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Indice
0. Introdução............................................................................................................................2
1. Integração de texto “Ma-bathu” no cacifo dos géneros textuais literários..........................3
1.1. Biografia e bibliografia de Aníbal Alcunha........................................................................4
1.2. Enquadramento periodológico de obra-autor segundo a perspectiva de Fátima Mendonça
e Pires Laranjeira..........................................................................................................................4
2. O cano realista nas literaturas africanas de língua portuguesa: Estratégia discursivas,
retórico e filosóficas e quadros de personagens de “Ma-bathu”.................................................5
3. A questão da “Moçambicanidade literária “ versus “literatura colonial”.............................6
3.1. Conceito de Moçambicanidade literária e literatura colonial...........................................7
3.2. Elementos instanciadores da Moçambicanidade literária em “Ma-bathu” de Aníbal
Aleluia..........................................................................................................................................9
3.2.1. Peculiaridades do quadro de personagens de “Ma-bathu”........................................10
3.2.3. A intriga (argumento), intriga central, dimensão social, ética e ideológica................11
3.2.4.1. Utilização da variação dos níveis de língua na narrativa moçambicana (em Mia
Couto, outros autores)...............................................................................................................13
3.2.4.2. A fala das personagens (níveis de língua no conto Ma-bathu)...............................14
Referencias Bibliográficas..........................................................................................................15
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0. Introdução
O presente mini ensaio académico surge no âmbito da cadeira de Estudos Literários II,
que visa analisar as formulações teóricas, a serem observados no obra literária “Ma-
bathu” presente na Obra “Mbelele e outros contos” de Aníbal Aleluia.

Pois a obra “Ma-bathu” retrata uma história de um casal que sofre pelo desemprego e
fome, casal que este que vem posteriormente a perder ser filho de nome bathu, obra está
que quanto ao aspecto temporal nos remete a época colonial, a acção desenrola -se em
diferentes espaços mas principalmente o clímax do conto ocorre no chapa, onde o filho
perde a vida, não colo da sua mãe.

Irei debruçar assuntos linguísticos e literários, que são presentes na obra, que visam dar
gosto ao leitor, que são qualidades do autor presentes na obra que podem ser analisados
neste mini ensaio.
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1. Integração de texto “Ma-bathu” no cacifo dos géneros textuais literários.


O texto “Ma-bathu” integra-se no cacifo dos géneros textuais Literários, pois segundo
Platão, todos os textos literários (tudo quanto dizem os prosadores e poetas) são uma
narrativa de acontecimentos passados, presentes e futuros. Os gêneros literários são
categorias que organizam todos os tipos de textos literários pelas semelhanças formais,
estruturais e temáticas que eles possuem.

Segundo Ceia (2009) O gênero narrativo (anteriormente chamado de épico): narra uma
história com personagens, situados em um tempo e um espaço, por exemplo, um
romance.

O gênero narrativo é um gênero literário moderno escrito em prosa, que tem como
intuito narrar uma história. Para um texto ser considerado narrativo, ele precisa conter
esses elementos:

 Enredo – história que narra uma sucessão dos acontecimentos;


 Narrador – aquele que narra a história;
 Personagens – pessoas que estão presentes na história;
 Tempo – o período em que acontece a história e;
 Espaço – local onde se passa a história.

Em sua origem, o gênero narrativo era chamado de gênero épico, pois incluía as
narrativas histórico-literárias de grandes acontecimentos, chamadas de epopeias. E o
texto Ma-bathu é um texto narrativo que narra uma história de uma casal assolado pelo
desemprego.

Gênero textual é a forma de classificação dos textos literários, agrupados por qualidades
formais e conceptuais em categorias fixadas e descritas por códigos estéticos, por
exemplo o género imitativo ou mimético, se incluem a tragédia.

Para confirmar se o texto “Ma-bathu” integra-se no cacifo dos géneros textuais


Literários, é importante socorrer-se nas ideias de Platão, que começa por afirmar que
todos os textos literários são uma narrativa ou diegese de acontecimentos, na obra em
alusão é marcada por um acto mimético, dominado pelo discurso das personagens que
interagem entre si no desenrolar das acções. As espécies narrativas podem apresentar-se
em prosa.
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O texto Ma-bathu integra-se no cacifo do género Literários, concretamente no gênero


narrativo, pois o texto contém características típicas desse gênero, que são as narrações
do autor sobre personagens, contém intrigas, espaços entre outros.

