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AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA E MEDICAÇÃO ANESTÉSICA

AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA E MEDICAÇÃO ANESTÉSICA

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-


sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4
PROTOCOLO ANESTÉSICO ......................................................................................... 4
DISTÚRBIOS OCASIONADOS PELA DOR ................................................................ 5
MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA ................................................................................ 7
AGENTES ANESTÉSICOS .......................................................................................... 11
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS AVALIADOS ..................................................... 15
ANESTESIA .................................................................................................................. 18
ESPÉCIES DO ESTUDO SUBMETIDAS A PROCEDIMENTOS ANESTÉSICOS….
........................................................................................................................................ 28
REFERÊNCIAS ............................................................... Erro! Indicador não definido.

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INTRODUÇÃO
Os primeiros relatos a respeito da Anestesiologia Veterinária no Brasil são da
década de 1940. Nesta época, a mesma, ainda não era administrada como uma
disciplina única dentro dos cursos de Medicina Veterinária no Brasil.
Apenas no ano de 1972 foi criado o Colégio Brasileiro de Cirurgiões Veterinários
(CBCV), e em 1992 passou a ser denominado com CBCAV – Colégio Brasileiro
de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, que tem por missão produzir um contí-
nuo aprimoramento da Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, certificando educa-
ção de alto nível, contribuindo assim para que os serviços prestados sejam de
um padrão superior técnico e ético. (FANTONI; CORTOPASSI, 2014).
A preocupação sobre o efeito que se tem ao se usar um anestésico é notável
nos dias atuais, tendo em vista a fragilidade em que o animal é exposto, devido
às várias alterações clínicas. Dentre essas podemos citar a bradicardia, hipoter-
mia, convulsões, parada respiratória e hipotensão. (FERREIRA, 2010).

PROTOCOLO ANESTÉSICO
É definido como um conjunto de fármacos a serem empregados em determinado
procedimento anestésico. Deve-se destacar que por mais seguro que seja esse
protocolo, as drogas utilizadas irão causar alguma alteração fisiológica no paci-
ente a eles submetido.
O seu conhecimento é importante, pois, um mesmo protocolo não é efetivo para
todos os pacientes ou todas as intervenções cirúrgicas. (FOSSUM, 2008; FREI-
TAS, 2011).
Diversos protocolos anestésicos podem ser utilizados nas cirurgias eletivas dos
animais, porém, uma técnica equilibrada é recomendada a fim de se realizar uma
analgesia e anestesia adequadas, bloqueando a resposta adrenérgica causada
pela dor (FANTONI; CORTOPASSI, 2014).
Segundo Oliva et al., (2004), cirurgias ocasionam traumas nos tecidos que irão
variar a intensidade conforme a intervenção realizada, mas constantemente o
período pós-operatório imediato resulta em dor e/ou desconforto para o paciente,
sendo controlada intra-operatoriamente por anestesia local ou geral.
Pensando no bem-estar animal é de extrema importância que se tenha conheci-
mento sobre os efeitos dos fármacos.

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DISTÚRBIOS OCASIONADOS PELA DOR
De acordo com Mathews (2002), os animais sentem tanta dor, quanto os seres
humanos.
Uma vez que os sinais clínicos são pouco visíveis, ou quando o animal não re-
trata de forma “convencional” seu incômodo, é imprescindível eliminar o conceito
de que eles são mais resistentes à dor. (OTERO, 2005).
A dor é definida como uma experiência emocional desagradável, que está asso-
ciada a uma lesão tecidual ou a percepção. Não há uma resposta ou adaptação
da dor, até que se tenha um reconhecimento do estímulo nocivo no córtex cere-
bral. (FORD; MAZZAFERO, 2007).
Na classificação dos diferentes tipos de dor, podemos citar a dor aguda, dor crô-
nica, dor somática e dor visceral.
A dor aguda é aquela que resulta de traumatismos, infecções por micro-organis-
mos, lesões, doença dolorosa de curta duração ou procedimentos cirúrgicos.
(FORD; MAZZAFERO, 2007; HARDIE, 2014).
Este tipo de dor pode ter intensidade de leve a grave, normalmente tem uma
duração curta, e é aliviada facilmente com o uso de analgésicos. A dificuldade
para o animal lidar com a dor varia conforme a sua intensidade, podendo durar
dias ou semanas.
A intensidade maior ocorre entre 24 a 72 horas após o dano traumático. A dor
crônica é definida como aquela existente há mais de três meses, e persiste por
um tempo maior que o necessário para a cura de uma lesão, ou pode estar as-
sociada com uma patologia crônica.
É mais difícil o seu tratamento e exige um trabalho mais intenso com extensa
terapia (ACVAA, 2016; ANDRADE; CASSU, 2008; HARDIE, 2014).
A dor somática é ocasionada a partir do sistema musculoesquelético e outros
sistemas periféricos, é distinta e bem localizada.
A dor visceral se origina dos órgãos internos e não é bem localizada. (JOHNS-
TON, 2014).
A dor não tratada provoca nos animais efeitos nocivos ao organismo, portanto,
é fundamental que o médico veterinário conheça seus mecanismos e sua iden-
tificação, efetuando assim, uma melhor analgesia ao paciente. (ALMEIDA et al.,
2008).

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Segundo Paddleford (2001) e Biebuyck (1990), os sinais fisiológicos decorrentes
da dor são variáveis. Estes sinais devem-se à ativação do sistema nervoso sim-
pático e a liberação de catecolaminas, efeitos negativos no sistema imune, alte-
rações cardíacas, aumento na pressão sanguínea, taquicardia, disritmia cardí-
aca, aumento da pressão sanguínea, aumento da frequência respiratória, mem-
branas mucosas pálidas causadas pela vasoconstrição provocadas pelas cate-
colaminas, midríase, sialorréia e hiperglicemia.
O aumento nos valores de cortisol, provocados pela dor, poderá prejudicar a
cicatrização de feridas e causar uma baixa capacidade de ação do sistema
imune.
O cortisol é um parâmetro preciso e consistente para avaliação da resposta neu-
roendócrina ao estresse cirúrgico, indicando a presença da dor. A capacidade
de reconhecer desvios na aparência normal e de personalidade, atitude e com-
portamento, é uma parte importante para avaliar se o animal está com dor.
Dentre as alterações comportamentais podemos citar o isolamento, postura
agressiva ou submissa, depressão, agitação, inquietação, vocalização e altera-
ção da expressão facial.
Porém, independentemente se os sinais clínicos demonstram ou não a presença
de dor no animal, uma terapia analgésica deve ser instituída a partir do momento
em que se tenha dúvida de que o paciente possa estar sofrendo dor. (ACVAA,
2016; JOHNSTON, 2014).
Ford e Mazzafero (2007), afirmam que administração de analgésicos no pós-
operatório não são tão eficazes, quanto a sua utilização profilática, que irá redu-
zir a dor antes que ela ocorra, sendo assim, é necessário a instituição de doses
mais altas para atingir um nível equivalente de analgesia após o estímulo dolo-
roso.
Carrol (2008) sugere que pacientes que passaram por processos cirúrgicos de-
vem ser tratados contra a dor, por 1 a 3 dias após a cirúrgica.
É necessária uma compreensão básica sobre a fisiopatologia da dor, para que o
médico veterinário possa instituir um tratamento seguro e eficaz. (LEMKE, 2004).

