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Acheron - Nacionais

JOGANDO COM O AMOR


TRILOGIA JOGANDO LIVRO III
LARINHA VILHALBA

Acheron - Nacionais
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©2017 Larinha Vilhalba

Capa: Carol Cappia


Revisão: Carol Cappia
Diagramação digital: Carol Cappia

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produto da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento/e ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios– tangível ou intangível –sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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Agradecimentos

JOGANDO COM O AMOR, foi de longe o livro mais difícil de escrever da trilogia. Eva
já tinha destaque nos dois livros anteriores, ela não era fujona e quebrada como a Clara, e nem o
furacão da Carol, Eva era completamente diferente de ambas e ao mesmo tempo tinha muito em
comum, carismática e com sede de amor, era amiga e companheira. Então o desafio foi grande.
Conforme a história ia sendo contada o medo de errar estava presente. Portanto quando a
palavra “Fim” foi escrita, foi motivo de alivio e alegria do trabalho cumprido, e isso só foi
possível através de vocês minhas amigas e leitoras.
Agradecimento especial a Carol Cappia que ouviu as minhas ideias e sempre me apoiou,
a minha família, amigos e leitores e principalmente ao meu filho BRUNO GABRIEL.
Obrigada a todos que contribuíram para esse sonho se tornar realidade.
Beijos Larinha Vilhalba

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Sinopse

Eva é uma menina romântica que se apaixona na infância pelo menino que se muda para
a casa do lado. Na adolescência, juntos vivem uma linda história de amor.
Por ironia do destino da mesma forma que Ale chegou é obrigado a partir, deixando o
coração de Eva em pedaços. Mesmo com o coração partido ela não deixou de viver e acreditar no
amor. Esse sentimento nutrido ficou guardado como uma doce lembrança.
Os anos passam, e o destino coloca Eva e Ale frente a frente. Eles não são mais crianças,
não são adolescentes, ambos têm marcas do seu passado. O sentimento guardado ainda existe no
coração de ambos, o destino ainda insiste em pregar peças. E assim começa “Jogando com
Amor”.

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INTRODUÇÃO

Eu amo olhar em seus olhos, são de um preto tão escuro, tão intenso que quando me olha
sinto que ele consegue desvendar a minha alma. Eu não sei em que momento eu me apaixonei
por Alessandro. Talvez seja quando ele me olhou pela primeira vez com aquele olhar de menino
travesso, que parecia me despir, ou talvez quando ele me abraçava sem motivos apenas pelo
simples fato de me abraçar, ou tenha sido em uma das noites que ficamos até tarde na janela
conversando sobre livros, músicas, viagens e sonhos....
Eu não sei quando tudo começou, mesmo eu gostando do Alessandro eu nunca tentei algo
ou me declarei, talvez por medo de estragar nossa amizade. Até que um dia assim como ele
chegou ele se foi. A família resolveu mudar de cidade. Agora, anos depois o reencontro na
faculdade, cursando o mesmo curso e na mesma sala.
Desde o primeiro momento que o olhei meu coração disparou, não o reconheci de
primeira, hoje ambos estamos mudados, não somos mais duas crianças, não somos mais dois
adolescentes. Mas depois de algumas trocas de palavras acabei reconhecendo o meu primeiro
amor.

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CAPÍTULO 1— EVA

AMOR

Se olharmos no dicionário encontraremos que o significado de amor é: um sentimento de


carinho e demonstração de afeto que se desenvolve entre seres que possuem a capacidade de o
demonstrar. O amor motiva a necessidade de proteção e pode se manifestar de diferentes
formas: amor materno ou paterno, amor entre irmãos (fraterno), amor físico, amor platônico,
amor à vida, amor pela natureza, amor pelos animais, amor altruísta, amor próprio.
AMOR, uma palavra simples de apenas 4 letrinhas, mas com um significado imenso, que
eu, você e até mesmo o dicionário não é capaz de descrever em sua totalidade. Outra palavra
complicada é ADOLESCENTE, a palavra é complicada e cada um de nós passamos por essa
fase.
Agora junta amor + adolescente = AMOR DE ADOLESCENTE. Bom, juntando essas
duas palavras ferrou tudo, tenho certeza que você já passou por isso também.
Diz quem nunca se apaixonou perdidamente na adolescência, que fez juras de amor
eterno, ficava aérea e fazendo vários planos para um futuro inexistente.
Aquele amor puro, doce, que o dicionário não é capaz de descrever. Aquele amor que
você se entrega de corpo e alma sem pensar nas consequências. Aquele amor intenso, que te
deixa suspirando pelos cantos, nas nuvens... Esse amor... Ah o amor mais puro... Mais belo...
Eu tive um amor assim. Amei perdidamente, fiz juras e mais juras de amor. O vivi
intensamente, me entreguei de corpo e alma. Mas assim como esse amor chegou ele foi
arrancado de perto de mim, não por minha culpa ou dele, o destino quis assim. Deixando meu
coração em pedaços.
Depois de uma separação forçada pense como seria a sua reação ao anos depois
reencontrar esse amor perdido? Esse amor arrancado de você.
Isso acabou de acontecer comigo...
Ao contrário de Clarinha e Carol, conheço Ale desde que eu era uma menina de 8 anos
que usava Maria Chiquinhas. Em uma manhã acordei e a casa ao lado da minha estava ocupada,
foi uma surpresa quando vi que meus novos vizinhos tinham um filho um pouco mais velho que
eu. Apesar da diferença de idade, mínima, Alessandro, que carinhosamente chamávamos de Ale,
não era desses meninos que me zoavam ou só queriam saber de videogames, jogar bola ou das
meninas bonitas da escola. Ele era doce, tratava todos bem, sem fazer diferença, era inteligente, e
adorava ler assim como eu, acho que foi isso que nos tornou inseparáveis. O tempo foi passando,

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e a nossa amizade aumentando. Nas minhas maiores descobertas ele estava presente, assim como
nos momentos mais bobos.
Algumas pessoas podem até achar que é mentira, mas quando eu menstruei pela primeira
vez, aos 11 anos, não contei para a minha mãe ou para uma das minhas colegas de escola. Contei
para ele, pois ele era o meu fiel companheiro. Éramos igual cutícula e unha, sempre juntos.
Eu sabia o que significava aquela mancha vermelha, nunca fui boba apesar de ser tímida,
sempre procurei me informar e saber sobre tudo, estava sempre buscando informações na
internet. Mas ele era meu amigo, e eu quis dividir esse momento com ele. Meus pais não são pais
ruins, mas ambos viviam muito ocupados com o trabalho e nunca gostei de incomodá-los.
Quando minha mãe soube que eu já era moça, estava no quarto mês da menstruação. Ela chorou
por sua filha já ser uma mocinha e me deu uma bronca por não avisa-la, depois me abraçou e
tudo ficou bem.
Quando Ale estava com 14 anos ele já tinha ficado com várias garotas, as quais ele fazia
questão de me contar e eu odiava, tinha nojo delas, no começo achava que era ciúmes de melhor
amiga.
Quando ele tinha 15 anos contou que perdeu a virgindade, eu odiei ele, e a garota por não
ser eu. Gritei, esperneei, chorei, fiquei dois dias sem falar com ele e não sai do quarto, me isolei.
Eu só tinha 13 anos, era uma menina, mas já o amava com todas as minhas forças. Ele era o meu
único amigo, então engoli meu orgulho e fui falar com ele, me desculpei mesmo sofrendo por
dentro, mas era melhor ser a melhor amiga do que nada.
Como já disse, não sei quando tudo começou, mesmo eu gostando do Alessandro eu
nunca tentei algo a mais ou me declarei, talvez por medo de estragar nossa amizade ou por
rejeição já que ele só saia com as meninas mais bonitas e da sua idade. Eu ainda era apenas uma
menina.
Eu não sou feia, sou normal, muitas pessoas diziam que eu era bonita e até alguns garotos
queriam sair comigo, mas nunca aceitei ou me interessei por nenhum deles. Estava me
guardando na esperança de um dia Alessandro olhar para mim.
Eu adoro meu tom de pele, minha mãe é uma negra linda e meu pai é branco, e eu nasci
com uma mistura dos dois. Meu tom de pele é mais claro que da minha mãe, mas não como o do
meu pai, meus cabelos são enrolados um pouco acima da cintura e eu adoro meus cachos, às
vezes eu faço chapinha, mas não passo disso, morro de medo de estragar meus cachos. Afinal em
terra de chapinha quem tem cachos é rainha.
Meu corpo não é de top model, pelo contrário, depois dos 14 eu ganhei um pouco mais de
bunda e peito, no começo eu não gostava muito, mas quando Ale passou a me elogiar eu passei a
gostar. No início eu sentia até vergonha, uma vez quando tinha 15 anos fomos nadar na piscina
na casa dele, eu coloquei um biquíni vermelho, até pequeno, já que tinha um tempo que tinha
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comprado. Aquela foi a primeira vez que Ale me olhou como mulher, ele me olhou de uma
forma tão intensa que senti minha pele toda arrepiar e minha calcinha molhar devido a minha
excitação. O que me deixou ainda mais mortalmente constrangida, foi de ver o volume em sua
sunga, daquele dia em diante as coisas começaram a mudar. Começaram a esquentar. Ale
começou a me tocar mais do que de costume e sempre em lugares estratégicos, aqueles lugares
que faziam subir um arrepio, outras vezes seu toque me deixava molhada, eu adorava suas mãos
em mim, seus abraços, seu cheio. Mesmo com quase 16 anos, eu nunca havia se quer beijado
alguém, mas queria tudo com Ale. Eu não era inocente, eu lia bastante livros de romances
eróticos em um aplicativo chamado “Wattpad”, em alguns livros eu ficava tão ciente do meu
corpo que até me tocava, mas sempre carícias leves por cima da calcinha, eu não tinha medo de
me tocar, mas queria que todas as minhas primeiras vezes fossem com o Ale.
Quando eu fiz 16 anos, Ale me beijou pela primeira vez, foi meu primeiro beijo, mas é
como se eu já tivesse feito aquilo a vida toda, talvez pela experiência do Ale ou talvez porque eu
sempre quis que todas as minhas primeiras vezes fossem dele. O beijo foi intenso, meus lábios
ficaram inchados, minhas pernas trêmulas, meus seios ficaram pesados e como de costume ele
me deixou molhada, pronta para receber seu corpo no meu. Assim como eu lia nos romances.
Daquele momento em diante estávamos mais colados do que de costume, a diferença é
que estávamos sempre aos beijos, amassos e mão bobas, eu adorava as mãos do Ale em mim.
Um dia os pais dele precisaram viajar com urgência para Minas, a Avó por parte de pai
estava muito doente, como estava próximo do vestibular Ale não poderia ir junto com os pais,
então ele se mudou por alguns dias para a minha casa, já que assim seus pais viajariam
tranquilos. Ao todo Alessandro iria ficar uma semana na minha casa, como eu estava de férias e
meus pais viviam mais no trabalho do que em casa foi inevitável que nossa primeira vez não
acontecesse.
Não foi à noite, não foi com luzes de velas ou com pétalas de rosas, mas foi o dia mais
importante da minha vida, foi o momento que me transformei mulher nos braços do homem que
eu amava.
Lembro-me de tudo como se fosse hoje...Se eu fechar os meus olhos consigo voltar
aquele dia e sentir cada toque, cada sensação, consigo ouvir sua voz.
— Te desejo, te quero.
— Ale, me faça mulher...

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CAPÍTULO 2 — EVA

— Não precisa ficar nervosa, se você não quiser não tem problema, eu estou morrendo
para estar dentro de você, mas não tem que fazer se não quiser — fala tentando me acalmar.
— Eu quero muito fazer e mais ainda com você — falo.
Estamos na minha cama, com a luz do sol entrando pelas janelas, não passa das 11h00 da
manhã e no meu celular toca uma sequência de música do Ed Sheeran.
— Eu adoro sentir a sua pele, é cheirosa é tão macia — Ale sussurra descendo uma das
alças da minha blusa e dando leves beijos no meu ombro.
— Ah meu Deus! — gemo com o toque dos seus lábios na minha pele.
Sua boca se aproxima de um dos meus seios e ele mordisca por cima do sutiã, o choque
elétrico atravessa meu corpo. Uma de suas mãos desce pela minha barriga e vai direto para a
minha intimidade, acaricia por cima do short de algodão o que me deixa cada vez mais
necessitada do seu toque. Percebendo meu estado Ale desce de uma vez minha camiseta e
abocanha um dos meus seios ao mesmo tempo que sua mão entra em minha calcinha e me toca
com dois de seus dedos. Eu não aguento tantas sensações, meu corpo parece que vai entrar em
ebulição.
— Ale! — grito desesperada não reconhecendo minha voz ofegante.
A mercê dele, fico fora de mim que não sinto quando ele me despe por completo e tira a
própria roupa, eu só estou ciente dos seus dedos na minha intimidade acariciando meu clitóris
enquanto outro dedo entra em mim.
Sua boca se fecha sobre meu clitóris e suga, chupa, fazendo-me sair fora de mim, meu
corpo acaba se quebrando em mil pedaços. Estou exausta, descabelada e ofegante, meu corpo
ainda trêmulo com resquícios do orgasmo que acabo de ter, enquanto Alessandro está lindo,
parecendo um Deus nórdico, nu, com seus olhos intensos sobre mim, com aquele sorriso que
tanto amo. Quando ele levanta, vai até sua calça, pega um preservativo e volta para mim com
toda a segurança de quem sabe o que está fazendo.
Eu já tinha apalpado e sentindo a dureza do Ale várias vezes, mas nunca tinha visto seu
pênis, e meu senhor, Ale tem um pênis lindo e ao mesmo tempo assustador. Nunca tinha visto
ninguém pelado, só em filmes, mas como disse antes eu não sou nenhuma boba e mesmo sem
experiência, Ale é bem grande para alguém da sua idade, eu não sei qual a média dos pênis dos
garotos de 18 anos, mas com essa espessura e esse tamanho Alessandro está acima da média,
com certeza.
— Você quer colocar ou prefere só observar? — pergunta mostrando a camisinha.
Assustada balanço a cabeça em sinal negativo. Ele então abre a camisinha e desenrola ao

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longo do seu membro. Deita sobre mim, fazendo com que abra minhas pernas para recebe-lo, dá
um beijo em minha barriga, uma leve chupada em meio seio e chega até a minha boca, passa a
língua sobre meus lábios e eu apenas gemo em reposta aos seus atos.
Ale é tão seguro de si, demonstra experiência de um rapaz de 18 anos, e até me dói
pensar com quantas meninas ele já esteve para saber como tratar uma mulher.
Sou desperta dos meus pensamentos com sussurros.
— Enrola suas pernas na minha cintura, minha pequena, se abra para mim.
Seu dedo massageia meu clitóris, e de novo aquela quentura toma conta do meu ventre,
não consigo fazer a não ser gemer. Dos meus olhos saem lágrimas que nem havia percebido;
Tantos sentimentos e sensações, nunca senti nada igual e quando penso que de novo meu corpo
vai explodir com aquela sensação incrível, sou surpreendida por uma dor fina que me atravessa
quando Ale me penetra de uma só vez.
Abro meus olhos assustada, ele me encara e beija meus olhos.
— Calma pequena, vai passar.
Eu respiro fundo, fecho meus olhos e aperto, sempre soube que a primeira vez de uma
menina é dolorosa e que em umas dói mais que as outras e por mais molhada que eu estivesse eu
não estava pronta para tudo isso dentro de mim.
Abro os olhos novamente e o vejo assustado, mais forte do que a dor física que estou
sentindo é a dor que atinge meu coração ao ver sua cara de arrependimento.
— Desculpa pequena, eu não queria te ver chorar, não queria te machucar, não se meche.
Fica calma que vou sair, eu achei que de uma vez você iria sentir menos dor. Estupidez minha.
Meu coração se enche de felicidade ao saber que ele não está arrependido de fazer amor
comigo e sim por me machucar. Pode parecer masoquismo, burrice ou seja lá o que for, mas eu
sentiria tantas dores possíveis por esse momento apenas para tê-lo dentro de mim. Desde quando
o vi, eu o amei, um amor que começou entre duas crianças na forma de amizade e que agora está
se consolidando entre homem e mulher. Eu amo esse homem e amei todos os momentos com ele
e esse sem dúvidas não vai ser diferente.
Prendo minhas pernas mais fortes em volta da sua cintura, para mostrar que eu o desejo.
— Não sai, eu quero muito isso, eu sempre quis.
Ele me olha, passa a mão em meu rosto.
— Vamos com calma, te dou o tempo que for necessário para você se acostumar, tudo
bem?
Balanço a cabeça com o sim, ele está sendo prefeito e eu faria tudo outra vez.
A cara de alívio e carinho do Ale me enche da certeza que estamos fazendo o correto e
quando ele deita sobre mim e me dá um beijo que me deixa sem ar e me faz derramar fluidos em
volta do seu pênis, a dor já não é mais intensa e a movimentação fica mais fácil, e até consigo
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sentir resquícios de prazer.


— Hum... Você é tão quente, tão linda, tão apertada que machuca.
A expressão de Ale, as palavras que fala, tudo só vai me deixando mais molhada e
amando a sensação do seu membro indo e vindo dentro de mim, por mais apertado e ardido que
seja eu nunca senti nada tão bom.
Ale morde os lábios, fecha os olhos, joga a cabeça para trás e grita meu nome, nesse
momento tenho certeza que vou ama-lo para sempre. Meu corpo, alma e coração serão sempre
dele.
— Puta merda! Que foi isso?! Desculpa, você não gozou, eu sou um egoísta mesmo, mas
não deu para segurar — fala ofegante enquanto se retira de dentro de mim.
Estremeço com a sua saída, mesmo com seu corpo fora do meu ainda estou dolorida e
parece que a ardência só aumentou. Ele deita do meu lado, olho para seus olhos, e depois olho
toda essa bagunça, a quantidade de sangue nos lençóis e na camisinha são enormes, nunca pensei
que seria tanto sangue. Meu rosto esquenta, e fico morrendo de vergonha pelo sangue, pela
bagunça, por tudo.
— O que foi? — pergunta.
— Muito sangue, não pensei que seria tanto assim. Agora sei porque parecia que você
estava me rasgando. — Vejo o semblante de Ale ficar tenso.
— Desculpa Eva, eu fui um bruto, não foi especial como você merecia.
Se levanta e caminha até o banheiro, não demora e volta com uma toalha de rosto úmida.
Pela cara de Ale, percebo que algo está errado. Não parece estar arrependido, mas seu
corpo está tenso e aquela ruga de preocupação entre os olhos tão bonitos não me passa
despercebido.
— O que você vai fazer? — pergunto quando ele se abaixa entre minhas pernas.
— Deixa eu te limpar pequena, por favor, me deixe cuidar de você — Ale fala abrindo
minhas pernas delicadamente.
Apesar de tudo que fizemos esse ato me deixa tão exposta que tento fecha-las, morrendo
de vergonha.
— Não faz isso, nunca se esconda ou fique com vergonha de mim. Você é linda, eu que
fui bruto. Mas sou um filho da mãe sortudo por ser o seu primeiro.
Vejo a preocupação ainda estampada em seu rosto bonito, mesmo com os protestos de
minhas pernas ou a leve fisgada em meu sexo, sento eu seu colo o surpreendendo e acaricio seu
rosto.
— Você não foi bruto ou me machucou, foi a coisa mais especial da minha vida.
— Não precisa tentar me animar, sei que fui um cavalo.
— Cavalo ou não, eu amei cada momento e quando eu estiver menos dolorida quero fazer
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de novo, de novo e de novo.


Ale envolve seus braços em minha cintura, beija de leve meus lábios e fala de uma forma
brincalhona.
— Você não gozou!
— Eu não acho que eu poderia e você ainda vai ter vários momentos para me fazer gozar.
Sou surpreendida por uma gargalhada de Alessandro, o que me faz querer congelar esse
momento para sempre.
— Eu amo você Alessandro e não importa o que aconteça, você sempre vai ser o meu
primeiro amor!
Talvez esse não seja o momento certo para a minha declaração, percebo que o pegou
desprevenido. Ale não disse que me amava de volta, ele apenas me abraçou, deitou comigo em
seu peito e não falou mais nada, mas o que eu vi em seu olhar me deixou aflita. A intensidade
que seus olhos carregavam ao me olhar não estava presente naquele momento, mas sim um mar
de incertezas e inseguranças e eu adormeci em seus braços com um misto de felicidade e medo.
Felicidade pela minha primeira vez com o homem que eu amava e medo por não saber o que o
futuro nos reservava, mas diante de tantas dúvidas eu tive uma certeza. Naquele começo de tarde
de inverno tudo mudou, nada voltaria a ser como antes só não esperava que o destino não
estivesse a meu favor, a nosso favor.

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CAPÍTULO 3 – EVA

Aquela tarde foi a nossa primeira e única vez. Naquele mesmo dia, assim que o sol se pós
os pais de Ale voltaram de viagem antes da data prevista. Ambos traziam notícias da avó,
traziam também uma decisão tomada, que me fez chorar a noite inteira. O choro durou noites,
dias, semanas, meses... Não parei de chorar, minhas lágrimas simplesmente secaram.
A notícia responsável pelo meu choro era que os pais de Ale decidiram se mudar para
Minas naquela mesma semana para poder cuidar da Avó doente.
Ale tentou convencer os pais para ele ficar, disse que tinha vestibular, que tinha uma vida
ali, que não poderia simplesmente largar tudo e ir atrás dos pais. Que eles poderiam trazer a Avó
para morar com eles, que os pais não iriam precisar vender a casa ou trocar de empregos, Ale não
iria precisar ir embora, mas foi tudo em vão. Os pais falaram que já era algo que estavam
planejando há algum tempo e que a doença da avó veio apenas antecipar a partida.
Nesses últimos dias juntos quase não nos falamos, apenas ficamos um do lado do outro,
evitava em chorar na sua frente, naqueles momentos o silêncio foi a nossa companhia. Palavras
não precisavam ser ditas, sabíamos o que ambos estávamos passando, a cada olhar, a cada toque,
a cada beijo dizíamos com esses gestos o que os nossos corações queriam dizer.
Um dia antes da sua partida eu me declarei, disse que o amava e que não queria ficar
longe, ele com toda paciência e doçura me abraçou, me beijou, me confortou, disse que tudo iria
ficar bem. A distância não iria nos separar.
Naquele fim de semana o meu primeiro amor partiu para longe, com a promessa, de ligar,
mandar mensagens, e-mails e até mesmo cartas, caso fosse preciso, que no fim do ano viria me
ver. Que nada iria nos separar, apenas promessas.
Assim ele se foi, ficou a saudade, a dor e a esperança de revê-lo no fim do ano, para
assim poder abraça-lo, beija-lo e dizer com o meu corpo e alma o tanto que eu o amava.
No início conversávamos todos os dias pelo celular, com o tempo ele quase não ligava,
começamos a conversar apenas por mensagens. Passados quase dois meses, as mensagens eram
raras, e quando eu ligava ele não podia atender. Acompanhava a vida dele pelas redes sociais, o
via sempre feliz e rodeado de lindas moças de sua idade, uma dorzinha de perda sempre batia no
meu coração, então comecei a perceber que eu não fazia mais parte da sua vida, que eu não era
ninguém. Mas como se diz o ditado a esperança é a última que morre. Mesmo tudo dizendo que
não, mas ainda tinha esperança que SIM, que iríamos ficar juntos.
Tudo ficou mais claro no fim daquele ano, ele não veio me ver como prometido. Ale
seguiu a vida dele, e eu fiquei criando ilusões com um amor impossível. O que me restou foi a
saudade.

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No dicionário SAUDADE significa: sentimento melancólico devido ao afastamento de


uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas.
Para mim SAUDADE é uma palavra triste para quando se perde um grande amor. Perdi
meu amor. Perdi o Ale. Eu fui chorando a minha dor, o que me restava era seguir a minha vida.
Afinal precisava viver também, precisava seguir.
A primeira coisa que fiz foi trocar o número do meu celular, a segunda coisa bloquear e
exclui-lo do face, a terceira queimar tudo, ou pelo menos quase tudo, que me fazia lembrar dele,
a quarta ocupar todo o meu tempo, para assim não sobrar tempo para pensar nele. Não chorava
mais, pois minhas lágrimas já tinham secado.
Não foi fácil, mas foi necessário, assim segui a minha vida um dia de cada vez...
Meu primeiro amor acabou cedo, em meu peito só me restou a dor, meu primeiro amor
foi como uma rosa que se desabrochou, ficou linda, mas logo as pétalas foram caindo e morreu.
No meu caso quero acreditar que morreu mesmo sabendo que sempre estará em um cantinho do
meu coração.

Fevereiro de 2013

Nem acredito que enfim vou fazer faculdade, enrolei um tempinho para me decidir qual
curso escolher, eu queria fazer teatro ou cinema, mas infelizmente não tive apoio dos meus pais.
Por isso enrolei tanto para decidir qual curso.
Mãe queria que eu fizesse administração. Fala sério, não me dou bem com números, eu e
os números não combinamos, eles não gostam de mim, é sério isso, os números me odeiam.
Confesso que esse ódio é reciproco.
Cursar administração? Jamais.
Já meu pai queria que fizesse direito, eu não sei nem defender sozinha, sou insegura.
Acha que eu tenho condições de defender alguém no tribunal? Lógico que não.
Cursar Direito? Também não.
Enrolei o máximo que pude, até decidir ser professora. Sei que sou insegura e como
professora poderei ajudar jovens e crianças iguais a mim, esse é o meu objetivo.
Prestei vestibular na UFGD para o curso de Geografia—licenciatura, felizmente passei,
de início meus pais não gostaram muito, mas no final eles acabaram aceitando.
Hoje estou aqui caminhando no corredor da faculdade até a minha sala, quando entro
vejo que tem poucos alunos, então escolho logo uma carteira lá no fundo assim passo
despercebida, mesmo com 23 anos sou extremamente tímida.
Se a pessoa conversar comigo eu converso, agora se ela não puxar assunto fico na minha

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de boa. Não sou obrigada a nada, muito menos puxar conversa com quem eu não conheço.
Estou sentada na minha carteira de boa vendo todo o movimento da sala, quando um
barulho me faz olhar para o lado. Percebo que um cara lindo e tão desastrado quanto a sua
beleza.
— Caraí — o ser resmunga.
— Mas você é desastrado, ein — uma menina fala pegando a caneta do chão.
— Você acha que ele é desastrado? Eu tenho certeza — digo pegando seu caderno do
chão e o entregando.
— Também com todo esse tamanho. Ele pode ser o que ele quiser — fala outra menina
devolvendo o seu celular.
— Obrigado meninas, o meu tamanho e essa carteira não são compatíveis — o ser
desastrado se explica.
Nos entreolhamos e acabamos rindo, no fim nos apresentamos. A moça que entregou a
caneta é a Clara, a moça do celular Carol e o ser desastrado Adriano.
Não sei, mas acho que meu santo bateu com o deles, vejo sinceridade e simpatia nos seus
olhares, sou tão difícil de me encantar com as pessoas à primeira vista. Não que eu seja chata, é
uma defesa que eu criei para não quebrar a cara.
O professor chega na sala, apresenta seu plano de ensino e passa um trabalho em grupo
de cinco pessoas, as meninas me olham como se me perguntassem se poderíamos fazer o
trabalho juntas eu aceito. Como era de cinco pessoas, Clara chamou o rapaz que estava no canto
da sala.
Na hora do intervalo, fomos conversar com o Adriano sobre o trabalho, realmente não me
enganei, ele é uma boa pessoa, assim como as meninas.
Adriano, quase, tem o abraço mais gostoso do mundo, ele perde apenas para alguém que
tinha o poder de curar todas as minhas feridas com um simples abraço, alguém que está guardado
lá, bem lá no fundinho do meu coração. Segui a minha vida, mas nunca irei esquecer o meu
primeiro amor.
Eu e as meninas acabamos colocando o apelido do Adriano, de Montanha, e o mesmo
disse que irá cuidar sempre da gente. Acho que fiz três amizades, e me sinto bem perto deles.
Voltando do intervalo, o tal moço que irá fazer trabalho com a gente puxa assunto
comigo.
— Oi! — cumprimenta me olhando.
Ele tem os olhos tão intensos, um sorriso tão lindo.
— Oi — respondo já com vergonha.
— Qual o seu nome?
— Eva.
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Ele me olha, fica pensativo por alguns segundos.