1.1. Biografia e bibliografia de Aníbal Alcunha.


Henrique Aníbal Aleluia ou simplesmente Aníbal Aleluia, assim era conhecido o autor
da obra Mbelele e outros contos. Nasceu em 1926, em Inhambane (Moçambique), e
faleceu em 1993, em Maputo.

Foi Jornalista e ficcionista moçambicano, Henrique Aníbal Aleluia, por vezes com os
pseudónimos Roberto Amado, Augusto António e Bin Adam.

Concluiu os estudos primários na sua terra natal e os estudos secundários em Lourenço


Marques (atual Maputo). Exerceu várias profissões desde aprendiz de caixeiro,
enfermeiro, funcionário administrativo, solicitador, entre outras, profissionalizando-se,
mais tarde, no jornalismo onde escreveu para jornais, foi escriturário e na literatura.

Em 1984, surgiu a Charrua, fundada por um grupo de jovens irreverentes – Eduardo


White, Armando Artur, Juvenal Bucuane, Ungulani Ba Ka Khosa, entre outros – Aníbal
Aleluia participou activamente naquele projecto e abraçou o seu ideário, escreveu e
publicou imenso na Charrua. Colaborou em várias publicações, como Itinerário, O
Brado Africano, Voz de Moçambique, Charrua, Tempo, Vértice, para além de outras.

Escreveu Mbelele e Outros Contos (1987), O Gajo e os Outros (1993) e, ainda por
publicar, Contos Avulsos, Contos do Fantástico Litorâneo e Perfis Coloniais.

1.2. Enquadramento periodológico de obra-autor segundo a perspectiva de Fátima


Mendonça e Pires Laranjeira.

A proposta de periodização da literatura moçambicana de Fátima Mendonça reconhece


três períodos formativos: de 1925 a 1945/47, daí até 1964 e deste ano até 1975. Daí que
segundo o critério da autora não se pode fazer o enquadramento segundo os períodos
propostos pela autora em conformidade com a obra Ma-bathu.

Segundo Laranjeira (1995) A literatura moçambicana está dividida fundamentalmente


em cinco períodos. esta divisão define os seguintes períodos: Incipiência, prelúdio,
formação, desenvolvimento e consolidação.
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E a obra “Ma-bathu” segundo Pires Laranjeira enquadra-se no quinto e último período


que denomina-se período de consolidação. Laranjeira aponta, que este corresponderia à
produção pós-independência que iniciou em 1975 e se encerraria em 1992, foi marcada
sobretudo com a divulgação de textos que tinham ficado dispersos. Foi nessa época
onde surgiu a revista Charrua. A publicação de Raiz de orvalho (COUTO, 1983) e da
revista Charrua, segundo Laranjeira, abriria novas perspectivas para a literatura
moçambicana.

A partir daí, estava instaurada uma aceitabilidade para a livre criatividade da palavra, a
abordagem de temas tabus como o da convivência das raças e mistura de culturas, por
vezes parecendo antagónicas e carregadas de disputas (indianos vs. negros ou brancos).
(LARANJEIRA, 1995a, p. 262).

2. O cano realista nas literaturas africanas de língua portuguesa: Estratégia


discursivas, retórico e filosóficas e quadros de personagens de “Ma-bathu”.

Uma mesma estrutura narrativa e uma preocupação discursiva comum: compreender as


relações humanas a partir do terreno da afetividade que se desenvolvem em uma
metrópole contemporânea. Três questões fundamentais estruturam as narrativas: o amor,
a família e a paixão, todas elas situadas, na cotidianidade da classe baixa e oprimida,
assolada pela falta de escolaridade em Moçambique. Identificamos, portanto, uma
lógica discursiva ou um fio condutor que orienta a construção do enredo ou intrigas.

