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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DO PIAUÍ

CURSO DE FARMÁCIA
FARMÁCIA HOMEOPÁTICA

ESCALAS E MÉTODOS DE PREPARAÇÃO DAS


FORMAS FARMACÊUTICAS DERIVADAS
Prof. MSc. Rian Felipe de Melo Araújo
O QUE SÃO AS FORMAS FARMACÊUTICAS
DERIVADAS?
• Representam o resultado do processo de dinamização;
• Concentrações decrescente de insumos ativos por meio de
diluições seguidas de sucussões ou triturações sucessivas;
• Métodos:
– Hahnemanniano;
– Korsakoviano;
– Fluxo contínuo
• Escalas:
– Decimal;
– Centesimal;
– Cinquenta milesimal
ESCALAS
• A farmacotécnica homeopática emprega 3 escalas, de acordo com a
proporção entre insumos ativo e inerte;
• Na escala decimal a diluição é preparada na proporção 1/10
• Criada por Hering para tornar a diluição mais uniforme e fácil de
preparar;
• Escala mais empregada nos EUA e Alemanha;
• Símbolos empregados para escala decimal:
– X e D;
– DH (decimal de Hering): preparado pelo método hahnemanninano
• Assim, 1X, D1 ou 1DH corresponde à primeira dinamização decimal;
• No Brasil, emprega-se o símbolo DH
• Exemplo:
• 1 mL da TM de Arnica montana + 9 mL de etanol a 50% + ↓↑ (100) = Arnica
montana 1DH
• Na escala centesimal, a diluição é preparada na proporção 1/100;
• Escala foi criada por Hahnemann;
• Por influência da escola francesa, é a mais utilizada no Brasil;
• Símbolos usados: C, ª, CH ou nenhuma indicação;
• Exemplo do dicromato de potássio, droga solúvel em água:
– 1g de dicromato de potássio + qsp 100 mL água purificada + ↓↑ =
 Kalium bichromicum C1
 Kalium bichromicum 1ª
 Kalium bichromicum 1
 Kalium bichromicum 1CH
• Na escala cinquenta milesimal a proporção é de 1/50.000, ou
seja, uma potência elevada;
• Para esta escala, utiliza-se um método específico descrito no §
270 da 6ª edição do Organon
• Símbolos conhecidos são Q ou LM. Logo 1Q ou 1LM significam a
primeira dinamização cinquenta milesimal

Escalas Proporção Símbolos


Decimal 1/10 DH
Centesimal 1/100 CH
Cinquenta milesimal 1/50.000 LM
• Apesar das correspondências matemáticas, não podem ser
realizadas conversões entre escalas;
• 1 CH corresponde a mesma concentração de fármacos em 2 DH;
• Contudo em 1CH temos 1 potência enquanto que na 2 DH temos 2;
• Não há correspondências qualitativas;
SUCUSSÃO
• Processos para sucussão: manual e mecânico;
• Manual: golpeando fortemente o frasco 100x contra anteparo
semirrígido,
• Movimentos contínuos e ritmados – promover energia cinética
constante;
• Realizado após cada diluição;
• Segura de forma que apenas o fundo bata no anteparo;
• Durante as sucussões, o antebraço deve formar ângulo de mais ou
menos 90° com anteparo;
• Hahnemann usava livro com capa de couro como anteparo;
• Almofadas contadoras, com dispositivos elétricos com reset de 3
dígitos, para ajudar na contagem;
• Processo mecânico com auxílio de máquinas sucussionadoras,
braços mecânicos;
• Processo mais rápido e uniforme;
• Anteparo de poliuretano;
2 processos básicos para elaboração das formas farmacêuticas
derivadas:

1) Diluição da TM ou droga solúvel em insumo inerte adequado,


seguida de sucussões (dinamização líquida);