— Lindo nome — fala e sorri, mas percebo que o seu sorriso não chega em seus olhos,
ele ficou com o semblante tão triste, tão distante.
— Obrigada. Qual o seu nome? — pergunto sorrindo.
Não quero ver esse moço triste. Não sei, mas olhar para ele faz meu coração disparar e
meu corpo esquentar.
— Alessandro.
Isso faz o meu sorriso desmanchar, fico trêmula, olho nos seus olhos, no desenho de sua
boca. Não pode ser!
— Ale?
— Na adolescência esse era o meu apelido, mas depois que mudei para Minas, nunca
mais deixei ninguém me chamar assim. Por favor, me chame de Alessandro.
— Minas?
— Sim, moramos lá alguns anos, depois da morte de minha avó e do meu pai, eu e minha
mãe resolvemos voltar para cá no final do ano passado.
— Não pode ser — digo abismada com tamanha coincidência. Meu coração está quase
saindo pela boca.
— O quê?
Fico o olhando, seus olhos, sua boca, nariz. Em um gesto de desespero pego sua mão e
fecho meus olhos. Sinto o calor da sua pele, calor esse que eu jamais esqueci.
— Você está tão diferente, nem parece aquele rapaz de 18 anos, quase não o reconheci —
digo ainda com os olhos fechados.
Ele segura a minha mão com as suas e a beija.
— Pequena?
— Sim! — Abro meus olhos. — Sou eu.

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CAPÍTULO 4 — ALESSANDRO

Ano de 2006 — Uberlândia

Minha vida é uma merda. Está tudo acontecendo de uma vez só, agora que enfim fiquei
com a Eva acontece essa merda toda.
Meu pai me obrigou a mudar para essa merda de cidade, ele não entende que a minha
vida, a minha essência ficou para trás. Ele não poderia ter feito isso, tive que aceitar, pois como
ele mesmo diz sou um encostado.
Não quero morar nessa porra de cidade. Quero voltar para Dourados, voltar para a minha
pequena.
Aceitei acompanhar meus pais, mas isso é provisório vou dar um jeito nessa bagaceira,
não vou depender dos meus pais a vida toda. Está na hora de eu dar um rumo nessa porra de
vida. Meu pai não vai foder com a minha vida. Ele não vai conseguir.
Estou uma pilha de nervos, preciso me acalmar, preciso dela, ela que me ouvia, ela que
me acalmava, como vou ficar longe dela?
Preciso de você Eva, agora mais que nunca...

Uberlândia, Junho de 2006


Oi pequena, prometi a você que iria sempre manter contato, que seria por e-mail, sms,
messenger ou até mesmo carta.
Falando a verdade esse negócio de escrever carta é meio boiola, bastante boiola, estou
me sentindo um retardado escrevendo.
As pessoas falam que um homem apaixonado é capaz de muitas coisas, estou percebendo
isso, é capaz até mesmo de escrever cartas.
Cartas de amor.
Não sei bem onde isso vai chegar. Não sou bom com as palavras, escrever não é minha
praia, mas vou tentar. Tentar por você.
Pequena, essa primeira carta quero dizer que Eu te amo, sou um mané e não fui capaz de
te dizer isso, fui um babaca egoísta. DESCULPA.
Já sinto a sua falta.
Beijos, seu Ale...

Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

Depois de mais uma briga com meu pai, sai de casa e fiquei vagando por horas, até sentir
meus pés doendo e sentar nessa praça.
Lembrar dela me traz a calmaria que preciso, ninguém me entende, dizem que estou
sendo um rebelde sem causa.
Cara, eu tinha tudo planejado na minha vida, uma garota perfeita, ia prestar vestibular
para o curso que eu desejava. O cacete do caralho, do meu pai fez eu largar tudo e vir morar
nessa porra de cidade, ele não tinha esse direito, a vida é minha.
— Oi.
Olho para o lado e vejo uma moça sentando do meu lado.
— Oi — respondo olhando para frente.
— Qual é a bad?
— Como?
— Qual o seu problema?
— Não tenho problema.
— Cara, agora tenho certeza que você tem problema. De boa, só quero dar uma aliviada.
Algum problema? — fala mostrando um cigarro suspeito.
— Não.
Acende o cigarro, e da três tragadas seguidas.
— Como você chama? — ela pergunta.
— Alessandro e você?
— Vanessa. Você quer um “bec”? — pergunta me oferecendo o cigarro.
— Não curto.
— É de maconha, é fraquinho vai deixar você mais relaxado — insiste.
— Já disse que não curto essas paradas — digo sério.
— Precisa ficar bravo não. — Deita na grama. — Eu só quero curtir a brisa. Você é de
onde Ale?
— Já disse, meu nome é Alessandro.
— Por isso, Ale é um apelido.
— Não! Somente uma pessoa me chama assim, para os outros é Alessandro.
— Uma pessoa mulher? — pergunta se levantando da grama.
— É.
— Ela é uma ex?
— Não sei, não sei se é ex ou atual.
— Confuso.
— A porra da minha vida virou uma confusão.
— É, parece mesmo. Vim só relaxar, deita ai e curte a noite chegando.
Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

— Você é uma nóia. Vou embora.


— Vai não, vamos olhar as estrelas — diz rindo.
Não dou ouvidos, levanto da grama, viro as costas e vou embora, mas ainda escuto ela
gritando:
— Romeu! Amanhã vou estar aqui, vem contar a treta da sua Julieta.
Não respondo, vou embora...

Uberlândia, Agosto de 2006.


Às vezes me dá vontade de começar tudo de novo, desde o nosso primeiro “oi”, o
primeiro olhar, o primeiro frio na barriga.
Da vontade de fazer tudo diferente para ver se dessa vez dá certo, para ver se eu erro
menos e te ame muito mais. Não sei como está sendo para você, mas a saudade para mim é mais
um motivo para querer te ver te novo.
Te amo minha pequena
Beijos do seu Ale.
Ps: essa é a sexta carta que te escrevo, não tive coragem de colocar no correio.

— Já disse que não quero morar aqui pai, aqui não é o meu lugar. Custa você entender?
— digo para o meu pai.
— Você não tem querer. Eu mando em você e aqui é seu lugar — meu pai fala com o
semblante sério.
— Pai, você não é Deus para mandar e desmandar, as coisas não funcionam assim.
Deixei muita coisa para trás.
— Júlio, deixa ele prestar vestibular lá em Dourados, é normal os filhos estudarem fora
— minha mãe intercede.
— Já disse, não.
— Pai, deixa?!
— Júlio, ele tem uma namorada lá, tente entender, nosso filho está sofrendo — minha
mãe argumenta.
— Puro fogo em rabo de saia, logo essa frescura de namorico passa. Assunto encerrado.
— Júlio?!
— Assunto encerrado — fala levantando da mesa.
— Eu disse mãe, com esse cara não tem diálogo.
— Calma filho, vou conversar com ele, seu pai vai entender.
— Mãe, Eva não vai me esperar a vida inteira, não posso mais ficar iludindo a minha
pequena.
Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

— Seu pai vai entender, tenha paciência.


— Já faz quase três meses que eu estou tendo paciência eu não aguento mais — digo
saindo da sala.
— Onde vai, meu filho?
— Tomar um ar.
Como sempre, ando sem rumo pela cidade, e novamente acabo na mesma praça, no
mesmo lugar de sempre. Sento na grama, e cruzo minhas pernas. Meus pensamentos vão para a
pessoa com quem eu queria estar nesse momento.
— Romeu?
— Vanessa — digo com desanimo.
— Brigou com o velho de novo?
— Como você sabe?
— Sempre vem aqui pelo mesmo motivo, você quer a sua Julieta, mas o carrasco do seu
pai não autoriza, Não entendo por que você não liga um foda-se e vai atrás da sua Julieta. Você é
um fraco.
— Você não entende, se eu sair é para nunca mais voltar, não quero perder a minha mãe.
— Cara, sua vida é complicada. Toma! — oferece mostrando o cigarro de maconha. —
Pelo menos você relaxa.
— Já disse que não curto.
— Romeu toma logo, para de ser filhinho de papai, só uma tragada, não vai se
arrepender.
— Só uma tragada?
— Só uma.
Tantas vezes ela me ofereceu eu sempre neguei, mas hoje estou no meu limite não
aguento mais.

Uberlândia, Setembro de 2006


Estou péssimo, não sou mais o cara que você ama, por isso estou me afastando de você.
Pequena, você merece um cara por inteiro, que possa te beijar, abraçar, te mostrar todas
as formas que te ama.
Eu não sou esse cara, sou um fdp como diz meu pai, as coisas aqui em casa estão
difíceis, aqui não é meu lugar.
Não estou te respondendo porque não quero que você sofra, você merece coisa melhor.
Fique bem
Te amo
Ale
Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

PS: não irei enviar essas cartas, são toscas, mas irei sempre escrever, quem sabe um dia
eu tenha coragem de entrega-las a você. Escrever para você é o único momento que eu sinto
paz.

—Você está acabando com os dias de vida da sua mãe. Olha a merda que você está
fazendo.
— A merda quem fez foi você, me forçando a morar aqui.
— Vou internar você em alguma clínica, não vou ver meu filho se destruindo assim sem
fazer nada.
— Pai, você destruiu a minha vida me forçando a morar aqui — grito saindo de casa.
— ALESSANDRO! — grita. — VOLTA AQUI!
— Vai a merda — falo dando a partida na moto e saindo.
Como sempre acabo na praça, não demora ela chega.
—Toma — diz me passando o cigarro.
Pego o cigarro e dou algumas tragadas.
— Isso está fraco, não faz efeito, preciso de algo mais forte.
— Quer o pó?
— Esse vicia?
— Não é de boa, quando você quiser parar você para.
— Pode arrumar para mim?
— Vou precisar de grana.
— Toma — digo passando o dinheiro para ela.
— Vou lá buscar.
— Vanessa! — chamo.
— Fala.
— Preciso fazer a Eva esquecer de mim. Preciso esquecer a Eva também.
Ela se aproxima, senta em meu colo, e beija a minha boca.
— Eu posso te ajudar.
— Assim eu vou te usar.
— Gosto de ser usada — fala beijando a minha boca, correspondo o seu beijo, mas ela
não é a Eva.

Uberlândia, Abril de 2008


Sei o que é morrer e renascer, estou reaprendendo a viver minha pequena. Está sendo
difícil, mas pensar em você traz a paz que eu preciso.
Desculpe, fui um fraco, estou correndo atrás, estou me recuperando.
Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

Hoje faz 160 dias que estou limpo.


Ainda te amo, nada me fez te esquecer...
Beijos seu eterno Ale

ALGUNS ANOS DEPOIS (final de 2012)

— Vamos, mãe?
— Não consigo acreditar que ele se foi — fala chorando.
Me aproximo, e a abraço.
— Desculpa mãe, foi tudo culpa minha — digo beijando seus cabelos.
— Não meu filho. Não foi culpa sua, seu pai estava obeso, não tomava os remédios, o
infarto foi consequência disso.
— Não fui um bom filho.
— Você só teve uma fase ruim, passou.
— Será mãe?
— Tenho certeza.
— Cada dia sem é uma conquista. Mais um dia limpo.
— Graças a Deus! Fiquei com medo de perder você meu filho.
— Obrigado mãe, por não desistir de mim.
— Uma mãe jamais desiste de um filho. Vamos?
— Vamos — digo pegando a caixa em cima da mesa.
— Meu filho, o que tem dentro dessa caixa que você guarda com tanto esmero?
— Aqui, é de onde tirei forças para conseguir sair daquela vida que me enfiei — digo
conduzindo a minha mãe e fechando a porta da casa.
Entramos no carro, coloco a caixa no banco trás.
— Posso fazer uma pergunta sobre essa fase escura?
— Mãe, a senhora pode tudo.
— Tem notícias da Vanessa?
— Morreu.
— Meu Deus! Quando isso? O que aconteceu? — diz levando a mão na boca.
— Ano passado. Overdose.
— Por que não me disse antes?
— Não queria deixar a senhora preocupada, também tinha o pai. Vanessa se foi por culpa
minha. Não consegui salvá-la.
— Para sair dessa vida a pessoa tem que querer ser ajudada.
Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

— Eu tentei ajuda-la, mãe, ela não quis.


— Você quis ser ajudado, essa é a diferença.
— Tive um motivo para isso. Obrigado mãe, por me mostrar o caminho certo.
— Vamos voltar para o lugar que nunca tínhamos que ter saído...
Pego sua mão e a beijo, deixo essa cidade maldita para trás, e vou para a cidade que eu
nunca deveria ter saído.

DOURADOS, FEVEREIRO DE 2013


Minha pequena, hoje começo fazer faculdade, desde que resolvemos voltar a morar aqui
as coisas estão dando certo.
Ando pela rua tentando te encontrar... a cada equina... a cada olhar... te procuro nos
mínimos detalhes.
Tanto tempo passou, mas sinto que você está ainda mais bela... eu nunca te esqueci, hoje
eu vivo pelo simples fato de você existir. Talvez eu nunca mais a veja, mas sempre irei te amar.
Confesso que sinto que um dia ainda iremos nos reencontrar.
Te amo!
Seu eterno Ale.

Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

CAPÍTULO 5 — EVA

Sim é ele, anos se passaram, pensei que tinha esquecido, mas não, ele sempre esteve
guardado em um cantinho escondido do meu coração.
Não o reconheci de primeira, anos se passaram, e ele mudou muito, está diferente, mas
seu olhar de menino travesso, e o seu sorriso permanece o mesmo.
Meu Ale está de volta, é difícil dizer como me sinto, é um misto de sentimentos
misturados. Até agora não acredito que eu o reencontrei, sempre escuto dizer que o destino
sempre nos prega peças, hoje realmente vejo que isso é verdade.
Depois de tantos anos o reencontrar do nada, na mesma sala. É muita coisa para ser
verdade.
Sabe aquele ditado que quando a esmola é demais o santo desconfia? Então, eu sou
dessas, desconfio mesmo. Muita coisa boa acontecendo, conhecer duas amigas e um amigo e
agora encontrar aquele que sempre foi o grande amor da minha vida.
Muita esmola assim é para desconfiar.
— Por que me olhas assim, pequena? — Ale fala me encarando.
Ele ainda se lembra do meu apelido? É para desconfiar, a esmola está sendo muito.
— Nada — digo com um sorriso no rosto abraçando os meus joelhos.
Depois da aula, resolvemos dar uma volta para conversar, por incrível que pareça
pensamos que seria só uma voltinha, Ale até deixou o carro na faculdade, mas andamos,
andamos, até resolvermos sentar na sarjeta para continuarmos a conversar.
Nossa conversa fluía bastante, sempre emendando um assunto no outro, mesmo com
tantos anos passados, pelo visto essa sintonia de conversar e se perder no tempo ainda continua.
— Está pensativa.
— Não, estou não.
— Conte para mim seus pensamentos.
— Mas é insistente, ein! — Rio.
— Conte, estou te ouvindo.
— Ok. Você venceu. Eu conto — digo dando um leve tapa no seu ombro.
— Boa menina.
— Estava pensando sobre o destino.
— Destino?
— Sim. O destino.
— Se explique, seja mais clara.
Acheron - Nacionais
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— Nunca imaginei que um dia eu ia te reencontrar do nada, na mesma faculdade, na


mesma sala. Diz se isso não é louco? É até difícil acreditar.
— É muita loucura mesmo, o destino é incerto.
— Muito incerto.
— Anos atrás o destino nos separou, e hoje nos coloca frente a frente novamente — Ale
fala se levantando e dando a mão para me ajudar a levantar.
— O que será que o destino reserva para nós? — questiono aceitando a mão de Ale para
levantar.
— Realmente não sei. Nesse momento a única coisa que sei é que nos perdemos no
horário e na nossa volta, está quase amanhecendo precisamos voltar.
— Isso é verdade, estamos bem longe da faculdade.
— Se preferir podemos chamar um taxi.
— Prefiro voltar andando.
— Tem certeza?
— Por que não?
— Porque andamos muito, você pode estar cansada.
— Tão prestativo. Mas obrigada, vamos andando.
— Se é isso que deseja, vamos andando.
— Assim temos mais tempo para conversar — digo rindo.
— Nossa, quem vê pensa que quase não conversamos. — Sorri.
— Assunto de seis anos, é muito assunto.
— Realmente muita coisa. Conte mais sobre o que você fez nesse tempo.
— Eu já disse tanta coisa sobre mim, sobre o que fiz, os lugares que visitei, as viagens
que realizei, até sobre os livros que li. Conte você sobre o que fez esse tempo todo.
— Minha vida durante esse tempo foi insignificante.
— Ah! Para com isso Ale, pode dizer.
— O que você deseja saber?
— Deixe-me ver. Você viajou para Orlando? Lembro que você tinha vontade de ir lá, só
para ir nos parques temáticos.
— Não fui. Outra pergunta.
— Você fez prestou vestibular para Direito?
— Não prestei vestibular para Direito.
— Então prestou vestibular para outro curso?
— Prestei para Geografia aqui na UFGD.
— Nenhum outro vestibular antes?
— Nenhum.
Acheron - Nacionais
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— Nossa, no ano que você foi embora estava tão empenhado para o vestibular.
— Eu disse que esses anos que passaram foram insignificantes.
— Mas você deve ter feito alguma coisa importante, alguma coisa que mudou, nem que
seja um pouquinho, a sua vida.
Ele fica pensativo, demora um pouco para responder.
— Eu fiz, sai da escuridão e salvei a minha vida.
— Não entendi — digo confusa.
— Eu estava no buraco, como se diz o ditado no fundo do poço. Uma pessoa sem saber
me estendeu uma mão e me tirou da escuridão, podemos dizer que se hoje estou vivo é por causa
dela.
— Nossa. — Abaixo a cabeça, quem será essa pessoa? — O que aconteceu com você
para chegar ao fundo do poço?
— Me perdi.
— Perdeu?
— Isso.
— Pode explicar como?
— Me perdi, queria algo que meu pai era contra, acabei fazendo coisas da qual não me
orgulho. Quando percebi já era tarde, estava perdido.
— Posso saber o que fez de tão grave?
— Talvez.
— Você matou alguém?
— Não diretamente, mas uma pessoa acabou morrendo.
— Estou ficando com medo.
— Não precisa ter medo pequena, essa pessoa morreu porque não consegui ajuda-la, para
ela acabou sendo tarde demais. Talvez esse teria sido o meu fim, quase foi tarde demais para
mim.
— Não foi tão tarde, como você mesmo disse, uma pessoa te ajudou.
— Sim, sem saber ela me ajudou, me trouxe de novo um motivo para viver. Um motivo
para reaprender a viver
— Ela é especial?
— Muito especial.
— Você gosta dela?
— Muito.
— Vocês estão juntos?
— Já estivemos.
— É a sua namorada?
Acheron - Nacionais
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— Não tenho namorada, um dia talvez eu crie coragem e te fale tudo o que aconteceu, já
te adianto que não me orgulho dessa fase de minha vida. Quando a coragem surgir te falo quem
foi essa pessoa especial que sem saber me ajudou a sobreviver, e me deu forças para seguir em
frente — Ale fala abrindo a porta do carro para eu entrar, nossa conversa rendeu tanto que nem
percebi que já estávamos no estacionamento.
— Vamos! — falo entrando em seu carro. — Confesso que fiquei curiosa para saber de
tudo.
— Quem sabe um dia eu te conte.
— Será?
— Dê tempo ao tempo, te reencontrei hoje pequena. Temos todo o tempo do mundo.
— Você sempre dizia isso “Temos todo o tempo do mundo”, Renato Russo.
Ale começa a cantar uma parte da música.
“Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”
— Acho que essa música traduz esse momento que estamos vivendo — digo.
— Concordo.
— Acho que essa música traduz esse momento que estamos vivendo — digo e ele
continua a cantar.
"Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério e selvagem
Selvagem, selvagem
Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos
Então me abraça forte
Me diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Acheron - Nacionais
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Temos nosso próprio tempo


Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens
Tão jovens, tão jovens"

— Renato Russo sempre foi um poeta — digo quando ele termina de cantar.
— Sua música sempre consegue traduzir aquilo que estamos sentindo.
— Principalmente nesse momento.
— Estou feliz em ter te reencontrado Eva, pensei que jamais iria te reencontrar. — Pega a
minha mão e a beija.
— Eu também, nunca mais tive notícias suas.
— Nem eu suas.
— Tanta coisa aconteceu.
— Sim, minha pequena, muita coisa aconteceu, mas agora estamos aqui.
— Temos todo tempo do mundo?
— Todo tempo do mundo...

Acheron - Nacionais
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CAPÍTULO 6 — EVA

Essas últimas horas parece que estou em um sonho, um sonho bom que confesso, não
quero acordar. Quero viver esse sonho, quero continuar sentindo o que estou sentindo. Quero
continuar ver tudo mais colorido, mais leve...
Tantos anos se passaram, tantas lágrimas brotaram do meu rosto, tantas orações feitas,
tantas promessas... Tantos sentimentos...
Cheguei a um ponto de não acreditar mais em reencontrar Ale.
Simplesmente eu não alimentava esperança de reencontrar o meu primeiro amor. Tinha o
deixado no passado. Pensava sempre que seria apenas uma lembrança, uma lembrança boa que
sempre iria lembrar com saudade...
Assim como o destino o levou para longe, quando menos esperava, me trouxe de volta,
assim como um sonho bom.
Ontem a nossa conversa fluiu tão bem, nem parecia que tínhamos ficado tantos anos sem
nós vermos... Tantos anos sem conversar... Tantos anos sem nos abraçar, sem nos tocar. Eram
tantos assuntos, que a hora passou tão depressa que nem vimos o tempo passar. Parecia que nada
tinha mudado, mesmo eu tendo consciência que tudo mudou. Não sou mais aquela menina, e Ale
também não é mais o mesmo.
Por mais que tenhamos conversado, ainda temos muito a conversar, muito a falar. Ele não
disse tudo o que aconteceu com ele nesse tempo todo, quis saber da minha vida, mas na hora de
responder minhas perguntas foi vago.
Precisava conversar, e desabafar, por isso marquei com Clara e Carol para chegarmos
mais cedo na faculdade.
Sentada no banco no corredor da faculdade explico para elas, mais ou menos, o que
aconteceu no passado. O que aconteceu nessas últimas horas.
— Que história, ein — Carol fala após ouvir toda a minha história.
— Realmente, uma bela história — Clara fala.
— E agora? — Carol pergunta. — O que você pretende fazer?
— Sinceramente eu não sei, encontrei ele ontem.
— Ele chegou a falar por que sumiu esse tempo todo? — questiona Clara.
— Não! — respondo abaixando a cabeça.
— O que importa o que aconteceu nesse tempo que passaram separados? O importante é
que ele está de volta — Carol fala.
— Eva eu te conheci ontem, quem sou eu na fila do pão para te dar conselhos. Mas acho
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que você merece uma explicação. Você mesmo disse que estava namorando ele, que ambos
estavam dispostos a ter um relacionamento a distância, de repente ele some, muda o status para
namorando, e você fica como nessa história toda? Você no mínimo merece uma explicação do
que aconteceu.
— Eu sei, mas estou tão feliz ter reencontrado ele. Sentia falta da nossa amizade.
— Você pode fingir que nada aconteceu e seguir com a amizade dele, ou perguntar o que
aconteceu — Carol fala.
— Fiz algumas perguntas, para ele, ontem.
— Ele falou o quê? — Carol pergunta.
— Ele foi vago nas respostas.
— Nessas respostas o que você sentiu? — Clarinha pergunta.
— No pouco que disse, senti que ele estava falando a verdade — respondo.
— Conseguiu sentir mais alguma coisa na fala dele? — Carol pergunta.
— Percebi que esse tempo todo ele sofreu muito, tanto com o pai, e segundo ele com as
escolhas erradas que ele fez. Que depois da morte do pai resolveu voltar para Dourados. Ao falar
do seu passado em Uberlândia tinha sofrimento em sua fala. Estou feliz em ter reencontrado o
Ale, mas confesso que tenho medo de me iludir e quebrar a cara de novo — confesso.
— Eva, medo todos nós temos, o que importa é que a amizade entre vocês dois
permaneceu. O amor da adolescência somente o tempo irá dizer se ainda permanece ou não —
diz Clarinha.
— Curte essa amizade, curta muito esse reencontro. Deixa rolar Evinha, vamos ver o que
acontece, não vá sofrer por antecedência — aconselha Carol.
— Afinal, só encontrei ele ontem.
— Exatamente — concorda Carol.
— Dê tempo ao tempo — diz Clarinha.
— Obrigada, meninas, pelo conselho. Conheci vocês duas ontem, mas parece que eu as
conheço a vida toda.
— Sabe aquela história que Deus sempre coloca as pessoas certas em nossas vidas?! —
Clarinha fala.
— Eu acredito nisso — Carol fala.
— Eu também.
— Então acho que foi isso o que aconteceu — Clarinha fala.
— Obrigada meninas — agradeço a elas.
— Sempre estarei aqui para ouvir você e a Carol — avisa Clarinha.
— E eu para ouvir você e Clarinha — Carol fala.
— E eu para cuidar dessas três meninas — Montanha fala se aproximando de nós. —
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Estava distante observando vocês, não queria atrapalhar esse momento de meninas.
— Você não atrapalha, seu bobo — digo.
— Não se esqueça, você faz parte — Carol fala.
— Somos o quarteto fantástico – Clarinha fala rindo.
— Só está faltando os super poderes — brinco.
— Vamos para a aula — chama Montanha. — O quarteto ainda não tem poderes de ver o
futuro para saber a matéria.
— Ah Montanha, está tão boa a conversa — Carol reclama.
— Vamos meninas, não se esqueçam. A responsabilidade de cuidar de vocês é minha.
Então para a aula as três — Montanha fala com um sorriso no rosto.
Foi bom reencontrar Ale, mas me abrir com as meninas me fez ver tudo com outros
olhos, preciso de respostas para a minhas perguntas, mas no momento não irei fazê-las, vou
apenas deixar rolar...
Mas assim que possível irei atrás de todas as respostas para as minhas perguntas. Quero
descobrir tudo o que aconteceu com Ale nesse tempo que ele sumiu.

Acheron - Nacionais
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CAPÍTULO 7 — EVA.

1 mês depois....

— Tudo indica que vai ser boa essa festa — Carol fala.
— Sei não — Montanha questiona com dúvida.
— Eu estou querendo ir. Mudei agora, quase não conheço essa cidade. Essa festa seria
uma boa — sugere Clarinha.
Estamos sentados no banco de sempre próximo ao nosso bloco na faculdade discutindo
sobre ir ou não na festa de sexta-feira.
— Confesso que não curto muito essas festas, mas se vocês forem eu vou — aviso.
— Eva, vamos sim. Você precisa sair e curtir a vida, você não estará sozinha, vamos ficar
todos juntos — Clarinha fala tentando me convencer.
— Não precisa ter medo Evinha, eu vou estar de olho e cuidarei de vocês —Montanha
avisa.
Eu não tenho costume de ir nessas festas, na verdade nunca gostei, sempre fui isolada de
tudo. Afinal nunca tive amizades. Meus livros e personagens literários sempre foram as minhas
melhores companhias.
Mas agora tudo indica que tenho amigos, não somente os literários, tenho amigos reais,
de carne e osso, amigos para qual eu posso confiar. Esse mês que passou tive provas concretas
disso.
As meninas, e o Montanha são tudo que eu jamais pensei que um dia poderia conhecer ou
ver verdade. Existe amizade verdadeira, e esses três são a prova disso.
Agora ele, meu amigo de infância também está de volta. Acho que Deus ouviu minhas
orações ou cansou das minhas lágrimas e me fez feliz colocando Clarinha, Carol, Montanha e
principalmente trazendo de volta o Ale para a minha vida.
— E você Ale? — pergunto a ele.
Quero ir nessa festa, mas quero que ele vá também. A todo o tempo da nossa conversa ele
permaneceu em silêncio. Muitas vezes, o percebo tão distante, parece que o corpo está aqui, mas
a alma só Deus sabe onde se encontra.
— Eu o que?
Como disse, o corpo estava aqui, mas a alma bem longe.
— Vai à festa? — pergunto novamente.
— Que festa? — questiona Ale.
— A festa do pijama que vou dar lá na minha casa — Carol fala rindo.

