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Evolução Estelar
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Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Edson Pereira Gonzaga

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Fonte: Getty Images


Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Introdução;
• Transporte de Energia;
• Opacidade;
• Radiação versus Convecção;
• A Cadeia Próton-Próton;
• Queima de Elementos Pesados.

Objetivos
• Saber como ocorre o transporte de energia estelar;
• Comparar a radiação à convecção de energia;
• Compreender o efeito túnel, a cadeia próton-próton e a queima de elementos estelares.

Caro Aluno(a)!

Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.

Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.

No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões


de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.

Bons Estudos!
UNIDADE
Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Contextualização
O Sol irradia uma potência de cerca de 3,9 × 1026 W e vem fazendo isso há bilhões
de anos. Sendo assim, qual é a origem de tanta energia?

Se o Sol fosse feito de carvão e oxigênio, como numa fornalha, nas proporções ade-
quadas para que houvesse combustão, o carvão teria se esgotado em menos de 1000
anos, portanto, as reações químicas estão fora de cogitação para justificar a energia pro-
duzida pelo Sol, talvez a possibilidade seja a de que o Sol esteja encolhendo lentamente
por ação de sua própria força gravitacional.

Sabemos que a energia potencial gravitacional pode ser transformada em energia


térmica. O Sol poderia produzir energia durante muito mais tempo, mas, mesmo assim,
os cálculos mostram que o tempo de existência associado a esse mecanismo seria muito
menor do que o apresentado pelo Sol.

A única possibilidade que resta é a fusão termonuclear, ou seja, o Sol como se sabe, não
queima carvão, ele produz reações termonucleares, transformando hidrogênio em hélio.

Em respeito aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1998) por neles
constarem a evolução das estrelas, anãs brancas, gigantes vermelhas, estrelas de nêu-
trons e buracos negros como conteúdos a serem abordados na Educação Básica, nesta
Unidade, faremos a abordagem acerca do transporte e da produção de energia estelar.

Imagine que toda a matéria que conhecemos, por exemplo, pedras e minerais, ar e
oceanos, plantas e animais, gás e estrelas, é composta por 118 elementos confirmados
pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) em dezembro de 2015.

Portanto, é possível pensar que os 118 elementos são compostos de apenas três tipos
de partículas elementares, os prótons, os nêutrons e os elétrons.

Por isso, desejamos uma boa leitura e bons estudos!

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Introdução
O Sol é a estrela em torno da qual a Terra e os outros Planetas do Sistema Solar or-
bitam, e que comparada a outras estrelas é, por assim dizer, relativamente de tamanho
pequeno e de brilho fraco, por estar mais próximo do que as demais estrelas, parece
maior e mais brilhante.

Sua luz leva cerca de oito minutos e meio para atingir a Terra, enquanto a luz de Alfa
Centauro, por exemplo, que é a segunda estrela mais próxima do nosso Planeta, leva
cerca de três anos e quatro meses.

As estrelas são formadas por uma massa de plasma quente, sendo que o Sol, por
exemplo, possui cerca de um milhão de vezes mais massa que a Terra, sua temperatura
é de cerca de 5800K e sua estrutura e constituição têm sido estudadas intensamente
pelos astrônomos durante muitos anos. É na superfície aparente do Sol, chamada fotos-
fera, que tem origem a maior parte do calor e da luz, sendo que acima da fotosfera existe
outra camada, denominada cromosfera (MOURÃO, 1995).

Quanto mais massa se aglomera no núcleo estelar, maior é a gravidade que ele exerce
sobre si mesmo e, por isso, a maioria das estrelas estudadas possui essa característica.

Num dado momento de sua existência, o Sol começou a fusão do hidrogênio em


hélio. Essa reação libera energia, que gera uma pressão de radiação de dentro para fora,
equilibrando a força gravitacional.

De acordo com Nogueira (2009), as radiações emitidas por estrelas são como ondas ou par-
tículas emitidas por uma fonte. A radiação eletromagnética é energia deslocando-se em
forma de onda, incluindo raios gama, raios x, radiação ultravioleta, luz visível, radiação
infravermelha, micro-ondas e ondas de rádio.

Em linhas gerais, é assim que a coisa acontece, a energia se desloca do centro para as
camadas mais externas até se propagar na forma de radiação eletromagnética pelo espaço.

