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GEOGRAFIA - 3º Ano - Reforma Agrária e Movimentos Sociais - 2º Bimestre

REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL


Disputas por terras, medo do comunismo, necessidade de menor desigualdade social e desigualdade de
renda, riscos ao direito à propriedade. Com diferentes elementos, focos e versões nas mídias e discursos,
não é de hoje que o tema da reforma agrária vem despertando polêmica e motivando debates na
sociedade brasileira. Mas você sabe o que é uma reforma agrária, como ela acontece e quais os principais
argumentos favoráveis e contrários a ela?

AFINAL, O QUE É REFORMA AGRÁRIA?


Quando pensamos em reforma
agrária, a primeira coisa que nos
vem à cabeça é uma redistribuição
de terras. Na prática, ela não está
muito longe disso. Uma reforma
agrária é uma reorganização das
terras no campo. Acontece
quando grandes porções de terra,
até então concentradas na mão de
um ou de poucos proprietários,
são divididas em pequenas
porções e distribuídas a outros
donos, até então impossibilitados
do acesso à terra. Como trazido
pelo professor Doutor em Economia Política, Eduardo E. Filippi, ela pode ser entendida de 3 formas:

• Distribuição massiva de terras para os membros de um grupo, em momentos de grandes


revoluções, como a Revolução Francesa, quando as terras da Igreja e dos Nobres foram
distribuídas entre a burguesia vencedora e seus aliados.

• Distribuição de terras do Estado, durante processos de colonização de áreas desérticas ou


desabitadas. Exemplo é o que aconteceu com a Lei de Propriedade Rural dos Estados Unidos em
1862. As pessoas interessadas em colonizar o país recebiam lotes de 65 hectares (sendo 1 hectare
equivalente a 10.000 m² – o tamanho médio de um campo de futebol) e adquiriam sua posse se o
cultivassem por 5 anos.

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• Distribuição de terras que não cumprem com sua função social. É o modelo mais comum no
Brasil e a ferramenta dos movimentos sociais que visam acesso à terra. Esses grupos realizam
“assentamentos rurais”, ou seja, se estabelecem em uma porção de terra que consideram sem
“função social”, na expectativa de que ela seja desapropriada e distribuída entre os membros do
assentamento.

A DISCUSSÃO DA REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL


A questão agrária é um importante elemento no debate brasileiro. Nosso país é, ao mesmo tempo,
fortemente dependente do agronegócio e altamente concentrador de terra. O Brasil nunca realizou
uma reforma agrária estrutural, ou seja, com grandes distribuições de terras, aos moldes da Revolução

Francesa ou da Lei de Propriedade Rural dos Estados Unidos. Apesar disso, o tema esteve presente com
força, a partir da segunda metade do século XX, nos debates políticos brasileiros.

Um dos momentos icônicos em que se falou nele foi dentro da proposta de Reformas de Base do
governo João Goulart (Jango). Entretanto, com a queda de Goulart e a tomada do poder pelos militares,
em 1964, as reformas de base de Jango, como um todo, não se realizaram. Apesar disso, a ideia de
reforma agrária permaneceu viva com a criação do Estatuto da Terra, em 1964, que trouxe o conceito
da função social da terra. Quer saber mais sobre ele?

O ESTATUTO DA TERRA
Apesar da não realização das reformas de Goulart, em 1964 foi criado o Estatuto da Terra, que entre
outros temas, discute a reforma agrária. Logo no seu primeiro artigo, o Estatuto traz uma definição para
o termo no Brasil. Desse modo, reforma agrária seria:
O conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modificações
no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de
produtividade.
Além disso, ali fica estabelecido que para que alguém pudesse manter sua propriedade de terra, esta
deveria desempenhar sua função social. De acordo com o segundo artigo do Estatuto, uma propriedade
desempenharia função social quando:

1. Favorece o bem-estar dos proprietários e trabalhadores que nela labutam, assim como de suas
famílias
2. Mantém níveis satisfatórios de produtividade
3. Assegura a conservação dos recursos naturais
4. Observam as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que possuem
e os que labutam.