Acheron - Nacionais
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— Verdade? — Ale pergunta alheio a tudo.


— Lógico que não Ale, em que mundo você está? Eva chamando Alessandro, planeta
terra — brinco.
— Desculpa, estava distante mesmo. Agora para de gozar com a minha cara e explica que
festa é essa.
— Sexta vai ter uma festa, dizem ser boa, estamos decidindo se vamos ou não. Por isso
estou perguntando se você vai — explico.
— Faz tempo que não vou a festas — Ale fala e fica com olhar distante.
— Mentira Ale — digo. — Você era o maior festeiro, saia todo fim de semana, chegava
bêbado, pior ainda era menor de idade; Agora vem dizer que faz tempo que não vai a festas.
— É, minha pequena, aconteceram tantas coisas nesse tempo, muitas coisas mudaram, e
uma delas é ir a festas.
— Já que faz tempo que você não vai. Cola com a gente Ale — Montanha o convida.
— Não sei — Ale responde.
Queria tanto que ele fosse nessa festa, na adolescência o meu sonho era ir em uma festa
com ele.
— Vamos Ale — insisto. — Vai ser legal.
— Não sei — fala ainda com dúvida.
Aproximo- me dele e pego a sua mão.
— Por favor! — peço mais uma vez.
Ale passa sua mão em meu rosto, acariciando minha bochecha.
— Está bem, pequena, eu vou.
Com sua resposta, pulo em cima dele e lhe dou um abraço, depois beijo a sua face.
— Obrigada!
— Toda essa animação é por que eu vou com você, pequena? — pergunta sorrindo.
— Não, é porque todos nós vamos — Carol comenta rindo.
Minha amiga sabe o motivo da minha euforia, fiquei realmente feliz por ele ir junto.
Talvez nesse momento, eu seja a mesma Eva de alguns anos atrás, a mesma menina sonhadora.
— Então como vamos fazer para ir? — Montanha pergunta.
— Eu estou a pé — Clara fala. — Não tenho carro e nem moto, estou vendo se compro
alguma coisa.
— Eu uso o carro da minha mãe — Carol avisa
— Eu estou igual a Carol — digo.
— Posso passar e pegar vocês sem problemas — Montanha sugere.
— Eu tenho carro, posso pegar a Eva, que é caminho, e nos encontramos lá — avisa Ale.
Estou parecendo criança, meus olhos brilham só em ouvir ele falar que vai me buscar.
Acheron - Nacionais
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— Então ok, eu pego Clara e Carol e você busca a Eva, e nos encontramos na portaria as
11h00 — Montanha fala.
Depois de todos os pontos acertados, o que me resta é esperar o dia da festa. Não tive
com quem dançar no meu baile de formatura, mas terei alguém para dançar a noite inteira.
Passei o restante da semana escolhendo o vestido perfeito, o sapato perfeito para que essa
noite seja perfeita. Olhando agora no espelho valeu a pena todo o “trabalho” das escolhas
perfeitas. Gostei do resultado, estou me achando linda.
Na hora marcada, escuto a buzina do carro de Ale, sem demora pego minha bolsa e vou
ao seu encontro.
Ele me espera do lado de fora do carro, com uma das mãos no bolso, me aproximo dele,
que me observa.
— Conseguiu ficar ainda mais linda — diz com aquele sorriso que tanto gosto.
— Obrigada — digo sem graça.
— Vamos? — Abre a porta do carro.
Entro no carro e respiro fundo, hoje quero dançar, beber e ser feliz...
Não demora chegamos na Unik, depois de estacionar o carro caminhamos até a portaria,
Montanha, Carol e Eva já estavam a nossa espera.
Entramos na boate e vamos direto para o bar comprar fichas, afinal quero me divertir
muito. Pego a minha bebida, e dou um gole generoso.
— Quer? — ofereço para Ale.
— Não, obrigado — fala sem graça.
— Mas por que?
— Tomei remédio não posso beber.
— Que pena, você iria adorar essa batida.
— Vamos dançar?
— Vamos.
Dançar com o Ale é o que eu mais quero, a noite só está começando, hoje quero realizar
todos meus sonhos, realizar meus desejos e Ale estará presente em todos eles...

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CAPÍTULO 8 — ALESSANDRO

Olho no relógio e vejo que já são quase 04h00 da manhã, acho que já passou da hora de
irmos embora, Eva já dançou e bebeu mais do que podia. Não só ela, as meninas também.
Montanha no início começou a beber, mas quando percebeu a animação das três parou de beber e
começou a observar quem estava as rondando.
Eu não bebi, não coloco nenhum tipo de bebida alcoólica em minha boca, por mais que o
álcool não seja considerado uma droga ilícita, não deixa de ser uma droga, e no meu caso pode
despertar um Alessandro que não quero ser. A bebida alcoólica tem o poder de abrir caminhos
para que eu use outros tipos de drogas, sou um fraco, não posso bobear. Por esse motivo não
bebo e para não facilitar não frequentava mais festas, principalmente as regadas a álcool. Decidi
vir a essa festa só por causa da minha pequena, ela ficou tão animada que não tinha como eu
negar um pedido seu.
—Vamos embora — digo em seu ouvido.
Eva joga suas mãos delicadas em meu pescoço.
— Não! — nega fazendo careta.
— Vamos, está tarde.
— Temos todo o tempo do mundo — cantarola no meu ouvido.
— Temos sim, por isso precisamos aproveitar bem, como você já aproveitou essa festa
está na hora de eu levar a minha pequena para casa — digo acariciando seu cabelo.
— Você tem que ser tão...
— Tão...?
— Tão Ale. — Ri.
— Tão Ale?
— Sim, tão Ale. Aquele mesmo Ale de anos atrás — explica repousando sua cabeça em
meu peito.
— E você continua sendo a minha mesma pequena — digo dando um beijo em seus
cabelos.
Eva me olha e sorri.
— Então vamos?
— Vamos — enfim concorda de irmos embora.
Aviso Montanha que estamos de partida, ele e as meninas vão continuar na festa, elas
estão bem animadas e ele incorporou o segurança e está cuidando de ambas.
Conduzo Eva para a saída da boate, e depois até o carro, a ajudo a entrar e afivelar o cinto
de segurança. Dou a volta, sento e coloco o carro em movimento.

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— Nossa, essa festa foi muito top — Eva fala animada.


— Sim, foi.
— Obrigada, Ale.
— Por?
— Por ter vindo a festa comigo.
Em resposta te dou um sorriso.
Olho para Eva, ela continua a mesma, tinha medo dela ter mudado a sua personalidade,
mas não, continua a mesma menina doce. Volto a olhar para a estrada.
— Acho que vai cair água — comento.
— Chuva?
— Sim.
— Será? — Um trovão acaba respondendo à pergunta de Eva.
Após o trovão começa a chover. A cada minuto a chuva fica cada vez mais intensa. Paro
o carro na beira estrada, a chuva que cai está forte demais para continuarmos.
— Evinha, para nossa segurança o melhor é esperar a chuva diminuir um pouco.
— Adoro chuva — fala olhando para fora.
— Chuva é bom.
— Sim, é muito bom — Eva desafivela o cinto e abre a porta do carro.
— Eva! O que você está fazendo?
— Banho de chuva tem a capacidade de lavar a alma — fala saindo do carro.
— Eva! — chamo.
— Vem Ale. Está uma delícia — grita dançando, pulando na chuva.
— Que loucura! — falo baixo, já tirando o cinto e indo ao seu encontro na chuva.
Eva levanta seus braços, gira, dança como uma menina. Os pingos da chuva caem, e o
seu corpo vai ficando molhado. Seu vestido fica colado ao seu corpo, aos poucos me mostrando
o que eu queria ver, despertando o desejo que estou tentando esconder.
Eva se aproxima e me abraça, ela nem sentiu que a chuva que cai a despiu sem ela tirar a
roupa. Seguro seu rosto com as duas mãos e a beijo...
Beijo Eva com todo o meu desejo e saudades acumulados durante esses anos que se
passaram, ela corresponde com a mesma voracidade. Sinto o doce gosto da sua boca, tão
delicada... Tão molhada, tão perfeita. Uma das minhas mãos percorre suas costas, Eva solta um
leve gemido, isso faz com que eu escorregue minhas mãos até a sua bunda e a levante do chão.
Ela cruza suas pernas em minha cintura, minhas mãos seguram os dois globos, a levo até o capo
do carro, fazendo-a deitar e a cobrindo com o meu corpo. Continuo a beijando, sinto suas mãos
geladas por baixo da minha camisa, ela aperta minhas costas, cruza as pernas em minha cintura
colando ainda mais nossos corpos. Beijo seu pescoço, abaixo a alça de seu vestido e abocanho
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seu seio, o sugo até o bico ficar enrijecido. Dou a mesma atenção para o seu outro seio, enquanto
uma das minhas mãos percorre sua pele macia, até encontrar sua calcinha encharcada, a afasto
para o lado, e faço movimentos circulares até que um dos meus dedos invade a sua intimidade.
— Ah! — Eva solta um gemido.
Conforme meu dedo entra e sai, ela faz movimentos circulares, me beija, me arranha.
— Eva! — falo com a respiração ofegante. Isso é insano.
— Não para — pede entre gemidos.
Tento tirar a minha mão do meio de suas pernas, mas ela me impede segurando a meu
pulso e rebolando em meu dedo em sua intimidade.
— Eva estamos no meio da estrada — falo unindo as nossas testas.
— Eu quero.
— Alguém pode passar e ver.
— Quem é o doido que vai estar a essa hora na chuva Ale, vem continua — pede.
— Não sei. — Não posso expô-la assim. — Você não merece pequena. — Olho em seus
olhos. — Não posso tomar você para mim em cima do capô de um carro na beira da estrada,
debaixo de chuva.
— É o que eu quero. — Olha em meus olhos. — Possua-me, esperei muito tempo para
ser sua novamente — fala com firmeza.
— Também esperei muito tempo para estar dentro de você. — Acaricio sua face. — Mas
não assim, pequena.
— Esqueça o mundo. Só tem eu e você, não poderia ser mais especial.
Eu a quero, a desejo.
Todo o desejo e a paixão, toda a minha luxúria está refletida em seu olhar. Volto a beija-
la e esqueço o mundo que está a nossa volta. Vou descendo minha boca, mordiscando, chupando
cada pedaço da sua pele exposta, até chegar em sua intimidade.
Tiro sua calcinha, passo a língua em sua bocetinha molhada bem devagar, pinceladas
para cima para baixo, movimento a língua em círculos vagorosamente, até que ela começa a se
contorcer de prazer. Aumento o ritmo da chupada.
— Ah — Eva geme, e levanta os quadris.
— Goza pequena — digo entre as chupadas.
Depois de mais algumas chupadas, Eva goza em minha boca, sugo o seu prazer para
mim. Nunca senti o seu gosto antes. Na adolescência era um idiota que pensava apenas no meu
prazer. Hoje sou um homem, aprendi a satisfazer uma mulher, e ter o meu prazer a partir do dela.
Sentir seu gosto em minha boca, foi como uma injeção de tesão, meu pau pulsava dentro da
calça, o tirei para fora peguei uma camisinha na carteira, encostei a cabeça em sua entrada e
comecei a forçar a penetra-la. Fui rasgando sua pele macia, comecei com entocadas leves,
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vagarosas, depois fui aumentando o ritmo. Palavras não foram ditas, quando percebi que Eva
havia gozado novamente, enfim me permitir chegar ao ápice.
Saio de dentro dela, beijo sua testa.
— Loucura — falo.
— Uma deliciosa loucura.

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CAPÍTULO 9 — EVA.

SONHO.
No dicionário diz que sonho é: conjunto de imagens, de pensamentos ou de fantasias que
se apresentam à mente durante o sono. Mas, nesse exato momento não estou dormindo.
Literalmente estou sonhando acordada, é tão bom que parece mentira. Se eu não estivesse
sentido o que eu senti, se essa chuva não estivesse caindo e molhando meu corpo, pensaria que
tudo que acaba de acontecer fosse fruto da minha imaginação.
Graças ao bom Deus, senhor das causas impossíveis não é sonho!
Isso tudo é real, ainda sinto o peso do seu corpo, sinto a sua respiração acelerada, sinto o
meu Ale.
— Loucura — fala ainda ofegante.
— Uma deliciosa loucura — respondo.
— Dois loucos.
— Nunca fui muito normal.
— Vem, pequena. — Sai de cima de mim e me dá a mão. — Chega de loucuras por hoje.
Seguro sua mão e levanto do capô do carro.
— Gostei dessa loucura de hoje.
— Também gostei. — Puxa um corpo e me abraça. — Dessa vez não fui um adolescente
inconsequente.
— Eu gostei da nossa primeira vez.
— Eu sei que sim, pequena, mas fui um idiota, isso não tem como discutir.
— Você foi ótimo.
— Melhor que hoje? — pergunta dando aquele sorriso de menino travesso que tanto
gosto.
— Não tem como comparar, — falo rindo — era a minha primeira vez.
— Não tem como comparar a sua primeira vez durante o dia no calor de quase 40º graus,
no seu quarto, a tempo de sermos pegos pelos seus pais, com hoje no meio da estrada, de
madrugada, no capô do carro e para completar debaixo de chuva. Realmente, pequena, não tem
comparação.
Olho para ele e começo a rir.
— Uma coisa é certa.
— O quê?
— Gostamos do perigo.
— Adrenalina pura.

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— Tenho que concordar.


Me olha e me beija novamente.
— Senti falta dos seus beijos — ele confessa.
— Eu também.
— Vamos sair dessa chuva, pequena. Acho que no carro deve ter alguma coisa para te
secar e cobrir. Entra! — Abre a porta.
— Seria bom, está frio — falo abraçando meu corpo. — Vou molhar todo o seu carro.
— Não se preocupe se vai molhar o carro, pequena, eu não ligo para o banco molhado.
Enquanto o frio, até 5 minutos atrás não o sentia. — Ri.
— É porque estava com um cobertor humano muito bom. — Dou uma piscadinha para
ele.
— Espertinha.
Fico o observando enquanto ele procura algo no banco traseiro.
— Aqui, se enxuga e veste.
Ale acaba encontrando uma toalha de rosto e um moletom no banco traseiro, ele me
entrega, tento me enxugar e visto o moletom, e ele tira a camisa molhada. Liga o carro e pega a
estrada.
Fico olhando para a estrada, estou feliz, mas uma dúvida me corrói por dentro e agora
como ficamos?
— Você estava com o olhar tão feliz, agora está com uma carinha triste. O que foi?
— Nada. — Encolho-me no banco.
— Fale, pequena.
— Não sei.
— Sempre fomos amigos, portanto fale, não fique assim — diz pegando minha mão e a
beijando.
— E agora Ale?
— Como ficamos?
— Isso.
— Está ouvindo — fala apontando para o rádio que toca a música de Lulu Santos,
Tempos modernos

Hoje a vida melhor no futuro


Eu vejo isso por cima de um muro de hipocrisia
Que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais clara e farta
Repleta de toda satisfação
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Que se tem direito


Do firmamento ao chão
Eu quero crer no amor numa boa
Que isto valha pra qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim do que não, não não
Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo o que há pra viver
Vamos nos permitir

— Você sempre falando através de músicas — acuso.


— É assim que me sinto, pequena. Hoje vejo a vida melhor que ontem e um futuro
melhor, não tem como eu voltar no passado e reparar todos os erros que fiz. O tempo voa,
quando percebemos já era tudo... Entende?
— O que você quer dizer?
— Quero dizer que vamos viver tudo o que há para viver, vamos nos permitir.
Apenas lhe dou um sorriso com a sua resposta e volto a olhar para janela, o que será que
aconteceu no passado para ele sempre falar essas coisas vagas?
Realmente não temos como voltar ao passado, o tempo passa que nem vemos. Vou me
permitir viver com ele tudo o que há para viver, se eu quebrar a cara pelo menos vivi.
Depois que Ale me deixou em casa, deito em minha cama e repasso tudo que aconteceu.
Um sonho realizado, sim eu e Ale ficamos juntos, parece que nunca nos separamos, não sei
como vai ser daqui para frente, apenas sei que vou deixar rolar e viver intensamente cada minuto.
Posso estar fazendo papel de trouxa romântica, mas é melhor me arrepender do que fiz, do que
eu deixei de fazer.
Sim eu sei, tem muita história, Ale não me contou o verdadeiro motivo porque ele sumiu,
também não disse quem foi a pessoa tão especial que o tirou do fundo do poço, também tem a
história com a briga com o pai e a morte da amiga.
O que mais tem são histórias não contadas... Palavras não faladas...
O que eu quero nesse momento é viver e aproveitar o que está acontecendo agora, nesse
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momento, não preciso de nomes, apenas de sensações, apenas me sentir como me sinto em seus
braços.

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CAPÍTULO 10 — ALESSANDRO

Depois de deixar Eva em casa e lhe dar mais um beijo e um abraço sigo para minha casa.
Como sempre, minha mãe está dormindo no sofá à minha espera. Avisei que iria em uma festa,
que não precisava se preocupar, mas mãe é mãe e eu não tenho um bom histórico. Uma saída a
noite a faz se preocupar muito, mas que qualquer outra mãe, somente ela sabe o que passamos.
Depois de tanto trabalho, tento fazer minha mãe confiar em mim, não deixarei me levar
mais para esse submundo.
— Mãe! — chamo.
Ela lentamente abre os olhos, puxa meu corpo e me abraça, a sinto cheirando a minha
roupa. É sempre assim, ela tem medo que me afunde novamente. Por mais que eu tenha
conseguido sair, para voltar para aquele mundo é um pulo.
A cada dia longe das drogas é uma vitória.
— Não se preocupe, estou limpo — tento tranquiliza-la.
— Graças a Deus — fala em um sussurro.
— Disse que não precisava me esperar.
— Você está ensopado, aconteceu alguma coisa?
— Estou bem, só tomei um pouco de chuva. E a senhora o que faz acordada? Te disse
que eu iria demorar.
— Não consegui dormir, vi que estava demorando e fiquei preocupada. Você está
molhado, pode pegar uma gripe.
— Não se preocupe, mãe, já vou me trocar.
— Quer um chá? Ajuda a aquecer.
— Negativo, já para cama, está tarde — digo a ajudando a se levantar do sofá.
— Deixa cuidar de você.
— A senhora já cuidou de mim durante muito tempo, está na hora de eu cuidar da
senhora. Venha, vou te ajudar a ir para a cama.
Levo-a até o quarto, ela deita na cama, e a cubro com o edredom.
— Boa noite, mãe — digo lhe dando um beijo.
— Boa noite, meu filho. Tire essa roupa molhada.
Não respondo, apenas dou um sorriso e saio do seu quarto. Vou para meu quarto, tomo
um banho quente, visto meu pijama, sento na minha escrivaninha, pego uma folha e uma caneta.
Ligo meu mp3, e começo a escrever ao som de Jota Quest, com a música "O que eu
também não entendo"

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DOURADOS, MARÇO DE 2013

Hoje a tive em meus braços, a tive em sua plenitude, senti seu corpo, seu gosto, essa
noite você foi minha, igualmente como eu sou seu.
Assim como a nossa primeira vez, a nossa segunda vez não foi em um lugar tranquilo, em
uma cama com pétalas, com uma música ao fundo e vinho. Foi na beira da estrada, em cima do
capô do carro e debaixo de chuva, por causa da chuva nem lua tinha, mas posso afirmar que
para mim foi a segunda vez que fiz amor de verdade em minha vida.
Fiz amor apenas duas vezes nessa vida, e ambas as vezes com a mesma mulher, com
minha Eva, minha pequena. Como diz a música que escuto nesse momento... Essa não é apenas
uma carta de amor, são pensamentos soltos traduzidos em palavras, para que você possa
entender, o que eu também não entendo.
Hoje estou tentando escrever alguns dos meus pensamentos que talvez um dia você possa
entender tudo o que se passou comigo.
Eu a amo, mas de novo como diz a música... O amar não é ter que ter sempre certeza...
Não sou perfeito pequena, queria ter coragem para dizer tudo que eu passei, mas essa coragem
ainda não tenho.
Não sei como vai ser o nosso amanhã, não sei como vamos ficar daqui para frente, mas o
importante é que sempre estarei ao seu lado.
Te amo!
Do seu Ale.

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CAPÍTULO 11— EVA

1 ano depois...

O som da música eletrônica está alta como sempre, Unik está lotada, balanço meu corpo
conforme a música. Uma mão segura minha cintura, e não preciso me virar para ver quem é, sei
que é ele. Levanto meus braços e o abraço, ele beija meu pescoço o suficiente para um arrepio
passar por toda parte do meu corpo.
Viro-me, laço seu pescoço e beijo sua boca, delícia, beijo com sabor de menta.
— Vou ao banheiro — avisa encerrando o nosso beijo.
Eu e Ale estamos juntos, não juntinhos como namorados, mas juntos. Durante 1 ano eu
sou apenas dele, e tudo indica que ele é somente meu.
Deixei rolar como disse que faria, estamos bem em nosso lance, estamos felizes, e é o
que importa. Durante a semana somos dois amigos, inseparáveis, mas nos fins de semana somos
amantes, me perco em seu corpo assim como ele se perde no meu.
Não podemos namorar, não por mim, mas por ele. Tem muita coisa que ainda precisa ser
explicada. Ale não me engana, já conversamos várias vezes, ele disse que não pode assumir algo
sério enquanto ele não me contar sobre sua vida, sobre o que aconteceu nesses sete anos que
ficamos separados. Segundo ele depois que contar o que aconteceu, eu vou virar as costas e
nunca mais olhar para a sua cara. O amo, e nada que fez no passado vai nos separar.
A minha única fala em relação seu passado é “fale quando você se sentir pronto”.
Não vou exigir que ele me conte nada, se o mesmo não me lembrasse eu teria até
esquecido que um dia ele foi embora, que sofri e fiquei longe do amor da minha vida por, longos,
sete anos.
— Cadê o Ale?
— Foi ao banheiro — respondo a Carol.
— Vamos sentar um pouco — Clarinha fala. — Estou morrendo de sede — completa.
— Vocês vão sentar ali — Montanha aponta uma mesa —, que vou buscar bebidas.
Ruiva e Clara nada de aprontar, estou de olho em vocês.
— O que vocês duas estão aprontando? — pergunto olhando para as duas, enquanto
caminho para a mesa que o “papai” Montanha indicou.
— Eu não fiz nada — Clarinha se defende.
— Esse é o meu problema — Carol fala.
— Que problema? — pergunto.
— Não fiz nada — Carol responde rindo.

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— Como assim? — pergunto.


— Está vendo aquele carinha ali? — Aponta para um cara loiro que a encara. — Então,
eu queria dar uns amassos nele, mas o Montanha não deixou. Viu?! O meu problema é que eu
não fiz nada, mas estou doidinha para fazer.
— Carol, você é doida. — Rio.
— Tenho bom gosto, isso sim. Doida é você que está nesse chove e não molha com o
Ale.
— Estou bem assim. — Elas sempre me tentam fazer enxergar, mas eu realmente estou
bem.
— Evinha, sempre disse que vocês dois formam um lindo casal — Clarinha fala.
— Isso é verdade — Carol concorda.
— Mas você merece ser mais que uma foda de final de semana. Desculpa Evinha, eu sei
que você está bem assim, mas a gente sabe que daqui um tempo vamos ter que te consolar e
enxugar suas lagrimas — diz Clarinha.
— Concordo de novo, esse lance de pegar e não se apegar não é para você Eva, você é
pura... — diz Carol.
— Carol, eles transam! — Clarinha fala rindo a cortando.
— Ok — concorda. — Não tão pura para ir ao convento, mas pura de alma, se fosse igual
eu ou a Clarinha que não está nem ai para esse lance de sentimentos tudo bem, a gente sabia que
você não ia se machucar. Evinha, você é romântica, você merece flores, chocolates, e toda essa
baboseira de namoro sério.
— Estou feliz meninas, não se preocupem.
— Sabemos que está feliz, o problema vai ser quando um dia aparecer outra e pegar
aquele Ale para ela e você ficar para escadeio — Carol fala.
— Não vai acontecer — nego.
— Ah vai sim — Carol afirma.
— Se acontecer, nem ligo.
— Liga sim — acusa Clarinha.
— Você liga, e nós vamos correndo enxugar suas lágrimas — avisa Carol.
Olho para ambas, sei que elas querem me proteger, sei que mereço mais do que ele pode
me oferecer nesse momento, mas estou bem assim. Estou feliz.
Elas percebem que eu me entristeço, e ambas vêm me abraçar.
— Não fique assim Evinha, nós cuidamos de você — Clarinha fala.
— Se ele quebrar seu coração a gente conserta — completa Carol.
— Obrigada, meninas.
— O que está acontecendo aqui?
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Montanha fala aproximando-se do nosso abraço coletivo.


— Evinha precisava de um abraço — explica Carol.
— Como boa amiga que somos, decidimos que abraço coletivo é a melhor opção —
Clarinha completa.
— Muito errado isso — Montanha fala colocando nossas bebidas na mesa.
— Errado por quê? — Pergunto.
— Errado porque ele é o papai de todas e acha que fizemos cagada — Carol fala com
ironia.
— Errado, porque está faltando eu nesse abraço — Montanha ignora Carol e vem dar um
abraço bem apertado do jeitinho que todas nós gostamos.
— Esse Montanha sabe como abraçar — falo rindo.
— O se sabe Evinha. Ele abraça bem que você nem imagina — Carol fala rindo.
Depois do nosso abraço coletivo, tomamos nossas bebidas e voltamos para a pista de
dança para dançar.
— Eva cadê o Ale? — pergunta Montanha.
— Não sei, ele foi no banheiro, acho que a fila está grande — respondo.
Ele realmente está demorando, nunca foi de ficar tanto tempo longe de mim nas festas, o
bichinho da insegurança começa a apitar aqui dentro.
— Não fique assim, daqui a pouco ele volta — Clara fala me dando um sorriso
acolhedor.
O tempo passa, a pista de dança começa a esvaziar e nada do Ale voltar.
— Eva, vamos embora eu te levo — Montanha avisa.
— E o Ale? — pergunto.
— Não sei Eva, nesse momento quero apenas levar minhas três meninas para casa —
Montanha explica.
Caminho com eles até a saída, me acomodo no banco traseiro e fico olhando a rua
enquanto eles conversam e riem. Sinto alguém pegando a minha mão, olho e vejo que é a Clara.
— Liga para ele — fala.
Balanço a cabeça que não.
Não irei ligar, ele que tem que dizer onde está e porque me abandonou na boate, não eu.
Fiquei esperando ele feito uma boba.
— Mande mensagem dizendo que já está indo embora — Carol sugere. — Ele não
merece, mas manda a mensagem.
Pego meu celular, digito a mensagem e envio.

“Estou indo embora com o Montanha e as meninas”


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Montanha me deixa em casa. Vou para o meu quarto, tomo banho, me arrumo e deito em
minha cama. Pego o celular e nenhuma mensagem dele.
Meu coração está apertadinho, ele nunca fez isso. Mando outra mensagem.

“Ale estou preocupada, está tudo bem?”

