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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.1, p.89-93, jan./mar.

2009 ISSN 1809-2950

Estimulação elétrica funcional na subluxação crônica do ombro após acidente


vascular encefálico: relato de casos
Functional electrical stimulation for shoulder subluxation after chronic
stroke: a case report
Juliana Barbosa Corrêa1, Heloise Cazangi Borges2, Paulo Roberto Garcia Lucareli3, Richard Eloin Liebano4

Estudo desenvolvido no Curso RESUMO: A subluxação do ombro é comum em indivíduos que sofreram acidente
de Especialização em vascular encefálico (AVE), podendo gerar dor, lesões do plexo braquial, capsulite
Fisioterapia Motora e adesiva e lesões nos músculos da bainha rotatória, implicando atraso da reabilitação
Hospitalar aplicada à e interferência na qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos
Neurologia da EPM/Unifesp – da estimulação elétrica funcional (EEF) na subluxação crônica do ombro em
Escola Paulista de Medicina da pacientes hemiplégicos que sofreram AVE. Foram avaliados três pacientes tendo
Universidade Federal de São tido AVE há mais de um ano com subluxação do ombro confirmada por exame de
Paulo, São Paulo, SP, Brasil raios X. Foram analisados, antes e após o tratamento, o grau de subluxação e
1 amplitude de movimento (ADM) do ombro, função sensório-motora pela escala
Fisioterapeuta Especialista em
Fisioterapia Motora e de Fugl-Meyer e dor em repouso e à movimentação passiva por meio de escala
Hospitalar aplicada à visual analógica. Todos os pacientes foram submetidos a tratamento com fisioterapia
Neurologia convencional e EEF no membro hemiplégico por dez sessões. A análise dos
resultados mostrou melhora em relação às medidas iniciais da ADM, da avaliação
2
Profa. Coordenadora do Curso sensório-motora, dor e subluxação do ombro após o uso da EEF. Concluiu-se que a
de Especialização em EEF, asociada à fisioterapia convencional, mostrou-se eficaz em produzir diminuição
Fisioterapia Motora e da subluxação, aumento da função do membro superior e agir no alívio da dor em
Hospitalar aplicada à pacientes com subluxação do ombro pós-AVE.
Neurologia da EPM/Unifesp DESCRITORES: Acidente cerebral vascular; Luxação do ombro/reabilitação; Terapia
3
Prof.Dr. do Curso de por estimulação elétrica
Fisioterapia do Centro
Universitário São Camilo, São ABSTRACT: Shoulder subluxation is a common complication among stroke survivors;
Paulo, SP it may cause pain, brachial plexus injuries, adhesive capsulitis and rotator cuff
muscle injuries, leading to rehabilitation delay and interference in patients’ quality
4
Prof. Dr. do Curso de of life. The purpose of this study was to assess the effects of functional electrical
Fisioterapia da Universidade stimulation (FES) in post-stroke hemiplegia shoulder subluxation. Three patients
Cidade de São Paulo, SP with over one year of stroke onset and shoulder subluxation confirmed by X ray
were assessed prior to, and after FES treatment, as to: degree of shoulder subluxation
ENDEREÇO PARA and range of motion (ROM); sensory-motor function by the Fugl-Meyer scale; and
CORRESPONDÊNCIA pain at rest and at passive movement by means of a visual analog scale. All patients
were treated with conventional physical therapy and FES in the hemiplegic member
Juliana B. Corrêa
R. Caetezal 157 for ten sessions. Results showed improvement in final measures of ROM and sensory-
02334-130 São Paulo SP motor assessments, pain relief and shoulder subluxation reduction after treatment.
e-mail: FES associated to conventional physical therapy has thus proved effective in
julianabcorrea@gmail.com decreasing subluxation, increasing upper limb function and in relieving pain in
post-stroke shoulder subluxation patients.
Apresentado ao IV Progress KEY WORDS: Electrical stimulation therapy; Shoulder dislocation/rehabilitation;
Motor In Control, Santos, 2007 Stroke
e ao Cobraf – Congresso
Brasileiro de Fisioterapia, São
Paulo, 2007.

