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EDVALDO DE ASSIS BRITTO

FIBROMIALGIA
Visão da medicina tradicional chinesa

Goiânia
2016
Copyright © Edvaldo de Assis Britto, 2016.
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Edvaldo de Assis Britto
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Belo Horizonte, Brasil

ISBN 978-85-920776-0-0
Ficha Catalográfica
SUMÁRIO

CAPA
FOLHA DE ROSTO
FOLHA DE CRÉDITOS
FICHA CATALOGRÁFICA
1. FIBROMIALGIA - VISÃO DA MEDICINA OCIDENTAL
1.1. Introdução
1.2. Definição
1.3. Quadro clínico
1.4. Epidemiologia
1.5. Fisiopatologia
1.6. Diagnóstico
1.7. Tratamento
2. FIBROMIALGIA – VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL
CHINESA
2.1. Introdução
2.2. Definição
2.3. Canais de energia curiosos envolvidos na fibromialgia
2.4. Fisiopatologia
2.5. Tratamento
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4. BIBLIOGRAFIA
1
FIBROMIALGIA
VISÃO DA MEDICINA OCIDENTAL

1.1. Introdução

A fibromialgia (doravante FM) teve suas primeiras considerações


relatadas acerca de aproximadamente 150 anos, quando foi descrita pelos
pacientes a presença de pontos endurecidos em seus músculos, os quais eram
doloridos à pressão. Foi denominada inicialmente pelo termo “fibrosite”,
mesmo tendo sido observado pelos estudiosos que não havia inflamação local
e nem alterações sistêmicas. Era considerada como causa comum de dor
muscular, “reumatismo psicogênico” e como sintomas clínicos inespecíficos,
sem características de síndrome clínica1.
Nos anos 70 foram realizadas observações que mostraram que certas
localizações anatômicas eram mais frequentemente dolorosas em portadores
de FM do que em pacientes controles, sendo denominado de pontos sensíveis
– tender points. Estes, durante a década de 1980, foram considerados úteis
para o diagnóstico da enfermidade e, quase dez anos depois, foram incluídos
como critérios de classificação da doença pelo Colégio Americano de
Reumatologia (ACR)1.
Dor generalizada pelo corpo – sendo esta bilateral, acima e abaixo da
linha da cintura, envolvendo também o esqueleto axial, com a presença de
dor em pelo menos 11 de 18 pontos especificados – proporciona uma
sensibilidade diagnóstica de 88,4% e uma especificidade de 81,1%. Mesmo
sendo importante os tender points, o ACR achou relevante considerar que:
a) pacientes com FM podem apresentar pontos dolorosos em outras
localizações;
b) portadores da enfermidade podem apresentar menos de 11 pontos
dolorosos;
c) é uma doença multissistêmica e de natureza multidisciplinar, porém
com diagnóstico realizado de uma forma simplista (contando os pontos
dolorosos);
d) os critérios estabelecidos pelo ACR são para classificação (aplicam-
se a grupos de pacientes com o propósito de estudos epidemiológicos) e não
para diagnóstico. Portanto, não há critérios diagnósticos obrigatórios até o
momento para FM e sim os critérios de classificação, que podem ser usados
como sinais e sintomas diagnósticos, embora muitos dos pacientes com
enfermidade inicial possam não preencher os requisitos para a classificação.
O tratamento, então, é baseado na experiência profissional e não no
preenchimento formal desses critérios de classificação. Muitos estudos ainda
deverão ser realizados para que possamos analisar e compreender o paciente
sob uma visão mais ampla e abrangente1.
1.2. Definição

É uma condição médica caracterizada por dor muscular generalizada,


crônica, benigna, difusa, referida nos músculos, ossos, tendões e articulações,
com exame físico demonstrando a presença de pontos dolorosos ou
hipersensíveis à palpação em regiões específicas do corpo (tender points),
associados a distúrbios do sono, fadiga, cefaléia crônica e a vários outros
sintomas, com uma influência emocional importante, podendo apresentar-se
de forma isolada ou concomitante com outras síndromes ou doenças clínicas
ou mesmo reumatológicas, estando cada vez mais presente na vida das
pessoas1, 4, 5, 9, 11.
1.3. Quadro clínico

Os portadores dessa entidade nosológica apresentam sintomas e sinais


que se relacionam com múltiplas áreas da medicina. A maioria dos pacientes
apresenta dores musculoesqueléticas difusas, distúrbios do sono, fadiga,
rigidez matinal de curta duração, sensação de estar apresentando edema dos
membros e parestesias. A dor, geralmente, é de difícil localização, ficando
mais comumente definida ao longo do esqueleto axial (coluna cervical,
torácica e lombar) e cinturas escapular e pélvica.
Pode ocorrer cefaléia tensional, enxaqueca, zumbido, tonteira, cólon
irritável e a síndrome uretral feminina. E, finalmente, os pacientes têm
alteração do humor, como irritabilidade, tristeza, ansiedade e depressão.
Entretanto, quando o paciente é examinado fisicamente, parecerá que está
bem, sem doença sistêmica ou anormalidade articular, restando apenas, na
grande maioria dos casos, a presença dos pontos dolorosos, que podem ser
apenas um, poucos ou múltiplos e generalizados1, 5, 9.
1.4. Epidemiologia

