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PATOLOGIA

Unidade II
5 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE

Os transtornos de hipersensibilidade referem‑se a uma ativação excessiva ou inadequada do


sistema imunológico. A ativação do sistema imunológico normalmente leva à produção de anticorpos e
respostas de células T, que protegem o corpo contra o ataque de microrganismos, no entanto, ela provoca
também lesão tecidual e doença. As alterações causadas por respostas imunológicas são denominadas,
coletivamente, reações de hipersensibilidade.

Historicamente, os transtornos de hipersensibilidade são subdivididos em quatro tipos: transtornos


do tipo I, mediados por IgE; transtornos do tipo II, mediados por anticorpos; transtornos imunológicos
do tipo III, mediados por complemento; e transtornos do tipo IV, mediados por células T1,7,10. Essas
categorias diferem em termos do tipo da resposta imunológica que causa a lesão e a natureza e a
localização do antígeno que é alvo da resposta. A alergia ao látex, por exemplo, pode decorrer de
resposta de hipersensibilidade mediada por IgE ou mediada por células T.

5.1 Transtornos de hipersensibilidade imediata, tipo I

As reações de hipersensibilidade do tipo I são mediadas por IgE, que começam rapidamente, com
frequência em minutos do contato com um antígeno. Esses tipos de reações a antígenos com frequência
são chamados de reações alérgicas. Na resposta alérgica, os antígenos, em geral, são denominados
alérgenos, incluem‑se proteína do pólen, ácaros, fragmentos de pele e pelo de animais, alimentos e
substâncias químicas, como a penicilina.

A exposição ao alérgeno pode ocorrer por meio de inalação, ingestão, injeção ou contato cutâneo.
Dependendo da porta de entrada, as reações do tipo I podem ocorrer como uma reação local ou atópica,
que é meramente incômoda (por exemplo, rinite sazonal) ou muito debilitante (asma), ou como uma
reação sistêmica e potencialmente fatal (anafilaxia).

Dois tipos de células são importantes para a reação de hipersensibilidade do tipo I: células T
auxiliares do tipo 2 (TH2) e mastócitos ou basófilos. Existem dois subgrupos da primeira (TH1 e
TH2), que se desenvolvem do mesmo linfócito T CD4+ precursor. As TH1 diferenciam‑se na resposta
a micróbios e estimulam a diferenciação de células B em plasmócitos produtores de IgM e IgG.
A diferenciação das do tipo TH2 ocorre em resposta a alérgenos e helmintos (parasitas intestinais).
Citocinas (IL‑4, IL‑5, IL‑13) secretadas por células TH2 estimulam a diferenciação de células B em
plasmócitos produtores de IgE, atuam como fatores de crescimento para mastócitos e recrutam e
ativam eosinófilos.

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Os mastócitos, que são células teciduais, e os basófilos, que são células sanguíneas, derivam de
células precursoras hematopoéticas. Os mastócitos e os basófilos possuem grânulos que contêm
mediadores que são liberados a fim de iniciar os primeiros eventos nas reações de hipersensibilidade
do tipo I. Esses mediadores são pré‑formados nas células ou são ativados através de processamento
enzimático. Os mastócitos normalmente encontram‑se distribuídos pelo tecido conjuntivo, em especial
em áreas abaixo da pele e mucosas dos tratos respiratório, gastrointestinal e genitourinário e vasos
sanguíneos e linfáticos adjacentes. Essa localização os deixa próximos de superfícies que são expostas
a antígenos ambientais e parasitas. Os mastócitos em diferentes partes do corpo e até mesmo em um
único local podem ter diferenças significativas no conteúdo e na sensibilidade de mediadores a agentes
que produzem desgranulação de mastócitos.

As reações de hipersensibilidade do tipo I começam com a sensibilização de mastócitos ou basófilos.


Durante a sensibilizacão ou estágio de preparo (priming), anticorpos IgE específicos para o alérgeno
aderem a receptores na superfície de mastócitos e de basófilos. Com a exposição subsequente,
o alérgeno sensibilizante liga‑se à IgE associada à célula e desencadeia uma série de eventos que
causam a desgranulação dos mastócitos ou dos basófilos sensibilizados, provocando a liberação de seus
mediadores pré‑formados. Os mastócitos também são a fonte de produtos da membrana derivados de
lipídios (por exemplo, prostaglandinas e leucotrienos) e citocinas que participam na resposta continuada
ao alérgeno.

Muitas reações de hipersensibilidade do tipo I, como a asma brônquica, apresentam duas fases
bem distintas:

• Uma resposta primária ou de fase inicial, caracterizada por vasodilatação, extravasamento vascular
e contração de musculatura lisa.

• Uma resposta secundária ou tardia, caracterizada por infiltração mais intensa dos tecidos por
eosinófilos e outras células inflamatórias agudas e crônicas, além de destruição tissular na forma
de lesão celular epitelial.

A resposta primária ou de fase inicial em geral ocorre em torno de cinco a trinta minutos de
exposição ao antígeno e decai em sessenta minutos. É mediada por desgranulação de mastócitos
e liberação de mediadores pré‑formados. Esses mediadores incluem histamina, acetilcolina,
adenosina, mediadores quimiotáticos e enzimas como quimase e tripsina, as quais provocam a
geração de cininas. A histamina é um potente vasodilatador, que aumenta a permeabilidade de
capilares e vênulas e provoca contração de musculatura lisa e constrição brônquica. A acetilcolina
produz contração de musculatura lisa brônquica e dilatação de pequenos vasos sanguíneos.
As cininas, que são um grupo de potentes peptídeos inflamatórios, precisam ser ativadas através de
modificação enzimática. Uma vez ativados, esses mediadores peptídicos produzem vasodilatação e
contração da musculatura lisa.

A resposta secundária ou tardia ocorre em cerca de duas a oito horas após, e perdura alguns dias.
Decorre da ação de mediadores lipídicos e citocinas envolvidos na resposta inflamatória. Os mediadores
lipídicos derivam de fosfolipídios da membrana de mastócitos, que são degradados, formando
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ácido araquidônico. Este, por sua vez, é o composto original a partir do qual os leucotrienos e as
prostaglandinas são sintetizados, eles produzem respostas semelhantes à histamina e à acetilcolina,
embora, comparativamente, seus efeitos sejam tardios e prolongados. Os mastócitos também produzem
citocinas e fatores quimiotáticos que induzem a entrada de eosinófilos e leucócitos no local do contato
com o alérgeno, contribuindo para a resposta inflamatória.

Nesse momento, é importante observar que nem todas as respostas mediadas por IgE produzem
desconforto e doença. A hipersensibilidade do tipo I, particularmente a resposta tardia, desempenha
um papel de proteção no controle de infecções parasitárias. Os anticorpos IgE lesam diretamente
as larvas desses parasitas por recrutarem células inflamatórias e provocarem citotoxicidade celular
dependente de anticorpos. Esse tipo de reação de hipersensibilidade do tipo I é particularmente
importante em países em desenvolvimento, nos quais um número significativo da população se
encontra infestado por parasitas intestinais.

Saiba mais

Aprimore seu conhecimento sobre sensibilidade, alergia e intolerância


alimentar no site do Ministério da Saúde:

BRASIL. Ministério da Saúde. Conheça a diferença entre sensibilidade,


alergia e intolerância alimentar. Blog da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde,
2016. Disponível em: <http://www.blog.saude.gov.br/index.php/51274-dia-
mundial-da-alergia-conheca-a-diferenca-entre-sensibilidade-alergia-e-
intolerancia-alimentar>. Acesso em: 11 jul. 2019.

5.1.1 Reações anafiláticas (sistêmicas)

A anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade sistêmica potencialmente fatal caracterizada por


edema disseminado, choque vascular secundário a vasodilatação e dificuldade respiratória. Decorre
da presença de antígeno introduzido por injeção, picada de inseto ou absorção através da superfície
epitelial da pele ou da mucosa gastrointestinal. O nível de gravidade depende do nível de sensibilização.
Até mesmo pequenas quantidades de antígeno podem ser o suficiente para causar anafilaxia em uma
pessoa muito sensível. Dentro de minutos após a exposição, ocorre o desenvolvimento de prurido,
urticária e eritema cutâneo, sucedidos logo depois por broncoespasmo.

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Antígeno

CD4
TH2 IL-4
Célula B

IL-3, IL-5

Plasmócito
secretor de IgE

Anticorpo
Recrutamento de Mastócito
eosinófilos
Sensibilização
de mastócito

Liberação de citocinas
Recrutamento e ativação
de células inflamatórias

Desgranulação e liberação
de mediadores Fosfolipídios da membrana
Ácido araquidônico
Prostaglandinas Leucotrienos
Resposta inicial primária
Vasodilatação
Lesão vascular Resposta tardia secundária
Espasmo de músculo liso Edema de mucosa
Secreção de muco
Infiltração de leucócitos
Lesão epitelial
Broncoespasmo

Figura 29 – Reação de hipersensibilidade mediada por IgE do tipo I

A estimulação da diferenciação de células B por uma célula T auxiliar do tipo 2 (TH2) estimulada por
antígeno leva à produção de plasmócitos de IgE e à sensibilização de mastócitos. A ligação subsequente do
antígeno produz desgranulação do mastócito sensibilizado com liberação de mediadores pré‑formados,
levando a uma resposta primária ou de fase inicial. O recrutamento de eosinófilos por células T (TH2),
além da liberação de citocinas e fosfolipídios da membrana a partir do mastócito, acarreta uma resposta
secundária ou tardia.

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Saiba mais

Para saber mais sobre anafilaxia, consulte o site da Sociedade Brasileira


de Pediatria. Disponível em:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Anafilaxia. Guia prático de


atualização. Rio de Janeiro: Departamento de Alergia, 2016. Disponível em:
<https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/documentos_cientificos/
Alergia‑GuiaPratico‑Anafilaxia‑Final.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2019.

5.2 Transtornos mediados por anticorpos, tipo II

As reações de hipersensibilidade do tipo II são mediadas por anticorpos IgG ou IgM direcionados
contra antígenos‑alvo sobre superfícies celulares ou em tecidos conjuntivos. Os antígenos podem
ser endógenos, presentes nas membranas das células corporais, ou exógenos, que são adsorvidos
sobre a superfície da membrana. Existem três tipos diferentes de mecanismo mediado por anticorpos
envolvidos nas reações do tipo II: opsonização e fagocitose mediada por complemento e por receptor
de anticorpos, inflamação mediada por complemento e por receptor de anticorpos e disfunção celular
por anticorpos.

5.2.1 Destruição celular mediada por complemento e anticorpos

A deleção de células atingidas por anticorpos pode ocorrer por meio do sistema complemento ou
por meio de citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC), que não exige o complemento.
A destruição celular mediada por complemento pode ocorrer porque as células são recobertas
(opsonizadas) por moléculas que as tornam atrativas à fagocitose ou por causa da formação de
proteínas de ataque à membrana que rompem a integridade da membrana celular e provocam a lise
celular. Com a destruição da ADCC, as células recobertas com níveis baixos de anticorpos do tipo IgG
são destruídas por diversas células efetoras que se ligam a seu alvo por meio de seus receptores para
IgG, e a lise celular ocorre sem fagocitose.

Os exemplos de destruição celular mediada por anticorpos incluem reações de transfusão de


sangue incompatível, doença hemolítica do recém‑nascido devido à incompatibilidade de ABO ou
de Rh e determinadas reações medicamentosas. Nesse último caso, a ligação de certos agentes
químicos ou de metabólitos desses agentes à superfície de eritrócitos ou de leucócitos desencadeia uma
resposta de anticorpos que lisa a célula recoberta pelo agente químico. As reações medicamentosas
líticas podem produzir anemia transitória, leucopenia ou trombocitopenia, que são corrigidas pela
remoção do agente agressor.

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Membrana celular Superfície celular


ou anticorpo ECM

Anticorpo
Receptor FC Receptor C3b

Ativação do
complemento Ativação do
complemento

Leucócitos

Opsonização, MAC, Inflamação e


fagocitose lesão tissular
A) B)

Anticorpo
Receptor contra o Terminação
de TSH receptor nervosa
de TSH Acetilcolina
(ACh)
Célula epitelial
da tireoide

Anticorpo contra
o receptor de ACh

↑ Produção e liberação de Receptor de ACh


hormônio da tireoide Músculo
Anticorpo inibe ligação de
neurotransmissor a receptor
C) D)

Figura 30 – Reações de hipersensibilidade do tipo II decorrentes da ligação de anticorpos a antígenos


de superfície normais ou alterados: (A) opsonização e fagocitose mediada por complemento ou por receptor
de anticorpo, ou lise celular através de complexo de ataque à membrana (MAC); (B) inflamação mediada
por complemento e receptor de anticorpo decorrente do recrutamento e da ativação de leucócitos
produtores de inflamação (neutrófilos e monócitos); (C) disfunção celular mediada por anticorpos,
em que o anticorpo contra o receptor de hormônio tireoestimulante (TSH) aumenta a
produção de hormônio da tireoide; e (D) anticorpo contra o receptor de
acetilcolina inibe a ligação do receptor do neurotransmissor na miastenia grave

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Observação

O revestimento de um antígeno pelo anticorpo ou complemento


para melhorar a ligação é denominado opsonização. A endocitose
mediada por receptores é desencadeada por opsonização e ligação do
agente para fagocitar receptores da superfície celular.

5.2.2 Inflamação mediada por complemento e anticorpos

Quando os anticorpos são depositados nos tecidos extracelulares, como membranas basais e
matriz, a lesão decorre de inflamação, e não de fagocitose ou de lise celular. Nesse caso, os anticorpos
depositados ativam o complemento, gerando produtos intermediários quimiotáticos que recrutam e
ativam neutrófilos e monócitos. Os leucócitos ativados liberam substâncias lesivas, como enzimas
e intermediários de oxigênio reativos, que resultam em inflamação e lesão tissular. A inflamação mediada
por anticorpos é responsável pela lesão tissular vista em algumas formas de glomerulonefrite, rejeição
vascular em enxertos de órgãos e outras doenças. Na síndrome de Goodpasture, por exemplo, o anticorpo
se liga a um componente estrutural importante das membranas basais pulmonares e glomerulares,
provocando hemorragia pulmonar e glomerulonefrite.

5.2.3 Disfunção celular mediada por anticorpos

Em algumas reações do tipo II, os anticorpos que se ligam a receptores de células‑alvo específicos não
provocam a morte celular, e sim uma alteração na função da célula. Na doença de Graves, por exemplo,
autoanticorpos direcionados contra os receptores de hormônio tireoestimulante (TSH) sobre células da
tireoide estimulam a produção de tiroxina, provocando hipertireoidismo. Por outro lado, na miastenia
grave, autoanticorpos contra os receptores de acetilcolina sobre placas terminais neuromusculares ou
bloqueiam a ação da acetilcolina ou medeiam a internalização ou a destruição de receptores, levando à
diminuição da função neuromuscular.

5.3 Transtornos mediados por imunocomplexos, tipo III

Os transtornos alérgicos por imunocomplexos são mediados pela formação de complexos insolúveis
antígeno‑anticorpo, fixação de complemento e inflamação localizada.

Os imunocomplexos formados na circulação produzem lesão quando entram em contato com o


revestimento vascular ou são depositados nos tecidos, como glomérulo renal, vênulas cutâneas, pulmão
e sinóvia articular. Uma vez depositados, os imunocomplexos desencadeiam uma resposta inflamatória
por meio da ativação de complemento, provocando, desse modo, o recrutamento quimiotático de
neutrófilos e outras células inflamatórias. A ativação dessas células inflamatórias por imunocomplexos
e complemento, acompanhada pela liberação de mediadores inflamatórios potentes, é diretamente
responsável pela lesão.

