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CERÂMICAS

ODONTOLÓGICAS:
PERSPECTIVAS ATUAIS
QUANTO À COMPOSIÇÃO
E AO PROCESSAMENTO
Luciana Fávaro Francisconi
Leandro de Moura Martins
Luciana Mendonça da Silva
Flávia Pardo Salata Nahsan
Linda Wang
Paulo Afonso Silveira Francisconi

INTRODUÇÃO
Os materiais restauradores de uso direto devolvem forma, função e, na maioria das
vezes, estética, diretamente a um dente preparado no consultório odontológico em, geralmen-
te, uma única sessão clínica.

Ao contrário, os materiais indiretos são utilizados para restaurações que são comumente
confeccionadas sobre um modelo de gesso no laboratório de prótese e, em um segundo
momento, fixadas aos preparos dentários. Dessa forma, sua aplicação está, na maioria das
vezes, relacionada a várias sessões clínicas para finalização do tratamento.1

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Os materiais indiretos estão usualmente indicados para restaurações mais com-
plexas ou elaboradas e em casos de maior envolvimento do remanescente dentário,
algumas vezes associado a tratamento endodôntico, e conferem a proteção necessá-
ria à estrutura remanescente. Também podem ser utilizados, mesmo para menores
comprometimentos, em áreas de difícil acesso ou para restaurações múltiplas em
um mesmo quadrante, por exemplo.2 Sua indicação é limitada, porém, em casos de
cavidades conservadoras, intercuspidação profunda, espaço interoclusal insuficiente
ou coroa clínica curta e, em determinadas situações, para pacientes portadores de
hábitos parafuncionais, com alto índice de cárie, com higiene insatisfatória ou proble-
mas periodontais.3,4

Como permitem que a restauração seja confeccionada extraoralmente, em condições mais


favoráveis, os materiais restauradores de uso indireto viabilizam a obtenção de contorno,
anatomia oclusal, ajuste marginal e proximal, acabamento e lisura superficial mais próximos
do ideal.5 Por essas vantagens, ainda que estejam relacionados a algumas limitações, tais
como a necessidade de tempo clínico adicional, a sensibilidade de técnica, um custo mais
elevado e a dificuldade de reparo e de obtenção de uma superfície lisa e polida após ajustes
intraorais,4 são muito bem indicados em situações específicas.

Dentre os sistemas restauradores indiretos, os cerâmicos tiveram, nos últimos anos, uma
grande evolução impulsionada pela busca por uma melhor estética tanto para dentes anteriores
quanto para posteriores, sempre associada a propriedades físicas e biológicas satisfatórias.3,6

Desde sua introdução para uso exclusivamente associado ao metal, no início dos anos de
1960, tem-se atribuído constante atenção ao desenvolvimento dos sistemas cerâmicos. Histo-
ricamente, pode-se considerar que as propriedades mecânicas das primeiras cerâmicas
odontológicas limitavam sua utilização, suplantando as vantagens relacionadas à estética.
Por causa da relativa baixa resistência à tração e friabilidade, elas deveriam ser usadas exclusi-
vamente em associação a infraestruturas de metal, que aumentavam sua resistência à fratura.7
No entanto, o metal pode afetar a estética da cerâmica, diminuindo a transmissão de luz
através dela e promovendo manchamento por meio da liberação de íons metálicos. Além
disso, alguns pacientes apresentam reações alérgicas ou sensibilidade a vários metais.

Por serem, ainda, um material vitrificado e frágil, as cerâmicas podem sofrer fraturas quando
submetidas a forças extremas e a forte impacto e, se não forem altamente lisas e polidas,
podem desgastar rapidamente restaurações ou dentes naturais opostos.1

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Todas essas limitações impulsionaram o desenvolvimento de novos sistemas cerâmicos, que
hoje podem ser usados sem estar associados a um metal e apresentam resistência e adaptação
equivalentes às promovidas pelos sistemas metalocerâmicos.

As cerâmicas odontológicas possuem características muito interessantes e tornaram-


se, portanto, muito populares. A translucidez e cor desses materiais contribuem
para a obtenção da estética altamente satisfatória; e sua dureza e resistência ao
desgaste contribuem para sua capacidade de suportar elevados esforços mastigató-
rios.1 O conjunto dessas qualidades permite a confecção de restaurações parciais
(facetas laminadas, inlays, onlays e overlays), totais unitárias e fixas de até três elemen-
tos em cerâmica pura, ou ceramocerâmicas, sem associação a uma infraestrutura
metálica, desde que haja critério no planejamento do trabalho e na escolha do
material a ser utilizado. Os resultados clínicos alcançados podem ser muito agradá-
veis e funcionais, uma vez que os sistemas cerâmicos são os que mais se aproximam
das características dos dentes naturais.4

No entanto, os inúmeros sistemas cerâmicos disponíveis no mercado odontológico devem


ser criteriosamente utilizados. Para selecionar o tipo mais adequado de cerâmica para determi-
nada aplicação clínica, o profissional deve estar familiarizado com as peculiaridades de cada
um dos diferentes sistemas.7 Se um ótimo desempenho é desejado, deve-se conhecer as
propriedades de cada cerâmica, bem como suas vantagens e limitações, relacionando-as às
condições clínicas características e às exigências individuais de cada paciente.

OBJETIVOS
Após a leitura deste artigo, o leitor poderá:
 reconhecer as principais cerâmicas odontológicas e as particularidades de cada uma;
 compreender que nenhuma das cerâmicas disponíveis atualmente é aplicável a toda e
qualquer situação clínica;
 selecionar a cerâmica mais bem indicada para cada ocasião específica, de acordo com
sua composição microestrutural e com a forma como é processada;
 identificar as implicações relacionadas ao comportamento biomecânico e à cimentação
das diferentes cerâmicas odontológicas diante de sua utilização.

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ESQUEMA CONCEITUAL

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CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS
Os primeiros indícios do uso das cerâmicas datam de quase 13 mil anos e foram encontrados
nas escavações do Vale do Nilo, no Egito. Registram-se, ainda, dados do aparecimento das
cerâmicas em 5500 a.C. na Turquia e em 100 a.C. na China, onde, por volta do século X, a
arte em cerâmica, material que apresentava estrutura firme e cor muito branca e que chegou
à Europa apenas entre os séculos XV e XVII como “louça de mesa”, já era dominada. Entre
1604 e 1657, por exemplo, mais de 3 milhões de peças de porcelana chinesa foram exportadas
para a Europa, onde a procura por elas crescia vertiginosamente.8 Apenas em 1717, no en-
tanto, é que os componentes básicos das cerâmicas chinesas, o caulim (argila chinesa), a
sílica (quartzo) e o feldspato (mistura de silicatos de alumínio, potássio e sódio), foram iden-
tificados pelos europeus.9

Ainda que amplamente utilizadas no cotidiano de diversas civilizações para inúmeras finalida-
des, as cerâmicas passaram a ser indicadas para uso odontológico somente há cerca de 230
anos (1774), pelo químico francês Alexis Duchateau. Insatisfeito com as próteses confecciona-
das com dentes de animais ou de marfim, ele os substituiu por dentes cerâmicos, ao verificar
a durabilidade e a resistência ao manchamento e à abrasão desse material quando utilizado
em utensílios domésticos.

Com o auxílio do cirurgião-dentista Nicholas Dubois de Chemant, a arte das cerâmicas foi,
então, introduzida na Odontologia.10 Pouco tempo depois, em 1838, John Murphy confeccio-
nou a primeira restauração cerâmica por meio da técnica da lâmina de platina, e, entre 1888
e 1903, foi Charles Henry Land, dentista de Detroit, quem se dedicou ao estudo e ao aperfeiçoa-
mento dos materiais cerâmicos para uso odontológico. Finalmente, no início da década de
1960, a aceitação mundial das cerâmicas pela Odontologia foi alcançada diante do primeiro
caso bem-sucedido com o emprego de um sistema restaurador metalocerâmico.11-13

A palavra “cerâmica” vem do grego keramiké, que deriva de keramos, que significa “olaria”
ou “barro/argila”. É usada para dar nome a um material inorgânico, com propriedades tipica-
mente não metálicas composto por elementos metálicos (ou semimetálicos) e não metálicos
(por exemplo, óxido de alumínio [Al2O3], óxido de cálcio ou cal [CaO], nitreto de silício [Si3N4],
dentre outros), obtido a partir da queima em altas temperaturas de matérias-primas naturais.14-16

Já o termo porcelana refere-se à família dos materiais cerâmicos compostos essencialmente


por caulim, um silicato de alumínio hidratado (Al2O3.SiO2.2H2O) que fornece plasticidade e
cor esbranquiçada à pasta desse material, feldspato e quartzo, também queimados em altas
temperaturas.14-16

As primeiras cerâmicas para uso odontológico pertenciam a essa família, por serem compos-
tas basicamente por caulim (aproximadamente 50%), feldspato (aproximadamente 25%) e
quartzo (aproximadamente 25%), e eram, assim, comumente referidas como porcelanas
odontológicas.14-16 Contudo, como em Odontologia as cerâmicas são utilizadas para confecção
de peças de tamanho reduzido, a plasticidade desse material não era um fator tão importante,
assim como o é para a confecção de peças maiores, como vasos ornamentais, por exemplo.

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Isso permitiu a eliminação do caulim da composição das cerâmicas utilizadas em Odontologia,
possibilitando o aumento da quantidade de feldspato e, consequentemente, a melhora de
algumas propriedades, como contração e translucidez.15

Toda porcelana é, portanto, uma cerâmica, mas nem toda cerâmica é uma porcelana.
Dessa forma, já que, atualmente, os materiais cerâmicos de uso odontológico não
contêm caulim, devem ser denominados simplesmente cerâmicas, e não porcelanas,
odontológicas.15

Ainda assim, alguns autores referem-se aos materiais cerâmicos constituídos princi-
palmente por feldspato como porcelanas odontológicas ou porcelanas feldspáticas.
Todavia, às cerâmicas compostas principalmente por cristais, como os de alumina,
leucita, dissilicato de lítio e zircônia, que apresentam concentração mínima ou mesmo
inexistente de feldspato, não se deve atribuir, sob hipótese alguma, a alcunha “por-
celanas odontológicas”.11

De maneira geral, as cerâmicas odontológicas são, hoje, constituídas por oxigênio e


um ou mais elementos metálicos ou semimetálicos, tais como alumínio, cálcio, lítio,
magnésio, potássio, silício, sódio, estanho, titânio e zircônio,14 e caracterizam-se por
apresentar duas fases: uma fase cristalina (ou mineral), circundada por uma fase vítrea
(ou de vidro).16,17

A matriz vitrosa é composta por uma cadeia básica de óxido de silício (SiO2), e a proporção
silício e oxigênio está relacionada com a viscosidade e expansão térmica da cerâmica.9
A ela são adicionados vários elementos modificadores, como óxido de potássio (K2O),
óxido de sódio (Na2O), óxido de alumínio (Al2O3) e óxido de boro (B2O3), além de pig-
mentos que reproduzem a cor dos dentes. Os modificadores controlam a temperatura
de fusão, a contração térmica e a solubilidade; em excesso, porém, podem interferir na
estabilidade química da cerâmica.14,18

A fase vítrea possui as propriedades típicas do vidro, como a friabilidade, o padrão de


fratura não direcional e a alta tensão superficial no estado fluido.19 Já a quantidade e
natureza da fase cristalina ditam as propriedades mecânicas e óticas das cerâmicas.19
Aumentando-se a quantidade da fase cristalina de uma cerâmica, ou seja, sua quantidade
de minerais, aumenta-se sua resistência à propagação de rachaduras, por exemplo,19
mas se diminui sua translucidez.

Em geral, quanto mais cristalina for a microestrutura de uma cerâmica, mais opaca ela
será.19 Contribuem, ainda, para determinação da translucidez das cerâmicas, o tamanho
e a densidade das partículas que as compõem, seu índice de refração e sua porosidade,
dentre outros fatores.16

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De maneira simplificada, pode-se dizer que a diferença básica entre as cerâmicas odontológicas
e os vidros convencionais, utilizados em utensílios domésticos, por exemplo, reside no fato
de que uma parte da estrutura da cerâmica não se combina com a matriz vítrea formada,
originando núcleos cristalinos independentes, não incorporados. Essas estruturas cristalinas,
que tornam a interação da cerâmica com a luz mais complexa, conferem à mesma semelhança
em relação aos dentes naturais do ponto de vista ótico e fazem com que elas sejam mais
resistentes do que os vidros comuns, pois atuam como reforço.

As cerâmicas normalmente não reagem com a maioria dos líquidos, gases, substâncias alcali-
nas e ácidas e permanecem estáveis por longos períodos.14 Mas, apesar de serem muito
resistentes em alguns sentidos, também são extremamente delicadas, friáveis e podem falhar
catastroficamente ao sofrer mínima flexão. Esses materiais são resistentes à compressão, mas
frágeis à tração; ao contrário dos metais, que são dúcteis e que, portanto, apresentam compor-
tamento elástico e plástico.19

Assim, a principal preocupação dos pesquisadores, fabricantes e clínicos tem sido diminuir
essa suscetibilidade, seja por modificações na própria estrutura da cerâmica ou por meio da
associação a uma infraestrutura rígida, metálica (restaurações metalocerâmicas) ou mesmo
cerâmica, de alta resistência (restaurações ceramocerâmicas), que possa suportar uma cerâ-
mica de cobertura, frágil.20

Apesar do sucesso das restaurações metalocerâmicas, a Odontologia sempre buscou


substituir materiais metálicos, principalmente em função de resultados estéticos.
Dá-se preferência, hoje, na maioria dos casos, à confecção de restaurações em
cerâmicas livres de metal (metal-free), puras ou ceramocerâmicas. Já que nem
sempre é possível que uma única cerâmica satisfaça todas as exigências de um
determinado caso e apresente características ideais, a solução é trabalhar com duas
cerâmicas, uma para a infraestrutura e outra para o recobrimento, de tal forma que
cada uma delas desempenhe algumas das funções necessárias para o conjunto.21

O uso das restaurações exclusivamente cerâmicas só se tornou possível graças à evolução da


odontologia adesiva – a partir da introdução da técnica de condicionamento ácido do esmalte
dentário por Buonocore, em 1955, e do advento dos sistemas resinosos para fixação baseados
na resina composta de Bowen, em 1963 – e ao desenvolvimento de cerâmicas estruturalmente
modificadas, de alta resistência e com melhores propriedades mecânicas quando comparadas
às cerâmicas tradicionais, feldspáticas.4,15

Essas novas cerâmicas caracterizam-se, basicamente, por apresentar maior quantidade de


fase cristalina quando comparadas às cerâmicas tradicionais. Os cristais adicionados à sua
composição, que são, geralmente, a alumina, a leucita, o dissilicato de lítio e/ou a zircônia,
atuam como bloqueadores da propagação de trincas quando a cerâmica é submetida a tensões
de tração, aumentando a resistência do material.15 O aumento da resistência também é

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decorrente das tensões compressivas residuais que se formam pela diferença entre os coeficien-
tes de expansão térmica da fase cristalina e da fase vítrea.15

Diferentemente das primeiras cerâmicas, que eram exclusivamente fornecidas na


forma de um pó que, ao ser misturado com um líquido, originava uma pasta que
podia ser aplicada em camadas sobre um troquel de gesso para ser posteriormente
sinterizada em forno cerâmico convencional, os novos sistemas cerâmicos podem
ser processados também por prensagem/injeção, por sinterização associada à infil-
tração por vidro ou ainda por usinagem.21

A introdução de sistemas cerâmicos com diferentes composições, combinada com o advento


de novas técnicas de processamento, tem resultado em melhorias nas propriedades mecânicas
e estéticas desses materiais.22 As cerâmicas são, portanto, nos dias atuais, altamente estéticas
e capazes de reproduzir grande parte das características dos dentes naturais:
 suas propriedades óticas, muito próximas às dos dentes naturais, favorecem a estética;
 a lisura de superfície contribui para a saúde periodontal;
 as baixas condutibilidades térmica e elétrica contribuem para suas propriedades isolantes
e biocompatibilidade.

