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ABIKU X ABIAXÉ

ÀBIÀSE (Wilson D´Ògún - Babá Túàlágenã)

Nos dias atuais houve-se muito falar sobre Àbiàse e Àbíku, contudo uma grande maioria dos
comentários feitos, são tratados por pessoas menos esclarecidas e o assunto é um tanto como sendo
tabu, ocorrendo assim uma grande controvérsia. Em se tratando de Àbiàse sabemos que são as
crianças nascidas com a missão espiritual já determinada na terra, tendo sim como punição à morte por
não cumprir o determinado (nada haver com pessoas feitas no Santo), esta situação somente ocorre
quando a mãe entra para dar obrigação e esta gerando um filho, em conseqüência este filho nascera
com o Àse recebido pela mãe, contudo o Òrìsà da criança nascida ao tem obrigatoriedade de ser o
mesmo da mãe. A criança nascida nessa situação passara pelos preceitos do Ìgbáorí, sendo os demais
Òrìsàs de seu enredo assentados com obrigações de ano, Èsù, deverá ser assentado normalmente
antes do Òrìsà. O Àbiàse é da nação Yorubá, do Àtúnwa (reencarnação). Ao morrer um membro da
família, este pode reencarnar ou passar sua energia (Àse) para uma criança que esta sendo gerada.
Àse que o morto obteve quando se encontrava entre os vivos e recebeu quando de sua feitura (o
falecido era feito no Santo). Partimos do principio que pode-se dar o que se tem, ou seja como alguém
pode dar Àse de Òrìsà se não recebeu. O Àbiàse é incapaz de fugir de seu Odú (destino). Ele(a) não
precisa para ser iniciado de um ritual complexo, apenas de um ritual de confirmação do Ìgbáorí, esta
confirmação feita por um Zelador que possua 07 ou mais anos de feito com obrigações feitas. Nos casos
dos Àbiàse não podemos nos esquecer do período que compreende 07 ou 09 dias quando é definido o
nome do recém-nascido e a ordem do Ìkomojadé, bem como dentro do espaço de três meses onde
iremos ver a linhagem paterna ou materna em relação a criança. Este ritual é chamado de Mimò orí
omo. Outro

Atenciosamente;

Olumaki Ogunrìndé

Muito interessante esta abordagem. Confesso que não a conhecia!


Mas no início da mensagem o irmão se referiu também a abìkú.

Gostaria de saber se é a mesma coisa ou, se for diferente, do que se trata o abìkú.

Ogbebara.

.............................................

Conhecia sim, irmão. Apenas achei que a forma como abordou o tema é diferente de tudo o que
eu havia ouvido falar.

O que gostaria de ver discutido, de forma mais aprofundada, é a relação entre abiase a abiku.

Que tal nos brindar com um generoso esclarecimento comparativo entre os dois termos?

Ogbebara.

Olá Manos,

Este é um tema que também já foi abordado, profundamente, na OBI ou no CECAA. A estranheza
de Ogbebara é inteiramente procedente, em face da interpretação que o autor do escrito que nos
foi repassado por Olumaki apresenta, igualando ou misturando Abiasé com Abikú.

Ora, essas palavras significam: Abiasé = nascido do ou para o Asé, enquanto que Abikú =
nascido para morrer ou da morte. Como se observa, são inteiramente opostos, vida e morte. Um
nada tem a ver com outro, nenhuma relação e não são temas tabús. São conceitos iorubanos que
tiveram ao longo do tempo, particularmente o de Abikú, entendimentos diversos, fruto da falta de
maior cultura por alguns de nossos irmãos.
Abikús são espíritos que têm por missão ou atributo básico o pouco tempo de permanência no
Ayé. Podem ou são identificados logo após o nascimento, em jogo específico, e, nesse caso,
existem rituais que procuram evitar que o Abikú cumpra sua função primeva e permaneça
normalmente na terra. Têm ligação com Ibejis e Hohos, porquanto são considerados espíritos
infantis.

Por seu turno, o termo Abiasé, indica a pessoa iniciada no útero materno. Ou seja, a mãe da
criança em gestação estava sendo iniciada e, quando isto acontece, o nascituro também o é.
Todos os rituais possíveis são realizados e essa feitura é complementada a posteriori. Isto é um
Abiasé.

O conceito de Atúnwá, que significa reencarnação, é procedente. Observe-se que o conceito de


reencarnação iorubano possui uma peculiaridade, frente ao conceito espírita a que estamos
acostumados. Os iorubanos acreditam que a reencarnação sempre ocorre dentro da família.
Logicamente, é possível que este espírito reencarnado tenha sido o de um ancestral iniciado,
porém isto não o transforma em um Abiasé, a não ser que sua mãe estivesse sendo iniciada
durante a concepção. Mesmo porque, dentro da ritualística iorubana, o jogo para identificar se a
criança é um Abikú ou a reencarnação de um antepassado da família se realiza após o
nascimento, quando então, em face dos resultados do merindilogun, se dá o nome da criança. No
Candomblé, a passagem de um Kpoli de um ancestral para um nascituro é apontado como
herança de santo e, muitas vezes, o Santo de herança sobrepõe-se ao da pessoa.