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Endotélio vascular

Anticorpo

Antígenos

1
Formação de
2 complexos
Deposição de antígeno-anticorpo
imunocomplexos
3
Atração de
células inflamatórias

Ativação de
complemento

Necrose
fibrinoide
Mediadores que
lesam tecido

Figura 31 – Reações de imunocomplexos do tipo III envolvendo imunoglobulinas IgG ou IgM ativadas
por complemento com (1) formação de imunocomplexos no sangue que são (2) depositados nos
tecidos; a ativação do complemento no local da deposição dos imunocomplexos (3) leva à
atração de leucócitos responsáveis por lesão vascular e tecidual

As reações do tipo III são responsáveis pela vasculite encontrada em determinadas doenças autoimunes,
como LES ou lesão renal associada a glomerulonefrite aguda. Os transtornos por imunocomplexos do tipo III
podem ser generalizados se eles forem formados na circulação e depositados em muitos órgãos, ou se estiverem
localizados em um órgão determinado, como rim, articulações ou pequenos vasos sanguíneos da pele.

5.3.1 Transtornos por imunocomplexos sistêmicos

A doença do soro é um transtorno sistêmico por imunocomplexos, que é desencadeado pelo depósito de
complexos insolúveis antígeno‑anticorpo (IgM, IgG e, ocasionalmente, IgA) em vasos sanguíneos, articulações
e tecidos cardíaco e renal. Os complexos depositados ativam o complemento, aumentam a permeabilidade
vascular e recrutam células fagocitárias; todos esses fatores podem promover lesão tecidual focal e edema.
O termo doença do soro foi cunhado pela primeira vez para descrever uma síndrome que consista em rash,
linfadenopatia, artralgias e, ocasionalmente, distúrbios neurológicos e que se manifestava sete dias ou mais
após injeções de antissoro equino (tétano). Embora essa terapia não seja mais usada atualmente, o nome
permanece. Atualmente, as causas mais comuns desse transtorno alérgico são antibióticos (especialmente a
penicilina) e outros agentes químicos, diversos alimentos e venenos de insetos.

Os sinais e sintomas incluem urticária, erupção cutânea em áreas ou generalizada, edema extenso
(em geral, em face, pescoço e articulações) e febre. Na maioria dos casos, a agressão é temporária,
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e os sintomas sofrem resolução em alguns dias. No entanto, uma exposição prolongada e contínua
ao antígeno sensibilizador pode provocar lesão irreversível. Em indivíduos previamente sensibilizados,
formas graves e até mesmo fatais de doença do soro podem ocorrer imediatamente ou alguns dias após
o agente químico ou o soro sensibilizador ter sido administrado.

O tratamento da doença do soro, em geral, é direcionado para a remoção do antígeno sensibilizante


e a promoção do alívio dos sintomas. Para tanto, podem ser necessários aspirina, para a dor articular, e
anti‑histamínicos, para o prurido. A epinefrina ou algum corticosteroide sistêmico pode ser usado em
reações graves.

5.3.2 Reações localizadas de imunocomplexos

A reação de Arthus é uma reação de imunocomplexo localizada, associada à necrose tecidual discreta,
geralmente na pele. É causada pela exposição repetida de um local a um antígeno, onde existem níveis
elevados de anticorpos circulantes pré‑formados. Na maioria dos casos, os sintomas se manifestam no
intervalo de uma hora e alcançam um pico em seis a 12 horas após a exposição. Tipicamente, as lesões
são avermelhadas, altas e inflamadas. Com frequência, formam‑se úlceras no centro da lesão devido à
liberação de citocinas inflamatórias.

O mecanismo da reação de Arthus não é completamente compreendido, mas acredita‑se ser o


resultado do contato localizado do antígeno injetado com anticorpos IgG na circulação. Essa reação
é o protótipo para o desenvolvimento de vasculite localizada associada a determinadas reações a
medicamentos em seres humanos.

5.4 Transtornos de hipersensibilidade celular, tipo IV

As reações de hipersensibilidade do tipo IV envolvem respostas imunológicas mediadas por células,


e não por anticorpos. A imunidade mediada por células é o principal mecanismo de resposta a diversos
microrganismos, incluindo patógenos intracelulares, como Mycobacterium tuberculosis e vírus, além de
agentes extracelulares, como fungos, protozoários e parasitas. Também pode provocar morte celular e lesão
tecidual em resposta a antígenos químicos (dermatite de contato) ou autoantígenos (autoimunidade).

As reações de hipersensibilidade do tipo IV, que são mediadas por linfócitos T especificamente
sensibilizados, podem ser divididas em dois tipos básicos: citotoxicidade celular direta e hipersensibilidade
do tipo tardio.

5.4.1 Citotoxicidade celular direta

Na citotoxicidade celular direta, linfócitos T citotóxicos CD8+ (CTLs) destroem diretamente células‑alvo
que exprimem peptídeos derivados de antígenos citossólicos que são apresentados associados a
moléculas de MHC classe I. Nas infecções virais, as respostas de CTL podem provocar lesão tissular por
destruírem células‑alvo infectadas mesmo se o vírus, por si só, não apresentar efeitos citotóxicos. Alguns
vírus lesam diretamente células infectadas e são denominados citopáticos, ao passo que outros, não
citopáticos, não o fazem. Como não conseguem diferenciar entre vírus citopáticos e não citopáticos, os
CTLs praticamente destroem todas as células infectadas, independentemente de a infecção ser lesiva.
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Em determinadas formas de hepatite, por exemplo, a destruição de hepatócitos ocorre pela resposta de
CTL do hospedeiro, e não pelo vírus.

5.5 Transtornos de hipersensibilidade do tipo tardio

As reações de hipersensibilidade do tipo tardio (DTH) ocorrem em resposta a antígenos proteicos


solúveis e envolvem primariamente células apresentadoras de antígenos, como macrófagos e células T
auxiliares CD4+ do tipo TH1. Durante a reação, as células TH1 são ativadas e passam a secretar um conjunto
de citocinas que recrutam e ativam monócitos, linfócitos, fibroblastos e outras células inflamatórias.
Essas respostas mediadas por células T precisam da síntese de moléculas efetoras, e levam entre 24 a
72 horas para se desenvolver, motivo pelo qual são denominadas transtornos de hipersensibilidade “do
tipo tardio”.

Antígeno

Célula
apresentadora
de antígeno

Célula T CD8+
Célula T CD4+
primed
[preparada]

Toxicidade
celular direta
Célula-alvo Célula T CD4+
ativada
A)

Citocinas

Resposta de
hipersensibilidade tardia
B)

Figura 32 – Reações celulares de hipersensibilidade do tipo IV, que incluem (A) citotoxicidade celular direta,
na qual células T CD8+ destroem células‑alvo que sustentam antígeno; e (B) reações de hipersensibilidade
tardia, em que células CD4+ pré‑sensibilizadas liberam citocinas que lesam células

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A resposta de DTH mais bem conhecida é a reação ao teste da tuberculina, em que tuberculina
inativada ou derivado proteico purificado é injetado sob a pele. No indivíduo sensibilizado
por infecção pregressa, uma área localizada de vermelhidão e induração desenvolve‑se em oito a
12 horas, alcançando pico em 24 a 72 horas. A reação de tuberculina caracteriza‑se por acúmulo
perivascular de células TH1 e, num grau menor, de macrófagos. A secreção local de citocinas por
essas células inflamatórias mononucleares leva ao aumento da permeabilidade microvascular com
vermelhidão e tumefação locais.

A sequência de eventos na DTH, conforme demonstrado pela reação da tuberculina, tem início na
primeira exposição aos bacilos da tuberculose. As células TH1 reconhecem os antígenos peptídicos
dos bacilos tuberculosos associados aos antígenos MHC classe II na superfície de monócitos e células
apresentadoras de antígeno que processaram os antígenos micobacterianos. Esse processo acarreta
a formação de células de memória TH1 sensibilizadas que permanecem durante anos na circulação.
A injeção subsequente de tuberculina em tal indivíduo resulta na secreção de citocinas de células TH1,
que, em última análise, são responsáveis pela resposta de TH1. Ou seja, a imunidade contra a tuberculose
é mediada por células.

Além de seu papel benéfico de proteção, a DTH pode ser uma causa de doença, incluindo dermatite
alérgica de contato.

Lembrete

A imunidade contra a tuberculose é mediada por células.

6 PROCESSO INFLAMATÓRIO E REPARAÇÃO TECIDUAL

6.1 Inflamação

A inflamação é uma reação de defesa do organismo e de seus tecidos a estímulos nocivos. O objetivo
é reparar o dano, ou pelo menos limitá‑lo, e também remover a causa, por exemplo, bactérias ou corpos
estranhos. As causas de uma inflamação podem ser:

• microrganismos, como bactérias, vírus, fungos ou parasitas;

• corpos estranhos (proteínas estranhas, por exemplo, pólen, amianto); ou

• destruição tecidual com formação de restos de tecido, por exemplo, por meio de danos mecânicos,
tais como cortes, arranhões ou corpos estranhos; compostos químicos, tais como ácidos ou álcalis;
influências físicas, tais como frio, calor, radiação (UV, raio X, radiotividade); e causas endógenas,
como reações autoimunes ou cristais de substâncias precipitados no corpo (ácido úrico, oxalato
de cálcio, fosfato de cálcio e colesterol).

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O processo inflamatório é uma resposta do corpo que se destina a eliminar a causa inicial
de lesão celular, remover o tecido danificado e produzir um novo. O processo ocorre por meio
da destruição, da digestão enzimática, da compartimentalização ou de qualquer outro modo de
neutralizar os agentes nocivos. Esses processos são fundamentais para os eventos que acabarão por
cicatrizar o tecido danificado. A inflamação está relacionada com os processos de reparação, que
substituem o tecido danificado ou preenchem os defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso.

Embora tenha sido descrita pela primeira vez há mais de dois mil anos, a resposta inflamatória
tem sido objeto de constantes estudos até os dias atuais. Hoje, sabe‑se que a patogênese de várias
doenças está ligada à resposta inflamatória. Nesses casos, a cascata inflamatória é realizada de maneira
excessivamente cuidadosa, danificando vários tipos de tecido e manifestando‑se na forma de distúrbios
autoimunes, como a artrite reumatoide.

A inflamação é a reação de tecidos vascularizados a uma lesão. Ela se caracteriza pela ação de
mediadores inflamatórios, como os do sistema complemento, o fator de necrose tumoral alfa, o fator
de crescimento endotelial vascular (VEGF), neutrófilos, assim como pelo movimento de líquidos.

As doenças inflamatórias são nomeadas acrescentando‑se o sufixo ‑ite ao órgão ou sistema afetado.
Por exemplo, apendicite se refere à inflamação do apêndice; pericardite, à inflamação do pericárdio; e
neurite, à inflamação de um nervo. Expressões mais descritivas do processo inflamatório podem indicar
se o processo é agudo ou crônico e que tipo de exsudato foi formado.

Os eventos clássicos de um processo inflamatório têm sido transmitidos ao longo do tempo.


No primeiro século d.C., a reação local da lesão foi descrita em termos atualmente conhecidos
como sinais cardinais do processo inflamatório (sinais flogísticos). Estes são rubor (vermelhidão),
tumefação (inchaço), calor e dor. No século 2 d.C., foi incluído um quinto sinal cardinal, functio
laesa (perda de função). Além dos sinais clássicos que aparecem no local da lesão, podem ocorrer
manifestações sistêmicas (por exemplo, febre) à medida que mediadores químicos (por exemplo,
citocinas) produzidos no local da inflamação entram no sistema circulatório. A grande variedade de
manifestações sistêmicas durante um processo inflamatório agudo é conhecida como resposta
de fase aguda. O grau da resposta inflamatória pode ser influenciado por vários fatores, como a
duração da lesão, o tipo de agente estranho, o grau de lesão e o microambiente.

O processo inflamatório pode ser dividido em dois tipos: agudo e crônico. O agudo tem curta
duração, variando de alguns minutos até vários dias, e caracteriza‑se pela exsudação de líquidos e
componentes do plasma e pela emigração de leucócitos, predominantemente neutrófilos, para os tecidos
extravasculares. O processo inflamatório crônico tem duração mais longa, que varia de um dia até anos,
e está associado à presença de linfócitos e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à
necrose tecidual. Frequentemente, essas formas básicas de inflamação se sobrepõem, e muitos fatores
podem influenciar seu curso.

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Agente inflamatório
Sinais
cardinais
Fenômenos
irritativos Calor
Fenômenos
vasculares Rubor

Dor
Fenômenos alterativos
Fenômenos
exsudativos Tumor

Mediadores Cura por


Fenômenos reabsorção
resolutivos do exsudato e
regeneração
Fenômenos Cura por
reparativos cicatrização

Inflamação
crônica Inflamação
crônica persistente

Figura 33 – Fenômenos da inflamação e sua relação com os sinais cardinais

Lembrete

O objetivo da inflamação é defender o organismo e seus tecidos de


estímulos nocivos, como, por exemplo, bactérias ou corpos estranhos, bem
como reparar o dano ou, pelo menos, limitá‑lo.

6.1.1 Inflamação aguda

O processo inflamatório agudo é uma resposta imediata contra um agente nocivo. A resposta, que
serve para controlar e eliminar células alteradas, microrganismos e antígenos, ocorre em duas fases:

• Fase vascular, que resulta em aumento do fluxo sanguíneo e alterações nos pequenos vasos
da microcirculação.

• Fase celular, que resulta na migração de leucócitos da circulação e sua ativação para eliminar o
agente nocivo.

6.1.1.1 Células de inflamação

O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: vascular e celular. Diversos tipos de
tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos
sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos,
macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC). A matriz extracelular é composta
por proteínas fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos. No nível bioquímico,
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os mediadores inflamatórios, agindo em conjunto ou em sequência, amplificam a resposta inicial e


influenciam sua evolução por meio da regulação das respostas vasculares e celulares subsequentes.

6.1.1.2 Fases da inflamação aguda

As alterações vasculares que ocorrem no processo inflamatório envolvem arteríolas, capilares


e vênulas da microcirculação. Essas alterações se iniciam logo após a lesão e se caracterizam por
vasodilatação, alterações no fluxo sanguíneo, aumento da permeabilidade vascular e extravasamento
de líquido nos tecidos extravasculares.

A vasodilatação, uma das primeiras manifestações do processo inflamatório, começa depois de uma
constrição transitória das arteríolas, que dura alguns segundos. A vasodilatação envolve primeiramente as
arteríolas e, em seguida, resulta na abertura dos leitos capilares na região afetada. Como resultado, a área se
torna congestionada, causando a vermelhidão (eritema) e o calor associados a um processo de inflamação
aguda. A vasodilatação é induzida pela ação de vários mediadores, como a histamina e o ácido nítrico.

A vasodilatação é rapidamente seguida por aumento da permeabilidade da microcirculação, com o


transbordamento de um líquido rico em proteína (exsudato) para os espaços extravasculares. A perda de
líquido ocasiona aumento da concentração de constituintes do sangue (hemácias, leucócitos, plaquetas
e fatores de coagulação), estagnação do fluxo e coagulação do sangue no local da lesão. Isso ajuda
a localizar a disseminação de microrganismos infecciosos. A perda de proteínas plasmáticas reduz a
pressão osmótica intracapilar e aumenta a pressão osmótica do líquido intersticial, de modo que este se
desloque para os tecidos e produza tumefação (i.e., edema), dor e comprometimento funcional, que são
os sinais cardinais do processo inflamatório agudo.

A exsudação de líquido para os espaços teciduais também serve para diluir o agente agressor.
O aumento da permeabilidade característico de um processo inflamatório agudo resulta da formação
de lacunas endoteliais nas vênulas da microcirculação. A ligação de mediadores químicos a receptores
endoteliais provoca a contração das células endoteliais e a separação das junções intercelulares. Esse
é o mecanismo mais comum de derrame vascular e é induzido pela ação de histamina, bradicinina,
leucotrienos e muitas outras classes de mediadores químicos.