Em meio a vários tipos de discursos que aparecem, destacam-se. A lógica e forma de


tratamento fundam estratégias discursivas utilizadas por Aníbal Aleluia para elaborar
uma transparência entre o mundo ficcional projetado e idealizado pelo escritor e o
mundo do vivido em que nossas ações se constituem e as experienciamos, e dessa
forma, construir no interior da forma narrativa ficcional uma produção discursiva sobre
a realidade. Produção que interage com os acontecimentos do vivido e ao mesmo tempo
aponta para a lógica da realidade imaginada da narrativa ficcional.

Acredita-se ser a intenção do escritor, promover essa correlação de tempos distintos, o


da elaboração ficcional e o tempo presente se confundem do ponto de vista dos
processos de cognição e percepção das emoções, desfazendo assim uma lógica de
leitura já tradicionalmente aceita entre leitores/receptores sobre os contos do mundo das
ficções.
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 No período da colonização: é possível perceber elementos da literatura


europeia e a valorização da cultura clássica mesclados a elementos culturais
africanos. Na poesia, predomina o rigor formal.
 No período pré-independência: é perceptível o discurso nacionalista e
anticolonialista. As obras apresentam traços modernistas, enaltecimento da
cultura popular e valorização da identidade negra. Não há idealizações, a
realidade dos países africanos é mostrada de forma crítica e sem retoques.
 No período pós-independência: autores e autoras têm a função de fortalecer a
cultura africana. Então, evidenciam os valores ancestrais, valorizam os idiomas
nativos e a linguagem oral. Mas também discutem temas raciais e questões de
gênero. Além disso, há espaço para o experimentalismo nas obras literárias.

É preciso ressaltar que o texto torna-se diálogos dramatizados pelos personagens e um


dos recursos buscados como forma de aproximação temporal e espacial em relação
personagem/público é a forma como são propostas as enunciações desses textos de falas
com linguagem corrente e vulgar conhecida naquela classe, que é a classe baixa.

3. A questão da “Moçambicanidade literária “ versus “literatura colonial”.


Uma parte significativa da produção literária moçambicana deve-se aos poetas da
"literatura europeia", ou seja, aqueles que, sendo brancos, centram toda, ou quase toda a
sua temática nos problemas de Moçambique; foram eles que contribuíram
decisivamente para a formação da identidade nacional moçambicana.

Patrick Chabal, (1994), explica que as características da “moçambicanidade” podem ser


identificadas em textos produzidos com o objetivo de realçar as cores e as vozes locais,
evidenciando a sua diferença em relação àqueles que, até então, eram produzidos sob
ecos culturais europeus que era a literatura colonial.

Segundo Laranjeira (1995 pag. 262) A moçambicanidade Literária é marcada pela


aceitabilidade livre da criatividade da palavras moçambicanas nas obras, a abordagem
de temas tabus como o da convivência das raças e mistura de culturas, por vezes
parecendo antagónicas e carregadas de disputas (indianos vs. negros ou brancos), como
podemos ver no texto “Ma-bathu” expressões moçambicanas como, Tchova,
Mangungu, Piri-piri.

[…] -se naquele vaivém, com silvos de locomotivas furando os tímpanos


e provocando prurido em seus nervos tensos. E passara fome, pois não
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levava farnel. Que o mangungo só se jus-tifica em quem tenha trabalho


… -Queres entrar, rapaz? Empurra a porta. Vai, tchova…[…]

A Literatura moçambicana, ela diferiria da europeia na temática ou também na forma.


Entre os anos de 1986 e 1996, Laranjeira identifica outro movimento, que ele identifica
como pós-colonialidade estética, em que o estigma colonial é superado. Nela, várias
correntes estéticas encontram espaço (neo-simbolismo, neo-concretismo, neo-
surrealismo etc.).

Muandu tinha medo de ouvir falar em doenças, mas mais medo


tinha ainda de sicuembo. Teria que procurar um bom muvanguéll
para exorcismar o pequeno.

O autor aventa a hipótese de que esses ecos são também estilhaços de uma propensão
estética advinda do natural multiculturalismo de base étnica dessas novas nações e
sociedades.” (LARANJEIRA, 2001, p. 192).

