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Copyright © 2019 Mário Lucas

APOLO – Série Alcateia: Livro 2


Mário Lucas
1ª Edição

Capa: Ellen Scofield


Diagramação: April Kroes

Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer


parte dessa obra, através de quaisquer meios — Tangível ou
intangível — sem o consentimento escrito da autor.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei Nº .


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Contém cenas de sexo explícito. Livro recomendado para
maiores de 18 anos.
Apolo Lobo, é um lindo jovem que apesar do rosto de anjo,
possui a mente pervertida e os sentimentos à flor da pele. Ele é
obrigado a voltar a morar com o pai, Victor, o qual culpa pela
dissolução da família. E em meio a conflitos familiares e traumas que
ressurgem, uma nova vizinha, Érica, chega ao condomínio atraindo o
garoto de forma ardente.
Movido pelo desejo e curiosidade, Apolo acaba descobrindo um
segredo de Érica, dando início a um jogo quente e perigoso onde a
vingança é a cartada final. Ele é desafiado, treinado, e fará de tudo
para sentir o maravilhoso sabor de ter uma mulher sob seu corpo,
provando que não é de falar, mas sim de fazer, mas talvez o preço a
ser pago seja alto demais.
Victor Lobo, viveu anos se sentindo o homem mais feliz e
realizado de todos, entretanto, a vida lhe mostrou que pode ser cruel
arrancando-lhe a mulher amada e o respeito do filho por uma mentira
perversa. Agora, solteiro, tem a sua carreira em ascensão e as
mulheres que quer para satisfazê-lo apenas carnalmente, pois não
consegue esquecer o amor do passado.
Contudo, o que importa nesse momento é reestabelecer seu
laço paterno com Apolo, e quem sabe o destino lhe traga uma nova
paixão.
Neste segundo volume da série Alcateia, pai e filho terão que
redescobrir o amor familiar e verão que possuem muita coisa em
comum, principalmente no quesito mulheres. Amor, sexo, traição e
vingança se unem a cadCapítulo tentadoramente.
OBS1: Este é o segundo livro da série, antes é preciso ler o
primeiro, Victor.
OBS2: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma
fantasia! “Lobo” é visto aqui no sentido figurado.
Agradecimentos
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
LIVRO III
Redes Sociais
Sobre o Autor
À Deus, por me fazer continuar acreditando no meu sonho e por
ter me abençoado com o dom da escrita e a constante inspiração
para novos livros. Te amo Deus.
À minha mãe, Maria da Cruz, por nunca deixar de incentivar o
meu trabalho. Você é nota mil! Te amo demais.
À Jéssica de Alcântara Figueiredo, uma leitora especial que fez
toda a diferença.
À Ana Filipa da Silva Costa, um anjo de leitora em minha vida lá
de Portugal, obrigado por tudo.
À Ivone da Cruz e Cíntia Lourenço, por todo o amor e carinho.
Às minhas lindas e amadas adms do grupo do WhatsApp que
me acompanham desde o início e acreditam em mim, e à todas as
minhas leitoras e leitores. Muito obrigado de verdade.
Qual o seu limite?
Até onde vai?
Pro desejo alcançar

Histeria, Scalene.
VERSOS FERIDOS

“Liga só para minha mãe...


Eu não tenho pai.”

Estou novamente nessa sala de aula irritante, sentado em minha


carteira, é o primeiro dia de volta à escola. A professora Nória acaba
de entrar e se prepara para começar a expor a matéria diante da
bagunça já instaurada. Acho ridículo esses meninos do fundão ainda
jogarem bolinhas de papel uns nos outros em pleno segundo ano do
ensino médio, todos eles comandados por Samuca, que prefere ser
chamado assim ao invés de Samuel, seu nome verdadeiro.
Continuo na minha eterna solidão, de cabeça baixa, escrevendo
meu poema, pensando na garota mais linda da turma: Isabela.
— Está atrasada de novo, Isabela — fala a professora Nória
para ela, que mais uma vez chega por último. A garota sorri
lindamente em pedido de desculpas e entra. Ela tem o cabelo liso,
preto, pele morena como a minha, chocolate, olhos castanho-claro,
usa um jeans apertadinho e farda escolar, onde dá para notar muito
bem o volume dos seus seios.
Tenho um sobressalto ao vê-la se aproximando, não posso
correr o risco de que veja os meus versos, mas com o movimento
infeliz, a folha cai no chão. Me apresso para pegá-la após ajeitar os
óculos, mas Isabela é mais rápida. Droga!
Fico estático, sem saber o que fazer, e engulo em seco quando
a morena mira o meu rascunho por alguns instantes.
— Vem logo, gata! — chama o Samuca, namorado dela.
Isabela estica um sorrisinho para mim, põe o papel de volta na
minha carteira e pisca antes de partir, me deixando confuso. Ela
gostou? Isabela continua caminhando e senta ao lado do idiota do
seu namorado, que me lança uma bolinha de papel no ombro, mas
não o correspondo.
Me xingo inteiro por dentro. Como posso ser tão idiota?! Ajeito
os óculos novamente, minha mão treme, realmente esse momento
foi nervoso. Olho discretamente para trás mais uma vez e vejo
Isabela trocando cochichos com o namorado. Espero que não revele
sobre o que leu, senão, terei problemas.
— Gente, vamos parar de bagunça, a aula vai começar. É
normal essa euforia, todos acabaram de retornar das férias, mas
vamos lá — fala a professora, mas parece que só eu a escuto. —
Quem fez a redação sobre as férias que pedi no final do semestre
passado?
Há um murmurinho da galera reclamando que não fez, e eu sou
o único a erguer a mão, e recebo gargalhadas de deboche.
— Traga, Apolo, já vai ganhar pontos para a prova. Alguém
mais?
Levanto e levo o caderno até a mesa da professora. Espero que
a galera do fundão não esteja falando de mim. Eles riem. Merda!
Com certeza a piada é o meu poema, e logo que é bem visível o
título: “FLOR ISABELA”. Que vacilo! Jamais me perdoarei.
Ao retornar para a carteira, vejo Samuel puxar Isabela e lhe dar
um beijo, a galera faz um “hummm”, e reviro os olhos, ele sempre
quer aparecer. Todos nós estudamos juntos desde o ano passado, e
nunca consegui fazer amizade com ninguém, sou introvertido,
calado, fico na minha sempre. Meu avô costuma dizer que a
separação dos meus pais me afetou, mas tento não pensar por esse
lado. Não quero nem lembrar desse fato.
Na turma, há alunos conversando, outros com fones de ouvido,
e outros como eu, nas carteiras da frente, que gostam de prestar
atenção na aula — todos na faixa de dezesseis anos, a minha idade.
Me sinto péssimo aqui dentro, diferentemente dos demais
adolescentes, não me divirto, parece que estou só vendo o tempo
passar. Gosto de estudar, mas, ultimamente, ando me sentindo
sufocado, tedioso, como se precisasse respirar, me libertar, mas nem
mesmo sei o que me prende.
É estranho não saber o que me aflige, me acho tão diferente do
resto da galera ao meu redor, todos estão felizes, parecem reais, às
vezes acho que sou de mentira.
A campainha finalmente toca, respiro aliviado, mas ainda tem o
intervalo. Quando termino de fechar os livros, um pedacinho de papel
rasgado é colocado na minha frente. Isabela o joga depois de passar
abraçada com Samuca, mas ninguém além de mim percebe. Todos
vão lá para fora, poucos restam na sala, apenas os que, assim como
eu, não gostam de sair até a hora de ir embora. Não sei interagir, falo
pouco, prefiro me resguardar, acho que ninguém também quer ser
meu amigo, me chamam de estranho, o nerd antissocial.
A curiosidade me toma e, discretamente, abro o pedaço de
papel que diz:
“Adorei o seu poema, me encontra na frente do banheiro
fechado, no final do intervalo.”
Isso é verdade mesmo ou uma pegadinha? Não pode ser real,
mas tenho que confessar que estou tentado a ir. Pode ser verdade.
O que será que ela quer? Gostou mesmo dos versos? Tenho que
descobrir. Isabela me atrai desde o primeiro ano, mas nunca me
notou antes, até agora. Até já tive sonhos com ela que foram, diga-se
de passagem, molhados.

Meu coração bate forte a cada passo. O banheiro fechado fica


atrás do pátio, está interditado há alguns meses, precisa ser
concertado, por isso, poucas pessoas andam por ali, é um local
pouco movimentado. Os alunos estão pelo pátio curtindo o intervalo,
conversando, rindo. Avisto Samuel e sua galera, assim como
Vanessa e Camila, as amigas de Isabela, elas estão sozinhas.
Chego cauteloso no local do encontro, completamente nervoso.
Não tem ninguém aqui. Como sou idiota, claro que é mentira. Mas
quando dou as costas, Isabela surge do banheiro abandonado. Meus
olhos se arregalam, surpresos com sua imagem. Ela sorri, como é
linda.
— Aquele poema era mesmo para mim, Apolo? — pergunta.
— Você... sabe o meu nome? — Fico impressionado, achei que
ela não sabia sobre a minha existência.
— Claro. E então, o poema foi feito para mim?
— É... Não... Era só um poema — gaguejo.
— Mas tem o meu nome, não tem?
— Sim..., tem — confesso e engulo em seco quando ela se
aproxima.
— Que pena, eu ia adorar que fosse para mim — diz, com o
rosto próximo ao meu, me deixando desconcertado e, então, se
encosta na parede, sedutora. Nossa!
Respiro fundo, estou quente, me sinto perder o controle
internamente. O sorriso dela me encanta.
— Era pra você — admito, completamente sem jeito. Ela sorri de
novo, dessa vez vitoriosa, parece um sonho vê-la sorrir. Isso está
mesmo acontecendo? Não consigo acreditar que estou paquerando
a mais gata da escola, mas ela tem namorado, porém, parece não se
importar com isso.
— Então, quando disse naqueles versos que queria me beijar,
falou a verdade? — pergunta, me olhando com malícia.
— Sim... — Estou meio tenso, nunca tive um momento assim
com uma garota antes, não sei ao certo como conduzir a situação.
Engulo em seco de novo.
— Então... O que está esperando?
— Esperando? Esperando o quê? — Ah, meu Deus! Agora
entendo. Não é possível — Eu... beijar você?
— Não é isso que quer? — indaga Isabela, sensual.
— Sim, mas..., não estou entendendo... Você nunca me olhou,
e... o seu namorado?
— Ah, esquece ele — diz, graciosa. — Fecha os olhos e me
beija — pede.
Penso por alguns segundos, completamente tentado, um pouco
indeciso, incrédulo, mas esse sorriso dela, tão meigo e, ao mesmo
tempo, provocante, me faz decidir dar vazão à vontade guardada em
meu ser há bastante tempo. Nunca beijei uma garota, mas ela não
precisa saber disso, não posso decepcionar, tentarei me sair bem,
espero conseguir. Me ponho em sua frente, nós trocamos olhares,
Isabela parece bem calma, enquanto tento não transparecer meu
nervosismo.
Aproximo os nossos rostos, e fecho os olhos, torcendo para que
tudo saia legal. Então, sinto algo explodir no meio da minha testa e
melar a minha face. Dou passos para trás, perturbado, me limpando,
e percebo que recebi uma ovada na cara. Sim, Isabela quebrou um
ovo fedorento no meu rosto.
— Jamais vou te beijar! Você fede a ovo podre! — diz ela,
debochando da minha cara. Fico sem chão.
Ouço risadas, Samuel aparece acompanhado dos dois amigos,
ao lado de Camila e Vanessa, que usam o celular para me filmar,
todos zombando de mim, gritando, tirando onda, caçoando, me
humilhando. Miro Isabela limpando a mão na parede, e me bate um
súbito desespero. Por que estão fazendo isso?
— Você pensou mesmo? — indaga Samuca, se aproximando.
Retiro os óculos do rosto, está todo melado de clara e gema. — Por
um instante, achou que a minha namorada ia beijar você, seu
otário?! — Ele me empurra com força. — Seu veado! — Me empurra
de novo, com raiva, porém, me causa o mesmo sentimento. Não
acredito que criaram toda essa cena só para me humilhar.
— Samuca, está bom — diz Isabela, se aproximando dele. —
Vamos deixar esse fedorento aí — termina, rindo com as colegas.
— Veado do caralho, querendo pegar a minha gata! Se enxerga,
cabeludo! — Samuca bate forte na minha mão, derrubando os meus
óculos e depois os esmagando com o pé. — Isso é para aprender
que não é nada. Eu poderia acabar contigo aqui, mas acho que feder
a ovo é o suficiente...
— Então por que não tenta? — desafio, com a voz cheia de
raiva, sem medo dele. Samuel me olha surpreso e com ódio, seu
cabelo loiro brilha tanto à luz do sol que dói os olhos. Ele é do meu
tamanho, branco, loiro, o cara mais popular e bagunceiro da escola.
— UUUUH — gritam os amigos dele.
O cara começa a rir, debochando e, de repente, com rapidez,
me acerta com um soco inesperado, e vou ao chão. Os meninos
vibram, as meninas ficam espantadas. Isabela vai até o namorado,
tentando puxá-lo.
— Você falou que ia ser só uma brincadeira, Samuel! — reclama
ela.
— Está vendo, Apolo? — indaga ele, se aproximando, enquanto
me encho de fúria. — Mandei ela fazer isso, e esse murro é para que
aprenda a me respeitar, todos nessa escola devem me respeitar.
Sabe, sempre te achei um merdinha, que não pega ninguém. — Ele
ri, maldoso. — Ninguém nem sabe que você existe, mas não achei
que teria a ousadia de fazer cartinha para minha namorada. Aliás, de
vir se encontrar com ela comigo tão perto, confesso que foi muita
coragem. Mas agora fica esperto, seu veado!
Ele tenta me chutar no rosto, mas desvio e lhe chuto forte na
canela, arrancando-lhe um grito. O acerto de novo, no mesmo lugar,
com raiva, fazendo o imbecil cair. A galera se assusta comigo,
surpresa, não esperavam por isso. Mas ainda não é o suficiente.
Tomado por um ódio imenso, vou para cima de Samuel e o esmurro
com toda a minha força, uma, duas, e antes da terceira, sou jogado
para longe por seus dois amigos imbecis!
— Filho da puta... — geme Samuel, com a boca sangrando. Meu
queixo doe onde ele me acertou. — Peguem ele! — ordena aos
compassas.
— Para, para! — grita Isabela. Vanessa corre para longe.
Pego um pedaço de madeira que encontro num canto antes que
os inimigos me alcancem — é a primeira coisa que vejo na minha
frente. Meu coração está acelerado, não raciocino bem, só quero me
defender. A dupla me ataca e acerto o pau na mão de um deles, que
berra de dor, caindo de joelhos, a lapada foi seca! O outro, vendo o
que fiz com seus dois amigos, recua.
Vanessa retorna, trazendo o Diretor e o Coordenador da escola
com ela. Fodeu!
— O que é isso?! — grita o Diretor César. — Mas o que está
acontecendo aqui? Apolo, largue já essa madeira!
O obedeço, ofegante.
— Ele está louco, Diretor! Tentou nos matar! — acusa Samuca,
fazendo-se de vítima.
— Cale-se, Samuel, o conheço muito bem e já estou cansado de
ligar para os seus pais por conta do que apronta por aqui. Agora
você, Apolo? Que decepção! Terei que ligar para os seus pais
também. Isso terá sérias consequências!
— Liga só para minha mãe... Eu não tenho pai — informo.

Estou na Alcateia, no camarote do primeiro andar, sentado em


minha poltrona de couro negro a observar o show das novas
dançarinas, elas realmente são boas. A casa se encontra cheia
novamente, como em todas as noites, graças a Deus. As luzes
especiais iluminam o palco, o espetáculo é incrível, e as dominatrix
também fazem os seus trabalhos pelo salão. A boate nunca esteve
tão bem movimentada, tão influente em todos esses anos. Sob o
meu comando, só cresceu, e é uma das maiores redes de boates do
Brasil.
Empresários, políticos e ricos de todos os gêneros adoram o que
tenho a proporcionar. Tudo é bem pensado: música, bebida,
decoração, shows e etc. Agora administro o negócio sozinho, Carlos,
meu antigo sócio, há anos me vendeu a sua parte da Alcateia. Além
da boate, possuo lojas de autopeças espalhadas pelo estado, já
ganhei o prêmio de empresário do ano. Alguns me chamam de “o
triunfo”, mas gosto de me enxergar como “o movimento”, nunca paro.
Porém, reconheço que sou um empresário bem-sucedido e
reconhecido pela sociedade teresinense.
Dou um gole no meu drink, e sozinho, aqui em cima, observo as
meninas mostrarem o seu talento no pole dance. Decido desviar o
olhar por um instante e avisto uma ruiva me observando, ao perceber
que a noto, ela vira o rosto e dá atenção a uma negra linda ao seu
lado, as duas conversam. Analiso ambas, parecem deliciosas.
Quero.
Everton, meu gerente, se aproxima com o seu jeito mais
afeminado que nunca. Ele é um rapaz prodígio, competente e
criativo, o que faltava no meu quadro de funcionários. Tem estilo
próprio, usa calça colada e camisa grande com estampas fortes. Seu
cabelo preto está penteado para o lado e em seu rosto há uma leve
maquiagem.
— E aí, chefinho, o que está achando das novas garotas? —
pergunta ele, sentando no sofá preto de dois lugares.
— Você fez uma boa escolha dessa vez, Everton, tenho que
admitir — respondo, sem olhá-lo.
— Dessa vez ou sempre?
— Quase sempre — o provoco. — Aquela tal de Lúcia nos
trouxe problemas — recordo.
— Passado, chefinho, não me deixo mais enganar — diz ele. —
Mas essas três no palco dançam muito bem; olha quantas pessoas
hoje, é a noite da elite. Duvido se as esposas daqueles deputados ali
ao menos sonham que eles estão aqui — comenta.
— Não só sonham, como vêm com eles — afirmo, apontando
para um casal sentado em uma mesa em frente ao palco.
— É, com exceção deles. Acho isso tão lindo, espero um dia
encontrar um boy que me leve em qualquer lugar que for — fala,
sonhador.
— Aqui não é qualquer lugar, Everton, é a Alcateia — o corrijo, o
provocando, nós gostamos de brincar um com o outro.
— Eita... Deixa eu voltar ao trabalho antes que seja massacrada
com tantas piadinhas — diz, levantando.
— Exagerado — digo, e antes que ele se afaste: — Everton — o
chamo com a mão e falo em seu ouvido: — Diga àquelas duas
amigas que estou as convidando ao meu camarote. Mas já sabe, não
revele nada sobre mim — ordeno enquanto ele observa a ruiva e a
morena conversando e admirando um dominador brincar com uma
cliente.
— Hum, elas são bonitas, mas as duas, chefinho? Será que
você aguenta? — me provoca e, então, finalmente olho para ele.
— Everton..., ainda não sabe que me chamo Victor? — Abro o
meu sorriso cafajeste, e meu gerente sai às gargalhadas.
— Convencido... — diz, descendo a escada.
Em instantes, o vejo conversando com as duas mulheres.
Quando elas se levantam para atender ao meu convite, o pessoal
bate palmas para as garotas do palco. As duas moças passam por
meu segurança e vêm até mim — mal sabem que serão o meu
jantar. Levanto, ajeitando o blazer marsala, uso uma camiseta preta
por dentro e calça jeans. Me sinto poderoso e confiante.
— Oi — nos cumprimentamos, trocando beijinhos e apertos de
mão. As analiso rapidamente, elas são realmente lindas, uma
branquinha ruiva que, por sinal, parece ser ruiva natural, e a outra
negra, cor de chocolate como eu, do cabelo curto, cacheado, e
aparenta ser um pouco mais velha. Incríveis. — Prazer. Victor.
— Guilhermina — diz a morena, ela usa um vestido branco,
curto, que contrasta lindamente com o seu tom de pele.
— Leda — se apresenta a ruiva, de vestido azul, deixando à
amostra suas coxas brancas como algodão.
— Então, as duas resolveram sair nessa noite de sexta para se
divertirem — puxo assunto, a minha voz é grave e mansa. Elas
sentam no sofá de dois lugares e eu em minha poltrona. Chamo o
garçom que serve as moças com drinks, precisamos de álcool para
desinibi-las, caso sejam do tipo inibidas.
— Pois é, sabe como é, desopilar um pouco sempre é bom —
responde Guilhermina.
— Com certeza — afirmo, sempre olhando em seus olhos. —
Por que a Alcateia?
— Ouvimos falar dessa boate muitas vezes, e hoje decidimos
conhecer — conta Leda, com seus lábios atrativos num batom
vermelho.
— É, mas foi por insistência minha, porque Leda está focada na
conclusão do curso.
— É mesmo? Qual curso você faz?
— Psicologia.
— Uau..., mas você tem aquele famoso olhar analítico sobre
todos que vê? — pergunto, e nós rimos
— Ah, tem — afirma Guilhermina.
— Claro que não — nega a ruiva, seus seios escondidos no
decote me chamam atenção. — Isso é mito, não acontece com todos
os psicólogos.
— É mesmo? E se eu pedisse para falar agora o que achou de
mim, o que diria?
— Bem, não estamos em um consultório, ainda não sei nada a
seu respeito a não ser o nome, então..., o máximo que posso dizer
do que vi até agora é que é um homem... bonito. — Isso me agrada o
ego, mas não deixo transparecer.
— Então vamos nos conhecer, também quero olhá-las além da
beleza. Moram juntas? — Preciso nos aproximar, tomar espaço e
mostrar que não estou ligando só para sexo, pelo menos não
imediatamente.
— Sim — respondem as duas em coro.
— Você também é estudante, Guilhermina?
— Defensora Pública.
— Uau, estou diante de duas mulheres muito inteligentes, então.
— Não tenha dúvidas disso — afirma Guilhermina, dando um
gole em seu copo.
— E você, faz o quê? — indaga a ruiva.
— Sou empresário, trabalho com boates e também no ramo de
autopeças.
— Boates? É o dono daqui? — As duas ficam surpresas quando
confirmo com um balançar de cabeça. — Que legal, parabéns, a
Alcateia é linda e muito interessante, diferente de tudo que já vi em
Teresina — afirma Leda.
— Essa é a nossa intenção, a diferença, a emoção, em cada
canto uma surpresa, uma sensação — falo devagar, com um leve
tom de duplo sentido. — A gente conquista a cliente devagar e,
quando menos se espera, já é nossa por completo.
— Uau. — As duas fingem bater palmas, e todos nós rimos com
isso
Chamo o garçom, que nos traz novos drinks.
— Quem é você, Victor? — indaga a morena querendo saber
mais. Acho essa pergunta interessante. — Conta para nós.
— Sou um homem legal, que gosta de dialogar com pessoas
legais. Tenho um filho, sou separado há dois anos. Quê mais? Gosto
de descobrir novas coisas, me aventurar, experimentar sabores com
um toque... de perigo.
Elas trocam olhares, parecem ter gostado de me ouvir.
— Esqueceu de falar que tem cara de mal — brinca Leda. —
Lobo mau.
— Ah, por isso Alcateia? — diz a morena entrando na zoação, e
todos caímos nas gargalhadas.
— Eu? Cara de mal? — Nós três estamos numa sintonia bem
legal. Sem que elas percebam, consigo cada vez mais espaço,
mostrando o quanto simpático, maduro e interessante eu sou,
enquanto penso em nós três na cama. — E vocês, têm namorado?
— Elas trocam olhares, rindo, e depois negam com a cabeça. Melhor
assim, livres.
— Somos amigas desde adolescentes, a nossa cidade natal não
fica muito longe de Teresina. Gui mora aqui há anos, e me deixou
ficar na casa dela até a formatura — informa Leda.
— Depois você pretende retornar à sua cidade e exercer a
profissão — concluo.
— Ainda estou decidindo.
— O que atraiu de verdade vocês até aqui? O fetiche dos
dominadores? — Vamos apimentar essa conversa.
— A curiosidade, na verdade — confessa Gui, rindo sem jeito.
— É interessante ver.
— E fazer também. — As duas me olham com surpresa.
— Você tem cara de quem gosta de dominatrix — palpita a
ruiva.
— Não posso negar que gosto — confesso, lembrando de
alguém. — Gosto muito. — Olho o relógio de pulso, hora do teatro.
— Ah... Meninas, me desculpem. A nossa conversa está ótima, mas
tenho que ir. — Levanto.
— Nossa, quanta pressa — comenta Gui.
— Mas já? — indaga Leda. — O papo está tão bom.
— Já. Foi maravilho conhecê-las, as duas são muito
interessantes. Que tal fazermos um brinde para concluir esse
momento? — proponho, elas parecem um pouco desconcertadas, e
tenho quase certeza de que não querem que eu me vá. Vou dar o
bote.
Nós brindamos e bebemos nossos coquetéis, troco olhares
intensos com as duas. Elas não são como outras que já peguei, são
inteligentes, cultas.
— Olha, meninas, eu preciso mesmo ir para casa, tenho
algumas coisas para resolver. Mas, pensando bem, o nosso papo
está tão legal, não precisa acabar agora. Vocês... não querem vir
comigo? — lanço a proposta, como quem não quer nada.
— Ir para sua casa? — indaga Leda.
— Sim.
Elas trocam olhares.

Em pouco tempo, estamos os três no meu BMW, em alta


velocidade. Algo me diz que esta noite vai ser uma criança, e meu
objetivo é comer as duas gatas bem gostoso.
TRIO DO PRAZER

“Não quero morar novamente com esse homem.


De jeito nenhum!”

Abro a porta do meu apartamento e entramos aos risos. Gui e


Leda estão levemente alcoolizadas, mas eu continuo inteiramente
sóbrio, porém, não quero que elas fiquem bêbadas, se isso
acontecer não terá a menor graça. Estando as duas somente
"levemente alcoolizadas" é o suficiente para toparem a ideia de
fodermos os três juntos.
As luzes ligam automaticamente ao entrarmos. Noto que as
garotas ficam, por um instante, impressionadas com o espaço. A
piscina na área externa, à beira de uma visão panorâmica de
Teresina, é realmente incrível. Nesse momento, minha cidade, capital
do estado do Piauí, como de costume, está com a temperatura
elevada, mas nada que o ar-condicionado não possa resolver.
— Kenai — chamo pelo meu cão, que vem aos meus pés. Me
agacho diante do lindo pastor alemão negro, e faço o cafuné que ele
tanto gosta. — Está com fome, né rapaz.
— Que lindo — comenta Leda, ela tem um sorriso realmente
encantador.
— E grande — observa Gui. — Esse é o seu filho?
— Também — sorrio, ficando de pé, enquanto a ruiva acaricia o
cachorro. — O primeiro se chama Apolo, e tem dezesseis anos.
— Ah sim. E esse, “Kenai”, o que significa? — pergunta Gui.
— Urso negro. — respondo. — Podem ficar à vontade. Volto
num instante — digo, seguindo para a cozinha, onde ponho a ração
para o Kenai que corre para comer, abanando o rabo. Depois, sigo
para o banheiro do meu quarto luxuoso, em tons escuros, molho o
rosto na pia, enxugo na toalha, tiro o blazer e jogo na cama. Retorno
a sala, e encontro as amigas sentadas no sofá, conversando e
observando discretamente cada detalhe do meu apartamento, que
tem um ar masculino.
— Você tem uma ótima visão do terraço, mas não sei se teria
coragem de entrar naquela piscina, morro de medo de altura —
comenta Gui, ao me ver.
— Gosto de alturas. — informo, enquanto pego uma bebida no
“modesto” bar que tenho na sala, composto por um balcão, um
freezer e algumas prateleiras na parede com várias opções de
álcool. Coloco a garrafa dentro de um baldinho com gelo, pego as
taças, e me aproximo das meninas. Ponho tudo na mesinha de
centro, e sento na poltrona de frente para elas.
— Ah é, você gosta do perigo — comenta Leda, enquanto lhe
entrego sua taça, lhe servindo. — De todos os tipos?
— Quase todos — respondo. — Mas diria que na juventude
essa busca pelo perigo era mais forte. Hoje não, sou seletivo, não
me envolvo mais com qualquer tipo de adrenalina, só com as que me
tragam prazer sem culpa. Mas não se preocupem, não estou falando
de drogas, não. — faço a piada e elas riem.
— Esse seu papo está muito abstrato e misterioso. Quando fala
de perigo, é em algum esporte, por exemplo? — Guilhermina está
curiosa, entrego-lhe sua taça cheia.
— Também — respondo, com um sorriso.
— Sexo? — Leda acerta.
— Sim — a miro profundamente, o papo chega aonde quero
mais rápido do que pensei.
Elas trocam sorrisos e olhares sem jeito e eu gargalho.
— Relaxem — aconselho.
Não é a primeira vez que trago garotas a este apartamento, que
parece mais o meu abatedouro. Já perdi as contas de quantas
passaram por aqui enquanto solteiro, mas um ménage é mais raro
acontecer.
Voltamos a conversar, sempre acho um caminho para que os
assuntos não parem de fluir, e começamos a falar sobre a profissão
da Gui.
— É o meu trabalho, defender bandidos, não há outra maneira
de definir isso — diz ela, descontraída.
— Pensando bem, todos merecem ser defendidos, é uma
maneira de haver democracia, né — comento.
— Está vendo Leda, ele entende, já você...
— Sobre esse assunto nem quero comentar, para mim
criminosos devem pagar arduamente por seus crimes, mas vamos
falar de outra coisa.
— O quê, por exemplo? — pergunto.
— Por exemplo... por quanto tempo você foi casado? — a ruiva
quer me conhecer, faz tempo que sinto isso.
— Leda, como você é curiosa — repreende Gui.
— Quinze anos — respondo, e resolvo falar mais, antes de
receber outras perguntas. — E depois de todo esse tempo... há dois
anos, houve uma mentira criada contra mim — desvio os olhos para
o chão por um instante, lembrando desse assunto que ainda me
afeta. — E não deu mais certo. É complexo. Mas me conformo com
a ideia de que nada dura para sempre. O engraçado é que, mesmo
assim, ela foi a única mulher que realmente amei até hoje.
— Jura? Nunca conseguiu se relacionar com mais ninguém? —
pergunta Gui, agora interessada.
— Não... Mas não porque não quis, é porque deixo as coisas
simplesmente acontecerem. Se for para ser... será, entendem? E até
agora não deu certo com ninguém — miro as duas, e parecem
sensibilizadas ou interessadas com a minha história.
— E você ainda a ama? — indaga a ruiva.
— Definitivamente... não sei. Já faz um bom tempo que não nos
vemos.
— Essa questão de mentira é torturante — comenta Leda — Já
fui muito machucada por vocês homens... Eu e a Gui na verdade —
a morena concorda.
— E é por isso que nós... — elas trocam olhares, e saco algo
que me surpreende imediatamente.
— São um casal? — indago, erguendo as sobrancelhas.
Elas sorriem de maneira reveladora, entregando o jogo,
confirmando com a cabeça. Fico surpreso, nunca trouxe lésbicas
para cá, e rapidamente analiso se isso será bom ou ruim para os
meus planos essa noite. O homem tem que ser assim, dançar
conforme a música no jogo da conquista, se adequando às diferentes
situações que lhe são lançadas.
— Não acredito — comento, realmente não havia notado nada.
— Estou um pouco constrangida agora — declara a morena,
rindo e bebendo.
— Eu não estou, isso é normal — diz Leda.
— Com certeza. Não precisa ficar assim Gui. Desculpem a
minha surpresa, é que geralmente sou muito observador, mas...
vocês em nenhum momento deram algum sinal disso. Ou são muito
discretas ou estão tirando onda comigo.
— É verdade, Victor, não tínhamos porque mentir, somos
discretas — ressalta Guilhermina.
— Se é verdade, então provem... se quiserem, é claro —
desafio, é hora de esquentar as coisas, este é um ponto decisivo,
elas já preveem o que quero, mulheres são muito perceptivas neste
sentido.
Sorrisos indiscretos nos rondam, as duas pensam por alguns
segundos em meu desafio, e então, parecem concordar e se beijam
de uma forma até singela. Tomo um gole de Whisky, meu corpo
esquenta, e sinto meu pau vibrar ao contemplá-las, seus olhos
fechados, suas bocas tomando uma a outra sensualmente, sem
pressa, dando ar a intensidade.
— Acredita agora? — indaga Leda, sorrindo, e respondo a sua
pergunta assentindo com a cabeça.
— Há quanto tempo namoram?
— Dois anos. — responde a morena.
— E nesse tempo de relacionamento nenhuma das duas ficou
com um homem? — ambas balançam a cabeça negativamente.
— Somos fiéis — responde Leda. — Nós nos conhecemos em
momentos críticos da vida e nos demos amor.
— Entendo, mas... e vontade? — estou curioso. — Nenhuma
das duas nunca mais se atraiu por cara algum?
— Ah, acho que atração é comum, mas a gente se controla —
explica Gui.
— E no sexo? Não sentem falta de...
— Um pênis? — pergunta Leda, rindo — A gente compra. —
nós três gargalhamos.
— Essa foi boa, mas... acho que não deve ser a mesma coisa...
— Victor, aonde quer chegar? — indaga a morena, querendo pôr
as cartas na mesa. Essa é a hora de falar, não dá mais para ficar
rodeando, é tudo ou nada.
— A uma proposta — respondo, após mais um gole do meu
drink — Nós três, essa noite — Lanço, mas elas não se demonstram
tão surpresas.
— Que proposta indecente, seu Victor — comenta Leda,
sorrindo, provocante, cruzando as pernas, sensual. Interessante.
— Sabia que estava pensando nisso — declara Gui.
— E vocês não?
Elas riem.
— É um dos meus fetiches — revela a ruiva. — Mas... sou
comprometida — ela mira a morena, passando a bola para ela.
Entendo tudo. Que coincidência, e que sorte a minha, não foi apenas
eu que vim para cá com segundas intenções.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, olhando para Gui.
— É um fetiche da Leda, realmente. Você é um homem
interessante, Victor, e sei que o fato de termos aceitado loucamente
vir a sua casa à essa hora, sem mal o conhecermos, te fez pensar
coisas assim sobre nós, mas...
— Mas...? — a instigo a continuar. Porém, prevendo um “não”
bem na minha cara, resolvo me utilizar um pouco mais da minha
lábia. — Olha, nós somos adultos. O que proponho é uma noite de
prazer, onde acho que posso tentar desconstituir um pouco dessa
imagem negativa dos homens que vocês possuem. Por que não
viver essa aventura? Algum motivo nos trouxe aqui hoje e podemos
descobri-lo juntos. — minha voz é um pouco rouca, e não deixo meu
rosto se transformar em uma expressão de pedido, mas sim de
proposta mesmo.
— Você já deve ter feito muito isso — comenta Gui, Leda nos
observa calada, sinto que ela quer, mas só vem se a namorada vier
junto.
— Algumas vezes, é fato, e posso lhes dar uma experiência que
acho realmente que todos devem vivenciar, pois é algo diferente, eu
diria até... surreal.
— Entendi a sua proposta, Victor, mas não sei se somos esse
tipo de mulher...
— Gui — a interrompo. — Não existe “tipo de mulher” quando o
que está em jogo é o prazer. Não tem curiosidade? Não quer saber
qual é a... sensação? — Gui baixa os olhos, insegura. — Do que tem
medo?
— Não é... medo, exatamente. É que eu e Leda temos um
relacionamento. E se... Esse ménage interferir de alguma forma
entre nós? — ela olha para a namorada.
— Bem, da minha parte pode ficar tranquila. Agora que sei que
são um casal, irei respeitá-las ainda mais. Além disso, a proposta é
de prazer mútuo, sem troca de sentimentos.
— Eis a questão, senhor Victor, sexo é também uma união de
almas, uma conjunção carnal que pode deixar marcas profundas e
de todos os tipos. Sentimentos são quase inevitáveis, sejam eles
bons ou ruins.
Sorrio com tal pensamento filosófico.
— É verdade, porém... acho que somos maduros o bastante
para discernir sobre quais sentimentos levaremos ao deixarmos a
cama. E se depender de mim, serão os melhores possíveis, mas
todos com respeito. Além disso, o que é a vida sem riscos?
— Neste caso, não sei se quero arriscar — confessa ela. —
Mas... Leda, você quer?
Troco olhares de desejo com a ruiva que, pensa por alguns
instantes, e então, mira a namorada e confirma o meu desejado
“sim”. Elas voltam os olhos para mim, a decisão está tomada, e
agora o jogo é comigo. Respiro fundo, tomo toda a minha bebida,
sem pressa, levanto, as puxo delicadamente pelas mãos, antes que
mudem de ideia, e em silêncio, as conduzo até o meu quarto.
Fecho a porta, e miro as garotas paradas, esperando meus
comandos, o homem deve conduzir a situação, fazer a coisa
acontecer. A ruiva é gostosa, mais jovem, cara de vinte e poucos
anos, com bunda e coxas que me chamam muito a atenção. A
morena tem os seios maiores, porém, com pouca bunda, mas ainda
assim, bonita, elegante, uma mulher na casa dos trinta.
Tiro a gravata e a camisa, de costas para elas, e quando viro,
ainda vejo as duas paradas, me observando. Como Guilhermina está
mais na dúvida, resolvo investir nela primeiro, e caminho em sua
direção enquanto Leda me olha com tesão, está até boquiaberta,
sem perceber.
— Será que... — Gui tenta falar alguma coisa, está um pouco
nervosa, mas coloco o indicador em seus lábios, ela se cala, e após
alguns segundos de olhares intensos, suavemente a envolvo em um
beijo bem gostoso, devagar, enlaçando-a em meus braços e
encostando-a contra o meu corpo seminu, negro, musculoso e
aquecido.
A gata morena sente a minha forte ereção, o que a faz se sair do
meu beijo por um instante, surpresa. Entretanto, mordisco o seu lábio
inferior, trazendo sua boca até a minha novamente, não a deixando
escapar. Seguro o seu rosto entre as mãos e então coloco a minha
língua saliente para trabalhar mais uma vez, enroscando-a na sua,
sentindo o doce molhado, o calor que surge da garganta e de certa
forma, refresca todas as sensações.
Abro os olhos durante o ato, como um lobo faminto, e vejo Leda
nos observando com desejo, recebendo a nossa áurea sexual,
faíscas prestes a se tornarem labaredas. Deixo Gui sem ar e
finalmente desgrudo os nossos lábios, ela já está um pouco mais
relaxada. Meu toque até agora é em pontos estratégicos, não
erógenos, para não assustá-la, para lhe passar confiança, seduzi-la
e ludibriá-la, pois daqui a pouco ela não mandará mais nos próprios
sentidos.
A viro, deixando-a de costas para mim e de frente para a
namorada. Percorro o seu ombro com beijos até sua orelha, onde
mordisco, ao mesmo tempo em que abro o zíper do seu vestido e o
puxo até o chão, mirando agora o seu corpo atraente e seminu.
Chamo Leda com a mão, e quando a ruiva se aproxima, a puxo
delicadamente pela nuca, fazendo-a beijar a outra, e Gui se vê presa
entre nós dois.
Aproveito essa distração para tirar o seu sutiã, mas não deixo de
molhar sua orelha com a minha língua, não posso quebrar a sintonia
iniciada entre nós três, tenho que excitá-la logo, mas Gui para o beijo
por um instante, sinto que ela ainda está com uma linha tênue de
razão em sua mente, e devo substituir isso por tesão e desejo. Noto
que realmente é a primeira vez delas em um sexo à três. Eu
literalmente não estou diante de duas safadas, mas sim de duas
gatas que se respeitam e que decidiram experimentar algo novo
essa noite, e isso torna tudo mais excitante. Sinto a adrenalina e o
desafio até em fazer cair por terra cada peça íntima.
Leda volta a beijar a namorada com mais vontade, segurando
em seu rosto, como se tivesse lido os meus pensamentos e, assim
como eu, percebido que a música não pode parar. E assim, em
segundos, a morena é usada por nós dois, eu atrás, a ruiva na
frente. Enquanto brinco com a língua entre o pescoço e a orelha
dela, apalpo os seus seios e desço uma das mãos para dentro de
sua calcinha branca, rapidamente, para que ela não tenha
oportunidade de contestar, e quando os dedos ultrapassam o cós da
peça íntima, encontro uma boceta com pelos miúdos, rasteiros, e
começo a massagear o seu clitóris aveludado.
A morena geme ao meu toque quente enquanto Leda se excita.
Ofereço a minha boca para a ruiva e ela vem com sede, o beijo
acontece com a outra entre nós, gemendo com a minha masturbação
em sua xoxotinha, onde esfrego os dedos entre os seus lábios
vaginais, massageando a carne íntima, fazendo-a molhar e incendiar
ao mesmo tempo e passar a apertar suas coxas uma na outra, se
derretendo contra o meu corpo, gemendo.
Na verdade, neste momento, estou entre dois incêndios, me
dividindo entre as duas, tomando o cuidado de não deixar o tesão
cair. Com a mão livre, seguro Leda pela nuca, pressionando sua
boca contra a minha, esfregando os nossos lábios embebidos,
dominando a sua língua, sugando, chupando, me viciando e
entrando numa libido absurda e imoderada, uma lascívia intensa que
nos deixa arfando, e quando os olhos se abrem, é provado que essa
lubricidade está só começando.
— Vocês precisam do meu calor — sussurro no ouvido de Gui,
minha voz é penetrante, grave, sexy. Ela me beija, eu beijo Leda e
também tiro o seu vestido. A cinturinha bem-feita dela aparece,
juntamente com seus quadris largos. Gostosa, ela é perfeita. Seus
seios são menores do que os da morena, mas parecem bem
apetitosos. Beijo cada um, circulando a ponta da língua nos
biquinhos rosados e entumecidos, seu corpo parece tão delicado e
frágil para o meu toque grosso e rústico, o que me faz querer sair
logo do controle, mas me controlo.
Agarro a ruiva com meu pau entre nós dois, roçando quente
entre os nossos corpos, e nosso beijo se conecta de forma incrível,
como se estivessem esperando por isso há décadas. Apalpo o seu
seio esquerdo enquanto a beijo novamente, e então lembro de
Guilhermina, não posso deixá-la se sentir excluída em nenhum
instante, e a trago para nós, beijando-a novamente, depois a faço
beijar a namorada, e assim, as envolvo na minha volúpia exagerada,
formando um calor único e poderoso que emana dos nossos corpos
para o extremo. Em seguida, as convido para a cama com um gesto
de cabeça.
Elas se deitam e Leda mais uma vez parte pro ataque, beijando
sua amante e apalpando o seu corpo. Aproveito a oportunidade e tiro
a calcinha das duas enquanto se pegam, abro um sorriso cafajeste,
de orelha a orelha, ao vê-las nuas na minha frente, para mim. As
deixo se divertindo e volto a me despir, ficando totalmente pelado.
Percebo que Leda me olha em alguns momentos enquanto beija Gui.
Ao descer a cueca, meu pau aparece duro e imponente, são
vinte centímetros de carne quente, chocolate, e grosso como uma
garrafinha de água mineral, cabeçudo. A ruiva, depois de ver o meu
cacete, fecha os olhos excitada e gira na cama, ficando sobre a
namorada, deslizando pelo corpo dela até chegar à sua boceta, onde
inicia um oral. Pelo visto, ela é mais sabidinha do que a sua parceira,
e mais ativa também, deve ser porque está mais excitada. Elas ficam
na posição 69, chupando uma a outra, de forma que Leda está de
frente para mim. Me surpreendo com isso por um instante, mas me
orgulho pessoalmente por ter passado a elas esse conforto e
segurança para se soltarem assim.
Observo o sexo oral das garotas por alguns momentos,
enquanto me masturbo lentamente, másculo, alpha, sentindo a
minha rigidez, com um sorriso cafajeste, e então decido que é hora
de entrar em ação! Me ajoelho em cima da cama, agarro o cabelo da
Leda com cuidado e firmeza, e ergo seu rosto para mim. Ela me olha
excitada e geme ao sentir a língua de Gui em sua bocetinha. Levo o
pau para a sua boca e sou invadido por uma eletricidade quando
seus lábios me tocam. Ela engole a cabeça larga e avermelhada do
meu cacete e começa a me chupar. Como ainda não temos muita
intimidade, ajudo-a, dominando a situação, movimentando sua
cabeça de forma leve e constante para que me chupe gostoso.
Mas aos poucos Leda vai me surpreendendo e perdendo
qualquer pudor, evoluindo no oral. Ela segura meu caralho com uma
das mãos, controlando a profundidade com que o engole, e me
arranca gemidos.
— Oorh...
Sua língua se arrasta com vontade por cada centímetro do meu
mastro, molhando as veias grossas e latejantes, ela está com sede
de mim, isso é perceptível, ou somente está empolgada com a
situação, e parece adorar me tocar e sentir a minha espessura
pressionando os cantos dos seus lábios, tocando o céu da sua boca,
escorregando em direção a sua garganta de onde sopra a sua
respiração quase engasgada, e então recuo, a deixando ofegar e
babar. Trocamos olhares, pressiono seus seios medianos, retiro o
cabelo de seu rosto e a beijo.
Nós três iniciamos de fato a putaria, é um trenzinho do sexo oral,
Gui faz em Leda que faz em mim.
Meu pau pulsa, lambuzado, cintilando com a saliva em volta
dele, meu corpo arde quente de tesão, e então seguro mais forte o
cabelo de Leda, ela geme, fodo um pouco a sua boquinha e é lindo e
excitante ver menos da metade da minha rola sair e entrar dos lábios
da gostosa, lubrificado, e mais uma vez, o retiro antes de engasgá-la,
e agora, permito que faça do seu jeito. Dou algumas lapadas em sua
bunda branquinha, e enfio dois dedos na boceta da Gui, que está
abaixo do oral que sua namorada faz em mim, a morena geme ao
sentir meus dedos grossos e grandes em suas entranhas
encharcadas. Não fico parado!
Penetro Gui mais profundamente, sentindo as suas paredes
vaginais nervosas se contraírem e me apertarem, ela abre mais as
pernas, se contorcendo sob Leda que continua me chupando. Tenho
uma ideia insana, e faço a ruiva voltar a chupar sua namorada
enquanto acelero as estocadas. Assim, vejo a morena receber
cargas de energia sexual por todo o seu corpo ao ter seu clitóris
estimulado pela língua de Leda, e sua xota penetrada por meus
dedos que entram e saem do seu corpo com rapidez, lambuzados,
pegando fogo.
Guilhermina passa a gritar, se contorcendo sob sua parceira,
queimando, e então goza, chegando ao orgasmo. Massageio os
seus lábios vaginais, lambuzando toda a sua região vaginal,
brincando com a sua intimidade, sendo agora o detentor de todo o
poder sexual sobre seu corpo. Puxo Leda para mais um beijo,
devasso, sentindo o gosto da xota da sua namorada em minha boca,
e uso os dedos lambuzados para me enfiar em suas entranhas
também, na sua boceta sem pelos, branquinha e apertada que faz
meu pau se tornar aço ainda mais, e latejar, faminto, intimidador.
Depois, visto a camisinha, é hora da foda!
— Vira. — ordeno a ruiva, que me obedece e leva o rosto ao da
namorada e traz a bunda para mim, arrebitando, mas na posição
normal agora, abandonando a 69. Lhe dou uma lapada e vejo as
duas bocetas diante de mim, uma leite e a outra chocolate, a
primeira mais rechonchuda, e a segunda mais enxuta. Delícias.
Abro as coxas de Gui, posiciono meu pau robusto na entrada
dos lábios da sua xana e meto vagarosamente, arrancando-lhe
gemidos e suspiros à medida que me enterro nela pouco a pouco,
centímetro por centímetro, penetrando a sua boceta peludinha,
atolando, afundando, metendo, deslizando entre suas paredes
vaginais, abrindo espaço.
— OOH... — ela solta um gritinho, respirando forte, não permito
que suas pernas se fechem. Leda a beija, lhe abafando os gemidos.
E aos poucos vou ganhando espaço ao senti-la mais confortável,
mas não meto tudo, para não arromba-la de início, começo os
movimentos de vai e vem e aos poucos tudo se torna uma loucura.
Enquanto fodo Gui numa velocidade mediana, para que se
acostume com a minha invasão, não resisto e apalpo as nádegas
chamativas de Leda, juntando sua carne em minhas mãos enormes,
abrindo-as, afastando-as uma da outa, vendo seu cuzinho rosado e
sua bocetinha que parece implorar para ser fodida. Estou demorando
a chegar na ruiva intencionalmente, é uma estratégia, quero levar
Guilhermina a loucura primeiro, já que é a mais remota, e ao mesmo
tempo, deixar Leda ansiosa, necessitada por minha presença.
Molho o polegar na boca e acaricio o seu esfíncter anal, a ruiva
tem um espasmo, soltando um gritinho e leva o corpo para a frente,
mas aperto mais forte a sua bunda, a puxando de volta para o lugar
e espalmo a sua carne com um pouco mais de força, mostrando a
ela que seu corpo neste quarto tem dono. Molho o dedo indicador e
médio e os introduzo em sua boceta molhada, atiçando suas carnes
vaginais, confrontando seus músculos internos que me apertam,
eufóricos, e faço movimentos que incitam o ponto gê.
Agora, tenho as duas gatas sob o meu poder simultaneamente,
soco o pau em Guilhermina enquanto brinco com Leda e mordo o
lábio inferior, cheio de tesão, devasso, imoral, amando a putaria.
— Aai... ooh... — a morena geme, sentindo a minha rola abrir
espaço dentro do seu corpo, a cada estocada me enfio mais um
pouco, indo e vindo, metendo, enfiando, arrombando, mas chego a
um momento que não posso avançar mais, é o limite da gostosa e
então continuo como estou, fodendo, mas não pondo tudo para
dentro. As mulheres se beijam, trocando gemidos que transpassam
suas bocas, na mistura de seus lábios, no molhado de suas línguas.
E em um desses instantes, me vejo gemendo com as duas
gatas, formando um tipo de sinfonia do prazer, somos um trio do
prazer. Percebo que Gui vai demorar a gozar de novo, e deixo me
levar pela sede da ruiva agora. Ponho a mão em suas costas,
empurrando-a sobre a namorada, bruto. Ver os seios delas
amassando ao se tocarem e a mistura de suas cores quando seus
corpos roçam um no outro, aumenta o meu tesão em níveis
extremos.
Penetro a boceta da ruiva bem devagar, sinto dificuldade em
avançar e percebo imediatamente que ela é mais apertada que a da
morena. Solto gemidos quando os lábios vaginais dela se esfregam
deliciosamente na cabeça massuda do meu caralho ao se abrirem
para me receber, que gostoso, ela geme comigo, mais forte, me
engolindo. Lapeio sua bunda de novo, observando meu pau negro
tomar espaço dentro dela, abrir suas paredes vaginais, ser atacado
pelas contrações dos seus músculos quentes, molhados, eufóricos, e
nossas cores também se contrastam.
Me enterro mais uns cinco centímetros, já dominando as suas
entranhas. Deslizo vagarosamente para fora e invisto em uma nova
estocada, ainda lenta, mas vou mais fundo.
— Aaaah — geme a gostosinha, sua xoxota chega a pingar o
seu pré-gozo, me excitando ainda mais. Me inclino um pouco sobre a
gata, apoiando as mãos em seus ombros e pescoço, me enfiando
um pouco mais, e adoro tudo isso. Volto com o vai e vem, fodendo,
num ritmo mediano, deixando que nossos corpos se conheçam, que
nossas conjunção tome cada vez mais forma, e, aos poucos, cada
centímetro meu de rola vai sumindo, até que me enterro de vez
dentro dela, até que somente meus grandes ovos ficam à vista.
— Oooh... caralho... — grunhidos escapam por minha garganta,
não existe sensação melhor que essa, a do pau todo enfiado. Fico
alguns segundos parado, Leda foi mais corajosa que a sua parceira,
me deixando penetrá-la completamente, me recebendo. E agora,
vivemos todas as milhares de sensações que nos rodeiam e nos
tomam a cada segundo, e por um instante, chego a esquecer que
Guilhermina está aqui, conosco.
Então, volto com os movimentos de ir e vir, dominando a ruiva, e
aos poucos vou intensificando. Dou lapadas as suas nádegas de
novo e aumento os movimentos, prosseguindo forte e veloz,
invencível. Enquanto as gatas se beijam, a ruiva geme, me sentindo
dentro dela, num ritmo mais acelerado, frequente, pondo meu quadril
para trabalhar poderoso, indo e vindo fulminante. Desacelero um
pouco e vario as estocadas, às vezes vou mais fundo, outras mais
raso, hora mais leve, hora mais forte. A xoxota dela está muito
molhada, lambuzada, e me suga em alguns momentos, me
querendo, me desejando, me instigando.
Seguro Leda pelo cabelo, com a força correta, sem machucá-la,
interrompendo seus beijos com a namorada, minha outra mão está
apoiada na sua cintura e então faço uma sessão de surra de pica
alucinante, metendo sucessivas vezes sem parar, chocando meus
ovos com sua carne rosada fortemente, fazendo um barulho do
caralho.
— Aah... aaah... aaaah — seus gemidos se intensificam, e
comê-la está sendo incrível pra mim, estou arfando, envolto em toda
luxúria que o sexo nos proporciona
— Goza gostosa, goza... — murmuro em seu ouvido,
continuando com as estocadas potentes e contínuas, e então Leda
se entrega definitivamente, gozando, sua bocetinha esguicha, ela
treme inteira e percebo que realmente faz um tempo que não é
comida, ou não como se deve, como toda mulher que gosta do sexo
oposto merece.
A ruiva se derrete em cima da namorada, sem forças, sentindo o
orgasmo lhe tomar por completo, como se envolvesse a sua alma de
um prazer absoluto que a inunda e continua fazendo seu líquido
escorrer por suas coxas malhadas, mas ainda falta eu chegar ao
ápice também. Vou para cima, pairando sobre elas, me sustentando
com as mãos no colchão, quero mais, ainda não terminei, estou
quase lá, e continuo fodendo, nós três parecemos um sanduíche de
carne fervorosa e inigualável.
E assim, continuo bombando, grosando meu corpo no dela, me
mexendo em suas entranhas, rebolo o quadril lentamente, fazendo
gostoso, socando, metendo fundo, às vezes nem tanto, variando, e
fecho os olhos ao sentir a cócega na cabeça do pau chegar
avassaladoramente. Mais algumas estocadas e não suporto, gozo
com força, sentindo os jatos atravessarem o corpo do cacete e
explodirem para fora, pela fenda na cabeça do meu pau, me fazendo
vibrar. E berro de prazer.
— UUUH... — porra, que foda boa! Estamos os três ofegantes,
as meninas de olhos fechados. Desabo ao lado, puxo leda de cima
de Gui e a colocando do meu outro lado, fico entre as duas. Fecho
os olhos por alguns segundos, sentindo o orgasmo me dominar.
Espontaneamente, me pego acariciando o cabelo das meninas,
enquanto tento controlar as batidas do coração. E por alguns
momentos, só a nossa respiração é ouvida.
— Meu Deus que loucura — comenta Guilhermina. Nós
sorrimos. — Tenho que ir no banheiro. — Aponto para porta e ela vai,
se cobrindo com os lençóis, diferente da ruiva que, assim como eu,
não procurou esconder o corpo.
Olho para o meu pau, meio mole meio duro, com a ponta da
camisinha lotada de espermas — mais alguns segundos e ela
estouraria. Retiro-a enquanto a ruiva me observa atentamente, com
uma cara de quem quer mais.
— Gostou? — pergunto, aos sussurros.
— Muito — responde ela e acaricia o meu rosto, roçando
levemente as unhas em minha barba, me surpreendendo. Trocamos
olhares safados, nossos corpos falam por nós e nossas bocas se
buscam para outro beijo, como ímã. É quente e tentador. Porém, Gui
nos interrompe.
— Já foi o suficiente por hoje, não acham? — indaga, parecendo
não gostar do que vê.
Uma semana de suspensão da escola. O que irei fazer durante
estes sete dias? Tudo por culpa daqueles idiotas que se vitimaram
tanto que acabaram levando menos dias de suspensão. Graças ao
meu avô Rivaldo, e claro, à sua influência, o vídeo que as meninas
imbecis gravaram da minha humilhação não foi parar na internet e
nem houve tempo também para ser espalhado na escola, mas eu
não quero mais voltar lá. Nunca mais.
O pai do Samuca ainda contestou, querendo a minha expulsão
da escola, mas o Diretor lhe relatou os antecedentes do seu querido
filho e o fez perceber que seu "rapazinho" não é tão inocente, mas
que, ainda assim, foi vítima do menino violento que se armou com
um pedaço de madeira.
Quanto a Isabela, saiu ilesa, sem suspensão. Como pude ter
sido tão otário para acreditar que pegaria ela? Na verdade, ganhei
uma ovada bem no meio da cara e não paro de lembrar disso nem
por um instante. Estou com ódio de todos eles, e mesmo não
querendo mais retornar àquela instituição de merda, penso em dar o
troco, se bem que ter batido nos idiotas e principalmente no líder
deles, Samuel, foi bem gratificante.
Tudo isso aconteceu ontem pela manhã, foi um dia quase sem
fim. Não conseguiram ligar para minha mãe, mas isso para mim era
meio previsível, já que ela está fora do país, viajando a trabalho,
então os instruí a ligarem para o meu avô. Estou há três dias
morando com o vô Rivaldo e a vó Leonor, assim que minha mãe
viajou, vim para cá.
Saio do meu imenso quarto, um dos seis que há na gigantesca e
luxuosa mansão dos Cordeiro, e desço para tomar café, é de manhã.
O imóvel é lindo, em tons claros, com uma decoração clássica e
sofisticada, de um andar, com janelas imensas que deixam o
ambiente bem iluminado e arejado. Todos os quartos possuem
banheiros, há um grande jardim em volta da casa, com flores e
árvores — a propriedade é antiga e bem conservada. Meus avós têm
sete empregados: uma cozinheira, duas arrumadeiras, que também
ajudam na cozinha, um jardineiro, o motorista, e dois seguranças que
ficam no portão.
Ao me aproximar da sala de refeições, as vozes dos meus avós
se tornam mais audíveis, me escondo na entrada e observo os dois
discutindo na extensa mesa que está repleta de gostosuras.
— Ele não vai Rivaldo! Eu já disse. Você está louco?! — indaga
a minha avó, Leonor, irritada, com a colher de prata na mão para
tomar a sua sopa matinal. Ela é uma senhora na casa dos sessenta
e poucos anos, de cabelos louros e olhos verdes, lembra a minha
mãe. Está sempre bem vestida, com saias até os joelhos ou vestidos
refinados, uma senhora moderna — Jamais vou deixá-lo com aquele
louco que vive a vida de farras e bebedeiras. Só faz três dias que
Laura viajou e deixou o nosso neto sob a nossa responsabilidade.
— O Victor não vive só de farras — rebate meu avô, também
exaltado, ele é um senhor de cabelos grisalhos, magro, de sessenta
e oito anos. No momento veste sua roupa costumeira, terno, pronto
para ir trabalhar. Quem me vê com eles ou com a minha mãe, às
vezes pensa que não sou da família, por eu ser negro, cor de canela,
puxei ao meu “pai”. — Ele é muito trabalhador, conseguiu continuar
brilhantemente o negócio que Wagner deixou, e está mais do que na
hora de reassumir as suas responsabilidades como pai. E você mais
do que ninguém sabe que ele tentou ficar com o Apolo durante esse
tempo que Laura passará fora, mas você encheu tanto a cabeça do
nosso neto que ele acabou não querendo, né.
— Pai? Ele nunca foi um pai, só veio atrás do Apolo agora, ou
não lembra do que houve há dois anos?
— Essa história foi muito mal contada, mas isso não vem mais
ao caso. Apolo vai, e pronto! — confirma meu avô, convicto.
— Eu vou... para onde, vô? — pergunto, me aproximando deles.
— Que bom que está aqui meu neto...
— Rivaldo! — o tom da minha avó é de repreensão.
— Prepare as suas malas, Apolo, hoje mesmo irei levá-lo para a
casa de seu pai. Vai ficar com ele até a sua mãe voltar de viagem.
Fico paralisado com essa notícia, não gostando nem um pouco.
Não quero morar novamente com esse homem. De jeito nenhum!
LAÇO PATERNO

“Quando o homem amadurece e tem filhos, tudo muda,


pelo menos para mim foi assim, pois sou inconstante,
sigo o tempo tanto quanto ele me segue.”

Não irei morar com o homem que destruiu a própria família, fez
a minha mãe sofrer e que não está nem aí para mim. Minha avó
Leonor mais uma vez tem razão, meu avô Rivaldo só pode estar
louco.
— Eu não vou, vovô — afirmo, sério.
— Pronto, assunto encerrado, Rivaldo. O menino não quer ir, eu
não quero que ele vá, acabou essa história — conclui vovó. —
Sente, meu neto, tome café conosco.
— Desculpe, Apolo, mas isso não é um pedido, é uma ordem,
um ultimato. Você ficará com o seu pai até Laura retornar —
assevera, ainda mais sério, me deixando com raiva.
— Mas ele não é meu pai! — aumento a voz. — Meu pai sempre
foi o senhor, vô. Não quero ficar com ele. Aquele homem nem
mesmo se importa comigo...
— Sabe que isso é mentira, Apolo. Ele se afastou, é verdade, foi
um erro dele, achou que essa era a melhor saída após a separação,
mas nunca o esqueceu, e o fato de ter pedido para ficar contigo
neste tempo em que sua mãe passará fora, prova isso.
— Ora, me poupe, Rivaldo! — rebate vovó, limpando os lábios
com o guardanapo, também irritada.
— Já está dito! — nunca vi meu avô tão certo de algo assim, e
exigente. Que raiva! — Agora sente-se, Apolo, tome café e depois
suba e faça a sua mala. Está na hora de pôr um eixo em toda essa
situação.
Não o obedeço e saio daqui furioso, respirando forte. Meu avô
me chama, mas não dou atenção. Caminho depressa em direção a
cozinha e soco a porta dos fundos ao sair para o jardim. Não quero
ficar com o Victor! Odeio ele por ter abandonado a mim e a minha
mãe, por tê-la feito sofrer com... Ah! Não gosto nem mesmo de
lembrar.
Sento em um dos banquinhos que há no belo gramado, entre as
plantas e flores. Fecho os olhos e ouço até passarinhos cantando ao
redor. Meu avô herdou a herança do pai e sempre trabalhou no
mercado da carne, o sobrenome da família, Cordeiro, é uma das
marcas mais vendidas dentro e fora do país, o que sempre nos
proporcionou muito luxo e reconhecimento, renome. Se bem que a
minha mãe sempre teve o seu próprio dinheiro desde que me
entendo por gente, é uma fotógrafa superconhecida na região e que
agora está expandindo o seu trabalho no estrangeiro, mas já sinto a
sua falta.
Lembro dela conversando comigo antes de partir, quando ainda
estava no quarto, terminando de arrumar as suas malas para a longa
viagem:
“— Filho, seu pai quer ficar contigo enquanto viajo, tem certeza
que não quer ir? — ela indaga, acariciando o meu rosto e sentando-
se na cama ao meu lado. Minha avó está numa poltrona, nos
observando, de pernas cruzadas.
— Oh, Laura, deixe de bobagens! — retruca ela. — É claro que
ele não vai, ficará comigo e Rivaldo. Aquele Victor não merece estar
na presença do meu neto...
— Mamãe por favor, nos dê licença, quero conversar com o meu
filho a sós! — rebate mamãe, fazendo dona Leonor sair bufando do
quarto. Sou acariciado na bochecha novamente e admiro a beleza da
minha mãe que espera por uma resposta minha. Já sou maior e mais
forte que ela, mesmo tendo apenas a idade que tenho.
— Não quero, mãe. Por que ele quer a minha presença agora?
Depois de dois anos? Depois do que fez a você, a nós? Não! —
respondo, amargo, fazendo ela baixar os olhos por um instante,
parece triste.
— Apolo, tanto que te falei para não tomar as minhas dores,
para não levar o que aconteceu para o seu coração. Victor querendo
ou não é o seu pai e vocês precisam ter contato.
— Não quero ir. Ficarei com a vó e o vô! E a senhora não
demore a voltar. Eu te amo. — a abraço e ela me corresponde, é tão
bom sentir o seu calor e o seu amor, com ela me sinto protegido.
— Vou passar alguns meses lá, essa oportunidade é muito
importante para o meu trabalho. Você entende, né?
— Entendo, mãe.
— Te amo muito, meu filho, meu menininho grandão — declara,
beijando a minha cabeça.”
Suspiro, voltando a realidade, cabisbaixo.
— O que aconteceu, Apolo? — pergunta Adriana, uma das
arrumadeiras da casa, se aproximando, a considero como uma
amiga mais velha. Ela é magrinha e alta, de cabelo castanho, deve
ter uns vinte e sete anos, trabalha com meus avós há um tempo,
está uniformizada.
— Nada — respondo, frio, olhando rápido para ela.
— Nada não, fala logo menino — ordena, sentando-se ao meu
lado.
— Meu vô quer me levar para ficar com o meu pai até a minha
mãe chegar.
— E o que tem isso?
— Ôxe, Adriana — resmungo. — Nunca ouviu a minha vó falar
do meu pai por aqui? Ele fez muitas coisas ruins para a minha mãe,
e não quis saber de mim após a separação. Não tem condições de
ficar com ele. Meu vô pirou, literalmente.
— Mas, o senhor Rivaldo tomou essa atitude devido a briga que
você teve na escola? — pergunta.
— Sim. Tudo por causa de uns idiotas daquela escola infeliz.
Também não quero mais ver a cor daquele lugar — a minha raiva
persiste, tiro os óculos de lentes redondas e passo a mão no rosto,
respirando fundo. Tenho miopia desde pequeno, não é grave, mas
não consigo enxergar muito bem coisas distantes.
— Calma Apolo, nem tudo é tão ruim assim quanto parece. Veja
pelo lado bom, tu vai ter a oportunidade de ficar com o seu pai. Faz
quanto tempo que não se veem?
— Quase dois anos — respondo. — Nesse meio tempo ele
quase não apareceu, fez alguns convites, me chamando para passar
meu aniversário com ele, por exemplo, mas neguei, e agora vem
com mais essa. Era só o que me faltava.
— Dê uma chance a ele, você pode se surpreender.
— Não mesmo — afirmo, sério. — Ele lutou pouco por mim
depois que se separou da minha mãe, isso só demonstra o quanto
não me ama.
— Só vai ter certeza disso convivendo com ele — afirma
Adriana, e então faz algo que me surpreende, acaricia o meu rosto.
— Um menino tão bonito não merece ficar emburrado e tristonho
assim.
Estico um pequeno sorriso, constrangido, e viro o rosto para o
outro lado, saindo de seu toque.
— Eu? Bonito? — debocho. Ela mente.
— Claro que sim. Olha, quer um conselho? Sei que você não
gosta de desobedecer seu avô, então, se ele acha que o melhor pra
ti é ficar com o seu pai, vai e deixa ver o que acontece. Caso
contrário, senão der certo, o seu Rivaldo irá perceber e vai te buscar
de volta.
— É só eu mostrar a ele que ficar com o Victor não vai dar certo
— confabulo.
Adriana revira os olhos.
— Não foi isso que eu quis dizer. Bem, vou voltar ao trabalho —
ela se afasta, me deixando sozinho. Encosto a minha cabeça nas
costas do banco, mirando o lindo céu azul e respiro fundo.

Arrumo a minha mala, mas não coloco muita roupa, estou certo
de que essa ideia do meu avô não vai durar, pois farei de tudo para
dar errado. Logo, logo estarei de volta e quando a minha mãe
retornar, me encontrará exatamente no lugar onde me deixou.
Pego o notebook, escova de dentes, tênis, e lembro de algo
importante. Fecho a porta do quarto após averiguar se não há
ninguém por perto do lado de fora. No meu closet, abro a última
gaveta do guarda-roupas e retiro duas revistas eróticas com fotos de
mulheres lindas e nuas, que estavam debaixo de alguns lençóis
dobrados. As guardo na mala também. Elas são importantes.
Chega o momento de partirmos, e após entrarmos no Rolls-
Royce, meu avô diz ao Jorge, o motorista, onde iremos. Após alguns
minutos na rodovia, percebendo a minha cara emburrada e o meu
silêncio, ele diz:
— Apolo, meu neto, não fique emburrado desse jeito, não estou
o levando para um estranho. Victor é o seu pai, e gosta de você —
afirma.
— Tem certeza disso? Minha vó está certa, o senhor parece que
não se lembra do que este homem fez à minha mãe. Vi ela chorar
por culpa dele, e eu... — a minha voz falha.
— Também chorou — completa meu avô, e em seguida respira
fundo, colocando a sua velha mão sobre meu joelho, tentando me
confortar. — Filho, o que houve na sua família foi muito ruim, é fato,
mas... coisas ruins acontecem e temos que saber seguir adiante. No
caso dos seus pais, eu diria que uma sucessão de pequenos erros
explodiu numa catástrofe.
— Ele fez o que fez porque quis, e pelo jeito nem se preocupou
com isso...
— Não pode afirmar, Apolo. Sei que sente falta do seu pai, e ele
também precisa do filho. Pai e filho precisam estar juntos, eu sei isso
mais do que ninguém... — dessa vez é a voz dele que falta, e
entendo o porquê. Ponho a minha mão sobre a dele.
— Está falando assim por causa da tia Lorrana, né? — indago,
sentindo a dor e o sentimento dele pela filha que não volta para casa
há muitos anos, está fora desde quando eu ainda nem era nascido.
— Não entendo por que ela insiste em falar comigo só através
de vídeo chamada ao invés de retornar para casa. São dezessete
anos que a vejo só pela imagem do computador, e ela continua
resistindo.
— Ela ainda não lhe disse por que não volta?
— As mesmas desculpas de sempre, que está ocupada,
trabalhando não sei em quê, mas sinto que mente. Por isso, mandei
Laura procurá-la em Nova Iorque. Chega disso.
— Mas se ela não quer falar com a minha mãe por vídeo
chamada, vai querer falar pessoalmente? E ela também mudou de
endereço e não informou o novo.
— Acredito que Laura a encontrará. — afirma ele, esperançoso.
— Encontrará sim, vô — lhe passo confiança.
— Bem, agora ligue para o seu pai e avise que estamos a
caminho — ordena.
— Só se for do seu celular, e será o senhor que vai falar com ele
— imponho essas condições, ele não discute e me entrega o celular,
porém, ligo três vezes e nada do Victor atender. Isso não me
surpreende — Ele não atende, é melhor voltarmos para casa. —
opino.
— Victor deve estar com o celular no silencioso, ele sempre
esquece.
— Como sabe?
— O conheço, e além disso, ele sempre me atende — informa
vovô.
— Ah tá, esqueci que são amigos — digo, irônico.
— Devia achar isso ótimo.
E assim, após pouco tempo, chegamos ao condomínio do Victor,
é um lugar bonito, enorme, de terreno informe, repleto de casas
luxuosas espalhadas pelo lindo gramado. Após passarmos da
portaria onde os seguranças conferem as nossas identidades, sou
tomado por milhares de lembranças da época em que eu morava
aqui com a minha mãe, quando ela ainda estava com o Victor.
Passamos por um campo de vôlei e lembro do dia em que
jogamos ali, Victor me ensinava a rebater a bola enquanto minha
mãe nos observava do banco, sorrindo. O Rolls-Royce para em
frente à minha antiga e linda casa, de paredes brancas, janelas em
vidro, e não é uma mansão como a do meu avô, mas também possui
um andar, é espaçosa, confortável, de três quartos, com sala de
estar, de jantar, de jogos, mais escritório e uma área externa onde
fica a piscina enorme, depois garagem e academia.
Há muito tempo não piso aqui. Ao descer do carro e olhar para a
rua, lembro de Victor me ensinando a andar de bicicleta, aos oito
anos de idade.
“— Vai filho! Você consegue!”
Ouço a sua voz ecoar em minha mente. Eu quero me esquecer
de todos estes momentos contentes, pois já sei que eles não valem
de nada! E assim, aprendi dolorosamente que lembranças boas são
cruéis após um maremoto de infelicidade. São como gatilhos de um
passado feliz que não tem nenhuma esperança de retornar. Também
não quero que retorne!
— A casa do Wagner, seu outro avô — comenta seu Rivaldo. —
Victor nunca quis sair daqui.
— Eu sei — respondo. — Já morei aqui, não lembra? Faz dois
anos que não piso neste lugar, e agora o senhor me faz...
— Deixe de aborrecimento! — reclama, me interrompendo. —
Vamos entrar — me chama, e vai caminhando com a sua bengala
até a porta, onde toca a campainha.
Somos recebidos pela empregada, Valrene, uma moça na casa
dos trinta anos, de estatura pequena e gordinha, de pele morena.
Lembro dela, sempre nos demos bem, e recordo do amor que tinha
por ela. Continua parecendo bem simpática e fofa.
— Apolo! — ela exclama, surpresa, esbugalhando os olhos, e
vindo para cima de mim como um furacão, me abraçando bem forte.
Está tão pequenina perto de mim. — Quanto tempo, garoto! Olha só,
já está maior que eu, meu Deus! Seu Victor vai ficar doido quando
souber que você está aqui!
— Oi Val, tudo bem? — indago, sorrindo para ela depois que se
afasta. — Faz um tempo mesmo.
— Como você está lindo. Ai que saudade! Deixa eu te abraçar
de novo — ela me aperta com tanta força que acho que me deixa
roxo. — Olha como está grande, forte, nem parece que tem a idade
que tem! Minha nossa!
— Não falará comigo, Valrene? — indaga meu avô, chamando a
atenção dela, que se volta para ele, agora toda comportada e séria.
— Ah... perdão, seu Rivaldo. Bom dia. O seu Victor ainda não
chegou — informa. Meu avô olha o relógio caro no pulso.
— Já são dez da manhã, Valrene, onde ele se meteu? —
pergunta, enquanto Jorge segura a minha mala às minhas costas.
— Às vezes ele dorme fora mesmo, no apartamento, já nem me
preocupo mais — ela informa, sorridente. — Mas sentem, querem
alguma coisa? Uma água ou suco? Fiz um de goiaba que está uma
delícia.
— De goiaba? — indago, interessado.
— Ah, sei que é o seu preferido assim como é o do seu pai.
Você quer?
— Não, pensando bem... não quero — perco a vontade depois
que ela me lembra dessa semelhança entre mim e Victor.
— Ele quer sim, Valrene, pode trazer. E para mim, água. O que
vai querer, Jorge?
— Água também, senhor — responde o motorista.
Em minutos, estamos nos sofás. A casa tem as paredes
brancas, outras em tons sépia, e percebo que quase nada mudou, é
claro que não possui mais aquela decoração moderna que a minha
mãe gosta, está tudo mais neutro, porém, sem perder o requinte. O
espaço é amplo, aconchegante, climatizado. Avisto a sala de jogos
por uma porta de vidro, o lugar onde eu e Victor passávamos horas
jogando videogame.
“— Ah pai, você me deixou ganhar! Não vale! — reclamo.
— Deixei não, filho — diz ele, sorrindo.
— ÔH MÃE! — grito, pedindo o auxílio dela para repreender
meu pai”
Lembro. Nessa época eu estava com catorze, bem perto da
separação deles.
Depois de sermos servidos por Valrene, ficamos esperando
Victor chegar, e minha vontade de ir embora continua. Essas
memórias estão me fazendo mal, sinto vontade de chorar, mas me
seguro. Não derramarei uma lágrima sequer por ele.

Laura acaricia o meu rosto docemente, roçando as unhas em


minha barba rala, e trocamos sorrisos na cama, esse nosso amor
parece que será eterno. Ela diz que me ama, e repete isso mais
umas três vezes, me fazendo o homem mais feliz do mundo. Mas
então, vejo dor, sofrimento, gritos, lágrimas, e acordo do pesadelo,
ofegante, suado. Merda! Quando vou parar de ter este tipo de
sonho?
Estou completamente nu na enorme king size e após me
acalmar, olho para os lençóis bagunçados e lembro da noite anterior,
do delicioso ménage à trois, que poderia ter sido ainda mais incrível
se o ciúme de Guilhermina não tivesse falado mais alto em alguns
momentos. A verdade é que a química entre eu e Leda foi maior,
muito maior, e tenho certeza que se estivéssemos só nós dois nesta
cama, mais sexo teria rolado nessa madrugada. Entretanto, a
morena insistiu para ir embora com a namorada e elas se foram.
Pego o celular em cima do criado-mudo e vejo chamadas
perdidas do meu ex-sogro, Rivaldo, meu grande amigo, o único que,
de certa forma, não se afastou ou me julgou depois de todo o
acontecido com a Laura, minha ex-mulher. Digo “ex-mulher” por
costume, mas nunca fomos casados no papel ou na igreja, pelo
nosso parentesco a justiça não permitia e ainda não permite. Somos
enteado e madrasta eternamente, mesmo que nossa união tenha
sido de forma totalmente limpa, já que nos conhecemos só após a
morte do meu pai, com o qual nunca tive contato, mas que foi
generoso comigo ao me deixar sua herança e me reconhecer como
filho no testamento.
Antes eu era um simples mecânico da zona sul de Teresina, e
agora me tornei um dos maiores empresários da cidade e do estado.
As pessoas que me conhecem há muito tempo me elogiam, dizem
que eu soube usar o grande patrimônio que me foi deixado, que
consegui proliferar o que já era grande, e isso até que é verdade.
Mas hoje me sinto incompleto. Esses casos avulsos e noturnos não
me preenchem mais como antes. É só sexo, é só um prazer fugaz e
passageiro do qual, ainda assim, meu corpo necessita.
Quando o homem amadurece e tem filhos, tudo muda, pelo
menos para mim foi assim, pois sou inconstante, sigo o tempo tanto
quanto ele me segue.
— Alô, Rivaldo? — digo, ao telefone, após ligar para ele. — Fala
meu amigo.
Recebo a notícia de que ele está na minha casa com o meu
filho, à minha espera, e não dá mais detalhes, pede que eu me
apressasse. O que será? Não faço ideia, mas meu coração se enche
de alegria por saber que Apolo está lá, ele já não vem me visitar há
dois anos e por quase todo este tempo não o vi, mas a culpa é
minha.
Tomo um banho super-rápido, desço com Kenai e pego o meu
BMW, branco, na garagem. O apartamento em que transei com as
meninas é, como eu disse anteriormente, só o meu "abatedouro",
não levo as minhas conquistas para a minha casa que é o meu local
de paz, a minha privacidade, espaço de muitas lembranças boas.
Kenai salta para dentro do carro, o qual já conhece muito bem.
Olho o relógio, é quase 12h e ainda não tomei café. Acordar tarde
assim é normal para mim, faz parte da minha rotina, mas não porque
sou vagabundo ou coisa do tipo, mas sim porque trabalho quase a
noite toda na Alcateia, a boate, outro bem importante deixado por
meu pai.
Estou curioso para saber o porquê de Rivaldo estar com o meu
filho lá em casa. Geralmente, quando ele vem me visitar vem sozinho
e me conta tudo sobre o Apolo. Apolo não gosta de mim, e com
razão, mas isso é humilhante para o meu trágico papel de pai. O pior
é saber que ele me culpa por algo que não fiz, e o meu afastamento
após o acontecido fez com que ele acreditasse ainda mais que sou
um desgraçado. Eu sabia que estava perdendo o meu filho, mas fui
fraco, desisti de enfrentar a situação e hoje, o desprezo dele para
comigo é o resultado.
Estaciono na frente de casa, atrás do Rolls-Royce de Rivaldo,
que carro incrível! Um luxo! Um tesouro que não canso de admirar
toda vez que o vejo. Prendo Kenai à coleira e saio do automóvel com
ele, que late ao ver Sabrina e sua cadelinha linda. Sabrina é uma
jovem de dezesseis anos, eu acho, a pele dela é chocolate, como a
minha, cabelo bem cacheado, volumoso e sedoso, preto. Ela é uma
menina com corpo de mulher, de coxas e seios avantajados, cintura
fina, e só anda em roupas bem curtas para valorizar tudo isso. Já vi
vários dos vizinhos querendo essa flor, mas eu não, não curto
novinhas assim, porém, ela vive me paquerando.
— Oi Victor — me cumprimenta, com aquele mesmo olhar de
interesse de sempre, dando mole.
— Oi Sabrina — a cumprimento, enquanto Kenai e a cadela se
cheiram.
Sabrina é filha de um grande empresário, e mora a três casas da
minha. Ela me lança um sorriso malicioso, me olhando dos pés à
cabeça, e depois se vai. Eu rio, achando isso cômico, e entro na
minha residência. Avisto Rivaldo em seu costumeiro terno, sentado
no sofá com o seu motorista, com o qual possui uma boa relação de
amizade, assim como com todos à sua volta. Ele é um bom homem.
— Victor, até que enfim apareceu, eu já estava cansado de
esperar — afirma, se levantando, apoiando-se na bengala.
— Vou esperar lá fora, senhor — diz Jorge. Aperto a sua mão
antes que saia.
— Me desculpa, Rivaldo, mas não esperava por sua visita. O
que houve? Cadê o Apolo? — indago, enquanto aperto a sua mão, o
cumprimentando.
— Desculpe, meu caro, tomei a decisão repentinamente, tentei
avisá-lo, mas você não atendeu ao telefone — diz, e nós nos
sentamos.
— Que decisão? — pergunto, curioso.
— É o Apolo, trouxe ele para ficar contigo até Laura regressar
de viagem — dispara, me surpreendendo.
— Como assim? — indago, com um sorriso de surpresa e
contentamento. — O Apolo mudou de ideia e aceitou o meu pedido?
— pergunto, esperançoso.
— Não — responde Rivaldo, com sua sinceridade, e minha
felicidade vai embora. — Estou o forçando a ficar contigo, na
verdade. — revela. — Ordenei que ele viesse para cá. Está na hora
desse afastamento de vocês encerrar, não acha?
— Sim, concordo plenamente. Era essa a minha intenção
quando fiz o convite a ele ao saber que Laura viajaria. Quero me
redimir com o meu filho, sinto a sua falta, e me arrependo todos os
dias por ter me afastado dele após a minha separação com Laura.
— Não preciso repetir que este foi um erro grave seu, mas não
há erro sem concerto.
— E a Laura?
— Ela não sabe ainda. Aliás, já deve estar sabendo, Leonor é
rápida no gatilho. Mas não haverá problemas, já que a minha filha
nunca se opôs a sua aproximação com o Apolo.
— Eu sei, neste ponto o errado fui eu. Mas só neste ponto —
assevero.
— Não vamos mais discutir o passado. Águas passadas não
movem moinhos.
— Mas você acredita em mim, não é? — pergunto. Na verdade
ele sempre demonstrou que sim, mas nunca me deu uma resposta
concreta.
— Victor, as provas contra você são inegáveis e Laura é a minha
filha. A única diferença entre mim e ela, é que resolvi te escutar.
Entendo o lado dela e entendo o seu, não quis tomar partidos por
pensar em uma única pessoa: meu neto. Depois que percebi que
Lorrana não queria mais voltar para casa, descobri a dor de estar
longe de um filho, e vi meu neto sofrendo com a sua ausência,
mesmo que ele não queira admitir ainda.
“Victor, estou lhe dando a nova chance que você me disse que
queria, não a desperdice, seu filho precisa de você e você dele. A
sua atitude de esperar o tempo passar, de esperar a poeira baixar,
não foi correta, só deu mais certeza ao menino de que tudo aquilo é
verdade. Ainda bem que acordou, pois chegaria o momento em que
iria perceber que os dias se passaram tão rapidamente que, logo
Apolo se tornaria um homem e aí seria tarde demais.”
— Você está certo, Rivaldo. Eu não devia ter me afastado dele.
É que no início foram tantas tentativas de me inocentar em vão, que
resolvi deixar o tempo passar, com a esperança de que as feridas se
curassem, mas sabia que o preço dessa decisão seria caro, pois
perdi vários momentos com o meu filho. Na verdade, acho que quis
me isolar da Laura, não entendi nada do que estava acontecendo
direito, só sabia e sei que não fiz aquilo, não lembro de ter feito, e
por ela não querer me dar ouvidos, me magoei profundamente, e
recuei. Eu fui um covarde, desisti da minha família.
— Aproveite essa oportunidade e mostre para Laura que você
mudou, Victor, mostre isso principalmente para o Apolo. Não desista
de novo. Sei que acha que ele não gosta de ti, mas gosta sim.
— A única coisa que quero... é que ele tenha um pai, um pai
que... nunca tive. — digo, cabisbaixo, quase sussurrando. — Onde
ele está? — pergunto mais uma vez.
— Mandei se instalar em um dos quartos lá em cima, foi
birrando, mas foi. Valrene o acompanhou.
— Rivaldo, mas... O que te fez tomar essa decisão assim tão
repentinamente? — pergunto.
— Apolo brigou na escola — me informa.
— O Apolo? — indago, estranhando. — Mas ele nunca foi disso.
— Pois é, meu caro, e para que fique ciente, ele quase quebrou
a mão de um dos colegas de turma a pauladas.
Fico em choque! Meu filho nunca faria isso.
— Apolo nunca brigou na escola, não estou entendendo esse
comportamento.
— A falta de um pai faz muita diferença, meu caro. Além disso, a
mãe dele também não está por perto. A verdade é que noto meu
neto perturbado desde a separação de vocês, e o seu afastamento o
afetou com toda certeza, ele só não quer demonstrar, finge que está
tudo bem para não nos preocupar, mas esse menino não é como os
outros da sua idade. Não tem amigos, não tem namorada, vive
enclausurado dentro do quarto mexendo no notebook. Isso tem que
mudar, Victor. Nenhum amor substitui o amor paterno ou materno.
Respiro fundo, assentindo com a cabeça.
— Não se preocupe, Rivaldo. Cuidarei do meu filho — garanto, e
ele estica um sorriso, satisfeito, depois respira fundo também e
levanta.
— Sendo assim, eu já vou... Agora está com você, meu caro —
diz o senhor, se apoiando em sua bengala, e o acompanho até a
porta.
Quando fico sozinho, miro a escada que leva ao primeiro andar,
onde ficam os quartos. Apolo está lá em cima, e tenho que enfrentá-
lo. Valrene vem de lá com um sorriso de orelha a orelha em seu rosto
redondo, ela é a cara da sua mãe, minha antiga empregada, Valéria,
e da mesma forma, se tornou a minha amiga fiel, sabe dos meus
sentimentos em relação ao Apolo.
— O que está esperando, seu Victor? — me indaga. — Bora,
sobe. Seu filho está aqui! — fala, contente, e vai rumo a cozinha,
sumindo de vista.
Subo os degraus e chego ao corredor de cores claras, com uma
janela em vidro no final que ilumina ainda mais o ambiente. São três
quartos, dois do mesmo lado, que ficam de frente para a rua, um
deles é o meu e o outro está com a porta aberta — ele entrou no seu
antigo cômodo, penso, e fico feliz por isso. Entro e encontro Apolo na
sacada, vendo o avô ir embora. Como está grande o meu menino,
enorme, mais um pouco e passa de mim, e olha que tenho um metro
e oitenta.
— Filho — o chamo, mas ele não me dá atenção. — Apolo —
chamo de novo, e então ele vira, me olhando sério. O contemplo,
como está bonito e muito parecido comigo. É negro chocolate, de
lábios carnudos e vermelhos, olhos profundamente castanhos,
possui um olhar marcante, idêntico ao da sua mãe, porém escondido
sob os óculos. Mas seu rosto no geral lembra o meu, quadrado,
queixo bem desenhado, nariz pequeno, sobrancelhas e cabelos
extremamente escuros. O que me incomoda à primeira vista é essa
sua cabeleira imensa e bagunçada e suas roupas que são duas
vezes o seu tamanho.
Ele entra para dentro do quarto, saindo da varanda. Caminho
em sua direção, estendendo a mão para que peça a minha bênção,
um costume entre pais e filhos da minha terra.
— Não vai pedir a bênção do pai? — o indago.
Ele me lança um sorriso debochado, cruza os braços e diz:
— Só pode estar de brincadeira.
— Não estou, não — revido, educado. — Foi essa a criação que
eu tive e foi isso que te ensinei, não lembra mais?
— Sabe que não — responde, frio e irônico. — Na verdade já
não me lembrava nem mesmo de você, decidi agir igualmente.
— Acha que te esqueci, filho? — pergunto, baixando a mão,
vendo a sua mágoa.
— Não sou seu filho...
— É sim...
— Não...
— Sangue do meu sangue! — afirmo, esfregando os dedos nas
veias do antebraço.
— Agora que estou aqui você se lembra disso... Victor? — meu
nome é dito de forma áspera, e isso me dói na alma. Ele não me
chama de “pai”.
— Nunca esqueci, meu filho. As circunstâncias nos afastaram...
— tento me justificar.
— Foi você que se afastou de mim e da minha mãe! Você
escolheu isso! Nos trocou por putaria... — vocifera, com ódio, parece
que essas palavras estavam entaladas na sua garganta.
— Fala baixo! — revido no mesmo tom. — Fala baixo comigo —
repito, pausadamente. Não vou deixar que me desrespeite, sou o
seu pai. — Você era uma criança na época e não sabe como as
coisas aconteceram, então não pode me julgar dessa maneira — me
defendo, e ele debocha. — Mas o que precisa saber é que nunca...
Eu nunca deixei de te amar, meu filho — digo, vendo os olhos dele
brilharem, surpresos, e os meus provavelmente estão na mesma
situação.
Um silêncio mortal recai sobre nós e agora me dou conta de que
magoei bastante o meu rapaz. Como pude fazer isso?
— Olha... — diz Apolo, com a voz fraca, controlando as
emoções. — Não quero que leve em consideração o que meu avô
disse sobre a minha estadia aqui. Não pretendo ficar por muito
tempo, então, depois de três ou quatro dias, irei embora...
— Não vai, não — afirmo, e ele respira fundo como se tivesse
de saco cheio. — Eu não vou desistir de você mais uma vez —
declaro, o surpreendendo novamente, é nítida a sua surpresa.
O celular dele toca em cima da cama, e na tela aparece a foto
dele com a sua mãe. Trocamos olhares.
A NOVA VIZINHA

“É a primeira vez que vejo uma


mulher tão linda assim”

Minha mãe está me ligando, e fico indeciso se a atendo ou não.


— Não vou desistir de você, meu filho — repete Victor, com
ternura no olhar, e isso me toca profundamente, estou quase
chorando, é difícil segurar a emoção. — Vou te deixar sozinho...
para... falar com a sua mãe — ele sai do quarto e fecha a porta.
E assim, finalmente deixo algumas lágrimas descerem após
segurá-las por tanto tempo em sua presença. Respiro fundo,
controlando os soluços, a dor na garganta que me sufoca com força.
O smartphone continua chamando, o pego e quase o atendo, mas
alguma coisa me faz optar pelo contrário e a ligação cessa.
Me jogo na cama, respirando fundo, tiro os óculos e enxugo as
lágrimas, não acredito que deixei estas poucas palavras dele
mexerem comigo tanto assim. Que droga! É mentira, só pode ser!
Não gosto do Victor, tenho certeza disso. Mamãe me liga novamente
e mais uma vez olho para o celular que implora para ser atendido,
mas meu dedo não se mexe. Penso em dizer a ela que vou sair
daqui, porém, sei que vai me incentivar a ficar, mas se eu insistir, ela
mandará vovô vir me pegar.
Por que estou em dúvida? Depois de tantas provas que esse
homem que me chama de filho me deu, não devo acreditar em
absolutamente nada que sai da sua boca.
Victor é um mentiroso! Não se importou comigo durante todo
este tempo em que estivemos separados, por que se importaria
agora? Ele quer me enganar, só pode ser isso. Minha avó está certa,
esse homem não dá nenhum valor à família, só quer saber de farra.
É um vagabundo que ostenta a herança do pai! Eu vi o quanto a
minha mãe sofreu nas mãos dele, mas... aquelas palavras, nesse
diálogo rápido e conturbado que tivemos, parecem agora
entranhadas em mim, não consigo esquecê-las
Por que estou tão atordoado? Achei que seria tão fácil encará-lo,
e joguei pelo menos uma pequena parte do que estava entalado na
minha garganta em cima dele, e agora... meu comportamento, meus
sentimentos, não fazem sentido.
Acabo me cansando com tantos pensamentos e adormeço.
Desperto com Victor batendo na porta.
— Apolo... — me chama. — Vem almoçar.
Olho a hora no meu relógio de pulso, já é 13h, dormi cerca de
uma hora. Me sento na cama.
— É... Não, não estou com fome — minto, passando a mão na
barriga, ouvindo-a roncar, estou faminto.
— Vamos cara, sai desse quarto — me pede.
— Já disse que não — falo grosso. — Eu estou bem.
— Saco vazio não para em pé. Olha, não vou sair daqui até
você descer comigo e almoçar — Esse cara gosta de encher o meu
saco e bate mais vezes na porta ao notar o meu silêncio. — Apolo.
— Eu... vou tomar banho e... então desço — respondo,
emburrado, me levantando.
— Tá bom, vou esperar, mas se demorar demais venho te
buscar — avisa, e só então o escuto se afastando.
— Até parece que se importa comigo — penso alto.
Para isso não se tornar pior, após o banho, resolvo descer para
comer e assim voltar depressa para o quarto, pois não cairei nesse
papel de “bom pai” que o Victor agora decide interpretar. Comigo não
vai colar, não mesmo.
Lá embaixo, me deparo com uma mesa repleta de comidas
boas, o cheiro já domina todo o ambiente. Há arroz com cenoura
ralada, feijoada, lasanha, frango assado no forno, salada,
refrigerante, suco, farofa, ou seja, um banquete. Faz um tempo que
não como essas refeições um pouco mais... populares. Na minha
casa e na casa dos meus avôs, o cardápio é mais requintando, e
vendo essa mesa, lembro que Victor sempre gostou desse tipo de
comida, e recordo que eu também adorava, tanto que estou com
água na boca.
— Senta, filho — convida Victor, com um sorriso. Por que está
sorrindo? Ele é ridículo!
Penso em algumas maneiras de não obedecê-lo, mas estou com
muita fome e o cheiro de cada prato está me inebriando, e assim, me
sento, entretanto, do outro lado da mesa, o mais distante possível
dele.
— Pode se servir — diz, fazendo o seu prato, e faço o mesmo,
imitando-o, mas sem deixar transparecer. — Se não gostar de
refrigerante, a Valrene também fez um suco de goiaba que está uma
delícia.
Nesse instante, Valrene aparece com uma jarra de vidro bem
atraente aos meus olhos, repleta do suco citado, que parece estar
bem gelado como gosto. Eles estão tentando me agradar ou me
comprar com comida? Que patético!
— Aqui está, fiz mais uma vez — diz Val, sorridente. — Apolo
você tem sorte, hoje é dia de lasanha, eu não sabia que você vinha,
senão, teria feito mais caprichado.
Observo os dois, mas me mantenho calado, e depois, fico de
cabeça baixa, comendo. Até que não quero ignorar Valrene, ela foi
tão legal comigo mais cedo, porém, não quero demonstrar para o
Victor nenhum tipo de interação, mas sinto que Val fica sem jeito ao
perceber a minha hostilidade. É uma consequência, não posso fazer
nada.
— Vamos comer, Val, é claro que a sua lasanha está ótima como
sempre, o Apolo deve estar achando muito bom — comenta ele,
tentando quebrar o clima chato que causei, e isso me deixa
constrangido, me sinto mal por Valrene, essa “consequência” foi eu
que causei, e com alguém que não tem nada a ver com a história.
— Ah não, eu... já almocei na cozinha...
— Mas você sempre almoça comigo — contesta Victor.
— Mas hoje tem visita seu Victor, foi por isso que já comi, para
deixar os dois à vontade — informa a empregada. — Vou voltar para
cozinha. — e sai, um pouco constrangida, me deixando péssimo por
dentro com isso, mas mantenho a pose. Victor não merece a minha
educação em absolutamente nada.
Troco olhares com ele rapidamente, percebo que está um pouco
desgostoso com esse clima, entretanto, finjo que estou nem aí, baixo
a cabeça e volto a comer. Sinto que os olhos de Victor estão fixos em
mim, e se ele realmente estiver chateado comigo pelo meu
comportamento, acho é pouco, não estou aqui para agradá-lo. Quero
que ele saiba o que é não ter a atenção de alguém.
E dessa forma, terminamos o almoço em total silêncio. Victor
para de tentar conversar comigo quando percebe a minha frieza. No
fim, limpo a boca no guardanapo e subo para o quarto sem trocar
olhares com ele. É um cômodo bonito, paredes brancas e uma em
azul marinho, a minha cor predileta. Há banheiro e um closet que já
sei que nem vou usar, pois logo irei embora. A cama é gigante e bem
aconchegante, com criado-mudo ao lado e de frente para ela, na
parede, uma TV de LED. Tudo é sofisticado, confortável, masculino,
iluminado, com um ar jovial que combina com a minha idade. Sem
contar com a sacada que dá visão para a rua, e todo o ambiente
parece ter sido organizado para a minha chegada. Mas como, se
cheguei de surpresa? Victor me fez o convite de ficar com ele antes
da minha mãe viajar, foi isso, concluo.

Após passar um tempo mexendo no notebook, o fecho,


entediado, e respiro fundo, ainda lembrando das palavras de Victor.
Ouço o som de carro estacionando na rua, será o vovô? Minha mãe
mandou ele vir me buscar! Só pode ser isso, melhor assim!
Vou até a varanda e avisto um Audi luxuoso na frente da casa
ao lado, e perto dele, a mulher mais linda que eu já vi na vida,
mirando o imóvel de óculos escuros. Fico encantado e rapidamente
noto os seus atributos físicos: ela é voluptuosa, de pele alva, cabelo
preto, grande e liso, preso em um rabo de cavalo impecável. Usa
salto-alto e calça jeans, com uma blusa branca de mangas que
molda perfeitamente as suas curvas atraentes, muito atraentes. E de
repente, me pego com água na boca, ela me lembra aquelas artistas
nuas que tenho nas minhas revistas eróticas, o que rapidamente me
faz ter pensamentos sacanas. Meu Deus.
É a primeira vez que vejo uma mulher tão linda assim, ela com
certeza deve malhar, parece uma daquelas dançarinas fitness de um
programa de televisão, mas com a delicadeza das formas femininas.
A bela morena retira os óculos e continua analisando a casa. Outro
carro estaciona atrás do seu e um homem de terno desce, aperta a
mão dela, abre o portão da residência e entra com ela. Então lembro
que quando cheguei mais cedo com o vovô, vi uma plaquinha de
“vende-se” ali. Será que ela comprará o imóvel?
Após a linda mulher sumir de vista, pisco, voltando a realidade
depois de parecer ter viajado em um sonho lindo e quente, e suspiro
encantado. Volto para o note pensando nela, e com os ouvidos
atentos a qualquer barulho que venha do lado de fora. É incrível
como fico inquieto, e não consigo me concentrar em mais nada. Olho
para o meio das pernas, há um volume monstruoso formado dentro
da calça. Nossa!
Meia hora depois, com o sol quase se pondo, os vejo saindo da
casa, e me parece fecharem negócio, pois apertam as mãos com
empolgação, trocando sorrisos. Ele vai embora primeiro, deve ser um
corretor, e ela olha o imóvel pela última vez, aparenta satisfação, e
então, de repente, desvia os olhos para mim, e eu, automaticamente,
baixo a cabeça, ajeitando os óculos, recuando devagar, tentando
parecer normal, voltando para o quarto.
Ao sentar na cama, xingo a mim mesmo:
— Como sou retardado! — gostaria de ser diferente, de ter agido
de forma diferente, e não ter fugido, que foi o que fiz.

Na hora do jantar, desço para a sala, e encontro Victor


terminando de pôr a comida na mesa.
— Ah, finalmente resolveu sair daquele quarto — comenta. —
Achei que iria ficar lá a noite toda, sem jantar.
— Até que pensei em fazer isso — revelo, sendo bem sincero.
— Olha, a Valrene já foi, mas ela sempre deixa o jantar pronto,
está uma delícia. — ele age como se não tivesse ouvido a minha má
resposta anteriormente. Em seguida, senta e passa a se servir,
enquanto fico parado, o observando. — ‘Tá esperando o quê? Senta
e come — manda.
Mesmo emburrado, respiro fundo e faço o que ele diz, mas só
porque estou faminto. Minha mãe costuma dizer que a minha fome é
fora do comum, que como feito um cavalo e não engordo de ruim,
mas ao observar Victor jantando, percebo que temos mais essa
semelhança. O prato dele está tão volumoso que mais um pouco e
poderá ser capaz de tocar o teto, e o meu não é diferente. Fazer o
quê? Eu gosto de comer, e só me sinto realmente satisfeito depois
de ingerir uma boa quantidade de alimentos.
— Então, você... falou para a sua mãe que está aqui comigo? —
ele pergunta, mas fico em silêncio. — Não vai me responder? —
insiste.
— Ainda não... Ainda não falei com ela, a ligação... caiu. —
respondo, e ele me olha desconfiado.
— E quando vai falar? Isso se... a sua avó já não tiver feito.
Me calo mais uma vez.
— Olha Apolo, se quiser, eu falo com a Laura — continuo o
ignorando, enquanto como. — Ah, então você não quer conversar de
novo. — conclui. — Quer fingir que eu não estou aqui ou... que você
não está — ele respira fundo. — Entendo que esteja chateado
comigo, filho, mas... por favor, lembre-se que o que você tem é
comigo e não com os outros. Então, não deixe Valrene constrangida
novamente como fez hoje de manhã, O.K.?
No fundo, sei que ele tem razão e me sinto desconfortável pelo
que fiz com a Val, mas não confessarei isso a ele que, com a
permanência do meu silêncio, parece entender que não quero
conversar, e se cala. Dessa forma, mais uma vez a tensão e o clima
chato entre a gente reina.
Quando termino a refeição, levanto para voltar ao quarto.
— Filho espera! — Victor me chama. — Que pressa é essa de
voltar para o quarto? Você é jovem, sei que não gosta de ficar o dia
inteiro trancado lá — ele dá passos em minha direção, parece uma
montanha de músculos, mas bem distribuídos. — Vamos inventar
alguma coisa para fazer. Hoje tenho trabalho na boate, mas já disse
que não vou, para não te deixar sozinho.
— Não precisa se preocupar comigo, Victor. Pode retornar a sua
rotina, eu já disse que não ficarei aqui por muito tempo. — respondo,
secamente.
— Que tal um filme? — novamente ele finge que não me escuta
e isso está me irritando, reviro os olhos. — Tenho vários ali.
— Vou pro quarto — afirmo, subindo os degraus da escada.
— Por que não me conta o motivo da sua suspensão da escola?
— indaga, me fazendo parar a caminhada. — Quero entender o que
houve, sei que você não é do tipo de cara que briga na esco...
— Para! — exclamo, de saco cheio, dando meia-volta. — Por
que não para logo de uma vez com esse teatro?!
— Que teatro, filho? — a sua voz é calma, e isso me irrita.
— Isso! Isso! — aumento a voz que já está cheia de raiva e
rancor. — Você fica me chamando de filho toda hora, e agora... quer
criar “programas familiares”. Nós não somos uma família! Não mais!
E você sabe disso! Foi a sua escolha, há dois anos, quando destruiu
a nossa família! — descarrego tudo que está entalado na garganta,
com rancor e raiva.
— As coisas não aconteceram da forma como está pensando,
Apolo...
— Foi você quem preferiu estar longe de mim e da mamãe, nos
abandonou e agora não adianta tentar remediar a situação!
— Apolo...
— Porque não vou deixar! — grito, segurando o choro, jamais
chorarei na frente dele. — Eu não vou deixar — rosno.
— Pelo jeito te contaram muitas histórias do que houve no
passado, mas te garanto que não sou esse monstro todo que está
imaginando — ele se defende, e fico estarrecido com a sua
hipocrisia. — A única coisa que fiz de errado foi me afastar de ti e
nada mais. Por isso, te peço para que não aja como a sua mãe agiu
naquela época...
— Não fala da minha mãe...
— Ela não quis me ouvir e continua assim até hoje, e você
também não quer...
— E não quero mesmo, ‘tá bom! Não preciso ouvir nada porque
vivi tudo, vi o que o fez e o sofrimento que nos causou. Por isso, é
melhor parar.
— Então, para você tudo que estou fazendo é fingimento? Tu
quer que eu desista de tentar me aproximar? Tem certeza que é o
que quer?
— Eu já estava acostumado e você também, e agora só porque
o meu avô te intimou a ficar comigo, decidiu mudar repentinamente.
Não me venha com essa, Victor! — enxugo rapidamente uma lágrima
que desce.
— Seu avô não intimou porra nenhuma. Se eu não quisesse
ficar contigo você não estaria aqui neste exato momento — rebato.
Não quero mais escutá-lo, e então subo pro quarto depressa e
me tranco, ofegante, magoado.
— Merda... — resmungo, deixando as lágrimas virem livres.

Esse dia está sendo o mais terrível da minha vida. Caralho! O


dia perfeito que tanto sonhei em ter com o meu filho durante o nosso
afastamento, foi totalmente pelo ralo e parece que nunca irá existir.
Sinto tanto rancor e ódio vindo dele, uma vontade de me atingir e de
me ferir com a própria ferida.
— Meu filho me odeia — concluo, envolto em todos estes
pensamentos enquanto estou deitado na cama. Passo as mãos no
rosto, não acreditando em minhas próprias palavras.
Neste tempo em que estivemos afastados, nas poucas vezes
em que o convidei para passar alguns dias comigo, ele sempre
negou, senti o seu desprezo, mas nada se compara a hoje, pois foi
pior que todas as outras vezes, talvez porque ele teve mais tempo de
jogar na minha cara tudo o que estava entalado na sua goela.
Como irei me aproximar dele, meu Deus? Se o primeiro dia está
sendo assim, imagina os demais. Isso se existir mais dias, porque
Apolo quer ir embora, e não me esconde esse fato, faz questão de
jogar na minha cara. Ao mesmo tempo em que fico triste com suas
atitudes, também o entendo e me culpo, sei que dei motivos para
toda essa raiva. Porém, não imaginava que em seu coração cabia
tanto ódio assim. Rivaldo disse que meu filho me ama, e agora me
pergunto, será mesmo?
E para piorar tudo, sei que Apolo não me culpa apenas por meu
afastamento, mas também pelo que acha que fiz à mãe dele, e a
minha ausência após a separação entregou uma culpa que não
possuo. Não consigo entender como o destino pôde ter sido tão mal
comigo e me ter feito perder a minha família, que escapou assim, por
entre os dedos.
Maldita hora em que cheguei a pensar que o afastamento era a
melhor saída, acabei demonstrando que havia desistido dele. Esse
foi o meu único e pior erro. Como pude ter feito isso se eu mais do
que ninguém sei o que é ser criado longe de um pai?
Meu celular vibra no bolso, pego-o e tenho um sobressalto
quando vejo que o número é de fora do país, pois imediatamente
penso em Laura, sei que só pode ser ela. Já faz um bom tempo que
não converso com a minha... quer dizer, com a loira. Meu coração
bate um pouco mais acelerado, uma certa ansiedade me toma, e
descubro que o que sinto por ela ainda é forte.
— Alô? — ouço o silêncio. — Alô?
— Sou eu, Victor — fala Laura, reconheço sua voz doce e
decidida.
— Oi Laura... — não consigo disfarçar a surpresa na voz —
Tudo bem?
— Tudo, e contigo?
— Estou bem também.
— Onde está o meu filho, por que ele não me atende? —
pergunta, curiosa.
— O Apolo está no quarto dele, não te atendeu?
— Não, e foi pela terceira vez agora. Como estão? Está tudo
bem entre os dois?
— Olha, sinceramente, não está fácil, acho que ele... não gosta
de mim — confesso, cabisbaixo. Dói dizer isso.
— Não existe filho que não gosta do pai, Victor, e te garanto que
o Apolo não é diferente. Ele somente está magoado contigo, por tudo
o que aconteceu — ela respira fundo, sua voz também não parece
estar muito diferente da minha.
— Eu sei, nosso filho fez questão de deixar isso bem claro.
— Sabe que nunca fiz a cabeça dele contra ti, né?
— Sim, não se preocupe, não estou te culpando de nada. Tenho
consciência que errei em me afastar dele, e esse foi o meu único
erro, Laura. Não fiz nada além disso — asseguro, jogando uma
indireta, mas logo vejo que é inútil.
Ela arfa, e responde:
— Tenha paciência com o Apolo, tenho certeza que logo irão
conseguir entrar em um consenso. Ele sentiu muito a sua falta.
— E eu a de vocês — me declaro, não consigo resistir.
— Victor, se não conseguir manter a conversa em torno do
nosso filho e apenas dele, terei que desligar — avisa,
educadamente.
— Foi mal. Sim, terei paciência, é o meu dever, a minha
obrigação, preciso do perdão dele.
— Caso... chegue à conclusão de que não vai dar certo, é só
ligar para o papai e...
— Vai dar certo, Laura — afirmo. — Irei lutar por isso. Não
desistirei dessa vez.
— Ótimo — afirma, me fazendo sorrir.
— Você pode me ajudar e me dizer alguma coisa que posso
fazer para agradá-lo? São dois anos sem convivência, muitas coisas
nele devem ter mudado — comento.
— Apesar do tempo, Apolo é seu filho, Victor, e você melhor do
que ninguém saberá agradá-lo, não preciso te dizer nada. Mas,
gostaria vê-lo sorrir, ele precisa voltar a sorrir... — a sua voz falha, e
meu coração aperta. Droga!
— Laura...
— É isso, Victor. Esse é o número que estou usando aqui,
qualquer coisa me liga, me mantenha informada, por favor — pede
ela, sinto que está fugindo de mim.
— O.K. — confirmo.
— Pode... passar o celular para o Apolo? — indaga. É nítido que
ela ainda sente muito com a nossa história.
— Claro — levanto e vou para o quarto ao lado. — Filho, abre,
sua mãe ‘tá no telefone e quer falar contigo.
E como o Flash, Apolo abre a porta rapidamente, bastante
surpreso, e sei que é por deduzir que conversei com Laura, ele sabe
que há muito tempo não nos falamos. Ofereço o celular que ele pega
lentamente e leva ao ouvido.
— Oi mãe — diz, enquanto me afasto, deixando-os à vontade
para conversar. Mas antes, noto novamente o quanto meu filho é
evoluído fisicamente para a sua idade, apesar de magro, é alto, de
costas largas, com os pelos do bigode já surgindo. Mesmo parecido
comigo, seu rosto lembra ao de um anjo, se contrapondo ao meu, já
que as pessoas costumam dizer que tenho cara de mal.
Meu filho está exatamente no ponto de transformação que
acontece na adolescência. Na verdade, acho que ele já passou
dessa fase, pelo visto a sua puberdade veio de forma avassaladora.
Será que já notou o crescimento do pau? Volto para o quarto
sorrindo ao pensar nisso, e lembrando de quando aconteceu comigo.
Sempre fui à frente dos meninos da minha idade, e pela evolução
física do Apolo, já percebo que ele segue o mesmo rumo, mas
precisa de alguns ajustes, algumas melhorias na aparência, é um
pouco descuidado com isso, dá para perceber.
Será que ele tem namorada? Será que já transa? Nossa, estou
muito curioso. São tantos assuntos importantes que tenho vontade
de conversar com meu garoto, mas ainda não possuo intimidade
para isso. Nunca devia ter me afastado dele. Eu sou o pai, todo filho
precisa da presença paterna em casa, do afeto. Talvez nunca
teremos uma conversa de homem para homem, de amigos. Mas não
desistirei até recuperar a sua confiança.

Dois dias se passam, e Apolo continua na defensiva, mas agora


atende a mãe sempre que ela liga, com certeza curiosa para saber
como anda a nossa convivência, mas a resposta deve ser sempre a
mesma: mal.
Valrene está com pena de mim, porque toda tentativa que faço
de aproximação com ele é rapidamente rejeitada ou pior,
simplesmente ignorada. Continuo faltando ao trabalho para que ele
não fique sozinho em casa durante a noite, mas quem acaba se
sentindo solitário sou eu, com ele aqui, sem querer interagir.
No terceiro dia de convivência, arrisco mais uma tentativa de
aproximação. Às 06h:30min, bato na porta do Apolo, chamando-o
para correr pelo condomínio comigo.
— Apolo, vamos correr, lembra que te avisei ontem? — o
chamo.
— Não vou para lugar nenhum, me deixa dormir em paz! —
responde ele, do outro lado da porta, com a voz sonolenta.
Respiro fundo, desapontado, e desço para o térreo. Uso tênis,
calção de corrida e uma regata.
Em pouco tempo, corro pelo condomínio, com o sol gostoso
desse horário me iluminando, os seus raios ainda sem arder na pele,
com uma brisa boa, levemente úmida. Geralmente corro no fim da
tarde, pois habitualmente neste horário estou dormindo ainda. Aceno
para alguns vizinhos que saem para trabalhar, e para outros que
também aproveitam o momento para correr. Acho que sou o único
daqui que trabalho durante a noite e tenho o dia livre.
Na segunda volta que dou na rua, percebo alguém atrás de mim,
que acaba me acompanhando, Sabrina. É impossível não perceber
seu shortinho legguing, curto, e tão apertado que juro ter visto a sua
boceta marcada, além da sua blusinha minúscula que deixa a
barriguinha linda de fora e os seios com um decote. Se a intenção
era correr nua, ela conseguiu. Para que tudo isso?
— Oi — me cumprimenta, com sua doce voz.
— Oi Sabrina — digo, sem olhá-la, seguindo meu ritmo, me
incomodando um pouco com a presença dela, porque já sei que
mesmo nessa idade, possui segundas intenções comigo. — Você por
aqui? Tô surpreso — comento.
— Sempre corro esse horário, você que não — rebate, e tenho
que admitir que é verdade.
— Ah é verdade, costumo correr à tardezinha, antes de ir
trabalhar. Geralmente esse horário estou dormindo porque...
— Passa a noite trabalhando na boate, sei disso, Victor.
— Muito observadora, né — sou irônico.
— Costumo observar o que me interessa — não consigo evitar o
sorriso com essa piada, mas ela finge não se importar, e continua
correndo ao meu lado.
— Quem é aquele garoto que há alguns dias vejo na janela da
sua casa? — curiosa.
— Meu filho — respondo, e sem querer noto os seios de Sabrina
sacudindo por debaixo da blusa. Não acredito que ela está sem
sutiã, dá para ver o desenho dos bicos no tecido. Essa Sabrina!
— Seu filho? — indaga, surpresa. — Nossa, estou perplexa com
essa notícia. Não sabia que era pai.
— Pois é, a cada dia, uma descoberta — sou objetivo nas
respostas, para não lhe dar espaço.
— Mas você ainda tem alguma coisa com a mãe dele?
— Não. Mas por que a pergunta, ficou interessada nele? — jogo
uma verde, esticando um sorrisinho do mal, sabendo que estou
desviando o foco de mim, coisa que ela não quer.
— Não! — afirma, com veemência. — Gosto de caras mais
velhos.
Olho nos olhos dela, e balanço a cabeça, sorrindo, não com
deboche, mas achando graça em suas palavras. Essa menina não
tem noção do perigo.
— O que foi? — pergunta, então corro mais rápido, a deixando
para trás, mas ela consegue me acompanhar. — ‘Tá pensando que
não tenho o seu pique, é? Tenho muito mais do que você imagina,
Victor. Duvido se me alcança — ela cochicha em meu ouvido e em
seguida dispara na minha frente, me desafiando. Reviro os olhos e
sigo no meu ritmo, deixando que ela se afaste cada vez mais.
— Vá com Deus, minha filha — penso alto. — Crianças —
comento, rindo sozinho, e dobro em uma esquina, alterando a minha
rota, para não me encontrar mais com ela.
Após alguns minutos, paro próximo a um campo de futebol de
areia, afastado das casas e completamente vazio neste horário, e me
sento em um dos bancos, para descansar um pouco. Estou suado,
sinto minhas pernas latejarem da corrida, e ofego. Então, avisto
Sabrina se aproximando, e reviro os olhos mais uma vez. Ela para na
minha frente, ofegante, suada também, e seus seios chegam a ficar
marcados na blusa por causa do suor. Jesus.
— Por que sumiu? — pergunta, sentando ao meu lado, e pareço
um gigante perto do seu corpo feminino delicado, apesar dela ser
madura fisicamente para a sua idade.
Respiro fundo, olhando para o céu e depois me volto para ela.
— O que quer, Sabrina? — vou direto ao ponto.
— Por quê? Não posso querer ficar perto? — rebate, com um
sorriso provocante.
— Não, os vizinhos podem pensar besteira.
— Até parece que se importa com o que os vizinhos falam. Você
é o cara mais diferente daqui, mais ousado, com mais atitude e
atraente...
— Sabrina, com toda a educação, meninas da sua idade não
fazem o meu tipo — informo.
— Meninas da minha idade? Mas vocês, homens experientes,
adoram as novinhas, não é isso? Por que tu é diferente? —
pergunta, rapidamente encabulada.
— Oras, você acabou de dizer que eu sou assim e é verdade. E
sim, geralmente os homens mais velhos se atraem por meninas, isso
já aconteceu comigo até. Mas hoje sou um homem diferente, e tudo
mudou.
— Me acha feia? — ela não entende nada mesmo, e sorrio
novamente.
— Você é linda e muito atraente, mas não possui chances
comigo, pois é uma menina — esclareço — Por favor, me entenda.
— Nossa, agora me deixou totalmente confusa, sempre percebi
a maneira como me olhava.
— Sabrina, quem não olha para você? Olhar não arranca
pedaço — informo, bagunçando o cabelo dela, a tratando como uma
criança, e ela bate na minha mão, com raiva.
— Você só pode ser gay, Victor! — me acusa, se levantando,
revoltada.
— Ah... pois é, não queria falar, mas... — afemino a voz e faço
gestos delicados, vendo uma expressão de confusão e susto
aparecer no semblante da garota.
— Quê? — ela indaga, boquiaberta, me fazendo cair na
gargalhada, me divertindo. Ao perceber que tudo não passou de um
trote, ela começa a me bater. Levanto os antebraços, em defesa,
vendo-a puta da vida.
— Seu idiota! — exclama, mas antes que se vá, a seguro pelo
pulso.
— Ei, não quero que fique chateada comigo. Desculpa — peço
— Vai a merda, Victor! — retruca, mas ainda não permito que se
vá.
— Tenho uma proposta: que tal ir lá em casa e conhecer o meu
filho? Ele tem a sua idade.
— Olha aqui! — ela me mostra o dedo e se afasta soltando fogo
pelas narinas, me deixando cair em mais gargalhadas. Que louca.

