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CURSO DE TEOLOGIA
Ananindeua – PA
2021
JEFERSON VIEIRA FELIX
Ananindeua – PA
2021
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1.1 - Apresentação
O presente projeto tem por natureza descrever a atividade pastoral aos finais de
semana dos seminaristas da diocese de Marabá, especificamente de dois seminaristas,
Jeferson Vieira Felix e Wendell Rocha, o primeiro cursa o 2º ano de teologia e o segundo o
primeiro ano de filosofia.
1.3 – Fundamentação
Como a atividade pastoral é o acompanhamento de uma comunidade, cujo objetivo
geral é formar uma comunidade eclesial missionária a partir dos pilares da Palavra, do Pão, da
Caridade e da Ação Missionária, este relatório se baseia fundamentalmente nas Diretrizes
Gerais da Ação Evangelizadora no Brasil 2019 – 2023 (DGAE 2019-2023). Utilizam-se
outras referências, porém, o objetivo é ressaltar e confirmar o aspecto já apresentado nas
Diretrizes. Portanto, o aprofundamento busca mostrar uma fundamentação teológica e
pastoral do que constitui e o que caracteriza as comunidades eclesiais missionárias.
1.4 – Aprofundamento
O ser cristão, dentre muitos aspectos, tem duas implicações diretas: viver em
comunidade e o desejo de que essa experiência transborde para todas as criaturas até os
confins da terra. Por isso, vida em comunidade não se separa da missão. Assim, para levar
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Deus na missão. “A oração dos discípulos missionários de Jesus Cristo deve ser a expressão
da espiritualidade do seu seguimento [...]” (CNBB, 2019, n.96). Além do mais, “Na pastoral é
preciso superar a ideia de que o agir já é uma forma de oração. Quando confundimos agir com
rezar, chegamos a abreviar ou dispensar os tempos de oração e de contemplação [...]” (CNBB,
2019, n.97). Com efeito, a pastoral deve decorrer da oração e a ela conduzir.
É a busca da santidade que caracteriza a espiritualidade cristã, que favorece e alimenta
um jeito de ser Igreja. É desejo do Senhor uma Igreja servidora, como se nota no exemplo de
muitos santos (muitos até do Brasil, como Santa Dulce) que se fizeram dom a serviço da
solidariedade e da compaixão, sensibilizados pelas mesmas dores humanas que continuam nos
dias de hoje. Ademais, a piedade popular precisa ser valorizada na experiência de fé da
comunidade cristã, na sua pureza de expressões como uma força evangelizadora. Contudo, é
necessário estar atento para os riscos de instrumentalização da piedade popular.
A comunidade, enquanto casa da comunhão, é chamada sempre a celebrar o perdão e a
misericórdia do Senhor, o que se dá, particularmente no sacramento da Penitência. Da mesma
forma, é “[...] preciso formar comunidades dispostas a percorrer um caminho de
discernimento espiritual, buscando a verdade do Evangelho” (CNBB, 2019, n.101).
O terceiro pilar, o da Caridade, é entendido como serviço à vida plena. A
espiritualidade da fé cristã tem seu centro no amor a Deus e ao próximo, são coisas
indispensáveis para o discípulo missionário de Jesus Cristo. “[...] Sem oração não existe vida
cristã autêntica. Sem caridade, a oração não pode ser considerada cristã [...]” (CNBB, 2019,
n.103). O próprio Jesus se revela misericordioso pelos pequenos e pobres, doentes e
pecadores, estando ao lado dos perseguidos e marginalizados. Do mesmo modo, na atual
cultura urbana globalizada, as questões sociais, a defesa da vida e os desafios ecológicos
precisam ser enfrentados pelas nossas comunidades. É Jesus Cristo em pessoa o Evangelho da
paz que a Igreja anuncia. A justiça se dá na fidelidade à vontade de Deus, que se torna
concreta no compromisso com os excluídos e marginalizados (cf. Mt 25,34-36).
