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Resultados da aprendizagem:
No final desta disciplina os estudantes devem ser capazes de:
Definir o que é um projecto agrário
Identificar e comparar custos e benefícios de projectos agrários
Mobilizar financiamento para a implementação de projectos
Implementar projectos agrários
Monitorar e avaliar os projectos
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b) Finanças do projecto
Literatura básica:
1. Marques, A. (2006). Concepção e análise de projectos de investimento.
Edições Silabo
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2. Gittinger, J. (1972). Economic Analysis of Agricultural Projects. World Bank
Publication. Johns Hopkins University Press.
3. Wiggins, S. e Shields, D. (1995). Clarifying the logical Framework as a Tool
for Planning and Managing Development Projects. Mac Millan Publications
4. Shields, D. (1993). What is a Logical Framework? Rural Extension Bulletin
I (4) pp 15-20.
5. ACCD, sd. SWAT Manual. AY13, Austin Community College SWOT Team
manual
Projectos são meios largamente utilizados para alocar recursos limitados a específicos
propósitos de desenvolvimento tão efectivamente quanto possível, para beneficiar
tanto os produtores como os consumidores dos produtos agrários.
i. O que é um projecto
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a) Um investimento ou seriço em curso, tal como o controle da malária, que não está
associado a um tempo limitado, ou
b) Uma colecção de projectos e/ou programas (como definido atrás em (a)), tais
como construção de estradas rurais a partir de componentes de vários projectos.
Muitas vezes é recomendável dar o formato de projectos a tais programas
tornando-os discretos e associados a um tempo limitado (isto é, quebrá-los em
componentes individuais menores) tal como financiar um programa florestal de
longo prazo por um determinado tempo; ou
c) Usado como sinónimo de Plano de desenvolvimento - Programa de
desenvolvimento
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Os países em desenvolvimento e os doadores põem grande ênfase nos projectos de
desenvolvimento agrário como fócus da sua intervenção financeira e física por
várias razões: i) os projectos fornecem evidência física da assistência ao
desenvolvimento agrário (ex: uma barragem, um regadio); ii) os projectos de
desenvolvimento agrário podem absorver elevados fundos de investimento, e por
conseguinte, são especialmente valiosos para as agências de ajuda que têm dificuldade
em fazer a sua alocação; iii) os projectos de desenvolvimento agrário são também um
meio de habilitar os governos e as agências de ajuda a ter um certo controle dos
fundos que dispensam, para alcançar um uso apropriado e custo-efectivo.
A abordagem do projecto combina bem com a visão cada vez mais pragmática do
desenvolvimento encontrada hoje em dia em muitos países. A complexidade e
interdependência da economia global moderna impõe disciplina e realismo nos
fazedores de políticas. As recentes vicissitudes (recessão, redução da ajuda externa,
crise de débitos) acentuaram este facto. Em vez de construír modelos elaborados para
a planificação central, os governos concentram mais os seus esforços nos dois meios
primários dentro do seu controle para conduzir o processo de crescimento: um
programa saudável de investimento no sector público que aloca recursos escassos para
as necessidades públicas mais prioritárias, e uma moldura política que provoca o
comportamento desejado tanto das entidades públicas como das privadas. A ênfase
está em ser prático, mais do que doutrinário, em aprender fazendo, em usar o que
funciona e abandonar o que não funciona. Isto é cada vez mais verdade tanto para as
economias centralmente planificadas como para as de mercado. Neste contexto, a
abordagem de projecto provou ser um instrumento flexível e útil, independentemente
do sistema económico do país, tipo do governo, ou estágio de desenvolvimento.
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A análise FOFA é um dos vários instrumentos de avaliação e planificação que,
quando correctamente utilizado, fornece uma visão global dos factores mais
importantes que influenciam o futuro de um projecto (programa). É a base para uma
reflexão de auto-avaliação de como a missão está sendo desempenhada. Dela
resulta a base para o desenvolvimento de recomendações e planos de acção, também
conhecidos como Planos para a Melhoria da Qualidade. Tais recomendações e
planos de acção tomam em conta muitos factores internos e externos que maximizam
o potencial das fortalezas e oportunidades dos programas, enquanto minimizam o
impacto das suas fraquezas e ameaças. A análise FOFA ajuda a assegurar o uso
eficiente dos recursos para fornecer resultados benéficos do programa. Ela
habilita mais o pensamento proactivo do que as reacções habituais ou instintivas.
A análise FOFA é uma moldura simples mas poderosa para alavancar as fortalezas
da unidade, melhorar as fraquezas, minimizar as ameaças e tirar a maior vantagem
possível das oportunidades. Além destes, os seus benefícios incluem também os
seguintes:
Oportunidade para colaboração na formulação de planos estratégicos;
Incorporação de muitos e diferentes factores internos e externos;
Processo estruturado que permite uma formulação cuidadosa de uma ideia
Colocação de uma ideia em contraste com o seu congelamento, o que minimiza a
ocorrência do seu processamento reaccionário e mentalidade de grupo;
Participantes geralmente calados e pouco participativos são encorajados e têm a
habilidade de participar num processo que é mais amigável para as suas
necessidades.
Permite que os participantes geralmente “dominadores” sejam igualados aos
outros, mas não dominados;
As respostas são priorizadas dentro de cada categoria pela sua importância, dando
às unidades uma clara percepção dos seus tópicos mais pertinentes e das áreas a
ser consideradas.
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PRÓS CONTRAS
Fortalezas Fraquezas
O que a unidade faz muito bem, Onde as funções são
internamente desempenhadas internamente,
abaixo do desejável
Oportunidades Ameaças
Condições externas potencialmente Condições externas potencialmente
favoráveis à unidade desfavoráveis à unidade
Fortalezas Fraquezas
O que a unidade faz muito Onde as funções são
bem, internamente desempenhadas
internamente, abaixo do
desejável
Oportunidades Fo&Op Fr&Op
Condições externas Realize as oportunidades Ultrapasse as fraquezas
potencialmente favoráveis que melhor se enquadram para realizar as
à unidade nas fortalezas do programa oportunidades
Ameaças Fo&Am Fr&Am
Condições externas Identifique formas de o Estabeleça um plano
potencialmente projecto (programa) usar defensivo para evitar que
desfavoráveis à unidade as suas fortalezas para as fraquezas do projecto
reduzir a vulnerabilidade (programa) o tornem
às ameaças externas altamente vulnerável às
ameaças externas
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Os seguintes passos podem ser utilizados para fazer a análise FOFA:
Introdução do grupo e estabelecimento de regras básicas/guião;
Discutir os dados da unidade/projecto/programa e a sua relação com o
desempenho da missão da unidade/projecto/programa. Isto ajudará a clarificar as
fortalezas e fraquezas existentes. Fortalezas e fraquezas ajudarão a identificar
possíveis oportunidades e ameaças.
Discutidos os dados inicia-se a tempestade de ideias “brainstorming” sobre cada
um dos elementos da FOFA, um de cada vez (ex: primeiro fortalezas, depois
fraquezas, a seguir oportunidades e por último ameaças). Pede-se aos
participantes que escrevam o que pensam sobre os dados, ou os seus comentários.
O processo FOFA
Fazer a recolha contínua das contribuições
Registar as contribuições de forma aleatória diante do grupo, maximizando assim
a garantia de ausência de viés;
Terminada a escrita dos tópicos dos grupos procede-se a leitura em voz alta de
todas as contribuições arroladas;
A seguir encoraja-se os participantes a agrupar os tópicos por semelhança ou em
temas;
Juntos, os participantes acordam no título de cada grupo ou “cluster”;
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o Pode haver uma manipulação dos agrupamentos dos temas que surgirem.
A análise FOFA produz uma lista de assuntos que são no momento os mais
pertinentes para o programa/projecto/unidade. Estes formam a base para qualquer
Plano de Melhoria de Qualidade (PMQ).
i. O ciclo do projecto
Há uma tendência de haver uma sequência natural na forma como os projectos são
planificados e realizados. Tal sequência é muitas vezes designada “cilo do projecto”, e
este pode ser dividido em diferentes formas, todas igualmente válidas. Uma delas é a
que vamos adoptar, e divide o ciclo em cinco etapas:
a. Identificação
b. Preparação e análise
c. Apreciação
d. Implementação
e. Avaliação
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O diagrama seguinte mostra a relação entre estas etapas e os diferentes tipos de planos
de desenvolvimento:
Plano regional
Plano Identificação
macro
Avaliação
Plano sectorial ex-post
Preparação
Apreciação
Implementação
Monitoria e
Avaliação corrente
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Embora o diagrama mostre de forma simplificada e sequenciada as diferentes etapas
do ciclo do projecto, na prática estas ocorrem de forma iteractiva, com ajustes e
reformulações sempre que necessário. Vejamos em detalhe os principais aspectos das
etapas:
a. Identificação
A identificação é o início do processo através do qual os planos de investimento
nacional e as estrategias do sector são traduzidas em programas específicos de
investimento e de acção, num processo dinâmico e iteractivo.
