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Unidade II
5 REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE
As reações de hipersensibilidade do tipo I são mediadas por IgE, que começam rapidamente, com
frequência em minutos do contato com um antígeno. Esses tipos de reações a antígenos com frequência
são chamados de reações alérgicas. Na resposta alérgica, os antígenos, em geral, são denominados
alérgenos, incluem‑se proteína do pólen, ácaros, fragmentos de pele e pelo de animais, alimentos e
substâncias químicas, como a penicilina.
A exposição ao alérgeno pode ocorrer por meio de inalação, ingestão, injeção ou contato cutâneo.
Dependendo da porta de entrada, as reações do tipo I podem ocorrer como uma reação local ou atópica,
que é meramente incômoda (por exemplo, rinite sazonal) ou muito debilitante (asma), ou como uma
reação sistêmica e potencialmente fatal (anafilaxia).
Dois tipos de células são importantes para a reação de hipersensibilidade do tipo I: células T
auxiliares do tipo 2 (TH2) e mastócitos ou basófilos. Existem dois subgrupos da primeira (TH1 e
TH2), que se desenvolvem do mesmo linfócito T CD4+ precursor. As TH1 diferenciam‑se na resposta
a micróbios e estimulam a diferenciação de células B em plasmócitos produtores de IgM e IgG.
A diferenciação das do tipo TH2 ocorre em resposta a alérgenos e helmintos (parasitas intestinais).
Citocinas (IL‑4, IL‑5, IL‑13) secretadas por células TH2 estimulam a diferenciação de células B em
plasmócitos produtores de IgE, atuam como fatores de crescimento para mastócitos e recrutam e
ativam eosinófilos.
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Unidade II
Os mastócitos, que são células teciduais, e os basófilos, que são células sanguíneas, derivam de
células precursoras hematopoéticas. Os mastócitos e os basófilos possuem grânulos que contêm
mediadores que são liberados a fim de iniciar os primeiros eventos nas reações de hipersensibilidade
do tipo I. Esses mediadores são pré‑formados nas células ou são ativados através de processamento
enzimático. Os mastócitos normalmente encontram‑se distribuídos pelo tecido conjuntivo, em especial
em áreas abaixo da pele e mucosas dos tratos respiratório, gastrointestinal e genitourinário e vasos
sanguíneos e linfáticos adjacentes. Essa localização os deixa próximos de superfícies que são expostas
a antígenos ambientais e parasitas. Os mastócitos em diferentes partes do corpo e até mesmo em um
único local podem ter diferenças significativas no conteúdo e na sensibilidade de mediadores a agentes
que produzem desgranulação de mastócitos.
Muitas reações de hipersensibilidade do tipo I, como a asma brônquica, apresentam duas fases
bem distintas:
• Uma resposta primária ou de fase inicial, caracterizada por vasodilatação, extravasamento vascular
e contração de musculatura lisa.
• Uma resposta secundária ou tardia, caracterizada por infiltração mais intensa dos tecidos por
eosinófilos e outras células inflamatórias agudas e crônicas, além de destruição tissular na forma
de lesão celular epitelial.
A resposta primária ou de fase inicial em geral ocorre em torno de cinco a trinta minutos de
exposição ao antígeno e decai em sessenta minutos. É mediada por desgranulação de mastócitos
e liberação de mediadores pré‑formados. Esses mediadores incluem histamina, acetilcolina,
adenosina, mediadores quimiotáticos e enzimas como quimase e tripsina, as quais provocam a
geração de cininas. A histamina é um potente vasodilatador, que aumenta a permeabilidade de
capilares e vênulas e provoca contração de musculatura lisa e constrição brônquica. A acetilcolina
produz contração de musculatura lisa brônquica e dilatação de pequenos vasos sanguíneos.
As cininas, que são um grupo de potentes peptídeos inflamatórios, precisam ser ativadas através de
modificação enzimática. Uma vez ativados, esses mediadores peptídicos produzem vasodilatação e
contração da musculatura lisa.
A resposta secundária ou tardia ocorre em cerca de duas a oito horas após, e perdura alguns dias.
Decorre da ação de mediadores lipídicos e citocinas envolvidos na resposta inflamatória. Os mediadores
lipídicos derivam de fosfolipídios da membrana de mastócitos, que são degradados, formando
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PATOLOGIA
ácido araquidônico. Este, por sua vez, é o composto original a partir do qual os leucotrienos e as
prostaglandinas são sintetizados, eles produzem respostas semelhantes à histamina e à acetilcolina,
embora, comparativamente, seus efeitos sejam tardios e prolongados. Os mastócitos também produzem
citocinas e fatores quimiotáticos que induzem a entrada de eosinófilos e leucócitos no local do contato
com o alérgeno, contribuindo para a resposta inflamatória.
Nesse momento, é importante observar que nem todas as respostas mediadas por IgE produzem
desconforto e doença. A hipersensibilidade do tipo I, particularmente a resposta tardia, desempenha
um papel de proteção no controle de infecções parasitárias. Os anticorpos IgE lesam diretamente
as larvas desses parasitas por recrutarem células inflamatórias e provocarem citotoxicidade celular
dependente de anticorpos. Esse tipo de reação de hipersensibilidade do tipo I é particularmente
importante em países em desenvolvimento, nos quais um número significativo da população se
encontra infestado por parasitas intestinais.
Saiba mais
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Unidade II
Antígeno
CD4
TH2 IL-4
Célula B
IL-3, IL-5
Plasmócito
secretor de IgE
Anticorpo
Recrutamento de Mastócito
eosinófilos
Sensibilização
de mastócito
Liberação de citocinas
Recrutamento e ativação
de células inflamatórias
Desgranulação e liberação
de mediadores Fosfolipídios da membrana
Ácido araquidônico
Prostaglandinas Leucotrienos
Resposta inicial primária
Vasodilatação
Lesão vascular Resposta tardia secundária
Espasmo de músculo liso Edema de mucosa
Secreção de muco
Infiltração de leucócitos
Lesão epitelial
Broncoespasmo
A estimulação da diferenciação de células B por uma célula T auxiliar do tipo 2 (TH2) estimulada por
antígeno leva à produção de plasmócitos de IgE e à sensibilização de mastócitos. A ligação subsequente do
antígeno produz desgranulação do mastócito sensibilizado com liberação de mediadores pré‑formados,
levando a uma resposta primária ou de fase inicial. O recrutamento de eosinófilos por células T (TH2),
além da liberação de citocinas e fosfolipídios da membrana a partir do mastócito, acarreta uma resposta
secundária ou tardia.
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PATOLOGIA
Saiba mais
As reações de hipersensibilidade do tipo II são mediadas por anticorpos IgG ou IgM direcionados
contra antígenos‑alvo sobre superfícies celulares ou em tecidos conjuntivos. Os antígenos podem
ser endógenos, presentes nas membranas das células corporais, ou exógenos, que são adsorvidos
sobre a superfície da membrana. Existem três tipos diferentes de mecanismo mediado por anticorpos
envolvidos nas reações do tipo II: opsonização e fagocitose mediada por complemento e por receptor
de anticorpos, inflamação mediada por complemento e por receptor de anticorpos e disfunção celular
por anticorpos.
A deleção de células atingidas por anticorpos pode ocorrer por meio do sistema complemento ou
por meio de citotoxicidade celular dependente de anticorpos (ADCC), que não exige o complemento.
A destruição celular mediada por complemento pode ocorrer porque as células são recobertas
(opsonizadas) por moléculas que as tornam atrativas à fagocitose ou por causa da formação de
proteínas de ataque à membrana que rompem a integridade da membrana celular e provocam a lise
celular. Com a destruição da ADCC, as células recobertas com níveis baixos de anticorpos do tipo IgG
são destruídas por diversas células efetoras que se ligam a seu alvo por meio de seus receptores para
IgG, e a lise celular ocorre sem fagocitose.
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Unidade II
Anticorpo
Receptor FC Receptor C3b
Ativação do
complemento Ativação do
complemento
Leucócitos
Anticorpo
Receptor contra o Terminação
de TSH receptor nervosa
de TSH Acetilcolina
(ACh)
Célula epitelial
da tireoide
Anticorpo contra
o receptor de ACh
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PATOLOGIA
Observação
Quando os anticorpos são depositados nos tecidos extracelulares, como membranas basais e
matriz, a lesão decorre de inflamação, e não de fagocitose ou de lise celular. Nesse caso, os anticorpos
depositados ativam o complemento, gerando produtos intermediários quimiotáticos que recrutam e
ativam neutrófilos e monócitos. Os leucócitos ativados liberam substâncias lesivas, como enzimas
e intermediários de oxigênio reativos, que resultam em inflamação e lesão tissular. A inflamação mediada
por anticorpos é responsável pela lesão tissular vista em algumas formas de glomerulonefrite, rejeição
vascular em enxertos de órgãos e outras doenças. Na síndrome de Goodpasture, por exemplo, o anticorpo
se liga a um componente estrutural importante das membranas basais pulmonares e glomerulares,
provocando hemorragia pulmonar e glomerulonefrite.
Em algumas reações do tipo II, os anticorpos que se ligam a receptores de células‑alvo específicos não
provocam a morte celular, e sim uma alteração na função da célula. Na doença de Graves, por exemplo,
autoanticorpos direcionados contra os receptores de hormônio tireoestimulante (TSH) sobre células da
tireoide estimulam a produção de tiroxina, provocando hipertireoidismo. Por outro lado, na miastenia
grave, autoanticorpos contra os receptores de acetilcolina sobre placas terminais neuromusculares ou
bloqueiam a ação da acetilcolina ou medeiam a internalização ou a destruição de receptores, levando à
diminuição da função neuromuscular.
Os transtornos alérgicos por imunocomplexos são mediados pela formação de complexos insolúveis
antígeno‑anticorpo, fixação de complemento e inflamação localizada.
