‘louro-amarelo’ é ár vore
Leguminosas Papilionáceas (Andira totalmente distinta, da família das
legalis), de flores violáceas, cuja madeira se Boragináceas (Cordia alliodora), “de folhas
emprega em obras expostas, carpintaria, oblongas, amplas e tomentosas na
etc., e cuja casca e sementes possuem página inferior, flores alvas, vistosas,
propriedades vermífugas. Sin.: angelim-doce, reunidas em panículas compactas, e cujo
pau-pintado, urarema” (Ferreira, 1999). fruto é uma pequena drupa com cálice e
O ‘angelim-pedra’ (P. 85) é corola marcescentes, sendo a madeira,
“Árvore da família das Leguminosas, clara e leve, utilizada para canoas, móveis
subfamília Papilionácea (Fer reirea e construções” (Ferreira, 1999: 1236).
spectabilis e Hymenolophium patraeum)” Talvez Landi quisesse referir-se a esta
(Ferreira, 1999). segunda espécie.
Uma parte deste texto de Landi foi Quanto ao chamado ‘louro-
transcrita por Sousa (1999: 163). encarnado’, podemos supor que Landi
Landi faz referência ao ‘turu’ (p. se reportasse ao ‘louro-vermelho’,
85, turrù), ou teredo, “Molusco bivalve “Árvore da família das Lauráceas (Ocotea
da fam. Teredinidae, gênero Teredo, do rubra), peculiar à Amazônia, de folhas
qual se conhecem três espécies em nosso coriáceas, obtusas no ápice, longamente
país. Têm aspecto vermiforme e numa acuminadas e glabras, flores pequeninas,
das extremidades duas pequenas valvas rubro-tomentosas, ordenadas em
com sulcos providos de dentes. Com panículas, e cujo fruto é uma baga
eles, em movimento rotatório, cava cupulada, sendo a madeira, de coloração
galerias em madeira submersa, com a vermelha, excelente para mobiliário e
qual se alimenta, causando prejuízos de construção” (Ferreira, 1999: 1236).
monta às embarcações de madeira, Naturalmente, na ausência de uma
embarcadouros e cais” (Ferreira, 1999: descrição mais detalhada por Landi, são
1947, sob teredo). O turu da região do estas identificações hipotéticas.
Salgado, no Pará, foi exaustivamente
estudado, em seu aspecto folclórico, por Pp. 87-88 (n. 87). Acapu – Vouacapoua
Julieta de Andrade (1979). americana, família das Leguminosas -
“Arvore alta, até 20 m ou mais; casca
P. 86 (n. 86) Louro – Landi fala de “duas cinzenta-escura com depressões; folhas
espécies”: ‘louro-branco’ (ou amarelo) e compostas, imparipinnadas, com peciolo
‘louro-encarnado’. commum estriado; foliolos ovado-

220 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


oblongos, às vezes lanceolados e Pp. 90-91 (n. 89). Maçaranduba ou
ondulados, acuminados, glabros na “maçaranduba-verdadeira” - Manikara huberi,
pagina superior, de 15 cm de da fam. das Sapotáceas. “Árvore de porte
comprimento; flores numerosas, de calice elevado, geralmente de 30-40 m,
5-dentado, dispostas em paniculas; podendo, às vezes, chegar aos 50 m de
fructo vagem drupacea, ovoide, lenhosa, altura; fuste bastante longo, reto e
avermelhada, dehiscente, de 8 cm. - uniforme, casca espessa e rimosa, com
Fornece madeira de alburno branco- látex branco e resinoso, dando uma
amarellado e cerne pardo-escuro com ‘balata’ inferior; cerne vermelho-escuro e
veios e manchas brancacentos, compacta, muito pesado. Folhas coriáceas, oblongo-
resistente e de bello aspecto, unctuosa ao obovadas, de 15-20 cm por 4-7 cm, com
tacto e com cheiro desagradavel, propria a face inferior compactamente revestida
para marcenaria de luxo e construcção por um tomento amarelo-ouro;
naval, vigas, esteios, soalhos, obras nervuras laterais copiosas, delicadas,
hydraulicas e carpintaria, tendo apenas o paralelas e quase perpendiculares à
defeito de rachar facilmente; peso nervura principal. Flores em fascículos
especifico 0,900 a 1,067; resistencia ao axilares, em pedicelos de 3-4 cm. Fruto
esmagamento, sem determinação da arredondado, cerca de 3,5 cm de diâmetro,
posição da carga, 930 kg/cm 2. - É com o cálice persistente em forma de uma
incontestavelmente uma das melhores estrela regular; casca lisa, amarelo-
madeiras brasileiras (...). - Tanto a casca esverdeada, com látex branco, viscoso;
como o lenho são adstringentes e usados polpa sucosa, doce, aromática, com 1-4
para lavar ulceras antigas; a sua fumaça sementes castanho-escuras, achatadas,
serve tambem para defumar borracha. - com uma aresta dorsal. A maçaranduba-
Os sertanejos distinguem as seguintes verdadeira é uma espécie tipicamente
variedades: acapuhy, amarella, branca, amazônica conhecida sobretudo como
commum, pintada, preta ou pixuna e rajada essência florestal produtora de boa
(...). - Guyana e Pará”. Também chamada madeira, a mais estimada entre as
angelim-de-folha-larga, aracuí, pitangueira e maçarandubeiras amazônicas. Dispersa
uacapu (Ferreira, 1999: 24). por quase toda a região, notadamente no
estuário, tendo como habitat ideal a mata
Pp. 88-90 (n. 88). Cedro – “Árvore de pluvial de grande porte, na terra firme e
grande porte, sem ramificação, da família em certas várzeas pouco inundáveis. Os
das Meliáceas [Cedrella prov. odorata], frutos da maçarandubeira são quase tão
dotada de casca grossa, considerada saborosos quanto os da sapotilheira, na
medicinal, flores grandes e alvas e fruto verdade um parente bem próximo
capsular lenhoso com numerosas daquela. Sendo impossível coletá-los
sementes. Fornece madeira própria para diretamente da árvore, devido à altura,
marcenaria, escultura, certas embarcações tem-se que apanhá-los no chão, o que
pequenas, etc. [Sin.: cedro-amarelo, cedro- nem sempre se consegue, por serem
rosa, cedro-branco, cedro-vermelho, cedro-da- disputados pelos animais da floresta, aliás
várzea, acajucatinga]” (Ferreira, 1999: 437). seus legítimos donos. Mesmo assim,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 221


algumas vezes são encontrados nas feiras cujas pequenas drupas têm um pára-
entre os meses de fevereiro a abril” quedas formado pelo cálice acrescente”
(Cavalcante, 1988: 149-150). (Ferreira, 1999: 1376).

P. 91 (n. 90). Marapautá – Não identificada. P. 95 (n. 96). Muirajuba e Paricá – A


‘muirajuba’ é “Árvore da família das
P. 92 (n. 91). Anani – “Árvore da família Leguminosas (Apuleia molaris), da floresta
das Gutíferáceas (Symphonia globulifera), amazônica, de folíolos emarginados e
originária da América Central. A madeira oblongos, flores pequenas e dispostas em
é própria para construção e carpintaria e a panículas, frutos densamente revestidos
casca produz resina utilizada na de pêlos, e cuja madeira é bege-clara, dura
indústria” (Ferreira, 1999: 131). e durável” (Ferreira, 1999: 1376).
As duas primeiras linhas deste O ‘paricᒠreferido por Landi
texto de Landi foram citadas por Sousa talvez seja o ‘paricá-branco’, “Árvore
(1999: 263). espinhosa, da família das Leguminosas
(Acacia polyphylla), comum nas várzeas
Pp. 92-93 (n. 92). Pau-d’arco – Ou ‘ipê’. dos rios. As folhas têm 30 a 50 folíolos
“Designação comum às árvores do de 6 mm; as flores em panículas; a
gênero Tabebuia (antes, Tecoma), da madeira é pardo-amarelada, e malcheirosa
família das Bignoniáceas, de que há dois quando úmida, servindo para polpa
tipos: a de flor amarela e a de flor violácea. celulótica e tabuado; a casca encerra algum
Muito ornamentais pela floração tanino” (Ferreira, 1999: 1501].
belíssima, são dotadas de lenho
muitíssimo rsistente à putrefação” Pp. 95-96 (n. 97). Pau-roxo – “Árvore
(Ferreira, 1999: 1134, sob ipê). da família das Leguminosas (Peltogyne
lecointei), da mata úmida. O lenho
P. 94 (n. 93). Pau-rosa – “Árvore da caracteriza-se por ser, no começo, pardo-
família das Lauráceas (Aniba rosaedora), escuro, e ir ficando, à ação da luz, cada vez
de certas áreas da floresta amazônica. A mais roxo. Folhas bifoliadas, flores
madeira encerra um precioso óleo minutas, fruto indeiscente e obovado,
essencial, cujo componente fundamental com ligeira asa, e madeira de valor para
é o linalol, de grande emprego em trabalhos finos e custosos” (Ferreira,
perfumaria, sendo a extração feita 1999: 1519).
mediante destilação com vapor de água.
As folhas são largas e coriáceas; as flores, P. 96 (n. 98). Pau-encarnado – Não
insignificantes” (Ferreira, 1999: 1519). identificado.

P. 94 (n. 94) Muiraquatiara – “Árvore P. 96 (n. 99). Mangue e Acapurana –


da família das Anacardiáceas (Astronium Para “mangue”, vide nota à p. 105 (n.
lecointei), da floresta úmida, cuja madeira 104).
é semelhante à do gonçalo-alves, sendo A “acapurana”, segundo Corrêa
valiosa pelo colorido e durabilidade, e (1984 (I): 24) é a Campsiandra laurifolia, da

222 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


fam. das Leguminosas-Cesalpináceas, nas duas paginas; estipulas muito
“Arvore pequena; casca verde; folhas caducas; flores vermelhas, de 15 mm,
imparipinnadas, compostas de 9-13 muito aromaticas, dispostas em paniculas
foliolos oblongo-ellipticos, curto- ferrugineo-pubescentes, tendo as sepalas
acuminados, membranosos; flores coriaceas, denso-ferruginoso-tomentosas,
brancas e roseas, curto-pedicelladas, petalas roseo-lilacinas e estandarte
numerosas, dispostas em grandes brancacento; ovario glabro, alongado;
paniculas corymbosas; fructo vagem fructo vagem drupacea, ovoide ou
muito chata, coriacea, luzidia. – Fornece oblonga, pubescente, de 5-7 cm, verde-
madeira amarello-clara com veios quasi amarellada quando madura, fibrosa e
pretos e póros longitudinaes muito esponjosa, envolvendo uma semente
visiveis, duravel, propria para construcção dura, lisa, de 25-40 mm, roxo-escura,
civil, esteios, marcenaria, etc., recebendo achatado-oblonga. – Fornece magnifica
bem o verniz (...). As folhas, casca e raiz madeira de lei (...), de coloração variavel
são febrifugas, tonicas e excitantes, de conforme o sólo em que cresce, mais
grande proveito no tratamento das geralmente de alburno cinzento-
febres terçãs, bem como para lavar feridas amarellado e cerne castanho-avermelhado
e ulceras. – É arvore muito commum ou amarello-roseo ou pardo-amarellado-
nas varzeas humidas do Amazonas (...). laranja com veias ou listras vermelhas,
Quando em flôr torna-se altamente ondeada, bellissima, tecido compacto,
ornamental” grão irregular, muito rija e dura, fibras
finissimas e entrecruzadas, póros curtos
P. 97 (n. 100). Cumaru – Landi deve e largos, difficil de trabalhar porém
querer reportar-se ao “cumaru- recebendo optimamente o verniz,
verdadeiro”, Coumarouna odorata, da fam. propria para construcção naval, obras
das Leguminosas-Papilionáceas, “Arvore expostas ás intemperies, canôas, carroçaria
grande, elegante e frondosa, caule recto em geral, vagões de passageiros, rodas
até 32 m de altura e 60 cm de diametro, de carros e de moinhos, eixos e dentes
ás vezes mesmo 1 m; casca avermelhada de engrenagem, placagem, marcenaria de
ou amarello-claro-acinzentada, pouco luxo, bengalas, cabos de guarda-chuva,
espessa, com epiderme quebradiça e que varas de pescar, obras de torno, flechas,
se desprende facilmente; folhas grandes, pilões e quaesquer peças de resistencia,
alternas, alado-pecioladas, imparipinnadas, também boa para defumação da borracha
compostas de 6-8 foliolos alternos, curto- (...). O fructo desta arvore, embora
peciolados, com um appendice chato, indehiscente, separa-se facilmente no
linear, depois do ultimo par, sendo os sentido longitudnal, em duas partes
foliolos oblongos ou ovados, arrendado- rigorosamenre iguais, desde que seja
obliquo-obtusos na base e curto- exposto ao sol; a semente que o mesmo
oblongo-acuminados no apice, até 20 cm encerra é a famosa ‘fava de cumarú’ (...),
de comprimento e 8 cm de largura, ou objecto de importante commercio em
pouco mais, coriaceos, rigidos, luzidios, meiados do seculo XIX, mas que depois
finamente reticulado-nervados, glabros foi decrescendo, posto que ainda persista.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 223


