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Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco

Superintendência das Escolas Bíblicas Dominicais


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LIÇÃO 09 – JÓ E A INESCRUTÁVEL SABEDORIA DE DEUS
4º TRIMESTRE DE 2020 (JÓ 28.1-28)
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição das palavras “inescrutável” e “sabedoria”; pontuaremos a sabedoria no Antigo e Nove
Testamento; notaremos os três níveis da sabedoria a partir do capítulo 28 do livro de Jó; estudaremos os tipos de sabedorias; e por
fim, concluiremos falando sobre o temor do Deus como o princípio da sabedoria.

I – DEFINIÇÃO DAS PALAVRAS INESCRUTÁVEL E SABEDORIA

1.1 Definição exegética do termo inescrutável. A palavra inescrutável significa: “Característica do que não se pode escrutar; que
não se pode investigar ou compreender; incompreensível; impenetrável, insondável, imperscrutável” (HOUAISS, 2001, p. 1610). O
conhecimento, diferentemente da sabedoria, tem um preço para se obter, e pode até ser adquirido através da academia, da ciência ou
pesquisa. Conhecimento se adquire em uma instituição de ensino, já a sabedoria se obtém na vivência do dia a dia pela experiência
pessoal com Deus (Pv 3.7,8,13,15-17; 8.11,12,15-21). “A sabedoria é um bem valioso; ela não tem apenas preço, mas, sobretudo,
valor. Ela não pode ser comprada ou comercializada, nem mesmo pode ser herdada. Somente Deus é a fonte legítima da sabedoria.
Ela se materializa no temor do Senhor” (HENRY, 2010, p.138).

1.2 Definição exegética do termo sabedoria. Do hebraico “chochimá” significa: “ser sábio, tornar-se sábio, agir sabiamente;
instruir, instruído, conhecedor, mostrar-se sábio, demonstrar sabedoria, fingir-se sábio, ser sábio, tomar-se sábio [...]”. O
significado básico do vocábulo é sugerido pelo ser/tornar-se sábio; obter sabedoria. Vários provérbios encorajam o leitor a buscar e
a adquirir sabedoria por meio do estudo, da experiência, e da associação com os sábios: “Sê sábio, filho meu [...]” (Pv 27.11). Por
meio da instrução adequada, “o simples obtém sabedoria” (Pv 21.11; cf. 8.32-33), e até o sábio “se fará mais sábio ainda” (Pv 9.9).
A possibilidade de adquirir sabedoria é o interesse de inúmeras passagens (Dt. 32.29; lRs 4.31; 5.11; Jó 32.9; Pv 6.6; 9.12; 13.20;
19.20; 20.1; 23.15, 19; Ec 2.15, 19; 7.23; Zc 9.2) (VANGEMEREN, 2011, pp. 127-128).

II – A SABEDORIA NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

2.1 Sabedoria no Antigo Testamento. No AT, a sabedoria é profundamente prática, é a arte de ser bem-sucedido e de traçar o plano
correto para obter os resultados desejados. Os líderes especialmente necessitavam dela, e alguns a receberam (Josué, Dt 34.9; Davi,
2Sm 14.20; Salomão, l Rs 3-9ss.). Era um atributo do Messias prometido (Is 11.2). Uma classe especial de sábios parece ter-se
desenvolvido na época dos reis de Israel (Jr 18.18). Entretanto, a sabedoria em seu sentido mais pleno pertence a Deus (Dn 2.20ss.)
e compreende conhecimento (Pv 15-3) e controle completos dos processos naturais (Is 28.23) e históricos (Is 31.2). Pela sabedoria,
Deus criou todas as coisas (Sl 104.24) e as julga com justiça (Sl 73). A verdadeira sabedoria humana brota do Senhor (Pv 1.7) e se
aplica à vida diária; os profetas associaram essa combinação de percepção e obediência ao conhecimento de Deus (Os 4.1,6)
(WILLIAMS, 2000, p. 324).

2.2 Sabedoria no Novo Testamento. A sabedoria tem a mesma natureza prática que no AT e em geral é dada por Deus [...]. quando
ela é divorciada de Deus, é empobrecida (1Co 2.4) ou toma-se perversa (Tg 3.l4). Jesus prometeu sua sabedoria para quando seus
seguidores estivessem em julgamento (Lc 21.15). Era necessária não só para os líderes (At 6.3), mas também para se demonstrar
especialmente na vida e morte de Cristo (Rm 11.33) e se manifestar na igreja (Ef 3.10). Jesus afirmou ter sabedoria (Mt 12.42) e
surpreendeu multidões com ela (Mt 13-54). Paulo chama Jesus “sabedoria de Deus” (1Co 1.24,30), talvez vendo em sua nova
revelação um reflexo da relação entre a lei antiga e a sabedoria (Dt 4.6). Jesus é cultuado no céu por sua sabedoria completa (Ap 5.12;
cf. Cl 2.3) (WILLIAMS, 2000, p. 324).

