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Fevereiro
2021
Nº 493
ENTREVISTA
SÉRGIO MÉDICI DE ESTON
FALTA
Visão 360 da engenharia de
segurança e higiene ocupacional
em tempos de pandemia
CAPUZ BALACLAVA
DISCUSSÃO?
GOVERNO PRETENDE RETOMAR MUDANÇAS
Equipamentos à prova de arco NAS NRS, MAS ENTIDADES PEDEM MAIS
elétrico e fogo repentino LISURA NO PROCESSO
INCÊNDIO
Costura
Spandex de alta
performance
Dedo
Essa combinação entre a tecnologia de ponta e o design, faz da Ringers uma linha
inigualável em soluções de proteção para as mãos de trabalhadores expostos a alguns
dos ambientes mais adversos.
68 FUTURO DAS
NRS
COLUNAS
16
Construir com segurança ..................................
CAPUZ
34 Previdência ....................................................... 18
52
FORNOS
Calçados com isolante elétrico .......................... 40
98
CENTRAIS DE
Assédio sexual e moral...................................... 74
108
INCÊNDIOS EM
Geoprocessamento em incêndios .................. 116
SEÇÕES
Indicadores de mercado .................................... 14
BARES
CIPA Notícias .................................................... 22
124
IOT APLICADA À
Prêmio de Segurança ........................................ 30
Destaque ......................................................... 84
Vitrine .............................................................. 88
PREVENÇÃO
entrevista Por Victor Faverin
VISÃO 360
Panorama da SST no Brasil e a contribuição
dos engenheiros e higienistas
C
oordenador dos Cursos de Especialização em o argumento, dizendo que o aviso sonoro seria apenas a
Engenharia de Segurança do Trabalho e Hi- “pontinha do iceberg” na questão da possibilidade de vi-
giene Ocupacional da Escola Politécnica da das serem salvas e que houve, sim, descaso na implanta-
Universidade de São Paulo (Poli-USP), Sérgio ção do sistema de monitoramento da barragem.
Médice de Eston é, também, professor titu- Grande entendedor de gerenciamento de riscos, o profes-
lar de Engenharia de Minas e de Petróleo da instituição. sor alertou, em entrevistas concedidas após o rompimento,
Após a tragédia do rompimento da barragem de Brumadinho, que deveriam haver mais sirenes no caminho a ser percorri-
em 25 de janeiro de 2019, o especialista foi uma das princi- do pela lama. O professor apontou erros crassos da gerên-
pais vozes a apontar os erros cometidos pela Vale e governos cia: “Quando se está com equipamento de prevenção, a coi-
estadual e federal, bem como pelas empresas que, anterior- sa mais importante é fazer teste e, que eu saiba, não teve
mente, haviam atestado a segurança do empreendimento. nenhum teste. A sirene toca, mas as pessoas precisam sa-
À época, uma das primeiras afirmações do presidente da ber a direção para onde fugir. É preciso simular e ensinar as
mineradora foi que a rapidez do acidente impediu que si- pessoas. Alguma coisa de muito descaso houve na implan-
renes de emergência tocassem. Eston, por sua vez, refutou tação desse sistema de monitoramento”, afirmou ao Jornal
8
da Manhã, da Jovem Pan, em fevereiro do ano retrasado. falta de segurança e impunidade. A mineração é algo es-
Segundo ele, era possível fazer a prevenção de um even- sencial para o ser humano, e é triste que a Vale, uma em-
tual rompimento de barragem com base no acompanha- presa brasileira, com o histórico de dois desastres gigan-
mento de parâmetros críticos. “Basta escolher o parâme- tescos no intervalo de dois anos, demonstre a falta de uma
tro, que pode ser a pressão da água, vazão, entre outros, cultura interna forte de segurança.”
e acompanhá-lo e monitorá-lo. Desastres naturais, como Para ele, o método de jusante é mais seguro do que o
terremotos, raios e ciclones são coisas que a engenharia método de montante — um dos mais comuns nas barra-
não controla, mas o resto precisa de equipamento testa- gens, utilizado em Brumadinho e em Mariana. “Mas o de
do regularmente. As sirenes têm que ser projetadas para jusante é mais caro, mais demorado, ocupa mais espaço.
funcionar acompanhando o parâmetro crítico”, explicou. Só se a empresa tiver uma cultura de segurança forte de
Sobre a periodicidade do acompanhamento, o professor controlar os riscos é que se pensa focando na engenharia
recomendou que fosse feito todos os dias. “Quanto mais e também na sustentabilidade ambiental. Se focar no que
crítica a situação, mais frequente o acompanhamento de- é mais rápido e mais barato, vai se correndo riscos até a
ve ser. Em barragens, o monitoramento precisa ser diário, hora em que a tragédia acontece.”
com gráficos que prevêm o que vai acontecer e o que é O exemplo de Mariana, de Brumadinho e da Boate Kiss
possível impedir que ocorra”. reforçam a importância do gerenciamento de riscos. Para
Para Eston, o caso Brumadinho se tornou mais um ca- tratar do tema de forma abrangente, Eston participou da
pítulo da triste crônica brasileira de tragédias anunciadas. live “Contribuições Técnicas do Engenheiro de Seguran-
“Essa catástrofe, que poderia ter sido evitada, reside, prin- ça do Trabalho em Tempos de Pandemia”, realizada pe-
cipalmente, no que eu chamo de ‘cultura de segurança das lo Laboratório de Controle Ambiental, Higiene e Seguran-
empresas’. E não é uma novidade no País, pois o Brasil não ça na Mineração da Escola Politécnica da Universidade de
tem cultura de segurança. Para ele, desde a queda recor- São Paulo (Lacasemin Poli-USP).
rente de viadutos por falta de manutenção a grandes ca- A Revista CIPA&Incêndio foi apoiadora de mídia do
tástrofes com mortes, acontecem porque não se tem ge- evento virtual e traz, a seguir, os principais pontos aborda-
renciamento adequado de riscos e controles rígidos nas dos pelo especialista. Confira:
empresas e entidades nacionais.
Em entrevista ao Jornal da USP em janeiro de 2019, o Novidades para 2021
especialista analisou que essa carência de segurança está O setor de SST e a sociedade estão falando muito sobre
intrinsecamente ligada à falta de impunidade no País, re- as novidades para 2021, como o Programa de Gerencia-
lembrando o caso da Boate Kiss, em janeiro de 2013, que mento de Riscos (PGR) e o Gerenciamento de Riscos Ocu-
vitimou 242 pessoas na cidade de Santa Maria, no Rio pacionais (GRO), mas me pergunto se esses conceitos são,
Grande do Sul. “Se você perguntar quem está preso por realmente, novidades? Afinal, a Norma Regulamentadora
conta da Boate Kiss, é difícil de saber responder. O mesmo nº 22 (NR-22), que mudou o nome de trabalhos subterrâ-
vale para o ocorrido com a Samarco em Mariana. Não tem neos para mineração, foi publicada em 1999 e já trazia a fi-
ninguém preso. Existe uma irresponsabilidade por conta da gura do PGR. Mas houveram avanços que serão discutidos
9
entrevista
nesse ano, já que se fala mais sobre a diferenciação entre mas também foco no micro. Por isso, defendo que é impor-
riscos e perigos, inventário de riscos, hierarquia de contro- tante que as pessoas pensem nos riscos e imaginem qual é
les, matrizes de risco, entre outros tópicos. o maior que a empresa onde ela trabalha está sujeito e co-
mo ela faria para gerenciá-lo.
Desafios a engenheiros de segurança e higienistas
Engenheiros e higienistas são diretamente responsáveis Agentes biológicos
pela mudança de cultura das empresas brasileiras. Precisam, É importante que se diga que a pandemia trouxe muitas
com isso, entender de riscos e calcular probabilidades. Ca- oportunidades aos higienistas e engenheiros de seguran-
bem a eles se questionarem se vão gerenciar o risco pelo ça de ampliarem seus conhecimentos e suas aptidões. Co-
evento mais provável ou mais severo. No estacionamento de mecemos com os agentes biológicos, até então os “primos
um shopping, por exemplo, o risco mais provável é de um pobres” das análises de risco e PPRAs comuns, e que costu-
carro arranhar o outro e o mais severo é de haver um atro- mam aparecer depois dos agentes físicos, químicos e ergo-
pelamento ou acidente com morte. Por qual foco se deve ge- nômicos. Mais do que dar exemplos de agentes biológicos
renciar e comparar riscos? Quais ferramentas usar? E quanto (micro organismos, bactérias, vírus, fungos, protozoários,
ao risco residual? Quanto ao ruído, por exemplo, que é um parasitas, bacilos, entre outros), é preciso saber defini-los.
fator sempre presente em Programas de Prevenção de Riscos Os vírus, por exemplo, ao classifica-los, o conceito de risco
Ambientais (PPRAs), se for pensar em adicional de insalubri- aparece novamente, já que temos vírus de Classe de Risco
dade, se oriente pela dose, mas se for pelo PPRA, pode-se 1 – baixa probabilidade de causar doença, Classe de Ris-
ir pelo Nível de Exposição (NE), agora se for por aposenta- co 2 – risco individual moderado e baixa probabilidade de
doria, pode-se optar pelo Nível de Exposição Normalizado disseminação na coletividade e etc. Essa pandemia trouxe
(NEN). Existem muitas maneiras de olhar a mesma questão. a necessidade de os cursos de higiene ocupacional revisita-
rem seus conteúdos e darem mais importância aos agentes
Gerenciamento de riscos biológicos, mas fazendo isso com conceito, com definição.
O melhor meio de gerenciar riscos é através de controles.
O primeiro passo é selecionar esses controles, que precisam Ferramentas de qualidade
ser disponíveis, eficientes, sustentáveis e redundantes. Um Em saúde e segurança do trabalho, atualmente, estão fo-
exemplo: a falta de energia elétrica no Amapá. Como se no- cando muito em certas ferramentas de qualidade, como o
ticiou, eram necessários dois geradores para abastecer boa PDCA – Plan, Do, Check, Act (planejar, fazer, checar e agir)
parte do estado. Com a importância e severidade do pro- e também do 5W2H – What (o que será feito?), Why (por
blema, precisava-se manter outros dois de reserva, mas só que será feito?), Where (onde será feito?), When (quando
previram um e este um estava há mais de um ano em ma- será feito?), Who (por quem será feito?), How (como será
nutenção, ou seja, não havia reserva. Em uma conta simples feito?) e How much (quanto vai custar?). É ótimo que este-
de probabilidades, sabia-se que haviam chances desses ge- jam considerando essas ferramentas, mas também deviam
radores falharem, seja por qual fosse o motivo. Para geren- falar de KYT, que é um treinamento para predição de riscos
ciar riscos através de controles, temos de ter visão macro, criado pela Associação Internacional de Segurança e Saúde
10
do Japão (Jisha-Japan) e trazido para a América Latina pe- rança do trabalho que vem da palavra Kiss, ou seja, keep it
la Associação Interdisciplinar de Saúde Ocupacional e Higie- stupidly simple (mantenha a coisa estupidamente simples).
ne do México (AISOHMEX). No Japão, não se aceita riscos
quanto à segurança porque há o procedimento correto de Mercado de trabalho
se fazer as coisas através do conceito de eficiência individu- A área de saúde e segurança do trabalho em um país
al para a produtividade nas fábricas. Este programa de pre- como o Brasil, com tanto a melhorar, tende a gerar muitas
venção adverte as pessoas sobre os problemas em seu tra- oportunidades em um futuro próximo, a meu ver. E isso
balho e como deve ser o comportamento para que ações não se restringe ao novo profissional que chega nas em-
corretas revertam-se em hábitos, de modo que não ocorram presas com o frescor das novas ideias, saberes e com a von-
mais acidentes provenientes de erros humanos. Outras ferra- tade de trabalhar, mas também ao trabalhador experiente
mentas também são muito úteis e precisam ser levadas em que, ao longo de sua trajetória, possui um cabedal de co-
conta por esses profissionais, como o Kaisen (melhoria con- nhecimentos muito úteis a uma companhia que, realmen-
tínua do local e das pessoas, reconhecer e eliminar desper- te, está motivada a ter uma cultura de segurança em sua
dícios); o Poke Yoke (dispositivo à prova de erros destinado raiz organizacional.
a evitar defeitos em processos de fabricação, desenvolvido
a partir do Sistema Toyota de Produção). Aos poucos, es- Curso mais focado
sas ferramentas começam a adentrar a área de segurança O Programa de Educação Continuada da Poli-USP (Pece-
e saúde ocupacional, o que é, sem dúvidas, muito positivo. -Epusp) lançou o curso “Ergonomia, engenharia de fatores
humanos e aspectos de segurança do trabalho” com iní-
Matriz de risco cio em julho deste ano. Os agentes biológicos terão mui-
Não recomendo que se faça matriz de risco com mais de to mais foco, já que a pandemia trouxe a oportunidade do
três cores. Não adianta sofisticá-la demais porque a ferra- profissional se especializar nessa área e entender melhor
menta passa a não ser mais útil. Exemplo clássico: todos o mundo a sua volta. Desta forma, o engenheiro pode ter
entendem o semáforo porque a informação incutida em ca- uma relação mais estreita com o médico do trabalho e en-
da cor é de fácil entendimento. Existe uma regra em segu- tender ainda mais sobre prevenção. Q
A REVOLUÇÃO
DO MERCADO DE
RADIOCOMUNICAÇÃO
Cobertura nacional (3G/4G/LTE/WiFi) AGENDE UMA
DEMONSTRAÇÃO
Isento de Licença da Anatel
2021
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INDIVIDUAL
Animaseg divulga Indicadores do Mercado Brasileiro de EPIs
A
Associação Nacional da de 70% dos óculos de segurança e
Indústria de Material mais de 50% das luvas de segurança
de Segurança e Prote- comercializadas são importadas”, des-
ção ao Trabalho (Ani- taca o estudo. Confira o mercado anu-
maseg) divulgou em al de EPIs (base 2019):
dezembro o já tradicional “Indicadores
do Mercado Brasileiro de EPI – 2020”.
No editorial, a entidade ressalta
que a crise sanitária trazida pela Co-
vid-19 evidenciou para toda a socie-
dade que a falta do EPI pode causar
até a morte, e a necessidade de utili-
zar o equipamento de proteção no am-
biente de trabalho de forma adequada
ao risco é uma condição de seguran-
ça nesta nova realidade pós-pandemia
e permanente para todos, sobretudo,
aos trabalhadores.
O document ainda expressa que,
diante desse cenário, é urgente e ne-
cessário que o país tenha uma política EPIs R$ %
estratégica para o setor, que garanta o
Vestimentas de segurança 2.895.461.500,00 28,0
suprimento de matérias-primas, a fa-
bricação local e a capacidade tecnoló- Calçados de segurança 2.161.680.000,00 20,9
gica e produtiva para prover a seu pró- Luvas hospitalares 2.027.500.000,00 19,6
prio trabalhador e atender a demanda Luvas de segurança 1.593.790.000,00 15,4
à população. Protetores respiratórios 570.350.000,00 5,5
“As empresas brasileiras precisam
Equipamentos contraquedas 326.762.500,00 3,2
competir com economias que, além
de não ter a carga tributária equiva- Face/olhos 251.052.500,00 2,4
lente à brasileira, não têm as exigên- Capacetes de segurança 193.254.500,00 1,9
cias sociais, ambientais e trabalhistas Cremes protetores 130.681.000,00 1,3
impostas por nossa legislação. As con- Protetores auditivos 97.541.600,00 0,9
sequências são evidentes quando ob-
Outros 81.494.750,00 0,8
serva-se que, no Brasil, 99% das luvas
de procedimento não cirúrgicos, mais Total 10.329.568.350,00
14
Coluna
Construir com segurança
Sérgio Luiz M. Ussan
Engenheiro Civil e Engenheiro de Segurança
Alteração na
vigência das NRs
N a reunião de novembro de 2020, a Comissão Tri-
partite Paritária Permanente (CTPP) decidiu pe-
la alteração da entrada em vigor dos novos textos da
A pergunta que cabe neste momento é: por que
esperar para explorar e dominar um tema, para o
qual já existem orientações e foco e que fornece ba-
NR-1 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos se sólida para os procedimentos a serem seguidos a
Ocupacionais, da NR-7 – Programa de Controle Médi- partir de agosto de 2021?
co de Saúde Ocupacional e NR-9 – Avaliação e Controle Portanto, caro leitor, com ênfase para Engenhei-
das Exposições Ocupacionais e Agentes Físicos, Químicos ros e Técnicos de Segurança do Trabalho, não espe-
e Biológicos e da nova NR-18 – Condições e Meio Am- re, passe de imediato a analisar o que já está divul-
biente de Trabalho na Indústria da Construção. gado e a acompanhar o que está em andamento.
Reproduzindo texto do Boletim Semanal SIT – CTPP Não se faz necessário aguardar a proximidade do
“várias razões levaram à decisão desta prorrogação, início de vigência das Normas para entender o no-
além do impacto causado nas atividades das organiza- vo foco que o governo está dando a partir da sim-
ções devido à pandemia, como a de modular a vigência plificação e harmonização das NRs.
de todas as normas gerais revisadas e em revisão, bem Se este texto estiver sendo considerado óbvio, va-
como a norma setorial NR-18, além de possibilitar a dis- le o questionamento se entendeu o foco de gestão
ponibilização das fichas com informações sobre as me- abordado na nova NR-1, a simplificação da NR-18, a
didas de prevenção para os MEI, previstas no subitem relação de empreendedores com empresas MEI (Mi-
1.8.2, e a ferramenta de avaliação de riscos, prevista no cro Empreendedor Individual) ou EPP (Empresa de
subitem 1.8.3, ambos da NR -1, em prazo hábil para dis- Pequeno Porte) ou ME (Micro Empresa) e quais os
ponibilização à sociedade”. Assim, a NR-1, NR-7, NR-9 reflexos da aplicação do PGR (Programa de Geren-
e NR-18 passarão a vigorar em 1º de agosto de 2021. ciamento de Riscos) e do IR (Inventário de Riscos).
Caso não haja alterações emanadas da SIT no período Se ainda não tem ideia do que é abordado ou se
de elaboração deste texto até sua publicação o que va- tem conhecimento apenas superficial, cabe alertar
le é o exposto acima. Esta situação pode conduzir pre- para o fato que os mesmos estão inseridos em uma
vencionistas e profissionais que, de uma ou outra forma, mudança de cultura nas relações de trabalho e to-
estão envolvidos com as NRs a entrarem em estado de dos nós sabemos que mudar cultura já arraigada
relaxamento na preparação e cuidado profissional com não é fácil como pode parecer.
as anunciadas alterações, imaginando que há tempo de Este texto, que pode ser chamado de “alerta”, é
sobra para preocupação com o que só acontecerá no merecedor de leitura, análise e considerações pro-
segundo semestre do próximo ano. fundas, para levar aqueles que com ele concordam
Em artigo anterior, coloquei a existência de dois ti- a aprofundar-se neste novo universo que, em bre-
pos de profissionais: os que esperam acontecer e os ve, estará à nossa porta.
que fazem acontecer. Como sempre, o contraditório será bem-vindo.Q
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Coluna
Previdência
Remígio Todeschini
Ex-presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, ex-diretor de Saúde Ocupacional do
Ministério da Previdência e Doutor em Psicologia Social e do Trabalho pela UNB
FAP 2021
Comparativo do FAP 2020 com 2021 mostra
que o Bônus diminuiu e o Malus aumentou
18
Coluna
Sylvino Cintra
Advogado especializado em acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais, professor, diretor e consultor técnico jurídico da
Associação Brasileira de Proteção às Vítimas de Doenças e Acidentes
Ações Indenizatórias
Fechamento de
unidade fabril
Empresa é
obrigada a T ransitou em julgado, sentença condenatória a uma empresa pro-
dutora de tubos e conexões, situada no Polo Petroquímico de
encerrar atividades Camaçari, Bahia, resultando na desativação de área fabril. Uma das
por não atender principais causas: se tratava a unidade era antiga e arcaica e não era
capaz de suportar a continuidade da produção, sendo que eram dis-
minimamente tribuídos em território nacional.
a NR-12 O estopim para tal decisão, como discorrido nessa mesma coluna
na edição 491 (setembro/outubro), foi um acidente de trabalho ocor-
rido com máquina em ciclo automático, dotada de resistência elétri-
ca para operação a quente, e que exigia do empregado manutenção
sistemática, não desligando o ciclo manual ou o sistema hidráulico.
O tribunal observou que a Reclamada deixou de observar o pon-
to fundamental da Norma Regulamentadora nº12, da portaria MTE
3214/78, ou seja, o princípio da falha segura.
Levou-se, dessa forma, em consideração a narrativa da prova tes-
temunhal, acentuando-se “que três trabalhadores que se encontra-
vam próximos ao local, correram e pegaram uma mão de força”, sen-
do obrigados a forçar o ponto em que o pé do Reclamante estava
prensado. Acrescentaram, também, que a máquina não tinha ainda
sofrido uma revisão para enquadrá-la à nova NR-12, bem como não
havia treinamento para uso das máquinas e que os operários apren-
diam a usá-las no dia a dia.
Na apuração final dos cálculos, imputou-se à empresa pagar uma
indenização no valor de R$ 117.479,57 à vítima do acidente ocupa-
cional. Na conclusão, o Tribunal destacou a negligência do empre-
gador, conduta esta que violou o artigo 7°, XXII da Constituição Fe-
deral, que assegura ao trabalhador urbano e rural, dentre outros, o
direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de Nor-
mas de Saúde, Higiene e Segurança. Q
20
MPT emite nota técnica que considera
Covid-19 doença do trabalho
O Ministério Público do Trabalho emitiu, no começo de dezembro, nota
técnica que caracteriza a Covid-19 como doença ocupacional e recomenda
que os médicos deverão solicitar às empresas a emissão de Comunicação de
Acidente de Trabalho (CAT) para funcionários que contraírem o vírus ou casos
considerados suspeitos. Sua adoção, contudo, não é obrigatória. O documento
elaborado pelo Grupo de Trabalho do Ministério Público do Trabalho afirma que
a Covid-19 pode ser considerada doença do trabalho quando a contaminação
do trabalhador pelo vírus ocorrer em decorrência das condições especiais
de trabalho, nos termos do parágrafo 2º do art. 20 da Lei nº 8.213/91. “A
Covid-19 é um risco biológico existente no local de trabalho, e, a despeito de
ser pandêmica, não exclui a responsabilidade do empregador de identificar os
possíveis transmissores da doença no local de trabalho e as medidas adequadas
de busca ativa, rastreio e isolamento de casos, com o imediato afastamento
dos contatantes, a serem previstas no Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional, elaborado sob responsabilidade técnica do médico do trabalho,
nos termos da alínea “d” do item 4.12 da NR 04)”, diz trecho do documento.
22
Empresa completa um ano TST regulamenta condições de
sem acidentes de trabalho trabalho para servidores com
com perda de tempo deficiência
A Air Liquide Brasil conquistou a marca de um ano sem re- A presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministra Maria
gistrar acidentes com perda de tempo, ou seja, ocorrências Cristina Peduzzi, editou no início de dezembro um ato para regula-
que resultem no afastamento temporário ou permanente mentar a concessão de condições especiais de trabalho para servidores
do colaborador para sua recuperação, conforme a classifi- que apresentem alguma deficiência ou que tenham filhos com condi-
cação geral dos acidentes de trabalho no Brasil. A empre- ções especiais Entre as ações estão a possibilidade de jornada especial
sa possui mais de 1.200 profissionais e entre as principais ou de teletrabalho. A concessão do horário diferenciado foi incluída
ações para consolidar o tema da segurança entre seus va- no Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da União (Lei
lores, estão as 12 regras que salvam vidas, reforçadas cons- 8.112/1990, artigo 98, parágrafos 2º e 3º) pela Lei 9.527/1997. A edi-
tantemente entre os profissionais da companhia e que in- ção do ato leva em conta a necessidade de regulamentação da
cluem: lembrar a importância de não trabalhar sob o efeito matéria no âmbito do TST. Outras normas contempladas são a
de álcool ou drogas; não andar sob cargas suspensas ou Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Defi-
entrar em espaços confinados sem autorização; obrigato- ciência, promulgada em 25 de agosto de 2009, com status de nor-
riedade do uso de EPIs; uso de equipamentos de proteção ma constitucional, o Estatuto
contra quedas; entre outras medidas. Além disso, para da Pessoa Com Deficiência
atingir a marca, a Air Liquide Brasil buscou identificar que (Lei 13.146/2015) e as Resolu-
tipos de acidentes eram mais frequentes e, a partir desse ções 230/2016 e 343/2020 do
levantamento, definiu quais ações tomar para minimizar os Conselho Nacional de Justiça.
riscos mais comuns, bem como desenvolveu um aplicativo Para ler o
para que os funcionários possam comunicar “quase aci- Ato na ínte-
dentes” (princípio de vazamento de produto, tombamento gra, acesse o
de cilindro, por exemplo), possibilitando atuar de forma QR Code.
mais assertiva na prevenção de riscos.
23
STREAMLIGHT.COM S RESERVED.
Tecnologia reforça segurança de colaboradores no campo
As preocupações dos produtores rurais são variadas e, geralmente, vão além da produtividade da lavoura. Envolvem, por exemplo, a
gestão de horas dos colaboradores, a capacitação da mão de obra com treinamentos constantes e a segurança de quem vai atuar direta-
mente com insumos e implementos agrícolas. Para toda essa organização, a tecnologia é uma ferramenta cada vez mais fundamental nos
espaços rurais. Pensando nisso, a Dimastec, especializada em gestão de ponto e controle de acesso, criou funcionalidades específicas para
o segmento no aplicativo DT Faceum, que chega a operar mesmo sem conexão com a internet. Nele, é possível tanto registrar o início e fim
da jornada de cada colaborador, por meio do reconhecimento facial, quanto gravar no sistema a entrega dos Equipamentos de Proteção
Individual (EPIs), como óculos, proteções faciais, chapéus, perneiras e macacões. A ferramenta permite, também, a marcação de presença
em treinamentos e a entrega de benefícios, como cesta básica. “O agronegócio é um setor de grande potencial e precisa de processos
administrativos mais ágeis para garantir a segurança e a efetividade das ações”, considera Dimas Fausto, presidente da Dimastec.
Condições precárias de
trabalho na fumicultura
O Ministério Público do Trabalho (MPT) lançou o documentário
“Vidas Tragadas”, resultado da mais completa investigação já feita
sobre o trabalho na produção de fumo no Brasil. “O filme contém
imagens importantes para que as pessoas conheçam a dura realidade
dessa indústria. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece
o tabagismo como uma doença crônica. O que falta na sociedade
é entender que o fumo também mata milhões nas plantações de
tabaco”, afirma a procuradora regional do Trabalho Margaret Matos
de Carvalho. Ela é integrante do Grupo de Trabalho sobre tabaco do
MPT e atua nessa área desde 1998, quando investigou pela primeira
vez irregularidades no setor. A película foi gravada no Rio Grande
do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, onde foram encontrados
casos de trabalho infantil. Há, inclusive, registros de adolescentes
aplicando agrotóxicos e trajando chinelos, sem condições mínimas de
segurança. O documentário mostra, ainda, agricultores em jornadas
extenuantes, endividados e doentes pela exposição à overdose de
nicotina (causa dores de cabeça, tontura, náuseas
e cólica). No Brasil, 150 mil famílias de pequenos
produtores, em regime de contrato de integração,
cultivam o tabaco. Para assistir o documentário,
acesse o QR Code:
24
Ferramenta pode reduzir em até 66%
o turnover de empresas
“Quanto o seu colega contribui para a empresa ou para o projeto em
que estão trabalhando?”. Essa é uma das simples perguntas feitas na
avaliação de desempenho Percival (www.percival.live), em que colabo-
radores determinam o salário dos seus colegas. Aplicando o mindset
ágil, a ferramenta colabora para um time satisfeito com a remuneração,
engajado e produtivo, e para a redução de turnover de funcionários de
até 66%. Segundo o criador da solução, Klaus Wuestefeld, as extensas
e subjetivas análises de performance centralizadas nos gestores tornam-
-se obsoletas com o Percival, que requer 15 minutos para que cada
membro da equipe use a interface intuitiva, fazendo uma comparação
confidencial dos colegas usando o sistema drag-and-drop (arrastar e
soltar). O algoritmo se encarrega, então, de cruzar as informações e
fazer os cálculos para gerar os gráficos e os relatórios. “Enquanto uma
avaliação 360° demora vários dias para ser completada, com a platafor-
ma pode-se completar todo o processo em apenas um dia”, compara
Wuestefeld. O turnover é um dos índices mais importante do setor de
RH - medido pelo número de saídas de colaboradores em um determi-
nado período. “Quanto mais satisfeitos, menor a rotatividade dos fun-
cionários. Isso significa maior produtividade e faturamento porque cada
novo recrutamento demanda treinamento, tempo e dinheiro”, observa.
