Você está na página 1de 27

O paraíso perdido: O confronto

Rev. Fábio Henrique do Nascimento Costa

Introdução

Com um poder irresistível, o desejo toma o


domínio da carne. Não faz diferença se é desejo
sexual, ambição, vaidade, desejo de vingança,
amor à fama e poder, ou cobiça por dinheiro. A
satisfação em Deus é extinta em nós, e
buscamos toda a nossa satisfação no nosso
próprio EU. No exato momento em que isso
acontece Deus é bastante irreal para nós, ele
perde toda a primazia para o nosso coração, e
somente o desejo pela SATISFAÇÃO
CENTRADA NO EU é real. Satanás não nos
enche de ódio de Deus, mas de
esquecimento de Deus. A luxúria
despertada envolve a mente e a vontade do
homem na mais profunda escuridão. O poder
de discernimento, decisão são amordaçados e
levados sob sequestro por nós mesmos.

As perguntas que deveriam ser feitas nesse


exato momento como: "O que estou sentindo
não é apenas desejo da carne?" "Isso realmente
é permitido? não – então o que posso fazer para
arrefecer o desejo da carne neste exato
momento?". É dessa forma que tudo dentro de
mim se levanta contra a Palavra de Deus.

Isto é precisamente o que aconteceu com Eva na


sua interpretação da Palavra de Deus no diálogo
com a serpente. Ela primeiro minimizou a
liberdade que Deus lhes dera para comer das
árvores do jardim, depois acrescentou rigor no
que Deus exigiu na sua palavra, e finalmente
abrandou sua palavra em relação à certeza da
morte, caso eles pecassem. O revisionismo de
Eva a deixou aberta para acreditar na mentira
de Satanás contra toda a sua experiência da
bondade de Deus. Assim, ela se levantou contra
a sua palavra, pegou o fruto e comeu, e a deu ao
marido. A transgressão do marido da palavra de
Deus teve maior culpabilidade porque: 1) a
palavra de Deus tinha sido dada diretamente a
ele antes da criação de Eva Então, vendo que ela
não morreu, ele comeu. Adão não foi enganado,
como Eva (cf. 1 Timóteo 2:14). Sua rebelião foi
uma rejeição informada, de olhos bem abertos
contra Deus e sua palavra.
Elucidação

Paraíso Perdido! A nudez inocente que


acompanhava seu caráter perfeitamente
transparente e sua harmonia irrestrita com
Deus e uns com os outros fora dissolvida. "
Abriram-se, então, os olhos de ambos; e,
percebendo que estavam nus, coseram folhas de
figueira e fizeram cintas para si." (v. 7).

 Adão e Eva, de fato, morreram ali mesmo na


árvore do conhecimento do bem e do mal,
enquanto o sabor do fruto ainda estava em seus
lábios. "Na Bíblia, a morte é o reverso da vida -
não é o reverso da existência. Morrer não
significa deixar de existir, mas em termos
bíblicos significa" cortada da terra dos vivos. É
uma existência diminuída, mas, mesmo assim,
uma existência. Como a morte é existente, a
existência de Adão e Eva era agora uma das
mortes. E não apenas isso - o pecado
imediatamente penetrou em todas as esferas do
seu ser, como uma gota de tinta em um balde de
água. Eles eram absolutamente pecaminosos.

Paulo provavelmente estava pensando em


Gênesis 2:17 ("você certamente morrerá")
quando escreveu Romanos 6:23: "Porque o
salário do pecado é a morte". E ele certamente
tinha em mente este exemplo quando escreveu:
"Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porque todos pecaram." (Romanos
5:12). A afirmação de Paulo de que "todos
pecaram" descreve uma ação que foi concluída
no tempo passado. Nós "todos pecamos" em
Adão quando Adão pecou. E por causa disso nós
também morremos, como também visto nas
palavras de Paulo em outro lugar: "Ele vos deu
vida, estando vós mortos nos vossos delitos e
pecados, nos quais andastes outrora, segundo o
curso deste mundo, segundo o príncipe da
potestade do ar, do espírito que agora atua nos
filhos da desobediência;"(Efésios 2: 1, 2). Nós
também entramos no mundo dos mortos e
depravados, já que o pecado atinge cada parte
de nossa existência, de modo que nos
escondemos de Deus ao invés de buscá-lo (cf.
Romanos 3: 9-18).

Em um instante, o casal original passou da vida


para a morte, da impecabilidade para o pecado,
da harmonia para a alienação, da confiança
para a desconfiança, do conforto para o
desconforto. Não demorou um dia. Aconteceu
em um milésimo de segundo!