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Unidade II
Endotélio vascular
Anticorpo
Antígenos
1
Formação de
2 complexos
Deposição de antígeno-anticorpo
imunocomplexos
3
Atração de
células inflamatórias
Ativação de
complemento
Necrose
fibrinoide
Mediadores que
lesam tecido
Figura 31 – Reações de imunocomplexos do tipo III envolvendo imunoglobulinas IgG ou IgM ativadas
por complemento com (1) formação de imunocomplexos no sangue que são (2) depositados nos
tecidos; a ativação do complemento no local da deposição dos imunocomplexos (3) leva à
atração de leucócitos responsáveis por lesão vascular e tecidual
As reações do tipo III são responsáveis pela vasculite encontrada em determinadas doenças autoimunes,
como LES ou lesão renal associada a glomerulonefrite aguda. Os transtornos por imunocomplexos do tipo III
podem ser generalizados se eles forem formados na circulação e depositados em muitos órgãos, ou se estiverem
localizados em um órgão determinado, como rim, articulações ou pequenos vasos sanguíneos da pele.
A doença do soro é um transtorno sistêmico por imunocomplexos, que é desencadeado pelo depósito de
complexos insolúveis antígeno‑anticorpo (IgM, IgG e, ocasionalmente, IgA) em vasos sanguíneos, articulações
e tecidos cardíaco e renal. Os complexos depositados ativam o complemento, aumentam a permeabilidade
vascular e recrutam células fagocitárias; todos esses fatores podem promover lesão tecidual focal e edema.
O termo doença do soro foi cunhado pela primeira vez para descrever uma síndrome que consista em rash,
linfadenopatia, artralgias e, ocasionalmente, distúrbios neurológicos e que se manifestava sete dias ou mais
após injeções de antissoro equino (tétano). Embora essa terapia não seja mais usada atualmente, o nome
permanece. Atualmente, as causas mais comuns desse transtorno alérgico são antibióticos (especialmente a
penicilina) e outros agentes químicos, diversos alimentos e venenos de insetos.
Os sinais e sintomas incluem urticária, erupção cutânea em áreas ou generalizada, edema extenso
(em geral, em face, pescoço e articulações) e febre. Na maioria dos casos, a agressão é temporária,
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PATOLOGIA
e os sintomas sofrem resolução em alguns dias. No entanto, uma exposição prolongada e contínua
ao antígeno sensibilizador pode provocar lesão irreversível. Em indivíduos previamente sensibilizados,
formas graves e até mesmo fatais de doença do soro podem ocorrer imediatamente ou alguns dias após
o agente químico ou o soro sensibilizador ter sido administrado.
A reação de Arthus é uma reação de imunocomplexo localizada, associada à necrose tecidual discreta,
geralmente na pele. É causada pela exposição repetida de um local a um antígeno, onde existem níveis
elevados de anticorpos circulantes pré‑formados. Na maioria dos casos, os sintomas se manifestam no
intervalo de uma hora e alcançam um pico em seis a 12 horas após a exposição. Tipicamente, as lesões
são avermelhadas, altas e inflamadas. Com frequência, formam‑se úlceras no centro da lesão devido à
liberação de citocinas inflamatórias.
As reações de hipersensibilidade do tipo IV, que são mediadas por linfócitos T especificamente
sensibilizados, podem ser divididas em dois tipos básicos: citotoxicidade celular direta e hipersensibilidade
do tipo tardio.
Na citotoxicidade celular direta, linfócitos T citotóxicos CD8+ (CTLs) destroem diretamente células‑alvo
que exprimem peptídeos derivados de antígenos citossólicos que são apresentados associados a
moléculas de MHC classe I. Nas infecções virais, as respostas de CTL podem provocar lesão tissular por
destruírem células‑alvo infectadas mesmo se o vírus, por si só, não apresentar efeitos citotóxicos. Alguns
vírus lesam diretamente células infectadas e são denominados citopáticos, ao passo que outros, não
citopáticos, não o fazem. Como não conseguem diferenciar entre vírus citopáticos e não citopáticos, os
CTLs praticamente destroem todas as células infectadas, independentemente de a infecção ser lesiva.
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Unidade II
Em determinadas formas de hepatite, por exemplo, a destruição de hepatócitos ocorre pela resposta de
CTL do hospedeiro, e não pelo vírus.
Antígeno
Célula
apresentadora
de antígeno
Célula T CD8+
Célula T CD4+
primed
[preparada]
Toxicidade
celular direta
Célula-alvo Célula T CD4+
ativada
A)
Citocinas
Resposta de
hipersensibilidade tardia
B)
Figura 32 – Reações celulares de hipersensibilidade do tipo IV, que incluem (A) citotoxicidade celular direta,
na qual células T CD8+ destroem células‑alvo que sustentam antígeno; e (B) reações de hipersensibilidade
tardia, em que células CD4+ pré‑sensibilizadas liberam citocinas que lesam células
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PATOLOGIA
A resposta de DTH mais bem conhecida é a reação ao teste da tuberculina, em que tuberculina
inativada ou derivado proteico purificado é injetado sob a pele. No indivíduo sensibilizado
por infecção pregressa, uma área localizada de vermelhidão e induração desenvolve‑se em oito a
12 horas, alcançando pico em 24 a 72 horas. A reação de tuberculina caracteriza‑se por acúmulo
perivascular de células TH1 e, num grau menor, de macrófagos. A secreção local de citocinas por
essas células inflamatórias mononucleares leva ao aumento da permeabilidade microvascular com
vermelhidão e tumefação locais.
A sequência de eventos na DTH, conforme demonstrado pela reação da tuberculina, tem início na
primeira exposição aos bacilos da tuberculose. As células TH1 reconhecem os antígenos peptídicos
dos bacilos tuberculosos associados aos antígenos MHC classe II na superfície de monócitos e células
apresentadoras de antígeno que processaram os antígenos micobacterianos. Esse processo acarreta
a formação de células de memória TH1 sensibilizadas que permanecem durante anos na circulação.
A injeção subsequente de tuberculina em tal indivíduo resulta na secreção de citocinas de células TH1,
que, em última análise, são responsáveis pela resposta de TH1. Ou seja, a imunidade contra a tuberculose
é mediada por células.
Além de seu papel benéfico de proteção, a DTH pode ser uma causa de doença, incluindo dermatite
alérgica de contato.
Lembrete
6.1 Inflamação
A inflamação é uma reação de defesa do organismo e de seus tecidos a estímulos nocivos. O objetivo
é reparar o dano, ou pelo menos limitá‑lo, e também remover a causa, por exemplo, bactérias ou corpos
estranhos. As causas de uma inflamação podem ser:
• destruição tecidual com formação de restos de tecido, por exemplo, por meio de danos mecânicos,
tais como cortes, arranhões ou corpos estranhos; compostos químicos, tais como ácidos ou álcalis;
influências físicas, tais como frio, calor, radiação (UV, raio X, radiotividade); e causas endógenas,
como reações autoimunes ou cristais de substâncias precipitados no corpo (ácido úrico, oxalato
de cálcio, fosfato de cálcio e colesterol).
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Unidade II
O processo inflamatório é uma resposta do corpo que se destina a eliminar a causa inicial
de lesão celular, remover o tecido danificado e produzir um novo. O processo ocorre por meio
da destruição, da digestão enzimática, da compartimentalização ou de qualquer outro modo de
neutralizar os agentes nocivos. Esses processos são fundamentais para os eventos que acabarão por
cicatrizar o tecido danificado. A inflamação está relacionada com os processos de reparação, que
substituem o tecido danificado ou preenchem os defeitos residuais com tecido cicatricial fibroso.
Embora tenha sido descrita pela primeira vez há mais de dois mil anos, a resposta inflamatória
tem sido objeto de constantes estudos até os dias atuais. Hoje, sabe‑se que a patogênese de várias
doenças está ligada à resposta inflamatória. Nesses casos, a cascata inflamatória é realizada de maneira
excessivamente cuidadosa, danificando vários tipos de tecido e manifestando‑se na forma de distúrbios
autoimunes, como a artrite reumatoide.
A inflamação é a reação de tecidos vascularizados a uma lesão. Ela se caracteriza pela ação de
mediadores inflamatórios, como os do sistema complemento, o fator de necrose tumoral alfa, o fator
de crescimento endotelial vascular (VEGF), neutrófilos, assim como pelo movimento de líquidos.
As doenças inflamatórias são nomeadas acrescentando‑se o sufixo ‑ite ao órgão ou sistema afetado.
Por exemplo, apendicite se refere à inflamação do apêndice; pericardite, à inflamação do pericárdio; e
neurite, à inflamação de um nervo. Expressões mais descritivas do processo inflamatório podem indicar
se o processo é agudo ou crônico e que tipo de exsudato foi formado.
O processo inflamatório pode ser dividido em dois tipos: agudo e crônico. O agudo tem curta
duração, variando de alguns minutos até vários dias, e caracteriza‑se pela exsudação de líquidos e
componentes do plasma e pela emigração de leucócitos, predominantemente neutrófilos, para os tecidos
extravasculares. O processo inflamatório crônico tem duração mais longa, que varia de um dia até anos,
e está associado à presença de linfócitos e macrófagos, à proliferação de vasos sanguíneos, à fibrose e à
necrose tecidual. Frequentemente, essas formas básicas de inflamação se sobrepõem, e muitos fatores
podem influenciar seu curso.
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PATOLOGIA
Agente inflamatório
Sinais
cardinais
Fenômenos
irritativos Calor
Fenômenos
vasculares Rubor
Dor
Fenômenos alterativos
Fenômenos
exsudativos Tumor
Inflamação
crônica Inflamação
crônica persistente
Lembrete
O processo inflamatório agudo é uma resposta imediata contra um agente nocivo. A resposta, que
serve para controlar e eliminar células alteradas, microrganismos e antígenos, ocorre em duas fases:
• Fase vascular, que resulta em aumento do fluxo sanguíneo e alterações nos pequenos vasos
da microcirculação.
• Fase celular, que resulta na migração de leucócitos da circulação e sua ativação para eliminar o
agente nocivo.
O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: vascular e celular. Diversos tipos de
tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos
sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos,
macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC). A matriz extracelular é composta
por proteínas fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos. No nível bioquímico,
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Unidade II
A vasodilatação, uma das primeiras manifestações do processo inflamatório, começa depois de uma
constrição transitória das arteríolas, que dura alguns segundos. A vasodilatação envolve primeiramente as
arteríolas e, em seguida, resulta na abertura dos leitos capilares na região afetada. Como resultado, a área se
torna congestionada, causando a vermelhidão (eritema) e o calor associados a um processo de inflamação
aguda. A vasodilatação é induzida pela ação de vários mediadores, como a histamina e o ácido nítrico.
