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VONTADE DE VENCER

O QUE FAZER PARA MELHORAR SUA VIDA NO TRABALHO?


THIAGO VENDITELLI CURY

VONTADE DE VENCER
O QUE FAZER PARA MELHORAR SUA VIDA NO TRABALHO?

Mídia Alternativa Comunicação e Editora

São Paulo
2007
Realização:
Midia Alternativa Comunicação

Diagramação:
Beto Muniz

Capa:
Douglas de Souza

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

V988v
Cury, Thiago Venditelli, 1985 -
Vontade de vencer: o que fazer para melhorar sua vida no trabalho /
Thiago Venditelli Cury. - São Paulo : Mídia Alternativa, 2007.
150p.:il.
ISBN 978-85-98567-11-2
1. Relações trabalhistas.
2. Profissões - Desenvolvimento.
3. Ambiente de trabalho.
I. Título.

07-1912. CDD: 650.13


CDU: 65.012:61

17.05.07 25.05.07 001899

Mídia Alternativa Comunicação e Editora


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Higienópolis - São Paulo - SP CEP: 01307-010
(11) 3231-2917
midia@malternativa.com.br
www.malternativa.com.br
AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus, que me deu


forças para seguir em frente, protegendo-me e iluminando
minha vida; mesmo com todas as pedras que surgiram
em meu caminho, consegui continuar minha jornada com
fé e esperança. Em segundo lugar, aos meus pais, Tufik
Cury Neto e Ana Lucia Venditelli Cury, que me
proporcionaram muitos momentos felizes e aprendizados
durante a minha vida, pois, quando eu mais precisei de
apoio, forças e orações, eles estavam lá, ao meu lado.
Em terceiro lugar, aos meus avós, que mesmo
cansados pela idade avançada, nunca me negaram um
ensinamento ou uma palavra de apoio numa hora difícil.
Em particular, agradeço ao apoio espiritual que meu avô,
já falecido, me proporciona todos os dias. Sei que sua
missão em terra foi cumprida, e, agora, ele continua
olhando pela sua família de um lugar mais elevado, onde
não há brigas nem intrigas, não há falsidade nem
inimizade e todos se unem por um bem maior.
E, por fim, não poderia deixar de agradecer aos
meus amigos que, além de serem fonte de inspiração para
as minhas idéias, ajudaram-me com opiniões, críticas,
elogios e muitas risadas.
Obrigado a todos que estiveram ao meu lado
durante esta jornada.
E nunca se esqueçam: aconteça o que acontecer,
sempre vale a pena recomeçar, de uma maneira diferente.
Agradeço em especial a todos os leitores. Espero
que possam tirar proveito deste livro e levar para suas
vidas uma nova luz, um novo brilho.

Sucesso a todos!
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 9
CAPÍTULO UM ....................................................................................... 11
CAPÍTULO DOIS ................................................................................... 19
CAPÍTULO TRÊS .................................................................................. 27
CAPÍTULO QUATRO ............................................................................. 33
CAPÍTULO CINCO ................................................................................ 43
CAPÍTULO SEIS .................................................................................. 55
CAPÍTULO SETE .................................................................................. 67
CAPÍTULO OITO .................................................................................. 83
CAPÍTULO NOVE .................................................................................. 97
CAPÍTULO DEZ ................................................................................... 109
CAPÍTULO ONZE ................................................................................ 113
CAPÍTULO DOZE ................................................................................. 121
CAPÍTULO TREZE ............................................................................... 127
A ESCOLHA ........................................................................................ 135
VONTADE DE VENCER

INTRODUÇÃO

O que muitos pensam sobre um escritório, uma


empresa, muitas vezes não é verdade. Existe uma grande
divergência na opinião das pessoas, na maneira de agir,
de pensar e até mesmo de liderar equipes. Alguns tentam
lidar com as pessoas como se elas fossem robôs,
produtores em potencial, que não têm o direito de sentir,
de terem problemas pessoais, de apresentarem idéias
novas ou de emitirem sugestões.
Este tempo está mudando. O mercado de trabalho
está cada vez mais competitivo e destacam-se aqueles que
são inovadores. Assim, as oportunidades de crescimento
são maiores. É preciso que os empresários e os seus
colaboradores atualizem-se dos novos mecanismos de
trabalho. Nos dias de hoje, é preciso inovar para poder
sobreviver. Por exemplo: perceba quantas padarias

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existem em seu bairro; a cada esquina podemos ver uma.


O que torna uma melhor dentre as demais é o que ela
oferece de diferente aos seus clientes.
O consumidor não procura somente o melhor
preço, ele também procura o melhor atendimento, o local
mais organizado e também pessoas bem apresentadas e
bem treinadas para atendê-lo. Para que isso aconteça, é
necessário que você treine o seu funcionário, já que é ele
quem tem o maior contato com o consumidor. Ele é o
cartão de visita da sua empresa.
Vale a pena investir na pessoa que colabora para a
maximização dos resultados. Funcionários satisfeitos com
o que fazem, trabalham melhor e produzem mais. E, sem
dúvida alguma, trará excelentes resultados.

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CAPÍTULO UM

A vida se faz de sonhos, vontades, realizações e, é


claro, de rotina. E o maior desafio de todos nós é
transformar essa rotina de trabalho, de estudos e de tarefas
domésticas em prazer. Nosso objetivo é vencer. Vencer
medos, superar obstáculos, ir além a fim de termos algo
para contar, transmitir conhecimentos e ajudar os outros.
Talvez o mais difícil seja combater estas aflições no
ambiente de trabalho. A selva de pedra em que vivemos é
um mundo competitivo, cheio de entranhas e de ações
mesquinhas e ilícitas, para que cada um tire a maior
vantagem para si próprio. Mas se começarmos a mudar
um pouco este conceito, com atitudes mais amáveis, a
competição se tornará mais saudável, sem desgastes,
apenas melhorando a qualidade do trabalho e se
empenhando mais. Frederico aplicava essa vontade de

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vencer nos seus funcionários. Queria estimulá-los. Fazer


de cada um deles um verdadeiro profissional de sucesso.
Doutor Frederico é advogado e administrador de
empresas, foi diretor e consultor de grandes
multinacionais. Hoje, é superintendente na Junção
Recursos Humanos. Ele procurava sempre contemplar
seus dias com pensamentos que o fizessem sentir-se
melhor e em condições de exigir a mesma força daqueles
que trabalhavam com ele. “A cada novo dia temos a
oportunidade de aprender algo novo, de fazer algo que
não fizemos no dia anterior”.
E era com esse pensamento que ele saía de casa,
enfrentava a paulicéia desvairada e ainda chegava bem
humorado à Trivial Recursos Humanos, distribuindo
sorrisos e desejando bom dia. Frederico acreditava que,
com esse comportamento, as pessoas teriam um dia
melhor, com mais alegria. Elas trabalhariam mais
empolgadas, pois muitas poderiam nem ter recebido um
bom dia ao sair de casa.
Talvez tivesse razão. Por causa da correria do dia-
a-dia, muita gente sai de casa sem receber uma saudação.
As razões são várias: talvez porque acordem atrasadas,
por falta de costume, por problemas de relacionamento
em casa ou, simplesmente, por morarem sozinhas. Alguns
acham que com ou sem bom dia é a mesma coisa. Doutor
Frederico sempre acreditou que desejar bom dia, ser
educado e atencioso com os outros era um
comportamento essencial, e isso nunca lhe custou nada.
Lógico que, como todo e bom ser humano, às vezes,
isto não acontecia como o esperado. Algumas pessoas de
mau humor já traziam de casa um rosto amargo, pois, ao
saírem, alguma coisa já tinha dado errado e a vontade era
de nem ter saído da cama. Isso já aconteceu comigo, com
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você, com todo mundo, não é verdade? Pois é, Doutor


Frederico também tinha dias assim, de “acordar com o
pé esquerdo”, mas ele lidava com estas situações de
maneiras diferentes. Nesses dias de sua vida, com
maestria e sabedoria, ele conseguia contornar essas
situações e seguir em frente. Sabendo que tudo o que
acontece à nossa volta é um aprendizado, ele procurava
não se estressar com fatos assim. Além disso, ele tentava
fazer com que todos os colaboradores da empresa se
empenhassem em seus trabalhos.
Esse empenho dentro do ambiente de trabalho tinha
base em uma diretriz do Doutor Frederico: denominar o
funcionário como colaborador. Todos aqueles que
trabalhavam ao seu redor eram colaboradores. Ele dizia
que, se você chamasse um funcionário de empregado, ele
poderia cumprir muito bem as suas funções. Mas, se este
indivíduo fosse chamado de colaborador, o mesmo trabalho
seria feito, só que com muito mais empenho e gosto. Desta
maneira, o trabalhador teria a certeza de que não só
cumpriria suas funções, mas também colaboraria com o
crescimento da empresa. Sendo assim, os lucros
aumentariam, os objetivos seriam alcançados e o
colaborador cresceria junto com a empresa.
Seus funcionários aprovavam a atitude de Doutor
Frederico.
— Como pode agir assim? Preocupar-se tanto com
os funcionários! Nunca vi alguém trabalhar com esse
objetivo. Todos que conheci só se preocupavam com a
produção e, se não alcançássemos as metas, era bronca
na certa.
Apesar de observações positivas, mudanças
causam burburinhos – não só na empresa, mas em todos

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os lugares. E na Junção não foi diferente, alguns não


gostaram e pouco admiravam uma pessoa que se
preocupava com os outros. Frederico se importava tanto
com os seus colaboradores que se dedicava também a
melhorias para eles.
Uma das grandes mudanças que ele proporcionou
aos colaboradores foi o café da manhã, todos os dias,
dentro da empresa. Com um cardápio caprichado, seus
colaboradores podiam sair de casa com mais calma para
tomarem seu café da manhã com seus amigos de trabalho.
Essa iniciativa fez com que o número de pessoas
que se atrasavam diminuísse bastante. Logo, o
desempenho no trabalho também melhorou, fazendo com
que, conseqüentemente, o resultado financeiro da empresa
aumentasse. Percebendo toda esta melhora, Doutor
Frederico resolveu compartilhar de todos os benefícios
com seus colegas de trabalho, diretores e até mesmo com
a presidência da empresa, buscando difundir suas idéias.
Frederico convocou a diretoria para uma reunião,
onde passaria todas as informações de seus projetos, e
juntos traçariam novas metas.
A diretoria aprovou as decisões de Frederico.
Fizeram alguns ajustes e desenharam uma nova meta.
Com isso, começava uma nova jornada.
Doutor Frederico convocou todos os seus
colaboradores a participarem de um café da manhã
especial, onde entrariam uma hora mais cedo, comeriam
algo diferente do habitual, e depois ele comunicaria quais
eram seus novos planos e objetivos.
Após a reunião com a diretoria e o café da manhã
com os colaboradores, um período de testes para o novo
modelo de trabalho foi traçado. Ao final três meses,

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VONTADE DE VENCER

haveria nova reunião para apresentar um balanço da


política de trabalho implantada e os resultados do projeto.
Todos estavam empolgados. Um novo ânimo fazia-
se presente e isso era algo que não se via há muito tempo
naquela empresa. Isto trouxe de volta a esperança para
todos aqueles que trabalhavam por algum ideal, e não
simplesmente por dinheiro e ganância, como era o caso
de algumas pessoas lá dentro. Mais tarde saberemos quem
são e porquê agiam desta forma.
Para que todos pudessem ter um parâmetro, um
planejamento, Doutor Frederico preparou, no período da
manhã, uma planilha onde especificou claramente os
planos e as metas. Colocou os valores e uma idéia que
incentivaria ainda mais seus colaboradores: um benefício,
uma premiação em dinheiro, medida em porcentagem,
no final do ano vigente. Quanto mais progredissem, mais
ganhariam em benefícios no final do ano.
Esta meta ficou traçada da seguinte forma: quando
alcançassem o primeiro objetivo, receberiam uma
premiação; se conseguissem o segundo objetivo, uma nova
premiação um pouco maior, e assim sucessivamente. A
notícia correu por todos os departamentos, a nova meta
estava na boca do povo e as conversas paralelas
começaram a surgir.
Muitos diziam que isto era impossível, jamais
alcançariam os objetivos da forma que ele estava propondo.
Outros acreditavam tanto no Doutor Frederico que não
duvidaram da plena possibilidade de alcançar seus objetivos
e ainda serem beneficiados pelos seus esforços.
Quando Doutor Frederico terminou seus relatórios
sobre os novos objetivos, resolveu montar algumas pastas
com o seu projeto, e também com algumas frases de

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entusiasmo, que combinavam com as características de


cada um de seus colaboradores. Ao terminar de montar
as pastas, dirigiu-se a cada um dos departamentos da
empresa, distribuindo-as.
Ele dizia que o contato mais próximo com os
colaboradores era fundamental para o bom andamento
de seus projetos. Enquanto conversava com as pessoas,
ele ressaltava que elas poderiam fazer algo de diferente
para alcançar seus objetivos. Como exemplo, ele
costumava usar a seguinte frase: “Todos os dias, eu me
levanto e leio a lista dos nomes mais ricos do mundo.
Se meu nome não está lá, vou trabalhar”.
Como ele participava das atividades de todos os
departamentos, e conhecia todos muito bem, ele podia
dar feedback, mas o que ele preferia mesmo era fazer com
que a própria pessoa percebesse seu erro, e lhe dissesse
como poderia ser consertado.
Na maioria das vezes, Doutor Frederico chamava
o colaborador para uma reunião, onde falava da seguinte
forma: “Aqui encontramos algo que poderia ser diferente, ou
até mesmo mais arrojado; você saberia me dizer onde podemos
mudar algo?”. Com esta atitude, ele pretendia criar desafios
e explorar os conhecimentos e as vontades do colaborador.
Quando era necessário chamar a atenção de um
colaborador, ele dizia onde a pessoa havia errado e, em
seguida, o quanto ela era importante para o crescimento
da empresa, do quanto era capaz e que possuía
conhecimento para realizar aquela tarefa. Desta forma,
as pessoas à sua volta não desistiam de seus ideais e não
se desanimavam.
Frederico sabia muito bem como chamar a atenção
de um colaborador. Procurava sempre fazer seus

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VONTADE DE VENCER

comentários ou suas repreensões em um local reservado,


onde ninguém mais pudesse ouvir o que estava sendo
dito, para não causar constrangimentos e nem expor a
imagem da pessoa. Fazia isto por saber que muitos
profissionais costumavam chamar a atenção de um
empregado na frente de qualquer pessoa, causando
timidez, constrangimento, vergonha e até raiva nas
pessoas. Este não era seu objetivo, por isso agia de uma
forma diferente dos outros.
O contato com cada trabalhador resultou em
grande aceitação e um retorno bem acima do esperado, o
que deu a Frederico a certeza de que os colaboradores já
estavam prontos para começar a ingressar nos novos
objetivos. Esta preparação não foi fácil, uma tarefa árdua,
mas de grande valia, afinal o feedback era positivo. Todos
os esforços estavam valendo a pena, porque os resultados
eram visíveis dentro da empresa.
Durante vários dias, as pessoas conversavam,
trocavam idéias, comentavam sobre o andamento de seus
trabalhos e das dificuldades que estavam encontrando.
Porém, no meio de toda esta empolgação, sempre existia
uma ou outra pessoa que não queria saber de nada, que
queria somente subir na vida pelo lado mais fácil, o lado
da corrupção, da roubalheira. Enfim, uma situação que
existe em vários lugares, assim como na Junção, e era isso
o que o Doutor Frederico queria mudar.
Sabendo de que nem todos concordavam com suas
idéias, Doutor Frederico ficou atento às pessoas que agiam
desta maneira, tomando o devido cuidado para que
ninguém atrapalhasse seus trabalhos. Ele não queria que
nada desse errado. Queria ter a certeza que ao final de
todo o seu esforço as pessoas reconhecessem o que ele
havia feito pela empresa e também pelos que nela
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trabalhavam. Infelizmente, não era com qualquer


colaborador que Doutor Frederico podia contar, sabia que
algumas pessoas ali dentro eram “perigosas”. Assim foi
conquistando a confiança das pessoas certas, aquelas que
dispunham a seguir o seu modelo de trabalho, os seus
projetos. Mesmo com esta dúvida em relação a algumas
pessoas, ele não deixou de auxiliar ninguém dentro da
empresa. Ao contrário, continuava à disposição de
qualquer um que precisasse de sua ajuda, sendo uma
necessidade sincera ou não.
Após todas as mudanças, a rotina do Doutor
Frederico se alterou um pouco, e para melhor. Quanto
mais os associados ficavam sabendo dos novos projetos,
mais eles queriam participar das reuniões que ele
proporcionava. O objetivo deles era se aliarem ao modo
de trabalhar de Frederico, e acompanhar a sua evolução
no mercado de trabalho, podendo assim aprender muito
com as pessoas que colaboravam para este crescimento.
As empresas associadas e os respectivos profissionais
sabiam que a troca de experiências e a ajuda mútua
enriqueceriam não só o cotidiano de trabalho, mas
também a vida pessoal, uma vez que muitos não tiveram
apoio para começar a carreira.

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VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO DOIS

A diretoria começou a perceber o quão valioso era


o trabalho que Doutor Frederico desenvolvia. Lógico que
perceberam isso não só por causa do aumento nos lucros
da empresa, mas também porque os clientes não paravam
de comentar como os serviços e o atendimento
melhoraram significativamente, os colaboradores
trabalhavam mais felizes, mais empolgados e o quanto
as representações estavam contentes com os trabalhos.
As melhorias que Doutor Frederico conquistou
eram completamente visíveis. Pessoas felizes no ambiente
de trabalho e dívidas dos credores sendo quitadas, graças
ao novo modelo de cobrança que ele implantou. Quando
os clientes visitavam a empresa, eram mais bem recebidos
e melhor atendidos, em razão de um treinamento
praticado em uma semana, sempre uma hora antes do
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expediente, sobre o tema: “Como atender bem o seu cliente


para que ele traga mais clientes”.
Algumas semanas se passaram e tudo caminhava
tranqüilamente, como era esperado. Doutor Frederico
deixou um canal aberto para que qualquer pessoa pudesse
procurá-lo no momento em que precisasse. “Já que ele nos
deu esta liberdade, vamos até ele”, diziam os funcionários
mais preocupados com o andamento dos projetos. As
pessoas o procuravam, tiravam suas dúvidas, e algumas,
um pouco mais ousadas, experimentavam dar sugestões.
Doutor Frederico, com sua sabedoria, muitas vezes
aproveitava as idéias de seus companheiros, dando uma
incrementada em algumas delas. Sua formação garantia
amparo legal, pois possuía total conhecimento da área
financeira, embasando a execução e o planejamento, com
chances mínimas de erro. Mas ele era prevenido, sempre
contava com eventuais dificuldades que pudessem ocorrer,
como problemas no orçamento e processos judiciários.
Sua vasta experiência permitia-lhe uma tranqüilidade para
enfrentar os problemas. Mesmo que alguma pedra
aparecesse no seu caminho, ele poderia retirá-la com calma
e sabedoria, para que nada desse errado.
Ele se preocupou também em qualificar a rede de
computadores da empresa, promovendo melhoras
significativas no sistema de informações e no arquivo
eletrônico, além de mudanças no site. Visava o aumento
da produtividade, realizava mais reuniões do que de
costume para manter sempre atualizados os novos
projetos e os resultados. Entre tantas melhorias, seriam
necessárias novas contratações.
Enquanto tudo isto acontecia na empresa, os
diretores conversavam entre si, trocavam opiniões sobre
como a situação estava melhorando e como as atitudes do
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VONTADE DE VENCER

Doutor Frederico estavam trazendo lucros para a Junção


Recursos Humanos, entre outras coisas. Decidiram,
então, contratar mais pessoas para ajudar no crescimento
da empresa. Os membros da diretoria sabiam que era
necessário acompanhar o ritmo do superintendente com
a contratação de novos funcionários. Se ele cria novos
departamentos, é preciso contratar ou promover
algumas pessoas.
Após muitas conversas e inúmeras reuniões, a
diretoria chegou a um acordo de que deveriam contratar
três novas pessoas e promover duas. Quando a decisão
foi transmitida ao Doutor Frederico, ele se sentiu muito
orgulhoso por saber que seu trabalho estava sendo
reconhecido, e que seus esforços estavam acarretando em
novas contratações. Isso era gratificante.
Foram decididas as novas vagas e o pessoal a ser
promovido, afinal, havia na Junção pessoas que buscavam
sempre o seu crescimento pessoal e profissional; nada mais
justo do que promover os mais competentes para as novas
funções. Regras foram impostas e a diretoria faria as novas
contratações; entretanto, Doutor Frederico tomou a frente
da situação e resolveu que ele mesmo faria as entrevistas
com os candidatos e, conseqüentemente, as escolhas dos
novos contratados.
— Como posso exercer a minha função aqui dentro,
se vocês não me dão liberdade para isso? - disse Doutor
Frederico, querendo mostrar o quanto queria trabalhar
para o crescimento da empresa, e de todos os
colaboradores também, fossem eles novos ou antigos.
A argumentação do Doutor Frederico deixou
alguns diretores contrariados, mas eles permitiram que
ele fizesse as contratações. Após as devidas seleções de

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currículos, as pessoas selecionadas foram chamadas para


uma entrevista, onde ele conversava, no mínimo, com uma
pessoa por dia.
Durante as entrevistas, pôde conhecer vários tipos
de profissionais. Pessoas dispostas a crescer, querendo algo
melhor em suas vidas e também pessoas tímidas, com
medo do novo, medo de desafios, pessoas que não sabiam
se expressar. Claro que os selecionados seriam os que mais
tinham interesse em crescer, em ter novos desafios em
suas vidas profissionais. Não que estas pessoas “menos”
qualificadas não sejam profissionais capazes de exercer
as funções, só que elas levariam mais tempo para fazer os
trabalhos como ele gostaria, por isso, os melhores
qualificados seriam os primeiros contratados. Após a
formação dos setores e o andamento do projeto, seriam
feitas novas contratações.
Tendo a certeza da escolha feita, ele comunicou aos
colaboradores quem seriam as novas pessoas a trabalhar
na empresa. Solicitou a Carmem, responsável pelo
departamento de cadastros, que avisasse aos candidatos
selecionados que providenciassem seus documentos para
a contratação.
Foi decidido também quem seriam as pessoas para
auxiliar os novos colaboradores nas suas funções, quem
ensinaria como o era o funcionamento e o cotidiano da
empresa. Esta pessoa responsável por ajudar o novo
colaborador a se adaptar era denominada pelo Doutor
Frederico como “padrinho” ou “madrinha”.
Durante quinze dias, os “padrinhos” deixavam um
pouco os seus afazeres de lado para auxiliar o novo
colaborador. Doutor Frederico havia implantado esta idéia
na empresa, para que as pessoas se conhecessem melhor,
promovendo uma união maior e criando laços de amizade.
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VONTADE DE VENCER