APRESENTAÇÃO
dez. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
mar. 2009

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INTRODUÇÃO após o AVE fornece benefícios terapêu-
ticos e funcionais em diversas articula-
Avaliação
A subluxação do ombro é uma com- ções. Estudos preliminares indicam a EEF Todos os pacientes foram avaliados
plicação secundária freqüentemente como um recurso terapêutico eficaz para antes e após o tratamento com os seguin-
encontrada nos pacientes que sofreram a ativação da musculatura ao redor do tes recursos: exame de RX, goniometria
acidente vascular encefálico (AVE), apre- ombro, proporcionando melhora na dos ombros, avaliação sensório-motora
sentando incidência relatada em até 81% congruência da articulação glenoumeral pela escala de Fugl-Meyer para domínio
dos casos1,2. O prejuízo no controle mo- e permitindo melhora funcional e da dor de membro superior11, dor em repouso e
tor do membro superior (MS) representa nessa articulação8,9. Entretanto, o tem- à movimentação passiva por escala vi-
uma grave conseqüência do AVE, em po de estimulação utilizado nesses es- sual analógica (EVA)2.
que 13% dos pacientes apresentam tudos chegou a até 6 horas diárias8-10, Exames de RX: foram realizados na
défices no MS já nas duas primeiras se- mostrando que esse tipo de intervenção região de ombros bilateralmente, cinco
manas e 66% dos sobreviventes apre- fica restrito a uma pequena parcela da dias antes e cinco dias após o término
sentam danos severos após 6 meses do população, sendo praticamente inviável do protocolo. A incidência do exame foi
AVE3. no sistema de reabilitação fisiote- ântero-posterior e os pacientes perma-
rapêutica, em que as sessões variam de neceram em posição ortostástica durante
Na hemiplegia, a paresia ou plegia
40 a 60 minutos. Assim, o objetivo des- sua realização. Uma régua milimetrada
dos músculos do ombro, juntamente
te relato de casos foi avaliar os efeitos foi utilizada para determinar a distância
com a instabilidade inferior da articula-
da EEF associada à fisioterapia conven- (d) da borda inferior da fossa glenóide à
ção glenoumeral, contribuem para a
cional na subluxação do ombro em três linha inferior entre o colo anatômico da
ocorrência do deslocamento inferior da
pacientes que haviam sofrido AVE. cabeça do úmero em ambos os ombros.
cabeça do úmero. A subluxação do om-
bro pode ser definida como uma mudan- A diferença da distância d entre o lado
afetado e o não-afetado foi definida
ça na integridade mecânica na articula-
ção glenoumeral, que causa um “degrau”
METODOLOGIA como distância D de medida da sublu-
Participaram do estudo três pacien- xação8.
entre o acrômio e a cabeça do úmero.
Nos portadores de AVE, a redução da tes do sexo masculino apresentando Goniometria: foram avaliadas a am-
atividade muscular leva a um estira- hemiplegia após AVE com subluxação plitude de movimento12 (ADM) da arti-
mento contínuo dos tecidos moles da na articulação do ombro confirmada por culação do ombro, cotovelo, punho e
articulação do ombro, como a cápsula exame de raios X (RX), recrutados no dedos com goniômetro manual.
articular, músculos, nervos e ligamentos, Centro de Reabilitação Lar Escola São
Francisco, vinculado à EPM/ Unifesp – Avaliação sensório-motora: a escala
resultando na subluxação do ombro4.
Escola Paulista de Medicina da Univer- sensório-motora de Fugl-Meyer foi utili-
Estudos eletromiográficos e eletro- zada somente para o domínio membro
sidade Federal de São Paulo, mediante
fisiológicos mostram que o deslocamen- superior neste estudo. A escala compre-
palpação do ombro acometido para ve-
to inferior da articulação do ombro é ende: testes de atividade reflexa, movi-
rificação da suspeita de subluxação. Os
prevenido por um sistema de travamento mentos executados em sinergias flexoras
critérios de inclusão foram: ter sofrido
dependente de fatores como a inclina- AVE isquêmico ou hemorrágico há mais e/ou extensoras, desempenho de movi-
ção da fossa glenóide, junto com o esti- de um ano; subluxação do ombro con- mento voluntário associado às sinergias
ramento da parte superior da cápsula flexoras e/ou extensoras dinâmicas, mo-
firmada por RX; não se encontrar em tra-
articular e do ligamento coracoumeral, vimentos voluntários com pouca ou ne-
tamento de reabilitação; não estar usan-
além da atividade dos músculos supraes- nhuma interferência sinérgica, ativida-
do analgésicos. Foram excluídos candi-
pinal e das fibras posteriores do deltóide, de reflexa normal, testes para o punho,
datos portadores de marca-passo, ou que
sendo estes músculos-chave para a pre- testes para a mão e testes de coordena-
apresentassem doença ortopédica e/ou
venção da ocorrência de subluxação ção/ velocidade11. O escore máximo da
reumatológica prévia no ombro, afasia
inferior5. escala para membro superior é 66 pon-
de compreensão e alteração da sensibi-
tos; quanto maior a pontuação, menor
A subluxação do ombro pode ocasio- lidade na região do ombro. A pesquisa
o grau de acometimento11.
nar dor, limitações de movimento, lesões foi aprovada pelo Comitê de Ética em
do plexo braquial, capsulite adesiva e Pesquisa da Universidade Federal de São Avaliação da dor: uma escala visual
lesões nos músculos da bainha rotatória6. Paulo e os participantes assinaram um analógica foi usada para registrar a in-
Esses fatores contribuem para o atraso termo de consentimento livre e esclare- tensidade da dor no ombro acometido.
da recuperação do membro superior e cido. Foram realizados exames de RX Os pacientes foram instruídos a marcar
estão diretamente relacionados à inter- para confirmação da subluxação do com uma caneta em uma linha de 10
membro hemiplégico. Todos os exames cm, a intensidade da dor ao repouso e
ferência na qualidade de vida desses
foram feitos no Hospital São Paulo (tam- aos movimentos passivos de abdução,
pacientes7.
bém vinculado à EPM/Unifesp), e as flexão e rotação externa do ombro. O
A aplicação clínica da estimulação medidas da subluxação foram realiza- zero indicava sem dor e 10, a pior dor
elétrica funcional (EEF) na reabilitação das por um avaliador cego. imaginável2.

