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Qual é a diferença entre fissão e fusão

nuclear?

Tanto a fusão quanto a fissão nuclear são processos naturais que ocorrem no
núcleo de um átomo e geram energia. Mas qual a diferença entre fissão e fusão
nuclear? Em poucas linhas, é que na fusão temos a combinação de dois ou mais
átomos leves, enquanto a fissão envolve a divisão de um único núcleo atômico,
geralmente pesado e instável. Mas de onde vem a energia desses eventos? É o
que você verá nesta parte do trabalho.
A fusão nuclear é um dos fenômenos mais comuns do universo — afinal, cada
estrela que existe produz energia por meio desse processo. Por outro lado, a
fissão acontece quando um elemento possui uma quantidade maior de prótons
e nêutrons em seus átomos, e também ocorre naturalmente, embora esses
elementos sejam raros.
Aqui na Terra, só descobrimos o poder da fusão atômica no século XX. Tudo
começou em 1905, com Albert Einstein, mas foram necessárias algumas
décadas de estudo dos átomos e das forças fundamentais da natureza para
descobrir de onde vem a energia liberada nesses processos.
Os dois processos são naturais, mas também podem ser feitos em um
laboratório. Enquanto a fusão ocorre quando dois átomos são "esmagados"
para formar um único átomo de um novo elemento, a fissão consiste na divisão
de um núcleo atômico. Em ambos, parte da massa desses átomos será
convertida em energia, conforme veremos na fórmula E=mc².
Equivalência massa-energia: E=mc²

Albert Einstein um dos maiores nomes a contribuir com a descoberta da relação massa-energia (Imagem:
Reprodução/Domínio Público/Wikimedia Commons

Quando Einstein publicou um artigo sobre a equivalência massa-energia, o


mundo começou a ser transformado, ainda que as primeiras provas disso só
tenham sido obtidas anos depois. Ele não foi o primeiro a propor essa ideia, mas
veio dele a teoria (correta) de que essa equivalência é uma consequência das
simetrias do espaço e tempo.
Essas conclusões culminaram na famosa fórmula E=mc², que tem
consequências simples, mas fantásticas. Ela significa que toda matéria possui
uma energia inerente equivalente à sua massa. Teoricamente, ela pode ser
convertida em pura energia, assim como a energia pode ser convertida em
massa.
Tais conceitos foram melhor desenvolvidos na Teoria da Relatividade Geral,
publicada por Einstein em 1915 e comprovada desde então, até os dias de hoje,
por inúmeros experimentos. Com ela, massa e energia são duas formas da
mesma coisa, e uma não existe sem a outra.
Diagrama de uma reação em cadeia de fissão nuclear (Imagem: Reprodução/Stefan-Xp/Wikimedia
Commons)

Além disso, é bem estabelecido que a quantidade total de massa e energia no


universo permanece constante, ou seja, não é algo que pode ser criado ou
destruído, muito menos desaparecer. Por fim, energia acumulada exibe massa.
Esses princípios são importantes para a física das partículas, que rege a fusão e
fissão nuclear.
Portanto, um corpo em repouso tem uma energia potencial proporcional, ao
contrário do que diz a lei da gravitação de Newton. A fórmula também pode
revelar quanta massa foi perdida por um corpo em repouso quando alguma
energia é removida dele — como em uma reação química onde calor e luz são
removidos.
A energia removida nesses casos será igual à massa perdida, multiplicado pelo
quadrado da velocidade da luz. Essa é apenas uma das implicações da relação
massa-energia. Mas que energia é essa e como podemos obtê-la?
Força nuclear forte

A fissão nuclear no urânio-235 ocorre mais facilmente em parte devido à grande quantidade de partículas
em seu núcleo (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Os núcleos dos átomos são compostos por prótons (de carga positiva) e
nêutrons (sem carga elétrica), mas isso parece contraintuitivo — dois prótons
não deveriam se manter unidos porque suas cargas positivas resultariam em
repulsão. Portanto, deve haver algo que os mantém unidos: esse algo é
conhecido como força forte.
A teoria quântica da força forte é conhecida como cromodinâmica quântica e
descreve as interações entre partículas que não possuem carga elétrica, mas
sim "carga de cor” (daí o nome da cromodinâmica quântica; cromo vem da
palavra grega para cor).
Contudo, essa força é mais poderosa quando o núcleo é pequeno e suas
partículas estão próximas. Nesse caso, ela é superior à força eletromagnética,
que está tentando repelir e “desmanchar” (ou decair, na termologia técnica) o
núcleo do átomo. Mas se um núcleo for grande, com muitos prótons e
nêutrons, há boas chances da força eletromagnética vencer a “disputa”.