2) Trituração da droga insolúvel realizada em lactose (dinamização


sólida);
MÉTODOS

Hahnemanniano

Korsakoviano Fluxo contínuo


MÉTODO HAHNEMANNIANO
• Método hahnemanniano (H) pode ser subdividido em 3 outros
métodos:
– Método clássico ou dos frascos múltiplos, para desenvolver
escalas DH e CH, a partir de TM e drogas solúveis;
– Método da trituração, para desenvolver escalas DH e CH, a
partir de drogas insolúveis;
– Método da cinquenta milesimal, específico para LM a partir de
drogas minerais, animais e vegetais, estas duas últimas no
estado fresco, ou a partir de TM (exceção);
MÉTODO KORSAKOVIANO
• Método do frasco único ou fluxo descontínuo, criado para
simplificar o método de Hahnemann;
• Dinamizações em um único frasco;
• Ao ser esvaziado, retinha nas paredes a quantidade de líquido
equivalente a um centésimo do volume anterior;
• Acrescenta-se mais 99 partes de insumo inerte e sucussiona-se a
solução
• Imprecisão da escala: viscosidade da solução, tamanho e a
porosidade do frasco, força empregada na dinamização, etc;
• Usa-se quando precisa preparar altas potências com mais rapidez e
quando não há frascos em número suficiente;
• Somente se justifica em casos de urgência médica;
• No Brasil, empregado para preparar formas farmacêuticas a partir
de 30CH;
MÉTODO DE FLUXO CONTÍNUO
• Surgiu com a introdução de altíssimas
potências na homeopatia;
• James Tyler Kent para obtê-la projetou
um aparelho dinamizador;
• Assim como o método korsakoviano, é
empregado para preparações derivadas a
partir da 30CH;
MÉTODO HAHNEMANNIANO PARA AS ESCALAS
DECIMAL E CENTESIMAL A PARTIR DA TM
INSUMOS INERTES

3 primeiras dinamizações centesimais


Etanol com mesmo teor da TM
6 primeiras dinamizações decimais

Impede que haja ruptura da estabilidade da solução


Potências intermediárias Para a última potência

Etanol a 77% (v/v) Depende da forma farmacêutica

Líquida Sólida

Dose única; Glóbulos;


Solução oral em gts Comprimidos;
tabletes
MÉTODO HAHNEMANNIANO PARA AS ESCALAS
DECIMAL E CENTESIMAL A PARTIR DA TM
MATERIAL
• Frascos de vidro âmbar;
• Repipetadores automáticos (dispensadores);
• Micropipetas;
• Anteparo semirrígido;
MÉTODO HAHNEMANNIANO PARA AS ESCALAS
DECIMAL E CENTESIMAL A PARTIR DA TM
TÉCNICA DE PREPARAÇÃO

Colocar sobre a bancada quantidade suficiente de frascos,


devidamente identificados;

O líquido deve ocupar ½ a 2/3 da capacidade – para dinamizar 20


mL, usa-se frasco de 30 mL

Nos 3 primeiros (centesimal) e 6 primeiros (decimal) acrescentar


com dispensador 99 ou 9 partes de insumo inerte de mesmo título
alcoólico da TM
1 mL 99 mL

1 CH
2 CH 3 CH 4 CH 5 CH 6 CH 7 CH 8 CH 9 CH 10 CH 11 CH 12 CH
TM
Teor de álcool = ao teor TM Dinamizações intermediárias 77%

1 mL 9 mL

1 DH
2 DH 3 DH 4 DH 5 DH 6 DH 7 DH 8 DH 9 DH 10 DH 11 DH 12 DH
TM
Dinamizações intermediárias
Teor de álcool = ao teor TM
77%
EXEMPLO:
Potência a ser preparada = 6DH
Capacidade do frasco dinamizador = 60 mL
No estoque = TM de Lycopodium
Teor alcoólico da TM = 90% (v/v)

Dispensa para o paciente forma farmacêutica líquida em etanol a


90%?

Farmacêutico homeopata orientará o paciente a diluir as gotas desse


medicamento em um pouco de água para evitar ação irritante do etanol
MÉTODO HAHNEMANNIANO PARA AS ESCALAS
DECIMAL E CENTESIMAL A PARTIR DE DROGA
INSOLÚVEL
INSUMOS INERTES

• Trituração (dinamização sólida): finalidade de despertar a atividade


dinâmica de substâncias insolúveis, desagregando suas moléculas
pela força do atrito;
• Usa-se a lactose como insumo inerte;
• Até 3CH e 6DH
• Também utilizado para triturar drogas, solúveis ou não, na
preparação da escala cinquenta milesimal, obrigatoriamente até
3CH
MATERIAL

• Gral, pistilo e espátula de porcelana;


• Papel de pesagem;
• Balança eletrônica de precisão com sensibilidade de 0,001 g,
carga máx para 200 g
TÉCNICA DE PREPARAÇÃO

1) Pesar a droga e lactose;


2) Dividir lactose em três porções iguais;
3) Acrescentar uma parte da droga sobre a 1ª porção de
acordo com a escala decimal ou centesimal;
4) Misturar bem com espátula;
5) Triturar com força por 6 min;

Obs: se a droga for sólida, deverá estar pulverizada na mesma


granulometria da lactose
6) Com a espátula, raspar o triturado que aderiu ao pistilo,
paredes e fundo do gral, homogeneizando por 4 min;
7) Triturar novamente por 6 min, seguido de homogeneização;
8) Acrescentar a segunda porção de lactose
9) Triturar por mais 6 min, seguido de homogeneização;
10) Repetir o primeiro processo
11) Acrescentar a terceira porção e repetir o processo;
12) Ao final de, no mínimo, 1h de operação, teremos a primeira
trituração decimal ou centesimal – 1CH trit. ou 1CH trit.
13) Deve ser acondicionada em pote de boca larga, bem fechada e
protegido da luz.
100 partes de lactose = 6,3 g Divide em 3 de 2,1 g

