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em Alergia Medicamentosa
SUMÁRIO
Consenso Internacional (ICON)
em Alergia Medicamentosa)
4 PREFÁCIO
5 DEFINIÇÕES
5 CLASSIFICAÇÕES
8 PATOFISIOLOGIA
9 APRESENTAÇÕES CLÍNICAS
9 HISTÓRIA NATURAL
10 DIAGNÓSTICO
12 HISTÓRIA CLÍNICA
13 TESTES CUTÂNEOS
14 PROVAS DE PROVOCAÇÃO COM FÁRMACOS
15 TESTES BIOLÓGICOS
16 ABORDAGEM
19 LISTA DE ABREVIATURAS
PREFÁCIO
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DEFINIÇÕES
CLASSIFICAÇÕES
Uma classificação das DHRs que seja globalmente aceite é útil para a
orientação, comparação de estudos e validação de técnicas diagnósticas.
Clinicamente: as DHRs são classificadas como imediatas ou não-imediatas/
tardias, dependendo do tempo em que se iniciam durante o tratamento
(Figura 1).
As DHRs imediatas ocorrem em 1-6 horas após a última administração
do fármaco (tipicamente na primeira hora após a primeira administração
de um novo curso de tratamento). Os sintomas típicos incluem a urticária,
angioedema, conjuntivite, rinite, broncospasmo, sintomas gastrintestinais
(náuseas, vómitos, diarreia, dor abdominal), anafilaxia ou choque anafilático.
As DHRs imediatas são possivelmente induzidas por um mecanismo IgE-
mediado. O termo reações “anafilactóides”, previamente utilizado em casos
de DHRs não-IgE-mediadas que simulam a anafilaxia, foi abandonado em
algumas recomendações, devendo ser usado preferencialmente o termo
DHRs “não alérgicas”.
As DHRs não-imediatas ocorrem em qualquer período após 1 hora da
administração inicial do fármaco. Sintomas comuns incluem exantema
maculopapular e urticária retardada. Frequentemente está associado a um
mecanismo de alergia tardio dependente de células-T.
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Imediata (< 1h) Não imediata (> 1h)
Tardia Acelerada
Exantemas
(tardios)
Urticária
(imediata)
0 4 8 12 16 20 24 2 4
Horas Dias
Figure 1 - Cronologia das DHRs. Definir um cut-off de 1 hora (entre as reações imediatas e não-imediatas), pode não refletir
suficientemente a extensão das reacções do tipo imediato determinadas patofisiologicamente até 6 horas (tardias) e as
manifestações de tipo tardia que se iniciam ocasionalmente entre as 8 e as 12 horas (aceleradas). No entanto, esta abordagem
facilita a comparação de estudos e deve ajudar a melhorar e validar as técnicas diagnósticas.
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Mecanisticamente: as DHRs podem ser definidas como alérgicas (Tabela)
e não alérgicas:
III IgM ou IgG e Deposição de Doença do soro, 7-8 dias para a doença do soro/
complemento complexos imunes urticária, vasculite urticária
ou FcR 7-21 dias após o início do
fármaco para a vasculite
IVa Th1 (IFNγ) Inflamação monocítica Eczema 1-21 dias após o início do
fármaco
IVb Th2 (IL-4 e IL-5) Inflamação Exantema 1 a vários dias após o início do
eosinofílica maculopapular (EMP), fármaco para o EMP
DRESS 2-6 semanas após o início do
fármaco para o DRESS
IVc Células T citotóxicas Morte dos Exantema 1-2 dias após o início do
(perforina, granzima queratinócitos maculopapular, SJS / fármaco para a erupção fixa
B, FasL) mediada por CD4 TEN, exantema pustular com fármacos
ou CD8 4-28 dias após o início do
fármaco para o SJS / TEN
IVd Células-T Inflamação neutrofílica Pustulose exantemática Tipicamente 1-2 dias após o
(IL-8/CXCL8) generalizada aguda início do fármaco (mas pode ser
mais longo)
DRESS: Reação medicamentosa com eosinophilia e sintomas sistémicos (da sigla inglesa, Drug reaction with Eosinophilia and
Systemic Symptoms); SJS: Síndrome Stevens-Johnson; TEN : Necrólise Epidérmica Tóxica (da sigla inglesa, Toxic Epidermal
Necrolysis); MPE: Exantema maculo-papular (da sigla inglesa, maculo-papular exanthema)
(IL-8/
CXCL8)
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PATOFISIOLOGIA
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(p. ex.: bloqueadores β, dióxido de enxofre libertado por formulações
contendo sulfitos).