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Corrêa et al. EE na subluxação crônica do ombro

Tratamento neceram sentados em uma cadeira com to, um manual de orientações contendo
o membro superior acometido repousan- ilustrações mostrando o posicionamento
Todos os pacientes foram submetidos do sobre uma mesa. Foi utilizado o correto do membro superior nas posi-
a tratamento com fisioterapia convencio- estimulador elétrico FesMed (Carci). ções de decúbito dorsal e lateral, senta-
nal e aplicação da EEF no membro su- do à mesa e na poltrona. Todos os itens
O posicionamento correto dos eletro-
perior hemiplégico. O tratamento foi foram explicados pelo pesquisador e os
dos foi observado durante a estimulação,
realizado duas vezes por semana com pacientes foram orientados a não reali-
com observação da contração dos mús-
duração de 60 a 70 minutos por sessão zar exercícios domiciliares ou outros tra-
culos supraespinal e deltóide posterior
em um período de cinco semanas, tamentos para o membro acometido
com mínima interferência do trapézio
totalizando dez sessões. durante a realização do estudo.
superior, além da palpação do encaixe
O programa de tratamento fisiote- da cabeça do úmero na cavidade
rapêutico incluiu alongamento muscular
passivo de rombóides, peitoral maior,
glenóide durante o período de contração
muscular (T-on). Para este estudo, foram
RESULTADOS
trapézios, grande dorsal e bíceps braquial, adotados os seguintes parâmetros12: cor- Dados de idade, sexo e clínicos de
mobilização escapular passiva, co-con- rente pulsada bifásica assimétrica balan- cada paciente são apresentados na Ta-
tração ativa e estímulos manuais rápi- ceada; freqüência de 30 pulsos por se- bela 1. A Tabela 2 mostra os resultados
dos (tapping) na musculatura ao redor gundo; tempo de duração de pulso, 300 das avaliações antes e após o término
do ombro, fortalecimento de abdomi- microssegundos; T-on de 15 segundos (s); do protocolo de tratamento dos três ca-
nais, extensores profundos da coluna e tempo de relaxamento muscular (T-off, sos. Os valores das medidas depois do
de musculatura serrátil13. em que não há passagem de corrente tratamento sugerem vantagens do uso da
elétrica), 10 s; subida (rise, em que a am- fisioterapia adicionada à EEF em rela-
Em seguida, era aplicada a EEF por plitude do pulso aumenta até atingir o ção às medidas iniciais da ADM, avalia-
eletrodos de superfície Pals Flex valor máximo) de 2 s; descida (decay, ção sensório-motora, dor e subluxação
(Plantinum 42080, formato retangular, em que a amplitude do pulso diminui do ombro.
com 4 x 6 cm), posicionados nos mús- gradualmente até cessar a contração) de
culos supraespinal e deltóide posterior 2 s; tempo de tratamento (timer) de 30
simultaneamente9. Os eletrodos foram
posicionados no sentido das fibras mus-
minutos e amplitude de acordo com a DISCUSSÃO
tolerância de cada indivíduo8.
culares, sendo utilizado gel condutor e No presente estudo, foram investiga-
fixação com fita crepe. Durante o trata- Além disso, todos os participantes dos os efeitos da EEF junto com a fisiote-
mento com a EEF, os pacientes perma- receberam, no primeiro dia de tratamen- rapia convencional em três pacientes
que sofreram AVE, ocorrendo melhoras
Tabela 1 Características dos sujeitos em todos os parâmetros avaliados.
A ocorrência da subluxação do om-
Paciente Idade (anos) Sexo Tipo de AVE TI AVE (anos) Lado acometido
bro parece estar correlacionada a alguns
1 58 M I 6 E fatores, como AVE do tipo hemorrágico,
2 50 M H 6 E perda da propriocepção e grau de recupe-
3 56 M I 3 E ração do MS14.

