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 Alergologia e imunologia

Resumo de hipersensibilidade: tipos e mecanismos | Colunistas


Leonardo Sousa
 13 min • 24 de jun. de 2021

 Índice

1. Introdução e conceitos

2. Tipos de hipersensibilidade

3. Hipersensibilidade imediata

4. Doenças causadas por anticorpos e complexos antígeno-anticorpo


5. Doenças causadas por linfócitos t (hipersensibilidade tipo 4)



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Introdução e conceitos

A hipersensibilidade é definida como reações imunes prejudiciais ou


patológicas.

Antígeno próprio ou do meio externo desencadeia uma resposta imune


(“sensibilização”) e essa resposta é excessiva ou aberrante (“hiper”), o que
causa danos teciduais.

Podem ocorrer em 2 situações:

Resposta contra antígenos estranhos, como microrganismos ou antígenos


ambientais não infecciosos (ex: proteína do leite) à se essa resposta é
desregulada e excessiva, tem-se lesões teciduais, podendo levar até a óbito
(ex: choque séptico).
Resposta contra antígenos próprios por falha nos mecanismos de auto
tolerância à doenças autoimunes (são um tipo de hipersensibilidade).

Tipos de hipersensibilidade

Existem 4 tipos:

Hipersensibilidade do tipo 1: tipo de reação imunopatológica causada pela


liberação de mediadores de mastócitos
Muitas vezes é desencadeada pelos IgE contra antígenos ambientais
que vão ativar os mastócitos
Pode ser chamada de alergia ou de hipersensibilidade imediata.
Hipersensibilidade do tipo 2: mediada por anticorpos (IgM ou IgG) que
são direcionados contra antígenos celulares ou teciduais que levam a danos
na função desses tecidos ou células.
Hipersensibilidade do tipo 3: anticorpos (IgM ou IgG) contra antígenos
solúveis (ex: do nosso plasma sanguíneo) que formam imunocomplexos que
podem se depositar em vasos sanguíneos e tecidos, causando inflamação e
lesão tecidual.  Índice
Hipersensibilidade do tipo 4: são reações dos linfócitos T geralmente
contra antígenos próprios nos tecidos.

Várias doenças imunológicas humanas têm uma combinação entre


respostas de anticorpos e respostas de linfócitos T (combinação entre as
hipersensibilidades).

Hipersensibilidade imediata

É mediada por anticorpos IgE, por mastócitos e por determinados antígenos


ambientais que a desencadeiam à resultado:

Rápido vazamento vascular


Secreção nas mucosas
Inflamação

Também pode ser chamada de alergia ou de atopia e os indivíduos sujeitos a


desenvolverem essas reações são chamados de alérgicos ou atópicos

Alergias mais comuns: alimentares, rinite alérgica e asma brônquica.


Forte base genética à principal fator de risco para alergias é o histórico
familiar.

Mecanismo da hipersensibilidade imediata

Os mastócitos estão presentes em todos os tecidos conjuntivos (sobretudo


os tecidos conjuntivos abaixo do epitélio), normalmente adjacentes aos
vasos sanguíneos.

Há uma exposição prévia ao antígeno, na qual há a ativação de células Th2 +


produção de anticorpos IgE + produção de células de memória.