Coloco o celular embaixo do travesseiro caso ele ligue ou mande mensagem eu escuto.
Demoro a pegar no sono, quando abro meus olhos pego o celular de novo, e nada.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação.
Vou ao banheiro, passo na cozinha, bebo água e decido dormir mais um pouco. Já no
quarto pego meu celular e tem uma mensagem.

“Desculpe por ter sumido, tive uma emergência, não deu para avisar. Não se
preocupe estou bem, mais tarde te ligo, beijos”

Pronto, o restinho de sono que eu tinha foi embora, agora fico aqui morta de preocupação
e com uma única pergunta.
O que aconteceu com o Ale?

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CAPÍTULO 12 – ALESSANDRO

Encerro o nosso beijo e a olho nos olhos, como sempre brilham. Adoro seu sorriso.
— Vou ao banheiro — aviso beijando seu rosto.
Saio em caminho ao banheiro, saímos quase todos os fins de semana. Minha pequena
sempre é animada, gosto da sua companhia, seja em festa, ou sentando vendo as estrelas, o
importante é estar com ela. Sou feliz com ela ao meu lado, ainda não tive coragem de contar
sobre o meu passado, sou um fraco, tenho medo dela nunca mais olhar na minha cara, vivo na
corda bamba. Sei que vai chegar um dia e um cara muito melhor que eu, que vai leva-la embora.
Eu a amo, e por amar tanto Eva sei que ela merece ser feliz.
No caminho para o banheiro, passo por uma jovem loira sentada no chão. Na volta do
banheiro percebo que ela continua sentada no chão com as mãos jogadas. Ela geme, não sei se é
de dor.
Aproximo-me dela.
— Moça, tudo bem? — pergunto próximo a ela.
Ela não responde, afasto seu cabelo que cobre o rosto, vejo que seus lábios estão
azulados, pego sua mão e as pontas dos dedos também estão de cor azulada, seguro seu pulso e a
sua pulsação é fraca. Os gemidos na verdade são pela dificuldade de respirar.
— De novo não!
Pego a moça no colo e saio disparado para a saída, ela precisa ir urgente para um
hospital.
Volto alguns anos atrás Vanessa... De novo não.... Não vou deixar acontecer de novo.
Coloco a moça no banco do meu carro, rapidamente coloco o carro em movimento e ligo
para a emergência do hospital.
— Alô, estou a caminho com uma jovem que está sofrendo uma overdose, provavelmente
de cocaína — digo nervoso.
— Isso é pegadinha a essa hora, não tem o que fazer não? — a atende do hospital fala.
— Vou nominar para você: Respiração fraca ou dificuldade em respirar, roncos ou
respiração com borbulhas, indicando que algo está obstruindo os pulmões, lábios e pontas dos
dedos de cor azulada, braços e pernas moles e sem tônus muscular, Desorientação, diminuição
dos batimentos cardíacos, perda de consciência, sem resposta quando se tenta mexer e acordar a
vítima. Esses são os sintomas, você acha que é pegadinha? Estou falando sério — grito irritado.
— Ok, você me convenceu, estaremos com uma equipe pronta para recebe-los.
— Estou indo o mais rápido possível — aviso desligando o celular.
Olho para o banco traseiro, a respiração continua com borbulhas, isso não vai se repetir

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eu não vou deixar.


— Aguenta moça, estamos chegando. Não desista! — peço acelerando o carro e cortando
as ruas de Dourados.
Chegando ao hospital, já tem uma equipe na portaria nos esperando, ajudo desce-la do
carro e a coloca-la na maca.
Fico na recepção esperando notícias. Tenho fé que ela vai ficar bem, tão nova, tão linda,
tem a vida inteira pela frente assim como a Vanessa tinha, para Vanessa foi tarde, espero que
para ela não.
As horas passam, e nada de notícias. Vejo a luz do dia surgindo, olho no celular e tem
mensagens da minha pequena.
Como pude me esquecer dela? Abro a primeira mensagem.

“Estou indo embora com o Montanha e as meninas”

Leio a segunda mensagem.

“Ale estou preocupada, está tudo bem?”

Penso em ligar, mas desisto, ela deve estar dormindo, não quero acorda-la, o melhor é
mandar uma mensagem, mais tarde ligo ou passo na casa dela e explico o que aconteceu.

“Desculpe por ter sumido, tive uma emergência, não deu para avisar. Não se
preocupe estou bem, mais tarde te ligo beijos”

Ligo para a minha mãe que provavelmente está acordada até agora, encerro a ligação e
guardo o celular no meu bolso.
— Moço, foi você que chegou com a moça loira com overdose? — Levanto a cabeça e
vejo uma enfermeira na minha frente.
— Sim, sou eu. Ela está bem?
— Graças a você está sim.
— Posso vê-la?
— Pode, queira me acompanhar até o quarto dela.
— Obrigado — respondo.
— O socorro rápido foi primordial para revertermos o caso e ela ficar bem, como sabia
que ela estava sofrendo uma overdose de cocaína?
— Era cocaína mesmo?
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— Ela ingeriu várias drogas, álcool, ecstasy, maconha, mas a cocaína foi o que acabou
provocando a overdose. Sua namorada poderia ter morrido.
— Ela não é minha namorada.
— Não?
— Não, eu a encontrei no chão da boate quando estava saindo do banheiro. Vi os lábios e
as pontas dos dedos azulados, a pulsação fraca e a ronquidão, então a peguei e a trouxe para cá
— explico.
— Como sabe todos esses sintomas? Como conseguiu entender que se tratava de uma
overdose?
— Alguns anos atrás eu tinha uma amiga chamada Vanessa, um dia fui em sua casa para
saber como ela estava, e a encontrei com essas mesmas características, fiquei dando um tempo
para ver se passava, achei que ela estava curtindo a brisa. Depois de quase meia hora percebi que
não passava e que ela ficava cada vez pior. Então a levei ao hospital.
— Como sua amiga está hoje?
— Morta. Ela teve várias overdoses e não resistiu, não consegui salva-la.
— Se isso serve de consolo hoje você salvou uma vida — fala parando em frente a uma
porta. — Bata e entre, vou deixar vocês conversarem — fala se afastando.
Fico alguns segundos encarando a porta na minha frente, bato. Escuto uma voz franca
dizendo para entrar.
Entro devagar, vou próximo a cama.
— Oi! — Ela está com os olhos fundos e roxos, lábios rachados.
— Oi — responde com um singelo sorriso no rosto.
— Eu sou Alessandro. Foi eu que te trouxe para cá — tento explicar a minha presença,
sou um desconhecido para ela.
— Meu salvador — fala desanimada.
— Não sou salvador...
— Mila! — uma voz grita entrando no quarto e corre para abraçar a moça. — Ai meu
Deus, quase morri quando o hospital ligou me avisando, por isso só vim agora.
— Estou bem Day — fala para a amiga. — Tem gente no quarto.
A amiga levanta o olhar e percebe a minha presença. Se afasta e enfim me cumprimenta.
— Oi, sou Dayana, amiga da Camila — avisa estendendo a mão para me cumprimentar.
— Oi. — Aperto sua mão. — Sou Alessandro, o cara que trouxe a sua amiga para o
hospital.
— Obrigada Alessandro, senão fosse você nem quero imaginar o que poderia ter
acontecido com ela — Dayana fala colocando as mãos no bolso traseiro.
— Senão fosse ele eu teria morrido e você hoje estaria chorando no meu caixão. —
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Camila fala.
— Não fala isso Mila, nem quero pensar nisso, eu iria morrer junto.
— Bom, estou indo, Camila já está bem, e tem companhia, vou indo então — aviso
tentando me despedir. Ela está bem é o que importa.
— Muito obrigada Alessandro — Camila me agradece.
— Você poderia vim visitar a Camila mais tarde — sugere Dayana.
— Day, não sabemos se ele tem compromisso, já fez muito em ficar até agora.
— Por favor, Alessandro, venha mais tarde. Esse é o meu celular, qualquer coisa ligue —
Dayana fala passando um cartão. — Precisamos agradecer direito, por favor venha mais tarde eu
insisto.
Olho para Camila, tão debilitada, uma visita não irá me arrancar pedaço.
— Então as 15h00, passo para fazer uma visita — digo saindo do quarto.
Vou para casa, como tinha imaginado encontro minha mãe no sofá preocupada, conto a
ela tudo que aconteceu. Depois de explicar tudo, vou para meu o quarto, tomo um banho e caio
na cama.
Não consegui salvar a vida de Vanessa, mas salvei a vida da Camila, isso faz o peso da
morte da Vanessa ficar um pouco mais leve.
Adormeço...

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CAPÍTULO 13 – CAMILA

— O que acha que está fazendo insistindo para esse cara vim me visitar? — questiono
assim que Alessandro fecha a porta.
— Mila, você não vê? Ele vai dar certinho para você usar como fachada.
— Como?
— Mila namora com ele, assim seus pais não vão desconfiar da gente e te expulsar de
casa. Nesse tempo vejo se consigo arrancar a grana do Marcelo e nos mudamos dessa cidade de
merda.
— Você está louca, só pode.
— Mila, ele é a chave dos nossos problemas.
— Day, eu quase morri por sua causa e você ainda está preocupada com esse plano besta
de arrancar dinheiro daquele idiota.
— Eu sei Mila, mas você está viva, precisamos de uma medida paliativa enquanto não
resolvo o nosso problema definitivamente. Alessandro parece ser um bom moço, conversei com
a enfermeira e ela disse que ele estava todo preocupado com você, que uma amiga morreu de
overdose e ele não pode ajudar, tudo indica que ele se sente culpado.
— E daí? O que eu tenho a ver com isso?
— Tudo a ver, Mila. É obvio.
— Day, não.
— Sim Mila, isso vai resolver nosso problema por enquanto, seu pai não vai ficar
desconfiando de nada, não vai querer te expulsar de casa. Conquista aquele idiota, ele ficou todo
mexido, você está acabadinha, ele vai querer cuidar de você.
— Day, eu quase morri por sua causa, meu pai quase me espancou ontem quando
descobriu que peguei o dinheiro na carteira dele, por isso acabei errando a mão ontem, e você
não está levando a sério, só pode. Vamos acabar com essa farsa e enfrentar isso juntas.
— Mila, eu te amo, mas não está na hora de nos assumir. Vamos comer e viver onde?
Amor não enche barriga.
— Não aguento mais. — Começo a chorar.
— Não chore, seu choro não vai resolver seus problemas — Day fala beijando meu rosto.
— As coisas vão se ajeitar.
— Day, isso não é vida, não quero mais viver escondida. Não quero ter que transar com
um ou com outro para conseguir dinheiro.
— Aguenta só um pouco, também não gosto de viver assim, a vida é feita de sacrifícios.
O amor requer sacrifícios.

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— Até quando iremos nos sacrificar?


— Falta pouco, Marcelo já conseguiu um emprego para mim na empresa dele, logo vai
me dar um carro, ele está apaixonado por mim, logo vou conseguir tudo que eu quero e vamos
viver longe do preconceito desse povo mesquinho.
— Já fizemos muitos sacrifícios, duas vidas se perderam por nossa culpa.
— Uma vida, só a chata da irmã do Adriano, nesse caso podemos dizer que até fiz um
favor para a humanidade.
— E o aborto?
— Nem conta, aquilo era um estorvo.
— Muitas vezes você me assusta com tanta frieza, Mariane era nova, acabou morrendo
por nossa culpa, você estava grávida, era uma vida, eu disse que nós poderíamos cuidar do bebe.
— Eu, você e um bebê?
— Sim, seria a nossa família.
— Mila, essa família não seria possível naquela época, e nem hoje. Já disse que
precisamos fazer vários sacrifícios e o aborto foi um deles. Não fique remoendo o passado. Pense
no nosso futuro juntas e longe dessa cidade.
— Queria ser fria igual você.
— Pense, o Alessandro pode fazer companhia para você, ele parece ser um carinha legal.
As roupas dele eram de marca — Day fala se sentando na cama do meu lado e me abraçando.
— Não sei, não quero envolver mais ninguém nessa nossa bagunça.
— Pense no caso, seu pai não iria te encher mais o saco. Alessandro pode te ajudar
financeiramente.
— Como eu iria conquistar ele?
— É só se fazer de coitada, e pedir ajuda para parar de usar essas porcarias, já disse,
quando estiver depressiva use maconha, você fica misturando tudo.
— Vou dar uma maneirada no pó.
— Usa só de vez em quando, não precisa ser sempre.
— Já entendi.
— Então você vai ficar som o Alessandro?
— Vou, é por pouco tempo.
— Pouco tempo. — Me dá um beijo. — Logo estaremos livres para viver o nosso amor,
longe de tudo e todos.
Day fica deitada comigo, cuidando de mim e me dando carinho. A amo tanto, há anos
estamos nesse impasse, meus pais desconfiam que sou lesbica e eles odeia Dayana.
Ontem tive uma briga feia em casa, peguei dinheiro na carteira do meu pai. Não trabalho,
Day que sempre me ajuda financeiramente, ontem meu pai me ofendeu, me magoou. Fui para a
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boate para beber, me distrair, no fim bebi demais, dei uma fumada aqui, outra ali, e acabei
errando no pó. Fiquei alucinada, nem sabia mais o que estava fazendo.
Day foi embora, o médico passou e disse que amanhã de manhã me dará alta. Escuto uma
batida na porta, logo a porta se abre, é Alessandro.
— Oi — fala.
— Oi — respondo.
— Espero não estar atrapalhando.
— Estava te esperando. Vem, senta aqui do meu lado — tento ser mais amável possível.
— Como se sente?
— Melhor.
— Que bom.
Ficamos em silêncio.
— Amanhã eu tenho alta — falo quebrando o silêncio.
— Que bom.
— Posso te pedir um favor?
— Pode.
— Minha família não sabe que estou aqui, tenho vergonha deles saberem o motivo que
me fez parar nesse hospital, somente a Dayana, que é a minha melhor amiga, sabe o que
aconteceu. Amanhã Dayana te um almoço importante na casa do namorado com a família dele,
não tenho ninguém para me levar para casa. Queria pedir para você me levar em casa amanhã.
— Amanhã? Não sei se vai ser possível, marquei com uma amiga — ele começa a falar e
eu finjo chorar compulsoriamente.
— Tudo bem — falo chorando. — Sou uma renegada por todos, é sempre assim. Lógico
que você tem compromisso, lógico que não vai querer andar com uma viciada drogada pela rua.
— Calma, não fique assim — fala se aproximando. — Não estou renegando você e não
tenho vergonha de andar com você.
— Pode ter vergonha, eu sei. Sou uma drogada, queria me matar ontem, talvez amanhã
consiga atingir meu objetivo.
— Não, você não pode fazer isso, tem a vida toda pela frente.
— Não tenho motivos que me façam querer viver, melhor é o fim.
— Amanhã eu venho te buscar, vou ver a hora da sua alta, venho te buscar e te levo até a
sua casa.
— Você faria isso por mim?
— Faria, agora não chore mais, deite e descanse um pouco. Vou para a minha casa, e
amanhã eu volto para te buscar.
— Obrigada — falo me deitando na cama.
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Ele ajeita a coberta, fecha a cortina, apaga a luz e sai do quarto.


— Perfeito, amanhã quando ele vir me buscar e levar me em casa é só dizer que estou
namorando, ele não vai ter coragem de negar.
Idiota.

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CAPÍTULO 14 – ALESSANDRO

Não tinha como falar não, ela está frágil, quase se matou, não posso carregar mais essa
culpa. A incapacidade, a culpa por não salvar a vida de Vanessa me atormenta, nunca irei me
perdoar.
Vendo Camila tão debilitada não tive como negar, afinal é só busca-la no hospital e leva-
la para a sua casa, isso posso fazer, não vai arrancar pedaço.

***

Já mandei uma mensagem para a minha pequena. Hoje à tarde a busco e explico tudo o
que aconteceu, talvez se a coragem surgir eu conte o que me aconteceu no meu passado e o
motivo por eu ficar tão preocupado com Camila.
Dou duas batidas na porta do quarto.
— Entre.
— Oi — cumprimento.
— Oi. — Levanta da cama. — Estou pronta, só estava te esperando — fala com um
sorriso no rosto.
— O médico já assinou a sua alta?
— Já, está tudo certo.
— Podemos ir então?
— Podemos.
Saímos do hospital, hoje Camila aparenta estar melhor. Vamos conversando e ela me
explica qual o caminho de sua casa.
Chegando lá, a ajudo descer do carro, pego sua pequena mala que a amiga levou para a
ela no hospital, e a acompanho até a porta de sua casa.
— Entregue em casa — digo sorrindo. Afinal fiz o prometido.
— Você quer entrar?
— Melhor não, tenho um compromisso. — Fiz o que tinha que fazer, agora preciso
resolver minha vida e explicar para a minha pequena o motivo do meu sumiço.
— Por favor — pede com os olhos cheios de lágrimas. — Não vai demorar.
— Tudo bem — dou-me por vencido.
Camila abre a porta de sua casa, me dando passagem e entro. Ela aponta o sofá, e eu me
sento.
— MÃE, PAI, CHEGUEI — grita.

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Um homem de meia idade com a cara fechada chega, acompanhado de uma senhora. Os
dois param na frente de Camila.
— Vagabunda! — xinga o homem, dando um tapa em seu rosto.
— Cicero! — repreende a mulher.
— Não vai bater na outra face? — Camila fala o olhando de igual para igual.
— Você é a decepção dessa família, só me faz passar vergonha — acusa dando outro
tapa, fazendo Camila se curvar no chão.
A senhora que acredito ser sua mãe nada faz para defender ou ajudar a filha, aceita tudo
em silêncio.
Levanto do sofá, vou até ela, e a ajudo a se levantar do chão. O casal enfim se dá conta
que eu estou no mesmo ambiente que eles.
— Desculpe Alessandro, por te fazer presenciar isso — Camila fala tentando limpar as
lágrimas.
— Não chore — peço.
— Quem é você? — o pai dela pergunta.
— Alessandro — respondo. — Um ami...
— Meu namorado — Camila corta a minha fala. A olho confuso, mas a mesma olha para
o pai.
— Namorado? — o pai pergunta.
— Meu namorado, passei o fim de semana com ele e sua família, fui muito bem recebida
por todos, ao contrário dele aqui em casa, já que fui recebida com um tapa na cara sem nenhuma
explicação. Não se assuste Alessandro meu pai bater em minha cara é tão comum, quando chutar
um cachorro na rua.
— No seu caso minha cara filha, seria chutar uma cadela.
— Cicero, por favor, ela trouxe um namorado — sua mãe fala como se o fato da filha ter
um namorado justificaria alguma coisa. Mas eu não sou o namorado dela.
— Até quando vai durar? — debocha o pai.
— O tempo que eu e Alessandro estivermos apaixonados e nos amando —Camila fala
desafiando o pai.
— Enquanto estiver com esse namorado, você fica nessa casa, terminou o namoro a porta
da rua é a serventia da casa. Quero ver quanto tempo vai andar na linha. — o pai dela fala saindo
da sala.
— Desculpe — a mãe pede saindo atrás do marido.
— Camila?
Ela não me olha, vai até a estante, pega um quadro, o abre e de lá tira um pacotinho de pó
branco que conheço muito bem. Cocaína.
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— Camila não! — digo estendo a minha mão.


— Eu preciso.
— Você é mais forte que isso.
— Não sou, quero morrer — diz chorando.
— Eu te ajudo.
— Quando ele descobrir a verdade vai me expulsar. Eu não trabalho, não tenho para onde
ir.
— Vou te ajudar.
— Como?
— Posso fingir ser seu namorado.
— Meu namorado?
— Sim, a partir desse momento sou seu namorado. Ela vem me abraça.
Não sei se aceitar essa farsa é o correto, mas no momento é o que posso fazer, não posso
deixa-la se destruir. Vou dar um jeito...

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CAPÍTULO 15 — CAMILA

Estou em um dos corredores da faculdade esperando Day chegar, ela vai adorar a notícia
que tenho para contar, sei que vai ficar muito feliz. Meu pai não acreditou muito, mas esse
namoro vai fazer eu e Day ganharmos o tempo que precisamos.
— Já estava com saudades, Mila — fala me abraçando — Está bem?
— Estou. — Olho para os lados para ver se não tem ninguém e lhe dou um beijo rápido.
— Preciso sentir seu gosto — diz passando a mão em meus cabelos.
— Agora vai ser mais fácil. — Rio. — Tenho namorado.
— Como? — Balanço a cabeça afirmando. — Mila, você não me disse nada.
— Queria ver a sua reação.
— Foi fácil?
— Mais fácil que eu imaginava, meu pai deu uma força.
— Explica isso, o que aquele velho nojento fez para te ajudar?
— Fiz como o planejado, me fiz de coitadinha suicida e pedi para ele me levar até em
casa, lá o convenci a entrar. Como sabe, tive uma briga com meu pai, quando ele me viu
chegando me deu um tapa na cara e me xingou na frente do Alessandro.
— Já nem me assusto mais com esse fracassado do seu pai.
— Nem eu, mas o enfrentei, tive que me fazer de coitada e ofendida. Meu pai só
percebeu que Alessandro estava lá quando ele foi me ajudar a levantar do chão. Pai, me
perguntou quem era ele, Alessandro disse seu nome e quando ia dizer que era um amigo o cortei
e disse que era o meu namorado.
— Alessandro não te desmentiu?
— Não, só ficou me olhando com cara de besta.
— E o seu pai?
— Ele desconfiou que era mentira, que não era meu namorado, por isso disse que quando
terminasse meu namoro eu estaria na rua. Saiu da sala com minha mãe atrás. Vi que Alessandro
me olhava, tive que improvisar, lembrei que tinha um pacotinho da alegria escondido e peguei,
fingi desespero e ele disse que ia me ajudar, que era meu namorado.
— Perfeito Mila, agora só continuar com o nosso plano. Aquele fracassado nunca vai te
expulsar, sempre é essa mesma desculpa.
— Day, foi fácil, mas ontem ele disse que tinha um compromisso.
— Ele sempre está com aquela pretinha sem sal, até já vi eles se beijando. Vamos, Mila
— fala pegando meu braço. — Precisamos marcar território, seja doce, mas deixe claro que
aquele idiota é seu.

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Caminhamos pelos corredores, e pegamos o rumo do prédio que Alessandro estuda.


Como imaginávamos ele estava com as amigas e a negrinha sem sal estava do lado dele toda
sorridente.
Vou mostrar para ela qual é o seu lugar. Nada contra, mas ele é o meu, preciso dele, ela
que vá arrumar outro.
Aproximo-me de Alessandro com meu sorriso angelical, laço seu pescoço e o puxo para
um beijo, de início ele não corresponde, mas não ligo, dou uns selinhos para enganar a plateia de
plantão.
— Estava com saudades — falo ainda com os braços em seu pescoço.
— Quem é ela? — uma ruiva nojenta pergunta.
— Nossa, nem me apresentei — falo olhando para ela. — Sou Camila. — Olho para a
negrinha sem sal. — A namorada de Alessandro.
— Preciso ir ao banheiro — a negrinha fala saindo. Acho que até vi uma lágrima. Não
me importo. antes ela chorar do que eu.
— Eva! — Alessandro a chama querendo ir atrás dela, mas eu o impeço.
— A gente vai. — A ruiva e mais outra nojenta saem provavelmente atrás da coração
quebrado.
— Camila, o que fez?
— Dei um beijo no meu namorado.
— Camila, é namoro para seus pais, na vida real não somos namorados.
— Mas... Eu pensei que era real — digo me fazendo de coitada.
— Não era, o que fazer agora para explicar para ela... Não vai querer mais olhar na minha
cara — diz preocupado.
— Desculpa — falo com lágrimas nos olhos. — Não queria te causar nenhum problema.
Sou uma praga, só causo dor nas pessoas, se eu tivesse acabado com a minha vida nada disso
estaria acontecendo.
— Tudo bem Camila, você não tem culpa, eu disse que iria te ajudar e vou fazer isso —
diz desanimado.
Vou precisar dar mais alguns shows para mantê-lo comigo, posso arrumar um acidente,
me jogar em cima de algum carro, ele não vai se livrar de mim tão facilmente.
Estou adorando esse papel de namorada e vou ser uma bem ciumenta.

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CAPÍTULO 16 – EVA

— Meu namorado — sai da boca dela.


Não consigo ouvir mais nada, saio de perto antes que eu passe vergonha na frente de
todos, não acredito nisso. Uma namorada? Como pode fazer isso comigo? Como assim surgiu
essa namorada?
Entro em uma das cabines do banheiro feminino, sento na privada e me permito chorar.
Isso explica o porquê de não responder minhas mensagens esse fim de semana, por ter me
deixado sozinha na festa sem nenhum aviso ou explicação, e a tonta achando que tinha
acontecido alguma coisa com a mãe dele. Como fui boba, pensando que ele iria me pedir em
namoro, mas preferir ir levando, o que importava é que estávamos juntos, me ferrei.
— EVA! EVA!
— Sabemos que você está aqui, abra a porta. — São elas, minhas amigas.
Levanto, abro a porta e as duas me puxam para um abraço. Choro abraçada a elas.
— Chora Evinha, pode chorar — Clarinha fala.
— Vou arrancar as bolas dele — Carol ameaça.
Depois das lágrimas controladas, ficamos sentadas no chão do banheiro feminino, eu no
meio de ambas. Elas tentando me animar, me confortar, e eu tentando entender o que aconteceu.
Tipo, levei um pé na bunda sem aviso prévio.
— Aquele cabelo dela é tingido — Clarinha fala.
— Lógico que é, aquele amarelo de ovo é horrível — Carol fala. — Cabelo mega
ressecado.
— Você viu o olho dela, parecia aqueles zumbis — comenta Clara.
— Horrorosa — completa Carol.
— Ridícula — xinga Clarinha.
— Pior que nem bunda tem, como vai dar uns tapas na bunda na hora da brincadeira —
zomba Carol.
— E os peitos? — Clarinha fala. — Não consegui entender se aquilo é dela, é caído ou
puro bojo.
— As pernas parecem de seriema — diz Carol. — E ainda usa salto para vir na
faculdade.
— Queria ver ela levando um tombo — diz Clarinha.
— Seria muito bom, ela se arrebentando a cara no chão — concorda Carol.
Elas apontam todos os possíveis defeitos, mas eu sei ela é linda.
— Ela é linda — enfim falo. — O corpo, o cabelo, tudo nela é perfeito.

