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Ritmos Africanos no Brasil e sua relevância, um breve panorama.

Este trabalho acadêmico visa medir a relevância do ritmo africano no cenário musical
brasileiro e, além disso, na própria sociedade brasileira em si.
Levando em consideração o ranking de março da revista Bilboard Brasil (edição 17, março
de 2011), que informa as músicas mais executas no país no período de 19 de janeiro de
2011 a 18 de fevereiro do mesmo ano, podemos comprovar a influência artística do ritmo
africano em várias das músicas que ocupam os primeiros lugares da parada. Mas vale a
pena indagar: qual a verdadeira relevância do ritmo africano no Brasil?
Para decorrer sobre o tema citado é obrigatório voltar no tempo, em que nossas terras foram
colonizadas pelos portugueses no século XVI. Nesse período os negros foram trazidos para
cá através dos navios negreiros. Os portugueses fizeram como muitos paises europeus da
época, que se aproveitavam da mão de obra africana para trabalhar em suas colônias.
Com os negros, veio para o Brasil sua cultura, tendo como maior expressão (na época) a
coroação dos reis do Congo que era uma espécie de ritual que deu origem ao sincretismo
religioso no Brasil. Com a abolição da escravatura assinada pela princesa Isabel em 1888
ocorreu um processo progressivo de ocupação das regiões periféricas nas maiores cidades
do país, ocasionando descaso por parte das autoridades e conseqüentemente o aumento
incessante da violência nestas regiões. Justamente na periferia do Rio de Janeiro ou de
Salvador (não se sabe ao certo), na metade de 1910 nasceu a primeira principal expressão
musical tipicamente brasileira: o Samba.
O Samba que teve como ventre os ritmos e a cultura africana surge como veiculo de
comunicação do povo, mas é muito discriminado pelos mais conservadores alegando na
época que era um estilo musical chulo (DA COSTA GARCIA, Tânia. Madame Existe). Só
mais tarde na década de 60, artistas e intelectuais começam a se interessar pelo estilo
musical e o mesmo passa a assumir um caráter de inclusão social(SAMPAIO, Daiane.
Conexão entre o morro e o asfalto), mesmo caráter que o maracatu exerce nos dias de hoje
na região periférica de Recife, só que de forma engajada (GUERRA, Flavia. A nação
maracatu). Além destes dois ritmos exclusivamente brasileiros, existe um gênero importado
dos Estados Unidos com raízes igualmente africanas que também possui um caráter de
inclusão social no Brasil: o Hip Hop.
Nas grandes metrópoles do País, o Hip Hop, é mais do que um gênero musical, pode-se
dizer que além de ser um tipo de música, ele pode significar um estilo de vida e até mesmo
uma saída do mundo das drogas e do crime (DIÓGENES, Gloria. Cartografias Da Cultura
E Da Violência)
A música por natureza possui como característica peculiar à função de dispositivo de
identificação social, quando reproduzida através dos veículos de massa. O indivíduo ao
escutar uma canção de sucesso se sente preenchido por toda a conotação que gira em torno
de tal obra. Isto explicaria a queda crescente das vendas de CD’s no país (referência)
devido a comercialização de CD’s piratas, ao mesmo tempo em que hábito de ouvir música
aumentou progressivamente desde 2002 (revista Roling Stone, setembro de 2007). Apesar
desse crescimento no consumo de música, como diz a letra de Caetano: noventa e nove e
um pouco mais porcento das músicas que existem são de amor (referência). Enfrentamos
uma carência no que diz respeito à canções de protesto que caem no gosto popular,
diferente do que acontecia nos anos da ditadura quando compositores como Milton
Nascimento tocavam o hino de uma nação (roling stone, março de 2011).
Podemos considerar que o HIP HOP é o gênero musical com raiz africana que mais se
enquadra no perfil de música de protesto.
Além de compor grande parte da lista de músicas mais tocadas (mesmo que de forma
velada) em um país onde a venda de música digital cresceu 159,4% entre os anos de 2008
2009, o ritmo africano através do Hip Hop, Maracatu e do Samba afirma e reafirma a
identidade da juventude menos favorecida pela ideologia dominante.

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