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A Pesquisa Como Princípio Formativo
A Pesquisa Como Princípio Formativo
A Pesquisa
como Princípio Formativo na
Pós-Graduação
da reflexão sobre as práticas
à construção do conhecimento
A PESQUISA COMO PRINCÍPIO FORMATIVO NA PÓS-GRADUAÇÃO:
DA REFLEXÃO SOBRE AS PRÁTICAS À CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
© 2020 Copyright by Elcimar Simão Martins e Maria Socorro Lucena Lima (Orgs.)
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A Pesquisa
como Princípio Formativo na
Pós-Graduação:
da reflexão sobre as práticas à construção do conhecimento
Fortaleza | Ceará
2020
Sumário
APRESENTAÇÃO • 9
Elcimar Simão Martins
Maria Socorro Lucena Lima
PREFÁCIO • 19
Selma Garrido Pimenta
APRESENTAÇÃO
• 10
APRESENTAÇÃO
• 12
APRESENTAÇÃO
• 14
APRESENTAÇÃO
• 16
APRESENTAÇÃO
• 18
PREFÁCIO
• 20
PREFÁCIO
23 •
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA
ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE
DE IDIOMAS
Carlos Henrique Andrade de Sousa
Elcimar Simão Martins
Introdução
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
• 24
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
• 26
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
• 28
Percurso Metodológico
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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Vale ressaltar que cada CCI pode promover, para além daqui-
lo que é oferecido pela SEDUC, seus próprios encontros formativos
de modo contextualizado e considerando a realidade de onde aquele
coletivo está inserido, para que seja evitado o sentimento de rejeição
a cada viagem que os docentes que são lotados nas cidades mais dis-
tantes no interior do estado venham a realizar.
Sete professores citaram as temáticas trabalhadas como um
dos limites/desafios, de acordo com as falas transcritas a seguir:
Uso de temas repetidos, teóricos, que nada contribui para a
prática. (Docente 12)
Atender às necessidades didáticas e pedagógicas reais dos
professores no contexto de atuação das salas de aulas tanto
das escolas quanto dos CCIs. (Docente 9)
Focar em escolher profissionais especializados para oferecer
aprendizagem de qualidade significativa para uso na prática
de sala de aula. (Docente 8)
“Aceitar” algumas práticas como únicas e verdadeiras para
os nossos alunos. (Docente 7)
Oferecer uma formação que tenha mais proximidade com o
que acontece em sala de aula. (Docente 10)
Falta gente consciente da realidade de sala de aula e com
ideias realmente inovadoras e factíveis. (Docente 2)
Falta de foco é o principal desafio. O limite é conseguir se
adequar a todas as realidades. Por isso não consigo conceber
formações gerais, prefiro as específicas. (Docente 1)
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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Considerações finais
Referências
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA: UM OLHAR A PARTIR DO CENTRO CEARENSE DE IDIOMAS
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Introdução
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | IGOR DE MORAES PAIM
45 •
te diferenciados com o acompanhamento desses alunos, utilizando
estratégias de aprendizagem e de acessibilidade que busquem elimi-
nar barreiras no processo de inclusão nos espaços que envolvam a
aprendizagem.
Posto isso, esta pesquisa, além da introdução, apresenta re-
ferencial teórico que discute sobre a formação continuada docente
para a Educação Especial na perspectiva inclusiva, assim como a me-
todologia, a discussão dos resultados e a conclusão.
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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47 •
[...] a Conferência Mundial sobre Educação para Todos: satis-
fação das necessidades básicas de aprendizagem, em Jontiem,
Tailândia, no ano de 1990; Conferência Mundial sobre Neces-
sidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, que culmina
com a Declaração de Salamanca, na qual o país se compromete
em instituir uma educação que atenda a todos, independente
de suas necessidades. E […] a Convenção sobre os direitos das
Pessoas com Deficiência, aprovada pela ONU em 2006 e ratifi-
cada pelo Brasil em 2008 (GOMES et al., 2016, p. 19).
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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bre sua ação teórico-prática, pautada pela construção de um pro-
fissional pesquisador de sua prática e que reflita sobre sua ação
(PIMENTA, 2012).
Segundo Rodrigues (2006, p. 307), “[...] o desenvolvimento de
competências para a Educação Inclusiva, ainda que possa ter uma
fase de sensibilização na formação inicial, só poderá ser plenamente
assumido ao longo de uma prática em serviço”. Ou seja, o autor de-
fende que não são apenas os cursos que ao final certificam, compro-
vando a capacidade como um “docente inclusivo” que são relevantes
para a atuação deste profissional, mas é igualmente importante que
haja a formação na escola, a troca de experiências e saberes entre os
pares, para que reflita em mudanças de postura e atitudes no traba-
lho docente.
Em vista disso, a escola constitui-se como um espaço impor-
tante para a formação continuada acontecer, pois é nela que ocorre
o processo educativo, assim como é considerada o ponto de partida
e de chegada da formação continuada. De acordo com Lima (2001,
p. 15), a escola trata “[...] da análise das práticas com a mediação da
teoria, que pode ser feita na escola ou a partir dela, porque é aí que
o professor trabalha e pode realizar o seu desenvolvimento profis-
sional”. Com isso, a partir das vivências e saberes pedagógicos dos
docentes, é possível dialogar e compreender as teorias, buscando
caminhos para atender a todos os alunos.
Tardif (2010) aponta para que os pesquisadores compreendam
os saberes docentes com o contexto do trabalho, buscando englobar
o saber dos professores concernente à história profissional e à iden-
tidade deles, ou seja, com suas experiências de vida, produzidas na
escola. Assim, compreende-se que a docência é, antes de tudo, uma
profissão das relações humanas e, portanto, fortemente marcada
pela diversidade de aspectos relacionados ao ser humano.
Outrossim, Mantoan (2006, p. 54) afirma que “ensinar na
perspectiva inclusiva, significa ressiginificar o papel do professor,
da escola, da educação e de práticas pedagógicas que são usuais
no contexto excludente do nosso ensino, em todos os seus níveis”.
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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Metodologia
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51 •
Achados e análises: o que pensam os professores da
sala de aula regular sobre a formação continuada na
perspectiva inclusiva?
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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53 •
Momento de encontro de profissionais, onde se estabelece
uma troca de experiências, para melhorar sua prática peda-
gógica (Professor 19).
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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55 •
Participam de todas as ações que envolvem o coletivo. Quan-
do são atividades individuais, faço atendimento individuali-
zado para auxiliá-los (Professor 11);
Tento me desdobrar para dar conta de ensinar os conteúdos
dos ditos “normais” e realizar algum tipo de trabalho com os
especiais (Professor 13);
Com muita dificuldade, pois necessitam de acompanhamen-
to mais individualizado e específico, de acordo com suas
especificidades. Faço planejamento comum, porém elaboro
atividades diferentes das demais para estes alunos (Profes-
sor 15);
Com muita dificuldade: sem formação adequada, sem mate-
rial pedagógico (Professor 20).
Considerações finais
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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Referências
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57 •
BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria de
Educação Especial, 2008. Disponível em: portal.mec.gov.br/arqui-
vos/pdf/politicaeducespecial.pdf. Acesso em: 19 de fev. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação.
Resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009. Diretrizes Operacionais da
Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado
na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: MEC,
2009.
BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/
L13415.htm. Acesso em: Acesso em: 10 de fev. 2020
CEARÁ. SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Educação Espe-
cial. Fortaleza, 2019.
FIGUEIREDO, Rita Vieira. Escola, diferença e inclusão. Fortaleza:
Edições UFC, 2010.
GOMES, Robéria Vieira Barreto et al. Políticas de inclusão escolar e
estratégias pedagógicas no atendimento educacional especializado.
2016.
LIMA, Maria Socorro Lucena. A formação contínua do professor nos
caminhos e descaminhos do desenvolvimento profissional. Tese (Dou-
torado em Educação) Universidade de São Paulo, São Paulo. 2001.
MAGALHÃES, Rita de Cássia Barbosa Paiva. Reflexões sobre a dife-
rença: uma introdução à educação especial. Edições Demócrito Ro-
cha, 2002.
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão escolar: o que é? por quê?
como fazer? São Paulo: Moderna, 2006.
MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Educação Especial no Brasil:
história e políticas públicas. 5. ed., São Paulo: Cortez, 2005.
MINAYO, Maria Cecília Souza (org.). Pesquisa social: teoria, método e
criatividade. 29. ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
FORMAÇÃO CONTINUADA NA PERSPECTIVA INCLUSIVA: O QUE PENSAM OS DOCENTES DA SALA DE AULA REGULAR?
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FRANCISCA JANAINA DANTAS GALVÃO OZÓRIO | PETRÔNIO CAVALCANTE |FRANCIONE CHARAPA ALVES
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FORMADORES E PROFESSORES: INTERVENÇÕES
PEDAGÓGICAS NO 2º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Ana Lúcia Ferreira Pitombeira
Emanoel Rodrigues Almeida
Maria Cleide da Silva Ribeiro Leite
Introdução
ANA LÚCIA FERREIRA PITOMBEIRA | EMANOEL RODRIGUES ALMEIDA | MARIA CLEIDE DA SILVA RIBEIRO LEITE
61 •
cia prática e vice-versa, contribuindo para a práxis dos profissionais
envolvidos.
Formadores e professores
ANA LÚCIA FERREIRA PITOMBEIRA | EMANOEL RODRIGUES ALMEIDA | MARIA CLEIDE DA SILVA RIBEIRO LEITE
63 •
trução dos saberes da experiência, como aponta Pimenta (2005, p.
20): “[...] são aqueles que os professores produzem no seu cotidiano
docente, em um processo permanente de reflexão sobre sua prática,
mediatizada pela de outrem – seus colegas de trabalho, os textos pro-
duzidos por educadores”. Nesse contexto interacional é que se dá a
profissionalização docente por meio do diálogo e na troca de experi-
ências entre formador e professor, como afirmam Costa et al. (2016):
A valorização desses saberes se constitui como uma impor-
tante referência para acessar o universo das concepções que
sustentam as práticas e o trabalho dos docentes no cotidiano
escolar. Uma vez acessado este universo, os formadores de
professores têm a oportunidade de tecer um diálogo pedagó-
gico entre os conhecimentos construídos por esses profissio-
nais e de debruçar de forma situada, sobre os fenômenos de
ensinar e aprender. Tal diálogo permite a problematização e
a transformação das práticas, mediadas pela fundamentação
teórica. (2016, p. 14)
ANA LÚCIA FERREIRA PITOMBEIRA | EMANOEL RODRIGUES ALMEIDA | MARIA CLEIDE DA SILVA RIBEIRO LEITE
65 •
atuam nessa modalidade de ensino, a fim de levantar informações
cerca do perfil desses educadores. O segundo bloco do questionário
destinou-se ao contexto de trabalho dos profissionais; as perguntas
visaram analisar o tempo de atuação deles nas salas de 2º ano, o tem-
po de experiência como professores, assim como o tipo de vínculo
empregatício que estes possuem com o município. Na terceira parte,
inserimos as perguntas direcionadas à formação continuada. Este
eixo interrogou a formação continuada oferecida pelo município
e destinada aos profissionais, ressaltando também a opinião deles
sobre a temática. Na última parte do questionário concentramos as
perguntas direcionadas ao foco central da investigação, ou seja, à in-
tervenção das formadoras nas turmas em que atuam, assim como os
sentimentos das professoras em relação às formadoras e as contri-
buições destas para a prática docente dos profissionais.