Arteríola Dilatação da arteríola Exsudato

Vênula

A) Vasoconstrição B) Vasodilatação Dilatação da vênula

Figura 34 – Inflamação aguda (A) e fase vascular (B)

92
PATOLOGIA

6.1.1.3 Fase vascular

Na fase vascular do processo inflamatório agudo ocorrem alterações nos pequenos vasos sanguíneos
no local da lesão. Ela começa com vasoconstrição momentânea, rapidamente seguida por vasodilatação.
A vasodilatação envolve as arteríolas e vênulas, com consequente aumento do fluxo sanguíneo capilar,
causando calor e vermelhidão, dois dos sinais cardinais do processo inflamatório. Acompanha‑se aumento
na permeabilidade vascular, com a saída de um líquido rico em proteína (exsudato) para os espaços
extravasculares. A perda de proteínas reduz a pressão osmótica capilar e aumenta a pressão osmótica
intersticial. Isso, juntamente ao aumento da pressão capilar, provoca fluxo de líquido e seu acúmulo no
espaço intersticial, produzindo edema, dor e comprometimento funcional, que representam os outros sinais
cardinais do processo inflamatório agudo. À medida que o líquido se desloca para fora dos vasos, ocorre
estagnação do fluxo sanguíneo e coagulação. Isso ajuda a localizar a disseminação de agentes infecciosos.

6.1.1.4 Fase celular (marginação, adesão e transmigração de leucócitos)

A fase celular do processo inflamatório agudo envolve a mobilização de leucócitos, principalmente


neutrófilos, para o local da inflamação, de modo que possam exercer sua função normal de defesa do
hospedeiro. O deslocamento e a ativação dos leucócitos podem ser divididos nas seguintes etapas: adesão
e marginação, transmigração e quimiotaxia. O recrutamento de leucócitos para as vênulas pré‑capilares,
que deixam a circulação, é facilitado pela lentificação do fluxo sanguíneo e pela marginação ao longo da
superfície vascular. A adesão e a transmigração de leucócitos do espaço vascular para o tecido extravascular
são facilitadas pelas moléculas de adesão complementares (por exemplo, selectinas, integrinas) nos leucócitos
e nas superfícies endoteliais. Depois do extravasamento, os leucócitos migram através dos tecidos em direção
ao local da lesão por quimiotaxia ou locomoção orientada ao longo de um gradiente químico.
Fluxo sanguíneo

Células endoteliais

Rolamento Adesão firme Transmigração


(Selectinas) (Integrinas β1 e β2) (PCAM-1 etc.)

Capilar
Neutrófilo

Neutrófilo
2 Transmigração

1 Marginação Bactérias

3 Quimiotaxia

Figura 35 – A fagocitose envolve três etapas distintas: (1) reconhecimento e


aderência; (2) englobamento; e (3) morte intracelular

93
Unidade II

6.1.1.5 Quimiotaxia

É o processo dinâmico e guiado por energia de migração celular direcionada. Assim que os
leucócitos deixam os capilares, eles vagam através dos tecidos orientados por um gradiente de
quimioatratores secretados, como quimiocinas, resíduos bacterianos e celulares e fragmentos
de proteínas produzidos pela ativação do sistema complemento (por exemplo, C3a, C5a).
As quimiocinas, subgrupo importante de citocinas quimiotáticas, são pequenas proteínas que
orientam o tráfego de leucócitos durante os estágios iniciais do processo inflamatório ou lesão.
Diversas células imunológicas (por exemplo, macrófagos) e não imunológicas secretam esses
quimioatratores para assegurar o movimento dirigido de leucócitos até o local de infecção.

6.1.1.6 Ativação de leucócitos e fagocitose

Durante a fase final da resposta celular, monócitos, neutrófilos e macrófagos dos tecidos são
ativados para englobar e degradar as bactérias e os fragmentos celulares em um processo denominado
fagocitose. Ela é iniciada pelo reconhecimento e pela ligação de partículas por receptores específicos na
superfície de células fagocíticas. Essa ligação é essencial para capturar o agente, o que desencadeia o
englobamento e ativa o potencial de matar de uma célula.

Os micróbios podem se ligar diretamente à membrana de células fagocíticas por diferentes tipos de
receptores de reconhecimento de padrão (por exemplo, receptores toll‑like e receptores de manose),
ou indiretamente, por intermédio de receptores que reconhecem micróbios revestidos por lectinas de
ligação com carboidratos, anticorpos ou complemento.

O revestimento de um antígeno pelo anticorpo ou complemento para melhorar a ligação é


denominado opsonização. A endocitose mediada por receptores é desencadeada por opsonização
e ligação do agente para fagocitar receptores da superfície celular. A endocitose é realizada por extensões
citoplasmáticas (pseudópodes) que cercam e encerram a partícula em uma vesícula fagocítica delimitada
por membrana, ou fagossomo.

No local da inflamação, os produtos do dano tecidual desencadeiam uma série de respostas


leucocitárias, incluindo fagocitose e morte celular.

94
PATOLOGIA

1
Fagossomo 2 Receptor Fc
Fc

C3b
Receptor
C3b
3

Fagolisossomo

Figura 36 – A opsonização dos micróbios: (1) pelo fator de complemento C3b e anticorpo facilita o reconhecimento
pelo neutrófilo receptor de C3b e anticorpo Fc; (2) a ativação do receptor desencadeia a sinalização intracelular e a
montagem de actina no neutrófilo, levando à formação de pseudópodes que englobam o micróbio em um
fagossomo; (3) este, então, se funde com um lisossomo intracelular para formar um fagolisossomo, no
qual enzimas lisossomais e radicais de oxigênio (4) são liberados para matar e digerir o micróbio

6.1.1.7 Células endoteliais

Constituem o revestimento epitelial com espessura de uma única célula dos vasos sanguíneos.
Elas produzem agentes antiplaquetários e antitrombóticos que mantêm a permeabilidade do vaso,
assim como vasodilatadores e vasoconstritores que regulam o fluxo sanguíneo. As células endoteliais
também são fundamentais para a resposta inflamatória e apresentam alterações significativas em
pessoas com doenças inflamatórias. As células endoteliais funcionais fornecem uma barreira de
permeabilidade seletiva para estímulos inflamatórios exógenos (microbianos) e endógenos; regulam
o extravasamento de leucócitos pela expressão de moléculas de adesão celular e receptores;
contribuem para a regulação e a modulação da resposta imune pela síntese e liberação de mediadores
inflamatórios; e regulam a proliferação de células imunes pela secreção de fatores estimuladores de
colônias hematopoéticas (CSF, colony‑stimulating factor).

As células endoteliais também participam do processo de reparo que acompanha a inflamação por
meio da produção de fatores de crescimento que estimulam a angiogênese (formação de novos vasos
sanguíneos) e a síntese de MEC. As células endoteliais circulantes podem ser utilizadas como indicador
da tendência de disfunção vascular em pessoas com lúpus eritematoso sistêmico (LES), mesmo que sem
doença cardiovascular diagnosticada.

6.1.1.8 Plaquetas

Plaquetas ou trombócitos são fragmentos de células circulantes no sangue envolvidos nos


mecanismos celulares de hemostasia primária. Plaquetas ativadas também liberam vários mediadores
95
Unidade II

inflamatórios potentes, aumentando, assim, a permeabilidade vascular e alterando as propriedades


quimiotáticas, adesivas e proteolíticas das células endoteliais. Quando uma plaqueta sofre ativação,
mais 300 proteínas são liberadas.

Embora apenas uma proporção relativamente pequena tenha sido identificada, parece que um
número significativo são mediadores inflamatórios. A associação entre plaquetas e doenças inflamatórias
é realçada pelo número de processos patológicos inflamatórios (por exemplo, aterosclerose, enxaqueca,
LES) comprovadamente associados à ativação plaquetária.

6.1.1.9 Neutrófilos e monócitos (macrófagos)

São leucócitos fagocíticos existentes em grande número e são evidenciados no local da inflamação
em um intervalo de poucas horas. Os dois tipos de leucócitos expressam diversos receptores de superfície e
moléculas envolvidas na sua ativação. O neutrófilo é o primeiro fagócito a chegar ao local da inflamação,
geralmente em um intervalo de noventa minutos após a lesão. Esses leucócitos têm núcleos divididos
em três a cinco lobos. Portanto, são frequentemente chamados de neutrófilos polimorfonucleares (PMN)
ou neutrófilos segmentados.

Um leucócito identificado por grânulos citoplasmáticos distintivos é chamado granulócito.


Os grânulos citoplasmáticos dos granulócitos, que resistem à coloração e continuam a apresentar cor
neutra, contêm tecido morto, enzimas e material antibacteriano utilizados na destruição de micróbios
que foram engolfados. Os neutrófilos são capazes de produzir oxigênio (peróxido de hidrogênio) e
produtos nitrogenados (óxido nítrico [NO]), que auxiliam na destruição dos resíduos engolfados pela
célula fagocítica.

O número de neutrófilos no sangue muitas vezes aumenta substancialmente durante um


processo inflamatório, especialmente com infecções bacterianas. Após serem liberados da medula
óssea, os neutrófilos circulantes têm vida útil de aproximadamente dez horas, portanto precisam
ser constantemente substituídos para que a contagem permaneça adequada. Isso exige aumento de
leucócitos em circulação, condição chamada leucocitose, frequentemente elevada quando há infecções
bacterianas e lesão tecidual.

Com a demanda excessiva de fagócitos, formas imaturas de neutrófilos são liberadas da medula
óssea. Estas, muitas vezes, são chamadas de bastões porque têm o núcleo em formato de ferradura.
Monócitos circulantes, que têm um único núcleo em forma de rim e são os maiores leucócitos circulantes,
constituem de 3% a 8% da contagem de leucócitos do sangue. Os monócitos são liberados da medula
óssea para agir como macrófagos. As células mononucleares chegam ao local da inflamação logo depois
dos neutrófilos e desempenham suas funções fagocíticas durante vários dias.

Monócitos e macrófagos produzem potentes mediadores vasoativos, incluindo prostaglandinas e


leucotrienos, fator de ativação plaquetária (FAP), citocinas inflamatórias e fatores de crescimento que
promovem a regeneração dos tecidos. Os macrófagos englobam partículas maiores e uma quantidade
maior de material estranho do que os neutrófilos. Esses fagócitos de vida mais longa ajudam a destruir
o agente causador, auxiliam nos processos de sinalização de imunidade, servem para eliminar o processo
96
PATOLOGIA

inflamatório e contribuem para a iniciação dos processos de cicatrização. Também desempenham papel
importante no processo inflamatório crônico, no qual podem rodear e cercar materiais estranhos que
não podem ser digeridos.

6.1.1.10 Eosinófilos, basófilos e mastócitos

Eosinófilos, basófilos e mastócitos produzem mediadores lipídicos e citocinas que induzem o processo
inflamatório. Embora esses três tipos de células apresentem características específicas, todos contêm
grânulos citoplasmáticos que induzem o processo inflamatório. São particularmente importantes nos
casos de inflamação associada a reações de hipersensibilidade imediata e distúrbios alérgicos.

Os eosinófilos circulam no sangue e são recrutados para os tecidos, de modo semelhante aos
neutrófilos. A quantidade desses granulócitos aumenta no sangue durante reações alérgicas e infecções
parasitárias. Os grânulos de eosinófilos, que se tingem de vermelho com o corante ácido de eosina,
contêm uma proteína altamente tóxica para vermes parasitas grandes que não podem ser fagocitados.
Também desempenham papel importante nas reações alérgicas por meio do controle da liberação de
mediadores químicos específicos.

Basófilos são granulócitos sanguíneos semelhantes estrutural e funcionalmente aos mastócitos


do tecido conjuntivo. São derivados de células progenitoras da medula óssea e circulam no sangue.
Os grânulos dos basófilos, que se tingem de azul com um corante básico, contêm histamina e outros
mediadores bioativos de inflamação. Tanto basófilos quanto mastócitos se ligam a um anticorpo, a
imunoglobulina E (IgE), secretada por células do plasma por meio de receptores na sua superfície celular.
A ligação com IgE provoca a liberação de histamina e de agentes vasoativos dos grânulos dos basófilos.

Os mastócitos derivam das mesmas células‑tronco hematopoéticas que os basófilos, mas não se
desenvolvem até que deixam a circulação e se alojam nos tecidos. A ativação dos mastócitos resulta na
liberação do conteúdo pré‑formado de seus grânulos (histamina, proteoglicanos, proteases e citocinas
como o fator de necrose tumoral alfa [TNF‑α] e a interleucina [IL]‑16); na síntese de mediadores lipídicos
derivados de precursores da membrana celular (metabólitos do ácido araquidônico, como prostaglandinas
e FAP); e na estimulação da síntese de citocinas e quimiocinas por outras células inflamatórias como
monócitos e macrófagos. Os mastócitos estão envolvidos nas reações acionadas por IgE e no combate
a infecções por helmintos.

6.1.2 Processo inflamatório (células da inflamação)

O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: vascular e celular. Diversos tipos de
tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos
sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos,
macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC), que é composta por proteínas
fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos.

No nível bioquímico, os mediadores inflamatórios, agindo em conjunto ou em sequência,


amplificam a resposta inicial e influenciam sua evolução por meio da regulação das respostas
vasculares e celulares subsequentes.
97
Unidade II

Células endoteliais

Basófilo Plaquetas Monócito


Eosinófilo Neutrófilo

Fibroblasto

Mastócito Macrófago
Elastina

Fibras de colágeno Filamentos de proteoglicanos

Figura 37 – Células de inflamação aguda

6.1.2.1 Mediadores inflamatórios

Embora o processo inflamatório seja precipitado por infecção e lesão, seus sinais e sintomas
são produzidos por mediadores químicos. Os mediadores podem ser originados do plasma ou de
células. Os derivados do plasma, sintetizados no fígado, incluem os fatores de coagulação e as
proteínas do complemento e são encontrados no plasma em uma forma precursora, que precisa
ser ativada por uma série de processos proteolíticos para adquirir suas propriedades biológicas.
Os derivados de células normalmente são sequestrados em grânulos intracelulares que precisam
ser secretados (por exemplo, histamina a partir de mastócitos) ou são sintetizados conforme a
necessidade (por exemplo, citocinas), em resposta a um estímulo. Embora plaquetas, neutrófilos,
monócitos/macrófagos e mastócitos sejam as principais fontes desses mediadores, células
endoteliais, do músculo liso, fibroblastos e a maioria das células epiteliais podem ser induzidos a
produzi‑los. A produção de mediadores ativos é desencadeada por micróbios ou por proteínas do
hospedeiro, como as dos sistemas complemento, cinina ou de coagulação, que são ativadas por
micróbios ou tecidos danificados.

Os mediadores podem atuar sobre uma ou algumas células‑alvo e têm diversos alvos ou diferentes
efeitos sobre os tipos distintos de células. Uma vez ativados e liberados da célula, a maioria têm curta
duração. Eles podem ser transformados em metabólitos inativos, inativados por enzimas, ou eliminados
ou degradados de outro modo.

98
PATOLOGIA

6.1.2.2 Manifestações locais

Embora todas as reações inflamatórias agudas sejam caracterizadas por alterações vasculares
e infiltração de leucócitos, a gravidade da reação, a causa específica e o local de envolvimento
introduzem variações nas manifestações e correlações clínicas. Essas manifestações podem variar
desde edema e formação de exsudato até a formação de abscesso ou ulceração. Caracteristicamente,
a resposta inflamatória aguda envolve a produção de exsudato, que varia em relação ao tipo de
líquido, ao teor de proteína plasmática e à existência ou não de células. Eles podem ser serosos,
hemorrágicos, fibrinosos, membranosos ou purulentos. Muitas vezes, o exsudato é composto por uma
combinação desses tipos.

Exsudato seroso é um líquido com baixo teor de proteína resultante da entrada de plasma no
local inflamatório. Exsudato hemorrágico acontece quando existe lesão tecidual grave, que danifica
os vasos sanguíneos, ou quando há fugas significativas de hemácias dos capilares. Exsudato fibrinoso
contém grandes quantidades de fibrinogênio e forma uma malha grossa e pegajosa, semelhante às
fibras de um coágulo sanguíneo. Exsudatos membranosos ou pseudomembranosos se desenvolvem em
superfícies mucosas e são compostos por células necróticas enredadas em um exsudato fibropurulento.
Um exsudato purulento ou supurativo contém pus, composto por leucócitos degradados, proteínas e
fragmentos de tecido.