Tal semente, que os aborigines Caraibas sementes, até 16 cm de comprimento.
aproveitavam para fazer collares e Amazônia, Goiás, Minas Gerais, Rio de
braceletes, é bem reputada antispamodica, Janeiro e São Paulo. – Fornece madeira
diaphoretica e cardiaca, sendo que alguns de fibras muito revessas, própria para
tambem a consideram emmenagoga; taes construção civil, obras externas e internas,
virtudes medicinaes resultam da presença carpintaria, esteios, moirões, lenha e
da ‘cumarina’ (...). Effectivamente o carvão. A casca é adstringente e serve para
extracto é um veneno moderador e curtume. É planta útil contra a asma e
retardador da respiração e dos bronquites asmáticas; os índios de várias
movimentos cardiacos (...). De certo não tribos fazem com a semente um pó
são estas propriedades medicinaes que esternutatório que usam como se fosse
tornaram famosa a nossa ‘fava de rapé” (Corrêa, 1984 (V): 372).
cumarú’, e sim o seu aroma [como notou
Landi], tão forte quanto suave, a principio P. 98 (n. 102). Sucupira – Mais
quasi apenas usado para perfumar o rapé provavelmente a Bowditchia nitida, da fam.
e actualmente, como o tabaco em pó tem das Leguminosas-Papilionáceas, “Árvore
pouco consumo, serve para aromatisar pequena, folhas imparipinadas,
os cigarros e charutos, assim como compostas de 5-7 folíolos oblongos,
alguns whiskys e chocolates, tendo largo coriáceos, luzidios; flores dispostas em
emprego na industria da perfumaria e panículas; fruto vagem. – Amazonas e
dos sabonetes finos, bem como na arte Mato Grosso. – Boa madeira castâneo-
culinaria, como succedaneo da baunilha escura, muito resistente e pesada. –
na aromatisação de doces, sendo que da Árvore ornamental de belo efeito quando
semente ainda se obtém 25% de óleo coberta de flores, época em que tem
(‘óleo de cumarú’), igualmente poucas folhas. Poderoso depurativo
aromatico, branco e transparente (...), mas antissifilítico; útil nas feridas e úlceras
que rança com facilidade, o qual é tonico antigas” (Corrêa, 1984 (VI): 149).
do couro cabelludo e que já era usado
desde longa data pelos Indios para curar Pp. 99-100 (n. 103) Copaíba – A primeira
as ulceras da bocca e para perfumar e dar sentença deste trecho do MS de Landi
brilho a seus cabellos...” (Corrêa, 1984 foi citada por Sousa (1999: 163).
(II): 475-476). Designação comum a várias
espécies do gênero Copaifera, da fam. das
Pp. 97-98 (n. 101). Paricá – Também Leguminosas-Cesalpináceas. A “copaíba-
chamado “paricá-de-curtume” e “paricá- verdadeira”, Copaifera officinalis, é
da-terra-firme”, na Amazônia, é a “Arvore grande, copa symetrica, um
Piptadenia peregrina, “Árvore; folhas pouco deprimida, ramos curtos, até 40
bipinadas, pinas 10-30-jugas, folíolos 30- cm de altura, geralmente menos da
50-jugas, opostas, lineares, oblíquas na metade; casca castaneo-escuro e rugosa;
base; flores numerosas, dispostas em folhas alternas, pecioladas, glabras,
capítulos; fruto vagem rígida e coriácea, pennadas, compostas de 2-8 foliolos
mais ou menos contraída entre as alternos, curto-peciolados, ovado-

224 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


lanceolados ou oblongos, obtuso- aromaticas, dispostas em paniculas;
mucronados, de 25-70 mm de fructo baga. – É planta excitante e
comprimento, inteiros, um pouco antispasmodica, efficaz contra a tenia; da
coriaceos, pellucido-punctuados, oleo essencial com o aroma de limão e o
frequentemente com glandullas cheias de cortex, reduzido a pó, emprega-se
oleo-resina visiveis á transparencia, tendo tambem como condimentar e
na base duas estipulas caducas; flores carminativo.
pedicelladas, apetalas, hermaphroditas, 2. Pseudocaryophyllus sericeus –
brancas, pequenas, dispostas em “Arbusto ou arvore pequena de ramos
paniculas axillares, estreitas, frouxas, pubescentes emquanto jovens; folhas
pubescentes; fructo vagem curto- ovado-oblongas, agudas dos dous lados,
pedunculada, orbicular, obliqua, aé 8 cm de comprimento, rigidas,
comprimida, aguda, carnosa, bivalve, até penninervadas, glabras na pagina
25 mm, contendo uma semente ovoide superior e sericeo-argenteas na inferior;
com ala em forma de sacco e quasi pedunculos compridos, axillares,
completamente coberta pelo arillo. – alternos; flores dispostas em cymeiras
Fornece madeira de cerne vermelho- axillares ou quasi yterminaes; fructo baga
escuro, tecido compacto, poros pouco ovoide corôada pelos quatro lóbos
visiveis, de primeira qualidade para obtudos do calice. – Fornece madeira
construcção civil e naval (...). – Esta arvore dura e aromatica; a casca exsuda uma
e provavelmente as demais do genero substancia resinosa e tambem aromatica;
produzem uma quantidade variavel do as folhas sêccas e distilladas dão 6% de
famoso ‘oleo de copahyba’ (...)” (Corrêa, oleo essencial aromatico e condimentar
1984 (ii): 371-372). Além desta, existem (...), proprio para perfumaria; os botões
as espécies C. guianensis (“copaíba-do- floraes (...) emquanto verdes têm aroma
pará”), C. martii (“copaíba-jutaí”), C. e sabor identicos aos do Amomo, das
reticulata (“copaíba-marimari”), C. Antilhas...”.
langsdorffii (‘copaíva-vermelha”), e outras,
das quais se extrai, em maior ou menor P. 102 (n. 104). Mangues – “Comunidade
quantidade, o “óleo de copaíba” (cf. dominada por árvores ditas mangues, dos
Corrêa, 1984 (II): 370-375). gêneros Rhizophora, Laguncularia e
Avicennia, que se localiza, nos trópicos,
P. 101 (n. 104). Cravo – Landi, em áreas justamarítimas sujeitas às
possivelmente, deve falar nesta seção do marés. O solo é uma espécie de lama
“craveiro-da-terra”, nome comum a duas escura e mole. [Sin.: mangal, mangrove,
espécies de Myrtaceae (cf. Corrêa, 1984 manguezal]” (Ferreira, 1999: 1271). Neste
(II): 428): trecho de Landi, denominação comum
1. Calyptranthes aromatica – às seguintes espécies:
“Arbusto pequeno, ornamental, até 3 m 1. Mangue-branco - “Árvore da
de altura. Folhas connatas, oppostas, família das combretáceas (Laguncularia
oblongo-ellipticas, agudas no apice, racemosa), espalhada nos mangues
grandes, nervadas, glabras; flores brancas, litorâneos, cujo tronco não tem raízes-

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 225


escoras na base, cujas pequenas flores se brancas, caducíssimas, 10 estames e
apresentam em cacho, e cujos frutos, ovário formado de um carpelo unilocular
drupáceos, achatados, flutuam na água” com 6-18 óvulos. O fruto é uma vagem
(Ferreira, 1999: 1271). indeiscente, oblonga, subcilíndrica, de 8-
2. Mangue-vermelho. “Árvore 15 cm de comprimento; exocarpo rígido,
da família das rizoforáceas (Rhizophora espesso, vermelho-escuro, contendo
mangle), que vive nos mangues do pequenas bolsas de resina na superfície
litoral, cujo tronco é sustentado por externa; sementes 1-6, vermelho-escuras,
grossas raízes-escoras basais, cujo envoltas por uma polpa seca, farinácea,
embrião pode começar a crescer dentro adocicada, de sabor e cheiro muito
do fruto, o qual se enterra na lama do característicos. O jutaí tem uma larga
mangue, onde cresce rígido, e cuja casca, distribuição na América do Sul, desde o
rica em tanino, é aproveitada; mangueiro, nordeste brasileiro até a Amazônia,
mangarobeira, mapareíba” (Ferreira, países do norte do continente, bem
1999: 1272). como na América Central e Índias
3. Sereíba. “Designação comum ocidentais, chegando até o México.
a duas árvores características da vegetação Disperso nas matas de terra firme e de
de mangue, da família das verbenáceas certas várzeas altas (mais freqüentes em
(Avicennia nitida e A. tomentosa). São solos argilosos) na Amazônia inteira.
delgadas, têm madeira dura, flores Algumas vezes também nos campos ou
pequenas, inseridas em racemos, e seu no capoeirão, em indivíduos reduzidos
fruto é uma drupa mole e achatada. [Var.: no tronco e às vezes também no
saraíba, siriúva, siriúba; sin.: mangue-branco]” tamanho das folhas. Embora
(Ferreira, 1999: 1841). relacionado aqui como fruta comestível,
o jutaí é, sobretudo, fornecedor de outros
Pp. 103-104 (n. 106). Jutaí – Hymenaea produtos de maior importância. Fornece
courbaril, Leguminosae-Cesalpinoidea. a resina conhecida como ‘jutaicica’ ou
Segundo Cavalcante (1988: 148): “Árvore ‘copal’, empregada na indústria de
grande, comumente de 30 a 40 m de vernizes. Essa resina exsuda em
altura, excepcionalmente até 50 m. Tronco quantidade do caule, dos ramos e até do
reto, cerca de 2 m de diâmetro, casca pericarpo, solidificando-se na própria
espessa até 3 cm de espessura, de cor árvore, ou caindo no solo, junto do
marrom-avermelhada internamente. As tronco, onde é geralmente encontrada em
últimas ramificações se dispõem de estado meio fóssil em blocos de
modo a dar um aspecto regularmente tamanho variado. Fornece madeira dura
abaulado à copa, o que e uma das incorruptível, de cor vermelho-
características da espécie. Folhas pardacenta, às vezes difícil de trabalhar
compostas de 2 folíolos oval- devido às concreções resinosas. O jutaí é
lanceolados, assimétricos e coriáceos. muito conhecido pelas propriedades
Inflorescências em panículas corimbosas medicinais da sua seiva, empregada no
terminais. Flores com 5 sépalas espessas, tratamento de problemas respiratórios e
côncavas, marrom-esverdeadas, 5 pétalas urinários. Floresce entre agosto e

226 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


setembro e quatro meses depois “guaxinguba”. Sob “coajinguba”
amadurecem os frutos, normalmente comenta Corrêa (1984(II): 321-322):
encontrados nas feiras de Belém.” “Ficus anthelminthica (Pharmacosycea
anthelminthica), da familia das Moraceas.
P. 104 - Caju - Ver nota à pág. 1 (n. 1). - Arvore grande e ramosa; ramos finos,
lisos e glabros; ramusculos cylindricos,
Pp. 105-106 (n. 106). Baunilha – “Planta castaneo-acinzentados; folhas alternas,
da família das orquidáceas (Vanilla pecioladas, elliptico-oblongas, de
planifolia), muito ornamental, de flores dimensões muito variaveis (12-23 cm de
verde-amareladas, e cujo fruto é uma comprimento e 2-4 cm de largura, às
vagem alongada; baunilheira. A vagem vezes mais), agudas no apice e na base,
seca dessa planta é empregada em coriaceas, vernicosas e com 10-15
confeitaria e perfumaria. A essência ner vuras secundarias; estipulas
preparada com essa vagem ou produzida lanceoladas, sempre enroladas;
sinteticamente” (Ferreira, 1999: 281). receptaculos axillares de 2 cm,
pedunculados ou sesseis, solitarios ou
Pp. 106-107 (n. 107). Muirapinima – geminados, deprimido-globosos,
“Árvore da família das moráceas (Brosimum urnulados, com flores dos dois sexos,
guianensis), freqüente na mata úmida, de as masculinas de 4 sepalas e 2 estames
cerne duríssimo, imputrescível e difícil de oppostos, filamentos e antheras curtos,
trabalhar, notável pela coloração vermelha oblongos, comprimidos, emarginados
com pintas pretas, imitante a pele de onça, e de tamanho desigual; flores femininas
e empregada na confecção de objetos de mais numerosas, curto-pedicelladas,
luxo” (Ferreira, 1999: 1376). perigonio profundamente 5-partido, 4-
6 sepalas e 1 semente; fructo figo do
Pp. 107-108 (n. 108). Pau-ferro – tamanho de cereja, amarello-claro na
“Árvore da família das leguminosas maturação. - Fornece latex abundante,
(Caesalpinia ferrea), comum nas matas acre, drastico e corrosivo (= ‘leite de
pluviais e nas caatingas, que tem o tronco gamelleira’, ‘leite de goajinduba’), que o
manchado de claro e escuro, folíolos povo emprega contra a ictericia, a opilação
pequenos muito ornamentais, os frutos e tambem como parasiticida e vermifugo,
são legumes lisos, perfumados e ricos efficiente no combate aos vermes
em tanino, e a madeira é extremamente intestinaes, inclusive a solitaria, porém
dura; jucᔠ(Ferreira, 1999: 1517). de uso perigoso, porquanto, conforme a
dose, póde causar a morte do paciente; o
P. 108 (n. 109) Quacingùa (Guaxinguba) Dr. Peckolt encontrou nelle um principio
– Erro de Landi; este nome se aplica à acre ‘sui generis’, varios acidos organicos,
espécie seguinte. A planta descrita neste substancias albuminosas, sáes de acidos
trecho não pôde ser identificada. inorganicos, caoutchouc e resina molle. -
A madeira é leve e muito branca, sendo
Pp. 108-109 (n. 110) Quaxinga – É a utilisada, à falta de outra, para canôas e
esta planta que deveria ser dado o nome côchos; é, todavia, procurada para