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— Mas você é mais linda — Clarinha fala segurando meu rosto me fazendo olhar para
ela.
— Uma beleza igual a sua não tem, Evinha — elogia Carol.
— Obrigada meninas, mas sei que não sou tudo isso.
— Se você quiser Eva, eu dou um chute no saco daquele idiota — sugere Carol.
— Ele é um bom amigo — digo olhando para baixo.
— Ele é um pau no cu. Como do nada surge com aquela mocreia? — Carol fala.
— Evinha ele foi um cachorro, vocês estavam juntos — diz Clara.
— A gente não tinha nada sério.
— Ah não, vocês não tinham nada, era eu que transava com ele toda semana — Carol
fala revoltada.
— Carol! — Clarinha adverte.
— Era só um lance.
— Evinha meu amor, eu tenho um lance, Clarinha tem lance, esses nossos lances não são
nada sérios, apenas desejo.
— Quando se envolve o coração deixa de ser lance — Clarinha explica.
— Você sempre amou o idiota — Carol afirma.
— Amor de adolescente — Clarinha completa.
— Um amor tão lindo, que se não tivesse visto aquela vaca loira beijando o Ale com
meus próprios olhos não tinha acreditado — Carol fala. — Vocês dois se completam não dá para
entender.
— Não era amor, teve um fim — digo e as lágrimas voltam a escorrer.
— Se eu fosse anormal, diria que Ale está com aquela vaca sobre ameaças, que ela armou
tudo — Carol fala.
— Também falaria isso, pois não dá para acreditar. Não tem como ele ter conhecido ela,
se apaixonado e começado a namorar do dia para noite — Clarinha justifica.
— Talvez ele estivesse com ela mais tempo.
— Só queria saber em qual hora, porque vocês dois nunca se desgrudavam — Carol fala.
— É no mínimo estranho — diz Clarinha.
— Ela está usando ele, precisamos salvar nosso amigo — avisa Carol.
— Vou conversar com ele, vai ter que me explicar essa história — Clarinha fala. — Tem
alguma coisa errada, sinto cheiro de treta de longe.
— Meninas. Posso pedir algo para vocês?
— Não sendo dinheiro pode pedir. Você sabe Eva, sou pobre — zomba Carol.
— Se eu puder ajudar você, sabe que sim — assente Clarinha.
— Por favor, não falem nada com o Ale. A queda que levei está doendo, mas vai passar,
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não quero saber o motivo dele estar namorando, também não quero ser uma pedra em seu sapato.
Ele quis ela, o que me resta é aceitar — digo. Não quero discutir ou saber seus motivos, na real
eu e ele nunca tivemos nada de oficial.
— Aceitar sem lutar? — Carol pergunta.
— Muitas vezes precisamos escolher em qual batalhas precisamos lutar — Clarinha fala.
— Essa é uma luta perdida, está doendo, mas vou superar.
— A gente vai estar aqui para te ajudar, Evinha — informa Carol.
— Iremos pegar todos seus caquinhos — Clarinha fala.
— Obrigada — agradeço olhando para elas.
A porta do banheiro se abre, mas me recuso a olhar quem entra. Abaixo a cabeça e abraço
meus joelhos.
— Sorvete... — reconheço essa voz. — Chocolate e Coca-Cola? — Montanha pergunta
levantando duas sacolas.
— Por isso te amo Montanha, só faltou o vinho — Carol fala se levantando.
— Ótima ideia. — Clara também se levanta e dá a mão para mim. — Venha Evinha,
vamos comer, açúcar faz bem para o coração.
Pego a mão de Clarinha e levanto, olho para meu amigo, que me dá um abraço de urso
apertado.
— Vou cuidar de você — Montanha sussurra em meu ouvido.
A dor da decepção é grande, mas com amigos verdadeiros ao meu lado tudo fica mais
leve.
Seguir em frente, é isso que vou fazer...

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CAPÍTULO 16 - ALESSANDRO

2 anos depois...

O dia que aceitei a farsa do namoro da Camila na frente do seu pai, sabia que ia perder a
minha pequena. Iria conversar com Camila, explicar que iria fingir apenas para seus pais, mas no
outro dia na faculdade ela me surpreendeu beijando minha boca na frente de todos, Eva viu tudo,
vi seu coração quebrando e ela indo para longe.
Pensei que seria algo passageiro, que logo iria acabar esse namoro de fachada com
Camila, mas nada saiu como esperava. Ela é instável, por mais que explicasse que nosso namoro
não era real ela afirmava que sim.
O dia que ela se jogou na frente do carro para se matar por causa de um possível termino
ficou claro, que eu não iria sair desse relacionamento tão fácil. Camila vestiu o papel de
namorada ciumenta e controladora, como se diz o ditado: uma mentira contada mil vezes acaba
sendo verdade. O namoro de mentira agora é real.
Não sou feliz, mas pelo menos Camila está viva, consegui fazê-la se tratar, hoje não usa
mais drogas, pelo menos é o que ela diz. A relação com seu pai ainda é complicada, mas está
melhorando aos poucos.
Eva ainda é a primeira coisa que penso quando acordo, e a última quando vou dormir. A
amo, mas sei que quebrei seu pequeno coração por duas vezes. Até hoje ela não sabe o por que
sumi durante tanto tempo e por que do meu inesperado namoro com Camila.
Ainda somos amigos, ainda ficamos horas e horas conversando até tarde da noite... Esses
momentos são únicos, sempre vou embora querendo ficar com ela.
Eva nunca me perguntou, nunca me questionou, nunca criticou sobre minhas atitudes,
mas sempre esteve ali para me ouvir, mesmo que a maioria das vezes o que eu falava era vago.
Ontem fui em uma festa, Camila estava animada, nossos amigos Marcelo e Dayana
estavam juntos, assim que Eva entrou senti sua presença mesmo a festa estando lotada.
Ela estava linda, o seu sorriso estava perfeito, queria tanto estar com ela, como sempre
tento disfarçar a sua presença. Camila não fala, mas sabe que gosto de Eva, por isso tenta de
todas as formas denegrir sua imagem. Mal sabe ela que nada do que fizer ou falar vai me fazer
gostar menos de Eva.
Quando Marcelo falou que iria embora, na hora aceitei, sobre protestos de Camila. Ela
queria ficar mais, não usa drogas, mas em compensação desconta tudo na bebida. Marcelo pede
para eu levar Dayana para casa inventando uma desculpa, ambos acabam discutindo, não me
envolvo. Levo Dayana para casa e Camila pede para dormir com a amiga.

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Camila e Dayana são muitas amigas, chega ser estranho o envolvimento das duas, os pais
de Camila não suportam a amizade delas. Não entendo o real motivo, mas também não questiono
ou me envolvo, Dayana sempre aparentou ser ótima amiga.
Depois de escrever mais uma carta a guardo junto com as outras, Eva nunca vai ler essas
cartas, nunca irei ter coragem de entregar, a escrita serve para aliviar um pouco a dor do meu
coração.
Deito em minha cama e acabo dormindo, sonho que nós dois estamos juntos, dançando
na chuva.
Acordo era apenas um sonho... Um sonho distante...
Pego meu celular, e resolvo ligar para Eva, talvez ela queira tomar um sorvete, ou dar
uma volta.
O celular dela está na caixa de mensagem, ligo na sua casa e sua mãe diz que está
dormindo, peço para ela pedir para Eva me ligar.
Depois de um banho desço para tomar café com minha mãe.
— Por que está tão triste meu filho?
— Estou bem.
— Pode enganar a todos, menos a sua mãe.
— Está certa, nunca posso te enganar — digo pegando a sua mão.
— Diga o motivo para essa cara triste.
— Ontem fui em uma festa, Eva estava lá, tão linda, sorridente, todos a olhavam.
— Ela estava próxima, mas ao mesmo tempo distante — minha mãe fala com a voz
desanimada.
— Perto do meu coração, mas distante do meu corpo.
— Meu filho, por que insiste nesse namoro? Todos sabem, até mesmo Camila, sabe que
você não gosta dela.
— Ela precisa de mim.
— Alessandro, meu filho, você precisa parar de sacrificar a sua felicidade, Camila não é
mais criança, você já fez tudo o que pode para ajudá-la.
— Mesmo assim, mãe. Ainda sinto que posso fazer mais.
— Ela não é Vanessa, você não tem culpa.
— Eu sei.
— Termina esse namoro, vai atrás de quem você realmente ama.
— Esses dias estou pensando realmente em fazer isso, e por medo de Camila ter alguma
recaída, logo desisto. A senhora sabe que já tentei terminar, sabe o que sempre acontece.
— O tempo não volta meu filho, vai aparecer alguém que vai ocupar seu lugar. Eva é
linda, vai atrás do seu verdadeiro amor, você ama essa menina desde criança.
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— Eu sei, mãe — digo abaixando a minha cabeça.


— Camila não é Vanessa.
— Mas...
— Não vou falar de novo, está sofrendo e está do lado dessa menina porque você quer,
não invente desculpas, Alessandro. Você fez tudo que poderia ter feito por Camila, ela não é
responsabilidade sua.
— A senhora não entende.
— Não meu filho, é o contrário, você que não consegue entender. — Levanta, vem até a
mim e beija meu rosto. — Espero que depois não seja tarde — diz saindo da sala me deixando
sozinho.

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CAPÍTULO 17 — EVA

Anos se passaram, mas continuo o amando, sei que sou tonta, mas quem manda no
coração?! Minha cabeça sabe o certo, mas meu coração insiste em bater pela pessoa errada.
Acordei com uma ressaca horrível, ontem fui à festa do Bacana com as meninas e hoje
estou aqui morrendo de dor de cabeça. Depois que Clara e Marcelo foram embora ai que a festa
começou. Minha amiga ainda não percebeu, mas está apaixonada por Marcelo, e ele por ela.
Eu e Carol começamos a beber uma bebida atrás da outra, queria extravasar. Comprei
roupa nova, fiquei toda linda e o Ale mal me olhou, por isso bebi tanto. Montanha teve trabalho
de levar eu e Carol para casa. Ela bebeu mais do que eu e ficou provocando Montanha a cada
minuto. Depois de tanta bagunça agora estou aqui morrendo, jogada na minha cama.
— Eva, levanta dessa cama e vem ajudar a fazer o almoço — minha mãe grita.
— Ai mãe, não grita minha cabeça está doendo — digo levantando da cama.
— Ontem quando estava pulando feito macaca na festa a cabeça estava boa. Vem logo,
senão não tem almoço.
— Isso é jogo baixo.
— Ah, antes que eu me esqueça, um amigo seu ligou aqui atrás de você, parece que é da
faculdade.
— Quem?
— Não lembro.
— Credo mãe, nem para lembrar. Era o Montanha?
— Não, se fosse esse eu lembrava o nome acho que é um tal de Sandro — fala confusa.
— Sandro? Não conheço nenhum Sandro. Mãe, a senhora ouviu o nome direito?
Conheço só um Alessandro.
— É isso, é Alessandro mesmo, que diabo de nome grande. Ele disse que ligou no seu
celular e estava caindo na caixa postal, por isso ligou aqui em casa e pediu para você ligar para
ele quando acordasse. Agora levanta, toma um banho e vem me ajudar.
— Obrigada, mãe! — Vou até ela e lhe dou um beijo.
— Desenrola Eva. Não é com beijinho que você vai me comprar, te dou quinze minutos
para aparecer naquela cozinha ou vai ter que comer fora — minha mãe fala já na porta do meu
quarto indo para a cozinha.
— Cadê o meu celular?
Começo a procura-lo feito louca e acho embaixo da cama. Será que ele morreu? Está
desligado. Aperto freneticamente para liga-lo, mas não liga.
— Meu santinho que seja a bateria.

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Aonde eu enfiei o carregador? Procuro até achar no meio do material da facul, coloco na
tomada e graças ao meu santinho das causas impossíveis, ele liga. Procuro o número do Ale e
ligo para ele que atente no segundo toque.
— Eva?
— Oi Ale, minha mãe disse que você ligou aqui, aconteceu alguma coisa?
— Na verdade não. Queria conversar com você, faz alguns dias que não conversamos
direito, sinto falta disso.
— Eu também.
— Hoje à tarde está livre?
— Sim, estou.
— Então, nós poderíamos nos encontrar no Parque das Nações e tomar um sorvete, o que
acha?
— Acho bom. Que horas?
— Três e meia, está bom para você?
— Está ótimo, você me espera na entrada?
— Espero sim. Então até daqui a pouco. Beijo.
— Beijo.
Ai meu santinho! Será que hoje é meu dia de sorte? Corro para o banheiro, tomo um
banho, me arrumo e vou para cozinha ajudar minha mãe no almoço.
— Esse sorriso todo ai é por que vai me ajudar no almoço?
— Vou sair, o Ale me chamou para tomar um sorvete.
— Hum.... Namoradinho novo?
— Infelizmente não.
— Antigo? Aquele que morava aqui do lado?
— Não, é só um amigo mesmo. Está com saudades de conversar comigo por isso me
ligou.
— Minha filha, amigo não liga para conversar. Amigo faz igual o bonitão do Montanha e
já vem em casa e diz que quer conversar.
— Ah, mãe, é complicado! Ele tem namorada.
— Então ele é um safado.
— Ele é fofo.
— Cuidado minha filha para não ficar se iludindo.
Ajudo minha mãe com o almoço, e depois de todos almoçarem ajudo a limpar a cozinha e
lavar a louça. Nesse tempo converso com Carol pelo whatsapp, pelo visto a noite da Clarinha foi
boa até agora nem deu sinal de vida. Carol disse para eu me jogar nos braços de Ale sem medo
de ser feliz.
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Arrumo-me, coloco um short cintura alta, uma regatinha branca e sapatilhas, cabelos
soltos e estou pronta. Pego minha bolsa e celular.
— Mãe, empresta o carro? — peço entrando na sala.
— Pega a chave em cima do rack e juízo menina.
— Pode deixar. Sua benção, mãe — digo dando um beijo nela.
— Deus a abençoe.
Pego as chaves e saio, o trajeto de casa ao parque é em torno de quinze minutos de carro
e hoje as ruas estão desertas. Chego ao Parque das Nações, estaciono o carro e caminho até a
portaria. Ale já está me esperando, ele está lindo com seu jeitinho safado que sempre me
encantou. Chego perto dele.
— Oi — digo sem jeito.
— Evinha — fala e beija meu rosto. — Você está bem?
— Fora a ressaca de ontem estou ótima.
— Vamos entrar? Afinal te convidei para um sorvete.
— Claro.
Alessandro e eu caminhamos lado a lado, pegando o rumo para a praça de alimentação do
Parque das Nações que na verdade é um lindo bosque, perfeito para trazer a família e
principalmente a namorada. Mas no meu caso é só amizade mesmo. Caminhamos em silêncio até
eu ver Marcelo e Dayana, nossa, parece que ela está com a macaca. Preciso ver isso mais de
perto.
— Olha lá Marcelo, mais a Dayana vamos lá falar um oi para eles — digo.
— Não sabia que você era amiga deles.
— Não sou. Na verdade sou amiga só do Marcelo.
— A cara deles não está para amigos hoje.
— Só um oi. — Nossa que bafo preciso saber o que está acontecendo para contar para as
meninas.
Aproximamo-nos deles e falo:
— Oi Marcelo, oi Dayana. — Faço cara de inocente, Clarinha já disse que eu tinha que
ser atriz.
— Até essa mosca morta quer dar para o Alessandro. Nenhuma do círculo de amizade de
vocês presta, gostam de dar para quem é comprometido. Quer saber, isso tudo é inveja da
felicidade dos outros — acusa Dayana.
Eita pega! O trem está feio para o lado de Dayana. O que será que está acontecendo?
Prefiro ficar quietinha para não dar bandeira.
— Pode parando com essa crise Dayana, e pare de ofender minhas amigas. Não vem
descontar sua raiva em Eva — Alessandro me defende.
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— Dayana, acho que não temos mais o que conversar, já te disse que o único culpado
aqui sou eu — Marcelo fala.
Será que ele acabou de terminar o namoro com ela para ficar com Clarinha? Meu
santinho das causas impossíveis que seja isso.
— Bem que você sabe que é o culpado em me trocar por aquela puta — Dayana fala.
Clara vai dar na cara dessa dissimulada, quem ela pensa que é? Mal sabe ela que sabemos
seus podres
— Sem ofensas, Clara não é nada disso. Vou juntar suas coisas que você sempre insistiu
em deixar no meu apartamento e mando te entregar amanhã — Marcelo avisa.
Ainda bem que ele defende minha amiga.
— Passar bem Marcelo, seja feliz, só aviso que você ainda vai se arrepender disso.
Enquanto você, Alessandro, Camila vai ficar sabendo desse passeio no parque com essa sonsa —
Dayana fala.
Dayana vira as costas para sair.
— Dayana — chamo.
— O que foi sonsa? — Se vira para mim.
— Eu acho é pouco, sua mocreia. É melhor ser sonsa que chifruda — falo, não aguento
segurar e começo a rir na cara dela.
— Fica ai rindo, sua sonsa. Vamos ver como essa história vai terminar — Dayana
ameaça.
— Tudo bem com você? — pergunto para Marcelo.
— Estou mais leve — responde.
— Terminou mesmo com Dayana? — Ale pergunta.
— Fiz o que era certo — diz Marcelo.
— Clarinha tem alguma coisa a ver com essa decisão? — pergunto para Marcelo e pelo
sorriso dele, tenho certeza que sim.
— Tem, ela não sabe o que eu acabei de fazer. Por favor, não conte nada para ela ainda,
quero dar um tempo para aquela cabecinha pensar e também não quero assusta-la, ou ela foge —
Marcelo fala dando um beijo em meu rosto.
— Pode deixar, Clarinha merece ser feliz.
— Estou disposto a fazer isso. Vou indo, bom passeio para os dois — Marcelo fala e vai
embora.
Eu e Ale voltamos a caminhar até a praça de alimentação, não consigo esconder a alegria
por Marcelo ter dado um pé na bunda de Dayana e ver isso de camarote foi hilário.
— Parece que você ficou bem feliz pelo termino de Marcelo e Dayana — comenta Ale.
— Fiquei sim, amo minha amiga, Marcelo é um cara legal, e Dayana é uma vaca.
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— Você nem conhece Dayana para falar dela.


— Conheço o suficiente para saber que ela não vale o arroz que come.
— Como assim?
— Não é um segredo ou história minha então não posso contar. Mas vai por mim, ela é
uma cobra.
— Então se minha namorada anda com ela, também é uma cobra?
— Não sei, a namorada é sua, então você quem tem que saber. Pode ter certeza que boa
coisa Dayana não é.
— Grossa! — fala parando em frente ao frízer de sorvete
— Sincera.
Ficamos uns minutos em silêncio escolhendo o sabor do sorvete.
— Então Ale por que você me convidou para esse passeio?
— Não sei, ontem estava vendo você dançar e me parecia outra pessoa. Queria confirmar
se você ainda é a Eva que eu conheço.
— Como assim?
— Eva, adoro você, Carol e Clarinha, sempre andamos juntos. Acabei me afastando
depois que comecei a namorar Camila, mas sei que vocês três tem características diferentes,
pensam diferente e agem diferentes. Ontem você tinha a metade da atitude da Clara e a outra
metade da ousadia da Carol, até seu jeito de vestir estava diferente. Tive medo de não ser a
mesma Eva que eu conheci.
— Ainda sou, estava apenas querendo impressionar uma pessoa.
— Conseguiu?
— Ainda não sei.
— Você não precisa parecer com as meninas para impressionar ou conquistar alguém. O
que sempre me atraiu em você é a sua doçura. Você é linda do seu jeito e essa pessoa tem que te
aceitar você do jeito que é.
— Linda do jeito sonsa.
— Você não é sonsa, você é diferente. É meiga, carinhosa e uma boa amiga.
— Fui tanto sua amiga, que você preferiu a Camila.
— Não é isso Eva.
— Sim é isso. Mas não se preocupe eu não me importei com seu namoro lembra?
— Lembro e ainda não consigo entender o motivo.
— Era simples, eu e você não tínhamos nada sério, então não tinha o direito em cobrar
nenhuma atitude.
— Eva foi bom o tempo que passamos juntos.
— Foi, mas já passou né.
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— Passou, e sempre vai ser lembrado como uma fase feliz de minha vida. Só não quero
que aquela menina que eu fiquei um dia desapareça. Gosto de você assim.
— Já entendi, não mudei, ainda continuo a mesma, mas agora com um pouco mais de
experiência. Não é a roupa que faz o caráter de uma pessoa. Não importa a roupa ou a
maquiagem que eu use, sempre serei eu mesma.
— Fico feliz em ouvir isso. Mas agora preciso ir embora, tenho que ir na casa da Camila,
Dayana já deve ter feito o meu inferno.
— Tudo bem, vou ficar mais um pouco aqui.
— Foi bom conversar com você. Poderíamos marcar mais vezes. O que você acha?
— Seria legal.
Ale se aproxima e me abraça, consigo inalar seu cheio, depois beija meu rosto.
— Até amanhã.
— Até amanhã.
Depois que Ale vai embora fico pensando em tudo o que já vivemos juntos e sobre o que
ele me falou. Acho que o mais importante foi a nossa amizade. As meninas estão certas, o
caminho mais curto para o coração dele é a nossa amizade que por mim é mais que isso e para o
Ale também já foi um dia. Se ele não sentisse nada por mim não estaria com saudades das nossas
conversas ou preocupado pelo meu jeito de agir ou vestir. Esse será o caminho que irei usar para
chegar até o coração dele.

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CAPÍTULO 18 — EVA

Minha nossa senhora, mas que mês corrido do cão, nem parece que faz mais de um mês
depois daquela conversa com Ale no parque, tantas emoções. Vou numerar os tops10 dos últimos
acontecimentos.
1- Marcelo deu um pé na bunda na Dayana.
2- Mãe de Clarinha sofreu um acidente, Montanha foi ao seu encontro.
3- Clarinha largou Marcelo.
4- Clarinha contou o que aconteceu no seu passado, eu fiquei passada quando disse
que a irmã a traiu com o ex, babado forte.
5- A safada da sem coração de Clarinha quis nos abandonar e ir embora para longe,
mas nosso bom amigo camarada, salvador das amigas, Montanha, encostou ela na parede e a fez
enxergar a burrada que estava fazendo.
6- Clarinha com o rabinho entre as pernas foi atrás do seu grande amor.
7- Marcelo, bicho esperto, não perdeu tempo, pediu Clarinha em casamento, e já
casou no mesmo dia, tudo isso com medo daquela safada fugir de novo. Quem pode, pode, quem
não pode, igual eu, fica feliz com a alegria dos amigos.
8- Montanha enfim assumiu que ama a safada ruiva da Carol, menina esperta.
9- Montanha começou a investigar o acidente da irmã, ele não disse ao certo, mas
tem coisas seria ai.
10 - Eu continuo sozinha, Ale com a Camila. Vida que segue, mas estou feliz, me
amo acima de tudo.
— Eva? — Clarinha me chama.
— Oi — digo levantando a cabeça e a olhando.
— Com quem está falando?
— Eu? — Clarinha está doida, estou aqui de boa deitada no seu tapete, com minhas
pernas para cima, enquanto espero ela tomar banho. Esqueci de falar estou na casa da Clarinha
também.
— Eva você está conversando sozinha?
— Eu não, estou aqui pensando. — Que louca só estou pensando, será que ela começou a
ler pensamentos?
— Você estava enumerando os últimos acontecimentos — informa me olhando
assustada.
— Estava os tops 10 do mês. Você sabe, mês agitado, muitas emoções. — Levanto do
chão. — Clarinha você lê pensamentos? Sei que faz parte do quarteto fantástico, mas a gente não

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tem poderes não.


— Sua doida, você estava falando de voz alta!
— Estava?
— Sim, estava falando um monte de coisas, repassando o que aconteceu. Detalhe ouvi
você me chamando de safada sem coração.
— Então tá, finge demência, estava conversando sozinha — digo sem dar muita
importância. — Coisa feia, Clarinha, fica ouvindo os outros conversando sozinha. Tem vergonha
não, ficar ouvindo escondida? É muito safada mesmo, para você não ficar triste é uma safada de
bom coração.
— Eva, eu te chamei — diz indignada. — Você ficou ai falando sozinha e nem me ouviu,
e eu não sou safada.
— Não ouvi mesmo, mas continua sendo uma safada.
— Sou não, sou normal.
— Clarinha, se conforme você é uma safada casada agora. Vou ao banheiro. — digo
passando por Clara. — Você está linda, está com um brilho diferente, pele bonita, o casamento
de fez bem. Tá gatona — completo.
Merda. Tinha que descer logo hoje, ainda bem que estou aqui, já pensou no bafão. Tiro
minha roupa, tomo um banho. Pareço folgada, mas não sou, é a casa da minha amiga e tenho
liberdade para isso. Enrolo-me na toalha e saio do banheiro.
— Clara, tem roupa minha aqui? — pergunto chegando na sala.
— Tem lá na última gaveta da cômoda.
— Tem um absorvente para me emprestar? — pergunto tirando a toalha do meu cabelo,
olho para a Clara e ela está branca. — O que foi? Agora virou safada doida?
— Eu tenho absorvente.
— Essa cara é só porque tem absorvente?
— Essa é a questão.
— Que sorte a sua, porque essa intrusa inconveniente vem todo mês, odeio ela, mas só de
pirraça ela vem, você sabe ela gosta se ser esnobada.
— Você não está entendendo — diz com sorrisinho fofo. Preciso saber como ela fez para
ficar tão linda assim, está diferente.
— Lógico que não. Era para você estar feliz animada sem a visita dessa intrusa chata.
— Feliz? Sim eu estou muito feliz — diz chorando.
— Clara? — Uma luz acende em minha cabeça. — Vou ser tia? — Corro até ela e coloco
a mão em sua barriga ainda plana.
— Será? — diz rindo.
— Para de ser burra, se era para descer e não desceu, e se você transa e não usa
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camisinha ou outro meio contra conceptivo logico que está gravida — afirmo.
— Não sei — diz dando uma de desentendida.
— Vamos por partes. Responda-me, você transa?
— Lógico, bastante.
— Me poupe dos detalhes sórdidos. Só responde às perguntas.
— Tá.
— Usa camisinha quando tem relação com seu gostoso?
— Não. — Balança a cabeça rindo.
— Usa anticoncepcional?
— Uso. — Anda pela sala. — Usava, mas esqueci de usar desde do acidente da minha
mãe.
— Então, vou ser tia, parabéns Clarinha. — A abraço. — Fiquei sabendo primeiro, nem
tente dar para a Carol batizar eu vou ser madrinha descobri primeiro então eu sou a madrinha por
direito. Agora sei o porquê está linda desse jeito, nossa vai fica uma gravidinha linda, será que
vai parecer com você ou com Marcelo?
— Eva?
— Uma safada grávida...
— Eva!
— Precisamos montar o quartinho, quero comprar muitas roupas...
— Eva!
— Será que é menino ou menina?
— EVA! — Clarinha grita.
— O que foi? Está loucona.
— Você não para de falar.
— Fiz nada, já está nervosinha acho que são os homônimos. — Melhor fingir demência,
ela não pode ficar nervosa. — Vem, Clarinha, senta aqui, vou pegar um copo d’agua.
— Eva, eu estou gravida! — enfim ela confessa.
— Sabia não? Eu já tinha falado.
— Só te falei agora, como você sabia?
— Fica aqui quietinha. — Melhor não contraria-la. — Vou vestir uma roupa, vou na
farmácia busco um exame e você faz o exame, não faça força.
— Não precisa Eva, fiz o exame hoje de manhã.
— Vamos fazer outros para ter certeza — digo me levantando. — Não faça força.
Vou para o quarto, pego minhas roupas na gaveta, me visto, acho um absorvente perdido
dentro da minha bolsa, sorte minha. Saio do apartamento, entro na primeira farmácia que vejo e
compro três testes de gravidez. Volto para o apartamento de Clara e entrego os testes.
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— Três? — questiona levantando a sobrancelha.


— Para não ter dúvida. — Dou de ombros.
— Eva, eu já fiz hoje de manhã. Estou grávida.
— Clarinha para de ser chata, quero ver o palitinho, já fiz minha parte comprando os
testes, entre naquele banheiro e faça logo esse exame.
— Ok, Eva. — Clarinha solta o ar. — Vou fazer o exame.
Ela entra no banheiro e eu sento na porta, quero ser a primeira a saber o resultado,
Montanha vai ficar com inveja porque sou a primeira a saber, passei a perna nele, isso porque é
todo cheio de mimimi com a Clarinha, vou jogar na cara dele que fui a primeira. Carol também,
passei a perna nela, sou muito esperta.
Tudo bem que Marcelo já sabe, ele não conta muito é o pai afinal, mas eu sou a tia e
madrinha que é mais importante. Um bebê na vida de Clarinha e Marcelo, nem consigo acreditar.
— Clarinha? — chamo.
Ela abre a porta, está chorando. Grávidas são choronas, são os hormônios.
— E ai?
Mostra-me o teste, mas eu não sei o que significa.
— Traduz Clarinha, só vejo um palito com dois risquinhos — digo. — Nunca fiquei
grávida, não sei. Sou perfeita, mas nem tanto.
— Grávida! — fala com um sorriso no rosto.
— Sabia! — digo, já chorando. — Parabéns Clarinha. — A abraço e ela também chora.
— Marcelo homem esperto casou, fez filho agora você não foge mais.
— Não sei como isso foi acontecer, não esperava.
— Clara? — Olho para ela. — Como você é mentirosa, vive ai transando com Marcelo e
diz que não sabe como aconteceu, olha você sabe sim sua safada.
— É eu sei — fala rindo. — Hoje foi uma manhã mágica, mas fazendo de novo parece
que as emoções da manhã voltaram com força total.
— Lógico que ficou emocionada, estou aqui do seu lado. Sou especial.
— Eva você não existe.
— Gravidinha linda, preciso ir e jogar na cara do Montanha e da Carol que eu fui a
primeira a saber que vem vindo um bebezinho lindo.
— Segredo Eva, ninguém sabe, eu quero falar para eles.
— Gravidinha, preciso espalhar que vou ser tia/madrinha.
— Calma, quero esperar mais um pouco, quero curtir um pouco em segredo — fala
colocando a mão na barriga
— Posso ajudar você a curtir essa barriguinha linda?
— Pode. — concorda rindo. — Pode curtir junto comigo
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— Eu ajudo. Você sabe, sou tia/madrinha babona.