FM é a doença reumática mais freqüente, com distribuição universal,


não havendo diferenças por raça ou cor, nem mesmo pela condição
socioeconômica, podendo ser encontrada em todas as faixas etárias, com
predominância entre os 30 a 60 anos de idade, preferencialmente no sexo
feminino (10 a 15 mulheres para cada 1 homem)1.
Não é considerada uma síndrome ocupacional, embora possa ser
desencadeada pelo trabalho, principalmente nos casos em que um ambiente
hostil une-se à insatisfação pessoal com a atividade exercida. Afastar ou não
o paciente de sua atividade profissional é um assunto bem polêmico e, tendo
em vista que o profissional de saúde tem como objetivo manter seu paciente
com uma boa qualidade de vida, a independência pessoal e a inserção
produtiva na sociedade devem ser mantidas. Portanto, o afastamento do
trabalho nos casos de FM deve ser uma medida extrema evitando-se, assim,
uma conduta que vá contra o que se espera de uma saúde adequada. É a
enfermidade reumática mais frequente1, 6.
Tem uma frequência de 1 a 5% na população em geral e, em termos de
atendimento, estima-se que 5% das consultas em ambulatório de clínica
médica e 30% em reumatologia sejam devidas à fibromialgia1, 9, 16.
1.5. Fisiopatologia

A FM representa um impacto negativo na qualidade de vida em termos


de dor, limitação física, distúrbios do sono e psicológicos. É uma síndrome
muito bem caracterizada clinicamente, contudo sua fisiopatogenia ainda não
está totalmente esclarecida. Existem várias teorias que encaminham para uma
série de fatores distintos gerando mecanismos complexos de
hipersensibilidade e alodínia. Estudos demonstram que existe uma
predisposição geneticamente determinada para o desenvolvimento de FM,
não relacionada ao Antígeno de Histocompatibilidade (HLA), necessitando
de condições ambientais para manifestar-se e fenotipicamente associada a
laços de personalidade sabidamente herdados, como o perfeccionismo e o
detalhismo. Nesses indivíduos o fenômeno doloroso pode ser desencadeado
por vários fatores, provavelmente por uma falha de adaptação ou
incapacidade de elaborar respostas adequadas a esses estímulos, entre eles, o
estresse emocional, os processos infecciosos, os traumas físicos repetitivos e
traumas por acidentes ou cirúrgicos. Assim, a FM poderia ser o resultado de
alterações na aquisição, percepção e interpretação da dor, provocada por
diversos agentes nocivos em um indivíduo suscetível, possivelmente
envolvendo uma nocicepção aumentada, uma inibição diminuída ou até a
combinação de ambos, podendo explicar o quadro clínico.
Investigações recentes mostram que anormalidades bioquímicas,
metabólicas, imunorreguladoras e comportamentais se associam com essa
enfermidade, que possui um desarranjo no processamento central da dor.
Anormalidades bioquímicas: a serotonina é, comprovadamente, um
neurotransmissor que exerce um papel na regulação do sono profundo
(restaurador) e na interpretação do estímulo sensorial doloroso. Os vários
estudos mostram que existe um nível anormalmente baixo de serotonina em
pacientes fibromiálgicos, tanto ao nível das plaquetas que possuem receptores
de alta avidez pela serotonina, como ao nível sérico e de sistema nervoso
central creditando isso talvez ao nível baixo de triptofano e ácido
hidroxindol-acético no líquido céfalo-raquidiano. Podem ser encontradas,
também, alterações de alguma forma relacionadas com a serotonina, da
concentração de prolactina, cortisol sérico, hormônio de crescimento e
principalmente da substância P. Esta exerce um efeito inibidor nas descargas
de nervos sensoriais, em presença de níveis normais ou altos de serotonina.
Como há uma diminuição dos níveis deste neurotransmissor nos pacientes
fibromiálgicos, o resultado clínico é uma hiperalgesia, aumento da
sensibilidade dos nervos ao estímulo nociceptivo.
Anormalidades metabólicas: os pacientes fibromiálgicos apresentam
uma disfunção em ambos os eixos neuro endócrinos, intimamente ligados à
resposta de adaptação ao estresse e que são estimulados pelo hormônio
liberador de corticotropina (HLC), secretado pelo hipotálamo, a amígdala e
outras estruturas cerebrais. São eles o eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal
(HHA) e o eixo Lócus-Ceruleos-Norepinefrina (LC-NE), envolvidos
respectivamente com os mecanismos de adaptação em longo prazo em uma
situação de estresse e estado de alerta e vigilância que prepara o organismo
para uma reação imediata ao estresse, luta ou fuga. Outra alteração
metabólica que se tem observado nos pacientes com fibromialgia são os
baixos níveis de Hormônio de Crescimento (HC), produzido e armazenado
pela glândula pituitária. Para que ele seja liberado tem que haver a
estimulação pelo Hormônio Liberador de Hormônio de Crescimento (HLHC)
e sua inibição fica por conta da somatostatina que, em pacientes que possuem
FM, está com seus níveis bem mais elevados que o HLHC. Além disso, como
esses pacientes apresentam alterações da etapa do sono delta e 80% do HC é
liberado em forma de pulsos durante o sono profundo, sua liberação também
se vê interrompida por esse motivo.
Anormalidades neuroimunorreguladoras: na FM têm descritas
alterações no SNC e no tecido periférico, o que nos faz pensar que nesses
pacientes, a dor depende de impulsos nociceptivos periféricos e de um
processamento central anormal. A sensibilização dos neurônios do corno
dorsal de medula espinhal são responsáveis por um processamento
aumentado da dor decorrente dos sinais nociceptivos provenientes da
periferia. Tudo isso se soma a uma ativação glial, seja por ocitocinas ou
aminoácidos excitatórios, que participam no começo e na perpetuação desse
estado de sensibilidade.
Anormalidades comportamentais: entre os quadros de dor crônica a FM
é a que mais se aproxima da depressão, possuindo sintomas semelhantes.
Indivíduos com personalidade depressiva e com transtornos do humor
(timopatas) têm algumas características que são surpreendentemente
semelhantes às de indivíduos com FM, apresentando estes, praticamente os
mesmos sintomas (afã de ordem, preocupação excessiva com o dever,
sobriedade, limpeza, perfeição, fidelidade, autoridade, hierarquia, não é uma
pessoa ousada, não gosta de dever e, quando tem alguma dívida, paga com
juro, vê o mundo como exigente e ameaçador, o que gera angústia, e, para
aliviar dela, ele empenha-se ao máximo para manter “tudo sob controle”).
Mas essa personalidade traz uma contradição intrínseca: por ser um
profissional que trabalha excessivamente, quando não consegue manter a
ordem e o controle da situação sente-se incapaz e culpado, rompendo-se,
assim, o equilíbrio. Tanto os timopatas quanto os fibromiálgicos apresentam
uma grande dificuldade em aceitar ajuda psiquiátrica e/ou psicológica; eles
pioram pela manhã, sua dor é difusa, com angústia e ansiedade, distúrbio do
sono, do apetite, da libido, fadiga, desânimo e sentem-se incompreendidos.
Deve-se, mesmo com essa enorme proximidade sintomatológica e as
alterações serotoninérgicas encontradas nessas enfermidades, levar em conta
que a dor crônica pode causar transtornos emocionais e do comportamento e
vice versa e muitas vezes não é possível decidir se fatores psicológicos são
causa ou efeito1, 4, 9, 16.
1.6. Diagnóstico