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Ocorrência de eventos naturais (ex: secas, cheias, terramotos)
Desejo de criar uma capacidade local permanente para realizar
actividades de desenvolvimento através da construção de instituições
locais
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Preparação e análise - Elabora-se um pequeno resumo descrevendo os objectivos,
identificando as principais questões e estabelecendo o calendário para o posterior
processamento. A responsabilidade formal da preparação é do peticionário. A
preparação do projecto pode requerer assistência financeira e técnica. A preparação
deve cobrir toda a gama de condições técnica, institucional, económica, e financeira
para alcançar os objectivos do projecto. Um elemento crítico da preparação é a
identificação e comparação de alternativas técnicas e institucionais para alcançar os
objectivos do projecto. Assim, a preparação requer estudos de viabilidade que
identifiquem e preparem desenhos preliminares de alternativas técnicas e
institucionais, comparação dos respectivos custos e benefícios, e investigação mais
detalhada das alternativas mais promissoras até se encontrar a solução mais
satisfatória.
Apreciação - Esta é talvez a fase mais bem conhecida do trabalho do projecto (em
parte, porque é o culminar do trabalho preparatório). Fornece uma revisão
compreensiva de todos os aspectos do projecto e constitui o alicerce da
implementação do projecto e da sua avaliação quando terminado. É responsabilidade
do credor. Se a preparação tiver sido bem feita, a apreciação pode ser relativamente
simples e rápida. A apreciação cobre quatro aspectos principais do projecto: técnico,
institucional, económico e financeiro.
Uma parte crítica da apreciação técnica é uma revisão dos custos estimados e a
engenharia ou outros dados em que se baseiam para determinar se são credíveis
dentro de uma margem aceitável e se as provisões para contingências físicas e
aumento esperados de preços durante a implementação do projecto são
adequadas. A apreciação técnica também revê os arranjos do “procurement”
propostos para se assegurar que estão de acordo com as exigências do financiador.
Examina os procedimentos da engenharia, arquitectura e outros serviços
profissionais. Também estima os custos da operação das facilidades e serviços do
projecto, bem como a disponibilidade das matérias primas e outros inputs
necessários. Por último, examina igualmente o potencial impacto do projecto no
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ambiente humano e físico para ter a certeza de que quaisquer efeitos adversos
serão controlados e minimizados.
Sempre que possível, faz-se uma análise detalhada dos custos e benefícios do
projecto para o país, e o seu resultado é expresso através da taxa de retorno
económico. Esta análise requer com frequência a solução de problemas tão difíceis
como a determinação das consequências físicas do projecto e a sua valoração em
termos de objectivos de desenvolvimento para o país. Quando distorções do mercado
devidas por exemplo a restrições, impostos ou subsídios não permitem calcular a
preços de mercado o verdadeiro valor económico dos custos utilizam-se “preços
sombra”. Usam-se “preços sociais” para ponderar a distribuição da renda e o
incremento da poupança pública e usa-se a análise da sensibilidade para avaliar
alterações no retorno do projecto devidas à variação de algumas das assumpções
chave.
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Financeiro - A avaliação financeira tem vários propósitos. Um deles é assegurar
que há fundos suficientes para cobrir os custos de implementação do projecto.
Um aspecto importante desta avaliação é assegurar que existe um plano
financeiro para disponibilizar os fundos para implementar o projecto agendado.
Para projectos geradores de renda, a apreciação financeira avalia também a sua
viabilidade financeira. As finanças do projecto são minuciosamente revistas
através das projecções do balancete, declaração de rendimentos (income
statment), e fluxo de caixa. São revistos os rácios financeiros, a capacidade de
endividamento, o nível e estrutura dos preços, a recuperação do investimento e
dos custos operacionais, as taxas de juros pagas e/ou cobradas.
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Avaliação - Por a supervisão ser, em parte, um processo de aprender através da
experiência, ela diz respeito, acima de tudo, ao período em que, na vida do projecto,
as componentes físicas estão sendo construídas, o equipamento comprado e instalado,
e novas instituições, programas e políticas estão sendo postos em prática. Uma vez
completados estes estágios, o nível de supervisão declina drasticamente. Durante o
período de supervisão activa, a atenção tende a ser focalizada nos problemas do
momento. A monitoria e avaliação permanente dos projectos tornou evidente a
necessidade de uma abordagem mais compreensiva para avaliar os seus resultados.
Foi assim que em 1970 se estabeleceu um sistema de avaliação como a etapa final do
ciclo do projecto.
A análise económica dos projectos agrários se faz para comparar custos com
benefícios e determinar qual dos projectos alternativos tem um retorno aceitável.
Portanto, os custos e benefícios do projecto proposto devem ser identificados. Uma
vez conhecidos, devem ser valorados, isto é, deve-se-lhes atribuir um preço, e
determinar o seu valor económico. Embora isto seja bastante óbvio, é muitas vezes
embaraçoso.
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Objectivos, custos e benefícios
Tanto para o sector privado como para o governo o objectivo principal é maximizar a
renda líquida. No entanto, ambos têm também muitos outros objectivos, tais como
diversificar a actividade para reduzir o risco, contratar um gestor para poder ter mais
tempo de lazer, garantir transporte público em zonas com baixa densidade
populacional ou em horas de baixo tráfego, situações estas todas que reduzem a renda
líquida. Na nossa análise começaremos por identificar o padrão de operações que as
empresas no projecto irão mais provavelmente seguir e depois avaliar os efeitos de
tal padrão na capacidade de o projecto gerar renda.
A sociedade como um todo terá como principal objectivo aumentar a renda nacional.
No entanto, outros objectivos significantes podem ser: a distribuição da renda, o
aumento das oportunidades de emprego (redução do desemprego), o aumento da
poupança (para poder investir, acelerar o crescimento e aumentar mais a renda no
futuro), o aumento da integração regional, a elevação do nível educacional, o aumento
da saúde rural, o aumento da segurança nacional, etc.
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importante nos esforços económicos individuais, e o incremento da renda nacional é
provavelmente o mais importante objectivo da política nacional.
Portanto, no sistema de análise económica aqui discutido, tudo o que reduz a renda
nacional é um custo e tudo o que a aumenta é um benefício. Uma vez que o nosso
objectivo é aumentar a soma de todos os bens e serviços finais, tudo o que
directamente reduz os bens e serviços finais é um custo e tudo o que directamente os
aumenta é claramente um benefício. Assim, a tarefa do analista na análise económica
é estimar a quantidade do aumento desta renda nacional disponível para a sociedade,
isto é, determinar se, e por quanto, os benefícios superam os custos em termos de
renda nacional.
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Produto Interno Bruto (PIB) em vez do mais familiar Produto Nacional Bruto (PNB).
Esta convenção (quase universalmente aceite pelos analistas de projectos) separa a
decisão de quão bom é o projecto no seu potencial de geração de renda da decisão de
como financiá-lo.
Pode ocorrer uma alteração dos “outputs” do projecto em dois tipos de situação. O
mais comum é quando a produção na área está já a crescer, mesmo que lentamente, e
provavelmente continuará a crescer durante a vida do projecto. O objectivo do
projecto é aumentar o crescimento intensificando a produção. No entanto, uma
alteração no “output” pode também se verificar sem o projecto: pode ocorrer redução
da produção na ausência de um novo investimento, por exemplo, devido à erosão e
consequente perda de solos com aptidão para a agricultura. O investimento do
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projecto vai prevenir a erosão. Uma simples comparação antes-e-depois não irá
identificar os benefícios decorrentes do investimento.
Por vezes um investimento para prevenir perdas pode também levar a um aumento da
produção, de tal modo que o benefício total provém por um lado da perda evitada e
por outro, do aumento da produção. Mais uma vez, uma simples comparação
antes-e-depois não irá identificar os benefícios alcançados por evitar as perdas.
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com-e-sem o projecto é menos crucial. Em alguns projectos a previsão de incrementar
a produção sem o projecto é mínima. O valor incremental pode ser atribuído apenas
ao novo investimento. Um exemplo onde não se espera que haja mudança no “output”
sem o projecto é o de alguns projectos de reassentamento. Sem o projecto não há
nenhum uso económico da área. Neste caso, o “output” sem o projecto é o mesmo que
o “uotput” antes do projecto.
