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Beabá dos remédios psiquiátricos – Dra Clara Cunha

Introdução

 Nem toda dor é remediável


 Porém, o cérebro também pode adoecer, assim como qualquer outro órgão
 Um pessoa com transtorno mental não tratado tem expectativa de vida menor.
 Maior chance de desenvolver diabete, pressão alta, doenças auto imunes
 Médico clinico geral, cardiologista – tem formação básica, não tem formação em
psiquiatria (psicofármacos)– não seria o correto receitarem medicação.
 Deveríamos ensinar sobre remédios na escola.
 Tratamento deve ser ajustado ao diagnóstico

Módulo 1- Beabá do beabá

Aula 1- O nome te confunde


 Nomes foram dados para a primeira função descoberta para o remédio.
 O nome da classe do remédio não define a função dele

Aula 2- Tarja preta e tarja vermelha


 A diferença não está relacionada a risco ou ser + forte
 Tarja vermelha – só deve ser tomada se tiver prescrição médica
 Tarja preta – tem um potencial de gerar dependência (só será usada quando o benefício
é maior do que o risco) – geralmente acontece a dependência quando o uso é
prolongado, em excesso ou sem acompanhamento médico.
 Todo remédio tem risco.
 Não tomar remédio também tem riscos, e as vezes podem ser ainda maiores e mais
sérios.

Aula 3 – Quando é hora de medicar?


 Não há resposta específica. Com exceção do transtorno psicótico, os outros transtornos
são avaliados de acordo com a manifestação dos sintomas de cada indivíduo.
3 fatores importantes para avaliar o uso de medicação:
- Autocrítica: paciente tem condições psicológicas/mentais de perceber a magnitude de seu
sofrimento? (de se avaliar, de se perceber, e a sua vontade)
- Tempo: em quanto tempo precisamos que a pessoa responda ao tratamento e tenha resultado.
(iniciar antes, ou movimento mais lento) – Às vezes pode-se aguardar 3 ou 4 meses de terapia
para o paciente retornar ou ir ao psiquiatra.
- Sofrimento: magnitude do sofrimento, o quanto isso afeta o funcionamento e vida da pessoa.
As vezes a medicação precisa ser usada para impedir a blindagem ou barreira que os aspectos
neurológicos estão criando durante o andamento da terapia.

Aula 4 – Como saber qual é o melhor remédio


para você?
 Olhar a história do paciente e estar atento ao exame psíquico para encontrar o que vai
funcionar naquele momento.
 Geralmente é prescrito uma medicação e é feito uma reavaliação após 4 semanas, e
verificar como foi a resposta do paciente.
8 passos principais para escolha do remédio:
1- Diagnóstico: bom diagnóstico para passar medicação que tenha indicação clinica para
aquele diagnóstico.
2- Efeitos colaterais: qual efeito colateral esse paciente não quer de jeito nenhum?
(engordar, sono) – perguntar pro paciente para evitar isso. As vezes o efeito colateral
pode ser benéfico para pessoas com insônia ou falta de apetite.
3- Idade: metabolismo do idoso é mais lento, principalmente para substâncias mais
complexas. É bom iniciar com doses baixas.
4- Saúde física: influencia muito, o paciente possui alguma outra doença que pode
apresentar sintomas psíquicos que impeçam a evolução do paciente ou que podem
atrapalhar a metabolização da medicação.
5- Interações medicamentosas: o paciente deve passar para o profissional todas as
medicações que ele está utilizando (até para academia, os mínimos remédios devem ser
falados)
6- Genética e histórico familiar: o remédio que a mãe/pai tomam pode ser útil para o
filho. A probabilidade aumenta, diferentemente de algum usado pelo vizinho.
7- Preço da medicação: conversar com o paciente, indicar benefícios, custos e entender
se a pessoa pode sustentar essa medicação e por quanto tempo.
8- Preferência do paciente: repassar as informações e o porque do oferecimento dessa
medicação, se o paciente já utilizou algum e tem preferência. A escolha deve ser uma
troca entre médico e paciente.

Aula 5 – Por que não usar o remédio mais eficaz?