É puramente clínico não havendo exames complementares que


favoreçam sua realização. Segundo estudos apresentados no II Congresso
Mundial de Dor Miofascial e Fibromialgia, em 1992, os requerimentos
básicos para se fazer o diagnóstico da FM são:

presença de dor nos quatro quadrantes do corpo, assim como no


esqueleto axial, de maneira mais ou menos contínua, por um mínimo de
3 meses.

presença de pelo menos 11 de 18 pontos sensíveis anatomicamente


específicos (pontos occipitais, coluna cervical, trapézios, supra-
espinhosos, 2º espaços intercostais, epicôndilos laterais, glúteos, grandes
trocânteres, interlinha medial dos joelhos. Para pesquisar os pontos
padronizados deve-se questionar o paciente sobre a sensação dolorosa,
após pesquisa de cada ponto, um a um, bilateralmente em cada região
anatômica, no sentido crânio-caudal1, 4, 6, 16. Os pontos dolorosos são
encontrados nas seguintes regiões e tendem a ocorrer aos pares (figura
1):

Inserção do músculo sub-occipital

Borda superior do músculo trapézio, porção média

Origem do músculo supraespinhoso, superiormente à borda medial


da escápula
Aspecto anterior dos espaços intertransversos de C5 –C7

Epicôndilo lateral

Quadrante superior externo das nádegas

Grande trocânter – uniões musculares adjacentes

Almofada gordurosa medial do joelho, próximo à linha medial.


Figura 1 – Tender points utilizados para os critérios de
classificação de Fibromialgia segundo o Colégio Americano de
Reumatologia (1990).
Alguns especialistas afirmam que a FM pode ser diagnosticada com a
presença de apenas 8 a 9 pontos sensíveis de dor muscular, se houver,
concomitantemente, outros sintomas como problemas de sono, fadiga e
qualquer das condições características clínicas e comportamentais
coexistentes1 (Tabelas 1 e 2).
O diagnóstico diferencial deve ser feito com muitas enfermidades
reumáticas e não reumáticas que também possuem como característica clínica
a presença de dor crônica e fadiga, além do que elas podem estar associadas a
FM1. Certas doenças reumáticas como artrite reumatóide, lúpus eritematoso
sistêmico, síndrome de Sjögren ou as espondiloartropatias, também a
polimialgia reumática, as tendinites e tenossinovites fazem parte do
diagnóstico diferencial com a FM. Entre as doenças não reumáticas estão o
hipotireoidismo, as neuropatias periféricas (por exemplo a síndrome do túnel
do carpo), as doenças neurológicas (esclerose múltipla e miastenia gravis) e
também as doenças psiquiátricas (por exemplo a neurose de compensação).
Tabela 1 – Alterações mais freqüentes observadas em pacientes
fibromiálgicos
ALTERAÇÕES %
Dor difusa 100
Fadiga 100
Alterações do sono 87
Rigidez articular 87
Preocupação 73,9
Cefaléia 69,6
Depressão 69,6
Astenia 65,2
Tonteira 65,2
Irritabilidade 60,9
Dificuldade de concentração 52,2
Tendência ao isolamento 39,1
Desinteresse por sexo 34,8
Parestesia 30,4
Carvalho, MAP – Serviço de Reumatologia da UFMG (1995)
Tabela 2 – Alterações Comportamentais mais freqüentes
encontradas em pacientes fibromiálgicos
Preocupados
Perfeccionistas e exigentes
Muito efetivos em suas atividades
Incapacidade em dizer não
Sentem-se extremamente leais
Baixa autoestima
Sentimentos exagerados de culpa
Carvalho, MAP-Serviço de Reumatologia da UFMG (1995).
1.7. Tratamento