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As transacções de crédito são outra forma de transferência directa de pagamentos
nos projectos agrários. Para o agricultor a recepção do empréstimo aumenta a sua
disponibilidade de recursos para produzir, e o pagamento dos juros e do capital reduz
tal disponibilidade. No entanto, do ponto de vista económico, nem o empréstimo reduz
a renda nacional disponível, nem o pagamento do capital e dos juros a aumenta. Nos
dois casos há apenas uma transferência do controle de recursos.
Bens físicos
Raramente os bens físicos usados num projecto agrário serão difíceis de identificar.
Para estes bens a dificuldade reside no problema técnico da planificação e desenho
associados com a identificação da quanto e quando serão necessários.
Força de trabalho
Também para a força de trabalho a dificuldade não reside na sua identificação, mas
de quanto e quando será necessária. Uma dificuldade especial reside na sua
valorização, que pode requerer o uso de preços sombra. A valorização da força de
trabalho familiar pode trazer uma dificuldade adicional.
Terra
Por razões idênticas, não é difícil identificar a terra a usar num projecto agrário, nem
a sua localização e a quantidade a ser usada. Podem surgir problemas na sua
valorização por causa do tipo muito especial de condições de mercado existente no
momento da sua transferência de um proprietário para outro.
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Provisões para contingências
Impostos
Serviço da dívida
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O pagamento de juros e do capital são um custo na análise financeira e uma
transferência de pagamentos na análise económica. Tal pagamento é omitido nas
contas económicas. Mesmo no caso da capitalização dos juros, isto é, adição dos juros
ao capital durante o período que antecede a geração de receitas pelo projecto, estes
continuam sendo uma transferência de pagamentos na análise económica, embora
aumentem o custo do capital e consequentemente o serviço de dívida na análise
financeira. Para obter o valor económico do custo do capital tais juros devem ser
subtraídos do custo do capital e omitidos nas contas económicas.
Custos irrecuperáveis (Sunk costs) são custos incorridos no passado e sobre os quais
uma nova proposta de investimentos se irá basear. Tais custos não podem ser
evitados. Aliás, quando se analisa uma proposta de investimento, apenas se
consideram os retornos futuros de custos futuros. As despesas do passado, ou custos
irrecuperáveis (sunk costs), não aparecem nas contas. De facto, o dinheiro dispendido
no passado já foi gasto, e não implementar um projecto já concluído não constitui
nenhuma alternativa.
Produção incrementada
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O benefício mais comum de projectos agrários é o incremento da produção física. Na
maioria dos projectos agrários que produzem para comercializar não será difícil
identificar o benefício e encontrar o preço de mercado, embora possa ser difícil
determinar o valor correcto a usar na análise económica. Em muitos projectos
agrários o benefício pode incluir o incremento da produção consumida pela própria
família agricultora. Tal produção consumida incrementa tanto o benefício líquido da
família agricultora, e portanto, a renda nacional, como se ela tivesse sido vendida no
mercado. Uma vez que tal produção consumida contribui para os objectivos do
projecto tanto como a comercializada, ela é claramente parte dos benefícios do
projecto tanto na análise financeira como na económica. Omitir a produção
consumida pela família agricultora tenderá a fazer parecer os projectos que produzem
culturas comerciais relativamente mais produtivos, e poderá levar a uma escolha não
adequada entre projectos alternativos. Não incluir a produção consumida pela família
agricultora significará também subestimar o retorno dos investimentos agrários em
relação aos retornos dos investimentos dos outros sectores da economia.
Melhoria da qualidade
Por vezes o benefício de um projecto agrário pode tomar a forma de uma melhoria da
qualidade do produto. Tanto o aumento da produção como a melhoria da qualidade
são na maior parte das vezes esperados nos projectos agrários, embora nem sempre se
espere que ocorram ambos. No entanto, a taxa e a extensão do benefício da melhoria
da qualidade podem facilmente ser sobre-estimados.
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Projectos que envolvam indústrias de processamento agrário esperam que os
benefícios provenham da alteração da forma dos produtos agrários. Até mesmo uma
simples facilidade de processamento tal como um alpendre para a
normalização/tipificação do produto origina um benefício ao mudar a forma do
produto de tal-como-é-colhido, para classificado (agrupado por classes). Os de
melhor qualidade são vendidos a um preço maior e o valor total aumenta.
Perdas evitados
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redução de acidentes, ou do desenvolvimento de actividades em novas áreas
acessíveis para o mercado.
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Custos e benefícios intangíveis
Quase todos os projectos agrários têm custos e benefícios intangíveis, tais como
criação de novas oportunidades de emprego, melhor saúde e redução de mortalidade
infantil, melhor nutrição. Tais benefícios intangíveis são reais e reflectem valores
verdadeiros, embora não se prestem à valorização. Porque os benefícios intangíveis
contam para a selecção do projecto, é importante que sejam cuidadosamente
identificados e, sempre que possível, quantificados, mesmo que a sua valoração seja
impossível. Por exemplo, quantas crianças se irão matricular na nova escola? Quantas
casas irão beneficiar de um melhor sistema de fornecimento da água? Quantas
crianças serão salvas por causa de mais clínicas rurais?
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Preços reflectem valor
É evidente que a quantidade óptima de factor muda se o preço deste mudar, quando
comparado ao preço do produto. Se o preço relativo do factor aumentar, o agricultor
responderá reduzindo a quantidade do factor que utiliza, aumentando assim o valor do
seu produto marginal (reduz a quantidade total do factor e o valor da produção) até
que o valor do produto marginal do factor seja de novo igual ao seu preço.
No caso do recurso escasso ser aplicado na produção de mais de uma cultura, o nível
óptimo da sua aplicação será o ponto em que o valor do produto marginal do factor
em cada cultura será igual.
Este princípio é válido quer para o agricultor individual quer para a economia como
um todo. Num mercado de competição perfeita, deve-se atribuir o preço de todos os
bens económicos de acordo com o valor do seu produto marginal. De facto, os
agricultores utilizarão os factores até ao ponto em que o valor do seu produto
marginal é igual ao seu preço, e o mesmo acontecerá com todos os outros items na
economia. Por outras palavras, o preço de todos os bens e serviços será exactamente
igual ao valor que a última unidade utilizada contribui para a produção, ou o valor em
uso do item para o consumo é exactamente igual ao valor com que ele contribuiria
para a produção adicional. Se uma unidade de bem ou serviço pudesse produzir mais
ou trazer maior satisfação numa actividade diferente do seu presente uso, alguém
poderia querer elevar o seu preço, e seria atraído pelo novo uso. Quando este sistema
de preços está em “equilíbrio”, o valor do produto marginal, o custo oportunidade, e
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o preço serão iguais. Então os recursos terão sido alocados através do mecanismo de
preço de tal modo que a última unidade de todo o bem e serviço na economia está no
seu uso mais produtivo ou melhor uso de consumo. Nenhuma transferência de
recursos poderia resultar em maior “output” ou mais satisfação.
Para estimar os preços o analista deve ir ao mercado. Deve perguntar o preço actual
em transacções recentes e consultar muitas fontes: agricultores, pequenos
comerciantes, importadores e exportadores, extensionistas, pessoal dos serviços
técnicos, especialistas e estatísticos governamentais de mercado, estatísticas públicas
e privadas sobre preços de mercados nacionais e internacionais. A partir destas fontes
o analista deve chegar a um número que adequadamente reflicta o preço corrente de
cada input ou output no projecto.
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Ponto da primeira venda e preço à porta da machamba
Na análise de projectos uma boa regra para determinar o preço de mercado para
bens agrários produzidos no projecto é procurar o preço no “ponto de primeira
venda”. Se este ponto está num mercado relativamente competitivo, o preço a que o
bem é vendido nesse mercado será provavelmente uma estimativa relativamente boa
do seu valor quer em termos económicos quer em termos financeiros. Se o mercado
não é razoavelmente competitivo, na análise económica o preço financeiro poderá ter
de ser melhor ajustado para reflectir o custo oportunidade ou valor no uso do bem.
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tratamento de produtos intermédios varia de projecto para projecto, de acordo com as
estruturas peculiares de marketing. Para evitar a maior parte dos problemas que
podem ser introduzidos por tentar imputar valores para os produtos intermediários, as
contas financeiras nos projectos agrários se baseiam em orçamentos para toda a farma
em vez de orçamentos para actividades individuais na farma.
Um bem intermediário que se encontra com frequência nos projectos agrários é a água
de rega. O “produto” de um sistema de água de rega é, sem dúvida, destinado a
produzir bens agrários. O preço que os agricultores são cobrados pela água é
geralmente determinado administrativamente, e não por algum jogo de forças de
mercado competitivo. Se o analista tentar separar o sistema de irrigação da produção
que ele torna possível, ele irá encarar uma tarefa quase impossível de determinar o
valor da água de rega. Assim, não surpreende que a análise económica da maioria dos
projectos de rega tome como a base para o rol de benefícios o valor dos produtos
agrários que são oferecidos num mercado relativamente livre no ponto de primeira
venda.
