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Você que está aqui com certeza sabe o que é um “mangá”, disso

não tenho dúvidas. Agora, repito o título do post: você sabe a


diferença entre manhua, manhwa e mangá? Melhor ainda: sequer
ouviu falar de manhua ou manhwa?

Talvez você já tenha ouvido falar ou leu em algum lugar esses


termos, mas a grande maioria desconhece essas outras mídias,
ou se conhece não sabe que conhece.

Desta forma, trago aqui as principais diferenças entre manhua,


manhwa e mangá, com seus respectivos significados e origens.

Começo adiantando que todos eles são, basicamente, histórias


em quadrinhos que vem do lado oriental no planeta Terra.

Os manhua, manhwa e mangá são mídias nascidas,


respectivamente, na China, na Coreia do Sul e no Japão.

As narrativas coreanas, chinesas e japonesas são bem únicas e


costumam tocar todos aqueles e aquelas que buscam uma
história em quadrinhos diferentes do padrão ocidental, como
um gibi da turma da Mônica ou em HQ’s do Batman.

Mas enfim, quais as diferenças entre tais mídias?

1) Manhua

Manhua é uma palavra chinesa que define “histórias em


quadrinhos”, e sua tradução significa, literalmente, “desenhos
irresponsáveis”.

Para os residentes de fora do território chinês, manhua é usado


para definir “histórias em quadrinhos feitas na China”.
Aprofundando, “manhua” é originalmente um termo nascido
no século 18, onde era usado para designar a pintura
chinesa conhecida como sumi-ê.

Na China, um criador de manhua é chamado de “manhuajia”.

As cidades Hong Kong e Taiwan tem sido, até a data de elaboração


deste artigo, os principais centros de publicação de manhua.

Essa realidade talvez exista pela forte conexão dessas metrópoles


com o Japão, que é o maior produtor mundial de histórias em
quadrinhos já tem um bom tempo.

Um breve histórico

Os manhua começaram em 1870 como desenhos satíricos


publicados em jornais e revistas, na China.

Pulando para a década de 1920, nascem os lianhuanhua, livros de


bolso ilustrados, que são considerados os antecessores diretos
do manhua moderno.

Uma das primeiras revistas satíricas chinesas veio do Reino Unido,


intitulada “The Punch China”, que, inclusive, lembra muito a “The
Japan Punch”, que citei lá na história dos mangás.

Em meados de 1954, com a abertura cultural de Hong Kong (viva o


capitalismo) houve uma grande influência “Walt Disneyana” nos
manhuas.

Obras como Pinóquio, Mickey Mouse e A Branca de Neve foram


muito influentes nos manhuajias. Bem similar com o que
aconteceu com o japonês Osamu Tezuka, mais ou menos na
mesma época.

Com a chegada da televisão na década de 1970 houve um grande


marco na história: os filmes do Bruce Lee, que se tornaram muito
populares.

Esses longas ocasionaram uma nova onda enlouquecida


de manhua  de Kung Fu.

A violência explícita ajudou a vender as histórias em quadrinhos


chinesas, porém o Governo de Hong Kong cortou esse movimento
com a “Lei de Publicação Indecente”, de 1975. Não encontrei
informações sobre essa lei, mas ela provavelmente censurava
parte da violência nas obras.

Um ponto interessante dos manhua é que alguns autores utilizam


o padrão japonês de leitura, começando de trás para frente, com
diálogos da direita para a esquerda.

Outros, por outro lado, aproveitam o modo ocidental clássico, da


esquerda para direita.

Além disso, algumas mudanças nos manhua foram através do


governo comunista chinês, e não por influências japonesas ou
ocidentais.

Sendo assim, ora, influenciados pelo governo, os autores adotavam


a escrita horizontal, ora utilizaram a escrita vertical, que é mais
comumente utilizada em países que escrevem com ideogramas.

Características marcantes nos Manhua


Os manhuas tem um traço mais sério e detalhado,
principalmente nos objetos e nos corpos dos personagens.

As obras costumam vir coloridas em quase sua totalidade, o


que as torna bem diferentes dos clássicos mangás que todos
conhecemos, que são, em sua maioria, em preto e branco.