Como se vê, são situações distintas que nada têm em comum. As interpretações diferenciadas,
como a que nos foi apresentada, são, pode-se afirmar, decorrentes de má compreensão do
assunto.

Ibeji fun wá ó!

Gún Kpò

Alááfia Obanisé,
Que bom tê-lo de volta às lides dos simples mortais, agora fortalecido por suas obrigações. Que
Sangó lhe garanta muita vida e dinâmica. Iná é !

É muito comum, principalmente em nossas cabeças de velho, cansadas e com pouca


recuperação dos neurônios gastos, confundirmos termos e palavras que saem aleatoriamente de
nossas bocas e pensamentos, por verossimilhança com outros, como é o caso de Abiasé e
Abikú. Às vezes queremos nos referir a uma e falamos outras. Com certeza foi o que ocorreu
com Mãe Menininha. Que Osún a mantenha no Orun, pois o Ayé está terrrível.

Um grande abraço em todos.

Iré, Iré ó !

Gún Kpò

Kolofé Gunkpó e grupo

Tb gostaria de expressar minha opinião de modo a colaborar com a discussão.


uma coisa, ao meu modo de ver fica claro: abikú (está relacionado a morte) e abiase (está relacionado a
vida, a ter recebido um axé) e ambos estão relacionados a nascimento, vide o prefixo bi das palavras,
que representa o nascer.
Tomei conhecimento de um fato há pouco tempo em um estudo que até então desconhecia.
A relação de Abikú nos tempos antigos era tratado de forma muito diferente. Exemplo no fato de
crianças gêmeas em que um desses morriam no parto e o que nascia seria um abikú. Na cultura do
povo africano, durante muito tempo acreditava-se que a morte de um destes era um castigo de
Orunmila, pois é como se a mãe tivesse desobedecido o Orun e criado uma cópia do filho, ou seja,
trago a cópia que temos no orun para terra. Esta mãe era repudiada pelo povo, levada em praça pública
com roupas rasgadas, seguindo procissão em sinal de castigo e debaixo de protesto. (nada
comprovado, mas me parece até que quando nasciam as duas crianças, uma delas era sacrificada. Se
alguém souber disso, da veracidade me informe por favor)
Com os tempos a cultura mudou e tb seu tratamento, mas nesse caso de abikú gêmeos,
particularmente, hoje em dia é tratado de maneira mais tranquila.
Segundo o culto do abikú de gêmeos, um vulto de madeira (desconheço qual a madeira usada) é
talhado e recebe no sentido de oferendas, obrigações, tudo que o vivo receber, para que não atrapalhe
sua caminhada no mundo terreno.
Desculpe se isso não tenho como comprovar em literatura, pois recebí essas informações de um amigo
pesquisador muito respeitado e coloco aqui por achar um tanto quorente e interessante tb.
Grande abraço,
Marcelo ti Logun

Kolofé Olóòrun, Omoloci! Com efeito, o senhor pode conferir "Os Gêmeos e a Morte: Notas sobre os
Mitos dos Ibèjì e dos Abikú na Cultura Afro-basileira" um notável trabalho da doutora Monique Augras. A
doutora Augras colou gráu na UFBA e contribuiu muito á nossa cultura afrobrasileira, apresentando uma
tese de mestrado ímpar. Pode encontrar o artigo acima nomeado em Marcondes de Moura, Carlos
Eugênio (org.) "As Senhoras do Pássaro da Noite" EduSP, 1994. Aliás, o livro é uma beleza total em
conteúdo e desenho, com ilustrações do saudoso Carybé. Vale a pena, e custa sómente R$ 28.- ( Ao
menos é isso aí o que a gente pagou, mas vale muito mais...) As informações fornecidas pelo seu amigo
estão certas, e a doutora pode completá-las sem nenhuma dúvida. OBS.- Acho que a madeira deve ser
akan, uma sapidácea muito utilizada nos artefactos rituais das divindades do trovão com os quais os
meninos tem muito a ver. Um abraço.

De: Obànisé

Megitó benoí, doté ao, okolofé. Fiquei com um grilo na cuca com o razoamento do irmão Omoloci.
Efetivamente, bi significa nascer. Mas uma coisa é nascer para o àse, dentro dele e uma outra nascer
para a vida do além. Que também é vida, é claro, mas um outro tipo de vida diferente. Não sendo um
verdadeiro esperto em yorubá entendo sim que abiàsé vem da expressão "ara bi ni àse e". Isso é que
me foi ensinado. Concordo plenamente que bi significa nascer e também que vida não é só aquela que
percibimos com os sentidos, havendo inumeráveis estágios dela que nem sequer supô-mos. Minha mãe-
de-santo acreditava que até as pedras tinham vida e a gente nunca poderia discutir esse pensamento
sem faltar o respeito á saudosa memória. Acho que em definitiva ambos os dois conceitos estão ligados
pela relatividade "mais vida", "menos vida" com referência a alguma coisa dada. Me desculpem se estou
falando besteiras, então apelo á palavra dos meus mais velhos porque o tôpico e interessante demais.
Obrigado pela vossa paciência, irmãos.

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