Ao me aproximar de casa, avisto um caminhão na porta da


residência ao lado, cheio de móveis. Uma dona bem bonita e
gostosa vistoria os entregadores levarem tudo para dentro do imóvel.
Que delícia!
Para a minha surpresa, vejo Apolo na sacada do seu quarto,
observando a gostosa, ele simplesmente não tira os olhos dela. Fico
parado por cerca de um minuto para me certificar disso e constato
que é verdade, mas também, com uma bunda dessas, até eu fico
balançado. Ele não nota a minha presença de tanto que a sua
atenção está voltada para a mulher. Interessante.
Tenho uma ideia malévola que pode me beneficiar bastante.
— Bom dia — a cumprimento, me aproximando e oferecendo a
mão, que ela aperta. Essa dona tem um perfume estonteante e
assim, mais de perto, percebo o quanto é atraente.
— Bom dia, tudo bem? — diz ela, e ao olhar de rabo de olho
para o meu filho, vejo que ele se esconde atrás da cortina, porém,
continua nos observando.
— Comprou? — pergunto, mirando o imóvel, curioso.
— Sim, e hoje mesmo já quero dormir aqui — informa, com um
sorriso de tirar o fôlego.
— Ah, pois seja bem-vinda. Moro aqui do lado, me chamo Victor,
Victor Lobo.
— Érica Aragão — ela se apresenta.
— Nossa, são muitos móveis — comento, olhando para o
caminhão. — Acho que só esses dois caras aí não darão conta. Quer
uma ajudinha?
— Ah, não precisa — que linda, é educada.
— Uma ajuda nunca é demais, hein — insisto.
— Já que é assim, por mim tudo bem.
Ótimo, gata. É o que quero.
— Apolo! — grito, olhando para a varanda. — Apolo! Filho!
Ele aparece todo sem jeito.
— Vem cá ajudar a nossa nova vizinha na mudança, por favor.
— peço. — Vem, rapaz!
Ele fica de olhos esbugalhados e aparenta não acreditar no que
estou fazendo. Volto-me para Érica que possui um semblante
confuso, acho que ela deve ter pensado que eu seria a tal ajuda.
Logo meu filho aparece, porém, nitidamente sem jeito, de cabeça
baixa, envergonhado.
— Esse aqui é o meu garoto, gosta muito de ajudar, se chama
Apolo — o apresento como se fôssemos pai e filho muito felizes. —
E esta é a Érica, filho.
— Ah sim, prazer em conhecê-lo, Apolo — diz Érica, e eles
trocam um aperto de mão, meu filho é maior que ela.
— Prazer. — responde ele, bem tímido, travado, quase não
conseguimos escutá-lo. Meu Deus, preciso ensinar esse garoto a
falar com as mulheres.
— Então, ajude a moça a colocar os móveis dentro da casa, vai
lá — digo, dando tapinhas em seu ombro e ele vai em direção ao
caminhão.
— Bom, eu já vou indo — digo à nova vizinha.
— ‘Tá bom, obrigada. — ela agradece, parece muito gentil, uma
morena bem gostosa.
— De nada.
Me afasto, mas antes recebo um olhar de fúria do meu filho. O
respondo com um sorriso travesso e uma piscada de olho. Vou para
casa deixando Apolo em boas mãos femininas, acredito eu. Talvez
assim nós possamos começar uma amizade.
O RECOMEÇO

“Por que traiu a minha mãe?”

Caí numa cilada em que Victor me meteu, e o pior é que ainda


não entendi o porquê dele ter feito isso. De repente, me chama do
nada e me joga para perto de Érica. Érica... então esse é o seu
nome.
— Você pode começar por essas cadeiras da mesa da cozinha,
Apolo — diz ela. Olho-a diretamente dessa vez e me deparo com sua
maravilhosa perfeição. A mulher é uma gata! Seu cabelo é de um liso
incomum e muito negro, o que contrasta com a sua pele alva. Seus
olhos são de um castanho-chocolate, as sobrancelhas muito bem-
feitas, o nariz empinadinho, com algumas poucas sardinhas
charmosas. Os lábios são carnudos e rosados, uma verdadeira
tentação, deve ter uns trinta anos ou menos. Que gostosa, penso —
São mais leves. — completa.
Como essa mulher pode ser tão bonita assim? Engulo em seco,
aperto as mãos de forma espontânea, pensando em como seria
tocá-la.
— O que foi? — pergunta, me fazendo acordar de seu encanto,
piscando.
— Ah... sim, as cadeiras, tudo bem — digo, meio desnorteado,
me voltando para o caminhão cheio de móveis que está com as
portas traseiras abertas.
Passo a trabalhar com os dois entregadores enquanto Érica
supervisiona o que fazemos e diz onde cada coisa deve ficar. Às
vezes ela fala no celular, mas, mesmo assim, ainda nos observa.
Será que é casada? Deve ser, uma mulher tão esbelta assim não
pode estar sozinha.
A casa dela não diverge muito das outras do condomínio em
questão de divisões dos cômodos, a estrutura é similar, pois é de um
andar, ampla, arejada, iluminada, de paredes brancas, com sala de
estar, de jantar, de vídeo, cozinha com banheiro para empregado, e
um gramado em volta de toda a residência. Não tem academia e a
piscina nos fundos é um pouco menor que a do Victor.
Érica parece feliz com o novo lar, dá para notar pelos sorrisos
em seu rosto. Coincidentemente seus móveis combinam bastante
com o espaço. Na minha humilde opinião, acho que ela não
precisará mudar muita coisa. E aos poucos, tudo fica no lugar onde
designa.
Com o passar dos minutos, vou me distraindo com o serviço,
mas, sempre que consigo, admiro a sua beleza, tomando cuidado
para ela não pensar que estou secando-a, como realmente estou.
Por outro lado, opto por carregar os móveis mais leves e mesmo
assim já estou me cansando. Chego no caminhão e avisto umas
caixas de papelão.
— Chegou a vez de vocês — digo, olhando para elas, e passo a
mão na testa que soa.
Chego na sala e vejo Érica observando os homens prenderem a
TV na parede.
— Para onde eu levo essa caixa?
— Essa? Ah... — ela pensa por alguns segundos — Leva lá
para cima, para o quarto da direita — diz, se aproximando, e
comparo os nossos tamanhos, sou mais alto que ela.
Assim, sigo o seu comando e subo a escada, encontrando três
quartos no piso superior, assim como na casa do Victor, com dois do
lado esquerdo, de frente para a rua, e um do lado direito. Ouço o
som dos saltos de Érica se aproximando ao mesmo tempo em que
tento abrir a porta do quarto designado, entretanto, me desequilibro e
a caixa escorrega das minhas mãos, jogando fora tudo o que
guardava.
Cresço os olhos diante do que vejo, e por um instante, fico
paralisado, boquiaberto. O chão está repleto de calcinhas
minúsculas, tipo fio-dental, lingeries megasensuais, espartilhos da
Louis Vuitton e outras peças de marcas caras. Me surpreendo com
uma máscara preta que lembra aqueles bailes de gala
contemporâneos.
A minha nova vizinha aparece e se assusta com a situação.
— Nossa, deixa que eu apanho — diz ela, abaixando-se e
colocando tudo dentro da caixa novamente.
— Foi mal, eu me desequilibrei ao abrir a porta. Deixa que te
ajudo...
— Não precisa — ela me corta, áspera.
— Ah, então... vou pegar as outras coisas.
— Também não precisa, Apolo — afirma. Está me mandando ir
embora? — Obrigada pela ajuda, deixa que me viro agora — e força
um sorriso para mim. Fico constrangido e surpreso com a forma
como ela está me descartando pelo acontecido. É só porque fiz essa
bagunça?
— Tudo bem, então... Eu já vou — me despeço, e saio.
Desço a escada devagar, absorvendo o que aconteceu. Que
merda ela ter chegado bem na hora em que derrubei essa caixa, e
que caixa! Eu sabia que acabaria fazendo alguma besteira, sempre
faço. Não entendi o porquê de Victor ter me empurrado para cá, mas
descobrirei agora mesmo.
Entro em casa, passo pela sala e caminho para as portas duplas
que dão acesso à área externa. Avisto ele na academia, que fica
depois da piscina, ao lado da garagem que contém três carros de
luxo. Victor não percebe a minha chegada, pois está focado no
levantamento da barra repleta de pesos, e ainda usa fones de
ouvido. Me pergunto como consegue erguer tanto peso. É
assustador.
Ele malha sem camisa e confirmo o que pensei quando o vi pela
primeira vez, que está maior fisicamente comparado ao que era
quando morávamos juntos, está mais forte. Seu braço dá uns três do
meu, e seus músculos são proporcionais, parecem naturais, ele não
é como aqueles bombados cheios em cima e finos embaixo. Seu
corte de cabelo é bem feito, moderno, sempre em nível baixo, estilo
degradê nas laterais que combina com a barba cerrada e bem-feita,
o que o deixa com uma cara de macho alpha — era o que a minha
mãe sempre dizia. Em outras épocas, eu queria ser exatamente
como ele, mas hoje, prefiro ser o oposto e odeio quando alguém
comenta que somos parecidos.
— Oi filho — me cumprimenta, se livrando da barra de ferro, e
sentando-se no aparelho — E aí, como foi lá?
— Por que fez isso? — pergunto.
— Isso... o quê?
— Por que me chamou para ir ajudar, assim, do nada? Você fez
de propósito — acuso.
— Ora, apenas achei que gostaria de ajudar a nova vizinha, só
quis fazer uma gentileza.
— Ah, não vem com essa! — retruco. Fico em silêncio por
alguns segundos, raciocinando, e mato a charada — Já sei, quis
agradar a Érica, né? Fez isso para paquerá-la, claro, por que não
pensei nisso antes? — concluo.
— Se eu quisesse paquerar a vizinha, Apolo, teria me oferecido
para ajudá-la. — diz, e percebo que isso realmente é lógico.
— Então... por que eu? — quero entender.
— Não sei, achei que seria interessante para você, vi como
olhava para ela lá da varanda — caralho, ele me pegou! Fico
surpreso.
— Está pensando que eu por acaso tô... a fim da Érica? —
pergunto, sem jeito, e engulo em seco, temendo a resposta.
— E está? — rebate, me deixando meio constrangido.
— Eu? Claro que não, ela... deve ter idade para ser a minha
mãe — minto.
— E por isso você deixaria de ficar com ela se tivesse a
oportunidade? — não sei o que responder. Aonde Victor quer
chegar? Por que está me colocando contra a parede?
— Eu...? Olha, isso não é da sua conta!
Ele cai na gargalhada, qual a graça? Fico envergonhado, que
brincadeira idiota!
— Está rindo de quê? Seu... abestado! — o xingo, o tirando da
risada.
— Êpa, respeite seu pai! — retruca, sério, e reviro os olhos, o
ignorando. — Só estou sorrindo da forma como leva isso tão a sério,
Apolo. Filho, relaxa, não foi nada demais, você ajudou a moça e ficou
tudo bem.
— Não, não ficou tudo bem. Tu me fez passar uma vergonha, foi
isso o que aconteceu! — digo, dando as costas a ele.
— Ei, ei, calma aí! — me chama, pondo a mão no meu ombro,
me parando — Como assim passar vergonha, o que aconteceu lá?
— Nada, não é da sua conta.
— Apolo, para de me tratar assim! — a sua voz engrossa, me
assustando, e ao perceber isso, Victor respira fundo, fechando os
olhos por um instante. — Eu só estou querendo te ouvir, meu filho. —
diz, de forma carinhosa. — Nós podemos recuperar o tempo perdido
e conversar sobre esses assuntos de homem, quero que se abra
comigo assim como me abro contigo.
Penso por alguns segundos, de alguma forma, essa proposta
dele parece tentadora aos meus olhos.
— Mas você nunca se abriu comigo — lembro.
— Ainda não tive essa oportunidade. Todas as vezes que tento
me aproximar sou jogado para trás, cara.
— Como se eu não tivesse motivos — comento, desviando o
olhar.
Victor respira fundo mais uma vez, e fala:
— Te chamei para ajudar a vizinha porque vi o jeito que olhava
para ela da janela. Percebi naquele instante que está sim afim
daquele mulherão, porque conheço aquele olhar, é de um macho
interessado em uma fêmea. E te digo uma coisa meu filho: — ele
põe as mãos nos meus ombros — eu já me relacionei com muitas
mulheres mais velhas na juventude, e se quiser, você também pode
fazer isso.
Como assim? O que ele realmente quer dizer? Parece ter lido os
meus pensamentos, mas... é óbvio que não tenho chances com a
Érica. Victor quer continuar sorrindo da minha cara!
— Olha, já chega, já deu. Não preciso de nenhum conselho seu
ou ajuda em relação a esse assunto, tá bom. Eu tô de boa — afirmo,
sem ter certeza do que falo, mas não demonstro isso. Saio da
academia e volto para casa. No caminho, vejo Valrene, ela deve ter
acabado de chegar, agora que o relógio marca 8h:30min.
— O café da manhã ‘tá quase pronto, Apolo — me informa.
— Tudo bem, só vou tomar banho — respondo educadamente,
não quero mais ser grosso com ela. Subo, e finalmente me tranco no
quarto, me jogando na cama.
O que Victor está pensando? Será mesmo que apenas o meu
olhar entrega a minha atração pela Érica? Confesso que estou de
fato encantado com ela, mas é claro que nada nunca irá acontecer, é
só olhar para nós dois, isso não tem a menor chance. Victor deve
estar achando que só porque sou seu filho devo ser pervertido feito
ele, que diz que na minha idade pegava todas. O que ele pretende
se gabando para mim?
Fui tratado como se estivesse duvidando da minha capacidade
com as mulheres, mas eu não duvido, quer dizer, duvido um pouco, e
agora estou mais retraído depois do meu quase primeiro beijo que foi
uma catástrofe.
Quanto a Érica, é óbvio que não tenho a menor possibilidade.
Sou feio, ela maravilhosa. Sou um adolescente, ela uma adulta. Além
disso somos vizinhos, mas ela é tão gostosa. Lembro de um
quadrinho erótico que conta a história de um cara da minha idade
comendo a vizinha incrível. Deve ser um sonho mesmo, um sonho
delicioso.
E aquelas peças íntimas? Eu sei que mulheres têm muitas
calcinhas, as da minha mãe quase são infinitas, mas as da Érica são
todas sensuais e minúsculas. Como ela ficaria usando uma delas?
Como deve ser essa mulher apenas de calcinha com um corpo tão
voluptuoso como o seu? Engulo em seco, e me deparo com água na
boca só de imaginá-la seminua ou totalmente nua, como veio ao
mundo.
Vejo o imenso volume marcado na calça, estou bastante
excitado e sinto o meu pênis latejar lá dentro. Retiro os óculos e o
deixo sobre o criado-mudo. Baixo a calça junto com a cueca e o meu
membro surge, cabeludo, saindo da roupa com força e vigor, negro
chocolate, grosso, da glande redonda e pontuda, vermelha, larga.
Tenho testículos imensos, avantajados. Seguro-o com a mão direita
e ainda sobra espaço para a esquerda, e olha que as minhas mãos
são grandes, porém, o meu membro também é.
Não sou tão inocente assim, tenho a noção de que sou bem-
dotado, e isso de certa forma satisfaz o meu ego. Pelo que leio na
internet, mulheres gostam de bem-dotados, mas nunca estive nu
diante de uma para comprovar isso.
Movo a mão pelo corpo do meu pênis que é repleto de veias
bem aparentes e grossas. Quando ele está tão sólido assim, elas
ficam ainda mais visíveis, deixando-o mais grosso até, e mais
intimidador, na minha opinião. Fecho os olhos, escorregando a mão
por ele, para baixo agora, até a base, e com essas sensações de
tesão, mordo o lábio inferior, gostando de me apertar.
A imagem de Érica vem à minha mente, imagino-a só de
calcinha fio-dental e passo a me masturbar com essa visão, sentindo
meu membro esquentar a cada vez que a minha mão vai e vem nele,
para cima e para baixo, com força, apertando gostoso, tentando
visualizar essa mulher completamente nua, gostosa, perfumada,
sexy. E os seios? Devem ser lindos, parecem enormes, quero-os
para mim!
Continuo com a masturbação, fazendo uma pressão gostosa,
meu corpo arde, queima em libido, retraio os dedões dos pés,
sentindo a força vir, poderosa, avassaladora, incontrolável,
fulminante, imparável. E tudo parece se reunir em algo único e
prazeroso e subir pelo corpo do meu pênis até explodir para fora em
jatos implacáveis, para o alto, de maneira a estremecer todo o corpo.
E no fim, o que me resta é ofegar e ver cada jato de sêmen cair
sobre o meu abdômen, alguns chegam ao meu peitoral e outros
voam tão alto que caem ao meu lado, na colcha da cama — é uma
sujeira prazerosa e inigualável. Meu coração acelerado parece
procurar espaço para bater dentro do peito, pois neste momento
sinto como se ele inchasse, crescesse, enquanto meu membro ainda
fica duro por um bom tempo. E só depois de um banho, é que
consigo esfriar o corpo.
Gosto de me masturbar, quando gozei a primeira vez com a
minha própria mão foi surreal, e agora estou viciado, meu corpo
ultimamente anda muito sensível, qualquer coisa relacionado a
mulheres me deixa duro. Porém, por um lado, sinto algo dentro de
mim que pede mais, só masturbação não está sendo o suficiente.
A cada vez que me masturbo, sinto vontade de repetir, mas não
fico saciado, não é mais como no início, e isso está me tirando do
sério. Tento não pensar em sexo toda hora, mas é quase impossível,
às vezes até me acho um pervertido como o Victor, mas não, não
sou como ele, não possuo nada dele! Será que estou na seca? Só
tenho dezesseis anos, isso é normal?
Nunca me abri sobre esses assuntos com ninguém e sou
bastante curioso, sempre fui. Desde os quinze passei a pesquisar
sobre pornografia na internet, sobre coisas relacionadas ao corpo
masculino, para entender o que acontecia comigo, e sobre coisas
relacionadas ao corpo feminino para entender como são as
mulheres, mas nunca consegui sanar todas as minhas dúvidas, e
tenho muitas, entretanto não tenho com quem falar sobre isso, e
mesmo que tivesse, acho que não conseguiria me abrir.
Exatamente por isso que a proposta do Victor de conversar
sobre assuntos masculinos pareceu tão tentadora, só não confio nele
o bastante para isso.
Essa ereção pensando na Érica me lembrou as ereções que já
tive pensando em Isabela. Não sei como farei para voltar à escola e
ver a cara de todos eles. Odeio todos agora. Maldita a hora em que
achei que tinha chances com essa menina tosca. Não quero nem
mesmo lembrar mais disso. Tenho vontade de dar o troco, mas não
sei como.

Desço para tomar café depois de extravasar meus pensamentos


sujos brincando com a minha mão. Estou faminto, sempre fico
faminto após me tocar, e Victor já está lá abocanhando tudo, ele
come muito, de forma educada, é claro, porém, tem um fiapo de pão
na barba, o que o deixa engraçado, mas me controlo para não rir. Na
mesa há sanduíches, bolo de milho, cuscuz, beiju, café com leite e
suco de abacate, que também gosto muito.
— Gostou do suco? — pergunta Valrene. — Quer mais?
— Quero sim, Val — respondo, e nesse momento, Victor estica
um sorriso, bem deve ser porque me vê tratar bem a empregada,
que foi a cozinha encher a jarra de vidro com mais suco e trouxe de
volta.
— Seu Victor, minha mãe adorou o presente de aniversário que
o senhor mandou para ela, viu — comenta Valrene.
— Ah que bom, diga que estou morrendo de saudades e que
qualquer dia desses irei visitá-la. — responde ele.
— ‘Tá bom, deixa eu ir cuidar agora — ela some de vista.
— A Valrene é filha de uma grande amiga que já trabalhou aqui,
não sei se você ainda lembra dela, da Valéria, lembra? — pergunta
Victor.
— Acho que lembro um pouco — respondo, recordando da
antiga empregada.
Quando termino de comer e me preparo para voltar para o
quarto, Victor fala:
— Eu liguei para sua escola — informa.
— Para quê? — pergunto, surpreso. — Nunca soube de você
fazendo isso — comento.
— Queria tomar mais informações sobre o motivo da tal briga,
você está aqui há três dias e ainda não me contou nada sobre o
ocorrido e seu avô também não teve tempo de me explicar direito.
— Por que fez isso?
— Eu já disse, fui atrás de explicações sobre essa sua
suspensão de uma semana, e falei com o seu diretor, e pelo que
entendi, foi por causa de uma menina que é namorada do cara com
quem você brigou.
— Eu só me defendi! — rebato, já ficando chateado de tocar
nesse assunto. — E o que queria ligando para a escola? Nunca se
importou comigo, por que se importaria agora?
— Você é o meu filho, Apolo...
— Quero esquecer tudo o que aconteceu naquele maldito
colégio, mas tu fica fazendo questionamentos toda hora! Já disse
para parar de tentar ser o pai que nunca tive...
— Você é o meu filho Apolo...
— E pode voltar para o seu trabalho, não precisa ficar aqui toda
noite para me fazer companhia...
— Você é o meu filho! — Ele aumenta o tom de voz, sobrepondo
a minha, enquanto estou com raiva. — Quer queira, quer não, sou o
seu pai e sei que fui ausente durante algum tempo, mas agora não
continuarei sendo, mesmo que não aceite.
Bato a mão na mesa, com força, e, sem querer, acerto o meu
prato que voa e se espatifa no chão, me assustando. Estou com
raiva de Victor por tudo que fez a mim e a minha mãe, com raiva do
que me fizeram na escola, de tudo! COM ÓDIO DO MUNDO!
Dou as costas a ele e começo a subir a escada.
— Para! — ordena, com a voz ainda mais grossa do que já é,
me fazendo parar. Por algum motivo imbecil, lá no fundo, sinto que
lhe devo obediência, mas não quero! — Volta Apolo!
— Me deixa em paz! — retruco, me virando para ele.
— Limpe essa bagunça que você fez — manda, parado ao pé
da escada.
— O quê? — pergunto, indignado. — Não vou limpar merda
nenhuma.
— Olha a forma que fala comigo, já te falei — sua voz soa em
um tom ameaçador.
— Pode deixar seu Victor, eu limpo, não foi nada, é só um prato
quebrado... — diz Valrene, aparecendo do nada, se aproximando,
preocupada, toda sem jeito, tentando acalmar a situação.
— Não Val, quem vai limpar é o Apolo, foi ele que fez isso —
Victor é firme e exigente. Ele pensa que me põe medo?
— Quero ver me obrigar — o desafio, de braços cruzados.
— Não seja infantil, desce e limpa isso agora — ele me fuzila
com os olhos, altamente irritado. — Eu disse agora! — exclama, me
fazendo piscar, mas não vou ceder.
— Você não manda em mim, nunca foi meu pai e não é agora...
— não consigo concluir, ele me segura fortemente pelo braço,
tentando me puxar para descer, mas luto e consigo me desvencilhar
dele e subir mais alguns degraus. Mas sou segurado de novo e mais
forte, o que me deixa puto! Me fazendo chorar de ódio!
— Vai limpar isso e é agora — afirma Victor.
— Me solta! — grito, tentando me livrar de sua mão gigante a
todo custo, medindo forças, relutando, mas sei que não conseguirei
resistir por muito tempo, ele é muito forte.
— Para Apolo! — ordena, mas não o escuto.
— Eu te odeio, me solta! Eu te odeio! — grito, cheio de ódio, de
raiva e de mágoa, chorando lágrimas de sangue. Puxo meu braço
com toda a força que posso e acabo fazendo Victor se desequilibrar
e cair. Ele rola pelos degraus até o piso, me deixando em choque!
— Seu Victor! Meu Deus! — grita Valrene, correndo até ele, o
socorrendo.
Fico paralisado, muito assustado — não queria ter feito isso!
Victor faz uma careta de dor e vou até ele, preocupado.
— Victor, desculpa, eu... não queria ter feito isso... não queria
mesmo! — gaguejo, nervoso, de coração acelerado, e vejo sua
canela sangrar, o que me deixa amedrontado! Puta merda! O que eu
fiz?
— Relaxa... não foi... ai caralho... não foi nada. — responde ele,
olhando para a perna com uma expressão de dor no rosto.
Kenai aparece, correndo e latindo para ver o que houve com o
seu dono e passa a rodeá-lo e a cheirá-lo, preocupado.
— Vou buscar a caixinha de primeiros socorros e fazer um
curativo nisso neste instante! — diz Valrene e sai correndo em
direção a cozinha, enquanto a ferida de Victor sangra cada vez mais,
o corte parece profundo, e me sinto o maior otário do mundo! A culpa
me consome!
— Olha, foi mal mesmo, eu me descontrolei... eu... — tento me
justificar, mas acabo me embananando nas palavras.
— Tudo bem, tudo bem... sai Kenai, agora não — diz ele, se
levantando, ainda fazendo careta de dor, e indo em direção ao sofá,
dando pulinhos, devagar, evitando fazer esforço na perna ferida,
Kenai o segue.
— Quer ajuda? — indago, realmente preocupado, vendo o
sangue pelo chão.
— Não, não. Estou bem, foi só um corte — diz, sentando
devagar no sofá.
— Juro que...
— Já disse que estou bem, Apolo — Ele me corta, e fico sem
saber onde enfiar a cara.
Me afasto quando Val retorna com o que foi buscar e passa a
tratar do machucado dele. O clima fica bem pesado, e então subo
para o quarto pensando que não havia como essa manhã começar
de forma mais terrível. Primeiro com a Érica, e agora com o Victor.
Meia hora depois, ouço Valrene ajudá-lo a entrar em seu quarto,
os espio por minha porta entreaberta. Após alguns minutos, Valrene
vem até mim, estou deitado mexendo no celular, ela senta ao meu
lado na cama.
— Apolo, sei que não temos intimidade ainda — diz —, mas eu
me sinto na obrigação de lhe dar um conselho: não faça mais isso
com o seu pai.
— Val foi sem querer, você não viu? Não tive a intenção de
derrubar ele da escada, nunca! — me defendo o mais rápido
possível. Deus me livre de ser acusado de ter feito isso
intencionalmente.
— Não estou falando disso, eu sei que foi um acidente.
— Então é o quê?
— Você falou que o odeia. Olha, na minha família nunca alguém
disse isso, nem de brincadeira, é pecado, meu filho, não faça mais
isso, não. A gente tem que respeitar os pais da gente...
— Mas eu respeito ele.
— Respeita, não, isso que fez não foi respeito.
— Val, desculpa, mas, você não sabe o que ele fez comigo, o
que fez com a minha mãe. O ferimento que Victor nos causou foi
muito maior do que esse gerado pelo acidente, pelo qual estou me
culpando agora.
— Sei que tem raiva pelo que acha que ele fez, mas também
está errado em não ouvir o lado dele. Nesses dias que está aqui,
ainda não te vi parando para perguntar o que foi que aconteceu no
passado, a versão do seu pai.
— Não tem por que perguntar, ele vai mentir, ele sempre mente!
— Deixa eu te contar uma história: meu pai morreu quando eu
ainda tinha a sua idade e perdi uma vida inteira com ele. Deus sabe
o quanto eu queria tê-lo ali comigo, em todos os momentos em que
mais precisei, mas não deu porque chegou a sua hora. Já parou para
pensar em quantos adolescentes da sua idade neste mundo não têm
a oportunidade que está tendo agora de estar com o seu pai? Há
muitos meninos aí que nem sabem de quem são filhos. Por isso,
Apolo, dê uma chance ao patrão. Não saia daqui sem antes ouvi-lo
— ela segura a minha mão. — Senão, pode não ter mais essa
chance.
Ela me beija na testa e sai do quarto, me deixando sozinho em
milhares de pensamentos. Fico lá por um bom tempo e não vou
almoçar, estou sem fome, e noto que dessa vez Victor não vem me
chamar. Sou sondado por uma certa tristeza, e reflito.

Não sei mais o que fazer, quase dois anos de afastamento foi o
bastante para o meu filho me odiar, ele disse isso e me sinto o pior
pai do mundo. Estou acabado por dentro, destruído e literalmente
machucado.
Faço cafuné em Kenai que está comigo na cama, ele é o meu
amigão, pelo menos alguém nesta casa se preocupa de verdade
comigo. Miro o band-aid sobre o corte na minha canela inchada, foi
um pouco profundo, mas nada preocupante.
A tristeza deve estar estampada na minha cara, me sinto
decepcionado comigo mesmo. Que tipo de pai eu sou a ponto de
merecer todo esse ódio do meu filho?
Val traz o meu almoço numa bandeja.
— E então, o corte ainda dói? — pergunta ela, enquanto como.
— O que dói mesmo é a minha decepção como pai — a
respondo.
— Seu Victor, não fala assim.
— Ouviu o que o Apolo falou? Ele me odeia. Nunca imaginei que
a minha decisão de se afastar seria tão prejudicial assim.
— É que o menino deve ter se sentido sozinho, seu Victor, e
além disso, sabemos que aquela avó dele passou todo este tempo
enchendo a sua cabecinha contra o senhor.
— Sei disso, o meu santo nunca bateu com o dela, mas nunca
lhe fiz mal algum, seu ódio por mim é gratuito. Essa velha sempre
me queimou de libertino, cachaceiro, que tive sorte por ter herdado
uma fortuna e etc. Ela nunca me aceitou. Mesmo assim, a culpa foi
minha também, eu não devia ter me distanciado do Apolo, mas na
época, tudo ficou tão fora de controle que achei ser essa a melhor
saída. Laura não queria me ouvir, a velha Leonor nem deixava eu me
aproximar, e quis deixar a poeira passar, mas foi um erro fatal.
— Mas agora o senhor está tendo a oportunidade de ficar perto
do seu filho de novo. Não desista, seu Victor. Tenho fé em Deus que
dará tudo certo — diz Valrene, juntando as mãos, confiante.
— Não sei, Val, a imagem que Apolo possui de mim é a pior
possível.
— Mas o menino se preocupa com o senhor, ou não viu o jeito
que ele ficou quando o senhor tombou lá na escada?
— Era só culpa, Val.
— Era nada. Vai dar certo, vai dar certo. — ela espera eu comer
e beber água, depois pega a bandeja de volta.
— O Apolo almoçou? — pergunto.
— Não, tá trancado no quarto, e acho que é melhor assim, vai
que dá resultado — ela se vai.
— Será que dá, Kenai? — pergunto para ele, que me olha sem
parar, com a língua para fora, balançando rabo.
Penso em tudo o que aconteceu por mais um tempo, e depois
troco algumas ligações com Everton para saber da Alcateia, e com
João, meu grande amigo, para saber dos nossos negócios com as
lojas de autopeças, fiz dele meu braço direito nesse ramo, está
cuidando de tudo para mim.
Acordo sem lembrar quando dormi, tomo banho e desço para
ver como estão as coisas lá fora — a porta do Apolo continua
fechada. Encontro Valrene na cozinha, terminando de lavar as
louças, pergunto sobre meu filho e ela me informa que ele almoçou e
depois voltou para o seu cômodo.
Mais tarde, após Valrene ir embora, fico no meu escritório
analisando alguns documentos da boate. Ao mexer nos livros da
estante, um vai ao chão, o pego e vejo que se trata do Mágico de Oz
e, automaticamente, lembro que comprei esse livro para o meu filho
quando ele tinha apenas doze anos de idade.
— Victor — me chama ele, entrou que nem percebi.
— Oi — digo, em um sobressalto, saindo das minhas
lembranças.
— Te assustei? — Apolo parece bem calmo e educado agora.
— Sim, não te vi chegar.
— Que livro é esse?
— O Mágico de Oz, lembra? — pergunto, jogando o livro para
ele.
— Lembro — responde, esticando um sorriso. — Foi numa peça
da escola, você comprou para eu ler e interpretar um dos
personagens.
— Você fez o leão covarde, a sua mãe comprou a roupa e fez
até o seu bigode de leão, e tu ficou tão bonito. Quando começou a
peça, a professora veio correndo me chamar, desesperada, porque
você estava com medo de entrar no palco e queria falar comigo. E eu
te disse que...
— O leão era covarde, não eu — completa ele, se lembrando, e
tento segurar a emoção. Lhe dou as costas, e discretamente, enxugo
as lágrimas que querem vazar. Eu sou um grande pai sentimental do
caralho.
Ficamos em silêncio por alguns segundos.
— Quero te pedir desculpas de novo — ele diz, e então o olho.
— Esquece filho, já era, já passou.
— Mas... quero deixar claro que... eu não te odeio..., só odeio o
que fez com a nossa família. Porém, agora estou disposto a
conversar ao invés de brigar. Sendo assim, preciso saber, por que
traiu a minha mãe? — pergunta, me olhando nos olhos.
A ARTE DA CONQUISTA

“— Leda, que mundo pequeno esse, não?”

Estou aqui, diante do meu filho, diante dessa pergunta que


sempre esperei ouvir para que eu pudesse contar o meu lado da
história. Mas agora, me vejo pego de surpresa. Após as tentativas
falhas de aproximação que tenho tido com Apolo esses dias, não
esperava que ele me desse tal oportunidade.
Suspiro.
— Sempre quis ter essa conversa contigo — informo. — É...
Então vamos lá. Acho melhor sentarmos, vem.
Ele me acompanha e sentamos no sofá ao lado. Essa é a minha
hora, Apolo precisa acreditar em mim.
— Bem, filho, acontece que não lembro de ter traído a sua mãe
— digo.
— Como assim? — me pergunta, desconfiado.
— Há dois anos, antes de tudo acontecer, eu e sua mãe
vínhamos brigando muito, meu trabalho na boate estava
atrapalhando um pouco as nossas vidas, e dei lugar... — minha voz
falha.
— Deu lugar a quê?
— Comecei a me embebedar em algumas noites, voltava
bêbado para casa, algumas vezes isso aconteceu, e só piorou a
minha relação com a Laura.
— Eu me lembro — diz ele, baixando a cabeça. — Me lembro
das discussões.
— Só que no dia do fato, eu não bebi, mas discuti com a sua
mãe e num momento de raiva, decidi não ficar em casa e fui para um
bar.
— Onde você a traiu — conclui, amargo.
— É aí que ‘tá Apolo, não sei te dizer se realmente fiz isso, mas
acho que não fiz, não pode ser.
— Mas como assim? Como você não sabe disso? Por favor,
Victor, estou te dando essa chance, não faz eu me arrepender, me
diga a verdade.
— Estou te dizendo, rapaz. — continuo. — Quando estava no
bar, uma mulher muito bonita apareceu no momento em que eu
bebia um drink bem leve, não queria me embebedar como nas outras
vezes. Ela, do nada, começou a puxar assunto comigo, me
paquerando, mas não lhe dei bola. Apolo, fiquei com a sua mãe por
anos e nunca a traí, as nossas brigas eram por outros motivos, às
vezes por ciúmes de outras mulheres, mas não passava disso,
porque nos amávamos.
“Em um momento fui ao banheiro, e quando retornei, a mulher
ainda estava lá. Peguei meu copo, voltei a beber, e foi quando tudo
começou a girar, fiquei fraco, e apaguei. A minha lembrança após
isso, é a de acordar em um quarto de motel, totalmente nu e
sozinho.”
— Está querendo me dizer que foi vítima de um...
— Boa noite cinderela, sim. Foi a única conclusão a que pude
chegar depois de tudo.
— Desculpa, mas não tenho como acreditar nisso. Logo você —
diz meu filho, sem crença em minhas palavras, e isso me dói. É
terrível ser julgado por algo que não fez ou seria capaz de fazer.
— Filho, tenho certeza que eu e Laura fomos vítimas de uma
armação para nos separar e que de fato obteve sucesso. Raciocina
comigo: mesmo que eu tivesse traído a sua mãe realmente, por que
mandaria fotos para ela na cama com a outra?
— Aconteceu isso?
— Ela nunca te mostrou? — indago, surpreso.
— Não, minha mãe nunca me mostrou fotos suas desse fato.
— Enfim, se algum dia você puder vê-las, irá notar que em todas
estou de olhos fechados, dormindo, sem consciência. Foi tudo muito
bem feito. Primeiro aquela mulher dos infernos tentou me seduzir, e
quando teve a oportunidade, me fez dormir, e causou toda a
confusão. Laura recebeu as fotos em casa, ficou bastante magoada,
claro, e não me perdoou até hoje.
— Mas você pode ter se embebedado e ido por livre e
espontânea vontade para a cama com essa mulher — reflete Apolo,
percebo que a sua mente está sempre direcionada a me culpar.
— Claro que sim, é a história mais fácil de se acreditar, não é?
— indago, o fazendo calar e ficar pensativo. — Foi no que a sua mãe
preferiu crer. Na verdade, pensando sobre tudo, acho que Laura
juntou todos os últimos acontecimentos que explodiram com a minha
suposta traição e foi o fim. Tentei de tudo para me explicar, corri atrás
da vagabunda que fez isso comigo, mas nunca a encontrei. Não
tenho provas de nada. Só o que tenho é a minha palavra.
— Nunca pensei nesse outro possível lado da história, mas não
sei se acredito em você, Victor — revela Apolo, ele é tão sincero
quanto eu.
— Não tenho provas, meu filho — repito. — O maldito bar em
que encontrei essa mulher misteriosa sequer possuía câmeras e o
barman não viu nada.
— Mesmo assim, isso não foi motivo o suficiente para não me
procurar... para não se aproximar de mim — Apolo tenta controlar o
tom de voz que agora está mais frágil, e mais uma vez noto o quanto
tocar neste assunto mexe com ele. — Porra... por quase dois anos
fiquei sem um pai. Assim que se separou da minha mãe, pouco
tempo depois, você sumiu da minha vida, parecia até que... era isso
que desejava. O que queria que eu pensasse?
Abaixo a cabeça, tristonho.
— Eu sei filho, te entendo. Quanto a você, assumo o meu erro.
Fiz uma merda ao pensar que me afastar de ti era a melhor saída
naquele momento angustiante. Estava tudo uma loucura, ver sua
mãe sair de casa sem querer me ouvir de jeito nenhum foi um baque,
e depois, qualquer tentativa de aproximação ficou ainda mais difícil,
com a sua avó toda hora em cima.
— Não ponha a sua culpa em cima da minha avó, ela não tem
nada a ver com isso. Tu se afastou de mim porque quis! — sua voz
se torna ríspida.
— Porque achei que devia esperar a poeira baixar, mas foi
burrice minha, Apolo. Esse tempo longe só te fez pensar o pior de
mim, e olha no que deu, só agora estamos conversando de verdade
sobre tudo. Somente agora estou te contando o meu lado da história
que, mesmo que decida não acreditar, já me fez um bem muito
grande descarregar isso de mim, porque... — minha voz volta a
falhar — Mesmo que eu tenha demonstrado o contrário... eu te amo
meu filho.
Os olhos dele brilham, me deixando comovido.
— Você é o meu garoto, o meu menino, o único que tenho. Cara
tu é o bem mais precioso que possuo — confesso, enquanto ele
retira os óculos e enxuga os olhos com as costas da mão. — Me
perdoa Apolo, prometo que nunca mais te deixarei sozinho, meu
filho.
O abraço forte antes que possa contestar, e para a minha
surpresa, ele me corresponde e isso arrebata o meu coração, me
trazendo um alívio enorme no peito e lágrimas rolando por minha
face.
— Graças a Deus — sussurro, retirando um sufoco da garganta,
sentindo o seu toque. — Você me perdoa?
— Sim — responde ele, choramingando, com a voz embargada.
— Me perdoa também por ter te derrubado da escada?
— Vamos esquecer disso — falo, olhando em seus olhos de um
castanho profundo. — Somente eu devo pedir desculpas hoje.
Minutos depois, para descontrair, o levo para a cozinha, onde
sentamos à mesa e passamos a comer sorvete de chocolate, o
nosso preferido — precisamos adocicar essa tensão emocional.
— Victor, e você... nunca mais viu a tal mulher mesmo? Essa
que diz ter te dado um boa noite cinderela.
— Não, eu a procurei por meses e nada, nunca a encontrei, ela
sumiu do mapa.
— Hum — ele fica pensativo, e agora queria ter o poder de
saber de todos os seus pensamentos e descobrir se há alguma
possibilidade dele acreditar em mim.
Voltamos ao silêncio, cada qual com seu pote de soverte Kibon.
Então, lembro de um assunto importante, não posso perder a chance
de falar sobre isso agora que meu filhote está mais condolente
comigo.
— Apolo, quero aproveitar que estamos nos entendendo um
pouco melhor e pedir para você ser sincero comigo como eu fui
contigo.
— Tudo bem — ele concorda.
— Me conte a sua versão do que houve na escola — peço.
Ele faz uma careta e desvia o olhar.
— É tão difícil assim falar disso com o seu pai? Apolo, se vamos
começar a nos entender, precisamos confiar um no outro — insisto, e
ele suspira. — Mas tem o direito de não querer falar...
— Você já sabe, foi por causa de uma... garota tosca. — diz,
emburrado, odiando lembrar da menina.
— Quero ouvir a sua versão, até agora só ouvi o seu avô e seu
diretor. Me conte — peço, e aos poucos, ele se solta e me diz tudo.
— Então você saiu da sala de aula para encontrar com essa garota,
mesmo o namorado dela estando tão perto?
— Sim — responde, desviando o olhar novamente, parece
envergonhado, e está chateado ao falar sobre isso, lhe dói, posso
notar.
— Estou impressionado, filho, é muita coragem o que fez, mas
também um equívoco — digo, controlando um possível riso, pois
agora o acho ainda mais parecido comigo. — O fato de o namorado
dela estar próximo não te intimidou. Não conhecia esse seu lado,
parece até comigo quando eu tinha a sua idade...
— Ah, agora vai querer nos comparar? Acha que o que fiz tem a
mesma gravidade do que você fez?
— Calma rapaz, não estou afirmando isso, para de ficar sempre
na defensiva. Só comparei você com o Victor de uma outra época.
Quando eu tinha a sua idade, também já cometi tolices assim, aliás,
fiz coisas bem piores — lembro, abrindo um sorriso, e aos poucos,
Apolo volta a fixar seus olhos em mim.
— Sério? — indaga, com um leve ar de curiosidade.
— Eu não era gente, na sua idade pulava as janelas de
namoradinhas e as comia em seus quartos enquanto seus pais
estavam na sala.
— Com dezesseis anos? — indaga, impressionado.
— Sim, até com menos.
— Mas como... como conseguia isso?
— Ah, não era difícil, lidar com mulheres nunca foi demais para
mim. Um sorriso, uma troca de olhar, uma conversa às vezes, e a
mágica acontecia. Ainda é assim hoje em dia, só que mais fácil, pois
já possuo mais experiência. E já fiquei com muitas mulheres
comprometidas no passado, até conhecer a sua mãe e me
apaixonar.
Apolo me observa curioso e impressionado, parece tentar
imaginar tudo o que acabei de contar, analisando se os meus feitos
seriam mesmo possíveis.
— Mas isso não significa que estou admirando o que você fez.
Foi um equívoco, como eu disse.
— Uma burrice, isso sim! — resmunga ele.
— Se ela nunca havia te dado bola como me disse, não faria
isso após ter lido a sua carta, e ainda mais com o namorado do lado.
— Não era uma carta — me corrige, emburrado. — Era a porra
de um poema.
— Apolo, aprenda uma coisa: nos dias de hoje, raramente você
conseguirá conquistar uma gata com... poemas. Não é por esse
caminho.
— Eu fui burro! Alimentei uma esperança idiota, e só agora
percebo isso — confessa.
— Mas pelo menos demonstrou que não é um saco de
pancadas, não deixou eles te baterem como achavam que fariam.
— E vê alguma vantagem nisso?
— Óbvio, a sua reação diminuiu a sua humilhação, e tão cedo
esses rapazes não irão querer mexer contigo. Mas... Uma dúvida:
por que nunca chegou nessa garota se sempre foi afim dela?
— Não sei, eu... não consegui, na verdade, nunca consigo. O
medo de passar vergonha é maior, sabe.
— Que vergonha? — pergunto, na intenção de fazê-lo se abrir
mais. É claro que o compreendo perfeitamente, mas quero que
confie em mim para me contar tudo que há dentro de si.
— Ah, não sei... Não sei o que ela poderia dizer — ele ri, sem
graça.
— Não sabe, mas acha que seria um “não”, né?
— E foi.
— Mas você teve coragem de ir até ela.
— Mas foi porque achei que ela estava me chamando, nunca
seria o contrário.
— Nunca diga “nunca”, Apolo — ensino. — Então, qual foi a
menina que já ficou? — pergunto e ouço um certo silêncio que me
responde tudo — Nunca ficou com nenhuma menina, filho? — o
silêncio prossegue. — Ainda é virgem?
— Sim, eu sou! Por que isso é motivo de espanto? Sou o único
no mundo? — indaga, aborrecido.
— Não, não estou espantado, isso é completamente normal,
mas a pergunta é: você quer permanecer virgem até quando?
Ele fica sem palavras, engole em seco, meio nervoso ou tímido,
e olha para o lado. Ao mesmo tempo em que me vejo nele, também
percebo o quão somos diferentes. Porém, Apolo tem o meu sangue,
e esse é quente, muito quente, por isso, sei do que é capaz, mesmo
que ele ainda não saiba.
— Olha filho, agora percebo ainda mais que nunca devia ter te
deixado sem a minha presença. Eu sou o seu pai, e se você permitir,
cumprirei com o meu papel. Por isso, se quiser, posso te ensinar
muita coisa sobre o mundo das mulheres. E aí, você topa?
Ele fica bastante surpreso, reflexivo, boquiaberto, então olha
para o chão, pensando por alguns longos segundos, e responde:
— ‘Tá bom — concorda, me fazendo sorrir. Me agrada muito
saber que aceitou a minha ajuda.
— ‘Tá bom mesmo? Preciso saber se será humilde o suficiente
para ouvir o que tenho a te ensinar. Lembre-se que não quero te
criticar ou lhe comparar comigo, só quero o seu melhor.
— Tudo bem.
— Só quero extrair o que tem dentro de você.
— E o que tem dentro de mim?
— O meu sangue — respondo, firme, o olhando de forma séria e
profunda, e em seguida, seguro-o pela mão, sobre a mesa, mirando
o seu pulso, e deslizo o dedo indicador sobre a sua veia enquanto
ele tenta entender o que estou fazendo. — Está sentindo? Por suas
veias corre o sangue de um Lobo. Você é Apolo Lobo, meu filho, e
isso significa que é um macho imbatível e poderoso. Nunca, jamais,
diga “nunca” — falo, pausadamente. — Essa palavra a partir de hoje
não existe mais no seu vocabulário, entendeu?
Ele fica calado, parece impressionado comigo.
— Entendeu? — repito, fortificando a voz e apertando a sua
mão.
— Entendi — responde, me fazendo sorrir. O solto, e o vejo
mirando o próprio pulso por alguns segundos. Creio que as minhas
palavras irão ou já estão penetrando em sua mente.
— Venha comigo — o chamo, e o levo de volta ao escritório, o
deixando parado de frente para o quadro do lobo que há na parede
do fundo, o rosto do animal negro toma toda a imagem, selvagem,
intimidador, imponente, de olhos vívidos, parece que vai sair da tela
a qualquer momento de tão real. — Lembra dele?
— Havia me esquecido... — comenta Apolo, aparenta
encantamento com a obra de arte. — Como é lindo e tão... real.
— Herança do seu avô, Wagner. Por muito tempo mirei esse
quadro sem segundas interpretações, mas vivendo aqui, onde um
dia viveu o meu pai, percebi que ele não levava o lobo a sério
apenas porque o tem no sobrenome, mas também pelos atributos
que este animal possui e que podemos adquirir e utilizar na nossa
vida, não só com os negócios, mas com as mulheres também.
Passo a caminhar lentamente em volta do meu filho, com as
mãos para trás.
— A primeira lição, repito, é nunca dizer “nunca”, quando um
Lobo quer algo, não existem limites, mas ele deve utilizar meios
dignos para chegar ao seu objetivo. A segunda, é que um Lobo deve
ter atitude, mulheres gostam de caras que dizem pessoalmente o
que querem e como querem, e não através de cartas ou poemas,
isso é de outra era.
— Eu nunca me saí bem em me comunicar, e isso não é só com
as mulheres, é algo meu mesmo. E agora, depois do que aconteceu,
acho que não vou falar mais com uma garota tão cedo — comenta.
— Terceira lição: lobos são corajosos, o medo não faz parte da
nossa espécie. Você não pode ter medo de tentar com outras se
baseando nessa experiência ruim que aconteceu na escola. Isso só
aconteceu porque tu tentou pegar uma menina que já estava
envolvida num meio de pessoas que queriam te fazer mal. Mas nem
sempre vai ser assim, não leve isso como exemplo. Aprenda: na vida
não existem fracassos, mas somente experiências negativas que
você, como um Lobo que é, irá filtrá-las e transformá-las em degraus
para um próximo passo, sabendo o que deve e o que não deve fazer.
— Nossa, isso é incrível, Victor — afirma ele, deslumbrado. —
Nunca ninguém me disse nada igual, mas... Mesmo assim, no meu
caso, acho que não consigo — e fica cabisbaixo.
— Consegue sim, porque você é meu filho. Vamos fazer o
seguinte, vá tomar um banho e se arrumar. Sairemos daqui a pouco.
— Para onde?
— Para o shopping, lá é um ótimo lugar, cheio de mulheres. Vou
te fazer perder esse medo de se comunicar com as garotas, vai ver
como é fácil.
— Para você pode ser, mas pra mim...
— Te garanto que vai ser fácil pra ti também — afirmo, confiante,
pondo a mão em seu ombro.
Tomo um banho feliz como há muito tempo não tomava, estou
finalmente conseguindo dialogar de homem para homem com o meu
filho. Depois me arrumo, visto uma camisa vermelho-sangue —
minha cor predileta e que contrasta muito bem com o meu tom
chocolate — uma calça jeans, tênis, um colar masculino prateado e
discreto, um relógio igualmente discreto, barba O.K., perfume O.K., e
Pronto! Estilo despojado conferido com sucesso! Olho-me no
espelho e me agrado com o que vejo. Pego meus óculos escuros e
desço.
Quando chego na sala, encontro Apolo me aguardando e faço
uma careta ao ver o seu look. Ele veste uma calça mais larga do que
a que estava anteriormente, que deixa suas pernas perdidas lá
dentro, uma camisa duas vezes maior que ele, bem folgada, e um
tênis ridículo. O cabelo está revolto, ondulado, e não combina com
seu rosto, sem contar com seus óculos que parecem da década
passada.
Meu Deus! Preciso salvar esse garoto! Ele não ‘tá nem aí para a
sua aparência, parece aqueles nerds retardados.
— O que foi? — pergunta, percebendo o meu olhar estranho.
— Nada. Vamos? — decido não comentar nada, ainda, vai que
ele desiste de sair, Apolo ainda possui um lado infantil que aflora
quando se zanga, mas isso é normal para a sua idade, lembra até eu
quando mais novo que ao me irritar fazia besteira.
É cedo, no relógio marca exatamente 19h.
Chegamos ao shopping e levo meu filho para uma das praças
de alimentação que, por sinal, está bem movimentada. Sentamos em
uma das mesas e peço refrigerante para nós dois. Ficamos em
silêncio, até que Apolo se incomoda, suspirando e se mexendo na
cadeira.
— Estamos aqui parados a uns quinze minutos e nada mais. E
aí? — me indaga, me fazendo abrir um sorriso maroto.
— Negativo. Pedi um refrigerante, estou bebendo, você também,
mas além disso, estamos observando — respondo, olhando em
volta, sem mexer o rosto.
— Observando o quê?
— As mulheres que estão aqui, e elas também fazem o mesmo
neste exato instante, são mais rápidas que nós — Apolo mira os
lados, deixando bem claro que está procurando algo ou alguém.
— Eu não estou vendo nenhuma mulher olhando pra gente.
— Para de ficar procurando. Vou te falar e você vai tentar ver
bem discretamente, ‘tá bom?
— ‘Tá — concorda, se aquietando.
— Tem uma bonitinha, atrás de mim, a umas três mesas de
distância, de preto. Observa se ela está olhando para mim. —
mando, e Apolo, discretamente, me obedece.
— Sim, ela está olhando para você. Mas como sabia?
— Troquei um rápido olhar com ela quando chegamos aqui. O
que quero dizer é que um olhar pode abrir muitas portas, mas
quando você estiver caçando, — faço o sinal de aspas com os dedos
na última palavra — não deve se ater apenas a olhares. Se elas não
estão te vendo e alguma te interessar, você tem que se fazer ser
visto, tem que ter atitude, lembre-se disso.
— Entendi, mas... aqui não, né?
— Por que aqui não? Pode ser em qualquer lugar. Quarta lição:
não se prenda a barreiras, quem faz a ocasião é você.
— Você é louco? — ele parece achar que o que digo não é
possível. — Aqui? Na frente de todo mundo?
— E daí Apolo? Quem te conhece? O que tem a perder?
— E se ela disser “não”?
— Aprenda: são com “nãos” que aos poucos construirá os seus
“sins”, mas não pode ter medo de tentar. Cada abordagem lhe trará
experiência e te fará perder o medo.
— Então me mostra — me desafia.
— O quê?
— Para você parece ser tão fácil chegar nas mulheres, faz pra
eu ver então.
— Filho, eu não sou mais como antigamente... — tento me sair.
— Ah não, agora vai ter que mostrar. Não foi para isso que me
trouxe aqui? — esse garoto não vai para o céu. Ele sorri maroto,
sabe que me deixou sem saída, e sorrio de volta. Safado!
— Tudo bem — concordo, arqueando as sobrancelhas e
levantando, deixando Apolo boquiaberto e aparentemente ansioso,
me mostrando que até então, ele achava que seu pai aqui não teria
coragem para isso, pobre engano.
— Sério? — pergunta, de olhos esbugalhados.
— Sério — confirmo, piscando para ele e lhe dando as costas,
me afastando. Retiro o celular do bolso e ligo para o seu número.
— Alô? — pergunta, como quem não entende o que está
acontecendo, me fazendo rir.
— A primeira abordagem que vou te ensinar é chamada de
“direta”, que é aquela em que o homem vai direto ao ponto com a
gata, já deixando claro as suas intenções, mas de forma educada e
atraente, tipo... Sexy sem ser vulgar, na cara de pau. Fica na linha —
ordeno, abaixando a mão. Me aproximo da mesa da tal bonitinha que
estava me olhando.
— Oi, tudo bem? — a cumprimento, com um sorriso de
vencedor estampado no rosto, confiante, olhando-a fixamente nos
olhos e pensando que já está no papo. É presa fácil, conheço de
longe.
— Tudo — responde ela, meio confusa, iniciando um sorriso.
Tadinha, nem imagina que se eu quiser irei comê-la a noite toda.
— Eu me chamo Victor, qual é o seu nome?
— Betina — responde, apertando a minha mão que lhe foi
oferecida e que agora passa a acariciar a sua na maior intimidade.
— Então, Betina, ao chegar aqui não pude deixar de te notar.
Está acompanhada?
— Não — responde, sem tirar o sorriso do rosto.
— Você pode me passar o seu número para marcarmos um
encontro na sexta, às 20h?
— Ah... ‘tá bom — responde, hesitante, rindo desconcertada.
Saio da ligação e entrego o aparelho a ela que salva o seu contato.
— Obrigado — respondo, com uma piscada de olho, malandro,
e volto para a minha mesa, encontrando o meu filho simplesmente
chocado, rindo, quase eufórico. — E aí, o que achou? — pergunto.
— O que achei? Puta que pariu, achei tão... Pareceu bem fácil,
na verdade! Ela te deu o contato na hora! Eu estou... Nem sabia que
isso era possível! Nossa! Que rápido! Que legal! — já estou
renovando os pensamentos dele de maneira bem positiva.
— É como te falei, não é difícil. Nessa abordagem o cara tem
que ser confiante e é bom já possuir um pouco de experiência, mas
isso é com o tempo. Nesse caso, demonstrei a ela atitude, simpatia,
interesse, charme, tudo ao mesmo tempo. As mulheres de hoje em
dia não esperam por uma abordagem dessas, porque infelizmente os
homens que têm coragem para isso são bem poucos, por isso, a
maioria delas gosta quando acontece, sacia o ego um homem se
dirigindo até elas para pedir o telefone, além de quê, as fazem se
impressionar conosco e de cara perceber que não somos como a
maioria. Foi o que aconteceu agora entre eu e a bonitinha.
— ‘Tá, mas e aí? E depois? O que você vai fazer com o número
dela?
— Ah, depois vem a parte mais importante, quando você tem
que demonstrar que é foda o suficiente para levá-la para cama, ou
construir algum relacionamento. Para isso é preciso marcar
encontros, saber conversar, e por aí vai.
— Mas você... já conseguiu... levar uma para cama no primeiro
encontro?
— Com certeza, muitas vezes, e outras não, claro. Já consegui
até no mesmo dia em que conheci a gata.
— Sério?
— Tudo é possível, Apolo, basta fazer do jeito certo, e também
ter um pouco de sorte, nem todas as mulheres são iguais, algumas
podem não se interessar por você de cara. É preciso observar antes
de abordar. Abordei a bonitinha porque já sabia que ela estava de
olho em mim. Agora vamos dar uma volta.
Pago a conta, saímos da praça de alimentação e começamos a
andar pelos corredores lotados de lojas.
— E se eu quiser ficar com a garota na hora em que abordá-la?
É possível?
— Claro, e pode ser nessa abordagem direta. Usando o
exemplo da bonitinha, o que eu teria que fazer seria, ao invés de
pegar o número de cara, pedir para lhe fazer companhia e saber
desenrolar, ter papo, ser criativo pra gerar assunto até rolar um beijo
e depois disso todo o resto é mais fácil. Mas se quiser ser mais
imediato, também tem como. Muitas vezes, primeiro vem o fica, a
pegação, e só depois as apresentações — explico, sorrindo,
lembrando das vezes em que isso aconteceu comigo. — Hoje em dia
isso é muito comum.
— Certo, então você conseguiria abordar uma mulher agora e já
beijá-la? — pergunta, empolgado, me desafiando novamente.
— De maneira direta ou indireta?
— Como é a indireta?
— A indireta é aquela em que você aborda a mulher sem
demonstrar que tem segundas intenções de cara, perguntando
algum endereço, por exemplo, e então, papo vai, papo vem, você
termina por deixá-la atraída por você.
— Quero a direta, é mais objetiva.
— Ah filho, não sei se ainda consigo, faz tanto tempo que não
faço mais isso.
— Faz, por favor, eu quero ver — ele implora, fazendo uma
carinha de menino pidão, me fazendo rir.
Percebo que estou conseguindo diverti-lo com os meus
ensinamentos e quero continuar fazendo-o rir, como Laura pediu.
Assim, em minutos, procuro uma presa para a próxima abordagem.
Vejo uma gostosa desavisada, em um banco, mexendo no celular,
com algumas sacolas de compras ao lado. Observo-a por alguns
instantes para ter certeza de que está sozinha e caminho em sua
direção, com Apolo no telefone, ele me observa de longe.
— Presta atenção Apolo, vou beijar essa mulher com apenas
três perguntas — digo, prevendo o futuro.
— Cara, eu não acredito que você vai ter essa coragem! — sinto
toda a animação e diversão em sua voz — E se ela estiver
esperando o namorado?
— Preste atenção.
Sento ao lado da gostosa e ela leva a sua atenção para mim.
— Oi — digo, abrindo o meu lindo sorriso.
— Oi — responde ela, confusa.
— Eu me chamo Victor, qual o seu nome?
— Cida.
— Prazer em conhecê-la Cida — trocamos um aperto de mão.
— Posso te fazer só três perguntas?
— Pode — responde, sem saber o que esperar.
— Você tem namorado?
— Não... não tenho.
— Me acha atraente?
— Ah... sim, eu acho — ela ri, com certeza já entendendo as
minhas intenções.
— Qual seria a sua desculpa para não me beijar agora?
— O quê? Ah... não sei — Pergunta, abobada, e aproveito o
momento em que ela está desconcertada para levar a mão à sua
nuca e puxá-la para um beijo gostoso e molhado.
A moça, após alguns segundos, desgruda os lábios dos meus
impressionada, sorrindo, sem saber o que fazer.
— Nossa... — antes que ela continue, taco-lhe outro beijo,
continuando com a loucura boa.
Ao reencontrar Apolo, me sinto muito bem, mais jovem até,
relembrando muito do passado, mas a minha felicidade maior é vê-lo
muito feliz.
— Caralho! Cara você é louco! — diz, impressionado,
gargalhando.
— Calma, foi só um pouco de sorte, isso não acontece todas as
vezes, já levei muito “não” também.
— Nunca vi nada parecido, foi muito rápido, só com três
perguntas!
— Nessa jogada o cara tem que agir rápido. Na internet há
vários vídeos de caras que fazem essas abordagens.
— Foi lá que você aprendeu isso?
— Também, toda fonte de conhecimento é bem-vinda. Em casa
te mostro tudo. Mas como estou te dizendo, nem sempre é assim,
às vezes é preciso mais tempo para conseguir beijar.
Apolo parece estar conhecendo um mundo novo, e aos poucos,
desconstruo a visão complicada dele sobre se aproximar de
mulheres. O tempo passa e faço mais abordagens para que ele
observe, recebo o “não” de umas duas e beijo mais umas três.
Depois, vamos para casa, dialogando muito sobre essa aventura no
shopping.
A ida ao shopping com o Victor foi inacreditável! No percurso de
volta para casa viemos conversando bastante sobre tudo o que ele
fez, e eu, pela primeira vez em anos, estou o admirando bastante,
mas não deixei que percebesse, acho que não, porque na verdade, o
achei muito foda!
Fico impressionado com a incrível facilidade dele de conversar
com as mulheres, a forma como elas caem em sua lábia, e me
pergunto interiormente a todo instante se eu seria capaz disso
também, porque estou com muita vontade de fazer tudo o que me foi
demonstrado, mas não sei se teria coragem. É preciso ter muita cara
de pau.
Ao chegarmos em casa, ele continua me dando aulas:
— É verdade, muitas vezes você precisará ser audacioso,
ousado, cara de pau mesmo, e outras vezes, um pouco descarado
para se sair ou entrar em algumas situações. Filho, tudo o que estou
te ensinando é nada mais, nada menos, do que a arte da conquista.
Quando você sentir o prazer de conquistar uma garota, vê-la cair em
seus braços, não irá mais querer parar.
Fico encantado com as suas palavras, e com uma vontade
enorme de aprender e pôr em prática.
— Vou procurar os vídeos que você disse. — digo
— Vai lá, pelo jeito sua noite será longa. Aprenda tudo, amanhã
te jogarei no campo, será a sua chance de me mostrar o que
aprendeu.
Arregalo os olhos, assustado com tal informação.
— Não, não estou preparado ainda.
— Se vira — responde Victor, sorrindo, e subindo para o seu
quarto.
Meu celular chama, e falo com a minha mãe por uns vinte
minutos, ela está bastante curiosa para saber como anda a minha
convivência com o Victor. Respondo que está legal, e quando conto-
lhe que fomos ao shopping, ela fica impressionada e adora saber da
notícia, mas não revelo o que fomos fazer de fato, senão minha mãe
irá pirar, ela ainda me vê como o seu "bebezinho", e me sinto ridículo
com esse tratamento.
Durmo bem tarde essa noite, só após assistir aos milhares de
vídeos que encontro no YouTube sobre abordagens, e realmente há
muitos caras aplicando o mesmo esquema do Victor e conseguindo
beijar facilmente as mulheres em qualquer lugar e a qualquer hora, e
eu acho isso fenomenal!
No outro dia, à tarde, Victor me leva novamente ao shopping, e
no carro, me pergunta:
— Aprendeu muita coisa ontem?
— Sim, assisti a muitos vídeos, e os homens conseguem fazer o
mesmo que você.
— Mas é fácil, basta ter coragem e se jogar. Lembre-se que o
máximo que você ganhará é um “não”, e se isso acontecer, você tem
que pensar que quem estará perdendo é ela por não te ter. Uma das
regras da arte da conquista é se valorizar.
— Entendi.
— E hoje vou te jogar no campo, vamos ver como se sai nas
primeiras abordagens.
— Não sei se vou conseguir, não — respondo.
— Pensamento errado. Vai consegui sim. Mas antes terá que
mudar um pouco.
— Como assim mudar? — pergunto.
— Ah filho, já que hoje você agirá diferente e fará coisas que
nunca fez, precisa estar visualmente diferente também, não acha? —
diz ele, me deixando pensativo, pois não vejo nada demais na minha
aparência.
— É, talvez...
— Apolo, mudar é bom. Vou te levar em uma barbearia que é
muito boa.
Chegamos ao shopping e sou levado a uma barbearia já
conhecida por Victor, pelo visto ele é cliente antigo.
O lugar é bem masculino, com decoração industrial, tudo em
tom de preto, canos pelo teto, tambores metálicos enormes usados
como mesas, miniaturas de motos, quadros de gostosas por todos os
lados, e poltronas de couro negro também compõem o ambiente.
Resumindo, o espaço é grande e climatizado, e me agrada logo de
início.
— E aí Victor — um dos barbeiros cumprimenta ele, é um
homem gordinho, de barba enorme, bem-feita e cabelo bem cortado.
Ele veste um avental preto com o brasão da barbearia, além de
segurar uma tesoura dourada em uma das mãos — Estou vendo que
trouxe companhia hoje, quem é? Oh, espera, esse é o Apolo? —
pergunta, me analisando, e me surpreendo por ele me conhecer.
Como?
— Sim — responde Victor.
— Aaah, então esse é o Apolo! Ele é grande né, bem maior do
que nas fotos, olha só, maior que eu — ele toca no meu cabelo. —
Hum, precisamos cortar isso agora, essa cabeleira não te ajuda, não,
cumpade.
— Ele mostrava fotos minhas? — indago, quase que
automaticamente.
— Sim, e sempre disse que um dia te traria aqui — responde o
barbeiro, me deixando ainda mais surpreso.
— E eu quero tratamento especial com ele, faça o melhor que
puder, Jack — pede Victor, sorridente.
— Pode deixar — Jack me puxa pelo ombro e me leva até uma
das cadeiras, de frente para um dos grandes espelhos na parede. Há
mais clientes cortando o cabelo — Vamos dar uma boa repaginada
no seu visual, algo mais simples e moderno, gosta? Estilo o do seu
pai, quer? Filho de lobo...
— Lobinho é — completa Victor, com um sorriso de orgulho. Oh
Deus, eu não estava preparado para esses comportamentos
paternos, mas sorrio também, meio envergonhado.
— Pode ser — aceito.
— Pois vamos começar! — afirma Jack, pegando a máquina e
passando a trabalhar em meu cabelo. Victor também é atendido, na
poltrona ao lado.
Quando terminamos, eu sou outro homem, e gosto do resultado.
Meu cabelo agora está como o do Victor, degradê nas laterais, e em
nível baixo em cima, o que destaca o meu rosto. Além disso, Jack
fez as minhas sobrancelhas com a navalha, o que trouxe um aspecto
mais intenso e marcante aos meus olhos. Digamos que estou mais...
homem, e menos nerd infantil.
— Olha aí cara, você ‘tá demais — diz Victor, me analisando. —
Muito bacana, lindo. — me olho no espelho, notando realmente a
diferença.
— Agora está até parecendo mais com o seu pai — comenta
Jack, às minhas costas.
— Gostou filho?
— Gostei — respondo.
— Olha, ele agora tem uma carinha de anjo pervertido, mulheres
amam homens desse tipo — comenta Victor, e não posso negar que
isso meio que, afaga o meu ego, que até então, era inexistente.
Saímos da barbearia e Victor me leva a uma loja de roupas,
afirmando que a minha mudança deve ser total.
— Para quê roupa? Eu tenho muitas, Victor — ressalto.
— É, mas agora você é um novo Apolo, e precisa de uma
mudança no estilo também, isso vai te ajudar com as gatas — diz
ele.
Entramos numa loja e Victor me mostra várias peças de roupas
bonitas, estilosas. Uma atendente gata que não tira os olhos dele,
nos ajuda, mostrando o que há de melhor. Chega a ser abusivo a
quantidade de olhares que Victor recebe por onde passamos.
Visto alguns looks escolhidos por ele, e recebo sinais com a
mão de positivo e negativo, só os positivos serão comprados.
Passamos um bom tempo escolhendo várias peças e já saio de lá
vestido em uma calça jeans justa, uma camisa azul-marinho —
minha cor predileta — tênis branco, e de óculos escuros. Confesso
que pela primeira vez estou me sentindo bonito, e agora, noto
olhares não só para Victor, como para mim também, o que me deixa
simplesmente perplexo.
Cada um de nós carrega duas sacolas, e por termos perdido
bastante tempo com tudo isso, Victor decide que vai deixar para
treinar as minhas abordagens outro dia. Assim, jantamos em um
restaurante aqui mesmo e vamos embora.
No caminho para casa, no carro, conversamos mais sobre
mulheres e outros assuntos masculinos. Cada vez tenho mais
curiosidades, e fico impressionado com a quantidade de
conhecimento sobre o mundo feminino que Victor possui. Decido lhe
mostrar um vídeo no celular, mas a ideia não é boa, porque, sem
querer, o faço perder a atenção por alguns segundos. Não vemos o
sinal fechando, Victor freia com brutalidade, porém, batemos no
carro da frente, mas sem violência.
— Caralho — xinga Victor. — Merda.
Uma ruiva maravilhosamente linda desce do automóvel
abalroado, verificando o acontecido.
— Não acredito — diz ele.
— O que foi? Conhece ela? — pergunto.
— Conheço sim — confirma, descendo do carro, eu o sigo.
A ruiva parece irritada com a batida, mas ao ver Victor, muda a
feição rapidamente, e até sorri.
— Você? — pergunta ela.
— Leda, que mundo pequeno esse, não?
DON JUAN

“— Eu quero. Eu posso. Eu consigo”

Fico surpreso por ver que Victor conhece a ruiva, e que ruiva!
Ela usa tênis e short jeans que deixa as belas coxas à amostra, com
uma blusinha regata feminina apertada que expõe as suas curvas e
o volume do seu busto — um look bem menininha sexy. O seu
cabelo de um vermelho lindo e que parece natural, está solto, toca a
bunda, liso, meio ondulado. Ela é uma gata!
Pela troca de sorrisos e olhares, chego a pensar que já deve ter
rolado algo entre eles.
— Nossa, me desculpa mesmo por isso — diz Victor,
cumprimentando a tal Leda, trocando beijinhos nas bochechas. Ela
tem os olhos negros e a pele bem alva puxado para o rosa, é linda
mesmo.
— Ah, acontece, mas estou impressionada, logo você, essa
cidade é de fato pequena — comenta ela.
— É verdade. Olha, lembra que te falei que tinha um filho? Olha
ele aqui, este é o Apolo — me apresenta, e me aproximo dela,
sentindo seu perfume estonteante. Esse Victor só escolhe as
melhores.
— Olá, prazer, Leda — nós trocamos um aperto de mão, sorrio,
mas não digo nada. Sou maior que ela e a minha mão maior que a
sua. É difícil encontrar mulheres altas no Piauí, já há um tempo que
percebo isso.
O sinal abre, e a fileira de carros atrás de nós começa a buzinar,
nos lembrando de que estamos no meio do trânsito à noite e não em
um happy hour. Victor faz um sinal com a mão, indicando para que
eles passassem pelo lado e é obedecido.
— Me dá seu número, amanhã mesmo te ligo para resolvermos
este contratempo — ele entrega o celular a ela.
— Ah, ‘tá bom. Esse trânsito é uma loucura — ela devolve o
aparelho.
Eles se despedem e em seguida nos separamos. Ao chegamos
em casa, não perco a oportunidade e pergunto:
— Onde você conheceu a Leda?
— Na Alcateia.
— Já ficaram?
— Por que a pergunta, Apolo? — rebate, com um sorriso.
— Nada, só curiosidade — faço um bico. — Não precisa falar
senão quiser. — ele gargalha, esse cara só sabe rir o tempo todo!
— Sim, nós já ficamos, somente uma vez, mas não vai mais
acontecer — responde.
— Por quê? Ela é tão bonita — comento
— Porque há outras coisas envolvidas que nos impedem de
ficarmos novamente — afirma, subindo a escada.
— Mas se desse certo, você ficaria com ela de novo?
— Não sei curioso, mulheres não são a minha prioridade agora
— diz, sem parar de caminhar.
— E qual é a sua prioridade?
— Você — responde, sumindo de vista, e eu abro um sorriso de
orelha a orelha, pensando no que ele acabou de dizer. Hoje
realmente foi um dia cheio de surpresas que me levaram a passar a
acreditar que Victor gosta mesmo de mim. Caralho. Não esperava
por isso, não mesmo.

No dia seguinte, bem cedo, sou acordado por Victor que bate
em minha porta. Droga! Por que tão cedo? Meu Deus, não mereço
isso.
— Vamos Apolo, acorda — me chama, insistindo nas batidas,
me aborrecendo.
— O que é? Deixa eu dormir! — resmungo.
— Se você quer ser um novo homem e se sair bem com as
gatas tem que mudar alguns hábitos também, precisa cuidar da sua
saúde. Vamos correr. Levanta! — ordena.
— Cara deve ser madrugada ainda — respondo.
— Bora rapaz! Deixa de frescura. Você disse que aceitaria os
meus conselhos, não disse?
— ‘Tá bom — concordo, bocejando, levantando da cama bem
vagarosamente, morto de sono.
— Toma um banho para sair dessa preguiça, coloca um tênis e
desce. Eu vou preparar um lanche leve pra gente — fico parado,
quase voltando a dormir. — Ouviu Apolo? — ele aumenta o tom de
voz, me assustando.
— Ouvi! — exclamo, bocejando mais vezes.
Meia hora depois, estamos os dois correndo pelo condomínio,
quer dizer, Victor está correndo, eu estou me arrastando, pela
misericórdia de Cristo. A cada jogada de perna tenho mais certeza
que o meu lugar é na cama e não aqui. Correr a essa hora é para os
corajosos, tomo consciência a cada minuto de que faço parte dos
preguiçosos anônimos, e me orgulho disso.
— Vamos mais devagar, você corre muito rápido! — reclamo,
ofegante.
— Que nada, você que está sedentário, e só tem dezesseis
anos! — observa Victor. — Na sua escola não tem aula de educação
física, não?
— Tem, mas eu nunca participo dos jogos, sempre fico na
reserva, ninguém me chama para compor o time.
Ao me ouvir, Victor para imediatamente, me dando um alívio.
Ufa!
— Peraí, que história é essa? — pergunta, fazendo uma careta.
— Ah, eu já não me importo mais — digo, tentando controlar a
respiração, o coração bate acelerado.
— Por quê? Você não gosta de jogar? Não sabe?
— Sei e gosto, mas...
— E o professor? Não te coloca em algum time por quê? —
indaga, erguendo sobrancelha direita, com uma cara nada boa.
— Porque os idiotas nunca me escolhem, e fica por isso mesmo.
— Não, isso não ‘tá certo Apolo. Preste atenção no que vou te
falar agora: — ele põe as mãos nos meus ombros e me olha
fixamente nos olhos — tudo o que estou te ensinando não vale só
para pegar mulheres, mas para a sua vida pessoal também. Você
tem que ser um macho alpha e saber dominar a sua vida. Tem que
se impor quando for necessário, quando tentarem lhe diminuir ou lhe
excluir, principalmente. Precisa fazer com que ouçam a sua voz,
quando tiver razão, é claro. O que acha que iria acontecer se tivesse
deixado os idiotas te baterem no dia da briga? Quando voltasse para
escola, eles continuariam te batendo, mas tenho certeza que não se
meterão a besta de novo, não tão cedo, porque naquele momento tu
demonstrou que sabe se defender. Mas nem sempre é preciso
chegar à violência para se sair de um problema.
“Alphas são inteligentes e sabem se comportar de maneira
correta em qualquer situação, é respeitado e admirado pelos demais.
Não se trata apenas de levar mulheres para a cama, mas de como
triunfar na vida pessoal e crescer internamente, e para isso, é
preciso ser enxergado por todos, fazer-se enxergar. Você não é um
rato do qual as pessoas têm nojo e querem manter distância. Você é
um lobo, Apolo, não só no nome, mas no espírito também, no
sangue, lembra?”
Assinto com a cabeça, sério, o respondendo, e focando em cada
palavra sua, impressionado. Victor continua:
— O Lobo de verdade sabe ser um líder, tem comando, é
respeitado, é seguido. Se valorize, se ame e se respeite primeiro,
antes de qualquer pessoa, e só assim, vai conseguir tudo de volta
dos demais. Entendeu?
— Sim, entendi — nunca pensei dessa maneira. Estou
maravilhado com as palavras dele, por mais uma vez. Ele é incrível!
Já me sinto até melhor, mais confiante, não sei explicar, é uma
sensação muito boa.
— E assim que acabar essa tua suspensão, eu vou lá nessa
escola contigo — afirma, passando a caminhar, o acompanho.
— Fazer o quê? — estou meio receoso com essa a hipótese.
— Fazer todos saberem que você tem pai — responde e volta a
correr. Fico parado por alguns segundos, pensando em suas
palavras, gostei delas, e sem perceber, estou sorrindo. Victor está
sempre sorridente, feliz, e parece que consegue transpassar isso
para mim. De certa forma, gosto dele agora. Com ele me sinto...
protegido.
— Bora! — me grita, correndo lá na frente, e agora, fico mais
empolgado e o acompanho.
Quando voltamos para casa, lanchamos um sanduíche com
suco feito por Valéria. Em seguida, Victor prepara dois copões de
suplemento sabor chocolate.
— Esse é pra você — diz, me entregando o meu. — A partir de
hoje serei seu treinador, faremos uma série de exercícios físicos
todos os dias para melhorar a sua saúde, principalmente, e para te
dar mais corpo, músculos, força, vigor. Você é um rapaz bonito, alto,
melanina, mas quando estes bíceps estiverem em maior evidência,
ficará ainda mais, e as gatinhas adoram. Os suplementos ajudam,
mas nada de bomba, é merda. Experimenta esse shake.
Bebo um pouco, e adoro.
— Chocolate, muito bom — comento.
— Agora vamos dar um virote, gut, gut. Vamos lá.
E bebemos os nossos shakes ao mesmo tempo, sem parar,
dando o virote, e depois Victor arrota bem alto, parecendo um
monstro, e me incentiva a fazer o mesmo, e o meu arroto sai mais
estrondoso que o dele, o surpreendendo, nos fazendo cair na
gargalhada.
Depois, seguimos para a academia. Victor age como meu
treinador de fato, levando tudo de forma muito séria, ele gosta de
academia. Me ensina os exercícios de alongamento e depois
partimos para o levantamento de peso. Ao perceber que tenho força,
ele põe anilhas de 10kg de cada lado da barra e ao ver que suporto
mais, dobra o peso. Eu peço mais, porém, ele não permite, diz que
tenho que avançar com cuidado e que vai aumentar com o passar do
tempo.
Entre uma sessão e outra, me é ensinado diversas coisas sobre
o corpo e músculos, sobre o quão é importante eu me sentir bem
comigo mesmo e fugir do sedentarismo.
— Além disso, com um bom condicionamento físico você terá
disposição o suficiente para satisfazer as mulheres que levar para
cama — diz Victor.
— É mesmo? — pergunto, ofegante, após sair de uma sessão.
— Com certeza. Filho, se tem uma coisa importante sobre o
sexo que precisa saber, é que tu não pode ser egoísta e querer o
prazer só para si. O sexo é uma troca de prazeres, a gente dar para
receber, é preciso haver reciprocidade, e assim os dois ficarão
felizes. Existem tipos de caras que as mulheres odeiam, aqueles que
só querem saber de gozar e tchau, não estão nem aí para as
coitadas e por isso, dificilmente elas irão desejá-lo novamente. Eu
mesmo, às vezes, sinto mais prazer em dar prazer a elas do que
receber, porque ao escutá-las gemendo loucamente o meu nome, e
implorando por mais, me faz alucinar. Quando você aprender a
deixar uma mulher louca, ela não vai querer parar de dar pra você.
— E como fazer para... deixar elas afim de mais?
— Basta ser um terremoto na cama, se é que me entende. A
maioria das mulheres demoram até chegar ao orgasmo, então é
importante que o homem tenha resistência para levá-las ao ápice. E
para resistir por mais tempo, é importante ter uma boa saúde, um
bom condicionamento físico. Quanto mais saudável o seu sangue
correr quente por suas veias na hora H, o seu amigo aí de baixo
ficará tão duro que te fará brincar até desmaiar.
— Entendi — digo, encantado com as palavras dele, e tenho
vontade de sentir tudo isso logo.
Quando toco na barra novamente, Victor começa a rir de mim.
— O que foi? — pergunto, largando a barra.
— Que cabeleira imensa é essa no seu sovaco, cara? —
pergunta, com uma careta.
— O que tem?
— ‘Tá grande demais filho, diminui isso aí — ele ri. — Não
precisa tirar tudo não, mas ‘tá muito grande. Rapunzel mandou
lembranças, hein. E lá embaixo? É assim também?
— Onde? No meu... pinto? — pergunto, sem jeito, e Victor
gargalha alto, levando a cabeça para trás.
— Filho, pelo amor de Deus, nunca mais fala “pinto”, é feio
demais, cara. Chama de pau, mastro, vara, rola, cacete, ferro, pau,
mas “pinto” não, por favor, “pênis” também não, é muito... Científico.
Parece vulgar, eu sei, mas essas são as palavras populares que até
os mais cultos usam. Falar “pinto” é broxante. E quanto á mulher,
ninguém chama de vagina, o nome é boceta, bocetinha, xana,
xoxota, xota, perseguida — nós não aguentamos e caímos na
gargalhada. — É verdade cara, e atrás não se chama ânus, é cu,
roda, anel ou... Pode até chamar de buraquinho da felicidade
também, tudo menos “ânus”. Não tenha receio de ser imoral quando
o assunto for sexo, essas palavras acabam sendo até excitantes
para as gatas.
“Veja bem, nenhum cara em sã consciência na face da Terra dirá
à gata “Vou meter meu pênis em você ou meu pinto em você”, não, o
certo é “vou meter meu pau em você”, olha como tem mais força.”
Victor diz tudo numa seriedade que deixa a cena ainda mais
hilária, e continuo rindo sem parar, bestificado com tantos nomes que
existem.
— Cara você é muito louco — comento, em meio às
gargalhadas.
— Tu também será — avisa — E vai adorar. E aí, vai querer
abordar hoje?
— Vamos lá — respondo, empolgado.
— Olha aí! — exclama Victor, ainda mais animado. — É assim
que eu gosto de ver!
Mais tarde, no banho, uso o barbeador para diminuir essa
cabeleira das axilas, percebo que o excesso de pelos me faz
transpirar bastante. Quando chego na parte de baixo, resolvo tirar
tudo, e sem jeito, até me corto, mas nada demais. Quando concluo,
vejo que o meu pau parece ainda maior sem a floresta amazônica
que havia ao seu redor. O seguro e automaticamente lembro da
vizinha, Érica, gostosa. E num piscar de olhos, fico completamente
excitado, duro, grosso e forte, apontando para cima.
Logo estou sentado no vaso sanitário de tampa fechada, me
masturbando para Érica, e a gozada é feroz, me deixando ofegante e
um pouco trêmulo. O meu orgasmo é muito poderoso, meu coração
bate forte. Mas depois que me lavo e me enxugo, sinto algo dentro
de mim gritando por mais. Parece até um tipo de fome quente e
intensa que só a masturbação não consegue saciar. Acho que o meu
corpo pede sexo, e o meu maior sonho é transar com uma garota,
ver uma mulher nua pessoalmente. E sempre que penso em tudo
isso, lembro de Érica, no volume de suas coxas e seios.
Lembro de tudo o que Victor me disse e chego à conclusão de
que, para perder logo a virgindade, só depende exclusivamente de
mim. Para que eu seja respeitado também só depende das minhas
atitudes. Não sei se consigo mudar tanto assim, mas irei fazer o
máximo para tentar. Eu preciso disso. Preciso ser um Lobo de
verdade e fazer jus ao meu sangue, ao que eu sou, pois não sou um
rato do qual as pessoas têm nojo e querem manter distância. Eu sou
um Lobo Alpha. É o que sou!

Quando estou saindo de carro com o Victor, avistamos um


menino que aparenta ter uns dez anos de idade correr atrás de uma
bola que quica em direção à rua, ele sai da casa da nova vizinha.
— Quem é aquele menino? — pergunta Victor, no volante.
— Não sei — respondo.
Então, avistamos um carro se aproximando em alta velocidade
enquanto a criança pega a bola no outro lado da rua e se prepara
para voltar para casa. Percebo que ocorrerá um acidente, saio rápido
do BMW e corro em sua direção. Victor buzina, para chamar a
atenção da criança, mas ele, ao ver o carro, paralisa no meio da
estrada, assustado, porém, o pego nos braços antes que seja
atropelado.
O perigo passa rápido, como um trem desgovernado, ouvindo
um pancadão, e acho que nem percebe o acidente que quase
aconteceu.
— Olavo! — grita Érica, do portão de casa, em pânico ao ver a
cena, enquanto eu coloco o menino no chão. Ela vem correndo e o
abraça, assustada. — Olavo, eu disse a você para brincar no quintal!
Por que não me ouviu? — repreende, furiosa e preocupada,
abaixando-se para ficar da altura dele.
— Desculpa mamãe... — choraminga o menino.
— Eu lhe disse para não sair de casa! Terei que trancar o
portão, não posso confiar em você!
Observo-a, ela está usando um hobby longo, preto, não
transparente, que cobre todo o seu corpo, entretanto, pelas marcas
na seda, noto que usa outra roupa por baixo. Érica também está
mais alta, usa saltos, que quase não dá para ver por causa do pano.
Seu rosto está bem maquiado, lindo, e o cabelo preto bem arrumado,
em um longo e liso rabo de cavalo.
— Obrigada — ela volta sua atenção para mim, se erguendo,
agora está do meu tamanho. — Eu deixei ele sozinho por um
instante e olha o que quase aconteceu.
— Tudo bem, acontece — digo. — Não sabia que tinha um filho,
no dia em que te ajudei com os móveis, não vi ele.
— Você me ajudou? — pergunta, estranhando. Esqueceu? Ela
analisa meu rosto por alguns segundos, e então ri — Aah, você é o
rapaz que mora aqui do lado, o...
— Apolo.
— Ah sim, Apolo. Nossa, mas você mudou alguma coisa, está
muito diferente — ela me analisa de cima a baixo.
— Só cortei o cabelo.
— Nossa, que diferença — comenta, e sinto vontade de rir, pois
entendo seus comentários como elogios indiretos. — Deve ter sido
por isso que não o reconheci, desculpa. Muito obrigada novamente,
você salvou o meu filho.
Victor buzina, me chamando.
— De nada. Eu tenho que ir — me despeço.
Volto pro carro e Érica entra em casa com o filho.
— Nossa, que mulherão da porra, hein. — comenta Victor,
dirigindo.
— Demais — digo, encantado, pensando nela.
— E você foi o herói da história — ele sorri. — ‘Tá na sua cara
que tu sente desejo por ela.
— Está?
— Sim, mas não pode deixar tão transparente, não pra ela.
— Por que fala isso? — indago.
— Não quer conquistá-la?
— Eu? Não... — minto.
— Ah não? Achei que sim, porque se quisesse, eu te ajudaria.
Ela com certeza é do tipo que te daria uma surra de boceta.
Sinto minhas duas cabeças pensando nesta possibilidade
imediatamente! Caralho, para quê ele foi falar?! Agora estou tentado!
— Sério? — pergunto, interessado.
— Sério.
— E se eu quisesse, o que você me aconselharia a fazer?
— Ah, mas você não quer, só se quisesse — ele brinca, me
zoando, e reviro os olhos.
— Ah, sabe que quero!
— Aaah, sim, então você quer — Victor gargalha.
— Para com isso! — dou um empurrãozinho nele, de leve, rindo.
— Diz o que faria.
— Apolo, primeiro, é fato que você ainda não está preparado
para investir nela, mas isso é questão de tempo. Depois que tu
perder o medo e esse travamento quanto às mulheres, aí tudo será
bem mais fácil. Mas, por enquanto, eu diria a você que se tornasse o
melhor amigo do filho dela, sabe por quê?
— Para se manter perto — respondo, raciocinando.
— Exatamente. Vai lá depois, pergunta como o menino está, se
ofereça para prestar alguma ajuda, com certeza ela tem muito a
fazer ainda com essa mudança. Vá adquirindo intimidade e com isso
comece a procurar brechas para se aproximar dela cada vez mais.
Se essa vizinha for daquelas que curtem novinhos, vai ser melhor
ainda.
— Mas será que ela não é casada? Pois aquele menino é filho
dela.
— Descubra, se for isso, afaste-se. Mexer com mulher casada é
problema, aprenda. Mas antes, preciso fazer com que você destrave
os gatilhos que existem em seu interior e que te impedem de fazer o
que sua cabecinha insana pensa — ele ri, como sabe que penso
insanidades? Às vezes Victor parece um ser com poderes
sobrenaturais, um supermacho alpha. — E vamos começar hoje,
com as abordagens, quanto mais, melhor, a prática o levará à
perfeição.
— Eu posso falar com garotas por internet também, né?
— Claro, mas para se destravar totalmente, nada como
abordagens pessoais, filho. Internet é muito impessoal. Preciso te
jogar no campo. Irei te transformar num Don Juan.
— Entendi — digo, ansioso para começar. — Você não ia ligar
para Leda hoje e levar o carro dela para o conserto? — pergunto.
— Ela pode esperar, assim como os meus negócios. A minha
prioridade é você e sua evolução — responde, e sinto que ele está
mesmo determinado a me ajudar, e no fundo isso me deixa muito
contente.
Chegamos ao shopping, e ao ver que estou tenso, Victor senta
comigo em uma das mesas na praça de alimentação.
— Calma, não precisa ficar tenso assim. Respira — me diz, e o
obedeço. — Agora repita: Eu quero. Eu posso. Eu consigo!
— Eu posso, eu quero, eu consigo — digo, rápido, sem atenção,
olhando para os lados, nervoso, cruzando as mãos.
— Não, olhe para mim e diga devagar: Eu quero. Eu posso. Eu
consigo!
— Eu quero. Eu posso. Eu consigo — repito, olhando nos olhos
dele.
— De novo, mais forte! É preciso acreditar.
— Eu quero. Eu posso. Eu consigo! — digo, com mais crença.
— Isso, agora só mais uma coisa: às vezes, ao abordar uma
mulher, ao sentir as suas intenções ela pode te desafiar e aí tu tem
que saber agir corretamente. Então, supondo que ela ‘tá ouvindo o
seu papo e pergunte se você está querendo ficar com ela, o que irá
responder?
— Que... sim? — indago.
— Isso. Fale a verdade, não se deixe intimidar, mostre a que
veio. Agora, quer começar pela abordagem direta ou indireta?
— Direta — respondo, e Victor pensa por alguns instantes.
— O.K. mas para início de conversa, peça só o telefone, vamos
ver como se sai, e quando se sentir mais seguro, pode partir para os
beijos. Agora fique sereno, e observe o ambiente ao seu redor.
Descubra suas possíveis presas.
Faço o que Victor indica, e bebo refrigerante enquanto observo
discretamente a todas à minha volta. Avisto um trio de garotas
conversando e uma delas me chama a atenção. Falo isso ao Victor e
ele me encoraja a ir lá pedir o número dela, mas fico hesitante
porque ela está em grupo, se tivesse sozinha, seria bem mais fácil.
Mas com a insistência de Victor, levanto e caminho em direção à
minha primeira abordagem, respirando fundo. Cada vez que me
aproximo, fico mais lento.
Paro no meio do caminho, e olho para trás. Victor, com gestos,
me incentiva a continuar. Suspiro, pensativo, me falta coragem, mas
lembro que Lobos são corajosos!
— Eu quero. Eu posso. Eu consigo — sussurro a mim mesmo,
de olhos fechados, acalmando as batidas do coração. — Eu quero.
Eu posso. Eu consigo. — minhas pernas voltam a se mover, e
prossigo na minha missão. Engulo em seco quando me vejo mais
perto do trio. Olho para a minha roupa, visto uma calça jeans clara,
rasgada, e uma camisa preta, com um colar discreto e masculino no
pescoço, estou bem vestido, espero não passar vergonha.
Elas me veem chegando e paraliso na frente das três,
controlando o que parece um súbito pânico em meu interior. Engulo
em seco novamente enquanto elas riem entre si e cochicham nos
ouvidos uma das outras, olhando para mim e esperando alguma
atitude minha, é óbvio. Ao que parece, elas possuem a minha idade.
“...um Lobo deve ter atitude, mulheres gostam de caras que
dizem pessoalmente o que querem e como querem...”
As palavras de Victor ecoam na minha mente.
— Oi — falo, de coração acelerado. Acho que a minha voz soa
um pouco séria, foi sem querer.
— Oi — elas respondem, sorrindo, mas o meu foco é a linda de
pele alva, cabelo castanho cacheado e olhos castanhos.
— Oi — repito, nervoso, olhando para ela.
— Oi — ela diz, com seu lindo sorriso, e as amigas percebem
que a quero, e trocam mais cochichos, me olhando a todo instante,
sorrindo.
Droga! Tenho que continuar a falar como Victor me ensinou!
Estou parecendo um imbecil!
— É... É que eu te vi e... E queria pedir o seu... Número... Se...
Se não tiver namorado, é claro — falo, quase gaguejando, todo
hesitante, suando frio.
— Para quê? — me indaga, me surpreendendo, isso não estava
no contexto! Ou será que estava? Sim... é um tipo de desafio do qual
Victor acabou de comentar.
— Para... Conversarmos.
— Mas, por quê? — porra, como ela pergunta!
— Porque eu te achei... Interessante, e... Quero te conhecer
melhor — respondo, tentando controlar a minha respiração. Ficamos
em silêncio, a linda troca mais olhares e sorrisos com as colegas, e
então lembro do que devo fazer a seguir. Entrego meu celular a ela
para que salve o seu contato. Ela o faz, e me devolve o aparelho.
— Obrigado... — leio o nome dela — Tati.
Passo a me afastar.
— Ei — Tati me chama, me fazendo parar, assustado. — Qual é
o seu nome?
— Apolo — respondo, e após alguns segundos a olhando,
consigo até abrir um sorriso e sou correspondido enquanto sou
analisado dos pés à cabeça.
De volta para a mesa, me sinto forte, vitorioso, não sei explicar!
Porra, que legal! Victor me recebe com um sorrisão de orelha a
orelha e aperta a minha mão.
— E aí como foi? — pergunta.
— Meio tenso, mas, não é um bicho de sete cabeças. Deu certo!
— respondo, mais aliviado.
— Eu já sabia! Parabéns, meu filho! Você é demais cara! Agora
vamos adiante, você sairá daqui hoje expert nisso.
E assim, durante a tarde inteira, fiz nove abordagens ao todo,
sempre sendo observado e acompanhado por Victor. No fim,
consegui quatro contatos. Foram cinco tentativas sem êxito. Não
tentei o beijo, ainda não me sinto preparado.
Voltamos para casa felizes da vida, eu principalmente, estou me
sentindo radiante!
— Muito bem, Apolo, hoje foi mais produtivo do que imaginei,
você conseguiu fazer nove abordagens, está com quatro contatos de
lindas garotas com quem pode conversar depois. Tu aprende rápido,
e para o primeiro dia está ótimo, muito bom mesmo! — Victor me
parabeniza.
— Estou empolgado, percebi que ao longo das abordagens a
minha língua foi se soltando e meu corpo relaxou, perdi boa parte do
medo. Mas não consegui beijar ninguém — observo.
— Ainda. A tendência é sempre melhorar. A prática leva a
perfeição, e lembre-se que tocar, sorrir, olhar profundamente, faz
parte da sedução.
Na manhã seguinte, após corrermos cedinho, Victor liga para
Leda e combina o encontro com ela para o conserto do carro. Ele sai
de casa bem perfumado e brinco com isso, o provocando. É
engraçado, nunca me imaginei tirando onde dele, parece até algo
irreal.
Agora, sozinho em casa com Val e Kenai, fico no meu quarto,
jogando no meu celular, até ir à sacada e ver Érica estacionando. Ela
desce do carro e abre o porta-malas que está lotado de sacolas de
compras de supermercado.
“...se ofereça para prestar alguma ajuda, com certeza ela tem
muito a fazer ainda com essa mudança...”
As palavras de Victor vem à minha cabeça com força total! Essa
é a oportunidade! Corro e desço até lá.
— Quer ajuda? — pergunto, me aproximando como quem não
quer nada. Érica vira e me olha, aparenta surpresa.
Estou me sentindo maravilhosamente bem hoje. Finalmente
consigo me aproximar cada dia mais do meu filho, recebi o seu
perdão, e nada melhor poderia acontecer. Agradeço mentalmente a
Deus por ter me concedido essa vitória. É muito bom saber que
estou ajudando Apolo, ele está se soltando, se destravando pouco a
pouco e meu coração só tende a se encher de alegria com o sorriso
que o faço estampar no rosto. Se Laura estivesse aqui, ficaria bem
feliz também, penso.
Ainda não a esqueci. Quinze anos de convivência, de
“casamento”, entre aspas, já que não éramos casados no papel ou
na igreja, e isso nunca fez diferença em nossas vidas, sempre nos
comportamos como marido e mulher e era isso o que dizíamos à
sociedade, porque de fato nos sentíamos assim. Chamo-a hoje de
ex-mulher porque um dia ela já foi minha. Só minha.
Balanço a cabeça, decidindo desviar os pensamentos para outro
foco, já que o atual não possui mais nenhuma chance de acontecer.
Sigo dirigindo, rumo ao meu antigo bairro, lembro que vou encontrar
Leda e automaticamente recordo do ménage à trois que tive como
ela e Gui, mas as lembranças com a ruiva são mais fortes, dos seus
lábios abrindo e gemendo, dos nossos corpos quentes em contato,
da sua boceta inchada apertando o meu pau. Efetivamente eu e
Leda tivemos mais química naquela noite, gozamos incrivelmente,
enquanto Gui não parecia estar realmente presente na cama.
E agora, por um certo acaso, encontro com a ruiva no trânsito,
bato em seu carro, logo no seu, é uma estranha coincidência, e
percebo que ela ainda me atrai, mas como ser o contrário? Ela é
uma mulher linda e gostosa, apesar de achá-la novinha. Tenho trinta
e seis, Leda deve ter vinte e três ou um pouco mais, a sua aparência
denuncia a flor da sua idade, apesar de ter um corpo incrível, e
também deduzo isso pela faculdade que está concluindo.
Geralmente se conclui uma graduação mais ou menos nesta idade.
Mas a ruiva é comprometida, e há tempos abandonei tudo o que
me traz o perigo real. Não sou mais o mesmo de antigamente, desde
Laura, amadureci, ela me tornou um homem, um pai. Droga, Victor!
Esqueça-a! Enfim, não me meto mais em casos com mulheres
proibidas, o mundo está cheio de bocetas desimpedidas também,
chega de fazer casadas gozarem.
Além disso, esses tipos de casos hoje em dia não me
acrescentariam em nada. Aprendi que não devo ser conduzido pela
cabeça de baixo e sim pela de cima. Foi difícil, mas o meu amor por
minha ex-mulher me fez aprender isso. Hoje me sinto um pouco
cansado, de certa forma, em viver levando garotas para o meu
abatedouro. Já faz alguns meses que penso em um novo
relacionamento, mas não passei a procurar, estou deixando
acontecer naturalmente, não sei se funcionará. Os quinze anos ao
lado de Laura me fizeram enxergar que acordar com alguém do lado
também é muito bom e eu já estava acostumado com isso, a
transição de volta à solteirice não foi fácil. Mas, além de tudo, hoje
me sinto bem.
Estaciono de frente para a minha grande loja de autopeças, que
é também uma megaoficina, a primeira de todas que fiz questão de
inaugurar no bairro em que morei cerca de dezenove anos, antes de
ficar rico. Entro no espaço e os funcionários me cumprimentam, me
chamando de chefe. João, meu grande amigo, um cara que
considero como pai e que é o meu gerente desta loja, vem até mim,
de óculos, cabelos grisalhos, barrigudinho como sempre. Ele está na
casa dos cinquenta anos agora.
— Vic — ele me chama pelo apelido, como sempre, me
abraçando.
— Oi João, como está? — pergunto, enquanto ele me leva para
o interior do prédio, que é grande e espaçoso. De um lado, há o
pessoal trabalhando em concertos de carros, e do outro, na
recepção, atrás de uma imensa bancada, há a galera atendendo a
clientela, vendendo peças de automóveis.
— Melhor impossível, que bom que veio, já estava demorando.
Eu não sou o dono disso aqui, é você — avisa.
— Eu sei, mas você é o meu braço direito, o homem em quem
mais confio, e me sinto completamente seguro em deixar a loja
contigo. Essa semana tive que me afastar de todas as lojas e da
Alcateia também, trabalhei de casa, fazendo ligações e resolvendo
outras questões pelo notebook.
— Por quê?
— É o Apolo, está passando uma temporada comigo — informo,
e João se surpreende,
— Sério? Que bom, Vic, conta mais. — e conto tudo a ele. Ele
sabe da minha vida inteira, desde sempre, mas sobre meu filho
preferi conversar pessoalmente. — Nossa, estou muito feliz em
saber que você está com o seu filho. Por que não o trouxe? Faz anos
que não vejo aquele garoto, deve estar um rapagão.
— Ele nem parece que tem dezesseis anos de tão grande,
aparenta ser mais velho, o meu meninão — sorrio, lembrando dele.
— Era tudo o que você queria, né?
— Sim, João, e graças a Deus estou tendo essa oportunidade
de ficar com ele. Mas não foi sobre isso que vim falar.
— E o que é? Quer saber sobre as vendas? — pergunta, ao
mesmo tempo em que um carro estaciona atrás do meu BMW.
— Não, depois você me envia os relatórios, como sempre. O
meu motivo de ter vindo aqui antes do esperado acabou de chegar
— respondo, admirando a ruiva maravilhosa descer do carro com
uma saia jeans curta, as coxas malhadas à minha vista, e uma
blusinha de mangas curtas que realça o seu corpo. O cabelo está
preso a um coque simples e bonito, e assim como eu, ela usa óculos
escuros. Leda olha para a oficina, acho que tentando identificar se é
o endereço correto.
— Aaah, agora entendi — diz João, me olhando com um sorriso
maroto, denunciando que está pensando coisa errada. — Faz muito
tempo que você não traz uma mulher para me apresentar.
— Não é nada disso que o senhor ‘tá pensando, não, viu. Eu
bati na traseira do carro dela, trouxe para concertar.
— Entendi. E é só isso mesmo que tem para me contar sobre
ela? — pergunta, erguendo uma sobrancelha.
— Sim, João — falo, sorrindo para ele — É só isso.
Vou até ela, e trocamos sorrisos. Há uma maquiagem leve em
seu rosto, um batom nude em seus lábios, sua pele rosada me
chama a atenção, e lembro que a mistura das nossas cores foi
explosiva, e isso faz meu cacete vibrar na cueca agora. Calma,
jovem, penso.
— Demorei um pouco para encontrar esse lugar, é longe de
onde moro — comenta ela.
— É longe, mas verá que é o melhor — digo — Esse é o João,
um grande amigo meu, vai concertar o seu carro. — apresento, e
eles trocam um aperto de mão.
— Ah, o senhor que é o dono daqui?
— Não, sou funcionário do dono — ele aponta para mim. Ela
não precisava saber disso, mas enfim.
Minutos depois, João garante a Leda que o amasso na traseira
do seu automóvel será rapidamente restaurado, que fará o serviço
completo. E assim, enquanto os mecânicos fazem o conserto,
convido a ruiva para irmos a uma sorveteria próxima, para batermos
um papo enquanto esperamos seu carro ficar pronto. Ela pede um
sorvete de laranja e eu um de chocolate com açaí, não posso perder
a oportunidade.
— Foi só eu, ou você também achou muita coincidência a gente
ter se reencontrado assim, do nada? — indago, puxando assunto.
— Verdade. Sabe que fiquei pensando nisso o tempo todo
depois da batida? — afirma a gata — Cara, Teresina é muito
pequena — ela sorri, e que sorriso senhores. — Adorei conhecer o
seu filho, parece muito com você.
— Estávamos dando um passeio — comento.
— Que bom, pelo pouco que nos contou naquela noite, a sua
relação com a ex parecia conturbada e às vezes isso influencia na
relação com os filhos.
— É verdade, mas, felizmente, está tudo bem comigo e com o
Apolo.
— Fico feliz por você — ela põe a colher de sorvete na boca
exalando uma sensualidade natural, e meu pau vibra de novo. Fico
levemente desconcertado, desviando o olhar para a rua por alguns
segundos.
— E como está você e a Gui? — mudo de assunto.
— Estamos... bem — acho que está mentindo.
— Estão mesmo? — insisto, curioso.
— Mais ou menos, na verdade, por isso que achei até
engraçado te reencontrar.
— Por quê?
— A Gui é muito ciumenta e depois daquela noite... nós tivemos
algumas discussões.
— Que chato. Mas confesso que previ isso. Ela concordou com
a minha proposta mais por você do que por ela.
— Nos dias seguintes cheguei a essa conclusão também. Gui
não gostou.
— E você, gostou? — provoco, quero que ela diga mais uma
vez.
— Acho que já respondi a essa pergunta, senhor Victor...
— Lobo, Victor Lobo.
— Victor Lobo — repete, com um sorriso. — Que nome
marcante o seu.
— Eu tenho um opinião sobre ti — comento.
— Diga, já quero saber, sou a rainha da curiosidade.
— Não acho que você e Gui sejam iguais. Tu gosta do sexo
oposto, ela não — sou sincero, e Leda fica pensativa.
— Eu sou lésbica, real — tenta me convencer.
— Há tantos termos que dão nome ao que fazemos hoje em dia,
mas, na minha opinião, o que somos de verdade se define pelo que
realmente sentimos aqui dentro — aponto para o meio do meu
peitoral, deixando a ruiva paralisada, me observando.
— Isso foi muito bonito. Inventou agora?
Nós rimos.
— Não sei o que dizer — afirma ela, voltando a comer o seu
sorvete, eu faço o mesmo.
— Não precisa dizer nada. Não tenho nada a ver com a sua
vida. Foi só um comentário irrelevante.
— Seu comentário foi tudo, menos irrelevante. Mas... não vou
mais mentir, você está certo — ela toma um ar mais sério e reflexivo.
— As circunstâncias me aproximaram de Gui, a carência, o medo.
— Medo de quê? — ela respira fundo. — Não está mais aqui
quem falou — ergo as mãos em rendição e ela ri.
Os assuntos fluem naturalmente, rimos e conversamos mais,
sobre coisas aleatórias.
— E como é lá na boate? — ela pergunta.
— Corrido — respondo. — Mas tirei uns dias de folga para ficar
com o meu filho que está passando uma temporada comigo, porém,
tenho que voltar a trabalhar, os problemas chamam, tanto na boate
quanto nas lojas.
— E a mãe dele? — novamente ela quer saber sobre Laura,
curiosa.
— O que tem ela? — dou corda para ver aonde ela quer chegar.
— Já voltaram a se ver? Naquela noite você disse que há
tempos não a via.
— Continuamos da mesma forma.
— É difícil sair de um casamento de quinze anos?
— Na verdade, nós nunca fomos casados em termos jurídicos.
Moramos sob o mesmo teto durante todo este tempo, construímos
família, mas não éramos casados segundo a lei. Mas, respondendo a
sua pergunta, sim, é muito difícil sim.
— Por que nunca se casaram de verdade? Viviam em união
estável?
— Tipo isso — ela não precisa saber da verdade.
— Ah ‘tá — Leda percebe que não quero adentrar no mérito da
questão.
Levo mais uma colher de sorvete à boca, e em seguida a ruiva ri
de mim.
— O que foi? — indago.
— Se sujou — afirma, olhando para a minha boca.
— Cadê? — tento me limpar, mas não consigo.
— Aqui — diz ela, levando o polegar ao canto dos meus lábios,
segurando o meu queixo, e o que era para ser um toque rápido, se
torna longo e repleto de uma energia intensa que emana do nosso
contato. A nossa química é explosiva. Troco olhares de desejo com
ela, e agora a minha bermuda parece que vai explodir.
DE VOLTA À ESCOLA

“... deixe o seu instinto te guiar.”

Leda afasta a mão enquanto continuamos trocando olhares de


desejo. Eu volto a mais uma colherada de sorvete, quebrando a
nossa ligação visual quente. Penso em comê-la com gosto, mas não
posso ceder a estes impulsos. Porém, é inevitável imaginar
sacanagens com essa ruiva, ela é realmente de tirar a sanidade de
qualquer homem com essa cara de menina danada, e pior que já sei
que é boa de cama. Sei também que a marquei naquela noite, mas
estamos impedidos de ter algo a mais, ela é comprometida, e já
passou a minha época de foder com mulheres do tipo. Hoje eu só
quero paz.
— Você não deveria comer sorvete assim na frente de ninguém,
senhor Victor — brinca ela, voltando a conversar.
— Por quê? — indago.
— É muito sexy.
— Não é de propósito.
— Eu sei, e isso piora tudo — ela ri.
— Piora para quem? Você? — Provoco-a, e Leda resolve se
calar. Victor, Victor, fique na sua, me repreendo mentalmente.
Mais tarde, o carro de Leda está novinho em folha e ela vai
embora após nos despedirmos. Fico pensando que se fosse em
outras épocas, não a deixaria ir, e provavelmente a levaria para o
meu abatedouro novamente. Mas a cabeça de cima agora é mais
forte. Amém, Jesus.

Érica me observa por um instante, como se estivesse sentindo o


cheiro das minhas reais intenções.
— Ah, não precisa... — nega ela. Droga, e agora? Não posso
voltar atrás, devo insistir.
— Tem certeza? — indago — Parece que tem muitas sacolas.
— Ah... É verdade, tudo bem, pega umas para mim, por favor.
Sorrio com o seu consentimento e logo a ajudo a levar tudo para
a sua cozinha onde há algumas caixas de papelão espalhadas pelos
cantos, esperando para serem abertas, e vejo nisso uma nova
oportunidade! Mas ao pensar nesta chance, fico um pouco
apreensivo, o coração acelera, tenho que ter muita ousadia.
— Há... muito trabalho para fazer aqui ainda, né? — indago,
propositalmente, pondo as sacolas em cima da mesa.
— Sim, eu não tive tempo ainda, estou fazendo com calma —
informa, retirando as compras das sacolas e guardando em seus
devidos lugares, armários e geladeira.
— E o seu marido não te ajuda? — quero saber se é casada,
assim como Victor me aconselhou a fazer.
— Ah, não, sou viúva — afirma, me deixando contente por
dentro. Ela está livre!
— E o Olavo, onde está? Ele ficou bem?
— Ele ficará com a minha irmã enquanto concluo a organização
da casa, pois não pode chegar perto de poeira. Mas amanhã estará
de volta, deve começar as aulas na escola nova.
— Se... quiser posso te ajudar por aqui, estou sem nada para
fazer em casa mesmo — digo, devagar, como se estivesse
ponderando cada palavra, mas a verdade é que destravo a língua
aos poucos, para não demonstrar nervosismo ou que tenho
segundas intenções.
— Tudo bem, não vou negar, devo ser sincera comigo mesma,
ainda falta muito para acabar. Você está nervoso? — droga, ela
percebeu!
— Eu? Não, não, estou de boa — minto.
— Sei — comenta, erguendo uma sobrancelha, me olhando
desconfiada — Vamos fazer assim: eu termino de guardar essas
compras e você retira umas panelas que estão naquelas caixas ali e
guarda naquele armário — ela aponta o dedo na direção das coisas
citadas.
Faço o que me é designado, abro as caixas e levo panelas,
copos, talheres, pratos e outros utensílios de cozinha para os
armários brancos que contrastam com o balcão em mármore negro,
assim como a mesa. Em alguns momentos olho ao redor e noto que
a casa é bonita e bem iluminada e grande só para Érica e o filho.
De repente, sou pego de surpresa quando ela parece ter alguma
curiosidade por mim. Nós conversamos e conto-lhe um pouco da
minha vida.
— Então seus pais são divorciados e você está passando um
tempo com o seu pai — comenta.
— Sim.
— E vocês se dão bem?
— Agora... Sim, mas antes era mais complicado.
— Estão tentando ficar bem, né?
— Isso.
— E sua mãe? — pergunta, enquanto põe as últimas frutas na
geladeira.
— Viajou a trabalho, ela é fotógrafa, está fazendo algumas
exposições fora do país.
— Aah, que legal. Você entende de câmera?
— Sim, um pouco. Lá em casa há milhares delas.
Minutos depois, Érica vai ao andar de cima e me traz uma
filmadora, sentamos no sofá da sala enquanto analiso o aparelho.
— Comprei essa recentemente, mas ela está filmando somente
cinco minutos e não consigo descobrir o motivo — me informa — Já
tentei de tudo, mas não consigo concertá-la e não tenho paciência de
ficar horas no telefone reclamando com a vendedora, comprei pela
internet.
— Ah, isso é simples — digo, mexendo nas configurações da
câmera. — Deixa eu ver... Pronto, olha aqui — digo, pondo para
filmar.
— Teremos que esperar cinco minutos para saber se ficou
normal mesmo — ressalta ela.
— Ah, também tem um problema no foco — observo.
— É verdade!
Rapidamente ajusto todos os defeitos do aparelho e o deixo
pronto para fazer bons vídeos.
— Está concertado. Você é produtora? — pergunto, por
curiosidade, entregando-lhe a filmadora.
— Não, uso a câmera para me divertir.
— Trabalha com o quê? — tento puxar assunto.
— Em casa, na internet, sou empreendedora digital.
— Que legal. Quer dizer que... Vende coisas na internet?
— Sim; bem, Apolo, obrigada, acho que já me ajudou muito por
hoje — ela está me mandando vazar novamente? Sim, está, e a
minha próxima parada é no portão de fora. Mas antes de partir,
lembro de algo.
— Notei que... a sua piscina... ainda está suja — digo, hesitante,
jogando a ideia.
— Sim, é verdade, por quê? — indaga ela.
— Se quiser eu...
— Quero — responde, sorrindo. Como é linda meu Deus! —
Pode ser segunda à tarde?
— Por mim, tudo bem — falo, ansioso para que esse dia chegue
logo.
Retorno para casa feliz e Val, ao me ver, pergunta:
— Que sorrisão é esse? Viu um passarinho verde?
— Acho que sim — digo, indo para o meu quarto, onde troco de
roupa e em seguida sigo para a academia, empolgado.
Quando Victor chega, me encontra malhando.
— Muito bem — diz ele, entrando na academia. — Gostei de
ver, filho.
— Como foi com a Leda? — pergunto, enquanto malho os
bíceps.
— Tudo bem, seu padrinho concertou o carro dela.
— Tenho novidades, ajudei a Érica hoje — digo, sorrindo.
— Sério Apolo? — indaga, surpreso. — Mas já? Como foi?
— Ah, foi legal, ajudei a ajudei com as compras. Você tinha
razão, ela tem várias coisas para mexer no imóvel ainda.
— Ótimo, acho que você deixou uma boa impressão. Aprenda
Apolo: a primeira impressão é a que fica e dificilmente terá a chance
de causar uma boa nova impressão, por isso, cuidado no seu
comportamento. Apesar de ainda ser um adolescente, mostre a ela
entrelinhas que é um homem também.
— Entendi. Antes de ir embora, ela aceitou que eu voltasse
depois para limpar a piscina.
— Ótimo, criou mais uma oportunidade de manter contato. Mas
aja com cautela, ‘tá bom?
— ‘Tá.
— E as gatinhas que abordou no shopping? Já conversou com
alguma?
— Sim, mas só duas estão me respondendo — informo, e Victor
ri.
— Você está me saindo mais rápido que a encomenda, garoto,
isso é muito bom. Veja se consegue marcar um encontro com uma
delas, será ótimo para exercitar o seu papo.
— Para hoje?
— Quanto antes melhor.
Mais tarde, após tomar banho, envio mensagens
simultaneamente para os meus dois contatinhos. Tati me responde
primeiro, a linda com a qual fiz a minha primeira abordagem.
Convido-a para irmos ao shopping pegar um cinema, e ela aceita.
Ótimo!
Mais tarde, ao cair da noite, Victor me leva ao shopping e me dá
alguns conselhos enquanto caminhamos para o cinema, o local do
encontro.
— Fique calmo. Sinto que você está um pouco nervoso e
ansioso, aproveite o escurinho do cinema para passar o braço pelos
ombros dela, e se perceber que está rolando um clima, não perca a
oportunidade e a beije, entendeu?
— Sim, sim. Mas será que ela... Vai gostar? Eu nunca beijei
antes.
— Aprenderá na prática, é a melhor maneira! Tenta ser suave e
intenso ao mesmo tempo, só não vai encostar nos dentes da menina
— ele gargalha, enquanto permaneço nervoso. — Aprenda a ler as
entrelinhas, às vezes é difícil perceber quando elas estão afim, mas
outras vezes é bem fácil. Enfim filho, relaxe, e no fim, deixe o seu
instinto te guiar.
— Meu instinto?
— Sim Apolo, quando não tiver ideia do que fazer, ouça o seu
instinto e o obedeça, assim vai dar certo.
Minutos depois, espero no local marcado enquanto Victor me
observa de longe. Faltam apenas dez minutos para o filme começar
e nada da menina de lindos cachos castanhos aparecer, mas
finalmente ela chega, vestida em um short jeans branco e uma
blusinha colada com mangas, seu cabelo brilha, seu perfume me
deixa encantado. Ela está levemente maquiada, bonita.
— Oi Tatiana — a cumprimento.
— Me chama de Tati — diz, sorrindo. Olho para Victor e ele faz
um sinal com os olhos, então troco beijinhos com ela no rosto.
— Acho melhor irmos para a sala, todos da fila já entraram —
proponho.
— Ah, vamos sim, foi mal, me atrasei — ela se desculpa e
entramos no cinema.
Esse é o meu primeiro encontro. Nossa! Nem acredito. Vai
Apolo, é só tentar ser um garoto normal, penso.
Não demora para Tati e eu estarmos no escurinho do cinema
como previsto. Assistimos a um filme de comédia-romântica que ela
queria ver. Estou um pouco tenso ao seu lado, sempre pensando se
ela está curtindo estar comigo. Finalmente decido prestar atenção no
longa e acabo relaxando sem perceber.
Aos poucos, me pego gargalhando com ela que, por sinal, tem
um lindo sorriso e seus lábios à toda hora parecem me chamar,
engulo em seco, pensando nisso. Lembro do que Victor falou e,
vagarosamente, levo o braço aos ombros dela, recebo o seu olhar
curioso, que depois volta a mirar a telona.
O filme termina, e nós saímos. Fico me perguntando se perdi a
chance de beijá-la, e sigo calado, pensando.
— Não gostou do filme? — pergunta ela.
— Gostei muito — respondo.
— Acho que não, você parece estar com a cabeça longe.
— Não, é que... Esse é o meu primeiro encontro.
— Sério? — pergunta, e parece muito surpresa.
— Sim, só estou um pouco nervoso.
— Ah, mas não precisa ficar assim, está tudo bem. Você está se
saindo muito bem — ela me elogia, sorrindo, fico contente e acabo
relaxando mais.
Nós passamos a caminhar pelo shopping e paramos em um
canto, em um dos corredores.
— E você, gostou do filme? — puxo assunto.
— Amei! Adoro histórias românticas e com comédia ficam ainda
melhores...
Enquanto ela fala, ao olhar para o lado, sinto como se o tempo
paralisasse por alguns instantes quando avisto meus inimigos.
Isabela está parada, a alguns metros de distância, me observando
com as suas duas amigas, elas parecem surpresas ou
impressionadas comigo e para piorar, Samuca também aparece com
a sua gangue. Estão em um encontro? Ele nota que as garotas me
observam, e ao me ver, fica surpreso. Fecho a cara para todos eles,
suas presenças me incomodam. Troco olhares de raiva com Samuel.
Penso em sair daqui, me afastar, me esconder ou permanecer
oculto como sempre fiz na escola, mas imediatamente lembro das
palavras de Victor me encorajando, e decido permanecer
exatamente onde estou. E só então, ao sair de todos os meus
pensamentos, volto a escutar a voz de Tati que continua falando
sozinha do filme, sem perceber:
— E eles se beijaram no primeiro encontro, aquela cena foi
demais...
Penso rápido, não irei fugir, ao invés disso, irei provocar, e Tati
acaba de me dizer como. Junto toda a coragem do mundo e a beijo,
interrompendo a sua fala, a pegando de surpresa. Mas, na verdade,
o que faço é encostar os nossos lábios. A cena é engraçada, ficamos
assim, parados, com as bocas grudadas uma na outra sem nenhum
movimento. Ela me olha de olhos arregalados, assustada com a
minha atitude, e eu a olho como se falasse "por favor, me desculpa,
mas preciso fazer isso". Entretanto, pelo jeito, Tati não entende nada!
Esse negócio está estranho, parece que estamos em um selinho
prolongado, mas ao vê-la fechar os olhos e aceitar o meu toque,
relaxo e, automaticamente, sem perceber, levo as mãos para a sua
cintura e puxo-a para mim, pois me nasce uma vontade de querer
seu corpo junto ao meu, de querê-la mais. Isso não é proposital, pelo
contrário, é mais do que natural, quando me dou conta, já fiz.
Sou mais alto que Tati, e mesmo abaixando o rosto, tenho a
impressão de que ela se ergue na ponta dos pés para facilitar o
nosso toque, que de repente, se torna singelo. Fecho os olhos,
relaxando ainda mais, esquecendo de tudo e agora pareço sonhar.
Movimento os lábios, Tatiana me corresponde, e o beijo toma vida.
Deixo o meu instinto me guiar como Victor aconselhou, e me pego
numa troca de afeto incrível e gostosa. Não usamos as línguas, no
meu caso, tenho receio de fazer merda, e deixo os lábios se
misturarem aos dela de maneira natural, agora intensa. É fantástico,
surreal!
Finalmente afasto a boca da sua e trocamos sorrisos. Acho que
fui bem. Ela me abraça, me surpreendendo, e a correspondo. Volto a
olhar para o grupinho, Isabela e as amigas estão boquiabertas
enquanto Samuel tem uma expressão de ódio no rosto ao mesmo
tempo em que seus amigos parecem admirados comigo.
Sorrio ao vê-los se afastarem, fazer isso na frente deles me
agradou profundamente, meu ego está saciado, tenho agora uma
certa sensação de satisfação e de troco dado. Mostrei a todos que
não preciso de porra de Isabela, estou com uma melhor e mais
bonita que ela. Por fim, noto que estou excitado com esse beijo e
abraço, meu pau está muito acochado na cueca, enorme, de lado,
marcado, e tento disfarçar tal ereção que toma ainda mais volume.
Mais tarde, em casa, no quarto do Victor, sentado em sua cama,
observando-o se arrumar para sair, conto-lhe tudo o que houve.
— Então a galerinha que te humilhou na escola viu você
beijando a gata? — pergunta ele, feliz.
— Sim — respondo, contente.
— Cara, não acredito! Parabéns filho, matou dois coelhos com
uma cajadada só. Beijou a menina e mostrou para essa turminha que
é muito mais do que eles pensavam.
— Foi exatamente isso — respondo, sorrindo. — A primeira
coisa que pensei foi em me afastar, fugir, mas uma força maior me
fez ficar e beijar Tati.
— Foi o seu instinto, Apolo, o instinto de homem, de animal. E o
beijo foi bom?
— Eu curti e acho que ela também.
Victor ri para mim e muda de assunto:
— Vou para a Alcateia hoje, chegarei somente de madrugada.
Tudo bem para você ficar aqui sozinho?
— De boa — respondo, me deitando por cima dos travesseiros,
estou me sentindo muito bem comigo mesmo agora.
— Qualquer coisa me liga.
— O.K.
O acompanho até a sala, mas antes que saia, o chamo:
— Victor!
— Oi — ele vira para mim.
— Obrigado — agradeço. — Senão fosse por você, eu não
estaria me sentindo tão bem agora. Tu conseguiu me transformar em
apenas alguns dias. Pela primeira vez, sinto que... Realmente se
importa comigo.
— Farei apenas três observações no que acabou de dizer:
primeiro, não o transformei em nada, apenas ajudei a despertar as
habilidades que você já possuía. Segundo, sempre me importei
contigo, mas como já disse, cometi o erro de não demonstrar. E
terceiro, se quer mesmo me agradecer, comece a me chamar de pai,
eu adoraria.
Ele pisca para mim e caminha rumo à garagem, me deixando
pensativo. Acho que ainda não consigo chamá-lo de pai. Sei lá, é tão
estranho falar isso depois de tanto tempo.

