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ÍNDICE
01 UMA EXTENSÃO DE NÓS MESMOS 03
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Naturalmente, essas tecnologias trouxeram, sim,
uma série de benefícios, que você bem conhece.
Facilitaram nossa comunicação, nos conectaram a
pessoas de todos os lugares, democratizaram co-
nhecimentos. Como sempre digo, se não fosse por
elas, nós não estaríamos aqui, juntos, na SN.
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Começamos uma tarefa ou uma pesquisa no com-
putador e, em alguns minutos, nos vemos abrindo
novas abas, fuçando notícias, fofocas e afins, sem
qualquer relação com aquilo que pretendíamos
fazer.
Abrimos um bom livro e, do nada, voltamos nos-
sa atenção a conversas de grupos no WhatsApp ou
feeds nas redes sociais.
Por que isso acontece tanto, e com cada vez mais
frequência, nos dias atuais?
Por que se tornou tão difícil manter o foco em nos-
sas atividades, mesmo quando sabemos que pre-
cisamos realizá-las?
Como podemos combater esse problema para ter
uma vida menos dispersa e mais focada naquilo que
realmente importa?
É sobre isso que vamos falar, hoje, no CA#20.
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Um relacionamento morno, sem graça, provavel-
mente é afetado pelo fato de os parceiros não da-
rem a atenção devida um ao outro. A epidemia de
obesidade e sobrepeso é uma consequência de as
pessoas não estarem mais presentes durante as
refeições. A sobrecarga no trabalho, muitas vezes,
é devida ao fato de os profissionais viverem pin-
gando de uma tarefa a outra, sem focar direito em
nenhuma delas.
É uma crise, de fato. Potencialmente, a maior dos
tempos atuais. O nosso foco é absolutamente limi-
tado e, em uma cultura de distração, na qual nossa
atenção é sugada o tempo todo, tudo acaba sendo
impactado por esse problema.
Mas qual é a origem disso, segundo a ciência?
Para responder a essa pergunta, precisamos,
antes de mais nada, entender o que é a atenção.
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Esse tipo de atenção não é nada automática. A
atenção contínua requer esforço consciente — e
por isso, é desgastante, cansativa, demandando
uma carga cognitiva muito alta. É simplesmente
impossível mantê-la por um longo período de tem-
po. Afinal, como já dissemos antes, o nosso foco é
limitado.
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Isso significa, em primeiro lugar, que suas raízes
no cérebro são inconscientes. Além disso, signi-
fica que ela é engajante e motivadora. Novidades
ativam o sistema dopaminérgico, e o combustível
da atenção alternada são justamente as novidades.
É exatamente por isso que existem tantas pesso-
as praticamente viciadas no próprio celular. Seres
humanos que abrem o WhatsApp ou uma rede so-
cial antes mesmo de darem um beijo de bom dia na
pessoa amada. Que, mesmo em um ambiente ale-
gre e movimentado, estão sempre imersos em um
mundo de 5 polegadas.
Não estou dizendo que você tem esse hábito, mas,
se você acordasse desesperado — todos os dias —
desejando um copo de uísque, você provavelmen-
te admitiria ter um problema com o álcool. Então
se isso acontece com você pela manhã com o ce-
lular, é bastante provável que você tenha, sim, um
problema com o aparelho. Mas esse é um assunto
para outro momento.
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Meu ponto é que, agora que você entende que a
atenção alternada é dopaminérgica, precisamos
investigar o significado real disso.
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Por exemplo, quando você assiste a uma série gos-
tosa, daquelas que não demandam muita energia
do seu cérebro, é bastante fácil ficar assistindo
essa série no sofá por horas e horas a fio, sem bus-
car qualquer outra coisa para fazer.
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2) Eliminar as distrações;
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A ordem dessa lista é proposital, pois ela é hierár-
quica. Ou seja, você deve priorizar esses compor-
tamentos na ordem acima — do contrário, certa-
mente terá problemas de foco.
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Eliminar as distrações, por sua vez, pode abranger
uma série de ações práticas, que você pode apli-
car no seu cotidiano. Um bom exemplo disso são
os escritores que se isolam em localidades dis-
tantes, sem acesso à internet ou televisão, para
que possam se concentrar em seus trabalhos.
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Mas e quando eliminar distrações não está ao seu
alcance? Na ferramenta de hoje, vamos trabalhar
o 3º e último item da lista — talvez o mais difícil de-
les: enfrentar as distrações, quando eliminá-las é
impossível.
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Por exemplo, nós podemos pegar o celular por
preguiça de fazer algo que demande esforço — ou
simplesmente por tédio. Comemos chocolate por
ansiedade, tristeza, raiva. Levantamos da cadei-
ra no trabalho por cansaço, falta de motivação e
energia. Enfim, se você está saudável, eu te ga-
ranto que toda distração tem como objetivo redu-
zir desconfortos como esses. Quais são, então, os
desconfortos que te afetam?
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Toda vez que surgir um desconforto, você precisa
ignorar essa sensação e continuar o que está fa-
zendo por 10 minutos, em vez de buscar uma dis-
tração para evitá-la.
O primeiro passo, como falamos, é mapear a dis-
tração, trazê-la à sua consciência, perguntar-se
qual foi o desconforto que ela tentou reduzir. O se-
gundo é esperar passarem esses 10 minutos, sem
buscar outras atividades.
Essa é uma estratégia do gênero Quando-Então,
também conhecida como “intenção de implemen-
tação” na literatura científica. Falaremos muito
sobre esse tipo de estratégia aqui na SN. A ideia é
a seguinte: quando surgir o desejo de se distrair,
você mentaliza “essa distração está aqui para re-
duzir um desconforto”. Em seguida, faça um es-
forço consciente para entender qual desconforto
é esse. Depois disso, espere 10 minutos antes de
se dispersar. Ou seja, faça um esforço consciente,
por 10 minutos, para ignorar essa distração.
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É simples assim. Eu te garanto que, se você fizer
isso, o desconforto vai passar, na grande maioria
das vezes.
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Essa é uma técnica bastante eficiente para re-
duzir desconfortos intensos, usada em um tipo
de terapia chamada Terapia de Aceitação e
Compromisso.
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Uma boa ideia é colocar essa pequena vitória em
uma folha de papel. Eu tenho uma lista das tarefas
e compromissos do meu dia, e sempre deixo algu-
mas linhas entre uma e outra. Assim, quando me
distraio, eu aplico essas ferramentas que te falei,
faço um quadradinho na minha lista, e escrevo:
“Resisti à vontade de parar o que estava fazendo”.
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REFERÊNCIAS PARA QUEM QUER
SE APROFUNDAR NO TEMA:
Atcherley, C. W., Wood, K. M., Parent, K. L., Hashemi, P.,
& Heien, M. L. (2015). The coaction of tonic and phasic
dopamine dynamics. Chemical Communications,
51(12), 2235-2238.
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Floresco, S. B., West, A. R., Ash, B., Moore, H., &
Grace, A. A. (2003). Afferent modulation of dopamine
neuron firing differentially regulates tonic and phasic
dopamine transmission. Nature neuroscience, 6(9),
968-973.
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Posner, M. I. (Ed.). (2011). Cognitive neuroscience of
attention. Guilford Press.
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