26
Papel de médicos generalistas
na saúde de colaboradores
A falta de acompanhamento médico, a sobrecarga de atividades e as doenças crônicas são alguns
dos principais fatores que afetam o desempenho do trabalhador e, em algum momento, causam o
afastamento das funções profissionais. De acordo com a Associação Brasileira de Recursos Huma-
nos, cerca de 12% da verba das companhias é investida em planos de saúde, número que pode su-
bir para 20% em alguns casos. Segundo pesquisa da International Stress Management Association
(ISMA), o Brasil é o segundo país com mais casos de Síndrome de Burnout no mundo, situação que
faz o acompanhamento constante ser fundamental para que o quadros não se agrave. Para tanto,
a medicina corporative é uma solução que pode diminuir gastos e atuar diretamente na prevenção
com a presença de médicos generalistas no ambiente de trabalho. “O profissional de medicina
integrativa para empresas pode resolver até 78% da demanda por diagnóstico e tratamento com
consultas agendadas com, no máximo, 48h. A proximidade e o acompanhamento diminuem muito
a necessidade de encaminhamento a especialistas e de exames complementares”, explica José Car-
los de Rezende, especialista em Medicina do Trabalho e Medicina de Família e um dos fundadores
do Centro de Estudos do Hospital Santa Cruz de Niterói.
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27
Impacto da Covid-19 Ansiedade afeta 47,3%
nas aposentadorias dos trabalhadores
futuras essenciais na pandemia
O impacto econômico generalizado Sintomas de ansiedade e depressão afetam
da Covid-19 aumentou a pressão fi- 47,3% dos trabalhadores de serviços essen-
nanceira que os aposentados enfren- ciais do Brasil e da Espanha durante a pande-
tam agora e no futuro. Juntamente mia de Covid-19. Os dados foram publicados
com o aumento da expectativa de vida em artigo da revista científica Journal of Me-
e a crescente pressão sobre os recursos dical Internet Research. A pesquisa realizada
públicos para apoiar a saúde e o bem- pela internet nos dois países com quase 23 mil questionários respondidos identificou que
-estar das populações em envelheci- mais da metade dos que apresentaram sintomas de ansiedade e depressão sofrem as duas
mento, a doença está exacerbando doenças ao mesmo tempo. Tais problemas são maiores entre os trabalhadores de serviços
a insegurança na aposentadoria, de essenciais do Brasil, atingindo 55% do total, em relação aos mesmos na Espanha (23%).
acordo com o 12º Índice Global de Sis- Outros números preocupantes: cerca de 44% têm abusado de bebidas alcoólicas, 43%
temas Previdenciários elaborado pela sofreram mudanças nos hábitos de sono e 31% foram diagnosticados ou se trataram de
Mercer e o CFA Institute. David Knox, doenças mentais no ano anterior. Os pesquisadores acreditam que o sedentarismo, dieta
sócio sênior da Mercer e principal autor inadequada, álcool, tabagismo e solidão são os principais desencadeadores.
do estudo, disse que a recessão econô-
mica causada pela crise global de saú-
de levou à redução das contribuições
para as aposentadorias, menores re-
tornos de investimento e maior dívida Governo lançará versão web do eSocial para
governamental na maioria dos países. micro e pequenas empresas em 2021
“Inevitavelmente, isso afetará as pen- Este ano, o governo lançará uma nova rodada de ajustes do eSocial com uma versão
sões futuras, o que significa que algu- web do sistema. A atualização será destinada especialmente às micro e pequenas
mas pessoas terão que trabalhar mais, empresas brasileiras, que poderão apresentar as informações de seus funcionários
enquanto outras terão que se conten- nos mesmos formatos do Microempreendedor Individual (MEI) e do empregador
tar com um padrão de vida mais baixo doméstico. A partir de 2021, portanto, as empresas com até 50 funcionários poderão
na aposentadoria. É fundamental que enviar dados trabalhistas ao governo de forma simplificada, sem a necessidade de
os governos reflitam sobre os pontos um programa especializado. Em 2020, seis obrigações acessórias para departamento
fortes e fracos de seus sistemas para pessoal, que servem de base para a entrega de tributos, foram substituídas pelo eSo-
garantir melhores resultados de longo cial. A estimativa é de que em 2021, outras nove deixarão de ser exigidas. São elas:
prazo aos aposentados”, explica. A Ho- Comunicação de Dispensa (CD); Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT); Perfil
landa teve a maior pontuação geral no Profissiográfico Previdenciário (PPP); Folha de pagamento; Declaração do Imposto
índice (82,6). A Tailândia apresentou o de Renda Retido na Fonte (DIRF); Guia de Recolhimento do FGTS (GRF); Declaração
índice mais baixo (40,8). Já o Brasil fi- de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF); Manual Normativo de Arquivos
cou na 26ª colocação, com 54,5. Digitais (MANAD); e Quadro Horário de Trabalho (QHT).
28
MELHORES
PROJETOS DO
ANO
Por Redação
Vencedores do
A
décima edição do Prêmio DuPont de Segurança e Saúde do
Prêmio DuPont de Trabalhador revelou os vencedores em 10 de novembro de
30
PROTEÇÃO QUÍMICA sódio na ArcelorMittal. Após um amplo
estudo, foram implantados macacões de
NISSAN segurança DuPont™ Tyvek® 500, que
A montadora Nissan elevou os padrões provaram ser melhores que os concor-
de segurança contra lesões por baixa rentes em resistência, durabilidade, con-
temperatura durante o processo de ja- forto e material.
teamento com CO2 em seu complexo
industrial em Resende, no Rio de Janei- PROTEÇÃO CONTRA
ro. No projeto, a unidade implementou COVID-19
macacões com a tecnologia Tyvek®, que
ajudaram a atingir a marca histórica de HOMENAGEADO:
400 dias sem acidentes com afastamen- INSTITUTO BUTANTAN
to no setor de pintura, a reduzir índices Um dos principais centros de produção
de sujidade no processo e a economizar de vacinas e soros do País escolheu a linha
graças à durabilidade dos EPIs. Tyvek® Isoclean para garantir segurança,
PROTEÇÃO TÉRMICA conforto e qualidade para profissionais
INTERNACIONAL que passaram a lidar diariamente com
ROCKWELL AUTOMATION AMÉRICA LATINA amostras do vírus SARS-CoV-2 nos pro-
Especializada em soluções de automa- cessos de estudos de patogenicidade viral,
ção industrial, a campeã da Categoria SUNSHINE BOUQUET diagnóstico, prevenção e tratamento da
(Colômbia)
Corte e Abrasão de 2018 leva agora o doença. A iniciativa é uma sequência da
troféu da Categoria Térmica. Seu projeto A Sunshine Bouquet, especialista em parceria Butantan-DuPont, que rendeu a
promoveu melhoria imediata na proteção produção e exportação de flores, per- primeira colocação ao instituto na Cate-
de trabalhadores da área elétrica na fábri- cebeu que seus processos de tingimen- goria Química em 2018, em um projeto
ca de Jundiaí (São Paulo) com a troca de to e compostagem precisavam de EPIs que, assim como neste ano, é de autoria
vestimentas mistas pelos trajes Nomex® mais seguros. A empresa passou a utilizar de Vanessa Evelin Jesus Vilches Sant’Anna.
Essential Arc. trajes DuPont™ Tyvek®, que neutrali-
zaram riscos químicos e biológicos sem INFLUENCIADOR DO ANO
CORTE E ABRASÃO comprometer conforto ou mobilidade de
colaboradores. O projeto da companhia PREMIADOS:
VALE zerou o número de acidentes na área de CRISTIANO FERREIRA
A segunda maior empresa de minera- tingimento da empresa. E ISAMARA CRUZ
Empresa: ArcelorMittal
ção do planeta garantiu maior proteção
Número de likes: 4.754 votos
e conforto de trabalhadores da área de ESTUDANTE
vulcanização no Terminal Marítimo Porto
da Madeira, o maior porto do Brasil, no GENOMA REDE DE ENSINO No vídeo mais curtido da premiação,
Maranhão. No projeto, a empresa passou (Betim - MG) o engenheiro de segurança e a técnica
a utilizar luvas, mangotes e vestimentas A estudante Juscilaine de Almeida San- de segurança da ArcelorMittal de Serra
com a tecnologia Kevlar® Armor, alcan- tos, da Genoma Rede de Ensino, de Be- Azul (MG) falam sobre case da empresa
çando altíssimo nível de proteção, con- tim, Minas Gerais, analisou um acidente envolvendo brigada de emergência, ges-
forto e destreza. envolvendo vazamento de hidróxido de tão de riscos e seus controles. Q
31
Produtos em foco por Clarisse Sousa
PROTEÇÃO
PARA CABEÇA
E PESCOÇO
34
A
norma regulamentado- lha de lã e tecidos elásticos ou sinté- pamento de segurança deverá possuir
ra nº 6, da Secretaria de ticos, é capaz de oferecer segurança Certificado de Aprovação (CA)”, sa-
Inspeção do Trabalho contra diversos riscos, desde que fabri- lienta o major, que completa: “o ideal
do Ministério da Econo- cada especificamente para determina- é que este EPI seja aprovado contra ar-
mia, que trata especifi- da proteção, pois sua produção precisa co elétrico, fogo repentino e combate
camente dos equipamentos de prote- ser eficiente para que possa proteger a incêndio, devendo ser utilizado pe-
ção individual (EPIs), estabelece regras o trabalhador exposto”, explica Ivan los bombeiros em atividades em que
para que empresas evitem acidentes e Bongiovani Junior, técnico em segu- situações como estas possam ocorrer”.
protejam a saúde dos trabalhadores e rança do trabalho e diretor-técnico da Pelos bombeiros, os EPIs devem ser
forneçam obrigatoriamente os EPIs ade- consultoria Preveseg-ES. utilizados em todo e qualquer tipo de
quados às atividades desenvolvidas. O Para as atividades desempenhadas ocorrência operacional atendida pe-
anexo I da norma traz a lista de equi- por bombeiros, brigadistas, forneiros lo Corpor de Bombeiros, em especial
pamentos separados por áreas do cor- e trabalho a quente, ele explica que o nas que envolvam risco elétricos, com-
po, como para proteção da cabeça: o capuz de segurança tipo balaclava é bate a incêndios e produtos químicos.
capacete e o capuz ou balaclava. confeccionado em malha de fibra ara- Quanto às normas, em regra, ele con-
A NR-6 classifica como “capuz ou mida, com 300g/m2 (+/- 5% em cada ta que as mais utilizadas são a NFPA
balaclava” os EPIs para proteção do camada), fechamento em linha de ara- 1971 - Standard on Protective Ensem-
crânio e pescoço contra riscos de ori- mida, fabricado com alongamento até bles for Structural Fire Fighting and
gem térmica; para proteção do crânio, os ombros, ou não, 100% antichamas, Proximity Fire Fighting e a EN 13911
face e pescoço contra agentes quími- com reforço do próprio material cos- Protective clothing for firefighters - Re-
cos; para proteção do crânio e pes- turado e com bainha na parte inferior. quirements and test methods for fire
coço contra agentes abrasivos e esco- “É muito importante que esses tra- hoods for firefighters.
riantes; e para proteção da cabeça e balhadores utilizem EPIs antichamas Felizmente, segundo o major, o nú-
pescoço contra umidade proveniente capazes de resistir a altas temperatu- mero de acidentes que envolvem bom-
de operações com uso de água. Trata- ras, que podem alcançar até 300ºC, beiros pela falta do uso da balaclava
se de um EPI utilizado por eletricistas, evitando-se, assim, queimaduras e a é muito pequeno, “visto que a disci-
bombeiros, brigadistas, motociclistas, propagação do calor”, explica. Den- plina e consciência são características
profissionais dos setores de siderurgia, tre os equipamentos antichamas es- muito presentes nas corporações mili-
metalurgia, químico, petroquímico e tá o capuz balaclava, “que é indispen- tares”. Na sua falta, no entanto, quei-
até pilotos de corrida, entre outros. A sável”, diz. maduras pela ação do calor poderão
balaclava também serve para proteger No Corpo de Bombeiros do Paraná, ocorrer, face às situações em que os
contra insetos, baixas temperaturas e o major Ivan Ricardo Fernandes afirma bombeiros possam estar envolvidos.
incidência de vento entre o capacete que os EPIs precisam atender a uma Durante sua atividade, o ideal é que
e o abrigo. série de prescrições normativas, tanto o bombeiro não esteja imerso em uma
“Balaclava é um capuz que tem co- nacionais quanto internacionais. “Por condição em que queimaduras possam
mo objetivo garantir a proteção da se tratar de um EPI, minimamente de- ocorrer, visto que sempre deve haver
cabeça e do pescoço do trabalhador. verá atender às prescrições da NR-6 e, um afastamento de segurança e pro-
Confeccionada geralmente com ma- neste sentido, todo e qualquer equi- teção. “Porém, sabemos que a ação
35
Produtos em foco
do calor poderá, sim, ocasionar quei- de CA e também de outras providên- “O processo de obtenção do CA é
maduras, por isso, a principal caracte- cias necessárias para garantia da efi- bastante rigoroso e segue etapas e re-
rística desse EPI deverá ser a proteção cácia e eficiência. gras que não podem ser ultrapassadas
ao calor, em que temperaturas supe- ou atropeladas, e cada uma tem sua im-
riores a 70º/80º devem ser resistidas Testes de qualidade portância para o resultado final espera-
pelo EPI”, ressalta Fernandes. Antes de chegar ao mercado consu- do do EPI”, explica o técnico. Entre as
midor de fato, a balaclava passa por regras está a exigência de que os equi-
Para os eletricistas uma série de testes e ensaios, assim pamentos sejam avaliados em labora-
Para as atividades de eletricistas, se- como os demais EPIs, para evidenciar tórios certificados pelo Inmetro. “Todas
gundo o consultor Ivan Bongiovani Ju- sua capacidade e eficiência e obter o as avaliações devem ser encaminhadas
nior, o capuz de segurança é confec- CA. “Trata-se de um processo impor- e registradas no Organismo de Certifi-
cionado em três camadas de tecido, tantíssimo e necessário antes dos equi- cação de Produtos (OCP), que atua co-
sendo a 1ª composta por 99% de me- pamentos serem comercializados para mo um representante credenciado pe-
ta-aramida e 1% de fibras antiestéti- garantir a proteção do trabalhador que lo instituto”, completa.
cas, com gramatura 240 g/m²; a 2ª ca- o utilizará na atividade a que se des- O processo de certificação de um EPI
mada composta de 51% meta-aramida tina”, diz o consultor Bongiovani Ju- é realizado em três fases de avaliação:
e 49% viscose FR, com gramatura de nior. Ele afirma que antes de adquirir primeiro é feita a definição e seleção das
260 g/m² e, a 3ª de 51% meta-arami- um equipamento, o prevencionista ou características a serem examinadas, bem
da e 49% viscose FR, com gramatura empresário deve considerar cinco im- como os tipos de exigências processuais
de 227 g/m², ATPV 52,0 cal/cm². portantes premissas: que serão aplicadas durante a avaliação.
Neste caso, ele afirma que a bala- Observando as conformidades desta fa-
clava deve ser utilizada em conjunto se, passa-se para a segunda fase de ava-
com o protetor facial e com os capa- 1. Adquirir o EPI adequado liação; nesta, ocorre uma avaliação das
cetes de segurança. “O capuz é forra- conforme os riscos de cada exigências, que variam de acordo com o
do com tecido, dotado de uma aber- atividade; tipo de EPI e podem incluir testes labora-
tura frontal com cerca de 350 mm de 2. Compreender as instruções toriais de resistência e durabilidade, ins-
largura e 100 mm de altura, com bor- de uso mencionadas no peção e exames das características mí-
das laterais recobertas com velcro, que manual do fabricante; nimas determinadas pelas normas; por
são utilizadas para fixação no prote- 3. Treinar o trabalhador para fim, acontece uma revisão e decisão fi-
tor facial. O ajuste da abertura fron- uso correto e também a nal, quando se reavalia e documenta evi-
tal do capuz sobre o protetor facial, guarda e conservação do dências quantitativas e qualitativas rela-
criando um visor, é feito por meio de EPI; cionadas ao produto.
velcro”, explica. “Após a aprovação, o OCP emite o lau-
4. Conscientizar o trabalhador
A fabricação do capuz balaclava, co- do que evidencia e comprova a qualidade
para utilizar o EPI somente
mo todos os outros EPIs, deve respei- para a finalidade a que se do EPI avaliado e esse laudo deverá ser
tar padrões normativos nacionais e in- destina; encaminhado à Secretaria de Inspeção
ternacionais. No Brasil, o técnico de do Trabalho do Ministério da Economia,
5. Entender que o EPI não
segurança lembra que foi instituída a que após análise dos dados cadastrais e
evita acidente, apenas
Portaria Nº 11.347, de 06 de maio de os pré-requisitos legais do fabricante, po-
reduz o impacto que ele
2020, que estabelece procedimentos de-se então homologar o CA do respec-
pode causar.
e requisitos técnicos para avaliação de tivo EPI”, explica o técnico e consultor de
EPI e emissão, renovação ou alteração segurança Bongiovani Junior.
36
Dados de mercado em função das especificações que os ropeus. “Estamos melhorando a cada
Atualmente, o mercado da indús- fabricantes prescrevem em seus ma- dia e sabemos que ainda há um longo
tria e comércio de EPIs é extrema- nuais de operação, “os quais muitas caminho a percorrer para que possamos
mente competitivo. Por essa razão, o vezes não atendem a um padrão mí- unir em um só equipamento seguran-
major Fernandes afirma que muitas ve- nimo de segurança que uma certifica- ça, conforto, adaptabilidade e vida útil,
zes materiais e equipamento advindos ção possa exigir”, observa. entre outros aspectos importantes”, diz.
de regiões com mão de obra barata Outro problema, segundo o major, E faz um alerta. “É importante sa-
e especializada acaba tomando conta diz respeito ao preço desses produtos. lientar que nenhuma empresa do Bra-
do mercado. “É preciso garantir a se- “Sabemos que aquele produto com sil e do mundo estão isentas de aciden-
gurança e qualidade desses materiais menor preço será o utilizado. Mas um tes como incêndio. “São acidentes que
por meio de requisitos de performan- equipamento de segurança deve ser podem ocorrer até mesmo em setores
ce que uma certificação nacional deve- tratado como investimento e não como produtivos que aparentemente não cor-
ria exigir. No entanto, sabemos dessa custo.” Em 2018, segundo os Indica- rem esse risco, ou praticamente des-
lacuna no mercado brasileiro, em que dores de Mercado da Animaseg divul- conhecem ou ignoram”, diz. É por is-
equipamentos de segurança do exte- gados em 2019, 15.700 balaclavas fo- so que, segundo ele, de acordo com a
rior não passam por um controle de ram comercializadas ao preço de R$ 90 legislação brasileira, empresas de qual-
qualidade específico para entrada em a unidade, totalizando R$ 1,4 milhão. quer segmento a partir de determina-
nosso mercado, colocando em risco a Para o técnico de segurança Ivan Bon- do número de funcionários são obriga-
segurança do operador”, ressalta. giovani Junior, os fabricantes brasileiros das a ter um profissional de segurança
Segundo ele, muitas das corpora- ainda estão em nível de melhorias e do trabalho, instalar uma CIPA e pos-
ções militares padronizam suas ações avanço comparado aos fabricantes eu- suir uma brigada de incêndio.
37
Balaclava no mercado brasileiro
JGB
Tecido de aramida e viscose
A composição da balaclava pode variar de acordo com o risco, pois cada
fibra técnica tem função de proteção, segundo Joana Corrêa Brasil, gerente
de engenharia e produto da JGB. A fabricante possui um modelo voltado
aos riscos do arco elétrico, que é confeccionado em duas camadas de Texíon
W. Apresenta um alto desempenho para arco elétrico com ATPV 36,2 cal/
cm² e “ótimos níveis de proteção para riscos térmicos, além de excelente
respirabilidade”. A balaclava possui linha de costura de alta
resistência térmica e mecânica e a modelagem atende às
necessidades do cliente. O modelo é indicado para as
indústrias eletricitárias, papel e celulose, montadoras,
montagens, mineração, serviços gerais e para toda e
qualquer empresa onde haja necessidade de qualquer
tipo de manutenção elétrica.
Hércules
Confecção em malha aramida
Na Hércules, o capuz tipo balaclava para combate a incêndio é
confeccionado em malha de aramida, com uma ou duas camadas, e
abertura tipo ninja ou total. É um modelo usado por bombeiros industriais
e militares. A balaclava da Hércules também pode ser usada sob o capacete
de proteção, sendo o design definido conforme a necessidade de proteção
respiratória, ou não. A fabricante também tem uma versão desse capuz em
tecido misto, com carbon-x e aramida, mantendo a proteção e agregando
conforto ao usuário.
38
Prometal EPIs
Resistente à alta temperatura
Na Prometal EPIs, o capuz de segurança tipo balaclava
disponível é indicado para trabalhos que necessitam proteção
térmica da face e do pescoço, já que é resistente à temperatura
de até 300°C. São confeccionados em malha de fibra
aramida com uma ou duas camadas na cor crú, antichamas, e
possuem abertura frontal tipo ninja. Ingrid Neutzling, gerente
de marketing, faz um alerta: “procure identificar, entre as
balaclavas disponíveis, as que fornecem o máximo de proteção
para os riscos que você busca. Se é risco de chamas; de
variação de temperatura; e/ou de choques elétricos, etc.”
Sogima EPI
Confortável aos usuários
A balaclava Protex 6W da Sogima EPI é um tipo bastante agradável aos usuários, pois é confeccionada em malha
100% algodão tratado com retardante de chamas. “Tratamento este que perdura durante toda a vida útil do
EPI”, segundo a fabricante. “Muito confortável ao vestir, não temos observado qualquer caso de alergia”, diz
Anderson Vicente Alves, gerente de vendas. É um modelo que se ajusta bem à face devido à elasticidade natural
da malha e que tem boas propriedades térmicas. Elevado ATPV acima de 13,0 cal/cm2, alta isolação térmica
alcançando F3 segundo norma ISO 11612, com leve gramatura pouco acima de 200g/m2. Normalmente, é
utilizada com camada dupla que potencializa a proteção, durabilidade, sem prejuízo do conforto e apresentada
com diferentes aberturas na face: abertura total, abertura parcial e parcial dividida.
39
Fotos: Shutterstock
Artigo NR-10
por Felipe Cintra Clementino, Nicole Aparecida Amorim de Oliveira, David Henrique Zago, Jorge Luis Dias dos Santos,
Fernando Soares de Lima
CALÇADO
ISOLANTE ELÉTRICO
Testes laboratoriais são importante garantia de
proteção aos trabalhadores do setor
40
O s acidentes elétricos são bastante comuns, mas po-
dem ser evitados com a adoção de medidas de segu-
rança, conhecimento técnico e metodologias de trabalho.
Figura 1: Desenhos dos calçados
41
Artigo
fabricação, número e ano da norma, simbologia apropriada Quadro 3:
para proteção oferecida e pictograma8. Simbologias adicionais aplicadas a calçados
isolante elétricos
De acordo com esta norma, os calçados isolantes elétricos
ENSAIO SIMBOLOGIA UTILIZAÇÕES
devem apresentar as simbologias básicas SI, PI e OI aplicáveis a
calçados de segurança, proteção e ocupacionais, respectivamente, Determina a resistência do calçado
P a penetração da sola por objetos
isto informa que eles foram submetidos aos ensaios obrigatórios Penetração perfurantes como pregos, parafuso,
e obtiveram resultados satisfatórios em todos os requisitos7,8. É da Sola estacas, etc.
obrigatória a aprovação em ao menos um tipo de ensaio de es-
corregamento e estes possuem marcações como os demais tipos Determina a capacidade do calçado
em proteger os pés em ambientes
de calçados profissionais: SRA, SRB ou SRC, conforme quadro 2. Isolamento HI com altas temperaturas evitando o
A proteção deste calçado é demasiadamente deteriorada ao calor ganho de calor excessivo do
quando o calçado é exposto a ambientes úmidos, molhados, ao ambiente .
frio, produtos químicos, óleos, combustíveis e desgaste excessivo Calçado aplicado para trabalhos
da sola como também possíveis danos no cabedal. Por esses Absorção que exijam que o trabalhador fique
possíveis problemas, este tipo de calçado possui restrição quanto de energia E muito tempo na posição em pé,
na região absorvendo a energia e não
do salto sobrecarregando a coluna
Quadro 2: vertebral.
SIMBOLOGIA SIGNIFICADO ATRIBUÍDO
Determina a capacidade do calçado
Ensaio de escorregamento tendo como Proteção do em proteger os pés contra o
metatarso M
premissa um posto de trabalho com impacto em na região dorsal do pé.
superfícies secas que podem ter o contato
SRA com a água e saponáceos, especialmente Determina a capacidade do
em pisos cerâmicos, por exemplo, serviços de Proteção do AN calçado em proteger o usuário
limpeza, linha de produção etc. tornozelo contra impacto na região do
tornozelo.
Ensaio de escorregamento tendo como
Resistência ao Determina a resistência do solado a
premissa um posto de trabalho de piso de HRO suportar altas temperaturas.
aço ou outro similarmente liso na presença de calor de contato
SRB lubrificantes, por exemplo, postos de Fonte: elaborado pelos autores com dados da ABNT NBR 16603:2017 8 e
combustíveis, plataforma para extração de Oliveira et al. (2020)10.
petróleo, oficinas mecânicas, etc.
42
em material polimérico ou elastômeros são ensaiados de acordo possuindo simbologia específica para isolantes elétricos. Os
com a norma EN 50321-1:2018, e visam fornecer proteção contra ensaios básicos são identificados com o símbolo de acordo
choques elétricos aos usuários que trabalham com linhas vivas com a identificação do calçado, sendo o “SB” (Segurança Bási-
ou próximos a elas em instalações de até 36.000 V em corrente co), “PB” (Proteção Básico) e “OB” (Ocupacional Básico)5,6,7,10.
alternada ou 25.000 V em corrente contínua. Além disso, não existem restrições quanto aos requisitos adi-
Para esse tipo de calçado não é feito o ensaio de pene- cionais que podem ser aplicados a essa classe de calçado
tração de água9; pois entende-se que o calçado Classe II é sendo permitida também a utilização de peças metálicas na
devido as características dos materiais utilizados e da forma composição do calçado como biqueiras e palmilhas de aço9.
como são confeccionados, impermeável. Pare esse, não se Há uma diferenciação de classes elétricas que devem ser si-
aplica o ensaio de resistência elétrica e o teste de isolamento nalizada pelo fabricante, essa classificação é feita de acordo com
elétrico é realizado em condições úmidas tanto para corrente o nível de resistência elétrica do calçado9, conforme o quadro 4.
alternada quanto para continua9. Além disso, esse calçado deve possuir um pictograma e também
As marcações básicas deste calçado são similares aos um campo próximo a ele destinado para se anotar a data do pri-
calçados profissionais regidos pelas normas ABNT5,6,7 não meiro uso, como também a data da inspeção periódica do calçado8.