Além disso, a maioria das características negativas das cerâmicas pode ser compensada pelo
conhecimento científico e clínico de um profissional experiente.4

Devido à sua complexidade, as diferentes cerâmicas odontológicas têm sido classificadas de


acordo com parâmetros variados. Podem ser distribuídas em diferentes categorias de acordo
com sua temperatura de fusão, com sua composição, com a forma como são processadas ou
com sua indicação.19

Quanto à temperatura de fusão:14


 as cerâmicas de alta fusão possuem ponto de fusão acima de 1.300ºC;
 as de média temperatura de fusão, entre 1.101 e 1.300ºC;
 as de baixa temperatura de fusão, entre 850 e 1.100ºC;
 as de ultrabaixa temperatura de fusão, abaixo de 850ºC.

As cerâmicas de média e alta temperatura de fusão são utilizadas na produção de dentes


para prótese total. Outras de média e as de baixa temperatura de fusão, para as próteses
metalocerâmicas ou de cerâmica pura, unitárias ou de vários elementos.14,19 Já algumas das
cerâmicas de temperatura de fusão ultrabaixa, desenvolvidas mais recentemente, são utilizadas
para titânio e ligas de titânio, em virtude dos seus baixos coeficientes de contração, que se
aproximam daqueles dos respectivos metais, e porque as baixas temperaturas de queima
reduzem o risco do crescimento de óxidos metálicos. Por outro lado, podem conter leucita
suficiente para elevar os coeficientes de contração térmica para níveis tão altos quanto o das
cerâmicas convencionais de baixo ponto de fusão.14

16 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


De acordo com essa classificação, o que se pode afirmar é que a principal vantagem
prática das cerâmicas de alta temperatura de fusão é sua capacidade de sofrer reparos,
acréscimos, receber corantes ou glaze sem sofrer distorções.19 As vantagens das cerâmi-
cas de cobertura de temperatura de fusão ultrabaixa, por sua vez, são a redução do
tempo de sinterização, a diminuição da deformação das infraestruturas de próteses
parciais fixas por creep em altas temperaturas, menor degradação térmica dos fornos
cerâmicos e menor desgaste da superfície de esmalte do dente antagonista.14

No entanto, por ser do início da década de 1940, a classificação das cerâmicas odontológicas
quanto à sua temperatura de fusão é considerada pouco específica, obsoleta, e era mais
empregada às cerâmicas triaxiais, compostas por três ingredientes principais: quartzo, feldspato
e argila (caulim). A temperatura de fusão das cerâmicas era ditada pelas quantidades relativas
desses três componentes.19

Assim, com base nas classificações mais aceitas atualmente,4,23,24 serão discutidos a seguir os
materiais cerâmicos de uso indireto, de acordo com:
 sua composição microestrutural:
– cerâmicas feldspáticas;
– cerâmicas aluminizadas;
– vidros ceramizados – à base de leucita e à base de dissilicato de lítio;
– cerâmicas à base de zircônia;
 a forma como são processados:
– sinterização;
– prensagem/injeção;
– sinterização associada à infiltração por vidro;
– usinagem.

Além disso, serão enfatizadas as principais orientações para sua utilização e as implicações
relacionadas ao comportamento biomecânico e à cimentação dos mesmos (Quadro 1).

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Quadro 1
MATERIAIS CERÂMICOS: COMPOSIÇÃO MICROESTRUTURAL, EXEMPLOS COMERCIAIS, PROCESSAMENTO USUAL, INDICAÇÕES E SENSIBILIDADE
AO CONDICIONAMENTO COM ÁCIDO FLUORÍDRICO

Cerâmicas Exemplos Processamento Indicações Sensibilidade ao


comerciais usual condicionamento
com ácido
fluorídrico

Tradicionais Feldspáticas  Noritake (Noritake) Sinterização Facetas laminadas, inlays e Acidossensíveis


 Biodent (Dentsply) onlays em casos selecionados
 Cerinat (Den-Mat), Classic e, principalmente, para
(Ivoclar Vivadent Inc.) recobrimento de infraestruturas.
 Ceramco II (Ceramco)
 Fortune (Williams)

Feldspáticas de  Finesse (Dentsply)


baixa fusão  All Ceram (DeguDent)
 Dulceram LFC (Degussa)

Aluminizadas Média  Vitadur α/ Vita Sinterização Facetas laminadas, inlays, onlays, Acidorresistentes
concentração  Vitadur N/ Vita overlays e coroas totais e para
recobrimento de infraestruturas
confeccionadas em cerâmicas
aluminizadas de alta concentração.

 Cerec Vitablocks Mark II (Vident) Usinagem Inlays, onlays e overlays.


 Vita Celay Blanks (Vita)

Alta  In-Ceram Alumina (Vita) Sinterização associada Infraestruturas para coroas totais
concentração  In-Ceram Zircônia (Vita) à infiltração por vidro ou próteses parciais fixas de até
três elementos.

CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


MATERIAIS CERÂMICOS: COMPOSIÇÃO MICROESTRUTURAL, EXEMPLOS COMERCIAIS, PROCESSAMENTO USUAL, INDICAÇÕES E SENSIBILIDADE
AO CONDICIONAMENTO COM ÁCIDO FLUORÍDRICO

Cerâmicas Exemplos Processamento Indicações Sensibilidade ao


comerciais usual condicionamento
com ácido
fluorídrico

 In-Ceram Spinell (Vita) Sinterização associada Infraestruturas para inlays, onlays


à infiltração por vidro e coroas totais, especialmente
em dentes anteriores.

 Procera All Ceram (Nobel Biocare) Usinagem Infraestruturas para coroas totais
 Procera All Zyrcon (Nobel Biocare) ou próteses parciais fixas de até
três elementos.

Vidros À base de leucita  IPS Empress (Ivoclar Vivadent Inc.) Prensagem/injeção Facetas laminadas, inlays, onlays, Acidossensíveis
ceramizados  IPS Empress Esthetic (Ivoclar overlays e coroas totais
Vivadent Inc.) anteriores.
 Dicor (Dentsply)
 Optec OPC (Jeneric Pentron)
 Cerpress (Dillon Company Inc.)
 Finesse All-Ceramic (Dentsply)
 Vitapress Omega 900 (Vita)
 Cergogold (Degussa)

 Optec HSP (Jeneric Pentron) Sinterização

À base de  IPS Empress II (Ivoclar Prensagem/injeção Facetas laminadas, inlays, onlays,


dissilicato de Vivadent Inc.) overlays, coroas unitárias para
lítio  IPS e.max Press (Ivoclar dentes anteriores e posteriores e
Vivadent Inc.) próteses parciais fixas de três

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MATERIAIS CERÂMICOS: COMPOSIÇÃO MICROESTRUTURAL, EXEMPLOS COMERCIAIS, PROCESSAMENTO USUAL, INDICAÇÕES E SENSIBILIDADE
CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO

AO CONDICIONAMENTO COM ÁCIDO FLUORÍDRICO

Cerâmicas Exemplos Processamento Indicações Sensibilidade ao


comerciais usual condicionamento
com ácido
fluorídrico

elementos em áreas de menor


 IPS e.max CAD (Ivoclar Usinagem esforço mastigatório até
Vivadent Inc.) segundo pré-molar.

À base de zircônia  DCS-precident (DCS) Usinagem Infraestruturas para coroas Acidorresistentes


 Lava (3M ESPE) totais ou próteses parciais
 Cercon Zircônia (Dentsply) fixas de três a quatro elementos
 DC-Zirkon (DCS) em qualquer região bucal.
1. Quais as principais diferenças entre os materiais restauradores de uso direto e os de uso
indireto?

Resposta no final do artigo

2. Por que restaurações indiretas com infraestruturas metálicas têm sido cada vez menos
utilizadas?

Resposta no final do artigo

3. Analise as afirmativas a seguir sobre as cerâmicas odontológicas.


I – Toda porcelana é uma cerâmica, mas nem toda cerâmica é uma porcelana. Dessa
forma, já que, atualmente, os materiais cerâmicos de uso odontológico não contêm
caulim, devem ser denominados simplesmente cerâmicas, e não porcelanas,
odontológicas.
II – De maneira geral, as cerâmicas odontológicas são, hoje, constituídas por oxigênio e
um ou mais elementos metálicos ou semimetálicos, tais como alumínio, cálcio, lítio,
magnésio, potássio, silício, sódio, estanho, titânio e zircônio,14 e caracterizam-se por
apresentar duas fases: uma fase cristalina (ou mineral) circundada por uma fase
vítrea (ou de vidro).
III – Em geral, quanto menos cristalina for a microestrutura de uma cerâmica, mais opa-
ca ela será.
Qual(is) está(ão) correta(s)?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a II e a III.
C) Apenas a I e a III.
D) Apenas a III.
Resposta no final do artigo

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4. Qual a diferença básica entre as cerâmicas odontológicas e os vidros convencionais?

5. Assinale a afirmativa INCORRETA sobre as cerâmicas odontológicas.


A) As diferentes cerâmicas odontológicas podem ser classificadas de acordo com sua
temperatura de fusão, com sua composição, com a forma como são processadas ou
com sua indicação.
B) As cerâmicas de alta fusão possuem ponto de fusão acima de 1.300ºC; as de média
temperatura de fusão, entre 1.101 e 1.300ºC; as de baixa temperatura de fusão,
entre 850 e 1.100ºC; e as de ultrabaixa temperatura de fusão, abaixo de 850ºC. A
classificação das cerâmicas de acordo com sua temperatura de fusão é a mais atual
e mais aceita.
C) De acordo com sua composição microestrutural, as cerâmicas odontológicas são
classificadas em tradicionais (feldspáticas e feldspáticas de baixa fusão), aluminizadas
(de média concentração e de alta concentração), vidros ceramizados (à base de leucita
e à base de dissilicato de lítio) e à base de zircônia.
D) As cerâmicas odontológicas podem, hoje, ser processadas por sinterização, por prensa-
gem/injeção, por sinterização associada à infiltração por vidro e/ou por usinagem.
Resposta no final do artigo

6. Quais as vantagens das cerâmicas de alta temperatura de fusão e das de ultrabaixa


temperatura de fusão?

7. Em relação à composição microestrutural das cerâmicas indiretas, como elas são classificadas?

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CERÂMICAS FELDSPÁTICAS
As cerâmicas feldspáticas, também denominadas tradicionais ou convencionais, pertencen-
tes à classificação número I da ISO, foram as primeiras a serem empregadas na Odontologia.
São essencialmente compostas por feldspato de potássio (K2O.Al2O3.6SiO2) ou feldspato de
sódio (Na2O.Al2O3.6SiO2) e quartzo (SiO2).15 Apresentam, ainda, um conteúdo inerente de
leucita (K2O.Al2O3.4SiO2), uma vez que, quando o feldspato, misturado com vários óxidos
metálicos, é fundido em altas temperaturas, tende a formar leucita como fase cristalina,
além da fase vítrea, que irá amolecer e escoar ligeiramente, permitindo o coalescimento das
partículas do pó da cerâmica.4,14,15,21

A presença da leucita favorece o aumento do coeficiente de expansão térmica da cerâmica e,


consequentemente, sua compatibilidade para aplicação sobre infraestruturas metálicas, es-
pecialmente.

Todavia, a presença da leucita parece contribuir para com maior capacidade de


desgaste de dentes e restaurações antagonistas, sendo esta uma das principais des-
vantagens das cerâmicas feldspáticas.4,15 Vale ressaltar que, mesmo que apresentem
determinada quantidade de leucita em sua composição, as cerâmicas feldspáticas
distinguem-se dos vidros ceramizados à base de leucita porque, dentre outras razões,
a formação dos respectivos cristais não ocorre por meio da ceramização, processo
que será discutido adiante.14

Ainda, às cerâmicas feldspáticas podem ser acrescentados outros óxidos metálicos, como o
de silício (aproximadamente 65%), o de alumínio (aproximadamente 15%), e o de potássio,
que conferem melhores propriedades mecânicas ao material, e os de ferro ou níquel (mar-
rom), de cobre (verde), de titânio (marrom-amarelado), de manganês (lavanda), de cobalto
(azul) e de zircônio ou estanho (opacidade), que atuam como pigmentos, permitindo que as
cerâmicas possam simular a aparência dos dentes naturais.15

Em geral, as cerâmicas feldspáticas são apresentadas na forma de um pó obtido a partir da


formação gradativa e progressiva de trincas, com o resfriamento em água, de uma mistura
fundida de variados componentes; e um líquido, composto por água, amido e açúcar, que
tem por função promover o molhamento do pó cerâmico, facilitando sua aplicação pela
técnica da estratificação.

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Inicialmente, uma camada opaca pode ser aplicada para mascarar a cor da infraes-
trutura metálica ou do dente a ser restaurado. Posteriormente, aplica-se uma camada
de cerâmica para dentina, que é a principal responsável pela cor final da restauração,
e, por fim, uma camada translúcida, que simula o esmalte. Além dessas camadas
básicas, uma série de pigmentos pode ser usada para reproduzir o policromatismo
dos dentes naturais. Após a aplicação de cada camada, a restauração é levada a um
forno específico, para que ocorra a fundição da matriz vítrea e a sinterização das
partículas. Finalmente, realiza-se o acabamento da restauração por meio do gla-
zeamento ou do polimento mecânico com borrachas abrasivas.15

Pelo fato de as cerâmicas feldspáticas serem, normalmente, fornecidas na forma de


pó e líquido, o que permite a aplicação estratificada, e processadas por sinterização,
estão relacionadas à possibilidade de caracterização intrínseca e, consequentemente,
à excelência estética. Elas também podem estar disponíveis na forma de blocos
para usinagem, apesar de serem menos comuns.

Por apresentarem uma quantidade considerável de fase vítrea na sua composição, as cerâmicas
feldspáticas são acidossensíveis, ou seja, passíveis de serem condicionadas com ácido fluorídrico
e, posteriormente, silanizadas.15 Assim, após a aplicação de um adesivo, podem unir-se a
agentes cimentantes resinosos.