Se as contas da farma são produzidas numa base “com” e “sem” como anteriormente
visto, nos casos em que o projecto envolve apenas uma mudança de padrão de cultura
(por exemplo, uma alteração de pastagem para mapira irrigada), o custo da terra
(neste caso um custo oportunidade) não precisa de ser considerado separadamente por
causa da forma da conta. Quando o benefício líquido sem o projecto é subtraído do
benefício líquido com o projecto, a contribuição da terra para o velho padrão de
cultura é também subtraída e apenas resta o valor incremental.
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torna-se uma parte do benefício líquido. Assim, se o projecto incrementa o benefício
líquido, de facto ele também incrementa a renda da família ou “salário” para a sua
força de trabalho. Mais uma vez, seguindo o formato de que se falou anteriormente, a
conta irá automaticamente valorar a força de trabalho familiar ao seu custo
oportunidade, e o benefício líquido incremental irá reflectir qualquer retorno
acrescido que a família irá receber pela sua força de trabalho.
É certo que os preços variam com o padrão do produto. Assim, escolher o preço
apropriado para a análise do projecto pode envolver tomar algumas decisões sobre a
qualidade do produto. Pode-se assumir que duma maneira geral os agricultores irão
produzir no futuro maioritariamente a mesma qualidade que produziram no passado e
irão comercializar o seu produto não padronizado. Em muitos projectos agrários,
aliás, o objectivo é melhorar a qualidade da produção bem como aumentar a
produção total. Nestes casos, o preço apropriado a escolher será o preço médio
esperado para a qualidade a ser produzida.
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um dos benefícios que provêm do investimento é o valor da renda da casa. Uma vez
que o valor da renda é geralmente um valor imputado mais do que o preço real do
mercado, deve-se ter cuidado ao determiná-lo. Não se deve permitir maior valor de
renda do que seria normalmente pago por uma prospectiva família proprietária. Nem
se deve permitir uma renda maior do que seria de esperar que a família pagasse para
uma casa equiparada na vizinhança ou algures em área semelhante, se o novo
assentamento estiver em local distante. Em particular, deve se evitar a tentação de
tomar como valor da renda alguma proporção arbitrária do custo da casa.
Até aqui discutimos como estimar os preços de mercado, e é por estes preços que
vamos começar. A melhor estimativa inicial de preços futuros é que eles irão manter
as relações presentes, ou talvez, as relações médias construídas nos últimos anos. No
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entanto, há que pensar que estas relações médias poderão mudar no futuro e como se
irá lidar com um aumento geral do nível de preços devido à inflação.
Inflação
Nenhum analista de projectos pode evitar a decisão de como lidar com a inflação na
sua análise. A abordagem tomada na maior parte das vezes é fazer a análise do
projecto a preços constantes. O analista assume que o nível corrente de preços irá
prevalecer no futuro. Assume que a inflação irá afectar de igual forma a maior parte
dos preços de modo que os preços retenham as mesmas relações gerais entre eles.
Trabalhar a preços constantes é mais simples e envolve menos cálculos do que
trabalhar a preços correntes. Para preços correntes, todas as entradas têm de ser
ajustadas para mudanças antecipadas no nível geral de preços.
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Preços para bens comercializados internacionalmente
Para bens que entram de forma significativa no comércio internacional, quer sejam
factores quer sejam produtos, o analista de projectos obtém habitualmente a
informação sobre preços de vários grupos de especialistas que acompanham a
tendência dos preços e fazem projecções sobre preços relativos no futuro. Em muitos
países em que as exportações agrárias são importantes, há grupos no ministério da
agricultura ou no ministério das finanças cuja ajuda deve ser solicitada. Há também
muitas organizações internacionais tais como o Banco Mundial e a FAO, e grupos de
comércio a quem o analista pode pedir ajuda. Uma lista detalhada de fontes de
informação sobre preços do mundo (Sources of Information on World Prices) está
disponível no Banco Mundial (WOO 1982).
Ajustar simplesmente os preços domésticos pelo mesmo valor relativo que os preços
estrangeiros geralmente resulta em números muito imprecisos para a análise do
projeto. A abordagem ignora o facto de que as margens de comercialização no
comércio de bens tendem a ser menos flexíveis do que os preços dos próprios bens.
Há também muitos casos na estimação do valor económico de uma mercadoria
comercializada que envolvem a derivação de um preço sombra baseado em preços
internacionais. Nesses casos, é necessário calcular os preços de paridade de
exportação ou de importação. Estes são os preços estimados “à porta da machamba”
ou na fronteira do projeto, os quais são derivados ajustando-se os preços c.i.f. ("cost,
insurance and freight" = custo, seguro e frete) ou f.o.b. ("free on board" = livre a bordo)
por todos os encargos relevantes entre “a porta da machamba” e na fronteira do
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projecto e o ponto em que o preço c.i.f. ou f.o.b. é cotado. Os elementos comumente
incluídos nos preços c.i.f. e f.o.b. são apresentados na tabela seguinte:
Tabela 1: Elementos do C.I.F. (cost, insurance and freight) e do F.O.B. (free on board)
ITEM ELEMENTO
CIF Inclui:
Custo FOB no ponto de exportação
Custo do frete para o ponto de importação
Custo dos seguros
Descarga do navio para o cais do porto
Exclui:
Direitos de importação e subsídios
Encargos portuários no porto de entrada (impostos, manuseio,
armazenamento, taxas de agentes e similares)
FOB Inclui:
Todos os custos para ter as mercadorias a bordo - mas ainda no porto
do país exportador:
Custos locais de marketing e transporte
As taxas portuárias locais, incluindo impostos, armazenagem,
carregamento, fumigação, honorários de agentes e similares
Impostos e subsídios à exportação
Preço na fronteira do projeto
Preço à porta da machamba
Um caso comum para o qual um preço de paridade de exportação deve ser calculado
é o de uma mercadoria produzida para um mercado externo. A Tabela 3-3 dá-nos um
exemplo. Mostra os elementos generalizados para calcular os preços de paridade das
exportações. A mesma metodologia pode ser aplicada em outros casos.
Para as estimativas de fibra e sementes, ele começa com as previsões dos preços
correntes c.i.f. de 1980 em Liverpool, disponíveis nas publicações do Banco Mundial.
Deduz destes preços c.i.f. o seguro, o frete marítimo, os direitos de exportação, os
37
custos de manuseamento portuária e o frete ferroviário da unidade de processamento
no local do projeto para o porto de Maputo, obtendo assim os preços de paridade das
exportações na fronteira do projeto: 178.650 MT para a fibra e l8.097 MT para as
sementes. O preço para o resíduo, que não é exportado, foi baseado no preço
doméstico prevalecente.
Para ilustrar, podemos continuar a calcular o preço de paridade das exportações “na
porta da machamba”, embora no exemplo de Chókwè, onde o preço ao produtor (“a
porta da machamba”) foi fixado administrativamente, esse cálculo não foi feito. Os
cálculos são apresentados na parte da tabela 2 depois da rubrica "Igual ao preço de
paridade de exportação na fronteira do projeto". Aqui surge uma nova questão. Os três
produtos que a unidade de processamento produz, fibra, semente, e resíduo, devem ser
convertidos em seus equivalentes de semente, uma vez que é a semente de algodão
que o agricultor vende.
