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O CIRCO MÍSTICO PRECÁRIO DE FORTALEZA E A PONTE QUE PARTIU!

O Circo Místico
Chico Buarque

“Não
Não sei se é um truque banal
Se um invisível cordão
Sustenta a vida real”

Na noite se sexta-feira (22/02/2019) em Fortaleza-CE, às pressas, ergueu-se a lona sobre


uma grande paixão nacional, o futebol.

Ao que consta, já estava marcada uma “sessão itinerante” do pleno do STJD - Superior
Tribunal de Justiça Desportiva, na Escola Superior da Advocacia da OAB do Ceará, dentro
de um evento designado como Workshop Direto Desportivo - ENAJD, realizado pela
Escola Superior de Direito Desportivo.

Incluíram, de última hora, na pauta da referida sessão especial do pleno do STJD,


divulgada para o evento, o caso em que a Associação Atlética Ponte Preta de
Campinas/SP pede, cautelarmente, a impugnação da partida pela Copa do Brasil,
realizada contra a equipe da Aparecidense/GO.

Nessa partida o quarteto de arbitragem a Ponte Preta marcou um gol, a favor da Ponte
Preta, aos 44 minutos do segundo tempo, com TRÊS jogadores em posição de
impedimento, um gol visivelmente irregular. Após a omissão do assistente de
arbitragem responsável pela jogada o arbitro da partida validou o gol.

Depois de muitas reclamações e mais de 15 minutos de paralisação o árbitro voltou atrás


e anulou corretamente o gol ilegal da Ponte Preta. Gol este que daria a classificação para
a equipe campineira prosseguir na Copa do Brasil.

Entenda o caso: https://globoesporte.globo.com/sp/campinas-e-regiao/futebol/copa-


do-brasil/noticia/stjd-determina-suspensao-do-resultado-de-aparecidense-x-ponte-
preta-ate-julgamento-do-caso.ghtml
Diante do ocorrido, a derrotada Ponte Preta, ingressa, em 15/02/2019, sexta-feira, junto
ao STJD, com um procedimento pedindo a impugnação da referida partida, solicitando
cautelarmente a suspensão do jogo que a desclassificou, alegando que houve
“interferência externa” no resultado da partida.

Entenda o caso: https://www.stjd.org.br/noticias/ponte-pede-impugnacao-de-partida-


da-copa-do-brasil

O presidente do STJD prontamente recebe o pedido do time campineiro e determina a


suspensão da partida e marca o julgamento do caso para o Workshop em Fortaleza/CE.
No dia 19/02, terça-feira, o STJD intima, por e-mail, a Aparecidense/GO, abrindo o prazo
de DOIS dias para manifestar sobre o processo e marca o julgamento para sexta-feira,
dia 22/02/2019.

Confira aqui: https://www.stjd.org.br/noticias/julgamento-de-impugnacao-e-agendado

Deixando de lado o atropelo e a improvisação, o time de Aparecida de Goiânia, que tinha


uma partida a ser realizada na mesma sexta-feira pelo Campeonato Goiano, e já com
toda a logística preparada para viajar para Belém/PA no intuito de disputar a partida
contra o Bragantino/PA, pela sequência da própria Copa do Brasil (já com toda logística
preparada e contratada para esse jogo), teve que designar que a assessoria jurídica se
deslocasse, de última hora, para Fortaleza/CE, com o objetivo de defender-se no caso
de uma partida em que venceu dentro de campo.

Interessante que foi na mesma semana em que a CBF - Confederação Brasileira de


Futebol, decidiu que haverá a utilização do VAR (o tal árbitro de vídeo que foi utilizado
na última Copa do Mundo de Futebol) em todos os jogos do Campeonato Brasileiro de
2019, da série A.

A pergunta que não quer calar é: o VAR nada mais é que uma INTERFERÊNCIA
EXTERNA??

Ou a interferência externa é válida a depender de quem interfere?

Ora, senão vejamos:

O árbitro não errou (no caso, ele voltou atrás acertadamente, fazendo justiça, ao anular
um gol gritantemente ilegal), portanto ele teria errado caso tivesse validado a sua
primeira decisão. Ao voltar atrás ele acertou e fez justiça.

Ademais, se ele cometeu algum erro, a Aparecidense não pode ser penalizada. Para que
isso ocorresse, tecnicamente, haveria necessidade de constar nos autos provas pré-
constituídas, delimitando claramente qual a conduta e qual a infração cometida pela
Aparecidense.

