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Cada vez mais esquecido?

Isso tem nome: ‘demência do preocupado’ | Ciência | EL PAÍS Brasil 08/09/16 15:20

CIÊNCIA

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Cada vez mais esquecido? Isso tem nome: ‘demência do


preocupado’
Identifique se você sofre dos sintomas desse novo transtorno moderno
ALEXANDRA LORES

2 JUL 2016 - 22:34 CEST

Vivemos em uma sociedade obcecada com a produtividade, na qual se valoriza


realizar o maior número de tarefas no menor tempo possível. Esse excesso de
responsabilidades que enfrentamos, juntamente com a sensação de estarmos
continuamente conectados através do smartphone e outros dispositivos,
deteriora a qualidade das atividades realizadas, o que leva a uma irremediável
impressão de fracasso. Perceber continuamente que se tem algo pendente, e
sofrer por não poder alcançar o sucesso em todos os aspectos da vida, passou a
ser conhecido como a demência do preocupado, conceito recentemente cunhado
pela neurologista Frances Jensen, autora de O Cérebro Adolescente.

"A síndrome parece uma demência [perda ou debilidade


MAIS INFORMAÇÕES
das faculdades mentais, que se caracteriza por alterações
Você trabalha
de memória, razão ou conduta], mas, na verdade, é apenas melhor sob pressão?
algo que acontece devido às preocupações contínuas e Aprenda a ajustar os
tempos
constantes. Acho que acontece com muitas pessoas.
Nosso cérebro não pode mudar de tarefa de uma maneira “Feliz”, “enérgico”,
“risada”: palavras
tão rápida como a que nos exige o dia a dia, de forma que que prolongam a
perdemos a atenção, e depois nos esquecemos o que vida

tínhamos que fazer", diz Jansen.


Parar o relógio e
viver intensamente

O que nos levou a isso

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O termo multitasking, (multitarefa, em português) foi criado em 1965 por


especialistas em computação dos Estados Unidos para se referir às múltiplas
funções que um computador poderia executar naquela época. Hoje, essa palavra
nos remete à capacidade humana de prestar atenção a muitas atividades ao
mesmo tempo. A psicóloga Isabel García afirma que esse fenômeno não é novo:
"As figuras maternas tradicionais colocam em prática desde sempre, mas é
atualmente, com a implementação dos meios eletrônicos na vida cotidiana, que
extrapolou para outras áreas da nossa vida e se deu visibilidade".

Para a especialista, esse excesso de obrigações responde a uma questão de


violência estrutural. "A multitarefa nos é vendida de inúmeras formas que, às
vezes, podem ser atraentes ou inevitáveis: é cool, e se você não pode fazer tudo é
porque você não é um bom profissional ou não conseguiu aproveitar o curso ao
máximo. No Ocidente se fomenta um modelo produtivo no qual temos que
competir de forma contínua para nos mantermos atuais, mas é quase impossível
seguir o ritmo porque o nível de acontecimentos e possibilidades é infinito e
absolutamente inalcançável".

Quais são as soluções

Se você não entende porque a sua produtividade é cada vez menor apesar de seu
esforço ser maior a cada dia, pode ser que sofra dessa demência, com outros
sintomas como falta de concentração e um sentimento de indecisão perpétua.
"Estar sempre alerta é desgastante, e a sensação de que constantemente há algo
nos escapando nos causa fastio. Combater passa por frear o ritmo e perguntar
ao que queremos dedicar o dia. Só a partir desse momento começamos a
eliminar todas aqueles acréscimos que não precisamos em nossa vida;
selecionar entre as atividades e tomar decisões faz com que tudo se torne um
pouco mais claro", aconselha García.

Avalie o seu caso concreto. "Todo mundo tem diferentes ritmos e formas de lidar
com a sua rotina. Alguns preferem acordar cedo e outros trabalhar à noite; há
pessoas que gostam de intercalar tarefas para evitar o tédio e outras se sentem
mais confortáveis se concentrando em uma tarefa só até o fim", continua:
"Normalmente, se ignora questões como a família, as doenças e as pessoas que
temos sob nossa responsabilidade, mas são variáveis que têm um grande peso
na maneira em que configuramos nossa vida". Se a nossa situação pessoal nos
faz sentir sobrecarregados, García recomenda que se procure ajuda em outras
pessoas e a criar em nosso entorno redes de apoio que nos poupem algum
trabalho.

Não é um problema trivial. Um


relatório da Organização Internacional O estresse é a causa de
do Trabalho (OIT) afirma que o entre 50% e 60% de todos
estresse "é a causa de entre 50% e os dias de trabalho

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60% de todos os dias de trabalho perdidos, um enorme


perdidos, um enorme custo humano e custo humano e
econômico". A organização encontra econômico
sua explicação em diferentes fatores:
"Excesso de informação, intensificação
das obrigações, maiores exigências de
mobilidade e flexibilidade, estar sempre disponível devido à tecnologia e, por
último, mas não menos importante, o medo de perder o emprego".

A resposta das empresas

Para ajudar a reduzir esse ritmo de trabalho e evitar a dita demência, algumas
empresas decidiram implantar jornadas de seis horas de trabalho, que permitem
a seus funcionários desfrutar de mais tempo de lazer. Um bom exemplo disso
são as instalações da Toyota na cidade de Gotemburgo (Suécia). Seus
funcionários estão há 13 anos saindo duas horas antes do restante da Europa. A
implementação dessa medida resultou em um número menor de faltas e uma
produtividade maior.

No blog da consultoria Adecco se oferece uma receita aparentemente simples:


reduzir as distrações e evitar a multitarefa. Segundo a empresa, temos a
tendência de pensar que a melhor opção é realizar o maior número de tarefas no
menor intervalo possível, mas quase nunca é assim. "Acaba repercutindo na
concentração e na qualidade. Podemos nos equivocar com facilidade, e acabar
tendo que refazer o que já foi feito", afirmam.

E mais: nada disso funciona se você ficar grudado na celular quando sair do
trabalho. "Precisamos voltar a nos conectar com nós mesmos, começar a ouvir o
nosso corpo e levar em conta as nossas preocupações e tudo o que nos faz feliz",
conclui Isabel García. De fato não há nada que te motive mais do que passar a
próxima hora preso às redes sociais? Pois é.

A SOBRECARGA TEM NOME DE MULHER

As mulheres são as mais afetadas por esse sistema de valores. "É crucial que
aquelas que estão sobrecarregadas possam delegar as suas obrigações para
outras pessoas. Só assim poderão dedicar tempo a quem são realmente",
recomenda a psicóloga. Ainda assim, nem sempre é fácil. "A primeira coisa é
entender que está no seu direito de fazer isso; normalmente a culpa tem muito
peso sobre elas, e isso as impede de pensar exclusivamente em si mesmas", diz a
terapeuta.

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