Deduzir a descarga no
ponto de importação
Deduzir frete para o Frete e seguro -39.630 -24.730 -
ponto de importação
Deduzir o seguro
Igual a FOB no ponto de USD USD
FOB no Porto do Maputo -
exportação 599.700 78.660
Converter a moeda Converter à taxa oficial de
estrangeira para moeda câmbio de l,00 USD= 63,7 38.200.8 5.010.64
-
nacional à taxa de 90 MT 2 MT
MT
câmbio oficial
Deduzir tarifas Direitos de exportação - - 63.701 -
1.111.39 MT
Adicionar subsídios Subsídio (Nenhum)
5 MT
38
Deduzir as taxas Custos de movimentação do - -
portuárias locais porto
- 354.436
Fibra: 354.436 MT por
- -
tonelada
39
quaisquer tarifas e subsídios (neste caso não há nenhum); adicionam-se os encargos
portuários devidos ao porto local, fumigação, manuseio e outros; acrescenta-se de
seguida o transporte local para o mercado relevante dentro do país. O resultado é o
preço a grosso do milho importado. É o preço a grosso do milho no mercado dentro
do país que é ponto focal do nosso cálculo. A alternativa para a produção do projecto
é não importar o milho e transportá-lo para a área do projecto. De outro modo, a
alternativa será importá-lo e comercializá-lo directamente no mercado do interior do
país. Assim o preço que o agricultor pode esperar receber na ausência de tarifas,
subsídios, ou proibição de importação é o preço a grosso menos o custo de
movimentar o milho para o mercado. Se o projecto incluiu facilidades de
processamento, então o preço relevante na fronteira do projecto será este preço a
grosso menos os custos de manuseio da facilidade de processamento para o mercado
grossista. Não foi incluída no projecto nenhuma facilidade de processamento. Assim,
o preço de paridade de importação é o preço “à porta da machamba”. À medida que
retrocedemos do mercado grossista para a “porta da machamba”, teremos que
providenciar alguma dotação para a conversão. Neste caso não é necessária nenhuma,
uma vez que se assume que o agricultor irá vender milho encaroçado. Então, do preço
a grosso se deduzem os custos locais de comercialização, incluindo acumulação,
sacos, e margens intermediárias, transporte da machamba para o mercado, e perdas
por armazenamento, obtendo assim o preço de paridade de importação “à porta da
machamba” de 9.300 MT. Este é o preço máximo que o agricultor pode esperar
receber na ausência de tarifas, subsídios ou proibição de importação.
40
câmbio oficial
Adicionar tarifas (nenhuma)
Deduzir subsídios (nenhum)
Adicionar encargos Encargos terrestres e de porto 1.401
do porto local (incluindo custo de sacos)
Transporte
- 1.147
Deduzir custos de
armazenagem local, Perdas por armazenagem (10 -573
transporte e porcento do peso armazenado)
comercialização (se não
fizerem parte dos custos
do projecto)
Igual preço de paridade de Preço de paridade de importação “à
importação “à porta da porta da machamba” 9.300 MT
machamba”
41
Figura: Diagrama da derivação do preço de paridade de importação do milho,
Projecto Central de Desenvolvimento Agrário, Chókwè, Moçambique:
Preço grossista
no mercado interior
11.912
Transporte para MT
42
ii. Análise financeira:
a) Orçamento da empresa agrária
Aprender-se-à
A necessidade de diferentes tipos de análises financeiras e os seus objectivos
Como preparar orçamentos completos da machamba para machambas padrão
O propósito de analisar alterações menores numa machamba e como preparar
orçamentos parciais.
43
1. Introdução
44
também na planificação e avaliação de políticas sobre para onde devem ser orientados
os benefícios e certos subsídios do projecto.
Agências do projecto
Pode se decidir que uma parte apropriada dos custos seja recuperada dos
beneficiários ou utilizadores através de um sistema de preços ou pagamentos. Esta
recuperação de custos é importante para aliviar o fardo do orçamento do governo ou
para ajudar a financiar investimentos posteriores pela agência patrocinadora.
Onde se deve cobrar aos utilizadores pelo uso dos serviços do projecto deve se
estabelecer o nível de taxa apropriado. A fixação desta e do melhor método da sua
cobrança realça a importância da análise financeira a nível da machamba para indicar
o que os agricultores devem ser capazes de pagar, ou, mais importante, devem estar
dispostos a pagar.
Orçamentos do governo
45
justificado, juntamente com qualquer aumento de receita de imposto ou necessidade
de qualquer empréstimo público adicional associado com o projecto.
46
O retorno geral do projecto e o reembolso de empréstimos concedidos a empresas
individuais são indicadores importantes da eficiência do uso de recursos.
Especialmente para a gestão, o retorno geral é importante porque os gestores devem
trabalhar dentro da moldura de preços de mercado que eles enfrentam. A análise do
investimento agrário e a análise do racio financeiro providenciam as ferramentas para
esta revisão. Os analistas do projecto e outros interessados nas decisões sobre
políticas para o crescimento e desenvolvimento económico nacional deverão olhar
para além da análise financeira a preços de mercado, e avaliar os efeitos do projecto
sobre os recursos reais para a economia como um todo.
Avaliação de incentivos
A análise financeira é de importância crucial na avaliação de incentivos para os
agricultores, gestores, e proprietários (incluindo governos) que irão participar no
projecto. Terão as famílias agrárias um incremento de renda suficientemente grande
para compensá-los pelo esforço adicional e risco em que irão incorrer? Irão as
empresas do sector privado ganhar retorno suficiente no investimento do seu capital
próprio e recursos emprestados para justificar fazer o investimento que o projecto
requer? Para empresas semi-públicas, o retorno será suficiente para as empresas
manterem a capacidade de auto-financiamento e satisfazerem os objectivos
financeiros estabelecidos pela sociedade?
47
capacidades de investimentos dos agricultores e os fundos disponíveis para o
investimento e despesas operativas assim como com o tempo das despesas para
projectos de investimento tais como vias de acesso e estruturas de rega e para capital
circulante necessário para estoques nas indústrias de processamento e similares.
48
A análise do fluxo de fundos, também designada análise de fontes-e-usos-de-fundos,
é usada para determinar a liquidez do agricultor na análise da situação do seu
crédito. Entram na análise apenas os itens de dinheiro físico, incluindo a compra e
venda de bens de capital. Inclui-se a renda e a despesa fora da machamba, mas não a
produção caseira consumida. A análise mostra o dinheiro vivo disponível para a
família ao longo de um período de tempo.
Por sua vez, faz-se a análise do investimento da machamba para determinar o grau
de atracção de um investimento proposto para os agricultores e para outros
participantes, incluíndo a sociedade como um todo. Projecta-se o efeito de um
determinado investimento sobre a renda da machamba e estima-se o retorno para o
capital envolvido. Segue-se o princípio de análise de fluxo de caixa descontado. A
análise é projectada pelo período da vida útil do investimento. No início da projecção
é mostrado o investimento inicial e no final o valor residual. Em geral a análise é feita
a preços constantes, e é feita uma dotação para a inflação. Inclui-se a renda de fora da
machamba. Embora se use a designação de “fluxo de caixa”, entram na projecção
elementos que não constituem dinheiro vivo, incluindo a produção caseira consumida
e os pagamentos e recebimentos em espécie. Ao fazer a análise do investimento da
machamba, são muitas vezes incorporados alguns elementos da análise do fluxo de
fundos para permitir que o analista avalie a liquidez do agricultor e o uso do seu
crédito.
49
trabalho familiar; olhar para a produção e factores de produção; e, finalmente,
preparar um orçamento da machamba com o detalhe necessário para perceber e
avaliar os efeitos do projecto na renda dos agricultores participantes. A partir daqui o
analista pode avaliar o efeito financeiro do projecto proposto sobre as machambas
típicas, tanto para ajuizar os incentivos pela participação como para determinar se as
políticas nacionais sobre a renda mínima para os participantes estão a ser alcançadas.
As análises do investimento da machamba e os orçamentos da machamba podem de
facto ser preparados para machambas de qualquer tamanho.
50
O analista quererá conhecer os rendimentos que os agricultores alcançam actualmente
com a nova tecnologia, os factores de produção que actualmente utilizam, e os seus
comentários gerais sobre a nova tecnologia e padrão de cultura propostos no projecto.
O analista quererá avaliar as exigências da força de trabalho que os agricultores
acharam necessária para usar a nova tecnologia.
b) Finanças do projecto
51
5. AVALIAÇÃO ECONÓMICO-FINANCEIRA DO PROJECTO COM
APLICAÇÃO DE TAXAS DE DESCONTO
i. Análise económica: Valoração dos custos e benefícios
6. O FINANCIAMENTO DO PROJECTO
i. Critérios de investimento: custos e benefícios ao longo do tempo
ii. O risco e a incerteza
1)
a estrategia de desenvolvimento “trickle down” é uma estrategia segundo a qual os mais
pobres beneficiam gradualmente como resultado do aumento do bem-estar dos mais ricos.
De facto, muitas vezes se considera que o efeito “trickle down” na prática não
funciona, uma vez que se passa por cima das secções mais pobres da sociedade, e que
os ricos se tornam mais ricos. Como as políticas macroeconómicas ou fiscais que
redistribuem a renda, por exemplo através dos impostos, são politicamente difíceis de
implementar, fizeram-se tentativas de incorporar medidas para melhorar a distribuição
da renda a nível microeconómico ou de planificação do projecto.