O tratamento inicia-se com uma anamnese detalhada e um exame físico


completo. Fazer o diagnóstico correto é de suma importância e o paciente
necessita saber que existe um nome para os sintomas misteriosos que ele
experimenta. Deve-se informá-lo que não existe cura, mas que a educação, as
mudanças no seu estilo de vida e a reabilitação apropriada podem ajudar a
controlar seu corpo e com isso obter melhora significante4.
A abordagem terapêutica para com esses pacientes, portadores de FM,
deve levar em conta os diversos aspectos desta síndrome, ou seja, o
envolvimento muscular, psicocomportamental e social. Diante disso, torna-se
obrigatório que eles sejam atendidos e avaliados por uma equipe
multidisciplinar.
O tratamento tem por objetivo: aumentar a analgesia central e periférica
levando à diminuição da dor, melhorar os distúrbios do sono, minimizar os
distúrbios de humor e melhorar a qualidade de vida5.
Por existir inúmeras dificuldades na caracterização clínica da FM, em
especial na fisiopatogenia e no próprio quadro clínico, sua abordagem
terapêutica permanece ainda voltada tão somente às manifestações clínicas,
com medidas farmacológicas e não farmacológicas e com resultados ainda
limitados, já que menos de 50% dos pacientes apresentam alguma melhora e
apenas 3% têm remissão total do quadro álgico10.
Envolvendo o tratamento não farmacológico são utilizadas várias
técnicas que auxiliam e muito os pacientes fibromiálgicos, dentre elas:
- Os exercícios físicos, 3 a 4 vezes por semana, durante 20 a 30
minutos, constituem o tratamento mais indicado e os mais adequados são os
aeróbicos, sem carga, sem grandes impactos para o esqueleto osteoarticular
(dança, natação, hidroginástica) auxiliando tanto no relaxamento como no
fortalecimento muscular, o que diminui a dor e melhora a qualidade do sono,
além de possibilitar maior aderência ao tratamento4, 10.
- A abordagem cognitivo-comportamental também é muito importante,
especialmente se for combinada com técnicas de relaxamento, exercícios,
alongamentos educação do paciente e da família. Cuidar desses enfermos é
cuidar, também, da relação deles com o trabalho, com os familiares, com as
outras pessoas e com eles próprios1, 10.
- Reabilitação com fisioterapia13
- Hipnoterapia para melhora do quadro de dor10
- Infiltração de pontos dolorosos
- Massoterapia
- Suporte nutricional13
- Eletroestimulação transcutânea.
- Acupuntura, técnica que diminui a ansiedade e o quadro álgico além
de aumentar o limiar de dor, com melhora importante dos sintomas, com
cerca de 25% de remissão total da doença1, 4, 10, 13.
Envolvendo o tratamento medicamentoso ou farmacológico também
existem várias possibilidades para se obter a melhora da qualidade de vida
dos pacientes, apesar de não atingir com esse método um resultado
satisfatório em uma percentagem alta dos pacientes1, 10.
A medicação utilizada inclui:
- Analgésicos – pode ser utilizado o tramadol ou a associação de
acetaminofeno e codeína, que melhora a dor, mas não reduz o número dos
tender points.
- Antiinflamatórios – tanto os hormonais como os não hormonais não
são recomendados para o tratamento isolado da dor na fibromialgia, por ter
resultados frustrantes. Tem bom resultado quando é utilizado para o
tratamento de outras enfermidades do aparelho locomotor presentes em
concomitância com a FM.
- Antidepressivos tricíclicos - (ciclobenzaprina, amitriptilina), agem
diminuindo a recaptação de serotonina e possivelmente de norepinefrina nas
terminações nervosas, favorecendo a melhora da dor e do relaxamento
muscular durante o sono, resultando em um sono de melhor qualidade, com
diminuição da fadiga ao acordar e com diminuição também dos pontos de
gatilho em 20 a 30% dos pacientes. Pode associar a fluoxetina com
observação de um resultado bem melhor do que se usada isoladamente.
- Benzodiazepínicos – alteram a arquitetura do sono apenas, não
demonstrando melhora significativa no que diz respeito à dor. Muito utilizado
no início do tratamento até que os antidepressivos comecem a exercer sua
ação, principalmente naqueles pacientes ansiosos, com insônia e com quadro
álgico importante.
- Lidocaína – infiltração local nos tender points com melhora da dor e
movimentos; talvez pela ação mecânica das infiltrações locais com liberação
de neurotransmissores e consequente relaxamento muscular.
- Opióides – têm pouca eficácia para tratar FM com altos índices de
efeitos colaterais.
- 5 HT (hidroxitriptofano) – precursor da serotonina, não tem eficácia
na diminuição dos pontos de dor, ansiedade e fadiga.
- Calcitonina - outro precursor da serotonina. Não tem eficácia no
quadro de dor.
- Receptor 5-HT – o bloqueio do receptor para serotonina tem sido
colocado como opção de bons resultados no controle da dor, entretanto, tem
seu uso limitado pela alta hospitalar e pela incidência de constipação
intestinal.
2
FIBROMIALGIA
VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL
CHINESA

2.1. Introdução

Uma das manifestações clínicas mais comuns são as dores crônicas do


Sistema Músculo Esquelético, dentre elas a FM, que se caracterizam por
apresentar-se em múltiplas regiões do organismo. Geralmente são refratárias
ao tratamento médico tradicional com melhora apenas temporária quando se
utiliza deste método11.
As dores aparecem concomitantes ao sono não reparador (insônia, sono
agitado, sono fragmentado, pesadelos, etc), fadiga, ansiedade, depressão,
sonolência.
2.2. Definição

A FM é uma doença relacionada ao sistema de canal de energia curioso


Qiao Mai, porém nem toda afecção deste pode ser diagnosticada como tal. O
Sistema Qiao Mai pertence ao conjunto de canais de energia curiosos, extras
ou maravilhosos, que têm a função de levar o Qi, o Xuê e o Qi Ancestral para
os espaços entre os canais de energia principais, e promover as diversas
ligações entre os Zang Fu e entre os canais de energia. Assim, relacionam e
harmonizam as áreas compreendidas entre os trajetos dos canais de energia
principais11, 14.
Existem oito canais de energia curiosos. Somente dois deles
apresentam pontos próprios em seu trajeto, o Du Mai e o Ren Mai. Os demais
fazem o uso dos pontos de acupuntura comuns situados nos canais de energia
principais, a fim de promover suas ações e funções. Não apresentam sistemas
de inter-relação Yang-Yin, Exterior-Interior, Alto-Baixo. Suas funções estão
ligadas ao nome que cada canal curioso recebe:

“Du” – tem o significado de comandar, governar. O canal curioso Du


Mai ou Vasogovernador segue seu trajeto pela linha mediana posterior
do corpo. Comanda todos os canais de energia Yang do corpo – “Mar
dos Canais de Energia Yang”.