De posse das respostas dos profissionais obtivemos subsídios
para responder à questão central, assim como traçar o perfil dos pro-
fissionais que atuam nas turmas de 2º anos do Ensino Fundamental
do município de Fortaleza, que estão descritos no estudo, trazendo
resultados e contribuições, conforme seguem.
ANA LÚCIA FERREIRA PITOMBEIRA | EMANOEL RODRIGUES ALMEIDA | MARIA CLEIDE DA SILVA RIBEIRO LEITE
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mana, por duas formadoras do Distrito de Educação V, que fizeram
as intervenções pedagógicas nas turmas do 2º ano no período manhã
e tarde, na qual realizavam atividades junto às professoras e alunos.
As ações interventivas objetivaram impulsionar a aprendizagem dos
alunos no âmbito da leitura e da escrita, tendo como parâmetro as
últimas Avaliações Diagnósticas de Rede (ADRs). Neste Instrumento
de Gestão, os alunos não atingiram a meta estimada pela Secretaria
de Educação, conforme os critérios de leitura e escrita de avaliação
do desempenho escolar. Diante do baixo desempenho das turmas, a
Secretaria implantou ADRs em ação conjunta entre Distrito de Edu-
cação, engajando os formadores, gestores e professores para estimu-
lar a aprendizagem dos estudantes, tendo em vista a superação do
déficit educacional.
Para a realização das ações avaliativas foi realizada primeira-
mente a mobilização e sensibilização, incluindo o núcleo gestor, pro-
fessores e os formadores. Posteriormente, deu-se o detalhamento do
planejamento e a definição do cronograma das ações avaliativo-in-
terventivas. Após esse momento, iniciaram-se as atividades pedagó-
gicas nas salas junto com os alunos sob a orientação das formadoras.
Partindo dessas intervenções configuramos a problemática do obje-
to deste estudo, o qual objetivou analisar a percepção das professo-
ras sobre a intervenção pedagógica das formadoras.
Perguntamos como as professoras se sentiram com a presen-
ça das formadoras na sala de aula e as três colocaram que se senti-
ram muito bem, à vontade para fazer seus respectivos trabalhos.
Segundo elas, sentiram-se amparadas, confiantes nas orientações, e
as viam como apoio, conforme percebemos no relato da P3, a seguir:
“Compreendo que as formadoras contribuíram bastante no proces-
so de aprendizagem dos alunos e estavam lá para auxiliar”.
Ainda sobre as contribuições das intervenções das formado-
ras, as professoras afirmaram que estas enriqueciam porque opor-
tunizavam o conhecimento teórico, a troca de saberes por meio de
experiências, visto que uma das formadoras possui uma vasta expe-
riência nas turmas de 2º ano do Ensino Fundamental, na rede púbica
de ensino, facilitando, assim, a permuta de saberes e experiências.
Considerações finais
ANA LÚCIA FERREIRA PITOMBEIRA | EMANOEL RODRIGUES ALMEIDA | MARIA CLEIDE DA SILVA RIBEIRO LEITE
69 •
Destacamos como elementos significativos apontados pelas
professoras o sentimento de apoio, tanto do ponto de vista da troca
de experiências como em relação às orientações, haja vista que elas
possuíam pouco tempo de experiência nas turmas em que estão atu-
ando. Evidenciamos clareza da troca de saberes, de experiência, e a
relação confiável entre elas mostrou-se à profissionalização docente.
Outro ponto que podemos ressaltar condiz com a relevância
dessa experiência para as formadoras, visto que estas tiveram a opor-
tunidade de refletir sobre os momentos formativos, pois tiveram a
chance de conhecer a realidade das professoras e de como as forma-
ções ministradas podem realmente contribuir com a prática docente,
disponibilizando subsídios teóricos, práticos e metodológicos às do-
centes em reflexão e, consequentemente, com a práxis docente.
Concluímos que essa experiência foi de suma importância
para o crescimento de todos os envolvidos: formadores, professo-
res e alunos, pois tiveram a oportunidade de conviver, interagir e
aprender pela permuta de saberes e experiências, o que tornou esse
momento de aprendizagem mutuamente significante, visto que o
objetivo consistiu no favorecimento das aprendizagens e, conse-
quentemente, na melhoria dos indicadores de rendimento escolar
para a qualidade do ensino de alfabetização. Contudo, os professores
e formadores também desenvolveram aprendizagem que colabora-
ram para o seu crescimento profissional e pessoal.
Referências
ANA LÚCIA FERREIRA PITOMBEIRA | EMANOEL RODRIGUES ALMEIDA | MARIA CLEIDE DA SILVA RIBEIRO LEITE
71 •
OS EFEITOS INICIAIS DA BNCC NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
A PERSPECTIVA DOCENTE
Introdução
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
EMANOEL RODRIGUES DE ALMEIDA
73 •
reconhecimento da infância e como consequência da compreensão
da criança como sujeito de direitos. No Brasil, a educação infantil
está alicerçada em bases do conhecimento científico, a partir de
pesquisas, das experiências pedagógicas e das políticas educacionais
pensadas para esta etapa da educação das crianças, presentes prin-
cipalmente em documentos.
Na pedagogia, por exemplo, houve progressos consideráveis,
pois atualmente há um olhar mais crítico quando se pensa na forma-
ção de professores que atuarão ou atuem na educação infantil, bus-
cando entender o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional das
crianças. Para além desses aspectos, fornece suporte necessário que
ajudarão na construção da sua personalidade e autonomia, afirman-
do-se como ser ativo em formação.
Do ponto de vista das políticas educacionais, a educação in-
fantil deve ser oferecida em creches e pré-escolas, e garantida pelo
Estado, respeitando alguns direitos das crianças, a citar o acesso à
educação formal e o brincar.
Art. 3º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Bási-
ca, é oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracte-
rizam como espaços institucionais não domésticos que cons-
tituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados
que educam e cuidam de crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos
de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial,
regulados e
supervisionados por órgão competente do sistema de ensino
e submetidos a controle social, conforme o disposto na Reso-
lução CNE/CEB nº 5/2009. (BRASIL, 2010, p. 02)
Conforme a citação acima fica evidenciado que o direito à
educação de crianças na primeira infância deve ser garanti-
do a partir dos seus primeiros anos de vida, em horário inte-
gral ou parcial. É nessa perspectiva que a educação infantil
vai ganhando visibilidade e se constituindo, de fato, como a
primeira etapa da educação básica, levando em consideração
nas práticas pedagógicas os eixos centrais, a citar as intera-
ções e as brincadeiras.
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
EMANOEL RODRIGUES DE ALMEIDA
75 •
nitas para que elas possam criar situações do seu cotidiano, resolver
conflitos e aprender a construir hipóteses e a resolver problemas.
No brincar, a criança se utiliza da imaginação e do faz-de-con-
ta, criando situações cotidianas, imitando e se expressando de forma
transparente, a partir da sua realidade e seus anseios. “O brincar é
uma ação livre, que surge a qualquer hora, iniciada e conduzida pela
criança; dá prazer, não exige como condição um produto final; re-
laxa, envolve, ensina regras, linguagens, desenvolve habilidades e
introduz a criança no mundo imaginário”. (KISHIMOTO, 2010, p. 01)
A consolidação da educação infantil no Brasil sai de um cará-
ter assistencialista e, com o passar dos anos, começa a se estabelecer
como primeira etapa da educação básica. Essa consolidação no cená-
rio educacional se dá por meio das políticas públicas, da formação de
professores e da garantia do direito das crianças. Para além disso, as
novas metodologias e ações que vêm sendo trabalhadas na primeira
infância nos permite refletir sobre a importância de um currículo
vivo, que tenha como foco a aprendizagem da criança.
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
EMANOEL RODRIGUES DE ALMEIDA
77 •
nas quais possam construir significados sobre si, os outros e
o mundo social e natural. (BNCC, 2018, p. 35).
Conviver
Brincar Conhecer-se
Participar Expressar
Explorar
Espaços, tempos,
Corpo, gestos e
quantidades, relações
movimentos
e transformações
Escuta, fala,
Traços, sons, cores
pensamento e
e formas
imaginação
CRECHES PRÉ-ESCOLA
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
EMANOEL RODRIGUES DE ALMEIDA
79 •
Como percebido, cada elemento vai estruturando o outro; os
objetivos permeiam todos os tempos na Educação Infantil e, confor-
me o planejamento, que é o precursor da ação didática docente, defi-
nem como serão estabelecidas as práticas na etapa. Nessa perspecti-
va é possível notar algumas das reformulações e mudanças trazidas
pela Base. Mas é de extrema importância perceber isso de forma prá-
tica a partir da visão docente.
Resultados e discussões
Este espaço tem por objetivo analisar e discutir os resultados
encontrados no presente estudo; assim, a primeira seção apresen-
ta o perfil docente das entrevistas e a segunda pretende conhecer a
percepção docente sobre a inserção da BNNC na educação infantil.
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81 •
gurar direitos e um maior enfoque nas práticas, bem como dito pela
P3 – FOR, que percebe a inserção meramente técnica, uma vez que
só houve seu repasse e as expectativas de cumprir suas orientações.
Campos e Barbosa (2015, p.353), nesse ponto corroboram, ao afirmar
que
O lançamento do documento de referência da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) gerou inúmeras discussões, de-
bates e configurou novos desafios para a educação nacional,
tanto em seus aspectos legais quanto em seus aspectos teóri-
co-metodológicos e ideológicos. No caso específico da educa-
ção infantil, tendo em vista sua própria trajetória na Consti-
tuição como direito público subjetivo, esse debate evidencia
antigos desafios e coloca em pauta insistentes “fantasmas”
que há muito rondam a área; ao mesmo tempo que indica al-
gumas ratificações de conceitos e perspectiva curricular con-
siderados fundamentais por professores e pesquisadores.
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
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83 •
tes a dúvidas, bem como momentos de discussão e adequação, con-
forme a P3 – RED:
“A SME tem sido bastante parceira, buscando sempre infor-
mar e formar professores, trazendo palestrantes e constantes
ideias e pontos de vista a esse respeito, bem como a disponibi-
lização de diversos materiais ricos em conhecimento e ativida-
des pautadas na BNCC”.
Algumas considerações
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
EMANOEL RODRIGUES DE ALMEIDA
85 •
to que possa auxiliar na prática docente. Acreditam que são apenas
mudanças de nomenclatura e relatam dificuldades, principalmente
na elaboração do planejamento. Em relação à zona rural, foi possível
perceber que as professoras estão melhores assessoradas pela SME.