Chega o dia de voltar às escola, e às 07h:30min, Victor me leva


para essa instituição de merda. Chegamos com dez minutos de
antecedência da primeira aula, mas ele quer falar com o Diretor, e o
conduzo rumo à diretoria. Enquanto caminhamos, todos os alunos
olham para nós, principalmente os que me conhecem. Estamos
ambos de óculos escuros, ele bem vestido como sempre e eu
também, que agora uso um uniforme escolar mais justo ao meu
corpo e uma das calças jeans que Victor comprou para mim.
O Diretor estranha a presença do Victor quando entramos na
diretoria e sentamos diante dele.
— Sim, sou o pai dele, por que o espanto? — indaga Victor,
sério e mal-encarado.
— Bem, é que nunca o vi aqui, a mãe dele, dona Laura, veio
somente uma vez senão me engano. — explica o homem, que
parece meio intimidado com o negão com cara de mal à sua frente, o
que me faz segurar um riso.
— Nós sempre fomos muito ocupados, mas isso agora vai
mudar. De agora em diante o senhor e todos aqui me verão com
bastante frequência — avisa, em um leve tom de ameaça.
— Fico feliz em saber disso, muito feliz mesmo. Gostamos de
pais participativos na vida escolar dos filhos, isso é muito importante.
— Sim, concordo com o senhor. Talvez se eu não tivesse me
ausentado, não teria acontecido a injustiça que essa instituição fez
com o meu filho — a voz de Victor é firme, séria, porém, ele não
aumenta o tom, se mantém educado. O diretor engole em seco ao
perceber que será trucidado a qualquer momento.
— Desculpe, senhor Vítor...
— Viktor — corrige, enfatizando o som do cê que existe em seu
nome.
— Senhor Victor, — ele fala de forma correta dessa vez — a
escola não fez nenhuma injustiça com o Apolo. Ele sabe que agiu
contrário às normas, feriu alunos utilizando um pedaço de madeira, e
nós procuramos adverti-lo da forma mais correta...
— E o que queriam que ele fizesse? Senhor, o meu filho foi
atraído para uma armadilha onde um bando de moleques o cercaram
para lhe bater e lhe ferir. Se ele não tivesse reagido, sabe-se lá em
qual situação estaria agora. Sem contar com o vídeo que fizeram
dele apanhando dos outros que está rolando na internet!
— Eu garanto ao senhor que nós apagamos e demos fim ao
vídeo que algumas alunas gravaram. Apolo não foi exposto a nada...
— Não foi? E a humilhação que ele passou? Vocês o taxaram
como um garoto violento, quando na verdade, ele apenas agiu em
legítima defesa. Não há nenhuma outra confusão sequer do Apolo
em sua ficha escolar. Olha, isso é caso de justiça, de processo, e
pode esperar que logo um Oficial de Justiça estará batendo em sua
porta.
— Pelo amor de Deus, senhor Victor...
— Além disso, vocês ainda o privaram das aulas por uma
semana, sendo que ele foi a vítima. Tem consciência da quantidade
de assuntos que meu filho perdeu em todos esses dias? Como
resolverão isso?
— Garanto que o aluno não será prejudicado. — O homem a
nossa frente está nervoso, suando, e estou adorando ver essa cena,
talvez assim ele saiba ser justo nesta droga de escola!
— Já prejudicaram e muito! Como eu disse diretor, o que fizeram
com o meu filho foi uma injustiça. Ele é aluno dessa instituição desde
o ensino fundamental, tenho certeza que todos sabem da sua
competência com os estudos, já foi eleito aluno do ano duas vezes,
possui as melhores notas da turma, e na primeira oportunidade, a
escola o retira da sala de aula por uma semana. É essa a imagem
que querem passar para a sociedade? Para os pais?
— Não, claro que não.
— Preste atenção: com a influência que tenho, posso acabar
com a imagem dessa escola assim como vocês denegriram a
imagem do meu filho. Vários conhecidos meus trouxeram seus filhos
para cá por indicação minha, posso lhes informar que eu estava
redondamente enganado! — Victor está pegando pesado, me
surpreendendo até, mas nada paga ver o Diretor se encolhendo cada
vez mais em sua cadeira, bem feito!
— Senhor Victor, por favor, não faça nada disso, se acalme,
veja, nós também advertimos os outros alunos.
— Mas o Apolo recebeu uma punição maior.
— Eu lhe juro em nome dessa instituição de ensino que faremos
de tudo para corrigir isso, Apolo não sairá prejudicado.
Toc! Toc! Toc!
Um homem meio afeminado invade a sala com uma câmera
fotográfica na mão. Lembro-me dele, sempre o chamam para fazer
fotografias de campanhas da escola. É um fotógrafo muito
conhecido, só não lembro seu nome.
— Com licença, com licença — pede, se aproximando, parece
irritado.
— Senhor Rick, por favor, espere um momento, eu estou em
reunião...
— Desculpe Diretor, mas não dá para esperar, só tenho hoje
para fazer as fotos e está tudo um caos! — reclama ele. — O casal
de alunos que o seu coordenador arrumou para mim está me dando
dor de cabeça. O menino loirinho é cheio de marra e fica me jogando
piada por causa da minha condição sexual, não me respeita, isso é
um absurdo!
O Diretor põe a mão na testa, preocupado e visivelmente
envergonhado, acho que ainda mais por estar na frente do Victor. Eu
não queria estar em sua pele hoje, mas essa escola é uma
verdadeira zorra mesmo. Acho bem pouco, merece mais!
— Não quero esse aluno para fotografar, já lhe disse que não
trabalho com falta de educação e respeito! E aquela menina
escolhida é cheia de mimimi também, está se achando a própria
Gisele Bündchen! Eu faço isso a anos e para várias escolas, não
preciso me submeter a essa situação!
— Oh Cristo! — lamenta o diretor. — Senhor Rick, por favor,
tente manter a calma, vou pedir para a minha secretária
imediatamente encontrar um novo casal para você fotografar,
precisamos muito dessa propaganda escolar.
— Rick Ribeiro? — indaga Victor, em tom de quem o conhece.
— Sim, sou eu — diz ele, analisando o rosto do Victor. —
Victor? Victor Lobo? Nossa, que coincidência — Victor levanta e
eles trocam um abraço e risos.
— Este é o meu filho, Apolo Lobo, também é aluno disso aqui
que chamam de escola — ele fala isso mirando o Diretor que não
sabe onde enfiar a cara.
— Prazer Apolo... Olha que menino bonito — nós trocamos um
aperto de mão enquanto ele me analisa. — Você estuda aqui?
— Sim — respondo
— Por favor, fique de pé para que eu possa te ver melhor — me
pede, olho para Victor que balança o rosto positivamente e o
obedeço. Rick me analisa de cima a baixo cuidadosamente, a olhos
nus, e depois me fotografa rapidamente, de surpresa.
— Olha aqui Diretor, já encontrei o meu modelo, Apolo Lobo é
perfeito, o verdadeiro símbolo de estudante juvenil gato, ele ficará
ótimo nos outdoors — fala Rick e acho que vou entrar em pânico
com essa sua ideia.
— Eu? — indago, engolindo em seco.
— Essas fotos valem algum tipo de pontuação para as matérias
que meu filho perdeu na semana passada? — indaga Victor.
— Sim, com certeza, além de ajudar na imagem da escola —
informa o Diretor, sem graça.
— Pois vejo aqui uma oportunidade de o senhor corrigir toda
essa bagunça, não acha?
— Exato, farei isso imediatamente.
Assim, seguimos Rick até uma das salas que foi transformada
em um estúdio fotográfico com todos os equipamentos necessários
para o trabalho, vários deles conheço logo de cara devido a sempre
ver a minha mãe trabalhando com equipamentos iguais.
Rick entra primeiro que o restante de nós e, antes de passarmos
pela porta, ouvimos a voz de um cara dizer:
— Olha, ela voltou... — conheço essa voz debochada, é de
Samuel. Nossa, que droga.
Ele está ao lado de Isabela em frente a um fundo branco,
provavelmente esperando para ser fotografado. Na sala também está
Vanessa, o que nem me surpreende, pois ela parece um carrapato
atrás de Isabela. E também há uma moça, assistente do Rick.
— Voltei mesmo querido, e você já pode sair, não trabalho com
alunos mal-educados — retruca o fotógrafo.
Samuel esbugalha os olhos ao ver o diretor entrar logo em
seguida, fumegando de raiva, e fica nitidamente surpreso com a
minha presença, assim como Isabela e Vanessa.
— Esse é o cara — cochicho para Victor, que passa a analisar
friamente meu inimigo. — E ela é a namorada dele.
— Samuel, venha direto para a minha sala. Agora. — chama o
Diretor, entredentes, fuzilando o otário com os olhos.
— Alice querida, prepara o Apolo, ele será o meu modelo —
pede Rick à sua assistente, o que deixa Samuel visivelmente puto.
— Ponha a sua mochila ali — pede Alice para mim.
— Samuel, estou te chamando, me acompanhe imediatamente
— repete o diretor, de voz firme.
Me dirijo para deixar a mochila no local indicado por Alice ao
mesmo tempo em que Samuel caminha em direção ao diretor,
passando por minhas costas. Não sei o que acontece, mas quando
me dou conta, Samuel está no chão. Rick cai na gargalhada
enquanto os outros estão nitidamente surpresos, só eu e o Diretor
parecemos fora de contexto.
— Tudo bem, cara? — indaga Victor para Samuel,
sarcasticamente. — Você escorregou, né? Vem cá, me dá a tua mão,
deixa que te ajudo a levantar — Ele estende a mão para Samuel
que, receoso e raivoso, aceita a sua ajuda — Prazer, eu sou Victor, o
pai do Apolo. — diz, mirando Samuel de maneira ameaçadora.
O garoto loiro fica completamente sem estrutura.
— Isa, vem comigo! — chama pela namorada, emburrado.
— Eu não, quero fotografar — diz Isabela.
— Vem comigo agora!
— Cale-se Samuel! Ela não vai a lugar nenhum senão quiser.
Me siga — ordena o diretor, o otário obedece e sai furioso. Os dois
somem de vista.
— O que aconteceu? — pergunto a Victor, aos sussurros.
— Ele tentou te empurrar — me responde, no mesmo tom. —
Agora esquece isso e vai lá mostrar como se tira fotos.
— Por que está me metendo nessa?
— Obedeça seu pai, sei o que estou fazendo.
Alice me entrega uma farda escolar nova e pede para que eu a
vista, vou ao banheiro fazer isso e retorno. Isabela e Vanessa
cochicham enquanto Rick mexe na câmera. Ele pede para que eu
fique no fundo branco com Isabela e assim faço. A troca de olhares
com ela não está sendo nada agradável, ela está maquiada e linda
como sempre, mas não é mais atraente aos meus olhos. Estamos
constrangidos, obviamente pelo que houve, e Rick nota isso ao dar
os primeiros flashes.
— Não está ficando bom — diz ele. — Estão com medo de se
tocar? Se abracem direito, estão desconectados. E custa abrir um
sorriso mais verdadeiro?
Ele tenta continuar nos fotografando, mas acaba desistindo.
— Não, assim não dará certo — enquanto ele fala, Isabela revira
os olhos, sem paciência. Eu e ela não nos comunicamos em nenhum
momento, não temos nada para falar um com o outro. Estou odiando
ter que pôr a mão em sua cintura.
— Queridinha, troca com ela, deixa eu ver uma coisa — Diz
Rick, à Vanessa.
— O quê?! — indaga Isabela, incrédula. — Eu fui a escolhida
para as fotos!
— É querida, mas eu sou o fotógrafo, e sei o que estou fazendo,
por isso troque de lugar com ela.
Isabela sai do fundo branco batendo os pés com força no piso,
furiosa, cruzando os braços e ficando de olho em mim e Vanessa
que não perde tempo e a substitui, como se estivesse morrendo de
vontade de fazer isso mesmo. Concluo que representar a escola
para elas é superimportante.
Victor vem até mim, me puxa para o canto em um momento e
diz:
— Filho, relaxa...
— Não estou conseguindo — confesso. — Sinto repulsa por
aquela menina.
— Pronto, agora tente fazer bonito com essa outra, essas fotos
serão boas para você aqui na escola. E outra, preste atenção,
aprenda uma coisa: não pode demonstrar que ficou abalado com o
que esse pessoal fez contigo. Jamais demonstre as suas fraquezas
para o inimigo, se mostrar inabalável é essencial e curioso, atraente,
isso é ter superioridade, maturidade, cuja maioria dos meninos não
possuem na sua idade, mas você pode ser diferente. Lembre-se
disso! Não precisa ser falso, mas finja que eles não são nada para
você e que não te atingem mais.
— ‘Tá bom... vou tentar — afirmo, e retorno ao meu lugar.
Eu e Vanessa seguimos os conselhos de Rick. Vanessa é
bonita, cabelo preto, liso, pele alva, olhos castanhos. A abraço por
trás, sorrimos, e o fotógrafo finalmente parece satisfeito
— Isso! Isso! Muito bom, estão arrasando, ai que tudo! — diz
ele, a cada flash.
Ao ver a nova situação, Isabela fica revoltada e vaza do estúdio,
mas sua “grande amiga”, Vanessa, nem se importa com isso. Aos
poucos estamos todos nos divertindo com a sessão de fotos, e tudo
corre bem.
Quando termina, e saímos de lá, Victor me pergunta:
— Onde é a sala dos professores?
— Naquele corredor, à esquerda — respondo. — Por quê?
— Qual é o nome do seu professor de educação física?
— Ah não Victor, deixa isso quieto...
— Me diga o nome dele, moço.
— Alberto.
— O.K. Agora vá para a aula e lembre-se das minhas palavras,
mantenha-se forte e inabalável, pelo menos aos olhos dos outros.
Nos separamos, e sigo para a sala de aula. Vanessa me
acompanha.
— Oi Apolo — diz ela.
— Oi — respondo, estranhando ela falar comigo, na sessão de
fotos não trocamos uma palavra. Mas devo fingir que está tudo bem.
— Apolo, eu... Queria me desculpar pelo que houve na semana
passada. Pelo que fizemos com você. Me arrependi, fomos
completamente infantis. Eu mal estou conseguindo olhar na sua cara
de tanta vergonha, sabe...
— De boa — respondo, mentindo, e ela parece muito surpresa.
— Sério? Olha, o Samuel tinha dito que seria só uma brincadeira
e depois fez tudo aqui...
— Já disse que estou de boa, Vanessa. Não precisamos reprisar
esse assunto.
— ‘Tá bom — responde ela, encabulada. Chegamos na porta da
sala, é a hora de começar tudo de novo. — Gostei do novo estilo. —
acrescenta, sorrindo para mim de uma forma como nunca antes, e
entra.
Respiro fundo, meu coração bate forte, mas não deixarei que
esses otários me façam de idiota novamente. Juro a mim mesmo que
meus próximos passos seguirão o caminho para um novo Apolo, pois
como já me foi dito, eu não sou um rato, e sim um lobo.
Entro no ninho de cobras chamando a atenção de todos e sento
na minha carteira, na primeira fila, que parece ter ficado a semana
inteira lá me aguardando. Não olho para o fundão, pois não me
importo com quem está lá.
Volto para casa de táxi, cheio de tarefas da semana inteira para
fazer. Samuel me deu várias encaradas, mas fingi demência e não
lhe dei atenção.
Valrene me informa que Victor está dormindo, coitado, ficou a
noite toda na boate e depois ainda me levou na escola, me
defendeu, me ajudou. Tenho tanto que agradecer a ele! Almoço,
malho, tomo banho e sigo para a casa da vizinha, não esqueci do
nosso combinado. Eu lavarei aquela piscina com o maior prazer, só
para me manter por perto. Toco a campainha e ela abre.
— Oi Apolo — me cumprimenta, linda e gostosa como sempre.
— Oi.
— Entra.
Ela caminha na minha frente, me guiando por dentro da casa e
não há como eu não olhar para a sua bunda imensa que rebola
naturalmente. Quando chegamos à cozinha, encontramos um cara
sem camisa, comendo chocolate na lata.
— José, eu falei para você não fazer isso! — reclama Érica. —
Ai que nojo, vai comer tudo?
— Só um pouco, meu amor — responde ele.
Meu amor? Quem é esse cara? Não gosto da sua presença. Até
que desconfiei que meu dia estava bom demais para ser verdade.
O QUARTO SECRETO

“— Esse é o nosso segredo, você não


pode contar a ninguém.”

José parece ser desses caras meio relaxados, de boa com a


vida, que não estão nem aí para nada, resumindo, um vagabundo. É
essa a primeira impressão que tenho dele. Com seu cabelo de um
castanho-loiro, liso, e meio rebelde que chega a criar uma franja,
barba por fazer, sobrancelhas grossas e olhos escuros, tem cara de
bad boy. Temos o mesmo tamanho e aparentemente ele deve ter uns
vinte e seis anos, por aí. Érica namora com caras mais novos? Esse
pensamento vem como um estalo em minha mente.
Na verdade, ainda não sei a idade de Érica, não tive coragem de
perguntar, só deduzi, ela é linda e jovem, mas bem mulher, por isso
estipulo que esteja entre vinte e nove a trinta e dois anos, mas José
com certeza é mais novo que ela, questão de poucos anos.
— Apolo, esse é o José — Érica nos apresenta.
— E aí — diz ele, pondo uma colher de chocolate na boca. Para
piorar, o desgraçado ainda tem um tanquinho esculpido em sua pele
dourada. Pelo menos nisso somos iguais, também possuo tanquinho,
desde que me entendo por gente sempre tive gominhos no abdômen
e olha que só passei a frequentar academia agora com o Victor, a
diferença é que não ando me exibindo por aí. Não sei o motivo, mas
já não gosto dele, de verdade. Nossos santos não batem.
— E aí — respondo, desanimado.
— Vai limpar a piscina?
— Sim — respondo, seco.
— Ah, que bom, não vejo a hora de dar um pulo lá. Esse calor
de Teresina é infernal, sabe como é, né?
— Sei.
— Pois é, vê senão demora muito — como ele é folgado!
— Vem Apolo — sigo Érica até a dispensa, na área externa,
perto da piscina — Você já conhece, né? Tudo que precisar
encontrará aqui, terminei de organizar hoje — comenta, e de repente
já não sinto mais vontade de fazer isso, já tem um galo neste
galinheiro. Infelizmente.
— Eu me viro — digo, sem graça.
— O.K., qualquer coisa me pergunta.
— Cadê o Olavo?
— Escola, lá é em tempo integral, só irei buscá-lo a tardezinha.
— Ah sim.
— Sabia que ele te chama de “meu herói”?
— Sério?
— Sim — ela sorri. — Ele só quer saber de você, que o salvou
do motorista do mal.
Eu rio um pouco com essa notícia. Ela se vai, e logo estou com
um esfregão, no fundo da piscina seca, lavando tudo. Ora ou outra
ajeito os óculos e miro José na espreguiçadeira, sob o alpendre,
fumando, bem relaxado e despreocupado com a vida, enquanto eu
trabalho sob o sol escaldante — péssimo horário para lavar essa
piscina, Apolo. Me sinto fazendo papel de trouxa! Érica nunca dará
atenção a mim, ela já tem esse cara. Será que é desse estilo de
homem que ela gosta? Eu me acho tão diferente dele.
Mais tarde, com o sol se pondo, termino meu serviço e ponho a
piscina para encher e só então noto que José não está mais na
espreguiçadeira e o silêncio domina o ambiente. Me dirijo até a
cozinha e não vejo ninguém, vou até a sala e nada. Escuto gemidos
vindos do piso superior e miro a escada. Me aproximo do primeiro
degrau, escuto novamente e concluo que esses gemidos são... De
prazer? Fico surpreso ao pensar nesta possibilidade. Será que eles
estão tendo a coragem de transar comigo aqui?
É melhor ir embora, mas os barulhos continuam, e a curiosidade
me motiva a subir só mais alguns degraus para ter certeza se é o
que estou pensando. Paro no meio da escada e o som fica mais
forte. Escuto um grunhido feminino, é a Érica! Caralho! Será que está
pelada? Como é ela nua? Como será ela transando? Quando pisco,
já estou no corredor de cima. Apolo, vai embora, diz a minha
sanidade. Não, dá só uma espiadinha, fala a minha curiosidade. É
como se houvesse aqueles clássicos anjos buzinando em meus
ouvidos, um do mal e outro do bem.
Caminho a passos lentos, os gemidos se tornam mais
animalescos e percebo que a maioria deles são masculinos, só pode
ser do José. Para atiçar mais ainda a minha curiosidade, dou de cara
com a porta do quarto da Érica entreaberta, e sem pensar mais,
expulso toda a consciência que me resta e espio o interior do
cômodo, obtendo a visão dela completamente nua, sentada sobre
ele, o cavalgando feito uma amazona indomável.
Fico chocado de como a bunda da Érica é perfeita! Enorme,
maior do que aparenta quando está vestida, e bem redonda, incrível!
José está com os pulsos sobre a cabeça, presos por algemas à
cabeceira da cama, enquanto ela o domina, fodendo, sentando com
vontade, engolindo ele por completo e o socando para dentro de seu
corpo em um sobe e desce intenso e barulhento.
Continuo perplexo, boquiaberto e de pau duro, muito duro,
vendo a performance incrível de Érica que vai totalmente contra à
imagem de mãe/viúva recatada e do lar que ela demonstrava ser,
sempre vestida em roupas que lhe cobriam todo o corpo, sem
insinuações. E agora, a vejo tão devassa, feroz, faminta. Ela não
geme, mas José sim, e parece estar beirando à loucura. Tenho inveja
dele, queria estar em seu lugar e desejo agora ver essa mulher de
frente, os seus seios, o seu rosto enquanto rebola com gosto.
Para o meu azar, um dos meus desejos é atendido e Érica, de
repente, vira o rosto para mim, ferina, me descobrindo. Levo um
susto tão gigantesco que quase caio para trás, e me afasto
rapidamente, correndo para a escada, e em segundos estou fora da
casa, ofegante, e me odiando por ter me deixado levar por essa
maldita curiosidade! E agora? Nunca mais conseguirei olhar na cara
dela! E se ela contar para o Victor? Meu Deus! Apolo, o que você
fez? Era para ter escutado o anjo do bem! O do mal só te leva para
enrascadas, seu otário!
Minutos depois, estou jogado em minha cama pensando na
grande porra que fiz. Hoje a vida só me mostrou que não tenho
mesmo nenhuma chance com a vizinha, primeiro porque ela tem
namorado, e segundo porque deve estar me odiando por tê-la
espiado transando com ele. Nossa, e que transa, que loucura, que...
Ferocidade da parte dela! Érica usava José como um mero
brinquedo sexual e mais nada e isso aos meus olhos é tão...
Excitante.
Lembro da bunda enorme dela, das suas nádegas se
contraindo, do seu quadril largo subindo e descendo e quando
percebo estou me masturbando, com minha vara enorme diante de
mim, quente, pegando fogo. Como eu queria estar no lugar de José!
Minha mão se envolve em um sobe e desce violento e quando estou
prestes a gozar, Victor bate rapidamente na porta, já entrando e me
chamando, e, no susto imenso que tomo, tento puxar o lençol para
cima de mim, mas acabo caindo de bunda no chão.
— Puta que pariu! — exclama Victor, vendo o meu pau e
imediatamente cobre os olhos com os antebraços e me dá as costas.
Na agonia de tentar esconder a minha intimidade, puxo o zíper
da calça que no meio do caminho se prende no couro que cobre a
cabeça larga do meu cacete.
— AAAAH! — berro, a dor é tamanha que não consigo explicar.
— O que foi? — pergunta Victor, sem olhar para mim.
— Meu pau! Eu prendi no zíper, socorro! Socorro! — grito, quase
me rolando no chão de tanta dor.
— O quê? — Victor vira para mim sorrindo e fazendo uma careta
ao mesmo tempo, enquanto continuo gritando.
— Tira, tira, tira, tira!
— Eu não vou pegar nessa anaconda, não! — diz ele, enquanto
eu tento puxar o zíper de voltar, mas a dor é colossal.
— EU VOU MORRER! — berro, chorando e a cena é uma
loucura porque Victor gargalha olhando para mim.
— Calma! Para de se mexer! — diz ele, se aproximando.
— Por favor, me ajuda! Me ajuda!
— Cala a boca e para de se mexer, cacete! — grita ele, e o
obedeço, enquanto as lágrimas escorrem e meu coração retumba no
peito. — Agora segura o zíper com calma e puxa de uma vez.
— Não, não, não — choramingo.
— Você é um homem ou um saco de batatas? Puxa essa
merda! — diz ele, firme, e com as mãos tremendo, faço o que ele
manda e sinto uma dor lancinante quando me livro do zíper. Caio de
bruços e bato com a mão fechada no chão para tentar dissipar a dor
no meu pau, nem quero olhar para ele agora. Victor gargalha às
minhas costas e tenho vontade de matá-lo! Mas nesse momento
estou impossibilitado.
— Eita punheteiro de quinta categoria — faz piada, gargalhando.
— PARA DE RIR! — berro, o olhando, mas ao vê-lo gargalhar,
acabo gargalhando também e chorando ao mesmo tempo.
— Que merda, Apolo — ele se joga na cama, rindo feito criança.
— Você vai me pagar... — ameaço entre risos e choro, morto de
vergonha.
— Vai no banheiro te lavar, está sangrando, punheteiro!
Levanto, mal sentindo as pernas, e caminho devagar para o
banheiro, cobrindo meu pau com a barra da camisa cuja ponta está
sangrando um pouco, enquanto Victor parece que vai morrer de
tanto gargalhar. Maldito!
Mais tarde, desço para o jantar e Victor me espera na mesa.
Quando trocamos olhares, ele começa a rir de cara e eu, por mais
que queira ficar furioso com ele, não consigo segurar o riso.
— Para de rir de mim, Victor! — digo, enquanto sento na
cadeira. — Queria ver se fosse você em meu lugar sentindo a dor
que eu estava sentindo.
— Cara você tem que saber manusear o seu pau, mano — diz,
entre risos.
— Eu sei manusear, entendeu! — retruco, com raiva. — Foi só
um acidente! Culpa sua que invadiu o meu quarto!
— Mas bati na porta, não esperava que te encontraria numa
punheta furiosa — ele grita e gargalha ainda mais, enquanto ponho
as mãos no rosto para esconder a minha vergonha e a minha graça
também, pois sorrio junto. E juntos rimos até não conseguirmos
mais. — Falando sério agora, teu pau ‘tá muito machucado?
— Nada grave, só dolorido, mas passei uma pomada.
— Menos mal.
— Vida de punheteiro não é fácil...
— Para com esses comentários ridículos! — exclamo enquanto
ele ri.
— Não está mais aqui quem falou — levanta as mãos em sinal
de rendição. — Agora me diz, estava pensando na gatinha do
shopping ou na vizinha gostosa?
— Em ninguém! — rebato, emburrado.
— Fala, cara. Eu já bati punheta pensando até na Scarlett
Johansson — confessa, me surpreendendo. — Sou apaixonado
naquela viúva negra — ele cita o nome da personagem que a atriz
interpretou em Vingadores.
Me sinto relaxado com isso, ao perceber que não sou o único
que me masturbo na face da Terra, e decido me confessar:
— Estava pensando na vizinha, mas não vai rolar. Já desisti.
— Por quê?
— Ela tem namorado.
— Sério? É, mulher bonita dificilmente está solteira. Não tem
problema, esquece ela e embarca na gatinha do shopping, ela tem a
sua idade, será mais fácil lidar, ainda mais para você que está
iniciando nesse mundo das mulheres agora.
— Foi o que pensei — digo, não tão animado, porque apesar de
Tati ser uma garota linda, a vejo mais como uma possível namorada,
enquanto ao olhar para a Érica, penso em estar no lugar de José,
sob ela, na cama, sendo cavalgado. Jamais esquecerei disso,
porém, decido não contar ao Victor que andei espiando a vizinha de
maneira tão íntima.
— Só mais um conselho: cuidado para não construir uma
amizade com as mulheres com quem você tem segundas intenções.
Cuidado para não ficar na famosa friend zone, é cilada das grandes.
Há caras que ao invés de pegarem as meninas, acabam se tornando
seus melhores amigos, não seja assim, pelo menos não com as
garotas que você tem interesse.
— Tudo bem, entendido — digo, com um sorriso. — Um dia
conseguirei ser um lobo alpha permanentemente como você.
— Quem disse que sou alpha a todo tempo?
— Não?
— Filho, ninguém consegue ser alpha toda hora, todos temos
nossos momentos de betas, assim como betas também têm
momentos de alphas.
— Só não se esqueça de que deve se amar primeiro em
qualquer circunstância. Relacionamentos vêm e vão, podem dar
certo ou não, e no caso de não dar, é só partir para outra e fim. Há
muitas mulheres no mundo, entendido?
— Sim — respondo, fazendo o meu prato.
— E como está com a gatinha do shopping? — pergunta ele,
enquanto come.
— Estamos conversando, ela é legal, estou gostando dela. Mas
gostaria de fazer mais abordagens, ainda gaguejo um pouco diante
de uma mulher, quero ter mais segurança.
— Então vamos resolver isso hoje mesmo — afirma ele.

De volta ao shopping, arrumados e perfumados, Victor informa a


minha meta:
— Beijar três meninas, isso que você terá que fazer hoje. Vamos
partir para abordagens mais fortes.
— Eita! — digo, em uma mistura de ansiedade e nervosismo.
— Usa aquela abordagem das perguntas, lembra?
— Lembro sim: você tem namorado? Me acha atraente? Qual a
desculpa para não me beijar agora? — lembro das perguntas.
— Isso. Agora vai lá e arroxa!
Começo a “atacar” meninas pelo shopping, fazendo as
abordagens, escolhendo as “vítimas” e inicialmente recebo cinco
foras e tenho certeza que é por conta do meu nervosismo e língua
trêmula. Mas, tais nãos acabam fazendo eu ficar mais relaxado e
desenrolado ao falar e, com as motivações de Victor, insisto e recebo
meu primeiro sim, realizando meu primeiro beijo com apenas três
perguntas! ISSO É DEMAIS! Depois, consigo mais duas vezes, e a
noite termina comigo e Victor comemorando, jantando em um
restaurante por aqui.
E assim é a minha semana, de muito aprendizado e muitas
abordagens que estão me dando cada vez mais aprendizado e
ousadia. Aprendo novas formas de iniciar uma conversa ou finalizar.
Durante estes dias malho bastante também, pego gosto pela coisa, e
acesso diversos sites masculinos para entender como as mulheres
pensam, e tudo isso enche a minha mente com bastante conteúdo
que aplico nas abordagens. Incrível!
Na sexta-feira, resolvo marcar um encontro com Tatiana,
conversamos durante este tempo e estamos nos entendendo muito
bem.
Marcamos um cinema novamente, e quando a vejo se aproximar
de saia curta, fico excitado, mas tento disfarçar a minha ereção que
chega a doer por baixo da roupa de tão potente.
— Oi — me cumprimenta ela, sorrindo e me abraçando, a agarro
forte.
— Oi, tudo bem? — cumprimento de volta.
— Sim, e contigo?
— Melhor agora com você. — ela me presenteia com um selinho
rápido, mas puxo-a pela nuca e invado sua boca com a língua, que
por sinal, está mais saliente agora após tantos beijos que tive nas
abordagens. Para a minha surpresa, Tati sabe beijar e seus lábios
são deliciosos. Pressiono seu corpo contra o meu, esquecendo que
estamos entre várias pessoas, e o nosso beijo se intensifica, até que
ela foge, sem ar.
— Nossa! — comenta, corando, tímida, tão meiga e linda.
— O quê? — pergunto, com medo dela ter achado ruim.
— Seu beijo, está bem melhor. Não que o primeiro tenha sido
ruim, mas esse foi melhor — diz, sem graça e meu ego toca o céu.
Mais tarde, na sala escura, filme passando, de repente, eu e ela
nos encontramos num olhar mais que sugestivo e cheio de segundas
intenções, confirmando que estamos mais interessados em focar em
nós do que no filme. Tomo a atitude e a puxo forte para mais um
beijo. Misturamos os lábios que se envolvem com sofreguidão,
nossas línguas se enroscam e se conectam cada vez mais, e isso é
muito gostoso e me deixa duro feito aço, com um volume enorme
entre as pernas, que sempre tento disfarçar com a barra da camisa,
temendo que Tati veja.
No fim, trocamos sorrisos e buscamos ar, mas quero-a mais e
ficamos namorando até a sessão terminar.
Quando o filme acaba, seguimos para a praça de alimentação e
lanchamos hambúrgueres com refrigerante enquanto conversamos.
— E você estuda onde? — pergunta ela.
— Numa escola aí de merda — respondo e ela ri da piada.
— Por que fala assim?
— Porque lá é uma merda, não sabem conduzir aquilo de forma
que todos os alunos se sintam bem.
— Não se sente bem na escola?
— Agora até que as coisas estão mudando. E você, estuda
onde?
— No Instituto Focados, conhece?
— Ah sim, é bem perto da minha escola, na verdade. Estudo no
Superação.
— Ah, estudamos perto mesmo. Eu gosto da minha escola —
comenta.
— Eu detesto a minha, mas vida que segue.
— Por que não sai de lá então?
— Porque, como eu disse, as coisas agora estão mudando —
lembro que sou respeitado na sala de aula desde que voltei, pois não
deixo mais os babacas me atingirem, e algumas meninas passaram
a demonstrar interesse por mim. — No seu colégio devem ter muitos
caras que dão em cima de você — puxo assunto, sorrindo
maliciosamente para Tati.
— Sim, mas não me interessam — diz ela.
— Por quê?
— Porque eles têm a minha idade, entretanto, são muito mais
infantis. Eles não sabem chegar e se portar com uma garota como
você — fico surpreso com esse comentário, e me sinto muito
lisonjeado, fico me sentindo, na verdade.
— Você me acha mais maduro que eles? — agora estou
curioso.
— Bastante — ela ri. — Sem contar que você foi o primeiro
garoto que teve coragem de falar comigo ao vivo e em cores, os
meninos da minha escola ficam mandando recadinho pelos outros —
ela revira os olhos e eu rio. É muito bom ouvir coisas desse tipo e só
confirmo que Victor é realmente um mestre na arte da conquista!
Nós terminamos de lanchar, eu pago tudo, e passamos a
caminhar de mãos dadas.
— O que seus pais fazem? — puxo mais assunto.
— Meu pai é advogado, passa o dia naquele escritório dele, mal
está em casa, e minha mãe é professora, quer dizer, ela não atua
mais, meu pai falou que não era necessário. E os seus?
— A mãe é fotógrafa e o pai empresário.
— Legal — diz ela, nós trocamos olhares e nos beijamos
novamente. — Estou gostando de você, sabia?
— Também estou gostando de ti — digo, com sinceridade.

Ao voltar para casa, no final da tarde, e descer do táxi, ouço o


grito de Olavo que irrompe pelo portão da sua casa:
— Meu herói! — ele corre até mim e me agacho para abraçá-lo.
Olavo é muito bonitinho e fofo, gordinho, do cabelo muito liso e preto
como o da mãe.
— E ai cara! — o respondo.
— Vem brincar comigo! Vamos, vamos!
— Agora?
— Sim, vamos! — fico completamente sem jeito com o seu
pedido, até porque não entrarei nesta casa tão cedo após tamanha
vergonha que passei por culpa da minha maldita curiosidade.
— Olavo! — chama Érica, irritada, e se aproxima. Levanto
rapidamente, largando o menino, e engulo em seco ao vê-la. — Vou
ter que trancar o portão para você me obedecer e não sair mais sem
a minha permissão!
— Desculpa, mamãe, eu só vim chamar o meu herói para
brincar. A senhora deixa ele brincar comigo?
— Agora meu filho? Já está anoitecendo — me surpreendo com
a resposta dela, achei que negaria de cara.
— Por favor, por favor! — o menino implora.
— Hoje não, porque não está mais na hora de brincar, daqui a
pouco você irá jantar.
— Amanhã então? — ele insiste, e Érica olha para mim,
esperando uma resposta, o que me deixa pasmo. Ela quer mesmo
que eu ainda frequente a sua residência depois da espiada que lhe
dei?
— Por mim... Pode ser — digo, sem graça.
— O.K., amanhã de manhã o Apolo vem brincar contigo, agora
vamos para casa — ela o puxa pela mão e sorri para mim sem
mostrar os dentes. Estou impressionado!
Naquela noite, recebo a ligação da minha avó que demonstra o
tamanho incômodo que sente com a minha convivência com Victor.
— Está tudo bem vó... Não, claro que ele não me ofereceu
bebida! — digo, revirando os olhos — ‘Tá, deixa eu falar com o meu
avô — peço, querendo fugir da buzina que ela faz em meu ouvido.
Conto ao Sr. Rivaldo todas as novidades e ele adora saber de
tudo, gostou bastante da minha proximidade com Victor.
No dia seguinte, após malhar, tomo banho e sigo para a casa da
minha vizinha gostosa. Mas, dessa vez, sem segundas intenções. Já
pus na cabeça que não tenho chances com ela, e por mais que não
tenha se oposto à minha presença em seu lar, sei que não deve ter
gostado de me ver espiando-a com seu namorado folgado.
Em minutos, estou brincando com Olavo e seus bonecos de
heróis e monstros no tapete da sala de estar. Tento distraí-lo ao
máximo, apesar de não sentir nenhuma atração por este tipo de
brincadeira, mas acabo me envolvendo e arranco boas risadas dele.
— Está aqui um lanchinho para vocês — diz Érica, vindo da
cozinha e pondo uma bandeja com bolachas e dois copos de suco
em cima da mesinha de centro.
— Obrigado, mamãe — agradece Olavo.
— Obrigado — agradeço, ainda sem jeito quando ela chega
perto.
— Apolo, vou para a lavanderia lavar uma roupa, cuida dele
para mim? — me pede.
— Tudo bem — concordo e ela se vai.
Eu e Olavo damos uma pausa na brincadeira para lanchar,
apesar dele querer fazer os dois ao mesmo tempo, mas o convenço
que devemos comer primeiro.
— Quantos anos você tem, Olavo? — indago, curioso. Ele ergue
oito dedos das mãos. — Ah, oito anos, já é um homem — brinco.
— Sim, eu sou, e já sei guardar segredos — afirma, e depois
toma um gole de suco
— Que bom, também sei guardar segredos — sorrio.
— Então se eu te falar um, você não conta para ninguém? —
pergunta, ansioso.
— Não. Juro que não.
Olavo vem para o meu lado e cochicha em meu ouvido como se
nós estivéssemos com mais pessoas na sala que pudessem nos
ouvir.
— É um segredo da minha mãe. Ela pensa que não sei, mas eu
sei, vi em seu quarto. — incrivelmente esse menino consegue
despertar a minha curiosidade.
— Sério?
— Sim! Vem, vou te mostrar! — ele me puxa pela mão até que
decido levantar. — Rápido, vamos aproveitar que ela está longe —
murmura, e corro com ele para o piso superior. Lá se vou eu de novo
correr o risco de fazer merda, mas quero saber que raio de segredo
é esse.
Olavo empurra a porta do quarto da mãe, larga a minha mão e
sorrateiramente caminha pelo espaço amplo e bem iluminado, e me
chama com a mão. Antes de segui-lo, olho para os lados, meio
nervoso. Sou levado ao closet, onde Olavo me revela que atrás da
grossa cortina da parede do fundo, há uma porta. Como assim?
Nunca vi isso num closet antes e olha que já vi vários chiques como
esse.
— O que tem aí? — pergunto, aos sussurros.
— Não sei, nunca consegui entrar, mas a mamãe se tranca aqui
várias vezes e escuto uma música — diz, tocando na maçaneta, e
para a nossa surpresa, a porta não está trancada. — Olha! Está
destrancada! — diz Olavo, boquiaberto e de olhos esbugalhados.
— OLAVO! — ouvimos o grito distante da mãe dele que quase
nos mata de susto. Ele fecha a porta rápido e corre para fora do
quarto, me deixando lá sozinho. Que traidor! Mas como não sou
besta, o sigo rapidamente e fecho a porta do quarto, vendo o
capetinha descer pela escada.
— Oi mãe — diz, descendo os degraus, o sigo, vendo Érica de
mãos na cintura, nos esperando.
— O que foram fazer lá em cima? É para brincar aqui embaixo!
Está me ouvindo? — diz, séria.
— Tudo bem, mamãe.
— Me responda, o que estavam fazendo lá em cima? — ela
insiste, e vejo que o menino está sem saídas.
— Estávamos brincado de se esconder — minto, e ela parece
acreditar.
— Hum, brinquem só por aqui — repete, firme, está dando uma
ordem, e muita atenção a esse fato também, o que me deixa ainda
mais intrigado.
— Tudo bem — confirmo.
— E depois não se esqueça de arrumar sua mochila, pois
amanhã de manhã vou deixá-lo na casa da tia Maura — diz ela, ao
filho.
— Ah não mamãe! Quero ficar aqui com você! — reclama Olavo,
sentando emburrado no sofá e cruzando os braços. — Toda vez é
assim, toda vez, toda vez!
— Pare de reclamar, eu sei que você gosta da tia Maura.
— Gosto, mas prefiro ficar com a senhora! — se queixa, mas
Érica não lhe dá ouvidos e volta para a lavanderia.
Assim que ela some de vista, ele sobe no sofá, corre até mim e
cochicha em meu ouvido:
— Esse é o nosso segredo, você não pode contar a ninguém.
— Juro que não contarei — lhe assevero, mas estou louco para
saber o que há atrás daquela porta tão bem escondida. E agora sei
que amanhã de manhã os dois estarão fora de casa. Uma ideia
arriscada invade a minha mente, mas balanço a cabeça, não
querendo dar ouvidos ao anjinho do mal novamente.
Ao retornar para casa, resolvo não contar ao Victor sobre o que
vi na casa da vizinha, até porque não vi muita coisa, mas quero ver.
E também porque não direi a ele que ando espiando os quartos
alheios, pois com certeza irá me repreender, pois sei que o que fiz foi
errado, assim como na outra vez em que vi Érica fodendo com o
namorado.
Incrível como ela agiu como se nada tivesse acontecido, estou
chocado até agora com isso. Achei que em algum momento me
chamaria num canto e me repreenderia, mas não.
Na manhã seguinte, um belo e ensolarado domingo, faço o meu
próprio café da manhã — pois Valéria está de folga hoje — depois
malho, nado um pouco na piscina com Kenai, e sigo para o meu
quarto, mas antes, passo pela porta do Victor, abro-a, e vejo que ele
está em mais repleto sono, e provavelmente só acordará mais tarde,
como sempre, já que trabalhou a madrugada inteira na Alcateia.
Ouço o som do carro de Érica e, da varanda do meu quarto, a
vejo sair com o filho, deve estar indo deixá-lo com a tal tia. Olho para
a casa dela e só consigo pensar naquela porta dentro do closet. O
que será que tem lá? O que será? Não é da sua conta, Apolo!
No fim da tarde, Victor desce pela escada todo bem arrumado e
bonitão, ele tem muito estilo.
— Filho, só chegarei de madrugada, como sempre, viu? —
informa. — Estou saindo mais cedo porque tenho que resolver
algumas coisas das lojas antes de seguir para a boate.
— ‘Tá de boa — respondo.
— Quer vir comigo? — me convida.
— Não, não, eu tenho que estudar — digo, e ele vai embora.
Cerca de vinte minutos depois, da varanda do meu quarto, vejo
a minha vizinha gostosa saindo em seu carro, dessa vez sozinha.
Novamente lembro daquela porta em seu closet, e me pego roendo
as unhas com a tamanha curiosidade que me invade de averiguar o
que há lá. Caminho de um lado a outro do quarto e desço devagar
até a sala, só pensando nisso. Olavo disse que a mãe se tranca lá
várias vezes e ele escuta uma música tocar. O que ela faz ali?
Sigo até o acesso a área externa e vejo o muro que separa a
minha casa da casa da vizinha. Caminho devagar em sua direção, e
percebo que com pouco esforço, consigo pulá-lo se quiser, é baixo.
Dou meia-volta, compreendendo que isso é loucura. Mas não há
ninguém no imóvel, está vazio e não possui câmeras, pois já
averiguei, Érica ainda não mandou instalar.
Numa atitude louca, pulo o muro, depois pulo o muro de Érica, e
em segundos estou em sua propriedade, caminhando
sorrateiramente, olhando para todos os lados atentamente, com o
coração batendo acelerado e a respiração forte. A porta da cozinha
está destrancada, caminho devagar até a sala e tudo é silencioso.
Olho para a escada, e decido continuar com o meu objetivo.
Entro no quarto dela lentamente e fecho a porta, deixando como
encontrei. Me dirijo até o closet, afasto a cortina e abro a porta
escondida, ainda está destrancada, que bom!
— Um quarto secreto — falo, ao adentrar no cômodo.
O lugar é pequeno e está de luzes acesas, há uma cama de
casal com panos vermelhos e o mais curioso, uma câmera num tripé
montado na frente dela — a filmadora que concertei para Érica dias
atrás. A câmera está conectada a um notebook sobre uma mesinha
ao lado, onde também há uma espécie de controle remoto.
Há um pequeno guarda-roupas que tento abrir, mas está
trancado. Averiguo o banheiro minúsculo com uma cortina que divide
a parte do banho, e vejo uma máscara preta em cima da pia — é
aquela que vi ao derrubar a caixa repleta de peças íntimas.
Encontro uma calcinha fio-dental azul em um prendedor na
parede, só pode pertencer à Érica. A pego, a cheiro e sinto o doce
perfume da sua boceta, o que me deixa muito duro. Guardo-a no
bolso da bermuda, irei ficar com ela.
Deixo o banheiro e percebo que está tudo limpo, bem arrumado
e não há janela aqui. Sento no colchão macio, ligo o notebook, não
há senha de acesso. Vou ao navegador, abro o histórico, vejo as
pesquisas recentes da minha vizinha, e acabo entrando em um site
de fundo escuro chamado camsecreta.com, mas pede login e senha
para acessá-lo, o que me desanima, pois quero saber o que diabos
Érica faz aqui.
Entro em uma de suas pastas na sua biblioteca e vejo vários
arquivos de vídeos, movo o cursor do mouse para abrir o primeiro,
porém, ouço um barulho e tomo um baita susto. Ela voltou! Penso.
Fecho todas às páginas que abri no notebook e o desligo, levantando
da cama em seguida. Abro a porta do quarto e vejo Érica falando ao
telefone dentro do closet, de costas para mim. Puta que pariu! Me
fodi!
Fecho a porta lentamente e caminho para um lado e outro,
agoniado, pensando no que fazer. COMO VOU SAIR DAQUI? Estou
preso! A única saída é pelo quarto dela!
Antes de poder pensar mais, ouço o som dos seus saltos se
aproximando e corro para o banheiro numa velocidade absurda,
fugindo dela como o diabo foge da cruz! A porta se abre e ela
continua falando ao telefone.
— Não venha hoje José, quero ficar sozinha, preciso trabalhar
— diz, e me escondo atrás da cortina no momento em que ela entra
no banheiro, quase sou pego no flagra. Estou tremendo tanto agora
que acho que vou enfartar. Se ela abrir esta cortina estarei fodido de
uma maneira inexplicável. Nossa, o que fiz da minha vida?!
Deduzo que Érica está se olhando no espelho enquanto
continua falando ao telefone.
— Você vai fazer o que eu pedi? — indaga ao namorado. —
Que se foda ela, José, se você não é homem o suficiente para fazer
isso, conseguirei um que seja, mas não vou desistir! Tchau!
Escuto-a ir embora e suspiro aliviado, minha testa sua de
nervoso. Saio do meu esconderijo e, caminhando pelo quarto como
se estivesse pisando em ovos, tento escutar algo do outro lado da
porta, mas não escuto nada, tento abri-la, e não consigo. Estou
trancado! E agora?

Fico na loja de autopeças com João resolvendo diversas


pendências até chegar o momento de ir para a Alcateia, onde há
mais trabalho. Apesar de Everton ser um gerente competente, tem
muita coisa que só eu consigo resolver. Fico as primeiras horas no
meu escritório, no segundo andar do prédio, assinando vários
documentos. Everton está na minha frente, vestido
extravagantemente como sempre, me aguardando terminar o
serviço.
— E só mais esse para finalizar — falo — Ou há mais Everton?
— Sim, chegou essa citação da justiça, a Lúcia entrou com uma
causa trabalhista contra o senhor — informa ele, e eu já fico puto.
— Caralho, paguei todos os direitos dessa mulher quando a
demiti, o que ela ainda quer?
— Pelo jeito afirma que foi demissão sem justa causa, quer nos
roubar.
— O meu advogado já está sabendo?
— O Dr. Cláudio? Com certeza, ele disse que já está tomando
todas as providências, e que depois vai precisar conversar
pessoalmente com você.
— Menos mal, quero resolver isso logo e me livrar dessa mulher.
Maldita contratação viu Everton! — reclamo, me levantando.
— Ah, eu não prevejo o futuro! Esse povo hoje em dia faz
qualquer coisa para ganhar dinheiro — resmunga ele.
— E o novo estoque de bebidas, já chegou? — pergunto,
mudando de assunto, saindo da sala, Everton me segue, com os
documentos que lhe dei nas mãos, mais a sua caderneta e caneta
que não larga por nada nessa vida.
— Está chegando nesse exato momento.
As próximas horas são de mais trabalho antes da boate abrir. O
prédio se divide basicamente em três partes: o térreo, onde
acontecem as baladas e shows dos DJ’s, um espaço enorme com
bar, palco, pista de dança, sofás e banheiros, além de uma
decoração surreal e incrível. No primeiro andar, o ambiente muda
radicalmente, lá encontramos um lugar acessível somente a pessoas
selecionadas e que curtem um universo fetichista que envolve
máscaras, shows de strippers, sadomasoquistas e salas íntimas
onde pode acontecer tudo, menos sexo, regra que eu, o dono,
costumo desobedecer. Esse espaço também é composto por palco,
bar e camarote. E no segundo e último andar, fica o escritório e a
sala de controle onde um funcionário observa tudo que acontece
pelas câmeras.
Supervisiono o novo estoque de bebidas, resolvo alguns
problemas com a DJ da noite, e após a meia-noite, a Alcateia está
lotada, como sempre, graças a Deus. Agora estou no bar do térreo,
conversando com o barman e tomando o meu drink, descansando
um pouco e observando o movimento de pessoas dançando e se
divertindo com a festa que já está a todo vapor. O ambiente é
iluminado apenas por lasers que se movimentam freneticamente em
todas as direções. Fogo e confetes explodem do palco, levando a
galera à loucura. É mais uma noite de sucesso! Amo proporcionar
toda essa diversão para as pessoas. Amo o meu trabalho.
De repente, para a minha infelicidade, uma briga acontece no
meio da multidão, e antes que eu chame os seguranças pelo rádio
transmissor que está em meu bolso traseiro da calça, os vejo em
ação, dissipando a confusão. As pessoas abrem uma roda e decido
me aproximar para verificar do que se trata, mas a música não para.
Tenho uma surpresa imensa quando vejo Leda desmaiada no
chão enquanto dois caras são segurados pelos seguranças.
— Estou com ela, estou com ela — diz um deles, que parece
drogado, tem cara de vinte e poucos anos, de moleque
irresponsável.
— O que está havendo aqui? — pergunto ao meu segurança
que segura o moleque.
— Aquele rapaz afirma que este aqui deu um boa noite cinderela
para esta moça desmaiada e que pretendia estuprá-la.
— É verdade, ele me chamou para fazer essa merda com ele,
mas eu disse que não, disse para parar, mas não me deu ouvidos,
então tive que usar a força, porque isso é uma covardia! — diz o
outro rapaz, que parece sóbrio, enquanto me agacho perto de Leda,
tentando acordá-la, mas é óbvio que ela está dopada. Já passei por
isso, sei como é.
— Isso é mentira! — diz o moleque irresponsável.
— Olhe os bolsos dele — ordeno, e o segurança me obedece,
encontrando um saquinho transparente com comprimidos. É
verdade!
Levanto furioso e soco a barriga do infeliz, lhe retirando todo o ar
e o fazendo ficar vermelho.
— Leve-o daqui e chame a polícia. — Ordeno, e o meu
segurança brutamontes me obedece. Olho para o segundo
segurança que, ao meu sinal, larga o outro rapaz, vou até ele. —
Não se preocupe, eu conheço essa mulher, ela se chama Leda, irei
cuidar dela até que fique bem. Você sabe da namorada dela, a Gui?
— Pelo que sei agora ela está solteira — informa ele, e me
surpreendo.
Em seguida, pego a ruiva no colo e saio da boate após avisar
Everton pelo rádio transmissor que terei que partir. Deito ela no
banco traseiro do meu carro e em segundos dirijo rumo ao meu
apartamento, vulgo abatedouro, é o único lugar aonde posso levá-la,
pois em casa está Apolo, e só íntimos andam lá.
Estaciono no subsolo e consigo fazê-la caminhar até o elevador.
Leda parece bêbada, mas sei que é o efeito da droga em seu corpo,
apesar de eu sentir um baita cheiro de álcool vindo dela.
Entramos no meu AP, está tudo em mais perfeito estado, já que
a diarista sempre vem limpar. Levo a ruiva até o meu quarto, onde
fizemos aquele sexo à três, e penso que é uma grande ironia
estarmos aqui de novo. A deito na cama, e ela apaga
completamente. Tiro suas sandálias, deixo sua bolsa sobre o criado-
mudo e ligo o ar-condicionado.
— Você aparecendo mais uma vez em minha vida, né? —
indago para ela, sentando ao seu lado.
Afasto uma mecha vermelha do seu lindo rosto. Coitada, quase
aconteceu com ela o que fizeram comigo no passado. Malditos todos
que se utilizam desse golpe nojento para conseguir sexo! Imbecis!
Ela escapou de um estupro!
— Você é linda — a elogio, contemplando a sua beleza. Sinto
vontade de beijá-la, mas me controlo.
Em seguida, a cubro com o edredom, encosto a porta do quarto
e sigo para a sala, respirando fundo.
— Que doideira — digo, sentando no sofá.
CAM GIRL

“— Agora sim vou te foder.”

Preso no quartinho secreto na casa da Érica, não sei o que


fazer. Não posso chamar o Victor e dizer simplesmente que invadi o
domicílio da mulher, sem falar na situação constrangedora que seria
ela me encontrar aqui, seria completamente ridículo. Isso se chama
invasão de privacidade, acho que posso até sofrer algum tipo de
consequência jurídica se Érica quiser. Tenho que pensar em outra
forma de fugir antes de ser pego, mas como? Passo umas duas
horas pensando e pensando e não chego a nenhuma conclusão
satisfatória.
Por fim, acabo ficando com sono, mas lembro que não posso
dormir na cama, vai que ela aparece e me flagra. Decido deitar no
chão do banheiro atrás da cortina, é o lugar mais seguro, a minha
única opção. Mas não durmo bem nesse chão frio.
Em algum momento, acordo com um barulho, abro os olhos
assustado, pensando ter sido descoberto, mas percebo que não.
Olho o relógio de pulso que marca 9h. Nossa, já amanheceu! Passei
a noite fora de casa! E se Victor estiver me procurando? Olho o
celular rapidamente e não há nenhuma chamada perdida, mas
encontro uma mensagem sua enviada ainda ontem a noite avisando
que não dormiria em casa. Graças a Deus.
Ouço passos e permaneço imóvel em mais completo silêncio.
Finalmente tomo coragem e puxo o mínimo possível da cortina, bem
lentamente, e me surpreendo absurdamente com a imagem que vem
aos meus olhos esbugalhados! É impressionante! A minha vizinha se
transformou em outra pessoa!
Ela está vestida de uma forma incrivelmente sexy, usa meias
que cobrem sensualmente as suas pernas, deixando a bunda de
fora, com cinta-liga e uma calcinha fio-dental acochada, de maneira
que consigo até mesmo ver sob o tecido quase transparente o
volume e a delicadeza de sua boceta atrativa. Uau! Na parte de
cima, ela usa um espartilho em renda que desenha suas curvas
voluptuosamente, os seios estão apertados em um decote
avassalador, me deixando de pau duro em segundos. Todo o seu
look é em tom de preto, com partes em azul-marinho, no espartilho.
Ela está deliciosamente incrível, pronta para alguma coisa ou... Para
alguém! Será que José está chegando? Isso me deixa preocupado.
Mesmo assim, me encontro maravilhado, completamente surpreso,
boquiaberto com essa visão do paraíso.
Érica se olha no espelho e termina de se maquiar, sem notar a
minha presença. Ela está uma verdadeira tentação, seu cabelo se
encontra em um rabo de cavalo perfeito, a cascata negra desce por
um de seus ombros. É a coisa mais gostosa que eu já vi na minha
vida, além de ser a primeira vez que observo uma mulher vestida
assim, tão perto de mim, a um passo de tocar. Isso é tão... Excitante.
Meu cacete lateja, fazendo um volume enorme entre as minhas
pernas.
Por fim, a minha vizinha tesuda põe a sua máscara que cobre
metade do seu rosto, deixando nariz e boca de fora, fascinante! Para
que isso? O que ela vai fazer? Penso que, provavelmente, se eu a
visse com essa fantasia em outra ocasião, não saberia que era ela. A
mulher sai do banheiro e finalmente consigo suspirar, impressionado.
Onde está aquela dona de casa, mãe, tão recatada e do lar como
aparentava ser?
Ouço seus saltos, alguns sons incompreensíveis e, de repente,
uma música sexy começa a tocar — Olavo disse que escutava
música vinda daqui, é isso! O que será que ela está fazendo?
Continuo escutando coisas que não consigo compreender e a
curiosidade me ronda de forma avassaladora. O que acontece nesse
quarto? O que essa mulher faz aqui vestida para matar desse jeito?
Há mais alguém? José? Preciso descobrir.
Levanto devagar, afasto a cortina lentamente, caminho até a
porta entreaberta, e arregalo os olhos ao ver a minha vizinha deitada
na cama de pernas arreganhadas para a câmera e o notebook. Ela
está se filmando!
Érica olha sensualmente para a filmadora e põe um dedinho na
boca, sorrindo sacana. Em seguida, desce a outra mão por seu
corpo, acaricia sua boceta por cima da calcinha e geme gostoso, me
fazendo engolir em seco e ficar quente, muito quente.
Ela está tão diferente, tão... Safada! Coisa que jamais imaginei!
Seus dedos salientes ultrapassam a peça íntima e não consigo crer
que vejo-a se masturbar bem na minha frente!
— Aaai... — mia, safada! Estou em choque! Ela se toca
lentamente enquanto chupa o dedo, erótica, libidinosa, assanhada,
cachorra, sob a lente da câmera. Não consigo parar de espiá-la, não
consigo evitar a rigidez em que se encontra meu pau agora, ele luta
contra as vestes, me incomodando, querendo sair. Será que Érica
está em uma live com o namorado? Que putaria deliciosa é essa?
A mascarada retira a calcinha lentamente, deslizando-a por suas
coxas alvas e torneadas, me fazendo estremecer de tesão e adquirir
grande expectativa do que virá a seguir, e aperto o pau sob a roupa.
Ela molha dois dedos na boca e para me levar a loucura de vez, os
penetra em sua boceta. Meu queixo vai ao chão com essa cena!
Vejo-a jogar a cabeça para trás, sobre os travesseiros e arquear o
corpo, sempre arreganhada, se masturbando.
— OOR! — ela grunhi alto, usando a mão livre para apertar os
seios ainda escondidos na roupa.
Seus dedos continuam estocando em suas entranhas, cada vez
mais rápido, transformando a mulher numa devassa completa, que
se contorce sensualmente na cama, se apertando toda, olhando para
a tela do notebook em alguns momentos, como se estivesse
conferindo algo, e ri como uma puta, piscando, o que me faz
confirmar que ela está mesmo conectada com alguém. Será José ou
outra pessoa?
A minha vontade agora é de me jogar nessa cama e transar com
ela loucamente, perder a minha virgindade, me satisfazer e satisfazê-
la. Quero a minha vizinha!
Mas as surpresas não cessam! Érica para com a masturbação,
levanta, abre o guarda-roupas com uma chave e retira de lá um
caralho negro enorme, de silicone, fazendo-me erguer as
sobrancelhas e quase expulsar os olhos do corpo de tão chocado!
Meu coração até bate mais acelerado, fico incrédulo, prevendo o que
vem a seguir, porém, sem querer acreditar!
Ela fica de quatro sobre a cama, com a bunda enorme e
redonda para a filmadora que ajusta com o controle remoto enquanto
mira o notebook. A lente da câmera se move, abaixando um pouco,
ficando melhor direcionada para o seu bumbum empinado. Ao se dar
por satisfeita, ela deixa o controle de lado e pega um frasquinho
sobre o criado-mudo — momento em que percebo que há alguns
acessórios lá ainda irreconhecíveis para mim — abre-o, e despeja
uma espécie de óleo sobre suas nádegas perfeitas.
É incrível como ela faz tudo rápido, com agilidade, e fica visível
que é acostumada com isso.
Tenho um impulso, e resolvo registrar o que está prestes a
acontecer. Pego o celular no bolso da bermuda e passo a filmar tudo.
Érica rebola a bunda empinada, fazendo o líquido cintilante molhar
tudo até a sua boceta. Em seguida, a diaba faz suas nádegas
baterem uma contra a outra, melando toda a sua intimidade, as gotas
do óleo descendo por suas coxas, me deixando fascinado e com
água na boca.
Agora é a vez do pau de silicone, que é lambuzado inteiro
também, até a base, e chego à conclusão que esse líquido deve ser
um tipo de lubrificante. O membro encrustado de veias fictícias é
posto em pé atrás do bumbum dela, e com malícia, a ponta
escorrega para dentro da xota de Érica, pouco a pouco, fazendo meu
corpo queimar.
— Aaai... — mia, depravada, imoral, libertina.
E assim, a minha vizinha passa a foder com seu brinquedinho,
penetrando-o em sua boceta lentamente, sem utilizar as mãos,
somente com a malemolência do seu quadril saliente. E quando
metade do caralho preenche as suas entranhas, ela passa a ir e vir
com a bunda, ondulando o quadril, para cima e para baixo, criando
as penetrações, rebolando, gemendo como uma puta, como uma
daquelas atrizes pornôs que costumo assistir.
Meu Deus, estou tão quente com essa cena que não resisto
mais em me manter no papel de apenas telespectador. Meu pau
pulsa fulminantemente e parece até que vai rasgar a roupa! Abro a
bermuda, desço a cueca e o mastro surge feroz, sacolejando bruto e
duro, grande, pesado, apontando para o alto, parecendo que vai
explodir de tão inchado. Guardo o celular, e sem mais demora, passo
a me masturbar enquanto admiro a performance da gostosa na cama
ao som da batida sensual.
Érica, além de tudo, ainda consegue se manter no ritmo da
música enquanto sigo o ritmo de seu rebolado, imaginando o meu
pau no lugar daquele que a penetra e enche o seu corpo. Estou
excitado em um nível incomum, jamais fiquei tão louco assim por
uma mulher, penso várias vezes em invadir o quarto e lhe foder, é
uma tentação agoniante estar tão perto dela agora e ao mesmo
tempo tão distante. É como se houvesse uma parede de vidro entre
nós.
Toco-me na velocidade em que ela faz sua bunda subir e descer,
investindo pesado contra o pau de silicone, cujo corpo passa a ser
melado por uma espuma branca. Ela está gozando?
— OOH! — grita, com prazer, levando a mão ao clitóris após
parar com o rebolado.
Érica olha para a filmadora com um semblante que reflete uma
certa tortura sexual, gemendo cada vez mais alto e depois mordendo
o lábio inferior. Ela retira o brinquedo de suas entranhas rapidamente
e, ainda se masturbando, penetra os dedos da mão livre em seu cu,
me levando à perdição total! Aperto o meu cacete com força,
escorregando a mão nele para cima e para baixo freneticamente, em
um fogo absurdo, lascivo, colossal.
— AAAH — ela grita, esguichando, me deixando ainda mais
surpreso e encantado, carregado de tesão. Não consigo mais me
conter, também irei explodir! Caminho depressa para trás da cortina
e ejaculo poderosamente contra a parede. Os jatos voam da fenda
da cabeça do meu pau com uma força invencível, animalesca,
melando tudo pela frente. Mordo os dedos da mão para não gemer,
enquanto ofego e o coração retumba no peito como se fosse
atravessá-lo.
Jamais cheguei ao orgasmo com tanta potência. Sinto-me
tremer, minhas pernas enfraquecem e arrasto as costas pela parede
até o chão, onde fico sentado, embevecido, extasiado, tomado pelo
prazer que essa mulher conseguiu me causar apenas com a sua
visão. Fecho a cortina vagarosamente e vejo meu saco inchado
enquanto espermas ainda saem de mim, me sujando, e olho à minha
frente a sujeira que fiz, e não foi pouca. Há tanto sêmen na parede e
no chão que dá para encher um balde.
A música para, chamando a minha atenção. Ouço os passos da
mascarada e depois a porta se abrindo, mas não a escuto ser
fechada. Levanto devagar e tento escutar se Érica realmente saiu ou
se é impressão minha. Ouço sua voz distante, e confirmo que
realmente ela não está mais aqui. Jogo o pau para dentro da
bermuda, e saio do banheiro cautelosamente.
Em segundos estou no closet, a passos de tartaruga, ouvindo a
voz de Érica cada vez mais alta. Vejo-a em seu quarto, falando ao
telefone:
— Oi Maura, o que houve? ... Ele está chorando por quê? ... Ah
Deus, parece que o Olavo nunca vai se acostumar... Maura, eu fico
com ele a semana inteira... Sim, a escola dele é em tempo integral,
mas você sabe que tenho que trabalhar e com ele aqui não tem
como... Tenho que recuperar o tempo perdido na mudança, tirei o dia
de hoje para isso, há vários clientes chamando no site... Agora que
comecei, nem sei que horas irei parar, preciso levantar uma grana
até o idiota do José decidir agir!
Clientes? Me pergunto mentalmente. Quer dizer que Érica
estava se exibindo na internet? É isso que ela chama de
empreendedorismo digital? Bem, não a julgo, mas... Ainda continuo
em estado de choque, é uma surpresa atrás da outra.
Ela toca a parte interna da coxa que brilha do lubrificante,
parece se incomodar com algo, e segue para o banheiro. Essa é a
minha chance! Corro para fora e em segundos estou descendo a
escada com o coração quase saindo pela boca, com medo de ser
pego em flagrante! Volto para casa pelo mesmo caminho que vim.
Caminho pela sala cautelosamente, ouço barulhos da cozinha,
Val já está em casa. Subo a escada orando em pensamento para
Victor não ter chegado ainda. Abro a porta do seu quarto devagar e
sua cama está do mesmo jeito que deixou. Maravilha!
Chego ao meu quarto bocejando e só consigo pensar em tudo
que vivenciei na casa da vizinha, ainda estou sem acreditar. Após
tomar um banho e fazer a minha higiene, vou direto para o notebook
e procuro pelo tal site câmera secreta. Entro na página inicial e crio
um perfil para poder acessá-lo. De cara, aparece vários vídeos como
em uma página pornográfica, mas é diferente, os vídeos se passam
ao vivo.
Vejo uma frase em um canto que diz:
"Venha você também ser uma cam girl e ganhe dinheiro na
internet".
— Cam girl — sussurro. Passo a fuçar no site, pesquisando tudo
que posso, quero saber quem é de verdade a minha vizinha.

A ruiva chupa o meu pau bem gostoso. Levo alguns segundos


para entender o que está acontecendo até o toque do prazer aguçar
todos os meus sentidos de uma vez.
— Leda... — falo em gemido, enquanto ela se prepara para
sentar sobre mim, já está completamente nua e parece sedenta. Que
corpo maravilhoso! Nos encaixamos de maneira quente e perfeita, e
sinto um prazer diferente, que agora meu corpo revela estar
precisando já faz algum tempo.
Acordo do sonho inesperado, e me pego no sofá da sala do meu
AP, somente de cueca boxer vermelha, recobrando a noção de tudo.
Foi só um sonho quente, bem quente. Engraçado que nele, desejei
imensamente comer a ruiva, e percebo que ela me atrai mais do que
eu pensava. Pior que a última vez que fodi, foi aqui, com ela.
Meu cacete está duro feito ferro, quase rasgando a cueca e sei o
porquê, é devido ao sonho e também por ser de manhã, sempre
acordo assim, amém por isso. Na verdade, sempre acordo
completamente nu, pois não gosto de dormir com nenhuma peça de
roupa, hoje foi exceção por saber que não estou sozinho.
A claridade do dia ilumina todo o ambiente, entrando pelas
portas duplas da sacada e janelas de vidro. Levanto, me espreguiço,
e bocejo feito um leão. Depois, notando o silêncio instalado no
espaço, chego à conclusão de que Leda ainda deve estar dormindo.
Caminho até o meu quarto, abro a porta devagar e confirmo o meu
pensamento, vendo a linda mulher lá, feito um anjo. Fecho a porta
novamente, não estou em condições de entrar, pois se ela acordar e
me ver assim de barraca armada pode acabar pensando besteira.
Sigo para um dos quartos de hóspedes e tomo um bom banho
relaxante. Retiro a cueca e lembro que esqueci a minha roupa na
sala. Me enrolo numa toalha branca e vejo meu caralho marcado,
suspiro, sempre fica marcado mesmo que eu não esteja duro. Ao
abrir a porta, por pouco não sou acertado por uma frigideira enorme.
Com o susto, dou um pulo para trás e vejo Leda surgir feito uma
homicida sanguinária, de dentes cerrados, segurando o cabo da
frigideira com as duas mãos, com força bruta, e ameaçando bater em
mim.
— Que porra é essa? — exclamo, sem entender nada.
— Como vim parar aqui? O que fez comigo? — grita ela, se
aproximando como uma serpente prestes a dar o bote.
— Eu não fiz nada contigo, está lou... — mal termino de falar e
ela tenta me acertar de novo, mas desvio. Essa mulher ‘tá maluca!
— Por que amanheci no seu quarto? Na sua cama? — ela está
furiosa e ao mesmo tempo visivelmente amedrontada com a hipótese
de termos dormido juntos sem o seu consentimento.
— Porque eu te trouxe para cá...
— Sem eu deixar! — ela tenta me acertar de novo enquanto rio
da sua loucura. — O que fez comigo, Victor? — em um lance rápido,
pego-a pelo pulso e a puxo para mim, batendo-a contra o meu corpo
com brutalidade. Livro-me da frigideira da morte e prendo a ruiva em
meus braços, a impedindo de se mexer, e agora ela parece mexida
ao ficar coladinha a mim, ao meu corpo seminu. Ficamos calados por
alguns segundos, trocando um olhar profundo.
— Eu jamais faria alguma coisa com você sem a sua permissão.
Se quer saber da verdade, eu te salvei de um otário que batizou a
sua bebida com um boa noite cinderela.
— O quê? O Thiago fez isso? — indaga, chocada.
— Se for o moleque irresponsável que estava contigo, sim.
Quem o denunciou foi o próprio amigo dele, que não concordou com
o que ele planejava fazer contigo.
— E... O que ele planejava fazer? — pergunta, com os olhos
brilhando, me comovendo.
— Bem, boa coisa não era — decido não falar nada além disso,
para a notícia não ser mais impactante.
Parte meu coração ao ver as lágrimas molhar o rosto dela, e
solto-a, vendo-a quebrar em milhares de pedaços. Sei muito bem
como é essa sensação de não saber como nada aconteceu, o
sentimento de incapacidade, vulnerabilidade e a abraço
carinhosamente, tentando afagar a sua dor.
— Já passou — sussurro, acariciando o seu cabelo.
— Aquele idiota estuda comigo na faculdade... — choraminga.
— Eu achei que ele era confiável... só queria me divertir um pouco e
espairecer a mente... Eu poderia ter sido...
— Shiii — não deixo que ela continue. — Não pense nisso.
Graças a Deus o amigo desse idiota chamou a minha atenção e de
meus seguranças e te reconheci desmaiada no chão, então te trouxe
para cá.
— Obrigada... — sinto suas mãos tocando as minhas costas,
correspondendo o meu abraço. Permanecemos assim até que ela
para de fungar.
Então, olho-a no rosto e enxugo suas lágrimas com os dedos.
Me pego trocando mais um olhar profundo com ela, e esse seu
rostinho de menina carente me atrai como um imã, enviando
impulsos para o meu pau que já está excitado. Parecemos esquecer
do problema e nos beijamos.
Nosso toque começa devagar, mas é intenso. Os lábios se
conectam com uma química explosiva e se esfregam uns nos outros
formando uma mistura deliciosa e quente. Aos poucos a coisa vai
aquecendo, o abraço carinhoso se torna devasso e então afasto o
rosto rapidamente, olhando-a no fundo dos olhos, querendo ter
certeza de que está disposta a seguir o caminho ao qual esse beijo
está nos levando.
Leda não demonstra nenhuma objeção e decido seguir em
frente, pois a quero demais. Volto a beijá-la e dessa vez com fogo,
segurando-a pela nuca, vendo-a de olhos fechados, se entregando a
mim e gemendo contra os meus lábios enquanto pressiono meu pau
contra sua barriga e aperto a sua bunda, a minha mão gigante cobre
toda sua nádega.
Desço as alças do seu vestido e puxo-o de uma vez, bruto,
deixando a roupa cair no chão e logo me livro do seu sutiã também,
vendo seus seios medianos e rosados aparecerem para mim,
empinados, clamando por meu toque. Jogo minha toalha longe,
ficando completamente nu, e Leda não consegue evitar olhar para o
meu caralho negro e imponente, intimidador, cheio de veias, enorme,
grosso, rústico, pronto para fodê-la intensamente. Ela me deseja.
— Aaah — geme, quando prendo seus pulsos atrás das suas
costas com uma mão, e enrolo a outra em seu cabelo, puxando sua
cabeça para trás, firme, mas sem machucar, erguendo o seu rosto
para o teto, deixando-a completamente imobilizada enquanto meu
cacete queima entre nossos corpos.
Leda está boquiaberta, ofegante, e nitidamente ansiosa pelo
meu prazer. Decido levá-la à loucura, fazê-la implorar por mim.
Assim, arrasto a língua por sua garganta alva vagarosamente até a
sua orelha, que chupo e mordisco, fazendo-a arrepiar todinha. Em
seguida, distribuo beijos molhados por seu ombro esquerdo e faço o
caminho até o direito, enquanto ela move o abdômen contra meu pau
e pressiona as coxas uma na outra, excitada!
Miro sedento os seus lindos seios e lambo o bico direito,
entumecido, sentindo o gosto delicioso de sua carne, fazendo a ruiva
se contorcer contra o meu corpo e suspirar de tesão. Faço
movimentos circulares, brinco, mordo a sua pele macia na
intensidade correta, roçando os dentes, arrancando-lhe gemidos.
Lambuzo tudo e faço o mesmo no outro seio, o tomando para mim
enquanto a ruiva força os pulsos contra a minha mão, tentando se
livrar da minha prisão corporal. Tadinha, mal sabe ela que isso é
impossível.
— Humm... — respiro forte, faminto, me abundando cada vez
mais, beijando seus mamilos perfumados, movendo a língua em
todas as direções, sugando-os para dentro da minha boca e
deixando Leda toda marcada e vermelha — Aaah... Gostosa.
— Aaai Victor... — ela vibra quando subo, arrastando os lábios
carnudos até a sua boca, afrouxando o toque em suas madeixas e
deixando seu rosto livre para poder me beijar com mais
desenvoltura. Espalmo forte a sua bunda empinada por natureza e
ela estremece, soltando um gritinho enquanto mordo o seu lábio
inferior, mirando-a como um lobo selvagem, como realmente eu sou.
Lapeio a sua raba mais uma vez, fazendo sua bunda ondular, e
ela geme alto, boquiaberta, me querendo, me desejando, posso ver
em seus olhos que todo o meu calor a queima tanto por dentro
quanto por fora, mas gosto de torturar. Enfio dois dedos em sua
boquinha.
— Chupa — ordeno, e ela obedece enquanto enrosco os dedos
em sua língua que se move sem parar. Em seguida, os levo para
dentro da sua calcinha, roçando-os em seu clitóris, lhe tirando a
sanidade, a fazendo pirar de tesão, pressionando as coxas
ensandecida. Rapidamente ela ergue uma delas, enroscando em
minha perna, louca para ser comida, me beijando eufórica e
necessitada, me abrindo um sorriso indecente no rosto.
— AAAH — ela grita, envolta na luxúria ao me sentir espremer a
sua vulva. — Transa comigo... Transa comigo! Por favor! — implora,
fazendo o que quero.
— Quer dar pra mim, quer? — pergunto, com a voz sexy e
intensa.
— Sim... — confirma, em grunhido. Brinco ainda mais com a sua
xota, escorregando até a sua entrada encharcada e tateando seu
buraquinho que pisca, contraindo, pedindo por mais. Retorno ao seu
clitóris, o massageio, aperto, amasso, roço, esfrego, fazendo
movimentos circulares, e quando ela está prestes a gozar, paro.
— Não... Eu preciso de mais, por favor... — implora, agoniada,
quase chorando. A seguro forte pelo pescoço, dominador.
— Na primeira vez peguei leve contigo, agora vou acabar com
você — sussurro em seu ouvido, com a voz grave e intensa, ouvindo
a sua respiração tremida.
Liberto seus pulsos e ela me agarra com uma sede surreal,
montando em mim, e a seguro em meu colo pela bunda enquanto ela
devora a minha boca desesperadamente. E a gente se pega com
vontade, ferozes, como animais. Aperto-a tanto contra meu corpo e
contra meu pau, que sinto que a qualquer momento irei esmagá-la.
Leda se torna pequena em meus braços, uma branquinha roçando
ensandecida no corpo de um negão viril e poderoso.
Sinto suas mãos descontroladas se arrastarem por minha
cabeça e costas, suas unhas roçando em minha pele. Puxo a sua
calcinha para o alto, enfiando a peça ainda mais entre suas nádegas
redondas e vou para a cama. A jogo no colchão, sob mim, e fico de
joelhos em sua frente, a mirando com cara de mal, devasso, puto,
como se fosse atravessá-la só com o olhar. Ela tenta retirar a
calcinha supermolhada, mas a impeço, rasgando violentamente a
peça íntima, a deixando nua por completo e ainda mais ardente.
Arreganho as suas pernas com brutalidade, erguendo um pouco
a sua bunda e caio de boca na sua xoxotinha necessitada, beijando
seus lábios vaginais e me lambuzando, devorando-a, fazendo Leda
ter espasmos, ela já está no seu limite e goza poderosamente,
esguichando. Abro a boca para receber o seu néctar saboroso,
melando toda a sua região vaginal enquanto ela recebe descargas
elétricas pelo corpo, assanhando os cabelos como se nunca
houvesse recebido tanta dose de prazer de uma só vez. Mas estou
só começando.
A boceta dela é uma das coisas mais lindas que já vi na vida,
inchadinha, megarosada, de lábios protuberantes do jeito que amo e,
para acabar com a minha sanidade, ainda possui alguns pelinhos
ruivos acima da vulva, da cor do seu cabelo e isso me excita a nível
extremo, meu pau lateja, ávido.
Faço-a segurar as próprias coxas abertas, para eu poder brincar
à vontade. Penetro dois dedos em sua boca novamente, depois mais
um, engasgando-a por segundos e depois levo um deles à sua
bocetinha, escorregando-o entre suas carnes íntimas e sedentas,
lubrificadas do próprio gozo, e assim, o enfio bem lentamente em
suas entranhas, centímetro a centímetro. Ele é grosso e extenso e
faz a ruiva arquear as costas, estufando os seios, jogando a cabeça
para trás enquanto sente a minha invasão até o fim.
Nos primeiros instantes, permaneço imóvel enquanto os
músculos vaginais aveludados da gostosa me apertam, duelam
euforicamente, quentes, molhados, acochados. Com a mão livre,
apalpo o seu seio direito, sempre me articulando por todos os seus
pontos erógenos, sem lhe dar escapatória, e então, início as
dedadas em sua xota, estocando, lentamente, com ardor, para
torturá-la mesmo, levá-la ao extremo. Gosto de extremos. Quero ver
qual o seu limite.
Aumento a velocidade da penetração e vejo as carnes íntimas
da gata se sujarem com seus fluidos espumosos e brancos. Leda
está de olhos fechados fortemente, boquiaberta, gemendo, ora ou
outra querendo fechar as coxas, carregada de lubricidade, não
suportando mais o meu jogo sexual.
— Oh... Victor... vem por fa... AH! — ela solta um gritinho
quando sente o meu tapinha em seu clitóris, lhe fazendo ter mais um
espasmo. Percebo que ela gosta disso e morde o lábio inferior.
Paro com as estocadas e movimento a ponta do dedo em seu
interior, em um vai e vem frenético, como se estivesse coçando,
incitando o seu ponto gê, ao mesmo tempo em que uso a mão livre
para estapear várias vezes o seu clitóris na intensidade correta, com
pouca força, só a suficiente para criar a fricção, estimulando,
atiçando a sua vulva, até que leda berra em mais um orgasmo
avassalador, esguichando, e eu, como um bom rapaz, levo a boca a
sua xoxotinha e sugo todo o seu suquinho e também as suas
energias e forças que se esvaem através do seu gozo.
Ela larga as coxas e eu as seguro, arreganhando-a enquanto
movo a língua em sua boceta que está em frenesi absurdo, gozando.
Penso que a ruiva irá desmaiar em algum momento, buscando
incessantemente o ar, o corpo estremecendo, e olha que ainda nem
meti o pau. Mas a gostosa já está entregue, sob o meu domínio,
vulnerável, é o meu objeto sexual, posso fazer com ela o que bem
entender.
— AAI — ela grita quando esfrego a ponta da língua na entrada
do seu cuzinho. Enfio lentamente e com dificuldade o meu dedo
médio nele enquanto chupo a fina pele que o divide da xota. Quero
explorar toda a sua intimidade.
Fico parado dentro do seu rego anal que se contrai, pegando
fogo, e dou um longo beijo de língua em sua vulva, exercendo poder
sobre a gostosa. Ela é hipersensível. Vou destruí-la.
Quero que goze de novo, sinto suas mãos em minha cabeça,
empurrando o meu rosto com força para o meio de suas pernas e ela
goza pela terceira vez! Novamente esguicha, maravilhosa! E então
desfalece na cama, acabada, finita, sem forças. Se eu quiser o sexo
acaba aqui, pois a gostosa já está completamente satisfeita, mas eu
não.
Chega de tensão sexual, é hora da foda! Levanto e caminho até
a sala, com a vara balançando, dura, com a fenda da cabeça larga e
massuda molhada. Pego a carteira no bolso da minha calça jogada
no chão, retiro de lá um preservativo, retorno para Leda, e vejo o
tamanho da mancha molhada sob ela, o estrago que a fiz fazer. Ela
está quase desmaiada, abrindo e fechando os olhos como se
quisesse dormir, me vendo vestir a camisinha e ir em sua direção.
— Agora sim vou te foder. — Aviso.
Puxo-a pelas pernas até a beira da cama, como um homem das
cavernas, e a pego em meu colo, bruto, enlaçando suas coxas com
meus antebraços, segurando a sua bunda com as minhas mãos
gigantes e, num molejo estilo africano, enterro o pau lentamente em
sua boceta enfraquecida, invadindo o seu corpo, tomando espaço,
abrindo as suas carnes vaginais, sentindo os seus lábios se
esfregarem na extensão do meu cacete e se comprimirem contra a
minha grossura de forma ardente.
Me aproprio da sua boceta, até ficar todo e completamente
dentro dela, lhe atolando. E todo este ato é acompanhado dos
nossos gemidos guturais. Meus olhos estão fixos no semblante de
prazer intenso que ela demonstra e que me fascina — essa foi uma
das metidas mais gostosas que já dei na vida!
— OOR — ela grunhe, enlaçando o meu pescoço. — Victor...
— Segura — rosno, em um sussurro quente e rouco, sentindo
as contrações dos seus músculos vaginais me apertarem de forma
deliciosa.
Beijo sua boca de forma suave enquanto permaneço imóvel
dentro dela, deixando meu pau se acomodar inteiramente em suas
entranhas encharcadas, esperando que o resquício de dor que a
gata sente com a minha invasão se dissipe e dê lugar somente ao
prazer absoluto. Quando isso acontece, começo com as estocadas.
Como já peguei pesado com ela na cama e a deixei praticamente
sem forças, faço um sexo gostoso e lento, curtindo cada momento,
todas as sensações e emoções, bem devagarinho, fodendo
carinhosamente e enlouquecendo com isso.
— Hummm... gostosa, boceta gostosa — solto gemidos roucos
contra sua boca, de olhos fechados, envolto em uma lascívia
profunda e estonteante. Retiro poucos centímetro da minha rola de
dentro dela, indo e vindo, movendo o quadril vagarosamente para
frente e para trás, viril, másculo.
— Ai... aai... aaai — ela mia baixinho, me tirando a consciência.
Leda não pesa em meus braços, percebo que conseguirei
segurá-la por um bom tempo ainda. Dou uma lapada segura na sua
raba, como um aviso de que vou aumentar a velocidade, e assim,
trago o quadril para trás, deslizando o caralho para fora da sua
xoxotinha, pouco a pouco, até que somente a cabeça esteja na sua
entrada, minha carne amassa enquanto seu buraquinho tenta me
sugar de volta para dentro. Atendo aos desejos de seu corpo, e soco
tudo de uma vez, até o talo, até meu ovos se chocarem contra seu
sexo.
— AAAH — ela grita, erguendo a cabeça, e depois me observa
de olhos esbugalhados.
A putaria toma a frente da situação e logo o barulho do nosso
choque corporal ecoa por todo o apartamento. Enfio o cacete com
vontade, aumentando cada vez mais a velocidade das estocadas.
Grudo as nossas bocas, abafando seus gemidos enquanto lhe dou
uma surra de pica, socando forte, furioso, violento, indo fundo,
imparável, imbatível, alargando as suas carnes, fazendo-a gemer
escandalosamente e então desacelero, para não machucá-la, e vario
a intensidade da penetração, fazendo o meu rebolado gostoso.
Em seguida, encosto a ruiva contra parede e volto a fodê-la,
enfiando, atolando, esfolando meu pau em sua boceta
sucessivamente em um ritmo médio. Vou massacrá-la. Ela fecha os
olhos, sentindo um tesão descomunal assim como eu, nós
ofegamos, estamos quentes, suados.
Paro com as estocadas, e fico com o pau todo dentro dela.
Assim, abro as suas coxas o máximo que posso, a arregaçando, e
movimento o meu quadril para cima e para baixo seguidas vezes,
esfregando os nossos sexos, criando uma fricção mundana em seu
clitóris, imoral e libidinosa, enquanto chupo o seu pescoço, com furor,
sentindo a cócega na cabeça do pau me arrebatar.
— Aaaah — a ruiva geme forte, explodindo em mais um
orgasmo e eu explodo junto, sentindo os jatos de porra percorrerem
fulminantes pelo corpo do meu caralho e irromperem para fora, pela
fenda da cabeça do meu pau, poderosamente.
Afundo meu rosto no pescoço da gostosa que está tremendo,
ainda sob o efeito do prazer assim como eu que agora sinto os
braços doendo do seu peso. É avassalador, é incrível, é divino. Arfo
sem parar, e me jogo na cama com ela, exausto. Nossos corpos
ainda queimam, estamos em êxtase. Livro-me da camisinha que
parece que vai explodir com tanto esperma e enxugo meu pau com o
lençol, enquanto meu coração retumba no peito. Que sexo gostoso
da porra!
Volto a atenção para Leda que parece estar morta, mas com um
pequeno sorriso de satisfação no rosto. Ela é maravilhosamente
linda. Ligo o ar-condicionado numa tentativa de apagar esse fogo
que é capaz de incendiar o AP. Depois, me deito de conchinha com a
gostosa que já dorme, destruída. Meu corpo parece engolir o seu ao
abraçá-la, devido a diferença de tamanho.
Distribuo beijos em seu ombro e nuca carinhosamente e tento
aproveitar o máximo do nosso pós-sexo, lhe fazendo um cafuné com
uma mão e escorregando o dedo indicador por suas curvas
sinuosas, contemplando a sua beleza. Uma jovem à flor da pele, tão
feminina e delicada. E assim, acabo pegando no sono.
AFRODISÍACA

“— Eu sei que você é cam girl, a Afrodisíaca.”

Acordo, e vejo Leda sentada na cama, me observando meia


boba, enrolada numa toalha enquanto outra cobre o seu cabelo, ela
tomou banho.
— O que está fazendo? — pergunto, com a voz rouca.
— Contemplando a sua beleza — confessa. — Você é, com
certeza, o homem mais lindo e diferente que já conheci na minha
vida.
— Diferente por quê? — pergunto, apoiando o queixo em uma
das mãos e esticando um sorriso para ela.
— Nem sei se tenho palavras para explicar. Victor você
consegue ser... Bruto e ao mesmo tempo romântico na cama. Fiquei
passada quando acordei e te vi abraçado a mim. Isso tudo é muito
novo pra mim, sabe.
— Entendo, você não se envolveu com muitos homens antes,
por isso a surpresa.
— Mas não é só na cama, é você por completo — ela cobre o
rosto com as mãos. — Desculpa, não quero parecer uma menina tola
e... Inexperiente.
— Não está parecendo, isso é normal. Mas percebi um pouco da
sua inexperiência enquanto transávamos — revelo e ela retira as
mãos do rosto assustada.
— Percebeu? Você não gostou? — há medo em seu rosto e isso
me faz rir.
— Adorei — sou sincero. — E você? Gostou? — já sei a
resposta, só quero inflar o ego.
— Foi a minha maior e melhor experiência sexual até agora —
revela, corando, e isso faz meu pau ter um impulso e se mover,
procurando o caminho da excitação. Ao ver isso, a ruiva fica
boquiaberta. — Meu Deus, como isso coube dentro de mim?
— Eu dei um jeitinho — digo, e nós rimos. Decido deitar de
bruços, escondendo o cacete para não constrangê-la mais, porém,
deixo a bunda à amostra, dura, grande, chocolate, bunda de macho.
E ponho o queixo sobre as mãos, em cima do travesseiro, mirando-a,
e ela se mantém boquiaberta, quase babando — Você disse que
essa foi a sua maior experiência, mais do que o sexo a três?
— Quê? — indaga, parecendo sair de um transe. — Olha, não
vou conseguir ter uma conversa decente contigo se continuar pelado
desse jeito.
— Quer dar pra mim de novo, quer? — minha voz é grave, sexy,
olho-a com fogo. Estou jogando com ela, testando o quanto de poder
já possuo sobre o seu corpo e mente. Victor, como você é malvado.
Ela balbucia, sem saber o que dizer por alguns instantes e
finalmente responde:
— Eu bem que queria... mas não podemos — me surpreendo
com a sua resposta, erguendo as sobrancelhas.
— Mas você não está solteira? — indago.
— Como sabe disso?
— Só transei contigo porque o amigo do vagabundo que te deu
o boa noite cinderela me contou a novidade. E como você estava na
balada com eles, deduzi que realmente fosse verdade. Fiz uma
promessa a Gui de que não interferiria no relacionamento de vocês.
Além disso, não fico com mulheres comprometidas — não mais.
— Essa sua promessa meio que não adiantou — ela confessa,
se entristecendo, e depois mira a minha bunda de novo, e então,
cubro-me com o lençol. — Obrigada. Como eu dizia, não adiantou
porque eu acabei ficando mexida com aquela noite, com você, e sou
muito transparente, não sei mentir, e a Gui percebeu. Na verdade, eu
quis te esquecer, mas ela também não deixou, ficou paranoica, criou
pensamentos absurdos, e tudo piorou quando falei a ela que você
bateu no meu carro. Gui pensou que eu estava me encontrando
contigo e nós tivemos mais brigas desde então.
— Sério? — indago, pasmo.
— Sim, a última discussão foi há três dias, e ela terminou
comigo, disse que não queria mais e quando Gui toma uma decisão,
é imutável. E eu aceitei o término, fazer o quê? Você estava certo,
Victor, gosto do sexo oposto. Nunca ia dar certo entre mim e Gui. Ela
só aceitou o sexo a três porque eu pedi, ela nunca quis de verdade,
dizia que tinha curiosidade, mas hoje sei que não — diz, de cabeça
baixa, deixando uma lágrima escorrer por seu rostinho lindo.
— Muito complicado. Sinto que ela realmente gosta de você —
comento.
— Eu a amo, mas acho que esse amor não é o que ela
esperava.
— E onde você mora agora?
— Ainda estou na casa dela, pedi alguns dias para procurar
outro lugar para ficar.
— Ela vai superar e você também.
— Ela viajou a trabalho, e aquele idiota do Thiago me chamou
para sair. Eu precisava espairecer, desopilar, e então aceitei o
convite, com a promessa dele de que seria uma saída de amigos.
Ele estuda comigo desde o início do curso, não imaginava que seria
capaz de fazer o que fez.
— O ser humano é capaz de coisas terríveis. Toma cuidado,
ruiva — digo, carinhoso.
— Obrigada — choraminga, enxugando as lágrimas. — O
problema é que estou me sentindo terrível agora, o pior ser humano
do mundo, não devia ter me deixado levar pela carência e feito sexo
contigo. Ainda moro na casa dela, isso é... no mínimo, falta de
respeito.
Meu pau murcha de vez com este pensamento. Ela está certa,
mas não quero baixar ainda mais a sua autoestima.
— Mas você não a traiu e isso me conforta também. Não
fizemos nada de errado, e ela não vai ficar sabendo. Ao menos isso
terá que conseguir esconder.
— Ah, com certeza — Leda respira fundo, e volta a me olhar.
Seu olhos são profundamente negros e seu lábios carnudos e
rosados assim como as maçãs das suas bochechas. Suas
sobrancelhas também são ruivas, da cor do fogo, como o seu cabelo.
Ela é incrivelmente linda. Que mulher! — O que foi? — indaga,
notando o meu olhar perdido em sua imagem.
— Nada, estou só contemplando sua beleza — digo, e ela ri
encantadoramente. Eita Victor, se controla, rapaz!
Mais tarde, paro o carro na porta da casa incrível de
Guilhermina, em um condomínio muito parecido com o meu, e troco
olhares com Leda.
— Obrigada por tudo, Victor — ela agradece, e me beija na
bochecha, fazendo meu pau vibrar. Leda consegue me deixar quente
ao me tocar, não sei o que é, e então se vai. Respiro fundo, foi uma
loucura, uma noite realmente inesperada. Agora tenho que ir para
casa e ver como está o meu filho, ele já deve ter chegado da escola,
no relógio marca 12h.

Apesar de ter passado um sufoco na casa da vizinha, não


consigo me arrepender de ter invadido a sua privacidade, tendo em
vista a experiência surreal que ela, sem saber, me proporcionou.
Estou sentado em frente ao notebook desde o momento em que
cheguei dessa aventura louca, só parei para tomar café, que pedi a
Val para me trazer no quarto, pois procuro pelo perfil da Érica no site
incessantemente, e então, o encontro! Bingo! Isso me abre um
sorriso de orelha a orelha. Vejo fotos sensuais suas, todas de
máscara, e leio o seu pseudônimo:
— Afrodisíaca — sussurro, fascinado, louco para assisti-la mais
uma vez! Entretanto, quando tento, aparece uma aba notificando que
preciso inserir um número de cartão de crédito. Não tenho cartão de
crédito! Mas vou conseguir. De alguma forma tenho que conseguir!
Desço para almoçar e encontro com Victor na mesa, Valrene já o
serve.
— Oi filho, tudo bem? — me indaga, sorridente.
— Tudo maravilhoso — respondo, mais sorridente ainda.
— Que felicidade é essa? — ele estranha, e percebo que devo
me conter. Tenho muita vontade de contar tudo o que vi sobre Érica,
mas não posso, Victor me mataria.
— Nada, só estou feliz, sem motivo — tento reverter a situação.
— Que bom, isso me deixa felizão também, pois quero vê-lo
sempre assim. Sua mãe vai adorar ver esse seu sorriso — comenta,
e percebo que ele ainda pensa nela. Curioso. — Como foi a aula
hoje?
— Não fui a escola — digo, já tenho uma mentira pronta para
contar o motivo.
— Por que?
— Acordou tarde, vê se pode — diz Val, em meu lugar, e ao ver
a minha careta, ela se justifica. — Escapou — e vai embora.
— Você acordando tarde? — Victor estranha novamente.
— Fiquei jogando na madrugada... Perdi a noção do tempo —
minto, um pouco hesitante, e sinto um certo desconforto com isso,
mas disfarço.
— Cuidado, tudo tem sua hora — ensina, enquanto almoça, e o
acompanho.
— Por que chegou tão tarde dessa vez? — indago, puxando
assunto.
— Tive contratempos na Alcateia, e acabei dormindo no meu
apartamento.
— Ah ‘tá.
— E as novidades? E como anda com a novinha?
— A gente está conversando, acho que vamos nos encontrar de
novo.
— Se você quiser, pode trazê-la aqui. — diz, sugestivo, com um
sorriso malicioso, e o correspondo.
— ‘Tá bom — respondo, mas meu pensamento está focado na
casa ao lado.
Minutos depois, eu e Victor estamos nos sofás da sala, ele em
um e eu em outro, assistindo, ambos descamisados. Val aparece
com sua bolsa de lado, pronta para sair.
— Preciso de dinheiro para as compras — pede a Victor.
Ele retira a carteira do bolso e entrega a ela uma quantia, e
depois deixa a carteira em cima da mesinha de centro, o que chama
a minha atenção, lá estão todos os cartões de crédito dele, o que
preciso.
Após Val sair, Victor boceja e sobe para o quarto, esquecendo a
carteira na mesa. Espero ele sumir de vista, e penso duas vezes na
ideia malévola que está em minha mente. Isso parece até tentação!
Levo a mão lentamente ao meu alvo, já me culpando pelo que estou
prestes a fazer, mas faço. Pego o primeiro cartão de crédito que vejo,
e entro no câmera secreta pelo celular, faço o registro dos números
do cartão rapidamente, me tremendo um pouco, e depois deixo as
coisas dele no lugar. Durante esse processo olho a todo instante
para a escada, com medo de Victor aparecer.
Subo, e me tranco no quarto, pulando em cima da cama, vidrado
no celular, acessando o perfil da Afrodisíaca, até que esse nome
combina com esse lado dela. Para a minha surpresa, Érica está
online. Ela tem coragem de fazer tudo isso com Olavo em casa? Ah,
lembro, a escola dele é integral, o coitado passa o dia longe, deve
ser exatamente por isso, ela quer muito tempo para trabalhar.
Acesso a live dela bastante ansioso e confirmo a transação de
cobrança dos custos pelo cartão de crédito, não pus foto no meu
fake, e como nome coloquei “Lobo”, foi a primeira coisa que veio à
mente. Ela me envia mensagem pelo bate papo:
AFRODISÍACA: O que quer que eu faça, lobo mau?
Fico parado em frente a tela do celular, encantado, ansioso,
abobado, com um sorriso besta, pensando no que responder, e
digito:
LOBO: Eu quero tudo.
E assim, a imagem da cam girl aparece, ela está exatamente
como a vi no seu quartinho da sacanagem, a mesma máscara,
meias, porém, um espartilho diferente, mas pronta para o abate, para
o meu abate. Obrigado Senhor! Surge uma mensagem avisando que
Érica me convida para a minha imagem aparecer, mas não permito.
— Guloso... Ah, não vai deixar eu ver o seu rosto? — indaga,
dessa vez falando comigo diretamente pelo vídeo, sua voz é sexy e
profunda, enviando trovoadas para o meu pau.
LOBO: Ainda não.
Respondo por mensagem, ela também não pode ouvir a minha
voz. Pego meus fones e me preparo para o show.
— Você já está excitado? — pergunta, acariciando os seios por
cima da roupa.
LOBO: Sim, muito.
— Ah que bom, então vamos começar!
Meu coração bate acelerado, e fico boquiaberto ao ver tudo que
Érica é capaz, agora em um ângulo bem melhor. Não demora para
que eu esteja me masturbando enquanto a assisto voraz,
enlouquecendo a cada rebolada de bunda que ela dá, a cada abre e
fecha da sua boceta protuberante e gostosa. Ela vai me enlouquecer!
E por mais de 1h me delicio com a minha vizinha gostosa e cam
girl fazendo loucuras em frente à câmera, inclusive com um vibrador
rosa que lembra um ovo ou um mouse. Ela penetra o ovo em sua
boceta, aperta em um botão e passa a receber cargas elétricas em
sua xota que a faz tremer inteira e ser torturada de prazer, gozando
múltiplas vezes seguidas, me deixando insanamente chocado! Sim, o
vibrador é elétrico, para a sensação se tornar mais real, cheiro a
calcinha que furtei dela enquanto observo a sua performance sexual.
Por fim, quando acaba, já tenho gozado duas vezes, e agora me
sinto enfraquecido. Foi demais! Érica é muito gostosa e bastante
habilidosa em frente à câmera. Ela tem talento para isso, e que
talento!
Percebo que a conta de todo o prazer que me foi proporcionado
saiu cara, pois passei bastante tempo online. Mas acho que Victor
não irá perceber, ele deve gastar muito com o cartão, afinal é
empresário.
Nos dias seguintes meus pensamentos só giram em torno de
Érica, ela se exibe na internet quase todos os dias, durante o tempo
em que o filho vai para a escola. Noto que ela leva isso a sério, que é
realmente o seu trabalho, o seu ganha-pão. E comigo ela tem
ganhado bastante, a assisti todos os dias, sem limites, e quando não
estou sendo seu telespectador, estou pensando nisso. Meu pau doe
com tantas masturbações, e acho que a qualquer momento meu
estoque de sêmen vai para o brejo.
Hoje é sábado, e olhando no site, ela ainda não esteve online.
Provavelmente não estará, por causa do filho, e, de certa forma,
lamento por isso, estou viciado em ver essa mulher rebolando em
vídeo para mim, pois é o mais perto dela que posso chegar. Sem
contar que atende a pedidos sacanas meus durante as exibições.
Victor dorme no quarto enquanto estou deitado no sofá da sala,
pensando em tudo isso. A campainha toca, vou atender, Val está
ocupada na cozinha. Me surpreendo ao abrir e ver a minha vizinha
gostosa com o filho. Meu corpo gela ao pensar que ela, de alguma
forma, descobriu tudo.
— Oi Apolo — me cumprimenta Érica, sorridente. Avisto José
em um carro às suas costas.
— Oi — digo, sem jeito e hesitante, engolindo em seco.
— Quero saber se você pode ficar com o Olavo para mim por
algumas horas, é que preciso sair com o José e não tenho com
quem deixá-lo — me pede, e relaxo por dentro.
— Ah, é... Claro.
— Meu herói! — exclama Olavo, feliz, me abraçando
— É porque ele gosta de você e eu também já sinto confiança
em ti — coitada, nem sonha que sou o seu tarado pervertido da
internet.
— Tudo bem, de boa — digo, pegando Olavo no colo.
— O.K., volto mais tarde — ela beija Olavo, em despedida. —
Se comporte, eu não demoro.
— ‘Tá bom mãe, ‘tá bom. — diz Olavo, e pelo seu tom de voz,
percebo que ele está louco para ficar comigo.
E assim, brinco com Olavo a tarde inteira, explico para Victor o
porquê de ter ficado com ele, e quando começa a anoitecer, ouço o
som de um carro parando do lado de fora. Vou até a porta e vejo
Érica e José discutindo na calçada da casa dela, a coisa parece feia.
Não entendo muito bem sobre o que estão falando, mas me admiro
com a fúria da minha vizinha, nunca a vi virada no Jiraya assim.
Depois, ela vem pegar o filho e me agradece. Acho tudo isso um
pouco estranho, mas enfim.
Nos dias seguintes, recebo algumas mensagens de Tati,
perguntando por mim, querendo me ver, mas não a respondo. Entro
no site pelo notebook, mas nada da Afrodisíaca surgir, e fico
frustrado. Penso em ir na casa dela, arrumar alguma desculpa para
vê-la, mas desisto, seria demais. Se controla, Apolo.
Sigo a vida normalmente, indo à escola, e é incrível como a
galera agora me trata de maneira diferente. Talvez o fato da minha
imagem estar estampada em outdoors pela cidade com Vanessa,
fazendo a propaganda dessa “instituição” tenha influenciado nisso.
Tudo graças ao Victor, ele é demais! Porém, continuo não me dando
com Isabela e muito menos com Samuel, nós nem nos falamos. Eles
sempre me observam dentro da sala de aula, ela parece que tem
curiosidade sobre esse meu novo eu e ele, ainda demonstra raiva.
Quero que os dois se fodam!
Engraçado que esse casal parece não mais existir, eles agora se
sentam bem longe um do outro. Por outro lado, Vanessa também
não fica mais perto de Isabela, e desde o dia das fotos que não para
de me encarar e tentar se aproximar de mim. Acho que está afim,
mas estou analisando friamente essa possibilidade, pois não quero
ser feito de trouxa novamente.
Certo dia, ao chegar do colégio, assim que desço do táxi na
porta de casa, vejo Érica retirando as compras do porta-malas do
carro, como na outa vez. Ao me ver, ela sorri.
— Pode me dar uma ajudinha? — pede, e é claro que aceito,
estava há dias esperando uma oportunidade para me aproximar dela
novamente.
Ao chegarmos na sua cozinha, fazemos o mesmo processo da
vez anterior, retiramos as compras da sacola, e ajudo-a a guardar
tudo. O celular dela chama, e então a gostosa vai para a sala
atender, e miro sua bunda rebolar para longe de mim. Suspiro,
encantado. Será que estou apaixonado por ela? Será que estou
vivendo um amor platônico? Oh Deus!
Sigo para a área externa e vejo a piscina cheia, boa para tomar
banho. Miro o varal ao meu lado e há várias calcinhas estendidas.
Olho para trás, não há sinal de Érica. Seguro uma das peças e
cheiro com intensidade, sonhando com essa boceta, absorvendo o
máximo de perfume que posso, parece até uma droga viciante...
— O que está fazendo? — pergunta Érica, com uma careta,
aparecendo do nada para o meu desespero. Fico paralisado, sem
reação, de olhos esbugalhados.
— Tem uma mancha aqui — balbucio, é a primeira coisa que sai
pela a minha boca. Érica ri, incrédula.
— Você... estava cheirando a minha calcinha, Apolo? — estou
boquiaberto, pensando no que dizer. Tenho que agir como um alpha,
penso em continuar com a mentira, mas será inútil, não há como
fugir dessa. Além disso, essa pergunta dela me parece um daqueles
desafios que Victor me avisou, que as mulheres costumam fazer. —
Responde, garoto — insiste, cruzando os braços.
Engulo em seco, tomo coragem e digo:
— Sim — confesso, encarando-a de coração na mão, mas não
deixo que perceba isso.
— Por quê?
— Porque... Queria sentir o perfume que... Tem — respondo,
devagar, com medo da reação dela, que ergue as sobrancelhas,
boquiaberta, impressionada.
— Você queria sentir o meu perfume, no caso?
— Sim — confirmo, rapidamente.
— Mas por que?
— Acho que... Você já sabe a resposta — disparo, e ela parece
chocada, e põe a mão no rosto, com um sorriso sem humor.
— Eu já havia notado que é um garoto bem curioso, mas jamais
esperava uma atitude dessas, Apolo. Você é bem ousado, bem
corajoso, eu diria, estou surpresa. Mas não me envolvo com
adolescentes, eu poderia ser a sua mãe. Sabe disso, né?
— Mas não é — disparo, e ela ri novamente.
— O.K., vamos parar com isso agora, ‘tá bom? É normal na sua
idade se interessar por mulheres mais velhas, mas isso aqui não é
um conto erótico, eu sou uma mulher de respeito. — Nossa, como
ela é mentirosa, mulher que se dê ao respeito não anda esfregando
a boceta numa câmera, não na minha concepção. Se bem, que
quero mesmo é que ela esfregue em mim! — Além disso, tenho
namorado, mas o que houve aqui ficará somente entre a gente.
Agora, peço que vá para casa e tire esses pensamentos impuros da
sua cabeça.
— Impossível — penso alto, e depois me dou conta de que falei
demais.
— Garoto vai para casa, você tem que focar em meninas da sua
idade, seja esperto.
— Sou mais esperto do que imagina — digo, ousado. Ajeito os
óculos e vou embora, a deixando de queixo caído. Não sei que
impressão passei, mas com certeza não foi nada do que ela
pensava. Porém, agora acho que fodeu tudo de vez. Depois dessa,
Érica não me deixará mais pisar em sua residência.
Ao chegar no meu quarto, reflito em tudo que disse a ela e fico
impressionado comigo mesmo, respirando fundo, e sorrio, não sei o
porquê, mas sorrio. De certa forma, gostei de ter dito o que disse,
talvez agora ela me olhe com outros olhos, não sei se bons ou ruins.
Fui muito ousado mesmo, acho que ultrapassei limites. De onde veio
as palavras que falei a ela? Saiu do nada, entretanto não foi muito
diferente das abordagens que fiz no shopping, acho que isso me
ajudou. Com certeza sim.
Mais tarde, jogo videogame com o Victor na sala de jogos. E
quando a partida de futebol acaba, ele me comenta:
— Filho, você nunca mais falou na gatinha do shopping.
— Não sei, acho que perdi um pouco do interesse por ela —
digo, com sinceridade, foi a fixação em Érica que me levou a isso.
— Por quê? Ela parecia estar tão atraída por você?
— Acha isso?
— Era o que parecia.
Depois de terminar o game, volto para o quarto e penso nas
palavras de Victor, deitado na cama. Érica deixou claro que não
tenho chances com ela, e tomo consciência de que isso é só uma
ilusão minha, não tem como dar certo. Sexo com a minha vizinha é
impossível, um relacionamento então, inviável. Por outro lado,
construir algo com Tatiana parece ser bem mais prodigioso. Ela
realmente estava atraída por mim, e é uma garota bem encantadora,
podemos namorar, e eu, consequentemente, terei mais chances de
perder a virgindade. Cansei dessa vida de punheteiro!
Como Victor disse, vida de punheteiro não é fácil.
Olho para o site do camsecreta.com aberto no notebook, penso
mais um pouco nas minhas próprias indagações e o fecho,
desistindo de vez da minha vizinha. Pego o celular e passo a
conversar com Tati novamente. Ela foi bem receptiva comigo, não
está chateada pelo tempo que ficamos sem nos falar. Que bom!
Invento uma desculpa para justificar o porquê fiquei esses dias sem
lhe responder e ela parece acreditar.
Marcamos de nos encontrar no dia seguinte, no Parque
Potycabana, um grande espaço de lazer em Teresina, entre a
margem do Rio Poti e o shopping, com uma área de 43 mil metros
quadrados, sendo 15 mil metros de área verde, com pistas para
caminhada, ciclismo, e para práticas de esportes radicais como
skate. Também há quadras de vôlei/futebol de areia e para outros
esportes também, além de barzinhos e palco ao ar-livre.
Quando a vejo, antes que ela fale qualquer coisa, a puxo logo
para um beijo quente, e concluo que toda essa loucura com a Érica
foi só perca de tempo mesmo, pois beijar Tati é maravilhoso.
— Nossa... Isso tudo é saudade? — pergunta ela, sorrindo e me
abraçando, ela gosta de mim.
— Claro — respondo, concluindo que eu realmente senti a sua
falta, mas ainda não havia percebido.
— Eu também senti sua falta, mas achei que tu não queria mais
me ver.
— Tive alguns problemas familiares — minto.
— Entendi.
— Adoro esse lugar — comenta, e me puxa pela mão, me
levando para a grama, para perto da grade, que dá visão para o rio e
para a nossa linda cidade brilhando com a noite. O relógio marca
exatamente 18h. É noite de lua cheia e isso deixa o nosso clima
romântico.
— Também gosto daqui, sempre venho aqui — digo, enquanto
nos sentamos na grama.
E assim, ficamos namorando até as 20h, trocando muitos
assuntos aleatórios e beijos na boca. Me divirto bastante com a
presença dela, ela me encanta, e me pergunto se também estou
apaixonado por Tati. Ah, Cristo! Não compreendo os meus próprios
sentimentos.
Nos dias seguintes, continuo me encontrando com ela, e
ficamos cada vez mais íntimos. Quando chega na sexta-feira, decido
arriscar, e a convido para vir à minha casa, ela aceita, e chega aqui
por volta das 14h. Victor saiu para resolver coisas das suas lojas, e
não preciso me incomodar com Valrene, ela é minha amiga e apesar
de espalhafatosa, consegue ser discreta quando quer.
— Sua casa é linda — elogia Tati, olhando para tudo. —
Estamos sozinhos?
— Meu pai saiu para trabalhar, mas a empregada e o cachorro
estão comigo — digo, a abraçando carinhosamente.
— Ah, você tem cachorro? — pergunta, feliz. — Deixa eu ver! —
pede, e chamo por Kenai que vem correndo, parecendo um lobo
negro, abanando o rabo, deixando Tatiana encantada! Ela faz
milhares de carícias nele que adora e se esbalda, os dois
conseguem se dar bem. — Que lindo! Você é lindo, Kenai.
Au! Au!
— E essa é a Val — digo, apresentando a empregada que
chega com um pano de prato sobre o ombro esquerdo.
— Olá! Como você é linda! — exclama Val, ela fala alto que nem
percebe. — Sua namorada, Apolo? — me faz uma pergunta
indesejada e tenho vontade de matá-la.
— Ainda não, Val — a respondo, e troco olhares com Tati que
parece ter gostado do meu “ainda”.
— Prazer, Tatiana — ela se apresenta, doce, gentil, meiga. Para
quê melhor? Tati com certeza seria uma ótima namorada.
E assim, mostro toda a casa a ela até chegarmos em meu
quarto — o lugar onde quero chegar.
— E aqui é o meu quarto — informo-a, e nós entramos.
— É muito bonito também, tudo é muito lindo. Adoro esse livro
— diz, vendo um o último livro de Harry Potter na minha
escrivaninha. — Sou grifinória.
— Eu também — e sorrio, sentando na cama. Quero atraí-la
para cá.
Após perceber que não há mais nada para ver, Tati senta ao
meu lado, um pouco hesitante. Busco um beijo e ela me
corresponde, os nossos lábios se misturam rapidamente, com
intensidade. Paramos um pouco e trocamos olhares quentes
enquanto ofegamos, acho que ela sabe o que quero. Será que
também quer? Levanto, fecho a porta, e em seguida retorno para o
meu lugar e o beijo continua. Desço a mão e aperto a sua coxa nua,
ela está de saia jeans. Mas, ao sentir meu toque, Tati recua.
— O que foi? — pergunto, aos sussurros.
— Nada — responde, meio nervosa.
Acaricio o seu rosto docemente e seus olhos se fecham, ela
parece excitada. Volto a encostar os nossos lábios e novamente levo
a mão para a sua coxa e aperto dessa vez, está quente, assim como
o meu corpo que já começa a pegar fogo. Fico rapidamente excitado
enquanto envolvo meus lábios molhados nos dela e escorrego a
mão, pouco a pouco, para o meio de suas pernas, por baixo da saia.
Quando estou prestes a tocá-la, minha mão é segurada, e recebo um
olhar assustado, e ao vê-la assim, me afasto.
— Está tudo bem — digo. — Me desculpa, não quero te
assustar.
— Eu... sei o que você quer e... Também sinto vontade, mas...
Ainda não estou preparada e também acho que ainda não é o
momento.
Fico impressionado com as palavras dela, quanta maturidade.
Mas eu a quero tanto, porém, a entendo.
— Entendo. De boa. — sorrio, um pouco desanimado, mas
entendo o lado dela, de verdade. — Você está certa.
— A gente só está ficando, ainda não sou a sua namorada como
você mesmo disse lá embaixo. Você me entende?
— Claro. Gostei de saber que também tem vontade, e por isso,
vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente — digo, e recebo
o seu lindo sorriso, e depois o seu abraço caloroso. E com isso,
percebo que as mulheres são diferentes, Tati é muito diferente de
Érica, por exemplo, é uma menina doce, acho que ainda é pura, não
tive coragem de perguntar, mas jamais se prestaria ao mesmo papel
que a minha vizinha, que pelo contrário, se finge de moça
respeitável. Bem, também não posso ser hipócrita, adoro o seu lado
devasso e tenho maior desejo sexual por ela do que por Tati, pois
com Tati, apesar de sentir desejo, sinto carinho e admiração também.
Assim, nós deixamos o quarto e lanchamos um bolo de
chocolate com suco de goiaba que Val prepara para nós. Depois
partimos para um filme e ficamos a tarde inteira deitados juntos no
mesmo sofá, trocando mais beijos do que prestando atenção na TV,
nos divertindo. Val vai embora, e, por fim, chamo um carro pelo
aplicativo para Tati. A levo até o automóvel que a espera na porta e,
no caminho, vemos Érica discutir com José que entra em seu carro
furioso.
— Eu não quero mais saber de você, sua maluca! — Grita ele,
depois acelera e se vai.
Troco um olhar tenso com Tati devido a essa cena, e lhe dou um
beijo de despedida.
— Tchau — diz ela, entrando no carro.
— Tchau — me despeço e a vejo partir, no relógio já passa das
19h.
Olho para Érica que me observa chorosa, parece chocada. Será
que isso foi mesmo um término entre ela e o playboy? Não entendo
por que a vizinha me observa dessa maneira, mas, já tomei uma
decisão, vou investir em algo com Tati e mais ninguém. Sigo para
casa.
— Apolo! — paro, olhando-a sem entender o porquê de ter me
chamado.
— Oi — digo, me aproximando.
— Vem aqui, por favor — me chama, enxugando os olhos
molhados. E vou até ela.
— O que houve?
— Pode entrar, por favor? — choraminga.
— Ah... Não sei... É que — tento negar, pensando em Tati, e por
saber que já desistir de ter qualquer coisa com Érica.
— Por favor, preciso conversar com alguém — fico surpreso de
como ela parece implorar por minha presença, e então aceito.
Chegamos na sala, sento em um sofá e Érica senta ao meu
lado. O que ela quer? Um ombro amigo? Não sei o que esperar.
— Vocês... Terminaram? — Pergunto, curioso.
— Sim... Não dava mais, foi melhor assim. Ele não era o homem
certo pra mim. — diz, enxugando as últimas lágrimas e cruzando as
pernas. Ela usa um vestido longo, mas que molda perfeitamente o
seu corpo e faz um decote chamativo em seus seios. — Ah, eu
preciso beber.
Érica levanta e vai até a cozinha, voltando com uma garrafa de
vinho e duas taças. Duas taças? Tudo é posto sobre a mesinha de
centro, ela se serve e enche a outra taça também.
— Você bebe? — me pergunta, sentando ao meu lado
novamente.
— Não... quer dizer, ainda... Não — não quero parecer um
garotinho.
— Bebe comigo então, por favor. Será o nosso segredinho.
Ela toca a sua taça na minha, e não entendo o motivo do brinde,
achei que estivesse triste pelo término, mas agora já parece melhor.
Olho para a minha taça e resolvo beber tudo de uma vez, dando um
virote.
— Calma, assim vai se embebedar. O segredo é beber
devagar... deixar o seu paladar agir, sentir o gosto do vinho — ela
fala com a voz sexy, a mesma que usa quando está no modo cam
girl, e sorrio encantado, me sentindo atraído por essa mulher
novamente.
Érica me serve mais vinho e dessa vez bebo vagarosamente,
como me ensinou.
— É bom?
— É ótimo — respondo, recebendo o seu sorriso, me
impressionando com tanta receptividade da sua parte depois do
episódio da calcinha.
— Cadê o Olavo? — pergunto.
— Dormindo. Ele adorou ficar contigo naquele dia, obrigada de
novo.
— Por nada, eu gosto do seu filho. Você... Já está se sentindo
melhor?
— Por quê? Já quer ir embora? — ela é rápida no gatilho.
— Não, só... Quero saber como está se sentindo.
— Se você continuar aqui comigo, acho que aos poucos irei
melhorar, preciso me distrair — ela enche as nossas taças
novamente, sorri para mim de uma forma como nunca antes e então
bebemos. Começo a pensar besteira, olhando para o seu decote,
sinto que Érica está diferente. — Agora eu estou solteira e você
namorando, veja como o mundo dá voltas — comenta.
— Ainda não estou namorando. Eu e Tati estamos nos
conhecendo — digo, me envolvendo com o vinho que tem um sabor
realmente muito bom. Nunca experimentei antes.
— Tati é o nome dela?
— Sim.
— Como se conheceram?
— No shopping.
— Vocês formam um lindo casal. Já conhece a família dela?
— Não, a gente só ‘tá ficando. Não partimos para esse lance de
apresentações familiares ainda.
— Ela parece ser uma ótima garota, além de bonita.
— Ela é — concordo, esvaziando a minha taça novamente —
Nossa, já estou um pouco tonto.
— Bebe mais — diz, enchendo a minha taça, e bebo. — Eu
acho que você já está apaixonado pela Tati, nem parece mais aquele
rapaz ousado que estava fuçando nas minhas calcinhas naquele dia
— comenta, rindo.
Fico calado por alguns segundos, trocando olhares com ela. Por
que está tocando nesse assunto se me deu um fora?
— Bem, é que... Achei que depois do que aconteceu você não
iria mais querer que eu pisasse aqui.
— Fiquei chocada com aquilo, você me surpreendeu
profundamente, mas, como eu disse, isso é normal para garotos
pervertidos da sua idade.
— Você também é pervertida — solto, sem querer, e ela se
remexe no sofá, erguendo uma sobrancelha.
— Eu sou? Por que fala isso? Por que não reclamei contigo por
ter me espiado no quarto com José? Eu vi você.
— Sempre te vejo também — estou meio tonto, as palavras
simplesmente estão saindo sem que eu pense duas vezes.
— O que quer dizer com isso?
— Eu sei que você é cam girl, a Afrodisíaca — revelo, e a vejo
me olhar embasbacada. Então pisco, tomando a consciência de que
falei demais agora e fiz uma grande merda.
— O que foi que disse? — ela pergunta.
O DESAFIO

