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BRASIL:
Onde está o
compromisso
com as mulheres?
Um longo caminho para
se chegar à paridade
ATENEA – MECANISMO PARA ACELERAR A Assessoria Técnica Regional
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DAS MULHERES NA Beatriz Llanos, assessora técnica Participação Política e
AMÉRICA LATINA E NO CARIBE Paridade
José Incio, estatístico
BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres?
Um longo caminho para se chegar à paridade PNUD Brasil
Katyna Argueta – Representante-residente
Maristela Baioni – Representante-residente assistente e
© PNUD Brasil, Programa das Nações Unidas para o coordenadora da área Programática
Desenvolvimento Ismália Afonso – Analista de programa para os temas de
Gênero, Raça e Etnia
© ONU Mulheres, Entidade das Nações Unidas para a
Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres. ONU Mulheres Brasil
Anastasia Divinskaya – Representante
© IDEA Internacional Ana Carolina Querino – Gerente de Programas
Ana Claudia Pereira – Gerente de Projetos
As opiniões expressas nesta publicação são de Juliana Maia – Associada de Programas
responsabilidade das autoras e não representam
necessariamente as opiniões do PNUD, ONU Mulheres, Assessoria Técnica local:
IDEA Internacional ou Estados membros da ONU. Esta Danusa Marques e Flávia Biroli
publicação pode ser usada livremente para fins não
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atribuição ao PNUD, ONU Mulheres e IDEA Internacional Revisão de conteúdo:
para sua publicação original. Gabriela Pereira
Kauara Ferreira
Coordenação Regional Projeto Atenea
Pilar Tello, coordenadora de Gênero para América Latina, Revisão de estilo: Júnia Puglia
IDEA Internacional
Paula Narváez, assessora regional para Participação Capa e diagramação: Luciana Lobato
Política, ONU Mulheres
Eugenia Piza López, seção de Gênero do Centro Agradecimentos a:
Regional do PNUD para América Latina e Caribe Nadine Gasman e Fernanda Papa
Índice
Prólogo 4
Capítulo 3 Conclusões 53
Capítulo 4 Recomendações 58
Bibliografia 63
Prólogo
Nas últimas décadas, a análise da participação ses da América Latina e do Caribe em relação
política das mulheres tem-se deslocado do en- à democracia paritária.
foque sobre as distâncias e hiatos entre a pre-
sença de homens e mulheres na política para A aplicação do mecanismo ATENEA ao qua-
um enfoque referenciado pela paridade. dro político brasileiro produziu evidências
importantes sobre os desafios para se al-
A Declaração de Atenas1, de 1992, é considera- cançar a paridade. É deles que falaremos
da um marco inicial na definição da paridade adiante, apresentando um quadro amplo das
como referência para se avaliar o déficit demo- desigualdades políticas e, ao final, recomen-
crático. O que as líderes europeias ressaltaram dações para superá-las.
naquele momento, ao tratar dos direitos políti-
cos como dependentes de uma representação Note-se que, no Brasil, as mulheres permane-
equitativa, foi que a paridade nos fornece uma cem em condição de desigualdade também
lente para enxergar as falhas dos sistemas de- em outras dimensões da vida social. Nas re-
mocráticos para com as mulheres, falhas estas lações de trabalho, as desvantagens perma-
que expressam um afastamento desses regi- necem, embora tenha havido redução das
mes em relação a seus princípios básicos. diferenças salariais nas últimas décadas e au-
mento das taxas de ocupação.
O Consenso de Quito, resultante da Décima
Conferência Regional sobre as Mulheres na Em 1995, a renda média das mulheres repre-
América Latina e no Caribe, que ocorreu em sentava 53% da dos homens; apenas em 2014
agosto de 2007, define a paridade como “um elas ultrapassaram o patamar de 70% da renda
dos propulsores determinantes da democra- deles, chegando, atualmente, a cerca de 74%.
cia”. Menos de dez anos depois, em 2016, a Porém, esses dados têm que ser considerados
Estratégia de Montevidéu para a Implemen- com muita atenção, já que a renda média das
tação da Agenda Regional de Gênero no mulheres negras permanece em torno de 40%
Âmbito do Desenvolvimento Sustentável até da dos homens brancos, mostrando que a pi-
2030 definiria a paridade como “pilar central râmide da renda auferida pelo trabalho, assim
para gerar as condições para o exercício ple- como a da pobreza, responde, simultaneamen-
no dos direitos humanos e da cidadania das te, às variáveis de gênero e racial (IBGE, 2019).
mulheres”, através do “aprofundamento e a
qualificação das democracias, bem como da A explicação para este cenário de desigualda-
democratização dos regimes políticos, socio- des não está em diferenças na qualificação. Um
econômicos e culturais”. único dado da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios do IBGE (Instituto Brasileiro de
A iniciativa ATENEA tem como ponto de par- Geografia e Estatística), divulgada em 2016,
tida esse compromisso com a democracia demonstra que 16,9% das mulheres e 13,5%
paritária. Trata-se de um instrumento desen- dos homens têm ensino superior completo.
volvido para medir o exercício dos direitos
políticos das mulheres e, com isso, obter-se Assim, uma das hipóteses para a distância
um quadro comparativo da situação dos paí- persistente é a responsabilização excessiva
das mulheres pela reprodução social, que se
1 Declaração assinada em 3 de novembro de 1992, evidencia nas pesquisas sobre o uso do tem-
em Atenas, por mulheres políticas proeminentes ao po. Entre mulheres e homens ocupados com
final da Cúpula Europeia sobre “Mulheres no Poder”.
4 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
a realização de trabalho remunerado, elas de- 2018, o Brasil ocupava a 95ª posição entre 149
dicam semanalmente, em média, 21,3 horas ao países analisados, com um índice médio de
trabalho não-remunerado doméstico e de cui- hiato de gênero de 0,68. Tal índice é calcu-
dado, enquanto entre eles a média semanal é lado a partir de quatro dimensões: participa-
de 10,9 horas (IBGE, 2018). O tempo médio de- ção e oportunidades econômicas, nível edu-
dicado por elas ao trabalho doméstico não-re- cacional, saúde e poder político. Em relação
munerado aumenta se são casadas e se têm a nível educacional (1,0) e saúde (0,98), po-
filhos de zero a quatro anos, enquanto entre os de-se afirmar que há paridade entre homens
homens esse tempo se mantém estável, mos- e mulheres no Brasil, que divide a primeira
trando que a incidência da conjugalidade e da posição com outros países. Na participação
parentalidade na rotina de trabalho é diferente econômica, o índice é mais baixo (0,645),
para elas e para eles (Barbosa, 2018). principalmente pela disparidade salarial que
apontamos acima, colocando o Brasil na 92ª
Os limites à autonomia das mulheres decer- posição. Mas é o cenário da participação no
to não se restringem às relações de trabalho. poder político que apresenta os piores indica-
Estima-se que a violência baseada no gênero, dores: (0,101) no Global Gender Gap Index de
por exemplo, tenha atingido, em 2018, 16 mi- 2018, posicionando o país em 112o lugar, consi-
lhões de mulheres maiores de 16 anos (o que derando apenas essa dimensão, que tem mé-
corresponde a 27,4% das mulheres nessa faixa dia de 0,22.
etária). Em 76,4% desses casos, as mulheres
que sofreram violência afirmam ser o agressor A participação histórica das mulheres brasilei-
alguém conhecido. Em 42% dos casos, a vio- ras em movimentos sociais, conselhos e con-
lência ocorreu em casa (Bueno; Lima, 2019). ferências de políticas públicas, assim como no
âmbito partidário (segundo dados do TSE de
Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2016, de um total de 16.018.485 de brasileiros
1990 e 2015 a redução na razão de mortalida- filiados a partidos políticos, 45% são mulhe-
de materna no Brasil foi de 143 para 62 óbitos res) reforça o entendimento de que as barrei-
maternos por 100 mil nascidos vivos, o que re- ras à participação paritária se encontram no
presentou uma diminuição de 56%. Em 2018, a âmbito institucional. Especificamente, nas prá-
razão de mortalidade materna no Brasil foi de ticas e padrões de organização dos partidos
59,1 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos. políticos. Tais barreiras alimentam-se dos es-
Dentre os obstáculos à realização da saúde se- tereótipos e restrições de tempo e de recursos
xual e reprodutiva, destacam-se a qualidade e relacionados à divisão sexual do trabalho, con-
o acesso a informações e a serviços. forme anteriormente mencionado.
C. Comunicação
8 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Quadro 1: Dimensões e número de indicadores do Índice de Paridade Política
Número de
Dimensão Definição
indicadores
I. Compromissos
nacionais com Inclui as condições formais mínimas que cada Estado
a igualdade na deve oferecer para garantir a igualdade das mulheres no 5
Constituição e no exercício da participação política
marco legal
O IPP produz pontuações entre 0 e 100 para cada indicador, em média para cada dimensão e em
média para o país, com base na distância da pontuação obtida em relação aos objetivos prede-
finidos para cada indicador. As etapas e fórmulas de cálculo específicas podem ser encontradas
no Quadro 2.
Para cada um dos 40 indicadores, foi definido um objetivo, que expressa o melhor valor pos-
sível a que todos os países devem chegar. Para se obter a pontuação em cada indicador, com
base nas informações coletadas, calcula-se a diferença entre os resultados registrados em
cada país e o objetivo predefinido, a fim de medir quão próximos ou distantes os países estão
de alcançar a meta proposta pelo ATENEA.
Em seguida, são padronizadas as diferenças em relação aos objetivos propostos para que
todos os países obtenham uma pontuação entre 0 e 1, em que 0 significa que o país atingiu o
objetivo (a meta proposta) e 1 que o país está na pior situação possível em relação ao objetivo.
Logo depois, a escala de cada um dos indicadores é invertida, de modo que o número 1 reflita
a melhor situação possível – isto é, que o país atingiu a paridade e cumpre as condições para
o exercício do direito à participação política das mulheres – e 0 reflete a pior situação possível
(isto é, que o país não alcançou nenhum progresso em direção ao objetivo de paridade e ao
estabelecimento de condições mínimas). Por fim, o resultado é multiplicado por 100.
Onde: b = Objetivo proposto para o indicador a = Valor obtido para o país (i)
Por fim, para se obter a pontuação global por país, calcula-se a média aritmética dos indica-
dores para cada dimensão, sendo a média das dimensões a pontuação final. Os dados do pre-
sente estudo foram coletados entre janeiro e maio de 2019, não refletindo, portanto, mudanças
posteriores a este período.