III – OS TRÊS NÍVEIS DA SEBEDORIA NO LIVRO DE JÓ CAPÍTULO 28

3.1 A sabedoria na esfera natural: o esforço humano (Jó 28.1-11). Na primeira parte da sua exposição sobre a sabedoria (Jó 28.1-
11), Jó usa a metáfora das minas para ilustrar a busca da sabedoria como um bem natural. Assim como os homens usam técnicas
avançadas para encontrarem minérios e metais preciosos na natureza, da mesma forma eles têm-se gastado em busca da sabedoria
(Jó 28.1,2). Esses metais estão escondidos na terra e, para serem encontrados, demandam grandes esforços e uso apurado das técnicas
(Jó 28.2,3). Não é possível obter a sabedoria simplesmente pelo esforço humano, mesmo que os homens sejam diligentes e aguerridos
nesse projeto. Todo esse esforço é justificável tendo em vista o fim que o objetiva: encontrar a sabedoria. “Essa vereda, a ignora a
ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha. Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela” (Jó
28.7,8). Em outras palavras, nem as aves, com os seus argutos olhares, e nem tampouco o leão, com a sua força descomunal, são
páreos para o homem (Jó 28.11) (GONÇALVES, 2020, p.109).

3.2 A sabedoria na esfera comercial: o preço humano (Jó 28.12-19). A sabedoria a qual se refere Jó demonstra ser bem diferente
daquela conhecida pelos seus amigos, que diziam que a sabedoria era um bem herdado que passava de pai para filho. Para Jó a
sabedoria não tem preço e não é um bem comercial e, por isso, não pode ser comprada. Ou seja, não era, portanto, um bem que
poderia ser encontrado ou repassado. Por outro lado, Jó mostra que a verdadeira sabedoria da qual ele está falando é de natureza
diferente, não podendo ser herdada ou passada de pai para filho. Não é, portanto, um bem simplesmente cultural: “Mas onde se
achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência?” (Jó 28.12). No entendimento de Jó, a sabedoria não é um bem meramente
cultural que pode ser encontrado facilmente: “O homem não lhe conhece o caminho; nem se acha ela na terra dos viventes” (Jó
28.13). Ela não pode ser encontrada na “terra dos viventes”, não está no mar e nem tampouco no “abismo”. Da perspectiva natural,
não há uma rota para encontrá-la, muito menos da perspectiva comercial. Não há nada que possa comprá-la (Jó 28.16)
(GONÇALVES, 2020, p.110).

3.3 A sabedoria na esfera espiritual: o preço relacional (Jó 28.20-28). Jó pergunta: “De onde, pois, vem a sabedoria [...]?” (Jó
28.20). Jó está caminhando para a conclusão do seu argumento. Como ele mostrou no primeiro ciclo do seu argumento (Jó 28.1-11).
Para Jó, a sabedoria é um bem imaterial e espiritual. Não pode ser adquirida por meio da tradição, mas por revelação. Não é um
produto humano, mas divino: “Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência”
(Jó 28.28). Aqui está o clímax da argumentação de Jó sobre a sabedoria e a sua origem. Ela é divina, e não apenas divina, mas também
relacional. Jó mostra não apenas a origem da sabedoria, de onde ela vem, mas também delineia o caminho que nos conduzirá até ela.
Deus é a fonte da sabedoria, e o temor do Senhor é o meio de chegar-se até ela. Jó, portanto, distancia-se dos seus amigos no conceito
do que seja a sabedoria. Em vez de ser produto de uma tradição fria, a sabedoria era revelada e encarnava-se na existência humana
(Pv 1.7) (GONÇALVES, 2020, p.111).

IV – OS TIPOS DE SABEDORIA

2.1 A sabedoria que não vem do alto (Tg 3.15). Esta sabedoria não procede de Deus e possui três características principais: é
terrena, animal e diabólica. É a sabedoria que produz maus frutos e não promovem a paz e a comunhão. Vejamos: (a) É terrena. É
a sabedoria deste mundo, em contraste com a que procede do céu (Jo 3.12; 1Co 1.20,21; Tg 1.5). É uma sabedoria limitada,
egocêntrica, como a dos inimigos da cruz de Cristo, que só pensam nas coisas terrenas (Fp 3.19). (b) É animal. Ou seja, não é
espiritual (1Co 2.14; 15.44,46). É uma sabedoria totalmente à parte do Espírito de Deus. (c) É diabólica. Essa foi a sabedoria usada
pela serpente para enganar Eva, induzindo-a a querer ser igual a Deus e fazendo-a descrer de Deus para crer nas mentiras do diabo
(Gn 3.1-5).

