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Afecções Cirúrgicas do Teto e da

Glândula Mamária

Mv. Mateus Oliveira Mena


Anatomia
 A Glândula mamaria é considerada uma parte do sistema reprodutor, e a
lactação pode ser considerada como a fase final de um ciclo de reprodução.
 Assim, pode-se dizer que, para a maioria dos mamíferos, uma falha em
aleitar, tal como a falha de ovular, é também uma falha em reproduzir.
 A Glândula mamaria corresponde a uma glândula sudoríparas modificada que
secreta leite para nutrição da prole.
 Origina-se embrionariamente a partir do espessamento linear bilateral do
ectoderma ventro lateral na parede abdominal, denominados de “Linhas
Lácteas” ou “Cristais Mamários”. Nelas se formam os Botões Mamários
que dão origem a porção funcional da Glândula Mamária. Isto ocorre quando
o embrião tem cerca de 35 dias de idade.
 Está composta por um sistema de Ductos que conectam massas de epitélio
secretor (Parênquima) envolvidos por tecido conjuntivo, gordura, vasos e
nervos (estroma). O conjuntivo encontra-se sustentando por uma cápsula
fíbro elástica.
 Parênquima: consiste de camada única de células epiteliais secretoras
formando os alvéolos mamários que drenam para ductos pequenos que vão
progressivamente se unindo a ductos maiores até abrir em uma cisterna ou
diretamente na teta.
Anatomia
 Os alvéolos são agrupados em unidades maiores denominadas lóbulos, cada

um deles envolvido por um septo distinto de tecido conjuntivo.

 Os lóbulos são agrupados em unidades maiores denominadas lobos, que são

rodeados por septos de tecido conjuntivo.

 Os alvéolos são recobertos por células contráteis de natureza mioepitelial e que

respondem ao reflexo de ejeção do leite.

 As células mioepiteliais também se localizam ao longo dos ductos.

 A proporção parênquima secretor e tecido conjuntivo é controlado por

mecanismo hormonal. Durante a lactação da vaca encontra-se maior

proporção de parênquima do que de estroma, e fora da lactação (período seco

da vaca), se inverte.
As funções dos
alvéolos são:

• Remover nutrientes
do sangue;
• Transformar esses
nutrientes em leite;
• Descarregar o leite
dentro do lúmen.
Estrutura da Gl. Mamária
 O úbere de uma vaca é um órgão designado à produção de leite e

oferecimento ao bezerro recém-nascido de um fácil acesso ao leite de sua

mãe. Ele está suspenso externamente à parede posterior do abdômen e

portanto não está restrito, apoiado ou protegido por nenhuma estrutura óssea.

 O úbere de uma vaca é composto por quatro glândulas mamárias ou quartos.

Cada quarto é uma entidade funcional própria que opera independentemente

e secreta o leite por seu próprio teto.

 Geralmente, os quartos traseiros são levemente mais desenvolvidos e

produzem mais leite (60%) do que os quartos dianteiros (40%) . Os principais

componentes do úbere estão listados aqui com uma curta explicação de sua

importância e função.
Estrutura da Gl. Mamária
Estrutura da Gl. Mamária
 Sistema de suporte: Um conjunto de ligamentos e tecido conjuntivo
mantém o úbere próximo à parede do corpo. Ligamentos fortes são desejados
porque eles ajudam a prevenir a ocorrência de úbere penduloso, minimizando o
risco de ferimentos, e evitando dificuldades no uso de equipamentos de
ordenha.
 Sistema secretor e de ductos: O úbere é conhecido como uma glândula
exócrina porque leite é sintetizado em células especiais agrupadas em alvéolos
e então excretado para fora do corpo por um sistema de ductos que funciona
como os afluentes de um rio.
 Suprimento sanguíneo e estruturas Capilares: A produção de leite demanda
muitos nutrientes que são trazidos ao úbere pelo sangue. Para produzir 1 Kg de
leite, 400 a 500 Kg de sangue devem passar pelo úbere. Além disso, o sangue
carrega hormônios que controlam o desenvolvimento do úbere, síntese de leite,
e regeneração de células secretórias entre as lactações (durante o período
seco).
Sistema de suporte do úbere da
vaca.