10 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
1.1. Resumo do processo de
aplicação do Índice de Paridade
Política no Brasil e seus resultados
A pontuação média obtida pelo Brasil em to- Este é o resultado das dimensões analisadas,
das as dimensões relacionadas ao avanço no em seu conjunto. Porém, há diferenças sig-
exercício dos direitos políticos das mulheres nificativas entre elas. Com a maior pontua-
desde uma perspectiva paritária foi de 39,5 ção (80,3), está a Dimensão 2, dos Direitos
pontos. Com ela, o Brasil ocupa o nono lugar de Sufrágio. Além disso, apenas duas outras
de uma lista de 11 países, uma colocação bai- dimensões ultrapassam 50 pontos. A Dimen-
xa, próxima da do Chile (38,2 pontos) e do são 5, que analisa o Poder Legislativo, atinge
Panamá (37 pontos). 59,1 pontos; e a Dimensão 4, que analisa o
Poder Executivo e a Administração Pública,
Ranking dos países em que o ATENEA foi im- 51,7 pontos.
plementado entre 2014 e 2019:
Entre aquelas com menor pontuação, em pri-
Colocação País IPP meiro lugar está a Dimensão 7, que analisa os
partidos políticos (45,1 pontos). Em segundo
1º México 66,2
lugar, a Dimensão 8, que se refere ao Governo
2º Bolívia 64
Local (25 pontos); em terceiro lugar, a Dimen-
3º Peru 60,1 são 6, do Poder Judiciário e Eleitoral, com 21,7
4º Colômbia 54 pontos; e, em quarto, a Dimensão 1, que ana-
5º Argentina 44,7 lisa a existência de Compromissos Nacionais
6º Honduras 42,7 com Igualdade na Constituição e no Marco
7º Guatemala 42,6 Legal (20 pontos). A menor pontuação ob-
tida, de apenas 13,3 pontos, foi registrada na
8º Uruguai 41,7
Dimensão 3, sobre Cotas/Paridade.
9º Brasil 39,5
10º Chile 38,2
11º Panamá 37
12 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
DIMENSÃO NÚMERO INDICADORES PONTUAÇÃO
Porcentagem de mulheres titulares de
I16 18,2
Ministérios ou Secretarias de Estado
Porcentagem de mulheres que ocupam
I17 Ministérios/Secretarias de Estado de 11,8
“produção” e “preservação do sistema”
Diferença por sexo na duração
IV. PODER média do/no cargo das pessoas que
I18 100
EXECUTIVO E ocuparam um Ministério nos gabinetes
ADMINISTRAÇÃO no último período presidencial
PÚBLICA Porcentagem de mulheres titulares
I19 28,6
vice-ministras
Existência e nível hierárquico
I20 de mecanismo nacional de Mulher/ 100
Gênero no Poder Executivo
TOTAL
51,7
DIMENSÃO
Porcentagem de mulheres inscritas
I21 64,2
como candidatas
Índice de cumprimento da cota/
I22 100
paridade legal
Porcentagem de mulheres eleitas
I23 30
(titulares)
Porcentagem de mulheres integrantes
I24 28,4
da Mesa Diretora
Porcentagem de comissões presididas
I25 32
V. PODER por uma mulher
LEGISLATIVO Porcentagem de comissões legislativas
(Câmara Baixa/ I26 de “produção” e “preservação do 14,2
Única) sistema” presididas por mulheres
Porcentagem de coordenadoras de
I27 22
bancadas
Existência de comissão de Mulher/
I28 100
Gênero
Existência de Unidade Técnica para a
I29 100
transversalidade de gênero
I30 Existência de bancada feminina 100
TOTAL
59,1
DIMENSÃO
Como já apontado, num país onde o voto é votou efetivamente foi de 83,3% - quatro pon-
obrigatório e há eleições regulares desde os tos percentuais acima da dos homens (79%).
anos 1980, sem constrangimentos específicos
às mulheres no ato da votação, o exercício Embora a uma distância considerável, a se-
do sufrágio é o ponto mais alto: 80,3 pontos. gunda dimensão com maior pontuação foi a
Essa pontuação deve-se ao fato de que, no do Poder Legislativo, com 59,1 pontos. Res-
indicador de participação eleitoral, a porcen- salte-se que as máximas (100 pontos) foram
tagem de mulheres no cadastro eleitoral que obtidas nos indicadores referentes a condi-
14 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
ções como a existência de uma comissão de concluído (2016-2018), as mulheres que che-
mulheres, uma unidade de transversalização fiaram ministérios (3,3%) permaneceram em
de gênero e uma bancada feminina. Essa nota média 14,7 meses. Já para os homens (96,7%),
também foi obtida pelo cumprimento dos esse tempo foi de 11,7 meses.
percentuais legais de cotas, já que o número
médio de candidatas para os partidos anali- No entanto, houve uma sub-representação
sados foi de 32,1%. Esse percentual, ainda que histórica das mulheres nos gabinetes no pe-
atenda ao legalmente estabelecido, está lon- ríodo de análise (2019). As ministras eram
ge de ser um cenário de desempenho ideal; 9,1% (18,2 pontos), sendo que apenas uma
portanto, a pontuação obtida nesse indicador delas ocupava um cargo na área de produ-
foi de 64,2 pontos. ção (11,8 pontos); e a porcentagem de se-
cretárias-executivas dos Ministérios era de
As fragilidades nessa dimensão e, portanto, 14,3% (28,6 pontos).
os índices mais baixos foram observados nos
indicadores que medem o percentual de mu- Entre as dimensões com menor pontuação,
lheres eleitas. Com apenas 15% de mulheres está a que se refere aos partidos políticos,
na Câmara dos Deputados, o critério alcan- com 45,1 pontos. Isso é explicado por uma
çou apenas 30 pontos. O indicador de mulhe- alta porcentagem de partidos que têm Secre-
res na coordenação de bancadas partidárias tarias de Mulheres (28 de 30), de modo que
verificou apenas 16% de ocupação feminina esse indicador alcançou 93,3 pontos. Toda-
nesses espaços, o que gerou um índice de via, nenhum deles garante influência a essas
22 pontos. As mulheres nas presidências de Secretarias no processo de seleção de can-
Comissões tambem são 16%, com o agravan- didaturas (0 pontos). Além disso, em média,
te de que presidem apenas uma de questões apenas 21,1% dos membros das mais altas
políticas mais “duras”. Isso gerou índice de instâncias executivas nacionais são mulheres
14,2 pontos. (42,2 pontos), apenas quatro partidos (de 30)
incorporam a igualdade/não-discriminação
Outra dimensão com resultado acima de 50 por sexo como um princípio organizativo (44
pontos foi a de número 4, relacionada ao Po- pontos) e alguns partidos incluíram propostas
der Executivo e Administração Pública (51,7 desse tipo nos seus programas de governo
pontos). Porém, a participação feminina nes- (46 pontos). Ainda assim, pode-se questionar
sas esferas não está próxima à paridade. A em que medida suas práticas contribuíram
pontuação obtida deu-se pelo efeito de dois para a fragilidade de outras dimensões. Por
indicadores positivos, que são a existência de exemplo, no caso brasileiro, os partidos polí-
um mecanismo nacional de políticas para mu- ticos são responsáveis pela maior resistência
lheres com o mais alto nível hierárquico possí- à legislação de cotas, e se reflete nas listas
vel (100 pontos), e a uma diferença favorável políticas eletivas.
às mulheres no tempo médio de permanên-
cia em gabinetes (100 pontos). O organismo Na Dimensão 8, que analisa os municípios, a
nacional específico teve status de Ministé- média de 25 pontos obtidos deve-se ao fato
rio entre 2003 e 2015 e, no momento deste de o percentual de mulheres prefeitas ter sido
diagnóstico, compõe a Secretaria Nacional de 11,5% (23 pontos) e de vereadoras 13,5%
de Políticas para as Mulheres, no âmbito do (27 pontos). Já para o Poder Judiciário – em
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos que também são frágeis ou ausentes as nor-
Humanos. No último mandato presidencial mativas que poderiam garantir a paridade – a
16 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
capítulo 2
A aplicação
do ATENEA
no Brasil
18 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Grupo de Trabalho sobre Sistemas Eleitorais Apresentamos, portanto, o diagnóstico que
e Paridade5 reuniu-se em novembro de 2018, resultou do processo de aplicação do meca-
momento que pode ser considerado precursor nismo ao Brasil. Por meio de indicadores que
da aplicação sistemática da iniciativa ATENEA permitem comparar os resultados brasileiros
no Brasil. Tal grupo permanece ativo e parti- aos dos demais países da região, são analisa-
cipa da análise do diagnóstico, com vistas à das oito dimensões da participação política
ação para a promoção da paridade. No âm- das mulheres, tendo como referência o cami-
bito do ATENEA especificamente, propõe-se nho que nos separa da paridade. Um longo
a realização da chamada “mesa impulsora” do caminho, como se poderá constatar.
mecanismo, com o objetivo de apresentar os
resultados preliminares relacionados ao IPP Uma das particularidades do caso brasilei-
e suas recomendações a um grupo que reú- ro, que apresentou desafios específicos, é o
na participantes do Grupo de Trabalho sobre seu sistema partidário, bastante fragmentado
Sistemas Eleitorais e Paridade, bem como pes- e com grande número de partidos. Além de
soas ligadas às demais instituições às quais o serem muitos, os partidos têm alta autono-
diagnóstico de ATENEA direciona recomenda- mia para sua organização, majoritariamente
ções. Isso quer dizer que, além de acadêmicas concentrada nas lideranças partidárias, o que
e representantes do Tribunal Superior Eleitoral gera um universo muito amplo. Nas eleições
e da Procuradoria Geral Eleitoral, estão en- de 2018, que resultaram na composição do
volvidas também mulheres do Fórum de Ins- Congresso Nacional na legislatura vigente du-
tâncias de Mulheres de Partidos Políticos, das rante a implementação do ATENEA, 30 parti-
Bancadas Femininas da Câmara Federal e do dos tiveram representantes eleitos. Os dados
Senado, e da Secretaria Nacional de Políticas referentes a partidos políticos corresponde-
para as Mulheres. A terceira e última etapa é ram, portanto, a esse universo.
voltada para a comunicação dos resultados, e
se realizará no contexto do lançamento públi- Outra particularidade é que o Brasil passou re-
co do Índice de Paridade Política e da respec- centemente por mudanças institucionais nos
tiva campanha de comunicação. organismos de políticas para mulheres e nas
respectivas agendas. Por exemplo, a Secre-
taria Nacional de Políticas para Mulheres do
5 O Grupo de Trabalho sobre Sistemas Eleitorais
Governo Federal, criada em 2003 como órgão
foi criado no âmbito da iniciativa Brasil 50-50 da
ONU Mulheres e teve como objetivo colaborar para vinculado à Presidência da República, passou
o aperfeiçoamento do sistema eleitoral brasileiro por uma série de transformações, até que che-
em favor da maior participação das mulheres para gasse ao desenho atual, de constituir uma das
acesso a cargos eletivos. Compuseram o Grupo secretarias do atual Ministério da Mulher, da
especialistas em gênero e participação política e
Família e dos Direitos Humanos (2019).