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 227


pequenos trabalhos domesticos, taes Gerais. - Sin.: tibornai, na Bahia; jasmim
como gamellas, colheres, farinheira, etc.; manga, raivosa, sebeú-uva e sucuúba” (Corrêa,
alguns aborigenes aproveitam a casca, no 1984 (IV): 433.
estado natural, para fazer tangas e
mantos, apenas batendo-a para que se P. 110 (n. 112). Ginja e acerola.
desprenda a epiderme dura. - Pará até ao Ginja – Eugenia uniflora, Mirtácea.
Rio de Janeiro. - Sin.: coajinguva, “Planta arbustiva desde 1,5 m de altura,
cuaximguba, cuaxinguba, figueira do matto, até arvoreta, no máximo com 8 m,
f. vermelha, gamelleira branca, g. brava, g. ramificada desde a base. Folhas simples,
mansa, g, roxa no Ceará; guaxinguba brava, opostas, cartáceas, ovais, variando de 1,5
lombrigueira, ojé e renaco, no Alto cm por 1 cm até 5 cm por 3,5 cm, verde-
Amazonas; uapuim-assú”. escuras e brilhosas, curtamente
Esta espécie é atualmente pecioladas, base arredondada e ápice
conhecida cientificamente como Ficus curto, obtuso-acuminado. Flores
insipida. solitárias ou em grupos de 2-3, axilares,
com pedicelos filiformes de 2-3 cm de
Pp. 109-110 (n. 111) Apuí, Maçaranduba, comprimento; corola 4 pétalas brancas,
Janaúba – Apuí é “denominação comum ligeiramente perfumadas, estames
às espécies Ficus fagifolia e Ficus numerosos. Fruto, uma baga oblata de
nymphaefolia, da família das moráceas, 2-3 cm de diâmetro, com 7-10 gomos
árvore cuja casca exsuda látex; apuizeiro” longitudinais, cálice persistente, casca lisa,
(Ferreira, 1999: 174). brilhosa, vermelha até escarlate quando
A última sentença da página 109 madura; polpa alaranjada, sucosa, de
(“Da questo scipó si tira un late, etc.”) sabor às vezes adstringente, às vezes
foi citada por Sousa (1999: 264). adocicado; sementes 1-2, branco-
Para a maçaranduba, ver nota às esverdeadas. Originária do Brasil, a ginja
pp. 90-91 (no. 89). encontra-se hoje espalhada em quase
Janaúba - “Plumeria drastica [da toda a América do Sul e em algumas ilhas
família das Apocináceas]. Arbusto do Caribe, América Central e no sul da
latescente; fôlhas pecioladas, lanceoladas, Flórida (E. U. A.), onde é extensamente
glabras, carnosas, muito grandes; flôres cultivada como planta ornamental e
campanuladas, grandes, brancas, como cercaduras. Foi introduzida
dispostas em cimas terminais. - Fornece também nas Filipinas e no sudeste da
madeira para obras internas, remos, Ásia. Os frutos variam no tamanho e no
carpintaria e caixotaria. A casca, febrifuga sabor, este podendo ser doce, ácido ou
em doses mínimas, é venenosa e exsuda adstringente, variação essa
latex, que se conserva durante anos, provavelmente decorrente de fatores
também medicinal, sendo usada (no genéticos ou dos diferentes habitats
norte do Brasil), para curar feridas de mau onde medra a planta. (...) no sul da
caráter e reduzir hérnias. Na Bahia o latex Flórida o fruto, quando bem maduro, é
serve para ser misturado com o da comido simplesmente como fruta fresca,
mangabeira. - Do Pará até Bahia e Minas ou em forma de salada, sendo muito

228 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


apreciado para a fabricação de geléias e máximo de 13 gramas; cálice e pedúnculo
sor vetes. (...). Em nossa região, persistentes, epicarpo (casca) delicada, de
especialmente no Pará, a ginja é pouco cor vermelha intensa, lustroso;
cultivada, entretanto não raro é mesocarpo (parte comestível) sucoso,
encontrada no estado espontâneo, levemente alaranjado, de sabor ácido
sobretudo em lugares de antigas (suave no fruto maduro); imersas no
habitações; os frutos são geralmente de mesocarpo encontram-se 3 sementes
sabor medíocre, mesmo assim são angulosas, cada uma envolvida,
consumidos, especialmente por crianças. isoladamente, pelo endocarpo, com 3
(...) A maturação de seus frutos se verifica aristas dorsais conectadas transversalmente
de setembro a dezembro, podendo por outras. O fruto maduro desprende um
iniciar a floração em janeiro, e, nesse caso, cheiro característico, agradável, detectado
a maturação dos frutos irá até maio. Em à distância em ambiente fechado. A cereja-
Belém, tem sido observado praticamente das-antilhas é originária provavelmente
o ano inteiro” (Cavalcante, 1988: 107). do norte da América do Sul ou das
Acerola ou azarola (“lazariolo” Antilhas e América Central, onde ainda
no orig. de Landi, “lazzeruolo” no existe no estado espontâneo, sendo
italiano moderno) - Malpighia punicifolia conhecida desde a época do
(= Malpighia emarginata), Malpiguiácea. descobrimento das Américas.(...). Os
Também chamada “cereja-das-antilhas”. frutos podem ser comidos ao natural,
Sob este nome, diz Cavalcante (1988: 85- porém quando bem maduros. Seu uso
87): “Arbusto ou arvoreta de 2-6 m de mais comum é em forma de suco
altura, muito ramificado, ramos (refresco), ou como xarope, geléia,
multilenticelosos, tronco não sorvete, etc.”
regularmente cilíndrico nem reto, casca
fina, lisa, lenticelosa. Folhas opostas, P. 113 (n. 113). Figo – O fruto comestível
simples, membranáceas, curtamente da figueira, formado por infrutescência
pecioladas, lâmina elíptica ou obovada, do tipo sicônio. A figueira é “árvore
2-7 cm de comprimento por 2-4 cm de pequena, frutífera, da família das
largura, base cuneada, ápice obtuso- moráceas (Ficus carica), dotada de
arredondado e mucronado; margens inflorescência monóica, receptáculos
suavemente onduladas e nervuras muito (sicônios) ou figos solitários ou
delicadas. Flores solitárias ou até 6 em geminados, axilares, polposos,
pequenas umbelas; cálice com 5 sépalas comestíveis, revestidos de epiderme
ovais, cada uma com duas glândulas castanho-violácea com polpa vermelho-
externas na base; pétalas 5, róseas, às carmesim, muito doce quando madura,
vezes variando para avermelhadas ou que contém flores (apenas as femininas,
quase brancas, limbo circular, crespo, com nas variedades cultivadas); figueira-da-
a base unguiculada; estames 8-10; ovário europa” (Ferreira, 1999: 900).
súpero com 3 estiletes. O fruto é uma
drupa globoso-depressa, trilobada, até 3 Pp. 113-115 (n. 114) Parreira ou Videira
cm de diâmetro, 2 cm de altura, peso (Moscatel, Castanheira).

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 229


A videira é “trepadeira lenhosa, da esculentum), originária do Peru e cultivada
família das vitáceas (Vitis vinifera), cultivada no mundo inteiro graças ao fruto
no mundo inteiro por seus deliciosos alimentar, o tomate, de baga vermelha e
frutos, as uvas, e que tem folhas ovadas, rica em vitamina C. Folhas moles e
lobadas e tomentosas, flores pequenas profundamente partidas, flores alvas,
reunidas em cachos e bagas ricas em reunidas em cimeiras” (Ferreira, 1999: 1971).
açúcares, razão por que fermentam com Couve - “Planta glabra, bienal, da
facilidade, dando o vinho; vide, vinha, família das crucíferas (Brassica oleracea),
cepo” (Ferreira, 1999: 2070). de flores alvas ou amarelas, de grande
Moscatel é o nome de uma tamanho, dispostas em racimos
variedade de uva apreciadíssima, e da frouxos, e folhas verdes, onduladas, um
qual existem vários tipos (Ferreira, 1999: pouco carnosas, e comestíveis” (Ferreira,
1379). 1999: 572).
Castanheira (européia) é “árvore Repolho - “Variedade de couve
grande, da família das fagáceas (Castanea rasteira, de feitio globular e com as folhas
vesca), de flores femininas, apétalas, imbricadas (Brassica oleracea)” (Ferreira,
inseridas na base de filamentos 1999: 1746).
masculinos, que têm cúpula fechada, Brócolos (broccoli em italiano
esférica, lenhosa, coriácea, com uns três moderno) - “Erva da família das
frutos aquênios. É desprovida de crucíferas (Brassica oleracea), amplamente
albume, constituída inteiramente pelos cultivada como verdura, e cuja parte
cotilédones, e leva castanhas saborosas e característica se constitui das
nutritivas, que se comem cruas ou inflorescências novas, verdes e muito
cozidas” (Ferreira, 1999: 424). compactas, conquanto se utilize a planta
inteira” (Ferreira, 1999: 334).
Pp. 115-118 (n. 115) Hortaliças – Landi Cardo - “Planta da família das
cita neste trecho várias plantas compostas (Centaurea macrogonus),
introduzidas pelos colonizadores: considerada praga da agricultura, de flores
Chicória - “Planta pequena, amarelas, folhas com espinhos,
lactescente, da família das compostas acinzentadas, e caule ereto, revestido de
(Chicorium endivia), de flores azuis pêlos” (Ferreira, 1999: 408).
dispostas em capítulos, frutos com Salsa - “Erva da família das
escamas agudas e desiguais, e folhas umbelíferas (Petroselinum sativum),
verdes e comestíveis, que podem ser originária da Europa, muito cultivada em
crespas, onduladas ou lisas” (Ferreira, hortas, e que tem folhas partidas,
1999: 459). herbáceas e aromáticas, e flores pequenas,
Endívia - “Variedade de chicória brancas, organizadas em umbelas
de folhas frisadas, que pode ser compostas. Essa erva é amplamente
consumida crua, em salada ou cozida; usada como tempero de sabor
escarola, chicarola” (Ferreira, 1999: 753). característico e estimulante do apetite, ou
Tomate - O fruto do tomateiro, “erva como guarnição de certos pratos”
da família das solanáceas (Lycopersicum (Ferreira, 1999: 1803).

