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Técnica Individual - Artigo 26

2 – Das Estratégias e Táticas para a Técnica.

No artigo 25 apresentei um Método de Treinamento para Consolidação do


Vínculo Bloqueio-Defesa. Em rápidas palavras, o Treinamento parte da
Capacitação Técnica Individual para a Construção das Estratégias e Táticas
Defensivas.

Ou seja, a Aprendizagem e o Aperfeiçoamento da execução dos fundamentos


da técnica tendo em vista capacitar os jogadores para cumprirem atribuições
estabelecidas na Estratégia e nas Tática do time.

Neste artigo sugiro Método, que em uma Primeira Parte, o Treinador elabora a
Estratégia e Táticas Alternativas, de acordo com as capacidades técnicas de
seus jogadores. Em uma Segunda Parte, trabalha o Aperfeiçoamento da
Execução da Técnica de seus jogadores - de modo individualizado e específico
- com vistas ao cumprimento de suas atribuições nas funções estabelecidas
nas Estratégias e Táticas Alternativas.

O Treinamento é dividido em duas Partes, cada qual com um objetivo


específico. Porém, absolutamente interligados.

Parte 1 - aperfeiçoamento da execução das atribuições dos jogadores no


desempenho das funções do jogo.

Parte 2 - aperfeiçoamento da execução dos fundamentos da técnica requeridos


ao desempenho das funções do jogo.

Parte 1 - Aperfeiçoamento da Execução das atribuições dos jogadores no


desempenho das Funções da Estratégia e Táticas.

- Organização da Sessão do Treinamento

O Treinador divide as duplas.

A Dupla em Treinamento (DT) executa as seguintes funções do jogo:

- Saque;
- Bloqueio;
- Defesa;
- Contra-Ataque.

A Dupla Oponente (DO):


- Recepção;
- Levantamento;
- Ataque;
- Cobertura do Ataque.

- Divisão da Sessão do Treinamento em Módulos.

A Sessão do Treinamento é dividida em Módulos. Em cada qual, Sequências.


Estas, são iniciadas - sempre - com os saques desferidos, consecutivamente,
por um dos jogadores da Dupla em Treinamento (DT); os dois se revezam, ora
saca um ora saca o outro.

O Treinador estabelece um número de saques de cada Módulo – de seis a oito


- para cada um dos dois jogadores. Resumindo, o Módulo é composto por 12
ou 16 sequências.

 Nota

Os tipos de saque e os pontos da quadra que os jogadores devem visar, são


estabelecidos pelo Treinador, em cada Módulo. Portanto é também um
treinamento para aperfeiçoar Saque.

A Dupla Oponente (DO) realiza, exclusivamente, a recepção, o levantamento, e


o ataque. No ataque, a cada módulo um tipo de bola e com diferentes tipos de
golpes.

Exemplo no quadro a seguir.

Bola Tipos de Golpe


Extremidades da Rede, com trajetória mais alongada e/ou intencionalmente mais Cortada com Potência Máx
Cortada com Meia-Batida
“Lob” (*)
“Cut” (*)
Soco (*)
o (*), de acordo com o posicionamento do Jogador-Atacante (JA). Cortada com Potência Máx
Cortada com Meia-Batida
“Lob”
“Cut”
Soco
/Meia Bola por Trás Cortada com Potência Máx
Cortada com Meia-Batida
“Lob”
“Cut”
Soco
tada (*), nas Extremidades da Rede e/ou no Terço Central da Rede Cortada com Potência Máx
Cortada com Meia-Batida
“Lob”
“Cut”
Soco
 

- A Dupla em Treinamento (DT) se organiza defensivamente para:

1 – marcar o ponto por meio do Bloqueio;

2 – conquistar a posse da bola, pela defesa, e realizar o contra-ataque; a bola


fica em jogo até que uma das duplas marque o ponto.