A Europa e seus padrões estabeleceriam, assim, nos espaços colonizados, parâmetros


para se definir o belo, o certo, o ideal, o que se enquadrava ou não nos modelos
ocidentais. Dessa maneira, o colonizador estabeleceu e legitimou, no decorrer de
séculos, seus pretensos padrões de superioridade.

Alguns parâmetros estéticos e opções discursivas caracterizam as feições dessa


“moçambicanidade”: a consciência, por parte do escritor, do seu pertencimento e da sua
filiação à cultura do seu país; a busca de formas transgressoras para uso da língua do
colonizador; e a utilização de estratégias de linguagem que reforçam, nos textos, a luta
pela liberdade, tecendo um discurso literário que se deixa atravessar pela oralidade e
pela sonoridade trazidas por expressões de línguas africanas.

3.1. Conceito de Moçambicanidade literária e literatura colonial.

A Literatura de Moçambique é, geralmente, a literatura escrita em língua portuguesa


vulgarmente misturada com expressões moçambicanas, por autores moçambicanos. É
ainda muito jovem, mas já conta com exímios representantes como José Craveirinha,
Paulina Chiziane e Mia Couto, sendo vital na exigente Literatura Lusófona.

A literatura produzida em Moçambique, como as demais literaturas africanas nos países


colonizados por Portugal, era uma extensão da literatura portuguesa. Sob a forma
escrita, a produção literária sedimenta-se, a partir da década de 1940, por meio de
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periódicos publicados por intelectuais e escritores, em geral de contestação ao


colonialismo português,

Embora tênue, a linha divisória entre a literatura portuguesa e as literaturas africanas em


nossa língua era bastante bem definida por sua busca de uma identidade nacional no
contexto das lutas contra o colonialismo: pensar a identidade cultural do país não como
colônia, mas como nação independente, com autonomia política, econômica, cultural e
religiosa. Entre 1964, quando teve início a luta armada de libertação nacional, até 1975,
quando Moçambique conquistou sua independência política, a literatura voltou-se para a
própria história e seus fatos, a luta armada e a revolução, a exemplo
do Chigubo publicado em 1964 por Craveirinha, cujo significado em dialeto local
é "grito de guerra".

Segundo Noa (1999) Entende-se por literatura colonial aquele que pretende contar as
reações do branco perante o meio ambiente do negro, isto é: a toda essa espécie de
descrição mais ou menos ficcionista que nos introduz perante as pessoas
imaginariamente vindas de ambientes culturais desenvolvidos, civilizados, para meios
ambientes primitivos.

Nas palavras de Cabaço “a chamada literatura colonial (…) limitava-se, na verdade, a


projetar o ponto de vista do colono, exaltando quase sempre a ideologia do regime”
(Cabaço, 2007:229). Sobre os percursos da literatura colonial, esta “irá conhecendo com
o tempo um processo evolutivo irrecusável, tanto na forma como nas temáticas,
denunciando percepções e representações extremamente reveladoras do imaginário e da
sociedade coloniais”, em três fases não completamente distintas (Noa, 1999:63).

3.1.1. Relação de referência, transgressão e conflito entre os discursos da


literatura Moçambicana e literatura colonial.

É a expressão de uma prática e de um pensamento que assentam no pressuposto da


superioridade cultural e civilizacional do colonizador (Ferreira 1989: 250). A literatura
colonial caracteriza-se justamente pelo facto de os seus cultores não abdicarem da sua
identidade, das referências culturais e civilizacionais dos seus países, embora tentem
mostrar-se integrados no meio e na sociedade nova de que fazem parte. (Trigo 1987:
144-145).
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Isto é, a literatura colonial pretende ser, fundamentalmente, um hino de louvor à


civilização colonizadora, à metrópole e à nação do colono, cujos actos de heroicidade e
de aventureirismo, de humanidade e de estoicismo são, quase sempre, enquadrados por
uma visão maniqueísta da vida e do mundo envolvente.