230 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Alecrim - “Arbusto da família das Mostarda ou mostardeira -
labiadas (Rosmarinus officinalis) que exala “Erva da família das crucíferas (Sinapis
odor agradável e forte, e pos destilação dá alba), cujas folhas, comestíveis, têm sabor
abundante quantidade de óleo essencial picante, e de cujas sementes se retira um
volátil, e se usa como medicamento e pó amarelo, a mostarda, com que se
como condimento; alecrim-de-cheiro, preparam vários condimentos, muito
alecrineiro, alecrinzeiro” (Ferreira, 1999: picante, e também usada como remédio,
90). em cataplasmas” (Ferreira, 1999: 1371).
Cebola - “Erva bulbosa, da família Alface - Planta hortense, da
das liliáceas (Allium cepa), de bulbo família das compostas (Lactuca sativa),
grosso, solitário, subgloboso, formado usada geralmente para saladas” (Ferreira,
de túnicas carnosas, exceto as exteriores, 1999: 93).
que são membranosas, coloridas ou não, Erva-de-são-caetano - “carrangio”
e que tem odor forte e picante, sabor acre (em ital. mod. caranza) - É o popular
e adocicado, sendo usada como “melão-de-são-caetano”, Momordica
condimento” (Ferreira, 1999: 436). charantia, da fam. das Cucurbitáceas.
Alho - “Planta hortense da família Corrêa (1984 (V): 186 diz deste vegetal:
das liliáceas, cujo bulbo se emprega como “Planta monóica, herbácea, escandente,
condimento (Allium sativum). O bulbo desse delicada, muito ramificada, com caule
vegetal, vulgarmente chamado cabeça, é estriado; folhas membranáceas,
constituído de outros vários pequenos suborbiculares, 5-7 lobadas, com lobos
bulbos, ditos dentes” (Ferreira, 1999: 97). ovado-oblongos, estreitados na base,
Cebola-da-terra - Aqui só denteados ou lobulados com lóbulos
podemos especular que Landi estaria se mucronados; gavinha simples, delicada,
referindo à “cebola-brava-do-pará”, “erva longa, pubescente; flores masculinas,
bulbosa, da família das amarilidáceas solitárias, em pedúnculos do
(Pancratium guianensis), de bulbo grande, comprimento ou mais longo que a folha,
sabor acre, flores sésseis e alvas, fruto provido na porção mediana ou mais
capsular, com sementes achatadas, e que abaixo de uma bráctea; bráctea reniforme
vegeta em terras inundadas; açucena- ou orbicular cordiforme, mucronada,
d’água, cebola-branca” (Ferreira, 1999: inteira, com 5-15 mm de comprimento;
436). cálice com lacínios lanceolado-ovais, com
Hortelã - “Erva rasteira da família 4-6 mm de comprimento e 2-3 mm de
das labiadas (Mentha viridis), cuja largura; lacínios da corola obtusos ou
morfologia e propriedades se emarginados, com 1,5-2 cm de
assemelham às da hortelã-pimenta” ou comprimento e 8-12 mm de largura;
ainda a hortelã-pimenta, “erva rastejante, estames aglutinados com os lóculos das
da família das labiadas (Mentha piperita), anteras muito flexuosos; flor feminina
muito cultivada para a extração de um longamente pedunculada, com pedúnculo
óleo rico em mentol, de folhas moles, bracteado; ovário fusiforme, muricado;
dentadas e fortemente aromáticas, e flores estaminóides 3, glanduliformes; estilete
pequeninas” (Ferreira, 1999: 1063). curto trífido no ápice; estigmas 3, bífidos;

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 231


fruto cápsula carnosa, amarelo quando preocupado alguns mnédicos, não se
maduro, com 3-15 cm de comprimento acham ainda definitivamente
tuberculada, trivalvar; sementes reconhecidas. - É uma trepadeira bela e
vermelhas, comprimidas. Regiões ornamental, mas pouco apreciada entre
tropicais. - As hastes fornecem fibras nós, talvez por seu cheiro enjoativo
macias próprias para enchimento de característico e por ser muito comum em
colchões, selins e outras obras estofadas, todos os terrenos cultivados, campos e
bem como para a indústria do papel; as beirais de estradas e considerada ‘praga’
folhas contêm o alcalóide ‘momorcidina’, devido à sua grande expansão vegetativa,
o princípio amargo ‘momorcidipicrina’ e atrofiadora das plantas vizinhas.
ácido momórdico. O fruto é amargo e Introduzida da África e naturalizada em
comestível, muito salutar após a infusão quase todo o país, raramente é cultivada e
em água salgada ou depois de submetido isto apenas nos jardins. (...). Sin.: fruto-de-
à decocção, quando verde entra na cobra, fruto-de-negro, erva-de-são-caetano, erva-
composição das conservas ou ‘pickles’ de-são-vicente, erva-de-lavadeira”.
(Alemanha, Ceilão, Índia), na do caril e Feijão ou feijoeiro - “Trepadeira
outros molhos picantes (Ásia e África) e da família das leguminosas (Phaseolus
na do ‘pepper-pot’ (Jamaica); das vulgaris), da qual há diversas variedades,
sementes extrai-se óleo usado como de flores alvas ou alvo-arroxeadas
cosmético em outros países dispostas em racimos axilares muito
(Cochinchina); e finalmente a polpa que mais curvos que as folhas, e cujo fruto é
as envolve é muito procurada por certas vagem reta ou curvada, com numerosas
aves silvestres, também parecendo eficaz sementes reniformes, comestíveis, de
no combate ao gogo das aves domésticas. colorido que vai do branco até o negro,
- É planta cultivada para alimentação em unicolores ou marmorizadas” (Ferreira,
todos os países supramencionados e 1999: 889).
parece que já foi empregada como Ervilha - Trepadeira anual, da
sucedâneo do lúpulo (Humulus lupulus) família das leguminosas (Pisum sativum),
na fabricação de cerveja (Índia). - No estado dotada de flores grandes, solitárias,
verde, o caule e as folhas triturados servem róseas, de corola alva, azulada ou roxa, e
às lavadeiras, sobretudo no norte do país, cujos frutos são vagens oblongas, lisas
para branquear a roupa. Na medicina ou rugosas, com numerosas sementes
popular atribuem-se-lhes numerosas comestíveis” (Ferreira, 1999: 788).
virtudes, de modo que, conforme a parte Fava - “Planta de caule ereto,
usada, pode ser purgativa, emeto-catártica, ornamental, da família das leguminosas
febrífuga, anti-leucorréica, anti-catarral, (Vicia faba), com propriedades
vermífuga, anti-reumática, supurativa, medicinais, de flores alvas ou róseas, com
anti-carbunculosa e ainda útil nas máculas negras nas asas, dispostas em
inflamações do fígado, embaraços gátricos, racimos axilares, e cujo fruto é vagem
cólicas abdominais, menstruações difíceis, viscosa, verde ou preta, comestível, com
queimaduras, cravos e até contra a morféia. várias sementes; fava-do-brejo, fava-
Tais virtudes, porém, embora já tendo ordinária, faveira” (Ferreira, 1999: 884).

232 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Trigo - “Planta herbácea, da família cidade de Gorizia e em 1554 transladou-
das gramíneas (Triticum vulgare), cultivada se a Praga, como médico do imperador
em todas as terras temperadas, inclusive Fernando I e depois de Maximiliano II.
no S. do Brasil, em virtude dos frutos Em 1570 esteve por algum tempo em
alimentícios. As flores, mínimas, Verona, estabelecendo-se mais tarde em
reúnem-se em espículas, que são Innsbruck. Morreu de peste em Trento,
cariopses ricas em amido, com as quais em 1577. Além de seus escritos médicos,
se prepara a farinha de trigo, panificável devemos a Mattioli a tradução da
por conter proteína (glute)” (Ferreira, Geographia de Ptolomeu. Mas sua obra
1999: 2002). principal foi a tradução, com
comentários, de Dioscórides. É de 1544
P. 117 - “Però quando fui mandato a seu Di Pedacio Dioscoridae Anazarbo libri
certo descimento de Indij dodici cinque della historia et materia medicinale,
giorni sopra Mariuuà” - referência à tradotta in lingua volgare italiana da M. Pietro
viagem feita por Landi ao rio Marié, Andrea Mattioli Senese Medico. Em 1547
afluente da margem esquerda do Negro, apareceu uma reimpressão e em 1548
de agosto a novembro de 1755, sobre a uma segunda edição. em 1549 teve outra
qual Landi escreveu, como vimos no reimpressão; uma terceira edição em
início deste livro. 1552; todas estas sem ilustrações. Em
1554 começam as edições italianas com
Pp. 117-118 (n. 116). Esponjeira figuras, que se tornam cada vez mais
(“gaggia” (do gr. akakia) em italiano) – perfeitas, e que chegam a alcançar vários
“Arbusto grande, da família das milhares. De 1544 até 1712, constam-se
leguminosas (Acacia farnesiana), dotado 17 edições italianas desta obra de Mattioli;
de propriedades medicinais, cujas flores de 1554 até 1744, 10 edições latinas; de
são hermafroditas, aromáticas, de cor 1562 até 1678, 7 edições alemãs; de 1560
amarelo-viva e dispostas em capítulos até 1680, 7 edições francesas; e de 1562
axilares, e cujos frutos, vagens indeiscentes, até 1595, 3 edições checas, sem contar as
com polpa carnosa e sementes pardas, Opera quae extant omnia, publicadas em
duras, são considerados venenosos; 1598 por Caspar Bauhin e reimpressas
coroa-crísti, coronácris, coronha, esponja, em 1674. As descrições tornam-se cada
espinilho” (Ferreira, 1999: 820). vez mais cuidadosas, obtidas através do
estudo direto das plantas vivas ou secas,
P. 118 - Mattioli - Pier Andrea Mattioli que eram remetidas por seus
nasceu em Siena a 12 de fevereiro de 1501; correspondenmtes. Mattioli tentou
estudou em Pádua, onde se doutorou identificar as plantas vivas através das
em 1527. Passou depois a Roma, de onde antigas descrições de Dioscórides, e várias
teve que fugir em conseqüência do saque vezes incidiu naturalmente em erro,
de 1527, refugiando-se em Trentino. Foi apesar de reconhecer freqüentemente que
ali onde escreveu seu tratado sobre o as plantas que pretendia reconhecer eram
‘morbo gálico’ (sífilis), impresso em distintas. Na primeira edição ilustrada,
1530. Em 1546 foi designado médico da de 1554, há como que 1200 xilogravuras,

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 233


todas originais e tomadas do natural. a falecer; depois dirigiu-o sozinho. A
Muitas correspondem a descrições e partir de 1573, os acessos de febre,
figuras publicadas pela primeira vez na complicados por uma litíase renal,
história da Botânica (Papavero, Llorente- minaram-lhe a saúde, até que em 1600
Bousquets & Espinosa Organista, 1995: abandonou a docência. Faleceu em
107-108). Bolonha a 4 de maio de 1605. As célebres
Aldrovandi - Ulisse Aldrovandi coleções de história natural e peças
nasceu em Bolonha a 11 de setembro de arqueológicas de seu museu passaram,
1522, ficando órfão prematuramente. por seu testamento, juntamente com
Estudou matemática e a prática de seus livros e manuscritos, ao Senado
negócios em sua cidade natal e depois bolonhês. Deixou imensa quantidade de
em Brescia. De espírito aventureiro, doumentos sobre história natural: 300
chegou a fugir da casa paterna e a cadernos manuscritos, 20 pastas com
peregrinar pelo mundo; esteve em Roma, pranchas in-folio, algumas aquarelas,
no sul da França e foi aparecer como xilogravuras, e outras, tudo isto
peregrino em Santiago de Compostela; custeado por ele próprio, ou feito graças
regressou depois à Itália, via Marselha, aos auxílios oferecidos por Gregório
em 1539. Queria partir então para a Terra XIII, Sixto V, pelo cardeal Montalto,
Santa, mas desistiu, por influência da pelo duque de Urbino e pelo grão-duque
família, e dedicou-se ao estudo, Ferdinando da Toscana. Aldrovandi
doutorando-se primeiro em leis, em nunca teve tempo de utilizar todos os
1546; freqüentou depois a Universidade materais que acumulou, e publicou
de Pádua, para estudar medicina e pessoalmente apenas os quatro
filosofia (1548-1553). Em 1549 foi preso primeiros volumes de uma grande obra
pelos esbirros da Inquisição e enviado sobre história natural; o resto foi
para Roma. Libertado por Júlio II, editado e terminado por outros
interessou-se na Cidade Eterna pela compiladores: Nyterver, Dempter e
escultura antiga, mais tarde publicando Ambrosini. Em vida publicou,
um livro sobre o assunto. Em Roma portanto, a Ornithologia, hoc est de avibus
teve contacto com Rondelet (então ligado historia (1599, 1600, 1603) e De animalibus
ao cardeal de Tourlon) e com Paolo insectis libri septem (1602), este seu melhor
Giovio, com os quais aprendeu ictiologia. livro pela novidade do tema, pelo
Finalmente, em 1553, recebeu o capelo cuidado em sua redação e subdivisão, pela
de doutor em medicina e filosofia. Em precisão dos desenhos e pela contribuição
Bolonha sucedeu a Pamphilio Monti em pessoal do autor. Os volumes restantes
sua cátedra do Colégio dos Artistas e apareceram postumamente, na seguinte
como protomédico da cidade. Redigiu seqüência:
por essa época o Antidotarium bononiense. De reliquis animalibus exsanguinis libri
Fundou um museu e, em 1568, com os quatuor; nempe de mellibus, crustaceis, testaceis
aplausos de Luca Ghini, um jardim et zoophytis (1606);
botânico, que dirigiu juntamente com De piscibus libri v et de Cetis liber unus
Cesare Odoni, até 1571, quando este veio (1612);