43
Artigo
Este pictograma tem o formato de duplo triângulo e possui Além disso, o desgaste do calçado implica severamente no
uma cor específica para cada classe de aplicação. O pictogra- seu nível de proteção, devendo ser evitado o uso contínuo. É
ma e suas cores podem ser visualizados na figura 4. aconselhável que estes calçados sejam vestidos apenas pró-
ximo ao local de trabalho para diminuir o desgaste natural e
Figura 4: Formato, dimensões e cores do pictograma possíveis perfurações e cortes.
Referências
1
Junior AB. Riscos elétricos e acidentes no ambiente de trabalho.
Associação Brasileira de Engenheiros eletricistas do Brasil,2020 26/02,
disponível em https://abee-sp.org.br/riscos-eletricos-e-acidentes-no-
-ambiente-de-trabalho/, acesso em 27/7/2020
2
Brasil. NR 10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade
– EPI. Brasília: Ministério da Economia, Secretaria de Trabalho; 2019.
3
Machado RP, et al. Estudo e desenvolvimento de produtos para a
limpeza de EPI’s e EPC’s utilizados em redes energizadas. Gestão,
Tecnologia e Inovação 2018;2(6):52-62.
4
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR ISO
20344: Equipamento de proteção individual - Métodos de ensaio
Fonte: BSI Standards Organization BS EN 50321-1:20189
para calçados. Rio de Janeiro: ABNT; 2015.
5
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR ISO 20345:
Quadro 4: Equipamento de proteção individual - Calçado de segurança. Rio de
Classificação do calçado elétrico de Janeiro: ABNT; 2015.
classe II e suas aplicações 6
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR ISO
CLASSE DO CALÇADO APLICAÇÃO DO CALÇADO 20346: Equipamento de proteção individual - Calçado de proteção.
Rio de Janeiro: ABNT; 2015.
00 Para instalações com tensão nominal de até 500 V 7
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR ISO 20347:
corrente alternada ou 750 V corrente contínua.
Equipamento de proteção individual - Calçado ocupacional. Rio de
0 Para instalações com tensão nominal de até 1000 V Janeiro: ABNT; 2015.
8
corrente alternada ou 1500 V corrente contínua. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 16603:
Equipamento de Proteção Individual – Calçado Isolante Elétrico para
1 Para instalações com tensão nominal de até 7500 V Trabalhos em Instalações Elétricas de Baixa Tensão até 500 V em
corrente alternada ou 11250 V corrente contínua. Ambiente Seco - Requisitos e Métodos de Ensaios. Rio de Janeiro:
ABNT; 2017.
2 Para instalações com tensão nominal de até 17000 V 9
BSI Standards Organization. BS EN 50321-1:2018 Live Working- Foo-
corrente alternada ou 25500 V corrente contínua. twear for Eletrical Protection – Insulation Footwear and Overboots.
Brussels. BSI; 2018.
3 Para instalações com tensão nominal de até 26500 V 10
Oliveira NAA, et al. Calçados profissionais contra riscos mecânicos
corrente alternada.
e suas características especificas de proteção. Revista CIPA 2020. Q
4 Para instalações com tensão nominal de até 36000 V
corrente alternada.
Fonte: BSI Standards Organization BS EN 50321-1:20189.
Conclusão
Apesar de serem submetidos a ensaios semelhantes, os
dois tipos de calçados elétricos previstos possuem caracte- Felipe Cintra Clementino, Nicole Aparecida Amorim de Oliveira,
rísticas diferentes o que implica em usos diferenciados. Para David Henrique Zago, Jorge Luis Dias dos Santos, Fernando-
garantir a proteção adequada do trabalhador deve ser re- Soares de Lima – Laboratório de Calçados e Produtos de Proteção,
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo S.A.,
alizada uma avaliação do ambiente no qual ele irá operar. São Paulo - SP, Brasil.
44
Artigo Eletricidade
por Márcio Bottaro, Ivan Bueno Raposo, Luís Eduardo Caires, Thaís Ohara de Carvalho, Paulo Futoshi Obase, Rogerio Masaro,
Hedio Tatizawa e Vlamir Viana
PROVA DE FOGO
Experimento mostra limites dos efeitos térmicos
do arco elétrico em diferentes tipos de máscaras
para prevenção da Covid-19
Foto: Shutterstock
46
O seguinte experimento foi motivado pelo testemunho de
trabalhadores do setor elétrico e correlatos, adentrando
áreas de trabalho onde os limites de aproximação propiciam a
Metodologia
O experimento impulsionado pelas próprias empresas têx-
teis, fabricantes de EPI para arco elétrico e aberto para par-
sujeição aos efeitos térmicos do arco elétrico. A recente obriga- ticipação voluntária de quaisquer interessados, envolvidos
toriedade do uso de máscaras de proteção com a finalidade de direta ou indiretamente nas ações de segurança do traba-
prevenção da expansão da contaminação pelo SARS COV2 es- lhador, teve enfoque numa avaliação qualitativa do com-
tendeu-se aos locais de trabalho com eletricidade, mas, no en- portamento das máscaras para prevenção contra a Covid-19
tanto, seu uso pode acarretar outros riscos de segurança, parti- quando empregadas nos locais de trabalho com eletrici-
cularmente no caso de ocorrências que envolvam arco elétrico. dade. Para esta finalidade mesmo que fundamentalmen-
Desta forma, o intuito do experimento aqui apresentado foi de te qualitativa, no entanto, foi necessária uma amostragem
avaliar os efeitos térmicos do arco elétrico em diferentes tipos mínima por tipo de produto de interesse e representati-
de máscaras para prevenção contra a Covid-19, dentro da rea- vo de configurações de protetores faciais e máscaras, com
lidade de uso no trabalho com eletricidade e nas condições de ou sem proteção térmica, empregadas nas atividades práti-
controle e prevenção contra arcos elétricos, o que inclui o uso de cas, objetivando como premissa o estabelecimento de uma
proteção facial para estes efeitos, já regulamentadas no Brasil. análise minimamente confiável do comportamento dos cor-
Com a contribuição voluntária do Laboratório de Ensaios de pos de prova ensaiados, que tem como objetivo a preven-
Vestimentas do IEE-USP, de fabricantes têxteis, fabricantes de ção contra a proliferação de vírus, a resposta adicional pa-
EPI para arco elétrico e de usuários do sistema elétrico, foi pos- ra evitar a propagação de calor e chamas no evento de um
sível uma avaliação preliminar básica das combinações de pro- acidente com arco elétrico.
tetores faciais (visores) com as máscaras para Covid-19, com Conforme a experiência relatada pelos apoiadores desse
ou sem proteção térmica, e seu impacto na segurança, por experimento, que incluiu usuários no setor elétrico, foi en-
meio das quais algumas constatações puderam ser evidencia- tendida como fundamental a avaliação dos mesmos também
das para nortear seu uso e adequação ao ambiente de traba- com a utilização de proteção facial própria para seguran-
lho. Trata-se de uma avaliação preliminar e fundamentalmen- ça contra arcos elétricos, respeitando premissas de normas
te qualitativa descrevendo, de modo geral, o comportamento internacionais, entre elas, fundamentalmente, a NFPA 70E
das amostras ensaiadas, pois o número delas é insuficiente pa- que foi utilizada como referência, conforme seu artigo 130
ra se estabelecer correlações estatísticas. Ressalta-se que os re- (Table 130.5(G) Selection of Arc-Rated Clothing and Other
sultados deste experimento limitam-se aos corpos de prova en- PPE When the Incident Energy Analysis Method Is Used), já
volvidos e descritos, não podendo ser aplicado a outros corpos que consiste na norma mais utilizada no Brasil para seleção
de prova que não foram avaliados nos ensaios. de EPI para arco elétrico.
47
Artigo
Tabela 2 – Amostras representativas do Experimento
Apoiadores Modelo sem pro- Composição Modelo com Composição
(empresa) teção térmica* proteção térmica
Cemig Não enviado Não enviado Uniforte Pro FR, duas 100% algodão
camadas
Uniforte Pro FR, duas 100% algodão
camadas com elemento Filtrante TNT
filtrante
Chesf Caseira 3 camadas Duas camadas de tecido Não enviado Não enviado
100% algodão
Uma camada de tecido
sintético
Dupont/Vectra Não enviado Não enviado Tecido FR, duas camadas 65% modacrílico 33%
aramida 2% antiestático
Não enviado Não enviado Tecido FR, duas camadas 98% aramidas, 2%
com elemento filtrante antiestético
Camada do meio fil-
trante 100% aramida
Ideal Work Caseira 2 camadas 100% algodão Westex DH 6.5 oz, duas Tecido tipo sarja 48%
camadas com elemento LIOCEL 40% modacrílico
filtrante 12% aramida
Não enviado Não enviado Westex DH 6.5 oz, duas Tecido tipo sarja 48%
camadas sem elemento LIOCEL 40% modacrílico
filtrante 12% aramida
IEE/USP PPF 2 com válvula Não enviado Não enviado Não enviado
JGB PFF2 sem válvula 1ª e 2ª camadas de fibra Tecido FR 230 g/m2 1ª camada 88% algodão
sintética estrutural em fabricado pela Cedro 12% poliamida FR
100% polipropileno Têxtil com elemento 2ª camada 100%
(100 g/m2) filtrante polipropileno (filtrante)
3a camada 100% poli- (60 g/m2)
propileno (60 g/m2)
Não enviado Não enviado Tecido FR fabricado 1ª camada 100%
pela Santanense com algodão FR
elemento filtrante 2ª camada 100%
polipropileno (filtrante)
(60 g/m2)
Leal Não enviado Não enviado Westex DH 6.5 oz, duas Tecido tipo sarja 48%
camadas com elemento LIOCEL 40% modacrílico
filtrante 12% aramida
Não enviado Não enviado Westex DH 4.5 oz, duas Tecido tipo malha 48%
camadas com elemento LIOCEL 40% modacrílico
filtrante 12% aramida
RAMBO Não enviado Não enviado CEDRO Saturno 02716 100% algodão e
duas camadas gramatura 260g/m²
Não enviado Não enviado CEDRO Júpiter FR 02216 Composição de algodão
três camadas e poliamida com a
gramatura 250g/m²
* Seguindo as recomendações nacionais de vigilância sanitária, nem todos os modelos apresentados são recomendados para proteção contra disseminação da Covid-19.
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As amostras foram acondicionadas de acordo com Figura 2 – Exemplo do estado das máscaras FR após a
os procedimentos laboratoriais do LEVe e não houve aplicação do arco elétrico.
pré-tratamento das mesmas.
O material base resistente ao arco elétrico utilizado nas
máscaras foi entregue com comprovação de algum en-
saio que o valide como tal, por exemplo: relatório técnico
com comprovação de ATPV/EBT/ELIM, ou relatório técni-
co de comprovação de classificação de risco I/II em en-
saios de box test.
As amostras enviadas pelos participantes apresenta-
ram configurações diversas e são apresentadas de forma
resumida na Tabela 2.
Instalação da máscara no manequim Colocação do protetor Foto da máscara no manequim Foto da máscara no manequim
(os sensores dos olhos estão (os sensores dos olhos estão após a aplicação do arco (sem após a aplicação do arco
desprotegidos) protegidos) protetor facial) (com protetor facial)
49
Artigo
Um efeito importante que se pode avaliar nesse experimen- as denominadas Caseiras e as PFF2 sem e com válvula (essas
to é se a máscara pode prejudicar de algum modo a proteção últimas não recomendadas para uso na prevenção da dissemi-
provida pelo protetor facial, ao se inflamar sob a influência do nação da Covid-19), quando submetidas diretamente ao arco
arco elétrico, por exemplo. Espera-se que o protetor tenha ca- elétrico, sem a segurança do protetor facial, apresentaram em
pacidade de proteger também a máscara, porém se essa se in- todos os eventos pelo menos uma das evidências de combus-
cendiar a proteção estaria comprometida, sendo recomendá- tão, derretimento, deformação e desprendimento. Em alguns
vel utilizar material AR, caso o protetor se revele insuficiente. casos, como as PFF2 sem válvula, ocorre ruptura do elástico no
Para cada arco elétrico foram observadas três amostras do instante em que o arco é aplicado, sujeitando toda a face do
mesmo tipo de máscara, em duas rodadas, uma sem pro- manequim a exposição ao arco. Já a máscara PFF2 com válvula
tetor facial e uma com protetor facial. O registro de dados apresenta derretimento da válvula que pode caracterizar grave
térmicos e qualitativos foi processado em cada evento de risco de segurança. Desta forma, essas máscaras sem a carac-
arco elétrico e os mesmos foram filmados para arquivamen- terística de proteção térmica podem implicar em riscos adicio-
to, bem como fotografados as condições pré e pós-ensaio. nais relacionados a efeitos térmicos oriundos de arcos elétricos
Os registros foram apresentados a cada participante detentor durante os trabalhos com eletricidade.
de cada amostra na forma de relatório simplificado, com gráfi- Com relação as máscaras com proteção térmica, sem uso
cos de energias transmitidas e incidentes em cada amostragem. adicional da proteção facial, nas diferentes composições ava-
Conforme acordado com todos os participantes, esses regis- liadas, todas promoveram proteção contra os efeitos térmi-
tros não serviriam em hipótese nenhuma para conferir mar- cos do arco elétrico evidenciados pela ausência de qualquer
cação de proteção ou qualquer que seja relacionada a pro- evento relacionado a combustão, derretimento, deformação
teção contra arco elétrico, sobre a máscara. e desprendimento. Os sensores que ficam atrás do tecido
Entre os dados qualitativos analisados na amostra, com das máscaras (boca e, em alguns casos, também o queixo)
base na ASTM F 2178, estão: Combustão, Derretimento, não apresentaram sobreposição à curva de Stoll, parâmetro
Deformação, Desprendimento do Manequim. utilizado nos ensaios normais de arco elétrico para caracteri-
zação de queimaduras de segundo grau. Desta forma, na re-
Resultados gião protegida pela máscara, não foram evidenciados riscos
Sem o protetor facial, para efeito do experimento, as máscaras relacionados aos efeitos térmicos do arco elétrico. Lembran-
classificadas como modelos não resistentes ao calor, ou seja, do, porém, que a região dos olhos estava exposta de mo-
Foto: Shutterstock
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do que naturalmente os parâmetros relacionados à curva de ce nas normas, como a NFPA 70E.
Stoll, foram superados nesses sensores conforme esperado. Nos ensaios com protetor facial, em exposição frontal, mesmo
Os experimentos nas máscaras com proteção térmica com as máscaras de material comum não sofreram danos signifi-
utilização de protetores faciais, como preconizado pela cativos, o que evidencia a eficácia dos protetores. O material
NFPA70E para a faixa de energia de interesse do experi- com proteção térmica evitaria riscos adicionais que podem ser
mento, entre 8 e 12 cal/cm², apresentaram resultados satis- acarretados pela utilização de uma máscara comum.
fatórios quanto aos fatores qualitativos de combustão, der- Vale ressaltar que as máscaras com o objetivo de proteção
retimento, deformação e desprendimento, como também contra Covid-19 não podem ser classificadas com índices e
foi observado com as máscaras sem proteção térmica com parâmetros de resistência ao arco elétrico e não são tipifi-
o uso de proteção facial. Ressalta-se que somente foram re- cadas para proteção contra arco elétrico.
alizadas exposições frontais, o que pode alterar completa- Destaca-se que nesse experimento não foi avaliado nenhum
mente as evidências deste experimento. tipo de desempenho das máscaras quanto a proteção ou
prevenção na disseminação de qualquer vírus.
Conclusões
A necessidade de se atender as recomendações ou mesmo le- Agradecimentos
gislações sanitárias em função da pandemia do SARS COV2 Este trabalho foi um esforço conjunto entre o IEE-USP, fabri-
trouxeram incertezas sobre a postura do trabalhador nas ati- cantes têxteis, fabricantes de EPI e usuários. Deixamos expres-
vidades com eletricidade. A obrigatoriedade do uso das más- so aqui os agradecimentos às empresas e usuários que parti-
caras para conter a disseminação da Covid-19, em ambientes ciparam de forma voluntária deste experimento, fornecendo
onde há o risco de ocorrência do arco elétrico, pode introduzir materiais e compartilhando suas experiências na área de pro-
novos riscos e gerar acidentes graves com o trabalhador, ca- teção ao trabalhador: Westex: A Milliken Brand, Leal, JGB,
so as máscaras se inflamem ou sejam consideradas como ele- Ideal Work, DuPont, Vectra Work, Rambo, Cemig e Chesf.
mentos para proteção contra os efeitos térmicos decorrentes.
As máscaras com proteção térmica mostraram bom desem-
penho em uma análise qualitativa dentro do escopo do ex-
perimento, mas a presença do protetor facial é fundamen- Márcio Bottaro, Ivan Bueno Raposo, Luis Eduardo Caires, Thais
tal nos cenários de trabalhos com eletricidade nos quais há Ohara de Carvalho, Paulo Futoshi Obase, Rogerio Masaro, Hedio
o risco do arco elétrico, de acordo com o que já se conhe- Tatizawa e Vlamir Viana – Instituto de Energia e Ambiente da USP
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Riscos ocupacionais por Sofia Jucon
TEMPERATURAS
MAIS SEGURAS
Para eliminar riscos, gestão de fornos industriais requer
visão crítica. Segurança e saúde do trabalhador e impactos
ao meio ambiente estão em jogo
52
A
aplicação de fornos industriais envolve aque-
cimento de produtos para transformação de
sua estrutura, como em tratamento térmico
de metais, ou em processos de cura e sin-
terização de componentes aplicados, como
em revestimentos cerâmicos, pintura, secagem e até remo-
ção de resíduos por evaporação e desengraxe, bem como
em limpeza ou burn-off.
Segundo o presidente da Câmara Setorial de Fornos e Es-
tufas Industriais (CSFEI) da Associação Brasileira da Indústria
de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Aparício Vilademir
de Freitas, o segmento de fornos industriais se desenvolveu
ao mesmo tempo que a indústria brasileira, estando sem-
pre aberto à inovação, porém dependente de tecnologias
de processos do exterior.
Neste panorama, o especialista cita que as empresas na-
cionais se destacaram em processos de tratamento térmico
de metais, siderurgia, metalurgia, alumínio, acabamento su-
perficial, entre outros. “A longevidade dessas empresas é ca-
racterizada por resistir às inúmeras crises econômicas a que
o País esteve afeto além de, basicamente, se constituir em
atividades industriais sob demanda ou encomenda”, lembra.
Freitas informa que, este ano, diante da pandemia do novo
coronavírus, a capacitação tecnológica que o setor já possui
foi posta à prova, pois os técnicos internacionais não pude-
ram vir ao Brasil para efetuar o comissionamento de diver-
sos equipamentos importados, tarefa que coube ao mercado
local, mesmo que de forma remota. “Isso prova a capaci-
tação e maturidade do setor, reconhecida somente quando
num caso extraordinário de emergência pandêmica”, avalia.
Freitas informa que a Abimaq fomenta o desenvolvimen-
to e a aplicação das normas industriais e, para tanto, tem
promovido encontros, discussões e comissões no sentido
de auxiliar e orientar o uso das normas regulamentadoras e
seus desdobramentos.
53
Riscos ocupacionais
de Organismo de Certificação de Sistemas internacionais. sições perigosas relacionadas aos trabalhos e da gravidade
Em termos de Segurança e Saúde do trabalhador em for- das lesões e problemas de saúde que podem ser causados
nos industriais, Gomes atenta que é preciso diferenciar os con- pelos eventos ou exposições.
ceitos de perigo e risco. Ele informa que a norma internacional “Os tipos de riscos aos quais os trabalhadores que atuam
“ISO 45001:2018 de Sistemas de Gestão de Saúde e Seguran- com fornos industriais estão submetidos dependem muito
ça Ocupacional — Requisitos com Orientação para Uso” define: das instalações e características de cada indústria e segmen-
Perigo: fonte com potencial para causar lesões e problemas to, mas os principais são ruído, baixa iluminação, excesso
de saúde. Os perigos podem incluir fontes com potencial de temperatura e umidade, dentre outros”, aponta Gomes.
de causar danos ou situações perigosas, ou circunstâncias Segundo ele, os ruídos intensos tendem a ser prejudiciais
com potencial de exposição, levando a lesões e proble- em tarefas que exijam concentração mental ou atenção, ve-
mas de saúde. locidade e precisão dos movimentos, sendo que os resulta-
Risco: efeito da incerteza; um efeito é um desvio do espe- dos obtidos com o trabalho nessas condições tendem a se
rado, positivo ou negativo. A incerteza é o estado, mesmo tornar piores após duas ou mais horas de exposição.
parcial, da deficiência de informação relacionada à compre- Gomes ressalta que as organizações que se utilizam de
ensão ou ao conhecimento de um evento, sua consequên- equipamento forno industrial em seus processos devem ado-
cia ou probabilidade. tar certas medidas visando a preservação da saúde e segu-
Risco de SSO – Saúde e Segurança Ocupacional: combi- rança dos seus trabalhadores. São elas:
nação da probabilidade de ocorrência de eventos ou expo- Z Os fornos devem possuir construção sólida, revestimento
54
Riscos ocupacionais
com material refratário suficiente para manter o calor dos olhos. O especialista lembra ainda que a NR-17 que trata
radiante dentro dos limites de tolerância previstos na da “Ergonomia”, em seu item “17.5 – Condições Ambientais
Norma Regulamentadora nº15 (NR-15). de Trabalho”, prevê a aplicação da “Norma de Higiene Ocupa-
Z A localização da instalação do forno deve ser adequada cional NHO 11 - Avaliação dos Níveis de Iluminamento em Am-
para propiciar tanto segurança quanto conforto aos seus bientes Internos de Trabalho”, publicada em 2018 pela Funda-
operadores e trabalhadores do seu entorno, protegendo- centro, baseada na norma “ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013
os tanto da própria alta temperatura quanto de eventuais – Iluminação de Ambientes de Trabalho – Parte 1: Interior”, que
gases nocivos indesejavelmente acumulados. prevêm algumas situações em operações com fornos industriais
Z Quando aplicáveis, escadas e plataformas instaladas e respectivos níveis de iluminamento exigidos ou a iluminância
devem ser constituídas e colocadas de forma que mantida na superfície de referência para um determinado am-
garantam segurança aos seus operadores. biente, tarefa ou atividade (em lux):
Z Fornos devem possuir sistemas de proteção que evitem
a ocorrência de explosão devido às falhas na chama de Z Padarias – Preparação e fornada: 300 lux
aquecimento ou no acionamento do queimador, bem Z Indústrias de cimento, concreto e de tijolos –
como dispositivos que evitem o retrocesso da chama. Preparação dos materiais, trabalhos nos fornos
Z O forno deve possuir “chaminé” para a saída dos gases e misturadores: 200 lux
queimados, de acordo com normas técnicas oficiais Z Indústria de ferro e aço – Operação de fornos: 200 lux
sobre poluição do ar.
Quanto à temperatura e umidade, Gomes informa que
“São diversas as exigências construtivas dos fornos visan- estudos realizados em laboratórios e em diversas indústrias
do a preservação da saúde e segurança dos trabalhadores. comprovam que ambas influenciam diretamente no desem-
Entretanto, o último requisito, quanto à ‘chaminé’, vem adi- penho do trabalho humano, seja nos índices de produtivi-
cionado de uma prescrição relacionada ao meio ambiente, dade como em relação aos riscos de acidentes. “Na medi-
na medida em que exige o cumprimento de “normas téc- da em que um trabalhador se vê obrigado a se submeter a
nicas oficiais sobre poluição do ar”. Nesse sentido, o corre- altas temperaturas no exercício de seu trabalho, o seu ren-
to projeto, a construção e instalação de fornos deve prever dimento diminui. A velocidade com a qual ele exerce o tra-
sistemas que mantenham os níveis de emissão atmosférica balho também é reduzida, assim como as pausas que o tra-
em níveis legalmente aceitáveis. balhador se permite durante o expediente se tornam maiores
"Assim, é comum encontrarmos fornos instalados em em- e com maior frequência, bem como o seu nível de concen-
presas que, além dos equipamentos dos fornos propriamente tração vai se perdendo, o que pode eventualmente ocasio-
ditos, são dotados de sistemas de captação dos gases origina- nar um aumento na frequência de erros ou acidentes, prin-
dos nos fornos que os levam a sistemas de filtragem antes de cipalmente a partir dos 30°C”, ressalta.
efetivamente liberar os efluentes atmosféricos. Portanto, po- De acordo com ele, considerando uma taxa metabólica,
dem ser utilizados ciclones, câmeras gravitacionais, lavadores estimada com base na comparação de atividade em traba-
de gases, filtros ou outros sistemas compostos, inclusive com lho pesado, com dois braços, em pé, tipicamente realizada
medições contínuas, com tal propósito”, explica o consultor. por trabalhador que atua em fornos industriais, da ordem
de 315 (W), podendo variar de acordo com as condições de
Parâmetros controláveis trabalho, conforme previsto no Anexo nº 3 – Limites de To-
lerância para Exposição ao Calor da NR-15, o limite de expo-
Gomes menciona que segundo, a NR-15 de “Atividades e sição ocupacional ao calor de tal trabalhador seria de apro-
Operações Insalubres”, o limite de tolerância para ruído con- ximadamente 28ºC (Índice de Bulbo Úmido Termômetro de
tínuo ou intermitente é de 85 dB (A) para 08h00’ de máxi- Globo Máximo). “Embora, atualmente, destacada na NR-15
ma exposição diária permissível, dentre outros níveis e cri- – Anexo nº 10 apenas a umidade relativa do ar excessiva,
térios em seu Anexo nº 1. a NR-17 prevê em seu item 4 como um dos requisitos das
Para a questão da iluminação, o diretor-técnico explica que o ‘Condições Ambientais de Trabalho’ que os ambientes la-
nível interfere de forma direta no mecanismo fisiológico da vi- borais tenham umidade relativa do ar não inferior a 40%, o
são, bem como na musculatura que comanda os movimentos que também encontra respaldo na Organização Mundial da
56
Saúde (OMS), que prevê o nível ideal de umidade do ar para EPIs adequados
o organismo humano entre 40% e 70%”, ilustra.
Também há os riscos de situações de emergência em for- Em relação aos EPIs, Gomes diz que, segundo a NR-14,
nos, que podem ser, dentre outros: para garantir a segurança e o conforto de trabalhadores e
da circunvizinhança, os fornos, para qualquer utilização, de-
Z Falta de chama nos queimadores/ maçarico; vem ser construídos solidamente, revestidos com material
Z Retrocesso de chama; refratário, de forma que o calor radiante não ultrapasse os
Z Superaquecimento da chama; limites de tolerância estabelecidos pela NR-15. Desta for-
Z Temperatura de processo muito elevada, ma, antes de se pensar na adoção de EPIs, conforme pre-
acima do planejado; visto na norma internacional ISO 45001:2018 – item “8.1.2
Z Deformação de tubo; - Eliminar Perigos e Reduzir Riscos de SSO”, as empresas de-
Z Rompimento de tubo; etc. vem estabelecer, implementar e manter um processo para a
eliminação de perigos e redução de risco de SSO, devendo
“Essas situações são mapeadas como de emergência e ser priorizadas as medidas de controle, seguindo a seguin-
possuem potencial de causar acidentes graves nas opera- te hierarquia sequencial:
ções de fornos industriais e devem ser prevenidas a todo
custo”, ressalta. Z Eliminar os perigos;
57
Riscos ocupacionais
Z Substituir por processos, operações, materiais ou no industrial, recomenda-se o “Avental Aluminizado Tipo
equipamentos menos perigosos; Barbeiro”, geralmente constituído por tecido de fibras mis-
Z Utilizar controles de engenharia e reorganização do tas de aramida e de carbono aluminizado e também forra-
trabalho; do com tecido de algodão com um tratamento antichama.