Num desenvolvimento posterior, Edward Said, uma das vozes mais autorizadas do
nosso tempo na teorização sobre a literatura colonial, considera que esta literatura
“efectivamente silencia o Outro, reconstitui a diferença como identidade, regula e
representa espaços dominados por forças de ocupação, e não por habitantes inactivos.”

O discurso da literatura colonial e mocambicanidade literária relacionam-se no tipo


realista, pois usavam uma abordagem negritudista, cultural, social, política; há uma
poesia de prisão; existe uma poesia carregada de marcas da tradição oral, bem como
muito poema com grande pendor lírico e intimista.

O preconceito racial e cultural, que é uma manifesta negação do direito à diferença,


institui-se como uma das imagens de marca desta literatura.

3.2. Elementos instanciadores da Moçambicanidade literária em “Ma-


bathu” de Aníbal Aleluia.
Na obra “Ma-bathu” de Aníbal Aleluia estão patentes muitos elementos instanciadores
que denotam a Moçambicanidade Literária, desde do ponto de vista espacial, o léxico
usado nas falas dos personagens, entre outros elementos usados pelo autor. A questão da
palavra ‘’muxoxo’’ é o exemplo da moçambicanidade literária, as palavras
moçambicanas escritas em português buscam palavras moçambicanas das línguas
bantus, essa é uma marca ou identidade / moçambicanidade literária.

[…] O cobrador deu um muxoxo e recebeu das mãos do polícia o


preço dos bilhetes, e o carro arrancou acto contíno.[…]

-Bhato está doente-foi a resposta da mulher-já esteve pior. Tinha


o corpo hirto e parecia mesmo possuído de sicuembo. Fui ao
Novela consultar os gagaus. Deu-nos remédio e, como vês, o
pequeno está muito melhor.

3.2.1. Peculiaridades do quadro de personagens de “Ma-bathu”.


Segundo Matos (2000) Os personagens são os actantes. São estás que conduzem as
acções narradas e é destas de quem o narrador fala.
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E na obra literária”Ma-bathu” as personagens tema uma peculiaridade pois através dos


vocativos, dá a perceber que são do tempo colonial, como no trecho abaixo, “à saída de
cada branco” branco referem -se os portugueses os vulgos patrões, pois a raça negra era
a classe carregadora de sacos.

[…] átrios onde os contínuos conversavam olhando Para ele com


ar superior, erguendo-se à saída de cada branco, numa
movimentação mortificante, quase azeda (porque lhe trazia à
boca um inusitado amargor).[…]

Os personagens na obra são retrado do quotyidiano da época colonial, o autor trouxe a


imitação da realidade vivida naquele tempo, falo da questão dos assimilados que eram
encarados pelo Estado colonial como sendo cidadãos portugueses e, como tal gozavam
das mesmas prerrogativas que os colonos portugueses, com uma vertendo neo-realista e
negritudista, a maioria dos persogens representava a classe baixa dos trabalhadores ou
melhor, classe dos negros.

[…]-Eu não interfiro. Isso é entre vós-e mostrava a pele da sua


face loira com uma mão, enquanto com a outra, girando-a,
mostrava que tanto o cobrador como o assimilado e aquele casal
eram todos pretos.[…]

No texto Ma-bathu temos a peculiaridade de um personagem que trata-se um


personagem que tem um tratamento ou título que era tipicamente atribuído no tempo
colonial, o vulgo “assimilado” que refere-se a negros com comportamentos de brancos,
estudados, formados.

[…]O assimilado contou-lhe tudo. - Talvez o senhor


convença o seu colega de que estamos perdendo tempo
aqui e este casal tem a criança muito doente. […]

3.2.2. O simbolismo do espaço de acção no conto.

O espaço de um conto é, em linhas gerais, o cenário no qual as personagens executam e


sofrem as ações que compõem o enredo. Esses espaços onde acontecem as acções dos
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personagens, na obra ‘’Ma-bathu’’ carregam algum simbolismo no contexto


sociocultural.

O estudo e simbolico dos locais na obra. Assim, inferências sociológicas, filosóficas,


estruturais, etc., fazem parte de uma interpretação do espaço na obra literária. Ela
também não se restringe à análise da vida íntima, mas abrange também a vida social e
todas as relações do espaço com a personagem seja no âmbito cultural ou natural.