As estrelas não são todas iguais, logo, elas variam em tamanho e, portanto, em
massa, dependendo da quantidade de matéria que havia disponível quando a estrela se
originou, temos os elementos construídos por ela.

As de menor massa são relativamente mais frias, ainda que sejam extremamente
quentes, se comparadas às temperaturas que conseguimos provocar por experimentos
ou mesmo por aquecimentos.

As de maior massa são muito mais quentes e acabam com o hidrogênio existente em
seu núcleo para a fusão em pouco tempo.

Leia sobre a Fonte de Energia das Estrelas clicando em: http://bit.ly/39rYy2b

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UNIDADE
Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Transporte de Energia
Sabemos que as ondas eletromagnéticas podem ser produzidas por oscilações dos
campos elétrico e magnético resultantes da perturbação no campo de uma carga elé-
trica acelerada.

De acordo com Arany-Prado: “Há outra forma de visualizar a radiação eletromagné-


tica. Ocorre que a radiação, quando interage com a matéria, tem um comportamento do
tipo que ocorre entre partículas (ARANY-PRADO, 2017, p. 55)”. A autora denomina a
partícula associada a tal comportamento de fóton.

Os fótons carregam uma energia que é proporcional à frequência de sua radiação.


Com isso, temos que a radiação pode ser entendida como fóton, ou quantum elementar
da radiação, que significa quantidade, em latim (ARANY-PRADO, 2017).

Em Astrofísica, são estudadas três maneiras de transportar energia nas estrelas, a


radiação, em que a energia é transportada por emissão e reabsorção de fótons, a con-
vecção, em que a energia é transportada por movimento de elementos de massa e a
condução, em que a energia é trocada em colisões de partículas, normalmente elétrons.

A massa do elétron é cerca de 2000 vezes menor que a do próton, em geral, a massa
do conjunto dos elétrons é relativamente pouco importante nos estudos dos núcleos.

Podemos dizer que há um jogo de forças entre prótons e nêutrons no núcleo atômico.
O papel dos nêutrons, nesse jogo de forças, é importante, pois os nêutrons, que não têm
carga, funcionam como mediadores.

Em 1931, Wolfgang Pauli (1900-1958) propôs uma hipótese para o decaimento beta afir-
mando que uma nova pequena partícula neutra seria emitida no processo. Pauli estava
falando do neutrino.

Um nêutron apenas e fora do núcleo atômico é muito instável, pode permanecer por
cerca de 10 minutos. Depois dessa permanência, ocorre o decaimento beta.

Os neutrinos não possuem carga e, a princípio, não possuem massa, apesar de que
está prevista a possibilidade de uma massa diferente de zero e, portanto, transportam
uma pequena quantidade de energia do interior da estrela para fora. Mas, neutrinos
são partículas que não possuem interação com a matéria e são emitidos pelas estrelas
praticamente sem colisões.

A maneira mais comum de transporte de energia em estrelas da sequência principal


é por meio dos fótons, que possuem alta energia e interagem fortemente com a matéria
na forma de raios X e raios gama.

Uma vez gerado, um fóton será rapidamente reabsorvido, reemitido em um pouquís-


simo tempo e continuará sua trajetória, viajando de maneira aleatória.

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Durante essas interações, os fótons vão perdendo energia enquanto chegam à super-
fície com energias menores na faixa óptica do espectro eletromagnético. Assim, ao final
das trajetórias, haverá um intervalo de energias, denominado o espectro de corpo negro.

Podemos associar ao fóton uma massa em termos de energia pura por meio da equa-
ção de massa-energia de Einstein: E = mc2.

Leia textos atualizados no Grupo de Reelaboração do Ensino de Física.


Disponível em: http://bit.ly/2r62FQu

O fóton viaja, no vácuo, com a velocidade de aproximadamente 300.000km/s e pode ser


considerado uma unidade elementar, chamada de quantum, de energia da radiação eletro-
magnética (ARANY-PRADO, 2017).

Podemos dizer que o brilho das estrelas resulta do conflito da grande massa estelar que
quer se contrair, por meio da força gravitacional e das forças que empurram a massa para
fora, por meio da pressão resultante das reações nucleares, ou seja, brilham porque tentam
chegar a um equilíbrio hidrostático, nas fases estáveis, a energia carregada pela radiação
emitida deve, de alguma forma, estar equilibrada com a energia produzida em seu interior.