 Nem sempre o mais eficaz é o de “primeira linha”. Levar em consideração as
comorbidades, forma de administração, efeitos colaterais, segurança, é invasivo ou não.
 Exemplo: ECT – eletroconvulsoterapia – é o mais eficaz para depressão grave ou
recorrente. É o mais invasivo, por ter riscos e mitos envolvidos, ele é considerado de 3ª
linha.

Aula 6 – Por que um mesmo remédio funciona


para uma pessoa e para outra não?
 A medicação é absorvida no intestino e depois levada ao fígado para a metabolização, e
depois para a corrente sanguínea e receptores do cérebro da pessoa.
 Cada pessoa tem uma enzima diferente (+ potente ou – potente) que pode afetar,
degradar menos a substância e chegar no cérebro com efeito menor ou maior.

Aula 7 – Genérico: pode ou não pode?


 Genérico – mesmo principio ativo e concentração, e via de administração. Precisa ter o
que chamamos de biodisponibilidade da medicação referência. (Mesma velocidade e
quantidade)
 Biodisponibilidade relativa = com variação de 80% a 125% é aprovada pela anvisa. Não
faz diferença para outras medicações, porém para as psiquiátricas faz muita diferença.
 Não é recomendado o uso do genérico, pois, faz muita diferença. É preciso ser
explicado para o paciente.
 Variação entre medicação referência e similar= referência é o que fez por primeiro a
medicação. A biodisponibilidade faz diferença entre um laboratório e outro.
 *Manter sempre o uso de medicação do mesmo laboratório com o qual iniciou*

Aula 8 – Fases do tratamento


 Explicar as fases do tratamento faz com que a pessoa faça essa aderência o tratamento.
1ª – Fase inicial: Indicação da medicação, reavaliação, ajustes de dose.
2ª- Período de manutenção – momento em que passamos a espaçar as consultas – entre maior
tempo.
3ª – Retirada – desmame ( não ocorre em casos crônicos)

Aula 9 – Os primeiros 15 dias


 Boca seca, enjoo, mal estar, tontura. – sintomas leves, por poucos dias podem
acontecer.
 Se for insuportável ou durar muito é preciso conversar com médico e ajustar.
 As medicações são feitas para ter afinidade com determinados receptores, maior atração
com receptores de área cerebral. Até ele atingir esse receptor, ele pode se conectar
primeiramente com outros. Com o tempo ele vai se fixando nas áreas do cérebro onde
tem áreas de atuação central. (área alvo)
 E depois ela molda o receptor correto
 Todo esse processo pode durar até 2 semanas. (pode variar pra + ou -)
 Efeito máximo ocorre em torno de 4 a 6 semanas.
 Por isso o efeito pode demorar.

Aula 10 – O que esperar do tratamento?


 Orientar o paciente sobre o que irá acontecer, para evitar abandono do
tratamento/medicação. E FRUSTRAÇÕES.
 Fazê-lo compreender que o processo não é linear.
 A evolução de melhora ao longo do tempo é uma curva. Haverá altos e baixos.

Aula 11 – Qual a dose ideal?


 Quando tomamos dipirona não olhamos quantos mg tem? Em relação a remédios
psiquiátricos cuidamos muito. 20 mg é muito.
 Conceito de janela terapêutica – faixa de dose entre a dose mínima para ter algum efeito
terapêutico até a dose máxima da substância (que será mais tóxico do que ter efeito
terapêutico)
 Isso dependerá do metabolismo e será analisado após a observação do primeiro
medicamento teste.
 Exemplo: Quietiapina
 dose baixa - auxilia no sono;
 dose média – ação antidepressiva
 dose alta – ação estabilizadora de humor
 dose muito alta – ação antipsicótica.

Aula 12 – É pra sempre?


