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MURILO DE MARCO
FORMAÇÃO
REABILITAÇÃO
AVANÇADA DA
COLUNA VERTEBRAL
CONHEÇA O PROFESSOR
8. ESTENOSE VERTEBRAL................................................................................................... 93
9. ESPONDILOLISTESE...................................................................................................... 106
PREVALÊNCIA
A DL é a principal causa de incapacidade no mundo2 e, ao contrário do que se
costuma pensar, acomete todas as faixas etárias, desde crianças até idosos 1. Apesar de
ser incomum na primeira década de vida (0-10 anos), sua prevalência aumenta
abruptamente durante a adolescência e seu pico ocorre na meia-idade (entre 40-69
anos), diminuindo progressivamente a partir daí 3.
A DL é mais comum em mulheres do que homens em todas as faixas etárias.
Possíveis explicações para esta diferença incluem dor relacionada à osteoporose, dor
relacionada à menstruação ou gravidez, influências sociais (fazendo com que as
mulheres relatem menos a existência de dor do que os homens) e padrões de
crescimento divergentes entre os sexos durante a adolescência 3.
CLASSIFICAÇÃO
Em relação a sua etiologia, a DL pode ser classificada em duas formas diferentes:
específica e não específica. A DL específica é definida quando os sintomas são causados
3
por um mecanismo fisiopatológico específico, tal como hérnia de disco, infecção, artrite
reumatoide, fratura, tumor etc. Ou seja, na DL específica é possível identificar uma causa
clara responsável pela dor. Por sua vez, a DL não específica é definida quando não é
possível identificar uma causa específica responsável pelos sintomas 4.
Em cerca de 90% dos casos a DL é classificada como não específica, ou seja, na
grande maioria das vezes não é possível determinar com clareza a causa dos sintomas 4.
Alguns fatores podem ajudar a explicar este fato, como, por exemplo, a baixa acurácia
da maioria dos testes e recursos diagnósticos utilizados na prática clínica (dificultando
uma identificação mais precisa da fonte de dor) e a característica multifatorial da DL,
que costuma ser causada pela associação de diferentes fatores e não por um único fator
isolado.
2. ENTENDENDO A DOR
A dor é definida pela Associação Internacional de Estudo da Dor (IASP) como
“uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à
associada, com dano tecidual real ou potencial” (tradução livre) 5. Porém, mais
importante do que conhecer a definição teórica da dor, é entender qual sua função em
nosso organismo.
A dor é um sinal de alarme emitido pelo nosso cérebro, que tem como função
fisiológica a proteção do corpo e da vida. Por mais que tenhamos a tendência de
interpretar a dor como algo “errado” ou ruim, isso não é, necessariamente, verdade.
Sentir dor é fundamental para que possamos nos proteger, reagindo à estímulos
agressores.
No entanto, devido a uma diversidade de fatores, a dor pode perder sua função
fisiológica e tornar-se mal adaptativa, disfuncional. Como acontece, por exemplo, em
alguns casos de dor crônica persistente. Estes aspectos disfuncionais serão abordados
mais à frente.
MODELO BIOPSICOSSOCIAL
Historicamente, o ensino da saúde no ocidente foi baseado no modelo
Biomédico. Modelo este, que assume que uma doença ou disfunção de saúde é
unicamente devida à alterações físicas/biológicas, ignorando a influência de fatores
4
Modelo Biopsicossocial. A interação entre os 3 fatores pode variar no mesmo indivíduo e entre
indivíduos diferentes. Imagem reproduzida de JULL, 2017.
NEUROFISIOLOGIA DA DOR
Entender o processamento da dor e conhecer algumas nuances deste processo
é fundamental para que possamos manejar a dor de maneira mais consciente e com
maior efetividade. Para fins didáticos, a neurofisiologia da dor será explicada por uma
via nociceptiva, que é o tipo de dor mais comum. Posteriormente, abordaremos outros
aspectos e mecanismos (tipos) de dor.
5
Caso esta informação nociceptiva seja interpretada como uma ameaça real ou
potencial, o cérebro produzirá dor como resposta. Por outro lado, caso o cérebro não
entenda o estímulo nociceptivo como uma ameaça importante, ele pode não produzir
dor. Ou seja, a dor é sempre, 100% das vezes, um produto do cérebro! 12
Sabendo que a dor é sempre uma resposta do cérebro, e que a existência ou não
de dor está relacionada ao nível de ameaça percebida, é de fundamental importância
entender que diversos fatores, e não só questões intrínsecas do estímulo (intensidade,
duração, etc.), influenciam no processamento da dor. Aspectos físicos, sociais, status
emocional, o contexto em que o indivíduo está inserido, nível de atenção, status do
S.N.C (mais ou menos excitado), memórias e situações previamente vividas, entre
muitas outras coisas podem influenciar o processamento e a percepção da dor.
Portanto, a dor não é uma expressão direta de um evento sensorial, mas sim o produto
elaborado de uma variedade de sinais neurais processados pelo cérebro10,13.
Uma vez entendido este aspecto multidimensional da dor, outro ponto
importante a ser discutido é que a dor não depende, necessariamente, da existência de
estímulos nociceptivos 13. Como mencionado acima, os estímulos nociceptivos podem
7
ou não resultar em dor. Assim, é possível existir nocicepção sem que haja dor, da mesma
forma que é possível existir dor sem que exista à ativação dos nociceptores.
Além disso, também é importante compreender que a percepção da dor é
subjetiva e individual. De forma que um mesmo estímulo pode induzir respostas
distintas em indivíduos diferentes ou no mesmo indivíduo em condições diferentes. Ou
seja, não existe um estímulo puramente doloroso que, invariavelmente, cause dor em
todas as pessoas10,13.
Modulação da dor
Os estímulos nociceptivos estão sendo constantemente modulados pelo sistema
nervoso. Este controle modulatório pode ocorrer no sistema nervoso periférico (no nível
do nociceptor) e, principalmente, no S.N.C (no corno dorsal da medula e encéfalo). A
modulação exercida pode ser tanto excitatória quanto inibitória, aumentando ou
diminuindo a magnitude dos estímulos 11,15.
No S.N.C, existe um sistema de modulação da dor, chamado de Sistema de
Modulação Descendente, que é composto por vias neurais que partem de diferentes
regiões corticais, convergem para áreas do tronco cerebral e, em seguida, dirigem-se ao
corno dorsal da medula (veja a representação em azul na imagem 3) 12–14.
As vias excitatórias e inibitórias do sistema de modulação descendente
trabalham em conjunto para manter um equilíbrio de processamento dos estímulos
nocivos. Porém, em determinadas situações, este equilíbrio pode ser perturbado,
mesmo que de maneira fisiológica. Quando a excitação é favorecida, os estímulos
nocivos são potencializados e, consequentemente, existe maior probabilidade de existir
dor. Já, quando a ativação das vias inibitórias se sobrepõem, a percepção da dor pode
ser diminuída ou suprimida, mesmo na existência de estímulos nocivos 14. À esta ação
de inibição da dor pelo sistema de modulação descendente dá-se o nome de analgesia
endógena.
Muitas das terapias que utilizamos na prática clínica para tratar a dor, como
terapia manual e exercício, têm seus efeitos, em partes, explicados pela ativação das
vias de analgesia endógena.
A modulação da dor é complexa e influenciada não só por aspectos físicos, mas
também emocionais, cognitivos, contextuais, atencionais, entre outros 13. Como o
sistema de modulação descendente recebe informações de diversas áreas corticais, cria-
se um mecanismo pelo qual diferentes aspectos coordenados pelos centros superiores
possam influenciar na modulação das aferências nociceptivas14.
9
Feedback entre dor, emoções e cognição. A dor pode ter um efeito negativo nas emoções e
na função cognitiva. Por outro lado, um estado emocional negativo pode levar ao aumento da
dor, enquanto um estado positivo pode reduzir a intensidade da dor. Da mesma forma,
estados cognitivos, como atenção e memória, podem aumentar ou diminuir a dor.
Obviamente, emoções e cognição também podem interagir reciprocamente. O sinal de menos
se refere a um efeito negativo e o sinal de mais se refere a um efeito positivo. Reproduzido
de Bushnell et al., 2013.
MECANISMOS DE DOR
Atualmente, a Associação Internacional do Estudo da Dor (IASP) propõe três
principais mecanismos (ou tipos) de dor: dor nociceptiva, neuropática e nociplástica.
11
Para cada mecanismo de dor existem estratégias de tratamento que fazem mais
sentido. Por isso, conhecer e saber identificar o mecanismo de dor predominante em
cada paciente pode auxiliar na elaboração de um plano de tratamento mais
assertivo15,16. Além disso, o prognóstico pode mudar de um mecanismo para outro, de
forma que identificar o mecanismo predominante de dor também auxilia no
entendimento do quadro clínico e no estabelecimento do prognóstico. Em seguida, são
apresentadas as principais características de cada mecanismo de dor.
Dor nociceptiva
A dor nociceptiva é definida pela IASP como: dor que surge de dano real ou
potencial em um tecido não-neural e é devida à ativação dos nociceptores.
Dentre os 3 mecanismos de dor, a dor nociceptiva é o mecanismo mais comum.
Suas principais características são15–19:
Dor neuropática
A dor neuropática é definida pela IASP como: dor causada por lesão ou doença
do sistema somatossensorial. Assim, para um diagnóstico definitivo da dor neuropática,
é preciso a comprovação da presença de uma doença ou lesão do tecido neural 20.
12
Dor Nociplástica
A dor nociplástica é definida pela IASP como: dor que surge da nocicepção
alterada, apesar de não haver evidência clara de dano tecidual real ou potencial
causando ativação dos nociceptores periféricos, nem de doença ou lesão do sistema
somatossensorial21. Ou seja, existe dor, mas sem sinais claros de um mecanismo
nociceptivo ou neuropático e a principal causa da dor é o mau processamento dos
estímulos nociceptivos (nocicepção alterada).
13
perna21. Além disso, diferentes indivíduos com um mesmo diagnóstico (por ex.: dor
lombar) podem ter diferentes mecanismos subjacentes de dor15. Assim, a interpretação
deve sempre ser feita individualmente.
Outra questão importante a ser destacada, é que, por mais que em muitos casos
seja possível definir com clareza qual é o mecanismo de dor predominante, nem todos
os pacientes poderão ser classificados em um dos 3 mecanismos. Assim, existirão casos
onde a dor não pode ser assertivamente designada como nociceptiva, neuropática ou
nociplástica21.