— Vamos pensar de uma forma para contar.
— Sou boa nisso, afinal sou a madrinha. Já amo muito esse bebezinho lindo.
Não fui feita para ser amada, mas me sinto feliz com a conquista e a felicidades dos meus
amigos. Acabo de ganhar um afilhado ou afilhada, isso me deixa muito feliz.

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CAPÍTULO 19 - ALESSANDRO

— Camila, calma! — digo tentando me aproximar dela.


— FICA AI! — grita.
— Me dá essa faca — peço a faca que está em sua mão.
— Não! — Olha para mim. — Isso é por você ficar pensando naquela sonsa. — Passa a
faca no pulso fazendo um pequeno corte.
— Camila, não faz isso com você — peço falando baixo.
— Por que não? Eu não tenho nada a perder.
— Você tem a mim, Camila. Me dá essa faca, por favor — insisto.
— EU NÃO TENHO VOCÊ, DISSE QUE QUERIA UM TEMPO, VOCÊ QUER ME
LARGAR.
— Era só um tempo, para pôr as coisas em ordem.
— Isso é uma desculpa para me largar— acusa chorando. — Eu sei que você não me
ama. — Passa a mão no nariz retirando o resto do pó branco.
— Você disse que não estava mais usando, que tinha parado.
— Não estava, mas eu vi você com ela ontem, e quando fizemos amor você me chamou
de Eva, você queria o que Alessandro? Me senti usada. — Chora.
— Desculpa Camila, por favor, me dá essa faca.
— Você vai me largar, e vai correr para ela, pode fazer isso Alessandro eu não ligo.
Ela faz outro risco no pulso com a faca, o sangue surge do corte. Não posso permitir que
ela faça isso na minha frente.
— Não vou correr para ela.
— Você ama ela, eu sei.
— Nunca escondi isso de você Camila, eu amo a Eva, mas prometi te ajudar. Prometi
ficar do seu lado.
— Mas agora vai me largar.
— Não vou Camila, você é minha namorada, e vou cuidar de você — digo me
aproximando. — Dá a faca. — Estendo a mão pedindo.
— Vai cuidar de mim?
— Vou cuidar, eu sempre cuidei. Sempre estive ao seu lado, confie em mim.
— Vai me largar? — pergunta tirando a faca do pulso.
— Não vou largar, vou ficar com você.
— Promete?
— Prometo.

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Consigo retirar a faca da sua mão, e a abraço. Sempre é assim, estou preso a Camila. Não
consigo me separar dela.
— Vamos, vou cuidar de você. — A puxo para o carro.
— Meu pai não pode me ver assim, ele vai me bater — fala chorosa. — Ninguém me
ama, nem minha família.
— Vou te levar para a minha casa.
Dirijo para a minha casa, levo Camila para o meu quarto e dou um banho nela. Faço
curativos em seus pulsos, pego um calmante e a faço tomar, espero ela adormecer, apago a luz do
quarto e vou para a cozinha comer alguma coisa. Estou exausto.
Sento na mesa, não demora sinto um abraço, um dos únicos que pode confortar meu
coração nesse momento.
— Essa carga não é sua, meu filho.
— Eu sei. — Pego sua mão e a beijo. — Essa carga está bem pesada. Tem vezes que
acho que não vou conseguir.
— Ela tentou de novo? — Balanço a cabeça afirmando. — Meu filho, ela faz isso porque
sabe que você quer larga-la, isso é chantagem.
— Ela voltou a usar, mãe.
— Talvez ela nunca tenha parado.
— Não sei mais o que faço — digo passando a mão pelo meu rosto.
— Você precisa dar um basta, só nesse mês é a terceira vez que ela tenta suicídio. Tenho
certeza que se ela realmente quisesse se matar iria achar uma forma bem perspicaz para isso.
Principalmente, não ia fazer isso na sua frente, ela está te usando.
— Estou cansado, estou com ela, disse que iria ajuda-la, mas não pensei que iria ficar
preso dessa forma. Estou tentando terminar esse namoro, sempre tentei, mas cada vez que tento
Camila tenta contra a sua própria vida.
— Ela faz isso porque sabe que você vai voltar atrás e ficar com ela, Camila não é
responsabilidade sua.
— Preciso fazer alguma coisa.
— Conte a verdade para os pais dela, cada dia que passa essa situação fica pior, o tempo
está passando, meu filho.
— Vou tentar leva-la em algum especialista....
— Filho, — me corta. — Você já fez tudo o que poderia fazer, não fica se martirizando,
nada disso é culpa sua. — Me dá um beijo no rosto e me deixa sozinho.
Não sei mais o que fazer, só fica mais difícil eu sair dessa. Não quero carregar a culpa da
morte dela na minha cabeça, Camila sabe disso e usa a culpa contra mim, ficando assim difícil
dar um fim em nosso relacionamento.
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CAPÍTULO 20 – EVA

Chego em casa cheias de sacolas e presentes, nem acredito que vem vindo dois
bebezinhos lindos, estou amando ser tia. Parece que sou eu que estou carregando aqueles
bebezinhos lindos.
— Eva, mais sacolas?
— São presentes, mãe, vou ser tia — falo orgulhosa. — Tia/madrinha.
— Você já disse menina, não precisa ficar repetindo isso toda hora, Clara está grávida e
você vai ser madrinha.
— Nossa mãe você está atrasada, vou ser tia e madrinha duas vezes.
— Clara está gravida de gêmeos?
— Não, mãe, é um bebezinho da Clara e um bebezinho da Carol. — Mostro dois dedos
para ela. — Dois bebezinhos lindos.
— Carol está grávida?
— Está mãe, estou tão feliz. A gente descobriu hoje, ela passou mal na casa da Clarinha,
fui ajudá-la a tomar banho e a derrubei no chão do banheiro, bateu a cabeça e espalhou sangue
para tudo que foi lado. Pensei que tinha matado minha amiga, mas não foi por querer ela é
pesada. Sorte que Marcelo chegou na hora e nos levou para o hospital, ai veio o veredito.
GRÁVIDA, Montanha nem sabe ainda, ele chega hoje de viagem ai ela vai fazer uma surpresa.
Vou jogar na cara dele que fiquei sabendo primeiro.
— É, minha filha, você ficou para titia.
— Se conforme, mãe, eu já me conformei. Estou pensando em adotar um cachorrinho.
— Você tem cada ideia minha filha, você precisa de um homem e não um cachorro.
— Nesse momento preciso é de um cachorro, pois esse eu sei que é amor sincero, de
homem quero distância — digo saindo e deixando minha mãe na sala.
Eu sei que não devia, mas eu amo aquele desgraçado idiota, lindo, por mais que eu tente
esquecer eu ainda o amo, mas vida que segue. Vou viver e tentar ser feliz, talvez um dia apareça
um cara legal e gostoso na minha vida.
Doida para saber a reação do meu amigo ao descobrir que vai ser papai, queria estar
presente na hora, mas aquela ingrata da Carol me proibiu de aparecer na casa dela. Estava até
planejando em filmar e comprar pipoca. Não rolou, melhor não contrariar uma grávida.
Arrumo todas as sacolas dos meus sobrinhos, estou comprando tudo branquinho, pois não
sei se vai ser uma menina, ou menino, duas meninas ou dois meninos, não me importa irei amá-
los de todos os jeitos.
A noite recebo uma ligação de Clarinha, avisando para eu ir no outro dia na sua casa, a

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safada grávida não quis me contar por telefone, só de raiva vou aparecer cedinho na casa dela.
Acordo cedo, me arrumo pego os presentes do meu afilhado e vou para a casa daquela
ingrata. Marcelo abre a porta e pela cara acabou de acordar, estou nem ai, culpa da mulher dele
que não quis me contar ontem.
— Eva, eu disse depois do almoço — Clarinha fala se sentando no sofá.
— Jura? — Sento do seu lado. — Entendi que era para o café da manhã — digo irônica.
— Trouxe o pão pelo menos? — Clarinha pergunta.
— Não, mas eu trouxe presentes para o meu afilhado — aviso passando as sacolas para
Clarinha que se anima toda.
Abre a sacolas e olha roupinha por roupinha, Marcelo senta no chão ao seu lado e pega
peça por peça, fica um olhando para o outro com cara de besta. São lindos os dois juntos, o jeito
que ele olha para ela e ela olha para ele é possível ver o amor. Essa criança vai ter os melhores
pais do mundo, um lar regado de muito amor.
— Ah! Evinha, eu amei, obrigada — Clarinha fala chorosa me abraçando. Grávidas são
tão choronas.
— Vou ser a melhor tia madrinha do mundo — digo retribuindo seu abraço.
Depois de algumas lágrimas de alegria, e café tomado, Clarinha e Marcelo contam o que
realmente aconteceu, Montanha em sua viagem investigativa descobriu que o acidente da irmã
dele foi proposital, não por ele lógico. Foi tudo arquitetado e executado pela sua noiva e
comparsa da época. Ou seja Dayana, e a comparsa ninguém mais que Camila a atual do
Alessandro, o trouxa.
— Eva, estamos contando para você se preparar, Montanha vai pôr essas duas na cadeia
— Clarinha fala.
— Quero que essas duas se fodam, apodreçam na cadeia. Como tiveram coragem de
matar a irmã do Montanha? O único sentimento que tenho por essas duas é nojo — digo
indignada.
— Eva, o Ale vai ser atingindo — Marcelo explica. — Ele namora Camila, mas é
inocente nessa história.
— Pelo menos isso, nunca imaginei que Ale fosse um assassino.
— Ele vai vir atrás de você Eva — Clarinha fala. — Isso que nós estamos querendo te
dizer.
— Vou deixar vocês duas conversando, quando Adriano chegar vocês me chamam —
Marcelo fala saindo da sala.
— Eu estarei aqui para ajudá-lo a juntar seus cacos, serei seu ombro amigo, Ale sempre
teve minha amizade e sempre terá.
— Você sabe que ele não vai querer apenas a amizade.
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— É a única coisa que ele terá de mim.


— Você o ama! — ela não pergunta, mas afirma.
— Amo, mas eu me amo em primeiro lugar. Não serei prêmio de consolação.
— Cuidado Evinha, não quero te ver sofrer.
— Não vou Clarinha, tenho meus sobrinhos para me preocupar, também estou pensando
em adotar ou comprar um cachorrinho.
— Vou estar do seu lado.
— Eu sei.
Alessandro brincou com os meus sentimentos duas vezes, por duas vezes entreguei meu
coração, fui sua de corpo e alma, mas ele não deu valor. Mesmo o amando não irei ser seu
prêmio de consolação. Eu me amo acima de tudo.
Montanha e Carol chegam, dois bestas sorrindo à toa, meu amigo merece essa notícia
boa, sofreu tanto que a chegada desse bebê veio marcar uma nova fase do meu amigo e da ruiva
que agora vai ser uma safada dona de família.
Depois de dar os parabéns para ambos os casais, chegou a hora do assunto sério. Camila e
Dayana, duas assassinas que usaram meu amigo e são responsáveis pela morte da sua irmã.
Mesmo com as provas que Montanha conseguiu, ainda não é certeza que as vadias sejam presas,
por isso Clarinha teve uma ideia genial e bolamos um super plano para arrancar uma confissão
das vadias.
Durante a semana, Montanha foi trocando mensagens com Dayana, até que enfim
resolveram marcar um encontro.
O trato era ele ir sozinho e nós ficarmos esperando no apartamento da Clarinha, mas até
parece que íamos perder o babado. Portanto como pessoas obedientes nós três concordarmos de
ficar, mas só foi Montanha virar as costas e uma olhar para outra para saber que estava na hora
de ir ver o circo pegar fogo. Lógico que Marcelo quis nos impedir, afinal tínhamos duas grávidas
e uma doida, essa doida sou eu, mas de boa conseguimos convencê-lo. Falamos que iríamos ficar
de longe observado, o coitado acreditou.
Quando chegamos ao Parque da Alvorada, logo vimos Montanha e Dayana sentados no
final de uma trilha. Clarinha, Carol e eu trocamos olhares e vamos caminhando rápido, antes que
Marcelo impeça a nossa ação.
Precisamos de emoção, e também de realismo, ou essa vaca não vai acreditar na história.
— ENTÃO FOI POR ESSA RAMEIRA QUE VOCÊ ME LARGOU, SUA LESMA? —
Carol grita.
Agora sim está perfeito, que comece o show. Eu amo tudo isso, amo fazer parte da vida
dos meus amigos, amo saber que a justiça vai ser feita e que essa cobra mais a sua comparsa vão
parar na prisão, lugar que tinham que estar faz tempo.
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CAPÍTULO 21 - EVA

Carol começou bem o papel de namorada traída e trocada, de início foi até possível ver a
cara de surpresa da Dayana, mas logo ela vestiu a máscara de superioridade e atacou.
— Olha bem como você fala comigo, queridinha. Adriano me ama e sempre me amou —
Dayana fala.
— Adriano? — Carol questiona com os olhos cheios de lágrimas.
— Você era apenas um passa tempo — zomba Dayana. — Ele viu que me livrei do
Marcelo, e veio correndo para meus braços. Fazer o que é duro ser linda e maravilhosa.
— Mas é iludida mesmo! — Mas é tonta mesmo, como pode ser tão idiota? — Foi
Marcelo que se livrou de você, piriputa — falo. — Agora está feliz com Clarinha e daqui uns
meses vai ser papai.
— Então está explicado, essa ai — Dayana fala apontando para Clarinha — deu o golpe
da barriga. Também, o que esperar de uma mulher baixa e sem classe.
— Vou te mostrar quem é sem classe sua vaca no cio — Clara fala indo para cima de
Dayana, mas Marcelo a segura.
Bom, Clarinha está gravidinha, tenho que representar minha amiga. Não vou deixar essa
vaca ofender minha amiga e sair ilesa.
— Minha linda — Marcelo fala. — Pense no nosso filho. Você sabe que eu te amo, não
dê ouvidos a essa cobra.
— Uma cobra que você comeu durante todos esses anos — Dayana fala.
Mas ela não se enxerga, não é possível. Como pode ser tão ordinária essa víbora?! Não
tem senso do ridículo.
— Comeu, minha filha, do verbo passado — falo tomando a frente. — Fala com a titia
Eva, PASSADO, que não come mais, se conforme. Entendeu? Ou quer que eu desenhe? — digo
rindo.
— Então é isso leãozinho? Você largou de mim por causa desse serumaninho? — Carol
pergunta.
Coitado do meu amigo, ele está sendo forte para não pôr tudo a perder, mas essa ruiva é
safada mesmo, até eu estou acreditando nela. Amo essas minhas amigas.
— Se conforme, sua puta. — Dayana fala.
— Espera ai que vou te mostrar quem é a puta, sua RAMEIRA! — Carol vai para cima
de Dayana, mas é impedida por Montanha.
— Ruiva não. — Montanha fala sério com aquela voz sexy, minha nossa que ruiva
sortuda, já pensou ele na cama.

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— Me solta, deixa eu quebrar a cara dessa vagabunda — Carol grita.


— Não! — Montanha insiste.
— Vou repetir mais uma vez me solta! — Carol grita.
— Você está esperando um filho meu, não vou deixar você sair no braço com a Dayana
— avisa Montanha.
Que lindo! É o lado paterno falando mais alto, Montanha vai ser um pai babão, estou até
vendo. Ainda bem que tem a titia/madrinha aqui para ajudar nas artes. Não vou facilitar para o
lado deles.
— Olha a outra também querendo dar o golpe da barriga — Dayana fala.
Plaft! Soco a cara daquela puta.
— Pode deixar Carol, eu bato nessa galinha. Eu não estou grávida e posso despenar essa
galinha todinha — digo rindo dando uma rasteira, a derrubando no chão igual uma jaca podre.
— Que isso sua doida encalhada — Dayana fala tentando se livrar dos meus socos.
— Isso é para você não mexer com as minhas amigas, sua vaca — aviso segurando seus
cabelos e chacoalhando sua cabeça.
— ME SOLTA! — grita desesperada. — Vou processar você. Vou acabar com vocês!
Isso só me faz rir mais e dar mais uns socos nessa galinha despenada, estou adorando ver
o seu desespero.
— Por mim você pode ir até na puta que pariu, que não estou nem ligando.
A pego pelos cabelos e saio a arrastando. Enquanto ela segura minhas mãos tentando se
soltar.
— Para com isso, você está me machucando.
— Essa é minha intenção — digo rindo.
Será que essa galinha aprendiz a cobra não percebeu que quero depenar ela todinha? Que
idiota.
— Para! — grita.
Vejo uma poça de lama e uma brilhante ideia me surge.
— Cobra rasteja no chão. — Abro um sorriso diabólico. — Vou esfregar a sua cara na
lama para nunca mais mexer com minhas amigas e também com meus sobrinhos.
Esfrego a cara de Dayana na poça de lama.
— Socorro! Alguém me ajude — grita enquanto eu esfrego a sua cara na lama.
— Cadê a valentona agora? Cadê a encalhada? Sua puta de beira de esquina. Vagabunda!
— xingo.
— Marcelo, faz alguma coisa — escuto Montanha dizer. Olho para Marcelo com meu
olhar de psicopata. Ele que não se atreva a vir separar.
— Eu não, ela mexeu com a minha esposa e meu filho, quero que ela se foda — diz
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Marcelo. Menino esperto.


— Isso mesmo Eva, esfrega a cara dessa rameira na lama. Mexeu com a pessoa errada —
Clarinha agita, animada.
— Eva já chega! — Montanha fala se aproximando.
— Por favor, Adriano, me ajuda — Dayana pede.
— O que foi Montanha, quer apanhar também? — pergunto brava, mas não solto as mãos
do cabelo de Dayana.
Sinto as mãos de Montanha em meu ombro.
— Eva já chega — pede novamente.
— Fazer o que? Estraga prazeres. — Solto Dayana que fica jogada no chão. —Quero
deixar bem claro que é sobre protesto, pois ela merece mais umas bofetadas.
— Tire suas mãos podres de cima de mim Montanha — falo brava, para incrementar a
cena. — Pensei que fosse meu amigo. NOSSO AMIGO — grito. — Jogou a nossa amizade na
lama quando decidiu voltar para essa cobra.
— Você acabou sendo uma decepção para mim, Montanha — acusa Carol.
— Tudo que passamos juntos. Agora nos abandonar, abandonar a Carol grávida de um
filho seu. Jamais pensei que você faria isso. Ainda por cima abandonar o filho por causa dessa
víbora que te largou e te deixou na sarjeta — Clarinha fala. Mas essa doeu até em mim, ainda
bem que é tudo de mentirinha.
— Eu me arrependo de tudo que fiz, Adriano. Eu sempre te amei, não dê ouvidos para
essas interesseiras que só querem te dar o golpe da barriga — Dayana fala chorando. Não sabia
que cobra chorava.
— Meninas, vocês precisam me entender — Montanha fala com carinha de cachorro sem
dono. Deu até uma dozinha.
— Cara, você errou feio. Abandonar uma mulher grávida, isso não é coisa de homem —
diz Marcelo.
— Darei tudo que meu filho precisar, só não posso ficar com ela — Montanha fala, pelo
que eu o conheço sei que está fazendo uma força monstro para dizer essas palavras.
— Vamos embora, meninas, foi emoção demais para todos hoje. Principalmente para
você, minha linda — Marcelo fala dando um beijo em Clara. — E para você também Carol, não
fique triste eu sou homem suficiente para cuidar de vocês três.
— Marcelo, você está ruim nas contas, ein meu filho, na verdade agora somos cinco. Eu,
Clarinha, Carol e meus dois sobrinhos lindos. Logo seremos seis porque vou adotar um
cachorrinho lindo. Não vai ser cachorro de duas pernas, será de quarto mesmo — digo me
aproximando e deixando bem claro.
Saímos do parque, antes mesmo de entrar no carro, começamos a ter um ataque de riso.
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— Quero morrer amigo de vocês, se eu não soubesse jurava que tudo aquilo foi verdade
— Marcelo fala.
— Eva, obrigada por dar na cara daquela vaca — Carol agradece.
— Me senti realizada — falo rindo.
— Vamos logo meninas, ela não pode nos ver aqui — Clarinha fala.
Voltamos para o apartamento de Clarinha e rezamos para dar tudo certo, agora é com o
Montanha. Se tudo correr bem aquelas duas hoje já estarão presas e vão pagar pelos crimes
cometidos.

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CAPÍTULO 22 — EVA

Montanha como bom moço levou Dayana para o apartamento dela, prometeu várias
coisas e a patinha caiu em nosso plano. Ele conseguiu implantar as escutas na sala e cozinha,
inventou uma desculpa e foi embora.
Não deu nem tempo dele chegar no apartamento de Clarinha, e as duas cobras amantes já
tinham confessado todos os crimes e já estavam até planejando a morte do Montanha.
— Não estava combinado a ida de vocês três, quase enfartei — Montanha fala assim que
entra no apartamento de Clarinha.
— Viu como somos boas atrizes? Ela acreditou, é uma palhaça mesmo — Carol fala
rindo.
— Nossa, ainda bem que fomos, pude quebrar a cara dela. — Rio. — Essa foi a melhor
parte — acrescento, orgulhosa do meu feito. Clarinha e Carol com certeza ficaram morrendo de
inveja.
— Montanha, foi necessário, ela precisava de provas que você queria voltar para ela,
sabendo que nós estávamos contra você foi uma prova — Clarinha explica.
— O importante é que deu certo, Camila já está no apartamento e elas já confessaram
tudo, já liguei para o meu pai mandei as gravações por e-mail e o pedido de prisão das duas já foi
pedido. Elas podem ser presas a qualquer momento — Marcelo avisa.
— O que estamos esperando? Vamos, gente, agiliza quero ver as cobras sendo presas —
digo empurrando todos para fora do apartamento. Não quero perder isso por nada.
Minha nossa, quase perdemos. Quando chegamos ao apartamento de Dayana as duas já
estão saindo algemadas.
— Você?
Dayana se espanta ao ver Montanha. É muito burra! Se não fosse o Montanha para
coloca-la atrás das grades, quem seria? A fada azul que não.
— Assassina — Carol acusa cuspindo na cara de Dayana.
— Vamos embora, essa ai vai pagar por tudo que fez com a minha irmã, vou cuidar para
que você apodreça na cadeia — avisa Montanh\a.
No caminho de volta, parece que um peso enorme saiu dos nossos ombros, a dor do nosso
amigo também é a nossa dor. Sabemos como Montanha sofreu com a morte da irmã, foi por
causa dela e da noiva falsaria que ele resolveu se mudar para Dourados.
Dever comprido, a justiça será feita, Dayana e Camila irão pagar pelos crimes que
cometeram.
— Eva! — Montanha me chama assim que desço do seu carro para entrar em casa.

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— Fala.
— Você quer avisar o Alessandro sobre a prisão da namorada? — Montanha pergunta.
— Não — respondo.
— Tem certeza?
— Tenho.
— Boa noite — Montanha fala me dando um sorriso.
— Boa noite, cuida da minha amiga e do meu sobrinho — aviso me virando e entrando
em casa.
Entro no meu quarto, tomo banho, coloco uma roupa leve, e fico esperando. É questão de
tempo para Ale descobrir a prisão da Camila e vim me procurar. Meu ombro amigo estará aqui
para ajudar, mas o meu coração está fechado, ele não vai entrar novamente, dei duas
oportunidades e ambas ele jogou fora.

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CAPÍTULO 23 — ALESSANDRO

Essa tarde Camila estava diferente, disse que precisava falar com Dayana e desde então
não tenho notícias suas. Já liguei inúmeras vezes em seu celular, mas ela não atendeu. Isso me
preocupa, esses dias ela estava abalada, tenho medo que ela tente novamente tirar a própria vida.
Não vou à sua casa para não preocupar seus pais, ou até mesmo causar outra briga entre eles, eles
têm um relacionamento difícil, visto que tudo é motivo de brigas ou agressões.
Durante esse tempo juntos, ainda não consigo entender por que o pai dela é tão rude,
espera sempre o pior da filha, e a mãe aceita tudo em silêncio como se se culpasse pela filha que
tem.
Muitas vezes vejo Camila como uma criança crescida, carente, com emoções instáveis
que precisa de carinho e principalmente de ser cuidada. Durante esse tempo sacrifique minha
própria vida, a minha própria felicidade para tentar fazer a vida dela melhor.
Poderia ter virado as costas para ela?
Poderia seguir minha vida?
Poderia estar feliz com a Eva?
A resposta para todas as perguntas, é sim.
Sim, eu poderia fazer tudo isso sem me importar com a Camila e seu destino que
provavelmente seria a morte. Agora eu te pergunto. Como eu iria viver com o peso de duas
mortes em minhas costas?
Posso te falar que hoje já vivo com o peso de uma morte em minhas costas e isso pesa
para caralho, cada dia pesa mais, ajudando Camila esse peso diminui um pouco, mesmo que
isso custe minha felicidade. A culpa pela morte da Vanessa sempre será minha eterna
companhia. Isso não posso mudar.
Enviei mensagem para Dayana e ela também não me respondeu. Decido dormir, amanhã
se Camila não dar sinal de vida vou em sua casa para procura-la. Deus queira, que ela esteja com
a amiga e que nada de ruim tenha a acontecido.
Amanhece, olho no celular e nada da Camila aparecer. Tomo banho, faço minha higiene
matinal, e enrolo um pouco para não chegar muito cedo à casa dos pais da Camila.
Aperto a campainha, e é o seu pai abre a porta.
— Bom dia senhor, gostaria de falar com Camila — informo e estendo minha mão
para cumprimenta-lo.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta confuso.
— Desde ontem estou tentando falar com Camila, mas ela não atende o celular. —
explico. — Por isso vim até aqui para conversar com ela, para saber se está tudo bem.