234 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


De quadrupedibus digitatis viviparis flores no mamoeiro. Contudo, pode-se
libri tres et de quadrupedibus digitatis oviparis considerar dois tipos dominantes de
libri duo (1637); flores e um terceiro tipo intermediário,
Serpentium et draconum historiae libri não dominante, como segue: 1. flores
duo (1639); femininas, ou pistiladas. São as maiores
Monstrorum historia, cum e encontram-se isoladas nas axilas
paralipomenis historiae omnium animalium foliares, curtamente pediceladas; cálice
(1642); rudimentar com 5 dentes; corola
Musaeum metallicum libris iv brancacenta, com 5 pétalas livres,
distributum (1648); espesso-carnosas, estreito-oblongas, até
Dendrologiae naturalis scilicet arborum 6,5 cm de comprimento; ovário
historiae libri duo (1667). volumoso, obovado ou oblongo, lóculo
De uma Dendrologiae tomus alter só único multiovado; quase toda produção
se compuseram o frontispício e algumas de frutos provém desse tipo de flor; 2.
páginas. flores masculinas ou estaminadas,
Aldrovandi nunca teve tempo de dispostas em racimos longos e
ocupar-se adequadamente das plantas, pendentes; cálice rudimentar com 5
apesar de haver reunido um herbário dentículos; corola branca, perfumada,
significatrivo (Papavero, Llorente- com um tubo longo, estreito e afunilado,
Bousquets & Espinosa-Organista, 1995: dividido na parte superior em 5 lobos;
158-160). na parte interna e superior do tubo
encontram-se 10 estames dispostos em
Pp. 118-121 (n. 117). Mamão duas séries; 3. flores hermafroditas, ou
(Mamoeiro) – Carica papaya, Caricácea. “O andróginas, isto é, flores com estames e
mamoeiro é uma erva arbórea não pistlos; é o tipo não dominante, que
ramificada, exceto em situações anormais. aparece ocasionalmente entre os outros
O caule é ereto, crescendo até 6-7 m de tipos de flores e, como são dotadas de
altura, constituído de um tecido mole- pistilo, podem produzir frutos,
fibroso, quando adulto desprovido de sustentados por um longo talo,
medula e dividido em seções. Folhas conhecidos vulgarmente por ‘mamão-
agrupadas no topo do caule, com pecíolo macho’. O fruto do mamoeiro é uma
oco, até 1 m de comprimento, baga de tamanho e forma
inicialmente horizontal, depois consideravelmente variável, podendo ser
pendente; limbo de consistência arredondado, oblongo, prifor me,
membranácea, profundamente lobado, obovado etc.; o tamanho pode atingir
lobos e nervuras de primeira ordem até 40 cm e o peso até 10 kg. O mamoeiro
dispostos palmadamente. As flores do é de origem americana, provavelmente
mamoeiro apresentam-se sob várias nativo do México, ou dos Andes,
formas quanto à sexualidade e, por esta segundo alguns autores. Foi levado
razão, têm sido objeto de inúmeros pelos primeiros navegadores para o
estudos. Alguns autores chegaram a Velho Mundo, onde é hoje largamente
distinguir cerca de 30 tipos diferentes de cultivado em todas as áreas tropicais. Em

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 235


maior ou menor escala é cultivado de P. 124 (n. 119). Pavão(zinho-do-pará)
ponta a ponta em todo o território – Eurypyga helias, ave gruiforme da fam.
brasileiro e, no Pará, é uma das fruteiras Eurypygidae.
de maior expressão comercial,
destacando-se uma cultivar de frutos P. 125 (n. 120). Beija-flor – Aves da fam.
pequenos conhecida como ‘mamão de Trochilidae, em geral.
havaí’. O mamoeiro propaga-se
espontaneamente com extraordinária P. 126 (n. 121). Tem-tem – A primeira
facilidade, principalmente através das ave citada por Landi é o rouxinol-do-
sementes transportadas pelos pássaros rio-negro, ave passeriforme da fam.
(dispersão ornitocórica). Deste modo, Icteridae (Icterus chr ysocephalus). A
não raro, surgem mamoeiros segunda não pode ser identificada.
espontâneos em quintais, em terrenos
baldios, roças abandonadas, margens de Pp. 126-127 (n. 122). Pássaros ditos do
estradas, algumas vezes formando Espírito Santo – Os comentários de
extensos mamoeirais (...). Esta Landi sugerem que a população associava
espontânea propagação, sua fácil cultura, o aparecimento sazonal de determinadas
além de outros fatores positivos, fizeram aves frugívoras em grande cópia com o
do mamão uma das frutas mais “dia do Espírito Santo”, uma das
populares, de presença constante na mesa denominações populares da festa de
de todas as camadas sociais. Verde, é Pentecostes, antigo ritual judeu celebrado
usado na fabricação de doce ou utilizado exatos 50 dias depois da Páscoa, que
como verdura. Contém açúcares, terminou sendo mantido pelos católicos,
vitaminas A, B1, B2 e C e constitui uma graças ao episódio do Novo Testamento
rica fonte de papaína, cuja ação, da vinda do Espírito Santo, enviado por
semelhante à da pepsina, auxilia na Cristo para iluminar os Apóstolos após a
digestão dos outros alimentos, além de sua morte [cf. Atos dos Apóstolos 2: 1-4].
ter emprego industrial e medicinal. O Ainda que o texto do Novo Testamento,
mamoeiro tem vida útil bastante curta, em nenhum momento, relacione
mas floresce e frutifica praticamente de semelhante manifestação à imagem de
modo contínuo” (Cavalcante, 1988: 150- uma ave, mas sim a “línguas de fogo”,
151). antecedidas por um grande rumor vindo
do céu “como se soprasse um vento
impetuoso”, semelhante associação
(Das Aves) [P. 122] encontra-se demasiado presente na
tradição cristã para ser ignorada, conforme
comprova o grande número de textos e
Pp. 123-124 (n. 118). Tucano – Landi obras de arte relativas ao milagre da
refere-se aqui a várias espécies de tucanos imaculada conceição e ao batismo de
e araçaris, dificilmente identificáveis por Cristo (teste Cooper, 1992; Charbonneau-
suas escassas descrições, aves piciformes Lassay, 1997). Nada mais natural,
da família Ramphastidae. portanto, que uma concentração pouco

236 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


usual de aves entre os meados de maio e (Linnaeus, 1766) e até mesmo de
as primeiras semanas de junho causasse Phoenicircus nigricollis (Swainson, 1825)
forte impressão, sobretudo no seio de também pudessem ser observados.
uma população cujo calendário se Conhecidos pelo nome geral de “bacacos”,
apresentava profundamente marcado esses pássaros eram recebidos com grande
pelos eventos religiosos. Ademais, satisfação pelos habitantes da cidade, que
semelhante aparição envolveria espécies de promoviam verdadeiros festins em seus
notável beleza, detalhe talvez nada quintais para saborear a carne de dezenas
desprezível em termo das mentes mais de aves abatidas nas fruteiras vizinhas. De
arrebatadas, sempre prontas e louvar as acordo com os vários testemunhos
maravilhas da Criação e conferir um obtidos, semelhante fenômeno ocorreria
significado mirífico a qualquer evento normalmente nessa época do ano, não
natural. No entanto, tais convicções lhe sendo imputada relação alguma com
parecem ter sido insuficientes para impedir qualquer passagem bíblica ou data
o abate desses pássaros extraordinários, religiosa. Os registros levados a cabo no
conforme se depreende do próprio alto rio Negro sugerem que o texto de
original de Landi. A julgar pela breve Landi se refere a eventos semelhantes
descrição fornecida, as observações do observados na região de Belém
arquiteto italiano correspondem a um (provavelmente; Landi não menciona a
fenômeno que pode ocorrer no final do localidade; muitas de suas observações
período chuvoso em diversas partes da foram feitas em Belém, mas existe um
Amazônia, quando um grande número número considerável delas feitas no rio
de aves parece deslocar-se para áreas ricas Negro), margem direita do baixo
em árvores em plena frutificação, por vezes Amazonas. Com efeito, uma fração
formando concentrações dignas de nota. significativa dos “pássaros do Espírito
Em julho de 1991, poucas semanas após Santo” mencionados pelo arquiteto
a festa de Pentecostes, tive a oportunidade italiano também parece estar formada por
de presenciar uma dessas aglomerações cotíngidas, aves de plumagem esplêndida
em São Gabriel da Cachoeira, cidade mas de canto nada mavioso, que se
localizada na margem esquerda do alto revelam ávidas de determinados frutos,
rio Negro (c. 0º 08’ S, 67º 05’ W), cujos embora muitas vezes não possam ser
arredores estavam tomados por bandos consideradas frugívoras na exata acepção
de aves que disputavam os frutos dos do termo (teste Teixeira & Almeida, 1997).
açaizeiros (Euter pe sp.). Conforme De fato, a descrição de pássaros negros
mencionado por Teixeira & Bornschein com as asas e a cauda brancas ajusta-se de
(1993), uma fração considerável desses forma notável aos machos de Xipholaena
voláteis era composta por cotíngidas lamellipennis (Lafresnaye, 1839), ao passo
(Passeriformes, Cotingidae), sendo os que o relato sobre aves azuis com penas
exemplares de Xipholena punicea (Pallas, murzelas (“morelle”) na garganta parece
1764) particularmente abundantes, corresponder aos machos de Cotinga
embora vários representantes de Cotinga cotinga e/ou Cotinga cayana. Malgrado as
cotinga (Linnaeus, 1766), Cotinga cayana aves cor de carmim (“colore del carmino”)

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 237


possam ser atribuídas aos machos de P. 128 (n. 123). Cigana – Ave galiforme
Phoenicircus carnifex (Linnaeus, 1758), as da fam. Opisthocomidae (Opisthocomus
demais referências revelam-se de difícil hoazin).
identificação, por serem demasiado vagas
ou não corresponderem exatamente a Pp. 128-129 (n. 124). Mutum – A
nenhuma das aves assinaladas para a primeira espécie é o “mutum-pinima”
região de Belém (teste Novaes & Lima, (Crax fasciolata); a segunda o “mutum-
1998). A comparação das observações de cavalo” (Mitu mitu); ambas as aves da
campo efetuadas no alto rio Negro com ordem dos galiformes, fam. Cracidae.
os curiosos comentários de Landi sobre a
antiga Capitania do Grão-Pará sugere que P. 129 (n. 125). Garça – Trata-se aqui da
o deslocamento de contingentes “garça-branca-grande” (Casmerodius albus),
expressivos de determinadas espécies ave ciconiiforme da fam. Ardeidae.
ornitológicas, em demanda de grandes
concentrações de árvores em plena P. 130 (n. 126). Maguari – Ardea cocoi,
frutificação, já representou um evento ave ciconiiforme da fam. Ardeidae.
sazonal comum ao ponto de constituir
referência para o folclore das populações Pp. 130-131 (n. 127). Marrecas – Aves
amazônicas durante o século XVIII. anseriformes da fam. Anatidae.
Semelhante fenômeno revestir-se-ia de
particular interesse sobretudo pela marcada P. 131 (n. 128). Unacuau [sic] – Ave
presença de um número muito expressivo caprimulgiforme da fam. Nyctibiidae.
de cotíngidas, pois esses pássaros não Barbaggiani - coruja-branca -
costumam apresentar tendência ao Segundo a Ornithologia (VIII, 539) de
gregarismo não sejam em absoluto Aldrovandi (1559-1603), este seria o
excepcionais (vide também Snow, 1982). nome italiano da “suindara”, Tyto alba
Embora essas notáveis aparições pareçam (vide Peterson et al., 1988), ave
não ser mais associadas com a festa de estrigiforme da família Tytonidae.
Pentecostes ou qualquer outra efeméride
do calendário católico nos dias de hoje, P. 132 (n. 129). Cujubim – Pipile cujubi,
vale lembrar que a presença de bandos ave galiforme da fam. Cracidae.
expressivos de aves em determinadas
datas religiosas continua mantendo seu P. 132 (n. 130). Nhambu – A espécie
significado no imaginário da região. pequena referida por Landi é Crypturellus
Apenas a guisa de exemplo, lembraríamos sp., e a grande Tinamus sp., ambas aves
a crença popular dos belenenses de que o tinamiformes da fam. Tinamidae.
maior ou menor número de periquitos
(Psittacidae) avistados no segundo P. 133 (n. 131). Saracura – Aramides cf.
domingo de outubro, portanto durante cajanea, ave gruiforme da fam. Rallidae.
as comemorações do Círio de Nazaré,
pressagiam o volume das cheias anuais Pp. 133-134 (n. 132). Anu-una - Crotophaga
(Teixeira, 2000). ani, ave cuculiforme da fam. Cuculidae.

238 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Pp. 134-145 (n. 133). Japiim – Cacicus transposição de páginas. O “moleiro”
cela, ave passeriforme da fam. Icteridae. citado nesta página é Amazona farinosa, ave
psittaciforme da fam. Psittacidae.
Pp. 135-136 (n. 134). Guará – Eudocimus
ruber, ave ciconiiforme da fam. P. 144 (n. 141). Pombas – Aves
Theskiornithidae. columbiformes da fam. Columbidae.