A exsudação de líquido para os espaços teciduais também serve para diluir o agente agressor.
O aumento da permeabilidade característico de um processo inflamatório agudo resulta da formação
de lacunas endoteliais nas vênulas da microcirculação. A ligação de mediadores químicos a receptores
endoteliais provoca a contração das células endoteliais e a separação das junções intercelulares. Esse
é o mecanismo mais comum de derrame vascular e é induzido pela ação de histamina, bradicinina,
leucotrienos e muitas outras classes de mediadores químicos.
Vênula
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PATOLOGIA
Na fase vascular do processo inflamatório agudo ocorrem alterações nos pequenos vasos sanguíneos
no local da lesão. Ela começa com vasoconstrição momentânea, rapidamente seguida por vasodilatação.
A vasodilatação envolve as arteríolas e vênulas, com consequente aumento do fluxo sanguíneo capilar,
causando calor e vermelhidão, dois dos sinais cardinais do processo inflamatório. Acompanha‑se aumento
na permeabilidade vascular, com a saída de um líquido rico em proteína (exsudato) para os espaços
extravasculares. A perda de proteínas reduz a pressão osmótica capilar e aumenta a pressão osmótica
intersticial. Isso, juntamente ao aumento da pressão capilar, provoca fluxo de líquido e seu acúmulo no
espaço intersticial, produzindo edema, dor e comprometimento funcional, que representam os outros sinais
cardinais do processo inflamatório agudo. À medida que o líquido se desloca para fora dos vasos, ocorre
estagnação do fluxo sanguíneo e coagulação. Isso ajuda a localizar a disseminação de agentes infecciosos.
Células endoteliais
Capilar
Neutrófilo
Neutrófilo
2 Transmigração
1 Marginação Bactérias
3 Quimiotaxia
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Unidade II
6.1.1.5 Quimiotaxia
É o processo dinâmico e guiado por energia de migração celular direcionada. Assim que os
leucócitos deixam os capilares, eles vagam através dos tecidos orientados por um gradiente de
quimioatratores secretados, como quimiocinas, resíduos bacterianos e celulares e fragmentos
de proteínas produzidos pela ativação do sistema complemento (por exemplo, C3a, C5a).
As quimiocinas, subgrupo importante de citocinas quimiotáticas, são pequenas proteínas que
orientam o tráfego de leucócitos durante os estágios iniciais do processo inflamatório ou lesão.
Diversas células imunológicas (por exemplo, macrófagos) e não imunológicas secretam esses
quimioatratores para assegurar o movimento dirigido de leucócitos até o local de infecção.
Durante a fase final da resposta celular, monócitos, neutrófilos e macrófagos dos tecidos são
ativados para englobar e degradar as bactérias e os fragmentos celulares em um processo denominado
fagocitose. Ela é iniciada pelo reconhecimento e pela ligação de partículas por receptores específicos na
superfície de células fagocíticas. Essa ligação é essencial para capturar o agente, o que desencadeia o
englobamento e ativa o potencial de matar de uma célula.
Os micróbios podem se ligar diretamente à membrana de células fagocíticas por diferentes tipos de
receptores de reconhecimento de padrão (por exemplo, receptores toll‑like e receptores de manose),
ou indiretamente, por intermédio de receptores que reconhecem micróbios revestidos por lectinas de
ligação com carboidratos, anticorpos ou complemento.
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PATOLOGIA
1
Fagossomo 2 Receptor Fc
Fc
C3b
Receptor
C3b
3
Fagolisossomo
Figura 36 – A opsonização dos micróbios: (1) pelo fator de complemento C3b e anticorpo facilita o reconhecimento
pelo neutrófilo receptor de C3b e anticorpo Fc; (2) a ativação do receptor desencadeia a sinalização intracelular e a
montagem de actina no neutrófilo, levando à formação de pseudópodes que englobam o micróbio em um
fagossomo; (3) este, então, se funde com um lisossomo intracelular para formar um fagolisossomo, no
qual enzimas lisossomais e radicais de oxigênio (4) são liberados para matar e digerir o micróbio
Constituem o revestimento epitelial com espessura de uma única célula dos vasos sanguíneos.
Elas produzem agentes antiplaquetários e antitrombóticos que mantêm a permeabilidade do vaso,
assim como vasodilatadores e vasoconstritores que regulam o fluxo sanguíneo. As células endoteliais
também são fundamentais para a resposta inflamatória e apresentam alterações significativas em
pessoas com doenças inflamatórias. As células endoteliais funcionais fornecem uma barreira de
permeabilidade seletiva para estímulos inflamatórios exógenos (microbianos) e endógenos; regulam
o extravasamento de leucócitos pela expressão de moléculas de adesão celular e receptores;
contribuem para a regulação e a modulação da resposta imune pela síntese e liberação de mediadores
inflamatórios; e regulam a proliferação de células imunes pela secreção de fatores estimuladores de
colônias hematopoéticas (CSF, colony‑stimulating factor).
As células endoteliais também participam do processo de reparo que acompanha a inflamação por
meio da produção de fatores de crescimento que estimulam a angiogênese (formação de novos vasos
sanguíneos) e a síntese de MEC. As células endoteliais circulantes podem ser utilizadas como indicador
da tendência de disfunção vascular em pessoas com lúpus eritematoso sistêmico (LES), mesmo que sem
doença cardiovascular diagnosticada.
6.1.1.8 Plaquetas
Embora apenas uma proporção relativamente pequena tenha sido identificada, parece que um
número significativo são mediadores inflamatórios. A associação entre plaquetas e doenças inflamatórias
é realçada pelo número de processos patológicos inflamatórios (por exemplo, aterosclerose, enxaqueca,
LES) comprovadamente associados à ativação plaquetária.
São leucócitos fagocíticos existentes em grande número e são evidenciados no local da inflamação
em um intervalo de poucas horas. Os dois tipos de leucócitos expressam diversos receptores de superfície e
moléculas envolvidas na sua ativação. O neutrófilo é o primeiro fagócito a chegar ao local da inflamação,
geralmente em um intervalo de noventa minutos após a lesão. Esses leucócitos têm núcleos divididos
em três a cinco lobos. Portanto, são frequentemente chamados de neutrófilos polimorfonucleares (PMN)
ou neutrófilos segmentados.
Com a demanda excessiva de fagócitos, formas imaturas de neutrófilos são liberadas da medula
óssea. Estas, muitas vezes, são chamadas de bastões porque têm o núcleo em formato de ferradura.
Monócitos circulantes, que têm um único núcleo em forma de rim e são os maiores leucócitos circulantes,
constituem de 3% a 8% da contagem de leucócitos do sangue. Os monócitos são liberados da medula
óssea para agir como macrófagos. As células mononucleares chegam ao local da inflamação logo depois
dos neutrófilos e desempenham suas funções fagocíticas durante vários dias.
inflamatório e contribuem para a iniciação dos processos de cicatrização. Também desempenham papel
importante no processo inflamatório crônico, no qual podem rodear e cercar materiais estranhos que
não podem ser digeridos.
Eosinófilos, basófilos e mastócitos produzem mediadores lipídicos e citocinas que induzem o processo
inflamatório. Embora esses três tipos de células apresentem características específicas, todos contêm
grânulos citoplasmáticos que induzem o processo inflamatório. São particularmente importantes nos
casos de inflamação associada a reações de hipersensibilidade imediata e distúrbios alérgicos.
Os eosinófilos circulam no sangue e são recrutados para os tecidos, de modo semelhante aos
neutrófilos. A quantidade desses granulócitos aumenta no sangue durante reações alérgicas e infecções
parasitárias. Os grânulos de eosinófilos, que se tingem de vermelho com o corante ácido de eosina,
contêm uma proteína altamente tóxica para vermes parasitas grandes que não podem ser fagocitados.
Também desempenham papel importante nas reações alérgicas por meio do controle da liberação de
mediadores químicos específicos.
Os mastócitos derivam das mesmas células‑tronco hematopoéticas que os basófilos, mas não se
desenvolvem até que deixam a circulação e se alojam nos tecidos. A ativação dos mastócitos resulta na
liberação do conteúdo pré‑formado de seus grânulos (histamina, proteoglicanos, proteases e citocinas
como o fator de necrose tumoral alfa [TNF‑α] e a interleucina [IL]‑16); na síntese de mediadores lipídicos
derivados de precursores da membrana celular (metabólitos do ácido araquidônico, como prostaglandinas
e FAP); e na estimulação da síntese de citocinas e quimiocinas por outras células inflamatórias como
monócitos e macrófagos. Os mastócitos estão envolvidos nas reações acionadas por IgE e no combate
a infecções por helmintos.
O processo inflamatório agudo envolve duas fases principais: vascular e celular. Diversos tipos de
tecidos e células estão envolvidos nessas fases, bem como células endoteliais que revestem os vasos
sanguíneos, leucócitos que circulam no sangue, células do tecido conjuntivo (mastócitos, fibroblastos,
macrófagos e linfócitos) e componentes da matriz extracelular (MEC), que é composta por proteínas
fibrosas (colágeno e elastina), glicoproteínas adesivas e proteoglicanos.
Células endoteliais
Fibroblasto
Mastócito Macrófago
Elastina
Embora o processo inflamatório seja precipitado por infecção e lesão, seus sinais e sintomas
são produzidos por mediadores químicos. Os mediadores podem ser originados do plasma ou de
células. Os derivados do plasma, sintetizados no fígado, incluem os fatores de coagulação e as
proteínas do complemento e são encontrados no plasma em uma forma precursora, que precisa
ser ativada por uma série de processos proteolíticos para adquirir suas propriedades biológicas.
Os derivados de células normalmente são sequestrados em grânulos intracelulares que precisam
ser secretados (por exemplo, histamina a partir de mastócitos) ou são sintetizados conforme a
necessidade (por exemplo, citocinas), em resposta a um estímulo. Embora plaquetas, neutrófilos,
monócitos/macrófagos e mastócitos sejam as principais fontes desses mediadores, células
endoteliais, do músculo liso, fibroblastos e a maioria das células epiteliais podem ser induzidos a
produzi‑los. A produção de mediadores ativos é desencadeada por micróbios ou por proteínas do
hospedeiro, como as dos sistemas complemento, cinina ou de coagulação, que são ativadas por
micróbios ou tecidos danificados.