Adão e Eva, como nossos pais, eram genética,


historicamente e teologicamente representantes
de todo homem e toda mulher. Eles são
paradigmas de todos nós - não apenas em seu
pecado original, mas porque a maneira como
eles tentaram lidar com seus pecados é o padrão
com o qual temos de lidar com isso hoje. E o
modo como Deus lidou com Adão e Eva é o
modo como ele lida conosco.

Então estava lá o primeiro casal, em suas


ridículas folhas de figueira, vagando pelo
paraíso perdido. Deus então os confrontou
corretivamente de maneira graciosamente
gentil e. E em seu confronto, vemos nosso
confronto.

Tema: O paraíso perdido: O confronto

Desenvolvimento

A busca de Deus ao homem escondido


(vv. 8-10)

Deus Busca o homem. Embora Deus esteja


em toda parte presente na criação, o jardim do
Éden era o lugar especial da presença de Deus
na Terra, assim como o tabernáculo e o templo
posteriormente seriam. No Éden estava o
jardim que Deus se fazia presente, e o jardim do
Éden foi profético e será finalmente cumprido
em um novo e ETERNO jardim onde Deus
habita (cf. Apocalipse 22:15). Aqui nos escritos
de Moisés a associação jardim-tabernáculo (e
por implicação no templo) é especialmente
evidente no fato de que quando Adão e Eva
foram expulsos do jardim, querubins foram
colocados em sua entrada para impedir seu
acesso (3:24), e no tabernáculo, estátuas de
querubins foram colocadas de cada lado da arca
no santo dos santos. Significativamente, a
função dos querubins como guardiões do
santuário divino reaparece no santo dos santos
do templo de Jerusalém.

E porque Deus estava presente no jardim, não


devemos imaginar que a linha de abertura: "
Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que
andava no jardim pela viração do dia" (v. 8a),
indica que Deus veio até o jardim. Ele já estava
lá. Era o seu palácio terreno, o templo do
jardim. O que o casal ouviu foi "o farfalhar do
passo de Deus" (Von Rad). Era o som sagrado
que eles tinham ouvido antes e que os enchia de
alegria, mas agora trouxera pavor.

Adão e Eva se escondem de Deus. "


esconderam-se da presença do SENHOR Deus,
o homem e sua mulher, por entre as árvores do
jardim." (v. 8b). Ao ouvir os passos de Deus,
eles perceberam que as folhas de figueira não
eram suficientes, e se agacharam entre as
árvores da criação de Deus. Que ilusão patética
para qualquer um imaginar que é possível se
esconder de Deus. O salmista pergunta:

Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para


onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá
estás; se faço a minha cama no mais profundo
abismo, lá estás também; (139: 7, 8)

Todos nós sabemos disso, mas quando


desobedecemos naturalmente sucumbimos à
loucura de Jonas e pulamos os navios de Társis
"para fugir ... da presença do SENHOR" (Jonas
1: 3). A descrença gera a ilusão ontológica de
que podemos estar onde Deus não está. E mais,
pensamos que podemos privar nossos
pensamentos, negando o fato de que " Sabes
quando me assento e quando me levanto;
de longe penetras os meus pensamentos."
(Salmos 139: 2). O pecado traz a ocultação e
suas múltiplas consequências. Mesmo como
cristãos, podemos nos tornar dominados pela
ilusão de que podemos nos esconder de Deus.

Quão patético Adão e Eva foram por imaginar


que poderiam de fato se esconder da "face"
("presença", v. 8) de Deus. A qual eles
contemplavam diariamente, e cujo rosto todos
os crentes verão no novo jardim eterno, onde
"contemplarão a sua face, e na sua fronte está o
nome dele."(Apocalipse 22: 4). O paraíso estava
perdido!

Deus vai ao encontro de Adão e Eva. Deus


procurou - eles se esconderam - e Deus os
encontrou. "E chamou o SENHOR Deus ao
homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele
respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque
estava nu, tive medo, e me escondi."(vv. 9, 10).
Deus os chama Adão "Onde você está?" Foi
curativo, como a pergunta de um pai para uma
criança travessa se escondendo atrás de uma
porta para evitar que o encontre. O "onde
você está?" é mais ou menos a seguinte
pergunta "por que você está aí? Onde você
deveria estar? Saia e fale comigo!" Então Adão,
percebendo que Deus o havia encontrado,
levantou-se do seu esconderijo, envergonhado,
usando suas ridículas folhas de figueira,
tramando sua resposta. E sua esposa se
levantou lentamente atrás dele. Deus tirou Adão
do esconderijo ao invés de expulsá-lo de sua
presença. A questão inicial não foi uma
acusação como "onde você está se escondendo?"
mas simplesmente "onde você está?" Não havia
indício de acusação. Deus cutucou Adão para
que recuperasse os sentidos. O processo foi
agraciado.