Como comentado anteriormente, além de auxiliar na escolha do tratamento, o
entendimento do mecanismo de dor pode auxiliar no estabelecimento do prognóstico.
Neste contexto, existem algumas evidências que apontam que a dor neuropática22,23 e
a dor nociplástica24 podem ter um prognóstico menos favorável do que a dor
nociceptiva. Obviamente, isto não é regra e não significa que as dores neuropáticas ou
nociplásticas serão sempre de difícil resolução.
História Natural
A história natural refere-se ao curso de uma doença ou sintoma ao longo do
tempo, ou seja, como se comporta este sintoma/doença quando nenhuma intervenção
é realizada. A história natural da dor lombar aguda e crônica é diferente.
Na dor lombar aguda, os pacientes costumam apresentar uma redução
acentuada na dor e na incapacidade nas primeiras seis semanas. A partir daí, a melhora
continua, mas de maneira mais lenta25. Já, na dor lombar crônica a história natural é
menos favorável. Também existe uma melhora substancial nas primeiras seis semanas,
mas a partir deste período tendem a ocorrer apenas pequenas reduções na dor e na
incapacidade25.
16
do caso, a dor crônica secundária também pode estar associada a alterações físicas e
emocionais importantes. Como já comentado, deve-se avaliar cada caso
individualmente.
Na prática clínica, ao estarmos diante de um paciente com dor crônica devemos
buscar entender se a dor é um sintoma ou se a dor é a própria doença/disfunção. Este
entendimento será útil na elaboração do tratamento. Na dor crônica secundária, o
objetivo principal será buscar a resolução da condição subjacente responsável pela dor.
Já, na dor crônica primária, como não existe uma lesão ou disfunção física específica que
deve ser abordada, o objetivo será atuar na modulação da dor e na recuperação das
disfunções físicas e emocionais associadas.
SENSIBILIZAÇÃO CENTRAL
A sensibilização central (SC) é um fenômeno neurofisiológico definido pela IASP
como: aumento da responsividade dos neurônios nociceptivos no sistema nervoso
central a estímulos normais ou sublimiares. Ou seja, os neurônios nociceptivos do
sistema nervoso central (S.N.C) estão sensibilizados, hiper-responsivos, de modo que
mesmo estímulos inócuos ou sutis podem ser interpretados como intensos, produzindo
respostas desproporcionais. Assim, a SC pode alterar, distorcer ou amplificar a dor,
aumentando seu grau, duração e/ou extensão espacial28.
Na SC, ocorre um aumento da atividade das vias excitatórias e/ou um mau
funcionamento das vias inibitórias e também pode existir um aumento da atividade em
diversas áreas cerebrais (incluindo as responsáveis pelo processamento da dor). Tais
modificações, resultam em disfunções do controle analgésico endógeno e justificam as
respostas exageradas do S.N.C17,29.
Apesar de estar presente em diversas condições crônicas (inclusive na dor
lombar)28, é importante entender que a SC é um fenômeno fisiológico, mas que pode se
tornar disfuncional. Assim, a SC pode ocorrer em condições de dor aguda como, por
exemplo, após um trauma ou uma lesão. Nestes casos, a SC é considerada fisiológica
(bem adaptativa), pois tem como função aumentar a eficácia sináptica dentro do S.N.C,
tornando o sistema mais reativo e auxiliando na proteção da região lesionada. Contudo,
quando a SC perdura por longos períodos ela pode se tornar disfuncional (mal
adaptativa), contribuindo com o desenvolvimento de diversos sintomas e disfunções.
18
ASSOCIAÇÃO X CAUSALIDADE
Quando se fala sobre as causas de uma determinada condição, um equívoco
frequentemente cometido é confundir fatores de associação com fatores causais.
Associação, significa que duas (ou mais) condições existem ao mesmo tempo.
Mas, duas condições podem muito bem coexistir sem que, necessariamente, uma tenha
causado a outra. Por exemplo, existem estudos que identificaram que disfunções do
quadril são comuns em pessoas com dor lombar35, assim, pode-se dizer que existe uma
associação entre dor lombar e disfunções do quadril. Contudo, não é possível saber se
uma condição causou a outra: será que foram as disfunções do quadril que começaram
primeiro e levaram à dor lombar? Ou será que foi a dor lombar que favoreceu às
disfunções do quadril? Ou ainda, será que não é apenas uma coincidência, sem que
exista nenhuma inter-relação entre elas?
Estes dados de associação surgem de estudos transversais, ou seja, quando se
investiga a presença de um determinado fator/condição em uma população que já está
com dor lombar, de modo que não é possível determinar quem veio primeiro e se uma
condição, realmente, influenciou a outra.
Para se determinar se existe uma relação causal entre dois fatores é preciso
realizar uma análise longitudinal, acompanhando ao longo do tempo pessoas que estão
inicialmente assintomáticas. Por exemplo, para saber se alterações do quadril podem,
de fato, causar dor lombar é preciso pegar um grupo de pessoas assintomáticas, avaliar
o quadril destas pessoas e acompanhá-las ao longo de um período. Ao final deste
período, deve-se analisar se as pessoas que desenvolveram dor lombar neste tempo
tinham mais disfunções do quadril do que as pessoas que não tiveram dor lombar. Além
disso, é preciso excluir outros fatores confundidores para determinar se, realmente,
foram as disfunções do quadril que favoreceram o aparecimento da dor naquelas
pessoas (isso é feito dentro da análise estatística do estudo). Ao final, caso as disfunções
do quadril realmente tenham influenciado o desenvolvimento da dor lombar, aí sim,
pode-se dizer que disfunções do quadril são um fator de risco para dor lombar.
Este entendimento é bastante importante, pois, é bastante comum que fatores
associados com a dor lombar sejam erroneamente interpretados como causa, levando
a uma série de raciocínios e intervenções equivocadas.
22
FATORES DE RISCO
Fatores de risco são fatores que aumentam a probabilidade de uma pessoa
desenvolver determinada doença ou disfunção. Por isso, identificar os fatores de risco,
principalmente aqueles que são modificáveis, é importante para atuar sobre a
prevenção da doença ou disfunção em questão.
Existem dezenas de fatores de risco para dor lombar já identificados. Estes
fatores costumam envolver características individuais da pessoa, aspectos de saúde
geral, fatores físicos e psicossociais. Um dado interessante, é que o principal fator de
risco para a dor lombar é a própria dor lombar! De modo que pessoas que já tiveram
dor lombar, têm até 11 vezes mais chance de desenvolver um novo episódio36.
A tabela abaixo apresenta alguns exemplos de fatores de risco relatados pela
literatura. Além dos expostos na tabela, existem outros fatores relatados, tais como:
sentir-se cansado frequentemente, manutenção de posturas estranhas/não neutras
durante execução de tarefas, percepção de renda inadequada, curvar-se para frente e
para trás frequentemente no trabalho, ficar agachado por mais de 15 min, etc. 1,36
Fatores de Risco para Dor Lombar. Os números entre parênteses mostram a taxa de
risco, quanto maior o valor, maior a influência do fator.
fatores de risco, ainda são necessários mais estudos longitudinais 37, já que a maioria dos
estudos disponíveis são transversais e, por isso, fornecem dados de associação.
Por fim, após analisar os fatores de risco, fica evidente a diversidade de fatores
que podem contribuir com o desenvolvimento da dor lombar, o que reforça, mais uma
vez, o caráter multifatorial e heterogêneo desta condição.
FATORES DE CRONIFICAÇÃO
Sabendo que a dor lombar crônica pode ser complexa e de difícil resolução,
conhecer os fatores que favorecem a cronificação da dor é fundamental para que
possamos identificar os pacientes com maior risco de cronificação e ofertar a eles um
programa de tratamento mais intensivo, a fim de evitar que a cronificação aconteça.
Assim como para o desenvolvimento da dor lombar, diferentes fatores físicos e
psicossociais podem contribuir com a cronificação da dor. São exemplos de fatores que
podem favorecer a cronificação da dor lombar38–42:
pacientes podem ser muito diferentes uns dos outros, a avaliação se torna ainda mais
importante para o sucesso do tratamento.
Nosso processo de avaliação será, didaticamente, dividido nas seguintes etapas:
triagem das red flags, anamnese, questionários, exame físico e exames de imagem. Na
sequência, cada tópico será abordado separadamente.
RED FLAGS
Red flags, são sinais e sintomas que levantam a suspeita de uma possível
patologia grave da coluna. Embora raras, patologias graves podem ter consequências
importantes e devem ser identificadas precocemente. Por isso, o primeiro passo do
nosso exame sempre deve ser a triagem das Red Flags.
Apesar de existir um grande número de Red Flags descritas (mais de 160 já foram
relatadas), em geral, faltam evidências para a apoiar a maioria das Red Flags
normalmente utilizadas na prática clínica. Apesar disso, quando usadas em conjunto
com a história completa do paciente e exame físico, as Red Flags continuam sendo as
melhores ferramentas à disposição dos clínicos para investigar a presença de doenças
graves43.
Neste sentido, em 2020, a Federação Internacional de Fisioterapeutas
Manipulativos Ortopédicos (IFOMPT) publicou um guia para ajudar os clínicos a avaliar
e manejar pessoas com suspeita de patologias da coluna. Este guia43, que foi elaborado
com base nas melhores evidências disponíveis sobre o tema em conjunto com a opinião
de especialistas de diversos países, servirá como base para esta seção.
As quatro principais patologias que afetam a coluna vertebral são: fraturas,
tumores, síndrome da cauda equina e doenças infecciosas. Na sequência, serão
descritas as principais Red Flags e fatores de risco para cada uma delas.
Fratura
Fratura, é a patologia séria que mais acomete a coluna vertebral. As estimativas
de prevalência de fratura como causa de dor lombar variam entre 0,7% e 4,5% no
ambiente de atenção primária e 6,5% na emergência.
Normalmente, quando se pensa em fratura logo se pensa em um evento
traumático severo. No entanto, as fraturas vertebrais não traumáticas ou de baixo
26
impacto são as mais comuns. Isso acontece porque grande parte das fraturas está
relacionada com a osteoporose, e as fraturas vertebrais são as fraturas osteoporóticas
mais comuns. Aproximadamente, 12% das mulheres entre 50 e 70 anos e até 20%
daquelas com mais de 70 anos têm fraturas vertebrais. Porém, a maioria destas fraturas
(70%) não são diagnosticadas e acabam sendo encontradas durante a investigação de
outras condições.