O treinador estabelece um tipo de saque e o alvo a ser buscado para os


jogadores da DT, a cada módulo. Por exemplo:

1 – entre os dois jogadores, a trajetória mais rápida possível, desferido do terço


central da Zona de Saque (ZS);

2 – entre os dois jogadores, passando alto pela rede e descaindo no terço final
da quadra oposta, desferido do terço central da ZS;

3 – curto, entre os dois jogadores, desferido do terço central da ZN;

4 – de linha a linha, desferido das metades direita/esquerda da ZS;

5 – entre os dois jogadores, deferido das metades direita/esquerda da ZS.

 Nota

O tipo do saque deve ser estabelecido pelo treinador. De modo geral, o que os
jogadores habitualmente utilizam ou precisam passar a utilizar nos jogos.
 

Cada Sequência é iniciada com as duplas, DT e DO, realizando cada qual com
uma atribuição.

Momento 1

Dupla em Treinamento.

Um dos jogadores da DT executa todos os saques do Módulo. Os dois


jogadores combinam a estratégia Bloqueio-Ataque.

Caso consigam o ponto direto com o Bloqueio, inicia-se a sequência seguinte.

Caso consigam a posse da bola com a Defesa, realizam o contra-ataque e o


jogo continua até que uma das duplas marque o ponto.

 Nota

Apenas o ataque da primeira ação é pré-estabelecido. Na continuidade, ou


seja, com a bola permanecendo em jogo os ataques são de acordo com a
conveniência dos jogadores.

Dupla Oponente

Realiza a recepção, o levantamento e ataque (do tipo de bola pré-estabelecida


pelo Treinador).

Caso marque o ponto, reinicia-se nova sequência.

Caso a DT conquiste a posse da bola, rearma-se imediatamente no seu


Sistema Defensivo, Bloqueio-Defesa (Transição do Sistema Ofensivo para o
Defensivo) e a bola permanece em jogo até que uma das duplas marque o
ponto.

Ao final dos Módulos (seis ou oito saques por apenas um dos jogadores), o
Treinador instrui a troca do jogador que executa os saques. A cada sequência
nova troca e, dessa maneira, vão se alternando.

 Nota
Quando a DT consegue a posse de bola com o toque no bloqueio ou com a
defesa, realiza a Transição do Sistema Defensivo para o Ofensivo. No mesmo
momento a DO realiza a Transição do Sistema Ofensivo para o Defensivo. A
bola permanecendo em jogo, as Transições vão se sucedendo tantas vezes
quantas forem necessárias; até que o ponto seja marcado.

Parte 2 - Aperfeiçoamento da Execução dos Fundamentos da Técnica


requeridos ao desempenho das Funções da Estratégia e Táticas Alternativas.

Esta parte é realizada em outro Momento, em outra Sessão de Treinamento.


Por exemplo. Na Seleções Brasileiras de Vôlei de Praia, categorias Sub 19 e
Sub 21, a Parte 1 era realizada no turno manhã e parte 2 no turno tarde.

Os Treinadores optaram por essa divisão considerando que na parte da manhã


os atletas estão mais descansados, com a cabeça mais aberta a receber
informações e, por conseguinte, obter melhor aproveitamento com o
treinamento.

Partindo do pressuposto que os atletas possuem boa capacidade técnica


individual, o objetivo é apurar a execução dos fundamentos utilizados na Parte
1. Nesta, os jogadores as percebem as virtudes, o que fizeram bem, as
dificuldades que encontraram para desempenhar suas funções. Portanto, o
treinamento deve ser:

- individualizado, ou seja, cada jogador exercitará os fundamentos da técnica


que sentem maior dificuldade;

- específico, ou seja, em cada função (saque, bloqueio e defesa) apenas os


itens que encontram dificuldade.

Por exemplo:

- no Saque, se conseguiram ou não executar os saques e acertar alvos


estabelecidos pelo Treinador;

- no Bloqueio, se conseguiu bom aproveitamento, encontrou dificuldade na


marcação, no tempo, na velocidade da execução completa, etc.