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— Entre rapaz — diz me dando passagem. — Pelo visto você não sabe o que aconteceu.
Meu coração acelera, tenho medo que ele me diga que Camila está morta, que eu falhei
novamente, que não consegui salvar sua vida.
— Sente-se — pede.
Sento-me no sofá, coloco minhas mãos nos meus joelhos esperando que ele me fale,
rezando que a notícia não seja a hora do sepultamento.
— Você mostrou ser um bom rapaz desde o primeiro dia que entrou nessa casa, por
ser esse bom rapaz não conseguiu enxergar quem era minha filha...
— Ela é uma pessoa maravilhosa — falo o interrompendo.
— Durante anos acreditei nisso. — Dá um sorriso desanimado. — Queria que Camila
nunca tivesse crescido, que ela fosse sempre a minha princesinha, infelizmente a princesinha
cresceu e ela não era mais aquele doce de criança. Mudou muito, não sei ao certo quando perdi
minha filha, mas ela se perdeu.
— Ela ainda é doce, só está um pouco perdida.
— Há anos Camila está perdida, ela é minha filha rapaz, apesar de tudo eu a amo, mas sei
a filha que tenho e ela não presta. — Ele segura as mãos, seu olhar parece cansado. — No início
da adolescência, as primeiras pistas para a sua falta de carácter começaram a aparecer, Camila
começou a chegar em casa com coisas que não eram dela, atitudes suspeitas. Me negava a
acreditar, mas estava tudo ali, isso não é porque ela gostava de meninas ao invés de meninos.
— Como? — pergunto confuso.
— Pelo visto ela mentiu sobre isso também. — Outro sorriso fraco. — Como disse,
conheço a filha que tenho, eu e a mãe dela vimos ela beijando uma menina próximo a escola,
mas ela nunca nos disse. Na época decidimos dar espaço para ela confiar e contar, não íamos
recriminar, era minha filha, é a minha filha — sua voz está cansada. — Ela nunca contou. Pouco
tempo depois começou a andar com maus elementos, a chegar em casa cheirando bebidas, com
roupas de marca, sua mãe encontrou pacotinhos suspeitos em suas coisas, mostramos para um
conhecido e descobrimos que era cocaína. — Passa a mão pelo rosto. — Você sabia sobre as
drogas?
— Sim eu sabia, tentei a ajudar a sair disso.
— Conseguiu?
— Não, ela sempre tem recaídas.
— Tudo para ela é motivo para recaída, não pense que abandonei a minha filha, tentei
ajuda-la, ela não queria ajuda, nunca quis. Um vizinho me avisou que ela estava se prostituindo
para manter o seu vício e as roupas caras, a mãe foi questiona-la e ela bateu na própria mãe.
Foi quando dei nela o primeiro tapa, minha filha tinha se tornado uma vagabunda com apenas
quinze anos, em troca de roupas caras, sapatos e drogas. Até que ela trouxe Dayana aqui em
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casa, ela era a mesma menina que vimos ela beijar, o tempo foi passando e as coisas
ficaram ainda pior. A minha princesa não existe mais. Aquilo que você conhece é uma farsa,
tenho certeza que para te segurar durante esse tempo de namoro ela tentou se matar na sua frente.
— O olho assustado. — Pelo seu olhar, foi isso que aconteceu.
— Conheci Camila quando ela estava tendo uma overdose — resolvo contar. — Eu não
sabia quem era ela, só sabia que ela precisava de ajuda, a levei para o hospital dei a assistência
necessária, ela me pediu para trazê-la em casa quando teve alta, e foi que eu fiz. Chegando aqui o
senhor a agrediu, perguntou quem eu era, e ela disse que eu era namorado, o senhor disse que iria
expulsa-la de casa, ela quase tinha acabado com a própria vida e estava prestes a tentar de novo,
então disse que iria ajuda-la.
— E está tentando a ajudar até hoje?
— Estou — confesso abaixando a cabeça.
— Quantas vezes tentou se matar na sua frente?
— Perdi as contas.
— Ela sempre fez isso, ela te chantageou, eu disse que iria expulsa-la apenas para ela me
desafiar e terminar o namoro. Camila é ardilosa e junto com aquela Dayana é pior ainda, tanto é
que as duas acabaram onde estão agora.
— Onde Camila está? Estou preocupado com ela.
— Camila está começando a colher aquilo o que plantou, ela e Dayana foram presas
ontem.
— Presa? Por que?
— Foi presa porque fez coisa errada, ela e a amiga tentaram dar um golpe do baú, e são
culpadas pela morte de uma jovem. Ontem Camila ligou aqui da delegacia, ela é minha filha eu
fui lá pensando que tinham prendido ela por drogas, mas era homicídio. Mesmo sem ter
condições consegui um advogado para defender Camila, a mente de tudo era a amiga namorada,
não sei ao certo o rolo das duas. Dayana é cobra criada, está jogando tudo nas costas da minha
filha, queria convencer a Camila a assumir a culpa sozinha. Como já disse sei que minha filha
não presta, mas é minha filha, ela vai pagar pelos crimes que cometeu, mas não vou deixar levar
a culpa sozinha.
— Eu posso ajuda-la — digo atordoado. — Camila deve estar sofrendo muito, preciso
falar com ela.
— A visita está proibida, hoje ela vai ser transferida para o presídio feminino, amanhã
você pode ir visita-la. Espero que Camila aprenda e se arrependa das coisas erradas que fez.
— Obrigado — digo me levantado.
Caminho até a porta, o pai dela coloca a mão em meus ombros.
— Camila já o atrapalhou por tempo demais. Obrigado por não ter desistido dela, mas
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agora deixe comigo, ela é minha responsabilidade. Você é jovem para carregar esse fardo, esse
fardo sempre foi meu. Não deixe minha filha te usar, já te usou por muito tempo.
Não falo nada, amanhã vou visita-la. Quero ouvir o que tem para me falar.

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CAPÍTULO 24 — ALESSANDRO

Hoje não é dia de visitas, mesmo assim consegui ver Camila, as coisas que seu pai disse
ficaram remoendo em minha cabeça. Ontem fiquei isolado em meu quarto pensando em tudo,
principalmente em suas atitudes.
A porta se abre e ela entra acompanhada de duas carcereiras, se senta na minha frente.
— Oi — fala triste.
— O que aconteceu com você? — pergunto passando a mão em seu rosto, que está todo
machucado e com marcas roxas.
— Foi a minha recepção de boas-vindas.
— Não foram tão carinhosas com você — digo a olhando. — Está doendo?
— Não tanto quando a minha alma — diz e uma lágrima escapa dos seus olhos.
— O que aconteceu para você vir parar aqui?
— Seus amigos não te contaram?
— Não vejo nenhum deles há dois dias.
— Como ficou sabendo?
— Seu pai. Ontem fui à sua casa te procurar, estava preocupado, ele disse que te
encontraria aqui.
— Meu pai. — Dá um sorriso. — Ele está me ajudando, pensei que ele seria o primeiro a
me virar as consta, mas não, ele está do meu lado.
— O que aconteceu?
— Estou aqui porque sou culpada, não irei mentir para você Alessandro, pois você
sempre foi bom para mim, eu que não era boa para você. Agora vejo o mau que te fiz. Sou uma
egoísta sem coração.
— Não diz isso Camila.
— Desde muito nova me sentia perdida, até que eu me encontrei quando conheci Dayana.
Ela me encantava.
— Você gosta de mulheres?
— Não, eu sempre gostei da Dayana, ela não era apenas a minha amiga era o meu amor.
— Então gosta de mulheres — afirmei.
— Estranho dizer, mas não, eu não gosto de mulheres, nenhuma me atrai eu não sinto
desejo por mulheres, eu gosto ou pelo menos gostava da Dayana, e para viver esse amor fiz
muitas coisas erradas, coisas que hoje tenho vergonha. Uma delas foi ajudá-la a planejar um
acidente de carro do ex noivo de Dayana que era seu amigo, Adriano, para que ela ficasse com o
seguro de vida e assim nós iríamos embora dessa cidade para viver juntas.

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— Ele não morreu — falo baixo e atordoado. — A irmã dele morreu no acidente.
— Adriano não morreu, e nós não ficamos com a grana do seguro. Com medo de ser
descoberta Dayana terminou o namoro e engatou um romance com o Marcelo, o plano era o
mesmo, dar o golpe do baú. Até achamos ninguém nunca irá descobrir, mas Adriano começou a
investigar, descobriu tudo e nos colocou aqui dentro.
— Você e Dayana juntas?
— Sempre estivemos juntas, naquele dia no hospital ela teve a ideia de eu namorar você,
assim as pessoas não iam desconfiar que nós duas éramos um casal, e foi o que fiz. Me desculpa.
— Você me usou — digo ríspido.
— Te usei, e se não tivesse sido presa eu continuaria te usando, não me orgulho disso,
todas as vezes que tentei suicídio era apenas para te segurar. Eu te enganei esse tempo todo.
— Eu tentei te ajudar.
— Por isso estou te falando para que você possa seguir sua vida sem culpa. Dayana
sempre me dizia que para nós duas ficarmos juntas era necessário fazer sacrifícios, e usar você
foi um deles.
— Fiquei preso a você, me sentindo culpado, com medo que se eu terminasse o namoro
você faria alguma loucura. Abri mão da minha felicidade por sua vida.
— Eu sei, eu usei tudo ao meu favor. Te usei e não nego, fui egoísta.
— Camila, eu sempre quis o seu bem, mesmo amando outra pessoa estava com você.
— Eu sei, achei que isso que estava fazendo era em nome do amor entre eu e Dayana,
mas estava enganada. Nunca foi amor, a partir do momento que entrei aqui dentro ela foi a
primeira a virar as costas e tentar jogar toda a culpa em mim, eu tenho culpa sim, eu a ajudei,
mas quem fez tudo foi ela, não eu. Ela queria que eu assumisse toda a culpa sozinha, pois depois
que saísse iria tentar me tirar daqui de dentro, meu pai chegou na hora e ouviu tudo.
— Belo amor o seu.
— Eu estava cega de amor, meu pai me fez enxergar, ou teria aceitado a proposta dela.
Dayana se revoltou contra mim, aqui dentro se aliou com uma das facções para ter benefícios e
me abandonou, ela nunca meu amou. Me desculpa pelo mau que eu te fiz.
— Camila...
— Eu sei — me corta. — Se não puder não precisa me desculpar, fiz muita coisa. Te
obriguei da forma mais suja a ficar comigo, mesmo sabendo que você sempre foi perdidamente
apaixonado pela Eva.
— Você sabe que quando eu sair por essa porta nunca mais irei te procurar, sacrifiquei
muita coisa para tentar te ajudar.
— Pode me odiar, é o mínimo que você faz, não sou digna de compaixão, de carinho ou
amor, sou um nada. Estou aqui dentro porque eu fiz muita coisa errada, estou apenas colhendo o
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que plantei. Vai atrás do seu amor.


— É a primeira coisa que vou fazer ao sair daqui. Não sei se ela vai me aceitar de volta.
— Se ela te amar, vai te perdoar.
— Ela pode nunca me perdoar, mas isso não vai diminuir o que sinto por ela.
— Então não desista, faça ela ver o quanto a ama.
— Vou fazer — digo me levantando sem dar mais explicações.
— Me desculpe Alessandro, seja feliz. Se o amor for verdadeiro ele nunca vai acabar, vai
ficar guardado no cantinho só esperando a hora certa de desabrochar.
— Adeus, Camila.
— Adeus, Alessandro, vá em busca da sua verdadeira felicidade.

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CAPÍTULO 25 - ALESSANDRO

Saio do presídio sem olhar para trás. Fui usado, cai em um plano feito um patinho, a
verdade estava escancarada na minha frente, mas eu não quis ver. Estava tão fissurado em salvar
a vida de Camila que não consegui ver, tantas vezes minha mãe falou:
“Meu filho se ela realmente quer se matar ela iria arrumar um jeito para fazer isso, não
iria tentar na sua frente”
“A responsabilidade da vida da Camila não é sua”
“Converse com os pais dela, juntos vocês vão chegar em um consenso”
“O tempo está passando, você está sacrificando sua felicidade por uma culpa que não é
sua”
O que me resta fazer agora é correr atrás do tempo perdido.
Sem pensar duas vezes dirijo para a casa da Eva, bato em sua porta e ela abre.
— Sabia que eu vinha? — pergunto.
— Tinha certeza — fala soltando o ar dos pulmões.
— Vamos dar uma volta?
— Melhor não. Podemos conversar aqui em casa.
— Por favor, hoje eu preciso da sua amizade. Só uma volta.
— A amizade você sempre terá de mim — responde. — Vou avisar minha mãe e já volto.
Quer entrar?
— Não, espero você aqui fora.
Eva fecha a porta, em questão de minutos está de volta.
— Pronto — fala quando está do meu lado.
— Você liga se formos caminhando?
— Não, eu gosto de andar.
— Eu sei, quando estou perdido também gosto de andar sem rumo, traz uma calmaria.
— Está nervoso?
— Nervoso, não seria a palavra certa. Mas é um dos sentimentos que estou sentindo
agora.
— Então está feliz?
— Era para estar, não sei, está tudo confuso aqui dentro falo.
Eva não faz mais perguntas, e eu também não falo nada. Caminhamos sem rumo, os
minutos passam, até que avisto uma pracinha e a convido para sentar e ela aceita.
Sentamos um do lado do outro o silêncio ainda continua presente.
— Ale, faz mais de uma hora que ficamos andando sem rumo, você disse que precisava

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de mim para conversar, eu estou aqui. Não querendo te pressionar, mas infelizmente marquei
com as meninas, Montanha vai me buscar em casa, e até agora você não disse nada.
Ela está certa, estou aqui e não disse nada. Como explicar para ela que a sua presença me
acalma? Que palavras nunca precisam ser ditas quando estou ao seu lado.
— Camila foi presa — falo o real motivo por eu vir procura-la.
— Eu sei.
— Ela e Dayana são cúmplices pela morte da irmã do Adriano.
— Eu sei. Vi quando as duas foram presas.
— Por que não me disse?
— Talvez porque pensei que quem tinha que te dizer era a sua namorada.
— Eu não sabia, ela sumiu e fiquei preocupado.
— Como ficou sabendo?
— Fui à casa dos pais delas, e o pai me disse o que aconteceu, levei um susto. Nunca
imaginei que Camila seria capaz de fazer o que fez.
— Também fiquei assusta com a crueldade das duas.
— Hoje fui à cadeia visita-la, está bem diferente.
— O ar da cadeia da uma fisionomia diferente.
— Ela se arrependeu do que fez.
— Nossa, precisou ser presa para se arrepender. Isso é comovente da parte dela, muito
sensível. Coitada, até fiquei com pena agora.
— Você sente pela prisão da Camila?
— Não, eu sinto pela irmã do meu amigo que perdeu a vida por causa daquelas duas
interesseiras, eu quero mais que as duas apodreçam na cadeia, pois é o lugar que merecem ficar,
por ter tirado a vida de uma inocente e pela dor que causaram em meu amigo.
— Você está certa.
— Desculpa Ale, sei que ela é sua namorada e tal, mas não tenho nenhum sentimento por
ela.
— Não estamos mais juntos — digo.
— Então descobriu que você era chifrudo?
— Não tinha visto por esse lado.
— O que é pior a namorada trair com um homem ou com uma mulher?
— Não pensei nisso, o que você acha?
— Que é tudo traição. — Fica pensativa. — Está doendo? — pergunta.
— A traição em si não está doendo.
— O que dói?
— Dói em saber que fiquei tanto tempo longe da pessoa que eu verdadeiramente amo.
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Que parei minha vida para tentar ajudar uma pessoa e foi em vão.
— Você a ama?
— Não — confesso. — Nunca amei Camila, seria incapaz de ama-la.
— Por quê?
— Porque. — Dou um sorriso fraco. — Meu coração sempre pertenceu à outra pessoa, e
o mesmo é incapaz de amar outra que não seja ela.
— Se o seu coração ama tanto uma outra pessoa por que ficou namorando tanto tempo a
pessoa que ele não ama?
— Foi necessário.
— Necessário?
— Camila precisava de mim, não poderia deixa-la sozinha, era o que eu pensava até ter a
conversa de hoje com ela.
— Ale deixa ver se estou te entendendo. Seu humilde coração ama outra, mas a sua
cabeça, a sua consciência o obrigou a namorar durante tanto tempo com Camila, pois achava que
ela precisava de você é isso?
— Exatamente isso, pequena.
— Então Ale, a sua consciência tem que saber que por mais que aquela assassina esteja
errada, ela precisa de você mais que nunca.
— Não posso ficar com ela, meu coração não aguenta mais.
— Ale...
— Eva, eu fiquei com Camila tempo demais, agora não estou mais com ela. Camila não é
responsabilidade minha, o que tínhamos foi encerrado essa tarde.
— Você só descobriu isso hoje?
— Não, sempre soube, só não conseguia dar um fim antes.
— Só depois que ela foi presa?
— Hoje, descobri um lado que não existia na Camila, muitas coisas foram faladas, agora
estou livre e sem culpa.
— Que bom para você.
— Eva, quero dizer que te amo — digo olhando para ela.
— Você descobriu isso hoje?
— Não, pequena, eu sempre te amei.
— Jura?
— Juro, você é e sempre foi meu único amor.
— Você quer mesmo que eu acredite nisso?
— Não estou mentindo, sempre te amei.
— Ale, você acha que eu sou tonta?
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— Você precisa entender Eva, é você que eu amo, é com você que eu quero ficar.
— Ale, você quer eu acredite que você me ama?
— Eva eu realmente te amo.
— Mas só descobriu agora depois que aquela assassina foi presa, Ale eu confiei em você
no passado, você quebrou meu coração duas vezes e te juro que não vou deixar você quebrar
uma terceira vez.
— Eva, me deixa provar que te amo — peço.
— Você não tem que provar nada Ale, é só seguir a sua vida e deixar meu coração do
jeitinho que está, sofri muito para colar os caquinhos que você deixou por duas vezes e como já
disse não vou colar pela terceira vez. Não quero e não vou correr esse risco.
— Dê uma chance para nos dois?
— Te dei todas as chances que tinha e você as desperdiçou, agora eu estou me dando uma
chance. Uma chance para eu viver a minha vida.
— Por favor, te imploro.
— Não Ale, é muito cômodo depois de anos você vir falar isso, e o pior de tudo depois da
prisão da sua atual namorada. Não sou um prêmio de consolação, mereço muito mais que as
migalhas deixadas pela Camila. — Ela se levanta. — Vou embora e não quero a sua companhia,
quero caminhar sozinha.
— Eva! — chamo.
— Fala.
— Você sempre terá o meu amor, será que algum dia eu terei o seu amor?
— Você sempre terá a minha amizade, é tudo o que posso te oferecer.
— A sua amizade no momento me basta.
— A sua também, tchau Ale.
Ela vira as costas e vai embora, me deixando sozinho. Esperei tempo demais, mas não
vou desistir, vou correr atrás, vou provar que ela não é um prêmio de consolação, que ela sempre
foi o meu verdadeiro amor.

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CAPÍTULO 26 — EVA

Viro as costas e vou embora, meu coração está acelerado, sempre sonhei com o dia em
que Ale se declarasse para mim. Nos meus sonhos eu me jogava em seus braços e também diria
que o amava, nós daríamos um beijo apaixonado e nos amaríamos, mas na vida real as coisas
acontecem bem diferente.
É um cumulo ele se declarar para mim, justamente depois que aquela vaca assassina foi
presa. Se ele acha que vou ser seu prêmio de consolação, está muito enganado.
Amor próprio, amar a mim mesma antes de qualquer pessoa.
Não vou dizer que não o amo, pois amo e sempre o amei, mas eu me amo acima de tudo,
e não vou dar o braço a torcer. Safado, pensou que ia dizer que me ama e eu iria pular em seus
braços, está muito engando, mesmo que era isso que eu queria fazer, fui forte e não fiz.
Caminhando de volta para a minha casa, perdida em meus pensamentos, acabo me
deparando com um cachorrinho chorando. Vou até ele e o pego no colo, no mesmo momento ele
para de chorar.
— Oi amiguinho, cadê o seu dono? — Olho para os lados para ver se encontro seu dono.
Uma senhora que está sentada na calçada fala:
— Moça, é um cachorro de rua não tem dono não.
— Não tem dono?
— Não — afirma a mulher.
— Agora ele tem — digo olhando para a mulher. — Eu sou a dona dele. — Sorrio.
— Que bom, moça, qual nome vai dar?
— Me deixa ver se é menino ou menina. — Levanto o cachorrinho, olho no meio das
suas perninhas. — Temos um menino, que nome posso te dar? — Fico por uns minutos
pensativa. Já sei, você vai chamar Sandro — falo rindo.
Despeço-me da senhora e vou embora com o Sandro, esse eu sei que o amor é verdadeiro,
que não vai mentir ou me abandonar.
Tudo bem, o meu amor por Ale é verdadeiro, mas não vou permitir que ele me faça sofrer
novamente, não vou permitir me quebrar e me ferir.
Pensei que seria pior, que não ia resistir e me jogar nos braços dele, mas acho que pelo
tanto que sofri estou calejada, demorou para eu descobrir que a felicidade no amor não pertence a
mim.
Caminho até minha casa com o meu filhote no colo, tão lindo, está sujinho, mas nada que
um bom banho não resolva. Chego em casa, e encontro Clarinha e Carol sentadas na sala
conversando com minha mãe.

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— Posso saber o que as minhas duas gravidinhas lindas estão fazendo aqui? — pergunto.
— Já que você chegou, vou fazer alguma coisa para comerem. Vocês têm que se
alimentar bem, fiquem a vontade — minha mãe fala saindo da sala.
— Agora podem dizer o que fazem aqui? Sem me avisar — pergunto desconfiada
— Montanha passou aqui para te pegar, mas você não estava. Sua mãe avisou que você
tinha saído com o Ale — Carol fala.
— Como ele é um bom amigo foi nos buscar, nos deixou aqui e ficamos esperando você
chegar — completa Clarinha.
— Obrigada — agradeço e uma lágrima que tanto segurei escorreu dos meus olhos.
As meninas se levantam, e me abraçam.
— Estamos aqui para isso Evinha. Dívida conosco, chore, estamos aqui para secar as suas
lágrimas — Clarinha fala.
— Amigas servem para isso. — Carol completa. — Olha o que temos aqui. — Passa a
mão no Sandro.
— Titias, deixa eu apresentar para vocês meu filhinho de quatro patinhas. — Levanto
Sandro. — Esse é Sandro, o meu filhinho, acabei de pegar ele na rua — digo sorrindo, pelo
menos uma coisa de boa aconteceu hoje.
— Sandro? — Clarinha e Carol falam juntas.
— É, Sandro — falo afirmando com a cabeça.
— Você pode explicar o motivo desse nome, dona Eva? — Carol pergunta.
— Será que tem a ver com um tal de Alessandro? — questiona Clarinha.
— Vamos para o meu quarto, lá vou explicar o nome desse rapazinho.
Caminhamos para o meu quarto, ambas sentam na minha cama e eu fico no chão com o
Sandro.
— Antes que vocês me perguntem, o nome do meu filho é Sandro, e tem totalmente a ver
com o nome Alessandro. Coloquei esse nome porque aquele dito cujo veio atrás de mim feito um
cachorrinho com o rabo entre as pernas, mas eu sei que posso confiar apenas no amor do Sandro
que é verdadeiro.
— Isso quer dizer que ele quis você de volta? — Carol pergunta.
— Ele quis, veio dizer que me amava — falo desaminada.
— E você, Evinha? — Clarinha pergunta.
— Eu me segurei para não me jogar em cima dele.
— Se você o ama tanto, por que não se jogou nos braços dele? E pediu para ele te jogar
na parede e te chamar de lagartixa — Carol fala.
— Porque eu sou tonta — confesso desanimada. — Cansei de sofrer sempre pela mesma
pessoa.
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— Não Evinha, você não é tonta, está apenas preservando seu coração — diz Clarinha.
— Não é justo, ele apenas disse que me ama porque a Camila está presa. Se ela não
estivesse presa ele nunca iria dizer nada — falo.
— É complicado Eva, mas estava na cara, mesmo ele namorando a Camila, a gente via
que Ale te amava — diz Carol.
— Eu também me amo muito. Não sou prêmio de consolação.
— O que você disse para ele? — Clarinha pergunta.
— Disse que ele sempre terá a minha amizade. Nada vai mudar, vou ser sua amiga, afinal
tudo começou assim.
— Não importa a sua decisão, estaremos aqui e iremos sempre estar do seu lado. — avisa
Clarinha.
— Bom, vamos deixar de lado esse papo e vamos animar, afinal tenho um convite
importante para fazer — Carol fala para mudar de assunto.
— Evinha, preciso jogar na sua cara que eu fiquei sabendo primeiro — Clarinha zomba
rindo.
— Carol, sua traíra. Como assim essa grávida safada ficou sabendo primeiro que eu? —
pergunto indignada. Eu sempre tenho que ser a primeira a saber, ou como vou jogar na cara das
pessoas que eu já sabia.
— Evinha, Montanha passou aqui para te dar a notícia em primeira mão, mas você não
estava — Carol fala dando os ombros. — Então Clarinha e Marcelo ficaram sabendo primeiro.
— Até o Marcelo sabe do babado primeiro que eu?! Sacanagem isso sua traíra. Por que
não esperou eu chegar?
— Então, como você sabe, aqui dentro. — Coloca a mão na sua barriga. — Carrego um
pedacinho meu e do Montanha.
— Olha Carol, não sei se você sabe, mas eu tenho direito sobre essa criança, que é meu
afilhado, e o bebê da Clarinha também. Ambos são meus afilhados e você não tem opção de
dizer o contrário, esses bebezinhos são meus. Então você carrega um pedacinho meu também.
— Eu sei — Carol fala revirando os olhos.
— Você faz questão de nos avisar a cada minuto — Clarinha aponta.
— É bom mesmo vocês saberem
— Mas a questão não é essa, vim te convidar para ser madrinha do meu casamento —
Carol fala animada.
— Mas eu sou madrinha do seu casamento. — Agora eu reviro os olhos. — Você não
sabia não?
— Eva, estou fazendo o convite agora, como você já era madrinha? — Carol pergunta.
— Simples, eu e Clara somos suas melhores amigas logo somos suas madrinhas. Então
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nem entendo o porquê do convite, mas se isso te deixa feliz eu aceito, mas com uma condição —
digo.
— Qual? — Carol pergunta.
— Que o Sandro leve as alianças — digo mostrando o Sandro para ela e fazendo cara de
coitada.
— O Sandro pode levar as alianças, mas com uma condição — Carol fala.
— Qual?
— Que o seu par seja o Alessandro, na verdade de um jeito ou de outro ele sempre foi o
nosso amigo — avisa Carol.
— Como já disse, ele é e sempre será meu amigo, não tem nenhum problema de ser meu
par.
— Obrigada Evinha, você e Clara, minhas amigas e parceiras tem que estar presente
nesse momento da minha vida.
— Eu não estaria em outro lugar — digo indo abraça-las. — Amo vocês!
Abraço coletivo é sempre bom, agora tenho Sandro para treina-lo para o grande
dia da minha amiga.

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CAPÍTULO 27 - EVA

Essas minhas amigas são bem apressadinhas, as coisas têm que funcionar da seguinte
forma: primeiro você namora, noiva, ai casa e tem filhos.
Clarinha safadenha, não namorou, casou na velocidade da luz e arrumou um bebezinho
lindo. Carol foi mais apressada, engravidou primeiro e hoje vai casar. Essas duas não sabem que
tinham que namorar e depois noivar só assim casar, mas são tudo atravessada. Pelo menos
tivemos quinze dias para planejar a festa de casamento da Carol, Clarinha apressada noivou e
casou no mesmo dia.
Agora estou aqui no belo vestido de madrinha com o Ale do meu lado de padrinho. A
música toca e lá vem a noiva, linda com um vestido branco longo de renda, cabelos soltos, o
brilho de seus olhos e a alegria do seu sorriso contagia todos. A cerimônia do casamento do
Carol e Montanha é linda. Uma manhã de domingo, o sol está radiante para abrilhantar ainda
mais o casamento dos meus amigos.
Casamento lindo, festa perfeita e o padrinho do meu lado, vale salientar que está lindo.
Um dia pensei em casar com ele, mas foi apenas um sonho, nunca iremos casar, nunca iremos
ficar juntos.
O ponto alto da cerimônia até agora foi a entrada de Sandro com as alianças, deu trabalho
de treina-lo, mas foi lindo ele entrando, até me emocionei. Filhinho lindo da mamãe foi um
sucesso.
Ale e eu conversamos bastante, ele sempre vem em casa e ficamos horas conversando,
depois de tanto tempo enfim caiu a ficha da minha mãe, que Ale era aquele vizinho que morava
na casa do lado. Como pode ser desligada essa minha mãe?
No meio de nossas conversas, algumas vezes ele disse que me amava e pediu para lhe dar
uma chance, porém a minha resposta é sempre a mesma. “Você será sempre o meu amigo”.
As meninas dizem que estou sendo cruel, mas na verdade estou me preservando. O amor
do Ale está na cadeia, no xilindró, o dia que ela sair de lá provavelmente ele vai atrás dela e os
dois vão ficar juntos. Enquanto eu, estarei quebrada, portanto é melhor ficar do jeito que está.
Falando em Camila ela me mandou três cartas, todas pedindo para falar comigo, pois tem
um assunto importante para dizer. Lógico que ignorei, pois eu não tenho nada a falar com ela.
As meninas ficaram curiosas, assim como eu, para saber o que ela queria tanto conversar
comigo, mas ignorei. Não vou pagar para ver, na certa ela está com medo de eu roubar o
namorado dela.
— Evinha, planeta terra chamando — Clarinha fala.
— O que foi? — pergunto.