Categorias dos Manhua

Em breve você perceberá que não existem tantas como dos


manhwas e dos mangás que falarei em seguida. São elas:

 Satíricos e políticos
 Cômicos
 Ação
 Infantil

Manhua mais conhecidos

Dentre os manhua mais conhecidos, pode-se citar Song of the


Long March,
Feng Shen Ji e suas sequências e The One. Caso você queira uma
lista mais completa de recomendações, aconselho acessar esse
link e dar uma olhada.

2) Manhwa

Manhwa (man-hwa significa literalmente “história em quadrinhos”,


para os coreanos) é um termo geral coreano para designar
histórias em quadrinhos.
Fora da Coreia, a palavra se refere a “histórias em quadrinhos
originadas na Coreia do Sul”, ou seja, basicamente a mesma coisa
que os manhua.

Ao contrário dos mangás, a leitura dos manhwas é feita de


maneira ocidental, ou seja, da esquerda para direita. Isso
ocorre devido a forma de escrita do  hangul, o alfabeto coreano.

Na verdade, a palavra “manhwa” tem suas raízes na mesma lógica


etimológica que a palavra “mangá” (japonês) e “manhua” (chinês).

O surgimento dessa palavra se deu no século 18, mais ou menos


na mesma época que os chineses começaram a chamar o sumi-ê
de manhua.

Obviamente, os manhwas são fortemente influenciados pela


cultura clássica asiática, bem como os mangás e os manhuas.

Contudo, os quadrinhos chineses foram especialmente influentes


nos coreanos, provavelmente pela proximidade territorial dos
países.

Um breve histórico

Desde o final da década de 1980 os mangás vem sendo bem-


sucedidos no mercado coreano. Na época, quando comparados
aos manhwas, os managás eram extremamente populares, porque
as histórias em quadrinhos coreanas estavam em um declínio
pesado na qualidade.

Sem delongas, os autores de manhwa, os “manhwagas“,


começaram a se reerguer utilizando estratégias de revistas
japonesas como base.
A IQ Jump e a Young Champ são duas revistas coreanas que
evidentemente se basearam na Shounen Jump japonesa.

Na verdade, os manhwa são tão parecidos com mangá que alguns


são até mesmo comercializados como tal.

Como você já deve imaginar, a sociedade coreana é,


possivelmente, a sociedade mais tecnológica do planeta (ou uma
das, pelo menos).

Ela acompanha as tendências mundiais com extrema rapidez, e,


por isso, os manhwa já possuem muitos gêneros diferentes, de
modo que podem ser consumidos por qualquer pessoa disposta a
conhecer uma nova história.

Os autores (geralmente os mais jovens) procuram inovações


diferenciadas, tanto no traço quanto nos meios de distribuição da
mídia.

A internet promoveu a distribuição de manhwa em larga escala,


surgindo os webtoons, nome dado as  webcomics coreanas. Os sites
de “manhwabangs” que permitem a compra de manhwa pela
internet.

Além disso, todas as empresas de telefonia móvel oferecem


manhwa aos seus assinantes, dando trabalho para dezenas de
autores, o que é bem legal.

Na Coreia do Norte, o manhwa tem foco em “implementar as


políticas do partido (como esperado). A mídia visa também levar as
pessoas a um “espírito revolucionário comunista”.
Desta forma, quase todas as obras por lá abordam o tema “valor e
lealdade ao partido” e criticam o colonialismo norte-americano e
japonês (como esperado, novamente).

Características marcantes nos Manhwa

De maneira geral, nos manhwa, os personagens possuem


as feições do rosto mais exageradas, enquanto o corpo deles
assume proporções mais realistas, mesmo que tendem a puxar
mais para o esbelto.

Não existe de fato uma regra entre colorido/preto e branco, pois


alguns possuem cores leves e somente em partes especificas,
enquanto outros são completamente coloridos, ou, ainda, em puro
preto e branco. Mas, no fim, a maioria é inteiramente colorido
mesmo.

Geralmente o fundo é mais leve, dando foco aos personagens e


aos diálogos. O traço costuma ser bem leve também, porém mais
“real”, como mencionado.