Pelas falas apresentadas em ambas as zonas, constatamos que elas
percebem a criança como centro do planejamento, e que é necessá-
rio, sobretudo na zona urbana, um acompanhamento da SME, no
sentido de formação que possa ajudar os docentes a compreender
melhor da Base.
Diante desse contexto e da relevância desse estudo para que
possamos compreender como é a visão docente em relação a BNCC,
é importante o engajamento e a parceria da SME e da gestão esco-
lar para que oportunizem aos professores partilhar suas angústias,
dúvidas e sugestões, com o objetivo de compreender o que é esse do-
cumento, suas contradições, tensões e desafios, com os quais pode-
remos dialogar em outros trabalhos.
Referências
BIATRIZ DE SOUZA MONTEIRO | ANTONIO FLÁVIO MACIEL DE SOUZA JÚNIOR | ELISANGELA ANDRÉ DA SILVA COSTA
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87 •
PROFESSORES SURDOS DO INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DO CEARÁ
(IFCE): UM RECORTE DE SUA TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO NO
ENSINO SUPERIOR
Geraldo Venceslau de Lima Júnior
Sinara Mota Neves de Almeida
Marla Vieira Moreira de Oliveira
Kaline Araujo Mendes de Souza
Introdução
PROFESSORES SURDOS DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DO CEARÁ (IFCE):
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No ano 1880, o “Congresso Internacional de Professores de
Surdos em Milão, na Itália, tem com pauta o debate e avaliação acer-
ca da importância de três métodos rivais: língua de sinais, oralista
e mista (língua de sinais e o oral)” (STROBEL; PERLIN, 2008, s/p). A
educação de surdos sofreu uma crise séria e histórica que abalou o
povo surdo e suas representações “[...] devido à predominância do
oralismo puro na forma de ouvintismo [...]” (STROBEL, 2008, s/p). A
influência do oralismo modificou a educação de surdos, inclusive no
Brasil. Esse congresso é um marco histórico, pois determinou uma
tendência seguida na educação dos surdos no decorrer do século XX,
na Europa e na América Latina, sobretudo (LACERDA, 1998).
Na década de 1960 começaram a surgir várias pesquisas sobre
as línguas de sinais e sua estrutura linguística. Realizaram-se estu-
dos em diversas áreas, tais como: a Psicologia, a Linguística, a Neu-
rologia, a Educação, a Sociologia e a Antropologia. Apesar de a proi-
bição advinda do Congresso de Milão (1880), Capovilla e Capovilla
(2002) apresentam essa situação como a “redenção dos sinais”. Além
disso, escolas ou instituições encontravam formas de construir, às
margens do sistema, um modelo próprio de comunicação por meio
dos sinais. (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2002; LACERDA, 1998).
Os movimentos surdos, nas décadas de 1980 e 1990, emergi-
ram dessa resistência para o uso da língua de sinais e resultaram
numa ação de luta para a conquista e reconhecimento da especifici-
dade linguística da comunidade surda.
A década de 1990 é um marco de mudanças na educação. Nela,
encontramos dispositivos legais que passam a contribuir efetiva-
mente para as reflexões que norteiam o processo inclusivo e a edu-
cação de surdos. Em 1988, a Constituição Federal, em seu art. 205,
garante a Educação como um direito de todos. Em 1996, a Lei nº
9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB) dedi-
ca um capítulo para tratar sobre a Educação Especial, estabelecendo
sua oferta desde a Educação Infantil ao Ensino Superior. Em 1996,
no âmbito da avaliação educacional para pessoa com deficiência, no
que concerne à Educação Superior, o Ministério da Educação (MEC)
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sa é o intérprete de Libras. No entanto, esse profissional não chegou
com seu espaço delineado. As primeiras experiências começaram
quando não existiam cursos de formação nessa na área da interpre-
tação da Libras, a partir de trabalhos voluntários em espaços infor-
mais (igrejas, associações, etc.). Foi por meio da luta da comunidade
surda, juntamente com os Tradutor Intérprete de Língua de Sinais
(TILS), que ocorrera a conquista de vários direitos dos surdos, den-
tre eles, a consolidação do espaço desse profissional (CORRÊA et al.,
2017).
Em 2010, a Lei nº 12.319/2010 regulamenta a profissão do TILS
que, segundo o “Art. 2º, tem [...] competência para realizar inter-
pretação das duas línguas de maneira simultânea ou consecutiva,
e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua
Portuguesa” (BRASIL, 2010). A partir dessas legislações específicas
da área da surdez vários aspectos referentes aos profissionais passa-
ram a ser observados, sejam eles docentes (ouvintes e surdos), TILS
e instrutores surdos.
As políticas educacionais representam ações mais recentes
pró-inclusão de surdos, inclusive com um recorte no ensinos supe-
rior são: a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015), que prevê a
garantia do serviço de intérprete de Libras em provas e aulas; e a Lei
nº 13.409/2016, que altera o Art. 3º da Lei nº 12.711, de 29 de agosto de
2012, estabelecendo reserva de vagas para as pessoas com deficiên-
cia. Todavia, é necessário ressaltar que os professores participantes
da pesquisa não ingressaram no Ensino Superior para sua formação
inicial por meio do sistema de cotas.
Ainda buscando compreender aspectos sociais, educativos e
políticos, o tópico a seguir descreve o lócus de docência dos profis-
sionais surdos que colaboraram com o nosso estudo. Conhecer o seu
espaço de trabalho e suas ações para uma educação inclusiva pode
ajudar na construção de uma universidade plural, que encontre na
trajetória de formação de seus professores, sobretudo os surdos, as-
pectos relevantes para melhorias efetivas.
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No que se refere à Política de Inclusão, a Portaria 509/2015
do Gabinete do Reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará- IFCE criou a Comissão Técnica para Política de
Acessibilidade, com o objetivo de elaborar a Política de Acessibilida-
de da instituição.
Neste intento, foi criado o Núcleo de Atendimento às Pessoas
com Necessidades Específicas (NAPNE), que tem por objetivo contri-
buir para a inclusão adequada de alunos e servidores com necessi-
dades específicas no cotidiano escolar da instituição. O NAPNE de-
senvolve ações de sensibilização da comunidade escolar, bem como
apoia atividades de capacitação de professores e demais servidores.
No Ceará contamos com 20 NAPNES espalhados no estado, a saber:
Acaraú, Baturité, Camocim, Canindé, Caucaia, Cedro, Crateús, Cra-
to, Fortaleza, Iguatu, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Itapipo-
ca, Maracanaú, Morada Nova, Quixadá, Sobral, Tabuleiro do Norte,
Tianguá e Tauá ( BRASIL, 2017).
Vale destacar que o NAPNE objetiva
quebrar as barreiras arquitetônicas, comunicacionais, edu-
cacionais e atitudinais no IFCE, disseminando a inclusão e o
fomento de uma cultura educacional baseada na convivência,
aceitação e diversidade. Diante desses pressupostos, as equi-
pes dos NAPNES têm o desafio de agregar os diversos setores
internos e externos, a fim de desenvolver uma atuação inte-
grada e multiprofissional, assessorando os gestores dos cam-
pi e possibilitando serviços educacionais específicos para os/
as discentes que deles necessitem (BRASIL, 2017).
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Procedimentos metodológicos
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A pesquisa qualitativa compreende o ponto de vista dos sujei-
tos investigados no contexto em que estes se situam, questionando-
-os, com vistas a apreender a maneira pela qual “eles interpretam as
suas experiências e o modo como eles próprios estruturam o mundo
social em que vivem” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 51).
Para Godoy (1995, p.62),
a pesquisa qualitativa tem como características: o ambiente
natural como fonte direta de dados e o pesquisador como
instrumento fundamental; o caráter descritivo; o significado
que as pessoas são às coisas e à sua vida como preocupação do
investigador e o enfoque indutivo.
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Análise e discussão
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mulheres nos cursos de formação de professores, conforme destaca-
do nos dados da Tabela 1.
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2015. Esse tempo também se refere à formação dos professores de
Libras, o que se torna uma missão a longo prazo, fazendo com que o
tempo de atuação desse profissional seja mínimo.
Com relação às dificuldades dos professores a respeito da tra-
jetória formativa, os participantes da pesquisa assim as descreveram:
Antes, eu estava estudando na faculdade (...) que tinha difícil
muito porque não tinha intérprete. Depois passei no vestibu-
lar para curso de Letras Libras no polo da UFC/UFSC. Tinha
videoconferência em Libras que eu me merecia entender me-
lhor do mundo (Andrômeda)
(...) senti difícil de acessibilidade para comunicação na Uni-
versidade (Linux)
(...) difícil por causa segunda Língua Portuguesa (Lyra)
Antes eu sentir difícil só sobre passar ENEM, porque passado
não tinha acessibilidade (Hércules)
Já concluir faculdade ano 2010. Não sentir dificuldade, por-
que tem acessibilidade (Sagitta)
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foi esta: Quais são as adaptações necessárias para que o surdo possa
estudar? A resposta remete ao provimento e construção de mate-
riais, por exemplo, “tradução em vídeos” (Aquarius), “tradução em
Libras” (Hércules), “acessibilidade em uso tecnológico” (Lyra). São
adaptações que apontam uma proposta bilíngue.
Diante dos dados coletados, elencar as dificuldades enfrenta-
das pelos professores de Libras não se configura como uma solução
para os problemas de ensino, do aprender e ensinar para os surdos.
Contudo, traz uma indicação para revisão das leis que regem o ensi-
no dessa língua no nosso país, para que se minimizem os efeitos ne-
gativos das práticas de ensino.
Considerações finais
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Por fim, o maior desafio para promover a acessibilidade de
estudantes e professores surdos aos mais altos níveis de estudos
nas instituições públicas de ensino está, em primazia, na promoção
efetiva de políticas institucionais que respeitem a especificidade lin-
guística da pessoa surda. Esperamos que os resultados preliminares
desta pesquisa possam subsidiar a ampliação do debate acerca da
educação dos surdos e, sobretudo, contribuir para a consolidação de
condições de acesso e de permanência desses sujeitos nas Institui-
ções de Ensino Superior.
Referências
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Introdução
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intencionalidade educacional e bem planejada, com a finalidade de
desencadear com eficácia um processo de formar leitores proficien-
tes por meio do ensino e aprendizagem.
Nesse contexto descrito, a pesquisa aborda as concepções de
professores sobre a utilização das TIC’s na formação do leitor, tendo
como objetivo principal investigar as práticas de ensino, utilizadas
na Disciplina de Língua portuguesa com o uso delas. Assim, oportu-
nizando uma reflexão sobre as formas de contribuição das tecnolo-
gias para o processo de formação do leitor.
Convém ressaltar que não nos propomos a registrar uma “apo-
logia ao sucesso” e sim abordar não só o que na pesquisa não deu certo,
mas também os caminhos que precisamos rever e refazer, para que a
pesquisa prosseguisse com fidedignidade e ética. Como afirma Do-
minique Maingueneau, o trabalho de pesquisa é como um barco que
sabemos, previamente, de onde parte, entretanto não sabemos aonde
vamos chegar. O vento, as marés, enfim, as intempéries do tempo po-
dem nos desviar do percurso, inicialmente, pensado/traçado.