Os mediadores podem atuar sobre uma ou algumas células‑alvo e têm diversos alvos ou diferentes
efeitos sobre os tipos distintos de células. Uma vez ativados e liberados da célula, a maioria têm curta
duração. Eles podem ser transformados em metabólitos inativos, inativados por enzimas, ou eliminados
ou degradados de outro modo.
98
PATOLOGIA
Embora todas as reações inflamatórias agudas sejam caracterizadas por alterações vasculares
e infiltração de leucócitos, a gravidade da reação, a causa específica e o local de envolvimento
introduzem variações nas manifestações e correlações clínicas. Essas manifestações podem variar
desde edema e formação de exsudato até a formação de abscesso ou ulceração. Caracteristicamente,
a resposta inflamatória aguda envolve a produção de exsudato, que varia em relação ao tipo de
líquido, ao teor de proteína plasmática e à existência ou não de células. Eles podem ser serosos,
hemorrágicos, fibrinosos, membranosos ou purulentos. Muitas vezes, o exsudato é composto por uma
combinação desses tipos.
Exsudato seroso é um líquido com baixo teor de proteína resultante da entrada de plasma no
local inflamatório. Exsudato hemorrágico acontece quando existe lesão tecidual grave, que danifica
os vasos sanguíneos, ou quando há fugas significativas de hemácias dos capilares. Exsudato fibrinoso
contém grandes quantidades de fibrinogênio e forma uma malha grossa e pegajosa, semelhante às
fibras de um coágulo sanguíneo. Exsudatos membranosos ou pseudomembranosos se desenvolvem em
superfícies mucosas e são compostos por células necróticas enredadas em um exsudato fibropurulento.
Um exsudato purulento ou supurativo contém pus, composto por leucócitos degradados, proteínas e
fragmentos de tecido.
Alguns microrganismos, como Staphylococcus, apresentam maior propensão do que outros a induzir
processo inflamatório supurativo localizado. Abscesso é uma área localizada de inflamação contendo
um exsudato purulento, que pode ser cercado por uma camada de neutrófilos (ver a figura a seguir).
Os fibroblastos, por fim, podem entrar na área e cercar o abscesso. Como agentes antimicrobianos não
conseguem penetrar a parede do abscesso, podem ser necessárias incisão cirúrgica e drenagem para
alcançar a cicatrização.
Ulceração se refere a um local de inflamação, onde uma superfície epitelial (por exemplo, pele
ou epitélio gastrintestinal) se torna necrótica e corroída, frequentemente associada à inflamação
subepitelial. Ainda, pode decorrer de uma lesão traumática à superfície epitelial (por exemplo, úlcera
péptica) ou de um comprometimento vascular (por exemplo, úlceras do pé associadas ao diabetes).
Observação
99
Unidade II
Capilares
Pus
Necrose tecidual
Parede fibrosa
Inflamação crônica é aquela na qual, devido à persistência do agente inflamatório (por exemplo, um
microrganismo), à exposição prolongada a agentes tóxicos (por exemplo, tabagismo) ou a fenômenos
autoimunes, o processo se mantém por tempo maior. Nela, os sinais típicos de eritema e edema
podem não ser aparentes. Em algumas inflamações de duração prolongada em tecidos conjuntivos
há edema e dor com pouca exsudação celular. É o que ocorre, por exemplo, em tendinites, facites,
osteartrose e fibromialgia.
É uma forma distinta de inflamação crônica. Um granuloma é tipicamente uma pequena lesão de
1 mm a 2 mm, na qual existe um conjunto de macrófagos circundados por linfócitos. Esses macrófagos
modificados se assemelham a células epiteliais, que às vezes são chamadas de células epitelioides. Como
outros macrófagos, as células epitelioides são derivadas originalmente de monócitos do sangue.
100
PATOLOGIA
A inflamação granulomatosa está associada a corpos estranhos, tais como farpas, suturas, sílica e
asbesto, e a microrganismos que causam tuberculose, sífilis, sarcoidose, infecções fúngicas profundas
e brucelose. Esses tipos de agentes têm uma coisa em comum: são mal digeridos e usualmente
não são facilmente controlados por outros mecanismos inflamatórios. As células epitelioides na
inflamação granulomatosa podem se agregar em uma massa ou coalescer, formando uma célula
gigante multinucleada que tenta circundar o agente estranho. Uma densa membrana de tecido
conjuntivo finalmente encapsula a lesão e a isola. Essas células são referidas como células gigantes
de corpo estranho.
A reparação dos tecidos, que se sobrepõe ao processo inflamatório, é uma resposta à lesão
tecidual e representa uma tentativa de manter a estrutura e o funcionamento normais do corpo.
Pode tomar o formato de uma regeneração, na qual as células lesionadas são substituídas por outras
do mesmo tipo; ou de uma substituição por tecido conjuntivo, o que leva a uma cicatriz permanente.
Tanto a regeneração quanto a reparação por tecido conjuntivo são determinadas por intermédio de
mecanismos semelhantes que envolvem migração, proliferação e diferenciação celulares, bem como
interação com a MEC.
Os orgãos e os tecidos são compostos por dois tipos de estruturas: parênquima e estroma. Os tecidos
do parênquima contêm as células funcionais de um órgão ou parte do corpo (por exemplo, hepatócitos
e células tubulares renais). Os tecidos do estroma são compostos de tecido conjuntivo de sustentação,
vasos sanguíneos, MEC e fibras nervosas. A regeneração dos tecidos envolve a substituição do tecido
lesionado por células do mesmo tipo, deixando pouca ou nenhuma evidência da lesão anterior.
A capacidade de regeneração varia de acordo com o tipo de célula e de tecido. As células do corpo
podem ser classificadas de acordo com seu potencial de proliferação. Algumas células maduras não se
dividem, enquanto outras completam um ciclo celular a cada 16 a 24 horas.
101
Unidade II
• Células lábeis: encontradas em tecidos que se encontram sob renovação constante, como a
epiderme, o revestimento epitelial dos tratos gastrointestinal, urinário, respiratório e genital,
a medula óssea e os órgãos linfoides.
• Células estáveis: encontradas em tecidos que normalmente se renovam muito lentamente, mas
são capazes de renovação mais rápida após lesão; entre os exemplos estão fígado, glândulas
endócrinas, endotélio e túbulos renais proximais.
Lesão grave ou persistente, com danos tanto às células do parênquima quanto à MEC, leva a uma
situação em que a reparação não pode ser obtida apenas com a regeneração dos tecidos. Nessas condições,
ocorre reparação com substituição por tecido conjuntivo, processo que envolve a produção de tecido
de granulação e a formação de tecido cicatricial. O tecido de granulação é um tecido conjuntivo úmido de
coloração vermelha brilhante que contém capilares recém‑formados, proliferação de fibroblastos e
células inflamatórias residuais. O desenvolvimento do tecido de granulação envolve crescimento de
novos capilares (angiogênese), fibrogênese e involução para a formação do tecido cicatricial.
A formação de uma cicatriz se baseia na estrutura do tecido de granulação de novos vasos e na MEC
frouxa. O processo se desenvolve em duas fases: migração e proliferação de fibroblastos para o local da
lesão e deposição de MEC por essas células.
Em última análise, a base para a formação do tecido de granulação evolui para uma cicatriz composta
de fibroblastos fusiformes, em grande parte inativos, densas fibras de colágeno, fragmentos de tecido
102
PATOLOGIA
elástico e outros componentes da MEC. À medida que a cicatriz amadurece, a degeneração vascular, por
conseguinte, transforma o tecido de granulação altamente vascular em uma cicatriz pálida, em grande
parte avascular.
Epiderme
Derme
Gordura
Neutrófilo
Figura 40
Os processos durante essa fase são responsáveis pela construção de tecido novo para preencher o
espaço da ferida. As células mais importantes durante essa fase são os fibroblastos, que são células do
tecido conjuntivo que sintetizam e secretam colágeno, proteoglicanos e glicoproteínas necessários para
a cicatrização de feridas. Os fibroblastos também produzem uma família de fatores de crescimento que
induzem o processo de angiogênese (crescimento de novos vasos sanguíneos) e proliferação e migração
de células endoteliais. O evento final da fase proliferativa é a epitelização, durante a qual as células
103
Unidade II
epiteliais nas bordas da ferida proliferam para formar uma nova camada de superfície, semelhante à
que foi destruída pela lesão.
Tecido de
granulação
Células
epiteliais
Fibroblasto
Vaso
sanguíneo
Macrófago
Figura 41
Essa fase se inicia aproximadamente três semanas após a lesão com o desenvolvimento da cicatriz
fibrosa e pode continuar por seis meses ou mais, dependendo da extensão da ferida. Durante essa
fase, ocorre redução na vascularidade e remodelação contínua do tecido cicatricial, simultaneamente
por meio da síntese de colágeno pelos fibroblastos e da lise pela enzima colagenase. Como resultado
desses dois processos, a arquitetura da cicatriz é capaz de aumentar sua resistência à tração, e a cicatriz
encolhe, tornando‑se menos visível.
Contração
da ferida
Cicatriz
fibrosa
Vaso
sanguíneo
Figura 42
104
PATOLOGIA
Tecidos lesionados são reparados por meio da regeneração de células do parênquima ou por meio
de reparação do tecido conjuntivo, na qual o tecido cicatricial é substituído por células do parênquima do
tecido lesionado. O objetivo principal desse processo é preencher o vazio criado pela destruição
de tecidos e restaurar a continuidade estrutural da parte lesionada. Quando não pode acontecer
regeneração, a cicatrização por substituição, com uma cicatriz de tecido conjuntivo, fornece os meios
para manutenção da continuidade. Embora o tecido cicatricial preencha a lacuna criada pela sua
morte, ele não repara a estrutura com células funcionais do parênquima. Como a capacidade de
regeneração da maioria dos tecidos é limitada, a cicatrização de feridas geralmente envolve certa
quantidade de reparo por tecido conjuntivo. A discussão a seguir aborda principalmente o processo
de cicatrização de feridas cutâneas.