As fraturas osteoporóticas ocorrem principalmente na região torácica (70%),
seguido da região lombar (20%) e cervical (10%). A maioria das fraturas ocorre entre os
níveis T8 e L4 e as pessoas normalmente apresentam dor de início súbito, após trauma
de baixo impacto como um escorregão, tropeço ou levantamento de peso em posição
fletida.
Os principais fatores de risco para fratura, são:
• Idade avançada (>65 anos)
• Diagnóstico de Osteoporose ou história familiar
• Fratura vertebral prévia devido a osteoporose
• Sexo Feminino
• Uso prolongado de corticoide (>5mg/dia por 3 meses)
• Trauma associado ao início dos sintomas (traumas graves aumentam
o risco, mas não ignore traumas leves!)
Tumor
A segunda patologia séria que mais afeta a coluna vertebral, são os tumores. A
prevalência pontual de tumor como causa de dor lombar no ambiente de atenção
primária varia entre 0% e 0,7%.
27
Doenças Infecciosas
Apesar de raros, processos infecciosos podem afetar as estruturas da coluna,
incluindo as vértebras, discos intervertebrais e tecidos paravertebrais adjacentes. A
prevalência de infecção que se manifesta como lombalgia não mecânica é estimada em
0,01% na atenção primária e 1,2% na atenção terciária, onde a discite (infecção dos
discos intervertebrais) pós-procedimento representa até 30% de todos os casos.
A discite afeta principalmente a coluna lombar (58%), seguida pela coluna
torácica (30%) e cervical (11%), enquanto a tuberculose afeta principalmente a coluna
torácica.
São fatores de risco para infecção da coluna: debilidade imunológica (ex:
diabetes, HIV, artrite reumatoide, infecções pré-existentes, abuso de álcool, obesidade,
tabagismo, uso prolongado de corticoides), cirurgia (principalmente da coluna e com
múltiplas revisões), histórico de tuberculose, episódio recente de infecção, uso de
drogas intravenosas.
A tríade clássica de sintomas compreende dor nas costas, febre e sintomas
neurológicos. A dor nas costas é o sintoma mais comum e normalmente se manifesta
com sintomas não específicos, de início insidioso e com amplitude de movimento da
coluna limitada. A febre, apesar de ser um sintoma comum em infecções, pode estar
ausente em 50% dos casos, assim, sua ausência não descarta a presença de infecção.
29
Em relação aos sintomas neurológicos, existe maior suspeita em pessoas com sintomas
bilaterais ou mesmo nos quatro membros, incluindo distúrbios da marcha e problemas
de coordenação ou distúrbios da bexiga e intestino.
ANAMNESE
A anamnese é um passo fundamental, tanto para o entendimento do quadro
clínico, como para favorecer a aderência do paciente ao tratamento. Portanto, é
importante que ela seja criteriosa e bem conduzida. Neste sentido, seguem algumas
dicas para tornar a anamnese mais efetiva e para estabelecer uma boa comunicação
com o paciente:
• Deixe o paciente falar - Todos gostam de ser ouvidos, pessoas que estão
passando por um período de dor/dificuldade, ainda mais. Pratique uma escuta
ativa, dê espaço para o paciente falar livremente e mostre interesse no que ele
está falando. Quando for necessário, questione, mas evite interromper em
demasia. É o seu primeiro contato com o paciente, ele se sentir ouvido, pode
fazer toda diferença na aliança terapêutica.
• Fique atento aos seus julgamentos! - Ao ouvir uma pessoa relatar sua história,
contar seus sintomas, seus sentimentos, é muito fácil julgarmos esta pessoa.
Esteja atento para abstrair-se deste julgamento, pois ele pode atrapalhar a
condução da avaliação e do tratamento. Além disso, não sabemos tudo que
existe por trás da história e vivência daquela pessoa, então, mesmo que seja
difícil em muitos casos, tente não julgar.
• Cuidado para não ficar procurando aquilo que você quer encontrar - Um erro
comum e muito fácil de ser cometido, é investigar algo que você (mesmo que de
maneira um tanto inconsciente) acredita ou espera que esteja acontecendo.
Quando isso acontece, começamos a fazer perguntas em busca daquilo que
queremos encontrar. Investigue suas hipóteses, siga suas pistas, mas fique
atento para não “forçar a barra” em busca de algo que, talvez, não se aplique ao
caso.
• Comportamento da dor
o Dor constante ou intermitente? O que melhora e o que piora?
33
• Hábitos de vida - Identificar hábitos de vida que são potenciais fatores de risco
para a dor lombar é importante para ter um olhar mais amplo do quadro clínico.
Fatores como sono, nível de atividade física, alimentação, tabagismo, etc. devem
ser investigados.
• Episódios prévios de dor lombar - Sabendo que pacientes que já tiveram dor
lombar têm maiores chances de ter um novo episódio, investigar se o paciente
já teve ou costuma ter outros episódios de dor e, também, o número e a
frequência com que ocorrem é importante para traçar o prognóstico e para
organizar a condução do tratamento. Por exemplo, em um paciente que costuma
ter episódios recorrentes de dor, além de atuar para tratar o episódio atual, é
fundamental estabelecer medidas preventivas para evitar novas recidivas.
QUESTIONÁRIOS
O uso de questionários é bastante interessante pois auxilia a aprofundar a
avaliação, mensurar fatores psicossociais e ter parâmetros mais objetivos de
acompanhamento e reavaliação do status clínico. Existem diversos questionários que
podem ser utilizados na avaliação de pacientes com dor lombar. Aqui, serão
apresentados os questionários STarT Back, Escala TAMPA, Roland Morris e o Inventário
de Sensibilização Central.
36
Roland Morris
O Roland Morris é um questionário bastante utilizado tanto em pesquisa, quanto
na prática clínica para avaliar o grau de incapacidade causado pela dor lombar. É um
questionário simples, composto por 24 itens, nos quais a resposta é “sim” ou “não”.
Cada resposta “sim” conta 1 ponto. A pontuação varia de 0 (sem incapacidade) a 24
pontos (incapacidade máxima), sendo que valores acima de 14 pontos indicam alta
incapacidade48.
Em relação a avaliação da resposta ao tratamento, uma diminuição de 30% em
relação à pontuação inicial pode ser considerada a mínima diferença clinicamente
39
esta sessão, pode ser utilizado um ponto de corte de 35 pontos, com pontuação acima
deste valor indicando maior suspeita de SC51.
EXAME FÍSICO
Neste momento, o exame físico será composto por 8 etapas: avaliação estática,
avaliação dinâmica, testes provocativos de palpação articular e muscular, avaliação
neurológica, avaliação da preferência direcional, avaliação da articulação sacroilíaca,
avaliação do quadril e avaliação da tração. A seguir, cada tópico será abordado
separadamente. Obs.: no módulo 2, abordaremos outras etapas do exame físico, que
também poderão ser incluídas no processo de avaliação.
41
Avaliação estática
A ideia de que alterações posturais causam dor lombar é uma crença altamente
difundida entre profissionais de saúde e pacientes, no entanto, não existem evidências
consistentes apoiando este raciocínio. É o que mostra uma revisão sistemática de
revisões sistemáticas (2019)37, que analisou 5 revisões que forneciam dados sobre a
relação da lordose lombar com a dor lombar e concluiu que as evidências disponíveis
são conflitantes. Das 5 revisões, apenas 1 analisou estudos longitudinais (3 estudos, n:
1657) e mostrou que pessoas com retificação lombar têm maior risco de desenvolver
dor lombar. Contudo, a taxa de risco encontrada não foi muito expressiva (Odss Ratio:
1.37). Das outras 4 revisões analisadas, 2 encontraram uma associação positiva entre
dor lombar e modificações da lordose lombar e 2 não. Assim, existe suporte para
associação, mas os achados não são consistentes.
Além disso, outro ponto importante a ser discutido quando se fala em avaliação
estática, é o entendimento de que pode existir uma grande variação da postura em
indivíduos assintomáticos. Como mostra uma revisão de literatura 52 (12 estudos), que
investigou o equilíbrio sagital da coluna em pessoas assintomáticas e sem patologias da
coluna, e encontrou que: a lordose cervical (C2 – C7) variou de 11° de cifose a 45° de
lordose; a cifose torácica (T1-T12) variou de 25° a 65°; a lordose lombar (T12 – S1) de
40° a 84° e a inclinação pélvica de 1° a 25°. Mostrando que existe uma ampla variação
do que pode ser considerada uma postura “normal”.
Diante do exposto, o principal objetivo da avaliação estática em nossa
abordagem não será analisar a postura de maneira minuciosa, mas sim, investigar a
presença de postura antálgica. A presença de postura antálgica ocorre em quadros de
dor aguda e, geralmente, está associada com sintomas de caráter químico/inflamatório
mais intenso.
As duas posturas antálgicas mais comuns são a cifose lombar e o lateral shift,
sendo que o paciente pode apresentar as duas em conjunto ou apenas uma delas. Na
cifose lombar, o paciente normalmente se apresenta com o tronco projetado
anteriormente e os joelhos fletidos, tendo dificuldade de manter o tronco ereto. Já, no
lateral shift, existe um desvio lateral do tronco do paciente. Obs.: a nomenclatura do
lateral shift se dá pelo lado em que o ombro está desviado (imagem 17).
42
É preciso cuidado para não confundir adaptações posturais que fazem parte do
esquema postural natural da pessoa, com posturas antálgicas. Alguns itens ajudam a
entender se realmente trata-se de uma postura antálgica e se a mesma é clinicamente
relevante:
• O desvio é visível e inconfundível
• O aparecimento da postura/desvio começou com a dor lombar
• A pessoa é incapaz de corrigir o desvio ou não consegue manter a correção
• A correção afeta à intensidade dos sintomas (pode diminuir ou aumentar,
sendo mais comum o aumento dos sintomas).
Caso não exista uma postura antálgica, mas você identifique uma adaptação
postural mais importante, que chame sua atenção, procure analisar como ela se
comporta durante os testes de movimento: é uma zona que se move bem ou é rígida?
Caso seja uma região que tenha boa mobilidade e funcionalidade (principalmente no
sentido oposto – flexão para as lordoses e extensão para as cifoses), não existe nada a
considerar, é simplesmente o padrão postural da pessoa. Agora, caso seja uma zona
rígida ou que apresente alguma disfunção de movimento, este é um achado que pode
ser considerado no conjunto dos dados clínicos do paciente e, caso necessário,
abordado durante o tratamento.
43
Por fim, para que sua avaliação estática seja mais assertiva, evite fazer uma
análise muito demorada, minuciosa. Considere apenas as adaptações que, realmente,
chamem sua atenção e lembre-se: todos temos assimetrias e quanto mais você
procurar, mais você vai encontrar adaptações que não são relevantes!