Apresentam resistência à fratura e tenacidade equivalentes a, respectivamente, 75MPa e


0,78MPa/m1/2.4,13 Portanto, não são capazes de resistir a esforços mastigatórios em regiões
de alta concentração de forças se não forem associadas a infraestruturas confeccionadas em
metal ou em cerâmica de alta resistência.21 Assim, são indicadas, nos dias atuais, para confecção
de inlays, onlays e facetas laminadas em casos selecionados e, principalmente, para recobri-
mento de infraestruturas, sejam estas metálicas ou cerâmicas, de alta resistência (aluminizadas,
vidros ceramizados ou à base de zircônia).

As cerâmicas feldspáticas são comercialmente representadas pelos sistemas Noritake


(Noritake), Biodent (Dentsply), Cerinat (Den-Mat), Classic (Ivoclar Vivadent Inc.),
Ceramco II (Ceramco) e Fortune (Williams), dentre outros.

Vale ressaltar que, adicionando-se certos componentes às cerâmicas feldspáticas, tais como
o bórax, é possível diminuir a temperatura de fusão desses materiais.25 Assim, as cerâmicas
feldspáticas de baixa fusão, como a Finesse (Dentsply), a All Ceram (DeguDent) e a Dulceram
LFC (Degussa), podem ser encontradas no mercado. Essas cerâmicas apresentam menor con-
teúdo de leucita e/ou cristais de leucita mais finos, o que confere a elas, dentre outras proprieda-
des, um menor potencial de causar abrasão em um dente ou uma restauração antagonista.4,15

24 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


CERÂMICAS ALUMINIZADAS
Buscando contornar as limitações das cerâmicas feldspáticas, principalmente as relacionadas
à sua baixa rigidez, foram desenvolvidas, por volta de 1965, cerâmicas reforçadas com óxidos,
que atuam como limitadores de trincas. Dentre os óxidos utilizados para tal, destacam-se os
de titânio, de zircônio e de alumínio.26,27

O óxido de alumínio, ou alumina, tem sido empregado com sucesso, uma vez que está
relacionado a melhores características estéticas e mecânicas, a um baixo custo e à facilidade de
obtenção. Sua adição à composição das cerâmicas atribui às mesmas, dentre outras melhorias,
a diminuição das tensões geradas durante o resfriamento das peças, uma vez que o coeficiente
de expansão térmica da matriz vítrea e o das partículas de alumina são muito semelhantes.28

Nesse contexto, McLean e Hughes desenvolveram a cerâmica aluminizada, ao incorporarem


aproximadamente 50% de óxido de alumínio (Al2O3) à cerâmica feldspática.27

CERÂMICAS ALUMINIZADAS DE MÉDIA CONCENTRAÇÃO


As cerâmicas aluminizadas são consideradas de média concentração quando contêm de 40 a
50% de alumina como fase cristalina em sua composição. Têm maior resistência flexural em
relação às cerâmicas feldspáticas e podem ser usadas para confecção de facetas laminadas,
inlays, onlays, overlays e coroas totais, sem associação a uma infraestrutura metálica para
dentes anteriores ou posteriores.

Em função da adição de óxidos, as cerâmicas aluminizadas de média concentração


apresentam menor translucidez.

As cerâmicas aluminizadas de média concentração são representadas pelos seguintes sistemas:4


 Vitadur N e Vitadur α (Vita), disponíveis na forma de pó e líquido para confecção de
facetas laminadas, inlays, onlays, overlays e coroas totais e para uso como cerâmica
de cobertura para infraestruturas confeccionadas em cerâmicas aluminizadas de alta
concentração,
 Cerec Vitablocks Mark II (Vident) e Vita Celay Blanks (Vita), disponíveis na forma de
blocos para usinagem de inlays, onlays e overlays.

CERÂMICAS ALUMINIZADAS DE ALTA CONCENTRAÇÃO


As cerâmicas aluminizadas de alta concentração apresentam até 99,5% de óxido de alumínio
na sua composição e são utilizadas especialmente para confecção de infraestruturas para
coroas totais ou próteses parciais fixas de até três elementos, já que apresentam resistência
flexural entre 600 e 800MPa e resistência à fratura entre 3,1 e 8MPa/m1/2.29

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 25


O primeiro material dessa classe a ser apresentado no mercado, em 1989, foi o In-Ceram
Alumina (Vita), contendo aproximadamente 72% de óxido de alumínio. Para este material,
por meio da técnica de slip casting (sinterização associada à infiltração por vidro), sobre uma
infraestrutura confeccionada totalmente em alumina com característica bastante porosa e
pouco resistente, é aplicada uma cerâmica, um vidro, que vai ser infiltrado nessas respectivas
porosidades, conferindo à mesma alta resistência. Após a confecção da infraestrutura, uma
cerâmica de cobertura deve ser aplicada para restaurar a anatomia da estrutura dentária.

A indicação das cerâmicas aluminizadas de alta concentração talvez seja uma das
mais versáteis, pois se pode trabalhar tanto em regiões anteriores como em posterio-
res, em próteses unitárias ou múltiplas de até três elementos.3,20,28,30,31

Com o intuito de melhorar as eventuais deficiências do sistema In-Ceram Alumina, a empresa


lançou, ainda, outros materiais com diferentes tipos de infiltração, características e propriedades
e trabalhados por meio de técnicas laboratoriais distintas:
 sistema In-Ceram Spinell (espinélio – MgAl2O4) com acréscimo de magnésio apresenta
maior translucidez e melhores características estéticas quando comparado ao In-Ceram
Alumina, porém com resistência flexural 25% menor, sendo indicado para infraestrutu-
ras para inlays, onlays e coroas totais, especialmente em dentes anteriores;
 sistema In-Ceram Zircônia (Al2O3ZrO2), além da alumina, contém também 35% de
zircônia estabilizada por ítrio e apresenta, assim, características mecânicas superiores,
pelo aumento da resistência, sendo indicado para a confecção de próteses parciais
fixas posteriores de até três elementos. Apesar disso, é mais opaco, o que pode compro-
meter, até certo ponto, a estética da restauração.3

Deve-se sempre considerar a região em que vai ser realizada a restauração para que
se possa indicar a melhor das três subdivisões do respectivo sistema.

Ainda que as cerâmicas aluminizadas de alta concentração sejam processadas usualmente


por sinterização associada à infiltração por vidro, nos dias atuais podem estar disponíveis
também na forma de blocos pré-sinterizados para serem usinados por determinados sistemas
CAD/CAM (computer-aided design/computer assisted manufacturing). Nestes casos, serão
indicadas não apenas para confecção de próteses convencionais, que serão cimentadas sobre
preparos dentários, mas também para a confecção de próteses que serão fixadas sobre im-
plantes.

26 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Outro sistema que faz parte da classe de cerâmicas aluminizadas de alta concentração e que
contém cerca de 99,5% de óxido de alumínio é o Procera (Nobel Biocare). Este sistema foi
desenvolvido em 1981, na Suécia, e é utilizado com a tecnologia CAD/CAM, que permite a
confecção de infraestruturas em alumina densamente sinterizada.

No sistema Procera, o preparo do dente é moldado, o modelo obtido em gesso é


escaneado, e os dados do scanner são enviados para o laboratório na Suécia ou nos
Estados Unidos. No laboratório central da empresa, é produzido um troquel por
cópia e usinagem 20% maior do que o tamanho original para compensar a contração
de sinterização. Após a queima completa, o profissional recebe a infraestrutura
cerâmica que pode receber a cerâmica de cobertura da maneira tradicional.32

O sistema Procera é subdividido em:4,6


 Procera All-Ceram – é constituído por uma cerâmica com alta concentração de
alumina, como citado anteriormente, e o processo de confecção permite o controle
total sobre o desenho e a espessura da infraestrutura produzida e excelente ajuste
marginal. Essa alta concentração faz com que este sistema alcance uma resistência
flexural de 650 a 750MPa;4,24
 Procera All-Zyrcon – contém, além da alta concentração de alumina, óxidos de zircônio
estabilizado por ítrio, resultando em um material branco leitoso com características
próximas às dos metais e com a vantagem da estética de um material totalmente
cerâmico.4,6 A resistência flexural deste sistema situa-se em torno de 1.000 a 1.200MPa,
expandindo sua indicação a todas as regiões da cavidade oral.

Por ser um material quase que exclusivamente cristalino, já que não apresenta quanti-
dade considerável de fase vítrea na sua composição, as cerâmicas aluminizadas de
alta concentração são acidorresistentes, ou seja, insensíveis ao condicionamento
com ácido fluorídrico e, posteriormente, à silanização.15 Convém enfatizar, ainda,
que a aplicação de ácido fluorídrico em cerâmicas aluminizadas obtidas por sinteri-
zação associada à infiltração por vidro pode promover a eliminação do vidro infiltrado
sobre a estrutura de alumina, aumentando sua porosidade e diminuindo, consequen-
temente, sua resistência. Dessa forma, a aplicação do ácido é contraindicada.

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 27


8. Marque V (verdadeiro) ou F (falso) nas afirmativas a seguir sobre as cerâmicas feldspáticas.
( ) A presença da leucita favorece o aumento do coeficiente de expansão térmica da
cerâmica e, consequentemente, sua compatibilidade para aplicação sobre infraes-
truturas metálicas, especialmente.
( ) Por apresentarem uma quantidade considerável de fase vítrea na sua composição,
elas são acidorresistentes.
( ) São indicadas, nos dias atuais, para confecção de inlays, onlays e facetas laminadas
em casos selecionados e, principalmente, para recobrimento de infraestruturas, sejam
estas metálicas ou cerâmicas, de alta resistência (aluminizadas, vidros ceramizados
ou à base de zircônia).
( ) Adicionando-se certos componentes às cerâmicas feldspáticas, tais como o bórax, é
possível aumentar a temperatura de fusão desses materiais.
Resposta no final do artigo

9. Por que o óxido de alumínio tem sido empregado com sucesso como reforço às cerâmicas
odontológicas?

Resposta no final do artigo

10. Quais as principais características do sistema In-Ceram, de acordo com suas composições
de óxido de alumínio, óxido de magnésio e zircônia?

Resposta no final do artigo

28 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


11. Por que a aplicação de ácido fluorídrico em cerâmicas aluminizadas obtidas por sinterização
associada à infiltração por vidro é contraindicada?

VIDROS CERAMIZADOS
Os vidros ceramizados são parcialmente cristalizados e obtidos pela nucleação e desenvolvimen-
to de cristais na fase vítrea da matriz.14 A fase cristalina é obtida a partir da cristalização
controlada e dirigida de certos tipos de vidro, processo denominado ceramização.4,14,23

Para realização da ceramização, vidros específicos são confeccionados em um formato de-


sejado e, depois de cobertos com um material protetor, são submetidos a um tratamento
térmico que induz à desvitrificação parcial dos mesmos por meio do crescimento uniforme
de cristais microscópicos, parecidos com agulhas ou lâminas, no interior da matriz vítrea.14
Por meio desse processo, um material exclusivamente vítreo é convertido em uma cerâmica,
com fase cristalina, mecanicamente mais forte.4,15,33

As partículas cristalinas formadas durante o processo de ceramização servem para


interromper ou minimizar a propagação de trincas no material quando uma força intraoral é
aplicada, aumentando, consequentemente, sua resistência e sua rigidez.14

Já que a fratura de estruturas friáveis, com fase cristalina forte, quase sempre tem
início a partir de pequenos defeitos de superfície que se propagam na fase vítrea,
deve-se considerar que a dimensão desses defeitos pode ser limitada de acordo
com a distância entre as partículas cristalinas dispersas nessa fase. Quanto menor o
cristal e maior a fração de seu volume, menor será a distância média livre e, conse-
quentemente, maior a resistência do material. Daí a importância do processo de
ceramização, que permite que o tamanho e a quantidade dos cristais da fase cristalina
possam ser cuidadosamente controlados.12 Ele atribui às cerâmicas um aumento da
resistência à fratura, à abrasão e aos choques térmicos, bem como maior durabilidade
química e redução da translucidez excessiva.14

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 29


O uso de vidros ceramizados na Odontologia foi primeiramente proposto por MacCulloch,
em 1968, para a produção de dentes para próteses totais.14 Nos dias atuais, esses materiais
têm sido utilizados de acordo com seu principal constituinte cristalino (leucita ou dissilicato
de lítio) para diferentes aplicações na Odontologia.

Os vidros ceramizados são acidossensíveis, ou seja, passíveis de serem condicionados


com ácido fluorídrico e, posteriormente, silanizados, já que apresentam quantidade considerá-
vel de SiO2 (fase vítrea) na sua composição.15 Assim, após a aplicação de um adesivo, podem
unir-se a agentes cimentantes resinosos.

Quanto à forma como são processados, podem ser prensados/injetados, usinados ou, menos
frequentemente, podem estar disponíveis na forma de pó e líquido para sinterização.4

VIDROS CERAMIZADOS À BASE DE LEUCITA


A adição da leucita (KAlSi2O6), composto derivado do feldspato, na concentração de 35 a
55% como fase cristalina a determinados vidros ceramizados tem por objetivo promover o
aumento da resistência do respectivo material, sem causar prejuízo da estética.11,21

Ao contrário da alumina, que em altas concentrações confere opacidade à cerâmica,


a ponto de limitar seu uso apenas para infraestrutura, a leucita pode ser utilizada
em concentrações relativamente altas sem interferir demasiadamente na translucidez,
por ter um índice de refração semelhante ao do feldspato.21

Até 1990, não era possível obter cerâmicas com mais de 20% de leucita. Por um acontecimento
acidental na manipulação de um forno elétrico, ocorreu uma cristalização em altas temperatu-
ras, resultando daí uma cerâmica com 45% de leucita, com maior resistência e, por se tratar
de leucita, com excelente translucidez.21

Contudo, o aumento, em média, da resistência flexural para 120MPa e da tenacidade


para 1,2MPa/m1/2,11 equivalentes a quase o dobro dos valores observados para as
cerâmicas feldspáticas até então existentes,21 não são significativos se comparados
aos valores observados para os demais sistemas cerâmicos disponíveis atualmente.29
Por esse motivo, suas indicações ficaram limitadas a facetas laminadas e restaura-
ções unitárias parciais, intra e extracoronárias (inlays, onlays e overlays), ou
totais, para dentes anteriores.4,11,16

30 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Um exemplo clássico de vidro ceramizado à base de leucita é o sistema IPS Empress, da
Ivoclar Vivadent Inc. Esse sistema apresenta em sua composição 35% em volume de leucita,
que previne a propagação de microfraturas internas na matriz vítrea.12 Sua resistência flexural
situa-se entre 145 e 160MPa,12 o que justifica sua indicação apenas para restaurações parciais12
ou totais em dentes anteriores,15 e sua desadaptação marginal é de cerca de 60μm.15

O IPS Empress é fornecido na forma de lingotes em diferentes cores,15 e as restaurações são


obtidas por injeção sob pressão hidrostática a vácuo e calor, por meio da técnica da cera
perdida,3,23,34 o que permite, portanto, somente caracterização extrínseca.3 A fim de se alcançar
uma estética mais satisfatória, o respectivo sistema pode ser usado para a confecção de
infraestruturas para coroas totais unitárias em dentes anteriores, e, então, sobre elas se aplica
uma cerâmica feldspática por meio da técnica de estratificação para reconstituição da anatomia
e da estética final.4

A partir do sistema IPS Empress foi idealizado o sistema IPS Empress Esthetic, que dispõe
de três diferentes constituintes:
 pastilhas/lingotes para infraestruturas;
 cerâmica de cobertura (veneer);
 revestimento para inclusão (Esthet Speed).