Primeira intenção,
sem perda de tecido
Segunda intenção,
perda de tecido
Figura 43
105
Unidade II
É mais rápida e resulta em cicatrizes menores, visto que a fenda da ferida é mais estreita e a
destruição tecidual nas suas bordas é menor. O exemplo clássico é o das feridas cirúrgicas, em que
o sangue extravasado pelo corte forma um coágulo que ocupa o espaço entre as margens da ferida.
A reação inflamatória se instala a partir da liberação de mediadores originados do coágulo de fibrina,
das células aprisionadas no coágulo, do tecido conjuntivo das bordas da ferida e das células epiteliais
da margem da lesão. São liberados por macrófagos do coágulo IL‑1 e TNF e também pelos ceratinócitos da
margem da lesão. Essas citocinas ativam as células endoteliais, que expõem moléculas de adesão (por
exemplo, selectinas), favorecendo a adesão de leucócitos.
Quando a ferida é extensa e tem margens afastadas, forma‑se um grande coágulo; se há infecção
associada, surge reação inflamatória importante. Nos dois casos, a exsudação de fagócitos é muito intensa
e forma‑se abundante tecido de granulação. Como as bordas da ferida são distantes, a regeneração da
epiderme é mais lenta e demora mais tempo para se completar. As células da epiderme proliferam nas
margens, onde ocorre certo grau de hiperplasia devido à grande quantidade de fatores de crescimento
liberados a partir das células exsudadas.
Nas fases iniciais, o tecido de granulação faz saliência na superfície da ferida. Com o passar do tempo,
ele sofre as mesmas transformações descritas na cicatrização por primeira intenção, sendo muito mais
intenso e evidenciável o fenômeno da retração da cicatriz pelos miofibroblastos (a transformação de
fibroblastos em miofibroblastos é muito mais frequente nesse tipo de cicatrização). A retração é tão
pronunciada que pode, em alguns meses, reduzir a superfície da cicatriz em 90% da dimensão inicial.
Como na cicatrização por primeira intenção, a resistência da cicatriz aumenta com o passar do
tempo, mas não atinge os níveis da pele íntegra. Os fatores de crescimento envolvidos são os mesmos
descritos para a cicatrização por primeira intenção.
São duas condições em que há formação importante de tecido conjuntivo denso em cicatriz
cutânea, a qual pode adquirir volume considerável. A cicatriz hipertrófica tende a ser reversível,
regredindo parcialmente com o passar do tempo. O queloide forma tumorações nas áreas de
cicatrização, mesmo em feridas pequenas, podendo não regredir ou ter regressão muito lenta.
Nos dois casos, o aspecto microscópico é semelhante: as fibras colágenas são irregulares, grossas
e formam feixes distribuídos ao acaso, contendo capilares e fibroblastos em maior número do
que uma cicatriz normal. Essas duas lesões são mais frequentes na população afrodescendente,
mas não se conhece o defeito que leva ao descontrole da síntese do colágeno nos dois processos.
Tratam‑se de situações em que os mecanismos de produção estão exacerbados e/ou os mecanismos
de degradação da MEC estão reduzidos.
106
PATOLOGIA
Queloide
Os queloides são cicatrizes grandes e de formas irregulares que se estendem acima e além do
limite da ferida original. Eles tendem a ser nodulares e estriados. Portanto, embora não representem
uma preocupação clínica, eles podem ter uma aparência indesajável. Os queloides são compostos
principalmente de grandes feixes desordenados de colágeno. Eles estão associados à excessiva
proliferação de fibroblastos no local da ferida.
Há uma propensão genética para a formação dos queloides, são mais comuns em pessoas
afrodescendentes. Infelizmente, a remoção cirúrgica com frequência é acompanhada da formação de
um novo queloide.
Figura 44 – Queloide: mulher negra com queloide que se desenvolveu após a perfuração da orelha
Vários fatores locais e sistêmicos influenciam a cura de feridas. Embora existam muitos fatores que
impeçam a cura, as pesquisas têm encontrado poucas maneiras de acelerar o processo normal de reparo.
Entre as causas da cura prejudicada de uma ferida estão: desnutrição; fluxo sanguíneo e aporte de
oxigênio prejudicados; respostas inflamatórias e imunológicas impedidas; infecção, separação da ferida
e corpos estranhos; e efeitos da idade.
6.2.3.1 Desnutrição
Para que a cura ocorra, as feridas devem ter um fluxo sanguíneo adequado para suprir os nutrientes
necessários e remover refugos resultantes, toxinas locais, bactérias e outros resíduos. Um impedimento
à cura da ferida devido a um mau fluxo sanguíneo pode ocorrer como resultado das condições da ferida
(por exemplo, edema) ou problemas de saúde preexistentes. Doenças arteriais ou patologias venosas são
107
Unidade II
causas bem documentadas de impedimento à cura. Em situações de trauma, uma diminuição no volume
sanguíneo pode causar redução no fluxo sanguíneo para tecidos lesados.
O oxigênio molecular é necessário para a síntese de colágeno. Mostrou‑se que mesmo uma ausência
temporária de oxigênio pode resultar na formação de um colágeno menos estável. As feridas em um
tecido isquêmico tornam‑se infectadas mais frequentemente do que as tecidos bem vascularizados.
Macrófagos requerem oxigênio para a destruição de microrganismos que tenham invadido a área.
Embora essas células possam executar a fagocitose em um ambiente relativamente anóxico, elas não
podem digerir as bactérias.
A cura de feridas é prejudicada em pessoas com diabetes mellitus, principalmente aquelas que
têm níveis de glicose sanguínea mal controlados. Estudos mostraram cicatrização tardia de feridas,
malformação de colágeno e força tênsil ruim em animais diabéticos. Doenças em pequenos vasos
sanguíneos também são comuns em pessoas com diabetes, impedindo a liberação de células inflamatórias,
oxigênio e nutrientes para o local da ferida. A administração terapêutica de drogas corticosteroides
diminui o processo inflamatório e pode retardar o processo de cicatrização. Esses hormônios diminuem
a permeabilidade capilar durante os estágios iniciais da inflamação, prejudicam as propriedades
fagocíticas dos leucócitos e inibem a proliferação e a função dos fibroblastos.
A infecção de uma ferida é uma preocupação especial em pessoas com implantes de corpos estranhos,
como dispositivos ortopédicos (por exemplo, pinos, dispositivos de estabilização), marca‑passos e shunts.
Elas são difíceis de tratar e podem exigir a remoção do dispositivo.
108
PATOLOGIA
Os profissionais da saúde vêm tentando vários tipos de manipulação para facilitar e acelerar o
processo de cicatrização, especialmente nas feridas crônicas. Os equivalentes biológicos de pele,
formados por ceratinócitos proliferados in vitro, associados a componentes da MEC, são testados para
acelerar a reparação de feridas extensas ou de úlceras crônicas. O efeito acelerador na cicatrização está
relacionado ao fato de o enxerto possuir células vivas que produzem fatores de crescimento, favorecendo
a proliferação fibroblástica e vascular.
Métodos físicos são testados com base em observações experimentais, mas ainda com resultados
controversos em humanos. Experimentalmente, eletroestimulação direta com corrente alternada de
baixa frequência ou de alta voltagem aumenta a exsudação de leucócitos e acelera a síntese de matriz
e o fluxo de sangue no tecido cicatricial. A utilização de oxigênio hiperbárico é considerada útil no
tratamento de feridas infectadas, especialmente por microrganismos anaeróbicos ou com necrose
óssea. O método aumenta a oxigenação do sangue e a síntese de óxido nítrico, o que parece estimular a
formação do tecido cicatricial. Apesar de bons resultados experimentais, em humanos os benefícios são
questionáveis. Os raios laser de baixa energia e o ultrassom também têm sido considerados facilitadores
da cicatrização em modelos experimentais.
7 PIGMENTAÇÃO PATOLÓGICA
Pigmento (do latim pigmentum = corante, cor) é a designação dada a uma substância que tem cor
própria, e origem, composição química e significado biológico diversos. Os pigmentos encontram‑se
distribuídos na natureza, em células vegetais e animais, nas quais desempenham importantes funções
(por exemplo, clorofila, citocromos, melanina).
O principal pigmento biliar é a bilirrubina (Bb), um pigmento amarelo, produto final do catabolismo
da fração heme da hemoglobina e de outras hemoproteínas. Tradicionalmente, são duas as razões para a
109
Unidade II
atenção que os profissionais de saúde dispõem esse assunto. Primeiro, porque o aumento acentuado dos
níveis sanguíneos da Bb não conjugada, particularmente em recém‑nascidos, pode causar lesão cerebral
irreversível, morte e, em casos de sobrevida, sequelas neurológicas permanentes, condição chamada
kernicterus ou icterícia nuclear (do alemão kern = núcleo), porque a impregnação do tecido nervoso
pela Bb pode ser vista macroscopicamente em diversos núcleos cerebrais, cerebelares e do tronco
encefálico. Segundo, porque o conhecimento do metabolismo da Bb é essencial para o diagnóstico de
um grande número de doenças, hereditárias ou adquiridas, do fígado e do sangue. Distúrbios associados
ao aumento dessa produção ou ao defeito hepático na remoção do pigmento da circulação resultam
na elevação de seu nível no sangue (hiperbilirrubinemia) e em um sinal clínico muito importante, a
icterícia, que se caracteriza por deposição do pigmento na pele, na esclera e em mucosas. Além disso, o
aumento na excreção de Bb na bile por doenças hemolíticas crônicas favorece a formação de cálculos
pigmentares negros ou puros, constituídos, principalmente, por bilirrubinato de cálcio.
O ferro é vital para todos os seres vivos, pois participa de diversos processos metabólicos, como
transporte de oxigênio e de elétrons (hemoproteínas) e síntese de DNA (enzima ribonucleotídeo
redutase). Por sua participação em diversas funções celulares, é necessário um constante equilíbrio entre
absorção intestinal, transporte plasmático pela proteína transferrina, armazenamento nos hepatócitos
e macrófagos e utilização do metal (por exemplo, eritropoese). Quando há oferta excessiva de ferro, a
ferritina forma agregados conhecidos como hemossiderina. A sua deposição excessiva nos tecidos pode
ser localizada ou sistêmica. A primeira é encontrada em hemorragias.
7.2 Melanina
A melanina (do grego melas = negro) é um pigmento cuja cor varia do castanho ao negro, sendo
amplamente encontrada em peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos, bem como nas plantas.