Essa atitude tinha tudo para dar certo. É possível


fazer novos amigos onde trabalhamos, nos relacionar
melhor com uma pessoa de nossa equipe, simplesmente
pelo fato de almoçarmos juntos ou de irmos embora no
mesmo ônibus.
Existem pessoas dentro de empresas que moram
no mesmo bairro e nem sequer sabem disso, porque não
conversam ou não se relacionam muito bem umas com
as outras.
Logo após estas denominações, os novos
colaboradores foram destinados aos seus setores, e
também as devidas promoções foram feitas: uma pessoa
foi promovida para o setor financeiro; o outro, para o
administrativo. Em relação aos novos, um foi para o
administrativo, outro para o setor de vendas e uma moça
para a recepção. Doutor Frederico ressaltava que a
recepção é uma parte importante da empresa, pois é o
local que as pessoas chegam e devem ser bem recebidas.
Segundo suas palavras “a recepção é a primeira impressão
que uma pessoa tem da empresa”.
Todos receberam ajuda dos antigos funcionários.
Doutor Frederico aprovou a ajuda dada aos
colaboradores novos, e disse, em tom de elogio, a todos:
“se todas as pessoas soubessem passar um pouco de seus
conhecimentos ao próximo, aos seus amigos, tanto na vida
profissional como na vida pessoal, estas poderiam desfrutar de
benefícios maravilhosos, como a gratificação de poder observar
uma pessoa cumprindo uma tarefa com sucesso, e ter a certeza
de que se hoje esta pessoa é capaz de exercer esta função, foi
porque teve o auxilio de um de vocês”.
Naquela empresa, a solidariedade e o gosto por
ensinar o próximo faziam parte de um objetivo a ser

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THIAGO VENDITELLI CURY

cumprido dia após dia, mas, infelizmente, não eram


todas as pessoas que pensavam desta forma. Algumas
delas queriam realizar seus objetivos pelo lado mais
“fácil” da vida.
Para os novos contratados, o simples fato de
obterem um treinamento, de serem capacitados a
desenvolver tarefas e de poderem assumir
responsabilidades iguais às dos outros profissionais, era
muito valioso. Os benefícios adquiridos desta ajuda e deste
ensinamento refletiriam coletivamente dentro da empresa
e também na sociedade.
Doutor Frederico preocupava-se também em
conscientizar seus colaboradores de que era preciso a
cooperação com estas novas pessoas. Percebendo mais
uma vez o resultado positivo de seus atos, ele decidiu então
promover uma palestra onde trataria de assuntos de
conscientização para esta necessidade de compartilhar os
ensinamentos e seus conhecimentos. Um de seus
argumentos era:
“Se nós, que somos os representantes da sociedade,
tratássemos os novos profissionais com olhar de humanidade e
não de simples empregados, muitas pessoas teriam mais
conhecimento hoje em dia. Assim, logicamente, teríamos um
número menor de pessoas desempregadas”.
“Não que esta responsabilidade seja nossa, mas podemos
cumprir com as nossas obrigações, podemos contribuir com a
nossa parte, por isso estou criando estas palestras de
conscientização das pessoas para este novo tempo; o tempo de
ensinamento”.
Pensando em como poderia começar seu novo
trabalho, Doutor Frederico decidiu pedir a opinião de
alguns amigos do ramo, para saber quais as dificuldades

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VONTADE DE VENCER

que eles encontravam no mercado de trabalho. Procurou


saber também como as empresas de seus amigos agiam
em relação a estas novas contratações e a outros assuntos.
Logo que conseguiu reunir as informações que seus
amigos empresários lhe forneceram com muito prazer,
começou a colocar suas idéias no papel. Enquanto escrevia,
não podia deixar de recordar do seu passado, dos seus
ensinamentos e aprendizados. Lembrou-se das primeiras
pessoas que passaram pela sua vida profissional, seus
primeiros chefes, seus amigos de trabalho e até mesmo
de professores da universidade.
Frederico queria colocar um pouco da sua história
pessoal nesta nova empreitada. “Precisamos de novas
idéias, de novas propostas, de contestações que mudem
o posicionamento do setor empregatício e dos
empresários em geral. Temos que eliminar os preconceitos
que ainda existem sobre os novos profissionais, todos têm
total capacidade de aprender, alguns com mais facilidade,
outros com mais dificuldade, mas ninguém é
impossibilitado de aprender algo novo. A inclusão destas
pessoas não é somente um assunto empresarial, mas
também um assunto social”.

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VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO TRÊS

No que diz respeito a operacionalidade das novas


contratações, a capacitação é essencial para dar início à
uma nova jornada. A praxe do mercado é permanecer
com o quadro de funcionários já existentes, sem
aumentar o número de pessoas trabalhando em suas
dependências, já que isso aumentaria os custos e
acarretaria em riscos financeiros. Entretanto, Doutor
Frederico acredita que se devem dar novas chances às
pessoas que estão começando suas carreiras
profissionais, principalmente àqueles que têm visão de
empregabilidade. E o que é empregabilidade?
“Empregabilidade são os diferenciais de um profissional
que fazem com que ele se mantenha ou se recoloque rapidamente
no mercado de trabalho, onde as pessoas têm a oportunidade
de mostrar suas qualificações, fazendo com que sejam escolhidas
para exercer suas funções”.
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THIAGO VENDITELLI CURY

Esta era uma grande briga que o Doutor Frederico


estava comprando com os diretores, os supervisores e o
presidente, mostrar algo diferente do que eles acreditaram
ser o correto durante todas as suas vidas.
Concluída a primeira parte do projeto, Frederico
decidiu que era a hora de convocar uma reunião com a
diretoria da empresa. Pediu a Andressa, sua secretária,
que marcasse o encontro com os diretores para quarta-
feira da semana seguinte. Afinal, mesmo com a autonomia
que lhe foi dada, ele devia satisfações e esclarecimentos
aos seus superiores. Apresentaria o projeto de inserção
de novos profissionais no mercado de trabalho.
Uma hora depois, Andressa comunicou ao chefe
que estava tudo acertado e a reunião confirmada. “Muito
bom, Andressa, você é muito eficiente”. Ele prezava muito
a capacidade de seus colaboradores e por isso fazia
questão de lhes dar um feedback. Este retorno era essencial
para que continuassem exercendo suas obrigações da
mesma forma, ou até melhor.
Doutor Frederico sentia-se satisfeito por ter na sua
equipe pessoas tão habilidosas. Sentia-se ainda mais
recompensado por saber que quase todas as pessoas da
empresa começaram de baixo, aprenderam de tudo um
pouco e tiveram o apoio de outros colaboradores para
chegarem onde estão, e isto fazia com que ele se
empenhasse ainda mais em seu projeto.
Enquanto o dia da reunião não chegava, Doutor
Frederico aproveitava seu tempo livre para continuar a
colocar no papel suas mais novas idéias. Ele fazia pesquisas
de mercado relacionadas com novas contratações, buscava
informações em livros, jornais, revistas da área de Recursos
Humanos, entre tantos outros lugares, além de conversar

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VONTADE DE VENCER

muito com amigos e conhecidos. Chegou até a pedir a


opinião de seus familiares, o que eles pensavam a respeito
do assunto, e como percebiam o retorno desta nova atitude
para as empresas.
Com o passar da semana, Doutor Frederico foi
concretizando seu trabalho, mas sem se esquecer em
momento algum dos seus colaboradores. Ele sempre
estava presente em todos os departamentos, prestando o
auxilio que havia prometido a eles, para que continuassem
a cumprir suas metas com sucesso.
Na terça-feira, um dia antes da reunião com a
diretoria, Doutor Frederico preparou a apresentação que
usaria. Revisou todo o seu trabalho, corrigiu erros,
acrescentou mais alguns detalhes e, quando estava com o
projeto pronto, pôde respirar tranqüilo: “Mais uma vez,
trabalho cumprido com excelência”.
Poderia agora pensar com calma na maneira que
apresentaria seu novo projeto à diretoria, como iniciaria a
sua abordagem, como exporia suas pesquisas sem que
causasse tumulto e discussões. Afinal, o que as pesquisas
de mercado apresentavam não era nem um pouco
parecido com a atitude dos empresários ali presentes.
Decidiu então pedir a ajuda de Andressa, já que
ela sabia detalhadamente como os diretores preferiam
observar uma apresentação. Aproveitou a ajuda da
secretária e pediu a opinião em alguns pontos de seu
projeto.
— Doutor Frederico, está maravilhoso! O projeto
é perfeito e a apresentação não poderia estar melhor. Está
tudo de acordo com o que os diretores gostam.
— Andressa, muito obrigado por sua ajuda. Se os
resultados desta reunião forem positivos, como

29
THIAGO VENDITELLI CURY

esperamos, você vai ver como tudo irá mudar aqui nesta
empresa e em outras também.
— Certamente seus projetos trarão bons resultados
para esta empresa, Doutor, e o senhor será reconhecido
por seu trabalho, dedicação e esforço neste e em outros
projetos.
— Querida Andressa, todos estes projetos que
estou desenvolvendo aqui na empresa não são pelo
reconhecimento das pessoas, mas sim pelos meus ideais.
Não há prazer maior do que a satisfação de ver um projeto
dando certo e as pessoas se beneficiando com os
resultados. Logicamente, ser reconhecido é algo bom, mas
não podemos esperar do outro algum tipo de
reconhecimento para nos sentirmos bem, “nunca devemos
fazer da opinião do outro o termômetro da nossa auto-estima”.
— Doutor Frederico, como é bom ouvir e
compartilhar dos seus ensinamentos. Trabalhar com o
senhor é como uma escola para mim. Sempre que venho
para o trabalho, logo quando acordo, me pergunto: O que
eu vou aprender hoje? Com o que vou poder contribuir
para o crescimento daqueles que trabalham comigo e para
o meu crescimento pessoal também?
— Comecei a pensar assim depois que o senhor
veio trabalhar aqui. Pude conhecer vários tipos de
superintendentes e nunca tinha visto alguém com a
sabedoria que o senhor tem. Se estas pessoas que passaram
pela empresa tivessem tido a mesma dedicação em criar
projetos, de lutarem por algum ideal, como o senhor está
fazendo, as coisas poderiam estar melhores para todos
nós há algum tempo. Mas os outros profissionais não
colocavam esta sabedoria para fora, guardavam todo o
seu conhecimento para eles mesmos.

30
VONTADE DE VENCER

— Pois é, Andressa, muitas vezes as pessoas


pensam que, se compartilharem algo bom com seus
colegas, estarão colocando seus cargos em risco; mesmo
lhes ajudando, passando seus conhecimentos para frente,
continuarão correndo riscos, podendo ter seus cargos
“roubados”. Muitos empresários que eu conheço pensam
que, se compartilharem de algo que aprenderam em suas
vidas, podem estar dando a chave do sucesso para o
outro “de mãos beijadas” ou “de graça”, e não percebem
que temos que transmitir o nosso conhecimento e as
nossas técnicas. Se nós nos prendermos a estas “técnicas
velhas”, deixaremos também de aprender coisas novas.
Pessoas que sabem algo a mais do que nós também não
irão compartilhar seus conhecimentos conosco. E aí? O
que faremos para recuperar o tempo perdido?
— O que eles ainda não se deram conta é que
qualquer pessoa pode fazer isso, até mesmo a própria
diretoria da empresa pode decidir se é necessário trocar
de profissional, e não apenas mudar por mudar, como já
aconteceram várias vezes. Então, Andressa, enquanto eu
estiver ocupando a minha cadeira de superintendente,
sempre farei tudo o que estiver ao meu alcance para o
crescimento da empresa e dos colaboradores.
Espantada com tanta coragem e dedicação,
Andressa decidiu permanecer em silêncio por alguns
instantes, como se não tivesse palavras para descrever o
quão importante era o aprendizado que obtinha
diariamente com Frederico.
Logo após ouvir o que o superintendente disse,
Andressa resolveu ir mais longe com os seus
questionamentos, aproveitando a ênfase que ele havia
dado ao assunto.

31
THIAGO VENDITELLI CURY

— Doutor Frederico, o que podemos fazer para que


os diretores das empresas realmente queiram nos ajudar?
— Não podemos fazer nada, além de
expressarmos as nossas idéias. Então, teremos que
aguardar a colaboração deles. O que eu realmente
gostaria de fazer era, simplesmente, estalar os dedos e
fazer com que as coisas ficassem diferentes e mudassem
para melhor. Assim, eu teria mais tempo para desfrutar
dos resultados. Mas isto não me levaria a nada, pois
como saberia definir o que é superar um desafio? O
que é conquistar algo que tanto se deseja? Como eu
compreenderia o que é ser bem sucedido na vida? Se
as coisas são fáceis, os esforços não valeriam de nada,
as opiniões não seriam aceitas! As regras seriam
quebradas. Por isso, a única coisa que nos resta é fazer
a nossa parte e esperar que eles cumpram com a deles.
A conversa fluía tão bem que nem perceberam a
hora do almoço chegar. Doutor Frederico convidou
Andressa para almoçar, pois, como um homem esperto,
ele sabia que, de estômago vazio, é mais difícil criar
novas idéias.

32
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO QUATRO

Enquanto Frederico e Andressa iam para o


restaurante, muito freqüentado pelos funcionários da
empresa e “eleito” por eles como sendo a mais deliciosa
massa da região, aproveitaram para colocar a conversa
em dia. Afinal, no horário de almoço é que eles podiam
conversar sobre coisas que não diziam respeito à empresa.
Mas quem disse que eles conseguiam não falar de
trabalho? Andressa, em sua primeira frase fora do
ambiente de serviço perguntou:
— Doutor Frederico, como as pessoas estão
reagindo com a sua maneira de trabalhar? Como está
sendo a aceitação dos seus projetos?
— Bem, pelo menos ao meu ver, os nossos
colaboradores estão satisfeitos. Todos estão contentes com
a minha maneira de providenciar as devidas mudanças e

33
THIAGO VENDITELLI CURY

com o meu jeito de tratar carinhosamente as pessoas. Acho


que elas nunca tinham trabalhado com alguém que tem
como primeira ação da manhã, logo ao pisar na empresa,
desejar um bom dia. Algumas atitudes surpreendem! Mas
este meu comportamento é o que todos nós deveríamos
ter diariamente em nossas vidas, com todas as pessoas à
nossa volta. Não nos custa nada desejar um bom dia e ser
educado com nossos amigos, familiares, companheiros
de trabalho, entre tantas outras pessoas que convivemos
durante os nossos dias.
Andressa, impressionada com as palavras de
Doutor Frederico, quis saber mais sobre como, quando e
onde ele havia aprendido todas estas coisas.
— Como o senhor conquistou este jeito de ser, esta
forma carismática de tratar as pessoas à sua volta? –
perguntou a secretária ansiosa por mais informações, já
que via no chefe um modelo de profissional.
— Antes de responder-lhe, posso-lhe fazer uma
pergunta, Andressa?
— Claro que pode, Doutor Frederico.
— Para você, o que é o Auto-Conhecimento?
— Doutor Frederico, que pergunta difícil! E
também bem diferente, por sinal! — titubeando um pouco,
mas continuando logo em seguida — Para mim, Auto-
Conhecimento, é quando sabemos o que queremos para
a nossa vida, é o que sabemos de nós mesmos, o que
gostamos, que dia da semana preferimos e o porquê
preferimos. Também é o tipo de cheiro que mais nos
agrada, estas coisas... Por quê?
— Você não está errada, Andressa, mas Auto-
Conhecimento é também uma maneira de olharmos para
dentro de nós mesmos, para o nosso próprio interior,
34
VONTADE DE VENCER

percebendo qual é a nossa essência, os nossos padrões, as


nossas experiências de vida, a cultura social. Somente
assim podemos encontrar um sentido para nossas vidas.
Quando nós conseguimos alcançar todas estas coisas
dentro de nós mesmos, poderemos definir uma maneira
de agir, qual o melhor comportamento que podemos ter,
de que forma desfrutaremos nossas vidas e como vamos
superar os nossos desafios e obstáculos.
Andressa ficou pensativa. Desmembrava aquele
aprendizado, atentando para cada palavra. Enquanto a
moça refletia, ambos resolveram pedir a comida. O
garçom aproximou-se, sugeriu alguns pratos. Pediram
capelete ao molho branco e um vinho para acompanhar.
— Onde paramos nossa conversa, Andressa?
— O senhor estava falando sobre Auto-
Conhecimento.
— Claro! Deixe-me lhe explicar. Todos nós temos
uma intuição, algo que nos diz o que devemos fazer ou
não, como devemos agir em determinadas situações, etc.
Nós já nascemos com esta intuição. A única coisa que
temos a fazer durante a nossa vida é aprendermos a colocá-
la em prática. Eu costumo dizer que esta intuição é a “voz
do nosso coração”.
— “Voz do nosso coração”, como assim?
— Veja bem, Andressa, quando você está com
dúvida, por exemplo, em decidir por alguma coisa, algo
que queira muito, mas não tem certeza se deve fazer ou
não, o que acontece? Neste momento, se parar por alguns
instantes e pensar se deve realmente fazer, você vai ouvir
uma voz interior que lhe dirá o que deve ser feito. Você
pode acreditar que a resposta estará certa. Isto porque o
seu coração jamais irá mentir para você, não é mesmo?

35
THIAGO VENDITELLI CURY

— Acho que sim. Nunca tentei fazer isto, mas creio


que nós não nos enganamos com as coisas. Acho que tudo
acontece como deveria acontecer, se eu escolho por algo,
mas no fim vejo que foi a escolha errada, não fui enganada,
fui alertada a não errar novamente. Acredito que seja um
aprendizado, para que na próxima oportunidade eu possa
fazer do jeito certo.
— Perfeito! Mesmo assim, com esta sua facilidade
em compreender o raciocínio das coisas, não pense que
é fácil ouvir uma voz interior, algo que você não vê,
somente pode ouvir e sentir. As pessoas têm medo,
acham que é coisa do outro mundo, mas ninguém se dá
conta de que um dia já passaram por algo parecido. Elas
não se atentam aos detalhes e este acontecimento acaba
passando desapercebido. Ninguém nunca pára e pensa
“como eu decidi por algo sem ter a certeza de que era o
melhor a ser feito?”. E pode acreditar que era a sua
intuição lhe dizendo o que fazer.
— Doutor Frederico, quantos ensinamentos
maravilhosos estou aprendendo! Espero que o senhor
não tire férias nunca, assim lhe verei sempre e não
deixarei de aprender.
— Querida Andressa, você sempre irá aprender
coisas novas seja comigo, ou com outra pessoa. A nossa
vida é feita de aprendizados. Com alguns, nos
identificamos mais, com outros não nos damos tão bem
assim, mas sempre estamos aprendendo algo. Quando
conhecemos algumas pessoas, não é por acaso que elas
apareceram. Se conhecermos um amigo novo, e nos
identificamos muito com ele, por exemplo, é que temos
algo importante para aprender com ele, ou até mesmo
temos algo a lhe ensinar. Ou, de repente, se deixamos de
nos encontrar com uma pessoa, é porque o que tínhamos
36
VONTADE DE VENCER

que aprender com ela terminou, e o que tínhamos a ensinar


também se encerrou. Espero que você faça bom uso das
minhas palavras, e que sempre conte com a minha ajuda
para o que precisar.
Enquanto almoçavam, o silêncio pairava sobre
aquela mesa, a comida estava tão gostosa que as únicas
palavras que podiam ser ouvidas eram: “Por favor, passe-
me o sal”. “Por favor, traga-me uma garrafa de água”.
Naquele momento, o assunto tão interessante foi
interrompido pela imensa vontade de comer.
O almoço não durou mais do que 40 minutos, e
assim que terminaram de comer, Doutor Frederico pediu
um cafezinho. Andressa quis um pedaço de bolo de
chocolate como sobremesa.
Após pedirem a conta, Andressa sugeriu ao Doutor
Frederico que, ao chegarem à empresa, conversassem um
pouco mais, chamando Carmem, agora coordenadora do
departamento administrativo, para interagir. Os três não
teriam nenhum compromisso importante e trocariam
idéias sobre o ambiente de trabalho e a convivência interna.
Ao chegarem no escritório, adiantaram algumas
tarefas pendentes para que pudessem se reunir sem
nenhum contratempo. Logo que terminaram, Andressa e
Carmem prepararam alguns documentos para serem
vistos durante a reunião. Frederico estava ansioso para
expor suas novas idéias às moças.
Os três dirigiram-se à sala de reuniões e pediram
para que não fossem incomodados. Apesar de não ser
um assunto confidencial, era melhor não perderem o fio
da meada com interrupções.
A porta fechada da sala de reunião despertou a
curiosidade das pessoas dentro do escritório. Os ânimos

37
THIAGO VENDITELLI CURY

ficaram aguçados. “O que será que está acontecendo?