De acordo com Arany-Prado (2017), a reação nuclear é uma descoberta recente na


história da Ciência. A autora menciona que foi somente em 1939 que se constatou,
teoricamente, que são possíveis as reações nucleares que permitem as estrelas exis-
tirem por longos períodos. Menciona também que, no mesmo ano, Hans Albrecht
Bethe e Carl Friedrich Von Weizsäcker propuseram dois conjuntos de reações nucle-
ares para dar conta das energias estelares, denominados: o ciclo carbono e a cadeia
próton-próton.

• Baixe o PowerPoint sobre como as estrelas funcionam: http://bit.ly/39qhoH5


• Aprofunde o conhecimento sobre Equilíbrio Hidrostático: http://bit.ly/39rHSIc

Opacidade
Dentro da estrela, ocorrem interações dos fótons com a matéria do interior estelar.
Essa interação pode produzir uma resistência à passagem dos fótons pela matéria.

De acordo com Mourão (1995), a falta de completa transparência de um gás é cha-


mada de opacidade, ou seja, a resistência que os fótons podem assumir ao interagirem
com a matéria, é chamada de opacidade.

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UNIDADE
Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Quanto maior a opacidade da estrela, maior a dificuldade para os fótons que saem do nú-
cleo ao atingirem as camadas mais afastadas do núcleo e, portanto, chegarem até a superfície.

As nebulosas sempre estão associadas a várias estrelas muito quentes. Os fótons emi-
tidos por essas estrelas conseguem arrancar os elétrons dos átomos, produzindo íons.
Em algum momento, esses íons se recombinam com os elétrons, emitindo luz. Assim, de
alguma forma, as estrelas quentes tornam o gás visível. Pensando nisso, podemos nos
perguntar: O que absorvem os fótons?

Dependendo da faixa do espectro eletromagnético que estamos falando, cada fóton


terá um comprimento de onda diferente. Sendo assim, a opacidade no interior das estre-
las é diferente para cada comprimento de onda. Então, o material é chamado de opaco
à radiação em um determinado comprimento de onda quando a resistência ao seu fluxo
é quase total e, portanto, identificada.

De acordo com Oliveira Filho e Saraiva (2014), três mecanismos geram a opacidade
no núcleo estelar, absorção, espalhamento e reflexão.

No caso da absorção, os autores mencionam três tipos: ligado-ligado, ou seja, absor-


ção em linhas por excitação; ligado-livre, ou seja, por ionização; e do tipo livre-livre, ou
seja, um elétron livre no campo de um íon pode absorver uma quantidade arbitrária de
energia e aumentar sua energia cinética.

No caso do espalhamento, quando uma onda eletromagnética passa por um elétron,


o campo elétrico faz o elétron oscilar, quando um elétron está oscilando, ele representa
um dipolo clássico que irradia em todas as direções, isto é, o elétron espalha parte da
energia da onda incidente.

Os autores mencionam que esse é o clássico espalhamento Thomson, em homena-


gem a Joseph John Thomson (1856-1940).

E no caso de reflexão, existe a atenuação, normalmente desprezível, portanto, é as-


sumido o índice de refração μ=1.

Essa aproximação não é válida se o plasma for não transmissivo ou na presença de


campo magnético.

Leia mais sobre opacidade clicando no link: http://bit.ly/2ZBr9h0

Radiação versus Convecção


Sabemos que as ondas eletromagnéticas podem ser produzidas por oscilações dos
campos elétrico e magnético resultantes da perturbação no campo de uma carga elétrica
acelerada. Mas existe um limite físico para a emissão de radiação por meio de cargas
aceleradas, ou seja, ondas eletromagnéticas com altíssimas frequências ou pequeníssimos
comprimentos de onda, não podem ser produzidas dessa forma (OLIVEIRA FILHO;
SARAIVA, 2014).

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Em contrapartida, se a taxa com a qual a energia é transportada por radiação é muito
lenta para a quantidade de energia produzida, o material estelar pode entrar em estado
de ebulição. Esse método é denominado convecção.

Portanto, o transporte de energia pode ser feito por radiação, a não ser que a taxa
pela qual a energia está sendo produzida no interior exceda um valor crítico, quando o
transporte se torna então convectivo.