 Depende do transtorno e como o paciente se responsabiliza pelo tratamento.
 Geralmente os transtornos não crônicos: tem início, meio e fim.
 Ninguém fala que hipertenso está viciado em remédio de pressão.
 O tempo de tratamento é avaliado individualmente.
 (Inclui mudanças de hábitos, rotina, terapia, atividade física – quanto antes a pessoa se
comprometer, menor será o tempo de tratamento e o maior o resultado).
 O paciente não é passivo, ele precisa se comprometer!! Senão não haverá mudança. Ele
é ativo.
 Como identificar/diferenciar se o transtorno é crônico ou agudo? >> Pela recorrência.
Depois de 2 episódios, tratados adequadamente, se houver recindiva, já consideramos a
cronicidade.

Aula 13 – O momento de parar

Quando o paciente está bem não pode parar de tomar a medicação, precisa manter por mais
alguns meses (igual antibiótico – amigdalite). A medicação vai auxiliar no neurônio fazendo
por ele o que ele não consegue fazer sozinho bioquimicamente. Depois ele vai entrar na célula
do neurônio e fará com que ele transcreva novas proteínas.
Depois ele ensinará o neurônio a fazer sozinho. Se você parar antes do período adequado,
interromperá a transcrição gênica e não derá tempo do neurônio aprender a fazer sozinho.
Aumenta a chance de ficar pior depois, e recomeçar do zero o tratamento novamente.
Pode acontecer a síndrome da descontinuação(com alguns remédios específicos) – náusea, dor
de cabeça.

Quando acontece no tempo adequado o tratamento. Passa o momento de estabilidade, mudei o


estilo de vida e padrões de pensamento, o médico irá avaliar isso e o contexto atual do paciente.
(se há mudanças importantes de vida, casamento, nascimento de filho, morte de ente querido)
Se tudo isso favorecer, ocorre aos poucos a retirada. Cada substância tem a sua forma de reduzir
para que você não se sinta mal e não tenha sintomas rebote.

Módulo 2 – Efeitos colaterais

Aula 1 – Síndrome da piora inicial


 É uma situação que pode acontecer com algumas medicações, mas não quer dizer que
vai ocorrer com todas. A explicação é um “boom” de serotonina quando o cérebro
recebe a substância, causando inquietude, dificuldade de relaxar.
 Pode acontecer em pessoas que também tem transtorno de ansiedade.
 Com o tempo de uso, o cérebro passa a entender que isso não se trata de uma ameaça e
a pessoa passa a desfrutar dos benefícios da medicação.
 Verificar se a pessoa aguenta isso por alguns dias, ou se for muito forte conversar com o
médico.

Aula 2 – Síndrome da descontinuação


 Sintomas da retirada abrupta de por exemplo: antidepressivos IRSS, bupropiona.
 Desconforto gástrico, perturbações no sono, tonteira, inquietação, diarreia.
 Não é abstinência, é uma reação comum (relação com efeitos colaterais da acetilcolina).

Aula 3- Reduz libido?


 Uma das maiores causas de abandono de tratamento ou evitar buscar ajuda.
 O transtorno por si só já causa muita alteração na libido e desejo sexual (THB,
depressão, TOC).
 As vezes a libido já estava ruim antes.
 Analisar: se a medicação está sendo útil pro tratamento?
 Em caso positivo, o paciente pode optar por esperar mais um tempo, associar outra
medicação para libido, ou trocar realmente.
 É importante ouvir essa queixa, pois, caso não for dada devida atenção o pct pode
interromper o uso e ocasionar outros efeitos indesejados.
Aula 4- Engorda ou reduz apetite?
 Relação com a autoestima – se de fato é importante pra pessoa.
 Pode emagrecer ou engordar.
 Os transtornos também podem aumentar ou diminuir o apetite por si só. Pode alterar a
forma como a pessoa percebe a realidade, seu corpo ou peso (para pior ou melhor).
 Vias neurofisiológicas que cada neurotransmissor age, e isso causa efeito colateral em
outra área.

Aula 5- Vou ficar dopada ou sonolenta?