Z Utilizar controles administrativos, incluindo treinamento; 4 - Proteção para os Membros Inferiores – além de pro-
– para somente então cogitar o uso de Equipamento de teger contra as incidências já mencionadas, e também evi-
Proteção Individual (EPI) adequado. tar queimaduras e danos, tais como cortes e escoriações nos
membros inferiores, recomenda-se a utilização de “Calça
Para os profissionais que atuam diretamente com fornos Aluminizada” e de “Perneira”.
industriais, dependendo das ações e medidas de controle “Outros tipos de EPIs, também para proteção térmica,
prévias adotadas pela empresa, Gomes orienta que podem podem ser eventualmente aplicados tanto para os próprios
ser aplicáveis diferentes equipamentos para proteção con- operadores dos fornos quanto para trabalhadores que não
tra eventuais impactos ou a incidência de respingos, fagu- atuem diretamente na operação, mas que sejam perten-
lhas, chamas, calor radiante, convectivo ou condutivo. Ele centes às áreas da circunvizinhança. Qualquer que seja a
enumera os seguintes EPIs: situação, um profissional de segurança do trabalho deve
1 - Proteção para a Cabeça – pode haver necessidade de ser chamado para fazer as análises de perigos e riscos pa-
se proteger os olhos, pescoço e crânio contra os elementos ra que, então, indique os EPIs mais adequados para cada
descritos e, nestes casos, recomenda-se o “Protetor Facial função”, observa.
em Alumínio” ou o “Capuz Aluminizado”, este geralmente
constituído de tecido de aramida carbono aluminizado ex- Visão crítica
terno, com forração em tecido de algodão antichama, visor
interno incolor fixado por botão e velcro, visor externo ou- A recomendação de Gomes para profissionais que atu-
ro, costurado com linha de aramida. am em fornos industriais é de que sejam críticos. “Nunca
2 - Proteção para os Membros Superiores – visando pro- se contentem em se vestir com o 'EPI de uma análise e pla-
teger o trabalhador de eventuais danos oriundos de mate- nilha documentada de perigos e riscos’ apenas porque já
riais aquecidos e da incidência dos elementos já descritos, foi documentada no passado e oficialmente ainda está vi-
bem como por objetos perfurocortantes, recomenda-se a gente ou dentro do prazo de revisão. Não estou pregando
“Luva Mista Térmica”, geralmente feita com material refle- a insubordinação. Pelo contrário, prego que a mentalidade
tivo e aluminizado e, adicionalmente, na região das palmas, de foco na eliminação de perigos de SSO e de impactos de
uma proteção de couro ignifugado, isto é, que reduza ou meio ambiente, assim como na gestão de riscos de SSO e
elimine a inflamabilidade do material. de aspectos de MA, superem o conformismo com situações
3 - Proteção para o Tronco – para a proteção tanto do para as quais possam existir melhores soluções do que as já
tronco quanto dos membros superiores do operador de for- documentadas no passado”, pontua.
Ele esclarece que isso se baseia no fato de que, por vezes,
essa documentação formal que é apresentada como a solu-
ção completa e definitiva para superar tais situações pode
estar aquém dos perigos, riscos, aspectos e impactos dos
processos, os quais podem ter se tornado mais complexos
ou diferentes em relação à época em que foram documen-
tados. “Não se esquivem rotineiramente dos perigos, pois
essa rotina pode levar ao esquecimento da própria existên-
cia deles. Em vez disso, trate-os, elimine-os, reduzam-nos
até a infinidade de forma planejada, sistêmica, definitiva e
com vigilância contínua em forma de monitoramento da efi-
cácia das ações atualmente adotadas, sempre priorizando a
À esquerda, Afonso Sérgio de Sant'Anna Gomes, da Horus; ao lado,
hierarquia sequencial das medidas de controle, visando eli-
Aparício Vilademir de Freitas, da Abimaq minar os perigos e reduzir riscos”, aconselha.
58
Riscos ocupacionais
REGULAMENTAÇÃO TÉCNICA
Fornos industriais
No Brasil, a NR-14 é a norma que regulamenta todos os Além disso, o setor conta com a NR-13 para fornos a
processos que envolvem o trabalho com fornos — sejam vácuo, além de diversas normas específicas de processos,
eles de qualquer finalidade — no intuito de preservar a se- bem como normas internacionais, como a EN 746 para Se-
gurança do trabalhador. Logo no item 14.1, a norma defi- gurança de Equipamentos de Processamento Térmicos e
ne as boas práticas para o processo de construção do for- EN1539, que aborda Exaustão e Faixas de Concentração
no industrial, a fim de prevenir potenciais riscos que podem Admissível de Substâncias Inflamáveis, em secadores e es-
acontecer em caso de falha durante este processo inicial: tufas industriais.
“14.1. Os fornos, para qualquer utilização, devem ser Sobre as normas ABNT que tratam do assunto, além da
construídos solidamente, revestidos com material refratá- NBR 12313, Afonso Sérgio de Sant´Anna Gomes, diretor téc-
rio, de forma que o calor radiante não ultrapasse os limi- nico da Horus Gestão Organizacional, Engenharia e Susten-
tes de tolerância estabelecidos pela Norma Regulamenta- tabilidade, cita também a ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013
dora – NR-15.” – Iluminação de Ambientes de Trabalho – Parte 1: Interior,
Relacionada à NR-14, a NR-15 é citada neste item por ver- equivalente à norma internacional ISO 8995-1:2002 Lighting
sar sobre as atividades e operações insalubres em que os of Work Places — Part 1: Indoor; ABNT NBR 13103:2020
profissionais poderão estar expostos. – Instalação de Aparelhos a Gás — Requisitos de projeto,
Ainda são parte da NR-14 os itens: construção, reforma, adequação e inspeção, para instala-
14.2.1. Os fornos devem ser instalados de forma a evi- ção de aparelhos a gás; ABNT NBR 14171:1998 – Forno In-
tar acúmulo de gases nocivos e altas temperaturas em áre- dustrial a Gás – Requisitos de Segurança para a operação,
as vizinhas. com segurança, de fornos empregados na indústria alimen-
14.2.2. As escadas e plataformas dos fornos devem ser tícia que utilizam gás como combustível.
feitas de modo a garantir aos trabalhadores a execução se- Conforme Gomes, o setor conta também com as normas
gura de suas tarefas. ISO 13577-1:2016 – Fornos Industriais e Equipamentos de
14.3. Os fornos que utilizarem combustíveis gasosos ou Processamento Associados – Segurança – Parte 1: Requisi-
líquidos devem ter sistemas de proteção para: tos Gerais; ISO 13577-2: 2014 – Fornos Industriais e Equipa-
a) não ocorrer explosão por falha da chama de aqueci- mentos de Processamento Associados – Segurança – Parte
mento ou no acionamento do queimador; 2: Sistemas de Combustão e Manipulação de Combustível;
b) evitar retrocesso da chama. ISO 13577-3: 2016 – Fornos Industriais e Equipamentos de
14.3.1. Os fornos devem ser dotados de chaminé, sufi- Processamento Associados – Segurança – Parte 3: Geração
cientemente dimensionada para a livre saída dos gases quei- e Uso de Gases de Atmosfera Protetores e Reativos; ISO
mados, de acordo com normas técnicas oficiais sobre po- 13577-4: 2014 – Fornos Industriais e Equipamentos de Pro-
luição do ar. cessamento Associados – Segurança – Parte 4: Sistemas de
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas Proteção; entre outras.
e Equipamentos (Abimaq), no caso de fornos, como equipa- Além disso, Afonso Gomes complementa que a ativida-
mentos industriais, ainda se aplicam as NR-10 – Segurança de também conta com auditorias embasadas por normas
em Instalações e Serviços em Eletricidade, e NR-12 - Segu- e regulamentações. “A Resolução Conama n. 306/2002,
rança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. por exemplo, estabelece os requisitos mínimos e o termo
Para sistemas de combustão, dispomos da norma ABNT de referência para realização de auditorias ambientais pa-
NBR 12313, com orientações para controle e segurança pa- ra a indústria de petróleo, gás natural e seus derivados,
ra utilização de gases combustíveis em processos de baixa segmentos que se utilizam de fornos industriais em seus
e alta temperatura. processos”, informa. Q
59
Artigo Perigo iminente
por Eduardo Moreira
PROTEÇÃO
NA PANDEMIA
Como selecionar
máscaras para A s orientações sobre o uso de protetores faciais no ambiente de trabalho evo-
luíram bastante desde o início da pandemia de SARS-CoV-2. Os meses de
experiência com a Covid-19 têm mostrado que esses procedimentos vêm sendo
áreas com risco
adotados de forma bastante eficiente tanto em ambientes de risco alto de con-
de fogo de curta taminação, como hospitais, quanto nos de risco médio e baixo, como na indús-
duração tria e no comércio.
Infelizmente, o mesmo não pode ser dito, em âmbito nacional e mundial, pa-
ra alguns ambientes específicos, aqueles nos quais o risco de exposição ao vírus
soma-se a outros perigos iminentes no ambiente de trabalho. Áreas com riscos
térmicos como os de fogo são um dos exemplos mais críticos e levam a uma dú-
vida muito comum atualmente: como um empregador deve abordar a seleção
de máscaras quando perigos adicionais no local de trabalho são identificados?
Para responder a essa pergunta deve-se ter em mente que não há, no Brasil,
uma norma específica que regulamente a utilização de coberturas faciais, tanto
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contra o risco biológico da Covid-19 quanto dos riscos en- o tecido pode ser lavado e seco à máquina sem danos ou
volvendo calor, chamas e fogo. A discussão sobre esses ti- mudança de forma.
pos de protetores faciais, as chamadas máscaras profissionais Podemos dizer que essas normas criaram uma nova ca-
multirrisco, é extremamente nova no país e surge exatamen- tegoria de proteção facial, as “coberturas faciais de distan-
te na esteira da Covid-19. ciamento social”, com diferentes testes, finalidades e confi-
O mais próximo no Brasil sobre a normatização desse te- gurações. Essa nova espécie estaria ao lado de dois outros
ma é a Prática Recomendada 1002-2020 da Associação Bra- grandes gêneros: respiradores e máscaras médicas.
sileira de Normas Técnicas (ou ABTN PR 1002-2020), que Respiradores (como as máscaras N95) têm como objeti-
estipula requisitos básicos para “métodos de ensaio, fabri- vo reduzir acentuadamente a exposição das vias aéreas a
cação e uso de máscaras caseiras”. Apesar de não ser uma partículas de diferentes tamanhos e permitem ajuste indi-
norma voltada ao ambiente profissional, a ABNT PR 1002- vidual pelo usuário a fim de garantir a vedação adequada
2020 tem sido o principal parâmetro para o desenvolvimen- ao redor de nariz e boca, com vazamento mínimo possível.
to de tecnologias faciais para proteção do trabalhador nes- Já as máscaras médicas (como as cirúrgicas, de procedi-
te momento de pandemia. mento e de tratamento de paciente) são projetadas para
É uma regulamentação muito próxima do padrão S76-001, proteção de mão dupla porque, ao mesmo tempo, prote-
da AFNOR (Associação Francesa de Normatização), desen- gem usuário e pessoas ao redor de gotículas respiratórias.
volvido em março. A PR 1002-2020 também tem muitas si- Essa cobertura facial também protege o usuário de fluidos
milaridades com o padrão K599 do TSE (Instituto Turco de corporais. Por serem menos vedadas, essas máscaras apre-
Padrões), elaborado em maio, e com a Recomendação do sentam vazamento nas bordas, portanto, não são equipa-
CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Es- mentos que garantem proteção total contra inalação de par-
tados Unidos para Uso de Máscaras, de abril. tículas menores e contra agentes biológicos.
Esses padrões definem vários requisitos em relação à res-
pirabilidade, filtragem e design, além de orientações sobre O que levar em consideração
o uso adequado, lavagem e secagem e materiais recomen- De uma maneira geral, a escolha de cobertura facial pe-
dados. Nenhuma dessas normas exime os usuários de ado- lo empregador deve atender a alguns requisitos envolven-
tarem outras medidas de proteção contra a Covid-19, co- do segurança e conforto – citaremos neste artigo sete que
mo o distanciamento social (entre 1,5 m e 2 m), a lavagem consideramos principais. Quando o assunto envolve riscos
correta das mãos, entre outros. extra calor/chama/fogo, duas novas preocupações surgem,
as quais serão citadas mais abaixo.
Categorias de proteção A eficiência de filtração é um dos primeiros tópicos a se-
O CDC, por exemplo, recomenda que a cobertura facial rem analisados. Dentro de cada categoria de proteção, há
seja feita com tecido (pano), e que o usuário esteja aten- inúmeros níveis de desempenho das coberturas faciais. O
to ao encaixe perfeito e confortável na lateral do rosto, co- empregador deve definir seu objetivo (por exemplo, filtrar
bertura completa de nariz e boca, presença de múltiplas partículas grandes, pequenas, bactérias ou vírus?) para de-
camadas de tecido, respiração sem restrição e uso de laços limitar qual espécie de protetor facial irá utilizar.
ou presilhas para prender o pano às orelhas. Também é re- A análise ambiental também deve ser feita. É preciso de-
comendada lavagem após cada uso, com atenção para se limitar perigos específicos, se uma cobertura facial é capaz
63
Artigo
Coberturas faciais FR
Em áreas onde há risco de incêndio, como ambientes in-
dustriais, trabalhadores precisam de roupas FR (Fire Resis-
tant), o que incluem as coberturas faciais, para que possam
oferecer resistência contra calor, fogo e chamas. O princi-
pal problema é exatamente o risco biológico adicional tra-
zido pela Covid-19.
A maioria das máscaras médicas é feita de materiais como
polipropileno, que pode derreter, pingar e continuar a quei-
mar em um incêndio ou outra exposição térmica, aumen-
tando o potencial de queimadura para o usuário. Inclusive, o
uso desses materiais em EPIs para ambientes com risco de in-
cêndio é bastante arriscado e, portanto, não recomendado.
de proteger contra todos esses perigos e, caso contrário, O que fazer diante do que parece ser um paradoxo nes-
qual dos perigos deve ser priorizado na escolha por apre- ses ambientes? Usar apenas máscaras médicas? Usar ape-
sentar maior risco. nas máscaras FR? Usar máscaras de pano por cima das más-
O empregador também precisar analisar a capacidade de caras FR? Usar respiradores mesmo em ambientes de baixo
descontaminação do equipamento. Quais são seus níveis risco de contaminação?
de proteção? Quais pesquisas comprovam isso? A cobertu- A resposta é que já há protetores faciais que garantem
ra facial é reutilizável? Como e com que frequência lavar? proteção contra calor e chamas ao mesmo tempo em que
Qual a durabilidade? oferecem barreira contra o novo coronavírus. Para a escolha
A quarta preocupação é com a duração do uso preten- da cobertura facial FR, o empregador deve levar em consi-
dido: o trabalhador vai usar a proteção para fazer uma de- deração todos os sete tópicos acima, e mais dois: a inerên-
terminada tarefa, para contato próximo com outras pesso- cia e a durabilidade.
as ou durante todo um turno? Inerência é a característica do material que oferece pro-
A respirabilidade é outra consideração a ser feita ao esco- teção às chamas como característica básica de suas fibras
lher uma máscara de proteção. Para isso, é preciso testar o (ou seja, o produto não precisa passar por tratamento quí-
protetor facial de forma individual para poder detectar se é mico para oferecer a proteção FR). Uma fibra inerente não
possível respirar através do material, seja ele qual for, com perde sua capacidade de proteção com a lavagem ou o des-
pouca restrição. Não há uma medida específica para isso, gaste do tecido e permite que a máscara seja higienizada
portanto, essa conclusão virá da sensibilidade do usuário. com agentes químicos – como água sanitária, por exemplo.
O design e o conforto também são essenciais para a es- A durabilidade deve ser extremamente estudada antes
colha de máscaras. Inúmeras pesquisas comprovam que o da escolha do material. O empregador deve exigir do fabri-
conforto de um EPI está diretamente ligado à redução de cante números quanto à quantidade de ciclos de lavagem
acidentes de trabalho, uma vez que trabalhadores tendem suportados e quanto ao comprometimento das proprieda-
a ser mais relapsos no uso de equipamentos desconfortá- des FR da máscara quando da lavagem/descontaminação.
veis. O elástico da máscara funciona bem, sem ferir as ore- Fazer a seleção correta de protetores faciais FR pode ser a
lhas? O material é macio e leve? A máscara é ajustável? Ela grande diferença para a saúde e a vida de trabalhadores em
pinica ou causa muito suor? ambientes com risco de incêndio iminente – ainda mais agora,
Por fim, a sétima preocupação na escolha de um prote- quando também é necessária a proteção contra a Covid-19. Q
tor facial é o seu risco potencial de inalação. Existem riscos
potenciais referentes ao material da máscara caso algum
acidente ocorra? Por exemplo, no caso de um incêndio, o Eduardo Moreira – engenheiro eletricista,
responsável técnico por Nomex® da DuPont na
material pode derreter sobre a pele do usuário ou soltar América Latina
gases tóxicos?
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Artigo
Fotos Shutterstock
Investimento
por Guilherme Murta
FERRAMENTA DE GESTÃO
ROI divulgado em saúde corporativa pode ser potencialmente enganoso
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descrito anteriormente, vende-se um serviço que tem como haver a simples relação de causa-efeito, a promessa de um pro-
propósito melhorar a saúde do colaborador (favorecendo a grama bem-sucedido com base no ROI simplesmente é falha.
perda de peso) e ainda tem lucro em que nove reais deixam É necessário enxergar com maior profundidade à medida
de ser gastos a cada um real investido. que o ROI não corresponde ao resultado de uma equação
Nestas situações, a argumentação pode dar a ideia ao con- com apenas dois fatores. Em saúde corporativa, é raro haver
tratante de que o investimento não só é sustentável, mas rever- medida isolada que defina um resultado. Não é compatível
terá em lucro. Ou seja, do ponto de vista financeiro, este ser- com o mundo real em que predominam variáveis. Porém, is-
viço não é vendido como custo e sim vantagem econômica. O so não é relatado e talvez nem compreendido para quem di-
ROI passa a ser um indicador aparentemente vantajoso como funde o ROI como demonstrativo de resultado. Outra curio-
estratégia de venda. O resultado consolidado ocorre após me- sidade é que não temos o conhecimento de cenários em que
ses e, por isso, a narrativa pode convencer a curto prazo. Pas- as variáveis são desfavoráveis e os resultados consequentes
sado o investimento inicial e não havendo o retorno financeiro são negativos. Difundem-se apenas os cases de sucesso. Os
esperado, a prestadora de serviço tem a credibilidade abala- fracassos não são contabilizados.
da, o que é incompatível com a sustentabilidade no mercado. Penso que há inúmeras outras maneiras de valorar boas prá-
Entretanto, o maior problema não tem relação com a con- ticas em saúde corporativa, assim como benefícios em saúde e
tratação específica de uma prestadora de serviço malsucedi- bem-estar com consequências financeiras positivas. Primeira-
da. O real prejuízo da argumentação do ROI, como estraté- mente, é necessário aferir indicadores comparando o antes e
gia de venda, é quando as empresas contratantes se frustram depois das iniciativas implementadas. O mapeamento epide-
por não terem o lucro prometido e tem descrença de que in- miológico de saúde é capaz de identificar se houve mudança
vestimento em saúde gere valor. Isso prejudica a credibilida- do perfil populacional. Medir também o absenteísmo, o enga-
de de toda iniciativa posterior que oferte a implementação jamento dos colaboradores, a percepção da imagem da em-
de programas de saúde e qualidade de vida. presa, a sinistralidade em saúde suplementar, o turnover, entre
Conforme relatado, preciso esclarecer as críticas relativas outros. Assim, a cada indicador é importante identificar a rela-
à lógica do ROI aplicado na saúde. O equívoco é a metodo- ção de causas e efeito. Ao final, ser transparente ao considerar
logia e aplicação na saúde. O que tenho observado são cita- que os resultados são decorrentes do somatório das ações im-
ções de ROI sem aprofundamento de como o resultado pro- plementadas intencionalmente e aleatoriamente, como citado,
metido será alcançado e quais os possíveis vieses disso. Para mas que podem ter influência no resultado final.
entender mais facilmente, voltemos ao exemplo do progra- Acredito que o caminho sustentável para programas de saú-
ma para redução de peso. O ROI intencionou relacionar estes de seja o de investir no entendimento da realidade corporativa.
dois fatores: o investimento no programa de perda de peso e A partir dos objetivos que a liderança almeja, do conhecimen-
a redução da sinistralidade em saúde suplementar. Entretan- to do perfil socioeconômico-cultural dos colaboradores e da
to, não houve explicação de mais nenhum fator que poderia compreensão sobre os indicadores e variáveis influenciadoras,
influenciar no resultado. Inúmeras situações, sem nenhuma é possível traçar plano de ação, apontando oportunidades que
correlação com os únicos dois fatores da fórmula, podem ter tragam melhor saúde e, como consequência, tenham a ten-
ocorrido ao longo do ano, como mudança para operadora dência de evitar doenças e outros custos. Acredito que este é
de saúde com custo per capta mais baixo (redução de sinis- o caminho sustentável para ser bem-sucedido em programas
tralidade), programa de demissão voluntária (PDV) em que de saúde e bem-estar com resultados factíveis. Não há como
os colaboradores com mais idade (tendência de maior sinis- propor soluções seriadas para múltiplas corporações, usando
tralidade) se desligaram, mudança do cardápio do refeitório simplesmente o ROI como padrão reprodutível. Q
(ao mudar de prestador), cancelamento de plano de saúde
de beneficiário (óbito, por exemplo). Guilherme Murta – Especialista em Medicina do Trabalho, mestre em
ensino nas Ciências da Saúde, gerente médico executivo em saúde suple-
Fica evidente que o resultado do ROI pode ser alterado por mentar e professor do curso de especialização em Medicina do Trabalho
inúmeros fatores que os não englobados pela fórmula. Por não da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
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Legislação por Clarisse Sousa
Foto: Shutterstock
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APROVAÇÕES EM
MEIO A CONFLITOS
Polêmicas na atualização das NRs, como a terceirização
total do SESMT, preocupam entidades trabalhistas
O
governo federal vem nomia se adequasse a todos os preceitos dias de reuniões, em 10 e 11 de mar-
promovendo uma série legais estabelecidos pela Portaria MTB ço de 2020, e nas quais também se ini-
de alterações nas Nor- nº 1.224, de 28 de dezembro de 2018, ciaram deliberações para ampla revisão
mas Regulamentadoras que estabelece os procedimentos para a das NR-17 (Ergonomia), NR-4 (Serviços
(NRs) que se iniciou em elaboração e revisão das NRs, entenden- especializados em engenharia de segu-
fevereiro de 2019. Desde então, 12 nor- do que a revisão carece de mais diálogo rança e medicina do trabalho – SESMT)
mas já foram atualizadas e uma revoga- social sem prejuízos à efetiva participa- e NR-5 (Comissão Interna de Prevenção
da. Todo o processo tem ocorrido em ção de empregadores e trabalhadores. de Acidentes – Cipa)”.
meio a polêmicas que envolvem associa- Na ação, o juiz argumenta que a O juiz prossegue afirmando que “o
ções e sindicatos, entre outras entidades, União tem conduzido acelerado proce- atual processo de revisão das NRs tem
e o Ministério Público do Trabalho (MPT) dimento de revisão de todas as NRs e sido promovido de modo afoito, com
contra propostas de reelaboração dessas que “somente nos [até então] últimos pouquíssimo tempo para análise e ama-
NRs pelo Ministério da Economia, através cinco meses, seis NRs foram alteradas e, durecimento de propostas das bancadas
da Secretaria de Inspeção do Trabalho. a qualquer tempo, pode vir a ser publica- e sem os imprescindíveis estudos cientí-
De acordo com o MPT, o processo revi- da mais uma Portaria de modificação.” ficos e de impacto regulatório que as le-
sional das NRs vinha sendo feito mesmo Desse modo, ele afirma, “há seríssimo gitimem e viabilizem embasamento dis-
na atual conjuntura do estado de cala- risco de emergirem impactos terríveis tinto da mera doxa, ou seja, das simples
midade pública em decorrência da pan- para a saúde e segurança de milhões opiniões pessoais daqueles que estão à
demia do coronavírus, contrariando até de trabalhadores do País, além de se- frente das novas redações”.
pedidos da bancada de empregadores e rem gerados enormes custos às empre- Ele sustenta que, “dentre as normas al-
de notificação recomendatória do MPT. sas pátrias com investimentos em alte- teradas, destaca-se o Anexo 3 da NR-15,
A mais recente publicação de revisão de rações de seus programas ambientais a recentemente modificado por intermédio
norma ocorreu em outubro, com a Por- fim de amoldá-los às novas regulamen- da Portaria nº 1.359, de 9 de dezembro
taria 22.677/2020, que destaca a nova tações, que, por sua vez, poderão vir a de 2019”, e que, “tal portaria, sem ne-
NR-31 (Agricultura, pecuária, silvicultura, ser anuladas mediante ações ajuizadas nhuma base científica, passou a estabe-
exploração florestal e aquicultura). por qualquer legitimado coletivo. Notó- lecer que o calor apenas pode gerar in-
Em 22 de abril, a alteração das nor- ria, assim, é a insegurança jurídica que salubridade ‘em ambientes fechados ou
mas regulamentadoras foi suspensa pelo pode surgir, em conjunto com aumento ambientes com fonte artificial de calor’”.
juiz do Trabalho Substituto Acelio Ricar- de óbitos e adoecimentos ocupacionais” E segue afirmando que, com essa nova
do Vales Leite, da 9ª Vara do Trabalho de Na decisão, Leite menciona a NR-31, previsão, “– que não contou com o con-
Brasília, em uma ação civil pública ajui- sobre meio ambiente no trabalho rural, senso das bancadas da CTPP, sendo arbi-
zada pela Procuradoria Regional do Tra- que seria publicada seis meses depois. trada pela ré –, trabalhadores rurais (co-
balho da 10ª Região, do Distrito Federal, No texto, ele afirma que “tal norma foi mo cortadores de cana-de-açúcar) ou da
do MPT. A ação exigia a suspensão das discutida pela Comissão Tripartite Paritá- construção civil sujeitos a idêntico risco fí-
atualizações até que o Ministério da Eco- ria Permanente (CTPP) em somente dois sico (calor), com mesma ou maior intensi-
69
Legislação
dade (temperatura), que empregados de ção de direitos dos trabalhadores e não harmônico, moderno e efetivo na redu-
fábricas ou escritórios, não mais serão ti- excluí-los, como fez parecer o MPT”. ção da quantidade de acidentes de tra-
dos, ao contrário destes últimos, como Na decisão que favoreceu a AGU, o mi- balho e de doenças ocupacionais”, afir-
expostos à insalubridade”. nistro do TST Douglas Alencar Rodrigues mou o subsecretário. O MPT requereu o
Por fim, o juiz registra que, “embora suspendeu a liminar até o caso ser julga- retorno da vigência da norma revogada.
entenda que seja necessário o aperfeiço- do em plenário. Segundo ele, não com-
amento das NRs, no intuito de atualizá- pete à Justiça do Trabalho, no campo da “Querem flexibilizar normas”
-las à modernidade das relações de tra- jurisdição constitucional difusa, exami- O Sindicato Nacional dos Auditores Fis-
balho, considero que a celeridade com nar a conformidade da portaria da Se- cais do Trabalho (Sinait) acompanha as
aparentes exageros tem potencial para cretaria Especial de Previdência e Traba- atualizações das NRs com preocupação.