Spring Test
45
AVALIAÇÃO NEUROLÓGICA
Apesar de ser frequentemente negligenciado pelos Fisioterapeutas, o exame
neurológico é um passo indispensável da avaliação de pacientes com dor na coluna, que
visa responder uma série de perguntas relevantes, tais como: Qual é o status
neurológico do paciente? Existe algum sinal de perigo ou comprometimento
neurológico importante? Posso atender este paciente com segurança ou devo
encaminhá-lo para o médico? A dor relatada pelo paciente é de origem neural? A
cirurgia é realmente necessária?
Além disso, em pacientes com hérnia de disco ou radiculopatia sintomáticas, o
status neurológico é o principal parâmetro a ser monitorado durante o tratamento para
acompanhar a evolução do quadro clínico. Nestes pacientes, o primeiro objetivo do
46
Avaliação da Sensibilidade
Nosso sistema sensorial possui diferentes formas de sensibilidade: profunda,
superficial, térmica, dolorosa etc. No exame neurológico de pacientes com dor na
coluna, a análise da sensibilidade superficial (tátil) costuma ser a mais utilizada.
Para avaliar a sensibilidade superficial, deve-se realizar estímulos táteis não
dolorosos sobre a pele na área de dor referida no membro inferior e/ou no dermátomo
que queremos avaliar. O estímulo tátil pode ser feito com um algodão, pincel ou mesmo
com a mão e o paciente deve manter os olhos fechados durante o teste (imagem 21).
Existem quatro possibilidades de resposta à avaliação sensorial: sensibilidade
preservada, anestesia (ausência de sensibilidade), hipoestesia (diminuição da
sensibilidade) e hiperestesia (aumento da sensibilidade). O parâmetro de referência
para interpretação do teste será o lado assintomático, dessa forma, deve-se sempre
realizar uma análise comparativa bilateral.
As alterações de sensibilidade podem ser causadas tanto por
disfunção/comprometimento do sistema nervoso periférico (S.N.P), como do sistema
nervoso central (S.N.C.). No entanto, quando ocorrem de maneira segmentada, ou seja,
Teste de Sensibilidade
47
Avaliação da Força
A avaliação da força muscular nos informará se o paciente apresenta déficits
motores, um dos achados mais importantes em pacientes com radiculopatia e que deve
ser constantemente monitorado ao longo do tratamento. Para avaliar a força, iremos
realizar testes manuais resistidos para cada um dos miótomos do membro inferior.
Miótomos, são os músculos inervados pelos nervos oriundos de uma
determinada raiz neural. Assim, quando testamos a força de um grupo muscular,
estamos testando a integridade das raízes que o inervam. Miótomos do membro
inferior:
• Flexores do Quadril (L1 e L2) • Extensor do Hálux (L5)
• Extensores do Joelho (L2, L3 e L4) • Plantiflexores do Tornozelo (S1-S2).
• Dorsiflexores do Tornozelo (L4 e L5)
Déficits motores podem ser causados tanto por disfunções do S.N.P, quanto do
S.N.C., mas, assim como para a sensibilidade, alterações isoladas costumam ser
consequência de disfunções do S.N.P. Obs.: Identificar um possível comprometimento
do S.N.C é importante, já que isto pode representar um sinal de alerta e necessitar de
uma investigação médica. No entanto, em pacientes com dor na coluna, os testes de
sensibilidade e força costumam ser menos informativos sobre o status do S.N.C.
Avaliação do Clônus
Testes Neurodinâmicos
A última etapa do exame neurológico será composta pelos testes
neurodinâmicos. Estes testes avaliam a mecanosensibilidade do tecido neural por meio
de manobras que induzem tensão no trajeto do nervo e nas raízes neurais. O principal
objetivo é analisar se durante o teste os sintomas relatados pelo paciente são
reproduzidos de maneira clara. Quando isso ocorre, os testes neurodinâmicos são
considerados positivos e indicam que os sintomas investigados são de origem neural
(neurogênicos).
Em alguns testes, também é possível realizar manobras de diferenciação
estrutural para tentar isolar a resposta neural e diminuir a influência das estruturas
musculoesqueléticas, que podem confundir a interpretação do teste. Assim, quando a
52
diferenciação estrutural é positiva, temos uma indicação ainda mais clara de que a dor
é, realmente, neurogênica.
Para compreender melhor a mecânica dos testes neurodinâmicos e das
manobras de diferenciação estrutural, é importante lembrar que o sistema nervoso
segue um continuum anatômico íntegro, desde sua parte central (cérebro e medula) até
os nervos periféricos mais distais. Desta forma, a tensão imposta em uma extremidade
do sistema neural pode repercutir em seu outro extremo.
Existem diversos testes neurodinâmicos e variações descritas na literatura.
Abordaremos aqui os 4 testes mais utilizados na prática clínica: o teste de Slump,
Lasègue, Lasègue Cruzado e Slump Femoral.
Teste de Slump
No teste de Slump, todo o eixo central neuromeníngeo, as raízes lombares e o
trajeto do nervo ciático (principalmente o nervo tibial, que percorre posteriormente a
panturrilha) são tensionados. Assim, este teste pode ser utilizado tanto para avaliar
dores restritas à coluna lombar, como também dores referidas na face posterior de todo
o membro inferior, desde o glúteo até o pé.
Assim como nos demais testes, para melhor entendimento das respostas é
importante comparar os achados do lado sintomático com o lado assintomático.
Teste de Slump
elevar a perna sintomática com o joelho estendido. Ele será considerado positivo
quando reproduzir os sintomas neurogênicos na coluna lombar ou no membro inferior
elevado. Existe uma certa divergência na literatura em relação à angulação em que os
sintomas devem ser reproduzidos durante o teste, alguns autores defendem que o teste
deve ser considerado positivo se os sintomas forem reproduzidos nos primeiros 30° de
elevação da perna, outros relatam que o sintoma deve ocorrer entre 30-70° e, ainda,
existem àqueles que não estabelecem nenhuma angulação específica. Na prática clínica,
mais importante do que seguir uma destas classificações, é entender que quanto menor
for a angulação em que os sintomas aparecem, maior é a mecanosensibilidade das raízes
nervosas.
O teste de Lasègue cruzado, em geral, é menos conhecido. Neste teste, deve-se
elevar a perna assintomática e analisar se os sintomas neurogênicos são reproduzidos
na coluna lombar e/ou no membro inferior do lado sintomático. Quando isso ocorre, o
teste é considerado positivo. Este teste também avalia a mecanosensibilidade das raízes
do plexo lombossacral, porém, é um teste que costuma ser positivo apenas em casos
onde existe uma sensibilização mais importante das raízes neurais.
nas raízes lombares (L2-L3-L4) e segue inferiormente para fazer a inervação motora do
quadríceps e sensitiva da parte anterior e medial da coxa.
É interessante notar que, além do nervo femoral, saem do plexo lombar uma
série de nervos que vão contribuir com a inervação sensitiva da face anterior, lateral e
medial da coxa, do quadril, da região púbica e genital. Além disso, vale lembrar que os
dermátomos do plexo lombar também envolvem estas regiões). Assim, irritações das
raízes lombares podem provocar dores irradiadas nestas áreas. Este entendimento é
importante, pois, muitas vezes, estas dores neurogênicas podem ser erroneamente
55
Etapas da Avaliação
Atenção! Os aprendizados aqui adquiridos não substituem a formação no
Método Mckenzie. Você receberá uma base da abordagem da preferência direcional,
com algumas adaptações que não seguem o formato original, mas minha recomendação
é que você realize a formação oficial para aprender o método em sua totalidade e
originalidade.
Dentro da abordagem da preferência direcional, diferentes movimentos e
variações podem ser avaliados. Aqui, iremos avaliar os movimentos de extensão e
deslocamento lateral, mas não abordaremos todas as variações de cada movimento.
Em cada padrão de movimento, existem diferentes estratégias de carga e o
objetivo da avaliação é encontrar uma direção de movimento e uma carga específica
que promovam uma melhora relevante e duradoura da apresentação clínica do
paciente.
Antes de iniciar a avaliação da preferência direcional, é preciso estabelecer
algumas referências claras (sintomáticas e mecânicas) que serão utilizadas para avaliar
as respostas aos testes. Assim, defina de maneira precisa a localização e intensidade dos
58
extensão, para pacientes menos incapacitados e que não conseguem deitar durante o
dia para fazer o exercício, uma alternativa é avaliar a resposta do movimento de
extensão em pé. Caso o paciente responda bem, este movimento pode ser utilizado
como uma alternativa à posição deitada ao longo do dia.
Observações finais:
• Estabeleça referências no exame físico e história do paciente – Antes de
iniciar a avaliação da preferência direcional, é fundamental estabelecer os
principais achados da história e do exame físico do paciente para utilizar
estes parâmetros como elemento de comparação. Será reavaliando estas
referências que você determinará a preferência direcional.
Diretrizes de Tratamento
Nesta seção, primeiramente, abordaremos a correção do lateral shift e, em
seguida, serão apresentadas orientações essenciais para a prescrição dos exercícios de
preferência direcional.
Por fim, lembre-se que não são todos os pacientes que possuem preferência
direcional, assim, pode ser que mesmo após modular todos as questões acima, você
continue não encontrando um resultado efetivo.
64
etc.)63–65. Dentre estes, o grupo de pacientes mais estudado são as mulheres em período
gestacional e pós-parto, com estimativas apontando que a prevalência de dor sacroilíaca
durante a gestação é de, aproximadamente, 20%65.
Diagnóstico
Cluster de Testes Provocativos. Obs.: o cluster será considerado positivo quando 3 ou mais
testes forem positivos.
66
Dois tipos de testes costumam ser empregados para avaliar a dor sacroilíaca:
testes de mobilidade e testes provocativos. Os primeiros, têm como objetivo avaliar o
posicionamento ou encontrar restrições de movimento da articulação. Os segundos,
reproduzir a dor relatada pelo paciente por meio de manobras que estressam a
articulação sacroilíaca. Apesar de ainda serem amplamente utilizados na prática clínica,
os testes de mobilidade não são úteis para diagnosticar a dor sacroilíaca e não possuem
validação científica63,66. Já, a capacidade diagnóstica dos testes provocativos é fonte de
conflito. Existem estudos que demonstram boa acurácia diagnóstica e outros que
questionam a validade destes testes. Além disso, nenhum dos testes, quando utilizado
isoladamente, demonstrou boa capacidade diagnóstica.