- na Defesa, encontrou dificuldade no amortecimento, no domínio após


deslocamentos, no controle em bolas altas/baixas em relação à linha da
cintura, etc.
 

A seguir, um quadro com exemplos de itens a serem aperfeiçoados.

Saque

Ponto da Zona de
Tipo Trajetórias Alvos
Saque
Tênis Z1 - Z3 - rápida, rente a rede p1 - p5
Z1 - Z3 - longa, alta sobre a rede p1 - p3 - p5
Z1 - Z3 - curta, rente a rede p1'' - p3'' - p5''
Viagem Chapado (*) Z1 - Z2 - Z3 - rápida, rente a rede p1- p1' - p3 - p3'
- longa, alta sobre a rede p1- p3 - p5
- curta, rente a rede p1'' - p3'' - p5''
Viagem Potente (*) Z1 - Z2 - Z3 - rápida, rente a rede p1- p1' - p3 - p3'

(*) - Nomes popularizados no Vôlei Brasileiro

No diagrama a seguir, a Zona de Saque com três divisões, Z1, Z2 e Z3. E os


Alvos a serem buscados com os Saques. A quadra está dividida em três terços
no sentido transversal e três no longitudinal. As designações podem ser a
critério de cada Treinador.

 
 

Bloqueio

Item do Bloqueio Itens a serem Trabalhados


Execução correta do Bloqueio - qualidade do salto
- equilíbrio do corpo no ar
- espaço do corpo em relação à rede, na subida e
- angulação dos braços em relação à rede
Tempo, Aspectos Relacionados - decisão do momento do salto
- velocidade na execução completa
- percepção dos movimentos do atacante adversá
- movimentação dos braços de acordo com a traje
Pontos de Referência para o Posicionamento - marcação no centro do corpo do atacante adver
- marcação à direita/à esquerda do corpo

Defesa

 
Item da Defesa Itens a serem Trabalhados
Execução Correta - para amortecimento da bola no corpo, à direita e à esquerda
- para amortecimento após deslocamento curto, à direita, à esqu
do corpo
- para controle após deslocamento longo, nas bolas atacadas po
"Lobs" (*), nos terços inicial e final da quadra
- para a defesas após as saídas do bloqueio ("Reco" (*)
Aspectos Táticos - amortecimento da bola direcionando-a à Zona de Levantament
- defesa de "Lobs", no terço final da quadra, com altura adequad
aproximação para o ataque
- defesa de "Cuts" com altura adequada tendo em vista o recuo p
habitualmente é iniciada a aproximação para o ataque

(*) - Nomes popularizados no Vôlei Brasileiro

Vantagens

1 - É apropriado a times compostos por jogadores com boa capacidade técnica


individual, uma vez que é mais curto o tempo e esforço despendidos com
treinamento da técnica.

2 - Os atletas trabalham, objetivamente, o necessário para se desincumbirem


de suas atribuições.

3 - Desenvolve a auto responsabilidade. O atleta percebe suas virtudes e suas


dificuldades no desempenho de suas atribuições. E as trabalha com maior
consciência no treinamento técnico individual. E, consequentemente, o que
precisa trabalhar para elevar seu nível de competitividade.

4 - Desenvolve o discernimento tático individual. Passa a saber os porquês de


todas a ações que executa em um jogo.

Desvantagens

1 - Não é adequado a jogadores que não possuem capacidades física e técnica


para desempenhar as funções estabelecidas em uma estratégia.

2 - Requer alta capacidade ao Treinador na elaboração do Planejamento e na


apresentação dos Conteúdos.

3 - Requer, aos jogadores, autodisciplina e capacidade de concentração ao


longo de toda a Sessão do Treinamento.
 

Conclusão.

O Vôlei de Praia tem evoluído muito desde que a modalidade um Desporto, ou


seja, passou a ser disputada com as mesmas no mundo todo. Acredito que tem
muito a evoluir.

