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Estudo desenvolvido no Curso RESUMO: A subluxação do ombro é comum em indivíduos que sofreram acidente
de Especialização em vascular encefálico (AVE), podendo gerar dor, lesões do plexo braquial, capsulite
Fisioterapia Motora e adesiva e lesões nos músculos da bainha rotatória, implicando atraso da reabilitação
Hospitalar aplicada à e interferência na qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos
Neurologia da EPM/Unifesp – da estimulação elétrica funcional (EEF) na subluxação crônica do ombro em
Escola Paulista de Medicina da pacientes hemiplégicos que sofreram AVE. Foram avaliados três pacientes tendo
Universidade Federal de São tido AVE há mais de um ano com subluxação do ombro confirmada por exame de
Paulo, São Paulo, SP, Brasil raios X. Foram analisados, antes e após o tratamento, o grau de subluxação e
1 amplitude de movimento (ADM) do ombro, função sensório-motora pela escala
Fisioterapeuta Especialista em
Fisioterapia Motora e de Fugl-Meyer e dor em repouso e à movimentação passiva por meio de escala
Hospitalar aplicada à visual analógica. Todos os pacientes foram submetidos a tratamento com fisioterapia
Neurologia convencional e EEF no membro hemiplégico por dez sessões. A análise dos
resultados mostrou melhora em relação às medidas iniciais da ADM, da avaliação
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Profa. Coordenadora do Curso sensório-motora, dor e subluxação do ombro após o uso da EEF. Concluiu-se que a
de Especialização em EEF, asociada à fisioterapia convencional, mostrou-se eficaz em produzir diminuição
Fisioterapia Motora e da subluxação, aumento da função do membro superior e agir no alívio da dor em
Hospitalar aplicada à pacientes com subluxação do ombro pós-AVE.
Neurologia da EPM/Unifesp DESCRITORES: Acidente cerebral vascular; Luxação do ombro/reabilitação; Terapia
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Prof.Dr. do Curso de por estimulação elétrica
Fisioterapia do Centro
Universitário São Camilo, São ABSTRACT: Shoulder subluxation is a common complication among stroke survivors;
Paulo, SP it may cause pain, brachial plexus injuries, adhesive capsulitis and rotator cuff
muscle injuries, leading to rehabilitation delay and interference in patients’ quality
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Prof. Dr. do Curso de of life. The purpose of this study was to assess the effects of functional electrical
Fisioterapia da Universidade stimulation (FES) in post-stroke hemiplegia shoulder subluxation. Three patients
Cidade de São Paulo, SP with over one year of stroke onset and shoulder subluxation confirmed by X ray
were assessed prior to, and after FES treatment, as to: degree of shoulder subluxation
ENDEREÇO PARA and range of motion (ROM); sensory-motor function by the Fugl-Meyer scale; and
CORRESPONDÊNCIA pain at rest and at passive movement by means of a visual analog scale. All patients
were treated with conventional physical therapy and FES in the hemiplegic member
Juliana B. Corrêa
R. Caetezal 157 for ten sessions. Results showed improvement in final measures of ROM and sensory-
02334-130 São Paulo SP motor assessments, pain relief and shoulder subluxation reduction after treatment.
e-mail: FES associated to conventional physical therapy has thus proved effective in
julianabcorrea@gmail.com decreasing subluxation, increasing upper limb function and in relieving pain in
post-stroke shoulder subluxation patients.
Apresentado ao IV Progress KEY WORDS: Electrical stimulation therapy; Shoulder dislocation/rehabilitation;
Motor In Control, Santos, 2007 Stroke
e ao Cobraf – Congresso
Brasileiro de Fisioterapia, São
Paulo, 2007.
APRESENTAÇÃO
dez. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
mar. 2009
Tratamento neceram sentados em uma cadeira com to, um manual de orientações contendo
o membro superior acometido repousan- ilustrações mostrando o posicionamento
Todos os pacientes foram submetidos do sobre uma mesa. Foi utilizado o correto do membro superior nas posi-
a tratamento com fisioterapia convencio- estimulador elétrico FesMed (Carci). ções de decúbito dorsal e lateral, senta-
nal e aplicação da EEF no membro su- do à mesa e na poltrona. Todos os itens
O posicionamento correto dos eletro-
perior hemiplégico. O tratamento foi foram explicados pelo pesquisador e os
dos foi observado durante a estimulação,
realizado duas vezes por semana com pacientes foram orientados a não reali-
com observação da contração dos mús-
duração de 60 a 70 minutos por sessão zar exercícios domiciliares ou outros tra-
culos supraespinal e deltóide posterior
em um período de cinco semanas, tamentos para o membro acometido
com mínima interferência do trapézio
totalizando dez sessões. durante a realização do estudo.