Neste sentido, alguns estudos apontam que testes provocativos combinados
(clusters) podem ter melhor acurácia diagnóstica do que testes isolados 59,61. No entanto,
uma revisão sistemática67 (2021) que analisou a acurácia de clusters de testes
provocativos, concluiu que eles não têm precisão diagnóstica suficiente para detectar a
dor sacroilíaca, mas que possuem boa acurácia para excluir a articulação sacroilíaca
como origem da dor.
Em busca de um processo diagnóstico mais organizado e efetivo, sugiro a
utilização do seguinte organograma de raciocínio clínico:
67
Nos casos onde existe real suspeita de dor sacroilíaca, para confirmar o
diagnóstico, existe ainda a possibilidade de se realizar um bloqueio anestésico60. Apesar
de existir certa discussão na literatura, o bloqueio diagnóstico é considerado o método
padrão ouro para diagnóstico da dor sacroilíaca63. No entanto, por ser um método
invasivo e custoso, é sensato encaminhar para tal procedimento apenas pacientes com
dor persistente, que não estão respondendo bem ao tratamento conservador. Para os
demais casos, primeiro, deve-se iniciar o tratamento e caso haja boa evolução, não há
necessidade de maior investigação.
• Acupuntura – As evidências são limitadas, mas parece ser útil para controlar a
dor durante a gravidez65.
AVALIAÇÃO DO QUADRIL
A coluna lombar e a articulação do quadril possuem uma íntima relação
anatômica, biomecânica, neurológica, mas também sintomática, já que os sintomas
oriundos das duas regiões podem ter uma distribuição bastante parecida35.
Em um estudo que avaliou o padrão de dor referida em 51 pacientes com
osteoartrose do quadril, a principal área de dor relatada pelos pacientes foi a região
glútea (71%), seguido da coxa (57%) e da virilha (51%)70 . Além disso, 22% dos pacientes
apresentaram dor referida abaixo do joelho, uma distribuição comumente atribuída à
coluna lombar. Da mesma forma, em outro estudo71, que comparou o padrão de dor
referida em pacientes com estenose lombar e osteoartrose do quadril, os resultados
mostraram que a distribuição dos sintomas no membro inferior pode ser bastante
parecida nas duas condições, sendo que 47% dos pacientes com osteoartrose de quadril
relataram dor abaixo do joelho.
Diante destes dados, fica evidente que dores oriundas do quadril podem ser
facilmente confundidas com dores da coluna lombar, sendo necessário, em
determinados casos, realizar o diagnóstico diferencial “coluna x quadril” para identificar
a real fonte da dor.
Além desta interrelação sintomática, um outro aspecto que se discute na
literatura é a possível influência mecânica do quadril na coluna lombar. Neste contexto,
69
Testes Provocativos do Quadril. Obs.: Em todos os testes deve-se atingir a amplitude final de
movimento.
70
Diagnóstico Diferencial
Quando suspeitar do quadril como fonte da dor lombar ou referida no membro
inferior? Primeiro, analise a localização da dor. Quando o quadril é a fonte dos sintomas,
normalmente, a dor será unilateral e terá uma localização predominante na coluna
lombar baixa, glúteo, virilha e/ou na coxa (seja na face anterior, posterior, medial ou
lateral). Por mais que a dor do quadril possa ser referida abaixo do joelho, dificilmente
os sintomas ocorrem de maneira isolada na extremidade distal do membro inferior.
Caso a distribuição dos sintomas siga os aspectos acima mencionados, verifique
os seguintes parâmetros:
EXAMES DE IMAGEM
Apesar da solicitação precoce de exames de imagem ser uma prática muito
comum, as diretrizes clínicas não recomendam a realização de exames de imagem de
rotina em pacientes com dor lombar73,74. Além de não gerar benefícios clinicamente
significativos, exames de imagem precoces podem levar a danos, tais como: aumento
dos custos para o paciente e sistemas de saúde, reforço do comportamento de medo e
evitação, menor expectativa e confiança de melhora, aumento do número de
procedimentos invasivos desnecessários e exposição à radiação73.
O exame de imagem imediato é necessário apenas para pacientes que
apresentem déficits neurológicos graves ou progressivos, ou então, para pacientes com
suspeita de uma patologia grave. Em pacientes com menor risco de patologias graves
ou com déficits neurológicos menos importantes, recomenda-se uma tentativa inicial de
tratamento conservador (pelo menos 1 mês) antes da solicitação do exame de imagem.
Caso o tratamento esteja sendo satisfatório, não existe a necessidade do exame, mas,
caso o tratamento não esteja surtindo o efeito desejado, a avaliação por imagem passa
a ser indicada73.
É importante lembrar que alterações nos exames de imagem são bastante
comuns em pessoas assintomáticas, assim, tais alterações nem sempre possuem
relevância clínica. Além disso, mesmo em pacientes com dor, as alterações presentes
nos exames de imagem nem sempre têm relação direta com os sintomas, sendo preciso
correlacioná-las com o exame físico para determinar sua real importância clínica.
Recomendações para o tratamento da dor lombar e radicular – JOSPT 2021. TBC – Treatment Based
Classification (Subgrupos). MDT – Método Mckenzie. CFT – Terapia Cognitivo Funcional.
Tratamento Farmacológico
Tratamentos farmacológicos não são recomendados como primeira opção,
sendo indicados apenas quando as intervenções não farmacológicas de primeira linha
não obtiveram resposta satisfatória. Neste contexto, os profissionais responsáveis pela
prescrição medicamentosa são orientados a considerar os anti-inflamatórios não
esteroidais orais, levando em consideração os riscos (toxicidade gastrointestinal,
hepática, etc.) e a prescrever a menor dose eficaz, pelo menor tempo possível77.
O uso rotineiro de opioides não é recomendado, uma vez que os benefícios são
pequenos e existem riscos substanciais. Assim, as diretrizes alertam que a terapia com
opioides deve ser usada apenas em pacientes cuidadosamente selecionados, por curta
duração e com acompanhamento adequado77.
Paracetamol não é recomendado e, embora as diretrizes geralmente sugiram a
consideração de relaxantes musculares para uso de curto prazo, mais pesquisas sobre
sua efetividade ainda são necessárias77.
é começar a recuperar a capacidade funcional do paciente para que ele possa executar
(ou retomar) suas as atividades com mais conforto e segurança. Para isso,
continuaremos a utilizar exercícios terapêuticos, mas começaremos a incluir,
gradativamente, exercícios gerais com maior foco na função. À medida que o paciente
evolui nesta fase, naturalmente, o uso da terapia manual se torna mais restrito.
Fases do Tratamento.
pode ser diferente. Apesar de básico, isso é fundamental para o sucesso do tratamento.
Pois, quando a abordagem elaborada não está em conformidade com as necessidades
do paciente, como por exemplo oferecer um tratamento muito passivo para um
paciente que precisa de uma abordagem ativa (ou vice-versa), a chance de obter um
resultado consistente é muito menor.
INTERVENÇÕES
Em nossa proposta, utilizaremos as seguintes intervenções para abordagem do
grupo reabilitação: preferência direcional, terapia manual (mobilização e manipulação
vertebral, técnicas miofasciais, mobilização neural e tração) e exercícios (terapêuticos e
gerais). Na sequência, cada uma destas intervenções será apresentada, com exceção da
prescrição de exercícios que será abordada mais à frente, separadamente.
Preferência Direcional
As diretrizes de tratamento da preferência direcional já foram abordadas
anteriormente, em conjunto com a avaliação.
Terapia Manual
Apesar da terapia manual ser amplamente utilizada no tratamento da coluna
vertebral há décadas, seus mecanismos de ação ainda não estão completamente
estabelecidos. Por muito tempo, atribui-se os benefícios clínicos da terapia manual,
exclusivamente, a efeitos biomecânicos. No entanto, atualmente, sabe-se que muitos
dos efeitos biomecânicos propostos não ocorrem e que tais efeitos, sozinhos, não são
suficientes para explicar a ação da terapia manual.
Diante disso, em 2009, um grupo de autores (Bialosky e Cols.)80 propôs um
modelo mais abrangente para explicar os efeitos da terapia manual. De maneira
resumida, o modelo sugere que, em resposta a um estímulo mecânico imposto pela
terapia manual, inicia-se uma cascata de efeitos neurofisiológicos que serão
responsáveis pela redução da dor e demais benefícios clínicos. Tais efeitos podem
ocorrer tanto no sistema nervoso periférico, como no sistema nervoso central (a nível
medular ou dos centros superiores). Adicionalmente, o modelo também considera a
potencial influência de fatores não específicos, como a expectativa do paciente, efeito
79
Manipulação Lombopélvica
Abordagem Miofascial
Assim como para a manipulação/mobilização articular, até então, as abordagens
miofasciais têm sido pautadas em um raciocínio altamente biomecânico. No entanto, os
efeitos mecânicos sugeridos da terapia manual sobre a fáscia nem sempre ocorrem, ou
pelo menos, não da forma pensada.
Estudos de laboratório e modelos matemáticos já demonstraram que para gerar
deformações plásticas permanentes do tecido conjuntivo são necessárias forças
extremamente altas ou estímulos mantidos por longos períodos (ex.: estímulos
realizados por mais de uma hora)95–97. A quantidade de carga necessária para gerar
deformação permanente varia de acordo com a densidade e composição do tecido.
Dados apontam que para gerar deformação dos tecidos paravertebrais são necessárias
forças entre 24 e 115kg95,97. Já, para deformar a fáscia lata ou a fáscia plantar, são
necessárias forças ainda maiores. Um modelo matemático mostrou que para produzir
até 1% de compressão e 1% de cisalhamento nestes tecidos foram necessárias forças
acima de 400kg96.
82
Mobilização Neural
A mobilização neural é uma abordagem que visa restaurar a homeostase do
sistema nervoso e facilitar o movimento entre as estruturas neurais e os tecidos vizinhos
(interface mecânica), por meio da mobilização do próprio sistema nervoso ou das
estruturas que o circundam, utilizando técnicas manuais ou exercícios99.
A mobilização neural é recomendada pelo guideline da JOSPT (2021)79 como uma
intervenção “nível B” (evidência moderada). A recomendação é que os fisioterapeutas
podem utilizar a mobilização neural em conjunto com outros tratamentos para
melhoras de curto prazo na dor e incapacidade em pacientes com dor lombar crônica
associada a dor ciática. Além da recomendação deste guideline, existem outras revisões
sistemáticas e ensaios clínicos100,101 que demonstram os efeitos positivos da mobilização
neural. Assim, por mais que ainda sejam necessários novos e maiores estudos para
83
Exercício de Slump
Deslizamento Tensionamento
Manobra 1 Manobra 2
85
Observações:
• Não utilize em pacientes hiperagudos e vá com calma nos casos com sintomas
mais intensos.