Nem aprofundando muito na matéria, é notório que as Comissões e Comitês de


Arbitragens são mantidos (na maioria das vezes até funcionam dentro das sedes das
federações e da CBF) pelas Federações e Confederação de Futebol, que formam,
escolhem, controlam os sorteios e as escalações dos árbitros. Numa análise ampla
podemos deduzir que se o árbitro errou, o seu erro, em certa medida, também é da CBF
e das Federações.

O que pode estar prestes a ocorrer é que a Aparecidense, que venceu o jogo dentro de
campo, está sendo gravemente penalizada. Qual a infração que a Aparecidense
comprovadamente cometeu a não ser vencer o jogo, dentro das regras do futebol?

No julgamento de Fortaleza o árbitro da partida e seus assistentes afirmaram


veementemente que não houve qualquer interferência externa, quanto mais praticada
pela Aparecidense. Fato que foi solenemente ignorado por parte dos Auditores
presentes.

Quanto ao circo precário de Fortaleza, há sérias observações a serem pontuadas.

O Tribunal Pleno do STJD é composto por 09 (nove) Auditores que julgam os processos
através de seus votos. Regimentalmente o colegiado pode funcionar normalmente a
partir de sua maioria simples, ou seja, está apto a julgar desde que conte com pelo
menos 05 (cinco) Auditores presentes na sessão.

Em Fortaleza haviam seis Auditores titulares presentes, porém, mesmo assim


resolveram incluir mais três substitutos, alguns escolhidos na hora, sem nenhuma
experiência de atuação num tribunal de segunda instância.

O Tribunal Pleno do STJD tem atribuições específicas e bem delimitadas, o que, por si
só, requer certo conhecimento específico e normas prévias autorizativas para exercer
esse tipo de jurisdição. Também há regras específicas para a escolhas de Auditores do
Pleno do STJD.

Um dos Auditores titulares, que havia participado de uma parte da sessão, saiu do
julgamento, restando oito Auditores durante a sessão, entre eles dois que foram
nomeados na hora entre os presentes, um deles suplente de CD.

Quando o colegiado atua com numero par de Auditores e houver empate nas votações,
regimentalmente, o voto do Presidente da sessão é contado em dobro. Foi o que
ocorreu. A votação ficou 4 X 4 (depois de estar 4 X 0 em favor da Aparecidense) e o voto
de minerva do Presidente da sessão funcionou desempatando o julgamento.

É claro que o voto dos dois Auditores improvisados foram determinantes para o
resultado perpetrado.

Ademais a Ponte preta apresentou, NA HORA DO JULGAMENTO, provas vídeos


(EDITADAS) sem que as mesmas constassem dos autos e permitissem que a defesa da
Aparecidense tivesse conhecimento prévio do conteúdo dessas provas, o que
demonstra um gravíssimo cerceamento de defesa e o contraditório.
Ainda assim, mesmo restando comprovado que o árbitro não descumpriu nenhuma
regra/norma do futebol, e nem que houve a tal interferência externa, e, ainda menos,
que a suposta interferência externa tenha sido praticada pela Aparecidense, o time
goiano, vencedor da partida, foi penalizado.

Assim, o tribunal precário resolveu PUNIR a Aparecidense, que nada mais fez que vencer
o jogo dentro de campo e dentro das regras do futebol.

Há muita água para passar debaixo da ponte (sem trocadilhos):


https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2019/02/23/aparecidense-
questiona-auditor-e-tenta-anular-novo-jogo-com-a-ponte.htm

É lamentável que decisões sobre resultado de partidas de futebol sejam alterados por
decisões de Tribunais (VERDADEIRA INTERFERÊNCIA EXTERNA), ainda mais através de
uma decisão esdrúxula e inédita, podendo abrir um precedente perigosíssimo para o
futuro do futebol brasileiro.

A PONTE PRETA, que é o time mais antigo do estado de São Paulo e o segundo
clube mais antigo do Brasil, PARTIU-SE e apequenou-se. Saber perder é uma
grande vitória!

Por fim, é lamentável a secular tendência brasileira de seus tribunais


funcionarem sempre em favor do mais forte e da manutenção das estruturas de
poder, deixando de lado o farol da imparcial luta e busca por JUSTIÇA.

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