em direito eleitoral das instituições: ONU Mulhe-
res, Programa das Nações Unidas para o Desen-
volvimento Sustentável (PNUD), Tribunal Superior 2.2. A aplicação do mecanismo
Eleitoral (TSE), Procuradoria Geral Eleitoral (PGE), ATENEA no Brasil
Escola Nacional de Administração Pública (ENAP),
Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), Deve-se considerar que, embora o Brasil seja
Universidade de Brasília (UnB), Universidade do
tratado aqui como uma unidade, para efei-
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade
tos de comparação regional no âmbito do
Federal Fluminense (UFF), Fundação Getúlio Var-
gas do Rio de Janeiro e São Paulo e Universidade ATENEA, sua organização federativa permite
Federal da Bahia (UFBA) e algumas especialistas variações nas realidades locais. Ainda assim,
independentes. verifica-se, no país, uma notável concentra-
20 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Quadro 3: Instrumentos internacionais subscritos e ratificados pelo Brasil
Íntegra do Decreto 19.841, de 22 de outubro de 1945, que Promulga a Carta das Nações Unidas: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm
Íntegra do Decreto 19.841, de 22 de outubro de 1945, que ratifica Carta das Nações Unidas: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm
Convención sobre los Derechos Políticos de La Mujer (1952), assinada pelo Brasil em 1953 e ratifica-
da pelo país em 1963: https://treaties.un.org/pages/ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=X-
VI-1&chapter=16&lang=en
Tratado de Direitos Civis e políticos (1966), assinado pelo Brasil em 1992: https://treaties.un.org/Pages/
ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=IV-4&chapter=4&clang=_en (Brasil assina somente em 1992 -
provavelmente por causa da ditadura)
Cedaw (1979), assinado pelo Brasil em 1981 e ratificado pelo país em 1984: https://treaties.un.org/Pages/
ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=IV-8&chapter=4&lang=en
Protocolo Facultativo da CEDAW (1999), assinado pelo Brasil em 2001 e ratificado em 2002: https://www.
cepal.org/mujer/html/ProtocoloFacultativo.htm
Carta da organização dos Estados Americanos (1948), assinada pelo Brasil em 1948 e ratificada em 1950:
http://www.oas.org/es/sla/ddi/tratados_multilaterales_interamericanos_A-41_carta_OEA_firmas.asp
Convenção Interamericana sobre a Concessão de Direitos Políticos da mulher (1948), assinada pelo Brasil
em 1948 e ratificada em 1950: http://www.oas.org/juridico/spanish/firmas/a-44.html
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969), de acordo com os documentos disponíveis no site
da OEA, o tratado foi subscrito na Conferência especializada interamericana e adotado em 1969 (conven-
ção de San Jose, Costa Rica). Entrou em vigor em 1978, com registro na ONU em 1979: https://www.oas.
org/dil/esp/tratados_B-32_Convencion_Americana_sobre_Derechos_Humanos_firmas.htm
Protocolo adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1988), ratificado em 1996: https://
www.oas.org/juridico/spanish/firmas/a-52.html
Convenção Interamericana para prevenir, sancionar e erradicar a violência contra a mulher (1994), assinado
pelo Brasil em 1994 e ratificado em 1995: http://www.oas.org/juridico/spanish/firmas/a-61.html
22 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
nidade, inclusão do estupro entre os crimes Embora não seja uma lei integral, por tratar
hediondos (e um conjunto de normas que especificamente da violência doméstica e
aumentam a pena para crimes de tortura e familiar, a Lei Maria da Penha7 tem ampla re-
cometidos contra mulheres grávidas), direitos percussão, uma vez que altera o Código de
de propriedade, direitos relativos à conjuga- Processo Penal, o Código Penal e a Lei de
lidade, alimentos e pensão (reconhecimento Execução Penal, e dispõe sobre a criação dos
de relacionamentos em que houve convivên- Juizados de Violência Doméstica e Familiar
cia mínima de cinco anos). contra as Mulheres.
No tocante à participação política, o relatório Ela foi implementada num período e cenário
ressalta a Lei 9.504/1997, que determina co- institucional profícuos na criação e/ou forta-
tas para mulheres nas listas eleitorais, apon- lecimento de políticas públicas para a preven-
tada como expressão de garantia à igualdade ção e sistematização de informações sobre a
de participação entre mulheres e homens. As violência sexual e a violência contra as mu-
características gerais da Lei Eleitoral brasi- lheres, em que se qualificaram e ampliaram
leira, sua fragilidade e sua baixa efetividade políticas existentes desde os anos 1990. Entre
serão discutidas na Dimensão 3 do presente estas: o Ligue 180, criado em 2003, consistiu
documento. num sistema nacional de denúncias por tele-
fone, através de um número único, disponível
O relatório de 2002 ressalta, também, a ade- 24 horas por dia; a Portaria 936, de 2004, dis-
são do país à Convenção Interamericana para pôs sobre a estruturação da Rede Nacional
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra as de Prevenção da Violência e Promoção da
Mulheres (da OEA, conhecida como Conven- Saúde e a Implantação e Implementação de
ção de Belém do Pará, de 1994) e os esforços Núcleos de Prevenção à Violência em Esta-
governamentais para prevenir e criminalizar a dos e Municípios; a Notificação de Violência
violência contra as mulheres. Como já mencio- Interpessoal e Autoprovocada foi implemen-
nado, este é um tema em que o país não obteve tada em 2006 e tornada compulsória para
pontuação no IPP, pela ausência de legislação todo o sistema público e privado de saúde em
integral de combate à violência. Neste particu- 2011, aumentando significativamente o núme-
lar, é importante ressaltar os avanços sobre a ro total de notificações.
o enfrentamento à violência doméstica, com a
adoção de legislação específica. A Lei 11.340, É importante ressaltar, ainda, que o Brasil
de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei não avançou, até o momento, na implemen-
Maria da Penha, cria mecanismos para coibir tação das recomendações para adoção de
a violência doméstica e familiar contra a mu- legislação específica para combater o assé-
lher. Trata-se de regulamentação de artigo da dio e a violência contra as mulheres na polí-
Constituição brasileira de 1988 (art. 226, pará- tica, produzidas no âmbito do Mecanismo de
grafo 8º), com base na CEDAW.
7 Para fins da construção dos indicadores, o
ATENEA não pontua legislações que, como a Lei
Maria da Penha (Lei 11.340/06), estejam dedicadas
à violência de gênero no âmbito doméstico e não
a uma lei integral (conforme conceituação no capí-
tulo 1). Apesar disso, o projeto reconhece a impor-
tância do impacto dessa Lei na vida das mulheres
brasileiras e como boa prática que pode inspirar
políticas públicas de outros países.
Movimentos sociais impulsionam direitos das mulheres apoiando-se nos compromissos in-
ternacionais assumidos pelo país.
As altas taxas gerais de registro e compa- Nos anos 2000, a correlação inverteu-se, pas-
recimento devem-se ao fato de que o alis- sando os homens a apresentar uma taxa de
tamento eleitoral e o voto são obrigatórios analfabetismo 0,3 ponto percentual superior
no Brasil, entre os 18 e os 70 anos de idade, à das mulheres (IBGE, 2007). Desde então,
e permitidos a partir dos 16 e depois dos 70,
sem obrigatoriedade. 8 Dados disponíveis em http://ipeadata.gov.br/.
24 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
as mulheres mantêm taxas de analfabetis- legal mínimo de mulheres nos altos cargos da
mo inferiores às dos homens. As taxas de administração pública (não houve pontuação,
escolarização também são, hoje, superiores por não haver cotas/mínimo legal nesta área);
entre elas. A escolarização líquida (taxa de e c) nos indicadores relacionados à qualidade
frequência da população com idade corres- do desenho institucional da lei de cotas (tam-
pondente ao nível escolar) no ensino médio é bém aqui não houve pontuação, devido à fra-
8,2 pontos percentuais maior entre elas, que gilidade da legislação). Essas informações
têm uma vantagem média de 3,4 pontos per- são detalhadas a seguir.
centuais quando se observam as taxas para o
ensino superior completo (IBGE, 2016). Na administração pública, não há medidas ou
mínimos legais estabelecidos para ampliar o
A Justiça Eleitoral brasileira tem garantido percentual de mulheres nos postos de alto
a inscrição do eleitorado e o acesso aos lo- escalão – cargos comissionados de Direção e
cais de votação e tem modernizado o siste- Assessoramento Superiores (DAS) –, apesar
ma como um todo, de forma a permitir veri- de o Decreto 4228, de 2002, ter instituído, no
ficações, de acordo com a legislação vigente. âmbito da Administração Pública Federal, o
Nas eleições de 2018 houve, no entanto, re- Programa Nacional de Ações Afirmativas, que
gistros de violência específica contra mulhe- previa a adoção de medidas administrativas
res jornalistas e contra eleitoras envolvidas e de gestão estratégica que estabelecessem
na organização de protestos, eventos devi- metas com percentuais de participação de
damente registrados no respectivo relatório negros/as, mulheres e pessoas com defici-
da Organização dos Estados Americanos ência. Não obstante, existem mecanismos de
(OEA, 2018, p. 8). O mesmo relatório expres- cotas para pessoas com deficiência (1991) e
sou preocupação com “discursos carregados cotas raciais (2014), aplicados a vagas preen-
de estereótipos racistas, misóginos e homo- chidas por meio de concursos públicos.
fóbicos” e com denúncias de violência vincu-
lada a discursos extremistas (Idem, p. 8 e p. No âmbito legislativo, existe dispositivo legal
95). Ressaltou, ainda, que a violência política que reserva vagas para mulheres nas eleições
atingiu não apenas candidatas, mas também proporcionais. Ele se aplica aos legislativos
eleitoras, assim como o exercício legal de ma- locais (cargo de vereador/a, nas Câmaras Mu-
nifestação e expressão (Ibidem, p. 88). nicipais), estadual (cargo de deputado/a es-
tadual, nas Assembleias em todos os estados
2.2.3. Dimensão 3: Adoção de e na Câmara Legislativa do Distrito Federal)
medidas de cota ou paridade e nacional (cargo de deputado/a federal, na
Câmara dos Deputados). Porém, tal dispositi-
De todas as dimensões, esta é a que obteve vo é considerado bastante frágil.
a pontuação média mais baixa, de 13,3. Seus
nove indicadores concentram-se: a) no per- 2.2.3.1. A legislação de cotas
centual legal mínimo estabelecido pela lei de eleitorais para mulheres e seu
cotas para a participação das mulheres nas incremento entre 1995 e 2018
eleições para o legislativo nacional e para os
legislativos locais (o Brasil pontuou 60 em A Lei 9.100/95, que regulamentou as eleições
cada um desses dois indicadores, devido ao municipais de 1996, previu que, para o cargo
percentual legal de 30% de candidaturas de de vereador/a, 20% das vagas de cada par-
mulheres, nos dois casos); b) no percentual tido ou coligação daquela eleição deveriam
Apenas nas eleições de 2018 os efeitos seriam Nesse mesmo contexto, a lei eleitoral de 2015
sentidos, não apenas no percentual de can- (Lei 13.165, chamada de Minirreforma Elei-
didaturas, mas no resultado das eleições. De toral), determinou que os partidos políticos
um pleito para o outro, o número de depu- devem repassar um mínimo de 5% do Fundo
tadas federais eleitas saltou de 10% para 15% Partidário para as secretarias das mulheres
das cadeiras da Casa, algo inédito nos mais (instâncias internas dos partidos que buscam
de vinte anos desde a adoção das cotas. promover e apoiar candidaturas femininas),
para custeio de programas de promoção e di-
Em resumo, os principais efeitos do incremen- fusão da participação política das mulheres.
to na legislação foram um aumento de 51% O Fundo Partidário é constituído de recursos
no número de deputadas federais eleitas em públicos9 e tem como objetivo a manutenção
2018, que foi de 77 parlamentares (em 2014,
foram eleitas 51), e um aumento de 37,8% no 9 É possível fazer doações individuais diretamente
número de deputadas estaduais eleitas no na Conta Única do Fundo Partidário, mas a maior
parte do Fundo é de origem pública.