Alguns microrganismos, como Staphylococcus, apresentam maior propensão do que outros a induzir
processo inflamatório supurativo localizado. Abscesso é uma área localizada de inflamação contendo
um exsudato purulento, que pode ser cercado por uma camada de neutrófilos (ver a figura a seguir).
Os fibroblastos, por fim, podem entrar na área e cercar o abscesso. Como agentes antimicrobianos não
conseguem penetrar a parede do abscesso, podem ser necessárias incisão cirúrgica e drenagem para
alcançar a cicatrização.

Ulceração se refere a um local de inflamação, onde uma superfície epitelial (por exemplo, pele
ou epitélio gastrintestinal) se torna necrótica e corroída, frequentemente associada à inflamação
subepitelial. Ainda, pode decorrer de uma lesão traumática à superfície epitelial (por exemplo, úlcera
péptica) ou de um comprometimento vascular (por exemplo, úlceras do pé associadas ao diabetes).

Observação

Os abcessos se formam por infecções bacterianas ou fúngicas, por


organismos que chamamos de “piogênicos” e atingem as camadas mais
profundas do tecido conjuntivo. Devido à grande destruição tecidual,
incluindo danos à matriz extracelular, o resultado mais comum é o
aparecimento de cicatriz e fibrose.

99
Unidade II

Pele avermelhada, Farpa


tumefeita quente e dolorida contaminada
por bactérias

Capilares
Pus
Necrose tecidual
Parede fibrosa

A) Inflamação B) Supuração C) Formação de abscesso


Dilatação capilar, exsudação de líquido, Desenvolvimento de exsudato supurativo Compartimentalização de exsudato
migração de neutrófilos ou purulento contendo neutrófilos purulento (pus) para formação de abscesso
degradados e restos de tecido

Figura 38 – Formação de abscesso: (A) invasão bacteriana e desenvolvimento do processo inflamatório;


(B) continuação do crescimento bacteriano, migração de neutrófilos, liquefação por necrose de tecidos
e desenvolvimento de exsudato purulento; (C) compartimentalização da área inflamada e seu exsudato
purulento de modo a formar um abscesso

6.1.3 Inflamação crônica

Inflamação crônica é aquela na qual, devido à persistência do agente inflamatório (por exemplo, um
microrganismo), à exposição prolongada a agentes tóxicos (por exemplo, tabagismo) ou a fenômenos
autoimunes, o processo se mantém por tempo maior. Nela, os sinais típicos de eritema e edema
podem não ser aparentes. Em algumas inflamações de duração prolongada em tecidos conjuntivos
há edema e dor com pouca exsudação celular. É o que ocorre, por exemplo, em tendinites, facites,
osteartrose e fibromialgia.

A característica da inflamação crônica é uma infiltração de células mononucleares (macrófagos)


e linfócitos, enquanto o influxo de neutrófilos é visto na inflamação aguda. Ela também envolve a
proliferação de fibroblastos, em vez de exsudatos. Como resultado, o risco de formação de cicatrizes
e deformidades geralmente é maior do que na inflamação aguda. É classificada em dois padrões:
inflamação crônica inespecífica e inflamação granulomatosa.

6.1.4 Inflamação crônica inespecífica

Envolve um acúmulo difuso de macrófagos e linfócitos no local da lesão. A quimiotaxia constante


faz que macrófagos se infiltrem no local inflamado, onde se acumulam devido à sobrevivência e à
imobilização prolongada. Esses mecanismos levam à proliferação de fibroblastos, com formação de
cicatrizes, que em muitos casos substituem o tecido conjuntivo normal ou os tecidos parenquimatosos
funcionais das estruturas envolvidas. Por exemplo, o tecido cicatricial resultante da inflamação crônica
do intestino causa o estreitamento do lúmen intestinal.

6.1.5 Inflamação granulomatosa

É uma forma distinta de inflamação crônica. Um granuloma é tipicamente uma pequena lesão de
1 mm a 2 mm, na qual existe um conjunto de macrófagos circundados por linfócitos. Esses macrófagos
modificados se assemelham a células epiteliais, que às vezes são chamadas de células epitelioides. Como
outros macrófagos, as células epitelioides são derivadas originalmente de monócitos do sangue.
100
PATOLOGIA

A inflamação granulomatosa está associada a corpos estranhos, tais como farpas, suturas, sílica e
asbesto, e a microrganismos que causam tuberculose, sífilis, sarcoidose, infecções fúngicas profundas
e brucelose. Esses tipos de agentes têm uma coisa em comum: são mal digeridos e usualmente
não são facilmente controlados por outros mecanismos inflamatórios. As células epitelioides na
inflamação granulomatosa podem se agregar em uma massa ou coalescer, formando uma célula
gigante multinucleada que tenta circundar o agente estranho. Uma densa membrana de tecido
conjuntivo finalmente encapsula a lesão e a isola. Essas células são referidas como células gigantes
de corpo estranho.

Figura 39 – Células gigantes de corpo estranho; os numerosos


núcleos estão dispostos aleatoriamente no citoplasma

6.2 Mecanismo de reparação tecidual

6.2.1 Regeneração dos tecidos

A reparação dos tecidos, que se sobrepõe ao processo inflamatório, é uma resposta à lesão
tecidual e representa uma tentativa de manter a estrutura e o funcionamento normais do corpo.
Pode tomar o formato de uma regeneração, na qual as células lesionadas são substituídas por outras
do mesmo tipo; ou de uma substituição por tecido conjuntivo, o que leva a uma cicatriz permanente.
Tanto a regeneração quanto a reparação por tecido conjuntivo são determinadas por intermédio de
mecanismos semelhantes que envolvem migração, proliferação e diferenciação celulares, bem como
interação com a MEC.

Os orgãos e os tecidos são compostos por dois tipos de estruturas: parênquima e estroma. Os tecidos
do parênquima contêm as células funcionais de um órgão ou parte do corpo (por exemplo, hepatócitos
e células tubulares renais). Os tecidos do estroma são compostos de tecido conjuntivo de sustentação,
vasos sanguíneos, MEC e fibras nervosas. A regeneração dos tecidos envolve a substituição do tecido
lesionado por células do mesmo tipo, deixando pouca ou nenhuma evidência da lesão anterior.

A capacidade de regeneração varia de acordo com o tipo de célula e de tecido. As células do corpo
podem ser classificadas de acordo com seu potencial de proliferação. Algumas células maduras não se
dividem, enquanto outras completam um ciclo celular a cada 16 a 24 horas.

101
Unidade II

• Células lábeis: encontradas em tecidos que se encontram sob renovação constante, como a
epiderme, o revestimento epitelial dos tratos gastrointestinal, urinário, respiratório e genital,
a medula óssea e os órgãos linfoides.

• Células estáveis: encontradas em tecidos que normalmente se renovam muito lentamente, mas
são capazes de renovação mais rápida após lesão; entre os exemplos estão fígado, glândulas
endócrinas, endotélio e túbulos renais proximais.

• Células permanentes: diferenciadas terminalmente e que perderam a capacidade de regeneração;


entre os exemplos estão neurônios, células da musculatura cardíaca e células do cristalino.
As células‑tronco são constituintes de tecidos lábeis. Uma célula‑filha de cada divisão torna‑se
uma nova célula‑tronco, enquanto a outra sofre diferenciação terminal. A regeneração pode ser
mediada por células‑tronco, células lábeis ou células estáveis.

Lesão grave ou persistente, com danos tanto às células do parênquima quanto à MEC, leva a uma
situação em que a reparação não pode ser obtida apenas com a regeneração dos tecidos. Nessas condições,
ocorre reparação com substituição por tecido conjuntivo, processo que envolve a produção de tecido
de granulação e a formação de tecido cicatricial. O tecido de granulação é um tecido conjuntivo úmido de
coloração vermelha brilhante que contém capilares recém‑formados, proliferação de fibroblastos e
células inflamatórias residuais. O desenvolvimento do tecido de granulação envolve crescimento de
novos capilares (angiogênese), fibrogênese e involução para a formação do tecido cicatricial.

O processo de angiogênese abrange a produção e o surgimento de novos vasos sanguíneos a partir


de vasos preexistentes. Esses novos capilares tendem a brotar da superfície da ferida como pequenos
grânulos avermelhados, dando nome ao tecido de granulação. Assim, porções do novo leito capilar se
diferenciam em arteríolas e vênulas.

A fibrogênese compreende a chegada de fibroblastos ativados. Estes secretam componentes da


matriz extracelular, incluindo fibronectina, ácido hialurônico, proteoglicanos e colágeno. A fibronectina
e o ácido hialurônico são os primeiros componentes depositados na cicatrização de feridas, e os
proteoglicanos aparecem posteriormente. Como os proteoglicanos são substâncias hidrofílicas, sua
acumulação contribui para a aparência edematosa da ferida. O começo da síntese de colágeno colabora
para a formação subsequente do tecido cicatricial.

A formação de uma cicatriz se baseia na estrutura do tecido de granulação de novos vasos e na MEC
frouxa. O processo se desenvolve em duas fases: migração e proliferação de fibroblastos para o local da
lesão e deposição de MEC por essas células.

À medida que o processo de cicatrização evolui, ocorre redução na proliferação de fibroblastos e


formação de novos vasos sanguíneos e aumento da síntese e deposição de colágeno, esta importante
para o desenvolvimento de forças de tração no local da ferida de cicatrização.

Em última análise, a base para a formação do tecido de granulação evolui para uma cicatriz composta
de fibroblastos fusiformes, em grande parte inativos, densas fibras de colágeno, fragmentos de tecido
102
PATOLOGIA

elástico e outros componentes da MEC. À medida que a cicatriz amadurece, a degeneração vascular, por
conseguinte, transforma o tecido de granulação altamente vascular em uma cicatriz pálida, em grande
parte avascular.

6.2.2 Fases da cicatrização

A cicatrização de feridas envolve a restauração da integridade do tecido lesionado. No caso de


cicatrização de feridas cutâneas, comumente utilizada para ilustrar os princípios gerais do processo,
divide‑se em três fases: inflamatória, proliferativa e contração da ferida e fase de remodelação. Cada
uma é mediada por citocinas e fatores de crescimento.

6.2.2.1 Fase inflamatória

A fase inflamatória começa no momento da lesão com a formação de um coágulo sanguíneo e a


migração de leucócitos fagocíticos para o local da ferida. As primeiras células a chegar, os neutrófilos,
ingerem e removem as bactérias e os restos celulares. Após 24 horas, os macrófagos se juntam aos
neutrófilos para continuar a ingestão de fragmentos celulares; estes desempenham papel essencial na
produção de fatores de crescimento para a fase proliferativa.
Coágulo
Fibrina

Epiderme

Derme

Gordura

Neutrófilo

Figura 40

6.2.2.2 Fase proliferativa

Os processos durante essa fase são responsáveis pela construção de tecido novo para preencher o
espaço da ferida. As células mais importantes durante essa fase são os fibroblastos, que são células do
tecido conjuntivo que sintetizam e secretam colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas necessários para
a cicatrização de feridas. Os fibroblastos também produzem uma família de fatores de crescimento que
induzem o processo de angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos) e proliferação e migração
de células endoteliais. O evento final da fase proliferativa é a epitelização, durante a qual as células

103
Unidade II

epiteliais nas bordas da ferida proliferam para formar uma nova camada de superfície, semelhante à
que foi destruída pela lesão.
Tecido de
granulação
Células
epiteliais

Fibroblasto
Vaso
sanguíneo

Macrófago

Figura 41

6.2.2.3 Contração da ferida e fase de remodelação

Essa fase se inicia aproximadamente três semanas após a lesão com o desenvolvimento da cicatriz
fibrosa e pode continuar por seis meses ou mais, dependendo da extensão da ferida. Durante essa
fase, ocorre redução na vascularidade e remodelação contínua do tecido cicatricial, simultaneamente
por meio da síntese de colágeno pelos fibroblastos e da lise pela enzima colagenase. Como resultado
desses dois processos, a arquitetura da cicatriz é capaz de aumentar sua resistência à tração, e a cicatriz
encolhe, tornando‑se menos visível.
Contração
da ferida

Cicatriz
fibrosa

Vaso
sanguíneo

Figura 42

104
PATOLOGIA

6.2.2.4 Cicatrização de feridas

Tecidos lesionados são reparados por meio da regeneração de células do parênquima ou por meio
de reparação do tecido conjuntivo, na qual o tecido cicatricial é substituído por células do parênquima do
tecido lesionado. O objetivo principal desse processo é preencher o vazio criado pela destruição
de tecidos e restaurar a continuidade estrutural da parte lesionada. Quando não pode acontecer
regeneração, a cicatrização por substituição, com uma cicatriz de tecido conjuntivo, fornece os meios
para manutenção da continuidade. Embora o tecido cicatricial preencha a lacuna criada pela sua
morte, ele não repara a estrutura com células funcionais do parênquima. Como a capacidade de
regeneração da maioria dos tecidos é limitada, a cicatrização de feridas geralmente envolve certa
quantidade de reparo por tecido conjuntivo. A discussão a seguir aborda principalmente o processo
de cicatrização de feridas cutâneas.

6.2.2.5 Cicatrização por primeira ou segunda intenção

Dependendo da extensão da perda de tecido, o fechamento e a cicatrização da ferida podem


ocorrer por primeira ou segunda intenção, isto é, cicatrização primária ou secundária. Uma incisão
cirúrgica suturada é um exemplo de cicatrização por primeira intenção. Feridas maiores (por exemplo,
queimaduras e grandes feridas superficiais), que apresentam maior perda de tecido e de contaminação,
cicatrizam por segunda intenção. Esta é mais lenta do que a primeira, e resulta na formação de uma
quantidade maior de tecido cicatricial. Uma ferida capaz de ser cicatrizada por primeira intenção pode
se tornar infectada e cicatrizar por segunda intenção.

Primeira intenção,
sem perda de tecido

Segunda intenção,
perda de tecido

Figura 43

105
Unidade II

Cicatrização por primeira intenção

É mais rápida e resulta em cicatrizes menores, visto que a fenda da ferida é mais estreita e a
destruição tecidual nas suas bordas é menor. O exemplo clássico é o das feridas cirúrgicas, em que
o sangue extravasado pelo corte forma um coágulo que ocupa o espaço entre as margens da ferida.
A reação inflamatória se instala a partir da liberação de mediadores originados do coágulo de fibrina,
das células aprisionadas no coágulo, do tecido conjuntivo das bordas da ferida e das células epiteliais
da margem da lesão. São liberados por macrófagos do coágulo IL‑1 e TNF e também pelos ceratinócitos da
margem da lesão. Essas citocinas ativam as células endoteliais, que expõem moléculas de adesão (por
exemplo, selectinas), favorecendo a adesão de leucócitos.

Cicatrização por segunda intenção

Quando a ferida é extensa e tem margens afastadas, forma‑se um grande coágulo; se há infecção
associada, surge reação inflamatória importante. Nos dois casos, a exsudação de fagócitos é muito intensa
e forma‑se abundante tecido de granulação. Como as bordas da ferida são distantes, a regeneração da
epiderme é mais lenta e demora mais tempo para se completar. As células da epiderme proliferam nas
margens, onde ocorre certo grau de hiperplasia devido à grande quantidade de fatores de crescimento
liberados a partir das células exsudadas.

Nas fases iniciais, o tecido de granulação faz saliência na superfície da ferida. Com o passar do tempo,
ele sofre as mesmas transformações descritas na cicatrização por primeira intenção, sendo muito mais
intenso e evidenciável o fenômeno da retração da cicatriz pelos miofibroblastos (a transformação de
fibroblastos em miofibroblastos é muito mais frequente nesse tipo de cicatrização). A retração é tão
pronunciada que pode, em alguns meses, reduzir a superfície da cicatriz em 90% da dimensão inicial.

Como na cicatrização por primeira intenção, a resistência da cicatriz aumenta com o passar do
tempo, mas não atinge os níveis da pele íntegra. Os fatores de crescimento envolvidos são os mesmos
descritos para a cicatrização por primeira intenção.