O IPS Empress Esthetic é um vidro ceramizado à base de leucita, cuja pastilha para injeção
apresenta a formulação clássica do sistema IPS Empress com características otimizadas. Com
cristais de leucita menores, distribuídos de forma mais homogênea e compacta, o sistema
alcança melhores propriedades mecânicas, assim como maiores níveis de translucidez. Coor-
denada com as novas pastilhas, a cerâmica de cobertura foi desenvolvida para estratificação
da porção incisal em facetas e coroas anteriores. Assim, com a cerâmica de cobertura, criam-
se bordas incisais bastante naturais, com efeitos de translucidez e opalescência, enquanto do
terço médio para o cervical trabalha-se sobre a própria cerâmica injetada, por meio da caracte-
rização extrínseca.

As indicações do sistema IPS Empress Esthetic continuam a ser limitadas para restau-
rações unitárias, parciais ou totais em dentes anteriores, pois, como para toda cerâmi-
ca à base de leucita, a resistência mecânica é insuficiente para ser usada na fabricação
de próteses fixas de múltiplos elementos.12

Outros vidros ceramizados à base de leucita são representados pelos sistemas Dicor
(Dentsply), Optec OPC (Jeneric Pentron), Cerpress (Dillon Company Inc.), Finesse All-Ceramic
(Dentsply), Vitapress Omega 900 (Vita) e Cergogold (Degussa),15 disponíveis na forma de
pastilhas/lingotes para prensagem/injeção; e pelo sistema Optec HSP (Jeneric Pentron), dispo-
nível na forma de pó e líquido para sinterização.4

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 31


VIDROS CERAMIZADOS À BASE DE DISSILICATO DE LÍTIO
Da mesma forma que para a leucita, a adição do dissilicato de lítio (Li2Si2O5) a determinados
vidros ceramizados como fase cristalina na concentração de 60% também tem por objetivo
promover o aumento significativo da resistência, sem perda da qualidade estética.11

Ainda que os vidros ceramizados à base de dissilicato de lítio continuem sendo um material
relativamente friável e sujeito à formação e propagação de trincas e até a sofrer fraturas
catastróficas, eles apresentam resistência flexural entre 300 e 400MPa e tenacidade entre 2,8
e 3,5MPa/m1/2.29 Assim, são três a quatro vezes mais resistentes do que as cerâmicas feldspá-
ticas.11

Os vidros ceramizados à base de dissilicato de lítio estão indicados para facetas


laminadas, inlays, onlays, overlays, coroas unitárias para dentes anteriores (ver Figuras
1 a 20 mais adiante no Caso Clínico 1) e posteriores e mesmo para próteses parciais
fixas de três elementos, em áreas de menor esforço mastigatório, até o segundo
pré-molar.11

Dispersos na matriz vítrea de certos vidros ceramizados de forma entrelaçada, os cristais de


dissilicato de lítio, bem como a própria matriz vítrea, têm índices de refração da luz semelhantes
entre si e aos dos dentes naturais, o que permite a confecção de infraestruturas que não
interferem no resultado ótico final da restauração. Há de se ressaltar que, mesmo com boa
estética, esse material é indicado para coroas totais ou próteses parciais fixas apenas para
confecção de infraestruturas, e sobre ele deve ser aplicada uma cerâmica ainda mais estética
por meio da técnica de camadas ou estratificada.

O exemplo clássico de vidro ceramizado à base de dissilicato de lítio é o sistema IPS Empress
II, da Ivoclar Vivadent Inc.3,12 A resistência flexural desse sistema é de 350 a 450MPa, o que
possibilita seu uso para facetas laminadas, inlays, onlays, overlays, coroas totais unitárias em
dentes anteriores e posteriores e próteses fixas de até três elementos, em casos selecionados,
com limite para o pôntico até o segundo pré-molar. Para esse sistema, foi criada uma cerâmica
de recobrimento com cristais de fluorapatita que, associada à cerâmica à base de dissilicato
de lítio (60% em volume) da infraestrutura, resulta em uma restauração protética com brilho,
translucidez e fluorescência próximos aos das estruturas dentárias.3,35 O alto conteúdo cristalino
de dissilicato de lítio garante ao material boa resistência e lisura de superfície; enquanto a
fluorapatita diminui o potencial abrasivo da cerâmica, em relação às feldspáticas convencio-
nais.3,4

Repaginando o clássico sistema IPS Empress II, a Ivoclar Vivadent Inc. apresenta o sistema IPS
e.max. Esse sistema coordena tanto técnicas de injeção à alta temperatura como a tecnologia
CAD-CAM.

32 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


No sistema de injeção, dois tipos de pastilhas estão disponíveis:
 IPS e.max Press – cerâmica à base de dissilicato de lítio;
 IPS e.max ZirPress – cerâmica de vidro à base de fluorapatita para ser sobreinjetada
em estruturas de zircônia.

No sistema CAD-CAM, estão disponíveis:


 IPS e.max CAD – blocos de cerâmica de dissilicato de lítio;
 IPS e.max ZirCAD – blocos de óxido de zircônia.

Associada ao sistema CAD-CAM, uma cerâmica de cobertura, IPS e.max Ceram, à base de
nanofluorapatita, foi desenvolvida para estratificar todos os tipos de estruturas IPS e.max.12

Vale ressaltar que os materiais à base de dissilicato de lítio que compõem o sistema
IPS e.max continuam a ser indicados para facetas laminadas, inlays, onlays, overlays,
coroas unitárias (ver Figuras 21 a 27 mais adiante no Caso Clínico 2) e próteses
parciais fixas de três elementos em áreas de menor esforço mastigatório até segundo
pré-molar.

As indicações e implicações relacionadas aos materiais cerâmicos à base de zircônia, perten-


centes ou não ao sistema IPS e.max, serão discutidas a seguir.

12. Quanto aos vidros ceramizados, é INCORRETO afirmar que:


A) são vidros parcialmente cristalizados por um processo denominado ceramização.
B) são acidossensíveis, ou seja, passíveis de serem condicionados com ácido fluorídrico
e, posteriormente, silanizados, já que apresentam quantidade considerável de SiO2
em sua composição.
C) podem conter cristais de leucita ou de zircônia em sua composição.
D) podem ser processados por prensagem/injeção, usinagem ou, menos frequentemente,
podem estar disponíveis na forma de pó e líquido para sinterização.
Resposta no final do artigo

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 33


13. São exemplos clássicos de vidros ceramizados à base de leucita os sistemas:
A) IPS Empress e IPS Empress II.
B) IPS Empress e IPS Empress Esthetic.
C) IPS Empress Esthetic, IPS e.max Press e IPS e.max ZirCAD.
D) IPS Empress II, IPS e.max Press e IPS e.max CAD.
Resposta no final do artigo

14. São exemplos clássicos de vidros ceramizados à base de dissilicato de lítio os sistemas:
A) IPS Empress e IPS Empress II.
B) IPS Empress e IPS Empress Esthetic.
C) IPS Empress Esthetic, IPS e.max Press e IPS e.max ZirCAD.
D) IPS Empress II, IPS e.max Press e IPS e.max CAD.
Resposta no final do artigo

15. Para que estão indicados, respectivamente, os vidros ceramizados à base de leucita e de
dissilicato de lítio?

Resposta no final do artigo

16. Qual o objetivo de se adicionar dissilicato de lítio (Li2Si2O5) a determinados vidros cerami-
zados como fase cristalina na concentração de 60%?

CERÂMICAS À BASE DE ZIRCÔNIA


O material de infraestrutura mais recente para próteses totalmente cerâmicas consiste em
policristais de zircônia tetragonal estabilizada com ítrio (Y-TZP). Inicialmente, sua aplicação

34 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


foi introduzida para uso biomédico na ortopedia, principalmente para artroplastia total do
quadril, alcançando excelentes propriedades mecânicas e biocompatibilidade favorável.36 Em
1990, o uso de Y-TZP expandiu-se para a Odontologia para a confecção de pinos pré-fabricados
e implantes. Atualmente, é considerado um material de infraestrutura alternativo ao metal
das restaurações metalocerâmicas.36

A zircônia tem-se tornado um material de infraestrutura extremamente popular. Suas


propriedades mecânicas são as de maiores valores dentre todas as cerâmicas odontológicas,37
permitindo a criação de estruturas de cerâmica antes impossíveis historicamente. Não surpreen-
dentemente, ela tem sido o foco de recentes revisões aprofundadas sobre o tema.37,38

O óxido de ítrio é um óxido de estabilização adicionado à zircônia pura para estabilizá-la à


temperatura ambiente e para gerar um material multifásico conhecido como zircônia parcial-
mente estabilizada.36 A alta resistência inicial e tenacidade à fratura da Y-TZP resulta das
propriedades físicas da zircônia parcialmente estabilizada.36

A transformação de fase adequadamente controlada em cerâmicas odontológicas pode me-


lhorar o desempenho clínico. A zircônia pura pode assumir três formas cristalográficas,
dependendo da temperatura:37
 monoclínica, na temperatura ambiente até 1.170ºC;
 tetragonal, de 1.170 a 2.370ºC;
 cúbica, acima de 2.370ºC.

Quando estabilizada com ítrio, a estrutura tetragonal (t) pode ser mantida em tempe-
ratura ambiente. Condições externas, como tensões de tração atuando na extremida-
de da trinca, podem transformar a fase tetragonal metaestável (t) para a monoclínica
mais estável (m).36 Essa transformação (t-m) tem uma expansão de volume associada
de 3 a 5%, o que, em zircônia pura, pode levar a uma falha catastrófica.37 No
entanto, por meio da adição de óxidos de estabilização, tensões compressivas e
microtrincas criadas ao redor das partículas transformadas efetivamente se opõem
à abertura das trincas e aumentam a sua resistência à propagação,39 resultando na
tenacidade por transformação do material com melhora da sua resistência.40,41,42

Por meio desse fenômeno, a Y-TZP possui uma resistência que se aproxima da do aço.38,39
Apesar dessa resistência, sua tenacidade é de 9MPa/m1/2, em comparação com 40MPa/m1/2
para o aço. Além de sua excepcional resistência à flexão, de 900 a 1.200MPa, o módulo de
elasticidade intermediário da zircônia (780GPa) oferece vantagens em estruturas estratificadas
mudando o modo de dano e fratura na camada de revestimento de cerâmica em comparação
com a prótese de alumina (340GPa).43 Curiosamente, a dureza, sendo uma combinação de
módulo de elasticidade e resistência, é menor para a zircônia do que para a alumina.43 Com
propriedades mecânicas superiores às das demais cerâmicas, a Y-TZP ampliou as indicações
das próteses cerâmicas para próteses parciais fixas de 3 a 4 elementos em qualquer região
bucal.44

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 35


Essas excelentes características mecânicas devem-se, em parte, à transformação da fase
metaestável tetragonal para a monoclínica, que é estável.41 Entretanto, apresenta o problema
relacionado com sua degradação por envelhecimento a baixas temperaturas,45 fenômeno
que ocorre na superfície da zircônia e degrada suas excelentes propriedades mecânicas.

A zircônia, ainda que estabilizada por ítrio, cério, cálcio ou magnésio, é suscetível à
degradação em várias situações de ambientes, como ao vapor d’água, à umidade
do ar e a outros fluidos; contudo, em ambiente aquoso, o efeito é mais catastrófico
e ocorre em curtos períodos de tempo.41

Por meio do mesmo mecanismo (transformação da fase tetragonal-monoclínica) que


pode beneficiar a Y-TZP melhorando suas propriedades mecânicas,44 pode-se deteriorar essas
mesmas propriedades pelo processo do seu envelhecimento.44 Assim, a degradação é causada
por esta transformação de fase, que é acompanhada pelo surgimento de micro ou macro-
trincas, que ocorrem primeiramente na superfície do material, sendo que a água ou o vapor
d’água podem atuar sinergicamente nesse mecanismo de envelhecimento.44 Dessa forma,
esse processo ocorre primeiramente em grãos localizados na superfície, com uma cascata
posterior de eventos que culmina na formação de microtrincas e estresse nos grãos vizinhos,
favorecendo a penetração de água e promovendo a transformação de fase em um maior
número de grãos. Finalmente, ocorre a formação de uma superfície rugosa associada a
microtrincas mais extensas.45

A infraestrutura da Y-TZP pode ser desenhada usando a técnica convencional da cera


perdida ou desenhada com o auxílio de computador (CAD). O software de CAD pode
permitir que os técnicos personalizem o desenho da infraestrutura, combinando con-
ceitos tradicionais de desenhos com os requisitos dos materiais. Vários sistemas restau-
radores baseados em Y-TZP para coroas e próteses têm sido descritos na literatura:27,45,46

 o sistema Cercon Zircônia (Dentsply) convencional exige técnicas de enceramento


para a concepção da infraestrutura;
 a DCS-precident (DCS) e o sistema LAVA (3M ESPE) utilizam um tipo diferente de
tecnologia CAD com diferentes características e opções de desenho.

Uma vez que a estrutura esteja concluída, os dados são transferidos da unidade de
CAD para a unidade de fabricação assistida por computador (CAM), ou um padrão de
cera convencional é escaneado, como no sistema Cercon. Os sistemas Cercon e LAVA
usam blocos de Y-TZP parcialmente sinterizados para a usinagem das infraestruturas,
enquanto no DC-Zirkon (DCS) as infraestruturas são usinadas em blocos totalmente
sinterizados.

36 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Em blocos parcialmente sinterizados, o tamanho é aumentado para compensar a
contração prospectiva (20-25%) que ocorre durante a sinterização final.45 O processo
de usinagem é mais rápido, e o desgaste do equipamento é menor do que a usinagem
do bloco totalmente sinterizado.27,45,46

Os defensores da utilização dos blocos parcialmente sinterizados alegam que microtrincas


podem ser introduzidas na infraestrutura durante a usinagem. Os proponentes de
usinagem com blocos totalmente sinterizados alegam que a ausência de contração do
processo melhora o ajuste marginal.36

17. O que faz da zircônia, um material de infraestrutura, estar se tornando extremamente


popular?

18. Qual é o processo que leva a zircônia a ter uma resistência mecânica próxima à do aço?

Resposta no final do artigo

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 37


MÉTODOS DE OBTENÇÃO/PROCESSAMENTO
Na Odontologia, as restaurações cerâmicas podem ser obtidas por:
 sinterização;
 prensagem/injeção;
 sinterização associada à infiltração por vidro;
 usinagem.