Porta fechada e não querem ser interrompidos? Algo
estranho pode estar começando a acontecer”. Alguns,
mais exagerados, diziam: “Temos que nos prevenir, se eles
vão se unir, nós também devemos fazer uma aliança”.
Como ninguém imaginava o que era discutido
naquela sala, os mais preocupados tiraram suas próprias
conclusões e tomaram atitudes sobre a conversa misteriosa
dos três. E eles iriam se defender! Não sabiam o que ia
acontecer daquele dia em diante, mas na opinião deles,
era necessário se prevenir. Eles pensavam que, se os
assuntos da reunião fossem de interesse de todos, Doutor
Frederico deveria fazer uma reunião coletiva, e não de
portas fechadas e a um “público” limitado.
Se prevenir contra o quê? Eles estavam se
precipitando, já que os planos de Doutor Frederico tinham
como objetivo trazer o bem-estar para todos dentro da
empresa. Mas eles decidiram, antecipadamente e sem
conhecimento dos fatos, se armar contra o
superintendente, Carmem e Andressa.
O que será que levou estas pessoas a pensarem mal
do Doutor Frederico? Provavelmente a influência que
alguns exercem sobre outros. Talvez fosse somente fofoca.
Doutor Frederico foi julgado sem motivos e pagaria um
preço por esse julgamento.
Essa atitude se deu porque o “medo” está na mente
das pessoas. Se elas confiassem em si mesmas, não teriam
motivos para julgar o Doutor Frederico como uma má
pessoa, com más intenções. Elas viram o perigo, onde
existia somente a bondade. “Cada um vê aquilo de
acordo com os óculos que usa”.
Sem que Doutor Frederico percebesse, algumas
pessoas começavam a olhar para ele de uma maneira
38
VONTADE DE VENCER

diferente, achavam que ele estaria tramando algo ou


reunindo forças a seu favor. Desta maneira, começaram a
tratá-lo de uma forma mais retraída, com um pouco de
desconfiança, com o “pé atrás”.
Ninguém poderia imaginar que algo deste tipo
pudesse acontecer. Talvez, com os antigos diretores, mas
não com o Doutor Frederico. No princípio, ninguém
percebeu nada, pois as observações eram feitas às
escondidas. Após o término da reunião, Doutor Frederico,
Andressa e Carmem começaram a trabalhar de uma
maneira mais alegre e mais empolgada, provocando mais
desconfiança nas outras pessoas.
“Vamos prestar muita atenção no comportamento
deles, vamos nos atentar em como serão as coisas daqui
para frente”, diziam os opositores.
Os dias foram se passando, o trabalho seguia
normalmente e ninguém desconfiava de nada. Para a
maioria das pessoas, as coisas estavam normais e
melhorariam em breve. Enquanto isso, outros pensavam
em como destruir o superintendente que, em tão pouco
tempo de empresa, já promovia significativas mudanças.
Eles desconfiavam das reais intenções de Frederico.
Estamos atentos aos novos movimentos do Doutor
Frederico e sua turma. Se eles querem nos derrubar,
podemos fazer isto primeiro.
As pessoas tiram suas próprias conclusões e
relatam falsos acontecimentos. A desconfiança em
Frederico era tão grande que ninguém se preocupou com
o fato de que poderiam prejudicar alguém ou, até mesmo,
eles próprios. Mais alguns dias se seguiram sem que nada
viesse à tona. Tudo parecia normal. Enquanto alguns
estavam felizes e aguardando as mudanças, outros

39
THIAGO VENDITELLI CURY

estavam preocupados, tensos, não disfarçando a


ansiedade sobre o que estaria para acontecer.
Os procedimentos que foram mudados, aos poucos
foram dando resultados, e, por sinal, bons resultados. Os
modos de cobrança foram alterados, assim como o
funcionamento em alguns departamentos. Os promovidos
já trabalhavam nas novas funções, e os contratados já se
encontravam familiarizados com o trabalho.
Quase todos os dias, Doutor Frederico reunia-se
com algumas pessoas dos departamentos para saber como
estava o andamento das novas funções. Ele queria saber
também se elas tinham dúvidas, como os clientes estavam
reagindo e como estavam as inscrições para os novos
treinamentos que a empresa oferecia. Em relação aos
cadastros das empresas, ele quis saber se estavam sendo
feitos de acordo com as novas regras. Frederico pediu um
relatório das empresas que estavam inadimplentes e que
agora regularizavam a situação depois dos novos
procedimentos de cobrança.
Como já foi dito antes, a reformulação nos quadros
da empresa envolveu contratações e mudanças de função.
A recepcionista foi promovida a auxiliar administrativa.
O mensageiro passou a ser auxiliar financeiro, no setor de
contas a pagar.
Para o setor de vendas e cobranças foi contratado
Matheus, um rapaz jovem, mas experiente. Além dele,
foi contratada uma moça para o lugar da antiga
recepcionista e um novo mensageiro. Todos estavam em
caráter de experiência, e teriam que mostrar vontade de
crescer para assegurarem o posto.
Na empresa, o office-boy era chamado mensageiro.
Todos diziam que a nova nomenclatura era uma evolução

40
VONTADE DE VENCER

do office-boy tradicional. O mensageiro fazia quase os


mesmos serviços de um boy, mas com uma apresentação
diferente, de roupa social, por lidar com diretores, grandes
empresários e donos de multinacionais; ele seria a cara da
empresa na rua. Doutor Frederico sempre ressaltava:
“O mensageiro é quem leva a empresa para as outras
pessoas, se ele não estiver bem apresentado, estará passando a
idéia de que a empresa não é bem apresentável para os outros”.
Após a implantação da nova organização, Doutor
Frederico foi conversar pessoalmente com os
colaboradores promovidos e contratados. Ele queria saber
como eles estavam se adaptando, o que estava faltando,
se precisavam da sua ajuda. Enfim, queria que os novatos
se sentissem à vontade.
As contratações feitas por Frederico foram
planejadas para atuar flexivelmente, ou seja, o novo
funcionário tinha a sua função específica, mas ele também
atuaria em outros setores. Então, durante duas semanas,
o superintendente fez um rodízio de tarefas a fim de
analisar onde cada um se encaixava melhor. Por exemplo,
caso Matheus se adaptasse melhor com a área de vendas,
inicialmente, ficaria nesta função.
A partir das mudanças implantadas, as tarefas
fluíam normalmente na empresa. Funcionários novos
cumpriam suas obrigações, cafés da manhã eram
realizados durante toda a semana e a produtividade
aumentou consideravelmente. Mais empresas associadas
participavam dos treinamentos e reuniões aconteciam
como nunca dentro da empresa. Tudo parecia tranqüilo.
Em um belo dia, Doutor Frederico acordou
inspirado para novos desafios em sua carreira profissional
e resolveu agitar um pouco o cotidiano da empresa. Novos

41
THIAGO VENDITELLI CURY

desafios, mas sem se esquecer de seu projeto de montar


um curso ou uma palestra que tratasse da conscientização
das pessoas em relação às novas contratações. Além
disso, era preciso conscientizá-los da importância em
passar seus conhecimentos para frente, trocar
experiências e aprendizados.
Quando chegou ao trabalho, convocou alguns
funcionários para uma reunião, sem que eles soubessem
o assunto em pauta. Todos ficaram agitados, correndo
para um lado e para o outro, buscando relatórios dos
últimos seis meses, providenciando os documentos que
foram solicitados, buscando as informações no sistema,
imprimindo relatórios de última hora. Uma loucura logo
de manhã. Mas era isto mesmo que ele queria, saber o
quanto essas pessoas estavam dispostas a se
empenharem em novos desafios. Tudo para ser
apresentado no café da manhã do dia seguinte.
— Neste café da manhã, iremos abordar as novas
mudanças e o porquê de eu estar querendo colocar em
prática todas essas idéias. Vamos falar um pouco sobre
como as pessoas estão encarando estes novos desafios, se
vocês estão encontrando alguma dificuldade, qual a
repercussão deste novo projeto fora da empresa e como
os outros profissionais estão encarando as nossas
mudanças. Conversaremos um pouco também. Algo bem
diferente da rotina de vocês, pelo menos no período da
manhã — brincou Doutor Frederico, para quebrar o gelo
que se instalava naquela sala — Afinal, todas as pessoas
presentes temiam o que estava para acontecer. Uma
reunião de última hora, com um café da manhã, realmente,
era bem estranho.

42
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO CINCO

Todos ficaram espantados com a atitude do Doutor


Frederico, mas, com certeza, estariam presentes naquele
café da manhã “especial”.
Ao final do dia, com muito trabalho e dedicação,
todos os objetivos haviam sido alcançados e suas
solicitações atendidas.
Doutor Frederico decidiu trabalhar até um pouco
mais tarde, para preparar uma apresentação onde pudesse
mostrar aos colaboradores que eles faziam parte de uma
equipe, que o trabalho deles era muito importante para a
empresa. Queria criar algum texto que lhes proporcionasse
uma sensação boa, uma motivação, para buscarem mais
resultados e alcançarem seus ideais mais facilmente, tanto
profissionalmente quanto em suas vidas pessoais. Colocou
no papel tudo o que estava em sua mente. Ao final

43
THIAGO VENDITELLI CURY

daquelas horas a sós em sua sala, redigiu um bom texto,


que lhe deu a certeza de sucesso garantido na manhã
seguinte. Inseriu algumas frases para meditação, para que
as pessoas refletissem sobre seus ideais, sobre seus sonhos
e suas vontades.
A apresentação contava com um vídeo
motivacional e algumas animações. Sua idéia era
promover uma espécie de debate, mas ele ainda não tinha
tudo formulado. Como já era tarde, decidiu pensar a
respeito no caminho de casa.
No caminho, ligou para sua esposa e pediu que ela
preparasse um jantar especial e abrisse uma garrafa de
vinho, para comemorarem mais um objetivo que ele
conseguiu realizar dentro da empresa. Sua felicidade
naquele dia era evidente, pois tinha aprendido muitas
coisas, mas ele não sabia que o maior aprendizado ainda
estaria por vir.
Ao parar o carro no semáforo, viu um homem
pedindo esmola. Ele aparentava mais ou menos uns 35
anos de idade, cabisbaixo, com uma roupa velha e de pés
descalços. Parecia perigoso, afinal, à noite, em um local
escuro, com histórico de assaltos, a suspeita era grande.
Mas isso não o inibiu. Conforme foi se aproximando do
semáforo fechado, o superintendente começou a pensar
nos trocados que tinha no bolso. Frederico sempre ajudava
as pessoas dando-lhes alguns trocados, mas sempre pedia
para que elas comprassem comidas ao invés de bebidas
ou drogas. Não podia garantir que os pedintes seguiriam
seu conselho, mas, ao menos, cumpria a sua parte.
Assim que foi apanhar a carteira, sentiu a
necessidade de fazer algo a mais por aquela pessoa, queria
ajudar mais do que apenas dando uns trocados. Sem saber

44
VONTADE DE VENCER

como fazer, abaixou o vidro do carro e perguntou para o


pedinte, que parecia faminto e com frio:
— Como posso ajudá-lo, sem ser dando-lhe dinheiro?
— O senhor gostaria mesmo de me ajudar? —
perguntou o mendigo surpreso com o tipo de pergunta.
Afinal, não é todos os dias que vemos pessoas tendo
esta atitude.
— Claro que quero! Sei que o senhor precisa de
algo a mais do que uns trocados, algo que lhe dê
esperança! Talvez mais forças para os seus dias... —
sugeriu Doutor Frederico, ansioso pela resposta do
mendigo, que já não parecia ser tão perigoso.
Frederico não tinha esse comportamento todos
os dias de sua vida, mas, naquele momento, escutou a
voz do seu coração e percebeu que deveria fazer algo
por aquela pessoa.
Imediatamente, o mendigo respondeu a pergunta,
antes que acendesse a luz verde do semáforo e ele não
pudesse dizer tudo aquilo que gostaria que fosse
diferente neste país.
— “O senhor pode lutar por um mundo melhor, pode
lutar para que meus filhos tenham uma oportunidade de
estudar, um futuro melhor que o meu. Se o senhor fizer isto, já
vai estar me ajudando mais do que imagina”.
Após ouvir, Doutor Frederico ficou sem palavras,
estático por algum tempo. Em fração de segundos, um
filme passou em sua cabeça: lembrou-se dos seus filhos;
das oportunidades que tiveram quando eram crianças, da
segurança ao brincarem, dos bons estudos, dos cursos e
em todas as outras coisas que lhes transformaram em
profissionais competentes. Naquele momento, ele não
tinha noção do número de pessoas que gostariam de ter
45
THIAGO VENDITELLI CURY

as mesmas coisas que seus filhos tiveram. Frederico,


porém, sabia que muitos estavam na mesma situação do
mendigo. Pessoas que, por não terem conseguido uma
oportunidade de estudo, não puderam ter um emprego
melhor, um trabalho digno e uma vida decente.
Ele sabia muito bem que não eram todas as pessoas
que se enquadravam nas mesmas circunstâncias, algumas
realmente não fizeram por onde para serem bem
sucedidas na vida. Existem aquelas que se entregam à
bebida e ao jogo, perdem tudo — casa, família, empresas,
dinheiro — e acabam na rua, pedindo esmolas, se
humilhando por uma nova oportunidade. Mesmo
sabendo que essas pessoas erravam, ele acreditava que
elas mereciam uma segunda chance. Frederico queria
ajudar, mas sabia também que o governo tinha
responsabilidades diante da pobreza.
Mesmo com os pedidos do mendigo para que ele
lutasse por um mundo melhor, proporcionando mais
oportunidades para os seus filhos, Doutor Frederico não
se contentou e quis ajudar. Deu ao pedinte dez reais e
disse-lhe que o dinheiro era para levar leite e pão para sua
família, que o resto deixasse por sua conta; tudo o que
fosse possível, ele faria, e, com certeza, assim que os
resultados aparecessem, o mendigo se lembraria dele.
O mendigo agradeceu, ficou muito feliz, mas
mesmo assim pediu que não se esquecesse de seu pedido
especial: gostaria de ver seus filhos formados, com
oportunidades iguais às que o superintendente teve. O
semáforo abriu e Doutor Frederico seguiu em frente, feliz
por ter ajudado, pensando muito na cena ocorrida.
Quando chegou em casa, cumprimentou os filhos,
beijou a esposa e foi logo xeretando nas panelas para saber
o cardápio do jantar.
46
VONTADE DE VENCER

Frederico tinha uma esposa amorosa e


companheira, que o apoiava em todas as suas decisões,
estando sempre ao seu lado. O casal tinha três filhos,
dedicados, amigos e integrados com os acontecimentos
da família.
Enquanto colocavam a mesa para o jantar, os
rapazes perguntaram ao pai como havia sido seu dia.
Após ter contado o que havia se passado, os jovens lhe
disseram que tudo o que o pai fez um dia por eles, seria
retribuído e eles dariam toda a ajuda, o apoio e a força
que fossem necessários.
— Pai, hoje é tempo de retribuirmos o que o senhor
fez por nós, sempre conte com o nosso apoio e a nossa
ajuda para o que o senhor precisar.
— Meus filhos, já que vocês tocaram no assunto,
eu gostaria de pedir a ajuda de vocês.
— Pode pedir, pai, faremos o que o senhor
precisar. Nós o ajudaremos com muito orgulho.
Frederico soube criar seus filhos para que se
tornassem grandes homens, e orgulhava-se muito em
ver seu “trabalho” concluído. Podia dormir todos os dias
tranqüilamente, sabendo que os garotos estavam criados,
construindo suas famílias, realizando os seus sonhos,
conquistando objetivos na vida.
— Hoje, vindo para casa, deparei-me com um
senhor pedindo esmola no semáforo, e, quando quis
ajudá-lo, ele me pediu para que lutasse por um mundo
melhor, onde seus filhos tivessem mais oportunidades
do que as que ele teve em sua vida. Queria que eu fizesse
alguma coisa e ainda tomou-me como exemplo. Gostaria
de ver seus filhos tendo as mesmas oportunidades que
eu tive em minha vida.

47
THIAGO VENDITELLI CURY

— Pai, que homem consciente! Não somente ele,


mas muitos outros andarilhos da cidade merecem ajuda
e oportunidades! — ressaltou um dos rapazes.
E assim decorreu o jantar. Todos palpitavam sobre
como ajudar pessoas, o que pode ser feito pelo próximo e
concordaram que, acima de tudo, é muito importante o
apoio da família. E aquela família estaria empenhada em
ajudar aquele pobre homem perdido nas ruas de São Paulo
Frederico sentiu-se aliviado. Sabia que algumas coisas já
estavam sendo feitas. Ele não desistira de lutar a cada dia
por um mundo melhor. Ele faria a sua parte.
Terminado o jantar, seus filhos agradeceram pela
“valiosa conversa” que tiveram naquela noite. Enquanto
se preparava para dormir, decidiu inserir na sua palestra
alguma coisa sobre esta situação do país. Acrescentaria
algo para demonstrar que cada um pode fazer sua parte
por um mundo melhor. Ele não sabia o que diria a respeito,
somente tinha a certeza de que as palavras certas seriam
ditas no momento adequado.
Doutor Frederico contava sempre com o apoio de
alguém maior, alguém que ele dizia ser seu protetor para
todas as horas. Quando se sentia mal, sabia que alguém
estava ali por perto para protegê-lo. Ele tinha o hábito de
rezar a toda hora, entrando em contato com este “alguém
maior”. Sempre disse que não importava a denominação
que damos a esta energia, a esta força maior, mas o que
realmente importava era o que sentíamos e no que
acreditávamos. Achava que todos deveriam crer em algo
que ajudasse nas horas mais difíceis da nossa vida.
As pessoas ao seu redor poderiam até tentar
derrubá-lo, poderiam “puxar o seu tapete”, mas o que ele
realmente acreditava, era que uma “Força Superior” não
deixaria que nada de ruim lhe acontecesse. Essa “Força
48
VONTADE DE VENCER

Superior” é a nossa Fé. Aquilo que acreditamos nos


momentos que mais precisamos, aquilo a que recorremos
nos momentos mais difíceis e agradecemos nos
momentos mais fáceis.
Finalmente, foi se deitar, e, como já era de
costume, agradeceu pelas conquistas e aprendizados,
pedindo proteção e uma boa noite de descanso para ele
e para toda a sua família. Ao levantar-se, pediria proteção
e discernimento para suas decisões e obrigações.
Um dos seus ideais era mostrar às pessoas como
era bom ter o hábito de agradecer, ter fé,
independentemente de suas crenças. Tudo para ter uma
esperança de um mundo melhor e buscar os sonhos e
objetivos almejados.
Doutor Frederico levantou-se bem cedo, disposto
como sempre, tomou banho e se arrumou para ir trabalhar.
Na mesa da cozinha, um belo café da manhã reforçado já
o aguardava e, além disso, o diferencial de todos os dias,
sua família reunida à mesa. Muitas vezes saíam atrasados,
com pressa e nem tomavam café da manhã em casa.
Feliz, ele agradeceu a presença da família e
afirmou que o dia seria maravilhoso e repleto de sucesso.
Entrou na garagem, pegou o carro e seguiu para o
trabalho pelo mesmo caminho de todos os dias,
enfrentando um trânsito caótico. Mas aquele dia era
especial. Mesmo um trânsito ruim não acabaria com o
seu bom humor, preferiu cortar caminho para chegar
mais cedo à empresa para testar a apresentação e se
certificar de que não estava faltando nada para o café da
manhã dos colaboradores.
Ele chegou no horário, preparou tudo o que
precisava, conferiu sua apresentação, certificou-se de que

49
THIAGO VENDITELLI CURY

o café estava pronto, e enquanto confirmava os últimos


detalhes, os colaboradores começaram a chegar.
Após cerca de trinta minutos, Doutor Frederico
começou sua palestra, mesmo sabendo que algumas
pessoas ainda não haviam chegado.
Ele teria que iniciar a exposição conforme o
combinado, não poderia deixar os que chegaram no
horário esperando por causa dos atrasados.
- Muito bem, senhoras e senhores aqui presentes,
sentem-se, por favor, para que possamos dar início à nossa
palestra. Mas, continuem comendo, não precisam ter
pressa, somente vamos dar inicio à nossa conversa para
não ultrapassarmos muito do horário.
Doutor Frederico agradeceu a presença de todos,
naquele momento, fora do horário de trabalho e ressaltou
que a reunião seria muito valiosa.
Logo que começou a falar, ele pediu a opinião de
algumas pessoas a respeito dos temas expostos.
— Senhores, eu vou sugerir algumas coisas e quero
a opinião de vocês a respeito do que eu disser.
— Carmem, primeiramente você, o que acha da
nossa proposta de fazer um coffee-break para os
empresários que participam conosco das nossas atividades
e dos nossos objetivos? Aqueles que nos apóiam e são
nossos aliados nesta busca de novos ideais?
— Bem, Doutor Frederico, eu acho uma idéia
válida. Para que possamos oferecer novos serviços, novas
oportunidades de mercado, precisamos do apoio dos
diversos profissionais. É necessário que as pessoas opinem,
que elas digam o que está faltando no mercado de
trabalho, o que elas acham necessário que seja
reformulado. Até mesmo novas idéias, como, por
50
VONTADE DE VENCER

exemplo, este evento que estamos realizando hoje.