Para cumprir com seu escopo, este trabalho visa, de forma es-
pecífica, refletir sobre as práticas educativas, pensadas para a aqui-
sição, ampliação e formação do leitor na escola, visando demonstrar
a importância das tecnologias como recurso potencializador da lei-
tura na sala de aula e, ainda, identificar os limites e possibilidades
dos processos formativos vivenciados pelos alunos, no que diz res-
peito à relação estabelecida entre TIC’s e formação humana.
Assim sendo, nossa pesquisa é do tipo bibliográfico e de cam-
po, com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para co-
letar as informações foi um questionário com questões subjetivas,
aplicado aos professores da última série do Ensino Fundamental e ao
núcleo gestor da Escola dos Ventos (nome fictício). As questões aber-
tas favorecem não só colher dos docentes seus conhecimentos sobre
leitura e TIC’s, e os recursos tecnológicos utilizados em sua prática
de sala de aula, como também mostrar a relevância do uso das tecno-
logias e as contribuições que podem trazer para a formação do leitor.
Na análise dos dados, serão transcritos e considerados os re-
latos dos docentes em relação ao tema abordado, registrando suas
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O autor supracitado define a palavra informação como: ato
ou efeito de informar; notícia (dada ou recebida); indagação; e escla-
recimento dado sobre os méritos ou estado de outrem. Em relação
à comunicação, o dicionário conceitua como: informação; partici-
pação; aviso; transmissão; notícia; passagem; ligação; convivência;
relações; e comunhão (de bens). Enquanto comunicação social de-
nota: um conjunto dos órgãos de difusão de notícias (imprensa, rá-
dio e televisão); prática ou campo de estudo que se debruça sobre a
informação: a sua transmissão, captação e impacto social.
No entanto, a integração dessas palavras forma as TIC’s que,
na Educação, ganha um significado especial, uma vez que pode con-
tribuir com o acesso, a equidade e a boa qualidade do ensino. Pen-
sando nisso, esquece-se de que, há milhares de anos, para haver uma
comunicação, usava-se fumaça, registros em pedras, desenhos, sím-
bolos e, posteriormente, cartas, telegramas e bilhetes. Desse modo,
perpetua-se, de geração a geração, uma forma oral e informal.
Na concepção de leitura exposta por Solé (1998), há um pro-
cesso de interação entre o leitor e o texto. Segundo a pesquisadora
espanhola, um leitor “ativo” dá sentido ao que lê, na medida em que
leva para o texto as suas vivências, permeadas por valores, ideias e
atitudes. Assim sendo, o leitor vai encontrando a finalidade de uma
leitura, situando-se no texto e construindo novos saberes, a partir da
leitura realizada.
Breves Filho (2012) enriquece essa linha de pensamento, en-
fatizando que a leitura vai além da decodificação de símbolos, pois
ela informa, dinamiza o raciocínio e possibilita a compreensão/in-
terpretação:
Se a leitura ajuda a organizar melhor os pensamentos, pode-
mos asseverar que a falta dela pode contribuir para tirar, da
fala e, ainda, da escrita, a fluência e a rapidez de raciocínio. A
leitura, também, contribui para aquisição de novas palavras
e expressões, ou seja, enriquece o vocabulário e aumenta o
nosso repertório de estruturas da língua com construções
inusitadas (BREVES FILHO, 2012, p. 2).
NEISSE EVANGELISTA DA COSTA SOUZA | JOSÉ DE SOUSA BREVES FILHO | ANDREA MOURA DA COSTA SOUZA
111 •
sionais nesse mundo das tecnologias. Os recursos vêm de programas
como portais para professores, computadores, guias de tecnologias,
acompanhados de DVDs educativos com diversas temáticas, jogos,
simuladores etc.
Outros programas são voltados para a formação continua
da dos professores e pessoas ligadas à área da Educação, como: o
“ProInfo Integrado” que é um programa de formação, voltada para o
uso didático-pedagógico das Tecnologias de Informação e Comunica-
ção (TIC’s) no cotidiano escolar. Tudo isso articulado à distribuição
dos equipamentos tecnológicos nas escolas e à oferta de conteúdos e
recursos multimídia (e digitais), oferecidos pelo Portal do Professor,
pela TV Escola e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco In-
ternacional de Objetos Educacionais. Apesar de estarem disponíveis
e com todos esses recursos, Kenski (2003) chama a atenção para o
seguinte fato:
Na verdade, um dos grandes desafios do mundo contemporâ-
neo consiste em adaptar a educação à tecnologia moderna e
aos atuais meios eletrônicos de comunicação. Nos anos 50 e
60, a tecnologia educacional era vista como sinônimo de re-
cursos didáticos. A partir da década de 60, o desenvolvimen-
to dos meios de comunicação de massa passou a revolucionar
o mundo em todos os setores, principalmente no campo da
Educação. (KENSKI, 2003, p. 44)
NEISSE EVANGELISTA DA COSTA SOUZA | JOSÉ DE SOUSA BREVES FILHO | ANDREA MOURA DA COSTA SOUZA
113 •
No campo das TIC’s, significa que ele precisa conhecer as suas
potencialidades, saber lidar com elas, entender sua relevân-
cia, para que, a partir daí, possa reprogramar a sua maneira
de ensinar, de pensar, de pesquisar, de provocar a produção e
produzir conhecimento. (MORI, 2012, p. 6)
NEISSE EVANGELISTA DA COSTA SOUZA | JOSÉ DE SOUSA BREVES FILHO | ANDREA MOURA DA COSTA SOUZA
115 •
respeite a situação e o espaço do aluno, um saber gerado a partir do
que o aluno sabe, quer dizer, respeitando o seu conhecimento pré-
vio, bem como os problemas, vivências e demandas encontrados no
lugar em que o discente vive, para onde, certamente, ele voltará re-
alimentado pelas reflexões e práticas educacionais, com o propósito
de transformar a realidade, antes apresentada.
As teorias da aprendizagem e as metodologias de ensino há
muito tempo orientam a prática docente no sentido de que o
ponto de partida da ação pedagógica é de “onde os alunos se
encontram”. Partir do que eles conhecem, gostam e se entu-
siasmam para poder desenvolver com eles mudanças signifi-
cativas que se configurem como “aprendizagens”. Vale então
a pergunta: onde estão nossos alunos? O que sabem? Do que
gostam? Como podemos partir da realidade deles para ajudá-
-los aprender mais? O que aprender? De que modo? (KENSKI,
2013, p. 96).
Metodologia
Análise e discussão
NEISSE EVANGELISTA DA COSTA SOUZA | JOSÉ DE SOUSA BREVES FILHO | ANDREA MOURA DA COSTA SOUZA
117 •
Levando em consideração os Parâmetros Curriculares Nacio-
nais (2001), o documento que orientou as práticas pedagógicas, ao
abordar a l eitura:
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho
ativo de construção do significado do texto, a partir dos seus
objetivos, do seu conhecimento sobre o assunto, sobre o au-
tor, de tudo o que sabe sobre a língua: características do gêne-
ro, do portador, do sistema de escrita etc. (2001, p. 53)
NEISSE EVANGELISTA DA COSTA SOUZA | JOSÉ DE SOUSA BREVES FILHO | ANDREA MOURA DA COSTA SOUZA
119 •
só, não representam mudança pedagógica, não gera conhecimento
se essas forem utilizadas como suporte para passar o tempo ou re-
passadas como meras mensagens ilustrativas sem o caráter reflexi-
vo. Conforme cita Fróes:
Os recursos atuais da tecnologia, os novos meios digitais: a
multimídia, a Internet e a telemática trazem novas formas de
ler, de escrever e, portanto, de pensar e agir. O simples uso
de um editor de textos mostra como alguém pode registrar
seu pensamento de forma distinta daquela do texto manus-
crito ou mesmo datilografado, provocando no indivíduo uma
forma diferente de ler e interpretar o que escreve, forma esta
que se associa, ora como causa, ora como consequência, a um
pensar diferente. (2002, p. 57)
Considerações finais
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121 •
gógicas, pois, no chão da sala de aula, as ferramentas tecnológicas
são utilizadas como recursos técnicos para ilustrar um conteúdo
ou complementar um assunto abordado por enquanto que essas
tecnologias deveriam fazer parte, estando inseridas ao longo do
processo de ensino e aprendizagem, para tornar as aulas atrativas
e prazerosas.
Diante disso, a escola deve rever a sua prática, ações e fun-
ções, visto que é importante e urgente que ela saiba se beneficiar da
facilidade, da habilidade e da necessidade que o jovem tem no uso
das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação, para contri-
buir por meio dessas com o crescimento intelectual dos educandos,
ao mostrar-lhes como a tecnologia pode ser usada de modo atrativo e
responsável na sua formação escolar, profissional e pessoal.
Por isso, o uso das tecnologias não representa mudança pe-
dagógica, não gera conhecimento, se forem utilizadas como suporte
para passar o tempo ou repassadas como meras mensagens ilustra-
tivas, sem um propósito reflexivo. As novas tecnologias devem ser
conhecidas e aplicadas pelo educador como ferramentas de ensino,
planejando a sua utilização e criando metodologias de inserção que
favoreçam a aprendizagem.
É necessário valorizar e planejar para a utilização das TIC’s no
processo de ensino e aprendizagem, porque o fato de fazer uso delas
na sala de aula para um determinado fim não significa que houve um
aprendizado. A construção do saber, seja para potencializar o apren-
dizado da leitura, seja para outras atividades, exige um objetivo bem
definido, já que o êxito nessas atividades desenvolvidas não está, so-
mente, nas tecnologias, mas em quem as veicula, retroalimenta, nos
valores disseminados e nas motivações de quem as transmite.
Referências
NEISSE EVANGELISTA DA COSTA SOUZA | JOSÉ DE SOUSA BREVES FILHO | ANDREA MOURA DA COSTA SOUZA
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Introdução
O DOCENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
QUE LECIONAM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM PARNAÍBA-PI
• 136
O DOCENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
QUE LECIONAM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM PARNAÍBA-PI
• 138
nome ainda nos dias de hoje aclamado por muitos pelo seu testemu-
nho e engajamento na causa, um dos maiores precursores, se não o
maior, da educação popular no Brasil, que, com seu método inova-
dor, buscava uma leitura, primando incialmente por uma leitura do
mundo por parte dos discentes.
Este estudioso pernambucano destacou-se no âmbito educa-
cional por seu pensamento crítico, racional e analítico. Freire suge-
riu um diálogo entre os dois protagonistas da aprendizagem, aluno
e professor, e propunha uma leitura da realidade na qual o aluno se
encontrava. Além desta contribuição publicou diversas obras vol-
tadas ao docente atuante nesta modalidade. As décadas 50 e 60 são
consideradas o apogeu da EJA, por ser um período de profunda refle-
xão e trabalho sobre tal modalidade.