“Ren” – significa responsabilidade, função de direção. O canal de


energia curioso Ren Mai ou Vaso Concepção segue seu trajeto pela linha
mediana anterior do corpo. Comanda todos os canais de Energia Yin –
“Mar dos Canais de Energia Yin”.
“Chong” – significa concentração, encruzilhada. O canal de energia
curioso Chong Mai faz a ligação dos pontos de acupuntura do canal
principal do Shen (Rins) ao nível do abdome e tórax.

“Qiao” – significa equilíbrio, agilidade. Os dois canais de energia Qiao


fazem o equilíbrio do Yang Qi e do Yin Qi do corpo. Têm a função de
dirigir todos os movimentos do corpo, inclusive das pálpebras.

“Wei” – significa conexão, ligação. Conecta os espaços Yin ou Yang


com os canais de energia Yin ou Yang.

“Dai” – significa cintura, cinto. O canal de energia curioso Dai Mai tem
o trajeto superficial e envolve a região da cintura quase que obrigando
os canais de energia principais que passam profundamente por esta zona
a se organizarem como um feixe, com exceção dos canais de energia
principais do Gan (Fígado) e Pangguang (Bexiga)11, 14.

Embora não possam estar separados dos canais de energia principais,


cada canal de energia curioso representa um papel específico e tem um trajeto
próprio. Eles formam, entre si, quatro sistemas de conexão chamados
“anfitrião-hóspede”: Chong Mai e Yin Wei, Du Mai e Yang Qiao Mai, Dai
Mai e Yang Wei e Ren Mai e Yin Qiao Mai.
Sua circulação energética faz-se de baixo para cima, não penetram os
Zang Fu e apenas conduzem a essência energética (Jing) do Shen (Rins) para
a região cefálica. Portanto, os canais curiosos têm sua origem do sistema
Shen (Rins) Panguang (Bexiga) conforme diz o capítulo 2 do Ling Shu11.
Os canais de energia curiosos apresentam ligações muito estreitas com
os canais de energia principais por meio do “ponto de ligação”, “ponto
cardeal” ou “ponto chave”. Quando surgem perturbações energéticas dos
canais de energia principais agulha-se primeiro o ponto de ligação do canal
curioso correspondente e, a seguir, usam-se os pontos de tratamento da
patologia em questão, situados acima ou abaixo, à esquerda ou à direita da
região afetada do corpo. Então, deve-se agulhar o ponto de ligação de um
outro canal de energia curioso, que forma com o primeiro canal o sistema
“anfitrião-hóspede”.
Devido a isso, estuda-se os canais curiosos pelos 4 sistemas formados
entre eles: - sistema “yin-yin” do Chong Mai/Yin Wei; - sistema “yang-yang”
do Du Mai/Yang Qiao Mai; - sistema “yang-yang” do Daí Mai/Yang Wei e –
sistema “yin-yin” do Ren Mai/Yin Qiao Mai.
2.3. Canais de energia curiosos envolvidos na fibromialgia

A. Sistema Du Mai / Yang Qiao Mai

Os canais de Energia Curiosos Du Mai e Yang Qiao Mai formam o


primeiro sistema de canais curiosos de polaridade yang. Eles têm a mesma
característica, ou sejam, circulam no meio yang e reúnem-se no ponto de
união comum B1(Jingming).
O canal Du Mai recebe o Qi de todos os canais yang, relacionando-se
com os três yang (Tai Yang, Shao Yang, Yang Ming) e, em harmonia,
formam um só yang, o yang do corpo.
Ele pode, quando agredido, manifestar-se por plenitude ou vazio. No
primeiro caso, existe uma contratura e dor na coluna vertebral e no segundo
caso há sensação de cabeça vazia11.
Na maioria dos casos essa agressão ao Du Mai associa-se a
perturbações energéticas de seus canais secundários, podendo o paciente
apresentar: -dor lombar com acesso de febre - dor no coração irradiando para
o dorso - significa conflito entre yin e yang -dor na pelve irradiando até o
coração - febre e arrepios de frio - lacrimejamento - dores nos membros -
contratura e tremor dos membros - afasia motora - etc.
Seu ponto de abertura é o ponto ID3(Houxi). Possui ação específica
sobre patologias da cabeça, face e região cervical. Conecta-se com o ponto
B62(Shenmai) do canal de energia principal da Bexiga, para constituir o
sistema “anfitrião-hóspede”. Quando se tem uma patologia em que o
diagnóstico esteja baseado numa alteração do sistema curioso Du Mai, deve-
se pontuar, em primeiro lugar, o ponto ID3(Houxi), a seguir os pontos de
tratamento específico da patologia em questão e, por fim, o B62(Shenmai),
ponto de abertura do canal curioso Yang Qiao Mai, que forma com o Du Mai
o sistema “anfitrião-hóspede”11.
O canal de energia curioso Yang Qiao Mai tem relação com todos os
canais yang da mão e do pé, dos quais utilizam-se os pontos de acupuntura, e
com o canal de energia curioso Yin Qiao Mai, que é seu complemento, no
ponto B1(Jing ming), recebendo aí o Qi do Yin Qiao (Qi celeste) para levá-lo
aos membros inferiores. Origina-se do canal de energia principal do
Pangguang (Bexiga), circulando no sentido do baixo para o alto, levando os
líquidos para os olhos.
Fisiologicamente, no seu interior circula abundantemente a energia do
Shen (Rins). É um canal de energia importante para o homem, pois ele recebe
a energia que vem do Shen (Rins) que leva o nome de “energia essencial”.
Leva líquidos aos olhos, havendo plenitude do Yang Qiao Mai os olhos
permanecem abertos.
No ataque do Yang Qiao Mai, o yin (água) enfraquece, e o yang (fogo)
torna-se muito poderoso, originando daí a insônia. No ataque do Yin Qiao
Mai, o yang (fogo) enfraquece e o yin (água) torna-se muito poderoso, daí o
estado de sonolência ou hipersônia.
Esse quadro de insônia pode ou não ser acompanhado de outros
sintomas secundários, dependendo da agressão ou não do canal Yang Qiao
Mai pela energia perversa: - dores lombares em forma de pontadas com ou
sem edema da região lombar - impossibilidade de fechar os olhos com
ausência ou excesso de lacrimejamento - dores oculares no epicanto medial -
dores migratórias com movimentos difíceis - conjuntivite e outros sintomas.
Seu ponto de abertura é o ponto B62(Shenmai), do canal de energia
principal da Bexiga, que possui uma ação específica sobre a patologia dos
membros e dermatoses. Conecta-se com o ponto ID3(Houxi) para constituir o
sistema “anfitrião-hóspede”. Quando há uma patologia decorrente de
agressão do canal de energia curioso Yang Qiao Mai, deve-se agulhar,
primeiramente, o ponto B62(Shenmai), a seguir os pontos específicos da
patologia em questão e por fim, o ponto ID3(Houxi), que é o ponto de
abertura do Du Mai, que forma o sistema “anfitrião-hóspede” com o Yang
Qiao Mai.