“— Quero que durma com ela”

Fico gelado, vendo Érica me olhar numa mistura de surpresa


com fúria, e a minha ficha cai de vez, me arrependo em uma fração
de segundos por ter revelado o que sei.
— O que foi que disse, hein garoto?! — ela altera o tom de voz,
me puxando pelo pulso, indignada.
— Nada...
— Nada, não! Porque me chamou de... — sua voz falha — Fala!
— exige.
— Porque eu sei! — respondo, firme, chutando o balde de vez e
me desvencilhando dela — Eu vi.
— Viu o quê?
— Tudo. Sei que você é... uma cam girl — pronto, falei, agora
que se foda tudo de vez.
Ela parece chocada e reflexiva, pensando em sei lá o quê. Ora
olha para mim indignada, ora para outros cantos da casa. Acho que
está me odiando, sinto isso. Depois me surpreende, rindo sem
humor, passando a mão nas madeixas escuras.
— Não acredito que isso está acontecendo — diz, incrédula,
parece que a qualquer momento irá me despedaçar. — Para quem
você contou isso?! — Nunca a vi assim, tão... Ferina, perigosa.
— Pra ninguém — respondo, secando a minha taça mais uma
vez, com um sorriso maroto, acho que estou um pouco bêbado. E
apesar de estar surpreso com o comportamento da minha vizinha,
não me sinto intimidado. Acho que o vinho desanuviou meus
pensamentos
— Menos mal, porque se pensar em espalhar isso, vai se
arrepender, ‘tá me ouvindo? — Ameaça.
— Eu não tenho medo de você.
— Pois devia, não sabe do que sou capaz, garoto! — Aponta o
dedo na minha cara, mas nada do que ela fala para mim tem
importância, e sorrio, em deboche. Apolo, esse é você mesmo?
— Tu também não sabe do que sou capaz — rebato, agora
sério. Ela me chama de “garoto”, mas o garoto aqui descobriu o
maior segredo da vida dela, com certeza.
A mulher respira fundo, com a mão no rosto, parece estar
controlando a fúria, desse jeito vai explodir. E então, tenta recobrar a
calma e pergunta:
— Me conta, como foi que descobriu?
Fico calado, pensando se conto ou não, não sou obrigado a
respondê-la, e além disso, posso acabar entregando algo que vai me
prejudicar. Ao perceber o meu silêncio demorado, Érica muda de
postura, respira fundo, se recostando no encosto do sofá.
— Hoje definitivamente não é o meu dia, sabe Apolo —
comenta, pegando a taça de vinho que havia deixado sobre a
mesinha de centro, e bebe um pouco, sinuosa. Em seguida, cruza as
cochas torneadas, apertadas no vestido que estica, parecendo
buscar espaço para conter tanta carne. Recebo seu olhar matador,
de Afrodisíaca, e seus dedos escorregam pelo ombro, puxando a
alça do vestido que desce um pouco, quase desnudando o seu seio
volumoso sem sutiã.
Me remexo no sofá, fascinado e excitado com esse seu simples
ato, mirando o decote avantajado, a pele tão alva e macia, que
mesmo longe, me deixa quente! Olho-a faminto, e ela mira o meio
das minhas pernas, vendo o volume surgir, e então mordisca o lábio
inferior, sexy.
— Apolo, Apolo... quem diria? — diz, sensualmente, e bebe
mais um pouco, deixando uma gota de vinho cair no vão dos seios, o
que me faz engolir em seco. Ela mela a própria pele com essa única
gota, vagarosamente, usando o dedo indicador, brincando, me
tirando a sanidade! — Você me deseja, não é? — provoca, enquanto
quero devorá-la! — Se me contar como descobriu o meu segredo,
talvez eu posso matar a sua... vontade de me comer — sua voz se
aprofunda em meus ouvidos como o canto de uma sereia. — Sabe
Apolo, eu preciso tanto de um macho de verdade... O José não serve
pra mim — ela escorrega a outra alça. Se puxar mais um pouco,
seus seios saltam para fora. Quero chupá-los! — Será que você é
quem eu procuro?
— Sou — respondo, hipnotizado!
— Então me conta... Como descobriu que eu sou uma cam girl?
— Foi... Quando brinquei aqui com o Olavo... acabei vendo a
porta secreta dentro do seu closet. E um dia, aproveitei que você
saiu e pulei o muro, entrei no quarto e vi tudo. Mas você chegou e...
Acabou me prendendo lá sem saber, e no dia seguinte, vi a sua
exibição para a câmera, me escondi atrás da cortina do banheiro.
— E conseguiu sair sem que eu notasse? — ela está
nitidamente perplexa.
— Sim. E depois fiz um perfil fake no site, para te assistir —
revelo, mirando seu rosto e seu decote a todo instante.
— Você... Invadiu a minha casa, a minha privacidade. Como
pude me enganar tanto contigo, Apolo? É realmente um lobo mau...
Em pele de cordeiro! — Érica ainda usa sua voz penetrante. E então,
infelizmente sobe as alças do vestido novamente. Droga! — Vá
embora, preciso ficar sozinha — diz, educada até, olhando para o
lado oposto, pensativa.
Penso em contestá-la, mas desisto, me dando conta de que
esse teatro foi só para me ludibriar e fazer contar tudo, e deu certo.
Levanto, pensando nisso, e antes de sair, olho-a com raiva e digo:
— Pode achar que sou apenas um garoto, mas... Posso te
provar que está errada — ela vira o rosto para mim, e me encara por
longos segundos, séria.
— Deixe o seu número nesse bloquinho, vamos ver o que pode
acontecer — diz, sugestiva, apontando para um bloco de notas sobre
o rack, me surpreendendo. Fico alguns segundos em choque, não
acreditando que ouvi isso — Não me ouviu?
— Claro — respondo, e rapidamente a obedeço, feliz, mas
tentando não demonstrar tal felicidade.
A olho por uma última vez antes de ir, e vejo-a como nunca
antes, tomando o seu vinho, olhando para o nada, reflexiva, sombria.
Sinto uma curiosidade enorme, queria ter poderes e descobrir o que
ronda a sua mente, mas termino por ir embora.
Esse dia entrará para a história! Não vou me conter de
ansiedade. Por que Érica pediu o meu telefone? O que ela planeja?
O que quer? Sinto que algo irá acontecer, e espero que seja ao meu
favor.
Estou na boate, no bar do térreo, tomando o meu velho drink
enquanto a balada rola solta. É incrível como consigo me manter
centrado em meio a tanto barulho e agitação, mas já me acostumei,
todas as noites são assim. Me pego pensando em Leda, na manhã
quente que tivemos, e isso já faz alguns dias, depois não nos vimos
mais. Como será que ela e Gui estão? Será que terminaram mesmo?
Enfim.
Ao pedir mais uma dose, a ruiva aparece do nada, em um
vestido tubinho, preto e sexy, sentando-se ao meu lado, e pede uma
bebida ao barman também. Depois olha para mim, com o seu sorriso
encantador.
— Oi Victor — diz, alto, por causa da música. Sorrio para ela.
— Oi Leda, quanto tempo — a cumprimento, no mesmo tom.
— Só faz alguns dias. Estava pesando em mim agora? — franzo
as sobrancelhas, ficando surpreso, ela está jogando comigo. —
Aposto que estava!
— Aposto que você pensou em mim em todos esses dias —
rebato.
— Pensei mesmo, mas não vale, já havia te revelado isso no
nosso último encontro.
— Revelado o quê?
— Que fiquei mexida contigo.
— Está apaixonada por mim?
— E se tiver?
Hoje ela ‘tá que ‘tá, toda ousada e desafiadora. Adoro isso em
uma mulher, essa impetuosidade, e a dela tem um toque de
juventude. O seu drink é entregue.
— Cuidado, se apaixonar por mim é perigoso — aviso, com um
sorriso maroto.
— Posso fazê-lo se apaixonar por mim também — afirma.
— Duvido.
— Quer pagar para ver? — me desafia, me estendendo a mão.
Fico alguns segundos tentando entender o que ela pretende fazer, e
então decido aceitar. Nós deixamos nossas bebidas sobre o balcão e
a ruiva me puxa para a pista de dança.
Está tocando uma música eletrônica sensual e intensa. Deixo
ver o que ela vai fazer, quero saber do que é capaz. E assim, Leda
passa a dançar de forma sexy, em um gingado quente e encantador,
com seu jeito de menina mulher, maneando o corpo, sarrando em
mim. Levado por seu feitiço, escorrego as mãos por seus braços
vagarosamente, até a sua cintura, e a aperto, prendendo-a, viril, e
ela encosta a cabeça em meu peitoral, dançando, mexendo com os
meus sentidos, me excitando, me fascinando com toda a sua beleza,
levando as mãos à minha nuca, roçando as unhas carinhosamente
em minha pele.
É um momento único, parece até irreal, fora do mundo, além de
qualquer contexto, regado de uma energia corporal lúbrica, que me
faz viajar por alguns instantes, fechar os olhos e apenas sentir a
presença dessa mulher. Nossos corpos em contato, prestes a
queimar nossas roupas e, neste movimento, ela oferece a boca à
minha que vai à sua feito um imã, de maneira magnética, molhada.
Enlaço a sua língua cálida e permito que meus lábios carnudos
trabalhem nos dela, lentos, mas tão brutos, que essa união parece
não ter mais fim.
A coisa toma uma proporção maior, minhas mãos agora
passeiam entre seu abdômen e a barra do seu vestido, com uma
imensa vontade de rasgá-lo e assim foder a sua bocetinha que já
deve estar completamente molhada, à minha espera. Essa diaba
conseguiu tirar a minha paz em minutos. E, para a minha surpresa,
ela me puxa pela mão com uma certa rapidez e ferocidade, e me
leva para um canto da boate, para um corredor apertado, mas vazio,
diante da festa imensa que acontece bem perto de nós.
Mal chegamos e, antes que ela tome mais alguma atitude, já
ergo logo a sua roupa, e dou-lhe uma lapada na bunda, na sua carne
firme e redondinha, enquanto os lasers e demais luzes especiais
passam por nós freneticamente na escuridão.
— OOR — a ruiva solta gritinhos, ao sentir a minha lapada forte,
e vira, tentando desafivelar o meu cinto, mas a seguro pelo pescoço,
a jogando contra a parede, mostrando quem manda, e faço o que ela
quer fazer, pondo o pau imenso para fora sob seu olhar admirado, e
Leda se contorce de tesão, ofegante, ansiosa pelo meu domínio e
prazer.
Pego sua mão, chupo gostoso dois dedos seus, e os levo até a
sua xota, sussurrando em seu ouvido:
— Se masturba, vadia — ordeno, e ela me obedece, com um
semblante ardente. Enquanto isso, puxo rapidamente uma camisinha
da carteira, visto o meu caralho, e deixo a ruiva de costas para mim,
contra a parede, segurando-a firme pelo cabelo, e metendo fundo em
suas entranhas, forte e viril, do jeito que nós gostamos.
E de repente, aquela velha sensação de perigo sexual que
abandonei há anos me invade, aqui, tão perto das pessoas, com
uma música altíssima ribombando à nossa volta que agora é
atravessada pelos gemidos da gostosa fodida por mim.
— Aaah... AH! OOH! — Leda enlouquece, e noto que estava
com saudade do meu corpo. Me surpreendo em descobrir que ela
pode me satisfazer dessa forma, dessa maneira primitiva e voraz que
eu havia esquecido. É uma loucura cheia de adrenalina que faz meu
sangue correr mais forte pelas veias, quente, enquanto soco o pau
em sua bocetinha jovem, apertada e aveludada, que me suga e me
toma para mais fundo.
— HUMMF! — solto grunhidos altos e guturais, enquanto
esmago a bunda dela com o meu impacto a cada estocada insana.
Com uma mão, espremo um de seus seios contra os meus dedos
grossos e grandes, e com a outra, estimulo o seu clitóris que pega
fogo, e assim, a prendo contra meu corpo, sem saída!
Leda está comprimida em meus braços e lhe dou uma surra de
pica segura, indo o mais fundo possível em suas entranhas, me
enterrando com força total, metendo, bombando, fodendo, a
possuindo como um macho feroz e avassalador. Dou estocadas
fortes, duras, enquanto ela arranha a parede, enlouquecendo, sem
ter para onde fugir ao ser comida com gosto por mim, com
voracidade!
Volto a apertar a sua garganta, chupo a sua orelha, socando pau
adentro, sendo apertado por sua xoxotinha encharcada, que goza e
me molha inteiro, me enlouquecendo, me fazendo pirar.
— Cachorra... safada... dá a bocetinha pra mim dá — solto
gemidos em seu ouvido, com a voz rouca, intensa, deixando a ruiva
ainda mais louca e excitada, repleta de tesão. A nossa foda é
gostosa, apertada, com pressão, insana, imoral, devassa, libidinosa,
perigosa, com a ameaça de sermos vistos. E esse perigo me leva à
loucura mais rápido do que o esperado!
Meu coração falta atravessar o peito com essa emoção
inigualável, com esse sentimento de adrenalina que me faz dilatar as
pupilas e me entregar completamente, explodindo em um orgasmo,
furioso e avassalador, após várias estocadas violentas e demoradas.
Que loucura!
Ficamos alguns segundos ainda unidos, nos recuperando,
ofegantes, trocando sorrisos enfraquecidos, meu caralho ainda está
todo dentro, recebendo as milhares de contrações dessa xoxotinha
deliciosa, e o fim da noite é no meu abatedouro, onde transo com
Leda mais uma vez.
No dia seguinte, acordamos no chão, completamente nus sobre
o tapete. O quarto está um pouco escuro, a janela ainda de cortinas
fechadas.
— Você é bom de cama, sabia? — indaga ela, com o rosto
pousado sobre o meu peitoral e com os dedos acariciando o meu
abdômen repleto de gominhos.
— Bom dia pra você também — digo, com um sorriso, tirando a
remela dos olhos e esfregando no tapete sem que Leda perceba. —
E sim, eu sei disso. — ela sorri.
— Convencido.
— Tu perguntou e eu respondi — respiro fundo e lhe faço
cafuné, enquanto penso na noite passada.
— Está pensando em mim? — indaga, curiosa, querendo me
provocar.
— Em nós, ontem à noite, e agora também.
— O que tem nós?
— Você me fez sentir coisas que eu não sentia já faz um tempo,
desde que...
— Se separou?
— Sim — afirmo.
— Como o quê, por exemplo?
— Como... Foder em um local público — sorrio, e ela também.
— E... acordar assim, agarradinho.
— Ela fazia contigo o que fizemos ontem?
— Quando queríamos sair da rotina, sim. Laura me completava
— afirmo, lembrando dela, mas me arrependo, Leda fica em silêncio
absoluto. — Desculpa.
— Tudo bem, é normal lembrar, afinal, foram muitos anos de
casamento, e vocês têm um filho. Mas... Você pensou nela enquanto
ficava comigo?
— Não — sou sincero. — Lembrei da sensação, do prazer que
aventuras assim me causavam, mas dela... Só agora que estou
refletindo mais profundamente no assunto. Não se preocupe ruiva,
eu sabia com quem estava transando, era contigo.
Ela me agarra forte e distribui beijos por meu peitoral, contente,
e me faz até um pouco de cócegas, me tirando gargalhadas,
deitando sobre mim, toda descabelada, mas ainda sim, linda.
— Sabia que as marcas que você deixa em minha pele
demoram dias para sumir?
— Não — respondo, fazendo um bico, mentindo.
— Pois demoram, por isso não faça mais, viu, seu negão! — diz,
fingindo estar brava, enquanto ponho as mãos sob a cabeça.
— Negão?
— É, você é um negão de tirar o chapéu, não posso dar mole
senão você... créu! — cantarola, e nós gargalhamos.
— Iiih, já está apaixonada mesmo! — brinco, e Leda ri um
pouco, mas depois fica séria. — O que foi?
Ela deita ao lado, enrolada no lençol, saindo de cima de mim, se
encolhendo. Estranho o seu comportamento e fico de conchinha com
ela.
— O que houve? — pergunto, acariciando seu ombro nu.
— A verdade é que eu não sei se consigo mais me apaixonar
por um homem — confessa, refletindo sobre o assunto.
— Quer desabafar sobre isso? — pergunto, sei que tem a ver
com algumas pistas sobre o seu passado que ela já me soltou em
alguns momentos.
A ruiva passa longos segundos calada, olhando para o nada, e
então começa a contar:
— Eu tinha dezesseis anos, ainda estava na escola e me
apaixonei por um garoto da outra turma, um ano mais velho. Ele era
lindo e gentil assim como você, e começamos a ficar, mas ele queria
mais — sua voz falha, e já sei qual será o final dessa história. —
Quando neguei pela terceira vez... Ele — ela começa a chorar, sua
voz já está embargada e então a abraço forte, a virando para mim,
acolhendo-a em meu colo, envolvendo-a em meu calor. Ela está tão
frágil e delicada, que sinto vontade de cuidar dela.
— Não precisa falar mais nada — digo, lhe fazendo carinho e
enxugando as suas lágrimas.
— Foi por isso que me aproximei de Gui, ela também já sofreu
abusos com canalhas, e descobriu que gostava do sexo oposto, e eu
me entreguei a ela por carência, por medo de me ferir de novo, pois
depois do que houve, nunca mais consegui me envolver com outro
cara a sério, não consegui gostar de ninguém de verdade. Mas com
você está sendo diferente. Você é como uma onda, Victor, rápida,
forte e avassaladora, eu não estava preparada — ela para de chorar
e me surpreendo com as suas palavras e me preocupo também.
— Eu compreendo os seus sentimentos, Leda, mas devo ser
sincero contigo e dizer que ainda não estou sentindo nessa mesma
intensidade. Gostei de você desde a nossa primeira vez, estou te
curtindo, mas não estou apaixonado, assim como acho que você
também não está. Na minha opinião você está só confusa por sentir
coisas comigo que ainda não havia sentido com outros. Isso pode
significar algo a mais, com toda certeza, mas ainda acho cedo para
podermos definir do que se trata. Consegue me entender?
— Consigo, e concordo. Mas quero deixar claro que não estou
te cobrando nenhum tipo de posicionamento...
— Eu sei...
— Nós somos no máximo, parceiros de foda — eu gargalho. —
Mas é que eu sou assim mesmo, intensa, e quando sinto algo não
consigo esconder só para mim, tenho que falar, mas não quero te
assustar. Por favor, desculpa.
— Tudo bem, até porque você me deixou um pouco confuso de
ontem pra cá também. Como eu disse, me fez reacender sensações
que só tive com um pessoa, e isso é algo a ser friamente analisado.
Depois de tudo que vivi, depois de entender o que é ter um coração
partido e sentir aquela dor, tenho muito medo de me entregar.
Leda me olha encantada, com os olhos brilhando e me beija, me
surpreendendo.
— Assim você não facilita! — rosna, ofegante, enquanto me
beija mais, e eu a como de novo, aqui mesmo, no chão.
Mais tarde, deixo Leda na casa da Gui, que ainda está viajando,
e sigo para casa. Encontro Apolo ainda dormindo, em seu quarto. Me
aproximo dele a passos lentos, para não acordá-lo, e contemplo a
beleza do meu filhote, ele nem parece que tem apenas dezesseis
anos, ainda mais agora que está com os braços mais fortes devido a
academia pela qual tomou gosto. Além disso, Apolo é um verdadeiro
galalau, seu corpo grande toma a cama inteira, ele pode se passar
facilmente por um jovem de dezoito ou dezenove anos, e há muitos
na sua idade que acontece o contrário, lembram crianças.
Olho seu notebook ao lado, ligado, e vejo uma página da
internet repleta de vídeos de mulheres seminuas. Esse moleque vai
se acabar na punheta, vendo tanta pornografia, penso. Lembro do
dia em que o peguei no flagra se masturbando, e sei que quando
chegar a sua hora de transar de verdade, terá que ter muito cuidado
com a vítima que receberá a bênção do seu pau de jegue. Não sei a
quem ele puxou para possui tanta rola. Mentira, sei sim. Rio com
meus pensamentos sujos.
Fecho o notebook e sacudo Apolo, passando a mão em seu
cabelo.
— Acorda punheteiro! — o chamo, rindo. — Vamos malhar!
Mais tarde, estamos na academia pegando pesado, faço Apolo
pegar cada vez mais peso, e pelo espelho vemos os nossos bíceps
saltados. Meu filhote está ganhando massa muscular muito
rapidamente.
Depois, corremos para a piscina, fazendo tibungos, e nadamos,
nos divertindo como pai e filho. Apostamos quem chega mais rápido
ao outro lado e ele ganha.
— É, a velhice bateu — brinco.
— Que nada, Victor, você deixou eu ganhar! Não vale. — me
aproximo dele, e nos encostamos à beira da piscina.
— E a gatinha do shopping?
— Ah, estamos bem — responde, com um sorriso malicioso. —
Eu a trouxe aqui em casa como o senhor me aconselhou. — ele me
chamou de “senhor” sem se dar conta, que bom, isso mostra que
agora me respeita mais.
— Sério, filho? Quando foi isso? — indago, com um sorriso de
surpresa.
— Ontem. E eu tentei... Mas ela não deixou. Tati disse que tem
vontade, mas que acha ainda muito cedo, que não temos nada a
sério por enquanto.
— Garota esperta — ressalto. — Meninas assim precisam de
um pouco mais de insistência, e geralmente as mais difíceis são as
mais gostosas. Garotas como a Tati valem a pena em todos os
sentidos, filho, pois ela se valoriza.
— Eu gostei da atitude dela, sabe. Acho que tem razão em se
preservar e a admiro por isso, muito mesmo, mas...
— Mas? — indago, e ele sorri, baixando o rosto. — Você está
louco para foder, né safado?
— Sim — confessa.
— Vai dar certo, cara, tenha mais um pouco de paciência, você
ainda é muito novo. Já está bem treinado e aprendeu tudo muito
rápido, tanto que já está pondo em prática. Você é um bom discípulo.
— E você é um ótimo mestre — me elogia, e isso enche meu
coração de alegria. — Com a sua ajuda me sinto mais seguro ao
falar com uma mulher, minha língua agora dificilmente trava e suas
dicas sempre vêm à minha mente nos momentos necessários.
— Me sinto muito feliz com isso, meu filho. E agora vou te dar
um dica quase sempre infalível para comer qualquer menina que
esteja indecisa assim ou fazendo cu doce: quando estiver a sós com
ela, excite-a ao máximo, dê uma pegada gostosa, faça seu corpo
implorar por mais, e então, provavelmente ela irá ceder, a maioria
cede.
Troco risos de cafajeste, e vejo Apolo empolgado com essa
ideia.
— Bom, já vou subir, você vem? — pergunto, me dirigindo à
escadinha.
— Vou ficar aqui mais um pouco — responde, mergulhando, e o
deixo sozinho, indo para o meu quarto.

Nado por um tempo, curtindo a piscina e o sol, e depois vou


para a espreguiçadeira sob a barraca, pegando a toalha e me
enxugando. Vejo o celular vibrar em cima da mesa, e abro a seguinte
mensagem de um número desconhecido:
“Pula o muro agora”
Puta merda! Será que essa mensagem vem de quem estou
pensando?! Repito essa informação diversas vezes na mente e olho
para o muro dos fundos, o único que pulei por aqui, o que me leva
direto à casa da Érica. Ela está me chamando? Não posso acreditar!
Preciso conferir, preciso saber o que quer, só pode ser ela! Visto meu
calção rapidamente, por cima da sunga úmida, depois ponho a
camisa regata e olho para os lados, em alerta, mas não vejo sinais
de Victor ou de Val por perto.
Assim, em segundos estou caminhando pela área externa da
residência da minha vizinha, passo vagarosamente pela piscina,
atento a tudo, de coração acelerado, um pouco nervoso, ansioso,
pensando em um milhão de coisas. O pior é não saber o que
esperar.
Ao chegar na cozinha, vejo um vestido no chão, o que me
surpreende. O que significa isso? O pego e o cheiro, é dela!
Caminho pela casa silenciosa, a passos lentos, procurando por
Érica, mas também com medo de ser flagrado por alguém, pois
talvez tudo isso possa ser um engano, talvez essa mensagem não
tenha sido enviada do seu celular.
Ao entrar na sala, olho ao redor e avisto um sutiã sobre um dos
degraus da escada. Vou até ele, como se tivesse sendo chamado, e
o pego, sinto o perfume, é dela mesmo! O que está fazendo comigo?
Um jogo? Essas peças de roupa são pistas para me atrair? Se sim,
está funcionando muito bem. Subo a escada e ao chegar na porta do
seu quarto, encontro uma calcinha, o que me deixa excitado e ainda
mais curioso pelo que encontrarei depois dessa porta!
Entro lentamente no quarto e escuto uma música sensual vinda
do banheiro que está de porta aberta. Engulo em seco, seguindo
para lá, olhando para trás com um pouco de receio, temendo estar
me metendo numa enrascada! Mas essa mensagem só pode ter
vindo dela, pois deixei meu contato, não há outro muro que eu
pudesse pular!
Meu coração bate mais acelerado a cada passo, e ao chegar no
banheiro, vejo a minha vizinha nua na banheira, com a espuma
cobrindo sensualmente as suas partes íntimas. Ela tem um coque
charmoso no cabelo, uma taça de vinho na mão direita, e parece
muito plena e relaxada, com parte da linda coxa à amostra, me
dando água na boca. É uma deusa! Uma sereia sexy e tesuda,
incrível. A música vem do seu celular, que está sobre a pia.
A Afrodisíaca vira o rosto lentamente para mim, sem espanto, e
abre um sorriso para acabar comigo de vez, me deixando quente e
sem reação, em choque. Meu pau quer atravessar a roupa de tão
duro, e não consigo controlá-lo, estou hipnotizado, fascinado, tomado
por essa visão do paraíso. Érica nem parece real de tão perfeita.
— Oh, então você achou a minha roupa — comenta, com a voz
carregada de libido. — Pena que agora não preciso mais dela — ri,
erguendo por alguns segundos uma das pernas molhadas, me
provocando.
— Eu... recebi uma mensagem — digo, quase balbuciando.
— Sim, eu te chamei — confessa, escorregando a mão em torno
do seu seio esquerdo e o apalpando, mostrando o bico inchadinho,
me fazendo morder o lábio inferior. — Vem... não quer ficar parado
aí, quer?
Meus olhos esbugalham com o seu convite, e levo longos
segundos para compreender que é real, que isso está mesmo
acontecendo de verdade. Estou boquiaberto, contemplando essa
gostosa, voluptuosa e tão serena agora, exalando nudez e
sexualidade. Largo sua roupa que recolhi ao longo da casa, e tiro a
minha, vagarosamente, mirando-a sem parar, com um pequeno
medo de que ela recue e desista do que estou pensando que quer
fazer comigo. Mas por quê? O que a fez mudar de opinião?
Chega o momento de descer a parte de baixo, e meu pau surge,
negro e avantajado, imponente, em sua rigidez, apontando para
cima, de cabeça avermelhada, com as veias parecendo querer saltar
para fora da pele de tão vívidas e aparentes que estão. Ele está tão
duro que o sinto doer, como se fosse espocar em tamanha pressão.
Nunca o senti assim, mas sei que isso está acontecendo por causa
da minha vizinha. Vê-la nua pessoalmente, sinuosa na banheira,
provocante, calma e atraente, é bem melhor do que pela internet,
está me enlouquecendo por dentro, meus pensamentos são os
melhores e mais quentes possíveis.
Érica esbugalha os olhos, admirada, focando no meu caralho,
nem consegue piscar. Depois troca olhares comigo, sorrindo,
aparentando surpresa e safadeza.
— Nossa... estou impressionada, Apolo, nunca pensei que um
rapaz da sua idade pudesse ter esse tamanho. Porém, sempre notei
que você tem um físico evoluído para a sua faixa etária, e isso é raro,
mas parece... Delicioso. Vem — me chama, fazendo um gesto com a
mão, a sua voz doce penetra em meus ouvidos como uma música.
Caminho até ela, deixo os óculos sobre a pia e entro na
banheira vagarosamente, sentando, sentindo a água me molhar
pouco a pouco enquanto me acomodo, tomando espaço, pois sou
grande, e ela faz questão de entrelaçar as nossas pernas por baixo
d’água. A minha presença deixa o espaço pequeno e apertado entre
nós, e ao sentir o nosso contato, fico ainda mais ansioso, em uma
mistura de nervosismo e desejo extremo. A água está morninha e
cheirosa, e por um momento penso que vai ferver com nós dois aqui
dentro.
Ao se ajeitar para dividirmos o mesmo espaço, Érica afasta um
pouco para trás, ficando de costas mais eretas, fazendo seus seios
volumosos, bicudos e arredondados aparecerem inteiramente para
mim, e não consigo parar de desejá-los. O mesmo acontece com o
meu pau, que fica metade para fora, grosso, latejante, faminto. Há
pouca água.
O que Érica pretende fazer a seguir? O que quer que eu faça?
Nós vamos transar mesmo? Essa tensão sexual instalada entre nós
está me matando! E tudo piora quando ela cruza os antebraços sob
os seios molhados e com resquícios de espuma, fazendo com que
eles fiquem ainda mais juntinhos e cheios. Ela me lança seu olhar
provocante.
— Você quer me foder? — pergunta, com a voz de menina
safada. Puta que pariu! Ela tem um grande poder sobre mim e
parece saber disso.
— Eu... Eu quero — murmuro, envolto de um deslumbramento
absurdo. Acho que estou sonhando.
— Muito?
— Muito — rosno, fascinado.
Ela abre um sorriso devasso, de Afrodisíaca, e se aproxima,
unindo mais os nossos corpos, e sinto a sua mão escorregar pelo
meu cacete que vibra ao seu toque, me deixando boquiaberto,
passando a sentir uma certa tortura sexual enquanto sou masturbado
de maneira firme, com a força certa, sem exagero, mas intensa.
Recebo uma pressão gostosa, é a primeira vez que sou tocado por
alguém assim. Fecho os olhos em alguns momentos, sob o olhar
safado de Érica, imoral. Ela parece sedenta por mim.
— Oorh... — arfo, em gemido, segurando forte as laterais da
banheira.
— Preciso de um macho de verdade, Apolo — sussurra,
sensual, e dá uma lambida na glande do meu pau, como uma gata
quando lambe o leite, me fazendo ter um espasmo, me provando o
quanto sou sensível. — José era fraco, e preciso de um homem
forte, que saiba realizar todos os meus desejos e pedidos — sinto
seus lábios darem um selinho na brecha da ponta do meu caralho, e
fecho os olhos com força, delirando, levando a cabeça para trás. —
Você vai ser esse homem, Apolo? O meu homem?
— Sim... — murmuro, seduzido.
— Vai fazer tudo que eu quiser, vai? — ela enfia a cabeça do
meu pau na sua boca, lambendo toda a carne massuda e larga,
protuberante.
— Vou... — minha voz sai sufocada, em grunhido, e a gostosa
sorri, libidinosa, adorando a minha resposta e me masturba com
habilidade e experiência. Ela afunda a boca no meu caralho
novamente, e muda a expressão para uma mais séria ao me sentir
enchê-la e tomar espaço. Minhas veias esfregam nos cantos da sua
boca. Meu cacete é grande e robusto, e agora Érica parece estar
percebendo isso. — Aaah! — solto gemidos mais fortes, e minha
mão, instintivamente, segue para a cabeça dela, sinto uma vontade
enorme de segurá-la pelos cabelos, é mais forte que eu, não consigo
me conter e o faço. A mulher me olha surpresa, mas não contesta e
continua com o seu trabalho.
Tenho vontade de obter mais de si, e em um momento empurro
a sua cabeça para baixo, tentando fazê-la me engolir por completo,
quero saber como é, e os lábios dela escorregam pelo corpo largo do
meu caralho, sinto-o esfolar sua língua comprimida contra minha
carne pungente e viril quando escorrego rumo à sua garganta. Érica
se esforça, e me engole pela metade, e quando seu rosto toca na
água, para tomar o resto, ela não suporta e se afasta, tossindo,
babada.
Estou embevecido, a contemplando, e nem acredito que tomei
essa atitude, não sei o que foi, quando vi já estava fazendo. Érica
passa as costas da mão nos lábios molhados e vem para mim, me
cercando com suas coxas torneadas, segurando o meu pau por trás,
olhando no fundo dos meus olhos que, frenéticos, miram o que está
prestes a acontecer e o rosto dela ao mesmo tempo. Meu coração
retumba no peito, sinto meu cacete ser conduzido até a entrada da
xota da minha vizinha, e tomo a noção de que será agora, eu
perderei a virgindade com essa mulher incrível, e ofego, deixando a
coisa acontecer.
Vejo a cabeça pontuda e graúda do meu caralho ser engolida
pouco a pouco pelas entranhas de Érica, o que me faz fechar os
olhos com força, levar a cabeça para trás e gemer em rouquidão.
— Hummf...
— Aaai... — ela mia, e isso me faz ascender ainda mais, abro os
olhos imediatamente, observando seu rosto em uma certa aflição
tesuda enquanto me recebe dentro de seu corpo.
A primeira coisa que sinto é o contato das carnes, óbvio. Mas o
que quero dizer é que a sensação que tenho, é de estar
escorregando com dificuldade por um caminho cheio de carnes
fervorosas e muito, muito macias que, aos poucos vão me sugando,
e envolvendo o corpo robusto do meu pau, o cercando, o tomando
para si, massageando-o com inúmeras contrações, movimentos que
parecem involuntários, ao mesmo tempo em que músculos parecem
se romperem, se abrirem, me dando espaço para afundar cada vez
mais.
É molhado, é quente, é apertado. Sou pressionado de uma
forma gostosa, sensacional, que faz uma energia desconhecida e
boa invadir todo o meu corpo, fluindo dessa conexão avassaladora,
que ativa o centro da luxúria em meu ser de forma exagerada.
Sinto prazer, muito prazer. É como se por alguns instantes,
conseguisse sentir tudo que Érica sente, como se a nossa união
fosse uma ponte para transpassar sensações e emoções incríveis e
múltiplas que nos arrebatam a cada instante. Sim, consigo perceber
que Érica não está tão diferente de mim, ela é envolvida pelo tesão
que nossos corpos emanam, e quando volto a olhar para baixo, vejo
que ainda não tem nem metade da minha rola em sua boceta
rechonchuda e deliciosa. Só agora noto que ela tem a tatuagem de
uma borboleta negra, pequenina, bem no pé da barriga, quase no
início da virilha, e isso me dá um gás a mais de excitação.
Érica desce mais alguns centímetros, me engolindo agora mais
da metade, e minha vara lateja, parecendo inchar e crescer ainda
mais, ao mesmo tempo em que sinto as contrações em seu interior,
violentas, ao passo que suas paredes vaginais são invadidas com
toda a minha virilidade. A Afrodisíaca ergue o rosto, fechando os
olhos e gemendo forte, como uma putinha, assim como faz nos
vídeos, mas agora parece bem mais real.
Vejo os seus seios fartos e chamativos, e, seguindo novamente
o meu instinto e, lembrando dos milhares de vídeos pornôs que
assisti, passo a apalpá-los com força. A vontade que tenho é de
esmagá-los entre os meus dedos. Não consigo explicar, é como se
houvesse uma força dentro de mim, animal, primitiva e máscula que
me induz a tocar nessa mulher sempre de maneira rude e grossa, e
assim, não resistindo mais à essa tortura, tenho um impulso natural e
ergo o meu quadril com brutalidade ao mesmo tempo em que seguro
a gostosa pela cintura e a puxo para baixo, enfiando o meu pau
inteiro em sua bocetinha, de uma vez, pondo para dentro o que
faltava, nos encaixando com vontade, até o talo, até meu saco
chocar contra seus lábios vaginais!
— AAAAH! — ela grita, em libertinagem, se inclinando sobre
mim enquanto puxa a minha cabeça contra seu corpo com força, e
nesse ato, consequentemente, a minha boca se encaixa
perfeitamente contra o seu seio direito, a sua carne invade os meus
lábios, e passo a mamá-la com as mãos escorregando para a sua
bunda gigante que parece tremer, com a minha invasão completa em
suas entranhas encharcadas. — Gostoso... — geme, sua voz sai
tremida. — Nunca tive um pau tão grande assim... — confessa, e
isso me faz morder o seu seio, roçar os dentes em sua carne, sem
machucar, faminto, ávido. Quero-a infinitamente!
Não sei o que é, não sei o que acontece! Meu corpo parece agir
por si só, reage sem que eu possa controlar, quando vejo já estou
fazendo, instintivamente, por impulsos, e assim, me descubro
sexualmente, me estudo, me analiso e me surpreendo enquanto as
coisas acontecem.
Faço o mesmo com a Afrodisíaca, fico encantado com todas as
suas reações, com essa loucura. E então, ela segura o meu rosto
com força, voltando a me encostar na beira da banheira, me olhando
nos olhos, devassa, depravada, e passa a foder com gosto. É neste
instante que percebo que estamos só começando.
— Ooorh... — passo a gemer cada vez mais forte, enquanto a
boceta aveludada da minha vizinha escorrega cada vez mais rápida
pelo corpo do meu pau, subindo e descendo, voraz, me engolindo,
me sugando euforicamente.
Érica se torna a Afrodisíaca em todos os sentidos, e, como faz
em frente à câmera, passa a pular sobre mim, espichando água para
tudo que é lado com o nosso impacto, mas não estamos dando
atenção a isso. Eu só consigo pensar em nós dois, nesse sexo
incrível que está acontecendo, em todas as sensações indescritíveis
que invadem o meu corpo ao mesmo tempo. Estou em combustão,
queimando com essa mulher, mesmo dentro d’água.
Também me sinto alucinado, energético, vivo como nunca antes,
e, principalmente, me sinto homem de verdade, macho, viril,
poderoso, enquanto os lábios da xoxota dela se esfregam em mim,
me possuindo, me dominando. Minhas mãos apalpam as suas
nádegas redondas e durinhas, parece que meus dedos querem
perfurar sua pele, com demasiada violência com a qual tento contê-la
em meus braços. Mas não consigo, a cam girl é insana, e prossegue
em seu sobe e desce frenético, depravada, obscena, envolta numa
luxúria devastadora, me usando, me transformando em seu objeto
sexual como um dia sonhei, e agora o sonho se torna realidade.
E então, ela para, e me puxa pela nuca de novo, contra o seu
corpo que pega fogo. Abocanho o seu seio esquerdo dessa vez,
movendo a língua em todas as direções que consigo e algo me faz
mamá-lo de verdade, sugando o bico enquanto afundo meus dedos
em suas nádegas, afastando-as uma da outra e Érica não para, se
remexe sobre mim com habilidade, seu corpo ondula enquanto
rebola para frente e para trás e roça em mim com vontade, com o
pau todo dentro da sua boceta sedenta. Ela é um furacão sem
possibilidade de contenção.
— AAAH... OOH... — a safada passa a dar gritinhos de prazer,
mexendo, arrastando a boceta em mim numa força absurda,
descomunal, me prendendo entre suas coxas. Enquanto ela me puxa
para si, eu a puxo para mim, como se quisesse fundir os nossos
corpos ainda mais. Nós ofegamos loucamente, estamos pegando
fogo, fodendo como animais. Sinto suas unhas cravarem e
arranharem as minhas costas, é uma dor boa, me faz entrar em
frenesi.
— OOR... — rujo, sentindo que estou prestes a gozar, mas
agora a sensação é muito superior àquela que eu sentia quando
gozava ao me masturbar. Dessa vez, parece que toda a minha força
corporal, vital, toda a força que me mantém vivo e que me deixa em
êxtase, flui e segue de maneira arrebatadora e invencível em direção
a um único ponto: meu pau. Meu saco se contrai várias vezes
enquanto Érica volta a pular euforicamente, me cavalgando, de olhos
fechados, se entregando, e eu explodo ao mesmo instante em que
ela parece se partir em devassidão, mas não sei se está gozando
também.
Sinto meus espermas correrem pelo corpo do meu caralho,
subindo em corrente, detonando tudo que há pela frente e jorrando
em uma pressão arrasadora e abundante pela brecha da cabeça do
meu cacete, para dentro da gostosa agora trêmula que está sobre
mim. Acho que vou morrer de embevecimento, em elevo total, como
jamais fiquei.
Ainda tenho espasmos quando os últimos jatos de sêmen
disparam de dentro de mim para fora, e volto a me recostar na beira
da banheira, enfraquecido, buscando ar, maravilhado.
Érica praticamente se deita sobre mim e me beija pela primeira
vez, nossos lábios se conectam muito bem, exaustos, molhados, e
sinto sua língua invadir a minha boca enquanto minhas mãos
retornam à sua bunda perfeita, meu pau ainda está potentemente
duro em suas entranhas que se contraem. Ela ri, parece satisfeita.
— Bom garoto... Eu precisava disso, e você me surpreendeu
muito, Apolo — sorrio para ela, ainda tentando controlar a
respiração. Em seguida, a gostosa sai de cima de mim e levanta,
vejo meu sêmen escorrer da sua xota, deslizando por suas coxas. É
lindo!
Ela se enrola em uma toalha, e como uma deusa, vai para o
quarto. Deito a cabeça sobre a beira da banheira, passando as mãos
no rosto sem acreditar em tudo que vivi aqui. E sorrio, feliz, muito
feliz. Passo o polegar sobre a cabeça melada do meu pau que ainda
está duro, e sinto algo dentro de mim que grita por mais. Ainda estou
com fome. Levanto, e caminho pelado e molhado até Érica que está
parada perto da cama, enxugando suas coxas e boceta, e mordo o
lábio inferior de tesão, só de olhá-la. Ela é a verdadeira Afrodite!
Seguro-a pelo braço delicadamente, chamando a sua atenção, e
digo:
— Quero mais — ela ergue a sobrancelha, aparenta surpresa, e
mira o meu caralho, vendo que ainda estou em ponto de bala.
Minutos depois, estou sobre Érica, na cama, entre suas coxas
arreganhadas, metendo fundo e com força.
— Mais rápido... Mais rápido... Mais rápido... — geme ela,
ensandecida, ofegante, e a obedeço, fodendo como um louco,
socando o pau várias vezes em sua boceta gostosa que está ficando
vermelha com a minha brutalidade. As unhas dela se arrastam por
minhas costas e bunda, e então puxa o meu quadril, me colando ao
seu corpo e me deixando completamente dentro dela, e me força a
fazer movimentos para cima e para baixo, roçando em seu clitóris. —
AAAH... AAI APOLO... — berra, se contorcendo, enquanto eu sarro
nela com força. A mulher bagunça os cabelos, de olhos fechados,
com o semblante em uma mistura de aflição sexual, e logo depois, o
encantamento. É incrível vê-la assim, estou em sua adoração.
Entretanto, ainda sinto sede de seu corpo maravilhoso. Me saio
dela e deixo-a de bruços.
— De no...? Aah... — ela não consegue terminar a frase, pois
me enterro fundo em sua boceta mais uma vez, descobrindo uma
nova posição, me surpreendendo com a minha capacidade e
resistência, e fazendo barulho com o choque dos nosso sexos.
Apoio as mãos na cintura dela e continuo fodendo, sem
cansaço, imparável, imbatível.
— Me bate... Bate na minha bunda, bate, gostoso! — ela implora
e eu faço, dando uma lapada na sua raba. — Mais forte! — pede, me
abrindo um sorriso, e realizo o seu desejo. — Oooh! — ela grunhe, e
lhe dou mais lapadas na bunda, empolgado. Isso me leva a um nível
máximo de excitação, até que, finalmente, gozo pela segunda vez! E
caio ao seu lado, ofegante, enquanto Érica tenta se recuperar, acho
que ela estava perto de outro orgasmo, mas eu fui primeiro. Porém,
meu pau continua duro.
— Quero mais — rosno, em seu ouvido.
— O quê? — indaga ela, sua voz parece assustada. — Não é
possível... aah... — ela geme, me sentindo penetrá-la por trás, agora
estamos de conchinha. Soco o pau várias vezes na xota da minha
vizinha, enquanto ela aperta o meu pau ardente com a boceta. Ele
dói muito, meu saco dói, mas só quero parar quando não aguentar
mais.
Érica puxa a minha mão para um de seus seios e oferece a boca
para ser beijada, e a beijo. Não demora muito e ela parece que vai
desmaiar, enquanto eu, após muito tempo metendo, gozo
novamente, dessa vez sai apenas um líquido bem transparente,
estou seco. E só assim volto ao normal, meu pau amolece, e me
sinto saciado.

Retorno para casa feliz da vida, felizmente Victor e Val não


notaram as minhas duas horas de sumiço. Nunca me senti tão bem
comigo mesmo, a minha primeira vez foi muito mais do que sempre
sonhei, e agora sou consumido com todas as lembranças
maravilhosas, crio milhares de possibilidades na mente.
Estou impressionado comigo mesmo, sempre achei que quando
acontecesse, eu gozaria muito rapidamente, mas aconteceu o
contrário, e depois da primeira vez demorei ainda mais. O meu ego
está nas alturas, e me acho superdemais!
No dia seguinte, retorno à casa de Érica, à noite, assim que fico
sozinho em casa, e a encontro sentada no sofá, com sua taça de
vinho, toda charmosa e gostosa, maravilhosa, sensual, me
esperando. Nem consigo crer que faremos tudo de novo, é um
sonho!
— Sente-se, Apolo — me convida, e sento ao seu lado, sorrindo.
— Como você está?
— Bem, e você? — pergunto.
— Muito bem também. Não contou a ninguém sobre nós ontem,
né?
— Não, eu prometi a você que não contaria — afirmo, sincero.
— Muito bem. Lembre-se que manter a discrição comigo é
essencial. Se eu pelo menos desconfiar que anda falando sobre mim
com alguém, nunca mais me verá na sua frente. Entendeu?
— Entendi, pode ficar despreocupada, não vou falar a ninguém,
nem para o meu pai.
— Ótimo, pois quem como quieto, come sempre — diz, e ri para
mim, linda. Me aproximo mais dela, e busco um beijo, sou
correspondido, e quando percebo, minha mão já está em sua coxa,
mas Érica a afasta. — Você é muito faminto, lobo mau. Nunca
imaginei, demorei para me recuperar ontem — isso eleva o meu ego
a níveis extremos.
— Você gostou mesmo? — indago, curioso.
— Bastante.
— E você... Teve orgasmos? — ela ri com a minha pergunta,
fiquei em dúvida se ela chegou ao ápice como eu.
— Três vezes — responde. — Você tem talento, Apolo, não só
na cama como em outras coisas também. — Adorei te desvirginar —
ergo as sobrancelhas, surpreso por ela saber desse detalhe. — Eu
sei que você era virgem. Foi delicioso.
— Quero mais — digo, e ela acaricia o meu rosto.
— Eu também quero, porém, possuo desejos que ainda não
foram cumpridos, e busco por um homem que consiga realizá-los
para mim. Só assim, poderei me entregar a ele sempre que quiser,
sem medidas, sem impasses — diz, bebendo um pouco de seu
vinho, e não consigo entendê-la muito bem.
— Diga o que quer, e eu farei — afirmo.
— Será mesmo? Será que você é capaz de fazer o que eu tanto
desejo, Apolo?
— Sim — faço tudo para ir pra cama com ela novamente.
— Então vou te desafiar, e se conseguir cumprir com o desafio,
eu terei a prova de que é o único macho do qual preciso em minha
vida.
— Qual desafio?
Érica pega seu celular sobre a mesinha de centro, mexe um
pouco, e me entrega, me mostrando a foto de uma mulher que
aparenta estar na casa do trinta anos, bonita, cabelo castanho,
cacheado, olhos escuros, usando um vestido luxuoso em uma festa.
— O que achou dela? — pergunta, olhando para o nada, séria,
tomando mais um gole de vinho.
— Bonita — respondo.
— Quero que durma com ela — dispara, me deixando incrédulo.
Fico em silêncio por alguns instantes, esperando para ver se o que
ela disse se trata de alguma trollagem. Mas parece que não.
— ‘Tá falando sério?
— Seríssimo — responde, fria, me fazendo rir, sem humor.
— Mas o que te faz pensar que eu conseguiria fazer isso?
A Afrodisíaca respira fundo e só então volta seus olhos para
mim.
— Vejamos... Você é inteligente, ousado, observador, bonito e
agora sei que também é bom de cama.
— Mas só tenho dezesseis anos.
— Com cara de dezoito, e o corpo então... — ela olha para o
meio das minhas pernas — Nem se fala. Já se olhou no espelho,
Apolo? Você é um homem quase feito, alto, sarado, realmente muito
desenvolvido para a sua idade, o que ajuda bastante.
Fico em choque, olhando ao redor por um instante, tentando
raciocinar e assimilar essa proposta maluca.
— Isso é loucura — comento, sorrindo incrédulo.
— Só os loucos conseguem o inimaginável. E você não nasceu
para ser “normal” Apolo — ela faz o sinal de aspas com os dedos —
Acha que é normal invadir a casa dos outros e descobrir seus
segredos? Não sei de onde vem essa sua impetuosidade, mas isso
corre por suas veias, por isso te escolhi.
— Me escolheu?
— Sim — ela se aproxima, acariciando o meu rosto e me
beijando. — Quero que seja meu, Apolo, o meu macho, mas preciso
de um homem de verdade, alguém que seja capaz de me ajudar.
— Ajudar em quê, Érica? — pergunto, confuso.
— Faz isso por mim, faz — ela sussurra em meu ouvido,
sensualmente, e depois o mordisca, me seduzindo. Fecho os olhos
ao sentir a sua voz penetrante soar, sua língua molhando a minha
pele, me excitando. — Prove que é corajoso, que é o macho do qual
tanto preciso.
— Você quer que eu transe com... Ela? — pergunto, sentindo-a
beijar a minha boca.
— Aham... Vai ser legal, excitante, você vai gostar.
— E se eu não conseguir?
— Tenho certeza que vai conseguir — ela leva a minha mão ao
seu seio, me deixando quente e envolto em seu feitiço.
— Mas por que isso? Por que não me deixa ficar só contigo?
— Porque é assim que tem que ser, ou não será mais de jeito
nenhum — diz, ameaçadora, e se afasta, me deixando com água na
boca, em uma confusão mental tremenda. — E então? Qual é a sua
resposta?
Fico calado, refletindo.
— Eu... Não posso fazer isso — digo, hesitante.
— Vá embora, Apolo, me enganei com você — diz, séria, e
amarga.
— Érica...
— Vá embora! — recebo seu olhar furioso, e então levanto, com
a mão na cabeça, arrasado com essa situação. A quero tanto. Não
quero ir, não quero me afastar dela, do seu prazer, dos seus
gemidos, do seu corpo!
Caminho a passos pesados até a porta, me distanciando de
Érica, sofrendo internamente por estar perdendo-a. Será que posso
mesmo fazer isso para continuar ficando com ela? O que tenho a
perder em tentar levar essa mulher desconhecida para a cama?
Afinal, ela pode ser como aquelas abordagens que fiz no shopping.
Posso pelo menos tentar, e assim ter a minha vizinha gostosa
sempre comigo.
— Aceito a sua proposta — digo, sério, sem pensar direito no
que estou fazendo, olhando-a nos olhos e vendo sua fisionomia
mudar rapidamente para uma felicidade sombria. Érica vem até mim
e me presenteia com um beijo quente.
— Vou te contar o meu plano — sussurra em meu ouvido.
Dias depois, após Érica me falar como me faria se aproximar da
tal mulher, sempre se resumindo ao básico de informações, damos
início a esse plano louco. Encontro com Victor na sala e digo que
quero malhar fora de casa agora.
— Por que quer malhar fora de casa se temos academia aqui?
— me indaga ele, sem entender.
— Ah, é porque a Tati malha lá, pai — minto.
— Ah ‘tá, agora entendi. Quer ficar perto da namorada, né?
Tudo bem, então. Mas terá que ser a tarde, depois da escola, a noite
não.
— É a tarde mesmo que eu quero — confirmo, e depois me
afasto, com um certo medo em meu ser, um desconforto por ter
mentindo para Victor e ainda usado o nome de Tatiana.
No dia seguinte, após chegar da escola, almoço, me arrumo, e
pego um táxi. Desço em um ponto da estrada onde Érica me espera
em seu carro, como combinado. Ela me leva até uma academia rica
na zona leste da cidade. Paramos no outro lado da rua e ficamos
observando o movimento.
— É essa aqui, vai ser fácil pra você chegar, é perto do nosso
condomínio — diz ela, de óculos escuros.
— É perto sim. — Confirmo, meio nervoso.
— Não fica nervoso, meu bem, eu sei que vai conseguir.
— O nome dela é Aline, né?
— Isso.
— Vai ser fácil conquistá-la, Aline está carente, recentemente
descobriu mais uma das várias traições do seu marido cafajeste,
precisa de colo, de atenção.
— Ela é casada? — indago, assustado. — Por que não me disse
isso antes?
— Porque não faz diferença, Apolo. Não se preocupe, ele não
está nem aí para ela, mal se dá ao trabalho de procurar saber onde a
esposa anda.
— É claro que isso faz diferença, Érica. Se ela é casada, eu
posso me dar muito mal!
— O que é? Vai arregar agora? — pergunta, com rispidez na
voz, me surpreendendo, nunca a vi assim. — Já disse para não se
preocupar, tenho tudo sob controle.
— Como? — pergunto, desconfiado, e ela respira fundo, como
se tivesse de saco cheio.
— Não importa. Foque na sua missão: conquistar Aline, e levá-la
para a cama. É só disso que preciso. — ela passa a me beijar
gostoso, me envolvendo em seus encantos. — E então serei toda
sua novamente, quantas vezes quiser. Farei o que quiser — sussurra
em meu ouvido.
— ‘Tá bom — concordo, hesitante, mas concordo.
— Olha lá! É ela, a Aline! — diz, ansiosa, com um sorriso
malévolo no rosto. — Vai gostoso, chegou o seu momento! — ela me
abraça e me beija novamente, me fazendo descer do carro.
Caminho lentamente até a academia, entre o desejo e a razão,
duas vozes gritantes em meus ouvidos. Quero Érica de novo, mas
ela me pediu para conquistar Aline. Esse é o preço que tenho que
pagar para ter a minha vizinha na cama mais uma vez, e sendo
assim, está decido, irei cumprir!
SEGUNDAS INTENÇÕES

“...Miro sua boca, ela mira a minha, e deduzo que


ambos sentimos a mesma vontade. Será agora?”

Ao colocar meus pés na academia, sinto que a minha vida


mudará completamente a partir de agora. É uma sensação estranha,
não sei se é temor ou algum tipo de pressentimento. Fico parado na
entrada, enquanto algumas pessoas vêm e vão, e vejo o meu
objetivo à alguns metros de distância, se preparando para o treino.
Aline é o seu nome, mas quem é ela? Por que Érica quer que eu a
leve para a cama? O que estou fazendo?
Respiro fundo e dou meia-volta, balançando a cabeça,
percebendo que isso é uma loucura e que não posso continuar. Que
mudança radical essa, de repente perco a virgindade com a mulher
que sempre desejei e sonhei, e foi maravilhoso, mas agora ela me
impôs um desafio para continuar me dando o seu prazer, e esse
desafio se chama Aline. Não sei absolutamente nada sobre essa
mulher, Érica só me contou que será fácil, que ela é carente e nos
últimos instantes me joga a bomba de que Aline também é casada.
Fui assegurado de que o marido não seria um problema, mas
como Érica pode ter tanta certeza disso? Por que todo esse
interesse? Pior que só assim conseguirei o que quero. Posso encarar
essa situação mais facilmente se pensar em Aline como uma das
abordagens que fiz no shopping, sem compromisso, apenas com o
intuito de beijar na boca ou conseguir contatinhos. Entretanto, agora
é diferente. Agora, eu preciso transar com o meu alvo. Érica quer
sexo. Por um lado isso pode ser bom para mim, sexo deve ser
sempre bom, não é verdade?
Estou confuso, pensando em tudo isso, encostado na parede de
fora.
— Oi, boa tarde. — um rapaz bombado fala comigo, ele veste
uma regata com a marca do estabelecimento, deve ser funcionário.
— Boa tarde — respondo, esticando um sorriso sem humor.
— Você vai começar hoje?
— Sim, eu vou — digo, após longos segundos de silêncio.
— Ah que bom, seja bem-vindo, eu sou Daniel, um dos donos
daqui, venha fazer sua matrícula. — sigo o homem sorridente, e
respondo as suas perguntas enquanto ele preenche o meu cadastro.
— Quantos anos você tem?
Olho para ele e depois para Aline, penso duas vezes, e
respondo:
— Dezoito.
— O.K. — responde ele, sem nenhuma desconfiança, e digita
essa e mais informações minhas. — Quer ajuda de um instrutor para
começar?
— Não, eu já sei fazer tudo sozinho.
— Tudo bem, então pode ir — me libera, e caminho pelo espaço
repleto de equipamentos de todos os tipos, novos, e neles, muita
gente bonita. Aqui é uma academia de luxo, de gente rica, muito bem
iluminada, com todo tipo de atividade, salas, espelhos e etc. Passo
por duas gostosinhas e troco olhares com elas que riem para mim, e
em seguida miro suas bundas apertadas na legguing, e
automaticamente penso em sacanagem, nas duas peladas comigo.
Apolo, você não era assim.
Realmente esses dias sem transar com Érica estão me
causando efeitos colaterais. Agora que finalmente sei como é estar
dentro de uma boceta, ao invés de me sentir saciado, me sinto mais
esfomeado. Está muito pior do que quando era virgem. Hoje meu
corpo pede mais, o desejo é maior e mais forte, e isso para mim é
estranho, curioso. Será que me tornei um tarado?
É uma vontade que perturba meus pensamentos, fico a todo
instante lembrando de cada detalhe do sexo com a minha vizinha, e
isso me excita e tortura ao mesmo tempo, pois só a terei de volta se
fizer essa merda. O que Érica quer de verdade? Será que isso é uma
forma dela ter a prova de que eu realmente sou o homem que ela
precisa? É verdade! Pode ser isso! Não posso nem mesmo imaginar
José novamente perto dela. Não posso deixar isso acontecer jamais!
Devo me sobressair e ser melhor que ele, ser o macho que Érica
precisa!
Enquanto filosofo solitariamente em todas essas questões, me
aproximo cada vez mais da minha presa, lentamente, observando-a
pegar com um pouco de esforço, anilhas de 10kg para pôr em uma
barra que está sobre o piso de borracha. Coço vagarosamente a
minha nuca, pensando no que fazer para começar a falar com ela.
“...um Lobo deve ter atitude, mulheres gostam de caras que
dizem pessoalmente o que querem e como querem... lobos são
corajosos, o medo não faz parte da nossa espécie...”
Lembro das palavras de Victor, elas invadem a minha mente
com força total. E assim, sei que tenho que atacar, fazer uma
abordagem indireta, pois, nesse caso, não seria legal já chegar
demonstrando de cara que estou afim de Aline, afinal, ela é casada.
Será que vai querer trair o marido para dar o troco? Não sei.
Paro de pensar, respiro fundo e sigo rumo a ela. O engraçado é
que não sinto mais aquele medo bobo de antes, aquela insegurança
imensa. Acho que pareço até relativamente calmo comparado ao que
eu era antes. Me sinto confiante, estou encorajado, sei o que fazer!
Aproveito que a mulher tem dificuldade para pegar mais uma
anilha, e decido ser ousado ao extremo, segurando em suas mãos e
a ajudando a retirar o objeto do equipamento. Ela me olha surpresa,
franzindo as sobrancelhas, mas depois percebe que quis ajudá-la.
— Obrigada — responde, com um sorriso que parece forçado.
Aline está menos bonita do que na foto, mais magra, de olhos
fundos, abatida. Será que é o peso do chifre fazendo efeito? Ela é
menor que eu, como todas costumam ser, e diferentemente de Érica,
possui um corpo menos voluptuoso, porém bonito, contornado pela
legging. Seu cabelo castanho e cacheado está preso em um rabo de
cavalo, seus olhos são da cor de mel. Ela possui traços de menina,
rostinho pequeno e delicado. Estimo que esteja entre vinte e nove e
trinta e poucos anos.
Aline ajeita a barra para que eu possa colocar a anilha, e agora
está tudo pronto para começar o seu treinamento.
— Eu sou Apolo, prazer — nós trocamos um aperto de mão, a
minha praticamente cobre a dela.
— Aline — diz, parece sem graça, e segue para a barra, abrindo
as pernas e posicionando os pés, se preparando para levantá-la.
— Quer ajuda? — pergunto. Sou um bom rapaz.
— Não, eu consigo sozinha — nega, e fico sem saber o que
dizer por alguns instantes. Calma, Apolo.
— Sou novo aqui — comento, tentando puxar assunto, enquanto
ela descansa para a próxima sessão.
— Legal — responde, sem olhar para mim. Ela está me
ignorando. Nossa!
E assim é o nosso primeiro contato. Me afasto, procurando
alguma máquina para começar algum treino, já que é a única opção
que me resta. Percebo que as coisas não serão tão rápidas como
quero, ainda mais se ela continuar tão impenetrável assim. Tenho
que pensar em como quebrar essa barreira e alcançar as minhas
segundas intenções.
Mais tarde, de volta para casa, após o banho, fico deitado na
cama, trocando mensagens com Érica e Tati ao mesmo tempo.
Penso que o que estou fazendo não é legal em relação a Tati, mas
por outro lado, me conforto com a ideia de que nós não somos
namorados, somente ficamos, não temos um relacionamento sério,
então, para todos os efeitos, eu sou solteiro. Não devo sentir culpa
por isso.
Érica quer me encontrar mais tarde para saber como foi na
academia com a Aline, enquanto Tati também quer me ver, já faz
alguns dias que não a vejo, foi por conta dos últimos acontecimentos.
Admito que estou muito empolgado e encantado com Érica, ela tirou
o meu cabaço! E isso é fenomenal! Mas gosto de Tati, gosto das
duas na verdade, porém de maneiras diferentes. Com Érica é mais
carnal e com Tati mais amorzinho, por isso, não tenho motivo para
dispensá-la.
TATI: Preciso te ver, estou muito triste, preciso de carinho. Estou
com saudade!
APOLO: O que houve? Também estou com saudade, mas ando
muito ocupado ultimamente.
TATI: Estou com alguns problemas, preciso conversar com
alguém.
APOLO: Tudo bem. Vamos nos encontrar.
TATI: Pode ser hoje?
No momento em que decido digitar “sim” para Tati, recebo uma
mensagem da Érica.
ÉRICA: Vem que horas?
E agora? Penso por alguns segundos e decido. Respondo a
Érica que irei daqui a pouco, que terei que sair de fininho para Victor
não perceber, porque hoje ele não vai para a Alcateia. Já para Tati,
digo que não podemos nos encontrar, talvez amanhã.
Ao anoitecer, após Valrene ir embora e após jantar com Victor,
fico no sofá da sala, mexendo no celular, pedindo para Érica ter
paciência, pois ela está só me aperreando. A TV está ligada, mas
nem presto atenção.
— O que tanto você mexe nesse celular, hein? — pergunta
Victor, jogando-se no outro sofá, sem camisa, e me arremessando
um travesseiro.
— Nada — respondo, sorrindo para disfarçar, guardando o
celular no bolso.
— E aí como foi na academia nova?
— Ah, foi tudo bem.
— Encontrou a sua namorada lá?
Demoro alguns segundos para entender o que Victor está
dizendo, o olho confuso, e então lembro da desculpa que lhe dei
para poder malhar fora de casa.
— Ah sim, pois é, é... Ela malha lá — digo, sem jeito.
— Foi isso que você me disse — diz ele, estranhando o meu
comportamento.
— É que ainda não me acostumei com você chamando ela de
minha namorada. Nós estamos só ficando, para todos os efeitos eu
ainda sou solteiro
— Muito bem, alpha — diz ele, batendo palmas, zoando comigo.
— E aí? Já tentaram de novo?
Eu quero tanto contar a ele que comi a gostosa da minha vizinha
e perdi a virgindade, mas não posso! Droga! Contudo, tenho uma
ideia legal e decido alterar um pouco os personagens, de modo que
consiga compartilhar a minha alegria.
— Sim, tentamos de novo — digo, com um sorriso sugestivo.
— Eita — Victor sorri, animado e surpreso comigo. Pobre dele,
nem imagina do que sou capaz. — E então? Deu certo?
— Deu sim — afirmo, fazendo-o ficar boquiaberto.
— Sério, cara? Que legal, filho! — exclama, vindo até mim e
sentando ao meu lado, apertando a minha mão e me dando tapinhas
nas costas como se eu houvesse ganhado na loteria. Pior que acho
que ganhei mesmo — Você está de parabéns! ‘Tá vendo o que eu
disse? Sabia que ia conseguir! Esse é o meu garoto! — ele me
abraça e beija a minha cabeça. Ver a sua felicidade por mim, me
deixa muito contente.
— Quero agradecer a você. Senão fosse os seus conselhos, a
sua ajuda para me desinibir, não teria conseguido.
— Que nada rapaz, tudo isso é mérito seu! Mas me conta, como
foi experimentar uma bocetinha? — pergunta, safado.
— Muito bom. Bom demais. Acho que não consigo mais viver
sem. É a melhor coisa do mundo — digo, encantado, enquanto o
negão ao meu lado ri de orelha a orelha.
— E onde aconteceu?
— Ah... — vou ter que mentir novamente. — Na casa dela, os
pais não estavam lá, e aproveitamos, na banheira.
— Na banheira? — indaga ele, fazendo um bico de
impressionado. — Caralho cara, tu é foda, hein! Você agora não é
mais punheteiro, é boceteiro! Glória a Deus! — exclama.
— Amém — entro na onda dele, e nós gargalhamos.
— Se protegeu?
Fico calado, lembrando que não. Nossa, isso nem por um
segundo passou por minha mente!
— Não usou camisinha? — pergunta, indignado, e balanço a
cabeça negativamente. — Gozou dentro? — balanço a cabeça
positivamente. — Porra Apolo, não pode! — reclama, tirando a
felicidade do rosto. — Você quer logo na primeira já ser pai como um
monte de otário por aí?
— Eu me esqueci — me justifico, refletindo comigo mesmo
sobre essa possibilidade. Não quero ser pai aos dezesseis anos.
— Mas não pode esquecer. Não sei se falei contigo sobre isso,
mas na sua idade esse tipo de informação é o que não falta. Deve
brincar, mas sempre protegido — ensina. — Me siga — ordena,
levantando e subindo pela escada, vou atrás dele. Chegamos ao seu
quarto e ele me entrega várias camisinhas. — Toma, e encapa esse
teu pau, porra, que eu não quero ser avô agora. Algum dia sim, mas
agora, não!
— ‘Tá. — Digo, com um sorriso. Esse negão até quando não
quer, é engraçado.
— Não ri, moleque, estou falando sério! Filho é coisa séria.
Agora liga para a Tati e diga para ela tomar uma pílula do dia
seguinte, antes que seja tarde demais e dê merda — diz, sério.
— Eu vou ligar. Foi mal, isso não vai mais se repetir.

Às 2h da madruga, saio do meu quarto de fininho, ponho o


ouvido na porta do Victor e por não escutar nada, a não ser o som do
ar-condicionado, deduzo que ele dorme. Acaricio Kenai na área
externa e pulo o muro, seguindo para a casa da vizinha. Ao chegar
lá, encontro-a usando apenas um hobby azul-claro que contorna bem
o seu corpo voluptuoso, e gosto logo de cara de vê-la assim,
apetitosa.
— E então, como foi? — me pergunta, de braços cruzados.
Andando vagarosamente de um lado e outro da sala, séria.
— Falei com ela, mas não me deu atenção, parecia abatida. —
respondo.
— Deve ser por conta da traição do cachorro do marido dela —
fala com desprezo. — Mas se você falou com ela, já é um início.
— Sim.
— E como pretende conseguir o que te pedi?
— Ah, não sei, eu estou... Tentando me aproximar. Hoje foi o
primeiro dia.
— Deve insistir até ela ceder. Faça-a interagir contigo, crie
intimidade, finja que não tem interesse e depois dê o bote.
— Sim, foi nisso que pensei, isso se chama abordagem indireta
— Érica me olha sem entender, e depois parece decidir não dar
atenção ao que falei.
— Esse abatimento dela é pelo chifre, com certeza. O marido a
trai há muito tempo, mas só agora ela está descobrindo os podres
dele, a burra. Ainda tem tanto a descobrir.
— Você fala como se a conhecesse — comento, tentando
entender o que a minha vizinha ganha com tudo isso.
— Está tudo sob controle — afirma, novamente, e continuo sem
entender.
— Caso eu consiga, o que ganha com isso? O que quer?
— Você pergunta demais, é curioso demais — ela segura as
minhas bochechas e me faz uma boca de peixe. E então me beija, e
o beijo fica cada vez mais gostoso e quente. A agarro, apertando-a
contra meu corpo, e minhas mãos descem automaticamente para a
sua bunda protegida pela fina seda que tenho vontade de rasgar.
Enrosco a minha língua na sua, sinto seus seios pressionados contra
o meu peitoral. E quando estou pegando fogo, Érica se afasta,
sorrindo sacana.
— Quero você — digo, caminhando em sua direção,
necessitado, enquanto ela foge de mim, como uma menina levada,
como se estivéssemos brincando de pega-pega, mas sem correr.
— Quer fazer o quê comigo? — pergunta, safada, erguendo
uma sobrancelha, sei o que quer ouvir.
— Te comer — sorrio, cafajeste, adorando essa brincadeira.
— Repete.
— Quero te comer — falo, em um tom mais grave.
— Então para de fazer perguntas e faz o que te pedi — diz,
subindo a escada.
— Mas e se demorar? — indago, frustrado.
— Você espera — responde, como se fosse a coisa mais fácil do
mundo. É muito difícil tê-la tão perto e não poder fazer
absolutamente nada! Ainda mais agora que sei exatamente qual é o
seu sabor e o quanto é viciante, o quanto necessito disso para
sobreviver. Que jogo infeliz esse em que me meti!
Érica some de vista e me deixa sozinho, babando por ela, de
pau duro. Volto para casa puto! Mas ao mesmo tempo contente com
essa safadeza, algo que jamais imaginei viver, ter uma mulher como
ela me excitando e provocando.
No dia seguinte, na escola, a professora Nória anuncia um
trabalho escolar em dupla. A sala inteira se movimenta, carteiras
para um lado e outro, as duplas se formando, e eu, como sempre, sei
que ficarei sozinho, mas não me importo. Contudo, de repente,
Vanessa cola sua carteira à minha, sorrindo, e me deixa surpreso.
— Posso formar dupla contigo? — pergunta.
— Pode — respondo, estranhando — E suas amigas?
— Amigas? Elas são um bando de falsas, não faço mais parte
daquele grupinho.
— Ah ‘tá — estranho essa informação, talvez seja mentira.
Agora estou bem mais esperto, penso que Vanessa possa estar se
aproximando de mim para junto com a galerinha do fundão me
humilhar novamente, por isso, ficarei de olhos bem abertos.
Mais tarde, saímos juntos da sala, conversando sobre o
trabalho, e Isabela passa por nós e olha para Vanessa com raiva.
— O que foi isso? — pergunto, sem entender.
— Não faço a mínima ideia — responde Vanessa, e sorrimos da
situação.

Vou para um restaurante na zona nobre da cidade, me encontrar


com meu amigo Cláudio, meu advogado, para falar da reclamação
trabalhista que uma ex-funcionária minha, Lúcia, abriu contra mim, e
de outras questões também
— A audiência será amanhã — diz Cláudio, estamos em uma
mesa, aguardando sermos servidos. — Você já decidiu se estará
presente ou mandará um preposto?
Cláudio é um homem muito bonito e elegante, quase da minha
estatura, branco, de olhos castanhos, deve ter a minha idade ou um
pouco mais. Como todo bom advogado, ele sempre anda bem
vestido, de terno e gravata.
— O Everton irá me substituir, Cláudio, não quero ver aquela
mulher na minha frente. Agora será hilário você e Lúcia no mesmo
lugar, pois tiveram um caso — lembro, e ele gargalha.
— Isso já faz muito tempo, nem quero recordar os problemas
familiares que tive por causa dela — Ele bebe um pouco de água.
— Imagino, pois Lúcia era louca por você
— Pois bem, Victor, diga para o Everton que preciso encontrar
com ele cedo para repassarmos o que vai ser dito na audiência,
garanta que as testemunhas também irão.
— O.K.; nossa, estou com fome, e esse almoço não vem —
comento, e Cláudio diz o mesmo. Mais alguns minutos e somos
servidos.
Quando terminamos e saímos do restaurante, notamos o céu
escuro e relampejante. Nos separamos, e sigo para o meu carro
assim que começa a chover. Meu celular chama, e vejo o nome de
Leda aparecendo.
— Leda? — atendo, e fico surpreso com o que ela me diz. Sigo
para o seu condomínio e a encontro num ponto de ônibus no meio do
caminho, sozinha, quase toda molhada da chuva, encolhida num
canto, tentando se proteger do frio e do vento forte. Estaciono,
buzinando, e a ruiva vem. Desço do carro, pego suas duas malas
enormes e jogo no porta-malas enquanto ela senta no banco do
passageiro.
Retorno para o meu lugar, ensopado, e assim que fecho a porta
do carro, ela me olha sem conseguir falar muita coisa e cai no choro.
— Desculpa, eu não sabia mais para quem ligar... — diz, se
derretendo em lágrimas.
— Vai ficar tudo bem, gata. Vai ficar tudo bem — digo,
acariciando o seu rosto.
A levo para o meu apartamento, o lugar que ela já conhece
muito bem. Fico na sala, enquanto Leda se instala no quarto de
hóspedes e toma um banho quente. Depois, ela surge dentro de um
roupão branco, já parece bem melhor, mas ainda com sua carinha
triste. Ela senta ao meu lado e me abraça.
— Obrigada por isso, Victor.
— Não precisa agradecer, pode ficar aqui o quanto que precisar
— afirmo.
— Prometo que não será por muito tempo. Não quero te dar
mais trabalho.
— Não é trabalho nenhum acolher uma amiga — digo “amiga”
propositalmente, mas falo de forma natural, enviando essa
mensagem a ela implicitamente. Com Leda morando em meu AP a
situação é outra, é uma intimidade muito grande para duas pessoas
que se conheceram a pouco tempo. Não quero que ela confunda as
coisas, mesmo tendo deixado tudo pré-estabelecido em nosso último
encontro, pois sei que ela está meio encantada por mim. E eu sou
bem cauteloso com sentimentos, não quero magoá-la e nem me
equivocar em nada.
Mas noto que a ruiva me olha diferente quando cito a palavra
“amiga”.
— Agora me diz, o que aconteceu? — pergunto.
— Não consegui esconder da Gui que nós ficamos novamente.
As câmeras da casa filmaram quando você foi me deixar lá e ela viu.
Ela desconfiou tanto de mim que foi assistir às gravações,
procurando saber o que eu fiz nos dias em que não estava em casa.
— confessa, voltando a chorar.
— Que merda — comento.
— Gui ficou doente de ciúmes, nunca a vi assim, e então me
expulsou de casa, não esperou que eu conseguisse um lugar para ir.
Todos esses dias fiquei procurando um local, mas não encontrei
ainda. Ela... me humilhou Victor — a ruiva abaixa a cabeça e chora.
— Disse que só estou em Teresina porque ela me deu casa para
morar e um monte de outras coisas horríveis, fiquei arrasada, porque
percebi que durante todo esse tempo em que estivemos juntas, eu
ainda não a conhecia de verdade.
— Agora é bola pra frente, esquece. Sei que é difícil, mas filtra.
Gui falou tudo isso num momento de raiva, não deixe que lhe atinja.
— Não vou deixar — ela enxuga as lágrimas.
— Agora... Eu preciso ir — afirmo. — Aqui não tem comida, você
quer alguma ajuda?
— Não — nega, prontamente, ainda fungando. — Eu me viro,
tenho grana, só não tinha um lugar para ficar.
— Tudo bem, então. Preciso ir trabalhar. Fica à vontade e...
Qualquer coisa me liga. — nós levantamos, e ela me leva até a
porta. Antes de sair, lembro de mais uma coisa. — Tem uma cópia da
chave na gaveta do armário da cozinha.
— Tudo bem — afirma.
Abro a porta, a olho por uma última vez, e me vou com uma
pergunta forte na cabeça: como será daqui para frente?

Estou no intervalo da escola quando recebo uma mensagem de


Tati?
TATI: Você sumiu. Eu fiz alguma coisa de errado?
APOLO: Claro que não, é que ando muito ocupado ultimamente.
TATI: Ah tá. Podemos nos encontrar hoje?
APOLO: Hoje não dá, estou em semana de provas, tenho que
estudar.
Até que é verdade, estou mesmo em semana de provas, mas
não irei encontrá-la por outro motivo: Aline.
À tarde, sigo para a academia, para uma nova tentativa de me
aproximar dela. Malho ao mesmo tempo em que a observo à
distância. Procuro alguma forma de tentar um novo contato, mas não
consigo, e assim, os dias vão se passando, porque não quero ser um
pé no saco da mulher, não quero ser um grude, e às vezes ela vai
embora mais cedo ou nem pisa na academia, então fico fazendo
papel de besta.
Nesse tempo, sempre recebo mensagens de Érica, me
cobrando algo, mas respondo a mesma coisa, que ainda não
aconteceu nada.
Certo dia, vejo Aline lanchando na lanchonete da academia, é
mais uma possibilidade para me aproximar. Sento na banqueta ao
lado da sua, enquanto ela toma um suco.
— Um suco de goiaba, por favor — peço ao atendente, e ele vai
preparar o meu pedido enquanto recebo o olhar de Aline que parece
me reconhecer. — Oi — a cumprimento, e ela só me estica um
sorriso sem vontade. Nossa! Mas me fingirei de doido. — Há muito
tempo que malha aqui?
— Não sei se notou, mas não estou afim de conversar — diz,
educada e amarga, vejo tristeza em seus olhos.
— Por quê? — agora estou sendo chato pra caramba. Aline
revira os olhos.
— Isso não é da sua conta. Posso tomar meu suco em paz?
— Esse aí é de morango? É bom? Eu prefiro de goiaba —
comento, com um sorriso cara de pau. Aline suspira exasperada.
— Põe na minha conta, por favor — avisa ao balconista e se
afasta.
Eita, o que um garoto não faz por uma mulher, hein? Penso. É
muita humilhação, e se continuar assim, nunca mais terei Érica de
novo.
No dia seguinte, continuo na labuta em achar uma brecha para
me aproximar da zangadinha, e após cansar de esperar, vou até ela
na cara de pau, que por sinal, está sendo a minha cara de sempre.
Aproveito que Aline está com fones de ouvido e pergunto:
— Que tipo de música você gosta? — poderia falar algo melhor,
mas a minha criatividade está caindo a cada patada que recebo dela.
— Você de novo? — indaga, mal-humorada, tirando os fones.
— Sim, eu de novo. Por quê? Não posso falar contigo?
— Por que está me perseguindo? — pergunta, curiosa e
aborrecida, franzindo a testa.
— Eu estou te perseguindo?
— Desde que chegou aqui fica procurando brechas para falar
comigo, e noto seus olhares quando está longe. O que quer?
— Você — jogo, reto e direto, bem na sua cara, que parece
chocada. Aline ri incrédula.
— O quê? — indaga, desconcertada. Por essa ela não
esperava.
— Quer que eu repita? — indago, ousado, olhando-a cafajeste.
— Quem é você?
— Apolo, já esqueceu?
Aline parece perder a voz, e se afasta, carregando sua
garrafinha d’água. Não sei que efeitos as minhas palavras causaram
nela, mas espero que tenham sido os melhores possíveis.
No resto da semana a zangadinha não aparece na academia, e
Érica só sabe me cobrar, me deixando cada vez mais frustrado, pois
quero-a logo, e há essa parede que ela mesma impôs entre nós, que
está me matando pouco a pouco. A minha fome por sexo está cada
vez maior, e não é só de sexo, é de sexo com ela. Quero a minha
vizinha!
Também estou preocupado com as minhas provas escolares,
não consigo mais estudar direito por causa dessas coisas. É Érica de
um lado, Aline de outro, e ainda há Tati me cobrando um encontro.
Que loucura! Ando pensando muito ultimamente em desistir de tudo
isso, estou me cansando. Será mesmo que valerá a pena?
Estou no sofá da sala, deitado, pensando em tudo isso, quando
Victor aparece e senta ao meu lado.
— O que você tem, Apolo? Anda muito calado esses últimos
dias, pensativo demais. Quer me falar alguma coisa? — quero falar
tudo a ele, saber o que acha das minhas atitudes, dos meus
propósitos, do que estou fazendo com Érica, mas tenho medo de ser
julgado, e sei que serei. Victor é muito correto, não vai perdoar as
minhas loucuras. Sei que não ando sendo um bom rapaz.
— Nada não... — minto, cabisbaixo.
— É com a Tati? Como estão as coisas com ela? Vocês
transaram de novo?
— Não, ainda não.
— É isso que está te deixando triste?
— Não.
— Filho, conversa comigo. Eu sou seu pai — ele põe a mão em
meu ombro. — O que está acontecendo? Diz pra mim?
Fico bastante tentado a falar. Olho no fundo dos olhos dele, e
decido que é melhor me abrir, e quando estou prestes a fazer isso,
Kenai surge do nada e pula nas nossas pernas, querendo carinho.
— Kenai, você está atrapalhando uma conversa de pai e filho —
avisa Victor, me fazendo rir, e Kenai late. — Continua Apolo, fala com
o seu pai. — pede.
— São as provas da escola, estão me tirando o juízo, por isso
ando calado, ando estudando muito — minto.
— Ah, entendi. Mas você vai dar conta. Tenho certeza que sim.
Me dá aqui um abraço — ele me puxa pela nuca e o abraço. Victor é
muito carinhoso, me sinto protegido em seus braços, e culpado por
mentir para ele tantas vezes. Enquanto trocamos esse afeto, Kenai
late comigo, enciumado. — Está com ciúmes do seu irmão, rapaz?
Sorrio.
— Eu bem queria ter um irmão mesmo — comento, e Victor fica
reflexivo. — O que foi?
— Eu e sua mãe pensávamos em mais um filho antes de toda
aquela merda acontecer — conta, tristonho.
— Você ainda gosta dela, né?
— Não sei, filho. Mas sinto muito que tenha acontecido tudo da
forma como aconteceu em nossas vidas.
— Victor, eu ainda não te falei, mas... Agora acredito em você.
Acredito que não traiu a minha mãe. Mas ao mesmo tempo, não
consigo entender por que alguém tentaria separar vocês.
— Também não consigo, filho, mas só de saber que você
acredita em mim, já me deixa muito feliz — ele passa a mão em meu
cabelo, sorrindo.
— Será que não há uma forma de tentarmos provar à minha
mãe que você é inocente?
— Se existe, eu não sei qual é. Tentei de todas as formas, e
nada deu certo. Mas também, do que adiantaria provar a minha
inocência hoje? Tantas coisas já aconteceram, eu e Laura seguimos
rumos diferentes.
— É verdade — digo, de cabeça baixa. — Falei com a minha
mãe hoje, ela está namorando.
— Está? — pergunta, surpreso.
— Sim, é o primeiro cara que ela se envolve depois de você.
— Ela nunca ficou com nenhum outro homem após a nossa
separação?
— Não que eu saiba. Esse é o primeiro que ela fala pra mim.
Victor baixa os olhos, e não consegue esconder a sua decepção
com essa notícia. Ele realmente gosta dela! Nossa! Está nítido,
mesmo que tente disfarçar.
— Bom para ela, né — comenta, depois passa a mão em minha
cabeça novamente e levanta, subindo pela escada, pensativo, me
deixando compadecido por ele. Droga, eu queria meus pais juntos
novamente, seria maravilhoso.

Hoje estou determinado a tentar com Aline pela última vez. Não
vou mais me prestar a isso caso ela continue negando, pois a cada
dia me certifico de que essa merda não vai acontecer, por outro lado,
quando penso em Érica comigo de novo, as minhas esperanças, de
certa forma, se renovam, e tenho gás para uma nova investida.
Enquanto sigo no táxi para a academia, reflito no quanto mudei,
no quanto me transformei, sou outro cara atualmente. Antes de
Victor e Érica, jamais seria capaz de fazer o que estou fazendo
agora. Ao mesmo tempo em que penso que com Aline não vai rolar,
penso que com um pouco mais de insistência chegarei lá, pois sou
capaz, posso pegar qualquer mulher que quiser, sou um lobo! Me
sinto confiante ao abordá-la, audacioso, descarado, e essas coisas,
segundo Victor, atraem as mulheres.
Chego na academia, e vejo a minha presa malhando bunda, que
por sinal é redondinha e atraente. Dessa vez não começo a treinar
para disfarçar, vou direto ao ponto, parando em sua frente, olhando
em seus olhos que agora me observam de modo diferente.
— Vai malhar bunda também? — pergunta, irônica.
— Sim. Posso revezar com você? — indago, me fingindo de
doido e não me demonstrando afetado com o sarcasmo dela.
Aline respira fundo, e ao levantar do aparelho, fica tonta, e a
seguro nos braços antes que caia. Ela parece estar passando mal.
— ‘Tá tudo bem? — pergunto, preocupado, enquanto a mulher
se desvencilha de mim, abrindo e fechando os olhos, voltando a si.
— Está, foi só um mal-estar passageiro. Obrigada — só isso
para fazê-la sair da defensiva.
— Quer tomar um suco ou uma água?
— Não, só... Você pode me acompanhar até o carro? Quero ir
para casa — pede.
— Claro — concordo. A sigo até a recepção onde ela pega a
sua bolsa de lado, e depois partimos para o estacionamento da
academia. Paramos ao lado do seu carro. — Está melhor? — ainda
estou preocupado com ela.
— Sim, obrigada por me acompanhar — Aline agora está tão
educada, que maravilha. Ela pega seu celular na bolsa que emite o
som de mensagem recebida. Olha o aparelho por alguns instantes
com pavor, põe a mão na boca, assustada, e deixa ele cair no chão.
Lágrimas descem por seu rosto rapidamente.
— O que foi? — pergunto, sem entender nada e assustado com
a sua reação.
Aline destranca o carro com o botão da chave e entra,
parecendo uma desesperada. Pego seu celular e vejo a mensagem
que diz: “Seu marido está me comendo de novo, sua otária”. Porra!
— Ei! Seu celular — mostro, enquanto ela põe o cinto de
segurança, chorando bastante, sem me dar atenção. Tenho um
impulso e entro pelo outro lado, sentando no banco do passageiro.
— Sai daqui! — exige.
— O que está fazendo? Não pode dirigir assim — ela liga o
carro, em um misto de fúria e sofrimento e dá a ré como uma louca.
Ponho o cinto, com medo, assim que entramos na pista. — Pra onde
você vai?
— Desgraçado... — rosna, em pranto. — Ele me prometeu que
não faria mais isso! Ele prometeu! Infeliz! — grita, socando a direção
e fazendo ziguezague na pista, me deixando nervoso.
— É melhor parar o carro, você não está em condições de dirigir
— digo, e ela acelera.
— Ele vai me pagar, vai me pagar! — Aline está devastada,
raivosa, e nem sei se enxerga o caminho à sua frente, mas sinto a
sua dor.
Ela tenta fazer uma ultrapassagem arriscada e meu coração
quase sai pela boca quando não dá certo e nós atravessamos para o
outro lado, sem controle, saindo da pista e parando violentamente na
calçada de um prédio abandonado, quase batendo no muro. Ela freia
o carro a todo custo quando vê o tamanho do perigo.
E agora, estamos os dois aqui, ofegantes, ainda em choque,
sem reação alguma. Meu coração bate acelerado, vi a morte
passando por mim e dizendo “quase te pego, danadinho”. Meu Deus.
— BARBEIRA! VAI DIRIGIR UM FOGÃO! — grita um louco, e
quando tomo a noção de que estamos bem, olho para a mulher ao
meu lado que mantém as mãos coladas ao volante, olhando para
frente, desolada, choramingando, com as lágrimas caindo. E sinto
um pesar enorme por ela.
Levo as minhas mãos às suas, afastando-as da direção,
trazendo seu olhar ao meu, e digo:
— Está tudo bem.
— Desculpa — pede, arrasada. — Por favor, me desculpa... —
Aline está quebrada demais e me compadeço imensamente.
— Está tudo bem, Aline. Tudo bem — repito, retirando meu cinto
de segurança e o dela também
— É que estou desesperada — confessa, chorando bastante e
soluçando.
— Calma — levo a mão para o seu rosto, e me surpreendo
quando sou correspondido com um abraço. Mas entendo que ela
precisa de um colo amigo, de carinho, e a correspondo, dando-lhe o
meu afago.
Deixo-a extravasar todo o seu sofrimento, e lhe faço cafuné, de
coração partido com a sua situação. Receber uma mensagem
dessas é o fim! É terrível! Será que a remetente dessa provocação
foi Érica? Esse pensamento me abomina.
— Vai ficar tudo bem — digo, sem saber se isso é verdade. Mas
não importa, só quero acalmá-la.
Aos poucos, Aline para de chorar, e só o que ouço nesse
momento é a sua respiração forte. Estamos aqui, parados, dentro do
carro, dois desconhecidos, abraçados, em um lugar onde não passa
nenhum pedestre, em plena tarde. Ela vira o rosto para mim,
trocamos olhares, um olhar profundo, sentimental e tentador, que
parece falar por nós. Miro sua boca, ela mira a minha, e deduzo que
ambos sentimos a mesma vontade. Será agora?
O ACENDER DA CHAMA

“— Oh Deus, não podemos fazer isso...”

Aline pisca e parece voltar a si, retira o rosto do meu ombro e se


recompõe, retornando para o seu lugar, enxugando as lágrimas.
— De-descupas — gagueja ela, enxugando as últimas lágrimas
—, eu saí completamente de mim. Olha onde estamos, quase bati
com o carro, quase machuquei a nós dois.
— Mas não machucou, agora já era, já passou. — Digo,
tentando lhe passar calma.
Ela mostra a mão trêmula, e ri.
— Veja — diz.
— Tenta se acalmar um pouco mais, respirar fundo. Toma um
pouco de água — digo, e ela consente, pegando a garrafinha da
bolsa enquanto pego seu celular que deixei cair.
Tento lhe entregar o aparelho.
— Não — nega. — Coloca em qualquer lugar, mas não quero
tocar nesse celular agora — ponho o aparelho no banco traseiro,
enquanto ela parece secar a garrafa d’água e se livrar dela em
seguida. — Você leu a mensagem? — pergunta, tristonha.
— Li. E achei uma puta sacanagem — sou sincero.
— Eu sou uma otária — comenta, rindo sem humor.
— Não, você não é uma otária — afirmo.
— Sou sim, pois amo um homem que não me ama. Vivo num
casamento de fachada, com a esperança boba de que tudo se
resolverá, acreditando em promessas falsas.
— Essa mensagem pode ser mentira...
— Não é — afirma, com certeza — Eu sei que meu marido me
trai, e a cada dia descubro uma nova traição, com mulheres
diferentes... — a voz dela falha, lágrimas descem, mas tenta se
controlar diante de mim, noto que está envergonhada.
Aline disse exatamente o que Érica me falou dias atrás, e agora
estou muito curioso para saber por que Érica quer que eu durma com
Aline. Qual é a lógica por trás disso? Começo a imaginar que Érica
seja uma das amantes desse cara, e que quer me usar para acabar
com o casamento deles de vez. Se for isso, não vou ajudar! Estou
comovido com o sofrimento de Aline, ela não merece um marido
desses. Esse cara não vale a pena.
— Por que não se divorcia dele?
— Não é tão simples assim, além do sentimento, nós temos
filhos. Penso muito neles, sabe.
— Mas... Você... Vai sustentar isso até quando? Sei que pensa
nos seus filhos, mas e você?
— Sou uma inútil, é o que todos acham.
— Não diga isso, eu não concordo.
— Você nem me conhece. E eu não devia estar abrindo a minha
vida para um estranho assim. Me desculpa, é que isso estava na
minha garganta, me sufocando, há dias.
— Sei que sou um estanho, mas, se quiser continuar
desabafando...
— Não — choraminga, tentando se recompor. — Mas obrigada
por me ouvir.
— Escute uma coisa: não te conheço mesmo, mas saiba que
não é uma inútil, não fale isso. Você não é um rato de esgoto que se
esconde de todos, você é muito mais, muito maior — lembro das
palavras de Victor. — Se ame em primeiro lugar, para só então amar
alguém.
Aline fica paralisada, me olhando de forma diferente por alguns
segundos, em silêncio. Quero saber o que está pensando. Estou a
tratando agora com amizade, e não como um meio para um fim.
Tadinha, sinto pena dela.
— Obrigada pelas palavras. De verdade — agradece, com um
sorriso verdadeiro.
Assim, ela me leva de volta para a academia. Viemos em
silêncio, ambos muito pensativos. Eu pensando em desistir dessa
merda, e ela com certeza pensando na maldita mensagem que
quase nos causou um acidente. Me despeço de Aline e
imediatamente chamo um carro pelo aplicativo, para ir embora.
Ao chegar em casa, vejo o Rolls-Royce do meu avô
estacionado. Jorge, o motorista, está lá, mexendo no celular, e ao me
ver, sai do veículo para me cumprimentar:
— Senhor Apolo. Que bom revê-lo — diz ele, enquanto
trocamos apertos de mão.
— Oi Jorge, tudo bem?
— Sim, e com o senhor?
— Estou bem.
— Vejo que mudou bastante. — comenta, me analisando dos
pés à cabeça, parece impressionado.
— Mudei?
— Seu corpo está mais desenvolvido, sua voz mais grossa.
Estou besta!
— É que estou malhando já faz um tempo. O meu avô está aí?
— À sua espera.
Sigo para casa, e ao abrir a porta, me deparo com minha avó
segurando uma cadeira e apontando contra Kenai em defesa,
enquanto o cão late feroz para ela. Meu avô assiste a cena do sofá,
rindo. Valrene surge correndo com a coleira na mão e puxa o
cachorro.
— Cala boca Kenai! Calado! — exclama Val, se afastando com
ele da senhora em pânico.
— Animal imundo! — xinga minha avó, soltando a cadeira. —
Odeio animais, uma casa que se preze não deveria ter esses
monstros.
Au! Au!
Late Kenai em resposta, se defendendo.
— Senão fosse pelo meu neto eu nem pisava nesse bueiro...
Apolo! — diz ela, sorrindo ao me ver — Meu neto! Ora, pare de rir
Rivaldo, seu velho decrépito, nosso neto chegou.
— Oi vó, oi vô — os cumprimento, sorrindo.
— Não vai pedir a bênção? — indaga ela, me estendendo a
mão.
— Bênção vó... — peço, beijando a mão dela.
— Deus lhe abençoe — diz, e faço o mesmo com o meu avô. —
Mas o que é isso? O que aconteceu com você? Olha para esse
menino Rivaldo, ele cortou o cabelo, está todo suado. E essas
roupas? Desde quando gosta de academia, Apolo? O que anda
fazendo para ganhar massa muscular tão rapidamente? O que
aquele depravado está lhe dando?
Engraçado que sinto um imenso desconforto ao ouvi-la xingar
Victor, algo que não acontecia antes.
— Não fala dele assim — digo, sério, e ela ergue as
sobrancelhas, surpresa com a minha atitude. — Estou diferente
porque malho agora, acabei de chegar da academia.
— Onde fica essa academia? Você vai sozinho?
— Sim, de táxi ou quando chamo um carro pelo aplicativo.
— Isso só pode ser piada — minha avó ri sem humor.
— Leonor, meu bem, olhe para o seu neto, ele mudou, agora é
um homem, veja a felicidade estampada em seu rosto. Andar pela
cidade sozinho não é nada para ele. — comenta meu avô, me
analisando com um grande sorriso, contente.
— Mudou para pior, na minha opinião. Nem parece mais meu
neto, está aparentemente rude, não sei explicar. Onde está o menino
delicado e bem instruído com as melhores regalias que teve desde
sempre?
— Ele continua muito bem instruído, pelo que percebo, mas
nada delicado. Dois meses aqui e foram suficientes para transformá-
lo em um jovem cheio de vida. Estou muito feliz meu neto, consigo
enxergar vida em você agora.
— Ah, vô — me sento ao seu lado e o abraço. — Mas sua avó
tem razão, olha o tamanho desses braços, quase me esmagou neste
abraço — comenta.
— É que estou pegando pesado na academia e Victor fez uma
nova dieta para mim, também tomo suplementos.
— O que é isso? Algum tipo de droga? — indaga minha avó,
insatisfeita, de braços cruzados.
— Claro que não, vó. — Respondo, indignado por ela pensar
isso.
— Cadê ele? Onde ele está?
— Senão está aqui então foi trabalhar,
— Ah, então quer dizer que aquele infame sai, a empregada vai
embora, e você fica dormindo aqui sozinho?
— Eu já falei para não xingá-lo! — retruco, aumentando o tom
de voz, assustando-a enquanto fico de pé. — Victor trabalha a noite
inteira na boate, vó, e corre de um lado para outro durante o dia para
resolver problemas das lojas de autopeças. Ele não é um depravado,
infame ou qualquer outra coisa que a senhora diga, ele é trabalhador,
e meu pai! Por isso, peço respeito!
— Agora grita com a sua avó por causa dele, é isso? Esqueceu
tudo o que Victor fez contra você e sua mãe?
— Leonor, pare com isso, meu bem... — meu avô tenta aliviar a
situação.
— Basta, Rivaldo! O culpado disso tudo é você, por ter insistido
para trazê-lo para cá! Veja no que nosso neto se transformou! É a
cópia daquele infeliz! — me dói na alma ouvi-la falar assim de Victor,
e fecho os olhos, buscando controle e paciência, respirando fundo
para não falar merda. — Já vi o suficiente! — ela pega sua bolsa de
lado e sai de casa furiosa, batendo a porta com violência, me
deixando triste.
— Por que ela tem que ser assim? — indago, sentando no sofá
novamente.
— Meu filho, você sabe como é a sua avó...
— Mas ela está pior, vô, desde que vim para cá que tenta achar
uma brecha para me levar embora.
— É porque já faz um tempo que ela notou a sua mudança. Eu
vim aqui hoje na intenção de visitá-lo e ver como você está, já ela
veio na intenção de levá-lo de volta. Leonor não se conforma por
você estar aqui.
— Sei tudo o que ela pensa sobre Victor, conheço a sua raiva,
pois um dia foi a minha também, mas agora... Não penso mais assim
— digo, e meu avô parece surpreso. — Minhas opiniões sobre Victor
mudaram bastante. Não acho que ele tenha traído a minha mãe, ele
ainda a ama. — meu avô ri.
— Estou encantado com as suas palavras, meu neto, e sobre a
separação de seus pais, não sei opinar. Já duvidei e acreditei em
Victor muitas vezes, tanto quanto vi o erro que sua mãe cometeu em
não querer lhe dar ouvidos, mas a entendo também. Pobre da Laura,
ela achou que Victor estava seguindo os mesmos caminhos do
Wagner, seu avô.
— Ah, é verdade, às vezes esqueço que minha mãe foi mulher
do meu avô. Nossa, que doideira! — rio, incrédulo com as últimas
palavras. Meus pais me explicaram muito bem sobre isso quando
chegou a hora: Victor nunca conheceu o próprio pai, Wagner, nem a
minha mãe, e quando Wagner morreu e deixou tudo para os dois,
eles moraram nesta casa, juntos, onde se conheceram e se
apaixonaram.
— Mas nessa época ela não conhecia o Victor...
— Relaxa, vô, sei disso. Meus pais me explicaram toda a
história, eles nunca fizeram nada de errado.
— Exatamente. Mas, é como sempre digo, águas passadas não
movem moinhos. Agora me diga, me conte tudo, como você está?
Como está sendo sua relação com o seu pai?
E conto o que posso contar a ele, numa felicidade tremenda, e
seu Rivaldo vai embora feliz da vida, satisfeito com a minha
felicidade. Eu o amo tanto, assim como amo a minha avó, ela é uma
boa pessoa, só possui pensamentos errados sobre Victor. Na
verdade, desde que me entendo por gente, ela nunca gostou dele,
mas não entendo o porquê.
Faz alguns dias que não vejo Leda. Desde que a deixei em meu
AP, estive muito ocupado, bastante trabalho, e sempre tento me
dividir entre o trabalho e Apolo. Além disso, admito que estou meio
receoso quanto a essa proximidade nova com ela, sei que não
estamos morando juntos, mas a gata está em meu apartamento. Fiz
isso para ajudá-la mesmo, de verdade, mas sei que ela está
gostando de mim, e não quero misturar as coisas, apesar de achá-la
bem interessante, e não esquecer da nossa foda na boate, a que
mais me marcou até agora.
Aquele momento me reacendeu sentimentos que só vivi com
Laura. Laura... agora ela está namorando, foi o que Apolo disse. Não
posso negar, isso mexeu comigo, mexeu mesmo, de uma forma que
não estava esperando. Talvez a minha ex-mulher seja o motivo de eu
não querer ter essa nova intimidade com a ruiva. A verdade já sei
qual é e já disse à Leda: tenho medo de me entregar, de me
machucar. Porém, ao contrário de mim, Laura está seguindo em
frente, e acredito que devo fazer o mesmo.
Com a vida sexual ativa, por um momento cheguei a pensar que
estava seguindo adiante, mas agora vejo que não, que o sexo era só
para sanar necessidades da carne.
Finalmente chego no prédio, olho o relógio de pulso e marca
19h, eu estava até agora trabalhando, resolvendo coisas das lojas.
Toco a campainha do AP, e fico maravilhado quando a gostosa abre,
só de shortinho e blusa regata que deixa a linda barriguinha à
amostra
— Oi — me cumprimenta, sorrindo lindamente.
— Oi — rio de volta.
— Entra — ela abre espaço, e passo por ela, sentindo o seu
doce perfume. Olho a casa e tudo parece ter um pouco mais de vida.
— Vejo que a diarista passou por aqui — comento.
— Ela veio, mas a dispensei, eu mesma limpei tudo. Precisava
me distrair — revela.
— Fez um bom trabalho.
— É, mas aqui não precisou de muito esforço.
Sinto o cheiro de uma comida deliciosa.
— Hum, que cheiro bom — ressalto.
— É lasanha, tenho que tirar do fogo — lembra, e corre para
cozinha. Ponho as mãos nos bolsos da bermuda e a sigo.
Ao chegar lá, vejo a ruiva retirando uma fôrma do forno e pondo
em cima da mesa, ela usa luva de cozinheiro, e a comida parece
deliciosa, o cheiro é muito bom. Em um momento, Leda fica de
costas para mim, e inevitavelmente miro a sua bunda arrebitada
comprimida no short minúsculo. Puta que pariu!
— ‘Tá tudo bem aí? — pergunto.
— Sim, está — responde, cutucando a lasanha com um garfo,
verificando o ponto. Parece ter controle sobre tudo — Você já jantou?
— Não.
— Quer jantar?
— Ah não, não precisa se preocupar...
— Não aceitarei um “não” como resposta — diz, pegando dois
pratos, me fazendo rir.
Em pouco tempo estamos os dois sentados à mesa, e gosto
muito da lasanha, está realmente muito bom.
— E aí? Qual a minha nota? — pergunta ela.
— Dez — respondo. — Está muito bom mesmo, não conhecia
esses seus dotes domésticos.
— Sou uma garota prendada — nós rimos. — Você ainda sabe
muito pouco sobre mim.
— Digo o mesmo.
— O que pode me dizer sobre você que vá me surpreender?
— Deixa eu ver... Que, por exemplo, sei fazer uma lasanha
melhor que a sua — Leda joga a cabeça para trás, em gargalhadas.
— Não, Victor, você não sabe cozinhar. Você? — indaga,
incrédula, rindo.
— Aprendi muito cedo com a minha mãe. Ela tinha que sair para
trabalhar, e como eu ficava em casa o dia inteiro sozinho, precisou
me ensinar a mexer no fogão, mas morria de medo de eu morrer
queimado.
— Mas achei que a sua vida sempre foi rodeada de empregados
— comenta.
— Até os dezenove anos não, que foi quando herdei o império
do meu pai que nunca me criou, e passei a viver no luxo. Mas hoje já
não cozinho tanto por falta de tempo mesmo. É muito trabalho para
manter tudo que tenho.
— Percebi que é muito trabalhador. Às vezes até acho que se
afunda no trabalho para esquecer dos problemas — sinto que ela já
está levando o assunto para outro rumo.
— Baixou o lado psicóloga agora, foi? — indago, e nós rimos.
— Mas sim, quando me separei, achei que era melhor me afastar e
caí de cara no trabalho, porém me arrependo porque acabei criando
uma ferida enorme no meu filho, mas hoje Apolo me perdoou e
estamos a cada dia evoluindo em nossa relação de pai e filho.
— Que bom. Eu sempre tive uma boa relação com os meus
pais.
— Eles estão te ajudando agora?
— Sim, nunca pararam, mas tenho que conseguir um emprego,
ou então voltarei para a minha cidade e ficarei estudando para
concurso após me formar.
— É um momento decisivo esse. Pensa em fazer alguma pós?
— indago, e nós seguimos conversando nesse sentido, sobre o
futuro e etc, e percebo que a ruiva é bem centrada e sabe o que
quer. Isso é admirável em uma mulher. Conversamos e rimos tanto
que não percebemos o tempo passar, até que ela recebe uma
ligação.
— Oi... Sim, foi eu mesma que liguei mais cedo, sim... Isso, a
casa ainda está para alugar? — olho-a discretamente ao perceber
que essa linda mulher está prestes a sair daqui, e agora me bate
uma sensação estranha. Victor, cacete, não te compreendo! — Mas
nesse valor, moço? — pergunta, assustada, e se afasta para falar
com mais privacidade. Enquanto isso, pego a louça suja e passo a
lavar na pia.
A gostosa retorna e se aproxima de mim.
— Victor o que está fazendo? Deixa isso comigo — diz, sorrindo.
— Já estou acabando. Pode enxugar, se quiser — proponho, e
ela concorda, pegando um pano de prato e passando a enxugar o
que vou lavando. Agora até parecemos um casalzinho.
— Mais uma tentativa de alugar AP que não dá certo —
comenta.
— E por que não deu certo?
— O valor, quero algo perto da faculdade, mas quanto mais
perto, mais caro. Contudo, continuarei tentando. Logo, logo encontro
algo, e aí vou parar de te dar trabalho.
— Qual trabalho? Ficar num AP que nem uso?
— Posso estar atrapalhando a entrada de convidadas — joga
uma indireta.
— Eu tenho mais apartamentos — respondo, e ela fecha a cara.
É muito engraçado, mas seguro o riso. — Porém, ultimamente só
possuo uma única convidada. — miro-a sugestivamente e ela me
olha como uma menina que acaba de receber uma boa notícia, mas
se controla na demonstração de contentamento, porém, melhora a
feição.
— Ah é? Achei que você era um homem muito requisitado —
adoro esse ciúme incubado.
— O que é? Quer saber se estou ficando com alguém? — sou
direto, entregando um prato lavado a ela, para que enxugue,
continuamos trabalhando enquanto conversamos.
— Eu não — mente, descaradamente. — Não tenho nada a ver
com a sua vida pessoal.
— Ah bom. Mas, quanto a alugar AP, pode ficar tranquila, pode
procurar com calma, não precisa ter pressa, fique aqui o tempo que
precisar.
— Já, já eu encontro — garante, e eu resolvo não falar mais
nada. — Quero ter o meu canto, sabe. Só meu dessa vez, sem
depender de ninguém.
— Sei, e te entendo.
Após terminarmos com a louça, seguimos para a sala, olho o
relógio e vejo que já estou aqui há quase duas horas.
— Bom, chegou a minha hora de ir — digo, e troco olhares com
a ruiva, parece que ela não quer que eu me vá, e na verdade
percebo que também não quero ir. Meu Deus, o que está
acontecendo? — Só vim ver como você estava. Obrigado pela
lasanha.
Leda me surpreendeu novamente, eu esperava encontrá-la mais
iludida para cima de mim, só que não, pelo contrário, ela está bem
adulta, sem querer força nada, e mesmo jogando umas indiretas aqui
e ali para averiguar o terreno, gosto desse seu ciúme, é cômico e
encantador.
— De nada, que bom que gostou, e depois quero que faça a sua
para eu experimentar. Agora irei preparar uma pipoca para assistir a
um filme sobre o qual devo fazer uma análise psicológica.
— Ah é? Qual?
— O Conde de Monte Cristo — diz ela. — Conhece?
— A vingança de Edmond Dantès. É claro que conheço, é um
ótimo filme. Mas nunca consegui terminar de assistir, sempre alguma
coisa me atrapalha.
— Acredita que eu nunca assisti? Descobri a pouco tempo sobre
essa história. Estou curiosa.
— Vai falar sobre o psicológico de quem vai para prisão?
— Sim, sobre os efeitos que o cerceamento da liberdade causa
nos presos e sobre a vingança também.
— Muito interessante.
— Quer assistir comigo?
— Eu?
— Sim, e pode me ajudar com opiniões. Juro que faço uma
pipoca deliciosa — ela ri, me enfeitiçando, e acabo não resistindo.
Mais tarde, estamos os dois sentados no grande e confortável
sofá, assistindo ao filme, com uma tigela enorme de pipoca,
prestando atenção em tudo, conversando, fazendo análises. Mas
sem perceber, acabamos nos aproximando, Leda deita a cabeça
sobre o meu ombro e continuamos com a sessão.
Depois, quando digo que vou embora, ela inventa de assistir a
outro filme, insiste tanto que me convence. Também não demonstro
muita vontade de ir, está muito gostoso ficar aqui com ela, a ruiva é
encantadora, inteligente, divertida, e me faz rir, assim como faço-a rir
também. Porém, acabo pegando no sono devido ao cansaço.