Entender como as cerâmicas odontológicas são processadas é importante, pois parece haver
uma correlação entre o sucesso clínico das restaurações indiretas e o método pelo qual elas
foram obtidas.

Ainda que um material apresente mesma composição química e microestrutural, a


técnica de processamento utilizada para confecção de uma restauração pode me-
lhorar ou prejudicar as propriedades finais e o sucesso clínico da mesma.13,16,47

SINTERIZAÇÃO
As reações termoquímicas entre os componentes do pó de uma cerâmica são praticamente
completadas durante o processo de manufatura original. Durante a queima de uma cerâmica
não ocorre, portanto, nenhuma reação química; o vidro é simplesmente fundido acima de
sua temperatura de transição, quando as partículas se fundem pela sinterização da fase
líquida e sofrem novamente resfriamento. Assim, o que ocorre é que as partículas individuais
sofrem fusão pela sinterização para produzir um sólido coeso.13,14

A sinterização consiste em aproximar e unir os cristais, a fim de formar uma rede


que confere resistência ao conjunto. A matriz vítrea de feldspato funde-se parcialmen-
te, e as partículas da fase mineral unem-se aos pontos de contato.

As cerâmicas feldspáticas são apresentadas na forma de pó e líquido (água ou aglutinante)


ou pasta, para os opacos. A aplicação é feita a partir da mistura dos dois componentes, ao se
obter uma massa plástica que vai sendo esculpida na superfície de um troquel refratário ou
de uma infraestrutura. À medida que a escultura vai sendo realizada, o excesso de água é
removido da superfície com papel absorvente, pano limpo, pó seco ou secador. A remoção
de excessos de água promove a condensação, visando à diminuição das porosidades e deixando
a cerâmica mais densa, mais translúcida e com menor contração de sinterização. Após a
condensação, o troquel é levado ao forno pré-aquecido para que seja efetuada a secagem
ou pré-sinterização, que ocorre dentro de 10 a 15 minutos. Assim, o processo de queima é
iniciado, e as partículas sofrem uma aproximação que, por consequência, resultará na contração
da cerâmica.11,13

38 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


O processo de sinterização pode ser repetido algumas vezes. Ou seja, cada camada
é sinterizada e esfriada antes de se colocar uma nova camada. A principal vantagem
dessa técnica é que a sinterização é acompanhada de uma contração que é com-
pensada pela camada seguinte. No entanto, seu maior inconveniente é que a mis-
tura de um pó e um líquido e sua aplicação em camadas resulta em uma cerâmica
porosa, o que pode ser minimizado pelo uso de um forno a vácuo.19

Quando a cerâmica é levada ao forno, as partículas de pó são compactadas com canais de


ar ao seu redor. Quando a pressão atmosférica dentro do forno é reduzida a cerca de um
décimo da pressão atmosférica pelo vácuo, o ar ao redor das partículas também é diminuído
a essa pressão. Aumentando-se a temperatura, as partículas sofrem sinterização, e as
porosidades fechadas são formadas na massa da cerâmica. A pressão no interior do forno é
aumentada cerca de 10 vezes e faz com que as porosidades tenham um décimo do seu
tamanho original e com que o volume total da porosidade seja diminuído.14 Essa redução na
porosidade aumenta a resistência e promove melhora na translucidez da cerâmica.21

Ao finalizar a sinterização, após 3 a 5 queimas, é iniciado o resfriamento, realizado a


cada ciclo quando a cerâmica é exposta ao meio externo.11 É de extrema importância seguir
os valores indicados para queima de cada fabricante para que se possam alcançar as melhores
características de resistência, translucidez e coeficiente de expansão térmica.

Ao ser alcançada a anatomia desejada e logo após o resfriamento da peça, um acabamento


superficial deve ser realizado para promover brilho superficial e vedar a abertura de poros
nessa superfície. A esse processo de obtenção de brilho e vedamento das porosidades superfi-
ciais dá-se o nome de glazeamento, que é realizado ao se aplicar uma camada de cerâmica
de ponto de fusão mais baixo, e a peça é levada ao forno mais uma vez.11

PRENSAGEM/INJEÇÃO
O processamento das cerâmicas odontológicas por prensagem e/ou injeção (ver Figuras 28 a
40 mais adiante no Caso Clínico 3) baseia-se na “técnica da cera perdida”, usada, original-
mente, para obtenção de restaurações indiretas metálicas.

Sobre um modelo de gesso isolado previamente, confecciona-se um padrão de cera


da futura restauração indireta. Esse padrão é, então, incluído em um revestimento
especial, utilizando-se para isso um sistema de anel específico. Após a presa do
revestimento, o conjunto revestimento/enceramento é aquecido a altas temperaturas,
e a cera é evaporada, restando, no interior do revestimento, apenas o espaço desti-
nado ao preenchimento com a cerâmica, com a forma da futura restauração. Nesse
momento, então, a cerâmica (disponível na forma de lingotes, cilindros ou pasti-
lhas) é aquecida e, dependendo do sistema, pode ser prensada ou injetada.11,15,21

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 39


Nos sistemas prensados, a cerâmica (geralmente um vidro ceramizado) à base de leucita
ou de dissilicato de lítio,21 na cor escolhida, é plastificada, e não fundida, por um forno
especial de pressão a 1.100ºC (prensagem a quente). Depois dessa plastificação, a cerâmica
é prensada por um êmbolo a vácuo para dentro do revestimento, onde deve ser mantida sob
pressão para permitir o completo e acurado preenchimento do espaço correspondente à
restauração. A restauração indireta é resfriada e, já em estado sólido, depois de desincluída,
é ajustada e adaptada ao troquel. A peça obtida, monocromática, pode ser, então, caracteri-
zada por pigmentos superficiais ou, se for infraestrutura, recoberta com uma cerâmica de
cobertura pela técnica da estratificação.29,47 O processamento de cerâmicas odontológicas
por prensagem tem sido amplamente utilizado nos dias atuais e foi primeiramente descrito
por A. Wohlwend, da Universidade de Zurique, no ano de 1986.15

Já nos sistemas injetados, lançados em 1991, a cerâmica é fundida, ou seja, não apenas
plastificada, mas aquecida até se tornar fluida, e, então, injetada por centrifugação dentro
do revestimento. Da mesma forma como para as cerâmicas prensadas, a restauração resfria-
da é removida do revestimento e ajustada; em seguida, pode ser caracterizada por pigmen-
tos superficiais ou, se for infraestrutura, recoberta com uma cerâmica de cobertura. As cerâ-
micas usadas nessa técnica são, em sua maioria, compostas por óxido de magnésio, que, em
alguns casos, por meio de sua expansão, compensam a contração de sinterização.47

Acredita-se que o processamento das cerâmicas odontológicas por prensagem e/ou


injeção promova melhor adaptação das restaurações quando comparada com a
alcançada por cerâmicas convencionalmente sinterizadas, uma vez que algumas
cerâmicas prensadas/injetadas não sofrem contração. Por outro lado, o processa-
mento por prensagem/injeção está associado à necessidade de equipamentos espe-
ciais e, consequentemente, a um custo mais elevado.29,47

19. Qual a importância de se entender o método de processamento das cerâmicas para o


sucesso clínico das restaurações indiretas?

40 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


20. Qual a vantagem de se poder realizar a escultura pela aplicação estratificada da cerâmica,
realizando queimas e resfriamentos para cada camada?

Resposta no final do artigo

21. Como é feito o processamento das cerâmicas odontológicas pelo processo de prensagem/
injeção?

22. Acredita-se que o processamento das cerâmicas odontológicas por prensagem e/ou injeção
promova melhor adaptação das restaurações quando comparada com a alcançada por
cerâmicas convencionalmente sinterizadas. Por quê?

SINTERIZAÇÃO ASSOCIADA À INFILTRAÇÃO POR VIDRO


A busca por outros métodos de sinterização para uma melhora nas propriedades mecânicas
das cerâmicas e o melhor conhecimento da alumina levaram Sadoun, em 1989, a introduzir,
na Odontologia, a técnica “slip casting” ou técnica da barbotina. Essa técnica consiste em
fabricar estruturas sólidas a partir de suspensões estáveis, aplicadas sobre a superfície de um
molde poroso, e que faz a absorção destas suspensões por capilaridade.26 Esse processo
solucionou a capacidade limitada de adição de alumina ao vidro feldspato pela sinterização
com objetivo de aumento da resistência.48

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 41


A adição de pó de alumina ligeiramente sinterizado e infiltrado com um vidro de
baixa fusão de lantânio de sódio produz uma cerâmica bastante densa e muito
resistente. A difusão do vidro entre as porosidades da alumina preenchendo esses
espaços forma uma estrutura híbrida, densa e bastante resistente, entre 450 a
680MPa. Esse aumento de quatro vezes na resistência da cerâmica à base de alumina
em relação à cerâmica feldspática ocorre pela capacidade de inclusão de 89% de
pó de alumina.

Essa técnica consiste no preparo de uma suspensão estável por meio de partículas no tamanho
entre 1 e 5µm e poucas partículas em torno de 20µm que são misturadas com um líquido
especial (solução de 1% de álcool polivinil) em ultrassom. Essa suspensão (slip) é posta sobre
um modelo de gesso poroso (gesso paris), no qual foi usado espaçador para permitir uma
linha de cimentação de 45µm, que absorve a fase líquida por capilaridade. Esse gesso expande,
compensando, assim, a contração tardia do material no processo de sinterização.49

Após ser dado o formato desejado da infraestrutura sobre o modelo, a estrutura cerâmica é
sinterizada por 10 horas a uma temperatura de 1.120ºC. A alumina possui uma temperatura
de fusão muito elevada. Por isso, não ocorre a total densificação da fase sólida, restando
apenas pontos de união onde as partículas se tocam, mantendo um esqueleto poroso no
formato desejado. Esse pacote denso de partículas atua como um bloqueador de trincas.49

Nesse momento, um vidro de lantânio é infiltrado por capilaridade (casting) em quase toda
a estrutura para que permita o escape de ar, ocupando os espaços vazios e densificando a
cerâmica que será levada novamente ao forno a 1.100ºC durante 4 a 6 horas. Depois da
remoção do excesso, outra queima de 10 minutos é realizada a 960ºC para verificar o exces-
so de vidro.47,49

A infiltração do vidro, além de aumentar a resistência da estrutura, propicia melho-


res características estéticas, mas não exclui a necessidade do uso de cerâmicas
feldspáticas de cobertura.47,49 Essa técnica é utilizada pelo sistema Vita In-Ceram
Spinell (mistura de óxido de magnésio e de alumínio), Alumina (óxido de alumínio)
e Zircônia (mistura de óxido de zircônio parcialmente estabilizada por ítrio e alumínio).

USINAGEM
O processo de usinagem, também conhecido por torneamento ou fresagem, consiste no
desgaste ou corte, por meio de equipamentos especiais, de blocos pré-fabricados de diferentes
materiais cerâmicos para dar forma a restaurações indiretas parciais ou totais, unitárias ou
múltiplas, ou a infraestruturas também unitárias ou múltiplas.21

42 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Esse tipo de processamento pode ser realizado por meio de dois diferentes sistemas:21,30,36
 sistema de cópia e usinagem (copy-milling): nesse sistema, um padrão de cera esculpido
por um técnico de laboratório na forma desejada sobre um troquel de gesso é esca-
neado, enquanto o bloco cerâmico é usinado por corte ou desgaste, de acordo com
as dimensões determinadas pelo escaneamento do padrão de cera, utilizando-se um
dispositivo pantográfico semelhante aos utilizados para a duplicação de chaves, ou
seja, que realiza a cópia de um original;11,14,19
 sistema de desenho com auxílio do computador associado à usinagem assistida por
computador (CAD/CAM): nesse sistema, o troquel de gesso, ou mesmo o próprio
preparo dentário, diretamente na cavidade bucal é que é escaneado. A partir da imagem
do preparo na tela do computador, define-se a forma da peça a ser confeccionada
(unidade CAD) e, com base nas dimensões determinadas pelo desenho da peça, o
bloco cerâmico é, então, usinado por controle e orientação do computador (unidade
CAM).11,14,21 Esse sistema foi idealizado por François Duret e, graças à sua evolução ao
longo dos anos, representa hoje a aplicação da tecnologia computadorizada na prática
odontológica.15

Os blocos cerâmicos a serem usinados por meio de ambas as técnicas descritas também
podem ser de dois tipos: parcial ou totalmente sinterizados.47,50-52

Para os blocos parcialmente sinterizados, inicialmente, um aquecimento permite que a


fusão superficial das partículas ocorra; no entanto, as porosidades existentes entre elas são
mantidas.21 Nesse estágio, a cerâmica é desgastada ou cortada de forma fácil. Depois da
usinagem, promove-se o aquecimento da peça a altas temperaturas, para que ocorra a sinte-
rização total, ou seja, a união total das partículas. Esse processo resulta no desaparecimento
das porosidades e, consequentemente, em contração, que deve ser conhecida para cada
determinado material, e compensada, confeccionando-se a peça em dimensões proporcional-
mente maiores no momento da usinagem.21

Em geral, são os blocos de zircônia parcialmente estabilizada por ítrio que são
usinados ainda quando parcialmente sinterizados devido à grande resistência desses
materiais, a fim de evitar o grande desgaste do equipamento e de tornar o processo
mais rápido (green milling). Questiona-se, porém, a adaptação das restaurações
obtidas a partir da usinagem de blocos parcialmente sinterizados, justamente por
causa da contração sofrida no processo de sinterização final, nem sempre adequa-
damente compensada.

Para os blocos já totalmente sinterizados, a sinterização complementar em laboratório e


a usinagem da peça em tamanho maior tornam-se desnecessárias. No entanto, a fresadora
precisa ser mais potente, porque o desgaste das brocas é grande, e o processo, mais demora-
do.21 Além disso, restaurações obtidas a partir da usinagem de blocos cerâmicos totalmente
sinterizados podem apresentar maior quantidade de microtrincas e, consequentemente, maior
predisposição à fratura, já que sua resistência ao torneamento é consideravelmente maior.36,52

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 43


O processo de usinagem, especialmente de blocos cerâmicos totalmente sinterizados
pelo sistema CAD/CAM, pode durar apenas poucos minutos e chega a permitir que
restaurações indiretas sejam confeccionadas e cimentadas em uma única sessão de
atendimento. Para esses casos, a etapa de moldagem seria desnecessária, uma vez
que o preparo dentário seria escaneado diretamente na boca do paciente. Todavia,
a necessidade de equipamento de alto custo e a impossibilidade de caracterização
intrínseca das peças obtidas de blocos cerâmicos monocromáticos inviabilizam, na
grande maioria das vezes, o uso dos sistemas de usinagem exclusivamente no con-
sultório odontológico.21

Algumas desvantagens associadas ao processamento das cerâmicas odontológicas por


usinagem de uma maneira geral, e não apenas ao processamento exclusivamente no consultó-
rio, são:11,14,19,21
 a sensibilidade técnica do procedimento de captação ótica, de escaneamento, dos
preparos;
 a dificuldade na determinação de detalhes anatômicos, especialmente oclusais;
 o alto custo dos equipamentos;
 a dificuldade de caracterização das peças, quando estas não são infraestruturas.