26 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
das atividades dos partidos políticos que ob- nimo de 30% de candidaturas de um dos
tiveram ao menos 1,5% dos votos válidos nas sexos, mas sim “reservá-las”, o que só se
eleições para a Câmara dos Deputados, dis- modificou doze anos depois, com a apro-
tribuídos em pelo menos um terço das Unida- vação da Lei 12.034, de 2009.
des da Federação, com um mínimo de 1% dos
votos válidos em cada uma delas, ou aqueles d. A legislação determinava reserva de
que elegeram pelo menos nove deputados vagas de candidatura sem atribuição de
federais distribuídos em pelo menos um terço recursos financeiros e tempo de propa-
das 27 unidades da federação. ganda eleitoral para as mulheres (segun-
do a legislação em vigor, é reservado aos
2.2.3.2. A fragilidade da legislação partidos e coligações, na televisão e no
de cotas brasileira rádio, espaço de propagando eleitoral
obrigatória). Isto só se modificou 21 anos
Nos indicadores ATENEA que medem o de- depois de aprovada a lei de cotas, com a
senho adequado das políticas de cotas vi- resolução 23.568, do TSE, de 2018.
gentes, tais como a existência de um sistema
eleitoral proporcional com listas fechadas e e. Não há legislação específica que de-
com alternância entre os sexos, e a existên- termine a punição dos partidos que não
cia de sanções no caso de descumprimento cumpram a legislação de cotas e a atri-
das cotas – bem como de restrições para sua buição de recursos correspondentes para
aplicação – a pontuação obtida não saiu de as candidaturas de mulheres;
zero. Apresentamos a seguir algumas consta-
tações que permitiram caracterizar a legisla- f. Os líderes partidários têm desenvol-
ção brasileira como frágil: vido estratégias bem-sucedidas para
burlar a legislação. Um exemplo disto é
a. A legislação reserva vagas nas listas a Lei 13.831, de maio de 2019, que anis-
eleitorais de partidos ou coligações par- tia as multas dos partidos políticos que
tidárias, mas o sistema eleitoral propor- até 2018 não empregaram 5% do fundo
cional brasileiro é de listas abertas e sem partidário no custeio de programas para
ordenamento de posições. promover a participação das mulheres.
Além das questões relativas a legislação e/ou práticas políticas, cabe mencionar que o Brasil
passa por um momento particular. A ampliação limitada do percentual de mulheres eleitas para
a Câmara dos Deputados e, em especial, a determinação de que as campanhas femininas rece-
bam 30% do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, têm produzido reações por parte
de partidos e lideranças políticas.11
Ainda que a legislação de cotas seja pouco efetiva, pelas razões já mencionadas, seu incremen-
to tem sido realizado por meio de ações do Judiciário. A reserva de recursos do fundo para
financiamento eleitoral dos partidos e de tempo para propaganda nos meios de comunicação,
compatível com os 30% que a lei de cotas reserva para as mulheres nas listas eleitorais, foi um
dos principais fatores que contribuíram para que se elevasse em 51% o número de deputadas
federais eleitas de 2014 para 2018; e em 41,2% o número de deputadas estaduais eleitas, entre
os mesmos pleitos. Isso mostra que boas práticas respondem não só ao desenho adequado da
legislação de cotas, mas também a medidas que efetivamente vinculam os partidos políticos
à legislação.
Nesta dimensão, a pontuação obtida foi de 51,7, através dos seguintes indicadores: percentual
de mulheres titulares de ministérios (18,2); percentual de mulheres que ocuparam Ministérios
de “produção” ou “preservação do sistema” (11,8)12, diferença por sexo no tempo médio de
ocupação dos gabinetes (100); porcentagem de mulheres que ocuparam o cargo de secretária
executiva de ministério (cargo equivalente ao de vice-ministra, 28,6); e existência de um meca-
nismo nacional de promoção da participação de mulheres no Poder Executivo (100).
10 www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/09/08/senado-aprova-cota-minima-para-mulheres-no-le-
gislativo).
11 Em 2019, foi apresentado no Senado Federal um projeto de lei que previa o fim das cotas para mulheres
nas listas partidárias. Depois de apreciada, a proposta foi rejeitada pelo mérito na Comissão de Constitui-
ção e Justiça da Casa.
12 Os dados da dimensão 4 foram construídos com base em levantamentos organizados pelas autoras. Se-
gundo Skard y Haavio – Mannila (1985), as áreas ministeriais podem ser: de “produção” (política econômica,
fiscal, trabalhista, industrial, energética etc.); de “reprodução” (política social, familiar, sanitária, educacio-
nal, habitacional, ambiental, cultural etc.) e de “preservação do sistema” (reforma política e administrativa,
política exterior e defesa, apoio a grupos de interesse e minorias etc.).
28 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Embora a presença de mulheres nos altos O indicador mais positivo nesta dimensão,
cargos do Poder Executivo e da Administra- que é o tempo médio de permanência de mu-
ção Pública brasileira seja baixa, a pontuação lheres e homens nos ministérios (100 pontos),
média obtida deve-se a dois indicadores po- mostra que as mulheres que ocuparam esse
sitivos: o tempo relativo de permanência das cargo permaneceram em média 14 meses,
mulheres nos ministérios que ocuparam e a enquanto a média para os homens foi de 11,7
existência de um mecanismo nacional de po- meses. Apesar desse indicador mostrar uma
líticas para mulheres. Não obstante, enten- “vantagem” quantitativa para mulheres, so-
demos que não representam avanços em di- mente duas ministras ocuparam cargos nes-
reção à paridade no cenário atual, conforme se período (uma por 27 meses, outra por 12
análise que segue. meses, totalizando 39 meses/2) enquanto 59
homens ocuparam o cargo de ministro (tota-
Em 2010, em sucessão ao Presidente Luís Iná- lizando 792 meses/59 ministros).
cio Lula da Silva, elegeu-se Dilma Rousseff a
primeira mulher Presidente da República no A ocupação de cargos por mulheres esteve
Brasil, que foi reeleita para um segundo man- sujeita, durante o período analisado, às flutua-
dato, em 2014. Ambos, Lula da Silva e Rous- ções políticas e, sobretudo, às indicações dos
seff, pertencem ao Partido dos Trabalhadores. partidos que compõem a base de apoio ao
Em 2016, Rousseff sofreu um processo de im- governo, reproduzindo a política partidária de
peachment e foi afastada da Presidência. As- ampla maioria masculina.
sumiu o Vice-Presidente, Michel Temer. Como
ocorre nestas situações, o processo foi acom- Em que pesem as persistentes disparidades
panhado por intensas discussões e disputas enfrentadas na ocupação dos ministérios e
judiciais, inclusive como decorrência de um nos cargos de chefia na administração públi-
longo processo de combate à corrupção nos ca, o país vive hoje um contexto político em
tribunais, que vem marcando profundamente que a paridade não consta como princípio
a política brasileira nos últimos anos. para os mandatários do Executivo.
Em 2011, dos 37 ministérios então existentes, Isso nos leva a outro ponto relevante, que é
nove (24,3%) eram chefiados por mulheres, o o fato de que, nesse contexto, a existência
maior percentual da história do país. Já em de um mecanismo de políticas específicas,
2014, 11,8% dos que ocuparam ministérios fo- que obteve 100 pontos na aplicação do IPP,
ram mulheres. Durante o breve governo de contribuindo para elevar a pontuação nessa
Michel Temer (agosto de 2016 a dezembro de dimensão, adquire sentidos distintos dos que
2018), apenas 3,3% das pessoas que chefia- tinha anteriormente.
ram ministérios foram mulheres.
2.2.4.1. O organismo nacional de
No momento em que este diagnóstico é fi- políticas para as mulheres
nalizado, em maio de 2019, dois entre os 22
ministérios que compõem o Governo Federal A Secretaria de Política para as Mulheres foi
são chefiados por mulheres, um percentual criada em 2003. A antiga Secretaria de Esta-
de 9,1%. Entre eles, 21 contam com secreta- do dos Direitos da Mulher, criada em 1998 e
rias-executivas e, destas, apenas três são ocu- vinculada ao Ministério da Justiça, foi então
padas por mulheres, um percentual de 14,3%. transformada em Secretaria Especial, vincu-
lada à estrutura da Presidência da República.
Em outubro de 2015, a Secretaria deixou de ter O compromisso com a paridade foi explicita-
status ministerial, sendo incorporada ao novo do em campanhas públicas promovidas pela
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial SPM, tais como “Mais Mulheres na Política”, e
e dos Direitos Humanos (MMIRDH). Em maio na atuação do Executivo federal em um ci-
de 2016, extingui-se o Ministério, devolvendo clo político no qual foram realizadas quatro
suas atribuições ao Ministério da Justiça, que Conferências Nacionais, com a participação
passou a se chamar Ministério da Justiça e Ci- de delegadas escolhidas nos municípios e es-
dadania. O organismo nacional específico de tados. Dessas Conferências, resultou um Pla-
políticas para as mulheres tornou-se Secreta- no Nacional de Políticas para Mulheres (2013-
ria Nacional de Políticas para as Mulheres, vin- 2015) (Matos e Alvarez, 2018).
culada ao Ministério da Justiça e Cidadania.
A Secretaria de Políticas para Mulheres foi criada com o objetivo de ampliar o compromisso
do Estado brasileiro com a igualdade de gênero e os direitos das mulheres, em diálogo com os
movimentos de mulheres em sua diversidade. A Secretaria promoveu leis, programas e ações
com esse fim, o que incluiu outros ministérios, como resultado de ações para transversalizá-la.
Além disto, deu maior permeabilidade entre o Estado e os movimentos sociais e promoveu a
ampliação do debate público sobre a desigualdade de gênero e entre homens e mulheres no
país.