Nos Campeonatos Mundiais das Categorias Sub 19 e Sub, tanto no masculino


quando no feminino a evolução é flagrante. Nos últimos três anos participei
com Supervisor Técnico das Seleções Brasileiras.

Fiquei impressionado, mas impressionado mesmo com o nível técnico desses


campeonatos. Fiquei impressionado com o número de países que está
participando.

Países da Europa e sua Subdivisões

Europa Nórdica Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia


Europa Central Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Holanda, Itália, Reino Unido e
Península Ibérica Espanha e Portugal
Leste Europeu Azerbaidjão, Caszaquistão, Belorússia, Georgia, Eslováquia, Hun
Theca, Romênia, Rússia, e Ucrânia
Península das Balcãs Bósnia-Herzegóvina, Bulgária, Croácia, Eslovênia, Grécia, e Turq
Países Bálticos Estônia, Letônia e Lituânia

Países das Américas e Oceania

Norte Canadá, Estados Unidos, México.


Sul Brasil, Argentina, Peru e Venezuela.
Central Cuba e Porto Rico.
Países da Oceania Austrália e Nova Zelândia.

Como pode se observar, relacionei mais de quarenta países. Os países da


África ainda não atingiram nível de competitividade sequer semelhante. Em
conversas com treinadores de diversos países, tive a informação que muitos
estão desenvolvendo trabalho nas divisões de base. Muitos dos quais,
possuem políticas de saúde do povo, de educação e de esportes e estão
desenvolvendo o vôlei de praia nas escolas.
Outro fato importante é, diria, o ressurgimento dos países do bloco socialista,
tais como Rússia e oito países das ex-Repúblicas Soviéticas, Alemanha
(Ocidental e Oriental unificadas), Polônia, Bulgária, República Tcheca,
Eslováquia. Todos com influência das disciplinas científicas altamente
desenvolvidas, sobretudo nas ex-Republicas Soviéticas e na Alemanha
Oriental.

Em 20013 as comissões técnicas adotaram o Método focalizado no artigo 25.


Ou seja, partiu-se da Capacitação Técnica Individual para a execução das
Estratégias e Táticas, ofensiva e defensiva. Já em 2014, adotaram o Método
apresentado neste artigo. Isto é, partiu-se da Construção das Estratégias e
Tática adequadas ao confronto contra times de elevadas estaturas e,
concomitantemente, o desenvolvimento das Capacidades Técnicas, de modo
individualizado, requeridas à execução das atribuições estabelecidas para as
suas execuções.

Resumo. Os objetivos foram alcançados. Nos anos 2012, 2013 e 2014, Brasil
(com cinco títulos mundiais) e Polônia (com quatro) foram os maiores
vencedores.

Brasil Sub 21, masculino, e Sub 19, feminino, em 2013, Sub 19, masculino,
Sub 19, feminino, Jogos Olímpicos da Juventude, feminino, em 2014.

Polônia: Sub 19 e Sub 21, ambos no masculino, em 2012, Sub 21, feminino,
em 2013, Sub 21, masculino, em 2014.

Na minha opinião, diante exposto, a tendência é de maior evolução ainda nos


próximos anos. E a maneira pela qual pode haver evolução mais significativa e
investir firmemente no Discernimento Estratégico e Tático que os jogadores
devem ter para tomar decisões no decorrer de um longo; antes de a bola entrar
em jogo, com ela em jogo, e quando ela "morre". O jogador deve saber os
porquês que em cada ação, toda vez que toca na bola; quer nos treinamentos
quer nos jogos.

Costumo simbolizar minha opinião com o seguinte raciocínio: é muito difícil em


jogo sacar 30% acima da própria média; atacar 30% acima da própria média;
bloquear 30% acima da própria média; mas é possível entender do jogo mais
30%, 40%.

