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A digitalização da montagem e dos efeitos visuais

Marta Pinho Alves

A montagem – termo clássico proveniente do cinema analógico – ou edição – termo


oriundo do contexto eletrónico – das imagens em movimento cedo fez a transição para o
digital. Esta iniciou-se nos anos 1980 e consolidou-se no início da década seguinte, com
o contributo essencial do equipamento de edição Avid/1 Media Composer, criado em
1989 pela empresa Avid Technology, para o contexto do cinema industrial. Embora este
sistema não tenha sido o definidor dos seus princípios fundamentais – mérito atribuído
ao seu antecessor EditDroid – o mesmo tornou possível realizá-la exclusivamente no
computador, mediante software próprio, fator que contribuiu enormemente para a
simplificação do processo e para a sua posterior adoção noutros contextos.
A grande vantagem apresentada pela edição digital, face à anterior feita a partir de
meios analógicos, consistia em não ter de obedecer a uma lógica sequencial, daí ter
passado a ser designada por edição ‘não-linear’. Isto significava que, ao contrário do
que ocorria antes, era possível aceder aos vários segmentos da gravação diretamente,
sem ter de procurar a sua posição na sequência do registo através dos vários metros de
película, e que os mesmos podiam ser manipulados, ‘cortados’ e ‘colados’ várias vezes,
antes da decisão sobre o seu lugar no filme final. Esta modalidade, com uma lógica
similar à ordenação de palavras e frases num processador de texto informático, tornou o
trabalho do montador/editor mais flexível, rápido e simples, além de dispensar o
domínio de algumas competências técnicas.
Muitos realizadores e editores viram enormes vantagens na montagem feita através de
computador. Em meados dos anos 1990, a edição ‘não-linear’ tornou-se a norma em
Hollywood. No entanto, durante algum tempo, este processo manteve-se complexo.
Antes de a digitalização estar presente nas etapas anterior e posterior à montagem do
filme, o cinema podia definir-se como, de acordo com a imagem proposta pelo editor
Walter Murch, “uma sanduíche de digital entre duas fatias de pão analógico”. Isso
significava que, após o filme estar registado em película, era necessário digitalizá-lo
para permitir a sua edição ‘não-linear’ e, finda essa tarefa, transferi-lo novamente para
película, de forma a poder exibi-lo nas salas de cinema, que estavam equipadas apenas
com sistemas de projeção analógica. A existência destas várias fases, além de tornar o
processo algo moroso, tinha custos elevados. Foi com a banalização da captação de
imagens em formato digital e a exibição digital, aspetos que se discutirão em próximos
textos, que este processo pôde tornar-se mais simplificado e significativamente menos
dispendioso.
Também no início da década de 90 do século XX, o processo de tratamento do filme
efetuado na pós-produção (como, por exemplo, a correção de luz e de cor, antes
elaborada por processos químicos em laboratório) passou a ser feito informaticamente.
Por volta de 2004, estes procedimentos designados por digital intermediates tornaram-
se prática comum em Hollywood. Agora era possível, não apenas retocar e transformar
os elementos imagéticos, mas também construir imagens exclusivamente a partir de
simulações informáticas. Os objetos ou personagens apresentados no filme deixaram de
estar obrigados a uma existência material captada por uma câmara, podendo construir-se
apenas a partir de linguagem binária organizada pelo computador. Esta forma de
produção de efeitos visuais assumiu a denominação corrente de computer-generated
imagery, vulgarmente mencionada mediante a sigla CGI.

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