Há ainda outras questões que tocam o pilar da caridade: a questão do trabalho no
mundo urbano deve ser tocado pela evangelização, sendo solidário com os que sofrem as
consequências do desemprego e trabalho precário; o empenho e atuação política dos cristão e
das comunidades eclesiais (caridade social), porque a boa política é meio privilegiado para
promover a paz e os direitos humanos fundamentais; a superação das ambições, do
consumismo e da insensibilidade diante do sofrimento, em que a busca dos cristãos seja uma
vida simples, austera, livre do consumismo e solidária; a promoção da cultura da vida,
enfrentando os muitos desafios que se impõe a ela; contemplar o Cristo sofredor no pobre e se
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comprometer com todos os que sofrem, dentre esses os que sofrem com a falta de sentido para
a vida; o preocupar-se com a situação dos migrantes, pois uma comunidade cristão precisa
abrir as portas para o migrante; preocupar-se com a rejeição dos que chegam de países ou
regiões diferentes, gerando a xenofobia; também o preocupar-se com os povos indígenas,
quilombolas e pescadores, reconhecendo e defendendo os seus direitos, dentre eles a
permanência em seus territórios.
O quarto e último pilar é o da Ação Missionária, entendida como estado permanente
da missão. O mundo urbanizado, embora assuste, é uma porta aberta para o Evangelho e a
comunidade cristã precisa olhá-lo com otimismo, pois é Deus quem abre a porta da fé.
Portanto, cabe à Igreja “[...] incentivar a descoberta das sementes do Verbo, presentes nas
várias culturas, e promover o encontro dessas culturas com Jesus Cristo, que as ilumina”
(CNBB, 2019, n.114). De fato, “[...] a Igreja é em Cristo como que sacramento isto é, sinal e
instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano [...]”
(LUMEM GENTIUM, n.1). Com efeito, a missão da Igreja constitui a essência da fé cristã,
porque “[...] Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo
encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra
e obras é nossa alegria” (CELAM, n.29). A missão implica anunciar a Boa-Nova de Jesus
Cristo (o querigma), que não pode deixar de existir, nem ser negado.
Uma das expressões da missionariedade da comunidade se dá quando ela “[...] assume
os compromissos que colaboram para garantir a dignidade do ser humano e a humanização
das relações sociais [...]” (CNBB, 2014, n.185). Para ser autenticamente missionária, é preciso
que a comunidade eclesial se insira ativa e coerentemente nos novo aerópagos, como é o caso
das redes sociais, entretanto, é indispensável agir com discernimento.
Acrescenta-se ainda que “A Igreja e o mundo podem ouvir a voz de Deus também por
meio dos jovens, que constituem um dos lugares teológicos onde o Senhor está presente. A
Igreja faz uma opção preferencial por eles [...]” (CNBB, 2019, n.119). O testemunho deles
pode oferecer uma contribuição “[...] para renovar o ardor espiritual e o vigor apostólico das
comunidades. Nessa comunhão, os jovens poderão ser ainda mais missionários entre os
jovens.” (CNBB, 2019, n.120).
Por fim, as comunidades eclesiais missionárias estão em rumo à casa da Santíssima
Trindade, onde a Igreja atua na sociedade como sacramento universal de salvação, tendo em
vista o fim escatológico. “[...] A ação evangelizadora e pastoral tem como meta a salvação da
pessoa e da humanidade. Salvação que se entende integral [...]” (CNBB, 2019, n.121). Essa
característica deve marcar toda ação eclesial na história, pois é uma força da espiritualidade
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cristã. Mesmo num mundo tumultuado o Reino de Deus germina, sendo sinal do triunfo do
amor de Cristo sobre os mecanismos de morte. É necessário fortalecer a esperança dos
cristãos num mundo que carece de sentido e de ética, pois a Igreja vive na certeza de que
viverá na casa da Trindade.
1.5 – Agir
Quanto ao terceiro passo do método ver, julgar e agir, faz-se aqui algumas
considerações sobre os desdobramentos da experiência vivida na comunidade Santa Dulce dos
Pobres, na paróquia Nossa Senhora de Fátima, em Marabá-PA, destacando-se elementos
significativos no aprofundamento teórico e prático da teologia pastoral.