- A mulher olhava alternadamente para a criança doente e


para o chão da palhota.

A palhota é um espaço que denota o tipo de classe que os personagens eram, uma vez
que tratava-se da época colonial os negros eram tratados como índios, os negros nesse
caso. Há uma variedade de espaços tipicamente moçambicanos que retratam o
quotidiano.

O casal foi até a paragem concretamente na baixa da cidade procurar um carro que os
levasse até ao hospital, é sabido que na baixa da cidade é um ponto onde os autocarros
partem até as demais parte da cidade.

[…]Era fatigante deambular por ali como um doido, naquele


terreiro atravancado de ferros, vagões, guindastes e cavalos-
mecânicos fora de uso, arfando, arfando, respirando o ar poluído
do vapor denso das locomotivas, incómodo, asfixiante, tóxico.[…]

3.2.3. A intriga (argumento), intriga central, dimensão social, ética e


ideológica.
O enredo é considerado a sucessão de fatos de uma história. Em outros termos, ele trata
de um conjunto de acontecimentos sucessivos executados pelas personagens em espaço
e tempo específicos. É muito comum o uso dos termos trama, intriga ou argumento para
se referir aos fatos de uma narrativa. Intriga e tem a função de dar sequência à
narrativa e localizar o leitor em relação à sucessão de acontecimentos, dando ênfase à
causalidade.

O conflito trata-se do momento em que ocorre uma oposição entre os elementos da


narrativa, resultando em uma tensão que organiza os fatos. O conflito instiga o leitor
em relação à narrativa. Na obra em alusão a intriga ocorre em vários momentos e
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espaços, começando fo ‘’cais’’ onde foi a procura de emprego e não fora dado
alegando que naop era estudado.

A intriga central que é muito conhecida como clímax, é quando a narrativa alcança a
tensão máxima. É o ponto culminante do conflito. Trata-se também de uma técnica
muito utilizada para despertar a curiosidade do leitor. O momento de intriga central
dá-se quanto a criança do casal encontrava-se doente e estavam no chapa a caminho
do hospital, encontravam-se discutindo com o cobrador do carro, caracteriza-se um
momento de muita tensão e conflito.

[…] carro parou. Agora o motorista acelerava e aliviava o motor


desligado, fazendo estremecer a chaparia. Muandu, atrapalhado,ia
descer quando a mulher, empertigando-se, perguntou:

-Como é que você sabe que até o Central não terá 2$00 para
nos dar? Eu não desço. Não-des-ço. Meu filho está doente. Precisa de
ser tratado e de pressa. Temos dinheiro. Se não queres recebê-lo,
então iremos sem pagar.
Não-des-ço!!!
Racy quis ajeitar o ngosse para melhor acomodar o bebé: estava
rígido, morto.

3.2.4. Hibridismo linguístico: dos níveis de língua filtrados na fala dos


personagens ao léxico encontrado no texto “Ma-bathu”.

O conceito de hibridismo linguístico define-se como a mistura de duas ou mais línguas,


um encontro entre duas ou mais consciências linguísticas. Hibridismo linguístico é
entendido aqui como o processo de mistura que acontece no contacto entre línguas
diferentes.

Muitos teóricos pós-coloniais também usaram o termo hibridismo para se referir a novas
formas, práticas, espaços e identidades culturais criadas a partir de uma síntese de
diversos elementos.

Na obra Ma-bathu estão patentes esses fenómenos híbridos linguísticos, onde o autor
Aníbal Aleluia usa muito esa mistura de línguas nacionais e a língua portuguesa,
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buscando as línguas nacionais e misturar com outras. Por exemploa a palavra sicuembo
patento no trecho abaixo é o exemplo do hibridismo linguístico.

Bhato está doente-foi a resposta da mulher-já esteve pior.Tinha o


corpo hirto e parecia mesmo possuído de sicuembo. Fui ao
Novela consultar os gagaus. Deu-nos remédio e, como vês, o
pequeno está muito melhor.