B. Sistema Ren Mai/Yin Qiao Mai

O canal de energia curioso Ren Mai nasce do Shen (Rins). Pode ser
acometido pelas Energias Perversas e a sintomatologia depende da
localização delas e de quais Zang Fu estão sendo afetados.
É o Mar dos canais de energia Yin, para ele conflui a Energia dos três
yin do pé. Nele circula a energia essencial do Shen (Rins), assim como é dos
três yin do pé que provêm as energias Yong e Wei. Serve como uma via de
passagem para que a energia dos três yin do pé possa comunicar-se com a
energia dos três yin da mão.
Ele é um canal que se divide em quatro partes distintas e apresenta
funções energéticas inerentes a cada uma destas partes, sendo elas: distribuir
o Yin Qi para as estruturas corpóreas do ventre, estruturas do andar superior
do abdome, para os órgãos torácicos e também para a garganta e boca14.
O canal de energia curioso Ren Mai é fundamental para manter o
equilíbrio das energias Yong, Wei e Jin Yê, além de regularizar também a
energia dos canais yin do pé e também aquelas provenientes das vísceras 14.
O tratamento do Ren Mai baseia-se na localização da energia perversa
ou das perturbações energéticas internas.
O canal de energia curioso Yin Qiao Mai é um canal de energia
secundário, cuja origem está no canal de energia principal do Shen (Rins). É
um anexo do canal principal dos Rins. Ele corresponde ao Qi Terrestre
circulando sua energia de baixo para cima. É um canal muito importante para
a mulher, pois leva o Shen Qi para o alto do corpo. Nas afecções do Yin Qiao
Mai, o Yang Qi do corpo está enfraquecido e o Yin Qi, muito exacerbado, daí
o surgimento da sonolência; há manifestação de frio e as dores sem
localização precisa estão presentes.
Quando há invasão do Yin Qiao Mai por energia perversas a dor renal
irradia-se até o pescoço, o doente não enxerga bem. Em casos graves o corpo
curva-se para frente, há rigidez da língua e, conseqüente, dificuldade para
falar. Havendo plenitude de Yin Qiao Mai os olhos permanecem fechados
(sonolência).
Seu ponto de abertura é o ponto R6(Zhaohai); ele possui ação
específica sobre a sonolência excessiva e conecta-se com o ponto P7(Lieque)
do canal de energia principal do Pulmão, que é o ponto de abertura do Ren
Mai, seu associado do sistema “anfitrião-hóspede”.
No caso de uma patologia que acomete este sistema deve-se punctuar,
em primeira mão, o ponto R6(Zhaohai), seguido dos pontos específicos para
a patologia em questão e, por último, o ponto P7(Lieque), ponto de abertura
do canal de energia curioso Ren Mai, para assim, realizar o sentido “anfitrião-
hóspede”.
2.4. Fisiopatologia