Na prática, isso quer dizer que a terra, diferente de outros bens, como um carro ou uma casa, não pode
ser adquirida e não usada. Para que o seu dono tenha direito a manter a posse, ela precisa ser produtiva.
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Apesar da criação do Estatuto, durante o período de Ditadura Militar no Brasil, não foram feitos grandes
movimentos a favor da reforma agrária e o tema foi pouco discutido. É com a redemocratização na
década de 80, que esse debate voltou à tona, estando presente inclusive na Constituição de 1988.

A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A REFORMA AGRÁRIA


Promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição Cidadã, além de reforçar a ideia de função social
da terra, traz, no Capítulo III, que:

Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel
rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da
dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a
partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.

Ou seja, a partir de 1988, o Estado brasileiro se comprometia a realizar a reforma agrária em seu
documento mais importante, a Constituição. O órgão responsável pela realização dessa prática seria o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que já existia desde 1970. Com isso,
estavam estabelecidos os meios jurídicos para a realização da reforma agrária. Mas se ela já é prevista
em Constituição há mais de 30 anos, por que, ainda hoje, é tão polêmica no Brasil? Para que possamos
entender melhor isso, é preciso conhecer a questão agrária brasileira.

A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL


Se você assiste a TV aberta, com certeza já deve ter se deparado com a propaganda “Agro é Tec, Agro
é Pop, Agro é Tudo”. Ela nada mais é que um reflexo do quanto o campo se tornou importante ao Brasil.
Na prática, é fato que o agronegócio
é um dos principais componentes do
PIB (Produto Interno Bruto)
brasileiro.

Quando olhadas as exportações


brasileiras, de acordo com os dados
disponibilizados no Observatório de
Complexidade Econômica (OEC),
percebemos que o principal produto
exportado pelo país é a soja, com
12% das exportações em 2017.
Açúcar (5,2%), milho (2,1%) e café
(2,2%) também apresentam
percentuais significativos, ao lado
de outras commodities brasileiras.

Dessa forma, não podemos negar que essa agricultura voltada à exportação de commodities
predominante nos grandes latifúndios brasileiros é extremamente importante para o país. Por outro lado,
são as pequenas propriedades de agricultura familiar que abastecem o mercado alimentício brasileiro.
Segundo dados do governo, cerca de 70% dos alimentos brasileiros são produzidos em pequenas
propriedades, com menor acesso a crédito e menor destaque midiático.

Além disso, quando se pensa na questão agrária, também é preciso considerar que, segundo o Atlas do
Agronegócio, o Brasil é o 5º país com maior concentração de terras do mundo. Em 2018, cerca de
45% da área produtiva no Brasil estava concentrada em 0,91% das propriedades rurais. Caso agrupada
toda a área desses latifúndios em um país, seria o 12º maior país do mundo, com cerca de 2,3 milhões
de km².

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E COMO A TERRA SE CONCENTROU NO BRASIL?

A concentração de terras vem do próprio modo como o Brasil foi colonizado, por meio de capitanias
hereditárias. As capitanias eram grandes porções de terra doadas a “capitães donatários”, responsáveis
por sua administração. Mas mesmo no modelo de capitanias, havia possibilidade de doações de terras e
um vasto território a ser explorado.

É com a Lei de Terras, de 1850, já no Segundo Reinado brasileiro, que a estrutura concentradora se
solidifica e são estabelecidos os grandes latifúndios. Segundo essa lei, a única forma de se adquirir terras
no Brasil passaria a ser através da compra direta, seja das terras devolutas (de propriedade do Estado)
ou das privadas.

Em pleno Segundo Reinado brasileiro, ainda anterior à própria abolição da escravatura, quem possuiria
dinheiro para comprar as terras brasileiras? Certamente não o pequeno agricultor, o imigrante recém
chegado ou um escravizado alforriado. Quem acabou adquirindo essas terras foram os já grandes
proprietários e comerciantes do país.