6.2.2.6 Cicatrização hipertrófica e queloide

São duas condições em que há formação importante de tecido conjuntivo denso em cicatriz
cutânea, a qual pode adquirir volume considerável. A cicatriz hipertrófica tende a ser reversível,
regredindo parcialmente com o passar do tempo. O queloide forma tumorações nas áreas de
cicatrização, mesmo em feridas pequenas, podendo não regredir ou ter regressão muito lenta.
Nos dois casos, o aspecto microscópico é semelhante: as fibras colágenas são irregulares, grossas
e formam feixes distribuídos ao acaso, contendo capilares e fibroblastos em maior número do
que uma cicatriz normal. Essas duas lesões são mais frequentes na população afrodescendente,
mas não se conhece o defeito que leva ao descontrole da síntese do colágeno nos dois processos.
Tratam‑se de situações em que os mecanismos de produção estão exacerbados e/ou os mecanismos
de degradação da MEC estão reduzidos.

106
PATOLOGIA

Queloide

Os queloides são cicatrizes grandes e de formas irregulares que se estendem acima e além do
limite da ferida original. Eles tendem a ser nodulares e estriados. Portanto, embora não representem
uma preocupação clínica, eles podem ter uma aparência indesajável. Os queloides são compostos
principalmente de grandes feixes desordenados de colágeno. Eles estão associados à excessiva
proliferação de fibroblastos no local da ferida.

Há uma propensão genética para a formação dos queloides, são mais comuns em pessoas
afrodescendentes. Infelizmente, a remoção cirúrgica com frequência é acompanhada da formação de
um novo queloide.

Figura 44 – Queloide: mulher negra com queloide que se desenvolveu após a perfuração da orelha

6.2.3 Fatores que afetam a cura de feridas

Vários fatores locais e sistêmicos influenciam a cura de feridas. Embora existam muitos fatores que
impeçam a cura, as pesquisas têm encontrado poucas maneiras de acelerar o processo normal de reparo.
Entre as causas da cura prejudicada de uma ferida estão: desnutrição; fluxo sanguíneo e aporte de
oxigênio prejudicados; respostas inflamatórias e imunológicas impedidas; infecção, separação da ferida
e corpos estranhos; e efeitos da idade.

6.2.3.1 Desnutrição

A cura bem‑sucedida de uma ferida depende em parte de estoques adequados de proteínas,


carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais. É bem reconhecido que a desnutrição lentifica o processo
de cura, fazendo que as feridas se curem inadequada ou incompletamente.

6.2.3.2 Fluxo sanguíneo e liberação de oxigênio

Para que a cura ocorra, as feridas devem ter um fluxo sanguíneo adequado para suprir os nutrientes
necessários e remover refugos resultantes, toxinas locais, bactérias e outros resíduos. Um impedimento
à cura da ferida devido a um mau fluxo sanguíneo pode ocorrer como resultado das condições da ferida
(por exemplo, edema) ou problemas de saúde preexistentes. Doenças arteriais ou patologias venosas são
107
Unidade II

causas bem documentadas de impedimento à cura. Em situações de trauma, uma diminuição no volume
sanguíneo pode causar redução no fluxo sanguíneo para tecidos lesados.

O oxigênio molecular é necessário para a síntese de colágeno. Mostrou‑se que mesmo uma ausência
temporária de oxigênio pode resultar na formação de um colágeno menos estável. As feridas em um
tecido isquêmico tornam‑se infectadas mais frequentemente do que as tecidos bem vascularizados.
Macrófagos requerem oxigênio para a destruição de microrganismos que tenham invadido a área.
Embora essas células possam executar a fagocitose em um ambiente relativamente anóxico, elas não
podem digerir as bactérias.

A cura de feridas é prejudicada em pessoas com diabetes mellitus, principalmente aquelas que
têm níveis de glicose sanguínea mal controlados. Estudos mostraram cicatrização tardia de feridas,
malformação de colágeno e força tênsil ruim em animais diabéticos. Doenças em pequenos vasos
sanguíneos também são comuns em pessoas com diabetes, impedindo a liberação de células inflamatórias,
oxigênio e nutrientes para o local da ferida. A administração terapêutica de drogas corticosteroides
diminui o processo inflamatório e pode retardar o processo de cicatrização. Esses hormônios diminuem
a permeabilidade capilar durante os estágios iniciais da inflamação, prejudicam as propriedades
fagocíticas dos leucócitos e inibem a proliferação e a função dos fibroblastos.

6.2.3.3 Infecção, separação de feridas e corpos estranhos

Contaminação, separação de feridas e corpos estranhos dificultam o processo de cicatrização.


Uma infecção prejudica o processo sob vários aspectos. Ela prolonga a fase inflamatória, dificulta a
formação de tecido de granulação e inibe a proliferação de fibroblastos e a deposição de fibras de colágeno.
No momento da lesão, todas as feridas estão contaminadas. Embora as defesas do organismo possam lidar
com a invasão de microrganismos no momento do ferimento, feridas gravemente contaminadas podem
sobrecarregar as defesas do hospedeiro. Quadros de traumatismo e comprometimento preexistente
das defesas do hospedeiro também têm condições de contribuir para o desenvolvimento de infecções.
A aproximação das bordas da ferida (i.e., a sutura de um tipo de ferida por incisão) aumenta muito as
chances de cicatrização e evita o desenvolvimento de infecção.

A epitelização da lesão com bordas estreitamente aproximadas ocorre no intervalo de um a dois


dias. Feridas grandes e abertas tendem a cicatrizar mais lentamente porque muitas vezes é impossível
conseguir o fechamento neste tipo de ferimento. A presença de corpos estranhos tende a favorecer
a contaminação bacteriana e atrasa a cicatrização: fragmentos de madeira, aço, vidro e outros compostos
podem se incrustar na ferida e ser difíceis de localizar quando ela é tratada. Suturas também devem ser
consideradas corpos estranhos e, apesar de necessárias para o fechamento de feridas cirúrgicas, são um
impedimento para a cicatrização. Por isso, devem ser removidas tão rapidamente quanto possível após
um procedimento cirúrgico.

A infecção de uma ferida é uma preocupação especial em pessoas com implantes de corpos estranhos,
como dispositivos ortopédicos (por exemplo, pinos, dispositivos de estabilização), marca‑passos e shunts.
Elas são difíceis de tratar e podem exigir a remoção do dispositivo.

108
PATOLOGIA

6.2.4 Manipulações e procedimentos para facilitar a cicatrização

Os profissionais da saúde vêm tentando vários tipos de manipulação para facilitar e acelerar o
processo de cicatrização, especialmente nas feridas crônicas. Os equivalentes biológicos de pele,
formados por ceratinócitos proliferados in vitro, associados a componentes da MEC, são testados para
acelerar a reparação de feridas extensas ou de úlceras crônicas. O efeito acelerador na cicatrização está
relacionado ao fato de o enxerto possuir células vivas que produzem fatores de crescimento, favorecendo
a proliferação fibroblástica e vascular.

Métodos físicos são testados com base em observações experimentais, mas ainda com resultados
controversos em humanos. Experimentalmente, eletroestimulação direta com corrente alternada de
baixa frequência ou de alta voltagem aumenta a exsudação de leucócitos e acelera a síntese de matriz
e o fluxo de sangue no tecido cicatricial. A utilização de oxigênio hiperbárico é considerada útil no
tratamento de feridas infectadas, especialmente por microrganismos anaeróbicos ou com necrose
óssea. O método aumenta a oxigenação do sangue e a síntese de óxido nítrico, o que parece estimular a
formação do tecido cicatricial. Apesar de bons resultados experimentais, em humanos os benefícios são
questionáveis. Os raios laser de baixa energia e o ultrassom também têm sido considerados facilitadores
da cicatrização em modelos experimentais.

7 PIGMENTAÇÃO PATOLÓGICA

Pigmento (do latim pigmentum = corante, cor) é a designação dada a uma substância que tem cor
própria, e origem, composição química e significado biológico diversos. Os pigmentos encontram‑se
distribuídos na natureza, em células vegetais e animais, nas quais desempenham importantes funções
(por exemplo, clorofila, citocromos, melanina).

Denomina‑se pigmentação o processo de formação e/ou acúmulo, normal ou patológico, de


pigmentos em locais do organismo. A pigmentação patológica pode ser sinal de alterações bioquímicas
pronunciadas, sendo o acúmulo ou a redução de vários pigmentos um dos aspectos mais evidentes em
várias doenças. Seu grande número origina‑se de substâncias sintetizadas pelo próprio organismo: são
os pigmentos endógenos. Outros, denominados exógenos, são formados no exterior e, por meio das vias
respiratória, digestiva ou parenteral, penetram e depositam‑se em diferentes órgãos.

7.1 Pigmentações endógenas

Resultam de hiperprodução e acúmulo de pigmentos sintetizados no próprio organismo. Podem


ser classificadas como: derivadas da hemoglobina (pigmentos biliares, hematoidina, hemossiderina,
pigmento malárico, pigmento esquistossomótico); melanina; ácido homogentísico; e lipofuscina.

A seguir analisaremos três tipos: pigmentos biliares; hemossiderina e melanina.

7.1.1 Pigmentos de hemoglobina

7.1.1.1 Pigmentos biliares

O principal pigmento biliar é a bilirrubina (Bb), um pigmento amarelo, produto final do catabolismo
da fração heme da hemoglobina e de outras hemoproteínas. Tradicionalmente, são duas as razões para a
109
Unidade II

atenção que os profissionais de saúde dispõem esse assunto. Primeiro, porque o aumento acentuado dos
níveis sanguíneos da Bb não conjugada, particularmente em recém‑nascidos, pode causar lesão cerebral
irreversível, morte e, em casos de sobrevida, sequelas neurológicas permanentes, condição chamada
kernicterus ou icterícia nuclear (do alemão kern = núcleo), porque a impregnação do tecido nervoso
pela Bb pode ser vista macroscopicamente em diversos núcleos cerebrais, cerebelares e do tronco
encefálico. Segundo, porque o conhecimento do metabolismo da Bb é essencial para o diagnóstico de
um grande número de doenças, hereditárias ou adquiridas, do fígado e do sangue. Distúrbios associados
ao aumento dessa produção ou ao defeito hepático na remoção do pigmento da circulação resultam
na elevação de seu nível no sangue (hiperbilirrubinemia) e em um sinal clínico muito importante, a
icterícia, que se caracteriza por deposição do pigmento na pele, na esclera e em mucosas. Além disso, o
aumento na excreção de Bb na bile por doenças hemolíticas crônicas favorece a formação de cálculos
pigmentares negros ou puros, constituídos, principalmente, por bilirrubinato de cálcio.

7.1.2 Hemossiderina biliar

É também um pigmento resultante da degradação da hemoglobina e que contém ferro.


A hemossiderina representa uma das duas principais formas de armazenamento intracelular de ferro;
a outra é a ferritina. A quantidade de ferro no corpo do homem adulto é de, aproximadamente, 4 g a
5 g. Cerca de 65% a 70% do ferro corporal estão presentes na hemoglobina das hemácias; outros 10%
estão presentes em mioglobinas, citocromos e enzimas que contêm ferro; os 20% a 25% restantes
são armazenados como ferritina e hemossiderina nos hepatócitos (aproximadamente 40% do ferro
armazenado) e macrófagos de fígado, baço, medula óssea e linfonodos.

O ferro é vital para todos os seres vivos, pois participa de diversos processos metabólicos, como
transporte de oxigênio e de elétrons (hemoproteínas) e síntese de DNA (enzima ribonucleotídeo
redutase). Por sua participação em diversas funções celulares, é necessário um constante equilíbrio entre
absorção intestinal, transporte plasmático pela proteína transferrina, armazenamento nos hepatócitos
e macrófagos e utilização do metal (por exemplo, eritropoese). Quando há oferta excessiva de ferro, a
ferritina forma agregados conhecidos como hemossiderina. A sua deposição excessiva nos tecidos pode
ser localizada ou sistêmica. A primeira é encontrada em hemorragias.

7.2 Melanina

A melanina (do grego melas = negro) é um pigmento cuja cor varia do castanho ao negro, sendo
amplamente encontrada em peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, bem como nas plantas.
A diversidade da cor observada na pele, nos cabelos e nos olhos dos seres humanos e na plumagem
das aves resulta, em grande parte, da distribuição de melanina nesses locais. As impressões visuais da
cor da pele são de grande importância nas interações individuais; além disso, a cor da pele tem sido
tradicionalmente utilizada para definir as diferentes etnias humanas.

As funções da pigmentação melânica cutânea são proteção contra a radiação ultravioleta B


(fotoproteção), ação antioxidante, absorção de calor, estética, comunicação social, camuflagem em
várias espécies animais (por exemplo, peixes e anfíbios) e reforço da cutícula de insetos e parede de
células vegetais. A ação fotoprotetora da melanina deve‑se à sua eficiência em absorver e dispersar
110
PATOLOGIA

fótons, convertendo rapidamente sua energia em calor. Existem dois tipos de melanina: a eumelanina,
insolúvel, de cor castanha a negra, com ação fotoprotetora e antioxidante; e a feomelanina, solúvel
em solução alcalina, de cor amarela a vermelha, igualmente com efeito antioxidante. A cor do cabelo
depende da proporção entre a eumelanina e a feomelanina.

Na epiderme humana, cada melanócito distribui a melanina sintetizada para cerca de 36 ceratinócitos
adjacentes. Nos ceratinócitos, os grânulos de melanina são transportados para a região acima do núcleo
onde absorvem os raios ultravioleta, impedindo que atinjam o núcleo e lesem o DNA.

Na epiderme humana, cada malanócito se diferencia e migra para as camadas mais superficiais
da epiderme, os melanossomos são digeridos por lisossomos, liberando a melanina, que é eliminada
com as células epiteliais descamadas. A transferência de melanina para os ceratinócitos da epiderme
e do folículo piloso é uma etapa fundamental, pois a pigmentação da pele e do cabelo é determinada
primariamente pela quantidade de pigmento transferido aos ceratinócitos.

Em pessoas de pele branca, não expostas ao sol, os melanossomos são encontrados quase
exclusivamente na camada basal da epiderme e, em menor grau, em ceratinócitos situados acima
dessa camada. Em indivíduos negros, quantidades moderadas de melanossomos são observadas em
toda a espessura da epiderme, inclusive na camada córnea. Além disso, nos negros há maior produção
de melanossomos por melanócitos; individualmente, seus melanossomos apresentam maior grau de
melanização; seus melanossomos são maiores; há dispersão maior dos melanossomos nos ceratinócitos;
e o índice de degradação dessas organelas é menor.

7.2.1 Hiperpigmentação e hipopigmentação melânicas

A produção excessiva e a redução da síntese de melanina, respectivamente hiper e hipopigmentação


melânicas, também denominadas melanodermias e leucodermias, são frequentes e originam numerosas
doenças, causadas por disfunção de uma ou mais etapas da melanogênese. As lesões hiperpigmentadas
mais comuns são as efélides (sardas), os nevos e os melanomas. Por outro lado, muitas substâncias
podem causar hiperpigmentação melânica, como medicamentos (sulfonamidas, cloroquina, levodopa),
anticoncepcionais orais, metais pesados (arsênico, bismuto, ouro, prata) e agentes quimioterápicos
(ciclofosfamida, 5‑fluorouracil, doxorrubicina, bleomicina). A hipopigmentação pode ser congênita
(por exemplo, albinismo) ou adquirida (por exemplo, vitiligo).

Durante o envelhecimento, ocorre perda progressiva da pigmentação melânica dos cabelos,


resultando na formação de cabelos grisalhos e brancos.

7.3 Pigmentos exógenos e endógenos

Pigmentos diversos penetram no organismo juntamente com o ar inspirado e com os alimentos


deglutidos, ou são introduzidos por via parenteral, como ocorre com as injeções e tatuagens. As partículas
depositam‑se, em geral, nos pontos do primeiro contato com as mucosas ou a pele, aí podem ficar
retidas ou ser eliminadas, ou transportadas para outros locais pela circulação linfática ou sanguínea, ou
por macrófagos. A seguir alguns exemplos de pigmentação exógenas:
111
Unidade II

• Partículas de carbono inaladas podem ser aprisionadas pelos macrófagos dos pulmões e
transportadas por eles até linfonodos próximos.

• As tatuagens consistem em pigmentos metálicos e vegetais insolúveis.

• O acúmulo excessivo de chumbo, particularmente em crianças, pode causar retardo mental.