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1. Introdução

    O Voleibol, enquanto jogo desportivo colectivo de não-invasão, constitui na


actualidade tema de interesse na agenda da investigação centrada na análise
do jogo, no sentido de se identificarem variáveis que melhor definam o
rendimento desportivo das equipas e dos jogadores.

    É indiscutível o contributo dos estudos centrados na análise do jogo, na


medida em que fornecem indicadores, tratados de forma objectiva, sistemática
e rigorosa, passíveis de interpretar modelos organizacionais (Druenne &
Moreaux, 1987).

    No Voleibol, o bloco é referenciado como sendo a primeira linha de defesa


de uma equipa e simultaneamente a forma mais rápida de ataque. Sendo
assim, a função principal desta acção é interceptar uma bola de ataque
enviando-a para o campo adversário (bloco ofensivo) ou refletindo-a para o
campo de defesa (bloco defensivo) (Selinger, 1986).

    No alto rendimento a acção de bloco reveste-se de grande importância,


sendo responsável, não raramente, pelo resultado competitivo das equipas. Na
década de 1990, devido ao maior número de serviços em suspensão, os
esquemas ofensivos viram-se afectados e dificultados favorecendo os esquemas
defensivos. Tal é corroborado por um estudo de Zimmermann (1995), onde se
observaram o Campeonato do Mundo de 1994 e os Jogos Olímpicos de 1992.
Os resultados indicaram menos 5% de erros na defesa e um maior número de
blocos positivos.

    Caracterizar a eficácia do bloco, assim como, identificar o número médio de


ocorrências, segundo o efeito provocado, constitui o objecto central deste
estudo.

2. Metodologia

2.1. Caracterização da Amostra

    A amostra do presente estudo foi retirada das acções referentes a todos os
jogos das 16 selecções nacionais participantes da Liga Mundial 2003, sénior
masculino com excepção do jogo nº 109 entre Sérvia & Montenegro e Itália. No
quadro 1 estão apresentados o número de jogos, de sets e blocos analisados
por selecção e no total da amostra. Os 222 jogos analisados representaram
873 sets, sendo alvo de análise 10749 blocos.

Quadro 1. Número de jogos, sets, e blocos analisados por selecção e no total da amostra, na Liga Mundial de 2003.
    Foram considerados dois grupos tendo sido o critério de classificação das
equipas a passagem à fase final da competição. Assim todas as equipas do
Grupo 1 terminaram a competição melhor classificadas (primeiras oito) do que
as equipas do Grupo 2 (do nono ao décimo sexto lugar). O Quadro 2 apresenta
as equipas e os grupos de análise.
Quadro 2. Constituição dos Grupos de análise

2.2. Procedimentos da recolha dos dados


    Para a recolha de informação recorremos ao instrumento concebido pela
FIVB, "Volleyball Information System" (VIS). Este instrumento é utilizado desde
1996 em todas as competições internacionais da FIVB.

    Em cada competição internacional, a FIVB nomeia um "VIS Supervisor" que


terá como função treinar e preparar o pessoal necessário para operar o VIS
nesse país. Os Supervisores do VIS têm que fazer um "clinic" organizado pela
FIVB, normalmente em Lausanne. O treino/preparação dos elementos que irão
operar com o VIS, nas competições nos seus países, tem de ser iniciado um
mês antes do início da competição. O aperfeiçoamento será feito em jogos
realizados antes da competição. O clinic final é feito dois ou três dias antes do
início da competição e é conduzido pelo supervisor do Vis, sobre controlo do
Comité de Controlo da FIVB. Em cada jogo terão que estar presentes, um
Supervisor VIS, dois observadores, dois operadores, um especialista de
Hardware e Software e um estafeta.

2.3. Variáveis de Análise

    Como variável independente foi considerada a classificação na competição e


como variáveis dependentes considerou-se a frequência e a eficácia do bloco.

2.4. Instrumento de observação

    Para a avaliação do bloco o modelo adoptado considera o seu efeito, mais


precisamente a obtenção de ponto (efeito positivo), continuidade (efeito
neutro) ou erro (efeito negativo) (Quadro 3).