Bhabha (1994) definiu este espaço do hibridismo como um «espaço terceiro», em que
significados e identidades culturais mantêm vestígios/traços de outros significados e
outras identidades. Construções de hibridismo têm sido usadas para conceituar novas
formas, práticas e identidades culturais criadas a partir de uma síntese de diversos
elementos. Os estudos pós-coloniais, em particular, reforçaram os aspetos otimistas da
noção e concentraram-se nas consequências positivas da mistura de línguas e culturas.

De acordo com Faraco (2008), o melhor modelo até o momento proposto para descrever
e caracterizar as variedades linguísticas faladas no português de Moçambique, e envolve
três aspectos: o rural-urbano, o de oralidade-letramento e o da monitoração estilística.
Nesse sentido, pode-se classificar a norma culta como a variedade de uso corrente,
comum, entre falantes que vivem em meio urbano, com escolaridade superior
completa em situações relativamente mais monitoradas

Existe uma forte influência das variedades linguísticas hegemônicas na mídia, que são
de uso comum pela parte da população que vive no meio urbano, de classe
social média-alta, que, por isso

3.2.4.1. Utilização da variação dos níveis de língua na narrativa


moçambicana (em Mia Couto, outros autores).
Autores como Mia Couto, Eduardo White, Luís Carlos Patraquim e Nelson Saúte, de
Moçambique, procuram “[...] exorcizar os fantasmas e medos de cruentas guerras e
ameaças de perda de independência, para [...] partir em busca de discursos
originalíssimos no contexto dessas literaturas.” (LARANJEIRA, 2001, p. 192).

A interação verbal entre os sujeitos é possível por meio das palavras e pode ser
realizada por meio da fala e/ou da escrita. Dependendo da situação comunicativa, os
usuários das línguas podem eleger qualquer um dos diferentes níveis de linguagem para
interagir verbalmente com os outros. Isso significa que existem linguagens diferentes
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para ocasiões distintas, ou seja, em toda situação comunicativa, os falantes elegem o


nível de linguagem mais adequado para que tanto o emissor quanto o receptor das
mensagens possam compreender e ser compreendidos.

Os níveis de linguagem, ou níveis de fala, são os registros da linguagem utilizados pelos


falantes, os quais são determinados por vários fatores de influência. A situação ou o
local em que estamos, a escolarização que temos, as pessoas com quem estamos falando
em um determinado momento são elementos que influenciam os falantes.

Podemos interagir e nos comunicar com outras pessoas por meio de diversos níveis de
linguagem: padrão, coloquial, gírias, regionalismos e linguagem vulgar. Os diversos
níveis de linguagem permitem que os falantes comuniquem-se.

3.2.4.2. A fala das personagens (níveis de língua no conto Ma-bathu).


Os níveis de linguagem, também chamados de “níveis de fala” ou “registros”, são as
variações no uso da língua, ocorridas em função das diferentes situações sociais em que
os falantes se encontram. Há o “nível de fala formal”, no qual predomina o uso da
norma culta; e o “nível de fala coloquial”, caracterizado pelo uso mais popular da
linguagem.

Não percebes português, rapaz?

-Sabe sim senhor!

-Que queres então?

-notavam-se na sua testa traços de aborre-


cimento.

-Servico, patrão.

Uma narrativa, o narrador pode apresentar a fala das personagens através do discurso
direto ou do discurso indireto. No discurso direto, conhecemos a personagem através de
suas próprias palavras. Para construir o discurso direto, usamos o travessão e certos
verbos especiais, que chamamos de verbos “de dizer”.

Conclusão.
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É uma literatura pela qual pretende sustentar que o texto literário é um instrumento onde
o escritor recria as coisas da realidade para que estejam ao alcance de todos. Nesse caso,
o trecho ora citado ilustra a possibilidade de apreensão e transformação da realidade
pelo escritor, numa articulação entre a ideologia e a cultura.
A Literatura de Moçambique é um conjunto de género literário escrito, na sua maioria,
em língua portuguesa e por autores maçambicanos, a obra Ma-bathu de Anibal Aleluia é
o exemplo da mocambicanidade literaria.

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