MAS COMO ISSO SE RELACIONA COM A POPULAÇÃO?


Por muito tempo o Brasil foi um país majoritariamente agrário. Isso quer dizer que a maior parte da
população vivia e trabalhava no campo, e as atividades econômicas tinham ali seu foco. Segundo dados
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1940 aproximadamente 70% da população
brasileira vivia em meio rural. Em 1960, esse percentual ainda era de 65%. É só na década de 70 que a
população das cidades se torna maior que a do campo.

Essa transição aconteceu, em grande parte, por conta do processo de industrialização brasileiro, que
começou a se desenvolver mais claramente a partir da chegada ao poder de Getúlio Vargas década de
1930. Nesse processo de industrialização, uma das realizações de Vargas foi o estabelecimento de leis
trabalhistas para a população urbana, com a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), em 1943.

As leis trabalhistas de Vargas foram feitas exclusivamente para a população urbana, em um momento
em que a maior parte da população brasileira trabalhava no campo. Em um famoso discurso retratado
por Boris Fausto no livro “A Revolução de 1930: Historiografia e História”, Vargas fala em uma
“intocabilidade sagrada das relações sociais no campo”.

Com isso, já é possível ter uma ideia da dificuldade em se discutir a questão agrária no Brasil. Mais que
simplesmente territorial e econômica, ela envolve grande peso e interesses políticos. Vale lembrar que
antes de Vargas, durante a República Velha, oligarquias cafeeiras governaram o país por 35 anos, através
da “política do café com leite” (alternância entre latifundiários mineiros e paulistas na presidência do
país). E, ainda hoje, existe uma forte bancada ruralista no Congresso Nacional, que prioriza os
interesses dos grandes proprietários. Mas se não surgiram nesse momento, quando surgiram e qual o
impacto dos direitos trabalhistas no campo?

O IMPACTO DOS DIREITOS TRABALHISTAS NO CAMPO


É somente com o Estatuto do Trabalhador Rural, em meados de 1963, em pleno auge da Guerra Fria
quando se temia por revoltas camponesas que se fala em direitos trabalhistas no campo (20 anos depois
da CLT de Vargas). Contudo, ele não trouxe apenas efeitos positivos. Isso porque não foram feitas leis
específicas para o campo, mas sim adaptadas as leis trabalhistas urbanas ao trabalhador rural. Como a
produção rural é diferente da urbana (existem períodos de safra e entre-safra, na qual não existe muito
trabalho a ser feito) essa alteração acabou alterando a dinâmica do campo, pois gerou o encarecimento
do trabalhador rural.

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Ao mesmo tempo, acontecia um processo de mecanização e modernização de técnicas produtivas no


campo, a chamada “Revolução Verde”, que começou nos Estados Unidos e chegou ao Brasil na década
de 1960. As máquinas forneciam uma alternativa ao trabalho manual agrícola.

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Com dificuldades para encontrar empregos e continuar se inserindo no campo, e sem a posse da terra,
altamente concentrada, os trabalhadores rurais brasileiros se viram forçados a migrar para as cidades.
Esse processo ficou conhecido como o êxodo rural.

Uma das consequências dele foi o inchaço urbano no Brasil (grande concentração de pessoas nas
cidades) sem uma preparação adequada de estrutura para recebê-las e suas consequências – como
engarrafamentos e os processos de “favelização”, por exemplo. Contudo, nem todos conseguiram se
adaptar às cidades ou não quiseram se mudar. Ainda hoje existe uma série de famílias cujo único ofício
é o trabalho com a terra.

Como podemos ver, portanto, a terra está estritamente ligada à estrutura e a à história do Brasil. Se é
inegável que existe uma concentração, a grande discussão se dá em torno de ela ser boa, pelos efeitos
econômicos da grande agropecuária brasileira, ou ruim, pelo grande território nas mãos de poucos
proprietários.