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MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA
A medicação pré-anestésica (MPA) deve ser realizada antes do estímulo cirúr-
gico. A fim de propor uma analgesia adequada o suficiente e profunda o bastante
para impedir a transmissão nas vias de dor. (FOSSUM, 2008).
A MPA é utilizada pensando no preparo do animal para a anestesia, causando
sedação, analgesia e reduzindo os efeitos adversos.
Entretanto, essa analgesia não permite qualquer intervenção cirúrgica, pois não
promove uma anestesia. (FANTONI; CORTOPASSI, 2014).
A associação de um opioide com um tranquilizante é denominada neuroleptoa-
nalgesia (NLA). Esta combinação resulta em bloqueio da dor, sedação, manu-
tenção da estabilidade autonômica, neurológica e cardiovascular. (BISSON-
NETTE 16 et al., 1999; TAYLOR, 1985).
Além disso, promove sedação mais profunda do que a soma dos efeitos de dois
fármacos utilizados de forma isolada, com a vantagem de não incrementar os
efeitos colaterais e de viabilizar o uso de doses menores dos fármacos utilizados.
Os animais apresentam sonolência, porém permanecem responsivos a estímu-
los. (BREARLEY, 1994).
Fossum (2008), afirma que é importante que a analgesia se prolongue no perí-
odo pós-operatório propiciando assim um controle eficaz da dor.
As principais medicações pré-anestésicas utilizadas são:

Acepromazina
A acepromazina é um fármaco tranquilizante classificada como fenotiazínicos.
Estes agentes causam sedação, tranquilização e acentuada depressão do sis-
tema nervoso central (SNC).
Além disso, causam um efeito ansiolítico sem causar perda de consciência, di-
minuindo o limiar para convulsões. Conferem ainda, uma discreta analgesia,
mas, não permitem qualquer procedimento cirúrgico. (FANTONI; CORTOPASSI,
2014; MUIR, 2008).
Os fenotiazínicos são absorvidos por via parenteral e oral, distribuindo-se rapi-
damente pelo organismo, atravessando a barreira hematoencefálica e atingindo
o cérebro em concentrações superiores ao plasma. (MARTIN; GONZÁLES,
1988; GROSS, 2001).

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Seus derivados causam depressão na função do tronco cerebral, bloqueando os
receptores de dopamina e aumentando o turnover da dopamina. O que reduz a
excitabilidade do SNC. (WEBSTER, 2005).
Possui ação anti-histamínica, antiarrítmico por bloquearem os efeitos periféricos
das catecolaminas, antiespasmódico, adrenolítico e antiemética.
Apresenta como efeitos indesejáveis a hipotensão, por bloqueios nos receptores
periféricos alfa-adrenérgico e depressão do centro vasomotor e hipotermia, por
depressão do centro termorregulador no hipotálamo e por vasodilatação perifé-
rica. (BROCK, 1994).

Diazepam
O diazepam pertence ao grupo dos benzodiazepínicos. Estes apresentam efei-
tos hipnóticos, tranquilizantes, ansiolíticos e miorrelaxantes. Provocam amnésia
e alterações psicomotoras, agindo sobre o sistema límbico diminuindo a ativi-
dade funcional do hipotálamo e córtex, com ação sobre o ácido gama-aminobu-
tírico (GABA), como neurotransmissor inibidor do SNC, provocando um leve
efeito calmante. (MATOT et al., 1993; BETHS et al., 2001).
Possuem uma ampla distribuição pelo organismo, atravessam a barreira hema-
tocefálica e no feto alcançam concentrações semelhantes às encontradas na
mãe.
O uso destes ansiolíticos como o diazepam e midazolam pode causar redução
da dose dos anestésicos em até 50%. (MUIR et al., 2008; SPINOSA; GORNIAK,
2006).
Os benzodiazepínicos não são bons sedativos quando usados isoladamente em
animais saudáveis, podendo até produzir uma excitação paroxística, o que faz
com que o seu uso se restrinja a animais geriátricos, doentes ou debilitados.
(MURRAY; DE RUYTER; HARRISON, 1995).
Estes fármacos produzem efeitos depressores ínfimos ao nível do sistema car-
diovascular resultando em pequenas alterações na frequência e contractilidade
cardíaca, débito cardíaco e pressão sanguínea. (JONES; STEHLING; ZAUDER,
1979).
O diazepam pode ser combinado com a maioria dos anestésicos. O veículo deste
agente é o propilenoglicol, o que restringe a sua administração exclusivamente
por via intravenosa, uma vez que a sua absorção por outras vias não é constante

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nem eficaz, a administração intravenosa deve ser lenta, pois pode causar bradi-
cardia e hipotensão devido ao tipo de veículo. (MURRAY; DE RUYTER; HARRI-
SON, 1995; STIEBKE; ELLERSTON; LIND, 1976).

Midazolam
O midazolam assim como o diazepam, pertence ao grupo dos benzodiazepíni-
cos.
Este agente provoca uma discreta redução da pressão arterial, devido à resis-
tência vascular periférica diminuída e uma discreta elevação na frequência res-
piratória.
Esta droga pode ainda causar apneia transitória quando administrado pela via
intravenosa (IV) e em bolus.
Possui vantagem se comparado ao diazepam, pois sua meia-vida é curta com
uma ação hipnótica maior, portanto, ele se torna mais útil na anestesia. (FAN-
TONI; CORTOPASSI, 2014).
Por se tratar de uma benzodiazepina solúvel em água, este fármaco pode ser
administrado tanto por via intravenosa (IV), subcutânea (SC) ou intramuscular
(IM). (JONES; STEHLING; ZAUDER, 1979).

Morfina
A morfina, assim como todos os fármacos do grupo hipoanalgésicos, causa iso-
ladamente uma leve depressão sobre o SNC, pois, eleva o limiar da dor e ainda
provoca uma indiferença a ela, fazendo desaparecer o medo, apreensão e ansi-
edade. São usados no controle e prevenção da dor cirúrgica e no tratamento da
dor aguda. (HELLEBREKERS, 2002; GORNIAK, 2006).
Estes agentes causam um estado de sonolência e letargia. Exercendo ainda,
uma ação sob a maioria das células nervosas que resulta em depressão do SNC,
provocando miose, hipotermia, bradicardia e depressão respiratória em prima-
tas, cães, ratos e coelhos. (PEREIRA, 2007).
De acordo com Thurmon, Tranquilli, Benson1 (1996 apud PEREIRA, 2007) et
al., (1996) estas drogas de modo geral, provocam a liberação de hormônio anti-
antidiurético, prolactina e somatrotopina, aumento do tônus vagal, causam inibi-
ção da liberação do hormônio luteinizante, hipotensão leve, liberação de hista-

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mina, diminuição da motilidade e aumento do tônus do trato gastrointestinal, es-
pasmos dos ductos pancreáticos e biliares e do músculo liso uretral com dimi-
nuição do tônus uterino.
A morfina é classificada como um opiáceo, sendo os demais hipoanalgésicos
classificados como opioides. Produz uma boa analgesia, porém, pode causar
depressão respiratória, hipotensão devido à liberação de histamina, vômitos, oli-
gúria ocasionada pela liberação de vasopressina e bradicardia. (MUIR, 2008).
Steffey et al., (1993), citam o sistema nervoso central como o local de ação anal-
gésica e depressora respiratória da morfina, pois o centro respiratório e vaso
motor são deprimidos e o centro do vômito é estimulado.
A depressão respiratória da morfina pode durar até quatro horas causando re-
dução no volume minuto respiratório. (MASSONE, 2011).

Meperidina
A meperidina possui um período de ação que varia de 2 a 4 horas, e com potên-
cia 10 vezes menor que a morfina. Seu uso fica restrito ao controle da dor em
procedimentos rápidos. (DOHOO; DOHOO, 1996; MATHEWS, 2000). Este opió-
ide provoca menor atividade hipnótica e ação sobre o centro da tosse, quando
comparado à morfina.
A depressão respiratória é semelhante à provocada pela morfina, ocorrendo o
máximo de depressão uma hora após a administração deste agente. A meperi-
dina quando administrada em doses terapêuticas não causa efeitos significantes
no sistema cardiovascular. (TRIM, 1987).