Categorias dos Manhwa

Os manhwa são direcionados aos leitores de maneira bem similar


aos mangás, através de públicos-alvo. Seguem:

 Myeongnang: destinado as crianças
 Sonyung:  destinado a garotos (até uns 16~18 anos)
 Sunjeong:  destinado a garotas (até uns 16~18 anos
 Tchungnyun: destinado a jovens adultos (homens e
mulheres)
 Ttakji: histórias de aventura publicadas na década de 1950 e
ambientadas no Ocidente
Manhwa já publicados no Brasil

 Aflame Inferno
 Angry
 Ark Angels
 Banya, o Mensageiro
 Che – Uma Biografia
 Chonchu – O Guerreiro Maldito
 Dangu
 Gui
 Kil-Dong – Crônicas de um Guerreiro
 Model
 Planet Blood
 Priest
 Ragnarök
 Tarot Café

Manhwas mais conhecidos

A comunidade que consome manhwa é, em sua maioria, uma


comunidade virtual que acompanha suas obras favoritas através
de leituras online por sites ou aplicativos, sendo estes legais ou
não.

Temos obras bem famosas no meio, que inclusive já ganharam


adaptações para anime por meio de OVA’s ou séries animadas
convencionais. Algumas são:

 Solo Leveling
 The Breaker: New Waves
 Bastard
 The Gamer
 The Tower of God
 Spirit Circle
 Silver Gravekeeper
 The God of High School
 Noblesse

Além disso, para aqueles que desejam consumir e colaborar com a


produção de novos materiais, recomendo muito o aplicativo
WebComics.

“Esse app não é meu, só para deixar


claro”
Nele você consegue ler diversos manhwa de diversos gêneros e
públicos-alvo de maneira gratuita, porém controlada.

Existe um tipo de assinatura premium, que é bem barata e vale a


pena, segundo a maioria dos usuários do app.

Eu mesmo já utilizei e gostei bastante. Vale a tentativa!

3) Mangá

O mangá é a palavra usada para designar história em quadrinhos,


igual os manhwa e os manhua, só que agora feito no estilo
japonês. No Japão, inclusive, o termo designa qualquer história em
quadrinho.

Vários mangás dão origem a animes para exibição na TV, para


venda de Blu-rays ou até mesmo para as telonas, no cinema.

E sempre vale lembrar: não necessariamente o mangá precisa ser


um megahit para ganhar uma adaptação para fora das páginas.

Todavia, também há o processo inverso, onde os animes, por se


tornarem populares, conquistam uma adaptação para mangá.

Pessoas de todas as idades leem mangás lá na terra do sushi, já


que temos diversos gêneros para todas as faixas etárias. Tem
material para todo mundo poder consumir, o que é bem incrível
parando para analisar.

As histórias de mangás são impressas em preto e branco em sua


maioria.

Porém, temos sim mangás inteiramente coloridos em alguns raros


casos, já que geralmente as páginas coloridas são um “evento”
dentro de uma revista semanal, como na Shounen Jump.

Geralmente, no Japão, o mangá é publicado em revistas de mangás


que compilam diversas histórias. Cada uma dessas obras é
apresentada por meio de um capítulo que terá uma continuação
na próxima edição.

Se a série for bem-sucedida, os capítulos podem ser republicados


em volumes encadernados no formato “tankohon”, que é o clássico
“volume” que conhecemos por aqui.
O autor de um mangá é conhecido como “mangaká”, e
normalmente trabalha com assistentes em um estúdio, juntamente
com um editor da revista na qual sua obra é publicada.

Um breve histórico

Eu já escrevi bastante sobre a história dos mangás num outro


artigo aqui da Cúpula. Se tiver interesse, pode acessá-lo para dar
uma olhadinha.

Ficou bem interessante, principalmente a parte sobre a segunda


guerra mundial e o lance da globalização interligado com o Osamu
Tezuka.

Características marcantes nos Mangás

Nas obras japonesas temos uma divergência bem maior de traços


quando comparadas as obras coreanas e chinesas anteriormente
citadas.

Temos mangás com traços mais esbeltos, mangás com objetos


muito detalhados e também mangás com traço completamente
infantil e cartunizado.
E é aqui que eu queria chegar: existem mangás de praticamente
tudo que se possa imaginar.