2.2 A sabedoria que vem do alto (Tg 3.17). A verdadeira sabedoria vem de Deus, do alto, visto que ela é fruto de oração (Tg 1.5),
ela é dom de Deus (Tg 1.17). Essa sabedoria está em Cristo: Ele é a nossa sabedoria (1Co 1.30). Em Jesus temos todos os tesouros
da sabedoria (Cl 2.3). Essa sabedoria está na Palavra, visto que ela nos torna sábios para a salvação (2Tm 3.15). (LOPES, 2006, p.
77). Esta sabedoria é: (a) É pura. A sabedoria de Deus é incontaminada, sem qualquer defeito moral e livre de impureza. A sabedoria
que vem do alto não pode conduzir o homem ao pecado e impureza (Pv 2.7; 4.11). (b) É pacífica. A sabedoria divina não é
contenciosa, nem facciosa (Pv 3.17; Mt 5.9). Logo, aquele que é sábio não vive em contendas e dissenções (Tg 3.14). (c) É moderada.
Essa característica da sabedoria do alto trata da atitude de não criar conflitos nem comprometer a verdade para manter a paz (Tg
3.14,16). (d) É tratável. Essa sabedoria torna uma pessoa comunicável, de fácil acesso (Fp 3.7). (e) É cheia de misericórdia. A
verdadeira sabedoria produz profundo sentimento de misericórdia no homem interior (Rm 12.30; Cl 2.12); e, (f) É cheia de bons
frutos. Ela muda a vida e produz bons frutos para a glória de Deus. Os bons frutos têm o sentido de boas obras (Gl 5.22; Ef 5.8; Fp
1.11; Tg 1.19-27; 2.14-16; 3.13-18).

III – O TEMOR AO SENHOR E A SABEDORIA


Em Jó 28.28 encontramos este texto: “Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência”. Jó
mostra não apenas a origem da sabedoria, de onde ela vem, mas também delineia o caminho que nos conduzirá até ela.
(GONÇALVES, 2020, p.160). Vejamos:

3.1 O Temor ao Senhor. O temor de Deus e a reverência por Ele são fundamentais no relacionamento do crente com Deus (Sl 61.5;
Pv 1.7). O temor do Senhor nos torna cuidadosos e alertas para não ofendermos nosso Deus santo. Sem esse fundamento, não existe
sabedoria genuína, e nenhuma experiência salvífica resistirá às provas do tempo e da tentação. O real temor de Deus e a real sabedoria
bíblica fazem o crente abster-se do mal, e produzem “consolação do Espírito Santo”. Temer a Deus e continuar em pecado é uma
impossibilidade moral (STAMPS, 2018, p. 797 – grifo nosso).

3.2 Apartar-se do mal. Temer a Deus e continuar em pecado é uma impossibilidade moral. A pessoa que apregoa a majestade de
Deus e a sua oposição ao mal será notada por seu esforço sincero, decisivo e total de separar-se do pecado (Sl 4.4; Pv 3.7; 8.13; 16.6;
Is 1.16) e de obedecer a Palavra de Deus (Sl 112.1; 119.63; Pv 14.2,16; 2 Co 7.1; Ef 5.21; 1Pd 1.17). O Aparta-se do mal implica em
santidade; e esta, é tão vital que a palavra professa: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”
(Hb 12.14).

3.3 Recompensas para quem teme a Deus. É abençoado por Deus (Dt 28.1-2); tem os seus pecados perdoados (Mt 9.2); é protegido
pelo anjo do Senhor (Sl 34.7); torna-se sábio (Sl 111.10); o Senhor confirma as promessas feitas (Sl 119.38); aumenta os dias de vida
(Pv 10.27); e tem paz (At 9.31).

CONCLUSÃO
Os amigos de Jó apresentaram-se com sábios, a sabedoria deles era fruto das especulações e curiosidades humanas; o patriarca
Jó, por sua vez, apresentou uma sabedoria que não se consegue através de acúmulo de informações, mas sim, por meio do temor a
Deus. Somente Deus é a fonte legítima da sabedoria. Ela se materializa no temor do Senhor.

REFERÊNCIAS
• WILLIAMS, Dereck. Dicionário Bíblico Vida Nova. SP: VIDA NOVA, 2000
• VANGEMEREN, Willem A. Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese. SP: Cultura Cristã, 2011
• GONÇALVES, Josué. A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: o sofrimento e a restauração de Jó. RJ: CPAD, 2020.
• STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal para Juventude. RJ: CPAD, 2018
• LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. SP: HAGNOS. 2015
• HENRY Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. RJ: CPAD, 2010.

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