A FM é uma enfermidade reumática. Pela MTC podemos considerar as


doenças reumáticas como síndromes Biao (superficial), ocasionadas pela
penetração de três energias perversas (frio, vento e umidade) no organismo,
como conseqüência de um estado de deficiência do Wei Qi (energia
defensiva).
Quando há predomínio do vento aparecem dores articulares erráticas e
pode acompanhar-se de sinais inflamatórios e edematosos. As doenças
reumáticas com predomínio do frio apresentam-se com dores violentas
generalizadas, contraturas musculares, mas sem sinais inflamatórios. Já
naquelas com predomínio da umidade as dores são de localização fixa, com
sensação de peso corporal, fadiga nas pernas, parestesias e edema cutâneo,
com alterações digestivas.
Como síndrome Qiao Mai, a FM caracteriza-se por apresentar dores
músculo esqueléticas difusas, articulares, periarticulares, tendinosas e
musculares, crônicas, concomitantes com diversos sintomas subjetivos e
disfunções orgânicas. Há uma invasão pelo frio, a maioria dos pacientes
refere melhora com a aplicação de calor. Os tender points ou zonas dolorosas
localizadas podem coincidir com depósitos de fleumas. As parestesias, a
sensação de peso corporal, a fadiga e os transtornos abdominais nos fazem
pensar que há uma invasão de umidade. Essas três energias cósmicas (frio,
vento e umidade) rompem a barreira energética de deficiência (Wei Qi),
convertendo-se em Xiê Qi (energia perversa), a princípio superficialmente até
alcançar os canais tendinomusculares, produzindo dor tipo crônica. Este
processo de penetração das energias perversas no organismo constituem a
fisiopatologia da dor na FM, sua localização e sua cronicidade e explicam
também a fisiopatologia dos tender points que são comparados a cicatrizes
energéticas que aparecem no lugar onde é travada a batalha entre Wei Qi e
Xiê Qi, podendo ser considerados de caráter yang11. Além disso, pode ser
explicado, também, pela presença de energia turva nos canais de energia
principais ou secundários, com bloqueio de Qi e Xuê15.
A FM pode ser yang, quando os seus distúrbios referem-se ao canal de
energia curioso Yang Qiao Mai, ou yin quando os distúrbios referem-se ao
canal de energia curioso Yin Qiao Mai, ou seja, decorrentes, respectivamente,
de vazio de yin e falso calor15. Além disso, a fadiga persistente pode ser vista
como manifestação do falso calor oriundo da deficiência do Shen (Rins), que
pode gerar também contraturas musculares matinais, dor pós-esforço, cólon
irritável, parestesias, síndrome uretral feminina, cefaléia tensional, tensão
pré-menstrual, dismenorréia, fenômeno de Raynaud, dor facial e síndrome do
túnel do carpo. Quando está associada à deficiência do Shen (Rins) e à
agressão pelo frio aparecem dores que pioram com o frio e a umidade,
concomitante com edema de extremidades e uma intolerância ao frio11.
As dores crônicas do sistema músculo esquelético são decorrentes do
enfraquecimento do Shen (Rins) quando o paciente passa por situações
repetitivas de estresse, medo, insegurança, excesso de trabalho, culminando
com fadiga. Há, em conseqüência à deficiência do Shen (Rins), uma
deficiência do canal de energia curioso Yang Qiao Mai, levando a uma
diminuição da água que circula na região cefálica. O Yang apresenta-se, em
decorrência desta situação, em plenitude, que se manifesta por insônia,
distúrbios do sono e sono não reparador. O paciente torna-se ansioso pela
agitação do Shen (Mente). O doente, com isso, vai acordar cansado e
indisposto11, 18. Esta é a fibromialgia tipo Yang, pois suas manifestações são
de dor somáticas.
Quando as dores crônicas apresentam-se, concomitantemente, com
doenças dos órgãos internos, lesam o Jing dos órgãos acometidos resultando
em deficiência do Qi, pelo acometimento principalmente da fração Yang
(Rins Yang). Por isso, o calor orgânico que veicula no canal curioso Yin Qiao
Mai torna-se deficiente e manifesta-se por fadiga, desânimo, sonolência e
depressão18. A esta denominamos FM tipo Yin, que envolve sintomatologia
de vazio11, 20.
As energias perversas (vento, frio e umidade) podem localizar-se nas
diversas vias energéticas principais ou secundárias, mas também podem
manifestar sintomatologia em determinada zona ou tecido devido a uma
prévia insuficiência ou deficiência do órgão nutridor dessa área.
No caso da FM, como indicam os sinais e sintomas da doença, as
energias perversas parecem localizar na zona tendinomuscular. Esta é nutrida
pelo Gan, portanto considera-se que a causa da síndrome fibromiálgica
também seja uma deficiência da energia deste órgão. A deficiência de energia
do Gan pode ocasionar dor muscular, cefaléia, transtornos psicológicos,
digestivos, alterações do sono, que coincidem com sintomas da FM.
Essa alteração da energia do Gan pode ser oriunda de uma debilidade
congênita, por causa de erro dietético, sobrecarga psíquica ou emocional e,
até mesmo, por fatores ambientais, como traumatismos. Todos estes fatores
explicam a etiopatogenia da FM segundo a MTC e observa-se ainda que as
causas podem ser múltiplas e de procedências das mais diversas20.
O diagnóstico energético da FM seria o de uma síndrome de
predomínio frio/umidade, localizada no território tendinomuscular, provocada
por uma deficiência da energia do Gan resultando em um déficit geral de
energia e sangue no organismo, o que predispõe o avanço de energias
perversas que provocam dores crônicas e fadiga.
2.5. Tratamento

O tratamento da FM deve compreender um tratamento etiológico da


enfermidade, um tratamento sintomático e um tratamento preventivo para
evitar recidivas22.
A ação da acupuntura faz-se, segundo a neuroanatomia e
neurofisiologia, por meio de arcos reflexos somatossomáticos,
somatoviscerais e vias ascendentes encefálicas (tratos espinotalâmicos e
espinorreticulares) que se relacionam com a formação reticular, sistema
límbico e eixo hipotálamo-hipófise. Os aspectos neurohumorais que
relacionam com a FM (serotonina, substância P, endorfinas, hormônios do
eixo hipotálamo-hipófise e outros) são os mesmos considerados no
mecanismo de ação da acupuntura11. Por isso, a grande percentagem de
pontos de acupuntura utilizados no tratamento da FM está relacionada com os
nervos plurissegmentares tanto do membro superior como do membro
inferior, que têm efeitos predominantemente sobre o sistema nervoso
central15.

A. Tratamento etiológico

Deve ser direcionado para:

Reduzir e dispersar o vento

VB20 (Fengchi)
VG16 (Fengfu)
B12 (Fengmen)
TA17 (Yifeng)
ID12 (Bingfeng)

Neutralizar o frio

VB20 (Fengchi)
VG16 (Fengfu)
VG14 (Dazhui)

Tonificar R2 (Rangu)

Ponto fogo do Rim, para estimular o calor orgânico / R7 (Fuliu) - ponto


de tonificação / C9 (Shaochong) - ponto de tonificação do órgão fogo (Xin) /
C8 (Shaofu) - ponto fogo do Xin / B60 (Kunlun) - ponto fogo da Bexiga.
Pode-se usar moxabustão nestes pontos também.