Deveriam ser feitas mais reuniões assim. Com este
objetivo, nós, profissionais, saberemos onde devemos
aperfeiçoar, o que devemos manter e como podemos
inovar nosso trabalho.
— Carmem, admirável seu comentário! E somente
para concluir, podemos criar também um grupo interno
aqui na nossa empresa, para que os profissionais aliados
a nós possam efetuar consultas e também dar suas
opiniões, unir forças por novos ideais, utilizar nosso espaço
físico para suas reuniões, eventos e várias outras coisas.
Mais alguém gostaria de fazer algum comentário sobre o
assunto em questão?
— Eu gostaria, Doutor Frederico! — chamou
Roberto, do departamento jurídico.
— Na minha opinião, acho que podemos melhorar
o nosso departamento jurídico, já que é um dos serviços
mais fortes prestados pela nossa empresa. Poderíamos
melhorar o nosso atendimento aos clientes, com a
contratação de novos advogados e até mesmo de alguns
estagiários. Ao meu ver, poderíamos oferecer mais cursos
na área jurídica, com custos especiais às empresas parceiras
nas representações, trazendo mais pessoas e firmas para
perto de nós. Com esta atitude, podemos aumentar o
número de clientes e também o nosso orçamento. É um
investimento relativamente pequeno em relação aos
benefícios que teremos em um futuro próximo.
— Muito bem, senhor Roberto, mais uma excelente
idéia de crescimento para a nossa empresa. Mais alguém
gostaria de comentar algo?
Como ninguém se manifestou, Doutor Frederico
resolveu seguir em frente com os temas, já que o assunto

51
THIAGO VENDITELLI CURY

em questão naquele momento não necessitava de mais


modificações.
— Nós já temos algumas metas a serem cumpridas
e estamos estabelecendo mais algumas neste momento.
Como podemos fazer para que nada fique para trás? Afinal,
não podemos fazer algo novo e nos esquecermos do que já
começamos.
— Doutor Frederico, eu tenho uma sugestão. Posso
expô-la ao grupo? Perguntou Matheus, o rapaz recém-
contratado para a área de vendas.
— Claro que pode, Matheus! Por favor, qual é a sua
idéia?
— Eu sei que todos os departamentos têm as suas
obrigações e as suas metas, cada um aqui tem o seu objetivo,
tanto profissional quanto pessoal. Acho que podemos fazer
algo diferente para alcançarmos essa meta, com mais
rapidez e facilidade. Podemos nos unir e ajudar uns aos
outros.
Quando Matheus disse isso, todos ficaram surpresos
com o seu comentário. E burburinhos surgiram na platéia.
— Como pôde sugerir algo deste tipo? Ele não sabe
o que está dizendo!
— Será que ele pensa que é fácil fazer o que
fazemos? E ainda ter que nos conhecer melhor? Ele
está louco!
Os que mais criticavam e achavam a idéia ruim eram
os que não se preocupavam com o crescimento da empresa,
nem com o bem-estar de seus colegas de trabalho.
— Por favor, senhores, mantenham a calma. Eu ainda
nem terminei de falar qual é a minha idéia. Sei que para
muitos pode parecer impossível de acontecer, mas com

52
VONTADE DE VENCER

organização e dedicação podemos conseguir bons


resultados para a empresa e para cada um de nós em
particular. Doutor Frederico, posso continuar?
— Claro que sim, Matheus! Por favor, prossiga com
sua idéia.
— Como eu dizia, se cada um de nós soubesse, no
mínimo, um pouco do que o outro faz, de qual
departamento ele é responsável, poderíamos nos
comunicar melhor, nos reportar às pessoas certas, sem
antes passarmos pelos departamentos errados. Já
pensaram se, quando fossemos pegar o nosso salário,
procurássemos o departamento de marketing para saber
quando iríamos receber o nosso dinheiro? Acho que seria
um pouco difícil de obter esta resposta ali.
— Bem, o que quero dizer, de uma maneira geral,
é o que acontece em várias empresas, falta de comunicação
interna. Vejamos um exemplo. Se cada um de nós fosse
falar diretamente com o departamento correto e com a
pessoa certa, de acordo com a informação que precisamos,
ficaria mais fácil e menos cansativo para os demais. Isso
se chama “Comunicação Interna”.

53
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO SEIS

Os funcionários tinham os olhos arregalados. O que


Matheus dizia era algo novo na empresa. A expressão
Comunicação Interna nunca havia sido pensada na Junção
Recursos Humanos. A preocupação de todos era cumprir
suas tarefas e receber o dinheiro no final do mês. Não era
necessário conhecer pessoas e departamentos. Mas
Matheus foi firme e seguiu em frente.
— Se uma pessoa liga aqui na empresa, e pede para
falar com o departamento administrativo, a secretária irá
perguntar com quem especificamente ele deseja falar.
Correto? E se ele não souber com quem ele quer falar? Se
não tiver o nome de alguém, a secretária transferirá a ligação
para qualquer ramal da administração. Não é verdade?
— Sim — responderam os outros colaboradores,
interagindo com Matheus.

55
THIAGO VENDITELLI CURY

O Doutor Frederico não disse nada, queria ver até


onde o jovem rapaz queria chegar. Tinha a certeza que
seria uma coisa boa e, curioso para testá-lo, deixou que
ele continuasse.
— Pois bem — continuou Matheus — se a
atendente souber alguns detalhes sobre os departamentos,
ela poderá perguntar para a outra pessoa na linha qual a
informação que ela deseja. E quando a pessoa confirmar
o que quer, ela transferirá a ligação para a pessoa certa.
— A partir do momento em que eu sei um pouco
do que cada departamento cuida e quem são as pessoas
responsáveis por cada tipo de serviço, eu posso poupar
um pouco mais de tempo, tanto do meu, como do da
outra pessoa. Além disso, a qualidade no atendimento
irá melhorar muito. Porque perdemos tempo com ligações
mal encaminhadas e atendimentos mal dados. As pessoas
esperam demais por uma informação.
— Temos que saber disto antes do cliente chegar
até nós, para que no exato momento do atendimento,
possamos ser mais atenciosos com eles, facilitando o nosso
trabalho e o de nossos colegas. Com isso, deixamos o
cliente satisfeito, oferecendo serviços e atendimento de
alta qualidade. Hoje em dia, temos exemplos claros deste
tipo de comportamento em outras empresas. Essa postura
realmente funciona. Pode não ser a solução para todos os
nossos problemas, mas com certeza alguma coisa irá
mudar aqui dentro da Junção.
Doutor Frederico aproveitou o ânimo do novo
rapaz para testar seus conhecimentos e saber até onde ele
chegaria com sua idéia, sem que ele precisasse interferir.
— Muito boa idéia, Matheus, mas você poderia
me dar um exemplo de como poderíamos desenvolver

56
VONTADE DE VENCER

este tipo de atividade aqui dentro? Pois acho que esta


dúvida pode ser a de outras pessoas.
— Claro que sim, Doutor Frederico, com o maior
prazer! Na minha opinião, podemos nos comunicar
melhor a partir do momento em que eu sei o que o
departamento vizinho faz. Vamos utilizar um exemplo:
eu sou funcionário do financeiro, mas não sei ao certo o
que faz o departamento de cadastro e quem é o
responsável. O mesmo acontece com todas as outras
seções. Falta “Comunicação Interna” entre as pessoas, e
a minha sugestão é que façamos o seguinte: em primeiro
lugar, podemos nos reunir uma hora antes do nosso
expediente aqui no auditório para nos conhecer melhor.
E como podemos fazer isto? É simples, a cada
semana, os integrantes de um departamento nos
apresentam seus setores, dizendo o que cada um faz e dá
um pequeno resumo do seu trabalho e, posteriormente,
esclarece as dúvidas dos companheiros. É claro que este é
um trabalho um pouco demorado, mas o resultado é
garantido. Acredito que o esforço vale a pena. Podemos
fazer o sorteio de qual será a ordem dos setores a expor.
Assim, todos terão a oportunidade de falar um pouco
sobre a sua função e o seu departamento. Desta forma,
todos saberão um pouco dos seus colegas e poderemos
nos comunicar melhor.
Assim que Matheus terminou de explicar a sua
idéia, que seria adaptada da melhor forma para aquela
empresa, Doutor Frederico agradeceu a ajuda do
colaborador.
— Com certeza, será um movimento grande para
todos os colaboradores, e certamente fará diferença em
nosso dia-a-dia. Mais uma vez, as atitudes e o empenho

57
THIAGO VENDITELLI CURY

estão me surpreendendo — disse Doutor Frederico,


contente com as novas ações e percepções de seus
colaboradores.
— Mais alguém quer falar algo ou sugerir alguma
outra coisa que possa nos ajudar?
Como ninguém quis comentar mais nada, Doutor
Frederico deu continuidade com a programação do evento.
— Vamos dar seqüência às nossas atividades. Eu
gostaria de passar um vídeo que mostra um pouco dos
resultados obtidos em outras empresas com o trabalho em
conjunto, como disse Matheus. Este vídeo expõe alguns
resultados positivos do trabalho em equipe e da importância
de conhecer uns aos outros, saber o que o colega faz, por
qual setor ele é responsável, como atender melhor o seu
cliente e obter melhores resultados a partir desta postura.
É um vídeo interessante, que explica de maneira clara e
objetiva os principais aspectos de uma empresa que cresce
no mercado de trabalho. Além do vídeo, temos também
uma pesquisa, que mostra a opinião da população em
relação a estas novas atitudes nas empresas. Foram feitas
duas perguntas para os entrevistados:
1— “O que vocês gostariam que mudasse na
empresa na qual você trabalha?”.
2— “Se tais mudanças fossem feitas, como você
reagiria, e como seria o seu modo de trabalhar?”.
— Antes de mostrar, quero dizer-lhes para ficarem
tranqüilos. Todos estes novos planos e idéias que estamos
discutindo serão passados para o papel. Faremos um
planejamento e montaremos uma infra-estrutura que sirva
de diretriz para todos nós, incluindo a mim.
Doutor Frederico pediu para que iniciassem ao
vídeo de trinta minutos. Após a exibição, ele perguntou o
58
VONTADE DE VENCER

que os colaboradores acharam e o que aprenderam com a


fita. As respostas foram semelhantes.
— “Aprendemos que a qualidade e o bom atendimento
dependem de cada um de nós, e temos que fazer a nossa parte,
para que possamos alcançar nossos objetivos”.
— Muito bem, senhoras e senhores, vejo que o
vídeo foi proveitoso, e, para encerrar, eu gostaria de contar
uma história para vocês. Prometo que não irá demorar.
Todos permaneciam atentos às palavras do
Doutor Frederico.
— Uma vez, um amigo me deu um convite para
assistir a uma palestra bem interessante. O palestrante
iniciou o encontro segurando uma nota de cem reais na
mão. Na sala, havia mais ou menos 160 pessoas, entre
grandes empresários, funcionários públicos, vendedores,
autônomos e outros. Com a nota de cem reais na mão, ele
levantou o braço e perguntou “quem quer esta nota de
cem reais?”.
Várias pessoas começaram a gritar: — Eu quero!
Eu quero!
— “Eu darei esta nota a um de vocês, mas antes
me deixem fazer isto” e começou a amassar a nota, como
se estivesse amassando um papel velho. E assim,
perguntou outra vez. “Quem ainda quer esta nota?” —
As mãos continuaram erguidas e os gritos cada vez mais
altos. “E se eu fizer isso?” — E ele deixou a nota cair no
chão e começou a pisar em cima. Pisava de um lado,
pisava do outro e depois que a nota estava totalmente
amassada e suja, ele perguntou novamente: “E agora
quem ainda quer esta nota?”.
Todas as mãos continuaram erguidas e os gritos
ainda mais altos. Quando o palestrante disse: Meus
59
THIAGO VENDITELLI CURY

amigos, aprendam esta lição: “Não importa o que eu faça


com o dinheiro, posso amassá-lo, posso sujá-lo e vocês ainda
irão querer esta nota, porque ela não perderá o seu valor, ela
sempre irá valer cem reais”.
Após ouvir esta frase, eu fiquei pensando por
alguns instantes. O que as pessoas fazem consigo mesmas
e com os outros é igual ao que ele fez com o dinheiro. Isso
acontece conosco no nosso dia-a-dia. Muitas vezes, somos
amassados, pisoteados, passados para trás, ficamos sujos,
nos sentimos humilhados, fracassados e derrotados. Estas
situações ocorrem em razão das decisões que temos que
tomar em nossas vidas, ou por obstáculos que surgem
em nossos caminhos, talvez por arriscarmos. Se tomarmos
decisões e, infelizmente, por qualquer motivo, o
planejamento dá errado, nos sentimos sem importância,
incapazes de acertar. Nos sentimos desvalorizados. Porém,
não importa o que aconteceu ou o que vai acontecer, nunca
perderemos o nosso valor perante o universo. Estejamos
sujos ou limpos, amassados ou inteiros, nada disso muda
a importância que temos para o “mundo” e para os outros,
mesmo que eles não reconheçam o nosso verdadeiro valor.
O preço de nossas vidas não é pelo que fazemos ou
pelo que sabemos, mas sim pelo que somos, e como
demonstramos quem somos. Através do nosso caráter,
da nossa dignidade e da nossa postura diante dos desafios
é que superamos os obstáculos impostos pela nossa vida.
Quando eu terminei de ouvir estas palavras no seminário,
fiquei por alguns instantes pensando a respeito do que o
palestrante acabara de falar. E percebi que, muitas vezes,
nós valorizamos as pessoas pelo que elas sabem, pela
maneira que se vestem ou agem, mas não pelo que
realmente são. No fundo, são pessoas maravilhosas que
merecem o nosso respeito e a nossa admiração, como
60
VONTADE DE VENCER

qualquer outra pessoa, seja ela tendo o melhor


desempenho ou não, seja ela errando ou não. “Todos
somos iguais”.
Ao fim do discurso, Frederico foi aplaudido de pé
por todos os colaboradores, emocionados com suas
palavras. Eles tinham a certeza de que, daquele dia em
diante, mudariam seus conceitos e a maneira de olharem
para as pessoas.
A palestra surtiu efeito. Nos dias seguintes, as
pessoas passaram a se entreolhar com mais sinceridade,
com menos desconfiança. Os colaboradores perceberam
que todos são seres humanos e merecem o mesmo respeito
e a mesma consideração. Essas atitudes também devem
ser aplicadas aos pedintes nas ruas, àqueles que moram
em casas mais simples que as nossas e até mesmo a quem
tem cargo mais baixo que o nosso.
Mas, infelizmente, nem todos mudaram seus
comportamentos. Havia um grupinho que desconfiava
que Doutor Frederico planejava algo de ruim. Eles
continuaram olhando torto, sempre com o pé atrás,
evitando que Frederico soubesse dos trabalhos que
estavam desenvolvendo, distanciando-se ainda de
Carmem e de Andressa.
O que eles menos imaginavam estava por
acontecer. Um belo dia, um dos aliados de Frederico ouviu
uma conversa do pessoal da oposição. Todo o cuidado
com as tramóias acabou indo por água a baixo. Laís, a
moça responsável pelos treinamentos, passava pelo
grupinho e acabou ouvindo tudo! Ela ficou atônita!
Completamente perplexa e indignada!
Os opositores de Doutor Frederico estavam
planejando contar as suas “conclusões” para a diretoria.

61
THIAGO VENDITELLI CURY

Queriam obter o apoio dos superiores dentro da empresa.


Assim, seria mais fácil chegarem ao objetivo final.
Uma das meninas do grupo opositor tinha um
contato mais próximo com um dos diretores da empresa.
Essa aproximação daria chances para que eles
convencessem este diretor de que o Doutor Frederico não
era a pessoa ideal para o cargo e para os trabalhos que
eles, os diretores e o presidente, queriam desenvolver
dentro da empresa.
Diante dessa situação, alguns poderiam se
perguntar como um diretor de uma empresa se deixaria
levar por uma fofoca destas. Como ele seria capaz de julgar
a capacidade e a competência de um profissional?
Interesse, é claro.
Passado o evento, Doutor Frederico voltou a se
dedicar aos seus trabalhos diários. Ele planejava criar uma
palestra de conscientização, com o objetivo de fazer com
que os colaboradores pudessem passar os conhecimentos
para os outros. Frederico dizia que as pessoas recém-
formadas necessitavam de alguém que lhes ensinasse
coisas novas do mercado de trabalho. Ele acreditava que,
com essa atitude, poderia haver diminuição do
desemprego e também melhor adaptação do colaborador
às suas funções.
O objetivo de Frederico era mostrar que passar o
conhecimento adiante só traz benefícios e que todos teriam
condições de progredirem na carreira.
Entre tantas tarefas, como criar palestras e cuidar
da evolução dos seus colaboradores, Frederico ainda
cuidava dos eventos que a empresa participava. Estes
eventos aconteciam fora da sede e normalmente
duravam vários dias. Como estava ficando atarefado, o

62
VONTADE DE VENCER

superintendente decidiu passar esta responsabilidade


para algum colaborador de confiança. Ele precisava que
tudo estivesse bem organizado, porque os eventos são a
imagem da empresa perante outras organizações e tudo
deve estar impecavelmente perfeito, a não ser quando
ocorre algum imprevisto.
A primeira pessoa que veio à sua mente foi
Mariana, responsável pela parte de criação das revistas
que a empresa fornecia para seus associados. Mariana
também cuidava dos anúncios em jornais e propagandas,
entre outras funções relacionadas com a área de
Marketing. Frederico acreditava que ela seria a pessoa mais
indicada para a função e decidiu chamá-la para uma
conversa. Marcou uma reunião com a moça para logo
cedo, no dia seguinte.
Deixou tudo pronto para passar a Mariana, mas,
mesmo assim, resolveu ficar um pouco mais no escritório,
a fim de incrementar a sua palestra. Àquela hora, o silêncio
do ambiente inspirava suas idéias. Naquela atmosfera,
Frederico começou a traçar as diretrizes para seu projeto,
que incluía a melhora no ambiente empresarial e a
expansão da idéia para outros empresários.
Uma das coisas que Doutor Frederico abordaria em
sua palestra seria as criticas que os chefes e supervisores
fazem aos seus funcionários. O supervisor queria dizer que
é possível corrigir um erro sem utilização de ofensa verbal
e grosseria. Frederico acreditava que a amabilidade no
tratamento das pessoas pode trazer melhores resultados.
Doutor Frederico falaria ainda sobre o
comportamento das pessoas dentro das empresas, da
importância de um bom relacionamento interno entre os
departamentos, da qualidade do atendimento e de como
traçar os objetivos para sua equipe e sua empresa.
63
THIAGO VENDITELLI CURY

Enquanto ele escrevia suas idéias, pensou em criar


um instituto onde poderia ajudar as pessoas a se tornarem
melhores profissionais para o mercado de trabalho. Neste
instituto, seriam promovidos cursos, palestras, reuniões
de apoio para os profissionais interessados, entre outras
atividades. A idéia de Frederico era contar com o apoio
de amigos, já que o trabalho era voluntário e gratuito para
os interessados. Ele pensava em beneficiar a fatia da
população que não tem acesso a este tipo de qualificação.
Este projeto seria para longo prazo, mas Frederico já
começara a traçar seus planos, pensando no futuro.
Ao finalizar, Frederico foi para casa, pois sua família
o esperava. Ele precisava descansar, pois o dia seguinte
estava cheio de tarefas a serem cumpridas.
As novidades do dia seguinte não provocariam
modificações em seu humor. Ele teria novos desafios,
aprendizados, além de imprevistos, que resolveria com
calma, sensatez e sabedoria. Você pode estar se
perguntando: “Este homem existe mesmo?” “Como pode
alguém que tem problemas não se estressar”.
Realmente, Frederico se estressava bem pouco.
Procurava sempre resolver as coisas com calma e
sabedoria, mas em certos momentos, ele se estressava.
Aí, dizia o que realmente pensava, era uma outra pessoa.
Zangava-se e dava a bronca em quem precisava. Porém,
depois de gritar, pedia desculpas pelo descontrole
momentâneo e procurava explicar o ocorrido. Frederico
não tinha a obrigação de dar satisfações a seus
colaboradores, entretanto ele se preocupava. Assim era a
forma do superintendente ser e de ensinar as pessoas, de
conquistar objetivos e realizar sonhos. Por onde passa,
ele deixa um rastro de sabedoria e amizade, que,
infelizmente, não são todos que sabem aproveitar.
64
VONTADE DE VENCER

Ao chegar na empresa, Doutor Frederico decidiu


começar o dia de uma maneira diferente, queria mudar
seu comportamento para ver a reação das pessoas que
trabalhavam com ele. Sentiu a necessidade de fazer isso,
já há algum tempo ele vinha percebendo que pessoas
dentro da empresa estavam lhe tratando de uma forma
diferente, até mesmo pôde ouvir algumas fofocas. Com o
decorrer dos dias, notou que realmente algo estava
acontecendo. Sua intuição era muito aguçada e como tinha
uma “proteção” muito forte, decidiu fazer um teste.

65
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO SETE

Antes de entrar no escritório, Frederico foi tomar


café da manhã em uma padaria próxima à avenida São
Luiz, pois queria encontrar velhos amigos. Ficou tão
empolgado com o ambiente da cidade agitada logo cedo,
que resolveu engraxar os sapatos na praça Dom José
Gaspar. Feliz com suas atitudes, subiu para sua sala com
alguns minutos de atraso.
Entrou sem dizer bom dia para ninguém. Apenas
respondia quem o cumprimentava. Foi direto para sua
sala, onde permaneceu por toda a manhã. Queria saber
quem realmente se preocupava com ele, quem eram “seus
amigos” e quem eram as pessoas que não gostavam da
sua forma de trabalhar, seus “inimigos”.
A atitude de Frederico chocou e as pessoas
estranharam. Alguns funcionários não o cumprimentaram,

67
THIAGO VENDITELLI CURY

pois acharam que tinha acontecido algo muito grave.