P. 136 (n. 135). Colhereiro – Ajaia ajaja,


ave ciconiiforme da fam. [Mamíferos; sem título]
Threskiornithidae.

P. 137 (n. 136). Jacamim – Psophia sp., Pp. 145-146 (n. 142) Anta – Tapirus
ave gruiforme da fam. Psophiidae. terrestris, mamífero perissodáctilo da fam.
Tapiridae.
Pp. 138-140 (n. 137). Anac㠖 Deroptyus
accipitrinus, ave psitaciforme da fam. Pp. 146-147 (n. 143). Tamanduá – A
Psittacidae. primeira espécie citada por Landi é
Myrmecophaga tridactyla, o tamanduá-
Pp. 140-141 (n. 138). Papagaios – Aves bandeira; a segunda, Cyclopes didactylus, o
psitaciformes da fam. Psittacidae. tamanduaí, ambos mamíferos edentados
da fam. Myrmecophagidae.
P. 142 (n. 139). Araras – Na realidade,
esta deveria ser a p. 143 (ver segunda nota P. 148 (n. 144). Cutia – Dasyprocta sp,
abaixo desta). Landi refere-se aqui a Ara mamífero roedor da fam. Dasyproctidae.
macao e Ara ararauna, aves psittaciformes
da fam. Psittacidae. P. 149 (n. 145). Guariba – Alouatta belzebul,
mamífero primata da fam. Cebidae.
Pp. 143-144 (n. 140). Periquitos - Aves
psittaciformes da fam. Psittacidae. A espécie Pp. 149-150 (n. 146). Macacos – Landi
mencionada à p. 144 é Aratinga solstitialis. refere-se neste trecho a vários primatas
A referência de Landi a um exemplar das fams. Cebidae e Callitrichidae.
“completamente cor de ouro” pode referir-
se a um indivíduo que sofreu tapiragem. P. 150 (n. 147). Quati – Nasua narica,
mamífero carnívoro da fam. Procyonidae.
P. 143 - A primeira sentença (“Têm a cabeça
totalmente amarela e o encontro das asas P. 151 (n. 148) Cuandu – Coendou sp.,
são de carmim” é repetição da frase que mamífero roedor da fam.
inicia a p. 141. O restante texto da p. 143 Erethizontidae.
deveria, na verdade, constituir a p. 142,
antes de entrarem as araras (e a página Pp. 151-152 (n. 149). Capivara –
marcada como 142 por landi a página 143 Hydrochaeris hydrochaeris, mamífero
verdadeira). Landi fez aqui uma roedor da fam. Hydrochaeridae.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 239


P. 152 (n. 150). Mucura ou Sarigüéia – [Répteis; sem título]
Didelphis marsupialis, mamífero marsupial
da fam. Didelphidae.
P. 160 (n. 161). Jararaca – Bothrops sp.,
P p. 1 5 3 - 1 5 4 ( n . 1 5 1 ) . Ta t u – réptil ofídio da fam. Viperidae. Com
D a s y p u s n o v e m c i n c t u s , mamífero muita probabilidade, Bothrox atrox.
edentado da fam. Dasyproctidae, o Dizem Cunha & Nascimento (1978: 175):
tatu-galinha. “Esta espécie é muito freqüente e domina
todas as outras do gênero Bothrops;
P. 154 (n. 152). Paca – Agouti paca, concorre paralelamente com muitas
mamífero roedor da fam. Agoutidae. espécies da família Colubridae em
quantidade de indivíduos. Tem sido
P. 155 (n. 153). Veado – Landi refere-se a encontrada em todos os habitats,
dois gêneros de mamíferos artiodáctilos especialmente nas áreas de roçados, onde
da fam. Cervidae: Mazama sp. e ? são comuns os roedores, alimento
Ozotocerus sp. essencial desses ofídios. Vive na mata,
capoeira, lugares inundados e até nas
P. 155 (n. 154). Porcos – Taititu – Pecari proximidades das casas rurais. Encontra-
tajacu, mamífero artiodáctilo da fam. se nos arredores de Belém, em terrenos
Tayassuidae. abandonados de vegetação secundária,
causando, às vezes, acidentes. É muito
P. 156 (n. 155). Onça, ou seja, Tigre – ativa durante a noite, à caça de roedores e
Panthera onca, mamífero carnívoro da outros mamíferos, como o marsupial
fam. Felidae. conhecido como ‘cuíca do mato’ (gênero
Marmosa). Mas também é ativa durante
P. 157 (n. 156). Maracajá – Felis sp., o dia à procura de pássaros e lagartos
mamífero carnívoro da fam. Felidae. (Ameiva ameiva), de acordo com a análise
do conteúdo estomacal dos exemplares.
P. 157 (n. 157). Irara – Eira barbara, Possuindo grande adaptabilidade ao
mamífero carnívoro da fam. meio ambiente em que vive, prolifera
Mustelidae. demasiadamente, sem ser
comprometida por inimigos potenciais.
P. 157 (n. 158). Aguará – ou É a espécie que ocasiona o maior número
Jaguacambeba – Galictis sp., mamífero de acidentes aos habitantes das zonas
carnívoro da fam. Mustelidae. rurais, em toda a Amazônia,
acompanhada de longe pela surucucu
Pp. 158-159 (n. 159). Preguiça – (Lachesis m. muta (Linnaeus)).”
Bradypus sp., mamífero edentado da fam.
Bradypodidae. Pp. 160-161 (n. 162). Coral – Micrurus
sp., réptil ofídio da fam. Elapidae. Para
P. 159 (n. 160). Sauiá – Mamífero roedor as espécies do leste do Pará, ver Cunha &
da fam. Echimyidae. Nascimento (1978: 157-170).

240 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


P. 161 (n. 163). Surucucu – Lachesis muta como da perda total das extremidades.
muta, réptil ofídio da fam. Viperidae. Encontram-se freqüentemente nos
Cunha & Nascimento (1978: 185) formigueiros (daí ‘mãe-de-saúva’).
comentam sobre esta espécie: “A Ainda não está, ao que parece, de todo
surucucu vive exclusivamente em áreas bem elucidado qual o alimento principal
florestadas, de solo úmido, nas várzeas e desses lacertílios. Dizem alguns autores
proximidade de igarapés, escondendo- que a ‘mãe-de-saúva’ come os seus
se durante o dia no oco de troncos hospedeiros, ao passo que outros lhe
apodrecidos e nas raízes salientes das atribuem predileção por aranhas. São de
ár vores gigantes. Os hábitos são todo inofensivas, mas o povo lhes tem
terrestres e sua maior atividade é durante medo, porque ‘dizem que picam com a
a noite, quando procura pequenos cauda’.”
vertebrados que lhe servirão de alimento.
O exame do conteúdo estomacal atestou P. 163 (n. 165). Sacaimbóia – ou Cipó
ratos do mato. [...]. Não tem sido – O nome ‘cobra-cipó’ é aplicado a
encontrada em outro ambiente no leste muitas espécies de répteis ofídios da fam.
do Pará e por isso sua sobrevivência está Colubridae, dos gêneros Chironius,
condicionada a pequenas ilhas de matas Dendrophidion, Dipsas, Dr ymoluber,
residuais e nas matas ciliares de igarapés Imantodes, Leptophis, Mastigodr yas,
e várzeas. É pouco freqüente em vista da Oxybelis, Philodryas, Sibon e Siphlophis (cf.
devastação que a área vem sofrendo há Cunha & Nascimento, 1978). O nome
mais de 80 anos. Na região sul do Pará o “sacaibóia” é reservado por esses autores
ofídio é mais freqüente, onde grande a duas espécies de Chironius (cf. op. cit.,
parte da área ainda está revestida de densa pp. 62-63). Com a brevíssima descrição
floresta. Vários espécimes de tamanho de Landi é obviamente impossível
avantajado têm sido coletados nessa qualquer tentativa de identificação.
região [...].”
P. 163 (n. 166). Quatimbóia – Nome
P. 162 (n. 164). Cobra-de-duas-cabeças aplicado (mais comumente como
– Amphisbaena sp. ou Leposternon sp., cutimbóia) a diversos representantes do
réptil da fam. Amphisbaenidae. Na gênero Chironius, répteis ofídios da fam.
Amazônia também conhecida como Colubridae.
“mãe-de-saúva”; em tupi, ibijara. Diz
Ihering (s/d: 239-240): “... à primeira Pp. 163-164 (n. 167). Jibóia – Boa
vista parecem ser todas iguais, simples constrictor, réptil ofídio da fam. Boidae.
minhocas grandes, de cauda grossa e Segundo Cunha & Nascimento (1978:
romba como a cabeça (e foi isto que 46): “É ofídio inofensivo, raramente
determinou a escolha do nome). São mordendo. Não é irritadiço, mas quando
de côr pálida, amarelada, em procura alimento em liberdade mata a
conseqüência da vida subterrânea que vítima por constricção. É extremamente
levam e foi também esta a causa da comum na região leste do Pará, onde é
atrofia quase completa dos olhos, bem encontrada em todos os habitats. Parece

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 241


ter mais preferência nos roçados e suas No geral, a descrição de Landi poderia ser
proximidades, nas capoeiras e muitas aplicada a vários outros bagres da família,
vezes próximo das habitações humanas. embora a referência à cabeça que parece
Ocorre em Belém e seus arredores. “coberta de areia grossa” expresse bem a
Hábitos exclusivamente arborícolas, mas granulação peculiar do neurocrânio da
costuma também andar no chão à espécie. É curioso que o autor não
procura de alguma presa e para deslocar- descreva a coloração, que é bastante
se de um para outro lugar. Atividade peculiar: dorso escuro, flancos
mais noturna que diurna. Alimenta-se esbranquiçados e nadadeiras em
de pequenos e médios mamíferos, ratos, vermelho vivo. Ferreira et al. (1998: 126)
aves silvestres e domésticas e lagartos comentam: “Espécie de grande porte,
(Ameiva ameiva), de acordo com o exame alcança mais de 1,5 m de comprimento e
do conteúdo estomacal”. 80 kg de peso [o que corrobora a
observação de Landi de que o peixe teria
P. 164 (n. 168). Acutimbóia – Nome o tamanho de um homem]. A pirarara é
comum a vários répteis ofídios da fam. um peixe praticamente inconfundível,
Colubridae. Ver nota à pág. 163 (no. 166). com sua coloração característica e enorme
Cunha & Nascimento (1978: 64) cabeça. Possui ainda uma placa nucal
reservam este nome para Chironius muito grande e em forma de rim ou
scurrulus. feijão, característica ímpar entre os
pimelodídeos. Diferentemente dos
P. 165 (n. 169). Camaleão – Tupinambis demais grandes bagres, essa espécie
sp., réptil lacertílio da fam. Teiidae. invade os lagos e igapós à procura de
frutos, que inclui em sua alimentação ao
Pp. 165-166 (n. 170). Jacaré, ou seja, lado de peixes, crustáceos (caranguejos e
Crocodilo – Répteis da ordem camarões) e caramujos. Desova no início
Crocodylia. A descrição de Landi é da enchente”.
demasiado generalizada.
P. 168 (n. 173). Gurijuba – Peixe
siluriforme de água salobra, da fam.
[Animais aquáticos (incluindo certos Ariidae (Arius luniscutis). Chega a medir
mamíferos, peixes, ostras, tartarugas); até 1,20 m de comprimento e é freqüente
sem título] nas costas do Pará, do delta amazônico
até a região de Bragança. A estrutura
descrita como matéria-prima de cola é a
Pp. 166-167 (n. 171). Lontra – Lutra sp. bexiga natatória; de fato, ainda hoje, a
ou Pteronura sp., mamíferos carnívoros espécie é procurada para a extração
da fam. Mustelidae. daquele órgão com vistas à fabricação de
ictiocola..
P. 168 (n. 172). Pirarara – Peixe
siluriforme de água doce da família P. 169 (n. 174) Pirarucu – [P. 169]. Peixe
Pimelodidae (Phractocephalus hemiliopterus). osteoglossiforme de água doce da fam.