superior, além da palpação do encaixe
O programa de tratamento fisiote- da cabeça do úmero na cavidade
rapêutico incluiu alongamento muscular
passivo de rombóides, peitoral maior,
glenóide durante o período de contração
muscular (T-on). Para este estudo, foram
RESULTADOS
trapézios, grande dorsal e bíceps braquial, adotados os seguintes parâmetros12: cor- Dados de idade, sexo e clínicos de
mobilização escapular passiva, co-con- rente pulsada bifásica assimétrica balan- cada paciente são apresentados na Ta-
tração ativa e estímulos manuais rápi- ceada; freqüência de 30 pulsos por se- bela 1. A Tabela 2 mostra os resultados
dos (tapping) na musculatura ao redor gundo; tempo de duração de pulso, 300 das avaliações antes e após o término
do ombro, fortalecimento de abdomi- microssegundos; T-on de 15 segundos (s); do protocolo de tratamento dos três ca-
nais, extensores profundos da coluna e tempo de relaxamento muscular (T-off, sos. Os valores das medidas depois do
de musculatura serrátil13. em que não há passagem de corrente tratamento sugerem vantagens do uso da
elétrica), 10 s; subida (rise, em que a am- fisioterapia adicionada à EEF em rela-
Em seguida, era aplicada a EEF por plitude do pulso aumenta até atingir o ção às medidas iniciais da ADM, avalia-
eletrodos de superfície Pals Flex valor máximo) de 2 s; descida (decay, ção sensório-motora, dor e subluxação
(Plantinum 42080, formato retangular, em que a amplitude do pulso diminui do ombro.
com 4 x 6 cm), posicionados nos mús- gradualmente até cessar a contração) de
culos supraespinal e deltóide posterior 2 s; tempo de tratamento (timer) de 30
simultaneamente9. Os eletrodos foram
posicionados no sentido das fibras mus-
minutos e amplitude de acordo com a DISCUSSÃO
tolerância de cada indivíduo8.
culares, sendo utilizado gel condutor e No presente estudo, foram investiga-
fixação com fita crepe. Durante o trata- Além disso, todos os participantes dos os efeitos da EEF junto com a fisiote-
mento com a EEF, os pacientes perma- receberam, no primeiro dia de tratamen- rapia convencional em três pacientes
que sofreram AVE, ocorrendo melhoras
Tabela 1 Características dos sujeitos em todos os parâmetros avaliados.
A ocorrência da subluxação do om-
Paciente Idade (anos) Sexo Tipo de AVE TI AVE (anos) Lado acometido
bro parece estar correlacionada a alguns
1 58 M I 6 E fatores, como AVE do tipo hemorrágico,
2 50 M H 6 E perda da propriocepção e grau de recupe-
3 56 M I 3 E ração do MS14.
M= masculino; I= isquêmico; H= hemorrágico; TI = Tempo de instalação; E= esquerdo Uma variedade de objetivos terapêu-
ticos têm sido alcançados com o uso da
Tabela 2 Medidas obtidas dos três sujeitos nas avaliações antes e depois do EEF, como a facilitação de movimentos
tratamento voluntários, melhora da destreza manual,
Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 ganhos nas atividades de vida diária15,
Variáveis redução da dor16 e espasticidade17. Wang
Antes Após Antes Após Antes Após
et al.9 relatam que, após seis semanas
ADM (°) AB 160 180 90 110 90 120
de tratamento com EEF, a subluxação do
F 160 180 110 150 90 150 ombro teve melhora significante no gru-
RE 70 80 50 70 60 70 po de hemiplégicos somente na fase
Escore (Fugl-Meyer) 18 22 13 20 13 20 aguda. No entanto, Kobayashi et al. tam-
Subluxação (mm) 10 7 13 9 13 8 bém apresentam resultados favoráveis
com uso de EEF em fase crônica do AVE8,
Dor (cm) R 0 0 0 0 4 0 corroborando os achados de Yu et al.10,
AB 0 0 3 0 6 0 que relataram efeitos benéficos da EEF
F 1 0 6 2 5 3 na dor e subluxação crônica do ombro.
RE 1 0 7 4 4 1 Pesquisas relatam que a utilização da
ADM = amplitude de movimento; AB = abdução do ombro; F = flexão do ombro; RE = rotação EEF para prevenção ou redução da
externa do ombro; R = repouso subluxação do ombro em fase aguda do
REFERÊNCIAS