Leia mais sobre o transporte de energia nas estrelas: http://bit.ly/2u5Dw9B

Se, em uma camada de certa estrela, a condição de equilíbrio radiativo está satisfei-
ta e esse equilíbrio é estável contra perturbações, então, não há transporte de energia
por convecção.

Se, entretanto, o equilíbrio radiativo é instável a perturbações, ocorrem movimentos


de massa, e o transporte de energia por convecção é uma consequência. Precisamos,
portanto, determinar as condições sob as quais o equilíbrio radiativo é instável. Para
qualquer um dos mecanismos, seja radiação seja convecção, a temperatura é que deter-
mina o fluxo de energia.

Podemos pensar que a transferência radiativa ocorre sempre que existe gradiente de
temperatura. Por outro lado, as condições de equilíbrio radiativo devem ser favoráveis
para que a convecção ocorra.

Nas estrelas, tanto a convecção quanto a radiação podem dominar o transporte de


energia. Nas camadas mais externas, ambos podem coexistir e transportar quantidade
significativa de energia.

Sabemos que as estrelas são muito mais quentes no centro do que na superfície.
De acordo com Arany-Prado (2017), a temperatura na superfície, dependendo da
massa da estrela e da fase em que se encontra, pode variar entre 2.000K e 40.000K.
No centro, dependendo dos mesmos parâmetros, pode variar entre 10 milhões K e
cinco bilhões K. A autora menciona que este último caso se aplica a estrelas de alta
massa, nos estágios finais de suas existências.

Normalmente, uma estrela pode ser dividida em duas regiões básicas: o interior e a
atmosfera (Figura 1).

O interior contém quase toda a massa da estrela e é onde ocorrem as reações nu-
cleares, portanto, o interior pode ser subdividido em uma região central, o núcleo, um
envelope radiativo e um envelope convectivo.

A atmosfera engloba as camadas mais externas da estrela, em que a densidade e a


pressão são menores e se subdividem em fotosfera, cromosfera e coroa.

Os limites dessas regiões não são bem definidos e as regiões variam de tamanho
entre uma estrela e outra.

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Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Figura 1 – Regiões de uma estrela


Fonte: Getty Images

As estrelas produzem energia a uma taxa muito alta em seus núcleos e a radiação não
consegue transportar essa energia de forma eficiente. Outra característica é que estrelas
consideradas quentes possuem zonas radiativas maiores e, consequentemente, estrelas
consideradas mais frias, possuem zonas convectivas relativamente menores.

As estrelas de alta massa possuem o núcleo convectivo e o envelope radiativo. Para


estrelas de massa mais baixa, o núcleo é radiativo, pois a taxa de energia produzida é
menor. Porém, por possuírem temperaturas mais baixas, possuem mais átomos neutros
e semi-ionizados em suas camadas mais externas, e isso faz com que os fótons sejam
mais absorvidos.

Dessa forma, a energia é transportada de forma mais eficiente por convecção nes-
sas camadas.

Em linhas gerais, podemos dizer que, num dado momento, a força gravitacional no
núcleo estelar é tão intensa que a pressão e a temperatura sobem a um ponto em que
começa a ocorrer a reação termonuclear. Essa reação libera energia, que gera uma
pressão de radiação de dentro para fora, equilibrando a força gravitacional. Com isso, a
estrela brilha e se estabiliza em tamanho.

Sabemos que as estrelas emitem radiação na forma de ondas eletromagnéticas e


também na forma de partículas com massa, como prótons e elétrons livres. O que nos
faz pensar que as estrelas não são feitas de hidrogênio e hélio, mas de partículas que, se
combinadas, podem gerar esses elementos supracitados.

Então, existe uma força que mantém o núcleo de um átomo unido para que exista
um elemento como o hidrogênio, por exemplo. Essa força é chamada Força Nuclear
Forte (ARANY-PRADO, 2017), é cerca de cem vezes a força elétrica e vence a força de
repulsão entre os prótons, por isso, os núcleos atômicos podem existir.

Assista ao vídeo A Fusão Nuclear Explicada: Energia do Futuro?