30 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
2.2.5. Dimensão 5: Presença de 2.2.5.1. Mulheres candidatas
mulheres no Poder Legislativo e e eleitas para a Câmara dos
existência de condições mínimas Deputados
para o acesso e exercício do cargo
Como já explicado em relação às cotas elei-
Nessa dimensão, relacionada ao Poder Legis- torais (Dimensão 3), embora a lei que reser-
lativo (especificamente à Câmara dos Depu- va pelo menos 30% de candidaturas nas listas
tados), o Índice de Paridade Política pontuou partidárias para cada sexo esteja sendo cum-
59,1. Essa pontuação, calculada a partir de dez prida, e, na prática, venha ocorrendo a reserva
variáveis, diz respeito às condições de exer- de vagas de candidaturas femininas, esse pa-
cício da paridade neste Poder, considerando tamar de candidaturas só foi alcançado a par-
tanto a existência e o cumprimento da lei de tir das eleições de 2014 (29,1%). Em 2018, pela
cotas quanto a atuação média das parlamen- primeira, vez a média de candidatas à Câmara
tares. A pontuação foi calculada a partir dos de Deputados por partido ultrapassou a cota
seguintes indicadores, relacionados apenas à (32,1%). Isso se deveu: ao incremento gradual
Câmara dos Deputados: percentual de mu- no número de candidatas desde a aprovação
lheres candidatas em 2018 (64,2); índice de da lei, em 1995; a cada reforma eleitoral que
cumprimento da cota legal de 30% (100); antecedeu as eleições gerais; e à pressão cres-
percentual de eleitas em 2018 (30); percen- cente pelo cumprimento das cotas pelo Poder
tual de mulheres na Mesa Diretora (28,4); per- Judiciário (principalmente devido a denúncias
centual de comissões permanentes presidi- contra candidaturas-fantoche, já mencionadas
das por mulheres na Casa (32); percentual de no Quadro 4 da Dimensão 2, e a decisões de
comissões legislativas de “produção “ e “pre- reserva do fundo eleitoral). No entanto, con-
servação do sistema” presididas por mulhe- forme já enfatizado, não há previsão de sanção
res (14,2)13; percentual de deputadas que são pelo descumprimento desta lei, o que dificulta
líderes de bancadas partidárias (22); existên- que seja de fato e integralmente cumprida.
cia de comissão parlamentar de Mulheres ou
Gênero (100); existência de unidade técnica Não obstante, mesmo sendo atingido o per-
para a transversalização de gênero na Casa centual mínimo reservado de candidaturas, o
(100); e existência de uma bancada feminina maior número de cadeiras conquistadas por
(100). Apesar de o índice final não parecer mulheres ainda é bastante baixo, tendo che-
baixo, outros fatores externos à Câmara dos gado ao máximo de 15,0% de cadeiras apenas
Deputados e mesmo relativos ao exercício do nas eleições de 2018. Estamos, assim, ainda
mandato na Casa influenciam este cenário. muito longe de atingir a cota de 30% na ocu-
pação de cadeiras na Câmara dos Deputados,
e mais ainda da paridade.
N (1978) = 420; N (1982, 86) = 479; N (1990) = 503; N (1994, 98, 2002, 06, 10, 14, 18) = 513.
Fonte: as autoras, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral.
Entre os trinta partidos com representan- da Social Democracia Brasileira (PSDB), com
tes eleitos/as em 2018, praticamente todos 36,8% e do Movimento Democrático Brasi-
cumprem o percentual mínimo de 30% de leiro (MDB), com 35,7%, a média do total de
candidaturas de um sexo, estipulado pela lei partidos cumpriu os requisitos mínimos, com
de cotas. Entre os poucos partidos que não 31,8% de candidatas nas últimas eleições para
cumpriram o percentual mínimo, por margem a Câmara dos Deputados, somados todos os
pequena, estão o Partido Progressista (PP), 27 distritos eleitorais. Portanto, a cota legal
com 25,8% de candidatas; a Rede Sustenta- foi cumprida, resultando em um índice de 100
bilidade, com 28,8%; o Partido da Mobilização para o cálculo do IPP (dado que o cumpri-
Nacional (PMN), com 27,2%; o Patriota, com mento médio foi de 106,0%).
29,4%; e o Solidariedade, com 29,6%. Como
algumas agremiações ultrapassaram o per-
centual mínimo, como o Partido Comunista
do Brasil (PCdoB), com 38,7%, apresentando
a lista mais próxima da paridade entre todos
os partidos brasileiros, seguido do Partido
32 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Gráfico 2: Percentual de candidatas à Câmara de Deputados, por partido - 2018
Em relação às bancadas partidárias eleitas, rior Eleitoral, do mesmo ano, de reservar para
atualmente apenas uma, a do Partido Socia- as mulheres 30% do fundo partidário, do fun-
lismo e Liberdade-PSOL tem paridade de gê- do especial de financiamento de campanha
nero entre seus dez membros. dos partidos (Resolução TSE Nº 23.575/2018)
e do tempo de propaganda eleitoral gratuita
Ainda que não haja no Brasil uma lei de pari- no rádio e na televisão, acompanhando o en-
dade, emerge na comunidade de pesquisado- tendimento de que a lei de cotas só será efeti-
res/as a hipótese (ainda não explorada, dado va se garantir recursos para ampliar a compe-
que as últimas eleições ocorreram há menos titividade das mulheres, dado que o sistema
de um ano) de que o salto histórico de 5 pon- eleitoral brasileiro para eleições proporcionais
tos percentuais de eleitas em 2018 deveu-se, organiza-se por listas abertas.
principalmente, à decisão do Tribunal Supe-
Fonte: TSE
rantindo candidatas em posições elegíveis), a Sudeste 28 179 15,6%
cota nas listas transfere-se para a distribuição Sul 12 77 15,6%
das cadeiras, principalmente nos distritos de Total 77 513 15,0%
alta magnitude (ou seja, com muitas cadeiras
em disputa) ou quando há baixa fragmenta- Além disso, o sistema partidário é altamen-
ção do sistema partidário (porque as listas te fragmentado – em 2018, havia 35 partidos
partidárias elegem muitas cadeiras) (Matland, registrados, dos quais 30 elegeram represen-
2005). No Brasil, no entanto, não é o partido tantes para a Câmara dos Deputados – e, de
quem ordena a lista, mas o eleitorado – assim, modo geral, são controlados por homens, que
se não houver investimento nas candidaturas buscam viabilizar candidaturas de homens.
femininas, elas serão menos competitivas e
ocuparão as últimas posições nas listas, como Até 2015, havia no Brasil um sistema de finan-
historicamente vem acontecendo. ciamento eleitoral misto com recursos públi-
cos, privados individuais e privados empre-
A literatura aponta que a eleição de mulheres sariais. Em 2015, o financiamento empresarial
em sistemas proporcionais é facilitada quan- foi proibido, ampliando-se o financiamento
do é alta a magnitude do distrito eleitoral, público (além do fundo partidário, que man-
dado que o grande número de cadeiras em tém todos os gastos dos partidos, criou-se
disputa costuma resultar na conquista de um um fundo especial de financiamento de cam-
número considerável de cadeiras por partido, panha para as eleições de 2018) e definindo
o que muda a estratégia de seleção de can- o financiamento privado a termos individuais
didaturas do partido (Matland, 2005; Norris, (com teto de 10% dos rendimentos brutos
2004). Isto não acontece no caso brasileiro. do/a doador/a no ano anterior à eleição). Ao
mesmo tempo, os limites de financiamento
Os menores distritos têm pelo menos oito para cada cargo nas eleições 2018 foram mui-
cadeiras para serem distribuídas; eles são to altos – 2,5 milhões de reais para o cargo de
onze dos 27 distritos, sendo os estados me- deputado/a federal –, permitindo-se o autofi-
34 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
nanciamento total do/a candidato/a. Tanto o uninominal ou eleição majoritária com voto
teto percentual (ao invés da proposta, derro- plural (dependendo da renovação de 1/3 ou
tada em 2015, de um teto nominal de doações 2/3 das cadeiras do Senado, a cada quatro
individuais) quanto o autofinanciamento dos/ anos), não há nenhuma reserva de vagas de
as candidatos/as acabaram por beneficiar candidaturas ou de cadeiras por sexo.
candidaturas de pessoas abastadas.
Em 2018, o cenário de candidaturas femininas
O principal complicador na aplicação das co- foi de uma média geral de 15,3%. Ressalta-se
tas e da reserva de recursos (financeiros e que 12 dos 30 partidos aqui analisados (aque-
tempo de propaganda eleitoral gratuita no les que conquistaram cadeiras na Câmara bai-
rádio e na TV) é a falta de uma sanção ao xa) não lançaram nenhuma candidata mulher
não-cumprimento, o que deixa a decisão de ao Senado Federal.
análise de cada denúncia aos Tribunais Regio-
nais Eleitorais (portanto, cortes eleitorais de
nível local). Em alguns casos, os TREs decidi-
ram pela impugnação da lista partidária, mas
a falta de sanção definida em lei deixa um
grande espaço de arbítrio. Em 2018, o sistema
de prestação de contas eleitorais foi muito
sofisticado, tendo os/as candidatos/as até 72
horas para registrar as doações recebidas no
sistema do TSE e um calendário rígido para
as prestações de conta parciais e finais. Isto
permite alta capacidade de monitoramento e
fiscalização das contas de campanha, o que
sempre pode ser ampliado, mas, repetimos,
a falta de sanção definida em lei em caso de
descumprimento da cota é uma fragilidade
institucional.
Apenas cinco partidos lançaram mais de 30% são mulheres. Esse número significou uma re-
de candidatas, ainda que não haja cotas para tração no percentual de eleitas em 2014, que
o Senado. São eles: PCdoB (3 candidatas, em foi de 18,5% (renovação de 1/3 da Casa). Em
5); PHS (1 candidata, em 2); PSB (4 candida- média, mulheres foram 15,3% do total de can-
tas, em 11); Solidariedade (2 candidatas, em didatos ao Senado em 2019, com sua partici-
6); e PROS (1 candidata, em 3). pação se concentrando mais nas suplências
do que como titular de chapa (23,7% da 1ª su-
Do total de eleitos/as para o Senado Federal plência e 29,7% da 2ª suplência), ou seja, em
em 2018 (renovação de 2/3 da Casa), 12,9% posições secundárias.
36 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Gráfico 4: Percentual de eleitas e eleitos para o Senado Federal, por eleição
(1978, 82) = 23; N (1986) = 49; N (1990) = 31; N (1994, 2002, 10, 18) = 54; N (1998, 2006, 14) = 27.
Fonte: as autoras, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral.
38 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
ção de gênero na estrutura técnica das Casas Senado, na Casa existe também o Observató-
legislativas, assim como a existência de uma rio da Mulher contra a Violência (OMV), cria-
bancada feminina. Aqui, vale ressaltar a exis- do 2016, que trata especificamente dessa te-
tência da Secretaria da Mulher da Câmara dos mática e auxilia tanto a Procuradoria Especial
Deputados, criada em julho de 2013, por meio da Mulher quanto a Comissão Permanente
da Resolução nº 31/2013. Essa estrutura uniu Mista de Combate à Violência contra a Mulher.
a Procuradoria da Mulher, criada em 2009, e
a Bancada Feminina ou Coordenadoria dos Parte do cenário de baixo poder político efe-
Direitos da Mulher, como institucionalmen- tivo das mulheres no âmbito do Parlamento
te essa bancada passou a ser denominada brasileiro explica-se pela discriminação que
(Mano, 2015). atinge as mulheres nos partidos políticos, fa-
tor que será explorado na seção específica
Com esta medida, a Bancada Feminina, que do tema (Dimensão 7). Sendo os partidos os
existia desde 1987, passou a ter assento no principais organizadores do trabalho político,
Colégio de Líderes, o que significa que uma eles não investem o suficiente nas candidatu-
coordenadora eleita por essa bancada tem ras femininas, sendo alvos de diversas denún-
direito a voz, a voto e a fazer uso do horário cias, não só de falta de investimento, como de
de liderança nas sessões plenárias. Esse es- desvios na aplicação da lei. Na arena legislati-
paço é muito importante para a coordenação va, percebe-se um constante bloqueio à che-
da bancada feminina, por ser no âmbito de gada das mulheres aos cargos de prestígio na
coordenação política entre as parlamentares hierarquia das Casas Legislativas (Rezende,
de todos os partidos, buscando impulsionar 2017), o que está demonstrado no IPP.
sua articulação em termos suprapartidários.