Fissão nuclear

Quando a força forte é “derrotada”, a energia das forças repelente das


partículas que estavam “grudadas” é liberada e o átomo é “dividido ao meio”,
por assim dizer. Cada uma das “metades” resultantes da divisão tem um pouco
menos da metade da massa do núcleo atômico original.
Mas, se é assim, onde está a massa desaparecida? Bem, lembra que massa
pode ser convertida em energia? É assim que parte desse núcleo atômico se
transforma na energia produzida pelo processo de fissão nuclear.

Consideremos agora o urânio-235 — ele tem 92 prótons e 143 nêutrons (235


no total). Esse núcleo é tão instável que pode decair facilmente. Por isso é tão
usado em reatores e bombas nucleares. Quando um átomo dessa matéria decai
naturalmente, ele libera um nêutron.

Na fissão nuclear, uma partícula pode separar o núcleo de um átomo instável (Imagem:
Reprodução/Wikimedia Commons)

Se esse nêutron atingir outros átomos de urânio próximos, eles também se


dividirão, criando uma reação em cadeia. Essa foi a descoberta que nos levou à
produção de explosivos atômicos e usinas nucleares.
Nas usinas de fissão nuclear, esse processo é cuidadosamente controlado.
Mas, em uma bomba atômica, a reação em cadeia é iniciada com elétrons
atingindo núcleos atômicos e tudo fica fora de controle, com um efeito cascata
aumentando cada vez mais. Isso libera uma tremenda quantidade de energia
em um curto espaço de tempo.

Fusão nuclear

Na fusão nuclear, temos algo parecido, porém inverso. Em vez de dividir


átomos, a fusão os junta em um só núcleo atômico, o que também libera
energia. O elemento mais comum para esse processo é o hidrogênio, ou alguns
de seus isótopos, mas para iniciar o processo de fusão nuclear é preciso muita
pressão e temperatura — coisa que as estrelas têm de sobra.
A força entre os núcleos carregados positivamente é repulsiva, mas quando a separação é pequena o
suficiente, o efeito quântico atravessa a parede e eles se fundem (Imagem: Reprodução/Wikimedia
Commons)

Após a fusão de dois núcleos atômicos de elementos leves, o resultado é um


átomo um pouco menos massivo que a soma dos dois núcleos originais. Como
na fissão, essa massa foi perdida porque se converteu em energia.
Mas gerar energia suficiente para esmagar os átomos até que eles “grudem”
não é nada fácil (as estrelas são realmente incríveis por fundir átomos, não e
mesmo?), mas estamos no caminho certo para fazer isso em um futuro breve. O
desenvolvimento de algumas tecnologias de reator de fusão já está em
andamento.
Já que não podemos reproduzir a pressão de uma estrela, os cientistas
apostam na produção de calor e campos magnéticos para controlar os átomos.
Na prática, raios lasers atingem uma pequena nuvem de hidrogênio para
aquecê-la até alguns milhões de graus. Isso transforma o hidrogênio em plasma,
que deve ser controlado pelos campos magnéticos.
Por enquanto, a energia para esse processo funcionar de modo eficaz é ainda é
maior que a energia obtida pela fusão. Além disso, os campos magnéticos
exigem ímãs gigantes e poderosos. Por isso, os experimentos nos reatores
duram apenas alguns segundos, mas as temperaturas já atinge níveis
recordistas, superando o calor no interior de uma estrela como o Sol.
A fusão nuclear pode produzir três a quatro vezes mais energia que a fissão.
Além disso, o hidrogênio (ou seus isótopos) é o elemento mais abundante do
universo, então o “combustível” para esses reatores não será um problema. Por
fim, a fusão nuclear é muito mais segura que a fissão porque não deixa lixo
radioativo para trás.
Por esses motivos, os cientistas estão certos que a fusão nuclear é a melhor
opção para produzirmos energia limpa, segura e praticamente inesgotável. A
previsão é que os reatores comecem a produzir mais energia do que consomem
na década de 1930.

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