comprometer a segurança jurídica neces- lho, nem portarias anteriores, dispositivos Segundo o vice-presidente, Carlos Silva,
sária a empregadores e trabalhadores, de lei, Convenções da OIT e preceitos da “as justificativas do governo para a revi-
porquanto não somente repercute em Constituição. Para o ministro, essas são são sempre foram contestadas pelo Sindi-
litigiosidade, mas também no dispêndio atribuições do Supremo Tribunal Federal. cato. As NRs estão sob constante revisão
financeiro advindo de possíveis condena- “Parece-me que a controvérsia exis- e acompanhamento em sistema triparti-
ções judiciais, e, em especial, porque po- tente nos autos da ação civil pública ajui- te. Todos os aspectos que são questiona-
de representar significativo aumento de zada pelo MPT não visa à preservação dos passam por discussões e decisões de
despesas ao Poder Público com saúde e do meio ambiente laboral em uma situa- consenso. Para nós, fica claro que o go-
previdência social em decorrência de aci- ção específica, concreta e determinada, verno quer flexibilizar as normas de SST,
dentes de trabalho que resultam morte mas envolve, muito além disso, a pró- o que deixa os trabalhadores desprotegi-
(pensão), invalidez (aposentadoria) ou pria retirada da Portaria nº 1.359/2019 dos. Todo o arcabouço de segurança es-
doenças prolongadas das pessoas (au- do mundo jurídico, com a repristinação tá em xeque. A fiscalização do trabalho
xílio-doença), o que, ao fim e ao cabo, da normatividade anterior (art. 11, § 2º, não aprova isso”, ressalta.
ressoam negativamente nos fatores ma- da Lei 9.868/99), o que implicaria, nes- Na decisão que suspendeu as atualiza-
cro e microeconômicos do país, e no seu sa parte, inadmissível usurpação da com- ções, o MPT também pediu a submissão
próprio desenvolvimento qualitativo co- petência do Excelso STF (CF, art. 102, I, das propostas a exame tripartite, em reu-
mo um todo”, constatou o magistrado. “a”)”, descreve o relator. niões entre bancadas do governo, traba-
Em 1º de outubro, no entanto, a Ad- Para o subsecretário de Inspeção do lhadores e empregadores, com composi-
vocacia-Geral da União (AGU) obteve, Trabalho (SIT), órgão da Secretaria ção paritária e participação do MPT e dos
no Tribunal Superior do Trabalho (TST), Especial de Previdência e Trabalho do auditores-fiscais do trabalho com auto-
a suspensão da liminar do MPT que im- Ministério da Economia, Rômulo Ma- nomia técnica. Para tanto, solicitou tam-
pedia a atualização das NRs, em razão chado, a decisão do TST “beneficia so- bém o encaminhamento das propostas
das supostas violações de regras proce- bretudo a sociedade, restabelecendo a de regulamentação e das atas a respei-
dimentais e materiais. De acordo com segurança jurídica para que o proces- to de cada norma em questão, para as
a AGU, a Justiça do Trabalho não teria so de simplificação, desburocratização bancadas de empregadores e trabalha-
competência para apreciar e julgar esse e harmonização das NRs prossiga, sem dores, previamente às reuniões designa-
tipo de questionamento. A União argu- deixar de garantir a necessária seguran- das e com o tempo necessário para que
mentou ainda que “o Ministério da Eco- ça e saúde do trabalhador”. elas consultem suas bases, conforme de-
nomia observou, rigorosamente, os pro- “Seguiremos dialogando e construin- terminação da Organização Internacional
cedimentos previstos no ordenamento do com a Comissão Tripartite Paritária do Trabalho (OIT) e de portaria do MTb.
jurídico quando da atualização das NRs, Permanente com o intuito de se alcançar O posicionamento do MPT é compar-
além de modernizar e ampliar a prote- um sistema normativo protetivo íntegro, tilhado pelo Sinait. Silva aponta que al-
70
ALTERAÇÕES NO SISTEMA TRIPARTITE DE REVISÃO DE
NORMAS SÃO PONTOS CRITICADOS PELO MPT E SINAIT
terações no sistema tripartite de elabo- sultando em textos que trazem prejuízos Público (CTASP) na Câmara dos Depu-
ração e revisão das NRs resultaram na para a segurança e saúde dos trabalhado- tados, Silva disse que o afrouxamento
usurpação de competências organiza- res, o que contribui para o aumento dos das NRs e as sanções por seu descum-
cionais da área técnica, que embasavam acidentes e mortes de causas ocupacio- primento iriam aumentar o “alarmante
o processo. Para a entidade, o resgate nais”, analisa o vice-presidente do Sinait. quadro de acidentes e doenças do tra-
desse modelo de revisão tripartite e de Ele acrescenta que alterações também balho no Brasil”. Na ocasião, debatia-
consenso é fundamental para a garan- têm sido feitas nas ementas das NRs, com -se o processo de revisão das NRs a pe-
tia de efetividade das NRs. enxugamento dos itens passíveis de serem dido do Sinait, em audiência requerida
“Essas mudanças permitem que pros- autuados pelos auditores-fiscais do tra- pelo deputado Tulio Gadêlha.
pere uma agenda com condução mais balho, o que diminui a possibilidade de “Todos que estão conduzindo este
política do que técnica na revisão das punição dos empresários infratores. “To- processo serão responsáveis. Nenhum
normas. Um aspecto que atesta esse la- do o processo tem sido tocado de forma estará com a consciência livre quando o
do político é o calendário absurdamente açodada, sem ouvir os auditores-fiscais número de mortos aumentar no País”,
curto que foi estabelecido para revisão de do trabalho e nem a sociedade, confor- declarou o representante dos audito-
mais de 30 NRs. Em um processo regular me preconiza a Convenção 144 da OIT.” res-fiscais do trabalho. Segundo o re-
de revisão, o prazo médio seria de 18 me- Em agosto de 2019, durante audiên- presentante do governo na audiência, o
ses, por exemplo. Mas as revisões estão cia pública promovida pela Comissão auditor-fiscal do trabalho Fernando Gal-
ocorrendo no máximo em três meses, re- de Trabalho, Administração e Serviço lego Dias, a revisão tem como finalidade
71
Legislação
simplificar, modernizar e desburocratizar ambiente de trabalho. Servem para pro- lhadores, verificou 852 mil itens das NRs
a ação da fiscalização. teger o trabalhador de ambientes agres- e apenas 6% desses itens foram autua-
Para Silva, no entanto, as NRs não es- sivos que matam ou mutilam. Citou dos. 61% dos itens foram regularizados
tavam desatualizadas. “O histórico de como exemplos o trabalho com agrotó- na ação fiscal e 12% foram notificados
revisão mostra suas atualizações e po- xicos e nos lixões, entre outros. para serem regularizados.
de ser consultado no site do antigo Mi- “Há mais de 20 anos as normas são Números apresentados pelo Sinait re-
nistério do Trabalho, atual Ministério da discutidas em comissões tripartites e es- velam, ainda, que o Brasil tem, em mé-
Economia. A NR-37, por exemplo, aca- sa sistemática também está sendo afun- dia, de 600 a 700 mil acidentes de tra-
bou de ser elaborada e já vai ser revisa- dada.” Informou que havia cerca de 30 balho por ano. O País figura no cenário
da. Por que revisá-la se acabou de ser comissões temáticas paritárias para pro- internacional, segundo a OIT, como o 4º
implementada?”, questionou o vice-pre- mover o debate técnico de qualquer tex- país do mundo em números de ocorrên-
sidente na ocasião. to de propostas de alteração de normas. cias ocupacionais. Dados do MPT mos-
Ele entende que discutir moderniza- “Todas essas comissões foram extintas tram que entre 2012 e 2018 ocorreram
ção deveria partir do enfrentamento do em uma canetada. Restou apenas a Co- no Brasil cerca de 4.738.886 acidentes de
que prejudica os trabalhadores e não do missão Paritária Permanente, que não trabalhos notificados, sendo 17.315 com
que os protege. Ele citou, como exem- tem natureza técnica e, sim, absoluta- óbito, o que corresponde à média de um
plo, dados da Organização Mundial de mente política”, declarou. acidente de trabalho a cada 49 segundos.
Saúde (OMS) que apontam a depressão Dados apresentados por Silva na audi-
como a doença do século e que afastará ência revelam que nas últimas duas dé- Falta discussão mais ampla
milhões de pessoas do trabalho. “Discu- cadas a fiscalização notificou menos e De acordo com o diretor do Sindicato
tir modernização deveria partir disso, o regularizou mais. “Isso derruba o discur- dos Engenheiros no Estado de São Paulo
que não está acontecendo”, criticou, in- so do governo de que a revisão das NRs (Seesp), José Manoel Teixeira, engenhei-
formando que o Brasil é o país da Amé- são para melhorar as relações econômi- ro de Segurança do Trabalho que inte-
rica Latina com mais trabalhadores do- cas prejudicadas pelo grande número de gra o Grupo de Trabalho Tripartite que
entes em razão da depressão. autuações.” Segundo dados do Sinait, discute atualizações de NRs, as reuniões
Para o líder sindical, as NRs repre- em duas décadas, a fiscalização em SST para debater as alterações de fato não
sentam proteção ao trabalhador por- realizou mais de 140 mil ações fiscais, estão ocorrendo como previsto. Segun-
que reúnem aspectos de SST e do meio alcançou mais de 16 milhões de traba- do ele, o novo texto da NR-10 (Seguran-
72
ça em instalações elétricas e serviços em
eletricidade) está programado para ser
CONFIRA AS NRS REVISADAS, REVOGADAS
E INTERDITADAS
apresentado à CTPP em junho de 2021. Z NR-1 Disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais
No entanto, “até agora não sentamos Z NR-2 - (Revogada)
para discutir essas mudanças, nem virtu- Z NR-3 (Embargo e interdição)
al nem presencialmente. E eu faço parte Z NR-7 Programa de controle médico de saúde ocupacional
da [equipe que discute a] NR-10”, relata. Z NR-9 Programa de prevenção de riscos ambientais
Z NR-12 Segurança do trabalho em máquinas e equ ipamentos
Portanto, ainda não houve discus-
Z NR-15 (revisão do anexo sobre calor)
são da NR-10 pela Comissão Triparti- Z NR-16 (revisão do item sobre periculosidade do combustível para consumo próprio)
te, não há previsão de reunião e, até Z NR-18 Condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção
o momento, sabe-se apenas a data de Z NR-20 Inflamáveis e combustíveis
apresentação. “Particularmente, acho Z NR-24 Higiene e conforto nos locais de trabalho
um absurdo já termos essa data defi- Z NR-28 Fiscalização e penalidades
Z NR-31 Agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e aquicultura
nida quando ainda nem discutimos as
alterações no grupo tripartite”, ponde-
ra o diretor. Ele acredita que as mudan-
ças na norma não devem passar, espe- classificados como domissanitários, que blica: a substituição de um engenheiro
cialmente após o incêndio que atingiu são aqueles desinfetantes utilizados em por outro profissional com especializa-
a subestação do Amapá e provocou um casas residenciais. Ou seja, eles queriam ção”, destaca o diretor-técnico.
apagão que deixou todo o estado sem retirar o nome de pesticida, agrotóxico e “Hipoteticamente, não faz sentido
energia durante 22 dias. inserir ‘domissanitários’, o que não é ver- substituir um engenheiro por um psicó-
Ele adianta alguns pontos polêmicos dade e, por isso, não passou.” logo, por exemplo, ou por outra espe-
da NR-10, como a questão de treina- Ele afirma que muito se discutiu so- cialização. Particularmente, acho funda-
mento e capacitação e o trabalho indi- bre os agrotóxicos e os riscos aos traba- mental a gente contar com um psicólogo
vidual. “Há muitas empresas que ven- lhadores, assim como sobre a Cipa ru- no SESMT. No entanto, essa substituição
dem treinamentos com certificados ral, “mas não obtivemos sucesso nesses não é positiva. A engenharia é respon-
falsos e muitas empresas que compram dois casos”. Na prática, o trabalhador sável pela concepção de projetos, pe-
esses certificados.” A NR proíbe o tra- sofre exposição direta por inalação, por la construção e demolição, ela é funda-
balho individual para atividades com Al- contato e até ingestão. “Muitas vezes, mental no uso e na ocupação”, avalia.
ta Tensão (AT) ou no Sistema Elétrico de as sequelas não ocorrem imediatamen- Sobre a NR-5, ele considera que, de
Potência (SEP). Teixeira afirma que esses te após o uso e aplicação desses agro- maneira geral, será uma discussão “inte-
são alguns pontos aos quais “já espe- tóxicos. Os danos podem ser crônicos e ressante porque, ao que tudo indica, de-
ramos uma tentativa de mudança. Pes- aparecem a longo prazo”, diz. verá ser mantida a constituição da Cipa
soalmente, não acho que passem”, diz. por estabelecimento, por exemplo”. Pa-
Sobre a NR-31 e o trabalho no ambien- Novas publicações ra ele, esta é a NR mais importante do
te rural, Teixeira diz que “chegou-se a um Para o próximo ano, estão programa- ponto de vista de envolver diretamente
consenso não exatamente como esperá- das seis reuniões para definição de no- os trabalhadores, “que são quem de fato
vamos [os sindicatos dos trabalhadores]”. vas redações de NRs. Em fevereiro de- conhecem os perigos de sua profissão”.
A preocupação do setor, segundo ele, diz vem ocorrer discussões sobre as NRs 4 Teixeira destaca, contudo, que nem
respeito ao trecho que discorre sobre os (SESMT) e a 5 (Cipa). todas as atualizações são negativas.
agrotóxicos. “Da maneira como ficou, en- Sobre a NR-4, Teixeira diz que tam- “Muitas melhoraram e estão fantásti-
tendemos que o trabalhador não estará bém há questões polêmicas relaciona- cas, como a NR-1 (Disposições gerais e
protegido. Também porque o governo fe- das à terceirização. “Já posso adiantar gerenciamento de riscos ocupacionais)”,
deral liberou uma série de agrotóxicos que que a nova NR-4 vem com uma pro- diz. Questionado sobre a necessidade da
são proibidos no mundo.” Segundo ele, posta de terceirizar todo o Serviço Es- implementação de novas NRs, o diretor
a alegação da bancada empresarial é “de pecializado em Engenharia de Seguran- do Seesp é contra. “Chega de NRs, já te-
que houve um avanço tecnológico e que ça e em Medicina do Trabalho (SESMT). mos muitas. O Brasil está cheio de leis
esses agrotóxicos poderiam, inclusive, ser Outra questão já foi para consulta pú- que não funcionam”, conclui. Q
73
Artigo Ética profissional
por Saulo Cerqueira de Aguiar Soares
COMBATE AO SOFRIMENTO
NO TRABALHO
Respeito nas relações contribui para ambiente laboral saudável
74
teção dos empregados de assédio moral e sexual. no trato com colegas, enquanto a realidade evidencia que de-
A comissão de ética empresarial que deveria ser um órgão terminado ambiente é dominado exatamente por persegui-
autônomo de caráter deliberativo, com a finalidade de orien- ções, simpatias e antipatias.
tar, aconselhar e atuar na gestão sobre ética profissional, pode Um trabalhador deve cumprir as tarefas de seu cargo ou
acabar sendo capturada e marcada pelo corporativismo com função de acordo com as normas do serviço, tendo respeito à
os “amigos do rei”. hierarquia, porém, sem nenhum temor de representar contra
A organização do trabalho de algumas empresas se torna qualquer comprometimento indevido; resistindo e denuncian-
tóxica quando as normativas éticas e o regulamento de pes- do pressões de superiores hierárquicos que visem obter quais-
soal passam a ser somente uma ameaça aos inimigos do diri- quer favores ou vantagens indevidas; assim como deve comuni-
gente máximo da instituição. Desse modo, instrumentaliza-se car todo e qualquer ato contrário ao interesse público, exigindo
o procedimento na lógica da destruição do inimigo, imperan- providências. Deve ser garantido que não haverá retaliações e
do a máxima “aos amigos, tudo, aos inimigos, a lei”. a empresa garantir que envidará esforços para que nenhum
O médico do trabalho francês Christophe Dejours (2008), colaborador ou pessoa seja alvo de represálias.
fundador da psicodinâmica do trabalho, afirmou que existe o O dirigente público pode ser sujeito ativo de ato de impro-
pensamento que “um homem verdadeiramente viril é aque- bidade administrativa quando atenta contra os princípios da
le que não hesita em infligir sofrimento ou dor a outrem, em administração pública.
nome do exercício, da demonstração ou do restabelecimen- Nessa hipótese, qualquer ação ou omissão que viole os de-
to do domínio e do poder sobre o outro, inclusive pela força.” veres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade à
Assim, Dejours ressalta que parte dos homens no trabalho instituição pode acarretar em condenação por improbidade
recorre ao recurso da virilidade para justificar a violência que administrativa. São exemplos: praticar ato visando a fim proi-
comete contra o colega de trabalho ou subordinado. bido em lei; retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato
Dejours (2020) revela, ainda, a clivagem que ocorre no mun- de ofício; revelar fato ou circunstância de que tem ciência em
do do trabalho: “muitas pessoas são capazes de ter uma vi- razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, co-
da de trabalho com comportamentos, condutas, falta de éti- mo prontuário médico de trabalhador, seja em sindicância ad-
ca, violação de valores por um lado e, por outro lado, serem ministrativa ou em processo judicial.
perfeitos cavalheiros na vida privada”. Ao gestor, deve ser vedado: promover atitudes discrimina-
A explicação se dá pela acrasia preguiçosa, que é quando tórias ou preconceituosas de qualquer natureza, em relação a
pessoas estúpidas fazem o mal no trabalho por uma pregui- etnia, sexo, religião, estado civil, faixa etária ou condição física;
ça intelectual; e pela acrasia estênica, que ocorre quando su- discriminar pessoas com deficiência; realizar atos que caracteri-
jeitos afirmam que o “sistema é assim” ou “as ordens são es- zem intimidação, hostilidade, ameaça ou humilhação; usar re-
sas”, para praticarem o mal. cursos, espaço e imagem da empresa para atender interesses
Não se pode ser ingênuo dessa realidade do ambiente cor- pessoais; divulgar informações médicas dos trabalhadores, co-
porativo, de que o ser humano é capaz de fazer atrocidades, mo conteúdo de prontuário médico para comissários de inves-
ser um déspota e tirano, assediando e vilipendiando colegas tigações preliminares ou processos administrativos disciplinares.
de trabalho e subordinados. Deve-se respeitar a individualidade de cada colaborador, evi-
E isso não ocorre unicamente nas empresas privadas, mas tando interferências de cunho pessoal.
também na administração pública direta e indireta, como em Ainda, é preciso garantir que interesses particulares dos ges-
empresas públicas, com dirigentes perversos, que manipulam as tores e empregados não interfiram no relacionamento empre-
pessoas com fulcro a engendrar armações contra seus inimigos. sarial com prestadores de serviços, fornecedores, clientes, con-
Na esfera pública, há escolhas de chefias que violam frontal- correntes e terceiros.
mente os princípios da impessoalidade e da moralidade, afron- Outro ponto a ser destacado no tema é a avaliação indivi-
tando a meritocracia. De nada adianta um Código de Ética dual de desempenho. Essa se vincula à possibilidade de pro-
dispor que é vedado permitir que perseguições, simpatias, an- gressão horizontal e vertical, gerando concorrência entre os
tipatias, caprichos ou interesses de ordem pessoal interfiram trabalhadores, fazendo que trabalhem uns contra os outros.
75
Artigo
O empregado luta para obter uma elevada pontuação no mento de um movimento operário e sindicalista. Sob o efeito
resultado das metas do colaborador (RMC) na gestão do das novas metodologias de gestão, esta via é bloqueada.”
desempenho por competências (GDC). Contudo, tal ava- A pandemia do novo coronavírus fez muitas empresas te-
liação é subjetiva, realizada pelo próprio chefe imediato do rem que aderir ao teletrabalho e uma surpresa foi revelada:
trabalhador, podendo veladamente privilegiar seus amigos a produtividade de muitas aumentou, assim como a quali-
e prejudicar os inimigos. dade de vida dos trabalhadores, chegando ao ponto de al-
Por exemplo, se uma empresa define que somente 5% dos gumas companhias pensarem em adotar constantemente o
trabalhadores de nível médio e 5% dos trabalhadores de ní- home office para uma parcela dos colaboradores.
vel superior com maior pontuação serão beneficiados pela Por fim, revelou-se que é possível que dirigentes tenham duas
progressão, tal estratégia empresarial gera uma guerra fre- faces: uma de boa pessoa no site da empresa e outra de dés-
nética durante o ano inteiro, gerando ódio entre os colegas pota tirano no ambiente empresarial, praticando atos de vio-
quando algum se destaca em itens que pontuam na qualifi- lência no trabalho, formando grupos de apoio e vítimas. Essa
cação profissional. Assim, a progressão salarial que deveria condição antiética é justamente a responsável pela sensação de
gerar satisfação para a equipe, pode gerar ódio. injustiça e desrespeito que sofrem os trabalhadores, gerando
Fato é que o próprio Dejours (2012) afirmou que “a ava- adoecimento mental, apesar de parte das empresas insistirem
liação individual de desempenho minou toda a coopera- em cobrir com um véu o sofrimento no trabalho. Q
ção, que, em si, era engajada na produção ou elaboração
de uma proteção contra o sofrimento. Aqui está a mudança
mais importante desde o taylorismo: as estratégias de defe-
Saulo Cerqueira de Aguiar Soares –
sa coletivas tornam-se impossíveis. As construções que ou- Médico do Trabalho, Advogado, Professor Adjunto de
trora permitiam afrontar coletivamente o medo traziam a Direito da Universidade Federal do Piauí, Doutor Magna
cum Laude em Direito e Mestre Magna cum Laude em
possibilidade de uma resistência, de uma luta comum con- Direito. Coordenador do livro “Afirmação de Direitos em
tra um sistema opressivo, e eram compatíveis com o surgi- Tempos Líquidos” - Editora CRV.
76
ASSINE JÁ!
VIOLÊNCIA CONTRA
A MULHER
Em casa ou no trabalho, deve ser preocupação do empregador
78
de todos os colaboradores para que estes saibam como reco- como base informações da Agência Brasil, só 9% das empre-
nhecer sinais potenciais de agressão entre colegas, impor me- sas tinham um canal de ouvidoria para dar apoio às funcioná-
didas de segurança nos locais de trabalho e conduzir pesquisa rias e, proporcionalmente, era igual à taxa de companhias que
de antecedentes de futuros empregados para impedir o ingres- disponibilizavam serviço psicológico externo e apoio jurídico,
so dos que já tenham um histórico de violência. Avalio que é enquanto apenas 5% tinham tal serviço no ambiente de tra-
fundamental executar cada um destes passos para que o re- balho. Entre todos os ouvidos, 13% sequer sabiam se tinham
sultado esperado aconteça. opções de enfrentamento à violência.
Para um maior conhecimento sobre os dados elencados nos Analisando as conclusões da pesquisa, percebe-se que 55%
Estados Unidos, recomendo a leitura do alerta do KIPRC, que das empresas não monitoravam internamente os casos de mu-
está disponível no link bit.ly/kiprc-hazalert. É importante tam- lheres que sofriam algum tipo de violência. Pior, também não
bém conhecer trabalho semelhante distribuído pelo American existia nenhuma forma de atuação para evitar isso. O quadro
Journal of Preventive Medicine (AJPM). era o mesmo quando o foco das ocorrências era a residência
das colaboradoras. No grupo das empresas de capital misto o
Pesquisas no Brasil índice chegava a 89%, nas de capital fechado era de 70% e
O site Extra Classe, mantido pelo Sindicato dos Professores nas de capital aberto fica em 60%. Além de ser uma preocu-
do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (SINPRO/RS), publi- pação de caráter humano, considero que a dedicação ao bem-
cou uma reportagem, em dezembro de 2019, indicando que -estar dos colaboradores, independente de gênero e orientação
no Brasil (estimativa do ano anterior) apontava para 536 mu- sexual, é uma obrigação básica para qualquer empregador, que
lheres agredidas a cada hora. O número de ocorrências moti- corre o risco de vivenciar uma queda no rendimento de quem
vou o Instituto Maria da Penha, o Instituto Vasselo Goldoni e o lhe presta um serviço. Afinal, a pessoa agredida em casa tende
conjunto empresarial Talenses Group, que atua na área de re- a faltar no trabalho, talvez por vergonha de uma mancha pro-
crutamento profissional, a fazerem uma pesquisa com 311 em- vocada por socos ou tapas, talvez para se recuperar de alguma
presas, sendo 38% nacionais e 62% estrangeiras. O objetivo lesão. Outra possibilidade é a falta de concentração durante o
era conhecer como a questão é tratada entre os participantes. exercício da profissão, que certamente terá como consequên-
A iniciativa gerou o estudo “Violência e Assédio contra a Mu- cia os erros que elevam a possibilidade de acidentes e prejuízos.
lher no Mundo Corporativo”.
O material de 27 páginas reuniu grupos de gestão profissio- Assédio moral e sexual
nal (72%) e familiar (27%), sendo que 1% não indicou o mé- Os números chamam atenção também quando avaliamos o
todo de gerenciamento. Entre todos, 64% eram do setor de tema assédio sexual e moral contra a mulher nos locais de tra-
serviços, 28% da indústria e 7% do comércio, 66% trabalham balho. A pesquisa informou que no ramo de serviços 40% das
em regime de capital fechado, 21% operam em modo aberto empresas entrevistadas não tinham medidas preventivas para
e negociando na Bolsa de Valores e 3% eram de capital misto. combater os dois problemas. Na indústria o total era de 24%
A metade dos entrevistados representava empresas de porte e, no comércio, de 30%. Entre as empresas grandes, a taxa
grande (acima de 499 funcionários). Um total de 30% era de era de 20%, mas subia para 50% e 51% nas médias e peque-
tamanho médio (de 100 a 499 colaboradores) e 19% tinha ní- nas, respectivamente. Para as de regime profissional, 30% tam-
vel pequeno, empregando até 100 pessoas. Entre todas, 49% bém não executavam nenhuma ação, enquanto nas de geren-
da mão de obra era feminina. ciamento familiar o número era de 47%.
O resultado é, como se pode imaginar, muito preocupante. O Talenses Group focou sua atenção nesta vertente da violên-
“Apesar de 68% das empresas consultadas terem considerado cia e elaborou um novo estudo, publicado em maio de 2019. A
necessário dedicar tempo à abordagem da violência doméstica intenção era averiguar o posicionamento de quem emprega e
sofrida por funcionárias, apenas 19% desenvolvem políticas e as hierarquias envolvidas nos casos. Foram ouvidas 3215 pes-
ações de combate ao problema. Deste total, 11% declararam soas, de ambos os sexos, sendo 58% homens e 42% mulhe-
que esse engajamento se dá por meio de campanhas de sen- res nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
sibilização e conscientização”, informou a matéria. Funcionários dos ramos de serviços, tecnologia e computação
Ainda de acordo com o Extra Classe, que também tomou e bens de consumo, que trabalhavam empresas de grande, mé-
79
Artigo
dio e pequeno porte, sendo 73% atuando em cargos de lide-
rança e 27% dentro da área operacional.
Novamente, os números assustam. Entre todos os entrevis-
tados, 52% conheciam alguém que havia sido vítima de assé-
dio sexual no trabalho por pessoa hierarquicamente superior
(entre as mulheres o total crescia para 61%). Questionados se
alguém já havia se valido da condição hierárquica para obter
vantagem ou favorecimento sexual, 21% responderam sim,
mas entre as trabalhadoras, esse total subia para 34%. Entre
elas, 79% relataram assédio sexual verbal, 19%, assédio físico
e 2% não especificaram.