• Começar pela perna assintomática pode ser uma opção interessante em casos
mais sintomático.
No entanto, é importante saber que existem pacientes que não irão responder à
nenhuma intervenção, mesmo que realizada cuidadosamente. Nestes casos, iremos
adotar a estratégia de Repouso Ativo.
Nesta estratégia, além de orientar o paciente a fazer repouso relativo (e não
absoluto), é extremamente importante iniciar ou readequar a analgesia
medicamentosa. Por isso, se o paciente ainda não estiver medicado, encaminhe-o para
o médico. No entanto, mesmo se o paciente já estiver medicado, pode ser necessário
encaminhá-lo novamente ao médico para que ele possa modificar ou potencializar a
medicação. Complementarmente, durante esta fase também é possível utilizar terapias
analgésicas paliativas como eletroterapia, acupuntura, calor superficial e/ou cinto
lombar.
O período de Repouso Ativo pode variar de caso para caso, mas, em geral, serão
necessários de 5 a 10 dias. Quando os sintomas e o quadro inflamatório estiverem mais
estáveis, deve-se recomeçar o tratamento, adequando a abordagem para o quadro
sintomático atual.
7. HÉRNIA DE DISCO
A hérnia de disco é definida pelo deslocamento do material do disco
intervertebral para além de suas margens normais. O material herniado pode incluir
elementos do núcleo pulposo, ânulo fibroso ou ambos. Os níveis mais acometidos são
L4-L5 e L5-S1 e as hérnias sintomáticas ocorrem com mais frequência no aspecto
póstero-lateral do disco, mas também podem ocorrer na linha média 22. Apesar de nem
sempre ser sintomática, a hérnia de disco é relatada como a principal causa de dor
ciática e radiculopatia1,22,23.
Por consenso107, as deformidades do disco são classificadas como abaulamento,
protrusão, extrusão e sequestro discal. As últimas três são consideradas hérnias de
disco, enquanto o abaulamento não. A protrusão e extrusão são classificadas de acordo
com a forma do material herniado. De maneira simplificada, quando a maior medida da
porção herniada é menor do que a base do material herniado, classifica-se a hérnia
como protrusão. Ao contrário, quando a maior medida do material herniado é maior do
que a parte que está em continuidade com o restante do disco, classifica-se a hérnia
89
como extrusa. Por fim, o sequestro discal é definido quando o material herniado perde
toda a conexão com o disco de origem.
FATORES DE RISCO
Por muito tempo, a degeneração discal e disfunções associadas foram
fortemente interpretadas como resultado do envelhecimento e de sobrecargas
mecânicas. No entanto, com o avanço dos estudos genéticos, houve uma mudança
dramática no entendimento da degeneração discal. Atualmente, é consenso na
90
literatura que influências genéticas são o principal fator responsável pela degeneração
discal110–112.
Além dos fatores genéticos, outros fatores também parecem influenciar as
patologias discais, no entanto, com menor influência do que se costumava imaginar:
idade, tabagismo, fatores antropométricos (IMC, altura), sobrecarga física, entre
outros110,112–114. Assim, é provável que as alterações discais possam ser influenciadas por
uma associação de fatores genéticos, mecânicos, ambientais/comportamentais e
antropométricos. Contudo, ainda são necessárias mais pesquisas para clarear esta
interrelação.
DIAGNÓSTICO
Ao falar sobre o diagnóstico da hérnia de disco, antes de tudo, é importante
entender que nem sempre será necessário estabelecer o diagnóstico para conduzir o
tratamento. É totalmente possível elaborar um bom tratamento, mesmo sem ter
certeza se os sintomas estão sendo causados por uma hérnia de disco. A confirmação
do diagnóstico (realizada por exame de imagem), só será realmente necessária quando
o diagnóstico pode modificar a conduta terapêutica. Como, por exemplo, tornar o
paciente candidato a uma intervenção invasiva.
Para o diagnóstico clínico da hérnia de disco, não existe um único sinal ou
sintoma ou um teste físico que, isoladamente, tenha alta acurácia diagnóstica. Assim,
recomenda-se combinar a história do paciente com achados do exame físico23,115.
Os principais sinais e sintomas e achados do exame físico associados com a
hérnia de disco lombar, são:22,23,115,116
• Dor no membro inferior com • Limitação da flexão em pé
padrão dermatomal • Perda de força, sensibilidade e/ou
• Dor na perna maior do que na reflexos
coluna • Testes Neurodinâmicos positivos
• Piora da dor na perna durante (Lasègue, Slump e/ou Lasègue
tosse, espirro ou esforço cruzado)
• Parestesia no membro inferior
91
PROGNÓSTICO
O prognóstico da hérnia de disco é normalmente favorável, mas, a recuperação
de pacientes com radiculopatia pode ser mais lenta do que a de pacientes com dor
lombar aguda não específica22,23. A maior taxa de recuperação da dor e função parece
ocorrer nos primeiros 3 meses, depois disso, a recuperação pode se tornar mais lenta 117.
Contudo, ainda que de forma mais lenta em alguns casos, a maioria dos pacientes se
recupera sem cirurgia.
A recorrência dos sintomas em pacientes com hérnia de disco é relativamente
alta, com taxas de recidiva entre 16-25% para dor na perna e 24-43% para dor lombar
em um ano após a recuperação118,119.
Regressão Espontânea
É bem estabelecido na literatura que a hérnia de disco pode regredir
espontaneamente ao longo do tempo120–122. A regressão pode ocorrer de maneira
parcial ou total, e as hérnias extrusas e sequestradas apresentam maior taxa de
regressão do que a protrusão120.
A maior parte das regressões parece ocorrer no primeiro ano após o diagnóstico,
embora a regressão já possa ser observada nos primeiros dois ou três meses 120. A
correlação entre a regressão da hérnia e a melhora clínica ainda não é conclusiva, assim,
não é possível afirmar que a regressão estará sempre associada com a melhora dos
sintomas120.
Três hipóteses são consideradas para explicar o fenômeno da regressão
espontânea: desidratação e encolhimento gradual do fragmento herniado; retração do
fragmento herniado de volta ao espaço intervertebral induzida pela tensão do ligamento
longitudinal posterior; degradação enzimática e fagocitose, induzidas pelo processo
inflamatório e neovascularização do material herniado. A última, é a hipótese mais
estudada e com maior suporte até o momento123.
TRATAMENTO
As recomendações para o tratamento da hérnia de disco são as mesmas do
tratamento da dor lombar não específica. Ou seja, terapia manual, exercício e
educação77. Assim, iremos utilizar a mesma linha de raciocínio apresentada
anteriormente, classificando o paciente nas fases de modulação dos sintomas,
recuperação da função ou otimização funcional de acordo com sua apresentação clínica.
Neste contexto, para cada fase do tratamento, existem abordagens que fazem mais
sentido e facilitam o manejo clínico dos pacientes com hérnia de disco.
Infiltração e Cirurgia
As recomendações para o uso de infiltrações (bloqueios) variam entre as
diretrizes clínicas, uma vez que as evidências demonstram apenas pequenos efeitos de
curto prazo na melhora da dor e incapacidade124. Além disso, as infiltrações não
parecem reduzir o risco de cirurgia e já foram associadas a eventos adversos raros, mas
graves (incluindo perda de visão, acidente vascular cerebral, paralisia e morte)77. Assim,
a infiltração deve ser considerada apenas nos casos de dor radicular severa em que o
paciente não está respondendo ao tratamento conservador de primeira linha.
A cirurgia precoce é indicada apenas nos casos de síndrome da cauda equina ou
para pacientes com déficits neurológicos graves ou progressivos103. Em pacientes com
síndrome da cauda equina, intervenções realizadas nas primeiras 48 horas a partir do
início dos sintomas podem favorecer a recuperação neurológica125. Dessa forma, o
paciente deve ser encaminhado com emergência para o médico.
Nos casos de radiculopatia persistente sem melhora após pelo menos 6 semanas
de tratamento conservador de primeira linha, a cirurgia passa a se tornar uma opção.
Contudo, nestes casos, a cirurgia é eletiva e o paciente deve ser informado sobre seus
riscos e benefícios22. Os principais benefícios da cirurgia são resultados mais rápidos (dor
e função) no curto prazo. No longo prazo (1 ano ou mais), os benefícios diminuem e
tendem a ser os mesmos do tratamento conservador103.
8. ESTENOSE VERTEBRAL
A estenose vertebral é caracterizada pelo estreitamento do canal medular
central, dos recessos laterais e/ou dos forames intervertebrais. Este estreitamento
normalmente ocorre como consequência à alterações degenerativas (degeneração
discal, artrose facetária, hipertrofia do ligamento amarelo, etc.) e pode causar
compressão ou isquemia das estruturas neurais associadas 126.
SINTOMAS
O sintoma mais característico da estenose é a dor nas nádegas e/ou nas pernas,
que piora ao ficar em pé ou caminhar e ameniza ao se inclinar para frente ou sentar.
Também é comum que os pacientes apresentem distúrbios sensoriais e/ou motores ao
caminhar (claudicação neurogênica), que limitam sua capacidade de deambulação. A
94
DIAGNÓSTICO
Segundo um consenso internacional, as principais características clínicas para
suspeitar da estenose lombar são127:
• Idade superior a 50 anos • Distúrbio motor ou sensorial ao
• Dor nas pernas ou nádegas ao caminhar
caminhar • Pulsos do pé normais e simétricos
• Sintomas aliviados pela flexão da • Fraqueza dos membros inferiores
coluna • Dor lombar
• Alívio ao usar um carrinho de compras
ou bicicleta
104
Confundidores
O diagnóstico da estenose pode ser desafiador, pois existem várias condições
(disfunção arterial periférica, disfunções do quadril, dor radicular, dor sacroilíaca, dor
muscular) que também podem causar dores nas pernas durante o caminhar,
confundindo o diagnóstico126. Disfunções arteriais periféricas e do quadril, são duas
condições com grande potencial confundidor para a estenose.