Apesar das desvantagens relacionadas ao processamento dos materiais cerâmicos por


usinagem, acredita-se que ele possa contribuir para a eliminação do erro promovido pelo
fator humano na confecção de restaurações indiretas, diminuindo a grande disparidade entre
cada trabalho.11 Esse tipo de processamento está associado, por exemplo, à obtenção de
restaurações cerâmicas com níveis insignificantes de porosidade (1 a 17 poros/peça), quando
comparados àqueles observados para restaurações obtidas por prensagem (103 a 621 poros/
peça), por exemplo.53

Tais porosidades, além de atuarem como iniciadores de trincas, alteram a dispersão


da luz incidente, reduzindo a translucidez da restauração.54 Tem-se demonstrado
também que é por meio do processamento por usinagem que o ajuste interno das
estruturas cerâmicas alcança maior precisão, já que, para um ceramista, é muito
complicado sempre conseguir um bom ajuste interno utilizando a técnica da cera
perdida.12

Desde 1989, é possível obter restaurações indiretas por meio da usinagem de blocos
cerâmicos. As primeiras cerâmicas usinadas eram feldspáticas, ou seja, obtinha-se por uma
técnica muito mais custosa uma peça que poderia ter sido obtida pela tradicional técnica de
estratificação e sinterização.21 Nos dias atuais, as cerâmicas à base de zircônia têm sido utiliza-
das no processamento por usinagem de forma mais intensa. Todavia, não são as únicas
cerâmicas que podem ser assim processadas. As cerâmicas aluminizadas, e, menos frequente-
mente, os vidros ceramizados, à base de leucita ou à base de dissilicato de lítio, e mesmo as
cerâmicas feldspáticas também podem ser usinadas.11

44 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


São exemplos clássicos de sistemas de processamento de cerâmicas odontológicas por
usinagem:3,4,15,21
 Cerec (Sirona Dental Systems);
 Cerec 2 (Sirona Dental Systems);
 Cerec 3 (Sirona Dental Systems);
 Cerec In-Lab (Sirona Dental Systems);
 Planet Cerec (Sirona Dental Systems);
 Celay (Vident-Mikrona Technology AG);
 Cercon (DeguDent).

Existe, ainda, uma tendência atual de se associar a técnica de usinagem para confecção de
infraestruturas à técnica de prensagem/injeção para aplicação da cerâmica de recobrimento.
Exemplos de sistemas baseados nessa nova tendência incluem o IPS e.max (Ivoclar Vivadent
Inc.), o Ceramco PFZ Press (Dentsply) e o Cerabien CZR Press (Noritake).21

Vale ressaltar que o processamento das cerâmicas por usinagem tornou possível a
obtenção não apenas de restaurações indiretas, parciais ou totais, unitárias ou múl-
tiplas, ou de infraestruturas, também unitárias ou múltiplas; mas, ainda, de munhões
de alumina e zircônia para implante (ver Figuras 23 a 25 mais adiante no Caso
Clínico 2), que promovem melhor estética para as próteses sobre implantes, reduzindo
a possibilidade do aparecimento de uma cinta metálica e permitindo uma boa adapta-
ção entre pilar e implante.11

NOVAS TENDÊNCIAS
Os avanços nas composições e processamentos das cerâmicas odontológicas indicam que a
resistência mecânica desses materiais pode ser melhorada. Durante o processo de aumento
da resistência das cerâmicas, existe uma tendência à piora nas qualidades estéticas. O desafio
está, então, em desenvolver estruturas cerâmicas com excelente estética e resistência.

PROCESSAMENTO POR “IMPRESSÃO”


O “robocasting” é uma prototipagem rápida que imprime modelos reais a partir de desenhos
realizados no computador (CAD-3D). A técnica utiliza a extrusão de sistemas coloidais contro-
lada por computador (também chamado de pastas, géis ou tintas) em um substrato plano
sem a necessidade de moldes ou ferramentas adicionais. Diferentemente da usinagem, que
remove o material indesejado de um bloco, essa técnica recebe instruções de impressão de
um modelo de computador em 3D.

Uma vez que o modelo CAD-3D é criado, uma sequência de impressão para construir as camadas
umas sobre as outras é realizada. Essa estratégia tem sido usada para montar uma variedade de
estruturas com aplicações que vão desde a eletrônica até o arcabouço de osso para enxerto.55

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 45


A produção de restaurações dentárias por “robocasting” evoluiu recentemente,
mas ainda não está comercialmente disponível para competir com os sistemas
CAD/CAM.55

As potenciais vantagens sobre os sistemas CAD/CAM incluem a capacidade de composição


espacialmente, grau de porosidade para atender projetos específicos e a não necessidade de
moldes prévios. Além disso, essa tecnologia de fabricação permite controlar com maior precisão
a morfologia interna, forma e distribuição.55 Outro benefício deste sistema é a capacidade de
imprimir com vários materiais ao mesmo tempo, bem como criar estruturas graduadas
(“graded”), o que nos remete a outra novidade.

MATERIAIS GRADUADOS (GRADED MATERIALS)


Materiais graduados são aqueles que apresentam em uma única estrutura diferentes tipos de
materiais misturados. Estruturas compostas por gradações de cerâmica feldspática, alumina
ou zircônia e, novamente, cerâmica feldspática estão sendo estudados em laboratório e re-
sultados animadores têm sido demonstrados.

Em Odontologia, um material graduado seria uma coroa formada na parte interna por cerâmica
feldspática, no meio por zircônia ou alumina e na superfície externa por cerâmica feldspática
mais uma vez. Dessa forma, o material combinaria a estética e a adesão presentes nas cerâmicas
feldspáticas com a resistência da alumina ou zircônia.56,57

23. Qual(is) é(são) o(s) objetivo(s) da infiltração por vidro?

Resposta no final do artigo

46 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


24. Quais das seguintes considerações relacionadas ao processamento das cerâmicas
odontológicas por usinagem estão corretas?
I – O processo de usinagem, também conhecido por torneamento ou fresagem, consiste
no desgaste ou corte, por meio de equipamentos especiais, de blocos pré-fabricados
de diferentes materiais cerâmicos para dar forma a restaurações indiretas, parciais
ou totais, unitárias ou múltiplas, ou a infraestruturas, também unitárias ou múltiplas.
II – O processo de usinagem pode ser realizado por meio de dois diferentes sistemas: o
sistema de cópia e usinagem (copy-milling) e o de desenho com auxílio do computa-
dor associado à usinagem assistida por computador (CAD/CAM).
III – Os blocos cerâmicos a serem usinados devem ser, sempre, totalmente sinterizados.
Qual(is) est á(ão) correta(s)?
A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) Apenas a III.
Resposta no final do artigo

25. Assinale a afirmativa INCORRETA sobre o processo de usinagem.


A) Pode durar apenas poucos minutos e chega a permitir que restaurações indiretas
sejam confeccionadas e cimentadas em uma única sessão de atendimento, utilizando-
se, para tal, blocos cerâmicos totalmente sinterizados e o sistema CAD/CAM.
B) A sensibilidade técnica do procedimento de captação ótica de escaneamento dos
preparos, a dificuldade na determinação de detalhes anatômicos – especialmente
oclusais – e também o alto custo dos equipamentos e a dificuldade de caracterização
das peças, quando estas não são infraestruturas, são desvantagens associadas ao
processamento das cerâmicas odontológicas processadas por usinagem.
C) Contribui para com a exclusão do fator humano da confecção de restaurações indire-
tas, diminuindo a grande disparidade entre cada trabalho.
D) Está associado à obtenção de restaurações cerâmicas com níveis elevados de
porosidade. Tais porosidades, além de atuarem como iniciadores de trincas, alteram
a dispersão da luz incidente, reduzindo a translucidez da restauração.
Resposta no final do artigo

26. O que são o processamento por “impressão” e os materiais graduados?

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CONSIDERAÇÕES RELACIONADAS AO
COMPORTAMENTO BIOMECÂNICO DAS CERÂMICAS
Vários fatores governam a longevidade das próteses. As falhas podem ser classificadas em
biológicas, mecânicas e relacionadas ao paciente. Entretanto, há discordâncias sobre a definição
do termo “falha”, o que pode trazer dificuldade durante a análise e a interpretação dos dados.

COMPLICAÇÕES BIOLÓGICAS
As complicações biológicas são menos frequentes do que as complicações mecânicas em
coroas ou próteses parciais fixas totalmente cerâmicas.50 A falha biológica mais frequente é a
perda de vitalidade pulpar, com taxa de 2,1% em 5 anos.50

A perda da vitalidade pulpar ou fratura do pilar podem estar relacionadas com o


desgaste excessivo da estrutura dentária, resultado de preparos dentários extensivos.58

A segunda maior causa de fracassos em sistemas totalmente cerâmicos está relacionada com
a recidiva de lesão cariosa, com taxa anual de 0,37%.50

Já no sistema metalocerâmico, as complicações biológicas são as mais representativas. Em


uma análise retrospectiva de 332 próteses parciais fixas em 20 anos, observou-se que a razão
mais comum para complicações irreversíveis foi a recidiva de lesão cariosa (22%) seguida
pela perda de retenção (15,3%).59

COMPLICAÇÕES MECÂNICAS
Como já foi dito, as cerâmicas são frágeis e suscetíveis à fratura, especialmente quando
sujeitas a carregamento cíclico e em ambiente úmido.60 O desempenho estrutural dos siste-
mas cerâmicos permanece menos estável do que o do sistema metalocerâmico, pois a fratura
catastrófica ou da cerâmica de revestimento afeta de 5 a 10% das coroas totalmente cerâmicas
em um período de 6 anos.61

A sobrevida clínica é um assunto de grande interesse e tem sido o foco de diversas revisões.
Uma metanálise de restaurações cerâmicas de vários tipos de materiais constatou que, em
todas as posições na boca, coroas densamente sinterizadas de alumina (Procera, Nobel Biocare,
Göteborg, Suécia) possuem uma taxa de sobrevivência de 5 anos de 96,4%, bastante seme-
lhante ao do vidro ceramizado à base de leucita (95,4%) (IPS Empress, Ivoclar Vivadent Inc.,
Schaan, Liechtenstein) e da cerâmica infiltrada por vidro In-Ceram (94,5%) (Vita Zahnfabrik,
Bad Säckingen, Alemanha).62 Por comparação, 95,5% de dissilicato de lítio (IPS Empress II,
Ivoclar Vivadent Inc.) sobreviveu por 10 anos.63 Aos 5 anos, a taxa de sobrevivência para
coroas metalocerâmicas foi de 95,6%.62

48 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Uma revisão sistemática de publicações entre 1985 e 2007 avaliou a sobrevida de 5 anos
de restaurações unitárias fabricadas por sistemas CAD/CAM.64 A taxa de sobrevida global
para os 16 estudos que atenderam aos critérios de inclusão foi de 91,6%, que não é
diferente dos 93,3% relatados em estudos que combinaram métodos convencionais e
CAD/CAM.62 No entanto, houve diferenças para os sistemas CAD/CAM quando foram
comparadas as taxas de sobrevivência de diferentes sistemas cerâmicos. Curiosamente,
apenas um desses estudos focou em restaurações de dentes posteriores.

As taxas de falhas de restaurações de cerâmica vítrea (18,18%) excederam em muito as


de cerâmicas feldspáticas e de alumina (1,19%).41,64 Quando os valores das taxas de
sobrevida dos sistemas ceramocerâmicos são agrupados de acordo com a posição na
boca, torna-se evidente que as próteses localizadas na região anterior apresentam so-
brevida superior às localizadas na região posterior.50 Além disso, molares mostraram
uma taxa de fratura significativamente maior do que pré-molares e os dentes anteriores
(21, 7 e 3%, respectivamente).65 Por isso, grande esforço tem sido despendido no
desenvolvimento de sistemas de cerâmica pura mais confiáveis.

Contudo, observa-se maior incidência de substituição para as coroas metalocerâmicas


na região anterior em detrimento de necessidades estéticas, pois frequentemente a
cinta metálica e o escurecimento da região marginal afetam a estética da região cervical
da coroa, resultando em uma aparência não natural.66

Comparada com outros materiais cerâmicos, a zircônia apresenta estabilidade superior da


infraestrutura67 e exibe a combinação de elevada resistência flexural e elevada tenacidade à
fratura, associada à propriedade de transformação de fase (tetragonal para monoclínica),
além de menor módulo de elasticidade.11 Essas propriedades, não isoladamente, mas de
forma combinada, podem justificar as excelentes taxas de sobrevida para a infraestrutura.
Entretanto, a principal causa de complicações mecânicas nas próteses à base de zircônia
relaciona-se com a fratura da cerâmica de revestimento. Esta pode ser devido à forma (design)
deficiente da infraestrutura, que não promove suporte adequado à cerâmica de cobertura e
pode estar associada à concentração de tensão durante a aplicação da cerâmica de revestimento.

A fratura da cerâmica de revestimento para próteses parciais fixas totalmente


cerâmicas é de 13,6% em 5 anos, estatisticamente diferente da taxa de 2,9% ao
ano observada nas metalocerâmicas.67 Melhorar o comportamento dos sistemas
cerâmicos à base de zircônia em relação à fratura da cerâmica de revestimento é um
desafio a ser superado, para se ter um sistema totalmente cerâmico, do ponto de
vista mecânico, similar ao metalocerâmico.

Surpreendentemente, as restaurações de zircônia mais frequentemente descritas na literatu-


ra são as próteses parciais fixas, e não as coroas unitárias. Limitados dados clínicos estão

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 49


disponíveis sobre a confiabilidade das coroas de zircônia. Apenas alguns estudos de curto
prazo têm sido publicados até agora. Em um estudo clínico retrospectivo realizado em um
consultório privado,64 uma taxa de sobrevivência promissora (92,7% após 3 anos) foi obtida
para 204 coroas de zircônia para dentes posteriores. No entanto, apenas 11% das coroas
colocadas originalmente foram examinadas clinicamente.64

As coroas monolíticas de cerâmica também são pouco estudadas clinicamente.68 Bindl e


colaboradores69 compararam coroas monolíticas de cerâmica (Vitablocs Mark II, Vident, Brea,
Califórnia) com coroas de cerâmica estratificadas (Vita In-Ceram Spinell, Vident). As coroas
de cerâmica monolíticas foram fabricadas com uma unidade Cerec 2 (Sirona Dental Systems).
As infraestruturas das coroas de cerâmica foram usinadas em Cerec 2 e depois revestidas
com cerâmica de cobertura. Não houve diferença significativa entre os dois tipos de coroas
para qualquer uma das pontuações United States Public Health Service (USPHS). Uma das
coroas de cerâmica monolítica fraturou em 12 meses, e uma das coroas de cerâmica
estratificada, em 42,5 meses. Os resultados deste estudo demonstraram que coroas monolíticas
de cerâmica apresentaram uma taxa de sobrevida satisfatória ao longo de 5 anos de atendimen-
to clínico.68

O uso crescente de zircônia em prótese dentária e implante demandam mais pesquisas


e mais dados clínicos, especialmente em longo prazo, sobre as coroas fabricadas com esse
material. Levando-se em conta as taxas de falhas nas cerâmicas de cobertura relatadas com
restaurações de zircônia, os sistemas de vitrocerâmica têm recuperado a consideração para
restaurações posteriores.65 Relatos de altas taxas de sobrevivência (100% após 2 a 5 anos),
sem falhas de fratura para coroas de dissilicato de lítio (IPS Empress II), sugeriram que coroas
monolíticas do mesmo material e fabricadas pelo sistema CAD/CAM apresentarão resultados
promissores.65

27. Qual a falha biológica mais frequente em coroas ou próteses parciais fixas totalmente
cerâmicas?

50 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


28. A principal causa de complicações mecânicas nas próteses à base de zircônia relaciona-
se com a fratura da cerâmica de revestimento. Quais as possíveis razões para isso?