Da mesma forma, discute-se se é possível modificar essa concentração, em um debate que coloca de um
lado o “direito à propriedade” e, do outro, o “combate as desigualdades”. Entre aqueles que defendem
a distribuição da terra, está o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem – Terra (MST).

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA (MST)


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um movimento social camponês que
surgiu em 1984, no Brasil. O objetivo do MST é realizar a reforma agrária, praticar a produção de
alimentos ecológicos e melhorar as condições de vida no campo.

ORIGEM
A ditadura militar promoveu uma grande concentração de terra nas mãos de latifundiários. Igualmente,
com programas como o Proálcool onde a lavoura de cana de açúcar foi estimulada, milhares de
trabalhadores tiveram suas terras transformadas em canaviais. Com isso, os camponeses se reuniram em
1984 no “1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra”, na cidade de Cascavel, no
Paraná. Dali, seria formalizado o MST.

Com a elaboração da Constituição de 1988 ficou declarado que as terras que não cumprissem sua função
social deveriam ser desapropriadas (Art. 184 e 186). Assim, esse movimento envolve a luta política dos
camponeses, que não possuem terra e desejam a redistribuição das terras improdutivas do país. Para
tanto, pedem, sobretudo, pela reforma agrária, a soberania popular e a justiça social.

OBJETIVOS
Alguns dos objetivos defendidos pelo MST durante esses anos:

• Reforma Agrária
• Justiça social
• Causas indígenas e quilombolas
• Punição dos assassinos dos trabalhadores rurais
• Desapropriação dos latifúndios em posse das multinacionais
• Distribuição igualitária das terras
• Produção de alimentos nas terras libertadas (soberania alimentar)
• Cobrança do Imposto Territorial Rural (ITR)
• Melhoria das condições de vida no campo e na cidade
• Redução do Inchaço Urbano

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BANDEIRA
A bandeira do MST consiste em um retângulo vermelho e ao centro um círculo com dizeres, o mapa do
Brasil e um casal de camponeses. O vermelho representa o sangue dos trabalhadores rurais que morreram
ao lutar pela sua terra. Também remete ao
socialismo que é a ideologia que inspira o
movimento.

No escudo, em forma de círculo, encontramos


o nome do movimento. Da mesma forma
temos o mapa do Brasil em verde - cor que
simboliza a natureza - e um casal dentro deste
mapa. O homem, com camisa branca e chapéu
de palha, tem o braço levantado e nas mãos
segura um facão, instrumento do campo e de
luta. A mulher, vestida de vermelho, está a
frente, mas à mesma altura.

ATUAÇÃO DO MST
Atualmente, no Brasil, após 30 anos de
movimento, são 24 estados que possuem
atuação e organização dos trabalhadores sem
terra.

Cerca de 350 mil famílias vivem nos


assentamentos já conquistados. No entanto,
continuam lutando pela desapropriação das
terras improdutivas e se posicionam contra
os projetos de barragens, grilagem de terras
e o agronegócio.

Dessa maneira, após assentar em


determinados latifúndios, as famílias
pertencentes ao movimento, lutam pela
conquista de direitos como saúde, educação, cultura, etc.

ORGANIZAÇÃO DO MST
Desde sua fundação, o movimento é organizado por meio de assembleias e congressos. A primeira é
desenvolvida nos próprios assentamentos dos trabalhadores, onde todos têm direito ao voto: mulheres,
homens, jovens ou velhos. Expresso de forma organizada por meio das ações de sindicatos, partidos, da
Comissão Pastoral da Terra ou muitas vezes anônima, nos gestos de milhares de apoiadores e
simpatizantes da luta.

Há sempre dois coordenadores: um homem e uma mulher, estimulando assim, a participação feminina
na política. Também, o movimento conta com uma assembleia onde comparecem membros de todos
Brasil, o “Congresso Nacional do MST”, que ocorre a cada cinco anos.