Quadro 3. Modelo de avaliação do bloco (FIVB, 2003)

Particularidades
 Só um dos blocadores pode ser avaliado em cada situação de bloco, o
que tocou na bola.
 No caso de a bola continuar em jogo depois de um bloco, somente se
assinalará um bloco com efeito neutro.
 No caso de, depois de um bloco, a bola for tocada por mais de um
jogador da equipa adversária, para tentar salvar a bola, mas não
continuar em jogo, o bloco deve ser considerado como um sucesso,
bloco com efeito positivo.

    Para a análise da eficácia do bloco recorremos à fórmula utilizada pela FIVB


(2003):

2.5. Procedimentos estatísticos

    Recorremos à estatística descritiva habitual para obter as frequências e


respectivas percentagens.

    Para analisar as diferenças entre os valores dos dois grupos de análise,


utilizamos o teste t de student para o ensaio de hipóteses; os valores exactos
de probabilidade associados à hipótese nula (de erro igual ou inferior a 0,05),
para considerarmos as diferenças significativas, foram consultados na tabela de
distribuição normal t de student.

3. Apresentação e discussão dos resultados

3.1. Análise descritiva dos resultados

3.1.1. Análise do efeito provocado pelo bloco

    Na figura 1 podemos observar as percentagens de ocorrência dos blocos


com efeito positivo (que permitem a obtenção imediata de ponto para a equipa
do blocador), com efeito negativo (que permitem a obtenção imediata de ponto
para a equipa adversária à do blocador) e com efeito neutro (que permite a
continuidade do rally). De todas as acções de bloco efectuadas na competição
(LM03) 40,5% delas resultam na continuidade dos rallys, não havendo
conquista de ponto para nenhuma das equipas. Este valor está consonante com
a função do blocador em efectuar um bloco defensivo e cobrir uma zona do
campo mais do que pontuar (Colemam, 1992; Pelletier, 1988; Ryan, 1993;
Selinger, 1986). A ocorrência de blocos com efeito negativo (perda de ponto) é
superior (38,7%) aquela em que a equipa que efectua o bloco concretiza ponto
(20,8%).
    Dada as características da acção de bloco, nomeadamente na oposição
directa ao ataque, torna-se de difícil concretização, estando o êxito
dependente, em grande medida, da acção do adversário no ataque. Neste
sentido, a concretização de ponto em 20.8% das acções de bloco e o efeito de
continuidade em 40,5%, significa que em 61,3% das acções a equipa efectivou
ponto ou teve a possibilidade de defender e organizar o contra-ataque. Estes
resultados revelam uma prestação positiva das equipas em estudo no bloco,
tendo por referência que, como refere Lucas (2000), os melhores blocadores
apenas ganham ponto em menos de 10% das tentativas.

    Deste modo, a prestação positiva no bloco, evidenciada no presente estudo,


é revelador da importância acrescida assumida por este procedimento do jogo
no rendimento das equipas, indo ao encontro do perfilhado pelos especialistas,
quando referem o bloco, como um dos procedimentos do jogo mais
importantes no Voleibol de alto nível (Anastasi, 2003; Aurelio e Vallín, 2003;
Pino et all, 2002; Velasco, 2001).

Figura 1. Percentagem de ocorrência dos blocos positivos, negativos e neutros.

3.1.2. Análise da frequência e do efeito do bloco, por equipa

    No Quadro 4 podemos observar o número de blocos efectuados por cada


equipa durante toda a prova, assim como as médias por jogo, tendo presente o
efeito que provocaram. O número médio de acções de bloco que cada equipa
efectuou por jogo foi de 48,2 sendo que destas, 10 resultaram em blocos com
efeito positivo, 18.7 em blocos com efeito negativo e 19,6 em blocos com efeito
neutro. O desvio padrão das médias de blocos com efeito positivo, embora
sendo o mais reduzido de todos (1,6), relativamente às restantes médias,
revela uma situação bastante curiosa. A equipa que fez, em média, mais pontos
de bloco, fê-lo o dobro das vezes do que a equipa que fez menos pontos:
Portugal fez em média 6,67 pontos de bloco por jogo e a Bulgária, para a
mesma acção consegui uma média de 13,07.