1- ligamento suspensório 2 – membrana


medial delgada
Patologias Cirúrgicas
ANAMNESE ESPECÍFICA

 Produção de Leite ?  Tempo de Parição ?

 Estágio da Lactação ?  Condições de Estabulação ?

 Tipo de Manejo ?  Técnica de Ordenha ?


Patologias Cirúrgicas
EXAME GERAL Procura de sinais que envolvam úbere

EXAME DIRETO
ÚBERE
Localização, tamanho e formato
Edema
Rubor
TETOS
8 - 10cm comp.
3 cm larg. Indesejável
Desejável
40 – 45 cm do chão
ÚBERE e TETOS
Compridas, grossas e ou finas
Patologias Cirúrgicas
EXAME DIRETO
PALPAÇÃO
QUARTOS
 Após ordenha
 Individualmente

Consistência
GERAL

Alterações T°

Sensibilidade
Linfonodos
Patologias Cirúrgicas
EXAME DO LEITE
Teste do Jato: Obstrução,
Prendendo Leite, Cor, Conteúdo
Patologias Cirúrgicas
1) Laceração de Teto: comum em vacas de leite por causa

traumática.

- Tratamento: conservativo (lacerações que não penetram a

mucosa do teto geralmente cicatrizam com curativos locais por

segunda intenção) ou cirúrgico (lacerações que penetram a

mucosa do teto exigem sutura para manter a função normal de

ordenha e impedir o desenvolvimento de fístulas ou de mastite

aguda).
Laceração de Teto
 Técnica: sedação (?), anestesia local anular na base do teto sem
vasoconstrictor e animal em pé
 Anti-sepsia local e colocação de torniquete na base do teto.
 Debridamento das bordas com a remoção de tecido necrosado.
 Sutura das bordas da ferida em dois planos, um de aposição com pontos
simples separados somente na submucosa com fio absorvivel 0 ou 3-0.
 Soltura do torniquete e pressão manual do teto (ordenha) para verificar
vazamento de leite na linha de sutura.
 2º plano com pontos “U” horizontal ou simples separados com nylon 0 ou 2-0
para a pele.
 Colocação de bandagem adesiva sobre a linha de sutura.
 Pós-Operatório: drenagem do leite com cânula ou sonda de teto do tipo
Larson por uma semana (cicatrização), antibiótico intramamário e sistêmico e
curativo local.
Sonda de teto
Mastite Gangrenosa em

Pequenos Ruminantes
Introdução
2) Mastite Gangrenosa: pequenos ruminantes, geralmente em ovelha.
 Região Nordeste concentra-se 92% do rebanho caprino brasileiro.
 Alta incidência de problemas sanitários decorrente de práticas de
manejo inadequadas.
 Sertão de Pernambuco 76,7% dos criadores de pequenos ruminantes
relataram a ocorrência de alterações da glândula mamária e/ou leite,
sugestivas de mastite.
 Predispõe-se o surgimento da mastite gangrenosa.
 É causada principalmente por Staphylococcus aureus, Mannheimia
haemolytica, Escherichia coli e Clostridium perfringens de forma isolada ou
em associação.
Sinais Clínicos
 Anorexia, desidratação, depressão, febre e
toxemia.
 O úbere se torna quente, edemaciado e
dolorido no início da infecção, contudo,
dentro de algumas horas o mesmo se torna
frio, e as secreções aquosas e
sanguinolentas.
 Área de necrose na pele, seguida por
infecção bacteriana secundária, nitidamente
demarcada na região que se estende da teta
até porções diversas da glândula, que se
esfacelará dentro de 10 a 14 dias.
Sinais Clínicos
Diagnóstico