Eliminar a umidade

Harmonizar VC12 (Zhongwan), E36 (Zusanli) – para dor nos membros


inferiores/ IG4 (Hegu) – para dor nos membros superiores/ E40 (Fenglong) e
BP3 (Taibai) – mobilizam a fleuma.

Tonificar a energia do Gan

F8 (Ququan)/ F13 (Zhangmen) – pontos de tonificação do Fígado/ F3


(Taichong) – ponto yuan do Fígado/ R3 (Taixi) e R7 (Fuliu) – para tonificar a
mãe do Fígado.

Tratamento da área tendinomuscular afetada


F3 (Taichong)/ VB37 (Guangming)/ F13 (Zhangmen) - para tonificar o
Fígado, R3 (Taixi) e R7 (Fuliu) – para tonificar o Rim.

Tonificação geral do organismo

P9 (Taiyuan)/ BP2 (Dadu)/ F2 (Xingjian)/ R6 (Zhaohai)/VB41


(Zulinqi)/ B66 (Tonggu), E36 (Zusanli) e IG4 (Hegu) – para ativar a defesa
orgânica e a imunidade do organismo; VC6 (Qihai) e VC17 (Danzhong) –
para tonificar Qi e Xuê geral; BP10 (Xuehai), BP6 (Sanyinjiao) – ponto de
reunião do Fígado, Baço/Pâncreas e Rim, B17 (Geshu) e B38 (Fuxi) –
próprios para tonificar o sangue.

B. Tratamento sintomático

Trata os sintomas mais importantes em cada paciente, tentando um


alívio mais rápido. Os seguintes passos devem ser seguidos para que se tenha
um bom resultado:

Eliminar ou reduzir a dor

Começa agulhando ID3 (Houxi), em seguida agulha-se os pontos


dolorosos em questão e finaliza-se com B62 (Shenmai). Usar moxabustão nas
zonas dolorosas fazendo com que o calor provoque uma dispersão das
energias perversas que se encontram estagnadas nos tender points.

Tratar a fadiga

CS6 (Neiguan) e BP6 (Sanyinjiao) – pontos utilizados para restaurar a


vitalidade, B10 (Thianzu) e BP11(Dazhu) – reduzem a dor e tonifica os
órgãos internos.

Melhorar o estado de ânimo

C9 (Shaochong) e C8 (Shaofu) – para tonificar Xin (órgão da alegria) e


assim melhorar o estado de ânimo/ C4 (Lingdao) – ponto específico para o
tratamento do medo e da depressão.

Regular o sono e dispersar a ansiedade

ID4 (Wangu) e F3 (Taichong) – têm poderosa ação calmante sobre o


sistema nervoso central, VG20 (Baihui)/ E40 (Fenglong)/ VB34
(Yanglingquan).

C. Tratamento preventivo

Dificulta as possíveis recidivas da FM. Em um tratamento preventivo


satisfatório deve-se:

Evitar os fatores patógenos

Fatores cósmicos ambientais, frio e umidade, dieta que sobrecarregue o


fígado, emoções exageradas e patológicas que levam a irritabilidade
constante.

Reforçar a energia defensiva (Wei Qi)


Tratar Yang Wei Mai que regula a energia defensiva das superfícies
externas punctuando TA5 (Waiguan); tratar Yin Wei Mai que regula a
energia defensiva do interior do organismo punctuando CS6 (Neiguan) que
também é um ponto de reunião.
Mesmo a FM sendo um distúrbio do canal curioso Qiao Mai, não se
pode, segundo YSAO YAMAMURA, negar a presença do componente
emocional embutido nesta síndrome, com uma importância relevante. Deve-
se, então, tratar também os canais de energia distintos, quando neles existir
pontos dolorosos à palpação11. Utiliza-se o esquema de tratamento CÉU-
TERRA-HOMEM:

CÉU – canais de energia distintos

CS/TA - CS1 (Tianchi)


TA16 (Tianyou)
VG20 (Baihui)
F/VB - F5 (Ligou)
VB30 (Huantiao)
VB1 (Tongziliao)

HOMEM –canais de energia principais

R2(Rangu)
R3 Taixi)
R7(Fuliu)
BP6(Sanyinjiao)
E36 (Zusanli)
IG4 (Hegu)
TA2 (Yemen)
VB34 (Yanglingquan)
VB43 (Xiaxi).

TERRA – canais de energia curiosos

Yang Qiao Mai para FM Yang – B62 (Shenmai)


ID3 (Houxi)
Yin Qiao Mai para FM tipo Yin – R6 (Zhaohai)
P7 (Lieque).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A FM é uma síndrome muito freqüente no nosso cotidiano e faz com


que muitos dos pacientes sintam-se indispostos para o trabalho. Pode até
afastá-los por tempo considerável do seu momento produtivo interferindo
fundamentalmente em seu estado psicológico e até no relacionamento
conjugal e familiar. O paciente torna-se um “peso” difícil de carregar se todos
os familiares e, principalmente o doente, não forem corretamente orientados
por um profissional capacitado.
O tratamento da FM é bastante amplo e usado para tratar não só a
sintomatologia como também suas causas. Deve-se advertir o paciente de que
o processo é lento e que é necessário uma constância para obter bons
resultados.
A acupuntura é uma terapia adjuvante satisfatória para a dor nos
pacientes com FM, além de não apresentar efeitos adversos quando executada
por um especialista médico. Resulta numa diminuição significativa no
número de tender points e uma normalização das substâncias moduladoras da
dor ao nível sérico.
A principal arma para o sucesso terapêutico, entretanto, é um bom
vínculo de confiança médico-paciente. O simples esclarecimento sobre a
natureza dos distúrbios funcionais, com a conscientização de que os sintomas
têm causas orgânicas e um substrato neurológico faz com que a aderência ao
tratamento, medicamentoso ou não, seja completa, conseguindo ter o
portador da síndrome uma melhor qualidade de vida.
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