A maioria dos agressores ocupavam cargos superiores (57%),
sendo que gestores diretos representavam 41% e só 2% eram
de funções inferiores às ocupadas pelas vítimas. Impressiona
ainda que 65% dos casos não foram reportados, sendo que o
medo de ser demitida era o primeiro motivo, seguido pelo re-
ceio de nada acontecer com o agressor e pelo sentimento de ve endereçar sim dentro de sua função social e de respeito
culpa por a mulher achar que provocou o assédio. e proteção aos seus (suas) próprios (as) colaboradores, além
As consequências entre os casos onde houve denúncia, de dos malefícios que este problema pode causar ao próprio ne-
acordo com o estudo, têm certo equilíbrio. Lamentavelmen- gócio”, argumentou.
te, nada foi feito em 27% das ocorrências e em outros 26% a Questionei se há um método eficaz para sensibilizar os
empresa pediu sigilo sobre o caso e nada ocorreu com quem gestores de que a violência contra a mulher precisa ser en-
agrediu. Por outro lado, a taxa de situações em que aconte- frentada com muito mais intensidade e periodicidade e não
ceram investigações e o agressor foi penalizado era de 26% apenas sobre os casos ocorridos no ambiente de trabalho.
e de 20% quando os empregadores pediram sigilo, mas pu- Carla respondeu que fazer a empresa olhar sob a ótica de
niram os culpados. performance e da produtividade é uma forma. “É óbvio
que para cada mulher que sofrer uma violência, a empresa
Muito a se fazer precisará arcar com os custos relacionados à saúde mental
Pedi mais esclarecimentos para o Talenses Group sobre os e física dessa colaboradora”, explicou.
dados das pesquisas. A gerente de Comunicação, Marketing Mas essa não é a única alternativa. “Precisamos olhar as
e Inteligência de Mercado da instituição, Carla Fava, lamen- pessoas como seres humanos em primeiro plano. O ciclo
tou que o número de empresas que já possuem processos es- da violência em que essa mulher se encontra, muitas vezes
truturados de ações voltadas contra a violência doméstica da tem mais dificuldade de ser interrompido, uma vez que pa-
mulher é baixo. “Em nossa pesquisa, somente 19% afirma- ra conseguir se separar do marido ela precisa de uma fon-
ram ter políticas e ações voltadas para a temática. Por outro te de renda e independência financeira. Ou seja, se man-
lado, o número de empresas que possuem ações e políticas ter no emprego é um passo importante para a quebra
voltadas para o empoderamento da mulher vem aumentan- desse ciclo”, sugeriu.
do ano após ano (53% afirmam ter ações e políticas no mes- Na correta avaliação dela, Carla questiona as empresas
mo levantamento)”, comentou. que, ao verem suas funcionárias com baixa produtividade,
Para ela, esse é um “sinal positivo”, pois este “geralmen- ou que estão faltando muito, demitem-nas sem entender
te é o primeiro passo das organizações que começam a se os reais motivos por trás. “O que estamos fazendo como
movimentar a favor das questões que envolvem a mulher”. sociedade para minimizar esse problema? Por isso é funda-
Mas, avaliou Carla, ainda há muito que se fazer do ponto de mental que as organizações criem canais de comunicação,
vista organizacional. “Os (as) líderes precisam perceber que redes de apoio e treinem seus (suas) líderes para que eles
a violência doméstica, apesar de não acontecer dentro dos saibam como endereçar caso surja uma situação assim em
muros da organização, é um problema que a empresa de- sua equipe”, argumentou.
80
Pior resultado No tocante às empresas e aos empregadores, é obrigatória
A porta-voz do Talenses Group ofereceu mais informações uma vigília permanente, independente se os casos acontece-
preocupantes. “Em 2018, no ranking de equidade de gêne- rem dentro dos seus limites ou se na vida privada de suas co-
ro divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil apa- laboradoras. E é função dos profissionais da segurança no tra-
rece em 95º lugar, em uma lista de 149 países. É nosso pior balho fomentarem essa atitude entre os gestores, bem como
resultado desde 2011. Ocupamos o 5º lugar no ranking mun- sugerir um plano de ação com regras semelhantes às criadas
dial de feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações pelo KIPRC e que estão listadas no início do presente artigo.
Unidas pra os Direitos Humanos. O país só perde para El Sal- Como engenheiro de Segurança, tenho sugerido para as
vador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos empresas que a Comissão Interna de Prevenção de Aciden-
de assassinato de mulheres”, lamentou. tes (CIPA) é um excelente ambiente para tratar desta ques-
Ela também compartilhou mais um ponto que, a meu ver, tão. Falar do problema nas reuniões mensais deste colegiado
podemos utilizar no empenho de convencer os gestores a é um pontapé inicial para a criação de estratégias de enfren-
criar, estabelecer e colocar em funcionamento práticas pre- tamento à violência contra as mulheres. Nos locais onde is-
ventivas a este problema: as mulheres que declaram sofrer so já ocorre, tenho notado, os resultados são estimulantes.
violência faltaram ao trabalho 18 dias, em média, nos últi-
mos 12 meses. E 47% perderam de 1 a 3 dias; 22% falta- Caminhos para prevenção efetiva
ram de 4 a 7 dias; 20% de 8 a 29 dias; e 12% perderam 30 1º passo: crie um comitê
dias ou mais de trabalho. É nítido o prejuízo para as empre- Faça uma pesquisa interna para encontrar os colaborado-
sas, que ficam com sua mão de obra reduzida. Ainda sobre o res que tenham interesse nesta temática, que sejam pes-
lado humanitário, vale destacar que enquanto a duração mé- soas engajadas, e forme um comitê. Gestores de Recur-
dia do emprego para as mulheres que não sofrem violência sos Humanos, Comunicação e Compliance podem liderar
é de 74,82 meses, para as que sofrem violência é de 58,59 o grupo, mas colaboradores de todas as áreas de negócio
meses, representando uma redução de 22%. também devem participar da iniciativa. Além do envolvi-
mento da área de Recursos Humanos, indica-se que haja
Prejuízos incalculáveis a presença, no comitê, de profissionais de Assistência So-
Dados divulgados pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) cial e psicólogos preparados para assistência às vítimas. Se
em 2018 comprovam que é impossível calcular os prejuízos possível, inclua no comitê organizações da sociedade civil
físicos, psicológicos e financeiros para quem sofre uma agres- (OSCs) e outras instituições especializadas nesta temática.
são e para quem vê a força de trabalho de uma empresa ser
prejudicada pela violência. Naquele ano foram movidas 56 2º passo: divulgue a iniciativa
mil ações relativas somente ao assédio moral. Utilize os canais de comunicação internos e envolva a alta
Ainda em 2018 o Ministério Público do Trabalho chegou a liderança para mostrar aos colaboradores que a empresa se
publicar uma cartilha de 46 páginas, “O ABC da Violência preocupa e está atenta ao tema. Além de divulgar a iniciativa,
Contra a Mulher no Trabalho”, que foi elaborada por uma promova ações como, palestras, workshops, conteúdos, en-
comissão de integrantes do Grupo de Trabalho de Gênero da tre outros, que engaje os colaboradores e os mantenha mo-
Coordenação Nacional de Promoção da Igualdade e Comba- tivados a multiplicar os conceitos aprendidos, detectar situa-
te à Discriminação no Trabalho e de membros da Câmara de ções internas e externas e encorajar a vítima a procurar ajuda.
Coordenação e Revisão. O documento, que pode ser lido nes-
te link https://bit.ly/34YkosN, trata das muitas faces da vio- 3º passo: institua um canal
lência e é uma importante ferramenta que deve ser estudada Crie um canal de comunicação eficaz, com regras claras
nas empresas, tanto por funcionários quanto por gestores. de funcionamento, apuração e sanções para receber rela-
Diante disso tudo, reforço, a violência contra a mulher é uma tos de assédio e violência contra a mulher. Ele pode ser
questão grave e histórica, mas jamais deve ser olhada apenas co- estruturado internamente ou mantido por uma empresa
mo uma situação restrita aos envolvidos. Toda a sociedade tem especializada. O importante é que os profissionais respon-
o dever de atuar na prevenção, conscientização e na denúncia sáveis pelo trabalho ouçam a vítima sem fazer nenhum jul-
dos casos para que a polícia e a Justiça possam tomar as medi- gamento moral ou pessoal e garantam o sigilo da identi-
das cabíveis, tanto em relação às vítimas quanto aos agressores. dade do denunciante.
81
Artigo
4º passo: dê caminhos A Defensoria Pública é uma instituição que presta assistência
Oriente a colaboradora para que registre a ocorrência. Abai- jurídica gratuita às pessoas que não podem pagar um advoga-
xo, algumas alternativas para denúncia e apoio: do. Qualquer pessoa que receba até três salários mínimos por
mês ou possa comprovar que, mesmo recebendo mais, não
Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher tem condições de pagar um advogado particular, tem direito
As delegacias especializadas são uma das mais importantes de ser atendido. Em casos mais graves de violência doméstica,
portas de entrada das denúncias de agressão. A Lei Maria da a Defensoria Pública pode auxiliar a vítima pedindo uma me-
Penha estabelece que, após o Boletim de Ocorrência (B.O.), o dida protetiva a um juiz ou juíza.
caso seja remetido ao juiz em, no máximo, 48 horas. A Justiça
também tem 48 horas para analisar e julgar a concessão das Casas da Mulher Brasileira
medidas protetivas de urgência. Elas foram criadas para facilitar o acesso das vítimas de vio-
lência aos serviços especializados. Lá, funcionam delegacia,
PM – Disque 190 juizado, Ministério Público e Defensoria Pública, além de equi-
Quando não há uma delegacia especializada para esse aten- pes multidisciplinares especializadas em garantir o acolhimen-
dimento, a vítima pode procurar uma delegacia comum, on- to de mulheres em condições e possibilitar que exames e de-
de deverá ter prioridade no atendimento ou pode pedir ajuda núncias ocorram sem revitimização.
por meio do telefone 190.
Centros Especializados de Atendimento à Mulher (CEAM)
Disque 180 – Central de Atendimento à Mulher Ofertam o acolhimento e acompanhamento interdisciplinar
Outro canal de entrada de denúncias é a central telefônica (social, psicológico, pedagógico e de orientação jurídica) às
Disque-Denúncia, criada pela Secretaria de Políticas para Mu- mulheres em situação de violência. As atividades são ofereci-
lheres (SPM). A denúncia é anônima e gratuita, disponível 24 das para promover e assegurar o fortalecimento da sua auto-
horas, em todo o país. A denúncia também pode ser enviada estima e autonomia, o resgate da cidadania e a prevenção, in-
para o e-mail ligue180@spm.gov.br. terrupção e superação das situações de violações de direitos.
5º passo: monitore
Para que o processo seja verdadeiro é importante que a em-
presa monitore os casos registrados. Por meio do monitora-
mento a empresa terá acesso às estatísticas da iniciativa, além
de poder intervir e quem sabe compartilhar cases de sucesso
para comunidade corporativa e sociedade. Q
82
COMENDA DE HONRA
AO MÉRITO DE SST
Ambiente virtual 3D marcou a entrega da
tradicional homenagem
por Redação
84
biografias dos homenageados e assistir aos depoimentos em especial, à área da saúde”, assinalou o presidente da
dos representantes das entidades sobre a escolha dos indi- Associação, José Geraldo Brasil. Já o presidente da Abra-
cados para receber a Comenda de SST, além de acompanhar seg, Jacques Levy, reforçou que o setor de segurança con-
a transmissão da cerimônia no auditório virtual. seguiu se defender bravamente, referindo-se às iniciativas
“Em todos esses momentos, a Animaseg trabalhou rapi- das entidades para a manutenção do mercado: “Em todas
damente e intensamente para manter o mercado organiza- as épocas de dificuldades, a gente aprende. Isso é válido.
do, em funcionamento e apto para fornecer os produtos, Tem a ver com a conscientização”, destacou.
Os profissionais são indicados pelas entidades de classe Paralelamente à Comenda de Honra ao Mérito em SST,
mais importantes do setor, para que a Comissão de Sele- é realizado o Prêmio Melhores Empresas em SST. As pre-
ção, formada por um grupo de Comendadores, escolha miadas são indicadas pelas empresas do setor e depois
os homenageados. Entre os principais requisitos de sele- avaliadas pela mesma Comissão de Seleção, que conce-
ção, o indicado deve ter no mínimo 30 anos de ativida- de o prêmio àquelas que atendam aos critérios rigorosos
de comprovada e contínua, dentro da ética profissional de avaliação, entre eles: ter uma política própria de SST,
e humanística, na área prevencionista; e ter feito algum compromissada pela alta administração da empresa; não
trabalho relevante e comprovado em prol da sociedade. ter nenhum óbito ou acidente com incapacidade perma-
nente no ano anterior ao prêmio; apresentar, por meio
Categoria: Enfermeiros do Trabalho de indicadores de gestão, desempenho eficaz em SST.
Célia Aparecida de Barros
Indicação: ANENT Premiadas
85
Artigo Atualização necessária
por Paulo Ribeiro Neres
ADEQUAÇÃO DE MÁQUINAS
E EQUIPAMENTOS
Para atender à NR-12, equipe de profissionais multifuncionais focada e
engajada com os projetos é essencial
Dependendo do porte da empresa, esse comitê deverá
86
de trabalho com os seus devidos prazos e responsáveis pe-
la execução das atividades.
Apreciação de riscos
Quando o assunto é adequação de máquinas e equipa-
mentos, não temos como pular a fase de apreciação de ris-
cos que, acredita-se, ser a etapa mais valiosa e importan- ta a validação da adequação da máquina ou equipamento,
te no projeto. que são os testes funcionais dos sistemas de segurança im-
Para isso, o profissional deve realizar uma auditoria técni- plementados baseados no projeto de adequação.
ca e minuciosa dos sistemas de segurança indicando as ne-
cessidades de adequações e/ou implementação de sistemas Procedimentos de trabalho e manuais de operação
de segurança em função dos perigos e riscos ali existentes. Outro item de extrema importância, que a norma exige,
Não devemos nos esquecer de apreciar também os peri- são os procedimentos de trabalho e segurança, que devem
gos e riscos envolvidos com os processos e atividades reali- ser elaborados de forma específica e padronizados, a partir
zadas pelo pessoal de manutenção, ajustes, limpeza, além da apreciação de riscos.
do operacional. A norma exige ainda a criação ou adequação do manual
Nesta etapa de apreciação de riscos, segundo a NR-12, é de operação com as informações relativas à segurança em
obrigatória que seja utilizada as normas técnicas da ABNT - todas as fases de utilização da máquina ou equipamento.
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou normas inter-
nacionais. Exemplo de normas nacionais a serem utilizadas Capacitação
na apreciação são as NBR ISO 12.100, que trata de Princí- Por fim, a norma exige que os trabalhadores envolvidos na
pios gerais de projeto - apreciação e redução de riscos; e a operação, manutenção, inspeção e demais intervenções em
NBR 14.153 - partes de sistemas de comando relacionados máquinas e equipamentos deve receber capacitação, provi-
à segurança - princípios gerais para projeto. denciada pelo empregador, compatível com suas funções e
que aborde os riscos a que estão expostos e as medidas de
Plano de ação proteção existentes e necessárias para a prevenção de pos-
Após a realização das apreciações de riscos, devemos es- síveis acidentes e doenças.
trategicamente montar os planos de ações, gerando uma or- Essa capacitação deve ser realizada como parte da me-
dem de priorização, preferencialmente, eliminando os maio- todologia para prover conhecimento para os trabalhadores
res riscos existentes para os trabalhadores. que participam dos processos em geral. Q
Projeto de adequação
Nessa fase, define-se, em conjunto com os diversos de-
partamentos envolvidos, soluções padronizadas e otimiza-
das com o objetivo de gerar o menor impacto possível na
produtividade, mantendo o nível de segurança aceitável pa-
ra o processo.
Após a aprovação dos projetos, vem a fase de adequação,
que consiste na implementação dos projetos desenvolvidos. Paulo Ribeiro Neres – engenheiro de Segurança do Trabalho; responsável
técnico na F5 - Soluções em Segurança do Trabalho; perito assistente em pro-
Por último, porém não menos importante, deve ser fei- cessos de insalubridade e periculosidade e instrutor de treinamento de NR-12
87
Artigo Administração
por Rômulo Assmann
GERENCIAMENTO
DE SST Como os estilos
de liderança
influenciam nas ações
prevencionistas
88
N o estudo da Administração de Empresas, dentre os as-
pectos básicos para análise, estão as chamadas Fun-
ções Administrativas, que têm origem nos estudos de Peter
Drucker, sendo compostas de quatro elementos: planeja-
mento, organização, direção e controle, ou PODC, e que
formam o chamado processo administrativo. Assim, po-
de-se afirmar que administração é o processo de plane-
jar, organizar, dirigir e controlar as ações para alcançar os
objetivos organizacionais, através da utilização de pesso-
as e recursos.
Abaixo, segue a definição de cada um desses elementos:
Planejamento: momento em que se traça um caminho pa-
ra trilhar em busca dos resultados esperados, definindo os
meios para alcançá-los. Principais ações: estabelecer obje-
tivos; definir onde a empresa quer chegar; identificar opor-
tunidades, ameaças, fraquezas e forças da empresa frente
ao seu ambiente interno e externo.
Organização: após realizado o planejamento, surge o mo-
mento de ordenar os recursos disponíveis na empresa de
forma a utilizá-los da melhor maneira para atingir os obje-
tivos acordados, delegando tarefas. Principais ações: divi-
são do trabalho; atribuição de responsabilidades e tarefas
e alocação de recursos.
Direção: momento em que as pessoas responsáveis pelo ge-
renciamento das ações entram em cena e direcionam seus
esforços visando coordenar as atuações, para que todos
trabalhem de forma organizada em busca dos objetivos.
Principais ações: condução dos trabalhos; orientação e mo-
tivação das pessoas; coordenação; comunicação; relaciona-
mento e interação.
Controle: chegou a hora de conferir todo o processo, para
que tudo ocorra dentro do que foi definido no planejamen-
to, identificando possíveis desvios e elaborando planos para
adequação. Principais ações: monitoramento das atividades;
indicadores de desempenho; acompanhamento; avaliação
de desempenho e realização das correções necessárias.
Essas funções atuam de forma cíclica. Ou seja, as fun-
ções administrativas formam um ciclo administrativo, não
atuando de forma estática e com todas as funções intera-
gindo entre elas.
A função da direção
A direção, como descrito anteriormente, é a função admi-
nistrativa responsável por conduzir as atividades que com-
põem o processo organizacional em direção aos objetivos
89
Artigo
propostos.
Para que as etapas de planejamento e organização possam Liderança e Segurança do Trabalho
ser eficazes, é necessário que seja feita a orientação e apoio Como visto anteriormente, quando o chefe está presente
às pessoas, através de motivação e comunicação adequadas. as pessoas direcionam suas ações pela obrigação, enquan-
As demais funções possuem um caráter impessoal, en- to que quando o líder exerce seu papel as pessoas sentem
quanto que a direção constitui o processo de relacionamen- vontade de fazer o que lhes está sendo solicitado. E quan-
to interpessoal entre os responsáveis pelas ações e os de- do falamos em Segurança do Trabalho, este papel se torna
mais indivíduos na organização. Resumindo, é a forma de fundamental. Nenhum processo de prevenção vai funcionar
influenciar outras pessoas para que realizem suas tarefas de caso não parta, por parte de quem comanda as pessoas, o
modo a alcançar os objetivos propostos no planejamento. fomento, o incentivo e principalmente o exemplo nas ações
prevencionistas.
Chefia x Liderança Desta forma, ao falarmos do gerenciamento das questões
No contexto da função direção, é importante estabelecer ligadas à segurança do trabalho nos setores, precisamos ver-
a distinção entre os termos chefe e líder. dadeiramente de um líder. E, em termos práticos, onde po-
O chefe tem como característica utilizar a sua posição demos visualizar esta afirmação?
hierárquica para, através da autoridade, obter o compro- Quando tratamos da participação das pessoas no contexto
metimento das pessoas. Já o líder possui a capacidade de da segurança do trabalho nas organizações, podemos veri-
influenciar as pessoas por meio das suas atitudes, relações ficar basicamente 4 níveis de desempenho relativos à cultu-
interpessoais, bom relacionamento e comunicação. Resu- ra de segurança – reativo, dependente, independente e in-
mindo, o líder utiliza suas qualidades pessoais, enquanto terdependente -, conforme descrito pela Curva de Bradley,
que o chefe utiliza de sua posição hierárquica. desenvolvida pela Dupont e apresentada abaixo.
Pode-se dizer também que a chefia está baseada em um
processo formal, ligado ao organograma, normas e regras da
empresa, enquanto a liderança está ligada a um processo in-
formal, onde as pessoas não se sentem obrigadas e sim com
motivação para cumprir o que for determinado pelo líder.
A tabela abaixo apresenta algumas características do che-
fe e do líder.
CHEFE LÍDER
Formal Informal
Manda Orienta
Controla Fomenta
Fiscaliza Confia
O nível reativo representa a forma menos participativa em
Procura culpado Propõe soluções termos gerenciamento das ações de segurança do trabalho
Ameaça Incentiva em termos de participação dos indivíduos. As pessoas não
assumem responsabilidades, e as ações estão direcionadas
e centralizadas nos serviços de segurança do trabalho. Nes-
Desta forma, a liderança está baseada muito fortemente te momento, a participação daqueles que comandam a or-
no relacionamento entre as pessoas, sendo o líder a pessoa ganização frente aos aspectos de prevenção praticamente
que assiste e principalmente orienta as pessoas, seja na re- não existe. Seu papel se é representado basicamente pelo
solução de problemas ou na tomada de decisão, reduzindo apoio ao cumprimento da legislação.
desta forma as incertezas, mantendo o equilíbrio e satisfa- No nível dependente, as pessoas assumem a responsabi-
zendo as necessidades. lidade baseadas no cumprimento das normas de seguran-
90
ça e na dependência de uma fonte de comando, surgindo dados tenham todas as condições técnicas, de capacitação
desta forma a importância da participação de quem dirige. e motivacionais frente às ações de segurança do trabalho.
Entretanto, a ação gerencial é baseada apenas na supervi- Surge também, neste momento, a importância de quem co-
são relativa ao controle do cumprimento de regras e proce- manda como o principal exemplo a ser seguido.
dimentos, baseada unicamente na autoridade. Nesse mo- E, finalmente, chegamos ao nível interdependente, baseado
mento, o papel de um chefe já é suficiente. no trabalho em equipe e cuidado mútuo, onde cada indivíduo
Já no nível independente, temos uma melhora significa- cuida da sua segurança e dos demais colegas. Surge a preo-
tiva, onde todos os integrantes passam a assumir a respon- cupação com um contexto mais amplo relativo à prevenção,
sabilidade pela sua própria segurança, representando dessa onde somente os resultados relativos à prevenção serão atin-
forma um maior comprometimento de todos os envolvidos, gidos se todos estiverem comprometidos, em que quem co-
em que a segurança passa a ser considerada como um va- manda passa a ser mais um elo na correndo, praticamente ine-
lor e cada um possui autonomia em relação às suas ações. xistindo diferença de atuação em relação às responsabilidades
Importante entender autonomia neste contexto não como entre comandante e comandados. Neste nível, efetivamente o
a possibilidade de qualquer um fazer o que quer, o que em papel de liderança em sua totalidade tem que estar presente.
termos de prevenção seria impraticável, mas sim que todos Junto a este pensamento baseado nos 4 níveis de matu-
entendem e possuem capacidade de aplicar os processos ridade da Curva de Bradley, podemos inserir um novo pen-
preventivos presentes no seu cotidiano no trabalho. Nes- samento baseado nestes três tipos de liderança – autocrá-
ta hora, o papel do líder surge de forma mais efetiva, pois tica, democrática e liberal – visando entender o papel dos
além da preocupação com o atendimento dos aspectos le- comandantes frente às ações de segurança do trabalho, sen-
gais, surge a necessidade de ser um elemento fomentador do as características básicas de cada um destes três tipos
das ações prevencionistas, garantindo que os seus coman- demonstrados na tabela abaixo:
91
Artigo
Desta forma, podemos estabelecer uma relação entre a Cur- Se consideramos somente o papel da alta direção, a nor-
va de Bradley e os três níveis de liderança demonstrados acima, ma preconiza que, além deste nível de liderança ser o princi-
onde cada um representa a participação dos líderes no con- pal responsável pelo desenvolvimento do sistema de gestão,
texto de sua participação e fomento da cultura de segurança: essa deve também atuar em elementos como comunicação,
Resumindo: a liderança autocrática é suficiente para o nível participação dos trabalhadores, política de SST, objetivos,
reativo e a passagem para o nível dependente. A partir des- promoção da melhoria contínua e principalmente a garan-
se nível, já é necessária uma liderança democrática. Entre- tia dos recursos necessários para que todos estes elemen-
tanto, para que se possa atingir o nível interdependente, a tos possam ser implantados e mantidos. Já quando se trata
liderança democrática é suficiente para o início do proces- dos gerentes e supervisores, surge a importância do fomento
so. Para se chegar a este nível, necessariamente, teremos aos trabalhadores, já que estes possuem acesso mais direto
que ter a efetivação de uma liderança liberal. a eles, devendo garantir que todos tenham o entendimen-
E essa percepção do papel da liderança também pode ser to da sua função frente às ações prevencionistas.
vista quando se trata da decisão da empresa em implantar Neste contexto, podemos afirmar que quanto mais lon-
um processo de gestão de segurança, onde tendo como ge se quer chegar em termos de cultura de excelência em
exemplo a certificação baseada na Norma ISO 45001, on- segurança do trabalho, mais se precisa de liderança. Quan-
de o aspecto liderança aparece como um fator imprescin- to maior o impacto que se pretende ter, maior tem que se
dível no sucesso da implantação do sistema de gestão, em a participação daqueles que comandam as ações como ver-
especial no que diz respeito à participação dos diversos ní- dadeiros líderes da organização. Q
veis organizacionais – alta direção, gerentes e supervisores Rômulo Assmann – técnico em Segurança do Trabalho e Mestre em
– frente aos elementos que compõem o sistema. Administração de Empresas.
92
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AO PREVER OCORRÊNCIAS E APRIMORAM O
TREINAMENTO DE GESTORES E BRIGADISTAS
EQUIPAMENTOS
Lojistas devem se preocupar com BARES E BALADAS
CENTRAIS DE MONITORAMENTO SEGURANÇA EM DIA
Cérebro do sistema de prevenção a Redução de público pode ser oportunidade
incêndio carece de certificação para aprimorar medidas contra fogo
PRODUTOS EM FOCO
F
O CÉREBRO
DO SISTEMA
Fotos: Shutterstock
98
Centrais de
monitoramento
de incêndio são
protagonistas em
projetos, mas é
preciso cuidado
com produtos
sem certificação
Por Luciana Sampaio Moreira
S
istemas de monitoramento
de incêndio existem desde o
século 17, quando os homens
costumavam andar pelas ruas
das cidades à procura de algum
sinistro do gênero. Naquela época, eles
carregavam baldes em escadas e campai-
nhas para avisar as pessoas. Com a Re-
volução Industrial, também esse serviço
mudou e os alarmes elétricos, criados no
final do século 18, eram equipados com
termostatos que, quando detectava o
calor, acionava um sistema de aspersão
para apagar as chamas.
Com o passar dos anos, a complexidade
das instalações prediais aumentou consi-
deravelmente e, com ela, a necessidade
de oferecer empreendimentos cada vez
mais seguros. Esse é o fator que explica
o desenvolvimento tecnológico contínuo
das centrais de monitoramento de in-
cêndio, usadas para detectar com maior
precisão a fumaça ou o aumento de tem-
peratura em ambientes diversos.
