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CUIDADOS PALIATIVOS
AULA 3
Nesta aula, será abordada a questão da avaliação da dor, visto que esse sintoma é muito
No entanto, cabe destacar que existem inúmeros sintomas para estudo e que podem variar
sobremaneira, conforme a doença e a pessoa. Podem ser descritos diversos sinais e sintomas, como a
Saiba mais
De forma a complementar os estudos sobre o controle de sintomas, sugere-se que você acesse o
link a seguir e assista a um vídeo sobre o tema, gravado em espanhol, porém, de fácil compreensão:
SINTOMAS frecuentes en cuidados paliativos parte 1. CECPAM IAP, 1 dez. 2015. Disponível em:
No final desta aula, será abordada a hipodermóclise, uma via de administração de medicamentos
TEMA 1 – A DOR
sua classificação, sua fisiopatologia, sua avaliação, para então se pensar nas formas de controle.
paliativos da ACNP, uma forma bem simples é dividida em três (Carvalho; Parsons, 2012):
2. A dor crônica não oncológica, que tem maior período de duração e de difícil localização,
associada a fatores como inflamações, perda tecidual e/ou lesão neuropática que provocam
alterações persistentes do sistema nervoso central e periférico;
1. Neuropática: alterações nas vias nociceptivas, em sua função ou estrutura, que podem
ser desencadeadas por lesões no sistema nervoso periférico (dor periférica) ou no trato
ou cutâneos (dor somática) e, em alguns casos, com lesão em nervos periféricos, porém, com o
a. Somática: por exemplo, nas metástases ósseas e na infiltração de tecidos moles por
tumores;
3. Mista: pessoas que apresentam os dois tipos de dor, comumente com ocorrência em
Na oncologia, pode-se observar ainda um tipo de dor que ocorre de forma súbita e muito
intensa, com um pico alto em um período de cinco minutos, denominada dor tipo breakthrough (DTB)
ou dor incidental.
Ressalta-se que, mesmo diante desses conhecimentos, é preciso considerar que a experiência
dolorosa é singular e individual e pode se modificar por meio de experiências previas, história de vida
e até mesmo por meio de danos que podem estar instalados ou até mesmo imaginados pela pessoa
informações:
As esferas psicoafetiva e espiritual devem ser consideradas tanto no alívio quanto no aumento da
dor. Cicely Saunders considerava essa questão em seus registros e em sua prática clínica,
descrevendo o termo dor total, referindo-se à importância de diversas dimensões na composição da
dor e do sofrimento, que vão além do físico, considerando o aspecto psicológico, social e espiritual.
sente e fazer inferências acerca de sua localização; se irradia para algum lugar do corpo; quanto
tempo tende a durar no dia; a sua intensidade; fatores de alívio e de piora; o quanto essa dor está
interferindo nas atividade das vida diária e da funcionalidade; e se responde bem aos fármacos já
medicamentos e a dose.
Caracterizar a forma da dor é fundamental. Podem existir, por exemplo, relatos que descrevem a
dor como do tipo pontada, compressão, agulhada; queimação, entre outras formas.
Saiba mais
Para avaliação da intensidade da dor, podem ser utilizadas várias escalas. Para adquirir maior
conhecimento sobre elas, recomenda-se acessar o link a seguir e assistir ao vídeo sobre o tema:
AVALIAÇÃO da dor. Jalekos Acadêmicos, 15 jun. 2018. Disponível em: < https://www.youtube.co
Pode-se ainda consultar o Protocolo clínico e as diretrizes terapêuticas para a dor crônica,
editado pelo Ministério da Saúde (Brasil, 2012) e material editado pelo Instituto Nacional do Câncer,
sobre a dor oncológica (Brasil, 2001).
Salienta-se também que, no Brasil, os medicamentos para dor devem ser fornecidos pelo Sistema
único de Saúde (SUS). Essa questão está respaldada pela Portaria n. 19, de 3 de janeiro de 2002
(Brasil, 2002), que institui o Programa Nacional de Assistência à Dor e Cuidados Paliativos, que, em
seu art. 1º, descreve que se deve buscar a articulação e promoção de iniciativas que estimulem a
cultura assistencial da dor e a educação continuada, tanto de profissionais da área da saúde quanto
da educação comunitária, no que se refere aos cuidados paliativos e também à assistência à dor.
medicamentos, necessitando de alternativas para o suporte clínico. A rede venosa nem sempre está
em boas condições e em diversas situações é difícil que se consiga um acesso venoso, produzindo
Assim, quando possível, outras vias podem ser acessadas, como é o caso da via subcutânea.