Disponível em: https://youtu.be/cXarvv2j9WI

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Efeito Túnel
De acordo com Oliveira Filho e Saraiva (2014), para temperaturas da ordem de dezenas a
centenas de milhões de graus, a energia média das partículas interagentes é muitas ordens
de magnitudes menor do que a barreira coulombiana que as separa. As reações ocorrem
pelo efeito de tunelamento quântico, conhecido como efeito túnel, proposto em 1928, por
George Antonovich Gamow (1904-1968).

Podemos pensar que qualquer onda possui uma partícula associada a ela.

Na Física moderna, essa é a característica da chamada dualidade onda-partícula.

Na Física clássica, uma partícula está presa ao seu núcleo. No caso do elétron, a força
eletromagnética que o mantém em seu lugar. Para o próton, é a força nuclear forte que
o mantém junto a outros núcleos.

Na Física quântica, isso acontece de outra forma: a partícula é representada por sua
onda e esta onda não está presa em algum lugar no entorno do núcleo, que pode ir para
o outro lado da barreira potencial, mesmo que a sua energia cinética seja menor do que
sua energia potencial.

Vamos pensar, por exemplo, no núcleo do elemento rádio, que possui 88 prótons e
138 nêutrons. Consideramos que esse núcleo não é estável e, depois de certo período
de tempo, o núcleo de rádio expulsa dois nêutrons e dois prótons e se torna um núcleo
menos massivo.

As partículas descarregadas formam um núcleo de hélio e como a força nuclear forte


é muito poderosa, mas seu alcance é muito curto, se uma parte do núcleo se afastar o
suficiente, a repulsão elétrica predomina e as duas partes se separam.

Sobre a utilização do elemento rádio, por exemplo, de acordo com Arany-Prado (2017):
Em 1898, o famoso casal Curie, Pierre Curie (França, 1859 - 1906) e
Marie Sklodowska Curie (Polônia, França, 1867 - 1934) separaram de
toneladas de rochas os elementos hoje conhecidos como rádio e po-
lônio. Ambos tiveram as mãos queimadas nestas experiências, pois o
perigo dessas estranhas “radiações” era desconhecido. Os tipos de fe-
nômenos associados a estes elementos foram por eles denominados de
radioatividade em referência ao comportamento do rádio. Os nomes
rádio e polônio têm sua origem, respectivamente, em radius, do latim,
que quer dizer raio (de luz), e Polônia (país de origem de Marie Curie).
(ARANY-PRADO, 2017, p. 89-90)

O efeito mencionado no exemplo, transformando o elemento rádio em hélio, só foi


compreendido a partir dos trabalhos pioneiros e independentes publicados em 1928, pelo
físico russo George Gamow (1904-1968), pelo físico norte-americano Edward Condon
(1902-1974) e pelo físico inglês Ronald Gumey (1898-1953).

Então, podemos dizer que esse efeito está compreendido em como as partes do nú-
cleo atômico podem, ocasionalmente, mover-se longe o suficiente para que a repulsão
elétrica se encarregue de deixá-las mais para fora de sua posição original.

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Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Segundo a mecânica, o movimento das partículas subatômicas é descrito por uma


onda associada a uma partícula, que obedece a equação de Schrodinger, proposta em
1926, pelo físico austríaco Erwin Schrodinger (1887-1961).

Foi assim que se pensou na probabilidade de uma partícula nuclear transpor uma
barreira de potencial sem ter energia cinética suficiente. Foi, portanto, por meio de um
mecanismo quântico conhecido como efeito túnel que os físicos ampliaram a compreen-
são sobre esse fenômeno de afastamento de partículas nucleares, permitindo o entendi-
mento da transformação de um elemento em outro.

De acordo com Sismanoglu, Nascimento e Aragão (2015), uma barreira de potencial


é uma região que possui uma energia potencial que impede a travessia de uma partícula
de um lado para outro.

Na visão clássica, só é possível se a energia da partícula for maior que o máximo da


barreira, ou seja, EVm. Mas seguindo os preceitos da Mecânica quântica, a partícula,
mesmo possuindo energia menor que o máximo da barreira, ou seja, EVm, conforme
esquematizado na Figura 2, assume um comportamento ondulatório e consegue sobre-
pujar a barreira pelo efeito túnel que lhe garanta uma probabilidade finita para isso.

