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Criados átomos gêmeos, unidos até o fim

do Universo
Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/03/2021

Este é o chip que sacramenta o casamento dos átomos, que se tornam


intrinsecamente interligados, qualquer que seja a distância que os separe.
[Imagem: F. Borselli et al. - 10.1103/PhysRevLett.126.083603]

Entrelaçamento de átomos

Se jogarmos duas moedas, o resultado de um lançamento não tem nada a ver com
o resultado do outro: As chances são de 50% de tirar cara ou coroa mas, se você
tirar cara, não significa que agora haverá 100% de chance de tirar coroa; as
moedas são objetos independentes.

No mundo da física quântica, as coisas são diferentes: as partículas quânticas


podem ser entrelaçadas e, nesse caso, não podem mais ser consideradas como
objetos individuais independentes, só podendo ser descritas como um sistema
conjunto.
Durante anos, foi possível produzir fótons entrelaçados - pares de partículas de luz
que se movem em direções completamente diferentes, mas ainda estão associados
um ao outro. Têm havido resultados espetaculares, por exemplo, no campo do
teletransporte quântico e da criptografia quântica.

Agora, Filippo Borselli e seus colegas da Universidade Tecnológica de Viena, na


Áustria, conseguiram produzir pares de átomos entrelaçados - e não apenas
átomos que são emitidos em todas as direções, mas feixes bem definidos de átomos.

Átomos gêmeos

Existem diferentes métodos de criação de entrelaçamento quântico. Por exemplo,


cristais especiais podem ser usados para criar pares de fótons entrelaçados: Um
fóton com alta energia é convertido pelo cristal em dois fótons de baixa energia -
isso é chamado de "conversão descendente" e permite que um grande número de
pares de fótons entrelaçados seja produzido de forma rápida e fácil.

Entrelaçar átomos, no entanto, é muito mais difícil. Átomos individuais podem ser
entrelaçados usando operações de laser complicadas, ou você pode esperar para
produzi-los por processos aleatórios, o que não é prático.

A nova técnica permite que, a partir de agora, pares de átomos gêmeos sejam
produzidos de maneira controlada. Para isso, uma nuvem de átomos ultrafria é
contida por forças eletromagnéticas dentro de um minúsculo chip. "Nós
manipulamos esses átomos para que eles não acabem no estado com a energia mais
baixa possível, mas em um estado de energia mais alta," conta o professor Jörg
Schmiedmayer.

A partir desse estado excitado, os átomos retornam espontaneamente ao estado


fundamental com a energia mais baixa.

No entanto, a armadilha eletromagnética é construída de tal forma que esse


retorno ao estado fundamental é fisicamente impossível para um único átomo - isso
violaria a conservação do momento.

Os átomos, portanto, só podem decair para o estado fundamental como pares e


voar em direções opostas, de modo que seu momento total permaneça zero. Isso
cria átomos gêmeos que se movem exatamente na direção especificada pela
geometria da armadilha eletromagnética no chip.
Não é possível mexer com um dos átomos entrelaçados sem afetar imediatamente o
outro.
[Imagem: F. Borselli et al. - 10.1103/PhysRevLett.126.083603]

Experimento da dupla fenda

A armadilha magnética consiste em dois guias de ondas paralelos. O par de átomos


gêmeos pode ter sido criado no guia de onda esquerdo ou direito - ou, como a física
quântica permite, em ambos simultaneamente.

"É como o conhecido experimento da dupla fenda, em que você atira uma
partícula em uma parede com duas fendas," explica Schmiedmayer. "A partícula
pode passar pela fenda esquerda e direita ao mesmo tempo, atrás da qual interfere
em si mesma, e isso cria padrões de onda que podem ser medidos."

O mesmo princípio pode ser usado para provar que os átomos gêmeos são de fato
partículas entrelaçadas: Somente se você medir todo o sistema - ou seja, os dois
átomos ao mesmo tempo - você pode detectar as superposições em forma de onda
típicas dos fenômenos quânticos. Se, por outro lado, você se restringe a uma única
partícula, a superposição de onda desaparece completamente.

Agora que foi provado que nuvens de átomos ultrafrias podem de fato ser usadas
para produzir átomos gêmeos entrelaçados de maneira confiável, o caminho se
abre para outros experimentos quânticos usando esses pares de átomos -
semelhantes aos que já foram possíveis com pares de fótons.

Se isso vai nos permitir fazer coisas novas ou melhorar o que já fazemos com
fótons? Teremos que esperar os resultados para saber.
Bibliografia:

Artigo: Two-Particle Interference with Double Twin-Atom Beams


Autores: Filippo Borselli, M. Maiwöger, T. Zhang, P. Haslinger, V. Mukherjee, A.
Negretti, S. Montangero, T. Calarco, I. Mazets, M. Bonneau, Jörg Schmiedmayer
Revista: Physical Review Letters
Vol.: 126, 083603
DOI: 10.1103/PhysRevLett.126.083603

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