M= masculino; I= isquêmico; H= hemorrágico; TI = Tempo de instalação; E= esquerdo Uma variedade de objetivos terapêu-
ticos têm sido alcançados com o uso da
Tabela 2 Medidas obtidas dos três sujeitos nas avaliações antes e depois do EEF, como a facilitação de movimentos
tratamento voluntários, melhora da destreza manual,
Sujeito 1 Sujeito 2 Sujeito 3 ganhos nas atividades de vida diária15,
Variáveis redução da dor16 e espasticidade17. Wang
Antes Após Antes Após Antes Após
et al.9 relatam que, após seis semanas
ADM (°) AB 160 180 90 110 90 120
de tratamento com EEF, a subluxação do
F 160 180 110 150 90 150 ombro teve melhora significante no gru-
RE 70 80 50 70 60 70 po de hemiplégicos somente na fase
Escore (Fugl-Meyer) 18 22 13 20 13 20 aguda. No entanto, Kobayashi et al. tam-
Subluxação (mm) 10 7 13 9 13 8 bém apresentam resultados favoráveis
com uso de EEF em fase crônica do AVE8,
Dor (cm) R 0 0 0 0 4 0 corroborando os achados de Yu et al.10,
AB 0 0 3 0 6 0 que relataram efeitos benéficos da EEF
F 1 0 6 2 5 3 na dor e subluxação crônica do ombro.
RE 1 0 7 4 4 1 Pesquisas relatam que a utilização da
ADM = amplitude de movimento; AB = abdução do ombro; F = flexão do ombro; RE = rotação EEF para prevenção ou redução da
externa do ombro; R = repouso subluxação do ombro em fase aguda do