 Histórico do uso de tranquilizantes no passado causa esse estigma. Porém, a medicina
avançou e conhece o que é indicado para cada caso, sem anestesiar a pessoa, mas sim
recuperar as funções psíquicas, viver com mais qualidade, tirar limitações da vida.
 Relação custo-benefício: analisar prós e contras da sonolência (que atuam na histamina
e ação depressora do SNC – benzodiazepínicos) (alguns antidepressivos tricíclicos -
amitriptilina, e outras classes como trazodona, imipramina,) (também quetiapina,
risperidona)

Aula 6 – Vai mudar minhas emoções e minha


personalidade?
 O ser humano é tão complexo, um comprimido não conseguira mexer em tudo isso.

 Sim, altera o funcionamento do cérebro. Mas a direção é no sentido positivo.

Aula 7 – Afeta a memória?


 A memória tem relação direta com nossa atenção.

 A dose correta não afeta a memória. Porém, existem medicações que causam isso:
benzodiazepínicos, alguns antipsicóticos e antidepressivos.

 Podem afetar atenção, reduzir a coordenação motora, capacidade cognitiva e funções


mentais.

 Avaliar se há acompanhamento médico adequado. Avaliar com o médico se é possível


diminuir a dose. Em alguns casos, para não trocar a medicação, outra opção é trocar por
um remédio da mesma classe, com ação mais curta.

Aula 8 – Pode beber?


 O álcool pode cortar o efeito da medicação ou aumentar a chance de efeito colateral das
medicações.
 O álcool é metabolizado por uma via diferente da medicação, portanto não corta o
efeito. Porém, aumenta os efeitos colaterais, quando utilizado com benzodiazepínicos.

 Fora esses casos, não é tão terrível assim.

 Isso pode evitar eficácia do tratamento a longo prazo.

 O uso de medicação pode aumentar a sensibilidade do indivíduo ao uso do álcool.


(Ficar mais alterado com doses baixas).

 Avaliar o padrão de consumo do álcool, a motivação da pessoa. Cuidado com válvula


de escape, que aumenta a chance de dependência.

 Utilizar apenas em momentos de alegria, comemoração. De forma esporádica, o


mínimo possível.

 Não tomar o remédio no dia que vai beber – atrapalha o tratamento, pois ocorre pelo
comprimido que foi tomado ontem, o histórico de uso anterior. Por isso traz risco a
continuidade do tratamento, interrompendo-o.

Aula 9 – Causa dependência?


 Ficar dependente depende do: tempo que a pessoa utilizou, quantidade, fatores
genéticos, da personalidade, sensibilidade do organismo.

 Nem todo mundo que usa irá ficar dependente.

 Viciar é diferente de precisar.

 Alguns transtornos são crônicos, mas não significa que utilizá-los pro resto da vida
torna a pessoa uma “viciada”.

 Nenhuma medicação que não seja benzodiazepínico causará dependência. Existem


outros riscos, mas não de vicio.

 O que caracteriza a dependência? Desejo intenso,fissura e necessidade compulsiva de


utilizar determinada substância. O que não ocorre com antidepressivos. Há dificuldade
na hora de parar, resistência – o que não acontece com antidepressivos. Efeito prazeroso
– não causa, pois o efeito de antidepressivos não é imediato, pode levar semanas e
meses.

 Antidepressivo não gera tolerância e nem abstinência (se parar corretamente).

 Benzodiazepínicos – tem potencial de causar dependência. Mas não necessariamente.


Pode ser prescrito para utilizar só em momentos de crises (nesse caso é reduzida a
chance de dependência).

 Em geral ocorre mais em benzod. de ação curta – alprazolam, lorazepan

 Nesse caso ocorre síndrome de abstinência na interrupção do uso.

Aula 10 – A culpa do remédio


 Depois da medicação aconteceu isso.... (afetou a memória, não consigo chorar).

 Observar que nem sempre é a medicação que ocasiona tudo isso. As vezes é só a pessoa
colocando a culpa na medicação, pois acredita que ela faz mal.

 Isso pode acontecer como sintoma residual do transtorno, que não está tratamento
totalmente ainda, efeitos que existiam antes, mas ela não percebeu pois não estava
“estável” ainda.
O tratamento não se resume a medicação. É preciso ter atitude diante do tratamento.

Módulo 3 – A base de tudo

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