Squire e Van der Tak desenvolveram para o efeito uma metodologia usando os
“preços sociais”, que consideram a incidência, ou distribuição, dos benefícios do
projecto entre investimento e consumo, e entre rico e pobre. Este método é
problemático e raramente é utilizado, devido a dois problemas principais:
52
É difícil definir exactamente quais são os grupos mais pobres que mais deveriam
beneficiar de qualquer projecto;
É difícil fazer comparações inter-pessoais da utilidade do consumo marginal, isto
é, decidir quanto um dólar extra é mais valioso para um pobre do que para um
rico.
Por último, quase sempre que se experimentou a metodologia constatou-se que tinha
pouco impacto na decisão final do investimento, a menos que o projecto já fosse
marginal no que diz respeito à sua viabilidade económica. Este tipo de projectos seria
provavelmente rejeitado sempre que o risco, a incerteza, e projectos alternativos
fossem considerados.
53
das noções de “desenvolvimento” aceites e promovidas pelas agências
governamentais e internacionais.
54
a. Crescimento
1. Aumentar a produção de arroz, alimento básico
2. Reduzir a importação do arroz
b. Equidade
3. Fazer uma espécie de revolução verde disponibilizando factores de
produção para todas as famílias agricultoras na área do projecto
4. Providenciar aumento da renda às mulheres, tradicionais cultivadoras de
arroz
55
reconhecimento gerou novo estilo de pesquisa para o desenvolvimento agrário e
rural designado pesquisa de sistemas de cultivo.
O ponto principal a reter é que uma intervenção de projecto ou política que vise
mudar um elemento no sistema não terá probabilidade de sucesso se não
considerar o sistema como um todo. O projecto descrito, tal como muitos outros,
visava melhorias técnicas nos métodos de cultivo (irrigação, sementes
melhoradas, etc.) sem ter em conta as relações sociais e organizações da
agricultura, em particular, como as exigências em força de trabalho, terra e renda
são estruturadas por género.
Isto nos leva à segunda e mais largamente relevante lição do caso: o problema de
tratar as machambas familiares como unidades “homogéneas” de produção e/ou de
consumo. Este é o maior perigo da ciência social ocidental e da economia neoclássica.
De facto as famílias camponesas são social e internamente diferenciadas e têm
diferentes exigências de recursos e renda. O género e a idade são a forma mais
difundida de diferenciação dentro da família.
A principal lição a tirar e que deve ser tida em conta na planificação e apreciação de
projectos é que não se deve tratar os recursos familiares (força de trabalho, terra, gado,
implementos) como factores homogéneos que podem simplesmente ser realocados
pelo projecto, ao procurar novas combinações óptimas dos factores. É preciso ter em
conta, por exemplo, como a divisão do trabalho por género irá afectar o tipo de
análise do orçamento da machamba ou o índice de recuperação da renda.
Daqui resulta que em primeiro lugar, não há camponês médio ou família camponesa
“média”. Em segundo lugar, os benefícios de um projecto de desenvolvimento, que se
pretende que atinja toda a população rural, bem pode atingir de forma
desproporcionada a minoria das famílias mais ricas e poderosas. Isto é muito comum
nos projectos agrários.
56
1. Introdução
Nos princípios de 1970 tornou-se evidente para muitas pessoas que esta abordagem
era simplesmente inadequada. Tornou-se claro que um quarto de um século de
crescimento económico no Terceiro Mundo não melhorou o bem-estar dos indigentes:
então, tal como na dédaca 1950, cerca de um bilião de pessoas ao longo do Terceiro
Mundo ainda vivia em condições de pobreza absoluta, carecendo dos requisitos
mínimos de alimentos, roupa e tecto. Então, como outrora, grande número de pessoas
morria de fome nos anos de seca. Portanto, já não era possível aos doadores alegar
57
que a ajuda que deram gotejou automaticamente para o alívio da pobreza. Os
diferentes doadores responderam a este desafio à sua credibilidade de diferentes
maneiras. Alguns responderam focalizando-se em grupos específicos de beneficiários,
outros, concentrando-se em sectores específicos, e outros ainda confinando a maior
parte da sua ajuda a países que eles encaravam como estando seriamente
comprometidos com a redistribuição de recursos dos ricos para os pobres.
O Banco Mundial
Alguns exemplos
58
b) Dar ênfase especial a programas orientados para os grupos mais pobres
dentro daqueles países, e especialmente ao desenvolvimento rural.
Os dados das tabelas seguintes parecem indicar que a fracção de ajuda dada por cada
doador bilateral aos “países mais pobres” aumentou ao longo da década 1970; parece
também que os doadores alcançaram uma mudança substancial nos seus projectos de
ajuda a favor dos ramos de actividade económica convencionalmente descrita como
“focalizada na pobreza”, isto é, desenvolvimento rural, fornecimento de água,
planificação familiar e educação não formal.
59
Distribuição da ajuda, 1975 e 1984 Mudança sectorial na política de ajuda
Proporção do total de ajuda bilateral Percentagem média anual do orçamento
dada aos países menos desenvolvidos classificado como focado na pobreza
1975 1984 1971-3 1978-9
Grã Bretanha 20,6 27,3 Grupo Banco Mundial 15,3 29,5
Holanda 19,2 28,8 Grã Bretanha 14,1 32,8
Dinamarca 19,2 35,2 Holanda 5,9 46,2
Dinamarca 17,5 43,6
No entanto, nada nos garante que os pobres terão sido os principais beneficiários de
tais actividades. Há actualmente um elevado número de micro-estudos que
demonstram que em muitos casos os bens e serviços que as agências de ajuda,
incluindo as ONGs destinavam aos mais pobres foram desviados por pessoas na
escala superior da renda. Precisa-se com urgência de dados ao nível dos projectos que
nos digam se as mudanças bastante marcantes nos instrumentos de política revelada
no quadro acima tiveram de facto um impacto no alvo das políticas, isto é, se a “novo
estilo” de políticas de desenvolvimento melhoraram actualmente o padrão de vida das
pessoas mais pobres.
4. Porque é que os pobres permanecem pobres
Antes de se ver o que a experiência revela sobre o que se pode fazer para as pessoas
pobres, e de explicar porque os pobres permanecem pobres, vejamos quem eles são.
Há essencialmente três grupos de pobres no Terceiro Mundo:
i. Pequenos agricultores que não têm terra suficiente para produzir comida
para a subsistência da família. Quanta terra é necessária varia com a
fertilidade do solo, clima, e regime de cultivo. Os agricultores que não têm
terra suficiente muitas vezes têm os seus problemas compostos por acesso
inadequado a factores de produção, tais como água para a rega, fertilizantes
ou crédito.
ii. Os sem terra. Pessoas rurais que não têm nenhuma terra, que têm de viver
com trabalho ocasional nas machambas dos vizinhos. Uma vez que não
podem produzir comida, são extremamente vulneráveis ao aumento do preço
dos alimentos.
iii. Os pobres urbanos. Pessoas com trabalho ocasional e salário baixo, nas
cidades do Terceiro Mundo. São muitas vezes pessoas que vivem em favelas:
enormes conjuntos de moradias improvisadas com peças de madeira, caixas
de cartolina, folhas de plástico, qualquer coisa que pode ser escavado dos
lixões da cidade. São geralmente pessoas em trânsito, muitas vezes os deste
ano são os pequenos agricultores e os sem terra rurais do ano passado que
levados pelo desespero, possivelmente devido à falha na cultura, tentam a sua
60
sorte na cidade, que se não conseguirem suportar a despesa na cidade no ano
seguinte voltarão a ser de novo “sem terra” rurais.
Porque é que estes pobres são pobres? Há causas internas da pobreza (originadas
dentro do país pobre) e causas externas (originadas de fora do país pobre, no
sistema de comércio e finanças internacionais).
61
iv. Factores políticos que impedem que os benefícios destinados aos pobres
alcancem esta camada - eles operam a dois níveis: a) “viés urbano”,
visível na maior parte dos países do Terceiro Mundo, que é o desenho
deliberado de políticas que favorecem os que ganham salários e
honorários nas cidades, onde vivem os que têm poder político, e
desfavorecem as áreas rurais onde vive a maior parte dos pobres; b)
dentro das áreas rurais, os ricos podem usar o seu controle de processos
administrativos e legais a nível da aldeia para ficar com a parte do leão
nos benefícios que o governo e os doadores de ajuda pretendiam que
fosse apenas para os pobres.