No período do golpe militar Paulo Freire foi exilado; no intuito
de preencher a lacuna deixada, foi criado em 1968 o Movimento Bra-
sileiro de Alfabetização (MOBRAL), que proporcionava ao público
adulto uma alfabetização parcial que enfatizava apenas a leitura, a
escrita e o cálculo. Após 17 anos de sua implantação, o programa foi
extinto, posto que os objetivos iniciais não tinham sido alcançados.
Atualmente a EJA é caracterizada como uma modalidade de
ensino que visa proporcionar ao seu aluno a oportunidade de con-
cluir seus estudos no ensino fundamental e médio, cabendo aos go-
vernos estaduais e municipais oferecer à população tal serviço. Este
direito é segurado pela lei Federal 9394/96, que rege a educação no
Brasil:
Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àque-
les que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no
ensino fundamental e médio na idade própria.
Art. 38º. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames su-
pletivos, que compreenderão a base nacional comum do cur-
rículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em caráter
regular. (BRASIL, 1996).
O DOCENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
QUE LECIONAM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM PARNAÍBA-PI
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O professor da EJA
Metodologia
O DOCENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
QUE LECIONAM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM PARNAÍBA-PI
• 142
Resultados e discussões
O DOCENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
QUE LECIONAM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM PARNAÍBA-PI
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Considerações finais
Referências
O DOCENTE DA EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
QUE LECIONAM NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM PARNAÍBA-PI
• 146
Introdução
Resultado e discussão
Considerações finais
Referências
Introdução
Desenvolvimento
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
• 162
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
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Considerações
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
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AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: VISÃO DE DOCENTES DO 5º ANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REDE MUNICIPAL DE FORTALEZA (CE)
• 174
Introdução
Desenvolvimento
Conclusão
Referências
Introdução
Metodologia
Resultados e discussão
Considerações finais
Referências
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cacionais: vicissitudes, controvérsias e desafios. São Paulo: EPU, p.
23-28, 1982.
Introdução
Considerações finais
Referências
Introdução
O
estágio supervisionado é um pilar fundamental na forma-
ção de professores, pois é por meio dele que o docente passa a conhe-
cer aspectos indispensáveis à formação da construção da sua identi-
dade profissional e dos diversos saberes que o compõem (PIMENTA;
LIMA, 2017). Partindo de tal pressuposto, o presente texto objetiva
analisar como a Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER)
vem sendo trabalhada na formação de professores, mais especifica-
mente no estágio supervisionado, a partir da visão dos graduandos
de cursos de licenciaturas dos municípios de Aracoiaba e Sobral.
Também buscamos obter informações em relação as suas impres-
sões, ações realizadas e demandas vivenciadas nas escolas onde cada
um realizou o seu período de estágio. A aproximação com a realidade
se deu por meio da análise de questionários respondidas por gradu-
andos e analisadas à luz de referenciais teóricos, como Verrangia e
Silva (2010), Munanga (2005), Moreira e Candau (2007), Gil (2010),
entre outros.
A decisão de debater sobre formação de profissionais da edu-
cação no Brasil precisa ser fundamentada na Lei de nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, com suas devidas atualizações. O artigo 61 traz especifica-
ções da profissão docente e, em parágrafo único, ao discorrer sobre
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
213 •
o caráter de exercício das atividades frente à formação dos citados
profissionais, traz como alguns dos fundamentos:
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o co-
nhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
competências de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, de
2009)
II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei
nº 12.014, de 2009)
III – o aproveitamento da formação e experiências anterio-
res, em instituições de ensino e em outras atividades (BRA-
SIL, 1996, p. 25).
O debate mencionado no parágrafo anterior precisa ser visto
com olhares compromissados pela reflexão crítica, onde destacamos
as expressões “fundamentos sociais” e “estágios supervisionados”,
que justificam a tessitura e o elo entre licenciatura, estágio supervi-
sionado e Educação para as Relações Étnico-Raciais.
A formação de professores, definida como uma das áreas
prioritárias de oferta de cursos de graduação, tem colocado em evi-
dência o desafio de materializar a compreensão da educação como
uma prática social situada, que expressa marcas de cada contexto a
partir de elementos culturais, econômicos e sociais que se conectam
entre si. Os estágios supervisionados, em especial, são componentes
curriculares que alimentam, tendo como base a perspectiva investi-
gativo-formativa, a construção de conhecimentos sobre a profissão
docente a partir dos sujeitos, de suas trajetórias formativas e da in-
terlocução entre escola e universidade.
A partir de tais considerações e da pesquisa empírica realiza-
da, este artigo traz resultados que apontam para a necessidade de
compromisso das licenciaturas em inserir, com maior efetividade, a
ERER em suas grades curriculares e em suas práticas de sala de aula,
independente da área do saber, já que isso pode contribuir de forma
significativa na formação inicial e continuada antirracista.
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
215 •
de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida,
de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e
anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor.
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
217 •
currículo e produção de conhecimento fundados no modelo euro-
cêntrico e encontrou também nas publicações uma realidade difícil
e inimaginável no âmbito dos compromissados com educação: “os
negros são prejudicados em razão do fato de os professores associa-
rem aluno negro a problemas de desempenho” (SILVA, 2018, p. 131).
Ainda sobre os estudos de Silva (2018), foram encontrados
com expressividade fundamentos que caracterizam o ambiente
escolar como local de práticas educacionais repleto de valores eu-
rocêntricos, justificando recorrentes preconceitos e atitudes dis-
criminatórias, veiculados cotidianamente, inclusive contidos em
materiais didáticos.
Não é nossa intenção tratar de generalizações, mas alertar
sobre o número expressivo de conflitos e tensões referentes a ques-
tões que envolvem educação e relações étnico-raciais. Nesse senti-
do, Moreira e Candau (2007) discorrem sobre práticas alternativas
de docentes que desafiam as relações de poder – características da
concepção ideológica do currículo, combatendo o embate entre pri-
vilégios e marginalizações, de modo a contribuir para elevar a auto-
estima de estudantes associados a grupos subalternizados.
Gomes (2005, p. 147), por sua vez, afirma que “podemos gene-
ralizar e dizer que todos (as) os (as) educadores (as) sofrem de apatia
e passividade”. Isso mostra a importância de uma análise crítico-re-
flexiva dos fatos, necessária aos sujeitos que constituem a educação,
de modo a atuarem como docentes proativos, questionadores e ca-
pazes de pensar um currículo que contemple a diversidade que com-
põe a vida real.
A perspectiva de Moreira e Candau (2007, p. 22) concebe o
currículo como “um dispositivo em que se concentram as relações
entre a sociedade e a escola, entre os saberes e as práticas socialmen-
te construídos e os conhecimentos escolares”. Assim, é primordial o
diálogo fecundo entre sociedade e escola, já que
julgamos que uma educação de qualidade, como a que de-
fendemos, requer a seleção de conhecimentos relevantes,
que incentivem mudanças individuais e sociais, assim como
formas de organização e de distribuição dos conhecimentos
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
219 •
que fazem parte da construção histórica, cultural e social do país,
indicando também que é imprescindível pensar tais questões inse-
ridas no conjunto das relações sociais. A educação, dessa maneira,
é entendida como um processo amplo e complexo de construção de
saberes culturais e sociais que fazem parte do acontecer humano.
Soma-se a isso o fato de que essas inquietações precisam ser conver-
tidas em ações concretas, principalmente por parte dos educadores,
que vivenciam as tensões cotidianamente nas bases educacionais de
um país formado a partir de uma organização racista e preconceitu-
osa de sociedade.
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
221 •
nacionalidade brasileira e realizaram seu último estágio supervisio-
nado nas escolas, sendo três públicas e uma privada.
As respostas dos questionários trouxeram impressões acerca
da ERER nas instituições de vínculo de ensino superior e em 05 cinco
instituições de educação básica em que os respondentes cumpriram
seu estágio supervisionado: E.E.F. Professor Roberto Carneiro Fro-
ta, pertencente ao município de Massapê; E.E.F. Antônio Custódio
de Azevedo, pertencente ao município de Sobral – Microrregião de
Sobral; E.E.M. Almir Pinto, pertencente ao município de Aracoiaba
– Microrregião do Maciço de Baturité; Colégio São João Paulo II, mu-
nicípio de Morrinhos, e E.E.M. Monsenhor José Carneiro da Cunha,
município de Chaval, sendo as duas últimas localizadas na microrre-
gião de Acaraú e Camocim, no estado do Ceará.
Reafirmamos que os 10 graduandos respondentes pertencem a
apenas duas IES já mencionadas, uma de caráter público e uma de ca-
ráter privado. Sob esse viés, vale enfatizar que, ao questioná-los se ao
longo do curso de graduação esteve presente a temática de Educação
para as Relações Étnico-Raciais (ERER), apenas dois estudantes res-
ponderam que não, os quais têm vínculo com a IES pública e na qual
recentemente finalizaram o curso de Licenciatura em Matemática.
Profissionais que atuarão na educação básica precisam que
suas formações iniciais e contínuas possam contemplar a ERER,
inclusive para atender às orientações da BNCC, como já menciona-
do, sobre a inserção da Educação para as Relações Étnico-Raciais na
educação básica e, automaticamente, para os cursos de formações
voltados aos profissionais da educação que atuarão nos citados espa-
ços, levando em consideração as leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008,
que evidenciam que há 17 anos temos a sinalização da necessidade de
inclusão da ERER em âmbito educacional.
O questionário aplicado não teve uma delimitação sobre o es-
tágio supervisionado ao qual o respondente deveria se referir, ape-
nas solicitou que as apreciações fossem sobre o último estágio feito
até o momento da pesquisa, abrigando, assim, estágios de observa-
ção, de regência ou de gestão. Para compreender a modalidade que
caracterizava as escolas escolhidas para a realização dos estágios,
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
223 •
Para exemplificar, trazemos um recorte das respostas do
questionário para ilustrar as realidades mencionadas sobre ter-
-se presenciado ou não ações que evidenciassem a necessidade das
discussões acerca da Educação para as ERER, que destacamos: “Por
ser escola particular, existiam muitos alunos que diminuíam o cole-
guinha por não ter dinheiro” (RESPONDENTE 01, 2020); “Sim, pre-
senciei. Aconteceu dentro da sala de aula a discriminação com uma
criança. A professora titular da turma agiu como se nada tivesse
acontecido, sendo que a direção e a coordenação não foram notifi-
cadas” (RESPONDENTE 03, 2020); “Ocorreu um caso de preconceito
racial, e a escola promoveu debates com alunos e pais, desenvolven-
do um projeto com a temática” (RESPONDENTE 05, 2020).