Pacientes com disfunção arterial periférica podem relatar dores nas pernas que
são desencadeadas ao caminhar e aliviadas com repouso e que também podem fazer o
paciente claudicar (claudicação vascular). No entanto, diferente da estenose, a dor não
é amenizada ou exacerbada pela posição da coluna. Além disso, os pacientes com
disfunção arterial periférica podem ter pés ou pernas frias e alteração na coloração da
pele e no aspecto das unhas (unhas hipertróficas ou sulcadas). Para auxiliar no
diagnóstico diferencial, pode-se realizar a palpação do pulso das artérias do membro
inferior em busca de possíveis alterações, como assimetria entre o lado sintomático e
não sintomático, alterações do ritmo, frequência ou intensidade dos pulsos126.
Disfunções do quadril também podem gerar dores referidas no glúteo e membro
inferior, que pioram durante a marcha e amenizam ao sentar. Novamente, assim como
para as disfunções arteriais periféricas, a dor não será diretamente influenciada pela
posição da coluna. Para o diagnóstico diferencial, no exame físico, deve-se utilizar os
testes provocativos do quadril, tanto intra-articulares quanto extra-articulares (região
trocantérica)126.
105
Teste de Caminhada
Uma medida interessante para os pacientes com estenose, tanto para identificar
o grau de limitação quanto para avaliar a evolução do tratamento, é avaliação da
capacidade de caminhada.
Para esta avaliação, o paciente deve caminhar em uma superfície nivelada, sem
suporte e em velocidade auto selecionada, até que ele seja forçado a parar devido aos
sintomas da estenose ou até atingir o tempo de 30 minutos128. A caminhada pode ser
feita em qualquer local que tenha uma superfície plana (na rua, pista de caminhada ou
mesmo no corredor da clínica). Deve-se marcar o tempo e a distância total de
caminhada. Para medir a distância percorrida, pode-se pré-estabelecer uma distância
entre duas marcações e contar o número de voltas que o paciente realizou. Outra forma,
é utilizar um aplicativo de celular que calcula a distância percorrida, assim, basta deixar
o celular com o paciente enquanto ele caminha.
Outro dado interessante para mensurar neste teste, é o tempo necessário para
o aparecimento dos primeiros sintomas. Dessa forma, na reavaliação, além de analisar
se houve mudança no tempo e na distância percorrida, pode-se mensurar se os sintomas
demoram mais para aparecer.
TRATAMENTO
O tratamento da estenose deve ser baseado em uma abordagem multimodal,
associando educação, terapia manual e exercícios126,129. Na terapia manual, podem ser
utilizadas mobilizações ou manipulações articulares direcionadas à coluna lombar, pelve
e quadris, assim como técnicas de mobilização neural. Na prescrição de exercícios,
podem ser considerados exercícios de fortalecimento do tronco e dos membros
inferiores, exercícios de mobilidade e alongamento da coluna lombar e membros
inferiores, exercícios aeróbicos e, também, exercícios aquáticos. Uma dica que pode
facilitar a modulação dos sintomas no início do tratamento, é valorizar exercícios que
trabalhem a mobilidade da coluna em flexão, para estimular a “abertura” e mobilização
do canal vertebral e forames de conjugação.
Uma pequena proporção dos pacientes com estenose necessita de cirurgia. A
abordagem cirúrgica deve ser considerada apenas em pacientes com déficits
neurológicos importantes ou para aqueles com sintomas severos sem melhora após 3 a
106
9. ESPONDILOLISTESE
A espondilolistese é caracterizada pelo deslizamento anterior de uma vértebra
em relação à vértebra inferior. De acordo com a amplitude do deslizamento, onde se
analisa a porcentagem de deslizamento do corpo vertebral em relação à vértebra
inferior, a espondilolistese é classificada em uma escala de 4 graus: grau I (0% –25%),
grau II (25% - 50%), grau III (50% –75%) e grau IV (75% –100%)131. Além disso, a
espondilolistese também pode ser classificada de acordo com seu mecanismo causal
em: congênita, ístmica, degenerativa, traumática, patológica ou pós-cirúrgica131.
Na espondilolistese degenerativa, o tipo mais comum, o escorregamento
vertebral ocorre como consequência a alterações degenerativas132,133. Acredita-se que
o evento inicial deste tipo de espondilolistese é a degeneração do disco intervertebral
que, devido à desidratação e alteração de suas propriedades viscoelásticas, leva à
diminuição do espaço intervertebral, causando microinstabilidade do segmento
acometido e, consequentemente, favorecendo o deslizamento vertebral.
Este tipo de espondilolistese acomete, principalmente, pessoas mais velhas
(acima dos 50 anos) e o segmento mais afetado é L4-L5133. Apesar das alterações
degenerativas estarem na base de desenvolvimento deste tipo de espondilolistese, em
alguns casos, acredita-se que o avanço destas alterações, levando a uma grande
diminuição do espaço intervertebral e a formação de osteófitos, pode estabilizar o
segmento e impedir o progresso da espondilolistese133,134.
Quando sintomática, a dor provocada pela espondilolistese degenerativa pode
variar desde uma lombalgia mecânica, secundária às alterações degenerativas ou à
instabilidade segmentar, até dor radicular ou claudicação neurogênica. Obs.: é comum
que a espondilolistese degenerativa esteja associada à estenose vertebral133
107
TRATAMENTO
Devido ao baixo número de estudos de boa qualidade metodológica disponíveis,
ainda não existem diretrizes bem definidas para o tratamento fisioterapêutico da
espondilolistese. Nos poucos estudos publicados, o exercício é a abordagem mais
investigada, sobretudo os exercícios de ativação muscular do tronco. Contudo, mesmo
para este tipo de abordagem, ainda são necessários maiores estudos para entendermos
sua real efetividade. Assim, a escolha do tratamento e do programa de exercícios deve
ser feita clinicamente, de acordo com o status clínico de cada paciente.
110
prevenção da dor lombar77,143. O que destaca ainda mais sua relevância no manejo desta
condição.
Estratégias de prevenção para dor lombar e nível de evidência. Reproduzido de Foster et al.,
2018.
Avaliação da Analgesia Induzida pelo Exercício. LDP: Limiar de dor por pressão.
Uma forma bastante prática para avaliar a AIE, é verificar as mudanças pré e pós
exercício no limiar de dor por pressão com um algômetro. Obs.: Além da avaliação do
limiar de dor por pressão, para expandir o entendimento dos efeitos do exercício,
115
1. Avaliar o limiar de dor por pressão em 2 locais (uma medida no membro superior
e outra no membro inferior). Obs.: procure fazer as medidas no lado dominante.
Apesar do exercício ser uma abordagem relevante para os pacientes com dor
nociplástica, é importante considerar que, em muitos casos, será necessária uma
abordagem multidimensional e interdisciplinar. Aspectos como higiene do sono,
mudança de hábitos de vida, medicação, gerenciamento do stress, tratamento
psicológico etc., devem ser considerados no manejo destes pacientes.
Otimização Funcional
Nesta fase, o objetivo principal é potencializar a capacidade funcional e
equilibrar a relação capacidade x demanda. Para isso, primeiramente, deve-se buscar
entender as demandas físicas as quais o paciente é submetido no seu dia-dia (atividade
laboral, exercício físico, esporte etc.), assim como sua aptidão física e déficits funcionais.
A partir daí, deve-se montar um programa de exercícios que atenda às necessidades de
cada caso.
120
• Maior supervisão
Muitos pacientes podem ter dificuldade de realizar o exercício de forma
autônoma, mesmo com orientações bem definidas. Por isso, aumentar o nível
121
FATORES DE RISCO
Assim como a dor lombar, a dor cervical é uma condição multifatorial que pode
ser influenciada por diferentes fatores biopsicossociais. Uma revisão sistemática158
identificou que alta percepção de tensão muscular, humor depressivo e alta demanda
de trabalho foram os fatores de risco mais importantes para o desenvolvimento de dor
cervical. Além destes, baixa classificação de saúde, histórico de dor cervical, baixo
122
suporte de colegas de trabalho, presença de dor lombar, entre outros, também foram
identificados como fatores de risco relevantes.
Em relação aos fatores de risco para o desenvolvimento de dor torácica, as
evidências são bastante limitadas. Uma revisão sistemática159 identificou que baixa
saúde mental e idade (ser mais velho) são fatores de risco para o desenvolvimento de
dor torácica em adolescentes. Para adultos, nenhum estudo foi encontrado pelos
autores.
PROGNÓSTICO
Apesar da dor cervical ter um prognóstico favorável, as taxas de recuperação
parecem ser menores do que se costuma considerar. Uma revisão sistemática, que
investigou o prognóstico da dor cervical aguda não específica, demonstrou que a dor e
a incapacidade tendem a sofrer uma redução expressiva (em torno de 45%) nas
primeiras 6 semanas, mas que após este período não são observadas taxas adicionais de
recuperação160. Além disso, estima-se que 50 a 85% das pessoas não se recuperam
totalmente, indicando que a dor cervical é uma condição com alto índice de recorrência
e cronificação161.
Estes dados alertam para a necessidade de se identificar precocemente os
pacientes com maior risco de cronificação, para que seja ofertado a eles um programa
adequado de reabilitação. Neste contexto, alguns dos fatores apontados como
preditores de mau prognóstico pela literatura são: idade acima de 40 anos, presença
concomitante de dor de cabeça ou dor lombar, presença de dor radicular/radiculopatia,
baixa saúde geral, fatores psicossociais (ansiedade, depressão...), entre outros161–163.
as duas patologias mais comuns (obs.: as informações sobre fratura e tumor já foram
descritas na sessão de red flags para dor lombar).
Mielopatia Cervical
A mielopatia cervical pode ser resultado de traumas ou doenças da medula
espinhal, mas a causa mais comum são alterações degenerativas da coluna cervical. As
principais red flags associadas à mielopatia cervical, são164:
• Fraqueza ou parestesia dos • Hoffman, Babinski e/ou
MMSS e/ou MMII Clônus +
• Fraqueza da mão e/ou perda • Marcha instável
de destreza manual • Disfunção vesical e/ou
• Hiperreflexia MMSS e/ou intestinal
MMII
Disfunção Arterial
Existe uma série de alterações que podem acometer as artérias da região
cervical, provocando diminuição do aporte sanguíneo para as estruturas do pescoço e
do crânio e, consequentemente, podendo causar graves repercussões. Dor de cabeça e
dor no pescoço são sintomas comuns em pacientes com insuficiência arterial, que
muitas vezes se manifestam antes mesmo dos sintomas vasculares/neurológicos. Assim,
um paciente com uma disfunção vascular pode procurar tratamento fisioterapêutico,
pensando se tratar de uma queixa musculoesquelética165.
Neste contexto, para fazer o diagnóstico diferencial e oferecer um manejo
adequado ao paciente, é importante que o fisioterapeuta saiba reconhecer os principais
sinais e sintomas de insuficiência arterial, assim como seus fatores de risco.