Tramadol
O tramadol é um analgésico agonista tipo opioide de ação central. Ele causa
alterações cardiovasculares e é absorvido rapidamente por via oral. Seu período
analgésico dura cerca de 3 a 7 horas, é eliminado no leite e possui uma biodis-
ponibilidade de 68%. Possui pouco efeito deletério sobre a função cardíaca ou
depressão respiratória. (BARAKA et al., 1993).
O uso do tramadol como analgésico é indicado, no controle da dor no período
pós-operatório de cirurgias de pequeno e médio porte. (DAHL; RAEDER, 2000).
A sua importância clínica está relacionada a efeitos adversos menores do que a
morfina.

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Dentre estes podemos citar a ocorrência de vômitos, náuseas e prurido. Depen-
dência medicamentosa e euforia, não têm sido descritas como problemas signi-
ficativos nas indicações clínicas. (COETZEE; VAN LOGGERENBERG, 1998).

Xilazina
A xilazina pertence à classe dos agonistas alfa-2, que são fármacos sintéticos
que interagem com adrenoceptores do tipo alfa-2, os quais se encontram ampla-
mente distribuídos em todos os tecidos corporais. (NANNARONE et al., 2007).
É um fármaco que causa rápida indução e analgesia. Após a sua administração
em cães, normalmente ocorre bradicardia, hipotensão arterial, reduz a frequên-
cia respiratória, diminuição no débito cardíaco e elevação transitória da pressão
arterial, além de sensibilizar o miocárdio a ação das catecolaminas. Causa rela-
xamento da musculatura esquelética, reduz o tônus intestinal e possui efeito
emético, sendo este mais frequente em gatos. Provoca também uma diminuição
da atividade simpática do SNC. (FILHO et al., 2000; MUIR, 2008).
As drogas alfa2 - agonistas são os sedativos mais utilizados em animais, devido
a sua intensa sedação e analgesia, contribuindo ainda para uma indução mais
suave.
Em cães a xilazina é comumente empregada associada com a cetamina, tanto
para contenção química quanto para a realização de pequenos procedimentos
cirúrgicos. (FANTONI; OTSUKI, 2008).

AGENTES ANESTÉSICOS
Os fármacos anestésicos são usados na indução e manutenção anestésica. A
indução anestésica é definida como o momento que segue a MPA. É caracteri-
zada pela administração de agentes que causam inconsciência e abolição dos
reflexos do paciente. (WATERMAN; LUCKE, 1989). Para promover a manuten-
ção da anestesia pode-se usar desde fármacos intravenosos até drogas inalató-
rias. (MUIR, 2008).

Tiopental
O tiopental sódico é classificado dentro dos barbitúricos como tiobarbitúrico, de
ação curta, hipnótico e agente indutor, de uso intravenoso, porém não apresenta
ação analgésica concomitante. Este possui alta solubilidade lipídica da fração

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não ionizada, que é uma propriedade primária deste anestésico, permitindo-lhe
atravessar a barreira placentária e hematocefálica. (ANKER-MÜLLER, 1991;
HELLYER, 2003). Possui efeito rápido, porém sua biotransformação é lenta e
doses sucessivas levam ao efeito cumulativo. (BRANSON, 2007). O principal
efeito desse anestésico intravenoso é a depressão do SNC. (BRANSON, 2007)
causando desde leve sedação até completa depressão bulbar, sendo tal evento
dependente da dose empregada. (FANTONI, 2009).
Os tiobarbitúricos quando utilizados na indução anestésica provocam taquicardia
e aumento da resistência vascular periférica. (SCHULTETUS; PAULUS;
SPOHR, 1985), pode ainda ocorrer redução do débito cardíaco, devido pressão
direta sobre o miocárdio, gerando hipotensão logo após a sua administração,
depressão respiratória e apneia transitória. (SWART, 1985).
A recomendação do tiopental em cães, é que este seja administrado de forma
rápida, ou metade da dose rápida e o restante gradativamente (MASSONE,
2011).
A injeção lenta desse agente pode exigir a um aumento na dose, devido a sua
característica de redistribuição rápida.
A administração deste barbitúrico em intervalo de tempo muito curto ocasiona
efeitos adversos como apnéia e taquicardia acentuada, enquanto a injeção em
períodos longos pode gerar uma duração do efeito inferior ao esperado. (HALL,
CLARKE; TRIM, 2001).

Propofol
O propofol é um agente não-barbitúrico que pertence ao grupo dos alquil-fenóis.
É um agente de ação rápida e ultracurta devido a sua natureza lipofílica que
permite sua chegada instantânea ao SNC. Apresenta propriedades hipnóticas e
sedativas, por meio da interação com o sistema neurotransmissor inibitório do
ácido-aminobutírico (GABA) e mínimas propriedades analgésicas. (GLEN, 1980;
SMITH et al., 1994). Este ainda não proporciona sedação pós-operatória como
ocorre com os barbitúricos. (KING et al., 1992).
Após administrado uma única dose desse anestésico intravenoso, a sua concen-
tração plasmática diminui, devido à redistribuição para o cérebro e outros tecidos
altamente irrigados para os menos perfundidos.

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Essa taxa de clearance plasmático inicial do propofol é similar à do tiopental, que
apresenta uma taxa de biotransformação dez vezes mais lenta que a do propofol.
(SHAFER, 1993).
Em comparação com outros agentes anestésicos intravenosos, o propofol pos-
sui ampla margem de segurança em cães e gatos, não provoca efeitos excitató-
rios, e causa pouco efeito sobre o sistema cardiovascular, tem rápido metabo-
lismo e não tem efeito cumulativo após sua administração em infusão contínua.
(MCKELVEY; HOLLINGSHEAD, 1994 apud LAVOR, 2004)

Cetamina
A cetamina e a tiletamina fazem parte dos derivados da fenciclidina, que produ-
zem uma anestesia dissociativa. São empregados geralmente em associação
com agentes, como benzodiazepínicos ou alfa dois- agonistas. Os anestésicos
dissociativos causam interrupção seletiva dos estímulos aferentes sensórias no
tálamo e estimulam respectivamente as regiões límbicas que são responsáveis
pela excitação psicomotora, induzindo assim a anestesia. (VALADÃO, 2002; MA-
NICA, 2008).
Estes fármacos produzem o estado conhecido como catalepsia. Este estado é
gerado por depressão do SNC e amnésia de modo que o animal não responda
a estímulos externos, há ainda ausência de relaxamento muscular principal-
mente quando seu uso se faz de forma isolada. (LIN, 2007).
A cetamina é um composto hidrossolúvel, com pH aproximado de 3,5, o que gera
irritação e dor local quando aplicada IM. Possui como propriedades anestésicas
a manutenção de reflexos protetores, analgesia somática e intensa devido ao
bloqueio da condução de impulsos dolorosos ao tálamo e áreas corticais e pouco
relaxamento muscular. (ANIS et al., 1983). Pode causar ainda depressão dose-
dependente do sistema respiratório. Diminui a frequência respiratória, tornando
a respiração arrítmica. No sistema cardiovascular provoca taquicardia, aumento
da pressão arterial, resistência vascular periférica, pressão intracraniana e intra-
ocular. (FANTONI; CORTOPASSI; BERNARDI, 2014).