Somente algumas pessoas que o admiravam foram até a
sala dele para falar bom dia e saber o que havia acontecido.
Seus opositores, como já era previsível, sequer passaram
em frente à sua sala, tampouco o cumprimentaram. Logo,
ele pode perceber quem eram as pessoas com quem ele
deveria tomar cuidado.
Frederico foi em frente, superou aquele momento
e deu a volta por cima. Repetiu a mesma ação no dia
seguinte e, mais uma vez, a reação das pessoas foi idêntica.
Só seus aliados falaram com ele.
Como não conseguiu conversar com Mariana no
dia combinado, resolveu chamá-la naquele momento.
Quando ela entrou na sala, o chefe solicitou café e água,
antes de dar início à conversa.
— Muito bem, Mariana, eu chamei você aqui para
lhe passar informações sobre algumas mudanças que
vamos ter de hoje em diante. Fique tranqüila, são coisas
boas e sei que posso contar com você.
As novas funções deixariam Mariana muito feliz;
ela não reclamaria de acúmulo de trabalho, ao contrário,
ficaria muito lisonjeada. Ele sabia também que ela não se
sentiria superior em relação aos outros colaboradores. Só
por que estava com estas novas funções, não seria motivo
para se tornar uma pessoa orgulhosa, mas sim, feliz por
merecer e ter credibilidade para assumir novas funções.
— Como você já deve saber, estou bastante
atarefado com todas estas mudanças. Estou sem tempo
para cuidar de nossos eventos externos. Sendo assim,
passo para a sua responsabilidade cuidar destes episódios,
desde pequenas reuniões externas até os grandes eventos.
Organizar, fazer cotações, fechar contratos, ir pessoalmente

68
VONTADE DE VENCER

conferir a organização e também estar presente em todos


os eventos como responsável pela criação e organização.
— Não sei se posso dar conta do serviço, Doutor
Frederico! Tudo é muito novo para mim! — disse Mariana,
ainda insegura.
A reação de Mariana foi semelhante à de outras
pessoas: ter medo diante de novas tarefas, novas
obrigações. As pessoas não confiam em si mesmas, não
têm noção do seu potencial, As pessoas não acreditam
que, se recebem propostas para novos desafios, é porque
seus superiores as julgam capazes de cumprir as metas.
Um diretor de empresa, superintendente ou até mesmo
o dono da empresa, só vai delegar funções a pessoas
com responsabilidade, capacidade e conhecimento para
exercer a função.
— Fique calma, querida Mariana! Já diz o velho
ditado: “Nos dão o frio conforme o nosso cobertor”.
Se você está recebendo esta responsabilidade, é
totalmente capaz de cumpri-la, E isso eu sei que você é.
Após ouvir estas palavras do Doutor Frederico, ela
sentiu-se melhor, mais calma e mais confiante.
— Está bem, se o senhor está dizendo, eu acredito.
O que devo fazer então?
Ele começou a passar as novas funções para que
iniciasse os seus trabalhos e, ao término de uma hora de
conversa, disse:
— Fique tranqüila, Mariana, qualquer dúvida venha
me procurar.
Frederico sempre estava à disposição para ajudar
as pessoas, mas naquela semana estava revendo um pouco
seus conceitos e decidindo quem ele realmente ajudaria.
Nunca negou apoio a ninguém, e não seria agora que ele
69
THIAGO VENDITELLI CURY

agiria diferente, apenas tomaria cuidado com algumas


pessoas ao seu redor. Por isso, já não era mais para todas as
pessoas que ele dizia estar sempre à disposição. Passou a
tomar cuidado com o que as pessoas falavam. Infelizmente,
isto era necessário, pois não eram todos de grande confiança.
Após delegar as funções para Mariana, ele
continuou a se dedicar à palestra, queria terminá-la o mais
rápido possível.
Alguns dias se passaram, o serviço fluía
normalmente, parecia que a poeira tinha baixado e o clima
estava voltando ao normal, melhor do que na última
semana. Doutor Frederico chegou até a se perguntar se
realmente estava sendo coerente em duvidar de algumas
pessoas. Por não ter certeza ainda das coisas, resolveu
continuar com seu comportamento por mais algum tempo.
Após duas semanas sem novidades, ele havia
concluído sua palestra. Como as coisas na empresa
estavam tranqüilas, ele teve mais tempo para aperfeiçoar
suas idéias e finalizar a exposição.
Frederico decidiu marcar a data para a primeira
palestra, já que as pessoas dentro da empresa, os amigos,
sua família e até mesmo os diretores, haviam aprovado o
tema e a forma de abordagem. Marcado o dia, era
necessário ter público. Delegou a função para Matheus,
que tinha muita habilidade para falar com as pessoas um
rapaz desinibido, ótimo vendedor.
Perto da data da palestra, a lista de presença estava
quase completa. A apresentação estava praticamente pronta,
faltavam somente alguns reparos e revisar alguns detalhes.
Assim que terminou tudo, decidiu compartilhar
alguns tópicos com Carmem, sua consultora, e Andressa.
Ele confiava muito nelas e podia contar com a ajuda de ambas.

70
VONTADE DE VENCER

— Eu pedi que vocês viessem até aqui para mostrar


alguns detalhes da minha palestra, que já está quase
pronta. Quero a opinião de vocês. Vejam e digam-me,
sinceramente, o que acham.
Carmem e Andressa analisaram atentamente o
conteúdo da palestra e exprimiram suas opiniões.
— Doutor Frederico, está perfeito! Tenho certeza
que todos irão gostar muito do seu projeto, e é bem provável
que eles queiram fazer parte dele também – disse Andressa.
— Será que chegaremos a este ponto? Por que você
acha que eles podem querer fazer parte do projeto? —
perguntou Doutor Frederico a Andressa.
— Porque isto que o senhor está fazendo, pode e
deve ser usado por qualquer pessoa, tanto em sua
empresa, como na sua vida particular. É um trabalho
novo no mercado e sabemos que dá resultados. Assim,
fica mais fácil obtermos parcerias nesse novo caminho
— ressaltou Carmem.
— Será que é para tanto, meninas? — perguntou
novamente.
— Claro que é! — comentou Carmem — E tem mais
uma coisa: se este projeto der certo, vamos conseguir
alcançar nossas metas mais rapidamente do que prevemos.
— Está bem, já que você diz com tanta convicção,
eu acredito. Vamos trabalhar e organizar tudo para que
seja um sucesso absoluto — finalizou Frederico.
Faltavam apenas dois dias para o evento, quando
algumas pessoas começaram a se preocupar, queriam
saber o que realmente ia acontecer, qual era a finalidade
da reunião. Afinal, não era uma reunião somente com os
membros da empresa, já que os diretores das empresas
parceiras também estariam presentes. Todos temiam
71
THIAGO VENDITELLI CURY

mudanças no quadro de funcionários, demissões. Mesmo


com as palavras do Doutor Frederico, de que nada de
mais aconteceria, nem todos ficaram tranqüilos. Muitos
ainda duvidavam das palavras e das ações do supervisor.
O clima mudou novamente naquela empresa. A
desconfiança voltava a reinar em alguns ambientes,
principalmente onde estavam seus opositores.
No dia da palestra, houve um mutirão para que
para que tudo saísse perfeito. Alguns organizavam o
auditório, outros ajudavam a arrumar a mesa com o coffee-
break, outros verificavam os detalhes.
Convidados, empresários e diretores chegavam a
todo o momento. Uma correria, mas com o trabalho em
equipe, tudo estava acontecendo como o planejado. Os
elogios passavam pelos ouvidos da organização: “a
arrumação está uma beleza”; “o café está uma delícia”;
“muito bom este evento, vamos ver agora como será o
conteúdo da apresentação”.
Doutor Frederico não se preocupava com o receio
do público, pois sabia que tudo estava correto, no seu
devido lugar. E o maior apoio que ele precisava estava ali.
A equipe de Frederico participava ativamente, ajudando
no que precisasse.
Após tomarem o café da manhã, ele decidiu dar
início à palestra.
— Senhoras e senhores, vamos começar! Sentem-
se, por favor!
Todos se dirigiram aos seus devidos lugares.
Terminaram de tomar café e, em tom amistoso, pediram
para o Doutor Frederico a autorização para voltarem à
mesa após a palestra. O motivo alegado era que os quitutes
estavam muito saborosos. — Mas claro! — respondeu

72
VONTADE DE VENCER

Frederico. Assim que terminarmos a nossa palestra,


voltaremos ao café. Ele achou a idéia interessante, pois
teria um feedback das pessoas. O que elas acharam do
evento, quais seriam as sugestões e outros pontos
levantados na conversa com os empresários.
Ele começou sua palestra pedindo para que as
pessoas se apresentassem.
— Acho que podemos começar a nossa palestra
nos apresentando uns aos outros. Digam de que empresa
vocês são, o que vocês fazem e o que os motivou a virem
aqui. Temos algum voluntário para começar?
Ninguém se manifestou, um silêncio total. Pessoas
que trabalham no mesmo ramo de serviços com vergonha
umas das outras.
— Bem, já que ninguém se manifestou, parece-me
que vocês estão um pouco tímidos. Para facilitar, eu
começo dizendo um pouco sobre esta empresa, e sobre o
que me motivou a criar esta palestra — ressaltou Frederico,
quebrando o silêncio no auditório.
— Em primeiro lugar, tive a idéia de montar este
evento a partir do momento em que percebi a quantidade
de pessoas que estavam ficando sem oportunidades no
mercado de trabalho. Na minha opinião, isto ocorre
devido à falta de consideração do governo e também pela
falta de oportunidades para estes profissionais. Uma parte
disso é culpa nossa, que muitas vezes negamos para os
novos profissionais uma chance de demonstrarem o que
aprenderam em anos de estudo.
— Isto pode mudar, e nós podemos colaborar para
esta mudança. É muito simples: podemos abrir as nossas
portas para novos profissionais sem nos preocuparmos
tanto se vamos ter mais gastos. Ou que alguém novo pode

73
THIAGO VENDITELLI CURY

“roubar nosso cargo”, ou o cargo de outras pessoas


dentro das empresas. Competitividade sempre irá existir
e cabe a nós defendermos o nosso lugar, darmos o nosso
melhor para continuarmos onde estamos e ainda
crescermos profissionalmente.
— Todas estas coisas me levaram a construir este
projeto, querer um mundo um pouco melhor. Acho que
podemos dar as nossas contribuições, podemos ajudar
muitas pessoas se, em primeiro lugar, mudarmos a nossa
postura, a nossa maneira de agir e de pensar.
— Em segundo lugar, devemos criar um grupo
entre nós, para trocarmos idéias sobre o que podemos
fazer para mudar este quadro e para sabermos qual a
opinião das outras pessoas. Podemos ainda formar uma
comissão que possa auxiliar nossos colegas no
procedimento para novas contratações; podemos criar
cursos, reuniões mensais para as empresas que se unam
ao nosso projeto, mas para isso é necessário nos
juntarmos nesta empreitada, caminharmos lado-a-lado
em busca desses novos ideais, para sairmos ganhando.
Alguém tem alguma dúvida ou quer fazer alguma
colocação a respeito do que eu disse?
— Eu gostaria!— disse um senhor com voz baixa,
sentado no fundo do auditório, ainda um pouco tímido.
— Por favor, senhor, fique à vontade e nos diga
qual a sua opinião sobre este assunto.
— Em primeiro lugar, bom dia a todos, meu nome
é Rogério, sou dono de uma empresa que presta serviços
de Recursos Humanos de todos os tipos, desde
contratações até terceirização de departamento
Administrativo. Vou falar um pouco mais sobre o trabalho
que a minha empresa desenvolve. Uma firma não tem o

74
VONTADE DE VENCER

departamento de Recursos Humanos, por querer


economizar custos ou por não ter espaço físico, dessa forma
ela contrata nossos serviços e tudo o que diz respeito ao
RH será tratado diretamente por nós. E eu concordo
plenamente com o senhor Frederico, devemos colaborar
com este primeiro passo das pessoas! Se nós, que somos
experientes no mercado de trabalho, fecharmos estas portas,
quem dará oportunidades a estas pessoas? Um empresário
novo no mercado de trabalho, com uma empresa sem
estrutura? Talvez, mas com certeza é bem mais fácil para
nós do que para eles. E veja que até mesmo estes novos
empresários com suas novas firmas, ainda sem sustentação,
abrem mais espaços para os novos profissionais do que
nós mesmos, que já temos uma “bagagem” maior.
— Antes mesmo de começarmos este encontro, eu
estava conversando com um colega aqui presente sobre
este tema, dizendo que estou abrindo as portas da minha
empresa para recém-formados. Há dois meses, fiz um
anúncio no jornal a respeito de uma vaga para Gerente
Administrativo. Eu queria um profissional recém-formado
em administração. A vaga tinha um salário razoável,
benefícios, registro em carteira, tudo conforme a lei e ainda
com uma oportunidade de crescimento dentro da
empresa. E, ao meu ver, isto é o mais importante para o
recém-formado, uma oportunidade de crescimento. Ele
sabe que vai demorar um pouco para ganhar bem, vai ter
que começar de baixo até chegar em um patamar de
merecimento pelos seus esforços, mas ele precisa deste
começo, desta oportunidade de trabalho.
Todo jovem sempre sonha com o primeiro
emprego, se esforça, estuda, trabalha muitas vezes com
aquilo que não gosta de fazer só para poder pagar a
faculdade, e quando se forma, não tem oportunidade no
75
THIAGO VENDITELLI CURY

mercado de trabalho. Imaginem a frustração que este


profissional terá na sua vida! Ele, que está pronto para
colocar em prática tudo o que aprendeu na faculdade,
que dispõe de conhecimento e está disposto a mostrar
todo o seu talento. Não podemos fechar as portas para
estes jovens! Claro que não são todos os jovens que
pensam da mesma forma ou que têm a mesma
capacidade e vontade de aprender e mostrar o seu
talento. Mas posso dizer que a maioria deles se empenha
e tem o melhor rendimento na faculdade.
Quando eu e meus sócios tomamos essa decisão,
alguns colegas acharam uma loucura, disseram que nós
estaríamos colocando a empresa em risco. Eu,
particularmente, não dei ouvidos e continuei com a minha
posição. Hoje, a nossa empresa está colaborando para o
crescimento de uma pessoa, que tem um potencial
magnífico. Em dois meses, ela já está dando continuidade
a um trabalho, onde vários profissionais tentaram
desenvolver e não tiveram sucesso. Este é um projeto que
está trazendo lucros para a minha empresa. Os recém-
formados estão com os aprendizados mais “frescos” na
cabeça, cheios de vontade para mostrar seu potencial.
Claro que para toda regra existe sua exceção, como já disse
antes, mas feita uma boa seleção, você poderá ter muitos
benefícios, e bons profissionais também.
— Obrigado, Rogério. É realmente essa postura
que devemos ter perante o mercado e os recém-formados.
Mais alguém, senhores?
E como as pessoas já se sentiam mais à vontade,
novas opiniões foram dadas, todas seguindo a mesma
linha de raciocínio das idéias do Doutor Frederico. Durante
três horas, os empresários ficaram conversando, trocando
idéias, até que, no final da palestra, depois do Doutor
76
VONTADE DE VENCER

Frederico ter apresentado todas as pesquisas pertinentes


ao assunto, decidiram de comum acordo que, daquele dia
em diante, formariam uma comissão de ajuda a novos e
antigos profissionais do ramo de Recursos Humanos. E,
quem sabe futuramente, dependendo do sucesso do
trabalho desenvolvido, abririam espaço para os
profissionais de outras áreas também. Deram o nome a
este projeto de “Programa de Qualificação Profissional”.
Esta comissão faria os seguintes trabalhos de apoio:
auxiliar os empresários nas novas contratações; esclarecer
dúvidas de outras empresas; implantar novos serviços;
ensinar os departamentos a conversarem entre si; ajudar
as pessoas a se relacionarem melhor umas com as outras;
fornecer todo apoio necessário para os estagiários e os
recém-formados, entre outras atribuições.
Com a formação do grupo, decidiram que as
reuniões seriam semanais, para obterem uma primeira
estrutura do projeto. Feito isto, as reuniões passariam a
ser quinzenais, até chagarem a um patamar estável, onde
pudessem ser mensais, com suas devidas exceções, se
fosse preciso.
Após ter concluído o passo mais importante,
Doutor Frederico comunicaria à diretoria sobre os
acontecimentos e os resultados da sua palestra. Era
chegada a hora. Começou então a entrar em contato com
os diretores, solicitando uma reunião, o quanto antes
possível, para fazerem um balanço de suas atividades.
Esta reunião foi marcada para a semana seguinte.
Quando Frederico pôde respirar um pouco, após
semanas de trabalho e reuniões, ele se lembrou da
proposta que Matheus havia feito, uma troca de
conhecimentos entre os departamentos.

77
THIAGO VENDITELLI CURY

— Tenho que dar continuidade a esse trabalho. É


algo muito importante para a empresa e para o
crescimento dos colaboradores. Mas, ainda sim, acho que
podemos incrementar um pouco este projeto, e se além
da troca de idéias entre os departamentos, nós fizéssemos
também algumas definições de como evitar problemas?
Poderia ajudar ainda mais... Vou chamar Matheus aqui
para conversarmos - pensou Doutor Frederico, já com
idéias novas em sua cabeça. Ele gostava do seu trabalho e
se sentia bem exercendo a função de superintendente,
exceto quando alguns diretores “ficavam no seu pé”.
Matheus atendeu o chamado prontamente. Entrou
na sala, fechou a porta e sentou-se, esperando pelas
orientações do chefe.
— Eu lhe chamei aqui para que possamos dar
continuidade às suas idéias de relacionamento entre os
colaboradores. Vamos começar relembrando suas idéias.
Tudo bem?
— Claro, Doutor Frederico! Só gostaria de lhe pedir
um favor. Eu preparei uns gráficos, posso lhe mostrar? —
solicitou Matheus.
— Sem nenhum problema, meu rapaz. Deixe-me
vê-los! — concordou o superintendente, curioso.
Frederico sabia que Matheus tinha muito potencial
e deveria ser explorado; era uma pessoa nova na empresa,
cheia de conhecimentos, e com muita vontade de expor
suas idéias. Pretendia ensiná-lo, ajudá-lo nas conclusões
das tarefas. Este era o tipo de trabalho que mais lhe dava
prazer. Em tantos anos de profissão, uma das coisas que
mais prezava era ajudar jovens em formação para
conseguirem melhores colocações. Sentia-se muito bem
em ajudar pessoas à sua volta. Sentia-se honrado quando

78
VONTADE DE VENCER

ouvia os comentários dos amigos: “Você se lembra daquele


rapaz, jovem, que trabalhou na empresa que o Fred
administrava? Ele trabalhou lá durante anos, começou como
mensageiro e saiu de lá em uma posição muito mais alta!” Este
rapaz abriu sua própria empresa, administra seus negócios
e ainda presta consultoria para terceiros”. Sempre que
ouvia algo assim deste tipo, Frederico sentia-se orgulhoso
em saber que tinha colaborado com o sucesso de alguma
pessoa. Todas estas lembranças se passavam na mente
dele enquanto Matheus mostrava seus gráficos.
— Meus parabéns, Matheus! Os gráficos estão
corretos e muito bem apresentados. Eu aprovo totalmente
a sua idéia e, ainda mais, quero complementá-la, com
alguns detalhes que acho importantes para que os
resultados sejam ainda mais garantidos.
— Que bom que o senhor gostou, Doutor Frederico.
E fico muito feliz por querer complementar meu trabalho
com as suas idéias.
— Pois bem, meu jovem, o que eu gostaria de
acrescentar é o seguinte: na minha opinião, as pessoas
resolvem os problemas da maneira errada, e pelo modo
errado. E como é isto? Eu vejo um outro caminho para
solucionar as dificuldades. Existe uma “regra” para os
problemas, que pode ser quebrada. Basta ter atenção e
organização ao desenvolver um trabalho ou projeto.
— Como assim, Doutor Frederico? Não entendi
muito bem qual é a sua idéia!
— Explico melhor. Peguemos um problema
convencional de qualquer empresa, o orçamento, por
exemplo. Neste caso, temos três etapas: primeira etapa:
a causa, segunda etapa: o problema em si, e terceira e
última etapa: a conseqüência.

79
THIAGO VENDITELLI CURY

— Quando nos vemos frente a frente com o


problema, nos preocupamos em resolver a conseqüência
dele e não a causa. Se fizermos um planejamento melhor
e pensarmos com tranqüilidade, será mais fácil lidar com
os contratempos que enfrentamos todos os dias.
Podemos resolver a causa, para que eles não voltem a
acontecer. Mas a maioria das pessoas se preocupa em
solucionar a conseqüência do problema e assim
indubitavelmente ele voltará a acontecer.
— Como pode, Doutor Frederico? Nunca tinha
ouvido falar de algo deste tipo! Quer dizer que um bom
planejamento e uma organização podem evitar um furo
no orçamento ou qualquer outro tipo de problema dentro
de uma empresa ou até mesmo na sua vida pessoal?
— Claro que sim! É lógica, igual à matemática!
Vejamos a seqüência de planos: você tem uma situação
na sua empresa que causa um problema e que traz uma
conseqüência. Então, se tentarmos resolver a
conseqüência, não chegaremos a lugar algum, porque o
problema vai continuar aparecendo. Mas se nós
resolvermos a causa, ele não irá se repetir. Claro que pode
aparecer outra dificuldade, algo bem diferente, mas o
mesmo problema não vai se repetir, isso porque você
resolveu o que precisava. Eu costumo chamar isto de
“Ação Corretiva”.
Para que isto seja concluído com êxito precisamos
passar por no mínimo cinco etapas:
Primeira: Definir exatamente qual é o problema.
Segunda: Quais são as causas do problema.
Terceira: Fazer o registro de dados.
Quarta: As ações corretivas.
Quinta: Monitorar os resultados.
80
VONTADE DE VENCER

— Eu posso lhe afirmar, Matheus, que isto vai dar


certo. Vejamos o exemplo que eu vivenciei. A empresa
possuía um planejamento orçamentário. Logo que eu
assumi a gerência, o orçamento havia sido ultrapassado,
tinham estourado em alguns setores e em outros tinham
paralisado os trabalhos temporariamente para evitar
maiores furos até o final do ano.

— Eu sabia que o caso poderia ser revertido, mas


necessitava da aprovação de superiores. Sendo assim, fui
até a pessoa responsável pelo financeiro, para saber a
quem deveria me reportar. Durante nossa reunião, fui
direto ao assunto, para que não perdêssemos tempo.
“Senhor Jorge, eu vi que a empresa está com um
furo no orçamento, e pelo que eu pude perceber,
podemos reverter este caso. Mas, para isso, preciso de
duas coisas: primeiro, que vocês confiem no meu
trabalho, e segundo, preciso de autonomia nas minhas
decisões. Assim, poderei fazer o que precisar, e trazer
benefícios e lucros para a empresa”.

81
THIAGO VENDITELLI CURY

— Quando terminei minhas colocações, ele olhou-


me com uma feição contente, de quem não tinha
nenhuma esperança em relação à situação financeira da
empresa. E disse-me confiante:
— Pois bem, Doutor Frederico, o senhor tem o que
precisa. Marcaremos uma reunião com a diretoria,
passaremos as suas idéias para os demais. Se eles também
aprovarem, daremos continuidade ao seu projeto.
— Muito obrigado pelo voto de confiança. Vou me
dedicar a este trabalho para conseguir alcançar os objetivos
e recuperar a situação financeira da empresa.
— Está bem, Doutor Frederico, confio no seu
talento e na sua experiência. Espero que o senhor não
me decepcione.