A diversidade da cor observada na pele, nos cabelos e nos olhos dos seres humanos e na plumagem
das aves resulta, em grande parte, da distribuição de melanina nesses locais. As impressões visuais da
cor da pele são de grande importância nas interações individuais; além disso, a cor da pele tem sido
tradicionalmente utilizada para definir as diferentes etnias humanas.
fótons, convertendo rapidamente sua energia em calor. Existem dois tipos de melanina: a eumelanina,
insolúvel, de cor castanha a negra, com ação fotoprotetora e antioxidante; e a feomelanina, solúvel
em solução alcalina, de cor amarela a vermelha, igualmente com efeito antioxidante. A cor do cabelo
depende da proporção entre a eumelanina e a feomelanina.
Na epiderme humana, cada melanócito distribui a melanina sintetizada para cerca de 36 ceratinócitos
adjacentes. Nos ceratinócitos, os grânulos de melanina são transportados para a região acima do núcleo
onde absorvem os raios ultravioleta, impedindo que atinjam o núcleo e lesem o DNA.
Na epiderme humana, cada malanócito se diferencia e migra para as camadas mais superficiais
da epiderme, os melanossomos são digeridos por lisossomos, liberando a melanina, que é eliminada
com as células epiteliais descamadas. A transferência de melanina para os ceratinócitos da epiderme
e do folículo piloso é uma etapa fundamental, pois a pigmentação da pele e do cabelo é determinada
primariamente pela quantidade de pigmento transferido aos ceratinócitos.
Em pessoas de pele branca, não expostas ao sol, os melanossomos são encontrados quase
exclusivamente na camada basal da epiderme e, em menor grau, em ceratinócitos situados acima
dessa camada. Em indivíduos negros, quantidades moderadas de melanossomos são observadas em
toda a espessura da epiderme, inclusive na camada córnea. Além disso, nos negros há maior produção
de melanossomos por melanócitos; individualmente, seus melanossomos apresentam maior grau de
melanização; seus melanossomos são maiores; há dispersão maior dos melanossomos nos ceratinócitos;
e o índice de degradação dessas organelas é menor.
• Partículas de carbono inaladas podem ser aprisionadas pelos macrófagos dos pulmões e
transportadas por eles até linfonodos próximos.
8 NEOPLASIA
Neoplasia pode ser entendida como a lesão constituída pela proliferação celular anormal,
descontrolada e autônoma, em geral com perda ou redução da diferenciação celular, em consequência
de alterações nos genes que regulam crescimento e diferenciação. Nesse contexto, o que diferencia uma
neoplasia de displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia de proliferação. Quando ocorre em um
órgão sólido, o maior número de células de uma neoplasia forma um tumor.
Proliferação celular é o processo de aumento no número de células por divisão mitótica. Em tecidos
normais, é regulada de modo que o número de células em divisão ativa é equivalente ao número de
células mortas ou perdidas. Nos seres humanos, existem duas grandes categorias de células: os gametas
e as células somáticas. Os gametas (óvulo e espermatozoide) são células haploides, com apenas um
conjunto de cromossomos de um dos pais, e são projetados especificamente para a fusão sexual. Após
ela, é formada uma célula diploide contendo os dois conjuntos de cromossomos, a célula somática, que
passa a formar o resto do organismo. Em termos de proliferação celular, os duzentos diferentes tipos de
células que compõem o organismo podem ser divididos em três grandes grupos:
• Neurônios e células da musculatura esquelética e do músculo cardíaco, que são bem diferenciados
e raramente se dividem e se reproduzem.
112
PATOLOGIA
• Células‑tronco indiferenciadas, que podem ser acionadas para entrar no ciclo celular e na produção
de um grande número de células progenitoras se necessário.
As taxas de reprodução celular variam muito. Os leucócitos e as células que revestem o sistema
digestório vivem vários dias e devem ser substituídos constantemente. Na maior parte dos tecidos, a
taxa de reprodução de células é grandemente aumentada quando o tecido é danificado ou quando
ocorre perda tecidual. Um sangramento, por exemplo, estimula a reprodução das células formadoras
de sangue encontradas na medula óssea. Em alguns tipos de tecido, o programa genético de replicação
celular normal é suprimido, mas pode ser reativado em determinadas condições. O fígado, por exemplo,
tem uma extensa capacidade de regeneração sob certas condições.
É o processo pelo qual células em proliferação se tornam progressivamente tipos celulares mais
especializados. Esse processo resulta em uma célula totalmente diferenciada, adulta, que tem um
conjunto de características estruturais, funcionais e tempo de vida específicos. Por exemplo, a hemácia é
uma célula terminalmente diferenciada que foi programada para se transformar em um disco côncavo,
que funciona como um veículo para o transporte de oxigênio e vive cerca de três meses.
Os diversos tipos de células do organismo se originam de uma única célula, o óvulo fertilizado ou ovo.
À medida que as células embrionárias aumentam em número, envolvem‑se em um processo coordenado de
diferenciação necessário para o desenvolvimento de todos os órgãos do corpo. O processo de diferenciação
é regulado por uma combinação de processos internos, envolvendo a expressão de genes específicos e
estímulos externos fornecidos por células vizinhas, matriz extracelular, exposição a substâncias na
circulação materna e fatores de crescimento, citocinas, oxigênio e nutrientes. O que torna as células de
um órgão diferentes das células de outro órgão são os genes específicos que são expressos e o padrão
específico de expressão gênica. Embora todas as células tenham o mesmo conjunto de genes, apenas um
pequeno número é expresso na vida pós‑natal. Quando células, como as do embrião em desenvolvimento,
se diferenciam e dão origem a células diferenciadas de um tipo de tecido particular, os genes apropriados
são mantidos em um estado ativo, enquanto o restante permanece inativo.
Seguindo o progresso de cada etapa, o aumento na especialização é trocado por uma perda na
capacidade de desenvolver características celulares diferentes e tipos diferentes de células. À medida
que elas vão se tornando cada vez mais especializadas, os estímulos que são capazes de induzir a mitose
ficam mais limitados. Os neurônios, que são células altamente especializadas, perdem a capacidade de
se dividir e se reproduzir quando o desenvolvimento do sistema nervoso está completo. Mais importante
113
Unidade II
ainda, existem pouquíssimas células precursoras remanescentes para orientar sua substituição.
No entanto, uma quantidade apropriada desse tipo de células é gerada no embrião, de modo que a perda
de determinada porcentagem de células não afeta a sua população total e suas funções específicas.
Em alguns tecidos, como a pele e a mucosa que reveste o sistema digestório, um grau elevado de
renovação celular é mantido ao longo da vida. Mesmo nessas populações de células que se renovam
continuamente, as mais especializadas são incapazes de divisão. Essas populações dependem de
progenitores ou células‑mãe da mesma linhagem que ainda não tenham se diferenciado ao ponto
de perder a capacidade de se dividir.
Essas células são diferenciadas o suficiente de modo que as células‑filhas sejam limitadas à mesma
linhagem de células, mas não o suficiente para evitar a possibilidade de proliferação ativa. No entanto,
suas propriedades de renovação celular são restringidas por fatores de crescimento necessários para que
ocorra a divisão celular. Outro tipo de células, chamadas células‑tronco, permanece incompletamente
diferenciado ao longo da vida. As estaminais são as células de reserva que permanecem em repouso
até que exista a necessidade de reposição celular, caso em que se dividem, produzindo outras células
estaminais e células capazes de realizar as funções de uma célula diferenciada.
Quando uma célula‑tronco se divide, uma célula‑filha retém as características das estaminais e a
outra se torna uma célula progenitora, que passa pelo processo que resulta na diferenciação terminal.
A progênie de cada célula progenitora segue programas genéticos mais restritos, com as células de
diferenciação passando por várias divisões mitóticas durante o processo de transformar‑se em um
tipo maduro de célula e com cada geração tornando‑se mais especializada. Dessa maneira, uma única
célula‑tronco pode dar origem a muitas células necessárias para a reparação normal de tecidos ou
produção de células do sangue. Quando as células que se dividem se tornam totalmente diferenciadas,
a taxa de divisão mitótica é reduzida. No sistema imunológico, por exemplo, com o estímulo adequado,
os linfócitos B se tornam progressivamente mais diferenciados, à medida que passam por sucessivas
divisões mitóticas, até se tornarem células plasmáticas maduras, que já não podem se dividir, mas que
são capazes de secretar grandes quantidades de anticorpos.
massa celular interna do blastocisto do embrião. Dão origem às três camadas de células germinativas
embrionárias. Com o desenvolvimento, o embrião forma células‑tronco germinativas para reprodução
e células‑tronco somáticas para organogênese. Tanto as germinativas quanto as somáticas mantêm
a capacidade de autorrenovação. As células‑tronco adultas estão localizadas em microambientes
especializados, que diferem uns dos outros dependendo do tipo de tecido. Estas têm um papel
importante na homeostase, pois contribuem para a regeneração tecidual e a reposição de células
perdidas por morte celular.
Célula-tronco
Células-filhas
Células diferenciadas
A divisão de uma célula‑tronco com um potencial ilimitado para proliferação resulta em uma
célula‑filha, que mantém as suas características, e uma segunda célula‑filha, que se diferencia em
progenitoras (ou células‑mães), com potencial limitado para diferenciação e proliferação. À medida que
as células‑filhas da progenitora proliferam, tornam‑se mais diferenciadas até alcançarem um estágio
em que estão totalmente diferenciadas.
8.3 Nomenclatura
Na prática, as neoplasias são chamadas de tumores. O termo “tumor” é mais abrangente, pois
significa qualquer lesão expansiva ou intumescimento localizado, podendo ser causado por vários
outros processos patológicos (inflamações, hematomas etc.). Nesse caso, o termo será empregado como
sinônimo de neoplasia, ou seja, a lesão expansiva formada por proliferação celular.