CONSIDERAÇÕES RELACIONADAS À CIMENTAÇÃO


DE RESTAURAÇÕES CERÂMICAS
Vários são os fatores que determinam o sucesso clínico das restaurações indiretas ao longo
do tempo. A seleção do material restaurador mais bem indicado para cada caso é, sem
dúvida, um dos principais fatores, mas a utilização do agente cimentante adequado também
é, incontestavelmente, um dos que se destacam. É por meio da cimentação, ou seja, do uso
de uma substância moldável para selar um espaço ou para, literalmente, cimentar dois com-
ponentes juntos,14 que se estabelecem uma retenção confiável e um selamento durável do
espaço entre o dente e a restauração e que se determinam propriedades óticas satisfatórias,
especialmente para restaurações exclusivamente cerâmicas.70

As expectativas quanto ao desempenho da cimentação relacionam-se principalmente


ao tipo de material restaurador a ser cimentado,70 ainda que diferentes condições contribuam
para com a seleção de um cimento odontológico para cada caso específico (como as proprie-
dades dos agentes cimentantes disponíveis, as características do preparo, o tipo de substrato
dentário ou de material de preenchimento, a possibilidade de controle da umidade e a localiza-
ção e adaptação das margens da restauração).14,70

A seguir serão discutidas as implicações relacionadas à cimentação de restaurações indiretas


cerâmicas, considerando-se sua composição microestrutural.

FACETAS LAMINADAS
As facetas laminadas – convencionais ou minimamente invasivas (“lentes de contato”) – têm
sido cada vez mais indicadas por terem um desempenho clínico satisfatório, estética excepcional
e comprometimento invasivo mínimo.70-72

Inicialmente, as facetas laminadas eram confeccionadas com cerâmicas tradicionais, feldspá-


ticas. Nos dias atuais são, em sua maioria, confeccionadas com vidros ceramizados,8 à base
de leucita ou de dissilicato de lítio, que, assim como as cerâmicas feldspáticas, são substratos

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 51


acidossensíveis e passíveis de serem silanizados, pois apresentam uma quantidade considerável
de sílica em sua composição.15

Para que as facetas laminadas permaneçam retidas aos preparos dentários notoria-
mente não retentivos, devem ser fixadas com agentes cimentantes resinosos, capazes
de se ligar, simultaneamente, ao substrato dentário e ao substrato cerâmico acidos-
sensível devidamente tratados.73,74

Os cimentos resinosos quimicamente ativados são os menos utilizados para fixação de


facetas cerâmicas devido ao menor tempo de trabalho proporcionado e às mais escassas
opções de cor. Além disso, podem sofrer alteração de cor ao longo do tempo devido à
presença das aminas terciárias, o que comprometeria a estética. Podem ser utilizados apenas
em casos de facetas bastante espessas ou opacas.

Já os cimentos resinosos fotopolimerizáveis são os que proporcionam maior tempo de


trabalho. Só devem ser utilizados, porém, para fixação de facetas com espessura máxima de
1,0mm e baixo grau de opacidade (facetas bastante translúcidas), que não impeçam a transmis-
são de luz.

Os cimentos resinosos de polimerização dual são os mais indicados para a cimentação


das facetas laminadas. Possibilitam tempo suficiente para a fixação das mesmas e atingem
grande parte das propriedades imediatamente após a exposição à luz fotopolimerizadora.
São recomendados, inclusive, para facetas com mais de 1,0mm de espessura ou bastante
opacas.75

Os cimentos resinosos fotopolimerizáveis e de polimerização dual oferecem, ainda,


uma variedade de cores com as quais o resultado final da restauração pode ser
manipulado.76 Fazem parte de seus sistemas também pastas à base de glicerina,
denominadas try-in, nas mesmas cores que os cimentos resinosos, que tornam possí-
vel a escolha da cor do cimento e sua prova para verificação com a faceta, sem que
esta seja uma cimentação “definitiva”. Este é um aspecto de extrema importância
para a restauração de dentes anteriores, uma vez que uma estética bastante
satisfatória é exigida para estes casos.

INLAYS, ONLAYS E OVERLAYS


O uso de cimentos resinosos, de presa exclusivamente química ou dual, parece ser responsável
pela maior longevidade de restaurações indiretas parciais do tipo inlays, onlays e
overlays,77,78 confeccionadas com cerâmicas feldspáticas ou vidros ceramizados ou, menos
comumente, com cerâmicas aluminizadas ou à base de zircônia, já que estas restaurações
indiretas parciais não são retidas friccionalmente aos preparos expulsivos.

52 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Para as inlays, onlays e overlays confeccionadas com cerâmicas feldspáticas ou vidros cerami-
zados acidossensíveis, tem-se demonstrado, em estudos in vitro e in vivo,79-81 que a cimentação
com agentes resinosos é capaz, inclusive, de aumentar a resistência à fratura das respecti-
vas restaurações, reforçando-as. Para tal, o adequado condicionamento, tanto da superfície
dentária, com ácido fosfórico, quanto da superfície interna da restauração, com ácido fluorí-
drico e silano, previamente à aplicação do adesivo sobre ambos os substratos devem ser
realizados, a fim de que o cimento resinoso adotado possa exercer adesão tanto ao preparo
quanto à restauração.69,82,83

COROAS TOTAIS E PRÓTESES PARCIAIS FIXAS

COROAS TOTAIS E PRÓTESES PARCIAIS FIXAS CONFECCIONADAS


COM CERÂMICAS FELDSPÁTICAS OU VIDROS CERAMIZADOS
Levando-se em conta o fato de que coroas totais e próteses parciais fixas, ou suas respectivas
infraestruturas, confeccionadas com cerâmicas feldspáticas ou vidros ceramizados
acidossensíveis apresentam adaptação aos preparos protéticos menos satisfatória, ausência
de retenção primária e necessidade de reforço por um agente cimentante adequado, os
cimentos resinosos de polimerização exclusivamente química ou dual é que devem
ser o material de escolha para a sua cimentação.84

É importante enfatizar, ainda, que a utilização de cimentos ionoméricos para a


cimentação de coroas totais e próteses parciais fixas confeccionadas com cerâmicas
feldspáticas ou vidros ceramizados tem sido desaconselhada por alguns autores,
que acreditam que sua expansão tardia poderia causar fraturas nas mesmas.85 Embora
essa crença não seja absoluta e definitivamente comprovada, já que, talvez, a pe-
quena espessura de película desses agentes cimentantes possa não ser capaz de
promover tal efeito, é preferível, por segurança, evitar seu uso para cimentação
dessas restaurações.

Ainda que sejam, então, os cimentos resinosos os mais indicados para fixação de coroas
totais e próteses parciais fixas confeccionadas com cerâmicas feldspáticas ou vidros cerami-
zados, os cuidados referentes à técnica de “cimentação adesiva”, nome popular atribuído
ao uso dos cimentos resinosos, não devem ser ignorados. O tratamento do substrato
dentário e do substrato cerâmico é essencial à interação do cimento resinoso com o preparo
e com a restauração.

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 53


COROAS TOTAIS E PRÓTESES PARCIAIS FIXAS CONFECCIONADAS
COM CERÂMICAS ALUMINIZADAS OU À BASE DE ZIRCÔNIA
Diante do surgimento das cerâmicas aluminizadas e à base de zircônia, de alto conteúdo
cristalino, a utilização mandatória da “cimentação adesiva” tornou-se menos significante.69,70
Geralmente, a alta resistência à flexão e a melhor adaptação desses novos sistemas cerâmicos
permitem a utilização bem-sucedida de cimentos de fosfato de zinco e ionoméricos convencio-
nais ou modificados por resina, que se baseiam principalmente na retenção macromecânica.2

Restaurações indiretas confeccionadas exclusivamente com cerâmicas aluminizadas


ou à base de zircônia, ou cuja infraestrutura seja confeccionada com esses materiais,
não exigem o uso de cimentos resinosos para reforço das mesmas.69,70 Além disso,
os cimentos resinosos não se unem quimicamente à superfície interna dessas
restaurações, a não ser que o cimento contenha o monômero acidofuncional
10-metacriloioxidecil di-hidrogênio fosfato (MDP) ou que essas restaurações tenham
sido devidamente tratadas, por exemplo, por:
 processos de silicatização (Co-Jet; Rocatec);
 aplicação de agentes de união (primers);
 aplicação de sprays de plasma ou de hidróxido de sódio, de maneira isolada ou
associada.

Ainda, os cimentos de fosfato de zinco e ionoméricos convencionais ou modificados por


resina são indicativos de simplicidade técnica durante a fixação das restaurações.

Por outro lado, a indicação da “cimentação adesiva” para esses casos pode estar baseada na
possibilidade de melhoria da estética. Outrossim, os primeiros relatos relacionados ao uso
dos cimentos autocondicionantes para fixação de restaurações cerâmicas aluminizadas ou à
base de zircônia são promissores,86 ainda que dados clínicos de longo prazo não estejam
disponíveis até o momento.

29. Por que as facetas laminadas têm sido cada vez mais indicadas?

54 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


30. Que material deve ser usado para a cimentação de coroas totais e próteses parciais fixas,
ou suas respectivas infraestruturas, confeccionadas com cerâmicas feldspáticas ou vidros
ceramizados acidossensíveis?

31. Assinale a afirmativa INCORRETA sobre as restaurações mencionadas a seguir.


A) Para que as facetas laminadas, que nos dias atuais são confeccionadas, em sua
maioria, com vidros ceramizados, permaneçam retidas aos preparos dentários notoria-
mente não retentivos, devem ser fixadas com agentes cimentantes resinosos, capazes
de se ligar, simultaneamente, ao substrato dentário e ao substrato cerâmico acidos-
sensível, devidamente tratados.
B) A longevidade de inlays, onlays e overlays, confeccionadas com cerâmicas feldspáticas
ou vidros ceramizados ou, menos comumente, com cerâmicas aluminizadas ou à
base de zircônia, é positivamente influenciada pelo uso de cimentos resinosos, de
presa exclusivamente química ou dual, já que essas restaurações indiretas parciais
não são retidas friccionalmente aos preparos expulsivos.
C) Coroas totais e próteses parciais fixas, ou suas respectivas infraestruturas, confeccio-
nadas com cerâmicas feldspáticas ou vidros ceramizados acidossensíveis, por apresen-
tarem adaptação aos preparos protéticos menos satisfatória, ausência de retenção
primária e necessidade de reforço por um agente cimentante adequado, devem ser
cimentadas com cimentos resinosos, de polimerização exclusivamente química ou
dual.
D) Restaurações indiretas confeccionadas exclusivamente com cerâmicas aluminizadas
ou à base de zircônia, ou cuja infraestrutura seja confeccionada com esses materiais,
exigem o uso de cimentos resinosos para reforço das mesmas. Esses cimentos unem-
se quimicamente à superfície interna dessas restaurações, ainda que ela não tenha
sido tratada, por exemplo, por processos de silicatização (Co-Jet; Rocatec), pela aplica-
ção de agentes de união (primers), pela aplicação de sprays de plasma ou de hidróxido
de sódio, de maneira isolada ou associada.
Resposta no final do artigo

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CASOS CLÍNICOS

As Figuras 1 a 20 a seguir ilustram um caso de reabilitação funcional e estética com


coroas totais confeccionadas em vidro ceramizado à base de dissilicato de lítio.

Figura 1 – Condição inicial do sorriso da paciente. Figura 2 – Aspecto clínico vestibular insatisfatório
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. dos incisivos centrais superiores (11 e 21), restaura-
dos com facetas diretas de resina composta.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 3 – Aspecto clínico palatino dos incisivos Figura 4 – Início do preparo dos dentes, utilizan-
centrais superiores (11 e 21), tratados endodonti- do-se a técnica da silhueta.
camente. Observar as respectivas aberturas coro- Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
nárias restauradas, a presença de restaurações de
Classe III em resina composta e, consequente-
mente, o grande comprometimento dos dentes.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

56 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Figura 5 – Incisivos centrais superiores (11 e 21) Figura 6 – Vista das coroas posicionadas nos res-
já preparados para serem restaurados com coroas pectivos troquéis.
totais confeccionadas em vidro ceramizado à base Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
de dissilicato de lítio (sistema IPS Empress II [Ivoclar
Vivadent Inc.]).
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 7 – Aspecto externo das coroas finaliza- Figura 8 – Aspecto interno das coroas.
das pela aplicação de uma cerâmica de recobri- Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
mento que contém cristais de fluorapatita que,
associada à cerâmica à base de dissilicato de lítio
(60% em volume) da infraestrutura, resulta em
uma restauração protética com brilho, translucidez
e fluorescência próximos aos das estruturas den-
tárias.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

| PRO-ODONTO ESTÉTICA. 2012;6(3):9-75 | 57


Figura 9 – Aplicação do ácido fluorídrico a 10% Figura 10 – Lavagem do ácido fluorídrico.
no interior de uma das coroas por 20 segundos. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Note-se a proteção, com cera utilidade, da parte
externa da coroa.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 11 – Aplicação do agente de ligação silano, Figura 12 – Aplicação de sistema adesivo.


aguardando a secagem por 1 minuto. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 13 – Fotoativação do sistema adesivo por Figura 14 – Preparo do substrato dentário reali-
20 segundos. zado sob isolamento relativo com aplicação do
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. ácido fosfórico a 37% por 15 segundos, seguido
de lavagem com água em abundância.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

58 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Figura 15 – Secagem da dentina com bolinhas Figura 16 – Aplicação de adesivo.
de papel absorvente. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 17 – Fotoativação do sistema adesivo por Figura 18 – Inserção do cimento resinoso conven-
20 segundos. cional (RelyX ARC [3M Espe]) no interior da coroa.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 19 – Posicionamento das coroas e remoção Figura 20 – Aspecto final do sorriso.


dos excessos de cimento com sonda exploradora, Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
para posterior fotoativação do cimento resinoso
por 40 segundos.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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32. Faça suas observações a respeito do caso clínico 1.