82
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO OITO

— Após essa conversa com os diretores, fomos


tomar um café, e, logo que voltei, comecei a providenciar
toda a papelada necessária para a reunião. Liguei para os
diretores para marcar a data, fiz novas planilhas com
previsões e uma apresentação com as mudanças
necessárias para o sucesso do projeto. Quando chegou o
dia, eu estava muito nervoso, afinal estava colocando em
risco o meu emprego. Se os diretores não concordassem
com o meu projeto, poderia ser demitido na mesma hora.
Por isso, tomei muito cuidado com o que ia falar, fiz e
refiz todos os cálculos para que nada desse errado. Na
reunião, era a hora de mostrar meu talento e o meu
potencial, mas eu mal sabia que, por trás de tudo, tinham
pessoas que não queriam que eu estivesse naquele cargo.
Minha função era rever os furos da empresa e arrumar

83
THIAGO VENDITELLI CURY

soluções para os problemas. O que eu não tinha noção


era de que os furos eram causados por “desvio” dos
diretores e sócios da empresa.
— Fiz então a minha apresentação. Dediquei-me
ao máximo para que nada saísse errado. Felizmente, tudo
correu como eu previa, aprovaram a minha apresentação
e apoiaram o meu trabalho. Mas, por trás de toda a
aprovação, tinha uma pessoa que estava planejando algo
para me derrubar. Porém, eu fui mais forte, superei todos
os obstáculos e, durante seis meses, pude mostrar meu
trabalho; fiz muito para trazer melhorias à empresa.
Resolvi o problema do orçamento, mudei alguns
conceitos, e logo que estava concluindo o meu trabalho,
quando já não agüentava mais tanta pressão por parte
desta pessoa, pedi demissão. Essa pessoa me pressionava
muito, cobrava demais, uma situação insustentável. O que
quero dizer com tudo isto é que não devemos depender
do apoio dos outros para cumprirmos com as nossas
tarefas, com nossas obrigações. Devemos, sim, fazer as
coisas contando apenas com as nossas forças e também
com as forças superiores que todos nós temos. Se
colocarmos a sua idéia em prática e mudarmos as atitudes,
Matheus, o sucesso será garantido.
Matheus ficou muito feliz com as palavras que
acabara de ouvir do Doutor Frederico. Estava orgulhoso
de si mesmo por colaborar com a empresa, tendo a
oportunidade de crescer profissionalmente.
— Matheus, pode iniciar os trabalhos e lembre-
se que, com planejamento e organização, tudo pode
dar certo.
— Muito obrigado, Doutor Frederico. Sou grato pela
confiança. Tenha a certeza de que não vou decepcioná-lo.

84
VONTADE DE VENCER

— Estou certo disso e sei que você irá cumprir com


suas obrigações tranqüilamente, e saiba que estou à
disposição para qualquer dúvida — disse Doutor Frederico,
confiante na força de vontade e no talento de Matheus.
Começaram as reuniões dos departamentos. Isso
duraria um tempo. O trabalho que estava sendo proposto
para os colaboradores era de grande valia. Meses depois,
todos os departamentos já se conheciam.
Os resultados dessas conversas já eram visíveis.
Todos percebiam as melhoras que estavam surgindo
dentro da empresa. O orçamento, de negativo passou para
positivo. O clima dentro da empresa parecia estar normal,
como se não houvesse diferenças, parecia até que lá dentro
não existiam mais os dois grupos, o dos amigos e o dos
opositores de Doutor Frederico.
Sem que os aliados de Frederico percebessem o
que estava acontecendo, os opositores ainda continuavam
com seus pensamentos e planos. Eles queriam que o
Doutor Frederico saísse da empresa, a todo custo. Por
isso, já haviam tramado com os superiores para colocar
tudo em prática e demitir o superintendente. E o pior ainda
estava para acontecer, os planos da diretoria incluíam a
dispensa de vários colaboradores Os diretores já sabiam
quem seria demitido, quando e a “justificativa” que dariam
a cada um deles.
Doutor Frederico estava muito feliz com o
desempenho de sua equipe e continuava com a esperança
de que nada mais aconteceria. Ele acreditava nisso porque
tinham dado a ele a autonomia necessária para tomar
decisões. Tinha a convicção de que a diretoria não o
demitiria ou mesmo abortaria o projeto.
Enquanto seus aliados trabalhavam em silêncio,
seus opositores tramavam. Na presença do Doutor
85
THIAGO VENDITELLI CURY

Frederico, eram de um jeito. Na ausência dele,


completamente diferentes. Esses adversários sabiam o que
queriam, por isso tomavam o maior cuidado para que
ninguém percebesse as tramóias e para que não deixassem
escapar nada. Seria uma perda de tempo se alguma
informação vazasse.
Mas a moça que servia de cúmplice, não daria com
a língua nos dentes. Ela tinha um caso com um dos
diretores, Armando, e a pobrezinha tinha certeza que
subiria de cargo assim que Frederico e seus amigos fossem
demitidos. O sonho da moçoila era ver seu amado como
superintendente e ela como a secretária super eficiente.
Fazia tudo às vistas de todos, não dava a mínima
importância se alguém percebia suas fofocas. No fundo,
ela acreditava que ganharia mais adeptos, e daí receberia
mais prêmios e presentes do seu amado. Mas ela não sabia
que era completamente descartável.
A diretoria já estava ansiosa pelo início do plano,
mas para sorte de alguns e azar de outros, as tramóias teriam
que ser adiadas por mais algum tempo. Doutor Frederico
estava começando um novo projeto e, até que as funções
fossem distribuídas e os trabalhos iniciados, levaria um certo
tempo para aparecer os resultados. Se fossem bons,
esperariam mais alguns meses, se fossem ruins e a
conseqüência negativa, poderiam demiti-lo imediatamente.
O novo trabalho consistia em cobrar as empresas
inadimplentes. Desde que assumiu o cargo de
superintendente, o objetivo de Frederico era fazer com
que as empresas regularizassem suas situações. O plano
de cobrança seria um segundo passo, que ainda não estava
traçado, mas as empresas seriam avisadas de suas dívidas,
buscando uma forma de saná-las.

86
VONTADE DE VENCER

Metade das empresas cadastradas no banco de


dados estava inadimplente. Se o processo de cobrança
funcionasse, o aumento no orçamento seria significativo,
o que daria a possibilidade de Frederico alcançar suas
metas e a diretoria da Junção continuar aprovando o seu
trabalho. A diretoria, por mais estranho que possa parecer,
não se esforçou muito na mudança da forma de cobrança.
Mesmo assim, o projeto foi tocado e logo apareceram os
resultados positivos.
As coisas caminhavam tranqüilamente para Doutor
Frederico e sua equipe. E os bons fluídos já despertavam
a inteligência da turma da oposição. A dedicação no
projeto de cobrança era a suspeita que a opinião deles
poderia estar errada. “Será que nós nos enganamos?
Julgamos as pessoas da forma errada? Precipitadamente?
Antecipamo-nos e tiramos nossas próprias conclusões?”.
Pode ser. Quando se está na dúvida sobre o caráter
de uma pessoa, não se pode julgar sem ter certeza. Mas
os resultados eram tão evidentes, que não seria diferente.
Se há certeza, é preciso tomar providências. Se não, é
melhor esperar. O tempo clareia as dúvidas.
O trabalho iniciado por Frederico precisaria da
colaboração e da força de quase todos os departamentos.
Seguindo a idéia de Matheus, foi implantada a
comunicação entre os setores. O resultado foi excelente.
Agora, as pessoas sabiam quem eram os responsáveis por
cada setor e o que exatamente eles faziam. Logo no
primeiro mês, as ligações eram diretamente passadas aos
responsáveis, e todos atendiam somente ligações
referentes às suas funções.
Foi montada uma estratégia para começarem as
cobranças. O primeiro passo foi fazer um levantamento

87
THIAGO VENDITELLI CURY

dos inadimplentes; depois verificaram o que seria cobrado


e quais as possíveis multas e formas de pagamento. Todas
as quartas-feiras, os colaboradores se reuniriam para
selecionar as empresas que seriam acionadas naquela
semana e acertariam os detalhes. A carta de cobrança seria
o último passo desse processo.
A idéia de enviar a carta de cobrança só no final do
processo tinha um propósito: permitir que os devedores
tomassem ciência da dívida, proporcionando-lhes um
prazo de pagamento um pouco maior. Se a carta-cobrança
fosse enviada diretamente, ela poderia ser ignorada e a
situação de inadimplência permaneceria igual. E este não
era o objetivo. Certamente, ao entrar em contato com o
devedor, explicando sobre os seus débitos, o responsável
pelo financeiro da empresa inadimplente teria alguns dias
para se programar, e não ser “pego de surpresa” assim
que chegasse a carta-cobrança.
A idéia era boa e todo esforço estava valendo a
pena. O problema é que as tramóias continuavam e a
cabeça de Doutor Frederico poderia estar “a prêmio”,
antes que seu projeto fosse concluído.
O sucesso deste planejamento empresarial já
deixava muitas pessoas não favoráveis a esta política em
cima do muro. Não sabiam em qual lado permaneceriam:
dos aliados ou dos opositores.
A calmaria na Junção foi se dissipando e a
ansiedade tomou conta do ambiente. Os opositores já
sabiam que, a qualquer momento, o diretor de finanças e
o presidente procurariam pelo superintendente. Algum
tempo depois, com feições estranhas e de “poucos
amigos”, pediram para falar com o superintendente. Mas,
para sorte ou azar de Frederico, ele não estava na empresa
naquele momento.
88
VONTADE DE VENCER

O presidente e o diretor de finanças ficaram


perdidos, sem rumo. Como não encontraram o Doutor
Frederico na empresa, no horário de trabalho? “Onde ele
estará?” Eles fingiram que estavam lá por outro motivo,
mas não deixaram de demonstrar a ansiedade em querer
vê-lo. O presidente da empresa pediu então para que
Andressa desse um recado para o superintendente assim
que ele chegasse:
— Andressa, por favor, assim que o Doutor
Frederico chegar, peça a ele para me ligar.
— Pode deixar, antes do almoço falarei com ele e
passarei o seu recado.
— Está bem. E mais uma coisa: por favor, traga na
minha sala o relatório da reunião da semana passada.
Quero tirar algumas dúvidas.
— Sim, senhor. Só um minuto e eu já vou — disse
Andressa, procurando os documentos. Ela ficou perdida,
pois não contava com o pedido de última hora.
— Aqui está o relatório que o senhor pediu.
— Obrigado, Andressa, pode ir agora.
Tal atitude não despertou suspeita entre os
colaboradores. Mas foi tudo um belo disfarce, afinal, os
documentos poderiam ser solicitados por e-mail, como
era feito costumeiramente. Os opositores de Frederico
fingiam não saber de nada. Mas o clima era de que algo
estava por acontecer.
Neste dia, Doutor Frederico havia chegado cedo,
deixado alguns pertences na sala e saído para uma reunião
com o pessoal da informática. A intenção dele era buscar
programas de computadores adequados para o novo
sistema de cobrança.

89
THIAGO VENDITELLI CURY

Antes do almoço, Doutor Frederico ligou na Junção


querendo falar com Andressa.
— Boa tarde, Andressa, tudo bem?
— Tudo bem! E o senhor, como estão as coisas por aí?
— Estão indo bem. Obrigado. Algum recado
para mim?
— Tem sim, mas acho que o senhor não vai gostar
muito...
— O que foi?
— O nosso presidente e o diretor financeiro
vieram aqui, no período da manhã, querendo falar com
o senhor. Quando souberam que o senhor não estava,
pediram-me alguns documentos e em seguida foram
embora. Achei que eles estavam muito estranhos. Os
documentos solicitados são sempre enviados por e-mail.
Achei a atitude deles suspeita.
— Fique tranqüila, por favor, dê-me o número do
telefone dele.
Andressa passou os telefones do presidente.
— Obrigado, Andressa. Mais tarde voltaremos a
nos falar.
— Está bem, Doutor Frederico, até mais tarde.
Frederico ligou imediatamente para o presidente.
Precisava saber porque ele estava a sua procura, com
tanta ansiedade.
O presidente atendeu a ligação aparentando
tranqüilidade.
— Boa tarde, Frederico, como está? —
cumprimentou o presidente.
— Estou bem. Obrigado. O senhor está à minha
procura? Posso ajudá-lo em algo?
90
VONTADE DE VENCER

— Pode sim. Você esta perto aqui da nossa matriz?


Estou no centro da cidade agora à tarde.
— Não, estou fora de São Paulo, resolvendo algumas
coisas da Junção. Por quê?
— Nada de tão importante. Assim que chegar em
São Paulo, venha até a minha empresa, quero falar com
você pessoalmente. Está bem?
— Está bem! Estarei aí em três horas.
— Ótimo, estou aguardando!
— Até mais tarde, Frederico.
— Até mais.
Após a conversa, Doutor Frederico comentou com
Luiz, o amigo que o acompanhava.
— O que será que o Rui quer comigo, assim, às
pressas?
— Deve ser algo muito importante, para ele querer
vê-lo o mais rápido possível.
— Deve ser mesmo! Mas temos que fazer uma coisa
por vez. Não é mesmo, Luiz?
Luiz conhecia Frederico antes mesmo dele ir
trabalhar na Junção Recursos Humanos. Além de Luiz
prestar serviços para a empresa, ambos já haviam
trabalhado juntos em outros lugares, anos atrás. Tudo o
que era relacionado à área de comunicação, propaganda
e eventos, era Luiz quem cuidava, juntamente com
Mariana. Luiz trabalhava com Mariana, mas ele era
terceirizado. Sempre que a empresa precisava de serviços
em comunicação visual, Luiz era contatado. Naquele dia,
Luiz acompanhou Frederico para buscar novos
programas empresariais.
Frederico resolveria uma coisa por vez, como havia
dito, e por isso não alterou o caminho previsto. Mas a
91
THIAGO VENDITELLI CURY

conversa com Rui não lhe saía da cabeça. Ele sabia do


risco que corria. Estava curioso e queria estar logo com o
presidente.
Sabia que algo aconteceria. Uma sensação estranha
tomava conta do seu peito. Fechou os olhos e pediu que
acontecesse o que fosse melhor, mas que os mais fracos
não sofressem. Ele se preocupava muito com o futuro da
sua equipe. Frederico só queria que, se realmente fosse
demitido, ele tivesse a possibilidade de comunicar aos seus
colaboradores, sem fofocas, sem distorção dos fatos.
Seguiu seu caminho, conversando com o amigo Luiz
para se distrair e passar o tempo mais rápido. Mesmo assim,
o dia de Frederico seria longo e ele não chegaria antes do
anoitecer na cidade. Decidiu ligar para Carmem. Pediu-lhe
que não o esperasse, pois ainda teria reunião com o Rui.
— Olá, Carmem, como estão as coisas por aí?
— Estão bem, como de costume, mas o senhor
faz falta aqui!
Ela sempre dizia que a empresa sem o Doutor
Frederico era como primavera sem flores, afinal, foi
ele quem deu mais vida aos trabalhos, mais força aos
colaboradores.
— Obrigado, Carmem, você é sempre gentil.
Faça-me um favor, providencie para amanhã os papéis
com os nossos resultados dos projetos nos últimos seis
meses. E também faça uma limpeza em minha mesa,
deixe tudo o que for pessoal de um lado e o que for da
empresa do outro. Por favor.
— Por que o senhor está me pedindo isto, Doutor
Frederico?
— Preciso disso pronto amanhã cedo. Você pode
fazer, Carmem?
92
VONTADE DE VENCER

— Posso sim. Amanhã cedo, estará tudo pronto


em sua mesa, assim que o senhor chegar.
— Muito obrigado, Carmem. Mais um detalhe: não
me espere! Chegarei tarde e amanhã cedo
conversamos.Tudo bem?
— Está bem. Até amanhã, Doutor Frederico.
— Até amanhã, Carmem.
O clima dentro da empresa estava tenso demais. E
foi bom Frederico estar fora o dia inteiro. Assim, ele teve
uma oportunidade para se preparar para algo ruim que
pudesse vir a acontecer.
Logo que desligou o telefone, Carmem não
conseguia esconder o nervosismo. Sua equipe percebeu
que as coisas não estavam boas. Queriam saber o que o
Doutor Frederico havia dito no telefone.
— Carmem, diga logo. O que o Doutor Frederico
disse para você ficar deste jeito?
— Ele pediu para que eu arrumasse os papéis dele
e também um relatório com os nossos resultados dos
últimos seis meses.
— O que será que vai acontecer? — indagou
Matheus, perdido na situação. Ele, que era o mais novo
membro da equipe, não sabia muito bem o que acontecia
pelos bastidores da empresa.
— Matheus — chamou Carmem — quando Doutor
Frederico assumiu o cargo de superintendente, as coisas
eram bem diferentes. Vamos até a sala de reunião para
conversarmos melhor.
Carmem, então, começou a contar para Matheus
como era a situação na Junção antes da contratação de
Frederico, e o que mudou com a chegada dele.

93
THIAGO VENDITELLI CURY

— No começo, quando entrei aqui, as coisas eram


bem diferentes. Não tínhamos nenhum benefício, não
podíamos ver nossos e-mails particulares, não tínhamos
premiação por tarefas ou metas alcançadas. Nada de
bom para os funcionários, a não ser cumprir com as
obrigações sem reclamar ou querer algo.
— Já sabíamos que o então superintendente não ia
durar muito tempo, logo seria substituído. Isso de fato
aconteceu e o Doutor Frederico passou a ocupar o cargo,
apresentado à diretoria pela supervisora de treinamentos.
Ele demonstrou desde o começo ter capacidade e força
de vontade para assumir o cargo, queria muito mostrar
seus conhecimentos para todos na empresa. Com a saída
do outro superintendente, algumas pessoas se sentiram
ameaçadas, achavam que seriam demitidas assim que
ele assumisse o cargo. O objetivo do Doutor Frederico
não era mandar ninguém embora, mas, a pressão no
trabalho, as mudanças, os medos e a insegurança
fizeram com que o desenvolvimento das pessoas caísse
em qualidade e tempo.
— Desta forma, alguns chegaram a pedir
demissão por não agüentarem mais a pressão dentro
do trabalho. Uma dessas pessoas disse que não estava
mais produzindo como antigamente e queria ser
demitida. O Doutor Frederico não tinha essa intenção,
mas era um pedido pessoal, ele não poderia negar. O
superintendente falou com a diretoria e, mesmo contra
a vontade, resolveram aceitar o pedido de demissão.
Com a resposta positiva da diretoria, Doutor Frederico
demitiu a moça, mas deixou claro que estava atendendo
a um pedido dela.
— Essa situação continuou provocando medo em
outros funcionários e todos acharam que poderiam ser
94
VONTADE DE VENCER

demitidos igualmente. Doutor Frederico deixou bem


claro que este não era seu objetivo ali dentro. Não
demitiria ninguém no processo de adaptação dos seus
projetos, queria conhecer primeiro as pessoas que ali
trabalhavam, saber qual era o serviço que desenvolviam,
como o faziam.

95
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO NOVE

Matheus prestava atenção em cada palavra de


Carmem. Seus olhos esbugalhados engoliam as palavras
da colega, buscando o ponto final de uma história. Aquela
sala trazia a gélida sensação de que tudo poderia
desmoronar, a qualquer momento.
Carmem continuou a história.
— As coisas caminharam bem durante os primeiros
meses. Ninguém foi demitido.Todos estavam abertos a
conhecer a maneira de trabalhar do Doutor Frederico.
Parecia que as coisas estavam fluindo bem, mas quando
ele tomou sua primeira iniciativa de fazer algumas
cobranças e as devidas regularizações, os problemas
começaram a surgir. Talvez, até por este motivo, algumas
pessoas, hoje, são contra os trabalhos dele. Influência de
comentários de alguém que não soube perder, ou subir
na vida, dependendo de como se olha para uma situação.
97
THIAGO VENDITELLI CURY

— Carmem, desculpe interromper, mas como


assim? Como se olha para uma situação?
Matheus sabia que sua pergunta não tinha nada a
ver com o que Carmem explicava no momento, mas,
curioso, queria entender o que a colega quis dizer.
— Matheus, você é uma pessoa esperta, vai
entender logo o que quero dizer. Por exemplo, quando
acontece algo diferente em nossas vidas, quando somos
demitidos de nosso emprego. Jamais esperamos que isto
vá acontecer, mas acontece. Temos nossas
responsabilidades pessoais, nossas contas para pagar, e,
quando isto ocorre, nos desesperamos, achamos que é o
fim do mundo. Pensamos sempre que o emprego está
difícil e que será complicada a situação. Se soubéssemos
lidar com as nossas dificuldades, e com os nossos medos,
poderíamos perceber que, se isto está acontecendo em
nossas vidas, é por que algo melhor pode nos aparecer
depois. Devemos tirar aprendizado de tudo aquilo que
vivemos, agradecermos pelo emprego, e pedir para que
novas oportunidades surjam em nossas vidas.
— Quem diria! — exclamou Matheus — Aprendi
tanto em tão pouco tempo. Nunca tinha pensado por este
lado. Comigo foi a mesma coisa. Quando fui demitido,
antes de entrar aqui, achei que o mundo tinha acabado
para mim. Como ia conseguir outro emprego? As coisas
estavam tão difíceis! Fiquei desesperado. Mesmo com o
apoio de familiares e amigos, as coisas pareciam não ter
uma solução. Durante todo o tempo, fiquei desesperado
e não consegui encontrar nenhuma resposta para os meus
problemas e medos. As coisas pioravam a cada dia; o
nervosismo era inevitável, eu estava sempre de mau
humor, brigando com todas as pessoas à minha volta. Fora
que as contas estavam atrasadas, uma loucura. Minha vida
98
VONTADE DE VENCER

mudou drasticamente, de uma hora para a outra. Eu, que


era uma pessoa calma, sorridente, trabalhadora e sempre
disposta a novos desafios, não pude perceber que os meus
hábitos estavam um pouco defasados.
— Como já fugimos do assunto em questão, como
assim defasados? — perguntou Carmem, curiosa pela
experiência de Matheus.
— Estavam defasados, no sentido de que eu não
dava o devido valor a algumas coisas em minha vida. Eu
preferia sair com os amigos a ficar em casa um dia da
semana com a minha família; eu só sabia pedir, e, quando
conseguia, não sabia nem agradecer — explicou o jovem.
— Durante o período em que estive desempregado,
pude perceber que é preciso ter outros valores para se chegar
ao equilíbrio. Após muitos conselhos de amigos, decidi
procurar ajuda, já que, sozinho, não conseguia mais dar um
rumo em minha vida. Resolvi procurar uma terapia
alternativa. Busquei anúncios em jornais e revistas, até
que um dia, por indicação de um familiar, conheci uma
pessoa muito agradável. A maneira na qual esta pessoa
trabalhava me parecia a mais adequada para o momento
que estava vivendo.
— Eu fui, então, conhecer seu trabalho de perto.
Marcamos uma entrevista onde eu falaria um pouco sobre
a minha vida e ela, um pouco sobre a sua formação. Ela
também me explicaria como era seu trabalho. Confesso
que fiquei um pouco ansioso. Queria ter certeza de que
estava fazendo a coisa certa. Pensava que somente os
loucos precisavam de terapia. Eu achava que, como não
tinha problemas mentais, a terapia era desnecessária. Dois
dias antes da data marcada, senti uma enorme vontade
de desistir. Estava com medo, ansioso pelo que ia encontrar
na minha frente. No fundo, eu não queria saber dos meus
99
THIAGO VENDITELLI CURY

medos e conflitos. Para mim, o problema era o mundo, e


não eu. Todos os outros eram os culpados, menos eu.
— É fácil dizermos que a culpa pelos nossos
problemas é dos outros e não assumirmos as nossas
responsabilidades, o difícil é tomarmos controle das
nossas vidas. Mas, com o apoio de amigos e parentes,
criei coragem e fui para a entrevista.
— Quem diria que você, Matheus, uma pessoa tão
alegre e tão determinada já passou por isso — opinou
Carmem.
— Pois é, Carmem, as pessoas precisam de apoio
em suas vidas; precisam de forças que muitas vezes
sozinhas elas não conseguem alcançar. Em determinados
momentos de nossas vidas, acontecem situações que não
conseguimos resolver sozinhos. Por mais fortes que
julguemos ser, por mais maduros que achamos que somos,
precisamos da ajuda de outras pessoas. Pessoas estas que,
por não estarem vivendo a mesma coisa que nós, podem
nos mostrar algumas saídas. Saídas que não conseguimos
perceber, justamente por estarmos vivendo o problema.
— No dia da entrevista com a terapeuta, fiquei
muito nervoso. Transpirava em excesso, mal conseguia
me alimentar. Muitas coisas passavam pela minha
cabeça. O que vou dizer? Como vou falar? E se eu tiver
vergonha de falar sobre algum assunto? Tantos medos,
inseguranças. Mas mesmo assim fui até o consultório
dela como o combinado. Logo que cheguei, toquei o
interfone, e para a minha surpresa, ela mesma veio abrir
a porta do consultório. Fiquei surpreso, não imaginava
que a própria terapeuta abriria a porta. Fui muito bem
atendido. A Ana até me ofereceu água e café, mas minha
timidez não permitiu que eu aceitasse.