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Tiletamina- Zolazepam
A associação de tiletamina e zolazepam é disponível comercialmente na forma
liofilizada, contendo partes iguais de cada princípio ativo. (LIN et al., 1992). Este
fármaco caracteriza-se pela associação de anestésico dissociativo com um ben-
zodiazepínico, respectivamente.
A tiletamina foi selecionada, devido a sua longa duração e seu potente efeito
analgésico.
O zolazepam foi associado a este anestésico, por apresentar miorrelaxamento,
potente atividade anticonvulsivante, por produzir amnésia, mínima depressão
cardiorrespiratória e reduzida catalepsia. Esta associação provoca em cães ta-
quicardia, e o uso de atropina é desaconselhável nestes casos. (LIN et al., 1992;
MASSONE, 2011).

Isoflurano
O isoflurano é classificado como anestésico inalatório. Este tipo de anestesia é
obtida pela absorção do princípio ativo pela via respiratória, chegando à circula-
ção sanguínea e posteriormente atingindo o SNC, promovendo anestesia geral.
(OLIVA, 2010).
É provavelmente o anestésico inalatório mais utilizado na medicina veterinária,
em cães, gatos, equinos e pássaros. Apresenta efeitos anticonvulsivantes, e a
depressão sobre o sistema cardiovascular ocorre de maneira dose dependente,
causando diminuição do débito cardíaco.
No sistema respiratório, provoca depressão, que também está associada à dose
e ao tempo. A depressão respiratória que ocorre na anestesia pelo isoflurano
pode ser aumentada em virtude da administração conjunta com opioides. (STEF-
FEY, 2013).

Anestesia Epidural
A anestesia epidural, consiste em uma anestesia regional, segmentar e tempo-
rária, produzidas por anestésicos locais que são depositados no canal espinal,
ao redor da dura-máter.
O seu modo de ação inicia-se, através do espaço epidural onde serão atingidos
os nervos espinais que passam pelos forames intervertebrais, gerando bloqueio

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dos ramos nervosos e gânglios, difusão na dura-máter e absorção seletiva e di-
fusão nos ramos ventrais e dorsais. (CORTOPASSI, 2011).
A utilização da analgesia por via epidural no transcirúrgico proporciona controle
da dor satisfatória, necessitando de um plano anestésico mais superficial, mini-
mizando os efeitos observados em planos profundos, onde há intensa depressão
respiratória e cardiovascular. (PACHARINSAK et al., 2003).
Os fármacos administrados pela via epidural irão difundir-se através dos vasos
linfáticos durais localizados nas raízes dorsais da medula, ocorrendo assim uma
distribuição da droga pelo canal espinhal. (THURMON; TRANQUILLI; BEN-
SON,1996 apud PEREIRA, 2007).
Como vantagem da anestesia epidural pode-se citar a possibilidade de realizar
uma técnica segura, mesmo por profissionais que não possuam aparelhagem
sofisticada para uso rotineiro em clínicas particulares. (CARVALHO; LUNA,
2007) e promoção de analgesia pós-operatória.
No entanto, esta pode causar redução do débito cardíaco, depressão do miocár-
dio em níveis altos de anestésico local e vasodilatação arteriolar com vasocons-
trição compensatória.
Esse tipo de anestesia é indicado para pequenos animais em cirurgias obstétri-
cas, pacientes de alto risco, cirurgias abdominais retro umbilicais e animais que
devem permanecer acordados durante a operação.

PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS AVALIADOS


Cesariana
Não se pode afirmar, que haja uma técnica ou anestésico ideal para todos os
procedimentos anestésicos em gestantes. Sendo assim, a escolha de um proto-
colo seguro deve se constituir no conhecimento das alterações fisiológicas alte-
radas pela prenhes, nos efeitos diretos e indiretos sobre o feto, farmacologia das
drogas e sobre tudo nos benefícios e riscos que esta técnica pode trazer (OLIVA,
2009).
No final da gestação espera-se que a cadela tenha um parto normal, contudo,
quando isso não acontece, é necessário o uso da intervenção médica, que deve
ser a mais adequada e segura possível, pensando na vida dos recém-nascidos
e da mãe. (FREITAS, 2011).

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Nos últimos 40 anos, a mortalidade de cadelas submetidas a cesarianas, caiu
de 13% para 1%. Esse avanço se deve provavelmente aos avanços científicos
e tecnológicos na medicina veterinária, sobretudo na área de anestesiologia ve-
terinária. (OLIVA, 2010).
A cesariana em cadelas e gatas como um procedimento emergencial no Brasil
ocorre com bastante frequência devido ao baixo nível socioeconômico e a falta
de esclarecimento do proprietário, fazendo com que a gestante só seja levada
tardiamente ao médico veterinário. (OLIVA, 2009).
As drogas utilizadas nos protocolos anestésicos em cesarianas provocam de-
pressão das funções vitais nos neonatos, causando assim uma dificuldade na
adaptação a vida extrauterina, pois estes fármacos atravessam rapidamente a
barreira placentária. (SANTOS et al., 2007).
Desta forma, independentemente da via de administração, os fármacos anesté-
sicos irão atravessar a barreira placentária rapidamente. (MASSONE, 2011). A
circulação fetal é de extrema importância, pois todas as drogas que atravessam
a barreira placentária, são metabolizadas pelo fígado do feto, que possui uma
atividade microssomal hepática deficiente e função renal imatura, isto dificulta
que qualquer composto lipossolúvel se transforme numa forma hidrossolúvel,
contudo, tornam as taxas de excreção dos anestésicos baixas pelos neonatos.
(MASSONE, 2011; LAVOR, 2004).
O principal objetivo anestésico em pacientes que necessitam de cesariana é
anestesiar de forma adequada e segura a mãe, sem colocar a vida dos fetos em
risco, 25 assegurando assim o nascimento de neonatos vigorosos. O uso de
substâncias que venham a deprimir a mãe, também irão causar depressão fetal.
(FOSSUM, 2008; BROCK, 1994).

Ováriosalpingohisterectomia
A população animal tem aumentado muito ao longo dos anos e a conscientiza-
ção sobre a necessidade de um controle de natalidade nos animais domésticos
realizada pela castração, sobretudo em cadelas, é uma conduta humanitária e
justificável.

16
A ováriosalpingohisterectomia (OSH) constitui na retirada do útero e ovários. É
a técnica cirúrgica mais realizada nas clínicas médicas veterinárias, onde na re-
moção deste complexo observam-se reações indesejadas relacionadas com es-
tímulos nociceptivo causados pela manipulação visceral.
Segundo Fossum (2008), a recomendação primária para ovariosalpingoisterec-
tomia é reduzir a reprodução, porém ela também pode ser indicada para aliviar
a distocia, na prevenção de tumores induzidos pelos hormônios reprodutivos e
controlar doenças do trato reprodutivo.
Inúmeros protocolos anestésicos podem ser utilizados nas cirurgias eletivas de
OSH em cadelas, contudo é necessária uma técnica equilibrada a fim de ofere-
cer uma anestesia e analgesia adequadas. (FOSSUM, 2008).

Mastectomia radical unilateral em cadelas


Dentre as neoplasias que acometem as cadelas, as mais comuns são as neo-
plasias mamárias. Essa incidência aumenta pelo uso de progestágenos injetá-
veis em fêmeas, com o intuito de se prevenir o estro. (FERNANDES; NARDI,
2015).
A etiologia da neoplasia da glândula mamária ainda é desconhecida. Contudo, a
grande maioria dessas neoplasias é hormônio-dependente, e podem ser evita-
das se a castração ocorrer antes de um ano de idade.
Em cadelas castradas antes do primeiro ciclo estral o risco de desenvolvimento
de neoplasias mamárias é de 0,05%, este valor sobe para 8% quando estas são
castradas após o primeiro estro, e 26% 26 após o segundo estro. (MORRISON,
1998 apud MACEDO, 2011).
Porém, Fonseca e Daleck (2000), relatam que a neoplasia mamária em cadelas
é uma ocorrência que já foi programada nos primeiros anos de vida, portanto,
não é influenciada pela diminuição do estímulo hormonal na maturidade.
A mastectomia radical unilateral constitui na remoção de todas as glândulas ma-
márias, tecido subcutâneo e linfonodos associados de um lado da linha média.
Ela é efetuada quando diversos tumores são identificados ao longo da cadeia,
pois a reincidência local é comum. Pode ser realizada em um tempo menor e
causar menos traumatismos que diversas nodulectomias. (FOSSUM, 2008).