Alguns dos fatores que fizeram subir o Índice
Embora não tenha tantas prerrogativas regi- de Paridade Política foram a existência da Co-
mentais quanto a Secretaria da Mulher da Câ- missão da Mulher na Câmara dos Deputados,
mara dos Deputados, no Senado Federal há apesar da atuação menos destacada do que a
a Procuradoria Especial da Mulher, criada em da Secretaria da Mulher; e a institucionalização
2013 por meio da Resolução nº 9/2013, tam- desta Secretaria da Mulher (Câmara dos Depu-
bém com o objetivo de articular as senadoras tados) e da Procuradoria da Mulher (Senado
em torno da agenda da igualdade de gênero. Federal), que são importantes espaços, mas
Além da Procuradoria Especial da Mulher do que coordenam bancadas femininas pequenas.
A lei de cotas brasileira não tem recebido a atenção e o investimento que requer. Além dis-
to, seu desenho é considerado um tanto ineficiente por especialistas. A combinação desses
fatores compromete sua eficácia. No entanto, o Poder Judiciário (especialmente, o Tribunal
Superior Eleitoral e o Supremo Tribunal Federal) tomou decisões importantes ao determinar
que, nas eleições gerais de 2018, 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de
Campanha fossem utilizados com as campanhas de candidatas mulheres, gerando um aumen-
to de 50% no número de eleitas – de 10% para 15% da Câmara dos Deputados.
A primeira juíza em toda a história do Supre- Não existe lei que promova a presença de
mo Tribunal Federal – STF, órgão de cúpula do mulheres, ocupação de posições superio-
Poder Judiciário, que atua como corte consti- res pelas mulheres ou ações afirmativas
tucional – Ellen Gracie Northfleet, foi nomeada nessa área no Poder Judiciário brasileiro.
em 2000. Até hoje, apenas três mulheres inte- Tampouco há órgãos específicos para pro-
graram esta Corte. A segunda juíza foi nomea- mover o empoderamento das mulheres nos
da em 2006 e, desde então, o STF conta com outros órgãos do judiciário. Como se ob-
duas mulheres em seu colegiado (Cármen Lú- serva, a questão da disparidade na presen-
cia Antunes Rocha e Rosa Maria Pires Weber),
o que corresponde a 18,2% do total. 15 As principais fontes de dados referentes a di-
mensão 6 foram os sites oficiais do Supremo Tri-
bunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Jus-
O Tribunal Superior Eleitoral é o órgão máxi-
tiça (STJ) e as bases de dados do Tribunal Superior
mo da Justiça Eleitoral e faz parte da estrutura
Eleitoral (TSE). O STJ é a “corte responsável por
do Poder Judiciário brasileiro. A Constituição uniformizar a interpretação da lei federal em todo
Federal determina que sua composição seja o Brasil. É de sua responsabilidade a solução defi-
mista, com três ministros do Supremo Tribu- nitiva dos casos civis e criminais que não envolvam
nal Federal (STF), dois do Superior Tribunal matéria constitucional nem a justiça especializada”
(http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Ins-
titucional/Atribui%C3%A7%C3%B5es).
40 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
ça de mulheres e homens em órgãos nes- a implementação de uma Comissão de Gêne-
se Poder não é tratada institucionalmente. ro no TSE18. A respectiva portaria encontra-se
Apesar de as mulheres serem quase metade em fase final de preparação e formalização.
das advogadas do país (49,2%)16, são apenas
35,9%17 dos magistrados. Sua distribuição tam- Em março do mesmo ano, o Superior Tribunal
bém é desigual entre os diferentes ramos da de Justiça lançou, em parceria com a ONU Mu-
magistratura, sendo quase metade na Justiça lheres, o Programa de Participação Institucio-
do Trabalho (47,0%), mas 16,2% na Justiça Mili- nal Feminina do Superior Tribunal de Justiça –
tar Estadual. As mulheres estão mais presentes Equilibra, para garantir a atuação das mulheres
nos estágios iniciais da carreira da magistratu- e, em seu âmbito, uma Resolução (no. 6), lan-
ra. “No estágio inicial da carreira (juiz substi- çada em 1º de março de 2019, que determina
tuto) há um percentual de 42,8% de mulheres, que “as indicações para a ocupação de cargos
percentual este que diminui para 36,6% dos em comissão e funções de confiança dos Gru-
Juízes Titulares, 21,5% dos Desembargadores pos de Direção e Assessoramento devem, na
e somente 18,4% dos ministros de tribunais medida do possível, respeitar a proporcionali-
superiores” (Venturini e Ramenzoni, 2016). Es- dade entre homens e mulheres”.
ses dados mostram a existência de um filtro
de gênero, que constitui um importante obs- Em outra indicação de que as demandas por
táculo à ocupação de posições superiores da paridade vêm crescendo no Judiciário, o Con-
carreira jurídica por mulheres no Brasil. selho Nacional de Justiça realizou, em respos-
ta a demandas de juízas federais e estaduais,
A ampliação do acesso das mulheres às car- uma audiência pública, no dia 10 de junho de
reiras Jurídicas e o fortalecimento do debate 2019, em torno da proposta de alteração nor-
sobre a sub-representação feminina no país mativa para garantir a paridade entre homens
têm produzido novas avaliações críticas e e mulheres nas bancas dos concursos para a
propostas no âmbito do próprio Judiciário. O magistratura, uma vez que as mulheres atu-
relatório da “Missão Eleitoral da Organização almente correspondem a menos de 10% dos
dos Estados Americanos – Eleições de 2018 membros titulares das bancas para a magis-
no Brasil” (OEA, 2018) recomendou que se- tratura federal.
jam criados comitês de gênero nos tribunais
eleitorais, começando pelo Tribunal Superior As iniciativas existentes para a promoção da
Eleitoral (TSE). Em abril de 2019, o Instituto paridade em concursos para a magistratura, o
dos Advogados Brasileiros, a Secretaria da equilíbrio na ocupação de funções no Superior
Mulher e a Bancada Feminina da Câmara dos Tribunal de Justiça e a construção de comitê
Deputados protocolaram no TSE a solicitação de gênero (Unidade de Políticas de Gênero)
da criação de uma Unidade de Políticas de no Tribunal Superior Eleitoral são muito impor-
Gênero no âmbito daquele Tribunal. A partir tantes. Ainda que sejam bastante preliminares,
dos esforços da ministra Rosa Weber, sua atu- fortalecem a promoção da igualdade de gêne-
al Presidente, e com base nas recomendações ro no Judiciário, pela atuação de advogadas e
da Missão Eleitoral da OEA de 2018, espera-se juízas que mobilizam, a partir de seus espaços
profissionais, a agenda da paridade e a crítica
16 www.oab.org.br/institucionalconselhofederal/ à sub-representação feminina.
quadroadvogados
18 www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2019/Ju-
17 http://cnj.jus.br/images/dpj/CensoJudiciario.fi- lho/presidente-do-tse-encerra-semestre-forense-
nal.pdf com-balanco-de-atividades
42 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
mesmo que seja meramente formal. É possí- reram nas eleições de 2018, não tinham se-
vel supor que uma implementação em nível cretarias de mulheres. Isso, no entanto, como
programático tende mais à retórica do que à ressaltado, não significa que os demais par-
ação organizacional (para usar as categorias tidos realmente invistam na promoção da
de Lovenduski, 1993). igualdade de gênero.
Ainda que alguns deles tenham cotas inter- Uma boa medida para avaliar o baixo impacto
nas para a ocupação de cargos de direção dessas secretarias de mulheres é que nenhum
partidária, a maior parte não trata a questão partido brasileiro, inclusive aqueles que têm
da promoção da igualdade de gênero como cotas de 30% (PSB, PSDB, PDT, PCdoB, PPS,
um tema central dos objetivos partidários. PV e REDE) ou regra de paridade interna para
Entre aqueles que tratam a questão formal- a ocupação de cargos de direção (PT e PSOL),
mente, diversos não incluem de forma efetiva garante que essas secretarias incidam sobre as
esse tema na atuação pública, ou até mesmo decisões das seleções de candidaturas, que é
trabalham contra a questão. Aliás, este é um uma área de disputa intensa e controlada for-
fator que dificulta a análise dos documentos temente pelas lideranças partidárias.
estatutários dos partidos brasileiros, porque
eles dizem muito pouco sobre a realidade O alto grau de autonomia para a organização
partidária e, mesmo como “carta de princí- partidária permitido pela legislação faz com
pios”, estão desconectados das ações coti- que a estrutura organizacional dos partidos
dianas realizadas pelos/as filiados/as e, prin- varie muito. Embora a autonomia seja um ele-
cipalmente, por seus dirigentes. mento central para evitar interferências inde-
vidas em um regime democrático, tem colo-
O mesmo pode-se dizer da existência de uma cado dificuldades adicionais para o controle
pasta específica para tratar do tema da parti- público dos partidos e sua fiscalização, tanto
cipação das mulheres, expresso como “unida- em termos gerais quanto especificamente em
de da mulher” nos partidos, que é a variável relação à atuação das mulheres.
com maior impacto positivo na composição
do IPP dessa dimensão. Outro fator que compõe o cálculo do IPP é o
número de mulheres nas instâncias executi-
Considerando que a lei dos partidos políticos vas nacionais. Em média, as mulheres ocupam
nº 9.096/95 determina a obrigatoriedade do 21,1% desses cargos nos partidos brasileiros,
uso de 5% dos recursos do Fundo Partidário sendo que quatro deles não têm nenhuma
pela secretaria da mulher ou, em sua inexis- mulher em suas executivas nacionais: PSD,
tência, pelas fundações de pesquisa dos par- PSC, PHS e PTC.
tidos, há um incentivo legal para a criação
dessas pastas. Sua formalização, no entanto,
não significa que sejam ativas e vigorosas em
todos os partidos. No levantamento realizado
em março/abril de 2019, 28 dos 30 partidos
analisados apresentaram setoriais específicos
de mulheres em sua estrutura organizativa –
ou seja, quase todas as legendas partidárias.
Somente os dois partidos fundados mais re-
centemente (AVANTE e Novo), que concor-
.
Fonte: As autoras, a partir de dados do TSE21.
Entretanto, ainda que haja muitas diferenças na organização interna dos partidos, quando ana-
lisadas as certidões das comissões executivas ou dos cargos executivos dos diretórios nacio-
nais22, constata-se uma variação grande na ocupação feminina desses cargos. Há desde partidos
que não têm nenhuma mulher nas suas executivas nacionais (PSD, PSC, PHS e PTC), até um
único partido com paridade de participação na comissão executiva nacional (PSOL). Os dois
partidos com paridade voluntária são aqueles com maior número de mulheres nas instâncias
executivas: PSOL (50,0%) e PT (44,8%). No entanto, dos 30 partidos analisados, 21 (ou seja,
70%) não contam com nenhum mecanismo voluntário de cotas ou paridade de gênero. Dos sete
partidos que têm cotas voluntárias internas de 30% para cargos de direção, três (PDT, PCdoB e
REDE) cumprem a determinação, ultrapassando os 30%; o PV chega a 27,7%; e três (PSB, PSDB
e PPS) estão distantes de cumpri-las.
21 No módulo de consulta às certidões dos órgãos partidários do Tribunal Superior Eleitoral (SGIP3 – TSE),
contatou-se que AVANTE, NOVO, PPL, PTC e PT não apresentam certidões de comissão executiva, mas
uma única certidão, sem separar “executiva” de “direção”. Os dados desses partidos referem-se aos cargos
executivos indicados nas certidões de “órgão definitivo” nacional, ou seja, do diretório nacional, que é seu
único documento registrado.