Um modelo de barreira retangular conforme a Figura 2 mostra uma partícula de massa


m, na visão clássica, e a onda associada à partícula, na visão quântica, que sofre efeito túnel
nesta barreira. A barreira tem altura Vm e a energia da partícula é EVm (SISMANOGLU;
NASCIMENTO; ARAGÃO, 2015).

Figura 2 – Efeito Túnel


Fonte: SISMANOGLU; NASCIMENTO; ARAGÃO, 2015, p. 1312-3

Assim, o efeito túnel, também conhecido como tunelamento quântico, é um fenôme-


no que permite a transição da posição original de uma partícula nuclear para outro local,
mudando a configuração atômica e transformando um elemento em outro.

Assista ao vídeo Tunelamento Quântico em 3 minutos: https://youtu.be/_NTtOSr_kV8

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A Cadeia Próton-Próton
O alemão Hans Albrecht Bethe (1906-2005), vencedor do prêmio Nobel em 1967, com
uma teoria de como a fusão nuclear podia produzir a energia que faz as estrelas brilharem.

Mostrou como quatro prótons poderiam ser unidos e transformados em um núcleo


de hélio, liberando a energia. Bethe elaborou o ciclo do carbono, ao propor uma cadeia
com seis reações nucleares em que átomos de carbono e nitrogênio agem como catali-
sadores para a fusão nuclear.

Por meio do ciclo do carbono, Bethe demonstrou que a temperatura no interior do


Sol calculada pelos astrônomos, de cerca de 19 milhões K, estava errada.

O valor aceito para a temperatura do núcleo do Sol, na atualidade, é de cerca de 15 mi-


lhões K, e a esta temperatura, como explicitado por Bethe, à cadeia próton-próton domina,
por necessitar de uma temperatura maior que 8 milhões K para ser efetivo.

De acordo com Arany-Prado (2017), a fusão do hidrogênio de fato representa uma cadeia
de reações nucleares, ou cadeia próton-próton. O resultado líquido da cadeia próton-pró-
ton é que quatro núcleos de hidrogênio, ou quatro prótons, produzem um núcleo de hélio.

Dessa forma, a cadeia próton-próton transforma, por exemplo, um conjunto de qua-


tro núcleos de hidrogênio em um núcleo de hélio.

Na figura 3, temos um esquema desenhado por Arany-Prado (2017), em que os números


significam números de massa, as setas verticais indicam os núcleos resultantes na cadeia de
reações, com exceção do hélio-4, os elementos produzidos são chamados de catalisadores.

As setas inclinadas nas etapas intermediárias da cadeia indicam as partículas que


entram, à esquerda, e as que são liberadas, à direita, nas interações.

Figura 3 – Cadeia próton-próton


Fonte: ARANY-PRADO, 2017, p. 105

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Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Assim, em linhas gerais, temos que, dois prótons se colidem formando um dêuteron e
emitem um pósitron e um neutrino, com um próton se transformando em um nêutron,
em seguida, um dêuteron colide com um próton formando um hélio-3 e emitindo um
fóton de raios gama, então dois hélio-3 colidem formando um hélio-4 mais dois prótons.

Daí em diante, a cadeia próton-próton envolve outras situações dependendo da tem-


peratura interna a que as partículas estão submetidas.

De acordo com Mourão (1995), Bethe demonstrou que uma reação direta entre o nú-
cleo de hidrogênio para produzir hélio, designada como cadeia próton-próton, poderia
gerar energia nas estrelas mais frias ou com temperaturas iguais a do Sol.

Mas, atualmente, existe outra forma de converter hidrogênio em hélio, o ciclo carbono-
-nitrogêno-oxigênio, chamado de CNO, opera no interior das estrelas mais quentes que o Sol.

O pósitron é a antipartícula do elétron. Neutrinos não têm carga nem massa, sendo, entretanto,
prevista teoricamente uma massa diferente de zero. O fóton é uma unidade elementar, chamada
de quantum de energia da radiação eletromagnética (ARANY-PRADO, 2017, p. 105).

As estrelas com massas superiores à do Sol, maiores que 1,5 M⊙, transformam o
hidrogênio pelo ciclo CNO, possuem o núcleo convectivo e atmosfera radiativa.

Quando essas estrelas transformam o hélio nuclear em carbono, elas mudam sua
característica física e deixam de serem consideradas gigantes.