17
Na cirurgia de mastectomia há uma grande variedade de anestésicos disponí-
veis, porém, a anestesia geral é pouco estressante para o paciente em relação
à anestesia local. Se na cirurgia for retirada uma grande área de tecido, a possi-
bilidade de utilização de um opióide por via epidural no pré e pós-operatório deve
ser considerada. (FOSSUM, 2008)

ANESTESIA
Anestesia, do grego anaesthesia, que significa” insensibilidade” é o termo usado
para descrever a perda de sensibilidade total ou parcial provocado por agentes
anestésicos ou sedativos.
A anestesia é um procedimento pelo qual o animal passa por um estado de in-
consciência induzido por fármacos que caracterizam por determinados sinais
como depressão do sistema nervoso central (SNC) e analgesia que podem ser
controlados e reversíveis o qual o paciente não é despertado por estímulos do-
lorosos (MUIR, 2007).
Oliver Hendell Homes (1846) introduziu pela primeira vez o termo anestesia, tal
termo era definido como um estado reversível de insensibilidade a dor.
Hoje em dia, o conceito de anestesia baseia-se na produção de uma inconsci-
ência reversível, seguido por uma intoxicação controlada do Sistema Nervoso
Central (SNC), por intermédio do uso de agentes anestésicos (MCKELVEY;
HOLLINGSHEAD, 2000).
A anestesia é um procedimento pelo qual o animal passa por um estado de in-
consciência induzido por fármacos que caracterizam por determinados sinais
como depressão do sistema nervoso central (SNC) e analgesia, que podem ser
controlados e reversíveis e do qual o paciente não é despertado por estímulos
dolorosos (MUIR, 2007).
Horta, (2012), descreve o anestésico ideal como aquele que não depende do
metabolismo do animal para terminação de sua ação e eliminação, permite uma
indução, alteração da profundidade anestésica e recuperação rápida, não de-
prime a função cardiopulmonar.
Além disso, este anestésico não é irritante para qualquer tecido, é barato, está-
vel, não inflamável e não explosivo e não requer equipamento especial. Uma
anestesia considerada de qualidade é aquela que proporciona inconsciência,

18
analgesia e relaxamento muscular, porém deve-se ter conhecimento de que atu-
almente nenhum fármaco utilizado isoladamente proporciona tais características
sem provocar grandes efeitos adversos (CUBAS; CATÃO- DIAS; SILVA, 2014).
Dessa forma, as associações anestésicas têm ganhado popularidade entre os
profissionais anestesistas por oferecerem vantagens sobre os anestésicos tradi-
cionais, tais como redução da dose, o retorno mais rápido, e fácil administração
por terem ações decorrentes das propriedades conjugadas dos seus componen-
tes catalepsia, analgesia e rápida anestesia sem agitação, seguida de relaxa-
mento muscular (THUMON; TRANQUILI; BENSON, 1996).
A utilização de associações de agentes farmacológicos na pré-anestesia e anes-
tesia geral, traduz numa anestesia balanceada, onde os efeitos desejados estão
presentes como estado de inconsciência, analgesia e relaxamento muscular são
acompanhados pelo equilíbrio das funções vitais. Para que tal efeito possa ser
estabelecido, é fundamental determinar os riscos anestésicos (HORTA, 2012).
No entanto, nenhum anestésico combina todas estas qualidades, e a escolha
deve ser ponderada para cada situação, tendo como principal preocupação a
segurança do animal.
Frequentemente são usados dois ou mais tipos diferentes de agentes neuroati-
vos, com o objetivo de atingir uma anestesia com a melhor qualidade possível e
com efeitos secundários mínimos, por meio da sinergia de efeitos benéficos ou
do antagonismo de efeitos indesejáveis.
A escolha dos fármacos, doses e via de administração é condicionada por diver-
sos fatores, como a espécie, a acessibilidade e o tipo de procedimento, além das
variações individuais como idade, peso, atitude, estado de saúde ou estado de
jejum, e ainda fatores ambientais e disponibilidade de pessoal auxiliar e de equi-
pamento (GUNKEL; LAFORTUNE, 2007).
A agressividade, o estresse, a dificuldade na captura e a contenção de animais
silvestres, têm exigido pesquisas e cuidados na escolha de um fármaco que
apresente propriedades ideais que facilitem e favoreçam um estado ótimo de
tranquilização ou anestesia dos indivíduos (FIALHO, 1986; SILVA; FERREIRA,
1994).
Conhecer os procedimentos anestésicos deve ser comum a todos os médicos
veterinários que trabalham com espécies exóticas e selvagens. Procedimentos
simples como coleta de material, limpeza dentária até os mais complexos pode

19
requerer o uso de agentes anestésicos. Dessa forma, o veterinário deve estar
familiarizado com protocolos anestésicos utilizados em cada espécie animal.
Deve se ter cautela em utilizar um mesmo protocolo para diferentes grupos ta-
xonômicos, pois é comum ocorrer variações e dessa forma poder gerar efeitos
adversos que são indesejados durante a anestesia.
A anestesia em animais selvagens apresenta enormes desafios em comparação
a anestesia de animais domésticos, especialmente em relação aos métodos de
contenção farmacológica e a abordagem do paciente. Contudo, tais desafios po-
dem ser superados com o conhecimento das características particulares da es-
pécie a ser anestesiada, dos agentes anestésicos empregados e do planeja-
mento, assim como, realizar um bom exame clínico, avaliação pré-anestésica e
uma adequada monitoração dos parâmetros trans-anestésico (FLÔRES et al.
2008).
Flôres, et al. (2008) relata ainda que para obter sucesso de um procedimento
anestésico em animais selvagens é necessário conhecer as particularidades das
espécies, além da anatomia e fisiologia.
Os procedimentos anestésicos nestes animais requerem paciência, planeja-
mento, além do conhecimento dos agentes anestésicos.
Devido crescente interesse e demanda em conservação de animais silvestres,
houve a necessidade de conhecer os procedimentos anestésicos nessas espé-
cies (GUIMARES & MORAES, 2000). Contudo, há carência de informações em
relação aos agentes, suas doses, efeitos adversos e técnicas que garantam se-
gurança anestésica e analgesia aos animais selvagens (HIRANO, 2011).

Anestesia em Animais Selvagens


Estima-se que existem no Brasil mais de 11 mil espécies de mamíferos, aves,
répteis anfíbios e peixes.
Contudo, para várias espécies selvagens há pouco ou nenhum registro sobre
informações fisiológicas como parâmetros cardíacos e respiratórios e sobre os
protocolos anestésicos utilizados.
Certamente não há na literatura métodos de contenção química ou associações
de agentes anestésicos para animais selvagens que sejam completamente se-
guros, porém se os parâmetros fisiológicos forem quantificados, documentados

20
e publicados, os médicos veterinários terão maior segurança em estabelecer
protocolos anestésicos mais eficaz em determinada espécie (HORTA, 2012).
Em animais selvagens a anestesia é frequentemente usada para imobilização,
dessa forma, os agentes anestésicos são utilizados como método de contenção
química quando se deseja realizar procedimentos tais como exames de rotina,
tratamento de doenças, coletas de amostras biológicas para exames laboratori-
ais, exames de imagens e procedimentos cirúrgicos (HORTA, 2012).
Os primeiros relatos de anestesia em animais selvagens estão relacionados aos
povos sul-americanos e africanos através da utilização de dardos ou flechas usa-
das durante a caça embebidos em substâncias, que ao produzirem seus efeitos,
facilitavam a captura do animal. Os primeiros observadores da vida selvagens
usavam agentes que bloqueavam a junção neuromuscular para a captura de
animais de vida livre, esses fármacos causavam paralisia da musculatura esque-
lética, provocando parada respiratória. Sabe-se que esse método não é mais
empregado devido seus efeitos adversos. (CUBAS, CATÃO- DIAS; SILVA,
2014).