• A doença de Wilson caracteriza‑se pelo depósito de cobre em excesso no fígado e no cérebro.

8 NEOPLASIA

Neoplasia pode ser entendida como a lesão constituída pela proliferação celular anormal,
descontrolada e autônoma, em geral com perda ou redução da diferenciação celular, em consequência
de alterações nos genes que regulam crescimento e diferenciação. Nesse contexto, o que diferencia uma
neoplasia de displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia de proliferação. Quando ocorre em um
órgão sólido, o maior número de células de uma neoplasia forma um tumor.

Neoplasia significa crescimento novo. Ao contrário de alterações no crescimento do tecido ocorridas


em processos como hipertrofia e hiperplasia, o crescimento de uma neoplasia ocorre sem coordenação
e é relativamente autônomo, no sentido em que carece de controle regulador normal para o crescimento e
a divisão celulares.

A renovação e a reparação do tecido normalmente envolvem dois componentes: proliferação


e diferenciação celular. Proliferação, ou processo de divisão celular, é um método adaptativo
para o crescimento de novas células que substituirão as que estão envelhecidas, ou quando é
necessária a formação de células adicionais. Diferenciação é o mecanismo pelo qual as células se
tornam cada vez mais especializadas a cada divisão mitótica. A apoptose é uma forma de morte
celular programada, que elimina células senescentes, células com DNA (ácido desoxirribonucleico)
danificado ou células indesejadas.

8.1 Proliferação celular

Proliferação celular é o processo de aumento no número de células por divisão mitótica. Em tecidos
normais, é regulada de modo que o número de células em divisão ativa é equivalente ao número de
células mortas ou perdidas. Nos seres humanos, existem duas grandes categorias de células: os gametas
e as células somáticas. Os gametas (óvulo e espermatozoide) são células haploides, com apenas um
conjunto de cromossomos de um dos pais, e são projetados especificamente para a fusão sexual. Após
ela, é formada uma célula diploide contendo os dois conjuntos de cromossomos, a célula somática, que
passa a formar o resto do organismo. Em termos de proliferação celular, os duzentos diferentes tipos de
células que compõem o organismo podem ser divididos em três grandes grupos:

• Neurônios e células da musculatura esquelética e do músculo cardíaco, que são bem diferenciados
e raramente se dividem e se reproduzem.

112
PATOLOGIA

• Células progenitoras ou mães, que continuam a se dividir e se reproduzir, como as células do


sangue, da pele e do fígado.

• Células‑tronco indiferenciadas, que podem ser acionadas para entrar no ciclo celular e na produção
de um grande número de células progenitoras se necessário.

As taxas de reprodução celular variam muito. Os leucócitos e as células que revestem o sistema
digestório vivem vários dias e devem ser substituídos constantemente. Na maior parte dos tecidos, a
taxa de reprodução de células é grandemente aumentada quando o tecido é danificado ou quando
ocorre perda tecidual. Um sangramento, por exemplo, estimula a reprodução das células formadoras
de sangue encontradas na medula óssea. Em alguns tipos de tecido, o programa genético de replicação
celular normal é suprimido, mas pode ser reativado em determinadas condições. O fígado, por exemplo,
tem uma extensa capacidade de regeneração sob certas condições.

8.2 Diferenciação celular

É o processo pelo qual células em proliferação se tornam progressivamente tipos celulares mais
especializados. Esse processo resulta em uma célula totalmente diferenciada, adulta, que tem um
conjunto de características estruturais, funcionais e tempo de vida específicos. Por exemplo, a hemácia é
uma célula terminalmente diferenciada que foi programada para se transformar em um disco côncavo,
que funciona como um veículo para o transporte de oxigênio e vive cerca de três meses.

Os diversos tipos de células do organismo se originam de uma única célula, o óvulo fertilizado ou ovo.
À medida que as células embrionárias aumentam em número, envolvem‑se em um processo coordenado de
diferenciação necessário para o desenvolvimento de todos os órgãos do corpo. O processo de diferenciação
é regulado por uma combinação de processos internos, envolvendo a expressão de genes específicos e
estímulos externos fornecidos por células vizinhas, matriz extracelular, exposição a substâncias na
circulação materna e fatores de crescimento, citocinas, oxigênio e nutrientes. O que torna as células de
um órgão diferentes das células de outro órgão são os genes específicos que são expressos e o padrão
específico de expressão gênica. Embora todas as células tenham o mesmo conjunto de genes, apenas um
pequeno número é expresso na vida pós‑natal. Quando células, como as do embrião em desenvolvimento,
se diferenciam e dão origem a células diferenciadas de um tipo de tecido particular, os genes apropriados
são mantidos em um estado ativo, enquanto o restante permanece inativo.

Normalmente, a taxa de reprodução de células e o processo de diferenciação celular são


controlados com precisão na vida pré‑natal e pós‑natal, de modo que ambos os mecanismos
são interrompidos assim que são formados a quantidade e os tipos de células adequados. O processo
de diferenciação ocorre em etapas ordenadas.

Seguindo o progresso de cada etapa, o aumento na especialização é trocado por uma perda na
capacidade de desenvolver características celulares diferentes e tipos diferentes de células. À medida
que elas vão se tornando cada vez mais especializadas, os estímulos que são capazes de induzir a mitose
ficam mais limitados. Os neurônios, que são células altamente especializadas, perdem a capacidade de
se dividir e se reproduzir quando o desenvolvimento do sistema nervoso está completo. Mais importante
113
Unidade II

ainda, existem pouquíssimas células precursoras remanescentes para orientar sua substituição.
No entanto, uma quantidade apropriada desse tipo de células é gerada no embrião, de modo que a perda
de determinada porcentagem de células não afeta a sua população total e suas funções específicas.

Em alguns tecidos, como a pele e a mucosa que reveste o sistema digestório, um grau elevado de
renovação celular é mantido ao longo da vida. Mesmo nessas populações de células que se renovam
continuamente, as mais especializadas são incapazes de divisão. Essas populações dependem de
progenitores ou células‑mãe da mesma linhagem que ainda não tenham se diferenciado ao ponto
de perder a capacidade de se dividir.

Essas células são diferenciadas o suficiente de modo que as células‑filhas sejam limitadas à mesma
linhagem de células, mas não o suficiente para evitar a possibilidade de proliferação ativa. No entanto,
suas propriedades de renovação celular são restringidas por fatores de crescimento necessários para que
ocorra a divisão celular. Outro tipo de células, chamadas células‑tronco, permanece incompletamente
diferenciado ao longo da vida. As estaminais são as células de reserva que permanecem em repouso
até que exista a necessidade de reposição celular, caso em que se dividem, produzindo outras células
estaminais e células capazes de realizar as funções de uma célula diferenciada.

Quando uma célula‑tronco se divide, uma célula‑filha retém as características das estaminais e a
outra se torna uma célula progenitora, que passa pelo processo que resulta na diferenciação terminal.
A progênie de cada célula progenitora segue programas genéticos mais restritos, com as células de
diferenciação passando por várias divisões mitóticas durante o processo de transformar‑se em um
tipo maduro de célula e com cada geração tornando‑se mais especializada. Dessa maneira, uma única
célula‑tronco pode dar origem a muitas células necessárias para a reparação normal de tecidos ou
produção de células do sangue. Quando as células que se dividem se tornam totalmente diferenciadas,
a taxa de divisão mitótica é reduzida. No sistema imunológico, por exemplo, com o estímulo adequado,
os linfócitos B se tornam progressivamente mais diferenciados, à medida que passam por sucessivas
divisões mitóticas, até se tornarem células plasmáticas maduras, que já não podem se dividir, mas que
são capazes de secretar grandes quantidades de anticorpos.

As células‑tronco têm duas propriedades importantes: autorrenovação e potência.


Autorrenovação significa que as células estaminais podem sofrer numerosas divisões mitóticas,
mantendo seu estado indiferenciado. O termo potência é utilizado para definir o potencial de
diferenciação das células estaminais.

Células‑tronco totipotentes são as primeiras produzidas por fertilização do óvulo e podem


se diferenciar em embrionárias e extraembrionárias. Dão origem a células‑tronco pluripotentes,
possíveis de se diferenciarem em três camadas germinativas do embrião. Já as multipotentes são,
por exemplo, as células estaminais hematopoéticas, que dão origem a apenas alguns tipos de
células. E, finalmente, as células‑tronco unipotentes produzem apenas um tipo celular, mas mantêm
a propriedade de autorrenovação.

A classificação das células‑tronco é praticada em duas categorias básicas: embrionárias e adultas


(às vezes chamadas somáticas). Células‑tronco embrionárias são células pluripotentes derivadas da
114
PATOLOGIA

massa celular interna do blastocisto do embrião. Dão origem às três camadas de células germinativas
embrionárias. Com o desenvolvimento, o embrião forma células‑tronco germinativas para reprodução
e células‑tronco somáticas para organogênese. Tanto as germinativas quanto as somáticas mantêm
a capacidade de autorrenovação. As células‑tronco adultas estão localizadas em microambientes
especializados, que diferem uns dos outros dependendo do tipo de tecido. Estas têm um papel
importante na homeostase, pois contribuem para a regeneração tecidual e a reposição de células
perdidas por morte celular.

Célula-tronco

Célula-tronco Célula progenitora

Células-filhas

Células diferenciadas

Figura 45 – Mecanismo de substituição celular mediado por células‑tronco

A divisão de uma célula‑tronco com um potencial ilimitado para proliferação resulta em uma
célula‑filha, que mantém as suas características, e uma segunda célula‑filha, que se diferencia em
progenitoras (ou células‑mães), com potencial limitado para diferenciação e proliferação. À medida que
as células‑filhas da progenitora proliferam, tornam‑se mais diferenciadas até alcançarem um estágio
em que estão totalmente diferenciadas.

8.3 Nomenclatura

Na prática, as neoplasias são chamadas de tumores. O termo “tumor” é mais abrangente, pois
significa qualquer lesão expansiva ou intumescimento localizado, podendo ser causado por vários
outros processos patológicos (inflamações, hematomas etc.). Nesse caso, o termo será empregado como
sinônimo de neoplasia, ou seja, a lesão expansiva formada por proliferação celular.

O termo “câncer” deriva de cancer/cancri e é a tradução latina da palavra “carcinoma” (do


grego karkinos = crustáceo, caranguejo). Foi usado pela primeira vez por Galeno (aproximadamente
138‑201 d.C.) para indicar um tumor maligno da mama no qual as veias superficiais desse órgão
eram túrgidas e ramificadas, lembrando as patas de um caranguejo, como geralmente cresce e se
espalha a doença, enviando projeções para os tecidos circundantes. O termo generalizou‑se e hoje
é usado para indicar qualquer neoplasia maligna. Cancerologia ou oncologia é a parte da medicina
que estuda os tumores. Cancerígeno ou oncogênico é o estímulo ou agente causador de câncer.

A uniformização da nomenclatura dos tumores é importante para que os dados de frequência,


evolução, tratamento e prevenção obtidos em regiões geográficas diferentes possam ser comparados.
115
Unidade II

A Organização Mundial da Saúde (OMS) edita periodicamente, com a participação de especialistas de


muitos países, publicações sobre nomenclatura e classificação dos tumores de diferentes setores
do organismo.

As neoplasias geralmente recebem o nome por adição do sufixo ‑oma ao tipo de tecido
parenquimatoso a partir do qual se origina o crescimento. Desse modo, uma neoplasia benigna do
tecido epitelial glandular é chamada de adenoma, e uma neoplasia benigna do tecido ósseo é nomeada
de osteoma. O termo carcinoma é empregado para designar uma neoplasia maligna com origem no
tecido epitelial. No caso de uma neoplasia maligna do tecido epitelial glandular, o termo empregado
é adenocarcinoma. Neoplasias malignas de origem mesenquimal são chamadas sarcomas, por
exemplo, osteossarcoma. Papilomas são projeções digitiformes, benignas e de tamanho microscópico
ou macroscópico, que crescem em qualquer superfície. Um pólipo é um crescimento de tecido que
se projeta a partir de uma superfície mucosa, como a do intestino. Embora o termo geralmente
indique uma neoplasia benigna, algumas neoplasias malignas também podem surgir como pólipos.
Os adenomatosos são considerados precursores de adenocarcinomas do cólon.

Os tumores podem ser classificados de acordo com vários critérios: pelo comportamento clínico
(benignos ou malignos), pelo aspecto microscópico (critério histomorfológico) e pela origem da
neoplasia (critério histogenético). Nem sempre esses elementos são usados na denominação da lesão,
sendo comuns alguns epônimos, como tumor de Wilms, linfoma de Hodgkin, tumor de Burkitt etc.

Dos pontos de vista clínico, evolutivo e de comportamento, as neoplasias são divididas em duas
grandes categorias: benignas e malignas. As benignas geralmente não são letais nem causam sérios
transtornos para o hospedeiro, por isso, podem evoluir durante muito tempo e não colocam em
risco a vida de seu portador. As malignas, ao contrário, em geral têm crescimento rápido, e muitas
provocam perturbações homeostáticas graves que acabam levando o indivíduo a óbito. Na grande
maioria dos casos, as características macro e microscópicas das neoplasias permitem separá‑las em
benignas ou malignas.

8.3.1 Neoplasias benignas

São compostas de células bem diferenciadas que se assemelham às células dos tecidos de origem
e se caracterizam por crescimento lento e progressivo, que pode paralisar ou regredir. Por motivos
desconhecidos, as neoplasias benignas perderam a capacidade de suprimir o programa genético de
proliferação celular, mas mantiveram o programa normal de diferenciação celular. Elas crescem por
expansão e permanecem no local de origem, sem a capacidade de se infiltrar, invadir ou criar metástases
para locais distantes. Como se expandem lentamente, desenvolvem uma borda de tecido conjuntivo
comprimido denominada cápsula fibrosa, que é responsável pela linha nítida de demarcação entre a
neoplasia benigna e os tecidos adjacentes, um fator que facilita sua remoção cirúrgica.

Geralmente, neoplasias benignas são uma ameaça muito menor à saúde e ao bem‑estar do que
neoplasias malignas e não causam morte, a menos que venham a interferir nas funções vitais, devido
à sua localização anatômica. Por exemplo, uma neoplasia benigna que cresce na cavidade craniana
acaba provocando morte por compressão das estruturas cerebrais. Neoplasias benignas também podem
116
PATOLOGIA

causar distúrbios na função de estruturas adjacentes ou distantes, por meio de pressão sobre os tecidos,
vasos sanguíneos ou nervos. Algumas neoplasias benignas também são conhecidas por sua capacidade
de causar alterações na função orgânica devido à produção anormal de hormônios. Observe o quadro a
seguir, que compara neoplasias benignas e malignas.

Quadro 2 – Características das neoplasias benignas e malignas

Benignas Malignas
Taxa de crescimento Baixa Alta
Figuras de mitose Raras Frequentes
Grau de diferenciação Bem diferenciadas Desde bem diferenciadas até anaplásicas
Atipias celulares e arquiteturais Raras Frequentes
Degeneração/necrose Ausentes Presentes
Tipo de crescimento Expansivo Infiltrativo
Cápsula Presente Geralmente ausente
Limites da lesão Bem definidos Imprecisos
Efeitos locais e sistêmicos Geralmente inexpressivos Geralmente graves e às vezes letais
Recidiva Em geral ausente Presente
Metástase Ausentes Presentes

Fonte: Brasileiro Filho (2017, p. 242).

Apesar de muitas vezes não representarem grande problema para seus portadores, os tumores
benignos têm grande interesse prático por sua frequência e pelas consequências que podem gerar. Seja
por seu volume, seja por sua localização ou outras propriedades, tumores benignos podem causar vários
transtornos para o paciente (obstrução de órgãos ou estruturas ocas, com pressão de órgãos, produção
de substâncias em maior quantidade etc.), inclusive sua morte. Nesse sentido, o termo “benigno” deve
ser entendido com reservas.

As células das neoplasias benignas em geral são bem diferenciadas e podem até ser indistinguíveis
das células normais correspondentes. As atipias celulares e arquiteturais são discretas, ou seja, o tumor
reproduz bem o tecido que lhe deu origem. Como a taxa de divisão celular é pequena (baixo índice
mitótico), em geral, o tumor tem crescimento lento.