Observe que a resposta de Adão não continha


admissão de transgressão. Ele apenas disse: " e,
porque estava nu, tive medo, e me escondi.". É
evidente que naquele momento ele
estava mais consciente de sua nudez e
vergonha do que de seu pecado contra
Deus. Adão passara por uma mudança
profunda, mas tudo o que pôde fazer foi
expressar seu medo e vergonha. A única
coisa que Adão realmente confessou foi um
sentimento - medo. É claro que ele sabia que
havia quebrado o mandamento de Deus, mas
em seu novo estado de autocontenção ele estava
mais preocupado com o que sentia do que com
seu pecado contra Deus.

Este ato de Deus em nos procurar continua


sendo parte integrante de nossa condição caída.
Ninguém procura a Deus; cada um foge de Deus
(não há quem busque a Deus; Rm 3:11). Mesmo
a aparente busca do homem caído não está
atrás de Deus, mas do deus idólatra de sua
própria criação. Medo, vergonha, e fuga são as
marcas incuráveis da queda. Nós só os
percebemos quando Deus nos pergunta:
"Onde você está?"

Talvez Deus esteja chamando você do seu


esconderijo - "Saia do seu esconderijo, da sua
autocensura, da sua prisão, do seu segredo, do
seu próprio tormento, do seu remorso".

DESCULPAS DE FURTIVAS (vv. 11-13)

Como veremos, Deus se dirigiu primeiramente


ao homem, depois à mulher, e por último à
cobra na sequência da responsabilidade que
cabia a cada um. Adão teve a
responsabilidade primária. Tendo
começado gentilmente, Deus então confrontou
com duas perguntas. Primeiro: "Quem te fez
saber que estavas nu?" (v. 11a). Foi a serpente?
Foi a mulher? Foi um relance em uma piscina?
Alguém ou algo lhe disse que ele estava nu.
Então veio uma segunda pergunta: "Comeste
da árvore de que te ordenei que não comesses?"
(v. 11b). O questionamento foi como uma flecha
certeira.

Desculpa de Adão. Satanás deu origem a


mentira, uma grande mentira, quando tentou
Eva. Mas aqui Adão contou uma mentira das
mais vergonhosas: "A mulher que me deste por
esposa, ela me deu da árvore, e eu comi." (v.
12). Estas são as palavras de um homem
espiritualmente morto. Isto foi algo
tenebroso! Lembre-se do êxtase de Adão
quando ele colocou os olhos em Eva?

Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da


minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do
varão foi tomada. (2:23)

Estas foram as primeiras palavras humanas


registradas nas Escrituras e a primeira e mais
bela poesia. Ela era ao mesmo tempo sua irmã,
sua filha e sua esposa. Uma perfeita auxiliadora
– uma profunda intimidade – e uma íntima
fusão - tal alegria. Ela era o seu universo. Mas
agora - "ela me deu o fruto da árvore e eu comi".
Que traição infame! "É culpa dela, Deus. Não
me culpe." Adão era frio e calculista.

Adão viveria por quase 930 anos mais e teria


muitos anos pra compartilhar de
companheirismo, mas a comunhão fora
quebrada. O paraíso estava perdido!

Mas a culpa não fora atribuída apenas a Eva,


porque Adão também acusou Deus: "A mulher
que me deste por esposa, ela deu ...". "Deus,
você que de deu essa mulher perigosa como
auxiliadora. Eu não sou culpado, Deus. Você é
culpado!" Ao fazer isso, Adão era como
Satanás, que argumentou que um Deus bom
não faria isso. Aqui Adão sugeriu que um Deus
verdadeiramente bom não lhe teria dado Eva.
Blasfêmia implícita. E a desculpa de Eva
seguiu o padrão da transferência de culpa de
Adão - "A serpente me enganou e eu comi".
Ainda assim ela, como Adão, não aceitou a
culpa. Observe, neste ponto, que nem Adão nem
Eva mostraram uma pitada de arrependimento.