Protocolos anestésicos empregados em Animais Selvagens e exóticos


Medicação Pré-anestésica
O sucesso de uma anestesia depende da medicação pré-anestésica. Os fárma-
cos utilizados para a medicação pré-anestésica (MPA) ajudam a preparar o pa-
ciente para a indução anestésica, eles promovem relaxamento muscular, seda-
ção, analgesia, minimizando os possíveis efeitos adversos da anestesia, além
de proporcionar segurança para o anestesista.
Para a escolha da MPA, deve-se tomar em conta o tipo de procedimento a ser
realizado, presença de dor, temperamento do animal, estado geral do paciente
e o grau de sedação requerido.
A medicação pré-anestésica possui como objetivo permitir uma indução suave e
segura e ainda, como vantagens na utilização desses agentes, incluem a dimi-
nuição da dor durante o procedimento cirúrgico, diminuição das doses dos agen-
tes de indução e a diminuição dos efeitos adversos como náuseas, excitação,
bradicardia e salivação (NUNES & LAUS, 1995).

21
Dentre os objetivos para utilização de medicação pré-anestésica (MPA), pode
ser citado a potencialização do efeito dos agentes anestésicos; controlar o se-
gundo estágio da anestesia; promover indução e recuperação suave do paci-
ente; diminuir os efeitos adversos dos anestésicos; proporcionar sedação, anal-
gesia e relaxamento muscular; diminuir as secreções das vias áreas; e diminuir
o estresse (FANTONI, 2010).

Benzodiazepínicos
Os agentes que compõem o grupo dos benzodiazepínicos atuam modulando a
neurotransmissão mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA) que é o prin-
cipal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central (SNC).
Esses agentes causam tranquilização, relaxamento muscular e alterações psi-
comotoras, tendo sido relatados que a administração de midazolam em doses
mais altas que as recomendadas, por via IV, causaram efeitos hipnóticos mais
acentuados em coelhos quando usados isoladamente.
O benzodiazepínico (BZD) foi sintetizado em 1950 pelo Dr. Leo Sternbach e,
segundo Forsan (2010), despontam como o maior grupo de agentes sedativos e
o mais utilizado no mundo, devido à alta eficiência terapêutica e os baixos riscos
de intoxicação.
Conforme refere Mate (2012), esses agentes causam depressão da atividade
motora, diminuindo a ansiedade e induz ao sono.
Fantoni (2010) descreve os agentes BZD como de alta solubilidade e de absor-
ção rápida, porém a absorção pode ser lenta quando administrado por via IM,
possuem ainda, alta taxa de distribuição e atravessam a barreira hematoencefá-
lica com facilidade.
Dentre os BZD, o Diazepam é o agente mais utilizado, porém ele não é solúvel
em água e sensível a luz, apesar de ser irritante, sendo muito utilizado em con-
junto com a cetamina, ao propofol, ao etomidato e a opioides para se realizar a
indução.
O midazolam, outro fármaco BZD, possui efeitos mais desejados quando utiliza-
dos em protocolos para animais selvagens, promovendo analgesia mais eficaz
quando comparado ao Diazepam, além de não causar irritação quando adminis-
trado por via IM. Seu uso é indicado em protocolos injetáveis para roedores e
lagomorfos.

22
Fenotiazínicos
Os fenotiazínicos possuem característica sedativa e miorrelaxante agindo atra-
vés do bloqueio da neurotransmissão de serotonina e dopamina no sistema ner-
voso central. São classificados como antipsicóticos ou neurolépticos por causa-
rem efeito de tranquilização leve fazendo com que o animal não se desligue do
meio ambiente (ARENA et al. 2009).
Os derivados fenotiazínicos além de causarem tranquilização e sedação, promo-
vem depressão do SNC agindo na substância mesencefálica interferindo sobre
o ciclo de sono e respostas nociceptivas do paciente. Proporciona também leve
analgesia, contudo, tal analgesia não permite a intervenção de métodos invasi-
vos. Dentre as características dos fenotiazínicos, destacam-se o efeito sedativo,
ações simpatolítica, anti-histamínica, ansiolítica e antiespasmódica.
Os fenotiazínicos mais empregados são a Clorpromazina, Levopromazina e ace-
promazina. A Clorpromazina reduz o metabolismo basal, previne o vômito, dimi-
nui a temperatura e o tônus vaso-motor, promovendo, assim, a tranquilização.
Contudo, causa uma pequena diminuição da contratilidade cardíaca.
A Levopromozina causa hipotensão, possui ação antiespasmódica, anti-histamí-
nica e também antiemética (MASSONE, 2011). A acepromazina é um dos agen-
tes do grupo das fenotiazinas mais usados em animais selvagens (SWAN, 1993).
A pressão arterial (PA) diminui acentuadamente após sua aplicação devido à
redução da resistência vascular sistêmica. É um agente potente que deprime o
SNC, diminuindo a atividade motora espontânea através do bloqueio dos recep-
tores dopaminérgicos nos gânglios basais e sistema límbico. Seu uso deve ser
feito com precaução em animais debilitados, fracos, idosos ou cardiopatas
(HORTA, 2012).
Segundo Swan (1993), a Acepromazina tem sido usada em animais selvagens
para tranquilização, imobilização e como MPA.
Para anestesia geral, sendo de suma importância para reduzir o estresse de
animais ansiosos ou agressivos, além de reduzir a dose dos anestésicos de in-
dução e diminui a sensibilidade do miocárdio às catecolaminas promovendo a
redução de arritmias ventriculares. Para obter o efeito desejado após a adminis-
tração de Acepromazina é necessário que os animais não sejam estimulados
sensorialmente durante a ação do fármaco (HORTA, 2012).

23
Agonistas α2-Adrenégicos
Esse grupo de fármacos promove sedação, relaxamento muscular e analgesia.
O mecanismo de ação ocorre quando se ligam aos receptores α2-adrenérgicos
pré e póssinápticos de tecidos neuronais, assim, inibi a liberação de catecolami-
nas da fenda sináptica e a neurotransmissão.
Fantoni (2010) relata que além de causar depressão diminuindo a liberação de
noradrenalina central e periférica, tendo efeito direto desta ação a diminuição da
atividade simpática do SNC, promovendo sedação, hipnose, ataxia.
Proporciona relaxamento muscular e sedação bem mais acentuada quando
comparadas a outros agentes sedativos utilizados na medicação pré-anestésica.
Os agentes pertencentes ao grupo dos agonistas α2-adrenérgicos são muito uti-
lizados como medicação pré-anestésica, no tratamento da dor, na anestesia epi-
dural, e ainda promovem sedação, miorrelaxamento e analgesia e são ampla-
mente utilizados na medicina veterinária (BRAGA, 2012).
Ressalta-se que administração de agonistas α2-adrenérgicos resulta em efeitos
adversos indesejados como efeitos hemodinâmicos (vasodilatação e taquicar-
dia), por isso sua administração deve ser feita com cautela, sendo também ne-
cessário que os agentes sejam calculados cuidadosamente e sua administração
feita preferencialmente pela via IM, salvos casos em situação de emergência
(LEMKE, 2007).
O uso dos agonistas α2-adrenérgicos promove efeitos cardiovasculares devido
a inibição do tônus simpático produzido pela redução da liberação de noradre-
nalina, favorecendo a atividade do sistema nervoso parassimpático, via acetilco-
lina causando alterações na frequência cardíaca, bloqueios atrioventriculares e
redução no débito cardíaco.
Já os efeitos respiratórios incluem depressão respiratória devido à redução dos
movimentos respiratórios (MURRELL; HELLEBREKERS, 2005). Pertencem a
este grupo a xilazina, detomidina, medetomidina, dexdetomidina, clonidina e
romifidina, sendo a xilazina e a detomidina os mais utilizados na rotina veteriná-
ria. As vias de administração são bastante variadas e estes fármacos são usados
em quase todas as espécies domésticas e selvagens (BRAGA, 2012).