Antígeno entra no organismo e é apresentado aos linf T pelas APCs à


ativação de linf T e de linf B (reconhece o antígeno diretamente à encontro
de células T e B à Linf T ativado e diferenciado em Th2 secreta IL-4 e IL-13
que fazem com que os linf B realizem a troca de cadeia pesada para IgE à
anticorpos IgE se ligam aos mastócitos
 Índicepor meio de sua região Fc ao
receptor Fc dos mastócitos (FclRI) à mastócitos ficam repletos de
anticorpos específicos para aquele antígeno que o sensibilizou (para o qual
ele é alérgico).
Em uma segunda exposição, esses anticorpos IgE nos mastócitos
reconhecem os antígenos, fazem ligação cruzada (2 anticorpos de
superfície do mastócito se ligam a 2 epítopos do antígeno) à ativação de
vias de sinalização dentro do mastócito que levam a 3 respostas:
Degranulação: é desencadeada por um influxo de cálcio no mastócito
Aminas vasoativas
Histamina: aumenta a permeabilidade vascular, dilatação de
pequenos vasos sanguíneos (é uma substância
vasodilatadora) e estimula a contração temporária do
músculo liso dos brônquios (existem diferentes receptores
em diferentes locais, dependendo do receptor vai ser
constrição ou dilatação da musculatura lisa)
Proteases
Produtos do metabolismo do ácido aracdônico
Prostaglandinas: causam dilatação vascular
Leucotrienos: causam contração prolongada de musculatura
lisa
Síntese e secreção de mediadores lipídicos
Síntese e secreção de citocinas:
TNF e IL-4: atuam no recrutamento dos leucócitos para a região
Eosinófilos e neutrófilos: liberam proteases que causam lesão
tecidual 
Quimiocinas: produzidas tanto pelos mastócitos quanto pelas
células epiteliais da região que também atraem leucócitos
(incluindo o Th2)
Linfócitos Th2: liberam mais citocinas que incrementam mais
ainda essa reação de hipersensibilidade
IL-5: ativação dos eosinófilos (são componentes
notórios na reação alérgica e causam forte lesão
tecidual)
 Índice
Esses eventos ocorrem muito rapidamente, por isso essa hipersensibilidade
recebe o nome de imediata, pois dentro de minutos isso ocorre
Fase tardia dessa hipersensibilidade imediata: inflamação deixada na região
pela liberação de citocinas que ficam causando lesão tecidual de tal forma
que quanto mais tempo o paciente continuar exposta ao antígeno maior
será essa inflamação

Síndromes clínicas e tratamentos

As características clínicas das reações de hipersensibilidade são todas fruto


dos mediadores produzidos pelos mastócitos à o mecanismo de todas é o
mesmo, mas varia de acordo com a quantidade de mediadores e dos tecidos
onde está acontecendo 

Manifestações brandas: rinite alérgica e sinusite à reações a alérgenos


inalados

Mastócitos na mucosa nasal que produzem histamina e células Th2 que


produzem IL-13 à aumento da secreção de muco + inflamação

Reações de fase tardia levam a uma inflamação mais prolongada, o que


explica aquele incômodo posterior.

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 Índice
Alergias alimentares: alérgenos ingeridos desencadeiam a degranulação dos
mastócitos e a histamina liberada aumenta a peristalse intestinal.

Asma brônquica: forma de alergia respiratória na qual alérgenos inalados


estimulam os mastócitos brônquicos a liberarem seus mediadores à
constrição brônquica e obstrução das vias aéreas.

Asma crônica: eosinófilos presentes em grande número na mucosa


brônquica estimulam uma secreção excessiva de muco nas vias aéreas, o
músculo liso brônquico torna-se hipertrofiado e hiper-reativo a estímulos.

Alguns casos de asma não estão associados a IgE, porém todos estão
associados a ativação de mastócitos.
O frio e o exercício físico podem desencadear asma em alguns pacientes,
mas não se sabe como esses estímulos levam à ativação de mastócitos.

Tratamentos comuns para a asma: agentes que relaxam a musculatura lisa


dos brônquios 

Corticosteroides também são usados para inibir a inflamação.

Anafilaxia: forma mais grave de hipersensibilidade imediata, sendo uma


reação sistêmica caracterizada por edema em vários tecidos (dando
destaque à laringe) acompanhada de queda na pressão arterial.

Indutores comuns: picada de abelha, antibióticos derivados de penicilina,


nozes e mariscos
Causa: degranulação difusa de mastócitos em resposta à distribuição
sistêmica do antígeno
É potencialmente fatal por conta da queda súbita de PA e obstrução
das vias respiratórias.
Tratamento: inibidores da degranulação dos mastócitos para antagonizar
seus efeitos
Epinefrina:
Causa contração da musculatura lisa vascular e aumento do débito
cardíaco (contrachoque)
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Relaxamento da musculatura das vias aéreas (receptores beta-
adrenérgicos nos brônquios)
Inibição da degranulação dos mastócitos

Outros tipos de tratamento para hipersensibilidade imediata consistem na


administração de pequenas doses repetidas do alérgeno, o que é chamado
de dessensibilização ou imunoterapia específica do alérgeno

Esse tratamento consiste em induzir a tolerância (anergia) de células T


específicas para aquele alérgeno ou estimular células T reguladoras.