Às 20h, após Érica avisar que chegou em casa, vou vê-la, e


encontro-a na sala, com um hobby preto dessa vez, de seda, que
deixa o seu decote e parte das suas lindas pernas à amostra,
gostosa como sempre. Seu cabelo está molhado, em um só lado do
rosto, o que mostra que acabou de tomar banho.
— O que foi? Por que estava com tanta pressa de me ver? —
pergunta, sentando-se no sofá. — Aconteceu algo entre você e
Aline?
— Aconteceu, ela quase bateu o carro após receber uma
mensagem anônima de uma mulher que dizia estar transando com o
seu marido — digo, sério, e de braços cruzados. — E eu estava com
ela!
— Cachorro — comenta Érica, balançando a cabeça, enquanto
continuo mirando-a desconfiado. — O que foi?
— Você enviou aquela mensagem? — pergunto, e ela ri sem
humor.
— Claro que não, Apolo, por que eu faria isso?
— Porque estive parando para pensar nos motivos que levaria
você a me querer transando com Aline, e cheguei à conclusão que
quer acabar de vez com o casamento dela. E sendo assim, eu não
farei parte disso — afirmo, convicto.
Érica respira fundo. E em sua plenitude, começa a falar:
— Querido, o casamento dela já está acabado, a prova disso é
essa mensagem que recebeu de sei lá quem, não foi eu que mandei,
esteja seguro disso. Os meus motivos para pedir o que pedi a você
são outros bem maiores e bem mais drásticos.
— Quais? — preciso saber.
— Não posso contar, Apolo. Ainda não, só preciso que confie
em mim...
— Como confiar em você senão confia em mim?
— Mas eu confio, senão não teria lhe pedido para fazer isso
para mim. Só há coisas muito fortes que não devem ser contadas,
não agora.
Ponho as mãos na cabeça, fumegando, estressado, andando de
um lado a outro, frustrado com essa situação, sem saber o que fazer.
— Estou com pena da Aline, ela é uma boa pessoa e está
sofrendo com esse marido imbecil.
— Não se deixe enganar pelas aparências, de boa ela não tem
nada — comenta Érica, cruzando as pernas.
— O que quer dizer com isso?
— Pare de fazer perguntas...
— QUE DROGA! — grito, irritado. — Você é tão... Complexa!
Isso tudo não é normal. Eu só quero você sem... Essa merda! —
confesso o que sinto, meu coração bate acelerado. Gosto muito dela!
— Também te quero, querido...
— Não quer! Você quer me usar para essa loucura, e... Eu
desisto! — afirmo, com vontade de chorar, com ódio, e caminho
pesado para a porta de saída.
— Apolo — ouço sua doce voz, e paro, ainda de costas para ela.
Fecho os olhos, desgostoso, sofrendo internamente, pois queria que
tudo fosse mais fácil. — Apolo?
— Estou aqui — respondo, aborrecido.
— Você já chupou uma mulher? — essa pergunta aguça todos
os meus sentidos na velocidade da luz. Me viro vagarosamente e
vejo Érica toda arreganhada no sofá, de hobby aberto, mostrando
sua nudez, sem calcinha, sem sutiã — estava nua por baixo todo
esse tempo! Ela põe um dedinho na boca, me olhando safada,
enquanto miro a sua volúpia, sua bocetinha inchada e raspadinha me
chamando e fazendo meu pau inchar na calça em nível extremo.
Fico boquiaberto, fascinado, necessitado, ela quer me matar! Há
dias que estou sem sexo por causa dela, e agora isso! Caminho em
sua direção, passando a língua nos lábios como um lobo faminto,
hipnotizado pela imagem à minha frente. Érica é a perfeição
feminina, os seios fartos, bicudos, rosados, redondos, durinhos, o
corpo de violão, as coxas torneadas e a boceta me chamando
magneticamente.
— Responde. Já chupou uma mulher?
— Não — digo, parando à sua frente.
— Então vem, quero sentir sua língua na minha bocetinha agora
— meu pau vibra com estas palavras, e, encantado, ajoelho entre
suas coxas abertas, ela deixa o quadril na beira do sofá, e se
arreganha ainda mais para ficar o máximo possível aberta para mim.
Ainda está com um dedinho na boca, como uma pervertida, e com a
mão livre, segura um dos seios, toda sensual, para me destruir.
Suas pernas estão tão abertas que consigo ver desde seu
cuzinho até o seu monte de Vênus, uma maravilha. E essa
tatuagem? Uma loucura! Me aproximo da sua xota, louco para
chupá-la, mas com um leve receio de não saber fazer.
— Lambe devagarinho a minha xoxotinha, lambe — pede, com a
voz de cadela no cio, e isso me deixa ainda mais excitado.
Estico a língua para fora e toco bem no seu clitóris.
— Aaaar... — mia baixinho. Acho que ela gostou. Me afasto,
com água na boca, e me arrasto por toda a sua extensão vaginal,
como se estivesse lambendo um pirulito, só que este é muito mais
saboroso, tem gosto de carne, de boceta, delícia. — Oor... faz de
novo — pede, de olhos fechados, engolindo em seco, e eu atendo ao
seu pedido, fazendo outra lambida extensa, molhando suas carnes
íntimas e perfumadas, afastando seus lábios vaginais e internos uns
dos outros e seguindo para a vulva. — OOR — ela solta um gritinho,
arqueando o corpo, e percebo que sua vulva é seu ponto fraco. —
Aí, faz mais aí... aaah — pede em gemido, quando envolvo seu
clitóris com mais movimentos linguais.
Fecho os olhos, acho que estou em um sonho hot, muito hot.
Meu pau está prestes a rasgar a calça de tão duro, como concreto,
forte, quente. E a xana da minha vizinha também pega fogo e fica
molhada a cada vez que subo e desço nela, me lambuzando, me
fartando. Sigo para um lado e outro, não sei o que estou fazendo ao
certo, só quero mais e mais, infinitamente. Quero sugar tudo o que
puder dessa xota, seu sabor é tão gostoso, delicioso, agradável,
apetitoso, viciante.
— OOR... APOLO! — ela grunhe alto, e arrasta as unhas por
meu coro cabeludo, parece que estou a torturando com prazer, e isso
me faz crer que faço um bom trabalho. — Isso, agora me dá um beijo
de língua... — implora. Levanto a cabeça para ir até a sua boca, e
ela me impede, forçando meu rosto novamente contra o meio de
suas pernas, e fico confuso por milésimos de segundos. — Aí, quero
ser beijada de língua aí... — explica, e sorrio cafajeste.
Penso por alguns instantes em como fazer isso bem feito, então
decido não pensar mais e só faço. Volto a fechar os olhos e passo a
misturar meus lábios aos lábios vaginais dela, imitando mesmo um
beijo de língua comum, e adoro essa sensação. É uma loucura
luxuriosa e imoral muito boa!
Aos poucos, a Afrodisíaca perde o que lhe resta de compostura.
Olho-a durante o ato e ela está de olhos firmemente fechados, me
sentindo invadi-la e abusá-la com a minha língua que está cada vez
mais empolgada e ferina. Me divirto a cada momento, e me saboreio
intensamente. A boceta rosada dela se torna cada vez mais
encharcada e me proporciona líquidos de um perfume e sabor
encantador, é como um néctar dos deus.
Érica move as coxas lentamente e geme cada vez mais alto,
ondulando o corpo, forçando meu rosto contra sua boceta, de uma
maneira que não há outra alternativa a não ser ficar parado, com a
boca entreaberta, com a língua para fora, deixando ela roçar em
meus lábios carnudos com ferocidade, e assim faz, indo à beira da
insanidade, parece que vai explodir, fechando meu rosto entre as
coxas e me surpreendo abundantemente quando esguicha, me
melando todo, mas quero tudo dela, e abro a boca, tomando do seu
prazer.
É impressionante! É magnífico! Nunca vivi isso antes, estou
embasbacado positivamente, e todo babado dela, mas se Érica
deixar, fico aqui até o fim da vida.
E agora, vejo uma mulher trêmula e enfraquecida à minha
frente, com o gozo escorrendo por suas coxas molhadas e
desfalecidas, caídas sobre a beira do sofá, os pés tocando o tapete.
Levo à minha boca à sua e finalmente nos beijamos, em libidinagem
e fogo. Ela usa suas últimas forças e me ajuda a tirar a camisa,
apalpando o meu abdômen, o meu tanquinho agora mais evidente.
Levanto, retiro a bermuda e cueca num piscar de olhos, aparecendo
duro e pungente à sua frente, com a brecha da cabeça do pau
molhada do pré-gozo.
A minha vizinha me olha sedenta, mordendo o lábio inferior. Ela
me quer, há reciprocidade e desejo aqui, posso sentir, não estou
enganado. Puxo as coxas dela, as arreganhando novamente,
segurando-as por sua parte interna. Me inclino sobre Érica, o sofá
tem uma boa altura, que ajuda em nossa união. E quanto penetro a
cabeça do pau na sua boceta, várias cargas de energia transpassam
entre nossos corpos, é tão forte, que nos faz gemer
simultaneamente.
— AAAR... — gritamos em prazer. Érica apalpa os seios,
gemendo, me olhando como uma putinha safada, e afundo o cacete
em suas entranhas um pouco mais, sentindo seus lábios vaginais
esfregarem em sucção no corpo grosso e rústico do meu caralho.
E assim, sem mais delongas, começo a fodê-la como um louco,
como um animal, com saudade, com necessidade, selvagem! E me
ver enterrando, preenchendo, atolando, metendo, deslizando,
esfolando, entrando e saindo dela com vontade, todo lambuzado,
brilhando do seu gozo, me deixa insano, me faz fechar os olhos em
alguns momentos e sofrer sexualmente, em lubricidade, depravação
total, no mais prazeroso sentido!
Devido à nossa posição, não consigo meter todo meu
cumprimento em sua bocetinha faminta, que me suga, contrai,
aperta, pressiona. Entretanto, só o que está entrando já está me
alucinando, me levando ao céu numa indecência quente e
avassaladora, que queima todo o meu corpo.
— Me fode gostoso... Assim... vem... mais rápido — mia,
enquanto desce a mão ao seu clitóris e passa a se masturbar
rapidamente, enlouquecendo de vez.
Sem perceber, aperto-a com uma força incomum, minhas mãos
esmagam a parte interna de suas coxas, a arregaçando. Sua carne é
comprimida entre meus dedos e fica intensamente vermelha com a
minha brutalidade e ignorância. Decido juntar um pouco as suas
coxas, e isso faz seu monte de Vênus se tornar ainda maior, sua
boceta parece crescer, inchar, e as contrações lá dentro mudam, se
tornam mais poderosas e gostosas. O buraco fica mais apertadinho,
me amaciando, os músculos vaginais lutando contra a minha invasão
potente e quente, grossa, larga, cheia de veias, negra, latejante,
pulsante!
A minha vizinha acelera sua masturbação, e grita em êxtase, me
olhando embevecida, gozando novamente, explodindo com força
total, esguichando enquanto bombo em sua xana, metendo pau
adentro, com força, faminto, fodendo. Mas a gozada dela é como um
rompante vaginal que expulsa meu caralho de dentro do seu corpo,
ele escorrega para fora todo babado, cintilante do seu gozo
animalesco, mas ainda estou insatisfeito, quero mais!
Mal espero Érica se estabilizar, e a puxo pelo quadril, forçando-a
a ficar de quatro e com os seios encostados contra o encosto do
sofá. Puxo o seu hobby de uma só vez, quase o rasgando, a
deixando completamente nua como eu. A safada empina a bunda
para mim, ela sabe como me agradar, e é isso que me deixa ainda
mais louco por seu corpo. Seguro em suas ancas com uma força
monstra que nem eu mesmo sabia possuir, e meto o cacete inteiro
dessa vez, em sua boceta melada, ponho tudo para dentro, até meu
saco chocar contra seus lábios vaginais.
— Aaai safado... — ela geme, pondo a mão para trás e me
puxando pela nuca para um beijo quente e molhado enquanto estoco
em suas entranhas num ritmo mediano. Nossos lábios se misturam,
sedentos, e então me afasto um pouco, para penetrá-la com mais
impacto. A Afrodisíaca se debruça sobre o encosto, cansada,
empinando a raba o máximo possível, me deixando à vontade, e
passo a meter em uma sequência mundana e imparável. Bem rápido
como ela gosta, como se não houvesse mais fim.
Flop! Flop! Flop! Flop!
São várias socadas barulhentas e furiosas, ardentes, chega até
a doer meus ovos com o nosso choque. Os seios da minha vizinha
balançam para frente e para trás com o movimento. Eu, de fato,
espanco sua xana violentamente, sem dó nem piedade, me
entregando ao máximo, querendo-a além disso, fascinado por seu
corpo, seu tesão, sua volúpia e sensualidade natural que emanam
sem parar. Vejo sua bunda fazendo ondinhas a cada vez que choco
contra ela. É incrível, é surreal, estou testando meus próprios limites!
Se é que os tenho.
Lembro que ela gosta de apanhar e aproveito a minha euforia
para estapear suas nádegas, uma por uma, várias vezes. Me deixo
guiar e levar pelos instintos primitivos que afloram em meu ser,
enquanto como ela gostoso. Retiro os óculos e os jogo no sofá, pois
está abafando com o meu suor. Nós suamos, a temperatura sobe,
estamos queimando, nos consumindo, criando um fogaréu
inapagável.
Érica me faz parar por alguns instantes e rebola a bunda enorme
no meu cacete, remexendo, brincando, fazendo sua boceta molhada
ondular no meu caralho, deslizando, massageando, provocando,
apertando, sugando, se entregando e me enlouquecendo
infinitamente. Está tão escorregadio, tão macio, quente, gostoso,
torturante! Volto a segurar seu quadril com força e lhe dou uma surra
de pica insana, abrindo a boca, fechando os olhos.
— AAAR... OOOH... — grito em devassidão, sentindo que vou
explodir, e explodo. Os jorros de porra saem fervorosamente pela
brecha da cabeça do meu caralho e enchem a bocetinha de Érica de
leite, escorrendo para fora também, a atolando toda.
Ela se afasta de mim rapidamente, vira, e me surpreende,
levando a boca ao meu cacete e me chupando, sugando a minha
porra, me fazendo perder a consciência e quase desmaiar de
fraqueza. É tanto prazer que não cabe em mim. Ofego sem parar, me
sentindo finito.
Minutos depois, estamos os dois agarrados no sofá,
completamente nus, jogados às traças como se diz aqui na minha
terra. Faço cafuné em Érica, com um sorriso bobo no rosto,
adorando estar com ela aqui e agora, parece um encantamento sem
fim. A Afrodisíaca acaricia o meu rosto e me beija docemente.
— Você me abriu todinha — comenta, e nós rimos. — Acho que
vou precisar de uma cadeira de rodas.
Fico parado, mirando o fundo dos seus olhos, ela parece um
anjo, uma deusa, sei lá.
— Eu acho... Que... te amo... — sussurro, me declarando, é o
que sinto, não posso controlar, tenho que falar. Érica arqueia as
sobrancelhas, e depois abre um sorriso meigo.
— Que lindo, Apolo. Também amo você — sorrio mais bobo
ainda quando ela se declara de volta.
— Ama mesmo? — indago, encantado.
— É claro que sim, passo o dia pensando em ti, isso só pode ser
amor.
— Eu também passo o dia pensando em você, gosto de estar
contigo, acho que isso só pode ser amor. No início não entendi bem
os meus sentimentos, parecia só atração, mas agora é maior.
— Mas não acredito no seu amor, Apolo. Você se nega a me
ajudar, e não posso amar um homem que não seja capaz de se doar
por mim, de fazer tudo por mim — diz ela, levantando, me deixando
em um leve desespero por estar querendo partir de novo, se
afastando de mim.
— Não faz isso, Érica — imploro, enquanto ela balança a
cabeça negativamente e pega seu hobby do chão. — Eu farei! Juro
que irei cumprir com o meu objetivo. Não vou desistir da Aline —
disparo, tentando fazê-la voltar para mim.
— Jura? — ela tem um pequeno sorriso de esperança no rosto.
— Juro — Seu sorriso se torna malicioso, a gostosa senta em
minhas pernas, me beijando. Meu pau levanta em segundos, e nós
transamos mais quatro vezes.
No dia seguinte, Aline resolve reaparecer na academia, dessa
vez ela que vem diretamente a mim, chegando no momento em que
malho peito.
— Oi Apolo — diz, cabisbaixa.
— Oi — a cumprimento, sorrindo, pondo a barra no lugar, mas
logo percebo que ela não está muito bem. — O que houve agora? —
pergunto, um pouco preocupado. É incrível como consigo me
preocupar facilmente com as outras pessoas. Apesar de ter
segundas intenções com Aline, me ponho em seu lugar, porém, não
sei se isso vai me ajudar a cumprir com o meu objetivo.
— Podemos conversar?
— Cla-claro — gaguejo, surpreso.
Seguimos para a lanchonete da academia e pedimos suco,
sentamos à uma mesa, frente a frente. Entretanto, o silêncio reina
por alguns minutos, parece que ela não sabe como iniciar a conversa
que quer ter comigo.
— ‘Tá tudo bem? — pergunto, enquanto Aline olha para o nada,
reflexiva.
— Ah, eu... nem sei por que te chamei aqui. É só que... parece
que não tenho ninguém para... Sabe...
— Desabafar?
— Isso, mas você não deve querer perder seu tempo...
— Não, pode falar, pode se abrir comigo se quiser.
Aline me olha em agradecimento e respira fundo, com um
sorriso pequenino. Ela continua com a imagem de abatida, olheiras,
palidez, aparenta não comer ou dormir direito.
— É que naquele dia em que dei a louca, você foi tão maduro...
Obrigada novamente — penso por alguns segundos, e ajo
rapidamente. Ponho minha mão sobre a dela e a acaricio, deixando-
a tensa em milésimos de segundos ao meu toque. Victor falou que o
toque é essencial na arte da conquista.
— Não precisa agradecer, pode contar comigo — olho nos olhos
dela. Aline afasta a mão da minha, e engole em seco.
— Não faça isso, Apolo. Nós não podemos — afirma, olhando
para baixo, parece até um pouco comigo meses atrás, tímida.
— Por que não? — sou ousado!
— Você é muito jovem, devo ter idade para ser a sua mãe. — o
mesmo papo da Érica no início, igualzinho. Que papo furado! —
Além disso, não posso jogar anos de uma relação no lixo, assim, de
uma hora pra outra...
— Tenho dezoito anos, sou responsável por mim mesmo, e... Eu
não estou te pedindo para jogar o seu casamento fora, mesmo
sabendo que esse relacionamento não te faz bem.
— E o que está me pedindo? Sexo? Apenas sexo? Acha que
sou mulher desse tipo? — ergo as sobrancelhas ao ver a expressão
de incredulidade em seu rosto. Fico calado por alguns segundos,
pensando no que falar, tenho medo de errar nas palavras e dar
merda.
— Me deixa ser seu amante — peço, na maior cara de pau. —
Por que só teu marido tem esse privilégio?
Ela ri sem humor, e fecha os olhos por alguns instantes,
balançando a cabeça negativamente.
— Dar o troco, já pensou nisso? Já que é para viver um
casamento de farsas, que você viva também e não só ele.
— Não sou como o meu marido! — retruca. — Não sou
vagabunda.
Novamente me calo, e procuro por mais palavras. Tenho que
convencê-la.
— Não... é ser vagabunda, sentir prazer. Mesmo que... seja de
modo infiel. Posso te dar o que você precisa.
— E do que preciso?
— Carinho, atenção... Fogo — digo, mirando no fundo dos seus
olhos como Victor ensinou.
Aline passa as mãos no rosto novamente, incrédula.
— Que loucura nós estarmos conversando isso. — pensa alto,
ainda sem me encarar. — Eu nem penso nisso. Por que não procura
alguém da sua idade? Ninguém olha pra mim.
— Estou olhando para você.
Aline respira fundo e vai embora no momento em que nossos
sucos são servidos. Droga. Não vai ser fácil mesmo.
— Oi gatinho. — me cumprimenta Isabela, aparecendo do nada,
sentando-se no lugar de Aline, me surpreendendo. Ela está gostosa
como sempre, com roupa de academia bem curta e apertada, e com
o mesmo sorriso malicioso. Me chamou de gatinho? Como assim?
— Você aqui? — indago, surpreso.
— Pois é, descobri essa academia e gostei, olha que
coincidência.
— Ah tá — digo, desgostoso com a sua presença. Se eu
pudesse nunca mais olhava na cara dela. Ela começa a tomar o suco
de Aline. Petulante! — E você veio à minha mesa por quê?
— Quero fazer as pazes contigo, sabe. Quero que esqueça
aquele episódio de meses atrás...
— Não lembro de nada que não me acrescenta — a corto, e
Isabela ergue as sobrancelhas, surpresa.
— Que bom, então. Sabe que você está muito diferente? Até no
modo de falar...
— É que se for para falar merda prefiro ficar em silêncio — a
deixo boquiaberta.
— Olha, me desculpa, sei que ainda está irritado pelo que fiz
contigo. — diz, após longos segundos quieta.
— Errado, não estou irritado, só não gosto da sua presença.
— Eu sei que era apaixonado por mim, ou talvez ainda seja, e
sei que magoei seu coração — afirma, como se fosse minha
psicóloga e tentasse entender os meus “traumas” em relação a ela.
Que piada!
Começo a gargalhar e a bater palmas, deixando-a confusa, e ao
perceber o meu deboche, começa a fechar a cara.
— Como você se acha. Eu não estava apaixonado por você, não
— cruzo os antebraços na mesa e me inclino rumo a ela. A chamo
com o dedo indicador e Isabela, sem entender nada, aproxima o
rosto do meu. — Naquele dia eu só queria te comer, essa era a
minha única intenção — sussurro em seu ouvido, vencedor. Depois
me afasto, e ver a sua expressão de embasbacada e indignada é
impagável! — Mas depois da raiva, pensando bem, adorei o que fez
comigo. Não imagina o quanto isso me abriu os olhos, pois percebi
que você era tão rodada naquela escola que nem valeria a pena —
disparo, sem dó nem piedade, malvado, enquanto Isabela fica sem
estrutura alguma.
Pago a conta e saio vitorioso, deixando a otária na mesa,
destruída. Penso que meses atrás eu jamais seria capaz de falar
coisas como essas a alguém. Como mudei rapidamente, reflito. Bem
que Victor disse que aprendo rápido. Estou me sentindo muito bem,
vingado.
Mais tarde, ao parar de táxi na porta de casa, vejo José e Érica
discutindo no portão dela. Merda. Pago o motorista rapidamente e
desço com sangue nos olhos em direção a eles. O que esse idiota
está fazendo aqui? Não o quero perto dela!
— Por favor, só estou pedindo mais uma chance, gata, eu
prometo que dessa vez vai dar certo, vou fazer tudo o que me pedir.
— diz José, sinto o cheiro da sua cachaça de longe, ele a segura
pelo braço, enquanto ela tenta se soltar.
— Não, eu já disse que não! — retruca Érica, tentando controlar
a voz para não chamar a atenção e se desvencilhar dele. — Agora
me solta! — rosna, puxando o braço
— Solta ela! — ordeno, enraivecido, de punhos cerrados
— Uuuh, olha o moleque — José se volta para mim, em
deboche. — Ô garoto, ninguém nunca te disse que em briga de
marido e mulher ninguém mete a colher?
— Apolo vai pra casa, deixa que eu cuido disso. — manda Érica,
e depois se volta para o ex. — E nós não somos mais um casal,
José, me solta!
— Eu disse para você soltar ela! — exclamo, e lhe dou um
empurrão, o derrubando no chão.
— Apolo vai pra casa! — Érica fica ainda mais nervosa.
— Não vou te deixar sozinha com esse idiota! — retruco, furioso.
— Vai, depois nós conversamos a sós...
— O quê? — indaga José, incrédulo, levantando. — Não
acredito que estou ouvindo isso mesmo. Que merda tu tem com esse
garoto, Érica? — rosna.
— Você ‘tá falando besteira, José, vai embora!
— Se estiver acontecendo o que estou pensando, você só pode
estar maluca — diz, com ódio, se aproximando, e me pega de
surpresa, me acertando com um soco forte na bochecha, vou ao
chão.
— PARA! — grita Érica.
— Moleque! — xinga José, me olhando com raiva e desprezo, o
miro da mesma forma.
— EI! — merda, é a voz do Victor! Olho para trás e o vejo se
aproximando como um furacão.
— A gente conversa depois — diz José, em tom de ameaça,
apontando para Érica, e entra no carro.
Victor passa por mim como um trator e ainda consegue socar
potentemente a porta do banco do passageiro do carro do
vagabundo, amassando-a, antes dele sair em disparada. Depois meu
pai corre em minha direção assim como Érica, e ambos me ajudam a
levantar.
— Você está bem? — pergunta ele, olhando para o meu rosto.
— Filho da puta! — xinga José, olhando para o seu carro que some
de vista.
— Eu tô bem — digo, sentindo o local da pancada arder, e
percebo que sangro.
— Que merda aconteceu aqui? — pergunta ele, em alto e bom
tom, olhando para Érica como se fosse triturá-la.
— Victor, é que... — ele me faz calar com um gesto de mão,
bruto, sem tirar os olhos da vizinha.
— M-me desculpa, eu estava discutindo com meu ex-namorado,
ele queria me agredir, o Apolo só quis me ajudar, e... — Érica entra
em desespero.
— Foi isso, Apolo?
Balanço a cabeça positivamente, olhando para Érica tenso,
muito tenso.
— Avise para aquele covarde que se ele tocar novamente no
meu filho, não vai conseguir escapar da próxima vez — ameaça, e
depois me pega pelo braço e praticamente me arrasta para dentro de
casa.
Ao entrarmos, Valrene quase tem um treco ao me ver
— VALEI-ME JESUS CRISTO, O QUE FOI ISSO? — Grita ela,
indo além do exagero, e então corre para a cozinha — Eu vou buscar
um gelo.
Victor me joga no sofá, com brutalidade, e fico gelado de medo.
— Você agora deu pra se meter em briga de casal? — me
pergunta, com as mãos na cintura, furioso.
— Eles não são mais um casal...
— E daí? O que tem a ver com isso? O que queria se metendo
na discussão deles?
— Eu só tentei ajudar, ele estava agredindo ela...
— E desde quando tu é herói?
Valrene volta com uma compressa gelada, me salvando!
— Pronto! — ela põe o negócio frio no meu ferimento, me
fazendo gemer um pouco com a dor.
— Que isso nunca mais se repita — avisa ele, seríssimo. —
Você entendeu, Apolo?
— Sim — respondo. Merda, eu saí do controle, Victor pode
começar a desconfiar de mim. Ele sobe para o quarto.
— Sai cachorro! — Val expulsa Kenai que se aproxima, me
cheirando, querendo saber o que houve.
À noite, no meu quarto, deitado na minha cama após um banho,
com um band-aid no local do corte, troco mensagens com Érica que
reclama da minha atitude, me deixando irritado por ela não enxergar
que o que fiz foi para defendê-la. Que droga! Esse dia não pode ficar
pior!
Victor bate na porta e entra, sentando-se ao meu lado na cama.
— Está melhor? — pergunta, agora ele também parece bem
mais calmo. Amém, mas sua cara ainda não está nada boa.
— Estou. Desculpa por hoje, o senhor estava certo, eu não
devia ter me metido.
— ‘Tá certo. Mas isso já passou, vim aqui para falar de outro
assunto. — que assunto? penso, amedrontado. Teto de vidro é uma
merda! — O que é esse câmera secreta?
Eita porra! Como ele descobriu? Nossa, o dia ainda pode sim
ficar bem pior.
— Eu... Não sei... — minto, receoso.
— Apolo não mente pra mim, não mente pro seu pai — os olhos
dele parecem que vão me comer vivo, cheios de desconfiança — Sei
que que entrou nesse site, vi o seu notebook aberto um dia desses.
— E o que viu? — pergunto, com medo.
— Não importa, mas senão me contar a verdade, vou confiscar
tudo — ameaça.
— Não pode fazer isso. E a minha privacidade? — argumento.
— Foda-se sua privacidade. Eu posso fazer o que quiser porque
sou seu pai, você é minha responsabilidade e não permitirei que se
meta em mais confusão, então me fala logo o que te perguntei.
Não tenho para onde fugir!
— É um site pornô — digo, da melhor forma que encontro.
— Ah é? E que tipo de site pornô custa tão caro assim? Porque
no meu tempo, eu não pagava nada e me divertia pra caramba — há
ironia em seu tom de voz. Victor está puto comigo, isso não é bom.
— É porque... esse é um site de cam girl.
— Ah tá, agora sei por que essa conta do cartão veio um
absurdo! — a conta do cartão! Foi assim que ele descobriu! Como
não lembrei que isso poderia acontecer? Merda!
— Você sabe o que é cam girl?
— Sim, eu sei. O que quero saber é por que não me pediu o
cartão ao invés de pegar escondido?
Fico sem saber o que dizer por alguns segundos, e invento mais
uma mentira:
— Porque... Fiquei com vergonha...
— Vergonha de mim? — pergunta, incrédulo. — Depois de tudo
que já passamos? Não, isso é papo furado. Você fez isso de
senvergonhice, algo que não esperava de você, Apolo, não mesmo
— me repreende, e não posso falar nada, ele está mais do que certo,
eu sou o errado. — Como posso confiar em ti desse jeito? E a
fidelidade que quero que exista entre nós como pai e filho? Não
quero que minta mais para mim, Apolo. Entendeu?
— Sim — respondo, cabisbaixo, me sentindo o pior filho do
mundo. — Desculpa, por favor. Eu não devia ter feito isso, nunca fiz
antes, não sei o que deu em mim. Estou envergonhado agora.
Desculpa mesmo — falo com sinceridade, mal consego olhar para
ele.
— Prometa que nunca mais pegará coisas alheias sem
permissão.
— Prometo. — Afirmo.
— O.K. — ele me abraça. Que bom que ficou tudo bem. — Sem
videogame, sem piscina e sem academia — diz, sério, me deixando
sem chão.
— Não, eu preciso malhar! — argumento, pensando no meu
acordo com Érica.
— Nem dentro e nem fora de casa, até segunda ordem — e
Victor vai embora, fechando a porta, me deixando desolado!
Ponho as mãos na cabeça e me bato de raiva, querendo gritar,
mas me controlo!

Nos próximos dias, a própria Érica me aconselha a ficarmos


quietos enquanto Victor está de olho em mim. Segundo ela, é melhor
não darmos mais motivos para ele desconfiar, apesar dela não ter
gostado nada das atitudes que tomei que me fizeram levar este
castigo, pois eram dias perdidos em relação à Aline.
Victor fica ainda mais próximo de mim após a briga com José.
Por um lado, acho isso muito bom, mas por outro, é agoniante, pois
não posso fazer o que realmente quero. Mas sigo os conselhos de
Érica e me mantenho firme, mesmo morrendo de vontade de transar
com ela novamente, vontade de pular o seu muro e invadir sua casa
como sempre fiz. Entretanto, percebo que Victor está desconfiado,
de orelhas em pé. Ele não comentou nada, mas está diferente, e sei
que isso não é nada bom para a minha pele!
Contudo, finalmente chega o dia em que sou liberado do castigo
e volto para a academia. Entro no estabelecimento e não vejo
nenhum sinal da minha presa. Sigo para o banheiro e olho o meu
rosto no espelho, não uso mais band-aid, mas ainda dá para notar
onde fui ferido, está terminando de sarar.
Ao sair, encontro com Aline que acaba de chegar. Nós nos
surpreendemos ao ver um ao outro.
— Apolo — diz.
— Oi — a cumprimento.
Uma moça sai do banheiro feminino, e passa por nós, indo
embora.
— O seu agora está vago — lembro.
— Ah... Claro. Você sumiu por uns dias — comenta. Ela sentiu a
minha falta? — Achei que não apareceria mais por aqui.
— Tive uns problemas — me justifico. Sinceramente, não estou
mais com paciência para paquerá-la.
— O que foi isso? — pergunta, tocando em meu rosto.
Seguro-a pelo pulso e olho em seus olhos, sério. Ela fica tensa
ao meu toque. Ajo mais uma vez por instinto e a puxo para mim, a
fazendo suspirar. Nós estamos no corredor, que por enquanto está
vazio.
Sem pensar direito, a arrasto para dentro do banheiro feminino e
tranco a porta.
— Apolo, o que está fazendo? — antes que ela consiga
perguntar mais alguma coisa, avanço em sua boca num beijo quente
e necessitado. Devoro seus lábios com voracidade ao mesmo tempo
em que a agarro e grudo nossos corpos. Meu pau toma forma e
endurece em segundos, e roço-o nela, em seu abdômen, a deixando
completamente desestabilizada. — Oh Deus, não podemos fazer
isso... — retruca, se desvencilhando de mim, mas a agarro de novo,
como um lobo faminto, e a beijo mais uma vez enquanto lágrimas
escorrem por seus olhos. Por que ela está chorando?
Desço as mãos para sua bunda, a atacando, a apertando forte
enquanto ela me corresponde e ao mesmo tempo tenta se livrar dos
meus braços.
Nossas línguas se conectam rapidamente e nosso beijo é uma
delícia louca! Roço meu caralho duro nela mais vezes, a deixando
sem saída.
— Aaah... — geme, não resistindo, mas então foge, com o pingo
de sanidade que ainda lhe resta. — Não, não! — diz, ofegante,
enquanto sai pela porta.
E fico sozinho, também ofegante, sem acreditar no que acabou
de acontecer. Agora não há mais volta. Eu acendi a chama.
PEGANDO FOGO

“— Tira umas fotos. Não, melhor,


faz um vídeo pra mim.”

Dirijo rumo ao meu AP com um aperto surpreendente no peito, e


olho novamente a mensagem que recebi de Leda, afirmando que
encontrou um lugar para morar. Tento não acreditar que estou
sentindo mesmo isso, que não quero que ela se vá, mas é verdade.
Lembro da última vez em que estivemos juntos, que dormimos no
sofá. Acordei cedo e a encontrei como um anjo em meu colo, e foi
tão difícil me desgrudar dela e ir embora, mas consegui. Contudo,
desde então não paro de pensar nessa mulher e penso ainda mais
forte a cada dia, e saber que ela vai embora, não me agrada nem um
pouco.
Tive bastante vontade de vê-la antes, entretanto, Apolo está
começando a me dar trabalho e demonstrar um lado seu que eu
desconheço. Por isso, fiquei mais próximo dele por alguns dias, o
observando. Desconfio de que esteja escondendo mais coisas além
do fato decepcionante de ter pego meu cartão e usado sem a minha
permissão. Pior foi vê-lo no meio da briga da vizinha. Não sei não,
meu faro denuncia que esse garoto está aprontando, mas vou
descobrir o que é.
Mais tarde, toco a campainha e ela abre, está maravilhosa,
parece até que viajará para fora do país de tão linda, parece até que
fez de propósito, para me deixar ainda mais mexido.
— Então é isso, você já vai embora mesmo — comento, nós
estamos frente a frente, na sala.
— Sim, finalmente consegui encontrar um lugar em conta e
considerável, digamos. Dá para morar até o curso findar.
— Tem certeza que não quer ficar aqui? — pergunto, sugestivo,
minha voz sai como um pedido, e deixo Leda boquiaberta, ela
percebe o meu tom.
— Sim... — responde, com a voz fraca, aparenta até um pouco
de hesitação. — Eu tenho que ir. Obrigada por tudo, Victor. De
verdade mesmo. Você me ajudou muito.
Ela vem até mim e me abraça, a correspondo e me pego de
olhos fechados. É um abraço diferente, com um carinho diferente.
Droga, eu sinto mesmo algo por ela. Por que é tão difícil assumir
isso? E quando nossos corpos se desgrudam, um certo vazio me
consome.
— Onde estão suas malas?
— Lá embaixo, o porteiro já levou. Bem, é isso — ela ri
fracamente, sei que gosta de mim e no fundo não quer essa
distância. Isso é inegável. Contudo, Leda vai embora, fazendo meu
vazio se tornar ainda maior.
Passo as mãos no rosto, raciocinando, pensando no que fazer, e
então vejo um bilhete sobre a mesinha de centro. O pego e passo a
lê-lo:
Não posso ir embora sem declarar o que sinto. Mesmo que você
ainda não esteja preparado, quero que saiba que eu te amo, Victor.
Leda.
— Puta que pariu! — xingo, e saio correndo desgovernado pela
porta. Tento acessar os elevadores, mas estão ocupados, e então,
desço pela escada de emergência com uma pressa incalculável.
Corro feito um garoto que corre para não apanhar da mãe furiosa.
Chego ao térreo quase sem ar, suado, e das portas de saída do
prédio, vejo o taxista pondo as malas da ruiva no porta-malas
enquanto ela o observa. — LEDA! — grito, e ela olha para mim, está
chorando e isso me deixa ainda mais mexido.
Caminho até ela, com o coração ribombando, buscando ar.
Nossa! Quase morro descendo a escada. Me aproximo dela e
acaricio o seu rosto enquanto a gata me olha sem entender nada.
— O que...? — antes que consiga falar, taco-lhe um beijão de
cinema, e percebo o quanto gosto dos lábios dela nos meus, dos
nossos corpos colados. A agarro forte, dando-lhe uma pegada
intensa, e nosso beijo é mais intenso ainda, carregado de
sentimentos, demorado, gostoso, molhado, tanto que a deixo sem ar.
— Por que está fazendo isso? — pergunta, ofegante, ainda
chorando, é a minha garota.
— Porque estou apaixonado por você, e não vou permitir que vá
embora da minha vida. — ela se derrete, encantada, apaixonada, e
sorri maravilhosamente. Volto a atenção ao motorista. — Moço, retire
as malas dela e deixe na recepção, por favor. Ela não vai mais. —
Caminho até ele e abro a minha carteira para pagá-lo.
— Não, Victor, calma, as coisas não podem ser assim. Eu
aluguei um AP, não posso desmarcar, fiz um compromisso —
enquanto ela fala, pago o homem e ponho a carteira de volta no
bolso, e ele retira as malas dela do carro. — Calma moço, Victor
espera, é sério, quero ter o meu canto, olha me escuta... AAH —
grita, quando a pego e jogo-a sobre meu ombro direito, carregando-a
de volta para o prédio, como um homem das cavernas que reivindica
sua fêmea para si. — Eu vou cair, para com isso! Meu Deus que
vergonha...
— Shiii — espalmo a sua raba para que ela fique em silêncio. —
Quem manda aqui sou eu.
Minutos depois, estou com Leda ainda sobre meu ombro, dentro
do elevador, com uma velhinha de bengala ao lado nos observando
boquiaberta. Só coloco a mulher no chão quando voltamos ao
apartamento, e antes que ela consiga contestar, a encho com mais
beijos e beijos, a excitando.
— Para... Você vai me deixar louca... — geme ela, enquanto
chupo sua orelha e esmago sua bunda contra meus dedos. Estou
feroz, sem lhe dar ouvidos. — Calma, Victor, é sério, precisamos
conversar — ofega, insistente.
Respiro fundo e me afasto dela.
— O que foi? — indago, tentando controlar a minha respiração,
ajeitando o tora dura marcada na calça, e a ruiva engole em seco,
observando, parece que nunca vai se acostumar comigo.
— Você me deixou confusa, preciso entender o que está
acontecendo — diz, agoniada e quente, com os cabelos bagunçados
após o meu ataque.
— É simples, acabei de descobrir que estou apaixonado por
você, que te quero, e a partir de agora você é minha, me pertence, e
ponto.
A ruiva está embasbacada, e tenta processar minhas palavras.
— Calma, é muita informação em tão pouco tempo, eu achei
que só eu estava sentindo alguma coisa aqui — diz, sentando-se no
sofá e sento ao seu lado.
— Admito que também achei, por isso tentei evitar algo entre
nós, estava com medo de te fazer confundir as coisas e me confundir
também e me magoar depois, mas você reacendeu em mim
sentimentos bons. Estou disposto a embarcar em um relacionamento
ao seu lado, sem medos. Preciso disso, você me fez perceber que
sim.
Leda ri e chora ao mesmo tempo.
— Está me pedindo em namoro, é isso? — pergunta.
— Sim.
— Eu não sei, Victor. Depois do que vivi com Gui e ao perceber
o seu receio de se entregar, criei medo de me magoar caso esse
momento chegasse e olha que sonhei com esse momento. Além
disso, sou muito ciumenta, você não vai querer...
— Estou recebendo um “não” é isso? Estou te falando que quero
tentar, se você nos der essa chance, é claro. É pegar ou largar —
proponho, e ela me abraça.
— É óbvio que quero! — nos beijamos, e começo a amassá-la
todinha, então a ruiva foge, me deixando meio frustrado.
— O quê? — indago, sem entender.
— Já que é assim, dessa vez quero fazer tudo certo, vamos
devagar. Da mesma forma que você tem medo de se ferir, eu
também tenho.
— Quanto tempo? — pergunto.
— Como assim?
— Quanto tempo sem sexo? — ela ri. — É disso que está
falando, não é? Quer jogar comigo?
— Claro que não, estou falando sério.
— Eu sei, estou só te zoando — gargalho. Levanto, vou até ela
e a beijo docemente, e desço os lábios por sua garganta, a
arrepiando.
— Se continuar assim, não vou resistir — confessa, com a voz
carregada de libido. Me afasto dela e ergo as mãos em rendição,
com um sorriso cafajeste.
— A partir de hoje você mora aqui — determino.
— Não Victor, se for assim eu não quero. — Faço uma careta,
eita mulherzinha exigente! — Entenda, não quero repetir o que
passei com a Gui, preciso de um canto meu, só meu, sem depender
de você, de ninguém.
— O.K., tudo bem então. Concordo. Então vamos, te levarei ao
seu AP. — digo, e recebo outro abraço.
Mais tarde, chegamos ao AP que ela alugou, num prediozinho
vagabundo, e odeio o lugar logo de cara.
— Mas isso não é um AP, é uma kitnet — comento, analisando o
lugar que mais parece um cu.
— É o que posso pagar, Victor — diz Leda, andando pela mini
sala/cozinha.
— Hum um, não vai ficar aqui. Posso conseguir algo melhor
para você.
— Não, eu já disse...
— Não se preocupe, é você quem vai pagar, mas me deixa fazer
isso — peço, e ela acaba concordando.
Minutos depois, após fazer uma ligação para um amigo
empresário, consigo uma casa, ainda mais perto da faculdade, com
maior privacidade, sem os incômodos de um vizinho embaixo e em
cima como seria na primeira opção. O novo lugar é espaçoso, com
dois quartos, sendo um suíte, com sala, cozinha, banheiro, área de
lavar roupa. É amplo, arejado e seguro. Um corretor nos mostra
cômodo por cômodo, o piso é em porcelana, as paredes estão todas
bem pintadas, há um balcão na cozinha e tudo está mobiliado, uma
belezura.
Em um momento, Leda me puxa para um canto e murmura:
— Não vou poder pagar por isso, deve custar o olho da cara.
— Não se preocupe, o dono é meu amigo, ele me deve uns
serviços e deixou a casa pelo mesmo valor do aluguel que você
pagaria naquele cu. — informo, e Leda faz uma careta. — Dessa vez
a senhorita não tem o direito de negar, me sentirei mais seguro e
confortável sabendo que está aqui, protegida — digo, a agarrando
devagarinho e a beijando bem gostoso, ela se derrete em meus
braços, encantada, e ri, concordando, e me dá um tapinha no ombro
quando flagra o senhor nos mirando na cara limpa. Ele finge que não
vê e se afasta, nos fazendo rir. A ruiva se desvencilha dos meus
braços, se recompondo, e lhe dou uma lapada na raba, safado.

Aproveito que Victor não está em casa e vou à casa da vizinha


contar as novidades. Sou recebido por Olavo que pula em meu colo.
No relógio marca 17h30min.
— Meu herói! — grita a criança.
— Olavo, meu amigão! Quanto tempo, tudo bem? — indago, o
pondo de volta no chão.
— Não estou nada bem, por que você não vem mais brincar
comigo? — porque agora brinco com a sua mãe, penso. Nossa,
estou virando um ordinário!
— Ah, é porque não tive mais tempo, mas depois venho e a
gente brinca, ‘tá bom?
— ‘Tá bom — confirma ele.
Érica se aproxima.
— Filho, vai arrumar aquela bagunça no quarto, vai, que mamãe
precisa conversar com o Apolo.
Olavo não discute e se afasta, correndo para obedecê-la.
— Me conta, qual é a novidade? — ela está curiosa.
— Nós nos beijamos, eu e Aline. Quer dizer, eu que beijei ela. —
informo, sem felicidade, deixando a vizinha boquiaberta e de sorriso
de orelha a orelha.
— Está falando sério? — os olhos dela brilham de
contentamento.
— Claro. Por que mentiria? Foi no banheiro da academia.
— No banheiro da academia? Logo a Aline? Essa história está
mal contada, Apolo. — diz, duvidosa.
— O quê? Acha que estou mentindo?
Érica me observa sem crença.
— Eu te amo e quero ficar contigo, não mentiria para você — me
declaro.
— Preciso de provas — diz, séria.
— O quê?
— Tira umas fotos. Não, melhor, faz um vídeo pra mim. — ela
sorri maliciosa, me deixando tenso. — E pronto! Assim serei toda
sua... Eternamente.
— Isso não, isso é demais. Não pode confiar em mim? —
indago, enquanto ela distribui beijos libidinosos por meu rosto, me
excitando.
— Só um registro para eu ter certeza do seu amor — sinto sua
mão invadir minha cueca e segurar meu pau quente que incha
rapidamente, me fazendo fechar os olhos e morder os lábios de
tesão. — Vai fazer isso por mim? — sussurra em meu ouvido, me
seduzindo, — Vai fazer?
— Faço — confirmo, envolto do seu fascínio. Érica ri safada e
me puxa pela mão, rumo à cozinha.
— Vem, quero gozar no seu pau — declara, safada, e adoro
isso! Nós corremos e paramos dentro da dispensa, perto da piscina.
Ela me joga contra a parede e nos agarramos feito loucos,
desesperados, nos beijando com um fogo intenso. Ela abre minha
cinta e a braguilha da minha calça em um ansiedade monstra
enquanto rasgo sua calcinha por baixo do vestido curto com tanta
força que até fico impressionado comigo mesmo.
— OOR... — geme alto quando me sente fodê-la por trás, e levo
a mão à sua boca para que não faça barulho, deixando tudo com
mais emoção e devassidão enquanto soco o pau em sua boceta
apertada.
E assim, transamos loucamente, escondidos, envoltos de uma
tensão sexual que nos faz explodir de forma impressionante, ficamos
lá por meia hora, é o mais rápido que conseguimos para que Olavo
não sinta a nossa falta, e saio da casa da minha vizinha satisfeito,
com um sorriso largo no rosto que morre rapidamente ao me deparar
com Victor estacionando na porta de casa ao me ver. Fodeu!
— O que você estava fazendo na casa da vizinha às seis da
noite? — me indaga ele, parecendo que vai acabar comigo só com o
olhar, desconfiado, estamos agora no sofá da sala, frente a frente.
— Eu fui ver o Olavo — minto, tentando não transpassar
nervosismo para não ser descoberto.
— Quem?
— O filho dela, o menino que salvei aquele dia. E ela também
me chamou para se desculpar pelo que aconteceu.
— Apolo você está maluco? Tu quer aquele cara te
perseguindo?
— Claro que não.
— Só vou falar essa vez e escute bem: não te quero mais na
casa da vizinha! Nunca mais! Me entendeu?
— Mas...
— Entendeu?
— Entendi — respondo, de mal gosto, e Victor se afasta. Soco o
sofá, irritado. Envio mensagem para Érica contando dessa proibição,
e ela manda eu ficar na minha por alguns dias novamente, para que
Victor não desconfie de nada.
Esse garoto está aprontando! Algo muito forte me diz isso. E no
dia seguinte, resolvo tirar meu tempo para segui-lo, infelizmente. Não
queria estar fazendo isso, mas vejo como único meio de tentar
descobrir o que Apolo faz quando não estou por perto. O sigo até a
escola, espero ele sair e deixo chegar em casa primeiro que eu.
Depois fico no meu quarto, fingindo estar ocupado, mas vez ou outra
olho pela porta entreaberta do quarto dele e meu filho me parece
bem sossegado, mexendo ora no celular, ora no notebook.
Quando chega o momento dele ir para essa tal academia que
ainda não conheço, o sigo novamente. Ele vai no carro chamado
pelo aplicativo, e descubro onde malha. Me repreendo mentalmente,
devia ter feito isso antes, mas Apolo sempre se mostrou um bom
garoto, um bom rapaz, agora é que parece querer ser um capetinha
que nem eu na sua idade, tomara que isso seja um engano. Mas ele
anda muito ousado para o meu gosto, mais do que de costume.
Entretanto, não vejo nada demais, e a noite ele fica no quarto,
de boa. Faço o mesmo procedimento no dia seguinte, e Apolo não
me dá motivos para ter mais desconfianças. Sobre a academia, vi
uma garota mulata gostosinha conversando com ele ao sair de lá,
pode ser a tal Tati.
Nesses dois dias de investigação, não houve mais sinal da
vizinha. Ela agora me parece uma mulher estranha. Não sei se estou
enlouquecendo e isso é coisa da minha cabeça, ou se há algum
caroço nesse angu. Geralmente meu faro não me engana, ficarei
atento.
Passaram-se dois dias desde que Victor me viu saindo da casa
da Érica, e desde então sinto seus olhos em mim, parece até que ele
sente o cheiro das minhas mentiras. Mas me mantive quieto, bem
comportado, segui o conselho da minha Afrodisíaca.
Nesse curto tempo, Aline não apareceu mais na academia, para
variar. Já Isabela, não sai da minha cola. Ô garota chiclete do
caralho! Ela me aborda novamente quando estou descansando do
treino, e bebendo em minha garrafinha d’água, todo suado e quente.
— Oi gato — diz, me olhando dos pés à cabeça.
— O que você quer, Isabela?
— Quero dizer que fiquei pensando bastante no que você disse
naquele dia, sabe. E eu topo — ela sussurra as últimas palavras em
meu ouvido.
— Topa o quê? — indago, sem entender.
— Transar contigo, não era só isso que você disse que pretendia
fazer comigo? — que menina cachorra, pior que fico levemente
tentado. Olho-a de cima a baixo e vejo seu corpinho gostoso
comprimido na roupa apertada e ousada.
— Não tô mais afim — respondo, a deixando chocada.
— Como assim? Você enlouqueceu?
— Olha aqui minha filha, tu não é a última Coca-Cola do
deserto, ‘tá bom? E hoje eu tenho coisa bem melhor.
— Idiota, vou te fazer engolir estas palavras, anota o que estou
te dizendo, Apolo! Você não é ninguém para me rejeitar! — ameaça,
virada no Jiraya, e sai rebolando sua bunda que parece uma delícia.
Jesus, que tentação.
Mais tarde, ao sair da academia, avisto um carro ao longe, na
esquina, piscando o farol. Fico alguns momentos analisando se é
para mim mesmo e me aproximo, reconhecendo que é o carro de
Aline, nos vidros há insulfilm. Entro, sentando no banco do
passageiro.
— Oi — digo, surpreso com tudo isso, e ela parece tensa
novamente. — Como você está? Sumiu da academia — comento.
— Sumi mesmo, fiquei bastante perturbada com o que houve no
banheiro e vim só me despedir — declara, me assustando.
— Se despedir?
— Aquilo não era para ter acontecido, e não posso mais
permanecer perto de ti, senão... — a voz dela falha.
— Senão? — pergunto, a desafiando e vejo uma mulher
completamente sem palavras.
— Apolo... Por favor — ela não veio se despedir, ela veio porque
quer mais! Esse pensamento se infiltra na minha mente
avassaladoramente e sem pensar duas vezes avanço nela e lhe
roubo mais um beijo quente e molhado, levando à mão ao meio de
suas pernas. Aline usa uma legging apertada e logo toco a sua
boceta aquecida por cima da vestimenta.
— Aaah — a mulher geme contra os meus lábios. — Não... —
ela afasta a minha mão, tentando recobrar a sanidade. — Isso é
loucura!
Consigo ser mais devasso e ponho meu pau para fora em
milésimos de segundos, muito duro e quente.
— Apolo! — Aline agora é um misto de choque, medo e
excitação, ofegante.
Sem lhe dar ouvidos, avanço em sua boquinha novamente,
sugando seus lábios e sua língua e levo sua mão ao meu caralho
negro e viril, robusto, enorme, que parece que vai queimar os dedos
dela que ficam perdidos em minha extensão.
— Aaah — nós gememos juntos com esse toque e enrosco a
minha língua na sua com vontade, enquanto a faço me masturbar.
— O que... está fazendo? — pergunta, se envolvendo em meu
fogo que a consome cada vez mais e mais.
— Eu quero comer você — sussurro em seu ouvido e ela geme
forte enquanto puxo sua blusa e ponho um de seus seios pequenos
para fora. Minhas mãos são rápidas e certeiras, Aline não consegue
sequer reagir, tenta, mas não consegue, sou mais forte e veloz que
ela.
— Não...
— Sim... — digo, mamando o seu biquinho entumecido. Estou
imoral, insano, inconsequente.
— Oooh — ela grunhe mais forte, e a faço mover a mão em meu
cacete, me masturbando. — Calma Apolo, aqui não, aqui não! —
suas mãos envolvem o meu rosto e decido parar.
— Onde então? — pergunto, ainda sentindo meu sangue quente
correr por minhas veias.
— Não sei... Não podemos... Isso não vai dar certo... Por que
não desiste?
— Eu não vou desistir — assevero, e a beijo novamente, até ela
se afastar, buscando ar. — Agora me diz, onde? — insisto.
Aline me passa o endereço do seu antigo apartamento e
combinamos de nos encontrar no dia seguinte, à tarde, no horário da
academia.
De volta para casa, quase não durmo à noite, ansioso,
temeroso, sentindo culpa e ao mesmo tempo querendo logo acabar
com isso para ter Érica sempre! Penso bastante e chego à conclusão
de que é melhor não comentar nada com ela, ainda. Já que preferiu
não acreditar em mim, provarei que está errada. Ao mesmo tempo
fico impressionado comigo mesmo por ter conseguido seduzir Aline,
isso só mostra que a cada dia estou mais foda.
Minha mãe liga, mas como estou muito centrado no que
acontecerá amanhã, prefiro não atendê-la e também ignoro suas
mensagens.
No dia seguinte, é o dia decisivo, é o dia em que cumprirei com
a minha missão. Reflito bastante sobre isso. Chego da escola, tiro a
roupa toda, tomo banho e caminho nu e molhado pelo quarto, paro
em frente ao espelho, no closet. Troco olhares comigo mesmo,
pensando no que irei fazer daqui a pouco. Preciso de coragem, de
mais coragem, sinto medo, estou um pouco nervoso, com um frio na
barriga. Mas isso é preciso para ter Érica comigo para sempre.
“— Eu acho... Que... te amo...
— Que lindo, Apolo. Também amo você.”
A minha conversa com Érica ecoa por minha cabeça. Farei isso
por ela, por amor. Miro a minha imagem sério, determinado. Não
posso ter medo.
— Farei isso por você, Érica. Porque te amo — sussurro a mim
mesmo, para me sentir mais seguro. — É só sexo, nada mais, e fim.
Observo meu corpo sarado e másculo no reflexo, e noto que
realmente há uma diferença em relação ao Apolo que chegou aqui.
Agora gosto de treinar e cuidar do corpo, estou mais evoluído
fisicamente do que a maioria dos garotos da minha idade, as
pessoas não mentem quando dizem que aparento ter dezoito ou
mais, Aline pensa assim, foi o que disse a ela. Aline... para encarar
essa situação de uma melhor forma, resolvo acreditar que estarei
ajudando-a a dar o troco no marido traidor.
Visto uma das minhas roupas de academia, pois, para todos os
efeitos, estou indo malhar e não foder com uma mulher casada. Uso
um calção preto que deixa marcado o volume no meio das minhas
pernas — algo inevitável — e uma camisa regata azul-marinho que
realça meus braços negros e sarados, e calço tênis branco. Me
perfumo, penteio o cabelo, ponho os óculos e me sinto bonito. Antes
de sair do quarto, lembro de algo que nunca consigo lembrar com
Érica, volto, e pego camisinhas dentro da gaveta do rack, guardando
no bolso em seguida.
Desço, almoço com Victor e Val, todos juntos na mesa. Tento
não demonstrar que no fundo estou levemente tenso. Antes de sair,
Victor me chama:
— Filho — vou até ele, e sua mão pousa sobre meu ombro
direito. — Está tudo bem?
— Sim, por quê? — indago. Ele notou alguma coisa, ele sempre
nota algo!
— Estou te achando um pouco tenso.
— É só impressão sua — minto.
Victor me olha por alguns segundos e sinto como se ele
estivesse me dando a oportunidade de lhe contar toda a verdade
agora e desistir dessa loucura. Mas não posso, vou até o fim pela
mulher que amo! E então recebo o seu abraço cálido. Fecho os olhos
nesse ato, sofrendo, de certa forma por ter entrado numa bola de
neve tão grande que agora não dá mais para sair.
— Vai lá — ele se despede, me liberando. E agora, meus
passos até a porta parecem acontecer em câmera lenta. Olho para
Victor uma última vez antes de partir, com um peso no coração, e por
algum motivo sinto vontade de chorar, mas seguro as lágrimas, e vou
embora, entrando no carro que chamei pelo aplicativo.
No caminho, recebo uma mensagem da Aline:
ALINE: Já estou aqui.
Olho pelo vidro da janela, vejo a cidade passando lá fora, e
reflito sobre mim mesmo. Não sei mais quem eu sou, só sei que não
sou o mesmo de antes.
Desço em um bairro movimentado, repleto de apartamentos.
Procuro um pouco, e entro no prédio de dez andares. Aviso ao
porteiro o apartamento que pretendo visitar, e ele libera a minha
entrada. Pego o elevador e quando abre no terceiro andar, dou de
cara com Aline que se surpreende ao me ver. Ela usa um vestido
cinza que se alinha bem ao seu corpo magro, além do salto alto e
óculos escuros. O cabelo castanho e cacheado está solto, lindo, e
sinto seu perfume de mulher. É bem diferente vê-la com roupas que
não sejam de treino, está mais bonita, mais chique.
— Apolo? — pergunta, assustada, enquanto saio do elevador e
para à sua frente.
— Você vai embora? — pergunto, surpreso.
Ela fica sem palavras, está aflita e suas mãos tremem. Tento
não demonstrar que também possuo um pouco de nervosismo.
— Cadê seu AP? — pergunto, e ela parece indecisa. Seguro-a
pela mão. — Vamos — a incentivo, aos sussurros.
Aline pega a chave dentro da bolsa e entramos em seu
apartamento, que por sinal é bem espaçoso, de paredes brancas, de
móveis cobertos por panos brancos um pouco empoeirados. Parece
que já não é habitado faz um bom tempo, contudo, alguém deve vir
limpar de vez em quando, pois não está tão sujo. É o que deduzo.
— Me perdoe, Apolo, eu não queria te dar um bolo, mas é que
enquanto esperava por você percebi que amo a minha família, o meu
marido. Sim, infelizmente. Sei que não devia amá-lo mais depois de
tudo, mas essa é a triste verdade. Eu estava sim indo embora, mas
era pra evitar o pior, sabe. É verdade que me sinto atraída por você,
mas pensando bem, não passa disso... você entende Apolo? Apolo?
Ouço Aline me chamando lá da sala, pois enquanto ela falava,
caminhei até o primeiro quarto que encontrei, onde há uma cama de
casal limpa e pronta para o sexo. Com lençóis brancos de seda que
cintilam com os raios de sol que entram pela janela de vidro.
— Apolo? Onde você está? — ouço a voz dela se aproximando,
escuto seus saltos pelo piso de mármore. Ela entra no quarto
desconfiada, vagarosa. — Apolo... — fecho a porta às suas costas,
pois me escondi atrás dela, totalmente nu.
Aline me olha boquiaberta, perplexa, não conseguindo tirar os
olhos do meu pau grosso, enorme, cravejado de veias pulsantes que
endurecem o corpo dele, que toma forma e cresce a cada passo
firme que dou em direção à minha presa, me preparando para dar o
bote, olhando-a faminto, me aprofundando em seus olhos, excitando-
a com meu calor que já consegue atravessar o ar e envolvê-la antes
mesmo que eu possa tocá-la.
Aline recua enquanto chego mais perto, ela dá passos para trás,
aparentemente num misto de indecisão e tesão. Não posso deixá-la
desistir, esse negócio deve acontecer hoje. Ela se vê sem saídas
quando seu corpo encosta contra a parede e grudo meu corpo ao
seu, quente, pegando fogo. Uma mão vai à sua cintura e outra à sua
nuca, e a puxo para um beijo que se torna mais intenso a cada
instante em que nossos lábios se prolongam, se misturando uns nos
outros de maneira gostosa e molhada.
Me sinto confiante agora, o medo e a insegurança foram
embora. Sei que tenho experiência suficiente que adquiri com a
minha vizinha para poder conduzir a situação. E assim, aos poucos,
Aline vai cedendo. Aos poucos já não há mais desculpas.
Levanto o seu vestido, bruto, deixando sua bunda de fora, a
assustando, e desço minhas mãos para suas nádegas quentes,
apertando-as com força, comprimindo suas carne alva entre meus
dedos enquanto pressiono minha rola negra e quente contra seu
abdômen, esmagando essa mulher entre meus braços.
— Ooor... Aaii — Aline geme, entre um beijo e outro, nossos
lábios se esfregam, molhados, sedentos, ela envolve meu pescoço
com seus antebraços e cede cada vez mais.
Me livro de toda a sua roupa e volto a agarrá-la, a roçar meu
corpo no seu, queimando-a com minha libido sem limites, chupando
o seu pescoço, pressionando-a contra a parede. É tão bom ter uma
mulher contra uma parede, nossa! Sou mais alto que ela, e minhas
mãos percorrem por todo os seu corpo, sempre a apalpando, dando-
lhe uma boa pegada, gostosa, tesuda.
— OH! — ela grita quando espalmo sua bunda com força e
repito o ato mais duas vezes, fazendo-a gemer. Aos poucos esqueço
dos motivos que me trouxeram aqui e me entrego a esse momento, a
ela, quero lhe dar prazer, muito prazer, maior do que já possa ter
recebido de qualquer homem.
Passo a chupar os seus seios pequeninos ao mesmo tempo em
que não deixo de esmagar sua bunda contra meus dedos que abrem
as suas nádegas e as lapeiam com gosto. Estou tomado por uma
força animal, sedento por Aline, desejando-a de uma maneira que
não esperava desejar. Quero comê-la, quero experimentar o seu
sabor e descobrir o gosto que tem.
Sugo cada bico rosado, os lambuzo, brincando, chupando,
fazendo movimentos linguais em todas as direções possíveis, roço
meus dentes em sua carne, sem magoar, querendo devorá-la
enquanto Aline se deixa seduzir, se deixa pegar fogo, ser consumida
e tomada por mim cada vez mais. Sinto suas mãos escorregando por
minhas costas, me apertando, me querendo, me chamando, e assim,
arrasto os lábios carnudos pelo vão dos seus seios, seguindo para
baixo.
— O que vai fazer? — murmura, em um misto de excitação e
receio. Arrasto a minha língua saliente por seu abdômen e continuo
descendo enquanto agacho o corpo para ficar na altura desejada, na
altura certa da sua boceta que anseio pelo sabor. Deixo um selinho
sobre o clitóris tímido da mulher. — AAH — ela grita, em volúpia, se
comprimindo contra a parede, com as mãos em minha cabeça.
Ergo sua coxa esquerda e ela me ajuda a deixá-la no alto,
abrindo caminho para sua xota peladinha que está à minha espera e
brilha molhada. Delícia! Caio de boca nos lábios vaginais, me
lambuzando, me entregando, chupando, sugando, dando um beijo de
língua gostoso. Essa boceta é cheirosa, não tão carnuda quanto a de
Érica, diferente, mas boa, e faço Aline ter espasmos e se tornar
ensandecida, pondo a coxa sobre meu ombro, forçando a panturrilha
contra minhas costas, me puxando para o meio de suas pernas
enquanto esfrega as unhas em meu coro cabeludo.
Olho para ela como um lobo malvado em alguns instantes, e
vejo-a arrebatada pela luxúria, de olhos fechados, gemendo cada
vez mais alto, sentindo-me sugar suas energias corporais através de
suas bocetinha fogosa. Manipulo sua vulva com a ponta da língua,
massageando, estimulando, cutucando, excitando, melando,
sugando, me deixando levar pelos instintos. As pernas da mulher
tremem, me fascinando.
— AAAH... OOOR.. AI — ela grita, ofegante, se tornando ainda
mais molhada, e uma espuma branca suja toda sua região vaginal,
acho que ela gozou. Arrasto a língua por cima de tudo, limpando-a,
devorando-a, e ao perceber que Aline está quase para desfalecer,
levanto, encosto nela, seguro sua perna com uma mão, e com a
outra, envergo a vara dura para a entrada da sua xota gozada.
— Camisinha... a camisinha! — ela pede, algo que nem passou
por minha cabeça no momento. Esqueci de novo! Procuro a minha
carteira na velocidade da luz e encapo meu caralho com o
preservativo, voltando para a mulher necessitada na parede, que
possui um semblante de tesão intenso, mas o molhado dos seus
olhos denuncia o riso de consciência que ainda pesa em sua mente.
Não posso focar nisso e a beijo, erguendo sua coxa mais uma
vez e me enfiando devagar em sua bocetinha que tem dificuldade
para me receber. Sinto a cabeça do meu pau amassar enquanto se
ajusta ao buraquinho molhado dela e a penetra em libidinagem.
— Hummf... — rujo, e ela enlaça meu quadril, me puxando para
mais fundo, e sinto seus finos lábios vaginais se esfregando pelo
corpo robusto e largo do meu cacete que se afunda pouco a pouco
em suas entranhas, a arrombando devagarinho. Quero ir até o fim,
mas está difícil!
— Ooorrrh... — ela geme, enquanto sente a minha invasão, eu
ocupando o espaço vazio dentro de seu corpo e dominando-a
completamente. Desço mais alguns centímetros, estou quase
chegando ao fim. — É muito grande... — sua voz sai sufocada, ela
ergue o rosto e chupo sua garganta no mesmo momento em que
enterro a rola completamente em sua xota, até meu saco bater
contra seus lábios vaginais, brutamente. — AAH...
— Ooor... — mordo o lábio inferior quando me sinto todo dentro,
até o talo!
E assim, início as estocadas, lentamente, gostoso, fogoso,
devagarinho, metendo, escorregando por suas paredes vaginas, me
acomodando, conhecendo seu interior e me apoderando de tudo!
Deixo o pau deslizar vagarosamente e receber milhares de
contrações eufóricas dos seus músculos íntimos, que me sugam, me
puxam para dentro, querendo mais de mim. E afasto o quadril, o
trazendo para trás, retirando o caralho da sua bocetinha melada, até
que somente a cabeça larga e carnuda fique na sua entrada, e
retorno com tudo de novo, com toda a minha extensão, afundando
em seu corpo, devagar, sem machucar, cheio de lubricidade.
Aos poucos, aumento a velocidade e passo a foder mais
depressa, forte, com brutalidade, acelerando as estocadas, metendo,
entrando e saindo, socando com tudo enquanto seguro a sua coxa
no alto, mantendo-a aberta para mim, para que minha vara possa
escorregar livremente. Enquanto isso, sinto prazer em mirar o seu
rosto, vê-la se derretendo em luxúria extrema e segurar meu rosto
com as mãos, me puxado para beijos cada vez mais fervorosos.
Sigo com a penetração forte e veloz, e quando canso, vario as
estocadas, desacelero, meto um pouco devagar enquanto recupero o
ar que foge por meus pulmões. Em seguida, soco o pau na boceta
dela em um ritmo mediano, num vai e vem gostoso, num entra e sai
viciante. Mas noto que transar sem camisinha como transo com Érica
é muito melhor, entretanto, meu pau é tão grosso que o preservativo
fica supercolado ao seu corpo, se tornando mais fino do que já é, me
proporcionando quase o mesmo nível de prazer. Mesmo assim, está
muito bom!
Aline está comprimida entre mim e a parede, sem saída, sem ter
para onde fugir, sendo comida insanamente. Em seu semblante há
uma tortura sexual constante, ela me beija, derretendo seus lábios
nos meus enquanto sente meu caralho afundar em seu corpo,
chegando a pontos que parecem nunca antes tocados. De vez em
quando a mulher esbugalha os olhos, abrindo a boca gemendo forte,
atolada e preenchida por meu pau que está muito duro!
Decido mudar de posição, e levo a mulher para a cama. Jogo-a
de bruços sobre o colchão, espalmo a sua bunda durinha novamente
que já está vermelha de apanhar, e me enterro de uma só vez em
suas entranhas enquanto Aline agarra os lençóis de seda com
bastante força. Ela perde completamente a compostura, está
entregue, dada sem força alguma para revidar. Seu corpo queima de
prazer com o meu, e nessa posição, sinto o meu caralho mais
apertado e comprimido em sua xoxotinha.
Flop! Flop! Flop! Flop!
O barulho da penetração me excita ao extremo. Começo
devagar e aos poucos aumento a velocidade, fazendo enterradas
potentes, com impacto, chocando os nossos corpos. Vejo sua bunda
amassar cada vez que bato nela e a penetro profundamente. Está
gostoso, delicioso, apesar de Aline ser completamente submissa e
não fazer todas as artimanhas que a Afrodisíaca faz comigo.
É um sexo realmente diferente, pois agora estou dominando por
completo. Minhas pernas se enroscam nas dela e me enfio
completamente em sua boceta, passando a roçar nossos corpos um
no outro em seguida, aprendendo uma nova forma de foder,
bagunçando tudo dentro de Aline, que geme cada vez mais forte.
Com ela estou percebendo diferenças e semelhanças em
comparação à Afrodisíaca. Capto novos detalhes que filtro para
melhorar o meu desempenho sexual.
— OOH... HUMM — começo a soltar gritinhos de prazer quando
sinto meu orgasmo se aproximando avassaladoramente, imbatível,
invencível, e então acelero, me sentando sobre Aline, abrindo as
suas nádegas e vendo meu cacete entrar em sua xoxotinha. Fodo
mais, em frenesi, ultrapassando meus limites e explodo, caindo
sobre a mulher com o coração retumbante, enquanto algumas partes
do meu corpo formigam, o orgasmo que me possui
maravilhosamente.
Deito ao seu lado, rindo, vendo-a embevecida comigo, e recebo
seu sorriso também. Olho para o meu pau e vejo que ele ainda está
rígido, com a ponta da camisinha cheia de esperma. Jogo-a fora e
levanto sob o olhar de Aline que tenta controlar a respiração. Vou até
a minha carteira, pego mais um preservativo e encapo meu pau
novamente, deixando a mulher embasbacada. Retorno a cama e
começo tudo de novo, mais duas vezes.
Estou a uma hora vendo Aline dormir nua e pensando
constantemente nas palavras de Érica.
“— Preciso de provas.
— O quê?
— Tira umas fotos. Não, melhor, faz um vídeo pra mim.”
Minha consciência está pesada, estou em um conflito mental,
indeciso, sem saber se faço ou não o que me foi incumbido. Para
que diabos Érica quer essa maldita foto? Não farei vídeo, vídeo não,
vídeo é pior ainda. Pego o celular que deixei debaixo do travesseiro,
lentamente, receoso, com uma culpa enorme consumindo o meu
peito, e o abro na câmera fotográfica. Engulo em seco, preparo o
dedo para pressionar a tela e fazer a foto, mas desisto, baixando o
aparelho.
E se Érica quiser prejudicar Aline com isso? E se essa foto for
parar com o marido dela? Tenho que tomar cuidado, eu posso causar
uma tragédia.
Mas, por outro lado, quero Érica eternamente, ela disse
eternamente. Essa é a única forma de tê-la para mim sempre que
quiser. Talvez nós possamos namorar escondido, não sei. Quero ser
tudo para ela, quero provar que sou o macho do qual precisa. Que
não sou como o merda do José, que posso fazer o que ele não pôde.
Preciso provar o meu amor.
Meus olhos enchem de água enquanto ergo o celular
novamente. Gesticulo os lábios em um pedido de desculpas para a
mulher adormecida em minha frente, e aperto o botão digital. Mas,
para a minha surpresa, o flash da câmera é disparado.
— Apolo... o que está fazendo? — me indaga Aline, sonolenta,
acordando devido à luz eu refletiu na a sua cara.
— Nada — fico nervoso
— Você está... me fotografando? — indaga, incrédula.
Deu ruim, ela percebeu, e agora?
DUAS VERSÕES

“— ALINE! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ, ABRA A PORTA! —


grita um homem, e pelo seu tom de voz, parece estar furioso.”

A expressão de Aline se torna mais séria.


— Responde, Apolo. Você me fotografou?
— Claro que não, disparou sem querer. Por que eu iria te
fotografar? — tento não passar nervosismo.
Ela me analisa por alguns segundos, acho que está em dúvida
se acredita em mim ou não. Percebo a merda que estou fazendo,
meu coração se enche de culpa e apago a foto sob seu olhar, para o
bem dela e para o meu. E assim, Aline relaxa a expressão e sorri
para mim, acariciando o meu rosto enquanto travo o celular e guardo
debaixo do travesseiro novamente.
— Foi sem querer — repito, para tranquilizá-la ainda mais.
— Tudo bem — diz, me olhando com um certo encanto. —
Sabia que o castanho dos seus olhos é lindo? Sem os óculos dá
para ver melhor — me elogia.
— Gostou do sexo? — pergunto. Tenho a necessidade de saber.
— Adorei... Você me fez muito bem hoje, não imaginava que
seria assim — ela me beija, um beijo doce, e percebo que realmente
não posso fazer o que Érica pediu. — Mas a minha consciência
ainda está pesada, penso na minha família. Apolo, você entende a
gravidade do fato de eu estar aqui contigo, não entende? Não
podemos ser vistos juntos.
— Não seremos — confirmo, com sinceridade, e a abraço.

À noite, espero Victor ir para a boate e vou a casa da Érica


decidido a desistir de tudo. Estamos perto da piscina, Olavo brinca
na sala, e a Afrodisíaca está puta da vida com as notícias que acabo
de lhe dar.
— Quer dizer que você transou com ela, fez a foto e depois
apagou? — pergunta, irritada.
— Sim — confirmo.
— Por que fez isso, Apolo? — rosna, andando de um lado a
outro com a mão na cintura.
— A Aline não merece isso, ela é uma boa pessoa, Érica —
argumento. — Ela tem família. Para que essa foto? Tu não me diz
nada, não me explica nada, não posso fazer algo assim...
— VOCÊ É UM FROUXO! — vocifera, me assustando e me
magoando. — Um frouxo como o José...
— Não me compara àquele imbecil, eu fiz o que queria, transei
com ela. Esse era o nosso acordo inicial, não tinha esse negócio de
foto nem vídeo...
— Como vou acreditar que o que diz é verdade?
— Não estou mentindo! Por favor, confia em mim! Me diz, pra
quê essa foto?
Ela suspira exasperada, com a mão na testa. Não esperava que
reagisse tão irritada assim.
— Esquece isso, eu quero você. Fica comigo, vamos deixar a
Aline pra lá... — minha voz sai quase como um imploro.
— NÃO! — grita, me olhando com ódio. — Sai daqui! Sai da
minha casa!
— Érica... — meu coração está apertado.
— Desapareça! — ela me empurra, me destruindo de vez.
— Talvez se me contasse o porquê disso tudo, eu...
— SAI! — berra, apontando para o caminho que devo seguir, e
sigo, arrasado.
Chego ao meu quarto e jogo-me na cama, pensando no que
acabou de acontecer. Gostar de outra pessoa assim não é legal, pois
sinto cada reação dela para comigo intensamente, seja boa ou ruim.
No dia seguinte, na escola, não consigo absorver absolutamente
nada das aulas, tudo parece tedioso, e meus pensamentos estão
distantes, voltados para a minha vizinha. Sinto uma tristeza imensa
em todo o meu ser, e vago por milhares de lembranças do que
aprontei nos últimos tempos.
— Apolo! — chama Vanessa, estalando os dedos na frente do
meu rosto, me despertando de meu próprio transe. — Acorda garoto,
está dormindo?
— Acho que sim — digo, ajeitando os óculos e olhando-a sem
graça
— O que foi? O que aconteceu? Por que está triste assim?
— Nada — respondo, frio.
— A campainha tocou, estamos no intervalo. Não quer sair?
— Ah... Não.
— Se quiser eu te faço companhia — se oferece, sei que está
afim, mas não estou com cabeça para outra pessoa nesse momento.
— Desculpa Vanessa, mas prefiro ficar sozinho agora — digo, e
a menina se afasta, triste também.
Alguns dias se passam, e Érica não responde a nenhuma das
minhas mensagens, o que me fere cada vez mais. Enquanto isso,
recebo algumas mensagens de Aline que não são correspondidas, e
percebo que ela realmente gostou de ficar comigo.
Ando sem concentração para nada, sem vontade de sair do
quarto, e Victor acaba percebendo. Ele é o meu pai, ele me conhece.
— Quer contar pra mim o que está acontecendo? — pergunta.
Estamos em meu quarto, na minha cama. Sei que se não lhe der
uma desculpa, ele não vai me deixar em paz.
— Briguei com a Tati, nós terminamos — minto, mais uma vez.
— Agora entendo porque anda cabisbaixo. Filho, é normal sofrer
com o primeiro amor, é normal. Mas seja forte, há muitas garotas no
mundo. Você é um rapaz bonito, inteligente. Vida que segue — ele
passa a mão em meu cabelo, e estico um sorriso fraco para ele. —
Hoje vou para a boate, por que não vem comigo? Tenho certeza que
a Alcateia vai te distrair bastante.
— Não, não tô afim. Deixa para a próxima — digo, e ele
concorda.
— Sua mãe me mandou mensagens dizendo que você não a
atende — avisa, enquanto caminha para a porta.
— Ah, vi umas chamadas perdidas, irei atendê-la depois — a
verdade é que não estou afim de falar com ninguém.
À noite, após as 20h, depois que Victor vai trabalhar, salto da
cama feito um louco quando recebo uma mensagem de Érica, me
chamando. Tomo banho em uma fração de segundos, ponho uma
roupa melhor, me perfumo, me penteio, e corro para a sua casa, sem
saber o que esperar, mas imaginando o melhor possível. Será que
ela finalmente resolveu deixar essa loucura com Aline pra lá e ficar
comigo?
Pulo o muro, e ao entrar na casa não vejo ninguém, o silêncio
impera. Subo a escada, a porta do seu quarto está aberta, como na
nossa primeira vez. Sigo para o banheiro, ansioso, mas ela não está
lá. Ouço uma música sensual e caminho para o closet, entro pela
portinha e a encontro no quarto secreto, vestida de cam girl, toda
sexy, para me matar de tesão. Sorrio para sua imagem, fascinado, já
envolto em seu forte erotismo.
Érica está em pé, no canto da parede, vestida em um look todo
preto, meias longas e apertadas que contornam suas coxas
torneadas, calcinha fio-dental enfiada em sua bunda com força,
cinta-liga que passa por suas nádegas, me excitando, e um sutiã que
deixa os bicos dos seios fartos de fora, mas eles estão tampados
com fita isolante preta em forma de X. No rosto, há uma máscara
transparente que, diferente da que costuma usar em frente à câmera,
possui orelhas de coelhinha, uma tentação absoluta. Que mulher!
Seu cabelo está solto, o que a deixa ainda mais sexy.
Me encontro boquiaberto, a desejando mais que tudo na vida.
Como estava com saudade!
— Oi Apolo, está preparado para mim? — indaga, com a voz
sexy, fazendo meu pau estremecer na cueca sob seus olhos
sedentos.
— Estou — respondo, maravilhado, mordendo o lábio inferior,
com muita vontade de possuí-la agora mesmo.
Não espero que diga mais nada e tiro toda a roupa e os óculos,
caminhando nu e quente até ela em seguida. Nós nos agarramos
selvagemente e roço meu pau ardente contra seu abdômen
enquanto sinto suas unhas arranharem as minhas costas com
voracidade. Trocamos gemidos em sussurros libidinosos e
queimamos um ao outro com o fogo intenso que emana de nossos
corpos.
Retiro vagarosamente as fitas que cobrem o bico do seu seio
direito, fazendo-o aparecer entumecido para mim, inchadinho, e
mamo nessa teta, faminto, sedento, enquanto a Afrodisíaca ri em
devassidão, arrastando as unhas por meu coro cabeludo, me
puxando para ela ao mesmo tempo em que acocho nossos corpos
um contra o outro e aperto suas nádegas com força incomum.
— Eu estava com tanta saudade de você, meu lobo mau... Meu
macho! — geme, em meu ouvido, me fazendo rir encantado e beijá-
la mais vezes, enrolando nossas línguas com sofreguidão.
— Também estava louco de saudade — confesso, chupando
seu pescoço, e depois retirando a fita do seu outro seio e mamo nele
igualmente, com muita vontade.
— Vem... hoje eu quero que coma o meu cuzinho — declara, e
olho-a incrédulo, hipnotizado.
Em minutos, estamos na cama, ela de quatro como uma puta
deliciosa, com o busto e o rosto no colchão e a raba carnuda e
imensa para o alto, toda melada de óleo. Continuo a espalhar o
líquido cintilante por toda sua região íntima, maravilhado com o
paraíso que se forma à minha frente. Em seguida, lubrifico o meu
pau também e me ergo sobre a Afrodisíaca, prendendo-a entre
minhas pernas. Meu cacete está tão duro que chega a doer quando
o envergo para baixo para poder posicionar a cabeça massuda e
avermelhada na entrada do orifício da minha vizinha, que pisca, me
chamando, me alucinando.
Tento enfiá-lo à primeira vez, mas a vara escorrega e bate
pesada contra meu abdômen, fazendo um som agudo, e isso
acontece mais duas vezes, pois sinto resistência ao tentar abrir
espaço no cuzinho da minha gostosa.
— Oooh... — ela mia ao sentir minha rola invadi-la por trás, a
minha carne amassando para abrir espaço no buraquinho dela que
se contrai, como se tentasse me expulsar, e isso me leva à loucura.
Rujo em gemido, fechando os olhos, enquanto levo o quadril para
baixo. A estocada é de cima para baixo e está fora do comum.
Nunca comi um cu antes, Érica é a minha fonte completa de
prazer, está me fazendo descobrir todos as nuances do sexo, retirou
a minha virgindade, me faz experimentar a sua bunda agora, e me
lava à insanidade.
Espalmo o seu bumbum melado de óleo e me enfio um pouco
mais por seu reguinho, abrindo o seu esfíncter anal à uma espessura
da qual não parece acostumado. Érica tenta fugir de mim em alguns
momentos, levando a raba para frente, querendo meio que
engatinhar, mas a seguro pela cinta-liga, puxando-a de volta. E vê-la
assim, nessa roupa sensual com meu caralho espocando seu
cuzinho, me faz gemer a quase todo instante.
— Seu pau é muito grande, Apolo... vai devagar senão não vou
aguentar — ela implora, e espalmo sua traseira novamente,
afundando até a metade em seu orifício quente e molhado. As
vibrações e contrações do seus músculos anais são diferentes das
que recebi na sua boceta. Está tudo mais apertado, a pressão bem
maior, a dificuldade de entrar por completo, e isso me causa um
prazer inigualável, não imaginava que era assim.
Em minutos, estou a arrombando feito um cavalo desesperado,
enterrando todo o meu pau em seu rabo, esfolando mesmo, fodendo,
bombando, metendo, socando, enfiando, atravessando o seu corpo
com minha vara imensa, negra, grossa e violenta. Estoco com
vontade, batendo os ovos inchados em suas nádegas vermelhas de
apanhar, dominado pela euforia da luxúria.
Estou tão empolgado com essa reconciliação, com o nosso
retorno, e com esse presente inesperado, que me entrego a ela
como nunca antes, dando tudo de mim, sendo um terremoto como
Victor me ensinou. A cama está cada vez mais bagunçada, os
lençóis vermelhos em confusão total enquanto judio da minha
vizinha, abuso com vontade e faço dela o meu brinquedinho sexual.
O negócio está tão bom que é a primeira vez que gozo antes
dela, ejaculando todo o meu esperma em seu orifício, o atolando, o
enchendo do fruto do meu prazer. Os sêmens escorrem, melam as
suas coxas, mas ela me demonstra ainda não estar satisfeita.
A Afrodisíaca monta em mim e me cavalga como uma amazona,
e nossa foda imoral só acaba três horas depois, após várias
posições. Ela me destruiu, me deixou em pedaços de lubricidade,
arrancou tudo o que podia de mim hoje, e estou ainda mais
apaixonado. Também fui recíproco, a fiz gozar várias vezes e
comprovar que nos damos muito bem na cama.
Agora estamos exaustos, trocando sorrisos e beijinhos doces e
aquecidos. Érica está toda vermelha e descabelada, com partes da
roupa rasgadas por mim.
— Esse foi... Com certeza, o melhor sexo da minha vida —
revelo, aos sussurros. — Você é o meu sonho, obrigado — Érica me
beija, pondo a coxa sobre minhas pernas.
— Nunca pensei que um garoto nerd, tão tímido e gentil,
pudesse ser esse furacão na cama.
— Achei que tinha te perdido, desculpa por não conseguir fazer
o que me pediu...
— Eu que devo te pedir desculpas por não ter deixado as coisas
claras desde o início. Devia ter contado por que te fiz fazer tudo isso,
mas é que lembrar, dói demais — revela, com um olhar distante e
tristonho.
— Conta pra mim, quero te entender, quero te conhecer —
afirmo.
Érica respira fundo e deita sobre meu peitoral.
— Parece tão clichê, mas só entendemos do que as pessoas
são capazes de fazer quando passamos pelo que elas passaram,
quando sofremos como elas sofreram, quando sentimos a morte
chegar tão perto... — sua voz falha, e sinto uma lágrima sua molhar
a minha pele. Não sei o que dizer, tudo me parece confuso, mas
deixo-a continuar se expressando.
A Afrodisíaca respira fundo e prossegue:
— Aline era a minha melhor amiga na faculdade, anos e anos
atrás. Até que eu conheci um cara perfeito, o meu primeiro grande
amor, o amor da minha vida. Na época eu era inocente, acreditava
que tudo era cor de rosa, e não percebi quando ela começou a se
jogar para cima dele, a criar uma ponte entre nós, nos distanciando
justamente quando estávamos prestes a casar.
— Você quer dizer que...
— Ela me traiu, seduziu o meu noivo e o tomou de mim.
Inventou uma mentira profunda que fez ele não me querer mais e me
largar. Quando descobri, era tarde, mas ainda assim, insisti, e tentei
de tudo para lhe mostrar quem era ela de verdade, mas aí, fui
capturada por um homem desconhecido, que me levou para um local
deserto e me espancou muito... Muito Apolo, até eu perder o bebê
que estava esperando.
— Bebê? — pergunto, embasbacado, chocado.
— Sim, o filho do meu noivo. Eu também ia contar a ele que
estava grávida, mas Aline descobriu tudo antes e mandou aquele
monstro para me matar. Ele me jogou em um rio que havia por perto,
achou que eu estava morta, mas a verdade é que me bateu tanto
que desmaiei. A água me acordou ates de me afogar, e quando
emergi, estava sozinha, no escuro da noite, e tive que conseguir
forças da alma para pedir socorro. Só consegui sobreviver porque
prometi a mim mesma naquela ocasião, após sair da água, que me
vingaria.
— Como pode ter certeza que foi Aline? — pergunto,
amedrontado.
— Ouvi o monstro que me espancou atender a uma ligação
antes de me jogar na água, e ele disse o nome dela.
Continuo pasmo e incrédulo, pois conhecendo o pouco que
conheço de Aline, uma mulher frágil, triste, machucada, jamais diria
que seria capaz de uma atrocidade dessa magnitude.
— Não sei o que dizer. Na verdade... estou confuso. Quando,
quando isso aconteceu? — pergunto, sentindo um compadecimento
enorme por ela.
— Há dezoito anos. Éramos todos muito jovens, tínhamos
dezoito na época, e já se passam a mesma quantidade de anos.
Desde então, lutei para sobreviver sozinha no mundo com a minha
irmã, pois, como passei um bom tempo em um hospital qualquer,
sem identificação, me recuperando sem poder me comunicar direito,
meu pai, que já era de idade, achando que eu estava morta devido
ao desaparecimento, fez greve e não tomou mais os remédios que
precisava para controlar uma doença grave que tinha e acabou
falecendo.
— Meu Deus... — comento, em choque.
— Por influências, acabei me tornando cam girl, foi a forma que
encontrei de ganhar algum dinheiro. Depois de alguns anos, conheci
um dos meus clientes, um senhor de quase sessenta anos, rico e
recentemente viúvo. Sua jovem esposa morreu no parto e lhe deixou
um filho, Olavo.
— Olavo não é seu filho? — pergunto, impressionado.
— O considero como tal, eu casei com o senhor e o criei, o amei
como se fosse meu, mas a verdade é que, quando sofri o atentado,
não perdi somente o meu bebê, mas também... adquiri dificuldade
para engravidar — ela chora, as lágrimas molham o meu peitoral, e
isso me devasta. — Tentei esquecer do passado com a minha nova
relação, me entreguei ao meu marido de corpo e alma assim como a
Olavo também. Mas... A verdade é que nunca consegui curar essa
ferida. Sou seca e amarga por dentro, Apolo, e depois que vim para
cá, após ficar viúva, dei início ao desejo oculto por dezoito anos: me
vingar de Aline.
— Então é por isso que você queria que eu dormisse com ela? É
por isso que queria que tirasse uma foto, porque você quer mandar...
— Para o idiota que até hoje está com ela. Quero acabar com
essa vadia, com a família dela, e lhe arrancar tudo que um dia me
pertenceu, tudo que era para ser meu — Érica enxuga as lágrimas
com a mão, choramingando. — Mas depois que você e José
desistiram de me ajudar, percebi que jamais conseguirei realizar o
meu desejo — ela se senta na cama, e eu também, ficando à sua
frente.
— Érica, eu sinto muito. De verdade mesmo. Jamais imaginei
tudo isso, e... Estou devastado por você. Mas... Será que vale à pena
se vingar? E depois de tantos anos? E... O casamento da Aline já
está indo por água abaixo, o marido trai ela constantemente, você
não precisa...
— Preciso — rosna, decidida, e depois baixa a cabeça. — Mas
sozinha não obterei sucesso.
Fico sem saber o que lhe dizer, pois mesmo sabendo agora de
tudo isso, não sei se consigo realizar o seu pedido. Estou confuso
ainda, é muita loucura, muita informação.
— Não se preocupe, não estou mais te pedindo nada. Hoje te
chamei aqui porque estava com saudade, e também para me
despedir.
— Se despedir? — indago, assustado.
— Sim, estou indo embora. Não posso mais ficar aqui nessa
cidade, lembrando dessa ferida. Não posso continuar contaminando
você também. Eu contamino todos à minha volta por causa do que
sofri. Vou embora e sumir do mapa com o meu filho para o mais
longe possível.
— Mas não pode fazer isso — digo, segurando no pulso dela.
Érica sorri, sem humor.
— É claro que posso, Apolo, nada mais me prende aqui. Sem a
minha vingança não me sentirei completa, viva, e se ficar neste lugar
será ainda pior, pois a lembrança sempre estará acesa em mim.
— Mas...
— Sem “mas” Apolo, por favor. Respeite a minha decisão.
Ela estica um sorriso, agora mais verdadeiro, e acaricia o meu
rosto.
— Já notou a quantidade de pelinhos aqui no seu queixo? Você
amadurece fisicamente muito rápido, garoto.
— Acho que o nosso sexo tem contribuído nisso, sabe. Os
hormônios... — ela gargalha da minha piada, enxugando os olhos
novamente, e é lindo vê-la assim.
— Eu vou te falar uma coisa agora, e quero que saiba que é a
mais sincera que já disse para alguém em toda a minha vida: você
foi o melhor amante que já tive em minha cama, Apolo.
Isso me agrada tanto que nem sei explicar. E então nos
beijamos, um beijo de despedida que parte o meu coração.

Nos dias seguintes, não consigo fazer nada bem, não durmo
direito, nem estudo, como, ou sequer consigo pensar. Só uma coisa
domina a minha mente: a mulher que amo vai embora, e nunca mais
irei vê-la outra vez. Como conseguirei viver sem Érica perto de mim?
Como ficarei sem o seu sorriso, sem o seu toque, perfume? Isso não
está certo, isso não pode acontecer!
Pior que sei que há uma possibilidade de fazê-la ficar, continuo
recebendo mensagens de Aline perguntando por mim. Estou
fortemente indeciso, Aline não me parece essa pessoa terrível que
Érica diz ser. Será mesmo que ela cometeu tudo aquilo? E se sim,
vale a pena ajudar a Afrodisíaca a concretizar essa vingança? Como
uma pessoa é capaz de guardar um sentimento tão obscuro desses
por dezoito anos? Como isso não se apagou da sua mente, da sua
existência?
Entretanto, pensando bem, o fato dela não conseguir nunca
mais engravidar por causa da surra que levou é uma lembrança para
toda a vida, realmente. E o filho que ela perdeu? E o amor da sua
vida? Meu Deus, isso tudo é tão macabro que chega a me deixar mal
só de imaginar essa loucura acontecendo, mesmo que em um
passado remoto.
Já não tenho mais unhas para roer e ando de um lado a outro do
quarto, nervoso, pensativo. Minha cabeça está um verdadeiro vulcão
em erupção com tantos pensamentos, acho que vou enlouquecer.
Meu coração bate pesado, e sigo para a varanda. É de manhã, Victor
está dormindo, Val está lá embaixo, na cozinha, e vejo um caminhão
no portão de Érica, com homens carregando tudo seu para dentro
dele. O filme parece se repetir, só que de modo contrário.
E assim, vejo-a aparecer, maravilhosa, de óculos escuros,
segurando a mão do pequeno e fofo Olavo. Os homens trancam as
portas do caminhão, falam com ela e se vão. Meu Deus! NÃO
POSSO DEIXÁ-LA IR!
Recebo uma mensagem de Aline:
ALINE: Onde está você? Desistiu da academia? Quero te ver.
Corro, saindo do cômodo, olho pela porta de Victor e o vejo
dormindo. Desço como um furacão pela escada e irrompo pela porta
de saída no momento em que a cam girl está dando uma última
olhada na fachada da casa.
— Meu herói! — exclama Olavo, quando me aproximo, e me
agacho para abraçá-lo. — Nós estamos indo embora! — me avisa.
— Eu sei — falo, tentando controlar meu desespero.
— Achei que não vinha se despedir — comenta Érica. Largo
Olavo e me ergo, olhando-a seriamente.
— Eu faço — afirmo, decidido. — Eu faço tudo por você. Não vai
embora, por favor — chego quase a implorar, mas consigo abrir um
sorriso de esperança nos lábios da Afrodisíaca.
Ela olha em volta, cuidadosa, observando se ninguém está nos
vendo.
— Faça então, que eu volto — me diz, e trocamos olhares por
longos segundos. Em seguida, Érica pega na mão do pequeno e
ambos entram no carro, indo embora. Ela me deixa aqui, com
esperanças, e com a certeza de que somente eu posso fazê-la
regressar.

Hoje é o grande dia, mais uma vez. Saio de casa com a


desculpa de seguir para a academia, mas a verdade é que chego ao
apartamento de Aline. Como me foi instruído por ela, a porta está
destrancada. Entro, e encontro a mulher no quarto, sentada na
cama, me esperando, com roupa de malhar assim como eu. Respiro
fundo e tranco a porta.
— Oi — ela diz, sorrindo, levantando e me abraçando com
saudade, o que me surpreende.
— Oi — digo, a correspondendo, mas com uma certa
insegurança na alma por toda essa doideira.
Aline mira meus olhos por alguns instantes.
— O que foi? Está tenso?
— Nada... Não estou, não. Está tudo bem — minto, tentando
transparecer verdade. Aline me beija e a correspondo da melhor
forma possível. — O que é aquilo? — pergunto, vendo um grande
livro velho na cama.
— É um antigo álbum de fotografias abandonado que encontrei
aqui, há fotos até mesmo de quando eu morava neste apartamento,
antes de casar — diz, me puxando pela mão e sentamos na cama.
Ela abre o álbum e passa a folheá-lo, me mostrando algumas fotos,
todas bem antigas. — Olha, aqui sou eu na faculdade de pedagogia.
— Você continua muito bonita — elogio, e trocamos olhares.
Depois aparece a foto dela beijando um homem de óculos escuros,
em um lugar verde e ensolarado. — Seu marido?
— Sim. Nessa época achava que ele era o melhor homem do
mundo. Ainda estávamos namorando aqui — comenta, enquanto
raciocino que esse é o tal amor da vida da Érica, o homem que Aline
roubou dela.
Mais uma página é passada e há uma foto dos dois abraçando
uma mulher. Analiso bem o rosto dela e reconheço: Érica!
— Quem é essa? — pergunto, apontando para a pessoa.
— Ah, é mais uma das aventuras do meu marido, e também
mais uma das minhas grandes decepções — responde, parecendo
relembrar, com a voz triste.
— Como assim? — tento não demonstrar a minha confusão
mental.
— Ah, não gosto nem de lembrar.
— Fiquei curioso, me conta, por favor. — insisto.
— O nome dela é Érica, uma amiga da faculdade, pelo menos
eu achava que era, né. Na época ela estava passando por
necessidades, o pai estava muito doente, os remédios eram muito
caros, fora as contas da faculdade. Então, a indiquei para ser
secretaria do João, meu marido, na época ainda noivo. Como fui
burra, isso foi a pior coisa que fiz. Desde então, o meu
relacionamento se tornou um inferno, ela causou muitas intrigas e
eles tiveram um caso. E no dia que marquei a data do casamento,
Érica me contou tudo, inclusive que estava grávida.
Fico chocado, a versão de Aline é completamente diferente da
versão da Afrodisíaca.
— Fiquei arrasada, é claro, e decidi acabar com tudo, só que
João não aceitou, ele ficou correndo atrás de mim todo tempo. Disse
que havia se separado de Érica, e que ela havia perdido o bebê.
Achei tudo meio estranho porque depois disso ela sumiu, e com o
tempo... Como eu amava esse canalha, me deixei envolver com ele
novamente. Então casamos, e agora vivemos essa vida infeliz, de
aparências. João gosta de se iludir, de achar que tudo ainda está
perfeito.
"Se eu tivesse sido esperta o suficiente para raciocinar que, se
ele já me traía no namoro, consequentemente me trairia no
casamento, mas não fui. Porém, ele foi astucioso e me engravidou
logo, para me prender. Contudo, amo os meus filhos e agradeço
todos os dias por tê-los, e eles idolatram o pai, você nem imagina.”
Continuo sem saber o que pensar, e só tenho certeza de uma
coisa: Érica chegou mesmo a ficar grávida.
Vejo a foto de um casal de crianças.
— São eles? Seus filhos? — indago.
— Sim.
— Quer dizer que você nunca mais ouviu falar dessa tal de...
Érica?
— Algum tempo depois do casamento, meu marido recebeu
uma carta dela em que prometia vingança contra ele.
— Contra ele? — estou curioso.
— Sim, meu nome nem mesmo foi citado no papel. Ela disse
que se vingaria por tudo que ele fez a ela. Perguntei o que foi esse
“tudo” e ele me disse que Érica só podia estar inconformada por ele
ter ficado comigo e não com ela.
Fico tentando assimilar essas novas informações, estou pasmo
de verdade. São duas versões, qual a verdadeira? Quem é a
verdadeira vítima? Quem traiu quem? Que dúvida!
— Mas vamos parar de falar disso. Não gosto de lembrar desse
passado horrível. — sou beijado novamente. Aline busca mais por
mim, querendo sexo, e nos deitamos. Disso não posso fugir, é a
minha desculpa de ter vindo para cá, mas de algo tenho certeza, não
irei fotografá-la, não enquanto eu não tirar a limpo toda essa história
que é totalmente controversa à primeira que me foi contada.
Dessa vez, Aline fica menos tímida e se entrega a mim sem
pudores. Nós transamos loucamente, pois, apesar de possuir
segundas intenções, não quero deixá-la a desejar. Por algum motivo,
criei empatia, gosto dela, Aline me parece ser uma boa pessoa, e
mesmo que não, quero que tenha prazer comigo.
Ela geme alto enquanto eu a fodo com gosto. A mulher está
enlouquecida sob mim, contudo, batidas violentas na porta nos
interrompem.
TUM! TUM! TUM! TUM! TUM! TUM!
— ALINE! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ, ABRA A PORTA! —
grita um homem, e pelo seu tom de voz, parece estar furioso.
Nós saltamos da cama desesperadamente.
— É o meu marido! Como ele veio parar aqui?! — indaga ela,
em pânico, falando em sussurros.
— Será que te seguiu? — pergunto, no mesmo tom.
TUM! TUM! TUM! TUM!
— ABRE! QUERO SABER QUEM É O FILHO DA PUTA QUE
ESTÁ AÍ COM VOCÊ! — a maçaneta da porta gira com força,
tentando ser aberta, e em seguida ouço chutes potentes que fazem
meu coração disparar amedrontado, merda!
— Você tem que sair daqui! — diz Aline, aterrorizada, pegando
minha roupa do chão e me entregando. — Ele tem uma arma, pode
ter trazido.
— E você? Não pode ficar!
— Não, eu me resolvo com ele, agora vá embora!
— Mas por onde? — pergunto, sem saber o que fazer, pegando
meus óculos e celular enquanto Aline me empurra para a janela. —
Preciso me vestir! — afirmo, mas ouvimos mais um chute estrondoso
que prevê um arrombamento.
— Não dá tempo! — diz, olhando pela janela, desesperada. —
Acha que consegue chegar no apartamento ao lado?
Ouço o som de um tiro, e sem pensar duas vezes, atravesso a
janela, colocando os pés na borda da parede que circula toda a
estrutura do prédio, que só cabe o cumprimento dos meus pés
mesmo, nem um centímetro a mais ou a menos. Olho para baixo,
estou no terceiro andar, e chego à conclusão de que VOU MORRER!
— Vai, vai! — Aline me apressa, desesperada, depois fecha a
janela, e ouço a porta ser arrombada quando dou o primeiro passo
para o lado, em direção à janela do próximo AP, rezando para
conseguir chegar até lá. Meu Deus!
Arrasto os pés, um de cada vez, numa tremedeira sem fim,
morrendo de medo de cair lá embaixo e nervoso com toda essa
pressão! Olho para baixo, nervoso, ofegante, engolindo em seco, e
vejo algumas pessoas e carros passando de um lado a outro. Minha
bunda nua arrasta na parede. Com a mão que seguro minha roupa,
tapo a minha rola que está murcha de pavor, parece até que vai
sumir.
Sinto uma tontura e resolvo não olhar mais para a queda livre à
minha frente, e pisco. O vento sopra, me arrepiando todinho, ouço
Aline discutindo com o marido e arrasto os pés novamente, bem
devagar, fechando os olhos, tentando não morrer esmagado no
chão.
— Droga... — sussurro, pois odeio altura.
Chego à janela do apartamento vizinho, mas está trancada e
não há ninguém lá dentro. Bato em pedido de socorro, e uma idosa
aparece, ela se assusta tanto com a minha imagem, que derruba seu
prato de sopa que se espatifa no chão e em seguida desmaia.
Nossa! E agora? Fico ainda mais desesperado, sem saber o que
fazer. E então, vejo um carro conhecido estacionado do outro lado da
rua, cuja motorista está me fotografando com uma câmera
profissional. Me fotografando? Mas quem...
— Érica... — murmuro, em choque. É ela! O que está fazendo?
Não consigo entender. A Afrodisíaca troca olhares comigo, e em
seguida vai embora, sem me prestar nenhum socorro, e meus olhos
imediatamente se enchem de lágrimas, fico boquiaberto. Fui traído!
Foi tudo uma armação! Foi ela que trouxe o marido da Aline aqui!
— EI! VOCÊ É O HOMEM-ARANHA? — grita um menininho lá
de baixo, para piorar tudo de vez!
— Merda! — xingo, e continuo andando até o final da parede,
arrastando um pé de cada vez, mais depressa, me cagando de
medo, com o coração quase saindo pela boca.
— OLHA MAMÃE! O HOMEM-ARANHA PELADO! OLHA! —
continua gritando o capetinha, chamando a atenção da sua mãe, que
sai de uma loja e acaba me vendo também.
— EI MOÇO, NÃO FAÇA ISSO! MEU DEUS! SOCORRO! ELE
QUER SE MATAR! — berra a mulher, chamando a atenção das
pessoas na rua.
— DESGRAÇADO, COVARDE, SAI DA MINHA FRENTE! ELE
VAI TER O QUE MERECE! — ouço a voz do marido furioso e em
seguida a janela abrindo.
— NÃO, PARA! — grita Aline.
Olho para todos os lados, procurando uma saída, até que vejo a
parte externa do ar-condicionado de um dos apartamentos do andar
de baixo, e sem pensar direito, pulo bem em cima dele. Mas o
negócio não consegue sustentar o meu peso, e acabo caindo
novamente.
— AAAH! — grito, em pânico, ouvindo o som de tiro às minhas
costas, e por sorte, caio dentro da caçamba de uma carreta cheia de
areia que passa no exato momento da queda. Não consigo ver mais
nada, apago.

Após uma tarde inteira de sexo incrível com a minha ruiva, a


minha namorada, estamos deitados na cama, completamente
pelados e finitos, cansados. Beijo-a novamente, um beijo gostoso e
lento.
— Agora que sou oficialmente sua namorada, quando vai me
levar para dar a notícia ao Apolo? — indaga ela, sorridente.
— Pensei em falar com ele primeiro, a sós — digo.
— Por quê? Acha que ele não irá aceitar.
— Não, acho que meu filho encarará isso de boa. É, pensando
bem, não há nada demais. Quer que façamos isso hoje?
— Ir na sua casa? Hoje?
— Sim. Quer?
— Claro! — ela pula em cima de mim e me abraça bem forte,
me presenteando com milhares de beijos.

Após acordar a ponto de ser soterrado com toda aquela areia


que seria despejada em uma construção, consigo a ajuda do
motorista que chama um táxi pra mim e me dá uma toalha para me
cobrir, já que perdi minhas roupas na queda, mas o celular estava
comigo quando acordei, descarregado. O homem ri da minha cara o
tempo inteiro, mas o táxi chega e vou embora.
— Aqui, nesta casa aqui — digo ao motorista, e ele estaciona.
— Que horas são, moço?
— Sete da noite — responde o homem, rindo de mim. — Pode
ir, não vou lhe cobrar a viagem, nem tem roupa coitado, imagine
dinheiro — e gargalha. O olho com desejo de que seja levado da
face da terra, mas resolvo simplesmente descer do carro, que em
seguida vai embora.
Vejo um dos automóveis do meu avô estacionado na frente de
casa.
— Vovô... — murmuro, preocupado. Esse dia só tende a piorar.
Olho em volta, não há nenhum vizinho por perto. Resolvo entrar
pela área da piscina, corro para o portão da garagem e pulo o muro.
Encontrando Kenai do outro lado que começa a latir para mim:
Au! Au!
— Shiii, Kenai! Sou eu... para! — sussurro, entrando em
desespero novamente ao ver o animal raivoso em minha direção.
AU! AU! AU!
— Não Kenai! Para! Para! — ele puxa a minha toalha em uma
mordida e sai correndo para longe, me deixando pelado.
— VALEI-ME JESUS CRISTO!! — vejo Valrene nas portas
duplas, me olhando abismada, ela fecha os olhos e põe as mãos no
rosto enquanto cubro minhas partes íntimas.
— APOLO! — exclama a minha mãe, indignada, surgindo do
nada. PUTA QUE PARIU. Ela chegou de viagem!
— Mãe? — Estou mesmo superlascado, lascado ao extremo,
em nível master!
Então, como única alternativa, e pensando rápido, largo o celular
e me jogo na piscina para que não me vejam mais assim. Nada pode
ser pior do que isso! Nada! É o meu fim!
TEMPESTADE

“Droga, ainda a amo, ainda a quero,


mas é tarde demais!”

Estou completamente indignada e preocupada ao ver meu filho


nessa situação! Nem em meus piores sonhos iria imaginar que ao
chegar de viagem, após três meses fora, encontraria Apolo assim,
pelado! O que aconteceu?! Por que ele está dessa maneira?!
Caminho até a piscina, vendo-o me olhar como quem prefere
estar com a cara enfiada em um buraco de tanta vergonha
— Meu filho, como é que você me explica isso? O que
aconteceu? — pergunto, sem entender nada, estou um pouco
assustada. Ele parece não saber o que dizer, se mantém calado
enquanto analiso seu rosto. Apolo está muito diferente.
— Valrene, traga uma toalha, por favor. — pede papai, se
aproximando ao lado de mamãe, enquanto a empregada retira as
mãos do rosto devagar, parece chocada.
— Esse menino ainda vai me matar de susto! Ah se me mata! —
comenta ela, indo buscar o que lhe foi pedido. — Minha nossa
senhora, ele tem uma mangueira no meio das pernas! — Val não é
nada discreta.
— Meu Deus, Apolo, três meses longe de você e é assim que te
reencontro?
— Está tudo bem, mãe — diz, de cabeça baixa.
— Não está tudo bem — interrompe dona Leonor, irritada. —
Olha o estado dele. Onde está aquele indigente uma hora dessas?
Cadê o grande pai que você disse, Rivaldo?
— Leonor, este não é o momento para histerias — afirma papai,
a cortando.
Me volto para Apolo, notando manchas vermelhas por seu
corpo:
— Meu filho, olha para você, está todo vermelho, seu lábio está
cortado. O que houve? Onde está seu pai?
— Victor está vindo, enviei uma mensagem a ele — responde
seu Rivaldo.
Val reaparece com um roupão nas mãos, e tenta entregá-lo a
Apolo, virando o rosto para o outro lado.
— Pega, pega, pega logo.
— Tenho que sair da piscina primeiro, né Val — afirma Apolo.
— Então pega dona Laura, vista seu menino — ela me entrega o
roupão e sai de perto.
Todos viram as costas e Apolo sai da piscina cobrindo as partes
íntimas com as mãos, e me surpreendo com o seu tamanho e físico.
Meu filho parece mais velho e forte. Onde está o meu bebê? Bem,
ele sempre foi maior do que os garotos da sua idade, porém, agora
possui mais massa muscular e até pelos no queixo e bochecha. Que
amadurecimento corporal tão rápido foi esse? Contudo, penso que
esse corpo definido dele só pode ter sido influência do Victor.
Ele está mais alto do que quando viajei! Colo-lhe o roupão pelas
costas e Apolo termina de se vestir. Após isso, o abraço bem forte,
morrendo de saudades.
— Mãe, estou todo molhado — lembra, mas não dou atenção a
isso.
— Meu filho, que saudade mamãe estava de você — digo, com
lágrimas descendo, de emoção. Apolo me corresponde e me sinto
melhor perto dele. Ele é a minha alma e a minha vida inteira. Meu
único rapaz, meu rapazinho.
— Também estava morrendo de saudades. A senhora demorou
voltar — comenta. — Ah mãe, não chora — pede, enquanto enxugo
minhas lágrimas e em seguida acaricio o seu rosto.
— Meu bebê está tão diferente, cresceu...
— Também está muito maltratado, lembrando a cada dia que
passa aquele... — mamãe desiste de prosseguir ao receber olhares
de todos nós.
— Meu neto, o que houve? Onde está sua roupa? — indaga
meu pai, e Apolo não sabe o que falar, o que me deixa desconfiada.
— Eu... Preciso ir para o meu quarto, me vestir.
— Apolo, responda o seu avô, também quero uma explicação.
Como surgiu aqui do nada? Sabemos que não estava em casa —
digo-lhe, firme, o deixando sem saídas.
— Depois explico, preciso tomar um banho e me vestir primeiro
— diz, seguindo para dentro de casa. Eu o seguro pela mão e o faço
ir junto comigo, ao meu lado.
Ao chegarmos na sala, Henrique, meu namorado, levanta do
sofá e vem em nossa direção.
— Olha filho, esse aqui é o Henrique, que te comentei. Estamos
juntos agora, ele estava com muita vontade de te conhecer —
apresento ambos e eles trocam apertos de mão.
— Esse é o seu filho de dezesseis anos? Nossa, é maior do que
eu — comenta Henrique, rindo, achando curioso o tamanho do meu
filhote, que era cerca de dois centímetros mais alto que ele.
— Pois é, pelo jeito meu bebê cresceu — comento, beijando a
bochecha dele, que faz uma careta.
— Mãe, não me chama de bebê, eu já sou um homem —
reclama, me fazendo franzir as sobrancelhas.
— Você sempre será o meu bebê. Agora vá tomar um banho e
se vestir, pois temos muito o que conversar — aviso, séria, e ele nota
a seriedade no meu rosto, engolindo em seco e indo para o seu
quarto de cabeça baixa, com o celular na mão, que pegou antes de
entrar em casa.
Após o garoto sumir de vista, todos vamos para os sofás e Val
nos serve água.
— Valrene, sei que esse já não é mais o seu horário de trabalho,
estamos tomando o seu período de descanso...
— Tudo bem, dona Laura, fico um pouco mais pela senhora com
muito gosto. Minha mãe ama muito você, até hoje lembra da
senhora, sempre com muitos elogios. — diz ela, feliz da vida, e isso
me compadece.
— Diga a ela que também a amo muito, Val. Veja só, até no
apelido vocês são iguais — sorrio.
— Não há problema se a empregada ficar um pouco mais. O
seu patrão pagará as horas extras, vamos ver se pelo menos para
isso ele serve — dispara mamãe, ela não perde a oportunidade. Oh
céus!
— Ah, pois a madame pode apostar que ele serve sim, não há
patrão melhor que seu Victor.
— Mas com certeza há pais melhores.
— Leonor! — reclama papai.
— Mamãe! Para que tudo isso? Valrene não tem nada a ver com
este tipo de comentário indiscreto.
A empregada caminha rumo à cozinha fazendo um bico de
antipatia pela minha mãe, como é de costume todos que se
aproximam dela fazerem. Ficamos em silêncio por alguns segundos
depois do clima ruim que ela instaurou. Mamãe adora fazer isso.
— Esta casa é muito bonita. Foi aqui que você morou, meu
bem? — pergunta Henrique, puxando assunto e quebrando o gelo.
— Sim, por muitos anos — reflito, olhando cada detalhe do meu
antigo lar, onde fui tão feliz e onde vi essa felicidade ser jogada ao
fogo ardente e impiedoso. Cheguei aqui com vinte e dois anos, hoje
possuo trinta e nove, e às vezes tudo parece que foi ontem.
— E graças a Deus foi embora, estava perdendo a sua vida
aqui.
— Mamãe será que a senhora é impossível mesmo? — indago,
a repreendendo.
— Você e seu pai tentam me calar, mas depois reconhecem que
tudo o que digo é verdade, no final eu sempre estou certa. Acham
que não me entristece ver a situação do meu neto depois que veio
parar nesta casa? Onde está aquele que se diz ser o pai dele uma
hora dessas? Farreando com toda certeza, como sempre fez...
— Não, Leonor, — ouço a voz dele, é forte, grossa, e me arrepia
inteira. Chego a me surpreender com a emoção que me toma só por
ouvir essa voz, após tanto tempo, e hesito em olhá-lo — não apenas
digo ser o pai dele, eu o sou de fato, e estou bem aqui, na sua frente.
Tomo coragem, levanto devagar, e viro, mirando Victor nos
olhos. Esses olhos... tão escuros, tão profundos e intensos, únicos,
como jamais vi igual. Tento renegar as impressões que vêm a mim
agora, mas é impossível, tenho que admitir, ele continua lindo, está
muito mais lindo até. Seu rosto conseguiu se tornar ainda mais
masculino, com traços de homem viril e sedutor que jamais lhe
abandonam. A barba cerrada, os lábios carnudos, as sobrancelhas
grossas e bem desenhadas, e a cor de sua pele chocolate, tão
chamativa que me faz engolir em seco.
Não consigo entender por que me sinto assim, tão... estranha,
não esperava por isso, não esperava essas sensações. Por tanto
tempo fugi delas, me distanciei, mas só de ver Victor novamente em
minha frente, tudo parece retornar novamente. Estou mexida, minhas
pernas querem bambear, meu coração parece que vai sair do peito,
mas mantenho a pose, não posso demonstrar nada disso a ele e
nem a ninguém que está nesta sala, principalmente a Henrique.
Além de tudo, Victor está mais forte, sua camiseta justa
consegue desenhar facilmente seus músculos, suas costas largas,
seus braços enormes e bem definidos. Meu Deus, que homem é
esse?
Para Laura! Controle seus pensamentos, não ceda assim,
lembre-se de todo o seu sofrimento. Não se deixe levar pelas
emoções. Mas é muito difícil, principalmente por perceber que Victor
também não para de me observar, nossa troca de olhar parece
infinita — queria muito saber o que ele está pensando. Porém, meu
autocontrole retorna quando vejo uma jovem ruiva entrar pela porta e
segurar a mão dele. Isso me causa um incômodo terrível. O que está
acontecendo comigo? Quem é ela?
Uma garota! Uma criança! É o que ela é. Talvez fosse isso que
Victor procurava quando me traiu. Agora está mais do que provado.
Mas... Nossa, que decepção, um homem de trinta e seis anos. Enfim,
isso não importa mais. Não lhe diz mais respeito Laura, não dê
atenção a ele e a ela, a nada que venha dele neste sentido. Ponto.
Pois Victor não é mais... seu marido.
— Ah, você está aí, já não era sem tempo — diz mamãe, com
deboche, levantando. Sua voz me desperta de todos os meus
pensamentos. — Saiba que o que eu digo aqui, digo na sua frente
também, pois não devo nada a ninguém!
— Tem certeza que não? Eu tenho minhas dúvidas. — rebate
Victor, irônico, e depois mira a mim novamente e a Henrique, que
põe a mão em minha cintura de repente, me enlaçando com o braço.
O olho sem entender, mas finjo que não estranhei.
— Pois guarde as suas dúvidas para você! Cadê? Onde estava
enquanto o meu neto desapareceu sem conseguirmos nos
comunicar com ele e depois reapareceu aqui, pelado, como se fosse
um fugitivo da polícia?
Victor fica confuso, sem entender, e replica:
— Primeiramente, não devo satisfações a você e não sei sobre
o que está falando, mas se o Apolo realmente fez isso, então é ele
quem deve satisfações a mim. Segundo, era para ele ter ido malhar
à tarde e depois voltar para casa como faz todos os dias, se não fez
isso, é porque...
— Porque não tinha alguém que o olhasse, que o controlasse,
que se importasse com ele! Você sempre preferiu dar prioridade às
suas farras ao invés da família. E pela sua companhia, percebe-se
bem onde devia estar...
— Mamãe! — a repreendo, fuzilando-a com os olhos. — A
senhora não tem nada a ver com a vida do Victor, nós não temos.
Ele se aproxima um pouco mais, juntamente com a sua criança
que, pela cara, já detesta mamãe, e com razão.
— A minha companhia se chama Leda e ela é a minha
namorada, então exijo respeito, até porque você está na minha casa
— responde. Leda? Essa garotinha é sua namorada?
Mamãe não se dá por satisfeita, e pela sua expressão, parece
que voará em Victor a qualquer momento. Então decido cortá-la
novamente, antes que continue.
— Por favor mamãe, pare! Apolo é um assunto meu e do Victor.
Entendo as suas preocupações, mas controle-se, pois não está em
sua casa.
Ela faz uma cara de quem quer me esganar, mas se controla, e
senta no sofá de braços cruzados, inconformada. Novamente troco
olhares com esse homem negro, alto e forte. Havia esquecido o
quanto Victor é alto, uma montanha de músculos bem distribuídos.
Balanço a cabeça, saindo de meus devaneios impróprios. Preciso
controlar meus pensamentos. Não esperava reagir assim após tanto
tempo sem contato com ele.
— Oi Laura, tudo bem? — me cumprimenta, se voltando para
mim e estendendo a mão enorme e grossa que aperta a minha, que
é pequena e delicada.
— Oi Victor, tudo, e com você? — espontaneamente estico um
sorriso, e sentir seu toque quente, contrastando com a minha pele
fria, nesta casa onde juntos vivemos por tanto tempo, chega a ser
desesperador. Sinto uma nostalgia imensa, contudo, não a
transpareço, jamais a transpassarei.
Sei muito bem como ser fria, como ser gelada. Por duas vezes,
e por dois homens da mesma família, aprendi que para mim só
existe um mundo sem calor. Me acostumei com isso, talvez esta seja
a minha sina. Novos relacionamentos, como esse com Henrique, são
esperanças fugazes. Nem mesmo sei porque insisto. Dois anos
sozinha acabaram por abrir uma brecha num escudo até então
impenetrável: meu corpo. Quando conheci Victor, eu era uma pedra
de gelo lapidada por seu pai que acabara de falecer, e agora, eis que
esta pedra ressurge novamente, mais forte e mais gelada.
— Prazer, Leda. — diz a garotinha, forçando um sorriso para
mim, faço o mesmo, e apertamos as mãos.
— Prazer, Laura.
— Olá, sou Henrique. — se apresenta, sério.
— Victor — ele parece mais sério ainda, analisando Henrique da
cabeça aos pés sem meios termos. Ambos apertam as mãos e
Henrique parece uma criança perto de Victor que é enorme.
— Rivaldo, posso conversar com você? — Victor o chama e
ambos seguem para o escritório dele.
Mamãe levanta e passa a se desculpar com Henrique pelas
asneiras que disse, enquanto olho para a tal Leda que, em seguida,
passa a analisar a casa, se afastando de nós. Ela é muito bonita,
realmente, mas esse vermelho em seu cabelo não me parece
natural. Sem contar que está quase nua, de shortinho jeans, blusa
regata. Eu hein.
— Oh Henrique, meu caro, desculpe-me, às vezes saio de mim
e acabo esquecendo do meu autocontrole. Não era essa a recepção
que imaginava para você.
— Sem problemas, dona Leonor, me senti muito bem recebido
por todos — responde Henrique.
Reviro os olhos com toda essa baboseira de mamãe.
— Vou olhar o Apolo — aviso a ele, que faz um sinal positivo
com a cabeça e então subo a escada.
Ao chegar no corredor dos quartos, a nostalgia se intensifica
com o turbilhão de lembranças que vêm a mim de uma só vez.
Ponho uma mão na parede, me sustentando, para poder respirar
melhor, e aqui, boquiaberta, tento processar todo esse impacto ao
rever Victor e entrar nessa casa. Por algum motivo inútil, sinto
vontade de deixar lágrimas surgirem, mas respiro fundo, tentando
desacelerar as batidas do coração, e me controlo.
Deduzo que Apolo só pode estar em seu quarto, olho para a
porta do meu antigo cômodo, e uma força incontrolável me faz
querer adentrá-lo. Observo ao meu redor, para me certificar de que
estou mesmo sozinha, e abro a porta. Miro o interior do espaço, e
sou novamente bombardeada com milhares de lembranças, tantos
momentos bons que vivi aqui, ao lado dele.
Quando me dou conta, já estou caminhando pelo quarto, e
consigo ver perfeitamente eu e Victor fazendo amor na cama, nos
entregando de corpo e alma, nos amando. Nos vejo pelas paredes,
no banheiro, no chão, por todos os cantos, e baixo a cabeça,
fechando os olhos — dói tanto. Uma lágrima indesejada molha a
minha face quando me vejo sentada sobre a mesma cama, em uma
situação completamente diferente, vendo as fotos que recebi de
Victor com outra, ambos pelados, trocando beijos. Foi o meu fim, a
minha destruição.
Ele chegou aqui cheirando à mulher, com bafo de cachaça, não
sabia explicar nada, mentiu, se fingiu de desentendido. Há alguns
meses estávamos com o casamento em crise por conta do trabalho
dele e do álcool. De repente, me vi na mesma situação que vivi com
o seu pai, cheguei até mesmo a prever que seria traída, e fui. É uma
dor quase insuportável, por isso não posso mais lembrar. Victor
jamais me verá derramar lágrimas por ele de novo. Jamais!
Sou ainda mais curiosa e abro uma das gavetas do criado-
mudo, e lá encontro um porta-retratos antigo em que estou com
Victor e Apolo que nessa época tinha apenas dez anos de idade.
Não lembrava mais dessa foto. Ele guardou isso por todo esse
tempo? Arfo, sentimental e profundamente abalada. Meu Deus. Será
que Victor ainda lembra do nosso casamento? Ele parece tão feliz ao
lado daquela ninfeta. Mas, por que estou me perguntando isso? Pare
já com essas bobagens, Laura! Você não o ama mais e não o quer
mais! Ele não te merece!
Assim que guardo o porta-retratos de volta no lugar...
— Laura? — olho para trás, tomando um pequeno susto, e vejo
Victor me observando.