100
VONTADE DE VENCER

— Fomos para a sala dela, onde me ofereceu


novamente uma água. Desta vez, resolvi aceitar. Com a
boca seca de tanta ansiedade, precisava mesmo de um
gole de água.
— A entrevista passou mais rápido do que eu
esperava. Nem percebi o tempo passar e, quando vi, Ana
já me advertia de que teríamos que deixar alguns assuntos
para o próximo encontro, na semana seguinte.
— Concluindo a história, depois de alguns meses
pude aprender muitas coisas sobre o mundo e como eu
estava olhando para ele. Pude perceber meus medos,
minhas decepções, receios, coisas que eu realmente
gostava de fazer e o que detestava. Até então, eu não tinha
conhecimento disso. Foi muito mais fácil lidar com o fato
de estar desempregado no momento, mais fácil ainda
voltar para o mercado de trabalho. Acho que, se eu não
tivesse ido até o consultório dela, e procurado ajuda,
poderia estar bem pior, estaria me culpando de muitas
coisas, culpando o mundo e as pessoas à minha volta, e
nada teria mudado. Talvez estivesse desempregado ainda.
Mas, hoje, sei que eu não estava desempregado e sim
“Disponível para o mercado de trabalho”.
— Como assim “Disponível para o mercado de
trabalho”, Matheus? O que você quer dizer com isto?
— Eu explico, Carmem, mas antes de qualquer
coisa, podemos ir almoçar? Estou faminto. Prometo que,
durante o almoço, eu conto para você esta diferença, algo
que eu aprendi com a terapeuta Ana.
— Está bem. Também estou com fome. E, assim
que nós voltarmos do almoço, eu vou terminar de lhe
contar como começaram as brigas aqui na empresa.
— Com certeza. Vamos trocar experiências.

101
THIAGO VENDITELLI CURY

E assim foram almoçar. Carmem e Matheus


decidiram comer um lanche no Estadão, uma lanchonete
famosa perto da empresa. Chegando ao local, e após
fazerem os pedidos, o rapaz continuou contando como
aprendeu a diferença entre estar desempregado e estar
“disponível para o mercado de trabalho”.
— Carmem, se eu perguntasse para você o que é
estar desempregado, o que você me responderia?
— Bem, eu diria que estar desempregado é quando
você procura um trabalho, que possa trazer uma
remuneração para que você pague suas contas, se divirta
e possa sobreviver.
— Este trabalho também tem que lhe trazer
satisfação?
— Claro que sim! Você tem que fazer aquilo que
gosta, o que mais lhe dá prazer. Quando você está
desempregado, você procura por um trabalho onde possa
desenvolver suas funções, cumprindo com suas
obrigações, pondo em prática seus aprendizados e estudos
sendo beneficiado com um pagamento mensal. Uma
premiação pelo seu desempenho. É isso?
— Sim, isso mesmo.
— Pois bem, Carmem, e agora eu pergunto o que é
estar “disponível para o mercado de trabalho”?
Carmem pensou, pensou, e, sem ter certeza de sua
resposta, preferiu dizer que não sabia.
— Não sei exatamente o que seria isso. O que é?
— Que bom, assim posso te ensinar algo! Retribuo
um pouco de todos os ensinamentos que tenho aprendido
com você. Veja bem, estar desempregado e “disponível
para o mercado de trabalho” é basicamente a mesma coisa.
Você procura por benefícios, algum lugar para por em
102
VONTADE DE VENCER

prática todo o seu conhecimento, só que o diferencial é


que você muda o seu foco. Você procura emprego não
como um desempregado, desesperado para pagar suas
contas, mas sim como um excelente profissional, disposto
a novos desafios, e que queira fazer parte de alguma
empresa. Você mostra todas as suas qualificações em uma
entrevista, como se estivesse se “vendendo” para a
empresa, querendo aquele emprego.
— Se você for selecionar alguns candidatos para
uma vaga de Auxiliar Administrativo, por exemplo. Após
analisar o currículo de todos os candidatos, você marca
uma entrevista com eles. O que você espera encontrar no
dia das entrevistas?
— Espero que eles venham bem apresentados e
saibam o que querem, dispostos a novas funções. Devem
ter o conhecimento em tudo aquilo que a vaga exigir e,
acima de tudo, que tenham força de vontade em aprender
e que demonstrem dinamismo.
— Muito bem, Carmem, você acabou de traçar o
perfil do profissional que você procura. Agora vem a parte
mais difícil. Uma pessoa chega na empresa, para a
primeira entrevista. “Por favor, a senhora Carmem?”.
Tímido, ele procura por você, não sabe onde enfiar o rosto,
de tanta vergonha. Faz de tudo para que as pessoas não
percebam a sua presença. Então, você o leva para a sala
de reuniões. Dando inicio à entrevista, você pergunta se
ele tem conhecimentos em informática. Qual a resposta?
— Não sei. Qual é Matheus?
— “Tenho sim senhora”. Ele responde cabisbaixo,
com a voz trêmula.
— Você não quer intimidar o candidato e pula para
a próxima pergunta, esperando ouvir uma resposta
melhor que a primeira.
103
THIAGO VENDITELLI CURY

— Fale-me sobre a sua experiência de trabalho.


Onde trabalhou e o que fazia nas outras empresas.
E ele responde: “Já trabalhei como montador,
auxiliar de escritório e em telemarketing”. Tudo isso sem
olhar nos seus olhos, falando baixo, quase sussurrando.
— Fale-me sobre a sua formação.
— Tenho o segundo grau completo. Penso em fazer
faculdade, e curso de montador de computadores.
— Você, cansada, já sem esperança que ele venha a
lhe dar uma resposta satisfatória, diz que, assim que tiver
uma posição dos diretores, entrará em contato. E logo
que ele sai, você rasga o currículo dele. E diz: “este não é o
profissional que eu procuro para trabalhar aqui na empresa”.
— Com certeza eu faria isso mesmo, Matheus. Mas
eu não entendi qual a diferença?
— Fique calma. Você entenderá tudo agora mesmo.
Vamos utilizar o mesmo caso. Você agenda uma entrevista
com o segundo candidato. No dia e horário marcado ele
chega na empresa. Você está em sua sala. Assim que ele
chega, todos percebem a sua presença, um rapaz alegre,
que cumprimenta todos os presentes.
— Bom dia, eu tenho uma entrevista marcada com
a senhora Carmem. Você poderia avisá-la que eu cheguei,
por favor? — Ele diz isto à recepcionista.
— Nossa, já começou bem diferente!
Você vai até ele e diz: “vamos até a outra sala, por
favor”.
Assim que vocês entram na sala, ele, em sinal de
respeito, espera ser convidado a se sentar. Logo no início
da entrevista, você faz a primeira pergunta.
— Você tem conhecimentos em informática?

104
VONTADE DE VENCER

E, de prontidão, o candidato responde: “Tenho sim,


senhora. Lido muito bem com todos os programas de
computador. Tenho conhecimentos em computação
gráfica, sei montar e desmontar uma máquina, sei
trabalhar com as suas configurações, monto programas
empresariais que emitem relatórios de custos e lucros,
entre algumas outras qualificações”.
Você fica surpresa com a resposta. Ele respondeu
tudo isto com a voz firme, olhando em seus olhos para
transmitir mais confiança. Empolgada, você parte para
a segunda pergunta. “Fale-me sobre a sua experiência
de trabalho”.
“Eu já trabalhei como montador de
computadores, era o responsável pela manutenção das
máquinas de uma escola. Quando alguma máquina dava
problema, eu tinha que descobrir qual era o defeito,
comprar a peça e fazer a troca. Já trabalhei também como
auxiliar de escritório, lá eu era o responsável pelo serviço
de banco, entregar documentos, colher assinaturas dos
representantes e fornecedores, além de cuidar de todo o
arquivo morto da empresa. Trabalhei também como
operador de telemarketing, fazia venda de assinatura
de jornal pelo telefone. Por duas vezes consecutivas, fui
o campeão de vendas do mês”.
— Nossa! Quanta coisa você fazia na empresa! —
você até faz este comentário, porque está surpresa com
a descrição que ele está passando sobre sua experiência
profissional.
— Vamos em frente, fale-me sobre a sua formação.
“Tenho o segundo grau completo e prestei
vestibular há pouco tempo. Preciso ingressar na
universidade, pois isto irá abrir muitas portas para mim.

105
THIAGO VENDITELLI CURY

Além disso, tenho diploma de montagem e manutenção


de computadores. E, para concluir, sou uma pessoa bem
disposta e preparada para novos desafios na minha
carreira profissional”.
— Está bem, assim que tivermos uma resposta
da nossa diretoria entraremos em contato. Muito
obrigado desde já.
Assim que o candidato vai embora você diz que
achou o profissional que tanto procurava.
— Incrível! É exatamente assim que as coisas
acontecem.
— É verdade, Carmem. As pessoas reclamam de
falta de emprego e do governo. Realmente, trabalho não
está fácil de conseguir, e se a pessoa ainda não faz a parte
dela para ter um, fica mais difícil ainda.
Se todas as pessoas procurassem empregos como
profissionais disponíveis para o mercado de trabalho, o
número de desempregados seria bem menor. O
comportamento e a maneira de se expressar são pontos
importantes numa entrevista de emprego. É necessário
demonstrar todas as suas qualificações para a vaga. É
preciso mostrar à pessoa que está lhe entrevistando que
você é o profissional indicado para aquela vaga.
— Vejamos um exemplo clássico do que leva as
pessoas a agirem desta forma: a maioria das pessoas se
comporta de maneira errada em relação às situações de
suas vidas. Veja o porquê: pensam que é a partir do
momento que elas têm alguma coisa, que elas vão fazer
por onde, para daí, sim, serem alguma coisa.

106
VONTADE DE VENCER

Isso é errado, porque não devemos agir pelo que


temos; nem pensarmos pelo que fazemos. Devemos agir
de acordo com aquilo que somos, para fazermos algo e
conquistarmos o que queremos.

— Mas, Matheus, eu não entendi muito bem o que


você quis dizer. Explique-me melhor.
— Claro que sim, Carmem, com prazer. Vejamos
um exemplo nas empresas.
Normalmente, as pessoas sabem que devem se

107
THIAGO VENDITELLI CURY

empenhar mais nas suas tarefas e nas suas obrigações.


Mas elas acabam mantendo o mesmo comportamento e
a mesma atitude de sempre, porque dizem que ganham
pouco para mudar a sua maneira de trabalhar. Ao pensar
em se empenharem nas suas obrigações dizem: “se eu
ganhar mais e for mais reconhecido, aí sim eu vou me
empenhar mais nos meus afazeres...”
A maneira certa de pensar é: “eu vou me empenhar
para desenvolver meus projetos com dedicação, pois sou
determinado e esforçado, assim obterei a promoção que
tanto sonho, e, conseqüentemente, terei o aumento no meu
salário, realizando-me profissionalmente”. É importante
que o candidato reconheça suas qualidades sem arrogância
ou prepotência, apenas tenha a consciência de suas
capacitações.
— Realmente, Matheus, eu pude aprender e
entender como pensam e agem os candidatos a uma vaga
de emprego. Muito obrigado por compartilhar suas idéias
e aprendizados comigo. Fiquei feliz em saber mais sobre
como se portar perante o mercado de trabalho, que hoje
em dia é tão competitivo.
Quando acabaram de comer, já havia se passado
quinze minutos da hora de almoço e eles tinham que voltar
rapidamente para a empresa.
— Com tanta idéia interessante e um lanche
gostoso, acabamos perdendo a hora. Preciso terminar de
lhe contar como as brigas e as diferenças começaram
dentro da empresa, para você entender melhor como as
pessoas agem lá dentro — prosseguiu Carmem.

108
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO DEZ

— Matheus, sente-se. Vou terminar de te contar a


história. Onde paramos?
— Você me dizia o porquê das diferenças das
pessoas aqui dentro.
— Ah, sim! Como eu dizia, quando o Doutor
Frederico decidiu dar início às suas cobranças, ele não se
preocupou com o tipo da empresa, o que ela fazia e quem
era o dono. Se havia dívidas, tinha que pagar. Mas o que
ele não esperava era encontrar, entre a lista de devedores,
empresas dos diretores da Junção. Para a sua surpresa, a
empresa do senhor Armando estava na lista. Ele, na sua
função de superintendente e líder do projeto de cobrança,
não poderia deixar passar isso em branco. Mesmo sendo
a inadimplente uma empresa do diretor administrativo.

109
THIAGO VENDITELLI CURY

Na primeira oportunidade que o Doutor Frederico


teve, falou com o senhor Armando e explicou a sua
situação, mostrando-lhe o quanto a empresa dele devia.
Armando ficou furioso e achou um absurdo ser cobrado,
afinal, ele sempre apoiou nosso chefe. Eu pude ouvir a
indignação dele; ouvia da minha sala. Ele gritava assim:
“Como você tem coragem de me cobrar, depois de tudo
o que eu fiz por você? Eu lhe apoiei, briguei pela sua causa,
defendi com unhas e dentes seus princípios e você ainda
vem me dizer o quanto eu devo? Se tiver alguém que deve
alguma coisa aqui é você, que deve a mim, pela força e
pelo apoio que eu lhe dei quando você mais precisou”.
— Houve uma longa discussão entre os dois e,
daquele dia em diante, o senhor Armando passou a ir
contra os princípios do Doutor Frederico. Não o apoiava
mais, não era de acordo com as suas idéias. Ainda mais
depois que ele soube que o cargo que o Doutor Frederico
ocupava era para ser do irmão dele. Por essa razão, se
sentia ainda mais ofendido e com raiva. Ele decidiu então
que, daquele dia em diante, faria tudo para que Frederico
fosse demitido, saísse da empresa com uma mão na frente
e outra atrás. Daí vem a rivalidade e a diferença dos dois.
— Agora posso entender o porquê dos dois
viverem em atrito, não podem nem se ver no corredor
que mudam de direção.
— Pois é, Matheus, é por isso que nós tememos o
que eles são capazes de fazer para tirar o Doutor Frederico
da empresa. Se ele sair, você pode ter certeza que todos
nós sairemos também, por questão de honra. Quem não
jogar no time deles, estará fora.
— Agora dá para entender porque um diretor de
uma conceituada empresa tem as atitudes que tem.

110
VONTADE DE VENCER

Resolve tudo da pior maneira possível, sem escrúpulos,


sem caráter, comprando as pessoas e usando do poder
que tem para alcançar seus objetivos.
Após saber disto, Matheus ficou chocado com a
vingança que estavam programando contra os aliados.
Ficou com medo. Afinal, se o Doutor Frederico saísse da
empresa, ele seria o primeiro da lista a ser demitido. Seria
“ponto de honra” para os outros demitir Matheus.
Depois de muito conversarem, eles perceberam que
já havia se passado o horário de ir embora. Fecharam tudo
e saíram. Mas a preocupação com Doutor Frederico
pairava no ar. O chefe não tinha dado notícia. Teria já
terminado a reunião com o Rui? Eles não sabiam, mas
não queriam incomodar. Esperariam o dia seguinte.

111
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO ONZE

No dia seguinte, Frederico chegou à empresa e


procurou Rui. Ele tinha ficado preso na estrada por causa
de um acidente e não conseguiu chegar no horário
combinado. Ligou para o presidente e foi até a matriz
para a reunião. Algumas horas depois, Frederico voltou,
pegou sua pasta e seu paletó e foi embora sem falar com
ninguém.
Todos ficaram atônitos. Não era normal uma
atitude daquelas. O chefe sempre dava satisfação de onde
ia. E a sua expressão não era das melhores. Andressa
tentou ligar para o chefe, mas seu celular estava desligado.
Na sua casa, também ninguém atendia. A solução era
esperar o chefe aparecer.
No outro dia, até o céu amanheceu cinzento, talvez
precedendo acontecimentos ruins. Carmem não conseguiu

113
THIAGO VENDITELLI CURY

dormir direito. As preocupações com a empresa deixaram


seu sono agitado. Por isso, levantou-se mais cedo,
preparou seus filhos para a escola e saiu para trabalhar
um pouco adiantada.
Andressa também ficou apreensiva com os fatos
do dia anterior, dormiu melhor que a colega, já que tinha
uma jornada dupla – trabalho e estudos. E o cansaço fez
com que, naquele dia, a secretária acordasse atrasada. E
este fato a fez entrar em desespero. “Meu Deus, justo hoje
que está tudo de pernas para o ar na empresa, eu acordo
atrasada, preciso correr”, pensou a moça. Ela não queria
perder nem um momento na empresa, queria estar lá
assim que Doutor Frederico chegasse.
Logo que Andressa chegou na empresa, foi direto
à sala do Frederico para ver se ele já havia chegado. Como
não o encontrou, foi procurar por Carmem. Queria
conversar um pouco mais com a amiga. Elas queriam
estar enganadas, mas o medo era forte, e sentiam que
algo sério tinha acontecido com o Doutor Frederico.
Após conversarem um pouco e tomarem o café da
manhã, foram para suas mesas começar o dia de trabalho
e esperar pelo Doutor Frederico. Ele, que nunca se
atrasava, já estava fora do horário. Elas estranharam. Ele
nem ao menos havia ligado para avisar. Muito estranho.
“Algo de grave deve ter acontecido”. Isso fez com que a
angústia delas aumentasse ainda mais.
Passadas duas horas de atraso, o telefone de
Carmem tocou. Era o Doutor Frederico, dizendo que
estava quase chegando na empresa e pedindo para que
ela não comentasse a ligação com ninguém.
Quinze minutos depois, ele chegou. Não falou bom
dia, não passou nos outros departamentos como de
costume e não tomou café. Frederico foi direto para sua
114
VONTADE DE VENCER

sala, fechou a porta para que ninguém ouvisse o que ele


ia fazer ou com quem ia falar. Ele nunca fechou a porta
assim, a não ser quando tinha alguma reunião
importante. Sua primeira ação foi ordenar que Carmem
comparecesse imediatamente à sua sala.
Carmem entrou e percebeu que as notícias não
seriam boas, pelo menos para ela.
Durante três horas eles conversaram, de portas
fechadas, sem que ninguém os interrompesse. Doutor
Frederico pediu à recepcionista que não passasse
nenhuma ligação para ele, a não ser particular.
Todos na empresa estavam aflitos. Alguns, felizes
por já saberem o que estava acontecendo. Não dava mais
para esconder de ninguém, já era nítido que duas
correntes existiam ali dentro.
Depois de conversar com Carmem, Doutor
Frederico lhe solicitou um último favor. Pediu para que
ela não comentasse com as pessoas da empresa o que
tinha acontecido. Solicitou que Carmem deixasse que as
coisas fossem acontecendo normalmente. As pessoas,
mais cedo ou mais tarde, acabariam sabendo das
“novidades”. Logo que terminou a conversa com
Carmem, pediu para que Andressa fosse até a sua sala.
Andressa, quando viu a cara da amiga, já sabia o
que estaria por vir. Entrou e fechou a porta do mesmo
jeito que Carmem havia feito. A conversa deles demorou
um pouco menos já que Frederico havia desabafado
anteriormente com Carmem. O que todos temiam depois
da conversa que o Doutor Frederico teve com o
presidente, realmente aconteceu.
Após ter contado para elas o que o presidente
queria com a reunião às pressas, Doutor Frederico