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AVE tem grande eficácia, porém estes tra correlação entre dor e subluxação. No presente estudo foi avaliada a fun-
efeitos não são mantidos com a retirada O aparecimento da dor já pode ser ob- ção sensório-motora, ocorrendo, após o
da estimulação1,9. Segundo Chantraine servado nos primeiros seis meses após o programa de tratamento com EEF, aumen-
et al.18, a melhora com uso da EEF foi AVE14. Ikeai et al.2 e Lianza et al.21 tam- to dos escores totais. A escala de Fugl-
mantida minimamente após 24 meses, bém relatam que a subluxação do om- Meyer foi utilizada incluindo os itens
porém mostrou influência direta no grau bro é somente uma das causas da dor, relacionados aos reflexos tendíneos; o
de subluxação e média de recuperação sendo a capsulite adesiva e a diminuição estudo feito por Michelle et al.23, suge-
da função do membro superior. Nesta da ADM os principais causadores de dor rindo que esse item seja retirado, foi
pesquisa, não foi possível verificar se os no ombro. publicado após a realização do presen-
efeitos da EEF foram mantidos após o te estudo.
Outro importante fator biomecânico
tratamento; faz-se necessário um follow
encontrado em pacientes hemiplégicos O tratamento com EEF da subluxação
up de alguns meses para verificação fi-
é a diminuição da ADM, principalmen- do ombro de pacientes que sofreram AVE
dedigna dos resultados obtidos.
te nos movimentos de abdução, flexão é especialmente efetivo quando aplica-
A dor no ombro é um problema co- e rotação externa do ombro. A análise do precocemente, como mostram alguns
mum em indivíduos que sofreram AVE. do grau de espasticidade também mos- estudos7,24. O estímulo aos músculos
Na fase aguda da hemiplegia, a mecâ- tra relação direta com o grau de limita- paralisados também deve ser otimizado
nica do complexo do ombro encontra- ções da articulação do ombro, contri- com o uso de fisioterapia convencional
se afetada pela perda do controle motor buindo para a alteração da biomecânica e outros recursos para que não haja ocor-
e desenvolvimento de movimentos anor- e restrição dos movimentos do ombro21. rência ou piora da subluxação, propor-
mais do membro superior. Mudanças cionando recuperação do membro su-
Os sujeitos desta pesquisa apresenta-
secundárias, como alterações dos teci- perior, diminuição da dor e melhora da
vam dor e diminuição da ADM no om-
dos da articulação glenoumeral e a função do ombro25.
bro, principalmente nos movimentos de
subluxação, também contribuem para o
abdução e rotação externa, tal como Outros estudos devem ser realizados
ocorrência da dor19. A melhora da dor
relatado por outros estudos2,21. A melho- com amostra maior e com a análise de
no ombro foi investigada em diversos
ra da dor com o uso da EEF pode ter outras medidas, como a eletromiografia
estudos em pacientes hemiplégicos. Um
relação com o aumento da ADM ocor- para verificação de ativação muscular.
programa de tratamento com a EEF tem
rido após o tratamento. Entretanto, este estudo sugere que a EEF
impacto na diminuição da dor no om-
pode ser utilizada como recurso coad-
bro destes pacientes, com maior eficá- Justin et al.22 sugerem que em aproxi-
juvante no tratamento da subluxação
cia em pacientes em fase crônica do AVE madamente três semanas após o AVE já
crônica do ombro, já que mostrou re-
comparado com pacientes em fase agu- é possível predizer o grau de recupera-
duzir a subluxação, melhorar a dor e a
da da doença1. ção do MS. A melhora da função e força
função sensório-motora.
da articulação do ombro é relatada em
A pesquisa realizada por Barlak et al.20
alguns estudos após o uso da EEF8,9. Por
em 187 pacientes com AVE não encon-
trou relação significante entre a dor e
exemplo, Kobayashi et al.8 obtiveram
melhora significativa da força para
CONCLUSÃO
espasticidade, subluxação ou dor talâ-
abdução do ombro em 22 pacientes crô- Não há dados conclusivos no presen-
mica. A capsulite adesiva foi vista como
nicos após uso da EEF. Já uma metanálise te estudo devido ao reduzido número
importante causador de dor no ombro.
mostra que o uso da EEF foi favorável na de casos. Entretanto, a EEF associada ao
No entanto, a dor é tida como multifa-
melhora da função quando aplicada pre- tratamento convencional da fisioterapia
torial e não pode ser atribuída a uma
cocemente, e com menor relevância produziu diminuição da subluxação,
única causa.
quando aplicada em fase crônica do aumento da função do membro superi-
Outro estudo com 327 participantes AVE1. No entanto, ainda há carência de or e agiu no alívio da dor em pacientes
mostra que não há relação significante estudos sobre o uso da EEF na subluxa- que haviam sofrido AVE há mais de um
entre dor e fatores clínicos, porém mos- ção crônica do ombro. ano.

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