As neoplasias geralmente recebem o nome por adição do sufixo ‑oma ao tipo de tecido
parenquimatoso a partir do qual se origina o crescimento. Desse modo, uma neoplasia benigna do
tecido epitelial glandular é chamada de adenoma, e uma neoplasia benigna do tecido ósseo é nomeada
de osteoma. O termo carcinoma é empregado para designar uma neoplasia maligna com origem no
tecido epitelial. No caso de uma neoplasia maligna do tecido epitelial glandular, o termo empregado
é adenocarcinoma. Neoplasias malignas de origem mesenquimal são chamadas sarcomas, por
exemplo, osteossarcoma. Papilomas são projeções digitiformes, benignas e de tamanho microscópico
ou macroscópico, que crescem em qualquer superfície. Um pólipo é um crescimento de tecido que
se projeta a partir de uma superfície mucosa, como a do intestino. Embora o termo geralmente
indique uma neoplasia benigna, algumas neoplasias malignas também podem surgir como pólipos.
Os adenomatosos são considerados precursores de adenocarcinomas do cólon.
Os tumores podem ser classificados de acordo com vários critérios: pelo comportamento clínico
(benignos ou malignos), pelo aspecto microscópico (critério histomorfológico) e pela origem da
neoplasia (critério histogenético). Nem sempre esses elementos são usados na denominação da lesão,
sendo comuns alguns epônimos, como tumor de Wilms, linfoma de Hodgkin, tumor de Burkitt etc.
Dos pontos de vista clínico, evolutivo e de comportamento, as neoplasias são divididas em duas
grandes categorias: benignas e malignas. As benignas geralmente não são letais nem causam sérios
transtornos para o hospedeiro, por isso, podem evoluir durante muito tempo e não colocam em
risco a vida de seu portador. As malignas, ao contrário, em geral têm crescimento rápido, e muitas
provocam perturbações homeostáticas graves que acabam levando o indivíduo a óbito. Na grande
maioria dos casos, as características macro e microscópicas das neoplasias permitem separá‑las em
benignas ou malignas.
São compostas de células bem diferenciadas que se assemelham às células dos tecidos de origem
e se caracterizam por crescimento lento e progressivo, que pode paralisar ou regredir. Por motivos
desconhecidos, as neoplasias benignas perderam a capacidade de suprimir o programa genético de
proliferação celular, mas mantiveram o programa normal de diferenciação celular. Elas crescem por
expansão e permanecem no local de origem, sem a capacidade de se infiltrar, invadir ou criar metástases
para locais distantes. Como se expandem lentamente, desenvolvem uma borda de tecido conjuntivo
comprimido denominada cápsula fibrosa, que é responsável pela linha nítida de demarcação entre a
neoplasia benigna e os tecidos adjacentes, um fator que facilita sua remoção cirúrgica.
Geralmente, neoplasias benignas são uma ameaça muito menor à saúde e ao bem‑estar do que
neoplasias malignas e não causam morte, a menos que venham a interferir nas funções vitais, devido
à sua localização anatômica. Por exemplo, uma neoplasia benigna que cresce na cavidade craniana
acaba provocando morte por compressão das estruturas cerebrais. Neoplasias benignas também podem
116
PATOLOGIA
causar distúrbios na função de estruturas adjacentes ou distantes, por meio de pressão sobre os tecidos,
vasos sanguíneos ou nervos. Algumas neoplasias benignas também são conhecidas por sua capacidade
de causar alterações na função orgânica devido à produção anormal de hormônios. Observe o quadro a
seguir, que compara neoplasias benignas e malignas.
Benignas Malignas
Taxa de crescimento Baixa Alta
Figuras de mitose Raras Frequentes
Grau de diferenciação Bem diferenciadas Desde bem diferenciadas até anaplásicas
Atipias celulares e arquiteturais Raras Frequentes
Degeneração/necrose Ausentes Presentes
Tipo de crescimento Expansivo Infiltrativo
Cápsula Presente Geralmente ausente
Limites da lesão Bem definidos Imprecisos
Efeitos locais e sistêmicos Geralmente inexpressivos Geralmente graves e às vezes letais
Recidiva Em geral ausente Presente
Metástase Ausentes Presentes
Apesar de muitas vezes não representarem grande problema para seus portadores, os tumores
benignos têm grande interesse prático por sua frequência e pelas consequências que podem gerar. Seja
por seu volume, seja por sua localização ou outras propriedades, tumores benignos podem causar vários
transtornos para o paciente (obstrução de órgãos ou estruturas ocas, com pressão de órgãos, produção
de substâncias em maior quantidade etc.), inclusive sua morte. Nesse sentido, o termo “benigno” deve
ser entendido com reservas.
As células das neoplasias benignas em geral são bem diferenciadas e podem até ser indistinguíveis
das células normais correspondentes. As atipias celulares e arquiteturais são discretas, ou seja, o tumor
reproduz bem o tecido que lhe deu origem. Como a taxa de divisão celular é pequena (baixo índice
mitótico), em geral, o tumor tem crescimento lento.
Nos tumores benignos, as células crescem unidas entre si, não infiltram os tecidos vizinhos e formam
uma massa geralmente esférica. Diz‑se que esse crescimento é expansivo e provoca compressão das
estruturas adjacentes, que podem sofrer hipotrofia. Com frequência, forma‑se uma cápsula fibrosa
em torno do tumor, resultante da compressão do estroma adjacente. Por isso mesmo, a neoplasia
fica mais ou menos bem delimitada e pode ser completamente removida por cirurgia. Em geral, os
tumores benignos não recidivam após ressecção cirúrgica. O crescimento lento do tumor permite o
desenvolvimento adequado de vasos sanguíneos, assegurando boa nutrição das células. Desse modo,
degenerações, necroses e hemorragias são pouco comuns. Por essa razão e pelo fato de não infiltrar
ou destruir os tecidos vizinhos, o tumor benigno não leva à ulceração. Além disso, não compromete a
nutrição do hospedeiro nem produz substâncias que podem produzir anemia ou caquexia.
117
Unidade II
Há exceções a essas regras. Apesar de bem delimitados, adenomas pleomórficos das glândulas salivares,
por exemplo, com frequência recidivam após cirurgia. Por outro lado, células de tumores benignos não
se disseminam espontaneamente, mas podem ser levadas a distância. Por traumatismos ou por grande
aumento da pressão intracavitária, cistadenomas papilíferos do ovário podem se romper e liberar células
ou papilas na cavidade peritoneal. Pelos movimentos das alças intestinais, essas células podem se espalhar
e se implantar na superfície da serosa, onde formam colônias tumorais secundárias.
Além disso, certos tumores histologicamente benignos podem ser fatais. É o caso de adenomas
secretores de substâncias importantes para a homeostase, que, quando em excesso, podem causar a
morte (tumores pancreáticos secretores de insulina podem levar à hipoglicemia fatal). Outro exemplo
de tumor biologicamente maligno é o de neoplasias localizadas em sedes vitais, como a cavidade
craniana. Mesmo com crescimento lento e sendo circunscritos e desprovidos de capacidade invasora,
certos gliomas situados profundamente no encéfalo são de difícil acesso cirúrgico e não podem ser
totalmente ressecados; quando atingem certo volume, podem interromper a circulação do liquor,
comprimir e deslocar estruturas nervosas vitais e, finalmente, levar o paciente à morte. Por tudo isso,
essas neoplasias não podem ser classificadas como benignas ou malignas apenas por seus aspectos
morfológicos; componentes da biologia da lesão, seu componente clínico e formas de evolução são
também muitas vezes indispensáveis para se rotular um tumor.
Neoplasias malignas, que invadem e destroem o tecido circundante e se propagam para outras
partes do corpo, tendem a crescer rapidamente e se disseminar; têm potencial para causar a morte.
Devido à sua rápida taxa de crescimento, as neoplasias malignas podem comprimir vasos sanguíneos e
comprometer o suprimento sanguíneo, causando isquemia e lesão tecidual.
Algumas doenças malignas podem secretar hormônios ou citocinas, liberar enzimas e toxinas ou
induzir uma resposta inflamatória prejudicial ao tecido normal, tanto quanto a própria neoplasia. Diversas
condições malignas secretam fator de crescimento endotelial vascular (VEGF, vascular endothelial growth
factor), que aumenta o suprimento sanguíneo para a neoplasia e facilita um crescimento mais rápido.
Existem dois tipos de VEGF: VEGF‑1, usado no desenvolvimento embrionário, mas também pode ser
encontrado em alguns tipos de metástases cancerígenas; VEGF‑2, o mais importante entre os receptores
associados a angiogênese patológica e linfangiogênese com neoplasias.
tratadas, de modo que a probabilidade de recorrência é pequena. Por exemplo, o carcinoma in situ do
colo do útero é essencialmente 100% curável.
Observação
Figura 47 – Carcinoma in situ: o colo do útero apresenta células neoplásicas escamosas que ocupam
todo o epitélio, embora confinadas à mucosa pela membrana basal intacta subjacente
119
Unidade II
Observação
Ao contrário de neoplasias benignas, que crescem por expansão e geralmente são encapsuladas, o
câncer se dissemina por invasão direta e extensão, semeadura de células cancerígenas em cavidades
orgânicas e metástase através de vasos sanguíneos ou linfáticos.
A maioria dos cânceres sintetiza e secreta enzimas que degradam proteínas e contribuem para infiltração,
invasão e penetração nos tecidos circundantes. A falta de uma linha de demarcação nítida que separe o
câncer do tecido circundante torna a retirada cirúrgica completa de uma neoplasia maligna muito complexa.
Muitas vezes, o cirurgião precisa retirar porções de tecido aparentemente normal, pois fazem fronteira com
a neoplasia para que o patologista possa estabelecer as margens livres de câncer em torno da neoplasia
removida e garantir que o tecido restante seja livre de câncer.
A semeadura de células cancerígenas em cavidades orgânicas ocorre quando uma neoplasia lança
células nesses espaços ocos. Na maioria das vezes, dá‑se o envolvimento da cavidade peritoneal, mas
outros espaços, como a cavidade pleural, a cavidade pericardial e espaços articulares também podem ser
comprometidos. A semeadura para a peritoneal é particularmente comum em casos de câncer de ovário.
De modo semelhante ao que se verifica na cultura de tecidos, as neoplasias nesses locais crescem em
massas e estão associadas ao acúmulo de líquido (por exemplo, ascite e derrame pleural).