É sério, é bizarro pensar toda a variedade que o mercado de


mangás oferece. Desta forma, é difícil elencar características que se
dão presentes na maioria deles.

Contudo, elas existem. Talvez poderia dizer aqui que os


mangás geralmente possuem personagens mais únicos e
diferenciados entre si, entregando possibilidade para todo
mundo consumir a mídia.

Apesar da variedade, ainda temos muitas obras que seguem


um certo padrão, mas isso é assunto de outra postagem.

Os mangás também possuem muitas linhas que indicam


movimentação e ações, e o traço geralmente é mais leve, porém,
com planos de fundo bem detalhados.

A sua leitura é feita da direita para a esquerda, o que acaba


deixando muitos novatos bem confusos.
Categorias dos Mangás

 Kodomo:  destinado a crianças


 Shounen: destinado a garotos adolescentes
 Shoujo: destinado a garotas adolescentes
 Seinen:  destinado a homens jovens e adultos
 Josei:  destinado a mulheres jovens e adultas
Expliquei melhor sobre públicos-alvo e gêneros aqui, mas,
basicamente, as definições acima caracterizam bem para quem os
mangás de cada categoria são indicados.

Os gêneros, por sua vez, nem valem a pena serem listados, tendo
em vista que gêneros e subgêneros são de uma imensidão muito
complexa. Temos mangás para qualquer um, como já comentei.
Para qualquer um. É sério.

Recomendações de Mangás

Os mangás já estão disseminados na cultura do otaku brasileiro,


né. Todo mundo já ouviu falar dos mais famosos, como One Piece,
Naruto, Bleach, My Hero Academia, Shingeki no Kyojin, Death Note
e lá vai pedrada.

Não é à toa que são os mais famosos já tem um tempo, rs.

Caso você seja uma pessoa que só vê animes e nunca botou a mão
em um mangá, eu recomendaria começar por alguns mangás que
até tiveram adaptações para anime, mas que não adaptaram tudo
do material original, tais como:

 Deadman Wonderland  (não adaptou tudo)


 Yamada-kun and the Seven Witches  (não adaptou tudo)
 Koe no Katachi  (sim, uma ótima parte foi cortada)
 Akame ga Kill  (o mangá é bem diferente)
 Toriko  (não adaptou tudo)
Quem sabe começando por títulos assim você começa a criar um
gosto pela leitura e inicia o mergulho de cabeça no maravilhoso
oceano dos quadrinhos japoneses.

Afinal, porque não dar um “up” no seu nível otaku? Só anime não
basta! Leia mangás também, meu querido(a)!

Obviamente, esses são só alguns mais conhecidinhos que eu


consegui me lembrar no momento em que escrevia, porém, como
já citei, mas faço questão de me repetir: existem mangás para
todos os gostos.

Enfim, dá uma olhada aqui caso queira uma lista mais completa de


títulos.

Eu já li muitos, de diversos gêneros e públicos-alvo diferentes, por


isso fica difícil de recomendar assim de maneira genérica.

Finalizando…

Acredito que após ler essas diferenças entre manhuas, manhwas e


mangás você percebeu que, na verdade, não existem muitas
diferenças entre essas mídias, apesar de todas serem únicas.
Sim, é complexo, afinal, é um lance bem cultural.

Geralmente os manhwas e manhuas possuem traços um pouco


mais realistas e detalhados, porém temos mangás que atuam com
esse estilo de traço também.

Ainda, ambas as três mídias tem palavras que significam “histórias


em quadrinhos”, ou seja, a única diferença crucial entre elas a
região onde são elaboradas, basicamente.
Existem sim diferentes formas de como a história é passada, pois
em alguns casos temos histórias coloridas lidas da esquerda para
direita, enquanto outras são totalmente em preto e branco e lidas
da direita pra esquerda.

Além disso, O contexto histórico-social de cada sociedade de onde


se original as obras é super relevante.

Contudo, mesmo as diferenças narrativas e regionais sendo bem


evidentes, ao sintetizarmos e buscarmos a essência das histórias
em quadrinhos asiáticas, veremos muitas semelhanças em
diversos âmbitos, porém todas convergem para um mesmo
ponto: contar uma ótima história.

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