Igualmente, não há um presidente nacional da organização e sim um colegiado. Entretanto, a


personalidade mais visível do MST é o economista gaúcho João Pedro Stédile. O MST recebe recursos
de algumas ONG’s (nacionais e internacionais) que apoiam a causa dos camponeses e que tem o mesmo

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objetivo de implementar a reforma agrária no país. Da mesma forma, as famílias que já estão assentadas
contribuem financeiramente para o sustento de outras pessoas que ainda não conquistaram sua terra.

CONQUISTAS
• 8 mil latifúndios ocupados (2014)
• 350 mil famílias assentadas (2014)
• Criação de escolas de ensino fundamental e médio dentro de assentamentos
• Feiras de alimentos em pequenas cidades com produtos oriundos de assentamentos

QUAL A IMPORTÂNCIA DO PLANO DE REFORMA AGRÁRIA


POPULAR LANÇADO PELO MST?
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou, o Plano Emergencial de Reforma
Agrária Popular, cujos objetivos são a democratização do acesso à terra e o combate à crise econômica
e social agravada pela pandemia de covid-19. Os objetivos, como defende Débora Nunes, da direção
nacional do MST em Alagoas, são consonantes, uma vez que a “reforma agrária é necessária para
abastecer de alimentos as cidades, principalmente as periferias urbanas e para garantir uma relação
equilibrada entre os seres humanos e a natureza”.

Debora Numes afirmou que


a intenção do movimento é
uma “convivência
harmoniosa, onde nós
podemos, na preservação da
biodiversidade, tirar o fruto,
o alimento necessário, mas
que a gente possa, sobretudo,
também preservá-la". "É a
nossa proposição e a nossa
construção prática nesses
36 anos de movimento”,
disse a agricultora.

Segundo a visão do MST, a


convivência harmoniosa é
uma das consequências
práticas da Reforma Agrária
e não será possível a
permanência no campo sem
a preservação do meio
ambiente. "Trata-se de um
modo de vida na agricultura que é a construção da agroecologia: não é possível produzir alimento
saudável, não é possível preservar o meio ambiente, se a gente não enfrenta diretamente a destruição que
o agronegócio tem feito com todos esses biomas, os bens comuns da natureza”.

Mas para que a Reforma Agrária aconteça e a agroecologia torne-se uma realidade massiva, é preciso
alterar a estrutura fundiária brasileira. O último Censo Agropecuária, de 2019, do IBGE, com
informações referentes a 2017, 1% das 5.073.324 propriedades de terra do País concentram 47,6% da
área ocupada por todas as fazendas, com mais de mil hectares. Em 2006, ano da pesquisa anterior, essa
concentração era de 45%. Já as propriedades com até 10 hectares, que são 50% dos estabelecimentos e
ocupam 2,3% do território rural.

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INCRA
O INCRA, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, é uma autarquia federal da
Administração Pública brasileira criado pelo Decreto nº 1.110 (9 de julho de 1970). Sua principal missão
é lutar pela implementação da reforma agrária no Brasil.

Responsável pela discussão, elaboração e


implementação da reforma agrária no país é o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra). Os objetivos principais do Incra é
estabelecer uma política para a aplicação dessa
reforma, mediar conflitos no meio rural e
intermediar negociações referentes à ocupação ou
invasão de terras no meio agrário.

VIA CAMPESINA
A Via Campesina é uma organização internacional que articula movimentos camponeses. Ela surge e
se desenvolve contrapondo-se ao avanço do modelo dominante de produção agropecuária em nível
mundial das últimas décadas, colocando-se como o próprio nome diz na busca pela construção de uma
alternativa a esse modelo. Essa “outra via” advém da percepção de que o modelo em curso é prejudicial
aos interesses dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Houve em meados da década de 1980 um


aumento da internacionalização da
agricultura, tendo como principal
característica a concentração da produção
de alimentos sob o controle de poucas
empresas multinacionais. Essas empresas
passaram a gerir a produção e subcontratar
mão de obra, concentrando também a
distribuição dos produtos,
homogeneizando inclusive o consumo
mundial de alimentos.