Os relatos dos respondentes de nº 01, 02 e 03 acentuam as
reflexões críticas necessárias referentes à importância de alimen-
tar a formação contínua e, inclusive, a sensibilidade para que se-
jam propostas ações de intervenções que valorizem o respeito, a
diversidade e o combate ao racismo e preconceito. Nesse sentido,
Munanga (2005) alerta que, dentre nós, alguns não receberam o
necessário preparo para lidar com o desafio que a problemática da
convivência com a diversidade e as manifestações de discrimina-
ção dela resultadas colocam quotidianamente na nossa vida profis-
sional. “Com efeito, sem assumir nenhum complexo de culpa, não
podemos esquecer que somos produtos de uma educação eurocên-
trica e que podemos, em função desta, reproduzir consciente ou in-
conscientemente os preconceitos que permeiam nossa sociedade”
(MUNANGA, 2005, p. 15).
Outros respondentes manifestaram: “[...] fui informada e até
mesmo comprovei por meio dos documentos que relatavam os pro-
jetos relacionados com a ERER, projetos que eram desenvolvidos no
decorrer do ano letivo” (RESPONDENTE 06, 2020); “Semana refe-
rente à Consciência Negra” (RESPONDENTE 07, 2020); “Houve algu-
mas ações no que diz respeito à temática, mas foram algumas coisas
bem pontuais. Creio que um maior incentivo ajudaria a engajar os
professores, visto que muitas vezes os que tomam a iniciativa são os
professores das ciências humanas” (RESPONDENTE 08, 2020); “As
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
225 •
disso, de acordo com a visão do graduando respondente, não neces-
sita ser potencializado essa discussão no âmbito da UNOPAR. No
entanto, após averiguação curricular a instituição, afirma-se que
a IES traz em seu guia de percurso as disciplinas: Homem, Cultura
e Sociedade; Educação e Diversidade; Ética, Política e Cidadania; e
Educação Inclusiva.
Neves (2009, p. 55), ao discorrer sobre as possibilidades para
uma escola diferenciada, afirma ser necessário “[...] entender que
a relação Matemática-Vida deve ser intrínseca, aliando conteúdos
clássicos à construção da cidadania, [...] à prática da democracia”,
entre outros. Nesse sentido é que a formação inicial dos/as professo-
res/as precisa contemplar temáticas pertinentes à realidade da sala
de aula, e a ERER também perpassa essa necessidade.
Sobre o material didático (livros, cartilhas, apostilas, carta-
zes) da escola de educação básica no qual os graduandos tiveram
acesso, cinco respondentes afirmaram que o material contemplava
a temática de Educação para as Relações Étnico-Raciais (ERER).
Para se trabalhar a ERER, necessariamente não precisamos
adotar livros, pois se pode trabalhar com projetos didáticos, sequ-
ências didáticas, roteiros de estudos, etc. Porém, é fundamental a
análise que o professor deverá fazer ao adotar o livro didático, pois,
além de orientar o ensino e a aprendizagem, deve contribuir, de
forma significativa, para a formação discente. No entanto, não dar
visibilidade à abordagem sobre ERER dificulta o desenvolvimento
de uma sociedade mais humana, justa, igualitária. Uma educação de
qualidade, a partir desse contexto, também fica mais distante, já que
os parâmetros apontam a necessidade de compreensão da história
da diversidade étnico-racial que forma a sociedade.
No Estado da Arte desenvolvido por Petronilha Silva (2018),
em um de seus achados, a autora aponta ter identificado afirmativas
de que certos materiais didáticos estão repletos de conteúdos depre-
ciativos e preconceituosos em relação aos negros e aos povos indí-
genas, o que pode contribuir para o fracasso escolar dos estudantes
pertencentes a esses grupos.
Considerações finais
ANA PAULA MARTINS FARIAS VASCONCELOS | ASSIS ANDERSON RIBEIRO DA SILVA | KAÉ STOLL COLVERO
227 •
interdisciplinaridade dos saberes e sua manutenção permanente no
cotidiano escolar.
No âmbito do ensino superior, os resultados apontam para a
necessidade de compromisso das licenciaturas em inserirem, com
maior efetividade, a ERER em suas grades curriculares, independen-
te da área do saber, instrumentalizando a formação inicial e a forma-
ção continuada com elementos pedagógicos efetivos no combate ao
preconceito e ao racismo nas escolas.
Desde modo, educar na perspectiva intercultural implica,
portanto, compreender que cada sujeito traz uma história repleta
de significados e diferenças, e que estas são contrárias à padroniza-
ção, considerando ainda a necessidade de uma relação dialógica, de
comunicação clara e objetiva que favoreça a troca de experiências
entre etnias, cuja identidade cultural e lutas sociais estejam em per-
manente movimento de construção. É oportuno registrar que “não
se pode pensar numa igualdade que não incorpore o tema das dife-
renças, o que supõe contra todas as formas de desigualdade, precon-
ceito e discriminação” (CANDAU, 2003, p. 6)
Quanto aos educadores, é necessário focar na ERER e permitir
acontecer a mudança transformadora na nossa pedagogia de ensino,
reconhecendo a importância da interculturalidade, uma vez que,
dessa forma, construiremos um ensino capaz de transformar a cons-
ciência de cada um, criando um clima de livre expressão, que é o eixo
de uma educação verdadeiramente libertadora.
Para tanto, a presente pesquisa, a partir dos dados apresen-
tados, nos permite reconhecer a necessidade de caminhar na hori-
zontalidade e de sinalizar alternativas para uma escola intercultu-
ral crítica, que busque se reinventar por meio do desenvolvimento
de discurso e práticas pedagógicas ressignificadas pela perspectiva
intercultural.
Dessa maneira, instituições educacionais têm um papel im-
portante a cumprir no que se refere a desenvolver uma educação
voltada às relações tanto de etnia quanto de raça, defendendo a
constituição de um currículo que garanta a valorização e o respeito
ao diferente, bem como a necessidade de estudos acerca da história
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Introdução
S
omos 30 alunos no sexto ano tarde. A sala é quente, peque-
na, mal pintada e imensamente triste. Esse turno é para os indeseja-
dos, reprovados, invisíveis, violentos, como costumo ouvir. Carrego
várias destas marcas. Sou preto, repetente, indisciplinado, não te-
nho interesse pela escola, filho de mãe solteira lavadeira sem tempo
pra acompanhar meus estudos. Dependo da merenda para ter uma
das refeições diárias. A escola não me diz e nem me faz sentir muito.
Dizem que os estudos é nossa salvação. Pra tirar a gente do buraco
em que nos encontramos. Mas o que eu queria mesmo era ter um Co-
rolla, que nem os caras da pesada. Já me ofereceram um trampo doi-
do, mas não tive coragem ainda. Já sei ler, escrever e contar. Posso
ser incluído nos esquema. Mas tô em dúvida. Tem minha mãe e meus
irmãos. Sou o mais velho. Vou dá exemplo ruim pra eles, não. É isso
que me segura. É por isso que ainda tô na escola.
Sou o preto do sexto ano que dá problema. O preto que vem das
área perigosa da cidade. É só isso que eles sabem sobre mim. Ninguém
nunca me perguntou o que eu tô sentindo, se eu já almocei. Por que
eu bati. Se eu pego enquadro da polícia. Se o posto de saúde tem fi-
cha pra mim quando fico doente. Se tem água lá em casa. Aconteça o
que acontecer, a escola espera dos alunos disciplina, aprendizado e
boas notas. Cada um tem de se virar pra dar isso. Só que pra chegar a
essa situação é preciso condição. Ninguém nunca me defendeu de ser
humilhado, discriminado, agredido. Ninguém nunca me perguntou o
Devemos, assim, como nos diz Meijer (2019), pensar uma peda-
gogia afrocentrada, baseada na “pretagogia como sul-teórico-meto-
dológico”, reconhecendo a relevância cultural dos povos do sul, das
diversidades culturais, promovendo um resgate cultural emprete-
cido, por intermédio de uma perspectiva decolonial e intercultural.
Poderíamos afirmar que a decolonialidade “implica partir da
desumanização e considerar as lutas dos povos historicamente su-
balternizados pela existência, para a construção de outros modos de
viver, de poder e de saber” (WALSH, 2005). Não considera, portanto,
esquecer e desqualificar todo o processo de colonização como fato
histórico, mas pelo contrário, consiste justamente em superar tal
momento histórico com a construção de novas relações sociais.
Torna-se claro que a lógica eurocêntrica de valorização mo-
nocultural destoa em relação ao mosaico cultural pós-moderno, pois
se torna de suma importância reconhecer a pluralidade de conhe-
cimentos existentes, bem como a sua relevância na expectativa de
transformar contextos sociais, políticos e econômicos. Assim, o de-
colonial se relaciona a uma possibilidade de resistência e luta contra
modelos hegemônicos e monoculturais, construindo possibilidades
alternativas de teorização e reflexão social.
A escola, ao reproduzir essa lógica perversa de apagamento
cultural, promove, como nos diz Meijer (2019, p. 85), “processos de
Considerações finais
A autora e o autor
Referências
Introdução
N
o início do século XVI, foram trazidos ao Brasil uma gran-
de quantidade de africanos para trabalharem como escravos nas
lavouras de cana-de-açúcar e nos serviços domésticos, entre outros
trabalhos. Eles trouxeram na bagagem o patrimônio cultural ima-
terial de sua terra natal, várias manifestações culturais que, mais
tarde, tomaram outras formas e se dimensionaram, parte delas no
que passou a ser chamada de capoeira. Surgiram principalmente em
Pernambuco, Salvador e Rio de Janeiro, mas se encontravam formas
correlatas em outras regiões do país. Assim, a capoeira se configura
como uma expressão da cultura corporal afro-brasileira desenvolvi-
da pelos filhos de escravizados africanos em terras brasilis, que rece-
beu influências indígenas e europeias. Sua prática foi perseguida no
período imperial e proibida no período republicano, até que perso-
nagens como Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba1, e Vicente
1 Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba), nascido na Bahia, em 1900, desenvolveu, se-
gundo Campos (2001), em meados da década de 1920, a Luta Regional Baiana (Capoeira
Regional), um estilo tradicional, que envolve conhecimentos da capoeira tradicional
baiana como o batuque. Essa linguagem envolve sistematização e método para o ensino
de movimentos da capoeira que colaborou para sua legitimação frente a sociedade e
consequente saída da marginalidade, fundando em 1932 a primeira escola de capoeira
do Brasil.
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
249 •
com o foco na emancipação humana. Para realizar essa tarefa foram
utilizadas a técnica de observação participante e um questionário
avaliativo aplicado aos participantes sobre a proposta pedagógica
em tela. O material coletado foi submetido ao crivo ontológico, com
o escopo de relacionar o projeto com a educação, em sentido amplo,
que direciona o indivíduo para emancipação humana. Para isso, foi
fundamental a leitura de Lukács (2013), Lessa (2007), Tonet (2001),
entre outros autores. Assim, este trabalho foi dividido além da Intro-
dução e Considerações Gerais, nas seguintes partes: Sobre o Projeto
Debate com Ginga; Educação, cidadania e emancipação sob uma óti-
ca ontológica; Procedimentos Metodológicos; e, por fim, Resultados e
Discussão.