Doenças causadas por anticorpos e complexos antígeno-


anticorpo

Anticorpos não IgE podem causar doenças em 2 situações:

Se ligam a antígenos alvo nas células e nos tecidos à antígenos de superfície


e de matriz extracelular (hipersensibilidade do tipo 2)
Geralmente causam complicações locais
Formam complexos imunes que vão se depositar em vasos sanguíneos
(hipersensibilidade do tipo 3)
Geralmente causam complicações sistêmicas

Essas hipersensibilidades mediadas por anticorpos são conhecidas por


serem a base de muitas doenças imunológicas crônicas nos seres humanos.

Os anticorpos causadores dessas hipersensibilidades são, em maior


frequência, autoanticorpos, e em menor frequência, anticorpos contra
antígenos estranhos.

As doenças causadas por anticorpos em geral são específicas para um tecido


em particular, pois os anticorpos são específicos para um antígeno.

Os anticorpos podem ser contra células e/ou componentes da matriz


celular, podendo se depositar nesses tecidos que apresentam seus
antígenos alvo.
 Índice
No caso dos imunocomplexos, geralmente são anticorpos se ligando a
antígenos solúveis e esses complexos imunológicos muitas vezes são
depositados nos vasos sanguíneos, sobretudo naqueles em que o plasma é
filtrado em alta pressão (ex: glomérulos renais e nas sinovia articular)

Mecanismos das hipersensibilidades do tipo 2 e 3

Sensibilização do sistema imunológico desencadeia a formação de


anticorpos

IgG: se ligam a receptores nos neutrófilos, macrófagos e células NK por


meio de receptores Fc à desencadeiam uma inflamação.
IgM: ativa o sistema complemento pela via clássica à produção de proteínas
e citocinas do complemento que recrutam mais leucócitos à indução de
inflamação.
Esses anticorpos podem opsonizar células alvo à potencialização da
fagocitose.
Basicamente esses anticorpos se depositam em tecidos e células e vão
induzir inflamações, promover destruição de células e interferir nas funções
celulares normais das células e dos tecidos à lesão tecidual.

Alguns anticorpos podem causar doenças indiretamente, sem causar uma


lesão tecidual direta:

Anticorpos contra receptores de hormônios e neurotransmissores


Miastenia grave: anticorpos contra receptores de acetilcolina ocupam o
local onde esse neurotransmissor se ligaria à inibição da transmissão
nervosa à paralisia.
Anticorpos que ao invés de inibir os receptores, os ativam
Doença de Graves: anticorpos se ligam aos receptores do TSH na
tireoide e estimulam a glândula a produzir seus hormônios
desregulamente.

Síndromes clínicas e tratamentos

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Doença do soro: administração de antígenos proteicos no paciente que
estimulam a formação de anticorpos à a interação entre os antígenos e os
anticorpos levam à formação de imunocomplexos

Em humanos pode ser causada depois de a pessoa receber injeções com


anticorpos preparados de outro animal (como em tratamentos para picadas
de cobra ou raiva).
Nesses casos, o receptor faz uma resposta de anticorpos contra os
anticorpos injetados e outras proteínas séricas, resultando na formação de
imunocomplexos.

Reação de Arthus: induzida pela administração subcutânea de antígenos


proteicos a animais previamente imunizados à leva à formação de
imunocomplexos no sítio da injeção e vasculite local.

Tratamentos: visam limitar a inflamação e suas consequências negativas


com agentes como corticosteroides.

Outros tratamentos consistem na inibição da produção de autoanticorpos


com antagonistas que bloqueiam o ligante CD40 e, assim, impedem a
ativação de células B em respostas dependentes de T.

Doenças causadas por linfócitos t (hipersensibilidade tipo


4)

Principais reações de hipersensibilidade mediadas por linfócitos T:

Reações de autoimunidade
Geralmente são contra antígenos celulares presentes em um tecido
específico à por isso geralmente as complicações tendem a se limitar a
poucos órgãos (não sistêmicos, ex: pâncreas)
No caso de doenças autoimunes causadas por células T!! As
doenças autoimunes que não são mediadas por células T não
estão inclusas nessa descrição
Respostas exageradas e/ou persistentes aos antígenos ambientais, que
podem ser infecciosos ou não infecciosos
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Podem ser contra substâncias químicas, microrganismos
ex: Mycobacterium tuberculosis – causa doença crônica que tem
uma complicação mediada por células T associada à inflamação
gerada por essas células que causa lesão nos tecidos normais no
local da infecção
ex: Vírus da hepatite – pode não ser muito citotóxico, mas as
respostas dos CTL aos hepatócitos são tão excessivas que podem
causar comprometimento hepático 
Th2: respostas não alérgicas que causam lesão tecidual nos estágios
fibróticos tardios da inflamação
Ativação policlonal das células T por conta de superantígenos que se
ligam a uma região não específica do TCR, causando ativação de vários
linfócitos T não específicos para aquele antígeno

Mecanismos da hipersensibilidade do tipo 4

Existem diferentes doenças mediadas por células T e a lesão tecidual é


provocada por citocinas produzidas e secretadas pelos TCD4 ou pela
eliminação de células do hospedeiro pelo TCD8.