APRESENTAÇÕES CLÍNICAS
HISTÓRIA NATURAL
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DIAGNÓSTICO
Quando avaliar?
• Quando existe história prévia de DHR e o fármaco é necessário, não
havendo um alternativo estruturalmente não relacionado e igualmente
eficaz, e se a razão entre risco/benefício é positiva.
• Quando existe história prévia de DHR grave para outros fármacos
(a melhor maneira de proteger o doente é encontrar os agentes
responsáveis).
Quando NÃO avaliar?
• Em casos sem nexo de causalidade para alergia ao fármaco
(sintomatologia ou cronologia não compatíveis, manutenção da toma do
fármaco sem novas reações ou ocorrência de reação sem a toma do
fármaco).
• Diagnóstico alternativo (p. ex.: erupção por herpes vírus, urticária crónica).
• Com realização de provocação ao fármaco em caso de reação grave:
reações não controláveis ou potencialmente fatais.
Timing
• A avaliação de alergia deve ser feita idealmente 4-6 semanas após a
resolução completa de todos os sintomas clínicos.
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Possível
Não hipersensibilidade
a fármacos?
Sim
Resultados? Não
Positivos Negativos
Prova
Não de provocação Sim
ao fármaco
disponível*?
Resultado?
Negativa
Positiva
* Os testes biológicos atualmente disponíveis para diagnosticar alergia a fármacos têm baixa sensibilidade.
** Na ausência de contraindicações (caixa 6).
*** Se não houver alternativa disponível (p. ex.: relaxantes neuro-musculares, quimioterápicos), a readministração
do fármaco é permitida sob vigilância apertada, considerando o uso de premedicação e/ou dessensibilização.
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I. História clínica (p. ex.: registada no questionário EAACI-DAIG/
ENDA):
• Sintomatologia: se é compatível com DHR.
• Cronologia dos sintomas: exposição prévia, relação temporal entre a
última dose e o início de sintomas, efeitos da cessação do tratamento
• Toma de outros medicamentos: quer durante a reação, quer fármacos
da mesma classe tomados posteriormente.
• Antecedentes médicos: incluindo alergias prévias ou outras condições
médicas como urticária/rinossinusite crónicas que podem ser agravadas
pela toma de certos fármacos (p. ex.: aspirina e anti-inflamatórios não-
esteróides (AINEs) não seletivos da COX-2).
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II. Testes cutâneos
Para as DHRs imediatas, os testes cutâneos por picada são recomendados
para o estudo inicial, dada a sua simplicidade, rapidez, baixo custo e elevada
especificidade. Os testes intradérmicos são realizados quando os testes cutâneos
por picada são negativos, tendo uma maior sensibilidade. A sensibilidade e
valores preditivos variam e parecem ser “bons” para as DHRs imediatas para
antibióticos ß–lactâmicos, relaxantes neuromusculares (NMBA, do inglês
neuromuscular blocking agentes), sais de platina e heparinas, mas moderados a
baixos para maioria dos outros fármacos.
Para as DHRs não imediatas, devem ser realizados testes epicutâneos e/ou
intradérmicos com leitura tardia.
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Para muitos fármacos, não há estudos suficientes ou a literatura existente
é controversa no que diz respeito às condições estandardizadas e validadas
para a realização dos testes.
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• As provas de provocação a fármacos devem ser realizadas sob
as mais elevadas condições de segurança:
- pessoal treinado: conscientes dos testes, preparados para identificar
sinais precoces de uma reação positiva e preparados para tratar reações
potencialmente fatais.
- equipamento de ressuscitação de emergência disponível.