Uma vez identificados quem são os pobres e as causas da sua pobreza, passemos a
sumarizar os princípios mais óbvios que as agências de ajuda que pretendem alcançar
os pobres de forma mais efectiva devem observar:
i. Uma vez que a maioria dos pobres vive na área rural e nas favelas, a política
de ajuda focalizada na pobreza deve centralizar-se nos bens que são
produzidos nas áreas rurais e favelas (alimentos e indústria artesanal) e
serviços associados (estradas rurais e fornecimento de água, e moradias
locais e de serviço.
ii. Uma vez que tal pobreza provém da simples falta de capital e habilidades, a
ajuda focalizada na pobreza deve consistir em activos e habilidades que
o pobre seja capaz de usar. Geralmente o que o pobre quer comprar são
activos pequenos, simples, feitos localmente, tais como uma energia
proveniente da combustão da madeira ou do petróleo, em vez de energia
duma usina nuclear ou geotérmica.
iii. Muita pobreza rural ocorre e persiste porque o sistema de mercado não
fornece os bens e serviços que o pobre precisa para melhorar a sua condição.
É função de todo o tipo de ajuda fornecer o que o mercado não fornece
para superar este tipo de problemas, isto é, não fornecer dinheiro isolado,
mas sim desenvolver uma instituição. É exemplo disso o Grameen Bank do
Bangladesh que fornece crédito com lucro aos marginais e sem terra rurais a
quem os bancos comerciais geralmente não financiam.
iv. Porque o pobre não está em condições de aceitar nenhum aumento do nível
de risco a que for exposto, as agências de ajuda devem evitar impor
tecnologias que não são experimentais. Por exemplo, muitas práticas
agrárias vistas pelo ocidente como irracionais (tal como o cultivo de muitas
62
variedades diferentes de culturas no mesmo talhão e a fragmentação de
explorações em pequenas parcelas), são simplesmente estratégias de
sobrevivência para reduzir o risco de perda total de culturas.
v. Muitos projetos focalizados na pobreza colapsaram porque ignoraram os
politicamente poderosos na área alvo. Isto requer que os planificadores de
projectos de ajuda considerem no estágio de desenho quem esperam que
ganhe e quem esperam que perca com a implementação do projecto
escolhido. É importante notar, em primeiro lugar, que se um grupo que está
na posição política de causar danos ao projecto perder com a implementação
do projecto, então a probabilidade da sua oposição deve ser contornada. A
forma mais óbvia de fazer isso é dar-lhes uma fracção dos benefícios do
projecto. O que é mesmo mais importante é que os que se pretende que
beneficiem queiram actualmente o projecto. É notável quantas agências
externas planificam projectos de desenvolvimento sem mesmo perguntar
àqueles que elas acreditam que irão ganhar com o proposto projecto
(construção de estrada, barragem, escola, etc.), se o desenvolvimento
pretendido é o que eles irão acolher com prazer. Se a resposta for não, mas se
acredita que o proposto projecto seja de importância vital para o
desenvolvimento, por exemplo, conservação do solo, ou planeamento
familiar, pode ser necessário sugar a pílula satisfazendo simplesmente uma
necessidade local sentida, tal como a construção de uma escola da aldeia ou
de um posto de saúde nos primeiros dois anos, construindo assim durante o
referido período uma relação de confiança com a população local, confiança
essa que deve existir antes de projectos mais controversos terem alguma
hipótese de sucesso.
vi. Certifique-se que o projecto se possa sustentar a si mesmo quando
terminar o dinheiro da ajuda externa. O propósito de qualquer projecto de
ajuda externa é tentar criar algum benefício permanente por meio da injeção
temporária de dinheiro e força de trabalho. É, no entanto, muito frequente
que o benefício se confine ao período de ajuda formal e o Terceiro Mundo
está repleto de destroços de estradas que se desintegraram em poeira, de
hospitais que têm de fechar, de bombas de água que deixam de funcionar
quando termina a ajuda monetária. O risco disto ocorrer é particularmente
sério em projectos focalizados na pobreza porque as pessoas pobres terão
grande dificuldade em pagar pelos serviços que o projecto fornece. Caso
contrário, e se o governo não quiser assumir a responsabilidade, o projecto
irá colapsar. A implicação é que uma estratégia de recuperação do custo deve
ser elaborada durante o fornecimento da ajuda externa, sendo ideal, antes do
acordo do projecto ser assinado.
vii. O progresso no alcance dos pobres deve ser avaliado durante o
funcionamento do projecto. Como se viu antes, as agências doadoras ainda
não ganharam o hábito de examinar os efeitos dos seus projectos sobre os
grupos de baixa renda, sendo por isso muito pouco o que se conhece a este
respeito. É de facto um princípio fundamental de gestão para qualquer
organização que é necessário um feedback regular sobre quão bem está a
63
alcançar os seu objectivos. Se o objectivo for a redução da pobreza, será
necessária uma pesquisa regular da nutrição, renda e outras dimensões do
bem-estar na área do projecto, e semelhante pesquisa num ‘grupo de
controle’ fora da área do projecto para separar os efeitos do projecto dos
efeitos do tempo, dos preços das culturas, e de outras forças que podem
alterar o bem-estar independentemente do projecto. Um feedback deste tipo
pode ajudar a alertar a gestão do projecto sobre a necessidade de alterar o
desenho do projecto.
viii. As agências oficiais de ajuda (as quais operam dentro dos constrangimentos
dos procedimentos orçamentais dos governos) devem evitar sobrecarregar
a estrutura administrativa local. Isto significa desembolsar o dinheiro aos
poucos, e não sobrecarregar a burocracia local com tarefas que ela não pode
desempenhar. O problema da pobreza do terceiro mundo é tão grave que
existe a tentação de procurar resolvê-lo com tácticas de choque, isto é,
através de grandes injecções de dinheiro e material. No entanto, a frágil
estrutura do governo e do transporte numa área pobre não pode absorver tal
transfusão, mais do que o corpo de um subnutrido pode absorver uma grande
refeição rica.
ix. As agências oficiais de ajuda (as quais operam dentro dos constrangimentos
dos procedimentos orçamentais dos governos) devem condicionar os
programas de ajuda à implementação de políticas de alívio da pobreza e
indução do crescimento. Como já atrás se viu, um dos principais
desenvolvimentos na política oficial de ajuda dos últimos anos foi um
aumento do uso do programa de ajuda, muitas vezes como forma de
persuadir o país recipiente de fazer o que se acredita serem mudanças
essenciais nas suas políticas económicas nacionais. Até hoje tais medidas
foram usadas, em particular pelo Banco Mundial, sobretudo para remover
obstáculos ao crescimento induzidos por políticas: taxas de câmbio
sobrevalorizadas, quotas de importação, baixos preços explorativos para os
agricultores, etc. Mas podem também ser usadas como um instrumento para a
redução da pobreza: e uma mudança de política a nível nacional pode ser
considerada essencial para a redução da pobreza (ex: reforma da terra, ou
alteração no sistema de imposto), então o doador pode pedir que ela seja
implementada como condição para conceder o programa de ajuda.
64
i. Guia básico para avaliação e monitoria
É objectivo do capítulo:
65
O capítulo ensinará:
A moldura conceptual, os princípios e guiões necessários para o desenho e
operação efectivos do sistema de monitoria e avaliação de projectos;
Que elementos são essenciais para o sucesso da monitoria e avaliação, e o que se
deve evitar.
Note que a monitoria e avaliação não utiliza uma metodologia técnica rigorosa do tipo
da aprendida para a apreciação financeira e económica. O capítulo não lhe irá
transformar por si só num perito em monitoria e avaliação. Precisará de se familiarizar
com muitas das questões de colheita e análise de dados cobertas no curso de “métodos
de pesquisa económica e social e análise de dados”. Alguns problemas práticos de
colecta de dados nos países em desenvolvimento serão aqui ligeiramente abordados, e
serão aprofundados no curso de “pesquisa’.
A. Introdução
66
termos serem de uso comum, não representam uma ciência exacta, e a aplicação da
monitoria e avaliação tende a reflectir a disposição e crenças dos seus praticantes.
Fez-se uma série de tentativas para definir os termos, das quais é actualmente aceite a
do Banco Mundial:
67
A ênfase era primariamente na monitoria do desembolso de fundos, que era
considerada uma medida da implementação com sucesso do projecto. Em anos
recentes o âmbito da monitoria e avaliação foi alargado para o estudo da
implementação física de todas as componentes do projecto ou programa, tanto em
termos de calendário do plano global como da natureza e extensão do impacto sobre
os beneficiários.
68
portanto, um desperdício de recursos. Esta posição pode ser tomada em relação ao
papel essencial da monitoria e avaliação para a implementação com sucesso, e para a
selecção prudente de futuros investimentos para o desenvolvimento. Aliás, é também
suficiente argumentar que quando muitas vezes muito grandes quantidades do capital
nacional estão sendo gastas, é razoável que alguma avaliação dos resultados seja feita,
e que os resultados sejam publicamente disponíveis.