Circunstâncias. Às vezes culpamos Deus por nos


colocar em circunstâncias que consideramos
demais para nós. Alguns estudantes trapaceiam,
racionalizando que Deus é culpado por dar a
eles um professor difícil e uma agenda lotada.
Alguns ladrões roubam, culpando a vida e Deus
por roubar. Por que você permitiu isso?"
Considere o homem adúltero que culpa a Deus
pelos circunstâncias que levaram ao seu pecado
- sua depressão, sua pobre auto-imagem, aquela
mulher, o lugar distante, sua solidão.

Disposição. A ilusão mais comum é que "Deus


me deu paixões e apetites tão fortes que só
posso ceder a eles".

"São meus hormônios dados por Deus. Minhas


paixões, meus apetites, meus gostos
requintados, minha inteligência, minhas
inclinações, minhas inseguranças, minha
experiência, minha energia - estas
circunstâncias juntas me deixam sujeitas a
pecados que mal tentam os outros. Deus me fez
assim, então o que eu posso fazer?" Esse
pensamento é sujo demais.
Vítima. Se você ler o pecado de Adão através
das lentes do mundo de hoje, verá a linguagem
da vitimização - Adão como a pobre vítima da
mulher e de Deus que a deu a ele. A versão
moderna é assim: "Deus, você é responsável
pela minha situação que me deixou tão
suscetível ao pecado - minha educação, meu
abuso, meus pais que são débeis no
ensinamento". E isso está na nossa cultura de
desculpas terapêuticas, como a dos irmãos
Menendez, que assassinaram seus pais e
pediram misericórdia ao tribunal, alegando que
eram órfãos! Dado esse pensamento, somente
Deus é responsável pelo pecado - se existe um
Deus.
Mas, de acordo com as Escrituras, ninguém de
Adão até o último homem na terra jamais
conseguirá passar a bola. Ouça a Tiago, o irmão
do Senhor: " Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou
tentado por Deus; porque Deus não pode ser
tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta."
(Tiago 1:13). As distorções perversas de poetas,
escritores, analistas, advogados e pregadores
não se sustentam. A tentativa patética de Adão,
não importa o quão enganosamente for
reformulada por nós, não será suficiente como
desculpas. Nunca devemos dizer, ou imaginar,
que Deus está nos tentando.

 A realidade de Gênesis e a realidade do Novo


Testamento é esta: " Ao contrário, cada um é
tentado pela sua própria cobiça, quando esta o
atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver
concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma
vez consumado, gera a morte.". (Tiago 1:14, 15).
Nós não podemos culpar a Deus. Não podemos
culpar ninguém. E não podemos culpar o diabo.

Aplicação

Então, o que fazer como filhos e filhas de Adão,


uma vez que compartilhamos essa natureza
caída, e somos pecadores e totalmente
responsáveis pelos nossos atos? Qual é a
resposta?

Posso sugerir que, em certo sentido, devemos


culpar a Jesus! Ou, mais precisamente,
devemos descansar toda a nossa culpa nele.
Como assim? Paulo explica: " Se, pela ofensa de
um e por meio de um só, reinou a morte, muito
mais os que recebem a abundância da graça e o
dom da justiça reinarão em vida por meio de
um só, a saber, Jesus Cristo."(Rm 5:17). Nosso
segundo Adão foi o único homem na história
que nunca tentou transferir a responsabilidade,
porque, como homem e sem pecado, ele nunca
precisou transferir a responsabilidade dos
pecados de outrem. Antes, como segundo Adão
o Deus-homem sem pecado, nossos Messias e
Salvador, ele disse: "Transfiram a culpa para
mim". O escrito de dívida que tinha sobre nós, a
culpa e o pecado imputado em nós foi
transferido totalmente para Cristo.
Nós vemos isso tão claramente nas três cruzes
do Calvário. Jesus inocente estava entre dois
ladrões condenáveis. Cristo pendurado como
inocente entre os culpados. Mas naquela colina
um milagre aconteceu. Um dos ladrões parou
de xingar e começou a ouvir. E antes de morrer,
declarou Jesus como inocente, dizendo: " Nós,
na verdade, com justiça, porque recebemos o
castigo que os nossos atos merecem; mas este
nenhum mal fez. E acrescentou: Jesus, lembra-
te de mim quando vieres no teu reino." (Lucas
23: 41-42).

Durante a escuridão do Calvário que se seguiu,


os pecados daquele homem culpado foram
tirados dele e colocados em Jesus. Sua culpa
parou quando descansou em Jesus. A
transferência da nossa culpa esbarrou em Jesus,
o segundo Adão.

Conclusão

Você também pode gostar