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
251 •
cionando uma formação por meio da Capoeira e o seu contexto his-
tórico. É preciso destacar, conforme Ferreira Neto e Barbosa (2019),
que as ações do projeto de extensão, a saber, palestras e vivências,
apesar de acontecerem em espaços diferentes, são complementares.
Essa proposta coaduna com o Soares et al. (1992), quando expressa
que a Capoeira é uma manifestação cultural oriunda do enfrenta-
mento por liberdade que remete à luta por emancipação do negro no
Brasil escravocrata.
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
253 •
entre a subjetividade e a objetividade, fundando, assim, a práxis so-
cial. Então, a cidadania seria uma questão mais ampla da emancipa-
ção política, podendo ser considerada como um espaço de constru-
ção efetiva da liberdade humana, na qual a emancipação humana se
torna um horizonte a ser alcançado pelos indivíduos. Martins (2000,
p. 10) indica a relação entre cidadania e cidadão, coadunando com
o que foi exposto, nas seguintes linhas: “[...] apresenta-se a cidada-
nia enquanto participação e o cidadão como aquele que é capaz de,
com sua ação consciente, forjar seu próprio destino histórico”. Eis a
vertente mais forte para o desenvolvimento de uma práxis educativa
que tenha a emancipação humana como objetivo.
A efetiva emancipação da humanidade implica a apropriação
do que há de mais avançado em termos de saber e de técnica produ-
zidas até os dias de hoje. Nesse contexto, o professor especialista se
constitui como um educador emancipador, que corresponde ao seu
domínio do saber e de sua capacidade de proporcionar o fluxo desse
conteúdo específico articulado com sua prática social. Tonet (2001)
entende que o professor, independente do campo do conhecimento
que pertença, pode oferecer uma contribuição à emancipação quan-
do compreende os vínculos de sua prática com a prática social global.
O professor de Educação Física ou mestre de Capoeira está educando
os filhos dos trabalhadores, é preciso falar da cultura dessas pessoas;
trazer a Capoeira é falar do processo histórico brasileiro de explora-
ção, questionar o sistema vigente para proporcionar a resistência e
a busca pela liberdade.
Procedimentos metodológicos
Resultado e discussões
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
255 •
horas complementares e os temas abordados dentro do projeto. So-
bre a motivação dos participantes, em meio ao projeto apenas dois
relataram desmotivação em participar das vivências; um devido ao
cansaço em meio ao semestre acadêmico atribulado e outro devido
ao estranhamento inicial referente à metodologia utilizada no pro-
jeto, que não focava apenas em aulas direcionadas ao rendimento,
como estava habituado, mas utilizava abordagens pedagógicas para
tocar em outros aspectos da Capoeira.
Na seção destinada à avaliação das vivências, quando questio-
nados sobre a importância das discussões feitas em meio ao proje-
to, como, por exemplo, a participação da mulher na Capoeira, todos
afirmaram serem importantes; contudo, o maior percentual, 50%,
concorda que o projeto tem pouco tempo para abordá-los, enquanto
outro percentual, 20%, concorda que o projeto realiza uma boa abor-
dagem do tema, mesmo diante do pouco tempo.
Na questão referente à contribuição do projeto na vida dos
acadêmicos, diversos benefícios foram relatados. Dentre eles, um
participante afirma perceber, após o projeto, que a Capoeira engloba
públicos diversos com interesses diferentes, e, por isso, é necessário
que todos sejam apresentados a ela. Outro participante afirma que
as questões abordadas no projeto são importantes e atuais. Um deles
ressaltou que o projeto mostra e aprofunda debates fundamentais
para uma sociedade mais justa. Outro destaque nos relatos ressalta
a contribuição do projeto na formação dos futuros professores, au-
xiliando-os a entenderem como abordar a Capoeira em sala e tratar
temas importantes à sua prática.
No espaço destinado a recolher sugestões e/ou reclamações,
surgiram elogios quanto ao projeto e seus executores, além de suges-
tões metodológicas e temáticas. Sobre a metodologia, a sugestão foi
voltada à utilização de técnicas do “treinamento funcional” antes do
início da parte prática da aula, uma forma de aquecimento e prepa-
ração, tendo em vista que a Capoeira e algumas atividades praticadas
no projeto exigem força, resistência muscular e cardiorrespiratória.
Sobre as temáticas, as sugestões foram diversas, dentre elas, merece
destaque o tema Capoeira e comunidades quilombolas. A última per-
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
257 •
rodas, grupos e seu caráter combativo. O segundo ponto a ser desta-
cado se encontra no ensino da história da Capoeira, sempre mencio-
nada, inclusive, com mais ênfase em algumas aulas, como forma de
proporcionar aos alunos o conhecimento referente à arte que estão
praticando e no entendimento sobre o seu processo de construção. O
terceiro, as multifaces da Capoeira, do qual emergem temas diversos
presentes nela, tais como musicalidade, ancestralidade, ritualísti-
cas, etc., tudo com o intuito de proporcionar aos alunos um enten-
dimento maior sobre outros aspectos da Capoeira além das movi-
mentações. O quarto ponto de destaque se encontra na diversidade
presente na prática da Capoeira que, sendo uma prática humana que
envolve a interação social, não estaria livre dos reflexos advindos das
relações sociais humanas. Com isso, a abordagem de temas diversos
relacionados às questões sociais atuais que perpassam também a
Capoeira são destaque em meio ao projeto. A exemplo, temos parti-
cipação feminina na Capoeira, discussões de gênero relacionados à
Capoeira, Capoeira e inclusão, Capoeira e racismo, etc. Em algumas
ocasiões, os temas abordados nos debates mensais são mencionados
dentro das vivências e, dependendo da repercussão, abordados mais
afundo.
Em meio ao que foi exposto, infere-se que o projeto aponta
contribuições também em meio ao processo de cidadania, tendo nes-
se percurso Martins (2000), que entende a cidadania como partici-
pação e o cidadão como aquele que toma decisões de forma conscien-
te sobre ações que moldarão a sua própria história, ainda que como
dito anteriormente à cidadania esteja subsumida à emancipação
humana. Destino esse que seria trilhado em busca pela emancipação
humana e liberdade, sendo algumas dessas concepções compartilha-
das com as presentes na matriz da Capoeira na gênese de sua criação.
Tonet (2001) aborda a relação e construção dos processos de
educação, cidadania e emancipação humana, esclarecendo que a ci-
dadania é um processo que devido a divergências na conceituação e
diversos significados existentes sobre sua relação com a educação,
ela acaba não ultrapassando os limites da sociedade capitalista, con-
sequentemente não atingindo o que lhe era proposto, a liberdade
Considerações finais
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
259 •
as Multifaces da Capoeira como abordagem que engloba os amplos
aspectos da Capoeira, de forma discursiva, participativa e reflexiva.
A abordagem envolve histórias, teorias, discussões acadêmicas e
sociais vigentes no mundo da Capoeira, na sociedade, direcionando
o participante a observar sua manifestação para além da aparência
social, visualizando o seu real.
De um modo geral, o projeto aponta contribuições para o pro-
cesso educacional com vistas à emancipação humana na medida em
que compreende o protagonismo humano na produção das relações
histórico-sociais. A emancipação humana como horizonte se coa-
duna com a prática pedagógica presente na matriz da capoeira, que
tem sua gênese na luta por liberdade. O projeto aqui analisado, por-
tanto, constitui-se uma ferramenta efetiva no campo das atividades
educativas emancipadoras.
Referências
JOSÉ OLÍMPIO FERREIRA NETO | JOSÉ DAVI LEITE DE CASTRO | LUCIANO HEBERT DE LIMA SILVA | FABIANO GERALDO BARBOSA
261 •
PROJETO PÉROLA NEGRA: UM OUTRO OLHAR SOBRE O
CONTINENTE AFRICANO E O FORTALECIMENTO DAS RELAÇÕES
ÉTNICO-RACIAIS
Francisca Marta da Silva de Assis
Geraldo Vicente da Silva
Introdução
Desenvolvimento
Considerações finais
Referências
Introdução
N
os últimos anos, devido às mudanças acontecidas mundial-
mente nos aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos, devido
ao processo de globalização, crescimento em massa das tecnologias
e do avanço do regime neoliberal, nota-se uma preocupação maior
com as propostas de formação docente, influenciando professores
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
273 •
pesquisadores e teóricos da educação que têm denunciado sobre
este assunto em suas produções e nos encontros científicos.
Nesse sentido, este texto trata sobre a formação continuada e
o desenvolvimento profissional, especificamente a nível stricto sen-
su, com a finalidade de investigar as contribuições e desafios de se
cursar um mestrado em serviço.
Durante a construção deste trabalho, algumas questões de or-
dem pessoal e profissional puderam ser elaboradas, exigindo-se uma
autorreflexão, pois compreende-se que vida, formação e trabalho
devem ser considerados nesse processo, por constituírem elos entre
si. Portanto, entrelaçam-se com a nossa formação e profissionaliza-
ção, a saber: quais percursos realizam até ingressar no mestrado?
Quais desafios e expectativas em relação ao mestrado? Quais suas
trajetórias profissionais? Como conciliam trabalho e mestrado?
A partir dessas conjunturas, propusemo-nos a responder à
seguinte questão norteadora e elaborada a partir dos esforços inves-
tigativos: quais as contribuições e os desafios do Mestrado Profissio-
nal em Ensino e Formação Docente (PPGEF UNILAB-IFCE) para o de-
senvolvimento profissional dos mestrandos? Com tal problemática
em tela e com a ambição de apontar as contribuições e os desafios do
Mestrado, o objetivo geral se delineou da seguinte forma: investigar
as contribuições e os desafios do Mestrado Profissional em Ensino e
Formação Docente (PPGEF UNILAB-IFCE) para o desenvolvimento
profissional dos mestrandos.
Para tanto, optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa, do
tipo bibliográfica (LIMA, 2001; ALMEIDA, 2005; FREIRE, 2015, dentre
outros) e um estudo de caso (GIL, 2007), tendo como sujeitos 20 mes-
trandos do Programa em Ensino e Formação Docente (PPGEF) pela
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasi-
leira (UNILAB) e Instituto Federal do Ceará (IFCE/Maranguape).
Por último, espera-se que este trabalho instigue novas res-
significações e conscientização por parte de todos os envolvidos na
educação e da sociedade em geral, colaborando com a formação con-
tinuada e, consequentemente, para a preparação de profissionais
Referencial teórico
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
275 •
tos sujeitos, muitas motivações, o que desencadeia situações
singulares, às vezes desconhecidas e imprevisíveis.
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
277 •
possibilitando, com isso, as atualizações e reparos necessários em
conformidade com o que se espera.