22 Essa indicação também não é padronizada, e depende do registro submetido pelo partido ao TSE.
44 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Outro fator analisado para a composição do As cinco demais candidaturas à presidência
IPP é o nível de compromisso com a igual- não apresentaram nenhuma das quatro sub-
dade de gênero, em seus programas de cam- dimensões em seu programa de campanha,
panha, pelos partidos que lançaram candida- inclusive a vencedora (PSL – PRTB). O pro-
turas nas eleições presidenciais de 2018. Para grama de campanha do presidente eleito, Jair
esta análise, considerou-se que as propostas Bolsonaro, ressaltou que buscaria combater o
que trazem um enfoque de gênero buscam estupro de mulheres e crianças.
promover a igualdade entre homens e mulhe-
res, a mudança nos padrões culturais e pa- Analisando-se esses documentos (que tam-
péis de gênero, a ampliação de direitos para bém variam muito entre si, sendo, alguns,
as mulheres e a promoção de sua autonomia longas propostas estruturadas e outros, uma
em quatro dimensões: ampliação e fortaleci- compilação de documentos com ideias pou-
mento de direitos sexuais e reprodutivos; pro- co desenvolvidas), constata-se que, em mé-
moção da igualdade de oportunidades; pre- dia, cerca de metade das candidaturas à Pre-
venção da violência e do abuso sexual contra sidência da República incluíram princípios de
as mulheres; e promoção de políticas de par- igualdade de gênero nas propostas.
ticipação política das mulheres23.
Seguem as propostas encontradas nos pro-
Das treze candidaturas à presidência da Re- gramas de campanha:
pública, três mencionaram as quatro dimen-
sões em seus programas de governo: PDT-A- Candidato Ciro Gomes (PDT-AVANTE)
VANTE, candidato Ciro Gomes; PSOL-PCB,
candidato Guilherme Boulos; REDE-PV, can- P. 45 – Capitulo 10 – Respeitar todos os bra-
didata Marina Silva. Outras três candidaturas sileiros - “(...) Os grupos que serão contem-
trouxeram propostas para três dessas dimen- plados nas nossas políticas afirmativas são as
sões, sendo que a única não mencionada é mulheres, os negros, as comunidades LGBTI
exatamente a que se refere à participação e as pessoas com deficiências. Para dar um
política: PT-PCdoB-PROS, candidato Fernan- exemplo inicial e importante, sem ser sufi-
do Haddad; PPL, candidato João Goulart Fi- ciente, buscaremos igualar o número de ho-
lho; PSTU, candidata Vera Lúcia. Houve uma mens e mulheres nas posições de comando
candidatura com metade das subdimensões no Governo Federal. Além disso, a população
tratadas em seu programa de campanha – negra e parda constitui mais da metade da
direitos sexuais e reprodutivos e combate à população brasileira.
violência contra a mulher –, a de Geraldo Al-
ckmin (PSDB-DEM-PP-PR-SD-PRB-PTB-PSD P. 46 - 10.1 - Respeito às mulheres –“Políticas
-PPS). Além disso, o programa de campanha para mulheres precisam ser pensadas tanto
do candidato Henrique Meirelles (MDB – PHS) em um contexto de urgência por exemplo,
tocou apenas na subdimensão da igualdade como o aumento de acesso a creches públi-
de oportunidades. cas, assim como tendo em vistas efeitos de
mais longo prazo como o fortalecimento de
leis e programas que facilitem a inserção das
23 Esses critérios metodológicos guiam as análises
mulheres nos meios produtivos. A autonomia
do mecanismo ATENEA e se baseiam em Dador,
Jennie e Beatriz Llanos (editoras). La igualdad es-
das mulheres, e a melhoria de sua situação no
quiva. Una mirada de género a las elecciones gene- que concerne ao seu status político, social,
rales 2006. Asociación Civil Transparencia e IDEA econômico e de Saúde é uma preocupação
Internacional. Lima. 2006.
46 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Candidato Fernando Haddad (PT-PCdoB nacional para a redução de violência contra
-PROS) idosos, mulheres e LGBTI e incentivar a cria-
ção de redes não-governamentais de apoio
P. 20: “(...) promoção do protagonismo das ao atendimento de vítimas de violência racial
mulheres por meio de políticas que promo- e contra tráfico sexual e de crianças”.
vam a autonomia econômica das mulheres, a
igualdade de oportunidades e isonomia sala- Candidato Guilherme Boulos (PSOL-PCB)
rial no mundo do trabalho, bem como o incen-
tivo à produção de ciência e tecnologia pelas P. 2 – “A fundamentação deste programa será
mulheres. A aprovação da PEC das Trabalha- a da centralidade na luta contra a desigual-
doras Domésticas foi fundamental e precisa dade e por direitos, nas demandas de mu-
ser consolidada. É preciso avançar na expan- lheres, negros e negras, LGBTI, pessoas com
são dos direitos das mães, visando ampliar o deficiência, indígenas e num outro modelo de
valor e o tempo do seguro desemprego para desenvolvimento consistente e coerente com
as gestantes e lactantes, além de priorizar a esta natureza programática. Será transversal
construção de creches. Na ótica transversal, o nas suas demandas para buscar uma totali-
impacto de gênero servirá como eixo de ava- dade para um projeto de nação (...). Quan-
liação necessário à formulação e à execução do abordarmos as demandas das pautas de
de toda e qualquer política pública, com par- opressões, estaremos falando da maioria da
ticipação direta do Ministério das Mulheres. classe trabalhadora brasileira. Não estare-
Serão retomadas e consolidadas as políticas mos tratando “apenas” e separadamente do
implementadas pelos governos Lula e Dilma feminismo, da luta da negritude, das reivin-
para o enfrentamento a todas as formas de dicações do movimento LGBTI, ou seja, ele-
violência contra a mulher, por meio da inte- mentos transversais e estruturantes das desi-
gração e ampliação dos serviços e medidas gualdades e dominação no Brasil. Trata-se de
preventivas de proteção e de atenção, como um profundo acerto de contas histórico que
a Casa da Mulher Brasileira, e as promovidas um novo programa de esquerda tem que fa-
pelo enfrentamento ao feminicídio, e com a zer com a herança do genocídio negro e indí-
Lei Maria da Penha. Fundado no princípio gena, da escravidão e da opressão”.
constitucional da laicidade do Estado, pro-
moveremos a saúde integral da mulher para P29 – ii. Reforma eleitoral – Voto proporcional
o pleno exercício dos direitos sexuais e repro- em listas partidárias preordenadas com alter-
dutivos e fortalecerá uma perspectiva inclusi- nância de gênero; democratização dos parti-
va, não-sexista, não-racista e sem discrimina- dos: eleições internas com cotas para mulhe-
ção e violência contra LGBTI+ na educação e res e negrxs (com financiamento partidário
demais políticas públicas”. justo, transparente e igualitário);
Candidato Geraldo Alckmin (PSDB-DEM-PP P.53 – É pela vida das mulheres! – [p. 53 a 58
-PR-SD-PRB-PTB-PSD-PPS) com diagnóstico da realidade de desigualda-
des, opressão, violência e ausência de direitos
P.11 – “Vamos fomentar ações voltadas à pre- das mulheres com recorte interseccional];
venção da gravidez precoce, adotando es-
tratégias educativas de sensibilização de P.58 – propostas: Programa interfederativo
adolescentes e apoio integral no caso de de combate à violência contra as mulheres;
gestação”(...); “Vamos estabelecer um pacto centros de referência, casas de acolhimento,
48 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
contraceptivos pelas farmácias populares e gradual para um sistema de licença parental,
estímulo ao parto humanizado. A prevenção e que possibilite o compartilhamento do perío-
atendimento à gravidez na adolescência, que do de licença entre mães e pais, sem prejuí-
representou 17,5% das crianças nascidas em zo do tempo de licença já conquistado pelas
2016, contará com uma política integrada das mulheres”.
áreas de educação e saúde. Ações interseto-
riais são indispensáveis para a promoção do Candidata Vera Lúcia (PSTU)
direito à saúde e a diminuição da sobrecarga
do sistema. P.22 – Direitos Humanos e Cida- P. 4 – “Item 15 - Pelo fim de toda a opressão!
dania Plena – (...) a inclusão de grupos histo- Contra o racismo, o machismo, a LGBTfobia e
ricamente excluídos e o combate a qualquer a xenofobia! (...) Em defesa da mulher traba-
forma de discriminação será diretriz transver- lhadora, combatemos todo tipo de violência
sal, presente em todas as políticas públicas, à mulher; por igualdade de direitos e salários;
a ser implementada em especial por meio de aborto livre, público e gratuito”.
projetos de promoção de equidade. Definire-
mos políticas específicas para superar as de-
sigualdades que atingem mulheres, popula-
ção negra, povos e comunidades tradicionais,
pessoas com deficiência, LGBTI, juventudes
e idosos. Mulheres - Em parceria com Esta-
dos e Municípios, promoveremos a ampliação
das políticas de prevenção à violência contra
a mulher, o combate ao feminicídio e a qua-
lificação da rede de atendimento às vítimas.
O tráfico interno e internacional de pessoas,
bem como o turismo sexual, que atingem ma-
joritariamente as mulheres, serão enfrentados
com rigor. Para fortalecer o direito à igualda-
de, a autonomia e liberdade das mulheres,
promoveremos políticas que enfrentem a
discriminação no mercado de trabalho, com
o objetivo de garantir igualdade salarial para
mulheres e homens que exerçam as mesmas
funções e a ampliação da participação de
mulheres em cargos e posições de tomada
de decisão. Oferecemos apoio ao empreen-
dedorismo feminino, por meio de acesso a
crédito e microcrédito e capacitação profis-
sional. Para garantir o direito ao trabalho e à
educação de mães, estimularemos a amplia-
ção da oferta de vagas em creches em tempo
integral e o compartilhamento dos cuidados
dos filhos com os pais, com a ampliação do
tempo de licença paternidade e a construção
de um modelo que possibilite uma transição
A existência de paridade voluntária nos partidos para a ocupação de cargos de direção mostra
que esse fator influencia fortemente a ocupação de cargos na comissão executiva dos parti-
dos, O PSOL com 50% é um caso interessante para análise.
O PSOL aprovou em 2011 cota de 30% de paridade de gênero e, em 2013, cota de 30% para ne-
gros/as nas instâncias executivas. Como se observa nos dados apresentados, é o único partido
que tem metade dos cargos da executiva ocupada por mulheres e é, também, o único partido
com paridade em sua bancada na Câmara dos Deputados.
O ponto central para a aprovação das cotas e, posteriormente, da paridade foi a preparação
e a articulação prévia, das mulheres filiadas, para levar a proposta ao congresso nacional do
partido.
Entre os sete partidos com cotas voluntárias de 30%, mais da metade deles cumpre ou quase
cumpre a determinação da cota voluntária, embora três ainda estejam distantes. O compro-
misso institucional com a paridade parece ser mais forte do que o compromisso com as cotas,
apesar de existirem apenas dois partidos com determinação de paridade interna.