Nos tumores benignos, as células crescem unidas entre si, não infiltram os tecidos vizinhos e formam
uma massa geralmente esférica. Diz‑se que esse crescimento é expansivo e provoca compressão das
estruturas adjacentes, que podem sofrer hipotrofia. Com frequência, forma‑se uma cápsula fibrosa
em torno do tumor, resultante da compressão do estroma adjacente. Por isso mesmo, a neoplasia
fica mais ou menos bem delimitada e pode ser completamente removida por cirurgia. Em geral, os
tumores benignos não recidivam após ressecção cirúrgica. O crescimento lento do tumor permite o
desenvolvimento adequado de vasos sanguíneos, assegurando boa nutrição das células. Desse modo,
degenerações, necroses e hemorragias são pouco comuns. Por essa razão e pelo fato de não infiltrar
ou destruir os tecidos vizinhos, o tumor benigno não leva à ulceração. Além disso, não compromete a
nutrição do hospedeiro nem produz substâncias que podem produzir anemia ou caquexia.
117
Unidade II

Há exceções a essas regras. Apesar de bem delimitados, adenomas pleomórficos das glândulas salivares,
por exemplo, com frequência recidivam após cirurgia. Por outro lado, células de tumores benignos não
se disseminam espontaneamente, mas podem ser levadas a distância. Por traumatismos ou por grande
aumento da pressão intracavitária, cistadenomas papilíferos do ovário podem se romper e liberar células
ou papilas na cavidade peritoneal. Pelos movimentos das alças intestinais, essas células podem se espalhar
e se implantar na superfície da serosa, onde formam colônias tumorais secundárias.

Além disso, certos tumores histologicamente benignos podem ser fatais. É o caso de adenomas
secretores de substâncias importantes para a homeostase, que, quando em excesso, podem causar a
morte (tumores pancreáticos secretores de insulina podem levar à hipoglicemia fatal). Outro exemplo
de tumor biologicamente maligno é o de neoplasias localizadas em sedes vitais, como a cavidade
craniana. Mesmo com crescimento lento e sendo circunscritos e desprovidos de capacidade invasora,
certos gliomas situados profundamente no encéfalo são de difícil acesso cirúrgico e não podem ser
totalmente ressecados; quando atingem certo volume, podem interromper a circulação do liquor,
comprimir e deslocar estruturas nervosas vitais e, finalmente, levar o paciente à morte. Por tudo isso,
essas neoplasias não podem ser classificadas como benignas ou malignas apenas por seus aspectos
morfológicos; componentes da biologia da lesão, seu componente clínico e formas de evolução são
também muitas vezes indispensáveis para se rotular um tumor.

8.3.2 Neoplasias malignas

Neoplasias malignas, que invadem e destroem o tecido circundante e se propagam para outras
partes do corpo, tendem a crescer rapidamente e se disseminar; têm potencial para causar a morte.
Devido à sua rápida taxa de crescimento, as neoplasias malignas podem comprimir vasos sanguíneos e
comprometer o suprimento sanguíneo, causando isquemia e lesão tecidual.

Algumas doenças malignas podem secretar hormônios ou citocinas, liberar enzimas e toxinas ou
induzir uma resposta inflamatória prejudicial ao tecido normal, tanto quanto a própria neoplasia. Diversas
condições malignas secretam fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, vascular endothelial growth
factor), que aumenta o suprimento sanguíneo para a neoplasia e facilita um crescimento mais rápido.
Existem dois tipos de VEGF: VEGF‑1, usado no desenvolvimento embrionário, mas também pode ser
encontrado em alguns tipos de metástases cancerígenas; VEGF‑2, o mais importante entre os receptores
associados a angiogênese patológica e linfangiogênese com neoplasias.

Existem duas categorias de neoplasias malignas: as sólidas e os cânceres hematológicos. As neoplasias


sólidas, inicialmente, se mantêm confinadas a um tecido ou órgão específico. À medida que progride o
seu crescimento quando primária, as células se separam da massa neoplásica original, invadem o tecido
circundante e penetram nos sistemas de vasos sanguíneos e linfáticos para se disseminarem para locais
distantes, em um processo denominado metástase (ver figura a seguir).

O câncer hematológico envolve células normalmente encontradas no sangue e na linfa, tornando‑os


condições disseminadas desde o início. Carcinoma in situ é uma lesão pré‑invasiva localizada. Como
exemplo, nos casos de carcinoma ductal in situ da mama, as células ainda não atravessaram a membrana
basal. Dependendo de sua localização, lesões assim geralmente podem ser removidas cirurgicamente, ou
118
PATOLOGIA

tratadas, de modo que a probabilidade de recorrência é pequena. Por exemplo, o carcinoma in situ do
colo do útero é essencialmente 100% curável.

Observação

Um tumor é identificado como maligno quando a invasão é sucedida


por implantação de massas tumorais adicionais em sítios distais. O tecido
ou órgão do qual o tumor se originou nem sempre é aparente com base nas
propriedades morfológicas. Nesses casos, a microscopia eletrônica ou o uso
de marcadores tumorais imunoistoquímicos podem auxiliar na detecção da
origem correta de um tumor.

Figura 46 – Câncer metastático: o mesentério associado a uma parte do intestino


delgado mostra pequenos nódulos de carcinoma metastático do ovário

Figura 47 – Carcinoma in situ: o colo do útero apresenta células neoplásicas escamosas que ocupam
todo o epitélio, embora confinadas à mucosa pela membrana basal intacta subjacente

119
Unidade II

Observação

A maioria dos carcinomas tem início como crescimentos localizados


confinados ao epitélio de que se originam. Desde que não transponham
a membrana basal epitelial, esses tumores são denominados carcinoma
in situ. Nesse estágio, são assintomáticos e curáveis.

8.4 Invasão e metástase

Ao contrário de neoplasias benignas, que crescem por expansão e geralmente são encapsuladas, o
câncer se dissemina por invasão direta e extensão, semeadura de células cancerígenas em cavidades
orgânicas e metástase através de vasos sanguíneos ou linfáticos.

A maioria dos cânceres sintetiza e secreta enzimas que degradam proteínas e contribuem para infiltração,
invasão e penetração nos tecidos circundantes. A falta de uma linha de demarcação nítida que separe o
câncer do tecido circundante torna a retirada cirúrgica completa de uma neoplasia maligna muito complexa.
Muitas vezes, o cirurgião precisa retirar porções de tecido aparentemente normal, pois fazem fronteira com
a neoplasia para que o patologista possa estabelecer as margens livres de câncer em torno da neoplasia
removida e garantir que o tecido restante seja livre de câncer.

A semeadura de células cancerígenas em cavidades orgânicas ocorre quando uma neoplasia lança
células nesses espaços ocos. Na maioria das vezes, dá‑se o envolvimento da cavidade peritoneal, mas
outros espaços, como a cavidade pleural, a cavidade pericardial e espaços articulares também podem ser
comprometidos. A semeadura para a peritoneal é particularmente comum em casos de câncer de ovário.
De modo semelhante ao que se verifica na cultura de tecidos, as neoplasias nesses locais crescem em
massas e estão associadas ao acúmulo de líquido (por exemplo, ascite e derrame pleural).

A semeadura de um câncer em outras áreas do corpo frequentemente é resultado de uma


complicação pós‑operatória, depois da remoção da neoplasia. O termo metástase é empregado para
descrever o desenvolvimento de uma neoplasia secundária, em uma região distante da primária. Como
neoplasias metastáticas retêm, com frequência, muitas características da primária da qual se originaram,
por vezes é possível determinar seu local primário a partir das suas características celulares. Algumas
neoplasias tendem a apresentar metástase no início de seu desenvolvimento, enquanto outras não
apresentam metástase até mais tarde no curso da doença. Algumas vezes, uma neoplasia metastática
será encontrada muito antes que a primária se torne clinicamente detectável. As neoplasias malignas
do rim, por exemplo, podem permanecer totalmente indetectáveis e assintomáticas até que uma lesão
metastática seja encontrada no pulmão.

8.4.1 Vias de disseminação

A metástase ocorre através dos canais linfáticos (disseminação linfática) e vasos sanguíneos
(disseminação hematogênica). Em muitos tipos de câncer, a primeira evidência de doença disseminada é

120
PATOLOGIA

a existência de células neoplásicas nos linfonodos que drenam a área da neoplasia. Quando a metástase
ocorre através dos vasos linfáticos, as células neoplásicas se alojam inicialmente no primeiro linfonodo
que recebe a drenagem da área da neoplasia. Depois de instaladas nesse linfonodo, as células podem
morrer devido à falta de um ambiente adequado, ou crescer e se transformar em uma massa discernível,
ou permanecer adormecidas, por causas desconhecidas. Quando sobrevivem e crescem, as células
cancerígenas podem se disseminar a partir de linfonodos mais distantes para o ducto torácico e, desse
modo, ter acesso à vasculatura.

O termo linfonodo sentinela é empregado para descrever o primeiro linfonodo que recebe a
drenagem da neoplasia primária. Como a metástase inicial no câncer de mama é quase sempre
linfática, a disseminação linfática e, portanto, a expansão da doença pode ser determinada por meio
do mapeamento linfático e da biópsia do linfonodo sentinela. Isso é feito pela injeção de um marcador
radioativo e/ou corante azul na neoplasia, para determinar qual é o primeiro linfonodo no percurso
de drenagem linfática do câncer. Uma vez identificado o linfonodo sentinela, ele é examinado para
determinar se há ou não células cancerígenas. O procedimento também é utilizado para mapear a
propagação de melanoma e outros tipos de câncer que têm disseminação metastática inicial através do
sistema linfático.

Nos casos em que ocorre disseminação hematológica, as células cancerígenas transmitidas pelo
sangue podem entrar no fluxo venoso que drena o local da neoplasia primária. As células cancerígenas
também podem penetrar os vasos sanguíneos associados à neoplasia, se infiltrando nela ou sendo
encontrados em sua periferia. Antes de entrar na circulação geral, o sangue venoso proveniente de
sistema digestório, pâncreas e baço é encaminhado através da veia porta para o fígado. Portanto, o
fígado é um local comum para metástase de cânceres que se originam nesses órgãos.

Embora o local de propagação hematológica geralmente esteja relacionado com a drenagem


vascular da neoplasia primária, algumas desenvolvem metástases para áreas distantes e independentes.
Uma explicação para isso é que células de diferentes neoplasias tendem a apresentar metástase para
órgãos‑alvo específicos, que proporcionam microambientes adequados por conterem substâncias, como
citocinas, ou fatores de crescimento necessários à sua sobrevivência. Por exemplo, a transferrina, uma
substância promotora do crescimento, que é isolada de tecido pulmonar, estimula o crescimento de
células malignas que tipicamente fazem metástase para os pulmões.

Outros órgãos considerados locais preferenciais para metástases contêm citocinas e fatores de
crescimento específicos, além de outras características microambientais que facilitam a sobrevivência e
o crescimento da neoplasia metastática. A natureza seletiva da disseminação hematológica indica que a
metástase é um processo minuciosamente orquestrado, que inclui várias etapas e apenas um pequeno
clone de células selecionadas de câncer tem a combinação certa de produtos genéticos para executar
todos os passos necessários para o estabelecimento de uma neoplasia secundária.

Para formar metástases, uma célula neoplásica deve ser capaz de se separar da neoplasia primária,
invadir a matriz extracelular circundante, ter acesso a um vaso sanguíneo, sobreviver à sua passagem
pela corrente sanguínea e emergir em um local favorável, invadir o tecido circundante, começar a
crescer e estabelecer suprimento sanguíneo.
121
Unidade II

Liberação de enzimas
proteolíticas

Repetição da ligação e dissolução


da matriz extracelular

As células neoplásicas fazem metástase por meio


de vasos sanguíneos ou linfáticos

Vaso sanguíneo Vaso linfático

Figura 48 – Mecanismos de metástase neoplásica: etapas pelas quais uma neoplasia maligna penetra
a membrana basal e invade o ambiente extracelular; primeiramente, ela adquire a capacidade de se
ligar aos componentes da matriz extracelular; diversas moléculas de adesão fazem a mediação
dessa ligação, em seguida, são liberadas enzimas proteolíticas das células neoplásicas, e a matriz
extracelular sofre degradação; o câncer invasor se move através do meio extracelular e, em
seguida, penetra nos vasos sanguíneos e linfáticos pelos mesmos mecanismos

8.5 Genética molecular do câncer

O câncer tem uma base genética. As propriedades que apoiam essa conclusão incluem:

• Predisposição genética.

• Presença de anormalidades cromossômicas em células neoplásicas.

• Correlação entre comprometimento do reparo de DNA e ocorrência de câncer.

• Associação íntima entre carcinogênese e mutagênese.

O crescimento de células malignas decorre da aquisição sequencial de mutações somáticas


em genes que controlam o crescimento celular, a diferenciação, a apoptose e a manutenção da
integridade do genoma. Estima‑se que sejam necessários pelo menos quatro a sete genes mutantes

122
PATOLOGIA

para a transformação de uma célula normal em célula maligna, e esse processo de várias etapas
pode ocorrer durante um período de anos. Três classes principais de genes sofrem mutação em
diferentes cânceres:

• Proto‑oncogenes que regulam crescimento, diferenciação e sobrevida celulares normais.

• Genes supressores de tumor, cujos produtos inibem a proliferação celular.

• Genes de reparação de não equivalência de DNA que mantêm a fidelidade da replicação do DNA.

8.5.1 Oncogenes, proto‑oncogenes e câncer

Os oncogenes são versões mutantes de proto‑oncogenes, os genes normais envolvidos na regulação


do crescimento. O conceito de oncogenes derivava anteriormente de estudos de vírus tumorais de animais
(retrovírus transformadores), que conseguiam conferir um fenótipo neoplásico a células infectadas
por vírus. Os oncogenes virais transformadores foram denominados genes v‑onc, e descobriu‑se que
apresentam homologia com sequências de DNA eucariótico denominadas proto‑oncogenes; os
que mostraram a capacidade de sofrer mutação, são denominados oncogenes celulares e designados
pelo prefixo “c” (por exemplo, c‑myc e c‑abl).

8.6 Genes supressores de tumor

A discussão anterior sobre oncogenes descreve a geração de caracteres malignos por meio da
ativação de genes que promovem o crescimento celular. No entanto, a malignidade também pode
decorrer da inativação de genes que normalmente suprimem ou que regulam negativamente
o crescimento celular, chamados de genes supressores de tumor. Dois desses são os genes do
retinoblastoma (Rb). O retinoblastoma é um raro câncer intraocular da infância atribuído à inativação
do gene Rb. Cerca de 40% dos casos estão associados a uma mutação na linhagem germinativa
(retinoblastoma hereditário).

8.7 Graduação e estadiamento de cânceres

Na tentativa de prognosticar o comportamento de um tumor e de estabelecer critérios para o


tratamento, muitos cânceres são classificados por grau e estágio. As opções de cirurgia e tratamento
são influenciadas pela fase, que reflete a extensão da disseminação, e pelo grau, que reflete as
características celulares.

8.7.1 Graduação

A graduação citológica e histológica tem por base o grau de anaplasia e o número de células em
proliferação. Os esquemas de graduação classificam os tumores em três ou quatro graus. Os tumores
de grau baixo são bem diferenciados, e os de grau alto são anaplásicos. A correlação geral entre grau e
comportamento biológico não é invariável.

123
Unidade II

8.7.2 Estadiamento

Os critérios habitualmente empregados são: tamanho do tumor, extensão de crescimento local,


presença de metástases em linfonodos e presença de metástases distantes. Esses critérios foram
codificados no sistema internacional de estadiamento de câncer TNM:

• T: refere‑se ao tamanho do tumor primário.

• N: metástases em linfonodos regionais.

• M: presença e extensão de metástases distantes.

De acordo com estatísticas disponíveis, o câncer afeta parcela expressiva da população mundial
e é uma das principais causas de morte. Apesar do declínio do número de óbitos para alguns tipos
da doença (linfomas, certas neoplasias da infância etc.), a taxa de mortalidade global por câncer tem
aumentado nas últimas décadas.