24
Opioides
Os opioides são potentes analgésicos, possuindo boa ação sedativa e ansiolí-
tica. Contudo, pode ocorrer efeitos como euforia, disforia e alucinações, além de
deprimir o sistema respiratório, promover bradicardia e hipotensão. Náuseas, vô-
mitos e liberação de histamina são efeitos adversos comuns na utilização de
morfina (TRIVEDI et al. 2007).
Os opioides podem ser utilizados na MPA ou na anestesia dissociativa para pro-
mover analgesia e aumentar os efeitos sedativos de outros medicamentos.
Entre os opioides utilizados na medicação pré-anestésica estão a morfina, mepe-
ridina, metadona e o butorfanol.
A morfina, possui grande ação analgésica com duração de até 6 horas e leve
efeito sedativo. A metadona está sendo bastante usada em animais selvagens
devido ao potencial de promover analgesia e sedação por um tempo maior, con-
tudo, promove bradicardia (TRANQUILLI; THURMAN; GRIMM, 2007).

Anestesia Dissociativa
Os agentes dissociativos destacam-se entre as classes de fármacos anestési-
cos, sendo a cetamina o principal representante do grupo (FRANCO, 2008).
A cetamina é um derivado da fenciclidina, sendo muito utilizada na anestesia de
pequenos e grandes animais (LUNA et al., 2000; SOUZA et al. 2008).
A cetamina foi inserida na medicina humana há mais de três décadas com a
expectativa de ser empregada como agente único que promovesse analgesia,
perda de consciência e imobilidade (SOUZA et al. 2008).
É o agente mais empregado na contenção de animais selvagens. Entretanto,
possui efeitos colaterais como convulsões, comportamento maníaco e hiperter-
mia, em doses altas pode provocar depressão respiratória (PACHALY, 2000).
Devido alguns efeitos adversos como pouco relaxamento muscular, recuperação
prolongada e alta salivação, não sendo recomendado o uso da cetamina de
forma isolada (SOUZA et al. 2008).
Dos protocolos mais empregados em animais, a associação de xilazina-ceta-
mina é considerada uma das mais populares técnicas utilizadas para realização
de vários procedimentos cirúrgicos (LUNA et al. 2000; SOUZA et al. 2008).

25
Estudos relatam que a cetamina promove alterações diretas e indiretas sobre o
coração, quando da utilização de forma isolada ou em associações com outros
agentes (FRANCO, 2008).
Os efeitos desse agente dissociativo são produzidos por bloqueio dos estímulos
sensitivos na região do tálamo, dissociando o córtex cerebral de maneira seletiva
(SCHWNDER et al. 1994).
Souza et al. (2008) relata que o cloridrato de tiletamina é um agente dissociativo
que possui efeitos similares às da cetamina e que é encontrado sempre associ-
ado a um benzodiazepínico, o zolazepam cuja finalidade é minimizar ou bloquear
os efeitos adversos.

Anestesia Inalatória e Anestesia Intravenosa


Anestesia Inalatória
A anestesia inalatória é comumente usada para procedimentos prolongados
onde se requer a manutenção anestésica, dentre os anestésicos inalatórios, o
isoflurano e o servoflurano são os agentes mais utilizados deste grupo, sendo os
anestésicos de escolha por serem de fácil controle e pela recuperação rápida,
além da baixa taxa de metabolização quando comparada a da anestesia intra-
venosa total (MOUTINHO, 2010).
Os anestésicos inalatórios agem diminuindo a ação do glutamato que é o princi-
pal neurotransmissor excitatório do SNC essa diminuição leva a estimulação dos
neurotransmissores inibitórios GABA.
Tal efeito leva a inconsciência, analgesia e relaxamento muscular. Os agentes
inalatórios produzem depressão do miocárdio, vasodilatação e hipotensão de
maneira mais acentuada quando comparada aos agentes injetáveis, porém tais
efeitos são diminuídos com a utilização de protocolos balanceados (FANTONI,
2010).
A difusão dos agentes anestésicos voláteis para o SNC depende da sua solubi-
lidade no sangue.
A solubilidade é representada pelos coeficientes de partição sangue/gás e san-
gue/SNC. Quanto menor é o coeficiente de partição sangue e ar do agente anes-
tésico, mas rápida é a indução e recuperação da anestesia.
O isoflurano é pouco arritmogênico, ou seja, não sensibiliza o miocárdio para as
catecolaminas, é pouco metabolizado no organismo, por isso não afeta os rins

26
ou o fígado, sendo uns dos fármacos anestésicos mais seguros disponíveis em
veterinária.
Promove indução e recuperação rápidas. Pode causar depressão respiratória e
hipotensão quando as doses são maiores que as recomendadas (ALEXANDRE
et al. 2008).
O halotano, outro agente halogenado inalatório, tem como vantagem a indução
e recuperação rápidas, além de ser um agente mais barato, entretanto, deve ser
usado com precaução em pacientes hipovolêmicos, com hiperexitabilidade ven-
tricular e disfunção hepática (MOUTINHO, 2010).

Anestesia Intravenosa
O uso da anestesia intravenosa, nos últimos anos, se deve ao fato da inserção
de novos fármacos, assim como pelo desenvolvimento de novas técnicas, como
a infusão contínua por meio de bombas de infusão. Além de proporcionar esta-
bilidade hemodinâmica, redução do estresse cirúrgico e a diminuição da poluição
da sala cirúrgica (HATSCHBACH, 2007).
O propofol é um derivado alquil-fenótico de baixa solubidade em água (SHAFER
& STANKI, 1991), biotransformado por conjugação hepática, ligado ao metabo-
lismo extrahepático, nos pulmões, intestino e rins, após a sua eliminação, pro-
duzindo metabólitos inativos (ROBERTSON et al. 1992). Esse agente possui rá-
pido efeito, promovendo rápida perda de consciência, entre 20 a 40 segundo
(PIRES et al. 2000).
Goodchild & Serrão (1989), relataram que um dos efeitos do propofol após a
indução é a diminuição da pressão arterial associada com a diminuição do débito
cardíaco e da resistência vascular periférica.
Geanotti et al. (2008), descreve este fármaco como um anestésico injetável dis-
tinto das outras drogas anestésicas, considerando uma rápida indução anesté-
sica, boa recuperação com poucos efeitos residual, mas destaca efeitos adver-
sos como depressão respiratória e hipotensão.
Robertson et al. (1992), relatou que animais induzidos com propofol desenvolve-
ram apnéia após a indução, entretanto, a pressão arterial não sofreu alterações.