Como o objetivo da ação pastoral desenvolvida nessa comunidade foi forma uma
comunidade eclesial missionária, fundamentada sobre o pilar da Palavra, do Pão, da Caridade
e da Ação Missionária, é possível notar elementos significativos do aprofundamento teórico e
prático. O primeiro deles é a própria imagem usada para se referir a uma comunidade eclesial
missionária: a casa, entendida como lar. De fato, é notável como essa imagem se destaca na
comunidade Santa Dulce dos Pobres. As reuniões para as celebrações, terços, encontros de
novenas e círculo bíblico eram realizadas nas casas das famílias, como uma idêntica imagem
do que acontecia na Igreja primitiva presente na narração bíblica dos Atos dos Apóstolos,
onde as relações na casa vão para além dos laços familiares, formando Igreja. Mas, sobretudo,
lugar do encontro com Jesus.
Os outros elementos são referentes ao desenvolvimento dos pilares sobre os quais se
sustenta a comunidade eclesial missionária. O primeiro deles é a Palavra. Na comunidade
Santa Dulce esse é um dos pilares mais importantes, pois sacracralizou-se o frequente contato
com a Palavra de Deus nos encontros de oração. O principal dia de reunião em torno da
Palavra é o domingo, com a celebração da Palavra ou da Eucaristia e nas quintas-feiras, com o
encontro bíblico para partilhar a Palavra de Deus nas casas de uma das famílias da
comunidade (cada semana numa casa diferente). Contudo, é preciso reconhecer que em
relação à Iniciação à Vida Cristã não foi possível desenvolvê-la de modo efetivo, devido à
vários fatores. Porém se procurou, sempre que possível, passar formação catequética sem
visar os sacramentos, mas com o foco de instruir as pessoas para criarem a consciência da
importância de uma autêntica vida eclesial e vivência sacramental.
No segundo pilar, o do Pão, é notável o seu desenvolvimento, principalmente na
celebração Eucarística, que acontece dois ou três domingos ao mês e pelo cultivo da piedade
mariana, com a oração do terço aos sábados nas casas das famílias.
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1.6 – Conclusão
Dentre os elementos mais significativos que marcaram a experiência pastoral vivida
no estágio, em termo de aprendizado e no campo das projeções suscitadas pelos desafios da
prática pastoral na comunidade Santa Dulce dos Pobres no Residencial Magalhães Barata,
posso destacar a singular experiência de elaborar pela primeira vez um programa pastoral para
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ser desenvolvido e assistido, com base em documentos da Igreja e nas Sagradas Escrituras,
elaborando objetivos a serem alcançados. Antes, normalmente, não tinha muito claro como
desenvolveria a minha prática pastoral, não tinha base em documentos que pudesse me
orientar. Isso me fez dar um salto qualitativo no meu agir pastoral, até mesmo para não tirar
ideias somente da minha cabeça ou fazer uma prática pastoral sem relevância para a
comunidade, sem meta, sem objetivo, sem programa e um tempo determinado para realizá-lo.
Todo esse aprendizado leva-me a ter como projeção suscitada pelo desafio da prática
pastoral a importância dum projeto pastoral bem elaborado, principalmente a partir do método
ver, julgar e agir. Esse método nos levar a compreender a realidade pastoral, antes de tudo, a
julgar essa realidade à luz da Palavra de Deus, da Tradição e do Magistério para que possa
iluminar o modo de agir, para que seja concreto, efetivo e eficaz. Fazer uma prática pastoral
refletida teologicamente (mas também usando o auxílio de outras ciências que ajuda a alargar
a visão de mundo) é uma atitude de sabedoria. Além do mais, o mundo em que nos
encontramos atualmente exige que o agir pastoral seja realizado desse modo, pois corre-se o
risco de evangelizar sem critérios e sem comunhão com os ensinamentos da Igreja, e até
mesmo de por em cheque a credibilidade e a relevância do Evangelho no mundo de hoje.
Referências bibliográficas: