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A REPRESENTAÇÃO DA DOR EM ÁLVARES

DE AZEVEDO E EM FRIDA KAHLO

Anderson Lopes

Faculdade São Bernardo Do Campo, São Paulo - Brasil

Resumo :Esse artigo tem o intuito de analisar a representação da


dor em Álvares de Azevedo e em Frida Kahlo .Onde se analisa o poema
“Adeus, meus sonhos” de Álvares de Azevedo e o quadro “Abrazos
Amorosos” de Fridah Kahlo.

Palavras chave : Fridah Kahlo -Romantismo – Surrealismo

Resumen :Este articulo analisa la representacíon del dolor em


Álvares De Azevedo y en Frida Kahlo .Donde se analizan el poema “Adeus,
meus sonhos” de Álvares de Azevedo y el cuadro “Abrazos Amorosos” de
Fridah Kahlo.

Palabras llave : Fridah Kahlo -Romantismo – Surrealismo

1-Introdução

Frida Kahlo uma mulher de temperamento forte, bissexual, feminista,

dona de uma sensibilidade artística inquestionável, mostrava a todo momento

como uma mulher pode ser forte, e levar sua vida adiante, independente das
dores que ela trás. Suas telas são todas alto retratos, que mostram exatamente

como a mesma se sentia diante suas limitações.

Uma grande parte da literatura produzida por Álvares de Azevedo está

pautada por um profundo pessimismo e uma visão particular do mundo.

Embora ele tenha sofrido influência de poetas europeus, a sua obra é a

expressão íntima de sentimentos que o agitavam, apresentando, também,

preocupações de seu tempo e as marcas de uma estética voltada para o

sentimento, o individualismo e a liberdade de expressão. Estudar a sua poesia

é penetrar em um mundo cheio de sonhos e fantasias. Aceitar o desafio de

penetrar a interioridade do poeta é descobrir que sua obra é a expressão do

desejo de viver intensamente, retido por valores sociais que teimam em cercear

seus anseios.

De temperamento dramático, Azevedo pontua diversas controvérsias

pelo caráter discrepante de sua obra. Antônio Candido (1997)chega a afirmar

que o poeta não pode ser apreciado moderadamente, ou amamos sua obra,

passando por cima de defeitos e limitações, ou a repelimos. Temos de nos

identificar ao seu espírito para aceitar a sua poesia

1.1- A poesia de Álvares de Azevedo

ADEUS ,MEUS SONHOS !

(Álvares De Azevedo)

Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!


Não levo da existência uma saudade!

E tanta vida que meu peito enchia

Morreu na minha triste mocidade!

Misérrimo! votei meus pobres dias

À sina doida de um amor sem fruto...

E minh’alma na treva agora dorme

Como um olhar que a morte envolve em luto.

Que me resta, meu Deus?!... morra comigo

Álvares De Azevedo poeta da primeira fase do romantismo tida como “o

mal do século “ essa fase é chamada ultra –romantismo .Álvares foi

intensamente marcado pela influência de Lord Byron, poeta que alcançou o

peso egocêntrico, intensidade de experiência, buscados pelas obras tão

marcadamente pessoais do Romantismo. Byron tem em suas obras um tom de

exagero, mas totalmente intenso, assim como os quadros de Frida Kahlo.

Neste poema nota-se que o tema predominante é o pessimismo e a

morte; o poeta parece que previa que teria uma vida curta, como realmente

teve.. Por isso, despede-se dos sonhos não concretizados. Assim faz

referencias de uma precoce mocidade, um amor não realizado e a ingenuidade

vivida com os amores que teve. Sentindo-se ainda 'morto em vida' termina por

afirmar que não via.

Essa tem de morte se dá logo no titulo do poema, adeus , meus sonhos

! .Onde o poeta se despede dos seus sonhos, “aceitando” assim sua morte.

Logo na primeira estrofe “Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!” se afirma

isso ,pois o poeta se despede de seus sonhos, chora e morre ,mas essa
despedida dos sonhos, pode ser analisada como a despedida de seu amor,de

sua ambição na vida.

No verso seguinte Azevedo diz “Não levo da existência uma saudade!”

onde fica claro que ele está consciente da morte, e diz que não sentirá

saudades de nada .Nas seguinte verso ainda completa “E tanta vida que meu

peito enchia , Morreu na minha triste mocidade!” onde tem ciência que morrerá

em sua mocidade.

Na próxima estrofe os seguintes versos demonstram um sentimento de

dor a uma pessoa amada .“Misérrimo! votei meus pobres dias,À sina doida de

um amor sem fruto...,E minh’alma na treva agora dorme ,Como um olhar que a

morte envolve em luto.” Compara esse sentimento de perda da pessoa amada

com a morte .

Ao finalizar “Que me resta, meu Deus?!... morra comigo” se entende

que já que ele sabe que irá morrer e que ficará sem sua amada, faz uma

metáfora já que acordo com a bíblia Deus morreu por nós, o poeta pontua para

que Deus morra com ele.

1.2-A obra de Frida Kahlo

Com uma trajetória bastante marcada por doenças, a artista mexicana

Frida Kahlo se opunha aos que declaravam surrealista sua obra. Segundo ela,

não pintava sonhos e sim sua própria realidade. Boa parte de suas obras

encontram-se expostas na casa azul, residência onde nasceu e que foi

transformada em museu após sua morte.


“Yo me pinto ,pues es el

tema que más conosco “

(KAHLO,Frida)

As tranças e as sobrancelhas unidas evidenciam ainda mais

sua marcante e inconfundível fisionomia. Uma mulher de personalidade forte

e obras incríveis.

Por ter sofrido um acidente quando adolescente, boa parte de sua vida

foi em cima de uma cama ,isso lhe causou muita dor ,e isso é refletido em suas

obras .Seu conturbado relacionamento com Diego Rivera é refletido em suas

obras também .

Essa mistura do sentimento de dor, amor e paixão são explicitas em

suas obras - praticamente todas suas obras são auto retratos ,pois por causa

de seu acidente ,Frida passou muito tempo deitada, e pintava esses auto

retratos olhando em uma espelho em cima de sua cama – a partir das cores

que são muito fortes e presentes em suas obras .

Frida Kahlo foi uma pessoa a frente do seu tempo como ela mesmo

gostava de dizer .Em sua obra Las Dos Fridas (1939) ,isso é explicito pois

mostra uma imagem de duas mulheres –ambas Frida Kahlo – uma dessas

mulheres vestida de branco com um traje típico mexicano e a outra vestida de

com um vestido mais colorido ,e ambas ligadas pelo coração .Isso era uma

mistura da Frida como ela era uma mistura clássica com contemporânea .

Ao fundo temos um céu muito escuro e talvez tempestuoso dando-nos a

idéia de que naquele instante a autora não vislumbrava um horizonte claro, um

futuro, mas sim uma eminente tempestade. O piso parece sem vida, sem cor,

somente areia e mais nada. Nem uma grama, flor ou canteiro, nenhuma cor
vibrante, apenas barro, quase tão sem vida ou apenas com meia vida como

uma das duas Fridas.

Para analise utilizaremos uma das obras mais conhecidas de Frida

Kahlo ABRAZO AMOROSO (1937) [ANEXO 1]

Essa pintura é carregada de muitos elementos que derivam da antiga

mitologia Mexicana .Frida era estéreo ,no quadro essa “incapacidade” de Frida

ter filhos, é expressada em uma relação maternal entre Frida e seu esposo

Diego .

Frida está representada no centro da pintura como uma Madonna ,tem

Diego em seus braços, dando abraço amoroso .Ainda que a mulher é a figura

que alimenta a vida ,o homem tem o terceiro olho, o da sabedoria ,tornando os

dependentes .

Assim na pintura, Frida representa a vida, morte, noite, dia,lua, sol,

homem e mulher , todos em um recorrente dicotomia que está profundamente

ligada y se matem unida graças aos seres mitológicos .

2-A relação de dor em Frida e em Álvares

De acordo com o critico James Small em suas obras Frida recorre a uma

linguagem visual do Surrealismo e tendem a justapor a ambiguidade e o

improvável. Os temas conflitantes do caos e da ordem são predominantes. Ela

se utiliza frequentemente dos gêmeos ou dos símbolos hermafroditas como

modo de resolver seus conflitos .


Alvares e Frida são muito parecidos quando expressam a dor .Como

Machado De Assis diz Azevedo tem um exagero um tom de exagero ao expor

seu sentimento ,explorando todo seu âmbito adolescente .E Frida expressa

toda essa dor através das suas cores e traços .

Ambos trabalham com uma dualidade .Em Adeus, Meus Sonhos

Azevedo trabalha com esse amor que ele sente, mas que ele não pode ter ,

dessa vivacidade sobre a mocidade e sobre a morte que ele sabe que é

inevitável ,e a única coisa que ele pode fazer é aceitar.

Aludimos ao “auto-retrato” uma “feminilidade despedaçada”, assim como

seu corpo durante sua vida, ou como sua relação com Rivera, pois no

momento em que o quadro foi pintado o casal estava separado. Na parte

superior do quadro está escrito em espanhol: “Mira que si te quise, fue por el

pelo, Ahora que estás pelona, yo no te quiero” (Olha que se te quis,

foi pelo cabelo, Agora que estás careca, eu não te quero). E logo abaixo do

texto, uma cifra de música uma "outra" estética diferente da beleza

convencional.

Uma beleza terrível, mas bela ainda assim na sua verdade reveladora e

corajosa, no limite máximo do humor e do trágico, da irreverência e do

compromisso com projetos nunca traídos ideológicos e amorosos.

“a marcação pode ser simbólica ou

física (...) o que importa é que ela terá

além de efeitos simbólicos, expressão

social e material” (LOURO, 2004, p.

83).
Podemos afirmar que Frida buscou, por meio de suas relações, espaços

onde havia possibilidade de inclusão e reconhecimento, onde podia realizar

funções e ocupar lugares através de investimentos constantemente reiterados,

renovados e refeitos em termos de suas sexualidades e papéis de gêneros

Sem contar na intensidade em que Frida e Azevedo expõem seus

sentimentos ..

Antonio Candido ainda cita o fato de o Romantismo foi “o movimento de

adolescência” e ninguém o representou mais tipicamente no Brasil como

Alvares. As características comuns ao adolescente e a Alvares de Azevedo

são: ser dividido, ambíguo, ameaçado de dilaceramento, alguns traços de

perversidade (nítidos em Azevedo); desejo de afirmar, e temor de menino

amedrontado; rebeldia dos sentidos. Idealização da mulher em contraposição à

lubricidade que a degrada.

Frida assim como Alvares foi percussora do movimento surrealista no

México ainda que ela constantemente se recusava a aceitar essa concepção.

4-Conclusão

Tanto Alvares quanto Frida fizeram dentro de seus movimentos ,obras

inigualives e profundamente intensas ,expondo seus sentimentos de uma maneira

única e sublime.

Essa relação da expressão de sentimentos nos dois ,é indiscutivelmente real e

tocante .

Seja por forma de poemas ou por pintura o importante é que ambos souberam

se expressar e nos encatar com suas obras.


ANEXO 1

Referencias Bibliográficas

JAMIS, Rauda. (1987). Frida Kahlo (Luiz Cláudio de Castro e Costa, Trad.).
São Paulo:

Martins Fontes. Candido, A. (1969). Formação da literatura brasileira v.1(1750-


1836). São Paulo: Martins.

AZEVEDO,Álvares (1992). Lira Dos Vinte Anos, São Paulo: Martins.

Assis, M. D. (1994). Obra Completa De Machado De Assis. Rio De Janeiro:


Nova Aguilar.
SMALLS, James. (2003). Capítulo 6 (1900 – 2000): A homossexualidade na

Arte Moderna e Pós-Moderna. In L’homosexualité dans l’Art.(pp. 183-260)

Tradução de. Fernando Silva Teixeira Filho. New York, USA: Parkstone Press

Ltd.

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