Observações:
• Uma prova de provocação a fármacos negativa não prova a tolerância
ao fármaco no futuro; no entanto, o valor preditivo negativo (VPN) das
provas de provocação a fármacos, por exemplo, com ß-lactâmicos
(94-98%) ou AINEs (acima de 96%) parece ser elevado.
• Dessensibilização através da prova, como causa de prova de provocação
a fármacos falsa-negativa, é mencionada, mas não parece haver
referência na literatura existente.
• No que respeita a alergia aos ß-lactâmicos, a ressensibilização após uma
prova de provocação a fármacos negativa (isto é, uma conversão para
um teste cutâneo positivo) é reportada (entre 0,9% e 27,9%). Um novo
teste (2-4 semanas depois) em doentes com reações imediatas graves e
resultados negativos na primeira avaliação é opcional (não consensual).
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de IgM ou IgG específicos para o fármaco apenas têm interesse em
casos de citopenia induzida por fármacos, DHRs tipo III a vacinas
ou alergias a dextranos, embora a sensibilidade destes testes seja
desconhecida.
• Marcadores genéticos: O rastreio do HLA B*5701 reduz o risco de
DHRs ao abacavir e é mandatório antes de iniciar tratamento (valor
preditivo positivo 55% e valor preditivo negativo 100% se os testes
epicutâneos são negativos). As DHRs à carbamazepina em chineses
Han estão associadas ao HLA B*1502.
• Ensaios envolvendo células T: promissores, mas existem apenas em
laboratórios especializados.
• Testes de ativação de basófilos: promissores, mas estão atualmente
a ser validados para certos fármacos.
ABORDAGEM
Medidas gerais
• A anafilaxia deve ser tratada imediatamente e de forma apropriada e
todos os fármacos suspeitos devem ser suspensos.
• Em reações não anafiláticas o fármaco suspeito deve ser suspenso se
os riscos de manter o tratamento superarem os benefícios, e sempre
que estejam presentes sinais de perigo/gravidade (ver abaixo).
• As medidas de prevenção geral incluem a notificação à Unidade de
Farmacovigilância.
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antihistamínicos H1 podem não ser fiáveis na prevenção de anafilaxia
IgE-dependente.
Dessensibilização a fármacos
A dessensibilização a fármacos é definida como a indução de um estado
temporário de ausência de resposta / tolerância a um composto responsável
por uma DHR. A dessensibilização deve ser considerada quando o fármaco
responsável é essencial e quando não existem alternativas ou quando estas
não são satisfatórias:
• Sulfonamidas em doentes infetados pelo VIH.
• Alergia a quinolonas em alguns doentes com fibrose quística.
• Infeções graves com alergia a antibióticos ß-lactâmicos ou anti-
tuberculosos.
• Alergia à vacina contra o tétano.
• Hemocromatose com alergia à desferoxamina.
• Agentes quimioterápicos baseados em taxanos e sais de platina.
• Anticorpos monoclonais utilizados em várias neoplasias hematológicas
e não hematológicas.
• Hipersensibilidade a aspirina e AINE em doentes com necessidade
destes fármacos para tratamento de patologia cardíaca ou reumatológica.
Observações:
• É recomendada a utilização de protocolos já existentes e previamente
aplicados com sucesso.
• A dessensibilização à aspirina como intervenção terapêutica na doença
respiratória exacerbada pela aspirina ou polipose nasal pode ser
considerada em doentes asmáticos selecionados.
• A literatura sobre dessensibilização em DHRs não imediatas é menos
extensa e mais controversa.
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Sinais de alerta Rapidamente procurar por
SJS: Síndrome Stevens-Johnson; TEN : Necrólise Epidérmica Tóxica (da sigla inglesa, Toxic Epidermal Necrolysis); HSS:
Síndrome de Hipersensibilidade (da sigla inglesa Hypersensitivity Syndrome);
DRESS: Reação medicamentosa com eosinophilia e sintomas sistémicos (da sigla inglesa, Drug reaction with Eosinophilia
and Systemic Symptoms); DIHS: Síndrome de Hipersensibilidade induzida por fármacos (da sigla inglesa, Drug-induced
Hypersensitivity Syndrome)
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Lista de abreviaturas
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