Quando o hélio nuclear for, praticamente, todo transformado em carbono, uma parte me-
nor pode ser transformada em oxigênio e as estrelas passam a ser consideradas supergigantes.

Queima de Elementos Pesados


Para as estrelas mais massivas, a fase de gigante e supergigante ocorrem, sem ne-
nhum evento que marque o início da origem do hélio, do carbono, do oxigênio, do
neônio, do magnésio, do silício e, assim, sucessivamente, até transformar o núcleo em
ferro, por exemplo. Quando o núcleo chega a ferro, não há mais como extrair energia
através de reações termonucleares, e a estrela colapsa, ejetando a maior parte de sua
massa como supernova (OLIVEIRA FILHO; SARAIVA, 2014).

Quando não existir hidrogênio no núcleo estelar, a compressão da estrela é iniciada, pois
não há, temporariamente, fornecimento de energia que compense sua força gravitacional.

A estrela se contrai, aumentando a densidade interna rapidamente, em 10 milhões de


anos, a densidade pode crescer cerca de 250 vezes.

Ocorre que uma região, em volta do núcleo de hélio, passa a ter densidade e tempe-
ratura adequadas para que o hidrogênio volte a sofrer a fusão nuclear, ou seja, o hidro-
gênio continua sendo o elemento mais abundante em toda a região em torno do núcleo
estelar inerte, composto por hélio.

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Pode se dizer que começa a fusão do hidrogênio em uma camada que envolve o
hélio, que restou da primeira fusão do hidrogênio. Portanto, a energia gerada, na ca-
mada de fusão do hidrogênio, é mais rápida que no primeiro estágio. O núcleo de hélio
é enriquecido com mais hélio proveniente da camada de fusão do hidrogênio e, ainda,
continua a se contrair pela força gravitacional, enquanto a camada de fusão do hidrogê-
nio é aumentada. Portanto, a estrela se expande e pode alcançar um volume milhares
de vezes maior que o inicial.

O ciclo de fusão do hélio que tem como produto final o chamado carbono-12, segue
a uma temperatura e densidade suficientemente altas, três núcleos de hélio podem se
combinar produzindo um núcleo de carbono.

Essa reação denomina-se reação triplo alfa.

A fabricação dos elementos químicos começou com o Big Bang, então, podemos dizer que
foi no núcleo das primeiras estrelas que apareceram os primeiros átomos mais pesados,
como carbono e oxigênio?

No interior da estrela (Figura 4), o hidrogênio se torna escasso e ela passa a fundir
hélio, convertendo-o em carbono-12. Daí em diante, o carbono será fundido em átomos
diversos, como oxigênio, neônio, magnésio e silício, por exemplo.

Finalmente, se a estrela tiver massa suficiente, ela fundirá esses átomos em ferro.

Figura 4 – Núcleo de Ferro


Fonte: ARANY-PRADO, 2017, p. 116

Para temperaturas superiores a 5 bilhões K, os núcleos de ferro começam a ser


desintegrados em núcleos de hélio, o que reverte a chamada nucleossíntese, havendo
também a produção de grande quantidade de nêutrons.

Em seguida, o hélio também é desintegrado e tal processo pode ocorrer em uma


explosão de supernova.

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Transporte e Produção de Energia nas Estrelas

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
SBF - sociedade brasileira de física
Leia textos atualizados na Sociedade Brasileira de Física.
http://bit.ly/3876bKZ
SAB -Sociedade Astronômica Brasileira
Fique por dentro das principais pesquisas no Brasil por meio da Sociedade Brasileira
de Astronomia.
http://bit.ly/3877vxq
The Hertzsprung Russell Diagram
Veja o diagrama H-R mais detalhado.
http://bit.ly/39m3VA1
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Veja o simulador para o diagrama H-R do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
http://bit.ly/2SG9uU6
Animações e Simulações
Veja as várias animações e simulações, do grupo de Astronomia Sputnik, sobre Astronomia.
http://bit.ly/2DAP3PH

Vídeos
A Fusão Nuclear Explicada: Energia do Futuro?
https://youtu.be/cXarvv2j9WI
De Poeira Estelar a Supernovas: O Ciclo de Vida das Estrelas
https://youtu.be/1wPSGIV84aI
Tunelamento Quântico em 3 minutos
https://youtu.be/_NTtOSr_kV8

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Referências
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