Quadro 4: Número de blocos efectuados durante toda a prova e médias por jogo por equipa

    O quadro 4 permite ainda constatar que dos 10749 blocos efectuados
durante toda a competição, 2233 tiveram efeito positivo sendo a média destes,
por equipa, de 139,6. Apesar de cada equipa fazer em média mais blocos com
efeito neutro (272,1) do que negativo (260,1), observou-se que o desvio
padrão é superior para os blocos com efeito negativo, o que sugere maior
variabilidade entre as equipas relativamente a estas acções.

3.1.3. Análise da eficácia do Bloco

    O quadro 5 apresenta os resultados relativos à eficácia do bloco na


competição por equipa. Da sua análise podemos verificar que a eficácia média
do bloco situou-se nos -18,1%, tendo todas as equipas valores negativos. Estes
valores surgem em consequência da fórmula proposta pela FIVB (2003) na qual
só são contemplados os blocos com efeito positivo e com efeito negativo
relacionados com o total de tentativas, fazendo consequentemente pender os
resultados para valores negativos.

Quadro 5. Eficácia do bloco na competição por equipa.


    A análise dos resultados revela diferenças substanciais entre algumas
equipas. Assim, a Itália, equipa que obteve melhores índices de eficácia no
bloco, registou uma média de -6,9%, valor este muito superior ao obtido pela
Holanda que apenas conseguiu uma eficácia de -26,6%.

3.2. Análise comparativa dos resultados em função da classificação na


competição

3.2.1. Análise do efeito provocado pelo Bloco

    Relativamente ao bloco, como se pode observar na Figura 2, verifica-se a


tendência para as equipas do Grupo 1 (melhor classificadas) obtiverem valores
percentuais mais elevados de blocos com efeito positivo e valores percentuais
mais baixos de blocos com efeito negativo, do que as equipas pertencentes ao
Grupo 2 (pior classificadas).
Figura 2. Percentagem de ocorrência dos blocos positivos, negativos e neutros pelos dois Grupos de análise.

    A percentagem de blocos que culminam na obtenção directa de ponto, nas


equipas do Grupo 1 e nas do Grupo 2 é de 21,3% e 20,0%, respectivamente. A
diferença entre os dois Grupos é menor quando analisados os blocos com efeito
negativo, ficando-se esta em 0,6%, 38,5% para as equipas do Grupo 1 e
39,1% para as equipas do Grupo 2.

    Quando analisamos as percentagens de blocos que resultam na continuidade


do rally, podemos constatar que as equipas do Grupo 2 fazem-no em maior
número (40,9%) do que as do Grupo 1 (40,2%).

3.2.2. Análise da frequência do bloco e do efeito do bloco

    O quadro 6 apresenta os valores médios e desvio padrão dos efeitos do


bloco, em toda a prova e por jogo. Assim, verificamos que as equipas do Grupo
1 fizeram uma média de blocos superior às do Grupo 2 (785,5 para o Grupo 1 e
558,1 para o Grupo 2). Este fenómeno verificou-se para todo o tipo de blocos,
seja com ganho de ponto (167,4 para o Grupo1 e 111,8 para o Grupo 2), com
perda de ponto (302,3 para o Grupo 1 e 218,0 para o grupo 2) ou nos blocos
que possibilitaram a continuidade do rally (315,9 para o Grupo 1 e 228,4 para o
Grupo 2). Estas diferenças são estatisticamente significativas uma vez que, em
todos os casos, a diferença entre as médias, dos dois grupos, se situa fora da
Região de Aceitação, calculada pelo teste t de student, para a hipótese das
duas médias serem iguais a um nível de significância de 5%. O facto de as
equipas do Grupo 1, por terem sido apuradas para a fase final da competição,
terem efectuado mais jogos do que as equipas do Grupo 2, que apenas
efectuaram 12 jogos cada uma, justifica as diferenças encontradas.