Após conversar rapidamente com Rivaldo no escritório, e


descobrir que Laura e companhia vieram diretamente do aeroporto
para cá, pois ela estava com bastante saudade do Apolo, que, ao
chegarem aqui, não o encontraram e nem conseguiram entrar em
contato com ele nem comigo, que, após esperar bastante, o
encontraram, aparecendo de repente, pelado na piscina, tenho
certeza somente de uma coisa: eu vou matar esse moleque!
Depois de todo esse tempo que passei para recuperar a
confiança dele e de sua mãe, justamente no dia em que ela volta,
esse garoto me aparece desse jeito? Apolo terá que me explicar
direitinho o porquê dessa merda, pois me deixou ouvir tudo aquilo da
sua avó, que tentou me humilhar como pai na frente de todos. Velha
maldita! Odeio essa Leonor, mas não mais do que ela me odeia
gratuitamente.
Por outro lado, estou preocupado com o meu filho, senti o cheiro
de suas mentiras, percebi que estava aprontando, mas não consegui
provar nada. Entretanto, agora tenho certeza que há algo de errado,
e irei descobrir o que é! Infelizmente, Laura deve estar pensando o
pior de mim, deve estar de acordo com sua horrível mãe. Droga!
Droga! Por que sempre tenho que pagar de mal homem, mal marido
e mal pai?
Saio do escritório com Rivaldo e respiro fundo, preparando-me
para enfrentar o que vier a seguir. Procuro por minha gostosa... quer
dizer, pela gosto..., digo, por Laura, e não a encontro, e,
inevitavelmente miro o seu tal namorado, Henrique, que mais parece
um mauricinho empacotado. Ridículo. Já não gosto dele. Esse cara
não serve nem mesmo para ser padrasto do meu filho, com certeza
não.
Ele é loiro, usa roupa social, e sua pele é tão limpa que parece
até usar maquiagem também, sei lá, que cara estranho. Esse
Henrique parece um gay riquinho, nada contra, mas o que Laura viu
nele? Se interessa por quem gosta do que ela gosta, agora? Que
patético a gostosa chique estar com esse cara. Patético! Eles não
combinam!
Mas Leonor com certeza pensa muito diferente de mim, pois o
trata com endeusamento. Velha hipócrita!
Sigo até Leda que está em um canto, longe deles, de braços
cruzados, com uma cara de incomodada.
— Tudo bem? — pergunto, parando em sua frente.
— ‘Tá... ‘tá tudo bem — responde ela, coçando a cabeça,
parece preocupada com algo, mas agora não posso dar atenção a
isso, preciso ver o meu filho.
— Vou lá em cima falar com o Apolo — informo, lhe dando um
beijo na testa, mas antes de me afastar, Leda segura a minha mão.
— Mas... Ela está lá — diz.
— Quem?
— A mãe do Apolo — levo alguns segundos para entender que
ela está com ciúmes. Mas já?
— Não há problema, meu amor. Preciso conversar com ela
também, afinal, Apolo nos diz respeito, e aconteceu algo que temos
que descobrir — explico, tentando tranquilizá-la, mas acho que não
consigo. Tento me afastar, mas a ruiva me puxa pela mão
novamente.
— Quer que eu vá contigo? — pergunta.
— Não precisa, Leda. Está tudo bem — acaricio seu rosto, e me
vou.
Ao subir a escada, troco mais um olhar com Henrique. Que mal
gosto da Laura! Péssimo! Sinto que estou um pouco nervoso, só
consigo pensar que estarei mais perto da loira em alguns segundos,
e para a minha surpresa, encontro-a em meu quarto, em nosso
antigo quarto, olhando o porta-retratos que guardei da gente com o
nosso filho. Um dos poucos que restauram nessa casa após ela ir
embora.
Penso em falar, mas me calo e analiso a beleza dessa mulher à
minha frente, a minha ex-mulher cujo tempo só lhe fez bem. Ela está
ainda mais linda e gostosa, em um vestido que delineia bem o seu
corpo escultural, a sua cintura fina, sua bunda grande e redondinha,
suas coxas torneadas, seus seios avantajados. Laura nunca deixará
de ser perfeita.
Quando a vi lá embaixo, tremi na base, como tremo novamente
agora. Fui arrebatado com tantas emoções e lembranças que não
esperava, me peguei de coração acelerado, sem saber ao certo
como agir, com medo de perdê-la de vista novamente! Essa loira
mexe muito comigo, de uma maneira intensa e avassaladora. Me
aqueceu só no olhar tanto quanto antigamente, ainda possui esse
poder, para a minha desgraça. Droga, ainda a amo, ainda a quero,
mas é tarde demais!
— Laura? — a chamo assim que ela guarda o porta-retratos, e
me pergunto o que veio fazer em nosso quarto. Será que bateu
saudade? Será que ela ainda me ama? Nunca entendi como todo
aquele seu amor por mim foi por água abaixo após a fatalidade que
nos aconteceu! Enfim, não há mais por que falar disso. Já aceitei
esse fato, já não tenho mais saco para discuti-lo. Entretanto, torço
para que ela não me venha com quatro pedras nas mãos após esse
reencontro conturbado.
— Victor — diz meu nome, nervosa, se afastando do criado-
mudo. Miro seus olhos, e percebo que estava chorando.
— Está tudo bem?
— Oh, sim, está. Eu... estava te esperando para conversarmos,
ainda não falei com o Apolo, acho que devemos fazer isso juntos.
Desculpe por invadir o seu espaço, devia ter esperado lá fora.
— Tudo bem, não me incomodo com a sua presença em
nenhum ponto desta casa — afirmo, e sem querer, minha voz sai
carregada de sentimento. Ela se cala, e desvia os olhos dos meus,
mirando o chão por alguns instantes. Sinto vontade de abraçá-la, de
sentir o seu calor junto ao meu, mas não devo pensar nisso. Estou
com Leda agora, e Laura com um mauricinho do caralho. As coisas
mudaram. — Quanto tempo, né — comento, esticando um sorriso, e
ela me corresponde.
— Sim — a loira cruza as mãos, apertando os dedos uns nos
outros em alguns momentos, parece controlar um certo nervosismo.
Por quê? Será que sente o mesmo que eu? — Desculpa por não ter
avisado a você que estava chegando, até te liguei uma vez, mas não
me atendeu. E quanto a Apolo, liguei muitas vezes, mas fui ignorada.
— Eu que tenho que me desculpar por toda essa loucura que
está acontecendo. Não sei o que aconteceu com o nosso filho, mas
juro que estava tudo bem antes de você chegar. Quer dizer, quase
tudo bem.
— Como assim? Vocês não conseguiram se acertar? — indaga,
preocupada. Ela se preocupa com a minha relação com Apolo, e isso
é lindo.
— Conseguimos, bastante até. Mas já faz um tempinho que
desconfio que Apolo está aprontando alguma coisa, só não sei ainda
o que é.
— Ele está muito diferente, muito mesmo. Não só fisicamente, e
sei que nessa parte você teve influência, mas foi bom. Apolo ficou
ainda mais bonito... meu bebê. Porém, notei que ele também mudou
internamente, está querendo esconder o motivo de ter aparecido de
repente, naquela situação — ela põe a mão na testa, envergonhada.
— Seu pai me disse, e não consigo ter explicação para isso.
Desculpa de verdade, Laura, mas hoje foi um dia comum, saí de
casa e ele foi para a academia, como sempre.
— Por que Apolo malha fora?
— Ele me pediu, queria malhar na mesma academia da
namorada.
— Namorada? — indaga ela, esbugalhando os olhos, surpresa.
— Sim, nosso filho não é mais um bebê como você comenta —
sorrio, me sentindo feliz por esse detalhe.
— Quem é essa garota? — indaga, séria.
— Acho que é melhor conversar sobre isso com ele depois.
— Não pode ser. Apesar de não parecer, Apolo ainda é uma
criança, está muito cedo para namorar. Oh, Deus!
— Para com isso, é claro que não. Já estava passando da hora.
Olha o ciúmes.
— Oh Victor, está nítido que você está adorando isso, que
patético! Não quero nem pensar — afirma, preocupada, cruzando os
braços, me encantando.
— Você continua linda até chateada — as palavras fogem por
meus lábios sem controle. Quando percebo, já falei.
— O quê? Por que está dizendo isso? — Laura está
imensamente surpresa, me analisando.
Dou dois passos em sua direção, por impulso, preciso me
aproximar dela, só me aproximar e tocar seu lindo rosto, matar a
saudade de sentir a sua pele macia em contato com os meus dedos,
mas antes de poder continuar avançando, ouço a voz de Leda às
minhas costas:
— Victor — fico paralisado. Olho para a feição impactada da
loira, ela notou que eu ia fazer alguma coisa, e então me volto para a
ruiva.
Saio do quarto e falo com ela no corredor, sussurrando:
— Oi, o que foi? — pergunto.
— O que está fazendo no quarto com ela? — o rosto de Leda
está vermelho de ciúmes, e seus olhos brilham. Nossa!
— Conversando, como te falei — explico.
— E não podem conversar aqui fora? Cadê o Apolo?
— Está no quarto dele, resolvemos debater primeiro sobre o
acontecido para depois falarmos com ele. Ruiva, não se preocupa.
Está tudo bem. Confia em mim — tento lhe passar segurança.
Ela fica boquiaberta, sem saber o que dizer.
— Ei, Leda. Para com isso — peço, franzindo a testa. — Me
espera lá embaixo, por favor.
— Está bem — e assim ela se vai, lentamente, segurando o
pranto, me deixando impressionado.
Volto para o quarto e encontro uma Laura mais séria agora.
— Algum problema? — pergunta.
— Nenhum — minto.
— Sua namorada é muito bonita — sinto sinceridade em sua
voz, mas não serei tão cordial.
— Já eu não posso dizer o mesmo do seu — disparo, ela ri sem
humor.
— Henrique é lindo, e possuímos quase a mesma idade, ele não
gosta de adolescentes — rebate, irônica, me abrindo um sorriso.
— Nem eu, Leda tem vinte e quatro.
— Podemos ir conversar com Apolo agora? — me corta, saindo
do quarto, e a sigo, vendo sua bunda perfeita rebolar na minha
frente. Respeite raba! Ela está com ciúmes de mim? Será? Fico em
dúvida.
Chegamos ao quarto do Apolo e observo algumas manchas
vermelhas em seus braços e peitoral. O observamos sentado na
cama, e perguntamos o que houve.
— Eu fui assaltado — responde ele, bem convincente.
— Assaltado? Oh meu Deus, mas onde? — pergunta Laura,
preocupadíssima.
— Na saída da academia. Resolvi caminhar um pouco, antes de
pegar um táxi, e uns caras me abordaram — diz, enquanto o analiso
com certa desconfiança.
— Quantos caras? — pergunto, sério.
— Dois — responde, sem olhar em meus olhos.
— Mas eles levaram a sua roupa toda? — indaga Laura,
estranhando, parece que ela está começando a notar furos nessa
história mal contada.
— Sim. Eles... Me abordaram num canto meio escuro, me
bateram, e levaram a minha roupa. Sorte que pedi socorro e um
taxista parou para mim depois, me deu uma toalha e me trouxe até
aqui.
— Ah é? E por que não levaram seu celular? — pergunto,
apontando para o aparelho sobre a escrivaninha.
— Meu celular? — indaga ele. — Porque esqueci no armário da
academia, o taxista parou lá e pegou para mim da volta. Os bandidos
disseram que a minha roupa e tênis eram de marca, disseram que
valeria alguma coisa.
— Então nós iremos à polícia agora mesmo abrir um boletim de
ocorrência...
— Não, Victor! Polícia não, não quero ir à uma delegacia —
nega ele, prontamente.
— Por que não? — Laura não consegue entendê-lo.
— Porque eu não quero! Já era, já passou! — diz, cruzando os
braços, e virando o rosto. Troco olhares desconfiados com a loira.
— Como era o rosto deles? — indago.
— Não sei, não me lembro, foi tudo muito rápido.
— Você vai à delegacia, Apolo — assevera Laura.
— Não vou, mãe. Não quero.
— Não existe isso de não querer, você sofreu um assalto, temos
que comunicar esse fato à polícia.
— Por favor, não insistam.
— Pois nesta academia você não pisa mais — Laura fala o que
eu estava pensando, e depois respira fundo. — Bem, hoje foi um dia
cheio, vim do aeroporto direto para cá, para te ver, meu filho, estava
com muita saudade. Arrume as suas coisas para irmos — pede ela,
e fico gelado.
— Para irmos? — indaga Apolo, sem entender ainda.
— Sim, para casa, filho. Quero ficar contigo — Apolo olha para
mim, e noto que está indeciso. Não quero que ele se vá, já estou
acostumado com sua presença aqui, mas... ele sempre esteve com
Laura depois da separação, então, não sei o que dizer.
— Mãe... também estou com muitas saudades da senhora, e...
senti muito a sua falta, mas... eu... quero ficar com o Victor —
declara, com medo de magoar a mãe, tomando cuidado com as
palavras.
— O quê? — a loira fica devastada com essa notícia e me olha,
sem chão, e não sei o que fazer. Não quero magoá-la, não esperava
essa atitude do Apolo, estou chocado também e feliz, claro, mas... a
decisão é dele.
Um silêncio terrível se instala.
— Filho, saiba que apoio qualquer decisão que você tomar. Mas
agora vou deixar que converse sobre isso com a sua mãe a sós.
Saio do quarto, e os deixo à vontade para dialogar sobre esse
assunto delicado. Fico esperando lá fora, até que Laura aparece,
com os olhos vermelhos de chorar, me confirmando que Apolo não
vai mesmo. Ela fecha a porta e olha para mim.
— Parabéns, Victor, você fez um ótimo trabalho como pai, e
mesmo ele não querendo ir comigo, me sinto muito feliz por vê-lo
expressar o amor que sente por você agora abertamente. Sempre
tentei evitar que o nosso filho saísse afetado da nossa separação,
mas foi impossível, porém, essa reaproximação de vocês o tornou
um garoto melhor, maduro. Apolo voltou a ser doce, estava muito
amargo.
— Obrigado, Laura — isso me relaxa intensamente, era tudo o
que eu queria ouvir.
— Contudo, você sabe que ele está mentindo sobre esse
assalto. Tem alguma coisa de errado com essa história, é preciso
ficar atento — me aconselha.
— Eu ficarei, e te manterei informada — confirmo.
— Obrigada.
Apolo sai do quarto e, de mãos dadas com a mãe, leva Laura lá
para baixo, eu os sigo. Leda, ao me ver, rapidamente vem até mim e
segura a minha mão, marcando território, e me sinto um pouco
desconfortável por ela não saber disfarçar o seu ciúme diante dos
outros.
Laura explica aos pais o que houve com nosso filho, e quando
Leonor percebe que Apolo não irá com eles, me fulmina com os
olhos, mas não lhe dou atenção, quero que ela apodreça em seu
veneno.
Após todos irem embora, inclusive Val, Leda fala com Apolo:
— Oi Apolo, lembra de mim? — diz ela, finalmente sorrindo.
— Oi, você é a Leda, lembro sim.
— Então filho, eu trouxe Leda aqui hoje para dizer a você que
estamos namorando, mas aconteceu tudo isso.
— Estão namorando? Que legal — ele sorri fracamente. —
Victor estava muito sozinho, precisava de alguém — comenta, me
surpreendendo, e a ruiva parece gostar disso. — Vai dormir aqui? —
indaga a ela.
— Bom, eu não sei, depende do seu pai — comenta a gata, e
não tenho como negar.
— Se meu filho não está se opondo, é claro que pode — afirmo
e troco sorrisos com ela.
Minutos depois, jantamos o que Val nos deixou e sinto meu filho
distante. Ele está escondendo algo. Mas decido investir nele em
outro momento, por hoje já basta, até porque tenho que dividir
atenção com a Leda. Também pretendo falar com ela sobre o fato de
ter ido me procurar quando pedi que esperasse na sala, achei isso
um pouco demais, porém, evito conversar sobre isso hoje pelo
mesmo motivo. Ainda estou estressado devido às palavras daquela
velha, e abalado com o retorno da gostosa chique.
Agora só preciso de paz para assimilar toda essa tempestade.

Finalmente estou sozinho, e sinto tantas coisas ruins que nem


sei expressar. Nem mesmo a chegada da minha mãe conseguiu
afagar a tristeza que impera em meu peito. Fiquei muito feliz em
revê-la, claro, mas o momento foi mais do que infeliz, justamente
quando estou envolto em uma confusão sem tamanho.
Já é quase meia-noite.
Nossa, jamais pensei que viveria uma loucura dessas, tudo
explodiu em um só dia. Não tenho mais dúvidas, não após receber
aquele olhar de Érica e após ela ter me fotografado e não me
prestado socorro quando mais precisei. Sim, foi Érica quem chamou
o marido da Aline para nos flagrar, com certeza, só pode ter sido ela!
Não sei como descobriu o local em que me encontraria, mas não há
outra explicação, ela se entregou, ela apenas me usou.
Mas pensar nisso dói. Dói tanto que caminho inquieto de um
lado a outro do quarto, pensando em Érica e em Aline ao mesmo
tempo. A versão de Aline condiz muito mais com a lógica e com o
que motiva a minha ex-vizinha a fazer essas atrocidades. Como
Aline ficou depois que fugi? Será que está bem? Será que o louco do
seu marido a machucou com a arma? Só de pensar nessa
possibilidade, minha cabeça queima! Merda!
Se a minha noite foi ruim, a dela com certeza não deve estar
sendo melhor. Será que ele chegou a ver meu rosto? Acho que não,
e também não vi o dele, nem sequer quis olhar para trás, ainda mais
com aquele som de bala!
Ligo novamente para Érica, já liguei milhares de vezes, mas ela
não me atende.
— Atende, droga! — rosno, mas cai na caixa de mensagem por
mais uma vez.
Ainda não acredito em toda essa doideira que vivi, por pouco
não morri! Sou um misto de raiva, tristeza e dor. O pior foi controlar
todos esses sentimentos na frente dos meus pais, quase explodi! E
sei que eles estão desconfiados, que não acreditaram tanto na minha
história do assalto que criei enquanto estava no banho. Minhas
costas doem, minhas pernas, tudo, parece até que realmente levei
uma surra.
Roo as unhas nervoso, quero ver Érica negar na minha cara que
não armou tudo isso. Quero saber seus motivos, quero saber o que
fazia lá e por que não me socorreu. Mesmo imaginando as respostas
para tudo isso, mesmo minha mente me levando à lógica, no fundo,
não quero crer que seja verdade, pois a amo demais. Ligo
novamente e ela finalmente atende.
— O que você quer? — pergunta, ríspida, me assustando com
esse tom.
— O que quero? Você me deve explicações! — falo, em
exigência, tentando manter o tom baixo para não ser ouvido no
quarto ao lado.
— Eu não te devo mais nada, Apolo, nosso acordo acabou, cada
um cumpriu com a sua parte. Fim! — diz, irônica.
— Por que fez isso? Por que chamou o marido dela? Eu quase
morri por sua causa! — minha voz é de decepção.
— Porque sabia que não conseguiria fazer o que pedi mais uma
vez, querido. Você é frouxo! Sentimental! Então resolvi as coisas de
forma mais objetiva, do meu jeito — confessa, com tom de
vencedora, me assustando ainda mais.
— Você tentou me enganar, mas sei que na verdade queria se
vingar do marido da Aline e não dela. Sei que vocês tiveram um caso
no passo e ele preferiu ficar com ela. Você é que era a amante!
— Ah, desculpe querido, mas eu precisava te motivar para fazer
o que tinha que ser feito, já que estava tão compadecido pela aquela
otária.
— Quem é você? — pergunto, embasbacado.
— Ah, você sabe, sou o amor da sua vida — diz, sarcástica.
— Mentira! Tudo foi mentira! Você nunca me amou de verdade
— reflito, em voz alta.
Érica gargalha, maldosa, fazendo meus olhos sangrarem.
— Acreditou mesmo nisso? Por um momento pensou que
minhas palavras fossem verdade? É claro que sim, né. Oh, o
primeiro amor... Está vendo como é cruel? Como não serve para
nada?! Eu não consigo mais amar, Apolo! Cláudio arrancou todo o
amor que existia em mim, o meu filho.
— Tu me usou... — choramingo, tomando a noção de tudo,
estou quebrado!
— E te fiz um bem danado, né? Te dei muito sexo, realizei os
seus sonhos, até que nesse ponto me satisfiz bastante contigo, devo
confessar. Apolo, você é bom, de verdade, não só na cama como
fora dela, o seu jogo com Aline foi um espetáculo!
— O seu jogo! — rebato, rosnando, com ódio.
— O meu agora que começou, querido. E a partir de hoje fique
de fora, para o seu próprio bem — ameaça. — Lembre-se que tenho
fotos suas como Homem- Aranha pelado — ela gargalha novamente,
está se divertindo com a minha dor e se vangloriando do seu feito!
Ela é má!
— Você é má, mas eu posso ser também — afirmo, ameaçador,
enxugando minhas lágrimas com força.
— Uuuh — debocha. — É mesmo?
— Tenho um vídeo seu como cam girl, do dia em que fiquei
preso no seu quarto da putaria — confesso. — Se você divulgar as
minhas fotos, ou fazer mais alguma coisa contra Aline, espalho esse
vídeo na internet, com o seu nome, e todos ficarão sabendo que a
Érica não presta!
— Isso não é possível — diz, e sinto medo em sua voz. — Você
não seria capaz.
— Não? — afasto o celular do ouvido e envio o vídeo para ela
por mensagem. — Veja a mensagem que acabei de te enviar.
— Então está querendo jogar novamente comigo, Apolo? — sua
voz agora é tenebrosa — É, errei em subestimá-lo e você acaba de
cometer o mesmo erro comigo.
A ligação encerra e só o que consigo fazer é chorar, nada além
disso. Sinto uma culpa enorme me consumindo e desabo na cama,
lembrando das palavras da Érica e sofrendo, sofrendo bastante.
Estou desolado, tudo o que vivi com ela, as minhas esperanças, o
sentimento que pensei ser recíproco, foi mentira! Ela não se importa
nem um pouco comigo, não está nem aí se morro hoje ou amanhã,
não represento nada além de um fantoche, um boneco manipulável!
Como pude me enganar tanto? Como pude ser tão idiota, burro?
Cheguei a acreditar que ela fosse a vítima, uma pessoa boa
amargurada pela vida. As lágrimas descem pesadas, rasgando a
minha pele. Tenho vontade de gritar, mas tento fazer o máximo de
silêncio para não correr o risco de Victor e sua namorada me
ouvirem!
DROGAAAA! MERDAAAA! É uma mistura de ódio, raiva,
sentimento e arrependimento por essa vagabunda! Sim, estou
arrependido, muito arrependido por tudo o que fiz por ela, por ter
posto meus desejos e sentimentos acima de tudo. Ferrei com a vida
da Aline, agora ela deve estar sendo massacrada por seu maldito
esposo! Não sei mais o que pensar!
A única segurança a qual tento me agarrar, é o vídeo que fiz
dela. Consegui provocá-la e lhe deixar em alerta. Ela disse que o
jogo está só começando, e não sei o que isso quer dizer, mas ainda
sou parte dele, posso evitar uma catástrofe ainda maior com a minha
ameaça. O vídeo é a minha segurança de que Érica não fará mais
nada de mal. Tenho que acreditar nisso! Eu preciso!

Os dias seguintes foram os piores da minha vida. Desolação e


tristeza total. Parece que Deus me fez de vaso e jogou dentro da
minha alma as piores sensações possíveis, e não sinto mais que
vivo, apenas sobrevivo. Não sei se tenho mais ódio de mim mesmo
ou de Érica. Às vezes olho para sua casa, sem ninguém, ela fugiu
antes de tudo acontecer. Ela sabia que tudo iria acontecer, que eu
iria ceder. Fui manipulado e ao mesmo tempo, acho que me deixei
manipular!
Me torno uma farsa, tento transparecer a todos que está tudo
bem, mas Victor é perspicaz e está me sondando, sempre fujo de
suas perguntas. Na escola, não consigo me concentrar, não sinto
nem mesmo vontade de malhar, só quero ficar quieto, quero ser
esquecido!
Contudo, atendendo a um pedido da minha mãe, vou visitá-la
em seu AP após sair da escola, para almoçarmos juntos. Ela abre a
porta toda feliz ao me ver, mas seu sorriso se esvai quando percebe
que não estou bem.
— Filho? O que você tem? O que houve? — ela me puxa para
dentro e fecha a porta, em seguida a abraço bem forte, desabando
em pranto, soluçando. — Meu Deus, Apolo, o que está
acontecendo? Fala para sua mãe, fala pra mim.
Contarei toda a verdade, não aguento mais carregar esse fardo
nas costas.
O PEDIDO

“Não posso mais amá-lo, pois trocou


uma vida por uma noite.”

Minha mãe se tornou ainda mais pequena diante de mim, sou


mais alto e mais forte que ela. Após ser acalmado com o seu
carinho, me encontro com a cabeça pousada sobre suas coxas, no
grande e confortável sofá. Recebo o seu cafuné e seu amor de mãe,
me dando conta do quanto isso me fez falta ao longo desses meses
em que ela passou fora.
— Agora me conta, filho. Por que está arrasado assim? O que
aconteceu de verdade? — como assim “de verdade”?
Penso duas vezes e resolvo fugir pelo caminho mais fácil. Pois
seguir pelo mais difícil me causará ainda mais dor de cabeça, e
agora só quero esquecer.
— Me apaixonei por uma garota, acreditei que seu amor era
verdadeiro como o meu... Mas não era — choramingo, e minha mãe
se compadece.
— Oh, Apolo, oh Deus, meu filho... — ela acaricia o meu rosto,
enxugando as minhas lágrimas. Percebo que tem dificuldade em
falar. — Olha... relacionamentos são complexos ao extremo, e às
vezes acontece exatamente isso, acreditamos num amor verdadeiro,
nos entregamos de corpo e alma, e em alguns casos não somos
correspondidos como desejamos. Dói, eu sei, mas o tempo vai curar
essa dor. Isso vai passar, é só você seguir em frente, e buscar se
afastar do que te faz mal.
As palavras dela acalentam um pouco o meu coração, enquanto
mantenho o olhar distante, no nada, pensando em tudo que passei,
em tudo que vivi.
— Seu pai me comentou que estava namorando. Quem é a
garota? — pergunta, curiosa.
— Não era namorada, era uma ficante.
— Uma ficante? — ela não vai entender.
— Sim. Desculpa mãe, sei que está curiosa, mas não quero
mais falar sobre isso. Só quero ficar na minha, e esquecer.
— Mas calar nesses momentos não é bom, meu filho. Concordo
que esqueça, mas desabafe quando for necessário. Não guarde tudo
só para si, pois é sufocante. Eu sei na pele o quanto é, mas é preciso
superar — sinto sentimento em suas palavras, minha mãe está se
pondo em meu lugar.
— A senhora... já superou o Victor? — mudo de assunto, quero
matar essa curiosidade. Ouço o silêncio por longos segundos.
— Sim — responde, finalmente, mas não sinto verdade em sua
voz. — Por que perguntou isso assim, de repente?
— Porque notei a forma como os dois se olhavam quando se
reencontraram.
— Isso... isso é impressão sua, Apolo. Não nos olhamos
diferente — nega, um pouco desconcertada. Ela ainda gosta dele,
tenho quase certeza. Mas resolvo não entrar neste mérito.
— Cadê seu namorado?
— Saiu, foi resolver algumas coisas. Haverá um almoço neste
fim de semana na casa dos seus avós, onde quero apresentá-lo a
todos formalmente, quero a sua presença.
— ‘Tá bom — digo, me sentando.
— Está melhor? — faço um gesto com a mão, indicando que
estou mais ou menos. — Meu bebê lindo — ela me abraça forte. —
Você ainda é muito jovem, deve viver e ser feliz. Siga em frente. Siga
em frente e não se abale tanto assim com as dificuldades dos
relacionamentos, não deixe a ferida doer nessa intensidade.
— Obrigado mãe, estava com muitas saudades de você —
retribuo seu abraço, me sentindo agora um pouco melhor. Depois,
olho em volta, vendo a grande e espaçosa cobertura onde eu morava
há três meses atrás, e penso como as coisas mudaram na minha
vida neste pouco tempo.
— Seu quarto está ali, te esperando, torcendo para não ser
abandonado — comenta ela, e trocamos sorrisos.
— Eu sei, não abandonarei a senhora — digo o que ela quer
ouvir. — Henrique irá morar aqui agora?
— Por enquanto não.
— Vocês vão casar?
— Não sei, tudo a seu tempo, filho. Ele veio para conhecer a
minha família, não morar, mas vai passar uma temporada aqui.
— E essa bagunça? — pergunto, vendo alguns quadro imensos
com pinturas e fotografias espalhados pelos cantos.
— Estou começando a mexer no espaço aos poucos, vou fazer
uma reforma em tudo.
— De novo? A senhora sempre está mexendo — comento,
fazendo ela ri.
— Sim, farei de novo e quantas vezes precisar — diz, beijando
meu rosto e me abraçando novamente.
Após sair do AP da minha mãe, envio uma mensagem a Victor,
dizendo que vou demorar um pouco mais a chegar em casa, pois
preciso passar em um lugar antes. Ele pergunta qual lugar e decido
dizer a verdade, que vou para o parque Potycabana, e é para lá que
sigo, para o lugar que tanto gosto de ir.
Sento-me na grama, perto da grade, vendo o brilho de Teresina
à minha frente, a lua cheia iluminando o rio caldoso e escuro. Sinto a
brisa quente do vento, mas foco em relaxar.
Há pessoas por todos os lados correndo em patins, skates e
bicicletas, outras fazendo exercícios e caminhadas, outras jogando
vôlei, futebol e etc. Há também barzinhos com música ao vivo, gente
bebendo e se divertindo, e eu aqui, em meu mundo triste, pondo
fones de ouvido e escutando músicas da banda Scalene, da qual sou
fã. Adoro este tipo de rock nacional.
Lembro que foi exatamente neste ponto que me encontrei com
Tati, sentamos nessa grama aqui. Tati, ela parou de me enviar
mensagens após ser tantas vezes ignorada. Que menina incrível,
sincera e doce, mas eu a perdi. Apolo, você é tão imbecil, penso.
De repente, meus olhos se voltam para algumas meninas que
praticam slackline e, para a minha grande surpresa, vejo Tati, sim,
ela mesma, andando sobre a fita elástica com a ajuda de um
instrutor, se divertindo com outras garotas, elas sorriem e gritam,
brincando umas com as outras ao passo que cada uma se arrisca
sobre a fita.
Que coincidência! Como pode ser? Parece que faz tanto tempo
que não a vejo, acho que uns dois meses e, mesmo de longe, noto
que está ainda mais linda, seu cabelo castanho cacheado me chama
a atenção. Ela se desequilibra e cai da fita, gargalhando, e ao se
erguer com a ajuda das colegas, me vê. Trocamos um olhar intenso,
de reencontro. Percebo seu semblante surpreso, é algo realmente de
se chocar, pois uma coincidência dessas não acontece todos os dias,
mas Teresina é minúscula.
Ela sorri para mim e sorrio de volta, meio sem graça, pois foi eu
que me afastei. Lembro que, se fosse por ela, até hoje estaríamos
juntos. Tati, a minha primeira paquera, a primeira que beijei, que
conquistei, e a única que não se entregou a mim totalmente. Pelo
seu sorriso, relembro o quanto ela é fantástica, o quanto me fazia
bem, e mais um turbilhão de lembranças de nós dois surgem em
poucos segundos.
Quando a vejo vindo em minha direção, levanto, sendo tomado
por um leve nervosismo inesperado, com o coração acelerando. Ela
usa um short jeans, tênis e blusinha preta de mangas. Está mais
evoluída fisicamente, suas coxas parecem um pouco mais
torneadas, seu cabelo maior, e a maquiagem lhe deixa mais mulher,
apesar de achar que esse seu rosto angelical é impossível de
desaparecer.
— Oi — me cumprimenta, e trocamos beijinhos no rosto.
— Oi — respondo, desconcertado, na verdade... envergonhado
por ter sumido sem lhe dar notícias. Tiro os fones de ouvido. —
Estou... surpreso em te encontrar por aqui.
— É, eu te falei uma vez que gosto muito desse lugar, sempre
venho com as minhas amigas. — conta. — Tudo bem?
— Tudo, e contigo?
— Tudo bem também — baixo os olhos em alguns instantes,
estou envergonhado diante dela.
— Eu que estou surpresa em te ver... Você sumiu — nossa, ela
não perde tempo, vai direto ao ponto.
— Sim, sumi, e... Quero aproveitar esse momento para te pedir
desculpas por isso.
— Não precisa se desculpar, Apolo. A gente não tinha nada a
sério. Eu entendo que não gostou de mim, por isso parei de perturbá-
lo.
— Não, eu nunca disse que não gostei de você e nem que me
perturbava. Está enganada, pensando bem agora... você... foi a
melhor garota que já conheci — confesso, com toda a sinceridade,
raciocinando sobre tudo, e Tati sorri lindamente, parece encantada,
mas depois volta ao normal, como se lembrasse de algo que a
trouxesse para a realidade.
— Então por que sumiu? — pergunta, curiosa, e eu baixo os
olhos novamente, cabisbaixo.
— Porque... eu sou um idiota — rio, sem humor.
— Está falando isso para tentar me impressionar?
— Não, é a mais pura verdade. Desculpa mais uma vez, fico
feliz em te ver — forço um sorriso para ela, e volto a sentar na
grama, em posição fetal, repondo os fones de ouvido. Percebo que
Tati não vai embora, e para provar que não quer ir mesmo, se senta
ao meu lado, me analisando, e retiro os fones, sem entendê-la.
— Então você vai querer sumir de novo? — pergunta, e fico sem
palavras por vários segundos.
— Mas achei que...
— Eu te desculpo, não sou de guardar rancor — ela dá de
ombros e ri, me encantando.
— Não vale a pena ficar perto de mim. Fiz tanta coisa errada
que nem mereço ser seu amigo. Na verdade, acho que não mereço
ser amigo de ninguém.
— Você está muito abatido e falando coisas sem noção. Está
com depressão? Minha mãe já teve depressão, é horrível.
— É, pode ser, acho que estou com essa merda — ela gargalha
e me faz rir também.
— Se quiser eu posso te ajudar.
— Como?
— Nós podemos ser amigos — sugere, mas sei que esse
negócio de amigos não vai dar certo.
— Mas acabei de falar que...
— Eu me arrisco, Apolo — afirma, me surpreendendo. Ela é
decidida. — Se você quiser, meu número continua sendo o mesmo
— Tati deposita um beijo doce em minha bochecha. Em seguida,
levanta, bate as mãos para se livrar da sujeira da grama e volta para
suas amigas, me deixando fascinado com sua personalidade e
jeitinho de fada.
E por incrível que pareça, esse encontro casual me fez voltar
para casa mais leve. É claro que Érica e Aline veem em meu
pensamento a todo instante, mas não posso enlouquecer com isso,
pelo menos estou tentando.
Continuo preocupado com Aline, de toda essa história quem
saiu mais prejudicada com certeza foi ela, Érica venceu. Às vezes
tenho vontade de mandar mensagem para saber se Aline está bem,
se está viva, mas temo ser descoberto por seu marido louco, que
atirou em mim. Não vou mentir, fiquei com medo de morrer naquele
dia, muito medo.
Após jantar e tomar banho, deitado na cama, miro o contato de
Tatiana na tela do celular, ela está online. Crio coragem, e puxo
assunto com ela, lembrando do que a minha mãe me aconselhou,
sobre seguir em frente. Tatiana conseguiu reconfortar o meu espírito
nos poucos instantes em que passou comigo, e eu preciso relembrar
como é sorrir, me sentir bem, ela pode me proporcionar isso. Decido
acreditar fielmente na hipótese de sermos amigos, pois não mereço
nada além disso. Essa garota é incrível demais para mim.
De volta à Teresina, de volta ao Piauí, a minha amada terrinha.
É incrível como não importa aonde eu vá, sempre sinto saudades de
onde vim, de onde nasci. Mas a saudade maior durante estes três
meses que passei fora com certeza foi do meu filho. Contudo, chegar
e encontrá-lo em toda aquela situação e rever Victor, foi um impacto
forte demais como recepção. Saber que Apolo não quer mais morar
comigo e que prefere ficar com o pai me trouxe felicidade, mas ao
mesmo tempo tristeza e ciúmes.
Apolo esteve comigo sempre, quer dizer, por um bom tempo
Victor também esteve presente, mas nos últimos dois anos foi só eu
e ele, me acostumei com isso, e agora essa bomba. Por outro lado,
me sinto contente em ver meu bebê amando o pai novamente, essa
foi uma luta difícil de vencer, mas enfim vencida. Amém. Contudo,
agora ficarei sozinha? E eu? Só não me sinto mais isolada porque
tenho Henrique comigo.
Henrique foi a melhor coisa que me aconteceu nessa viagem.
Após me separar de Victor, fiz uma transição de dona do lar para
fotógrafa independente mais uma vez. Caí de cabeça no trabalho
que havia deixado um bom tempo de lado por me dedicar ao meu
“casamento” e ao meu filho. Após ser mãe e morar com Victor, tudo
mudou, virei outra mulher completamente, e por muitos anos vivi um
sonho, mas como sempre acontece comigo, sonhos sempre têm o
seu fim, e o meu, por mais uma vez, foi trágico.
Tive meu coração destruído, vi o homem que amava na cama
com outra mulher. Não sei por que aquela vadia me enviou essas
fotos. Realmente notei que ela queria abalar o meu relacionamento,
pensei em esquecer, mas não deu, pois sou ciumenta, não
transpareço porque sei me portar, mas sou, e amava Victor mais do
que a mim mesma.
Nunca acreditei que ele pudesse fazer isso, mas as provas são
incontestáveis. Cheguei a procurar a vagabunda em segredo, queria
tirar satisfações, tentei encontrar outras explicações, mas não
encontrei, tudo foi contra ele, contra a inocência que sempre alegou
ter, mas as imagens eram cruéis demais.
A vadia o beijava e brincava sobre... o seu corpo, sorrindo para
a câmera, para mim, da minha cara. E posso aceitar tudo, menos
traição! Ele sempre soube disso. Cheguei a esperar que tentasse me
provar que tudo não passou de uma mentira, que foi um engano,
mas Victor não o fez, não o suficiente. E após algum tempo, se
afastou, sumiu, deixou até mesmo de tentar se comunicar com o
filho, e essa foi a prova que me faltava para saber que realmente me
traiu.
Então, após sofrer sem limites, resolvi seguir em frente, e como
disse, me afundei no trabalho, comecei a chamar a atenção das
galerias novamente e após um ano, surgiu a chance de expor meu
trabalho na Europa, uma chance que não poderia desperdiçar. Viajei
com um buraco enorme no peito por deixar Apolo para trás, mas
sabia que ficaria bem na casa dos meus pais, porém Victor
reapareceu e agora estamos todos aqui.
Durante a viagem, conheci Henrique, ele é um cara legal,
simpático, interessante e amoroso, também gosta das artes, é pintor.
Veio de uma família rica, mas conseguiu gerar sua própria fortuna
com as telas que agora vende pelo mundo. Assim que nos
conhecemos foi tudo tão rápido, eu estava tão carente. Após a
separação, fiquei praticamente sem ninguém durante esses dois
anos e precisava esquecer do meu longo e intenso passado, acho
que ainda estou um pouco nessa fase. Na verdade estou me dando
uma nova chance com Henrique, mesmo que, no fundo, acredite que
tudo vai dar errado outra vez.
Às vezes penso que não nasci para o amor, que não posso amar
e nem ser amada, e que se isso acontecer é por um curto prazo, pois
estou fadada a sempre terminar sofrendo, a sempre permanecer no
meu mundo gelado.
Mas Henrique foi insistente e agora estamos aqui, mesmo sem
muita crença, sigo em frente, e pelo jeito Victor também, com a sua
garotinha ruiva. Infelizmente não consigo parar de pensar nisso. Mas
estou tentando me autocontrolar para focar nos meus planos de
trabalhos futuros, em Henrique e principalmente em Apolo. Estou tão
feliz por ele ter me visitado ontem, e fiquei bastante preocupada com
o seu pranto devido ao primeiro amor. Nem sei se tudo que disse a
ele eu mesma segui na vida. É aquela velha história: faça o que digo,
mas não faça o que faço.
Entretanto, se essa menina não o corresponde, é melhor que
fique longe dela mesmo. Agora que estou de volta, me manterei o
máximo possível perto do meu rapazinho que agora é um rapagão.
Confesso que não foi nada fácil ouvi-lo falando dessa garota, saber
que começou a se relacionar. Senti ciúmes, mas mantive a pose de
mãe sensata para consolá-lo, era o que Apolo precisava naquele
momento.
Agora, sigo para a mansão dos Cordeiro, a casa dos meus pais,
precisamos conversar sobre um assunto sério que também tive que
resolver durante a minha viagem. Encontro com eles na sala de
refeições, sentados à grande e luxuosa mesa, tomando o café da
manhã, e me junto aos dois.
— Bom dia, filha — me cumprimenta papai, sorrindo, beijo ele e
mamãe antes de sentar.
— Bom dia, filha, onde está o Henrique? — pergunta mamãe.
— Bom dia, preferi não trazê-lo, já que o assunto que temos
para conversar é de família — informo, enquanto corto um pedaço do
bolo que pelo cheiro e aparência me chama bastante atenção, ainda
não comi nada.
— Deixa que faço isso, dona Laura — diz a empregada, uma
jovem que ainda não conheço, negra, bonita.
— Não precisa, querida, obrigada — digo, educada, e ela se
afasta, voltando a ficar parada em um canto, esperando qualquer
pedido. — Não a conheço ainda, qual é o seu nome?
— Eliza — responde, sorrindo.
— A contratamos a pouco tempo, achei que precisava de mais
uma — comenta mamãe, levando sua xícara aos lábios.
Passo a comer meu pedaço de bolo com mel, e tomo um
delicioso suco.
— Pode ir Eliza — dispensa papai, e a empregada se vai. —
Estou ansioso, Laura. Nos diga, o que descobriu sobre Lorrana? —
pergunta papai, esperançoso, em sua voz consigo sentir tamanha
saudade da minha irmã.
— Eu procurei por ela em Nova Iorque, por toda parte, papai,
mas não a encontrei. — informo, e papai baixa a cabeça por um
instante, triste. Mamãe também parece não ter gostado da notícia.
— Mas como pode? O investigador que pagamos não te deu o
endereço certo? — pergunta mamãe.
— Deu, mas é outra moça chamada Lorrana que mora lá, ela
tem as mesmas características físicas, fui na esperança de que fosse
a minha irmã, pensei em tanta coisa, até mesmo na hipótese dela ter
mudado de nome.
— Já pensei nisso pelo fato de não conseguirmos encontrá-la,
mas para quê Lorrana faria uma coisa dessas? Não tem sentido —
raciocina papai, e me entristeço com sua infelicidade.
— Fui na faculdade que ela uma vez disse estar estudando,
como o senhor me informou, mas só confirmei o que o investigador
havia nos passado, que não há registros dela lá. A única coisa
verdadeira é que Lorrana morou mesmo no primeiro apartamento em
que esteve quando foi embora, por cerca de dois anos e meio, e
depois escafedeu-se.
— E mente durante todo esse tempo afirmando que ainda está
em Nova Iorque — diz mamãe, refletindo.
— Sim, o investigador não encontrou nenhuma pista dela.
Então, em Nova Iorque ela não mora, não é possível, estamos há
anos a procurando sem que ela saiba.
— Ela não pode saber, pois como temos certeza de que não
quer voltar, se descobrir que a procuramos, pode se afastar ainda
mais de nós, mesmo não nos contando onde se encontra. Oh,
Lorrana, minha filha... — papai engole em seco e seus olhos brilham,
e fico arrasada. — Durante todo este tempo, ela se comunicou
comigo somente através de ligações e vídeo-chamadas, dizendo que
estava bem, que eu não precisava me preocupar, que não queria
voltar para casa, que estava em Nova Iorque, trabalhando, e não
dava mais detalhes sobre sua vida. Sempre misteriosa, um mistério
inexplicável e nunca quis retornar, mesmo eu... implorando. — as
lágrimas molham o seu rosto.
— Oh, papai... Por favor, não chora. Prometo que continuarei
procurando por ela. Não irei desistir — afirmo, emocionada, em
pranto também
— A Lorrana é uma ingrata! — resmunga mamãe, com os olhos
cheios d’água. — Depois de tudo que fizemos por ela, sumir assim,
por tantos anos, sem dar satisfação...
— A culpa dela ter ido embora é sua, Leonor! — acusa papai,
apontando o dedo na cara de mamãe.
— Eu já disse a você por todos estes anos que não tenho nada
a ver com isso! — exclama mamãe, rebatendo, irritada.
— Então por que ela nunca quis falar contigo, hein?! Por que a
nossa filha, de todos nesta casa, só prefere se comunicar comigo até
hoje?! — papai também altera a voz. — Lorrana não me fala, mas eu
sei que esconde alguma coisa, que possui motivos para não querer
falar com a própria mãe e nem com a irmã. Por que sua irmã não fala
contigo, Laura? — me indaga, e fico sem palavras, chorando. — Ela
prefere falar com Apolo, mas não contigo...
— Eu não sei! — tento me defender, em pranto, mas a verdade
é que no fundo, me sinto culpada. — A gente brigou antes dela
inventar essa viagem para Nova Iorque, e desde então... o senhor
sabe o quanto tentei me reaproximar dela, o quanto tentei falar, mas
ela não quer! Lorrana desligou por várias vezes as vídeo-chamadas
na minha cara... Estou tentando fazer tudo o que posso para trazê-la
de volta para nós!
Papai me olha inconsolável, e não sei mais o que dizer.
— Já eu, não quero falar com quem não dá a mínima para
mim... — afirma mamãe.
— Sua inútil! — xinga papai, em cólera, me assustando. — Você
nunca agiu como uma mãe de verdade! Para nenhuma das nossas
filhas!
— Quem você pensa que é para me falar esses absurdos? Seu
velho...
— Chega! — levanto, batendo as mãos na mesa, fazendo-os se
calarem. E ficamos no mais terrível silêncio.
Eliza reaparece, toda sem jeito.
— Telefone para a senhora, dona Leonor. É aquela pessoa —
diz, encolhida, pois é perceptível que o clima aqui está terrível.
Mamãe respira fundo e se afasta depressa. Papai levanta, está
vestido em um terno, como sempre.
— Vou trabalhar, tenho que gerir a empresa da família com a
qual somente eu me importo. A empresa que paga a fortuna que sua
mãe gasta todo mês, com luxo desnecessário!
Ele vai embora e fico sozinha, ainda mais arrasada, chorando.
Decido me afastar de qualquer pessoa que possa me ver nesse
estado e sigo para o andar de cima, enxugando as lágrimas. Vou
para o quarto de Lorrana, e percebo que tudo ainda está como antes.
— Que saudade, minha irmã... que saudade — murmuro,
lembrando dela. — Desculpa por tudo — volto a chorar, me sentando
em sua cama, e então recebo a ligação de Henrique. Engulo em
seco, e me recomponho antes de atendê-lo, não quero que perceba
que estou chorando. — Oi Henrique — nós conversamos um pouco
e combino de me encontrar com ele no shopping.
Mais tarde, agora juntos, nos dirigimos para um restaurante, e
enquanto esperamos sermos servidos, conversamos. Pergunto a ele
o porquê de ter vindo ao shopping e ele diz que precisava comprar
algumas coisas. Acabo desabafando e conto-lhe o drama que vivo
com a minha família a respeito da minha irmã.
— E é isso, a minha irmã sempre diz ao meu pai que está bem,
que está ótima, que ele não precisa se preocupar, mas não quer
voltar para casa de jeito nenhum — conto, tristonha.
— Meu bem, mas você não acredita mesmo que sua irmã não
quer voltar apenas porque brigou contigo, né?
— Não quero acreditar, mas temo que as nossas intrigas antes
dela sumir tenham algo a ver com isso também. Depois que o tempo
passa e amadurecemos, percebemos que há tantas outras maneiras
melhores de resolvermos um problema, e só o que fica é o
arrependimento.
— Mas se a sua irmã não está em Nova Iorque, onde ela está?
— Não faço a mínima ideia, foi uma surpresa para mim na
época ela ter feito essa viagem para fora do país, ainda mais com a
desculpa de estudar. Lorrana nunca gostou de estudar e muito
menos de viajar para fora.
— É tudo muito estranho, é mesmo um mistério. Mas tente
manter a calma, creio que em algum momento ela irá reaparecer,
pois tudo que vai, volta, é a lei do retorno. — ele me beija, e me sinto
um pouco melhor.
Depois, descemos para o subsolo, para o estacionamento.
Henrique entra no carro primeiro, e quando abro a porta, sinto um
rápido clarão me iluminar da escuridão por milésimos de segundos.
Olho assustada e curiosa para a parede do fundo que não consigo
enxergar direito devido ao breu, parece que nesse ponto as
lâmpadas estão queimadas.
— O que foi meu amor? — pergunta Henrique.
— Você viu? — o indago, sem tirar os olhos da direção em que a
luz veio.
— O quê?
— Parecia um flash de câmera. Acho que alguém me fotografou
— deduzo, intrigada, e dou três passos em direção aonde não
consigo ver.
— Acho que foi impressão sua, eu não vi nada.
— Eu conheço um flash muito bem — penso, em voz alta.
Henrique liga o carro.
— Vamos meu bem — me chama
Então decido deixar isso de lado e vou embora.

No final de semana, Victor chega com Apolo para o almoço na


mansão dos Cordeiro. Sigo para a porta, para receber meu filho, um
pouco ansiosa, já com saudade dele. Vejo-o descer do carro de
bermuda branca, camiseta preta, tênis preto, relógio discreto no
pulso, cabelo bem cortado, e óculos escuros. Uau! Meu bebê está
um gato, mudou completamente o estilo, o que aconteceu com ele?
Então olho para Victor aparecendo mais lindo ainda, e logo
compreendo de onde veio o novo perfil do Apolo, veio do pai, que
realmente sempre teve muito bom gosto. Ele retira os óculos escuros
e me lança um olhar 43, e me seguro para não demonstrar que estou
impactada. Havia esquecido do quanto esse homem é magnífico,
mas tive motivos para isso.
Novamente Henrique laça a minha cintura, firme, e agora tenho
certeza que ele se sente inseguro quando meu ex está por perto, o
que não deveria acontecer, já que Henrique é muito bonito também,
loiro, de olhos azuis, uma beleza extremamente diferente da do
Victor, que é negro, melanina, e possui uma coisa mais... rude,
mais... viril, não sei explicar, mas também não devo me importar com
isso. Sequer devo pensar nisso.
Me afasto do meu namorado para abraçar Apolo.
— Ai meu filho, que saudade! — digo, muito feliz.
— Mãe só estamos sem nos ver há quatro dias — ele observa.
— Mas para mim parece uma eternidade.
— E aí rapaz, tudo bem? — Henrique o cumprimenta, e Apolo o
cumprimenta de volta, enquanto Victor vem em nossa direção. Por
que ele não vai embora? Seu dever era apenas deixar o meu bebê.
— Oi Laura — diz ele, e ergue as sobrancelhas rapidamente
para Henrique, o cumprimentando através desse gesto, e é
correspondido, mas nada além disso.
— Oi Victor — digo.
— Eu preciso conversar com você — informa
— O.K. — assinto, olhando por um momento para Henrique que
não demonstra nenhum incômodo. Ele é bem seguro de si e sabe
que pode confiar em mim, sabe por que deixei Victor — Quer entrar?
— convido, e Victor ri, sem humor.
— Não, sabe que não sou bem vindo aí — ele lembra da intriga
com mamãe, e é verdade
Em alguns minutos, nós dois caminhamos pelo belíssimo e
vasto jardim nos fundos da mansão, que é formado de variadas
flores e árvores, multicor, mas o verde predomina, formando quase
um bosque, pois a propriedade dessa residência é simplesmente
gigantesca e um pouco afastada da cidade.
— O que houve? Descobriu algo em relação ao Apolo? —
pergunto, curiosa, sentindo o calor do homem imenso ao meu lado,
ele nunca deixa de ser quente.
— Sim. No dia em que ele foi te visitar, me enviou uma
mensagem ao sair do seu apartamento, avisando que iria à
Potycabana, passear. Fui conferir se o que estava dizendo era
mesmo verdade e confirmei que sim. O vi lá, de longe, conversando
com uma garota, acho que é a namorada dele — informa Victor.
— Ex, ele veio até mim arrasado, chorou bastante, disse que
seu amor não foi correspondido por ela, fiquei muito preocupada,
mas ao mesmo tempo aliviada por saber que esse relacionamento
não existe mais. Não acho que seja saudável para ele se relacionar
tão jovem assim. Agora só não entendo por que foi encontrá-la —
reflito.
— Laura, Apolo já transa — dispara, me deixando chocada,
boquiaberta.
— O quê? — indago, embasbacada.
— Pois é — afirma Victor, sorrindo orgulhoso.
— E por que você está rindo? Isso... não deveria ter acontecido.
Apolo ainda é um adolescente. Meu Deus...
— Estou rindo porque discordo de você, para mim quanto mais
jovem o homem começar a namorar, melhor.
— Ah, me poupe! — digo, estressada. — As coisas para ele
estão sendo rápidas demais, estou muito assustada.
— Que nada, para cada homem há o momento certo, o dele foi
aos dezesseis, e perdeu a virgindade com uma garota da sua idade.
Ele gosta dela, porém, nunca me apresentou e esse relacionamento
deles me parece muito instável. Também acho melhor que não dê
mais certo, por algum motivo não gosto dessa relação.
— Porque não se trata de um relacionamento, Victor, mas sim
de uma ilusão amorosa boba da adolescência. Mas pelo que
percebo, chegou a níveis profundos demais. Espero que ele não me
apareça aqui com essa menina grávida, porque aí vai ver o que
acontece.
— Só se ele for burro, pois o instruí, dei camisinhas a ele... —
fecho os olhos, pondo a mão na testa. Não acredito que estou
ouvindo isso. É tão difícil processar essa informação. — Não se
preocupa, logo você se acostuma — diz Victor, rindo novamente,
feliz, e seu sorriso me encanta, me fazendo esquecer das idiotices
que ouvi dele segundos atrás. E quando o riso se fecha, um estalo
ecoa em minha mente e saio do transe.
— O instruiu... — repito, balançando a cabeça, desgostosa. — É
só isso?
Nesse momento, Victor me olha profundamente, de uma
maneira intensa, sem brincadeiras e risos, e me deixa mexida,
fazendo meu coração bater mais forte. Por que ele insiste em me
olhar assim? Fico desconcertada, tenho receio do que possa dizer.
Tento entender todas as emoções que passam por mim agora
apenas por estar sob seu olhar, e fujo, antes que... não sei. Antes
que... não quero nem pensar!
Caminho depressa, para longe desse homem, fugindo. Olho
para trás e o vejo vir, com as mãos no bolso, devagar. Ao entrar na
mansão, antes de fechar a porta, observo-o partir em seu carro, e
baixo a cabeça, pensativa, cabisbaixa. Nossa, não posso acreditar
que ainda há um sentimento forte por Victor dentro de mim. Não é
amor, não pode ser, deixei de amá-lo faz tempo, tinha absoluta
certeza disso até... reencontrá-lo.
Tenho que voltar a me manter distante, não posso ficar assim
toda vez que o vejo, me sentindo... Vulnerável. Um dia já amei mais
a ele do que a mim mesma, não posso cometer este erro novamente.
Não posso mais amá-lo, pois trocou uma vida por uma noite.

Minha mãe está muito feliz com a minha presença, sinto que ela
voltou cheia de amor para me dar, e tento retribuí-la o máximo
possível, pois também senti bastante falta dela, mas, por outro lado,
ainda continuo abalado com os acontecimentos que vivi. Nestes
poucos dias após toda aquela loucura, após trocar farpas com Érica
por ligação, não tive mais sinais dela. Por outro lado, também não
tive mais sinais de Aline, e isso é o que realmente está me
preocupando.
Será que o marido dela fez algo contra ela? Não sei, não gosto
nem de pensar. Às vezes vejo seu número no celular, penso em lhe
enviar mensagem, mas não tenho coragem.
A única coisa boa de tudo isso foi ter reencontrado Tatiana, troco
mensagens com ela enquanto as empregadas nos servem na mesa
e meus familiares conversam entre si. Ela pergunta como estou, ela
se importa comigo, e dialogar com essa menina está, de certa forma,
aliviando a minha dor e culpa. Minha mãe me chama e guardo o
smartphone no bolso, resolvo dar total atenção à ela, ela merece, a
minha linda mãe. Como é linda. A amo tanto. Laura Cordeiro é,
definitivamente, a melhor mãe do mundo.
Após o almoço, seguimos para a sala de estar, para conversar, e
deixamos mamãe falar de Henrique para nós. Ele é pintor, e um
homem muito comunicativo, e aos poucos vamos o conhecendo.
— Então você vive da pintura — comento.
— Sim, sou a ovelha negra da família. Todos os meus irmãos e
primos se tornaram médicos, advogados, e eu, de repente,
surpreendi a todos com essa história de pintor, mas insisti, e deu
certo.
— E como deu! Oh, Henrique, nos mostre algumas de suas
obras — pede vovó, ela parece encantada com ele.
— O mais famoso é este aqui, o cavalo dos olhos azuis — ele se
ergue e vem até mim, sentando-se no sofá entre eu e vovó, nos
mostrando a imagem no celular de um cavalo lindo, todo branco, de
olhos azuis, numa floresta intensa. — É o meu maior sucesso, o
mais vendido.
— Realmente é muito bonito — comento.
— Ah, magnífico! É realmente impressionante — comenta vovó.
— Veja só o cuidado, os detalhes, a suavidade. Dá para notar que a
forma como você moveu o pincel foi tão peculiar que a imagem
parece ter nascido pronta.
— E você é carioca, e sempre viaja muito à trabalho — comenta
vovô, puxando assunto. Ele está em sua poltrona, de pernas
cruzadas, em sua finesse.
— Sim. A minha vida é pelo mundo, viajando. Só que, após
tantos anos de exposições e etc., me vi cansado, queria parar um
pouco, e foi então que conheci a sua filha — Henrique troca sorrisos
com minha mãe.
— Bem, vocês dois acabaram de chegar de longos meses de
trabalho, estão namorando, me parecem um casal perfeito, prodígio.
O que pretendem fazer agora? Quais são os planos? — pergunta
vovó.
— Primeiramente descansar — responde dona Laura. — Eu
estava morrendo de saudades de vocês, do meu filho, então quero
ficar parada por um tempo, curtindo a minha família, e também
Henrique. Ele se dispôs a dar essa pausa no seu trabalho para que
possamos nos conhecer melhor.
— Que ótimo, você merece mesmo um descanso, Laura, e
acredito que Henrique também — diz vovô.
— Concordo, mas... há planos de ambos para além do namoro?
— pergunta vovó, chamando a atenção de todos.
— Mamãe, que indiscrição é essa? — está nítido que a minha
mãe odiou a indagação de dona Leonor, que por outro lado, mantém
o sorriso no rosto sem nenhum arrependimento.
— Ora, é só uma curiosidade. O que tem demais?
— Bem, eu estava até agora pensando se falava ou não — diz
Henrique, levantando, parecendo tomar coragem para alguma coisa.
— Mas, aproveitando a deixa de dona Leonor, e já que estão todos
presentes aqui... — ele retira um estojo de alianças do bolso traseiro
da calça e o abre, mostrando alianças magníficas, fazendo todos
esbugalharem os olhos, principalmente a minha mãe — Laura, meu
bem, quer se casar comigo?
MARCAS FATAIS

“— Será que não entende?


Você me deixou uma marca, uma marca fatal”

A cara da minha mãe agora é a melhor de todas. Ela com


certeza foi pega de surpresa, uma surpresa estrondosa. E diante do
seu silêncio sinto vontade de rir, porque, simplesmente, Henrique
instaurou um gelo entre todos, mas sei que foi com as melhores das
intenções.
A única sorridente é a minha vó, que olha para as alianças como
se fossem para ela. Ao ver o semblante do vovô, e por conhecê-lo
bem, noto na hora que ele também está assustado com esse pedido
de casamento tão... repentino. Não sei se Henrique ouviu direito,
mas há pouco minha mãe disse que queria passar esse tempo de
descanso conhecendo-o melhor. Ambos estão juntos só há uns dois
meses, pelo que entendi. Será que ela vai aceitar?
— Oh meu Deus! Eu não acredito! Que lindo! — exclama minha
vó, mirando os anéis de pedras brilhantes, enquanto dona Laura
continua sem saber o que dizer.
— Henrique... você não me avisou nada — ela balbucia, rindo
sem graça.
— Claro que não, meu amor, eu queria te fazer essa surpresa —
Henrique parece superconfiante.
— É que... é que... a gente conversou tão pouco sobre isso... eu
não estava esperando.
— Ai que anel belíssimo, minha filha! Olha! — elogia vovó.
— E então senhor Rivaldo, o senhor aceita que eu me case com
a sua filha? E você Apolo, deixa sua mãe ser a minha esposa?
Minha mãe me olha atônita enquanto estou boquiaberto,
segurando a vontade de rir. Na verdade, não quero que eles se
casem, não. Por mim, minha mãe volta para meu pai, é o que penso
e o que tenho vontade de falar na cara dele agora, mas claro que
não farei isso.
— Bem... meu rapaz... essa decisão só cabe à minha filha, se
ela quiser, quem sou eu para impedir — diz vovô, hesitante.
Henrique volta os olhos para mim, e tenho vontade de sair
correndo com mamãe.
— É com ela — digo, passando a bola de volta para dona Laura
que mantém um sorriso de quem quer dizer “não”, mas não sabe
como. Caralho, isso ‘tá hilário!
O homem se volta novamente para a namorada, esperando uma
resposta, já percebendo o clima constrangedor.
— Ela quer, só está sem palavras — justifica vovó, se
intrometendo, recebendo olhares negativos.
Minha mãe respira fundo, levanta, como uma dama que sempre
foi, fecha o estojo nas mãos do namorado e diz:
— Meu bem, venha comigo — chama, com a voz doce, e o puxa
pela mão, ambos seguem para algum canto da casa.
Minha avó bufa, inconformada.
— Não sei mais o que eu faço com essa sua mãe, Apolo. Não
sei mesmo! — me diz.
— É simples, vovó: deixa ela falar por si — digo, educadamente,
fazendo a senhora revirar os olhos.
— Telefone para a senhora, dona Leonor — diz a nova
empregada, aparecendo do nada. Que gostosa, penso. Nós
trocamos um olhar rápido, e ela se afasta após entregar o telefone
fixo para minha vó que também some de vista em seguida.
Ao ficarmos sozinhos, eu e vovô caímos na gargalhada, olhando
um para o outro.
— Venha meu neto, vamos para o meu escritório, lá poderemos
rir melhor e também conversar. Preciso falar algo com você — me
chama, levantando com a bengala, e juntos nos trancamos em seu
escritório. Ele senta atrás de sua mesa enorme e magna, e eu diante
dele, do outro lado. O espaço é cercado de estantes de madeira
lotadas de livros, o que traz um ar épico e refinado ao ambiente.
Sobre a mesa há papéis empilhados, um notebook e algumas
canetas. Estou curioso para saber o que ele tem a me dizer.
— Serei direto, como sempre sou. A questão Apolo, é que seu
avô a cada dia fica mais velho, e nossa família possui um grande
império nas mãos do qual somente eu cuido. Sua mãe se tornou
independente muito cedo e trilhou pelo mundo da fotografia. Sua tia
Lorrana, como sabe... não quer voltar para casa. Sua avó nunca
serviu para os negócios, e o meu único herdeiro é você, meu único
neto. Você será meu sucessor na Cordeiro. Daqui a alguns anos
quero que assuma o cargo de presidente-chefe na empresa. Quero
que desde já se prepare para ser um CEO, pois esse é o seu futuro,
só há você, não tenho mais ninguém, e preciso que me diga “sim”.
Fico sem palavras por alguns instantes, ainda não havia
pensado nisso, a minha visão de futuro, no momento, só atinge
terminar o ensino médio e me formar.
— Ah... eu ainda não havia pensado nisso, mas... por mim tudo
bem, vovô. É claro que aceito, não vou lhe deixar na mão.
— Sabia que poderia contar contigo, até porque não há outra
opção — ele ri. — Sei que ainda é muito jovem, mas os anos
passam em um piscar de olhos. Logo será um homem e várias
responsabilidades recairão sobre suas costas, por isso que decidi ter
essa conversa agora, pois quero lhe pedir para que foque no seu
futuro, na sua formação, na sua profissionalização. Ano que vem
passarei a levá-lo à sede da Cordeiro, para que comece a entender
como o nosso negócio funciona. O meu pai criou essa empresa e foi
um exímio executivo, eu mantenho a sua linha de eficiência e irei
preparar você para que seja melhor ainda, o melhor de nós.
— Tudo bem, prometo me esforçar — afirmo, e trocamos
sorrisos.
Nesse momento o notebook dele toca e o rosto de vovô
imediatamente lembra ao de um menino ansioso.
— É a sua tia! — diz, e clica em um tecla. — Oi minha filha — é
incrível como ele fica contente ao falar com ela.
— Oi papai, como você está? — ouço a voz da tia Lorrana, já
conversei com ela algumas vezes. O note está de costas para mim.
— Estaria melhor se você voltasse para casa e parasse de
mentir para mim — dispara vovô, se tornando sério e triste ao
mesmo tempo.
— Papai... por favor, não vamos falar disso novamente. Entenda
que eu tenho os meus motivos para não voltar, mas quando estiver
preparada, retornarei — a voz dela é de pura tristeza e dor.
— Lorrana, olhe para mim, eu estou velho. Não deixe para
retornar tarde demais. Me diga de uma vez por todas o que houve, e
por que não quer voltar. Chegará o momento em que não suportarei
mais sua ausência — os olhos dele brilham, e isso me toca
profundamente. Que merda! Por que ela não volta? Será que não
percebe que faz seu próprio pai sofrer?
— Por favor, papai, não chora... Vamos trocar de assunto, me
fala como estão as coisas — ela tenta reverter o clima, mas Vovô já
está muito emotivo, com a mão sobre os olhos, deixando as lágrimas
caírem. Ele então respira fundo, tentando se recompor.
— Fale um pouco com o seu sobrinho, eu preciso tomar uma
água — diz, me chamando com a mão enquanto levanta e caminha
rumo à porta, saindo do escritório. Sento em sua poltrona.
— Oi tia — a cumprimento, vendo-a em lágrimas, tentando
disfarçar. Ela é linda, uma loira dos olhos verdes como a minha mãe,
mas, mesmo assim, não se parecem tanto. Tia Lorrana está com os
ombros e bochechas vermelhas, como sempre, o que me faz deduzir
que pega muita luz do sol diariamente.
— Oi Apolo. Nossa... como você está lindo, e... grande — ela
tenta fortalecer a voz.
— Tia, nunca conversei isso com a senhora, mas não aguento
mais ver meu avô nesse estado. Então lhe peço, volte pra casa.
— Eu voltarei meu sobrinho lindo. Juro que sim, só preciso...
acertar algumas coisas na minha vida. Apenas saiba que existem
coisas que... são difíceis de explicar, por isso não digo nada, ainda.
Mas um dia, todos entenderão, até papai.
— A senhora está bem ou... está doente...? — tento acertar
alguma hipótese.
— Não, eu estou muito bem, não se preocupem comigo neste
sentido. Por favor, tente reconfortar papai, faça isso por mim.
— Faço, mas ele só ficará reconfortado de verdade quando a
senhora retornar — afirmo, e ela assente com a cabeça, pois sabe
que isso é verdade.
— Tenho que desligar agora. Beijos, te amo meu sobrinho lindo.
— Tchau tia, também te amo, mesmo passando a minha vida
inteira falando com a senhora só assim.
Ela desfaz a ligação, e eu respiro fundo, refletindo sobre esse
drama misterioso da nossa família.

Enquanto dirijo, tenho uma única pessoa em mente: Laura! E


percebo que estou fodido, muito fodido, literalmente! Por dois anos
fiquei numa ressaca do caralho por causa dessa mulher, sem
conseguir me relacionar com mais ninguém, vivendo de matar
minhas necessidades carnais com fêmeas aleatórias. E agora,
quando finalmente me sinto seguro para me envolver com outra
pessoa, quando consigo me apaixonar mais uma vez, Laura retorna
avassaladoramente.
Eu não esperava mesmo que revê-la me faria emergir em
variados e complexos sentimentos que nem eu mesmo sabia que
ainda existiam em meu ser. Ainda gosto dela, sou altamente capaz
de assumir meus sentimentos e quando a vi, quando nos falamos,
quando nos tocamos, cheguei a essa conclusão. Antes não tinha
mais ideia se Laura ainda mexia comigo de alguma forma, acho que
a distância e o tempo longe da loira fizeram com que as chamas dos
meus sentimentos diminuíssem gradativamente, só que agora, com o
seu regresso, me sinto em um incêndio infernal.
Estou em xeque com as minha emoções, estou gostando de
verdade de Leda, ela é uma menina legal, interessante, carinhosa,
de bom coração, e a descubro um pouco mais a cada dia. Hoje
mesmo ela enviou mensagem perguntando como estou, como tem
feito todos os dias, além de sempre declarar abertamente que me
ama. Ainda não consigo dizer o mesmo em reciprocidade.
Notei o quanto a ruiva é intensa, ela entregou seus sentimentos
a mim rápido demais e não quero decepcioná-la. Agora sou um
homem sério, foi eu que corri atrás dela e não a deixei partir, eu que
propus um compromisso, agi conforme meus impulsos ordenaram no
momento, e não estou arrependido. Contudo, sei que devo continuar
tomando cuidado com o caminhar da nossa relação, pois estou me
dando uma nova chance, preciso disso para evoluir, para seguir em
frente como a loira fez. E pelo medo de me machucar, prefiro
aproveitar o máximo de tempo na fase do namoro, para ter certeza
absoluta se quero progredir para algo mais sério.
Só que descobrir que a gostosa chique realmente ainda mexe
bastante comigo, é impressionante e assustador! Quando fico a sós
com ela lembro de tantos momentos bons que vivemos juntos, mas
também recordo a injustiça que sofri, e isso me dói na alma. Sou um
homem orgulhoso, sempre fui de amar a mim em primeiro lugar para
depois amar uma mulher, mas isso só durou até conhecer Laura, até
ter o meu filho. Eles se tornaram a minha prioridade, ocuparam o
primeiro lugar no meu coração. Tenho certeza que Apolo ainda
ocupa, mas quanto a Laura, a situação agora é outra, eu fui
injustiçado, se passaram dois anos, estamos com outras pessoas, e
não sei se com essa ferida aberta sou capaz de esquecer o passado
e recolocá-la como primeira em minha vida.
Mas por que está imaginando essa possibilidade, Victor? Não há
mais nenhuma chance de voltar com a loira, ela preferiu jogar todos
os seus sentimentos em uma caixa onde a mentira que inventaram
contra mim se tornou a sua verdade. Lutei até onde deu, não posso
mais fazer nada. Assumi um compromisso com Leda, ela me ama, e
é de amor que preciso, não de ódio, de mentiras, de dúvidas, de
rancor. Apesar de ter ficado surpreso na forma como Laura me
tratou, em nenhum momento me jogou indiretas sobre o passado,
porém, isso realmente não é do seu feitio. O que ela tem para falar,
fala na cara, ponto.
Só há um coisa que está me incomodando em Leda, seu ciúme.
Ciúme é bom até certo ponto. Ela ainda não passou desse ponto, e
espero que não passe, mas não gostei nem um pouco da ruiva ter
ido me procurar naquele dia lá em casa. Não gostei mesmo, mas
para não causar instabilidade entre nós com a chegada da minha ex,
não comentei o meu incômodo com sua atitude.
Chego ao restaurante onde sempre me encontro com o meu
advogado, Cláudio, e balanço a cabeça, tentando me livrar de todos
estes pensamentos, mas não consigo. Enquanto estamos à mesa e
ele me fala sobre a causa que ganhamos contra a mulher que
intentou uma ação contra mim por tê-la demitido da Alcateia,
mantenho-me com a mente distante. Mesmo o olhando diretamente,
sua voz parece longe.
— Era uma ação completamente descabida, por isso ela perdeu.
A sentença foi mais que justa. Lúcia parecia desesperada para
arrancar alguma grana de você — conta Cláudio, ele está todo
elegante, como sempre, de terno, bonitão. — Victor — ele estala os
dedos na frente do meu rosto. — Está aí? Consegue me ouvir? O
que houve?
— Foi mal, Cláudio, estou aqui... percebendo o quanto estou
fodido — digo, desanimado.
— Por que, cara? O que se passa?
— Laura voltou de viagem, e estou namorando com outra
mulher. Nós ficamos quase dois anos sem nos ver após a separação
e... eu achei que não gostava mais dela tanto assim como agora
percebo que gosto.
— E? Qual o problema nisso? — indaga, tentando entender.
— O problema é que estou em compromisso sério com outra
mulher, não quero ficar mexido assim por minha ex. Laura também
está com um zé mauricinho... não temos mais chance alguma.
— Você não me disse uma vez que foi injustiçado, que ela não
acreditou em ti sobre aquela treta da traição e das fotos?
— Sim, e não foi uma traição, foi uma armação, enfim. É
exatamente por isso, mesmo tendo sido injustiçado, depois que
Laura regressou, ficou evidente que ainda gosto dela. Mas as coisas
mudaram, devo esquecê-la.
— Fica com ela de novo — sugere.
— Não me ouviu dizer que tanto eu como ela estamos com
outras pessoas?
— E daí? Fica com as duas e dá um perdido no mauricinho,
simples — Cláudio gargalha. Eu rio sem humor e reviro os olhos,
suspirando.
— Não, meu amigo, aposentei da vida de cafajeste já faz tempo.
Hoje em dia não sou mais capaz de agir assim, dá até preguiça,
prefiro evitar problemas, prefiro me relacionar somente com
mulheres descompromissadas como estou agora e se entro num
relacionamento é pra valer.
— Que lindo, parabéns pra você — diz ele, em deboche. — Eu
queria que Maria, a minha esposa, fosse o suficiente, mas sou
insaciável.
— Não fala assim da sua mulher, cara, — peço — nenhuma
esposa merece isso.
— Há controvérsias, meu caro Victor. Há controvérsias —
rebate, sorridente, sem culpa alguma. Incrível que miro Cláudio e
lembro muito de mim quando bem jovem, antes de me apaixonar por
Laura, que foi a primeira mulher que amei, e única até agora. Só que
me vejo nele na fase anterior à gostosa chique, quando ainda era um
jovem inconsequente, não depois que casei, depois que aprendi o
que é ser homem de verdade. E ver Cláudio nessa situação, me faz
achá-lo até um pouco... desprezível.
Porém, ele não é o único, existem muitos homens iguais. É
assim desde que o mundo é mundo. Não há o que fazer.

Hoje aceitei o convite de Tati para ir ao cinema. Estou indo sem


pretensão alguma, continuo na vibe de que não sou bom o bastante
para ela. Depois que Érica sumiu e não tenho mais contato com
Aline, após minha mãe ter voltado também, tenho conversado muito
com Tatiana, praticamente todos os dias, e isso vem afagando um
pouco a minha culpa dos erros que cometi, e aceitei seu convite para
tentar aliviar ainda mais o meu remorso por ter me deixado ser
manipulado por uma pessoa maligna. E também porque quero me
esquecer de uma vez por todas da Afrodisíaca.
Tati me leva para assistir a uma comédia romântica, como na
outra vez, e quando menos espero, me pego rindo, gargalhando
bastante até, ao lado dela, e vê-la rir é tão lindo. Quando a história
se torna mais dramática e intensa, o momento em que o casal briga,
ela pousa a cabeça sobre meu ombro, e ficamos juntinhos um ao
outro, mas não tento beijá-la ou algo do tipo, fico na minha.
Quando saímos do cinema, caminhamos à toa pelo shopping,
ela toma a minha mão e não larga mais. Eu não reclamo e nem me
incomodo, gosto de sentir meu calor se misturar ao dela através do
nosso toque. Compro sorvete de casquinha para nós e nos
deliciamos enquanto andamos e conversamos milhares de assuntos
aleatórios, nos divertindo pelo simples fato de estarmos juntos. E, de
repente, esqueço de todos os meus problemas, de todas as minhas
cagadas.
— Manchou aqui — digo, levando o polegar à bochecha dela
suja de sorvete de baunilha, e trocamos um olhar profundo com esse
meu gesto. Vejo que ela espera mais de mim, espera um beijo, mas
me afasto, fazendo-a baixar os olhos. — Pronto, ‘tá limpa agora —
digo, quebrando o clima.
— Ah, que bom — ela fala, com um sorriso, mas percebo que
não é verdadeiro.
No final de semana, a convido para me visitar e tomar banho de
piscina comigo. Ela disse que estava afim de uma piscina, devido ao
calorão, e então eu decidi unir o útil ao agradável. Victor está em
casa quando ela chega, e os apresento.
— Victor, essa é a Tati. Tati, esse é o Victor — falo.
— Olá Tati — diz Victor, trocando um aperto de mão com ela.
— Olá, senhor Victor — Tati sorri para ele.
— Pode me chamar só de Victor mesmo. Finalmente estou te
conhecendo, já estava passando da hora — comenta ele, e ao ver a
expressão de incompreensão de Tati, fico nervoso imediatamente,
pois lembro que Victor acha que Tati e eu estamos nesse enrolo
desde quando a conheci no shopping, pois sempre usei o nome dela
em falso.
— Passando da hora? — indaga ela, com um sorriso de quem
não entende.
— É, pelo tempo que ouço falar em seu nome. Você é famosa
aqui...
— Ah... Vem Tati, vamos logo para a piscina, esse é o melhor
momento — digo, a puxando pela mão, depressa, antes que esse
assunto acabe muito mal para mim.
— Filho — Victor me faz parar. — Estou de saída, vou ver a
Leda.
— ‘Tá bom — digo, e continuo andando com Tati até a piscina.
— Não entendi o que seu pai quis dizer com já passava da
hora...
— Esquece, é que... durante o tempo que ficamos sem nos ver,
comentei sobre você algumas vezes — minto.
— É mesmo? E o que falou de mim? — indaga, curiosa.
— Só coisas boas, é claro — falo, fazendo-a sorrir, depois a
garota olha para a piscina. — Essa água está me chamando —
comenta. — Mas preciso vestir o biquíni.
— Tem aquele banheiro ali e tem o meu quarto, fica à vontade.
— Prefiro o seu quarto — afirma, e a levo até lá, ela está com
uma mochila que parece cheia de tudo o que precisa. À espero fora
do quarto, pois eu já estou pronto para banhar, uso um calção de
banho e regata.
E de repente, Tatiana abre a porta e surge só de biquíni, de
cores claras, que combinam perfeitamente com seu tom de pele.
Nunca a vi com tão pouca roupa assim, e fico encantado com sua
beleza tão pura e divina.
— Estou pronta — afirma, me fazendo engolir em seco, e então
descemos. Ao ver sua bunda branquinha, redonda e perfeita
rebolando na minha frente, sinto meu pau ter impulsos, mas desvio o
olhar, não quero ficar excitado agora, marcar o calção e estragar
tudo, pois, apesar de usar sunga por dentro, sei que se ficar duro, a
marca ficará extremamente à vista.
Minutos depois, sob o olhar atento dela, retiro minha regata,
ficando somente de calção, e Tatiana não consegue evitar de mirar o
meu corpo. Entramos na piscina e passamos a nos divertir muito.
Pego uma bola e jogamos vôlei dentro d’água, desajeitadamente,
mas jogamos. Depois brincamos, nadando juntos, trocando sorrisos,
e me encanto ainda mais com a beleza dela, por seus cachos
molhados. Em um momento, a agarro, prendendo-a em meus braços
enquanto gargalhamos, e em seguida, os risos se vão, e me
aprofundo em seus olhos cor de mel, que mais parecem o paraíso
absoluto.
Ela fecha os olhos, como uma fada encantada, me fascinando, e
aproxima os nossos rostos, buscando um beijo, mas imediatamente
lembro que não devo fazer isso e a solto dos meus braços, sem jeito,
deixando-a confusa.
— O que foi? — me pergunta.
— Nada — minto, baixando os olhos, e em seguida volto a mirá-
la.
Tatiana parece triste, decepcionada, e nada até a escadinha,
saindo da piscina em seguida.
— Aonde vai? — pergunto.
— Embora — diz ela, se envolvendo em um roupão enquanto
saio da piscina também.
— Mas já? — pergunto, e a garota simplesmente foge de mim,
caminhando depressa para dentro de casa.
Pego outro roupão da espreguiçadeira e o visto, seguindo-a. Ao
chegar na sala, vejo Tati correndo, subindo a escada.
— Tati! — a chamo, mas ela não me dá ouvidos.
Ao chegar no meu quarto, vejo-a mexendo na mochila com
pressa, procurando sua roupa.
— Tati — a chamo novamente, segurando em suas mãos,
fazendo-a parar de se mover, e quando ela vira o rosto para mim,
vejo seus olhos molhados do pranto silencioso o que me deixa muito
impressionado. — Porque... — desisto de perguntar e a abraço forte,
eu sei por que ela está assim — Entenda, eu não sou bom pra
você... — sussurro. — Você disse que podíamos ser amigos...
— Eu sei o que disse, mas não dá... eu gosto de você, Apolo, e
se for para ser assim, é melhor eu ir embora mesmo — choraminga,
mexendo comigo, pois sinto que suas palavras são sinceras. —
Agora tenho certeza mesmo que não gosta de mim. — declara, me
deixando contra parede.
Assim, tomo uma atitude, seguro seu rosto entre as mãos e a
beijo, chutando o balde. Sinto seus lábios sensíveis escorregarem
pelos meus, famintos e delicados, ela estava esperando por isso, ela
queria mais de mim. Vejo-a fechar os olhos e fecho os meus
também, esquecendo por alguns instantes dos problemas e curtindo
o toque doce e quente dessa garota, do qual havia me esquecido.
Quando paramos, ofegantes, trocamos sorrisos, já consegui
reverter a situação.
Daqui a pouco, estamos na cama, ainda namorando e sorrindo,
felizes. Eu sobre ela, e os beijos nunca cessam. Agora estou ainda
maior perto de Tatiana, que tem seu corpinho delicado e minúsculo
sob mim. É inevitável não ficar excitado assim, com ela apenas de
biquíni, uma verdadeira tentação, e acaba sentindo a minha ereção
forte que tanto tentei esconder, dentro do calção úmido, que pesa
contra uma de suas coxas.
Saímos de um beijo longo, que nos faz perder o ar novamente, e
ela olha para baixo, rumo ao meio das minhas pernas. Sigo o seu
olhar, entendendo o que está notando e depois miro seus olhos, eles
estão vacilantes. Assim, decido acomodar meu quadril sobre o
colchão, saindo quase totalmente de cima dela, pois agora a respeito
mais do que antes. Agora entendo que Tati é e sempre foi diferente
das outras.
E nesse silêncio gostoso que parece dizer tudo, a garota
acaricia o meu rosto, me olhando apaixonada, enquanto me
transpassa paz. Minha boca é buscada, e novamente nos beijamos
intensamente.
— Como será agora? — pergunta, curiosa.
— Já que você não quer só a minha amizade, podemos
continuar assim, ficando, como estávamos fazendo meses atrás.
— Tu não quer nada além disso comigo, né? Nunca quis —
pergunta, desviando o olhar, triste.
— Eu vou te explicar o que está acontecendo: eu gosto sim de
você Tatiana, mas no tempo em que ficamos sem nos ver, eu
conheci outra pessoa e... foi muito ruim pra mim, ainda dói. Ela me
pediu para fazer coisas... do mal... que não consigo esquecer. Fiz
muita burrada por causa dela, fui um idiota, agora percebo isso — a
minha voz sai machucada. Saio de cima da garota e deito ao lado,
olhando para o teto.
— E você... ainda está com ela? — pergunta, com medo.
— Claro que não. Foi uma decepção.
— E que coisa do mal foi essa que ela...
— Você não entenderia, e eu não quero falar — a corto,
fazendo-a se calar por alguns segundos.
— Ainda gosta dela, né? — sua voz soa triste novamente. Olho
em seus olhos, sem saber o que dizer e meu silêncio responde a sua
pergunta.
— Mas não quero mais gostar. E me odeio por ainda lembrar
dela — rosno as últimas palavras. — Ela nunca me amou de verdade
como disse. E é por isso, e por toda a merda que eu fiz, que tenho
certeza que não te mereço, nem como amiga, porque... sei que você
é uma garota especial... Eu devia ter ficado contigo ao invés de me
envolver com aquela desgraçada — reflito, olhando para o nada,
segurando lágrimas de sangue, e depois miro a garota ao meu lado
novamente, que se mantém pensativa. — Agora entende?
— Sim. Só que... sou eu que tenho que dizer se você é bom o
bastante pra mim ou não. Deixa eu tentar te fazer esquecer dela,
então — pede, sugerindo essa ideia. — Minha avó costuma dizer
que só se esquece um amor com outro amor ainda maior.
— E você me ama? — pergunto, a deixando desconcertada.
— Ah, garoto, também não força — diz, virando para o outro
lado, me fazendo rir e abraçá-la. — Eu só sei que gosto, só isso. E
se você gosta mesmo de mim também, acho que devíamos tentar.
Agora senão quiser, vou embora e pronto.
— Eu aceito — digo, apertando-a em meus braços e beijando
seu ombro. — Aceito, aceito, aceito — repito, fazendo-a rir.
— Mas se dessa vez tu ficar com outra, pode me esquecer,
Apolo — diz, voltando a ser séria, virando para mim.
— Não vou ficar, prometo — falo, a beijando e a agarrando forte,
grudando os nossos corpos. Chega um momento que a minha mão,
sem querer, escorrega para a sua bunda, mas ela puxa de volta para
as costas, me fazendo rir.
— Como posso confiar em ti dessa vez?
— Porque... como eu já te disse, hoje sei que tu foi a melhor
garota que já conheci, e... agora que estamos juntos de novo, você
consegue me passar uma paz diante da confusão que está a minha
cabeça, e isso me faz muito bem, não quero te perder.
Ela sorri, contente, parece satisfeita e me beija mais vezes.
Mais tarde, quando chega o momento da despedida, é que
percebo que essa garota conseguiu me enfeitiçar de uma maneira
diferente, com doçura, com carinho, com mimo. Um sentimento novo,
que por incrível que pareça, estou sentindo só agora.
E depois, sozinho em meu quarto, jogado sobre a cama, reflito
sobre esses momentos que passamos juntos hoje, com um sorriso
bobo estampado no rosto, e penso que se ela estivesse namorando
comigo só de biquíni assim meses atrás, na minha pressa, na minha
fome desesperada por sexo, teria feito de tudo para tentar transar
com ela, não teria parado para pensar que certas coisas possuem o
seu momento, a sua hora, e que, garotas como Tatiana, merecem o
melhor, e não o imediato.

Um mês se passa, e durante esse tempo vejo Tati quase todos


os dias, nós vivemos um verdadeiro romance adolescente, fofo,
carinhoso e puro. E noto que, mais uma vez, uma mulher me fez
mudar, só que diferentemente de Érica, Tati me mudou para melhor,
tanto que, por gostar dela, não tenho mais pressa em evoluir a nossa
relação para o sexo como quando nos conhecemos.
Ela conseguiu nesse tempo me fazer esquecer um pouco mais
das merdas que fiz no passado, conseguiu me relaxar, me divertiu,
me fez sorrir e ser feliz. E por isso, hoje, em um novo encontro no
parque ao qual tanto gostamos de ir, ela vem correndo em minha
direção, feliz, sorridente, quando me vê com um buquê de rosas e
uma caixa de chocolates. Minha garota rapidamente fica
emocionada, chorando, enquanto recebe tudo das minhas mãos.
Afasto o cabelo do seu lindo rosto e a beijo intensamente.
— Quer ser a minha namorada? — indago, e ela faz vários
gestos positivos com a cabeça, em pranto.
— É claro que sim... eu quero, quero muito! — afirma, sentindo o
cheiro das rosas e buscando mais um beijo meu. — Isso é tão lindo e
tão romântico! Meu Deus, não vou conseguir parar de chorar —
choraminga, e em seguida recebe o meu abraço.
— Ei gatinha, pare de chorar — digo, lhe fazendo carinho e
distribuindo vários beijinhos por seu rosto. — Eu já devia ter feito isso
há muito tempo. Você está me fazendo um bem enorme e
cicatrizando feridas em mim que nem pode imaginar. — declaro,
sincero, a beijando novamente, e Tatiana se derrete inteira.
Após eu conseguir acalmá-la, nós vamos para um dos barzinhos
que há por aqui, e sentamos a uma mesa. Está um fim de tarde
lindo, o sol se põe belíssimo, e no parque há aquele movimento de
sempre de pessoas para lá e para cá. Peço sanduíches e sucos e
lancho com a minha namorada. Entretanto, em um momento, noto o
seu olhar distante, perdido.
— O que foi? — pergunto, chamando a sua atenção, fazendo-a
sair de seus pensamentos.
— Preciso te contar uma coisa — diz, com uma carinha triste.
— Conta — peço.
— A minha família não sabe da gente — revela, insegura.
— Por quê? — pergunto, após alguns longos segundos de
silêncio, tentando raciocinar a lógica dessa informação.
— Porque meu pai é muito ciumento, sempre diz que não devo
pensar nessas coisas com a idade que tenho, e que não quer nem
sonhar comigo namorando.
— E sua mãe?
— Não contei a ela porque não tenho certeza se guardaria esse
segredo, não costumo conversar essas coisas com a minha mãe, só
com a empregada, que é a minha melhor amiga. Ela sabe da gente
desde o início.
— Mas isso não é um problema, eu falo com o seu pai se for
preciso — afirmo, e Tati ri, apaixonada.
— Esperava que você dissesse isso, mas... Não vai funcionar.
Meu pai é muito intransigente e acha que nós adolescentes somos
retardados e sem opinião própria. É isso, basicamente. Ele também
é muito machista, se pelo menos sonhar que já fui várias vezes na
sua casa, que nos encontramos frequentemente, vai me matar, e é
capaz de querer te trucidar vivo.
Esbugalho os olhos, chocado, com um sorriso de espanto.
— Nossa, de que época ele é? — pergunto, e Tati fica em
silêncio. Me mantenho calado por alguns segundos, pensando e
pensando. — Tive uma ideia, vou falar com meu pai, ele pode nos
ajudar, é experiente e sempre me dá bons conselhos — digo,
fazendo minha namorada rir, feliz.
— Sério? Tu faria isso por nós? — pergunta, contente.
— Claro. Eu quero ficar com você, só com você — digo, e ganho
milhares de beijos de felicidade.
Mais tarde, em casa, conto a situação ao Victor.
— Isso é muito simples de resolver, filho: diga a Tati para ter
coragem e contar ao pai dela sobre vocês, e falar também que quero
encontrá-lo para conversar a respeito desse namoro. Pode ser
qualquer dia. Pode ter certeza absoluta que depois de conversarmos,
ele não terá mais impasses quanto a esse relacionamento.
— Ah, ‘tá bom então, obrigado! — digo, feliz da vida.
— Nossa, que felicidade — nota Victor — Só me diz uma coisa,
com todo esse tempo em que vocês estão juntos, por que só decidiu
assumir esse namoro agora?
— Ah, é que... — fico hesitante, é incrível como uma mentira
sempre leva a outra. Estou numa bola de neve feita delas desde que
conheci Érica. — Nós passamos por muitos momentos conturbados,
e... Só agora tenho certeza que gosto da Tati de verdade.
— Humm, olha o que temos aqui, o lobinho está apaixonado —
ele zoa.
— Ah, pode parar! — rebato.
— Eu sei como é amar pela primeira vez. É muito bom,
aproveite meu filho.
Mais tarde, já pronto para dormir, na cama, pelado sob as
cobertas, pois não gosto de dormir com roupa, aviso a minha
namorada por mensagem sobre o que conversei com Victor:
TATI: Quando eu tiver coragem, conto tudo a ele, ai te aviso.
APOLO: ‘Tá bom. Mas não demora, não quero esconder de
ninguém que estou contigo.
Travo o celular, pondo-o ao lado, e me ajeito para dormir, com
um sorriso de satisfação no rosto, sentindo uma paz enorme. Tudo
parece se encaixar na minha vida agora.
Entretanto, meu celular vibra, um número desconhecido está me
ligando. Hesito em atender, mas atendo.
— Alô? — indago, curioso, no relógio marca meia-noite.
— Apolo — fico gelado ao ouvir essa voz.
— Aline? — indago, incrédulo.
— Sim, sou eu... como você está? — ela sussurra ao telefone.
— Estou... bem. E... e você? Fiquei preocupado, o seu
marido...?
— Preciso conversar contigo pessoalmente, temos que nos
encontrar.
Meu coração acelera. Será que ela descobriu tudo?
— Conversar sobre o quê? — pergunto, receoso.
— Pode ser amanhã na academia?
Fico sem palavras por longos segundos.
— Eu acho melhor não, Aline... Me desculpa, mas a última vez
foi muito complicado. Não quero que você e nem eu... corra mais
esse risco...
— Não se preocupe, não correremos perigo, mas preciso
mesmo conversar. Por favor, me encontre lá no horário de sempre.
Irei aguardá-lo.
A ligação é encerrada e o celular permanece grudado à minha
orelha por vários segundos depois. Um sensação ruim invade todo o
meu corpo, e fico bastante preocupado. O que ela quer? Por que
esse encontro após todo o perigo e sufoco que passamos com
aquele flagrante? Passo as mãos no rosto, meio nervoso e já suando
frio com as horas que fico sem dormir pensando em milhões de
possibilidades sobre o que Aline quer comigo.
O meu maior medo é dela ter descoberto que eu conhecia Érica,
e achar que sou o grande vilão de toda essa história, porque é
exatamente isso que Aline pensará se souber da verdade. De
repente, a culpa de tudo que fiz volta a me dominar de uma forma
tão intensa que chega a doer minha cabeça. Por outro lado, quero
saber como Aline está depois do flagrante, preciso me certificar de
que não sofreu nenhum mal. Fico ansioso e rolo na cama até de
manhã, acho que só consegui dormir umas três horas.
À tarde, após voltar da escola, tomar banho e almoçar, aproveito
que Victor não está, ponho minha roupa de treino e sigo para o ponto
de encontro, decido a, se for preciso, revelar toda a verdade. Não sei
se sou capaz disso, imagino centenas de respostas e explicações
para dar caso seja acusado, e acabo me perdendo.
Ao entrar na academia, caminho a passos receosos, procurando
pela mulher da qual fui amante. Pelo menos aqui é um local público,
bem movimentado, me sinto mais seguro assim. Demoro encontrá-la,
mas a encontro, na lanchonete, no balcão, de mãos cruzadas,
parece pensativa. Ao me ver, de longe, suas sobrancelhas se
erguem, seus lábios sugerem um sorriso, mas seus olhos miram ao
redor, e a mulher se contém.
Aline fica de pé, faz um sinal com o rosto para mim e passa a
caminhar rumo à outras salas da academia. A sigo, bem atento
também, tudo parece normal por aqui. Ela adentra na sala de dança
e quando entro logo em seguida, percebo que está vazia e com a
maioria das luzes apagadas, é um espaço com vários e enormes
espelhos nas paredes, discreto e privado no momento.
— Fecha a porta... — murmura ela, e a obedeço.
Em seguida, sou abraçado fortemente pela mulher que deixa as
lágrimas caírem, e fico sem ação por vários segundos, até conseguir
correspondê-la, a abraçando também.
— Aline... O que houve? — pergunto, tentando entendê-la.
— Graças a Deus você está bem... — choraminga. — Faz mais
de um mês que não nos vemos, não sabia como estava depois
daquela queda horrível do prédio. Preferi não entrar em contato,
João estava me vigiando 24h após o acontecido e só agora deu uma
folga.
— Eu estou bem, não se preocupe. Também fiquei preocupado
contigo, por isso vim te ver. Pensei várias vezes em te mandar
mensagem perguntando se estava tudo bem, mas... não tive
coragem. Desculpa — peço, sentindo culpa.
Ela respira fundo, deixando de me abraçar e enxuga as
lágrimas.
— Por incrível que pareça, no fim das contas, ficou tudo bem —
conta, me surpreendendo. — Quer dizer, ficou mais ou menos.
— Como assim? — Pergunto. — Vocês se separaram?
— Eu tentei, mas ele não quis. Após aquele alvoroço no
apartamento, o convenci a voltar para casa o mais rápido possível,
por causa do tiro, não podíamos chamar ainda mais atenção. Ao
sairmos de lá, todos os moradores estavam em dúvida sobre qual AP
aconteceu tudo, e no caminho de volta para casa, nos livramos da
arma. Graças a Deus ninguém filmou ou fotografou algo — lembro
de Érica me fotografando neste momento. — Ao chegarmos em
casa, você pode imaginar tudo que tive que ouvir dele, me tratando
como se nunca tivesse feito pior. Mas dessa vez não fiquei calada,
rebati tudo no mesmo tom e o relembrei do quanto sofri com suas
traições, de tudo que ele vem fazendo há longos anos.
“Que se ele queria respeito, que me respeitasse também. Falei o
quanto estava me sentindo sozinha e esquecida e que não
aguentava mais essa vida. Afirmei que ia embora e pedi o divórcio.
Mas o jogo virou de repente sem que eu me desse conta, e ele não
quis me deixar ir, de jeito nenhum, implorou para que eu mudasse de
ideia, apelou até para os nossos filhos. Pediu perdão por todos os
seus erros e prometeu que se ficássemos juntos tudo iria ser
diferente. João falou que preferia tudo, menos me perder. Bem, a
maior parte das coisas que saíram da sua boca foram palavras
repetidas desde que passei a descobrir suas traições, mas... eu só
decidi ficar com ele ainda, porque notei que preferiu engolir o troco
que lhe dei a me deixar, coisa que jamais imaginei que ele seria
capaz de fazer. E também por nossos filhos, seria duro demais para
eles a ausência do pai”
— Então vocês continuam juntos? — pergunto, aliviado, ela
assente com a cabeça. — Que bom! Eu fiquei preocupado, achando
que tinha prejudicado o seu casamento, a sua vida. Nossa, que
alívio.
Aline se mantém alguns segundos calada, me observando.
— Apolo, eu só consegui revidar as duras palavras do meu
marido por sua causa — revela, me surpreendendo mais uma vez e
fechando o meu sorriso.
— Por minha causa?
— Sim, tive muito tempo para pensar sobre isso e contigo me
senti amada, desejada, cuidada. Você me trouxe sensações e
emoções que eu já não sentia com o João há anos, que eu havia
esquecido. Antes de nós dois, nem mesmo lembrava mais o que era
ser mulher, vivia abatida e sofrida. E agora me tornei outra pessoa,
me sinto forte como quando era mais jovem. Me sinto capaz,
confiante, independente. João agora me respeita mais, me leva para
sair com ele em algumas ocasiões novamente, e me afirmou que tem
medo de me perder.
Fico sem graça com toda essa declaração.
— Que bom... — digo, sem jeito. — Agora... agora você pode...
recomeçar com seu casamento...
— ‘Tá falando sério? — pergunta, me deixando sem palavras. —
Apolo... João mudou tarde demais. Achei que permanecendo com
ele era a melhor opção, mas só consigo pensar em você todos os
dias, e percebi que não tenho mais amor pelo meu marido. O amor
acabou, não sinto mais nada com ele, e não o quero mais. Quero
você — declara, me fazendo arregalar os olhos, sem reação. Jamais
esperava por isso.
— O quê? — pergunto incrédulo, minha voz quase não sai.
— Será que não entende? Você me deixou uma marca, uma
marca fatal — afirma, sorrindo apaixonada.
AS PEÇAS DO JOGO

“— Você garoto, é só mais uma peça desse jogo”

Prossigo paralisado, uma estátua sem expressão diante de


Aline. Isso não está acontecendo.
— Eu tentei te esquecer e me doar novamente e inteiramente
para minha família, para tentar pela milésima vez salvar o meu
casamento. Mas... estou cansada, e, mesmo pensando em meus
filhos, por que só eu devo ser infeliz? Eles podem ser felizes com a
minha felicidade também. Isso é possível, não é? — indaga, e
continuo sem palavras. Ponho a mão na testa e olho para o chão,
querendo fugir. — Além disso, Apolo, a sua imagem sempre vem a
minha mente. Nós dois, os momentos que passamos juntos. — ela
segura a minha mão, e em seguida oferece os lábios para um beijo
que nego, e recuo, me afastando dela.
— Acho melhor pararmos por aqui, Aline — digo, sem coragem
de encará-la. — Eu te entendo, mas... não dá... eu fiz tudo errado...
não devia ter ficado contigo, não devia ter abalado o seu
casamento...
— Quando você chegou o meu casamento já estava abalado.
Apolo, você me salvou, me mostrou que tenho valor...
— Não, eu te fiz um mal terrível, eu... te enganei — agora olho
em seus olhos, com pesar, com o coração quase saindo pela boca,
ela precisa saber da verdade.
— Como assim me enganou? — pergunta, sem entender, e
tomo coragem para poder lhe contar os fatos reais. — Tem
namorada, é isso?
— Agora tenho, mas não é isso...
— É claro que é, você também traiu quando ficou comigo —
conclui, decepcionada.
— Não...
— Você só queria experimentar algo novo, é isso?
— Não! — exclamo, deixando as lágrimas caírem.
— E então é o quê?
Estou boquiaberto, encarando-a, mas as palavras simplesmente
não saem. Se eu contar tudo, ela vai me odiar para sempre.
— Perdão... — murmuro, e lhe dou as costas, caminhando para
a porta.
— Não Apolo, não vai, espera, vamos conversar — diz,
agoniada, me puxando e me roubando um beijo — Eu sonho com
nós dois quase todas as noites.
Me afasto, com educação.
— Não posso mais, por favor. Só o que te peço é que me perdoe
por tudo que fiz.
— Como assim? — Aline jamais vai compreender, óbvio, e então
vou embora. — Apolo! — a sua voz fica distante a cada passo
apressado que dou para o mais longe possível.

É quase 23h quando chego na casa de Leda, toco a campainha


e ela me atende, enrolada numa toalha, já me fazendo abrir um
sorriso safado, mordendo o lábio inferior — como é gostosa a minha
ruiva. O seu cabelo está perfeito, ainda mais liso do que o comum, o
rosto numa maquiagem marcante e o perfume exalando como
sempre.
Antes que eu consiga falar alguma coisa, Leda me puxa e fecha
a porta, mal percebendo que estou com uma sacola atraente na
outra mão.
— Você vai me fazer perder o show do meu ídolo, chegou
atrasado, vem aqui me ajudar a pôr o vestido! — diz, agoniada.
— Calma — sorrio, fazendo-a parar e lhe agarrando em meus
braços, lhe beijando gostoso, matando a saudade.
— Meu batom, Victor — geme, manhosa, e se afasta, voltando a
me arrastar para o seu quarto.
— Não se preocupe, o show só terá início quando nós
chegarmos na Alcateia, já deixei Everton avisado. E cheguei só
agora porque estava lá, acertando os últimos detalhes. — informo,
enquanto Leda pega um vestido do guarda-roupas. — Você não vai
usar isso hoje — afirmo.
— Por que não? — ela pergunta, e finalmente mira a sacola que
carrego. — O que é isso? — indaga, com um sorriso.
— Um presente que você não deu a mínima porque está com a
cabeça só nesse DJ.
— Oh amor, um presente? Nossa, deixa eu ver — diz,
carinhosa, voltando a me beijar, e brinco, fazendo-a se cansar até
conseguir arrancar a sacola de mim.
A ruiva fica embasbacada quando vê o seu lindo e caríssimo
vestido preto que comprei.
— Ele é lindo — diz, encantada.
— Tem mais aí dentro — aviso, e ela pega uma caixinha, abre,
se deparando com um lindo colar. — Oh meu Deus, Victor, que
maravilhoso. Deve ter custado o olho da...
— Shiii — faço, me aproximando dela, e lhe beijando gostoso
novamente. — É pra você, vamos ver como fica.
Após Leda estar pronta, já no vestido que delineia perfeitamente
seu corpo e deixa seu decote atrativo, como uma verdadeira gata,
fico às suas costas, de frente para o imenso espelho, pondo
delicadamente sua gargantilha de prata com um lindo pingente de
topázio branco, enquanto ela segura as madeixas vermelhas, com
um sorriso imenso no rosto, trocando olhares comigo através do
reflexo.
— Ficou lindo, amor, adorei — ela sorri, encantada, apreciando
o look em frente ao espelho enquanto sento na cama, contemplando
sua beleza e felicidade, Leda me conquista com seu jeito a cada dia.
— Por acaso isso é um presente de namoro? — pergunta, vindo até
mim e parando na minha frente, pondo as mãos sobre meus ombros.
— Não, é um presente sem motivos. Quis presentear a minha
namorada e fim, não posso? — indago, e ela ri.
— Claro que pode. Mas... como posso te recompensar —
pergunta, acariciando o meu rosto.
— Já é uma recompensa ter você comigo. Nesse tempo que
estamos juntos estou descobrindo o quão especial você é e me sinto
muito bem ao seu lado, quero que continue assim — Leda se derrete
com minhas palavras, olhando para mim apaixonada. — Mas... —
ela ri. — Que foi?
— Eu sabia que teria um “mas”, te conheço, senhor Victor Lobo
— comenta, enquanto minhas mãos seguem para a barra do seu
vestido curto que passa a ser erguido vagarosamente, e a ruiva para
de rir, me olhando sensual.
— Então, como eu dizia, mas... uma recompensa a mais sempre
é bem-vinda — falo, olhando-a devasso, descobrindo a sua bunda.
— Não pode ser mais tarde? Agora temos que ir para a Alcateia
— lembra.
— Nós vamos agora, não se preocupe. Porém, acho que há
roupa demais aqui — digo, irônico, puxando sua calcinha vermelha
de renda e vendo sua boceta deliciosa e chamativa aparecer. Tenho
que me controlar muito para não chupá-la e fodê-la agora mesmo.
— Victor, olha o seu id — avisa ela, com um sorriso safado.
— Quem? — pergunto, escorregando sua calcinha até o chão.
— O id, ele é uma das instâncias que formam a psique humana,
da teoria de Freud.
— Ah sim — finjo lhe dar atenção, enquanto minhas mãos
enormes voltam a apalpar suas pernas devagar, subindo, a
excitando, fazendo Leda arfar.
— O id, o ego e... Ooh... — sua voz falha quando aperto as suas
nádegas com força — E o superego... nunca ouviu falar?
— Ah sim, já ouvi, claro — deposito um beijo quente em seu
umbigo, fazendo-a soltar um gemidinho, e as mãos dela vão para a
minha cabeça, as unhas já esfregando em meu couro cabeludo.
— Nesse momento... seu id está falando mais alto.
— Ah é? Por quê? Fala pra mim, minha psicóloga — sussurro,
abrindo suas nádegas e lhe dando outro beijo, agora um pouco mais
embaixo.
— Porque você está se deixando levar por instintos primitivos...
desejos e pulsões do prazer.
— Mas eu ainda nem te mostrei o quanto posso ser primitivo
hoje e levá-la ao mais extremo prazer — murmuro, imoral, beijando
sua vulva.
— Oor... Victor — ela geme forte, fechando os olhos,
pressionando meu rosto contra sua xota.
Envolvo seu clitóris com a minha língua, girando em volta,
esfregando meus lábios em sua carne em um beijo suave, não
permitindo que a gostosa abra as pernas ou erga a coxa para obter o
meu toque completamente. Quando percebo que ela está pegando
fogo, me afasto, baixando seu vestido rapidamente.
— Nossa, estamos atrasados. Vou seguir o seu conselho,
vamos deixar isso para mais tarde — falo, na cara de pau,
levantando, vendo a ruiva com vontade de me matar.
— Está de sacanagem comigo, só pode ser — diz, irritada,
pegando sua bolsa.
— Por quê? Mudou de ideia? — indago, cínico.
— Isso vai ter troco! — rebate, passando por mim chateada, me
fazendo gargalhar.
Mais tarde, já na Alcateia, sigo com a ruiva para o camarim do
DJ que se apresentará hoje e que estava apenas nos esperando
para começar a tocar. Leda é muito fã dele e aproveita a
oportunidade para tirar várias fotos. O homem é dos Estados Unidos,
muito famoso.
— Parabéns Everton, a boate está lotada, a fila de pessoas lá
fora é sem precedentes — elogio meu gerente, que está ao meu
lado, observando junto comigo a ruiva fazendo selfies com o famoso.
— De nada, chefinho, e nossos ingressos já acabaram. Quando
vi que esse DJ faria turnê pelo Brasil, não pude deixar de nos colocar
em sua agenda, pois sabia que o resultado seria esse.
— Meu camarote está pronto?
— Só o esperando.
Chamo Leda e sigo com ela para o camarote, no alto, onde
poderemos ver tudo melhor. Há dois seguranças ao pé da escada,
protegendo o nosso acesso, e os outros dois camarotes que ficam do
lado oposto do salão, também estão ocupados.
Logo a festa tem início, e todos estamos cercados da “escuridão
iluminada” da alcateia, com luzes especiais por toda parte, lasers,
explosões de jatos de fogo e confetes do palco, som bem alto, drinks
para todos os lados e tudo o mais que o público ama.
Fico sentado no pequeno sofá de dois lugares, de couro negro,
enquanto Leda dança próxima ao parapeito do camarote, curtindo o
show do seu ídolo. A observo, de pernas cruzadas, poderoso,
vestido em uma calça jeans e um suéter preto que define bem os
meus braços e peitoral.
Sem me cansar, percebo mais uma vez o quanto Leda é linda e
gostosa, perfeita, mas nesse momento Laura vem à minha mente,
não sei por que, e balanço o rosto, tentando afastá-la dos meus
pensamentos. Não há mais volta, Victor. Aceite.
— Vem amor, vem dançar comigo — me chama a ruiva,
sorridente, me puxando pela mão.
— Não estou afim de dançar hoje, meu bem — digo.
— Vamos, por favor — insiste, me puxando, e acabo indo. Sigo
com ela para o parapeito, e fico parado, enlaçando sua cintura com
uma mão e segurando o copo com a outra, bebendo aos poucos.
Leda põe os antebraços em volta do meu pescoço e se deixa levar
pela batida lenta e intensa, eletrônica, aproveitando para se esfregar
em mim do jeito que sabe que gosto.
Me aprofundo em seus olhos escuros, e quando menos espero,
estamos nos beijando. Enrolo minha língua com gosto de álcool à
sua, misturando nossos lábios de modo intenso e quente. Leda me
olha seduzida e sensual enquanto minha mão apalpa sua bunda
durinha e grande, nós sabemos que por baixo não há nada além da
sua boceta pelada e com certeza, já molhadinha.
A gata continua sarrando em mim devagarinho, enquanto os
lasers passam por nós freneticamente, nessa escuridão boa que me
dá mais liberdade para trazer à tona o meu eu libertino. Nos
beijamos de novo e de novo, o clima pega fogo gradativamente,
pressiono meu pau duro sob a roupa contra seu abdômen, sou um
negão alto e forte grudado em uma ruiva branquinha e deliciosa,
nesse vestido curto e tentador que eu mesmo escolhi para ela.
Aproveito que de onde estamos é difícil alguém nos visar com
clareza, e decido deixar o doce sabor da adrenalina e do perigo me
dominar mais uma vez, e subo a barra do seu vestido. Ela abre os
olhos, parando de me beijar, e olha em volta, com medo de alguém
nos ver. Chupo sua orelha, trazendo sua atenção de volta para mim,
e deixo só metade da sua raba descoberta, enfiando a mão entre
suas nádegas suadas.
— Oooh — ela geme bem no meu ouvido, me excitando ainda
mais enquanto escorrego os dedos por suas carnes íntimas,
tateando seu cuzinho quente, e me aprofundando mais, chegando à
sua boceta molhada. — Aar — Leda está completamente envolvida
no meu poder sexual, escorregando as unhas por minhas costas,
sobre a roupa.
Mordo seu lábio inferior enquanto enfio a ponta do dedo médio
na entrada da sua xota ardente, fazendo a mulher roçar em mim e
levantar a coxa esquerda, entrelaçando a minha perna, me abrindo
mais espaço para brincar com ela. Sugo sua língua enquanto atiço
seus lábios vaginais, pressionando, massageando, apertando,
deixando eles se tornarem molhados com os fluídos dela que não
param de surgir. Leda fica à beira da loucura, o meu prazer domina o
seu corpo, mais um pouco e ela se atrepa em mim de tão excitada.
Esquecemos de tudo a nossa volta, estamos nos entregando
libidinosamente, imorais, sem nos importar com o resto do mundo.
Sorrio sagaz, devasso, e me enfio o máximo que posso em sua
bocetinha fervorosa, aproveitando o melado que se forma para iniciar
as estocadas.
— AAH... Victor! — ela grunhe em meu ouvido, se apertando
cada vez mais contra meu corpo, louca para foder, assim como eu.
Meu cacete parece que rasgará a calça de tão duro e forte.
Como é boa essa sensação de poder, de comandar inteiramente
a libido dela, de ser a fonte do seu prazer, o macho que a faz
derreter de tesão e se entregar completamente. A Adrenalina toma
conta da gente, o fato de ter as pessoas tão próximas, uma galera lá
embaixo pulando e dançando, de estar num ambiente aberto fazendo
sacanagem, me excita ao extremo. Abro os olhos, essa emoção me
domina de um modo tão incrível que minhas pupilas chegam a
dilatar, pareço me transformar em um macho primitivo feito
exclusivamente para o sexo.
Entretanto, minha atenção se volta para uma mulher em um dos
camarotes do outro lado da boate que está simplesmente paralisada,
olhando fixamente para eu e Leda. Ela tem cabelos pretos, e me
parece tão familiar, acho que já a vi em algum lugar, mas não
consigo enxergar com nitidez o seu rosto. Quem será?
A ruiva puxa meu rosto, voltando a minha atenção para ela, me
beijando sedenta, se esfregando em mim, implorando para me dar.
— Victor... — geme, quase rasgando a minha camisa. Olho
novamente para o camarote, mas a mulher não está mais lá, sumiu.
Que estranho.
Bebo todo o meu drink em um virote, baixo o vestido da ruiva,
cobrindo sua bunda novamente, mirando seus olhos com fogo, e
passo a procurar um lugar para comê-la neste instante. Penso em
fodê-la no sofá, mas, depois dessa encarada louca que recebi da
desconhecida, concluo que é melhor não, pois aqui, querendo ou
não, ficamos muito expostos.
Deixo meu copo em cima da mesinha de centro, puxo a ruiva
pela mão, descendo do camarote, e sigo por um atalho até o
elevador, onde nos pegamos com mais liberdade, mas por pouco
tempo, pois logo chegamos ao primeiro andar, que, por sinal,
também está bem movimentado, mas com o clima discreto e mais
reservado de sempre.
As dominatrix brincam com os clientes, as strippers fazem seu
show no palco, há executivos e ricaços de terno por todos os lados,
experimentando o doce sabor dessa área vip. E as luzes vermelhas
que tomam todo o espaço deixa o clima ainda mais quente e bonito.
— Onde nos conhecemos — comenta a ruiva, enquanto
caminhamos pelo salão, pela lateral, passando por algumas mesas.
— Sim, mas tem uma parte que você ainda não conhece.
— Qual?
— As salas íntimas — falo, chegando ao acesso das salas, onde
na entrada há um segurança e uma atendente gata.
— Chefe — diz ela, me entregando uma chave.
— Já sabe — digo, piscando para ela, que assente com o rosto,
então entro no corredor de portas vermelhas.
— O que ela sabe? Seus clientes transam aqui? — pergunta
Leda, curiosa, olhando em volta.
— Não, é proibido transar na boate — informo, abrindo a porta
da nossa sala e entrando com ela, nos trancando em seguida. —
Mas conosco será diferente. Eu vou te comer todinha hoje. — aviso,
sério e sexy.
Agarro a gostosa com tesão e ferocidade, aperto a sua bunda
com as duas mãos, bem forte, enchendo meus dedos de sua carne,
erguendo seu vestido, deixando metade do seu corpo nu, e espalmo
suas nádegas, uma de cada vez, fazendo-as ondular com a minha
força, enquanto nos beijamos ardentemente, os lábios se misturando
com violência, as línguas que se enroscam molhadas, mas ao
mesmo tempo, em brasa, queimando, e busco cada vez mais por
ela, tomando-a para mim, a espremendo entre meus braços fortes,
abrindo a sua bunda, a arreganhando e lhe dando mais lapadas
boas.
A ruiva pula em meu colo, necessitada, se esfregando toda em
mim enquanto laça o meu quadril com as coxas quentes e roça a
boceta nua no monte volumoso que cresce cada vez mais entre
minhas pernas, quase rasgando a calça. Com uma mão, seguro-a
em meu colo, e a outra mantenho em sua nuca, segurando firme em
seu cabelo, para equilibrá-la à mim.
— Ooh... Aaii... eu te quero... — grunhe, queimando.
— Quer dar pro seu macho, quer, vadia? — murmuro, tesudo,
enquanto arrasto a língua por sua garganta.
— Sim... eu quero! — geme, de olhos fechados, boquiaberta,
delirando, me puxando para ela.
Jogo Leda no sofá negro que circunda as paredes, a sala é
simples, toda preta e com uma luz vermelha que deixa o clima mais
hot. Mas não se trata de um quarto de motel, serve somente para os
clientes ficarem mais perto das dominatrix e dominadores fetichistas,
que não podem ser tocados. Mas há segredos nestas salas que só
eu sei, que só eu descobri e outros construí.
A gostosa está ofegante, toda bagunçada, me esperando, e ao
me ver tirando o cinto da calça, ela retira os saltos numa pressa
absurda e me aguarda, pois já sabe que eu gosto de lhe despir. Jogo
a camisa longe e depois retiro toda a parte de baixo, pois gosto de
foder totalmente nu, quanto menos peça de roupa, melhor.
Leda fica ainda mais excitada ao ver meu caralho negro potente,
rijo, viril, duro feito aço, apontando para cima, ultrapassando a altura
do meu umbigo, grosso, cheio de veias, chocolate, quente, pronto
para o abate! Ela esfrega as coxas uma na outra, em libido, me
admirando, e avanço nela, puxando seu vestido com brutalidade, a
deixando completamente nua
— Abre — ordeno, mirando suas pernas, e sou imediatamente
obedecido. A gata afasta as coxas uma da outra, segurando-as com
as mãos na parte inferior dos joelhos, como a ensinei. — Mais — e
ela se arreganha o máximo que pode, deixando sua bocetinha
rosada inteiramente disponível para mim, para eu fazer o que quiser,
e no seu rosto há ansiedade por meu toque.
Quero que anseie mesmo, isso eleva o meu ego. Mas lhe dou as
costas e vou até um ponto específico da parede da direita, onde
digito uma senha, e números digitais surgem ao meu toque. Abro
uma gaveta embutida, secreta, uma espécie de cofre com tecnologia
avançada. De dentro, pego um vibrador negro, tão grosso quanto
meu pau, e camisinhas. Lá há mais alguns brinquedinhos, entretanto,
por enquanto, só preciso desses.
Abro dois preservativos com a boca, um para o meu cacete e o
outro para o vibrador, em seguida me agacho entre as coxas da
ruiva, bem na frente da sua xoxotinha linda e atraente. Leda me
observa em um misto de ansiedade, curiosidade e receio.
— O que você vai...
— Shiii — ponho o dedo indicador em seus lábios, olhando-a
sedutor. Em seguida enfio ele e mais outro dedo em sua boca e ela
chupa, os lambuzando com sua saliva, ciente do que farei com eles.
E quando me dou por satisfeito, os levo até sua boceta sensível,
massageando a sua vulva, fazendo a gostosa ter um espasmo ao
meu toque, uma rápida descarga de energia que se espalha por seu
corpo.
— Aaaii — ela mia quando me esfrego entre seus lábios
vaginais já lubrificados dos seus fluídos espumosos e brancos.
— Boceta gostosa... — sussurro, obsceno.
— Oooh... Victor... — ela está com muito tesão, irei destruí-la.
Assim, passo a enfiar o vibrador em suas entranhas, pouco a
pouco, fazendo-o ser engolido por Leda, que o recebe com gemidos,
fechando e abrindo os olhos em prazer e tensão sexual. Vejo suas
carnes molhadas se esfregarem em torno do pau de silicone que se
afunda cada vez mais em seu corpo, a atolando, a preenchendo,
enchendo o vazio faminto entre suas coxas. As bochechas dela
coram e suas pernas tremem em alguns momentos, seus pés tocam
em meus ombros, ela está se contendo para não se fechar durante a
penetração e se contorcer para sentir melhor o brinquedo em sua
xota que se contrai a todo instante.
Assim, após deixá-la atolada, miro seu clitóris, sedento, e passo
a mover a ponta da língua nele, em movimentos frenéticos e
molhados, atiçando, incitando, estimulando, instigando, cutucando,
massageando, brincando, beijando, levando a ruiva ao mais
completo desespero sexual. Ela arqueia as costas, gemendo forte,
enquanto lhe proporciono duas sensações, intensificando dois
pontos de prazer em seu corpo.
— AAAH... VICTOR! — berra, envolta em luxúria.
Arrasto a língua em volta de seu clitóris, sugando e chupando
gostoso, sentindo o gosto delicioso que tem, tudo isso sem tocar no
vibrador que passo a estocar com força em sua bocetinha, até a
base, fodendo-a e chupando-a ao mesmo tempo, levando a mulher à
loucura. Soco com força em seu rego vaginal e quando percebo o
melado intenso, retiro o caralho de suas entranhas, deixando sua
boceta esguichar, efervescente. Bebo o máximo que posso do seu
suco delicioso, me esbaldando, indecente, insano, e caio de boca
completamente nos lábios vaginais dela, que estão inchados e
rosados.
Leda não consegue mais sustentar as pernas com as mãos,
ficou enfraquecida com essa gozada louca, e sinto suas unhas
correrem por meu couro cabeludo enquanto ela geme meu nome. Eu
a devoro, insaciável, libidinoso, e apalpo seus seios, sempre
bagunçando todos os pontos erógenos do seu corpo, não lhe dando
saídas.
Volto a fazê-la segurar as coxas abertas, e lhe dou um tapinha
sobre o clitóris cansado, como um aviso de que ainda não acabei.
Penetro o vibrador novamente e totalmente em sua boceta e enfio
meu dedo grande e negro, lubrificado do seu próprio gozo, em seu
cuzinho virgem e apertado, lhe trazendo uma terceira sensação.
Toco em um botão e o caralho dentro dela passa a vibrar em
velocidade lenta. Aproveito para chupar sua vulva ao mesmo tempo.
Agora Leda não tem mais saídas, pois estimulo
simultaneamente três pontos erógenos em seu corpo que volta a
queimar ilimitadamente.
— OOR... AAII — ela grita, enquanto a miro com um sorriso
sagaz, me divertindo, levando-a ao mais extremo possível, fazendo-a
sentir todo o meu poder sexual, a minha libido intensa e prazerosa.
Ela virou o meu objeto, faço com a ruiva o que quiser.
Com a mão livre, aperto o bico do seu seio esquerdo,
espremendo-o entre os dedos, estimulando um novo ponto erógeno
além dos três anteriores. Leda grita, expressando toda sua libido e
tem um espasmo novamente. Seguro-a pelo pescoço, com força
moderada, a encostando de volta no sofá, para que fique quietinha e
me deixe trabalhar.
Ela beira à loucura, alucinando, gemendo sem parar, jogando a
cabeça para trás, seu corpo parece estar se dilatando. Aperto um
pouco mais a sua garganta, a dominando, com putaria e sacanagem.
Sou o senhor das raízes mais profundas do seu prazer.
— OOOOH... — grita, gozando novamente, enlouquecida,
arfando. Retiro o vibrador de sua boceta e me satisfaço mais uma
vez com suas esguichadas lindas, adorando vê-la explodir, tomando
cada gota do seu prazer absoluto, me sujando, me babando.
Agora, já satisfeito, decido que é hora da foda! Sento ao lado da
mulher desfalecida, com o pau duro, imenso, quente, querendo
comida! Puxo-a para cima de mim rapidamente, bruto, primitivo,
cercando minhas coxas com as suas. Ela está toda molinha, toda
derretida, deitando a cabeça sobre meu ombro enquanto envergo
meu mastro para sua xoxota, tateando-a, e o enfio de uma vez,
forçando o quadril da ruiva para baixo com as mãos, fazendo-a
sentar na minha vara. E assim, formo o nosso encaixe perfeito.
— Humm — solto gemidos sensuais, fechando os olhos por
alguns instantes. A penetração não teve dificuldade dessa vez, o pau
entrou liso, escorregando por suas carnes vaginais lambuzadas de
seus orgasmos múltiplos.
A boceta de Leda está hipersensível, inchadinha, aveludada,
encharcada, deliciosa, boa de meter. Assim, após passar alguns
segundos recebendo todas as contrações das suas paredes
vaginais, passo a fodê-la intensamente, movendo o quadril para cima
e para baixo, socando em suas entranhas com força, ao mesmo
tempo que dou lapadas na sua raba vermelha e marcada de
apanhar.
Beijo sua boca com fogo, os lábios dela se derretendo nos meus
enquanto possuo e domino seu corpo com a minha ferocidade de
costume. Arreganho as suas nádegas, abrindo-as, e enfio a ponta do
dedo indicador em seu cuzinho que lateja, contraindo, me apertando,
e o barulho da nossa união é fascinante.
Sinto os lábios vaginais quentes dela roçando no corpo do meu
caralho coberto pela fina camisinha, enquanto ele sai e entra da sua
boceta, voraz, imparável, violento. Lhe dou mais lapadas nas
nádegas e aperto com força sua carne volumosa entre meus dedos
ao mesmo tempo em que mordo seu lábio inferior, sem machucar.
Ela é a minha putinha, a minha cachorrinha que fodo feito um
desesperado, empolgado, metendo pau adentro.
— AAAH... — a ruiva grita quando puxo sua cabeça para trás,
firme, pelo cabelo, com cuidado, e abocanho seu seio direito,
roçando os dentes em sua carne, sem magoar, enroscando a minha
língua no bico rosadinho do seu seio, me fartando.
— Oor... cachorra... safada! — xingo-a, apertando essa mulher,
moendo-a em meus braços musculosos e negros. A ruiva continua
enfraquecida, até sua voz parece faltar para gemer, ela está
completamente submissa, toda dada, entregue, gostosa, atraente,
minha!
Vario as estocadas em sua xana, respirando um pouco,
desacelerando, e volto a fodê-la com gosto, está muito bom mesmo,
e agora vou ao delírio. Nossa temperatura é altíssima, um fogo
incontrolável.
Seguro a cintura dela com firmeza e a faço rebolar gostoso,
arregaçando sua boceta deliciosa, comigo todo dentro, lhe
arrombando, apetando seus seios e pescoço, fodendo. Em seguida,
a jogo no sofá, de bruços, e me enterro em sua xota novamente, sem
dó nem piedade, e lhe dou mais uma surra de pica, me entregando,
lhe dando lapadas nas nádegas, rebolando o quadril, gostoso,
tesudo, forte, esfolando sua xoxotinha. Soco tudo até não aguentar
mais.
Sinto o prazer me dominando, o gozo chegando, e explodo em
milhares de sensações incríveis e arrebatadoras que me levam ao
inconsciente paradisíaco por alguns segundos.
— Oor... hmmm... — caio sobre ela, sentindo minhas forças se
esvaírem, o leite jorrando pela fenda na cabeça do meu pau, feroz,
atolando a camisinha dentro dela. Busco respirar de todas as formas.
Ah que maravilhoso! O doce sabor do orgasmo me toma
completamente. Leva um bom tempo até nos recompormos.
— Você quer me matar, eu tenho certeza... — murmura ela,
exausta, finita, e eu rio, com o ego em alta, satisfeito, vestindo a
minha cueca enquanto Leda permanece destruída sobre o sofá. —
Como vamos voltar para a festa nesse estado?
— A festa do seu ídolo? — pergunto, irônico, e ela revira os
olhos. Vou até ela, a erguendo. — Vamos, levanta gata, se veste,
temos que ir.
— Você parece um cavalo gozando, estou toda suja, como vou
me vestir assim?
Eu rio e a beijo.
— Ali tem uns lenços, vou pegar pra você — afirmo.
— Eu te amo — ela se declara e fica esperando eu dizer o
mesmo. Mas ao invés disso, a beijo em resposta, carinhosamente,
pois ainda não me sinto preparado para me declarar também, e
percebo que Leda não fica contente com essa reação.
Voltamos para o salão e a ruiva se mantém em silêncio.
— Quer ficar aqui ou voltar para a festa? — pergunto.
— Pode ser aqui, já perdemos mais da metade do show mesmo
— comenta, desanimada.
A levo para um dos sofás do espaço, passando entre clientes e
funcionários, e peço ao garçom para nos trazer uma bebida. Avisto
um amigo e cliente importante, no bar.
— Meu bem, me espere aqui, volto já — aviso, levantando e
seguindo até Anderson, um executivo ricaço.
— Victor! Meu grande amigo! — exclama ele, feliz ao me ver, e
trocamos um aperto de mão.
— Ah, eu não acredito! — digo, sorrindo — Anderson, quanto
tempo! Achei que havia abandonado a minha boate!
— Jamais abandonarei a Alcateia, não há outro lugar como
esse. Mas devido à correria do trabalho, estou só de passagem.
Cheguei a pouco tempo, já estava procurando por você. E olha quem
eu trouxe — duas moças lindas se aproximam, e lembro delas
rapidamente, são irmãs inesquecíveis que tive o prazer de levar para
a cama após voltar a solteirice, putas de luxo. Contudo, logo olho
para Leda, que me observa com uma cara nada boa.
As mulheres já chegaram me alisando, com sorrisos indecentes
— Oi Victor, quanto tempo, você sumiu — diz uma delas.
— Pois é — estou sem graça, dando um passo para trás da
forma mais discreta possível.
— Ficamos com saudade, bebê — comenta a outra.
— Olha que eu sou ciumento — brinca Anderson, e os três riem,
eu os acompanho, e quando olho para a ruiva novamente, não a vejo
mais onde deixei. Procuro-a rapidamente e a vejo entrando com
pressa no elevador. Droga!
— Com licença — digo, e sigo rapidamente para o elevador que
fecha as portas antes que eu possa alcançá-la. Desço pela escada e
avisto Leda saindo da boate. Ao chegar lá fora, percebo que está
procurando por um táxi. Ela está louca?
— Leda! — chamo, recebendo seu olhar furioso misturado às
lágrimas, um carro para ao seu lado. Seguro-a pelo braço — O que
está fazendo?
— Eu vou embora! Pode ficar aí com as suas amiguinhas! —
provoca, cheia de ciúmes.
— Elas não são minhas amigas, são amigas do meu amigo. Não
aconteceu nada, não estou te entendendo... — fico indignado com a
reação dela.
— Não aconteceu nada? Será que você não enxerga que eu sou
intensa demais! Que preciso receber o que te dou na mesma
quantidade? Aí para completar, você vai dar trela para aquelas
piranhas!
— Está falando isso por que eu não disse que te amava? A
gente já conversou sobre esse assunto, deixa acontecer
naturalmente, eu ainda não estou preparado...
— E quando vai estar? — pergunta, inconformada. — Você
nunca está, Victor! — ela chora, feito uma criança mimada, me
decepcionando.
— Moça, se não vai entrar, fala logo — diz o taxista e ela entra e
senta no banco traseiro.
— Presta atenção no que você está fazendo, estragando a
nossa noite por puro ciúmes besta e infantil! — Leda não diz nada, e
vai embora, de braços cruzados. — Que porra! — xingo, irado. Odeio
ser ignorado.