Linfócitos TCD4: reação típica mediada pelas citocinas do TCD4 é a


hipersensibilidade do tipo tardio (HTT)

É chamada assim porque geralmente ocorre 24 a 48h depois do paciente


ser exposto ao antígeno proteico (pois o MHC só apresenta antígenos
proteicos).
Ocorre basicamente por meio dos mesmos mecanismos que os linfócitos T
utilizam para eliminar os microrganismos associados à célula: secreção de
citocinas que induzem a inflamação local e ativam macrófagos.
Th1: secreção de IFN-Y (principal citocina da via clássica de ativação
dos macrófagos).
Th17: induzem a inflamação que acaba levando ao recrutamento de
leucócitos, sobretudo neutrófilos e macrófagos.
Lesão tecidual direta nessas situações é causada por macrófagos e
neutrófilos, os linfócitos T atuam no recrutamento desses leucócitos.
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Manifestações da HTT:
Infiltrado de células T e de monócitos nos tecidos.
Deposição de fibrina causada pela permeabilidade vascular
aumentada.
Dano tecidual causado pelos neutrófilos e macrófagos recrutados e
ativados pelas células T.
Reações de HTT são usadas frequentemente para determinar se o paciente
foi exposto previamente a um antígeno e se ele respondeu a ele
Ex: exposição do paciente ao antígeno ppd à se houver reação HTT
mostra que o paciente já foi exposto a esse antígeno ou que ele está
com a infecção ativa.

Linfócitos TCD8: eliminam diretamente as células do hospedeiro e isso


causa lesão

Além disso também secretam citocinas que ajudam na indução da


inflamação.
Em muitas doenças autoimunes mediadas por células T existe o papel de
ambos os linfócitos T atuando em conjunto e contribuindo para a lesão
tecidual.

Síndromes clínicas e tratamentos

Esses distúrbios são tipicamente crônicos e progressivos, em parte porque


as reações de linfócitos T tendem a ser prolongadas e, muitas vezes, são
autoperpetuantes.

A lesão tecidual provoca liberação e alteração de proteínas próprias, que


podem muitas vezes desencadear reações contra elas mesmo, o que é
chamado de expansão de epítopo.

A resposta imunológica inicial contra um ou poucos epítopos antigênicos


próprios pode se expandir e incluir respostas contra muitos outros
antígenos próprios.

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Doenças inflamatórias imunomediadas: doenças inflamatórias crônicas
iniciadas pelas reações imunológicas.

A terapia para esses distúrbios de hipersensibilidade medida células T é


baseada em reduzir a inflamação e inibir as respostas de células T.

Autor: Leonardo Isaias B. de Souza – Instagram: @leonardo.souza25

O texto é de total responsabilidade do autor e não representa a visão da


sanar sobre o assunto.

Observação: esse material foi produzido durante vigência do Programa de


colunistas Sanar. A iniciativa foi descontinuada em junho de 2022, mas a Sanar
decidiu preservar todo o histórico e trabalho realizado por reconhecer o esforço
empenhado pelos participantes e o valor do conteúdo produzido.

Referências

Imunologia Básica – Abbas 4ª Ed

 Índice
Você sabe a resposta dessa
questão de residência?

Paciente do sexo feminino, 65 anos, com


nódulo na tireoide identificado em exame
físico, com 2,0 cm de diâmetro, endurecido,
em lobo esquerdo. Realizada
ultrassonografia da glândula tireoide,
caracterizando nódulo sólido de 2,0 cm em
lobo esquerdo e nódulo de 1 cm no lobo
direito, e com laudo final de "bócio
multinodular". A melhor conduta seria:

A observação clínica.

tratamento com tiroxina em


B
doses supressivas.

tomografia computadorizada
C para confirmar
multinodularidade.

exame citológico de material


D obtido por punção biópsia
aspirativa por agulha fina.
 Índice
E radioiodoterapia.

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