50 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Gráfico 6: Percentual de eleitas nos municípios, por ano
A inexistência de uma legislação que impul- gradual de 10/12/16% das cadeiras, paulatina-
sione candidaturas femininas para os cargos mente, para as eleições de 2018/2020/2022,
do Executivo, cuja ocupação é determinada apresentada como proposição legislativa du-
por eleições majoritárias, traz um cenário de rante a minirreforma política de 2015, tinha o
muita dificuldade para a eleição de mulheres. objetivo de garantir um piso mínimo de re-
Como a literatura especializada aponta (Nor- presentação em todas as instâncias legislati-
ris, 2013), sistemas majoritários uninominais vas afetadas pela lei de cotas (excetuando-se,
são, de partida, menos abertos a minorias po- portanto, o Senado Federal), e, principalmen-
líticas; um sistema político-partidário perso- te, garantir, para os níveis subnacionais, o pa-
nalista, pouco responsivo à população, com tamar que já havia sido alcançado na Câmara
baixo controle político dos/as próprios/as dos Deputados. Essa proposta, no entanto,
filiados/as partidários e altamente centraliza- não teve apoio da maior parte dos parlamen-
do nas lideranças, como se observa no Brasil, tares e não chegou a tramitar, seguindo sem
compõe um cenário altamente desalentador movimentação legislativa desde 2017.
para a eleição de mulheres.
52 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
capítulo 3
Conclusões
ATENEA: por uMa democracia 50/50 53
capítulo 3 Conclusões
A análise das oito dimensões, aqui apresen- as pessoas exerçam o direito (e o dever, vis-
tada, revela um cenário de diversas fragilida- to que o voto é obrigatório no país) do ato
des institucionais no tocante ao desafio de se de votar. Os dados gerais não indicam pro-
construir a paridade política entre mulheres e blemas no alistamento eleitoral das mulheres,
homens no Brasil. Apresentamos, a seguir, as nem no seu comparecimento para votar.
principais conclusões do trabalho realizado.
O problema da violência contra as mulhe-
Dimensão 1: compromissos res na política também tem sido observado
nacionais com a igualdade na cada vez mais, à medida que as mulheres
constituição e marco legal avançam na tentativa de garantir condições
concretas para disputar as eleições em pé
Embora muitos compromissos tenham sido de igualdade com os homens. A reação ne-
formalizados por diferentes instâncias de po- gativa à maior presença das mulheres nos
der, em diversos níveis, as medidas implemen- espaços de poder manifesta-se no interior
tadas até agora são periféricas e insuficientes, dos partidos, entre colegas parlamentares,
e não garantem o controle público desse pro- nos espaços do Executivo e por parte de
cesso em nível considerado suficiente. adversários políticos durante e depois das
eleições. Há registros, também, de agressões
A igualdade entre mulheres e homens está a mulheres candidatas e a suas apoiadoras
prevista na Constituição brasileira. No entan- e apoiadores, por intolerância às bandeiras
to, ainda não existe no país uma lei integral que defendem, conforme apontado por ob-
que inclua a dimensão da violência política servadores da OEA nas eleições de 2018. O
contra as mulheres. maior problema, no entanto, tem sido a outra
face desse processo, que é a capacidade de
Nessa dimensão, o principal destaque positi- ser votada, bastante limitada para as mulhe-
vo é a organização de um sistema de infor- res brasileiras, como se depreende da análise
mações que permita acompanhar a imple- das dimensões eleitorais e partidárias.
mentação de políticas públicas de combate à
violência contra as mulheres. Dimensão 3: cotas e paridade
política
Dimensão 2: exercício do direito ao
sufrágio A legislação de cotas brasileira é considerada
muito frágil e sua implementação, há mais de
O exercício igualitário do sufrágio é a dimen- duas décadas, tem tido baixo impacto, pela
são do Índice de Paridade Política em que o falta de mecanismos institucionais que garan-
Brasil obtém a sua melhor pontuação e apre- tam a aplicação da lei, bem como de uma inci-
senta as melhores garantias. O sistema de dência específica nas condições de competi-
organização das eleições é bastante sólido, tividade das candidaturas de mulheres. Além
chega a todas as localidades e passa por con- de reservar vagas de candidaturas que não se
tínua auditoria, buscando garantir que todas traduzem em cadeiras no Parlamento, não há
54 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
previsão legal de sanção ao descumprimento Tampouco há cotas para mulheres nos con-
da lei, o que constitui sua maior debilidade. cursos de ingresso nas carreiras da admi-
nistração pública, na nomeação para cargos
O que se viu, desde as eleições de 1996 – pri- comissionados de indicação política, ou na
meira ocasião de implementação das cotas ocupação dos altos cargos na magistratura.
– é que os partidos políticos se adaptaram, O que se percebe é que, nessas carreiras, a
de forma a não deslocar candidaturas mas- entrada das mulheres é bastante grande nos
culinas e continuar organizando as eleições níveis iniciais, mas elas enfrentam importan-
como sempre havia sido – com prioridade tes obstáculos na progressão de carreira e ra-
para candidatos homens. As mudanças na ramente chegam às posições mais elevadas.
legislação foram paulatinamente levando ao
cumprimento da lei de cotas, mas mesmo A necessidade de formalizar, sustentar e for-
assim o desenho institucional de reserva de talecer os comitês de gênero nessas instân-
candidaturas num sistema eleitoral propor- cias é fundamental para a institucionalização
cional de listas abertas é outra fragilidade im- do tema e o avanço da agenda da paridade.
portante, porque não há ordenamento prévio
das posições da lista, o que restringe a proba- Dimensão 5: Poder Legislativo
bilidade de que, mesmo quando os partidos
lançam 30% de candidaturas de mulheres, É urgente a adoção de incentivos que melho-
elas sejam eleitas. rem a competitividade das candidaturas de
mulheres, como a interpretação de 2018, do
Dimensão 4: Poder Executivo e Supremo Tribunal Federal, de que também os
administração pública recursos de campanha, expressos no finan-
ciamento proveniente do Fundo Especial de
Com exceção dos cargos cuja ocupação é de- Financiamento de Campanha e do Horário
finida por eleições proporcionais, não há me- Gratuito de Propaganda Eleitoral, deveriam
didas afirmativas que promovam a presença ser distribuídos seguindo a reserva estabe-
das mulheres nos demais âmbitos do Estado lecida pela legislação de cotas. Embora este
brasileiro. Não há cotas nas eleições para car- não seja um fator isolado, é tido por estudio-
gos executivos (prefeito/a, governador/a e sos como o principal elemento que impul-
Presidente/a da República), nem para o Se- sionou a eleição de mulheres, nos pleitos de
nado Federal. A própria natureza das eleições 2018 que contavam com as cotas (Câmara
para esses cargos (majoritárias para os car- dos Deputados e Assembleias Legislativas/
gos executivos, alternadamente majoritário e Câmara Distrital), aumentando o número de
voto plural para o Senado) dificulta o acesso deputadas federais em 50% e de deputadas
a minorias políticas, o que favorece a eleição estaduais em 37,8%. Essa foi a principal mu-
de homens. No âmbito do governo federal, dança na aplicação da lei de cotas em toda
embora tenha sido feito um investimento na a sua história, porque reservou também re-
estruturação de uma Secretaria dedicada cursos financeiros e de comunicação política,
à transversalização de gênero nas políticas e sua efetividade parece ter sido central nas
públicas esta instância tem estrutura frágil e últimas eleições.
limites para a garantia de sua finalidade de
promover a igualdade de gênero por meio de Ainda assim, a porcentagem de deputadas
políticas públicas impulsionadas a partir do federais continua muito baixa, 15%, princi-
governo federal. palmente se consideramos que a aprova-
Ainda que não seja uma surpresa encontrar Os dados mostram que o cenário de partici-
dados que corroboram a hipótese de que pação política das mulheres no Brasil é ainda
partidos com uma estrutura organizativa al- mais grave no âmbito local, tanto nos estados
tamente centralizada nas lideranças políticas quanto nos municípios. Repetindo as condi-
praticam baixa democracia interna, sendo, ções que percebemos no nível federal, e agra-
portanto, fechados aos grupos com baixo vando ainda mais o quadro de desigualdade,
acesso às instâncias de tomada de decisão, os cargos do Poder Executivo em nível local
56 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
apresentam uma baixíssima presença de mu-
lheres, principalmente nos governos estaduais.
60 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
Nacional de Ações Afirmativas”, definido • Criar Grupos de Trabalho para a pro-
pelo decreto 4228/2002, de forma a dar moção da igualdade de gênero e raça no
garantias de participação paritária racial, Poder Judiciário, em todos os seus níveis,
de gênero e de pessoas com deficiência para localizar, identificar e combater a de-
nos cargos comissionados da administra- sigualdade de gênero, tanto no cotidiano
ção pública. das ações realizadas quanto na organiza-
ção interna das próprias instituições. Eles
Dimensão 5: Poder Legislativo poderiam ser a origem dos Comitês indi-
cados anteriormente.
• Garantir a participação feminina nas
posições de tomada de decisão nas Ca- • Implementar regulamentação de pari-
sas Legislativas, por meio de resoluções dade de gênero na ocupação dos cargos
aprovadas em cada uma dessas casas do Poder Judiciário.
(Câmara dos Deputados, Senado Federal,
Assembleias Legislativas/Câmara Legis- Dimensão 7: partidos políticos
lativa e Câmaras de Vereadores), modifi-
cando seus respectivos regimentos inter- • Promover reforma na Lei dos Partidos
nos de forma a: Políticos (nº 9.096/95) que exija mudan-
ças nos estatutos dos partidos, com o ob-
a. Estabelecer uma presença mínima de jetivo de garantir:
mulheres nos cargos das Mesas Diretoras,
na proporção do número de cadeiras que a. Paridade de gênero e racial na ocupa-
ocuparem naquela legislatura; ção de cargos de direção em todas as
agremiações partidárias, fato que atual-
b. Estabelecer um percentual mínimo de mente ocorre, apenas voluntariamente,
mulheres nas presidências das comis- em dois partidos (outros sete partidos
sões permanentes da Casa legislativa, na têm cotas voluntárias de 30% nos cargos
proporção do número de cadeiras que de direção).
ocuparem naquela legislatura. O objetivo
dessa ação, principalmente se combina- b. Participação paritária de gênero e raça
da com uma reserva mínima de cadeiras nas instâncias que organizam o processo
e não de candidaturas nas eleições, é ga- de seleção de candidaturas nos partidos.
rantir não apenas a entrada de parlamen-
tares mulheres nas Casas legislativas, mas c. Sanção, na forma de multa sobre o
sua influência na divisão do trabalho le- Fundo Partidário, para os partidos que
gislativo. descumprirem os critérios acima defini-
dos.
Dimensão 6: poder judiciário e
instâncias eleitorais • Impulsionar e ampliar o debate sobre
o controle público dos partidos políticos,
• Promover a criação de comitês de pro- já que são elementos organizativos da
moção da igualdade de gênero no Poder vida política do país (a) majoritariamen-
Judiciário, de forma transversal, em todos te financiados com recursos públicos;
os seus níveis. (b) operando com um horizonte mínimo
comum que deve ser democrático, por-
62 BRASIL: Onde está o compromisso com as mulheres? Um longo caminho para se chegar à paridade
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