O dia está muito bonito, mas o calor de matar como sempre. Da


escola, sigo direto para a cobertura da minha mãe, e encontro uma
certa “bagunça organizada”, móveis para lá, outros para cá, alguns
novos, caixas de papelão com vários objetos em um canto, e as
paredes todas repintadas em tons de azul e branco.
— Vai mudar tudo mesmo? — pergunto, olhando em volta e
retiro a mochila das costas.
— Eu te falei que sim. Mas é pouca coisa.
— Estou percebendo — sou irônico, e troco sorrisos com a
minha linda mãe.
— E o Henrique, cadê?
— Foi ao banco resolver algumas coisas.
— E ele sabe andar por Teresina?
— Papai disponibilizou o Jorge para levá-lo aonde quiser.
— Que susto aquele pedido de casamento, hein? — comento,
sorrindo, e minha mãe balança a cabeça.
— Não foi para falar disso que lhe chamei aqui, mas sim para
me ajudar a colocar as coisas no lugar — corta o assunto, educada.
— ‘Tá bom, não está mais aqui quem falou. É... Por onde eu
começo? — indago.
Assim, passo as próximas horas ajudando a minha mãe a deixar
seu AP em um estilo feminino conceitual, com quadros grandes e
alguns menores espalhados pelas paredes com as melhores fotos
que ela fez durante o último ano, algumas até foram premiadas em
eventos de fotografia.
Em seguida, parto para as caixas e vou pondo os objetos que há
nelas em seus devidos lugares. De repente, encontro um pacote, e
com a força que uso para abri-lo, termino por derrubar e espalhar
várias fotos pelo chão. São várias imagens da minha mãe com o
Victor e eu, durante todos os anos que vivemos juntos. Sorrio ao
relembrar de várias delas que não vejo há anos, mamãe preferiu
esconder e esquecer, foi isso, mas não teve coragem de se livrar de
todas, reflito.
Me emociono ao me ver ainda criança com os dois, em várias
selfies — éramos tão felizes. Por que teve que acabar? Lembro que
me fiz essa pergunta milhares e milhares de vezes quando nos
separamos. Por que foi assim? Por que meu pai fez isso com a
gente? Recordo que nunca aceitei esse fato, fiquei revoltado com
tudo, machucado, odiando não ver meus pais mais juntos e odiando
Victor por ter causado tudo isso.
Passando as fotos vejo uma chocante: Victor nu na cama com
outra mulher! Puta merda! Foi isso que o separou da minha mãe!
Imediatamente lembro daquele dia terrível, eu tinha catorze anos, e
flagrei ela se desfazendo em um pranto dolorido no quarto, olhando
essa imagem e mais outras que chegaram pelos correios em um
envelope.
Mais tarde, Victor chegaria, eles iriam discutir bastante, e no
mesmo dia eu e minha mãe iríamos embora! Passei muitos meses
desejando voltar no tempo e impedir essa catástrofe! Mas não tenho
esse poder. Enxugo uma lágrima que cai, e levanto, prestando mais
atenção na foto. Victor estava pelado, dormindo, a mulher sorri para
a câmera. Procuro por outras imagens da situação, e as encontro.
— Em todas ele está dormindo mesmo. Parece até desmaiado
— penso alto, analisando as fotos em que meu pai não esboça
nenhuma reação, parece um morto. Ele realmente foi vítima de um
boa noite Cinderela. Agora o conheço e convivo com ele, sei do seu
caráter e as imagens mostram o que me foi narrado. Se houver
atenção, percebe-se que a vagabunda simplesmente está abusando
da sua incapacidade.
— Apolo? O que está fazendo? — indaga minha mãe, se
aproximando, e então lhe mostro as fotos.
— Meu Deus, filho, por que está vendo isso? — pergunta,
tomando as imagens. — Nunca era para ter encontrado. Achei que
havia jogado tudo no lixo — diz, guardando as fotos no envelope,
desconcertada.
— Mãe — seguro em seus braços, fazendo-a parar de se mexer.
— Já parou para pensar que essa suposta traição do meu pai foi
uma farsa?
Ela fecha os olhos por um instante e respira fundo.
— Já, mas não foi, e não quero mais falar sobre isso.
— Percebeu que em todas as fotos ele está apagado, sem
esboçar nenhuma reação?
— Aonde quer chegar, Apolo? Já faz tanto tempo, não tem mais
por que...
— Ele ainda te ama e eu sei que a senhora o ama também —
afirmo, a deixando boquiaberta, sem reação por alguns instantes.
— Você... não sabe o que está falando. Essa é uma ferida que
não quero reabrir, pois já superei...
— Nenhum de vocês conseguiu superar porque ainda se
gostam. Vai atrás do Victor, fala com ele... — tento pedir.
— Meu filho acorda para a realidade, isso aqui não é um
romance literário ou novela. É vida real. As coisas aconteceram e
não há mais como reverter. Hoje tanto eu como seu pai temos
compromissos com outras pessoas
— A senhora não gosta do Henrique tanto quanto gosta do
Victor — afirmo, e minha mãe fixa um olhar nervoso às minhas
costas, e quando viro, vejo Henrique, parado, sem jeito. Eita, ele com
certeza me ouviu.
— Oi Apolo, tudo bem? — me cumprimenta, quebrando o gelo,
trocando um aperto de mão comigo enquanto minha mãe se apressa
para pegar todas as fotos do chão e guardar no pacote. Henrique vê
algumas delas, não há como esconder.
— Oi Henrique, tudo bem sim. — o cumprimento,
completamente sem graça.
Mais tarde, volto para casa pensando na saia justa em que
deixei minha mãe com seu namorado. Não tive essa intenção!

Dois dias depois, estou com minha namorada em meu quarto,


deitado na cama, namorando. Puxo a coxa dela sobre a minha,
escorregando a mão para sua bunda onde dou uma apertada
enquanto a beijo, mas ela ergue minha mão para suas costas,
sorrindo, e continua me beijando, até que ambos perdemos o ar.
— Quando vai falar com o seu pai? — pergunto, acariciando seu
rosto, com o corpo grudado ao dela, num calor gostoso.
— Acho que nunca, eu não tenho coragem — diz, respirando
fundo.
— Mas tem que ter, senão ficaremos sempre assim, escondidos,
não que eu me importe, é bom, é gostoso — digo, lhe beijando
novamente, intenso, e Tati foge, sem ar.
— Você estava com saudade de mim?
— Sim, muita.
— Você pensa em mim quando não estamos juntos?
— Aham.
— Hum, isso são sinais de que gosta de mim mesmo.
— Ainda duvida?
— Não — fala, me beijando, é uma troca eterna. E nesse
amasso, minha mão boba escorrega sem querer para onde não deve
novamente.
— Para de pegar na minha bunda, seu tarado — diz, montando
em mim.
— Ah, só um pouquinho — peço, manhoso.
— Ainda não — ela se debruça sobre mim sorrindo, encostando
os nossos rostos. — Que tal jogarmos videogame?
— Videogame?
— Sim, vamos, porque aqui ‘tá muito quente — diz, levantando e
ajeitando a saia que sou louco para rasgar.
Descemos de mãos dadas para a sala, sorrindo, conversando, e
encontramos Victor no sofá, deitado, com o notebook sobre ele, com
certeza trabalhando.
— Boa tarde, senhor Victor — Tati o cumprimenta.
— Boa tarde, Tatiana — Victor se senta, nos olhando. — E
então, quando poderei conhecer seu pai?
Minha namorada me olha sem jeito, e depois volta a mirar o
negão à sua frente.
— Então... Eu não sei, ainda não tive coragem de falar com ele.
— Por que não?
— Porque tenho medo. Não sei se o Apolo comentou com o
senhor, mas meu pai é muito antigo, sabe. Não sei como dizer a ele
sobre o meu namoro, ele não pode nem sonhar que venho aqui.
— Hum — Victor coça a barba, pensando. — Qual o nome dele
mesmo?
— Cláudio Nogueira, é assim que todos o conhecem, ele é
advogado — informa minha namorada, e Victor parece chocado.
— Não acredito — comenta ele, rindo.
— Quê? — pergunto.
— O pai dela é o meu advogado, veja só.
— Sério? — indaga Tati, feliz.
— Seríssimo, seu pai trabalha para mim há alguns anos, é meu
amigo. Agora lembro que uma vez ele me falou que sua garota se
chamava Tatiana, é isso mesmo.
— Nossa, que coincidência! — digo, feliz, e Tati me abraça, mais
feliz ainda, pois sabe que isso nos favorece.
— Não haverá mais impasses, marcarei um encontro com seu
pai como sempre fazemos, e contarei a ele sobre vocês. Tenho
certeza absoluta que Cláudio não implicará com esse namoro. —
garante.
Mais tarde, após minha garota ir embora no carro que
chamamos pelo aplicativo, assim que entro em casa, troco sorrisos
com Victor.
— Vai dar tudo certo, meu filho. Cláudio não vai querer negar,
estou certo de que ele já está convencido.
— Obrigado pai! — digo, feliz, o abraçando, mas não sou
correspondido. Ele parece uma estátua. Me afasto e vejo seu rosto
surpreso e bobo, seus olhos brilham, e só então me dou conta do
que aconteceu. O abraço novamente, mais forte ainda. —
Obrigado... pai. — repito, devagar, sorrindo em seguida.
Finalmente Victor me abraça, escuto o soluço sufocado em
pranto que ele faz, e isso me toca profundamente. Chamá-lo assim é
muito importante para ele, e agora sei que é para mim também. É a
representação de que tudo de ruim que habitava em meu coração
sobre ele, ficou para trás, que agora somos verdadeiramente e
inteiramente pai e filho
— De nada, meu filho... meu filho amado — choraminga Victor,
emocionado. É a primeira vez que o vejo chorar.
— Vala-me Deus, e o que foi isso? — pergunta Val, com a voz
de megafone, a mão na cintura, assustada por nos ver chorar.
Victor engole o choro e diz com a voz fraca:
— Ele me chamou de pai.
— Oooh Jesus! Que bom, meu Deus. Oh Graça. — glorifica a
empregada, ela sabe e entende o significado disso. — Quero abraço
também! — fala, e fazemos um abraço triplo
Au! Au!
Kenai corre até nós e ergue as patas dianteiras, pondo em
minhas costas, ficando de pé.
— Olha quem está querendo abraçar também. Eita Deus! — diz
Valrene, e todos gargalhamos.

Dirijo rumo ao restaurante de sempre, mas dessa vez com um


motivo ainda mais especial, farei uma surpresa para o meu
advogado, que ainda não sabe sobre os nossos filhos. Ontem foi o
dia mais feliz da minha vida, finalmente Apolo voltou a me chamar de
pai. Nossa, quanto tempo eu não o ouvia dizer isso, agora sei que
está tudo de fato reestabelecido entre nós. Nunca devia ter me
deixado levar pelas complicações da separação da Laura e me
afastado do meu filhote, foi a pior escolha que fiz, o distanciamento.
Mas agora, tudo está resolvido, consegui o seu respeito novamente e
acho que admiração também. Obrigado Deus.
Por outro lado, não consigo esquecer a pirraça que Leda
aprontou comigo na Alcateia, vejo o celular vibrando com seu nome
aparecendo na tela, mas prefiro não atendê-la agora, ainda irei
conversar com ela pessoalmente sobre isso, estive muito ocupado e
não tivemos essa oportunidade por enquanto.
Ao entrar no restaurante, avisto Cláudio e sigo para a mesa
onde ele me espera. Nós nos cumprimentamos e apertamos as
mãos.
— O que houve, Victor? Alguma nova causa urgente? Estou
curioso já que não quis me dar nenhuma prévia por ligação — indaga
ele, enquanto sento com um sorriso estampado no rosto.
— Bem meu amigo, a causa é urgente sim, é sobre meu filho e
sua filha, Tatiana — digo, vendo o semblante do advogado
completamente desconcertado.
— A Tati e o seu... filho? Como assim.
Conversamos por um bom tempo e explico tudo da melhor
forma, e o resultado sai como esperado, ele fica contente com esse
namoro.
— Mas que coincidência feliz essa, meu amigo! — diz,
sorridente. — Só não entendo por que minha filha não falou comigo
antes.
— Porque ela disse que não tinha coragem, que você faz o perfil
de pai conservador.
— Ela está certa, faço mesmo, mas sendo um rapaz de boa
índole e instrução como sei que o seu é, e ainda mais filho de um
amigo tão destacado na sociedade, como ser conservador? — franzo
as sobrancelhas, sem entender o “destacado na sociedade”, mas
deixo passar. — A Maria vai adorar!

Saio da escola ansioso para saber como foi a conversa do Victor


com o pai da Tati, mas ao descer do táxi, estranho ver o carro de
José estacionado no portão da casa da Érica. Analiso o automóvel à
distância e constato que é o dele mesmo. O que veio fazer aqui já
que a Afrodisíaca foi embora? Tenho uma sensação estranha, e
caminho para casa.
Encontro Victor no escritório, mexendo em uns papéis.
— E então? — pergunto, curioso.
— Tudo certo, ele só pediu um jantar em sua casa, no sábado,
para oficializar o namoro e poder te conhecer um pouco mais, mas
sempre falei muito bem de você para ele.
— Ah que legal, vou falar com ela.
Troco mensagens com Tati e ela é só felicidade, assim como eu.
Na quinta-feira, após Victor ir trabalhar e Val vazar, por volta das
19h, fico sozinho, estudando, deitado no sofá da sala. Para a minha
surpresa, a campainha toca. Quem será? Será minha mãe que veio
fazer uma surpresa?
— Já vai — digo, quando o som da campainha ecoa novamente
pela casa.
Ao abrir a porta, dou de cara com José, para a minha
infelicidade
— Oi moleque — diz, sorrindo sagaz.
— José? O que você quer? — pergunto, desconfiado.
— Eu vim bater um papo contigo, sabe — ele é irônico.
— Não estou interessado — tento fechar a porta na sua cara,
mas ele força com o pé, não permitindo.
— Opa, se eu fosse tu não fazia isso — ele levanta um pouco a
camisa, mostrando um revólver na cintura e fico gelado — Agora
abre a porta, devagar — ordena, olhando em volta para ver se não
há ninguém por perto.
O obedeço, de cara amarrada, e José entra, fazendo de mim um
misto de medo e ódio.
— Pode fechar. — manda, empunhando a arma. O obedeço, e
fecho a porta. — Agora vem pra cá, cara. Vem cá, vem — me
chama, com a mão, sorrindo, sarcástico, maníaco. — ‘Tá sozinho,
né? — pergunta, olhando para todos os lados, mas não o respondo,
estou pensando em como me livrar dele e logo procuro algo que
posso usar para acertá-lo. — ‘Tá sozinho sim, a Érica disse que
nesse horário você sempre fica sozinho e eu observei o pessoal
saindo.
— A Érica? — fico curioso. O que eles estão tramando?
— Sim, a minha Érica. Ela que pediu pra eu vir aqui, sabe — ele
senta no sofá, abrindo os braços, folgado, como se já fosse de casa.
— Ela quer uma coisa que você tem que a compromete, um vídeo
que você fez.
Meu Deus, ela o enviou para pegar o vídeo! Puta que pariu!
— Já estou a par de tudo que rolou na minha ausência, o que
ela teve que fazer para você enganar aquela mulher. Confesso que
está de parabéns, era para ter sido eu, mas arreguei. Contudo,
concordo com a Érica que foi mesmo muito melhor ter sido você.
Tinha que ser você — diz as últimas palavras bem irônico, e sinto
vontade de socar sua cara e lhe arrancar esse sorrisinho cínico.
— Do que está falando, seu idiota? — Rosno, com ódio.
— Olha essa boca! — Me repreende, aumentando o tom de voz
— Agora senta aí, temos que conversar.
— Eu não vou sentar porra nenhuma! — Rebato, corajoso, que
se foda!
José aponta o revólver para mim, enfurecido.
— SENTA. NESSA PORRA. AGORA! — Grita, com o dedo no
gatilho.
Sou obrigado a obedecê-lo, meu coração bate forte, de medo e
raiva, minha mão treme. Olho para José com vontade de exterminá-
lo da face da Terra.
— Muito bem. Muito bem. Deve se achar o espertão né? Teu
ego deve ‘tá lá em cima! "Ah, comi a minha vizinha gostosa" — ele
faz uma voz ridícula para falar as últimas palavras. — Desgraçado!
Pode até ter transado com ela, mas foi você quem se lascou. A
nossa cam girl tem mais cartas na manga do que imagina. Você
garoto, é só mais uma peça desse jogo.
Diz, e depois gargalha, macabro, me assombrando.
TRISTE REDENÇÃO

“— Eu também te amo.
Você é a minha redenção”

Não quero demonstrar o meu medo diante desse otário


desgraçado, mas estou tenso com essa arma apontada para mim.
Sou um liame de medo, raiva, curiosidade e rancor. Curiosidade
porque quero entender o que Érica está armando, e rancor por ter
me envolvido com essa mulher maldita.
— Uma peça, foi assim que ela se referiu a ti — José debocha,
sinto que ele possui a necessidade de mostrar a minha
insignificância em relação à minha ex-vizinha.
— Se eu sou, tu também é — rebato, com ódio na voz.
— Eu não. Eu sou o macho da Érica, o seu homem, o de
verdade, o que ela precisa, sabe. Totalmente diferente de você que é
apenas um moleque! Uma marionete! — ele adora me xingar, e tem
desprezo por mim — E ela me ama, assim como a amo — nossa, ele
está iludido como um dia eu já estive.
— A Érica não ama ninguém, tudo que ela quer é se vingar. Ela
te descartou quando você não fez o que pediu e agora está contigo
de novo só pra te usar.
— Cala boca! Tu não sabe de nada, já disse! Nada! Agora chega
de conversa, e me mostra o celular. Bora! — ordena, estendendo a
mão, sem paciência.
Miro meu celular sobre a mesinha de centro, entre nós dois. Ele
está em um sofá e eu em outro.
— É esse aí? — não o respondo. — É esse aí?! — exclama,
com raiva, me intimidando com a arma.
— É.
— Põe no vídeo e me mostra! A Érica disse que não era para eu
ver, mas quero! Bota! — ordena, e temo a sua reação após o vídeo,
ele não vai gostar, parece um louco obsessivo e apaixonado. Penso
no Victor e na minha mãe, queria um dos dois aqui para me salvar.
— Vamos logo, porra! — exige, e o obedeço, entregando-lhe o
celular.
Como previsto, em segundos o semblante de José se torna puro
ódio, ele parece que vai explodir. Então levanta, vem até mim como
um furacão de raiva e põe o revólver na minha cabeça, empurrando
até me encostar no sofá, com violência. Caralho!
— Eu poderia te matar aqui mesmo, moleque desgraçado!
Como é que tu tem coragem de filmar a minha mulher assim? —
rosna, transtornado e perigoso.
Fecho os olhos bem forte, ofegante, ele está louco enciumado,
vai atirar! Vai atirar! E puxa o percussor do revólver, deixando-o
pronto para o disparo.
— Devia ter me livrado de você desde aquele dia em que se
meteu a besta na minha discussão com ela. Notei o seu olhar, o
comportamento dos dois... AAAH — ele berra de repente, se
afastando, e vejo Kenai mordendo seu calcanhar ferozmente, o que
me faz sorrir por alguns segundos e levantar rápido, em alerta —
SAAI DESGRAÇADO! — José tenta se livrar do animal a todo custo,
o chutando, mas Kenai parece uma fera insana que não para de
atacar o inimigo, protegendo o seu dono.
Ele cai, e a arma escorrega para longe. Corro e a pego, nervoso.
— Kenai! — chamo, e o cão larga o desgraçado e vem até mim,
abanando o rabo, mas ainda latindo contra o vagabundo, que agora
está sob a minha mira. O jogo virou.
José levanta com um sorriso de ódio no rosto.
— Deixa meu celular e vai embora! — mando, apontando o
revólver para ele.
— Se não o quê? — pergunta, com deboche. — Vai atirar em
mim? — ele tenta dar um passo em minha direção, mas seu pé
machucado não deixa.
AU! AU!
Kenai mostra os dentes raivosos e afiados para ele, que passa a
caminhar com dificuldade para a porta, machucado, dando pulinhos.
Estou muito nervoso, a arma treme em minhas mãos. Meu coração
está na garganta, querendo saltar pela boca. Antes de ir, o
desgraçado dá tchau, mostrando o celular. Corro para a porta e a
tranco, ofegante, desesperado, e largo o revólver que vai ao chão.
Estou muito assustado, jamais esperava por isso! Quase morro,
meu Deus! Que inferno, que merda! Por que fui me envolver com
aquela desgraçada da Érica?! Parece que isso nunca vai ter fim! Só
me caguei por causa dela! Só tive problemas! Sento no chão, em
posição fetal, tentando me acalmar. Kenai vem até mim, gemendo,
não gostando da minha aflição, ele consegue sentir o que sinto.
Então o abraço bem forte.
— Obrigado... obrigado, Kenai! — faço muito carinho nele, o
acariciando.
Depois, quando consigo me acalmar, pego o revólver e subo
para o meu quarto com Kenai me seguindo. Vou até a sacada
devagar e olho para a casa da minha ex-vizinha, não há sinal do
desgraçado ou de qualquer outra pessoa. Volto para o quarto, entro
no closet, pego uma caixa de sapato vazia, ponho o revólver lá e
guardo-a bem escondida, e depois me jogo na cama, ainda
pensando sobre tudo isso. Só há uma pergunta em minha mente: o
que Érica vai fazer agora que não tem mais nada a temer?

Chego com Henrique em casa, acabamos de vir de um jantar no


qual apresentei ele aos meus amigos íntimos, e tudo estava bem até
certo ponto. De repente meu namorado se tornou sério, introvertido,
e ficou evidente que algo o incomodou quando voltamos, pois não
falou absolutamente nada durante a viagem, e só me deu respostas
frias.
Agora estamos no quarto, nos despindo.
— Quer conversar? — pergunto, enquanto retiro os brincos, de
frente para o espelho da minha penteadeira. — Você não falou nada
após sairmos do jantar com meus amigos.
— Por que você mentiu para eles? — pergunta Henrique,
sentado na cama, retirando os sapatos.
— Eu menti?
— Disse que estávamos conversando sobre o nosso casamento,
e isso não é verdade. Não mais. Nós não conversamos sobre
casamento desde aquele mico que paguei na casa dos seus pais
quando pedi a sua mão.
— Henrique...
— Eu às vezes só... não tenho certeza do que você sente por
mim de verdade. Às vezes me passa a impressão de que está
comigo só... por carência.
— Como pode me falar isso? — pergunto, perplexa, sentando
ao seu lado.
— Eu ouvi o que o Apolo disse naquele dia — revela, baixando
os olhos, e já fico triste por estar conversando esse assunto com ele,
coisa que tentei evitar — E agora fico me perguntando se o que ele
disse é mesmo verdade.
— Henrique, claro que não! — nego, o tocando, virando seu
rosto para mim. No fundo não tenho certeza sobre o que digo, mas
não quero me afastar do meu namorado, ele é maravilhoso, não
tenho nada a reclamar.
— Você tem certeza disso, Laura? — levo alguns segundos para
responder.
— Eu não sinto mais nada pelo Victor, só amizade por causa do
nosso filho. Não comentei antes sobre o que o Apolo disse porque
me faz mal, muito mal, entende? É como se eu estivesse reabrindo
uma ferida... — a minha voz enfraquece, me controlo para não
chorar. — O que meu filho disse não é verdade, é só uma vontade
profunda que ele sente de ver os pais juntos mais uma vez.
— E qual é a sua vontade?
— É você — respondo, olhando nos olhos dele, e então o beijo.
Preciso esquecer de Victor de uma vez por todas.
A nossa noite termina em sexo e risos. Pela manhã, acordo
cedo e observo o lindo Henrique dormir. Ele me ama de verdade, é
um bom homem, nós gostamos das mesmas coisas, nossas
conversas fluem, a minha família gosta dele. Preciso me dar uma
nova chance de verdade, mais um passo adiante.
Assim, levanto enrolada no lençol e vou até a minha
penteadeira, abro uma gaveta, e pego o estojo de alianças. Volto
para cama, respiro fundo, tomando coragem, e sorrio, fazendo
Henrique acordar.
— O que é isso? — pergunta, com a voz sonolenta, esfregando
os olhos com as mãos, enquanto abro o estojo.
— Eu aceito. Quero me casar contigo.

Após aquele espetáculo na Alcateia, é a primeira vez que irei


conversar pessoalmente com Leda. Deixei que me procurasse, que
me ligasse, para que sentisse o seu erro, pois sei que não fiz nada
demais para ter sido abandonado naquela noite.
Sou recebido por ela com um forte abraço, e mesmo um pouco
desgostoso, a correspondo, pois senti sua falta nestes dias que
passamos distantes um do outro. Depois seguimos para o seu
quarto, e na cama, sentados, começamos a discutir a relação:
— Não gostei do que aconteceu, você se comportou como uma
criança mimada, Leda. Eu não esperava isso de você — digo.
— Me desculpa, é que fiquei morta de ciúmes quando vi aquelas
oferecidas em cima de você...— ela tenta argumentar.
— Não foi só por isso, nós sabemos. Eu preciso saber se terá
paciência comigo, não posso declarar que te amo sem ter certeza
disso, e não vou falar o que quer ouvir apenas para te iludir. Sou bem
sincero com os meus próprios sentimentos e mais ainda com os
sentimentos alheios.
Leda abaixa a cabeça, chorando em silêncio.
— Estava tudo bem, não me sentia insegura até...
— Até?
— A sua ex-mulher voltar. Eu vi como você olhou pra ela,
Victor...
— O quê? — ela só pode estar pirando.
— Eu vi, você pode não ter se dado conta, mas aconteceu, e
isso me desestabilizou... Tenho medo de te perder para ela —
choraminga.
— Do que está falando? — pergunto, fechando os olhos,
buscando paciência. — Não tenho mais nada com a Laura.
— Jura que não ama mais ela? Jura que gosta mais de mim do
que dela? — cadê aquela mulher que vi no início? Ela agora parece
uma criancinha chorona e carente.
— Ah meu Deus, não acredito que estou ouvindo isso. Nós não
somos adolescentes, Leda, então não haja como uma. Seja adulta.
Você sabe que estou tentando isso fazer dar certo — falo baixo,
educado, sem me alterar, mas a minha paciência está curta.
— É que preciso me sentir segura — ela arfa, as lágrimas rolam
por sua face rosada. — Preciso saber que você é só meu.
— Mais? Te apresentei ao meu filho, te levei na minha casa, no
meu trabalho. Acho que essa segurança além é você que tem que
conquistar. Mas vou te dizer uma coisa: comigo não funciona desse
jeito. Eu preciso de uma mulher ao meu lado, e não de uma menina.
Parece que me enganei.
Levanto para ir embora e ela me ataca com abraços e beijos
desesperados.
— Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo —
repete, chorando. — Por favor não vai embora! Não vai, não vai, fica
comigo. Desculpa, me perdoa, prometo que vou mudar, que isso não
vai mais se repetir.
Fecho os olhos, contando até dez mentalmente.
— É porque eu já te amo muito, e por isso os ciúmes, mas
saberei me controlar a partir de agora. Não vai embora, me dá uma
nova chance, por favor, por favor, meu amor — ela insiste, enquanto
estou pensativo e triste com essa situação.
— Tudo bem, tudo bem — digo. Em seguida ouvimos o celular
dela chamando em cima da cama, vejo a foto e nome de Gui
aparecendo na tela. Leda enxuga as lágrimas, pega o celular e
encerra a ligação.
— Você continua falando com a Gui? — pergunto, curioso.
— Ela ultimamente anda me ligando... mas não estou atendendo
— informa, e me abraça carinhosamente. Sinto vontade de indagá-la
mais sobre isso, mas desisto. Entretanto, estou levemente
desconfiado, ficarei atento.
— Leda olha pra mim — ela obedece. — Jamais quebre a minha
confiança. É fatal. — aviso, e ela assente com a cabeça, voltando a
me abraçar, me cheirando e beijando. Seus beijos são distribuídos
por meu corpo, descendo, minha calça e cueca são puxadas. Ela
quer me fazer esquecer de tudo com sexo? E assim, é a primeira vez
que transo com a ruiva sem vontade.

Estou atormentado desde a “visita” que recebi de José ontem,


ando de um lado a outro do quarto, roendo as unhas, pensando nas
piores coisas possíveis. Se esse otário tivesse atirado, eu poderia
estar morto a uma hora dessas. Eu poderia estar morto, é só o que
vem à minha mente.
Tenho um mal pressentimento, o que Érica vai fazer agora que
não tenho mais como evitar que apronte contra mim e Aline? Aline...
coitada, ela não teve culpa de nada. Que droga! Penso, socando a
minha escrivaninha, nervoso, imaginando milhares de coisas que
Érica poderá fazer ao lado de seu namorado psicopata! Na verdade,
os dois me parecem psicopatas agora.
Vai dar merda, e a única solução que vejo é falar com o meu pai.
Ele saberá me ajudar, saberá evitar alguma catástrofe. Sei que devia
ter feito isso há muito tempo, mas... não tive coragem. Eu sou um
covarde, essa é a verdade!
Respiro fundo e desço para a sala, onde encontro Victor no
celular, falando com alguém sobre trabalho, parece pronto para sair.
E ao me ver, pergunta:
— Que foi, filho?
— Eu... preciso... te contar um coisa — afirmo, hesitante,
criando coragem, engolindo em seco, tenso.
— O quê? — ele põe a mão no meu ombro, preocupado. — Me
diz o que é.
Respiro fundo, e no instante em que abro a boca para falar, a
campainha toca, me calando. Nós vemos Val correr e atender, e
minha namorada surge, sorridente, de mochila nas costas, me
fazendo uma surpresa. Sorrio para ela e vou ao seu encontro,
segurando-a pelas mãos.
— Tati, que surpresa — digo.
— Mandei várias mensagens pra você, mas não me responde, o
que aconteceu? — indaga, me fazendo lembrar que estou sem
telefone.
— Ah, é que...
— Oi Tati, pronta para o nosso jantar de amanhã? — meu pai a
cumprimenta.
— Sim, senhor Victor, e estou muito feliz.
— Que bom. Filho, ainda quer conversar?
— Ah... depois — respondo, sem jeito, não dá para fazer isso
com Tati aqui.
— O.K., estou de saída — avisa, indo para a garagem.
Momentos depois, estou na piscina com Tati, o céu está
nublado, parece que vai chover. Fico sentado na beira enquanto a
minha sereia nada, só de biquíni, feliz, vindo em minha direção,
emergindo em minhas pernas. Ajudo-a a sair da água e sentar ao
meu lado. Tati está simplesmente linda, com o cabelo molhado, para
trás, os cachos mais longos devido à umidade. Ela me beija e diz:
— Ai, nem acredito que nossos pais se conheciam! Que bom, foi
coisa do destino!
— Foi mesmo — digo, um pouco desanimado, pensando em
meus problemas.
— O que você tem, meu amor? — ela acaricia o meu rosto,
notando o meu desânimo.
— Nada, está tudo bem... É só que... os meus erros do passado
não param de me perturbar, e sinto muita culpa.
— Você ainda não me disse que erros foram esses que essa
mulher te fez fazer.
— E não posso dizer, por favor, não queira saber, porque dói
demais — ponho as mãos no rosto, suspirando, José conseguiu me
afetar.
Tati puxa as minhas mãos, me fazendo olhar para sua linda
imagem e então me beija, no momento em que o céu relampeja e a
chuva cai sobre nós. O nosso beijo é gostoso como sempre, mas
como as gotas de água fria se fortificam sobre nós, nos levantamos
rapidamente e corremos para dentro de casa, de mãos dadas,
sorrindo, seguindo para o meu quarto.
Pego uma toalha e envolvo nela, para aquecê-la, depois lhe dou
as costas e retiro meu calção de banho, ficando só de sunga. Levo o
calção molhado até o banheiro, pondo sobre a pia. Quando volto
para o quarto, Tati está parada, me olhando, e mira o monte entre
minhas pernas, que está bem marcado por sinal, e nem estou
excitado, ainda.
Me aproximo da minha namorada, tento decifrar esse seu olhar,
os seus pensamentos enquanto a chuva cai lá fora. A puxo para mim
e nos beijamos novamente, intensos, misturando os lábios. Ela joga
a toalha no chão, me fazendo parar de beijá-la e observar o que
acabou de acontecer. Para a minha maior surpresa, Tatiana começa
a desfazer os nós do sutiã, se despindo NA MINHA FRENTE! Me
deixando incrédulo.
— O que está fazendo? — indago, segurando em sua mão, lhe
fazendo parar.
— Me deixa ajudar a expulsar sua dor de uma vez por todas —
pede, e agora não parece tão hesitante como nas demais vezes.
Penso por alguns instantes, esquecendo de todos os meus
tormentos e solto a mão dela. Tati respira fundo, e termina o que
estava fazendo, descobrindo os lindos seios medianos, de menina
madura, redondinhos, molhados da chuva, de bicos rosados que
parecem o verdadeiro paraíso.
Fico incrivelmente fascinado por vê-los por completo, é a coisa
mais linda que já vi até agora. São tão jovens, sem exageros,
envoltos na mais intensa naturalidade. Não sei se estou ficando
alucinado, mas parecem até cintilar levemente, me chamando. Toco
em seu rosto, fazendo-a fechar os olhos e volto a beijá-la,
começando de forma doce, me derretendo com seu sabor em minha
boca, e aos poucos os nossos corpos molhados passam a ficar
quentes gradativamente.
Envolvo seu corpo minúsculo em meus braços fortes,
pressionando-a contra mim, enquanto me perco cada vez mais nos
lábios dela, saboreando, parece até um manjar dos deuses. Nossas
carnes se esfregam, meu pau cresce abruptamente, querendo rasgar
a sunga molhada, e sarro ele na minha garota. Ela o sente e foge do
beijo, ofegante, um pouco nervosa, olhando para baixo, percebo que
um fio de dúvida e receio corta seus pensamentos, mas Tati toma
coragem, e volta a se entregar a mim.
A minha namorada é realmente linda, toda macia. É incrível
como ela consegue me acalmar mesmo sem pretensão. Meu
coração bate rápido, me fazendo perceber que estou um pouco
nervoso também, nunca desvirginei uma garota, é a minha primeira
vez, não posso decepcioná-la.
E sem perceber, ela vai me tomando, me encantando, fazendo
meus pensamentos negativos e preocupações sucumbirem ao passo
que seu perfume me invade — como é cheirosa! Sua boca é tão
gostosa, sentir seus seios esmagando contra meu peitoral é tão
maravilhoso, e quando já não tenho mais ar, abro os olhos,
percebendo que só devo estar sonhando ao ter Tatiana espremida
contra mim. Ela é um misto de excitação e hesitação, mas também
parece decidida a continuar, me olhando com desejo.
Distribuo beijos molhados por seu pescoço, inclinando o rosto
para baixo, para alcançá-la, sou bem mais alto que ela. Beijo seu
queixo e apalpo seu seio enquanto arrasto os lábios de volta para
sua boca, deliciando cada centímetro dela, me deixando levar por
sua energia doce e pura. Tati lembra uma ninfa, leve e delicada, a
personificação da graça e da inocência.
— Aah — geme ela, baixinho, e como é gostoso ouvi-la assim,
nesse tom.
Desço a mão para sua bunda redondinha, durinha, apertando,
sentindo sua carne quente. Tati a segura, mas dessa vez não quero
parar e aperto sua nádega ainda mais, lhe arrancando gemidos. Voto
a atacar os seus lábios viciantes, e ela desiste de tentar impedir que
eu a toque como quero, me abrindo ainda mais espaço.
Em seguida, a deito na cama delicadamente e pairo sobre seu
corpo aquecido, apertando seus seios com as mãos, boquiaberto,
impressionado com tanta beleza, formosura e delicadeza — minha
namorada realmente é uma das maiores criações divinas, há
suavidade em suas curvas.
Aperto seus seios, estufando os bicos rosados e entumecidos
entre meus dedos, e lambo o esquerdo, fechando os olhos, deixando
escarpar um gemido fino, pois é muito gostoso, prazeroso, uma
sensação que lembra a eternidade. Ao mesmo tempo, roço meu
caralho potente e viril escondido na sunga na sua bocetinha
escondida na calcinha, as peças de roupa nos torturam, nos
separando, mas é uma tortura boa, deliciosa.
— Humf... — solto gemidos enquanto chupo o outro seio
também, arrastando meus lábios em sua carne perfumada,
enroscando a língua no mamilo, me viciando, me fartando, sugando
e me movendo em todas as direções.
Aos poucos tomo cada vez mais segurança, e deixo todos os
pudores de lado em relação à minha namorada, mas ainda assim,
tomo muito cuidado, pois ela é especial, única. Continuo
abocanhando seus seios, um após o outro, são tão saborosos,
deliciosos, totalmente diferente de tudo que já experimentei. Minha
namorada geme de tesão e prazer, ofegante, escorregando as mãos
por minhas costas e, sem perceber, me apertando entre suas coxas.
Volto a beijá-la, me empolgando, me tornando insano ao tomar a
sua boca, vendo os biquinhos das suas tetas agora avermelhados
após o meu toque grosso. Assim, decido partir para a próxima etapa.
Levanto e, vagarosamente, retiro a sunga, fazendo ela engolir em
seco ao ver meu pau grande e grosso, imponente, negro, repleto de
veias que o deixam ainda mais bruto, apontando para o alto,
queimando.
Me aproximo de Tati que parece ainda mais nervosa, respirando
forte, vendo cada passo meu, e passo a puxar sua calcinha
vagarosamente. A peça íntima escorrega por suas coxas
branquinhas, suaves, aveludadas, tão atraentes. Mirar o corpo de
Tatiana é como viver em um mundo pleno e fantástico. Ela mantém
as pernas fechadas após a peça íntima ir ao chão. Esfrego as mãos
em suas coxas macias, lindas, e abro-as para ver a sua boceta. A
minha única reação é sorrir, seduzido diante dessa maravilhosa
perfeição.
Ela é tão pequenina, tão rosada e fechadinha, o verdadeiro
significado de virtude absoluta. Meu cacete lateja com essa visão.
Minha namorada está de olhos fechados, corada, tímida, e isso me
arrebata profundamente, mais do que já estou, pois nunca vi tanta
inocência em uma só pessoa. Toco a ponta dos dedos em sua vulva
tímida.
— Ooh — ela geme, tendo um espasmo, me fazendo abrir outro
sorriso de devoção.
Sinto muita água na boca, lambo os lábios, faminto, e levo a
boca até os lábios vaginais da minha garota. Ela arqueia as costas
imediatamente, jogando a cabeça para trás ao sentir meu beijo do
pecado destruindo toda sua pureza. Seguro-a pelo quadril, para que
não fuja de mim com a intensidade das sensações que lhe
transpasso, e lambuzo toda sua bocetinha com minha língua grande
e ferina, me dividindo entre seu clitóris e lábios internos, explorando
cada pedacinho de carne, chegando às suas mais profundas
emoções.
— Aai... Apolo... — ela grunhe, em sufoco, bagunçando os
lençóis, e fecho os olhos, viajando para outro planeta, para o paraíso
de verdade, embevecido com o gosto que invade a minha boca e me
toma cada vez mais. Abro mais as pernas dela, afastando as suas
coxas, a arreganhando para mim, expulsando todos os seus pudores
de vez, mirando a beleza da sua xoxotinha tímida, cheirosa, gostosa,
desejosa, atraente, macia, aveludada, como se fosse um pedaço do
céu, de nuvem, o próprio mel em minha boca.
Enrolo a língua em sua vulva, e o excito, incito, massageio, me
movo em todas as direções, tateio, sugo, chupo, e Tati geme ainda
mais forte, se contorcendo, queimando em fogo libidinoso, estou
levando-a ao limite e acho que ela goza, mas não tenho total certeza.
A garota desfalece sobre o colchão, com os olhos em lágrimas, e ao
vê-la chorar, meu coração se enche de sentimentos e a beijo
gostoso, cobrindo-a com meu corpo grande e definido.
E assim, com os rostos colados, mirando no fundo dos seus
olhos, seguro meu caralho e o envergo para a entrada da sua boceta
encharcada, deixando-o posicionado enquanto a minha ninfa ofega,
se preparando para o que virá a seguir. Seguro suas mãos contra os
lençóis e forço o quadril para baixo, sentindo a cabeça do meu
caralho amassar para se ajustar e invadir o buraquinho molhado
dela.
— OOH — rujo, forte, boquiaberto. Meu coração bate forte
contra o peito, é uma sensação completamente nova para mim.
— Aaah... — há um pouco de dor na voz de Tati, mas ouvi-la me
dá cargas a mais de prazer que deixa a situação ainda melhor. Me
enterro um pouco mais e a cabeça massuda do meu cacete entra,
lutando contra as paredes vaginais da minha namorada que se
contraem bastante. Afundo mais um corpo e os lábios vaginais dela
se esfregam com muita dificuldade pelo corpo robusto do meu pau, é
como se eu a estivesse rasgando por dentro, e sinto um líquido
quente me molhar, me fazendo gemer ainda mais. — ‘Tá doendo...
doendo... — murmura, com lágrimas descendo por sua face que
acaricio, e vagarosamente saio de seu corpo.
Beijo Tati, todo carinhoso, me apaixonando por ela, por tudo
isso. Olho para a minha vara, está melada de sangue, sempre me
disseram que acontece isso ao desvirginar uma garota. Me limpo
com lençol.
— Você não vai usar camisinha? — ela pergunta, ainda um
pouco nervosa, me lembrando do mais importante, que sempre
esqueço.
— É verdade, eu me esqueci — levanto, pego um preservativo
na gaveta do rack, encapo o meu caralho e volto para a minha
namorada esbelta, magnífica.
Dessa vez fico de joelhos, arreganho cuidadosamente as coxas
dela, vendo sua bocetinha vermelha inchar nessa posição, deliciosa,
e volto a penetrá-la, afundando meu pau negro em sua xota
branquinha. Nossas cores se misturam e se contrastam formando
algo só, algo único. Nós gememos com nossa união, estou com o
mastro apertado na bocetinha de Tati, com dificuldade de me
aprofundar, é muito pequeno de verdade, estou de fato a atolando,
não deixando espaço para mais nada. Entretanto, quero mais, e
forço o quadril para baixo, metendo pau adentro, e mais alguns
centímetro invadem sua xota.
— Ooh... ai, ai, aiii... — ela mia, gostosinho, me excitando
extremamente. E por isso, começo os movimentos bem devagar,
fodendo, metendo, enfiando menos da metade do corpo grosso do
meu cacete em suas entranhas molhadas e que me bombardeiam
com tanta pressão. Não paro de fechar os olhos, sentindo as
contrações enquanto vou e volto. Está quente demais, incrível.
Torno a me deitar sobre ela e nesse movimento me afundo ainda
mais e nós gememos. Mais lágrimas molham a sua face e com essa
nova descarga de energia que se espalha por todo o meu corpo, sou
eu quem tenho vontade de chorar também. Não sei explicar, é
diferente de tudo que já vivi. A beijo, a tomando para mim enquanto
prossigo com os movimento lentos. Ela mia dentro da minha boca,
me levando à loucura, e tenho que me controlar infinitamente para
não estocar com força.
Contudo, não há como fazer isso, ela não iria aguentar, e
resolvo me conter só com o que consigo pôr para dentro de seu
corpo, metade de mim, e uso os meus joelhos forçados contra o
colchão para não deixar meu peso esmaga-la e assim correr o risco
de meu cacete escorregar de uma vez só e torá-la ao meio. Sinto
suas carnes vaginais abrindo para me receber, chego a um limite
onde percebo que não dá para ultrapassar, não agora, e continuo
somente com o vai e vem delicioso e encantador, leve, suave.
— Humf... oor... — libero grunhidos guturais, envolto na luxúria,
em uma espécie de prazer purificado, divino.
Espremo os bicos dos seus seios entre meus dedos, os
lambendo enquanto desço e subo com o quadril, fazendo amor com
Tatiana. Sim, isso aqui não se trata só de sexo, agora consigo notar,
vai além, é muito mais, e nem com Érica foi igual. Essa experiência é
carregada de sentimentos, é algo sublime, perfeito, grandioso. Olho
para minha garota, admirando-a, me embevecendo a cada segundo
com os nossos corpos se fundindo, transformando-se em um só.
— Você é a minha joia rara — me declaro, em gemido, e ela se
derrete ainda mais, me fazendo continuar com as estocadas lentas
em seu corpo, lambendo o bico dos seus seios, a beijando,
mordiscando seu queixo, seu lábio inferior. Enlaço sua língua à
minha, em mais um beijo fervoroso, me entregando, sonhando. —
Tão apertadinha... — sussurro.
Suas mãos escorregam por minhas costas e cabeça. Sinto meu
gozo chegando, uma força poderosa que se concentra no meu saco
e tende a explodir a qualquer momento. Não paro com os
movimentos, prossigo com todos eles, lentamente, aproveitando
cada segundo, cada sensação e emoção, em uma libidinagem
intensa e linda.
Minha rola lateja contra os músculos vaginais da minha ninfa
que me massageiam, pressionando, comprimindo, me sugando e
expulsando ao mesmo tempo, e essa multiplicidade de sensações e
movimentos me leva ainda mais à loucura, vou explodir. Os seios
dela esfregam contra meu peitoral, quentes, eu a possuo
completamente, ela é minha, só minha, e quero que seja assim para
sempre. Então gozo, sentindo os jorros de sêmen vazarem pela
fenda da cabeça do meu pau na velocidade da luz.
Vejo minha namorada fechar os olhos e fecho os meus também,
me permitindo sentir algo como jamais senti antes, um toque tão
sutil, tão sublime, e profundamente arrebatador. Nossos lábios
voltam a deslizar uns nos outros em movimentos vagarosos,
molhados, e lá no fim do meu orgasmo é possível sentir uma leve
ardência, um esquentar das carnes em contato. Tati carrega uma
energia sentimental muito forte, que me arrebata, e me leva para fora
desse mundo, para um lugar desconhecido, onde só está eu e ela.
Afasto o rosto, parando com o beijo, olhando-a, ofegante,
enquanto os últimos jatos de porra deixam o corpo do meu caralho
negro. Tento entender o que é isso, o que aconteceu, o que ela fez
comigo agora. Não sei explicar essa experiência surreal que vivo
nesse momento.
Tati finalmente abre os olhos, parecendo sair de um sonho,
acariciando o meu rosto, ainda com os olhos brilhando enquanto
mantenho o pau pungente em suas entranhas mesmo após o gozo.
— Eu te amo — murmura, me tirando o resto de sanidade,
fazendo uma lágrima descer por minha face, me comovendo.
— Eu também te amo. Você é a minha redenção — me declaro,
de todo coração, com toda a sinceridade da minha alma. Pois agora
pareço saber o que é de fato o amor. O amor é esse sentimento tão
poderoso, que consegue até mesmo afagar qualquer culpa, qualquer
sentimento ruim e transformá-lo em algo brilhante. E com Tati sinto
exatamente isso. Vou esquecer de uma vez por todas de tudo que fiz
de mal e que me fez mal, para viver somente para ela.
E assim, passamos vários minutos abraçados, juntinhos,
trocando carícias e sorrisos, vivendo de fato um sonho, não quero
sair de perto dela nunca mais. Estou completamente encantado e
apaixonado.
— Você ainda não havia me olhado assim — comenta Tati. — O
que aconteceu? O que está pensando?
— Estou pensando porque demorei tanto para enxergar que
você é o amor da minha vida... o meu presente de Deus, que veio
para me curar de todas as minhas feridas que eu mesmo abri. Você
me faz... esquecer de tudo de errado que aprontei, é a minha
salvação, o perdão que eu tanto preciso, o meu recomeço... a minha
redenção.
Tatiana sorri e me abraça, apaixonada.
— Nunca mais quero ficar sem você, Apolo.
— Nunca mais?
— Nunca.
Mais tarde, a deixo no carro que a levará embora.
— Nos vemos amanhã — ela se despede, da janela.
— Amanhã — digo, e minha namorada vai embora novamente,
me deixando mais feliz do que nunca.

Chega a noite do dia seguinte, e nunca aguardei tanto por um


momento em minha vida. Entro no carro com Victor, e juntos,
seguimos para a casa dos Nogueira, a casa da minha namorada,
onde irei conhecer seus pais.
— Está feliz, filho? — pergunta Victor, sorrindo.
— Muito feliz, pai — afirmo, querendo chegar logo ao meu
destino.
— Nunca te vi tão bonito e tão feliz, os pais dela vão adorar te
conhecer, tenho certeza.
— Tomara — troco mais sorrisos com ele.
— Está ansioso?
— Aham, muito.
— Vai dar tudo certo. — Victor olha pelo para-brisa, e
relâmpagos iluminam o céu. — É, parece que vem tempestade por aí
— comenta, e vejo o obscuro das nuvens faiscando com os
relâmpagos.
Finalmente chegamos na casa da Tati, em um dos bairros
nobres da cidade. É um imóvel grande e bonito, de um andar.
Descemos do carro sorridentes, mas um grande trovão me traz um
sentimento estranho, não sei por que, e fico imediatamente
apreensivo.
— O que foi Apolo, medo de trovões? — rio para ele, sem graça,
e depois olho para o céu novamente. Um vento frio sopra ao
tocarmos a campainha, me arrepiando inteiro.
— Calma rapaz, vai dar tudo certo — Victor da tapinhas em meu
ombro, mas por algum motivo, há uma inquietação no fundo do meu
ser.
Ele aperta o botão da campainha mais uma vez e o abrir da
porta parece acontecer em câmera lenta. Nesse momento é como se
surgisse um buraco abaixo de mim, me arrastando até o inferno. Na
minha frente está nada mais, nada menos, que Aline! Ela mesma! A
mulher de quem fui amante, a vítima da Érica. Meu Deus! O que é
isso? O que ela está fazendo aqui? Não consigo entender! Por quê?
Como assim?
Aline está nitidamente embasbacada, com os olhos fixos em
mim, enquanto estou boquiaberto, paralisado, de coração gelado!
Tati aparece sorridente, pulando em mim e me abraçando.
— Mãe, esse é o meu namorado, Apolo.
Não! Não! NÃÃÃÃOOOOOO!
O JANTAR DO CAOS

“Agora vejo o poder da maldade que ajudei a fazer,


a verdadeira vingança toma vida à minha frente,
e tudo que sinto é o caos.”

Meu coração começa a disparar em batidas fulminantes, eu e


Aline não conseguimos parar de nos olhar, tentando entender que
porra toda é essa. Tati me abraça sorridente, enquanto pareço uma
pedra de gelo a ponto de desabar e despedaçar no chão.
— Mãe! Esse é o Apolo... a senhora não vai dizer nada? — Tati
estranha o silêncio da mulher que está vidrada na minha imagem.
Aline parece despertar de um transe ou de um pesadelo terrível,
e como se retirasse forças de todo o corpo para poder reagir,
finalmente fala, de forma quase inaudível:
— Entrem.
Tati me puxa para dentro e depois dá atenção ao meu pai,
lembrando da presença dele. Meus passos são pesados e lentos,
acho que a qualquer momento irei afundar no chão.
— Seja bem-vindo à minha casa, senhor Victor.
— Obrigado, Tatiana — eles trocam um aperto de mão. Depois
meu pai vai até Aline que continua nitidamente desestabilizada. —
Olá, tudo bem? — ela quase não consegue estender a mão para ele
— Victor Lobo, prazer.
Aline força um sorriso, e balança a cabeça, sem dizer nada, ela
não vai conseguir disfarçar! Nem eu sei se conseguirei. Meu Deus,
isso não pode estar acontecendo! Victor estranha o comportamento
dela, ele é observador. A minha vontade é de fugir daqui, não
consigo raciocinar direito em como isso é possível. Olho para o meu
pai em pedido de socorro e ele tenta decifrar a minha expressão.
Passo a analisar em volta, estamos em uma sala de estar
bonita, com uma decoração fina. De repente me vejo cercado de
retratos de Aline e sua família, com o seu marido, e um em especial
me faz lembrar de uma foto que ela me mostrou na última vez em
que ficamos. É claro! Fiquei com a impressão de que conhecia o
rosto da sua filha pequena, mas guardei isso só para mim. Essa filha
é a Tati, sempre foi, e Érica sabia disso! Desgraçada! Agora tudo...
tudo começa a fazer um medonho sentido.
“Confesso que está de parabéns, era para ter sido eu, mas
arreguei. Contudo, concordo com a Érica que foi mesmo muito
melhor ter sido você. Tinha que ser você.”
Lembro das palavras de José. Tinha que ser eu. Mas... por quê?
Que raio de vingança desgraçada é essa? Aonde ela quer chegar
com isso? Será que realmente sabia desse vínculo entre mãe e
filha?
“Você garoto, é só mais uma peça desse jogo.”
Eu sou uma peça, com certeza Érica sabia de tudo, a todo
tempo, sempre soube! Agora lembro que no dia em que ela me
procurou após ter me dispensado, foi assim que me viu com a Tati,
de repente, do nada.
“— Tati é o nome dela?
— Sim
— Como se conheceram?
— No shopping.
— Vocês formam um lindo casal. Já conhece a família dela?
— Não, a gente só ‘tá ficando. Não partimos para esse lance de
apresentações familiares ainda.
— Ela parece ser uma ótima garota, além de bonita.”
As lembranças não param de chegar, as peças tendem a se
encaixar. Tudo isso não pode ser uma mera coincidência. NÃO É
POSSÍVEL! Cínica! Falsa! Me enganou! Me usou! Seguro as
lágrimas enquanto Tati me abraça novamente, feliz. Um frio colossal
na barriga me consome, tento não entrar em desespero e volto a
mirar Aline em assombração. Ela se encosta em um móvel, parece
que a qualquer momento vai desabar.
Um homem surge, sorridente, descendo a escada com um
garoto que mexe no celular.
— Cláudio, meu amigo — Victor o cumprimenta, sorrindo.
— Meu caro Victor, que bom tê-lo aqui em minha casa — diz
Cláudio.
— Esse é o meu rapaz, Apolo Lobo. — me apresenta, e tenho
que me esforçar muito para esticar um sorriso ao apertar a mão do
homem que tentou me matar, que atirou em mim quando saltei da
janela daquele apartamento. Ele é o pivô de tudo que motiva Érica, é
dele que ela quer vingança de verdade. É por causa desse homem
que estou aqui agora, de certa forma, pelas articulações da
Afrodisíaca. Como tudo isso é possível? Como Érica saberia que
Aline e Tati são mãe e filha? Ou não sabia? É claro que sim! Estou
em dúvida, confuso, irei enlouquecer!
Mas como assim, o nome dele não é João?
— Prazer em conhecê-lo, Apolo Lobo. Seja bem-vindo à nossa
casa — diz Cláudio, parece muito feliz com a minha presença. Sou
apenas uns dois centímetros menor que ele — Que bom que
finalmente nos conhecemos, já não aguentava mais a Tati falando a
todo instante de você, e veja só, será que tem dezesseis anos
mesmo? Parece um jovem adulto.
— Ah, ele puxou ao pai, na idade dele eu também parecia ter
uns três ou quatro anos a mais. A nossa genética nos amadurece
fisicamente muito rápido — explica Victor, e nesse momento miro
Aline novamente, que é um misto de incompreensão e possivelmente
raiva.
— Vocês já conhecem a minha esposa? Maria Aline, vem cá
meu bem — Maria Aline, então esse é o seu nome completo. Ela
demora uns três segundos para corresponder ao chamado do
marido, e enfim caminha até ele, vagarosamente, tentando disfarçar
o choque que a possui a cada instante que fico nesta casa. Só eu
posso imaginar o que ela deve estar sentindo, só eu consigo
enxergar de fato o seu sorriso falso, a sua vontade contida de chorar.
Milhares de pensamentos rondam a minha mente, tentando
entender essa loucura, o que de certa forma me deixa um pouco
aéreo, com medo. E se Cláudio descobrir que transei com a sua
esposa? Vai acontecer o inferno aqui.
— Nós nos falamos agora — diz Victor.
— Está tudo bem, amor? — pergunta Cláudio, estranhando o
comportamento da esposa.
— Está, João Cláudio, tudo bem — responde ela. João Cláudio,
é o nome dele completo. Meu Deus, isso é um filme de terror! Por
que está acontecendo? Estou lascado, lascado! Logo agora que
descobri o meu amor por Tatiana, a minha garota. E ela me olha com
brilho nos olhos enquanto me sinto golpeado pela vida. Maldita Érica!
Foi por causa da Tati que ela me escolheu para conquistar Aline,
é a única conclusão a que posso chegar. Essa vingança dela é algo
muito mais terrível do que imaginei! Como não percebi isso antes? E
agora? Como sairei dessa situação? E o meu pai aqui sem saber de
nada. O Cláudio é amigo dele! Amigo! Advogado! Como isso pode
ficar pior?
— Vamos sentar — chama Cláudio, e todos sentamos nos sofás
grandes e confortáveis. Toda a casa parece ser bem confortável e
agradável, requintada, apesar de eu não estar ligando nem um
pouco para isso.
Cláudio se mostra muito receptivo para um homem dito
conservador quanto à filha. Ele está alegre, e também não parece
em nada ser um homem que algum dia foi traído. Então lembro que
Aline contou que ele mudou, que se tornou um bom marido e tal.
Mas, me pergunto, como pode parecer tão feliz assim? Será que
esse casamento deles continua sendo de fachada ou ele mudou
realmente?
Tatiana senta comigo e meu pai em um sofá, e Aline com o
esposo e o garoto no outro. O menino continua mexendo no celular,
sem dar atenção a nossa conversa, parece ter uns dez anos de
idade.
— E quem é esse rapazinho? — pergunta meu pai.
— Ah, esqueci de apresentar o meu garoto, Rafael — diz
Cláudio. — Filho, fala com o tio Victor e com o Apolo.
— Oi — diz Rafael, olhando para nós por um momento e em
seguida retornando para o celular.
— Rafael, para de ser viciado em jogo! — Tati chama sua
atenção, mas o menino não lhe dá bola e Victor ri.
— Por que nunca me falou que tinha um irmão? — cochicho no
ouvido dela.
— Não falei? — pergunta, e decido não discutir.
A empregada aparece com uma bandeja com taças de bebidas
diferentes, suco para mim e Tati, cajuína para meu pai e Cláudio,
água para Aline e refrigerante para Rafael.
Como não saquei antes que Tati tem a mãe que tem? Mas ela
nunca foi de falar o nome dos pais, e acho que mesmo que dissesse
que sua mãe se chamava Aline, eu jamais imaginaria que fosse essa
Aline. Por outro lado, minha namorada pouco conversou comigo
sobre família, tanto que não me contou sobre ter um irmão. A única
pessoa de quem ela mais falou foi seu pai, de como ele era e tudo.
Quanto à Aline, ela chegou bem perto no dia em que me
mostrou aquele álbum. Lá Tatiana era uma criança, parecia com seis
anos de idade, o rosto me lembrou alguém, mas depois deixei isso
de lado. Nós só tivemos dois encontros também, talvez se nossa
relação houvesse se estendido, eu não teria caído nessa armadilha.
— Obrigado, Maura — Cláudio agradece à empregada que
retorna para cozinha. Depois ele se volta para mim — Então Apolo,
seu pai já me falou sobre você, mas agora quero que você mesmo
me conte quem é.
Nesse momento todos olham para mim. Aline parece conter
mesmo uma certa raiva por minha pessoa, vejo em seus olhos, ela
mira a mão de sua filha segurando a minha. Engulo em seco,
demorando a falar, procurando as palavras.
— Apolo, responde o Cláudio — pede Victor, me tirando de
todos os meus pensamentos tenebrosos.
— Está tímido, rapaz? — indaga Cláudio, sorrindo.
— Não — respondo, sem graça. — É que... sou um cara normal.
Não há muito o que falar — gaguejo.
— Faz o segundo ano do ensino médio, não é isso? — pergunta
Cláudio.
— Sim.
— Seu pai me disse que é muito inteligente. A sua escola é uma
das melhores do Estado, talvez eu matricule Tatiana lá ano que vem,
aí os dois poderão ficar mais próximos.
— Jura, pai? — minha namorada fica empolgada com a ideia.
— Sim, filha, por que não? Já que são namorados, devemos
tentar manter o relacionamento de vocês o mais vivo possível —
Olho para meu pai que franze a testa ao ouvir o amigo.
— Realmente a escola do Apolo é muito boa, a mãe dele
sempre prezou por colocá-lo nos melhores lugares. A única coisa
que não gosto dessa instituição é o pulso fraco para o
comportamento de alguns alunos bagunceiros, já tive que ir lá
reclamar, havia moleques implicando com o meu filhote.
— Eu faria o mesmo, esse tipo de situação é triste. Mas não
culpo Laura, mães sempre querem o melhor para os filhos, não é
amor?
— É — a resposta de Aline é seca. Cláudio olha para ela por
alguns segundos, acho que está a estranhando.
— Nossa, como a minha mãe ‘tá estranha — cochicha Tati, para
mim. — Ela não é assim.
— E qual curso superior você deseja fazer, Apolo? — Cláudio
volta a investigar se sou um bom partido para sua filha, é isso que
sinto. Contudo, mal sabe ele que devo ser o pior de todos.
— Ah... eu... quero Direito — respondo, ainda encolhido, meu
desejo é de sumir desse lugar.
— Ótima escolha, eu sou suspeito para falar de Direito, né — ele
sorri. — Estou surpreso, achei que você iria querer engrenar nos
negócios de seu pai.
— O avô dele pediu prioridade — diz Victor. — Apolo é o único
neto, há um grande patrimônio a gerir no futuro, e eu entendo.
— Estou ciente disso, Apolo é neto do grande Rivaldo Cordeiro,
que vive saindo em jornais e revistas, assim como a famosa
fotógrafa Laura. A Cordeiro é uma empresa e tanto. Nossa, você se
deu bem na vida, garoto, tão novinho e com um futuro brilhante pela
frente, Tati não poderia ter escolhido um namorado melhor —
Cláudio parece orgulhoso, como se Tatiane tivesse ganhado na
loteria. Que patético!
— Ah pai, eu nem sabia de nada disso quando conheci o Apolo.
Estou com ele porque o amo — diz Tati, acariciando a minha mão,
calando o próprio pai por alguns segundos. Aline nos observa
fixamente.
— O amor também importa, é claro, mas eu sou um homem
futurista. E você também, né filha? Ela quer ser advogada, Victor,
assim como eu — ele se acha, penso.
— Também pensei em arquitetura, pai... — Tati parece sem jeito
sobre este assunto.
— Minha filha, eu já lhe disse, arquitetura não rende aqui em
Teresina, é uma área muito complicada. A Maria, por exemplo, é
formada em pedagogia, atuava como professora, eu a fiz largar.
Ficar se matando em uma profissãozinha sem futuro pra quê? Posso
dar tudo que ela precisa mesmo.
“— Meu pai é advogado, passa o dia naquele escritório dele, mal
está em casa, e minha mãe é professora, quer dizer, ela não atua
mais, meu pai falou que não era necessário. E os seus?”
Lembro das palavras de Tati em nosso primeiro encontro.
“— Olha, aqui sou eu na faculdade de pedagogia.”
Lembro do que Aline me disse quando me mostrou aquele
álbum de fotografias. Mas como eu podia ligar as duas? Troco
olhares com meu pai e já sei que ele não está gostando do papo do
seu amigo.
— Olha Cláudio, eu sou da crença de que não importa a sua
área, você consegue sucesso se for bom, se se destacar e se
empenhar no que faz.
— Victor, vamos ser sinceros, é muito melhor fazer logo um
curso que vai te dar retorno alto, do que perder tempo com cursos
pequenos, eu penso assim. Não existe esse negócio de amor ou
vocação, não, a pessoa tem que pensar mesmo é no retorno
financeiro.
Meu pai força um sorriso, e não comenta mais nada a respeito.
Se fosse em outra ocasião, talvez eu tentasse interagir mais, mas
nesse caso, minha cabeça está quase explodindo com o impacto de
estar aqui.
— E como você e Tatiana se conheceram? — pergunta Aline, de
repente, me olhando fixamente, cortando a conversa dos dois
homens.
— Mãe, eu já contei...
— Contou para quem, Tatiana? Para o seu pai e para Maura,
apenas — afirma, séria. — Eu não soube de quase nada, você me
trata como se eu fosse a empregada e Maura como se fosse a sua
mãe.
— Maria Aline... — Cláudio tenta repreendê-la.
— É, mas isso não vem ao caso — ela ri, sem humor. — Conta
Apolo, como você e minha filha se conheceram? — há um leve
sarcasmo em sua voz.
Chego à conclusão de que não sairei daqui vivo, a qualquer
momento essa bomba vai explodir e bem em cima da minha cabeça.
Não há escapatória! Agora, pelo visto, Aline se deixa guiar pelo ritmo
da música, entrando nesse teatro macabro onde a maioria dos
personagens presentes não conhecem o verdadeiro enredo. Não
tenho outra opção a não ser fazer o mesmo, apesar de ver que Aline
quer acabar com a minha raça.
— No shopping — respondo.
— Quando? — ela insisti, mal deixando eu terminar de
responder à primeira pergunta e já fazendo outra. Ela deve estar
doida para saber se eu armei tudo isso, deduzo.
— Ah... já faz tempo, uns quatro meses, eu não me lembro bem,
mas... a gente teve encontros e desencontros, só... agora que...
decidimos ter algo mais... sério — de repente noto que minha voz sai
em tom de justificativa para Aline, sem querer querendo, porque sei
que é isso que ela busca saber.
— A gente ficou uns dois meses sem se ver e nos falar, e há
pouco tempo nos reencontramos, e quando percebemos que o que
sentíamos um pelo outro era verdadeiro, Apolo me pediu em namoro
— conta Tati, em sua voz há emoção ao falar sobre nós dois.
— E Teresina como sempre, nos provando que ainda é
pequena, fez minha filha se apaixonar pelo filho do meu cliente e
amigo — comenta Cláudio, sorridente. Ele está sendo mais receptivo
do que eu esperava.
— E bota pequena nisso — Aline é sarcástica, e se remexe no
sofá, como se estivesse incomodada. Também estou, bastante, só
não tenho movimento algum, pareço uma estátua açoitada por
alguém invisível, apanhando da vida, do destino por estar fazendo
isso conosco.
— Ou pode ter sido algo do destino! — teoriza a minha
namorada, parecendo ler meus pensamentos. — Talvez Deus fez eu
e Apolo nos conhecermos para que o senhor Victor e meu pai
tivessem um laço maior de amizade.
Aline suspira incrédula e desvia o olhar para o nada. Ela está
abalada.
— Acredito sim na força do destino, porém, ao vir para cá,
percebi que nosso condomínio é muito próximo daqui, as escolas de
vocês, pelo que Apolo me disse, também são próximas, e o shopping
também. Então, para mim, tudo isso contribuiu — observa meu pai.
Aline cochicha algo no ouvido do marido e levanta, sem falar
nada conosco, subindo para o andar de cima. Acho que assim como
eu, ela não está mais suportando essa situação. Por outro lado, paro
para raciocinar no que meu pai disse, realmente a casa da Tati é
próxima da minha. Será que Érica foi morar em nosso condomínio
por causa dessa proximidade? Essa mulher só me prova que é mais
perigosa do que eu imaginava.
— O jantar está servido, Dr. Cláudio. — diz a empregada, se
aproximando.
— Tudo bem, Maura, já estamos indo, obrigado.
— E seu rapaz? Não fala nada? — Victor mira Rafael envolvido
em um jogo no celular.
— Rafael meu filho, pare de ser mal educado e deixe esse
celular de mão! Estamos recebendo visitas.
— Não, tudo bem Cláudio, só queria chamar a atenção dele,
mas pode deixá-lo jogando.
— Não, ele já está passando dos limites. Guarde agora —
ordena.
— ‘Tá bom, pai — Rafael o obedece, pondo o aparelho no bolso
da calça.
— Ótimo. Bem, vamos jantar — chama, e todos nos levantamos
e passamos a nos dirigir para a sala da refeições, encontrando uma
mesa glamorosa a nossa espera. Cláudio senta à cabeceira, já que é
o anfitrião, a sua esquerda está meu pai, depois eu e Tati. À sua
direita está uma cadeira vazia, que deve ser de Aline, e em seguida
Rafael.
Aline retorna após todos nos sentarmos, e parece abatida, com
os olhos um pouco rosados. Será que chorou? Cláudio troca
cochichos com ela, acariciando sua mão.
Esse momento é simplesmente inacreditável! Quando que na
minha vida imaginei que passaria por essa experiência pavorosa?
Estou dividindo a mesa com o homem que fiz ser corno, a sua
mulher com quem transei, e a filha que agora é a minha namorada e
que desvirginei. De quebra ainda tem meu pai e Rafael. Somos o
completo oposto de tudo que diz respeito à famosa família tradicional
brasileira.
Suo frio, cada segundo que passo dentro dessa casa é como
uma câmara de gás onde morrerei intoxicado e queimado a qualquer
momento. Como explicarei essa merda colossal ao meu pai? O pior
de tudo é que se Cláudio descobrir a verdade, achará que Victor
também está envolvido nessa cama de gato. Agora, só tento
disfarçar a minha aflição, que me toma intensamente, e ouço um
trovão ecoar lá fora, as lâmpadas até piscam, ameaçando faltar
energia.
— Apolo, o que você tem? — sussurra Tati em meu ouvido. —
‘Tá ficando pálido.
— Está tudo bem — minto.
— Vamos gente, podem se servir, vamos comer — convida
Cláudio.
Passamos a nos servir, coloco pouca comida, porque realmente
perdi a fome. Meu estômago está revirado pela situação, não acho
que conseguirei me alimentar.
— Você come pouco assim mesmo Apolo? — pergunta Cláudio,
puxando assunto — Ou ainda está tímido? Não tenha vergonha ou
medo de mim, sou exigente quanto à minha filha, mas juro que não
sou perigoso — ele sorri e os outros também, menos eu e sua
esposa. Coitado, está mentindo, é perigoso sim, e eu sei o quanto.
— É que não estou com muita fome mesmo, seu Cláudio —
respondo.
— O que é de se estranhar, porque esse aí come como um leão
— comenta meu pai — Puxou à mim.
— Isso é verdade — fala Tatiana, sorrindo — Apolo só se
satisfaz com três sanduíches, no mínimo.
— Humm, esse feijão está delicioso, Cláudio, muito bom mesmo
— elogia Victor
— Eu adoro, por isso pedi a Maura que o fizesse hoje, é
especialidade dela.
A empregada ri em agradecimento, ela está parada em um
canto, de mãos cruzadas, nos observando e esperando qualquer
comando.
Me forço a comer para não fazer feio, e mesmo me sentindo
mal, percebo que o feijão está realmente muito bom e gostoso. Na
mesa há dois tipos de salada, frango assado no forno, baião de dois,
arroz branco com cenoura, torta de carne moída e muito mais.
Continuo matutando na mente se é possível mesmo Érica ter
pedido intencionalmente para eu me envolver com Aline sabendo
que Tati era sua filha. Mas se a intenção dela era construir esse
quadro pavoroso, como tinha certeza de que eu permaneceria com a
Tati? Foram tantas idas e vindas entre nós. Algo não está se
encaixando bem nessa história. Não é possível que tudo isso tenha
sido planejado com tanta perfeição! Droga!
— Hoje é uma noite feliz, eu estou muito feliz de estar com meu
amigo Victor e espero que essa união entre nossos filhos seja
duradoura, pois juntos, sei que terão um futuro brilhante pela frente
— declara Cláudio, contente, enquanto bebe cajuína.
É uma tragédia pronta, um jantar do caos, ele está gostando de
mim e do namoro com sua filha, que também está muito feliz. Já
Aline disfarça a tristeza, Rafael não está nem aí para a situação, só
janta como se não estivesse aqui. Meu olhar bate com o de meu pai,
e ele me encara desconfiado, me assustando e me fazendo engolir
em seco. Será que notou alguma coisa?
— Calma, meu caro, o jantar de casamento, se tudo der certo,
será daqui a alguns anos — ironiza Victor, parando de me olhar e
entrando na conversa de Cláudio.
— Ah, mas hoje em dia as coisas nem estão tão diferentes como
antes. Já vi muitos jovens adolescentes como os nossos filhos
casando. Mas você está certo, Victor, não vou colocar os bois à
frente da carroça.
— Nós nos amamos, mas não quero casar cedo — comenta
Tati, sorridente. Como ela é inocente, a minha garota. Pobre dela,
nem imagina a desgraça que está acontecendo. Sinto vontade de
chorar por ela, por nós, por nosso amor diante dessa catástrofe, mas
tiro forças de não sei onde, para poder me controlar. — Amor, você
está suando, está passando mal? — ela cochicha em meu ouvido,
preocupada. Por que, Senhor?
— Quero um pouco de cajuína — peço, para ver se me sinto
melhor. Ela enche uma taça para mim, mas ao me entregar, se distrai
e molha a minha camisa. Levanto no susto misturado ao nervoso da
situação.
— Tatiana preste atenção, minha filha! — reclama Cláudio. —
Olha isso!
— Foi sem querer, pai...
Rafael começa a gargalhar.
— Eu levo você até o banheiro para se limpar, Apolo — declara
Aline, levantando rapidamente, sem me dar chance de contestá-la.
Arregalo os olhos, o coração bate forte.
— Isso amor, leva ele ao nosso banheiro, lá em cima. Se
necessário dê uma de minhas camisas a ele, como esse garoto é
grande, com certeza lhe servirá bem — concorda Cláudio. Merda!
— Não... precisa se incomodar — tento evitar.
— Não é incômodo, me acompanhe — diz Aline, passando por
mim. Fico agoniado, contra parede, tenso, sem saída! Olho para
Victor em pedido de socorro e novamente ele parece não me
entender. O que mais quero é ir embora, e agora Aline me coloca
nessa sinuca de bico. Ela quer falar comigo, claro, mas não acho
uma boa ideia, não aqui. Entretanto, não há como negar.
— Pode vir Apolo — ela chama, insistente, parece estar disposta
a tudo. QUE INFERNO!
Então a sigo, puta nervoso. Em segundos subimos a escada,
chegamos ao primeiro andar, no corredor dos quartos. Ela abre a
primeira porta e entra, eu entro em seguida, gelado, como se fosse
morrer, envergonhado, o coração quase saindo pela boca, suando
frio. O chão parece ser feito de areia movediça a cada passo que
dou.
O quarto é muito bonito e aconchegante, em tons de cinza. Pelo
vidro das janelas se vê a chuva intensa lá fora, o vento, e ouço mais
trovões. A porta fecha às minhas costas, respiro fundo, de olhos
fechados, crio coragem e me viro para Aline, preciso enfrentá-la, não
posso mais fugir, tenho que dizer a ela que não sabia. A mulher me
encara com ódio e rancor, os olhos brilhando.
— Aline... — tento falar, mas sou esbofeteado fortemente, tanto
que acabo dando um passo para o lado direito, para poder me
equilibrar, meus óculos até saem do lugar com a força do impacto. E
isso foi o bastante para me fazer começar a chorar também. — Eu
não sabia... — levo outra bofetada, no outro lado do rosto, minhas
bochechas ardem pra cacete.
— Cala a boca! — rosna ela, entredentes, ofegante. Serei
destruído. Ela aponta o dedo trêmulo para minha cara. — Como você
teve a coragem...
— Eu não sabia... eu não sabia...
— E ainda vem na minha casa, jantar com a minha família... —
ela está indignada, enquanto balanço a cabeça negativamente. —
Então foi assim que me enganou? Por que você está fazendo isso,
Apolo? — ela soluça, não conseguindo mais conter o pranto. — Você
quer me enlouquecer? Você quer me enlouquecer? — a mulher
esmurra o meu ombro, tentando não se tornar transtornada, mas
está a um passo disso.
— Eu te juro, juro que essa não era a minha intensão, juro... eu
não sabia... — digo, em lágrimas imparáveis.
— Como não sabia? Planejou isso? Quem você é de verdade?
O que quer?! Fala!
— Não, não, por favor me escuta — seguro-a pelos braços
desesperado, enquanto choramos. — Eu não sabia que a Tati era a
sua filha, isso nunca passou pela minha cabeça. Nunca!
— Me larga, me larga! — ela se desvencilha dos meus braços,
com nojo. — Achei que era diferente, que gostava de mim, que
queria me fazer bem, e agora isso! Acha graça nessa loucura? Está
se divertindo seu pervertido! — ela me bate, descontrolada, e a
seguro novamente.
— Para! Não sou seu inimigo, por favor acredita em mim,
acredita em mim. Não sabia que você era a mãe da Tati, cacete! A
conheci antes de você e só voltei a ver ela agora, depois do flagrante
no seu apartamento
— Não acredito numa coincidência dessa magnitude! Me conta
a verdade! — exige, nervosa.
— Tá bom... vou te falar agora antes que seja tarde demais.
Juro que não sabia, mas agora tenho certeza que a pessoa que me
pediu para se envolver contigo, sim.
— Pessoa? Que... pessoa? — Aline tenta raciocinar.
— Érica — afirmo, e mais uma trovejada corta o céu.

Algo de muito estranho está acontecendo, posso sentir. Desde


que chegamos a esta casa, Apolo se comporta de maneira muito
estranha, assim como Maria Aline, a esposa de Cláudio — que
mulher mais incomum! Meu filho e ela não pararam de trocar olhares,
tentaram disfarçar, mas eu percebi, e isso me cheira muito, muito
mal.
A empregada, após recolher todos os pratos, pergunta:
— Posso servir a sobremesa, doutor Cláudio?
— Pode, é o tempo que leva para Aline e Apolo retornarem.
Cláudio também me incomoda um pouco com esses seus papos
futuristas, já pensando em casar meu filho com sua filha. Estou me
sentindo mais em um jantar de casamento do que de namoro.
— Você gosta de mousse de maracujá, Victor? — ele pergunta.
— Gosto sim — respondo — Mousse de maracujá é um dos
meus preferidos.
— Esse é sublime, você vai adorar.
— Mamãe e Apolo estão demorando, né — comenta Tatiana,
que a todo instante olha para trás, para ver se meu filho já está
chegando. Ela realmente gosta muito dele, é uma garota de ouro, e
adorei sua resposta quanto a casamento.
— Rafael — chama Cláudio, e vejo o rapaz meio sonolento em
sua cadeira.
— Está com sono, rapaz? — pergunto.
— Acho... que comi demais — diz ele, respirando fundo, com os
olhos se fechando.
— Eu vou lá em cima — declara Tatiana, levantando e sumindo
de vista.
— Rafael, acorde, isso não é hora de dormir — chama Cláudio,
tocando no ombro do menino.
— Eu acho que ele está passando mal — comento, estranhando
o comportamento do garoto. Rafael apaga.

Nunca senti tamanha dor em meu peito. Aline está destroçada


após ouvir tudo que lhe contei. Ela não consegue nem mesmo falar,
e senta na cama, como se o mundo desabasse à sua frente.
— Então... tudo o que você fez... foi a mando... da Érica?
Eu me ajoelho em sua frente, me sentindo o mais terrível ser
humano, soluçando, em um pranto imenso que não cabe em mim.
— Me perdoa... me perdoa... eu percebi que ela estava me
usando tarde demais e quando desisti de tirar a foto que ela tanto
queria, seu marido nos flagrou. Foi ela que armou tudo... para se
vingar do Cláudio. E ela sabia que você era a mãe da Tati, agora
tudo faz sentido pra mim, mas eu não... acredita em mim... eu não
sabia.
— Meu Deus... você é um monstro... um monstro... — ela
choraminga, pondo as mãos na boca e chorando ainda mais, me
esfaqueando com suas palavras.
— Não... por favor... eu errei, mas me arrependi. Jamais me
envolveria com a Tati se soubesse que ela era a sua filha, tanto que
decidi dar um basta em nós dois porque me apaixonei por ela.
Aline passa mal, dói muito nela e em mim. A mulher cai sobre o
colchão de repente, desmaiando, para me desesperar ainda mais.
— Aline, Aline acorda, Aline! — levanto e passo a mexer nela,
dando tapinhas em seu rosto. — Aline! Aline!
Tati entra no quarto e se assusta com a cena.
— Apolo? O que ‘tá acontecendo aqui? — pergunta, sem
entender nada.
— A sua mãe, acabou de desmaiar! — falo, sem saber o que
fazer.
— Meu Deus! — exclama Tati, correndo até nós e sacudindo a
mãe pelos braços. — Mãe! Mãe! Mãe acorda! Mãe!
— É melhor chamar seu pai, vai! — ordeno, ela assente com a
cabeça e sai do quarto correndo.
Segundos depois, escuto um barulho estranho, tenho um mal
pressentimento e corro para a escada, avistando Tati jogada lá
embaixo, desacordada. Puta merda, ela caiu!
— Tati! — grito, descendo os degraus em desespero. Meu pai e
Cláudio vêm da sala de jantar.
— Tatiana! Minha filha! — nós nos ajoelhamos ao lado dela.
— Apolo, o que aconteceu? — pergunta meu pai, preocupado.
— Eu não sei, pedi a ela que chamasse o senhor Cláudio
porque a Aline desmaiou lá em cima, ela saiu correndo, ouvi um
barulho e quando vim aqui, ela já tinha caído — expliquei.
— A Aline desmaiou? — pergunta Cláudio, apavorado.
— Sim — confirmo.
— Cuidem da minha filha, eu vou socorrer a minha esposa —
avisa Cláudio, e ao levantar para ir até Aline, ele fica tonto,
bambeando para trás e se chocando contra uma estante, quebrando
alguns objetos artesanais em cerâmica, alguns indo ao chão, se
despedaçando.
— Cláudio! — chama meu pai, indo até ele e o segurando.
— Eu... não estou vendo as coisas direito, Victor — balbucia.
— Calma, calma meu amigo, vou te sentar aqui no sofá.
Ao tentar ajudá-lo, meu pai fica tonto também e os dois homens
vão ao chão. Que merda é essa?
— PAI! — grito, correndo até ele, que parece assombrado,
piscando os olhos, tentando enxergar.
— Filho... — sua voz é fraca. ELE ESTÁ DESFALECENDO NA
MINHA FRENTE, E EU NÃO POSSO FAZER NADA!
— Pai! Meu Deus o que ‘tá acontecendo aqui? — grito,
desesperado.
— Maura... — murmura Cláudio, antes de desmaiar, olhando
para a empregada que nos observa de longe, com um sorriso
maquiavélico. Maura, eu já ouvi esse nome antes.
“— E depois não se esqueça de arrumar sua mochila, pois
amanhã de manhã vou deixá-lo na casa da tia Maura.
— Ah não mamãe! Quero ficar aqui com você!”
Lembro de Érica falando com Olavo uma vez.
“— Oi Maura, o que houve?”
Lembro dela falando ao telefone. Nossa! Me encho de ódio e
raiva e caminho rumo a empregada com vontade de matá-la!
— Desgraçadas... — rosno, mas fico tonto no meio do caminho
e bambeio, meus passos se tornam lentos, minha visão embaçada.
Ah não! Comigo também está acontecendo, irei apagar em poucos
segundos assim como os outros!
Vou ao chão, perdendo as forças, a respiração, enquanto a
desgraçada da empregada continua rindo como o verdadeiro diabo,
gostando da minha aflição, do meu sofrimento.
— A... comida — sussurro, raciocinando. Ela envenenou a
comida! Será que todos estamos morrendo?
Tudo passa a girar, eu paro de tentar me mover, e ouço a
campainha tocar.
Tin dom!
Tudo escurece.

Meus olhos aos poucos se abrem bem devagar, pesados. Ouço


sons distantes que ainda não consigo identificar e que se tornam
mais audíveis gradativamente. São gemidos.
Tenho um sobressalto e ergo a cabeça em pânico, lembrando de
tudo o que aconteceu, tentando me situar. E me dou conta de uma
cena terrível: estou completamente amarrado à cadeira na sala de
jantar, com uma fita adesiva larga na boca que dá a volta em minha
cabeça.
Tudo fica mais medonho quando vejo Aline e Cláudio na mesma
situação que eu, e os gemidos vêm deles. Aline chora amedrontada,
olhando para mim e para o marido que se mexe na cadeira
constantemente, tentando se libertar. Estou em seu lugar, à
cabeceira da mesa, enquanto ele e Aline ocupam agora as cadeiras
em que estavam eu e Tati anteriormente. Do meu lado direito está
Rafael, também amarrado e amordaçado, em seu lugar original,
porém desacordado.
Onde está minha namorada? O que fizeram com ela e com o
meu pai?! Caralho, o que está acontecendo aqui?!
Começo a me desesperar mais uma vez, e tento me soltar, tento
gritar, mas minha voz sai muito abafada, não dá pra falar. Cadê meu
pai? Aline tenta falar inutilmente com o filho, está nítida sua
preocupação e sofrimento em relação a ele.
O inferno se torna ainda pior quando Érica, ela mesma, sai da
cozinha ao lado da empregada, Maura. A maldita Afrodisíaca está
com uma taça na mão, comendo mousse. As duas com sorrisos
maléficos estampados no rosto. Merda, merda, merda! Assim como
eu, Cláudio e Aline estão muito chocados com as duas mulheres.
— Boa noite — diz Érica, cínica, sarcástica, infame! Eu a odeio
com todas as minhas forças!
Nesse momento José aparece, vindo da sala de estar,
empunhando uma arma, igualmente a um demônio. Será que ele fez
alguma coisa contra meu pai e Tati? O desgraçado anda mal, e sei o
motivo, a mordida de Kenai ainda o incomoda. Ao verem o revólver
na mão dele, Aline e Cláudio se tornam ainda mais tensos.
— Cheguei atrasada para esse maravilhoso jantar — comenta
Érica, irônica — Sou uma penetra, eu sei, vim sem ser convidada.
Mas vamos pensar pelo lado positivo: ainda há tempo parar comer a
sobremesa.
Ela começa a gargalhar tenebrosamente, e é acompanhada por
seus dois comparsas, transformando o ambiente em um verdadeiro
horror. Ela sabia que eu estaria aqui hoje! A empregada sempre
esteve ao seu lado, era isso que essa vagabunda queria! Até onde
ela irá?!
Agora vejo o poder da maldade que ajudei a fazer, a verdadeira
vingança toma vida à minha frente, e tudo que sinto é o caos.
A VINGANÇA É MINHA

“Eu não sou má, sou fruto da maldade!”

É uma cena de filme de terror, literalmente, e não posso crer


nisso: Érica, José e a empregada Maura juntos! De uma só vez! Na
casa da minha namorada, com todo mundo, tocando o medo!
Os três param de rir e só o que se ouve agora são os gemidos
de Cláudio, furioso, se debatendo na cadeira. Eu, ele, Aline e Rafael
estamos muito bem presos, há fita adesiva cinza por toda parte,
abaixo e acima dos joelhos, deixando nossas pernas grudadas às
pernas da cadeira, e os pulsos atrás das costas dela. Mas o que
mais me incomoda é estar com a boca tampada, impedido de falar e
respirar normalmente, isso é horrível e agoniante!
— O que foi Cláudio? — indaga Érica, irônica, caminhando até
Rafael — Não está gostando da nossa chegada? Viemos para
apimentar esse jantar, achei que estava muito insosso, não
concorda? — ela põe uma colherinha de mousse na boca, e depois
deixa a taça sobre a mesa.
Fico quieto, olhando para a sala de estar, procurando meu pai e
Tati, a ausência deles me preocupa.
— Por que está com raiva? Parece com raiva — Érica continua
conversando com Cláudio, ela não tira o sorriso do rosto, está feliz
com a cena — Eu esperei tanto por essa noite em que veria você aí
Cláudio, diante de mim, tão fraco... tão vulnerável. Sabe por que
estou aqui, não sabe? Sabe sim, mas a Aline não. Você sabe Aline
por que eu estou aqui?
Aline, com os olhos em lágrimas, fulmina a Afrodisíaca. José e
Maura assistem a tudo em silêncio, e começo, discretamente, a
tentar libertar meus pulsos, exercendo força, tentando folgar a fita e
me livrar, mas parece impossível. Ela foi enrolada pelo menos umas
três vezes.
— Sabe por que estou aqui? RESPONDE! — Érica grita com
Aline, batendo as duas mãos na mesa, fazendo os objetos sobre ela
tremerem.
Aline então finalmente a responde, balançando a cabeça
negativamente. A coitada é um misto de medo e raiva, ainda mais
com José na outra ponta da mesa, armado, com Maura ao seu lado,
com esse trio do caos tão próximo do seu filho indefeso.
— Vou te contar, afinal, você não deixa de ser mais uma vítima
desse crápula! — percebo que Érica se arrumou para essa ocasião,
ela está bem maquiada, perfumada, cabelo feito, e usando um
vestido azul-marinho.
Ela puxa a cadeira ao lado de Rafael, que continua adormecido,
senta, e começa a contar:
— Há dezoito anos, quando estávamos na faculdade de
pedagogia, nós éramos melhores amigas, Aline, eu realmente
gostava de ti e sei que a sua amizade era recíproca. Mas então você
começou a namorar com esse imundo... e todas as vezes que ele
aparecia, eu via o jeito como me olhava... me desejando, mas não o
correspondia, afinal, era fiel à nossa amizade verdadeira. Só que o
destino não foi bom comigo, minha mãe morreu, meu pai era doente
e precisava de remédios caros. E você, como uma boa amiga, falou
com Cláudio que me deixou trabalhar como sua secretária, mesmo
eu não tendo nenhuma experiência na área da advocacia.
“Desde o primeiro dia em que pus os pés naquele escritório, fui
tentada de todas as formas possíveis por esse cafajeste. De repente
vi meu caráter em jogo, pois não podia trair a minha melhor amiga,
um anjo que me ajudou na hora mais difícil. Mas era mais forte que
eu, sabe? Cláudio era um libertino, ele me seduziu, tocou nas
minhas emoções, tentei resistir, mas acabei me entregando. Ele não
possuía nenhum escrúpulo, te enganava na cara de pau enquanto te
traía comigo."
Aline mira Cláudio com decepção, o mesmo olhar que mostrou a
mim momentos antes, no seu quarto. Eu não queria estar na pele
dele nesse momento, apesar de não estar melhor do que ele agora.
Érica continua com sua história, ela se emociona enquanto
lembra de tudo, dividindo sua atenção entre Aline e Cláudio. Às
vezes olha pro nada.
— Ele dizia que me amava, que eu era especial, e quando me
apaixonei, começou a me fazer falsas promessas, afirmando que iria
terminar com você para ficar comigo, e eu... completamente ingênua,
acreditei, pois ele foi o meu primeiro, entreguei a minha virgindade à
esse maldito. Mas o tempo foi passando e nada acontecia, tive que
suportar vê-la morta de apaixonada também enquanto o ciúmes me
consumia. E então, descobri que estava grávida, e isso veio como
uma esperança gigantesca de ter Cláudio só para mim. Triste
engano.
"Quando contei a ele, sabe o que me disse? Para abortar, mas o
confrontei: por que iria abortar se ele disse que iria ficar comigo e
não contigo? A situação piorou sem eu perceber, pois assim como
você Aline, era ingênua e apaixonada, cega! Ele manipulava nós
duas. Contudo, minha barriga foi crescendo, os meses se passando,
e Cláudio me fez sair da faculdade para que minha gestação não
fosse notada, prometeu que iria assumir a mim e ao meu filho. Era
um menino... fui fazer a ultrassom sozinha.... enquanto ele estava
contigo.”
Lágrimas de sangue descem sobre a face de Érica, lágrimas de
rancor, e em sua voz há um resultado de tristeza e ódio. Cláudio
agora está de cabeça baixa, ouvindo essa história chocante. Aline
olha para mim, aflita, espero que ela consiga entender que eu
também sou uma vítima, que fui usado mesmo sabendo que estava
fazendo merda.
A Afrodisíaca prossegue:
— Fiquei revoltada, comecei a botar pressão nele, a cobrar
incessantemente um posicionamento, ameacei de revelar tudo a
você, à família dele. Coloquei na cabeça que teria que ser aceita de
qualquer forma! E quando soube que Cláudio te pediu em
casamento, foi a gota d’água, pois percebi que estava sendo
enrolada e que ele não me assumiria nunca! A não ser... que eu
acabasse com o relacionamento de vocês. Então decidi te contar
tudo. Você se lembra, né? Daquela noite.
"Você se separou dele, e o meu plano parecia ter dado certo.
Fiquei magoada de ter te ferido, Aline, mas não havia outra saída, eu
iria ter um filho dele e precisava que estivesse ao meu lado naquele
momento tão delicado.
Mas disso tudo você já sabia, agora vem a parte mais obscura:
Cláudio me ligou no dia seguinte, disse que diante da situação iria
me assumir para sua família. Falou que já tinha avisado aos seus
pais sobre mim, e que queria me levar para um jantar de
compromisso em sua casa. Fiquei tão feliz... tão feliz que nem
desconfiei de toda aquela rapidez. Aguardei por seu motorista como
combinado, e sabe aonde foi o meu jantar, Aline?”
Érica fecha os olhos, amargurada, sofrendo, as lágrimas descem
tão pesadas que parecem queimar sua pele. Sua voz aos poucos
fica cada vez mais difícil de sair, embargada.
— Em um terreno abandonado, no meio do mato escuro, perto
do rio... O tal motorista foi o meu carrasco por um bom tempo. Ele
me bateu tanto... Principalmente na minha barriga, até sangrar... até
quebrar o meu braço e me fazer perder o meu filho amado...
desejado... sonhado — ela soluça, como se revivesse agora todos os
momentos descritos.
O clima se torna muito mais pesado, os olhos de Aline
demonstram o choque ao ouvir essa história macabra. E eu, mesmo
sabendo desses fatos que me foram contados de uma forma para
acreditar que Aline era a vilã, fico novamente estarrecido, pois quem
vê Cláudio, esse pai de família, advogado conceituado, bem
sucedido, jamais imagina que é capaz de tudo isso. Se bem que ele
tentou me matar.
Érica enxuga as lágrimas de raiva e tristeza, e prossegue:
— E como se não fosse o bastante, quando eu já estava
praticamente desfalecida, ele me arrastou para dentro do rio, acho
que pensou que eu estava morta e quis ocultar a prova do crime.
Antes de me jogar nas águas, disse: "Isso é para você não brincar
mais com um Nogueira". E tive a certeza que tinha sido você,
Cláudio Nogueira, que mandou me matar, para poder se livrar da
mulher e filho indesejados.
Cláudio balança a cabeça negativamente, nervoso.
— Por uma sorte divina, não me afoguei, e me arrastei para fora
do rio, chorando de dor, gemendo, mas consegui sair para não
desmaiar lá dentro. Depois fui encontrada por uma família de
pescadores e passei meses em um hospital de quinta categoria, me
recuperando. Quando finalmente regressei para casa, encontrei a
minha irmã, Maura, sozinha, passando necessidade, e descobri que
nosso pai faleceu devido a minha ausência. Me vi desempregada,
sem esperanças, destruída... sem o meu bebê — ela chora e soluça
ao lembrar.
“Depois vi nos jornais o seu casamento com Aline, a felicidade
de vocês enquanto eu sofria com a minha irmã na sarjeta. Jurei a
mim mesma que me vingaria de você Cláudio, e dali por diante, cada
passo meu foi dado em prol da minha vingança. Consegui um
trabalho nada convencional na internet, me casei com um senhor rico
e por anos tentei esquecer da minha dor, mas foi impossível. Meu
marido faleceu, me deixando repleta de contas e nessa mesma
época, por acaso, na rua, reencontrei o meu carrasco, o seu
capanga Cláudio! E vê-lo fez com que a ferida em mim reabrisse
ainda mais forte e o desejo de vingança se tornasse vivo novamente.
Fiquei transtornada e quando tive a oportunidade, o matei.”
Meu Deus, Érica é uma assassina! Todos ficam tensos, é muita
maldade e escuridão em uma história só. Ela agora possui um
sorriso no rosto, lembrando desse assassinato, seus olhos até
faíscam de emoção, parece uma psicopata, e tenho medo dela.
— Nunca me senti tão viva de novo, e a partir daí percebi que
era capaz de tudo! Comecei a arquitetar meu plano de vingança
novamente. Passei a investigar a vida de vocês, e só encontrei mais
motivos para prosseguir com o meu intuito. Descobri que Cláudio
continuava um cafajeste da pior espécie, que continuava traindo e
sempre usando as mulheres como objetos. Sabe Aline, eu nunca tive
raiva de você, não é pessoal eu juro, mas notei que mesmo te
traindo, esse vagabundo nunca deixou de te ter como um troféu, ou
de te amar à maneira dele, e assim, cheguei à conclusão de que
para me vingar como queria, teria que atingi-la mais uma vez,
infelizmente.
Cláudio geme enquanto Érica fala, parece querer dizer alguma
coisa, contestá-la, não sei! Estou com o coração a mil, acho que
todos morreremos.
— A primeira fase do plano era fazer você trair o seu marido,
Aline — Érica fala na maior naturalidade, realmente parece ter
esperado anos para isso, para esse momento. Eu não consigo
compreender a sua mente criminosa e psicopata, pois nada disso é
normal — Sim, eu queria fazer você se sentir um lixo Cláudio, cair
desse seu pedestal de macho alfa, pois sabia que ver a sua grande
esposa lhe devolver o troco na mesma moeda iria atingir a sua moral
de homem, lhe deixar no chão! Mas eu precisava estar à par do que
acontecia dentro dessa linda casa, então fiz de tudo até Maura
conseguir entrar aqui, me deixando sempre bem informada.
"Assim, vendi a minha casa e mudei para um condomínio aqui
perto, para tudo ficar mais fácil, para poder controlar melhor vocês
junto com Maura. Antes disso, conheci o novo amor da minha vida,
José. — ela manda um beijo para ele — Pedi a ele para te
conquistar, Aline, mas José desistiu — José abaixa a cabeça,
envergonhado, como se tivesse falhado em uma missão e
decepcionado a sua amada. Que merda ver isso, ele é outro doente!”
Érica levanta, e para às minhas costas.
— Foi então que conheci o meu novo vizinho, Apolo, esse
garoto lindo e gostoso. Achou que eu tinha esquecido de você, meu
lobinho mau? — ela acaricia meu rosto enquanto tento me afastar,
com ódio, e em seguida deposita um beijo no ponto em que a fita
encobre a minha boca.
— Érica! — chama José, socando a mesa com raiva e ciúmes.
— Não vou aceitar isso! — ele rosna, apontando o dedo para mim.
— Eu odeio esse moleque.
— Mas foi ele quem nos trouxe até aqui, que nos ajudou,
mesmo sem saber de nada, tadinho — a desgraçada gargalha,
malvada. Recebo os olhares de Aline e Cláudio, ele me observa
indignado, de olhos arregalados. Estou lascado! — Quando achei
que minha vingança não teria como se concretizar, vi Apolo com a
Tati, justamente com a filha do homem que queria destruir! — suas
palavras agora são ditas com empolgação. — Olha que coincidência!
Porra! Quando é que ia imaginar que o meu vizinho namorava a filha
de vocês? Foi muita sorte! Acho que foi um presente de Deus!
"Então a minha vingança tomou uma proporção muito maior!
Naquele instante uma ideia mais ousada veio à minha mente
brilhante... e se o Apolo pegasse, além da filha, também a mulher de
Cláudio?"
O advogado agora está em choque, acho que juntou as peças e
agora percebe que eu sou o cara que estava com a sua esposa
naquele dia. Ele me observa embasbacado e de repente fica furioso,
se debatendo na cadeira, gemendo forte, notando que foi enganado!
— Você já percebeu né, Cláudio? Eu sou demais! Demais! —
Érica se gaba, batendo palmas e dando dois pulinhos, gargalhando,
triunfante. Ela se aproxima de Rafael e cutuca a bochecha dele com
a sua unha enorme pintada de preto. — Eu não sou demais, Rafael?
Não sou? Hein? — isso deixa Aline louca, revoltada. É uma cena
pavorosa.
Érica se afasta do menino que ainda dorme, rindo.
— Apolo, sem perceber me mostrou o quanto era esperto,
inteligente, e do que era capaz de fazer quando queria algo, além de
ser lindo. Então acreditei no improvável, e aliás, é mais fácil lidar com
um garoto do que com um homem teimoso — ela mira José
novamente, enquanto a observo com ódio. Quero gritar, xingá-la de
todos os nomes, mas não posso.
Troco olhares de sofrimento com Aline. Essa merda inteira dói
tanto, que não sei se conseguirei mais suportar tal tortura.
— Não Aline, não fique com raiva do Apolo, ele não sabia quais
eram as minhas reais intenções, só fez o que lhe pedi, que era te
conquistar. Ele fez tudo por amor, se apaixonou por mim — ela
acaricia meu cabelo, sarcástica. Viro o rosto para que não me toque
e fecho os olhos, enraivecido, envergonhado, arrependido. — Eu tirei
a virgindade dele...
— ‘Tá bom Érica, para de ficar acariciando esse moleque e
falando essas besteiras! Chega de lenga, lenga e vamos fazer logo o
que viemos fazer aqui! — repreende José.
— Érica, lembre-se que temos horário. — Avisa Maura, falando
pela primeira vez.
— Eu sei disso! — retruca a Afrodisíaca. — Nós ainda temos
tempo de sobra, parem de ser chatos e me deixem curtir o meu
momento! Sabem tanto quanto eu o quanto esperei por hoje. Eu
precisava falar tudo, desde o início, para que todos aqui
entendessem o que me motivou a acabar com você Cláudio! Diga-
me, como é saber que recebeu na sua casa o rapaz que comeu a
sua esposa e a sua filha, hein? — ela olha para mim com um sorriso
malévolo. — Ah, eu sei que Tati não é mais virgem, ela contou tudo à
Maura, sua melhor amiga, que a impediu de falar sobre o Apolo com
Aline, para que não estragasse a surpresa.
“... não costumo conversar essas coisas com a minha mãe, só
com a empregada, que é a minha melhor amiga. Ela sabe da gente
desde o início”
Lembro do que Tati me disse uma vez, meu Deus.
Cláudio grita de ódio, mas sua voz sai abafada por causa da fita,
ele ofega, se sacudindo na cadeira, querendo se livrar. Aline chora e
eu também. Mais uma vez Érica gargalha com maldade, adorando a
tortura psicológica que causa em todos nós.
— E agora? Ainda se sente o machão? O grande pegador?
Você foi passado para trás por um garoto de dezesseis anos, que
vergonha! — Érica puxa a cabeça de Cláudio para trás, com força,
pelo cabelo, e lhe esbofeteia bem forte, fazendo-o gemer ainda mais.
— Calado! Que eu ainda não terminei! Devo ressaltar que o meu
plano só deu certo porque essa sua família já era um fracasso.
"Mas, como eu disse, Apolo se apaixonou por mim e deixou
Tatiana de mão, então resolvi cortar caminho e forjar aquele
flagrante. Só não contava que depois de saber que sua mulher
estava com outro, você continuaria com o casamento de fachada. Oh
Cláudio, que vergonha, seu corno manso! — ela desfere outro tapa
forte no rosto vermelho do homem indefeso. — Fotografei todo o
flagrante, iria mandar as imagens para todos os jornais da cidade,
queria que sua máscara caísse perante a sociedade, que todos
vissem que você era corno! Mas Apolo se mostrou um menino mau e
ousado, me ameaçou com um vídeo que fez de mim em meu
trabalho íntimo, e me deixou de mãos atadas, mas por pouco tempo.”
Ela caminha ao redor da mesa.
— Por sorte do destino, Apolo e Tati se reencontraram. Depois
foi só esperar mais um pouco, veio o namoro, e por que não
aguardar para chegarmos a esse momento sublime? Mas eu não sou
tão louca assim quanto pareço, nós não somos — ela olha para os
comparsas. — Outro motivo de Maura ter vindo aqui foi descobrir os
seus podres, Cláudio, para encontrar uma forma de eu ser ressarcida
por tudo que sofri, que perdi. Como eu disse, meu marido me deixou
com muitas contas, tive que me desfazer de muitos bens para me
manter, e preciso de dinheiro, muito dinheiro.
"E você não sabe Aline, mas o seu maridinho põe toda essa
casa em risco, porque de vez em quando ele gosta de guardar
dinheiro sujo de alguns dos seus clientes bandidos, muito dinheiro
mesmo, e ganha a sua porcentagem pela ajuda. Isso mesmo, o
grande Cláudio Nogueira é um receptor de primeira categoria, e que
lugar melhor para esconder dinheiro roubado do que na casa de uma
advogado?”
Cláudio foi pego de surpresa. Ele está apreensivo e incrédulo.
Realmente todos nós caímos numa cama de gato das mais diversas
formas.
— Nós estávamos esperando Cláudio fazer mais uma dessas
boas ações para os seus clientes, e por coincidência, bateu
exatamente com esse jantar. Ontem ele recebeu os malotes de
dinheiro para ficarem aqui por um tempo, pois sempre aproveita
quando está sozinho para receber a encomenda. Ele já está tão
acostumado a fazer isso, é tão confiante, que foi capaz de marcar
esse jantar mesmo com toda essa grana suja aqui. Que feio seu
advogado, você não presta em todos os sentidos! — Érica abraça
José — A grana já está lá fora, em nosso carro, e essa era a
segunda parte do meu plano. Nós vamos embora daqui, desse país,
eu com a minha vingança e rica, e você nem mesmo poderá
reclamar por esse dinheiro na polícia, Cláudio.
Érica sorri com José enquanto Maura parece apreensiva agora,
mirando o relógio de pulso.
— De onde é esse dinheiro? De algum roubo? É para lavagem
depois? A gente não se importou em descobrir, isso não nos
interessa, só queríamos saber quando chegaria. Bom, foi isso, eu sei
que falei demais, mas precisava que tudo ficasse bem
compreendido. Você me fez muito mal, Cláudio, e agora pagará por
tudo. Quero que sinta o que senti quando mandou aquele homem me
matar — suas últimas palavras são ditas de forma tenebrosa.
A cam girl beija José sensualmente e ordena:
— Acaba com ele.
Cláudio tenta falar incessantemente, mas é inútil, Aline da
mesma forma. Meu coração dispara quando vejo José indo até
Cláudio, arrastando sua cadeira violentamente para trás e deixando-
o de frente para ele
— O que foi? — pergunta Érica, a Cláudio. — Você está me
achando má? E vocês? Também estão me achado má? Eu não sou
má, sou fruto da maldade!
— Então tu é um covarde, né? — indaga José ao advogado, que
o mira com raiva. — Mandou bater na minha mulher, né? Agora vai
ver o que é bom pra tosse — ameaça, e em seguida acerta em cheio
o tórax de Cláudio, com o pé. O chute é tão forte que o homem cai
violentamente no chão, e sua cadeira se despedaça inteira,
assustando a todos nós. Aline está desesperada e eu aflito. Cláudio
geme, caído bem do meu lado, me fazendo ofegar nervoso, com
medo.
José puxa o resto do assento da cadeira sob as pernas do
advogado, com brutalidade, rasgando a fita, deixando as pernas dele
livres, e passa a lhe dar chutes na barriga, no rosto, mas pernas. Em
poucos segundos há sangue se espelhando por toda parte.
— AAAAH HAHAHAHA — grita Érica, rindo, maléfica, adorando
ver o sofrimento de seu inimigo. Seus olhos faíscam, alegres com o
massacre. Ela é o demônio.
— Silêncio Érica! Pare de chamar a atenção, senão seremos
descobertos! — repreende Maura. Ela parece nervosa e incomodada
com algo. Érica a obedece e passa a falar em um tom mais baixo.
— Covarde! Agora tu vai aprender! — diz José, sentando em
cima de Cláudio e lhe surrando, desferindo uma sucessão de socos
em seu rosto.
Consigo sentir a dor de Cláudio, seu rosto aos poucos é
manchado com o próprio sangue. Meu Deus, que loucura! Isso
precisa acabar, alguém tem que nos salvar, alguém precisa impedir
Érica de continuar com essa insanidade. Onde está o meu pai?