 Exame clinico criterioso da glândula,

 Cultura bacteriológica do leite,

 Contagem de células somáticas e

 Hemograma.
Tratamento
 Mastectomia parcial (quarto afetado).
 Técnica: semelhante à realizada em pequenos animais;
Incisão de pele em elipse ao redor do quarto mamário afetado, deixando
o suficiente para a sutura
 Divulsão do subcutâneo e ligamento dos vasos sanguíneos,
 Excisão do quarto afetado,
Redução do espaço morto com Cushing e fio absorvível e fixação de
dreno,
 Sutura de pele com pontos “U” horizontal separado e fio não absorvível.
 Pós-Operatório: ATB, AINE e curativo local.
Caso clínico cirúrgico
 Caprino, 24kg.
 3 parições sendo criado em sistema extensivo sem
mineralização no município de Olinda-PE.
 Após 10 dias de parição, no momento da ordenha a
glândula direita apresentou secreção aquosa e
sanguinolenta tornando-se de coloração escura e atrofiada
até que seis dias após parte do parênquima se desprendeu
da glândula.
 O proprietário administrou três doses a cada 72 horas de
medicamento a base de penicilina, diidroestreptomicina e
piroxicam (0,05ml/Kg/IM/Megacilin Plus ® ) e devido a não
melhora do quadro o encaminhou ao AGA/UFRPE.
Sinais Clínicos
 Calmo, com mucosas normocoradas, estado nutricional
ruim, pelos opacos e quebradiços, apetite ausente para
volumoso e seletivo para ração, rúmen moderadamente
vazio, com linfonodos pré-crural direito e pré-escapular
esquerdo aumentados e em estado febril. A ausculta
detectou-se taquicardia e polipnéia.
 No exame físico do úbere detectou-se uma ferida que
acometia toda a parte ventral do úbere composto por
tecido necrosado, atrofiado, seco de coloração
enegrecida, além de exposição da região do septo
glandular da glândula esquerda.
Sinais Clínicos
Terapêutica
 O tratamento terapêutico foi realizado com o flunixin
meglumine na dose endotoxêmica (0,8mg/kg) por
dois dias, gentamicina (4,2mg/Kg/IM) por sete dias e
dipirona sódica (25mg/kg/IV) no dia do primeiro
atendimento devido à pirexia.
 No mesmo dia o paciente foi sedado com cloridrato
de xilazina a 2% (0,1mg/Kg/IV) associado à anestesia
regional paravertebral com administração de 20 ml de
cloridrato de lidocaína 2% divididos nos espaços
intervertebrais da vertebras lombares (L2, L3, L4 e
L5).
Cirurgia
 Em seguida foi realizado o procedimento de extração de
todo tecido necrosado da glândula direita e curetagem física
com cureta Recamier longa e química com iodo 2% da parte
interna da pele que restou da glândula e da parede do septo
mamário do úbere direito com a intenção de reavivar o
tecido para que ocorra a cicatrização por segunda intenção.
Foi ainda retirado uma margem de 1 cm da borda em torno
da ferida.
 Nas primeiras 24 horas pós curetagem foi colocado na ferida
e fixado com três pontos simples separados uma compressa
embebida no iodo 2% com a intenção de cauterização
química e contenção no sangramento de alguns vasos.
Pós Operatório
 Nos dois dias após o processo cirúrgico foi realizado a
curetagem química com iodo 2% após a limpeza da
ferida associado à pomada cicatrizante a base de sulfato
de gentamicina 0,5g, sulfanilamida 5g, sulfadiazina 5g,
ureia 5g e vitamina A 120.000 U.I. (Vetaglós® ).
 No terceiro dia o iodo a 2% não foi mais utilizado, pois o
tecido se mostrava seco e revitalizado sendo o paciente
liberado após cinco dias, com recomendação da limpeza
diária da ferida com solução de iodo polvidona 10% e
aplicação de pomada cicatrizante na ferida e repelente
em torno da mesma.

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