    Assim, verificamos que as equipas do Grupo 1 fazem, por jogo, uma média
de 50 acções de bloco. Este número é menor entre as equipas do Grupo 2, que
não vão além de uma média de 46,5 blocos por jogo. Assim, a diferença entre
os dois grupos situa-se em 3,5 blocos por jogo. Quando se faz a análise pelo
efeito que provoca esta acção do jogo, constata-se que o Grupo 1 tem
vantagem em todas as situações. Assim faz, em média, mais 1,3 blocos com
efeito positivo, mais 1,1 com efeito negativo e mais 1 com efeito neutro.

Quadro 6: Valores médios e desvio padrão dos efeitos do bloco, em toda a prova e por jogo, para os dois Grupos de analise;
Região de aceitação (RA) para a hipótese das médias serem iguais e diferença entre as médias dos dois Grupos de analise (Dif.
Med.).

    Analisando o desvio padrão das médias de todas acções de bloco efectuadas


observa-se um valor ligeiramente mais elevado entre as equipas do Grupo 1
(4,9), em relação às equipas do Grupo 2 (4,2).

    Da análise dos desvios padrões das médias dos blocos com efeito negativo
observa-se que as equipas do Grupo 1 obtém um número mais elevado (4,6)
do que as equipas do Grupo2 (1,8). Esta diferença sugere que entre as equipas
do Grupo 1 é possível encontrar valores mais diferenciados entre as equipas,
relativamente à média de blocos com efeito negativo por jogo. Tal não
acontece, de uma forma tão acentuada nas equipas do Grupo 2.

    No entanto, regista-se uma tendência oposta para o efeito positivo e de


continuidade: as equipas do Grupo 1 demonstram valores mais homogéneos
nas médias dos blocos com efeito positivo (1,4 no Grupo 1 e 1,7 no Grupo 2) e
com efeito neutro (2,5 no Grupo 1 e 3,3 no Grupo 2).

    De destacar o facto de, por jogo, as diferenças entre os dois grupos não
serem significativas, em nenhumas da situações, o que é revelador de uma
certa homogeneidade entre os dois grupos não só no total de blocos realizados
como no efeito obtido.

3.2.3. Análise da eficácia do bloco

    O quadro 7 apresenta os valores médios da eficácia de bloco dos dois grupos
de análise.

Quadro 7: Eficácia do bloco


    Observou-se a supremacia da eficácia das equipas melhor classificadas (-
16,9%) relativamente às equipas pior classificadas (-19,3%), situando-se a
diferença em 2,5%.

4. Conclusões

    Os resultados obtidos no presente estudo permitem-nos destacar as


seguintes conclusões:

Análise descritiva

 As equipas analisadas evidenciam o valor de 20,8% no efeito de ganho


de ponto na acção do bloco, contrapondo com 38,7% em perda de
ponto e 40,5% em continuidade.
 As equipas perdem, em média, mais pontos do que ganham no bloco
Cada equipa conquista, em média, 10 pontos de bloco por jogo e perde
18,7 pontos.
 As equipas, por jogo, realizam em média, 48,2 blocos.
 As equipas revelem uma eficácia no bloco de -18,1%.

Análise Comparativa

 A distribuição percentual dos blocos segundo o efeito que provocam no


marcador, revelou vantagens para as equipas melhor classificadas, o
Grupo 1.
 A diferença do número de blocos, segundo o efeito que provocam no
marcador, efectuados por jogo pelos dois Grupos não é estatisticamente
significativa. No entanto há tendência para as equipas do Grupo 1
fazerem mais pontos e errarem menos.
 As equipas do Grupo 1 são mais eficazes no bloco.

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não publicado).

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