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— Estava distante, eu e Carol falando e você nada.


— Pensando na vaca da Camila — falo. — Tenho curiosidade em saber por que insiste
em falar comigo.
— Também queria saber — instiga Carol.
— Querer saber, também quero, mas não aconselho você ir até lá falar com ela —
Clarinha fala.
— Eu não vou — digo determinada. — E vamos mudar de assunto, hoje é dia de festa
mais uma amiga minha se casou.
— Nossa, estou tão feliz — Carol fala sorrindo. — Pensei que esse dia nunca ia chegar,
aquela Lesma ficou fazendo cu doce. Mas enfim ele caiu na real e viu que não vive sem essa
ruiva linda e maravilhosa que sou eu.
— Mas ele não tinha como ir contra você Carol — Clarinha fala.
— Não mesmo, era um jogo perdido para ele eu ganhei esse jogo há muito tempo —
Carol fala rindo.
— Ganhamos os nossos maridos em um jogo — Clarinha fala.
— Mas vocês duas não brincam em um jogo, ein — falo rindo. — Viciadas.
— Adoro um jogo — zomba Clarinha.
— Eu também — Carol afirma.
— Era um jogo perdido para eles — digo. — A coisa boa é que nesse jogo os dois lados
ganharam.
— Ganhei Marcelo em um jogo de sedução.
— E eu ganhei Montanha em um jogo de desejo.
— Como não sou todo mundo eu não ganhei nenhum jogo, não sei jogar — afirmo.
— O seu jogo não terminou, Eva — Clarinha fala.
— Não existe jogo meninas. Nunca existiu no meu caso.
— Você que pensa — diz Carol.
— Diferente do nosso, Evinha, o seu jogo é mais intenso. O nosso começou com o desejo
da carne, eu seduzi Marcelo depois me apaixonei, Carol jogou com o desejo de Montanha depois
se apaixonou. Seu jogo foi do amor, você e Ale sempre se amaram, depois que veio o desejo e a
sedução, na relação dos dois o coração sempre esteve em primeiro lugar.
— Jogando com o Amor — Carol fala. — Esse é o seu jogo e do Ale.
— Um jogo que sempre estava fadado ao fracasso — falo. — Vamos mudar de assunto?
Meu jogo não é muito legal e nem teve um final feliz.
— Sandro está um fofo de gravatinha — elogia Carol.
— Tinha que fazer bonito no casamento da titia — Clarinha fala.
— Meu filho é um lorde. — Rio.
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— Posso roubar a minha noiva para uma dança? — Montanha fala se aproximando,
pegando a mão de Carol.
— Também quero roubar a minha esposa — Marcelo fala laçando a cintura de Clarinha.
— Tudo bem, podem pegar essas duas chatas, elas já estavam me enjoando aqui. — Rio.
— Vão dançar logo.
Eles vão para a pequena pista de dança, e começam a dançar. Olho como Marcelo e
Montanha olham para suas esposas, eles a veneram com o olhar, eles a amam. A alegria dos
meus amigos é tão contagiante, que fico feliz por fazer parte de suas vidas, e essas crianças que
estão a caminho vão servir para selar ainda mais esse laço de amor.
Sinto um ser no meu pé, olho para baixo e sorrio.
— É né, seu safado, bagunçou tanto que agora está cansado — digo pegando Sandro no
colo e passando a mão em seu pelo
A música termina, e uma outra começa.

“Penso em você, é quase uma oração


Ao nosso amor, minha religião
Que eu sigo à risca
Mesmo quando não estou à sua vista”

Conheço essa voz, olho para o pequeno palco e vejo Ale com um violão cantando e
olhando para mim.

O dia todo, o tempo inteiro


Ouço tua voz, sinto o teu cheiro
Canto pra você, minha amada
Minha coisa mais bonita
Eu conto as horas pra te ver (pra te ver)
Pra ser Domingo todo dia com você (com você)
Ficar na paz e ser bem mais
Do que a gente pensou que ia ser

A cada palavra cantada meu coração acelera. Olhar Ale cantando me traz com força total
tudo que sinto, todo o meu amor. Não vejo ninguém, apenas ele cantando. Só existe nos dois e
minguem mais.

Eva Você chegou junto com a primavera


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Me fez alguém bem melhor do que eu era


Você me trouxe o sol, me fez amar
E ser feliz de novo
Você é tudo que eu mais queria
E foi enchendo minha vida de alegria
Tirou da escuridão, meu coração
Que agora é um mar de amor
O dia todo, o tempo inteiro
Ouço tua voz, sinto o teu cheiro
Canto pra você, minha amada
Minha coisa mais bonita
— Eva, eu te amo, e quero que todos saibam disso — Ale diz ao final da música.
Gritos e aplausos me trazem a realidade, vejo as pessoas em minha volta e me dou conta
que estou ao lado de Ale.
— Te amo, pequena — fala pegando minha mão.
Escuto os convidados gritando beija, lindos. Olho para o Ale e digo:
— Eu também te amo, Ale! — Seu sorriso surge. — Você sempre será meu amigo, é a
única coisa que eu posso te oferecer.

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CAPÍTULO 28 — EVA

Não acredito que estou aqui, só posso estar maluca, não é possível. Mas como se diz o
ditado, é melhor se arrepender da cagada que fez, do daquela que você não fez.
Tudo bem que sei que vou me arrepender, mas preciso ouvir o que esse ser quer me dizer.
Ela sabe ser insistente.
Há quase dois meses Camila foi presa, o mais ridículo de tudo isso, ela vem me
mandando cartas e pedindo para que eu venha falar com ela. Mais ridículo ainda é eu aqui na
cadeia sentada a esperando no horário de visita.
Como sou idiota, mas não cabe na minha cabeça o motivo de tanta insistência, em minha
defesa, as meninas ajudaram na minha decisão, e como elas não podem me acompanhar Marcelo
está lá fora me esperando e Montanha cuidando das gravidinhas lindas, e claro do Sandro meu
filhinho de quatro patas. Tão fofo.
Esse lugar me dá medo, tantas mulheres lindas presas. Estou no pátio, os familiares
trazem várias sacolas e comidas, eu não trouxe nada, apenas a minha presença. Já estou fazendo
muito em vir ver o que ela tanto tem para me dizer.
Uma figura magra, loira, agora com cabelos curtos e olhos fundos, com alguns
hematomas no rosto, senta na minha frente. Eu até me assustei, ela nem de longe parece a Camila
que foi presa meses atrás, nem parece estar viva. Confesso que me deu pena.
— Você veio — fala me olhando. — Obrigada, isso é muito importante para mim.
— Confesso que já estava pronta para ir embora, não entendo o porquê de tanta
insistência em falar comigo, nem minha amiga você era — digo, não é porque ela está parecendo
uma morta viva que tenho que mentir.
— Precisava me desculpar. Eu fiz muito mal a você.
— Era só isso? — Me levanto. — Já posso ir?
— Também quero falar sobre o Alessandro. Tem muita coisa que você não sabe e tem o
direito de saber.
— Não precisa falar nada dele, eu não estou com ele, não corri para seu namorado, fique
tranquila, não quero nada com ele — digo, já saindo, mas ela segura meu braço.
— Por favor, me ouve, o que tenho para dizer é importante. Vai fazer você entender.
— Tudo bem — falo me sentando novamente. — Não enrola, quero ir embora.
— Desde muito nova, eu gostava de coisas caras e de marca, sempre quis a melhor
mochila, o melhor caderno e nem sempre meus pais tinham condições de comprar. Na
adolescência descobri um jeito de ter tudo que eu quisesse, na adolescência também tive um
grande amor que eu imaginava ser verdadeiro, até cair aqui dentro.

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Sei bem o que é isso, afinal eu amo o Ale e achava que ele também me amava, que era
verdadeiro, mas eu só tomei no rabo. Ao que tudo indica, Camila também se fodeu.
— Era um amor correspondido, mas que tínhamos esconder de todos, pois as pessoas
nunca viam com bons olhos o romance entre duas moças. Eu e Dayana passamos anos juntas as
escondidas, nossas famílias começaram a desconfiar, e isso gerou várias brigas dentro de casa.
Sabíamos que nossa família não ia aceitar, principalmente meu pai, foi quando Dayana começou
a namorar o Adriano, de início era só para despistar as desconfianças, mas depois descobrimos
que ele era rico e se ela conseguisse casar com ele iria pegar uma boa grana e nos duas
poderíamos fugir e viver juntas longe de todos.
— Não sei porque, mas acho que esse plano ai não deu certo — falo com desdém.
— Não deu, Adriano não queria casar, então Dayana descobriu que o seguro de vida dele
estava no nome dela e da irmã, ela encontrou um cara que sabotou o carro dele. Ele e a irmã
sofreu um acidente, como você sabe quem morreu não foi ele.
— Não foi, mas pode ter certeza que uma parte dele morreu naquele dia.
— Ficamos com medo de ser descobertas, então mudamos os planos, Dayana conheceu
Marcelo e largou do Adriano. Nesse meio tempo descobriu que estava grávida, e o filho não era
do Marcelo, então abortou a criança.
— Vocês duas são dois monstros — digo indignada.
— Eu fui egoísta, mesquinha, um monstro como você mesmo diz. Agora sei disso, antes
não sabia, fazia tudo em nome desse nosso amor. Parecia tão certo, tínhamos que fazer
sacrifícios para ficar juntas, e eu fazia.
— Que amor satânico esse, ain.
— Ainda não acabei — fala com lágrimas nos olhos. — Dayana continuou o namoro com
o Marcelo, a família dela tinha aprovado então eles não desconfiavam de nós duas, já meu pai
sim, e as brigas e agressões em casa eram cada vez mais frequentes e Marcelo não falava de
casamento. Até que um certo dia meu pai me bateu e me humilhou e eu decidi ir para uma festa.
Usei drogas em quantidade suficiente para sofrer uma overdose, queria dar um fim em tudo.
— Você contou a verdade, que tinha uma namorada?
— Não contei nada, eu sempre fui usuária de droga, meu fim que eu quis dizer era a
morte. Fui para a boate sentei no chão próximo ao banheiro, e cheirei mais cocaína que o meu
corpo suportava. Então estava tendo uma overdose, ali seria meu fim e estava conformada com
isso, era o que eu queria.
— Meu Deus!
— Mas um rapaz que nunca me viu me pegou no colo, me pediu para não desistir, me
levou para o hospital e ficou do meu lado, e eu sobrevivi. — Ela olha em meus olhos. — Foi
assim que eu conheci o Alessandro.
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— O dia que ele sumiu da boate sem dizer nada. — Volto ao passando me lembrando. —
Ele estava salvando você.
— Foi, ele me salvou, quando acordei liguei para Dayana, ela foi no hospital e me viu
com ele. Alessandro estava todo preocupado, foi quando ela teve a ideia de usá-lo como meu
namorado. Foi fácil convencê-lo a ir me levar em casa, depois de uma cena do meu pai me
batendo e eu fazendo menção que iria tentar me matar ele disse que seria meu namorado para me
ajudar a enganar meu pai, ele queria apenas me ajudar. Na segunda cheguei na faculdade e disse
para todos que ele era meu namorado todos acreditaram, principalmente você.
— Você é cruel, não tem coração — falo chorando. — Você usou ele.
— Cruel sim, mas tenho coração, ele só foi quebrado no momento que entrei por esses
portões, eu só via as coisas de uma forma feia, uma forma errada, não conseguia ver o mau que
fazia. Ainda tem mais história.
— Continua.
— Por várias vezes ele tentou romper o namoro fajuto, e em cada tentativa eu tentava um
suicídio, ele estava preso a mim, nunca foi um namoro. Quando comecei a frequentar sua casa,
na sua escrivaninha no quarto tinha uma caixa cheias de cartas, uma noite escondido descobri
que essas cartas pertenciam a você, mas elas nunca chegaram em suas mãos. Abri algumas e
descobri o porquê ele tinha tanta paciência e cuidava de mim, uma amiga dele, Vanessa, morreu
de overdose e ele não pode ajuda-la, por isso sente culpa por sua morte, a culpa é tão grande que
preferiu ficar do meu lado para evitar a minha morte do que ficar ao lado do grande amor de sua
vida. Você Eva, Alessandro te ama.
— Não, ele não ama.
— Sim ele te ama, se hoje ele respira, se ele está vivo é em nome desse amor que sente
por você.
— Você está mentindo — digo chorando. — Quer me usar, quer me fazer acreditar em
suas mentiras, sua cobra.
— Não estou mentindo, ele te ama esse é o amor mais sincero que existe, pois ele não
quer nada em troca, quer apenas amar. Assim que entrei aqui dentro descobri o que realmente
esse sentimento significa. A primeira coisa que Dayana fez foi se juntar com as chefes daqui para
ter mais comodidade e eu fiquei a minha própria sorte, por isso falo que o amor dele é
verdadeiro, o meu era apenas uma ilusão.
— Não consigo acreditar.
— Não precisa acreditar em uma palavra que eu digo, vai até a casa do Alessandro, em
cima da escrivaninha está a caixa com todas as cartas dentro. Leia, você vai entender todos os
seus motivos, tem cartas contando o motivo por estar comigo.
— Cartas?
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— Depois que ele foi embora, quando vocês eram adolescentes, ele começou a escrever
cartas para você.
— Nunca recebi nenhuma carta dele.
— Ele nunca enviou, mas nunca deixou de escrever.
— Mentira.
— Não estou mentido. Nessas cartas você vai ter a respostas para todas as suas perguntas.
Vá até elas, veja com os seus próprios olhos.
— Por que você está me falando tudo isso?
— Depois de tanta coisa ruim que fiz na vida em nome de um amor que nunca existiu, é o
mínimo que eu faço em nome de um amor verdadeiro que contribui para afastar.

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CAPÍTULO 29 – EVA

— Obrigada por me contar.


— Não precisa agradecer, obrigada você por vir até aqui — Camila fala se levantando. —
Viva seu amor e seja feliz. — Me dá as costas e se mistura no meio das outras detentas.
Levanto-me e saio da penitenciaria, chego no carro e entro. Tudo que Camila falou está
martelando em minha cabeça.
— Tudo bem, Eva? — pergunta Marcelo.
— Me leva para a casa do Ale — é a única coisa que consigo falar.
Preciso ver se tudo isso realmente é verdade, ou apenas mais um plano de Camila para
me machucar. Marcelo entende meu silêncio e o respeita não puxando assunto.
Preciso ver essas cartas, preciso ler elas.
Assim que ele estaciona na frente da casa do Alessandro, saio do carro não falando nem
obrigado. Aperto a campainha, e a mãe dele abre a porta, tem um sorriso simpático.
— Oi Eva, tudo bem? Entre querida — diz dando espaço para eu entrar.
Não falo nada, acho que ela percebeu que estou nervosa. Entro na casa, dou uma olhada
em volta, procurando por ele, preciso saber se tudo é verdade.
— Está procurando o Alessandro? — ela me pergunta e eu afirmo que sim em um
balançar de cabeça. — Ele saiu, querida. — Ela consegue ver meu olhar de decepção. — Mas se
você quiser pode esperar no quarto dele, ele não vai demorar. Você sabe o caminho.
— Obrigada!
Vou para o quarto do Ale, fecho a porta, coloco minha bolsa em cima da cama, e vou até
a escrivaninha, pego a caixa que Camila tinha me falado e me sento na cama.
— As respostas para todas as minhas perguntas estão aqui dentro — digo passando a mão
sobre a tampa da caixa.
Abro a caixa...
Vejo várias cartas, dezenas, centenas de cartas, passo a mão por elas. Fecho os olhos,
pego uma aleatoriamente, e a abro.

UBERLANDIA, NOVEMBRO DE 2006


Oi, minha pequena, cada dia que passa é mais difícil ficar longe de você. Por mais que
eu não queira pensar em você eu penso.
Penso em você a cada batida do meu coração, desculpa pequena hoje estou chapado, por
isso essa carta vai ser mais curta, só quero dizer que te amo.

Acheron - Nacionais
Acheron - Nacionais

Pego outra carta, abro e leio.

UBERLANDÂNDIA, JANEIRO DE 2007.


Cheguei ao fundo do poço, lá é escuro e frio, não enxergo nada. Talvez não tenho nada
para ver, mas eu escuto suas risadas...
A sua lembrança me deu forças, está na hora de subir e sair desse lugar que me enfiei,
agora estou subindo, estou me cuidando, tudo por você minha pequena.
Meu amor por você está me salvando. Você está me salvando.
Te amo pequena.

Pego outra carta.

DOURADOS, FEVEREIRO DE 2013


Escrever duas cartas no mesmo dia é algo que não faço, normalmente escrevo a cada 15
dias, ou uma vez ao mês. Mas nesse caso é diferente.
Hoje quando sai de casa para a faculdade não imaginei tudo que iria acontecer... Não
imaginei que o destino pela primeira vez iria estar ao meu favor. Te procurei desde o dia que
retornei para essa cidade, fui na minha antiga casa procurar a minha vizinha, minha pequena...
Não te encontrei.
Olhava nos rostos das moças com características semelhantes a sua com a esperança te
reencontrar.
Durante a aula uma menina com um sorriso doce me chamou atenção, puxei conversa,
mas nunca imaginei que essa menina seria você minha pequena.
Sentir seu cheiro, o calor do seu abraço me fez renascer, me fez feliz...
O que me fez lutar e estar vivo hoje era a esperança de sentir novamente o seu calor,
sentir seu cheiro, sentir você por completa.
Mesmo com a passagem de todo esses anos, a doçura dos seus olhos continua a mesma,
foi por causa desse olhar que resolvi conversar.
Você está tão diferente, mas está ainda mais linda, seu corpo ganhou formas, o timbre da
sua voz mudou, não é mais uma adolescente. Fico feliz em ter visto a linda mulher que você se
tornou.
Depois da aula, voltamos a ser adolescentes, andamos sem rumo, rimos, conversamos
sobre os mais variados assuntos, sempre a olhava e seus olhos continuam a brilhar.
Nunca te disse, mas adoro ver o brilho dos seus olhos, e o seu sorriso é a curva mais
linda do seu corpo. Você é perfeita em meus olhos.
Não queria te deixar ir embora, queria continuar conversando, ouvindo sua risada...
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Você não pode imaginar a falta que sentia disso. Tenho tanta coisa para te contar... Talvez nada
que eu te contar vai conseguir mudar o que aconteceu. Como diz Renato Russo.
Te amo!
Eternamente seu Ale

Fui abrindo uma por uma, lendo, toda a minha história e de Ale contada através de cartas.
O seu envolvimento com Vanessa, que fiquei com raiva e ciúmes, as brigas constantes com o
pai, que entendi o motivo ser a minha ausência e saudade que sentia. Chorei ao descobrir o seu
envolvimento com as drogas, vibrei quando ele aceitou o tratamento e ficou limpo. Chorei com a
morte e a culpa que sente por não ter salvo Vanessa. Entendi que ele disse que uma pessoa
especial estava todo o tempo ao seu lado, essa pessoa era eu, era a minha lembrança, eu era o
único motivo por ele estar vivo. Ele viveu por me amar, está vivo por esse amor que sente por
mim, ele me ama, sempre amou, viveu para me amar
Ri feito boba quando li sobre o nosso reencontro, me apaixonei mais depois que fizemos
amor pela segunda vez, e de como estava feliz por ter me reencontrado.
Li a carta de como ele conheceu e salvou a Camila, senti a sua dor por me ter longe, mas
que ele não queria ser culpado por outra morte. Ele sofreu por estar do meu lado e não poder me
amar de corpo e alma, por não poder me tocar.
Ri... Chorei, senti sua dor, sua angustia, seu amor.
Perdi a noção do tempo envolvida nas leituras das cartas. Camila estava certa, encontrei a
respostas para todas as minhas perguntas.
Sentada no chão, limpo uma lágrima e pego outra carta para ler, de relance olho para
porta e ele está em pé com os braços cruzados.
— Está muito tempo ai? — pergunto.
— Não o suficiente para te enfrentar — fala descruzando os braços e caminhando até
mim. — Minha mãe disse que você estava aqui me esperando. — Se senta no chão a minha
frente. — Não esperava que você estaria lendo essas cartas.
Pega uma carta na mão.
— Desculpa — digo. — Invadi seu quarto e mexi em suas coisas.
— Essas cartas são suas, pequena, sempre foram. Eu apenas nunca tive coragem te
entrega-las a você. No início achei que era ridículo ficar escrevendo, mas com o tempo se tornou
uma terapia.
— São lindas — digo com os olhos cheios de lágrimas.
— Bobagem.
— São bem reveladoras.
— Elas dizem quem eu sou, quem eu fui, o que fiz da minha vida e as escolhas que tive
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que fazer.
— Você está bem agora, você venceu.
— Sou um fraco.
— Não é, sofreu tanto — digo chorando.
— Não tanto quando você — diz limpando as lágrimas do meu rosto.
— Queria ter te ajudado.
— Ajudou pequena, se hoje estou vivo foi por você, me deu a força que eu precisava.
Você foi, e é a minha luz.
— Por que não me disse antes?
— Tinha vergonha.
— Camila?
— Quis apenas ajuda-la, mas com isso fiz você sofrer, eu sofri, mas ela ficou viva. Ela
me usou, pegou na minha culpa, mas agora não é mais responsabilidade minha. Eu nunca a amei.
Só quis ajuda-la.
— Ela me disse.
— Você falou com ela?
— Sim, ela se arrepende por tudo o que fez, me convenceu a ir vê-la, e me disse como
tudo aconteceu. Me contou das cartas, tive que vir ver com meus próprios olhos, você nunca
falou nada, sofri muito, não poderia deixar você me quebrar de novo.
— Eu te amo, pequena, sempre te amei. Nunca se passou um segundo da minha vida que
eu deixei de te amar você.
— Eu sei, acho que meu coração sempre soube, mas minha cabeça se recusou a acreditar.
— Pequena. — Se aproxima e pega a minha mão. — Quando estava na clínica de
recuperação em um dos murais tinha uma frase de Chico Xavier, essa frase e os pensamentos em
você me acompanharam desde então.
— Qual a frase?
— Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode
começar agora e fazer um novo fim. Eu não posso mudar tudo que aconteceu pequena, mas eu
posso fazer diferente a partir desse momento. Por favor, fica comigo. Me dê a oportunidade de
mostrar e provar a você o quanto a amo.
— Sim — falo chorando.
— Eu te amo, pequena, sempre te amei, nunca se passou um segundo de minha vida que
eu deixei te amar.
— Eu também te amo.
Ale segura meu rosto, e se aproxima para olhar em meus olhos.
— Eu te amo, você é a minha vida. — Me beija, um beijo que ele nunca tinha me dado
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antes, um beijo cheio de esperança de um futuro juntos.


— Eu amo você Ale — digo entre os beijos. — Sempre te amei.
— Pequena, você é e sempre foi o meu feliz para sempre...

FIM....

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EPÍLOGO

Lembre-me que no dia do casamento da Carol estava dizendo que minhas amigas eram
apressadinhas, que pulavam tudo, que primeiro tinha que namorar, noivar, casar e ter filhos.
Clarinha casou e rapidamente engravidou, Carol engravidou e casou, detalhe, nenhuma namorou.
Bom, vocês devem estar se perguntando e eu? Se depois que me acertei com Ale se nós
namoramos, noivamos, casamos e tivemos filhos. A resposta é não.
Eu e Ale não poderíamos quebrar a tradição, pulamos a parte do namoro, pois é perda de
tempo. Então em menos de uma semana casamos, uma cerimônia simples, mas cheia de emoção.
Se fechar os meus olhos consigo reviver as emoções de um dos dias mais importantes da
minha vida
Caminho lentamente o pequeno trajeto até o modesto altar montando no quintal da casa
de Clara e Marcelo, eles nos emprestaram seu lugar especial para o nosso dia especial.
Minhas amigas são as minhas madrinhas, estão lindas enlaçadas nos braços de seus
respectivos maridos.
Não teve marcha nupcial, quem canta é Ale....
— Pequena? — me chama fazendo-me voltar para o presente.
— Oi — digo o olhando.
— Posso saber o por que estava com esse sorriso e tão distante?
— Pensando no dia do nosso casamento, o meu marido cantando para mim.
Eu não te amo como ontem, começa a cantar.
Amo mil vezes mais
Me conte os teus segredos, mostre os teus sinais
E se me perguntar qual é o seu defeito
Ainda não sei
Te amo e nada mais

— Amo que cante para mim, amo essa música.


Essa música foi a que ele cantou no dia do nosso casamento, e sempre ele canta, a cada
dia me ama mais, por incrível que pareça eu também, a cada dia que passa o amo mais e mais.
— Te amo, pequena.
— Eu também. — O beijo.
— Mamãe, mamãe. — Mãozinhas delicadas puxam meu vestido.
— Minha filha. — digo.
— Mamãe, o Enzo disse que o nivesalo é só dele, é mentila mamãe é meu também.

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— O aniversário é seu e o do Enzo, Maria Clara — falo rindo, esses dois brigam igual
irmãos não é à toa que ambos nasceram no mesmo dia.
— Vamos cantar parabéns. — Ale fala pegando nossa filha no colo.
Diferente das meninas, demorei um pouco para engravidar, um ano e meio depois de
casada. Quando descobri que estava grávida Carol já estava esperando o segundo filho, quando
ela entrou em trabalho de parto fiquei tão nervosa que Maria Clara nasceu no mesmo dia. Hoje é
sua a festinha de aniversário de 3 aninhos. Clarinha egoísta, é a madrinha de Enzo e Maria Clara.
Era para ser eu a madrinha do Enzo, mas ela disse que não, pois já era Madrinha da Mariane,
fiquei com dó dela e deixei ser madrinha do Enzo, sou uma pessoa boa.
Depois de cantar parabéns, Marcelo e Ale ficam brincando com as crianças, Clarinha,
Carol, Montanha e eu nos sentamos para observar as nossas crias.
— O tempo passa e o quarteto continua junto — digo.
— Não existe a possibilidade de nos separarmos. Somos amigas, comadre e irmãs de
alma — Clarinha fala.
— Nossa Clarinha, até me arrepiei — Carol fala mostrando o braço. — Esse lance de
irmãs é profundo, mas preciso lembrar que eu casei com o Montanha e ele não é meu irmão.
— Sou o seu homem, ruiva — Montanha fala.
— Estão vendo. — diz Carol. — Eu ganhei esse homem em um jogo.
— Que coincidência eu também ganhei o meu homem JOGANDO COM A SEDUÇÃO.
— O meu homem ganhei JOGANDO COM O DESEJO.
— Pensei que não ia ganhar, mas nos 47 minutos do segundo tempo, ganhei o meu
homem JOGANDO COM AMOR.
— O mais importante desses três jogos é que sempre nos mantemos juntos e unidos. Essa
amizade sempre vai se fortalecer com o passar do tempo. Desejo que os nossos filhos nutram um
pelo o outro a amizade que nós temos — Montanha fala.
Ficamos observando nossos filhos brincando, dando risada, curtindo nossa amizade,
nossa família.
Todo o jogo existe um vencedor e um perdedor, menos o nosso, a nossa especialidade
nesse jogo é que ambas as partes ganham, que os dois lados sejam felizes. Hoje somos a prova
que isso é possível.
Essa é a nossa história... Esse é o nosso jogo.

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