242 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Arapaimidae (Arapaima gigas), “espécie do Pará sob o nome dourada (não
de grande porte, é o maior peixe de confundir com “dourada”, citada abaixo
escamas da Amazônia, chegando a (n. 188), nem com “dourado”, que é um
atingir mais de 2 metros de caraciforme (Salminus maxillosus) que não
comprimento e 100 quilos de peso. ocorre na Amazônia).
Caracterizada pela língua óssea e áspera
e pelo corpo roliço. Tem respiração aérea P. 179 (n. 176). Mamaiacu – Por este
obrigatória, isto é, precisa subir nome se conhecem os baiacus (fam.
regularmente à superfície para tomar o Tetraodontidae) de água doce da
oxigênio do ar. Este hábito é conhecido Amazônia, duas espécies do gên.
pelos pescadores e usado para capturá- Colomesus (C. asellus e C. psittacus) muito
lo com arpões. É uma espécie semelhantes entre si. O peixe a que alude
predadora, alimentando-se de peixes. Salamon (?) provavelmente se trata de
Na epoca de reprodução, formam casais, Sphoeroides maculatus, o baiacu marinho e
com a fêmea depositandoos ovos em estuarino, de distribuição cosmopolita.
buracos cavados no fundo dos lagos, e Todos possuem os “quatro dentes como
cuidam da prole nos primeiros meses os nossos” e a propriedade de inflar-se
de vida. Espécie muito apreciada como quando perturbados, e a maioria
alimento, contudo em virtude de sua apresenta toxinas letais ao homem na
escassez, sua presença nos mercados é vesícula biliar, ovários e pele.
pequena, sendo inclusive proibida sua Saraca (“salacca” em italiano
captura entre os meses de novembro e moderno) é Alosa communis, uma espécie
março. É comercializada em mantas, que de sardinha, peixe marinho clupeiforme
é a carne, em forma de filé, que fica após da fam. Clupeidae.
a retirada da cabeça, das nadadeiras, e da
espinha dorsal, praticamente sem Pp. 170-171 (n. 177). Agulha – Como
espinhos. Dois métodos de Landi só trata de espécies de água doce
conservação são utilizados: o gelo e a ou estuarinas, e não marinhas, presume-
salga, sendo este último o principal” se que o nome se refira a Potamorrhaphis
(Ferreira et al., 1998: 28). spp., peixes beloniformes da fam.
Belonidae. Há pelo menos duas espécies
Pp. 169-179 (n. 175). Pirajuba – – Peixe na região amazônica, P. guianensis e P.
siluriforme da fam. Pimelodidae petersi. Não têm valor como alimento.
(Brachyplatystoma flavicans). É um dos
peixes comerciais mais procurados no P. 171 (n. 178). Rodela – Segundo o
mercado de Belém, e os exemplares depoimento de várias pessoas mais antigas
comercializados medem cerca de um da região do Baixo Amazonas, esse nome
metro de comprimento, podendo chegar atualmente em desuso deve designar
a metro e meio e um peso de até 25 kg. Pseudodoras niger, peixe siluriforme da fam.
Em estado natural, tem coloração Doradidae. A espécie é hoje conhecida ali
prateada com reflexos dourados, e por como “cujuba”, e como “cuiú-cuiú” no
isso é hoje mais conhecido no Estado Estado do Amazonas.

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 243


Pp. 171-175 (n. 179). Peixe-boi – As espécies que ocorrem na região são
Trichechus inunguis, mamífero sirênio da Hypophthalmus fimbriatus, H. edentatus e H.
fam. Trichechidae. marginatus, não sendo incomuns cardumes
As fotos destas páginas da coleção mistos de indivíduos das duas últimas.
Meira Filho estão praticamente ilegíveis, São bagres de até 30 cm de comprimento,
e daí as numerosas lacunas em nossa de carne gordurosa, apreciadas em
leitura do texto. algumas regiões como Cametá, mas
rejeitadas em várias outras como peixe
P. 75 (n. 180). Tucunaré – Possivelmente “reimoso” – ou seja, cujo consumo
Cichla ocellaris, peixe perciforme da fam. causaria pruridos e alergia, e faria mal ao
Cichlidae. O Dr. S. Kullander (com. pess.) sangue.
acredita ser o número de espécies de
tucunaré maior do que hoje imaginado, e P. 176 (n. 183). Sardinhas – Na
o nome é indiscriminadamente usado Amazônia, o termo “sardinha” pode
para várias formas de Cichla. Todas são designar peixes de água doce pertencentes
de porte médio a grande (até 60 cm de a dois grupos bem distintos. Hoje, o
comprimento) e de carne apreciadíssima. nome se refere principalmente aos
O lúcio mencionado é o Esox caraciformes do gên. Triportheus (fam.
lucius europeu (fam. Esocidae). Characidae, sete espécies na região), peixes
de formato alongado com a parte anterior
P. 175 (n. 181). Piranha – O nome é do ventre caracteristicamente encurvada,
aplicado a vários gêneros e espécies de superficialmente assemelhadas às
peixes caraciformes da subfam. sardinhas verdadeiras, que são
Serrasalminae (fam. Characidae). Entre clupeiformes da fam. Clupeidae. Os
as que ocorrem no Rio Negro estão representantes fluviais deste último
Pygocentrus nattereri (piranha-caju), grupo são atualmente mais conhecidos
Serrasalmus spilopleura (piranha-mafurá), como “sardinhão” ou “apapᔠe
S. elongatus (piranha-longa) e S. rhombeus compreendem três espécies – Ilisha
(piranha-preta, esta a que atinge maior amazonica, Pellona flavipinnis e Pellona
tamanho, com até pouco menos de castelnaeana – das quais apenas as do gên.
meio metro de comprimento), algumas Pellona atingem (e podem até ultrapassar)
de conhecida ferocidade, fato o tamanho de “dois palmos” citado por
curiosamente omitido na descrição de Landi.
Landi.
Quanto à “dourada” citada (vrata P. 177 (n. 184). Piramutaba - Se na época
no original), v. n. 185 abaixo. do autor a piramutaba (Brachyplatystoma
vaillanti, siluriforme da fam. Pimelodidae)
P. 176 (n. 182). Mapará – Denominação era “comum” a ponto de ser encontrada
de diversos peixes siluriformes hoje “em cada rio vizinho da cidade [de
classificados na subfam. Hypophthalminae Belém]”, hoje, devido à intensidade do
(fam. Pimelodidae), tendo sido esforço de pesca, a espécie se tornou
anteriormente situados em família própria. escassa na região. Ainda pode ser

244 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


capturada em grande número na calha Micropogonias, Nebris, Paralonchurus,
do rio Amazonas, onde atuam frotas de Pogonias e Stellifer.
navios pesqueiros “piramutabeiros”, cuja A “nossa dourada” (vrata no
produção é inteiramente absorvida pelo original) se refere ao peixe que se chama
mercado de exportação. É a menor das “orata” em italiano moderno (do latim
espécies do gên. Brachyplatystoma e, como aurata). Trata-se do perciforme Sparus
as demais, tem um ciclo de vida auratus (fam. Sparidae), um pargo
caracterizado por migrações de longa comum no Mediterrâneo. Essa espécie,
distância que percorrem desde o alto rio que não ocorre no Brasil, é chamada
Solimões até a baía de Marajó. Segundo “dourada” em Portugal, e nada tem a
Ferreira et al. (1998: 134): “Espécie de ver com o dourado-do-mar (Coryphaena
grande porte, alcança cerca de 1 m de spp., fam. Coryphaenidae), ou a nossa
comprimento e cerca de 10 kg de peso. atual dourada (Brachyplatystoma
Difere de suas congêneres em forma e flavicans, v. “Pirajuba” acima), ou o
hábitos. Quanto à forma, apresenta uma dourado da bacia do Paraná-Paraguai
nadadeira adiposa longa, com base (Salminus maxillosus, fam. Characidae),
distintamente maior que a base da anal. e muito menos com o “dourado” do
Além disso, é a única espécie do gênero próprio Landi (v. n. 183 abaixo).
que forma grandes cardumes, podendo
se capturada aos milhares ao longo da P. 178 (n. 186). Bacu – Lithodoras dorsalis,
calha do Solimões/Amazonas. Devido peixe siluriforme da fam. Doradidae. O
a esse fato, e por ser bem aceita tanto aspecto “escamoso” citado por Landi
para consumo local como para não se refere à presença de escamas, mas
exportação, movimenta uma pescaria ao fato de, em indivíduos grandes
intensiva e muito específica, sendo pouco (maiores que 30 cm), o ventre aparecer
seletiva quanto ao tipo de peixe utilizado recoberto de pequenas placas ósseas que
como alimento. Reproduz-se no início gradualmente vão ocupando toda a parte
da enchente, ao que tudo indica, no alto do corpo abaixo dos escudos da linha
Solimões com os alevinos crescendo no lateral. Essas placas eventualmente se
estuário nas proximidades da Baía de anastomosam e conferem ao peixe um
Marajó”. aspecto rígido e pétreo, do qual deriva o
nome genérico e a denominação popular
P. 177 (n. 185). Pescada – Nome geral de “bacu-pedra”. Pode chegar a pouco
dado aos perciformes da fam. Sciaenidae, mais de um metro de comprimento e,
peixes de alto apreço gastronômico e em que pese a avaliação contraditória de
valor comercial. As formas de água doce Landi sobre o sabor de sua carne, ocorre
incluem os gêneros Plagioscion (cinco a exportação da mesma na forma de
espécies na Amazônia), Pachypops (duas) postas e filés congelados.
e Pachyurus (três). Há pelo menos onze
gêneros de pescadas de água salobra ou P. 178 (n. 187). Raia – As raias de água
salgada na região: Ctenosciaena, Cynoscion, doce da Amazônia pertencem à fam.
Isopisthus, Larimus, Lonchurus, Macrodon, Potamotrygonidae, com cinco ou seis

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 245


espécies do gên. Potamotrygon e pelo espécies na Amazônia) e, por extensão, a
menos uma espécie de um gênero ainda fam. Ageneiosidae como um todo. Os
não descrito (P. Charvet, com. pessoal). mandubés são bagres de corpo
Todas podem atingir ou mesmo lateralmente comprimido e cabeça
ultrapassar meio metro de diâmetro do verticalmente achatada, superficialmente
disco, e são muito temidas pelos parecidos aos maparás (subfam.
ribeirinhos devido ao acúleo que Hypophthalminae) mas com barbilhões
possuem na base da cauda, causador de curtos e reduzidos a um par apenas, que
acidentes dolorosos. Exemplares é ossificado nos machos reprodutivos.
pequenos vêm sendo comercializados no A. brevifilis, o maior deles, pode chegar a
mercado de peixes ornamentais, e os uns 60 cm de comprimento. A carne é
maiores podem ser consumidos como apreciada em algumas regiões, e
alimento, embora pouco apreciados. desprezada em outras como sendo
“reimosa”.
P. 179 (n. 188). Dourado – Este Ventre di tonnina - traduzimos
“dourado”, que não deve ser confundido por “ventrecha de atum”.
com outros “dourados” e “douradas”
(v. n. 185 acima), refere-se ao siluriforme P. 180 (n. 191). Poraquê – Electrophorus
Pimelodus ornatus (fam. Pimelodidae), electricus, peixe gimnotiforme da fam.
hoje conhecido como “mandi-amarelo”. Electrophoridae. Suas propriedades
É uma espécie de porte pequeno (20 cm eletrogênicas são bastante conhecidas, e
de comprimento), integrante da pesca de compreendem descargas de alta voltagem
subsistência das populações ribeirinhas, produzidas pelo órgão elétrico principal
com valor comercial reduzido aos (derivado de um feixe de músculos
mercados locais. estriados) para aturdir presas, e pulsos
intermitentes de baixa freqüência que
P. 179 (n. 189). Piraúna – Denominação servem para orientação e comunicação
dada na Amazônia aos adultos do peixe interespecífica. A espécie foi descrita na
perciforme Pogonias cromis, de hábito XII edição do Systema Naturae de
estuarino e marinho (fam. Sciaenidae). É Linnaeus (1766) como Gymnotus
também conhecido como “miraguaia”. electricus. O termo “enguia elétrica”,
Os indivíduos novos são de cor prateada, comum na mídia impressa e televisiva, é
com quatro faixas transversais; os uma tradução literal da denominação em
adultos, que podem chegar a metro e inglês da espécie (“electric eel”) e não tem
meio de comprimento e mais de 60 kg qualquer uso entre as populações
de peso, são escuros – e daí o nome amazônidas.
“piraúna” (Ihering, s/d: 455). De fato, a Na região de Ourém, centro-norte
espécie é infreqüente nas coletas da região. do Estado do Pará, a espécie é tida como
comestível uma vez que se lhe extirpe a
Pp. 179-180 (n. 190). Mandubé – Por “lolóia”, ou o órgão elétrico principal.
este nome se designam os siluriformes Parte deste texto foi citada por
do gên. Ageneiosus (quatro ou cinco Sousa (1999: 268).

246 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Pp. 180-181 (n. 192). Ostras – Landi deve P. 186 (n. 196). Trairambóia – Nome
querer referir-se aqui a diversos moluscos de algum réptil ofídio da fam.
bivalvos de água doce, e não às ostras Colubridae.
(Oestreidae) verdadeiras.
P. 187 (n. 197). Ararambóia –
Pp. 181-184 (n. 193). Tartarugas – Landi Provavelmente Corallus caninus, réptil
refere-se à tartaruga-do-amazonas, ofídio da fam. Boidae.
Podocnemis expansa, réptil quelônio da P. 187 (n. 198). Jaquiranambóia –
família Pelomedusidae. Fulgora spp., inseto homóptero da fam.
Fulgoridae. Para o folclore da
Pp. 184-185 (n. 194). Tracajás – A tracajá jaquiranambóia, ver Lenko & Papavero
é a espécie Podocnemis unifilis, réptil (1997: 119-128). Sousa (1999: 270)
quelônio da família Pelomedusidae. comentou: “o manuscrito termina com
As “tartarugas que se pescam no uma pequena descrição de um ofídio
Maranhão, que são de água salgada”, [sic!] que Landi conhecia mal, a
referidas no fim da p. 184, são as uruanás, Giachiranamboia”.
Caretta caretta, ou as tartarugas-de-pente,
Erethmochelys imbricata, ambas espécies de [Índice]
répteis quelônios da fam. Cheloniidae.