115
THIAGO VENDITELLI CURY

convidou Andressa, Carmem, Laiz e Matheus para um


último almoço juntos. Pelo menos a despedida dele como
superintendente da empresa. Porque, com certeza, eles
manteriam um laço de amizade e carinho.
Durante o almoço, conversaram bastante. Por
incrível que pareça, não falaram em nenhum momento
sobre a empresa, sobre trabalho, sobre o ocorrido ou coisas
do tipo. Eram apenas amigos.
Enquanto os aliados de Frederico saboreavam um
delicioso almoço, as coisas na empresa continuavam como
nos últimos tempos. Fofocas, burburinhos, comentários
pelos corredores e risadinhas. Os opositores do ex-
superintendente pareciam estar felizes com a situação.
Depois do almoço, assim que Doutor Frederico
chegou na empresa, pegou suas coisas e foi embora. Nunca
havia feito isto antes. Os colaboradores estavam
espantados com a sua atitude, não sabiam ao certo o
porquê, mas sabiam que coisa boa não era.
Muito atenciosamente, ele se despediu de algumas
pessoas, pegou os papéis que tinha pedido para Carmem
separar no dia anterior e foi embora.
Mas o que será que realmente aconteceu na
conversa com o presidente? Isto ninguém jamais irá saber,
só o que souberam foi o que Frederico disse a Carmem e
Andressa nas reuniões reservadas.
Quando Frederico chegou na empresa do
presidente para a reunião, estava presente também o
diretor de orçamentos. Uma pessoa muito respeitada por
seu cargo e sua autoridade. Na falta do presidente em
eventos, era o diretor de orçamentos que lhe representava.
Eles começaram a falar para Frederico que tinham
um objetivo, o de lhe propor uma nova maneira de
116
VONTADE DE VENCER

trabalhar. Queriam que ele fosse mais político nas suas


decisões, e menos “atrevido” com suas idéias. O presidente
considerava que a atitude de Frederico tinha sido
audaciosa, no que dizia respeito ao novo modo de
cobranças implantado por ele. Os dois falaram a respeito
do desentendimento que ele tinha tido com o senhor
Armando e de como ele tratava os funcionários. Achavam
que ele dava liberdade demais para as pessoas dentro da
empresa, e que um funcionário deve saber o seu lugar.
“Não se pode dar asas para os funcionários, porque se
não eles irão voar”.
O presidente da Junção chegou até a pedir que ele
parasse com o projeto de cobrança, já que algumas
empresas devedoras eram de integrantes do quadro de
diretores, e não era muito político cobrar pessoas que
trabalhavam em conjunto com eles. Afinal, muitos eram
patrocinadores de eventos e ajudavam a empresa nas
horas difíceis.
A reunião durou cerca de quatro horas. O
presidente e seu diretor pressionaram Frederico para que
ele mudasse sua maneira de liderar a equipe e
interrompesse a cobrança nas empresas dos outros
diretores. Queriam que ele fosse uma pessoa menos
preocupada com o bem-estar dos funcionários. Chegaram
até a falar que ele não teria mais autonomia nas decisões
e nas mudanças que desejasse fazer dentro da empresa.
Eles comunicaram a Frederico que, daquele dia em diante,
ele deveria se reportar ao diretor administrativo antes de
fazer qualquer coisa.
Indignado com as palavras do presidente, apoiado
pelo diretor de finanças, Doutor Frederico não tinha outra
saída: ou mudava seu estilo de trabalhar e atendia aos
pedidos do presidente, deixando de lado tudo o que havia
117
THIAGO VENDITELLI CURY

feito até aquele momento pelos seus colaboradores, ou


seria obrigado a se demitir. Sem pensar duas vezes, ele
discordou de tudo e disse que não mudaria seu estilo de
trabalho só para agradar a algumas pessoas. Neste caso,
em especial, a mudança que estavam lhe pedindo era para
que ele concordasse com as irregularidades das outras
empresas, e ainda deixasse de se empenhar pelo bem-
estar de seus colaboradores.
Já que ele não concordava com a decisão do
presidente, não tinha mais o que ser feito nem o que ser
falado. Daquele momento em diante, ele estava demitido.
O presidente disse então que Frederico poderia
pegar suas coisas pessoais na empresa e aguardar uma
semana, para que a nova pessoa pudesse assumir o
seu lugar.
“De maneira nenhuma! Eu não vou esperar mais de
uma semana, vocês que já tinham tudo isto muito bem
planejado, com certeza já devem ter alguma pessoa em vista.
Eu espero somente até o fim da semana, a partir de amanhã”.
O presidente estava de acordo. Pois o novo
funcionário realmente já estava escolhido e pronto para
iniciar suas atividades na empresa. O próximo
superintendente também sabia de tudo o que eles estavam
tramando, desde o início.
Por não concordar com a sujeira das pessoas, com
o trabalho desonesto, Doutor Frederico pagou o preço.
Alguns pensam diferente, mas tudo depende do que você
realmente está disposto a fazer da sua vida. Seguir pelo
caminho do bem, ajudar as pessoas à sua volta, continuar
com a honestidade e dormir com a cabeça tranqüila, ou
ainda escolher pelo caminho “do mal”, deixar de ser como
você sempre foi, e acatar as ordens de superiores, mesmo

118
VONTADE DE VENCER

sabendo que a sua mudança de comportamento pode


prejudicar muitas pessoas ao seu redor. Acatar as ordens
de superiores é necessário desde que elas não influenciem
na sua maneira de ser e de agir.
Cabe a cada um escolher o que vai fazer com a sua
vida, só não vale reclamar das conseqüências das suas
decisões.
As pessoas que gostavam do Doutor Frederico
sentiram muito o fato dele ter sido demitido, mas ele
considerou a melhor decisão. Ele já não estava mais
agüentando tanta cobrança, tanta discussão.

119
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO DOZE

Muitas vezes, o que julgamos ser ruim para nós,


para os outros é algo bom. Para os colaboradores, era ruim
que o Doutor Frederico deixasse a empresa. Benefícios
poderiam acabar, novas regras seriam impostas pelo novo
funcionário, muitas mudanças e até mesmo demissões
poderiam acontecer.
Por outro lado, para o Doutor Frederico, o melhor
a fazer era deixar a empresa de cabeça erguida, feliz pelos
seus atos concretizados, mas triste por não poder dar
continuidade aos seus projetos ali dentro.
Ele não precisava se sujeitar àquelas condições.
Possuía muitos contatos, amigos empresários, que,
certamente, não lhe fechariam as portas. Poderia muito bem
voltar a ter sua empresa de consultoria, atendendo as firmas

121
THIAGO VENDITELLI CURY

de seus amigos e, assim, continuar os seus trabalhos e,


quem sabe, até levar sua equipe para trabalhar com ele.
Tudo é possível quando alguma coisa muda em
nossas vidas. Basta ter calma e saber como superar os
novos desafios.
No dia seguinte, Doutor Frederico chegou um
pouco mais tarde. Já que não era mais funcionário da
empresa, não tinha o porque chegar tão cedo. Seus
afazeres se tornaram poucos, suas obrigações menores
ainda, somente era preciso arrumar seus objetos pessoais,
passar algumas coordenadas e ensinar o básico para o
novo superintendente.
Como o combinado, o novo funcionário chegou às
dez horas para que pudessem conversar um pouco. Doutor
Frederico queria mostrar o que estava fazendo dentro da
empresa e queria, também, apresentar o novo
superintendente para os colaboradores e passar
informações importantes para que ele pudesse assumir o
comando da empresa.
Os amigos de Frederico estavam ansiosos pelas
novidades. Queriam saber como seria dali para frente.
Estava chegando o dia em que o Doutor Frederico não
estaria mais presente na empresa, contra a vontade de
muitos. Eles teriam que dar continuidade nos seus
trabalhos e se adaptar ao novo superintendente.
Ao fim da semana, Doutor Frederico já havia
explicado todo o serviço para o novo funcionário, não
tinha mais nada a fazer dentro da empresa. A única coisa
que ainda restava ser feita era apresentar para todos os
colaboradores quem assumiria o seu lugar.
Ele informou a todos que, no dia seguinte, faria
uma reunião, no auditório, às 15 horas, e que era necessário

122
VONTADE DE VENCER

que todos estivessem presentes. Afinal, seria seu último


dia na empresa.
No horário combinado, todos estavam presentes
no auditório. Mesmo os integrantes da ala dos opositores
estavam nervosos, já que ninguém sabia o que Frederico
diria. Talvez por ele já estar fora da empresa, falasse tudo
o que sempre teve vontade de falar, ou talvez somente
fizesse a apresentação e não comentasse nada.
Doutor Frederico entrou no auditório
acompanhado do novo superintendente. Sentaram-se e
Frederico pediu a atenção das pessoas “boa tarde, queridos
amigos”. Disse isso em um tom bem sarcástico.
— Estamos aqui porque tenho algumas novidades
para vocês. Algumas coisas irão mudar e posso garantir
que irão mudar para melhor. Como algumas pessoas já
devem saber, a diretoria decidiu trocar de superintendente.
Aqui está ele, Francisco, e, de hoje em diante, ele irá
supervisionar todos vocês e do mesmo jeito que eu fiz.
Esta semana, nós conversamos bastante, pude conhecer
um pouco mais sobre ele e suas experiências profissionais,
que por sinal são tão boas quanto as minhas.
Com poucas, mas belas palavras, Doutor Frederico
proferiu a troca de cargo. Fez isso para evitar que alguns se
revoltassem, ou até mesmo duvidassem de seus trabalhos,
podendo assim provocar suas próprias demissões.
Passou a palavra para Francisco, que, ainda com
um pouco de vergonha, conseguiu discursar sobre o
seu perfil profissional e suas idéias. O novo
superintendente disse que o primeiro passo seria
conhecer todos os profissionais que ali trabalhavam,
para depois definir se continuariam com suas funções,
ou se haveria mudanças. Entretanto, esses não eram os

123
THIAGO VENDITELLI CURY

planos da diretoria, o que eles queriam era demitir o


maior número de pessoas, o mais rápido possível.
Francisco até que falava bem. Mas se tinha bom
caráter, os colaboradores só saberiam mais tarde. O que
estava acontecendo era inevitável. Doutor Frederico não
fazia mais parte daquela empresa, um fato que deveria
ser encarado com a cabeça erguida. O ex-superintendente
ainda pediu que todos os colaboradores dessem um voto
de confiança a Francisco.
Ao final da reunião com os colaboradores, era
visível a felicidade de alguns. Cinicamente, uma das
pessoas da ala dos opositores perguntou ao Doutor
Frederico o porquê aquilo estava acontecendo, fingindo
não saber de nada. “Algumas pessoas não têm escrúpulos
mesmo, se sujeitam a todo tipo de chantagem e
roubalheira e ainda se fingem de inocente, na maior cara
dura”, comentavam os aliados de Frederico.
Até que aquele dia terminasse, foi um sufoco para
muitos ali dentro. O relógio poderia marcar meia-noite, mas
não marcaria dezoito horas. Parecia que toda aquela angústia
não tinha mais fim, e ainda para piorar, aquela nova pessoa
sentada na cadeira do Doutor Frederico transmitia uma
sensação de medo aos colaboradores fiéis ao antigo
superintendente. Doutor Frederico já tinha ido embora, mas
ainda voltaria no dia seguinte para receber sua rescisão, e,
definitivamente, despedir-se dos colaboradores.
No último dia em que Frederico esteve na empresa,
os colaboradores se juntaram para comprar um presente
para ele. Andressa, com a colaboração de todos, comprou
uma linda caneta, pois sabia que ele era um colecionador.
O presente era uma forma de agradecimento por tudo o
que ele tinha feito dentro da empresa.

124
VONTADE DE VENCER

No fim da tarde, quando o Doutor Frederico estava


recolhendo seus últimos papéis, os colaboradores o
surpreenderam em sua sala com o presente e um cartão.
Após abrir o presente e ter agradecido, Andressa
disse algumas palavras em nome de todos ali presentes.
Um simples presente, como forma de agradecimento por
tudo o que ele fez, e pelo grande amigo que era de alguns
ali dentro. Daquele dia em diante, as relações de amizade
permaneceriam, mesmo não trabalhando mais juntos.
Andressa ressaltou o fato de que eles levariam para o
resto de suas vidas as coisas boas que haviam aprendido
com Frederico.
Frederico ficou surpreso com a atitude, ainda mais
vindo de seus, agora, amigos. Sabia que o presente
verdadeiro era somente de alguns. Após as mensagens
pessoais que alguns preferiam escrever, ele se emocionou,
seus olhos se encheram de lágrimas, e, para disfarçar,
começou a rir dos recados.
O pior momento estava realmente chegando, ele
não estaria mais presente ali definitivamente. Os
funcionários não ouviriam mais um bom dia alegre, não
se sentiriam confortados nas horas difíceis do trabalho,
muito menos à vontade para brigarem por algum direito
ou melhoria. Tempos novos estavam para começar...
Novos planos, novos comandos, muitas adaptações.
Entretanto o medo e a insegurança tomavam conta das
cabeças dos admiradores de Frederico.

125
VONTADE DE VENCER

CAPÍTULO TREZE

Começou, então, uma nova fase na Junção Recursos


Humanos. No primeiro dia de trabalho do novo
superintendente, bem cedo, antes mesmo do horário de
inicio de trabalho, Francisco já estava na empresa. Ele
chamou em sua nova sala todos os colaboradores, para
dizer que, em breve, iriam conversar com mais calma, e
que estava à disposição. Podiam contar com ele para o
que precisassem.
Ele chegou a falar com todos os colaboradores,
menos com Matheus. Ninguém sabia responder o motivo,
mas até que ele se explicasse, o melhor que tinha a ser
feito era aguardar. Matheus não se preocupava com isso.
Ele acreditava que tudo acabaria bem e, no momento certo,
seria chamado para conversar. Se tudo procedia daquela
forma, é porque deveria ser assim.

127
THIAGO VENDITELLI CURY

Durante algumas semanas, as coisas pareciam


tranqüilas. Início de novos trabalhos, muitas reuniões,
ainda mais porque o novo superintendente tinha que se
reportar mais à diretoria do que o Doutor Frederico.
Todos temiam ser demitidos, mas Matheus
tranqüilizava seus amigos dizendo que ninguém seria
dispensado antes do fim do ano, pois sabia que a empresa
trocaria de endereço, indo para uma sede própria. E o
momento mais oportuno para demissões seria na
mudança, assim, já fariam a organização da nova sede
com o novo quadro de funcionários definido.
Algumas semanas se passaram e Francisco já havia
conversado com todos os colaboradores, até mais de uma
vez com alguns, menos com Matheus.
Matheus chegava até a pensar que o senhor
Francisco não queria falar com ele, por ser o funcionário
mais novo dentro da empresa, o que sabia menos dos
procedimentos.
Matheus decidiu então falar com Francisco. Queria
saber o porquê da demora em conversar.
— Senhor Francisco, posso falar com o senhor um
minuto?
— Claro que pode, Matheus. Por favor, entre.
— Eu queria saber porque o senhor ainda não
me chamou para conversar, já que com os outros o
senhor já fez isso.
— Fique tranqüilo, Matheus, em breve
conversaremos. Eu ainda não o chamei porque estou
preparando algo novo para você.
O que as pessoas menos esperavam aconteceria.
Um dia, logo pela manhã, Francisco decidiu conversar

128
VONTADE DE VENCER

com Matheus. O superintendente foi até a sala onde


Matheus estava e pediu para que ele o acompanhasse.
Matheus, por sua vez, pensava que o momento que
tanto esperava tinha chegado e que era a hora de
demonstrar todo o seu conhecimento, e poder ganhar a
confiança do novo superintendente, do mesmo jeito que
ganhou a confiança do Doutor Frederico.
— Por favor, sente-se, Matheus, vamos conversar
um pouco — disse o senhor Francisco, enquanto fechava
a porta de sua sala.
Antes de se sentar, Francisco já foi dizendo ao
jovem que a noticia que ele tinha para lhe dar não era
muito boa.
Neste momento, Matheus já sentia que sua hora
havia chegado. Suas mãos começaram a suar, seu coração
batia mais forte, parecendo saltar pela boca, uma
ansiedade o dominava.
— Infelizmente, Matheus, com todas estas
mudanças, a diretoria está com novos planos.Com a troca
de superintendente, eles decidiram demitir você, já que,
além de ser o mais novo funcionário da empresa, o seu
contrato de experiência vence amanhã. Por este motivo, a
notícia que eu tenho para lhe dar é que você não faz mais
parte desta empresa, a partir de amanhã.
Matheus ficou indignado com o que acabara
de ouvir. Tudo o que ele menos imaginava aconteceu.
Ele foi demitido. Estava ali, frente a frente com sua
dura realidade.
Sem nenhuma preocupação, Francisco disse
friamente ao rapaz que ele estava demitido, sem saber o
que fazia dentro da empresa e para que havia sido
contratado. Absolutamente nada. Simplesmente Francisco
129
THIAGO VENDITELLI CURY

transmitiu o recado e, querendo sair da história como


“bonzinho”, disse que estava somente cumprindo ordens.
Matheus não ficou quieto, tentou argumentar e
brigar por uma segunda chance, mas não obteve sucesso.
O jovem disse que seu potencial era maior do que todos
ali dentro puderam conhecer nos meses em que ele
trabalhou. Pediu por mais uma chance e se em mais três
meses não correspondesse às expectativas do novo
superintendente, aí, sim, concordaria com sua demissão.
Nada do que ele disse fez com que Francisco
mudasse de opinião. Ressaltou que não cabia a ele decidir
quem ia ficar ou quem ia sair. Somente cumpria ordens.
Inconformado com a decisão dos diretores e de
Francisco, que com certeza teve participação no contexto
da história, ele se dirigiu ao departamento financeiro para
assinar os papéis e receber a sua rescisão. Os amigos de
Matheus ficaram desesperados ao verem a sua feição de
nervosismo, correram atrás dele para saber o que tinha
acontecido, e quando ele disse que tinha sido demitido,
ninguém acreditou.
A única coisa que seus amigos podiam fazer
naquele momento era confortá-lo e dizer que ele podia
contar com o apoio de todos.
Triste era a situação em que ele se encontrava, mas,
com calma e sabedoria, ele pôde perceber que sua missão
estava cumprida ali dentro da empresa, mesmo que em
pouco tempo. Ele sabia que, se estava saindo, era porque
algo melhor estaria por vir. Pessoas novas para conhecer
e aprender com elas também. Ele sempre olhava o ponto
positivo das situações, isso fazia com que as pedras em
seu caminho se tornassem obstáculos para sua evolução e
não para sua destruição.

130
VONTADE DE VENCER

No dia em que Matheus foi demitido, ele poderia


assinar os papéis e ir embora, mas ele disse o que aprendeu
com o Doutor Frederico: “Enquanto ocupasse a sua
cadeira, ele cumpriria com suas obrigações até o término
do expediente, para poder sair da empresa de cabeça
erguida como um vencedor, e não como um perdedor”.
Neste mesmo dia, os seus amigos o convidaram
para almoçar, como forma de uma despedida de trabalho,
mas jamais despedida de uma amizade. Ali dentro,
Matheus pôde conhecer pessoas maravilhosas, além de
Andressa, que já conhecia, pois estudavam juntos na
mesma faculdade. Então continuaria sabendo sobre o que
acontecia, como os seus amigos estavam, e como o novo
superintendente estava trabalhando.
Matheus não deixou de ter contato com os antigos
colegas, ligava, mandava e-mails e, quase todas as sextas-
feiras, almoçavam juntos, para matar as saudades e saber
das novidades.
Por um lado, Matheus e Frederico deram azar, tendo
sido vítimas de pessoas ambiciosas e negativistas. Pode
ser. Mas ambos acreditavam que momentos melhores
estariam por vir e outras oportunidades apareceriam.
Depois da demissão, Doutor Frederico e Matheus
se tornaram pessoas mais experientes e mais sábias.
Ambos tiveram uma oportunidade para recomeçar a fazer
o que sempre gostaram.
Doutor Frederico voltou a ser consultor pessoal,
algo que adorava fazer, e com isso teve mais tempo para
a sua família.
Matheus teve uma oportunidade de terminar seu
curso de formação em Programação Neurolingüística,
podendo assim alcançar uma realização profissional maior

131
THIAGO VENDITELLI CURY

do que a que tinha previsto dentro da empresa. Pôde


contar também com o apoio de amigos e de seus pais,
que o ajudaram a tomar suas decisões e a encarar as
derrotas como degraus, degraus estes que serviram para
subir, não para descer.
Além de ter o apoio de amigos e familiares,
Matheus contou também com o apoio de sua “família
espiritual”, seus protetores, sua “voz interior”, que sempre
o auxiliava nas suas decisões e nas suas novas empreitadas.
Os amigos de Matheus e de Frederico que
continuaram dentro da empresa, passaram por várias
mudanças, novas funções, novas regras. Eles sabiam que,
do lado de fora, havia pessoas que oravam e torciam por
eles, desejando-lhes toda sorte do mundo.
Matheus e Doutor Frederico nunca mais voltaram
a se ver, mas se comunicavam por e-mail, colocavam as
novidades em dia, e sabiam um pouco o que cada um
estava fazendo. Ambos puderam até mesmo dar boas
gargalhadas das situações que passaram na Junção.
Mesmo com tudo o que aconteceu, eles não
guardaram mágoas e nem rancores, pois não serviria para
nada. Continuaram amigos, seguindo com as suas vidas.
Melhores oportunidades apareceram, pois eles nunca
duvidaram do seu potencial. Sempre acreditaram em si
mesmos, e, sendo assim, não poderia ser diferente.
Alcançaram sucesso, felicidade na vida e a auto-confiança.

132
VONTADE DE VENCER

Agradeço a todos e desejo-lhes crescimento


profissional, pessoal e familiar. Espero que este livro tenha
acrescentado algo de bom em suas vidas e no seu dia-a-
dia. Espero que atinjam seus objetivos com êxito, felicidade
e auto-confiança.

Fim
133
VONTADE DE VENCER

A ESCOLHA

Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer


antes que o relógio marque meia-noite.
E minha força é escolher como vou viver minha
vida a partir de hoje.
Minha escolha é o que vai guiar meus passos e meus
caminhos.
Posso reclamar porque está chovendo ou posso
agradecer as águas por lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro, ou me sentir
encorajado para administrar as minhas finanças, evitando
desperdícios.
Posso reclamar sobre minha saúde, ou posso dar
graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem
dado tudo o que queria, ou posso ser grato por ter nascido.

135
THIAGO VENDITELLI CURY

Posso reclamar por ter que ir trabalhar, ou posso


agradecer por ter um teto para morar.
Posso lamentar decepções com amigos ou me
entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saírem como planejei, posso ficar
feliz por ter hoje para recomeçar.
Sempre há uma segunda chance...
O dia está na minha frente, esperando para ser o
que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar
forma.
Saiba o que você quer para a sua vida, antes de
esculpir seus desejos.
Pense, reflita, e assim que definir o que deseja, vá
atrás, conquiste seus sonhos e seus ideais, você merece...
Você é um vencedor!

Thiago Venditelli Cury

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