69
EFEITOS espera-se que a provisão de outputs do projecto leve a efeitos
directos na área e beneficiários do projecto. Por exemplo,
decorrente dos outputs acima referidos, é de se sperar
um aumento na produção agrária agregada, incremento na
intensidade do cultivo, aumento na proporção de área cultivada
com variedades melhoradas;
IMPACTO se todos os efeitos preditos se materializarem para cada componente
do projecto, tomados no seu conjunto como um todo, terão um
impacto na área do projecto e população. Juntamente com outros
projectos complementares, o impacto combinado deve afectar a
economia nacional e regional. O impacto é frequentemente
descrito em termos de parámetros sócio-económicos tais como
renda familiar, emprego, e indicadores do padrão de vida.
Note-se que o uso da distinção entre output, efeito e impacto acima descrita depende
na prática da natureza, fim, tamanho, e sobretudo, dos objectivos específicos do
projecto ou programa.
Por detrás do processo representado por esta hierarquia estão assumpções sobre o
desenho do projecto, e do modo como ele vai funcionar. Por outras palavras, o
desenho do projecto como um todo está baseado num modelo causal que
relaciona as actividades do projecto ao propósito desejado. Exemplo disso é o
projecto de drenagem do “Left Bank Outfall” do Paquistão, em que uma drenagem
subterrânea através de tubos, e bombagem de água subterrânea para baixar o lençol
freático está sendo instalado numa área muito grande para agricultura irrigada. O
modelo causal subjacente é que uma drenagem pobre levou à subida do lençol freático
e salinização do solo, daí resultando o abandono da terra e por conseguinte, redução
do output agrário, redução do emprego e da renda da machamba. A provisão de uma
drenagem melhorada irá, mantendo o resto constante, restaurar e estimular a produção,
emprego e rendas.
Um ponto final importante é que o modelo causal irá tipicamente fazer uma
quantidade de outras assumpções. Elas deverão ser relacionadas à economia como
um todo, tal como comércio, ou política financeira, ou considerações operacionais
tais como o papel que outras agências governamentais irão desempenhar na provisão
70
de serviços de apoio essenciais. Se estas assumpções não forem verdadeiras, o
modelo deverá ser invalidado.
A dificuldade surge com os efeitos do projecto. Em geral eles dependem não só dos
outputs do projecto, mas também das acções realizadas pelos beneficiários do
projecto em resposta às intervenções do projecto. Por exemplo, um projecto de
extensão pode realizar correctamente as suas funções planificadas e informar aos
agricultores acerca de variedades melhoradas. A adopção destas variedades e qualquer
aumento de produção resultante depende, aliás, inteiramente da percepção dos
agricultores dos benefícios a serem ganhos, e dos seus recursos e tomadas de decisão.
Efeitos determinados por muitas variáveis, tais como níveis de produção agrária, são
tipicamente muito difíceis de medir com precisão. Mesmo onde são obtidos dados de
boa qualidade, variações naturais que afectam o rendimento das culturas significam
que serão necessárias série temporais de mais de cinco anos antes de se poder
identificar correctamente tendências. Mesmo onde parece haver tendências, é ainda
difícil atribuí-las com clareza às actividades do projecto.
A implicação disto é que a produção ou outro efeito similar deve ser uma parte da
avaliação de longo prazo. Aliás, se nenhuma acção for realizada pelos agricultores,
estes benefícios não se irão materializar. A gestão do projecto não pode esperar cinco
anos ou mais para ser dita que nenhum dos efeitos desejados pode ser ainda
atribuído ao projecto. Para ultrapassar este problema é melhor se concentrar o mais
cedo possível nas acções tomadas pelos agricultores em resposta às intervenções do
projecto. Este tipo de estudos é designado de “monitoria de contacto com o
beneficiário” (Beneficiary contact monitoring).
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C. Monitoria do projecto
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Rendimentos e rendas das machambas individuais;
Bem-estar e nutrição;
Salinidade e erosão do solo;
Preços dos inputs e outputs da machamba.
Esta função pode também ser mostrada de forma útil através de uma visão de sistema
de projectos. Os diagramas A e B seguintes representam a ideia de hierarquia de
objectivos acima realçada, e a importância de dados relevantes para a gestão do
projecto.
SISTEMA
DE
GESTÃO
decisões
decisões
SISTEMA dados dados
DO
SISTEMA
PROJECT
DO
O
Fluxo de recursos CLIENTE
O
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Processo de eficiência
Processo de efectividade
Como comentário final para esta secção: é importante para o sucesso do projecto que
a monitoria do progresso financeiro e físico caminhem a par e passo, o que requer
uma participação estreita de controladores financeiros no desenho do sistema de
monitoria. Combinar as despesas financeiras com o progresso físico (crescimento da
produção) ajuda a detectar e prevenir que se excedam os custos, e melhorar o controle
do desempenho do local do trabalho, os quais são ambos importantes para a gestão do
projecto.
Se trabalha como gestor deve sentir que já realiza muitas das funções de monitoria
aqui descritas. Por exemplo, deve já recordar o progresso das actividades pelas quais é
responsável e preparar os relatórios semanais e mensais. Talvez antes não tenha
pensado em tal trabalho como sendo monitoria, mas a tenha encarado simplesmente
como parte do seu trabalho como gestor. A integração da monitoria com a
actividade regular de gestão é crucial se deve colectar a informação correcta e
comunicar em tempo, lugar e forma correctos.
D. Avaliação
A avaliação é realizada
Durante a implementação (avaliação corrente “on-going evaluation”).
No fim do projecto (avaliação final); no caso de projectos grandes com uma
escala de tempo longa deve também ser necessária uma avaliação de meio
termo.
Alguns anos depois do fim, quando o projecto tenha atingido o seu pleno
desenvolvimento e se espera que seu impacto tenha sido plenamente
realizado (avaliação a posteriori “ex-post evaluation).
Avaliação corrente
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A avaliação corrente é a análise dos actividades do projecto durante a fase da
implementação para certificar a continuação da sua relevância, eficiência e
efectividade. Examina se as assumpções feitas durante o estágio da
formulação/apreciação do projecto são ainda válidas, ou se são necessários
ajustamentos para garantir que os objectivos globais do projecto sejam alcançados.
Para começar, em alguns casos, as assumpções subjacentes ao desenho devem não ter
sido apropriadas, ou factores imprevistos podem ter invalidado os calendários e
previsões do tempo. Como alternativa, os próprios objectivos podem requerer revisão
ou ajustamento à luz da experiência ganha desde o início do projecto.
11. TPC
PROPOSTA DE ESTRUTURA DO RELATÓRIO
A. Introdução
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i) Propósito do projecto (Porque foi desenhado o projecto?)
ii) Resumo (breve sumário dos principais aspectos que o projecto irá abordar)
B. Contextualização
i) Características do sector agrário
Ambiente natural e económico
O subsector do projecto
ii) Planos e objectivos de desenvolvimento
Tendências e políticas, desenvolvimentos e programas passados
iii) Constrangimentos de desenvolvimento e principais problemas
iv) Área do projecto
Características físicas, económicas e sociais
C. O projecto
i) Objectivos
ii) Descrição geral
iii) Características detalhadas e alternativas
D. Organização e Gestão
i) Autoridade organizadora
Instituições necessárias
ii) Beneficiários do projecto
iii) Implementação planificada
iv) Força de trabalho
Recursos, treinamento
v) Produção, mercados e preços
E. Custos e benefícios do projecto
i) Custos do projecto
Items a ser identificados
Necessidades em moeda estrangeira
ii) Benefícios do projecto
Primários
Secundários
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F. Orçamento e financiamento
i) Orçamento total do projecto
ii) Financiamento
Arranjos propostos para empréstimo, recuperação de custos, contribuição
dos agricultores e/ou necessidades de financiamento
G. Avaliação económico-financeira do projecto com taxas de desconto
Análise custo/benefícios
Valor actual líquido
Taxa interna de retorno
H. Conclusões e recomendações
i) Sumário
Necessidade e justificação do projecto
ii) Requisitos para a preparação e apreciação
Recomendações
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8. Que questões institucionais, políticas e outras devem ser endereçadas durante a
apreciação e implementação do projecto?
9. Que passos são necessários para preparar o projecto e os recursos humanos e
outros a serem empregues?
10. Que tipo de items ou inputs o projecto irá usar e quais irão requerer uma análise
custo-benefício?
11. Quais serão os principais items “pesados” (hard), por exemplo, trabalhos civis,
construções, maquinaria?
12. Quais serão os principais items “leves” (soft), por exemplo, instituições
necessárias, programas de treinamento, organizações de beneficiários ou grupos
de utilizadores?
13. Quais são as principais áreas de incerteza e exigências de dados chave?
14. Será apropriado um desenho relativamente mais simples ou mais complexo?
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