P. 185 (n. 194) - Paoli – paulos, moeda Pp. 188-192 - Landi omitiu, por
assim chamada do nome do Papa Paulo descuido, de seu índice, os seguintes
III, antiga moeda de prata da Roma papal. verbetes: annacan (anacã; p. 138); anta (p.
145); auará (aguará; p. 157); aguglia
(agulha; p. 170); arraramboia (ararambóia;
[Volta a tratar de cobras, incluindo a p. 187); garza (garça; p. 129); giacarè (jacaré;
jaquiranambóia] p. 165; jaguàcambeba (jaguacambeba; p.
157); mangas (mangues; p. 96); mandue
(mandubé; p. 179); pimentas (p. 59); parera
P. 186 (n. 195). Boiúna – Provavelmente (parreira; p. 113); sariguéia (sarigüéia; p.
a “sucuri”, Eunectes murinus, réptil ofídio 152); scipò (cipó; p. 163); taitetù (taitetu;
da fam. Boidae. Sousa (1999: 267) p. 155); tigre (onça; p. 156); tariramboia
identificou-a como Eunectes sp. (tarirambóia) (p. 186); vite (videira; p. 113).

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 247


Índice dos nomes populares originais
de animais e plantas contidos no Códice
(As páginas referem-se ao MS de Landi)

Abbacati - 16 Camaleonte - 165


Accapù - 87 Capiuuara - 151
Acapuranas - 96 Caragiurù - 19
Accutinboia - 164 Cardi - 112 [116]
Agli - 122 [116] Castagno - 77
Agochia - 170 Cedro bianco - 88
Aguglia - 170 Cedro incarnato - 88
Andirobba - 70 Ciapin - 134
Angellino - 84 Cicoria bianca - 111 [115]
Angellino-di-coco - 85 Cicoria in cespi - 111 [115]
Angellino-di-pietra - 85 Cicoria trinciata - 111 [115]
Annacan - 138 Cinganá - 128
Annanì - 92 Cipolla braba, o sai saluatica - 25
Anningas - 80 Cipolla della terra - 112 [116]
Annaunà - 133 Cipolle - 112 [116]
Anta - 145 Coàtti - 150
Appui - 109 Coattimboÿa - 163
Aquitti - 116 Cocodrilo - 165
Arare [sic] - 142 Colombi - 144
Arraramboia - 187 Continas - 26
Aruiglie - 112 [116] Corallo - 160
Assapucaia - 79 Cottone - 21
Atta - 7 Cottone detto di Pirichito - 23
Auarà - 157 Coui apperti - 111 [115]
Coui col cappucio - 111 [115]
Bacú - 178 Crauo - 101
Bacuri - 68 Cuandù. - 151
Biribas - 15 Cubbio - 26
Biscia detta di due teste - 162 Cuggiubim - 132
Brocoli - 111 [115] Cugliarera - 136
Brocoli gemani [?] - 111 [115] Cuia - 37
Buiuna - 185 Cujubin - 132
Cumarù - 97
Cacao - 31 Cummandaassú - 45
Caffè - 4 Cuppauba - 99
Caggiù - 1 Cupuassú - 13
Cagiu - 104 Cuttia - 148

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 249


Cuttutirubà - 76 Latuca - 112 [116]
Loiro bianco - 86
Dourado - 179 Loiro incarnato - 86
Lontra - 166
Erba di San Gaetano - 112 [116]
Erbaggi - 111 [115] Macachi - 149
Maguari - 130
Faggiuoli - 112 [116] Mairagiuba - 95
Faua seluatica - 35 Mamiacù - 170
Faua de impicio - 36 Mamone - 118
Faue - 112 [116] Mamone vrana - 41
Fichi - 113 Mandue - 179
Frumento - 117 Mangani - 102
Mangas [sic] - 96
Garoffani - 117 Mappara - 176
Garza - 129 Maracagià - 157
Giacarè - 165 Maracugià - 65
Giachamin - 137 Marapautá [?] - 91
Giachiraramboia - 187 Maraquittiara - 94
Gialappa - 36 Marecas - 130
Gianauua - 110 Massaranduba - 90, 110
Giararaca - 160 Morrera braba - 61
Giassitara - 60 Mucura - 152
Giboia - 165 Mulleiro - 143
Gingias - 110 Murapenim - 106
Ginipapo - 3 Muschini - 9
Giniparana - 9 Mustarda - 112 [116]
Giuà - 25 Muttù - 128
Giuttaì - 103
Guarà - 135 Nambù - 132
Guaranà - 43
Guariba - 149 Onza machiata - 156
Guiaua - 10 Onza negra - 156
Gurugiuba - 168 Onza rossa - 156
Ortollana - 122 [116]
Iggiò [?] - 7 Ostras - 180
Indiuia - 111 [115] Ostrie - 180
Ingas - 34, 74
Iuarà - 157 Pacha - 154
Pacoue-sororoche - 64
Jaguácambeba - 157 Pappagalli - 140
Jràra - 157 Perera - 113

250 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Paricà1 - 95 Sardine - 176
Paricà2 - 97 Sariguèia - 152
Passeri detti dello Spirito Santo - 126 Savià - 159
Pàu d’arco - 92 Scipò-una - 7
Paù ferro - 107 Sipò - 163
Pau incarnato - 96 Siringa - 39
Pau rosa - 94 Sorbas - 73
Paù rosso - 95 Sponggiettas - 117
Pauone - 124 Sumauma bianca - 28
Periquitos - 143 Sumauma incarnata - 27
Pescada - 177 Suppupira - 98
Pesce bue - 171 Surucucù - 161
Peterzemolo - 112 [116]
Pica flore - 125 Taigià-de-cobras - 57
Pichià - 42 Taitetù - 155
Pigricia - 158 Tamandua - 146
Pimenta saluatica - 18 Tapiribas - 75
Pimentas - 59 Tariramboia - 186
Piramutaua - 177 Tartarughe - 181
Piranga [sic, piragna] - 175 Tattù - 153
Pirarrara - 168 Tein tein - 126
Pirauiua - 169 Tigre - 156
Pirauna - 179 Tomate - 111 [115]
Piriquitos - 143 Tracaggiàs - 184
Pomi d’oro - 111 [115] Tuccano - 123
Porcos - 135 Tucunarè - 175
Porcuollana - 112 [116] Turrù - 84
Puciri - 23
Purachi - 180 Uiola - 117
Purarucù - 169
Vaniglia - 105
Quacingùaa - 108 Veado - 155
Quacinga [?] - 108 Vite - 113
Vmarì - 79
Radechij - 111 [115] Vmiri - 81
Raia - 178 Vnacuaù - 131
Rodella - 171 Vrrapari - 62
Rosmarino - 112 [116]

Sabonetas - 17
Saccaimboÿa - 163
Saracura - 133

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 251


Índice dos nomes populares de animais e plantas utilizados na tradução
(As páginas referem-se ao MS de Landi)

Abacate - 16 Camaleão - 165


Acapu - 87 Capivara - 151
Acapurana - 96 Carajuru - 19
Acutimbóia - 164 Cardos - 112 [116]
Aguará - 157 Cebola - 112 [116]
Agulha - 170 Castanha[-do-pará] - 77
Alface - 112 [116] Cebola brava, ou seja, selvagem - 25
Algodão - 21 Cebola-da-terra - 112 [116]
Algodão-de-periquito - 23 Cedro-branco - 88
Alho - 112 [116] Cedro-encarnado - 88
Amoreira-brava - 61 Chicória-branca - 111 [115]
Anacã - 138 Chicória-em-céspedes - 111 [115]
Anani - 92 Chicória-trinchada - 111 [115]
Andiroba - 70 Cigana - 128
Angelim-coco - 84 Cipó [Cobra-cipó] - 163
Angelim-do-pará - 84 Cipó-una - 7
Angelim-pedra - 84 Cobra-de-duas-cabeças - 162
Aninga - 80 Colhereiro - 136
Anta - 145 Continhas - 26
Anu-una - 133 Copaíba - 99
Apuí - 109 Coral [Cobra-coral] - 160
“Aquiti” - 46 Couve - 111 [115]
Arapari [?] - 62 Cravo - 101
Ararambóia - 187 Cravo [flor] - 117
Araras - 142 Crocodilo [Jacaré] - 165
Ata - 7 Cuandu - 151
Aves-do-Espírito Santo - 126 Cubio - 26
Cuia - 37
Bacu - 168 Cujubim - 132
Bacuri - 69 Cumandá-açu - 45
Baunilha - 105 Cumaru - 97
Beija-flor - 125 Cupuaçu - 13
Biribá - 15 Cutia - 148
Boiúna - 186 Cutitiribá - 76
Brócolos - 111 [115]
Dourado - 179
Cacau - 31
Café - 4 Endívia - 111 [115
Caju - 1, [104] Erva-de-são-caetano - 112 [116]

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 253


Ervilhas - 112 [116] Louro-encarnado - 86
Esponjeiras - 117
Macacos - 149
Favas silvestres - 35 Maçaranduba - 90, 109
Favas-de-impigem - 36 Maguari - 130
Feijões - 112 [116] Mamaiacu - 170
Figos - 113 Mamão - 118
Mamorana - 41
Garça - 129 Mandubé - 179
Ginja - 110 Mangues - 102
Goiaba - 10 Maparás - 176
Guará - 137 Maracajá - 157
Guaraná - 43 Maracujá - 65
Guariba - 149 “Marapautᔠ- 91
Guaxinga - 108 Marrecas - 130
Guaxinguba - 108 Moleiro - 142
Gurijuba - 168 Moscatel - 116 [114]
Mosquinhas - 9
Hortaliças - 111 [115] Mostarda - 112 [116]
Hortelã - 112 [116] Mucura - 152
Muirajuba - 95
“Iggiò” - 7 Muirapinima - 106
Ingás - 34, 74 Muiraquatiara - 94
Irara - 157 Mutum-cavalo - 128
Mutum-pinima - 128
Jacamim - 137
Jacaré - 165 Nhambu - 132
Jacitara - 60
Jaguacambeba - 157 Onça-pintada - 156
Jalapa - 36 Onça-preta - 156
Janaúba - 109 Onça-vermelha - 156
Japiim - 134 Ostras - 180
Jaquiranambóia - 187
Jararaca - 160 Paca - 154
Jenipaparana - 9 Pacova-sororoca - 64
Jenipapo - 3 Papagaios - 140
Jibóia - 163 Paricá - 97
Juá - 25 Parreira - 113
Jutaí - 103 Pau-d’arco - 92
Pau-encarnado - 96
Lontra - 166 Pau-ferro - 107
Louro-branco - 86 Pau-rosa - 94

254 Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira


Pau-roxo - 95 Taitetu - 155
Pavão (Pavãozinho-do-pará) - 124 Tajá-de-cobra - 57
Peixe-boi - 171 Tamanduá - 146
Periquitos - 143 Tamanduaí - 146
Pescadas - 177 Taperebás - 75
Pimenta silvestre - 18 Tarirambóia - 186
Pimentas - 59 Tartaruga-de-pente - 184
Piquiá - 42 Tartarugas - 181
Pirajuba - 169 Tatu - 153
Piramutaba - 177 Tem-tem - 126
Piranha - 175 Tigre - 156
Pirarara - 168 Tomate - 111 [115]
Pirarucu - 169 Tracajás - 184
Piraúna - 179 Trigo - 117
Pombas - 144 Tucano - 123
Poraquê - 180 Tucunaré - 175
Porcos - 155 Turu - 84
Preguiça - 158
Puxiri - 23 Umari - 79
Umiri - 81
Quati - 150 Unacuaú - 131
Quatimbóia - 163
Veado - 155
Raia - 178 Videira - 113
Repolho - 111 [115] Violeta - 117
Rodela - 171

Sabonete - 17
Sacaimbóia - 163
Salsa - 112 [116]
Sapucaia - 77
Saracura - 133
Sardinhas - 176
Sarigüéia - 152
Sauiá - 159
Seringa - 39
Sorva - 73
Suçuarana - 156
Sucupira - 98
Sumaúma branca - 28
Sumaúma encarnada - 27
Surucucu - 161

Landi: Fauna e Flora da Amazônia Brasileira 255


Referências

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