27
ESPÉCIES DO ESTUDO SUBMETIDAS A PROCEDIMENTOS ANESTÉSICOS
Lagomorfos
Os coelhos pertencem à Ordem lagomorfa a qual pertence duas famílias; a Or-
chotinidae e a leporidae. Este grupo difere dos roedores por possuírem duas
linhas de incisivos e as arcadas maxilares serem afastadas que as arcadas man-
dibulares.
Os conhecimentos dos parâmetros fisiológicos desta ordem, são muito impor-
tantes e devem ser analisados durante a avaliação pré-anestésica. Os lagomor-
fos são animais de sangue quente, classificados como homeotérmicos, possuem
o metabolismo acelerado e por isso são necessárias maiores doses anestésicas.
A temperatura corporal no animal adulto varia entre 38,5 a 40ºC; a frequência
respiratória normal varia entre 32 e 60 respirações/minuto e a frequência cardí-
aca 180-333 bpm (CUBAS, CATÃO- DIAS; SILVA, 2014).
A mortalidade decorrente da anestesia é relativamente baixa nesta espécie
0,75% em animais saudáveis e 7,37% em animais doentes (MOUTINHO, 2010;
BRODBELT, 2009).
Os principais problemas causados pela anestesia são o estresse e a hipóxia. Os
lagomorfos 20 possuem resposta lábil e bastante estabilidade as dosagens
anestésicas, a eliminação do agente e o retorno anestésico são rápidos (RI-
VOIRE, 2004).
Os coelhos possuem crescimento contínuo dos dentes, mas do incisivo é parti-
cularmente rápido. Podendo desenvolver problemas odontológicos ligados a má
oclusão bucal, sendo esta umas das principais queixas clínicas e a que possui
considerável número de atendimentos que requer o uso de agentes anestésicos
como extração dentária (GIOSO, 2007).
Outro procedimento comum em lagomorfos é a castração, pois a espécie atinge
a maturidade sexual aos 4 a 6 meses de idade, os ciclos de ovulação duram em
torno de 7 a 14 dias até a concepção podendo gerar entre 2 a 9 láparos (WAL-
TER, 2018).
Manejo Anestésico
Para se reduzir os riscos anestésicos deve-se realizar o exame clínico com pre-
caução, evitar causar estresse no paciente, jejum por apenas 2 horas. Em pro-
cedimentos cirúrgicos o paciente deve ser posicionado com uma ligeira inclina-
ção. Para possibilitar que a cabeça fique um pouco elevada em relação aos

28
membros pélvicos, reduzindo a pressão dos órgãos abdominais sobre o dia-
fragma.
O paciente deve ser pré-oxigenado segundos antes da indução anestésica, as-
sim como, recomenda-se a intubação, pois os coelhos tendem a apresentar ap-
neia de indução e apneia durante o procedimento cirúrgico. A intubação deve
ser feita por um médico veterinário experiente devido à dificuldade de realizar
esta técnica nesses animais e não pode ultrapassar 3 tentativas, pois pode levar
ao laringoespasmos e óbito (CUBAS; CATÃO- DIAS; SILVA, 2014).
Devido à anatomia do sistema respiratório, os lagomorfos apresentam, por ve-
zes, Pasteurella multocida que leva a um quadro de doença respiratória subclí-
nica, podendo tornar difícil a função respiratória durante a anestesia (LONGLEY,
2008). Além de suster a respiração na presença de odores pungentes o que
pode resultar numa difícil indução anestésica (MOUTINHO, 2010). 21

Testudines
Os testudines constituem uma ordem de répteis que possuem o corpo inserido
num casco denominado de placa óssea, formado por uma região dorsal de as-
pecto arredondado e convexo.
Animais da ordem testudines diferem das outras ordens dos répteis por ter a
coluna vertebral fixada à carapaça.
O Brasil possui duas espécies de jabuti: Geochelone carbonaria (jabuti das patas
vermelhas) e Geochelone denticulata (jabuti das patas amarelas (CARVALHO,
2004).

Manejo Anestésico
A temperatura dos quelônios é relativamente baixa, impedindo um bom metabo-
lismo, visto que as reações de enzimas são termo dependentes. Logo há um
longo período de indução e recuperação anestésica, pois a assimilação e depu-
ração dos agentes anestésicos se tornam lentos devido a temperatura baixa
(RANDALL, 2002).
A dificuldade para realização de procedimentos cirúrgicos em testudines, devido
a presença da carapaça e plastrão, limita alguns métodos utilizados nos demais
repteis.

29
Desta forma, a celiotomia exploratória é uma alternativa viável mesmo que inva-
siva, principalmente quando existe a necessidade de manipulação do órgão,
como em uma enterectomia (MADER, BENNETT, 2006; McARTHUR et al. 2008)
Para a anestesia em testudines é necessário que seja feita a escolha da técnica
mais eficaz e que deprima em menor grau o animal, logo, quanto menor a mani-
pulação e a utilização de fármacos que deprimam acentuadamente o sistema
nervoso central maior será a probabilidade de um prognostico favorável.
A literatura relata que a anestesia geral é a de eleição para esta espécie, porém,
tal técnica causa depressão do sistema nervoso central o que acaba sendo um
efeito não desejável para médico veterinário. (MONTENEGRO, 2004) Segundo
Bennett (1996) a anestesia em testudines possui muitas limitações e efeitos co-
laterais.
Dessa forma, pode se afirmar que o conhecimento para técnicas de sedação e
anestesia propriamente dita são limitadas. Para procedimentos que requer o uso
de anestesia geral em répteis, Cooper e Sainsbury (1997) recomendam a uso
do propofol pela via intravenosa, devido a breve duração de sua ação.
Os agentes benzodiazepínicos e os dissociativos são os mais empregados na
anestesia em répteis, contudo o uso dos anestésicos dissociativos requer doses
mais elevadas e a recuperação é prolongada.
A cetamina possui uma boa margem de segurança, porém ela aumenta a FC
devido ao aumento da tonicidade simpática.
O propofol é um anestésico geral de rápido efeito, diminui a pressão arterial e
com isso diminui o débito cardíaco, contudo com mínima alteração na frequência
cardíaca, porém produz discreta hipotensão, apneia e taquicardia, mas sem al-
terações graves.
A cetamina associada ao butorfanol são rotineiramente utilizados para indução
anestésica, sendo recomendado o uso de anestésico inalatório para a manuten-
ção (SANTOS; PEREIRA, 2011).
A anestesia inalatória possui muitas vantagens em comparação aos agentes in-
jetáveis, pois a indução é mais rápida, maior controle da profundidade anesté-
sica, dispensa precisão no peso do animal, permite o uso de oxigênio, além
disso, a recuperação anestésica pode ser mais curta do que com os agentes
injetáveis, embora possa haver interferência da temperatura do animal, o shunt

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arteriovenoso e a apneia que é muito frequente nos quelônios (NUNES, CRUZ
& CORTOPASSI, 2006; CRUZ, 2008).
A absorção e excreção dos agentes anestésicos são afetados pela temperatura
ambiente, logo, a indução e o retorno anestésico são mais prolongados do que
nos mamíferos.
O uso de máscara para indução anestésica pode ser ineficaz já que os quelônios
apresentam longos tempos em apneia e a técnica de intubação é bem simples,
contudo, deve-se ter cautela ao insuflar o “cuff” devido a presença de anéis tra-
queais completos.
Recomenda-se, ainda, o uso do doppler para aferição da frequência cardíaca
devido a produção de sons audíveis facilitando o monitoramento trans-operató-
rio.
Para procedimentos anestésicos o médico veterinário deve atentar-se nas ca-
racterísticas anatômicas, tamanho do animal, porcentagem de gordura corporal,
metabolismo, sensibilidade a drogas e higidez pré-anestésica (LONGLEY,
2008).

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