Esse processo agravaria ainda a


concentração de terras, resultando no êxodo rural forçado ou, no caso de permanência, empobrecimento
e dependência das famílias camponesas em relação às grandes empresas do agronegócio. Diante dessa
nova tendência de expansão capitalista no campo, considera-se que houve uma nova ascensão de
movimentos sociais camponeses ao redor do mundo, sobretudo nos países periféricos, onde as condições
de vida da população camponesa foram mais afetadas.

Esses movimentos e organizações do campo, espalhados pelo mundo, tiveram os avanços das
comunicações e transportes como aliados, facilitando a confluência de ideias nessa proposta alternativa
para a agricultura. A Via Campesina, aos poucos, adquiriu importante papel nas lutas populares
internacionais contra o neoliberalismo, se opondo ao controle dos recursos naturais e tecnologia, em
defesa da soberania alimentar. Seu nascimento data de 1992, no II Congresso da Unión Nacional de
Agricultores y Ganaderos de Nicarágua, realizado em Manágua, no qual organizações da América e
Europa propuseram a criação de uma articulação mundial do campesinato. A efetivação veio em 1993,
em Mons, na Bélgica, na I Conferência da Via Campesina, quando foram elaboradas as linhas políticas
iniciais e sua estrutura organizativa.

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Novos movimentos foram se incorporando e suas linhas políticas foram sendo aperfeiçoadas. Em abril
de 1996, na sua II Conferência, em Tlaxcala, no México, contou com a participação de 37 países e 69
organizações nacionais. Enquanto o encontro ocorria, no dia 17 de abril, ocorreu o Massacre de Eldorado
dos Carajás, no qual 19 camponeses sem-terra foram assassinados durante uma marcha no município
localizado no estado do Pará. Por conta disso, 17 de abril foi declarado naquela mesma conferência o
Dia Mundial da Luta Camponesa. A Via Campesina ainda realizou – até 2019 – outras cinco
Conferências.

A Via Campesina é estruturada pela Conferência Internacional, pela Comissão Coordenadora


Internacional, por comissões políticas e a secretaria executiva, além dos movimentos camponeses nela
associados. Esse modelo organiza suas linhas de atuação, elaborando documentos e manifestos, além de
definir sua participação em debates, protestos e eventos internacionais.

Ao compreender a soberania alimentar como direito dos povos, de seus países e blocos de definirem
suas políticas agrícolas e alimentares, sem a interferência de outros países, a Via Campesina também
defende a retirada do poder das corporações multinacionais e que as negociações agrícolas internacionais
estejam sob o controle dos Estados, sem a intervenção da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O conceito de soberania alimentar é muito caro à Via Campesina, e se em 1996 significava “o direito de
cada nação de manter e desenvolver sua própria capacidade de produzir alimentos básicos, respeitando
a diversidade cultural e produtiva”, no ano 2000 sofreu uma alteração, quando a organização afirmou
que “os povos têm o direito de definir sua política agrícola e de alimentos”. Deste modo, não se refere
apenas aos Estados nacionais, mas traz a ideia de uma soberania societária, comunitária ou cidadã.

Compreende-se, portanto, a Via Campesina como uma articulação organizada a partir de pequenos e
médios agricultores/as e trabalhadores/as agrícolas assalariados/as, indígenas e sem-terra, que se
apresenta como um movimento internacional autônomo e pluralista, não subordinado a partidos, Igrejas
e governos que, resumidamente, contrapõe-se à padronização das culturas, à concentração fundiária, à
monocultura e à produção unicamente exportadora, características do modelo de desenvolvimento do
agronegócio.