De forma prática, esses sistemas in-
cluem diversas ferramentas. Entre elas,
99
PRODUTOS EM FOCO
o alerta sonoro, a presença de sprinklers e combate a sinistros, já que é concebida protegidos, características dos produtos
e, ainda, mecanismos que enviam alertas para reunir as informações de alarme rece- armazenados no local e disponibilidade
para a central de segurança, para brigadis- bidas dos sensores, processar o sistema de de funcionários realizarem monitoração
tas e também para o Corpo de Bombei- votação para confirmação da ocorrência e 24 horas por dia. “Cabe ressaltar que
ros. Vale ressaltar que os melhores resul- deliberar ações que incluem disparos de apesar de as pessoas estarem mais fami-
tados dependem do nível de capacitação sinais visuais e sonoros ou, em caso de liarizadas com as centrais de monitoração
de operadores da sala de comando e, em atuação automática, de equipamentos que de uso predial urbano, temos aplicações
outra frente, do público que circula pelo fazem o combate inicial ao incêndio, como no segmento agrícola, onde armazéns
local, para casos de uma evacuação pre- água pressurizada, entre outros. com pilhas de material combustível e
dial segura. Ele observa que, embora não seja um resíduos são potencialmente inflamáveis.
O consultor em sistemas de prevenção equipamento de uso obrigatório em todas Ocorrências de autocombustão, o au-
de incêndios e explosões, membro de co- as edificações, a decisão dos gestores pre- mento de calor por pressão, as reações
missões ABNT das normas da série 60079 diais em relação a esse tipo de mecanis- químicas espontâneas entre resíduos e o
– que classificam as áreas quanto ao risco mo de segurança para empreendimentos
de explosão – e primeiro representante residenciais, comerciais, industriais e até
brasileiro do Technical Committee 31 da mesmo para instalações rurais demonstra
IEC - Explosive Atmospheres, Estellito uma preocupação com a ocorrência de Estellito Rangel
Foto: Divulgação
Rangel Júnior, define a central de mo- incêndios e de potenciais prejuízos. Júnior - membro de
comissões ABNT
nitoramento como o “cérebro” de um Rangel Júnior explica que a indicação das normas da
projeto automático de detecção, alarme tem como base o valor dos bens a serem série 60079
2EGSQTVEHIGIRXVEPRnSGIVXM½GEHESFWIVZIRSWVIPEXzVMSW
HIIRWEMSWWISJSVRIGIHSVQSWXVEUYIWIYTVSHYXSqGSR½jZIP
100
PRODUTOS EM FOCO
acúmulo de gás metano são perigos in- exemplo, onde não apenas os diversos Segundo Rangel Júnior, a certificação
cendiários potenciais nesses ambientes e equipamentos que compõem o sistema visa dar uma tranquilidade ao consumidor
que passam a ser cruciais para a instalação de detecção e combate a incêndio, bem de que o equipamento foi aprovado em
de centrais de monitoramento”, explica. como as empresas prestadoras do ser- testes conduzidos por uma entidade inde-
Entre os setores onde o sistema é par- viço, são certificadas. pendente e de acordo com os requisitos
te do negócio, a indústria petroquímica Sobre a normalização da ABNT relativa estabelecidos nas normas referenciadas
faz largo emprego dos equipamentos às centrais de monitoração, temos a NBR no certificado. “Adquirindo uma central
que acompanham o funcionamento das ISO 7240-2: 2012 (Sistemas de detecção não certificada, o comprador deve obser-
plantas 24 horas por dia, em um am- e alarme de incêndio, Parte 2: Equipa- var a tradição do fornecedor e de relató-
biente que tem a presença de materiais mentos de controle e de indicação), a rios de ensaios onde ele mostre que seu
altamente inflamáveis. qual especifica os requisitos, métodos de produto é confiável”, ressalta.
ensaio e critérios de desempenho para Porém, avalia o consultor, no Brasil não
CERTIFICAÇÃO equipamentos de controle e indicação basta a empresa nacional comprar, via
No Brasil, as centrais de monitora- para uso em sistemas de detecção e importador, uma central de monitora-
mento não estão sujeitas à certificação alarme de incêndio instalados em edifica- mento certificada no exterior em insti-
pelo Inmetro, seja de forma voluntária ções; e a NBR 17240: 2010 (Sistemas de tutos como o Vertrauen durch Sicherheit
ou compulsória. O que existe, no âmbi- detecção e alarme de incêndio – Projeto, (VdS), ou o inglês Loss Prevention Certi-
to de certificação do Inmetro, segundo instalação, comissionamento e manuten- fication Board (LPCB), segundo normas
Rangel Júnior, é a certificação compul- ção de sistemas de detecção e alarme
sória de extintores e de empresas que de incêndio – Requisitos), que especifica
prestam serviços de manutenção para requisitos para o projeto, a instalação,
esse equipamento, além da certificação o comissionamento e a manutenção de
Foto: Divulgação
voluntária para as mangueiras de incên- sistemas manuais e automáticos de de- Josué Soares da Silva
Neto - 1º Tenente
dio. A realidade nacional, nesse sentido, tecção e alarme de incêndio em – e ao Bombeiro Militar de
é bem diversa a dos Estados Unidos, por redor de – edificações. Minas Gerais
102
PRODUTOS EM FOCO
104
PRODUTOS EM FOCO
No Brasil, principalmente nos estados De acordo com Silva Neto, há também Para se ter uma ideia, Silva Neto ob-
que têm legislação mais moderna na área casos em que a instalação de medidas para serva que detectores automáticos que
de controle e combate a incêndios, cabe controle e combate a incêndios é obriga- eram conectados por fios hoje ganharam
aos Corpos de Bombeiros regulamentar tória, com ênfase para as edificações e conexão por wireless, o que praticamen-
normas técnicas com exigências e parâ- espaços de uso público, onde os respon- te elimina danos nos equipamentos. O
metros para cada tipo de empreendi- sáveis podem implementar ações para in- uso de câmeras de vídeo, vinculadas a
mento, tendo como base o tipo, o uso, crementar a segurança, a fim de acusar um outros sistemas, para detectar focos de
a área total edificada, a altura, o número sinistro de forma antecipada, possibilitar a incêndio também já é uma realidade. “É
de pavimentos e a mensuração dos ris- ação da Brigada de Incêndio e, ainda, uma importante lembrar que, além da compra
cos. Cada perfil tem um hall de medidas comunicação mais eficiente com o Corpo de equipamentos certificados, é funda-
de segurança que devem ser observadas. de Bombeiros e com as pessoas que estão mental fazer a manutenção preventiva e
Dessa forma, a instalação de alarmes ma- no local para a evacuação segura. corretiva do sistema, da forma adequa-
nuais de incêndio e de equipamentos de da e manter as pessoas capacitadas para
detecção automática estão dispostos nas APOSTA NA INOVAÇÃO atuar em caso de necessidade”, destaca
legislações estaduais. TECNOLÓGICA o 1º Tenente.
No caso de Minas Gerais, a corpora- A necessidade de reduzir riscos humano Na mesma lista, também estão avanços
ção trabalha com a norma ABNT NBR e patrimonial e de otimizar resultados em na tecnologia de monitoramento, como a
17240 e a norma técnica do Corpo segurança é o que determina o uso cres- demarcação de diferentes zonas de tra-
de Bombeiros Militar de Minas Gerais cente da tecnologia nos equipamentos e balho, para fazer a diferenciação entre
(CBMMG), IT-14, que trata do uso de sistemas de prevenção e combate a incên- trabalhos a quente e os materiais infla-
alarmes manuais de incêndio e de siste- dios. Da mesma forma, as legislações que máveis, complementadas por sistemas de
mas automáticos de detecção das chamas regem esse segmento também são atuali- combate que, em caso de incêndio, são
em uso no estado. Em alguns tipos de zadas continuamente para acompanhar o acionados rapidamente para limitar com
empreendimentos, o sistema é menos aumento de eficiência de produtos e ser- eficácia a propagação do fogo e preservar
complexo que em outros. viços para os diversos tipos de instalações. o empreendimento. Q
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OPORTUNIDADE
DE MELHORIA
Com bares e casas noturnas funcionando com
horários reduzidos durante a pandemia, momento
é de alinhar medidas de proteção ao fogo
Por Clarisse Sousa
P
or causa da pandemia do Segundo ele, pela variada quantidade
coronavírus, bares ficaram guns dos principais parâmetros a serem de material combustível existente nessas
fechados durante meses e considerados em avaliação de segurança edificações, pode-se dizer que a “car-
as casas noturnas ainda não contra o fogo de uma edificação. Segundo ga de incêndio é média, sendo que isto
têm previsão de retornar às o engenheiro civil Telmo Brentano, “mui- representa determinada quantidade de
atividades, já que o número de casos da tas legislações estaduais não consideravam agente extintor ou vazão de água nos hi-
doença no Brasil permanece alto. Para este parâmetro até a tragédia do incêndio drantes para que o combate seja efetivo”.
especialistas, este é o momento de esses na Boate Kiss, em Santa Maria (RS) em Portanto, os riscos mais comuns nesses
estabelecimentos realizarem manutenções 2013, quando finalmente passaram a ser empreendimentos estão associados à
e verificarem se todos os equipamentos atualizados.” Brentano é autor do livro “A variedade de materiais combustíveis, tais
de prevenção e combate a incêndio estão proteção contra incêndios no projeto de como derivados da celulose e tecido, en-
em perfeitas condições de uso, dentro edificações” (2015). tre outros, e principalmente a materiais
dos prazos de validade. Também porque, “A carga de incêndio está associada à sintéticos, “que são grandes emissores de
mesmo de portas fechadas e sem receber quantidade de calor máxima que os cor- gases tóxicos resultantes da combustão.
o público, é preciso ficar atento às insta- pos combustíveis de uma edificação pos- Esta poderá ser iniciada por dano elétrico
lações elétricas, por exemplo, para evitar sam desprender em uma situação de in- ou falta de manutenção específica”.
curtos circuitos e princípios de incêndios. cêndio, sendo que as normas dos Corpos Nestes locais, independentemente de
Clubes sociais, boates e similares pos- de Bombeiros preveem uma maior quan- estar ou não em funcionamento, a pro-
suem carga de incêndio específica de tidade de medidas de segurança quanto teção passiva, quando bem aplicada ain-
600 MJ/m2 e 144.000 kcal/m2. São taxas maior for a carga de incêndio”, explica o da nos projetos dessas edificações, pode
equivalentes às cargas de estabelecimen- major do Corpo de Bombeiros do Paraná, manter o ambiente seguro. Brentano sa-
tos comerciais como de armarinhos e Ivan Ricardo Fernandes, professor de En- lienta que, para uma edificação ter pro-
de produtos têxteis. Só para se ter uma genharia de Segurança Contra Incêndio e teção eficaz contra o fogo, ela deve ser
ideia, em residências esse número é de Pânico da PUC/PR. considerada como um sistema. O projeto
109
ÁREA DE RISCO
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ÁREA DE RISCO
Para as ocupações de casas de espetácu- estimada subiria para 600 pessoas], será ficará comprometida”. Eles também apon-
los, que geralmente possuem maior área necessário considerar o controle de fuma- tam como fator básico os materiais de
construída (superiores a 750m²), além das ça e a elaboração de plano de gerencia- acabamento e revestimento. “Extintores
medidas mencionadas, o major explica que mento de risco”, explica. e sinalização podem ser facilmente implan-
deverão ser previstos critérios de compar- De acordo com o major Fernandes, a tados. Já um sistema de controle de fuma-
timentação, segurança estrutural, controle instalação de um sistema de proteção ça, quando necessário, requer trabalhos de
de materiais de acabamento e revestimen- deve, portanto, levar em consideração que maior complexidade e custo. Além disso,
to, detecção e alarme de incêndio, além esses locais possuem características vari- o leiaute do local deve ser bem analisado,
de hidrantes e rede de sprinklers e, claro, áveis. Nos bares, onde há ambientes mais apesar de não ser compulsório pela regula-
brigadas de incêndio. “Situações especiais ventilados, a possibilidade da ocorrência mentação, pois pode dificultar a percepção
podem exigir sistemas de controle de de incêndio seguida de pânico por oca- do incêndio e dificultar o deslocamento
fumaça, que é uma das mais eficientes sião de sua saída não é frequente. Porém, das pessoas”, completam.
medidas de segurança contra incêndio e casas de espetáculos, geralmente fechadas Rogério Lin, da ABPP, chama atenção
pânico”, pondera. e com condicionamento de ar, têm inten- para o dimensionamento de rotas de fuga,
Negrisolo lembra que a IT nº 11 - Saídas sa concentração de fumaça durante uma projetos de portas que possuam barras an-
de emergência do Corpo de Bombeiros ocorrência de incêndios, fator conhedico tipânico que não possam ser trancadas no
da Polícia Militar do Estado de São Paulo como o maior causador de mortes nestes sentido de dentro para fora e que, de fato,
(CBMESP) estabelece uma densidade de casos. “Deve-se sempre considerar que funcionem em caso de emergência. “Todos
três pessoas por metro quadrado para os sistemas preventivos estão dispostos os sistemas regulamentados devem estar
edificações destinadas a casas noturnas, na edificação para servir de uso a seus coesos, pois no momento de um incên-
danceterias, discotecas e assemelhados. frequentadores. A adequada operação dio, as medidas devem trabalhar de forma
“Sendo assim, para uma edificação com do extintor de incêndio pode evitar uma harmônica para que o maior número de
área aproximada de 100 m² [população grande tragédia”, diz o major. pessoas consiga escapar com segurança.”
estimada pela IT de 300 pessoas] seriam Baseado na característica dos ocupan-
necessários, além dos extintores e a sina- tes, Valentim e Negrisolo afirmam que o MUDANÇAS NA LEGISLAÇÃO
lização, o CMAR e a formação de brigada primeiro passo é o dimensionamento dos Até a tragédia do incêndio na Boate
de incêndio. Agora, se a edificação tiver meios de circulação e saídas. “Se inadequa- Kiss, o arquiteto Valentim afirma que na
área aproximada de 200 m² [a população do, a possibilidade de escape das pessoas regulamentação “não havia, nem há, a
112
Somente após a tragédia da Boate Kiss, legislações estaduais
proibiram o uso de pirotecnia em casas noturnas
necessidade de sistema de alarme, pois ZLotação de ambientes: não havia con “Como pode se verificar, não havia uma
trole da quantidade de pessoas no
a edificação possuía menos de 750 m². preocupação maior com a segurança dos
local;
Ocorre que o leiaute do local, com am- ocupantes da boate. Nestes locais, todo o
Z Saídas de emergência: a Boate
bientes fracionados por paredes, impe- Kiss possuía apenas uma saída cenário, bem como os equipamentos de
diu que muitas pessoas enxergassem o de emergência centralizada na combate a incêndio, deve ser inspecionado
que estava acontecendo, retardando sua fachada frontal, o que ele chama antes que sejam abertas as portas para a
de “totalmente inadequada para
reação. Um sistema de detecção e alar- entrada do público”, descreve Brentano.
desocupação”. A boate, portanto,
me, além de alertas a todos, anteciparia deveria ter dois corredores laterais Uma lei nacional foi criada em 2017, a
a movimentação das pessoas, bem como com saídas para a rua, além de entrada Lei Kiss 13.425/2017, após quatro anos de
avisaria seguranças e porteiros para a ime- principal. A legislação não previa saídas discussões. Ela estabelece diretrizes gerais
diata abertura de portas”. de emergências com distâncias mínimas sobre medidas de prevenção e combate
entre si.
Isso mostra, segundo ele, “que os pa- a incêndio e a desastres em estabeleci-
Z Sinalização e iluminação de emergência:
râmetros adotados para as exigências da esses sistemas não eram adequados mentos, edificações e áreas de reunião de
regulamentação, nesse caso, e em muitos para permitir uma saída organizada. público. Entre outros aspectos, ela prevê
outros, não consegue abranger as reais Z Controle de fumaça: não havia responsabilidades para os órgãos de fis-
necessidades, ora indo além, ora ficando detectores de fumaça, botoeiras de calização do exercício das profissões das
aquém. Cabe sempre uma análise caso a alarmes e nem alarmes, alertadores ou áreas de engenharia e de arquitetura, na
avisadores sonoros e visuais.
caso e não uma simples busca por cumprir a forma que especifica.
Z Materiais de revestimento: a boate
regulamentação e legalizar a edificação jun- era revestida internamente nos No artigo 2, define que o planejamen-
to aos órgãos públicos”, ressalta o arquiteto. locais próximos ao palco com to urbano a cargo dos municípios deverá
O incêndio na Boate Kiss, ocorrido na material de isolamento acústico observar normas especiais de prevenção e
madrugada de 27 de janeiro de 2013, totalmente inapropriado relativo ao combate e a desastres para locais de gran-
comportamento do fogo, pois era
que matou 245 pessoas e deixou mais de concentração e circulação de pessoas,
EPXEQIRXIMR¾EQjZIPIPMFIVEZEKEWIW
de 600 feridos, foi um “divisor de águas tóxicos. editadas pelo poder público municipal, res-
na segurança contra incêndio no Brasil e, Z Vigilantes patrimoniais não tinham peitada a legislação estadual pertinente ao
certamente, no mundo”, diz Brentano. treinamento de brigadistas. tema. No Art. 3º, consta que cabe ao CB
Ele elenca as proteções mínimas a serem Z Artefatos pirotécnicos: o uso desses planejar, analisar, avaliar, vistoriar, aprovar e
aplicadas para se evitar que o fogo ocorra objetos foi fator preponderante para o fiscalizar as medidas de prevenção e com-
início do fogo.
em ambientes durante suas ocupações, bate e a desastres em estabelecimentos,
Z Equipamentos de combate a incêndio:
especialmente nesses locais que se carac- únicos itens disponíveis, os extintores
edificações e áreas de reunião de público,
terizam pela alta densidade de frequenta- não estavam em condições de uso, com sem prejuízo das prerrogativas municipais
dores, “com música estridente e ingestão alguns vazios. no controle das edificações e do uso, do
de bebidas alcoólicas, tendo como conse- Z Legislação do Estado: até aquela parcelamento e da ocupação do solo ur-
quência a necessidade de cuidados mais ocorrência, a legislação do Rio Grande bano e das atribuições dos profissionais
HS7YPTSWWYuEGPEVEWHI½GMsRGMEWHI
rigorosos com a segurança das pessoas”. responsáveis pelos respectivos projetos.
regulamentação, como normativas
Brentano comenta sobre as medidas de pouco precisas e bastante genéricas. Para o major Ivan Fernandes, do CB do Pa-
proteções recomendadas que poderiam Z)WXVYXYVEHE½WGEPM^EpnSIWXVYXYVE raná, o que necessita mudar não é somente o
ter feito a diferença no caso do incêndio da corporação do CB precisaria grau de cuidado e preocupação dos proprie-
na Boate Kiss e “que ainda se apresentam ser reformulada, aumentada e tários, mas, sim, o conhecimento dos usu-
regionalizada.
em outros locais no Brasil”: ários das edificações. “O comportamento
113
ÁREA DE RISCO
geral das pessoas em situações de incêndio planejamento urbano das cidades e a obri- para locais em que a população for supe-
é buscar um meio de fuga, sem a devida pre- gatoriedade da discussão desta temática rior a 500 pessoas; e exigência de duas
ocupação do uso de medidas de segurança em cursos de graduação em engenharia e saídas de emergência para edificações com
mais simples, como, por exemplo, extintores arquitetura”, avalia o major. capacidade acima de 300 pessoas, com
de incêndio que poderiam combater um in- Para Lin, no entanto, a Lei Kiss trouxe afastamento mínimo de 10 metros entre
cêndio em sua fase inicial.” “poucos critérios objetivos”. Segundo ele, elas. Quando o afastamento não for possí-
Diante dessa realidade, os CBs aperfeiço- as regulamentações estaduais avançaram vel, a largura das saídas deve ser 1,5 vezes
aram as exigências para as saídas de emer- bastante, tendo em vista que muitas Uni- maior que a largura calculada; entre outras.
gência das edificações. “Assim, as normas dades Federativas não possuíam elemen- “Embora pareça óbvio, foi necessá-
evoluíram e passaram a exigir sistemas tos técnicos objetivos pautados em nor- rio, logo após o incêndio na Boate Kiss,
de iluminação e sinalização de emergên- mas técnicas e isso deixava a fiscalização que o CB de São Paulo proibisse o uso
cia mais eficientes, além de exigência de e aprovação de alvarás deficitária. “Hoje de artefatos pirotécnicos no interior das
comportamento e resistência ao fogo de em dia, cerca de 20 UFs possuem regula- edificações”, diz Negrisolo. “No mesmo
materiais de acabamento e revestimento mentos técnicos prescritivos e condições ano da tragédia da Boate Kiss, o Grupo
em edificação. Situações mais complexas de exigir os mesmos critérios na aprova- de Fomento à Segurança Contra Incêndio
e de maior risco passaram a contar com a ção dos projetos e vistorias in-loco”, diz o (GSI/NUTAU/USP) sentiu a necessidade
exigência de sistemas de controle de fu- diretor-presidente da ABPP. de dar uma resposta à sociedade e, desde
maça”, conta Fernandes. Na regulamentação do Estado de São então, todos os anos [em 2020, em par-
“Em termos legais, o advento da Lei Fede- Paulo, por exemplo, foi adicionada uma ceria com a Fundação de Apoio ao Corpo
ral 13.425/2017(Lei Kiss) trouxe a discussão nova divisão denominada “boate” e clas- de Bombeiros do Estado de São Paulo –
a nível nacional das exigências de seguran- sificada como F-11. Entre as mudanças es- Fundabom), realiza um evento, na forma
ça contra incêndio, com medidas inovado- tão a exigência de plano de gerenciamento de workshop, tratando de temas ligados à
ras, como a adoção desses conceitos no de risco de incêndio e controle de fumaça segurança contra incêndios”, conclui.
114
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ARTIGO TÉCNICAS DE COMBATE
CHAMAS E
GEOPROCESSAMENTO
Implementação da tecnologia na prevenção
de incêndios florestais no Paraná
Fotos: Shutterstock
116
2º Subgrupamento de Bombeiros de O Corpo de Bombeiros do Paraná, pertencente a Polícia
O
Campo Mourão (2ºSGB/CM) desem- Militar do Paraná, possui suas atividades determinadas pelo
penha diversas atividades de atendimen- artigo 48 da Constituição do Estado do Paraná que dispõem:
to à urgência e emergência na região
centro-oeste do Paraná, entre elas o Art. 48 – [...] execução de atividades de defesa civil,
combate a incêndios florestais. Porém, prevenção e combate a incêndio, buscas, salvamentos e so-
uma das dificuldades encontradas para corros públicos, o policiamento de trânsito urbano e rodoviário,
a realização desta atividade são os aces- o policiamento ferroviário, de florestas e de mananciais, além
sos a determinadas áreas que possuem de outras formas e funções definidas em lei (PARANÁ,1989).
focos de incêndio, devido a falta de in-
formação sobre o local e vias de acesso, alta densidade da Para o desenvolvimento de tais atividades, é necessário o uso
vegetação, relevo do local, proximidade com corpos hídricos de ferramentas e estudos em consonância com o desenvolvi-
e áreas protegidas. Sendo assim, através do geoprocessamento mento tecnológico, a fim de proporcionar maior eficiência nas
é possível identificar rotas auxiliares para acesso ou fuga de lo- atividades desempenhadas, preservando a integridade física e
cais de risco, além de fornecer informações para planejamento psicológica tanto do agente da segurança pública (sendo ele
prévio visando combates e projetos de prevenção, para que policial, bombeiro ou resgatista), quanto do indivíduo vítima de
eventos como este não voltem a ocorrer. um incidente ou situação de emergência e que necessita ser
Deste modo, o projeto analisou a área de atuação do resgatado ou retirado de tal situação.
2ºSGB/CM e desenvolveu rotas auxiliares para combate a Um dos fatores fundamentais para o atendimento e suporte
incêndios florestais. Através dos dados analisados foi possível a tais ocorrências, que podem apresentar riscos à saúde física e
observar que a maioria dos eventos ocorrem em região urbana mental do indivíduo, é a identificação de um acesso seguro ao
do município, e que a análise prévia das informações geográficas local da situação de emergência, o que atualmente é realizado
contribui para um acesso e fuga mais seguro dos locais de risco através da consulta a mapas físicos ou virtuais generalistas. Po-
e combate mais rápido e eficiente ao fogo. O projeto pode rém, muitas áreas e rotas estão sujeitas a mudanças em seus
ainda ser aplicado a outras atividades desenvolvidas por insti- aspectos físicos no território e acabam não sendo mapeadas e
tuições de segurança, que exijam conhecimento do território disponibilizadas pelas empresas responsáveis por ilustrar essas
e áreas de risco, do Estado ou do País. informações, algo que em um momento inoportuno, pode
O termo segurança pública pode ser traduzido como as dificultar e adiar o deslocamento das equipes.
ações desempenhadas pelo Estado, com o objetivo de ga- A aplicação de Sistemas de Informação Geográficas (SIG), como
rantir os direitos individuais de sua população, assegurando o o geoprocessamento e sensoriamento remoto, para eventos que
pleno exercício da cidadania, conforme estipula a Constituição envolvam algum tipo de emergência proporciona uma visão global
Federal em seu artigo 144: e mais criteriosa da região em que as equipes de resgate, equipes
de combate a incêndios ou patrulha irão atuar. Dessa forma, pos-
Art. 144 – A segurança pública, dever do Estado, direito e sibilita a tomada de decisões estratégicas com maior precisão e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da segurança antes mesmo de acessarem o local foco da emergência,
ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimô- garantindo que a equipe não se exponha a riscos adversos, o que é
nio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia muito comum identificar nas atividades desempenhadas por esses
rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias profissionais (SOUZA; MINAYO, 2005).
civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares Tais riscos desempenham um papel estruturante das condi-
(BRASIL, 1988). ções laborais, ambientais e relacionais, uma vez que se trata
de uma atividade que exige, em sua grande maioria, demasia-
Nos âmbitos Estadual e Municipal, para o desempenho de do esforço físico e intelectual do indivíduo, além do desgaste
tais atividades são utilizadas forças auxiliares do Exército, que se psicológico à que estão sujeitos (SOUZA; MINAYO, 2005).
traduzem nas instituições da Polícia Militar e Corpo de Bombei-
ros, possuindo quartéis, delegacias, batalhões, destacamentos e Metodologia
postos de atendimento em todo o território, cada um respon- Foram obtidos dados contendo a localização geográfica
sável por atender determinada região do Estado. dos eventos classificados como incêndio florestal, atendidos
117
ARTIGO TÉCNICAS DE COMBATE
118
emprego de cada Unidade Operacional e a dimensão do in- rios como frequência, tipo de vegetação afetada, relevo do
cêndio. Porém, frequentemente as equipes enfrentam dificul- local, aproximação de corpos hídricos e áreas protegidas, e
dades relacionadas ao acesso à focos de incêndios, no qual a dificuldade de acesso ou fuga do local.
escolha deste acesso depende de variáreis como: relevo do Analisando um dos locais selecionados (Figura 3), em que
terreno; tipo e densidade da vegetação; direção do vento; pro- foi registrado evento de incêndio florestal, é possível observar
ximidade de corpos hídricos e áreas protegidas. que a região, apresenta poucas opções de rotas para acesso
Em vegetações mais densas, o acesso fica limitado para e fuga dos combatentes caso ocorram adversidades duran-
veículos terrestres de combate a incêndio, sendo necessário te o combate como mudança de direção do vento, aumento
o combatente adentrar na vegetação a pé e carregando os da quantidade de fogo ou surgimento de novos focos devido
equipamentos necessários (Figura 5), porém tais ferramen- a fragmentos ainda incandescentes lançados. Outro fator de
tas agregam mais peso a ser transportado pelo combatente, risco é observado pela presença de corpo hídrico e região
aumentando os níveis de desgaste e estresse. alagada próximo ao local, áreas de difícil acesso para veículos
Outro ponto é o de adentrar uma área desconhecida sem de combate e para o combatente, sendo necessário uma ex-
ter conhecimento de um possível plano de fuga ou rota al- tinção rápida e eficiente dos focos antes que atinjam tal área.
ternativa caso as condições ambientais sofram mudanças,
fator que pode colocar a integridade física e psicológica do Figura 3 - Incêndio florestal com dificuldade de acesso e fuga do local
combatente em alto risco. Dessa forma, a identificação e ca-
racterização mais precisa da região afetada, antes mesmo de
ser iniciado o deslocamento da equipe, se torna decisiva pa-
ra um combate mais eficiente e seguro. Autoria própria, 2020
Para o projeto foram selecionados dois casos de incên- (Dados: Bing, 2020)
dios florestais registrados pelo 2ºSGB/CM, utilizando crité-
119
ARTIGO TÉCNICAS DE COMBATE
Em outro evento registrado, o maior fator de risco observado manualmente pelo autor desse projeto, fazendo agora parte
é a proximidade do foco de incêndio com área protegida, no do banco de dados do projeto OpenStreetMap e disponível a
caso Parque Estadual do Lago Azul, necessitando um combate todos os usuários. Ações desse tipo podem ser facilmente de-
rápido e eficaz com objetivo de preservar ao máximo a área senvolvidas através de parcerias entre o Corpo de Bombeiros,
do parque, que devido à alta densidade da vegetação torna municípios, secretarias e institutos de ensino e pesquisa, possibi-
o acesso a algumas áreas no interior da floresta mais difícil litando assim maior quantidade de dados que possam contribuir
para o combatente e veículos de combate a incêndio. Ainda se para que tais eventos não voltem a ocorrer.
observa a presença de redes elétricas, localizadas próximo ao O conjunto de informações apresentado pode ser analisado
parque, conferindo o risco de iniciarem um foco de incêndio em instantes, antes mesmo do deslocamento da equipe para o
advindo de eventuais faíscas produzidas ou eventual queda dos local, informações estas que podem contribuir para um combate
cabos de energia. ainda mais eficiente, melhor emprego de pessoal e equipamentos
e ainda auxiliar em campanhas e projetos de prevenção nos
Figura 4 - Incêndio florestal próximo a área protegida períodos de estiagem, em que ocorrem maior quantidade de
incêndios florestais na região, segundo os registros analisados.