Fatores de risco para desenvolvimento de disfunções arteriais do pescoço165:
• Trauma recente • Enxaqueca
• Anomalia vascular (ex.: • Colesterol total elevado
aneurisma da carótida) • Hipertensão
• Fumante atual ou passado • História familiar de A.V.
• Uso de contraceptivo oral
1
QUESTIONÁRIOS
Neck Disability Index - NDI
O NDI é um questionário com 10 itens, que avaliam a intensidade da dor e a
incapacidade relacionada a coluna cervical. A pontuação total é de 50 pontos. Cada uma
das seções possui 6 opções de resposta, que correspondem a uma pontuação de 0 a 5.
Quando a primeira opção é marcada conta-se 0 pontos e quando a sexta opção é
marcada conta-se 5 pontos. Quanto mais alta a pontuação total, maior o nível de
incapacidade. A mínima diferença clinicamente importante varia entre 5 e 9,5 pontos169.
Além do NDI, a Escala Tampa e o Inventário de Sensibilização Central, já
apresentados anteriormente, também podem ser utilizados em pacientes com dor
cervical.
EXAME FÍSICO
O exame físico da coluna cervical e torácica será composto pelas seguintes
etapas: avaliação estática, avaliação dinâmica, testes palpatórios provocativos,
avaliação neurológica, avaliação da preferência direcional e diagnóstico diferencial
cervical x ombro. A seguir detalharemos cada uma das etapas.
Avaliação Estática
Apesar da postura ser comumente considerada como causa de dor cervical e
torácica, até o momento, não existem evidências que apoiem esta hipótese.
129
Avaliação Dinâmica
A avaliação dos movimentos é uma etapa fundamental do exame físico, que deve
ser executada de maneira pragmática. Durante a avaliação, além de analisar a amplitude
de movimento, deve-se verificar a reprodução dos sintomas, observando a intensidade,
o local e a angulação em que os sintomas são reproduzidos.
Exame Neurológico
O exame neurológico da coluna cervical será composto por quatro etapas:
avaliação da sensibilidade, avaliação da força, avaliação dos reflexos e testes
neurodinâmicos. A seguir, detalharemos cada uma destas etapas.
Avaliação da Sensibilidade
Para avaliar a sensibilidade superficial, iremos realizar estímulos táteis suaves na
área de dor referida no membro superior. Este estímulo tátil pode ser feito com um
algodão, pincel ou mesmo com a mão e o paciente deve manter os olhos fechados
durante o teste.
Existem quatro possibilidades de resposta: sensibilidade preservada, anestesia
(ausência de sensibilidade), hipoestesia (diminuição da sensibilidade) e hiperestesia
(aumento da sensibilidade). O parâmetro de referência para interpretação do teste será
o lado assintomático, dessa forma, deve-se sempre realizar uma análise comparativa
bilateral.
Avaliação da Força
A avaliação da força muscular nos informará se o paciente apresenta déficits
motores, um dos achados mais importantes em pacientes com radiculopatia e que deve
ser constantemente monitorado ao longo do tratamento. Para avaliar a força, iremos
realizar testes manuais resistidos para cada um dos miótomos do membro superior:
• C1-C2 = Flexão cervical • C6-C7 = Extensão do cotovelo e
• C3 = Flexão lateral extensão/flexão do punho
• C4 = Elevação do ombro • C7-C8 = Flexão/extensão dos dedos
• C5 = Abdução do ombro • T1 = Músculos intrínsecos da mão
• C5-C6 = Flexão do cotovelo (abdução e adução dos dedos)
Testes Neurodinâmicos
Além do exame neurológico clássico descrito acima, também podemos integrar
os testes neurodinâmicos na avaliação neurológica. Nestes testes, o principal objetivo é
analisar se os sintomas relatados pelo paciente no membro superior e/ou na coluna
cervical são claramente reproduzidos. Quando isso ocorre, os testes neurodinâmicos são
considerados positivos e indicam que os sintomas são de origem neural.
Testes Especiais
Além dos testes neurodinâmicos, alguns testes especiais também auxiliam no
diagnóstico da dor de origem neurogênica. São eles: teste de Spurling, teste de
distração, teste de abdução do ombro e arm squeeze test. Assim como os testes
neurodinâmicos, estes testes devem ser aplicados, principalmente, em pacientes que
relatam dor referida para o membro superior, cintura escapular e/ou região peitoral, na
busca de identificar se estes sintomas possuem uma fonte neural.
Retração:
No movimento de retração, o paciente deve levar o queixo para trás mantendo
a cabeça em posição neutra (sem adição de flexão ou extensão). Durante a retração,
136
ocorre uma pequena amplitude de extensão na cervical baixa e uma grande amplitude
de flexão na cervical alta172.
Na maioria dos pacientes, a avaliação da retração é iniciada sentado, mas nos
casos em que o paciente não responde positivamente ao movimento sentado ou não
tolera carga axial, pode-se testar a retração na posição supina ou prona. Assim, teremos
os seguintes procedimentos de retração: retração sentado, retração sentado com
pressão extra do paciente, retração sentado com pressão extra do terapeuta, retração
em supino (com e sem travesseiro), retração em prono, retração em prono com pressão
extra do paciente.
Flexão lateral Flexão lateral com pressão Flexão lateral com forças do
(mantida ou repetida) extra do paciente terapeuta
138
Princípios de Tratamento
Os princípios de tratamento da cervical são os mesmos da preferência direcional
lombar. Para revisar as diretrizes de tratamento, reveja a sessão sobre preferência
direcional lombar.
Diagnóstico Diferencial
RECOMENDAÇÕES CIENTÍFICAS
Os três grandes pilares do tratamento da dor cervical, apoiados pelas evidências
científicas, são: educação, terapia manual e exercício161,175,176.
Educação
A educação é sempre um processo importante do tratamento. Dentro deste
processo, deve-se considerar aspectos como: reassurance (tranquilizar o paciente),
educação em dor, orientações sobre o status clínico e prognóstico, orientações para
manter-se ativo, orientações gerais de autocuidado (o que fazer e o que não fazer neste
momento), manejo do stress etc.
140
Terapia Manual
Dentro da terapia manual, as intervenções com maior evidência são as técnicas
de mobilização/manipulação cervical e torácica161,175,176. Além destas, a tração (manual
ou mecânica)175,177,178 e a mobilização neural99,179 também possuem recomendação para
o tratamento da dor cervical (sobretudo nos casos de dor radicular). Já, as técnicas de
tecidos moles, como massagem ou liberação miofascial, possuem evidências
inconclusivas. Assim, se utilizadas, devem ser empregadas como tratamento
complementar180,181.
Exercício
Assim como para a dor lombar, até o momento, não existe uma modalidade de
exercício que se mostrou claramente superior à outra no tratamento da dor cervical.
Diversos tipos de exercícios podem ser úteis: fortalecimento e resistência da coluna
cervical, cintura escapular e membros superiores; exercícios de controle motor (ativação
da musculatura profunda), Yoga, Pilates, Tai Chi, exercícios de mobilidade ou
alongamento da coluna cervical e cintura escapular; exercícios aeróbicos, entre
outros182–184.
Obs.: A maioria das evidências disponíveis sobre o exercício são dedicadas ao
tratamento da dor crônica, assim, os efeitos do exercício em pacientes com dor cervical
aguda permanecem indeterminados.
Outras Abordagens
Além das abordagens supracitadas, outra abordagem que também possui
evidências a seu favor no manejo da dor cervical é o Dry Needling175,185. Já, a
eletroterapia (ultrassom, TENS, laser) possui evidências inconsistentes, mas pode ser
considerada como abordagem complementar161,176. Em relação à ventosaterapia, as
evidências são ainda mais inconsistentes, pois a maioria dos estudos disponíveis
possuem baixa qualidade metodológica186.
INTERVENÇÕES
Preferência Direcional
As diretrizes de tratamento da preferência direcional já foram abordadas
anteriormente, em conjunto com a avaliação.
Terapia Manual
Seguindo as diretrizes científicas, dentro da terapia manual, utilizaremos as
seguintes abordagens: mobilização e manipulação da coluna cervical e torácica,
mobilização neural, tração cervical e técnicas miofasciais.
Abordagem Miofascial
As técnicas miofasciais cervicais e torácicas devem ser utilizadas como
abordagem complementar, sendo associadas à outras intervenções manuais e aos
exercícios. Sobretudo nas técnicas de massagem cervical, é preciso atenção em
pacientes com dor radicular, pois, em alguns casos, pode existir hiperalgesia e o estímulo
miofascial pode ser provocativo.
Mobilização Neural
A mobilização neural pode ser um importante aliado no tratamento das dores
neurogênicas, porém, é preciso cautela durante sua aplicação para não agravar os
sintomas. Comece sempre com técnicas suaves de deslizamento, monitore a resposta
durante e após a intervenção e, se necessário, vá evoluindo a carga da mobilização aos
poucos. Lembre-se que mais tensão não implica, necessariamente, em melhores
resultados.
147
Delizamento das raízes cervicais com Delizamento das raízes cervicais com
movimento de translação movimento de inclinação
DIAGNÓSTICO
Existem diferentes critérios propostos para o diagnóstico da CC, mas, até o
momento, nenhum possui suporte científico robusto. Além disso, o diagnóstico pode
ser desafiador, pois os sintomas são muitas vezes semelhantes aos de outras formas de
cefaleia.
Algumas das principais características da CC relatadas pela literatura são189,190:
• Dor unilateral, que não muda de lado (obs.: a dor também pode ser bilateral);
• Dor que começa posterior (região cervical/occipital) e pode se espalhar para
anterior;
• Dor que costuma ser provocada/agravada por sobrecarga cervical (ex.:
posições ou movimentos);
• Pode existir dor referida no ombro ou no braço do mesmo lado.
Diagnóstico Diferencial
Dor de cabeça é um sintoma comum em várias patologias. Assim, é fundamental
estar atento a presença de sinais e sintomas (ex.: febre, mal-estar, hipertensão,
alterações neurológicas etc.) que possam sugerir a existência de uma condição não
musculoesquelética na base dos sintomas.
149
TRATAMENTO
A fisioterapia pode auxiliar no tratamento de diferentes tipos de dores de
cabeça, mas na CC, o tratamento fisioterapêutico desempenha um papel de destaque.
Para o manejo fisioterapêutico da CC, as principais abordagens recomendadas são a
terapia manual e os exercícios terapêuticos195,196.
150
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