2,1 g lactose

Triturar por alguns minutos para


fechar os poros do gral

0,063 g ativo
Misturar e em seguida triturar
por 6 a 7 min

0,063 g ativo Obs: empregar força moderada para não


compactar lactose
2,1 g inerte

Raspar o pistilo e o fundo


por 3 a 4 min

Triturar novamente por 6 a 7 min,


seguida de raspagem por 3 a 4 min
2,1 g lactose

Misturar, triturar e raspar

Repetir a trituração e raspagem

2,1 g lactose

Misturar, triturar e raspar

Repetir a trituração e raspagem


Obs: essa dinamização constitui o ponto de partida para as demais
triturações.
 No caso de trituração decimal, fazer mais 5 dinamizações sólidas
até obter 6DH trit.
 Para trituração centesimal, fazer mais 2 dinamizações até obter
3CH trit.

1 parte 100 partes lactose

1 CH 2 CH 3 CH 4 CH 5 CH 6 CH 7 CH 8 CH 9 CH 10 CH 11 CH
• Para solubilizar 6DH trit.: usa-se uma parte do triturado para 10
partes de água purificada aquecida entre 40-45°C;
• Sucussionar 100x para obter 7DH;

Obs: 7DH não pode ser estocada

• Para obter 8DH, dilui 1 parte de 7DH em 9 partes de EtOH 77%


(v/v), para estocar, e a 30% (v/v), para dispensar

• Para solubilizar a 3CH trit.: dissolver em 80 partes de água


purificada, completar para 20 partes de etanol a 96% e
homogeneizar;
• Sucussionar 100x
• 4CH não pode ser estocada
INSUMOS INERTES
• A partir da potência de 30CH o insumo inerte é a água purificada

DINAMIZADOR DE FLUXO CONTÍNUO


• Altas potências são praticamente impossíveis de serem preparadas
à mão;
• Usa-se o dinamizador de fluxo contínuo
Sistema de alimentação

Motor Coluna de vidro

Palheta, pá ou hélice
Torneira
Câmara dinamizadora
Válvula
• Cuidados especiais:

 A entrada de insumo deve acontecer próxima ao centro do vórtice


– a água será turbilhonada antes de ser expulsa;
 100 sucussões = 100 rotações;
 Potência desejada será determinada pelo tempo;
 Deve-se parar sempre 2 dinamizações anteriores àquela que se
pretende obter – fazer as últimas de forma manual: a primeira em
EtOH 77% (v/v) para armazenagem e a segunda conforme
prescrição
 A dispensação de homeopático por meio do método de fluxo
contínuo deve se dar somente a partir da 200FC até 100.000FC
 Calibração é fundamental
CALIBRAÇÃO DO FLUXO

• Tomando como exemplo um aparelho com câmara de 2 mL de


capacidade e motor de 3.600 rpm

3.600 rotações – 60 segundos


100 rotações -- X segundos
X = 1,6666 segundos

• Impossível medir 2 mL nesse curto espaço de tempo, deve-se usar


um cálice de 60 mL

2 mL –- 1,6666 segundos
Regular a válvula de controle do fluxo até
60 mL – X segundos que o tempo seja de 50 segundos
X = 50 segundos
Garantir que 2 mL passe pela câmara
TÉCNICA DE PREPARAÇÃO

• Tomando por base um equipamento com câmara de dinamização


com capacidade de 2 mL e motor de 3.600 rpm;
• Tempo de 1,6666 segundos para cada dinamização;

N = número de dinamizações;
N = (FC – 2) – 30CH FC = potência FC final

• Assim, para preparar 200FC, teremos:

N = (200FC – 2) – 30CH
N = 198FC – 30CH
N = 168 dinamizações
1 dinamização precisa de 1,6666 segundo, logo precisa-se de 280
segundos
• Para saber o volume de insumo inerte a ser colocado no
reservatório de água purificada, multiplica-se o fluxo pelo tempo:

V=FxT
V = 60 mL/50 s x 280 s
V = 336 mL
• Preparar 30CH em EtOH 77% (v/v);
• Encher a câmara de dinamização com a potência de 30CH;
• Acrescentar quantidade suficiente de água purificada no
reservatório superior e coluna;
• Acionar simultaneamente a entrada de água e rotação do motor;
• Esgotado o tempo, interromper o processo;
• Realizar mais 2 dinamizações manuais (1/100)
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ESCALAS E MÉTODOS DE PREPARAÇÃO DAS


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