OS ARGUMENTOS DO DEBATE
ALGUNS DOS ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À REFORMA AGRÁRIA SÃO:
• A distribuição de terras sem função social é um direito constitucional e uma das principais
formas de se diminuir a forte concentração de terras brasileira. Não fazer a reforma agrária é
privilegiar os interesses de alguns capitalistas em detrimento do interesse de milhões de
trabalhadores rurais.
• A reforma agrária tem papel mais social que econômico. É importante forma de geração de
empregos e contenção dos fluxos migratórios que geram inchaço nas cidades.
• Segundo Graziano da Silva, agrônomo, professor e escritor brasileiro: “se não existissem outras
bastaria essa: a pior das reformas agrárias que ao menos garante casa, comida e trabalho por uma
geração, custa menos da metade do que é gasto para manter alguém na cadeia.
• A não solução da questão agrária continua sendo um impedimento ao desenvolvimento mais
equitativo e justo do país. Em 2017, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e
Alimentação (FAO) afirmou que a justa distribuição da terra é necessária para erradicar a fome
e alcançar desenvolvimento sustentável.
• Os trabalhadores rurais sem terra possuem como único ofício a habilidade de trabalhar na terra.
Sem a possibilidade da terra para trabalhar, não se encaixam nas cidades e acabam se juntando à
população mais pobre do país.

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ALGUNS ARGUMENTOS CONTRÁRIOS À REFORMA AGRÁRIA SÃO:

• O direito à propriedade é inviolável. O discurso de reforma agrária moderno, como é feito pelo
MST, motiva à violação de propriedade, trazendo como resultados o aumento de conflitos e da
violência no campo, sem necessariamente trazer melhores resultados.

• O tempo histórico da reforma agrária passou. O mundo rural brasileiro mudou radicalmente nos
últimos 30 anos e não faz mais sentido se falar em reforma agrária e essa não é uma bandeira
nacional. É preciso fortalecer a estrutura do campo, um dos grandes motores do PIB brasileiro,
e não enfraquecê-la.

• A questão social deixou o campo e foi para as cidades. O caminho é buscar melhores condições
de vida para as pessoas nas cidades ao invés de manter altos gastos, sem grandes resultados, com
a reforma agrária.

• O processo de reforma agrária brasileiro é marcado por irregularidades e baixa fiscalização.


Segundo relatório do TCU, o valor de terras ocupadas com suspeita de irregularidades soma 159
bilhões de reais.

• A influência da terra é pequena em relação ao valor do produto. Hoje, o que faz valer a pena a
produção agrícola é a modernização. As pequenas produções que a reforma agrária geraria não
contariam com grandes investimentos ou capacidade de “tratar” as terras, e acabariam
discriminadas pelo mercado.

EXERCÍCIO

01- De acordo com o texto, “o que é reforma agrária”? E quando acontece?

02- O professor Doutor em Economia Política, Eduardo E. Filippi, a distribuição pode ser entendida de
3 formas: Quais são elas?

03- De acordo com o conteúdo abordado o que a charge abaixo quer dizer. Fale com suas palavras.

04- Além disso, ali fica estabelecido que para que alguém pudesse manter sua propriedade de terra, esta
deveria desempenhar sua função social. De acordo com o segundo artigo do Estatuto, uma propriedade
desempenharia função social quando?

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05- Quando você olha essa imagem abaixo o que ela representa no cenário Brasileiro?

06- O que é e como acontecia o Êxodo Rural brasileiro?

07- De acordo com o texto cite quais são os objetivos do MST durante esses anos?

08- Qual a importância e os objetivos do Plano de reforma Agrária Popular lançada pelo MST?

09- O que é o INCRA e qual a sua responsabilidade frente a reforma agrária?

10- O que é a VIA CAMPESINA? Qual o motivo de seu surgimento?

11- Como é estruturada a Via Campesina?

12- De acordo o que foi aprendido e com suas palavras qual quais as dificuldades de se fazer acontecer
a Reforma Agrária no Brasil?

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