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2017), cerca de
8,8 milhões de pessoas morrem anualmente por câncer em todo o mundo. Dado o impacto que tudo
isso tem na população, é muito natural que sejam enormes os esforços para encontrar formas mais
eficazes de enfrentar a doença. As frentes mais importantes nessa batalha são o aprimoramento do
diagnóstico (a detecção precoce permite maior chance de controle da doença), novas modalidades
de tratamento (procedimentos menos agressivos e dirigidos essencialmente às células malignas) e
medidas preventivas aplicáveis à população (para cuja adoção é essencial conhecer as causas e os
mecanismos de aparecimento do câncer). Nas últimas três décadas, houve formidável progresso no
conhecimento e na abordagem dessa doença, graças, em boa parte, aos grandes investimentos feitos
por muitos países em pesquisa básica e aplicada em oncologia.

Saiba mais

Através do manual de oncologia proposto pelo Instituto Nacional de


Controle do Câncer, é possível aprofundar seus conhecimentos em neoplasias:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Manual


de bases técnicas da oncologia. SIA/SUS – Sistema de informações
ambulatoriais. 23. ed. Brasília: Departamento de regulação, avaliação
e controle. Coordenação Geral se Sistemas de Informação, 2016.
Disponível em: <http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/comunicacao/
manual_de_bases_tecnicas_oncologia.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2019.

124
PATOLOGIA

Resumo

Constatamos que o sistema imunológico humano é complexo e


multidimensional, projetado para proteger o hospedeiro contra a invasão
de substâncias estranhas, microrganismos e toxinas. Ajuda também a
proteger contra a proliferação de células neoplásicas e desempenha
papel fundamental no processo de inflamação e cicatrização de feridas.
Infelizmente, em determinadas circunstâncias, o sistema imunológico pode
se tornar ineficiente ou hiperativo, causando o desenvolvimento de doenças
debilitantes e/ou potencialmente fatais. Esses processos patológicos podem
assumir a forma de distúrbios de imunodeficiência; reações alérgicas
ou de hipersensibilidade; rejeição a transplantes e doenças autoimunes.
Independentemente da manifestação, a causa subjacente tende a ser
rastreada até uma anormalidade em um dos componentes celulares ou
químicos das respostas imunes inatas e adaptativas.

Diferenciamos as reações de hipersensibilidade: as do tipo I são


dependentes da ativação mediada por IgE de mastócitos e basófilos e da
liberação subsequente de mediadores químicos da resposta inflamatória.
As do tipo II (mediadas por anticorpos) ou reações de hipersensibilidade
citotóxica são mediadas por anticorpos IgG ou IgM, dirigidos contra
antígenos‑alvo na superfície de células ou tecidos específicos do hospedeiro,
e resultam na fagocitose mediada pelo complemento e pela lesão celular.
As reações de hipersensibilidade do tipo III (complexo imune) são causadas
pela formação de complexos imunológicos de antígeno‑anticorpo na
corrente sanguínea – subsequentemente depositados no epitélio vascular
ou nos tecidos extravasculares –, que ativam o sistema complemento,
provocando resposta inflamatória maciça. Finalmente, as reações do tipo IV
(mediada por células) envolvem danos aos tecidos, em que as respostas
imunológicas mediadas por células com linfócitos T sensibilizados causam
lesão celular e tecidual. Embora todos sejam mediados por células T, os
mecanismos fisiopatológicos e as populações de células T sensibilizadas
envolvidas são diferentes.

Também estudamos a inflamação que descreve uma resposta local à lesão


tecidual e pode se apresentar como condição aguda ou crônica. Os sinais
clássicos de uma resposta inflamatória aguda são rubor, tumefação, calor
local, dor e perda de função. O processo inflamatório agudo é orquestrado por
células endoteliais, que revestem os vasos sanguíneos; leucócitos fagocíticos
(principalmente neutrófilos e monócitos), que circulam no sangue; e células
teciduais (macrófagos, mastócitos), que orientam as respostas dos tecidos.
O processo inflamatório agudo envolve uma fase hemodinâmica, durante a

125
Unidade II

qual ocorre aumento do fluxo sanguíneo e da permeabilidade capilar, e uma


fase celular, durante a qual os leucócitos fagocíticos se deslocam para a área
afetada para engolfar e degradar o agente nocivo. A resposta inflamatória
é comandada por mediadores químicos, como citocinas e quimiocinas,
histamina, prostaglandinas, entre outros. O processo inflamatório agudo
pode envolver a produção de exsudato com líquido seroso (exsudato
seroso), hemácias (exsudato hemorrágico), fibrinogênio (exsudato fibrinoso)
ou fragmentos de tecido e produtos de degradação dos leucócitos
(exsudato purulento).

Em contraste com a inflamação aguda, que é autolimitada, o processo


inflamatório crônico é prolongado e, geralmente, causado por irritativos
persistentes, sendo a maioria insolúvel e resistente a fagocitose e outros
mecanismos inflamatórios. O processo inflamatório crônico envolve células
mononucleares (linfócitos e macrófagos), em vez de granulócitos.

Aprendemos sobre o processo de reparação tecidual, o qual não podemos


separar da inflamação, uma vez que caminham juntos. Como abordamos,
a inflamação é um processo complexo que depende da interação entre
células e substâncias químicas para iniciar reações em cadeia capazes de
gerar sinais e sintomas. O reparo envolve a proliferação de várias células e
tem relações diretas com a matriz extracelular (MEC).

A capacidade dos tecidos de reparar danos resultantes de lesão


depende da capacidade do corpo de substituir as células do parênquima
e organizá‑las em sua forma original. Regeneração descreve o processo
pelo qual o tecido é substituído por células de tipo e função semelhantes.
A cicatrização por regeneração é limitada a tecidos com células capazes de
se dividir e substituir as células lesionadas. O reparo por tecido cicatricial
envolve a substituição por tecido conjuntivo fibroso do tecido lesionado
que não pode ser reparado por regeneração.

O processo de cicatrização de feridas ocorre por primeira ou segunda


intenção e é comumente dividido em três fases: inflamatória, proliferativa
e de maturação ou remodelação. Nas feridas com cicatrização por primeira
intenção, a duração das fases é bastante previsível. Na cicatrização de
feridas por segunda intenção, o processo depende da extensão da lesão
e do meio ambiente de cicatrização. O processo de cicatrização de feridas
pode ser prejudicado ou complicado por fatores como desnutrição;
restrição do fluxo sanguíneo e oferta de oxigênio; diminuição das respostas
inflamatórias e imunológicas; e infecção, separação da ferida e existência
de corpos estranhos.

126
PATOLOGIA

Estudando sobre neoplasias, podemos concluir que, em organismos


multicelulares, a taxa de proliferação de cada tipo de célula é controlada
com precisão por um sistema integrado que permite replicação celular
apenas dentro dos estreitos limites que mantêm a população normal em
níveis homeostáticos. Como na maioria dos tecidos e órgãos há divisão
celular contínua para restaurar as perdas decorrentes do processo de
envelhecimento das células, a replicação celular é essencial para o
organismo. No entanto, ela deve seguir o controle rígido imposto ao
sistema, pois, se for feita para mais ou para menos, o equilíbrio se quebra.
Uma das características principais das neoplasias é justamente proliferação
celular descontrolada. Reprodução é atividade fundamental das células.
Em geral, existe correlação inversa entre diferenciação e multiplicação
celulares. Quanto mais avançado é o estado de diferenciação, mais baixa é a
taxa de reprodução. Assim se entende que, em neoplasias, em geral ocorre,
paralelamente ao aumento da proliferação, perda da diferenciação celular.
Como resultado de tudo isso, as células neoplásicas progressivamente
sofrem perda de diferenciação e se tornam atípicas.

A proliferação celular em condições normais é uma atividade complexa


que depende da atuação coordenada de produtos de vários genes, os
quais controlam o processo em resposta a estímulos internos e externos.
A célula neoplásica sofre alteração nos seus mecanismos regulatórios de
multiplicação, adquire autonomia de crescimento e torna‑se independente
de estímulos fisiológicos.

Feitas essas considerações, neoplasia pode ser entendida como a lesão


constituída por proliferação celular anormal, descontrolada e autônoma,
em geral com perda ou redução de diferenciação, em consequência de
alterações em genes e proteínas que regulam a multiplicação e a
diferenciação das células. Nesse contexto, o que diferencia uma neoplasia de
uma displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia de proliferação.
Quando ocorre em um órgão sólido, o maior número de células de uma
neoplasia forma um tumor.

Dos pontos de vista clínico, evolutivo e de comportamento, as


neoplasias são divididas em duas grandes categorias: benignas e malignas.
As benignas geralmente não são letais nem causam sérios transtornos para
o hospedeiro; por isso mesmo, podem evoluir durante muito tempo e não
colocam em risco a vida de seu portador. As malignas, ao contrário, em geral
têm crescimento rápido, e muitas provocam perturbações homeostáticas
graves que levam o indivíduo à morte.

127
Unidade II

Exercícios

Questão 1. (EBSERH 2013) A neoplasia é uma massa anormal de tecido cujo crescimento excede
aquele dos tecidos normais e não está coordenada com ele, persistindo da mesma maneira excessiva após
o término do estímulo que induziu a alteração. De acordo com algumas características morfológicas, é
possível diferenciar um tumor maligno de um benigno. Sobre tais características, analise as afirmativas
e assinale a alternativa correta.

I – Uma célula cancerígena, quando sofre um processo de diferenciação, dizemos que ela se tornou
diferente da célula de origem do tecido, assim esta é classificada como maligna.

II – A célula tumoral, quando apresenta um crescimento mais lento, dizemos que apresenta uma
característica benigna, enquanto o contrário é uma característica do tumor maligno.

III – Nos tumores, é possível distinguir o parênquima (constituído por células neoplásicas) e o estroma
(tecido de sustentação), assim um tumor que tem um crescimento lento faz com que seu estroma seja
mais espesso, o que consequentemente não terá invasão local.

IV – A partir do momento que uma célula tem a capacidade de invasão local, esta terá a propensão
à metástase para outros tecidos e órgãos, o que é uma característica de um tumor maligno.

A) Apenas I está incorreta.

B) Apenas I e II estão incorretas.

C) Apenas II e III estão corretas.

D) Apenas III está correta.

E) I, II, III e IV estão corretas

Resposta correta: alternativa A.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.

Justificativa: o câncer é uma doença de diferenciação, a qual produz clones descontrolados de


células com alterações genéticas e epigenéticas e com capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos
ou distantes, como exemplificado na figura.

128
PATOLOGIA

1 Células normais 2 Divisão celular 3 Célula mutada


Formam tecidos e órgãos Células normais crescem, se Célula normal pode sofrer
reproduzem (duplicação de DNA) alteração no material
e morrem genético (DNA)
Agentes
canceriogênicos

5 O câncer 4 Reprodução celular


Células mutadas invadem Células mutadas podem se
outros tecidos e órgãos dividir de maneira desordenada
e dar origem ao tumor

Figura 49

Disponível em: <http://www.ciclocelular.com.br/cancer‑definicoes‑e‑estatisticas/>.


Acesso em: 19 jun. 2019.

II – Afirmativa correta.

Justificativa: os tumores benignos (com crescimento lento) raramente apresentam necrose e


hemorragia. Os tumores malignos duplicam rápido e desorganizadamente, com capacidade infiltrativa,
gerando necrose ou hemorragia.

III – Afirmativa correta.

Justificativa: os tumores benignos possuem estroma e uma rede vascular adequada e, por isso,
raramente apresentam necrose e hemorragia. Os tumores malignos apresentam uma desproporção
entre o parênquima tumoral e o estroma vascularizado, gerando necrose ou hemorragia.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: uma neoplasia maligna é capaz de invasão e destruição local e de crescimento


neoplásico a distância, descontínuo e independente do foco primário.

129
Unidade II

Questão 2. (EsFECx 2009, adaptada) Sobre o processo inflamatório agudo, analise as afirmativas e,
a seguir, assinale a alternativa que apresenta as corretas.

I – Os leucócitos podem prolongar a inflamação e ocasionam lesão tecidual.

II – Inicialmente existe vasoconstrição e depois ocorre uma vasodilatação.

III – As citocinas são mediadores da inflamação produzidas principalmente por mastócitos.

IV – Os radicais livres de oxigênio são benéficos ao processo por destruir bactérias e prolongar
a inflamação.

São corretas:

A) II e IV, apenas.

B) I e III, apenas.

C) I e II, apenas.

D) II e III, apenas.

E) III e IV, apenas.

Resolução desta questão na plataforma.

130
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 233.

Figura 2

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 233.

Figura 3

A) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 26.

B) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 26.

Figura 4

A) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 29.

B) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 29.

Figura 5

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 4.

Figura 6

REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 23.

Figura 7

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 607.

Figura 8

A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 238.

B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 238.

C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 238.

131
Figura 9

REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 22.

Figura 10

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 106.

Figura 11

REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 34.

Figura 12

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 1.247.

Figura 13

REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 39.

Figura 14

REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 40.

Figura 15

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 110.

Figura 16

A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.

B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.

C) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.

D) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.

132
Figura 17

REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 41.

Figura 18

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 221.

Figura 19

A) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 49.

B) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 49.

C) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 49.

Figura 20

A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 222.

B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. p. 222.

Figura 21

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 203.

Figura 22

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 165.

Figura 23

A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 166.

B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 166.

Figura 24

A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. p. 211.

B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 211.

C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 211.

D) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 211.

133
Figura 25

A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 213.

B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 213.

C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 213.

Figura 26

A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 170.

B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 170.

C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 170.

Figura 27

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 226.

Figura 28

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 227.

Figura 29

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 425.

Figura 30

A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.

B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.

C) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.

D) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.

134
Figura 31

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 428.

Figura 32

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 429.

Figura 33

BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 65.

Figura 34

A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 393.

B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 393.

Figura 35

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 394.

Figura 36

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 394.

Figura 37

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 311.

Figura 38

A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 320.

B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 320.

C) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 320.

135
Figura 39

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 81.

Figura 40

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 406.

Figura 41

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 406.

Figura 42

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 406.

Figura 43

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 403.

Figura 44

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 97.

Figura 45

GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 163.

Figura 46

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 166.

Figura 47

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 164.
136
Figura 48

RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 193.

REFERÊNCIAS

Textuais

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br/index.php/51274-dia-mundial-da-alergia-conheca-a-diferenca-entre-sensibilidade-alergia-e-
intolerancia-alimentar>. Acesso em: 11 jul. 2019.

___. Ministério da Saúde. Esteatose hepática (gordura no fígado): causas, sintomas, diagnóstico,
tratamento e prevenção. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Disponível em: <https://www.saude.gov.
br/saude-de-a-z/esteatose-hepatica>. Acesso em: 8 jul. 2019.

___. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Manual de bases técnicas da oncologia.
SIA/SUS – Sistema de informações ambulatoriais. 23. ed. Brasília: Departamento de regulação, avaliação
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137
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documentos_cientificos/Alergia-GuiaPratico-Anafilaxia-Final.pdf>. Acesso em: 11 jul. 2019.

Exercícios

Unidade I – Questão 1: FUNDAÇÃO MARIANA RESENDE COSTA (Fumarc). Concurso Público Polícia de
Minas Gerais (Acadepol MG) 2013: Médico legista. Questão 50.

Unidade I – Questão 2: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES (EBSERH). Concurso


Público EBSERH Área Assistencial (CH-UFPA) 2016: Técnico de enfermagem. Questão 46.

Unidade II – Questão 1: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES (EBSERH). Concurso


Público EBSERH Área Assistencial, Fisioterapeuta – respiratória (HU-UFGD) 2013: Técnico de
enfermagem. Questão 38.

Unidade II – Questão 2: ESCOLA DE FORMAÇÃO COMPLEMENTAR DO EXÉRCITO (EsFCEx). Concurso de


admissão para o curso de formação de oficiais do quadro complementar (ESAEX) 2009: Veterinária.
Questão 49.

138
139
140
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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