A formação de professores favorece a emancipação do sujeito,
pois se configura como uma política de valorização do desenvolvimen-
to pessoal-profissional dos docentes, visto que a formação permanen-
te é entendida como ressignificação identitária dos professores, pois
a sociedade globalizada está em constante processo de transforma-
ção de valores, necessidades, dentre outros, o que exige o aperfeiçoa-
mento constante do fazer docente. Mas o ponto de partida é a reflexão
da prática, ou seja, só é possível mudar o que se constata mediante
uma mudança. Nesse sentido, Almeida (2005, p. 12) acrescenta que
“[...] uma formação que articule a pessoa que somos, os nossos sabe-
res e o nosso trabalho [...]. É preciso que tomemos em nossas mãos as
decisões que embasam os encaminhamentos de nossas ações”.
Nessa perspectiva, a formação continuada, entendida como
parte do desenvolvimento profissional que acontece ao longo da atu-
ação docente, pode possibilitar um novo sentido à prática pedagógi-
ca, contextualizar novas circunstâncias e ressignificar a atuação do
professor. Para tanto, conhecer o professor, sua formação básica e
como esta se constrói ao longo da sua carreira profissional são fun-
damentais para que se compreendam as práticas pedagógicas dentro
das escolas. O professor em processo de formação pode estabelecer e
redimensionar a relação que se tem entre a sua prática, o campo teó-
rico e os aspectos que permeiam a construção do seu trabalho, como
a escola, os alunos, as políticas educacionais, dentre outros pontos
que podem ser indicados.
Método e análise
Esta última, por sua vez, foi dividida em três subseções que
melhor imprimem as categorizações das respostas, representando,
assim, os eixos temáticos apreendidos, a saber: formação continu-
ada, contribuições do Mestrado Profissionalizante, e expectativas,
medos e anseios.
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
279 •
e Formação Docente (PPGEF UNILAB/IFCE), no Curso de Mestrado
em Ensino e Formação Docente, sob a supervisão e orientação dos
Profs. Drs. Maria Socorro Lucena Lima e Elcimar Simão Martins. Os
mestrandos contribuíram em participar da pesquisa dando o aceite
solicitado ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) da
pesquisa sobre Formação continuada: contribuições do mestrado
para o desenvolvimento profissional, que tem o objetivo de investi-
gar as contribuições e os desafios do Mestrado Profissional em En-
sino e Formação Docente (PPGEF UNILAB-IFCE) para o desenvolvi-
mento profissional dos mestrandos.
Ressaltamos que subdividimos em três categorias para melhor
apresentar os dados coletados e satisfazer os objetivos propostos, a
saber: 1. Contribuições; 2. Formação continuada; e 3. Expectativas/
anseios. Apresentaremos os dados coletados a seguir, inicialmente
apontando o material coletado para conhecer os sujeitos envolvidos.
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
281 •
na profissão que abraçou. É esse olhar e essa prática reflexiva que
transformam e redimensionam o ser discente no meio social e ala-
vanca a qualidade educacional.
Sobre a atuação, vimos que os profissionais pesquisados estão
inseridos nos vários segmentos da educação, e, portanto, atuantes
na gestão de escolas, nas salas de aula da educação básica e ensino
superior. Conforme a pesquisa, 35% estão ministrando aulas no
Ensino Fundamental I, 20% no Ensino Médio, 15% no Ensino Funda-
mental II, 10% estão atuando na Educação Infantil, sendo que esta
mesma porcentagem faz parte da gestão, 5% atuam ao mesmo tempo
nos anos finais da Educação Básica e Ensino Médio e 5% têm atuação
no Ensino Superior. Os pesquisados estão inseridos nos diferentes
níveis e espaços educacionais e, portanto, para atender a essa de-
manda profissional, é preciso estar preparado, assim como exercitar
ações educativas que valorizem e articulem os saberes na escola.
Conforme Bispo e Santos Junior (2014), ainda que os professo-
res disponham de grande embasamento teórico ou possuam experi-
ências significativas na área em que atuam, vê-se que esse profissio-
nal tem a necessidade de entender o processo de ensino e aprendiza-
gem, ou seja, fica claro que a ausência de uma formação pedagógica
traz várias consequências para esses profissionais.
Em relação ao grau de formação dos participantes antes de
cursar o mestrado obtivemos como resposta que 85% dos entre-
vistados já possuíam especializações em diferentes áreas e 15% são
graduados. A informação indica que alguns professores entraram
no mestrado logo que terminaram a graduação e a grande maioria
demorou um tempo maior, realizando antes várias pós-graduações.
Percebemos, assim, que atualmente muito mais pessoas buscam a
valorização profissional e a qualificação acadêmica.
[...] O interesse pelo programa de Pós-graduação, como mes-
trado em educação, representa não somente a formação ne-
cessária para a continuação nos estudos, a produção do co-
nhecimento e o envolvimento com a pesquisa em educação,
representa também para muitos a preparação para uma ati-
vidade profissional, em expansão nesse momento histórico
Formação Continuada
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
283 •
secretarias educacionais das quais estão vinculados/as, o tempo de
dedicação exclusiva para que pudessem cursar a Pós-graduação com
mais tranquilidade.
As preocupações manifestadas refletem o compromisso de
aquisição de saberes e conhecimentos para melhoramento da pró-
pria prática e, para isso, a necessidade de fazê-la com excelência.
É possível perceber aproximações de Didática com a relação so-
cial no cotidiano dos sujeitos educativos. Sobre isso, Faria (2015)
compartilha:
[...] entendemos que a didática, como teoria do ensino, está
permanentemente convocada a realizar estudos que expres-
sem preocupações com a realidade concreta de nossa socie-
dade, com as relações histórico-sociais e suas repercussões
no modo de pensar e fazer da prática educativa, da escola, da
sala de aula, da aprendizagem e do ensino (FARIA, 2015, p. 78).
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
285 •
A compreensão de que o/um Mestrado Profissional integra a
aquisição de conhecimento com o desenvolvimento profissional no
espaço-tempo do trabalho docente, acontecendo de forma quase que
simultânea, traz muitos desafios e os questionamentos das possibi-
lidades de comprometimentos da práxis, dos estímulos e das moti-
vações. A seguir, o posicionamento de um/a dos/as entrevistados/as:
“Deve ser desenvolvida em serviço com tempo em materiais adequa-
dos ao desenvolvimento da qualidade educacional” (M7, 2019). Ghe-
din afirma que:
A reflexão sobre a prática institui-se a partir de uma neces-
sidade de tornar a prática cotidiana que se dá na escola mais
reflexiva e compreendida em seu contexto e se constitui uma
forma definidora da identidade do professor e de seu desen-
volvimento profissional (GHEDIN, 2005, p. 26).
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
287 •
pondentes. A taxa de 75%, referente ao quantitativo de 15 discentes
entrevistados, demonstra que o Curso de Mestrado é levado em con-
sideração. Em contraponto, quatro mestrandos num percentual de
20%, registraram que seus companheiros de trabalho não apresen-
tam atitudes de aceitação frente a sua capacitação profissional no
Mestrado, e um único discente (5%) não percebeu tal aceitação, por
não presenciar comentários sobre o curso. Acreditamos que a classe
profissional docente, de forma coletiva, percebe a importância dos
três princípios para o trabalho pedagógico.
[…] são propostos três princípios para o trabalho pedagógico.
O primeiro deles é comprometer-se com os interesses cole-
tivos; o segundo é a meta da educação como totalidade; e o
terceiro se refere à formação discente a partir de uma pers-
pectiva crítica, investigativa, com pró-atividade e ética, e que
consiga transformar a realidade (MARIN; PIMENTA, 2015, p.
191).
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
289 •
trínseco ao processo de ensinar, aprender, formar-se e, con-
sequentemente, desenvolver-se profissionalmente.
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
291 •
Observa-se que as expectativas que relacionam o mestrado à
melhoria da prática docente e a sua qualificação profissional tam-
bém foram apontadas por 40% dos entrevistados como se constata
nos relatos de quatro discentes: M20 (2019) “As expectativas são as
melhores e a principal é a busca pela qualificação profissional e pes-
soal”; M3 (2019): “(..) espero que por meio das experiências no Mes-
trado, as possibilidades de uma prática pedagógica mais próxima
das aprendizagens significativas sejam possíveis e que o acúmulo de
saber se transforme em promoção de conhecimento na área em es-
tudo”; M1(2019): “Espero sair um profissional melhor para produzir
ciência e mudar minha prática pedagógica”; e M13 (2019): “As expec-
tativas permeiam o compromisso com processo de ensino e aprendi-
zagem tão importantes para a educação”. Nesse tocante, Lima (2001,
p. 34), em seu conceito de formação contínua, afirma:
[...] partindo da compreensão da rede de relações que per-
meia e envolve os professores com o conhecimento no mun-
do do trabalho. Tem como pontos de partida e de chegada o
trabalho docente, competente e refletido, ficando assim con-
cebido: formação contínua é a articulação entre o trabalho
docente, o conhecimento e o desenvolvimento profissional
do professor, como possibilidade de postura reflexiva dina-
mizada pela práxis.
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
293 •
medos e anseios” são reveladores dos estímulos e motivações pela es-
colha de cursar o Mestrado Profissional. O perfil dos sujeitos repre-
sentados no presente artigo reforça a esperança e o engajamento na
experiência formativa como forma de potencialização da educação.
Considerações finais
Referências
ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
295 •
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ELCIMAR SIMÃO MARTINS | MARIA SOCORRO LUCENA LIMA | MESTRANDOS DO PPGEF UNILAB-IFCE
297 •
SOBRE OS/AS AUTORES/AS
SOBRE OS AUTORES
• 298
SOBRE OS AUTORES
299 •
cação pela Universidade Federal do Ceará. Pós-Doutora em Educação pela
Universidade de São Paulo (USP). É professora adjunta da Universidade da
Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB. Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisas EDDOCÊNCIA/UNILAB; GEPEFE/USP e
GDESB/UECE.
E-mail: elisangelaandre@unilab.edu.br
SOBRE OS AUTORES
• 300
SOBRE OS AUTORES
301 •
Ensino e Formação Docente; Sociobiodiversidade e Tecnologias Sustentá-
veis. Pró-reitora de Graduação (UNILAB).
E-mail: geranildecosta@unilab.edu.br
SOBRE OS AUTORES
• 302
SOBRE OS AUTORES
303 •
Maria Cleide da Silva Ribeiro Leite – Pós-doutoranda em Educação (UFC).
Doutora e Mestre em Educação (PPGE UECE). Especialista em Gestão Esco-
lar. Licenciada em Pedagogia (UECE) e Letras Espanhol (UMESP). Professo-
ra do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE),
Campus Canindé. Membro dos Grupos de Pesquisas GEPPES/JEPTRA/
UECE e LEPEEM/IFCE.
E-mail: cleide.silva@ifce.edu.br
SOBRE OS AUTORES
• 304
SOBRE OS AUTORES
305 •
tamento de Educação (DEDUC) do IFCE. Professora permanente do Progra-
ma Associado de Pós-Graduação em Ensino e Formação Docente (PPGEF)
da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (PPGEF
UNILAB-IFCE).
E-mail: simonecesar@ifce.edu.br
SOBRE OS AUTORES
E-mail: imprece@hotmail.com
Tel.: (85) 3055.0102