Os incêndios florestais tendem a evoluir consideravelmente
conforme o tempo que a vegetação fica exposta as chamas,
ocorrendo o aumento progressivo da temperatura, o que
Autoria própria, 2020 contribui para a incineração de outros materiais combustíveis
(Dados: Bing, 2020) que estiverem próximos. Sendo assim, o fator tempo para se
iniciar o combate se torna decisivo para que ocorra a rápida
extinção dos focos de incêndio, contribuindo para uma menor
Nos dois casos foi observado que algumas vias existentes área afetada, menor emissão de gases e partículas poluidoras
no local não estavam digitalizadas no projeto OpenStreetMap, para o ambiente.
então não eram utilizadas dentro de um plano de comba- Os eventos ocorridos fora dos limites do município, se apre-
te a incêndios. Vias estas que poderiam ser utilizadas como sentam em áreas rurais e muitas vezes remotas (Figura 5), das
rotas auxiliares pelas equipes de combate, facilitando o aces- quais se possui pouca informação sobre a região e demandam
so ou fuga das equipes empenhadas. Tais vias foram editadas determinado tempo para serem localizados e acessados.
120
que algumas Rotas Auxiliares, ainda não faziam parte do banco de
dados do projeto, e que poderiam auxiliar no plano estratégico.
O tempo de deslocamento apresentado, pode ser considerado o
suficiente para que um incêndio possa evoluir e atingir condições
alarmantes, caso não haja uma primeira intervenção, dificultando
ainda mais o combate e se fazendo necessário o empenho de ainda
mais pessoal e equipamentos. Dessa forma, fica claro a necessidade
dos municípios atendidos pelo 2ºSGB/CM, também dotarem-se
de equipamento e pessoal treinado, para atuar em um primeiro
combate até a chegada das equipes do Corpo de Bombeiros.
Conclusão
A análise e tratamento de dados como coordenadas geográficas
e elementos da paisagem, através das imagens de satélites, permi-
tem um planejamento estratégico prévio de prevenção, identifi-
cação e combate a incêndios florestais, uma vez que proporciona
informações para caracterização e localização mais precisa dos
focos de incêndio. Possibilita também, com a edição de vias e
criação de rotas auxiliares, maiores informações para o acesso e
fuga mais seguro das equipes de combate, nos mais diversos tipos
Figura 5 - Localização de incêndios florestais em área urbana e rural de terreno e áreas remotas. Sendo assim, o projeto pode auxiliar
em programas de prevenção nos períodos de maior ocorrência
de incêndios florestais na região de atuação do 2ºSGB/CM, para
que tais eventos não voltem a ocorrer, haja visto que essa é apenas
uma das várias outras situações de emergência atendidas por esta
Autoria própria, 2020 (Dados:
Bing, 2020) instituição. O mesmo procedimento pode ser aplicado a diver-
sas áreas de segurança, não somente para combate a incêndios
florestais, mas ainda pode ser utilizado para acidentes de trânsito,
E novamente, através da análise prévia das informações buscas terrestres, buscas aquáticas e outros tipos de resgates e
geográficas, permite ao comandante da operação a tomada de atividades em áreas remotas ou de extremo risco.
decisões sobre o empenho de equipamentos e pessoal, antes A aplicabilidade do projeto para o 2ºSGB/CM, também pode
mesmo dos combatentes acessarem o local. Como é o caso de ser replicada e aperfeiçoada para outros municípios e outras
um dos eventos registrados, que ocorreu a aproximadamente unidades e instituições operacionais de segurança do Estado
34 km da sede do 2ºSGB/CM (Figura 6). ou do País, conforme suas realidades e condições no empenho
dos recursos disponíveis. Com a criação de um banco de dados
Figura 6 - Incêndio florestal mais distante registrado no período e análise preventiva, é possível proporcionar um combate mais
rápido e eficaz aos focos de incêndio, uma vez que em alguns
casos estes demandam determinado tempo para o desloca-
mento e acesso das equipes, contribuindo para menor área
de vegetação atingida, segurança das equipes e bem-estar do
Autoria própria, 2020 (Dados: meio ambiente e seus indivíduos. Q
Bing, 2020)
José Hilário Delconte Ferreira – Doutor em Ciências Ambientais –
Professor do Departamento Acadêmico de Biodiversidade e Conservação
Através do projeto GoogleMaps (Google, 2020), ferramen- da Natureza – DABIC da Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
ta acessível a qualquer tipo de usuário, estima-se um tempo de UTFPR – Campus Campo Mourão
deslocamento de aproximadamente 55 minutos, calculado pelo Rafael Cavali Rodrigues – Acadêmico de Engenharia Ambiental –
GPS utilizando apenas as Rotas Principais já conhecidas, haja visto Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Campo Mourão
121
CB-024 ABNT
ATIVIDADES DAS
COMISSÕES DE ESTUDO
Aprovados para publicação em Consulta Nacional Em elaboração nas CE’s
PN 024:101.002-009 - Sistemas de prevenção PN-024:101.005-001 – Controle e gerenciamento do
de deflagração – Análise de riscos de incêndio e de movimento de fumaça de incêndio
explosão – Requisitos PN-024:101.005-002 - Controle de fumaça e calor
PN 024:101.002-008/1 – Sistemas de prevenção de em átrios, espaços amplos e suas áreas de acesso
deflagração – Parte 1: Requisitos PN 024:102.003-006 - Proteção contra incên-
PN 024:101.002-008/2 – Sistemas de prevenção de dio – Túneis urbanos existentes – Requisitos de
deflagração - Parte 2: Resistência mecânica revitalização
PN 024:101.002-008/3 - Sistemas de prevenção de PN 024:103.006-005 – Colchões com ou sem capa
deflagração - Parte 3: Isolamento estofada e bases de cama estofadas – Avaliação das
PN 024:101.002-008/4 - Sistemas de prevenção de características de ignitabilidade – Classificação e
deflagração - Parte 4: Supressão métodos de ensaio
PN 024:101.002-008/5 - Sistemas de prevenção de PN 024:103.006-006 - Plásticos - Orientação sobre
deflagração - Parte 5: Detecção e controle de fontes características e desempenho ao fogo de materiais de
de ignição PVC utilizados em aplicações de construção -
PN 024:101.002-008/6 - Sistemas de prevenção PN 024:101.006-004 - Determinação da resistência
de deflagração - Parte 6: Métodos de controle de ao fogo em elementos construtivos – Requisitos gerais
concentração PN 024:104.002-001 - Instalações e equipamentos
PN 024:103.007-001 – Líquido gerador de espuma para serviços de bombeiros municipais e voluntários
para fogo classe A – Requisitos e procedimentos
PN 024:103.006-004 - Comportamento ao fogo de PN-024:103.009-005 – Inspeção, teste e manu-
fachadas revestidas com painéis tenção em sistemas hidráulicos de proteção contra
PN 024:101.006-003/2 - Selagens de aberturas de incêndio
passagem de instalações de serviço em elementos de PN 024:103.009-007 - Projeto de revisão ABNT NBR
compartimentação – Parte 2: Ensaio de resistência 13792:1997 - Proteção contra incêndio em áreas de
ao fogo armazenamento em geral por sistemas de chuveiros
PN 024:101.006-001 - Classificação de resistência ao automáticos – Procedimento
fogo de elementos construtivos – PN 024:103.001–001/12 – Sistema de detecção de
ABNT NBR 7240:03 - Sistemas de detecção e alar- alarme – Parte 12 - Detectores lineares de fumaça
me de incêndio – Parte 03 – Dispositivos de alarme utilizando um feixe óptico transmitido (ISO 7240-12)
sonoro – na CE set/19
Projeto de Revisão ABNT NBR 15809 – Extintores PN 024:103.001–001/28 – Sistema de detecção
de incêndio sobrerrodas de alarme – Parte 28 – Equipamento de proteção
122
de controle contra incêndio (ISO 7240-28) - na CE Em Consulta Nacional até 04/01/2021
set/19 Projeto de Revisão ABNT NBR 15808 – Extintores
PN 024:103.001–014 – Sistemas de alarme – Sinais de incêndio portáteis
de evacuações de emergência – Requisitos (ISO Para participar acesse: www.abntonline.com.br/consultanacional
8201:2017) - na CE set/19
ABNT NBR ISO/TR 7240-14 - Sistemas de detecção Aguardando publicação como Norma Brasileira
e alarme de incêndio – Parte14- Diretrizes para có- Projeto de Revisão ABNT NBR 12693:2010 – Sistemas
digos de prática para o projeto, instalação e uso de de proteção por extintores de incêndio
sistemas de detecção e alarme de incêndio dentro e
em torno de edificações (Relatório Técnico) NORMAS PUBLICADAS 2020
ABNT NBR ISO 7240:02 – Sistemas de detecção ABNT NBR 16913 – Proteção contra incêndio de
e alarme de incêndio – Parte 02: Equipamentos de transportadores de correia utilizando sistemas de
controle e de indicação de detecção de incêndio chuveiros automáticos – Requisitos
ABNT NBR 7240:17 – Sistemas de detecção e ABNT NBR 16906 :2020– Corta-Chamas - Requisitos
alarme de incêndio – Parte 17 – Isoladores de de seleção, instalação, especificação e manutenção
curto-circuito ABNT NBR 16820:2020 - Sistemas de sinalização de
Projeto de Revisão ABNT NBR 13714 – Sistemas emergência - Projeto, requisitos e métodos de ensaio
de hidrantes e de mangotinhos para combate a - cancela as normas ABNT NBR 13434-1:2004, ABNT
incêndio NBR 13434-2:2004, ABNT NBR 13434-3:2018.
Projeto de Revisão ABNT NBR 6479 – Porta e ABNT NBR 10897:2020- Proteção contra incêndio
vedadores – Determinação da resistência ao fogo por chuveiros automáticos - Requisitos
Projeto de Revisão ABNT NBR 14100 - Proteção ABNT NBR 12615:2020 - Sistema de combate a
contra incêndio - Símbolos gráficos para projeto incêndio por espuma – Espuma de baixa expansão
Projeto de Revisão ABNT NBR 11711:2003 – Por- ABNT NBR 16812:2020 – Proteção contra incêndio
tas e vedadores corta-fogo com núcleo de madeira de áreas de armazenamento e exposição de aerosóis
para isolamento de riscos em ambientes comerciais utilizando sistemas de chuveiros
e industriais ABNT NBR 15219:2020 - Plano de emergência con-
Projeto de Revisão ABNT NBR 13768 - Acessó- tra incêndio – Requisitos
rios destinados às portas corta-fogo para saída de ABNT NBR 14276:2020 – Brigada de Emergências
emergência – Requisitos – Requisitos
Projeto de Revisão ABNT NBR 14277 – Ins- ABNT NBR 16829:2020 - Portas e vedadores de aço
talações e equipamentos para treinamentos de de enrolar resistentes ao fogo
combate a incêndio e resgate técnico – Requisitos ABNT NBR ISO 28300:2020- Indústrias de petróleo,
e procedimentos de petroquímica e gás natural – Alívio de tanques
Projeto de Revisão ABNT NBR 14608 – Bombei- atmosféricos e de baixa pressão
ro Civil ABNT NBR 16870:2020 – Abrigos para mangueiras de
Projeto de Revisão ABNT NBR 15281:2005 incêndio e acessórios – Requisitos e métodos de ensaio
– Porta corta-fogo para entrada de unidades ABNT NBR 16877:2020– Qualificação profissional de
autônomas e de compartimentos específicos de bombeiro civil – Requisitos e Procedimentos
edificações ABNT NBR 16893:2020 - Sistemas de alívio de defla-
Projeto de Emenda ABNT NBR 15661 - Proteção grações — Requisitos
contra incêndio em túneis rodoviários e urbanos ABNT NBR 16888:2020 - Segurança contra Incêndio
Projeto de revisão ABNT NBR 10898 – Sistema para Sistemas Ferroviários de Transportes de Cargas
de Iluminação de emergência – iniciado – Requisitos. Q
123
INOVAÇÕES
Sistemas
A
primeira revolução indus- revolução intitulada ‘Indústria 4.0’, fruto
trial, ocorrida a partir de do trabalho de um grupo de especialis-
inteligentes 1760, mudou os meios de
produção ao introduzir a
tas que se reuniram na Hannover Messe
(Feira de Hannover), em 2012, para ofere-
podem prever mecanização da produção cer ao governo alemão um novo conceito
124
Data pode ser aplicado por meio de siste-
mas Big Data Analytics, que auxiliam a toma-
da de decisões autônomas e mais assertivas
para prevenção, caso estejam recebendo os
dados da planta da qual estão fazendo mo-
nitoramento. “Imagine uma rede integrada
de sensores enviando sinais de status de
funcionamento para um sistema Big Data
que analisa e calcula, em tempo real, em
que situação está a planta e, a qualquer leve
mudança de status, antes mesmo que o si-
nistro venha a ocorrer, já tome a decisão
autônoma para designar alguém para avaliar
o risco local”, explica Longo.
Com essa tecnologia, é possível saber,
também, onde há riscos em situações
particulares, como incêndio com material
químico ou em um acidente de veículo e, a
partir dessa informação, distribuir os recur-
sos de acordo com a necessidade. Dessa
forma, fica mais fácil justificar aos gestores
o tempo de resposta, calculado de acor-
do com cada situação e, claro, aumentar
a eficiência do sistema para salvar vidas e
evitar danos ao patrimônio.
A indústria 4.0 também trabalha com sis-
temas integrados, nos quais processos autô-
nomos realizarão as simulações necessárias
dos dados recebidos e se ajustarão para a
melhor configuração possível. O resultado
conhecido e divulgado, ainda está na eta- de efetividade e eficiência nas áreas de pre- pode ser a previsão de um foco de incêndio
pa de conhecimento e desmistificação em venção, patrimônio, treinamento e, o que é que ainda não aconteceu e a comunicação
todo o mundo e não apenas no Brasil. “Po- mais importante, de vidas, conforme o es- com o Corpo de Bombeiros sobre o pro-
demos dizer que a indústria 4.0 está apren- pecialista. Na prática, o uso de Big Data na vável sinistro antes da ocorrência.
dendo a engatinhar. Logicamente que se in- fase de projetos e em sistemas autônomos A IoT aplicada na prevenção e combate
veste mais para implementar esse modelo para combater sinistros inclui um analisador a incêndio faz a conexão em rede de todos
na manufatura, onde o retorno sobre o de dados de materiais, de inflamabilidade, os sensores e elementos da planta para
investimento é mais rápido que em outros além de características de outros projetos conectar uma grande quantidade de dis-
segmentos, como é o caso da indústria da para auxiliar o projetista em cada fase. Já a positivos e permitir que a comunicação au-
prevenção e combate a incêndios, onde a simulação é uma ferramenta para detectar tônoma entre todo o processo seja com-
aplicação tecnológica na manufatura ainda situações prévias de risco e verificar as me- pleta. As soluções também podem usar o
está bastante defasada, embora seja com- lhores opções de projeto para, por exem- recurso da realidade aumentada, que tanto
pletamente possível”, analisa. plo, desenhar a rota de fuga mais adequada instrui, treina e simula situações adversas
A lista de melhorias geradas a partir des- para um empreendimento. como permite o combate às chamas em
se novo modelo pode trazer mais ganhos Na etapa de prevenção e combate, o Big um ponto crítico, à distância.
125
INOVAÇÕES
Dessa maneira, o uso de robôs autôno- “Em relação aos softwares que poderão não muito distante – será possível imputar
mos, uma realidade que já existe no Brasil, vir, acredito que não teremos nenhum que dados já coletados de locais onde houve
representa um aumento de habilidades seja revolucionário. O que penso é que os falhas de monitoramento e prevenção para
incorporadas às máquinas, que podem atuais softwares estarão aos poucos adicio- simular diferentes realidades e municiar os
ser operadas sem a intervenção humana nando funcionalidades, integrando algumas projetistas de ferramentas que cubram to-
e terão maior flexibilidade para se adaptar partes e ajudando os projetistas a simular dos os eventos possíveis.
às variações inesperadas do processo. “No situações para tomar decisões mais asserti-
combate a incêndio, robôs com decisões vas. Já os chamados ‘softwares dos sonhos’ TREINAMENTO POR GAMES
autônomas podem iniciar as atividades an- ainda estão muito longe da realidade, mas Entre projeções e realidades, a professo-
tes da chegada da brigada de incêndio, o seriam aqueles completamente integrados, ra doutora do Departamento de Estruturas
que minimiza prejuízos e reduz o tempo da desde a fase de pré-projeto até a etapa final da Faculdade e Engenharia Civil, Arquitetura
operação”, enfatiza o engenheiro. de validação”, projeta o especialista. e Urbanismo da Universidade Estadual de
A gestão de tantos recursos é garantida Ainda conforme Longo, o uso de softwa- Campinas (Unicamp), Carla Neves Costa,
por softwares de projeto, como o AltoQI, res que simulam o incêndio baseado em avalia que a indústria 4.0 no Brasil, por
amplamente usado pelos profissionais, tragédias anteriores ainda não é realidade, enquanto, serve apenas para incentivar a
apesar de não possuir nenhuma funcionali- simplesmente porque é preciso ter dados atualização tecnológica dos sistemas de pre-
dade para agregar dados futuros de coleta, coletados por meio de sensores e dos siste- venção. “Ou seja, ainda é mais publicidade
embora já possua pequenas automações mas de monitoramento em grande escala, do que realidade prática.”
que interagem com os projetistas para o que ainda não é feito. Porém, ele acredita E razões não faltam para essa constata-
auxiliar a tomada de pequenas decisões. que com a implantação dos conceitos da ção. A primeira delas é que as inovações do
Na parte de coleta de dados, qualquer indústria 4.0 nos novos sistemas de incên- gênero são importadas e, portanto, caras.
programa Big Data pode ser usado. dio – o que deve acontecer em um futuro Na balança também pesa que o projeto
de segurança ainda é visto como um gasto
obrigatório pelo Corpo de Bombeiros, e
não como investimento. Ela considera, ain-
da, que a manutenção predial, o que inclui
troca de acessórios e equipamentos por
modelos mais modernos, esbarra na falta de
atualização tecnológica da indústria, o que
compromete os aportes da empresa nessa
área específica. “Empresas fazem a manu-
tenção para atender ao mínimo necessário
em conformidade com a legislação ou com
as exigências das seguradoras”, considera.
Um exemplo é o uso de sistema de pro-
teção ativa de segurança contra incêndio
por acionamento automático wireless. Os
sensores de fumaça e calor transmitem a
informação de alta temperatura do am-
biente por ondas eletromagnéticas de rá-
dio que serão captadas por “antenas” de
4SVQIMSHEKEQM½GEpnSJYRGMSRjVMSWIFVMKEHMWXEWTSHIQ
WIVXVIMREHSWEEXYEVIQHMZIVWSWGIRjVMSWHIJSKS
126
dispositivos integrados ao sistema de alar- brigadas e do próprio plano de emergên-
me. No passado próximo, as instabilidades cia se torna bem maior, uma vez que a
comprometeram a confiabilidade do siste- gamificação permite avaliar a eficiência das
ma, mas, atualmente, o produto alcançou rotas de fuga atuais e a instalação de ou-
bom nível de eficiência com baixa interfe- tras no caso da mudança do layout arqui-
rência, desde que se saiba configurar os ca- tetônico de áreas industriais ou depósitos,
nais e as frequências adequadas. “Mas te- por exemplo, onde os corredores entre as
mos desafios. O primeiro é comercial, que estrututuras suporte de armazenamento
aposta em equipamentos importados que são ampliadas ou reduzidas por meio de
tornam o sistema e sua manutenção caros. inclusão ou remoção de divisórias.
Em outra frente, os técnicos especializados “A gamificação promove a educação
em instalação e manutenção periódica são continuada de prevenção do trainee bri-
poucos. Como se não bastasse, há poucas gadista, que passa a conhecer bem o am-
informações de uso para avaliação de efici- biente real do edifício, com seus compar-
ência em situações reais no Brasil e aquelas timentos, corredores e saídas que podem
disponíveis se baseiam em testes”, afirma. ser usadas durante as diversas possibilida-
Mesmo assim, segundo a professora, des de incêndio. É de grande valia para
a aplicação das tecnologias da indústria o treinamento de funcionários de hospi-
4.0 traz eficiência aos processos, como a tais e de indústrias para a familiarização
adoção do Building Information Modelling dos espaços internos, acessos, saídas de
(BIM) na elaboração do Projeto Técnico emergência e saídas que não funcionarão
de Segurança contra Incêndio (PTSCI) durante o incêndio”, ressalta a professora.
com um modelo virtual em 3D, com todos Há que se considerar, ainda, que a pos-
os sistemas construtivos (elétrica, hidráu- sibilidade de treinar o jogador para o que
lica, gás, estruturas, paredes, coberturas, deve ser feito em uma situação de abando-
dimensões, quantidades) localizados, o que no emergencial e qualificar o indivíduo para
INVISTA NO CRESCIMENTO
permite compatibilizar projetos de forma ações de monitoramento de riscos e con- DE SUA EMPRESA.
imediata com a atualização dos quantitati-
vos para evitar transposições e possibilitar
trole de acidentes e incêndio, bem como
simular as inspeções periódicas do local,
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a correção de falhas na hora da instalação. são ganhos que a tecnologia 4.0 pode gerar. CADERNO INCÊNDIO!
“No presente, nós temos ainda o Da mesma forma, o uso de robôs au-
computer-aided design (CAD), que já é tônomos é uma ação que, uma vez imple-
“passado tecnológico”. Deve haver uma mas- mentada, tem resultado garantido em locais
sificação do uso do REVIT para projetos de onde há vazamento de gases ou vapores
sistemas estruturais, por exemplo”, explica. tóxicos. “Após o salvamento de pessoas,
A indústria 4.0 também contempla a par- os robôs impedem mortes de brigadistas. A
te de treinamento de brigadas profissionais tecnologia também é importante no com-
e voluntárias por meio da gamificação, que bate a incêndios florestais, pois evita expor
são jogos eletrônicos nos quais as plantas do os profissionais ao risco de intoxicação por
edifício construído virtualmente pelo BIM fumaça ou excesso de calor. Siga nas redes sociais:
ideia, a análise de um cenário depende de Desta maneira, de acordo com o ge- manutenção preventiva do sistema.
informações analisadas em um período de rente de Tecnologia e Educação para a Silva destaca, ainda, que o banco de dados
dois anos. “A dificuldade em obter alguns Indústria da Fiemg/Senai , Ricardo Aloysio pode ser criado com arquivos já existentes
desses dados junto aos Corpos de Bombei- e Silva, a indústria 4.0 propõe uma ampla de uma organização ou com a criação de no-
ros Estaduais é enorme. Há muita burocra- mudança que não vai afetar apenas o setor vas fontes de coleta. O Instituto Nacional de
cia jurídica”, afirma Carla. produtivo, mas também os órgãos públi- Pesquisas Espaciais (INPE) criou em 1986 um
Há mais de dois anos, o Corpo de Bom- cos que legislam ou regulam as atividades sistema para monitoramento e alertas de
beiros da Polícia Militar do Estado de São de prevenção e combate a incêndio. risco de queimadas mediante cadastro dos
Paulo (CBPMESP) mudou as regras para o Por isso, a necessidade de estudar cená- interessados. Diariamente, o órgão disponibi-
recebimento do PTSCI, que são entregues rios – o que é possível graças a projetos 3D, liza inúmeros dados e estatísticas sobre focos
de forma virtual, com base em arquivos. simulações e uso de equipamentos de IoT – e risco de incêndios, de chuva, variações de
Os desenhos ainda são aceitos em Auto- permite não apenas elaborar um arquivo de temperatura e de umidade que são mapea-
CAD, mas há um incentivo para que eles dados que pode servir de entrada a modelos dos usando satélites que detectam radiação
sejam feitos no software REVIT, que é o de predição em cenários atuais, mas analisar térmica emitida por fogo.
primeiro passo para a implementação do a necessidade de implantar mecanismos de No portal do Instituto, é possível visua-
BIM. O REVIT apresenta o projeto em 3D segurança adicionais em novas plantas resi- lizar, também, os focos de queimadas dos
com todos os sistemas prediais e é inte- denciais, comerciais, industriais ou mesmo últimos dois dias obtidos pelos mais diver-
grável a softwares específicos de gerencia- de uso público, a partir das falhas de uma sos sensores e ver o risco atual e previsto
mento de projetos com o BIM. tragédia anterior e programar os serviços de de incêndio não só do Brasil, mas como de
vários países da América do Sul.
Interligar dados a produtos e ações é o
que completa a estratégia proposta pela
indústria 4.0 em relação à prevenção e
combate a incêndios. “Os desempenhos
em ambientes complexos e perigosos
dependem da capacidade de detectar, in-
terpretar e comunicar informações críticas
rapidamente”, explica.
Segundo ele, por meio da inovação da
visão computacional para socorristas, al-
gumas empresas norte-americanas estão
desenvolvendo sistemas de desempenho
e comunicações em ambientes com pro-
dutos que dão aos bombeiros a capacidade
de enxergar em condições de visibilidade
zero por meio de visão computacional e
realidade aumentada.
“Esse sistema auxilia os profissionais a
saírem de uma zona de fogo até cinco ve-
zes mais rápido fornecendo navegação em
tempo real por meio de display de realidade
aumentada transparente colocado direta-
mente na linha de visão dos bombeiros. O
capacete de realidade aumentada utiliza
6SF|WEYX|RSQSWTSHIQMRMGMEVS imagens térmicas para que o usuário possa
ver através da fumaça e escuridão e localizar
GSQFEXIERXIWHEGLIKEHEHEFVMKEHE rapidamente as vítimas”, detalha. Q
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