A metástase ocorre através dos canais linfáticos (disseminação linfática) e vasos sanguíneos
(disseminação hematogênica). Em muitos tipos de câncer, a primeira evidência de doença disseminada é
120
PATOLOGIA
a existência de células neoplásicas nos linfonodos que drenam a área da neoplasia. Quando a metástase
ocorre através dos vasos linfáticos, as células neoplásicas se alojam inicialmente no primeiro linfonodo
que recebe a drenagem da área da neoplasia. Depois de instaladas nesse linfonodo, as células podem
morrer devido à falta de um ambiente adequado, ou crescer e se transformar em uma massa discernível,
ou permanecer adormecidas, por causas desconhecidas. Quando sobrevivem e crescem, as células
cancerígenas podem se disseminar a partir de linfonodos mais distantes para o ducto torácico e, desse
modo, ter acesso à vasculatura.
O termo linfonodo sentinela é empregado para descrever o primeiro linfonodo que recebe a
drenagem da neoplasia primária. Como a metástase inicial no câncer de mama é quase sempre
linfática, a disseminação linfática e, portanto, a expansão da doença pode ser determinada por meio
do mapeamento linfático e da biópsia do linfonodo sentinela. Isso é feito pela injeção de um marcador
radioativo e/ou corante azul na neoplasia, para determinar qual é o primeiro linfonodo no percurso
de drenagem linfática do câncer. Uma vez identificado o linfonodo sentinela, ele é examinado para
determinar se há ou não células cancerígenas. O procedimento também é utilizado para mapear a
propagação de melanoma e outros tipos de câncer que têm disseminação metastática inicial através do
sistema linfático.
Nos casos em que ocorre disseminação hematológica, as células cancerígenas transmitidas pelo
sangue podem entrar no fluxo venoso que drena o local da neoplasia primária. As células cancerígenas
também podem penetrar os vasos sanguíneos associados à neoplasia, se infiltrando nela ou sendo
encontrados em sua periferia. Antes de entrar na circulação geral, o sangue venoso proveniente de
sistema digestório, pâncreas e baço é encaminhado através da veia porta para o fígado. Portanto, o
fígado é um local comum para metástase de cânceres que se originam nesses órgãos.
Outros órgãos considerados locais preferenciais para metástases contêm citocinas e fatores de
crescimento específicos, além de outras características microambientais que facilitam a sobrevivência e
o crescimento da neoplasia metastática. A natureza seletiva da disseminação hematológica indica que a
metástase é um processo minuciosamente orquestrado, que inclui várias etapas e apenas um pequeno
clone de células selecionadas de câncer tem a combinação certa de produtos genéticos para executar
todos os passos necessários para o estabelecimento de uma neoplasia secundária.
Para formar metástases, uma célula neoplásica deve ser capaz de se separar da neoplasia primária,
invadir a matriz extracelular circundante, ter acesso a um vaso sanguíneo, sobreviver à sua passagem
pela corrente sanguínea e emergir em um local favorável, invadir o tecido circundante, começar a
crescer e estabelecer suprimento sanguíneo.
121
Unidade II
Liberação de enzimas
proteolíticas
Figura 48 – Mecanismos de metástase neoplásica: etapas pelas quais uma neoplasia maligna penetra
a membrana basal e invade o ambiente extracelular; primeiramente, ela adquire a capacidade de se
ligar aos componentes da matriz extracelular; diversas moléculas de adesão fazem a mediação
dessa ligação, em seguida, são liberadas enzimas proteolíticas das células neoplásicas, e a matriz
extracelular sofre degradação; o câncer invasor se move através do meio extracelular e, em
seguida, penetra nos vasos sanguíneos e linfáticos pelos mesmos mecanismos
O câncer tem uma base genética. As propriedades que apoiam essa conclusão incluem:
• Predisposição genética.
122
PATOLOGIA
para a transformação de uma célula normal em célula maligna, e esse processo de várias etapas
pode ocorrer durante um período de anos. Três classes principais de genes sofrem mutação em
diferentes cânceres:
• Genes de reparação de não equivalência de DNA que mantêm a fidelidade da replicação do DNA.
A discussão anterior sobre oncogenes descreve a geração de caracteres malignos por meio da
ativação de genes que promovem o crescimento celular. No entanto, a malignidade também pode
decorrer da inativação de genes que normalmente suprimem ou que regulam negativamente
o crescimento celular, chamados de genes supressores de tumor. Dois desses são os genes do
retinoblastoma (Rb). O retinoblastoma é um raro câncer intraocular da infância atribuído à inativação
do gene Rb. Cerca de 40% dos casos estão associados a uma mutação na linhagem germinativa
(retinoblastoma hereditário).
8.7.1 Graduação
A graduação citológica e histológica tem por base o grau de anaplasia e o número de células em
proliferação. Os esquemas de graduação classificam os tumores em três ou quatro graus. Os tumores
de grau baixo são bem diferenciados, e os de grau alto são anaplásicos. A correlação geral entre grau e
comportamento biológico não é invariável.
123
Unidade II
8.7.2 Estadiamento
De acordo com estatísticas disponíveis, o câncer afeta parcela expressiva da população mundial
e é uma das principais causas de morte. Apesar do declínio do número de óbitos para alguns tipos
da doença (linfomas, certas neoplasias da infância etc.), a taxa de mortalidade global por câncer tem
aumentado nas últimas décadas.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2017), cerca de
8,8 milhões de pessoas morrem anualmente por câncer em todo o mundo. Dado o impacto que tudo
isso tem na população, é muito natural que sejam enormes os esforços para encontrar formas mais
eficazes de enfrentar a doença. As frentes mais importantes nessa batalha são o aprimoramento do
diagnóstico (a detecção precoce permite maior chance de controle da doença), novas modalidades
de tratamento (procedimentos menos agressivos e dirigidos essencialmente às células malignas) e
medidas preventivas aplicáveis à população (para cuja adoção é essencial conhecer as causas e os
mecanismos de aparecimento do câncer). Nas últimas três décadas, houve formidável progresso no
conhecimento e na abordagem dessa doença, graças, em boa parte, aos grandes investimentos feitos
por muitos países em pesquisa básica e aplicada em oncologia.
Saiba mais
124
PATOLOGIA
Resumo
125
Unidade II
126
PATOLOGIA
127
Unidade II
Exercícios
Questão 1. (EBSERH 2013) A neoplasia é uma massa anormal de tecido cujo crescimento excede
aquele dos tecidos normais e não está coordenada com ele, persistindo da mesma maneira excessiva após
o término do estímulo que induziu a alteração. De acordo com algumas características morfológicas, é
possível diferenciar um tumor maligno de um benigno. Sobre tais características, analise as afirmativas
e assinale a alternativa correta.
I – Uma célula cancerígena, quando sofre um processo de diferenciação, dizemos que ela se tornou
diferente da célula de origem do tecido, assim esta é classificada como maligna.
II – A célula tumoral, quando apresenta um crescimento mais lento, dizemos que apresenta uma
característica benigna, enquanto o contrário é uma característica do tumor maligno.
III – Nos tumores, é possível distinguir o parênquima (constituído por células neoplásicas) e o estroma
(tecido de sustentação), assim um tumor que tem um crescimento lento faz com que seu estroma seja
mais espesso, o que consequentemente não terá invasão local.
IV – A partir do momento que uma célula tem a capacidade de invasão local, esta terá a propensão
à metástase para outros tecidos e órgãos, o que é uma característica de um tumor maligno.
I – Afirmativa incorreta.
128
PATOLOGIA
Figura 49
II – Afirmativa correta.
Justificativa: os tumores benignos possuem estroma e uma rede vascular adequada e, por isso,
raramente apresentam necrose e hemorragia. Os tumores malignos apresentam uma desproporção
entre o parênquima tumoral e o estroma vascularizado, gerando necrose ou hemorragia.
IV – Afirmativa correta.
129
Unidade II
Questão 2. (EsFECx 2009, adaptada) Sobre o processo inflamatório agudo, analise as afirmativas e,
a seguir, assinale a alternativa que apresenta as corretas.
IV – Os radicais livres de oxigênio são benéficos ao processo por destruir bactérias e prolongar
a inflamação.
São corretas:
A) II e IV, apenas.
B) I e III, apenas.
C) I e II, apenas.
D) II e III, apenas.
130
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 233.
Figura 2
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 233.
Figura 3
A) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 26.
B) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 26.
Figura 4
A) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 29.
B) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 29.
Figura 5
RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 4.
Figura 6
REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 23.
Figura 7
RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 607.
Figura 8
A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 238.
B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 238.
C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 238.
131
Figura 9
REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 22.
Figura 10
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 106.
Figura 11
REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 34.
Figura 12
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 1.247.
Figura 13
REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 39.
Figura 14
REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 40.
Figura 15
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 110.
Figura 16
A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.
B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.
C) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.
D) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 109.
132
Figura 17
REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 41.
Figura 18
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 221.
Figura 19
A) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 49.
B) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 49.
C) REISNER, H. M. Patologia. Uma abordagem por estudos de casos. Porto Alegre: McGraw, 2016. p. 49.
Figura 20
A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 222.
B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. p. 222.
Figura 21
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 203.
Figura 22
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 165.
Figura 23
A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 166.
B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 166.
Figura 24
A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. p. 211.
B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 211.
C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 211.
D) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 211.
133
Figura 25
A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 213.
B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 213.
C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 213.
Figura 26
A) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 170.
B) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 170.
C) BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 170.
Figura 27
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 226.
Figura 28
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 227.
Figura 29
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 425.
Figura 30
A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.
B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.
C) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.
D) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 427.
134
Figura 31
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 428.
Figura 32
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 429.
Figura 33
BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. p. 65.
Figura 34
A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 393.
B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 393.
Figura 35
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 394.
Figura 36
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 394.
Figura 37
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. p. 311.
Figura 38
A) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 320.
B) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 320.
C) GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2015. p. 320.
135
Figura 39
RUBIN, R.; STRAYER, D. S.; RUBIN, E. Rubin’s pathology: clinicopathologic foundations of medicine.
6. ed. Philadelphia, PA: Lippincott‑Raven, 2012. p. 81.
Figura 40
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 406.
Figura 41
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 406.
Figura 42
GROSSMAN, S. C.; PORTH, C. M. Porth: Fisiopatologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015.
p. 406.
Figura 43
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Figura 47
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Exercícios
Unidade I – Questão 1: FUNDAÇÃO MARIANA RESENDE COSTA (Fumarc). Concurso Público Polícia de
Minas Gerais (Acadepol MG) 2013: Médico legista. Questão 50.
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