O tecido subcutâneo, também chamado de hipoderme, é uma camada que pode ser utilizada
como via parenteral para administração de soluções, pois os capilares presentes nesse tecido são
responsáveis pela absorção dessas substâncias, bem como seu transporte à grande circulação.
Seu mecanismo consiste na administração lenta de soluções nesse tecido, em ação combinada
entre a difusão dos fluidos, a pressão osmótica e a pressão hidrostática. Assim, há possibilidade da
Cabe considerar que essa absorção é mais lenta do que a via endovenosa, com seu pico de ação
Essa técnica remonta ao ano de 1913, mas ganhou destaque na década de 1960 com o
recomendação para que as doses em bolus não ultrapassassem 2 ml, no entanto, pode-se utilizar
maiores volumes, como será descrito a seguir.
Além de ser utilizada para hidratação, pode ser utilizada para administração de eletrólitos e
analgésicos, porém alguns fármacos ainda não são recomendados para administração nessa via por
ainda não terem sido feitos testes antes da liberação dessa via para comercialização. Tem baixo
potencial invasivo e baixo risco de efeitos secundários, desde que se tenha conhecimento técnico
para sua realização e acompanhamento.
Como vantagens na utilização dessa técnica descreve-se: baixo custo, maior conforto, menos
correlação com sobrecarga de volume infundido e edema pulmonar, inserção mais simples que
outros cateteres, maior facilidade na obtenção de novos sítios de inserção, maior indicação para
relacionada à sepse; pode ser interrompida e iniciada apenas pela abertura e fechamento do sistema
e não apresenta risco de formação de coágulos (Pedreira, 2011).
ser comum e existe a possibilidade de reações locais (Pedreira, 2011). Acrescenta-se ainda a dor no
local de inserção e a infecção local.
A indicação dessa via deve ser criteriosa, evitando-se banalização e reduzindo, ainda, o risco de
ocorrências iatrogênicas e demais morbidades, pois esses fatores podem contribuir para o insucesso
Pode também ser utilizada como recuso de suporte para melhoria mínima do estado de
hidratação, mesmo de pessoas que não estejam em cuidados paliativos (Ferreira; Santos, 2011).
Os autores citam ainda como indicações da técnica o alívio da dor; pacientes com inúmeros
medicamentos sendo administrados pela via oral, com dificuldade de degluti-los pela quantidade;
adisfagia e odinofiagia graves; lesões na cavidade oral, náuseas e vômitos; intolerância gástrica;
sonolência, coma; fase de agonia; debilidade extrema; e dano cognitivo grave.
Pode ser utilizada em diversas faixas etárias e em diversos cenários assistenciais, incluindo o
domicílio.
Existem poucas contraindicações para o uso da técnica e podem ser absolutas ou relativas,
cabendo ao profissional a avaliação de cada uma. No entanto, uma das contraindicações para o uso
No sítio de punção, ou próximo dele não devem existir edemas, hematomas, distúrbios da
Além disso, existe uma recomendação de que não seja utilizada essa técnica sempre que a via
manutenção dessa via. Outro ponto destacado pelos autores é o acesso restrito a equipos, fluidos e
agulhas estéreis. Nesse caso, os autores recomendam a proctóclise, ou seja, a administração de
e ainda fazer a escolha do local da punção, verificando o tipo do medicamento a ser infundido, dose,
volume e velocidade de infusão.
Os principais locais a serem puncionados são a parede abdominal, na região periumbilical; a face
A região torácica não é bem tolerada por algumas mulheres, devido à sensibilidade local, e a
região infraescapular pode ser utilizada em pacientes agitados que costumam tentar retirar as
punções nos membros superiores. A punção pode ser trocada a cada sete dias ou antes se houver
sinais flogísticos ou intenso desconforto no local, conforme demonstrado na Figura 1.
Deve ser realizada a rotação no local da punção a cada troca, de forma a não formar edema e
enduramento no local.
A capacidade de absorção é de cerca de 500 ml a cada 8 horas, porém modifica conforme o local
da punção, sendo as regiões abdominal e torácica as que têm maior capacidade de absorção,
dependendo de cada pessoa obviamente.
O volume total a ser infundido nas 24 horas é de 1000 a 2000ml por sítio de punção, podendo-se
realizar até duas punções. A taxa média de infusão é de 1ml por minuto, podendo variar conforme
cada indivíduo.
Os demais locais podem ser utilizados para administração intermitente de medicamentos pela
maior capacidade de absorção, que gira em torno de 100 a 250 ml nas 24 horas.