As Figuras 21 a 27 a seguir ilustram um caso de restauração da harmonia do sorriso


com facetas laminadas e coroa total confeccionadas em vidro ceramizado à base de
dissilicato de lítio.

Figura 21 – Condição inicial do sorriso da pacien- Figura 22 – Aspecto clínico insatisfatório dos den-
te. tes anteriores superiores (13 a 23).
Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado, Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado,
da ABO-RO. da ABO-RO.

60 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Figura 23 – Preparo dos dentes 13, 12, 11, 21 e Figura 24 – Modelo troquelizado dos dentes pre-
23 para serem restaurados com facetas laminadas parados, com o pilar cerâmico à base de zircônia
confeccionadas em vidro ceramizado à base de (Zirkonzahn [Zirkonzahn GmbH]) em posição.
dissilicato de lítio, e instalação de um pilar cerâ- Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado,
mico à base de zircônia sobre o implante referente da ABO-RO.
ao dente 22.
Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado,
da ABO-RO.

Figura 25 – Facetas laminadas (dentes 13, 12, Figura 26 – Aspecto das restaurações indiretas
11, 21 e 23) e coroa total sobre implante (dente após cimentação com um agente cimentante resi-
22), confeccionadas em vidro ceramizado à base noso dual.
de dissilicato de lítio (Sistema IPS e.max Press as- Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado,
sociado à cerâmica de cobertura IPS e.max Ceram da ABO-RO.
[Ivoclar Vivadent Inc.]), posicionadas, respectiva-
mente, sobre os troqueis dos dentes preparados
e sobre o pilar cerâmico à base de zircônia.
Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado,
da ABO-RO.

Figura 27 – Aspecto final do sorriso.


Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Magela do Prado,
da ABO-RO.

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33. Faça seus apontamentos sobre o caso clínico 2.

As Figuras 28 a 40 a seguir ilustram um caso de processamento de uma cerâmica


odontológica por prensagem e/ou injeção.

Figura 28 – Padrões de cera das restaurações in- Figura 29 – Base e anel para inclusão dos padrões
diretas confeccionados sobre o modelo de gesso. de cera em revestimento.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

62 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Figura 30 – Pastilhas cerâmicas, no caso um vidro
ceramizado à base de dissilicato de lítio (sistema
IPS e.max Press), para serem prensadas. Depen-
dendo do sistema, a cerâmica pode ser injetada
em vez de prensada. Figura 31 – Aquecimento do conjunto revesti-
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. mento/enceramento, em forno específico, a altas
temperaturas, para evaporação da cera.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 32 – Posicionamento da pastilha cerâmica Figura 33 – Posicionamento do êmbolo que pren-


sobre o revestimento. sará/injetará, sob pressão, a cerâmica.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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Figura 34 – Detalhe do êmbolo já posicionado
sobre a pastilha no interior do revestimento.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 35 – Acomodação do conjunto revestimen-


to-pastilha-êmbolo no forno específico do sistema.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 36 – Desinclusão das restaurações do re-


Figura 37 – Restaurações desincluídas do revesti-
vestimento.
mento.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

64 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Figura 38 – Restaurações indiretas, já individuali- Figura 39 – Aplicação de uma cerâmica de cober-
zadas. tura (no caso, IPS e.max Ceram), mais estética,
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. sobre a cerâmica prensada/injetada. Vale ressaltar
que essa etapa não necessariamente deve ser rea-
lizada para toda e qualquer restauração cerâmica
obtida por prensagem/injeção.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 40 – Aspecto final após glazeamento.


Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

34. Faça suas considerações a respeito do caso clínico 3.

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CONCLUSÃO
Embora sejam muitos os sistemas restauradores cerâmicos disponíveis nos dias atuais, é es-
sencial considerar as características peculiares que cada um apresenta quanto à composição
e ao processamento, diante de sua indicação para uma determinada situação clínica. O pro-
fissional interessado deve conhecer, de maneira aprofundada, as várias opções satisfatórias
para restaurar indiretamente um dente comprometido e não deve adotar, indiscriminadamente,
com base tão somente em informações leigas e/ou publicitárias, um único sistema cerâmico,
acreditando que ele será o responsável pelo seu sucesso em todos os casos.15

O fato de, muitas vezes, se ter contato com a cerâmica apenas no momento da
cimentação não é desculpa para a pouca atenção atribuída pelos cirurgiões-dentistas
às perspectivas relacionadas a esse material.2

O planejamento cuidadoso do caso, o preparo mecânico meticuloso do substrato dentário


e, particularmente, a escolha de uma cerâmica que supra as necessidades estéticas e biofun-
cionais, associada a um trabalho protético especializado, são fundamentais à prestação de
assistência adequada e satisfatória a todo e qualquer paciente que receberá uma restauração
indireta.

Ao profissional compete aplicar todos os recursos técnicos e científicos de que dispõe em


relação aos inúmeros sistemas cerâmicos desenvolvidos nos últimos anos, para confeccionar
todos os tipos de restaurações indiretas, das mais conservadoras, como as facetas laminadas
minimamente invasivas, às mais extensas, como as próteses parciais fixas de múltiplos ele-
mentos.

RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS


Atividade 1
Resposta: Os materiais restauradores de uso direto estão, geralmente, relacionados a uma
única sessão clínica de atendimento para confecção da restauração. Como o próprio nome
diz, devolvem forma, função e, na maioria das vezes, estética diretamente a um dente prepara-
do no consultório odontológico. Já os materiais restauradores de uso indireto estão relaciona-
dos, comumente, a várias sessões clínicas para finalização do tratamento. Restaurações indiretas
são, em geral, confeccionadas sobre um modelo de gesso no laboratório de prótese e, em
um segundo momento, fixadas aos preparos dentários.

Atividade 2
Resposta: Infraestruturas metálicas aumentam a resistência à fratura das cerâmicas
odontológicas convencionais utilizadas para recobrimento das mesmas. No entanto, o metal
pode afetar a estética da cerâmica, diminuindo a transmissão de luz através dela e promovendo

66 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


manchamento por meio da liberação de íons metálicos. Alguns pacientes apresentam, ainda,
reações alérgicas ou sensibilidade a vários metais. Por essas desvantagens e em função do
desenvolvimento de novos sistemas cerâmicos com melhores propriedades mecânicas, as
restaurações indiretas com infraestruturas metálicas têm sido cada vez menos utilizadas.

Atividade 3
Resposta: A
Comentário: Em geral, quanto mais cristalina for a microestrutura de uma cerâmica, mais
opaca ela será.

Atividade 5
Resposta: B
Comentário: A classificação das cerâmicas odontológicas quanto à sua temperatura de fusão,
por ser do início dos anos 1940, é considerada pouco específica e obsoleta e era mais emprega-
da às cerâmicas triaxiais, compostas por três ingredientes principais: quartzo, feldspato e
argila (caulim). A temperatura de fusão das cerâmicas era ditada pelas quantidades relativas
desses três componentes. As classificações mais aceitas atualmente categorizam as cerâmicas
considerando-se sua composição microestrutural e a forma como são processadas.

Atividade 8
Resposta: V; F; V; F
Comentário: Por apresentarem uma quantidade considerável de fase vítrea na sua composição,
as cerâmicas feldspáticas são acidossensíveis, ou seja, passíveis de serem condicionadas com
ácido fluorídrico e, posteriormente, silanizadas. Assim, após a aplicação de um adesivo, podem
unir-se a agentes cimentantes resinosos. Adicionando-se certos componentes às cerâmicas
feldspáticas, tais como o bórax, é possível diminuir a temperatura de fusão desses materiais.

Atividade 9
Resposta: O óxido de alumínio tem sido empregado com sucesso como reforço às cerâmicas
odontológicas por estar relacionado a melhores características estéticas e mecânicas, a um
baixo custo e à facilidade de obtenção. Sua adição à composição das cerâmicas atribui às
mesmas, dentre outras melhorias, a diminuição das tensões geradas durante o resfriamento
das peças, uma vez que o coeficiente de expansão térmica da matriz vítrea e o das partículas
de alumina são muito semelhantes.

Atividade 10
Resposta: In-Ceram Alumina: sistema bastante opaco, utilizado apenas para infraestrutura,
necessita de uma cerâmica fesldspática para cobertura. Indicada para próteses na região
anterior e posterior (unitárias e múltiplas de até três elementos). In-Ceram Spinell: maior

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translucidez e melhores características estéticas, com resistência flexural 25% menor do que
o InCeram Alumina, sendo indicado para a confecção de facetas laminadas, coroas anteriores
e inlays. In-Ceram Zircônia: características mecânicas superiores pelo aumento da resistência,
sendo indicado para a confecção de próteses parciais fixas posteriores de até três elementos,
porém com maior opacidade.

Atividade 12
Resposta: C
Comentário: Para promover o aumento da resistência dos vidros ceramizados, sem causar,
no entanto, prejuízo da estética, são adicionados a esses materiais cristais de leucita, na
concentração de 35 a 55%, ou cristais de dissilicato de lítio, na concentração de 60%. Cerâmi-
cas à base de zircônia não são classificadas como vidros ceramizados.

Atividade 13
Resposta: B
Comentário: Um exemplo clássico de vidro ceramizado à base de leucita é o sistema IPS
Empress, da Ivoclar Vivadent Inc. Esse sistema apresenta em sua composição 35% de volume
de leucita. A partir do sistema IPS Empress, foi idealizado o sistema IPS Empress Esthetic, um
vidro ceramizado à base de leucita, cuja pastilha para injeção apresenta a formulação clássica
do sistema IPS Empress. Suas características foram, entretanto, otimizadas.

Atividade 14
Resposta: D
Comentário: O exemplo clássico de vidro ceramizado à base de dissilicato de lítio é o sistema
IPS Empress II, da Ivoclar Vivadent Inc. Repaginando o sistema IPS Empress II, a Ivoclar Vivadent
Inc. apresenta, ainda, o sistema IPS e.max. Desse sistema, o IPS e.max Press e o IPS e.max
CAD são exemplos de cerâmicas à base de dissilicato de lítio, processadas, respectivamente,
por prensagem/injeção e usinagem.

Atividade 15
Resposta: Os vidros ceramizados à base de leucita estão indicados para facetas laminadas e
restaurações unitárias parciais, intra e extracoronárias (inlays, onlays e overlays), ou totais,
para dentes anteriores, já que o aumento, em média, da resistência flexural para 120MPa e
da tenacidade para 1,2MPa/m1/2 não são significativos se comparados aos valores observados
para os demais sistemas cerâmicos disponíveis atualmente. Os vidros ceramizados à base de
dissilicato de lítio, por sua vez, estão indicados para facetas laminadas, inlays, onlays, overlays,
coroas unitárias para dentes anteriores e posteriores e mesmo para próteses parciais fixas de
três elementos, em áreas de menor esforço mastigatório, até segundo pré-molar, já que
apresentam resistência flexural entre 300 e 400MPa e tenacidade entre 2,8 e 3,5MPa/m1/2.

68 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS: PERSPECTIVAS ATUAIS QUANTO À COMPOSIÇÃO E AO PROCESSAMENTO


Atividade 18
Resposta: O processo que leva a zircônia a ter uma resistência mecânica próxima à do aço é
a transformação de fase.
Comentário: Quando estabilizada com ítrio, a estrutura tetragonal (t) pode ser mantida em
temperatura ambiente. Condições externas, como tensões de tração atuando na extremidade
da trinca, podem transformar a fase tetragonal metaestável (t) para a monoclínica mais estável
(m). Essa transformação (t-m) tem uma expansão de volume associada de 3-5%, o que, em
zircônia pura, pode levar a uma falha catastrófica. No entanto, por meio da adição de óxidos
de estabilização, tensões compressivas e microtrincas criadas ao redor das partículas transfor-
madas efetivamente se opõem à abertura das trincas e aumentam a sua resistência à propaga-
ção, resultando na tenacidade por transformação do material com melhora da sua resistência.

Atividade 20
Resposta: Com cada camada esculpida, o processo de queima é iniciado e as partículas
sofrem uma aproximação que, por consequência, resultará em contração da cerâmica. Como
cada camada é sinterizada e esfriada antes de ser colocada a próxima camada, a contração
que acompanha o processo de sinterização é compensada pela camada seguinte.

Atividade 23
Resposta: A infiltração por vidro elimina a porosidade da estrutura de alumina e confere
resistência à infraestrutura. A adição de pó de alumina ligeiramente sinterizado e infiltrado
com um vidro de baixa fusão de lantânio de sódio produz uma cerâmica bastante densa e
muito resistente. A difusão do vidro entre as porosidades da alumina preenchendo esses
espaços forma uma estrutura híbrida, densa e bastante resistente, entre 450 a 680MPa. Esse
aumento de quatro vezes na resistência da cerâmica à base de alumina em relação à cerâmica
feldspática se deu pela capacidade de inclusão de 89% de pó de alumina.

Atividade 24
Resposta: A
Comentário: Os blocos cerâmicos a serem usinados, por meio do sistema de cópia e usinagem
ou por meio do sistema CAD-CAM, podem ser de dois tipos: parcial ou totalmente sinterizados.
Em geral, os blocos de zircônia parcialmente estabilizada por ítrio são usinados ainda quando
parcialmente sinterizados, devido à grande resistência desses materiais, a fim de se evitar
grande desgaste do equipamento e de se tornar o processo mais rápido (green milling).

Atividade 25
Resposta: D
Comentário: O processamento das cerâmicas por usinagem está associado a níveis insignifi-
cantes de porosidade (1 a 17 poros/peça), quando comparados àqueles observados para
restaurações obtidas por prensagem (103 a 621 poros/peça), por exemplo. Tem-se demonstra-

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do também que é por meio do processamento por usinagem que o ajuste interno das estruturas
cerâmicas alcança maior precisão, já que, para um ceramista, é muito complicado sempre
conseguir um bom ajuste interno utilizando a técnica da cera perdida.

Atividade 31
Resposta: D
Comentário: Restaurações indiretas confeccionadas exclusivamente com cerâmicas alumini-
zadas ou à base de zircônia, ou cuja infraestrutura seja confeccionada com esses materiais,
não exigem o uso de cimentos resinosos para o seu reforço. Além disso, os cimentos resinosos
não se unem quimicamente à superfície interna dessas restaurações, a não ser que esta
tenha sido devidamente tratada, por exemplo, por processos de silicatização (Co-Jet; Rocatec),
pela aplicação de agentes de união (primers), pela aplicação de sprays de plasma ou de
hidróxido de sódio, de maneira isolada ou associada, ou que o cimento contenha o monômero
acidofuncional 10-metacriloioxidecil di-hidrogênio fosfato (MDP). Ainda, os cimentos de fosfato
de zinco e ionoméricos convencionais ou modificados por resina são indicativos de simplicidade
técnica durante a fixação das restaurações. Assim, os agentes cimentantes resinosos de
polimerização exclusivamente química ou dual devem ser preferencialmente utilizados para
fixação de cerâmicas aluminizadas ou à base de zircônia apenas quando a adaptação das
restaurações não for plenamente satisfatória. Outra indicação da “cimentação adesiva” deve
ser a possibilidade de melhoria da estética.

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