Acordo. O que aconteceu? Olho em volta para me situar e me


dou conta de que estou preso por uma fita adesiva cinza e rija, que
prende meus tornozelos, canelas e pulsos atrás das costas, além de
tampar a minha boca. Merda! Estou deitado no chão de uma... acho
que é uma dispensa. Sim, é mesmo uma dispensa, há estantes
cheias de equipamentos para serviços domésticos. O ambiente é
meio escuro, mas consigo enxergar tudo, inclusive a namorada do
Apolo, Tatiana, que se encontra na mesma condição que eu, em
outro canto, com a cabeça sangrando, desacordada.
— Humm... Humm... — gemo forte, tentando acordá-la, mas
desisto ao ouvir um barulho distante.
Como viemos parar aqui assim? A última coisa que me lembro é
de todo mundo desmaiando. Quem e como fez isso? Onde está o
meu filho e os outros? Preciso me soltar e rápido!
Exerço força nos punhos, afastando-os um do outro, mas o que
me prende é muito resistente, não conseguirei a liberdade apenas
com a minha própria força. Penso em passar o corpo entre os braços
e assim levá-los para a frente, mas logo percebo que não dará certo,
sou grande demais, e passo longe de ser contorcionista.
Início uma batalha pessoal para ficar sentado, escoro o ombro
direito na parede e uso a ponta dos dedos da mão para buscar
equilíbrio, pois minhas pernas por estarem grudadas dificultam muito
a situação! Mas acabo conseguindo.
Não poder falar e respirar direito está me deixando louco! Dentro
da dispensa faz calor, suo, mas tenho que focar em me libertar.
Procuro por algo cortante, mas não avisto nada! Tenho que levantar,
será melhor. Uso a força dos pés e dos dedos das mãos, e com um
pouco de dificuldade, consigo ficar de pé.
Agora observo todas as prateleiras das estantes, tenho que
achar algo que possa me livrar dessa fita! Assim, avisto uma serrinha
amarela de cortar canos, está do outro lado da dispensa. Dou
pulinhos, com cuidado, e chego até ela. Viro de costas devagar,
tentando manter o equilíbrio, e dou mais um pulinho para trás, e toco
na serra. Consegui! Em instantes, serro a fita do pulsos, e me liberto!
Tiro tudo o que me prende e volto a respirar melhor. Vou até
Tatiana e a livro de suas amarras também, seu machucado na
cabeça sangra pouco, mais sangra, e isso pode se tornar algo sério.
Ouço mais um barulho vindo de fora, tenho que encontrar meu filho!
Decido deixar Tati aqui, já que não sei o que me espera ao passar
por essa porta.
Pego uma flanela, dobro, e ponho sobre o sangramento da
garota, não parece grave, mas temo ela ter quebrado algum osso no
acidente, por isso é melhor não mexer em seu corpo.
Abro a porta da dispensa devagar e me vejo na cozinha, os sons
se tornam mais audíveis, são gemidos e socos, e vêm da sala de
jantar. O que houve? Será que a casa foi invadida por criminosos?
Se sim, eles ainda estão aqui. Meu filho! Me aproximo a passos
lentos do acesso à sala, e tomo muito cuidado ao tentar ver o que
acontece do outro lado da porta.
Arregalo os olhos ao ver Érica, a minha ex-vizinha! Ela e a
empregada estão de costas para mim, mas a reconheço. Ambas
observam alguém que não consigo enxergar no momento, que está
do outro lado da mesa, no chão, batendo em outra pessoa. Então
avisto meu filho, na ponta da mesa, do outro lado da sala, de frente
para mim. Ele, Aline e Rafael estão presos em suas cadeiras,
completamente apavorados, menos o garoto que ainda dorme.
Aline geme em desespero, chorando, e Apolo está de olhos
fortemente fechados, para não ver a violência que acontece ao seu
lado e que eu ainda não consigo identificar as pessoas envolvidas
nela, mas a vítima está levando uma surra de dar dó. Ninguém me
vê.
— Já chega — diz Érica, séria.
Nesse momento, tenho mais uma surpresa, o namorado
vagabundo dela surge, levantando do chão, foi ele que bateu no
Apolo naquele dia e só de mirá-lo já sinto um ódio enorme. O
desgraçado ofega, cansado, suas mãos estão sujas de sangue que
não é dele. O que diabos eles estão fazendo aqui? E o que a
empregada tem a ver com tudo isso? Obviamente ela está do lado
deles. Talvez todos apagamos por culpa dela, devia ter algo na
comida, é isso! Mas por que toda essa maldade? Não estou
entendendo absolutamente nada, contudo, fico mais preocupado
quando vejo um revólver em cima da mesa.
A empregada aperta a barra do uniforme, parece apreensiva
com a cena.
— Érica, vamos embora! — diz ela.
— Ainda não terminei.
— Vamos embora, para com isso. A gente já conseguiu o que
queria! — Maura puxa Érica.
— Não, minha irmã! — Elas são irmãs? Penso. — Já disse que
ainda não acabei. Coloco as mãos sobre os bolsos da calça,
procurando meu celular, e não o encontro — eles pegaram enquanto
eu dormia! — Bota ele em outra cadeira — manda Érica, ao
namorado.
Ele a obedece e puxa Cláudio do chão. Fico chocado ao vê-lo
em um estado deplorável, com a cara toda cagada de sangue,
cortada, inchada, sem um dos dentes da boca, o nariz quebrado.
Sua roupa também é puro vermelho do seu sangue, horrível!
Ao vê-lo, Aline fica arrasada enquanto Apolo abre os olhos e se
apavora com a imagem do homem destruído. Tenho que fazer
alguma coisa, mas preciso ser esperto, são três contra um, e eles
estão armados. E se eu corresse e pegasse a arma de surpresa?
Não sei, eles podem ser mais rápidos e aí ficarei rendido como os
demais, além de um dele poder possuir outro revólver.
Olho em volta, há um telefone sobre o balcão, ao meu lado — a
cozinha é toda embutida. O pego com cuidado, para não fazer
barulho, mas os fios estão cortados.
— Não chore por ele Aline, você sabe tão bem quanto eu que o
Cláudio não presta. Nós duas fomos vítimas dele, só estou fazendo
esse desgraçado pagar por tudo que me fez, que fez a nós — ouço
Érica dizer, enquanto abro uma das gavetas do armário lentamente,
caçando algo para me armar, e pego uma faca enorme.
Érica fala como se conhecesse Cláudio, que estranho. Que
conversa é essa? Mas isso não faz nenhum sentido, não é possível
que Érica conheça o meu advogado, é?
— Apolo não se assuste tanto, não se sinta culpado por ter me
ajudado nisso, você não sabia o que eu realmente queria, mas me
ajudou bastante, isso devo confessar. Você foi peça fundamental
nesse jogo.
De que merda ela está falando? O que meu filho tem a ver com
isso? Fico paralisado por alguns segundos, chocado! Apolo? Ele?
Então não foi à toa que o infeliz do namorado dela deu um murro
nele naquele dia. Mas continuo sem compreender.

A situação já fugiu completamente do controle, se é que existe


algum tipo de controle aqui.
— Não, não fique assustado, Apolo — Érica acaricia o meu
rosto, após empunhar a arma.
— Eu falei que não ia aceitar mais isso, porra! — reclama José,
com ódio. Ele retira a mão dela da minha face com brutalidade e me
esbofeteia, bem forte, tanto que minha bochecha formiga
imediatamente.
— Humf... — gemo de dor.
— Para, seu idiota! — ela briga com ele.
— Então vamos acabar logo com isso e ir embora, nós temos
um helicóptero à nossa espera e estamos com muito dinheiro no
carro que ainda correremos o risco de transportar, ou se esqueceu
disso?
Érica se mantém calada e parece concordar com o namorado.
Ela respira fundo, caminha até Cláudio e fala em seu ouvido:
— Hoje o que estamos fazendo aqui é o seu julgamento,
Cláudio. Um julgamento segundo a Lei de Talião, já ouviu falar dela,
advogado? Olho por olho... dente por dente. Você me enganou no
passado, me iludiu, e agora fiz o mesmo contigo. Você me traiu, e
agora te fiz ser traído. Mandou me darem uma surra, e agora
apanhou também. Me fez ficar na sarjeta, mas agora com o seu
dinheiro voltarei a ser rica. Porém, Cláudio, há uma coisa que me fez
perder que jamais superei: o meu filho.
Érica beija a bochecha ensanguentada de seu inimigo, melando
os próprios lábios, e Cláudio geme, enfraquecido, ao perceber o que
a cam girl está prestes a fazer. Ela estica o braço, apontando a arma
para Rafael que está do outro lado da mesa. Aline entra em
desespero novamente assim como eu que me debato na cadeira e
tento gritar, procurando uma forma de impedir essa loucura!
— Não Érica, isso não estava no plano! — repreende Maura,
nitidamente nervosa, indo para trás de Rafael.
— Isso sempre esteve no plano Maura, saia de perto dele! —
ordena a psicopata.
Meu coração está quase saindo pela boca. Neste momento
tenho José, Aline, Cláudio e Érica do meu lado esquerdo da mesa,
nesta ordem, entretanto, o advogado já não está mais preso à
cadeira, a sua original foi despedaçada por José enquanto lhe dava
uma surra, mas suas mãos continuam adesivadas atrás das costas.
José vai até a namorada.
— Me dá a arma, meu bem, deixa que faço isso pra você — diz
ele.
— Não! — retruca Érica, muito séria e tenebrosa — Eu esperei
dezoito anos por isso! A vingança é minha!
Ela vai atirar.
EU PREFIRO MORRER

“O carro para de capotar, ficando de cabeça


para baixo, completamente amassado e destruído.”

Não há saída, não há salvação.


— Érica vamos embora, nós já estamos com o dinheiro, eles já
sabem da verdade, vamos botar eles pra dormir de novo e fugir
daqui — insiste Maura, amedrontada.
— Antes eu quero que Cláudio veja isso! Quero que saiba como
é conviver com a dor de um filho morto, como é acordar todos os
dias e saber que seu filho não mais existe, que foi um sonho roubado
de você sem que pudesse fazer nada! — diz a cam girl, amargurada,
rancorosa, com o espírito assassino, lágrimas descendo. — Agora
sai, sai daí, Maura!
Cláudio, Aline e eu imploramos para que ela não atire em
Rafael, se isso acontecer nunca irei me perdoar! Meu Deus, por
favor, não!
Maura obedece a irmã e retorna para o seu lugar original, de
costas para a entrada da cozinha, a um metro e meio de Rafael,
deixando o caminho livre.
— Érica — José pede a arma novamente, estendendo a mão
para ela.
— A vingança é minha — repete a psicopata, macabra, com os
olhos brilhando, os lábios sujos do sangue de seu inimigo.
Ela vai atirar mesmo, seu dedo cerca o gatilho e então... uma
série de coisas acontece em segundos, é como se tudo ocorresse
em câmera lenta: meu pai surge da cozinha de repente, às costas de
Maura, arremessando um daqueles rolos de massa em direção ao
casal de bandidos, acertando em cheio o rosto de José que cai para
trás. Cláudio aproveita a distração, reúne rapidamente suas últimas
forças e joga o corpo contra Érica, a empurrando para o lado, para
que desvie a arma da direção de Rafael. Mas no movimento brusco
Érica atira sem querer, acertando Maura no peito.
POW!
Meu pai está com uma faca na mão esquerda e leva um susto
com o tiro que quase o acertou, vendo Maura cair ao seu lado. Érica
e Cláudio vão ao chão, a arma escorrega das mãos da Afrodisíaca
para longe.
— MAURAAA! — berra a cam girl, entrando em desespero ao
ver a irmã baleada no chão, enquanto Cláudio, às suas costas, geme
de dor da queda, pois está muito machucado.
Meu pai, ao ver que a psicopata está desarmada, corre em
minha direção, passando por Rafael, e corta a fita dos meus pulsos.
— Eu vou te libertar filho, depois solte Aline, saiam daqui com
Rafael e chamem a polícia — me instrui, enquanto balanço a cabeça
positivamente, quase em choque com tudo que vi segundos antes.
Puxo o adesivo dos meus lábios em uma pressa imensa,
respirando fundo em seguida, nervoso, suando, amedrontado com o
tiro.
— Você me ouviu? — pergunta meu pai, cortando as fitas que
prendem as minhas pernas enquanto Érica meio que engatinha até a
irmã que sangra.
— Minha irmãzinha me desculpa, me desculpa, não, não... —
choraminga ao lado dela.
— Sim pai — confirmo.
Quando Victor termina de me soltar, José avança nele de
surpresa, o agarrando pela cintura e os dois se batem contra o
aparador, espatifando e quebrando os objetos sobre ele, fazendo
bagunça.
— PAI! — grito.
Após o impacto, Victor consegue se reerguer e empurrar José
de volta, e agora os dois passam a medir forças, parecem dois
animais em guerra.
— HUMMM! — geme Aline, chamando a minha atenção,
pedindo socorro.
Pego a faca caída no chão e passo a libertá-la.
— É tudo culpa sua! — diz Érica a Cláudio que continua no
chão, sem força nenhuma, moribundo. Então me dou conta de que
Maura faleceu. A Afrodisíaca senta sobre seu rival, em cólera, e
começa a enforcá-lo no instante em que corto as fitas que prendem
as pernas de Aline. Ela levanta e tira a fita da boca.
— Por favor, prova para mim que você realmente quer o meu
bem e tira os meus filhos daqui! — pede, e assinto com a cabeça.
Em seguida, ela faz o que jamais pensei que faria nesse momento:
avança em Érica, cravando as mãos em seus cabelos pretos e
puxando com muita força, livrando o marido das garras da psicopata.
— SOLTA ELE SUA VAAACAAA! — berra, furiosa, explodindo de
ódio, possessa mesmo. Nunca imaginei vê-la nesse estado, pois
sempre foi tão calma e serena.
Puta que pariu! Agora tenho duas mulheres brigando de um lado
e dois homens brigando do outro. Meu pai e José trocam socos
enquanto Aline arrasta Érica no chão pelos cabelos para a sala de
estar.
— AAAAH — grita Érica, enquanto é arrastada, ela deve star
sentindo muita dor agora.
Corro para o outro lado da mesa, passando pelo corpo de
Cláudio desacordado, e de Maura morta, e chego até Rafael, usando
a faca para libertá-lo. Olho novamente para meu pai e José lhe dá
um mata leão.
— Pai! — o chamo, amedrontado.
— Sai daqui... com o menino — diz ele, sufocando, com o rosto
vermelho, lhe faltando ar, me deixando em pânico. Mas José recebe
duas cotoveladas bruscas dele, nas costelas, meu pai se livra de seu
golpe e disfere vários socos em seu rosto.
Pego Rafael no colo com facilidade e sigo para sala de estar.
— Tati, onde está você? — me pergunto, procurando-a, mas
decido deixar Rafael em um local seguro primeiro.
Levo um susto quando vejo Aline se engalfinhando com Érica no
chão, perto dos sofás, é a famosa "briga de cachorro grande". Érica
finalmente consegue um pouco de vantagem, levanta, dá uns tapas
em sua inimiga e caminha rumo à sala de jantar com dificuldade,
contudo, Aline está virada no Jiraya de verdade e vai atrás dela, a
puxando novamente pelos cabelos e depois cravando as unhas em
seu pescoço, tentando sufocá-la. Érica parece com medo, os olhos
esbugalhados, o cabelo já todo emaranhado assim como o da sua
rival.
— AAAH — grita Aline, recebendo um soco da outra. Mas ela
não desiste e revida, empurrando Érica com todas as forças que cai
sobre a mesinha de centro, feita de vidro, que está entre os sofás,
rasgando as costas. Aos poucos ela fica toda ensanguentada,
gemendo de dor, chorando.
— Ai, ai, ai... desgraçada! — xinga.
Não se dando por satisfeita, Aline senta em cima da Afrodisíaca,
prendendo seus braços com os joelhos e lhe desferindo bofetadas
secas. As duas estão sobre os cacos de vidro! Que loucura!
— Desgraçada! Vagabunda! — xinga Aline, a cada tapa.
— SAI DE CIMA DE MIMMM! — berra Érica, enfurecida,
chorando de ódio.
Chego até a porta de saída e abro-a, ponho Rafael no chão,
encostado na parede e olho para fora, vendo que a chuva
enfraqueceu e que agora só há respingos, mas o céu ainda está
relampejante. Há algumas luzes acesas nas casas dos vizinhos, mas
sem movimentação alguma de carro.
Encontro o alarme da casa e o disparo.
PIUM! PIUM! PIUM! PIUM! PIUM! PIUM!
O barulho é alto e ecoa por toda parte. Aline ainda bate em
Érica.
— Bandida! Ordinária! NUNCA. MAIS. APONTE UMA ARMA.
PRO MEU. FILHO! — cada palavra é acompanhada de um tapa.
Ouço gritos de briga do meu pai e de José lá da sala de jantar,
mas não consigo vê-los. Que merda! O que faço agora?!
Aline para de surrar sua rival, deixando-a destruída no chão,
com o rosto machucado, sangrando, parece ter desmaiado sobre os
cacos de vidro. Aline chora, toda se tremendo, de joelhos
ensanguentados, e corre em direção ao filho.
— Filho! Filho! Rafael! — chama ela, desesperada. — Ele está
bem?
— Sim, acho que está, calma. — minha voz sai tremida, peço
calma a ela, algo que não tenho agora.
Ouvimos sirenes da polícia se aproximando.
— A polícia! — digo, esperançoso — Pai! — o chamo, me dando
conta de que tudo ficou em silêncio na casa — Pai! Pai! — entro em
pânico sem a sua resposta.
— Estou aqui — responde ele, aparecendo, ofegante, com o
rosto machucado dos socos que levou, algumas partes da camisa
rasgadas.
Corro até ele e o abraço com força.
— Minha filha! Tatiana! Cadê minha filha?! Pelo amor de Deus,
cadê minha filha?! — Aline entra em desespero.
— Ela está na dispensa — responde meu pai. — Irei pegá-la.
Apolo fique com Aline aqui.
— Tudo bem — confirmo, o vendo retornar à sala de jantar
enquanto eu e Aline voltamos para a porta, onde está Rafael
— Mãe... — chama ele, acordando, sonolento.
— Oi meu filho, oi meu lindo — Ela acaricia o rosto do menino,
feliz por ele estar a salvo agora, e lembro que foi por um triz que
Rafael não levou um tiro.
— Que barulho é esse? — indaga ele, ouvindo as sirenes da
polícia chegando misturadas ao som do alarme da casa. — É a
polícia?
— Sim, é — responde sua mãe.
Três carros da polícia militar estacionam na porta, os policiais
armados descem correndo.
— O que houve aqui? — pergunta um deles, porém, antes de
conseguirmos respondê-lo, ouvimos um tiro vindo da sala de jantar
que nos apavora. Notamos que Érica não está mais desmaiada no
chão, e pensamos o pior.
— PAI! — grito.
— FILHA!
Saio correndo rumo à sala de jantar com os policiais atrás de
mim, tentando me impedir, e ao chegar lá, vejo que aconteceu o pior,
Érica atirou em Cláudio. Ela chora, mas sei que finalmente conseguiu
se vingar, está estampado em seu rosto. Do outro lado da mesa está
meu pai, chocado, com Tatiana no colo ainda desmaiada.
Érica não luta mais e se rende aos comandos dos policiais,
largando a arma e sendo algemada. José que está no chão com a
cara arrebentada dos socos do meu pai, também é pego e
algemado. Um certo alívio me invade após todo esse caos, a loucura
parece ter passado, mas deixou consequências terríveis.
Na hora das explicações, meu pai toma a frente e informa aos
policiais que o casal e a empregada renderam a todos e tentaram
nos assaltar, mas que o tiro saiu pela culatra, basicamente assim.
Porém, nos disseram que todos teríamos que ir prestar depoimento
na delegacia, exceto Aline que primeiro iria ao hospital com os filhos,
para serem avaliados.
Ambulâncias chegam e Victor é atendido por paramédicos, pois
seu rosto está um pouco inchado e cortado dos socos que recebeu
do infeliz do José. Com os corpos de Cláudio e Maura serão feitos os
procedimentos necessários. Vejo Tati ser levada em uma maca e
corro até ela, segurando em sua mão, preocupado.
— Tati — a chamo, sorrindo e chorando ao mesmo tempo ao vê-
la abrir os olhos, para a minha felicidade. Entretanto, Aline aparece,
e toma o meu lugar.
— Se afaste dela — ordena, em um misto de raiva e tristeza. —
Não quero mais você perto da minha filha.
— O que houve? — pergunta Victor, se aproximando.
— Só estou dizendo ao seu filho que não quero que ele chegue
mais perto da Tatiana e nem de mim, é melhor assim, diante de tudo
o que aconteceu
— Aline...
— Cala a boca Apolo — ordena meu pai, sério, sem alterar o
tom de voz. Victor é sempre assim, sabe ser grosso quando preciso,
mas sem ser escandaloso, entretanto, ele está me olhando de um
jeito que me causa arrepios — Eu não sei ao certo o que você fez,
mas vai me contar tudo antes de irmos prestar depoimento. E não se
preocupe Aline, se o Apolo realmente tiver algo a ver com isso, ele
vai pagar. Contudo, não quero o nome do meu filho envolvido com
esses bandidos, então precisamos chegar num acordo agora
mesmo, antes de sermos todos interrogados.
Meu coração gelou na parte em que ele disse que irei pagar.
— Você não sabia? — pergunta Aline para Victor, aos sussurros,
olhando em volta enquanto Tati é colocada na ambulância pelos
paramédicos.
— Meu pai não sabe de nada, Aline — afirmo, tristonho.
— Mesmo Cláudio não merecendo, se ele for exposto, toda a
minha família será e será mais ainda se souberem do que aconteceu
entre mim... e você, Apolo — uma lágrima escorre por sua face, ela
abaixa a cabeça por um instante enquanto Victor esbugalha os
olhos, indignado, e nesse momento tenho certeza que ele vai me
destruir. — Por isso, eu quero pedir sigilo em relação ao passado do
meu marido e também ao... ao que fizemos, Apolo. Meus filhos não
merecem ter seu futuro marcado pelos erros dos pais, e seria muito
duro para Tatiana descobrir sobre eu e... você.
Victor respira fundo, buscando controle, e dessa vez sou eu que
abaixo a cabeça, não tenho coragem de olhá-lo.
— Sendo assim... diante dessa situação... vamos falar a polícia
o que eu já disse de início, ou seja, somente o que houve nesta
noite, sem passado. Diremos que... não conhecemos os bandidos,
que foi apenas uma tentativa de roubo e o resto vocês já sabem.
— Mas Érica era a nossa vizinha, pai, não podemos falar que
não a conhecíamos — lembro.
— Era a nossa vizinha, mas não tínhamos nenhum contato com
ela, só a conhecíamos de vista e tudo isso foi uma improvável
coincidência, mas foi. Essa será a nossa palavra contra a deles —
nesse momento olhamos para o casal de bandidos que é colocado
no banco traseiro de uma viatura.
— Érica vai querer pôr a culpa em mim — temo.
— Então é melhor você ser bem convincente em seu
depoimento, tanto quanto foi para esconder uma desgraça dessas do
seu pai — ele tem ódio na voz, e está me odiando.
— Também preciso de ajuda para ocultar o carro com o dinheiro
que eles pegaram — afirma Aline, preocupada.
— Que carro? — pergunta Victor.
— Eu não sei, mas eles disseram que todo o dinheiro estava lá,
e é dinheiro sujo, não pode vir à tona.
— Só pode ser aquele na esquina, é o carro do José — digo,
vendo um automóvel parado, distante de nós.
— Providenciarei para que sumam com ele, para que seja
guardado em segurança até você decidir o que fazer — Aline parece
se tranquilizar com as palavras do meu pai.
— Já estamos indo para a Delegacia — diz um dos policiais ao
meu pai, se aproximando — Precisamos que nos acompanhe.
— Já estamos indo — confirma Victor, e quando o policial dá as
costas ele troca olhares com Aline que confirma estar de acordo com
tudo. — Salve seu contato no meu celular. Qualquer coisa eu te ligo
— ele entrega o celular a ela, que só foi encontrado após o inferno
acabar.
Aline faz o que lhe foi pedido e depois segue para a ambulância
onde estão seus filhos. Dois carros da mídia local aparecem,
jornalistas e fotógrafos descem deles famintos por fofoca.
— Entre no carro, não quero que te vejam — manda meu pai, e
o obedeço. Ele faz o mesmo, e antes que feche os vidros das
janelas, vejo os fotógrafos cercando a viatura de Érica e José que
está com três policiais, dois na frente e um atrás com o casal.
— EU PREFIRO MORRER DO QUE IR PRA CADEIA, ESTÃO
ME OUVINDO? — berra José, ensandecido, enquanto vários flashes
o rodeiam. — EU PREFIRO MORRER! DESGRAÇADOS!
A viatura deles sai com a sirene ligada, as luzes piscando, e nós
vamos logo atrás, com outra viatura às nossas costas. Antes de se
distanciar de vez, olho novamente para Tatiana e Aline na
ambulância. É muita tristeza, me sinto tão culpado! Meu Deus, por
que tudo isso? Tenho certeza que estou pagando por tudo o que fiz,
por todos os meus pecados, mas até quando poderei aguentar?
— Agora me conta o que tu tem a ver com tudo isso, Apolo, e
rápido, antes de chegarmos à delegacia ou antes de eu te encher de
porrada, moleque! — Victor é pura raiva, ele aperta o volante com
tanta força que acho que a qualquer momento irá esmagá-lo.
Respiro fundo, essa é a hora da qual tive tanto medo, mas
também vontade que acontecesse para tirar todo esse fardo das
minhas costas. Conto tudo de forma resumida, mas explicativa, e
Victor fica estarrecido ao saber dos meus casos com Érica, Aline e
Tatiana.
— Cheguei a desconfiar que você estava fazendo merda, até
investiguei e não encontrei nada. Mas você ultrapassou todos os
limites da minha imaginação, Apolo — diz ele, com decepção, e isso
me dói na alma. — Tudo isso por sexo, filho?
— Não pai, tudo isso por amor a ela. Eu amei Érica e acreditei...
que ela me amava também — soluço, em lágrimas. — Mas desisti...
no último momento eu desisti de fazer o que ela pediu porque...
descobri que ela era a errada...
— Desgraçada... — rosna Victor. — Ela te usou....
— Mas eu sabia... sabia que não devia...
— Mas ela te manipulou, essa vadia. Você se deixou levar pelo
sentimento e pelo sexo e esqueceu de tudo que te ensinei...
— Fui burro, eu sei, mas tentei reverter, só que foi tarde demais
e...
Nesse momento a viatura que leva Érica e José à nossa frente
faz ziguezague na pista. Olhando pelo vidro traseiro parece que
acontece uma briga lá dentro. Um tiro é disparado, depois outro e
mais um, e então o carro faz uma curva brusca, tombando na contra
mão e capotando seguidas vezes na pista. Meu pai freia
bruscamente com o susto, a viatura atrás de nós faz o mesmo,
quase batendo na gente.
O carro para de capotar, ficando de cabeça para baixo,
completamente amassado e destruído.
SÓ NÓS DOIS

“— É verdade mesmo que você vai casar?”

Eu e meu pai estamos chocados com o acidente e trocamos um


olhar tenso.
— Fica no carro — ele ordena, descendo e se aproximando da
viatura capotada.
Os policiais às nossas costas também se aproximam da
catástrofe e ligam pedindo reforços para controlar a situação, já que
o acidente aconteceu no meio da pista e outro maior poderá
acontecer. Porém, é madrugada e acho isso meio improvável, pois
não há ninguém aqui além de nós, todas as ruas estão desertas,
estamos na zona leste de Teresina.
Não me aguento de curiosidade e desço do carro também,
caminhando até o acidente. Victor, após ver a cena, pega o celular e
faz uma ligação, não me vendo passar por ele. Chego bem perto da
viatura destruída, de portas arregaçadas, e vejo que tanto os policiais
como José estão apagados em sangue, arrebentados, apenas o
militar da frente está preso ao cinto de segurança.
Lembro que falta uma pessoa, olho adiante do automóvel
destruído e avisto Érica jogada ao chão, foi lançada para fora. Sinto
um frio na barriga com a cena.
— Cuidado garoto, não se aproxime — diz um policial, me
puxando para trás.
Vejo Érica mexendo a mão, corro até ela e de cara percebo que
está morrendo, banhada em sangue, toda ferida do acidente e de ter
rolado no picho. Ela me olha, ofegante, sem conseguir controlar a
pouca respiração.
— Érica... — a chamo, embasbacado com a situação, envolto
num misto de tristeza e dor.
— Apo... Apo... Apolo... — ela diz, com dificuldade, sua voz sai
tremida — Ola... Olavo... meu, meu filho... meu filho — Érica está
desesperada, e isso me comove profundamente. Me ajoelho ao seu
lado, preocupado.
— Onde ele está? — pergunto.
— Apolo, eu falei pra você ficar no carro, cacete! — reclama
Victor, raivoso, se aproximando.
— Calma pai, ela está me dizendo uma coisa importante —
informo.
Érica leva sua mão trêmula para os seios enquanto chora e
tenta respirar incessantemente, o ar lhe falta mais a cada segundo.
Ela pega um pedaço de papel do decote e me entrega.
— O que é isso? — pergunta meu pai.
— É um endereço — respondo, mirando o papel — É onde se
encontra o Olavo, o filho dela — raciocino
Érica assente com a cabeça.
— Não... não deixa ele... sozinho... meu filho... ele não tem
mais... ninguém — implora, me emocionando. Mesmo diante de todo
esse furacão, mesmo tendo revelado a mim que nunca conseguiu
amar Olavo tanto quanto o bebê que perdeu, Érica se importa com o
garoto.
— Eu não vou deixar — prometo, me emocionando e lembrando
do Olavo me chamando de “meu herói”.
Érica sorri com muito esforço, toda se tremendo, soluçando em
busca de ar que se esvai de seus pulmões. Lágrimas descem por
sua face esbarrando na sujeira e no sangue. A Afrodisíaca, a cam
girl, a mulher com quem perdi a virgindade, a minha primeira mulher,
a que queria se vingar do seu algoz, uma paixão não correspondida,
um bebê que lhe foi roubado sem que pudesse fazer nada, como ela
mesma disse, está falecendo.
Com as suas últimas forças, Érica ergue a mão e toca meu
rosto.
— Me... desculpe... a cul... culpa... foi minha... você... você não
tem... nada a ver... com essa tragé... tragédia.
Choro tão forte que não consigo descrever. Os olhos dela
parecem se encher de medo, acho que está sentindo a morte
chegando, avassaladora, sem chances de parar. Érica suspira cada
vez mais rápido, buscando o ar de todas as formas, e então apaga,
de olhos vidrados, mirando o céu.
Fico sem chão e abaixo a cabeça, abatido com essa cena forte,
lágrimas descem incontroláveis. Meu pai me puxa e me abraça, me
consolando com seu carinho paterno. Uma ambulância aparece, os
paramédicos vêm correndo com uma maca, policiais se aproximam,
mais viaturas chegam, e voltamos para o nosso carro.
— Meu Deus, essa noite parece que não vai ter mais fim —
comenta Victor.
— Pai, a gente precisa ir atrás do Olavo, eu preciso fazer isso,
eu...
— Calma. Eu já sei, ouvi o que a Érica disse. Primero ligarei
para Aline e contarei o que aconteceu, já recebi a confirmação de
que José também está morto, então será mais fácil de guardarmos
esse segredo. Você já imaginou o que aconteceria se sua mãe e
seus avós descobrissem tudo isso aqui?
— Já — falo, triste.
— Pois é, eu seria o culpado de tudo, mais uma vez. Merda,
filho! Mas isso seria o de menos, se todos descobrissem toda essa
cama de gato, seu nome ficaria marcado para sempre na mídia.
Ainda terei que rebolar para que você seja afetado o menos possível
com essa droga — fala, triste e decepcionado, e isso me dói ainda
mais — Que essa noite te sirva de lição — ele aponta o dedo na
minha cara. — E eu só não vou lhe dar uma surra porque a vida já
está fazendo isso por mim que sou seu pai, e acredite, apanhar da
vida é a pior coisa que um ser humano pode receber.
Em seguida, ele liga para Aline e conta tudo o que aconteceu,
depois liga para um advogado que nos acompanha até a delegacia,
onde prestamos o nosso depoimento. O advogado, após ficar a par
da situação, como previmos, nos aconselha a revelar somente que
Érica era a nossa vizinha, pois isso com certeza será descoberto
mais tarde numa posterior investigação. Então falamos isso, mas
sempre enfatizando que jamais sabíamos que ela e o namorado
eram bandidos e que tentariam roubar a casa onde tínhamos um
jantar essa noite.
O delegado por algumas vezes acha estranho tamanha
coincidência, mas não há como provar além do que dizemos, e, para
todos os efeitos, nós somos as vítimas, e na realidade as somos de
fato. Ao sermos perguntados se Érica tem filhos, afirmamos que sim,
mas que não sabemos dele, já que Érica deixou o nosso condomínio
há mais de um mês. Victor me avisou antes que iria resolver as
coisas quanto a Olavo e que era melhor não envolver a polícia nisso.
Explicamos tudo o que rolou na casa do Cláudio, mas sem falar nada
sobre vingança ou sobre o meu relacionamento com as mulheres do
caso.
Depois de passarmos mais de duas hora na delegacia e
enfrentarmos um longo procedimento, saímos escondidos para não
sermos fotografados pela mídia que está na porta. O dia já está
amanhecendo, no meu relógio marca 6h. Assim, seguimos
diretamente para o endereço que Érica me deu.
— E o carro do José que ficou estacionado naquela esquina? —
indago.
— Já resolvi, ele não está mais lá, foi guardado em um local
seguro — responde Victor. — É essa a casa? — olho pela janela.
— Sim, o endereço está correto — afirmo.
Estacionamos em frente a uma casa simples, com um portão
branco, e cerca elétrica no muro. No lado oposto da residência há
uma praça grande, com uma igreja e árvores, e pessoas armando
barracas para vender frutas e legumes. Toco a campainha três vezes
e nada de ser atendido.
— Olavo cadê você? — me pergunto, preocupado.
Preciso fazer isso, não só pela Érica, mas por mim também, pois
sei que tive sim a minha parcela de culpa sobre tudo o que
aconteceu, e não sei se conseguirei me perdoar. Achar o Olavo é
uma forma de me deixar menos culpado e de evitar que mais uma
catástrofe aconteça por causa dessa vingança que participei sem
querer querendo.
Toco a campainha mais duas vezes.
— Parece que não tem ninguém — diz Victor.
— Quem é? — pergunta Olavo, um pouco receoso.
— Oi Olavo, abre a porta — digo, esperançoso por ele ter
respondido.
— A minha mãe e a minha tia me proibiram de abrir a porta para
estranhos — rebate ele, que fofo.
— Você não está reconhecendo a minha voz? Sou eu, o Apolo.
— Meu herói?
— Sim cara, vim te buscar, a sua mãe que pediu — troco
olhares com Victor.
Olavo abre o portão sorridente, com cara de quem acabou de
acordar, me agacho e o abraço forte, tentando aplacar a minha dor e
culpa.
— E aí, como você está? — pergunto.
— Estou com fome agora. Que bom que tu veio me buscar,
fiquei a noite toda sozinho. Minha mãe mentiu, ela disse que voltaria
logo... — ele para de falar e se surpreende ao olhar meu pai com a
roupa toda amarrotada e suja de sangue em algumas partes, sem
contar com o rosto dele marcado da briga — O que aconteceu com
ele? — pergunta, com os olhos arregalados.
— Ah, eu briguei com um bandido — responde Victor.
— Nossa! E onde ele está? — Olavo está curioso, e olha para
meu pai como se estivesse diante de um guerreiro dos desenhos
animados.
— Ah, eu venci ele, agora está tudo bem, sobrevivi.
— Que massa! — diz o menino, animado. — O bem sempre tem
que vencer o mal!
— Isso, o bem sempre tem que vencer o mal — repete meu pai.
Sorrio para Olavo e entramos na casa para pegar suas coisas. O
local é simples, com uma garagem para um carro na frente, depois a
sala pequena, dois quartos, banheiro e cozinha. Há alguns retratos
na estante da sala com fotos de Maura e Érica, e do Olavo também.
— De quem é essa casa, Olavo? — pergunta Victor, enquanto o
menino sai comigo do quarto com uma mochila nas costas, eu
seguro a mala de rodinhas dele.
— Da minha tia Maura.
Olhando para a estante, na parte mais alta, reconheço algumas
coisas.
— A câmera da Érica e o meu celular — digo, pegando ambos.
— Vamos dar uma olhada e pegar tudo que pode levar até você.
Parece que foi pra cá que Érica veio depois que saiu do nosso
condomínio.
Após alguns minutos, saímos da casa da Maura com tudo citado
mais o notebook da Afrodisíaca, que com certeza deve conter muitas
coisas sobre sua vingança. E assim, finalmente chegamos em casa
após essa noite tão agitada e louca que nunca imaginei que viveria.
Eu e meu pai estamos exaustos, mas não podemos dormir ainda,
Olavo precisa de explicações e já pergunta pela mãe.
Tomamos banho e trocamos de roupa, depois Victor faz um café
da manhã para nós, já que é domingo e Val não vem trabalhar. Olavo
come bastante enquanto eu e meu pai só temos olheiras da noite do
caos. Ele ainda quer conversar comigo, não ficou satisfeito com a
nossa conversa rápida da noite passada. Assim, deixamos Olavo se
entretendo com Kenai e seguimos para os sofás da sala de jogos.
— Por que você não me contou tudo quando teve a
oportunidade? — indaga ele. — Sempre fui aberto contigo, sempre
tentei te dar o máximo de liberdade possível para se abrir comigo.
— Eu sei, eu sei pai. No início tive medo, mas depois tentei te
falar, só que não deu certo — confesso, de cabeça baixa, lembrando
de tudo. — E a Érica dizia que se eu te contasse, jamais teria ela de
novo em meus braços, e depois que comecei a fazer com Aline o
que ela queria, as coisas tomaram uma proporção mais séria. Eu
sabia que era errado, mas me deixei levar pelo amor que achava que
tínhamos... tudo virou uma bola de neve incontrolável. Não tive
saídas.
— Aprenda uma coisa, filho: sempre há uma saída — ele coloca
a mão pesada sobre meu ombro. — E escute outra coisa: não quero
que se culpe pelas mortes que ocorreram na noite passada, a nossa
vizinha teria invadido a casa do Cláudio com ou sem você, pois ela
também queria o dinheiro sujo dele. Ela só te esperou porque quis
matar dois coelhos com uma cajadada só, mas acabou tendo o seu
castigo de Deus por isso, e você também teve o seu, não teve?
— Sim... — confirmo, tristonho, numa mistura de dor e remorso.
— Já aprontei muito na minha juventude, coisas semelhantes a
você. É claro que não aconteceu uma tragédia dessa magnitude,
mas também fiz escolhas erradas por amor. Sei muito bem o que
está sentindo e o que sentiu, a gente fica cego e não pensa nas
consequências. Parece que essa é a marca registrada do nosso
sangue. Porém, reconheci os meus erros, cresci, amadureci e
aprendi com eles. Me arrependo de muitas coisas e espero que você
faça o mesmo. Aprenda e evolua, para nunca mais repetir uma
loucura dessas. Entendeu?
— Entendi, pai.
Victor abre os braços e o abraço, deixando lágrimas silenciosas
descerem, me sinto um pouco melhor com suas palavras.
— Agora só tenho mais dois pontos a certar contigo — diz Victor,
sério, e saio dos seus braços. — O primeiro é que... conversei com
Aline e... decidimos que você não terá mais contato com Tatiana,
entendeu?
Fico pensando nestas palavras por alguns segundos. Imaginar
que não poderei mais ver ou falar com a minha namorada é ruim
demais, pois a amo.
— Eu amo ela pai — declaro. — Com a Tati descobri o que é
amor de verdade...
— Não há condições de você namorar uma menina cuja mãe já
levou para cama, Apolo — meu pai é irredutível e abaixo a cabeça,
tristonho. — Você entendeu?
Balanço a cabeça, confirmando, mas no fundo estou
inconformado.
— Tatiana está bem, já se recuperou. Esqueça-a, se afaste
completamente, se ela ligar não atenda. Você ainda amará muitas
mulheres nessa vida filho, muitas, mas Tati é impossível,
compreende?
— Sim — respondo, tentando assimilar isso.
— O segundo ponto é Olavo, você dirá a ele o que houve com
sua mãe.
— Pai, não vou conseguir... — sinto um leve desespero me
tomar só de pensar nesta hipótese.
— Vai ter que conseguir, é seu dever fazer isso.
Enxugo as lágrimas.
— E depois, o que faremos com ele? Ele não tem ninguém, pai
— estou preocupado.
— Acho que tenho uma solução para isso, mas primeiro faça o
que tem que fazer — diz, levantando.
— Agora? — indago, assustado.
— Vou buscar o garoto — avisa, indo para a saída. — Nunca
mais minta para mim — fala, sério, e sai, me deixando sem chão.

Continuo chocado com tudo o que descobri sobre Apolo. Paro


um pouco, me encostando numa parede, após ter deixado ele na
sala de jogos. Respiro fundo, passando as mãos no rosto, ainda
tentando assimilar toda essa catástrofe. Não está sendo nada fácil
pra mim saber que fui completamente incompetente no meu papel de
pai. Como não vi tudo isso? Como não descobri essa merda? Até
desconfiei, investiguei, mas não encontrei absolutamente nada.
Devia ter insistido.
Apolo me surpreendeu negativamente e de uma forma
inimaginável, e o pior é que me vejo muito nele na juventude, um
rapaz inconsequente que só pensava com a cabeça de baixo, mas
também com o coração e não com a consciência, a inteligência, que
é o mais importante. Estou tendo que me controlar para não castiga-
lo mais severamente, porém sei que foi manipulado pela vizinha,
aquela psicopata. Meu filho caiu como um patinho em seu plano
louco e maquiavélico.
Devo confessar que ainda não consigo acreditar que ele foi para
cama com três mulheres nesse tempo em que esteve morando
comigo. Agora vejo que Apolo é do tipo “come quieto”, ele não fala,
faz, e quando faz é para destruir. Mas neste caso, a destruição é um
verdadeiro estrago infeliz, e só o que quero agora é ajudá-lo
minimizando o máximo dos efeitos colaterais de ontem, para que não
se culpe demais e entre em algum tipo de depressão. Porém,
também quero repreendê-lo, para que entenda a gravidade do que
aconteceu e não repita mais algo como isso.
Volto a caminhar após respirar um pouco durante todos esses
pensamentos e chamo o pobre Olavo para receber uma das piores
notícias que se pode receber na vida, a de que está órfão. Se um pai
faz falta na vida de uma criança, imagine uma mãe. Que dor, e
conheço bem esta dor, pois também perdi a minha mamãe cedo.
Olavo segue para a sala de jogos onde Apolo o aguarda, e eu
ligo para um velho amigo.
— Alô? Oi meu grande amigo, como você está?

Antes de entrar no carro com Olavo, digo ao Apolo:


— Ligue para sua mãe e conte o que aconteceu ontem, só o que
ela precisa saber.
— Tudo bem — ele concorda.
Minutos depois, sigo com Olavo que está tristonho no meu
BMW, e dirijo até um prédio na zona leste. Subimos no elevador até
o apartamento 213, e aperto a campainha.
— Que lugar é esse? — pergunta o garoto, curioso.
— É a casa de um grande amigo meu — respondo. — Você vai
gostar dele.
Carlos, meu ex-sócio da Alcateia, abre a porta. Ele usa uma
camisa social de manga curta, roxa — sempre gosta de cores
extravagantes —, um calção preto e chinelos. Parece mais velho do
que quando o vi pela última vez, e isso já faz um bom tempo, mas é
um coroa bem cuidado, está na casa dos cinquenta e poucos anos
agora.
— VICTOR! — exclama ele, com muita alegria e um sorrisão,
apertando a minha mão e me abraçando. Olavo se esconde atrás de
mim — Que bom te ver, rapaz! Quanto tempo, que saudade, cara!
— Também estava com muitas saudades de você meu amigo —
afirmo, trocando sorrisos com ele, e entro no AP com Olavo.
— Cintia! — chama ele. — Victor chegou.
— Oi Victor, tudo bem? — pergunta Cintia, se aproximando,
apertamos as mãos. Ela é uma mulher negra de cabelo cacheado,
olhos castanhos e rosto arredondado, um pouco gordinha, pequena,
deve ter seus quarenta e poucos anos e exala felicidade. Usa um
vestido de cor sépia, sapatilhas, anéis, brincos e um colar de pedras
negras, se arrumou para nos receber. — E quem é esse menino
lindo?
Cintia e Carlos formam um casal bem diferente, bem inter-racial
mesmo, como eu e Laura antigamente. Os dois são pessoas ótimas
e de muito bom coração.
— Ah, esse aqui é o Olavo, grande amigo do meu filho, Apolo.
Não é mesmo, Olavo?
— É... — solta ele, encolhido.
— Você parece tão tristonho, Olavo — comenta Carlos. — O
que houve?
— É que... a minha mãe morreu — desabafa a criança, e logo
cai em pranto em nossa frente. É de partir o coração.
Cintia se comove tanto que vai até ele e o abraça.
— Vem cá, pequeno, não chora não. Vem que vou te dar colo.
— Preciso conversar com vocês — aviso, trocando olhares com
o casal.
Cintia faz Olavo parar de chorar, e o deixa assistindo televisão
enquanto vamos até o escritório de Carlos. Conto só o que eles
precisam saber, quase a mesma versão da delegacia, mas ocultando
tudo que diz respeito a Apolo. O casal fica chocado com toda a
história.
— Quer dizer que a sua vizinha era a ladra? — pergunta Carlos,
indignado. — Nós vimos essa notícia hoje, então o menino que
trouxe aqui é o filho dela?
— Sim. Ele não tem mais ninguém, e como era nosso vizinho e
amigo do meu filho, me senti responsável por ele. Não o julguem
pela mãe, o menino não tem culpa.
— Nós sabemos, Victor — diz Cintia, consciente da situação. —
Mas por que pensou em nós?
— Olha Cintia, você sabe que eu e Carlos sempre fomos amigos
e acompanhei o que aconteceu com vocês. Quando ele resolveu me
vender a sua parte da Alcateia foi para se doar somente ao filho que
estavam esperando, sei que não deu certo por duas vezes e que
nunca quiseram adotar — sou delicado no assunto — Pensei em
vocês porque sei que querem muito ter um filho...
— Mas isso faz tempo, a gente já desistiu — rebate ela, me
interrompendo.
— Eu sei. — falo, pensante — A minha segunda opção é levar o
garoto para a justiça. Achei que antes deveria vir aqui, pois vocês
são um casal da minha inteira confiança e gente muito do bem, sei
que cuidariam do Olavo como se fosse filho de vocês.
— A gente envelheceu... — comenta Cintia, olhando para o
chão, cabisbaixa.
— Mas ainda estamos vivos, meu amor, e com saúde — afirma
Carlos, tocando na mão da esposa. — Victor, deixa a gente
conversar um pouco — pede.
— Tudo bem — me retiro do escritório. Espero pela decisão
deles enquanto vejo Olavo assistindo desenho e comendo bolacha
com suco, entretido.
Após meia-hora de conversa, Carlos abre a porta e diz:
— Decidimos que vamos ficar com ele, Victor. Mas por alguns
dias para ver se vai dar certo, como um teste, aí entro em contato
contigo e te falo a nossa decisão definitiva.
— Tudo bem — concordo, com um sorriso, me sentindo mais
aliviado, pois sei que com eles Olavo estará melhor do que
disponível para adoção para qualquer família.
— Eu me comovi com a história do Olavo, pois perdi meus pais
muito cedo como ele, mas só terei certeza da minha decisão daqui
há alguns dias — diz Cintia.
— Tomaram uma boa decisão, é melhor fazer um teste primeiro
mesmo. Caso a resposta acabe sendo positiva, basta solicitar um
advogado e ver os termos legais para ficar com o menino, ele não
tem mais ninguém da família vivo.
— O.K. — afirma Carlos. — Fica para o almoço?
Resolvo aceitar o convite, primeiro para matar a saudade dos
meus amigos e também para explicar a Olavo que vou deixá-lo aqui.
Durante o almoço noto que Cintia e o menino têm uma química forte,
e ela consegue fazê-lo esquecer da morte da mãe por vários
momentos, conversando e o entretendo, mostrando a casa e lhe
dando coisas gostosas para comer.
Depois, me despeço de todos, e ao voltar para o carro, vejo
algumas chamadas perdidas da Leda, ligo de volta, mas ela não me
atende. Imagino que deve ter visto a notícia do que houve ontem e
está preocupada comigo. Ligo novamente, mas sem resposta, deve
estar longe do celular que costuma deixar no silencioso. Decido que
é melhor ir à sua casa, visitá-la, para tranquilizá-la.
Enquanto dirijo para a casa da minha namorada, penso em tudo
que rolou ontem novamente e o quanto me enganei com Cláudio.
Certo que ele era meu advogado a pouco menos de dois anos, mas
porra! Tantos segredos obscuros, tanta coisa errada que fez. Sabia
que era safado, que traía a esposa, que tinha pegado uma das
minhas dominatrix, mas fora isso, nunca passou por minha cabeça
todo o resto.
Ao me aproximar da casa da ruiva, avisto-a na porta, de saída,
entrando num carro com Guilhermina! Arregalo os olhos, surpreso, e
franzo a testa, sem entender o que as duas fazem juntas. Desacelero
para que não me vejam, e as sigo para descobrir se estou sendo
corno.
No percurso penso em milhares de coisas ruins. Isso não pode
ser verdade, sei que Leda me ama e sinto que estou apaixonado por
ela. Merda! Que situação! Não nasci para ser corno, não mesmo!
Meia-hora depois, Leda e Gui param num local afastado da
cidade, na zona sul de Teresina, em um terreno baldio perto de uma
igreja em ruínas. Um carro preto as aguardam, as meninas
estacionam ao lado dele, enquanto estou a metros de distância, atrás
de um matagal, consigo observá-los da minha janela.
Um homem alto e forte desce do carro preto, de camisa regata e
calça jeans, óculos escuros, barbudo, não consigo ver bem seu rosto
devido à distância. Os três conversam, Guilhermina segura uma
maleta preta que é arrancada com brutalidade das suas mãos pelo
homem. Que merda é essa? Não estou entendendo absolutamente
nada. Achei que a ruiva iria me trair num motel ou em algo similar, no
entanto vem para esse lugar remoto e parece negociar algo com
esse homem juntamente com Gui.
Realmente de ontem pra hoje as coisas não estão fáceis para
mim. Me inclino para ver o que o fortão está fazendo agora, parece
que abriu a mala e olha alguma coisa. Me inclino para enxergar
melhor, mas acabo apertando a buzina do carro sem querer.
Pom!
Merda, acabo chamando a atenção de todos eles, o fortão saca
uma pistola para as garotas, Leda grita e entro em pânico. Acelero
em direção a eles para evitar que o pior aconteça, fazendo a poeira
subir atrás de mim, pois a estrada é de terra. O homem corre para o
seu carro e, na distração, cai no meio do caminho, derrubando a
maleta que na pressa resolve não pegar.
Ele dá uma ré brusca antes que eu consiga alcançá-lo e foge.
Paro no lugar em que ele estava. Desço do carro e vejo dinheiro
espalhado pela areia, várias notas de cem que fugiram da maleta.
Leda e Gui ficam boquiabertas ao me ver, assustadas, de olhos
esbugalhados.
— Victor! — diz Leda, chorando.
Olho para ela e depois para Guilhermina que tenta controlar a
respiração do susto que acabou de levar.
— O que foi isso, Leda? — pergunto, sem entender merda
nenhuma.
— Meu amor, e-eu posso te explicar... — a ruiva gagueja, vindo
em minha direção, me tocando.
— Cala a boca, Leda — manda Gui, séria, e Leda se cala, o que
me deixa impressionado.
— Cala a boca? — indago, fazendo um bico, impressionado. —
O que você veio fazer aqui com ela, Leda? O que significa isso?
— Não é da sua conta, Victor — rebate Gui, com os olhos
brilhando.
— Victor...
— Você disse que não estava atendendo às ligações dela —
lembro, e a ruiva não sabe o que dizer.
— Eu menti, é que...
— Olha, tive uma noite terrível, estou cansado e exausto. Se
você prefere esconder as coisas de mim, não posso fazer nada. Vou
embora — digo, entrando no carro.
— Não Victor! Não meu amor! Por favor, espera! Espera! Posso
te explicar! — ela insiste.
— Quando não tiver com companhia, então me explica. E é
melhor vocês saírem daqui, parece que não é muito seguro, né —
sou irônico. Saio e as deixo sozinhas.
No caminho de volta penso no quanto odeio mentiras, parece
que ultimamente as pessoas andam fazendo muito isso comigo:
Apolo, Leda. É realmente decepcionante. Como vou confiar na ruiva
se ela não confia em mim? Ela me passou uma imagem diferente no
início, mas agora está se revelando e não estou gostando desses
seus outros lados.
Agora sou um misto de raiva e decepção, sem entender muito
bem as coisas, com dor no corpo devido a tudo que vivi de ontem
para cá. Lembro que ainda não dormi, estou ligadão, sem descanso.
— Droga, Leda — digo, batendo contra o volante, chateado. Vou
esperar ela se afastar de Gui, me procurar, e tentar explicar essa
confusão.
Estou exausto e pego um trânsito enorme para poder chegar em
casa, o que me cansa mais ainda. Começa a chover forte de
repente, e me molho um pouco na passagem da garagem para
dentro de casa.
Tiro a camisa molhada e os tênis, depois vou até a geladeira,
pego uma cerveja bem gelada e sento no sofá da sala, bebendo e
tentando relaxar um pouco. Lembro do meu filho, ainda não vi sinal
dele, e subo para o piso superior, para procurá-lo.
Lá fora troveja, a chuva está realmente bem forte. Abro a porta
do quarto dele sem pedir licença e me deparo com Laura deitada ao
seu lado na cama, acariciando sua cabeça, o vendo dormir. Nós
trocamos olhares e ela fica surpresa ao me ver. Sorrio em educação,
cansado, saindo, mas sem deixar de notar o quanto a loira está linda
cuidando do nosso filhote. Encosto a porta e sigo para o meu quarto.
Empilho três grandes travesseiros à cabeceira da cama e sento,
repousando as costas neles e esticando as pernas, sentindo dores.
Bebo mais um pouco de cerveja e respiro fundo, pensando em tudo
que houve de ontem para hoje, na imagem de Leda com a Gui, no
Olavo, e depois lembro que meu filho quase morreu, e só agora a
ficha parece cair. Que merda de pai eu sou? Fico profundamente
abalado, pensando que poderia ter acontecido o pior e o quanto fui
desatento. Uma lágrima desce por minha face no momento em que
Laura adentra o quarto.
Ela usa um vestido leve de um rosa bem fraco que combina
perfeitamente com o seu lindo tom de pele. É incrível como a
gostosa chique está jovem, os anos não passaram para ela, parece
com trinta ou trinta e três de idade. As suas madeixas loiras
escorregam por seu ombro, penteadas para o lado direito do rosto.
— Laura — fico um pouco desconcertado e enxugo rapidamente
os meus olhos, temendo que ela tenha percebido meu rápido estado
de fraqueza.
— Ah, me desculpa, eu sempre mal educada, esquecendo de
bater na porta — diz, sem graça.
— Não, quê isso, pode entrar — bebo mais um pouco da cerveja
para disfarçar minha voz ainda emocionada.
— Nossa, você está todo machucado — ela me analisa
preocupada, mirando meus ferimentos.
— Coisinha de nada, é que a noite ontem foi longa.
— Eu sei, o Apolo me contou e também vi a notícia nos jornais.
Que loucura né?
— Sim.
— Aquela caixinha de primeiro socorros ainda está guardada no
closet?
— Acho que sim, mas não precisa Laura, está tudo bem...
A loira não me dá ouvidos e rapidamente aparece com uma
caixinha branca que põe na cama. Em seguida ela senta ao meu
lado, me fazendo sentir o seu doce perfume... que saudade, como é
bom, já tinha até me esquecido. Laura pega um algodão, o molha
com um dos remédios e passa sobre o corte na minha bochecha
esquerda. Nunca mais estivemos tão próximos como agora após a
separação.
Fico impressionado com sua atitude, e só o que consigo fazer é
me perder no intenso verde esmeralda de seus olhos, encantado.

Ainda estou chocada com tudo que soube sobre a loucura que
Victor viveu com nosso filho ontem. Essa cidade realmente está
muito perigosa, pois sofrer uma tentativa de assalto em pleno jantar
de namoro, ser preso à cadeiras com fitas e ter uma arma apontada
para você é terrível. A única coisa que não consegui digerir muito
bem é o fato da vizinha ser a bandida. É uma coincidência pavorosa,
mas decidi não tocar no assunto com Apolo e não tocarei com Victor
também, eles já passaram por muitos momentos difíceis.
Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido com o
meu filho... e com o Victor também. Victor... agora estou aqui, com
ele, cuidando dos seus ferimentos, tão próximos, coisa que nunca
mais aconteceu depois que nos separamos. Não sei o que deu em
mim, mas estou preocupada com ele também, parece estar cansado,
triste, carente e... lindo.
Posso sentir o calor do seu corpo negro e másculo, a sua
respiração, o cheiro da sua pele, cheiro de homem que há tempos
não sinto. Enquanto cuido do seu corte na bochecha, Victor me olha
com ternura, pensando em só Deus sabe o quê, e não consigo evitar
olhá-lo também. Não resisto e miro seu peitoral inflado, seu abdômen
tão bem desenhado, os gominhos, o V que seduz e cujo fim se
esconde sobe a calça. Seus braços musculosos e cheios de veias,
tudo à amostra, vívido, bem perto de mim. Engulo em seco e volto a
prestar atenção em seus ferimentos, pondo um band-aid no primeiro
corte.
— Pronto, agora deixa eu ver esse outro na testa — digo,
sorrindo para ele que se mantém quieto, me observando. Victor é tão
lindo que já estou nervosa por estar em sua presença, e chego a
pensar na gente fazendo besteira. É inevitável, não consigo
controlar.
— Não quero te dar trabalho — diz ele, com a voz cansada e
rouca, as olheiras claramente visíveis, está exausto, e ainda inventa
de beber.
— Precisa sim — insisto, educadamente.
Pego outro algodão, o molho com o remédio e passo a cuidar do
seu outro ferimento. Victor descamisado é uma massa enorme de
músculos e o mais temível pecado. Ele brigou feio com o bandido
para proteger o nosso filho, isso é tão lindo! Por mais que ele tenha
feito o que me fez, jamais posso negar que é e sempre foi um bom
pai. Errou em se afastar quando nos separamos, isso é certo, mas
conseguiu provar que não se tornou um irresponsável.
— Quero te agradecer por ter salvado o nosso filho — digo.
— Eu daria a vida por ele.
— Eu sei — sinto vontade de chorar, mas controlo as emoções.
— Desculpe por ter me afastado dele depois que nos
separamos, não cumpri com o meu papel...
— Não, não se desculpe. Você sempre foi um bom pai, Victor,
isso não posso negar. Um ótimo pai, antes e após a nossa
separação. O que seria do Apolo sem você ontem, não quero nem
pensar — enxugo uma lágrima e suspiro, tentando manter o controle
enquanto Victor bebe o resto da sua cerveja e põe a latinha sobre o
criado-mudo.
— Já passou — diz ele, com a voz mansa, me puxando e me
dando um abraço.
Sou pega de surpresa! E agora me encontro envolvida nos
braços fortes e quentes do meu ex. Nossa! Fico desconcertada por
alguns instantes, hesito, mas percebo que não há maldade, que é
sincero, e então o correspondo, envolvendo meus braços em seu
corpo e sentindo o meu esquentar rapidamente, minhas lágrimas
ainda descem silenciosas.
— Obrigada, obrigada mesmo, e me perdoa pelas vezes em que
fui grossa contigo, que falei demais...
— ‘Tá tudo bem, Laura — fala ele, ao pé do meu ouvido. Seu
hálito quente me arrepia inteira, uma leve onda de energia se
espalhar por todo o meu corpo, meu coração dispara em batidas
cada vez mais fortes. Paro de chorar e fecho os olhos, sentindo a
sua pele na minha, as batidas do seu coração. Victor parece que
precisa do meu abraço também, e acho isso maravilhoso.
Engulo em seco mais uma vez, é um misto de emoção com...
excitação, meu Deus, Victor mexe bastante comigo, com o meu
corpo, com os meus sentidos. E para a minha salvação, ele se
afasta, segurando-me pelos braços. Permaneço alguns segundos de
olhos fechados, embebedada com sua presença, com seu calor e, ao
abrir os olhos, bato meu olhar no seu. Lembro que estamos na cama
onde milhares de vezes me entreguei completamente a ele que,
como sempre, me fez mulher, sua mulher, como nenhum outro
jamais fez!
Só nós dois aqui, nós dois.
— É verdade mesmo que você vai casar? — ele me pergunta.
A TRAGÉDIA

“... Eu vou atrás de você, seja onde for,


haja o que houver”

Não esperava por essa. Por que ele quer saber disso nessa
altura do campeonato?
— Victor... — tento desconversar.
— Responde — pede, com a voz mansa, me soltando.
— Vou — respondo, e minha voz sai como um sopro, escapando
por meus lábios. Baixo os olhos. Por que estou triste? Por que
responder a essa pergunta doeu?
— E quando vai ser o casamento?
— Dentro de algumas semanas.
Victor se cala, pensativo, refletindo em minhas palavras.
— Sabe que aquele cara não serve pra você, né? — diz,
olhando-me no fundo dos olhos. Suspiro, esticando um sorriso,
surpresa com suas palavras.
— Ah é?
— É, ele não dá conta de você.
— E quem dá? — o desafio, e agora estou em dúvida se quero
ou não ouvir a sua resposta. Aonde ele quer chegar? Eu não devo
aprofundar essa conversa, puxar assunto, mas não consigo me
conter.
Victor leva alguns longos segundos para me responder.
— Não sei. Mas ele não é — diz, me deixando desconcertada e
de coração disparado. Achei por um momento que sua resposta
seria outra. Achei que ele estava com segundas intenções, que ele
ainda... me desejava.
Laura, não é para isso estar acontecendo, você tem um noivo
agora, deve respeitá-lo externa e internamente. A questão é que
dentro do meu corpo há uma ardência, uma velha queimação, que
lembro agora que somente este negro parrudo consegue me causar.
Negro parrudo? O que estou pensando?
— E você? Como vai com a sua garotinha ruiva?
Ele ri.
— Descobri que estou apaixonado por ela — revela, e é como
se me desse um golpe gelado e forte que me arrebata inteira por
dentro. Nossa, jamais esperava sentir tudo isso ainda por esse
homem. O que está acontecendo comigo?
Sorrio para ele o mais verdadeiro possível, não posso
demonstrar que fiquei impactada, e digo:
— Que bom... pelo que conheço de você, não acho também que
ela combine muito contigo, mas... a vida é assim.
— É, a vida é assim... — ele repete, olhando para o nada,
tristonho. Não sei o que faço com esse homem!
Respiro fundo e levanto da cama, fecho a caixinha de primeiros
socorros e deixo no closet. Lá respiro fundo e enxugo as duas
lágrimas que insistem em descer, não consigo me segurar! Ainda o
amo! Eu amo Victor mesmo depois de todo esse tempo, mesmo após
a sua traição, a verdade é essa, que o amo, droga! Mas agora é
tarde demais, nós dois estamos com outras pessoas, ele está
apaixonado pela garota. Não há mais volta!
Respiro devagar e enxugo os olhos em silêncio. Ao voltar para o
quarto, vejo que Victor cochilou, e muito rápido, por sinal, ou então
está inventando isso para que eu fosse logo embora daqui. Fico em
dúvida se ele ainda sente algo por mim. Em nenhum momento me
olhou com desejo, só com ternura e tristeza. Mas foi bom isso não ter
acontecido mesmo, estou noiva, irei me casar com outro homem.
Saio do quarto fechando a porta lentamente para não acordá-lo.
Entro no quarto do Apolo, ele continua dormindo, vou ao banheiro,
molho o rosto na pia e volto a chorar, silenciosamente, olhando para
o meu reflexo no espelho. Não acredito que ainda amo tanto assim
Victor! Nesse tempo em que passamos distantes cheguei a acreditar
que meu sentimento por ele havia se apagado, mas foi só revê-lo e
pronto, me sinto em um fogaréu sem tamanho e constante.
Victor não pode se aproximar de mim que me atrai, me envolve
com uma força vital que emana de todo o seu corpo, algo que nem
sei explicar! E o Henrique? Como fica? Não posso ser hipócrita
comigo e negar que senti desejo de beijar meu ex naquele quarto. E
agora ele está apaixonado por aquela ruiva! O tempo trouxe outras
pessoas para nós, as coisas mudaram, mas meu sentimento parece
o mesmo ou ainda maior. Chego à conclusão de que estou
reprimindo minhas emoções por Victor há muito tempo.
— Mãe... pai... mãe... pai... — ouço Apolo murmurando, com
uma voz de medo, como se tivesse pedindo socorro.
Saio do banheiro assustada e corro para a cama, ele está tendo
um pesadelo. O abraço pelas costas, lhe fazendo cafuné e lhe dando
beijos carinhosos.
— Estou aqui meu filho, estou aqui. Mamãe ‘tá aqui, mamãe ‘tá
aqui — sussurro em seu ouvido, acalmando o meu bebê gigante,
quem nos vê assim nem imagina que esse homem saiu de dentro de
mim.
Lá fora ainda chove, então adormeço com o meu filho.
Mais tarde, à noite, só vou embora quando Apolo está melhor. O
faço prometer que ligará para os seus avós e dirá que está bem. Vou
para casa apreensiva, ainda sinto que meu filho está triste, muito
abalado, esse assalto o afetou muito, ele deve ter ficado chocado
com a violência que presenciou, só pode ser isso.
Por outro lado, também estou apreensiva quanto aos meus
sentimentos, pois agora tenho mais certeza do que nunca de que
amo Victor, e não sei mais se poderei casar com Henrique. Como
casar com um homem amando outro? Tenho que resolver isso, pois
não posso ser injusta com o Henrique, não posso mesmo.

Sentir o calor da Laura perto de mim ontem foi maravilhoso, não


posso negar, ela ainda mexe comigo. Como possui esse poder? Mas
a imagem de Leda ao lado da Gui não sai da minha cabeça. Uma
mulher que tantas vezes disse que me amava mentiu afirmando que
não havia mais nada entre ela e sua ex, e agora descubro que as
duas estão juntas em algo secreto e muito desconfiável.
O que me deixou puto foi ela não ter se aberto comigo, não ter
me contado o que está acontecendo, o que significa aquela mala de
dinheiro e quem é aquele homem com cara de bandido. Estou com
uma pulga atrás da orelha. Essa falta de comunicação, essa falta de
confiança e as mentiras me machucaram e me decepcionaram.
Entretanto, agora a minha preocupação maior é com o meu filho,
Apolo está muito abatido com tudo o que aconteceu e isso me
preocupa.
É de manhã, o clima está um pouco abafado, o sol escondido
nas nuvens escuras —como é difícil matar o calor de Teresina.
Estaciono no cemitério, e caminho com Apolo entre as lápides.
Ambos estamos de preto, e paramos à uma boa distância de onde
acontece a cerimônia de enterro do Cláudio.
— Filho, só te trouxe aqui porque você pediu, mas a Aline falou
para que não nos aproximássemos da cerimônia de enterro, para
que a Tati não veja você — digo a ele, que mira sua namorada de
longe, chorando, vendo o caixão do pai ser colocado na cova, há um
grupo de pessoas com ela, provavelmente a família e amigos, todos
de preto.
— Entendi — diz ele, tristonho, e abaixa a cabeça.
— Meu filho, — levanto seu rosto para mim. — não quero que se
culpe por tudo isso, entendeu? Não foi sua culpa o Cláudio ter
morrido ou a Érica ou os outros. Eles procuraram por isso e armaram
tudo aquilo, não se culpe! Eu sei que está sendo difícil, mas vai
passar, vai passar.
O abraço, e observo o local à nossa volta, há alguns enormes
ipês de folhas amarelas e outras rosas em alguns pontos. As folhas
caem no chão com o vento, colorindo o ambiente, deixando o clima
mais agradável diante de tantas lápides enormes e antigas, algumas
bonitas, outras feias, umas com flores ressecadas, velas derretidas,
cruzes de ferro enferrujadas e etc.
E assim, esperamos o enterro acabar, sempre observando tudo
de longe. Levo Apolo de volta para o BMW e volto para encontrar
Aline no ponto combinado previamente por celular. A viúva vem em
um look todo preto e sofisticado — é uma mulher linda, pena que o
marido não soube valorizar. E vendo-a assim, só consigo lembrar
que meu filho comeu ela. Como pode? Nunca subestimei Apolo, mas
pegar vizinha, mãe e filha, é demais!
— Meus sentimentos — digo.
— Obrigada — responde — E então, onde guardou o carro com
o dinheiro?
— Em um local seguro. Como vamos fazer para te entregar?
— Mande deixar o dinheiro neste endereço, dentro de sacos de
lixo não transparentes — ela me entrega um pedaço de papel.
— Levar todo esse dinheiro para esse lugar público? Tem
certeza?
— Ele vai sair de lá no mesmo dia, o dono ligou para o celular
do Cláudio, requerendo o que era seu. Érica não mentiu, esse
dinheiro realmente é sujo, mas não vou sujar a mim e aos meus
filhos com ele como Cláudio fez.
— Tudo bem, como quiser. Que dia é para fazer isso?
— Hoje mesmo, às quinze horas. Por favor, não atrase — pede
educadamente. — Quero me livrar logo disso, de mais uma culpa.
— Meus homens de confiança farão esse serviço corretamente,
pode ficar tranquila. — asseguro.
Aline respira fundo, como se estivesse retirando um peso das
costas. Só há tristeza em seu olhar.
— Obrigada — agradece.
— Desculpe perguntar, mas o que pensa em fazer agora?
— Ir embora de Teresina. Não dá mais para viver aqui depois de
tudo isso. Não sei direito com quem meu marido se relacionava ao
mexer com esse dinheiro sujo... tenho medo da minha família estar
em risco, então acho melhor me afastar.
— Está certa. Ainda estou besta com tudo o que soube do
Cláudio, jamais imaginei que ele seria capaz de fazer o que fez.
— Olha que ironia do destino, Cláudio fez muita coisa errada:
me traiu, enganou a Érica, pôs a nossa família em risco fazendo
receptação dentro da nossa casa, mas a única coisa que ele não fez
foi a maior causadora de sua morte — conta Aline, me dando as
costas e olhando para um senhor solitário que ainda chora na lápide
de Cláudio.
— Posso saber qual? — pergunto, curioso.
— Ele não mandou matar Érica... foi o seu pai, aquele senhor ali
que ainda chora no túmulo.
— Nossa — digo, impressionado.
— Pois é, ele não gostava da Érica e quando percebeu que
Cláudio realmente iria assumi-la, mandou o seu capanga assassiná-
la — revela Aline, triste e decepcionada.
— Meu Deus, e foi ele quem te contou isso, esse senhor?
— Não, foi o Cláudio, anos atrás, ele me disse que descobriu
essa história muito tempo depois. O meu sogro uma vez teve um
infarto e achou que iria morrer, então revelou tudo a ele. Mas acabou
sobrevivendo e ficando com a mágoa até hoje.
— Então... a Érica se vingou da pessoa errada — raciocino.
— Não, por obra do destino ela acabou se vingando mesmo foi
da pessoa certa. Érica queria que seu malfeitor tivesse a dor que ela
teve de perder um filho e conseguiu. Fiz questão de contar ao seu
Nogueira de quem era a culpa pela morte do Cláudio, seu filho, e fiz
isso não por maldade, mas porque era o certo a se fazer. Ninguém
pode mandar tirar a vida de ninguém. Por mais que aquela psicopata
tenha feito maldades comigo, com o Apolo e com quem seja, não
poderia deixar de falar ao real culpado a sua culpa.
— Concordo plenamente contigo — afirmo.
— Bem, obrigada por tudo, Victor, eu fico feliz em saber que
você não participou disso, e bote juízo na cabeça do Apolo. Diga a
ele que agradeço por ter nos ajudado lá na hora do sufoco, com o
Rafael. Agora entendo, sei que ele também foi enganado e usado.
Enfim — Aline respira fundo e segue rumo ao sogro que sofre
incessantemente. É algo muito triste de ser ver, muito triste.
Que tragédia.
Não posso sair daqui sem ver a Tati. Desço do carro, olho em
volta e procuro por minha namorada. A encontro perto de um outro
carro, chorando, devastada. Assobio para ela e recebo seu lindo
sorriso quando me vê. A chamo, ela olha ao redor, seus parentes
estão distraídos, conversando, e então corre para mim. A pego pela
mão e corro com ela até um ipê de folhas amarelas, pisando sobre
várias delas no chão, uma beleza tão imensa contra um momento
tão trágico, e me escondo com ela atrás do tronco, a abraçando
desesperadamente.
Nós choramos, aflitos, extravasando todos os sentimentos,
todas as feridas e emoções que cercam o nosso triste destino. E
então a beijo com pressa e ela me corresponde na mesma
intensidade, em sofreguidão.
— Eu te amo, eu te amo — repito em seu ouvido.
— Eu também te amo... achei que você não vinha... estava
sentindo muito a sua falta... o meu pai morreu.
— Eu sei — digo, me sentindo culpado, e ela nem imagina o
quanto.
— A minha mãe tomou o meu celular... ela me proibiu de te ver...
e eu não sei por que, ela não me diz.
Não sei o que falar, fico sem palavras, não sou capaz de soltar
mais uma bomba para ela nesse momento tão frágil. Se Tati souber
da verdade, me odiará para sempre.
— E ela disse que vamos embora de Teresina...
— Embora? Pra onde? — pergunto, temeroso.
— Eu ainda não sei, é segredo, pelo jeito só saberei quando
chegarmos. O que faremos? Não quero ficar longe de você, Apolo —
ela está amedrontada, e penso no que fazer.
— Olha, meu pai também não quer a gente junto...
— Mas por quê?! — ela indaga, agoniada, sem entender.
— Porque eu errei demais... fiz merda demais.
— Do que está falando?
— É difícil explicar agora. Mas... olha só, vamos combinar uma
coisa. Vai com a sua mãe pra onde ela quiser...
— Não...
— Depois dá um jeito de me ligar e dizer onde está, que vou
atrás de você.
— E se ela me levar para fora do país?
— Não importa. Eu vou atrás de você, seja onde for, haja o que
houver — afirmo, lhe beijando.
— Promete?
— Prometo — nos abraçamos novamente, com medo de sermos
vistos. — Promete que vai me ligar?
— Prometo.
— Agora volta... volta para sua família antes que nos vejam —
digo, e quase não conseguimos nos desgrudar. Meu coração se
parte quando a mão dela larga a minha, e nosso toque se desfaz,
lento e arrasador.
Agora, sozinho, tento me recompor, e enxugo as lágrimas o
máximo que posso, depois volto para o BMW, encontrando meu pai à
minha espera.
— Fui me despedir dela — até que não é mentira. Victor não diz
nada. Nós entramos no carro e vamos embora.
Estou no banheiro, sentada no vaso sanitário, pensando e
pensando em como vou informar a minha decisão para Henrique.
Nosso casamento já está marcado para o mês que vem porque
mamãe simplesmente se apressou e logo foi à igreja, acho que deve
até ter comprado o padre para conseguir uma data tão em cima da
hora. Ela e o Henrique estão superanimados com tudo.
Já pensei bastante e cancelar o casamento é a melhor opção.
Não vou voltar para Victor após isso, até porque não há mais
chances disso acontecer e não se trata do Victor, mas sim do meu
sentimento por ele que pode atrapalhar no relacionamento conjugal
com Henrique. Não serei sincera casando com um homem e
gostando de outro. Por um lado, fico triste porque estou abdicando
de me dar uma nova chance, mas será muito pior depois se o
casamento acontecer, tenho certeza disso. Foi um erro ter aceitado o
pedido de Henrique, não posso assumir um compromisso tão sério
até ter certeza dos meus sentimentos por ele.
— Amor? Laura? — ouço a sua voz.
— Oi — respondo, voltando para o quarto, uso um hobby preto,
e meu cabelo está preso em um rabo de cavalo simples.
— Olha o que chegou — Henrique está animado, o encontro
sentado na cama sorridente, abrindo um pacote. Ele me puxa pela
mão, me fazendo sentar em sua frente.
— Senta aqui, olha só... — ele retira os nossos convites de
casamento do pacote, encantado, e me mostra — Olha como ficaram
lindos — me entrega um e olha os outros.
— Sim, ficaram lindos — digo, um pouco desanimada e triste.
— Eu gostei muito, mas se quiser fazer alguma alteração... —
ele para de falar, reparando o meu semblante. — Você não gostou?
O observo por alguns segundos, tomando coragem para falar.
— Eu gostei — digo, sem graça, e ele volta a sorrir, acariciando
o meu rosto.
— Você está realizando um sonho meu, sabia? Sempre quis
casar, formar família e contigo estou tendo essa oportunidade — sou
beijada, mas não sei se consigo correspondê-lo na mesma
intensidade. É o sonho dele, como destruir um sonho? Isso fica
martelando na minha cabeça. — Está triste?
— É que...
Tin don!
— Quem será? Vu atender — Henrique sai do quarto, e miro o
convite novamente, cabisbaixa. Sinto que ele me ama de verdade.
Será mesmo que não devo embarcar nessa aventura e ver o que vai
acontecer? Será que não sou capaz de amá-lo da mesma forma
algum dia?
“Sabe que aquele cara não serve pra você, né?”
As palavras de Victor vêm a minha cabeça. Henrique retorna
com mamãe. O que ela está fazendo aqui?
— Mamãe?
— Oi minha filha, tudo bem? — levanto para abraçá-la, nós
trocamos beijinhos.
— O que a senhora está fazendo aqui hoje?
— Como assim o que eu estou fazendo aqui, Laura? Se
esqueceu? Hoje é o dia de experimentar o seu vestido de
casamento, mês que vem já está bem aí, filha.
Nossa, fiquei tão atormentada com os meus pensamentos que
não lembrei mesmo disso.
— Não acredito que meu amor se esqueceu do seu vestido de
casamento — brinca Henrique — Que noiva mais desengonçada é
essa?
— Ah... era hoje? Meu Deus, esqueci completamente...
— A tentativa de assalto com o meu neto deve ter afetado a
memória dela — comenta mamãe.
— É, foi isso — confirmo.
Não dá para conversar com Henrique com mamãe aqui, pois
serão duas bombas que terei que enfrentar. Ainda não tomei a noção
de que se trata de um casamento, uma festa com milhares de coisas
para resolver e o vestido de noiva é uma delas. Como já conheço a
mãe que tenho, é melhor me livrar dela primeiro, e depois falar com
Henrique a sós e de forma mais calma.
Assim, ponho uma roupa, entro no carro dela com o motorista, e
seguimos para o ateliê de uma amiga nossa, renomada em fazer
belíssimos e caros vestidos de noiva. Estamos sentadas na parte de
trás do automóvel, e chega um momento da viagem em que me
incomodo com o celular dela que não para de chamar dentro da sua
bolsa de lado.
— Mamãe, será que dá para a senhora atender esse celular?
Não para de tocar um segundo! — reclamo
— Não quero atender, Laura — diz ela — Deixa tocar.
— Deixa eu pôr no silencioso então.
— Não — responde, seca como sempre, olhando pela janela.
— Quem está ligando?
— Deve ser uma das minhas amigas irritantes, que acham que
tenho ouvido alugado para ficar o dia inteiro batendo papo com elas.
Não dê atenção a isso, pense no seu vestido que já está pronto e
deve estar um luxo.
Reviro os olhos e cruzo os braços.
Chegamos ao ateliê, e agora me encontro em cima de um
tablado, no centro de uma das salas, enquanto a minha estilista
verifica todos os pontos do maravilhoso vestido que estou usando.
Ele tem uma calda enorme, maravilhosa, fácil de retirar. O tecido é
lindo e da melhor qualidade, o branco intenso toma todo o meu
corpo, além de ser caríssimo e desenhado especialmente para mim.
Vejo minha mãe saindo da sala, finalmente atendendo o celular.
Por algum motivo fico desconfiada, há dias que percebo que alguém
a incomoda por telefone, mas ela não quer dizer quem é. Tenho um
impulso, preciso descobrir!
— Querida, aonde vai? — pergunta a estilista quando me vê
saindo pela porta.
— Eu volto já — falo, sem olhar para trás.
Procuro por dona Leonor, e a vejo entrar no banheiro, já na
ligação:
— Eu não vou te dar mais dinheiro! — retruca, há raiva em sua
voz. — Para! Chega! Já basta! Você acha que meu dinheiro vem do
lixo? ... Não... pare de me ameaçar! ... Vai fazer o quê? Contar para
a minha filha? Nunca! ... Quanto quer para sumir de vez da face da
Terra, hein? E agora para sempre! ... Hoje? Mas agora não po...
Aonde é isso? ... O.K.
A ligação encerra e volto correndo para o lugar de antes, mais
desconfiada do que nunca. O que será que mamãe está
escondendo? Quem está a ameaçando? E principalmente, o que não
pode ser contado a mim?
— Oh, minha filha, eu... vou precisar sair, mas volto logo — diz
ela, vindo até mim.
— Sair para onde, mamãe? — indago.
— É que seu pai ligou e pediu para eu resolver uma coisa no
banco imediatamente, e vou precisar correr, mas vai ser rapidinho!
Volto já, me espere, tudo bem?
— Tudo bem, mas não demore — faço a atriz.
Dona Leonor me dar um beijo e vai embora. Aproveito que a
estilista está distraída e fujo, pois não posso perder mamãe de vista.
Saio da loja chique e vejo-a entrar em seu carro e ir. Miro um táxi
estacionado e corro em sua direção.
— Senhorita, aonde vai? — me indaga uma atendente, se
aproximando e me olhando como se eu fosse uma ladra. — Não
pode sair com o vestido.
— Minha filha, a dona da loja me conhece desde criança, agora
me dá licença, é caso de urgência, devolverei esta merda depois! —
sou grossa, deixando a mulher embasbacada, e entro no carro com
dificuldade, puxando a barra do vestido.
— Opa! — exclama o taxista, se assustando com a minha
chegada, parece que estava dormindo.
— Rápido moço, siga aquele carro! — digo, apreensiva, vendo o
carro de mamãe parado no sinal.
— Seguir um carro? Meu Deus, eu sempre quis ouvir isso! —
declara o homem, empolgado. — É pra já, madame. — ele dá a
partida, e seguimos mamãe até o banco.
— Estaciona perto, moço, mas em um lugar que a gente não
possa ser visto — instruo.
— Tudo bem — responde ele, atento, como se fosse o próprio
007, e faz o que digo. — Me desculpe perguntar, mas a senhora está
fugindo de um casamento, é?
Olho seriamente para a cara dele.
— É melhor o senhor não saber, moço.
— Senão eu vou morrer?
— É sério isso?
— A senhora é da máfia? — indaga, aos sussurros, como se
fosse um grande segredo.
Dou uma tapa na testa, incrédula com esse homem.
— Moço pelo amor de Deus, preste atenção naquele carro, é só
isso que lhe peço — digo, sem paciência.
— Confirmado — diz ele, e volta a ficar atento como um cão de
guarda. De onde ele veio?
Meia hora depois, minha mãe sai do banco acompanhada por
dois seguranças, carregando sua bolsa de lado que parece mais
cheia, e entra no carro! Que mistério! Será que tem alguma coisa a
ver com Lorrana? Não ficarei em paz enquanto não souber do que se
trata.
Seguimos ela até uma praça, no centro. O lugar é bem
arborizado e ladrilhado, grande. Em uma das pontas há uma escola,
mas nesse momento até que tudo está bem tranquilo, não há quase
ninguém aqui. O taxista novamente estaciona em um local
estratégico.
Dona Leonor desce do carro, ainda carregando a bolsa na mão,
e entra na praça, se encontrando com uma pessoa de capuz que já a
espera. Mas quem será? Desço do automóvel.
— Moço, me espere aqui, tudo bem?
— Confirmado — responde o motorista.
Caminho com dificuldade devido ao vestido e aos saltos não
ajudarem. Escondo-me atrás de uma árvore, tomando cuidado para
não ser vista. A pessoa com quem mamãe conversa retira o capuz.
Semicerro os olhos para enxergar seu rosto e então reconheço a
mulher! E é como se um buraco negro abrisse sob minhas pernas
com esse impacto, as batidas do meu coração aceleram, parece até
que me falta ar por alguns instantes. É a vagabunda que aparece
nas fotos transando com o Victor!
Não tem como esquecer o seu rosto, é ela! É ela! Mas o que a
minha mãe faz aqui com essa mulher? Penso em uma coisa terrível,
não pode ser verdade! Dona Leonor retira um pacote da bolsa e
entrega à cachorra, e meu mundo começa a desabar. Só há uma
coisa que essa mulher pode me falar: sobre as fotos que recebi dela
com o meu marido!
Fico alucinada, de olhos arregalados, sendo invadida por
milhares de lembranças do dia em que me separei de Victor, e
caminho em direção às duas como um furacão. Preciso tirar isso a
limpo!
— Filha?! — minha mãe fica pálida e boquiaberta ao me ver.
Avanço na vagabunda, a segurando pelos braços, deixando-a
de frente para mim e constato que realmente é ela. Estou chocada!
— Você! — digo, minha voz sai fraca, estou embasbacada!
ERICK

“— Eu sou o Erick, gata”

Acho que ficarei louca até processar essa situação.


— Saia daqui! — ordena mamãe à vagabunda, que se
desvencilha de mim e passa a caminhar depressa, com o pacote de
dinheiro nas mãos.
— NÃO! — exclamo, me dando conta de que não poso perdê-la
de vista.
E como uma maluca, puxo o vestido pesado para cima, para
poder me locomover melhor, e corro atrás dela tomada por um ódio
descomunal, parece até que estou vendo tudo vermelho. Agarro a
blusa dela pelas costas, caindo sobre a safada e nós duas vamos ao
chão! O pacote escorrega para longe.
— LAURA! — grita mamãe, mas não lhe dou ouvidos.
— Ai, ai, ai, me solta! — diz a mulher enquanto a seguro pelos
cabelos e monto em cima dela com violência.
— FOI ARMAÇÃO? HEIN? — esbravejo, possuída, empurrando
seu rosto contra o chão — Por que está recebendo dinheiro da
minha mãe, hein cachorra?! Você armou com ela para me separar do
meu marido, foi isso? Foi paga? — ela grita de dor. — FALA!
— Laura por favor larga ela, vamos embora! — implora mamãe,
ao nosso lado.
— O QUE ELA ESTÁ FAZENDO COM A SENHORA AQUI?! —
vocifero, enraivecida, transtornada.
— Nada! Nada! — mente mamãe, nervosa.
— Ah, nada?! Nada é? Por que a minha mãe está te dando
dinheiro?! ME FALA! — dou dois tapas seguros na cara de
vagabunda, deixando sua face avermelhada.
— AAAH — ela grita enquanto puxo seu cabelo com toda a
minha força, parecendo um animal
— Fala! — rosno, feito uma onça.
— Foi armação! — ela revela, sofrendo com a minha raiva.
Minhas mãos fraquejam, solto o seu cabelo, estarrecida.
— A sua mãe me pagou... para dar um boa noite cinderela nele
— diz a mulher, ofegante.
Olho para a minha mãe, ofegante, decepcionada. Ela está
boquiaberta, sem saber o que dizer.
— É mentira dela, filha... é mentira — afirma, cínica.
— Por favor... sai de cima de mim... — grunhe a vagabunda.
— Vagabunda! — xingo, lhe dando mais bofetadas, fazendo-a
gritar, e antes que termine a surra, sou retirada de cima dela por um
homem que aparece do nada.
— Saia de cima da moça, calma!
— Me solta! Me Solta! — grito, com raiva, enlouquecida. Olho
em volta e noto que chamei a atenção de uma galera que nos
observa.
A cachorra levanta do chão e caminha até o pacote de dinheiro,
me deixando irada mais uma vez. Ela não vai mais ganhar com isso!
Me desvencilho do homem e corro em direção à bandida, agarrando
o embrulho de um lado e ela segurando do outro. Passamos a medir
forças.
— Me dá isso, você não vai ganhar mais dinheiro com isso, sua
rapariga desgraçada!
— Não... — ela geme, agoniada, lutando pela grana.
— Laura pelo amor de Deus! — minha mãe está assustada.
Tomo o pacote da mulher.
— Quer dinheiro para acabar com a vida das pessoas, é? Quer?
Eu vou te dar!
O vento sopra forte, rasgo o embrulho com a força das minhas
unhas e jogo todo o dinheiro para o alto, deixando as notas de cem
voarem pelos ares, criando um tumulto à minha volta. Há cerca de
quinze pessoas se embananando para pegar o máximo de notas
possíveis
— Laura pare com isso, minha filha!
Simplesmente perdi toda a compostura, estou transtornada com
essa situação, e lanço todo o dinheiro ao vento mesmo, para que
essa vaca e a minha mãe aprendam uma lição!
— Não, esse dinheiro é meu, me devolvam! — grita a safada,
tentando evitar que o pessoal pegue as notas. Ela é desprezível
mesmo, não presta.
Quando acaba, me afasto de todos e não consigo mais segurar
o pranto que vem com tudo, me fazendo soluçar, as lágrimas não
param de descer. Gemo de dor, uma dor da alma que me toma com
força.
— Laura, minha filha, é mentira dela, ela é uma mentirosa —
mamãe insiste em querer me fazer de trouxa
— CHEGA! — vocifero, olhando para ela, chorando. — Para de
mentir pra mim! Você acabou com a minha família — abaixo a
cabeça, sofrendo muito.
— Eu acabei com a sua família? — ela tenta me tocar.
— Não encosta em mim!
— Eu salvei a nossa família! Salvei daquele infeliz, do
desgraçado do Victor! Desde que ele chegou em nossas vidas
acabou com tudo! Com tudo que tínhamos! Com todos os meus
sonhos em relação às minhas filhas! Fiz o que fiz em nome da nossa
família, da moral e dos bons costumes!
— A senhora é uma louca, é completamente maluca! Meu
Deus... como pôde pagar uma pessoa para dopar o meu marido e
acabar com a minha vida, com a minha família.
— ELE NÃO É. MAIS. O SEU MARIDO! — grita ela,
pausadamente, furiosa. — O seu marido agora é o Henrique, será,
se Deus quiser...
— A senhora só pode estar pirando se ainda acha que vou me
casar com ele depois disso — digo, incrédula, rindo sem humor.
— E vai fazer o quê? Vai voltar para aquele negro desgraçado?
— MAS EU AMO ELE! — esbravejo. — Eu amo o Victor, e nem
a senhora nem ninguém pode mudar isso!
Minha mãe não sabe o que dizer e chora de ódio. Dou as costas
a ela e continuo seguindo o meu caminho.
— Mas ele não te ama mais! — ela insiste, me seguindo. — Ele
está com outra, lembra? Não tem mais como vocês dois...
— Saia da minha vida! — digo a ela, entredentes, com ódio,
segurando forte em seus braços e a empurrando para longe de mim
— Me deixa em paz! Finge que não me conhece, que não sou sua
filha! Me esquece!
— Ingrata... — geme às minhas costas, em pranto. Como é
hipócrita, ainda tem coragem de me dizer isso.
Entro no táxi destroçada, acabada, infeliz, chorando muito. O
motorista se preocupa.
— Moça pelo amor de Deus, o que aconteceu? — pergunta,
assustado.
— Por favor moço, me tira daqui rápido, por favor — imploro, no
banco de trás, soluçando em pranto.
— Tá bom — ele se apressa e saímos.
Choro feito criança, lembrando de um milhão de coisas. Essa
história de boa noite cinderela sempre foi fantasiosa demais para
mim, nunca quis acreditar nisso, as fotos estavam ali, tão reais. Mas
a verdade é que Victor sempre foi fiel, ele estava dopado! Dopado!
Foi tudo mentira! Que burra eu sou, burra! Tenho vontade de me
matar agora, de me estrangular de raiva de mim mesma.
Nunca imaginei que a minha própria mãe seria capaz de uma
atrocidade dessas. Ela sempre deixou claro que nunca concordou
com o meu relacionamento com o Victor, sempre o julgou, mas até aí
não imaginava que seria capaz de armar para me separar dele, após
todos os anos em que estivemos juntos. Isso não faz sentido!
“— Já parou para pensar que essa suposta traição do meu pai
foi uma farsa?”
Lembro das palavras do meu filho e sofro. As memórias de tudo
que vivi com Victor invadem a minha mente. Tanto amor, uma relação
de anos jogada no lixo por uma tramoia! E caí como uma pata!
Deixei me levar pela crise no casamento, pelas demais noites em
que Victor chegou bêbado. Houve falta de confiança da minha parte,
e no fim foi tudo culpa minha!
“— Ele ainda te ama e eu sei que a senhora o ama também”
— Victor ainda me ama — penso alto, choramingando.
— Moça por favor, para onde vamos? — Pergunta o taxista,
preocupado.
— Eu sei para onde vamos — digo a ele, enxugando as lágrimas
com as costas das mãos.

Entro na minha sala, na Alcateia, ainda é cedo, no relógio marca


16h, só estou eu e alguns poucos funcionários no prédio. Acabei de
resolver o que Aline me pediu, então ligo par ela:
— Alô, Aline? Deu tudo certo, eu deixei a encomenda aonde
você pediu — falo.
— Obrigada Victor, obrigada mesmo — ela agradece.
— Boa sorte para você e sua família.
— Desejo o mesmo a você e ao Apolo.
Encerro a ligação, sento à mesa e começo a folhear alguns
documentos importantes. Sou interrompido quando o celular chama
novamente, é Leda me ligando. Atendo:
— Oi.
— Victor, aonde você está? Preciso te explicar o que aconteceu
— a voz dela está frágil, parece que acabou de chorar.
— Na Alcateia, você está bem? — pergunto, preocupado.
— Só estarei quando conversar contigo pessoalmente.
— Quer que eu vá aí?
— Não, estou a caminho da Alcateia, me aguarda.
— Tudo bem, te espero.
Volto a analisar os papéis, e após alguns minutos, sou
surpreendido ao ver Laura, toda vestida de noiva, um pouco
descabelada, de olhos chorosos e maquiagem borrada irromper pela
porta.
— Laura? — indago, embasbacado, levantando e saindo de trás
da mesa. — O que... — antes que eu termine de falar, a loira corre
até mim e me abraça muito forte, soluçando em pranto. Por alguns
segundos fico imóvel, sem entender o que está acontecendo, e
lentamente a correspondo, a abraçando de volta. — Calma, o que
foi?
— Eu... descobri tudo... foi a minha mãe, Victor... ela pagou
aquela vagabunda para te dopar... para separar a gente! — revela,
se derretendo em lágrimas. Fico boquiaberto, eu sabia! Sempre
desconfiei daquela velha, mas ainda assim, não posso acreditar!
Tento assimilar que Laura está aqui, agora, me abraçando, que
descobriu toda a verdade.
— Laura...
— Ela acabou com a nossa vida... com o nosso casamento! —
choraminga, com raiva.
— Como descobriu isso?
— Eu vi... ela entregando dinheiro para aquela piranha, minha
mãe estava sendo ameaçada por ela até hoje, que dizia que ia me
contar tudo senão recebesse dinheiro. Eu peguei as duas... no flagra
— Laura está devastada, me deixando chocado.
— Tudo bem, tudo bem, se acalme, pare de chorar. Está tudo
bem — digo, a consolando, acariciando o seu rosto.
Que situação! O mais contraditório é que sonhei muito com este
momento e agora não sei o que fazer e o que dizer. Não jogarei nada
na cara da gostosa chique, jamais! Ela, assim como eu, também foi
enganada, mas não quis me escutar.
— Eu vou pegar água para você — digo.
Minutos depois, estamos sentados no sofá. Laura bebe a água
que lhe dei, e tenta ficar um pouco mais calma. Seus olhos estão
vermelhos do pranto. Ela respira fundo, me olhando, e me pergunto
o que exatamente veio fazer aqui. Veio pedir desculpas?
— Eu fui enganada todo este tempo... nunca imaginei que ela
seria capaz disso e não entendo por que fez essa merda depois de
tantos anos em que estivemos juntos... eu só pensava no que vi
naquelas fotos...
— Já passou Laura, não remoa isso dentro de você, vai te fazer
se sentir mal.
— Não tenho como não remoer, fui burra! Fui idiota, caí em uma
armadilha... Não quis te dar ouvidos — ela enxuga mais uma
lágrima. — Eu destruí a nossa família...
— Não, não diga isso — a corrijo. — Não foi você quem fez isso,
foi a sua mãe.
— Mas sou culpada também, devia ter investigado mais... e
agora você não vai mais me perdoar — ela volta ao pranto, e tenho
pena dela.
Seguro-a pelo queixo.
— Não chore... eu já te perdoei, te perdoei há muito tempo,
Laura. Sei que não teve culpa e que a prova contra mim era forte
demais, inegável — falo, com toda a sinceridade.
— Você me perdoa, então?
— Já disse que te perdoei, só não te avisei antes — sorrio para
ela que me corresponde com um sorriso triste.
— Desculpa... estou... fiquei tão nervosa com a cena que vi, tão
transtornada.
— Tudo bem. Mas e esse vestido de noiva?
— Estava experimentando... — ela coloca o copo sobre o
criado-mudo — experimentando para o meu casamento, foi na hora
em que a minha mãe saiu para se encontrar com aquela vagabunda.
Desconfiei e a segui.
— Minha nossa. Leonor é pior do que imaginei, mas sempre
desconfiei dela.
— E pensar que eu estava cogitando me casar... sem amor —
confessa, me fazendo erguer as sobrancelhas
— Você não ama Henrique? — pergunto, curioso.
Laura balança a cabeça negativamente;
— Eu amo você — ela se declara, e meu coração se derrete. Há
quanto tempo não escuto isso dela?
A loira toca o meu rosto, me acariciando, me olhando com
ternura, e para a minha surpresa, ela me beija. Nossos lábios se
encontram suavemente, e meus olhos, diferentemente dos dela,
permanecem abertos por alguns segundos, surpresos com esse
acontecimento que eu sinceramente não esperava.
Mas não consigo resistir ao seu toque, à sua carência, a essa
mulher com quem vivi quinze anos da minha vida. Fecho os olhos e
me entrego a ela, a correspondendo, movendo meus lábios carnudos
e sendo arrebatado por milhares de sentimentos, muitos deles
antigos, que ficaram para trás com o tempo.
Volto a sentir o sabor da loira, da sua carne, o seu gosto bom, e
ao mesmo tempo uma linha de sofrimento quanto a dissolução da
nossa família. Me vêm lembranças do nosso filho, do fruto do nosso
amor, aquele amor que ficou para trás. O meu peito arde enquanto
os nossos lábios se misturam cada vez mais e se tornam um só.
Nossas línguas se enroscam como se tivessem refazendo um laço
desesperado para ser refeito.
É um toque lento e sublime, impactante, emocionante, forte. A
minha mão parece tomar vida própria e vagarosamente segura o
rosto da loira contra o meu, aos poucos perdemos o ar, se
envolvendo...
— Victor — ouço a voz de outra pessoa. Leda está parada na
porta, sem chão.
Pareço acordar de um sonho e em seguida sou diretamente
levado a um pesadelo. Lágrimas silenciosas descem pela face da
ruiva e sou arrebatado com mais uma onda de sentimentos, agora
controversos, se misturando aos que eu sentia a pouco pela loira.
Droga!
— Leda... — falo, levantando.
Ela abaixa a cabeça, arrasada, e dá as costas, saindo correndo.
— Leda! — exclamo, caminhando depressa atrás dela.
A ruiva corre até o elevador e novamente as portas se fecham
antes que eu consiga alcançá-la.
— Leda! — grito, mas é inútil.
Meu Deus, que confusão! Olho para trás e lá está Laura, na
porta da minha sala, também arrasada. Caminho até ela.
— Me desculpa Victor, a culpa foi minha...
— Não, eu também quis te beijar, Laura — revelo. — Mas
preciso te dizer uma coisa: eu não te culpo por nada quanto a nossa
separação, nada mesmo. No início fiquei com raiva por receber uma
culpa injusta, mas depois de um tempo, pensando bastante e me
colocando em seu lugar, cheguei à conclusão de que não sei se faria
diferente de você, pois também jamais aceitaria ser traído, e as
provas eram fortes demais. E por isso te perdoei. Só que... passou
muito tempo... e eu não sei mais o que sinto por você... não sei mais
se te amo com a mesma... intensidade de antes. E tem a Leda, eu
gosto dela.
A loira abaixa a cabeça, balançando positivamente, aceitando
cada palavra minha, compreendendo e sofrendo, deixando as
lágrimas caírem. Deve estar sendo muito duro para ela ouvir isso,
mas é tudo verdade. Estou uma confusão por dentro, gosto dela e
gosto da Leda, mas Leda é a atual no momento. Não posso
simplesmente largar tudo, engolir tudo o que aconteceu entre eu e
Laura como se não fosse nada, e voltar para ela de braços abertos,
como num filme de romance da sessão da tarde ou numa novela
ruim e melosa das 9h. Isso aqui é a realidade, mundo real.
— Espero que você também entenda que sou humano, tenho
sentimentos, tenho orgulho, você sabe. E apesar de ter te perdoado,
fui muito machucado, e as minhas feridas não saram tão rápido
assim.
— Eu entendo — a voz dela sai sufocada, embargada.
A abraço forte por alguns instantes e em seguida a deixo
sozinha. Desço pelo elevador, pego meu carro e vou atrás da ruiva.
Ligo várias vezes, mas não sou atendido, e depois o celular dela
para de chamar, não consigo fazer mais chamadas.
Durante a viagem até a casa da Leda, milhares de pensamentos
transbordam na minha mente. Penso na loira, penso na ruiva, as
duas na minha cabeça, em momentos diferentes, sorrindo, me
beijando, transando comigo, se divertindo, me encantando, me
fazendo rir também. Tantos momentos com ambas. Uma dúvida cruel
se abate sobre meu peito, mas no momento estou me deixando guiar
por meu instinto, e ele me diz para ir atrás da ruiva.
A vida é uma loucura, quantas reviravoltas. O que é certo? O
que é errado? Não sei a resposta, não agora, não nesse momento.
Ao me aproximar da casa da minha namorada, tomo um susto.
Há vizinhos observando, carros da polícia, uma ambulância, os
paramédicos saem da casa dela com um corpo na maca. Puta que
pariu! Paro o carro de uma vez, de qualquer jeito, e caminho
depressa, me desesperando.
Chego até a mulher na maca e vejo o corpo ensanguentado de
Guilhermina, ela levou dois tiros no peito, está morta! Fico chocado!
— O que aconteceu aqui? — pergunto a um policial, ainda
assustado.
— Um homicídio, a suspeita está foragida — ele responde
— A suspeita? — indago.
— A suspeita é uma ruiva, se chama Leda, aparenta ter vinte e
cinco anos, os vizinhos a viram fugir.
— Ela jamais faria isso — afirmo.
— O senhor a conhece?
— Sim, sou o namorado dela.
— Por favor, queira me acompanhar à delegacia para nos
informar tudo o que sabe, seu depoimento será importante para o
inquérito.
— Tudo bem, eu vou — afirmo, preocupado.

É incrível como em poucos dias aconteceram tantas coisas, uma


seguida da outra: meu jantar horrível na casa da Tati, o velório do
Cláudio, o término da minha mãe com Henrique, e Leda que está
foragida acusada de homicídio. Henrique foi embora do país
novamente, e quando conversei com a minha mãe, ela disse que
descobriu que meu pai nunca a traiu de verdade e que não podia
casar com outro amando ele, e que agora fará de tudo para ter o
amor de Victor novamente. Perguntei a ela como descobriu a
verdade, mas não quis me falar.
Quanto à namorada do meu pai, sumiu do mapa, a polícia não a
encontra há duas semanas, e ela também não entrou em contato
com ele. Victor está tentando ajudar a polícia a esclarecer os
mistérios quanto ao homicídio cometido e acredita piamente que
Leda não tem nada a ver com isso.
A única notícia boa durante esse tempo que se passou, é que os
amigos do Victor resolveram ficar com o Olavo. Meu pai conversou
com o casal e orientou até um advogado para eles adotarem o
garoto nos termos legais.
Agora só consigo lembrar da Tati, a minha namorada, da
promessa que fiz a ela. Nunca mais recebi uma ligação ou
mensagem sua, já deve ter ido embora de Teresina. Olho o celular e
vejo uma foto de nós dois juntos, sinto saudade. Está chovendo lá
fora, o mundo parece mais triste com tantos acontecimentos ruins.
Miro o teto pensando em tudo que vivi nos últimos meses, e sou
invadido pela dor e sofrimento. Ponho os fones de ouvido e ouço
Sonhador, da banda Scalene, cujos versos definem exatamente o
que estou sentindo agora.
Sem saber o que vai acontecer
Sinto o meu peito arder
Será triste o nosso fim?
...

Luís Correia, litoral do Piauí, Brasil.


Praia do Coqueiro.
Algas Resort Hotel.

Mais uma vez falo com o meu pai, Rivaldo, por vídeo-chamada
no notebook, meu querido pai... ah que saudade! Estou no meu
quarto, e como sempre, de janelas e portas fechadas, para não
correr o risco dele ver ou ouvir alguma coisa pela câmera. É triste
essa situação que se estende há anos, eu sei, mas é melhor assim.
Depois de tudo o que descobri e passei naquela família, o
afastamento foi a minha única opção.
— Eu te amo, papai, tenho que desligar agora, ‘tá bom? — me
despeço, a despedida sempre dói.
— ‘Tá bom, também amo você minha linda filha. Volte logo para
casa, por favor — ele pede, com os olhos brilhando, me comovendo,
e dessa vez o próprio desfaz a chamada.
Levanto, respirando fundo e enxugo as lágrimas. Abro a porta e
desço a escada para o térreo da minha linda casa com decoração
praiana. Saio, e em pouco tempo estou andando pelo meu belíssimo
Resort, de uma simplicidade sofisticada. Há verde por toda parte,
coqueiros se misturam a incríveis jardins, um charme apaixonante.
Escuto o som do mar ao longe, o sol dessa tarde está deslumbrante
como sempre, ele daqui a pouco irá se pôr e o clima quente começa
a esfriar.
Passo por alguns hóspedes, os cumprimento, sempre sorrindo.
Uso um vestido amarelo, com estampa floral, e calço rasteirinhas.
Chego ao grande e espaçoso restaurante, o relógio marca
quase 17h, todos os funcionários se apressam para terminar de
aprontar o jantar cujo cheiro cerca todo o ambiente. Garçons servem
alguns clientes, há uma banda passando o som, o vocalista canta O
Sol, de Vitor Kley, adoro essa canção, é a cara do meu filho.
— Maria, onde está o meu filho? Você o viu? — pergunto, a uma
mulher que veste o uniforme do hotel.
— Acho que ele ainda deve estar no kitesurf com a galera dele.
Esses meninos são muito bagunceiros, eu tô para não aguentar
mais, viu! — ela reclama, me fazendo sorrir.
Maria é um anjo na minha vida, a segunda mãe do meu rapaz e
minha também, e eu a amo. Ela é a chefe de cozinha do resort.
— Ele não larga aquele troço, eu vou lá — digo.
— E olha Hellen, ele está bebendo viu, de novo! — denuncia
Maria.
— Vou arrancar as orelhas dele, então! — afirmo, me afastando,
já perdendo a minha paz.
Sigo para a praia, o vento sopra, esvoaçando o meu cabelo e
vestido. Logo chego ao lounge, que fica de frente para o mar. Passo
pelas barracas guarda-sóis e vejo uma mesa que representa a
verdadeira farra do meu filho com os amigos. Há três ossadas de
peixe e várias garrafinhas de cerveja long neck secas. Vou matar
esse garoto! Esse menino vai me deixar louca!
Saio do piso de madeira escura para a areia branca da praia, e
caminho até a turminha de jovens que está perto das ondas, quatro
meninos e cinco meninas, os amigos do meu filho mais as abestadas
de costume que sempre caem no papo dele. Ou menino para ter
papo, lábia, principalmente com as mulheres, é igual ao pai, só me
lembra o pai todos os dias.
— Cadê o Erick? — pergunto a eles, pisando em algumas algas
pelo chão.
Cada rapaz está abraçado a uma menina, somente Elizeu, o
gordinho, que não. Sobram duas que atentamente miram o meu
rapagão lá no mar.
— Ora, no mar, como sempre, né tia Hellen! — afirma Ramon,
com a voz embriagada.
Então olho para esse mundo maravilhoso de águas verdes e
vejo Erick, fazendo uma das coisas que ele mais ama na vida,
praticando o kitesurf. Fico tensa ao vê-lo realizando manobras e
saltos nas ondas.
— ERICK! SAI DAÍ, VEM PRA CÁ! — grito, como se tivesse
alguma chance dele me ouvir.
— Ele não vai ouvir a senhora, tia — Thiago ri, embriagado.
— Tia é a sua mãe! Já disse que não quero ver vocês
bebendo?! Todos são menores de idade, vou matá-los! — reclamo.
— E ainda deixam o Erick ir fazer essa merda bêbado.
— Pra ele não tem tempo ruim, não, tia, a senhora sabe — diz
Filipe, e em seguida beija a garota com a qual está abraçado.
Esses adolescentes! Tudo farinha do mesmo saco!
— Vão lá agora e tragam ele aqui, já chega! — ordeno.
Ramon e Elizeu correm até o mar e ajudam meu filho a sair da
prancha, da pipa e de todo o resto do equipamento, e juntos os três
trazem tudo. Lá vem ele, Erick, um garanhão negro, molhado,
musculoso, tatuado, de olhos verdes, cabelo baixo, lábios carnudos,
sorriso largo e lindo como o do pai, como lembra o Victor. Nem
parece que irá completar dezessete anos, pois seu físico
amadurecido prematuramente aparenta um corpo de vinte.
Pela felicidade no rosto dele, só me faz constatar que está
mesmo bêbado, os olhos rosados da cerveja. Irresponsável!
— Eu já te falei pra tu não inventar de ir pro mar bêbado, Erick!
Como você teima, rapaz! — reclamo, enquanto ele mostra a língua e
balança a cabeça, sorrindo, brincalhão como sempre, abrindo os
braços e me erguendo em um abraço molhado. Ele é bem maior e
mais forte que eu.
— Mãe, quantas vezes vou te dizer que gosto de viver?! Eu
gosto da vida, do perigo, da adrenalina desse mar! — diz ele, me
apertando carinhosamente e me pondo no chão em seguida.
— Olha esse bafo de cerveja, como você teima comigo, cara!
Pois parece que não gosta de viver, não, se arriscando desse jeito.
Toma jeito! Não é mais para beber! Entendeu? Já te disse isso!
— ‘Tá bom mamãe, ‘tá bom, juro que não faço mais, eu juro —
ele junta as mãos em uma falsa promessa. — Agora deixa o seu
filhinho curtir um pouco essa gata.
Ele beija a jovem atrás dele que está nitidamente encantada,
mais uma iludida, mais um trabalho para mim. Oh Jesus! E enquanto
beija uma, aperta a bunda da outra com força, que leva um pequeno
susto e faz todos os seus amigos gargalharem alto. Depois recebo
seu sorriso cafajeste, a cara de safado registrada. E balanço a
cabeça negativamente, de braços cruzados.
— Eu sou o Erick, gata — ele pisca para mim.
Abro os olhos devagar e a bagunça à minha volta é grande.
Estou no quarto da minha casa de praia, jogado na cama de bruços,
totalmente nu e sozinho. Sozinho? Minha cabeça ainda está zonza
da bebedeira e putaria da noite anterior.
Pelo chão há roupas de mais de uma pessoa, litros secos de
cerveja, e manchas de bebida. A luz do sol invade o cômodo pela
janela de onde também sopra o conhecido vento vindo do mar.
— Ai... minha cabeça — gemo, rouco, virando sobre os lençóis
que cheiram a sexo selvagem, e olho para o teto, de braços abertos,
com a ressaca me tomando.
Começo a apalpar o colchão procurando a minha cueca, mas
não a encontro. Sento devagar, pondo os pés no piso sujo. Levanto
ainda tonto, mas fico parado por alguns instantes para me equilibrar.
Dou passos até o espelho na parede e olho o meu rosto, os olhos
bem vermelhos, as olheiras bem marcadas, cara de ressaca braba.
Observo meu corpo negro e másculo que está um pouco murcho
por causa do álcool que corre por ele, e vejo o sinal que possuo no
ombro esquerdo, uma pinta mais escura que a minha pele chocolate,
é a minha “marca de gostoso”, assim a chamo. Em seguida miro o
meu cacetão que, para a minha surpresa, ainda está com a
camisinha, que tiro e jogo no chão.
Estou meio confuso, tentando lembrar direito do que aconteceu.
Acho minha cueca boxer branca em um canto e a visto. Imagens da
noite passada vêm como flashes na mente, da loira incrível comigo
nesse quarto. Cadê ela, hein?
Caminho até o banheiro, pisando sobre calcinha e cueca, abro a
porta e encontro Thiago lá, meu amigo, um dos gêmeos, jogado no
chão com uma menina. Eles transaram aqui? Os dois estão
peladões.
— Thiago — o chamo, com a voz cansada. — Thiago.
— Hum — ele geme, ainda com os olhos fechados, virando o
rosto para o lado.
— Cadê a gata que dormiu comigo, mano?
— Foi embora ontem — responde, sonolento.
— E como é que eu não vi isso?
Thiago abre os olhos, percebe como está e reclama:
— Porra véi, dá licença, cadê a privacidade? Sai daqui negão,
eu estou pelado!
Fecho a cara pra ele e a porta também. Idiota. Está na minha
casa e me expulsa do meu banheiro! Folgado. Mais flashes com a
gatinha voltam à minha mente, da gente dançando na festa e se
beijando loucamente.
— Cadê meu celular? — indago, procurando e não encontrando.
— Minha carteira — também não a encontro, e começo a perceber
que a coisa é séria. — A chave do meu carro! — falo, em pânico,
arregalando os olhos. — Droga! — digo, irritado.
Ela me roubou! É isso!
— Você vai me pagar, sua bandida — digo, saindo do quarto
apressado. Desço a escada correndo e quase caio para trás quando
chego na sala de estar e vejo o tamanho da bagaceira! Uma galera
inteira dormindo por todos os cantos. Está tudo uma verdadeira
zorra, bebida para todos os lados, um caos!
Fico chocado, pondo as mãos na cabeça.
— Eu tô lascado — digo, tentando medir mentalmente o
tamanho desse estrago.
A que ponto chegou essa festa? Onde eu estava enquanto tudo
chegou a esse nível? Cadê a ladra que me roubou? Ela vai pagar
caro por isso.
CA-RA-LHO.
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Mário Lucas é piauiense, mora em Teresina, cidade dos seus
personagens. É advogado, aventureiro e sonhador. Começou a
escrever aos quinze anos, e agora não quer mais parar. “APOLO” é o
seu segundo e-book publicado, e já possui mais romances da série
que estão por vir.
VICTOR:
SÉRIE ALCATEIA - LIVRO 1
Livro recomendado para maiores de 18 anos.

Victor é um simples mecânico, lindo, intenso e sedutor que, viciado


em adrenalina sexual, se envolve com mulheres casadas para obter
o prazer quente do perigo.
Mas a sua vida muda radicalmente quando ele descobre ser herdeiro
de uma grande fortuna deixada por um pai desconhecido. O jovem é
levado a uma casa luxuosa e passa a morar com Laura, a viúva, uma
mulher cheia de segredos e tentadoramente linda.
Agora, sob o mesmo teto, a atração entre eles é inevitável e se
intensifica a cada dia, mesmo os dois pertencendo a mundos tão
diferentes. Ela é chique, ele bruto, mas ambos ilimitados.
Victor se vê diante de uma realidade totalmente nova, cercado de
riqueza e poder. Seu desejo pela madrasta se torna obsessivo,
afinal, Laura é o seu maior desafio. Possuí-la é imoral, proibido e
fatal, pois ela pode ser a sua perdição ao se transformar na principal
suspeita da estranha morte de seu pai.
Neste primeiro livro da série Alcateia, é contada a história
abrasadora de Victor, um romance original que foge dos padrões,
narrado na visão masculina, hot, instigante e misterioso.
OBS: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia!
“Lobo” é visto aqui no sentido figurado.
Table of Contents
Agradecimentos
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
LIVRO III
Redes Sociais
Sobre o Autor

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