Para a punção, pode ser utilizado o cateter agulhado ou o cateter não agulhado, respectivamente
O calibre do escalpe varia de 25G a 18G, e a escolha deve depender do volume a ser infundido e
a quantidade de tecido subcutâneo da pessoa.
familiares ou cuidadores e higienizar as mãos. Proceder à lavagem da extensão do escalpe com soro
fisiológico a 0,9%, deixando a seringa na ponta da extensão de forma a aspirar a extensão ao final da
Deve-se, então, realizar a antissepsia do local da punção com álcool 70% ou clorhexidina a 2%.
Após o local estar seco, deve-se introduzir a agulha no tecido subcutâneo fazendo uma prega, no
sentido da periferia para o centro do corpo, com o bisel para cima em um ângulo de 30 a 45 graus
em relação à pele. Quanto mais tecido cutâneo o paciente tiver, maior pode ser a angulação.
Após a punção, aspirar a extensão do escalpe com a seringa que estava conectada em sua ponta
e, caso haja retorno de sangue, deve-se retirar o cateter e proceder a outra punção, visto que aquela
atingiu um vaso sanguíneo.
Após a punção, deve-se fixar o local, preferencialmente com filme transparente para cateter,
podendo ser mantido por 5 dias ou fita microporosa, que, nesse caso, deverá ser trocada a cada 48
horas, ou antes, se estiver solta, suja ou molhada.
O sítio de inserção deve ser monitorado diariamente, principalmente no que se refere aos sinais
Pode-se massagear diariamente o local da punção para auxiliar na absorção e ainda, em alguns
casos, reduzir o volume de infusão de forma a auxiliar na absorção.
Sinais de sobrecarga como dispneia, taquicardia, edema nos membros inferiores e hipertensão
devem ser monitorados e, nesse caso, podem indicar que o volume de infusão deve ser reduzido.
Santana Santos descreve alguns medicamentos que podem ser utilizados nessa via, dentre eles,
tramadol.
No Quadro 1, pode-se observar uma lista de medicamentos indicados por essa via, bem como as
Hidroxizina ACM
Anticolinérgicos Atropina 2 a 3 mg
Escopolamina ACM
Famotidina ACM
Cefepime 1 g/ 24h
Ceftriaxona 1 g/ 24h
Deve-se estar atento ao fato de que a compatibilidade entre os fármacos também é importante
Dexametasona Metoclopramida, morfina, hioscina e tramadol, Há recomendação de que não se deve misturar
quando administrado na dose de 8 mg/ml, com outros fármacos, exceto em doses muito
totalizando 16 mg/ 24horas. baixas (1 mg/ 24horas).
descrito por diversos autores, muitas vezes os papéis dos profissionais se complementam.
NA PRÁTICA
Recomenda-se, ainda, o vídeo com a técnica de punção da hipodermóclise, que pode ser
TÉCNICA de hipodermóclise. Enfermagem Intensiva News, 1 out. 2016. Disponível em: < http
Para conhecimentos acerca do tema da hipodermóclise, segue abaixo um caso clínico para leitura
e posterior reflexão.
A.B.C, mulher de 49 anos, está em cuidados paliativos por câncer de cólon e chega ao momento
em que o final de sua vida se aproxima. A equipe de saúde não consegue encontrar veias para a
punção venosa e administração dos medicamentos para alívio da dor. Nesse caso, foi indicada a
hipodermóclise.
Descreva quais seriam os locais onde poderia ser realizada a punção da hipodermóclise, bem
FINALIZANDO
Nesta aula, demonstramos as formas de avaliação da dor, sintoma muito frequente em
cuidados paliativos, bem como suas formas de classificação.
outras vias.
Saiba mais
Acesse o link a seguir para ler um artigo publicado por Bruno (2015) sobre a técnica da
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria SAS/MS n. 1083, de 2 de outubro de 2012. Diário Oficial
_____. Portaria n. 19, de 3 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
maio 2020.
BRUNO, V. G. Hipodermóclise: revisão de literatura para auxiliar a prática clínica. Einstein, 24 mar.
CARVALHO, R. T. de; PARSONS, H. A. (Orgs.) Manual de cuidados paliativos ANCP. 2. ed. São
medicamentos por via subcutânea. In: SANTOS, F. S. Cuidados paliativos: diretrizes, humanização e
drogas e soluções no contexto dos cuidados paliativos. In: SILVA, R. S. da; AMARAL, J. B.; MALAGUTI,
W. Enfermagem em cuidados paliativos – cuidando para uma boa morte. São Paulo: Martinari,
2013, p. 335-349.
PEDREIRA, M. L. G. Hipodermóclise. In: HARADA, M. J. C. S.; PEDREIRA, M. L. G. (Org.) Terapia
Intravenosa e Infusões. São Caetano do Sul: Yendis, 2011, p. 475-489.
SANTANA SANTOS, F. S. Velai comigo – inspiração para uma vida em cuidados paliativos.